Registado 50º caso de covid-19 em Macau

Foi hoje detectado o 50º caso de covid-19 em Macau. Segundo informações divulgadas pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, trata-se de um indivíduo proveniente do Nepal que estava a realizar a quarentena, tendo acusado “francamente positivo” ao teste de ácido nucleico de rastreio à covid-19. Trata-se, portanto, de “um caso de recaída assintomático importado”.

O homem tem 31 anos de idade e viajou de Kathmandu, Nepal, no dia 24 de Abril. Antes de entrar no território, o teste de ácido nucleico deu negativo. No dia seguinte, a 25 de Abril, o indivíduo foi submetido a novo teste de ácido nucleico, que deu negativo, e a um teste de anti-corpos IgM, que deu positivo. O indivíduo foi reencaminhado para o Centro Clínico de Saúde Pública de Coloane, uma vez que as autoridades consideraram que “tinha sido infectado com a covid-19 e havia o risco de recaída”. Os testes de ácido nucleico efectuados a 28 de Abril, 2 e 9 de Maio deram todos negativos.

Risco de surto

O Centro de Coordenação alerta para o “risco elevado de surgir um surto de uma variante altamente contagiosa”. Neste sentido, todos os residentes serão submetidos a testes anti-corpos. “Com isto evita-se que estes indivíduos, após saída de observação médica em isolamento, possam pôr em perigo as suas famílias e a comunidade.”
Tendo em conta o aumento de casos em Taiwan, o Centro de Coordenação decidiu aumentar a quarentena obrigatória de 14 para 21 dias para quem viaje para Macau a partir da Ilha Formosa.

Além disso, aqueles que estão sob observação médica devido ao histórico de viagens e residência na região de Taiwan devem ser submetidos a  autogestão da saúde por 7 dias após o término da observação médica de 14 dias, durante o qual a cor do código de saúde da pessoa passará a ser amarelo”. Esta medida não se aplica, contudo, aos que já completaram a observação médica tendo em conta o histórico de viagens e residência em Taiwan. O Centro deixa ainda notar que “se as condições permitirem as medidas originais [quarentena de 14 dias] serão reiniciadas o mais rápido possível”.

Foi ainda decretada a quarentena obrigatória de 14 dias para todos os que viajam para Macau a partir da Vila de Shangpai, Condado de Feixi, da Cidade de Hefei da província de An Hui, ou da Vila de Chentun e Vila de Xiongyue, da Cidade de Yingkou da província de Liaoning, na China. A partir das 21h deste domingo, dia 16,  será ainda obrigatória a quarentena para quem tenha estado, nos últimos 14 dias, na comunidade de Yiyuan, do distrito de Heping, da cidade de Shenyang, da província de Liaoning, também na China.

16 Mai 2021

Covid-19 | Quarentena de 21 dias para quem chega de Taiwan

Todas as pessoas que nos 21 dias anteriores à sua chegada a Macau tenham estado em Taiwan terão de cumprir no território uma quarentena de 21 dias. A decisão foi anunciada no sábado pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, tendo entrado em vigor à meia noite deste domingo, dia 16.

O Centro informa também que “aqueles que estão sob observação médica devido ao histórico de viagens e residência na região de Taiwan devem ser submetidos a  autogestão da saúde por 7 dias após o término da observação médica de 14 dias, durante o qual a cor do código de saúde da pessoa passará a ser amarelo”.

Esta medida não se aplica, contudo, aos que já completaram a observação médica tendo em conta o histórico de viagens e residência em Taiwan. O Centro deixa ainda notar que “se as condições permitirem as medidas originais [quarentena de 14 dias] serão reiniciadas o mais rápido possível”.

Este sábado as autoridades de Taiwan aumentaram o nível de alerta para a capital, Taipei, e Nova Taipei devido ao surgimento de 180 novos casos de transmissão local. Segundo o jornal Taipei Times, as novas medidas preventivas estarão em vigor até ao dia 28 deste mês.

O Centro de Coordenação decidiu também decretar a quarentena obrigatória de 14 dias para todos os que viajam para Macau a partir da Vila de Shangpai, Condado de Feixi, da Cidade de Hefei da província de An Hui, ou da Vila de Chentun e Vila de Xiongyue, da Cidade de Yingkou da província de Liaoning, na China.

16 Mai 2021

BNU com lucro de 109,4 milhões de patacas no primeiro trimestre

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau registou lucros de 109,4 milhões de patacas no primeiro trimestre, menos 20,8% em termos anuais, assinalou hoje a instituição.

“Por comparação com Março de 2020, os resultados foram inevitavelmente afectados pela redução das taxas de juro por comparação com os níveis que vigoraram durante grande parte do primeiro trimestre de 2020”, pode ler-se na mesma nota.

O BNU salientou que, “não obstante o dinamismo evidenciado pelo crescimento do crédito a clientes (+7,8% por comparação com março de 2020)” a “descida generalizada das taxas de juro afetou negativamente a margem financeira”, que diminuiu 19,4%.

A instituição bancária sublinhou ainda que continua “a apresentar uma grande solidez com um rácio de solvabilidade de 20,5%”.

Em 2020, o BNU anunciou lucros de 420,3 milhões de patacas, uma perda de 41,7% quando comprado com os resultados de 2019, antes da pandemia do novo coronavírus, que afetou a economia global e a capital mundial do jogo.

O BNU, do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD) é, juntamente com o Banco da China, banco emissor de moeda em Macau. Além de Macau, o BNU está também presente na China continental, em Xangai e em Hengquin (ilha da Montanha), Zhuhai.

14 Mai 2021

PME | Trabalhadores de quase 150 empresas não gozaram férias em 2020

Apesar de as empresas estarem obrigadas a darem seis dias por ano de férias aos trabalhadores, 12,5 por cento das Pequenas e Médias Empresas (PME) admite que os trabalhadores não gozaram as férias, ou seja, 149 companhias. Os dados foram apresentados ontem pela Associação de Recursos Humanos de Macau, com base num estudo feito através de 1.192 inquéritos válidos a PME, entre Março de 2020 e Fevereiro de 2021.

Esta foi uma situação destacada pelo presidente da Associação de Recursos Humanos de Macau, Man Choi, que defendeu uma maior promoção dos documentos legais. “Se calhar os funcionários combinaram com os seus empregadores que abdicam este ano de férias e que no próximo ano serão compensados. Mas, achamos que o Governo precisa de reforçar a divulgação da Lei das Relações de Trabalho, para que os empregados e empregadores conheçam os seus direitos e obrigações”, alertou Man Choi.

Segundo o artigo 46.º da Lei das Relações Laborais as empresas cujos trabalhadores estejam há mais de um ano numa empresa, devem ter direito a seis dias de férias. Contudo, caso haja acordo entre as partes, podem acumular, no máximo, os dias correspondentes a dois anos de trabalho, ou seja, 12 dias.

O estudo, apresentado ontem, mostrou ainda que desde o início da pandemia da Covid-19, que chegou a Macau em Fevereiro de 2020, cerca de 8,1 por cento das Pequenas e Médias Empresas procedeu a cortes de salários, o equivalente a 97 companhias. Entre estas, cerca de 38 empresas fizeram cortes de entre 20 a 50 por cento do vencimento do salário dos funcionários.

No mesmo período, 11,2 por cento das empresas inquiridas declaram ter aumentado os ordenados, o que representa um número de 134 empresas que operam na RAEM. Entre este número, 94 empresas, que representam uma proporção de 70 por cento, apontaram ter feito aumentos de salários de 3 a 6 por cento dos ordenados, ou seja, acima do nível da inflação.

Onda de despedimentos

Para o presidente da Associação de Recursos Humanos de Macau a situação é preocupante e pode gerar uma vaga de despedimentos: “Houve uma percentagem maior de empresas a reduzir o salário dos funcionários do que a aumentar. Estamos preocupados, porque caso a saúde financeira das empresas não seja resolvida apropriadamente, ou caso o Governo não dê outros apoios, pode haver uma vaga de despedimentos”, alertou Man Choi.

Segundo os resultados apresentados, durante o espaço temporal estudado, a maior parte das empresas não procedeu nem à contratação ou despedimento de trabalhadores. Foram 894 as empresas que mantiveram os quadros.

Contudo, houve 215 empresas que fizeram despedimentos, ou seja 18 por cento das inquiridas. No polo oposto, 84 empresas, ou sete por cento, aumentaram os quadros.

O estudo realizado pela Associação de Recursos Humanos de Macau teve como objectivo analisar as PME “numa situação difícil nunca vivenciada”, assim como o impacto das medidas do Governo no incentivo à actividade económica.

14 Mai 2021

Galaxy | CEO “satisfeito” com resultados positivos do primeiro trimestre

Os lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações da Galaxy Macau no primeiro trimestre do ano triplicaram face ao mesmo período de 2020. O CEO do grupo, Lui Che Woo, mostrou-se satisfeito, apesar de em relação ao trimestre anterior se ter registado uma quebra de 15 por cento

 

O Galaxy Entertainment Group apresentou ontem o sumário dos resultados financeiros do primeiro trimestre do ano à Bolsa de Hong Kong a dar conta de EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) de 859 milhões de dólares de Hong Kong, 203,5 por cento superior ao registado no mesmo período do ano passado. Porém, o resultado é 15 por cento inferior ao registado no trimestre anterior.

Em termos de receitas, nos primeiros três meses de 2021 foram apurados 5,07 mil milhões, um crescimento de 0,5 por cento em relação ao primeiro trimestre do ano passado, mas resultado semelhante aos três meses entre Outubro e Dezembro de 2020.

Continuando a evolução mista do grupo, em termos de receitas líquidas o primeiro trimestre foi sinónimo de uma descida de 4,7 por cento em termos anuais, para cerca de 3,86 mil milhões de dólares de Hong Kong, resultado que face ao trimestre anterior materializa um crescimento de 5,6 por cento.

“Apesar de o EBITDA do primeiro trimestre do ano ter sido inferior ao 4.º trimestre de 2020, estamos satisfeitos com os resultados, porque o trimestre anterior incluía 100 milhões de dólares de Hong Kong de prémio de seguros”, Lui Che Woo, CEO do grupo.

O homem forte da Galaxy acrescentou que desde o final de 2020, continuando em 2021, o relaxamento das restrições impostas para controlar a pandemia trouxe um número crescente de visitantes, “que se traduziu no aumento de receitas” do grupo.

Visto à lupa

O comunicado emitido ontem revela que o volume de negócios do sector VIP caiu 30,7 por cento nos primeiros três meses de 2021, em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, de 68,17 mil milhões para 47,24 mil milhões de dólares de Hong Kong. Já em relação aos três meses finais de 2020, o volume de negócios subiu 7,6 por cento.

A um dia de o grupo celebrar o 10.º aniversário de operações em Macau, Lui Che Woo aplaudiu o Executivo de Ho Iat Seng pela “liderança pro-activa durante os tempos desafiantes da pandemia”. O CEO da Galaxy aproveitou ainda para destacar o trabalho da Direcção dos Serviços de Turismo na promoção de Macau no Interior da China.

14 Mai 2021

Museu | Suzuki de Schwantz que fez parte da colecção está no Reino Unido

Após anos em exposição no Museu do Grande Prémio, uma das motos mais icónicas da colecção deixou de fazer parte do acervo. Mike Trimby diz que foi enviada para o Reino Unido para a Crescent Motorcycles, proprietária, em 2011

 

Desde o mês passado que os cidadãos e turistas voltaram a poder visitar o Museu do Grande Prémio de Macau, após as obras de renovação realizadas. Contudo, nem com a reabertura os visitantes vão poder ver uma das motas mais icónicas da colecção do museu, a Suzuki RGV500 com o número 34 e as cores da Pepsi, semelhante à utilizada por Kevin Schwantz em 1988.

A ex-peça da colecção é um exemplar utilizado pelo americano no mundial de 1988 da modalidade, ano em que também venceu o Grande Prémio de Macau. Esta prestação tornou-se inesquecível para os fãs da modalidade, não só pela margem entre Schwantz e os outros pilotos, mas porque o campeão mundial de 1993 fez grande parte da prova em “cavalinho”.

Além de não estar exposta, a moto já deixou mesmo a RAEM e foi enviada para o Reino Unido. A informação foi avançada por Mike Trimby, ao HM, britânico que até 2011, e durante 34 anos, esteve envolvido na organização do Grande Prémio de Motos e era responsável pelo convite aos pilotos internacionais.

Segundo Trimby, a moto estava em Macau porque tinha sido emprestada pela Equipa Oficial da Suzuki ao museu, através das ligações de Trimby e da International Road-Racing Teams Association. Esta é uma associação liderada pelo britânico, como CEO, e que está envolvida na organização do Campeonato Mundial de Motas, desde os anos 80, onde compete Miguel Oliveira.

Empréstimo original

“Quando a colecção do museu começou a ser escolhida, por Carlos Guimarães, perguntaram-me se estava disponível para emprestar a minha moto Yamaha, com que tinha ficado em terceiro lugar em 1978”, afirmou, através de uma resposta escrita, ao HM. “E como estou ligado à organização do Campeonato Mundial de MotoGP fiz a ligação para que a Equipa Oficial da Suzuki emprestasse um exemplar da moto com as cores da Pepsi com que Kevin Schwantz tinha competido no Campeonato Mundial e vencido em Macau”, revelou. “As garantias sobre a integridade do empréstimo foram avançadas à Suzuki, por mim”, acrescentou.

Trimby revelou ainda que após a saída da organização do Grande Prémio, que aconteceu em 2011, em ruptura com o Governo, que ficou combinado que a moto regressaria às origens. “No evento de 2011, após um envolvimento de 32 anos, foi decidido que não devia continuar como consultor do Grande Prémio de Macau. Em consonância com essa decisão, a minha Yamaha foi-me devolvida, e enviada para o Reino Unido, e a Suzuki do Schwantz devolvida à  Equipa Oficial da Suzuki, que na altura era gerida e organizada pela Crescent Motorcycles no Reino Unido”, revelou.
Face a este desfecho, Trimby recusa que a mota lhe tenha sido oferecida e apontou que “o museu apenas se limitou a devolver as motos emprestadas aos respectivos donos”.

Embora sem pormenores, os Serviços de Turismo confirmaram que a moto foi devolvida ao proprietário, que não identificaram, embora numa data diferente: “O respectivo artigo de exposição foi emprestado ao Museu do Grande Prémio de Macau após a corrida para efeitos de exposição pelo seu proprietário, tendo sido devolvido ao seu proprietário no ano 2010”, responderam.

14 Mai 2021

Jornalista José Pedro Castanheira recorda ligação com Roque Choi: “Uma fonte absolutamente excepcional”

A forte ligação profissional que uniu o tradutor-intérprete Roque Choi ao jornalista de investigação José Pedro Castanheira foi recordada esta quarta-feira numa masterclass online promovida pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Castanheira diz “dever-lhe muito” e recordou o “silêncio total” que ainda permanecia sobre o 1,2,3 na década de 80

 

O jornalista de investigação português José Pedro Castanheira, autor de dois livros sobre Macau, recordou esta quarta-feira a ligação profissional intensa que desenvolveu com Roque Choi, que foi intérprete-tradutor de todos os governadores de Macau a partir dos anos 40, e até 1999, e uma importante figura nas comunidades portuguesa, chinesa e macaense. O diálogo aconteceu numa masterclass promovida pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, intitulada “Encontros de um repórter com Salazar”.

“Ajudou-me muito a escrever a reportagem sobre o 1,2,3”, começou por dizer. “Quando estive em Macau, no final da Administração portuguesa, voltei a cruzar-me com Roque Choi que me confirmou a sua confiança e simpatia por mim.” Mas já antes, em 1987, José Pedro Castanheira se havia cruzado com ele, aquando de uma visita realizada ao território na qualidade de presidente do Sindicato de Jornalistas.

“Quando ele apareceu foi, precisamente, como intérprete. Falei com os directores dos jornais chineses de Macau e foi ele que traduziu. Eu poderia ser filho dele, pois nasceu nos anos 20, respeitávamo-nos e tivemos uma colaboração magnífica. Foi uma fonte absolutamente excepcional. Todo o meu trabalho sobre Macau tem a impressão digital do senhor Roque Choi.”

Para escrever o livro sobre o 1,2,3, intitulado “Os 58 dias que abalaram Macau”, José Pedro Castanheira conseguiu também outro acesso valioso a fontes documentais. “O Arquivo Histórico-Diplomático [em Lisboa] desclassificou a meu pedido toda a correspondência entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa e o Governador de Macau dessa época. É uma documentação riquíssima.”

Roque Choi, que esteve “no centro do furacão”, uma vez que “todos os segredos passaram por ele”, voltaria a cruzar-se com Castanheira nos anos 90, quando deu uma longa e talvez a última entrevista, publicada na íntegra anos mais tarde no livro “Roque Choi – Um homem, dois sistemas”, de Cecília Jorge e Rogério Beltrão Coelho.

“Acabou por me dar uma longuíssima entrevista de dezenas de horas no seu gabinete do banco, de que era administrador, e através da conversa e da sua vida fui capaz de reconstituir a vida de Macau e da Administração portuguesa, e das relações com o poder político em Pequim. Foi um privilégio inacreditável ter tido acesso a essa fonte, que é única. É a melhor fonte sobre a história de Macau dos últimos 50 anos, não tenho qualquer dúvida.”

“Silêncio” sobre o 1,2,3

José Pedro Castanheira recordou ainda que, aquando da sua primeira visita ao território, ouviu falar do 1,2,3, mas havia ainda muito por dizer e explorar, em 1987. “Falaram-me logo de uma coisa chamada 1,2,3 que achei estranhíssima, um nome de código. E depois explicaram-me que era o nome conhecido dos reflexos da Revolução Cultural em Macau.”

“Havia um silêncio total sobre o 1,2,3. As pessoas tinham vergonha, medo de falar nisso. Achei isso tão estranho que prometi a mim mesmo que a próxima vez que fosse a Macau haveria de tentar encontrar pistas e fontes que me iriam levar a perceber o que se tinha passado nesse mês de Dezembro de 1966 que se prolongou até Março e Abril de 1967, mas em Hong Kong”, recordou ainda.

Confiança de Rosa Casaco

Na mesma masterclass, o jornalista, que começou a exercer em 1974 e é jornalista do semanário Expresso desde 1989, lembrou ainda a sua entrevista a António Rosa Casaco, o agente da PIDE [polícia política do tempo do Estado Novo] responsável pelo assassinato do general Humberto Delgado, candidato à Presidência da República em 1958 e que disse, caso fosse eleito, que demitiria Salazar, então presidente do Conselho.

Essa conversa, publicada na revista do Expresso em 1998, é fundamental pela “importância que tem na nossa memória colectiva do assassinato do general Humberto Delgado”, tido como “o maior crime pessoal e político cometido pela ditadura em território continental português”. Nas ex-colónias portuguesas, “o maior crime cometido foi o do assassinato de Amílcar Cabral”, apontou Castanheira.

“Tive sorte”, respondeu quando questionado como conseguiu a entrevista com Rosa Casaco, que à data tinha sido condenado, à revelia, a oito anos de prisão. “Tenho tido acesso a muitas boas fontes e no caso particular do Rosa Casaco tive acesso a uma que resultou. Tentei usar várias, lancei o anzol, e tive a sorte de uma delas morder o isco. E revelou-se de uma tremenda eficácia, pois levou-me directamente ao Rosa Casaco. Era uma pessoa muito próxima dele que merecia a confiança.”

O jornalista recorda que teve de esperar dois anos até estar frente a frente com Rosa Casaco. “A fase final foi de intensas negociações, porque o Rosa Casaco impôs uma série de condições, por escrito, mandou-me um documento que ainda guardo e tenciono usá-lo quando escrever as minhas memórias como repórter, porque tem mais de 20 páginas. Inclusivamente é engraçado porque é um documento onde assina todas as páginas autenticando, e a última página tem a sua assinatura e impressão digital.”

Com a confiança a aumentar, Rosa Casaco acabaria por se deixar fotografar, condição que inicialmente recusou. “A entrevista foi publicada com uma série de fotografias do próprio Rosa Casaco junto à Torre de Belém, feitas pelo meu colega Luís Carvalho.”

José Pedro Castanheira não tem dúvidas de que esta entrevista foi dada com o intuito de passar uma clara mensagem. “Na nossa gíria, como costumamos dizer, não há entrevistas grátis. Durante muitos anos achava que sim, hoje não tenho ilusões. Mas só percebi a intenção dele depois da entrevista. Rosa Casaco, quando me deu a entrevista, calculou muito bem o timing. Percebi que ele fez as contas e considerou que em 1998, quando me deu a entrevista, em Fevereiro, prescrevia a pena pela qual tinha sido condenado. Ele apostou forte nisso e nesse momento pensou que já podia falar e ajustar contas com a democracia. A entrevista foi uma tentativa de ajuste de contas com a democracia.”

“Tentei convencer o Luís Carvalho a fazer as fotografias junto à sede da PIDE, mas o Rosa Casaco preferiu que essas fotografias fossem feitas na Torre de Belém e tiveram muito mais impacto. A ideia era vingar-se da democracia e humilhar a Polícia Judiciária e a Interpol, pois havia um mandato de captura. Ele acabaria por ter razão, porque houve depois uma pugna judicial que foi até ao Supremo Tribunal de Justiça. Posteriormente o Tribunal Constitucional foi chamado a intervir, e o último acordão do TC considerou que a pena de Rosa Casaco havia caducado. Ele podia estar em Portugal”, rematou Castanheira.

Ainda sobre as diferenças do aparelho censório entre os períodos em que Salazar e Marcelo Caetano estiveram no poder, José Pedro Castanheira não tem dúvidas de que houve uma mudança. “É inquestionável que houve uma grande descompressão por parte da censura, sobretudo a partir do momento em que Marcelo Caetano toma posse.

Até à posse de Caetano era tudo controlado à minúcia, ao segundo, à palavra. É o próprio secretário de Estado [Paulo Rodrigues] que tutela a censura que dá a notícia da morte de Salazar e é ele que leva o comunicado oficial à Emissora Nacional para ser lido pelo locutor de serviço. E antes de passar o comunicado para as mãos dele, o Paulo Rodrigues decide fazer ainda mais uma alteração no comunicado”, exemplificou.

14 Mai 2021

CAEAL anuncia desistência de duas comissões de candidatura às eleições

A Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo tinha a comissão de candidatura validada e podia avançar com uma lista para as eleições. No entanto, optou por abdicar, pouco mais de um mês depois

 

As eleições ainda não começaram, mas duas potenciais candidaturas já desistiram, depois terem oficializado a vontade de concorrer junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Os casos foram revelados ontem pela CAEAL, que recusou ligações entre desistências e qualquer decisão do órgão responsável pelo acto eleitoral.

As comissões de candidatura são formadas por 300 a 500 eleitores e servem de plataforma de apoio às listas candidatas ao hemiciclo. A CAEAL não revelou o nome das pessoas envolvidas, mas identificou as duas comissões: “Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo” e “Aliança Macau”.

Segundo a informação divulgada, a comissão “Novas Forças dos Trabalhadores das Empresas do Jogo” já tinha sido validada pela CAEAL, depois de apresentar as assinaturas no início do mês, mas desistiu no final de Abril.

O HM contactou Stephen Lao, ligado à “Power of the Macau Gaming Association”, associação ligada ao sector do jogo que no início do mês apresentou as assinaturas para formular uma comissão de candidatura. Contudo, Lao limitou-se a responder que “não é conveniente divulgar informações”, não negando ligações à comissão.

Por sua vez, a “Aliança Macau” desistiu sem que a candidatura tivesse sido validada. O pedido de desistência foi formalizado a 10 de Maio, depois de formalizar a candidatura em Abril.

Novos lugares de voto

Também ontem, a CAEAL anunciou cinco novos lugares de voto, que vão substituir outros tantos. Segundo as autoridades, os antigos lugares de voto no Fórum Macau, Serviços de Acção Social do Seac Pai Van, Escola Fong Chong da Taipa e Escola Santa Teresa vão ser substituídos pela Escola Santa Rosa Lima (Secção Inglesa), Escola Oficial de Seac Pai Van, Secção Primária da Escola Pui Tou (Taipa) e Colégio Diocesano de São José 5.

“Há dois motivos para as substituições, alguns espaços estão a ser utilizados como centro de teste de ácido nucleico, como acontece com o Fórum Macau. Outros não têm espaço adequado para a votação”, explicou Tong Hio Fong.

No que diz respeito ao local de voto, a CAEAL alertou para o facto de mais de 32 mil pessoas viverem em Coloane, mas apenas estarem registados para votar naquela zona cerca de 6 mil pessoas. Por isso, Tong apelou aos residentes para actualizarem a morada até 31 de Maio.

Acto de confissão

Sobre os funcionários públicos com carreiras especiais, que têm de respeitar o dever de neutralidade nas eleições, o presidente da CAEAL sublinhou que não podem ser membros de comissões de candidatura. No caso de já terem declarado o apoio, Tong diz que devem avisar o respectivo serviço, no caso de o apoio não poder ser cancelado, ou pedir ao mandatário para avisar a CAEAL, antes da comissão de candidatura ser validada.

Em relação a eventuais consequências, Tong afirmou que a CAEAL não vai penalizar ninguém, mas não excluiu a possibilidade de processos disciplinares internos.

Conselheiros em dúvida

O presidente da CAEAL deixou em aberto a possibilidade de eventuais Conselheiros da Comunidade Portuguesa poderem assumir lugares na AL. Até Fevereiro, Pereira Coutinho foi deputado e ainda Conselheiro das Comunidades Portuguesas, porém abdicou do cargo consultivo para se “concentrar” na AL e nas eleições.

“Temos de ver a natureza do cargo, a natureza do órgão em que exercem funções. Se for um órgão de um outro estado, não pode candidatar-se à Assembleia Legislativa. Se não for membro de um parlamento de um outro Estado, temos de ver o estatuto do órgão em que é membro”, respondeu, quando questionado se os conselheiros portugueses estavam proibidos de estar no hemiciclo.

13 Mai 2021

Arquivada queixa contra português por tentativa de violação

Um homem, de 50 anos, estava acusado da alegada prática do crime de tentativa de violação por uma estudante de 17 anos, mas o processo foi arquivado. A acusação ainda pode pedir a abertura da fase de instrução

 

O Ministério Público (MP) arquivou a queixa contra o português que estava a ser investigado por tentativa de violação de uma jovem de 17 anos. O caso tinha sido noticiado em Novembro do ano passado, e a alegada tentativa contra a residente portuguesa teria acontecido durante uma aula de fitness.

Segundo o HM apurou, a decisão de arquivamento foi tomada por falta de provas, por volta do início de Abril, e as entidades já terão feito os contactos para notificar as partes envolvidas.

No entanto, este arquivamento pode ser visto como “provisório”, uma vez que a acusação pode requerer a abertura da fase de instrução. O prazo limite para a abertura é de 15 dias a partir da notificação, e o HM sabe que a acusação ainda não terá sido notificada, pelo que prazo ainda não começou a decorrer.

A instrução é uma fase facultativa do processo penal e só se realiza a pedido das partes envolvidas, caso não concordem com a decisão inicial do MP. Ao contrário da primeira fase, conhecida como inquérito, em que o processo é conduzido pelo MP, na fase de instrução as decisões são tomadas por um juiz e, visam “a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito, em ordem a submeter ou não a causa a julgamento”.

Foi em Novembro do ano passado que a notícia se tornou pública, já depois de o português de 50 anos ter sido ouvido pela Polícia Judiciária, no âmbito da investigação. O homem tinha ficado obrigado a apresentações periódicas, como medida de coacção.

Aula de fitness

De acordo com a versão da acusação, tudo teria acontecido durante uma aula de fitness e o homem seria o personal trainer da aluna de 17 anos. Segundo a versão da queixosa, foi durante uma aula particular que o sujeito teria feito “avanços indesejados”, que teriam deixado “marcas físicas na jovem”.

Por sua vez, a vítima manteve-se em silêncio após o ataque e só alguns dias mais tarde contou o sucedido na aula de fitness à família. Na sequência da revelação, a família da vítima apresentou a denúncia junto da polícia.
Na altura, o HM contactou a PJ sobre o caso, que recusou revelar qualquer tipo de informação devido a um pedido dos pais da vítima. Esta foi uma postura explicada com a intenção de evitar “danos secundários”.

O crime de violação é punido com uma pena que pode chegar aos 12 anos de prisão, que pode ser agravada por mais seis anos, atingindo um total de 18 anos. No entanto, uma vez que o ataque não foi consumado, e como a alegada vítima tem uma idade superior a 16 anos, o homem poderá ser acusado de coacção sexual. Nesse caso, a moldura penal vai dos dois a oito anos de prisão, mas pode ser agravada por mais dois anos e oito meses, dependendo das condições do crime, como o facto de este poder ter resultado de uma “dependência hierárquica”.

13 Mai 2021

Burla | Desfalcados em 3,6 milhões em esquema de vinho e roupa

Ao todo, sete pessoas foram seduzidas a investir numa plataforma online dedicada à venda de vinho tinto e roupa. A principal suspeita pelo esquema que terá lesado as vítimas em 3,6 milhões de renminbis desde 2019 é uma residente de Hong Kong de 38 anos, que acabou detida pela Polícia Judiciária na zona do NAPE

 

A Polícia Judiciária (PJ) deteve na passada terça-feira, na zona do NAPE, uma residente de Hong Kong de 38 anos suspeita da prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado. Em causa, está o facto de a suspeita ter alegadamente sido a principal responsável por aliciar sete pessoas, seis das quais residentes de Macau, a investir cerca de 3,6 milhões de renminbis numa plataforma online dedicada à venda de vinho tinto e roupa. O valor nunca foi recuperado.

De acordo com informações reveladas ontem em conferência de imprensa pela PJ, o alerta foi dado pelas próprias vítimas na passada terça-feira, quando estas revelaram ter conhecido uma mulher através da qual lhes foram prometidos lucros, mediante investimento financeiro na referida plataforma. Mais especificamente, segundo as vítimas, a mulher terá prometido lucros de 20 por cento dos montantes investidos ao fim de 30 dias.

Numa fase inicial, após terem colhido alguns lucros do primeiro investimento que fizeram na plataforma, as vítimas sentiram confiança na intermediária e em todo o processo, voltando a transferir novos montantes.

Ao todo, partilhou ontem um porta-voz da PJ, entre Setembro de 2019 e 2021, as sete vítimas investiram cerca de 3,6 milhões de renminbis, valor que procuraram recuperar junto da residente de Hong Kong. No entanto, e após a apresentação de várias desculpas para adiar a devolução dos montantes, a suspeita acabou mesmo por não os restituir, facto que levou à apresentação da queixa por parte das vítimas.

Palavra contra palavra

Iniciada a investigação, a PJ detectou que a suspeita entrou em Macau na passada terça-feira através das Portas do Cerco, acabando mais tarde no mesmo dia, por localizá-la e detê-la num restaurante na zona do NAPE. Nos depoimentos prestados à PJ, a suspeita alegou ter recebido 2,8 milhões de renminbis das vítimas, argumentando não ter devolvido os montantes “porque a plataforma não produziu lucros”.

Além disso, segundo a PJ, a suspeita não conseguiu apresentar qualquer comprovativo de utilização ou comunicação com a alegada plataforma dedicada à venda de vinho tinto e vestuário.

O caso seguiu ontem para o Ministério Público (MP), onde a suspeita irá responder pela prática do crime de burla de valor consideravelmente elevado. A confirmar-se, poderá vir a ser punida pena com pena prisão entre 2 a 10 anos.

13 Mai 2021

Plano Director | Sulu Sou pouco optimista sobre mudança de posição do Governo

Sulu Sou considera que o Chefe do Executivo passou a “mensagem errada” quando defendeu que a população não se opôs às instalações governamentais previstas para as zonas C e D. Contudo, o deputado não acredita que o Governo volte atrás e destine o espaço a zonas verdes e instalações culturais e recreativas

 

Numa conferência de imprensa agendada para expressar as opiniões da Associação Novo Macau sobre as conclusões da consulta pública ao novo Plano Director, Sulu Sou considerou que a vontade da população não está a ser cumprida relativamente à criação de zonas verdes e instalações culturais e recreativas nas zonas C e D junto ao Lago de Nam Van.

Segundo o deputado e vice-presidente da Associação Novo Macau, apesar de quase 70 por cento da população ter mostrado oposição à construção de edifícios governamentais na zona e mais de 80 por cento estar contra os limites máximos de altura de 62,7 metros, o Chefe do Executivo passou a “mensagem errada” sobre o assunto, vincando que o plano é mesmo para avançar. Perante o cenário, Sulu Sou está pouco optimista sobre uma mudança de posição por parte do Governo.

“O Chefe do Executivo disse que os cidadãos não se opõem à construção dos edifícios governamentais e que se opõem apenas aos limites estabelecidos para os edifícios, mas isso não é verdade. Para ser honesto, não estamos optimistas [numa mudança de posição], porque enfrentamos repetidamente a mesma atitude por parte do Governo nos últimos anos. No entanto, temos a responsabilidade de mostrar novamente as nossas exigências, que são também as opiniões da população”, apontou ontem Sulu Sou.

Para o deputado, aquela área que, além das zonas C e D junto ao Lago Nam Van inclui também o Lago Sai Van e a zona B dos novos aterros, é o “último jardim da península de Macau” e que, por isso, esta é a “última oportunidade” para o defender. Além disso, Sulu Sou considera que existem “recursos suficientes” para albergar os serviços do Governo noutros locais como no Pac On, Zona Nova e Dynasty Plaza.

Quantos são?

Durante a conferência de imprensa, Sulu Sou referiu ainda que a Associação Novo Macau está “desiludida” com o facto de, tanto o documento de consulta pública, como o relatório serem omissos em termos de política demográfica.

“O Plano Director de qualquer cidade não pode estar separado da sua política demográfica. Estamos muito desiludidos que o documento de consulta pública e o relatório final não mencionem dados ou qualquer informação sobre o desenvolvimento da população em Macau. O relatório não tem em conta as necessidades gerais e regionais da população, projecções de evolução (…), capacidade de desenvolvimento e estrutura da população, pelo que as necessidades reais em termos de espaço público nunca poderão ser estimadas”, afirmou o responsável.

Sobre a classificação do Alto de Coloane como zona habitacional, proposta liminarmente recusada pela população e sobre a qual o Governo recuou, Sulu Sou apontou que o Executivo perdeu uma oportunidade de evitar um “conflito”.

“Não percebemos porque é que o Governo sugeriu que o Alto de Coloane fosse usado como zona habitacional durante o período de consulta pública. Pedimos ao Governo para reflectir sobre esta questão e não avançar temas que constituem conflitos sociais. A protecção de Coloane é uma exigência de longo prazo da população”, vincou.

13 Mai 2021

Paulo Osório, linguista e professor catedrático: “Macau não deve ser só árvore das patacas”

Professor Catedrático de Linguística Portuguesa na Universidade da Beira Interior, Paulo Osório gostaria de realizar em Macau um estudo que faça a descrição do português falado no dia-a-dia, para que se possam identificar problemáticas e criar, a partir daí, novos materiais didácticos. Paulo Osório defende que a UM “tem tido um espaço mais reduzido de evolução” nesta área face ao IPM

 

Colabora com a Universidade de Macau (UM) e o Instituto Politécnico de Macau (IPM) ao nível dos doutoramentos, mas também se dedica ao estudo da expansão do idioma em termos históricos.

Uma das minhas áreas de investigação tem sido a história da língua portuguesa. Há um período que me tem interessado particularmente, que é do século XV em diante, a que o professor Ivo Castro chama o ciclo da expansão da língua portuguesa, quando a língua vai em busca de outros territórios graças à expansão ultramarina. Esse processo da diáspora foi longo e claro que o português ao chegar a esses espaços teve de contactar com as línguas já existentes. Isso aconteceu na Ásia, em África, no Brasil. Este tema tem-me levado a fazer várias questões para as quais tenho tentado encontrar algumas respostas, e que não são fáceis.

Tais como?

Por exemplo, conheço bem Macau. E um dos aspectos que me faz muita confusão é que, embora a implementação dos portugueses tenha sido longa, o português enquanto língua de comunicação basicamente não existe. Noutros pontos do globo o português conseguiu vingar e ter uma implantação. Mas na Ásia… quando falo em Ásia os dois locais que tenho como referência e que conheço melhor são Macau e Timor-Leste. São dois pontos onde não notámos grande implantação da língua. É quase impossível uma comunicação em língua portuguesa em Macau. Mas é interessante porque se olharmos para um território como Hong Kong, e que teve um processo de colonização, o inglês ficou bem radicado.

Na sua visão, porque é que o português não ficou como língua de comunicação em Macau, apesar de ser língua oficial?

Seria mais fácil dizer que não houve empenho por parte do poder local na língua portuguesa, mas isso também não pode ser dito assim. Temos instituições de ensino com departamentos de português. Temos ainda o IPOR que tem feito a defesa da língua portuguesa. Temos de fomentar mais políticas linguísticas de defesa da língua portuguesa, mas há um factor linguístico que não podemos escamotear, que é o facto de estarmos na presença de línguas tipologicamente muito diferentes, o português e o cantonês / mandarim. Isso faz com que seja mais difícil a própria aquisição e aprendizagem de um falante de chinês. Há depois outras questões que não são linguísticas, mas que estão envolvidas no desenvolvimento da língua, e que têm a ver com o facto de estarmos perante culturas muito diferenciadas. Em Macau é curioso… saio e noto pouca presença portuguesa. Há a calçada portuguesa no Leal Senado, temos algum património, mas não me parece que haja uma relação tão directa entre o que lá foi deixado com a existência de facto de uma permanência tão duradoura. Tivemos várias classes profissionais que propiciaram a ida da língua portuguesa para esses pontos. Uma das quais foi os missionários, que têm aqui uma importância muito grande. Talvez possam ser feitas outras medidas de investimento. Se reparar, a língua oficial da UM é o inglês, nem sequer é o mandarim ou o português. Acaba por ser, com a proximidade de Hong Kong, a língua de comunicação, como uma segunda língua, e é a única

Que projectos está a desenvolver com a UM e o IPM?

Na UM tenho colaborado com a professora Maria José Grosso ao nível de júris de provas de doutoramento, questões de aprendizagem do português como língua não materna. Com o IPM tenho colaborado com a professora Rosa Bizarro, há um ano, para dinamizar sessões ao nível do doutoramento em português. O doutoramento da IPM em português é muito interessante, abrange vertentes da linguística e da literatura, que tem bastantes alunos. Pelo que conheço, parece-me que o IPM tem feito um esforço muito grande na defesa e expansão do português e até na formação que têm dado aos professores. Um dos aspectos que gostaria de estudar no terreno era fazer um estudo descritivo do português que é falado, a fim de tentar aferir algumas diferenças linguísticas mais acentuadas nos dois sistemas de língua e depois como isso se pode operacionalizar para a sua aprendizagem. O professor de português de língua estrangeira tem de ter atenção à questão da descrição das línguas em uso, para depois poder fazer algumas pedagógico-didácticas para se aferir um maior sucesso. Ensinar português a hispano falantes não é o mesmo do que ensinar a língua a chineses ou macaenses.

Como seria feito esse estudo?

Seria um trabalho no terreno, de auscultação e gravação de reproduções de falantes que usem o português, ou que saibam um pouco da língua, de modo a que conseguisse diagnosticar quais são as principais dificuldades no uso do idioma. Para que depois possamos desenvolver a criação de materiais didácticos para o ensino do português. Tem de haver uma aposta nesse campo. Mas só quando diagnosticamos as dificuldades é que conseguimos depois elaborar os materiais para promover esse processo de aprendizagem da língua. Deveria haver muitos mais materiais didácticos, pois nem sempre são os suficientes para as necessidades.

Espera que com este doutoramento no IPM o ensino do português possa chegar a um outro nível?

Vai permitir uma formação de quadros. Esses doutorandos, muitos deles são professores, de Macau e da China, e serão as pessoas indicadas para fazer o ensino da língua portuguesa. Tem sido assim a nossa história, neste momento em Portugal estamos a fazer uma grande aposta na formação de quadros angolanos.

Que análise faz ao ensino do português em Macau, em termos gerais?

Tem sido feito um esforço, e temos também a Escola Portuguesa de Macau. Esse esforço deve ser continuado. Macau não deve ser só um espaço da árvore das patacas, mas quem vai com a missão de ensinar tem de ter isso mesmo, um espírito de missão, quase como um sacerdócio. O que não é fácil. É sempre possível fazer melhor, mas acho que o português tem sido dinamizado com algum afinco. Parece-me que talvez a UM tenha tido um espaço mais reduzido de evolução do que o IPM. O IPM tem abraçado mais para si essa função de ensino e difusão do português. Na UM tem-se optado mais pela investigação neste domínio, até porque têm o centro bilingue português-chinês, onde não tenho visto muita produção. As primeiras teses de doutoramento em português do IPM ainda não saíram, há um ano tinham um número muito significativo de alunos. A UM já tem uma tradição mais antiga ao nível da academia e tem naturalmente muitos doutoramentos.

Voltando à expansão do português na Ásia. Foi feita em diferentes fases, a diferentes ritmos?

A implantação das línguas em todos os territórios não ocorreu com a mesma intensidade. Encontrou sempre resistências locais. Mas a partir do momento da expansão ultramarina digamos que a língua se estende nos diferentes pontos do globo. Claro que com pontos intermitentes de actuação, para os quais muitas vezes não temos muitos dados. Depois foi tendo as suas evoluções. No fundo, o português que chega a esses territórios já é uma língua, segundo alguns académicos, um português moderno, do século XVI para a frente, que põe termo ao português medieval ou antigo.

No caso de Macau, quando os portugueses chegaram ao território, já era esse português que se falava.

Esse português moderno é que vai para esse espaço fora da Europa.

Depois da chegada dos portugueses podemos falar dos missionários jesuítas como os grandes dinamizadores do português em Macau.

Sim. Não apenas expandiram a língua como também contribuíram para o seu ensino, que era uma tarefa muito importante. Os missionários vão ter em vários pontos do espaço asiático uma importância muito marcante na difusão e ensino do idioma.

Há muitas comunidades de luso-descendentes onde restam estas formas de falar e que são resultado da expansão do português. As autoridades portuguesas deveriam dar mais atenção a esses crioulos?

Deveria haver mais atenção e até mais estudos. Sob o ponto de vista governamental deveria haver um maior cuidado pela descrição desse tipo de línguas e da sua preservação. Há alguns grupos que vão sendo excluídos e vamos perder o testemunho desses falares. Tratam-se de formas linguísticas muitíssimo importantes que atestaram a passagem dos povos. Seria importante uma preservação através de um estudo científico. É complexo, porque implica trabalho de campo. Não digo que se deva dar um estatuto de língua, porque isso prende-se com outras questões, mas sim dignificar essas formas de falar como uma forma importante do património imaterial das civilizações.

13 Mai 2021

Macau perdeu população e milhares de TNR

No final do primeiro trimestre deste ano, Macau tinha uma população total de 682.500 pessoas, menos 600 em comparação com o trimestre anterior, e menos 13.600 em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), no final de Março viviam em Macau 363.400 pessoas do sexo feminino, representando 53,2 por cento da população.

A DSEC afirmou durante o primeiro trimestre do ano registaram-se 1.173 nascimentos, menos 172, em termos trimestrais. Do total de bebés nascidos, 650 foram meninos.

No capítulo dos óbitos, registaram-se 586 óbitos nos primeiros três meses do ano, mais 20, em termos mensais. As três principais causas antecedentes de morte foram tumores (222 óbitos), doenças do aparelho circulatório (163 óbitos) e doenças do aparelho respiratório (99 óbitos).

Atravessar fronteiras

No trimestre em causa o número de indivíduos do Interior da China recém-chegados a Macau titulares de “Salvo-Conduto Singular” fixou-se em 675 pessoas, com os indivíduos autorizados a residir em Macau a totalizarem 124.

Estes índices demográficos registaram quebras de 245 e 19 pessoas, respectivamente em termos trimestrais.
Um dos factores demográficos mais afectados pela pandemia, e decorrente crise económica, foi o número de trabalhadores não residentes (TNR). No final de Março, viviam em Macau 173.113 TNR, menos 4.548 em relação ao trimestre anterior.

Em termos anuais, nos primeiros três meses de 2021 o número de TNR registava uma quebra de 16.405 em relação ao primeiro trimestre do ano passado, uma diminuição de quase 10 por cento. Outro dos aspectos analisados pela DSEC é o número de casamentos. Nos primeiros três meses do ano registaram-se 973 casamentos, mais 84 em termos trimestrais.

12 Mai 2021

Covid-19 | Consulado das Filipinas distribuiu 330 mil dólares num ano

O consulado-geral das Filipinas em Macau atribuiu, desde Março do ano passado, mais de três mil cabazes de comida aos seus cidadãos (mais de 30 mil no território). Além disso, atribuiu apoios financeiros superiores a 300 mil dólares norte-americanos e repatriou mais de 3000 pessoas em 16 voos

 

O consulado-geral das Filipinas em Macau tem providenciado ajuda alimentar e financeira aos seus cidadãos que, devido à pandemia da covid-19, se viram sem trabalho e sem possibilidade de regressar ao seu país de origem. Segundo dados fornecidos ao HM, tanto o consulado como o gabinete Phillipines Overseas Labour Office, da agência Overseas Workers Welfare Administration (POLO – OWWA), ligada ao Departamento do Trabalho e Emprego do Governo, distribuiu em Macau um total de 3,300 cabazes de comida aos cidadãos filipinos. Estes cabazes contêm arroz, noodles, comida enlatada, café, biscoitos, produtos de higiene e máscaras”. De frisar que a agência estatal funciona como um sistema de segurança social e também como seguradora. Importa ressalvar que a comunidade filipina em Macau totalizou 30.913 indivíduos no final de Março deste ano.

Através de um outro programa de assistência financeira, também gerido por esta agência, 1,650 cidadãos filipinos que estão no território receberam, cada um, um vale de 200 dólares americanos. No total, as autoridades das Filipinas atribuíram também 330 mil dólares americanos.

Nos últimos meses vários trabalhadores não residentes (TNR) que se viram sem rendimentos devido à pandemia têm procurado ajuda alimentar junto de associações locais, como é o caso da Caritas Macau. O HM tentou contactar Nedie Taberdo Palcon e Jassy Santos, duas dirigentes de associações de defesa dos direitos dos trabalhadores migrantes, para perceber se estes apoios conseguem abranger toda a comunidade. Apenas Jassy Santos respondeu às nossas questões, alertando para o facto de haver muitos trabalhadores migrantes que não estão a ser abrangidos por esta ajuda institucional, uma vez que não estão inscritos na OWWA.

Regresso a casa

Relativamente aos serviços de repatriamento, o consulado diz ter organizado, desde Março de 2020, um total de 16 voos de repatriamento, que transportaram para casa 3,399 pessoas. “Enquanto os voos comerciais estiverem suspensos, vamos continuar a dar assistência aos cidadãos filipinos para o regresso” ao país, explica o consulado na sua resposta.

Para já, a prioridade é dada aos idosos, grávidas, menores de idade e todos aqueles que fizeram o registo das suas condições médicas e de saúde junto das autoridades. Esta prioridade acontece “devido às actuais restrições de chegada do número de passageiros diários às Filipinas”.

12 Mai 2021

Wynn | Prejuízo de 281 milhões de dólares no primeiro trimestre

Nos primeiros três meses de 2021 a Wynn Resorts registou prejuízos de 281 milhões de dólares, valor que representa uma melhoria para os cofres da empresa, já que em 2020 os prejuízos foram de 402 milhões de dólares. Sobre Macau, Matt Maddox, director executivo da Wynn Resorts, aponta que o aumento de turistas tem reforçado o segmento premium do mercado de massas

Com Lusa 

 

A operadora do jogo Wynn Resorts, que explora dois casinos em Macau, anunciou ontem um prejuízo total de 281 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2021, traduzindo uma trajectória de melhoria para a empresa, fortemente abalada pela pandemia. Isto, porque, de acordo com um relatório divulgado na segunda-feira, em igual período de 2020, a empresa tinha registado um prejuízo de 402 milhões de dólares, ou seja, mais 121 milhões comparativamente com o primeiro trimestre de 2021.

As receitas operacionais nos primeiros três meses de 2021 foram de 725,8 milhões de dólares, decrescendo 23,9 por cento, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, altura em que as receitas operacionais foram de 953,7 milhões.

“Os nossos resultados do primeiro trimestre reflectem um progresso contínuo no negócio à medida que os consumidores começaram a viajar mais uma vez para os seus destinos preferidos de lazer e jogos”, disse o director executivo da Wynn Resorts, Limited, Matt Maddox, citado no mesmo relatório.

Macau recupera

Em relação a Macau, o director executivo da Wynn Resorts sublinha que os dados do primeiro trimestre de 2021 traduzem uma melhoria progressiva face ao impacto da pandemia.

“Em Macau, registámos melhorias graduais contínuas na tendência de visitas, reforçando particularmente o segmento ‘premium’ do mercado de massas dos casinos, bem como no segmento de luxo”, acrescentou na mesma nota.

Segundo os dados divulgados pela Wynn Resorts, entre os dois resorts explorados pela empresa em Macau, o primeiro trimestre revelou ser mais animador para o Wynn Palace, no Cotai, do que para o Wynn Macau.

Se por um lado, entre Janeiro e Março de 2021, o Wynn Palace registou um EBITDA (lucros antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) positivo de 17,2 milhões de dólares quando comparado com igual período de 2020, o Wynn Macau registou um EBITDA negativo de 2,7 milhões.

A recuperação face ao impacto da pandemia no sector do jogo em Macau é também demonstrada pela diminuição de apenas 8,5 por cento das receitas operacionais (237,3 milhões de dólares) no Wynn Palace em relação aos resultados dos primeiros três meses de 2020, quando o grupo obteve receitas de 259,5 milhões, contando com o mês de Janeiro, que praticamente não tinha sido ainda afectado pela crise no sector.

Contudo, as receitas operacionais no Wynn Macau, que se fixaram em 179,7 milhões de dólares, representaram um decréscimo de 21,7 por cento, dado que no primeiro trimestre de 2020 as receitas foram de 229,5 milhões. No total, em 2020, a operadora tinha registado um prejuízo recorde de 740 milhões de dólares.

Verão Azul

Numa palestra dirigida aos investidores da empresa, o director executivo da Wynn Resorts, Matt Maddox, mostrou-se confiante relativamente às operações de Macau para os próximos meses. Isto, tendo em conta, não só os resultados auspiciosos obtidos durante a Semana Dourada do 1.º de Maio, mas também as perspectivas de crescimento a partir deste mês. “Temos expectativas de ver, em Maio, uma aceleração dos resultados obtidos em Abril. Vendo os ganhos obtidos durante a Semana Dourada e compreendendo as motivações dos consumidores chineses e a nossa posição nesse mercado, torna-nos confiantes sobre a nossa posição em Macau, o mercado de Macau e o desenvolvimento de oportunidades futuras em torno do Wynn Palace”, pode ler-se numa nota oficial divulgada sobre o evento.

12 Mai 2021

4 de Junho | Scott Chiang e Sulu Sou condenam recusa do IAM

No seguimento da proibição da exposição fotográfica sobre o massacre de Tiananmen, Scott Chiang afirmou que o caso é demonstrativo do “aumento do controlo social em Macau” e que a partilha de espaço entre associações seria solução viável. O presidente do IAM José Tavares reafirma que a exposição foi rejeitada apenas porque todos os espaços estão ocupados

 

O ex-presidente da Associação Novo Macau e possível candidato às próximas eleições legislativas, Scott Chiang, considera que a recusa do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) em autorizar a exposição fotográfica alusiva ao massacre de Tiananmen é demonstrativa do aumento do controlo social que o Governo tem vindo a aplicar sobre a população e que existem alternativas perante o argumento de falta de espaços disponíveis.

Numa publicação no Facebook, Scott Chiang lembra que ao longo dos anos tem participado nas actividades alusivas ao 4 de Junho e que, por isso mesmo, tem sido “testemunha das mudanças” que as celebrações têm sofrido, nomeadamente acerca do entendimento que tem sido dado pelas autoridades ao conceito de “espaço público”.

“O Governo está encarregue de gerir e distribuir os espaços públicos pelos diferentes intervenientes da sociedade, com o objectivo de garantir a extensão dos direitos dos indivíduos e manter a ordem geral. No entanto, o poder corrompe e os governantes começaram a considerar que as ruas e as praças lhes pertencem”, pode ler-se na publicação.

Recorde-se que, pelo segundo ano consecutivo, o IAM voltou a não autorizar a iniciativa da União para o Desenvolvimento Democrático, alegando que o espaço escolhido para o efeito, o jardim do mercado do Iao Hon, já estava reservado por outras associações, assim como os restantes 16 locais sugeridos. A informação foi divulgada no Facebook pelo deputado Au Kam San, membro da associação, que estendeu o pedido a nove espaços e oito suplentes. No entanto, o IAM recusou também a proposta apresentada para estes locais.

Exemplificando que em anos anteriores, a celebração da vigília do 4 de Junho foi partilhada no Largo do Senado com a Associação Geral de Estudantes Chong Wa, por ocasião do Dia da Criança, Scott Chiang considerou a decisão do IAM é “razoável, mas pouco lógica”. “Quem disser que não existe um objectivo por detrás do cancelamento está a mentir”, acrescentou.

Também Sulu Sou criticou no Facebook a proibição do IAM, afirmando que o Governo “teme” que as pessoas “critiquem”, “mencionem” e “divulguem” os “actos maus” relacionados com a limitação da liberdade de expressão.

Sobre a decisão, o presidente do IAM José Tavares afirmou ao jornal Ponto Final que a exposição foi recusada apenas porque “estava tudo ocupado”. Questionado sobre quais os eventos planeados para as datas em questão, José Tavares limitou-se a responder: “São vários, já não sei. São tantos eventos que eu não sei”.

Manifestações pelo canudo

Em resposta a interpelação escrita enviada por Sulu Sou, o Gabinete do Secretário para a Segurança indicou que entre 2018 e Fevereiro de 2021 o CPSP recebeu 48 pedidos de manifestação, dos quais 30 acabaram por ser cancelados pelos promotores. Quanto a avisos de reunião, foram feitos 298 pedidos, sete dos quais acabaram por ser recusados e 22 foram cancelados pelos promotores.

Na mesma resposta, a Chefe do Gabinete do secretário para a Segurança, Cheong Ioc Ieng, indicou que os pedidos rejeitados em 2019 ficaram a dever-se à “ilegalidade dos temas e objectivos das reuniões” e que, em 2020, os pedidos não aprovados estiveram relacionados com o “cumprimento das orientações de prevenção da pandemia”.

“Mesmo que a reunião seja pacífica, se o objectivo da reunião é ilegal, prejudica a segurança nacional, a ordem e a saúde pública, a ética ou direito e a liberdade de alguém, a polícia tem o dever de não aprovar esses pedidos”, pode ler-se na resposta.

12 Mai 2021

Gastronomia | Patuá, a casa da comida macaense em Lisboa 

É na rua Ilha de São Tomé, em Lisboa, que mora o restaurante Patuá, de Francisco Rodrigues e Daniela Silvestre. Ele é um macaense que nunca pôs um pé em Macau, mas cresceu a ouvir histórias do território e a aprender as receitas da família. Ela estudou antropologia e sempre foi fascinada pela cultura oriental. O Patuá é, neste momento, o único restaurante que serve comida macaense em Lisboa

 

“Isto aqui são caixas de cigarros que o tio Rogério trouxe.” A decoração do restaurante Patuá, em Lisboa, é feita de memórias familiares, coisas que se foram buscar às vivências antigas em Macau e que se trouxeram para Portugal depois de muitas viagens. O menu também tem pedaços dessas memórias, com receitas que foram passando de boca em boca, feitas com ingredientes partilhados.

Aberto em Outubro de 2019, o Patuá, de Francisco Rodrigues e de Daniela Silvestre, tem vindo a resistir à crise gerada pela pandemia e é hoje o único restaurante em Lisboa de comida macaense. Além do tradicional minchi – e há também uma versão vegan, com soja – servem-se pratos como o bacalhau macaísta ou o caril de quiabos.

Francisco Rodrigues nunca viveu em Macau, mas os laços que o unem ao território são muitos. A família regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974 com receio de um novo 1,2,3 e fixou-se em Torres Vedras. Francisco foi crescendo a ouvir histórias de uma Macau que já não existe e a aprender umas palavras de cantonês. O interesse pela gastronomia macaense foi crescendo e materializou-se na abertura do seu próprio negócio ao lado da companheira, Daniela Silvestre que, além de ser formada em antropologia e cozinha, sempre foi uma apaixonada pela comida chinesa e pela cultura oriental.

“Eu é que trago a bagagem da comunidade macaense do lado da minha mãe”, contou Francisco ao HM. “A minha avó era chinesa, o meu avô de Castelo Branco. A influência macaense sempre foi ecoando nos anos em que trabalhei na cozinha, de forma inconsciente. Assumir o lado macaense foi também para não deixar isto morrer”, adiantou.

Depois de uns meses fechado ou a funcionar apenas em regime de take-away, o Patuá quer agora regressar em força e manter a clientela que conseguiu conquistar.

“Uma das grandes inspirações para o nosso menu são aquelas fotografias antigas de que o Francisco fala, de Macau, que são fascinantes porque vemos uma série de pessoas de todo o mundo a partilharem comida. Queríamos que o Patuá fosse reflexo disso, uma casa onde o regime alimentar não fosse um constrangimento à comensalidade. queremos que o Patuá seja um sítio de partilha de comidas e de conversas. Temos também a premissa de que cozinhamos o que gostamos de comer”, contou Daniela.

Há quem vá ao Patuá para ter “uma experiência macaense”, e aí são escolhidos pratos como o minchi, o porco balichão, o bacalhau à macaísta ou o peixe à Cantão. Mas há depois grupos de macaenses “discretos”, que se revelam pelos pedidos que fazem. Daniela e Francisco recordam um macaense vegan que, depois de anos sem comer minchi, provou a versão com soja. “Disse-nos: voltei a casa, achei que nunca mais ia comer minchi na minha vida.”

Viagem de sonho

Francisco e Daniela mostram os livros que têm folheado nos últimos anos e nos quais se inspiram para as suas criações. Na prateleira está “Sabe comer com pauzinhos?”, de Cecília Jorge, mas também receitas africanas e da Índia. Os ingredientes da comida macaense misturam-se com sabores de outros lugares e não há como fugir a esse paradigma.

“Costumo dizer que o minchi é tão bom como a tua empregada era chinesa”, exemplifica Francisco. “[A origem do minchi] depende sempre das gerações de macaenses que vou conhecendo. Há quem diga que vem da comida malaia ou indiana. Na base do molho do balichão temos o óleo de Palma. Se formos a ver bem, havia guineenses em Macau, e são exímios em usar marisco seco desidratado. O balichão é isso, camarão seco pisado com banha, alhos. Não devia haver controvérsia [sobre a origem da comida macaense], deveria haver aceitação”, frisou Francisco.

Além de querer introduzir no menu o minchi de peixe, os chefes gostariam de ver sessões de cozinha ao vivo com comida macaense com idosas que guardam as suas receitas. Mas ir a Macau e fazer trabalho de campo é um dos grandes sonhos do casal.

“Queríamos passar uma temporada em Macau para investigar a comida. Queremos ver livros e falar com pessoas, recolher informação. Infelizmente a D. Aida de Jesus já não está entre nós, seria um sonho conhecer essa pessoa”, disse Daniela Silvestre.

Apesar do trabalho de preservação que é feito a nível institucional, nomeadamente com a Casa de Macau em Lisboa, Francisco Rodrigues defende que, para que a gastronomia macaense resista no tempo, “é preciso haver vontade do povo”, além da “vontade política”. “É necessário primeiro a preservação cultural parte do colectivo, em manter vivas as receitas e transmiti-las. Há montes de famílias com essa documentação que se vai perder”, rematou.

 

Restaurantes fecham portas, mas prometem regressar

Além do Patuá, Lisboa tinha ainda mais dois locais onde se podiam provar pratos verdadeiramente macaenses, mas que fecharam portas devido à pandemia. Um deles era a Taberna Macau, projecto do chefe André Magalhães, que funcionava na zona do Martim Moniz.

“Sempre achei que Macau estava muito mal representado em Lisboa e que era preciso fazer alguma coisa. Estávamos muito empenhados no projecto e acabamos por fechar, com muita pena. Não era viável, tínhamos muitos empregados e deixamos de ter clientes”, contou ao HM.

André Magalhães confirma que, neste momento, o restaurante Patuá é o único espaço que resta “com essa identidade” da comida macaense. Mas mesmo com a crise, o chefe de cozinha promete voltar ao conceito da Taberna Macau, um projecto que considera “interrompido”.

“Teve algum sucesso e percebemos que aquele sítio não era o mais indicado, pois as pessoas mereciam um serviço mais cuidado. Temos o nome e a marca e gostávamos um dia de voltar a este projecto. Conseguimos fidelizar clientes e tivemos pessoas que pela primeira vez descobriram a comida macaense. Foi muito gratificante enquanto durou.”

Outro restaurante em Lisboa com pratos macaenses que fechou portas devido à crise foi a Cozinha Urbana, de Sara Veríssimo. No entanto, a chefe de cozinha, que viveu em Macau entre os 3 e os 13 anos, vai abrir um novo espaço em Évora, chamado Kantu, com pratos asiáticos e minchi. “Será um espaço com comida de rua asiática. Vamos reunir os melhores pratos de alguns países asiáticos e fazer um restaurante com esta fusão.”

Sara Veríssimo fez o curso de cozinha em Portugal aos 25 anos. “Esta parte da Ásia que me tem acompanhado nas cozinhas por onde passei vem da minha lembrança pessoal de sabores e cheiros. Não aprendi isto em Macau, porque era muito nova, mas depois de ter estudado cozinha fui fazendo alguns pratos e fui investigando. O que me guia aqui é a memória, as coisas que provei e cheirei em Macau.”

Pouca aposta

Também Sara Veríssimo denota que, além do Patuá, não restam em Lisboa mais espaços onde a gastronomia macaense seja protagonista. “Ninguém apostou nisso a sério até agora, à excepção do Francisco [Rodrigues]. São poucos os que enveredaram pela área da cozinha. E depois Macau não é um sítio assim tão conhecido como são as outras ex-colónias. Macau ficou assim um pouco esquecido.”

André Magalhães, que além de chefe de cozinha também faz trabalho académico na área da gastronomia, explica que a pouca representatividade da comida macaense em Lisboa “é uma questão de conjuntura e de contexto. “Há uma diáspora macaense em Lisboa que está bastante envelhecida. São pessoas que têm os mesmos hábitos e que frequentam sempre o mesmo restaurante. Infelizmente os jovens macaenses não têm apostado no conceito de comida macaense. A maior parte do público também a confunde muito com a comida chinesa, nomeadamente a cantonense. E depois é difícil ter cozinheiros que saibam executar este tipo de comida”, rematou André Magalhães.

12 Mai 2021

Concessão da Livraria Portuguesa prolongada por mais um ano

O Instituto Português do Oriente (IPOR) decidiu prolongar por mais um ano, sem realização de novo concurso, a concessão da Livraria Portuguesa, que actualmente pertence à Praia Grande Edições. A informação foi confirmada ao HM por Joaquim Coelho Ramos, actual director do IPOR. “Devido à pandemia foi decidido prorrogar a concessão à Praia Grande Edições por mais um ano. Nesta fase ainda não está a ser equacionado o modelo de concessão, ou sequer se haverá mudanças ao nível da metodologia ou de conteúdos”, lê-se na resposta enviada ao nosso jornal.

Ao HM, Ricardo Pinto, director da Praia Grande Edições, falou de enormes quebras nas vendas devido à pandemia e consequente fecho das fronteiras. “A pandemia é responsável por uma acentuada quebra das receitas da livraria, que estimo ser, nesta altura, de 30 por cento se comparadas com as de 2019. No ano passado, a quebra já se sentia, mas não era tão acentuada, embora tenhamos sido forçados a fechar a livraria por cerca de um mês.”

A queda na venda de livros a turistas ronda os 100 por cento, verificando-se também uma “descida muito acentuada, próxima dos 80 a 90 por cento, nas receitas provenientes de clientes institucionais”. Trata-se, segundo Ricardo Pinto, do “reflexo dos cortes orçamentais a que estão obrigados os serviços públicos da RAEM neste ano económico”.

Em termos gerais, este será “um ano de grandes desafios” para a gestão da Livraria Portuguesa. “Não temos grande esperança de que [a situação] possa melhorar de forma significativa no segundo semestre. Oxalá que o ano de 2022 seja de regresso à normalidade”, frisou.

Clientes individuais crescem

Mesmo sem os números do passado, a Livraria Portuguesa tem colmatado as quebras nas receitas com vendas a clientes individuais. “Estamos a ir cada vez mais ao encontro deles e de uma forma cada vez mais pró-activa”, disse Ricardo Pinto. Exemplo disso é o lançamento de iniciativas como a campanha A Editora do Mês, em que se vendem livros a preços semelhantes aos que se praticam em Portugal. Foram também feitos ajustes nas encomendas e no contacto com o cliente.

A Livraria Portuguesa vai continuar a acolher actividades “que passam pela promoção ou acolhimento de exposições organizadas por outras entidades, o lançamento de novas obras, a participação em feiras do livro ou a realização de actividades dirigidas ao público infantil”.

Ricardo Pinto adiantou também ao HM que este ano o Festival Literário de Macau Rota das Letras “vai voltar mais uma vez a ter lugar no final do ano nas antigas Oficinas Navais”.

11 Mai 2021

SMG | Primeiro trimestre com mais de metade de dias insalubres que 2020

O número de dias com má qualidade de ar registado no primeiro trimestre de 2021 pela maioria das estações de monitorização dos SMG, representaram mais de metade do número de dias classificados da mesma forma ao longo de todo o ano de 2020

 

O número de dias em que a qualidade do ar foi classificada como insalubre ou mais grave ao longo do primeiro trimestre de 2021 representou, na maioria das estações de monitorização, um valor superior a mais de metade dos dias classificados da mesma forma ao longo de todo o ano de 2020.

Segundo dados que constam numa resposta enviada pelos Serviços Metereológicos e Geofísicos (SMG) ao HM e que foi divulgada online, entre Janeiro e Março de 2021, em quatro das seis estações de monitorização, o número de dias insalubres foram equivalentes, superiores ou constituíram mais de metade do total dos dias insalubres de 2020.

No que diz respeito à qualidade do ar em Macau, em termos de zona de alta densidade habitacional, houve nove dias insalubres no primeiro trimestre de 2021, mais um do que ao longo de todo o ano de 2020, quando foram registados oito dias insalubres na mesma estação. À berma da estrada foram registados sete dias insalubres, também um valor bem acima da metade do total de 2020 (nove) na mesma estação de monitorização.

Quanto à qualidade do ar na Taipa, em termos de zona de alta densidade habitacional foram registados 10 dias insalubres no primeiro trimestre do ano, relativamente aos 11 registados ao longo de todo o ano de 2020. Mesmo em zona ambiental, o número de dias classificados como insalubres ou mais grave (oito) entre Janeiro e Março deste ano foram metade do total de 2020 (16).

Avançando para Coloane, os SMG apontam ter classificado seis dias como insalubres na estação de Ká-Hó e sete em zona ambiental. Isto, quando ao longo de todo o ano de 2020 foram registados, respectivamente, 24 e 16 dias insalubres.

Influência pandémica

Contudo, há duas nuances que importa ressalvar. Em primeiro lugar que, no cômputo geral, segundo os SMG “a qualidade do ar em 2020 foi relativamente boa, devido à influência da pandemia”, fazendo com que o número de dias classificados como insalubres fosse consideravelmente mais baixo. Por outro lado, a partir de 1 de Janeiro de 2021, os SMG passaram a adoptar critérios mais rigorosos para o cálculo do Índice da Qualidade do Ar (IQA).

Recorde-se que, de acordo com os novos critérios, os valores das concentrações de poluentes para o nível de qualidade do ar, “moderado”, passaram a ser elevados para o nível de valores intermédios temporários “IT-2”, das “Air Quality Guidelines” (AQG) recomendado pela Organização Mundial de Saúde, fazendo com que o número de dias com qualidade do ar insalubre possam, naturalmente, aumentar.

De acordo com um relatório dos SMG divulgado em Janeiro de 2021, o número de dias insalubres no ano passado foi menor em todas as estações de monitorização, tendo sido registada uma quebra na média anual de concentração de partículas inaláveis muito finas em suspensão (PM 2,5).

Olhando para os dados do primeiro trimestre de 2019 fornecidos ao HM pelos SMG, e também eles calculados de acordo com os novos critérios, a situação foi pior em comparação com o primeiro trimestre de 2021, dado que se registaram 14 dias insalubres, tanto na zona de alta densidade habitacional de Macau, como da Taipa. À berma da estrada, em Macau, foram registados 10 dias insalubres, ao passo que em Ká-Hó houve sete dias classificados da mesma forma. Também no primeiro trimestre de 2019, as estações ambientais da Taipa e Coloane registaram, respectivamente, cinco e oito dias insalubres.

11 Mai 2021

Covid-19 | Serviços de Saúde dizem que ataques informáticos vieram do exterior

O Governo equaciona introduzir medidas menos restritivas para quem tomou as duas doses da vacina, que podem passar pela participação em concentrações sem necessidade de fazer teste de ácido nucleico. Quanto aos ataques informáticos, o caso foi encaminhado para a Polícia Judiciária

 

Os Serviços de Saúde afirmaram que os ataques informáticos que visaram as plataformas online na sexta-feira e no sábado partiram do exterior. Na conferência de imprensa sobre a pandemia, Tai Wa Hou, o coordenador do plano de vacinação contra a Covid-19, indicou que não houve fuga de dados.

“Sabemos que os ataques vieram de uma rede informática mal-intencionada e que tem origem no exterior. O caso foi reencaminhado para a Polícia Judiciária”, afirmou Tai. “Quanto ao sistema não houve fugas de dados, apesar dos ataques terem sido sucessivos. Foram tomadas medidas para evitar casos no futuro”, acrescentou.

A origem do ataque não foi revelada, mas durante os ataques os serviços de preenchimento da declaração de saúde e marcação de vacinas foram afectados durante alguns momentos. Porém, Tai Wa Hou garantiu que o caso foi seguido com toda a atenção, pelas autoridades e pela empresa fornecedora do serviço, e que foram feitos ajustes para reduzir o impacto junto dos cidadãos.

Caso de reacção adversa

Na habitual conferência de imprensa sobre a luta à covid-19 foi também abordado o caso de um homem com 62 anos que apresentou uma reacção adversa após ter sido inoculado com duas doses da vacina da Sinopharm. O homem apresenta agora sintomas de púrpura trombocitopénica idiopática, uma doença sanguínea que se manifesta principalmente através de manchas na pele, devido à redução do nível das plaquetas em circulação.

O homem foi vacinado a 23 de Fevereiro e 25 de Março. No entanto, a 21 de Abril, depois de apresentar uma “hemorragia da mucosa oral e pontos de sangramento sistémico” deslocou-se ao Interior para receber tratamento. A situação não terá ficado resolvida, e o indivíduo acabou por regressar a Macau e ser atendido no Conde São Januário. “Após exames, verificou-se existir uma redução de trombócito tendo sido diagnosticado preliminarmente com púrpura trombocitopénica idiopática”, revelaram os SSM.

O homem continua internado e, de acordo com Tai Wa Hou, está em condição estável. O responsável disse ainda que o Grupo de Trabalho de Avaliação de Eventos Adversos após a Inoculação da Vacinas contra a COVID-19 não encontrou, até ao momento, relação entre o desenvolvimento da doença e a vacina.

Benefícios para vacinas

Por outro lado, o Governo está a ponderar adoptar medidas menos restritivas para quem recebeu as duas doses da vacina contra a covid-19.

Segundo Tai Wa Hou, os SSM estão a equacionar que em eventos só com pessoas inoculadas deixem de ter de apresentar resultados de teste de ácido nucleico quando houver concentrações num limite de até 400 pessoas. As medidas abrangem primeiramente actividades de associações e depois deverão passar para eventos de grande dimensão na restauração.

11 Mai 2021

4 de Junho | IAM recusa exposição de fotografia por falta de espaços

O Instituto para os Assuntos Municipais voltou a proibir, pelo segundo ano consecutivo, a realização da exposição de homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, alegando que o jardim do mercado do Iao Hon já está reservado para outras actividades. No total, a organização sugeriu dezassete locais

 

Ontem seria o primeiro dia da exposição fotográfica que recorda o massacre na praça de Tiananmen, em Pequim, a 4 de Junho de 1989, e que costuma ser organizada pela associação União para o Desenvolvimento Democrático. Mas pelo segundo ano consecutivo o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) voltou a não autorizar a iniciativa, alegando que o espaço escolhido pelos organizadores para o efeito, o jardim do mercado do Iao Hon, já está reservado por outras associações e instituições para a realização de actividades. A informação foi divulgada no Facebook pelo deputado Au Kam San, membro da associação.

A associação fez ainda o pedido para nove espaços e oito suplentes, mas o IAM recusou também a proposta apresentada para estes locais.

Ao HM, o deputado disse que “não é conveniente especular se há razões políticas” por detrás da decisão. “Se os espaços forem realmente utilizados, o IAM tem o direito de não aprovar [a exposição]. Eu não vou verificar se são usados. Normalmente, temos um mecanismo de comunicação com o IAM, mas desta vez não comunicaram connosco, apenas nos enviaram uma carta que nos informa da não aprovação do nosso pedido.”

À TDM – Rádio Macau, o deputado Ng Kuok Cheong não se mostrou surpreendido com a decisão. “Pelo que tem acontecido em Hong Kong em anos recentes, talvez agora a mesma orientação esteja a ser aplicada em Macau. Sentimos claramente que são decisões políticas, mas o Governo vai sempre rejeitar, contrapondo e dizendo que é uma decisão normal. Mas quem poderá acreditar nestas justificações?”, questionou.

Vigília tentada

Au Kam San disse ainda que a associação, da qual também faz parte Ng Kuok Cheong, vai tentar organizar a vigília em memória das vítimas de Tiananmen, mas o pedido só poderá ser feito no próximo dia 17. “Vamos tentar organizar a vigília como sempre, mas segundo a lei só podemos fazer o pedido 15 dias antes da reunião”, frisou Au Kam San. A alternativa poderá ser a realização da vigília num local privado ou online, como aconteceu no ano passado.

11 Mai 2021

Bruno Simões, empresário e presidente da associação MISE: “Este ano é para esquecer”

Empresário e presidente, desde 2019, da associação Macau Meetings, Incentives and Special Events (MISE), Bruno Simões assume que este será um ano perdido para a área das exposições e convenções e considera que o Governo deveria ter tido “coragem política” para dar apoios diferenciados por sector. O empresário defende que o sector MICE em Macau tem de começar a preparar-se para eventos online ou híbridos, com maior pró-actividade do Executivo

 

No ano passado, no início da pandemia, revelou grande receio do que viria aí para o sector das exposições e convenções. Um ano depois, que balanço faz?

Temos uma grande dicotomia, pois Macau está fechado ao mundo, à excepção para a China, que representa uma grande fatia dos eventos de empresas em Macau. Mas não representa tanto como os visitantes, cuja percentagem é quase gritante, já vai em mais de 80 por cento. Os eventos de valor acrescentado são, sobretudo, feitos por multinacionais e são encontros regionais, onde se reúnem pessoas não apenas da China, mas de vários pontos da Ásia. Esse era um grande mercado de Macau e não tem luz ao fundo do túnel. Já todos sabemos que a recuperação vai ser difícil e a abertura das fronteiras vai ser um passo demorado, tendo em conta o nível de exigência do Governo. Ainda agora com Hong Kong, o Chefe do Executivo [Ho Iat Seng] disse que se poderiam abrir as fronteiras sem quarentenas se o território estivesse 15 dias sem novos casos de covid-19. O nosso mercado de eventos corporate está à espera do próximo ano para se começar a reactivar, e não sabemos a que nível e com que restrições.

Que análise faz à actuação do Governo? Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, anunciou primeiro o diálogo sobre esta matéria, mas depois Macau ficou em silêncio.

Depois de tudo o que já foi dito e o que aconteceu, o sector está convencido de que este ano é para esquecer a nível de eventos internacionais, porque é impossível. Podem acontecer alguns eventos, mas nada que se compare com os níveis que tínhamos antes. Poderemos ter alguns eventos de empresas da China, e têm acontecido eventos grandes – ainda há dias houve um evento de seis mil pessoas no Sands, vieram todos da China, com o teste contra a covid-19 feito. Mas o mercado internacional vai demorar mais tempo.

O Governo anunciou apoios para as PME há cerca de um ano. Esses apoios têm sido suficientes para a área das convenções e exposições?

No nosso sector não foram suficientes e estão muitas empresas a fechar, como agências de viagens, de eventos. Apesar dos números do desemprego mostrarem que este está nos mesmos níveis, na prática isso não acontece. Há muitas pessoas que ganham menos, e, por exemplo, na nossa empresa, em termos gerais, ganhamos menos um terço dos salários. Os apoios foram iguais para todas as empresas, mas um ano depois há empresas que iriam necessitar de mais apoios do que outras.

Pode dar exemplos?

As agências de viagens, as empresas de eventos. No fundo há sectores da economia que praticamente não foram afectados. Por exemplo, eu tenho um supermercado ou uma mercearia, não fui afectado, mas recebi o mesmo apoio que uma empresa de eventos, que não tem negócio há um ano. Estas medidas universais são medíocres e não espelham bem a realidade. É preciso coragem política para tomar estas decisões por sector.

E não tem havido essa coragem.

Não, claramente, nestes apoios e em todos. Por isso é que se dá o mesmo subsídio a todos os residentes, desde o mais rico ao mais pobre. Vão pelo caminho mais fácil, que gera menos contestação.

Continua a não se falar da verdadeira crise? Os números da taxa de desemprego não espelham a realidade?

Isso tem uma explicação simples: quase todas as empresas têm trabalhadores-não-residentes (TNR) e, para isso, têm de ter um determinado número de residentes inscritos. É por isso que as empresas não despedem, porque querem manter os blue cards para quando regressar o mercado. Mas se essas pessoas trabalham ou se recebem, essa é outra conversa. Mas estão inscritas.

No caso das suas empresas, como está a situação?

Tem sido difícil lidar com a crise. Reorientámo-nos para prestar outro tipo de serviços na área do marketing, por exemplo, e fazemos eventos locais e online, essencialmente team building virtual. É uma área que tem crescido muito. O sector dos eventos em Macau tem de se adaptar à nova realidade, ter capacidade e know-how de produzir eventos online e híbridos. Assim que os eventos comecem a vir para Macau os clientes vão pedir esses serviços. Se até agora se fazia uma reunião de vendas de uma empresa, vinham 200 ou 300 pessoas de uma multinacional, hoje em dia é preciso que esse evento seja transmitido online e tenha em atenção as pessoas que não conseguiram fazer a viagem, e que se inclua o acesso dessa conferência a mais pessoas. E o sector não tem essa experiência, não se está a fazer formação suficiente nem a investir o suficiente nesta área. Deveria haver uma aposta nesse sentido por parte do sector, com algum apoio do Governo. Nas nossas empresas vamos fazer uma aposta nos eventos virtuais, recorrendo às novas tecnologias de realização de eventos híbridos. Essa é a grande aposta que o Governo deveria fazer agora, em parceria com o IPIM [Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau] e Direcção dos Serviços de Turismo. O sector deveria estar a ser ensinado e preparado para essa evolução.

O IPIM não está a ser pró-activo?

Não está. O IPIM faz as suas promoções para a China, mas esse é um mercado que está a abrir. O IPIM tem de ensinar o sector a evoluir.

Houve um ano para o sector olhar para si mesmo e isso ainda não aconteceu.

Não aconteceu. As empresas estão à espera do que vem aí e penso que têm de ser pró-activas, têm de estar preparadas. Essa adaptação ainda vai demorar e vamos correr o risco de, mais uma vez, as empresas de Hong Kong virem para Macau fazer eventos e terem pessoas com mais experiência e know-how. Nos últimos anos as empresas maiores e com mais experiência é que vêm a Macau fazer os eventos, porque as empresas locais não têm essa capacidade para o fazer.

Antes da pandemia o sector já tinha alguns constrangimentos. Agravaram-se?

Também sofremos bastante concorrência das empresas da China, que vêm atrás clientes que fazem aqui os eventos. Mas essa concorrência é boa. O sector está a sofrer com dois grandes factores: a apetência que os organizadores de eventos têm por Macau, e a taxa de câmbio. Continuamos com a pataca indexada ao dólar americano e Macau não está relativamente mais caro do que outros destinos. Mas o território não tem sabido evoluir a nível das infra-estruturas e das atracções, tem sido um desenvolvimento lento. As infra-estruturas do aeroporto, dos terminais marítimos, dos transportes, e a nível de atracções estamos muito parados, há destinos mais dinâmicos do que nós. Fazer eventos fora dos hotéis, por exemplo, é muito difícil. Isso faz com que sejamos menos competitivos.

Mas qual é a vantagem competitiva de Macau?

A abundância de infra-estruturas para reuniões. Temos uma capacidade muito grande, a nível da Ásia, para eventos e reuniões. Mas não chega, porque hotéis grandes e bons há em todo o mundo. Os visitantes querem bares de rua, restaurantes, e o Governo de Macau não está a cuidar desses factores. Na experiência à chegada os turistas são relativamente descurados, isto se compararmos com Hong Kong. O Governo deveria prestar atenção ao nível de qualidade dos serviços, e depois apostar nos segmentos mais estratégicos, como fazer um evento fora dos hotéis, na zona do Lago Nam Van ou nas Casas-museu da Taipa, por exemplo. Tem de haver visão estratégica, um destino não se limita a ter bons hotéis.

É presidente da associação MISE desde 2019. Quais os novos projectos que têm em mente para os próximos tempos?

O maior projecto é o lançamento de um guia online para quem quer organizar um evento em Macau que dá informações sobre espaços e fornecedores. É uma ferramenta que existe em mercados mais competitivos, como Singapura ou Hong Kong. Queremos proporcionar esse serviço aos sócios e a quem quiser entrar, no fundo, ao sector.

O Governo lançou o programa de passeios para os locais. Isso pode dinamizar a área do turismo?

É uma grande ajuda. Nos dias que correm qualquer coisa é boa. Na nossa empresa fazemos qualquer coisa mesmo que não tenha muito a ver com a nossa actividade. Esses programas do Governo são muito importantes. O conceito de staycation [vá para fora cá dentro] faz todo o sentido, e será sempre um sucesso. Poderia ser um pouco mais democrático, pois está concentrado em poucas empresas. Mas compreendo o Governo, tem de negociar com muita gente, é difícil. Poderia ser mais universal e simplificado, mas acho que o programa tem todo o mérito.

Mesmo se for implementada uma bolha de viagem com Hong Kong, a recuperação vai continuar a ser lenta?

O sector dos eventos, este ano, é para esquecer, como disse há pouco. Podem acontecer alguns eventos, mas nada que se compare com os níveis que tínhamos antes.

11 Mai 2021

Cibersegurança | Serviços de Saúde alvo de sucessivos ataques informáticos

Depois de vários ataques informáticos na sexta-feira e no sábado terem interferido com serviços ligados à prevenção da covid-19, os Serviços de Saúde dizem que o objectivo foi “afectar o combate à epidemia”. Ontem, a origem dos ataques ainda não era conhecida

 

Os Serviços de Saúde (SSM) foram alvo de três ataques informáticos entre sexta-feira e sábado, que afectaram serviços como a marcação da vacinação contra a covid-19 e o sistema do código de saúde. “Existem indícios distintos de que esta acção tem um objectivo direccionado que visa afectar o combate à epidemia e os serviços destinados ao público. Os Serviços de Saúde condenam de forma veemente a estes ciberataques”, afirmaram em comunicado.

A análise foi apresentada depois de o sistema informático ter sido alvo de um ciberataque por volta das 17h05 de sábado. De acordo com os SSM, o ataque afectou o funcionamento do sistema do código de saúde, bem como os sistemas de marcação da vacinação contra a covid-19 e do teste de ácido nucleico. Foi então feita uma reparação urgente dos sistemas informáticos entre os SSM e a CTM, permitindo também o regresso à normalidade da transferência do código de saúde de Macau para o “Código de Saúde da Província de Cantão (Guangdong)”.

“Os Serviços de Saúde encaminharam este caso à Polícia Judiciária para acompanhamento e investigação, ao mesmo tempo, tendo notificado o Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança de modo que haja uma resposta conjunta”, afirmaram em comunicado. A Polícia Judiciária disse ontem ao HM não ter informações sobre a origem dos ataques informáticos ou se estes interferiram com os dados pessoais dos utentes.

No sábado de manhã, o sistema do Código de Saúde teve problemas de funcionamento durante cerca de 16 minutos. Mas nesse caso, a investigação revelou que os problemas se deveram à introdução de mecanismos preventivos de ataques cibernéticos no sistema, que gerou alguns problemas técnicos.

Do princípio

Os SSM afirmaram inicialmente terem sido alvo de um ataque informático na sexta-feira de manhã, que impediu as pessoas de utilizarem serviços electrónicos como o código de saúde, o sistema de vouchers electrónicos, as marcações para levar a vacina contra a pandemia ou o agendamento de testes. As falhas começaram a fazer-se sentir por volta das 10h da manhã, quando a população deixou de ser capaz de preencher as declarações do código de saúde de forma electrónica.

“O sistema informático dos Serviços de Saúde foi sexta-feira, 7 de Maio, cerca das 10H30 alvo de um ataque de ‘Hackers’ que afectou o regular funcionamento do sistema informático. Na sequência do ataque, foram tomadas medidas alternativas, como a prestação das declarações através de papel”, foi relatado pelos SSM.

Após a sinalização dos problemas, os técnicos da CTM foram chamados ao local para lidar com a situação: “Quando foram detectados os problemas, foi activado de imediato o plano de resposta de emergência. Entre as medidas previstas, está a activação de sistemas informáticos alternativos que permitam a reparação do sistema, notificação do posto fronteiriço para mudar temporariamente para o Código de Saúde de Guangdong durante a passagem fronteiriça e a alteração do uso de Código de Saúde para suporte papel para entrar em estabelecimentos médicos ou outros”, acrescentaram os SSM.

Ainda de acordo com o comunicado de sexta-feira, os técnicos resolveram a questão por volta das 11h15 e a partir dessa hora as pessoas puderam usar o serviço do código de saúde dentro da normalidade. Quinze minutos antes, o problema com o sistema de marcação das vacinas contra a covid-19 já tinha sido resolvido.

Uma vez que os Serviços de Saúde suspeitavam que as falhas se deveram a um ataque informático, o caso foi reencaminhado para a Polícia Judiciária, que ia investigar a origem do incidente que levou à paralisação dos serviços electrónicos.

Sexta-feira à tarde, os SSM deram conta de que uma das linhas da rede informática associada à emissão do Código de Saúde voltou a ser alvo de um ciberataque, pelas 15h30. Desta vez, a situação foi detectada pela CTM, que interrompeu de imediato o canal de comunicação. “Devido à existência de um sistema de reserva e de outras linhas, o funcionamento do Código de Saúde não foi afectado, apenas alguns residentes podem sentir que a velocidade está um pouco mais lenta do que o normal”, indicaram em comunicado.

10 Mai 2021

Bolsa | Empresas locais controlam restaurante nos EUA que vale 100 milhões de dólares

Um restaurante que nos últimos dois anos obteve receitas de 37 mil dólares foi valorizado pelo mercado bolsista americano em 100 milhões de dólares. O caso fez soar os alarmes entre os investidores. A empresa dona do restaurante é controlada por quatro companhias que declaram ter sede em Macau, no edifício onde funcionam os escritórios da C&C Advogados

 

Quatro empresas com sede em Macau são as principais accionistas de um único restaurante de comida italiana, em Nova Jérsia, nos EUA, cujas acções na bolsa dispararam nos últimos meses. A valorização foi tão acentuada que a empresa Hometown International, proprietária do espaço, chegou a atingir o valor de 100 milhões de dólares norte-americanos em bolsa. Contudo, uma investigação da emissora americana CNBC veio mostrar que as empresas não têm sede física em Macau.

Apesar da valorização, nos últimos dois anos as receitas financeiras do restaurante foram de 37 mil dólares, ou seja 0,037 por cento do valor em que a empresa estava avaliada. A emissora avança que o restaurante registou perdas no período em causa.

A saga bolsista levou a Hometown International a emitir um comunicado a alertar que a valorização não era justificada. O comunicado foi divulgado depois do caso receber a atenção dos mercados a alertar para os perigos do investimento. A Hometown International tem como presidente Peter Coker Jr., que está igualmente ligado ao Hotel 13, em Seac Pai Van.

Na sexta-feira passada, uma investigação da cadeia CNBC veio revelar que as quatro empresas que declaram ter sede em Macau não têm escritórios físicos na RAEM. Global Equity Limited, VCH Limited, IPC – Trading Company e RTO Limited são as principais accionistas da Hometown, que controla o restaurante, e ficam situadas no Edifício Lun Pong, na Avenida da Praia Grande. O prédio é mais conhecido por ser sede do escritório de advogados ligado a Rui Cunha.

Os registos comerciais mostram ainda que Global Equity Limited, IPC – Trading Company e RTO estão no primeiro andar do edifício. Também a VCH fica no mesmo prédio e supostamente “ocupa” o quinto piso. Em relação aos gestores, Michael Tyldesley e Ibrahima Thiam surgem identificados como membros da direcção da Global Equity. Tysdesley é ainda director na VCH e Thiam é director na IPC, a par de uma outra directora identificada como Lam Moi Lilia.

Empresas de correspondência

Apesar das moradas de registo, no primeiro andar do edifício apenas está a empresa Gestores de Projectos Limitada. Contactado pela CNBC, um funcionário da empresa confirmou que a GEP prestava serviços à Global Equity Limited. Porém, um dos sócios da GEP, Rui Pedro Cunha, que surge identificado como filho do advogado Rui Cunha, afirmou não reconhecer os nomes das empresas mencionadas.

Posteriormente, Rui Pedro Cunha afirmou não ser política da empresa fornecer os nomes das clientes, mas explicou que a GEP serve outras companhias que pretendem ter sede em Macau. O sócio da empresa garantiu também que qualquer correspondência enviada para a GEP é entregue aos clientes que recorrem ao serviço.
Por sua vez, a VCH tem sede no quinto andar do edifício, que é ocupado pela empresa C&C Secretariado Limitada.

Esta é uma companhia que presta serviços de auditoria, contabilidade, administrativos e de alojamento para empresas sem presença física em Macau. Contudo, os responsáveis mostraram-se indisponíveis para prestar comentários sobre a VCH.

10 Mai 2021