João Luz Manchete SociedadeAeroporto | Esperados 50 mil passageiros no Ano Novo Chinês Entre 22 e 26 de Janeiro, o Aeroporto de Macau pode receber perto de 50 mil passageiros, fluxo 1,5 vezes maior do que o registado no Ano Novo Chinês de 2022. Em Fevereiro regressam os voos para Banguecoque e Kuala Lumpur e decorrem negociações para ligar Macau a destinos no Vietname e Camboja A empresa que gere o Aeroporto Internacional de Macau prevê o aumento do fluxo de passageiros durante o Ano Novo Chinês para cerca de 50 mil visitantes no período entre 22 e 26 de Janeiro, um volume de movimentos 1,5 vezes maior do que o verificado nos mesmos feriados do ano transacto. A perspectiva foi avançada ontem por Eric Fong, que dirige o departamento de marketing do aeroporto. O responsável adiantou que desde que foram levantadas as restrições fronteiriças de combate à pandemia, o aeroporto da RAEM acrescentou 10 novas rotas. De momento, Macau tem ligações aéreas a 29 destinos, 20 destes localizados no Interior da China e os restantes para locais no sudeste asiático e Taiwan, operações que envolvem 11 companhias aéreas, avançou o director de departamento, citado pelo canal chinês da Rádio Macau. Em relação à capacidade de recursos humanos para lidar com o aumento de passageiros, Eric Fong indicou que na segunda-feira aterraram em Macau 8.000 pessoas, número que representa um “crescimento satisfatório”, mas dentro dos limites logísticos do aeroporto. O responsável estima que o aeroporto tem capacidade para processar a chegada de 30.000 passageiros por dia. Mais ligações Recorde-se que na semana passada, a comissão executiva da empresa que gere as operações aeroportuárias em Macau marcou uma reunião para ajustar e restaurar a normalização dos recursos humanos, avançou o Jornal Tribuna de Macau. Quanto ao futuro imediato, ultrapassados os tempos da política de zero casos de covid-19, Eric Fong aponta como objectivo principal o retorno a mais de 50 destinos que serviam Macau antes da pandemia. Os principais alvos da Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM) são “mercados mais prósperos do Interior, ao mesmo tempo que se vai apostar em rotas de médio e longo curso no sudeste asiático”. Uma das políticas para manter em termos de gestão é incentivos e descontos nas tarifas para aterrar e descolar a companhias aéreas. Eric Fong aponta que aumentou entre 20 a 30 por cento o número de transportadoras aéreas a concorrer a ligações à RAEM, face ao período pandémico. Para já, a CAM encontra-se em negociações para abrir rotas aéreas com destinos no Vietname e Camboja e no próximo mês são recuperadas as ligações a Banguecoque e Kuala Lumpur.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJogo | Receitas de Janeiro podem atingir um terço do registo de 2019 Os casinos de Macau podem começar 2023 a facturar quase 8 mil milhões de patacas de receitas brutas em Janeiro, mais de 30 por cento do registo de 2019, indica a estimativa da Morgan Stanley baseada nos primeiros 15 dias de operação. O valor representa um aumento superior a 22 por cento em relação a Janeiro de 2022 Depois da divulgação dos dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) que revelaram a quebra de 51,4 por cento das receitas brutas em 2022, para um total de 42,1 mil milhões de patacas, em relação ao ano anterior, o presente mês de Janeiro pode significar uma mudança de paradigma. Com base nas previsões dos analistas da Morgan Stanley face aos primeiros 15 dias do mês, Janeiro pode terminar com um volume de receitas brutas a chegar aos 7,75 mil milhões de patacas, mais 22,2 por cento em relação a Janeiro de 2022, quando os casinos de Macau apuraram 6,34 mil milhões de patacas. Os especialistas sublinham que as receitas brutas perspectivadas para este mês representam, pelo menos, 31 por cento das receitas de Janeiro de 2019, quando as receitas brutas atingiram quase 25 mil milhões de patacas. Importa ressalvar que em 2019, os feriados do Ano Novo Chinês calharam no início de Fevereiro, ao contrário deste ano em que irão ajudar às operações do mês de Janeiro. “Aumentámos as nossas estimativas para Janeiro de 200 milhões de patacas por dia para 250 milhões de patacas de receitas brutas diárias (mais 123 por cento em termos mensais e 31 por cento do valor registado em Janeiro de 2019). Destas receitas brutas, prevemos que cerca de 85 por cento virá do segmento de massas”, perspectivam os analistas citados pelo GGRAsia. Matar saudades O comunicado da Morgan Stanley seguiu-se à primeira visita dos seus analistas a Macau nos últimos três anos. Do que apuraram, foi estimado que “as apostas mínimas nas mesas de casinos da península de Macau sejam de cerca de 500 patacas, enquanto no Cotai foram de 2.000 patacas”, o que “superou as expectativas”. Na segunda-feira, a JP Morgan divulgou também um comunicado a dar conta do crescimento semanal ao nível das receitas dos casinos de Macau. “Com base nas informações que recolhemos, estimamos que as receitas brutas dos primeiros 15 dias de Janeiro sejam de cerca de 4,3 mil milhões de patacas, ou seja, uma taxa diária de receitas entre 285 milhões e 290 milhões de patacas”, foi estimado. Tendo em conta que este período ainda não compreende os feriados do Ano Novo Chinês, os analistas da JP Morgan são mais optimistas que os seus colegas da Morgan Stanley, apontando para receitas brutas entre 35 e 40 cento das apuradas em 2019, com as estimativas a subir para o período dos feriados do Ano Novo Chinês.
João Santos Filipe Manchete SociedadeImobiliário | Compra de habitação caiu para nível mais baixo desde 1984 As transacções estão em quebra há quatro anos, e no ano passado chegou-se ao valor mais baixo das últimas quatro décadas. Julho e Agosto foram os piores meses para o mercado No ano passado foi registado o valor mais baixo de transacções de habitação no território desde 1984. Segundo os dados disponibilizados pela Direcção de Serviços de Finanças (DSF) em 2022 foram transiccionados 2.950 imóveis. Em comparação com 1984, o ano com o pior registo das estatísticas oficiais da Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no ano passado houve menos 540 transacções de habitação, face ao total de 3.490 transacções de 1984. O ano de 2022 é assim inscrito nos registos históricos como o pior desde que começaram a ser publicadas estatísticas de transacções imobiliárias, o que aconteceu em 1983. Nesse ano, quando ainda nem estava prevista a transição da soberania de Macau de Portugal para a China, tinham sido registadas 3.699 transacções de habitação. 2022 foi também o quarto ano consecutivo a acumular recordes de compras baixas de casas em Macau. A compra de habitação está em quebra desde 2018, quando tinham sido comercializadas 10.822 habitações. Esta tendência só encontra paralelo entre os anos de 2011 e 2015, o recorde negativo. Nesses anos, afectados pela crise mundial e a campanha contra o jogo VIP em Macau, as transacções diminuíram de 17.989 trocas para 5.976. Período negro No ano passado, o mercado foi afectado pelas várias medidas de controlo da pandemia, não só em Macau, mas também no Interior, como confinamentos e proibições de circulação. Além disso, sentiu-se o efeito da crise no jogo, que culminou com uma contracção das receitas brutas dos casinos de 51,4 por cento, para 42,2 mil milhões de patacas. A queda é mais significativa quando a comparação é feita com 2019, o último ano sem qualquer efeito da pandemia, quando as receitas foram de 292,5 mil milhões de patacas. No ano passado, o mês com menos transacções foi registado em Julho, com 127 compras de casa, e Agosto, quando o número foi de 157 transacções. Estes meses coincidiram com o principal pico da pandemia em Macau e o surto de Julho, que levou à imposição de um confinamento parcial. Por outro lado, o mês com mais transacções foi Outubro, com 417 transacções.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaUrbanismo | Ella Lei pede renovação de zonas tradicionais de Macau Edifícios muito antigos, falta de espaços públicos e de zonas de estacionamento que não fomentam a vida comunitária. A deputada Ella Lei exige renovação urbanística de zonas antigas e tradicionais da península como é o caso da Avenida Horta e Costa e de alguns locais perto do Porto Interior, com o objectivo de melhorar a economia local e a indústria do turismo A deputada Ella Lei exige do Governo uma maior intervenção em bairros antigos e tradicionais da península de Macau com potencialidade em matéria de economia comunitária e turismo. Numa interpelação escrita, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pede que sejam requalificadas zonas como o bairro de San Kiu, junto à Praia do Manduco, Avenida de Horta e Costa, Rua Ouvidor Arriaga, Rua da Barca, zona da Guia ou Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida. Os grandes problemas apontados prendem-se com a falta de renovação dos prédios, o estacionamento e mau saneamento básico. “Embora a zona do Porto Interior tenha um longo período de desenvolvimento e tenha testemunhado a história e economia de Macau, existem vários problemas a nível comunitário, mas os planos de renovação urbana e embelezamento dos bairros nesta zona não foram clarificados [no Plano Director da RAEM]”, apontou. Ella Lei fala “dos edifícios muito antigos”, bem como da “falta de espaços públicos amplos e instalações públicas”, além de muitas das ruas terem lacunas ao nível da prevenção de incêndios e de saneamento básico, o que “afecta a vida dos moradores e limita o desenvolvimento económico destas áreas”. Estudos e mais estudos Na mesma interpelação, a deputada recorda os inúmeros estudos e inquéritos promovidos pelo Executivo para ouvir a opinião dos residentes sobre a requalificação das zonas onde moram. “Muitos deles manifestaram a esperança de, além de se manterem as características históricas das zonas e dos edifícios, fosse feito um embelezamento das ruas e uma melhoria das instalações públicas, com mais espaços verdes e infra-estruturas recreativas. Mas, ao longo dos anos, não foi cumprido um objectivo global a longo prazo, nem houve implementação ou planeamento”, acusou a Ella Lei. Neste sentido, a deputada ligada à FAOM pergunta se as autoridades “dispõem de planos e disposições específicas para optimizar os espaços e ambiente comunitário da zona do Porto Interior” e como “vai ser melhorada a qualidade de vida dos residentes no futuro”. A legisladora destacou ainda o facto de a história do comércio marítimo que passou por Macau estar presente em elementos arquitectónicos e de património em muitos dos bairros e ruas do Porto Interior, e a necessidade de desenvolver planos de revitalização urbana que possam fomentar o turismo marítimo. Nesta interpelação, coloca-se também o problema das inundações na zona do Porto Interior, que afectam o comércio e a restauração. Mesmo com a realização de obras para a resolução deste problema de longa data, Ella Lei questiona se serão feitos trabalhos de renovação das zonas comerciais costeiras e dos restantes espaços junto ao Delta do Rio das Pérolas.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJorge Arrimar, autor de “Cuéle – O Pássaro Troçador”: “Fiz-me escritor de Macau” Lançado no fim do ano passado, “Cuéle – O Pássaro Troçador” conta a história, com elementos ficcionados, de António José de Almeida, figura importante das zonas de Humbe e Chibia, no sul de Angola, entre meados do século XIX e finais do século XX. Autor de Macau e antigo director da Biblioteca Central de Macau, Jorge Arrimar sente-se cansado do formato do romance e com vontade de regressar à poesia Quando conversámos, em 2020, disse-me que estava a trabalhar num romance histórico sobre Angola. Porquê um romance histórico? O romance histórico, desta vez, não foi um começo. Antes já havia escrito e publicado três livros que fazem uma trilogia, “A Trilogia dos Planaltos”, de romance histórico que têm como matriz Angola, mais precisamente a minha zona de origem, que é no sul do país. Fazia sentido contar a história de António José de Almeida, que é a personagem central do livro? O que lhe despertou interesse nesta personalidade, ao ponto de escrever um livro? António José de Almeida é uma figura que aparece nessa trilogia. Mesmo antes já fazia referência aos pais dele e depois ao seu desaparecimento, pois António José de Almeida e o seu irmão ficaram órfãos muito cedo. Porém, ficaram com algo do pai, como a ideia de que Huíla seria uma terra promissora para a sua actividade. Eles então vão descendo e ficam no Sul, primeiro numa região chamada Humbe e depois Chibia. Esta família fez de Chibia a sua terra principal. Esta é uma figura muito importante porque marcou profundamente aquele tempo em que viveu, finais do século XIX e princípios do século XX. Morreu em 1924. Apenas conheci amigos e descendentes de António José de Almeida, mas ficou-me sempre na memória as histórias que o meu avô contava sobre ele. Dizia-me sempre que tinha sido um homem extraordinário, porque não era só poderoso em termos económicos como se tinha revelado um homem de grande magnanimidade, de uma ligação aos outros que não era vulgar. Marcou profundamente em termos económicos, sociais e familiares a terra onde viveu, e, apesar de toda a importância que teve na época, era pouco conhecido. E hoje também o é, pelo que este livro é como um resgate ao desconhecimento de António José de Almeida e de outras figuras que também aparecem no romance. Tinha a ideia da existência de figuras importantes do sul de Angola que estavam esquecidas e perdidas no tempo. Não estão feitas as pazes com o passado colonial português. Permanecem muitas histórias desse tipo que não são contadas por causa do esquecimento que foi sucedendo após o 25 de Abril de 1974, como se estas histórias do quotidiano tivessem ficado no período colonial? Com este romance, pretende resgatar algumas delas? De facto, é assim, porque Angola, com o 25 de Abril e a independência, envolveu-se numa terrível guerra civil e isso fez com que a sobrevivência estivesse em primeiro lugar. As histórias passaram a ser outras, de exílio, morte, fuga. É uma guerra que só termina em 2002 e que rompeu com o tecido social. Houve pessoas que passaram a viver noutras terras e houve um corte com as histórias contadas em contexto tradicional. Hoje, mais do que nunca, o português é falado porque representava sobrevivência na guerra civil. A guerra civil fez com que o português fosse mais falado em Angola do que no próprio período colonial. “Cuéle – Pássaro Troçador”. De onde vem o termo “Cuéle”? É uma palavra onomatopeica, porque o próprio pássaro canta assim, “cué…”. O “cué…” é “cuéle” na língua da zona, do Planalto de Huíla. Depois inscreve-se no português com uma ligeira adaptação e passa a ser “cuéle”. O pássaro aparece no título porque é um elemento que acompanha toda a trama romanesca. Ao longo do livro, de quando em quando, o Cuéle aparece no cimo de uma árvore a cantar. É um pássaro troçador, ele troça das nossas indecisões, dos nossos orgulhos, perdas e falhanços. É um bocado como o grilo falante, como um elemento da nossa consciência. Portanto, o Cuéle era muito conhecido entre os caçadores, porque quando um deles falhava o tiro aparecia logo o pássaro a cantar de forma trocista. Tem formação em História. De certa maneira, com a edição deste livro, regressa à sua formação de origem. Enquanto estudioso e homem da História, ela às vezes revela-se árida. Às vezes cansamo-nos porque tem de ser lida aos poucos, porque se pretende científica, e prendemo-nos a aspectos que não aligeiram a narrativa. Na História encontramos muito vazios porque temos de ter sempre certeza das fontes, porque elas têm de suportar a nossa tese. No género literário em que comecei, a poesia, sempre escrevi e sempre senti necessidade de ir mais além e só conseguia isso com a literatura. Todos os que escrevem romance histórico sentem que só com a literatura podem encontrar respostas. Também tenho escrito coisas que não têm a ver com o romance histórico, pois publiquei, não há muito tempo, um conto chamado “Catarina”, passado nos Açores. Os livros mais “pesados” foram entre a História e o romance histórico. Que respostas lhe são dadas pela poesia? A poesia dá respostas do sensível. Vivemos sempre tocados por coisas às quais só a poesia responde. Nunca parei de escrever poesia. O facto de estar a escrever prosa ou ficção não quer dizer que não escreva poesia, porque exige menos trabalho oficinal, pois os textos são mais curtos. Não quer dizer que sejam mais fáceis. Se calhar exigem menos tempo, posso escrever um poema num dia, mas não posso escrever um romance num dia, puxam-se a sentimentos diferentes e a poesia pode aparecer ao mesmo tempo que um romance. Eugénio de Andrade gostava muito de mostrar esse lado oficinal do poema, mais trabalhoso, para que as pessoas não pensassem que bastava que escrever poesia era assim fácil, só com inspiração. Eu, por exemplo, trabalho muito os poemas. Conheceu pessoalmente Eugénio de Andrade. É uma das suas grandes referências? Aí está Macau. Foi lá que o conheci. Eugénio de Andrade foi convidado pelo Instituto Cultural e foi visitar a Biblioteca [Jorge Arrimar foi director da Biblioteca Central de Macau], sendo um homem de livros. Aí preparei uma exposição com o que tínhamos sobre ele e editámos um catálogo sobre a sua obra. Falamos um pouco nessa ocasião. Mais tarde, passando pela foz do Douro, fui visitá-lo onde vivia e onde se criou depois a Fundação Eugénio de Andrade. Mas não privei muito mais com ele. É um poeta de que gosto muito e que me marcou bastante. Como está a relação da sua escrita com Macau? Estive em Macau pouco tempo antes da pandemia. Fui convidado pela Universidade de Macau e participei num encontro sobre a literatura de Macau. Da minha parte, emocionalmente, estou muito ligado a Macau e devo-lhe muita coisa, foram tempos muito importantes na minha vida. Fiz-me escritor de Macau por aquilo que fui escrevendo, mesmo não sendo macaense. Sou de Macau pelos anos que lá vivi e pelo que fiz. Penso que me consideram um escritor de Macau. Costumo dizer que a geografia da minha escrita tem três pontos essenciais, Macau, Angola e Açores. A literatura que se faz de Macau é, acima de tudo, saudosista, emotiva? É uma literatura que remete para algo que já não existe? Haverá quem o faça, pois quem sai de Macau leva Macau consigo e há essa tendência de escrever sobre o que se passou lá. Aí, é natural que o saudosismo apareça. Mas há escritores que permanecem em Macau e que falam do presente. Há uma grande mudança em Macau e nas comunidades portuguesas e macaense. Acha que isso levará a alterações na literatura de Macau? Quando há mudanças sociais muito grandes isso reflecte-se a todos os níveis e a todo o tipo de arte. Afinal, vivemos em sociedade e prendemo-nos a muitos fios invisíveis que essa mesma sociedade cria e quando são cortados isso reflecte-se no nosso pensamento. No caso de Macau, todos sabem que a pandemia levou à saída de pessoas de origem não chinesa. São pessoas que marcavam a sociedade e a literatura, e aí é natural que a escrita e a literatura reflitam essa situação. Mesmo que a minha escrita tenha algo de oriental, eu não deixo de ser um escritor que vem de fora e que se tentou inscrever naquela sociedade, com os seus limites, e naquela cultura e forma de escrever. Claro que sou pessimista, porque se as pessoas saem, que lugar têm pessoas parecidas comigo em termos do que escrevem, do que falam e viveram? Se foi quase reduzido ao zero e se deixa de ter expressão, então posso dizer que sou pessimista. Tem projectos novos para depois deste romance? Neste momento, estou a descansar de uma escrita muito pesada como é a do romance, e sobretudo deste que vai quase às 500 páginas e tem uma mancha muito apertada, porque senão seria muito maior. É um livro muito pesado e o seu peso reflecte também muito tempo de trabalho. Foram quase dez anos a trabalhar neste romance. Estou agora mais ligado à poesia, porque é mais solta e etérea. Quando a abordamos de forma poética é sempre mais leve e isso descansa-me do trabalho que tive com “Cuéle”. Penso que durante algum tempo vou descansar da prosa. Como é viver dez anos ligado a um romance? Não vivo da escrita, não sou um escritor profissional e faço outras coisas. Não sou um homem solitário, tenho família. Gosto muito de viver com estas pessoas que me rodeiam. Coordeno a biblioteca de uma universidade e vou fazendo outras coisas. Fiz intervalos no romance e houve períodos em que tive mesmo necessidade de fazer intervalos e de me afastar da escrita, da trama, dos enredos para os perceber melhor.
Hoje Macau Manchete SociedadeCasinos | Jogo VIP em Macau cai 64 por cento no ano passado As receitas provenientes das grandes apostas em Macau foram de 10,1 mil milhões de patacas em 2022, menos 64% em relação a 2021, e 92,5% em relação a 2019 (ano pré-pandemia), foi ontem divulgado. No último trimestre do ano, as operadoras arrecadaram 2,1 mil milhões de patacas no último trimestre do ano, no chamado jogo VIP, contra 1,1 mil milhões de patacas nos três meses anteriores, de acordo com dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). As operações dos casinos têm sido muito afetadas pela pandemia com fortes reduções de receitas. Os números dos grandes apostadores em 2022 são menos de 7,5% das receitas do mesmo setor em Macau em 2019, que atingiram 135,2 mil milhões de patacas, o momento em que o jogo VIP perdeu o estatuto de segmento mais preponderante nas receitas globais. Este ano terminou com os casinos de Macau a registarem uma quebra de 51,4% na receita bruta acumulada, de 42,1 mil milhões de patacas contra 86,8 mil milhões de patacas em 2021. Desde 2020, as seis operadores do jogo em Macau, MGM, Galaxy, Venetian, Melco, Wynn e SJM, acumularam prejuízos sem precedentes e o Governo tem sido obrigado a recorrer à reserva extraordinária para responder à crise, até porque cerca de 80% das receitas governamentais provêm dos impostos sobre o jogo. As operadoras de jogo renovaram, a 16 de dezembro, o contrato de concessão para os próximos dez anos, entrando em vigor a 01 de janeiro em Macau, único local na China onde o jogo em casino é legal. As autoridades exigiram no concurso público a aposta em elementos não jogo e visitantes estrangeiros, na expectativa de diversificar a economia do território. O jogo representa 55,5% do produto interno bruto (PIB) de Macau, indústria onde trabalham mais de 80 mil pessoas, ou seja, 17,2% da população empregada. Macau, que à semelhança da China seguia a política ‘zero covid’, anunciou este mês o cancelamento da maioria das medidas de prevenção e contenção, depois de quase três anos das rigorosas restrições.
João Luz Manchete SociedadeEstudo | Retoma de Macau pode não ser afectada por cenário global A Associação Económica de Macau prevê que a retoma da economia local se sinta já no primeiro trimestre do ano. Depois do boom turístico do Ano Novo Chinês, a associação estima que os investimentos programados pelas concessionárias protejam Macau do cenário global de recessão e mesmo da quebra do consumo no Interior da China Os primeiros três meses de 2023 podem marcar o virar de página depois de três anos de paralisia económica em Macau e de restrições e isolamento ditado pelo combate à pandemia. Pelo menos, é a previsão da Associação Económica de Macau, apontada pelo mais recente Índice de Prosperidade publicado ontem, que perspectiva a continuação do crescimento do fluxo de turistas e os efeitos positivos no comércio, restauração e na indústria do turismo. O relatório indica também que o panorama económico de Macau a curto-prazo irá beneficiar do efeito de expansão produzido pelas receitas do turismo durante Ano Novo Chinês. Enquanto que a longo-prazo, os investimentos com que as concessionárias de jogo se comprometeram aquando da renovação das licenças, em particular nos segmentos não-jogo, podem ser determinantes para atrair turistas estrangeiros. A instituição presidida pelo ex-deputado Joey Lao indicou ainda que, desde que se mantenha o fluxo de visitantes, a economia de Macau pode passar ao lado da recessão global. Mundo vs Macau A associação refere que “o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outras instituições internacionais não estão muito optimistas em relação às perspectivas de crescimento global para este ano e 2024”, continuando um cenário de incerteza e complexidade. Além disso, é indicado no relatório que passados três anos de combate pandémico e repercussões económicas, as perspectivas de salários menores e diminuta confiança dos consumidores do Interior da China são também cenários a ter em conta. Porém, é argumentado que apesar de a recuperação económica no Interior ainda ter um longo caminho pela frente, a recuperação do turismo está relativamente a salvo. O relatório da associação local cita os cálculos do Ministério da Cultura e Turismo da China que projectam o aumento das viagens domésticas em 0,44 por cento ao ano, para um total de 52,71 milhões de viagens, um nível que fica a 43 por cento do registado em 2019. Face a estes cenários, “Macau tem uma economia muito pequena, maioritariamente dependente das exportações do sector turístico e das indústrias de entretenimento. É uma situação muito especial, atractiva e competitiva. Desde que os turistas regressem, a economia pode recuperar a sua vitalidade.” Porém, o Índice de Prosperidade e os sentimentos económicos só devem regressar ao um nível “estável” no segundo ou terceiro trimestre do ano.
João Santos Filipe Manchete SociedadeAutocarros | Registo do nome de passageiros termina em Fevereiro O programa que possibilitou registar a identidade dos passageiros de autocarros públicos, para controlo pandémico, será suspenso a 10 de Fevereiro e os dados pessoais colectados serão destruídos. Os portadores de Macau Pass sem identificação vão voltar a usufruir da tarifa de três patacas À medida que o Governo desmantela o aparato de controlo e prevenção da pandemia, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou ontem que “irá suspender o plano de ‘Registo do nome dos passageiros de autocarros’ a partir de 10 de Fevereiro”. Na sequência de questões enviadas pelo HM, a direcção liderada por Lam Hin San respondeu com um comunicado público justificando a medida com o facto de a “política de prevenção da epidemia entrou numa nova fase”. Recorde-se que no final de Novembro de 2021, a DSAT “para facilitar o rastreamento dos passageiros que partilhem os percursos de autocarros com os casos confirmados do novo tipo de coronavírus”, implementou o plano de registo do nome dos passageiros de autocarros.” A medida teve como objectivo o registo de todos os cartões da Macau Pass, utilizados nos autocarros públicos, com o nome do seu proprietário. Os portadores de cartões que não fizeram o registo deixaram de usufruir dos benefícios de tarifas e, em vez de três patacas, o custo de cada viagem passou para seis patacas. O programa que regista a identidade dos passageiros só será suspenso a 10 de Fevereiro devido à “necessidade de mais tempo para a realização de modificação, teste e actualização gradual dos equipamentos de pagamento electrónico”, altura em que os cartões Macau Pass sem registo de identificação vão voltar a pagar três patacas por viagem. Dados lançados Em relação ao uso dos dados pessoais recolhidos durante o período em que o programa, a DSAT refere que a informação armazenada no plano “de ‘registo do nome dos passageiros de autocarros’ será destruída no prazo de 3 meses após o seu termo, ou seja, no dia 10 de Maio”. Porém, a direcção de serviços salienta que a recolha de dados pessoais de identificação é utilizada para comunicar o extravio de cartões e que os titulares dos cartões podem registar, por sua iniciativa, os dados pessoais junto da “Macau Pass S.A. durante o período transitório, para continuar a usar a função de extravio de cartão”. Durante o período em que tem estado activo, “o plano registou dados de mais de 590 mil cartões da Macau Pass e foram activados mais de 600 mil cartões da Macau Pass.”
João Santos Filipe Manchete PolíticaSong Pek Kei denuncia problemas nos funerais e tratamento de cadáveres A deputada Song Pek Kei denunciou ontem a incapacidade dos Serviços de Saúde para lidarem com os cadáveres que se acumularam durante o pico da pandemia. Numa intervenção antes da ordem do dia, Song apontou que há famílias a sofrer com a situação, uma vez que só tiveram acesso ao corpo das vítimas, quando este estava num avançado estado de deterioração. “Neste momento, as instalações são insuficientes, e até houve casos em que os cadáveres se deterioraram e apresentam mau cheiro, dificultando o tratamento ordenado por parte dos familiares dos falecidos”, revelou Song Pek Kei. Segundo a deputada, a situação afectou gravemente as famílias, que sofreram um outro desgosto além da morte do familiar, uma vez que todos estes incidentes fizeram com que os falecidos fossem impedidos de “ter um último momento com dignidade”. Para responder à situação, e sublinhando que desde Dezembro o número de mortos “cresceu dezenas de vezes” face aos registos históricos, Song pediu às autoridades para “aumentarem, provisoriamente, as câmaras frigoríficas para guardar os restos mortais dos falecidos”. As declarações de Song Pek Kei foram feitas um dia depois de Alvis Lo ter recusado a perda de cadáveres por parte dos Serviços de Saúde. Caos funerário A legisladora ligada à comunidade de Fujian abordou igualmente o caos a nível dos funerais dos residentes, que actualmente sofrem com várias restrições. As pessoas têm agora um máximo de 15 minutos para se despedir dos familiares. “Com a recente morte de pessoas com doenças subjacentes à covid-19, a procura de serviços funerários aumentou significativamente, a procura é maior do que a oferta e, nos últimos tempos, as casas mortuárias têm estado sobrecarregadas, com problemas de funcionamento e de impossibilidade de tratamento dos restos mortais”, denunciou. Também o deputado Che Sai Wang acompanhou a deputada nas críticas. “Segundo as políticas de combate à epidemia, os corpos dos que faleceram durante este período têm de ser embalados e selados, não podendo ser abertos para tratamento posterior, nem se podendo prestar a derradeira homenagem, o que, para as famílias, é incompreensível”, atirou Che. “Desde a linha da frente dos profissionais de saúde à indústria funerária, esta ‘linha de vida e de morte’ está a enfrentar uma pressão e confusão inimagináveis”, acrescentou. Para Che, este cenário, além de outros problemas como a falta de medicamentos, indica que “o Governo da RAEM não preparou bem as medidas de liberalização do plano de contingência”. As críticas de Che foram igualmente indicadas por José Pereira Coutinho, colega de bancada, A vitória de Wu Apesar das críticas, o deputado Wu Chou Kit, nomeado por Ho Iat Seng, considerou que o Governo triunfou e protegeu eficazmente a vida da população de Macau. “O Governo da RAEM, em cumprimento das políticas nacionais de prevenção e controlo da epidemia, tem-se empenhado, ao longo destes três anos, na sua prevenção e controlo, protegendo eficazmente a vida e a saúde dos mais de 600 mil cidadãos de Macau, na fase mais feroz do vírus!”, declarou o engenheiro de formação. Wu Chou Kit considerou ainda que todas as medidas adoptadas ao longo dos três anos foram aplicados de forma “científica e precisa”. “À medida que a política nacional de prevenção da epidemia muda, Macau insiste em tratar a epidemia de forma científica e precisa!”, atirou.
João Santos Filipe Manchete PolíticaSindicatos | Diploma aprovado sem consagração do direito à greve e negociação colectiva Na discussão do direito dos trabalhadores consagrado na Lei Básica, os deputados ligados ao patronato pediram flexibilidade e houve até quem tivesse considerado que nada obrigava a que o direito fosse consagrado através de uma lei. Do lado laboral, pediu-se uma lei para regular o direito à greve e à negociação colectiva Os deputados da Assembleia Legislativa aprovaram ontem a proposta do Governo para permitir a existência de sindicatos, uma obrigação que consta da Lei Básica, aprovada há quase 30 anos, mas que ainda não foi cumprida. No entanto, a discussão do diploma ficou marcada por pedidos, por parte de alguns deputados, para que se cumpra as outras obrigações do artigo 27.º da Lei Básica, como o reconhecimento do direito à greve. José Pereira Coutinho foi um dos primeiros a intervir no debate, e acusou o Governo de nunca referir a obrigação de cumprir a Lei Básica na apresentação deste diploma. “Falamos sempre da Lei Básica, mas a nota justificativa não faz nenhuma referência ao artigo 27.º da Lei Básica. Não há uma única referencia à Lei Básica. Afinal qual é o rigor do Governo da RAEM no cumprimento da Lei Básica? Isto não reflecte a importância que atribuímos à Lei Básica”, começou por criticar o deputado ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Também não vemos neste diploma um direito à greve. Quando é que vão assegurar este direito? É um direito nuclear da Lei Básica. Quando vão apresentar uma proposta de lei para consagrar o direito à greve?”, questionou. A ausência do direito à greve foi igualmente mencionada por Leong Sun Iok, da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), e por Ron Lam. Contudo, estes deixaram a esperança de que este seja um primeiro diploma, e que a sua revisão possa ser feita no futuro, a partir desta lei que definiram como “a primeira base” de trabalho. Outra das críticas verbalizada pelos deputados, foi a ausência do direito à negociação colectiva, prevista nos acordos internacionais assinados por Macau, mas nunca aplicada. E os direitos dos patrões? Também os representantes do patronato na Assembleia Legislativa se mostraram insatisfeitos com algumas partes do diploma. Ip Sio Kai, ligado aos empresários, desvalorizou o artigo 27.º da Lei Básica. “Não é só por haver um artigo na Lei Básica que temos de fazer uma lei sindical. Temos de discutir de forma prudente e ser pragmáticos”, afirmou durante a discussão. “Será que o facto de não haver uma lei sindical afecta a relação entre os patrões e os trabalhadores?”, perguntou e respondeu: “Não”, atirou. Ip Sio Kai destacou também que a ausência de uma lei deste género permitiu que fossem estabelecidas na RAEM boas relações entre patrões e empregados. Este deputado mostrou-se ainda preocupado com a possibilidade de serem criados muitos sindicatos. Por sua vez, Wang Sai Man, outro dos deputados eleitos de forma indirecta pelo sector empresarial, defendeu que a lei deveria proteger os direitos do patronato. “Quando vimos que trabalhadores querem defender os seus direitos, estamos a falar de uma relação entre os trabalhadores e os empregadores. Mas não vemos os direitos dos empregadores, da parte patronal, a serem defendidos neste diploma”, afirmou. Características de Macau Face às questões e críticas dos deputados, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, não se comprometeu com qualquer lei para estipular a greve, nem o processo de negociação colectiva. Pelo contrário, o secretário pareceu indicar que o Governo recusa seguir esse caminho e que esta lei foi feita a pensar nas especificidades do território. “Temos de criar uma lei sindical com características específicas de Macau”, defendeu. “É o nosso raciocínio”, acrescentou. “Esta é uma lei que resulta da nossa consulta pública de 40 dias e que cumpre com as exigências da Lei Básica”, atirou. Lei Wai Nong destacou ainda o papel assumido pelo Governo, para manter a harmonia entre empregadores e trabalhadores. Por outro lado, elogiou o papel da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). “Ao longo dos anos, 93 por cento dos conflitos entre empregadores e trabalhadores foram resolvidos através da DSAL. Os restantes, cerca sete por cento, foram resolvidos pela via judicial”, indicou. À 13.º tentativa, a proposta com vista à criação de sindicatos no território lei foi aprovada quase por unanimidade, com a excepção dos deputados da ATFPM, Pereira Coutinho e Che Sai Wang, que se abstiveram. “É uma lei muito insuficiente”, jutificou Che, em nome dos dois. Tradicionalmente, Kou Hoi In, presidente da AL, não vota a não ser que haja um empate, e ontem voltou a adoptar essa postura, pelo que não tomou uma posição.
Hoje Macau China / Ásia MancheteMilhões de chineses receosos no regresso a casa após fim de restrições Por estrada ou por mar, de avião ou de comboio, milhões de chineses estão a caminho da terra natal para festejar a passagem do ano lunar com a família, na maior migração interna do planeta. O ‘chunyun’, a temporada de viagens por ocasião do Ano Novo Lunar que arrancou no sábado passado, coincide este ano com o fim da política de ‘zero casos’ de covid-19, suscitando um aumento no fluxo de viajantes e desafios para as zonas rurais da China, com menos recursos de saúde. “Estive com 40 graus de febre, mas estou feliz”, descreveu à Lusa um chinês residente em Pequim, que recuperou recentemente de uma infecção pela covid-19. “Finalmente posso movimentar-me”, disse. Para a chinesa Xiaowang, que vai percorrer de comboio os mais de 2.000 quilómetros que separam Pequim e a sua terra natal, na província de Sichuan, esta é a primeira vez que vai a casa no espaço de dois anos. “É fatigante”, admitiu, sobre a jornada de 20 horas. “Mas esta data é muito importante para os chineses: é quando nos reunimos com a família”, contou. Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, no total, foram realizadas 34,7 milhões de viagens no último sábado, o primeiro dia de um período de 40 dias em que centenas de milhões de chineses regressam às respetivas terras natais. Aquele número representa um aumento de 38,2 por cento, em relação a 2022, depois de, nos últimos dois anos, a temporada de viagens ter sido afectada pelas medidas de prevenção contra a covid-19 que vigoraram na China. Em Dezembro, no âmbito do fim da política de ‘zero covid’, o governo chinês retirou as restrições às viagens internas, que incluíam a exigência de testes PCR negativos para viajar de avião ou comboio e o registo das deslocações através de uma aplicação de localização. Cada cidade ou província tinha também as suas próprias políticas: Pequim, por exemplo, não permitia a entrada de viajantes vindos de áreas onde tivessem sido registados casos de covid-19. Outros locais exigiam quarentena em instalações designadas ou em casa, para quem vinha de zonas com surtos activos. Fluxo de receios O fim das restrições suscitou uma vaga de infecções sem precedentes e o intenso período de viagens, que ocorre entre os dias 7 de Janeiro e 15 de Fevereiro, está também a suscitar preocupações. “É assustador”, resumiu à Lusa Zhao Yang, residente em Pequim. “Esperei com entusiasmo pelo fim dos bloqueios, mas face a este súbito fluxo de pessoas a viajar, sinto-me receoso”, frisou. O Ministério dos Transportes chinês previu que o número de viagens durante a temporada do Ano Novo Lunar quase duplicará, face ao ano passado, para 2,095 mil milhões. Este número marcaria uma recuperação para 70 por cento do tráfego verificado em 2019, o último ano antes do início da pandemia. A principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais, calha este ano entre os dias 21 e 27 de Janeiro, sob o signo do Coelho, um dos doze animais do milenar zodíaco chinês. Na China e em todas as ‘chinatown’ espalhadas pelo mundo, os edifícios são engalanados com lanternas vermelhas, enquanto nas ruas se lançam petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos’. Espera-se também que as viagens para o exterior subam, depois de o país ter reaberto as fronteiras, que estiveram fechadas durante quase três anos. Quem chegava à China era submetido a um período de quarentena em instalações designadas que, em algumas províncias, chegava aos 28 dias. O número de reservas de viagens internacionais para a semana até 27 de Janeiro foi seis vezes superior, face ao feriado do Ano Novo Lunar de 2022, de acordo com o portal de reservas chinês Trip.com. O destino mais popular é a Austrália, seguida pela Tailândia e Japão. “Este ano vou certamente viajar além-fronteiras”, explicou à Lusa Han Qing, um chinês natural de Pequim. “Está na altura de reconectar com o mundo”.
João Luz Manchete SociedadeHong Kong | Combate ao contrabando de medicamentos para Macau As autoridades de Hong Kong apertaram o controlo ao contrabando de medicamentos para combater sintomas de covid-19. Nos últimos tempos, mais de 10 milhões de dólares de Hong Kong em fármacos “ocidentais”, como Molnupiravir, Paxlovid e Primovir foram apreendidos. Os destinos do contrabando são Macau e o Interior da China A explosão de casos de covid-19 em Macau e no Interior da China criou uma vaga de contrabando de medicamentos relacionados com o novo coronavírus das farmácias de Hong Kong. De acordo com as autoridades alfandegárias da região vizinha, nas últimas seis semanas foram apreendidos nos postos fronteiriços mais de 10 milhões de dólares de Hong Kong (HKD) em medicamentos, com particular incidência nos fármacos Molnupiravir, Paxlovid e Primovir (a versão genérica do Paxlovid, produzido na Índia), com destino a Macau e Interior da China. Citada pelo South China Morning Post, uma fonte das autoridades alfandegárias, com jurisdição sobre a zona costeira de Hong Kong, revelou que parte do contrabando é feito através de lanchas rápidas, mas que medicamentos entram e saem da região disfarçados encomendas. O jornal da região vizinha acrescenta que nas últimas semanas foram apreendidas mais de uma dúzia de encomendas vindas de países europeus, como França e Alemanha, onde foram encontradas embalagens de Paxlovid, apontou a comissária assistente do departamento, Ida Ng Kit-ching. “Nas declarações, os conteúdos eram identificados como chocolates, produtos de madeira e calçado, mas cada encomenda tinha entre algumas centenas a um milhar de comprimidos”. Entre segunda-feira e quarta-feira da semana passada, foram apreendidas duas encomendas vindas da Alemanha e Índia contendo quase 9.000 comprimidos de Paxlovid e Primovir, no valor de 480 mil HKD. Mar, terra e ar Segundo o South China Morning Post, entre 1 de Dezembro e 12 de Janeiro, foram apreendidos nos postos fronteiriços 56 pessoas transportando fármacos avaliados em mais de 660 mil HKD, e 9,5 milhões de HDK escondidos em encomendas. Além dos medicamentos das farmacêuticas Merck e Pfizer, foram também encontradas embalagens de Lianhua Qingwen, o produto de medicina tradicional chinesa usado para tratar sintomas de febre e garganta dorida. Para combater a tendência crescente de contrabando de fármacos, as autoridades de Hong Kong apertaram a fiscalização de pessoas e encomendas. A principal via de saída de medicamentos é pelas fronteiras terrestres. Só nos dias entre 27 de Dezembro e 1 de Janeiro, as autoridades de Hong Kong identificaram cinco camiões que transportavam fármacos para sintomas de covid-19 no valor de 940 mil HKD. Os cinco condutores foram presos. Quem for apanhado a transportar bens não declarados pode ser multado até 2 milhões de HKD e sete anos de prisão, se forem fármacos sem respectiva receita ou documentação que autorize importação, as penalizações podem chegar a mais 100 mil HKD de multa e até 2 anos de prisão.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCovid-19 | Alvis Lo nega perda de cadáveres no hospital público O director dos Serviços de Saúde negou o rumor de que teria sido perdido um cadáver no Hospital São Januário e garantiu que as agências funerárias têm capacidade para lidar com o crescente número de mortes registadas no território. No entanto, reconhece que houve desafios para organizar tantos funerais Apesar da vaga de mortes gerada pela coexistência com a covid-19, o director dos Serviços de Saúde recusa a perda de cadáveres no hospital público. As declarações foram prestadas na sexta-feira, em resposta às várias informações que circulam sobre a desorganização no Centro Hospitalar Conde de São Januário face à falta de capacidade para lidar com o crescente número de mortos. “Posso garantir que não houve qualquer perda de corpo, porque temos um sistema de armazenamento adequado para cada falecido, de acordo com as regras de higiene”, afirmou Alvis Lo, à margem da Cerimónia de Entrega de Medalhas e Títulos Honoríficos, citado pela TDM. “Não houve qualquer caso de perda do corpo”, sublinhou. O director dos SSM, garantiu também que há capacidade para lidar o aumento a mortalidade e apelou à população para não se sentir preocupada. “De acordo com o nosso plano de contingência, os corpos são armazenados de forma adequada, nas diferentes instalações de saúde e agências funerárias”, justificou. “Vamos empenhar-nos ao máximo no tratamento adequado dos corpos. Os residentes não precisam de ficar muito preocupados”, vincou. Limites reconhecidos Confirmado foi o desafio causado pelo aumento das mortes nas últimas semanas, que coincidem com a estratégia de convivência com a covid-19. Alvis Lo admitiu que as funerárias enfrentaram problemas para lidar o elevado fluxo de trabalho, mas que a situação deve estar ultrapassada. “Existia uma grande sobrecarga para o tratamento dos corpos. Comunicámos com as agências funerárias e, após um certo esforço dos funcionários do sector, sabemos que, neste momento, o processo de tratamento dos corpos foi melhorado e consegue responder às necessidades dos residentes”, indicou. O director dos SSM considerou igualmente que os problemas foram causados pelo facto de as pessoas quererem realizar funerais de familiares antes do Ano Novo Lunar. “Podemos ver também que antes do Ano Novo Chinês a procura mantém-se elevada, porque muitos familiares querem tratar dos velórios dos falecidos antes deste período”, indicou. Além disso, no início da coexistência, Alvis Lo indicou que vários trabalhadores do sector foram infectados com covid-19, pelo que não puderam trabalhar, e limitaram a capacidade de resposta. Porém, esta fase está ultrapassada. Oito mortes no fim-de-semana Entre sexta-feira e domingo houve mais oito mortes por covid-19, de acordo com os critérios dos Serviços de Saúde. Além disso, neste período, as autoridades admitiram que foram internadas nos hospitais locais mais 30 pessoas devido a covid-19. Segundo a estatística oficial, desde o surgimento da pandemia houve 3.425 casos de covid-19 em Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei sindical | Jurista alerta para omissão da negociação colectiva É hoje votada na generalidade, no hemiciclo, a proposta de Lei Sindical. O jurista António Katchi alerta para o facto de o diploma “não regular, nem mencionar, o direito à greve ou direito de negociação colectiva”. Katchi fala ainda em discriminações em relação à ausência de não residentes nos órgãos de gestão dos futuros sindicatos Os deputados votam hoje na generalidade a proposta de Lei Sindical na Assembleia Legislativa (AL) e o HM convidou o jurista António Katchi a comentar o conteúdo da proposta. O académico, ex-residente de Macau, começa por alertar para o facto de a proposta de lei “não regular, nem sequer mencionar, o direito à greve, não tão pouco o direito de negociação colectiva”. Declara-se, no diploma, que os sindicatos podem “tratar e negociar as matérias relativas aos conflitos laborais individuais”. Katchi frisa, aqui, o facto de ficarem de fora “os conflitos colectivos”. “A proposta de lei não se limita a ignorar o direito à greve, mas vai mais longe: restringe-o claramente, ao afirmar que as actividades dos sindicatos não podem ‘afectar os serviços públicos necessários para o funcionamento básico da sociedade, bem como o funcionamento contínuo e eficaz dos serviços de emergência indispensáveis’.” Neste sentido, Katchi considera que esta norma não obedece aos princípios constitucionais e internacionais que regem a restrição de direitos fundamentais, uma vez que não está demarcada “o âmbito da restrição, bastando-se com uma sucessão de conceitos indeterminados”. “É claro que essa demarcação poderia ser remetida para uma lei que especificamente regulasse o direito de greve; mas, então, urge que tal lei seja criada”, aponta. Filhos e enteados O jurista destaca também a “exclusão das pessoas condenadas por certos crimes”, sendo “questionável a gravidade que se atribui aos crimes ‘contra a segurança do Estado’, ao ponto de nem sequer se exigir como pressuposto para a aplicação da referida sanção a condenação do arguido a uma pena de prisão igual ou superior a três anos, como se exige no caso de ele ter sido condenado por outro tipo de crime”. Desta forma, Katchi entende que, com esta proposta de lei, “o Governo encara a actividade sindical como uma fonte muito provável de perigo para a segurança do Estado”. Até porque “nenhuma norma semelhante se encontra legalmente estabelecida para as associações patronais”. Por fim, merece atenção do jurista a questão da ausência dos trabalhadores não residentes (TNR) dos órgãos de gestão dos sindicatos, nomeadamente da assembleia-geral, órgão colegial de administração e conselho fiscal. “A exclusão dos TNR, mesmo que seja apenas na direcção e no conselho fiscal, não se esteia em qualquer fundamento razoável e, por conseguinte, redunda em discriminação e consequente violação do princípio da igualdade. O que objectivamente importa não é o estatuto jurídico do trabalhador como residente, mas sim o facto de ele trabalhar em Macau”, conclui. Ainda sobre a proposta de lei, o jurista aponta o facto de ser necessária autorização do Chefe do Executivo para que um sindicato se possa filiar numa organização ou associação criada no exterior que não possua a natureza de “organização ou associação de trabalhadores”. Este é, para Katchi, uma “restrição excessiva ao exercício da liberdade sindical, injustificado”, pois dá-se poder de interferência da parte de um órgão político-administrativo nas relações externas dos sindicatos e na sua actividade, tendo em conta que são associações privadas. Isto porque “a lei nada diz sobre as razões em que se deverá fundamentar a recusa de autorização por parte do Chefe do Executivo”. Acima de tudo, para Katchi, “não basta regulamentar a liberdade sindical”, sendo “imprescindível, também, assegurar-lhes a possibilidade efectiva de exercício de vários outros direitos envolvidos na actividade sindical: a montante, as liberdades de expressão, imprensa, reunião, manifestação e associação; a jusante, os direitos de negociação colectiva e de greve”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCondecorações | BNU realça oportunidades de servir comunidade O Chefe do Executivo entregou na sexta-feira as medalhas de mérito a diversas personalidades e entidades de Macau cujos feitos, em várias áreas, se destacaram no ano passado. No caso do Banco Nacional Ultramarino, Carlos Cid Álvares, acredita que o futuro trará mais oportunidades para servir as populações Personalidades das áreas da banca, gastronomia e serviços sociais receberam das mãos do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, na sexta-feira, as medalhas de mérito pelos serviços que prestaram em 2022. Uma das distinções foi atribuída ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) enquanto entidade bancária histórica e marca que transitou do período da Administração portuguesa para a RAEM mantendo o papel na emissão da pataca. À TDM, Carlos Cid Álvares, CEO da instituição bancária, disse que há muitas oportunidades a espreitar no futuro para o banco, tendo em conta o seu posicionamento na RAEM e no sul da China. “Vamos ver e aguardar as orientações do Governo e da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) sobre a matéria [papel a desempenhar no futuro]. Há muita coisa para fazer e temos um tema muito mais digital e vamos ter mais oportunidades de servir a comunidade com o tema da Grande Baía, de Hengqin e dos Serviços Financeiros Modernos.” Carlos Cid Álvares declarou que a medalha é, sobretudo, “dos 500 colaboradores que estão a trabalhar no BNU e das centenas que estiveram a trabalhar no BNU ao longo de 120 anos”. “É a eles que se deve esta medalha. Gostava também de agradecer à Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) que se lembrou do BNU para atribuir esta medalha que nos orgulha tanto e nos responsabiliza para fazer mais e melhor no futuro”, acrescentou. Sobre a continuação do papel do banco como emissor de moeda, Carlos Cid Álvares prefere esperar para ver. “O actual contrato diz que estamos no papel durante dez anos até 2030. Aguardamos com serenidade essa decisão, que só vai acontecer daqui a oito anos.” Ho Iat Seng distinguiu também a Confraria da Gastronomia Macaense, que há vários anos se dedica a dar a conhecer a peculiar cozinha de Macau. À TDM, Carlos Anok Cabral, presidente da entidade, disse ter ficado surpreendido com a atribuição da medalha de mérito cultural. “Em 2021, a gastronomia macaense foi incluída na lista de património imaterial da República Popular da China. Isto não quer dizer que a Confraria deixa [de fazer] o seu trabalho, vamos continuar e fazer o melhor possível para que todo o mundo possa conhecer a gastronomia macaense.” Na cerimónia estiveram também presentes duas importantes chefes de gastronomia macaense, Florita Alves e Antonieta Manhão, que têm marcado presença em eventos de promoção feitos em parceria com o Governo. “Creio que há mais pessoas a querer aprender a gastronomia macaense”, disse Florita Alves. “Quando há uma oportunidade comercial há sempre interesse. É uma realidade”, adiantou. Por sua vez, Antonieta Manhão disse “estar orgulhosa” com o reconhecimento dado pelo Chefe do Executivo. “Temos o papel de ensinar e divulgar mais as nossas receitas de comida macaense.” Entidades centenárias Outra personalidade distinguida pelo Chefe do Executivo, com uma medalha de Mérito Industrial e Comercial, foi Humberto Carlos Rodrigues, que desde 1984 está à frente da histórica F. Rodrigues (Sucessores) Limitada, fundada em 1916. Humberto Carlos Rodrigues preside também à Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos e é ainda vice-presidente da Associação dos Exportadores e Importadores de Macau. O membro da comunidade macaense obteve o reconhecimento graças ao trabalho feito na promoção das relações comerciais entre a China e os países de língua portuguesa. “Mesmo depois de passar para a Administração chinesa, a firma sempre se manteve e é actualmente a empresa portuguesa mais antiga de Macau. É um orgulho receber este prémio. Não estava à espera desta condecoração, é o reconhecimento do Governo de Macau, que sabe que a firma é das mais antigas, eles sabem disso.” A filha deverá continuar à frente dos destinos da F. Rodrigues, que durante a pandemia, tal como todas as empresas, passou por momentos complicados. “Os últimos três anos foram um período difícil, a firma continuou, batalhou e vamos ver se conseguimos colocar mais produtos no mercado na China, principalmente em Hengqin. Talvez consigamos alguma coisa.” Humberto Carlos Rodrigues tem esperança no futuro, agora que Macau abriu portas ao mundo. “Têm de abrir a fronteira para que a comunidade lusófona possa entrar e sair livremente, sem barreiras alfandegárias. É o maior passo que tem de ser dado”, declarou à TDM. José Chui Sai Peng, engenheiro civil, deputado e primo do anterior Chefe do Executivo, Chui Sai On, recebeu, em nome da Associação Tung Sin Tong, a principal distinção, a Medalha Lótus de Ouro, graças ao trabalho social realizado há várias décadas. “A Tung Sin Tong tem vindo a optimizar os serviços nos últimos 130 anos de acordo com o desenvolvimento da sociedade. Assim como este ano descobrimos que as pessoas estão a prestar mais atenção à medicina tradicional chinesa devido à pandemia. Reforçámos o nosso serviço de medicina tradicional chinesa nas Ilhas e alargámos o nosso centro de serviços, e concluímos a clínica e farmácia de medicina tradicional chinesa na Taipa. Esperamos atender melhor as pessoas nas Ilhas”, frisou. Tendo em conta que a sociedade de Macau está cada vez mais envelhecida, Chui Sai Peng referiu que a aposta é nos cuidados aos idosos. “Esperamos melhorar o nosso trabalho de respeito e cuidado para com os idosos. Assim, este ano, temos um novo centro de atendimento para idosos na zona de San Kiu, esperando atender melhor a geração mais velha, nos bairros antigos”, anunciou. Também na área social destaque para a atribuição da Medalha de Mérito Altruístico a Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau e mentor de projectos de apoio a residentes e não-residentes nas mais variadas áreas, como é o caso do Banco Alimentar, a linha de apoio e prevenção do suicídio, entre outras. Recorde-se que Paul Pun chegou ainda a ser candidato a deputado à Assembleia Legislativa. “Estou encantado por ter recebido esta medalha. É um reconhecimento, penso eu, ao Padre Ruiz e à Madre Maria (Goisis), às pessoas que criaram as bases do trabalho solidário da Caritas Macau.” Paul Pun é uma figura que pela dedicação às causas sociais mantem algum protagonismo mediático e que, nos últimos anos, acorreu ao aumento considerável de pedidos de ajuda e comida na sequência da crise social desencadeada pela pandemia. O sentido de missão permanece consigo, pelo que promete continuar a trabalhar até que as condições de saúde o permitam. “Melhor dizendo, se houver necessidade [retiro-me]. Há sempre pessoas que precisam de ajuda e, seja a que título for, vou continuar a trabalhar para melhorar a sociedade, ajudando como puder.” Ainda assim, Paul Pun confessa que gostava de ser substituído no papel social que desempenha em Macau. “Espero que, mais cedo ou mais tarde, alguém possa assumir esta missão. Não só para dar seguimento ao bom trabalho, mas para assumir a responsabilidade de cuidar dos outros. Quer na Caritas, quer em outras posições que hoje ocupo. Mesmo que me reforme [da Caritas] estou envolvido em outros tipos de trabalho solidário. Por isso é que não faço planos”, admitiu.
Hoje Macau Manchete SociedadeSão Januário | Mães e recém-nascidos já podem estar juntos Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) voltaram atrás e decretaram que as mães e os filhos recém-nascidos já podem ficar juntos no mesmo quarto, isto depois de ter sido denunciada a situação dos bebés estarem separados das mães no Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). Numa nota de imprensa, é dito que a mudança surge porque “face ao alívio da situação epidemiológica a pressão causada pela falta de camas no CHCSJ também foi aliviada”. Desta forma, “com vista a poder ser retomada a organização da amamentação, com as mães amamentarem os recém-nascidos no quarto conjunto, com a maior brevidade possível, através da mobilização das camas”, começou a ser retomada, desde ontem, “a área de internamento das enfermarias de cuidados pós-parto”. Desta forma, as “puérperas podem amamentar o seu recém-nascido no quarto conjunto, à semelhança do que sucedia no passado”, apontam os SSM. Sobre as críticas feitas e a “inconveniência causada pela gestão temporária das enfermarias”, o organismo pede “compreensão, tolerância e cooperação dos doentes e seus familiares”. Cai o registo Horas antes de decidirem juntar as mães e os seus filhos, os SSM anunciaram que as mulheres que quisessem amamentar no hospital público poderiam fazê-lo dez horas após o parto e mediante registo. Macau cancelou recentemente as medidas de prevenção e controlo da covid-19 e está a viver o maior surto desde o início da pandemia. “A fim de responder eficazmente à situação epidémica”, as mães, que eram mantidas separadas dos filhos, tiravam leite e o “recém-nascido era alimentado por uma enfermeira especializada”, explicaram os SSM num outro comunicado. A permissão da amamentação directa surgiu depois de Ana Jael Tavares, portuguesa a viver em Macau, denunciar ter sido impedida de ver a filha nas primeiras 30 horas após o parto. Associação preocupada Na sequência deste caso, a Associação Promotora de Aleitamento e Cuidados Infantis de Macau (APACIM) expressou preocupação com a separação à nascença de mães e bebés no único hospital público do território. “É difícil de acreditar”, reagiu à Lusa a presidente da APACIM, que se mostrou “bastante surpreendida com a notícia”. Virginia Tam realçou que, mesmo que a mãe tenha covid-19 – o que não era o caso de Ana Jael Tavares – a medida “não está em conformidade com as directrizes da Organização Mundial de Saúde [OMS]” no que diz respeito à amamentação. “Desde o início [da pandemia], o requisito é que as mães fiquem com o bebé e cumpram os requisitos de higiene, como o uso de máscara, a lavagem frequente de mãos, mas a preferência é que a mãe e o bebé sejam mantidos juntos”, realçou a responsável, notando ainda “os benefícios do contacto pele com pele” entre mãe e filhos logo após o nascimento para, entre outros, facilitar a amamentação.
Sérgio Fonseca Desporto MancheteRui Valente não planeia parar e já definiu a nova temporada Os anos passam, mas a motivação não esmorece. Rui Valente já começou a alinhavar a temporada que aí se avizinha e que promete ser novamente bastante preenchida entre corridas no Interior da China e a preparação para o sempre especial Grande Prémio de Macau. O mais antigo piloto português de Macau em actividade não pensa em atirar a toalha ao chão, bem pelo contrário. “A licença desportiva já está renovada para o corrente ano”, destaca Rui Valente, acrescentando: “Gosto muito do que faço e ainda não é desta que vou pendurar o capacete”. Apesar de todas as restrições nas viagens e limitações de toda a ordem que atravessamos nos últimos três anos, Rui Valente manteve-se sempre activo do outro lado das Portas do Cerco, conjugando participações no GIC Challenge, a competição organizada pelo Circuito Internacional de Guangdong (GIC, na sigla inglesa), com a presença habitual de fim de ano no Grande Prémio de Macau. Com um orçamento que não lhe permite excessos ou extravagâncias, o regresso ao circuito dos arredores de Zhaoqing está novamente nos planos de Rui Valente para esta temporada. O piloto luso tem somado bons resultados no GIC Challenge, muitas das vezes contra uma concorrência com outros meios e equipada com viaturas mais modernas e apetrechadas. “Para as corridas de uma hora de resistência vou novamente fazer com o ‘velhinho’ Honda para manter a forma”, revelou ao HM o veterano piloto luso, fazendo referência ao seu fiável Honda Integra DC5 que já o acompanha há mais de uma dezena de anos. “É só fazer umas pequenas trocas na bomba de gasolina e está pronto a acelerar”. Mini de boa saúde Na roleta do Circuito da Guia, Rui Valente não tem sido muito feliz. Na edição do passado mês de Novembro, o piloto que competiu pela primeira vez em Macau em 1988 foi o mais rápido dos carros da classe 1600ccTurbo na qualificação para a primeira das duas corridas da Macau Roadsport Challenge. Após ter terminado no terceiro lugar na primeira corrida, Rui Valente liderava a segunda corrida confortavelmente e a tão desejada vitória estava à sua mercê. Contudo, na derradeira volta da corrida, como se um golpe de água fria se tratasse, a caixa de velocidades do seu Mini Cooper S atraiçoava-o e atirava Rui Valente para fora dos lugares cimeiros. “Quando pensava que era desta, foi quando o pior aconteceu”, contou na altura Rui Valente. “Quando o Safety-Car saiu da pista fiquei [com o carro engatado] em sexta velocidade antes do Mandarim sem poder reduzir. Fiz a volta toda em sexta velocidade sem poder fazer nada. Estava em primeiro da classe e foi um azar enorme. Não havia nada a fazer, simplesmente aceitar, as corridas são assim”. O meticulosamente bem preparado Mini Cooper S deverá apenas sofrer uma pequena revisão no defeso e o seu futuro, que mais uma vez deverá passar pelo Circuito da Guia no mês de Novembro, será decidido. “Só preciso de ver a situação da caixa de velocidades quando ele voltar para a China, de resto está pronto”, afirma o piloto-preparador. Quanto ao futuro do Mini nas pistas, tudo depende do que os órgãos decisores definirem para as corridas locais de carros de Turismo e por isso Rui Valente é prudente: “Vamos aguardar até março. Até lá já deveremos ter uma resposta da organização”.
Hoje Macau Manchete SociedadeTurismo | Portas abertas aos turistas do Interior Após três anos com apertadas restrições de circulação, os turistas do Interior podem finalmente viajar para Macau e aproveitar a gastronomia local. E os restaurantes e lojas locais não têm mãos a medir para a nova procura As ruas de Macau voltaram a encher-se de turistas do interior da China que, pela primeira vez desde o início da pandemia, podem entrar no território sem qualquer restrição. “A última vez que vim foi há um ano e as políticas de entrada eram bem mais rígidas nessa altura. A 8 de Janeiro, as restrições foram relaxadas e, desta vez, o processo correu sem percalços”, disse à Lusa Xue Yu Huan, que está em Macau pela terceira vez. De máscara na rua, junto a uma fila perto de um Starbucks, Xue, que chegou há pouco de Changzhou, na província de Jiangsu, no leste chinês, realçou que o “turismo particularmente bem desenvolvido” é o “maior atractivo” de Macau. Na Taipa velha, centro de uma das ilhas de Macau, são evidentes os sinais de movimento, com muitos turistas apressados, cheios de sacos de compras, um cenário que contraria o deserto que eram as ruas do território há poucos meses. O governo local, seguindo as directivas de Pequim, diminuiu as restrições e o resultado foi o regresso dos turistas. “Vim a Macau sobretudo pelo turismo e pela gastronomia, que é particularmente apelativa, como tripas de vaca, que gosto muito”, completou Xue, que falou à Lusa na rua do Cunha, uma das zonas mais movimentadas da Taipa velha. Nesse mesmo local, à espera numa longa fila para comer tripas de vaca no estabelecimento Lao Day está Wong Yucheng, jovem de Nanjing, cidade da província de Jiangsu, no centro-leste do país. Falando à Lusa ao lado de duas jovens que conversavam animadamente enquanto comiam uma sandes, Wong insistiu que a gastronomia de Macau é um dos motivos da viagem. “Gosto da comida característica”, salientou Wong, nomeando “barbatana de tubarão e bolos” como as iguarias locais mais tradicionais. Sem mãos a medir A poucos metros do Lao Day, Lo Jun Keng, proprietária da Casa de Bolos Man Kei não tem mãos a medir: “Há muito fluxo de pessoas, o negócio está a operar a 70 por cento ou 80 por cento do ano de 2019 durante o período de férias”. Do outro lado do rio das Pérolas, no coração de Macau, Jing Liang, da cidade de Shenzhen, disse que esperou três anos para poder regressar a Macau e mostrar a cidade ao filho. À Lusa, Jing notou que em Macau espera comer a tradicional costeleta no pão, que se encontra um pouco por toda a cidade, e visitar as Ruínas de São Paulo, ex-líbris do território, ou a Torre de Macau. “Sinto que não há pandemia, já passou. Já deve ter voltado tudo ao normal, já passaram três anos”, disse.Neste sentido, Jason Zeng, que se encontrava na base da escadaria das Ruínas de São Paulo, admitiu concordar com a política de ‘zero covid’, porque “cada país tem um sistema diferente” e a China, “claro, preocupa-se com a população”. O lugar de eleição em Macau deste natural de Chengdu, capital da província de Sichuan, é o Cotai, área onde estão localizados vários casinos do território. “Especialmente à noite, como a vista nocturna do Venetian, do Londoner, etc”.
João Luz Manchete SociedadeJustiça | AL veta testemunhos de Chui Sai Cheong, Chui Sai Peng e Vong Hin Fai Depois do afastamento da possibilidade de Chui Sai On testemunhar no caso que julga os ex-directores das Obras Públicas e empresários de construção, foi a vez de Vong Hin Fai, Chui Sai Cheong e Chui Sai Peng não terem sido autorizados pela Assembleia Legislativa a contar o que sabem em tribunal O trio de deputados Vong Hin Fai, Chui Sai Cheong e Chui Sai Peng não foram autorizados a testemunhar em tribunal no julgamento dos ex-directores das Obras Públicas Jaime Carion e Li Canfeng, assim como os empresários Sio Tak Hong, William Kuan e Ng Lap Seng. Os legisladores foram chamados a depor perante o colectivo de juízes, porém, a Assembleia Legislativa não deu autorização para comparecerem em tribunal, segundo indicou ontem a TDM – Rádio Macau, que acrescenta que Vong Hin Fai teria sido arrolado para testemunhar na sessão de julgamento que decorreu ontem no Tribunal Judicial de Base. Não é a primeira vez que elementos de órgãos de soberania da RAEM são afastados de testemunhar no caso que julga as ligações entre empresários de construção e altos cargos da Administração. No mês passado foi noticiado que Ho Iat Seng não autorizou que o seu antecessor, Chui Sai On, fosse arrolado como testemunha no julgamento, onde tem sido referência constante por parte de testemunhas enquanto elemento chave na aprovação de um dos projectos de construção que estão no cerne da acusação. Recorde-se que também o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, e o seu antecessor Lao Si Io foram chamados a testemunhar em tribunal, mas Ho Iat Seng rejeitou igualmente os pedidos. Conceito de normal Durante a sessão de ontem, o colectivo de juízes ouviu o testemunho de funcionários das Obras Públicas. Uma das testemunhas que trabalhou na Administração enquanto Jaime Carion era director afirmou que a empresa de Sio Tak Hong apresentou duas propostas para o polémico projecto do Alto de Coloane e que, normalmente, estes projectos eram avaliados de acordo a razoabilidade da candidatura, no efeito que tem no ambiente da área onde está localizado. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a testemunha adiantou que normalmente é dada prioridade ao interesse público e são tidas em consideração os pareceres da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental e do Instituto Cultural. Porém, em Dezembro de 2009, Jaime Carion ordenou que a altura de construção do projecto fosse aumentada, algo que a testemunha afirmou não ser prática comum. Esta semana foi indicado no tribunal que para o mega-projecto Windsor Arch, promovido por William Kwan Wai Lam e Ng Lap Seng, havia uma lista com várias personalidades políticas de Macau que teriam acesso a preços especiais mais baratos para adquirir apartamentos.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCartão de Consumo | Ho Iat Seng afasta, para já, nova ronda Apesar de se celebrar o Ano Novo Chinês, o Governo afasta a possibilidade de distribuir um “lai si” aos residentes. No entanto, se a crise económica permanecer, o Executivo pode voltar a atribuir apoios financeiros O Chefe do Executivo afastou a possibilidade de lançar uma nova ronda do cartão de consumo. A posição foi tomada ontem por Ho Iat Seng, à margem da recepção da Festa da Primavera organizado pelo Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM. Questionado sobre a hipótese de haver um novo cartão de consumo, Ho Iat Seng afirmou que não está prevista e que não consta do orçamento da RAEM para este ano. No entanto, prometeu que o Governo vai manter-se atento à situação da economia, para tomar as medidas que considere adequadas, ou seja, para haver uma nova ronda do cartão de consumo o orçamento da RAEM terá de ser alterado, um procedimento que tem de passar pela Assembleia Legislativa. No entanto a alteração do orçamento não está no horizonte do Governo, e Ho Iat Seng afirmou que as previsões para as receitas brutas do jogo se mantêm em 130 mil milhões de patacas. Desde que Ho formou Governo, as previsões são sempre do mesmo valor, 130 mil milhões de patacas, apesar de terem ficado sempre muito aquém do valor estimado. Sem data de regresso Apesar dos repetidos agradecimentos do Executivo de Ho Iat Seng ao Governo Central pela retoma da emissão de vistos de grupo para excursões turísticas, que esteve prevista para Novembro do ano passado, até ontem ainda não tinham sido emitidos vistos para este tipo de turistas. Ho Iat Seng admitiu desconhecer a data efectiva do regresso das excursões do Interior. Segundo o Chefe do Executivo as visitas em excursão dependem da situação pandémica no outro lado da fronteira. “Acredito que as autoridades centrais vão aprovar o regresso das excursões o mais depressa possível”, afirmou Ho. Quando à situação da covid-19, Ho afirmou que cerca de 70 por cento dos cidadãos em Macau foram infectados e que não se espera um novo pico de infecções durante o Ano Novo Lunar. Apesar disso, Ho avisou que podem ocorrer picos no futuro, pelo que o Governo vai manter as restrições na compra de medicamentos nas farmácias. Por outro lado, explicou também que se espera um aumento dos recursos para tratamento de doentes com covid-19, com a abertura do Hospital das Ilhas. Ho Iat Seng | “Névoa da epidemia vai dissipar-se” Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, defendeu ontem que “a névoa da epidemia vai dissipar-se nesta nova fase de prevenção e controlo epidémicos”, ficando a promessa de que o Governo vai centrar o trabalho “nos cuidados de saúde e na prevenção de doenças graves, bem como na prevenção e controlo da epidemia nos grupos-chave, nomeadamente idosos e crianças, visando maximizar a garantia da segurança da vida e a saúde dos residentes”. As declarações foram proferidas no discurso do almoço de primavera oferecido pelo Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. Ho Iat Seng não esqueceu ainda que, no último ano, “Macau sofreu os repetidos choques da epidemia e um severo abrandamento da economia”, além de que “todos os sectores sociais se ajudaram mutuamente, demonstrando forte resiliência e coesão tenaz”. Ainda no contexto da pandemia, o governante defende que o Executivo “tem vindo a adoptar medidas proactivas para estabilizar a economia, aliviar as dificuldades dos cidadãos, garantir o emprego e assegurar o bem-estar da população, mantendo a estabilidade social”. O Chefe do Executivo não esqueceu as esperanças depositadas no ano de 2023, sobretudo na concretização dos princípios declarados no XX Congresso do Partido Comunista Chinês e “Um País, Dois Sistemas”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEmigração | Os portugueses que chegaram quando muitos estavam a sair João Veloso e Inês Lemos são o exemplo de portugueses que decidiram emigrar para Macau quando muitos estavam de saída. Mas só o conseguiram fazer no ano passado devido às restrições em vigor. Em plena pandemia, apostaram no desconhecido e numa nova vida deixando de lado as notícias negativas sobre a covid. Amélia António diz ser cedo para se falar de uma eventual renovação da comunidade com o fim das restrições A normalidade começou a instalar-se na Europa a partir de meados de 2021. Os verões começaram a ser vividos por multidões descontraídas e a máscara foi, aos poucos, perdendo importância. Em Macau, pelo contrário, até há pouco tempo, as palavras surto, confinamento, máscara e distanciamento físico, faziam parte do léxico do quotidiano do território, fazendo com que muitos portugueses, há mais de dois anos sem verem as famílias, deixassem o território de vez. Inês Lemos, designer, e João Veloso, director do departamento de português da Universidade de Macau (UM), contrariaram essa tendência. Ambos sabiam que iam passar pela quarentena de 14 dias, pelo tempo interminável de espera no Aeroporto Internacional de Macau à chegada sem perceberem muito bem porquê, engalfinhados numa burocracia de testes em catadupa e papeladas sem fim. Ainda assim, por questões pessoais e profissionais, apostaram em emigrar para Macau e hoje não estão arrependidos. “Cheguei em Junho de 2022, na altura do surto e na antevéspera do semi- confinamento”, contou ao HM João Veloso, que, no entanto, nunca pensou em desistir do novo projecto profissional por causa das restrições. A UM abriu o concurso público para a escolha de um novo director do departamento de português em finais de 2020, mas, na altura, não era permitida a entrada de estrangeiros em Macau. Dessa forma, João Veloso só pôde pisar o solo da RAEM no ano passado. “Quando concorri sabia qual era a situação, mas tinha esperança de que, nos meses seguintes, as coisas melhorassem. Quando recebi instruções para vir, a meio do surto, confesso que fiquei um bocadinho receoso. Sou um optimista por natureza e um bocadinho lírico, mas sabia que a situação não seria fácil.” Para João Veloso, vir para Macau e passar por todas as restrições da covid foi como um “regresso ao passado”, pois já em Portugal tinha vivido dois confinamentos e cumprido regras como o uso da máscara e a realização de testes. “Passei por alguns momentos de desânimo depois de chegar a Macau, mas antes não. No embate com a realidade tive momentos de alguma ansiedade, na altura do isolamento. Cheguei a ter receio de que o território fechasse novamente.” Ainda assim, como optimista que é, João Veloso faz “um balanço positivo” da vinda para Macau. “Nunca me arrependi de ter vindo. Acho que ter emigrado nesta altura é uma espécie de prova de resistência pessoal. Passei por alguns momentos de desânimo e angústia, mas graças ao apoio que recebi de pessoas aqui em Macau, e ao ver algum espírito de mobilização, faço um balanço positivo. Fico contente por ver que as medidas restritivas estão a ser abandonadas, o que oferece outras perspectivas de contactos e de viagem”, frisou. Bruscamente no Verão passado No caso de Inês Lemos, foi o coração que a trouxe a Macau. Chegou no Verão do ano passado, assim que as autoridades decretaram que todos os portadores de passaporte português podiam entrar na RAEM. Antes disso, tinha apresentado um pedido de acesso à residência pela via do casamento que foi recusado. Inês recorda-se da quarentena de 14 dias que teve de cumprir e para a qual até já estava preparada. Mas as cerca de dez horas de espera no aeroporto, à chegada, foi, para si, “o pior”. “Foi muito sofrido, estive sentada numa sala fria depois de uma viagem longa à espera de coisas. Custou bastante.” Inês Lemos nunca baixou os braços e, ao contrário da maior parte das pessoas que já desesperava com as restrições há bastante tempo, tinha o espírito mais leve para lutar. “Tinha perfeita noção do que estava a acontecer, mas eu estava super feliz porque ia finalmente ter com o meu companheiro. Foi o concretizar de um desejo passados mais de dois anos em que estivemos afastados. Apanhei com o confinamento mal cheguei a Macau, mas vinha com um ânimo diferente das pessoas que já cá estavam”, lembrou. Sem ter termo de comparação em relação ao que Macau era antes da pandemia, Inês Lemos sentiu as “ruas vazias”. “Percebi pelos comentários de todos que antes era bem diferente, sempre com muita agitação e filas para tudo. Ouvi falar de Macau pelas lembranças e memórias antes da covid. Agora noto que, de facto, há muito mais movimento de pessoas que não são de Macau.” Neste momento, Inês frequenta a pós-graduação em Educação da Universidade de São José (USJ) e prepara-se para fazer o estágio que depois lhe vai permitir dar aulas. A designer, a trabalhar remotamente para Portugal, pretende, por isso, entrar no mercado laboral local em breve. Dados que importam Divulgado esta quarta-feira pelo Governo português, o Relatório da Emigração relativo ao ano de 2021 dá conta do menor número de sempre de entradas de portugueses em Macau. Apenas 18 o fizeram desde 2000, sendo que esses eram residentes da RAEM, uma vez que não era permitida a entrada de estrangeiros. Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), revela estar mais preocupada com os números dos portugueses que saíram do que daqueles que entraram. E esses são mais difíceis de quantificar. “Se não podiam entrar estrangeiros, só os residentes é que podiam entrar, até seria normal que os números fossem zero. Vivia-se uma situação complicada e depois tínhamos a própria impossibilidade legal. Obrigaria a uma reflexão maior se conseguíssemos ter os números de quem saiu efectivamente, porque há as pessoas que saíram para férias ou outras razões, mas que não o fizeram de forma definitiva.” Amélia António traça vários cenários relativamente à saída de cidadãos portugueses. “Quem saiu com mais idade, ou reformado, ou a acompanhar filhos, faz parte de um movimento mais ou menos normal. Foi acelerado, talvez, pela força das circunstâncias, pelo facto de não se poder ver as famílias. Mas pessoas mais novas que saíram, que estavam a trabalhar, com a vida mais ou menos organizada, isso é que é mais assustador para mim, porque essas pessoas não vão voltar para Macau, a não ser que as suas vidas em Portugal não corram como o planeado.” Nova comunidade? Sem restrições, será que a comunidade portuguesa pode agora renascer e reinventar-se? Amélia António acredita que, a curto prazo, será difícil chegarem novas pessoas que não tenham contactos prévios com o território. “Pessoas que nunca estiveram em Macau e que venham de novo serão muito poucas, tendo em conta toda a propaganda negativa relativamente às condições de vida e de saúde. Não será fácil isso acontecer. Tal demorará muito tempo e depende da orientação que for dada ao território, caso haja interesse efectivo de que Macau continue a ter uma imagem multicultural e de abertura ao exterior, com a presença de quadros qualificados portugueses e da sua mais-valia.” Para a dirigente associativa, não basta abrir as fronteiras. “Estes anos foram desmobilizadores e criaram uma imagem pouco atractiva de Macau. Veremos como é que a situação vai evoluir, porque vai depender de coisas que neste momento não conseguimos saber, como é o caso das questões laborais, das operadoras de jogo, em termos de necessidade de mão-de-obra. Haverá uma ligação com as dificuldades que poderão aumentar, ou não, na Europa. Há muita coisa desconhecida ainda. É o momento ainda muito difícil para fazer previsões.” Para João Veloso os portugueses ainda fazem falta em alguns sectores, como é o caso da Função Pública ou na área da docência. “Neste momento começa a deixar de haver razões para as pessoas terem os receios ou reservas que tinham até agora. Se isso se vai traduzir numa vinda de mais portugueses, não sei. Há lugar para os portugueses ainda pois há certos serviços que precisam deles. As condições de vida e de entrada em Macau tendem a melhorar. Há motivos para a comunidade portuguesa voltar a aumentar. Há lugares para professores de português e funcionários públicos, por exemplo.” Também Inês Lemos acredita que este “cantinho” na Ásia terá sempre espaço para os cidadãos portugueses. “Há sempre espaço para nos reinventarmos e fazermos coisas diferentes. Acredito que Macau ainda tem muitas coisas agradáveis e boas para oferecer aos portugueses, há uma ligação histórica e temos este cantinho na Ásia que é uma ponte para tantos sítios. Macau continua a ser um bom sítio para se apostar, mesmo com a distância.”
João Luz Manchete SociedadeTurismo | DST espera atrair 10 mil visitantes de Hong Kong por dia Em três dias, Macau recebeu quase 110 mil visitantes, um aumento súbito que terá de ser acompanhado pela readaptação do sector que perdeu grande parte da mão-de-obra nos últimos três anos. O Governo espera atrair 10 mil turistas de Hong Kong diariamente Entre domingo e terça-feira, entraram em Macau 109.386 visitantes, números a que o território já se vinha desabituando, apesar de contemplarem dois dias de semana. De acordo com dados divulgados ontem pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública, atravessaram a fronteira para o território, numa média diária, cerca de 36.500 visitantes durante o período mencionado. Prevendo que o fluxo de turistas continue a aumentar, Governo e representantes do sector dão sinais de necessidade de ajustes para dar resposta ao retorno do elevado número de visitantes. Grande parte das agências de viagens do território estão reduzidas a metade dos recursos humanos existentes antes da pandemia, mão-de-obra que não é suficiente para responder ao aumento do volume de trabalho, indicou ontem o presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, Andy Wu. Em declarações ao programa Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, Andy Wu acrescentou que para responder ao aumento súbito da procura, as agências turísticas terão de contratar a curto-prazo profissionais, em especial funcionários a tempo parcial. O responsável salientou também a necessidade de adaptação das próprias autoridades, dando como exemplo as dificuldades sentidas por algumas empresas de excursões cujos autocarros foram impedidos de estacionar no parque do Posto Fronteiriço de Hengqin. Isco da pataca Também algumas unidades hoteleiras necessitam de trabalhadores, não só devido a infecções de covid-19, mas devido a cortes no pessoal verificados nos últimos três anos, afirmou Cheng Wai Tong, vice-director dos Serviços de Turismo (DST). O responsável adiantou que poderá ser difícil recuperar a curto-prazo o volume de mão-de-obra suficiente. Uma das críticas partilhadas por ouvintes do programa é a forma como o Governo procura atrair turistas, com ofertas de viagens e descontos, tendo sido pedido prudência no uso do erário público e desvio do foco para o enriquecimento da qualidade dos eventos, em vez de “dar dinheiro às cegas”. O vice-director da DST negou que o Governo esteja a gastar fundos irracionalmente e argumentou que a crise trazida pela pandemia reduziu a vontade dos turistas em gastar dinheiro. Além disso, Cheng Wai Tong revelou que o sector turístico de Hong Kong também irá promover campanhas de descontos e ofertas semelhantes para atrair turistas de Macau. O representante do Governo apontou como objectivo a meta de 10 mil turistas por dia vindos de Hong Kong, lembrando que antes da pandemia o número de visitantes diários oriundos da região vizinha rondava os 20 mil.
João Santos Filipe Manchete SociedadeSegurança | Polícia apanhado a verificar entradas e saídas sem autorização Ao contrário do que acontece com outros crimes, o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) omitiu vários factos na mensagem enviada aos média, como a utilização dada aos registos acedidos de forma ilegal Um agente a Polícia de Segurança Pública foi apanhado a verificar vários registos de entradas e saídas sem autorização. O caso foi revelado pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), na terça-feira. Ao contrário do que acontece na maior parte dos casos e com as informações divulgadas sobre os crimes praticados, o CPSP omitiu vários dados na comunicação normalmente disponibilizada à imprensa, como o apelido do suspeito e a sua idade. Através da pouca informação divulgada, também não é possível saber como eram utilizados os dados recolhidos pelo agente, uma vez que o CPSP se limita a dizer que o agente “teve um comportamento impróprio”. “Através de mecanismos de supervisão interno, o CPSP descobriu que uma pessoa do Departamento de Controlo de Migração acedeu aos registos de entradas e saídas várias vezes”, foi revelado. “Suspeita-se que essa pessoa utilizou a sua posição de forma indevida e que teve um comportamento impróprio”, foi acrescentado. Abuso de poder Quando interrogado sobre o acesso indevido aos dados das entradas e saídas do território, o agente terá confessado ter consultado os mesmos, sem qualquer autorização. De acordo com a mensagem do CPSP, o caso foi enviado para o Ministério Público, e o indivíduo está indicado pela prática do crimes de abuso de poder, que acarreta uma pena que pode chegar a três anos de prisão. “O CPSP reitera que tem sempre exigido aos agentes policiais que cumpram rigorosamente as regras de conduta disciplinar e os agentes que violarem a lei e a disciplinas serão indubitavelmente tratados com a maior seriedade nos termos da lei, efectivando-se as respectivas responsabilidades”, foi expresso no comunicado onde se foi revelou o alegado crime. Além disso, o CPSP afirma ter instaurado ontem um processo disciplinar ao agente, com “suspensão preventiva de funções” enquanto se aguarda pelo desfecho deste procedimento. Esta não é a primeira vez que crimes do género são registados dentro das polícias de Macau, tendo havido pelo menos mais duas ocorrências que foram tornadas públicas, em 2021 e 2019.
Hoje Macau Manchete SociedadeRelatório | Emigração para Macau em 2021 foi a mais baixa desde 2000 Foi ontem divulgado em Lisboa o Relatório da Emigração de 2021, onde se revela que Macau recebeu o número mais baixo de portugueses emigrados desde a época da transição, apenas 18. Por comparação, em 2020, ano em que rebentou a pandemia, tinham entrado 67 O número de portugueses que emigraram para Macau em 2021 foi o mais baixo desde 2000, sendo esta a terceira maior emigração para o território, de acordo com o Relatório da Emigração. O documento, apresentado ontem no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, foi elaborado pelo Observatório da Emigração, um centro de investigação do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Segundo a informação recolhida e trabalhada por este centro, em 2021 registou-se a entrada de 18 portugueses em Macau, o valor mais baixo desde 2000, ano em que entraram apenas quatro portugueses. Em 2020, emigraram para Macau 67 portugueses e, um ano depois, apenas 18, sobretudo homens (61,1 por cento) e jovens, com 10,7 por cento a terem mais de 65 anos. Desde o ano 2000 que o aumento de portugueses em Macau foi progressivo, até 2013, quando se registou uma diminuição até 2017, voltando a crescer pontualmente em 2018, e a decrescer em 2019 e 2020. Os autores do documento, que se baseia nos dados recolhidos pelo Observatório da Emigração junto das instituições responsáveis pelas estatísticas da imigração, indicam que, em 2021, as entradas de portugueses representaram 3,8 por cento das entradas totais em Macau, o que fez desta emigração a terceira maior para aquela região. Território representativo No contexto da emigração portuguesa, Macau é o terceiro local do mundo com maior percentagem de entrada de portugueses, em comparação com o valor total de entradas de estrangeiros. Em 2021, o número de portugueses neste território sob administração chinesa totalizava 2.213, mais 10 por cento do que em 2016. Segundo o relatório, “dada a posição particular de Macau na China, o acesso pleno à cidadania passa nesta Região Administrativa Especial pela aquisição do estatuto de residente permanente, não pelo da aquisição de nacionalidade”, não estando disponíveis estatísticas sobre a aquisição do estatuto de residente permanente. Em termos gerais, cerca de 60.000 portugueses emigraram em 2021, mais 15.000 que no ano anterior, numa “recuperação assinalável” de saídas, após quebra brutal em 2020, com o Reino Unido a retomar a posição de principal destino, segundo o Relatório. O documento refere que, entre 2019 e 2020, “a emigração teve uma quebra da ordem dos 44 por cento, em consequência dos efeitos conjugados da crise pandémica e do ‘Brexit’ [saída do Reino Unido da União Europeia]”. “As políticas de confinamento colocaram obstáculos à mobilidade e produziram uma crise económica global de grandes proporções que explicam a travagem abrupta das migrações internacionais”, escrevem os autores do documento. Em 2021, emigraram metade dos portugueses que o fizeram em 2013. À excepção de 2020, só em 2003 se registaram valores tão baixos. Com um pico em 2013, desde esse ano que se tem registado uma tendência de descida na emigração. Em 2021, as migrações iniciaram “uma recuperação assinalável”, tendo crescido, em Portugal, cerca de 33 por cento em relação a 2020.