João Santos Filipe Manchete SociedadeCovid-19 | Levantamento de restrições com Hong Kong só com “consenso” de Pequim O levantamento das restrições de circulação entre Macau e Hong Kong está dependente do aval do Governo Central. A revelação foi feita ontem por Tai Wa Hou, coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, que indicou existirem negociações online entre as três jurisdições. “Temos uma ligação estreita com Hong Kong e as medidas de passagem de fronteira têm de passar pelo Interior, Hong Kong também precisa de autorização do Interior [para reestabelecer a circulação]”, informou Tai Wa Hou. “Temos feito reuniões online entre as partes envolvidas, e quando houver dados concretos vamos fazer o anúncio”, acrescentou. Tai Wa Hou explicou que Macau e o Interior estão a negociar um plano em conjunto porque existe uma “uniformização das medidas”. Em relação às metas de 14 dias e 28 dias sem casos de infecção comunitária em Hong Kong, que tinham sido traçadas anteriormente para a reabertura da circulação, os responsáveis admitiram que já não existem, e que a uniformização das medidas depende do Interior. “Não temos um plano definido sobre o número de dias sem casos para reabrir a circulação sem restrições. Não temos um plano…”, apontou Tai. “Primeiro, temos de ponderar a situação de Hong Kong com os casos recentes. É uma situação nova que tem de ser acompanhada. Em segundo lugar, temos de negociar com o Interior, porque temos de manter as medidas uniformizadas”, realçou. Afastada está ainda a criação de um canal especial com o aeroporto de Hong Kong. Segundo o coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 a questão foi levada à mesa das negociações, mas não há ainda qualquer conclusão. Trabalhadores protegidos Na conferência de imprensa de ontem foi também abordada a queixa de uma trabalhadora grávida da Melco Resorts que se sentiu pressionada a ser vacinada e a quem alegadamente terá sido pedido que deixasse de amamentar. Segundo o portal em língua chinesa All In, no caso de a trabalhadora não seguir as orientações da empresa não teria direito a receber o bónus de fim de ano. Sobre a situação em particular, Tai Wa Hou recusou fazer julgamentos por não ter provas. Contudo, deixou um aviso: “É uma verdade absoluta que os funcionários não podem ser forçados a levar a vacina. Isso viola os nossos princípios. Se as pessoas forem forçadas pelas empresas a levar a vacina, podem apresentar queixa nos SSM, e nós reencaminhamos para as autoridades competentes”, indicou. Tai explicou também os três princípios do Governo para a vacinação. Segundo a clarificação, a vacinação tem de ser em condições de segurança, tem de ser tomada de forma voluntária e com a possibilidade de os vacinados escolherem o produto com que querem ser inoculados.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteMacau no Coração | Há 15 anos a dançar folclore português Fundado em 2006, o grupo Macau no Coração tem portugueses, chineses e macaenses a dançarem o típico folclore português. Em ano de pandemia e sem espectáculos, a presidente do grupo, Ana Manhão, quer melhorar o espólio de trajes do grupo e até abrir uma escola de danças tradicionais portuguesas Não sabe dançar nem cantar, mas como apaixonada pela cultura portuguesa, Ana Manhão acabou por criar, em 2006, o grupo Macau no Coração. Trata-se de um grupo que, sem grandes apoios institucionais, tem vindo a actuar localmente e na China revelando algumas danças do folclore tradicional português. As associações portuguesas de folclore têm dado uma ajuda ao nível dos trajes, mas Ana Manhão quer desenvolver mais o projecto. “Queremos ter músicas e trajes em número suficiente para termos um tema em cada espectáculo, porque agora muitas vezes estamos vestidos à moda minhota mas dançamos as músicas da Nazaré. Isso em Portugal não acontece. Nós queremos mostrar as diferentes regiões de Portugal, mas não conseguimos mudar os trajes. Se tivéssemos mais elementos conseguíamos fazer espectáculos diferentes”, contou ao HM. “Além de dançarmos, estamos também a fazer um estudo dos trajes”, frisou. Mas Ana Manhão pretende também desenvolver o projecto de uma escola de folclore. “Queria ver se conseguíamos, porque em Portugal há escolas de danças tradicionais, mas em Macau não há. E queria abrir uma escola de danças folclóricas, mas como se fosse um centro, onde divulgaríamos também os trajes e os costumes.” Ana Manhão assume que criar uma escola de raiz pode ser difícil, por isso tem vindo a contactar as universidades do território onde se ensina português para que os cursos possam ter esta componente do folclore e de outros elementos da cultura portuguesa. “Poderia ser mais fácil do que montar uma escola. Já marcamos algumas reuniões mas não nos parece fácil porque os currículos são feitos com aprovação do Governo e conforme as necessidades. Não é algo que se faça de um dia para o outro.” Falta de aceitação O grupo Macau no Coração tem um espaço nas Casas Museu da Taipa, onde habitualmente expõe alguns dos trabalhos que os membros vão fazendo. “Estamos mais focados nos elementos culturais, como o lenço dos namorados, os cabeçudos, os azulejos. Queremos desenvolver mais estes elementos.” Como exemplo, Ana Manhão refere um lenço dos namorados de grande dimensão bordado à mão por sete pessoas em quatro meses, e que pode ser visto nas Casas Museu da Taipa, juntamente com outros trabalhos. A responsável confessa que o grupo tem evoluído nos últimos 15 anos, mas que gostaria de ter feito mais. “No início tivemos problemas com os trajes, embora agora estejamos um pouco melhor nesse campo, graças às deslocações a Portugal.” No entanto, a fundadora do grupo lamenta que, 15 anos depois, este ainda seja visto como uma cópia, pelo facto de os seus membros não serem todos portugueses. “Ainda há aquele pensamento de que só é original se forem apenas os portugueses a dançar as danças folclóricas. E sofremos com isso. Espero que esta mentalidade seja ultrapassada. Esperamos ter mais apoio dos portugueses que estão cá.” Todos os anos há mais pessoas interessadas em fazer parte deste grupo, e a divulgação é um ponto chave. “Fazemos actuações em escolas secundárias e universidades, e depois convidamos os alunos a participar.” Membros do grupo Macau no Coração fazem também parte do Macau Talent Academy, mais virada para as artes performativas. Esta iniciativa, também de Ana Manhão, tem colaborado com o grupo Macau Artfusion, mas devido à pandemia não há novos projectos. “Os jovens já estavam no grupo Macau no Coração mas tinham os seus próprios talentos, uns faziam filmagens, outros fotografia. Decidimos separar os dois projectos e formar a Macau Talent Academy. Quando os eventos começarem somos um dos melhores grupos para participar nas paradas de rua. Eles [os membros] podem fazer mais do que no Macau no Coração, por exemplo, pois não há aquela conotação de se pertencer às danças folclóricas”, concluiu.
João Luz Manchete SociedadeUM | Estudantes locais questionam justiça de admissão em dormitório Estudantes da Universidade de Macau queixam-se de injustiça nos processos de admissão para os dormitórios da instituição e da alegada prioridade dada a alunos de fora. Além disso, dá conta de falsos testemunhos de estudantes locais para conseguirem vagas no dormitório “É uma injustiça”, foi assim que um residente e aluno da Universidade de Macau comentou o processo de admissão aos dormitórios da instituição. O estudante, que não se identificou, publicou uma carta no jornal universitário Orange Post, no final de Junho e no domingo no All About Macau, a queixar-se dos critérios de ingresso nos dormitórios, afirmando que os direitos e interesses dos estudantes locais não são devidamente protegidos. Esta não foi a primeira queixa de alunos da instituição em relação à política de admissão à residência universitária. O All About Macau perguntou à Universidade de Macau quantos pedidos de admissão foram submetidos e aprovados para dormitórios entre 2019 e 2021 de estudantes locais e de fora. Em resposta, a instituição apenas repetiu as regras de inscrição para a residência universitária e garantiu tratar todos os estudantes com justiça. Face à sensação de injustiça, o estudante seguiu a candidatura de três colegas, todos residentes, para a residência universitária. Apesar de terem casa na RAEM, os estudantes justificaram a necessidade de acomodação no campus com a distância a que as suas residências ficam. Como tal, e para poupar tempo em viagens, as vidas dos estudantes locais seriam bem mais fáceis se pudessem ficar no dormitório, principalmente tendo em conta a participação em actividades académicas, associações de estudantes ou desporto universitário. Os três estudantes não foram aceites nas residências, enquanto alunos oriundos do exterior, que não se envolvem em actividades universitárias, foram aceites, de acordo com a declaração do aluno. Depois de caloiro A política de integração académica da Universidade de Macau contempla o registo de alunos do primeiro ano nos dormitórios, excepto para estudantes com mais de 23 anos, com licenciatura já completas, que tenham a seu cargo pessoas dependentes ou que tenham necessidades especiais. Conforme a oferta de vagas e ponderadas as condições de selecção, a reitoria decide a admissão ao dormitório. Porém, neste ponto da decisão da reitoria reside outra crítica do aluno que não se identifica na carta publicada no All About Macau. A avaliação pouco rigorosa terá levado a que alguns alunos locais, que mentiram na candidatura negando ter casa em Macau ou ter problemas familiares, tenham sido aceites na residência universitária. Além disso, outra crítica partilhada por outros alunos queixosos refere-se ao facto de a Universidade de Macau alegadamente ignorar factores como o tempo gasto em transportes, participação em actividades académicas e extra-curriculares que levem à necessidade de dormitório. De acordo com a informação no site da instituição de ensino superior, o custo de um ano na residência universitária no ano lectivo 2020/2021 era de 15.300 patacas para alunos locais e 25.100 patacas para não-residentes, incluindo 15 refeições por semana e participação em actividades académicas e workshops. De acordo com o All About Macau, no próximo ano lectivo as refeições deixam de estar incluídas.
Nunu Wu Manchete PolíticaEleições | Latonya Leong lidera lista focada nas relações com os PLP A Plataforma para os Jovens submeteu uma lista com seis candidatos às eleições legislativas de Setembro. Ao HM, a cabeça de lista, Latonya Leong quer ver uma maior aposta nas políticas de promoção de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e aponta que na AL não há qualquer deputado que dê voz à causa. A Aliança para a Promoção da Lei Básica de Macau oficializou também a sua candidatura A lista encabeçada pela vice-presidente da Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos, Latonya Leong, oficializou ontem a candidatura da Plataforma para os Jovens. Segundo a candidata, a lista composta por seis nomes está focada na promoção de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, sobretudo porque “a população acha que estas políticas não têm nada a ver com eles” e que nenhum dos actuais deputados da Assembleia Legislativa (AL) está verdadeiramente preocupado com o tópico. “Na AL, nenhum dos deputados dá voz ao facto de Macau ser uma plataforma entre a China e os países da língua portuguesa. O Governo já investiu muitos recursos no desenvolvimento da plataforma e, por isso, gostava de saber porque é que não se avança mais?”, partilhou com o HM. Para Latonya Leong é necessária a criação de uma base de formação de quadros qualificados bilíngues em áreas como o direito, cuidados de saúde, finanças, construção e arte, de forma a “impulsionar o desenvolvimento da diversificação em Macau.” A candidata, ela própria bilíngue, explicou ainda que tem vindo a sedimentar o conhecimento que tem sobre o assunto através de trabalho feito no terreno ao longo dos últimos anos, tanto a leccionar português, como na promoção de workshops de produtos e actividades comerciais de países de língua portuguesa. Sobre os membros escolhidos para a lista de candidatura, a também vice-presidente da Associação Comercial Internacional de Empresários Lusófonos frisou que a equipa da Plataforma para os Jovens, apesar de não ter experiência política é composta por “caras novas” com perspectivas “inovadoras”. Latonya Leong sublinhou também que a candidatura que encabeça irá prestar atenção à revitalização da economia em contexto de pandemia, à educação, às características especiais de Macau e às medidas de impulsionamento destinadas aos jovens que pretendem viver e fazer carreira em Macau. A candidata apontou ainda que a média de idades da lista é de 35 anos, abarcando “gerações nascidas entre os anos 70 e 90” que, segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, são as gerações capazes de assumir a “artéria económica e empreendedora” do território. Os últimos são os primeiros No último dia destinado à apresentação de candidaturas, a Aliança para a Promoção da Lei Básica de Macau apresentou uma lista com sete candidatos, encabeçada por Zhou Xinzheng. De acordo com o canal chinês da TDM-Rádio Macau, as prioridades da candidatura passam sobretudo pela promoção do conteúdo e do espírito da Lei Básica junto do público, promovendo a reforma da Assembleia Legislativa e a construção de uma sociedade de Direito.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEleições | Porque concorrem Angela Leong e Ho Ion Sang pela via indirecta Angela Leong e Ho Ion Sang concorrem pela primeira vez este ano às legislativas pela via indirecta, depois de terem apresentado sempre candidaturas a sufrágio directo e de terem obtido as mais baixas votações em 2017. No caso de Angela Leong, há quem defenda que a opção pela via indirecta pode ser sinal de perda de poder dentro da SJM A candidatura dos deputados Angela Leong e Ho Ion Sang pela via indirecta, nas eleições legislativas de 12 de Setembro, pode representar a vontade de darem lugar a novos rostos na política. Importa recordar que a deputada e dirigente da Sociedade de Jogos de Macau concorreu sempre pela via directa, desde 2005 e no último sufrágio conseguiu o menor número de votos, com um total de 10.447. Já Ho Ion Sang foi candidato às directas nas eleições desde 2009 e também conseguiu o mais baixo número de votos em 2017, com 12.333 eleitores a votarem no representante dos Kaifong. No caso de Angela Leong, a viragem para a eleição indirecta pode também ser um sinal de menor poder dentro da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), ou de ter perdido força na representação do sector do jogo. São estas as ideias deixadas por vários analistas contactados pelo HM. “Ho Ion Sang é um dos membros mais antigos dos Kaifong [União Geral das Associações de Moradores de Macau], e se se mantivesse no sufrágio directo provavelmente seria reeleito, mas claro que o número dois [da lista pela via directa], se passar a número um, é eleito. Com a mudança para o sufrágio indirecto, os Kaifong vão manter dois deputados na AL”, começou por dizer Larry So. “No caso de Angela Leong, a situação é semelhante”, frisou. “Ela tem sido muito pró-activa no apoio às gerações mais jovens, penso que esse é o seu objectivo. Além disso, tanto Ho Ion Sang como Angela Leong são deputados próximos do Governo Central, então é por isso que preferem seguir para o sufrágio indirecto, para que as suas posições possam ser mantidas nos próximos anos e para que as gerações mais jovens tenham a oportunidade de chegar a deputados.” Também Leung Kai Yin, analista político e docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), acredita que o foco é dar oportunidades aos jovens de serem eleitos. “Ho Ion Sang e a sua associação querem ter uma nova geração de deputados na AL, através de sufrágio directo. Ho Ion Sang pensa que será fácil obter um assento pela via indirecta. Quanto a Angela Leong, seria difícil obter um assento pela via directa, então o facto de Cheung Lap Kwan, que tem ocupado um assento no sector cultural e desportivo, querer reformar-se, constitui uma boa oportunidade.” Ho Ion Sang concorre pelo sufrágio indirecto substituindo Chan Hong no sector dos serviços sociais e educacional. No sufrágio directo, os Kaifong fazem-se representar com a lista União Promotora para o Progresso, liderada por Leong Hong Sai. No caso de Angela Leong, concorre ao lado de Chan Chak Mo, um veterano no sector cultural e desportivo. O risco de Angela O jurista e professor universitário António Katchi tem outra visão da candidatura de Angela Leong: se esta concorresse pela via do sufrágio directo, corria o risco de não ser eleita. “A decisão de Angela Leong é uma manobra destinada a garantir a sua eleição, relevando o empenho dos capitalistas do sector do jogo em manter a sua máxima representação possível na AL, e não uma perda de interesses em tal representação. Pela via do sufrágio directo, Angela Leong correria um sério risco de não ser reeleita, ao passo que pelo sufrágio indirecto tem a eleição praticamente garantida.” Segundo o jurista, Leong corre o risco de ficar de fora do próximo elenco no hemiciclo “porque cada vez menos poderá contar com o voto dos trabalhadores do sector do jogo”. “Este sector representa um campo onde se digladiam interesses antagónicos dos capitalistas e dos trabalhadores. À medida que estes se vão consciencializando desse antagonismo e projectam essa consciência em lutas laborais, vão abandonando, no terreno eleitoral, as candidaturas identificadas com os interesses dos patrões do jogo, promovendo ou apoiando candidaturas mais conotadas com os seus próprios interesses.” Neste sentido, “é neste quadro que surge a lista encabeçada por Cloee Chao, que deverá absorver o voto de uma parte cada vez maior dos trabalhadores do sector do jogo”, aponta António Katchi. Mas além de Cloee Chao, que este ano se estreia como candidata liderando a lista “Novos Jogos de Macau”, também Sulu Sou e José Pereira Coutinho podem captar votos, uma vez que são “forças políticas que têm mantido um razoável grau de proximidade com as classes trabalhadoras”. Estes factores “vão, naturalmente, provocando erosão do eleitorado de Angela Leong”. Na visão do jurista, “esta tendência já se observou nas eleições de 2017, com a derrota de Melinda Chan”, hoje directora-executiva da Doca dos Pescadores. “À medida que se desenvolve a luta de classes, o lógico será que os capitalistas fujam ainda mais do sufrágio director e prefiram ‘aconchegar-se’ no sufrágio indirecto, que está quase inteiramente nas suas mãos.” Para Larry So, o facto de Angela Leong concorrer pelo sufrágio indirecto é também sinal de perda de poder dentro da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), onde desempenha o cargo de directora-executiva e co-presidente. “Ela já não está numa posição de representatividade do sector do jogo, e esta mudança pode ser uma mensagem de que está mais ligada aos sectores cultural e desportivo, que é uma das suas áreas, uma vez que foi bailarina.” Para Leung Kai Yin, Angela Leong perdeu poder, mas quer continuar no hemiciclo “para manter alguma influência em Macau, não apenas para ela, mas também para os seus filhos”. “O seu filho e filha também desenvolveram a sua carreira em Macau e é muito fácil protegê-los e ajudá-los a desenvolver a carreira, mesmo que ela já não tenha uma posição importante na SJM.” Uma questão de lobbying Com a mudança de Angela Leong para a via indirecta, para um sector que não está ligado a interesses empresariais ou do jogo, como fica a representatividade dos casinos no hemiciclo? Além disso, não é certo se Davis Fong Ka Chio, académico da Universidade de Macau ligado a esta área, será novamente nomeado deputado pelo Chefe do Executivo. Larry So confessa não estar preocupado com a eventual falta de representatividade dos casinos, até porque estes já fazem lobby junto do Governo. “A maior parte dos deputados, sobretudo os que concorrem pelo sufrágio indirecto, estão de certa forma ligados a este sector. Esta é a indústria mais importante de Macau e penso que os seus interesses já estão muito representados na AL, não ficaria preocupado com isso.” “O facto de estarmos numa fase de revisão das licenças de jogo faz com que as concessionárias sejam muito activas e façam lobby junto do Governo. [Estas] trabalham de forma muito próxima com o Governo para defender os seus interesses, portanto, ter alguém na AL que as defeda não é o mais importante. Mesmo um deputado na AL não consegue representar todas estas empresas e os seus interesses”, acrescentou Larry So. Leung Kai Yin não tem dúvidas de que “não há grande interesse na questão da representatividade política, porque, depois da situação em Hong Kong, [as operadoras] sentem que o Governo é forte, sobretudo desde que Ho Iat Seng foi eleito Chefe do Executivo. Há coisas que não passam pela AL”, frisou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeÓbito | Nuno Prata da Cruz, dirigente macaense nos EUA, morre de doença prolongada Morreu, na última sexta-feira, Nuno Prata da Cruz, dirigente do Clube Lusitano da Califórnia, nos EUA. Miguel de Senna Fernandes recorda-o como uma pessoa “muito respeitada” que nunca faltou a um Encontro das Comunidades Macaenses, enquanto que José Sales Marques destaca o facto de Nuno Prata da Cruz ter sido “um ilustre filho de Macau que singrou nos EUA” “É com profunda tristeza e coração pesado que anunciamos o falecimento de não apenas um dos fundadores do Clube Lusitano da Califórnia como também um amigo muito especial.” Foi desta forma que os dirigentes desta associação da comunidade macaense nos EUA anunciaram o falecimento de Nuno Prata da Cruz, a 2 de Julho, em Oakland, vítima de cancro. Nuno Prata da Cruz foi um dos fundadores do Clube Lusitano da Califórnia e um dedicado dirigente macaense na diáspora. Na nota publicada na rede social Facebook, o Clube destaca o facto de Nuno Prata da Cruz ter sido “um importante e influente membro do Clube Lusitano da Califórnia e da comunidade macaense a nível global”. “Ele era muito orgulhoso da sua herança portuguesa e queria sempre garantir e preservar a nossa cultura, comida, música e história. Foi um privilégio conhecê-lo e trabalhar com ele”, acrescenta ainda a mesma nota. Roy Eric Xavier, académico macaense da Universidade de Berkeley, também escreveu na rede social Facebook sobre o falecimento deste dirigente da diáspora. “Ele era um brilhante porta-voz e um grande amigo. A comunidade macaense a nível mundial está de luto e recorda os seus muitos feitos”, escreveu. Sempre presente Contactado pelo HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM), recorda o lado “afável” de Nuno Prata da Cruz, que conheceu em 1993, aquando da primeira edição do Encontro das Comunidades Macaenses. “Sempre nos demos bem e ele nunca faltou a nenhum Encontro. Era uma pessoa muito respeitada e é uma pena, não contava com este falecimento.” Há muito que Nuno Prata da Cruz estava doente, conforme recorda Miguel de Senna Fernandes. “Em 2015 estive nos EUA e fiz uma visita às casas macaenses, e fui à Califórnia. Ele e a Maria Roriz [actual dirigente do Clube Lusitano da Califórnia] foram os cicerones e foi fantástico. Nessa altura ele já estava doente, mas depois recuperou muito bem. Mas nas últimas duas a três semanas teve uma recaída.” José Sales Marques, presidente do Conselho das Comunidades Macaenses (CCM), recorda “o ilustre filho de Macau que singrou nos EUA” e que se tornou “num dirigente histórico do Clube Lusitano da Califórnia”. “Conheço-o desde há muito tempo e trabalhamos juntos durante mais de duas décadas a favor da causa Macaense e em prol das comunidades macaenses espalhadas pelo mundo. Esteve na fundação do CCM e tenho por ele grande estima. Lamento profundamente, em meu nome e no do CCM, o seu passamento e dou os meus sentidos pêsames à família, ao Clube Lusitano da Califórnia e a todos os seus amigos”, disse ao HM. Quanto ao futuro do Clube Lusitano da Califórnia, Miguel de Senna Fernandes assegura que “está muito bem entregue à Maria Roriz”, uma vez que esta tem sido “uma grande dirigente e dinamizadora”. “O Clube Lusitano da Califórnia tem muitos sócios e é a maior casa macaense nos EUA. Têm cerca de 900 sócios, mas claro que nem todos são macaenses. A grande parte pertence à comunidade portuguesa, sobretudo oriunda dos Açores. O clube abriu a porta a esses sócios e fez bem, e preza-se muito pela divulgação da cultura portuguesa. O Nuno era um grande entusiasta na divulgação da língua portuguesa e de todas essas coisas, até porque a sua esposa é portuguesa”, rematou.
Hoje Macau Manchete PolíticaTráfico Humano | Executivo reage com “indignação” a relatório dos EUA O Governo reagiu com “forte indignação” ao relatório dos Estados Unidos sobre tráfico humano, considerando que a administração norte-americana distorce intencionalmente dados e resultados das medidas de prevenção e combate ao fenómeno “O relatório apresentado por parte dos EUA referente a este ano, persiste em ignorar, mais uma vez, factos objectivos, usando de desprezo e preconceito pela legislação e pelo sistema judicial independente de Macau, distorcendo intencionalmente os efeitos das medidas de prevenção e combate, levadas a cabo ao longo dos anos” pelo território. Foi desta forma que o Governo de Ho Iat Seng respondeu ao relatório sobre Tráfico Humano de 2021, elaborado pelo Departamento de Estado norte-americano, apresentado na quinta-feira em Washington onde se afirma que a RAEM “não cumpre integralmente os padrões mínimos para a eliminação do tráfico, mas está a empenhar esforços significativos para o fazer”. O Governo da RAEM acrescenta ainda que o documento emitido por Washington tem “conclusões eivadas de juízos subjectivos, tendenciosos e arbitrários, contendo alegações infundadas, por forma a provocar confusão na sociedade internacional e postergar os esforços desde sempre envidados”. Assim sendo, “as autoridades de segurança opõem-se a este relatório, manifestando não só a sua discordância, como também uma forte indignação”, lê-se na resposta do gabinete de Wong Sio Chak, secretário para a Segurança. As autoridades de Macau sublinharam ainda que as forças de segurança “prosseguirão a cooperação activa com os órgãos judiciais para realizar o trabalho de aplicação da lei, bem como o fortalecimento dos intercâmbios e acções de cooperação internacional e inter-regional, explorando em conjunto estratégias de prevenção e combate”. Elogios perdidos No entanto, acrescenta o Departamento de Estado norte-americano, os esforços de protecção, avaliados em 1,74 milhões de patacas, não aumentaram comparativamente ao período analisado no ano passado. Segundo o relatório norte-americano, o Governo da RAEM prestou “fracos esforços de protecção e, pelo segundo ano consecutivo, as autoridades não identificaram ou prestaram serviços às vítimas”. Por essas razões e pelo facto de o Governo nunca ter identificado nenhuma vítima de trabalho forçado, Macau permanece, pelo segundo ano consecutivo, incluído no “escalão 2” (segunda classificação mais alta de quatro) de conformidade com a Lei de Protecção às Vítimas de Tráfico de 2000 (TVPA, na sigla em inglês). A nível da prevenção do tráfico humano, os EUA reconhecem também diversos esforços positivos e indicam que o Governo de Macau destinou 3,44 milhões de patacas à comissão de actividades de combate ao tráfico em 2020, um valor ligeiramente maior do que em 2019. Entre as principais recomendações a Macau, incluem-se uma maior identificação de vítimas, “especialmente entre as populações vulneráveis, como trabalhadores migrantes e trabalhadores do sexo”. Em todo o mundo, mais de 109 mil vítimas de tráfico humano foram identificadas no ano passado, das quais mais de 14 mil eram vítimas de trabalho escravo, segundo o relatório. Na região de Ásia oriental e Pacífico, onde Macau se localiza, o número de vítimas identificadas em 2020 diminuiu consideravelmente, para 2.884 pessoas, uma diferença de 12 mil pessoas desde 2019.
Hoje Macau Manchete PolíticaEleições | Paul Chan Wai Chi concorre por “necessidade social” O ex-deputado e democrata Paul Chan Wai Chi vai liderar a lista Associação do Progresso de Novo Macau no acto eleitoral de Setembro. A decisão foi formalizada na semana passada, com a entrega da lista com cinco nomes à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. Chan explicou entrou na corrida devido à “necessidade social”. Sobre o aumento do número de listas democratas, face a 2017, Paul Chan Wai Chi considerou que é um fenómeno “saudável” e que mostra o desenvolvimento da cultura eleitoral local. Sobre os principais destaques do programa político, indicou a necessidade de melhorar a qualidade de vida da população. Wong Wai Man fora das eleições Wong Wai Man, candidato que em 2017 se destacou nas eleições por se vestir de soldado comunista, está fora do acto eleitoral de Setembro. A decisão da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) foi confirmada pelo Tribunal de Última Instância (TUI), na sexta-feira. Wong tinha apresentado uma comissão de candidatura para a lista “Ajuda Mútua Grassrots”, no entanto, a CAEAL apenas validou 190 assinaturas das 300 exigidas. Segundo o órgão que organiza o acto, 158 assinaturas foram recusadas por terem informações incorrectas, 79 por não serem eleitores qualificados, ou sejam residentes permanentes, e oito por estarem repetidas. Em 2017, a lista de Wong Wai Man recolheu 1.350 votos. Wong Kit Cheng lidera Aliança de Bom Lar A deputada Wong Kit Cheng vai liderar a Lista Aliança de Bom Lar, que tem ligações à Associação Geral da Mulheres de Macau. As prioridades da campanha passam pela defesa dos direitos das mulheres e crianças, ao mesmo tempo que promete lutar por “políticas favoráveis às famílias”, como o aumento da licença de maternidade para 90 dias e o subsídio de nascimento a subir para as 15 mil patacas. Além disso, Wong Kit Cheng assumiu o compromisso com o melhoramento dos serviços prestados a idosos e ainda com o aumento da qualidade educativa na RAEM. Wong é deputada desde 2013, sempre eleita na primeira vez pela lista União Promotora para o Progresso. Em 2017 voltou a ser eleita, mas pela lista Aliança de Bom Lar com 9.496 votos.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Lee critica Governo e deputados por não ouvirem a população O nome principal da Lista Ou Mun Kong I exigiu ao Governo mais um cheque pecuniário ainda este ano e apoios financeiros complementares a jovens e idosos. Lee Sio Kuan apelou a Ho Iat Seng para que oiça mais a população Um candidato que quer representar a opinião popular na Assembleia Legislativa. Foi desta forma que Lee Sio Kuan definiu a sua prioridade enquanto cabeça de lista da candidatura Ou Mun Kong I, e com a qual espera conquistar um lugar no hemiciclo. Lee Sio Kuan entregou a lista à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) na quinta-feira e disse, de acordo com o jornal All About Macau, que participa no acto eleitoral para mudar a cultura da AL, para onde espera levar as vozes mais populares. O candidato a deputado deixou ainda críticas ao Chefe do Executivo por considerar que, nesta fase da pandemia, os apoios não são suficientes para a maior parte da população. Por isso, prometeu, caso seja eleito, trabalhar para que o Governo distribua mais 10 mil patacas aos residentes, além de ter exigido para que seja aumentada a pensão para os idosos, assim como os apoios para os mais jovens, para que possam comprar casa. No que diz respeito à actuação do Executivo, Lee Sio Kuan mostrou-se preocupado por considerar que as respostas às dúvidas da população são cada vez mais “superficiais”, e pediu para o desemprego e os interesses da população sejam levados a sério. Sobre o processo eleitoral, o líder da Lista Ou Mun Kong I apelou à CAEAL que investigue casos de alegadas ilegalidades eleitorais, como a situação com a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen que distribuiu cupões para supermercados. A associação tem ligações com a lista União de Macau-Guangdong. No momento em que o candidato apresentou esta questão aos jornalistas, ajoelhou-se, assim como o número dois da lista, Kuong Kai Nang. No dia seguinte, os dois membros foram igualmente ao hemiciclo falar com o deputado responsável pelo atendimento ao público, que, segundo o calendário da AL, era Zheng Anting, ou seja da associação criticada. À saída os candidatos criticaram a actuação dos deputados por não ouvirem a população, recordaram várias promessas deixadas por cumprir e avaliaram a prestação do hemiciclo em 5 pontos, numa escala de 0 a 10 pontos. Kot com 12 candidatos Com o prazo para a apresentação das listas à CAEAL decorrer até hoje, também Nelson Kot, cabeça da “Poderes do Pensamento Político” procedeu à formalidade de entrega da papelada. A lista conta com 12 candidatos e Kot apelou ao Executivo para informar a população sobre as intenções do concurso de atribuição das novas licenças de jogo. As actuais seis licenças terminam dentro de um prazo inferior a um ano. Segundo Kot, a falta de informação afecta a confiança das empresas em Macau e também deixa os trabalhadores num clima de incerteza. Também a Força do Diálogo, liderada a Choi Man Cheng, presidente da Federação de Juventude de Macau, apresentou a lista à CAEAL. Na altura da entrega, Choi reconheceu ser um “estreante” na política, ao contrário das associações tradicionais e dos candidatos mais experientes, mas destacou o entusiasmo da equipa. Sobre os aspectos que vão ser focados ao longo da campanha, o cabeça-da-lista apontou a recuperação económica, redução do custo de vida, criação de mais espaços para a população e melhoramento do ambiente da cidade.
João Santos Filipe Manchete PolíticaDiscurso | Chefe do Executivo avisa contra desafios ao Partido Comunista O líder do Governo de Macau analisou o discurso de Xi Jinping na comemoração dos 100 anos do PCC e traçou linhas vermelhas para quem questionar o Partido e as “influências externas” que levantam dúvidas sobre a concretização do princípio “Um País, Dois Sistemas” Nada contra o Partido. O Governo da RAEM não vai admitir qualquer questão sobre a legitimidade do Partido Comunista da China e muito menos desafios. As linhas vermelhas foram traçadas por Ho Iat Seng na sexta-feira, num evento em que apresentou a sua análise ao discurso de Xi Jinping no 100.º Aniversário do Partido Comunista da China. “A RAEM permanecerá sempre inabalável na defesa da liderança do Partido Comunista da China. Qualquer actividade que desafie o poder do Governo Central e a autoridade da Constituição Nacional e da Lei Básica é absolutamente inadmissível”, avisou Ho Iat Seng. O Chefe do Executivo prometeu também “unir” todos os sectores da sociedade na aprendizagem das posições tomadas pelo presidente da República Popular da China. “O Governo da RAEM irá unir e liderar os diversos sectores da sociedade na aprendizagem e implementação do espírito dos importantes discursos do Secretário-Geral Xi, proferidos na cerimónia de celebração do 100.º Aniversário do Partido Comunista da China e durante a sua visita a Macau, e promover o desenvolvimento estável da prática ‘Um País, Dois Sistemas’ com características de Macau, acompanhando a pátria no desenvolvimento e na prosperidade”, afirmou. O discurso de sexta-feira focou três conclusões sobre as quais Ho Iat Seng diz ter ficado “profundamente ciente”. Na primeira conclusão do Chefe do Executivo, “a gloriosa jornada de cem anos do Partido Comunista da China […] comprova totalmente que sem o Partido Comunista a Nova China as promissoras perspectivas da grande revitalização na nação chinesa não existiriam”. Na segunda conclusão, o Ho Iat Seng argumentou que sem o partido não teria havido prosperidade. “O Partido Comunista da China é o fundador, o líder e o defesa da grandiosa causa ‘Um País, Dois Sistemas’. Sem o Partido Comunista, Macau não usufruiria da prosperidade e da estabilidade sob a égide do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”. Aviso às “forças externas” Quando falou do partido como basilar para o princípio “Um País, Dois Sistemas”, Ho aproveitou para deixar um recado “às forças externas”. “Perante das dúvidas e acusações infundadas de algumas forças externas, a firmeza do Governo Central na salvaguarda da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento do país é inabalável”, frisou. No último aspecto, Ho Iat Seng avisou contra os desafios e apontou que as pessoas na RAEM têm como dever “respeitar e salvaguardar a liderança do Partido Comunista da China e promover a prática bem-sucedida e estável de ‘Um País, Dois Sistemas’ com características de Macau’”. Além dos três eixos do discurso, Ho prometeu igualmente “em prol dos interesses dos residentes […] agarrar as oportunidades, impulsionar activamente o desenvolvimento dos vários empreendimentos da Região, incentivar a construção da zona de cooperação aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, acelerar o desenvolvimento adequado e diversificado da economia, participar activamente nas grandes estratégias nacionais e aprofundar a integração de Macau na conjuntura do desenvolvimento nacional”.
Hoje Macau Grande Plano MancheteCovid-19 | De Macau para Portugal, das férias adiadas ao regresso possível em tempos de pandemia Reportagem de João Carreira, da agência Lusa Uma das mais longas quarentenas do mundo, obrigatória no regresso a Macau, tem ‘sequestrado’ aos poucos a esperança a Filipe Figueiredo de ainda este ano passar férias em Portugal, acompanhado da mulher e dos quatro filhos. “Ninguém vai a Portugal para estar menos de duas semanas. Duas semanas em Portugal, mais três semanas em quarentena, são cinco semanas. E ninguém tem cinco semanas de férias”, conclui o advogado. Já Margarida Galamba, também emigrante em Macau, partiu este fim de semana para Portugal. Depois de um confinamento profilático que se determinou a cumprir, os primeiros meses vão ser em regime de férias, mas somente porque decidiu, após 15 anos, ‘reformar-se’ do antigo território administrado por Portugal. Em Macau, não parecem ser os custos acrescidos ou mesmo o risco de eventuais contágios que dissuadem os emigrantes portugueses de irem de férias a Portugal. O problema, admitem, é depois o regresso a um dos territórios mais seguros do mundo em termos pandémicos, cuja quarentena obrigatória num quarto de hotel pode chegar quase a um mês se o local de origem for considerado de alto risco, sendo que, atualmente, é de 21 dias para quem volta de Portugal. O aumento do preço das passagens aéreas e do número de escalas desencoraja, mas é o risco de eventuais surtos de covid-19 poderem ‘roubar’ ligações aéreas e/ou obrigarem Macau a reforçar as medidas de prevenção fronteiriças que dissuadiu a família de Filipe Figueiredo, deixando-a pelo segundo verão consecutivo ‘em terra’. Conclusão, talvez no Natal, se não, em 2022, admite. “Apesar de dois dos meus filhos estarem em idade de serem vacinados, outros dois não estão, e, portanto, confesso que não sei como é que isto se ia processar em termos de deslocações, que testes é que podiam fazer ou não”, explica. “Mas depois outro problema que é o da quarentena”, acrescenta, sem conseguir disfarçar um riso: “uma família de seis pessoas fechada, (…) durante 21 dias, acho que não seria muito bom para ninguém (…) sobretudo com crianças pequenas”. O advogado, que é também presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau, destaca “uma certa instabilidade em termos mundiais” para também justificar a decisão. Afinal, se, “de um momento para o outro, há, por exemplo, um surto em Singapura que impede que os aviões (…) venham para Macau, as viagens de regresso estariam automaticamente cortadas”, assinala, lembrando um cenário com o qual foram confrontados alguns emigrantes portugueses no último Natal. “Sobretudo quando se sabe que “a política adoptada por Macau é bastante conservadora e rigorosa”, reforça. Uma visão corroborada por Margarida Galamba. Há dois anos sem férias, a ex-dirigente da Casa de Portugal admite que está “um bocadinho apreensiva” porque “o contexto [pandémico] é muito diferente” entre Macau e Portugal. “Andamos de máscara, estamos vacinados, mas não temos aquele medo de ‘ai ai que vou ser infetado’. Porque não há casos em Macau” e aqueles que chegaram à fronteira “ficaram à porta” ou foram encaminhados para o hospital ou para quarentena nos quartos de hotel. Em Portugal, o período inicial de férias de Margarida Galamba vai ser muito diferente de todos os outros anos pré-pandémicos. A cautela impera. Vai para casa dos pais, já idosos, cumprir o tal confinamento profilático, apesar de estar vacinada, assim como eles. Não contava sair num cenário de pandemia, mas o contexto familiar pesou, ainda que agora a viagem custe o dobro e que falte na bagagem o certificado digital covid da União Europeia, algo que “foi impossível tratar”, à falta de informação consular, e que deve afetar “milhares de portugueses fora de Portugal (…) que não estão inseridos no programa de vacinação” do Serviço Nacional de Saúde”, sublinha. Macau registou pouco mais de meia centena de casos, nenhuma morte associada à covid-19. No território não foi identificado qualquer surto comunitário e nenhum dos profissionais de saúde foi infectado.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteDelta do Rio das Pérolas retratado em conferência multidisciplinar É já nos próximos dias 8 e 9 de Julho que se realiza a palestra online “Narrating Pearl Delta River” [Narrando o Delta do Rio das Pérolas], organizada por Mário Pinharanda Nunes, da Universidade de Macau (UM) e Rogério Miguel Puga, da Universidade Nova de Lisboa. A ideia é olhar para esta zona do sul da China não apenas de uma perspectiva literária ou histórica, trazendo também para o diálogo áreas como as artes plásticas, incluindo um ângulo de contemporaneidade. “Queríamos que a conferência tivesse uma perspectiva mais alargada”, disse ao HM Mário Pinharanda Nunes. Para o académico, o Delta do Rio das Pérolas “é um imaginário cada vez mais presente”, apesar de hoje “se mencionar mais como a Grande Baía”. “Optámos por este título porque a maioria dos trabalhos se centram em épocas passadas, como o século XIX, e temos mesmo um trabalho sobre o século XVII. Felizmente, conseguimos captar também o interesse de colegas que trabalham a contemporaneidade, nomeadamente na área da literatura.” Rogério Miguel Puga confessou que o objectivo desta conferência “não é apenas estudar Macau, Hong Kong ou Cantão de forma isolada, mas tentar também comparar os mesmos espaços na representação do Delta do Rio das Pérolas como um espaço geopolítico e também psicogeográfico do sul da China, através de uma abordagem comparatista”. “É um espaço terreno e fluvial ao mesmo tempo, que nasce do comércio e que ainda hoje se centra nessa área”, acrescentou. Para o académico, o Delta do Rio das Pérolas “continua a ter interesse e cada vez mais na vertente da actual política chinesa”. “É um espaço comercial e político da China e é único na história universal de encontros e desencontros, e interesses transaccionais. É um espaço histórico palimpsesto, que pode ser estudado por camadas e que exige ser estudado desta forma comparada, tendo sempre em mente o passado histórico e a sua importância actual”, referiu. Do passado ao presente Quais são então os autores que podem ser vistos e ouvidos neste evento que traz “uma abordagem global e interdisciplinar”? Os organizadores destacam o diálogo sobre o trabalho de Kit Kelen, onde será feita uma leitura ilustrada da sua poesia. “A ideia era alargar o evento às artes plásticas e temos a contribuição do professor Kit Kelen, já aposentado, mas que é bastante conhecido em Macau pelo trabalho que fez na década de 90 até há uns cinco anos atrás. Trabalhava muito com jovens poetas”, referiu Mário Pinharanda Nunes. Sara Augusto, académica do Instituto Politécnico de Macau, irá falar da “Poemografia, a escrita a preto e branco de António Mil-Homens”, imprimindo à conferência um tom mais contemporâneo, enquanto que Paul Van Dyke vai falar sobre casas de penhores. Será também dado destaque às obras de Maria Ondina Braga ou Rodrigo Leal de Carvalho, sem esquecer a obra de Henrique de Senna Fernandes. “Mónica Simas falará sobre ‘Os Dores’ de Henrique de Senna Fernandes, um autor macaense que também se ocupa de vários espaços do Delta do Rio das Pérolas nos seus romances, incluindo Portugal e cidades chinesas”, explicou Rogério Miguel Puga. Everton Machado, da Universidade de Lisboa, irá ainda falar do poeta Wenceslau de Moraes. Esta conferência conta também com a participação do Centro Cultural e Científico de Macau. A conferência pode ser vista aqui.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Visitantes de Hong Kong obrigados a usar máscara em Macau Ainda nada está decidido, mas caso seja aberta a bolha de viagem entre Macau e Hong Kong os visitantes da região vizinha poderão ter de usar o código azul de saúde, o que obriga a usar sempre máscara. Estará, por isso, interdito o seu acesso a piscinas públicas ou bares, por exemplo As autoridades locais continuam a negociar as condições para a abertura de uma bolha de viagem com Hong Kong, mas não confirmaram se as fronteiras podem abrir no próximo dia 11 de Julho, como noticiaram alguns media. Uma coisa é certa: alguns critérios já foram discutidos, conforme adiantou ontem Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. “Ainda não temos uma decisão para permitir a circulação. Definimos alguns padrões, como as pessoas que já levaram as duas doses da vacina terem de apresentar um teste de ácido nucleico negativo com o prazo de 48 horas, bem como realizar um teste à chegada a Macau.” Além disso, os visitantes de Hong Kong vão ficar sujeitos aos limites impostos pelo código de saúde azul, que obriga a algumas restrições de acesso. “[Os visitantes] só podem participar em actividades onde se tem de usar sempre máscara, não podem entrar em bares ou salas de karaoke. Em relação às piscinas não poderão ir caso tenham código azul, ou só poderão ficar em determinados andares nos hotéis.” Na conferência de imprensa de ontem foi também avançado que está a ser estudado um plano para “permitir a entrada de turistas estrangeiros nos casinos, porque são estabelecimentos especiais”. “É um dos estudos que tem prioridade neste momento. Quando vêm a Macau, se não podem ir aos casinos, parece estranho, mas iremos publicar as conclusões assim que as tivermos”, disse Leong Iek Hou. Medidas diferentes Os responsáveis do Centro falaram também da possibilidade de os residentes de Macau terem menos regras para entrar no território vizinho, por comparação às pessoas vindas de Hong Kong. “Como a situação interna de Macau e Hong Kong é diferente, haverá medidas diferentes.” Também a implementação de quotas diárias está por definir. “Será que Hong Kong vai ter mais casos importados no futuro? Se houver apenas casos importados ou com fonte desconhecida, temos o princípio de que, a partir do momento em que não haja qualquer caso, passados 28 dias é que teremos essas medidas para facilitar a passagem. Se esses casos não causarem infecções comunitárias iremos esperar pelos 28 dias. Acredito que em breve teremos essas medidas”, adiantou Leong Iek Hou. Tai Wa Hou, coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, disse que a imunidade de grupo poderá ser atingida quando cerca de 70 por cento da população estiver vacinada. “Aumentou o número de pessoas inoculadas, por dia temos entre 500 a 600 pessoas. Nas últimas duas a três semanas aumentou dez vezes o número de pessoas que levaram a vacina. Cerca de 35 por cento da população de Macau já está vacinada. Claro que se for 100 por cento ainda melhor, mas é difícil atingir essa percentagem. Segundo um estudo científico, devemos chegar a pelo menos a 70 por cento da população para atingir imunidade”, concluiu. Infecção local em Hong Kong Foi ontem registado um novo caso local de infecção por covid-19 em Hong Kong, que obrigou à quarentena dos moradores do Port Centre, um edifício residencial na zona de Aberdeen. Segundo o canal RTHK, é ainda desconhecida a origem da infecção de uma mulher de 41 anos que vive nesse edifício, mas que trabalha a tempo parcial como empregada de limpeza no hotel Yau Ma Tei’s Bridal Tea House. “Enquanto caso positivo preliminar de uma fonte desconhecida, o risco de infecção na zona é considerado elevado”, disse uma fonte governamental. A mulher não tem registo de viagens, não apresenta quaisquer sintomas e não foi vacinada contra a covid-19. O caso foi detectado esta quarta-feira no âmbito da realização de testes de despistagem à covid-19 feitos aos funcionários do hotel na zona de Yau Ma Tei.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Coutinho apresenta lista e afirma que arrasava Metro Ligeiro Na entrega da lista da Nova Esperança, José Pereira Coutinho deixou críticas ao despesismo público, aos conflitos de interesses dos deputados, à cobertura das eleições pela TDM e avisou que se fosse Chefe do Executivo que mandava demolir o Metro Ligeiro A lista de José Pereira Coutinho, com o nome Nova Esperança, foi ontem entregue à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). Após a oficialização, o cabeça-de-lista criticou o despesismo do Governo e afirmou que se fosse Chefe do Executivo mandava demolir o Metro Ligeiro. “O secretário das Obras Públicas [Raimundo do Rosário] diz que o metro não pode ficar parado porque é como um carro. Um carro se estiver parado na garagem estraga-se. Mas, este carro é um Rolls Royce, custa muito dinheiro mantê-lo a andar na rua”, começou por afirmar. “Quem paga? Se fosse do bolso dele será que ele colocava o Rolls Royce na rua? A nossa opção é parar o Metro Ligeiro e não fazer mais”, considerou. “Eu se fosse Chefe do Executivo um dia demolia todo o metro. Estragou toda a imagem e fisionomia de Macau… E depois é o despesismo”, sublinhou. Pereira Coutinho recordou que o território atravessa uma fase difícil a nível do emprego dos residentes e defendeu que os titulares de altos cargos políticos devem assumir responsabilidades “pelo menos políticas” para os gastos excessivos. Ainda no capítulo do despesismo, o candidato considerou que a sua equipa foi responsável pelas críticas às obras do Museu do Grande Prémio, que fizeram com que os gastos para o interior foram reduzidos de 800 milhões de patacas para 400 milhões de patacas. “Economizámos mais de 300 milhões de patacas [ao Erário Público]”, vincou. “Mas somos só nós, nenhum deputado se interessa pelo despesismo”, desabafou. Instruções polémicas Com o acto eleitoral deste ano foram emitidas orientações aos funcionários públicos com carreiras especiais que proíbem a participação em comissões de candidatura. O assunto mereceu críticas de Pereira Coutinho, que deixou elogios a Ché Sai Wang, funcionário que ocupa o segundo lugar da lista Nova Esperança. “Che Sai Wang é o segundo candidato. Eu admiro que um funcionário público no activo tenha coragem de estar na Lista Nova Esperança, porque não foi fácil reunir as assinaturas [para constituir a comissão de candidatura]”, elogiou. “Tivemos que retirar mais de 100 assinaturas de funcionários públicos e agências das forças de segurança porque foram proibidos de assinar”, revelou. “Isto mostra que em Macau não há falta de talentos e que há pessoas corajosas, que querem servir a sociedade”, rematou. Além de Che, fazem também parte da lista Tang Si Wan, Chan Hao Weng, Lídia Lourenço, Hung Oi Ming, Cheang Ka Keong, Chang Fong I, Fok Chao Iu, Ng Kin Hong e Ho Sio Peng. Sobre as eleições, o candidato da lista que em 2017 conseguiu 14.386 votos afirmou que a corrida vai ser mais complicada e que vai precisar de quase 11 mil votos para ser reeleito: “O meu lugar está em causa, mas sinto-me muito honrado por exercer estas funções há mais de 16 anos”, considerou. Assuntos da agenda Sobre os trabalhos para a próxima legislatura, Pereira Coutinho alertou para a necessidade de abrir as comissões aos cidadãos e de ser criado um mecanismo para monitorizar os conflitos de interesses dos deputados. “É preciso regulamentar de forma urgente os conflitos de interesses. Os deputados não podem sobrepor os interesses privados ao interesse público”, alertou. Por último, Coutinho criticou a cobertura das eleições dos canais portugueses da TDM, que não têm enviado jornalistas à entrega das comissões de candidatura nem listas dos diferentes candidatos. “O Departamento de Informação da TDM está cada vez pior. Há quatro anos atrás fizeram tantas entrevistas [aos candidatos]… Agora, viemos cá entregar as assinaturas e nem uma pessoa apareceu. O canal chinês veio…”, comparou. “Será que a entrega das assinaturas [da comissão de candidatura] não é um acto importante? Porque é que não vieram fazer a cobertura? Mas, gastam o dinheiro do erário público…”, queixou-se. “Sabem quanto é que a TDM recebe do orçamento de Macau? Recebe 400 milhões de patacas. E não fazem a cobertura da entrega de uma comissão de candidatura com 500 assinaturas…. Se for uma porcaria qualquer de um evento lá fora mandam o batalhão todo de operadores de câmaras e de jornalistas…”, desabafou.
Pedro Arede Grande Plano ManchetePCC | Continuar a fazer história rumo ao segundo centenário Numa visita guiada à exposição fotográfica de celebração do centenário do Partido Comunista da China, o HM passou em revista alguns dos momentos mais marcantes da história do PCC e do país. Desde o congresso de Xangai liderado por Mao Zedong ao socialismo de características chinesas da Nova Era de Xi Jinping, o PCC promete continuar o “grande milagre da história da humanidade” por mais 100 anos O Partido Comunista da China (PCC) celebrou ontem 100 anos de existência. Ao final do primeiro centenário e com os olhos postos no futuro, foram inúmeros os momentos marcantes que ficaram para a história daquele que é o maior partido marxista-leninista do mundo, actualmente com 95 milhões de membros. Inaugurada a 23 de Junho, a exposição de fotografias “Os 100 anos do Partido Comunista da China” imortaliza em imagens 298 desses momentos, desde a fundação do partido até ao “sonho do rejuvenescimento da nação chinesa”, passando pela criação da República Popular da China. A exposição, patente até 15 de Julho, conta com a organização da Fundação Macau e pela Nam Kwong União Comercial e Industrial. A vice-presidente da Fundação Macau, Zhong Yi Seabra de Mascarenhas, aceitou o desafio de guiar o HM numa visita pela exposição. A origem do PCC, começou por lembrar Zhong Yi apontando para uma imagem da primeira tradução chinesa do livro “Manifesto” de Karl Marx de 1920, está na Rússia, “mais precisamente a partir do momento em que acontece a Revolução de Outubro de 1917”. Noutra imagem contemporânea dos anos que precederam a fundação do PCC, é possível ver três edições da histórica revista “A Juventude” (“La Jeunesse”), que serviu de plataforma para vários intelectuais progressistas da época como Deng Xiaoping, Chen Duxiu e Li Dazhao “espalharem a palavra do Marxismo” em busca de um novo movimento cultural capaz de transformar “fundamentalmente” a China e o estabelecimento da República da China, fundada em 1911 após a queda da dinastia Qing. A fundação do PCC viria a ser oficializada a 23 de Julho de 1921 numa casa da Concessão Francesa de Xangai. Lado a lado com a imagem do edifício histórico que acolheu o primeiro congresso do partido, é possível ver um barco turístico para onde a reunião foi transferida após ter sido interrompida pela polícia francesa, obrigando os membros do congresso a mudar-se para Jiaxing. “Este momento foi marcante porque abriu uma página nova que permitiu a criação do PCC”, explicou Zhong Yi. Outra fotografia mostra Mao Zedong a falar com camponeses em Yangjialing, em Yan’an, demonstrativa da “aposta na criação de campos de cultivo para alimentar a população”. Contudo, esta foi uma fase atribulada. “Foram ultrapassados muitos obstáculos, houve muitas lutas e morreram muitas pessoas. O povo chinês participou com muita força e até, nalguns casos, com a própria vida para construir a China. Por isso, ainda hoje dizemos que a base do PCC é o povo e o partido nunca pode deixar de procurar os interesses e o bem-estar da população”, explicou a responsável da Fundação Macau. Outro dos momentos imortalizados em imagem mostra Mao Zedong a discursar no sétimo congresso do PCC em 1949 realizado em Xibaipo, onde propõe que o foco do trabalho do partido seja gradualmente deslocado do campo para as cidades. Também em 1949 foi realizada a primeira Sessão Plenária da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC), cuja importância reside em mostrar que, desde logo, “existem vários partidos que participam por esta via e dão opiniões”. Construção e reconhecimento Às 15h do dia 1 de Outubro de 1949 era fundada a República Popular da China. Na imagem exposta é possível ver Mao a discursar na Praça de Tiananmen, no mesmo local onde, ontem, o presidente Xi Jinping proclamou o discurso alusivo ao centenário do PCC (ver páginas 4-7). “O Governo Central da República Popular da China foi estabelecido. O povo chinês levantou-se. Uma nova Era de desenvolvimento e progresso na nação chinesa começou”, pode ler-se na legenda da fotografia que cita as palavras de Mao. Os anos que se seguiram, explicou Zhong Yi, ficaram marcados pela publicação da primeira lei de casamento e de terrenos, pelo regresso de estudantes e cientistas que voltaram do estrangeiro “para ajudar a construir o país”. “O primeiro carro produzido na China tornou-se realidade. Foi a fase da modernização, tanto na área industrial como no panorama internacional. Foram criadas as zonas autónomas de Xinjiang e do Tibete e realizada a primeira feira de Cantão”, apontou Zhong Yi. “Nesta fase surgiram muitos cidadãos exemplares que seguiram o espírito comunista, trabalharam na sombra e deram, até, a sua vida, influenciando todas as gerações seguintes”, detalhou a responsável. A explosão de alegria protagonizada em 1971 pelo vice-ministro dos negócios estrangeiros Qiao Guanhua e o representante permanente chinês nas Nações Unidas, Huang Hua, assinala o momento em que o organismo internacional reconhece os direitos legais da República Popular da China. Em 1972 Mao Zedong encontra-se com o presidente dos EUA, Richard Nixon, em Pequim, colocando um ponto final ao isolacionismo internacional do país e normalizando as relações entre os dois países. A abertura seguinte Liderada por Deng Xiaoping, seguiu-se a fase das reformas e abertura, marcado pelo desenvolvimento do socialismo com características chinesas. Foram criadas zonas económicas especiais como Zhuhai e Shenzhen, começa a surgir indústria potenciada por investimento privado e a China assume-se como potencia desportiva em modalidades como o voleibol. Em 1985, numa imagem onde se vê Deng Xiaoping com o indicador apontado ao céu, o líder viria a cortar um milhão de soldados das forças armadas para se focar na modernização socialista e contribuir para a paz mundial. “Nesta ocasião, além de referir que o foco era a construção económica, disse também que o povo chinês nunca foi um povo invasor nem hostil”, partilhou a responsável da Fundação Macau. Numa curiosa imagem captada em 1978 é possível ver o pai de Xi Jinping, Xi Zhongxun, número um em Guangdong na altura, a conduzir uma pesquisa de campo para flexibilizar investimento estrangeiro em algumas cidades da província. A observar tudo está Xi Jingping, na altura estudante da Universidade de Tsinghua, a aproveitar as férias de Verão para participar no trabalho de campo. O ano de 1979 ficou marcado pelo estabelecimento das relações diplomáticas entre a República Popular da China e os EUA, a partir do momento em que o presidente Jimmy Carter recebe o Deng Xiaoping na Casa Branca. Sem esquecer a protecção ambiental, seguiu-se Jiang Zemin (1989) no comando do PCC. A aposta no multilateralismo é evidente. A bolsa de Xangai dá os primeiros passos numa pequena sala equipada por desktops, começam grandes obras como Barragem das Três Garganta no rio Yangtze e são criadas políticas de desenvolvimento das zonas mais pobres do país. É também sob a liderança de Jiang Zemin que são materializadas as transferências de soberania de Hong Kong (1997) e Macau (1999). Hu Jintao sucede no cargo. O desenvolvimento económico é exponencial e a China assume-se como segunda potencia económica em 2010. Os Jogos Olímpicos de Pequim são também organizados sob a sua liderança. Em 2005 foi aprovada a lei anti-secessão na qual se afirma que a República Popular da China assume que irá seguir o princípio da reunificação pacífica. A nova Era A 15 de Novembro de 2012, Xi Jinping sucedia na liderança do PCC dando início à construção de uma “sociedade moderadamente abastecida” e de “um país socialista moderno” e à nova Era do socialismo com características chinesas. Desde logo é proposta a ideia do grande rejuvenescimento da nação chinesa como sendo o “sonho chinês”. Segundo Zhong Yi, esta foi a fase do “fortalecimento” em que se insistiu na ideia da “liderança do PCC” e que “o seu dono é o povo”. O processo de reabertura continua e a modernização acontece a nível económico, ecológico e relativamente à melhoria das condições de vida das populações mais pobres. “Xi Jinping criou cantinas para todos (…) e os partidos devem ser capazes de criar pureza de espírito para servir o povo e não abusar do poder, chegando às zonas mais difíceis e montanhosas para ouvir a população e os seus desejos”, explicou a responsável da Fundação Macau. Um dos painéis da exposição retrata o actual presidente da China a trabalhar de perto com a população em diversos contextos, desde os seus tempos de juventude. Ao longo do caminho até ao segundo centenário espera-se, de acordo com os objectivos do PCC plasmados na exposição fotográfica que, em 2049, a China seja um “grandioso país socialista que é próspero, forte, democrático, culturalmente avançado, harmonioso e bonito”.
Hoje Macau Manchete SociedadeJogo passa de resultado recorde em Maio para pior receita do ano em Junho O sector do jogo teve em Junho as piores receitas de 2021, depois de em Maio os casinos terem registado o melhor resultado do ano, indicaram hoje dados divulgados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos. Em Junho, as operadoras arrecadaram 6.535 milhões de patacas, quando em Maio tinham contabilizado 10.445 milhões de patacas. O resultado coincide com o decréscimo no número de visitantes, depois de ter sido identificado um surto comunitário de covid-19 na província vizinha chinesa de Guangdong, que levou as autoridades de Macau a reforçarem as medidas de prevenção e as restrições fronteiriças. No primeiro semestre do ano, o total de receita acumulada ficou-se pelos 49.023 milhões de patacas, quando em 2019, antes da pandemia, os casinos já tinham arrecadado quase o triplo. Ainda assim, a receita bruta do jogo subiu 45,4% em relação aos valores de 2020, ano de grande impacto da pandemia sobre a indústria do jogo. Após o reinício, no final de setembro, da emissão dos vistos individuais e de grupo da China continental para o território, suspensos desde o início da pandemia, o número de turistas tem subido gradualmente, ainda que continue muito abaixo da média de cerca de três milhões de visitantes registada por mês em 2019.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTransporte marítimo | Empresas de Pansy Ho esperam manter prejuízos este ano A Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), cuja directora é Pansy Ho, prevê a continuação neste ano de prejuízos na área da exploração do transporte marítimo no Terminal Marítimo do Porto Exterior. Segundo o relatório e contas da empresa, divulgado ontem em Boletim Oficial, “de momento não está ainda prevista uma data de retoma dos itinerários entre Hong Kong e Macau, prevendo-se a persistência dos prejuízos até 2021”. Igual argumento é referido nos relatórios e contas das empresas Far East Hidrofoil Company e Hong Kong Macao Hydrofoil Company, onde Pansy Ho também ocupa o cargo de directora. No ano passado, a STDM esteve isenta do pagamento das retribuições mensais relativas ao Terminal Marítimo do Porto Exterior, tendo “assumindo a responsabilidade social corporativa de isentar todos as subconcessionárias do Terminal Marítimo do pagamento de todas as tarifas de utilização mensais, o que resultou numa quebra significativa das receitas”. De uma forma geral, a STDM diz ter sofrido “grandes prejuízos com a exploração” do Terminal. Tanto a Far East Hydrofoil como a Hong Kong Macao Hydrofoil assumem estarem a preparar-se “para a retoma do turismo regional”, apesar de terem sofrido “o impacto [económico] de múltiplos factores, incluindo as mudanças nas formas de deslocação provocadas pela abertura da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”. Incluem-se ainda “o declínio do número de passageiros devido à instabilidade do clima social e político em Hong Kong e a suspensão total dos serviços de embarcações de passageiros devido à pandemia”. Mesmo com “medidas rigorosas de controlo de custos” o desempenho das duas empresas “foi gravemente afectado”.
Pedro Arede Manchete SociedadeContabilista desviou mais de 820 mil patacas em cheques À revelia do patrão, uma mulher de 53 anos levantou 10 cheques pertencentes à empresa de venda de carne congelada para a qual trabalhava como contabilista. O caso foi descoberto meses depois de a funcionária ter sido despedida pela contabilista que a substituiu. Noutro caso, uma mulher foi roubada em plena rua após agressão Uma contabilista de 53 anos que trabalhava numa empresa dedicada à venda de carne congelada é suspeita da prática dos crimes de burla qualificada e falsificação de documentos de especial valor. Em causa está o levantamento de 10 cheques no valor de 820.646 patacas à revelia do patrão, montante que acabou por desviar em seu próprio benefício. De acordo com informação revelada ontem pela Polícia Judiciária (PJ), o caso veio a lume após o dono da empresa ter apresentado queixa no sábado passado, alegando que uma ex-funcionária se tinha apropriado indevidamente de dinheiro pertencente à companhia. No seguimento da queixa, a PJ dirigiu-se ao estabelecimento de venda de carne congelada para investigar o caso, tendo concluído que a funcionária era uma residente de Macau contratada em Janeiro de 2021 para o lugar de contabilista, tendo sido posteriormente despedida no dia 8 Junho por, de acordo com o proprietário, “não fazer um bom trabalho e não ter coração”. No dia seguinte ao despedimento, o responsável da empresa decidiu contratar uma nova contabilista para o cargo, não tendo passado muito tempo até a recém-contratada ter descoberto, no próprio dia, anomalias nas contas da empresa. Assim sendo, ficou provado que a ex-contabilista tinha levantado ao longo do passado mês de Maio em pleno exercício de funções e contra a vontade do patrão, 10 cheques da empresa no valor de 820.646 patacas. O caso seguiu para o Ministério Público na passada terça-feira, e suspeita terá que responder pela prática dos crimes de burla qualificada e falsificação de documentos de especial valor. A confirmar-se a acusação, a arguida pode ser punida com pena de prisão entre 2 e 10 anos pelo primeiro crime e entre 1 a 5 anos pelo segundo. Toca e foge As autoridades revelaram ainda um caso de furto ocorrido ontem de manhã na Avenida 24 de Junho. De acordo com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), a vítima é uma mulher de 54 anos que acabou desfalcada em 6.100 renminbis, 40.300 dólares de Hong Kong e fichas de jogo no valor de 47.000 dólares de Hong Kong, após ter sido agredida com um murro no peito, em plena rua. Após a agressão, o suspeito fugiu para a zona da Avenida Rodrigo Rodrigues, tendo sido detido quando tentava apanhar um táxi. Interrogado, o suspeito confessou o crime, alegando, contudo, não ter roubado nada mais além do dinheiro guardado na mala da vítima. Caso seja declarado culpado, o suspeito pode ser punido com pena de prisão entre 3 e 15 anos.
Salomé Fernandes Manchete PolíticaEleições | Novo Macau entra na luta por dois lugares no plenário A Associação do Novo Progresso de Macau entregou ontem a lista para as eleições legislativas de Setembro. As bandeiras de campanha de Sulu Sou e companhia são a transparência do processo legislativo e a responsabilização de altos dirigentes. O deputado lamentou a saída de “talentos portugueses” de Macau e reconheceu as dificuldades sentidas pelo campo democrata Sulu Sou oficializou ontem a candidatura às eleições pela via directa para a Assembleia Legislativa. A “Associação do Novo Progresso de Macau (ANPM)”, apoiada pela Associação Novo Macau (ANM), submeteu uma lista com cinco pessoas. “É responsabilidade da ‘Associação do Novo Progresso’ insistir nos valores de democracia, diversidade, coragem, progressividade e proteger o sistema único de Macau e a cultura local”, é indicado em comunicado. A lista é composta por Sulu Sou, seguindo-se Rocky Chan, Wong Ip Po, Lei Ka Kan e Chan Wai Chun. O projecto político proposto para os próximos anos inclui a defesa de direitos humanos e liberdades sob o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, a abertura de reuniões de comissão na Assembleia Legislativa para “aumentar a qualidade e transparência do processo legislativo” e a responsabilização de altos dirigentes. Mas alarga-se a outros temas, nomeadamente ambientais, monitorização de obras, habitação e ensino. A nota aponta ainda que num contexto de pandemia e de “pressão política”, a riqueza habitual e a liberdade “já não são tomadas como garantidas”. “O nosso objectivo principal é lutar por dois lugares. Este é um tempo difícil, não só para a Associação Novo Macau, mas também para o campo pró-democrata. Porque enfrentamos o campo pró-governamental, que misturam os seus enormes recursos e força para lutar pelo máximo de lugares”, indicou Sulu Sou. Além disso, o deputado destacou que a idade média da equipa da ANPM é de 35 anos, e que os jovens que a compõem têm experiência com trabalho legislativo e serviço social à comunidade. Não foram apontados receios face à divisão do campo pró-democracia em diferentes listas. “Se mais equipas participarem nas eleições directas, é mais benéfico para a sociedade civil, porque vai despertar mais eleitores para votar e aumentar a participação. Também têm mais oportunidades e [opções] para escolherem o que gostam e o que representa os seus interesses”, respondeu Rocky Chan. O vice-presidente da Novo Macau destacou o “respeito mútuo” entre todos os concorrentes para que haja uma “competição saudável”. Saída de portugueses Antes da entrega da lista no edifício da Administração Pública, os vários membros da lista discursaram na rua, de máscara verde, a condizer com a cor dos estandartes da Associação Novo Macau em pano de fundo. Sulu Sou agradeceu o apoio “das comunidades portuguesa e inglesa” e lamentou que alguns sintam a necessidade de abandonar o território. O deputado apontou que nos últimos anos as liberdades de expressão, imprensa, reunião, académica, enfrentaram “grande perigo”. “Muitos talentos portugueses saíram de Macau, porque estavam desiludidos. Esta é uma grande perda para Macau”, observou. E encerrou o discurso com um agradecimento em português.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Agnes Lam apresentou lista com oito candidatos O arquitecto Rui Leão é o sétimo membro da lista Observador Cívico, que quer ser a voz na Assembleia Legislativa de toda a população. Para Agnes Lam, os grandes desígnios da sua campanha são a melhoria da vida dos residentes e supervisionar as políticas do Governo Uma lista para representar toda a população. Foi desta forma que a deputada Agnes Lam apresentou ontem a lista Observador Cívico, com a qual vai concorrer às eleições legislativas de Setembro. “A lista Observador Cívico acredita que Macau pertence a cada um de nós e que as políticas e a sua implementação devem ser supervisionadas pelos cidadãos. Fizemos um esforço muito alargado para ouvir as opiniões de toda a população e de todos os que fazem parte da sociedade”, afirmou a cabeça-de-lista. A lista foi apresentada ontem e vai ser entregue esta manhã à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), que depois decide sobre a participação no acto eleitoral. Além de Agnes Lam, O Observador Cívico integra Rui Leão, como havia sido revelado anteriormente. O arquitecto é o sétimo membro na ordem e vai ficar responsável pelo planeamento urbano e comunidades macaense, portuguesa e falante de inglês. George Zhao, médico urologista, é o número dois, seguido por Gary Chu, engenheiro consultor na área das obras públicas, e Addy Chan, engenheiro mecânico eléctrico que está em quarto. No quinto lugar surge Jacky Cheong, professor universitário, seguido de Rebecca Mak, consultora na área da educação, e em oitavo Jason Wong, licenciado em psicologia que nos últimos anos integrou o gabinete de Agnes Lam. Na altura de apresentar os candidatos, a deputada reconheceu o desenvolvimento extraordinário de Macau, mas não deixou de revelar preocupação com as consequências de um território que vive demasiado focado na indústria do jogo. “Os desastres naturais, como tufões, trovoadas e a covid-19, são avisos e os seus efeitos negativos aumentados por uma estrutura social focada numa única indústria. O que criou problemas sociais e afectou a qualidade de vida”, considerou. “Estamos a concorrer às eleições porque queremos contribuir para resolver este problema e temos uma equipa com profissionais de várias áreas, assim como um programa político abrangente”, acrescentou. Melhorar a cidade Por sua vez, Rui Leão sublinhou a importância do planeamento urbanístico e a necessidade de garantir um ambiente com qualidade de vida em Macau. “É um grande desafio melhorar o ambiente da cidade, porque é uma cidade pequena com uma grande concentração de pessoas. Mas, também temos um elevado nível de autonomia, o que nos dá uma responsabilidade acrescida para nos envolvermos mais nas políticas que afectam os espaços públicos e a nossa capacidade para sermos resilientes “, justificou. O envolvimento e a necessidade de ouvir as pessoas é uma das principais prioridades da lista, que está a recolher opiniões de várias formas, inclusive nas ruas e através de plataformas online. Neste sentido, o Gabinete da deputada vai-se transformar num fórum para ouvir as opiniões das comunidades que falam português, e inglês no sábado, às 15h.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAntónio Caeiro, ex-delegado da agência Lusa em Pequim: “No PCC existem muitas sensibilidades” Faz hoje 100 anos que foi criado o Partido Comunista da China. Dos 53 militantes iniciais, o partido cresceu para cerca de 200 milhões de militantes e é uma peça fundamental em toda a sociedade chinesa. António Caeiro, ex-delegado da agência Lusa em Pequim, para onde foi viver em 1991, considera que o Ocidente encara o partido de uma forma simplista e com um certo “paternalismo” Comecemos pelo início da sua vida em Pequim. Quando foi a primeira vez que se deparou com a máquina partidária do Partido Comunista da China (PCC)? A presença do PCC sentia-se desde [o primeiro momento] da chegada a Pequim, embora, em 1991, os sinais exteriores não fossem muito evidentes. Não havia foices nem martelos, nem muita propaganda política. Não se poderia comparar a China com a Coreia do Norte, por exemplo, ou outros países. Em todos os discursos e instituições o papel do PCC está sempre presente, e a aspiração do partido é, precisamente, liderar toda a vida em sociedade e todas as instituições. Mas nunca tive contacto directo com o secretário-geral do PCC. Qual a figura do partido de que esteve mais próximo? O final do congresso do PCC é um momento especialmente importante. Na era pré-Xi Jinping, os líderes mudavam de dez em dez anos, e nessa altura o secretário-geral apresenta os membros do Politburo. Mas é um encontro sem direito a perguntas ou respostas. Como olha para o PCC de hoje? É dito que tudo tem de ser dirigido pelo partido e esse é um slogan do Presidente Xi Jinping. O PCC acha que o colapso da União Soviética e do partido comunista soviético aconteceu justamente por não ser suficientemente firme no papel dirigente, firmeza essa da qual o PCC não abdica. Mesmo com todas as reformas económicas que encorajou, e cujos resultados são um verdadeiro milagre económico, nunca o PCC abdicou do papel de dirigente. Hoje é defendido que a China nunca seguirá o caminho da democracia ocidental, nem advogará o regime de separação de poderes. Apesar da liberalização económica, a máquina partidária parece estar sempre presente no meio empresarial. Temos inclusivamente o exemplo do que aconteceu com Jack Ma e do grupo Alibaba. A sensação que se tem é que o Estado nunca anda muito longe. O próprio Jack Ma tinha uma frase que lhe era atribuída, em que aconselhava os quadros da sua empresa a namorarem com o Governo, mas a não namorarem com ele. Isso diz muito de uma relação que não é exclusiva da China. Muitos grupos privados na Coreia do Sul, por exemplo, cresceram à sombra ou estimulados pelo Estado. Na China, nas novas áreas da economia, onde antes o Estado não estava muito presente, como nos serviços ou tecnologias, o sector privado desenvolveu-se muito. E agora parece haver, por parte das autoridades, uma espécie de alerta. O partido quer lembrar que, acima de milionários ou de pessoas que emergem na sociedade civil, há um poder maior do que o dinheiro ou a riqueza, que é o poder político. Xi Jinping anunciou este ano novos códigos de conduta para funcionários do partido, reforçou a importância da lealdade. É uma nova mensagem? É um sinal no combate à corrupção, por exemplo? A desvantagem de já ter uma certa idade é que, muitas dessas coisas que parecem novas na realidade repetem-se. A campanha anti-corrupção é uma coisa cíclica. Já no tempo de Hu Jintao se falava disso. O presidente Xi Jinping emergiu e notabilizou-se por ter desencadeado a mais profunda e exaustiva campanha anti-corrupção de que há memória na história da China. Nunca houve nada semelhante com altos quadros políticos, mesmo os mais poderosos do Politburo. Temos o caso de Bo Xilai, por exemplo. Claro, os grandes tigres, como se dizia. No entanto, passaram quase 10 anos e a situação continua muito difícil, embora existam resultados históricos no combate à corrupção. Parece haver uma questão sistémica que, periodicamente, está em cima da mesa. É também uma forma de testar a lealdade política de todo o aparelho em relação ao secretário-geral e ao núcleo do partido, e é também uma forma de manter uma certa vigilância e impedir que a máquina se acomode. Não há nenhum sector que esteja imune à corrupção. Eu próprio ficava espantado com o número de generais, forças de segurança, forças estatais [afastados]. O problema parece nunca estar resolvido. Como acha que a pandemia influenciou a visão dos cidadãos chineses em relação ao partido? No início [da pandemia], a liderança do PCC esteve em causa, porque andaram duas ou três semanas sem reagir aos alertas de médicos do hospital central de Wuhan. Os líderes do partido em Wuhan e em Hubei, com categorias superiores a ministros, isso evidenciou alguns problemas. A popularidade do partido foi testada e o próprio Xi Jinping admitiu pouco tempo depois que a pandemia constituiu um sério teste à capacidade de governação. Mas as drásticas medidas que foram tomadas tiveram outro resultado, pois a China acabou por ter menos mortes que Portugal, por exemplo. Quando se olha para o caos que se passa nos países ocidentais, tem de se atribuir crédito ao Governo. Mas mesmo assim ficaram algumas lições. Quais foram? A legitimidade do PCC na China não advém de eleições, mas da sua performance económica e social. É por isso que ele é avaliado. E esses dois planos têm sido, nos últimos anos, espectaculares para a maioria dos chineses. Mas se houvesse um desastre sanitário a credibilidade das autoridades ficaria seriamente ameaçada. Um diplomata brasileiro disse uma vez que o povo chinês tem medo do PCC, mas o PCC também tem medo do povo. As autoridades sabem que um desvio pode influenciar o regime. Sim. Esse medo do caos é partilhado quer pela liderança do partido quer pelas pessoas, porque estas sabem o que é o caos. Qualquer alteração do país e do status quo passa sempre por uma alteração do próprio PCC, porque falamos no total de 200 milhões [de militantes], não é um partido, mas uma parte da sociedade. Interrogo-me se o investimento que o partido faz em novas tecnologias de leitura facial se não revela também uma certa inquietação e segurança. O grande dilema é como governar populações cada vez mais instruídas e evoluídas. O PCC nasceu em 1921. Eram 53 militantes e 13 delegados, hoje é aquilo que sabemos. Mas em 1949, quando tomaram o poder, 90 por cento da população vivia nos campos e o analfabetismo era enorme. A ciência política, como é ensinada nas sociedades europeias, indica que, à medida que a economia se desenvolve, e que as necessidades básicas da população estão satisfeitas e emerge uma classe média cada vez maior, mais instruída e viajada, isso pede mais pluralismo político e social. Penso que é também muito precipitado, e um bocado paternalista, muitos comentadores ocidentais dizerem que a democracia não se adapta à China. Se virmos bem a história chinesa deste século, muitas das chamadas ideias ocidentais tiveram impacto na China. Entre a queda da monarquia, em 1910, e 1949, todas as grandes ideias que agitavam o mundo passavam também pela China. Xangai era um centro intelectual com grande vivacidade. Nos meios académicos chineses há um debate muito actual sobre as questões da democracia e separação de poderes. A China é mais plural e aberta do que os discursos oficiais e também do que certas abordagens ocidentais tendem a fazer sobre a China. A simplificação, não só do papel do PCC, mas também da sociedade chinesa, desfoca a nossa visão da China. Mesmo no PCC sendo o que é, existem muitas sensibilidades. Acha que Xi Jinping tentou trazer uma maior união? A inovação introduzida por Xi Jinping foi de que, com os novos desafios, e no mundo actual, o país precisa de uma liderança mais forte e centralizada. Quando era vice-presidente do país houve vários clãs, o de Bo Xilai era dos mais conhecidos. Xi Jinping parece ter aparecido para arrumar a casa. Ele próprio não pertencia a nenhuma facção mas era como se tivesse ligações transversais a vários grupos e famílias políticas, algo que na China também é importante, e tentar unir o partido. A questão da corrupção tinha-se tornado um problema, a par da poluição. Ele aparece como alguém que diz que a China precisa de uma liderança forte e centralizada. Em 2018 houve uma mudança da Constituição a acabar a limitação de mandatos. Quase sem se conhecer o projecto [de lei] ele foi aprovado [por uma larga maioria], só uma pessoa é que votou contra, de entre mais de dois mil deputados. Eu assisti a votações com 30 por cento de votos contra ou abstenções.
Hoje Macau Manchete SociedadeCovid-19 | Taxa de vacinação subiu para um terço da população A taxa de vacinação subiu de 10 por cento da população para um terço durante dois meses. A 5 e Maio menos de 72 mil pessoas estavam vacinadas, mas dados oficiais indicam que agora ascendem a 230 mil A taxa de vacinação contra a covid-19 em Macau cresceu de 10 por cento para a cobertura de um terço da população em dois meses, indicam dados oficiais, citados pela agência Lusa. A 5 de Maio, as autoridades de saúde lamentavam a baixa taxa de vacinação, quando, pouco menos, 72 mil pessoas tinham recebido uma dose das duas vacinas disponíveis no território, Sinopharm e BioNtech, apesar “de se ter investido muito trabalho de publicidade e promoção” junto dos quase 700 mil residentes. Os últimos dados apontam agora para 230 mil pessoas vacinadas desde o início da campanha, em 9 de Fevereiro, um aumento para o qual contribuiu o receio da população face a um surto na vizinha província chinesa de Guangdong, mas também uma campanha ‘milionária’ de incentivos, sem precedentes, promovida pelas grandes empresas do território, a maioria ligadas à indústria do jogo, que prometeram dinheiro, dias de férias extra e sorteios para quem se vacinar. Receios da vacinação Uma sondagem recente da Universidade de Macau mostrou que 37,7 por cento dos inquiridos estão hesitantes ou negativos em relação à vacina contra a covid-19 no território. No inquérito de investigadores do Instituto de Ciências Médicas Chinesas, divulgado em 21 de Maio, concluiu-se que, entre aqueles que não têm planos de sair de Macau, 49,5 por cento estão hesitantes ou negativos quanto à vacina e “cerca de 35 por cento dos inquiridos estão preocupados com a possibilidade de ocorrerem reações adversas graves após a vacinação”. Macau continua a registar, ainda assim, uma oferta muito maior do que a procura, sendo que dois terços dos profissionais de saúde tinham sido vacinados até final de Maio, com as autoridades a disponibilizarem um programa de marcação ‘online’ prático com vários horários à disposição, com capacidade para administrar cerca de oito mil doses diárias. Macau identificou até agora 54 casos de covid-19, mas não registou qualquer morte desde o início da pandemia. Nenhum profissional de saúde foi infetado e não foi detetado qualquer surto comunitário.
Pedro Arede Manchete PolíticaEleições | Ella Lei e Leong Sun Iok esperam renovar mandatos A União Para o Desenvolvimento oficializou ontem a candidatura para as eleições legislativas de Setembro, com Ella Lei e Leong Sun Iok na liderança. Apesar de esperarem “muitas dificuldades”, os deputados querem manter o assento que detêm na Assembleia Legislativa, apostando nas áreas da habitação, educação e emprego para angariar votos Os deputados Ella Lei e Leong Sun Iok oficializaram ontem a candidatura às eleições de Setembro pela lista da União Para o Desenvolvimento (UPD), acreditando na renovação dos respectivos mandatos. A ex-deputada Leong Iok Wa, mandatária da lista, admitiu que “muitas dificuldades” vão surgir no caminho e que os jovens são o principal alvo da campanha dos Operários. “Os nossos candidatos [12] trabalham em diferentes áreas profissionais. Os nossos destinatários principais são os jovens. Sabemos que a competição vai ser elevada e que vamos encontrar muitas dificuldades, mas vamos lutar para conquistar o apoio da população e ganhar dois assentos”, começou por dizer Leong Iok Wa. Para Ella Lei importa insistir na gestão dos recursos territoriais de Macau e ao nível da habitação. “Vamos continuar a incentivar o Governo a aproveitar os terrenos desocupados para construir mais habitação pública dedicada à classe sanduíche. Além disso, queremos que o Governo melhore o planeamento urbano e as instalações da cidade, de forma melhorar as condições da população”, apontou. A deputada ligada aos operários frisou ainda as prioridades políticas dos próximos tempos devem incidir sobre as áreas da educação, saúde e prestação de serviços sociais, sem esquecer a introdução de melhorias legislativas ao nível da lei sindical e da lei das relações laborais. Trabalho e mais trabalho Por seu turno, o número dois da lista, Leong Sun Iok apontou as dificuldades que os residentes encontram ao nível da procura de emprego e de desenvolvimento de carreira como principais frentes de batalha. “Queremos que o Governo, além de impulsionar a recuperação económica, garanta a prioridade de acesso ao emprego por parte dos residentes e melhore o mecanismo da substituição dos trabalhadores não residentes, mantendo a não importação de TNR em posições como croupiers e motoristas”, vincou.
Salomé Fernandes Manchete PolíticaRaimundo do Rosário não considera “razoável” suspender Metro Ligeiro O secretário para as Obras Públicas e Transportes apontou ontem que o cancelamento do concurso público do projecto da linha do Metro Ligeiro de Seac Pai Van “foi uma excepção”. “Não é uma coisa que se faça de ânimo leve. Se fazemos temos razões e na altura demos uma explicação”, comentou Raimundo do Rosário à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa. Decorreu ontem o processo de abertura das propostas do novo concurso. Sobre pedidos de suspensão do Metro Ligeiro até que novas linhas comecem a operar, Raimundo do Rosário destacou o impacto que a medida teria no equipamento. “Penso que não é muito razoável parar até 2023, que é quando está previsto ligar à Barra”, comentou. Além disso, o responsável apontou a disparidade entre apelos do passado para terminar as obras do Metro Ligeiro e, agora, para suspender a obra depois da primeira fase ter sido finalizada. “Quando cá cheguei, a Assembleia andava atrás de mim para acabar o Metro, que era a linha da Taipa (…). E agora aparecem vozes a dizer que Macau não precisa de Metro”. Expansão em linha “Em todo o mundo, quando o Metro começa, começa sempre com uma linha, não começa com dez”, indicou. Actualmente, estão em construção a ligação à Barra e a linha de Hengqin. “Tenho dito e mantenho: no fim do ano vamos abrir o concurso para a linha Este, portanto, ela vai expandir. Agora, isto são obras que não se fazem num ano ou dois. Portanto, as pessoas têm de ter alguma paciência porque a expansão da rede leva algum tempo”, comentou. O dirigente apontou que a linha da Taipa chegou a contar com 30 mil passageiros, mas que o número diminuiu quando as viagens deixaram de ser grátis. Seguiu-se a covid-19 e, actualmente, dois mil passageiros usam o Metro Ligeiro por dia. No entanto, Rosário não quis fazer previsões sobre o volume de passageiros depois de ultrapassada a pandemia. “Vamos andando e vamos vendo”, disse, reconhecendo que se está a passar “por um período difícil”.