Macau, esse filme…

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]endo os filmes uma representação da realidade, porque não então comparar o seu processo de produção com coisas prosaicas como a gestão de uma cidade? Podia ser uma cidade ao calhas mas compare-se com Macau. Parece-me até especialmente apropriado neste momento solene em que se discutem as Linhas de Adormecimento Geral ou LAG, ou lá como se chamam. Tomemo-las como o guião do nosso filme.

Fazer um filme parece um processo relativamente fácil: escrevem-se uns diálogos, arranjam-se uns actores, um realizador, uns tipos para filmar mais umas roupitas, luzes e já está! Gerir uma cidade também. Arranjam-se uns secretários, um chefe, escrevem-se umas leis, uns polícias para as fazer cumprir, uma tropa para arranjar as ruas… enfim, vocês sabem. A diferença é que a grande maioria dos filmes é lixo e só algumas cidades dão mesmo vontade de lá viver, ou de lá voltar.

Todos os filmes começam por um guião. Quanto melhor for, quanto mais inteligentes e marcantes os diálogos, quanto mais elaborada e pensada a história, maiores as possibilidades de termos um filme de sucesso. Um mau guião dificilmente dará um bom filme a menos que a equipa de produção se exceda e consiga improvisar uma história melhor ou então estamos a filmar um porno. Mas, mesmo neste caso, ajuda que os grandes planos tenham algum contexto erótico subjacente. Um filme precisa, portanto, de uma ideia sólida, de um final entusiasmante, de um enredo que nos compila a viver naquele hiato de ficção, a vê-lo mais do que uma vez e até a recomendá-lo aos amigos. Neste contexto, os diálogos assumem um papel crucial ao revelarem personagens maiores do que a vida, ao desvelarem inconscientes, ao catapultarem a acção e a imprimirem na nossa memória lições de vida, formas de estar ou apenas grandes tiradas que marcam tempos gerações, modas, eternidades. Um bom filme não tem personagens que soam todas ao mesmo, nem as palavras são ditas apenas porque sim. Por exemplo, não podemos ter os personagens todos do filme a gritarem repetidamente “diversificação económica” ou “indústrias criativas” sem saberem muito bem o que isso quer dizer, a menos que estejamos a escrever uma comédia onde a repetição e o nonsense podem ser utilizados como ferramentas dramáticas. Mas gerir uma cidade não pode ser uma comédia. Um bom filme não se coaduna com uma personagem que é, por exemplo, médico e não sabe o que é uma amigdalite, como não podemos ter um dirigente de uma cidade ignorante do valor pago pelo governo dessa cidade em rendas. Especialmente quando a dita sofre horrores a esse nível. A menos, de novo, que estejamos a produzir uma comédia. Às vezes acontece não conseguirmos puxar mais por uma personagem. Foi mal desenhada, está desajustada da história, qualquer coisa. Quando assim é, é melhor riscá-la do guião. Mas lá está, quanto mais sólida for a ideia da história mais fácil se torna criar os personagens certos para a interpretarem. Naturalmente, um guião começa com uma ideia forte, uma premissa, uma questão que pretendemos ver satisfeita, uma sensação que pretendemos criar, seja lá o que for. Mas não basta uma boa ideia. Não basta dizer que vamos fazer um filme sobre dois gajos perdidos na lua, temos de construí-la, de criar drama, conteúdo, tensão, envolvimento de elaborá-la de tal forma que ela quase se materializa por si própria, ou o filme tem apenas uma cena de 10 minutos e acaba. Tal como não chega dizermos que pretendemos que uma cidade seja um Destino Mundial de Lazer – precisamos de saber o que isso quer dizer, o que isso implica, de tudo o que está à volta dessa ideia e traçar planos concretos que se coadunem com a visão do que isso realmente é. Por muito que se pense, o guião de um filme não é escrito de impulso, durante uma semana, ou duas, a fio. É um trabalho de sapa, de planeamento, de investigação, de reflexão, e depois um processo contínuo de decisões pois quando mergulhamos num assunto abrem-se mil e uma hipóteses, e isso implica sangue frio para separar o importante do prescindível, discernimento, qualidade. Temos de saber escolher: o personagem morre? A acção acontece onde? Qual o tempo? Enfim, chega uma altura em que é preciso decidir um caminho, cortar o supérfluo, avançar e ter coragem para eliminar cenas que achávamos fantásticas mas que em nada contribuíam para o enredo, por muito gozo que nos desse vê-las filmadas, caso contrário nunca teremos guião e, por consequência, nunca teremos filme. Comparando com a nossa cidade a tal cena que adorávamos mas que tivemos de cortar: será, por exemplo, que vale mais a pena construir uma passagem aérea faiscante numa rotunda, ou aplicar a mesma verba no apoio ao pequeno comércio local que, esse sim, caracteriza mais uma cidade do que 10 rotundas iguais à aquela? É apenas uma reflexão como muitas outras que vão sucedendo no processo de criação.

Chega de guião. Partamos do princípio que está lá tudo, que até é uma boa peça literária, com o necessário para dar um bom filme e passemos para a equipa. Se um mau guião dificilmente dará um bom filme, nada nos garante que um bom guião o consiga fazer. Uma escolha criteriosa do elenco para dar vida às personagens, do realizador para consubstanciar a visão, da equipa de filmagem, de iluminação, de guarda-roupa e por aí fora, é um processo absolutamente crucial para que o tal do guião consiga brilhar no ecrã. No caso da cidade, a equipa somos todos nós, governantes e governados, empregados e patrões, desempregados e poetas, artistas e cirurgiões. Naturalmente, como nos filmes, uns mandam mais que outros, mas todos são necessários para que a coisa corra bem. Ao produtor cabe-lhe a responsabilidade de se assegurar que reúne as condições financeiras e logísticas necessárias para conseguir fazer o guião brilhar, o realizador é responsável por ter e comunicar uma visão à equipa, explorar o seu potencial e assegurar-se que os diálogos são executados de forma convincente. Ambos são ainda, ou devem ser, responsáveis por que a equipa se sinta motivada e perfeitamente elucidada da visão subjacente, desde o mais simples assistente de produção ao director de fotografia todos devem estar no mesmo filme e com vontade de dar o seu melhor. Nestas circunstâncias, até um guião menor pode vir a tornar-se num grande filme pois todos contribuem para o fazer melhor – o realizador produz situações incríveis, os actores proporcionam desempenhos memoráveis, o guarda roupa sai-se com indumentárias inesquecíveis, o director de fotografia com imagens de rara beleza, e por aí fora. Mas é preciso uma visão clara, comum a todos para que isso aconteça. E, acredite-se ou não, nem tudo é dinheiro e muito tem a ver com a capacidade de se entusiasmar uma equipa, pois apenas assim obras foras de série são possíveis. Uma produção onde a equipa anda de trombas e desnorteada dificilmente fará um filme decente. No caso da nossa cidade, sabemos bem que o guião é defeituoso, ou inexistente mas, pior do que isso, é sentirmos também que a equipa está desmotivada e tem óbvia incapacidade para consubstanciar essa visão débil, quasi desconhecida. Vivemos de improviso em improviso e esperamos ter sucesso na bilheteira, ou no caso da nossa cidade, dar corpo ao tal Destino Mundial de Lazer.

Não basta colocar o ónus do desenvolvimento nos operadores turísticos que se regem por regras de concorrência e não de desenvolvimento urbano e civilizacional. Mesmo eles acabam por sofrer quando as suas equipas não estão suficientemente motivadas. Caso os produtores deste filme macaíno tenham dúvidas, perguntem à maioria dos estrangeiros que por cá trabalham o que os mantém cá. É preciso dizer “salário”? Mas a vida não é só trabalho e quando se está numa cidade entupida pelo trânsito, com proibições para isto e para aquilo, com uma assistência médica defeituosa alguém pensa em por cá ficar muito tempo? Mesmo aqueles que por cá nasceram ou que por cá andam há muito tempo, quantos não sonham em encher o pé-de-meia e porem-se a andar daqui para fora? Há estatísticas disso, ou não vale a pena fazer a pergunta? Que prazer dá viver numa cidade onde nem sequer existem esplanadas para se cavaquear com os amigos e esquecer as agruras do dia de trabalho? Que prazer dá visitar uma cidade que cada vez mais é uma colecção de lojas de marca e menos uma revelação dos sentimentos locais? Que gozo dá viver numa cidade onde as festividades são contínuos exercícios de boçalidade como os concertos de Ano Novo ou as decorações de Natal do Leal Senado para citar um exemplo recente? Que prazer dá viver numa cidade que tanto fala de criatividade mas não a estimula? Que prazer dá viver, ou visitar, uma cidade onde respirar começa a ser uma actividade de risco? Que prazer dá viver numa cidade onde os pequenos negócios não arranjam pessoal para trabalhar, nem argumentos para pagar os custos de localização? Qual viajante menos sensível às mesas de jogo terá vontade de cá voltar enquanto não esquecer os problemas que teve em deslocar-se, as contas surdas que pagou ou a cidade centenária que não descobriu?

Se um produtor quiser mesmo assegurar-se que tem hipóteses de fazer um bom filme deve pensar primeiro em ter um guião com o mínimo de qualidade, uma visão clara do caminho que pretende seguir, coragem para decidir e capacidade para o maximizar com equipas motivadas, capazes e felizes. Sim, felizes, fazer um filme é duro mas pode ser um processo feliz. Não basta depois ao realizador dizer “acção” e esperar que tudo se encaixe como por magia, como não basta ao governo falar de “linhas de acção” se os discursos forem apenas composições de frases sem conteúdo, se as ideias surgirem dispersas, e até desconexas, se os secretários não souberem que gastam 600 milhões por ano em rendas e não forem capazes, sequer, de imaginar, o que poderiam fazer com esses 600 milhões para consubstanciarem a visão. Porque não têm um guião, porque não conseguem perceber o filme em que estão e nem sequer demonstram capacidade para o realizar. Quando se gere assim um filme, o resultado é normalmente um fracasso de bilheteira, equipas alienadas, investidores tramados e mais umas bobines para a poeira do esquecimento. Quando se gere assim uma cidade, o resultado só pode ser exactamente o mesmo, ou então estamos a ensaiar um remake da “Fuga de Alcatraz”.

MÚSICA DA SEMANA
“The Final Cut” – Pink Floyd
Through the fish eyed lens of tear stained eyes
I can barely define the shape of this moment in time
and far from flying high in clear blue skies
I’m spiraling down to the hole in the ground where I hide (…)

2 Dez 2015

Cinema | Programa experimental na Cinemateca Paixão

É sob o mote do 10º aniversário do Centro Histórico que o IC cria um programa piloto para dar vida nova à Cinemateca Paixão. A experiência arranca hoje, com a exibição de “Guia in Love” e a indústria cinematográfica tem porta aberta para reservar salas no local até Dezembro

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) arranca hoje com um programa piloto na Cinemateca Paixão, na Travessa da Paixão, junto às Ruínas de S. Paulo. O programa dura até 31 de Dezembro e oferece à indústria cinematográfica e associações locais a oportunidade de colocarem em acção os seus projectos, reservando o espaço para esse efeito.
O programa experimental prevê a exibição, hoje, de um filme realizado por um artista local. “Guia in Love” é o nome do filme que estreia o projecto, marcado ainda por uma série de actividades abertas ao público até final do ano.
O cinema localiza-se num edifício com três andares e tem diferentes funções como armazenamento de documentos ligados à indústria de filmes, empréstimos de livros e apreciação crítica de cinema. O rés-do-chão reserva-se à bilheteira e às salas de cinema, incluindo ainda uma sala de controlo, inicialmente utilizada para a exibição de filmes sobre arte e cultura. O primeiro andar disponibiliza material sobre filmes locais, como são periódicos e revistas e o escritório fica no segundo piso. “O estabelecimento da Cinemateca pretende promover a cultura cinematográfica em Macau, cultivando a crítica e fornecer uma escolha diversificada de películas”, informa o IC.

Um filme para lembrar

“Guia in Love” é uma obra realizada no território por Sam Leong, com actores de Macau e Hong Kong, incluindo Vivian Chan e Terence Chui. Também a banda sonora conta com o tema “Goodbye My Love”, do produtor local Joe Lei. Trata-se de uma película dentro do género de comédia romântica com passagens em locais históricos da cidade. O filme arranca com um triângulo amoroso entre uma jovem e dois rapazes que são amigos desde pequenos, até que a paixão assola dois deles. Entrelaçadas estão várias outras histórias de amor, a não perder, mais que não seja pelo background cultural que oferecerem.
A sua realização é organizada pela Associação Cultural de Filmes e Produções Televisivas de Macau, sendo que a estreia deverá contar com uma série de representantes desta indústria. O IC assegura ainda que a população pode contar com a organização de workshops e outras actividades aberto ao público entre Outubro e Dezembro, que são anunciadas mais perto da data de realização. A partir de hoje e até Dezembro a bilheteira estará aberta para que os interessados possam reservar espaços com o objectivo de lá realizarem actividades.

14 Set 2015

Filme de acção rodado em Macau por realizador de Hong Kong

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se “Macau Holidays”. O nome dá uma ideia romântica, e a produtora do filme, Esther Lim – também directora da Companhia de Promoção Cannan – explica ao HM que é mais do que uma simples ideia romantizada. “Os filmes realizados em Macau são únicos”, diz, e por isso, espera poder apresentar uma conceito novo, “uma nova ideia aos espectadores de Macau”.
“O filme conta a história de três colegas de uma escola em Macau que não se viam há muito tempo. Dois desses mudaram-se para Hong Kong e quando voltam a visitar o território encontram o antigo colega. Este está às portas do casamento com a protagonista. Entretanto, numa festa num casino, o dono do espaço quis vingar-se do noivo, levando a uma disputa e a um salvamento”, contou a produtora, levantando um pouco o véu da trama.
A ideia de gravar o filme começou há três anos, depois de Esther Lim ter ganho a possibilidade de produzir a história. Com uma equipa de realização e o realizador de Hong Kong, Kevin Chu Ga Wang, Esther Lim pretende colocar a produção do filme em acção.

Em busca de parceiros

O orçamento está previsto em cinco milhões de patacas e Esther Lim, também vice-presidente da Associação Criativa e Cultural Star Rise, revelou que ainda não tem essa quantia. Sem saber se irá concorrer a um plano de pedido de apoio financeiro do Governo, Esther pretende encontrar mais parceiros para realizar o filme.
A produtora do filme espera poder gravar várias cenas em Macau, conseguindo promover de forma paralela o património cultural e histórico, que muitas vezes são esquecidos. Os papéis principais do filme devem ser assumidos por pessoas locais, tendo sido convidada a representante de Macau na competição da beleza internacional de 2013, Adela Sou. A modelo aceitou e explicou, ao HM, que já participou na realização de vários filmes locais e espera desenvolver-se mais como actriz. Um dos representantes da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau, Carlos Koo, a dar os primeiro passos como actor em Hong Kong, vai também assumir um dos papéis principais desta produção.

24 Ago 2015

Cinema | Cheong Kin Man com obra sobre a RAEM na Califórnia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] curta-metragem “Uma Ficção Inútil”, de Cheong Kin Man, foi apresentada sábado na Califórnia, no Festival de Cinema de Macau de San Leandro, depois de dois prémios no Canadá e Espanha e da exibição em Cannes. “Uma Ficção Inútil” resulta de um trabalho de mestrado em Antropologia Visual e Media na Freie Universität Berlin, em 2014, e nos últimos meses conquistou o “2015 Rising Star Award”, na categoria de cinema experimental do Festival Internacional de Cinema do Canadá (Vancouver), e a “Distinción Amarilla” do prémio “La Lupa y el Imán” do Festival Cinemística, em Espanha (Granada). A curta-metragem de 31 minutos mistura viagens e influências do jovem de 28 anos desde Macau, onde nasceu e cresceu, até Portugal – primeiro país europeu onde se fixou para estudar –, evidenciando também marcas da cultura asiática, nomeadamente japonesa.

Em camadas

Inspirado pelas obras cinematográficas e literárias dos japoneses Kon Ichikawa e Michio Takeyama, o mais recente filme de Cheong Kin Man tem, segundo o autor, “múltiplas camadas”, desde a identidade macaense ao multiculturalismo que constatou em Singapura, onde passou dois meses em estágio na Nanyang Technological University, enquanto bolseiro de uma investigação sociológica. Numa sucessão de “atropelos” visuais, a obra mistura ruído, rostos e paisagens, e uma colecção de línguas que Cheong Kin Man se desafiou a aprender. Em grandes porções de texto sobrepostas sobre imagens de Macau, e de outros sítios por onde andou, ouvem-se e lêem-se línguas asiáticas e europeias. A língua de Camões surge na tela, por breves momentos, através de Sophia de Mello Breyner Andresen, porque, durante o processo criativo da curta-metragem, Cheong Kin Man “tropeçou por acaso” num artigo publicado duas vezes – em 1975 e 2014 – no Expresso. Originalmente dado à estampa no período revolucionário, o texto da poetisa “Em defesa da cultura” foi a forma de o jovem autor dizer no filme que “é muito importante a democratização” da mesma. Licenciado em Estudos Portugueses pela Universidade de Macau, Cheong Kin Man trocou o emprego de tradutor na Administração Pública por um mestrado no estrangeiro, pelas viagens e pelo conhecimento do outro. Fala e traduz inglês, francês e alemão, além das duas línguas oficiais da região: o chinês e português. “Continuo muito interessado em aprender línguas, porque para mim elas são muito importantes para compreender o mundo”, afirmou à agência Lusa.Cheong Kin Man
O Festival de Cinema de Macau da cidade de San Leandro integra outros dois trabalhos da autoria e com a participação de Cheong Kin Man: “Ou Mun Ian, Macaenses – 35 Entrevistados, 35 Identidades” (2009) – documentário sobre a cultura e identidade macaense – e “As Fontes de Água de Macau” (2008), sobre a Fonte do Lilau. Os dois filmes são em cantonense e português, com legendas em inglês. Depois da cidade californiana de San Leandro, o jovem autor quer apresentar “Uma Ficção Inútil” em Portugal, ainda este ano, e no próximo em Macau.

Momentos marcantes

Para trás ficam as apresentações oficiais da curta-metragem no Canadá, Espanha, Eslovénia e no “Short Film Corner” do Festival de Cannes: “A experiência em Cannes foi interessante, mas é uma plataforma mais para ficção. Eu diria que o que mais me marcou foi sobretudo em Espanha, onde contactei com filósofos e recebi muitos comentários interessantes”. Actualmente a residir em Bruxelas a maior parte do tempo, Cheong Kin Man falou à Lusa via Skype a partir dos Estados Unidos, onde na semana passada apresentou “Uma Ficção Inútil” no Columbia River Film Festival, em Washington. Em San Leandro – cidade onde é visível a presença da comunidade macaense e é destacada a ligação entre os Estados Unidos e a China –, o jovem já não teve que explicar o que é Macau, uma missão que, não obstante, abraça com prazer. “Há muita gente que não sabe onde é Macau: é normal, é uma terra pequena. Do meu ponto de vista muito pessoal, eu explico a Macau que eu entendo. Explico muito”, contou.

17 Ago 2015

Cinema | Realizador de Macau vence prémio Kodak Student Gold Award 2015

“Trycicle Thief” soma e segue com menções positivas, desta vez tendo vencido o prémio Kodak mais importante para estudantes. O filme de Maxim Bessmertny, realizador de Macau, retrata a ganância e as necessidades do ser humano

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]axim Bessmertny venceu o prémio Kodak Student Gold Award 2015, com o filme “Trycicle Thief”. Feito em Macau e pelo russo radicado no território, o filme retrata a vida de um condutor de riquexós e do que acontece quando o seu triciclo é furtado por um homem de negócios.
A Kodak, com sede em Nova Iorque, nomeou cinco estudantes como vencedores dos prémios Kodak Scholarship Program 2015, uma competição mundial que acontece anualmente em colaboração com a Universidade de Filme e Vídeo, em Chicago. Este ano, as candidaturas atingiram “um número recorde”, como indica a organização, com mais de 55 instituições de ensino de Cinema a participar. As universidades escolheram os alunos que consideraram mais aptos a receber o prémio, que consiste em bolsas de estudo e prémios monetários.
A estudar em Singapura, na New York University’s Tisch School of the Arts Asia, Max Bessmertny foi o vencedor do primeiro prémio, que lhe valeu dez mil dólares em bolsas de estudo. O realizador admitiu ao HM que nem acreditava quando soube que tinha vencido.
“A minha primeira reacção foi ‘não me acredito’. Pensei que estavam a brincar comigo”, diz, sorrindo. Mas, depois, caiu em si.
“Depois, senti-me honrado por muitas razões. Não é por mim, é pela natureza do prémio, a natureza dos filmes. Não necessariamente o ‘Trycicle Thief’, mas a combinação das coisas. Primeiro, porque me lembro de ver filmes como ‘Tarkovsky’s Stalker’ e ‘La Dolce Vita’, porque o meu pai e os amigos adoravam estes filmes. Lembro-me que, das primeiras vezes, nunca me senti inspirado com isto. Era um adolescente, ignorante, que não sabia muito de coisa nenhuma. Mas eu adorava já trabalhar com pessoas do mundo do teatro, da música… Aos poucos, comecei a identificar-me com os filmes que me estavam a ser mostrados”, explica Max Bessmertny ao HM.
Foi depois de longas noites e diversão na sua adolescência, aos vinte, que Max se apercebeu do que realmente queria fazer. “Vi o fime ‘Citizen Kane’, que estava escondido numa misteriosa caixa de DVDs em minha casa.” E foi aí que o clique aconteceu. Ou que, pelo menos, chegou a certeza de que o Cinema era o futuro do jovem realizador.
“Trycicle Thief” é a mais recente curta-metragem de Max Bessmertny, tendo passado já em diversos locais no território e na região vizinha. Em Novembro do ano passado, o realizador dizia ao HM que o destino do filme “se faria por ele próprio”, algo que acabou por acontecer este mês. Um filme sobretudo da “ganância e necessidade humanas”, que tem Macau como pano de fundo.
Max Bessmertny veio para o território com cinco anos, tendo estudado em Londres, Tailândia e Singapura, mas mantendo sempre uma forte ligação à Macau que a viu crescer e onde quer, diz, desenvolver a sua carreira.
Por agora, o realizador mantém-se em filmagens para a sua próxima produção, tendo realizado recentemente campanhas publicitárias para diversos empreendimentos de Macau.
O segundo prémio Kodak 2015 foi entregue a Paulina Skibinska da National Film School em Lodz, na Polónia, com o filme “Object”. Matvey Fiks da School of Visual Arts em Nova Iorque venceu o terceiro prémio com “Babushka”.
Estes prémios são atribuídos anualmente e a Kodak promete continuar a fazê-lo. “A Kodak é fervorosamente devotada à próxima geração de cineastas”, disse Andrew Evenski, presidente da Kodak’s Entertainment & Commercial Films, citado num comunicado da organização. “Ter uma parceria com a Universidade de Filme e Vídeo tem-nos mantido constantemente ligados às instituições que ensinam estes novos artistas.”

13 Ago 2015

“Nada Tenho de Meu” – #02

“Nada Tenho de Meu, um Diário de Viagem no Extremo Oriente”

Autoria: Miguel Gonçalves Mendes, Tatiana Salem Levy, João Paulo Cuenca
Montagem: Pedro Sousa
Narrador: Siung Chong
Desenho de Som: 1927 Audio
Tema Original: Pedro Gonçalves
Produção: JumpCut

21 Jul 2015

Apetites Sexuais

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]xistem expectativas (talvez demasiadas) para a intensidade do desejo sexual de acordo com género, orientação sexual e faixa etária. Estamos habituados a pensar na sexualidade dos jovens adultos como o vibrante tempo de um apogeu sexual sem igual, que mais tarde entra em declínio. Por razões de cariz biológico e social, há quem se veja menos inclinado à dita actividade quando rugas e momentos de impotência atacam. Compreensível. Nas minhas viagens já comuns e tempos de lazer obrigatórios à frente de um ecrã cheio de possibilidades cinematográficas, vi-me especialmente interessada nestas representações de amor e de sexo na terceira idade quando surgiu a oportunidade de rever os meus queridos Shirley Maclaine e Christopher Plummer num romance-drama septuagenário. Uma apaixonada por cinema de algumas décadas atrás como sou e conhecedora das suas carreiras no seus tempos áureos, ver dois grandes actores nos seus corpos actuais, que lembram o da minha avó (por razões óbvias), foi estranho, mas ainda assim, agradável de se ver. Surpreendeu-me especialmente a tentativa de recriação da famosa cena na Fonte de Trevi do filme La Dolce Vita de Federico Fellini, enquanto viajavam em Roma, no seu momento de loucura ‘carpe diem’. Com uma sexualidade assumida e um decote de dimensões invejáveis, Maclaine e Plummer vibram com a possibilidade de um final feliz, para todo o sempre e além. Com aquele brilhozinho nos olhos que persiste há décadas.

Apesar de diversas fontes de entretenimento terem-se debruçado sobre esta temática da sexualidade dos mais velhos (vários filmes e séries ultimamente), muitos ainda atribuem o rótulo de tarados a quem se considera que a vontade para sexo já deveria ter caído em desuso. Está mal, porque a fornicação não é coisa dos mais novos. Até mesmo aqueles com distúrbios na aprendizagem, a sexualidade e o desejo existem e não são fáceis de explicar nem eles próprios do entenderem. Muitos são os técnicos que trabalham com esta população e que tentam incutir a uma sociedade superficial e dada à juventude que todos eles têm certas vontades. Parece que a taradice também fica para quem não se enquadra nas expectativas do indivíduo ‘funcional’ (seja lá o que isso for). Em Londres trabalha uma amiga onde se estabelecem programas de educação sexual para pais de jovens com dificuldades mentais, também sugerindo o recurso a profissionais do sexo, ademais a formação destes prestadores de serviços para lidar com os desafios das pessoas diferentes, com concepções sexuais diferentes, mas deveras com o mesma vontade de sexar como qualquer um de nós.

Isto das expectativas lixam-nos a vida, sem dúvida. Vai dos homens serem ‘uber’ sexuais e estarem sempre prontos, a mulheres serem recatadas e constantemente com dores de cabeça. E se o contrário acontecer é porque os homens são impotentes e as mulheres uma safadas. Por mais críticos que sejamos relativamente à sexualidade em geral, parece impossível não nos deixarmos infectar com estes macaquinhos na cabeça. Quantas (quantas!) vezes não ouvi das minhas queridas amigas discursos que os perpetuam? Eu incluída. Há um sentimento de surpresa e confusão se um homem está sem vontade. Proveniente de muitas coisas, muitas vidas. Mas confusão porque nos põe num papel de pro-actividade que nos torna nas taradas da relação. Se mentes tradicionais vêem promiscuidade, eu vejo empowerment. Porque se há injustiça neste mundo, são destas mesmas mulheres que se vêem numa encruzilhada moral por quererem mais sexo e não se sentirem na posição de incitar. Um empowerment sexual genuíno de consequências, às vezes, frustrantes, mas possíveis de serem solucionadas. A forma mais original li de alguns terapeutas sexuais que sugerem dar de comer um ao outro (literalmente, dar comida à boca) para a restabelecer o apetite sexual no casal. A ligação que não me foi muito clara, mas de apetite em apetite alguma coisa se arranja.

9 Jul 2015

A propósito de Alan Turing

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m longo artigo de Christian Caryl* vem generosamente juntar-se ao muito que se tem escrito ultimamente sobre Alan Turing. Reabilitado com alguma fanfarra pela rainha em 2013, a sua história vem lembrar quanto as transformações de mentalidade por vezes se desenvolvem num período curto, isto numa altura em que, na semana passada, se estende a todos os Estados Unidos da América o direito ao casamento entre parceiros do mesmo sexo.

O artigo de Caryl parte da apreciação de um filme recente, The Imitation Game, de Morten Tyldum, e de dois livros sobre o cientista inglês, Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges, e Alan Turing: Pioneer of the Information Age, de B. Jack Copeland.

Tanto os livros como o filme sublinham com intensidade a importância de Turing como descodificador do sistema de códigos usado pelos alemães durante a segunda guerra mundial (Enigma) mas também como importante cientista nas áreas da ciência de computadores e inteligência artificial e como impulsionador da ideia das bases matemáticas da vida.

O artigo constante da NYRB de Fevereiro acrescenta que os smartphones, tablets, ou laptops de hoje devem muito ao trabalho de Turing como investigador na área dos computadores. Como se tudo isso não bastasse, Caryl informa, com um entusiasmo que vem dos anos 80, altura em que foi publicado o livro de Hodges, que o cientista britânico foi um corredor de longa distância de competência olímpica.

[quote_box_right]Pensar em Turing e ver um filme de televisão dos anos 90 cria uma aproximação mais honesta. Este tem o tom de um filme que se vê em casa durante a tarde de um domingo de chuva quando ainda se fumava em frente das crianças[/quote_box_right]

Ironicamente, o facto de ser homossexual, e a pena a que se viu condenado por isso, pode ser o que contribuiu para a sua fama recente. Não tivesse sido sujeito a um tratamento que a nossa sensibilidade contemporânea tem até dificuldade em compreender, e não tivesse terminado a sua vida (aos 41 anos) aparentemente como resultado desse tratamento, a sua biografia não teria o elemento dramático que o tornou numa figura que suscita uma curiosidade cada vez mais alargada.

Caryl não é amável para com o filme, onde detecta muitas falhas. A maior será a de que o filme de Tyldum reduz a figura do retratado à caricatura de um génio torturado, um excêntrico coitadinho pouco à-vontade no seu mundo. Esta é, segundo o autor do artigo, apenas a história de uma vitimização.
Há muitas outras críticas. A de que o filme apresenta um Turing lavadinho e bem vestido (saído de um catálogo da Burberry, diz o autor do artigo), interpretado por um actor que parece que é famoso no mundo limpinho e aborrecido de grande parte do cinema de hoje (esta parte é minha), quando o descuido de Turing com a sua aparência física, vestuário e higiene pessoal é bem conhecida. É um tipo de lavagem que vende bilhetes.

Junta-se o aviso de muitas outras falhas a nível histórico, sobre a história pessoal de Turing (nomeadamente no que pertence às circunstâncias que rodearam a sua morte, que Copeland, no seu livro, explica que pode não ter sido um suicídio) e sobre a história da sua actividade profissional e vastos interesses científicos e filosóficos.

O autor do artigo parece especialmente indignado pelo retrato que o filme faz do último ano de vida do matemático (monstrous hogwash nas suas palavras) em que este, completamente contrário ao que o filme relata, terá mantido a total posse das suas capacidades mentais e continuação entusiástica de vários projectos pessoais.

Do que ninguém se parece lembrar, e esta longa introdução parece adiar, é que existe um outro filme para televisão, não muito antigo, sobre o agora famoso matemático. Breaking the Code é um filme de 1996 de Herbert Wise, um realizador nascido na Áustria mas de obra desenvolvida no Reino Unido, com uma longa carreira no filme para televisão – é o realizador, por exemplo, da série I, Claudius, de 1976.

Importante será notar que há 19 anos alguém se interessou o suficiente por Turing para fazer um retrato fílmico da sua vida.

Seria fácil partir da vontade de contrastar um filme recente e bem arranjadinho, menos honesto na sua intenção, com uma visão autorizada por um realizador há 19 anos e valorizar esta pelo pioneirismo e pela patine acrescentada. Este pequeno artigo não é uma comparação porque nem sequer conheço o filme recente.

Pensar em Turing e ver um filme de televisão dos anos 90 cria uma aproximação mais honesta. Este tem o tom de um filme que se vê em casa durante a tarde de um domingo de chuva quando ainda se fumava em frente das crianças.

Grande parte dele concentra-se, de um modo afável mas não paternalista, na sua condição de homossexual e na importância da matemática, as cenas referentes à sua adolescência sendo bastante poéticas e inocentes e as cenas que ilustram o seu recrutamento cheias de uma conversa matemática e filosófica felizmente exagerada para as exigências de um filme de televisão. É de louvar.

Paralelamente – e é por aí que o filme começa – a componente policial da história, em torno do roubo que levou ao conhecimento público da sua orientação sexual, tem um peso compreensível num filme para televisão.

Menos habitual é que nele se incluam 2 ou 3 cenas com longos monólogos (menos possível no cinema para crianças ou no Cinema Burberry que hoje se pratica em larga escala) em que se afirma sobretudo a determinação de Turing, o seu amor pela matemática, a necessidade imperiosa da criação de uma máquina que lidasse de modo rápido com os dados necessários à decifração e a sua implacável devoção ao país que depois o castigará por um pormenor da sua vida privada.

Moderno no filme de Wise é a dedicação à exposição da sedução dos estudos de matemática, uma que tem conhecido, no século XXI, um incremento quase pop no culto a Turing e, por exemplo, Kurt Gödel, e na ideia de que não há maneira de dizer, à partida, que problemas são passíveis de serem ou não provados.**

Turing não é apresentado como um grande excêntrico mas como um homem de idade (a trama parte dos anos 50, muito depois da sua contribuição para o esforço de guerra) e usa várias analepses. Este homem de idade não é, como parece ser em The Imitation Game, um homem com extraordinárias desadequações sociais, e o desmazelo – que lhe vinha da adolescência – é parte considerável da sua descrição, que é intensa. Praticamente não há cenas em que Turing não apareça – a roer as unhas e mal vestido.

O filme de Herbert Wise é profundamente simpático para com a figura de Turing e muito íntimo na sua apresentação, quase sem cenas de exteriores, com poucos actores e com uma tonalidade próxima do teatro (Derek Jacobi participou numa produção teatral sobre a vida de Turing onde também o interpretou – a história não é tão desconhecida na Grã-Bretanha quanto o era no resto do mundo até há pouco tempo). Insiste-se, num outro longo e apaixonado monólogo, na extrema necessidade de criar uma máquina (o computador de hoje) que permita lidar rápida e eficientemente com problemas de decifração que poderiam mudar o rumo da guerra.***

Finalmente, a hipótese da sua morte não ter sido causada por suicídio é mais do que aflorada. A figura da mãe tem, para o fim da história, uma importância cada vez mais explícita e é esta que se insurge contra esta improvável hipótese.
Pode ser que o futuro nos reserve a revelação de novos dados sobre a sua morte.

*NYRB, February 5-18, 2015, Vol. LXII, Number 2.
** aconselha-se o seguinte aliciante e longo livro de banda desenhada que usa a vida de Bertrand Russell para nos mostrar uma história da matemática dos séculos XIX e XX: Logicomix, An Epic Search for Truth, de Apostolos Doxiadis e Christos Papadimitriou (onde se fala e desenha longamente sobre Gödel e Wittgenstein, também objectos de discussão e admiração em Breaking the Code).
*** uma interessante discussão que se não aflora no filme (e que, concedamos, seria excessiva à matéria primária em questão) é a da lenta destruição da importância do pensamento matemático alemão e austríaco por parte do opressivo regime anti-judeu nazi que obrigou à fuga, para os Estados Unidos, dos seus nomes mais ilustres e à transferência para este país deste complexo de pensamento.

30 Jun 2015

Extâse

Heddy
Hedy Lamarr tinha 18 anos quando protagonizou o filme Ecstasy em 1933

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]edy Lamarr protagoniza em 1933 o primeiro orgasmo feminino no grande ecrã, e, numa ousadia não-pornográfica, cenas de nudez a correr atrás de um cavalo. Trata-se do filme Ecstasy, filme mudo de uma natureza progressiva surpreendente que leva a jovem actriz de 18 anos a representar a complicada realidade da necessidade sexual e romântica, quando se vê casada com um senhor muito simpático, mas impotente. Pessoalmente, na expectativa pela grandiosidade do momento dito orgásmico, tive que timidamente rebobinar a fita para confirmar se esse era mesmo de um orgasmo que se tratava. Orgasmo discreto. Li algures pelo mundo cibernético que nossa querida Hedy Kiesler (Lamarr, só em Hollywood, para fugir do estigma do seu filme europeu de natureza erótica) sofreu de umas picadas no rabinho provocadas por alfinetes de dama, para atingir a expressão de clímax satisfatória ao realizador. O que nos diz sobre o orgasmo feminino? Nada que não saibamos: uma possível expressão de sofrimento (de expressão somente) parte do imaginário erótico e romântico desde há muito tempo. Apesar do seu já mediatismo em 1933, continua a ser tratado com as suas suposições cliché, com alguma complicação e desconhecimento. Para os homens mais altruístas tratado como uma meta cumulativa, a prova de que o seu envolvimento na actividade sexual satisfaz, para as mulheres, por vezes tratado da mesma forma. Ora isto obriga-me a fazer uma afirmação um tanto ou quanto óbvia: sexo não é orgasmo. É-me incrivelmente difícil não remeter a outras realidades cinematográficas neste tema tão pertinente, e.g., orgasmatron. E ainda mais difícil será não falar do orgasmo masculino, mas desse gostaria de dedicar toda uma outra secção, e ao Woody Allen também.

Lá está, se pensarmos no sexo que a evolução nos ensina, talvez nos vejamos presos à ideia de que o orgasmo masculino é o culminar: esperma, bebés, etc., etc. e por isso deixa-nos a questão muito pertinente: para que serve o orgasmo feminino? Teoricamente se desenvolveram algumas ideias sobre o assunto, como a teoria da fidelidade, i.e., quando mais satisfeita com o tal parceiro orgásmico, menor a probabilidade de desenvolver relacionamentos extra-conjugais… Entre outras introspecções teóricas das quais o meu feminismo se queixou um pouco.

Mais complicado nas entranhas do mistério feminino ainda é a diferenciação de Freud entre orgasmo vaginal e clitoriano, ainda desenvolvendo umas ideias das quais me dou autorização de julgar loucas, a mais surpreendente sendo que a inexistência de orgasmos vaginais poderá trazer consequências psíquicas graves, como a tão famosa histeria. Mais controverso e contemporâneo ainda, não é só a ideia do orgasmo vaginal mas a da existência de um ponto G e ademais uma ejaculação vaginal aquando encontrado. É claro que toda esta informação anda à deriva entre o pensamento socio-psicológico científico do século XIX, revistas cor-de-rosa ou cor-de-azul-bebé e da comunidade científica actual. Eu que gosto de pregar o sexo de um entendimento social, considero o orgasmo feminino o resultado directo do constante opinanço entre todos os actores de nível mais ou menos especializado.

[quote_box_right]Se pensarmos no sexo que a evolução nos ensina, talvez nos vejamos presos à ideia de que o orgasmo masculino é o culminar: esperma, bebés, etc., etc. e por isso deixa-nos a questão muito pertinente: para que serve o orgasmo feminino?[/quote_box_right]

Parece que é consensual o entendimento do orgasmo clitoriano, o vaginal, nem por isso. Se há quem defenda que não existe, outros usam a expressão com alguma facilidade e legitimidade e com pouco conhecimento sobre o assunto. Na comunidade científica bem que podia existir uma preocupação especial em defini-lo. São muitos os estudos que se baseiam em auto-relatos onde, por isso, a única evidência para a existência do orgasmo de tipo vaginal é a dita participante dizer que os tem. Certo. Sexo com penetração com alguma sorte nos traz um orgasmo, se a causa é de facto uma zona especial no interior das paredes da vagina, o mais provável é que não seja: é o clitóris a fazer o seu trabalho de novo, resultado de uns bons movimentos de anca e as coreografias que a actividade de fazer o amor incita. Há evidência em algumas mulheres (poucas) acerca da existência de uma possível estrutura nervosa dentro das paredes da vagina que de alguma forma se conecta com… o clitóris. Por isso querida Humanidade: no orgasmo feminino a chave está no clitóris, no clitóris e no clitóris.

O interruptor de prazer infindável também conhecido como ponto G, esse já vi referido como o UFO ginecológico. Foram muitas as pessoas que perderam tempo em autópsias para perceber se há uma condição fisiológica para a crença dos tempos modernos. Não há. E agora sinto-me numa daquelas posições estranhas, a destruir fantasias, o irmão mais velho que diz que o Pai Natal não existe. Na verdade nem sei até que ponto as pessoas já sabem disto ou não, mas que a internet está cheia da ideia errada, está. De qualquer forma, não quero de maneira nenhuma menosprezar todo o acto sexual a uma massagem no clitóris, nada disso. Há que atentar a um holismo do sexo, desde preliminares até aos ocasionais mimos pós-coito. O segredo do orgasmo feminino não está tanto na posição geográfica mas de toda a retroalimentação da hormona oxitocina que se exalta das mais variadas maneiras e feitios, de acordo com os desejos de cada um. Existem estudos sobre diferentes tipos de orgasmo que baseiam a sua taxonomia na sensação e intensidade e que variam de acordo com coisas tão simples como ouvir a voz do seu amado, umas fantasias criativas ou outra qualquer taradice, enfim, you name it. Para o lado que o apetite vos virar.

25 Jun 2015

“Nada Tenho de Meu” – #01

“Nada Tenho de Meu, um Diário de Viagem no Extremo Oriente”

Autoria: Miguel Gonçalves Mendes, Tatiana Salem Levy, João Paulo Cuenca
Montagem: Pedro Sousa
Narrador: Siung Chong
Desenho de Som: 1927 Audio
Tema Original: Pedro Gonçalves
Produção: JumpCut

24 Jun 2015

Fontane Effi Briest, Rainer Werner Fassbinder, 1974

[dropcap type=”circle”]C[/dropcap]ausa alguma perplexidade que nesta página apenas existam quatro crónicas sobre Fassbinder. Este é um daqueles realizadores, como Imamura, Pasolini, Satyajiy Ray ou Bergman, cuja carreira é um paradigma, uma referência constante, pelas suas temáticas, pelo seu lugar na história e pela sua estética.

Não é possível passar-se sem o seu cinema pois este é um exercício imprescindível. Fassbinder fez filmes e encenou peças de teatro como quem respira, com uma urgência difícil de encontrar noutros autores, e a sua morte violenta só vem coroar, como se se tratasse de uma encenação, esta imensa e brutal performance artística que foi toda a sua vida.*

A propósito de Katerina Izmailova, de Mikhail Shapiro, que mostra uma história de aborrecimento, adultério e morte, lembrei-me de um dos seus filmes mais excêntricos, Fontane Effi Briest. É-o a vários títulos. Por ser a preto e branco, por ser um filme de época, por ter tido um período de rodagem anormalmente longo para o hábito de Fassbinder, por ter sido um enorme sucesso comercial já em 1974, porque tem uma voz inolvidável e uma linguagem própria.

Muito do cinema de Fassbinder é desconjuntado e brutal, resultado da sua enorme vontade de mostrar e de contar, vítima das suas grandes contradições pessoais e da avassaladora paixão que colocava em tudo o que fazia, nos seus filmes ou nas peças de teatro em cuja montagem (cerca de 30) se viu envolvido, e/ou, provavelmente – por muito que me custe incluir pormenores biográficos nestas considerações – como espelho das condições caóticas em que viveu durante os primeiros anos da sua vida.

Effi Briest tem, no entanto, um aspecto muito trabalhado, sem improvisos. Cada plano parece pensado com minúcia e não há um objecto (e há muitos objectos, esculturas provincianas) fora de lugar e gosto de pensar que Fassbinder terá dispendido um grande esforço para manter esta limpeza de aspecto e esta falta de naturalismo, uma falta que, mais tarde, de um modo muito diferente, encontraremos nos seus últimos filmes (incluindo Berlin Alexanderplatz).

O que teria sido a sua carreira após o estilizadíssimo Querelle?

Poucos têm o aspecto ritualístico e estático que Effi Briest, um que a existência de intertítulos que anunciam as suas várias partes mantém. Este filme sobre o livro de Fontane parece ir contra a ideia de que toda a sua obra é espontânea e física, e essa será uma das suas atracções.

É uma atracção que nasce da sua fidelidade ao livro de Theodor Fontane. Este é mais um livro em filme que um filme feito a partir de um livro e traz consigo uma curiosidade. O seu título vem acompanhado de um longo subtítulo. Em tradução minha, (Fontane Effi Briest) ou Muitos, que têm uma noção das suas possibilidades e necessidades e, no entanto, através dos seus comportamentos aceitam a ordem estabelecida e acabam assim por a fortalecer e defender.

A maneira como o realizador nos mostra a língua contribui muito para criar esta impressão dramática. Por vezes parece que as falas não vêm directamente das personagens mas que o seu corpo é um modelo para uma voz que vem de outro lugar, mais profundo e mais misterioso. Isto é porque as vozes de alguns dos actores foram dobradas e colocadas em cima de figuras diferentes. A voz de Irma Hermann, por exemplo, é a de Margit Carstensen, e a figura de Hark Bohm tem voz de Kurt Raab. Estas são, afinal, as vozes directas de Fontane.

Manoel de Oliveira fez coisas parecidas, com graus diferentes de sucesso, mas em 1972-74 ia ainda em Benilde ou a Virgem Mãe. Não escondo que o que mais me atrai em Effi Briest, como em muito cinema alemão, especialmente o de Werner Schroeter, pode ser a sua voz.

Este desfasamento (que é muito normal em Fassbinder a um outro nível, ao nível do desfasamento entre a música e a acção**) tem uma sedutora companhia no desfasamento – na desconstrução – que se faz através do uso de um outro costume seu, o da inclusão de jogos de espelhos e planos em que as personagens estão meio escondidas por portas ou outros lugares de passagem que as cortam ou apenas semi-revelam. Até na depurada cena do duelo entre Innstetten e Crampas se interpõe uma rede de pesca que a torna ainda mais inacessível. Em Effi Briest existe uma inacessibilidade às personagens que é contrária à violência expositiva de muitas de muitos dos seus filmes.

(Infelizmente, há muitos anos que não consigo ver um favorito filme feito para televisão em 1973, Nora Helmer, baseado em A Doll’s House, de Ibsen, em que, se me não falha a memória, se faz uso intenso destes artifícios especulares).

Outra atracção ainda de Effi Briest consistirá na tentação de pensar (mas a sua impossibilidade é dolorosa) que Fassbinder se afastara por um momento (lembremos que Nora Helmer, um filme de época feito para televisão é de 1974) da exposição das profundas feridas da sociedade alemã do pós-guerra que percorrem grande parte da sua obra.

Os seus filmes, sendo extremamente humanos e muito intensos emocionalmente, obrigam o espectador a pensar na técnica, na montagem, nas imensas escolhas que é preciso fazer a nível da montagem (ou não), da iluminação ou da direcção de actores, obrigam a pensar na construção e no tempo. No fundo, obrigam a pensar no cinema.

Fontane Effi Briest é um dos seus filmes de mulheres, como Die bitteren Tränen der Petra von Kant, Lola, Die Ehe der Maria Braun, Die Sehnsucht der Veronica Voss, Martha, Nora Helmer, Mutter Küsters fahrt zum Himmel, Lili Marleen, para citar apenas aqueles em que no título figura um nome de mulher. Outros há em que o título não trai esta importância. Só um perfeito bruto poderá continuar a pensar que Fassbinder tratou mal, nos seus filmes, as imensas mulheres com que trabalhou quando é claríssimo que elas são neles muito mais importantes e interessantes que os homens.

No livro de Christian Braad Thomsen, Fassbinder, the life and work of a provocative genius, este agrupa, num capítulo chamado “Filmes de Mulheres”, Martha, o incómodo Angst Essen seele auf/O medo come a alma e Fontane Effi Briest.

Neste demonstra-se o poder da imagem do amor e a necessidade de rejeitar as convenções sociais. No entanto, o que permanece, no fim, é um lodo de que é difícil sair-se, a resignação doentia e fraca que o longo título anuncia e cuja ideia a mãe (que é interpretada pela mãe de Fassbinder) ajuda a perpetuar mais do que qualquer outra personagem: a de que vida em sociedade obriga ao cumprimento de reparações que pouco têm que ver como amor.

É interessante que as cenas dedicadas ao adultério, ou ao encantamento da bela Effi, são quase inexistentes, ao contrário das considerações do Barão Geert von Innstetten sobre as consequências da sua revelação – o formidável diálogo com Wüllersdorf em que se mostra, paralelamente, uma acção cujo desenlace funesto se torna mais evidente de minuto a minuto.

Nele se inscreve outro movimento circular, alucinante e a que não se pode fugir, o da necessidade de denunciar os podres de uma sociedade onde, no entanto, se busca um constante reconhecimento – uma das doenças do seu autor total Fontane/Fassbinder.

Não se deve esquecer que Fassbinder foi um realizador de mulheres mas também um realizador (e encenador) de actrizes de muitos tipos: Schygulla, Sukowa, Zech (que constam de uma crónica anterior, apenas a elas dedicada), Irm Hermann, Ingrid Caven, Margit Carstensen ou a sua mãe, Liselotte Eder.

Nelas ele encontra um misto difícil de reproduzir entre a naturalidade (por vezes distanciamento) e um glamour do cinema que reproduz o modo como a sua actividade profissional e a sua vida privada estavam intimamente ligadas. Como ao mesmo tempo as suas actrizes são banais e estrelas de cinema é um acontecimento que se dá a cada momento.

*São 33 longas metragens para cinema e televisão, 4 séries de televisão e 4 vídeos longas metragens num espaço de 13 anos. Junte-se-lhe o teatro, 30 peças para palco e 4 para a rádio. Foi actor em muitos dos seus filmes e em 13 filmes de outros autores. Também produziu filmes próprios e de outros e montou vários dos seus. Foi até operador de câmara de um dos seus filmes (cf. o livro de Braad Thomsen pág. 8).

Um dos filmes, Ich will doch mur, dass Ihr mich liebt/I Only Want You to Love Me, fala sobre a sua obsessão com o trabalho.

** cf. especialmente o capítulo 2 (Fassbinder e a música de Peer Raben) mas também 5 e 6 de 2004, Flinn, Caryl, The New German Cinema. Music, History, and the Matter of Style.

23 Jun 2015

De sexo a sexo

[dropcap style=”circle”]O[/dropcap] sexo caracteriza-se pela versatilidade inusitada a que se propõe, na sua semântica ou na morfologia da sua actividade, este alicerça a vida de muito boa gente que se entrega ao complicado universo de relações humanas. O sexo encontra-se no entendimento de género, no desejo e no afecto, no marketing e no consumo. Sob o véu que o tabu (ainda) carrega, a sexualidade mostra-se nas mais inocentes formas de agir e nos mais ingénuos dos entendimentos. Teria escrito uma carta de agradecimento a Freud pelo seu esforço e contributo à fornicação, ademais, pela fantástica capacidade de se incluir na cultura popular pós-moderna com os mistérios que a sexualidade se envolve. Se o sexo (e o desejo) é popular, ao seu mistério agradecemos.

Tenho dificuldade em ir em conversas onde o sexo, na sua complexidade conhecida, é reduzido a um instinto. Sim, é verdade que há a necessidade de uma legitimidade biológica para fugir de concepções sexuais de uma absurdidade metafísica sem igual. Contudo, a vantagem de aplicar um modelo inserido na dinâmica de relações e actos de comunicação a que o mundo se rege, insiste no glamour que o sexo merece e que dele nos entusiasma. Afinal o que seria do sexo do séc. XXI sem pornografia, comédias românticas, revistas femininas ou viagra? A verdade é que não sabemos e nunca havemos de descobrir. O sexo contemporâneo vive na imaginação individual e colectiva, nos paradigmas intelectuais a que se insistem e, consequentemente, na sua tão excitante discussão ideológica. O sexo presenteia, satisfaz, magoa e ofende. A sede que nos leva a beber um copo de água dificilmente chega a ter tão confusas proporções.

Um professor e amigo sugere que a sexologia dificilmente deveria ser abordada como uma terapêutica de cariz individual mas inserida nas problemáticas conjugais (porque se temos sex problems, temos marital problems). A inserção do sexo na problemática relacional tem de ser melhor considerada, especialmente porque transpõe os limites de uma cama conjugal, para as extras- e para todas as outras relações, sugestões e pressões sociais que põem em desconforto aquilo que a actividade deveria ser: saudável e confortável, para todos os envolvidos. Fantasiar sexualmente é um exercício adorável. Um manifesto à criatividade sexual e íntima urge em ser escrito e declamado entre mulheres e homens conjuntamente. Strap-ons, ménage à trois, aquilo das 50 sombras de qualquer coisa, clareamento anal caseiro. De Olhos Bem Fechados do Kubrick. Lovely jubbly. Pano para muitas mangas.

[quote_box_right]E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode[/quote_box_right]

O problema (como tantos outros) é que as representações do sexo estão muito longe de ser unânimes. Ainda bem e ainda pior, é que a sua diversidade leva a um desentendimento por vezes interessante, por vezes problemático, mas que poucas pessoas têm consciência da sua natureza. E não, os homens não são de Marte e nem as mulheres são de Vénus (literatura encontrada em bibliotecas masculinas que em nada lhes poderá ter ajudado a um relacionamento heterossexual feliz). Homens e mulheres são o que se fazem deles, na tentação irresistível de fazer generalizações. Já se sabe que os homens medem o seu Júnior na esperança de atingir um heroísmo sexual isento de esforço, e as mulheres discutem os seus tamanhos no café, espalhando a fama dos detentores de um tal objecto fálico que facilmente se compra numa sex shop, em muito melhores condições. E é isto: na sede pela competição quantitativa e qualitativa pela performance, o sexo salpica-se de uma crueldade movida pelo desejo de ser o melhor. Surpresa! Parece que não há grande consenso sobre o significado de ser bom na cama (ou fora dela). O pessoal faz como pode.

A proposta é simples: um tema daqueles que precisam de ser discutidos, por cada conjunto de palavras que teimam em ser escritas. Uma tentativa de integrar as ideias e as experiências do sexo na sua pluralidade, ou, pelo menos, pensar nelas. Ideias carregadas na bagagem de quem salta por aqui, ali, por Macau e por acolá. Exercícios de semi-associação livre do tal tema do sexo.

18 Jun 2015

Cinema, Carpintaria e Sinologia

O Instituto Cultural inaugura cinco novos espaços culturais na região, incluindo um cinema munido de um centro de documentação, uma exposição sobre a história da Carpintaria e uma outra sobre o sinólogo Jao Tsung-I. Assim se festejam os dez anos do Centro Histórico na lista do Património Mundial da UNESCO

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) promove, a partir do próximo dia 30 e até final do ano, uma série de estreias em termos de instalações histórico-culturais e que de algum modo explicam a história e passado locais.

A primeira, que inaugura no final de Junho, é o Centro de Informações da Fortaleza da Guia. O local, que serve actualmente como estrutura de apoio àquele monumento, vai ser transformado num sítio mais completo, com uma série de informações interactivas, como são a exibição de maquetas e uma retrospectiva dos trabalhos de restauro da Capela de Nossa Senhora da Guia. O espaço vai ainda dispor de um café e loja de recordações. O dia 28 de Julho é reservado à abertura da Exposição de Carpintaria de Lu Ban, na Associação Seong Ká Môk. Lu foi, de acordo com o IC, o “patrono dos carpinteiros na China” e o espaço pretende contar a história desta classe trabalhadora e mostrar aos visitantes aquilo que se tem feito nesta área em Macau. “Serão expostas numerosas ferramentas tradicionais de marcenaria e componentes de casas, para além de uma apresentação multimédia sobre a Associação”, explica o IC.

Em nome do passado

Além da mostra sobre a história da carpintaria em Macau, o IC prepara-se para abrir, a título permanente, a Academia Jao Tsung-I, conhecido sinólogo chinês. “Pinturas e Caligrafias Doadas por Jao Tsung-I” ficará no número 95 da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida e compreende uma sala de exposições com trabalhos do autor e uma colecção do seu espólio de livros e outros documentos históricos. Há ainda um auditório, construído a pensar na promoção da cultura chinesa e do intercâmbio sobre estudos sinólogos.

A par disto será ainda inaugurada a Cinemateca Paixão, que integra salas de cinema e um espaço de documentação cinematográfica. “É um espaço polivalente destinado a promover a indústria cinematográfica e criar uma atmosfera criativa e cinematográfica”, explicou o IC. Contudo, não há ainda um prazo definitivo para a abertura deste espaço, mas o IC assegurou que o anúncio será feito no seu website oficial. Para já, estabeleceu-se Setembro como data para a “abertura experimental”.

Vai também ser inaugurado uma espécie de museu sobre a profissão de guarda-nocturno, muito comum na história do território. O Posto de Guarda Nocturno, situado na Rua da Palmeira, foi restaurado e vai abrir ao público para visitas durante a segunda metade deste ano, desconhecendo-se ainda o dia.

“Ao preservar-se este Posto de Guarda Nocturno, mantém-se um testemunho único da existência desta profissão em Macau (…). Após obras de restauro o espaço será revitalizado para alojar uma exposição sobre o trabalho dos antigos guardas-nocturnos de Macau”, lê-se no folheto informativo.

11 Jun 2015