Vergílio Ferreira nasceu há cem anos

Apaixonado por questões existenciais, Vergílio Ferreira foi quem um dia disse que “o amor afirma, o ódio nega”. “Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade”

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omemora-se hoje o centenário do nascimento do autor de “Manhã Submersa” ou “Esplanada sobre o Mar”, no seio de uma obra extensa onde a reflexão sobre a condição humana, as grandes interrogações do homem ou a procura de sentido para a vida foram uma tónica dominante. Para assinalar a efeméride dos cem anos de nascimento de Vergílio Ferreira, a Câmara Municipal de Gouveia inicia hoje um ciclo de um ano de comemorações para assinalar a vida e obra de uma das figuras incontornáveis das letras portuguesas.
O programa arranca com três dias consecutivos de actividades onde se incluem o lançamento da reedição das obras de Vergílio Ferreira (pela editora Quetzal), a reposição de um busto na praça de São Pedro (no centro da cidade de Gouveia), a inauguração de uma exposição e a realização de um colóquio.
Nascido em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, no ano de 1916, o escritor viu os pais emigrarem para o Canadá quando tinha apenas nove anos ficando ele em Portugal com os irmãos mais novos. Uma experiência dolorosa que exorciza em “Nítido Nulo”. Aos 12 anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no seminário do Fundão e por lá fica seis anos. Uma experiência que mais tarde viria a dar origem a “Manhã Submersa”, um livro que retrata a vida de um conjunto de seminaristas oriundos de famílias pobres que se encontram num beco sem saída, entre uma suposta perspectiva de vida boa mas cheia de limitações em contraste com uma suposta liberdade em más condições de vida. Em 1980, Lauro António viria a trazer a história para o cinema e Vergílio Ferreira desempenha mesmo um dos principais papéis, ironicamente o de Reitor do Seminário. vergílio ferreira
Até se formar em Filologia Clássica em 1940, Vergílio – que apenas deixou o seminário quatro anos antes – dedica-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, “O Caminho Fica Longe”. Depois foi professor estagiário no Liceu D.João III em Coimbra e aí arranca a sua carreira docente que o levou a leccionar em Faro e no liceu de Gouveia (período em que escreveu “Manhã Submersa), acabando por se fixar no Liceu Camões até ao final da sua carreira.
Em 1992, recebe pelo conjunto da sua obra o “Prémio Camões” entre muitos outros galardões ao longo da sua vida. Faleceu no dia 1 de Março de 1996 em Lisboa e foi sepultado no cemitério de Melo, sua terra-natal, com o caixão virado para a Serra da Estrela, conforme era seu desejo.

“Não se pode esquecer Vergílio”

Em declarações à Lusa, a escritora Lídia Jorge, diz que Vergílio Ferreira precisa de ser lembrado e queixa-se do quase esquecimento a que o autor tem sido sujeito, dizendo que como o “mundo está organizado, neste momento, é muito difícil recuperar figuras como [a de] Vergílio Ferreira”, que considera “estarem um pouco afastadas, injustamente”. A escritora acrescenta ainda que “a escola e a universidade estão a descurar muito a obra de Vergílio, inclusive o romance ‘Aparição’ que é fundamental para os rapazes, entre os 16 e os 17 anos, que encontravam nessa obra uma grande projecção interior e aprendiam muito com esse livro, que desapareceu, e praticamente já não se lê”.


“Está a ser uma perda muito grande. Do ponto de vista estilístico, [Vergílio Ferreira] é irrepreensível, tem humor na escrita, tem caricatura, por alguma coisa era um admirador do Eça de Queiroz. Não é um sarcástico, mas um irónico, ele ensina”, rematou.
Antes de morrer, Vergílio Ferreira contou a Lídia Jorge o enredo do romance que contava ainda escrever. “É essa alegria de narrar que devia ser sublinhada” nestas celebrações, defendeu a autora.

“Fixei muito bem a história e pensei: é um livro semelhante aos outros, a história é a mesma, e, com o impacto da morte [dele], que aconteceu dois ou três dias depois, não fui capaz de a contar. A história era a mesma: a impossibilidade de amar a mulher, uma adoração pela mulher que desaparece, era a mesma fixação literária, que dá a impressão que nunca leu Freud”.

Obra Completa

Ficção
1943 O Caminho Fica Longe
1944 Onde Tudo Foi Morrendo
1946 Vagão “J”
1949 Mudança
1953 A Face Sangrenta
1954 Manhã Submersa
1959 Aparição
1960 Cântico Final
1962 Estrela Polar
1963 Apelo da Noite
1965 Alegria Breve
1971 Nítido Nulo
1972 Apenas Homens
1974 Rápida, a Sombra
1976 Contos
1979 Signo Sinal
1983 Para Sempre
1986 Uma Esplanada Sobre o Mar
1987 Até ao Fim
1990 Em Nome da Terra
1993 Na Tua Face
1995 Do Impossível Repouso
1996 Cartas a Sandra

Ensaios
1943 Sobre o Humorismo de Eça de Queirós
1957 Do Mundo Original
1958 Carta ao Futuro
1963 Da Fenomenologia a Sartre
1963 Interrogação ao Destino, Malraux
1965 Espaço do Invisível I
1969 Invocação ao Meu Corpo
1976 Espaço do Invisível II
1977 Espaço do Invisível III
1981 Um Escritor Apresenta-se
1987 Espaço do Invisível IV
1988 Arte Tempo
1998 Espaço do Invisível V (póstumo)

Diários
1980 Conta-Corrente I
1981 Conta-Corrente II
1983 Conta-Corrente III
1986 Conta-Corrente IV
1987 Conta-Corrente V
1992 Pensar
1993 Conta-Corrente-nova série I
1993 Conta-Corrente-nova série II
1994 Conta-Corrente-nova série III
1994 Conta-Corrente-nova série IV
2001 Escrever (póstumo)

28 Jan 2016

Fadas, luzes e muito amor nas vésperas do Ano Novo Chinês

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Turismo organizam, em conjunto com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), realizam de 7 a 29 de Fevereiro, nas Casas Museu da Taipa e noutros pontos de Macau, um espectáculo de luzes com o objectivo de atrair visitantes para umas férias prolongadas e proporcionar um programa de lazer aos residentes. Assim, vão surgir instalações luminosas em mais de dez locais, mas o evento prevê ainda espectáculos de vídeo mapping 3D e um jogo interactivo para crianças.
Os contos de fadas e as histórias de amor são o tema deste evento que pretende interligar, a 14 de Fevereiro, a véspera de Ano Novo Lunar, o Dia de São Valentim, o sétimo dia do Ano Novo Lunar (Dia de Aniversário para todos) e o Dia dos Namorados Chinês (Festival de Lanternas). As instalações luminosas prometem 9999 rosas que estarão dispostas nas Casas Museu e na Freguesia de Nossa Senhora do Carmo – na Escadaria da Rua do Cunha, na Calçada do Quartel, na Av. Carlos da Maia, na Rua da Restauração, na Calçada do Carmo, no Jardim do Carmo e na Escadaria do Largo do Carmo.
O sapato de cristal da Cinderela serve de tema para a exibição de vídeo mapping em 3D numa história de reencontro de uma rapariga com um príncipe que viaja no tempo, em Macau, na noite do dia dos namorados. O jogo interactivo acontece após cada exibição de vídeo mapping e será ligado por via de uma bicicleta.

Concerto de São Valentim antecipado

O Concerto do Dia de S. Valentim, pela Orquestra Chinesa de Macau, que estava originalmente programado para o dia 14 de Fevereiro, foi antecipado para o dia 13, sábado, pelas 14h00 horas, continuando a acontecer na Igreja de Santo António. Com o intuito de promover a cultura chinesa, a Orquestra irá apresentar uma série de obras conhecidas, como a “Virgem Maria”, “Louvar a Deus”, “Amazing Grace”, “O Teu Doce Sorriso”, “Por Causa do Amor” e “Os Ratos Adoram o Arroz”, entre outras, de modo a promover a música chinesa. A entrada é gratuita e os bilhetes começam a ser distribuídos no local uma hora antes da actuação.

28 Jan 2016

Sir James Galway sobe ao palco do CCM esta sexta-feira

Dois ícones da música mundial – James e Jeanne Galway – estão em Macau. Na sexta-feira o casal de mestres fã do Rigoletto vai estar no Centro Cultural de Macau, mas não sem antes falar da vida e da música que o fez cá chegar

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]James Galway é sinónimo de flauta. “Um som único, inesquecível, que, por mais anos que oiça, nunca conseguirei imitar”, confessa Jeanne Galway, a esposa do artista há 32 anos e, também ela, considerada uma das melhores flautistas mundiais. Os dois conheceram-se em 1978 em Nova Iorque era Jeanne uma estudante finalista. Um dia, o mestre que todos ouviam na rádio vinha visitá-los. Foi o delírio.
“Trouxe aquela energia forte dele que a nossa classe tanto precisava. Lembro-me como se fosse ontem: entrou, abriu a mala e tirou de lá uma série de flautas douradas que distribuiu pelos mais de cem alunos. Depois tocou e nós maravilhámo-nos.”
Quisemos saber o que de tão especial tem o som de Galway, mas Jeanne ficou sem palavras apesar da sua expressão de profundo encanto quase as dispensasse. James Galway veio em seu socorro: “Eu explico”, disse, “é assim”, continua, “muita gente limita-se a soprar para a flauta mas este instrumento requer muito mais do que isso”. Para ilustrar a sua ideia, dá o exemplo dos Beatles, começando a trautear os primeiros versos de “With a Little Help From My Friends”. “Se eu cantasse fora de tom, será que te levantavas e te ias embora?”.
“O segredo é esse”, diz, “desafinar”, garante. “Algo apenas a acessível a executantes como Pavarotti, Callas… Foi isso que fez deles o que são.”

Não há tv, há flauta

Tudo começou para James por falta de melhor para fazer. Só havia rádio e a televisão ainda não tinha chegado a Belfast, pelo que as pessoas criavam o próprio divertimento.
“Na minha rua havia um tocador de trompete, dois que tocavam clarinete, um tocador de banjo, gaita de foles, eu, com a flauta, e mais uma série de gente que cantava. Havia até um que a gente chamava de Bing Crosby (risos). E assim passávamos o tempo.” Tinha menos de nove anos. Aos 11 já começava a levar o assunto a sério e aos 13 tocava em pequenas orquestras de escolas. Teve sempre professores mas foi o seu tio Joe – que “tinha paciência para o aturar” – que o ajudou a dar os primeiros passos. Já o tio tinha aprendido com o avô de Galway. Assunto de família, portanto.

“Karajan? Éramos os dois bons”

Mais tarde, aos 21 era solista na ópera de Londres onde ficou seis anos, “até não aguentar mais”, como confessa, seguindo-se a Sinfónica da BBC, a de Londres e a Royal Philarmonic, onde esteve já como solista, chegando depois a Berlim ainda antes de completar 30 anos, altura que enfrenta o lendário Herbert Von Karajan. Quisemos saber como foi e a resposta não tardou: “Éramos os dois bons no que fazíamos por isso não houve problema. Assim consegui o emprego.” E o maestro gostou tanto do trabalho dele que até criou programas especiais para destacar a flauta.

“Vamos já a correr”

James Calway tem feito parcerias com os mais variados músicos, como Elton John, Stevie Wonder ou BB King. “Só depois de estar em palco com eles percebi a diferença entre mim e estas grandes estrelas”, diz James . Mas tocar com Ray Charles foi memorável: “Que concerto! Impressionante, impressionante com letras grandes, garanto. Quando ele começou a tocar os primeiros acordes de Geórgia… Meu Deus”, diz entusiasmado.
Além destes casos, Galway adora colaborar com outros artistas, mas o critério de escolha é bastante importante, como diz Jeanne. “Depois de tocar com mestres como Karajan, o nível dele é muito alto”, pelo que se torna necessário um conhecimento prévio antes de se partir às cegas numa tournée.
Galway dá o exemplo do músico que os acompanha nesta deslocação a Macau, Phillipe Moll, que é alguém com quem já toca há muitos anos. “Mas, claro”, diz Jeanne “se o Roger Waters e os Pink Floyd nos ligarem para ir gravar, aí vamos a correr e depois esperamos que corra tudo bem”, brinca.
Trabalhar com este tipo de artistas é “uma experiência incrível”, garante Galway, “é impressionante como eles têm um grupo tão organizado, onde tudo bate certo. Bandas como os Pink Floyd, Supertramp, os Beatles, ou outras do género têm níveis de execução e de harmonia de conjunto ao nível dos melhores quartetos de cordas de música clássica do mundo”, assegura o mestre flautista.

Nunca é tarde para começar

A paixão que o casal nutre pelo ensino é uma das suas características salientes, que se materializa na sua escola virtual online (firstflute.com) onde ensina estudantes de todo o mundo. “Um projecto que surgiu por não existir uma escola tradicional de flauta com violino ou piano”, diz Jeanne, e que foi idealizada como um complemento às aulas que os alunos têm com o seu próprio tutor.
Não é todos os dias que se pode ter um acesso destes a um mestre, a grande particularidade deste projecto, mas os dois também fazem mentoria com vários dos seus alunos. “Às vezes tenho umas 20 mensagens para responder no Facebook”, confessa Jeanne.
Um curso que começa “mesmo do princípio”, diz James, “desde [aprender] como tirar a flauta do estojo sem a danificar.” E não há falta de interessados: “a flauta é como uma doença”, garante. “Há imensos miúdos loucos por tocarem flauta.”
Há também não tão miúdos, como uma aluna que começou a estudar flauta aos 70 anos. De resto, o legado de James Galway parece bem entregue aos seus ex-alunos na filarmónica de Los Angeles ou na orquestra sinfónica da BBC. “Estão por todo o lado e a gravarem”, afiança-nos.

O mito do apito

Diz-se que começou por tocar um apito ainda criança, mas Galway desmente por completo e conta o que de facto aconteceu: já estava na Filarmónica de Berlim quando se juntou com uns amigos e alugaram o Queen Elizabeth Hall para assim ficarem com o dinheiro todo dos bilhetes. “Ganhámos imenso dinheiro”, lembra-se divertido.
Correu tudo pelo melhor: casa cheia, público em delírio, imensos encores, mas às tantas o tocador de cravo decidiu não tocar mais, “que nem músico clássico”, acrescenta Galway ironizando. Assim, para contentar o público, resolveu tocar umas coisas num apito – assim nasceu o mito.

Música? Beethoven sempre

Jeanne prefere os compositores românticos italianos, mas James vira-se mais para Wagner e, acima de tudo, Beethoven, “Ele é o meu gajo! Oiço muito Beethoven.”
Também ouve outras coisas, claro, mesmo que a flauta pareça estar sempre presente, pois recomendou-nos vivamente o último álbum do flautista canadiano de jazz Bill McBirnie, que faz “um trabalho impressionante”, diz Galway, “do melhor que pode haver”.
Antes de nos despedirmos, Jeanne desafiou-nos a assistir ao concerto para percebermos o tal som inconfundível de que fala e depois irmos explicar a sensação ao camarim. Dá para recusar? A noite de sexta feira está reservada para assistir às composições de Philippe Gaubert, Cécile Chaminade ou do mestre do Barroco Marin Marais, entre outras lendas da música, tocadas pelos que serão os melhores flautistas do mundo. O concerto acontece às 20h00 de dia 29, sendo que os bilhetes custam entre as 150 e as 300 patacas.

27 Jan 2016

Blademark lançam faixas de novo EP e têm novos projectos

Querem ser estrelas do rock, lutam contra as dimensões de Macau – materiais e mentais – mas continuam a trabalhar. Separaram-se da 100PlusMusic e estão a montar o seu próprio estúdio. Edições anuais, merchandising e concertos lá fora são aposta dos Blademark, a banda de Macau que pisca agora o olho à China. É o que conta Fortes Pakeong Sequeira, o líder do grupo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]no novo, vida nova parece mesmo ser o lema para os Blademark neste início de 2016. A banda de Macau terminou a ligação à 100PlusMusic para seguir o seu próprio caminho e está em negociações adiantadas com um investidor privado interessado no desenvolvimento da cultura local, para montar o seu próprio estúdio e dedicar-se em exclusivo à produção de música.
“A grande diferença em termos de posicionamento”, adianta-nos Fortes Pakeong Sequeira, fundador da banda, “é começarmos a olhar mais para nós como um produto cultural que pode gerar rendimentos complementares para além dos concertos”. pakeong fortes sequeira
Por isso mesmo, os Blademark querem iniciar a produção de merchandising próprio da banda, como t-shirts ou outros gadgets. “É a nossa bandeira. É a marca da nossa banda. Além da música queremos criar coisas que as pessoas usem, agarrem e sintam.”
Para já, as pessoas podem sentir três músicas do EP que os Blademark esperam que esteja concluído este Verão: duas em Mandarim que servem como “um ‘olá’ ao público do outro lado das Portas do Cerco”, como adianta Fortes, e que se chamam “Just a little thing” e “Livin’ Off The Wall”, e uma em Cantonês, “Rainy Night Dream”, numa sentida homenagem à mãe de Fortes.
“A minha querida mãe faleceu em Outubro de 2013. Não há dor maior que esta na vida. Nos dias que se seguiram sentia-me com um patinho perdido às voltas no lago. Felizmente esses dias passaram e a minha tentativa foi a de transformar o negro em energia positiva, para ser capaz de enfrentar com coragem desafios ainda maiores que esse grande mundo com certeza tem para mim.”

Cresçam e apareçam

Sabemos que não é fácil viver como artista em muitos sítios e em Macau não é excepção, mas quisemos saber como Fortes Pakeong lida com isso. A exiguidade do local é claramente um dos principais problemas: “Não é fácil. Não temos estruturas sociais de apoio”, pois a mentalidade não ajuda. “Artista? Os locais são capazes de reconhecer valor artístico a músicos de Hong Kong, da China ou de outros lados, mas com os daqui é diferente. Olham para nós e acham ‘tu és apenas o meu vizinho…’”.
Fortes Pakeong, todavia, assume a inexistência de uma cultura rock em Macau, “As pessoas têm dificuldade em entender a cultura rock porque a verdade é que apesar de alguns ouvirem as músicas e irem aos concertos, acho que não entendem o que estamos a fazer. E não entendem porque precisam de crescer culturalmente”, rematou.

Artistas unam-se

Umas das preocupações de Fortes Pakeong é o isolamento a que muitos criadores se votam. Para ele, os artistas têm de fazer mais, de cooperar mais, não sendo correcto assacar sempre as culpas ao Governo. Segundo ele, o Governo até tem desenvolvido uma acção positiva ao “disponibilizar financiamento e criar acções de apoio”. Contudo, diz o músico, as pessoas trabalham demasiado em pequenas ilhas isoladas e colaboram de menos.
“Claro que podemos e devemos fazer espectáculos e eventos a solo, mas também devemos pensar em formas de colaboração mais abrangente. Alguns preocupam-se apenas em receber os subsídios e fazerem as coisas para eles próprios em vez de criarem bases para o nosso futuro. Isso é muito errado.”
Depois da nossa entrevista, Fortes Pakeong tinha ir para um concerto privado, um lançamento de produto, num dos hotéis do Cotai, pois assim se vão pagando as contas. Enquanto não temos datas ao vivo dos Blademark para anunciar, fique com um excerto da letra de “Rainy Night Dream”, um tema, tal como os outros dois, disponível na internet.

“(…) On the day when all was gone
Only left an unfinished dream
Who can understand?
A million words hidden in my heart
Hard to be burnt, in this broken dream
I wish for a reunion with you, in heaven (…)”

26 Jan 2016

Museu de Transferência | Exposição de escultura contemporânea até Junho

[dropcap style=’circle’]I[/dropcap]naugura amanhã a exposição de “Caixa de Música”, uma escultura contemporânea feita por um artista local. Inserida na série “Uma Escultura” do Museu de Arte de Macau (MAM), que reúne exposições de obras de arte de escultura contemporânea destinadas a promover o desenvolvimento desta arte em Macau, a mostra está patente até 19 de Junho.
A obra desta primeira exposição é a mais nova peça de grande escala do escultor local Sou Pui Kun. Nascido em Macau em 1959, Sou Pui Kun concluiu a licenciatura no caixa de música mamDepartamento de Belas-Artes da Universidade Normal de Taiwan, o mestrado em Cerâmica e Design Industrial na Academia de Belas-Artes de Guangzhou e o doutoramento em História pela Universidade de Jinan, em Guangzhou. Sou Pui Kun é actualmente professor associado da Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau, tendo publicado a obra “Estudos sobre Interacção Cultural: Função da Loiça azul e branca na Dinastia Ming”, em 2007.

Arte e ambiente

O escultor quer mostrar como transformar “antiguidades” descartadas numa caixa de música ou num megafone que torne o seu barulho em belas melodias, tendo escolhido fazer a sua obra com material velho por ser um amigo do ambiente. “Sou considera que uma vida com baixos níveis de carbono está cada vez mais próxima, dado que autocarros eléctricos já começam a circular entre as grandes cidades das redondezas e que as ruas, ainda que não se tornem mais sossegadas, testemunharão um decréscimo gradual nos barulhentos motores a diesel”, frisa o comunicado da organização.
A cerimónia de inauguração de “Caixa de Música” acontece amanhã pelas 18h30, no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau e a exposição estará patente até 19 de Junho. A entrada é livre.

25 Jan 2016

Rota das Letras | Festival Literário de Macau de 5 a 19 de Março

Traz-nos um prémio Pulitzer, vários autores de renome, dois regressos, mais dias de festival, mais idiomas e duas dedicatórias especiais: a Camilo Pessanha e Tang Xianzu. O Festival Literário Rota das Letras está de volta em Março

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]briu com um toque de classe com o cenário da biblioteca do edifício do Leal Senado de fundo. A organização do Festival Literário Rota das Letras levantou ontem a ponta do véu do evento que regressa em Março. Para abarcar três fins-de-semana o Festival passa de 12 para 15 dias de exposições, cinema, debates, palestras nas escolas e música ao vivo. Garante-se o Fado, anuncia-se um enigmático regresso a Macau e espera-se fechar em breve a contratação de um músico chinês de relevo. A sede dos concertos também muda, passando da Arena do Venetian para o Grande Auditório do Centro Cultural.

camilo-pessanha

Celebrar Pessanha

A homenagem a Tang Xianzu e a Camilo Pessanha são o grande destaque do Festival para este ano. Tang Xianzu por ser um dos primeiros autores chineses a estabelecer contacto com estrangeiros em Macau, tendo visitado a cidade em 1591. Um dos dramaturgos mais aclamados da dinastia Ming e da literatura chinesa em geral, Tang imortalizou Macau em vários poemas e é autor da peça de referência da dramaturgia chinesa “Pavilhão das Peónias”, tradicionalmente representada no estilo Kunqu, desenvolvido durante os primórdios da dinastia Ming (séc. XVI), e quase desaparecido durante o séc. XX tendo sido em 2001 considerado pela UNESCO como “Obra Prima do Património Oral e Intangível da Humanidade. Camilo Pessanha, o autor de “Clepsidra”, viveu e morreu em Macau e deixou um legado valioso que continua a ser objecto de estudo até hoje. Para aprofundar a sua obra, o Festival convidou Paulo Franchetti, Daniel Pires, Pedro Barreiros e Carlos Morais José.

Lolita e Zink outra vez

Regressam ao festival duas das figuras com mais impacto no contexto da edições anteriores: Rui Zink e Lolita Hu. Desafiados a trazerem um “acompanhante”, Zink escolheu o escritor sueco Bengt Olsson e Lolita o escritor de Xangai Chan Koonchung. Chan é o fundador da “City Magazine” e seu editor por 23 anos, sendo ainda guionista e produtor de cinema, co-fundador do grupo ambientalista de Hong Kong Green Power e antigo membro da direcção da Greenpeace. O seu maior sucesso até à data é “Gregorius”, que recupera uma das personagens mais repulsivas da literatura sueca: o Pastor Gregorius do romance clássico de Hjalmar Söderberg Doctor Glas, de 1905. Um dos seus últimos livros, “Rekviem för John Cummings”, sobre a vida e a morte do guitarrista de punk rock Johnny Ramone, foi nomeado em 2011 para o August Prize.

Pacheco Pereira (é desta)

José Pacheco PereiraQuase participou nas edições anteriores do Festival mas desta é que é. Conhecido comentador político, Pacheco Pereira chega a Macau. Lançou recentemente o IV volume da sua obra de maior fôlego, “Álvaro Cunhal, uma biografia política”, esperando-se vivos debates sobre a personalidade que marcou o movimento comunista em Portugal.

De Portugal, estão ainda confirmados Matilde Campilho, Luísa Fortes da Cunha, Paulo José Miranda, Pedro Mexia, Ricardo Adolfo e Graça Pacheco Jorge. O premiado autor brasileiro Luiz Ruffato também estará entre nós, assim como Marcelino Freire, Carol Rodrigues e Felipe Munhoz. A Guiné-Bissau assinalará a primeira presença no Festival com a vinda de Ernesto Dabó, do qual se espera revelar ainda os seus dotes musicais.

Letras chinesas

Além de Can Koonchung e Lolita Hu contam-se ainda confirmados na área das letras chinesas Chen Xiwo, Zhou Jianing, Wu Mingy, Shen Haobo, Zheng Yuanjie, Yang Chia-Hsien e Zhang Yueran, considerada, em 2012, como uma das 20 escritoras do futuro pela People’s Literature. O seu romance “The Promise Bird” foi considerado o Melhor Romance Saga em 2006 e o seu conto “Ten Loves” foi nomeado para o Frank O’Connor Award.

Pulitzer e Filipinas


Os idiomas Português e Chinês continuam a dominar o Festival, mas a organização pretende continuar a apostar na diversidade não só de autores e trabalhos mas também de idiomas. Assim surgem o Espanhol e o Inglês, idiomas em que se destaca Junot Diaz, o escritor dominicano naturalizado americano, professor do MIT e premiado com o Pulitzer para melhor ficção em 2008 com o livro “The Brief Wondrous Life of Oscar Wao”.

Activista conhecido pela sua participação em organizações comunitárias em Nova Iorque, no Pro-Libertad e no Partido dos Trabalhadores Dominicanos, Diaz trará na sua bagagem a prosa humorística e sarcástica que o caracteriza.
Pela primeira vez, foram ainda convidados escritores das Filipinas – um tributo da organização ao que considera uma das comunidades mais importantes da cidade.

Assim surgem Angelo R. Lacuesta e Ana Maria Katigbak-Lacuesta. Angelo recebeu diversos prémios pela sua ficção, incluindo dois National Book Awards, o Madrigal Gonzalez Best First Book Award e vários Palanca e Philippines Graphic Awards e foi director-executivo da comissão de cinema no Film Development Council das Filipinas. Ana Maria obteve, em 2014, o primeiro lugar na categoria de Poesia no Don Carlos Palanca Memorial Awards for Literature, considerado o Prémio Pulitzer das Filipinas em termos de prestígio. Jordi Puntí (Espanha), Owen Martell (País de Gales), Jane Camens (Austrália), Angelo Lacuesta (Flipinas), Ana Maria Katigbak-Lacuesta (Filipinas) e Marita Conlon-McKenna (Irlanda) fecham esta lista.

Cinema e outras artes

Os cineastas locais Tracy Choi, Emily Chan e Cheong Kin Man irão apresentar filmes seus, ao lado de Luís Filipe Rocha, o adaptador ao cinema do livro de Henrique de Senna Fernandes “Amor e Dedinhos de Pé”.

Chega ainda a documentarista portuguesa premiada Sofia Marques e, para breve, aguarda-se a confirmação de um prestigiado cineasta chinês.

No campo das artes visuais poderão ser contempladas obras do artistas locais Alexandre Marreiros e Eric Fok; do Hunan chega o pintor e calígrafo Oyang Shijian. Mu Xinxin (também na qualidade de especialista de Tang Xianzu)e Carlos Morais José), a poeta Un Sio San, o tradutor literário e poeta Carlos André e o jornalista e escritor Mark O’Neill, que divide o seu tempo entre Hong Kong, Macau e a China continental, são outros dos convidados.

O orçamento para o Festival não irá sofrer grandes alterações em relação ao do ano transacto, continuando a custar cerca de 2,3 milhões de patacas dos quais 1,4 milhões serão providenciados pelo erário público.

O centro nervoso deste evento continuará a ser o edifício do velho tribunal.

22 Jan 2016

Cinema | DocLisboa até 5 de Fevereiro no Consulado de Portugal

De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro vai poder assistir a filmes de realizadores portugueses e chineses de Macau. O DocLisboa regressa pela terceira vez ao território e traz consigo uma dezena de filmes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional DocLisboa chega pela terceira vez a Macau, através de uma extensão trazida pelo Instituto Português no Oriente (IPOR), e este ano integra também uma secção dedicada às produções e realizadores de Macau. De 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro são exibidos no Consulado-Geral de Portugal os nove filmes de realizadores portugueses que competiram no DocLisboa’14 e os vencedores das edições de 2014 das competições locais Sound & Image Challenge e European Union Short Film Challenge, além de uma sessão para outros realizadores de Macau.
O festival abre com “Mio Pang Fei”, um documentário do realizador de Macau Pedro Cardeira sobre o conceituado artista plástico chinês que se interessou pela arte moderna numa época em que esta era considerada anti-revolucionária pelo regime do continente. Mio Pang Fei acabou por se refugiar em Macau onde desenvolveu um novo estilo de pintura “baseado no cruzamento das técnicas artísticas ocidentais com o espírito cultural chinês, a que chamou Neo-Orientalismo”, segundo explica o IPO.
No dia 28 é exibido “Volta à Terra”, do português João Pedro Plácido, que estará presente para falar sobre o filme e responder às perguntas da audiência. A película conta a história de uma “comunidade em extinção”, de 49 camponeses que praticam agricultura de subsistência numa aldeia, Uz, nas montanhas do norte de Portugal.
A terceira sessão, no dia 29, é dedicada ao filme “Fado Camané”, de Bruno de Almeida, sobre o processo de criação do artista, e a quarta, a 2 de Fevereiro, “As Cidades e as Trocas”, aborda a chegada da economia de escala a Cabo Verde e os efeitos que esta teve na transformação da paisagem física e humana da ilha.

Três em um

Na quinta sessão vão ser exibidos três filmes, dois de Portugal – “Triângulo Dourado”, de Miguel Clara Vasconcelos, e “Da Meia Noite para o Dia”, de Vanessa Duarte – e um de Macau, “Um Olhar sobre os Deficientes”, de Zélia Lai.
“Triângulo Dourado” dá voz às “memórias, encontros e sentimentos” das viagens que levaram a personagem principal até Paris e “Da Meia Noite para o Dia” lança um olhar sobre a “memória colectiva e sentido de identidade dos trabalhadores fabris da Covilhã”. Por fim, “Um Olhar sobre os Deficientes”, vencedor do Sound & Image Challenge, reflecte sobre as dificuldades dos portadores de deficiência.
No dia 4 de Fevereiro é exibido “Flor Azul”, do português Raul Domingues, e “São”, de Susana Valadas, sobre um dia na vida de uma operária fabril.

Para acabar

O último dia é dedicado a três obras: “O Pesadelo de João”, do português Francisco Botelho, e “Western Star” e “Fonting the City”, dos realizadores de Macau Wu Hao I e Wallace Chan, respectivamente.
“Western Star”, vencedor do European Union Short Film Challenge, relata o encontro de “uma mulher natural de Macau, que tem feito a sua vida no estrangeiro, com um homem” que conhece na sua cidade natal, quando a visita como turista. “Fonting the City” conta a história de um grupo de designers que percorre Macau em busca de “caligrafias esquecidas”, encontrando “letreiros de lojas antigas, caracteres manuscritos de antigos artesãos e até exemplos de caligrafia pós-década de 80 numa ementa de chá”.
As sessões decorrem às 18h30 no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e têm entrada livre.

21 Jan 2016

Hip hop com artistas locais para apresentação de EP

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]grupo de hip hop Macau Blacklist apresenta, esta sexta-feira, o seu mais recente EP. Composto por LH, Key, Tickman, AK e 7DC, o colectivo junta-se a outros músicos e artistas para uma festa no Golden Bar do casino Kam Pek.
Composto por cinco músicas, o EP – intitulado “União”, na tradução literal para Português – vai ser dado a conhecer ao público ao lado do grupo local Macau Human Beatbox, que utiliza o próprio corpo para fazer música, e de outros convidados. kam_face
Rocklee é um deles. Desde os 15 anos a fazer breakdance, o também DJ é um apaixonado por hip hop, mas também r&b, funk, soul e música dos anos 70, o que o leva a apresentar uma mistura de “velha e nova escola”. Luka é outros dos convidados, este vindo de Hong Kong. Influenciado por rock & roll desde jovem, o músico começou também a interessar-se por música étnica, coleccionando inclusive instrumentos musicais utilizadas por minorias.
Entre outros convidados, está ainda o grupo Fission, que tem como membros Kreezy, Ah Tong e Mu Ben, rappers que assumem um estilo “diverso”, e o músico Kwokkin.
O Macau Blacklist começou por ser composto por AK e Key 0713, passando depois a integrar o rapper LH e MC Tikman. Desde 2014 que 7DC integra o colectivo, que produz músicas originais desde o beat à letra. O concerto de dia 22, marcado para as 21h00, é o primeiro para a apresentação do EP dos Blacklist, que se deslocam a Guangdong no dia a seguir. Os bilhetes custam entre 80 a 150 patacas.

21 Jan 2016

MDMA une-se a Pacha para festa underground e prepara festival de música

São dos mais antigos na quase inexistente cena musical de Macau e querem continuar a tentar mudar a forma como se faz e sente música no território. Os membros da MDMA organizam este sábado uma festa no Pacha e já se preparam para apresentar por cá um festival internacional de música

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]arka, D-Hoo e Erick L. vão fazer a noite do próximo sábado no recentemente inaugurado Pacha, no Macau Studio City. Todos são Djs e pertencem ao colectivo local Macau Dance Music Association (MDAM). Não só prometem uma noite diferente para este fim-de-semana, como já têm na manga planos para trazer mais ao público de Macau.
“Vai ser um grande desafio”, diz-nos Derek, ou D-Hoo, justificando com o facto do seu som não ser, normalmente, tão comercial como o que passa neste clube internacional. Os que se deslocarem ao Studio City no sábado devem esperar um lado mais profundo da música house, que progredirá para uma versão de estilo tech, batido com pitadas, aqui e ali, de trechos techno, para ver como o público reage.

Desde 1999

D-Hoo, em conjunto com Roberto Osório, o seu “parceiro de crime” como o próprio define, são dos mais antigos organizadores de festas em Macau. Tudo começou em 1999, como diz D-Hoo ao HM: tinha vivido uns anos em Londres e, ao voltar para Macau, em 97, deparou-se com uma cena vibrante em Hong Kong e um deserto no território. Começaram, por isso, a tentar organizar festas por estas bandas, com a primeira a acontecer em 1999. derek hoo roberto osório mdma
“Correu muito bem”, assegura D-Hoo, que nos diz que, depois houve mais umas quantas que não correram exactamente assim. Alguns anos de inactividade, até que, em 2012, os dois músicos resolveram constituir a MDMA – desde então as coisas têm começado a acontecer.
O grande objectivo da associação é o de juntar as pessoas através da música e criar experiências para aliviar a tensão através da dança, já que “a vida em Macau é tão stressante nos dias de hoje”, como desabafa Derek. Mas, acima de tudo, o que pretendem é criar uma plataforma para expor artistas locais.

Festival Internacional em preparação

Um dos grandes objectivos da MDMA é o de organizar um festival de música electrónica ao ar livre com músicos internacionais, DJs e bandas com um pendor alternativo. Ainda não sabem se será possível já em 2016, mas em 2017 esperam que a ideia venha mesmo a tornar-se realidade, assim que consigam os apoios públicos necessários.
Entretanto, a MDMA pretende continuar a colocar os seus DJs em eventos importantes da região: Derek classifica como exemplos a Secret Island Party e o Clockenflap, em Hong Kong, ou o One Love Festival (Shenzhen), Labyrinth 2016 (Japão) e o Wonderfruit (Tailândia).

Cena local? Qual Cena?

O pior mesmo para Derek é a cena de música local. Quando confrontado com o seu potencial calibre, o Dj não foi de meias medidas: “Qual cena? A dos casinos? Ou a dos karaokes? Não há cena de clubbing. Uns andam demasiado ocupados a fazer dinheiro nos casinos e os outros a assinarem e a jogarem esses jogos estúpidos das salas de karaoke… Claro que existem pessoas que gostam de ir a um clube e eu vejo potencial de crescimento. Mas a cena mesmo, a real, ainda é muito fraca por aqui”, diz ao HM.

EDM? Cox e Sascha!

Nos últimos anos tem ganho terreno junto de uma geração mais jovem um novo conceito de música de dança designado por EDM (Electronic Dance Music), um significado provavelmente abusivo pela caracterização genérica que apresenta. Mas a realidade é que define um estilo que, para Derek, se explica mais ou menos assim: “Se fizermos uma pesquisa no Google por EDM vamos descobrir falsos DJs a tocarem barulho puro para uma nova geração de ‘clubbers’, a destruírem-lhes ouvidos e mente apenas para fazerem paletes de dinheiro. Uma música sem profundidade, sem história, mesmo sem qualidade.”
Seguramente, isso não irá acontecer no próximo sábado. Para D-Hoo, a qualidade descobre-se mais a montante em personagens como Carl Cox que, diz-nos o DJ, “mesmo aos 53 anos continua forte com uma grande adesão”.
Cox, recorde-se, foi grande estrela em Portugal na época das ‘rave parties’, tocando para milhares de pessoas em lugares icónicos como o Castelo de Vila da Feira ou os estaleiros navais de Figueira da Foz durante o mundial de surf aí organizado em 1996. Mas as influências de D-Hoo não ficam completas sem uma referência especial a um galês DJ, produtor, vencedor de vários Prémios Internacionais de Música de Dança e nomeado para os Grammies: Sascha.
“Ele é mesmo o meu exemplo. Fez muito… Foi chamado ‘Filho de Deus’ em tempos e ouvir as suas misturas é pura alegria. Oiço-o há 20 anos e, de vez em quando, ainda me consegue surpreender. Assim sejamos também nós surpreendidos este sábado no Pacha. Até lá!”
A entrada na festa da MDMA no mais novo clube de Macau custa 200 patacas e começa às 22h00. Para os “amigos do MDMA”, os bilhetes ficam a metade do preço.

20 Jan 2016

NY Portuguese Short Film aceita candidaturas até final de Fevereiro

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s inscrições para a sexta edição do NY Portuguese Short Film Festival, a decorrer em simultâneo nos Estados Unidos e em Portugal, a 3 e 4 de Junho, estão abertas até ao próximo dia 29 de Fevereiro. O New York Portuguese Short Film Festival – festival de curtas-metragens portuguesas, em Nova Iorque – foi o primeiro certame de cinema português nos Estados Unidos.
No ano passado, o evento chegou a 14 cidades em 11 países: Lisboa e Cascais (Portugal), Nova Iorque, New Bedford e São Francisco (EUA), São Paulo e Rio de Janeiro (Brasil), Sidney (Austrália), Macau (China), Londres (Reino Unido), Luanda, (Angola), Joanesburgo (África do Sul), Maputo (Moçambique), Vancouver (Canadá) e Berlim (Alemanha).
“Continuando à procura de novos e exigentes públicos para o que de melhor se faz entre a nova geração de realizadores portugueses, o NY Portuguese Short Film Festival chegou a mais cidades, a todos os continentes, a um ritmo sem precedentes. E com ele, chegou o cinema contemporâneo português”, garante o Arte Institute, que organiza o festival.
A directora do Arte Institute, Ana Ventura Miranda, acredita que, nos últimos seis anos, o festival tem sido uma montra para o cinema contemporâneo português.
“Tem aberto portas aos novos realizadores nacionais, em termos de promoção e divulgação das suas curtas-metragens, e até mesmo para participarem noutros festivais internacionais”, diz a responsável.
Podem concorrer ao festival todos os realizadores portugueses, residentes no país ou no estrangeiro, que tenham produzido filmes, com menos de 18 minutos de duração, nos últimos três anos.
As candidaturas serão seleccionadas e submetidas à apreciação de um júri composto por figuras do meio cinematográfico português, brasileiro e norte-americano.
Não há um limite para o número de filmes que serão mostrados, sendo os critérios de escolha “o gosto pessoal do júri, a originalidade da história e a forma como foram filmados.”
O regulamento e o formulário para submissão de candidaturas podem ser encontrados em www.arteinstitute.org/shortfilmfestival. LUSA/HM
 

19 Jan 2016

Arte | Mestres austríacos no Museu de Arte até Abril

O MAM decide embarcar a sério na história universal da pintura e traz-nos uma mostra com o que de melhor existe no seio das da Artes Plásticas: a partir do fim do mês e até ao princípio de Abril vai ser possível admirar ao vivo obras de Klimt, Shiele ou Koshka, entre outros mestres austríacos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Museu de Arte de Macau (MAM) inaugura no próximo dia 29 de Janeiro pelas 18h30 a exposição “Um Século de Arte Austríaca 1860-1960”, que engloba obras de grandes mestres austríacos dos séc. XIX e XX, numa perspectiva panorâmica da arte daquele país deste período. A mostra, com entrada livre aos domingos e feriados e com um custo de cinco patacas nos restantes dias, inclui obras de Gustav Klimt, Egon Shiele e Oskar Kokoshka, entre outros, sendo que, ao todo, estarão em exibição 89 pinturas que fazem parte de colecções de 34 privados e entidades públicas.
A evolução da arte austríaca aqui representada destaca-se, sobretudo, pelos trabalhos pós-Secessão de Viena (1827-1920), um movimento artístico nascido no seio da Künstlerhaus, que contestou o género de pintura tradicional da época e manifestou a pretensão de primar o carácter artístico por oposição a meras representações de interesses comerciais. Gustav-Klimt-O-beijoArtePinturasBlog-do-Mesquita-01
A exposição que agora chega a Macau começou a sua itinerância na China, no Museu de Arte do Mundo de Pequim, em Abril do ano passado, seguindo-se o Museu Moderno de Dalian e o Museu Provincial de Hubei. A exibição, patente até 3 de Abril, é organizada conjuntamente pelo MAM, Instituto Cultural, Museu de Arte do Mundo de Pequim e pela Academia de Belas-Artes Sino-Austríaca.

Revolucionando a tela

Da selecção de mestres agora proposta pelo MAM, Gustav Klimt é, provavelmente, aquele mais conhecido da maioria, seja por via do quadro “O Beijo” ou ”O retrato de Adele Bloch-Bauer”, cuja recuperação depois de ter sido alvo de um saque nazi deu origem ao filme “Woman in Gold” protagonizado por Helen Mirren e lançado no ano passado.
Mas Klimt é reconhecido acima de tudo por ser visto, como todos os grandes, como um homem à frente do seu próprio tempo, controverso, seja pelos temas eróticos escolhidos mais para o final da sua careira, seja pelo papel preponderante desempenhado na criação do movimento secessionista. Simbolista no seu âmago, mas nada subtil, pois as suas obras iam muito mais para além do que a imaginação da época sancionava como correcto, Klimt foi mais um a entrar no grande livro dos incompreendidos já que o seu trabalho, como é da praxe, não era muito bem aceite na altura.
Depois de deixar o movimento secessionista em 1905, foi quando o seu trabalho feriu ainda mais susceptibilidades, tanto dos vienenses como dos próprios colegas pintores, devido ao retratar muitos nus femininos, em poses evocativas e eróticas que enfatizavam a sensualidade e o sexo. Imagens controversas que apelavam a uma nova sensibilidade, a uma celebração da sexualidade, a que não serão estranhos os ventos da época como o trabalho de Freud, também ele vienense e que nesse mesmo ano publicou “Três ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, um livro revolucionário que desafiava frontalmente as atitudes conservadoras da época em relação ao sexo.
Após a sua morte em 1918, as vendas dos seus trabalhos aumentaram exponencialmente e são hoje obras de referência consideradas como das peças mais importantes e influentes alguma vez saídas da Áustria.
Um dos seus últimos trabalhos leiloados, um raro retrato de corpo inteiro, foi adquirido no ano passado por um comprador desconhecido pela quantia 39 milhões de dólares.

19 Jan 2016

K’ang-Hsi, imperador da China, revela segredo do sucesso da sua governação

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou ao poder muito novo e há quem diga que existiram vários sinais que previam a sua coroação e reinado. Quer dizer aos leitores de Macau algo sobre isto?
O meu nascimento foi tudo menos miraculoso – nada de extraordinário aconteceu enquanto cresci. Cheguei ao trono com oito anos. Nunca permiti que se falasse de influências sobrenaturais do género das que se encontram registadas nas Histórias: estrelas da sorte, nuvens auspiciosas, unicórnios e fénixes, a erva chih e outras bênçãos, ou queimar pérolas e jade em frente do palácio, ou livros celestes enviados para manifestar a vontade do Céu. Tudo isto não passam de palavras vãs e não posso ir tão longe nas minha presunção. Limito-me a viver cada dia de uma forma normal concentrando-me em governar bem.

É fácil, durante toda a vida, exercer constantemente o poder?
Dar e tirar a vida. São esses os poderes do imperador. Ele sabe que os erros dos funcionários administrativos em departamentos do governo podem ser rectificados mas que um criminoso que foi executado não pode ser ressuscitado. Assim como uma corda cortada não pode de novo ser unida. Sabe, também, que por vezes as pessoas têm de ser chamadas à moralidade através do exemplo de uma execução. Em 1683, depois da captura de Taiwan, discuti com os sábios da corte a imagem do 56º hexagrama do Livro das Mutações, “Fogo na Montanha”. A calma da montanha significa o cuidado que se deve por na imposição de penas; o fogo move-se rapidamente, queimando a erva, tal como os processos, que devem ser resolvidos com celeridade. A minha leitura é que um regente necessita ao mesmo tempo de clarividência e cuidado no castigar. A sua intenção deverá ser castigar de forma a evitar a necessidade de mais castigo.

Kangxi_Emperor2No seu tempo a corrupção era um problema. Quer falar-nos de alguns casos mais relevantes?
Hu Chien-ching era um subdirector do Tribunal de Adoração Sacrificial cuja família aterrorizava a sua região natal em Kiangsu, apoderando-se de terras, mulheres e filhas alheias e assassinando pessoas depois de as acusar falsamente de roubo. Quando finalmente um cidadão vulgar conseguiu demonstrar a sua culpa, o Governador considerou o caso longamente e o Conselho de Castigos recomendou que Hu fosse demitido e exilado por três anos. Eu, por outro lado, ordenei a sua execução, com o resto da família, na sua terra natal para que todos pudessem observar a minha visão de tal comportamento. O cabo Yambu foi condenado à morte por alta corrupção nos estaleiros navais; não só concordei com a pena como enviei o oficial da guarda Uge para supervisionar a decapitação, ordenando que todo o pessoal dos estaleiros, dos generais ao mais baixo soldado, se ajoelhasse em armadura completa e ouvisse o meu aviso de que o seu destino seria a execução se não pusessem fim à sua perfídia.

Mas a pena de morte… Hoje em dia há quem seja contra…
Em tempo de guerra deve haver execuções para castigar a cobardia ou a desobediência. A penal capital da morte lenta deve ser aplicada em casos de traição, tal como o Código Legal determina.

Está então à vontade quando envia um homem para a morte?
De entre as coisas que considero desagradáveis, nenhuma outra é pior do que dar o veredicto final sobre as sentenças de morte que me são enviadas para ratificação depois das sessões de Outono. Os relatórios de julgamento devem ser todos verificados pelos Secretários Superiores, no entanto, encontram-se ainda erros de caligrafia, ou mesmo passagens inteiras incorrectamente escritas. Isto é indesculpável quando se lida com a vida e a morte. Apesar de, naturalmente, me ser impossível examinar cada caso em pormenor, tenho, ainda assim, o hábito de ler as listas no palácio todos os anos, verificando o nome, registo e estatuto de cada homem condenado à morte e a razão por que lhe foi aplicada tal pena. Depois, verifico de novo a lista na sala de audiências com os Secretários Superiores e o seu pessoal, decidindo quais podem ser poupados.

Quando julga alguém, que princípios aplica?
É um bom princípio procurar sempre os aspectos bons de uma pessoa ignorando os maus. Quando se suspeita constantemente das pessoas estas acabam por suspeitar de nós.

Mesmo quando se trata de Chineses (han)?
Tentei ser imparcial entre Manchu e Chineses, não os separando nos julgamentos.

Mas confiava plenamente nos seus oficiais chineses?
Avisaram-me para não nomear o Almirante Shih Lang para liderar a campanha contra Taiwan por ter servido antes a Dinastia Ming e tambémo rebelde Coxinga e, logo, poder revoltar-se se lhe desse navios e tropas. Mas uma vez que os restantes almirantes Chineses asseguravam que Taiwan nunca seria tomada, chamei Shih Lang para uma audiência e disse-lhe pessoalmente: “Na corte dizem que te revoltarás quando chegares a Taiwan. É minha opinião que enquanto não fores enviado a Taiwan a ilha não será pacificada. Não te revoltarás, garanto-te.” Shih Lang capturou Taiwan num ápice e provou ser um oficial leal. Apesar de arrogante e desprovido de instrução, compensou esses defeitos pela prontidão e ferocidade das suas capacidades militares. Os seus dois filhos têm-me servido com distinção.

Qual a sua visão sobre a queda da dinastia Ming?
Passaram-se coisas absurdas durante os Ming: quando, no fim da dinastia, o Imperador Ch’ung-chen aprendeu a montar tinha dois homens para segurarem o freio, dois para os estribos e dois para o arreio de garupa – mesmo assim caiu mandando aplicar quarenta chicotadas ao cavalo e enviando-o para trabalhos forçados num posto militar. Do mesmo modo, quando uma pedra para ser usada na construção do palácio não passava na Porta Wu-men, Ch’ung-chen mandava aplicar-lhe sessenta chicotadas.

Alguma loucura… mas os seus ritos imperiais também exageram…
O imperador tem de suportar o elogio com que o cobrem e que enche os seus ouvidos e que não lhe é de melhor uso do que a chamada “medicina-restaurativa”. Essas banalidades evasivas asseguram o mesmo sustento que a pastelaria fina e rapidamente se tornam enjoativas.

A balofice, pelos vistos, não funciona consigo. E exageros intelectuais também não.
Se desejar, conhecer algo tem de o observar ou experimentar em pessoa. Se afirma conhecer algo com base em ouvir dizer, ou por o descobrir num livro, será motivo de riso para aqueles que realmente conhecem. Demasiadas pessoas afirmam conhecer as coisas quando, na verdade, nada sabem acerca delas. Desde a minha infância tenho procurado descobrir as coisas por mim mesmo em vez de fingir possuir conhecimento quando ignorante. Sempre que me encontrava com pessoas mais velhas inquiria acerca das suas experiências e recordava o que me diziam. Mantenha uma mente aberta e aprenderá coisas. Perderá as boas qualidades dos outros se apenas se concentrar nas suas próprias capacidades.

Para si, a experiência parece ser fundamental.
A nossa ideia de princípio deriva mais da experiência do que do estudo, embora devamos dedicar a mesma atenção a ambos. Afinal, muitas pessoas chamam antiguidades a velhos recipientes de porcelana mas se pensarmos em recipientes do ponto de vista do princípio sabemos que foram a dada altura feitos para ser usados. Apenas no presente nos parecem gastos e impróprios para deles bebermos e, por fim, acabamos por colocá-los nas nossas secretárias ou prateleiras, contemplando-os de quando em vez. Por outro lado, podemos alterar a função de um objecto e, portanto, alterar a sua natureza. Como fiz ao converter uma espada inoxidável que os Holandeses certa vez me ofereceram numa régua que mantinha sobre a minha secretária. Tal como o Jesuíta António Tomás observou, tratou-se de converter algo que transmitia medo em algo que proporcionava prazer. O raro pode tornar-se comum, como acontece com os leões e animais que os embaixadores estrangeiros gostam de nos oferecer e a que os meus filhos se acostumaram. Na guerra é a experiência da acção que conta. Os chamados Sete Clássicos Militares estão recheados de disparates sobre água e fogo, presságios e conselhos sobre o tempo, todos aleatórios e em contradição. Disse uma vez aos meus oficiais que quem seguisse estes livros nunca ganharia uma batalha.

Kangxi_EmperorFalou de um jesuíta. Vários frequentaram a sua corte. Aprendeu muito com eles, sobretudo na Matemática e Astronomia?
Apesar dos métodos Ocidentais serem diferentes dos nossos, podendo mesmo ser vistos como um seu melhoramento, há neles pouco de inovador. Os princípios da Matemática derivam todos do Livro das Mutações e os métodos Ocidentais são de origem Chinesa: a Álgebra – “A-erh-chu-pa-erh”– nasce de uma palavra Oriental.

Claro, tudo tem origem na China… Mas esses jesuítas tentavam conhecer a cultura chinesa.
Nenhum dos Ocidentais está realmente à vontade com a literatura chinesa – à excepção talvez do Jesuíta Bouvet, que leu muito e desenvolveu a capacidade de conduzir um estudo sério do Livro das Mutações. Muitas vezes não conseguimos impedir sorrir quando eles iniciam uma discussão. Como podem falar acerca “dos grandes princípios da China”? Por vezes, agem erroneamente por não estarem acostumados aos nossos hábitos, outras vezes são induzidos em erro por Chineses ignorantes – o enviado papal, de Tournon, usava caracteres mal escritos nos seus memorandos, empregava frases impróprias e assim em diante.

Estou a ver que ainda não esqueceu a Questão dos Ritos, na qual discordou com o Cardeal de Tournon.
Sobre a questão dos Ritos Chineses que podiam ser praticados pelos missionários Ocidentais, de Tournon recusou-se a falar, embora lhe tivesse enviado mensagens repetidamente. Concordei com a fórmula que os padres de Pequim estabeleceram em 1700: que Confúcio era honrado pelos Chineses como um mestre mas que o seu nome não era invocado em oração com o propósito de obter felicidade, promoções ou riqueza; que o culto dos antepassados era uma expressão de amor e recordação filial, cuja intenção não era obter protecção para o autor do culto e de que não havia a ideia de que ao erguer uma tábua ao antepassado a sua alma nela residia. Quando eram oferecidos sacrifícios aos Céus estes não eram endereçados ao céu azul, mas sim ao senhor e criador de todas as coisas. Se de Tournon não respondeu, o Bispo Maigrot fê-lo dizendo-me que o Céu é uma coisa material e não devia ser adorada e que se devia apenas invocar o nome de “Senhor do Céu” para mostrar a reverência apropriada. Maigrot não era somente ignorante da literatura Chinesa: não conseguia sequer reconhecer os mais simples caracteres chineses. No entanto, decidiu discutir a falsidade do sistema moral Chinês.

O Papa queria impor-lhe um representante, não é verdade?
Não compreendo o que quereis dizer com ‘um homem da confiança do Papa’. Na China, ao escolhermos pessoas não fazemos tais distinções. Alguns estão próximos do meu trono, outros a meia distância e outros mais longe. Mas a qual deles poderia confiar qualquer incumbência se houvesse a mais pequena falha da devida lealdade? Quem de entre vós se atreveria a enganar o Papa? A vossa religião proíbe-vos de mentir, aquele que mente ofende a Deus. O enviado respondeu: “Os missionários que aqui habitam são homens honestos, mas falta-lhes o conhecimento interno da Corte Papal. Muitos enviados de outros países convergem para Roma, sendo experientes em negociações e, por isso, preferíveis aos que aqui se encontram.” Então disse-lhe: “Se o Papa mandasse um homem de conduta impecável e dons espirituais tão excelentes quanto os dos Ocidentais que aqui estão agora, um homem que não interferisse com os outros ou os tentasse dominar, ele seria recebido com a mesma hospitalidade que os outros. Mas se dermos a um tal homem poder sobre os outros, como haveis solicitado, haverão muitas e sérias dificuldades. Encontrastes aqui Ocidentais que passaram quarenta anos connosco e, se mesmo esses ainda não têm um conhecimento perfeito dos assuntos imperiais, como poderia alguém tão recentemente transplantado do Ocidente fazer melhor? Ser-me-ia impossível dar-me com ele como me dou com estes. Precisaria de um intérprete, o que implica desconfiança e embaraço. Um tal homem nunca estaria livre de erro e, se fosse nomeado líder de todos, teria de suportar qualquer culpa incorrida pelos restantes e pagar o preço de acordo com os nossos costumes.”

A verdade é que Vossa Excelência nunca foi convertido ao catolicismo.
As suas palavras não eram diferentes dos mais tresloucados ou impróprios ensinamentos de Budistas e Taoístas, porque deveriam ser tratados de forma diferente?

Então se não acredita no Deus cristão, pelo menos acredita no destino?
O destino surge das nossas mentes e a nossa felicidade é procurada em nós mesmos. Daí serem feitas previsões a partir do curso dos planetas acerca do casamento e da fortuna, descendentes, carreira e o passar dos anos – no entanto, estas previsões não chegam muitas vezes a realizar-se na experiência posterior. E isto porque se não desempenharmos o nosso papel humano não poderemos compreender o caminho do Céu. Se o astrólogo diz que serás bem sucedido, poderás então dizer: “Estou destinado a sair-me bem e posso dispensar os estudos?” Se aquele afirma que enriquecerás, poderás sentar-te e aguardar a riqueza? Se te oferece uma vida livre de desgraça, poderás ser temerário? Ou ser debochado sem risco apenas por que diz que viverás muito e em saúde?

il_570xN.758050173_12idComo encara o seu reinado?
Estou a aproximar-me dos setenta e os meus filhos, netos e bisnetos são mais de 150. O país está relativamente em paz e o mundo está em paz. Mesmo que não tenhamos melhorado todas as maneiras e costumes e tornado toda a gente próspera e feliz, trabalhei com incessante diligência e intensa vigilância, nunca descansando, nunca ocioso. Durante décadas exauri todas as minhas forças, dia após dia. Como poderia tudo isso ser resumido numa frase de duas palavras como “trabalho árduo”?

Deixa uma extraordinária herança. Qual foi o seu segredo?
Todos os Antigos costumavam dizer que o Imperador se devia preocupar com princípios gerais mas que não devia lidar com pormenores. Não posso concordar com isto. O tratamento descuidado de um assunto pode trazer consequências nefastas ao mundo inteiro, um momento de distracção pode causar danos a todas as gerações futuras. A falta de atenção aos pormenores acabará por colocar em risco as nossas maiores virtudes. Por isso dedico sempre a maior atenção aos pormenores. Por exemplo, se negligenciar alguns assuntos hoje e os deixar por resolver, amanhã existirão mais assuntos para resolver.

Está portanto satisfeito com o seu desempenho?
Desfrutei a veneração do meu país e as riquezas do mundo. Não há objecto que não possua, nada que não tenha experimentado. Mas agora que atingi a velhice não consigo parar nem um momento. Por isso, considero o país como um sandália usada e todas as riquezas como lama e areia. Se morrer sem que tenha havido uma erupção de distúrbios, os meus desejos terão sido satisfeitos. Desejo que todos vós oficiais se recordem que fui o Filho do Céu portador da paz por mais de 50 anos e o que vos repeti, vez após vez, foi realmente sincero. Então, isso terá completado um fim digno da minha vida. Nada mais direi.

Na próxima segunda-feira, a Livros do Meio lança “Imperador da China – Autobiografia de K’ang-Hsi”, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. A apresentação da obra será feita por Carlos Morais José.

15 Jan 2016

FRC | Professor da USJ apresenta obra sobre Direito Internacional

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]professor da Universidade de São José (USJ) Francisco José Leandro prepara-se para apresentar o seu novo livro – “A RAE de Macau e a União Europeia: Dois Sujeitos de Direito Internacional?” – na Fundação Rui Cunha (FRC). O lançamento vai acontecer às 18h30 do próximo dia 21.
A cargo de José Luís Sales Marques, a apresentação conta ainda com Paulo Cardinal, actual assessor da Assembleia Legislativa. A publicação da obra conta ainda com a colaboração da Fundação Macau e do Instituto de Estudos Europeus.
“Esta obra visa lançar alguma luz sobre a actual Personalidade Jurídica Internacional de Macau sob a marca política da República Popular da China afirmada pelo Presidente Deng Xiaoping, Um País Dois Sistemas”, refere a FRC em comunicado.
De acordo com a organização da iniciativa, é ainda preciso aprofundar o estudo sobre o “estatuto jurídico internacional” na RAEM, com o objectivo de “identificar que tipo de capacidades jurídicas estão atribuídas à existência da RAEM, enquanto sujeito da comunidade jurídica internacional”.
Francisco Leandro é doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa e actualmente leccionada na USJ. A obra será lançada em três línguas – Português, Chinês e Inglês – será editada com a FRC, e as outras duas entidades organizadoras. O lançamento será feito em Português, com tradução simultânea para Cantonês.

14 Jan 2016

Música | Brandon Lamn lança novo disco como Burnie

Brandon Lamn actua sob vários nomes, mas é Burnie quem acaba de lançar o disco “Lotus City”. Com Macau como pano de fundo, trilha um novo caminho para a música electrónica, dando-lhe novas roupas e até um corte e maquilhagem radicais

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]artista de Macau Brandon Lamn voltou a assumir a forma de Burnie, nome artístico com o qual funciona a solo, para lançar um novo disco. Intitulado “Lotus City”, alude naturalmente à sua terra-natal, Macau, que tem a planta de lótus como figura representativa na bandeira.
Em entrevista ao HM, Lamn confirma que grande parte do novo álbum vem beber à vivência da própria cidade, havendo mesmo faixas que assim o explicam. “A cidade dá-me material de inspiração e exemplo disso são as faixas ‘Fireworks’, ‘Cyclone’ e ‘Panda’ que, de certa forma, se relacionam facilmente com a cidade. Vivo aqui há 30 anos e produzi o disco em Macau, pelo que naturalmente o meu trabalho musical será afectado por isso mesmo”, explicou. 16dca7db-085e-471a-a926-41d260b327ab
Já disponíveis para ouvir gratuitamente na plataforma Soundcloud, estão ‘Square’ e ‘Soul Alliance’. É através de uma batida electrónica que o artista tenta passar para o ouvinte a sonoridade de uma cidade em constante movimento. As deslocações diárias, o trânsito nas estradas, a altura dos prédios e as vistas desarmadas do horizonte urbano são alguns dos elementos que fazem a qualidade deste disco.

Mudança de espírito

Lançado este mês, o álbum pretende ser, segundo Burnie, uma compilação de sonoridades diferentes das anteriores lançadas. “Quando comparado com os álbuns dos EVADE [banda de Lamn], penso que todos conseguem identificar estilos musicais muito diferentes. EVADE é uma banda e por isso as músicas são o resultado daquilo que eu, a Sonia e Faye temos feito durante estes anos”, diz. No entanto, acrescenta, ‘Lotus City’ é um trabalho “só” de Brandon. “É a forma como eu vejo a música electrónica”, define.
Esta nova peça é resultado de uma série de experiências com base na cidade, mas que não só se inspiram na sua vivência, como em sons e batidas verdadeiras. Burnie faz uso da técnica de sample, onde se captam sons dos ambientes em redor para incorporar em músicas, geralmente funcionando como música de fundo. Neste caso, foram usados sons que remetem para “estilos de música oriental” e outros de downtempo.

Patrocínios culturais

O lançamento do álbum contou com o patrocínio do Instituto Cultural que, esclarece Lamn, financiou “a produção, masterização e impressão” da peça. “Sinto-me feliz por ver que o Governo está a investir recursos nas indústrias culturais e criativas, até porque qualquer artista precisa de um determinado tempo para crescer”, diz. burnie
Burnie aponta para uma média de dez anos até que a internacionalização seja possível. “É preciso ser paciente”, defendeu. Questionado sobre a qualidade, no geral, dos artistas locais, Brandon Lamn fala da existência de vários bons autores e compositores musicais, numa indústria “que se está a desenvolver” à imagem das de Taiwan e da Coreia do Sul no seu tempo.
O próximo passo é publicitar o novo disco em Guangzhou já este sábado e mais tarde realizar o lançamento oficial em Macau e em Hong Kong. Além disso, o artista está em debate com lojas no Japão, Malásia e Singapura para a eventual venda do álbum a nível regional. “Estou também em negociações com uma empresa para a colocação do álbum online, em websites como o iTunes, Beatport e Amazon”, finalizou. Há ainda uma digressão asiática pensada e Lamn promete divulgar mais pormenores mal tenha as confirmações.

14 Jan 2016

Livros do Meio apresenta autobiografia de K’ang Hsi

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]editora local Livros do Meio lança, na próxima segunda-feira, uma obra autobiográfica do imperador chinês K’ang Hsi. O lançamento acontece às 18h30, na Fundação Rui Cunha. “Imperador da China – Autobiografia de K’ang Hsi” compreende uma série de manuscritos traduzidos por Jonathan Spence, com cartas e outros escritos seleccionados que dão uma luz esclarecedora sobre a vida do imperador que governou a China durante a segunda metade do século XVII. Nesta peça literária – autobiográfica – todos os textos foram escritos pelo imperador, sendo que a Spence se atribui somente a selecção dos manuscritos a incluir na obra.
“Por estas páginas, perpassam as ideias, os valores, os pensamentos e as afeições de um homem que é considerado um dos mais brilhantes governantes da História”, refere a organização em comunicado.
K’ang Hsi foi o primeiro imperador a nascer a sul de Pequim, em 1654, e o quarto da Dinastia Qing. Além disso, foi o governante que mais tempo esteve no poder – 61 anos. No entanto, a sua governação não teve lugar desde a chegada ao trono, tendo sido a sua avó e outros quatro representantes a tomar as rédeas do país dos sete aos 13 anos de idade do então jovem. imperador da china spence
Este é considerado uma das personagens mais emblemáticas na história da política chinesa, tendo presenciado a Revolução dos Três Feudalismos, o Reino de Tungning em Taiwan e o bloqueio Czarista. Contas feitas, no final do seu reinado, o imperador chinês tinha a seus pés a China, Taiwan, a Manchúria e parte da Rússia, mas também a Mongólia e o Tibete.
“O livro poderá ser visto como uma tentativa de explorar o poder que a memória tem de transcender o tempo, uma tentativa de mostrar eventos de uma vida tal como podem renascer em alguns momentos de concentração mental”, explica Spence no prefácio da obra.
O livro aproxima-se de uma biografia no sentido em que o seu editor pretendeu mostrar as várias fases da vida de K’ang Hsi.
Jonathan Spence nasceu no Reino Unido, mas tem dupla nacionalidade. De entre as publicações da sua autoria estão 14 obras sobre a China subordinados a vários temas, nomeadamente diferentes dinastias, a Revolução Cultural ou a presença ocidental deste lado do mundo. Spence vive agora nos EUA, tendo-se doutorado em Filosofia Chinesa Clássica na Universidade de Yale.

13 Jan 2016

Música | Jovem de Macau lança hoje segundo álbum de originais

Toca bateria, teclas e guitarra e faz dos sintetizadores o seu brinquedo. Achun, nascido e criado em Macau, lança hoje “Hallucination”

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Achun e nasceu e cresceu em Macau. Foi também aqui que criou todas as músicas que fazem parte de “Hallucination”, o segundo álbum na sua carreira e que é agora dado a conhecer ao público. A data não foi escolhida ao acaso: Achun celebra hoje 32 anos e quis, com este CD, dar um “presente a si próprio”.
O disco inclui sete músicas, todas elas instrumentais, e compostas por Achun. A electrónica é o seu estilo, mas o músico – independente – explica que, por detrás do que faz, há muito trabalho.
“As pessoas pensam que eu sou um DJ, mas não. A verdade é que eu toco diversos sintetizadores e instrumentos, como bateria, guitarra e teclas”, explica ao HM, acrescentando que não se fica por aqui.

No início era os anos 80

Quando começou, há quatro anos, Achun enveredou por estilos mais relacionados com os anos 80. Como exemplo para ilustrar a sua explicação, o jovem diz-nos que começou por fazer sons semelhantes aos do jogo “SuperMario”. Ultimamente tenho criado algumas músicas mais asiáticas e de etnias diferentes, com instrumentos especiais como carimba e maracas. Quero criar músicas que misturam o estilo asiático e electrónico”, diz-nos.
Apesar de fazer tudo do zero sozinho, Achun assume que também pensa na sua audiência, especialmente quando tem concertos: o estilo pode ser mais “suave, mais vibrante, mais pesadão”. achun
Estudante do curso de Desenho do Instituto Politécnico de Macau, Achun acabou por não terminar a licenciatura. Ao mesmo tempo que estudava, trabalhava numa empresa de desenho. O facto de considerar que o conteúdo do curso não era tão interessante ajudou a que o jovem optasse pela sua paixão: a música.
“Comecei a minha carreira musical há quatro anos. A música sempre me interessou, sempre tive uma grande paixão por música e, nos três anos anteriores, sempre pensei em tornar-me músico a tempo inteiro. Só não me despedi do trabalho porque precisava de ganhar o meu pão.”
Achun publicou o seu primeiro álbum – “On The Other Side” – em 2012, tendo feito o seu primeiro concerto par ao lançamento do disco em Xangai. Foi aqui que a sua carreira deu um passo em frente.
“Conheci um italiano que era dono de uma editora em Bolonha. Combinamos lançar algumas músicas na internet e foi isso que fizemos com obras como ‘City Vibes’ e ‘The Gloaming Time’. Depois desta cooperação, fui contratado por uma empresa de Hong Kong.”
Achun passou, então, a viver e trabalhar na região vizinha. Voltou a Macau para criar mais música, mas a verdade é que o bichinho da RAEHK ficou para sempre consigo.
“Embora tenha tido concertos já em Xangai, Taiwan e Hong Kong, bem como em Macau, a maioria dos meus shows é na RAEHK. Macau não é muito conhecido nos países estrangeiros e, como morei e trabalhei lá, digo aos estrangeiros que sou de Hong Kong. Mas não me esqueço que nasci e cresci em Macau. Se for mais conhecido mundialmente, no futuro, vou dizer aos meus fãs que sou de Macau. E vou falar desta terra, caso eles não saibam onde fica”, conta-nos sorridente.

O mercado local

A dificuldade de fazer música em Macau é algo apontado pelo músico, que caracteriza a indústria musical local como um “papel branco”. Faltam recursos humanos e espaços, diz, mas também uma verdadeira paixão por música da parte do público.
“O território é pequeno, não há muito potencial para música aqui e os residentes não dão muita atenção à música. Por isso é que me concentrei mais no mercado internacional.”
Ainda assim, Achun não desiste do que gosta de fazer. Prova disso é este novo álbum, que é publicado de forma independente através da sua própria empresa – a “The Future Perfect”. Desde a criação da música, à gravação do disco e à promoção tudo é, então, feito por Achun.
O artista diz-nos ainda que todas as capas dos seus álbuns são desenhadas por si. A capa de “Hallucination” é inspirada em ficção científica, uma das suas outras paixões. O álbum vai ser lançado digitalmente, para já, e só depois em formato físico. As músicas de Achun podem ser ouvidas em plataformas como iTunes, Amazon e KKbox.

13 Jan 2016

Festival de Graffiti | Arte urbana nas escolas e parques da cidade

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação do Poder das Artes para Inspirar Inteligência de Macau está a organizar o primeiro Festival de Graffiti de Macau. O evento começou ontem e decorre durante uma semana. Entre as actividades disponíveis estão palestras e a possibilidade de pintar as paredes de parques e escolas.
A cerimónia de abertura do festival aconteceu ontem no Centro UNESCO de Macau. Foi também aqui que teve início a Exposição de Obras de Graffiti de Alunos do Ensino Especial, com a cooperação da Cáritas de Macau e da Associação de Familiares e Encarregados de Deficientes Mentais de Macau.
O presidente da associação, Chong Cok Veng, e o director da Associação, Peter Siu Chun Yun esperam tornar este festival anual, considerando uma “marca local” para atrair mais turistas e para que a arte urbana atinja a cidade.

Quarteto italiano

É às 10h00 de amanhã que acontece uma palestra sobre o tema, no Instituto Politécnico de Macau. Quatro artistas de graffiti do grupo italiano Truly Design – Mauro Italiano, Emanuele Ronco, Marco Cimberle e Emiliano Fava – são as cabeças de cartaz do festival. O quarteto lecciona actualmente no Instituto Europeu de Design, em Torino. Marco Cimberle é especialista em Design a três dimensões e Mauro Italiano em Ilustração.
Das 14h00 às 16h00 de hoje e amanhã e das 10h00 às 16h00 desta quinta e sexta-feira estão abertas sessões de grafitti no Parque de Grafitti de Macau, situado na Rua dos Mercadores. O graffiti não “invade” apenas o parque, como também chega à Escola da Cáritas de Macau às 10h00 de amanhã. O último dia da actividade vai ter lugar na Praça de Amizade, das 9h00 às 17h00, onde os artistas vão fazer graffiti em 3D. 
Esta actividade é co-organizada pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e patrocinado pela Fundação Macau.

12 Jan 2016

Camaleão excelentíssimo

Ambíguo, heteronímico, multifacetado, David Bowie foi a figura da cultura pop que melhor interpretou a segunda metade do século XX

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]avid Bowie, que morreu no domingo, aos 69 anos, conjugou magistralmente talento, ‘gancho’ comercial e ambiguidade, tornando-se num dos músicos mais influentes de sempre, com um estilo ímpar que nunca deixou de reinventar. Provocador, enigmático e inovador, construiu uma das carreiras mais veneradas e imitadas da indústria do espectáculo, que o colocou no pedestal das lendas da música.

Nascido David Robert Jones, a 8 de Janeiro de 1947, no seio de uma família modesta de Brixton, um bairro popular do sul de Londres, a lenda do rock viu o primeiro sucesso chegar em 1969, com “Space Oddity”, uma música que se tornou mítica sobre a história de Major Tom, um astronauta que se perde no espaço.

Nessa altura, já tinha operado a primeira de muitas reinvenções, ao “batizar-se” David Bowie quatro anos antes, para evitar confusões com Davy Jones, vocalista dos The Monkees, banda rival dos Beatles.

Os anos 1970 viram-no dominar o panorama musical britânico e conquistar os Estados Unidos da América com uma série de álbuns de sucesso.

david_bowie_hd_wallpaper-1600x1200Bowie, que estudou budismo e mímica, traçou o caminho para vingar como uma das figuras de maior relevância durante mais de cinco décadas. Multifacetado, também foi actor, produtor discográfico e venerado como ícone de moda pela tendência para provocar por via da indumentária.

Autor de álbuns aclamados como “Heroes” (1977), “Lodger” (1979) e “Scary Monsters” (1980), o artista, radicado em Nova Iorque há anos, chegou ao topo da indústria a 06 de junho de 1972 com “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spider From Mars”.

Este disco, em que relata a inverosímil história da personagem Ziggy Stardust, um extraterrestre bissexual e andrógino transformado em estrela de rock, reuniu duas das obsessões do cantor: o teatro japonês kabuki e a ficção científica. Contudo, essa excêntrica personagem foi apenas uma das muitas personalidades que adotou ao longo da carreira, como os outros “alter egos” da sua produção criativa: Aladdin Sane ou Duque Branco.

Em 1975, chegou o primeiro êxito nos Estados Unidos, com o ‘single’ “Fame”, que co-escreveu com John Lennon, e também graças ao disco “Young Americans”. Mais tarde, em 1977, chegou o minimalista “Low”, a primeira de três colaborações com Brian Eno, conhecidas como a “Trilogia de Berlim”, que entraram no top 5 britânico.

Ao lugar cimeiro da tabela musical no seu país chegou ainda com “Ashes to Ashes”, do álbum “Scary Monsters (and Super Creeps)”; colaborou com os Queen no êxito “Under Pressure” e voltou a triunfar em 1983 com “Let’s Dance”. Em 2006, anunciou um ano sabático e desde então muitos fãs choraram a prolongada ausência que deu azo a todo o tipo de rumores sobre a sua saúde.

Após anos de silêncio, David Bowie “ressuscitou” em 2013, aos 66 anos, com “The Next Day”, um disco produzido pelo veterano Tony Viscontti, o seu homem de confiança que enamorou a crítica com típicos elementos ‘bowinianos’. Um ano depois, pôs no mercado a antologia “Nothing Has Changed”, com a qual celebrou meio século de carreira.

O seu mais recente álbum foi “Blackstar”, em que surge como um ‘rocker’ ainda apostado em surpreender ao enveredar por alguma experimentação jazz, o qual foi posto à venda na passada sexta-feira, coincidindo com a data do seu 69.º aniversário. O seu 25.º álbum, surgido sob o signo de uma misteriosa estrela negra (“Blackstar”), é atravessado por baterias epilépticas, por correntes e explosões de saxofones (o primeiro instrumento de Bowie) e por uma voz de veludo que transmite ora doçura, ora inquietação em surdina.

David Bowie, que lutava há 18 meses contra um cancro, era casado desde 1992 com a modelo somali Iam, com a qual teve uma filha, Alexandria Zahra “Lexi” Jones. Tem outro filho, Duncan Jones, fruto de um primeiro casamento com Angela Bowie.

Blackstar, a última partida

O novo disco é sombrio e desafiador. Gravado ao lado de um quarteto de jazz (o Donny McCaslin Quartet), traz ecos do disco Outside, que Bowie lançou em 1995, em que conspirava com a ficção científica e o início da era digital, além de forte influência de música electrónica. Também é influenciado pelas distopias da nossa época actual – o saxofonista McCaslin disse que a faixa-título teve o Estado Islâmico como inspiração – e pelo disco mais recente do rapper Kendrick Lamar, To Pimp a Butterfly e tem uma música (“Girl Loves Me”) composta no inglês torto inventado por Anthony Burguess em Laranja Mecânica. É um disco que fala de morte de uma forma estranha e sem pessimismo, como se o cantor e compositor estivesse a preparar a forma como quer ficar conhecido.

Músicos locais lamentam morte de ídolo

bowie_aladin_sane_1000px“Uma gigante perda”
A morte do artista David Bowie, aos 69 anos, vítima de cancro, apanhou o mundo de surpresa. Depois de pulos de alegria, por parte dos seus seguidores, com o lançamento do novo álbum “Blackstar”, na semana passada, é tempo de chorar a morte do cantor.

“Estou chocado, fui apanhado completamente de surpresa. É uma perda enorme para o mundo da música, para os músicos, para o mundo”, reagiu Luís Bento, empresário e músico, residente em Macau. “Os anos 80 e 90 foram marcados pelo Bowie, nem acredito que isto aconteceu”, apontou ao HM. David Bowie era, conta, um artista de mão cheia que fez o que muitos não conseguem fazer. “Os músicos a sério são-no até morrer. Não tenho dúvida disso e Bowie é só mais um exemplo da qualidade e trabalho que sempre o distinguiu”, frisou.

Para Darrren Kopas, membro da banda local Music Boxx, esta é claramente “uma gigante perda”. “O mundo conhece o David Bowie, é uma referência para qualquer músico de pop rock. Perdemos um grande artista”, frisou.

O músico Ladislau Monteiro, mais conhecido por Zico, relembrou os tempos em que os discos do artista inundavam a casa dos pais. “Claro que David Bowie é uma influência. É um ídolo. Qualquer músico da nossa geração tem o Bowie como referência. Fico muito triste, muito triste mesmo, com esta notícia”, apontou.

“É uma enorme perda para o mundo musical”, refere Vincent Cheong, proprietário do Live Music Association (LMA). Bowie, diz, conquistou o mundo e agora deixa-o mais pobre.

O trabalho “Blackstar” fecha a história de uma vida. David Bowie despediu-se assim dos fãs. “Esta foi a melhor prenda que David Bowie nos podia deixar, um álbum”, refere Tatiana Lages, uma assumida seguidora do trabalho do artista.

Quais são os teus direitos como ser humano?

Bowie, sendo inglês, não partilha da visão anglo-saxónica do mundo, que é pragmática.

Nasce numa Londres parcialmente destruída pelos raides aéreos alemães e sujeita a um racionamento até 1954.

Bowie fez uma audição para o musical Hair, a primeira peça com nudez integral a estrear em Londres depois do fim da censura. Mas não foi aceite.

A chave está nos anos 70, quando Bowie surge como Ziggy Stardust.

O seu interesse pelo teatro musical era de tal forma que, em 1973, Bowie solicitou à viúva de George Orwell autorização para adaptar o romance 1984 para palco, mas não foi aceite. E foi daí que nasceu o álbum Diamond Dogs (1974), que é um concerto completamente encenado.

Bowie tinha visitado a Factory, de Andy Warhol, em Nova Iorque, onde o seu agente tinha comprado, em 1966, uma gravação de um álbum de Lou Reed and the Velvet Underground que era, também, uma forma completamente diferente de fazer teatro musical.

O que é interessante de analisar são as formas que Bowie encontrou para se fechar do mundo, como quando decidiu ir para Berlim nos anos 70. Na verdade, para ele tudo é representação e essa ideia está já no início da sua carreira.

Bowie foi aluno de Lindsey Kemp, um actor que foi também mimo e não se sabe se tiveram ou não um caso. Mas foi Kemp quem o levou para uma série de filmes onde era sempre type-casted.

A grande diferença de Bowie é que, ao contrário de outros grupos, nos anos 1980, como os Pet Shop Boys, ou agora a Lady Gaga, não teve que preencher qualquer vazio. Ou pelo menos, não o mesmo vazio. Marcel Duchamp fez o mesmo quando, nos anos 1920, deixou de produzir e considerou que o grande gesto criativo era jogar xadrez [publicou, mais tarde, o livro The Art of Chess].

Se o Ziggy Stardust andasse nas ruas de Londres ou de Lisboa, duvido que alguém lhe desse importância. Mas há muitas cidades no mundo em que se o fizesse, teria uma reacção hostil e possivelmente violenta, ou pior.

A influência de Bowie percebe-se na linha da frente de uma das maiores divisões do mundo, que já não é política ou religiosa, mas na verdade, é muito mais fundamental: quais são os teus direitos como ser humano?

Bowie não tem um programa político, mas disse: “eu decido ser isto, e tu decides o que queres”. A grande fractura, hoje, está na diferença entre o indivíduo e os seus direitos. Entre o indivíduo e a liberdade de escolha.

Há uma frase de William Blake que me parece ser adequada para explicar Bowie: alguém que não teve um predecessor, que não vive a par dos seus contemporâneos e não pode ser substituído por qualquer sucessor.

12 Jan 2016

Comédia | Canadiano Russell Peters com espectáculo no Studio City

Russell Peters pode não soar ao ouvido de toda a gente, mas é certamente conhecido pelos EUA e Canadá, onde já venceu vários prémios e esgotou salas. O comediante estará no Studio City em Fevereiro

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]comediante Russell Peters estará em Macau no próximo dia 26 de Fevereiro para um espectáculo sem igual no Centro de Eventos do Studio City. Os bilhetes começam a ser vendidos hoje.
Macau está na lista na mais recente digressão do artista, “Almost Famous World”. Antes disto, em 2012, Peters conquistou o mundo e internacionalizou a sua comédia com a digressão “Notorious World”. O espectáculo vai compreender “novo materiais e nova iluminação”, com a garantia, em primeira mão, de muita interacção com o público.
“Gosto de me relacionar com a plateia e uso a interacção para me levar de uma performance para a outra. Alguns artistas sobem ao palco com um guião preparado e não se desviam disso mas esse não é o meu estilo”, começa o autor por dizer.
Peters assegura saber o que quer fazer em palco, mas é com a influência e comportamento da audiência que vai fazendo a sua magia. Esta é a primeira visita do comediante ao território. Canadiano, mas de ascendência sul-asiática, o comediante esgotou o Teatro Harlem’s Apollo e a Arena Brooklyn Barclays em 2012, pelo que o Studio City apela à compra antecipada dos bilhetes. A digressão anterior teve 150 mil espectadores só no Canadá. A presente lista de locais de espectáculos passa pela África do Sul, Nova Zelândia, Austrália e outros países.
Peters deu início à sua carreira na área do stand-up comedy em 2008, através de financiamento, produção e distribuição por conta própria do seu trabalho, através do lançamento de DVDs, que totalizaram 350 mil vendas só nos EUA. Agora é a Netflix que espalha parte do seu trabalho pelo mundo, com “Notorious” a ser um exclusivo da cadeia televisiva, com sete horas só suas neste canal. Além disso, Peters encontra-se na lista da Forbes dos 10 Comediantes Melhor Pagos dos EUA desde 2009. Os bilhetes custam entre 680 patacas e 50 mil patacas para uma suite de 24 pessoas.

11 Jan 2016

Bibliotecas com espaços especiais para a leitura

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s bibliotecas públicas têm uma nova cara desde Dezembro. Através da iniciativa “Livros ao Sol 2015”, os espaços de leituras têm agora cantos dedicados à leitura aquecida, ou seja, locais especialmente desenhados para que os utilizadores possam ler à luz do sol. Esta iniciativa está patente até 15 deste mês e inclui um destaque especial para o programa “Livros Esquecidos”, que coloca em ênfase obras que raramente são lidas ou requisitadas.
Foram três as bibliotecas que aderiram ao projecto, incluindo a Sir Robert Ho Tung, perto de S. Lourenço, a Biblioteca Central – no Tap Seac – e a da Taipa, no Parque Central. Todos os cantos de leitura foram desenhados por arquitectos do território. A primeira tem a assinatura de Andre Lui Chak Keong, a segunda do atelier Che Hon e a terceira do profissional português Nuno Soares.

Biblioteca Sir Robert Ho Tung
Biblioteca Sir Robert Ho Tung

“O canto de leitura da Biblioteca Sir Robert Ho Tung foi desenhado pelo arquitecto local Andre Lui Chak Keong, o qual se inspirou nas concentrações festivas de eruditos da antiguidade junto aos rios, caracterizadas por um espírito fluído e despreocupado, usando as janelas para criar um elo entre o espaço de lazer e o jardim exterior e dando forma a um canto de leitura completamente diferente das funcionalidades originais do espaço”, conta o IC em comunicado.
A Biblioteca Central tem agora um espaço com uma “iluminação simples para contrastar e fazer sobressair diversas formas de papel”, enquanto a da Taipa está decorada com uma instalação. Os três espaços terão ainda patente uma exposição de fotografia.

11 Jan 2016

Escritores unidos pela Língua Portuguesa

[dropcap style=’circle’]Y[/dropcap]ao Jing Ming e Ricardo Pinto são dois dos participantes da sexta edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, que decorre em Fevereiro na capital cabo-verdiana. O encontro, promovido pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) em parceria com a câmara municipal da Praia, visa “contribuir para o diálogo e enriquecimento recíproco entre escritores dos diferentes continentes”, adianta a organização em comunicado.
No encontro participam escritores de todos os países de Língua Portuguesa e da RAEM. Na sexta edição do encontro, que decorre entre 1 e 3 de Fevereiro, serão analisados os temas “A Literatura e a Diáspora”, “A Literatura e a Insularidade” e a “Poesia e a Música”.
José Luís Peixoto (Portugal), Germano de Almeida (Cabo Verde) e Luandino Vieira (Angola) são outros dos convidados, ao lado de Ana Paula Tavares, José Luís), João Paulo Cuenca (Brasil), Abraão Vicente, Germano Almeida e Vera Duarte (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau), Luís Patraquim e Paulina Chiziane (Moçambique), João de Melo, José Carlos Vasconcelos, José Fanha, Miguel Real e Zeca Medeiros (Portugal), Goretti Pina (São Tomé e Príncipe) e Luís Cardoso (Timor-Leste), que são também presenças já confirmadas no encontro.

Prémios e homenagens

O programa, que contará com a presença do Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, inclui uma homenagem ao poeta cabo-verdiano Corsino Fortes, falecido no Verão, pelo também escritor cabo-verdiano Germano de Almeida.
Será ainda apresentado o prémio Cabo-Verdiano de Literatura do BCA, em parceria com a Academia Cabo-verdiana de Letras e o Prémio Literário UCCLA “Novos talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa”.
No âmbito do encontro estão ainda previstas várias iniciativas paralelas, nomeadamente visitas à Cidade Velha e Tarrafal de Santiago, a inauguração da exposição “Casa dos Estudantes do Império, 1944-1965. Farol da Liberdade” e a realização de uma feira do livro.
O Encontro de Escritores de Língua Portuguesa realiza-se este ano na Praia, depois de as quatro primeiras edições terem decorrido em Natal (Brasil) e a quinta em Luanda (Angola).

11 Jan 2016

Turtle Giant gravaram “Many Mansions I” com o único cravo do Teatro D.Pedro V

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se “Many Mansions I” e é, em termos de sonoridade, o álbum dos Turtle Giant “mais variado” que já fizeram. Quem o diz são Beto Richie e António Conceição, dois dos três membros da banda, que falam ao HM sobre o recente disco. O terceiro elemento, Fred Richie, está neste momentos pelos EUA a trabalhar no sector da música.
Lançado oficialmente em meados de Novembro, “Many Mansions I” traz faixas fresquinhas e boas saídas da mente do trio, com direito à cedência do Teatro D. Pedro V para a gravação das músicas. Inteiramente feito dentro daquelas quatro paredes, contou com a sonoridade única de um cravo – instrumento musical de teclas semelhante ao piano, mas com uma sonoridade completamente diferente. O nome do novo álbum explica exactamente o que este é: um aglomerar de histórias das “várias casas” musicais por onde a banda vai passando e de onde vai bebendo.
“Cada música é uma história. Um bocado como o nome do álbum, temos muitas ‘casas’ que gostamos de visitar, ou seja, muitos estilos que gostamos de tocar”, explica António Conceição, também conhecido como Kico.

Para português ouvir

Das 12 faixas já disponíveis online em websites como o iTunes ou o Spotify, duas delas são cantadas em Língua Portuguesa, como bem manda a origem dos músicos.
“A Luck tem uma segunda parte cantada em Português e foi o Kico que escreveu”, confessou Beto.
Vida de músico
O lançamento do álbum estava previsto para o Verão de 2014 e, mais tarde, para Outubro do mesmo ano. No entanto, celeumas e entraves com produtoras e agentes dificultaram o processo, arrastando-o até à saída oficial.
Ainda assim, várias das músicas contidas em “Many Mansions I” eram já conhecidas do público, uma vez que foram parar a websites de pirataria online. “Por um lado, é bom vermos as nossas músicas nestes websites, porque se lá estão significa que há quem queira, mas também nos obrigou a alterar os planos para o lançamento”, admite Beto.
O lançamento partiu somente da banda, que colocou o CD online, deixando assim de “se preocupar tanto com o trabalho das agências” discográficas.
“[As agências] nunca nos satisfizeram e desde 2013 que começaram a ficar aquém, em relação aos timings de lançamento e decisões que tomavam. Isso levou-nos a tomar as rédeas do projecto”, esclareceu Kico, que é não só guitarrista, mas também vocalista.
A masterização das músicas aconteceu em Londres, mas a produção das letras e gravação das faixas teve lugar por cá, na terra dos três músicos, e em Hong Kong. De entre as 12 faixas, foram “Nathaniel 3401”, “Golden Summer” e “Business Suit Morning Struggle” que mais gozo deram gravar.

Tempo sem dinheiro

“Quando temos um emprego a tempo inteiro, temos mais dinheiro, mas não temos tempo. E quando estamos desempregados, temos tempo mas não há dinheiro”, afirma Beto, quando questionado acerca da forma como se faz um álbum.
A conversa foi, inevitavelmente, parar à temática badalada da promoção das indústrias culturais e criativas. Que papel tem o Governo local na publicitação de uma banda local? A opinião é unânime: além da cedência do Teatro, nenhum. Há, certamente, vários subsídios disponíveis para quem pretenda mostrar o seu talento em Macau, mas a esmagadora maioria é “restritiva”.
Isso mesmo explicam os dois músicos, que além de terem sempre agido sem a ajuda do Executivo, criticam a falta de abertura ou iniciativa. Tanto do Governo, como de associações locais. Como exemplo, os Turtle Giant contam que se candidataram uma vez, em 2012, a um destes programas, mas foram rejeitados por não cumprirem os requisitos. Um deles era que todas as músicas submetidas fossem totalmente originais e algumas delas já conhecidas do público.
O próximo passo dos Turtle Giant será lançar “Many Mansions I” em formato físico em vinil e em disco ainda este ano e a isso segue-se uma eventual digressão. Por onde, ainda não se sabe, mas certamente por lugares onde o talento dos Turtle Giant é reconhecido. O colectivo já passou por uma série de rádios universitárias norte-americanas e outros quantos festivais em cidades dos EUA, no Canadá e em Inglaterra. “Many Mansions I” pode ser adquirido por 9,99 dólares norte-americanos na loja da iTunes, via website oficial da banda.

8 Jan 2016

Bistro D’Indochine | Paris no copo, China no prato

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau tem um novo espaço que pretende juntar o Ocidente com o Oriente. Chama-se Bistro D’Indochine e traz o sabor de Paris ao copo, através dos seus vinhos, e o da China, nos tão típicos noodles que chegam ao prato.
“O Bistro D’Indochine abriu um pouco antes do Natal e o que estamos a fazer é um bistrô estilo francês, que muitas vezes é visto em Paris, mas introduzindo a comida chinesa, assim como as [típicas] baguetes”, começou por explicar Stephen Anderson ao HM, também dono do Café Cathedral.
Do menu fazem parte vários pratos, mas a especialidade é de facto os noodles, assim como típicos vinhos franceses, ainda que haja vinhos também de outros países.
Tal como aconteceu no Café Cathedral, a escolha deste lugar foi altamente pensada. “Um pequeno pátio”, como Stephen Anderson descreve, numa transversal a uma das principais ruas da zona história de Macau. bistro d'indochine
“Temos também uma pequena área de jardim. Limpámos toda aquela zona e neste momento pode ser usada pelos nossos clientes”, aponta, frisando que a intenção é sempre trazer as pessoas à cidade e humanizar mais as ruas.
“O mesmo que acontece no pátio em frente ao Café Cathedral”, reforçou. A proximidade ao Consulado Português é também uma forma de chamar clientes portugueses, adiantou o empresário.
“O que quereremos é basicamente revitalizar a zona histórica da cidade”, frisou. Neste momento, o novo espaço está aberto até às 22h00, todos os dias, mas Stephen Anderson conta, em breve, com a nova licença que permitirá ter o Bistro D’Indochine aberto até à meia-noite. Para os apreciadores de vinho e noodles, o café situa-se no Pátio da Lenha, perto da Rua Pedro Nolasco da Silva.

7 Jan 2016

Instituto Internacional relembra padre Benjamim Videira Pires

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]centenário do nascimento do padre Benjamim Videira Pires vai ser lembrado esta sexta-feira com uma palestra no Instituto Internacional de Macau (IIM). Ao HM, a oradora convidada – a historiadora Beatriz Basto da Silva – considera que a obra de Benjamim Videira Pires deveria ser reeditada e traduzida.
Para a autora da Cronologia de Macau, não bastam “palestras sobre as quais ninguém fala no dia seguinte” para lembrar a vida e obra do pároco português.
“Deveriam pegar nas obras delas e tratar delas. Ele escreveu imensos livros mas também artigos, e esses estão espalhados, e deveriam estar juntos. A obra dele deveria ser compilada e traduzida”, apontou.
Beatriz Basto da Silva, que conheceu pessoalmente Benjamim Videira Pires, recorda “uma pessoa muito prestável”. padre benjamim
“Cada vez que precisei dele foi sempre muito prestável às minhas solicitações. Foi-me de grande valia a sua ajuda em termos de sabedoria sobre Macau e a história dos portugueses no Oriente”, disse a historiadora.
Missionário, pedagogo e escritor, Benjamim Videira Pires fez parte de um vasto grupo de pessoas, não só da Igreja como de leigos, “que se esforçaram por manter o perfil português de missionários”, relembra a responsável. “E fez isso muito bem. A vida dele foi de doação e de estudo para cumprir a sua missão e aquilo que o trouxe a Oriente: uma missão religiosa mas ao mesmo tempo cultural. Era uma pessoa que, sendo calada, falava quando era preciso. E falava bem”.
Na palestra, Beatriz Basto da Silva promete deixar de lado aspectos biográficos. “Isso está escrito. Vou falar da apreciação histórica e da minha impressão pessoal dele. O que me interessa na vida do padre Videira Pires é a sua personalidade e a sua rectidão humana, a sua maneira de ser como homem de igreja e historiador”, rematou.
O evento tem entrada livre e está marcado para as 18h00.

6 Jan 2016