Gabinete de Ligação destaca trabalho do exército nas ruas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presença do Exército de Libertação do Povo Chinês, que desde 1999 não pisava as ruas de Macau, levou o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM a emitir um comunicado onde destaca a parceria entre Pequim e Macau aquando da passagem do tufão Hato pelo território.

O documento lembra que a tempestade causou grandes estragos ao território, uma “grande quantidade de vítimas” e perdas de bens. Os representantes do Gabinete de Ligação afirmam estar tristes pelas perdas registadas, enviando as suas condolências aos familiares dos que partiram, aos feridos e a toda a população.

O organismo mostra ainda o seu respeito para com os cidadãos que ajudaram nos trabalhos de limpeza das ruas.

O porta-voz do Gabinete de Ligação destaca também que foi autorizado o apoio concedido pelo exército chinês aos cidadãos, uma acção que mostra a “ligação entre Macau e o Governo Central”. “A pátria tem sido o apoio ao território”, lê-se ainda no comunicado.

O organismo espera que o território possa voltar à normalidade o mais depressa possível, lembrando a relação próxima que se verificou entre os cidadãos e os militares. Na visão de Pequim, o Exército de Libertação do Povo Chinês é, por isso, “uma tropa excelente em que a população pode confiar”.

“A sociedade de Macau sempre se auxiliou mutuamente. Com o apoio do Governo Central e a liderança da RAEM, caso a população continue a caminhar num sentido de solidariedade, irá ultrapassar de certeza as dificuldades que se registarem após a catástrofe”, remata o comunicado.

28 Ago 2017

Jornalistas barrados | Secretário e AIPIM com visões distintas

Foi proibida a entrada de quatro jornalistas de Hong Kong em Macau. O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirma que o procedimento nada tem que ver com a profissão enquanto a Associação de Imprensa em Português e Inglês “lamenta profundamente” tal decisão das autoridades e diz que “prejudica a imagem” do território

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proibição de entrada no território nada tem que ver com a profissão exercida e é uma questão de segurança pública. A ideia foi deixada ontem, em conferência de imprensa pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. “Ninguém gostaria de ter a sua entrada proibida no território independentemente da sua profissão e não estamos concentrados numa só profissão”, disse o secretário.

Em causa está a proibição de entrada em Macau de quatro jornalistas de Hong Kong, no passado sábado. Wong Sio Chak salientou ainda que foi executada a lei e que se foram impedidos de entrar foi porque ameaçavam a segurança pública. No entanto, as razões que levam a que estes jornalistas representem uma ameaça não foram esclarecidas. “São casos confidenciais e que não podem ser divulgados o que também é conforme a lei”, apontou o secretário.

Má imagem

Já a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) disse ontem que “lamenta profundamente” a decisão das autoridades locais de recusar entrada a quatro jornalistas de Hong Kong, considerando que tal “prejudica a imagem” da cidade.

Num comunicado, a AIPIM “considera incompreensíveis e insatisfatórias as justificações dadas pelas autoridades locais para a decisão, e alerta que esta atitude, tal como outras semelhantes no passado, prejudica a imagem internacional da RAEM no que toca ao respeito pela liberdade de imprensa”.

A proibição de entrada dos quatro profissionais da região vizinha, que desejavam fazer reportagens sobre o impacto do tufão Hato, foi noticiada no sábado pelo South China Morning Post (SCMP), que dava conta que um deles era um dos seus fotógrafos. Segundo o jornal, Félix Wong recebeu uma declaração escrita dos Serviços de Migração de Macau, referindo que “representa um risco para a estabilidade da segurança interna” de Macau.

Noutro comunicado conjunto, a Associação de Jornalistas de Hong Kong e a Associação de Fotojornalistas de Hong Kong lamentaram igualmente o incidente e instaram Macau a respeitar a liberdade de imprensa.

De acordo com o SCMP, as duas associações defenderam que Macau tem uma política de imigração arbitrariamente restritiva e que vários jornalistas de Hong Kong foram impedidos de entrar na cidade nos últimos anos.

Questionado sobre o assunto numa conferência de imprensa no dia em que os jornalistas foram barrados, Ma Io Kun, coordenador do Centro de Operações da Protecção Civil (COPC) de Macau, admitiu que houve pessoas que foram impedidas de entrar na cidade, mas não confirmou que tivessem sido os jornalistas.

“Em princípio, proibimos a entrada de pessoas que possam causar perigo à ordem pública e à ordem da sociedade. É de acordo com a lei que proibimos a entrada dessas pessoas”, disse, sublinhando não saber se os ‘barrados’ eram ou não jornalistas.

28 Ago 2017

Da revisão

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap] de repente um tipo chega ao final de um romance. A disposição que acompanha o término desse processo maratónico é, normalmente, o alívio. Erradamente, o sujeito pensa: “acabou”. Mas, na verdade, o processo mais penoso começa precisamente nesse momento.

Um dos passos mais desmotivadores – e, simultaneamente, mais profícuos – que sucedem à finalização de um romance é a releitura do mesmo. As múltiplas releituras. Um tipo começa a reler o resultado de meses ou de anos de escrita e o desalento com que embarca no processo só tem tendência a aumentar exponencialmente. Um sujeito confronta-se com sua própria ininteligibilidade, com imagens que, na altura em que foram escritas, pareciam veicular adequadamente um sentido essencial de forma sucinta e esteticamente apelativa. Na verdade, muitos dos exercícios de estilo semeados um pouco por toda a parte não sobrevivem a uma releitura. São toscos, óbvios, desenquadrados do propósito macroscópico do livro. Ao invés de simplificarem elegantemente um pensamento ou uma disposição, complicam-nos. São artifícios atrás dos quais os escritores se escondem e escondem as suas inúmeras inseguranças. São a grandiloquência estéril que se empresta à literatura na tentativa espúria de ser algo mais ou algo diferente. Felizmente, muitos deles não sobrevivem.

Depois de duas ou três releituras enjoativas como uma viagem de cacilheiro nos piores dias do Tejo e de ressaca, o livro segue para revisão na editora. E um sujeito, ingenuamente convencido de que o grosso da escória já foi devidamente joeirado, vê aterrar na caixa de correio electrónica a primeira prova de revisão, normalmente tão carregada de sugestões de mudança, correcção de gralhas e perguntas sobre o sentido de muitas das imagens sobreviventes que a vontade de publicar decresce de forma tão acentuada como a disposição de um depressivo no pico do outono. Após uns dias a fingir que não viu o mail, o sujeito atira-se ao texto e tenta responder adequadamente aos problemas que o revisor enuncia.

Na segunda ou terceira revisões, um tipo já dá por si a concordar ou a discordar de tudo. Quando inquirido sobre a formulação de uma determinada imagem, acontece-lhe explicar a coisa tal qual como a deveria ter escrito em primeira instância. Mas não lhe ocorre substituir a imagem coxa pela explicação acertada. Está demasiado embrenhado na defesa da sua primeira versão para lograr ter a lucidez necessária para mudar o que quer que seja. Na verdade, o escritor encara a revisão como um combate. De um lado, ele e o seu trabalho, de outro, alguém que está empenhado em mostra-lhe todos os defeitos que encontra naquele produto de meses ou anos de teimosia: as rugas, o crescimento desarmonioso dos membros, as múltiplas imperfeições de que se reveste o resultado de um processo desta natureza.

Quando finalmente o suplício termina, o escritor, não raramente se sente derrotado. Pela revisão, pelo tipo de fonte escolhida para o corpo do texto, pelo título menos mau sobre o qual toda a gente teve de chegar a acordo, pelo acabamento da capa, pela data de publicação, pela influência do clima mediterrânico no cultivo industrial de pinheiros nórdicos. Por tudo, na verdade.

Quando, anos mais tarde, um fotógrafo insiste em que o sujeito apareça no enquadramento com o livro sobre os braços, há todo um passado cujo escondimento resultou de muito esforço que volta à tona para assombrar um tipo. E a gente percebe, pela fotografia resultante, que alguma coisa não está bem. Toda a gente já viu fotos assim.

28 Ago 2017

Cronologias

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]embro-me desde sempre perguntar como é que o tempo altera o olhar para o que é visto. Senti sempre uma enorme dificuldade em percebê-lo, não apenas em mim, mas no exterior. Sempre tive a convicção de que o tempo altera o ponto de vista e que era por causa dessa alteração que sentia a perplexidade da mudança.

Como é que, porém, nos apercebemos da alteração no ponto de vista, pressupondo que o ponto de vista se altera com o tempo? Se recordarmos Agosto de um ano passado e compararmos com Agosto de um ano seguinte, podemos não apurar nenhuma diferença. Pode, pelo menos, não haver nenhuma diferença na realidade. É na mesma toalha que nos deitamos de costas para olhar o céu azul, é idêntica a temperatura que sentimos. O som de vozes das pessoas na praia, das ondas lá ao fundo, da cigarra, do vento, tudo é o mesmo. Porém, tudo mudou.

Em que sentido? A realidade é a mesma, com a diferença de entre Agosto de um ano passado e um Agosto de um ano seguinte haver passado anos. Houve experiências tidas. O tempo trabalha-nos do seu interior para o seu exterior. O núcleo duro do tempo não é um espaço recôndito, mínimo, mas é o trânsito, a passagem, a sequência irreversível em qualquer breve lapso de si. Amanhecer, entardecer, anoitecer, arrefecer, aquecer, chegar e partir, tudo requer tempo e não acontece sem tempo. Mas também ter uma ideia e não ter nenhuma, esquecer e lembrar, sentir e não sentir, ter uma percepção e não ter percepção, compreender e não compreender nada. Tudo é exterior e interior ao tempo. O mundo interior é tão exterior ao tempo como o mundo exterior só acontece na breve distensão do tempo que requer para poder durar.

Mas o mundo parece o mesmo. Esta perspectiva a abrir, neste sítio, com a mesma latitude e longitude, para a mesma percepção, tem o mesmo conteúdo: o céu azul de Agosto na praia. E, contudo, há mudança. Partiram pessoas e chegaram outras, aprofundou-se ou perdeu-se fundo nas relações humanas, progredimos ou regredimos no desporto, nas actividades a que nos dedicamos. Tudo é diferente.

Há menos tempo do que no ano passado. Na mesma percepção tenho a noção de tempo, embora não surja ao olhar. O mesmo sítio com menos um ano ou o mesmo sítio com um ano de diferença não é o mesmo sítio. O sítio tem a mesma localização geográfica e é em mim que vejo o mundo, mas não tem o mesmo tempo. O ano passado foi-se na enxurrada do tempo, no cataclismo do tempo que leva o instante de há pouco para um tempo irrecuperável pelo presente. O ano passado foi-se e não voltará nunca mais.

Esta noção de que um sítio tem um tempo e o mesmo sítio é diferente em tempos diferentes e que o mesmo sítio este ano e no ano passado são sítios diferentes, esta diferença, é esbatida. Não estou no ano passado e no ano passado, quando estava aqui, não estava no seu futuro passado que só agora, este ano, existe. Eu sou outro. O outro que eu era no ano passado morreu e não volta e o eu que sou agora estava ainda por nascer outrora, como a minha versão de 2018 não está presente ainda e quando estiver, agora será outrora, eu já não estarei aqui no presente como estou agora, mas serei outro no aqui e agora, que terá passado.

O tempo trabalha-nos extaticamente a partir do seu interior, um interior ao qual somos extrínsecos mas fora do qual nada existe. E tudo está continuamente a ser trabalhado entre o agora mesmo aqui que será há pouco mas já sem ser agora e não é ainda daqui a nada, sendo-o já de alguma maneira.

Lembro-me de chegar a cidades onde vivi e delas partir e regressar vezes sem conta para novas fases da vida nelas. Lembro-me de chegar a locais para férias e de os deixar como me lembro de deixar Lisboa para trás e a reencontrar no fim do Verão. A realidade pode ser sempre a mesma, os mesmos sítios, as mesmas casas e a mesma mobília. Pode não haver perceptibilidade da mudança e, mesmo que a mudança tenha ocorrido, é como se não se tivesse dado. Mas tudo muda de um instante para o outro. A vida transforma tudo, diferencia tudo de um momento para o outro e a travessia dos momentos é compreendida como boa e má, curta ou longa, por cuja passagem damos ou não damos.

Com os olhos postos nas traseiras, no lado que veremos depois de dobrada a esquina, no interior de edifícios que vemos de fora ou no seu exterior, visto de dentro, com os olhos postos sempre no instante seguinte, traga ou não novidade, seja o mesmo confirmado ou defraudado, o tempo futuro acama o presente e sustenta um passado como o mesmo ou como completamente diferente.

É quase indiferente que tudo seja fotograficamente o mesmo ou diferente. A diferença está numa dimensão invisível, anónima o mais das vezes, mas que transfigura e metamorfoseia tudo.

Quando partimos a sul, deslocamo-nos e não viajamos já. Não regressamos nunca ao passado e o que encontramos é sempre a mesma coisa, como se não tivéssemos saído do mesmo sítio onde nos encontramos.

Mas há momentos em que somos surpreendidos pelas paredes das nossas casas, nas divisões que mais habitamos, como se delas exalasse uma névoa ou uma brisa despegada da realidade concreta da cor e da sua lisura. Uma névoa temporal que forma o ambiente e a atmosfera que são os próprios elementos da percepção. Somos transportados para a infância ou a juventude, como se o tempo lá fora fosse o do calendário e o tempo cá dentro tivesse uma outra agenda, sem tempo havido, e o tempo presente é o passado, sem futuro ou então com o mesmo sentido do passado cristalizado onde um dia fomos.

Aí percebemos que tudo aí fora pode ser o mesmo. Que a vida é o clima complexo onde caímos. Assola-nos, paira sobre nós ou embrulha-nos como num sonho impermeável onde as vidas dos outros são sonhadas como as nossas. Não se sabem por quem ou pelo quê.

28 Ago 2017

Novo Macau questiona a actuação do Executivo ao tufão Hato

A Associação Novo Macau critíca a forma como o Governo respondeu ao desastre natural que varreu a cidade na passada quarta-feira. Desde a falta de sinalização de alertas dos serviços de meteorologia, passando pelos cortes de água e energia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pró-democratas mostraram indignação contra as situações caóticas que a cidade viveu. O comunicado da Novo Macau critíca a forma como o Governo não dispõe de electricidade extra suficiente para dar resposta às necessidades energéticas do território. Como tal, os pró-democratas pediram responsabilidades ao Executivo e propostas de melhorias para serem avaliadas pela população.

Outros dos agravos da Novo Macau prende-se com a falta de planos de prevenção para as inundações, verificando-se constantemente a mesma situação em caso de chuvas fortes ou tufões.

De acordo com os pró-democratas, é necessário proceder à melhoria das redes de drenagem de forma a evitar o sucedido na passada quarta-feira, como tal, pediram medidas concretas ao Executivo para dar resposta ao problema das inundações.

Em termos de responsabilização, a Associação Novo Macau pergunta ao Governo que compensação será prestada aos comerciantes e donos de veículos afectados pela passagem do Hato.

Dependência energética

Fong Soi Kun, director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), vai passar à reforma depois de Macau ter sido violentamente fustigado pelo tufão Hato. Uma das associações que exigiu a responsabilização e demissão do responsável pelos serviços foi a Novo Macau, que emitiu um comunicado onde teceu várias críticas às autoridades no tratamento do desastre natural.

Depois de prestar condolências às famílias das vítimas mortais, o comunicado da associação queixou-se do timming com que foram emitidos os alertas da SMG. Em questão está a falta de decisão dos serviços em elevar o grau de alerta, que em apenas duas horas e meia chegou ao 10, o máximo para tufões. Os pró-democratas entendem que este curto lapso de tempo apanhou muitos residentes desprevenidos, nomeadamente para os moradores do Porto Interior e zonas baixas da cidade.

Outra das queixas da Novo Macau prende-se com o abastecimento de electricidade, água e o fornecimento de telecomunicações que foram afectados pelo tufão.

A associação entende que o Governo de Macau tem uma forte dependência da energia produzida no Interior da China e que essa é a principal razão para o corte de electricidade depois do tufão. É de salientar que uma das centrais de produção energética, situada em Zhuhai, que fornece a rede de Macau sofreu danos severos com a passagem do tufão.

25 Ago 2017

Chui Sai On aceita demissão de  director dos Serviços de Meteorologia

O “Hato” passou e arrasou. O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), Fong Soi Kun, apresentou a demissão e Chui Sai On aprovou a decisão. O Chefe do Executivo considera que é altura de avaliar o sucedido e não adianta planos para situações idênticas futuras. Para já, há dinheiro para apoiar as vítimas e ajudar na recuperação dos estragos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director dos serviços de Meteorologia e Geofísica demitiu-se ontem. “O director pediu a demissão e eu aprovei”, referiu o Chefe do Executivo, no final do dia de ontem, em conferência de imprensa.

Depois do silêncio, e ainda assim sem se dirigir à população, teve lugar um encontro com os jornalistas, que contou com a representação de todo o Governo e a presença de Chui Sai On.

Quanto ao futuro do responsável pelo SMG, a probabilidade é que venha a reformar-se. A informação foi adiantada pela secretária para Administração e Justiça, Sónia Chan. Um processo disciplinar relativo ao um possível içar tardio do sinal 8, ainda não é certo, sendo que, afirmou a secretária, “este é um procedimento que só pode vir a ter lugar, ou não, após finalizado todo o processo relativo à demissão de Fong Soi Kun”.

Chui Sai On fez ainda questão de referir que, não tendo visitado as áreas mais atingidas pelo “Hato”, esteve sempre em contacto com o Centro de Operações da Protecção Civil, e de alguma forma, “em contacto com todos”, pois, sublinhou, não discrimina ninguém na sociedade local.

Já o secretário Alexis Tam deslocou-se ontem ao Bairro do Fai Chi Kei para visitar os idosos, os residentes do Bairro da Ilha Verde e o pessoal de acção social.

Calamidade só ao sinal 8

No que respeita a um eventual estado de calamidade ou de emergência a ter lugar no território, no dia seguinte à passagem do tufão que atingiu o sinal 10 e que deixou o território num estado caótico, Chui Sai On limitou-se a referir que o estado de calamidade foi levantado ao içar do sinal oito, na quarta-feira, às nove da manhã.

O espírito de entreajuda no território sensibilizou o Chefe do Executivo que garantiu “envidar esforços para que volte tudo ao normal”.

O choque parece ter sido muito, mas as acções e planos em situação idêntica no futuro ainda não estão definidos, sendo que agora “é necessário fazer um balanço alargado do que se passou com a passagem do “Hato” pelo território”, disse o Chefe do Executivo.

Sem grandes medidas para uma futura ocorrência, visto ser tempo de balanço, Chui Sai On adiantou que serão reforçados os mecanismos de alerta e de divulgação de notícias de modo a que no futuro exista um maior trabalho de prevenção”.

Toma lá dinheiro

No total são cerca de 1,35 mil milhões de patacas que vão ser disponibilizadas pela Fundação Macau. O objectivo é apoiar as vítimas do tufão “Hato” em dois sentidos.

Uma parte dos fundos é destinados a ajudar residentes e famílias das vítimas para que possam recuperar gradualmente dos danos sofridos.

Para as famílias que ficaram sem os seus entes próximos, a Fundação Macau vai dar 300 mil patacas. Já os residentes, vão ter acesso a  um súbsidio de duas mil patacas para ajudar nos gastos extra. O montante será deduzido nas contas de água e de luz.

Para as despesas com janelas partidas, a Fundação Macau vai disponibilizar até 30 mil patacas por arranjo. O objectivo, afirmou ontem o representante da Fundação Macau presente na conferência de imprensa, “é ajudar nas despesas extra que a população pode estar a ter”.

Para os feridos, que já ultrapassam os 200, as despesas médicas serão cobertas pelo mesmo fundo. No total, e até ao fecho da edição, há oito mortos e 244 feridos.

Por outro lado, a Fundação Macau, dada a escassez de água à venda no território e a falta de água em casa, está a fazer uma campanha junto da comunidade. “Já foram recolhidas cerca de 100 mil garrafas de água que podem ser distribuídas e esperamos que a Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau consiga restabelecer o fornecimento o mais brevemente possível”, disse o responsável.

Os residentes que reúnem as condições para solicitar os subsídios poderão formular o seu pedido pessoalmente no balcão de atendimento da Fundação Macau.

Já a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) vai apoiar as pequenas e médias empresas. Tal como a Fundação Macau, os apoios são dados em duas vertentes. Para as pequenas e médias empresas vão ser dados empréstimos de 600 mil patacas sem juros enquanto que vendilhões e titulares de veículos comerciais vão ter acesso a um subsídio. No total vai ser disponibilizado um montante de 2,3 mil milhões e patacas.

Com os preços a inflaccionarem nos supermercados de Macau, o representante da DSE, presente no encontro de ontem, garantiu que vão ser feitas inspecções de modo a “garantir a estabilidade”.

Trinta em risco

Para já e em risco eminente, estão 30 construções. “Há 30 casos que têm de ser resolvidos imediatamente”, disse ontem o director das Obras Públicas, Li Cengfei. A informação é dada após terem sido feitas várias inspecções do estado dos edifícios danificados pelo “Hato”. Em causa estão as estruturas que apresentam risco de queda de objectos suspensos. A prioridade no tratamento destes casos vai ser definida em conjunto com o Centro de Protecção Civil.

Já o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, garantiu que a prestação dos cuidados mínimos não esteve em risco nos hospitais do território. No enatnto, e de acordo com o responsável, “houve falta de água em alguns centros de saúde, mas continuaram a manter serviços mínimos”, disse.

Lei Chin Ion apelou ainda a uma maior preocupação com a higiene por parte da população apesar da falta de água no território. Para Lei Chin Ion, e de modo a prevenir o alastrar de doenças associadas ao lixo e à falta de higiene, as pessoas têm, mesmo sem água, de ter atenção aos cuidados de limpeza pessoal da melhor forma possível. O conselho, deixou, “é usar toalhetes quando não existir água”. Essa ainda não tem data para estar acessível à totalidade da população. Mais de metade do território é abastecido pela estação de tratamento da Ilha Verde que sofreu sérios danos com a passagem do “Hato”. A responsável pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), Susana Wong, afirmou que os arranjos da estação poderiam estar concluidos na passada madrugada, por volta da meia-noite sendo que após estes reparos, o fornecimento de água vai ser retomado gradualmente em todo o território.

25 Ago 2017

Lionel Leong | Bens essenciais não vão faltar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças de Macau assegurou ontem que os bens essenciais não vão faltar no território, na sequência da passagem do tufão Hato que causou pelo menos nove mortos, 594 incidentes e 244 feridos.

Lionel Leong Vai Tac, que falava aos jornalistas à chegada de uma deslocação oficial a Pequim, sublinhou que a Direcção dos Serviços de Economia vai realizar ações de fiscalização para “garantir o abastecimento dos bens essenciais para a vida quotidiana da população e a estabilidade dos preços” de alimentos e combustíveis.

Para isto, o responsável disse que o Ministério do Comércio chinês comprometeu-se a garantir “o abastecimento estável a Macau” dos bens essenciais à vida da população, num encontro na quarta-feira.

Leong Vai Tac manifestou “profundo pesar” pelas vítimas do Hato e solidariedade com os familiares e a população em geral, destacando a necessidade de a vida em Macau regressar “à normalidade” o mais depressa possível.

O secretário lembrou que a direção dos serviços de Economia, a direção dos serviços de Finanças, a Autoridade Monetária de Macau, o Conselho de Consumidores, a direção dos serviços para os Assuntos Laborais, a direção de Inspecção e Coordenação de Jogos, o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, entre outros departamentos, vão efetuar “avaliações sobre o impacto provocado pelo tufão”.

Cada um destes departamentos accionou “trabalhos relacionados, tais como lançamento de várias medidas de apoio, acompanhamento dos assuntos de indemnizações pelo seguro, investigação dos preços dos produtos, inspecção às acções desenvolvidas em torno da segurança e saúde ocupacional”, reiterou.

Leong Vai Tac lembrou as medidas já apresentadas pelo Governo para ajudar as micro, pequenas e médias empresas (PME) afetadas pelo tufão, vendedores ambulantes e titulares de veículos comerciais e trabalhadores por conta própria.

O Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) lançou dois tipos de programas: o “Plano de apoio especial às PME afectadas pelo tufão Hato”, através do qual oferece um empréstimo sem juros no montante máximo de 600 mil patacas e as “Medidas de Abono” que garantem uma verba cujo limite é de 30 mil patacas, para responder a situações de emergência.

Os dois planos referidos tem um valor total de 2,6 mil milhões de patacas.

O secretário acrescentou que os casinos forçados a suspender as operações devido à falta de água e electricidade “também serão apoiados”, situação cujo acompanhamento cabe à direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos.

“Neste momento, a prioridade é ajudar a população a regressar à normalidade o mais breve possível”, frisou.

25 Ago 2017

Tufão Hato: Serviços públicos também foram afectados

Nem todos os departamentos públicos do Governo escaparam aos estragos causados pelo tufão Hato. Instituto de Acção Social, Fundo de Segurança Social e alguns departamentos da tutela da Economia e Finanças tiveram de suspender os serviços

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar da Função Pública ter regressado ao trabalho ontem, bem como a maioria dos serviços no sector privado, houve alguns estragos que obrigaram muitos serviços a fechar portas.

Dois centros de acção social do Instituto de Acção Social (IAS), localizados na zona norte e na zona central “estão fechados para que se procedam às respectivas acções de reparação urgente e de arrumação”.

Vários balcões de contas individuais de previdências do Fundo de Segurança Social (FSS), localizados em vários pontos do território, também estiveram de portas fechadas. “Os cidadãos devem ter atenção até novos avisos”, refere-se em comunicado.

Na tutela da Economia e Finanças, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) prestou, “de forma limitada” alguns serviços, tendo sido “normal o atendimento ao público em todos os postos de serviços”.

Contudo, “como o servidor para computadores está avariado, todo o serviço informativo não consegue ser prestado normalmente, incluindo a website da DSAL”.

Além disso, “todas as programações de cursos de formação para obtenção do cartão de segurança e saúde ocupacional e dos respectivos exames, bem como dos cursos e exames ligados à formação profissional e à certificação foram canceladas”. A DSAL não tem ainda uma data definida para a sua realização.

“Nas instalações do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), sitas no World Trade Center, alguns dos serviços por ele prestados foram também afectados”, aponta o mesmo comunicado.

“Devido à avaria da rede informática, os serviços de declaração alfandegária via internet foram também afectados”, estando o serviço disponível apenas via telefone.

A DSE, a Direcção dos Serviços de Finanças, Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos ou o gabinete de apoio ao Fórum Macau, incluindo outros cinco departamentos tutelados pelo secretário Lionel Leong, não foram afectados.

24 Ago 2017

AL | Faltam assessores jurídicos e intérpretes no apoio aos trabalhos legislativos

Apesar de a Assembleia Legislativa contar com mais de duas dezenas de juristas nos seus quadros de assessoria, a aproximação de prazos para entrega de diplomas, ou pareceres, pode levar a que se passem fins-de-semana a trabalhar a contra-relógio. A situação dos tradutores é também de sobrecarga

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o princípio da Assembleia Legislativa (AL) nem havia assessores no auxílio dos trabalhos dos deputados. A coisa ia-se fazendo, em grande parte graças à composição do hemiciclo recheado de juristas de renome. “Quando entrei em 1984, e ao longo da primeira legislatura, não havia qualquer assessor jurídico ou da área da economia, nada”, recorda Leonel Alves. No entanto, o histórico deputado e advogado lembra que se trabalhava bem. “Tínhamos na AL um grande presidente, o Dr. Carlos Assumpção, jurista de primeira água, assim como outros deputados juristas, designadamente o Dr. Neto Valente. No fundo, tínhamos pessoal de primeira linha que dava conta do recado”, conclui.

Muita coisa mudou nas últimas mais de três décadas. A RAEM nasceu, os cofres do Governo encheram-se e a composição do órgão legislativo alterou-se.

Hoje em dia, a AL tem na sua composição 33 deputados e ao longo do processo legislativo os pareceres foram ganhando um peso de interpretação legal que antes não tinham.

“Na altura em que estamos a preparar os pareceres, passamos aqui os fins-de-semana fechados porque temos um prazo muito curto para elaborar e traduzir os documentos”, conta uma fonte da assessoria jurídica ao HM.

Segundo o relato do técnico, as noitadas e os fins-de-semana de intensa labuta são frequentes, principalmente quando se ultimam pareceres das comissões permanentes.

Outra das circunstâncias que eleva o volume de trabalho é o curto espaço de tempo que os assessores têm para analisar as propostas de lei. “Temos de dar a nossa opinião na primeira reunião e nesse curto período recolhemos material e estudamos alguns assuntos com que, por vezes, não estamos familiarizados”, contextualiza a fonte da assessoria, que ainda assim encara com normalidade a forma como a AL funciona neste domínio.

“Há quatro anos atrás, quando trabalhámos na lei das terras, na legislação de salvaguarda do património e no processo penal isto foi uma loucura, foi mesmo até ao fim, todos os tradutores e juristas a trabalhar”, conta o assessor. Este ano a azáfama foi apenas para alguns colegas, apesar de “a pressão do fim da legislatura ser sempre um período complicado”.

Evolução das coisas

Leonel Alves conhece, talvez como ninguém, a forma como a AL funciona, “onde o elo mais fraco é o dos juristas”. O apoio técnico é fundamental nas operações legislativas e de fiscalização do Executivo. “Quanto maior for essa complementaridade melhor ou mais profícuo será para os trabalhos da AL”, explica o ainda deputado.

Se na primeira legislatura não havia assessoria, ao longo da segunda, assim que houve alguma folga em termos orçamentais, começou a pensar-se em contratar assessores jurídicos e da área económica. Um trabalho essencial no auxílio das funções dos deputados, especialmente daqueles sem formação jurídica.

Os anos foram passando e o quadro de pessoal de assessoria foi crescendo, numa primeira fase só com assessores portugueses e depois, por iniciativa de Leonel Alves enquanto secretário da Mesa da AL, foram admitidos juristas de matriz chinesa. Este apoio foi ganhando um importância crescente, principalmente no que diz respeito ao auxílio às comissões permanentes, passando os assessores a fazer os relatórios das comissões.

Tendo em conta o contexto do dinheiro que o órgão legislativo tem à sua disposição, uma visão histórica demonstra que os orçamentos têm vindo a crescer mas, ainda assim, representam uma parcela pequena face aos gastos globais anuais do Governo de Macau. Ao longo da sessão legislativa de 2002, a AL funcionou com um orçamento de 57 milhões de patacas. Em 2008, cresceu para 76,14 milhões.

No ano passado, o orçamento corrigido da AL foi de quase 189,5 milhões de patacas. Apesar do aumento considerável, esta quantia representa apenas 0,22 por cento do orçamento revisto do total da despesa integrada do Governo, como se lê no relatório de actividades da AL da 3ª sessão legislativa da V legislatura.

José Pereira Coutinho já se havia referido a esta questão, referindo que o dinheiro que a AL dispõe “é muito pouco comparando com qualquer outro serviço público”. O deputado contou que os assessores e intérpretes da assembleia “não têm mãos a medir para a quantidade de trabalho”, acrescentando que “se alguns deles saírem, a quebra é drástica”.

Em termos orçamentais, também Leonel Alves acha que a AL deveria ter mais dinheiro, chegando a dizer, com humor, que “o orçamento até devia ser, entre aspas, ilimitado”.

Perdas irreparáveis

Neste momento, a AL funciona com sete grupos de trabalhos de assessoria jurídica, dois dos quais não têm nenhum jurista português. No final de 2015, uma jurista portuguesa abandonou a AL para regressar a Portugal, sem ter sido substituída. Apesar de alguns assessores chineses ter estudado Direito em universidades portuguesas, as subtilezas e conceitos da linguagem técnico-jurídica é de difícil apreensão, mesmo para portugueses pouco versados em Direito.

Este facto tem levado a redacções pobres de legislação. Leonel Alves destaca, neste capítulo, a lei das partes comuns dos edifícios em propriedade horizontal, sendo que “a lei de protecção dos animais ainda foi pior, com artigos que são totalmente ilegíveis”. “A lei de terras tem artigos que já li cinquenta vezes e que continuo sem perceber. Estes problemas ocorrem, normalmente, quando nos grupos de trabalho não consta nenhum elemento de matriz portuguesa”, explica Leonel Alves.

Apesar de há cerca de ano e meio a AL ter contratado quatro juristas novos que tiraram o curso em Portugal, de acordo com a fonte próxima da assessoria técnica, são pessoas ainda muito novas, obviamente sem a experiência dos assessores mais velhos. A formação faz-se a trabalhar. O assessor que falou com o HM revelou que o número de pessoal não é o problema, mas “se calhar, o que falta são pessoas com mais experiência”.

Quarto elemento

Outro dos detalhes que poderia ajudar ao melhor fluxo dos trabalhos da AL seria a criação de uma quarta comissão permanente. De momento, os grupos de assessoria são sete, apenas para três comissões permanentes. “Para não acumularem tanto as leis, talvez fosse melhor haver mais uma comissão permanente”, teoriza o técnico. Apesar do número de deputados ter aumentado, as comissões permanentes continuam a ser três. Durante a sessão legislativa do ano passado foram realizadas 154 reuniões das comissões permanentes da AL.

Neste momento, uma comissão tem em média nove elementos. “Se não houver muito para apreciar, as três comissões podem dar vazão aos trabalhos, mas se houver um grande incremento de propostas e projectos de lei, creio que mais uma comissão permanente seria benéfico”, considera Leonel Alves.

A questão do fluxo de trabalho agiganta-se na parte dos intérpretes. “Talvez a nível de tradutores o volume de tarefas seja ainda mais difícil, porque para além do trabalho legislativo têm as interpelações e intervenções antes da ordem do dia para traduzir”, conta a fonte ao HM.

Importa aqui referir que ao longo da sessão legislativa do ano transacto os tradutores da AL trabalharam em 264 intervenções antes da ordem do dia. No campo das interpelações, tiveram de traduzir 619 escritas e 61 orais, num ano em que foram aprovadas nove leis e uma resolução, num universo de 11 propostas de lei e quatro projectos.

Em termos de iniciativa legislativa, as propostas suplantam os projectos, ou seja, o Governo propõe mais legislação do que a assembleia. Neste aspecto, Leonel Alves acha que “se cada uma das comissões ficasse incumbida de fazer um projecto de lei por legislatura já não era mau”. O deputado lembra ainda que é necessário que “não esqueçamos que a AL tem fundamentalmente uma missão legislativa”.

Porém, legislar é um processo complexo que implica uma visão integrada de todo o ordenamento jurídico. “Legislar não é só carregar no botão do aprovar, abster-se ou votar contra. É preciso ter massa crítica, conhecer a realidade de Macau, conhecer o seu ordenamento jurídico. É todo um conjunto de tarefas importantes onde, a meu ver, a assessoria jurídica tem um papel fundamental”, considera o histórico deputado.

23 Ago 2017

Forças de Segurança | Comissão de fiscalização precisa de se dar a conhecer

A Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança já existe há 12 anos, no entanto o seu trabalho ainda é considerado desconhecido, afirma Leong Veng Chai. Já o presidente do organismo, Leonel Alves considera que há questões mais complexas para resolver, sendo que a falta de funcionários é uma delas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s acções da Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança não são satisfatórias. A ideia foi deixada pelo deputado Leong Veng Chai ao HM, em reacção ao caso dos dois agentes da Polícia de Segurança Pública detidos por corrupção. Na base da condenação esteve o auxílio à entrada ilegal de pessoas no território.

Para Leong Veng Chai, a falta de eficácia da comissão deve-se à fraca adesão por parte dos cidadãos. A população, considera, ainda não sabe que pode recorrer a este organismo para apresentar as suas queixas. “Há ainda pouca informação relativamente à comissão que tem como função receber as queixas da população, sendo que a responsabilidade é do Governo”, disse ao HM.  Para o deputado, a promoção da comissão por parte do Executivo é “insuficiente”.

Leong Veng Chai aponta que a solução para o problema passaria pela representação, dentro do organismo, das várias faixas da sociedade.

Um caso de pesar

Leonel Alves, presidente da Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança, falou ao Jornal Ou Mun do desgosto que sentiu com os casos de corrupção policial recentemente divulgados, sendo que ressalvou o papel da comissão no que respeita aos esforços postos no desenvolvimento das competências que lhes são associadas. O ainda deputado referiu ainda à mesma fonte que “leva tempo a atingir os objectivos”.

De acordo com as declarações de Leonel Alves ao jornal Ou Mun, a detenção dos dois agentes da autoridade é “fruto de influência geral do ambiente económico e da sociedade”.

No âmbito da Comissão de Fiscalização da Disciplina das Forças e Serviços de Segurança, Leonel Alves contou que, ao longo do tempo, a comissão tem assumido os trabalhos de fiscalização e, além de receber queixas dos cidadãos sobre o pessoal das forças de segurança, tem apostado na divulgação dos relatórios e opiniões referentes à investigação disciplinar.

Participar mais

O responsável disse ainda que a estrutura da comissão bem como as suas funções já estão em funcionamento há 12 anos, sendo que, apontou, tem mantido a comunicação com as entidades competentes para alargar os poderes da comissão. O objectivo, disse, é garantir a participação nos processos de investigação. O presidente espera ainda que o organismo tenha o direito de estar presente nas audiências. Conseguir isto é, para Leonel Alves “um grande avanço”.

O responsável admite, no entanto, que não será fácil, uma vez que a comissão tem um número muito reduzido de funcionários.

Leonel Alves frisou ainda que há questões relativas a alterações à estrutura do organismo e à própria legislação. No entanto, e apesar dos diversos obstáculos, afirma que vai continuar a manter contacto com os serviços competentes.

Quanto aos trabalhos de combate aos crimes cometidos pelos agentes policiais, Leonel Alves sugere que sejam depositados mais esforços na área da educação e espera que a Comissão possa colaborar com a Escola Superior das Forças de Segurança de Macau na realização de palestras.

Foram detidos, no domingo, por suspeita de envolvimento num esquema de entrada e saída de imigrantes ilegais do território, dois agentes, do Departamento de Migração da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Os agentes, com 29 e 32 anos, terão alegadamente recebido subornos de, pelo menos, 300.000 dólares de Hong Kong, afirmou fonte da PJ.

As detenções aconteceram no Posto Fronteiriço do Cotai na madrugada de domingo pela PJ, com a ajuda da PSP, tendo sido também detida uma residente de Macau, de 33 anos, num apartamento na Taipa, por alegado envolvimento no caso, indicou a mesma fonte.

Segundo a investigação da PJ, que teve início em Junho, os dois agentes dos Serviços de Migração proporcionariam a entrada ou saída de imigrantes ilegais, de carro, através do Posto Fronteiriço do Cotai quando um deles se encontrasse de serviço. Tal sucedia na sequência de telefonemas de imigrantes ilegais para um dos agentes – apontado pela PJ como cérebro da operação – ou para a mulher suspeita de envolvimento na mesma rede.

23 Ago 2017

Eleições | Eilo Yu  não prevê grandes mudanças nestas eleições

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] académico da Universidade de Macau (UM) não considera que as eleições do próximo dia 17 de Setembro tragam grandes novidades à composição da Assembleia Legislativa (AL).

Eilo Yu não prevê que se registe uma grande diferença em relação ao acto eleitoral de 2013. O docente acrescentou ao Jornal Ou Mun, que não considera que os novos candidatos tenham capacidade suficiente para desafiar as posições já estabelecidas das candidaturas tradicionais.

Em relação à saída de alguns deputados com história na AL, o académico diz que estará atento à influência que estas mudanças de elenco no hemiciclo vão trazer à taxa de votação.

Apesar do número recorde de comissões de candidatura, que chegaram às 25, com listas que concorrem este ano separadamente, Eilo Yu destaca que praticamente não há caras novas nos boletins de voto.

No entanto, a multiplicidade de candidaturas merece a reflexão do académico que considera que a separação das listas pode representar uma maior especialização dos candidatos por vários assuntos específicos. Na visão do docente da UM, esta realidade é também reflexo de uma sociedade cada vez mais detalhada e que escapa aos modelos de candidatura de antigos sufrágios.

Eilo Yu é da opinião de que a tradição vale bastante nas eleições de Macau, mas que ainda assim vai haver uma grande concorrência para os últimos três assentos no hemiciclo.

23 Ago 2017

Alibaba | Ng Kuok Cheong interpela Governo devido a falta de concurso público

O deputado pró-democrata quer saber se a decisão de não se realizar concurso público no acordo que fixa o grupo chinês Alibaba em Macau foi do Chefe do Executivo. Ng Kuok Cheong pergunta ainda que medidas preventivas foram tomadas para evitar derrapagens orçamentais

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om uma influência crescente nas regiões especiais, nomeadamente em Hong Kong, o anúncio do acordo-quadro entre o grupo Alibaba e o Governo de Macau tem levantado algumas suspeitas no território.

Em interpelação escrita, Ng Kuok Cheong questiona se a decisão de não se proceder a concurso público para a criação do centro de computação em nuvem e da plataforma de megadados foi uma decisão tomada directamente por Chui Sai On. O pró-democrata demonstrou ainda dúvidas se o processo não estará a extravasar os normais procedimentos administrativos.

O deputado teme que a falta de transparência leve a consequências verificadas no passado, nomeadamente no que toca a derrapagens orçamentais e atrasos nas obras públicas. Neste contexto, importa lembrar que na semana passada o Governo anunciou o investimento de 400 milhões de patacas, nos próximos dois anos, na construção do projecto da construção da cidade inteligente.

Ng Kuok Cheong deu como exemplo, na interpelação que assinou, os problemas surgidos no âmbito da criação do sistema de metro ligeiro, um caso onde lamenta que ainda não haja data concreta para a conclusão das obras.

O deputado recorda ainda que os projectos que envolvem o gasto de dinheiros públicos contornando concursos públicos em aquisições adjudicatárias têm gerado grande apreensão entre os cidadãos.

Pouca transparência

Em relação ao acordo-quadro celebrado entre o Governo e o gigante chinês Alibaba, o deputado nota que as informações prestadas sobre a construção de um centro de computação em nuvem e a plataforma de megadados foram muito gerais. De forma a dissipar a falta de transparência do processo, Ng Kuok Cheong pede ao Executivo a divulgação da lista de serviços que vão ser adjudicados. O pró-democrata pede ainda os orçamentos para as respectivas despesas onde se incluem obras de construção civil, aquisição de programas informáticos e serviços para a gestão das adjudicações.

Este acordo-quadro, que foi assinado no passado dia 4, motivou um coro de críticas de vários quadrantes. Por exemplo, o presidente da Associação dos Consumidores das Companhias de Utilidade Pública de Macau, Cheang Chong Fai, mostrou-se insatisfeito com o método adoptado para a celebração do entendimento. Como o projecto envolve o dispêndio de dinheiros públicos, o dirigente associativo considerou que os cidadãos têm direito à informação de quanto e como será gasto.

Também neste sentido, Ng Kuok Cheong interpelou o Governo para saber quanto do orçamento relativo à construção do projecto da cidade inteligente irá directamente para o grupo Alibaba. Além disso, o deputado questionou quais as medidas preventivas tomadas pelo Executivo de forma a evitar derrapagens orçamentais.

23 Ago 2017

Eleições | Novo Macau protesta contra notícia do jornal Ou Mun

Paul Chan Wai Chi esteve ontem junto ao edifício do jornal Ou Mun para protestar contra o que considera ser uma notícia com um falso conteúdo sobre a participação nas eleições legislativas, afastando a ligação a Au Kam San e Ng Kuok Cheong

[dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap]s três listas de candidaturas vão enfrentar a influência da partilha da fonte de votos e conflitos internos.” É esta a frase da notícia do jornal Ou Mun, publicada na edição de ontem, que enfureceu os candidatos da lista Novo Progresso de Macau, às eleições legislativas deste ano. A lista tem ligações à Associação Novo Macau (ANM).

Ontem Paul Chan Wai Chi e outro membro da associação deslocaram-se ao edifício que serve de redacção ao jornal de língua chinesa para protestar contra uma notícia que consideram ser falsa.

Foi exigido à direcção do diário a correcção do artigo e a sua publicação com igual destaque ao que foi dado na edição de ontem.

Chan Wai Chi quer ainda que o jornal “publique notícias relacionadas com as eleições de forma mais rigorosa e verdadeira”. A ANM referiu ainda que os impactos causados pela notícia são “inestimáveis”, pois “é o jornal mais lido pelos residentes”.

O texto do jornal Ou Mun descreveu que a ANM sempre participou nas eleições dos últimos anos com duas ou mais listas separadas, sendo que, este ano, além da lista Novo Progresso de Macau, há ainda mais duas (uma referência às listas encabeçadas por Au Kam San e Ng Kuok Cheong).

Paul Chan Wai Chi, vice-presidente da ANM, quis deixar bem claro que este ano só há uma lista da Novo Macau a participar no acto eleitoral de Setembro.

“Uma vez que há uma grande concorrência nas eleições deste ano, quaisquer divergências e notícias falsas podem levar a injustiças para com os grupos de candidatura. Por isso, exigimos que o jornal Ou Mun, em cumprimento da lei de imprensa, faça um esclarecimento e uma correcção”, apontou Chan Wai Chi.

Para Chan Wai Chi, que foi deputado à Assembleia Legislativa até 2013, ano em que não conseguiu ser eleito, o objectivo do protesto visa assegurar que o público conhece a verdade, além de garantir a justiça e a imparcialidade nas eleições deste ano.

Separação total

Aos jornalistas, Paul Chan Wai Chi explicou que, apesar de Au Kam San e Ng Kuok Cheong terem sido candidatos em representação da ANM em 2013, Au Kam San acabaria por se desvincular da associação o ano passado.

Já Ng Kuok Cheong, apesar de continuar a ser um membro da ANM, anunciou que se candidata novamente a um cargo de deputado numa lista à parte. Por isso, na visão de Paul Chan Wai Chi, os dois nomes não têm qualquer ligação à ANM no próximo acto eleitoral.

Em 2013, a Associação do Próspero Macau Democrático foi encabeçada por Ng Kuok Cheong, que se candidatou ao lado de Paul Chan Wai Chi. Já a lista da Associação Novo Macau Democrático foi liderada por Au Kam San, que concorreu ao lado de Sou Ka Hou. Jason Chao, que abandonou recentemente a liderança da ANM, concorreu ao lado de Scott Chiang, actual presidente, na lista intitulada Liberais da Novo Macau.

Meses depois do acto eleitoral de 2013, que colocou de novo Au Kam San e Ng Kuok Cheong na bancada do hemiciclo, estes anunciaram a separação dos escritórios face à ANM, tendo criado uma nova associação, Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau. Au Kam San deixou mesmo de ser membro da ANM.

Ao HM, Scott Chiang disse ainda que a ideia é garantir que as pessoas não têm acesso a falsas informações.

“Estamos numa situação em que um órgão de comunicação publica uma notícia com um falso conteúdo e quem é prejudicado somos nós, a ANM. Exigimos por isso uma rectificação com destaque igual ou maior ao que foi dado. Quem leu fica com a impressão de que a ANM participa nas eleições com três listas, o que não é verdade, tem apenas uma”, adiantou.

Sobre o facto do Ou Mun ter escrito que existem conflitos internos, e quanto à possibilidade de partilha de fontes de votos, Scott Chiang limitou-se a dizer que se trata de uma “questão antiga”. “Vamos ver o que acontece”, concluiu.

22 Ago 2017

AL | Mak Soi Kun e Zheng Anting fazem o balanço da legislatura

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om o fim da legislatura chegou a altura de reflectir sobre os últimos quatro anos de trabalhos da Assembleia Legislativa. Os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting apresentaram mais de 400 interpelações, sendo que mais de metade não obteve resposta do Governo no prazo estabelecido

Estamos em plena época alta dos balanços de trabalhos. Aproveitando a onda, os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting deram uma conferência de imprensa onde se lançaram no exercício de fim de legislatura.

Desde Outubro de 2013, ambos os deputados fizeram 364 interpelações escritas, 37 orais, 104 intervenções no período antes da ordem do dia. Além disso, foram proponentes de três debates levantados na Assembleia Legislativa (AL), relatou Mak Soi Kun.

O deputado considera que teve uma boa prestação a cumprir as promessas feitas nas eleições passadas. Entre as lutas mais acérrimas que levou a cabo destaca as condições de habitabilidade, o abuso no arrendamento, as garantias para idosos, habitação e os problemas do trânsito.

Zheng Anting chamou atenção para o caso Pearl Horizon como prelúdio para falar da questão das terras. O deputado lembrou o projecto de lei que entregou em Junho último, em parceria com Leonel Alves, para rever a legislação referente à lei de terras. Porém, lamenta que a legislatura tenha terminado sem que o Governo tivesse respondido.

Zheng Anting destacou ainda o problema das pensões para idosos. O deputado recordou as várias vezes que sugeriu o aumento destes benefícios de forma a garantir que o nível de vida da população da terceira idade acompanha a taxa de inflação. Ainda neste capítulo, Zheng Anting lembra que propôs ao Governo o aumento do vale de saúde para pessoas com idade igual ou superior a 60 anos para um montante de 1000 patacas.

Respostas tardias

Fazendo a retrospectiva dos trabalhos dos últimos quatro anos da AL, Mak Soi Kun divulgou ter recebido mais de 1200 pedidos de ajuda de cidadãos, quer da forma directa ou da indirecta. Deste universo de solicitações da população, 93 por cento destes pedidos foram já resolvidos, enquanto os restantes sete por cento ainda não tiveram conclusão.

Por outro lado, Mak Soi Kun alerta para a insuficiência de certos serviços em termos de recursos humanos. “De entre as mais de 300 interpelações escritas, só 45,58 por cento foram respondidas no prazo de 30 dias, ou seja, o Governo não respondeu a mais de metade no prazo definido”, comenta.

O deputado entende que esta situação demonstra uma eficiência insatisfatória em termos de poder de resposta das autoridades, o que revela alguma falta de competência ao nível do funcionalismo público.

Mak Soi Kun vai mais longe ao depositar nos funcionários as culpas para a impossibilidade em resolver as questões dos cidadãos, algo que é motivo de vergonha para o deputado.

Novo Macau apresenta queixa criminal contra Caruso Fong

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação Novo Macau vai apresentar queixa criminal contra o autor do pedido ao Ministério Público para investigar um membro do maior grupo pró-democracia por alegada “associação aos casos de corrupção” que envolvem o antigo procurador.

Em causa está um pedido de investigação entregue no Ministério Público (MP) contra o actual responsável do conselho fiscal e antigo vice-presidente da Novo Macau, Andrew Cheong, por Caruso Fong, presidente da Associação dos Assuntos Jurídicos e Sociais, que também diz ser membro da associação pró-democracia.

Além de questionar a relação entre as empresas de Andrew Cheong e de Wong Kuok Wai que, na terça-feira, foi condenado a 14 anos de prisão num processo conexo ao do ex-procurador Ho Chio Meng, Caruso Fong acusou a direcção da Novo Macau de aceitar subornos de Andrew Cheong, em troca de uma alegada posição para o empresário na associação.

“Em relação à conferência de imprensa, da semana passada, dada pela Associação dos Assuntos Jurídicos e Sociais e por Caruso Fong no exterior do Ministério Público, a Associação Novo Macau considera que as acusações de suborno contra os actuais e antigos líderes da associação não têm qualquer fundamento, não são verdadeiras e fazem parte de uma campanha de difamação”, disse a associação.

“Por conseguinte, a Associação Novo Macau vai apresentar uma queixa criminal sobre falsas acusações”, acrescentou.

A Novo Macau tinha dito que ia reagir oficialmente ao pedido de investigação na sexta-feira, mas acabou por divulgar um comunicado em chinês, através do Facebook.

O documento é difundido em nome do actual presidente da Novo Macau, Scott Chiang, do vice-presidente Sulu Sou, de Andrew Cheong, e do antigo presidente Jason Chao.

Dinheiro suspeito

Em causa estarão contratos sobre a manutenção de detectores de metais subadjudicados a uma empresa de Andrew Cheong – a Artigos Eletrónicos Proton – para a prestação de serviços no Ministério Público durante oito anos.

Caruso Fong colocou em causa a forma como a empresa de pequena dimensão de Andrew Cheong conseguia obter do MP contratos de milhões de patacas e disse que o empresário prestou falsas declarações quando foi ouvido no processo conexo ao do ex-procurador.

Caruso Fong estimou o montante em 100 mil patacas e disse ter provas de que o dinheiro acabou por ser transferido em benefícios impróprios para membros da direcção da Associação Novo Macau.

O Tribunal Judicial de Base deu, na passada terça-feira, como provado mais de mil crimes envolvendo a adjudicação de contratos de aquisição de bens e serviços do Ministério Público a empresas de fachada, incluindo crimes cometidos de forma continuada, em associação criminosa com o antigo procurador Ho Chio Meng, já condenado em Julho a 21 anos de prisão.

Ho Chio Meng, que liderou o Ministério Público entre 1999 e 2014, foi condenado a 21 anos de prisão por mais de mil crimes, incluindo promoção ou fundação de associação criminosa, participação económica em negócio, branqueamento de capitais agravado, burla e peculato.

21 Ago 2017

Eleições | CCAC recebeu 101 queixas desde Abril

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Comissariado contra a Corrupção de Macau (CCAC) recebeu desde Abril um total de 101 queixas relacionadas com as eleições de Setembro à Assembleia Legislativa, disse o comissário André Cheong no fim-de-semana

“Até este momento recebemos 67 queixas (…) através da linha conjunta com a Comissão Eleitoral e 34 por via própria. No total são 101. A maior parte está relacionada com suspeita de corrupção eleitoral”, disse aos jornalistas, à margem de uma iniciativa do CCAC para promover “eleições limpas”.

André Cheong não avançou detalhes sobre os progressos das investigações, quantas foram concluídas e se houve queixas que deram origem à entrega de processos ao Ministério Público para fazer acusação.

Aprovada em 2016, a nova lei eleitoral impõe maiores restrições à propaganda eleitoral.

Em Macau, muitas listas têm ‘organizações amigas’ que promovem todo o tipo de actividades e de presentes, desde banquetes a viagens à China.

A lei não proíbe as associações apoiantes de listas candidatas de organizarem banquetes ou de oferecerem refeições gratuitas ou vales de compras em supermercados aos seus sócios, nem proíbe que uma sociedade organize viagens ao interior da China, recorda André Cheong.

“O que a lei proíbe é fornecer esses interesses e ao mesmo tempo fazer propaganda eleitoral. Por exemplo, há banquetes gratuitos em que há propaganda. Antes de 2 de Setembro [data do início da campanha eleitoral], se houver propaganda antecipada vai ser qualificada como acto ilegal”, acrescenta.

O comissário revelou que desde Abril até à data os fiscais do CCAC realizaram “mais de 2000 acções de vigilância”, das quais mais de 1500 a actividades que incluíam banquetes ou refeições gratuitas, tendo também fiscalizado outro tipo de iniciativas, como a oferta de viagens.

Comer e passear

“Verificámos que existem essas actividades, mas em muito poucas ocorreram acções de propaganda de actos eleitorais. Segundo os colegas que já trabalharam em várias eleições, essa é uma diferença em relação ao passado”, diz.

“Não fiz a comparação se as viagens ou banquetes são mais ou menos, mas nesses mais de 2000 actos verificámos poucos casos de indícios de fornecimento de interesses e, ao mesmo tempo, de propaganda eleitoral”, afirma.

Nas últimas eleições para a Assembleia Legislativa, há quatro anos, o CCAC diz ter recebido 213 queixas e denúncias relacionadas com as eleições legislativas, das quais 46 foram registadas no dia da votação (15 de Setembro de 2013).

A Assembleia Legislativa é composta por 33 deputados, 14 eleitos por sufrágio universal e 12 por sufrágio indirecto (através de associações), além de sete posteriormente nomeados pelo chefe do Executivo.

As eleições estão marcadas para 17 de Setembro.

Região | Cooperação domina encontro entre líderes de Hong Kong e Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cooperação bilateral no desenvolvimento de tecnologia inovadora, indústrias criativas e medicina tradicional chinesa dominaram o encontro do chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, com a homóloga de Hong Kong, Carrie Lam.

Na primeira visita a Macau depois de ter assumido a chefia do Executivo de Hong Kong, a 1 de Julho passado, Carrie Lam destacou o empenho do seu Governo no desenvolvimento dos sectores de tecnologia inovadora e indústrias criativas, bem como a “enorme vontade” de conhecer “o desenvolvimento da indústria da medicina tradicional chinesa” em Macau, de acordo com um comunicado oficial divulgado na sexta-feira à noite.

Os dois responsáveis lembraram a “boa cooperação” entre as duas Regiões Administrativas Especiais chinesas e a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, a construção da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e a entrada em funcionamento, prevista no final do ano, da ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau na criação de novas oportunidades de desenvolvimento.

Chui Sai On defendeu que “os dois territórios podem impulsionar a cooperação em vários domínios, incluindo na tecnologia inovadora, na indústria criativa e na formação dos jovens, estando ainda disponível para trocar experiências com Hong Kong sobre o desenvolvimento da indústria da medicina tradicional chinesa”, indicou a mesma nota.

Depois do encontro e antes de regressar a Hong Kong no final do dia, Carrie Lam visitou o espaço 10 Fantasia – Associação promotora de indústrias criativas, no bairro de São Lázaro, na cidade. A governante de Hong Kong não prestou declarações aos jornalistas.

Primeira mulher a chefiar o Governo de Hong Kong , Carrie Lam foi eleita a 26 de Março passado por um colégio eleitoral de 1.194 membros, em representação de vários sectores de actividade da antiga colónia britânica.

Eleições | Listas de delegados a entregar até dia 28

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rrancou no sábado, com duração até à próxima segunda-feira, dia 28, o prazo para a entrega das listas de delegados das candidaturas às eleições legislativas deste ano. Segundo um comunicado da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), cada candidatura tem o direito de designar um delegado efectivo e outro substituto para cada assembleia de voto. Cabe ao mandatário da candidatura entregar a lista de delegados ao director dos Serviços de Administração e Função Pública. A CAEAL determina que “os delegados designados pelas candidaturas para as diversas assembleias de voto são obrigados a votar nas assembleias de voto para as quais foram designados”.

21 Ago 2017

Deputados ligados à FAOM em balanço

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s três deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei, Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang, deram ontem uma conferência de imprensa para fazerem o balanço do trabalho desenvolvido na Assembleia Legislativa (AL).

Kwan Tsui Hang, que está de saída do hemiciclo, deixou bem claro que os discursos políticos dos três deputados nunca visaram a discriminação dos trabalhadores não residentes (TNR). “Os números mostram que a economia de Macau tem de depender dos TNR. Além de não discriminarmos os TNR, consideramos que as leis precisam de proteger os direitos destas pessoas”, apontou.

A deputada afiança que as críticas que têm sido feitas alertam apenas para as deficiências existentes no mecanismo de importação de mão-de-obra. Quando esse mecanismo melhorar, com mais fiscalização, as críticas irão diminuir, defendeu Kwan Tsui Hang.

Já Ella Lei lamentou o facto de vários diplomas terem ficado pelo caminho, como é o caso da lei sindical. Apesar de lembrar o esforço dos seus colegas, afirmou não ter ficado satisfeita com os trabalhos desenvolvidos durante a V legislatura, sobretudo nas áreas do aproveitamento dos terrenos, o fornecimento de habitação pública ou a implementação da licença de paternidade.

A deputada, que foi eleita pela via indirecta em 2013, lembrou que apresentou quatro propostas de debate na AL, relacionadas com assuntos de interesse público, tendo três sido aprovados.

Lam Heong Sang, vice-presidente do hemiciclo, vai também deixar a vida de deputado e disse que é necessária uma maior coordenação entre as empresas, os trabalhadores e o Governo.

“De 2005 até hoje, sabemos quais têm sido os lucros das seis operadoras de jogo e qual é o rendimento médio dos residentes”, lembrou, alertando ainda para as dificuldades na aquisição de habitação.

Entre 2013 e 2017, a FAOM diz ter tratado de quase 1500 casos relacionados com assuntos laborais, que representa a maior proporção, com 30,8 por cento. Os casos relacionados com a habitação surgem em segundo lugar, seguindo-se as garantias dos benefícios dos trabalhadores.

Questionado sobre o seu futuro depois de sair da AL, Lam Heong Sang entende ter duas prioridades: continuar na FAOM, onde promete continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, e manter o trabalho desenvolvido na Associação Choi In Tong Sam.

20 Ago 2017

Jason Chao entende que direitos podem estar em causa

Na passada segunda-feira, Jason Chao dirigiu-se ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) com o intuito de entregar uma declaração a notificar os serviços para uma reunião/manifestação em local público. Ao fazê-lo, deparou-se com um novo formulário introduzido no processo, sem que tenha havido qualquer alteração legal.

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]este sentido, importa notar que a Lei n.º 2/93/M no Artigo 5.º nº1, que regula o aviso prévio de manifestação ou reunião em lugar público, não prevê o preenchimento de qualquer formulário. Apenas se fala de um aviso por escrito dirigido ao presidente do conselho de administração do IACM, com a antecedência mínima de três dias úteis e máxima de 15. Em caso da reunião ou manifestação com carácter político, a antecedência pode ser reduzida para dois dias úteis. O mesmo artigo estatui que a “entidade que receber o aviso deve passar recibo comprovativo desse facto”.

Ciente da referida lei, Jason Chao insistiu em apresentar a declaração ao IACM. Segundo o mesmo, a recepcionista aceitou-a com relutância, tendo o pró-democrata perguntado qual a base legal para a obrigatoriedade de preencher um formulário.

Passados dois dias, ou seja, na passada quarta-feira, o organizador da manifestação recebeu uma chamada do IACM a informar que a declaração não havia sido aceite e que deveria preencher o dito formulário. Em relação à razão legal que justifica a novidade, foi-lhe dito que a questão seria enviada para os superiores hierárquicos.

Novos valores

O protesto em questão, marcado para dia 27 de Agosto na Rua do Campo, teria como objectivo de discutir os direitos dos cidadãos à luz da Lei Básica. Na opinião de Jason Chao, tornou-se insignificante face à novidade burocrática. De acordo com o pró-democrata, “o estabelecimento de um novo requisito no caminho do exercício da liberdade de assembleia dos cidadãos de Macau parece muito mais problemático”.

Apesar da aparente trivialidade da questão, Jason Chao entende que “numa perspectiva de direitos fundamentais, impor um novo requisito sem alteração legal é preocupante”, afirma em comunicado.

É de salientar que a lei exige expressamente às autoridades que notifiquem os cidadãos acerca das restrições às manifestações e reuniões de rua por escrito, um documento que pode servir para recorrer ao Tribunal de Última Instância.

Jason Chao garante que se tiver conhecimento de alguma tentativa de comprometer os seus direitos fundamentais levará o caso para o tribunal competente, “mesmo na ausência de qualquer resposta escrita por parte das autoridades”.

A liberdade de reunião, desfile e manifestação é um direito consagrado no Artigo 27.º da Lei Básica, o mesmo articulado que prevê o direito a participar em associações sindicais.

20 Ago 2017

Ho Chio Meng | Novo Macau acusada de ser financiada com fundos ilegais

Um alegado membro da Novo Macau acusa os principais dirigentes da associação de serem financiados por dinheiros de origem ilegal de uma empresa envolvida no caso Ho Chio Meng. Scott Chiang nega a acusação e diz que a verdade virá ao de cima na sequência da investigação. O Ministério Público já tem conhecimento do caso

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois do jogo de cadeiras no leme da direcção da Associação Novo Macau, e com as eleições à porta, surge um caso com contornos que extravasam as simples divergências políticas e que podem manchar a reputação dos pró-democratas.

No cerne deste caso está Fong Ka Leong, presidente da Associação dos Assuntos Jurídicos e Sociais, que também se identificou como sendo membro da Novo Macau. Tudo começou com as declarações do chefe de Fong Ka Leong enquanto testemunhou em tribunal no julgamento do ex-procurador Ho Chio Meng. Segundo Fong Ka Leong, o seu patrão, também alegadamente membro da Nova Macau, pagou várias despesas a dirigentes da associação com fundos apurados de forma ilegal, circunstância que o motivou a apresentar ontem queixa no Ministério Público. O denunciante vai mais longe e acusa a recepção destes dinheiros como um caso de corrupção.

De acordo com Fong Ka Leong, a um dos membros foi oferecido um trabalho a tempo inteiro, e foram-lhe subsidiados bilhetes de avião e alojamento para viagens ao exterior. Outros dois membros da associação receberam apoios financeiros para pagar passagens aéreas para Taiwan, assim como alojamento e alimentação.

Em declarações ao HM, Fong Ka Leong disse que o objectivo do seu chefe era controlar a lista de membros da Novo Macau.

Além disso, o objectivo seria separar os membros da associação de quem gostava dos restantes. “A Novo Macau tem menos de 50 associados. Os membros foram classificados de acordo com quem ele gostava e quem ele considerava como inimigo”, explicou Fong Ka Leong, que acrescenta que existe a possibilidade de os membros do referido grupo terem recebido verbas de origem ilegal.

Quem é quem

A pessoa que alegadamente terá financiado membros da Novo Macau é responsável por uma empresa de produtos electrónicos que prestou serviços ao Ministério Público. A pessoa em questão foi testemunha no processo conexo ao de Ho Chio Meng, no Tribunal Judicial de Base. Na sequência desta inquirição, Fong Ka Leong acusa igualmente o chefe de declarações falsas ou perjúrio.

Em reacção a esta polémica, Scott Chiang, presidente da Novo Macau, escusou-se a tecer grandes comentários em relação à acusação feita. No entanto, em declarações ao HM, considerou haver falta de pormenores na queixa e que o denunciante deveria apresentar informações mais precisas. Scott Chiang acredita que a investigação trará a verdade ao de cima.

20 Ago 2017

Legislativas | Analista critica duração da campanha eleitoral

Ao limitar o período de campanha eleitoral a duas semanas, o Governo não está a garantir condições para que os residentes compreendam as propostas apresentadas pelos candidatos, alerta Bruce Kwong. O politólogo não arrisca previsões sobre resultados, mas não esconde receios em relação à corrupção

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m exercício, para começar. Imaginemos que cada programa eleitoral para as legislativas de 17 de Setembro tem dez páginas. Há 25 listas candidatas. Suponhamos que há eleitores indecisos – parece que são muitos – e que se dão ao trabalho de ler as propostas políticas dos aspirantes a deputados. Façam-se as contas: terão 250 páginas para ler em duas semanas, isto se conseguirem reunir os cadernos de encargos eleitorais logo no primeiro dia. Se não for esse o caso, terão de apressar a leitura.

O facto de Agosto ser um mês em que é proibida toda e qualquer forma de propaganda eleitoral não faz qualquer sentido para o politólogo Bruce Kwong, especialista em eleições. O académico da Universidade de Macau é do entendimento de que os 15 dias reservados à campanha são claramente insuficientes.

“Os candidatos podem fazer pouco para promover as suas plataformas políticas e promessas, apesar de Macau ser um território pequeno comparando com outros locais, como Hong Kong”, defende, olhando para a região vizinha. “O período de campanha em Hong Kong para o sufrágio directo foi de quase dois meses numa única circunscrição como Kowloon East, que não é maior do que Macau”, aponta.

Porque o sufrágio directo das legislativas é o único momento em que a população é chamada a pronunciar-se sobre a vida política do território, as eleições adquirem outra relevância. “São um dos momentos mais importantes de participação política das pessoas”, analisa Kwong. “Se o Governo encara com seriedade o facto de as eleições para a Assembleia Legislativa (AL) representarem a possibilidade de as pessoas monitorizarem o poder público, é obrigação do Executivo garantir um ambiente que permita às pessoas examinarem as plataformas políticas.”

Jovens e atentos

Para o sufrágio indirecto de 17 de Setembro, apresentam-se a votação 25 listas, com mais de 190 candidatos. Para o politólogo, os números só significam um maior interesse pelas lides políticas numa primeira análise, uma observação superficial. “Sabemos que há sempre alguns candidatos que concorrem por terem outras questões em consideração, que não servirem a população ou terem uma participação política”, diz.

As 25 candidaturas não correspondem, como se sabe, a 25 ideias diferentes. Há listas que são oriundas das mesmas famílias políticas, que se desdobraram na expectativa de conseguirem mais assentos, dadas as especificidades do método de conversação de votos em mandatos. Bruce Kwong interpreta este milagre da multiplicação de candidaturas como sendo uma prática de “políticos experientes, dividem-se ou tentam cooperar com aliados políticos”.

“Os candidatos aprenderam muito desde as eleições de 2009 e também com a experiência de Hong Kong. Mas, claro está, é preciso ter cuidado e calcular com muita precisão a probabilidade de ganhar o maior número possível de assentos”, acrescenta. À semelhança de outros analistas – e até de alguns candidatos – o académico concorda que chegou a altura de se ponderar, para actos eleitorais futuros, uma mudança no método de conversão de votos em mandatos.

Quanto a previsões para as eleições de Setembro, Bruce Kwong não arrisca cenários. Este ano, há mudanças no eleitorado, com uma nova geração a poder exercer o direito de voto. Macau tem uma característica que atrapalha as contas a quem se dedica a este tipo de análises: “As tendências de voto alteram-se de legislatura para legislatura, pelo que tudo depende da estratégia da campanha, das competências pessoais dos candidatos e da atmosfera política”.

Já no que toca ao interesse dos eleitores pelo sufrágio, o professor da Universidade de Macau considera que as camadas mais jovens da população são as que estão mais atentas. São também estes eleitores aqueles que ainda percebem a utilidade da AL. “O comportamento político dos eleitores sofreu alterações desde as legislativas de 2005. Alguns deles, sobretudo os que pertencem às novas gerações, ainda acreditam que a AL pode ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas e que, de algum modo, os deputados os representam na relação com o Governo”, sustenta.

Atenção à corrupção

Serão também os eleitores mais novos aqueles que maior consciência têm da importância do voto. Bruce Kwong confessa estar “um pouco pessimista” em relação à corrupção eleitoral. “Prevê-se que haja corrupção porque alguns dos candidatos aprenderam a ocultar o comportamento ilegal dos órgãos que monitorizam as eleições”, afirma. “Os eleitores mais conscientes da importância do voto serão os das gerações mais novas ou aqueles que já têm alguma participação cívica e política, por exemplo, em manifestações.”

O politólogo avalia com nota positiva o trabalho feito, até agora, pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, mas deixa um aviso. “Os trabalhos administrativos parecem estar a correr bem. As pessoas preocupam-se sobretudo com a compra de votos e com outros comportamentos ilegais, e como é que os órgãos de fiscalização das eleições vão lidar com esses incidentes”, observa. “Ouve-se com frequência as pessoas a pedirem mais para que as eleições sejam relativamente limpas.”

20 Ago 2017

Los Otros

Para Alejandro Amenábar

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uantas vezes não damos connosco em paisagens sem vivalma? Pode ser uma praia, uma montanha, um lago, um bosque. As paisagens podem ser também interiores. Para quem trabalha em casa, pode ser qualquer das divisões da casa, desabitada momentaneamente dos outros que lá vivam ou porque lá ninguém vive. Podem ser também vibrações disposicionais, estados de alma, manifestações do espírito a criar as paisagens onde nos encontramos a sós connosco sem vivalma. Neste último caso, podemos estar ao pé de outros seres humanos: em transportes públicos, igrejas, museus, cafés, hospitais, estádios, enfim, nos locais onde se pode produzir a homilia humana, até na rua onde nos cruzamos com desconhecidos.

Cada ser humano é portador deste horizonte, onde se pode encontrar sem ninguém.

Não quer dizer que se sinta só, isolado ou desolado. Pode estar fisicamente só e sentir-se na presença dos outros, daqueles de quem se despediu até mais tarde e com quem há-de encontrar. Os outros com quem está e a quem dirá “até mais tarde”. Estar fisicamente sozinho pode ser almofadado com a presença ausente dos outros que dão sentido às nossas vidas, com quem temos uma agenda comum, de quem partimos e a quem regressamos, e tal pode ser de manhã para a noite, de uma semana para a outra, por um mês de férias ou até por uma temporada.

Todos os seres humanos estão nesta paisagem, que pode estar fisicamente despovoada de outros e nem por isso se sentem sozinhos. Mas pode também ser uma paisagem despovoada de outros específicos. Nenhum ser humano existe sem estar remetido para os outros, os antepassados e os descendentes, os de outrora e os vindouros. Mas pode existir num horizonte de despovoamento daqueles que fazem sentido nas suas vidas.

Esses outros podem nunca ter existido. São os outros de quem estamos sempre à espera, amores hipotéticos, filiais, românticos, ideais ou reais. São os outros de que falam os mais velhos e de quem nem sequer há registo fotográfico: bisavós, personagens só vistas e referidas por quem conhecemos em histórias que nos contam. Pessoas anónimas mas que protagonizaram episódios importantes nas vidas desses que nos falam deles. Pelo menos ao ponto de nos falarem neles.

Muitas vezes encontramo-nos em paisagens onde não há nenhum vestígio da presença humana, como as paisagens que câmaras captam ao longo de meses, para apanhar o ecossistema ou o drama da modificação do mundo. As imagens captadas parecem existirem sem perspectiva. A câmara pode mudar de ponto de vista, mas dá sempre a ver o mar, a savana, o céu, um quarto, o que for. Como se não interviesse no mundo e como se não houvesse outros lá, mesmo que ausentes.

Somos nós que vemos as imagens captadas pelas câmaras obscuras. Somos nós que vemos paisagens sem vivalma, sem outros, sem nós. Mas este despovoamento de nós próprios e dos outros não é como se não fosse nada. A ausência é um elemento fundamental. Podemos querer estar sós ou acompanhados. O ponto não é esse. Os horizontes vazios e despovoados das vidas dos outros ou povoados e cheios de gente estão sempre connosco.

Uma paisagem despovoada está cheia das pessoas que lá poderiam estar, que lá estiveram e que poderão lá estar. Uma paisagem despovoada tem sempre um olhar a constitui-la. Por isso, pode ser desoladora ou cheia de sentido.

Mas também podemos passar a vida impermeáveis uns aos outros. Não apenas no sentido em que não somos vistos por quem gostaríamos de ser vistos. O ser humano é iluminado pelo olhar de outros que lhe são especiais. Também é apagado pelo fechar de olhos desses outros que são especiais para si. E é também verdade que podemos durante algum tempo iluminar a vida dos outros com o nosso olhar para eles. E podemos acabar com eles quando os ignoramos, não reconhecemos e deixamos de os ver. Mas deixemos esta hipótese de lado.

A impermeabilidade aos outros pode ser total, como se não houvesse ninguém já que fosse testemunha do nosso passado, da nossa juventude ou infância. Uma impermeabilidade complexa em que somos os sobreviventes de uma vida que houve, e é inegável ter havido, mas não consegue ser ressuscitada, porque é necessário um outro ser humano para ressuscitar o nosso passado, em conversa de lembrança, na invocação de uma memória.

Quando somos vistos nessa impermeabilidade, não somos metade das pessoas que fomos. Não somos nada do que fomos. Somos nós só fachada a apresentar o que é visto de nós, o nosso exterior absoluto, na idade que temos, no sítio onde estamos a ser vistos: mas sem passado, nem presente, nem futuro. Sem por ir, para onde ir e sem de onde vir. Somos nós aí desconectados do passado, do presente e do futuro, dos outros que povoaram as nossas vidas, sem expectativa de que haja outra oportunidade para um outra origem que dê início a um outro tempo, sem poder começar de novo.

Os outros a quem dirigimos uma palavra não respondem. Os outros que vemos não nos vêm. Os outros existem, e nós não. Não são os outros que são os fantasmas impermeáveis às nossas vidas. Somos nós próprios os fantasmas de nós próprios na multiplicidade de “si próprios” que é cada um de nós. Somos nós que não existimos já para ninguém e por isso ninguém nos dirige a palavra, e quando olham na nossa direcção, é para nos atravessar o corpo e fixar o que está atrás de nós, sem nos verem, como se não estivéssemos lá, como se não fôssemos, como se nunca tivéssemos sido.

Somos nós os fantasmas, aparições, para os outros, os que não cabem, são sem pertença. Inexistentes.

20 Ago 2017

O valor do silêncio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições estão marcadas para 17 de Setembro. Nas últimas semanas, todos os dias, escrevo esta frase. As eleições estão marcadas para 17 de Setembro. Escrevo-a com variações e parece-me estranha, é um conjunto de palavras que me parece desfasado da realidade. Há legislativas daqui a um mês e não se dá por elas, eu não dou por elas, mesmo quando escrevo que acontecem a 17 de Setembro. Um mês menos um dia na contagem decrescente.

As eleições não andam por aí por imposição legal, por formatação política, por incapacidade de percepção da importância do acto, por necessidade de se privilegiar quem pode mais, quem manda mais, quem tem mais dinheiro na conta bancária. Este é o resultado de um período de campanha curto, muito curto, que se resume a duas semanas. É o resultado de um período de proibição de propaganda eleitoral longo, demasiado longo, cuja razão de ser não compreendo. Há eleições e não se fala delas, e eu não percebo por que temos nós um mês de silêncio, um mês de coisa nenhuma.

Há eleições a caminho. São o único momento da vida política de Macau em que os residentes com capacidade eleitoral são chamados a dizerem qualquer coisa, a escolherem um candidato, a pensarem numa ideia ou noutra que gostariam que fosse realidade na cidade onde vivem. É um momento que só existe a cada quatro anos e que deveria ser aproveitado para pôr as pessoas a discutir, a ler, a ouvir. Não sei se iriam fazê-lo, mas seria bom se houvesse esse esforço, se esse esforço pudesse ser feito de forma mais prolongada, se houvesse essa oportunidade.

Concedo. Sabemos todos que a Assembleia Legislativa e os seus deputados já conheceram melhores dias, já tiveram outro grau de credibilidade. Há um desânimo em relação à política em Macau que se prende com o sistema e com o modo como as pessoas não foram educadas para a política. Todas elas: quem elege, quem é eleito e quem gostaria de ser. Mas não é tarde, gosto eu de pensar. Não é tarde para as pessoas começarem a olhar para os políticos de outra forma, com melhores olhos ou então com piores, para não votarem ao engano.

Um mês de silêncio não faz bem a ninguém. Não contribui para nada. Ajuda a que se fure o sistema com os métodos mais perniciosos. Coloca nos primeiros lugares da grelha de partida aqueles que têm os carros com melhor motor, os carros mais caros, aqueles que têm maior capacidade de arranque. Quem anda a pé fica apeado, no fim da linha. O que aí vem não vai ser melhor.

20 Ago 2017

Obras Públicas | AL sugere que DSAT conceda licenças e aprecie pedidos

A comissão da Assembleia Legislativa que acompanhou as obras nas estradas sugere que o secretário para Transportes e Obras Públicas coordene o grupo interdepartamental de gestão dos trabalhos. Além disso, aconselha que passe a ser a DSAT a conceder licenças e a apreciar pedidos para a execução dos trabalhos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa divulgou ontem o relatório sobre os trabalhos realizados as vias públicas elaborado pela Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública. Os deputados, que já tinham criticado a falta de coordenação dos vários departamentos, pegaram em experiências prévias à transferência para sugerir alterações à forma como se intervém no espaço público.

O relatório da comissão presidida por Chan Meng Kam, depois de ilustrar a presente confusão institucional no tratamento de obras, lembrou a actuação do antigo Leal Senado como um exemplo de uniformidade de responsabilização, coordenação e concertação. Isto apesar de ressalvar que, actualmente, o número de obras é muito maior do que nos dias do Leal Senado. No ano passado, “o número de obras viárias atingiu 2553”, ocupando um total de 112.059 metros.

Prevendo a criação de órgãos municipais sem poder político, os deputados mostraram dúvidas quanto à capacidade do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) para “dar continuidade aos trabalhos de apreciação dos pedidos e de concessão licenças”, lê-se no relatório. Para tal papel, a comissão sugere a transferência de competências para a alçada da Direcção dos Serviços para os Assuntos do Tráfego (DSAT).

Ruído necessário

Ainda no campo da multitude de órgãos envolvidos nas obras públicas, os deputados sugerem que o grupo interdepartamental que reúne os vários organismos envolvidos em obras de escavação seja dirigido pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas. Pretende-se com esta alteração “elevar o estatuto do grupo de coordenação” de forma a tornar os trabalhos mais eficientes.

Por outro lado, a comissão entende que se devem estabelecer critérios claros para distinguir obras urgentes e não urgentes, para que os trabalhos ocorram sem adiamentos desnecessários.

O acesso por parte da população à informação dos locais onde decorrem obras privadas de escavação, assim como dados que permitam ao público participar na fiscalização das mesmas é outra das sugestões elencadas no relatório. Para tal, os deputados entendem que os anúncios devem ser publicados na Internet.

No plano da fiscalização, nas reuniões com a comissão o Governo queixou-se da falta de recursos humanos. Apesar do grande aumento de obras nas vias de Macau, o número de inspectores passou apenas de seis para dez, sendo que foram instaurados processos disciplinares a dois deles.

Os deputados entenderam ainda que o regime sancionatório que vigora sobre o planeamento e coordenação das obras de escavação não tem carácter dissuasor. Porém, se por um lado os membros da comissão pretendem o agravamento das sanções, o Governo entende que estas aumentaram, em algumas situações, seis vezes, punindo construtores ou empreiteiros que adiem obras.

Por outro lado, tanto o sector da construção, como o Executivo entendem que a Lei do Ruído prejudica o andamento das obras e traz prejuízos de trânsito aos residentes. Com vista à alteração do referido preceito legal, a comissão entende que “é necessário dar um passo em frente para clarificar e confirmar o conceito de ruído perturbador, com vista a delimitar o âmbito de autorização para a realização de obras aos fins-de-semana e feriados”.

Estas foram as sugestões feitas pelos deputados para resolver os problemas relativos às obras de escavações nas vias de Macau, que “parecem flores a desabrochar por todo o lado”, como se lê no relatório.

17 Ago 2017

CTM | Deputados querem Governo a gerir activos das telecomunicações

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Administração Pública da Assembleia Legislativa (AL) entende que deve ser o Governo a gerir os activos da concessão no sector das telecomunicações, que actualmente estão nas mãos da Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM).

A informação consta no relatório da comissão, referente ao trabalho deste ano legislativo. A comissão entende, por isso, que o Governo deve formar mais talentos nesta área para que possa levar a cabo “a gestão e o uso dos activos de concessão, com vista a concretizar a liberalização e a concorrência justa do respectivo mercado”.

Em resposta aos deputados, representantes da Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações afirmaram que não possuem pessoal qualificado suficiente para levar a cabo este trabalho. “De acordo com a dotação do quadro de pessoal da secretaria dos Transportes e Obras Públicas, não há pessoal suficiente para dominar a técnica geral das condutas dos activos de concessão. Portanto, mesmo que o Governo recuperasse os activos da concessão, não conseguia garantir a continuidade dos serviços de telecomunicações”, lê-se no relatório.

O documento faz ainda referência à intenção do Executivo de reduzir as tarifas das chamadas automáticas internacionais, ou chamadas IDD (International Direct Dialing). “O Governo assumiu a promessa de continuar a promover a redução das taxas do serviço de circuitos alugados locais e das chamadas IDD (International Direct Dialing), procurando concretizá-la ainda este ano.”

A comissão, presidida pelo deputado Chan Meng Kam, considera ainda que o Executivo deve “promover proactivamente a redução das taxas dos circuitos alugados locais e das chamadas IDD, para que o Governo, os hotéis, casinos, bancos e a população em geral saiam beneficiados”.

17 Ago 2017

AL | Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei fazem balanço

Foi bom, mas podia ter sido melhor. A chamada bancada de Fujian passou ontem em revista o trabalho feito durante a legislatura que agora chegou ao fim. Chan Meng Kam, de partida do hemiciclo, apresentou números sobre 12 anos como deputado

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá de saída, uma vez que não se recandidata nas eleições de 17 de Setembro, mas não foi embora sem deixar sugestões sobre o que pode ser feito em termos legislativos. Chan Meng Kam e os outros deputados da sua equipa – Si Ka Lon e Song Pek Kei – chamaram ontem a imprensa para um balanço sobre a legislatura. Para o líder político da comunidade de Fujian, foi também uma revisão do trabalho feito nos últimos 12 anos.

Ao longo de mais de quatro mil dias na Assembleia Legislativa (AL), contabilizou Chan Meng Kam, fez mais de 110 interpelações, cerca de 400 intervenções no período de antes da ordem do dia, e propôs três debates. Na condição de deputado, recebeu quase 40 mil solicitações por parte dos residentes.

Há um momento que o deputado guarda como sendo uma vitória: na primeira sessão de perguntas e respostas com o Chefe do Executivo na AL, Chan Meng Kam falou da questão dos filhos maiores de residentes oriundos da China Continental. Hoje, o problema da reunião familiar está praticamente resolvido.

Ao longo das três legislaturas em que esteve na AL, contribuiu para a discussão de 165 diplomas. O deputado destacou que várias destas leis contribuíram para o avanço da sociedade: a lei da habitação económica, a Lei de Terras e o regime de previdência central não obrigatório foram exemplos dados.

No entanto, nem tudo satisfez Chan Meng Kam. “O regime de sorteio, medida definida na lei da habitação económica, faz com que haja candidatos que só estão ‘a ver corrida’”, disse. “A lei do planeamento urbanístico é de 2013 mas, além de ainda não haver um planeamento geral, há uma série de regulamentos complementares que não entraram em vigor”, lamentou igualmente.

O que faltou

Já Si Ka Lon analisou a legislatura que agora chegou ao fim, quatro anos que serviram para apreciar 52 leis. O deputado gostava que se tivesse feito mais e destaca a lei de bases dos direitos e garantias dos idosos como um dos diplomas em que gostaria de ter trabalhado.

De resto, fez 55 intervenções no período de antes da ordem do dia, e assinou 205 interpelações escritas e 17 orais. Além disso, esteve na origem de duas propostas de debate. Habitação, trânsito, serviços médicos, educação e despesas do Governo foram algumas das questões que abordou.

Em relação aos serviços sociais, a equipa de Si Ka Lon atendeu um total de 19.469 casos: 13.850 consultas de cidadãos e 5619 situações que precisaram de ser acompanhadas.

Numa análise às necessidades actuais do território, o deputado defende que é preciso afastar os funcionários públicos que não reúnem os requisitos necessários e garantir que os cidadãos recebem os frutos da indústria de jogo, ajudando na aquisição da primeira casa através da criação de um fundo de partilha.

Song Pek Kei fez referência aos casos que geraram polémica nos últimos anos, como a escolha do local para o edifício de tratamento de doenças transmissíveis, as irregularidades na contratação de funcionários públicos e a futura Biblioteca Central, assuntos que abordou enquanto deputada.

Congratulando-se com o trabalho feito em prol do bem-estar social, como o aumento de instalações comunitárias na zona de Seac Pai Van e o combate ao alojamento ilegal, matéria que precisa de ser melhorada, Song Pek Kei lamentou que não tivesse sido aprovada a medida que permitiria ao Chefe do Executivo limitar o aumento das rendas.

17 Ago 2017