Redes sociais | Contas de influenciadores encerradas por ostentação

Várias redes sociais chinesas encerraram e bloquearam contas de influenciadores conhecidos por “ostentarem a sua riqueza”, incluindo Wang Hongquan, uma celebridade que ganhou a alcunha de “Kim Kardashian da China” pelo seu estilo de vida luxuoso.

Wang Hongquan tinha acumulado mais de 4,3 milhões de seguidores no Douyin, a versão chinesa do TikTok, que está bloqueado na China, desde Abril passado.

Numa declaração recente, Wang, de 30 anos, disse que não sai de casa “sem levar uma quantia de oito dígitos em dinheiro”. É também conhecido pela sua tendência para adquirir várias propriedades e veículos de luxo, como Rolls-Royces, algo que as plataformas estão agora a tentar erradicar ao abrigo das orientações oficiais que pretendem evitar a “extravagância”.

Outros influenciadores igualmente conhecidos por exibirem a sua riqueza também desapareceram das plataformas. Em Abril, a rede social Weibo anunciou que ia combater os conteúdos que promovem “valores negativos” como o “esbanjamento e a ostentação”.

Outras redes, como a plataforma de vídeo Bilibili e a aplicação de vídeos curtos Kuaishou, também anunciaram medidas semelhantes. Em Dezembro, o Gabinete da Comissão Central para os Assuntos do Ciberespaço lançou uma campanha de um mês contra “informações falsas”, “conteúdos inadequados” e “valores errados” no sector de difusão de vídeos curtos.

O regulador chinês da Internet visou então comportamentos como a “criação de esquemas para ajudar grupos desfavorecidos” para “explorar a solidariedade do público”, “ostentação de riqueza”, “culto do materialismo” e “indulgência no luxo”.

28 Mai 2024

Redes sociais | Dirigente de associação pede censura de críticas ao Governo

O presidente da Associação para o Desenvolvimento da Indústria Financeira e de Tecnologia da Grande Baía, Un Ieng Long, defendeu que as declarações nas redes sociais a acusar o Governo de despesismo e de tomar decisões com base em jogos de bastidores são “falsas”, pelo que devem ser censuradas e os responsáveis punidos criminalmente.

Numa opinião reflectida à Lótus TV, o também coordenador de ligação comunitária, um órgão de informadores do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), apontou que estes crimes de difamação devem ser prevenidos e combatidos na origem, e que a censura rápida dos comentários nas redes sociais pode impedir impactos negativos para a imagem do Governo. Un Ieng Long também indicou que é necessário aplicar multas aos censurados e aumentar as molduras penais para este tipo de crimes, como efeito dissuasor.

Un Ieng Long justificou que as declarações de despesismo e cedência a jogos de bastidores são falsas, porque “todas as obras e planos do Governo são aprovadas por comissões para efeito, o que também acontece com os orçamentos” do Executivo. O residente indicou também que os mecanismos de supervisão internos são complementados pela fiscalização dos deputados da Assembleia Legislativa e pelos governantes, pelo que “não existem jogos de bastidores” em Macau.

Após as declarações, o artigo da Lótus TV acabou removido do site da estação, sem que tivesse sido apresentada qualquer justificação.

24 Jul 2023

Ciberespaço | Sancionadas redes sociais por difusão de “informação prejudicial”

As autoridades chinesas sancionaram diversas redes sociais do país por divulgação de “informação prejudicial” e incumprimento das “obrigações de gerir a informação publicada pelos utilizadores”, adiantou ontem a agência para a Administração do Ciberespaço da China.

Em causa estão conteúdos relacionados com “pornografia, jogos de azar, superstições e prostituição”, tendo as sanções sido aplicadas no primeiro trimestre de 2023 às redes sociais Weibo (o equivalente chinês do Twitter, que está bloqueado na China) e Douban, e ao motor de busca Baidu.

Os responsáveis por estas plataformas “foram intimados a apresentar os problemas existentes às autoridades do ciberespaço e a corrigi-los”, explicou a administração num comunicado citado pela EFE.

A instituição informou ainda que, durante os primeiros três meses do ano, as autoridades ordenaram o encerramento de 55 aplicações e a cessação de actividade de 4.208 ‘sites’ “ilegais”.

Em Março, a agência anunciou que, durante 2023, iria lançar uma série de campanhas especiais para “limpar” a Internet e “rectificar” problemas como a manipulação de informação através de contas falsas e ataques contra empresas privadas.

A China é o país com mais utilizadores de Internet no mundo (mais de mil milhões) e um dos que exerce maior controlo sobre os conteúdos ‘online’, visível através do bloqueio de algumas das maiores plataformas ‘online’ do mundo, como Google, Facebook, Twitter e YouTube.

2 Mai 2023

Whatsapp | Mais de 410 mil números de Macau alvo de ataque

Um ataque informático de escala mundial resultou do roubo de dados de telefone de mais de 410 mil números de Macau na aplicação Whatsapp. A subtracção de dados de perto de 500 milhões de contas de Whatsapp afectou números de todo o mundo. Uma notícia avançada pelo portal da especialidade Cybernews indica que quase 500 milhões de conta estavam a ser vendidas na internet num fórum conhecido por servir de suporte a piratas informáticos.

Os ataques envolveram o roubo de dados de contas em 84 países e regiões, com os países mais afectados a serem os Estados Unidos, Egipto, Itália, Arábia Saudita, França e Turquia.

A mesma fonte adianta que a base de dados relativa a números norte-americanos estaria a ser vendida por 7.000 dólares, os dados do Reino Unido por 2.500 dólares e da Alemanha por 2.000 dólares. Segundo o Canal Macau da TDM, o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais afirmou estar a acompanhar o caso, mas que não recebeu queixas de residentes de Macau.

As informações roubadas são normalmente usadas para fraudes através da obtenção de informações bancárias, relativas a cartões de crédito ou dados de identificação. Os piratas informáticos costumam enviar mensagens fazendo-se passar por entidades reputadas ou através de chamadas incógnitas com o objectivo de obter informações passíveis de ser usadas em crimes.

28 Nov 2022

Ginásio Mental

Li num artigo que a geração Z vai mais ao ginásio. Alcançar uma aparência física desejável beneficia a auto-estima e outra coisa que faz muito bem também é produzir mais likes no Instagram. Conseguir bons ângulos para posar em frente a um telemóvel. Possuir determinados objetos que fazem de nós seres civilizados. Alcançar objetivos que nos atribuam valor, mas, acima de tudo, que sejam visíveis. Passamos de um período a que Walter Benjamin definia como “o culto da arte” para “a arte exibicionista”. Em “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” ele vai mais longe, chegando mesmo a concluir que qualquer forma de exibição é necessariamente ideológica.

Distraidamente ideológica. Afinal, que tipo de pensamento político se consegue expor num post do twitter para além de ideologia pura e dura sem qualquer nuance? E esta personagem que criamos de nós mesmos, o que é que estamos exatamente a vender ao reproduzir mensagens simplificadas até ao tutano? É este o nosso novo produto artístico, nós mesmos, num post? Porque eu quando penso em arte penso no “Quadrado Negro” de Kazimir Malevich. É uma obra que é uma provocação. É pensar a arte enquanto ausência. Ponderar sobre esta nossa existência tão livre que pode até ser tanto que não é nada. Um quadrado negro. É este nível de reflexão que exige algo que está a cair em desuso – a concentração e a deliberação . Num sistema onde um artista tem que se adaptar à forma mais eficaz de produção massiva, perde uma grande parte da sua autoridade enquanto criador. Já não é a arte que nos absorve, nós absorvemos a arte. O artista já não se consegue impor com autoridade porque esse esforço de ir ter com a arte torna-se impraticável. A nossa condição num sistema sócio-político obcecado com a produção material não nos permite parar. Ler ou ir a uma galeria de arte é um ato isolado que requer concentração e disponibilidade mental para que as formulações de ideias tenham densidade. Contudo, se essas várias facetas da vida produtiva nos deixam demasiado ocupados para deixarmos de percepcionar a arte a um nível individual (a arte visual, o livro) e a consumimos passivamente a um nível colectivo como o é o cinema Blockbuster, mas também o é o Instagram e o YouTube, onde vamos enfiar esta coisa massiva que é a subjetividade da experiência humana? Sentir a chuva a cair na pele não é a mesma coisa que ver uma foto da chuva a cair e também não é o mesmo que ver um vídeo da chuva a cair. A chuva a cair na pele só se pode viver, não se pode exibir. Todo este bem-estar físico e bem-estar mental não passa exclusivamente por uma cultura do exibicionismo. Não encontro a autenticidade de alguém numa selfie.

Não compreendo em que altura deixamos de ser capazes de expressar a nossa mais profunda individualidade e começámos a criar, não como quem desafia, mas como quem devolve a todos a sua própria imagem. Ir ao ginásio faz bem mas não nos esqueçamos de treinar também os músculos da mente porque enquanto nos tornamos espectadores passivos de ideias, alguém está, certamente, muito ativo a criar todo o nosso pensamento por nós.

23 Abr 2021

Juventude | DSEDJ diz ter conhecimento profundo de redes sociais

Representante da DSEDJ afirma estar consciente de que o mundo virtual é “imprescindível” e que o principal desafio é educar os jovens a utilizar correctamente as novas tecnologias e redes sociais. Para contrariar efeitos nocivos a nível físico e mental, o organismo está apostado em aumentar a capacidade de observação dos professores

 

A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) quer estar mais perto dos jovens e falar o mesmo dialecto digital. Com o objectivo de fazer face a efeitos negativos, tanto a nível físico e mental, provocados pela, cada vez maior, utilização de aplicações móveis e redes sociais entre os jovens, a DSEDJ quer aumentar a capacidade de observação de professores e assistentes sociais, munindo-os com conhecimento profundo sobre esta realidade e promover acções de divulgação.

No final da primeira reunião plenária de 2021 do Conselho da Juventude, o Chefe de Departamento do Ensino Não Superior, Wong Ka Ki assegurou que o encontro foi “muito importante” para que o organismo tomasse consciência do estado físico e mental dos jovens e que existe um conhecimento profundo acerca das redes sociais mais utilizadas. Conhecimento esse que já está do lado da DSEDJ.

“Convidámos muitos representantes dos Serviços Sociais para que transmitissem o seu conhecimento sobre a forma de pensar dos jovens aos nossos membros. Estamos conscientes de que o mundo virtual é indispensável para os jovens, mas a questão é: como podemos educar os jovens da forma correcta? Por exemplo, temos professores e assistentes sociais que conhecem os jogos que os jovens jogam e, com essas informações, podemos agora fazer mais acções de formação de professores e assistentes sociais. Foi uma reunião muito importante”, transmitiu ontem o responsável.

Por seu turno, a Chefe de Departamento de Juventude da DSEDJ, Cheong Man Fai apontou que, pelo facto de as redes e aplicações sociais utilizadas terem, muitas vezes, o condão de gerar “situações e exigências estranhas” por parte de amigos e recém-conhecidos digitais, importa “estar atento à situação” e que todos saibam quais são as redes sociais mais populares.

“Alguns membros pediram às escolas e associações para promover formas de utilização correcta das aplicações e redes sociais. Todos os jovens usam [estas ferramentas] e correm o risco de cair em situações desconfortáveis. Além disso, os jovens já não usam só o Facebook, mas também outras aplicações”, explicou.

Traves mestras

Para fazer face à situação, Wong Ka Ki partilhou que a DSEDJ irá seguir duas orientações principais. A primeira é cultivar e prestar atenção às relações entre alunos, professores e pais, ao passo que a segunda vai no sentido de reforçar o trabalho de divulgação de boas práticas destinadas aos jovens que demonstrem estar em dificuldades.

Para isso, aponta o responsável, serão disponibilizados “serviços de consulta online” para ajudar os jovens, e ainda, aumentada “a capacidade de observação dos professores”, para que estes estejam sensibilizados para distinguir os sinais transmitidos pelos jovens. O objectivo é estar alerta para casos de alunos em dificuldades devido à utilização das redes sociais, com a possibilidade de, eventualmente, os encaminhar para os Serviços de Saúde (SSM).

31 Mar 2021

O Ventura e nós

Há uma histeria colectiva em relação ao André Ventura que só lhe aumenta as metástases e o legitima como um novo David em luta contra os Golias do “sistema”. Não é apenas na comunicação social, esta ecoa o que ocorre nas redes sociais. É preciso desmantelar a pretensão do Ventura em ser “anti-sistema”, não reforçá-la. Não entender isto pode ser mortal.

O calafrio nasce do medo de que o calor não volte. Ora é impossível que o calor não volte pelo motivo mais simples: o sol não se deslocou. Evidencia-se um desejo não formulado nesta obsessão em dar forma ao medo, quando (lembrou muito bem Daniel Oliveira) ele é apenas o senhor doze por cento numa extensão de cem; e metade da fatia que lhe coube não lhe pertence, foi-lhe emprestada por quem votou não exactamente nele mas contra qualquer coisa, e cujo protesto volante, na próxima, recairá noutro oportunista.

O Alentejo terá virado o seu sentido de voto? O horror disso prende-se com a ideia arreigada de que “antigamente é que era bom”. Será agora mais útil analisar as causas: que erros se cometeram para que o cansaço face aos vícios com que a “idealidade” se foi inquinando se transformasse em ressentimento e canalizasse as suas parcas energias votando no inimigo? Quem deu os votos ao Ventura? As más políticas da esquerda.

O Ventura existe enquanto conseguir manter-se na esfera daquilo que à partida é «desqualificado». A sua força vem-lhe daí. Só se fala do Ventura para o desqualificar à priori: é fascista, o coiso, a besta, o grunho, etc. Talvez, mas é tão caricatural e redutor que o transforma numa vítima. E essa desproporção atrai os que ao intelecto preferem a “acção” e não entendem não se lhe dar uma chance “para mostrar o que é capaz!”. As massas são lerdas, quer se deixem manipular pela esquerda, quer se deixem manipular pela extrema- direita. Só muito raramente brilha a inteligência colectiva. Existe, sim, o irracional das emoções, como uma massa de bolo em que os demagogos metem a mão para a conformar.

É mais difícil de contrariar aquilo que, na verdade, é “fabricado” pelos seus detractores, porque se está a combater uma projecção – que tende a tornar-se monstruosa – e não a substância, afinal frágil. O Ventura vive dos medos alheios, o seu centro é oco.

Foi o que Marcelo denunciou no debate com ele, ao apontar-lhe a sonsice de oportunista. Ele não existe para além dessa manha.

O Ventura desmancha-se com paciência, pedagogia e humor, contrapondo serenamente argumentos, como quem, caridosamente, explica algo a um mau aluno, ou com o riso. Tomando tudo o que diz como bravatas. Se ele for tomado a sério mas como palhaço, ele próprio se exasperará e aí cai-lhe a máscara. Desqualificando-o à cabeça, sem lhe dar sequer o crédito de poder ser um bom palhaço, é o único método que lhe dá forças.

E deixemo-nos de ilusões: não haverá sempre, potencialmente, cinco, dez por cento de aprendizes de fascistas em qualquer sociedade democrática? Para que eles não cresçam só há dois caminhos: a educação (e também a política) e a uma regulação quanto à qualidade do fluxo televisivo. Porque é falso que o gosto não se discuta, o gosto tem regras e tradições, aprende-se.

Entretanto, leia-se o que Marcio Sotelo Felippe (um antigo procurador geral do estado de S. Paulo), escreveu a favor do impeachment do Bolsonaro:

«O fascista busca se legitimar por meio do apelo a certa massa suscetível ao ressentimento social e por meio do apelo à pequena-burguesia, ou classe média, perdida entre o pavor da proletarização (que se torna pavor dos proletários, de seus partidos e de seus movimentos) e a sua própria representação no imaginário da grande burguesia. O ressentimento transforma-se em ódio. Essa massa cresce com desqualificados, escroques, oportunistas, lúmpens, também amealhados entre os trabalhadores.

O discurso de um líder fascista expressa a ideologia que cimenta o irracional dessa massa. Por isso ele precisa dizê-la. Ele nada fará sem essa torpe legitimidade. Após dizê-la, tem que cumpri-la para que essa legitimidade se transforme em poderosa força social. A liderança e a massa se nutrem reciprocamente da anomia moral que daí surge.

É por isso que o fascismo, em regra, prescinde de golpes dados na calada da noite por tanques que irrompem pelas ruas e tropas que tomam os centros estratégicos do poder. Eles simplesmente chegam ao poder pelo voto, como Hitler e Mussolini, Trump e Bolsonaro. No poder, a sua base de massa paralisa, imobiliza a parcela sadia da sociedade. Uma combinação fatal entre coerção e consenso.

O fascismo é sempre possível porque em toda sociedade há uma massa que pode ser galvanizada pelo apelo à irracionalidade, que pode se mover fascinada pela anomia moral que lhe permite dar vazão a impulsos primários,(…) em uma sociedade que não lhe reserva lugar algum e que não consegue construir a racionalidade que lhe aponte caminhos.»

Uma «combinação fatal entre coerção e consenso» é o que encontramos hoje nas redes sociais, supostamente contra o Ventura. Fica socialmente tão mal não manifestarmos a nossa indignação imediata contra o Ventura que escolhemos os epítetos mais toscos para o desqualificarmos, competimos com ele na irracionalidade, sem perder tempo a desmanchar-lhe os argumentos. Juramos: o próprio senso comum se encarregará disso. Ora, o senso comum é uma batata, eis-nos na cilada: ele adora que renunciemos a raciocinar. Gostamos tanto de agir em manada que fomos “coactivamente cativados” – passe o óximoro. Dependemos dele para existir, ou, como se diz na economia: estamos a capitalizá-lo.

Ele não tem a importância que parece. Em vez do medo, melhoremos a educação, no lugar da ira, o riso. E só às quintas-feiras, entre as 9h45 da manhã e as 10h15. No resto do tempo há coisas extraordinárias a acontecer e que reclamam a nossa atenção.

29 Jan 2021

#paremdepartilhar

[dropcap]C[/dropcap]omo dizem os distópicos das redes sociais, estas redes vieram explorar as fragilidades e dificuldades humanas. Nos vários problemas já identificados, como notícias falsas, polarização política, câmaras de eco, o crescimento do autoritarismo e conservadorismo, está o sexo no seu pior também.

Há uma prática comum entre sei lá eu quem – porque felizmente, não é coisa que me chegue às caixas de entrada – onde se partilham vídeos, áudios e imagens sensacionalistas. A ânsia pelo escândalo é tão grande que carregar no botão para partilhar o choque é inevitável. Cria-se uma corrente de partilha sem fim. Nem sempre se sabe se os conteúdos partilhados são fidedignos ou se foram consentidos pelos autores ou protagonistas. O Zuckerberg bem tenta dicotomizar o público do privado com um pacote de aplicações sociais. O facebook é público, é como estar com os vizinhos e os amigos num bar, o whatsapp é privado, e é como estar em casa com a família. Esta dicotomia que nos tentam impingir desresponsabiliza muitas das coisas que acontecem na suposta esfera privada do whatsapp. Lugar esse onde são partilhados conteúdos sexuais mais à vontade. Nas redes sociais, supostamente, públicas, as políticas para controlar e denunciar conteúdos desadequados já é muito mais apertada.

Pessoalmente não acho nada de errado em partilhar conteúdos sexuais, quando há consentimento na interacção. Querem enviar nudes? Querem enviar dick pics? Viva a sexualidade positiva e aberta. Mas as práticas que aqui vos trago não são bem essas. Muitos dos vídeos e imagens de sexo que andam a ser partilhadas não são consentidas. A história típica é a do ex-namorado que, raivoso, partilha os vídeos de sexo que foram gravados para uso pessoal do casal. A chamada pornografia de vingança, para além de ser crime, já levou muitas mulheres ao suicídio. Repito: mulheres já se suicidaram porque as suas imagens vieram a público. Os interesseiros e coscuvilheiros – que só prova que muita gente deve ter o seu ‘quê’ de voyeurismo – alimentam estas correntes, e esse é o outro factor problemático na equação.

Quando estas correntes aumentam de proporção com reencaminhamentos constantes e exponenciais, são trazidas para as redes sociais, para os jornais e os cafés. O voyeurista plebeu intromete-se na esfera privada e íntima do sexo, de onde certas narrativas começam a surgir, e o discurso não vos surpreenderá. Dou-vos o exemplo do caso do vídeo de sexo no comboio da CP. O evento foi gravado por terceiros e partilhado por todo o lado. A identidade da participante foi divulgada, e claro, o que é que aconteceu? Bullying à séria. Os rapazes que participaram não foram escrutinados na praça pública da mesma forma. Este duplo critério não tem nada mais, nada menos, que laivos de machismo resistentes e persistentes nas sociedades liberais contemporâneas. As mulheres só podem ser um híbrido esquisito entre virgem e devassa, e são condenadas por serem uma e a outra.

Movimentos como #cortaacorrente (muito melhor do que o hashtag que eu inventei) alertam para a responsabilização individual e colectiva de não alimentar toda esta parvoíce. Assim que se recebe um vídeo, pode-se denunciar, e não alimentar a corrente de partilhas de onde veio, e para onde tenderá a ir. Denunciem conteúdos que não sabem de onde vieram ou se são consentidos, não partilhem coisas a torto e a direito. As partilhas têm consequências: e para muitas raparigas, este pequeno contributo pode salvar-lhes a vida.

29 Set 2020

Covid-19 | Epidemia acelera entrada da China numa nova era

O surto da covid-19 veio acelerar o controlo individual no gigante asiático. O código de cores (verde, laranja ou vermelho) é agora necessário para aceder a vários espaços públicos por todo país, e na calha está um sistema de notas, de 1 a 100, para classificar o estilo de vida dos cidadãos

 

[dropcap]A[/dropcap] epidemia do novo coronavírus acelerou a entrada da China numa era pós-privacidade, com a criação de aplicações que registam a localização dos utilizadores e classificam cidadãos de acordo com o seu estilo de vida.

A cidade de Hangzhou, no leste do país, foi uma das primeiras na China a adoptar este tipo de sistema de detecção, que fornece um código verde, laranja ou vermelho, autorizando ou não o utilizador a aceder a restaurantes, transportes ou espaços públicos, e que entretanto se generalizou a todo o país.

A cidade, que é sede de algumas das maiores empresas do sector tecnológico no país, planeia agora criar uma aplicação que classifica os seus 10 milhões de cidadãos em tempo real, numa espécie de “nota para a saúde”, entre 0 e 100 pontos, segundo informação difundida pelos serviços de saúde locais.

A nota pode ser actualizada diariamente, dependendo das actividades de cada utilizador.
Por exemplo, beber um copo de ‘baijui’ – aguardente chinesa – pode resultar numa perda de 1,5 pontos, enquanto dormir sete horas por noite permite ganhar um. Cinco cigarros por dia descontam três pontos.

As autoridades não explicam como a aplicação determina o comportamento do utilizador e o que o governo faria com as informações registadas, avançando apenas que o sistema entrará em vigor no próximo mês.

A liderança em redes de quinta geração, reconhecimento facial, Inteligência Artificial ou ‘big data’ [análise de dados em massa] colocou a China na vanguarda da transformação digital, permitindo a criação de cidades inteligentes, sistemas de mobilidade compartilhada ou o desaparecimento do dinheiro físico.

Cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância foram, nos últimos anos, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais. Muitas estão dotadas de reconhecimento facial, que é cada vez mais complementado com a instalação nas ruas, bairros ou acesso a edifícios residenciais, de colectores de números internacionais do subscritor móvel (IMSI, na sigla em inglês) e os números de série electrónicos (ESM) dos telemóveis – cada dispositivo tem os seus próprios números -, permitindo associar o rosto ao telemóvel de quem vai passando.

“As pessoas passam e deixam uma sombra; o telefone passa e deixa um número. O sistema conecta os dois”, lê-se numa brochura de uma empresa chinesa que desenvolve aquele tipo de sistema de vigilância para esquadras de polícia locais.

Da conveniência

O dinheiro físico praticamente desapareceu no país, à medida que as carteiras digitais do Wechat ou Alipay se popularizam, permitindo fazer transferências ou compras através de um código QR atribuído a cada utilizador.

“Os serviços municipais de saúde devem aproveitar esta oportunidade (…) para alcançar totalmente os seus objectivos”, apontou um membro do comité de saúde da cidade, Sun Yongrong, no comunicado.

As aplicações desenvolvidas pelos gigantes da tecnologia Alibaba e Tencent ocupam já um lugar central na vida dos chineses, agora sujeitos a um sistema de “crédito social” que pode, por exemplo, proibir alguém de embarcar num avião ou fazer reservas num quarto de hotel, caso tenha dívidas ao fisco ou outras situações irregulares.

Com a epidemia, os dois gigantes da Internet criaram aplicações que registam informações pessoais, a localização do utilizador ou os meios de transporte que utilizaram. O uso destas aplicações é obrigatório para aceder a restaurantes, centros comerciais ou espaços públicos.

Em Pequim, por exemplo, é essencial que a aplicação dê verde para entrar em determinados edifícios de escritórios ou centros comerciais. Quem tenha viajado para fora da capital nas duas semanas anteriores passa a estar interdito.

Tom Van Dillen, gestor na capital chinesa da consultora Greenkern, explicou à agência Lusa a rápida implementação destas novas tecnologias no país asiático: “Quanto mais privacidade estás disposto a perder, mais conveniente a tua vida se torna”.

“O que realmente me impressiona é que, a necessidade por conveniência tornou-se uma parte tão elementar de como as pessoas entendem a liberdade, que estão dispostas a sacrificar a sua própria privacidade”, apontou.

O projecto para a criação de uma aplicação que classifica o estado de saúde do utilizador mereceu, no entanto, comentários negativos nas redes sociais do país.

“Por que carga de água é que os meus hábitos de fumar, beber ou dormir têm a ver com os outros”, questionou um internauta no Weibo, o equivalente chinês à rede social Twitter. “Não há mais privacidade”, lamentou.

1 Jun 2020

A multiplicação do ruído

[dropcap]A[/dropcap] forma como as redes sociais têm moldado a nossa compreensão e consequente intervenção no mundo tem sido tão profunda e tão rápida que não raramente parecemos adolescentes em confronto com um mundo para o qual não estamos ainda preparados. Ao revés do que ingenuamente pensávamos, o acesso generalizado à informação não aportou clareza ou definição. Pelo contrário; a multiplicação de perspectivas acrescentou, para além de ruído, desordem e uma crescente incapacidade de destrinçar verdade da mentira, factos de opiniões desinformadas.

Um estudo da universidade de Princeton e da universidade de Nova Iorque concluiu que os adultos com mais de sessenta e cinco anos – norte-americanos – têm uma tendência sete vezes superior de partilhar notícias que sabem ser falsas ou equívocas do que adultos com menos de trinta anos, por exemplo. Pondo de parte a avaliação da intencionalidade de quem faz esse tipo de partilhas, o que me parece bastante evidente é que a iliteracia digital – sobretudo nos mais velhos, habituados a confiar na informação porque adequam exposição pública e veracidade – é a grande responsável pela profusão de ruído nas redes sociais. E se muitas vezes as partilhas são perfeitamente inofensivas, nem sempre é esse o caso.

Partilhar uma notícia não é nunca um acto neutro. Quando alguém decide tomar uma posição relativamente a um determinado assunto, está implicitamente a revelar coisas sobre si próprio. Sobre as suas posições políticas, as suas crenças e sobre a consciência que tem do acto da partilha. Mesmo partindo do princípio auto-evidente segundo o qual um perfil numa rede social corresponde a um avatar, a uma persona, não é menos evidente que estes radicam num substrato de convicções e crenças que se alimenta de e alimenta a rede onde se exprime.

Há muitas coisas que as pessoas partilham de um modo absolutamente desinformado que são apenas tontas e cujo efeito na sociedade não chega nunca a ser o da bola de neve que eventualmente molda a opinião pública acerca de um determinado assunto. São por exemplo epifenómenos de pseudociência a quererem passar por ciência, como é o caso dos efeitos das novas redes 5G nos humanos ou o açúcar enquanto veneno e vício. As pessoas acreditam nessas coisas e partilham-nas porque já têm uma inclinação cognoscitiva relativamente a esses assuntos – e apenas lêem artigos que justificam as suas convicções e nunca o contrário – ou porque acabam por equivaler indevidamente a sensação de estranheza relativamente ao mundo que os rodeia a uma teoria da conspiração acerca desse mesmo mundo que resolve de uma vez só o problema – por exemplo, a “teoria” da terra plana, segundo a qual vivemos numa mentira orquestrada pela NASA, resolve automaticamente a sensação de inadequação e de pequenez, se um sujeito decidir embarcar nela. Há porém coisas mais graves, como os movimentos anti-vacinação ou anticientíficos em geral. Estes podem causar mossas permanentes que não se limitam ao sujeito que adere a eles.

Este período de medo colectivo que vivemos por via da pandemia em curso de COVID-19 deveria nos obrigar a uma reflexão sobre o nosso uso das redes sociais. A imediatez sem custos do acto de partilhar faz com que multipliquemos o ruído. Não paramos para pensar “mas isto é mesmo assim? mas isto é verdade?” porque não existem consequências para a partilha. Acrescentamos confusão à confusão. A maior parte das pessoas lê notícias via redes sociais. A maior parte das pessoas vai tomar decisões importantes para todos nós com base nos artigos partilhados pelas pessoas de quem são amigos. Deveríamos talvez pensar que a nossa grande contribuição para a clareza pudesse ser o silêncio. A responsabilidade de não ceder ao impulso afectivo – que não equivale de todo a qualquer certeza cognoscitiva – de partilhar aquilo que numa primeira leitura nos parece certo. Deveríamos hesitar. Deveríamos confiar nos especialistas e falar muito menos que eles. O silêncio pode ser o único meio pelo qual a mensagem certa chega onde devia chegar.

6 Mar 2020

Tecnologia | China na ‘era pós-privacidade’ abre “caixa de Pandora”

A vanguarda em redes de quinta geração e os avanços na área da inteligência artificial estão a mudar dia-a-dia das cidades e das pessoas, levantando a autênticas revoluções de costumes, mobilidade compartilhada e desaparecimento do dinheiro físico. Pelo caminho, também a privacidade entra em vias de extinção

 
[dropcap]C[/dropcap]hang não atravessa a rua fora da passadeira desde que, da última vez, recebeu imediatamente uma multa para pagar no telemóvel; Yuan conduz com cautela, sabendo que uma infracção pode-lhe deduzir prontamente pontos na carta.
A liderança em redes de quinta geração, reconhecimento facial, Inteligência Artificial ou ‘big data’ [análise de dados massiva] colocou a China na vanguarda da transformação digital, permitindo a criação de cidades inteligentes, sistemas de mobilidade compartilhada ou o desaparecimento do dinheiro físico.
Críticos alertam, no entanto, para a entrada da sociedade chinesa numa ‘era pós-privacidade’, que suscita novas questões éticas e legais, à medida que a conveniência gerada pelos avanços tecnológicos acarreta custos para a privacidade e ameaças para a segurança. “Hollywood devia fazer um filme sobre isto”, comenta à agência Lusa um matemático indiano a residir nos Estados Unidos, e especialista em ‘big data’, na sua primeira visita à China. “A quantidade de dados acumulados e a falta de regulação criaram aqui um mundo novo”, observa.
Tom Van Dillen, gestor em Pequim da consultora Greenkern, explica assim a rápida implementação das novas tecnologias no país asiático: “Quanto mais privacidade estás disposto a perder, mais conveniente a tua vida se torna”. “O que realmente me impressiona é que, a necessidade por conveniência tornou-se uma parte tão elementar de como as pessoas entendem a liberdade, que estão dispostas a sacrificar a sua própria privacidade”, explica.
Michael Zakkour, vice-presidente da consultora Asia Market Strategy, considera à Lusa tratar-se de um fenómeno global e não exclusivo da China: “moral, ética e legalmente, as sociedades não acompanharam as implicações da transformação digital para a existência humana”.
Mas o Governo chinês tem utilizado os novos recursos tecnológicos para aprimorar o seu caráter totalitário e reforçar os instrumentos de controlo da polícia chinesa, que detém já amplos poderes para conduzir interrogatórios e fazer detenções.
Cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância foram, nos últimos anos, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais. Muitas estão dotadas de reconhecimento facial, que é cada vez mais complementado com a instalação nas ruas, bairros ou acesso a edifícios residenciais, de colectores de números internacionais do subscritor móvel (IMSI, na sigla em inglês) e os números de série electrónicos (ESM) dos telemóveis – cada dispositivo tem os seus próprios números -, permitindo associar o rosto ao telemóvel de quem vai passando. “As pessoas passam e deixam uma sombra; o telefone passa e deixa um número. O sistema conecta os dois”, lê-se numa brochura de uma empresa chinesa que desenvolve aquele tipo de sistema de vigilância para esquadras de polícia locais.
No entanto, numa altura em que a privacidade e uso de dados dos utilizadores são alvo de debate político e legislação no Ocidente, sobretudo após escândalos como os do uso de dados de utilizadores da rede social Facebook pela empresa Cambridge Analytica nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, também na China começam a surgir sinais de consciencialização, sobretudo quanto à segurança dos dados – dados pessoais são frequentemente vendidos a grupos que levam a cabo esquemas fraudulentos por telefone.
Num caso recentemente noticiado pela imprensa chinesa, Guo Bing, professor de Direito na Universidade de Ciência e Tecnologia da província de Zhejiang, na costa leste do país, apresentou queixa contra um zoológico local que exigia aos visitantes que se submetessem a reconhecimento facial. Guo argumentou que o vazamento ou uso fraudulento de dados pessoais “pode facilmente comprometer a segurança e a propriedade dos consumidores”.
Os comentários sobre o caso acumularam mais de 100 milhões de visualizações na rede social Weibo, o Twitter chinês, com muitos internautas a pedirem a proibição total da recolha de dados biométricos.
Num artigo recente, Lao Dongyan, também professor de Direito na prestigiada Universidade Tsinghua, em Pequim, descreveu mesmo o reconhecimento facial como “um pacto com o diabo”. “A promoção arbitrária desta tecnologia (…) abrirá a caixa de Pandora”, comentou. “O preço a pagar não será apenas a nossa privacidade, mas também a própria segurança”, concluiu.

14 Jan 2020

Tecnologia | China na ‘era pós-privacidade’ abre “caixa de Pandora”

A vanguarda em redes de quinta geração e os avanços na área da inteligência artificial estão a mudar dia-a-dia das cidades e das pessoas, levantando a autênticas revoluções de costumes, mobilidade compartilhada e desaparecimento do dinheiro físico. Pelo caminho, também a privacidade entra em vias de extinção

 

[dropcap]C[/dropcap]hang não atravessa a rua fora da passadeira desde que, da última vez, recebeu imediatamente uma multa para pagar no telemóvel; Yuan conduz com cautela, sabendo que uma infracção pode-lhe deduzir prontamente pontos na carta.

A liderança em redes de quinta geração, reconhecimento facial, Inteligência Artificial ou ‘big data’ [análise de dados massiva] colocou a China na vanguarda da transformação digital, permitindo a criação de cidades inteligentes, sistemas de mobilidade compartilhada ou o desaparecimento do dinheiro físico.

Críticos alertam, no entanto, para a entrada da sociedade chinesa numa ‘era pós-privacidade’, que suscita novas questões éticas e legais, à medida que a conveniência gerada pelos avanços tecnológicos acarreta custos para a privacidade e ameaças para a segurança. “Hollywood devia fazer um filme sobre isto”, comenta à agência Lusa um matemático indiano a residir nos Estados Unidos, e especialista em ‘big data’, na sua primeira visita à China. “A quantidade de dados acumulados e a falta de regulação criaram aqui um mundo novo”, observa.

Tom Van Dillen, gestor em Pequim da consultora Greenkern, explica assim a rápida implementação das novas tecnologias no país asiático: “Quanto mais privacidade estás disposto a perder, mais conveniente a tua vida se torna”. “O que realmente me impressiona é que, a necessidade por conveniência tornou-se uma parte tão elementar de como as pessoas entendem a liberdade, que estão dispostas a sacrificar a sua própria privacidade”, explica.

Michael Zakkour, vice-presidente da consultora Asia Market Strategy, considera à Lusa tratar-se de um fenómeno global e não exclusivo da China: “moral, ética e legalmente, as sociedades não acompanharam as implicações da transformação digital para a existência humana”.

Mas o Governo chinês tem utilizado os novos recursos tecnológicos para aprimorar o seu caráter totalitário e reforçar os instrumentos de controlo da polícia chinesa, que detém já amplos poderes para conduzir interrogatórios e fazer detenções.

Cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância foram, nos últimos anos, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais. Muitas estão dotadas de reconhecimento facial, que é cada vez mais complementado com a instalação nas ruas, bairros ou acesso a edifícios residenciais, de colectores de números internacionais do subscritor móvel (IMSI, na sigla em inglês) e os números de série electrónicos (ESM) dos telemóveis – cada dispositivo tem os seus próprios números -, permitindo associar o rosto ao telemóvel de quem vai passando. “As pessoas passam e deixam uma sombra; o telefone passa e deixa um número. O sistema conecta os dois”, lê-se numa brochura de uma empresa chinesa que desenvolve aquele tipo de sistema de vigilância para esquadras de polícia locais.

No entanto, numa altura em que a privacidade e uso de dados dos utilizadores são alvo de debate político e legislação no Ocidente, sobretudo após escândalos como os do uso de dados de utilizadores da rede social Facebook pela empresa Cambridge Analytica nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, também na China começam a surgir sinais de consciencialização, sobretudo quanto à segurança dos dados – dados pessoais são frequentemente vendidos a grupos que levam a cabo esquemas fraudulentos por telefone.

Num caso recentemente noticiado pela imprensa chinesa, Guo Bing, professor de Direito na Universidade de Ciência e Tecnologia da província de Zhejiang, na costa leste do país, apresentou queixa contra um zoológico local que exigia aos visitantes que se submetessem a reconhecimento facial. Guo argumentou que o vazamento ou uso fraudulento de dados pessoais “pode facilmente comprometer a segurança e a propriedade dos consumidores”.

Os comentários sobre o caso acumularam mais de 100 milhões de visualizações na rede social Weibo, o Twitter chinês, com muitos internautas a pedirem a proibição total da recolha de dados biométricos.

Num artigo recente, Lao Dongyan, também professor de Direito na prestigiada Universidade Tsinghua, em Pequim, descreveu mesmo o reconhecimento facial como “um pacto com o diabo”. “A promoção arbitrária desta tecnologia (…) abrirá a caixa de Pandora”, comentou. “O preço a pagar não será apenas a nossa privacidade, mas também a própria segurança”, concluiu.

14 Jan 2020

Micro-agressões

[dropcap]V[/dropcap]ivemos tempos de sensibilidades medíocres. Um mar de gente ofende-se com ninharias, enquanto fecha os olhos a monstruosidades. Incendeiam-se redes sociais por uma cantina banir carne de vaca da ementa, enquanto na Europa crescem, em silêncio, forças que são a antítese do humanismo, que se refastelam em regozijo sádico com corpos a boiar no mediterrâneo.

Revitalizam-se velhas paixões pelo fascismo, pela opressão, pelas fronteiras fechadas e pelo belicismo, mas a revolta vai para o Justin Trudeau ter pintado a cara de preto em sucessivos carnavais. Não interessa mesmo se é racista, ou os valores que o guiam, mas o “racismo” sub-reptício, inadvertido e sem consequências de uma banalidade sem importância.

Não interessa que o seu Governo tenha sido o mais diverso racialmente na história do Canadá. Muito menos interessam políticas verdadeiramente segregacionistas a sul. Vivemos a Era da micro-agressão, quando até um neonazi se sente ofendido por ser tratado como tal. Não, o menino é Alt-Right, as tatuagens da suástica e cara do Himmler foram uma brincadeira e ele só quer proteger a sua pele branca do holocausto pessoal com que fantasia, enquanto nega outros holocaustos bem documentados.

Vivemos tempos de pequenas causas, banir as palhinhas de plástico é meramente simbólico, depois de décadas de passividade em pedir responsabilidades a governantes e de preguiça na mudança de hábitos. É como dar uma aspirina a um doente com um cancro terminal. Todas as acções parecem microscópicas, enquanto gigantescos problemas se avolumam à frente dos nossos olhos. Havia pano para as mangas desta coluna que já vai longa.

24 Set 2019

Quase psicopatas 

[dropcap]S[/dropcap]omos todos seres humanos e atentos ao mundo que nos rodeia, até ao dia em que nos esquecemos disso mesmo. E, por norma, esse esquecimento ocorre com frequência nas redes sociais, onde nos atacamos quase sem dar por isso.

Há uns tempos, um leitor enfurecido decidiu escrever na página oficial do Hoje Macau, no Facebook, que nós merecíamos levar com uma bomba, uma publicação feita na caixa de comentários de uma notícia sobre ataques na zona da Faixa de Gaza. Bastante elucidativo.

Agora, são os protestos em Hong Kong que geram uma onda de revolta individual e quase colectiva contra os manifestantes. Há dias, um leitor escrevia que os tiros dados pela polícia não deveriam ter sido feitos para o ar, mas directamente para quem estava a protestar. Tipo arma de fogo, morriam logo vários de seguida.

Aposto que se trata de um bom residente, cumpridor das regras sociais e defensor da harmonia de Macau. Só não lhe dêem uma arma para as mãos. Somos todos bonzinhos e respeitadores, até termos acesso a uma rede social. Aí, destilamos ódio, somos uns quase psicopatas sem nos apercebermos. Seríamos incapazes de matar, mas nas redes sociais, não faz mal nenhum ameaçar. Serve para descomprimir das agruras da vida…

29 Ago 2019

“Think small” e a comunicação via tweet

[dropcap]H[/dropcap]á sete décadas, a fórmula “Think small” resultou num grande sucesso no campo da publicidade. Foi essa ideia que coroou a entrada em cena e em força da Volkswagen nos EUA. Mais tarde, já nos anos sessenta, a campanha “Lemon” aprofundou o mesmo minimalismo, aliás contemporâneo da Pop Art. O design destas campanhas foi particularmente revolucionário na época. A economia da fórmula falava por si: as imagens isolavam num espaço branco uma pequena fotografia de um automóvel novo que contrastava radicalmente com a dimensão e a escala da tradição de Detroit, dotada com o fulgor quase fáustico do pós-guerra.

A carreira do ‘minúsculo’ no campo do design não passou pelos melhores dias nos anos setenta e no revivalismo intenso e paródico dos eighties. Foi preciso chegarmos ao mundo dos chips, no ‘turn’ dos anos noventa do século passado, para que ela voltasse a aflorar. Hoje em dia, tudo é ‘nano’, tudo é fragmento, tudo é descontínuo: é esse o apelo expressivo que a tecnologia e o cibermundo passaram a veicular à nossa própria expressão do dia-a-dia. Na primeira década do século, a blogosfera reflectiu esse espírito comunicacional. Desde o final dessa mesma década, ferramentas como o Facebook o Twitter e, a seu modo, o Instagram, têm estado a traduzir este renovado design baseado na fórmula vintage “Think small” (enfim, o verbo ‘pensar’ é francamente excessivo para o uso que nestes apressados hiatos da rede lhe é dado).

Atentemos à realidade Twitter que, nos últimos anos, passou a galvanizar a comunicação da política mundial, sobretudo desde o início da era Trump. Destacaria três aspectos para este novo artesanado do ápice e do minúsculo.

Em primeiro lugar, parece óbvio que os tweets estão a deslocar a urgência da actualidade para um outro espaço. Podemos chamar-lhe o espaço do aceno que se caracteriza por um efémero flash (quase devorado antes da devoração) que não chega sequer a ganhar corpo. Nele não há tempo para contextos, nem para pré-avisos: apenas iminência e resposta de tipo fugaz. Nada fica por reflectir e para saborear. É a chamada ‘iminência do coelho’.

Em segundo lugar, os tweets sofrem de remissão obsessiva (os links e os índices presentes na mensagem apontam quase apenas para outros links e índices). No tempo das narrativas orgânicas, tudo apontava para âncoras fixas e claramente posicionadas. Agora, os signos constróem-se através de pontes muito frágeis entre continentes que mal se distinguem. A ideia é mesmo essa: dar a ver a onda através da sugestão do seu contorno (necessariamente) fluido. Para quem tem muito pouco a dizer – o que se adequa na perfeição ao modo como a política hoje se apresenta diante de todos nós – é o modelo ideal.

Em terceiro lugar, o universo twitter baseia-se na elipse e na – chamemos-lhe – irradiação metonímica. Por outras palavras: aquilo que é transmitido permite conjecturar territórios próximos e contíguos. O olhar como que desliza para onde (não) é chamado, sem muitas vezes dar por isso. Nessa medida, o twitter pode ser muito eficaz na sua economia própria. Devido a esta extrema economia, os tweets requerem, portanto, menos ‘dito’ e mais ‘não dito’ (mesmo se não intencionado). Chegam, por isso mesmo, quase a aproximar-se da ideia de fractal: uma unidade mínima e discreta que convive em sistemas diversos, com rostos variados e flutuações intermitentes. Surf e liquidez errante, obviamente.

Concluindo, poderíamos afirmar que o Twitter se converteu, hoje em dia, na versão expressiva e social do “Think small” de há pouco mais de meio século. O desígnio e o design são similares à partida, embora a encarnação da fórmula na nossa era seja, de facto, radicalmente outra. Nos anos cinquenta do século XX, gerava uma atmosfera de fascínio devido ao contraste que exprimia; no nosso tempo, está a gerar aquele impacto fugidio que é próprio da actividade da consciência nuclear.

Repare-se no modo como os efeitos de sentido realmente se alteraram: do contraste do “Think small” dos anos cinquenta  – que tinha o seu tempo próprio e era sempre susceptível de uma dada ponderação sensorial (não foi por acaso que a pintura romântica abraçou sempre os grandes contrastes) – passou-se para uma gramática de acenos flagrantes (ou, adoptando a palavra “flagrante”, não como adjectivo, mas enquanto substantivo abstracto,  dir-se-ia que se passou para uma gramática do flagrante que visa tão-só o flagrante, sem qualquer preocupação em deixar vestígios para arqueologias futuras).

Talvez o “Think small” tenha sido a última aparição moderna do romantismo. O contraste cromático que Caspar David Friedrich registou, em 1818, na sua obra ‘O Peregrino sobre o mar da névoa’ não deixa dúvidas sobre o tempo que é reservado à contemplação dos sentidos (que se realiza sobretudo através da figura do contraste). Um tweet, por outro lado, recebe todo o seu pasmo ao diluir-se nessa mesma reserva temporal: o que dele sobra é sempre e só o espaço para um outro tweet. O que nós passámos e vivemos, enquanto espécie, para, de novo, nos vermos forçados a inventar o jogo do pingue-pongue.

6 Mai 2019

Céu nublado

[dropcap]A[/dropcap]inda estamos muito aquém de perceber exactamente o que mudou no modo como nos relacionamos com os outros desde o surgimento das redes sociais. É normal, estamos «entre»; entre estados-de-coisas que carecem de definição e de distância para as conseguirmos apreender com clareza. Não sabemos ainda se o fenómeno Facebook é apenas transitório. O que sabemos é que este ganha utilizadores a nível horizontal de expansão geográfica e que os perde a nível vertical e demográfico junto dos mais novos. Os mais novos estão a preterir o Facebook em prol do Instagram e do Snapchat, entre outros. Não parece haver uma plataforma – ou um formato – capaz de estabelecer um standard equivalente à rádio ou a televisão no séc. XX.

É interessante estarmos entre estados-de-coisas. Nunca na história da humanidade a geografia contou tão pouco. A distância da informação eclipsou-se. E mais do que a distância, o epicentro.

Somos todos difusores de informação enquanto participantes activos na rede. A própria noção de informação está a mudar. Mais do que uma via de sentido único do emissor ao receptor num meio canónico, a informação é neste momento um emaranhado atómico de perspectivas cuja análise requer uma capacidade computacional disponível apenas a nível estatal.

As famigeradas fake news não são o aspecto mais assustador ou perigoso desta equação.

Enquanto formos capazes de desmontar o fenómeno, os danos à credibilidade dos meios de comunicação podem ser contidos (os perigos neste momento são outros e não cabem aqui). O problema decorrente da multiplicação de pontos de vista é o da absoluta relativização da informação. O problema é deixarmos pura e simplesmente de ter critério para distinguir o que é verdadeiro do que é falso.

Na verdade já tivemos mais longe. Nos Estados Unidos, onde parte da realidade assume contornos de caricatura, um homem foi detido em Dezembro de 2016 por entrar com uma metralhadora AR15 numa pizzaria de Washington chamada Comet Ping Pong em busca de tirar a limpo uma história que circulava na Internet, sobretudo nos meios conservadores e em sites que navegam entre a indignatite e a teoria da conspiração tout court, que defendia que a dita pizzaria era na verdade um albergue para uma rede de pedofilia dirigida pela candidata democrática às eleições presidenciais desse ano, Hillary Clinton. Apesar de o homem ter disparado uns tiros, o balanço foi francamente positivo: a única coisa que morreu nesse dia foi a noção, e esta já entrara comatosa no restaurante.

No caso em apreço, não é que a notícia não tenha sido evidentemente desmentida uma série de vezes por entidades competentes (como a polícia metropolitana do distrito de Columbia). O problema é que há cada vez mais pessoas a acreditarem que os meios de comunicação (e uma boa parte das entidades ligadas de algum modo ao governo) lhes mentem, mesmo quando se tratam de histórias em relação às quais o único critério de averiguação deveria ser o bom senso.

Se a coisa não descambar num desastre global nos próximos vinte, trinta anos, escrever-se-ão milhares de teses de doutoramento sobre esta época de “entres”: entre a solidão e a omnipresença, entre a verdade e a mentira, entre a ficção e a realidade. Talvez uma delas seja a chave para compreender um mundo cada vez mais estranho, até para aqueles que acabaram de entrar nele.

26 Abr 2019

Weibo | Suspensas 50 contas por “informação política prejudicial”

A campanha para “limpar” a internet de conteúdos “nocivos”, conheceu ontem um novo capítulo com o cancelamento de mais 50 contas, entre as quais a de académicos e jornalistas com milhões de seguidores

 

[dropcap]A[/dropcap] rede social Weibo, equivalente chinês ao Twitter, suspendeu mais de cinquenta contas de “líderes de opinião” da China, por publicação de “informação política prejudicial”, informou ontem um jornal de Hong Kong.

Segundo o South China Morning Post (SCMP), entre os perfis suspensos consta Yu Jianrong, um investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais que tem mais de sete milhões de seguidores e é visto como defensor de “políticas liberais”. A conta de Yu vai estar inacessível durante os próximos 90 dias.

“É muito estranho: não sei qual dos meus comentários violou os regulamentos”, disse, citado pelo SCMP. O académico acrescentou que, nos últimos dois anos, se absteve de publicar qualquer mensagem política na sua conta.

Para o Weibo, “informação política prejudicial” não se refere apenas a conteúdo que viole as leis ou a Constituição da China, mas também a rumores ou “informações adversas”, susceptíveis de minar os “valores da sociedade”.

“São temas quotidianos sobre arte. Não houve qualquer” informação política, garantiu o especialista. Yu ganhou notoriedade nas redes sociais chinesas em 2011, quando os regulamentos eram menos restritos, através da publicação de uma série de fotografias de crianças a mendigar, visando reuni-los com os seus pais e promover a doação de livros para as áreas rurais.

Outra das contas “silenciadas” nos próximos 90 dias é a de Wang Xiaolei, ex-repórter da agência noticiosa oficial Xinhua. Apesar de não publicar mensagens com conteúdo político explicito, o antigo jornalista, que tem meio milhão de seguidores, refere-se muitas vezes à dinastia Tang ou a histórias sobre artes marciais de Jing Song – o pseudónimo da jornalista de Hong Kong Louis Cha -, vistas como uma alusão indirecta à actualidade na China.

Rede “limpa”

Estas suspensões fazem parte de uma campanha para “limpar e retificar” a Internet, lançada, no ano passado pela Administração da China do Ciberespaço (CAC), a agência encarregue da censura dos conteúdos ‘online’.

Em Novembro passado, a agência anunciou a suspensão de 9.800 contas nas redes sociais do país, incluindo no Weibo e WeChat.

O regulador chinês para o ciberespaço considerou ainda que o Weibo “violou as leis e regulamentos do país, ao orientar a opinião pública para a direcção errada e exercer má influência”.

As autoridades puniram a rede social com a suspensão, por uma semana, de algumas das suas ferramentas, incluindo a lista dos tópicos mais compartilhados, ou um serviço pago para fazer perguntas a celebridades.

A censura imposta por Pequim no ciberespaço resulta no bloqueio de vários portais estrangeiros e alguns serviços de “gigantes” do sector, como o Facebook, Google ou Twitter.

Considerada até há poucos anos o espaço mais livre na China, a Internet tem sido alvo de crescente censura, após a aprovação de uma lei de segurança no ciberespaço, no Verão passado.

O Governo ordenou aos responsáveis por conteúdo ‘online’ que forneçam informação que esteja “ao serviço do socialismo e da orientação correcta da opinião pública”.

O Weibo tem quase 500 milhões de usuários activos. O país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, é também o que tem a maior população ‘online’ – mais de 800 milhões.

10 Abr 2019

Menos, por favor

[dropcap]A[/dropcap]s redes sociais são pródigas na não tão subtil arte da indignação colectiva. São uma espécie de curso de água por onde passam boiando as revoltas do dia. O seu percurso à superfície é normalmente assaz reduzido: vêm de um subterrâneo oculto e anónimo, flutuam no máximo dois ou três dias à vista e na boca de todos, sob o escrutínio atento dos indignados, e regressam rapidamente ao buraco do esquecimento geral.

Pelo que tenho lido nas redes sociais – onde os gatos têm injustamente de dividir o espaço que lhes pertence por direito com toda a espécie de minudências – nestes últimos dias tem-se falado de dois programas televisivos que visam encontrar mulher casadoira para homem medianamente incapaz. Não vi os programas em causa, o que no entanto não me impede de todo de comentá-los – com a vantagem acrescida de evitar uma exposição à mediocridade a que já estamos involuntariamente votados uma grande parte do tempo. Parece que num deles uma das personagens é a mãe dos indivíduos em causa, repetidamente insatisfeita com a parca qualidade doméstica das mulheres de hoje. De facto, o mundo no qual definhamos em relativa simultaneidade tornou-se cada vez menos complacente com a polivalência. Se há quarenta anos se esperava das mulheres, para além das competências que lhe eram naturalmente impostas, do arrumar a casa ao lavar e passar a roupa, sem esquecer cuidar das crianças e amiúde dos sogros acamados, ter ainda um emprego – que de preferência não exigisse muito daquelas cabecinhas já tão gastas pelo excel incessante de compras e contas que lhes cabiam naturalmente em tarefa –, a verdade é que os dias de hoje, crescentemente propensos à especialização, obrigam as mulheres a revelarem as suas infelizes limitações, nomeadamente em termos de ubiquidade e de tolerância ao sofrimento. Cada vez mais embrenhadas nas tarefas profissionais que lhes garantem uma módica quota de independência, as mulheres infelizmente dotadas de apenas dois braços e de uma aborrecida precisão de sono, já não conseguem – ou não querem – ser o pau-para-toda-a-obra voluntarioso a que uma geração não muito distante de homens – e de mulheres – se habituou.

No outro programa o foco são os agricultores do rectângulo, homens bons e sadios como pêros de Monchique que, por vicissitudes da vida no campo (onde é verdade que as mulheres – e já agora, porque não, os homens – são cada vez em menor número), não logram chegar à idade de ver os frutos das suas sementes crescerem vicejantes porque as suas sementes, infelizmente, não caem nunca em chão fértil. É uma espécie de glosa da imagem do rancheiro letrado, apetecível e rico mas na versão minifúndio, escolaridade básica e remediado suficientemente para ter quase os dentes todos.

Sempre achei que existe uma correlação rígida e simples entre a vergonha da exposição neste tipo de baderna televisiva e os ganhos decorrentes da mesma. Tendo em conta de que o Tinder permite um raio de “descoberta de sujeitos passíveis de interesse” de cento e sessenta quilómetros e de que não estamos propriamente nas desabitadas e infindas estepes russas, parece-me que existem ainda demasiadas pessoas a não perceberem a simplicidade da correlação ou a desconhecerem o Tinder. Qualquer dos casos me parece, em todo o caso, lamentável.

A crescente estupidificação em curso só pode na verdade ocorrer porque aparece aos olhos do estupidificado em curso – todos nós, com algumas notáveis mas insuficientes excepções – como outra coisa ou mesmo o seu contrário. A vergonha aparece como fama; a quantidade confusa de informação aparece como esclarecimento; a saloiice aparece como genuinidade, e podíamos continuar maçando página fora.

15 Mar 2019

Viagem ao mundo clandestino dos “sites” em português associados às ‘fake news’

[dropcap]O[/dropcap]s ‘sites’ em Portugal associados às ‘fake news’, ou notícias falsificadas, onde temas como corrupção, ‘jet set’, desporto e política se cruzam, têm milhares de seguidores nas redes sociais, mas vivem numa espécie de clandestinidade.

Desde o final do ano passado que as ‘fake news’ ganharam projecção, com sua influência na eleição do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de extrema-direita, antes com Donald Trump nos Estados Unidos, e através de uma série de reportagens no jornal português Diário de Notícias (DN) que foi revelado o pouco conhecido “mundo” das notícias falsificadas ou manipuladas no país.

O jornalista Paulo Pena, autor de um conjunto de reportagens sobre o tema no DN, traçou à Lusa as diferenças entre os ‘sites’ em Portugal e noutros países, inclusive europeus. Uma das diferenças é a política, menos presente nas páginas portuguesas, embora os políticos também sejam o alvo.

“As ‘fake news’ políticas no resto da Europa lidam sobretudo com imigração, com refugiados, com a diferença, interculturalidade, o islamismo. Em Portugal isso não faria qualquer sentido e, portanto, o tema muito mais presente neste tipo de ‘sites’ de desinformação é a corrupção, a forma como acusam políticos de terem roubado dinheiro”, afirmou.

Foi o caso em torno de Assunção Esteves, antiga presidente da Assembleia da República, devido ao facto de, em 2012, ter optado pela reforma de juíza do Tribunal Constitucional, em vez do vencimento de deputada e segunda figura do Estado. Algo que foi mencionado por um ‘site’ e que “era mentira”, recordou Paulo Pena à Lusa.

Característica comum a estas páginas, em português, é, pois, o fraco peso da política nas publicações que fazem. “Geralmente são histórias sobre celebridades, sobre o Cristiano Ronaldo, sobre futebol, sobre apresentadores de televisão. Ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, onde a política era vendável só por si, chegou a ser um bom negócio. Aqui, política é residual, mas existe e o efeito destes ‘sites’ é precisamente provocar uma movimentação política”, na descrição do jornalista.

“Aparentemente, o que consegue fazer com que as pessoas dêem credibilidade é o facto de a política não ser constante”, acrescentou. A estratégia destes ‘sites’ passa, muitas vezes, por construir uma “notícia” a partir de uma informação verdadeira, mas, depois, é tirada uma conclusão excessiva ou fora do contexto.

Ou pura e simplesmente trata-se de uma informação manipulada, como aconteceu com o relógio de alegadamente 20 milhões de euros de Catarina Martins [líder do partido Bloco de Esquerda], disseminada por um ‘site’ e que, afinal, era uma experiência para mostrar como era fácil enganar as pessoas.

Mas outras foram a notícia, como a foto de José Sócrates [ex-primeiro-ministro português] e amigos, em que supostamente estaria a nova procuradora-geral da República, Lucília Gago, disseminada até por páginas de partidos no Facebook. Foi preciso os media “desmontarem” a trama, sendo fácil de perceber que a mulher identificada como procuradora era tudo menos parecida com Lucília Gago.

E o que diz, do outro lado da história, quem faz, quem administra essas páginas associadas, pelo DN, à desinformação ou manipulação? A agência Lusa fez um questionário a responsáveis de vários desses ‘sites’ ou das suas contas nas redes sociais – os ‘sites’ são a base para a disseminação das notícias que, em Portugal, se faz em especial pelo Facebook.

Aí, raramente há nomes. As respostas obtidas, por email ou mensagens de Facebook, também raramente têm um nome ou uma assinatura. Contactos telefónicos, nem um. Numa troca de mensagens no Facebook, um responsável de Bombeiros 24 – a conta no Facebook tem 331.152 seguidores – afirmou à Lusa que o ‘site’ “não desinforma nem manipula”, que a “veracidade dos artigos é sempre verificada antes da sua publicação”.

A pergunta era se “tem a consciência de, através de um ‘site’ desta natureza, poder estar a desinformar e/ou manipular quem o lê?” e, como noutros casos, a mensagem não tem assinatura.

“Deviam-se preocupar com os ‘sites’ que realmente publicam notícias falsas. Claramente existe um ataque ao site ‘bombeiros24’ devido à sua popularidade”, respondeu. E quanto às alegações que associam o ‘site’ a ‘fake news’, a resposta foi: “São acusações falsas e não fundamentadas. Os artigos publicados até hoje contra o ‘site’ baseiam-se apenas em suposições”.

Tal como outras páginas, o Luso Jornal 2015 recusa que se dedique a fazer ‘fake news’, em mais uma resposta que não é assinada. “Como não produzimos informação e simplesmente a republicamos, não considero manipulação. Acredito que só os menos informados poderão ser manipulados. E, nos dias de hoje, com o acesso a tudo e mais alguma coisa pela internet, só é manipulado quem quer. Existe sempre forma de sabermos a verdade”, lê-se na resposta.

Nenhum dos ‘sites’ que respondeu à Lusa deu informações sobre o seu financiamento, mas garantiram não publicar mensagens nem de forças políticas, dirigentes, ativistas de movimentos políticos, ou de empresas para se associar a causas ou divulgar posições. “Mesmo que o fizessem não teriam qualquer ‘feedback’”, afirmou o responsável de Bombeiros 24.

O Luso Jornal 2015 admite os contactos, mas a maioria das vezes ignora-os. “Na maior parte das vezes não publico por variadas razões”, lê-se na resposta dada à Lusa. Relativamente aos media institucionais, o responsável desta página na Internet teoriza e propõe-se “falar de consciência” e se têm “essa consciência” de estar a desinformar ou manipular.

Como o Bombeiros 24, afirma que os seus artigos “têm fonte em jornais nacionais de renome e internacionais”.

“Se esses desinformam e manipulam, este também o faz, como é obvio, mas só é influenciado quem quer nos dias que correm”, insistiu, questionando: “Os media nacionais não desinformam? Não manipulam? Esses média publicam só conteúdo dentro da linha deles, certo?”.

Outro ‘site’, Vamos lá Portugal, que tem 834.123 seguidores no Facebook, não respondeu às perguntas, dizendo apenas estar interessado numa parceria. E mais de uma dezena pura e simplesmente não responderam ao questionário.

20 Fev 2019

Estudo diz que sair das redes sociais não garante privacidade

[dropcap]U[/dropcap]ma pessoa que saia das redes sociais não tem garantia de privacidade porque os amigos que lá deixou continuam a permitir prever com alguma certeza as suas atividades, segundo um estudo científico publicado ontem.

A investigação da equipa das universidades de Vermont (Estados Unidos) e Adelaide (austrália) centrou-se em trinta milhões de publicações públicas feitas por 13.905 utilizadores da rede social Twitter e concluiu que se uma pessoa deixar de estar activa, as publicações e palavras dos seus amigos permitem prever com 95 por cento de exactidão actividades futuras dessa pessoa, mesmo que esta deixe publicar seja o que for.

O líder da equipa, o matemático James Bagrow, afirma que quando se adere a uma rede social, se pensa que se está a dar informação apenas pessoal, mas o que acontece é que “também se entrega os amigos” ao Twitter, Facebook, Instagram ou outra rede social.

Uma das conclusões a tirar é que empresas, governos ou outras pessoas podem traçar um perfil rigoroso de uma pessoa, incluindo partido político, produtos preferidos ou religião só a partir da informação recolhida entre os amigos, mesmo que essa pessoa deixe as redes sociais ou nunca lá tenha entrado.

“Não nos podemos esconder numa rede social”, afirmou o investigador Lewis Mitchell, co-autor do estudo hoje publicado no boletim científico Nature Human Behavior.

“Só por si, uma pessoa não controla a sua privacidade nas redes sociais”, afirmou James Bagrow, salientando que “os amigos da pessoa têm algo a dizer”.

22 Jan 2019

A agenda extasia os servos

[dropcap]O[/dropcap]s seres humanos não conseguem lucubrar sobre tudo. Há limites. É por isso que existe a poesia, é por isso que se criaram as religiões, é por isso que houve necessidade de se inventar a filosofia e outros modos de perceber e de questionar.

Imaginemos, no entanto, uma peça de teatro em que o princípio activo fosse esse: dez ou vinte personagens em cena a falarem sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Seria uma coreografia sobre o que não existe, uma verdadeira panóplia para loucos, na medida em que “tudo” não passa de um pronome indefinido e invariável, logo algo que faz pela vida apenas na imaginação das pessoas e não na realidade, digamos, tangível (Shakesepeare jamais podia ter comparado a linha avançada do West Ham com a do Leicester).

O normal – sim, falemos de coisas normais – é a existência de escolhas, de opções, de alinhamentos (como escreveu o semiótico dinamarquês L. Hjlemslev, os humanos recortam do continuum as suas opções, embora esse recorte obedeça a linhas de resistência, tal como os pintores na pré-história permitiam que os seus traços se orientassem pelas linhas da rocha). Ao escolhermos, a nossa soberania é sempre uma soberania orientada, prescrita, definida.

Durante praticamente toda a história dos humanos, as proibições facilitaram as escolhas possíveis. Sempre foi proibido falar de muitas coisas, por razões políticas, espirituais, históricas, tabus, etc, etc. No ocidente moderno, a ideia de liberdade (enquanto possibilidade) foi, entretanto, escrevendo a sua própria história. E o que sempre limitou a liberdade acabou, também, por ser o que melhor a caracteriza.

Hoje em dia, sentimo-nos livres quando se designa por agenda aquilo de que se fala. A agenda é a sucedânea das antigas linhas da rocha que orientavam os pintores pré-históricos. A agenda é o novo sinaleiro tectónico que nos diz sobre o que lucubrar e quando.

A agenda selecciona alguns tópicos que se vão abrindo e fechando ao longo dos dias. Esses tópicos surgem com o formato das ondas: erguem-se no alto, rebentam, espumam (por vezes muito) e logo desaparecem. O vestígio e a patine que ficam deste exercício são constituídos por gases raros. Um nada que se forma como uma nuvem de Verão: chamemos-lhe memória (ou o que dela ainda resta).

Quase tudo o que a agenda viabilizava há 24 ou há 36 meses já não existe hoje no debate diário. Do mesmo modo que a agenda dos últimos dias, tão vociferada nos teclados, irá em breve esvair-se. Perdemos o dom da ritualização e adquirimos o propósito do fluxo. Estou a referir-me ao escritor que disse que não se atirava a mulheres com mais de 50 anos, às expectativas dos estudos ambientais em torno do aeroporto do Montijo, às vicissitudes do muro de Trump, às entrevistas a fascistas na TV, à rapariga saudita em fuga pelo sudeste asiático, às greves de sectores da função (naturalmente) pública, aos políticos na justiça dando a ideia de que são perseguidos, aos pobres globos de ouro, à vaga de gripe, aos treinadores de futebol que saem e que entram, aos migrantes sem porto para desembarcarem e à Tesla que se está a instalar em Xangai.

Os tópicos da agenda começam geralmente por um facto e, depois, inflamam, degeneram e tornam-se em ziguezagues palavrosos que se acirram. Mais de noventa e cinco por cento das pessoas que ‘dão opinião’ (nesse novo polígrafo do julgamento divino chamado redes sociais) é o que fazem: pescam um tema da agenda e depois assanham-se, inebriam-se ou registam aquilo que imaginam advogar como se fosse algo único, ímpar, fundador do mundo. Virada a página do dia ou da semana, é como brincar às escondidas: lá se removeu todo o miolo da convicção, lá se foi toda a massa do pão da madrugada passada para que possa amassar sempre a do dia seguinte.

Na verdade, nunca ninguém está presente. O vazio da véspera é o já o vazio do próprio dia. Razão pela qual o ‘feed’ das redes sociais é um fio-de-prumo sem qualquer arquitectura para habitar. E o mais maravilhoso é que a nossa era vive precisamente desta beleza sideral: o que não faz parte, nem nunca fará da agenda (aquilo para onde ninguém olha, por outras palavras) é o que melhor a definirá. Da mesma maneira que a fotografia se pode definir, nos nossos dias, como aquilo que ainda não foi fotografado, tal é a hemorragia com que as imagens, sendo o que são, se estão a transformar em coisa nenhuma (um ‘sample’ que é repetido até ao torpor). Não deixa de ser verdade meus amigos: a fotografia é aquela parte de mim ainda por fotografar.

Sabendo que, na verdade, nunca ninguém está presente, pergunto-me, por vezes, por que razão continuo ainda a pagar a assinatura do cabo, já que em todos os canais, com raras excepções (mesmo na, por muitos adorada, neflix), se vê sempre o mesmo filme. A agenda é matreira e consegue espalhar eflúvios de aparente felicidade nos povos do globo! Mas eu sei por que continuo a pagar: tenho que estar dentro da rede, nos calores da infosfera. Fora da gruta, ‘liberto’ das opções impostas, eu seria um desalojado e sentiria graves problemas de sobrevivência. As presas de caça dos neandartais são hoje megas gigas teras petas. Assim é. Pouco mudámos, já se vê.

Assim é. Nem que seja para que nós, humanos, tenhamos a sensação ilusória de que conseguimos falar sobre tudo e sobre nada, ao mesmo tempo. Nem que seja para que nós, humanos, tenhamos a sensação ilusória de que está tudo à nossa mão e de que somos livres a fazer as nossas opções. Nem que seja para que nós, humanos, tenhamos a sensação ilusória de que é ‘bluff’ pensar numa agenda que nos tende a escravizar.

Os novos escravos têm diante de si o espelho e o teclado da normalidade e deixam o seu traço no mundo, interiorizando a ideia de que são os personagens mais autónomos do planisfério. Por vezes usam maiúsculas, repetem clichés, imaginam-se na ponta do charuto de Churchill e cantam fora da banheira como se fossem Plácido Domingo. Ao fundo da rua, ouço tantas, tantas vezes Nietzsche a rir à gargalhada.

17 Jan 2019

Nuno Markl, humorista: “Isto da humanidade não tem cura”

O comediante, autor, radialista e apresentador de televisão Nuno Markl esteve em Macau para apresentar o espectáculo “Como ser um saco de pancada deprimente e vencer na vida”. Em entrevista, conta como a comédia pode ser um mecanismo de protecção e como o ser humano “é intrinsecamente marado”

[dropcap]C[/dropcap]omo é ser um saco de pancada deprimente que consegue vencer na vida?
Acho que isto no fundo, como todo o humor ou grande parte do humor que faço, é uma espécie de auto terapia, que me poupa bastante dinheiro em consultas. Tenho sempre esta ideia de que se as pessoas em vez de varrerem as suas coisas mais deprimentes para debaixo do tapete, se as assumirem e se lidarem com elas de uma maneira divertida, isso consegue ser bastante libertador e conseguem contagiar outras pessoas a quem se calhar aconteceram as mesmas coisas. Embora soe a egocêntrico, porque se trata de um espectáculo sobre coisas que me aconteceram a mim, é muito giro ver a identificação de pessoas a quem aconteceram coisas parecidas e que passaram por embaraços idênticos. Torna-se, portanto, um exercício de catarse da minha parte e das pessoas que assistem ao espectáculo. Também estimulo diálogo com as pessoas do público e acaba por ser uma espécie de terapia conjunta que é muito divertida de se fazer.

Como é o trabalho de fazer rir as pessoas?
É tramado (risos). É um ofício para onde as pessoas vão. Analisando tudo o que se passa lá para trás, acho que grande parte das pessoas que trabalham na comédia, começaram na escola usando-a como uma espécie de mecanismo de autodefesa porque fazer rir quebra gelo e barreiras. Vamos com essa ilusão para a idade adulta a pensar que se nos safámos na escola à conta de fazer rir os outros. Mas depois percebemos que não é nada assim. Na realidade, não há nada menos unânime que a comédia, porque suscita uma reacção tão visceral. As pessoas ou riem ou não riem e não riem todas das mesmas coisas. Portanto, há um lado sempre de incerteza e de desporto radical nisto. Costumo dizer que não faço nenhum desporto radical, tenho horror a coisas que me façam saltar de sítios muito altos. Portanto, o meu desporto radical é fazer piadas. Por muito que estejamos convencidos que determinada piada vá dar cabo do público, aquilo pode não funcionar e se calhar uma em que temos menos confiança pode tornar-se uma coisa que as pessoas agarram. Por isso, fazer rir é um ofício fascinante. Ao contrário de fazer dramas. O drama não suscita uma reacção visceral. Uma pessoa pode olhar para um drama e pode simplesmente fazer “humhum”, pode chorar eventualmente se for muito comovente, mas não precisa de o fazer. Pode apenas dizer sim, senhor, aqui está uma coisa bem feita”. Agora se o humor não fizer rir é complicado. Quando penso nisso é de facto uma forma de espectáculo tramada, mas que dá muito gozo.

É arriscado?
Sim, mas parte do gozo está nisso. Tenho sempre algumas incertezas e nervos antes de ir para um palco, mas depois chego lá e fico à vontade. Mas os momentos antes são sempre difíceis.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Assume-se como um geek. Porquê?
Sim. Acho que a minha “geekness” também começou na adolescência. Sentimo-nos inadaptados e vencemos essa inadaptação e timidez agarrando-nos a séries, a filmes, a banda desenhada, a coisas que possamos apreciar sozinhos e metidos no nosso mundo. Isso faz com que desenvolvamos esse apreço por este tipo de coisas e que saibamos nomes de artistas que fizeram coisas super obscuras em filmes. O que acontece depois é que crescemos e começamos a perceber que há mais geeks como nós e depois formam-se comunidades de geeks que justificam a existência de coisas como, por exemplo, as comic-cons. Toda a geekness, e não digo isto com sentido depreciativo, parte de uma certa solidão que nos faz estar mais alerta e tentar encontrar uma espécie de sentido da vida em coisas.

Porque se sentia um inadaptado?
Porque era tímido, porque era um caixa de óculos, etc. Mas depois comecei a perceber que se fizesse rir as pessoas e desenhasse caricaturas delas, conseguia vencer o bullying. Consegui fazer com que alguns bullies me deixassem de chatear por ter feito a caricatura deles. E pensei “ok”, isto é uma boa maneira de comprar amizades. Mas, nem sei se consigo avançar com alguma explicação para a minha inadaptação ao longo da vida. Acho que tem tudo a ver com uma aula de ginástica para aí em 1977, ou 78 em que me esqueci de levar os calções e me pareceu que era uma boa ideia ir fazer ginástica em cuecas. Como eram brancas como o calções que se usavam na escola, achava que as pessoas iam achar que naquele dia tinha apenas calções mais curtos. Mas, de facto, não acharam isso. Fui humilhado. Acho que isso faz com que toda a minha idade adulta, e ainda hoje, sinta que estou em cuecas brancas. Poderia surgir disto algo bastante deprimente, mas não. A ideia deste espectáculo é também a de se escarafuncharmos nas coisas que queremos esconder também as conseguimos vencer e, se calhar, ter algum sucesso.

Lamentou a morte de Stan Lee. Qual o papel e a necessidade de super-heróis actualmente?
Lembro-me o quão mal vistos eram os livros de banda desenhada quando estava a crescer. As pessoas questionavam-me porque lia “aquelas porcarias” em vez de ler outras coisas decentes. Há sempre esta ideia. Na verdade, e o Stan Lee foi exemplar nisso, os super-heróis não são mais que uma adaptação aos tempos modernos dos heróis mitológicos das Grécias e Romas antigas. No fundo, estamos sempre em busca de criaturas mais elevadas que nos possam salvar e dar algum sentido à vida. Acho que temos de facto super-heróis em muitas áreas, da medicinas aos bombeiros. Não precisamos necessariamente de tipos com capas e collants justos para nos salvar. No entanto, uma pessoa como o Stan Lee fez muito mais que simplesmente arranjar histórias para nos entreter. Por isso, acho que é exemplar. Ele criou mitos que desbloquearam muitas situações na vida de muitos jovens que foram lendo banda desenhada. Quando se fala hoje de um filme como o “Black Panther” como uma coisa revolucionária que tem um elenco todo afro americano, na verdade foi o Stan Lee que fez isso quando decidiu que deveria existir um super-herói negro que vem de um país em África que está muito mais avançado do que todo o resto do mundo. Ele desbloqueou muitas coisas: falou sobre raça, sobre tolerância. Sempre foi um tipo muito progressista e, às vezes, quando as pessoas grosseiramente dizem que os super-heróis são uma coisa patrioteira da América, na realidade não é verdade. Se as pessoas realmente mergulhassem naquelas histórias, iriam perceber que há ali muitas mensagens universais, que falaram a muitas crianças e que de certa maneira formaram muitas crianças.

É muito activo nas redes sociais. Como vê esta relação das pessoas com o mundo virtual?
Já larguei o Facebook, mas estou fortíssimo no Instagram (risos). Acho que as redes sociais chegaram para unir as pessoas, mas acabaram por as desunir mais que nunca. Ainda por cima acabaram por perverter o sentido das palavras como amigo, gostar, etc. Acho que as pessoas também criaram nas suas cabeças a ilusão de conseguirem mudar o mundo e a mentalidade dos outros usando o Facebook, quando não o conseguem. Às tantas acaba por ser apenas um exercício imaturo de insultos mútuos. Não adianta nada. Isso fez me sair do Facebook. Agora estou no Instagram porque acho que as coisas estão ainda respiráveis, Talvez por ser uma coisa mais baseada em imagem do que em texto. Mas, de um modo geral, a espécie humana não sabe lidar com uma ferramenta como o Facebook.

O que se passa com a humanidade?
Isto é meio apocalíptico e niilista de se dizer, mas acho que somos uma espécie intrinsecamente marada. Muitas vezes quando olho para a paz no olhar das minhas cadelas quase que lhes invejo a serenidade. Na verdade, quando há guerras entre cadelas têm apenas que ver com um prato de comida mas de resto há uma tolerância muito grande. Também não estou a sugerir que a humanidade deva andar a cheirar os rabos uns dos outros, que é uma coisa que os cães fazem e muito bem. Mas acho que isto da humanidade não tem cura. Por muito que existam coisas boas a acontecer nós, intrinsecamente, aquilo que nos distingue dos animais é que temos perversão intrínseca e alguma maldade e isso é muito difícil de resolver. Portanto, só podemos tentar levar isto o melhor que conseguirmos tendo em conta que somos de facto marados. Aliás, o preço para termos coisas tão incríveis como comédia, poesia, arte é também sermos passados da cabeça.

Como encara situações da actualidade como o Trump no EUA e Bolsonaro no Brasil?
Acaba por ser muito inquietante mas ao mesmo tempo é estranhamente previsível. Faz-me muito impressão que tudo isto esteja a acontecer. Especialmente alguém como o Bolsonaro. Aqui há uns anos, um tipo que dissesse as coisas que ele disse durante a campanha não seria levado a sério. Quando vi uma fotografia da Regina Duarte, que é uma actriz que admiro, abraçada ao Bolsonaro pensei: o mundo está, de facto, perdido. Não há solução para isto. A viúva Porcina está a apoiar um fascista. Inacreditável [risos]. Isto é muito preocupante mas, de certa maneira, a humanidade caminhou para este buraco. Muitas vezes, as pessoas ofendem-se com tão pouco à esquerda enquanto a direita fica unida. Essa desunião à esquerda faz de facto com que a direita se una e se ria, enquanto olha para a esquerda e vê toda a gente à porrada uns com os outros. Portanto, de certa maneira estávamos a pedi-las, o que é horrível, mas espero que isto, a dada altura, se afine e que seja apenas um acidente de percurso.

19 Nov 2018

Redes sociais | Nua na rua contra a pressão académica

[dropcap]T[/dropcap]urista de 20 anos, natural de Taiwan e a frequentar um mestrado numa instituição do ensino superior no Interior da China. É este o perfil da mulher que se expôs da cintura para baixo nas ruas de Macau, através de fotografias que circularam pelas redes sociais. Numa das fotos, a mulher, que esconde sempre a cara, aparece a exibir-se completamente nua da cintura para baixo, no Pátio da Hera, precisamente na Rua ao lado do Comissariado Número 1 do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP).

A revelação sobre o perfil da turista foi feita, ontem, pela versão de Taiwan do jornal Apple Daily, onde se explica que a mulher coloca online fotos deste género na rede social Tumblr porque adora expor a nudez humana e sente que é uma forma de aliviar o stress da vida académica. Apesar de não revelar a sua identidade, a estudante de Taiwan admitiu que costuma acompanhar-se de uma amiga para tirar este tipo de fotografias e que já o fez em locais como o Interior da China, Taiwan ou Macau, mesmo em situações em que apenas está a sair de um bar ou de uma sala de karaoke. Contudo, para evitar incomodar as outras pessoas, as fotos são tiradas à noite e quando não há outras pessoas nas proximidades. Os locais escolhidos são muitas vezes becos.

Porém, esta foi a primeira vez que a estudante teve problemas uma vez que acabou por ser identificada pela PSP, devido às câmaras de segurança, e pode mesmo a vir ser acusada pela prática do crime de actos de exibicionismo, caso volte a entrar no território. A pena para estas situações vai até 1 ano de prisão ou multa de 120 dias.

Ao jornal de Taiwan a estudante confessou que não tinha consciência que se tinha exposto ao lado de uma esquadra de polícia e revelou sentir-se stressada com a situação, por nunca ter tido a intenção de arranjar problemas com a justiça.

23 Out 2018

Tecnologia | Agentes políticos popularizam directos nas redes sociais

[dropcap style=’circle’] C [/dropcap] om o lançamento da ferramenta de directos no Facebook tornaram-se normais os “programas” dos agentes políticos locais, numa espécie de Conversas em Família. Além de partilharem as suas mensagens e ideias, a ferramenta permite ainda perceber o impacto das políticas e os assuntos que mais preocupam os residentes.

O estabelecimento das redes sociais como uma das principais plataformas de comunicação arrastou os actores político para a internet. Nos Estados Unidos, a eleição de Barack Obama, em 2008, ficou muito ligada à utilização que a sua campanha fez das plataformas digitais, como o Facebook e o Twitter, promovendo vários debates sobre o assunto.

Passados alguns anos a tendência instalou-se também em Macau e nas últimas eleições, as redes sociais mereceram uma grande atenção da comissão eleitoral, que inclusive recomendou que os candidatos retirassem os conteúdos online, antes do período oficial da campanha.

Hoje são mais os grupos presentes nas redes sociais do que os que estão ausentes. Mesmo as forças mais tradicionais, como Operários, Moradores e Associação das Mulheres tiveram de se adaptar aos novos tempos. E neste capítulo, há uma funcionalidade que se destaca, os directos que muitos fazem ao final da tarde e princípio da noite, para abordarem os temas mais comuns.

Contacto directo

Ao HM, a deputada Agnes Lam, que utiliza os directos do Facebook para comunicar frequentemente, destaca o facto de conseguir comunicar com grande eficácia com as pessoas que acompanham as questões quotidianas de Macau. O facto de haver comentários em directo, é uma grande vantagem porque permite responder às dúvidas dos internautas em tempo real.

“É um recurso muito importante e tem a grande vantagem de nos permitir chegar facilmente às pessoas. Quem está a ver pode colocar-nos questões quando estamos em directo e conseguimos respondê-las imediatamente”, começou por explicar Agnes Lam, sobre a utilização da plataforma.

“Nesta interacção, as pessoas acabam por sentir que têm um maior contacto connosco e que do outro lado está uma pessoa verdadeira, que se preocupa com os seus problemas”, explicou.

Para Johnson Ian, membro da Associação Sinergia de Macau, que apoio a lista encabeçada por Ron Lam nas últimas legislativas, a presença nas redes sociais é igualmente uma obrigação. Segundo o ex-jornalista, os órgãos de comunicação social perdem cada vez mais importância, e as pessoas mostra-se menos interessada em aceder à informação através dos jornais, rádio ou televisão.

“No seio da organização sentimos que tínhamos de recorrer às novas plataformas porque os média tradicionais perderam muito do impacto junto da população. Para nos fazermos ouvir e para que as pessoas pudessem saber o que defendemos e os nosso pontos-de-vista, considerámos que o melhor era recorrer às novas plataformas”, contou Johnson Iam, ao HM.

“As pessoas em Macau mostram cada vez menos interesse pelos jornais ou televisão. Por isso, é importante estar nestas plataformas mais utilizadas onde as pessoas passam mais tempo”, acrescentou.

Nesta interacção com os eleitores e interessados, Johnson Ian destaca como grande vantagem a interacção com as pessoas, permitindo abordar temas que interessam a quem está a assistir aos directos. No caso da Sinergia de Macau são frequentes as conversas à mesa com três ou dois membros da associação.

“As pessoas interagem connosco, levantam-nos questões e pedem para abordarmos assuntos da ordem do dia, ou mesmo outros. Acho que toda esta importância, é sublinhada com o facto do próprio Governo fazer um esforço para estar mais presente nas plataformas sociais”, considerou Johnson Ian.

 

Poderes equilibrados

Uma das associações mais activas na utilização das redes sociais é a Novo Macau, que começou a fazer as transmissões por volta de 2015. Para Scott Chiang, presidente na altura, a grande vantagem foi o facto das vozes menos ouvidas nos órgãos de comunicação social tradicionais poderem chegar directamente às pessoas.

“Na altura em que surgiu esta ferramenta, entendemos que nos dava mais poder. Antes dos directos precisávamos de ir a um canal de televisão, mas com esta tecnologia ficámos dispensados disso. Até porque nem sempre surgem os convites, assim podemos comunicar directamente e muito mais facilmente”, explicou Scott Chiang.

Actualmente, a associação faz mesmo directos como programas de televisão, numerados como se de episódios se tratassem.

O maior equilíbrio no acesso às pessoas foi um aspecto que também foi destacado por Agnes Lam: “As redes sociais trouxeram uma maior liberdade à comunicação e permitiram um maior acesso. O facto de uma pessoa não ter presença nos média tradicionais, não impede de ser altamente popular nas redes sociais”, apontou a deputada.

Conteúdos variados

Com a emergência de tantos actores políticos com transmissões em directos, nem sempre é fácil alcançar números significativos. Por outro lado, nem todas as pessoas estão disponíveis para estar longos períodos a ver o mesmo vídeo, quando facilmente podem aceder a outro conteúdos.

Neste aspecto, Johnson Ian destaca que o mais importante é oferecer conversas que se distingam das restantes análises políticas, com dados bem fundamentados e informação que as pessoas não consigam obter facilmente de outra forma.

“O conteúdo é o principal diferenciador. Hoje há tantas plataformas com opiniões tão semelhantes que se não houver uma análise mais profunda as pessoas não vão assistir”, disse o ex-candidato a deputado, ligado à Sinergia de Macau.

“As pessoas muitas vezes preferem quando revelamos dados do Governo, a que não conseguem facilmente aceder, ou quando fazemos as leituras políticas das acções do Executivo que, em certos casos, prefere não explicar claramente as situações e as razões para tomar certas medidas”, revela.

Segundo o ex-candidato às legislativas os temas mais populares e discutidos visam a habitação e o trânsito local.

Por sua vez, Sulu Sou admite que os programas que dirige não se ficam só pela política pura e dura. Por vezes foca outros assuntos como lifestyle ou tem entrevistas com pessoas conhecidas. O deputado Mak Soi Kun e Jorge Valente, ex-candidato pela lista de Melinda Chan, foram alguns dos convidados.

“Há temas actuais com muita gente a assistir, porque despertam interesse. Recordo-me que, recentemente, fizemos um programa sobre o reconhecimento mútuo das cartas de condução e muita gente assistiu e comentou o assunto. Havia um grande descontentamento”, admitiu o deputado suspenso. “Mas no programa que faço para a Novo Macau, tive sempre a intenção de fazer algo para além da política pura e dura. Sentimos que é importante falar também de outro tópicos, como cultura, ter talks shows, abordar pessoas conhecidas, como foi o caso de Mak Soi Kun, numa perspectiva que os média tradicionais não fazem”, reconheceu.

Sulu Sou explicou também que os directos têm mais gente a ver após o final do programa. Isto porque o vídeos ficam guardados na página de quem transmitiu. “Nós temos um audiência muito estável. Por exemplo, no directo temos 30 pessoas a assistir. Mas horas depois de acabarmos de transmitir, atingimos um número que varia entre 3 mil e 5 mil visualizações”, constatou.

Já Agnes Lam adopta uma postura diferente nos seus programas, utilizando a plataforma para explicar o seu trabalho legislativo e partilhar opiniões sobre os assuntos mais actuais.

Pulso à população

Outra das grandes benefícios de ter acesso à opinião dos cidadãos é poder orientar as acções para tratar dos assuntos levantados nas plataformas sociais.

“Uma das grandes vantagens é percebermos o que as pessoas pensam sobre os assuntos abordados e também os assuntos que querem ver discutidos. Com estas plataformas podemos ter uma maior noção dos temas que interessam às pessoas nas actividades políticas”, admitiu Scott Chiang.

Embora não tenha um programa em directo, também Jorge Valente reconhece que nas eleições utilizou o Facebook e o Wechat para muitas vezes perceber as necessidades dos eleitores. Na altura da campanha, segundo Jorge Valente, Melinda Chan chegou a recorrer aos directos online

“Eu usei o Facebook e o Wechat na campanha, foram as plataformas que mais pessoas utilizaram. Era onde estava o eleitorado e permitiu divulgar as mensagens que queríamos e receber uma feedback, saber o que as pessoas pensavam sobre os assuntos”, explicou Jorge Valente.

Ataques agressivos

Contudo, como acontece frequentemente nas redes sociais, nem sempre as opiniões partilhadas têm substância. Todos os agentes políticos ouvidos pelo HM admitiram ter sido alvos de insultos, e defendem que a melhor forma de lidar com as opiniões ofensivas passa por simplesmente ignorá-las.

“Acontece às vezes, mas, honestamente, não é muito frequente e para mim não tem grande importância”, afirmou Agnes Lam.

“São situações que acontecem nas redes sociais, como todos sabem. Há sempre gente com comentários negativos que nos dizem coisas do género: ‘és um loser” ou ‘vai-te embora, não precisamos de ti em Macau’”, reconhece Scott Chiang. “Acho que são coisas normais da internet, onde é mais comum as discussões não serem muito profundas”, considerou o activista pró-democrata.

Facebook | Sulu Sou entrevistou Mak Soi Kun e Jorge Valente

Nos programas transmitidos através da sua página no Facebook, o deputado suspenso Sulu Sou entrevistou Mak Soi Kun. A conversa incidiu principal sobre a vida do legislador ligado a Jiangmen e sobre as suas acções políticas nos bastidores. “Foi uma entrevista interessante com perguntas a que ele normalmente não responde sobre a sua vida. Na altura, houve muita gente a dizer que ele tinha sido corajoso, porque esteve numa plataforma que é em quase tudo oposta ao que ele pensa”, afirmou o deputado pró-democrata. “Claro que também houve comentários negativos, sobre ser um homem de negócios, pelos apoios que dá e recebe do Governo, mas nada que não fosse previsível”, acrescentou. Mak Soi Kun é muito provavelmente um dos 28 deputados que suspenderam Sulu Sou, uma vez que nunca se expressou contra a suspensão, ao contrário de outros legisladores como José Pereira Coutinho, Ng Kuok Cheong ou Au Kam San. Só quatro deputados votaram contra a suspensão.

Também Jorge Valente foi entrevistado por Sulu Sou, também numa conversa que focou aspectos da sua vida: “Tive um feedback muito positivo porque a minha presença neste tipo de programa não era esperada. Mas somos dois jovens, com alguma diferença de idades, com um grande contraste em quase tudo, mesmo assim houve uma grande dinâmica”, relatou Jorge Valente. “As pessoas que me abordaram sobre essa participação mostraram-se surpreendidas e disseram-me que gostaram muito da conversa”, contou.

21 Mai 2018