Diana do Mar EventosFundação Oriente | Exposição de porcelanas da China até ao próximo dia 21 A Fundação Oriente inaugurou ontem uma exposição que tem as porcelanas da China do século XVI até ao XVIII como protagonista. A mostra, do antiquário Luís Alegria, segue depois para Hong Kong e para Pequim [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]para as porcelanas da China do século XVI até ao XVIII que se voltam os holofotes da exposição patente desde ontem e até ao próximo dia 21 na Fundação Oriente. A mostra, composta por mais de 200 peças, chega pelas mãos do antiquário português Luís Alegria, considerado um dos maiores especialistas na área. Cada peça conta uma história e Luís Alegria, no ramo há 38 anos, descreve-as todas minuciosamente, das origens até às características que as tornam verdadeiras preciosidades. A mais valiosa peça da exposição é um conjunto de cinco vasos de porcelana. Luís Alegria explica porquê: “É uma ‘garniture’ para decorar o fogão de sala de um palácio francês que tem a particularidade de reproduzir uma francesa com os trajes exóticos de 1680, retratadas em gravuras dos irmãos Bonnart enviadas na época do rei Luís XIV para a China, onde foram copiadas para decorar estes vasos de porcelana. É uma coisa única, porque não há referência nenhuma de nada europeu no século XVII”. O conjunto – da propriedade de um português – está à venda por 850 mil euros. Outra ‘garniture’ também feita para França, datada do período de Yongzheng (1723-1735) da dinastia Qing, chama a atenção. Em vez do azul e branco, a decoração é em tons “ruby-ground”, existindo um conjunto igual no Museu Metropolitano de Nova Iorque, explica Luís Alegria. Em exposição encontram-se variados tipos de peças de porcelana que remontam a diferentes períodos da dinastia Ming (1368 e 1644) e Qing (1644 a 1912). “As mais antigas em decoração azul e branco são as da dinastia Ming. Na época de Kangxi também há bastante, mas tem outras muito interessantes da família verde que foram encomendadas por França – onde começou esse gosto que acabou por ser copiado por outros países”, salienta o antiquário do Porto. Já na época dos imperadores Yongzheng (1723-1735) e Qianlong (1736-1795) ganha destaque a a decoração da chamada “família rosa”. As primeiras do tipo aparecem no reinado de Yongzheng, indica Luís Alegria, realçando as suas características: “São peças muito detalhadas, com um desenho muito miúdo e delicado a toda a volta e a porcelana muito fina e até quase transparente em alguns casos”. Foi, com efeito, na época de Qianlong que ocorreu “uma explosão enorme da decoração ‘família rosa’, que inundou Portugal e outros países”, com diferentes motivos, desde brasões, a figuras, animais ou barcos, representados com as bandeiras dos países que encomendaram as peças. A “muito importante” vitrine das figuras e animais é, aliás, a próxima paragem da visita guiada. “São talvez as peças mais raras destas dimensões e só existem em grandes colecções”. São do século XVIII – todas do período Qianlong – à excepção de uma e de um par de papagaios, as quais remontam à época de Kanxing. “Há coleccionadores que só coleccionam bichos e só pássaros, pelo que é talvez das colecções mais importantes do mundo porque são coisas muito difíceis de encontrar”, sublinhou. O biombo para Macau Mas nem só de porcelanas se compõe a exposição. A ocupar uma parede inteira encontra-se um imponente biombo em tom encarnado que, diz Luís Alegria, “terá sido feito para Macau”. O biombo, encomendado por Portugal, representa a vida de S. Domingos de Gusmão (1170-1221), fundador da Ordem dos Pregadores (Dominicanos) e encontra-se escrito em português. “É muito raro encontrar um conjunto completo, mesmo em museu, porque normalmente falta um painel, por exemplo, ou então são aqueles biombos com motivos chineses normais, mas não é o caso”, realçou o antiquário. Também possivelmente feito para Macau foi um jarrão “muito especial” que tem as insígnias da Ordem dos Agostinhos, lado a lado com elementos chineses, como os guardiães do templo. “É uma peça É com uma história extraordinária e praticamente desconhecida nesta época, porque é a primeira vez que se vê uma peça destas do período Kangxi”, explica Luís Alegria. Já na zona dos brasonados ganha protagonismo “uma peça única encomendada para o bispo do Porto. Em causa figura uma terrina que o antiquário português estima ser a única que se encontra fora do Museu Soares dos Reis. Mas a grande particularidade – enfatiza – tem que ver com o facto de ser “a única encomenda de uma cópia da porcelana de Sèvres”. “Os portugueses normalmente mandavam certas peças para os chineses copiarem e eles copiavam coisas ao gosto de cada país. A porcelana francesa de Sèvres era muito requintada naquela época, porque tem um verde muito especial que só os franceses conseguiam fazer. Os chineses conseguiram copiar esta porcelana e esta cor e fazer uma coisa extraordinária. É um serviço muito valioso de facto”, explica Luís Alegria. Na mesma vitrina figuram diversos brasonados portugueses, também considerados “muito importantes”, bem como peças variadas da Companhia das Índias Holandesa, entre outros com motivos europeus, nomeadamente de teor religioso (com o retrato da ressurreição e ascensão de Cristo, por exemplo). “Quase todas estas peças vêm reproduzidas em livros e eu tenho aqui um dossiê com a cópia dos livros que mostram essas peças, o que é uma garantia para as pessoas”, realça o antiquário do Porto. Também “muito raros” são os “refrescadores de copos e garrafas”, porque “estamos a falar do século XVII”, enaltece Luís Alegria. Logo ao lado surge uma “importantíssima” cruz processional italiana, “uma verdadeira peça de museu”, que remonta ao século XV. Outra preciosidade é um par de floreiras da transição de Yongzheng para Qianlong. “Estou há 38 anos no ramo e é a primeira vez que vejo um par intacto, porque normalmente, dado que eram usadas para acolher vasos grandes ou árvores, aparecem partidas. Estão perfeitas”, enfatiza. Mobiliário português A exposição também inclui móveis, destacando-se os que integraram o espólio de dois reis de Portugal. Luís Alegria destaca, em primeiro lugar, o par de mesas D. José I (1750-1777). “Foi uma encomenda única. Não se conhece mais nenhuma em Portugal. Estas mesas, chamadas mesas de encosto, em pau santo, têm um duplo tampo, pelo que funcionam também como mesa de jogo, porque uma das pernas rebate e deita para assentar”. Já junto à entrada da exposição figura uma mesa do tempo do seu antecessor. “Deve ser a melhor que existe em Portugal pelas suas proporções. É uma peça excepcional, também toda em pau santo”, indica Luís Alegria. De acordo com o antiquário trata-se de uma verdadeira preciosidade, dado que, na sequência do terramoto de 1755, do espólio do tempo de D. João V (1706-1750) restou apenas o que estava fora de Lisboa. A mostra inclui ainda outras peças de mobiliário, como cómodas iguais às que existem em palácios reais franceses, contadores (uma espécie de escrivaninha de viagem), candelabros ou quadros. A esmagadora maioria das peças foi encomendada à China, mas há excepções. É o caso de uma tapeçaria encomendada a Bruxelas para a família Mascarenhas em Portugal, para o palácio que existe em Benfica, explica. “Existe outra no Museu Nacional de Arte Antiga. É uma peça catalogada, referenciada no património português e uma das muito poucas a Bruxelas de tapeçarias com armas portuguesas”. Os pioneiros Grande parte das peças foram encomendadas por Portugal – aliás o primeiro a introduzir a porcelana da China na Europa. Assim, explica Luís Alegria, as peças da dinastia Ming “são muito importantes e raras”, dado que foram as primeiras que os portugueses trouxeram da China”. O antiquário dá o exemplo de uma peça na forma de elefante que figura como uma espécie de cantil de porcelana. Em paralelo, há provas no livro do Museu de Istambul de que “fomos os primeiros inclusive a ter peças brasonadas na época Ming”, complementa, referindo-se às peças com armas dos Almeidas. “Há tradição das peças de porcelana brasonadas, mas não desta época”, frisa. Todas as peças, grande parte na mão de particulares, estão para venda, com os preços a oscilar entre 2.000 e 850.000 euros. Esta mostra figura como a primeira grande exposição de Luís Alegria em Macau. Embora trazido ao Venetian, em 2014, uma mostra de pintura moderna, o antiquário entende que “não foi uma grande referência”. Não só porque o local não era o adequado, como o espaço era diminuto. “Em Hong Kong convenceram-nos a vir fazer, mas não tinha nada a ver connosco”, observa. “Queria fazer uma coisa diferente porque gosto muito de Macau e queria ver se funcionava de forma a vir todos os anos”, adianta Luís Alegria. Porquê Macau? “Porque em Macau e na China não há nada disto”, responde, sem hesitações, o antiquário. “Estas peças eram peças de exportação, está tudo na Europa, mas os chineses têm começado a tentar recuperar o seu património, dado que, na sequência de Mao Tsé Tung, a China ficou vazia da sua história”. “Em particular, os museus – e eu vendo para vários chineses –andam à procura de coisas importantes feitas pelos chineses. Há um crescente interesse tanto de museus como de particulares”, sublinha. É, aliás, por essa razão que Luís Alegria vai expor, a 20 de Outubro, pela primeira vez na China, depois de uma passagem por Hong Kong, onde já esteve. “Vamos dar-nos a conhecer, chegar directamente aos particulares, sem passar pelos comerciantes”, realça o antiquário. “Vamos levar o que não for vendido em Macau e em Hong Kong. Há peças para todos os preços. Não é preciso ter uma fortuna incalculável para se comprar uma peça da Companhia das Índias, mas claro que existem outras que não são para qualquer um”, observa. Luís Alegria, nascido numa família de coleccionadores, participa regularmente nas mais importantes feiras de arte, como a Feira de Arte e Antiguidades da European Fine Art Foundation (TEFAF), em Maastricht, na Holanda, uma das maiores do mundo.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | MNE chinês visita Vietname e Filipinas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, vai visitar o Vietname e as Filipinas, visando reforçar os laços bilaterais, após anos de renovadas tensões em torno da soberania do Mar do Sul da China. A visita, entre 15 e 18 de Setembro, foi ontem anunciada pelo porta-voz do ministério, Geng Shuang. Geng considerou que os laços entre Pequim e aqueles países têm melhorado, após anos de tensões suscitadas pela disputa da soberania das ilhas Spratly e Paracel, reclamadas pela China, Vietname, Filipinas e outros países do sudeste asiático. O porta-voz sublinhou que, “desde o ano passado, as relações transfronteiriças [com o Vietname] se desenvolveram muito bem”. “A China deseja trabalhar com o Vietname para elevar a nossa relação estratégica a novos níveis e gerar resultados tangíveis para os dois povos”, afirmou. Sobre as Filipinas, o porta-voz destacou também a melhoria nos laços, desde a ascensão ao poder do Presidente filipino, Rodrigo Duterte. “As Filipinas são um país coordenador nas relações entre a China e a Ásia”, disse.
Hoje Macau China / ÁsiaGuerra Comercial | Pequim adia estabelecimento de empresas dos EUA A China está a adiar a atribuição de licenças para empresas norte-americanas que querem operar no sector financeiro e outras indústrias do país, num período de crescentes disputas comerciais com Washington, revelou um grupo empresarial [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rata-se de um primeiro sinal de que as operações e acesso ao mercado chinês por empresas dos Estados Unidos serão afectados pela guerra comercial entre Pequim e Washington. A China tem retaliado a imposição de taxas alfandegárias pelos EUA ao punir o mesmo montante de bens importados daquele país. No entanto, devido ao superavit comercial chinês, aquela estratégia estará esgotada. A China vende três dólares em bens aos EUA por cada um que compra. O atraso na atribuição de licenças inclui sectores que Pequim prometeu abrir a firmas estrangeiras, segundo Jacob Parker, vice-presidente do Conselho Comercial EUA-China, que reúne cerca de 200 empresas norte-americanas com negócios na China, citado pela Associated Press. Em encontros realizados nas últimas semanas, funcionários do Governo chinês afirmaram que a atribuição de licenças está suspensa até que “a trajectória das relações entre EUA e China melhore e estabilize”, segundo Parker. As autoridades chinesas prometeram melhorar o acesso de empresas estrangeiras aos sectores bancário, seguros, bolsa e gestão de ativos. “Parece existir pressão política doméstica para acabar com a percepção de que empresas norte-americanas estão a receber benefícios durante as disputas”, afirmou. Pingue-pongue O Presidente norte-americano, Donald Trump, está a preparar uma nova ronda de taxas alfandegárias, de 25 por cento, sobre um total de 172 mil milhões de euros de importações oriundas do país asiático. Este valor soma-se a uma primeira ronda, que incidiu sobre 43 mil milhões de euros de importações chinesas, e que Pequim retaliou com taxas sobre o mesmo montante de bens importados dos EUA. Um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Geng Shuang, afirmou esta semana que a China “definitivamente adoptará contra-medidas”. Economistas advertiram já que Pequim deve agora ter como meta sectores como logística ou serviços de engenharia, em que os EUA detêm um excedente nas trocas com o país. Pequim encorajou, no passado, o boicote a produtos japoneses ou sul-coreanos, durante disputas com os governos daqueles países. As autoridades chinesas costumam ainda recorrer à suspensão de licenças, impostos ou investigações anti-monopólio. No centro das disputas com Washington está a política da China para o sector tecnológico, nomeadamente o plano “Made in China 2025”, que visa transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos de Pequim em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege de competição externa. Segundo Parker, os funcionários chineses têm demonstrado vontade para importar mais dos EUA, visando reduzir o deficit comercial, mas rejeitam em absoluto negociar a reforma industrial ou a sua política para o sector tecnológico.
Hoje Macau China / ÁsiaNatalidade | China elimina agências de planeamento familiar [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China eliminou as três agências encarregues de executar as políticas de planeamento familiar, num sinal de que Pequim poderá vir a anular qualquer limite no número de filhos que cada casal pode ter. A decisão faz parte de uma reorganização da Comissão Nacional de Saúde, anunciada na segunda-feira, que cria um único departamento responsável por “estabelecer e aperfeiçoar um sistema especializado de apoio às famílias”. As expectativas de que Pequim pode pôr fim a décadas de controlo da natalidade foram também suscitadas pelo lançamento, no mês passado, de um selo postal com o desenho de um casal de porcos acompanhado por três leitões sorridentes. Face ao rápido envelhecimento da sua população, a China decidiu, em 2016, abolir a política de “um casal, um filho”, pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980, permitindo aos casais passar a ter, no máximo, dois filhos. No primeiro ano após a política ser abolida, a taxa de natalidade subiu 8 por cento, para 17,9 milhões de bebés, entre os quais metade nasceram de casais que já tinham um filho. No entanto, no ano seguinte, a taxa de natalidade caiu para 17,2 milhões de bebés, enquanto a população com 60 anos ou mais atingiu 17,3 por cento do total. A China é a nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes. Pelas contas do Governo, sem aquela política, o país teria hoje quase 1.700 milhões de habitantes. Entretanto, e fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, a política de filho único gerou um excedente de 33 milhões de homens. Os números sugerem um outro efeito perverso da política: de acordo com dados oficiais chineses, desde 1971, os hospitais do país executaram 336 milhões de abortos e 196 milhões de esterilizações. A maioria dos abortos ocorreu quando o feto era do sexo feminino.
Tiago Bonucci Pereira VozesCADFund [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Fundo de Desenvolvimento China-África (CADFund) foi lançado em junho de 2007 como um instrumento do governo Chinês para a implementação prática dos seus planos e objectivos para o continente Africano. O CADFund foi estabelecido como parte de oito medidas anunciadas pelo então presidente chinês Hu Jintao, no Fórum Cooperação China-África (FOCAC) de 2006. Embora opere de acordo com princípios de mercado, o Fundo é uma ferramenta económica e diplomática do governo Chinês para incentivar os investimentos de empresas chinesas nos países africanos. O CADFund é uma subsidiária do China Development Bank (CDB). A missão do CADFund é facilitar a cooperação China-África e melhorar a capacitação das economias africanas por meio de investimentos directos e serviços de consultoria. Gao Jian, ex-vice-governador do CDB e director do fundo, afirmou na altura da sua criação que o CADFund destina-se a incentivar projectos conjuntos entre firmas chinesas estatais ou privadas, e empresas africanas (ou de outras nacionalidades) e que não visa a obtenção de lucros elevados, mas apenas não incorrer em perdas. O Fundo recebeu um total de 5 mil milhões de dólares, com um montante inicial de mil milhões de dólares pago em 2007, e outra injecção de capital de dois mil milhões de dólares anunciada durante uma conferência de empresários Chineses e Africanos em Julho de 2012. A capitalização de 5 mil milhões de dólares foi alcançada em 2015 e uma capitalização adicional de 5 mil milhões de dólares será alcançada este ano, provávelmente até ao FOCAC 2018, a ser realizado em Setembro deste ano em Pequim. Este aumento de capital foi anunciado pelo presidente chinês Xi Jingping em Dezembro de 2015 durante o encontro FOCAC de Joanesburgo, e foi justificado como uma medida para garantir a implementação bem sucedida dos 10 principais planos de cooperação China-África anunciados na mesma ocasião, e que promovem a cooperação em sectores bem definidos, como a indústria, agricultura, construção de infraestruturas, ambiente e comércio, entre outros. O CADFund é orientado para o lucro, não se tratando, de forma alguma, de ajuda externa. Os principais critérios de financiamento do CADFund baseiam-se numa avaliação do retorno do investimento: projectos qualificados para avaliação devem demonstrar perspectivas promissoras, com um potencial de crescimento rápido e estável, e a capacidade de gerar lucros. O período de participação do CADFund varia entre oito e quinze anos por investimento, findo os quais os investimentos devem ser lucrativos e, portanto, autossustentados. O CADFund é uma subsidiária do CDB, “stockholder” este que é o primeiro na linha de comando. O fundo é, no entanto, também uma ferramenta política e como tal reporta anualmente a um Conselho de Supervisão onde estão representados diferentes ministérios do governo Chinês. O Conselho de Administração é composto por membros do CDB e do CADFund. Actualmente, o fundo possui escritórios de representação em cinco países africanos: África do Sul, Etiópia, Zâmbia, Gana e Quénia. Esses escritórios servem como prestadores de serviços de consultoria para empresas Chinesas que desejam operar em países Africanos. De acordo com o organigrama publicado pelo CADFund, existem três departamentos de investimento: [i] Agricultura, Imobiliário e Indústria; [ii] Investimentos na Indústria de Mineração; [iii] Infraestruturas e Energia. Este esquema resulta de uma reestruturação levada a cabo em Abril de 2012, tendo os departamentos passado assim a ter uma base sectorial em vez de geográfica. A principal forma de participação do CADFund em projectos é através de investimentos de capital. Uma outra é funcionando como uma espécie de “fundo de fundos”, alocando uma parte do seu capital para outros fundos que investem em África. Será o caso do Fundo de Cooperação China-Países de Língua Portuguesa (CPDFund), fundo este que conta com a participação do CDB, Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Macau, e CADFund, que é também responsável pela gestão do fundo. O CADFund investiu desde a sua criação em 88 projetos em 36 países africanos, num valor total de mais de 4 mil milhões de dólares. No entanto, os maiores financiadores para investimento Chinês em África são, de longe, o China Eximbank e o CDB. Estes dois bancos representam 84% do total de empréstimos a governos e empresas estatais Africanos durante o período entre 2000 e 2014. A iniciativa “Faixa e Rota” (BRI) terá possivelmente consequências para o direccionamento de investimentos destes financiadores. Uma recente directiva do China Eximbank exige a prioratização de investimentos relacionados com o BRI. No contexto Africano, o BRI, e apesar da vontade expressa em extender a iniciativa ao resto do continente, tem estado centrado na vizinhança do Corno de África. Do exposto pode-se aferir que actualmente o investimento Chinês em África é feito fundamentalmente com base em princípios de mercado, visando o lucro. Qualquer projecto de investimento tem de oferecer garantias de sustentabilidade. A estratégia está centrada não em obter lucros elevados no imediato, mas na promoção da internacionalização de empresas chinesas.
Hoje Macau SociedadeAir Macau estreia voo para Qingdao e já soma 18 ligações com a China [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Air Macau inaugurou ontem uma rota entre aquele território e a cidade de Qingdao, somando actualmente 18 ligações directas de e para o interior da China. “Vai ser mais uma oportunidade [para os chineses] conhecerem e visitarem Macau”, afirmou o director de Marketing da Air Macau, Eric Fong, à margem da cerimónia da abertura da nova rota. De acordo com a companhia aérea, existem agora quatro voos semanais entre as duas regiões, sendo Qingdao a 18.ª rota que a Air Macau tem para o interior da China e a primeira ligação directa do território com a província de Shandong, que tem cerca de 100 milhões de habitantes. “Estamos a planear a abertura de mais rotas no Sudeste Asiático. No próximo mês vamos ter mais novidades”, assegurou o responsável. Eric Fong acredita ainda que com esta nova rota o número de passageiros deverá aumentar, afirmando que ainda é cedo para fazer uma estimativa. “O nosso número de passageiros tem estado a aumentar, cresceu cerca de 17 por cento de Janeiro até ao dia de hoje, em comparação com o período homólogo de 2017″, disse. Na semana passada, o Aeroporto Internacional de Macau lançou o concurso para a ampliação do terminal de passageiros sul do aeroporto devido ao aumento de passageiros. “A fim de manter o desenvolvimento sustentável do aeroporto”, foi lançado um concurso para “realizar o projecto e obras de construção, incluindo uma extensão de espaço de três andares de aproximadamente 17.100 metros quadrados no lado sul do terminal de passageiros existente”, declarou a Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM), em comunicado. “Aumentar o espaço do terminal de passageiros do edifício do terminal, escritórios, área comercial, sala VIP e outras instalações, e construir três novas pontes de embarque”, é o objectivo da CAM, que espera que este projecto capacite o aeroporto a receber mais de 10 milhões de passageiros por ano.
Sofia Margarida Mota China / Ásia MancheteChina | Governo Central pode levantar limite a nascimentos Pode estar para breve a primeira vez que a China deixa de ter limites ao número de filhos por casal desde a implementação da política do filho único em 1979. Uma das pistas mais fortes que apontam nessa direcção é um rascunho da revisão do código civil, que está em discussão, e que, também pela primeira vez, não apresenta cláusulas referentes ao planeamento familiar [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China é o país mais populoso do mundo com 1.39 mil milhões de habitantes e espera-se que em 2030 atinja 1.45 mil milhões de pessoas. No entanto, o país enfrenta uma crise de natalidade que pode desencadear o levantamento total do limite do número de filhos por casal, que, actualmente, é de dois. A possibilidade retira-se de uma leitura aos trabalhos de revisão do código civil, que está em discussão até amanhã no Congresso do Partido Comunista Chinês, e que vais rer submetido para aprovação na reunião parlamentar agendada para Março de 2020. Para já, parece que o diploma não vai ter qualquer alínea referente ao planeamento familiar. A informação parte de um rascunho do documento divulgado pela Xinhua e publicado na Beijing Review. A omissão pode representar o fim efectivo da limitação de dois filhos por família, afirma a agência noticiosa Reuters . Outra das pistas que apontam nessa direcção tem, surpreendentemente, origem postal. Trata-se do lançamento do selo oficial do próximo ano do porco, em 2019. A imagem apresenta um casal de porcos com três filhotes leitões. De modo a interpretar o simbolismo da questão, importa recordar que o selo do ano do macaco de 2016, ano em os casais passaram a poder ter dois filhos, mostrava um macaco com duas crias. A possibilidade do fim do limite de filhos por casal é indicadora de que possam estar em curso mudanças drásticas nesta matéria, de acordo com a CNN. “O Governo vai, com certeza, levantar as limitações a dois filhos” disse Therese Hesketh, professora do Instituto Universitário de Londres à mesma fonte. “Agora, até que ponto é que vão mais longe com novas medidas de promoção da natalidade, isso ainda é desconhecido”, acrescentou. Para a académica são necessárias mais medidas para que a China ultrapasse a crise que atravessa nesta matéria. Como tal, entende que a única forma de promover o número de nascimentos no país é através da promoção de políticas especialmente concebidas para apoiar os jovens pais. “É possível que as autoridades introduzam políticas pró-natalidade, como se faz em vários países que estão a passar pelo mesmo problema”, referiu. Como exemplo, Hesketh aponta a implementação de licenças de maternidade mais longas e remuneradas ou a criação e mais creches gratuitas. De acordo com um artigo publicado recentemente no Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, “muitos jovens que vivem nas cidades não estão dispostos a ter filhos”, principalmente devido aos custos associados à sua sobrevivência e educação. Desígnio nacional “Dar à luz é um assunto de família e uma questão nacional” lê-se na edição internacional do Diário do Povo, no início deste mês. As mudanças que se anteveem terão em conta as preocupações crescentes por parte de Pequim com a queda da taxa de natalidade e o consequente envelhecimento da população, factores que em 2016 puseram termo à política do filho único em vigor desde 1979. Se durante mais de três décadas a limitação a um filho foi também fonte de acções altamente criticadas, como a esterilização forçada ou os abortos em massa. No entanto, apesar do apelo à natalidade, os resultados não têm correspondido às expectativas. De acordo com um artigo divulgado pela Quartz no passado mês de Maio, a política do filho único evitou cerca de 400 milhões de nascimentos, o que significa que se não tivesse sido implementada a China teria agora 1.8 mil milhões de habitantes. Com o fim desta medida houve realmente um pico da taxa de natalidade em 2016, ano em que se registaram 18,46 milhões de nascimentos, ou seja, um aumento na ordem dos 11,5 por cento comparando com os dados relativos a 2015. Mas, em 2017, o número caiu para os 17,23 milhões, muito a baixo dos 20 milhões de nascimentos previstos para aquele ano, de acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas, citado pelo The Guardian. No ano passado, a taxa de fecundidade total do país ficou-se pelos 1,6 filhos por mulher, um número também “muito abaixo” dos 2,1 esperados e necessários para manter a população estável. Sem força de trabalho Agora sentem-se as consequências de mais de três décadas de limitação ao filho único e o Governo está a sofrer as consequências das medidas que vigoraram até há dois anos. A óbvia preocupação do Executivo de Xi Jinping prende-se com os efeitos do envelhecimento populacional no mercado de trabalho, um dos flagelos económicos das actuais sociedade modernas. “Com o longo período de limitação dos nascimentos, o número de jovens, que também são a principal força de trabalho nacional, é cada vez menor”, alerta a CNN. Por outro lado, mais do que ter filhos, os casais chineses têm outras preocupações. Com o envelhecimento da população, cabe também aos jovens tomar conta dos seus antecessores. Fazendo contas, cada casal chinês tem a seu encargo, no caso de todos os avós estarem vivos, 12 ascendentes. Estatisticamente, desde que a política de controlo de natalidade foi implementada, a proporção da população com mais de 65 anos subiu cerca de 4 por cento para quase 10 por cento. Em 1965 fixava-se em 3,6 por cento e em 2015, 9,55 por cento, quase três vezes mais passados 50 anos. Mulheres sempre controladas Por outro lado, numa sociedade em que as mulheres também integram a força de trabalho, são cada vez menos as que optam por não ter filhos de modo a evitarem ser discriminadas nas oportunidades laborais. Para Mary Gallagher, professora de política na Universidade de Michigan, as autoridades devem ter em conta que se intervierem em políticas pró-natalidade com a mesma agressividade com que o fizeram quando se tratou de políticas anti-natalidade, os efeitos negativos podem ser muito fortes, nomeadamente na posição das mulheres no mercado de trabalho, na sociedade e na família”, cita o The Guardian na passada terça-feira. Já Leta Hong Fincher, autora de “Betraying Big Brother: The Feminist Awakening in China”, considera que “seja qual for a política adoptada, o Governo vai sempre controlar os direitos reprodutivos da mulher”, no passado através de abortos obrigatórios e agora através da sua restrição de for necessário, refere a mesma fonte. Entretanto, e de modo a promover a taxa de natalidade, dois académicos chineses apresentaram este mês uma proposta que tem gerado controvérsia. De acordo com o The Guardian, os académicos propuseram que os casais que não tenham filhos ou que só tenham um, devam estar sujeitos a um imposto que reverte para “um fundo de maternidade” que, defendem, deve também ser criado. Filhos muito únicos Se a mudança de política for confirmada, marcará o fim de uma das políticas mais controversas da história moderna da China. A polémica “política de filho único” foi originalmente introduzida em 1979. A razão, apontavam na altura as autoridades, prendia-se com o receio de que o crescimento demográfico ficasse fora de controlo. Após a sua introdução, a eficácia foi absoluta, reduzindo a taxa total de fecundidade na China de cerca de seis nascimentos por mulher na década de 1960 para menos de dois na década de 2000. No entanto, os métodos utilizados para limitar a natalidade foram também alvo de críticas internacionais. De acordo com a CNN, “as mulheres que viveram sob estas regras descrevem cenários de aborto forçado, sujeição a multas pesadas no caso de terem um segundo filho, e até a expulsão da própria família com o nascimento de mais do que um bebé”, lê-se. Outra consequência da política do filho único foi a disparidade entre o número de homens e mulheres no país, já que o desejo por crianças do sexo masculino levou ao infanticídio de muitas meninas para garantir que o único filho do casal fosse um menino. O resultado foi que em 2016 havia 1,15 homens para cada mulher, uma das proporções de género menos equilibradas no mundo e que também levou uma espécie de mercado negro de matrimónios. Até hoje, a política do filho único é uma presença na China. “Acho que cada família na China foi tocada pela política de planeamento familiar”, afirma um membro da Human Rights Watch. “Todas as famílias chinesas podem falar sobre a forma como a mãe, a tia que teve de abortar à força ou teve de doar um segundo filho”, acrescentou. O responsável lamenta ainda que apesar do fim desta medida, não tenha havido responsabilização pelos “abusos” ocorridos durante sua implementação.
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos Humanos | EUA preocupados com tratamento aos jornalistas na China Repórteres com fronteiras Os Estados Unidos estão “profundamente preocupados” com o tratamento reservado aos jornalistas na China, declarou este fim-de-semana a embaixada dos Estados Unidos, depois de Pequim ter recusado renovar o visto de uma repórter norte-americana [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos estão profundamente preocupados com o facto de jornalistas estrangeiros e locais na China continuarem a enfrentar restrições excessivas que impedem a sua capacidade de realizar o seu trabalho”, afirmou a embaixada dos Estados Unidos em Pequim, em resposta a uma pergunta enviada pela agência de noticias francesa AFP, sobre o caso de Megha Rajagopalan. A jornalista norte-americana, correspondente em Pequim do ‘site’ de notícias norte-americano BuzzFeed, mora na China há seis anos. Megha Rajagopalan fazia, nomeadamente, a cobertura do reforço drástico de medidas de segurança em Xinjiang, no noroeste do país, uma região regularmente atingida por atentados. Os ataques são atribuídos pelas autoridades aos extremistas islâmicos ou “separatistas”. A embaixada também denunciou atrasos no processamento de vistos para jornalistas estrangeiros ou restrições à circulação em determinados locais considerados sensíveis pelas autoridades. Megha Rajagopalan disse numa mensagem publicada na rede social Twitter não saber claramente o motivo por trás da recusa para a renovação do seu visto. Detalhe processual Segundo a jornalista, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China disse-lhe que esta era uma “questão processual”. O Clube dos Correspondentes Estrangeiros na China informou, na quarta-feira, que pediu ao Ministério esclarecimentos “sobre as razões que levaram à expulsão de facto” de Megha Rajagopalan da China. Esta não é a primeira vez que jornalistas estrangeiros são obrigados a deixar o país. A ex-correspondente da revista francesa L’Obs, Úrsula Gauthier, teve de deixar a China depois de expirar o seu visto a 31 de Dezembro de 2015, já que as autoridades se recusaram renová-lo. Pequim acusou-a de defender os actos dos terroristas em Xinjiang num artigo.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasTurbulento período na China [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China confrontada desde 1850 com a Revolta dos Taiping (da inspiração cristã de um chinês e que durou até 1864), levou a meio com a II Guerra do Ópio (1856-60) entre as potências estrangeiras e o Governo Qing. Já em 1854, as forças invasoras apoiavam as do sétimo Imperador Qing, Xianfeng (Wen Zong, 1851-1861), contra os Taiping, que em 1856 se encontravam no máximo de poder militar. Sucesso a empurrar muitos grupos étnicos a seguir o exemplo, aparecendo novos corpos de combatentes por todo o país, mas começaram também as disputas entre os comandantes no interior dos Taiping e tal desconfiança levou a deserções. Em 1858, o governo imperial viu-se seriamente embaraçado para reprimir a insurreição Taiping. “Quando Nankin já se achava em poder dos revoltosos e Shang-hai ameaçado da sua invasão, enviou o governo local, o táo-tai de Sahng-hai, os seus juncos de guerra para aquela cidade, acompanhados de treze lorchas mercantes pertencentes à praça de Macao, embarcações que lhe mereciam mais confiança que os seus navios; o resultado desta empresa foi o que era de esperar: os inúmeros juncos dos rebeldes, tripulados por alguns europeus e americanos, logo que avistaram a esquadra do governo, desceram o rio, e aquela retirou, evitando assim a sua destruição. Continuando o pânico em Shang-hai, comprou o táo-tai, quatro navios, uns ingleses, outros americanos, tripulando-os com marinheiros europeus, para o que teve de oferecer salários elevadíssimos. Achavam-se nesta ocasião fundeados defronte desta cidade, dois navios ingleses, com o representante da Grã-Bretanha em Hongkong, Sir G. Bonham, que se transportou, no Hermes, a Nankin, a fim de indagar em que disposições estavam os insurrectos a respeito dos europeus residentes em Shang-hai. Por seu turno, os insurrectos, pertencentes à sociedade secreta a , e já senhores de Shang hai, incorporaram entre os seus barcos, um navio europeu, o Glenlyon, que foi capturado por dois juncos pertencentes à esquadrilha imperial. Era de supor que os rebeldes, costumados às manobras dos navios indígenas, dificilmente evitariam a abordagem das embarcações do governo.” Factura do auxílio não pedido Os chineses consideram o catolicismo e o protestantismo, na China desde 1807, como diferentes religiões devido à diferença como traduzem conceitos bíblicos e a palavra Deus, percebendo haver entre ambas, uma profunda clivagem e rivalidade. Com o fim da II Guerra do Ópio, desde 1860 chegavam em grande número à China padres cristãos protestantes trazendo uma forma mais competitiva de missionar, propiciando empregos nas firmas das potências estrangeiras e outros benefícios aos chineses convertidos ao Cristianismo. Privilégios a criarem grande ressentimento, traduzido mais tarde na destruição de igrejas, muitas construídas sem obedecer aos costumes e regras de geomância, por isso consideradas como criadoras de má energia. Mas patrocinaram também a ida para o estrangeiro de estudantes, aprender e adoptar o pensamento Ocidental e no regresso servirem de intérpretes. Foram enviados para a Europa e Estados Unidas da América, mas a burocracia e a confusão que grassava na dinastia Qing boicotou o processo, já sem interesse desses países cristãos pois contavam, para o estilo comercial de modernização, com as escolas dentro da China. O apoio das forças estrangeiras ao Governo Qing desequilibrou, começando os Taiping a perder controlo das regiões. Segundo Marques Pereira, a 24 de Outubro de 1862 foi “tomada pela segunda vez aos rebeldes Tai-ping a cidade de Kah-ding, na província de Kiang-su, pelas tropas anglo-francesas, em número de 4550 combatentes. Não é decerto uma página brilhante para a história das relações dos povos europeus com a China essa aliança de 1862 e 63, imposta ao governo imperial pelas tropas que ficaram da guerra de 1860, esperando o pagamento integral das indemnizações. O pretexto fora a princípio justo. Estando Shanghai e outros portos ameaçados com a temível proximidade da célebre insurreição, cujas hordas devastadores tão depressa se encarregaram de desmentir os intentos elevadamente políticos que primeiro lhe atribuíram, os aliados tomaram por motivo da intervenção a defesa dos portos abertos ao comércio estrangeiro. Como porém não bastava para conservar a importância comercial destas cidades, circunscrever a defesa aos subúrbios, e convinha para a fácil troca das mercadorias desafrontar os pontos próximos, oprimidos pela vizinhança dos rebeldes; – as forças europeias, animadas pelos pingues despojos de uma guerra fácil, foram pouco a pouco alargando a área do auxílio prestado aos imperiais, e todos os dias se preparava uma nova expedição a algum ponto mais distante do que o último que se vencera. Com escandalosa contradição do pretexto, deu-se então uma guerra singular, que só feria os inofensivos. Saqueavam-se quase inteiramente as cidades e povoações de onde eram expulsos os rebeldes, de sorte que os habitantes entregavam aos seus libertadores supostos o resto de fazenda que por ventura lhes ficara da invasão.” Em Maio de 1862, “presenciei (Marques Pereira) em Shanghai, durante cinco dias, a entrada dos despojos da primeira libertação de Kah-ding (vendidos em hasta pública, nos consulados inglês e francês); e contudo havia poucas semanas que os rebeldes tinham tomado essa cidade, sem lhe levarem mais do que o seu ânimo feroz e devastador. Assim foi que, em breve tempo, longe de ter mais seguro o seu comércio e prosperidade, Shanghai ficou solitária em um raio de dezenas de léguas. Pode dizer-se que, para essas povoações que desapareceram, o patrocínio dos aliados foi tão desastroso como a própria insurreição dos Taiping.” No trono chinês encontrava-se já o Imperador Tongzhi (Mu Zong, 1862-1874), quando em 1863 a milícia Xiang de Hunan, criada pelo General Zheng Guofan, cercou Tianjin, na posse dos Taiping. Seis meses de cerco e a 1 de Junho de 1864, Hong Xiuquan doente, morreu. Em Agosto a milícia da província de Hunan dinamitou a muralha da cidade e após combates de rua, onde a morte se espalhou por Tianjin, saqueada e incendiada, voltou de novo esta para o Governo Qing. Refere Beatriz Basto da Silva, “Nos quinze anos (1850-1864) em que ocorreu a revolta dos T’ai-Pings, «Reino pacificado do céu», destruiu 600 vilas e cidades e deixou a China semelhante a um deserto, com perdas de milhões de vidas e prejuízos irreparáveis para as artes e literatura. Trata-se de um levantamento popular de descontentes, com uma conotação religiosa distorcida, pervertida.” Hong Xiuquan, um “anti-manchu, fortemente influenciado por valores ocidentais, subverteu o sudeste da China, de Cantão a Nanquim. O igualitarismo e a modernização social apresentaram-se contra os conservadores confucianos e os aristocratas.” Pela imposição do auxílio não pedido, teve o Governo chinês de pagar as despesas das tropas europeias, até que lhes aprouve a elas retirar-se, em 1864, o que importou em mais de um milhão de patacas. Destaque Os chineses consideram o catolicismo e o protestantismo como diferentes religiões devido à diferença como traduzem conceitos bíblicos e a palavra Deus, percebendo haver entre ambas, uma profunda clivagem e rivalidade.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | China e El Salvador estreitam relações e deixam Taiwan à margem El Salvador estabeleceu ontem laços diplomáticos com a China, anunciaram os dois países em Pequim, numa vitória para a República Popular, que reduz para 17 o número de países que mantêm laços com Taiwan [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]documento que estabelece as relações diplomáticas foi assinado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países, em frente às bandeiras da China e do pequeno Estado da América Central. “O nosso Governo toma esta decisão para mudar a nossa estatura histórica e elevar o nosso nível de vida. Esperamos trazer benefícios tangíveis para os nossos cidadãos e esperança para todos”, afirmou o ministro salvadorenho, Carlos Castañeda. O responsável garantiu que Pequim é “um parceiro estratégico”. “El Salvador escolheu comprometer-se a reconhecer uma só China, sem condições prévias, adoptando a mesma posição que a maioria dos Estados do mundo”, disse, entretanto, Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros da China. Também o Presidente de El Salvador, Salvador Sanchez Ceren, confirmou num discurso difundido pela rádio e pela televisão que o Governo decidiu “romper as relações com Taiwan” e reconhecer a República Popular da China. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, condenou veementemente a estratégia de Pequim de isolar diplomaticamente a ilha, através da atribuição de generosos incentivos financeiros a aliados de Taipé. “Não vamos alinhar numa diplomacia do dólar contra a China comunista”, afirmou Wu, revelando que El Salvador pediu “um enorme financiamento” para o desenvolvimento de uma infra-estrutura portuária, que Taiwan recusou. O reconhecimento por El Salvador de Pequim como o único governo legítimo de toda a China, encerra 58 anos de aliança entre o país da América Central e Taiwan. Taipé e Pequim atravessam um período de renovadas tensões, desde a vitória de Tsai Ing-wen, do Partido Democrático Progressista (DPP), pró-independência, nas eleições presidenciais em Taiwan, em 2016. Sob o seu mandato, um total de cinco Estados rompeu relações com Taipé, incluindo São Tomé e Príncipe. Reacção americana A embaixadora dos Estados Unidos em El Salvador anunciou ontem que Washington está a analisar a decisão preocupante do Estado centro-americano em estabelecer relações diplomáticas com a China e romper com Taiwan. “Os Estados Unidos estão a analisar a decisão de El Salvador. É preocupante por muitas razões, entre as quais se inclui a decisão de romper uma relação com mais de 80 anos”, afirmou Jean Manes. “Sem dúvida, isto terá impacto na nossa relação com o Governo salvadorenho”, acrescentou, nas redes sociais. A diplomata advertiu, em Julho passado, para a “alarmante estratégia de expansão” económica e militar da China na América Latina. O anúncio do Governo de El Salvador não foi bem recebido pela oposição, que apontou possíveis represálias por parte dos EUA. “A ruptura das relações diplomáticas com Taiwan é uma notícia com forte impacto na comunidade internacional, (…) isto pode ter repercussões com o nosso principal parceiro comercial, os Estados Unidos”, afirmou o presidente do Congresso de El Salvador, Norman Quijano, do partido de oposição, Alianza Republicana Nacionalista. Em 2017, El Salvador exportou 2,6 mil milhões de dólares em produtos e serviços para os Estados Unidos, e importou 3,4 mil milhões. Em Maio passado, o Burkina Faso rompeu as relações diplomáticas com Taipé, depois de a República Dominicana ter anunciado, em 1 de Março, a ruptura com Taiwan. Em Dezembro de 2016, São Tomé e Príncipe também rompeu relações diplomáticas com Taiwan e passou a reconhecer a República Popular da China. Após a ruptura do Burkina Faso, a Suazilândia é o único país africano a manter relações com Taipé. Desde 2000 que diversos países africanos, incluindo o Chade e o Senegal, que recebiam ajudas de Taiwan, romperam as suas relações com a ilha para beneficiar da cooperação chinesa.
Sofia Margarida Mota China / ÁsiaChina | Residência no continente revogada em casos de ameaça à segurança nacional [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]novo cartão de identidade da China para residentes de Hong Kong, Macau e Taiwan pode ser revogado se os titulares representarem uma ameaça para o país. A condição foi divulgada ontem pelo jornal South China Morning Post na sequência de um anúncio feito no domingo pelo Conselho de Estado onde foram definidos os requisitos para o novo cartão de residência que vai estar acessível aos residentes das três regiões a partir do próximo dia 1 de Setembro. De acordo com a mesma fonte, os residentes destas regiões que trabalhem e vivam no continente terão os seus cartões de residência anulados se “representarem uma ameaça à soberania e à segurança nacional”. Por outro lado, “a autorização de residência deve ser declarada pela autoridade emissora como inválida [se o titular do cartão] perder sua condição de residente em Hong Kong, Macau ou Taiwan… [e se] puder prejudicar a soberania, a segurança, a reputação e os interesses do país” refere. A nota do Conselho de Estado revela ainda que cada autorização de residência será válida por cinco anos. De acordo com o documento oficial, os portadores de cartão também podem perder a sua autorização de residência se forem descobertos documentos falsos no processo de requerimento, ou se os seus documentos de viagem forem revogados, uma vez que o novo cartão não substitui esta documentação. Os requisitos foram apresentados dias depois do anúncio do Conselho de Estado acerca da emissão do novo cartão pelas autoridades do continente que confere aos residentes de Macau, Taiwan e Hong Kong o acesso à educação gratuita nos ensinos primário e secundário, emprego, sistema de saúde público, assistência jurídica e fundos de habitação. Ter carta de condução e a possibilidade de ficar em hospedado em hotéis que não aceitam estrangeiros são outras vantagens contempladas pelo novo cartão de residência.
Hoje Macau China / ÁsiaChina protesta passagem de Presidente de Taiwan pelos EUA [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China enviou um protesto formal a Washington devido à escala realizada pela Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, nos Estados Unidos, onde visitou a Administração Nacional para a Aeronáutica e Espaço (NASA), na cidade de Houston. Tsai realizou a visita quando regressava do Paraguai e Belize, dois dos 18 países que mantêm relações diplomáticas com Taiwan, que a China considera parte do seu território, contra as aspirações independentistas de Taipé. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lu Kang, disse aos jornalistas que Pequim “vai-se opor sempre a que qualquer país ofereça conveniências e locais para que pessoas relevantes de Taiwan conduzam estas actividades”. “Nós tornamos clara a nossa posição junto dos países relevantes”, acrescentou. A visita à NASA tratou-se de uma rara presença de um líder taiwanês numa instalação oficial do Governo norte-americano. Tsai fez ainda um discurso na Livraria Presidencial Ronald Reagan, na Califórnia, na primeira intervenção pública de um líder de Taiwan nos EUA em mais de uma década. “Quero agradecer a todos os envolvidos por fazerem a minha paragem em Houston maravilhosa, cheia de boas memórias”, escreveu Tsai no Twitter. “A minha administração vai continuar a reforçar todos os aspectos das relações entre Taiwan e os EUA”, acrescentou. Países que mantêm laços diplomáticos com Pequim não podem ter ligações a Taipé e vice-versa. Apesar de os EUA serem o principal fornecedor de armas para Taiwan, os dois lados cortaram as relações diplomáticas em 1979, quando Washington passou a reconhecer Pequim, em vez de Taipé. A visita de Tsai, do Partido Democrático Progressista (DPP), pró-independência, surge numa altura de crescentes disputas comerciais entre Pequim e Washington, suscitadas pela política de Pequim para o sector tecnológico.
Hoje Macau China / ÁsiaDemografia | Um quinto da população com mais de 60 anos em 2017 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China tinha 241 milhões de habitantes com idade superior a 60 anos, no final de 2017, resultado da política do filho único, que durante décadas vigorou no país, anunciou ontem o Ministério dos Assuntos Civis chinês. O número de habitantes com 60 anos, ou mais, fixou-se em 17,3 por cento do total da população da China, indicou. Pelas contas do Governo chinês, em 2050, os sexagenários serão de 487 milhões, ou 34,9 por cento da população do país. Nação mais populosa do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, a China aboliu no início de 2016 a política de “um casal, um filho”, rígido controlo da natalidade que durava desde 1980 e impediu quase 400 milhões de nascimentos. Demógrafos chineses estimaram que, sem aquela política, a China teria actualmente quase 1.800 milhões de habitantes. O fim da política do filho único não serviu, no entanto, para evitar a “armadilha da baixa fertilidade”, em parte devido aos crescentes custos para criar um filho na sociedade chinesa, transfigurada pela adesão do país à economia do mercado, no final dos anos 1970. Em 2017, o número de nascimentos fixou-se em 17,23 milhões, menos 630.000 do que em 2016. Na primeira metade de 2018, o número de nascimentos caiu 15 por cento, em termos homólogos, segundo estatísticas oficiais.
Hoje Macau China / ÁsiaMalásia quer cancelar a construção de infra-estruturas acordadas com a China [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]primeiro-ministro da Malásia disse que vai tentar cancelar projectos de vários mil milhões de euros em infra-estruturas cuja construção é assumida pela China, após um acordo firmado pelo Governo anterior, noticiou ontem a agência Associated Press (AP). Mahathir Mohamad afirmou numa entrevista à AP, dias antes da sua visita à China, que quer manter boas relações com aquele país e disse que é bem-vindo o investimento, desde que os projectos beneficiem a Malásia. O governante de 93 anos regressou ao poder há três meses, depois de vencer nas eleições legislativas Najib Razak, que está a ser julgado por várias acusações relacionadas com uma alegada fraude multimilionária a partir de um fundo de investimento estatal. Mahathir Mohamad refere que os dossiês mais difíceis prendem-se com a construção de oleodutos e de um projecto ferroviário ao longo da costa leste da península da Malásia. “Não achamos que precisamos desses dois projectos, não achamos que eles sejam viáveis. Se pudermos, gostaríamos de os abandonar”, afirmou. O novo governo da Malásia suspendeu os trabalhos destes projectos, que estão a ser construídos por empresas apoiadas pelo Estado chinês. Mahathir também incitou Pequim a respeitar a livre circulação de navios em toda Mar do Sul da China, onde várias nações do sudeste asiático e a Malásia têm competido pela jurisdição sobre ilhas e recifes, ricos em pesca e potenciais depósitos de combustíveis fósseis. A China alega que grande parte do mar é seu e construiu várias ilhas artificiais equipadas com pistas, estações de radar e mísseis para reforçar sua reivindicação, acusando os EUA, que regularmente patrulham as águas com meios aéreos, porta-aviões e outros navios de guerra, de se intrometerem numa disputa que é puramente asiática. A China vê a Malásia como uma parte fundamental da sua ambiciosa iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.
Hoje Macau China / ÁsiaGuerra comercial entre EUA, China e UE agudiza receios de abrandamento económico [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s últimos cinco meses ficaram marcados por uma escalada da tensão comercial entre EUA, China, União Europeia e outras potências mundiais, com a imposição de tarifas e ameaça de novas medidas protecionistas a gerarem receios de abrandamento económico. E se a 25 de julho foi anunciada uma trégua na guerra comercial entre os EUA e a União Europeia, após uma reunião entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com a China a tensão mantém-se ao rubro, sendo sucessivas as ameaças do agudizar das tarifas alfandegárias nas trocas comerciais e de sanções aos países que têm trocas comerciais com o Irão. Reunidos em julho em Buenos Aires, na Argentina, num encontro marcado pelo tema do protecionismo, os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias mundiais (G20) concluíram que o crescimento mundial “está robusto”, mas ameaçado, “a curto e médio prazo, pelo aumento das tensões comerciais e geopolíticas”, apontando os riscos económicos acrescidos resultantes das “recentes vulnerabilidades financeiras, aumento das tensões comerciais e geopolíticas” e “crescimento estruturalmente débil, particularmente em algumas economias avançadas”. Na abertura do encontro, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, alertou para o impacto da guerra comercial sobre o crescimento económico mundial, avisando que, “no pior dos casos, as medidas [comerciais] atuais poderão significar uma baixa de 0,5 pontos do PIB [Produto Interno Bruto] mundial”. O ministro francês da Economia e das Finanças, Bruno le Maire, sustentou, por sua vez, que “esta guerra comercial fará apenas perdedores, destruirá empregos e pesará no crescimento mundial”, defendendo que se chame “os EUA à razão, para que respeitem as regras multilaterais e os seus aliados”. Já o secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin, apelou à China e aos EUA para que façam concessões no sentido de chegar a uma relação comercial mais equilibrada, após declarações incendiárias de Donald Trump que tratou Pequim, Bruxelas e Moscovo como “inimigos” comerciais. Na opinião de diversos analistas e economistas, a intensificação da guerra comercial não vai beneficiar nem os trabalhadores, nem as empresas norte-americanas, podendo antes resultar numa subida dos preços nos EUA, numa diminuição das exportações e numa economia mais débil no próximo ano, com um abrandamento que pode chegar ao meio ponto percentual e levar à perda de 700.000 empregos. Para Portugal, segundo estimativas avançadas em junho pelo Banco de Portugal (BdP), a guerra comercial pode implicar um custo entre 0,7% e 2,5% do PIB português em três anos, caso se mantenha limitada aos EUA e aos seus principais parceiros ou se se tornar global. “Sendo Portugal uma economia relativamente aberta ao exterior, a redução da atividade e do comércio a nível global tem um efeito adverso sobre a economia portuguesa”, avisou o BdP. A postura intransigente de Trump face ao comércio internacional já é antiga, tendo denunciado as práticas comerciais de outros países e pedido retaliações desde a década de 1980, quando o Japão era considerado a principal ameaça económica aos EUA. Foi depois uma bandeira da sua campanha para a Presidência, desenvolvida sob o lema “America First” (A América Primeiro). E se as medidas protecionistas tomadas após a eleição foram sendo adotadas em várias frentes, com conflitos comerciais com várias potências mundiais, como a União Europeia (UE), México, Canadá, Brasil ou Japão, Trump nunca escondeu que o seu principal adversário era a China, que acusa de desenvolver práticas comerciais injustas, aplicar taxas altíssimas sobre produtos norte-americanos e desrespeitar totalmente a propriedade intelectual das empresas norte-americanas, nomeadamente no setor da tecnologia. Foi assim que, logo após ser eleito para a Presidência dos EUA, em 2016, Trump ameaçou elevar para 30% as tarifas sobre as todas as importações de produtos chineses – que, no ano passado, somaram 500 mil milhões de dólares –, acusando Pequim de “táticas predatórias” destinadas a desenvolver o setor tecnológico chinês. Foi, contudo, em março/abril deste ano que a tensão comercial começou a acentuar-se, com Trump a argumentar que o défice da balança comercial com Pequim estava “fora de controlo”, nos 375 mil milhões de dólares (324 mil milhões de euros), e a acusar a China de “roubo de tecnologia” e de exigir às empresas estrangeiras que transfiram conhecimento em troca de acesso ao mercado. Os EUA anunciam então a implementação de taxas alfandegárias sobre uma lista inicial de 1.300 produtos importados da China, avisando que impacto pode chegar aos 60 mil milhões de dólares (51,7 mil milhões de euros). Em resposta, a China começa por impor em abril tarifas de 25% sobre 120 produtos dos EUA sobretudo alimentares, num valor em torno dos três mil milhões de dólares (2,58 mil milhões de euros) – recorrendo à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a atuação norte-americana. Posteriormente, Pequim responde à publicação da lista com uma taxa alfandegária de 25% em cerca de 50 mil milhões de exportações norte-americanas, incluindo nos produtos a taxar a soja (um dos mais relevantes produtos nas relações comerciais entre os dois países), os aviões, os carros e os produtos químicos. É também em março que entram em vigor taxas aduaneiras de 25% sobre a importação de aço e de 10% sobre o alumínio que entra nos EUA, numa medida que deixa inicialmente de fora o México e o Canadá (no âmbito do Acordo de Comércio Livre da América do Norte – NAFTA) e os países aliados, nomeadamente a UE. No final de maio, a escalada protecionista de Trump estendeu-se à UE, Canadá e México, com a suspensão da isenção de direitos aduaneiros nas importações de aço e de alumínio daquelas regiões, e chegou ao Brasil, com a imposição de quotas e sobretaxas à importação de aço brasileiro. “Isto é um mau dia para o comércio mundial”, declarou então o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerando “totalmente inaceitável que um país esteja a impor medidas de forma unilateral no que diz respeito ao comércio mundial”. Como retaliação, o bloco europeu começou em 22 de junho a cobrar tarifas de importação de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, no valor total de 3,35 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros), tendo nesse mesmo dia Trump admitido impor sobretaxas de 25% sobre importações de automóveis europeus, consideradas como uma ameaça à segurança nacional. O mês de julho foi palco de um sucessivo agudizar da guerra comercial já aberta com a China, com o Presidente norte-americano a iniciar a cobrança de tarifas sobre mais de 800 produtos chineses, no valor de 34 mil milhões de dólares (29 mil milhões de euros), e a China a retaliar de imediato, com um aumento dos impostos sobre o mesmo valor de importações oriundas dos EUA. Dias depois, os EUA anunciam uma nova lista com tarifas de 10% sobre 200 mil milhões de dólares (173 mil milhões de euros) em importações da China e Trump afirma-se pronto para impor tarifas sobre até 550 mil milhões de dólares (475 mil milhões de euros) em produtos chineses, mais do que o valor total das exportações de Pequim para o país no ano passado. Afirmando-se “chocada”, a China apresenta nova queixa à OMC e garante que adotará “as contramedidas necessárias” responder às novas tarifas, retaliando com novas taxas. Esta semana, na quarta-feira, a China anunciou taxas punitivas sobre importações provenientes dos EUA no montante de 16 mil milhões de dólares (13,9 mil milhões de euros), como represália às anunciadas na véspera pelos EUA. Com a UE, a guerra comercial vive atualmente uma trégua, na sequência de um encontro, em 25 de julho, em Washington, entre o presidente da Comissão Europeia e Donald Trump, do qual saiu a garantia de que norte-americanos e europeus “vão trabalhar em conjunto” para estabelecer uma relação comercial livre de taxas alfandegárias, livre de barreiras e livre de subsídios para bens industriais. Enquanto durarem as negociações, os direitos aduaneiros sobre aço e alumínio europeus mantêm-se, mas, caso cheguem a bom termo, Washington admite vir a levantá-los, o mesmo acontecendo com as correspondentes retaliações da UE. Trump acordou também não impor tarifas sobre o setor automóvel europeu durante este período.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPortos da China e Japão abertos ao comércio [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China, desde que perdera por via militar a I Guerra do Ópio, percebera ter sido tecnicamente suplantada pois ficara fora da intelectual inteligência do renascimento ocidental, sussurrada aos ouvidos do Imperador Kang Xi (1662-1722) quando ainda criança. Sinergia entre Ocidente e Oriente trazida pelos jesuítas para dentro do Palácio Imperial, onde entraram através da Matemática, Astronomia e relógios, e por oferendas como âmbar cinzento, brinquedos, rapé e quadros pintados em perspectiva. Por ordem do segundo Imperador Qing, em 1708 começaram a ser cartografadas todas as regiões do Império, colaborando os jesuítas nesse trabalho. Compilado em 1718, foi guardado num dos pavilhões imperiais e aí ficou; já os missionários, com o valioso e estratégico mapa da China, enviaram-no aos Superiores na Europa. A manchu Dinastia Qing (1644-1911), a última das imperiais dinastias chinesas, a partir do quarto Imperador Qian Long (Gao Zong, 1735-1795) começou a entrar em decadência. Em 1781, a Companhia Inglesa das Índias Orientais sem nada para trocar de interesse com os chineses, começou a enviar ópio para a China. Com o sexto Imperador Dao Guang (Xuan Zong, 1821-1850) ocorreu a I Guerra do Ópio (1839-42), devido à recusa do governo imperial em aceitar essa droga, “levando as costas marítimas chinesas a serem fustigadas pelos canhões dos 38 navios de guerra, com 4 mil tropas britânicas que terminou com a assinatura do Tratado de Nanjing a bordo da nau inglesa Cornwallis a 29 de Agosto de 1842 (24.º dia da 7.ª lua do 22.º ano do Imperador Tao-kuang). Sir Henry Pottinger, por parte da Grã-Bretanha e o comissário imperial Ki-ing I-li-pu (Qiying) e Neu-kien, por parte da China, sendo as ratificações trocadas em Hong Kong a 26 de Junho do ano seguinte”, segundo Marques Pereira e nesse tratado “o Imperador da China ficou obrigado a pagar a soma de 21 milhões de patacas, a título de indemnizações da I Guerra do Ópio e outras, no prazo de três anos e quatro meses, contados desta data da assinatura, e outrossim a abrir inteiramente ao comércio estrangeiro os portos de Cantão, Amoy, Fuchau, Ningpo e Shanghai, admitindo neles cônsules e adoptando razoáveis tarifas de direitos. Foi pelo mesmo tratado confirmada a cessão da ilha de Hong Kong à Rainha Victoria e a seus herdeiros e sucessores, e aceitação da ocupação das ilhas de Chu-san e Ku-lang-su até à completa abertura dos portos mencionados e integral pagamento das indemnizações.” Tamanha humilhação marcou a viragem da China Imperial para um semi-feudal e colonizado país. Após o Tratado de Nanjing, os britânicos controlavam o comércio marítimo da China e as outras potências Ocidentais, como a França, a Alemanha, a Rússia e os EUA, assistindo à fraqueza dos governantes chineses decidiram fazer pressão para obterem também privilégios, concessões e território. Os Estados Unidos em 1844 assinaram em Macau o Tratado de Wangxia, que concedeu os direitos dados aos ingleses e reduzia as taxas sobre os barcos americanos, podendo estes navegar nas águas interiores da China. Crimes cometidos por cidadãos americanos na China seriam apenas julgados por tribunais americanos, mesmo os relacionados com a morte de chineses por americanos. Aceitação da civilização ocidental O Japão (Nippon para os japoneses) mantivera-se fora do mundo desde 1639 devido aos Éditos de Isolamento que o Shogunato Tokugawa (1603-1867) sucessivamente foi proclamando, até que a 11 ou 12 de Fevereiro de 1854, o comodoro americano Mathew C. Perry regressou ao Japão com uma esquadra de sete navios para saber a resposta à carta do presidente Norte Americano Millard Fillmore (1850-1853), por ele aí deixada um ano antes, quando em 8 de Julho de 1853 na Baía de Yedo (Tóquio) aportara na primeira vez. Recebido a 14 de Fevereiro, exigia a abertura dos portos japoneses ao comércio americano. O shogun adiando a resposta, pois a corte imperial em Quioto era defensora da guerra para não deixar entrar as potências estrangeiras, logo recebeu a ameaça: . Tal levou em Março de 1854 o Presidente do Conselho dos Veteranos, Abe Masahiro a assinar o acordo com os americanos, onde o Japão abria portos ao comércio. As reformas no Japão iniciaram-se com aquisições de armamento e navios de guerra, dando-se em 1855 a abertura com instrutores estrangeiros das escolas Naval e Militar. Em 1858, o governo shogunal assinava novos tratados, agora com a Holanda, Rússia, Inglaterra e França, e ao ser obrigado a abrir mais portos aos estrangeiros perdeu força interna para os partidários do imperador, começando o declínio do regime de shogunato, que vigorará até 1867. Os estrangeiros, comerciantes e diplomatas, estabelecem-se no Japão e muitos jovens japoneses vão para a Europa e EUA estudar. Era aprender com o Ocidente, compreender os seus modelos para conseguir o melhor e negociar em pé de igualdade. Desde 1603 a família Tokugawas detinha o poder e quando o shogun Iemochi morreu sucedeu-lhe Yoshinobu a 29 de Agosto de 1866. A 25 de Janeiro de 1867, “Os jornais e as cartas são unânimes em afirmar grandes reformas sociais no Japão, devidas sem dúvida às ideias progressistas do novo taicun (taiko, Grande Príncipe). Os nobres do império principiavam a usar trajes europeus e a empregarem carruagens em seu serviço. Todos os vapores que actualmente partem dos portos abertos ao comércio, conduzem japoneses para a Europa, que vão visitar a exposição de Paris, e muitos jovens enviados pelos seus parentes aos colégios de educação. Uma escola se ia abrir em Yokohama, dirigida por ingleses, para os filhos do país, à imitação da escola para o mesmo fim criada pelos franceses e estabelecida no distrito de Yokohama, conhecido pelo nome de Benten. O governo (japonês) adoptou um figurino francês para fardar e equipar o seu exército, tendo engajado alguns instrutores franceses. O Dr. Maggowan, chegado àquele país, apresentou uma proposta para estabelecer um telégrafo eléctrico entre a capital do império e os portos abertos, excelentemente acolhida, com os trabalhos a começar para se fixar o fio eléctrico entre Yeddo e Yokohama e crendo ficar concluído ainda este ano. Afirma-se que já o novo Taicun dirigira aos ministros estrangeiros residentes, o convite para o irem visitar ao seu palácio em Osaka e supõem todos que nesta ocasião se tratará da grande questão pendente, a abertura do porto de Hiogo”, segundo Boletim do Governo de Macau e Timor, 1867. Levadas a sério as ameaças americanas, com espelho na humilhação que a China passava, em 1868 o Japão colocou no poder com 15 anos de idade o Imperador Meiji e em galopante transformação radical se modernizou pela matriz ocidental de competição e guerra, até atingir um Império na Ásia
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePatrimónio | Atelier de Maria José de Freitas desenvolve projecto para Wuhan [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]reabilitação de uma cidade muralhada em Wuhan, capital da província de Hebei, tem ocupado os dias de uma equipa de arquitectos do atelier de Maria José de Freitas e do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, ligado à UNESCO. É a primeira vez que a arquitecta portuguesa trabalha num projecto para a China, em parceria com profissionais chineses Os dias têm apenas 24 horas, mas deveriam ter mais. As reuniões sucedem-se todas as manhãs e também à tarde, para que os dias que passam a correr no calendário não atrapalhem o objectivo de concluir o projecto de reabilitação de uma antiga cidade muralhada de Wuhan, na China. A entrega é já no dia 21 deste mês. Por estes dias, o atelier da arquitecta Maria José de Freitas anda num rebuliço para terminar o primeiro projecto feito em parceria com arquitectos chineses. São jovens já com doutoramentos e que fazem parte do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, uma entidade da cidade de Wuhan, na China, que se dedica à preservação do património. Esta entidade pertence ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ligado à UNESCO. No total, uma equipa de sete pessoas trabalha sem parar para participar num concurso público que o município de Wuhan abriu há um mês para a preservação de uma cidade muralhada secular, onde ainda vivem pessoas. Numa pausa entre desenhos e programas de computador, os participantes explicaram ao HM os desafios de se lançarem num projecto desta natureza. “Está em causa um local com muita história e com problemas estruturais, tal como o excesso de população com más condições de vida. As dificuldades são grandes no que diz respeito à concepção e planeamento que vamos propor ao Governo. Temos de nos preocupar com várias coisas, é um projecto difícil”, contou Li Jie, arquitecto ligado ao Wuhan Research Center of Shared Built Heritage. É a primeira vez que Li Jie está em Macau. Um dos grandes desafios que enfrenta prendem-se com trabalhar com colegas estrangeiros, que têm diferentes perspectivas da arquitectura. “Nunca tinha trabalhado com uma equipa internacional. Acho que para mim é uma nova oportunidade de aprendizagem.” Tiago Rebocho, arquitecto do atelier de Maria José de Freitas, também fala do lado desafiante deste tipo de projectos, que nunca lhe tinha passado pelas mãos. “Tem uma escala urbana e é muito diferente daquilo a que estou habituado a trabalhar. Dificilmente trabalharia com isto na Europa. Na China é tudo muito diferente e às vezes a linguagem pode ser uma barreira, mas ultrapassa-se, e o facto de trabalhar com locais chineses dá-me uma experiência incrível”, apontou. O encontro em Lisboa Maria José de Freitas, que está a fazer um doutoramento em Portugal na área do património, conheceu Ding Yuan, secretário-geral do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, em Lisboa, há dois anos, quando ambos participavam num seminário sobre o tema. De uma conversa inicial surgiu um convite para trabalharem em conjunto, primeiro com o desenvolvimento do projecto em Macau e depois com a sua apresentação oficial junto das autoridades e do público de Wuhan. O contacto inicial levou-os à conclusão de que eram ambos apaixonados por património e a sua preservação face aos desenvolvimentos das sociedades actuais, mas surgiram alguns receios de que a diferença de idiomas e de horários pudesse deitar tudo a perder. “Na China conhecemos muitos arquitectos alemães, franceses, e são muito activos e populares na China, incluindo arquitectos japoneses, mas não temos muitos arquitectos portugueses. Era isso que me preocupava, achava que a Maria não teria a verdadeira noção de como as coisas acontecem na China. Não posso dizer que tenha um conhecimento a cem por cento, mas é rápida a aprender.” Tudo está no início, uma vez que a equipa de arquitectos chineses chegou a Macau este fim-de-semana e há muitas ideias que ainda estão a ser debatidas. “É uma cidade com centenas de anos, muralhada, com várias portas”, explicou Maria José de Freitas ao HM. “Do lado de fora, uma das portas está protegida, mas dentro da cidade parece que a vida parou, e queremos que as pessoas que vivam lá consigam viver dentro das circunstâncias do século XXI. Também queremos que estas muralhas sejam mais permeáveis às influências e também que desempenhem um papel a nível internacional.” Há três grupos a trabalhar em simultâneo para este projecto, um deles está em Lisboa a fazer investigação sobre o local. “Pensamos na questão da mobilidade do trânsito, ao nível dos carros e da bicicletas. Queremos ter uma cidade ecológica e desenvolvida de forma sustentável. Queremos garantir um grande equilíbrio, trabalhamos com consultores, porque este projecto abrange um grande número de actividades.” Maria José de Freitas adianta que a cidade muralhada de Wuan e a sua renovação pode constituir um estudo de caso. “Queremos partilhar [o projecto] com outras universidades e cidades do mundo que enfrentem o mesmo tipo de problemas”, frisou. A participação neste concurso público também é sinónimo de competitividade. “O município tem vindo a receber vários projectos, mas a maior parte tem vindo a focar-se na muralha que circunda a cidade. Há cerca de um mês o município resolveu realizar um concurso público, que é difícil. Por qualquer motivo o Governo não está contente com o que tem recebido”, adiantou Maria José de Freitas. Mais preocupação Este projecto nasce numa altura em que na China há cada vez uma maior preocupação pela preservação do património. Em Wuhan há diferenças que não podem ser ignoradas, como notou Ding Yuan. “Wuhan tem um património partilhado, uma vez que temos cinco concessões: uma britânica, francesa, alemã, japonesa e russa. É uma questão política também. Por outro lado, a China está a conhecer um desenvolvimento muito rápido.” Ding Yuan notou também que “Wuhan é uma grande cidade no centro do país que também se está a desenvolver muito depressa, e há muito património que pode estar em perigo”. “Alguns não querem [que isso aconteça], incluindo os locais, e pedem que sejam melhoradas as condições de vida”, apontou. Apesar de trabalhar em Macau, Tiago Rebocho também nota que, nos últimos anos, já não se destrói tudo na China sem uma preocupação sobre o passado. “A China começa agora a ter uma preocupação em relação à protecção do património e isso tem-se notado nos últimos anos. Basicamente, construía-se a imitar aquilo que tinha sido demolido, que é o que estamos a evitar fazer. Estamos a tentar fazer uma reinterpretação da arquitectura local, contribuir com algo de novo e não fazer uma cópia.” O próprio caderno de encargos do concurso público aberto pelas autoridades do município de Wuhan revela “uma preocupação da China em crescer para o exterior, atrair turismo internacional e preservar o património que eles têm e mostrá-lo”. “Essa preocupação é recente e tem aumentado a largos passos. Já têm vários locais classificados e, além de quererem ser uma potência económica, querem também ser uma potência ao nível do turismo”, frisou Tiago Rebocho
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Consultora portuguesa leva empresas à China [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), consultora com sede no Porto, organiza em Setembro uma visita de negócios a três cidades chinesas, no âmbito do projecto da Comissão Europeia ENRICH. O “ENRICH Matchmaking and Innovation Tour to China” decorre entre 13 e 21 de Setembro e visa “abrir oportunidades de negócio, investigação e cooperação em inovação” entre entidades europeias e chinesas, segundo o comunicado da SPI. A agenda inclui visitas a Pequim, Tianjin (cidade portuária do norte da China) e Chengdu, a capital da província de Sichuan, sudoeste do país, onde os participantes estabelecerão contacto com empresas, institutos de investigação, universidades ou parques científicos locais. A SPI foi a consultora escolhida pela Comissão Europeia para coordenar o Centro de Excelência ENRICH (European Network of Research and Innovation of Centres and Hubs, China), plataforma que apoia empresas tecnológicas europeias no mercado chinês. O ENRICH, financiado no âmbito do “Horizonte 2020”, oferece consultadoria, colaboração e treino especializado para empresas e organizações de investigação europeias. O “Horizonte 2020” é o maior programa público de apoio à investigação e à inovação do mundo, com um orçamento de quase 80 mil milhões de euros.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPortugal sob pressão para tomar decisão até Outubro sobre nome do consulado O Governo português diz que vai tomar uma decisão “a seu tempo” sobre a alteração do nome do consulado em Macau. Mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China foi claro quanto ao prazo para implementar a alteração: até à tomada de posse no novo cônsul [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal está a analisar o pedido do Governo da República Popular da China para alterar a denominação do Consulado-Geral em Macau e deixar cair Hong Kong do nome. A posição foi tomada pelo ministério liderado por Augusto Santos Silva, em resposta ao HM. “O assunto está a ser analisado. A decisão será tomada a seu tempo”, foi esta a posição do MNE de Portugal, face a questões enviadas na quarta-feira passada ao Governo português. Apesar do ministério de Augusto Santos Silva frisar que a decisão vai ser tomada a seu tempo, o assunto não será assim tão simples, segundo apurou o HM. No pedido feito a Portugal pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China foi expresso o desejo que a mudança de nomenclatura deveria ocorrer ainda antes da chegada do novo cônsul, que está agendada para finais de Setembro ou princípios de Outubro. Actualmente, a representação da República Portuguesa em Macau tem a denominação Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong, uma vez que a área de intervenção envolve as duas regiões chinesas. Contudo, segundo o pedido da China, o nome deve ser alterado para o Consulado-Geral de Portugal em Macau. Paulo Cunha Alves, actualmente Embaixador de Portugal na Austrália, poderá assim ser o primeiro cônsul de Portugal em Macau, uma vez que a mudança poderá mesmo acontecer aquando da mudança de homem ao leme da diplomacia nacional no território. Recorde-se que o actual cônsul português em Macau, Vítor Sereno, está de saída para o Dakar, onde além de assegurar a representação no Senegal vai ainda ter garantir as mesmas funções no Burquina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Libéria, Mali, Mauritânia, República da Guiné e Serra Leoa. Pedido generalizado Após o HM ter noticiado os pedidos por parte do Governo da República Popular Chinesa aos diferentes países representados em Macau e Hong Kong para uniformizarem as denominações das representações consulares, foram surgindo mais reacções à notícia. Em Hong Kong foi pedido a vários consulados que retirassem Macau do nome e que apenas mantenham a referência à região vizinha. A informação foi primeiramente confirmada pelo Gabinete da União Europeia em Hong Kong e Macau. Também o Consulado-Geral do Canadá em Hong Kong e Macau admitiu ter recebido um pedido semelhante, de acordo com vários meios de comunicação social da região vizinha. “Sim, recebemos o pedido. Compreendemos que todos os consulados em Hong Kong e Macau receberam pedidos dos género”, afirmou o consulado do Canadá, de acordo com um jornal da RAEHK. A outro meio, o mesmo consulado explicou que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China tinha mostrado preocupação com as diferentes nomenclaturas utilizadas. Contudo, segundo o HM conseguiu apurar, a verdade é que o pedido feito pelo Governo chinês não apresentou uma justificação muito clara, pelo que vários países ainda estão a tentar perceber as razões por detrás do solicitado.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Pequim volta a ameaçar Estados Unidos com tarifas [dropcap style=’circle’] A [/dropcap] China disse estar pronta para aplicar tarifas de 60 mil milhões de dólares aos Estados Unidos, caso aquele país avance com taxas alfandegárias aos produtos chineses. Em causa estão 5.207 produtos norte-americanos – como café, mel e químicos industriais – aos quais serão aplicadas tarifas que rondam os 60 mil milhões de dólares, de acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças chinês. Esta é a resposta da República Popular da China à eventual imposição de taxas sobre produtos chineses, num valor que pode alcançar os 200 mil milhões de dólares. Acusando a presidência norte-americana de Donald Trump de prejudicar a economia mundial com tais tarifas, a tutela das Finanças chinesa nota que “a China é forçada a apresentar contra-medidas”. O Ministério das Finanças chinês admite, por isso, “tarifas de retaliação de 25 por cento, 20 por cento, 10 por cento ou 5 por cento”, que avançam caso a administração dos Estados Unidos “persista em colocar as suas ideias em prática”. Panela de pressão Na quarta-feira, o Governo de Pequim vincou que as tentativas de chantagem e pressão dos Estados Unidos sobre a aplicação de taxas alfandegárias aos produtos chineses nunca “vão funcionar”. “A chantagem e a pressão dos Estados Unidos nunca vão funcionar com a China e se foram tomadas medidas que piorem a situação nós iremos aplicar contra-medidas para que possamos manter os nossos direitos e interesses”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Geng Shuang. “Pensamos que os conflitos comerciais devem resolver-se com conversações e negociações. Os nossos esforços e a nossa sinceridade estão à vista de todos”, acrescentou. Fontes próximas da administração norte-americana indicaram na terça-feira que os Estados Unidos pretendem estabelecer taxas alfandegárias de 25 por cento sobre as exportações chinesas, o que pode vir a totalizar um valor correspondente aos 200 mil milhões de dólares. “O diálogo deveria ter como base a confiança mútua e a igualdade, estabelecendo regras e credibilidade porque as ameaças unilaterais e a pressão são contraproducentes”, frisou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim.
Hoje Macau China / ÁsiaPopulação da Índia irá ultrapassar a da China em 2022, diz Banco Mundial [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] população da Índia deverá ultrapassar a da China, actualmente o país mais populoso do mundo, no ano de 2022, de acordo com novos dados divulgados pelo Banco Mundial. “A China, com 1,4 mil milhões de habitantes é o país mais populoso do mundo em 2017. No entanto, a Índia, segundo país mais populoso, com 1,3 mil milhões de pessoas, deverá superar a população da China até 2022”, revela dados do Banco Mundial, disponíveis no portal da instituição sobre saúde, nutrição e população mundial, através de gráficos e tabelas que apresentam previsões até 2050. Em 2022, as previsões indicam que a população da Índia será de 1.411.415.000 enquanto a China terá 1.404.652.000 habitantes. Segundo os dados, a taxa de fertilidade da China diminuiu drasticamente desde a década de 1970. Os dados também indicam que, embora o México e o Japão tenham população semelhante (129 milhões e 127 milhões, respetivamente) em 2017, as estruturas etárias desses países parecem muito diferentes. As pirâmides populacionais dos dois países mostram que a população do México é muito mais jovem do que a do Japão. O México tem mais jovens e o Japão tem mais idosos. A população com mais de 65 anos aumentou rapidamente desde os anos 90 no Japão. No entanto, a população com mais de 65 anos no México deverá exceder 10 milhões em 2020 e aumentar de forma constante. Estima-se que as diferenças na população com idades entre 65 anos ou mais entre o Japão e o México diminuam até 2050. No que toca à saúde, o estudo refere, por exemplo, que as mulheres são mais vulneráveis ao VIH do que os homens, especialmente na África Subsaariana. Em 20 países da África Subsaariana, mais de 60% da população afetada pelo VIH são mulheres. Em outras regiões, menos da metade da população afetada pelo HIV são mulheres (sul da Ásia: 33%, América Latina e Médio Oriente: 38%). Segundo o Programa das Nações Unidas para o Combate ao VIH/Sida (UNAIDS), fatores estruturais, comportamentais e biológicos estão a aumentar o risco de infeção pelo VIH entre as mulheres. Os dados indicam que há mudanças na causa da morte em países de baixo rendimento nos últimos 16 anos. Em países de alto rendimento, a maioria das mortes é causada por doenças não transmissíveis, como doenças cardíacas e AVC, enquanto a maioria das mortes em países de baixo rendimento é causada por doenças transmissíveis. Na Zâmbia, Quénia, Malauí, Níger e Botsuana, com a maior proporção de causas de morte por doenças transmissíveis, mais de 78% das mortes foram causadas por doenças transmissíveis em 2000. No entanto, a proporção de causas de morte por doenças não transmissíveis aumentou nestes países em 2016. No Botswana, por exemplo, a percentagem de mortes causadas por doenças transmissíveis tem vindo a diminuir rapidamente, enquanto a proporção de mortes por doenças não transmissíveis aumentou entre 2000 e 2016.
Hoje Macau China / ÁsiaTaxas Alfandegárias | Pequim diz que não vai ceder às pressões dos EUA O Governo chinês afirmou ontem que as tentativas de chantagem e pressão dos Estados Unidos sobre a aplicação de taxas alfandegárias aos produtos chineses “não vão funcionar”. Analistas da Moody’s mostram cepticismo quanto à vontade real de Donald Trump em impor tarifas de 25 por cento sobre as exportações chinesas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] resposta da República Popular da China surge após informações acerca da eventual imposição de taxas sobre produtos chineses num valor que pode alcançar os 200 mil milhões de dólares. “A chantagem e a pressão dos Estados Unidos nunca vai funcionar com a China e se foram tomadas medidas que piorem a situação nós iremos aplicar contra-medidas para que possamos manter os nossos direitos e interesses”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Geng Shuang. “Nós pensamos que os conflitos comerciais devem resolver-se com conversações e negociações. Os nossos esforços e a nossa sinceridade estão à vista de todos”, acrescentou. Fontes próximas da Administração norte-americana indicaram na terça-feira que os Estados Unidos pretendem estabelecer taxas alfandegárias de 25 por cento sobre as exportações chinesas, o que pode vir a totalizar um valor correspondente aos 200 mil milhões de dólares. “O diálogo deveria ter como base a confiança mútua e a igualdade, estabelecendo regras e credibilidade porque as ameaças unilaterais e a pressão são contraproducentes”, frisou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim. Muita parra Segundo notícia veiculada na passada terça-feira pela agência Bloomberg, Pequim e Washington querem retomar o diálogo comercial, depois de semanas de impasse nas negociações para alívio das tensões comerciais. A agência cita fontes segundo as quais estão a ser mantidas conversações privadas entre representantes do Tesouro dos Estados Unidos e do Conselho de Estado chinês, ao mesmo tempo que decorrem negociações na Administração norte-americana para acertar a posição a ser agora adotada pela Casa Branca. Segundo a Bloomberg, Washington estará a tentar obter concessões por parte de Pequim de modo a recuar no propósito. A Moody’s previu que conflito entre os dois países deverá continuar a somar barreiras ao comércio ao longo de todo o ano, antecipando que os EUA podem crescer por causa disso menos 0,25 por cento em 2019, e que a China se arrisca a perder até 0,5 por cento na actividade do próximo ano. A agência de rating acredita que o presidente norte-americano, Donald Trump, não chegará a impor taxas adicionais de 25 por cento às importações de automóveis e partes dos seus parceiros, e que as negociações do tratado de livre comércio da América do Norte, o NAFTA, não resultarão no colapso do bloco. “Estamos à espera de que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China e outros países seja prolongada, com novas medidas comerciais a serem implementadas ao longo de 2018”, indica Elena Duggar, presidente do conselho macroeconómico da Moody’s, em nota publicada esta terça-feira. “Actualmente, pensamos que a disputa comercial ficará aquém da plena implementação das medidas potenciais mais graves anunciadas até aqui, incluindo tarifas sobre todas as importações automóveis dos Estados Unidos ou o colapso do NAFTA”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaDiplomacia | China pede alterações aos nomes dos consulados de Macau e Hong Kong [dropcap style=’circle’] C [/dropcap] onsulado-Geral de Portugal em Macau. Pode ser esta a denominação no futuro lugar de trabalho de Paulo Cunha Alves, caso o Governo de Lisboa aceite um pedido do congénere chinês. O pedido é extensível a todos os países representados em Macau e Hong Kong. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu a todos os países com Consulados-Gerais em Macau e Hong Kong que procedam a alterações nos respectivos nomes. Segundo o pedido do Governo Central, no caso em dos consulados situados em Hong Kong, foi feito o pedido para que a menção a Macau seja removida. Nos casos dos consulados estão situados em Macau, é a denominação de Hong Kong que deve cair da nomenclatura. O pedido do Governo Chinês foi confirmado, ao HM, pelo Gabinete da União Europeia para Hong Kong e Macau. “Confirmamos que houve este pedido. É uma alteração do nome para os consulados, que passam a assumir o nome do país a que pertencem e depois o nome da região onde estão localizados”, afirmou ao HM uma representante do Gabinete da União Europeia para Hong Kong e Macau. “É um pedido processual, não quer dizer que os consulados percam as competências para lidar com os assuntos em Macau, no caso de estarem em Hong Kong e vice-versa. Este pedido é só isto”, acrescentou, admitindo que a mesma solicitação foi feita a vários países. Contudo, as mudanças não vão afectar o Gabinete da União Europeia que, apesar de estar situado no Edifício St. John, em Hong Kong, vai manter a denominação. “O nosso Gabinete não está incluindo na lista de países que receberam este tipo de pedido, por isso, não somos abrangidos”, clarificou a representante do gabinete. Também não houve uma tomada de posição da União Europeia sobre se os países-membros devem aceitar o pedido. O caso português Em relação ao Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, as autoridades portuguesas também receberam um pedido, apurou o HM. A resposta está agora a ser equacionada pelo Governo, que tem como ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Segundo o HM apurou, a questão poderá ser ainda resolvida antes da chegada do novo cônsul, Paulo Cunha Alves, que deverá ocorrer nos finais de Setembro ou princípio de Outubro. Caso a mudança seja aceite, o nome da unidade consular passará a ser Consulado-Geral de Portugal em Macau, uma mudança que é a primeira alteração do nome, desde 1999, após a transição. O HM tentou contactar o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong para obter uma reacção ao pedido, mas não recebeu qualquer resposta até à hora do fecho da edição. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês é a entidade responsável pela acreditação dos consulados estrangeiros nas regiões administrativas especiais.
Hoje Macau China / ÁsiaProtesto | Pais manifestam-se em Pequim após escândalo na indústria farmacêutica [dropcap style=’circle’] D [/dropcap] iversos pais manifestaram-se ontem em Pequim, frente ao Ministério da Saúde, após a polémica das vacinas falsificadas por um laboratório chinês, um facto raro na China. Num país onde as manifestações de protesto são raras, os manifestantes conseguiram concentrar-se na porta do ministério, carregando faixas a pedir sanções por causa do escândalo que eclodiu em meados de Julho, quando foi descoberto um processo de fabricação ilegal de vacinas anti-rábicas. De acordo com vídeos publicados nas redes sociais, os manifestantes exigiram legislação sobre as vacinas. “Deve haver uma lei sobre vacinas”, gritavam. Um jornalista da agência France Presse chegou ao local no final da manhã, mas já não viu nenhum manifestante. A polícia geralmente intervém muito rapidamente durante incidentes desse tipo, dispersando os manifestantes. A descoberta, em Julho, de um processo de fabricação ilegal de vacinas anti-rábicas num laboratório no nordeste do país causou polémica na opinião pública, uma situação que as autoridades não conseguiram travar, apesar de seu rígido controlo da internet e do uso das redes sociais. Uma investigação à farmacêutica confirmou que a empresa falsificou dados e usou materiais com validade expirada na produção, segundo a agência de notícias oficial chinesa. Os responsáveis da farmacêutica tentaram destruir 60 discos rígidos com dados da empresa para eliminar provas, mas a polícia conseguiu recuperar o material informático, indicaram os investigadores. Quinze pessoas foram presas, incluindo o presidente da companhia. Sol e peneira A Changsheng Biotech terá falsificado dados relativos a 113 mil vacinas liofilizadas contra a raiva em humanos, embora o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China tenha estimado só terem sido afectados dois em cada 100 mil inoculados em todo o país. Até agora, não se registaram reacções adversas às vacinas. As autoridades chinesas garantiram que as vacinas defeituosas não deixaram as fábricas de Changchun Changsheng, mas muitos pais dizem que não confiam nas várias vacinas administradas aos seus filhos. O presidente Xi Jinping foi forçado a reagir denunciando as práticas “odiosas e chocantes” da empresa farmacêutica infractora. As autoridades avançaram ainda com uma inspecção nacional aos diversos laboratórios de produção. Embora em muitos países, a raiva esteja erradicada, na China foram registados 516 casos, apesar da incidência da doença tenha diminuído gradualmente ao longo dos anos.