Daisy Semedo, estudante: “Em Macau é tudo muito simples”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] perfil desta semana nasceu numa ponta do mundo, para crescer noutra e vir parar a uma terceira. Daisy Semedo é uma angolana de sangue, que nasceu em Roma. Mudou-se para a Namíbia, mas é em Macau que vive desde a adolescência. Tudo isto, explica, aconteceu graças ao facto dos seus pais serem diplomatas e terem exercido funções um pouco por todo o mundo.
“Sou quase mais namibiana do que outra coisa”, diz, garantindo, no entanto, que o seu coração está em Macau. “Sinto-me mais daqui, porque foi onde passei a minha juventude, aquela altura em que amadurecemos, em que melhor nos apercebemos das coisas”, conta.
O ensino secundário foi completado na Escola Portuguesa e depois disso, Daisy seguiu para um “gap year” na África da Sul. É aos 20 anos que volta para o território, decidida a ingressar num curso relacionado com Ciências Políticas. Foi então que começou a licenciatura em Estudos Governamentais na Universidade de São José.
Actualmente, vive sozinha na residência universitária, mesmo virada para a Rua do Campo. “Estou num sítio super-central da cidade, tenho tudo aqui, incluindo restaurantes e supermercados”, diz.
Facto inegável é a existência escassa de pessoas africanas no território, embora nos últimos anos o número tenha aumentado devido à promoção das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Da Namíbia, com amor

Questionada sobre a adaptação a um local tão fora do comum – quando comparado com a Namíbia, Itália, Portugal ou Angola – Daisy confessa que “ao início foi difícil”, mas agora está totalmente integrada na sociedade. É até conhecida pelos amigos como “a que conhece toda a gente”.
Para os pais, contudo, a adaptação não foi pêra doce: “a minha mãe raramente saía de casa, tinha dificuldade em fazer amizades e não gostava de algumas coisas”, acrescenta.
No entanto, não pense o leitor que Daisy deixou de ter histórias para contar. A jovem deixou de pensar no número de vezes em que foi abordada na rua, nos cafés e na universidade por pessoas que tendem em achar a diferença peculiar e não censurável.
“Quando cheguei a Macau, achei que ia sofrer muito com racismo, mas passado algum tempo percebi que os chineses ficam simplesmente fascinados e curiosos, até porque alguns nunca viram na vida”, começa por explicar, entre risos.
Daisy admite que chega mesmo a achar “engraçadas” as perguntas que lhe são feitas. Entre a sua lista de favoritas estão questões relacionadas com a sua cor de pele ou ondulação do cabelo.
“Já me perguntaram se na minha terra o sol está mais perto, por ser mais escura que eles, mas as perguntas mais frequentes são sobre o cabelo. Querem tocar e saber se cresce mais rápido do que os outros”, conta.

Não permanente

“O que mais gosto é a diversidade cultural”, adianta. Pena é que Macau seja, como costuma dizer, “uma terra temporária”, onde poucos ficam para sempre, mas muitos passam uns tempos. Este é o facto que, aliado ao conforto e segurança da cidade, faz com que a licenciada queira por cá ficar mais um pouco.
É certamente difícil comparar Macau a uma cidade como Luanda, mas Daisy fê-lo: “Luanda é muito confuso, tem imenso trânsito, muitas pessoas. E em Macau é tudo muito simples”. Já a Namíbia, descreve como “o sítio mais calmo” onde já viveu. “É bom para a reforma”, brinca.
O bichinho da aventura está na família, já que os pais diplomatas pouco gostavam de estar parados. Esta característica deu à jovem a oportunidade de palmilhar o mundo, uma das razões que permitiu a Daisy estar inteiramente à vontade com outras culturas, até porque na Namíbia e na África do Sul há uma harmonização entre população africana e europeia.

Entre dois mundos

Além de estudar, a jovem também trabalhou durante um ano no restaurante vegetariano Blissfull Carrot, na Taipa. “Adorei a experiência, muito em parte por causa das pessoas, que são muito calmas e simpáticas”, admite. A clientela é maioritariamente estrangeira e Daisy ainda lá ajuda quando pedem e quando pode.
Foi precisamente ontem que Daisy completou a sua licenciatura, mas a história não acaba aqui. O próximo passo é aprender Mandarim e seguir com o mestrado em Comércio Internacional. “Eventualmente vou voltar para Angola, mas também gostava de continuar ligada, em termos profissionais, à China”, lembra. A jovem pensa mesmo em manter-se em contacto com ambas as pontas do mundo, colocando até a hipótese de ter uma ponte constantemente criada.

18 Dez 2015

José Mourinho demitido do Chelsea

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] português José Mourinho foi ontem demitido do cargo de treinador do Chelsea, deixando o clube, actual campeão e 16.º classificado da Liga inglesa de futebol, com 16 jornadas. “O clube deixa claro que José [Moutinho] deixa-nos em comum acordo e será sempre recordado como uma pessoa muito querida, respeitada e uma figura de relevo no clube”, refere o comunicado do Chelsea.
Depois de ter regressado ao clube de Londres em 2013, Mourinho conquistou o terceiro título inglês pelos ‘blues’ em 2014/15, tal como a Taça da Liga, o que levou à renovação de contrato até 2019.
Em 16 jogos para a Liga inglesa, o Chelsea tem apenas 15 pontos, equivalentes a quatro vitórias, três empates e nove derrotas, encontrando-se a apenas um ponto de distância da zona de despromoção.
No entanto, a formação londrina assegurou o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, depois de terminar em primeiro lugar no Grupo G, à frente dos ucranianos do Dínamo de Kiev e do FC Porto.
Esta qualificação ficou garantida apenas na última jornada, depois de ter vencido o FC Porto por 2-0, relegando os ‘dragões’ para a Liga Europa.
Depois de a BBC e a Sky Sports terem anunciado o despedimento do treinador do português dos blues, a imprensa inglesa adiantou o nome de Hiddink como treinador da equipa londrina até final desta época. O técnico holandês já orientou a equipa inglesa em 2008/09, numa situação semelhante, quando Scolari foi demitido do comando técnico.
No entanto, anteriormente o Chelsea sondou Juande Ramos para assumir o cargo de treinador interino, caso o clube rescindisse com José Mourinho, segundo publicou o jornal The Times. O espanhol Juande Ramos, 61 anos, ex-técnico do Sevilla, Tottenham Hotspur e Real Madrid, está actualmente sem treinar, depois de ter deixado os ucranianos do Dnipro Dnipropetrovsk.
Segundo, o britânico The Times, o patrão do Chelsea Roman Abramovich era contra a saída de Mourinho, que levou o clube ao título pela segunda vez, mas está preocupado com os maus resultados e teme que a relação entre Mourinho e figuras como Eden Hazard, Diego Costa, Cesc Fàbregas, John Terry ou Nemanja Matic se tenha deteriorado.

18 Dez 2015

Escola Sam Yuk | Pais exigem mudança de directores

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m grupo de pais dos alunos da Escola Secundária Sam Yuk revelam estar insatisfeitos com o ensino, a qualificação dos professores e os donativos cujos alunos serão obrigados a conceder à instituição. Segundo uma carta da autoria dos pais, divulgada pela Macau Concelears, os encarregados de educação exigem a saída dos actuais directores da escola, Brian Yuen Yau Wong e Wai Si Man. Os pais estarão mesmo a ponderar pedir uma investigação ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC), já que suspeitam da existência de relações de interesse.
Os encarregados de educação queriam avançar com uma recolha de assinaturas em frente à escola para a saída dos actuais directores, mas segundo disse ao HM Choi, mãe de um aluno, a acção foi cancelada por temerem que a iniciativa prejudicasse os estudantes. A acção está a ser agora seguida por advogados.
Em Maio deste ano, a escola Sam Yuk foi acusada de obrigar os alunos a doar 4500 patacas para um projecto de produção de biogás em Sichuan, China, quando fizeram a visita de estudo paga pelos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).
Apesar da DSEJ ter obrigado a escola a devolver o dinheiro pago pelos alunos, conforme uma carta também divulgada pela Macau Concelears, os pais afirmam que os alunos “sofrem pressões vindas da escola”.
“Depois da descoberta desse caso, a direcção da escola deu a entender que os alunos que prejudicam a reputação devem ser excluídos”, pode ler-se.
Ao nível da qualidade do ensino, os pais revelam ter muitas dúvidas, sobretudo na área do ensino especial. “A educação especial da escola não atingiu a maturidade, mas continua a receber alunos com necessidades educativas especiais, o que aumenta a pressão sentida pelos professores e o progresso no estudo dos outros alunos”, refere a carta.
Mesmo que a Sam Yuk tenha assistentes sociais, os pais indicam que “os professores não deixam os assistentes sociais contactar os alunos”, sendo que terá sido pedido a estes profissionais para “piorar a avaliação dos alunos de educação especial”.
A realização de visitas de estudo também não agrada os pais. “Quando os professores acham que as agências de viagens escolhidas não têm boa qualidade e começam a compará-las com outras, os responsáveis da escola pedem a esses professores para que não coloquem demasiadas questões”, apontam.
Além disso, a qualificação de professores também não satisfaz os pais. A carta avança que a escola “decide à vontade a mudança de um professor da secção chinesa da escola para a secção inglesa”. “São duas secções diferentes, ao nível dos modelos de ensino e das línguas. Como é que a escola pode fazer isso, sob a implementação do Quadro Geral do Pessoal Docente das Escolas Particulares do Ensino Não Superior? Será que a DSEJ acompanha com a situação?”, lê-se na carta.
A DSEJ foi chamada a intervir no caso no ano passado, tendo até alertado a instituição.

17 Dez 2015

Governo | Trocas entre FSS, IAS e Gabinete de Alexis Tam oficializadas

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stão oficializadas as últimas mudanças de cargos anunciadas pelo Governo. Numa publicação em Boletim Oficial, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, nomeia Ip Peng Kin, para exercer o cargo de Chefe de Gabinete da sua tutela, pelo período de dois anos, com efeitos a partir de 20 de Dezembro, do presente ano.
Com esta nomeação, o presidente do Fundo de Segurança Social (FSS) é, então, substituído por Iong Kong Io, ex-presidente do Instituto de Acção Social (IAS), também por dois anos. Iong Kong Io deixa o cargo para Vong Yim Mui, que era vice-presidente do IAS.
A nova presidente é mestre em Administração Pública e licenciada em Sociologia pela Universidade Nacional de Taiwan. Vong Yim Mui foi chefe da Divisão do Gabinete para a Prevenção e Tratamento da toxicodependência, passando pelo Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência do IAS. Em 2010 foi nomeada vice-presidente substituta do instituto. No ano seguinte passou para vice-presidente.
Já Iong Kong Io começou a carreira como docente na escola luso-chinesa da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude. Licenciado em Engenharia pela Universidade Nacional Cheng Gonf de Taiwan e em Gestão e Administração Pública pela Universidade da Ásia Oriental de Macau e pelo Instituto Nacional de Administração de Portugal, passou para técnico superior do quadro do IAS em 1987, sendo nomeado para Chefe do Sector de Organização e Informática da mesma instituição e depois para os Serviços de Saúde. Em 1998 passou para vice-presidente do IAS substituto e termina agora a carreira neste departamento.

17 Dez 2015

Lei de Terras | Revisão será alvo do protesto da Novo Macau

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau (ANM) está contra a revisão da Lei de Terras, sendo este o principal tema do protesto que terá lugar no próximo domingo, 20 de Dezembro, por ocasião das cerimónias da transferência de soberania.
Segundo a Rádio Macau, Scott Chiang, presidente da ANM, disse acreditar que a revisão do diploma só vai facilitar interesses dos empresários da construção civil e do imobiliário.
“A lei apenas foi aprovada em 2013 e está em vigor há pouco mais de um ano. Achamos que é cedo para perceber se precisa de alguma revisão. Além disso, vimos que as vozes que pedem mudanças servem o meio empresarial e dos construtores. A revisão seria danosa porque iria abrir uma brecha que facilitaria uma maior ocupação do Governo e empresários em detrimento dos interesses da população. É como o deputado Fong Chi Keong disse: ele quer uma porta dos fundos na lei.”
Entretanto, os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San vão fazer, juntamente com a Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, uma manifestação no mesmo dia. Ambos defendem que não há conflitos com o protesto realizado pela ANM, marcado para a mesma data.
Os membros Ieong Man Teng e Cloee Chao da direcção da Associação e os dois pró-democratas convocaram ontem uma conferência de imprensa para explicar que a iniciativa vai começar às 15h00 da tarde no Jardim Iao Hon e vai até à Sede do Governo, segundo o canal chinês da Rádio Macau. As principais solicitações do protesto vão ser o aumento da criação de habitação económica e a recuperação de terrenos não aproveitados pelo Governo, a fim de resolver a questão de habitação.
“Actualmente existem apenas 1900 fracções para satisfazer 40 mil candidatos [da habitação económica] e o Governo já disse que não vai abrir novos pedidos em 2016. É impossível ter um Governo qualificado”, afirmaram os responsáveis.
A ANM também planeia organizar uma manifestação a ter início à mesma hora no mesmo local, mas Au Kam San já veio confirmar que não vai tomar parte na última. Já Ng Kuok Cheong assegura que vai participar nesta, tendo mesmo dito que “não se importa que ambas aconteçam em simultâneo, pois não há conflito de objectivos”.

17 Dez 2015

Ganância pessoal: a fonte da desarmonia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]í está o que Pequim tanto temia: a possibilidade de existirem em Macau manifestações como a que a tentativa de aprovação do regime de garantias deu origem. Só que desta vez é mais grave.
Com efeito, a manifestação contra o regime de garantias dizia respeito a uma indignação motivado pelo facto dos senhores do poder quererem mordomias depois de abandonarem os seus cargos. Mas a que aí vem é muito pior.
Agora não se trata das mordomias alheias mas da nossa própria vida e sobrevivência, o que justificará uma maior indignação. Mas terá razão o povo se vier para a rua porque, desta vez, dói-lhe mesmo na pele.
E isto por quê? Porque a ganância dos nossos oligarcas não tem limites. Esta semana começou com o inenarrável discurso de Fong Chi Keong, no qual, com todas as letras, teve a lata de confessar ser contra o investimento na Saúde Pública porque tal traria menos lucros ao seu Kiang Wu. Agora é esta mania de mudar a Lei do Arrendamento porque, já todos perceberam, o mercado está a cair.
Quer dizer: quando o mercado sobe não se pode intervir, mas quando desce já é obrigação do Governo proteger os senhorios. É preciso, no mínimo, ter lata e falta de medo da prisão. E isto vindo de deputados nomeados pelo Executivo…
Ora esta pretensão dos deputados/senhorios pode, de facto, ter repercussões sociais desastrosas. Nomeadamente, grandes manifestações na rua. E tudo isto porque o interesse egoísta de alguns se sobrepõe ao tão apregoado patriotismo.
Só estão preocupados com os seus lucros. E com isto são não apenas capitalistas mas capitalistas selvagens, disposto a sacrificar o bem comum pelos seus interesses. Não se percebe como é que Pequim tolera estes comportamentos. Será que ainda não pagou as contas todas, quinze anos depois, a estas famílias que só pensam no seus próprios interesses e nunca na população?
Tudo o que estes senhores amam de Macau e da China é o conteúdo das suas algibeiras e contas bancárias. Quanto ao resto, é para panda ver… A ganância bem que poderá vir a ser a causa da desarmonia na RAEM. Occupy Leal Senado, remember… Há quem só esteja à espera de um pretexto e estes oligarcas dão-nos quase todos os dias.

17 Dez 2015

Cheong U é novo assessor de Sónia Chan

O antigo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, foi nomeado como assessor de Sónia Chan. Um despacho ontem publicado em Boletim Oficial dá conta da nomeação, que acontece de 20 de Dezembro deste ano até ao mesmo dia de 2016. Cheong U foi Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura até ao ano passado, quando foi substituído por Alexis Tam. Desde aí, desempenhava funções na Fundação Macau, como vice-presidente.

17 Dez 2015

Águas marítimas | Macau vai ter mais de 80 novos quilómetros quadrados

A RAEM vai ter espaço marítimo à sua disposição e, por isso, mais leis, mais recursos humanos e mais equipamentos na área marítima. O Governo assegura um novo rumo face à diversificação económica e à cooperação, ainda que em alguns casos ainda tenha de ter o aval e Pequim

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau vai ter 85 quilómetros quadrados de águas marítimas sob a sua jurisdição. O anúncio foi ontem feito pelo Governo, que quer aproveitar o novo território para aprofundar a cooperação e as relações com o continente.
Para já, os planos ainda não estão exactamente definidos. Será apenas no dia 20 deste mês – que assinala os 16 anos da transferência de soberania – que o Governo Central vai oficializar a autorização e que vão ser, simultaneamente, dados a conhecer novos regulamentos sobre a matéria. Sabe-se que Macau vai poder gerir as águas do mar que rodeiam o território numa extensão de mais de 80 quilómetros quadrados e poderá vir a construir novos aterros. Ainda que, para isso, continue a depender da vontade de Pequim.
“Temos de declarar junto do Governo Central [o desejo de] construção de novos aterros. E estes nunca poderão ter casinos ou elementos ligados ao Jogo”, frisou O Lam, Chefe do Gabinete do Chefe do Executivo.
Com Pequim a ser responsável pela definição da nova expansão, os sete representantes do Governo ontem presentes na conferência dizem não saber ainda detalhes sobre qual a área que vai integrar a jurisdição da RAEM. Coloane e a zona norte da cidade poderiam ser as zonas a pensar, mas Susana Wong diz que há outras ponderações.
“Estamos a lutar para que o Porto Interior faça parte da jurisdição porque faz parte da história de Macau”, frisou a directora dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), acrescentando, contudo, que o mapa concreto da Divisão Administrativa da RAEM só será conhecido no dia 20.

Leis e regulamentos

Susana Wong assegura que Macau está preparado ao nível jurídico para corresponder aos desejos do Governo Central, que passam pela garantia da segurança e do cumprimento das leis do Estado. Prova disso, diz, é o facto de a RAEM ter “mais de 44 leis e regulamentos no âmbito da gestão marítima, embarcações, portos, pesca e outras actividades marítimas” e ter ainda “assinado Convenções internacionais” nesta área. Mesmo assim, o Executivo prepara três novos regulamentos, como salientaram Wong e O Lam.
“Vamos ter o Regulamento Sobre a Navegação de Embarcações e o Respectivo Pessoal a Bordo, o Regime de Deposição de Material Dragado no Mar e a Alteração ao Regulamento Administrativo da Organização e Funcionamento da DSAMA”, frisou a Chefe de Gabinete de Chui Sai On, que esteve ausente da conferência.
“Com o primeiro queremos que embarcações de todo o mundo possam demandar as águas, com o segundo vai ajudar Macau a gerir a dragagem de material no mar, porque Macau precisa de depositar anualmente um grande volume deste – agora administrado pelo interior da China. O terceiro vai atribuir à DSAMA mais competências na área de aproveitamento oceânico”, acrescentou Susana Wong.

A solução para a diversificação?

O Governo afirma que mais águas sob a sua jurisdição vão permitir uma maior cooperação com as regiões vizinhas, que se expande, agora, às actividades marítimas e não apenas terrestres. O Executivo ainda “não tem detalhes” sobre como o vai fazer e em que medidas – se haverá mais construção em novos aterros, por exemplo, é uma pergunta que fica por responder. Por “agora”.
“Vamos assinar uma série de acordos no âmbito oceânico. A cooperação vai além da via terrestre e o Chefe do Executivo tem feito visitas à China para perceber mais sobre o uso do mar. Vamos movimentar o nosso papel de plataforma e vamos dar um passo no desenvolvimento económico. Mas precisamos de mais estudos científicos para desenvolver o planeamento”, frisou Susana Wong, assegurando que “os trabalhos preparativos” já iniciaram. “Como vamos aproveitar, ainda é cedo demais para dizer, temos e estudar de forma pormenorizada”, acrescentou O Lam.
Uma das hipóteses é o lançamento de vistos de turista individual para viagens por mar. Mas, vantagens a curto-prazo passam apenas pela melhoria do ambiente no Canal dos Patos, por exemplo, onde o Governo diz que vai resolver o problema da poluição e do aparecimento dos peixes mortos pela área ficar sob a sua jurisdição.

Mais pessoal e equipamentos

O Governo comprometeu-se a ir dando mais informação sobre o assunto e declarou estar “confiante” na gestão das águas. “Passado um ano de esforço foi aprovada a proposta”, declarou Victor Chan, porta-voz do Governo. Para O Lam esta é “uma boa e estimulante notícia”, uma vez que a clarificação da jurisdição das águas, diz, “tem muito significado, nomeadamente no alargamento do desenvolvimento económico, porque injecta nova dinâmica na diversificação adequada da economia”. Também cria, na opinião do Executivo, condições mais favoráveis “à cooperação entre regiões” e contribui para a implementação plena da política ‘Um País, Dois Sistemas’, porque a RAEM vai passar a dispor de formas de aperfeiçoamento e execução das leis”.
O Executivo criou um grupo de trabalho com 14 organismos para aprender mais “sobre a segurança e a gestão das águas marítimas”, mas é preciso mais.
“Revimos o planeamento dos serviços marítimos e vamos ajustar os serviços para a área terrestre. A 15 de Dezembro, os Serviços de Alfândega já destacaram 37 agentes das diversas unidades para o Departamento da Gestão Marítima para reforçar o número de fiscais da Flotilha de Meios Navais, passando estes para 190. Vamos precisar de mais cem alfandegários em 2016, vamos ter lanchas novas, mais equipamentos”, disse Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança. O responsável fala ainda na criação de um Centro de Comando de Fiscalização e Patrulhamento Marítimo no Edifício Alfandegário da Ilha Verde e de três bases de operação marítima na Zona A dos novos aterros.
Sobre o orçamento para tudo isto, o Secretário não dá números, assegurando apenas que já está tudo dentro do orçamento do PIDDA para 2016.
A autorização torna-se oficial no dia 20 de Dezembro, dia em que entram em vigor as novas normas.

Terreno das Portas do Cerco é da RAEM

O terreno onde fica a fronteira das Portas do Cerco vai ficar na jurisdição da RAEM em definitivo. É uma das “vantagens” do novo mapa das águas, assegura o Governo, que diz que poderá, agora, gerir melhor o espaço. O terreno era da RAEM na medida em que foi “arrendado” em 2002, mas agora passar a ser pertencente ao território.

17 Dez 2015

Lionel Leong congratula operadoras por seguirem políticas extra-Jogo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para a Economia e Finanças congratulou as operadoras de Jogo por seguirem as políticas sugeridas pelo Governo na introdução de elementos extra-Jogo nas actividades que levam a cabo. Durante um encontro com representantes das seis empresas, Lionel Leong voltou a referir estar confiante na economia de Macau, apesar do “período de ajustamento profundo” por que a economia passa agora, mas as operadoras também fizeram questão de falar da concorrência regional.
“Lionel Leong formulou a agradecimentos às seis operadoras de jogo pela sua colaboração com o Governo na concretização das acções governativas, no fomento do desenvolvimento dos elementos não relacionados com o jogo e na realização das acções de aquisição de bens e serviços produzidos em Macau”, pode ler-se num comunicado, que acrescenta que “os representantes das operadoras mencionaram a concorrência intensa que o sector está actualmente a enfrentar face ao desenvolvimento célere do sector do Jogo nas regiões da sua vizinhança, tendo concordado com as afirmações quanto à importância de manter a competitividade de Macau, a nível internacional”.
As empresas asseguram que vão manter uma cooperação estreita com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) para modificar o panorama. Já da parte do Executivo, veio a certeza de que vão ser enviados “esforços juntamente com os diversos sectores sociais para enfrentar este momento importante de reconversão económica, a fim de dinamizar a economia e promover a diversificação adequada do panorama industrial”.
Para Leong, o desenvolvimento ordenado e saudável do sector vai fazer com que aumente a competitividade do sector a nível internacional. Esta reunião foi a primeira onde participou o director da DICJ, Paulo Martins Chan, desde que tomou posse. O director “disse que o sector do Jogo é um pilar predominante de Macau, existindo, portanto, entre o Governo e as operadoras de jogo uma relação de parceiros, pelo que necessitam de envidar esforços para promover o aperfeiçoamento contínuo das leis e regulamentos legais da área”, remata o comunicado.

17 Dez 2015

AL | Só uma em quatro queixas sobre terrenos teve seguimento oficial

De entre quatro queixas apresentadas no hemiciclo sobre a questão dos terrenos não aproveitados, só uma teve seguimento. O facto de não terem sido analisadas previamente deu origem ao chumbo de um pedido de audição pelos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rês queixas arquivadas, um processo em análise. É este o balanço de quatro queixas entregues por associações junto da Assembleia Legislativa (AL) acerca dos 113 terrenos não aproveitados. As informações constam no parecer da Comissão de Regimento e Mandatos, que dá explicações sobre o chumbo apresentado pela AL ao pedido de audição dos deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San.
As queixas em causa serviram de argumento aos deputados para pedirem a audição na AL, mas o hemiciclo entendeu que o debate nunca poderia acontecer, uma vez que as reclamações ainda estavam em análise à data em que foi feito o pedido.
A única queixa que ainda está a ser analisada foi apresentada pela União Força do Povo, a qual foi enviada para o Chefe do Executivo e Comissariado contra a Corrupção (CCAC), tendo também sido alvo de análise pela Comissão de Acompanhamento dos Assuntos de Terras.
Já a queixa apresentada pela Comissão Preparatória da Nova Motriz para o Desenvolvimento Comunitário foi arquivada, pois “aquando da apresentação da audição, a queixosa foi convidada a esclarecer o objecto da queixa, que não era claro”, diz o parecer. “Como a queixosa não deu qualquer resposta ao convite da AL para que esclarecesse concretamente o objecto da queixa, a mesma foi arquivada liminarmente”.
Também a Associação Novo Macau (ANM) apresentou uma reclamação em Junho deste ano, tendo a mesma sido indeferida, uma vez que “aí se requeria que a AL abrisse um processo de audição, matéria que é da iniciativa exclusiva dos deputados”.

Mais conhecimento

Os deputados da Comissão entendem que Au Kam San e Ng Kuok Cheong não cumpriram os requisitos para o pedido de audição, daí ele ter sido chumbado. Os membros do grupo frisam que o pedido com base em queixas pode não ser suficiente.
“Para uma melhor apreciação da questão em análise tomemos como exemplo a queixa: bastará a mera apresentação de uma queixa perante a AL para preencher o requisito da Lei Básica e poderem os deputados propor imediatamente a realização de uma audição?”, questiona-se.
Para além disso, dizem, “não se pode considerar que estivesse reunido o pressuposto do exercício da competência para desencadear um processo de audição como foi proposto pelos deputados, uma vez que a queixa não fora ainda distribuída a uma comissão para distribuição”.
“A maioria” dos deputados que compõe esta Comissão entende que “só depois de distribuídas a uma Comissão para apreciação é que os deputados podem propor a realização de uma audição”.
De acordo com o relatório, houve ainda um deputado que referiu que deve ser dado conhecimento aos deputados do tratamento às queixas apresentadas na AL para que os mesmos possam decidir em conformidade com as decisões tomadas. A opinião “mereceu a concordância da Comissão”.

17 Dez 2015

Magistrado que tem de deixar Macau recebe Louvor do MP

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]procurador do Ministério Público (MP), Ip Son Sang, atribuiu um certificado de louvor ao magistrado português Vítor Coelho, que vai sair de Macau devido à ausência de autorização do Conselho Superior do Ministério Público de Portugal para se manter em funções. Vítor Coelho é magistrado do MP há 16 anos e deixa a RAEM no final deste mês, para regressar a Portugal.
“[O magistrado] dedicou-se empenhadamente ao exercício das suas funções e contribuindo com a sua rica experiência e conhecimento profissional para o trabalho do Ministério Público, pelo que lhe é conferido louvor”, refere um despacho ontem publicado em Boletim Oficial e assinado pelo Procurador, Ip Son Sang. vítor coelho
O despacho indica que o procurador-adjunto voltará para Portugal “devido a motivos pessoais”. Este é, contudo, um dos procuradores que vai regressar a Portugal devido à exigência de Portugal para que regressem ao país, não lhes renovando a licença especial para exercerem no território, nem permitindo outras licenças.
O MP já disse que vai abordar o assunto com as entidades portuguesas. O HM tem tentado, sem sucesso, obter esclarecimentos de Portugal desde a semana passada.

17 Dez 2015

Tribunal | Agentes envolvidos em agressão condenados a sete anos de prisão

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s quatro agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) envolvidos num caso de agressão a um homem da China continental foram condenados pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a sete anos de prisão. A decisão é final, depois de ter sido interposto um recurso para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que confirmou a sentença do TJB e devolveu o caso ao TJB.
O caso remonta a 2007, quando o homem da China continental foi detido pela polícia e, no Comissariado para onde foi levado, foi agredido, quando estava a ser interrogado e depois de ter partido o nariz a um dos agentes. O suspeito ainda foi levado ao hospital, mas acabou por morrer.
A defesa do suspeito pedia condenação por homicídio, mas o tribunal considerou que este não se deu como provado, condenando os polícias por crime de ofensa grave à integridade física.
De acordo com o jornal Ou Mun, o juiz manteve a decisão de punir os agentes com pena de prisão e com o pagamento de uma indemnização de 1,7 milhões de patacas, um aumento de 500 mil patacas face à primeira sentença antes do recurso.
“Apesar do advogado [dos polícias] ter trazido mais testemunhas durante o processo, estes não são fortes e o tribunal não tem a certeza que os quatro agentes foram os perpetradores do homicídio. Mas os agentes sabiam que o homem foi agredido e precisava e assistência médica não lhe prestaram qualquer tipo de auxílio até à morte, pelo que foram considerados culpados pelo crime de ofensa grave à integridade física”, disse o colectivo do TJB, citado pelo Ou Mun.
O relatório da autópsia apontou para um cenário de agressão violenta contra o suspeito, que apresentava feridas no peito, mãos e pés.

17 Dez 2015

Hepatite C | Novo medicamento estará disponível no São Januário, mas doentes dizem que não sabem de nada

O Sofosbuvir – medicamento que promete a cura total da hepatite C sem efeitos secundários – já estará disponível no Hospital Conde de São Januário. No entanto, os doentes negam a informação e dizem nada saber, sendo que muitos já estão a ser tratados em Portugal

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo parece finalmente ter desbloqueado o processo para a chegada do novo medicamento contra a Hepatite C em Macau, de nome Sofosbuvir. A informação foi confirmada ao HM pelo Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, depois de muita polémica devido à ausência no mercado.
“O Governo presta muita atenção a esta situação e os pacientes devem ser primeiro consultados pelo corpo médico do Centro Hospitalar Conde de São Januário, para que seja decidido o melhor tratamento. No entanto, pacientes locais estão já a ser tratados com a hepatite C com o novo medicamento”, confirmou o Executivo através de resposta escrita.
O Secretário assegurou, há poucos meses, que já tinha autorizado a proposta, mas que faltava um parecer dos Serviços de Saúde (SS) para avançar com o processo. Agora, garante que já há doentes a serem tratados com o medicamento.

“É mentira”, dizem os doentes

Apesar das declarações de Alexis Tam, um paciente e uma ex-portadora de Hepatite C dizem nada saber e afirmam que “é mentira”. João Castro e Ana Rute Santos, que tiveram conhecimento da notícia pelo HM, mostraram-se surpreendidos e afirmam que vão hoje deslocar-se ao hospital público para terem mais informações.
“Acho muito estranho que isso seja assim. Não há doente nenhum a ser tratado com o Sofosbuvir. Se isso for verdade, acho muito estranho que a Dra. Filomena [Barros, do serviço de Infecciologia do São Januário] me tenha omitido isso. O que sei pela Dra. Filomena é que foi proposta a aquisição do medicamento. Que ele está a ser dado, é mentira”, disse João Castro ao HM.
Este paciente, que já sofre de problemas renais derivados da falta de tratamento da Hepatite C, está em lista de espera para ter acesso ao medicamento em Portugal, que é comparticipado.
“Tive consulta com a médica Filomena [Barros] e ela não me disse nada. Ninguém está a ser tratado. Escrevi uma carta ao Secretário [Alexis Tam] em finais de Setembro e dei-lhe conhecimento da minha situação. O Secretário dirigiu a resposta ao director do hospital [Kuok Cheong U], que me respondeu que a hepatite C não era considerada uma doença urgente e que teria de aguardar a aquisição do medicamento”, explicou ainda.
Ana Rute Santos, que já foi doente de Hepatite C e cujo marido tem a mesma patologia, garante que não sabe de nada. “Tivemos consulta e a médica não lhe disse nada. Há outra senhora que está a fazer o tratamento em Portugal e agora, em finais de Novembro, a própria médica [Filomena Barros] pediu-me para encaminhar um doente para ser tratado em Portugal, pelo facto do medicamento não lhe ser dado”, disse.
“Penso que existe uma contradição, porque a médica viu o meu marido na primeira semana de Dezembro e ela não disse nada. Marcou nova consulta para Janeiro. Mas se isso é verdade, é a resposta aos desejos do meu coração”, adiantou Ana Rute Santos, que foi tratada em Macau com o medicamento Interferon, que possui vários efeitos secundários e que não pode ser administrado em todos os doentes.
O HM confrontou o Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura com as declarações dos doentes, mas até ao fecho desta edição não foi obtida uma resposta.

Pedido de apoio

Desde Fevereiro que o Sofosbuvir é totalmente comparticipado em Portugal, apesar do elevado preço, tendo já garantido a cura de muitos doentes. Em Macau, o fármaco já existe no hospital Kiang Wu a 500 mil patacas (o seu preço original ronda os 41 mil euros).
A situação dos doentes de Macau tem sido acompanhada de perto pela Associação SOS Hepatites, que foi também questionada sobre a chegada do Sofosbuvir ao território. Contudo, até ao fecho desta edição, não foi obtido qualquer esclarecimento.
Há cerca de uma semana, Emília Rodrigues, presidente da Associação, disse existir a ideia de contactar o Governo de Macau para dar apoio financeiro aos doentes locais.
“Estou a tratar de fazer esse contacto, enviei um email para a Associação dos Médicos de Língua Portuguesa para conseguirmos trazer os doentes a Portugal. Neste momento tenho três doentes portugueses em Macau a fazer o tratamento. Eles estão a chegar a Portugal num estado muito avançado da doença, como por exemplo doentes com cirrose, cujo único tratamento será o transplante. Neste momento temos o medicamento que cura e temos de chegar aos doentes e não deixarmos que a doença avance, para que possam ser tratados”, referiu a responsável, que está a fazer este pedido em conjunto com Rui Tato Marinho, médico do serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria e também presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia.
“Sem esse apoio [financeiro], a maioria dos doentes não conseguirá vir cá e, havendo essa possibilidade, seria óptimo. O medicamento é completamente grátis, temos é a deslocação do doente, a comida, a viagem e essa parte é que nos preocupa, porque nem todos os doentes vão ter dinheiro para isso”, rematou.

17 Dez 2015

IC | Primeiros dez imóveis entram em processo de classificação

Já está pronta a lista dos primeiros dez imóveis propostos para classificação como Património Cultural. Templos, casas e antigas muralhas foram as prioridades do IC, que espera agora pelos resultados da avaliação do Conselho do Património Cultural e da consulta pública que arranca no final do mês

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) já decidiu: da lista dos 70 imóveis não incluídos na Lista de Património Cultural, dos quais metade pertencem a privados, o instituto avançou com a classificação de dez imóveis. Apenas um deles é privado e, entre todos, inclui-se a sede do Instituto de Acção Social.
“Estes são os primeiros [imóveis], depois vamos avançar com os outros. Precisamos de recolher mais informações”, explicou Guilherme Ung Vai Meng, presidente do IC, durante uma conferência que inaugurou o processo de classificação. O responsável justifica a escolha pelo facto de os imóveis estarem “ameaçados ou em estado urgente de conservação”.

Rezas e paisagens

Neste primeiro grupo proposto para classificação de bens imóveis de Macau estão incluídos quatro templos de Foc Tac Chi, o Deus da Terra, situados no Bairro da Horta da Mitra, Rua do Teatro, Rua do Patane e na Rua do Almirante Sérgio. A antiguidade, urgência e importância foram os critérios, explicou o presidente, da escolha do IC. O instituto propõe a classificação destes templos como monumentos.

Antiga farmácia Chong Sai
Antiga farmácia Chong Sai

As antigas muralhas da cidade são também imóveis apontados pelo Governo para serem alvo de classificação. “As muralhas foram, no passado, importantes na defesa militar de Macau. Durante um longo período na história, desempenharam um papel fundamental na manutenção da segurança da cidade”, argumenta o IC.
A característica de construção europeia é também um dos pontos de argumentação usados por Guilherme Ung Vai Meng. “Para mim o mais importante são as muralhas. Uma obra do século XVII, de construção europeia. Ninguém mais tem isto”, defendeu o presidente.
A antiga farmácia Chong Sai, local de trabalho do líder da revolução chinesa, Sun Yat-sen, é um imóvel “extremamente importante”, tendo sido construído em 1892. Agora poderá entrar na lista do património.
“Este foi também o local de uma das primeiras farmácias e consultório privado de medicina ocidental explorada por um chinês na história de Macau, representando uma plataforma para o contacto entre os chineses e a medicina ocidental”, defendeu o IC.
A sede do IAS, conhecida como Casa Azul
A sede do IAS, conhecida como Casa Azul

O antigo Estábulo Municipal de gado bovino (conhecido como Armazém do Boi) e o Canil Municipal de Macau fazem também parte da lista de candidatos, sendo que o seu espaço poderá ser, indicou o presidente, aproveitado para actividades culturais.
A famosa Casa Azul, ocupada por alguns serviços do Instituto de Acção Social (IAS) na Estrada do Cemitério e a antiga residência do general Ye Ting terminam as candidaturas de imóveis públicos para classificação.

O que é meu é teu

O único imóvel de tutela privada proposto para integrar a lista é o número da Rua de Manuel de Arriaga, muito polémico por ter sido alvo de uma demolição parcial. Guilherme Ung Vai Meng indicou que ontem, no dia que arrancou o processo de classificação de património, também o proprietário do edifício foi avisado.

O nº 28 da Manuel de Arriaga é o único imóvel privado na lista
O nº 28 da Manuel de Arriaga é o único imóvel privado na lista

Assim, seguindo a lei vigente, se a partir deste momento o proprietário quiser avançar com alguma obra no imóvel terá de informar de antemão o IC, para que sejam autorizadas ou não.
As obras de manutenção estão também em cima da mesa, pois, como explicou o presidente, qualquer proprietário que se recuse a fazê-las passa essa responsabilidade para o IC, ainda que seja o proprietário quem terá que as pagar. Caso o proprietário avance com as obras de manutenção, este poderá contar com o apoio material – e não monetário – do IC. Ainda assim, garante o presidente, há dinheiro do Governo disponível para ajudar a suportar os custos.
O processo de classificação desta primeira lista de imóveis terminará nos próximo 12 meses. “Até ao final do próximo ano teremos uma decisão”, garantiu Guilherme Ung Vai Meng, que adiantou ainda que esta lista vai a consulta pública, a partir de dia 28.

17 Dez 2015

Inquérito mostra falta de conhecimento profissional sobre drogas

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m inquérito da Associação de Promotora de Saúde de Macau mostra que os profissionais de saúde não têm conhecimentos suficientes sobre o abuso de drogas, nem conseguem emitir alertas aos toxicodependentes. O Instituto de Acção Social (IAS) quer reforçar a formação.
Segundo o Jornal Ou Mun, a Associação publicou na terça-feira o resultado da investigação dos “Conhecimentos de Profissionais de Saúde de Macau sobre o Abuso de Drogas”, onde conseguiu cerca de mil questionários feitos aos profissionais de saúde de hospitais e de instituições comunitárias.
O resultado mostra que apenas 56,7% dos profissionais de saúde entrevistados conseguem observar se os pacientes consomem drogas através de sintomas físicos ou sinais de comportamento. U Wai Ang, presidente da Associação, acha que os alertas de profissionais de saúde aos toxicodependentes não são suficientes.
O inquérito mostra ainda que apenas 14,9% dos profissionais entrevistados tem conhecimentos correctos sobre o assunto, sendo que a nota média dos conhecimentos básicos dos profissionais sobre o abuso de drogas é de 3,78 pontos (o máximo é seis pontos). Outros 32,2% dos profissionais afirmam desconhecer que consumir drogas é ilegal.
Pun Sio In, vice-presidente da Associação, aponta que os conhecimentos destes profissionais de saúde devem ser mais abrangentes, para que possam ser fornecidas instruções o mais rapidamente possível sobre a matéria.
Hoi Pou Wa, chefe substituta do Departamento de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência do IAS, concorda que é necessário reforçar a formação dos profissionais de saúde devido aos “fracos conhecimentos básicos sobre o abuso de drogas”, sobretudo sobre os novos tipos de estupefacientes e a legislação existente.

17 Dez 2015

CEM tem novo terreno para subestação eléctrica

O Governo cedeu à Companhia de Electricidade de Macau — CEM um terreno de 518 metros quadrados na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues. A empresa recebeu a concessão sem concurso público, uma vez que servirá para a construção de uma subestação eléctrica necessária para “garantir o fornecimento de energia eléctrica aos novos edifícios do Hospital Conde de São Januário e à parte ampliada do edifício existente”, bem como para ajudar na distribuição de carga para as subestações do Hotel Lisboa, da ZAPE e dos NAPE. O anúncio foi ontem publicado em Boletim Oficial e explica que a empresa apresentou o projecto no ano passado. O terreno foi arrendado até 2025.

17 Dez 2015

Pura ficção. E uma mensagem para a comunidade macaense

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]Este texto é um plágio. Este texto também é uma ficção pelo que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência… Com a devida vénia a Ésopo, aqui vai:
Era uma vez uma pequena cidade antiga à beira mar onde pouco ou nada se passava. Tinha vivido tempos difíceis mas, um certo dia, os locais tinham descoberto uma forma de se sustentar. Alguém vindo de fora montou uma gaiola dourada onde criava galinhas. Galinhas essas, mágicas com certeza que, segundo reza a lenda, punham ovos de ouro. Não eram muitos mas o suficiente para os habitantes da cidade terem uma vida digna. E assim se passaram anos, uns mais tranquilos do que outros naturalmente, mas o pão não faltava e os tempos das fomes e das necessidades há muito tinham passado. Não era uma vida perfeita, mas a cidade gozava de bons ares, tinha até o maior índice de esperança de vida do mundo e as pessoas tinham uma vida livre, de alguma forma satisfeita, sendo vulgar reunirem-se em grupos animados em jantaradas ao ar livre pela noite dentro. Viva-se aquilo que os de fora chamavam um vida descansada, laid back. Porque, para além das galinhas que proporcionavam o rendimento aos autóctones, a própria cidade e a sua forma tranquila de vida era uma atracção para os de fora. Aos seus portos chegavam viajantes de variadas origens não só à procura do ouro das galinhas, como também para descobrirem essa cidade lendária que as histórias homenageavam, à procura da poesia que só esta cidade antiga conseguia oferecer. E alguns gostavam tanto que até decidiam ficar, porque não eram apenas as galinhas que eram mágicas, toda a cidade construída ao longo de séculos sob a influência de povos de diversas origens, respirava odores de lenda, era um lugar sem igual no mundo.

Mas chegou um dia em que tudo mudou.

Descontentes por acharem que a gaiola dourada não tinha capacidade para mais galinhas, alguns habitantes poderosos decidiram chamar gente de fora para construir mais gaiolas e criar mais galinhas até porque nas regiões vizinhas a criação daquelas galinhas era considerada tabu e só nesta cidade era possível criar tais criaturas mágicas. E assim foi: de um dia para o outro construíram-se novas gaiolas e criaram-se milhares de galinhas mágicas. O resultado foi espectacular! A produção de ovos de ouro chegou a níveis impensáveis e a cidade encheu-se de curiosos que vinham ver o milagre e, quiçá, levar um ovo com eles. O sucesso foi tal que até os vizinhos se arregalaram com tanta fartura, e deitaram abaixo velhos tabus e começaram também eles a construir gaiolas.

Mas os habitantes da nossa velha cidade estavam demasiados ocupados com as suas fábricas de ovos de ouro para perceberem o que se estava a passar ao lado e continuaram a deitar abaixo prédios antigos, bairros inteiros para criarem ainda mais galinhas. Os preços na velha cidade subiram tanto e os espaços foram tão reduzidos que muitos demandaram a outras paragens e a velha cidade depressa se transformou num galinheiro. Mas o pior estava para vir: um certo dia, a produção de ovos caiu e milhares de mirones começaram a debandar para outras bandas porque, afinal, o fenómeno dos ovos dourados não era um exclusivo da nossa velha cidade. Na realidade, a partir do momento em que se torna vulgar, para ver galinheiros tanto se pode ir aqui como ali. Os outros, os que vinham à procura da cidade das lendas também há muito tinham deixado de a visitar, porque ela não mais pode ser encontrada, atafulhada de galinheiros e lojas de pechisbeque. Espantados, os habitantes da cidade coçam agora o cocuruto olhando para a cidade antiga que os seus aviários destruíram, interrogando-se sobre o próximo passo a dar.

(continua numa rua perto de si)

À COMUNIDADE MACAENSE

Muito se tem falado nestes últimos dias sobre o ser macaense, ouvindo-se muita coisa. Fala-se de idiomas, de etnias, do que é ser, do que é sentir, se é macaense ou macaísta, macaio ou lacaio, português ou marroquino, chinês ou mongol, mediador ou criador, nativo ou amante, mais ou menos mestiço, houve até quem falasse em fazer mais filhos… Todavia, há algo que se sobrepõe a todos esses conceitos, ideias ou hipóteses: chama-se Macau. Sem Macau não havia macaenses. Por isso, se pretendemos de facto discutir a comunidade, não podemos passar ao lado da terra. Uma terra onde, qualquer dia, as memórias vão limitar-se aos cemitérios e, caros amigos, sem memória, sem espaços comuns, sem reminiscências do passado, sem uma traça que distinga um lugar, não há cultura que resista. Por isso, a minha modesta contribuição para essa discussão é que se debata a cidade, o seu planeamento, a sua forma de viver. Ser macaense, tem muito de amor à terra, isso parece ser uma nota comum. Mas são apenas 28 km2… Não é a cultura que está em vias de extinção, é a cidade que lhe deu origem e a discussão tem de ser recentrada na cidade, e com carácter de urgência! Porque sem Macau não há cultura macaense. Macau, mais do que nunca, precisa dos que a amam, precisa de ser defendida dos usurários que a pretendem destruir. Essa é a missão dos macaenses se pretendem que a sua cultura chegue ao próximo século, às próximas décadas… Essa tem de ser a cultura do momento, esse tem de ser o debate, mais, essa tem de ser a acção – acção construtiva, inteligente, moderna, forte e com sentido de missão. O resto é pura retórica que o tempo se encarregará de engolir – e os tempos andam depressa por estes lados. Depois podemos sentar-nos à sombra de uma Figueira de São João e discutir a cultura com um lai chá fresquinho e umas trincas numa batatada.

MÚSICA DA SEMANA
La Pandilla – “La Casa”

“Era una casa muy chiquitina.
Sin desvancito y sin cocina.
No se podía pasar adentro
por que no había ni pavimento.
No se podía ir a la cama.
No había techo ni las ventanas.
No se podía hacer pipí
por que no había un orinalín.
Pero era hermosa con mis canciones
en el país de las ilusiones.
Pero era hermosa con mis canciones
en el país de las ilusiones.”

17 Dez 2015

Sandeman – O homem da capa negra

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]andeman foi um teólogo do século XIX unido ao Catolicismo e talvez seja por aqui que a beberagem da marca tomou nome. As capas só depois de Cardeal é que se tornam púrpuras e talvez, acima deles, já fique mais ténue a própria noção metafísica de Deus. Porém, os meus sentidos captaram muito bem no rudimentar de um país cinzento a Capa Negra no alto dos promontórios de Lisboa, com um chapéu de breu e um cálice na mão. Seria um cálice normal, não era o sagrado, o da ceia, o do vinho da amizade, não era esse: o santo graal não entra nas capas negras, nem os promontórios lhe são destinados: esta era a imagem que fica da frágil infância, um convite velado como os antídotos da Rainha da Noite que nunca resultaram.
Ele ficou para sempre como um presságio de mau augúrio no topo da cidade, como os corvos e um poema de Poe. O tempo passou e deu lugar ao destronar da sua sombra, com muitos efeitos coloridos de néon que brilhavam doravante em caleidoscópica miragem, nos efeitos dos arco-íris da «Poesia está na Rua» dos rubros cravos e do panfletismo de massas. O mundo tinha-se tornado um Natal ao rubro, e das capas mesmo em épocas revolucionárias, havia ainda as do Pai Natal e as azuis dos Super-Homens.
Contudo, voltei a vê-lo com toda a nitidez das profecias na colina alta da cidade, ainda de negro, menos azeviche, opaco, mesmo, e mais esguio, simulado em frágil Deus do Sinai, disse-me: – Não olhes para mim!
Mas era tarde. Viu-o! E sei que o que se passou não é confidenciável. Numa escarpa onde morrem os sonhos, este estar de pé é um saudoso equilíbrio de antanho… prostrado está do cansaço do Homem.
A economia dispara ondas de choque e bem cedo já a repartição da riqueza tal como a conhecemos se alterará, desaparecendo o efeito do poder da materialidade financeira. O que foi dado do cimo de uma Montanha era outrora território mas, numa Terra como esta que herdámos, esse aspecto já não é passível de ser trocado por outro qualquer elemento. E, como um qualquer sem-abrigo, um pária ou um ser cansado, desaparece do espectro óptico, numa imanação toda de vulto e de gravidade. As minhas pupilas não se fecham neste isntante, ele ficou comigo a falar de coisas que não quero interpretar, descodificar, aquela presença magoa-me e, retornado que está nas cidades onde deambula, pressinto que nos ausculta, nos pede algo que não sei explicar. «Esta é a Voz da Europa» (Ezra Pound), ouvimos-lhe «Uzura», tão quietos no gelo destas transformações, que o relembramos. sandeman-anuncio-original-1928
Ontem mesmo, na cálida cidade, uma jovem mulher comprava trivialmente «Mein Kampf». Olhei-a, olhámo-nos, e quase sorri, e o homem da Capa Negra parecia dizer-me: Vê. «Arreceio-me de ti, de ti, Velho Marinheiro! Da tua mão macilenta! Assim comprido e delgado lembra a tua compleição um litoral enrugado». Rimas do Velho Marinheiro. A Europa gela com as idas às urnas, cada vez que lá deixa o querer, as nossas órbitas tornam-se mais profundas.
A China tem um véu de poeira inaguentável… em Portugal fazem-se lindos debates para daqui a cem anos, as redes sociais são transpessoais, as fúrias passeiam-se devagar entre ciprestes que confundimos com frondosas árvores do Paraíso. As serpentes vêm beber o leite no cimo das Falésias de Mármore, as cadeiras baloiçam de rabo em rabo, sem caudas nem capas para as suster.
Há um dia em que as capas negras dos estudantes também caem nos oceanos e se fica a pensar nas práticas ritualísticas de tais esforços, que os jovens se emolam por conquistas de tal ordem graves, que uma Nação inteira tenta rápido esquecer. Os Fados estão mais Fúrias que fadados ao seu trivial condão, enquanto as coisas se “normalizam” e pedimos tréguas para a montagem de uma era que nos foge. É previsível até certo ponto saber para onde vamos, mas nem todos, querem concordar que o espaço é o mesmo. Se o território se vai, os caminhos estão abertos, e nem sempre acontecem poemas como na minha rua que escrito tem no asfalto no espaço de um quilómetro esta coisa maravilhosa: “Adoro-te”. As estrelas podem cair a nossos pés e a rota dos Magos estar já desfeita, nem sempre nascem salvadores, mas a marcha prossegue. “No mais pantanoso dos abismos depuram os alquimistas os seus metais.”
Estamos parados a ver se não estamos delirando num vasto mar de probabilidades ameaçadoras. A vida é todos os dias e dia após dia vamos vivendo com as regras que temos, mas velozmente as coisas mudaram.
«Aqui a voz da Europa», fala Ezra Pound. Uma ideia é colorida por aquilo que contém. Sim, mas o Homem da Capa Negra não me veio dar ideias nenhumas. Ele não tem ideias, vive por um desígnio inalterável e já não bebe. Para combater o crescente, bebamos, bebamos vinho, mesmo que estejamos ébrios, é o nosso vinho. Mas não perder o sentido e nunca deixar a «Voz da Europa» tomar o pulso das grandes questões. Sempre os poetas são porta-vozes, e tanto as coisas saem bem, como lhes saem muito mal. Mas o mal é como as ideias, não se enegrece por aquilo que contém( se é que ele é escuro) uma vez que os fantasmas são brancos, de onde nos vem tal percepção?
Hoje, que porta bandeiras temos que não sejam os aviões de metralha? Os porta-vozes anunciam-nos e alertam-nos para o quê? Para nada. Cada um alucina dentro do seu mundo aberto que se quer adaptável para o efeito de maré morta do devir. Estamos confinados à desdita de tudo ser razoável e não ser viável, somos o que sobrou dos quentes dias, das cores e de um mundo feito de muita púrpura e vivos escarlates, mas, o que aconteceu ainda não sabemos, nem falamos disso, não temos concordâncias verbais para debates tão surpreendentes.
Expectantes estamos na Hora, como os corvos transportando a Barca, estamos a ver se o morto não tomba do bico impreciso das aves friorentas, se elas se mantém na zona de conforto que faz da morte dos mártires belas estátuas jacentes, estamos em guarda, salvaguardando as muitas coisas boas, bebendo-as, antes que os túneis sejam atirados aos rios, aos mares, e nos falte o sabor da Maçã. Parece que elaboramos o futuro que há-de vir como um furioso cavalo a relinchar, e subitamente, a quadriga não nos deixa ver a cor. Por detrás desta fórmula há factos, cobradores de impostos, quotidianos difíceis, vidas que ao tempo se dão para acalmar os vendavais, e de tão estanques e gelados com o que aconteceu nas eleições ali em cima, supomos que aquilo é outra coisa. Será certamente, mas com o mesmo prósito de sempre, e talvez seja por isto que encontrei o Homem da Capa Negra.
Somos os Cantos de Maldoror.
Prossegue o Natal em que as meninas adoptam perús para não serem mortos, talvez isto seja verdadeiramente a notícia melhor, coisas tão simples como um sorriso. O resto não retém o nosso entusiasmo mais que breves segundos num ciclo de coisas que começam a perecer.
«Eis que por vezes se ouvem gritos nos silêncios das noites sem estrelas. Embora ouçamos esses gritos, aquele que os solta não está, contudo, aqui perto; pois podem ouvir-se estes gemidos a três léguas de distância, transportados pelo vento de cidade em cidade.»
Lautréamont.
E, por fim, o mundo não é mais que a Cidade.

17 Dez 2015

Os contos, os porcos e as pérolas

Sinopse e Ficha Crítica de Leitura

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]João Aguiar nasceu em Lisboa, tendo passado grande parte da sua infância na Beira, Moçambique. Licenciou-se em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas, tendo trabalhado nos centros de turismo de Portugal em Bruxelas e Amesterdão. Regressou a Portugal em 1976, para se dedicar numa primeira fase ao jornalismo. Trabalhou para a RTP (onde iniciou a sua carreira em 1963) e para diversos diários e semanários como: Diário de Notícias, A Luta, Diário Popular, O País e Sábado. Em 1981, foi nomeado assessor de imprensa do então Ministro da Qualidade de Vida. Colaborou regularmente na revista mensal Super interessante, sendo membro do seu Conselho Consultivo. Foi ainda colaborador da revista Tempo Livre. Morreu aos 67 anos, vítima de doença prolongada. Das suas obras eu destacaria: A Voz dos Deuses (1984), Os Comedores de Pérolas (1992), O Dragão de Fumo (1998), O Rio das Pérolas (2000), Uma Deusa na Bruma (2003), O Jardim das Delícias (2005), O Tigre Sentado (2005, 2ª edição), entre muitos outros títulos.

A obra que analiso aqui é O Rio das Pérolas do ano 2000, curiosamente o ano da transição da soberania de Macau para a China . Num certo sentido este pequeno livro de contos possui o valor emblemático de uma despedida de Macau e de uma nostalgia pelo carácter desta cidade misteriosa e sob muitos aspectos emblemática.
Esta obra de João Aguiar é constituída por 4 (quatro) contos – Sândalo e Jasmim, O Deus dos pássaros, Sinal novo e o Princípio da compaixão – unidos por uma referência comum à cultura chinesa de Macau.
Nestes quatro contos o narrador acossado por uma depressão persistente vai tendo encontros com personagens irreais. O pretexto, parece-me, é utilizar a ficção para dar conta de um conjunto de descobertas culturais e religiosas relacionadas com a estadia do autor. Melhor seria dizer, com as estadias do autor. Os contos exercitam assim uma dupla função lúdica e erudita, quase etnográfica, que nem sempre funciona plenamente mas suficientemente para justificar a leitura destes quatro contos. No primeiro conto, designado Sândalo e Jasmim, o narrador, o próprio autor seguramente, irá entrar em contacto com a deusa Sèong Ngó, ou seja a deusa da Lua. Aparentemente o autor desconhece quase tudo sobre Macau e usa um interlocutor, para tornar mais verosímil a narrativa que, sendo português, se encontra há vários anos em Macau, o que justifica os imensos conhecimentos de que dá provas. Mas a erudição, em boa verdade, não passa de um segredo de polichinelo, pois tudo se resume a uma saber generalista e que se pode encontrar em qualquer guia turístico ou na Internet. O que no conto despoleta a intervenção da deusa Sèong Ngó são as traquinices de uma criança que inopinadamente interpela o nosso personagem para no fim de contas lhe dar uma lição de sabedoria existencial. Claro que a criança não é nem podia ser uma criança qualquer, pois as crianças com três anos de idade não podem dar lições de vida seja a quem for. A criança em causa que se dirige ao nosso narrador, na praia de Hac Sa, lugar que como sabemos é muito visitado na noite do Tchung-tchao Tchit que é, nem mais nem menos, a grande festividade do Outono, mais conhecida pelo “Bolo Lunar”, festividade móvel e que ocorre sempre no décimo quinto dia do oitavo mês lunar. É uma festa que celebra o fim das colheitas dedicada à deusa da Lua. Ora foi como vimos a deusa da Lua que se aproximou da personagem para o poder esclarecer acerca dos ensinamentos sábios da criança Na Cha. E quem é afinal Na Cha. Vamos por partes e comecemos pelo seu habitat. Na Cha possui o seu templo próprio em Macau, ali na Calçada das Verdades, entre as travessas de Sancho Pança e de D. Quixote. É aí que se encontra um templo de dimensões muito reduzidas, o que se compreende, pois é habitado por uma criança. É tão pequeno que possui uma única parede e a sua cobertura é suspensa por pequenas colunas de pedras. Este minúsculo templo, mas tão “simpático” na sua simplicidade é dedicado a um deus criança, precisamente a criança Na Cha da história de João Aguiar. A narrativa de João Aguiar é neste ponto muito realista pois a criança aparece identificada tal qual como é descrita em qualquer panfleto de promoção turística. Assim o autor enfatiza o carácter traquina da criança, tão traquina que os pais o mantinham preso a uma argola, da qual se libertava, porém, a toda a hora. Mas sobretudo o autor acentua o seu desassossego, uma vez que ele está sempre em movimento de um lugar para outro, de tal modo que é representado com uma argola dourada na mão e rodinhas nos pés. Consta que esta criança não queria nascer, pois provavelmente sentir-se-ia muito confortável no ventre da sua mãe. O que andaria ali a fazer, na praia de Hac Sa, na noite de celebração do “Bolo Lunar”, esta criança tão abençoada, sobre isso o autor nada nos diz, mas é de crer que seria também para comemorar esta festividade tão importante, aproveitando já agora para comer um pedaço de bolo, pois sabe-se como as crianças são doidas por guloseimas, mas mais do que tudo, estou certo, para cuidar das crianças que nessa noite com a cumplicidade dos pais ficam a pé até mais tarde. É que Na Cha é uma Criança-Deus superiormente investida do estatuto de patrono para melhor proteger as outras crianças de males e doenças e por maioria de razão colocá-las ao abrigo das más influências dos espíritos malignos. 171215P14T1
Em todas as histórias há sempre qualquer coisa de surpreendente mas ao mesmo tempo erudito como já disse, salvo no conto intitulado O Deus dos Pássaros. Nesta história do pássaro vermelho artificial que o contador de histórias comprou na Rua das Mariazinhas e que meteu dentro de uma gaiola comprada junto ao Mercado Vermelho o que há de relevante é a justaposição de um costume com um desejo que, através do inconsciente, se transmuta numa desconstrução do costume em nome de um valor libertário, tão ocidental. E tudo isso através da subversão do desejo. É uma parábola sobre a liberdade mas também sobre o incondicionado dos deuses. Mas, para que o efeito libertário se tenha completamente consumado foi necessário que o desejo do homem pela liberdade fosse estimulado e desencadeado por uma espécie de transcendência onírica que na economia da narrativa desempenha um papel propiciatório. Os deuses propiciam e os homens agem. Num contexto temático completamente diverso do poema Infante da segunda parte da Mensagem: Mar Portuguez, este segundo conto faz plenamente justiça ao seu primeiro verso: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Que, contudo, este Deus não seja o nosso mas o Deus dos pássaros é o que acaba por contar muito pouco em minha opinião.
O encontro com A-Mah, a deusa, tem os contornos de um prodígio. Aliás uma das personagens, Jasmim de seu nome, peripatética de profissão, quer dizer, que faz o trottoir, mas afinal avatar da própria deusa, diz a dado passo: “De vez em quando, convém renovar os prodígios, se não as pessoas confundem-nos com as lendas”. O conto termina no templo de A-Mah onde duas das personagens do conto se encontram para rezar e agradecer à deusa. Jasmim, que tinha embarcado com eles, o narrador e o seu tio Pac, foi afinal quem os salvou do terrível tufão de grau nove que se abateu sobre Macau e Ilhas durante um breve período, afinal o tempo de um passeio de barco desde o Porto Interior até para lá de Coloane e regresso.
Finalmente o quarto conto narra o encontro desta predestinada personagem, com a deusa Kun Iam. Kun Iam é a encarnação feminina do Avalokiteçvara, o compassivo, o bodisatva mais venerado do Mahayana que representa essencialmente o princípio da misericórdia e da compaixão. Neste conto o autor explorou, e a meu ver muito bem, dois aspectos aos quais sou particularmente sensível, a questão da tolerância e no fim de contas do amor pelo próximo, ao mesmo tempo que explorou também a problemática do Outro, na perspectiva de que não se encolhe ao considerar que a compaixão, a misericórdia, não são expressão de nenhuma religião ou cultura em particular, mas fazem parte da natureza humana e são assim partilháveis justamente enquanto património comum, o que de algum modo explica as semelhanças entre a imagem da nossa senhora das Dores e a imagem da deusa Kun Iam que se encontra no templo de Kun Iam Mil e que ao que parece terá vindo de uma capela que havia em Pequim no século XVIII. O encontro do escritor com a deusa ou aliás com Avalokiteçvara tem metaforicamente os contornos de uma perseguição e digo metaforicamente pois a ideia que é ressalvada é a de que o sentimento de compaixão e misericórdia, mais ainda do que estar em nós é algo que nos persegue a vida toda. Desde há muito que a personagem se sente perseguida, em boa verdade por dois inimigos, um sentimento de revolta e de raiva, podemos dizer assim, e ao mesmo tempo, sem o saber, por este Avalokiteçvara que na trama dos seus sentimentos se virá a afirmar como compaixão.

17 Dez 2015

Macao Indies | Novas candidaturas já estão abertas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Centro Cultural de Macau (CCM) aceita até ao dia 8 de Janeiro do próximo ano candidaturas para a nova edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo – Macau Indies, o qual irá decorrer entre Março e Maio de 2016. Segundo um comunicado, o CCM “continua a apostar em descobrir novos valores, trabalhando numa plataforma para os nossos cineastas exporem as suas ideias”. Macao Indies
Os trabalhos que vierem a ser seleccionados podem ganhar prémios pecuniários no valor total de 80 mil patacas, sendo que “não existem limites no que diz respeito ao tema ou à duração dos filmes”. A competição é aberta a qualquer trabalho produzido por realizadores de Macau ou filmado na cidade.
Lembrando filmes que marcaram edições anteriores como o “Sirena”, “No Vazio” ou “Viagem no Tempo”, o CCM garante que a nova edição do Macao Indies “continua focado em apoiar e distinguir as produções locais em termos de criatividade, qualidade e originalidade devotando esforços para garantir uma atmosfera de intercâmbio entre realizadores locais e profissionais do exterior”.

17 Dez 2015

MUST | Fotografias de Jean Yves Bardin em exposição

Patente até 23 de Dezembro, a exposição “Gueules de Vignerons”, do fotógrafo francês Jean Yves Bardin, está em exibição na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). A mostra é da responsabilidade da Alliance Française que, como indica ao HM um dos responsáveis, pretende dar a conhecer o talento francês. As mais de 30 fotografias fazem parte do livro “Vugnerons d’Anjou, Gueules Vignerons”, que arrecadou os prémios de Gourmand Drinks Awards em 2014 e de Melhor Livro de Vinhos do Mundo em Junho de 2015, em Yantai, capital do vinho na China, que anualmente premeia os melhores livros do mundo sobre temas gastronomia e bebidas. “A grande novidade aqui é que este é um livro de vinho, mas de vinho orgânico”, apontou a organização. “Decidimos convidar o fotógrafo para vir a Macau e expor algumas das suas fotografias, enquanto ele está a fazer uma tour pela China”, indicou ainda. A exposição é de entrada gratuita.

17 Dez 2015

MAM | Kitty Leung explora “acelerado desenvolvimento” da cidade

A artista Kitty Leung ensina no Canadá, mas nasceu em Macau e é aqui que leva a cabo uma exposição dividida em duas partes: “Memórias Preservadas” e “Tipografia da Cidade” com frascos, fotografias, textos originais e letreiros à mistura

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]artista local Kitty Leung vai expor “Memórias Preservadas” no Museu de Arte de Macau (MAM) a partir do próximo dia 23 e até 14 de Fevereiro do próximo ano. Na sala estarão expostas obras feitas a partir de frascos de compotas e antigas fotografias da cidade.
Em causa está a exploração do “acelerado desenvolvimento” de Macau, por meio da impressão, instalações, vídeo e projecto baseados em fotografia. Leung cumpre, a tempo inteiro, funções como professora de Artes na Universidade Politécnica de Kwantlen, no Canadá. Na sua carreira de artista, tem-se debruçado sobre uma série de problemas relacionados com espaço, memória, narrativa e relações entre o homem e a natureza. Entre as várias exposições que fez, marcou presença na 53ª Bienal de Veneza, além de representar Macau em outras mostras na Europa.
“Nos últimos 15 anos Macau foi alvo de um acelerado desenvolvimento urbano, o que provocou alterações geográficas, económicas e sociais consideráveis que, se por um lado trouxeram prosperidade, por outro também causaram vários problemas sociais. Parece pois haver uma contradição (dilema) entre a promoção do turismo para o desenvolvimento económico e a manutenção das condições de habitabilidade e da qualidade de vida”, escreve a organização em comunicado.
A fotografia, explica o MAM, “é uma forma de preservar o tempo e as memórias” e essa é a razão pela qual Leung pretende apresentar a sua teoria desta forma.

Tipografia dos sentidos

A segunda parte da mostra intitula-se “Tipografia da Cidade” e tece críticas à existência dos letreiros publicitários que enchem a cidade.
“As novas tendências tipográficas conferem uma identidade e características diferentes à cidade e um novo sentido de pertença aos seus habitantes. A tipografia da cidade é um marco gráfico e abstracto. Os vários tipos de letra gravam-se de forma subconsciente na mente dos cidadãos”, explica o MAM.
A ideia, avança a autora, é frisar a importância de manter o que é tradicional, documentando “letreiros de lojas encerradas em vários pontos da cidade” com textos reescritos sobre estes. É, de certa forma, um meio para “manter viva uma coisa em vias de extinção”.
A exposição tem entrada gratuita e insere-se na Montra de Artes de Macau, intitulada “Memórias e Símbolos”.

17 Dez 2015

Associação local organiza feira de Natal na Torre de Macau

A Torre de Macau vai encher-se de motivos natalícios durante dez dias, com uma feira alusiva à época, que decorre de amanhã até 27 deste mês. A organização fica a cabo da Associação de Consumo e Turismo de Lazer de Macau, que promete “espalhar várias barracas e um excelente programa cheio de espírito do Natal tradicional ao estilo europeu”. É a primeira vez que a feira se associa a várias marcas locais e de Hong Kong para criar um estilo distinto onde os visitantes podem comer, comprar e divertir-se com uma série de actividades ligadas a esta época festiva na zona exterior da Torre. Haverá até um globo gigante de Natal que irá espalhar neve por todo o recinto para que os participantes se sintam do outro lado do mundo. Presentes estarão também associações solidárias de Macau e todas as compras feitas revertem a favor dos mais desfavorecidos. A Associação vai ainda convidar os artistas de Hong Kong JW, Andrew Pong e Henry Harrius. É com muita dança, música e entretenimento que os presentes vão ter a oportunidade de assistir a concertos e a um espectáculo de magia. A entrada é livre.

17 Dez 2015

Droga, porcaria e chupa-ovo

I

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ntre a correria dos afazeres profissionais, quase nem dei pela entrada da quadra natalícia, o que vem comprovar que esta época outrora dada a balanços de fim-de-ano e menos “stress” já não é que era – e para o Sporting este Natal parece que também não. Fico aliviado, uma vez que esta vontade excepcional de fazer render o que falta para acabar o ano civil, e que no universo das anedotas de alentejanos seria considerado “uma epidemia”, contraria a tendência do PIB, esse em curva descendente. Pesando tudo isto na balança, o resultado é positivo, uma vez que as previsões mais pessimistas apontavam para o desinvestimento, coisa até considerada “normal” numa indústria tão volátil como a dos Jogos de Fortuna e Azar, e tudo o que isso representa, e de que Macau e a sua população se encontram invariavelmente reféns.
E é no seguimento deste recheio social sortido que nos sai na rifa de todos os vícios que encontramos a droga – isto salvo seja, obviamente. Fico a saber que o Executivo se prepara para rever a moldura penal para os crimes de tráfico e consumo de estupefacientes, e sim, era previsível: as penas vão ser mais pesadas. Tão pesadas que fossem estas “penas” a de uma ave, teria que ser de um avião. Eu já me sinto indiferente – para que estragar a pele com manifestações perante esta táctica de “mais vale quebrar que torcer”? Aumentaram os números do consumo e o tráfico? Penas mais pesadas! Aumentaram outra vez, é? Então toma mais dois ou três ao fresco! E agora, atrevem-se? Claro que se atrevem, mas qualquer que fosse na mesma direcção da maioria das restantes jurisdições civilizadas e progressistas, para quem o consumidor é também uma vítima, seria entendido como um sinal de permissividade, de fraqueza.
Assim mais vale o simpático Hin Wai ir todos os anos anunciar novos patamares de insucesso na missão de que o incumbiram mais ao departamento que dirige, o que pode ser entendido também como uma demonstração de confiança quiçá única no mundo (nem José Mourinho aguentava no Chelsea com resultados destes), que o problema no fundo é “político”.
Este ano estive em Bali, na Indonésia, país onde este ano as autoridadas executaram 14 detidos pelo crime de tráfico de droga, alguns deles estrangeiros, e por sua vez entre estes, uns que foram detidos exactamente quando da sua chegada àquela estância turística. Por aquilo que vi e me foi dado a entender, o problema destas malogradas almas inconscientes foi não ter licença de importação, ou “cartão de membro do clube”. Droga era coisa que havia por lá ao pontapé, posso garantir.

II

Estive de fora de Macau durante uns dias, de visita ao Cambodja, e imaginem que durante a minha ausência foi anunciada a decisão da Universidade de Macau agora situada na Ilha da Montanha, em acabar com o ensino da Língua Portuguesa como opcional, o que provocou entre a nossa intelligenzia as já previsíveis e costumeiras ondas de choque. Este “corte” não se deverá ao facto da mudança do “campus” para o lado de lá, do primeiro sistema, e muito menos estariam à espera que eu virasse as costas, porque para mim – e preparem-se, ó “junkies” da indignação e do sobressalto, que pedem sempre em tamanho “supersize” – é igual ao litro. Estou-me nas tintas. Já deviam ter tomado esta decisão mais cedo, até porque vindo de quem vem, deixa-me apreensivo, desconfiado até, que se mantenha o ensino de uma língua que representa (preencha com a alarvidade patrioteira que melhor achar), ainda por cima fazendo-o contrariados, e eu não gosto de ver gente contrariada, com birra do sono, e possivelmente chichi.
É apenas sintomático que se venha agora por na porta mais este cadeado numa Universidade, que nessa função de formar os quadros superiores só pode classificada de “sinistra”, tais eram os sinais de rigidez que vinha demonstrando nos últimos tempos, atingindo o clímax no ano passado, com actos de pura censura e saneamento de académicos por motivos obscuros. No papel pode parecer mau que a instituição de ensino superior que ostenta o nome do território trate com esta menoridade um elemento indissociável da matriz histórica e cultural desse mesmo território. No papel, insisto.
Mas agora peço-vos que parem de emborcar esses hamburgueres de desaforo, empurrados não por coca-colas mas por “ora bolas que já nos tramaram”, chegando a ler neste acto algum tipo de prenúncio do apocalipse linguístico, e deixem-me que vos proponha uma dieta muito fácil, que nem requerer que tirem o rabiosque da cadeira. Basta reflectir durante um minuto e fazerem a vocês próprio esta simples pergunta: isto fica mal a quem, exactamente? Quem quiser aprender Português tem outras opções (e até no continente, e com mais qualidade, dizem), e não noto nenhum tipo de animosidade contra a segunda língua oficial, tirando dos suspeitos do costume, e a esses só nos resta deixar a pastar lá na montanha, onde se fala o montanhês. Béééé…

III

Também durante o curto período em que troquei Macau pela pátria dos Khmeres, falou-se de identidade macaense. Olha khmerda, já viram o que andei a perder, enquanto se tentava responder ao velho enigma que apoquenta menos que 0,0000000005% da humanidade que se propõe a discutir o problema: quem veio primeiro, a galinha chau-chau parido ou o chupa-ôvo? Eu adoro o Miguel, o André, a Paula e todos eles, no sentido não sexual nem gastronómico do termo, mas eles próprios sabem que esta discussão é tão produtiva como organizar um campeonato mundial do Jogo do Galo. Contudo, permitam que partilhe aquela que considera a melhor definição quanto ao género e sexualidade dos querubins:
“(…) Os movimentos migratórios convergentes para o território de Macau, tendo como principais territórios de origem Portugal e China, e os movimentos migratórios que daquele território divergiram para o mundo, constituindo-se como diáspora, devem ser incluídos na caracterização da comunidade macaense, privilegiando-se o seu principal núcleo de organização social, isto é, a família macaense.”
Aí está: a “família macaense” como o elo de ligação a Macau e, por inerência, ao sentimento de pertença, à noção de uma “identidade” própria. Mas não interpretem isto como uma tentativa de conciliar seja o que for, ok? Eu quero é que a malta “vá juntá” para “falá falá falá” e “comê comê comê”, e que não faltem para isso pretextos, por mais inconclusivos que possa ser a discussão.

17 Dez 2015