Literatura | “Os Memoráveis”, de Lídia Jorge, traduzido para chinês e publicado na China

Publicado em 2014, o livro de um dos nomes mais sonantes da literatura portuguesa contemporânea vai ser agora publicado na China com o cunho da editora Haitian Publishing House. O livro de Lídia Jorge já tinha sido traduzido para outros idiomas, mas esta é uma estreia no mercado chinês

 

A obra “Os Memoráveis”, da escritora portuguesa Lídia Jorge, foi traduzida para chinês e publicada esta semana pela editora chinesa Haitian Publishing House. A editora, detida pelas autoridades da Zona Económica Especial de Shenzhen, já tinha publicado em Outubro a tradução chinesa de “Essa Dama Bate Bué!”, o primeiro romance da luso-angolana Yara Nakahanda Monteiro.

“Os Memoráveis” é protagonizado por Ana Maria Machado, uma repórter portuguesa em Washington que, em 2004, foi convidada a fazer um documentário sobre a Revolução de 1974, considerada pelo embaixador norte-americano à época, em Lisboa, “um raro momento da História”.

Segundo comunicado da editora, Publicações D. Quixote, a repórter aceita o trabalho, forma uma equipa e entrevista vários intervenientes e testemunhas do golpe de Estado, “revisitando os mitos da Revolução de Abril”.
“Os Memoráveis”, publicado em 2014, venceu no ano seguinte o Prémio de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues, atribuído pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof).

O júri considerou que o romance “constitui uma assumida marca de cidadania ao trazer a Revolução de Abril de 1974 para as páginas de uma obra literária, cuja intensidade de linguagem e mestria narrativa, conjugada por uma hábil técnica compositiva, faz dela uma notável presença na literatura portuguesa contemporânea”.

Mais traduções

A obra foi traduzida para francês, logo em 2014, e para espanhol e eslovaco em 2020, com apoio da Linha de Apoio à Edição e Tradução da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e do Instituto Camões.

Nascida há 75 anos em Boliqueime, no Algarve, Lídia Jorge estreou-se em 1980 com o romance “O Dia dos Prodígios”. Além de inúmeros romances, da sua bibliografia fazem igualmente parte coletâneas de contos, obras de literatura infantil, de ensaio, de teatro, de poesia e de crónicas.

Lídia Jorge recebeu vários prémios literários portugueses e internacionais, entre os quais o Prémio FIL de literatura em Línguas Românicas em 2020, de Guadalajara, um dos mais importantes da América Latina.

A Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos, inaugurou a 5 de Abril a Cátedra Lídia Jorge, dedicada ao estudo da obra da escritora portuguesa, juntando-se a uma cátedra criada em Setembro de 2021 na Universidade de Genebra, na Suíça. Lídia Jorge é também, desde Março de 2021, membro do Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República português.

16 Ago 2022

Lisboeta | Okuda Yuta mostra trabalho em Macau pela primeira vez

A galeria Humarish Club, no empreendimento Lisboeta Macau, acolhe pela primeira vez o trabalho do artista japonês Okuda Yuta. A mostra “With Gratitude” pode ser vista até ao dia 11 de Setembro

 

O conceituado artista japonês Okuda Yuta mostra, pela primeira vez, o seu trabalho no território. Até ao dia 11 de Setembro o público poderá ver os trabalhos na exposição “With Gratitude” [Com Gratidão] na galeria Humarish Club Art Space, situada no empreendimento Lisboeta Macau, no Cotai.

O antigo designer de moda revela trabalhos cheios de cor e criatividade produzidos no período da pandemia, transmitindo a mensagem de que é necessário lidar com o mundo que nos rodeia com “um coração cheio de gratidão”. Esta é uma exposição que revela “o amor pela vida e o abarcar num mundo mais colorido”. A mostra foi inaugurada no último sábado.

Foi no pior período da pandemia, há cerca de dois anos, que o artista japonês compreendeu que “as coisas que sempre tinha tido como garantidas eram extraordinárias”, e desde então que começou a pintar flores focado em transmitir uma mensagem de gratidão num período difícil para a maioria das pessoas, que se viram obrigadas a parar as suas vidas e negócios e a ficar em confinamento em casa. As obras de arte de Okuda Yuta transmitem, assim, uma onda de positivismo, levando as pessoas a “abraçar a vida e o mundo”.

Em mudança

“With Gratitude” acontece em Macau depois de o artista ter marcado presença com a mesma exposição em Singapura, com a qual está a percorrer várias cidades. Muito antes de se dedicar à arte, a partir de 2016, participando em diversas mostras colectivas e individuais, Okuda Yuta foi também designer de moda para a marca Takeo Kikuchi. Nascido na prefeitura de Aichi, em 1987, Okuda Yuta estudou design de moda não apenas no seu país, mas também em Inglaterra.

A nova série de flores desenhadas para esta exposição marca uma transformação no seu trabalho, em busca de maior oportunidade e a descoberta de novas coisas por acaso. “As flores [desenhadas] em diferentes cores recordam-nos do trabalho feito pelos artistas pop, mas se observarmos com mais detalhe percebemos que cada pétala foi pintada de forma bastante delicada”, lê-se na nota de imprensa. Para os quadros, Okuda Yuta inspirou-se nas memórias de infância, num processo de busca e de salvação de si mesmo.

16 Ago 2022

FRC acolhe “Exposição de Banda Desenhada e Animação de Macau” até sábado

A Fundação Rui Cunha (FRC) inaugura amanhã, a partir das 18h30, uma mostra que reúne trabalhos dos membros da Associação de Intercâmbio Cultural de Banda Desenhada e Animação de Macau 2002, em exibição até ao próximo sábado. A organização indica que não haverá lugar a cerimónia de abertura, uma vez que já ocorreu no passado dia 16 de Julho.

A mostra colectiva é composta por cerca de 30 trabalhos criados por oito artistas de banda desenhada, cartoon e animação. Seis dos artistas representados neste projecto são locais e amadores, que se dedicam de alma e coração ao género. Outros dois, são profissionais de Hong Kong e do Japão.

Vincent Ho é um dos artistas de Macau, com o background em cinema, que se dedica há muitos anos à banda desenhada e está neste momento concentrado no seu primeiro trabalho pessoal, denominado “Cruel Angel”.

Outro dos participantes na mostra, é Wing Mo, um ilustrador iniciante que começou por explorar diferentes técnicas de pintura e explora agora o universo da mixed media. Por sua vez, Greymon Chan é o autor de “Bony Guy”, uma personagem popular e amplamente divulgada nas redes sociais, cujos subprodutos estão em plena promoção.

Z é desenhadora de manga desde 2012 e conhecida pelo seu trabalho mais recente, “Inumanos”, embora continue a explorar novas técnicas e temas de pintura.

Nasu define-se como «50 por cento artista, 50 por cento beringela» e concentra a sua arte em ilustrações e personagens no estilo kawaii, hoje pintando sobretudo com aquarela e iPad.

ST é outro dos membros da associação que organiza a mostra a ser inaugurada amanhã. O criador teve grande sucesso no mercado infantil de banda-desenhada com o seu primeiro trabalho, “The Caterpillar Family”, passando a publicar regularmente cartoons no jornal diário Vakio. O mais recente projecto de ilustração foi “Super Awakening” e hoje, além de continuar a explorar diferentes estilos, é também professor de ilustração.

Os profissionais

Leung Wai Ka é cartoonista profissional em Hong Kong e foi editor-chefe de projectos como “Eternal Dragon Slayer”, “The Legend of Black Panther”, e tantos outros. Depois de se tornar um criador independente, co-editou “Extinction Game” com Beyen Dai, produziu ilustrações e storyboard para a série de TV “The Detective”, coordenou a banda-desenhada de “Black Comics”, ilustrou o capítulo africano do “Jogo de Extinção” e está agora a trabalhar no novo projecto “One Hundred Spirits, One Kind of Man”.

Hiroshi Kanatani é um consagrado cartoonista japonês, cujos trabalhos incluem Shonen Sunday, ilustrações encomendadas de Godzilla para a Toho Studios, contributos para o Famous Monsters of Filmland e a Monster Attack Team, e a colaboração com Clint Eastwood e o espólio de Bruce Lee. A sua paixão por monstros e heróis levou-o desenvolver projectos em Hong Kong, Taiwan e na América. Hoje é membro da Japan Manga Association e 2019 marcou a sua segunda aparição no San Diego Comic Fest.

14 Ago 2022

10 Fantasia | Embrace the Rainbow – “An Emotional Outlook” até 28 de Setembro

As exposições estão de regresso ao espaço 10 Fantasia, ao lado do Albergue SCM, sob a batuta organizadora da Ark-Association of Macau Art. Até 28 de Setembro, está em exibição Embrace the Rainbow – “An Emotional Outlook”, que reúne trabalhos de U Weng Kam, Cheong Un Mei entre pinturas a óleo e composições mistas

 

Depois de as nuvens se dissiparem, os primeiros raios de sol no céu artístico de Macau voltam a brilhar. É com essa filosofia de retorno que a Ark-Association of Macau Art retoma o ciclo de exposições no segundo andar do espaço 10 Fantasia, ao lado do Albergue SCM, aberto ao público todos os dias, excepto à segunda-feira, das 11h às 18h.

Ontem, foi inaugurada a 4.ª e penúltima edição do ciclo Embrace the Rainbow, intitulado “An Emotional Outlook”, que reúne trabalhos das artistas U Weng Kam e Cheong Un Mei.

Segundo a Ark-Association of Macau Art, a exposição que estará patente no espaço 10 Fantasia até ao dia 28 de Setembro representa a saída de um período negro em direcção a um horizonte colorido. “Depois da neblina surge o sol, e o arco-íris vem sempre depois da tempestade. O título desta série de exposições gira em torno das ideias de esperança e recuperação. O que nos aconteceu durante a pandemia? O que merece a nossa gratidão? O que nos inspirou?”, questiona a associação.

A organização da mostra realça a importância da arte no reajuste de mentalidades e no reforço da confiança e esperança. A estética e a expressão artística são instrumentos para encontrar paz interior, num mundo ditado por distâncias sociais e restrições de toda a ordem.

Na apresentação da peça de U Weng Kam, é referido o aspecto permanente da existência de arcos-íris, apesar da presença ou não de seres humanos. “Animais e plantas que povoam o planeta vão continuar a viver, partilhando os recursos da Terra em harmonia contínua. Talvez um arco-íris não tenha significado para eles, porque é apenas um fenómeno físico”, teoriza a artista.

U Weng Kam acrescenta que a sua expressividade artística é impregnada por elementos existencialistas, que procura questionar a posição do ser humano e das sociedades organizadas, e a forma como a pandemia veio baralhar tudo.

Raízes no território

U Weng Kam é mestrada em pintura a óleo e educação artística pelo Instituto Politécnico de Macau. Além da criação artística, lecciona em centros de educação no território.

No que à inspiração diz respeito, U Weng Kam entende que a arte vai muito além da apreciação do que é belo, passa também pela interacção entre artista e público, na busca de espaços de reflexão, exploração, alívio e entendimento sobre as realidades sociais e pessoais.

Cheong Un Mei teve um percurso semelhante à sua companheira de exposição, também passando pela formação em artes visuais no Instituto Politécnico de Macau, hoje em dia designado como Universidade Politécnica de Macau.

Apesar de não se dedicar exclusivamente a uma forma de expressão artística, Cheong Un Mei tem predilecção pela arte conceptual e interactiva, em particular em peças tridimensionais e escultura que provoquem reacções.

A Ark-Association of Macau Art irá organizar mais uma exposição depois de “An Emotional Outlook” para completar o ciclo de mostras que pretendem apresentar a criatividade e a esperança depois da pandemia.

14 Ago 2022

Traçando a história do cristianismo na China a partir da estela

(História da Primeira Entrada do Cristianismo na China • Parte 1)
Texto e imagens: Ritchie Lek Chi, Chan

O cidadão de Macau não é alheio ao catolicismo, que deve ser chamado correctamente de cristianismo. Este nome não se refere ao “cristianismo” (protestante) que surgiu mais tarde. Isso é especificamente declarado no meu artigo em chinês, porque os chineses chamam ao cristianismo “a religião de Deus” (“Tian zhu jiao” em mandarim), enquanto o protestantismo é chamado de “cristianismo” (“Ji du jiao” em mandarim). Na história moderna, Macau não foi apenas o primeiro lugar no Extremo Oriente a estabelecer uma diocese católica, mas tornou-se também num importante “entreposto” (Nota 1) para governar os assuntos católicos na China, Japão, Vietname e Sudeste Asiático (excluindo as Filipinas). Muitos missionários famosos viajaram para a China continental via Macau para realizar missões. Em 1568, D. Belchior Nunes Carneiro Leitão (Figura 1), jesuíta, foi nomeado bispo de Macau pelo Papa Júlio II. Embora o catolicismo possa criar raízes em Macau, não é a primeira vez na história que entra na China.

Nestorianismo antecede os jesuítas por mil anos

Até agora, de acordo com a “A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China” (Nota 2) no Museu da Floresta de Estelas em Xi’an, os círculos arqueológicos ou religiosos geralmente reconhecem que o catolicismo chegou à China pela primeira vez durante a dinastia Tang e pertencia à seita nestoriana. O nestorianismo foi fundado mais de mil anos antes dos jesuítas serem conhecidos do povo de Macau (os jesuítas foram fundados em 1534). A Wikipédia descreve, “O nestorianismo originou-se no que hoje é a Síria e foi estabelecido na Pérsia entre 428 e 431 d.C. pelo padre sírio, Patriarca Nestório de Constantinopla. O nestorianismo é considerado a primeira seita cristã a entrar na China e tornou-se um campo activo de pesquisa em Sinologia.”

A mente e a confiança da Dinastia Tang

Em 17 de Novembro de 2021, o Papa Francisco encontrou-se com Mar Gewargis III, Patriarca da Igreja Assíria Oriental, no Vaticano (Figura 2). Esta antiga igreja foi subitamente sinalizada novamente. A “Igreja Assíria Oriental” também era chamada de “Nestianismo” na China antiga. Em 635 d.C., o imperador Taizong Li Shimin (Figura 3) encontrou-se com o bispo nestoriano Aroben da Síria e permitiu que o nestorianismo se estabelecesse em Chang’an e realizasse o trabalho missionário, de modo que a igreja se expandiu para as planícies centrais por duzentos anos. A Dinastia Tang não apenas aceitou o nestorianismo, mas teve também uma atitude aberta para aceitar outras culturas e religiões estrangeiras, de modo que o budismo, o islamismo, o zoroastrismo e o maniqueísmo pudessem sucessivamente “aterrissar” em Chang’an e expandir-se para outras partes da China. A razão pela qual os imperadores da Dinastia Tang tinham uma mente tão aberta e confiança mostrou que havia um ambiente político estável e uma forte força nacional naquela época.

De volta à ” A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China”. Em 1623, no final da Dinastia Ming, esta estela foi escavada no Oeste de Xi’an (Figura 4), o que não só chocou os círculos arqueológicos e religiosos na China e no exterior, mas também atraiu muitos especialistas e pessoas para Xi’an para observar e estudar esta estela. Além disso, um grande número de jornais chineses e estrangeiros ou artigos introdutórios apareceram para apresentar esta antiga estela. Até agora, através de muitos documentos ou da Internet podem consultar-se informações relevantes. Vale a pena ressaltar que a estela tornou-se uma das “quatro estelas” de maior prestígio na história das descobertas arqueológicas do mundo (Nota 3).

No Inverno, há dois anos, fui a Xi’an visitar parentes. Para ter um vislumbre deste autêntico trabalho arqueológico, enfrentei o frio para ir ao Museu da Floresta de Estelas para ver “A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China” (Figura 5). Além disso, em 2001, na mostra “A Civilização da Dinastia Tang rumo ao mundo” realizada pela Câmara Municipal de Macau Provisória (actual Municipal Affairs Bureau), o papel de fricção da estela foi uma das peças importantes da exposição.  (Figura 6)

Traços de Nestorianismo foram vistos antes da Dinastia Tang

Devido à descoberta da ” A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China”, é amplamente reconhecido que o catolicismo pisou pela primeira vez a China no nono ano de Tang Zhenguan, 635 d.C. Mas o que é surpreendente é que alguns documentos antigos e muitos estudiosos agora revelam que o catolicismo chegou às planícies centrais da China antes da dinastia Tang.

A 19 de Fevereiro de 2016, o jornal português “Hoje Macau” publicou um artigo de José Simões Morais “Os primeiros cristãos na China”, o conteúdo apresenta de forma concisa e clara a expansão do cristianismo para o leste e a situação histórica do nestorianismo na China. A primeira frase do artigo afirma, “Como lenda, o Apóstolo S. Tomé teria visitado a China no século I, onde dessa data há pedras gravadas com desenhos em baixos-relevos de histórias bíblicas”. Na segunda parte do artigo, o último parágrafo que descreve a Igreja de S. Tomé refere que, “uma nova actualidade quando Wang Weifan, mestre estudioso da História do Primitivo Cristianismo assim como de Arte e Cultura Chinesa, ao analisar as pedras em baixo-relevo de dois túmulos da dinastia Han do Leste (25-220) encontradas em Xuzhou, na província de Jiangsu, nelas descobriu representados episódios Bíblicos. Se os estudos provarem que Wang Weifan tem razão, então a chegada do Cristianismo à China recua para o final do século I, quinhentos anos antes do que até hoje se pensava”.

Três mil monges na Dinastia Wei do Norte(386 d.C.-535 d.C.)

Embora esta afirmação não tenha sido comprovada, não é infundado que o catolicismo tenha entrado no Império Chinês antes da Dinastia Tang. Do que se sabe actualmente, um artigo da página Daily Headlines, o título é “A China espalhou o cristianismo tão cedo⁈” O artigo expõe que no livro “Luoyang Jialan Ji” (Mosteiro Budista na cidade de Luoyang, província de Henan) escrito por Yang Xuanzhi, um escritor de prosa da Dinastia Wei do Norte, uma passagem sobre “Templo Yongming” no Volume 4, “Os monges de centenas de países, mais de 3.000 pessoas, aqueles das regiões do extremo oeste e até mesmo do Grande Reino de Qin, todos eles estão no que diz respeito ao mundo”. Diz-se que no templo budista em Luoyang, capital da Dinastia Wei do Norte no início do século VI, havia mais de 3.000 católicos nas regiões ocidentais (o Grande Estado Qin).

O site do condado de Luoning, cidade de Luoyang, apresentou o antigo templo local Xiangshan Temple, expressou muito claramente a situação do nestorianismo chegando à China naquela época, “O cristianismo, conhecido como nestorianismo na literatura chinesa antiga, originou-se na Palestina no início do primeiro século d.C. Acredita-se geralmente que o cristianismo foi introduzido na China durante a Dinastia Wei do Norte, quando para os locais o cristianismo e o budismo eram colectivamente chamados de ‘monastérios’. O antigo livro “Luoyang Jialan Ji” regista que o Templo Yongming em Luoyang construído pelo Imperador Xuanwu da Dinastia Wei tinha monges de Da Qin . Naquela época, a religião em que Daqin acreditava era o cristianismo, e o Templo de Yongming deveria ser a primeira igreja cristã na China. ”

A evidência dos dois livros coincide

“A Descoberta da Arte Nestoriana nas Regiões Ocidentais (da China)”, coautoria de Lin Meicun, professor da Escola de Arqueologia da Universidade de Pequim, e Szonja Buslig, professora da Universidade Húngara Roland.

Além de mencionar “Luoyang Jialan Ji” de Yang Xuanzhi, o artigo também lista evidências mais específicas. “No século V d.C., o nestorianismo espalhou-se para o leste até o vale de Amu Darya, na Ásia Central, e muitas igrejas foram construídas nas cidades-estados de Sogdian (Nota 4). No início do século VI, o mais tardar, os sacerdotes nestorianos chegaram a Luoyang, a capital da Dinastia Wei do Norte, ao longo da antiga rota da seda.

Ao descrever a “Igreja de São Tomé”, o artigo também usa um livro chinês antigo “Zizhitongjian” (Reflexos da Governança) Volume 147 regista o oitavo ano Tianjian (509 d.C.) da descrição do Imperador Liang Wu: “Naquela época, o budismo floresceu em Luoyang. Além dos monges chineses, havia mais de 3.000 monges das regiões ocidentais”. O imperador Xuanwu da dinastia Wei do Norte também construiu mais de 1.000 salas de meditação no Templo Yongming para abrigá-los.” Os dois livros antigos “Luoyang Jialan Ji” e “Zizhi Tongjian” coincidentemente descrevem o conteúdo do Nestorianismo, indicando que havia mais de 3.000 católicos na Dinastia Wei do Norte, todos “fora dos monges”, que imigraram de Daqin para a cidade de Luoyang na China e as actividades no noroeste da China e nas planícies centrais são os primeiros materiais históricos chineses que reflectem a entrada do catolicismo na China (Nota 5).

Se de acordo com as informações em livros chineses antigos e sites relacionados, pode ver-se que o Nestorianismo chegou à China antes da data indicada na “A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China”, então o ano exacto em que o primeiro grupo de cristãos chegou à China e acredita-se que seja anterior. Por mais de duzentos anos, esse argumento ainda não foi completamente estudado e confirmado por especialistas arqueológicos e históricos.

 

Notas:

Em 23 de Janeiro de 1576, foi instituída a Diocese de Macau, segundo a ordem do Papa Gregório XIII, a primeira diocese da Ásia Oriental.

“A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China”, Daqin refere-se à Roma antiga. “Quando os antigos chineses descobriram o Império Romano, eles o chamaram de Daqin, que significa ‘grande China’, porque reconheceram que o reino governado pelo Império Romano, tanto em tamanho quanto em poder político, era o mesmo da China naquela época. .O domínio da dominação é bastante”. Há também registos escritos sobre Roma no “Livro da Dinastia Han Posterior”: “O Grande Estado Qin (Roma), um arado (Grécia)…”.

As quatro estelas de pedra são “A estela de Da Qin Nestoriana espalhada na China” da Floresta de Steles em Xi’an, a “Rosetta Stele” egípcia no Museu Britânico em Londres, a “Jordan Moab Stele” no Museu do Louvre em Paris e a “Pedra do Calendário Solar” no Museu Nacional do México. (Monumento Ztec Time Service).

Sogdian, uma antiga nação na Ásia Central, a raça iraniana na corrida Europa, os chineses chamam de “Nove Sobrenomes de Zhaowu” ou “Nove Sobrenomes Hu”, distribuídos principalmente no Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão e vários países oásis. O Han Oriental Dynasty começou a controlar a Rota da Seda da Ásia Central para Roma e Pérsia. “Comemorando 1500 Anos de Cristianismo Entrando na China,” http://www.aiming4j.net/history9.html

10 Ago 2022

Cinemateca Paixão | Agosto com selecção internacional, se pandemia deixar

Se a pandemia der um descanso a Macau, esta semana começa com uma selecção eclética de filmes na Cinemateca Paixão, com produções do Japão, Estados Unidos, Espanha, Irão, Coreia e Taiwan. “El Buen Patrón”, com Javier Barden, “Just Remembering”, do japonês Daigo Matsui e a produção iraniana “A Hero” serão algumas das películas em exibição

Poucos dias antes de Macau ter voltado a encerrar edifícios devido à pandemia, a Cinemateca Paixão anunciou o cartaz de Agosto com sessões diárias ao longo do mês e uma panóplia de filmes que vão estar em exibição, se não forem impostas novas restrições no combate à pandemia.

Assim sendo, as sessões na Travessa da Paixão devem regressar amanhã com a exibição de “Just Remembering”, às 19h e “Love Talk” às 21h30.

Inspirado no clássico “Night on Earth”, do cineasta Jim Jarmusch, “Just Remembering” é uma espécie de álbum de recordações de uma história de amor. O filme do japonês Matsui Daigo ganhou no ano passado o prémio do público do Festival Internacional de Tóquio.

O argumento de “Just Remembering” centra-se na relação entre um bailarino, Teruo, que trabalha como assistente de iluminação numa companhia e teatro, e uma condutora de táxi, Yo, que reencarna o papel interpretado por Winona Ryder na obra de Jarmusch.

Com base no eixo amoroso entre Teruo e Yo, o filme retrocede na relação amorosa entre as personagens, do fim para o princípio. “Just Remembering” tem exibições marcadas para amanhã e sexta-feira, às 19h e domingo às 21h30, e ao longo do mês nos dias 16, 17, 19, 21 e 23 de Agosto.

O outro filme que inaugura amanhã o cartaz deste mês é “Love Talk”, um projecto que resultou da inspiração da realizadora de Taiwan Kuo Chen-Ti, nos contos do autor japonês Kanoko Okamoto.

Com a acção a desenrolar-se em Taiwan, Yamagata (Japão) e Kuala Lumpur (Malásia), “Love Talk” apresenta uma série de “paisagens amorosas” e episódios cómicos que retratam as relações amorosas contemporâneas. “Love Talk” será exibido amanhã, quinta-feira, sábado e dia 19, sempre às 21h30.

Na quarta-feira, às 19h, é exibido “El Buen Patrón”, uma comédia do realizador Fernando León de Aranoa, que conta na sua filmografia com películas marcantes como “Barrio” e “Los Lunes al Sol”. O protagonista de “El Buen Patrón”, interpretado por Javier Bardem, é um empresário carismático e manipulador que gere uma unidade fabril familiar numa pequena cidade espanhola. No meio da rotina de trabalho, o empresário imiscui-se na vida dos operários, numa tentativa desesperada de ganhar um prémio de Excelência Empresarial e apresentar a imagem do melhor patrão da história da indústria.

Além de ter entrado na lista preliminar para o Óscar de melhor filme estrangeiro, “El Buen Patrón” foi o grande vencedor dos Prémios Goya. Tem exibições marcadas para quarta-feira, sábado, 16 e 18 de Agosto às 19h, e depois com sessões às 21h30 nos dias 23 e 24 de Agosto e às 18h30 no dia 28 de Agosto.

Do drama ao épico

“The Northman” é o filme de maior orçamento na selecção de Agosto da Cinemateca Paixão. Realizado por Robert Eggers, este thriller épico inspirado na mitologia nórdica tem um elenco de luxo com Alexander Skarsgård, Nicole Kidman, Claes Bang, Anya Taylor-Joy, Ethan Hawke, Björk e Willem Dafoe nos papéis principais.

Partindo da premissa simples da sede de vingança de um jovem príncipe viking que procura vingar a morte do seu pai, assassinado pelo tio, “The Northman” parece catapultar a brutalidade da guerra, sangue a correr, ossos a partir e lama a invadir todos os poros para a dimensão de personagens. Um filme que convida a um duche depois de ser visto.

“The Northman” será exibido na quinta-feira e domingo às 19h, e ao longo do mês, dias 18, 20, 21 e 24, em horários diversos.

Finalmente, “A Hero” é a outra proposta cinematográfica do cartaz de Agosto da Cinemateca Paixão. Realizado por Asghar Farhadi, “A Hero” tem merecido o reconhecimento de festivais de cinema pelo mundo fora, como os Globos de Ouro, o Festival Internacional de Cinema de Palm Springs ou o Festival de Cinema de Cannes. A produção iraniana assenta na atribulada vida de Rahim, interpretado por Amir Jadidi, que acaba por ser preso devido a uma dívida que não consegue pagar ao seu cunhado. Durante uma saída precária de dois dias, o protagonista tenta de tudo para saldar a dívida, incluindo convencer o cunhado a retirar a queixa que apresentou.

Mais uma vez, Asghar Farhadi, que realizou o aclamado “A Separation”, consegue transportar o público para ambientes intensamente dramáticos com aparente leveza, através de uma narrativa que desafia os limites da moralidade. Um exemplo da vitalidade e subtileza do cinema iraniano.

“A Hero” será exibido às 21h30 de quarta-feira e sexta-feira, e nos dias 17, 20, 25 e 27 de Agosto às 19h.

A selecção de Agosto conta ainda com o filme sul-coreano “Broker” que só tem uma data de projecção na Travessa da Paixão e que já está esgotada.

A entrada para cada sessão custa 60 patacas.

8 Ago 2022

Exposição de caligrafia e pintura “Lee Chau Ping e Alunos” até 13 de Agosto na Fundação Rui Cunha

De regresso à programação cultural, a Galeria da Fundação Rui Cunha alargou o período em que estará patente a exposição de Caligrafia e Pintura “Lee Chau Ping e Alunos” até ao final da próxima semana, dia 13 de Agosto. A entrada é livre

 

 

Passados apenas quatro dias de exibição, a mostra de pintura e caligrafia “Lee Chau Ping e Alunos” foi interrompida pelo surto de covid-19 que paralisou completamente Macau. Como tal, e face à reabertura da Galeria da Fundação Rui Cunha, foi ontem anunciado que o período de exibição da mostra será alargado até ao final da próxima semana, 13 de Agosto.

A mostra conjunta reúne trabalhos do metre Lee Chau Ping e de 43 aprendizes que colaboram nas suas aulas, oficinas e actividades artísticas, regularmente organizadas pela Associação de Amizade das Artes, Pintura e Caligrafia de Macau, presidida por Lee Chau Ping.

A mostra dá a conhecer 44 peças de pintura e caligrafia, uma por cada participante, que reflectem a preocupação de Lee Chau Ping em “promover a cultura da caligrafia e pintura chinesa, bem como a arte, com o objectivo de reunir entusiastas para estudar a sua essência, para que os membros possam pesquisar, aprender e observar os outros durante estas actividades”, de acordo com o manifesto da iniciativa.

O propósito da exposição é também “fornecer uma plataforma para exibir as obras de pintura e caligrafia dos alunos. E é uma boa oportunidade para criar e praticar esta arte, permitindo que os alunos comuniquem com outros, cultivando a alfabetização cultural, incentivando sentimentos, enriquecendo a sua vida espiritual e levando adiante a cultura e as tradições chinesas para serem transmitidas de geração em geração”, refere o mestre, citado por um comunicado da organização da mostra.

Lee Chau Ping (李秋平), calígrafo e pintor local, é conhecido como discípulo do estilo artístico da Escola de Pintura de Lingnan. Nascido em 1959, o artista começou a sua carreira como designer de interiores, formado pelo Instituto de Design e Indústria de Hong Kong. A paixão pelas artes vem da infância, tendo aprendido pintura e caligrafia chinesas por influência do pai, quando tinha cerca de seis anos de idade.

O percurso académico levou-o depois para o mundo do design e da gestão de negócios. Seguiu para a Canadian Public Royal University, onde fez um Master of Business Administration, passou pela Princeton University, onde obteve um PhD em Gestão, e ainda pela Renmin University of China, para uma graduação em Administração de Empresas. “Aos 63 anos, o espírito incansável do artista é admirável, sendo igualmente licenciado e praticante de Medicina Chinesa desde 1999”, indica a Fundação Rui Cunha.

A galeria reabriu portas na quarta-feira, em horário integral das 10h às 19h, incluindo o período do almoço de segunda a sexta-feira, e aos sábados das 15h às 19h. A entrada é livre.

5 Ago 2022

CCCM | Novos livros sobre diplomacia chinesa e disputa sobre as ilhas Diaoyu

O Centro Científico e Cultural de Macau lançou recentemente duas obras sobre questões da actualidade chinesa. “Narrativas e Percepções: O Soft Power Chinês no Século XXI”, com coordenação de Carmen Amado Mendes e Daniel Cardoso e “Narrativas Estratégicas Chinesas e Japonesas: a Disputa Diaoyu/Senkaku” com autoria de Diogo Silva foram apresentadas no passado dia 11

 

Foram lançadas, no dia 11 deste mês, pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), duas obras da área da ciência política e relações internacionais que espelham problemáticas relacionadas com a China dos dias de hoje. Uma das obras aborda o modelo diplomático chinês no século XXI, e intitula-se “Narratives and Perceptions: Chinese Soft Power in the 21st Century” [Narrativas e Percepções: O Soft Power Chinês no século XXI], sendo coordenada pela própria presidente do CCCM, e especialista em relações internacionais, Carmen Amado Mendes, e Daniel Cardoso.

Este livro conta com autores como Anabela Santiago, Diego Santana Mathias, Diogo Silva, Emanuel Leite Jr., Sérgio Ribeiro, Tiago Carvalho e Rui Campos. Anabela Santiago traça um olhar sobre a informação usada pelas autoridades chinesas na divulgação das políticas de saúde do país. O foco é colocado na forma como a propaganda “tem sido usada no período de Reforma e Abertura do país até ao momento actual”, além de se analisar “a forma como influencia a disseminação das políticas de saúde pública chinesas e a percepção da liderança de Xi Jinping”, Presidente do país.

Anabela Santiago, doutoranda da Universidade de Aveiro, analisou o exemplo concreto das políticas na área da saúde relacionadas com o projecto “Rota da Seda”, inserido na iniciativa “Uma Faixa, uma Rota”. Isto porque “a saúde é um sector com bastante relevância para a República Popular da China”, tendo vindo a ganhar “uma maior proeminência no panorama internacional, uma vez que existe um interesse em demonstrar o compromisso [por parte da China], na qualidade de actor internacional, em colocar o crescimento saúde pública mundial como prioridade”. Esta posição reforçou-se com a pandemia, escreve a autora.

Desta forma, Anabela Santiago conclui que a China tem vindo a recorrer ao projecto “Rota da Seda” para a promoção de políticas de saúde e bem-estar em todos os países aderentes, com base na ideia da criação de uma comunidade para “um futuro partilhado” na área da saúde. A China apresenta-se, assim, como um país disposto a fomentar este tipo de políticas e a prestar apoio neste sector.

“Concluímos que a propaganda e os media podem ser um veículo para ‘contar bem a história da China’, uma vez que o Presidente Xi Jinping deseja o recurso à ‘Rota da Seda’ como uma bandeira do grande compromisso chinês para a promoção da boa governança de saúde a nível global”, lê-se no capítulo do livro.

Media e disputas

“Chinese and Japanese Strategic Narratives: The Diaoyu/Senkaku Dispute” [Narrativas Estratégicas Chinesas e Japonesas: A Disputa Diaoyu / Senkaku] é o nome da obra de Diogo Silva também lançada pelo CCCM no passado dia 11. Este é o resultado da tese de mestrado do autor, que analisa as estratégias usadas pelos governos dos dois países em jornais online de língua inglesa sobre as disputas territoriais nas ilhas Diaoyu, para os chineses, e Senkaku, para os japoneses.

O estudo foca-se no ano de 2012, quando a disputa subiu de tom face ao anúncio do governo japonês relativamente à possível compra das ilhas.

Diogo Silva analisa as notícias e as perspectivas políticas e estratégias que estas revelam perante o público, estabelecendo um quadro comparativo das visões da China e do Japão sobre esta disputa territorial que se tem prolongado no tempo.

28 Jul 2022

Henrique Sá Pessoa “entusiasmado” com abertura de restaurante em Londres

O ‘chef’ Henrique Sá Pessoa vai abrir um restaurante em Londres no final deste ano, projeto que o português encara com “entusiasmo”, mas também está consciente dos desafios que vai enfrentar devido à dimensão e dificuldades na indústria.

O “Joia” vai abranger os três andares superiores de um novo hotel, com um bar no 14.º andar, um restaurante no 15º andar e outro bar no telhado, junto à piscina, que terá vista sobre a capital britânica.

O hotel de 164 quartos no sudoeste de Londres situa-se junto à antiga central elétrica a carvão Battersea Power Station, cujo edifício e torres emblemáticas são consideradas património histórico e foram preservadas no âmbito de um grande projeto imobiliário.

Sá Pessoa disse à Agência Lusa estar “super entusiasmado”, mas reconhece que “um dos grandes desafios” vai ser a falta de mão-de-obra que está a afetar o setor da restauração britânico, sobretudo na capital.

“Para um português ter um restaurante numa cidade como Londres é sempre um orgulho e também uma enorme responsabilidade. Da mesma forma que estou entusiasmado também tenho a consciência de que não tenho um trabalho fácil pela frente”, disse.

Restaurantes e hotéis londrinos têm optado por reduzir o horário de funcionamento ou o número de serviços disponíveis, e estas são possibilidades que Sá Pessoa não exclui.

“Mas, se não quisesse esse desafio, não o tinha aceite”, vincou, mostrando-se confiante de que “clientes não faltam”, como observou numa visita recente a Londres.

O restaurante vai oferecer “pratos despretensiosos mas inovadores” com sabores da Península Ibérica – “60% de cozinha portuguesa, 40% espanhola” -, com destaque para o marisco, carne de porco e arroz.

Os pratos e ingredientes anunciados incluem camarão carabineiro grelhado, bisque cremoso de orzo, bacalhau com tomate e coentros, cebola em pickles ou caviar de azeite.

Henrique Sá Pessoa entende que a cozinha portuguesa já “tem alguma força em termos comerciais e de perceção” em Londres graças ao trabalho de ‘chefs’ como Nuno Mendes e Leandro Carreira, que abriram restaurantes na cidade e publicaram livros em língua inglesa.

O “Joia” é uma segunda colaboração de Sá Pessoa com a rede de hotéis Art’otel, parte do grupo PPHE, após a abertura em 2021 do restaurante “Arca” em Amesterdão, capital dos Países Baixos.

Em ambos trabalha como ‘chef’ consultor, escolhendo e formando a equipa e definindo o menu, mas só estará em cada um dos locais uma semana por cada dois meses, fazendo o resto do acompanhamento à distância.

Para o português, este é um regresso a Londres, onde iniciou a carreira entre 1997 e 1999 num grande hotel antes de seguir para Sidney, onde trabalhou também para a cadeia Sheraton, acabando por se restabelecer em Portugal em 2002.

Henrique Sá Pessoa dirige desde 2015 o “Alma” no Chiado, em Lisboa, que ganhou uma estrela do Guia Michelin no primeiro ano de atividade e em 2018 passou para duas estrelas (três estrelas é a distinção máxima).

No ano passado entrou para 38.º lugar na tabela dos 100 distinguidos na lista dos “The Best Chef Awards”, a maior entrada na classificação.

Além do “Alma”, possui mais três restaurantes em Portugal e outro em Macau, mas este encontra-se encerrado desde fins de 2020 devido ao confinamento imposto para travar a pandemia covid-19.

27 Jul 2022

Portugal vai criar um leitorado na Coreia do Sul para promover o português na Ásia

Portugal vai ter um leitorado na Coreia do Sul, no âmbito da aposta na promoção e divulgação da língua portuguesa na Ásia, que terá ainda mais iniciativas em 2023, anunciou o presidente do Camões.

João Ribeiro de Almeida falava à agência Lusa no final da sessão de abertura do 7.º encontro da Rede de Ensino Português no Estrangeiro (EPE), que decorre em Lisboa, com o tema “Cultura e Cidadania”.

Segundo o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, está prevista a criação de um leitorado na Coreia do Sul, que será “uma antena cultural” que fará “a ponte cultural entre os dois países e, sobretudo, a dinamização, divulgação e promoção da língua e cultura portuguesa num país como a República da Coreia”.

Apesar de atualmente já existirem “protocolos de apoio à docência”, o Camões concluiu que a região da Ásia “estava um pouco desguarnecida” da presença portuguesa na área cultural e até da promoção da língua.

Foi decidido superiormente, a seguir à visita do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, à Coreia do Sul, a criação deste leitorado, que é “um grande investimento português, pois exige investimentos avultados”.

Um leitorado – concretizado na figura de um leitor que é um docente universitário encarregado de ensinar a língua do seu país em universidades de países estrangeiros – “é o máximo” que se pode ter a nível do investimento do Estado português naquele país para “consolidar a presença” portuguesa na área.

Segundo João Ribeiro de Almeida, a Ásia é seguramente uma das prioridades para 2023, ano em que serão conhecidas “novas notícias sobre investimentos na promoção e divulgação da língua portuguesa na região”.

O encontro da rede EPE centra-se nas dimensões e conceitos da cultura portuguesa e da cidadania e reúne coordenadores, adjuntos de coordenação, docentes do EPE e leitores de língua e cultura portuguesas em universidades estrangeiras.

Um dos propósitos do encontro é refletir sobre como integrar e operacionalizar nos programas do EPE, de modo transversal e progressivo, competências nestes domínios, a par das competências linguísticas que os mesmos já encerram, concorrendo para o desenvolvimento de cidadania global e pluricultural.

A rede EPE integra 323 docentes que apoiam o ensino e a aprendizagem da língua e da cultura portuguesas a jovens que frequentam o ensino básico e secundário nos 17 países abrangidos, bem como 51 leitores que exercem funções em universidades em 41 países.

27 Jul 2022

Teatro | Associação Rota das Artes escreve e encena dramaturgia feminina

A Associação Rota das Artes e a encenadora de Macau Cheong Kin I vão orientar cursos de formação a encenadores locais no Verão de 2023. Sob o tema da dramaturgia feminina, serão criadas e encenadas seis peças originais. Enquanto veículo de expressão artística, a escrita teatral será usada para explorar sem tabus as definições de feminilidade

 

“Escrita feminina” é o tema central das próximas sessões de formação em teatro organizadas pela Associação Rota das Artes e a encenadora local Cheong Kin I. Esta será a segunda edição do projecto, que está marcado para o Verão de 2023.

Segundo uma nota de imprensa da Associação Rota das Artes, para esta edição o desafio dirigido a criadores inclui a escrita de seis peças originais, tendo como tema central a dramaturgia feminina. Os artistas de Macau convidados a criar as obras são Chan Sio Fong, Ieong Lai Kei, Lam Lai Sam, Lau Nga Man, Wong Ka Lan e Yo Leong. Os textos serão materializados em leituras encenadas para o público, sob a batuta de Cheong Kin I.

Além da participação de Cheong Kin I, formada em encenação pela Universidade Nacional de Artes de Taipé, Taiwan, o projecto conta ainda com o trabalho de Lin Hsiang Chun, escritora e proprietária da livraria “Júbilo 31 Books”, que analisou, no primeiro ano dos cursos de formação, em 2021, obras ocidentais e japonesas.

Por sua vez, Brena Tai, formada na Universidade Nacional Normal de Taiwan, e Cheng-Han Wu, investigador de teatro da Universidade Nacional de Taiwan, também participam na iniciativa, ao ministrarem cursos sobre literatura feminina. Olivia Chen, encenadora de Taiwan e residente em Macau, vai acompanhar as formandas durante o processo da escrita de peças.

Só chinês

Os cursos de escrita dramatúrgica orientados por Cheong Kin I serão apenas em chinês, sendo que no último ano do projecto, em 2024, serão encenados os dois melhores argumentos. Ao HM, a artista revelou ter como objectivo “explorar diversos formatos de espectáculos que não se limitem às representações teatrais mais convencionais”.
“Procurei, no primeiro ano de formação, integrar e aprofundar as discussões sobre a sexualidade e o género feminino. Mas o objectivo não é apenas abordar a feminilidade como matéria ou tema, mas sim como forma e estrutura, neste caso recorrendo à expressão teatral”, acrescentou.

O tema “escrita feminina” tem como origem as obras de Hélène Cixous, que defendia que as mulheres deveriam escrever sobre elas próprias a fim de fazer face aos sistemas de escrita dominados pelos homens à época, disse a encenadora.

Neste caso, a exploração do tema da feminilidade não se cinge apenas à mulher, mas sim à “tentativa de sair de uma determinada estrutura, um quadro convencional ou ir além de estereótipos”. “É algo que também atinge os homens e pessoas de outros géneros, onde procuramos identificar as vozes ignoradas, esquecidas ou mesmo oprimidas”, adiantou.

27 Jul 2022

Arrancou Feira do Livro de Hong Kong, mas com menos publicações políticas

A feira anual do livro de Hong Kong começou esta quarta-feira, com várias editoras de obras políticas impedidas de participar no evento e outras a admitirem cautela no tipo de publicações divulgadas.

O principal organizador da feira, o Hong Kong Trade Development Council, disse que não fez uma avaliação prévia das obras à venda. Contudo, o organismo admitiu que, após o reforço do controlo da liberdade de expressão e a detenção de ativistas pró-democracia, na sequência da aprovação de uma dura lei de segurança nacional, em 2020, os participantes devem cumprir a lei.

A editora independente Hillway Culture, que publica livros sobre Hong Kong e eventos políticos, estava na lista das entidades proibidas de participarem no evento. O mesmo aconteceu à One of a Kind, com obra publicada sobre os protestos antigovernamentais de 2019.

Kaying Wong, curador convidado da The House of Hong Kong Literature, a maior organização literária da cidade, referiu que as editoras estão a passar por um período difícil, devido ao impacto da pandemia e às preocupações com a censura.

“Não é certamente um trabalho fácil montarmos um expositor na feira do livro e sermos selecionados” para expor, disse.

Em 2020, devido à pandemia, a região administrativa chinesa adiou por várias vezes, o evento, que acabou por ser cancelado. A feira voltou a abrir portas em junho de 2021. A edição deste ano decorre até terça-feira, 26 de julho.

Citado pela agência Associated Press, o romancista Gabriel Tsang, que trabalha com a editora Spicy Fish Cultural Production Limited, realçou que, na conjuntura atual, os autores devem considerar se podem ou não ser publicados. Os escritores “podem recorrer a alguma alegoria ou fazer uso de habilidades retóricas, em vez de expressarem diretamente o que querem dizer”, explicou.

No ano passado, foram apresentadas queixas contra a Hillway Culture, uma das editoras que não foi autorizada a participar este ano, por disponibilizar obras politicamente sensíveis e passíveis de violarem os termos da polémica lei de segurança nacional.

As autoridades deveriam ser mais claras e transparentes sobre o tipo de atividades permitidas, disse, por sua vez, Hui Ching, diretor do ‘think tank’ sobre política Hong Kong Zhi Ming Institute. “Se não houver transparência, é razoável que o cidadão suspeite que os seus direitos estão a ser privados”, notou Hui.

21 Jul 2022

Cinema | “Pê” é a primeira curta-metragem de Margarida Vila-Nova

O festival de Curtas Vila do Conde foi o palco de estreia da primeira curta-metragem realizada por Margarida Vila-Nova, intitulada “Pê”. A experiência na realização foi o resultado da convicção e desejo de filmar e estar do outro lado da câmara

 

Margarida Vila-Nova acaba de se estrear na realização com “Pê”, a primeira curta-metragem, que estreou na última sexta-feira no festival internacional Curta Vila do Conde. A sinopse que apresenta o filme de 20 minutos levanta o véu sobre a história de “um homem com um cancro terminal”, o titular Pê, interpretado por Adriano Luz, à medida que deambula por Lisboa e se confronta “com uma realidade quotidiana alheia ao seu sofrimento, enquanto prepara a sua morte próxima”.

Um dos passos preparatórios é deixar uma “carta de despedida à filha”, que, “ao esvaziar a casa do pai”, encontra a missiva. “É o início de um novo encontro”, pode ler-se na sinopse. “Desde o primeiro minuto, sabia que o queria filmar. Não como queria filmar. Foram imagens que foram surgindo ao longo de dois anos, que fui pensando sobre o filme e a abordagem que queria. Parto de uma carta para construir o filme, a carta é sempre a estrela guia”, explica Margarida Vila-Nova, em entrevista à agência Lusa.

“Pê” estreou-se exactamente três anos depois da morte do pai, uma figura influente do cinema documental português – o produtor Pedro Martins -, e três anos depois de abrir a carta que desencadeou o processo (Pedro Martins foi o fundador da SF Filmes e da SP Televisão, e um dos fundadores da European Documentary Network e da Associação pelo Documentário – Apordoc).

Esse “processo muito particular e pessoal”, em torno do luto e da partilha da carta, levou-a a Edgar Medina, que assina o argumento com a actriz, e à Arquipélago Filmes, que assumiu a produção, conseguida com financiamento do programa Garantir Cultura.

“O que interessava trabalhar no filme é alguém que prepara a sua partida, num gesto de altruísmo, amor, e que prepara a sua própria morte. Há um lado de dignidade, elegância, de um acto maior. Eventualmente, é coisa de herói, não é dos mortais. Isto também me trouxe para um lugar de cinema, de imagem, transportou-me para um universo mágico, que interessou depois abordar e filmar”, resume.

Carta ao pai

A estreia na realização explora o próprio humor dessa produção da personagem, seja “a igreja ou um cocktail para 200 pessoas com vinho branco e croquetes”, e a figura do pai, “a relação de um pai com uma filha”. A filha interpreta, mas não sente que tenha representado, antes dado um veículo para não tornar ausente um dos interlocutores, mesmo que o filme “não seja uma resposta literal” à missiva.

“Há coisas que não dizemos ou fazemos em vida, mas resolvemo-las mais tarde. E acho que o cinema, a arte, é uma forma de materializar ou perpetuar a memória de um amor, de uma relação, de uma ideia, de um pensamento, e sobretudo este tema do luto, que me começou a inquietar muito nos últimos anos. (…) Como é que o luto nos transforma. Ainda por cima nestes últimos dois anos, de contexto pandémico”, reflecte.

Depois das deambulações do pai, “há um tempo paralelo, quando a filha vai encontrando as memórias”, que adensam a relação, mas também permitem reflectir sobre as memórias, sobre o quanto se conhece alguém, e fugir de uma “caricatura” da figura real que inspira “Pê”.

“Em última análise é um homem, é um pai. Fundamental era encontrar o tempo deste personagem, o pensamento dele, o olhar de inquietação, o humor, a calma… Para mim, enquanto filha, ao longo deste processo em que fui encontrando todos os escritos que tinham sido deixados, os álbuns de fotografia, as memórias, aproximei-me. Hoje, depois de filmar este filme, conheço melhor o meu pai do que conhecia há três anos”, explica.

A estreia enquanto realizadora trouxe-lhe uma “aprendizagem riquíssima”, desde logo para o trabalho como actriz, e uma noção diferente do trabalho em equipa que implicam as funções, bem como a assertividade e a possibilidade de passar a tomar decisões.

Sem ideia, para já, de carreira futura para a obra depois do Curtas, nem de uma próxima ideia a explorar nestas funções, encontrou um nervosismo diferente para esta estreia, até por estar “um bocado desconfiada”.

“Começo a olhar para os nomes [na programação] e penso: ‘O que é que eu estou a fazer aqui no meio deles?’. Com toda a felicidade, orgulho, e toda a gratidão por estar aqui no festival, poder mostrar aqui o filme. É o festival mais certo para o acolher. (…) Depois acordem-me quando acabar. Sinto que estou num papel que não é o meu, um bocadinho. Mas hei-de resolver esta questão comigo”.

Nascida em Lisboa, em 1983, Margarida Vila-Nova tem feito trabalho como actriz entre o cinema, a televisão e o teatro, com séries como “Sul” e “Causa Própria”, no passado recente. No cinema, tem no currículo vários filmes de João Botelho (“Livro do Desassossego”, “A Corte do Norte”) e Ivo Ferreira, como “Cartas da Guerra”, de 2016, e “Hotel Império”, de 2019.

Adriano Luz conduz “Pê”, num elenco que conta, além de Vila-Nova, com Cleia Almeida, Inês Castel-Branco, Luísa Cruz, António Fonseca e Pedro Lacerda.

18 Jul 2022

USJ | Conferência sobre media digitais acontece em Novembro



A Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José acolhe, nos dias 24 e 25 de Novembro, a ARTeFACTo 2022 Macao, uma conferência focada para a área dos media digitais e criatividade ligada ao mundo informático. A instituição privada de ensino superior já está a aceitar propostas de académicos, investigadores e criativos das áreas da cultura, arte ou educação

 

Chama-se ARTeFACTo 2022 Macao e é a próxima conferência organizada pela Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José (USJ). Agendada para os dias 24 e 25 de Novembro, a conferência pretende dar visibilidade a uma série de investigações e projectos na área dos media digitais e na criação de artefactos tecnológicos. Segundo uma nota de imprensa, projectos nas áreas da cultura, arte ou educação, entre outras, bem como iniciativas artísticas, podem ser submetidas para apreciação, a fim de virem a integrar o programa da conferência.

O principal objectivo desta palestra é revelar outras realidades emergentes no mundo digital, bem como “promover o interesse na actual cultura dos media digitais e na sua intersecção com a arte, comunicação e tecnologia como áreas de investigação”. Pretende-se mostrar trabalhos que se foquem na conceptualização, design, processos de prática e investigação ou virados para a criatividade e para o mundo artístico. A ideia é depois mostrar a ligação que existe entre essas vertentes com uma sociedade de informação e de comunicação.

Espaço comum

Realizada com um modelo híbrido (presencial e online), a ARTeFACTo 2022 Macao pretende dar visibilidade aos que criam artefactos digitais e aos académicos desta área, a fim de estabelecer “um espaço comum para a discussão e troca de novas experiências”, ao mesmo tempo que se promove “uma melhor compreensão sobre as artes digitais e a cultura num espectro abrangente em termos de práticas culturais, profissionais e disciplinares”.

A ARTeFACTo vai contar com um painel artístico e científico, de nível internacional, com oradores e especialistas das mais variadas disciplinas. A ideia é que, com a ARTeFACTo, se possa dar a conhecer trabalhos de investigação, instalações, vídeos ou posters de trabalhos e investigações em curso.

8 Jul 2022

CCCM | Mais de 160 instrumentos musicais chineses expostos em Mafra 

Um total de 167 instrumentos musicais chineses, incluindo os que representam algumas etnias chinesas, vão estar expostos a partir de hoje na nova galeria do Real Edifício de Mafra, em Portugal. Énio Souza, musicólogo e um dos poucos especialistas em instrumentos musicais chineses em Portugal, fala da maior exposição de sempre do género realizada no país

 

A Câmara Municipal de Mafra, o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e a Fundação Jorge Álvares inauguram hoje a “Exposição de Instrumentos Musicais Chineses” na nova galeria do Real Edifício de Mafra, por ocasião do terceiro aniversário da inscrição deste conjunto na Lista do Património Mundial da UNESCO.

O público poderá ver um total de 167 instrumentos musicais chineses, desde os mais clássicos aos mais representativos de algumas etnias que existem na China. A mostra, patente até ao dia 30 de Abril do próximo ano, nasce do acervo museológico do CCCM, em Lisboa, e contém peças originais utilizadas pela Orquestra Chinesa de Macau nas suas diversas actuações na Europa ao longo das décadas de 80 e 90 do século XX. Entre os instrumentos expostos incluem-se aerofones, cordofones friccionados, dedilhados e percutidos, bem como instrumentos de percussão em metal, em madeira e em pele.

Énio de Souza, um dos poucos especialistas em instrumentos musicais chineses em Portugal, ligado ao Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa, fala ao HM daquela que é, provavelmente, a maior exposição de sempre do género realizada no país.

“Acredito que seja a maior exposição de instrumentos musicais chineses alguma vez ocorrida em Portugal, com 167 instrumentos expostos. O acervo do CCCM tem, neste momento, uma das maiores colecções de instrumentos musicais chineses em Portugal, com um total de 215 tipos de instrumentos.”

Doação dos Países Baixos

Quando foi inaugurado, em 1999, o CCCM contava já com um acervo de 42 instrumentos musicais chineses. Mas em 2020 houve uma doação, da parte da European Foundation for Chinese Music Research, nos Países Baixos, de 187 instrumentos musicais chineses ao CCCM, bem como marionetas de sombra e de manipulação.

“A doação da Holanda resulta de uma colecção feita por etnomusicólogos na China. Grande parte dos instrumentos datam da segunda metade do século XX, alguns tipos são anteriores, do início do século”, contou Énio Souza. De frisar que o transporte e seguros dos instrumentos foram suportados pela Fundação Jorge Álvares.
Énio Souza começou a colaborar com o CCCM na divulgação dos instrumentos musicais chineses em 2002, ano em que foi criado um atelier para escolas e para o público em geral. Em 2019, reformou-se, mas a ligação a este mundo mantém-se.

Em Portugal, o musicólogo assegura que são raros os que se dedicam ao estudo deste tipo de instrumentos. “O estudo da música chinesa em termos académicos, quer no âmbito da musicologia, quer da etnomusicologia, é muito recente em Portugal. Não temos mais especialistas nessa área em Portugal, à excepção do esforço que tenho feito, desde 2012, para a divulgação dos instrumentos musicais chineses. Temos o Museu do Oriente com uma exposição sobre Ópera chinesa e há outras mostras que têm sido feitas, mas a nível académico o estudo é mesmo recente”, declarou.

7 Jul 2022

Música | “A última dança em Goa”, de Joaquim Correia, editado em inglês 

Lançado em 2018, “A última dança em Goa – Música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa” traça o retrato da cultura da antiga colónia até 1961, ano em que Goa, Damão e Diu deixaram de estar sob administração portuguesa. O livro, editado recentemente em inglês, na Índia, traça um paralelismo entre o teatro tradicional de Goa e o teatro de Macau, em patuá

 

“Once Upon a Time in Goa: Music and Dance in a Charming Region and its Diaspora” é o nome da versão em inglês, recentemente editada na Índia, do livro que Joaquim Correia lançou em 2018 sobre a cultura de influência portuguesa que existiu em Goa, antiga colónia portuguesa, até 1961, e que se intitula “A última dança em Goa – Música popular nos últimos anos do Estado da Índia Portuguesa”.

Joaquim Correia, advogado, professor e autor, traça aqui um “retrato de Goa antes da transição de poder para a Índia”, sobretudo em matéria de música de influência portuguesa. Não são esquecidos os goeses que, em Portugal, contribuem para a preservação desta cultura.

“Em Goa havia uma profusão de anúncios de música de influência portuguesa por todo o lado. Fiquei espantado com isso e resolvi escrever sobre a música de influência portuguesa em Goa até 1961. O livro em português foi editado em 2018, mas depois gerou muito interesse da parte de pessoas em Goa no sentido de editar uma versão em inglês, que saiu há cerca de dois meses.  Não se trata de uma segunda edição do livro porque fiz muitas mudanças, embora haja um paralelismo”, contou Joaquim Correia ao HM.

O leitor encontra, logo no primeiro capítulo, a descrição das várias bandas musicais que existiam na altura, bem como a história do aparecimento do rock em Goa. Surgem depois novos elementos sobre a cultura na diáspora, sem esquecer a influência do fado em Goa.

No prefácio, Edgar Valles, antigo presidente da Casa de Goa em Lisboa, destaca que a música sempre esteve muito presente na comunidade, fazendo parte “do dia-a-dia dos goeses”. “Se é verdade que a música tradicional indiana é apelativa a muitas famílias, especialmente para a comunidade Hindu, existe uma forte influência ocidental, especialmente da língua inglesa. O inglês é a língua falada em Goa, por isso a disseminação da música é algo natural. Mas persiste a influência portuguesa”, pode ler-se.

Semelhanças com patuá

“Once Upon a Time in Goa: Music and Dance in a Charming Region and its Diaspora” descreve ainda a semelhança que existe entre o teatro tradicional em Goa, conhecido pelos termos “Teatr” ou “Tiatr” e feito no dialecto Konkani, com o teatro feito em patuá, actualmente preservado graças ao grupo Dóci Papiaçam di Macau.

“Existem ligações porque ambos os teatros têm ligação à revista portuguesa, ambos são teatro de crítica social, têm uma linguagem crioula com influência portuguesa. O que é curioso é que esse teatro está, de novo, a ter muitos espectáculos”, disse Joaquim Correia.

Na obra, é descrito que “há muitas semelhanças com o teatro macaense em patuá”, que constitui “uma ligação emocional entre a comunidade macaense espalhada pelo mundo e Macau”.
Nalini Elvino de Souza, uma das colaboradoras do livro, actualmente a fazer um doutoramento na área da cultura goesa na Universidade de Aveiro, descreve que há cerca de dez palavras em Konkani que são muito semelhantes ao português e que apresentam também alguma semelhança ao patuá, tal como mez (mesa) ou vistid (vestido).

De frisar que Nalini Elvino de Souza faz, para este livro, um levantamento de todos os discos de 75 rotações de música tradicional goesa editados desde a década de 20 até 1961.

5 Jul 2022

Artes | Residente de Macau colabora em projectos na Polónia e Alemanha

Cheong Kin Man, residente de Macau e antropólogo visual há muito radicado em Berlim, colaborou com a artista Marta Stanisława Sala para a concepção da mostra “O Salgueiro da Ester”, que termina no final deste mês em Cracóvia. Cheong e Marta voltam a juntar-se para uma colaboração para o Begehungen Art Festival, na Alemanha

 

“O Salgueiro da Ester” é o nome da exposição patente em Cracóvia, na Polónia, na qual colabora Cheong Kin Man, residente de Macau radicado há muitos anos em Berlim e antropólogo visual. Para esta mostra, Cheong Kin Man colabora com a artista polaca Marta Stanisława Sala numa exposição que aborda a história de um salgueiro chorão, plantado no sítio de uma antiga sinagoga, que foi demolida durante o tempo da ditadura na Polónia, em 1973. O antigo salgueiro chorão foi cortado em 2018. A inauguração da mostra, juntamente com a plantação da nova árvore, plantada em Chrzanów, foi inaugurada este domingo.

Este projecto, que integra o festival de cultura judaica polaco FestivALT, conta ainda com a colaboração de Katarzyna Sala, irmã da artista, e Robert Yerachmiel Sniderman, artista e poeta americano de origem polaca judia.

Através de obras em tecido de Marta Stanisława Sala, poemas de Robert Yerachmiel Sniderman e a exibição de um filme experimental, entre outros trabalhos artísticos, pretende-se espelhar a luta contra o anti-semitismo. Cheong Kin Man colaborou na parte da fotografia e imagens, sendo o responsável por toda a representação visual e artística da parte da documentação histórica da exposição. “Recriei cerca de noventa imagens históricas e fiz uma série de fotografias das notas e dos poemas de Robert Yerachmiel Sniderman”, contou o artista.

Uma ligação

Cheong Kin Man permanece artisticamente ligado à artista polaca numa residência artística inserida no Begehungen Art Festival, que decorre na Alemanha, mais concretamente no estado da Saxónia.

“Inspirado pela tradição cantonense de homenagear os antepassados, vamos criar juntamente uma série de ‘dinheiro dos mortos’ com motivos inspirados pela história da antiga República Democrática Alemã”, adiantou Cheong Kin Man. Este projecto será depois apresentado no festival, em Agosto.

4 Jul 2022

Literatura | “Olhar a China pelos livros” apresentado em Lisboa 

Jorge Tavares da Silva, académico e especialista em assuntos chineses, coordena a obra “Olhar a China pelos livros”, lançada recentemente no Centro Científico e Cultural de Macau. O livro contém textos de 18 autores que olham para a China a partir de livros escolhidos por si, disponibilizando ao leitor várias visões do país

 

“Olhar a China pelos livros” é o nome da mais recente obra coordenada por Jorge Tavares da Silva, professor universitário na área das relações internacionais e especialista em assuntos chineses que, desta vez, foi além do mundo académico para apresentar uma obra que traça a visão de 18 autores sobre a China.

Autores como Ana Cristina Alves, ex-docente na Universidade de Macau e coordenadora do serviço educativo do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), Francisco José Leandro, académico da Universidade Cidade de Macau, António Graça de Abreu, autor e tradutor, e Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, entre outros, foram convidados a olhar para a China com base numa obra por si escolhida.

O livro, lançado recentemente no CCCM, em Lisboa, apresenta, por isso, várias “formas de olhar para a China”, contou Jorge Tavares da Silva ao HM. “Tudo isto partiu da minha curiosidade, pois a China pode ser vista de muitas maneiras, e até algumas erradas.”

Livros como “Riding the Iron Rooster”, de Paul Theroux, sobre viagens de comboio na China, ou “Terra Bendita”, de Pearl S. Buck, dão o mote a muitos dos textos desta obra.

“Dei a liberdade total na escolha das obras. Alguns livros são chineses, não estão sequer traduzidos para inglês ou português. Desta forma, o livro tem essa vantagem de dar a conhecer obras desconhecidas no ocidente”, contou Jorge Tavares da Silva.

Das viagens à literatura

“Olhar a China pelos livros” traz diversos temas, e não falta sequer a gastronomia macaense. “Há obras que foram no sentido das viagens, enquanto que outros autores olharam para a China através da poesia clássica. Há quem tenha ido aos autores tradicionais, às grandes obras da filosofia chinesa.”

“Terra Bendita”, de Pearl S. Buck, foi a escolha de Jorge Tavares da Silva, apresentando uma visão do mundo rural chinês que já não existe. “ A Pearl S. Buck foi a autora que me levou para a China. Estava habituado a um mundo eurocêntrico, muito centrado no indivíduo, mas deparei-me com lógicas colectivas e formas de estar na sociedade completamente distintas. Foi esse contraste que me atraiu, o pensar que há um mundo além do europeu, com uma civilização que tem um mundo antagónico”, recordou o coordenador da obra.

Acima de tudo, Jorge Tavares da Silva espera atrair um público vasto, incluindo estudantes chineses de português, para que possam compreender mais sobre o seu próprio país. “Esta é uma obra para o público em geral, não é académica, e tem uma leitura muito descontraída. Esta obra vai ter algum impacto no sentido de leitura e interesse”, rematou.

3 Jul 2022

Poesia | Deusa D’África lança “Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue”

Deusa D’África, escritora moçambicana que foi uma das convidadas do festival literário Rota das Letras, acaba de lançar um novo livro, com a chancela da Alcance Editores. “Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue” é hoje lançado na cidade de Xai-Xai

 

“Sinopse de cães à estrada e poetas à morgue” é o título do quarto livro de poesia de Deusa
D´África, escritora moçambicana que já se embrenhou nas linhas do romance. O livro será lançado hoje na cidade de Xai Xai, em Moçambique, numa parceria entre a Alcance Editores e a Associação Cultural Xitende, de que Deusa D´África é coordenadora geral.

Este é um livro onde a poesia apresenta “uma influência da oralidade na constituição da linguagem poética e a recorrência da pertença local”, sendo este “um importantíssimo elemento de subversão canónica, fundamental para a inovação da literatura moçambicana, contestação e denúncia”, aponta a sinopse do livro.

Nascida em 1988, Deusa D´África tem, apesar da paixão pela escrita, formação na área dos números, possuindo um mestrado em contabilidade e auditoria. Além disso, é ainda professora na Universidade Pedagógica e na Universidade Politécnica. É também gestora financeira do projecto Global Fund – Malária.

Inspirada pela poesia de Noémia de Sousa, Deusa D´África começou a escrever poesia em 1999, sendo autora de diversas obras. Títulos como “A Voz das Minhas Entranhas” e “O Limpopo das Nossas Vidas” venceram o Concurso Literário Internacional Alpas do Brasil.

Muitos dos seus poemas encontram-se publicados no Jornal Notícias, O País, Pirâmide, Diário de Moçambique e Xitende. Deusa D’África viu alguns dos seus trabalhos editados no Brasil e outros traduzidos para sueco.

Um “golpe de azagaia”

A sinopse desta obra dá ainda conta de que “os versos Deusa d’Africa desautomatizam a linguagem e causam estranhamento”, sendo que a poetisa “vê uma função dialéctica com o poder de inaugurar [mas também] de destruir”.

“A sua actividade poética é revolucionária por natureza, exercício espiritual, um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Ciente deste poder regenerador da poesia, a lírica de Deusa d’África vaticina.

Outros teóricos, como Ezra Pound, prescrevem a necessidade do tratamento directo do tema como factor intrínseco ao bom poema. Também assim pode ser a lírica de Deusa, que relata casos como o ciclone Idai, em 2019”, lê-se no mesmo texto, assinado por Vanessa Riambau Pinheiro.

Os poemas da autora são tidos como um “golpe de azagaia”, enquanto que a escrita “desassossega, perturba, rouba a paz, tira-nos da letargia”.

“Cães à estrada e poetas à morgue” é dividida em três partes (Cães de papel/Cães à estrada e Poetas à morgue/ Respeito nas bancas do mercado grossista) e, ao longo de mais de cem poemas, “entretece uma poética-manifesto”.

Os versos expõem “males sociais, como a criminalidade, repressão, violência e miséria”, onde Deusa D´África aponta “as mazelas como problemas sociais de seu país, mas também rasura consonâncias metaforizadas entre a casa física e a entidade abstracta”.

1 Jul 2022

Museu do Palácio de Hong Kong | Um novo marco cultural

O Museu do Palácio de Hong Kong (HKPM), cuja abertura ao público está prevista para o dia 2 de Julho, torna-se um novo marco cultural da cidade. Mais de 40.000 bilhetes foram vendidos ou reservados no prazo de oito horas no primeiro dia da venda pública

 

O Hong Kong Palace Museum (HKPM), localizado no Distrito Cultural de Kowloon Ocidental da Região Administrativa Especial de Hong Kong, foi inaugurado a 22 de Junho e a sua abertura ao público está prevista para 2 de Julho. Mais de 40.000 bilhetes foram vendidos ou reservados no prazo de oito horas no primeiro dia da venda pública, e todas as visitas gratuitas às quartas-feiras de Julho foram totalmente reservadas.

O HKPM, um novo marco cultural de Hong Kong, não só contribui para a atmosfera cultural da cidade, como também proporciona um novo local para residentes e visitantes locais aprenderem sobre o desenvolvimento da civilização e cultura chinesas. “Este é um grande presente da pátria para Hong Kong”, disse Louis Ng, director do HKPM.

Mais de 900 peças de tesouros da colecção do Museu do Palácio, em Pequim, serão expostas nas exposições de abertura. Desde pinturas e artigos em bronze a bordados e arquitecturas antigas, as exposições abrangem os 5.000 anos de história da civilização chinesa, abrangendo todas as categorias da colecção do Museu do Palácio, incluindo 166 peças de relíquias culturais de primeira classe do país.

Esta será a maior e mais elevada exposição de património cultural do Museu do Palácio fora do continente, desde a sua criação em 1925.

Os trabalhos preparatórios para as exposições começaram em 2018, com o Museu do Palácio a contar com uma equipa de peritos e académicos de renome, em colaboração com a equipa curatorial do HKPM.

“É óptimo exibir as peças de relíquias culturais de Hong Kong, o que reflecte o apoio do governo central ao desenvolvimento dos empreendimentos culturais de Hong Kong”, disse Ng, acrescentando que as exposições do Museu do Palácio irão apresentar uma festa cultural aos residentes de Hong Kong, contando-lhes a longa história e a esplêndida cultura da pátria.

O HKPM encarna a excelência da cultura tradicional chinesa, como se pode ver pela concepção e construção do edifício. O edifício do museu é largo na parte superior e estreito na parte inferior. As paredes exteriores são embutidas com 3.999 peças de azulejos curvos vidrados.

O museu adopta o conceito distinto de “Eixo Central”, e são também apresentados elementos culturais tradicionais chineses, tais como portas vermelhas decoradas com caracóis dourados.

“A promoção da cultura tradicional chinesa é uma das nossas tarefas importantes”, disse Betty Fung, directora executiva da West Kowloon Cultural District Authority, acrescentando que é também a aspiração e missão original do estabelecimento do HKPM.

Ela disse que o HKPM irá avançar activamente com a publicidade da cultura e história da pátria após a sua abertura, reforçando a confiança cultural dos residentes de Hong Kong no país, especialmente entre os jovens.

“Quando era criança, desejava realmente poder visitar os magníficos palácios de Pequim”, disse Muk Ka-chun, professor da Escola Pui Kiu em Hong Kong, acrescentando que esperava apreciar as relíquias culturais do Museu do Palácio de Pequim. Ele acredita que uma visita ao HKPM permitirá aos jovens de Hong Kong aprender mais sobre a história honrada pelo tempo e a rica civilização da pátria, cultivar a sua identidade cultural e confiança, e lançar as bases para que se tornem disseminadores, herdeiros e promotores da cultura tradicional chinesa. “Espero poder trazer os meus alunos para o museu assim que este abrir”, disse Muk.

Treze peças de artefactos do Museu do Louvre em Paris, França, serão também exibidas no HKPM depois da sua abertura. Ng acredita que isto reflecte a lógica por detrás da criação do HKPM, que é não só herdar e promover a cultura tradicional chinesa, mas também promover o intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente.

Fung disse que o HKPM irá reforçar activamente a cooperação com museus internacionais, contando ao mundo as histórias da China, incluindo as histórias de Hong Kong.

29 Jun 2022

Projeto FILMar ajuda a perceber relação dos portugueses com mar

O projecto da Cinemateca de digitalização do cinema português ligado à temática do mar já permitiu “conhecer a fundo os arquivos” e perceber que os oceanos foram “uma matéria profundamente manipulada”, disse à Lusa o coordenador, Tiago Bartolomeu Costa.

Numa altura em que Lisboa se prepara para acolher a Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas, a Cinemateca Portuguesa tem em curso um programa, com financiamento europeu, de digitalização de pelo menos 10.000 minutos de filmes do cinema português, relacionados com a temática do mar e abrangendo mais de um século de produção cinematográfica.

Num balanço do trabalho já feito, desde 2020, a Cinemateca já digitalizou 55 curtas-metragens e sete longas-metragens, totalizando 1.440 minutos.

O projecto de digitalização, financiado com cerca de 880 mil euros, através do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants), prevê retrospectivas no final do programa, mas a Cinemateca está já a programar sessões com alguns dos filmes digitalizados, cumprindo um dos objectivos: Devolver o cinema português aos espectadores.

Com o trabalho já feito, a Cinemateca provou que “era possível traçar na história da produção de cinema em Portugal uma linha contínua, transversal a todos os géneros, que é o mar”, afirmou Tiago Bartolomeu Costa.
Foram já digitalizados documentários, filmes de promoção turística, filmes informativos sobre práticas culturais e sociais relacionadas com o mar, obras propagandísticas do Estado Novo e algumas obras de ficção, de vários géneros.

“Conseguimos encontrar títulos que vão permitir resgatar, ou do desconhecimento ou da sombra, determinadas filmografias ou reconhecer o papel que tiveram na construção do cinema contemporâneo”, sublinhou o coordenador.

Mais do que fazer uma simples digitalização e disponibilização ao público, a Cinemateca quer propor novas leituras do cinema português em estreita colaboração com festivais, cineclubes, museus ou no âmbito do Plano Nacional do Cinema e do Plano Nacional das Artes.

“Existem muitos filmes carregados de ideologia. Não basta digitalizar os filmes, é preciso encontrar formas de apresentação desses filmes, encontrar contextos adequados para que sejam relidos à luz daquilo que hoje sabemos”, explicou.

Do misticismo

Neste trabalho do FILMar foi possível, por exemplo, digitalizar o filme “Gente da Praia da Vieira” (1975), de António Campos, cujo centenário do nascimento será assinalado este ano pelo festival Curtas de Vila do Conde, ou a curta “Albufeira” (1968), de António de Macedo, que abriu o festival IndieLisboa.

Sobre o que já foi digitalizado, Tiago Bartolomeu Costa disse que já é possível tirar algumas conclusões e falar de “um lado mítico” da relação dos portugueses com o mar.

“Há sobretudo uma consciência muito grande de que o mar foi uma matéria profundamente manipulada e quem manipulava era consciente de que o mar lhe escapava permanentemente. Razão pela qual existem muitas sequências em que se acha que se está a filmar o mar, mas se está a falar de perda, de revelação, de desistência, de redescoberta”, disse.

O trabalho de restauro e digitalização está a decorrer nos laboratórios do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), pertencente à Cinemateca, e que funciona numa quinta perto de Lisboa.

Linhas de montagem

Numa visita ao ANIM foi possível ver que os técnicos trabalham numa espécie de linha de montagem dos laboratórios, em diferentes salas, seguindo-se um percurso de tratamento, limpeza e restauro da película, tanto na imagem como no som.

O objectivo da digitalização não é retirar todas as imperfeições e desgastes da passagem do tempo. É corrigir e tratar uma obra para que seja exibida o mais aproximado possível das condições em que foi mostrada originalmente, explicou Tiago Bartolomeu Costa.

Numa sala, um dos técnicos está a corrigir a cor do filme “Sentinelas do mar” (1959), de Armando de Miranda, sobre exercícios militares da marinha, noutra sala trabalha-se o som do filme “Henrique, o Navegador” (1960), de João Mendes, de propaganda ideológica do Estado Novo.

No ANIM, onde estão preservados milhares de bobines e quilómetros de película, em cofres climatizados, foi criada também uma pequena sala de cinema, para simular uma exibição em sala dos filmes já restaurados.
Findo o programa FILMar, em 2024, Tiago Bartolomeu Costa diz que a Cinemateca entrará “num novo ciclo de vida”.

“O programa FILMar serviu para experimentar formas de programação e de contextualização que, quando o projecto foi idealizado, não estavam previstas e que a pandemia ajudou a revelar; e que o potencial e a grandeza destes ajudou a descobrir”, disse.

28 Jun 2022

Cinema | Seis realizadores de Macau mostram as belezas naturais de Zhuhai

Seis jovens cineastas da Universidade Cidade de Macau vão participar no Hong Kong, Macao & Taiwan Youth Image Program 2022, um evento organizado em colaboração com a Beijing Normal University de Zhuhai e a universidade local. O desafio lançado aos jovens criadores é retratar em filme as histórias dos moradores da Ilha de Wailingding, em Zhuhai

 

A Ilha de Wailingding, no arquipélago vizinho de Wanshan em Zhuhai, é a musa de um evento cinematográfico que pretende juntar trabalhos de jovens realizadores de Macau, Hong Kong e Taiwan. De acordo com informação veiculada pelo Governo da cidade de Zhuhai, seis jovens realizadores da Universidade da Cidade de Macau irão cooperar com oito produtores de filmes da Beijing Normal University em Zhuhai (BNU Zhuhai) na edição deste ano do Hong Kong, Macao & Taiwan Youth Image Program.

As autoridades da cidade vizinha acrescentam que o objectivo é a produção de curtas-metragens documentais, com cerca de 10 minutos de duração, que captem e demonstrem a beleza das paisagens rurais da Ilha Wailingding, distinguida a nível nacional como um local de extrema beleza e interesse cultural.

O evento conta com a organização conjunta do Centro de Investigação de Comunicação de Imagem da Cultura Chinesa do BNU e pela Faculdade de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade da Cidade de Macau.

No programa de recolha de curtas-metragens deste ano, os participantes foram desafiados a apresentar histórias emocionantes sobre os residentes da ilha, como o carteiro, o médico e professores da aldeia e os papéis que desempenharam no desenvolvimento da Ilha de Wailingding.

O programa, que é um dos principais focos do centro de investigação, foi iniciado em 2019. Ao longo da sua curta vida, as entidades organizadoras do evento convidaram mais de meia centena de jovens realizadores de Macau, Hong Kong e Taiwan para retratarem em formato de curta documental aspectos da cultura chinesa. Os filmes foram disponibilizados nas várias plataformas online através dos canais oficiais das universidades de Macau, Hong Kong, Taiwan e Guangdong.

Numa curta declaração citada pelo portal noticioso do Governo de Zhuhai, Li Huaizhi, director executivo do centro de investigação, manifestou a esperança de que os realizadores de Macau possam contar histórias únicas sobre a ilha de Wailingding, para que os jovens de Macau possam ter uma melhor compreensão da vida rural.

Inspiração insular

Mas afinal, o que tem de especial a Ilha de Wailingding? Situada a 10 quilómetros a sul da ilha de Cheung Chau (Hong Kong), Wailingding é um sítio pitoresco com uma aldeia piscatória como ponto nevrálgico no sopé da pequena montanha que ocupa o centro da ilha. Com apenas 4 quilómetros quadrados de área, não faltam paisagens e riqueza natural para atrair turistas.

Quase à semelhança de Cheung Chau, quem sai do ferry em Wailingding tem uma rua costeira repleta de restaurantes onde o marisco e o peixe são reis, em particular uma iguaria muito apreciada por portugueses: percebes.

Com uma vida vagarosa, longe da confusão urbana, Wailingding tem uma pequena praia, uma avenida com um “local cénico para amantes” e as suas contas em redes sociais, um parque com gravuras em rochas, o Sino Madrugador do Monte do Imperador do Norte, o Pico Lingding e as baías de Tawan e Dadong.
Wailingding é uma das 10 maiores ilhas de Zhuhai, que tem mais de uma centena de ilhas.

28 Jun 2022

24 de Junho | Invasão dos holandeses em 1622 lembrada em Lisboa 

Mariana Pereira, antropóloga, e Rui Loureiro, historiador, foram os protagonistas de uma conferência, organizada pelo Centro Científico e Cultural de Macau, que lembrou os 400 anos do 24 de Junho de 1622, quando os holandeses tentaram invadir o território de Macau. A data continua viva na memória dos macaenses que lhe deram uma nova roupagem, assegura a antropóloga

 

“24 de Junho de 1622: História e Memória” é o nome da conferência que decorreu na última sexta-feira, em Lisboa, com o intuito de lembrar os 400 anos da invasão dos holandeses no território sob administração portuguesa. O evento, organizado pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), contou com a presença do historiador Rui Loureiro e a antropóloga Mariana Pereira, que está a fazer um doutoramento sobre as percepções da comunidade macaense residente em Portugal face a esta data histórica. De frisar que, no período da Administração portuguesa, 24 de Junho era um dia feriado.

Mariana Pereira começou a desenvolver o trabalho de investigação em 2019, partindo não só de conversas com membros da comunidade. Uma coisa é certa: a data está longe de estar esquecida ou ignorada. “Nós é que decidimos o que queremos que o 24 de Junho seja”, apontou.

“É difícil dizer se há ou não uma ameaça à celebração [desta data], porque tem havido uma nova história sobre o 24 de Junho, com novos públicos e contextos. O 24 de Junho tem hoje um formato mais aberto e plural. A sociedade civil está a criar um novo rumo, com base em elementos da tradição histórica. A diáspora macaense também faz isso nos locais onde vive”, apontou.

Mariana Pereira acredita que esta data vai continuar a ser celebrada. “O cerne de estar ligado a um acontecimento histórico de Macau está lá e vai continuar nos próximos tempos”, disse.

Da guerrilha

Entre 1580 e 1640 Portugal ficou sob domínio dos espanhóis, herdando os conflitos que o país vizinho tinha com outros impérios europeus. Foi o caso dos holandeses, que tentaram estabelecer-se na Ásia e criar rotas de comércio tal como os portugueses já faziam a partir de Goa. Até finais do século XVI os portugueses detinham o exclusivo do comércio pela Rota do Cabo, sendo que “todos os europeus iam a Lisboa comprar produtos”, recordou Rui Loureiro.

Além de falar da figura do rei Filipe II de Espanha, cujo reinado foi marcado pela tentativa expansionista dos holandeses, o historiador abordou também a importância do livro “Itinerario”, de Jan Huygen van Linschoten’s, que mais não era “uma descrição muito bem informada de toda a Ásia e dos negócios dos portugueses, e que apresentou a Ásia aos holandeses”. Traduzido para várias línguas, este livro mais não era do que um verdadeiro “roteiro das principais rotas comerciais informações obtidas em Goa” pelo autor, provavelmente na qualidade de espião.

Desta forma, os holandeses conseguem estabelecer-se no que hoje é conhecido como a ilha de Java, conseguindo uma rota directa para o Oriente. A China, lugar de porcelanas e sedas exóticas, era o grande atractivo.

“A China era o melhor mercado para vender especiarias. A partir de 1631 os holandeses tentaram instalar-se em Macau, sem sucesso. Depois de 1622 nunca mais tentaram, e como alternativa conseguiram estabelecer-se na ilha de Taiwan, mas não durante muito tempo.”

Rui Loureiro relatou então o que se passou no dia 24 de Junho, com a chegada dos holandeses a Macau. “A armada holandesa, composta por 13 navios e 800 homens, tinha informação de que Macau estaria quase desprotegida. No entanto, tiveram de enfrentar uma resistência quase desorganizada, pois muitos portugueses tinham experiência de anos de navegação e, com poucas espingardas e canhões, obtiveram uma vitória fulgurante sobre as forças holandesas que iam preparadas para uma guerra convencional, mas depararam-se afinal com uma guerra de guerrilha.”

A vitória sobre os holandeses levou à construção de mais fortificações em Macau, após uma negociação com Cantão. Imperava a necessidade de segurança e protecção. “Macau, na década seguinte, passou a ter uma série de fortalezas em sítios estratégicos e nunca mais houve tentativas de conquista por parte de outra potência.”

Rui Loureiro destaca os trabalhos de investigação de Charles Boxer ou Wu Zhiliang, entre outros, sobre o 24 de Junho de 1622. Mas aponta que “não tem havido investigação mais recente” acerca deste episódio histórico.

27 Jun 2022

História | Alfredo Gomes Dias lança livro “Macau entre Repúblicas”

O Centro Científico e Cultural de Macau acolhe, na próxima segunda-feira, a apresentação do novo livro do académico Alfredo Gomes Dias, que se dedica ao estudo da história de Macau. “Macau entre Repúblicas” será apresentado pela historiadora Célia Reis

 

Alfredo Gomes Dias, académico do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) e autor de várias obras sobre a história de Macau, incluindo uma tese de doutoramento, está de regresso aos estudos sobre a história do território. “Macau entre Repúblicas” será lançado na próxima segunda-feira em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). A apresentação estará a cargo da historiadora Célia Reis, também autora de vários trabalhos sobre a história de Macau. Actualmente, Célia Reis é investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

O livro aborda o período em que Macau viveu entre duas revoluções, em dois lados do mundo: por um lado, a implementação da República em Portugal a 5 de Outubro de 1910, e a queda da Monarquia; e, por outro lado, o fim da China imperial e o início da República da China em 1911. Trata-se de um movimento onde se destacou a figura de Sun Yat-sen, que viveu em Macau.

A obra conta com prefácio de Luís Cunha e a colaboração de Vincent Ho. Juntamente com Joana Barroso Hortas, Alfredo Gomes Dias fez um estudo sobre a forma como a imprensa portuguesa olhou para a implantação da República na China, através da análise dos jornais daquele período.

Macaenses de Xangai

Alfredo Gomes Dias é, além de professor adjunto da Escola Superior de Educação do IPL, investigador do Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. Como académico, as suas áreas de interesse centram-se em migrações, história política, social e colonialismo.

Em 2012, defendeu a tese de doutoramento intitulada “A Diáspora Macaense. Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”.

Neste trabalho, analisou a emigração macaense entre os anos de 1840 e 1950, com destino a dois lugares principais: Hong Kong e Xangai. A I Guerra do Ópio, entre os anos de 1839 e 1842, “conduziu a profundas mudanças políticas, económicas e sociais em toda a Ásia Oriental e, em particular na China imperial”, tendo levado também a uma onda de emigração por parte da comunidade macaense. “A saída das principais casas de comércio teve um forte impacto social”, lê-se no resumo da tese. Xangai, uma cidade sofisticada e cosmopolita, acabou por se tornar no local de destino de muitos dos emigrantes macaenses que aí se voltaram a estabelecer como comerciantes, mas não só.

A investigação de Alfredo Gomes Dias, neste campo, analisa os “portugueses de Xangai”, ou seja, a comunidade que se formou com esse circuito migratório. Na cidade chinesa, acompanharam “o processo de formação, desenvolvimento e extinção das concessões estrangeiras, revelando estratégias que favoreceram a sua integração na sociedade que os acolheu, sem, todavia, perderem os laços com Macau, o seu território de origem”.

O rumo da história mudaria novamente em 1949, com a implantação da República Popular da China, precedida por uma guerra civil, o que levou a comunidade a sair e a espalhar-se pelo mundo.

Além deste trabalho, Alfredo Gomes Dias é também autor de obras como “Macau e a I Guerra do Ópio”, “Sob o signo da transição – Macau no século XIX” e ainda o livro que nasce da tese de doutoramento, “Diáspora Macaense: Macau, Hong Kong, Xangai (1850-1952)”.

24 Jun 2022