Fórum Luso-Asiático organiza palestra sobre a “Dualidade no Judaísmo”

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Livraria Portuguesa recebe na próxima sexta-feira, às 18h30, uma palestra intitulada “O Dualismo do Judaísmo” que terá Allen Goldenthal como orador. O evento tem como intenção dar pistas sobre a dimensão cultural e religiosa de uma fé professada por 14,2 milhões de pessoas em todo o mundo.

Allen Goldenthal vem de uma família judaica antiga, descendente directamente dos “kahanas”, uma linhagem de rabis que se estendeu pelo leste europeu durante o século XVI.

“A minha facção do judaísmo é o Karaite, ainda obedecemos ao Antigo Evangelho, ou Torá, não temos nenhuma legislação moderna do judaísmo rabínico”, enquadra Allen Goldenthal.

Quanto à situação do judaísmo na China, o palestrante diz que, normalmente, são os atributos culturais judeus que são reconhecidos no Oriente, e que “a experiência e exposição ao judaísmo é muito limitada”. O consultor internacional apenas dá como exemplo excepcional a comunidade judaica de Kaifeng, “que tem mais de mil anos mas que, actualmente, apenas tem cerca de 70 famílias”.

Em termos comparativos, o palestrante entende que “existem poucas diferenças entre as três religiões”, e que os conflitos “são mais lutas de poder” do que discrepâncias teológicas.

No que diz respeito à polémica decisão da administração Trump em mudar a embaixada dos Estados Unidos em Israel para Jerusalém, Allen Goldenthal acha que “será um passa em direcção à paz porque vem clarificar a confusão e o sentimento vago em relação a qual é a capital israelita”. Tal vazio, no entender do consultor, “permitiu que outros grupos tivessem oportunidade para desafiar o estatuto de Jerusalém”.

Allen Goldenthal é da opinião de que os dias de hoje são relativamente desprovidos de moralidade e estrutura de valores devido à erosão do papel da religião na sociedade. “Acho que perdemos as estribeiras, as pessoas fazem o que lhes apetece, há muito materialismo, pouca preocupação com o próximo e a estrutura familiar entrou em colapso. Quando havia um pano de fundo religioso sólido todos estes aspectos estavam controlados”, comenta.

O palestrante acrescenta ainda que “quanto menos teologia, e quanto mais se diz que não existe Deus, todos os sectores da sociedade se fracturam e as pessoas lutam umas com as outras”.

A palestra de sexta-feira na Livraria Portuguesa será em inglês.

17 Jan 2018

Madalena Iglésias morreu com 78 anos

“Ele e Ela” foi o tema que eternizou a cantora Madalena Iglésias quando venceu o Festival da Canção em 1966. A cantora morreu ontem, em Barcelona, aos 78 anos

 

A cantora Madalena Iglésias, que venceu o Festival da Canção em 1966 com a música “Ele e Ela”, morreu ontem, aos 78 anos, numa clínica em Barcelona, Espanha. Madalena Lucília Iglésias do Vale nasceu a 24 de outubro de 1939, na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa.

A cantora iniciou a carreira no Centro de Preparação de Artistas, na ex-Emissora Nacional, e em 1966 venceu o Festival RTP da Canção com o tema “Ele e Ela”, de Marco Canelhas.

Na altura, Madalena Iglésias já se tinha apresentado, em 1959, na televisão espanhola, e em 1960 foi eleita por votação popular, através de subscritos, Rainha da Rádio e da Televisão.

Em 1962, representou Portugal no Festival de Benidorm, que lhe abriu definitivamente as portas do mercado internacional.

Em 2008, em declarações à Lusa, a propósito da publicação da sua fotobiografia “Meu nome é Madalena Iglésias”, de autoria de Maria de Lourdes de Carvalho, a intérprete afirmou que sempre se sentiu perseguida pelo complexo da beleza, apesar de reconhecer que “estava à frente” do seu tempo.

Além de “Ele e Ela”, do repertório da cantora fazem parte, entre outras, as canções “Silêncio Entre Nós”, “Poema de Nós Dois”, “Canção para um poeta”, “Canção Que Alguém Me Cantou”, “É Você”, “Oração Na Neve” e “De Longe, Longe, Longe…”, “Canção de Aveiro”, “Cuando Sali de Cuba”, “Ven esta noche”, “La frontera” e “La más bella del baile”.

Marco de uma época

O cantor e compositor Tozé Brito lamentou a morte de Madalena Iglésias, considerando que marcou uma época e é um nome de referência na música portuguesa.

“É um nome de referência da música portuguesa. É inevitável não falar da Madalena Iglésias, quando se fala da história da música portuguesa. Nesse sentido, tenho muito respeito por ela e imensa pena da sua morte”, disse.

Em declarações à agência Lusa, Tozé Brito, que não trabalhou nem escreveu nada para Madalena Iglésias, disse ter acompanhado “aquela geração”, que incluía nomes como Simone de Oliveira e António Calvário, entre outros.

“Havia três ou quatro nomes que marcaram aquela época da música portuguesa, principalmente a Simone que foi ‘rival’ da Madalena Iglésias. Elas competiam por um lugar de rainhas da música portuguesa, de primeira dama na música portuguesa”, salientou.

Tozé Brito disse ainda que Madalena Iglésias “foi uma grande senhora, uma mulher com comportamento exemplar, lindíssima, com muito boa presença em palco e que um ídolo da televisão”.

17 Jan 2018

Música | LMA junta no mesmo concerto os Lionrock Band e os locais Lavy

No próximo dia 11 de Fevereiro, o LMA acolherá uma celebração de rock clássico com a performance dos Lionrock Band, de Hong Kong, e o regresso dos locais Lavy. Até lá o cartaz será marcado pelo concerto dos Dirty Finger, banda chinesa de new wave e Julie Byrne, artista folk norte-americana

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s astros vão-se alinhar para levar ao palco da Coronel Mesquita duas bandas unidas pela amizade e o amor partilhado pelo rock n’ roll. Os conjuntos em questão são os Lionrock Band, que chegam da região vizinha e os locais Lavy, que regressam ao activo depois de um período de inactividade. O espectáculo está marcado para o dia 11 de Fevereiro, às 21 horas.

Os Lionrock Band, que vão apresentar ao público do LMA um alinhamento que será um misto de temas originais e versões de músicas conhecidas de rock clássico, têm na formação uma figura incontornável dos últimos 30 anos de música de Hong Kong, Wong Leung Sing. O músico pertenceu a uma banda seminal no panorama do rock clássico da região vizinha, os Blue Jeans. “Nos anos 80 eram muito famosos, tinham muitas músicas que foram autênticos fenómenos de popularidade”, contextualiza Vincent Cheong, que gere o LMA e é vocalista dos Lavy.

Wong contribuiu para a cena musical também escrevendo músicas para vários artistas, com destaque para a diva do cantopop Anita Mui. A cantora, que viria a morrer de cancro em 2003, era conhecida como a Madonna da Ásia.

Dia 11 de Fevereiro é também o dia que marca o regresso dos locais Lavy. “Há muito tempo que não actuamos, mas vamos tocar com a melhor banda com que poderíamos partilhar o palco”, explica Vincent Cheong.

O vocalista dos Lavy acrescenta ainda que a cumplicidade justifica-se por serem da mesma geração, amigos, daí a ideia ter surgido em forma de desafio: “Porque não fazer um evento de rock na onda do rock clássico juntos?”, questiona.

Modernos em palco

Mas antes disso, no dia 21 de Janeiro, vindos directamente de Xangai para o palco do LMA chegam os Dirty Finger. “Uma banda entre o post-punk e o new wave de uma famosa editora chamada Maybe Mars” que, de acordo com Vincent Cheong, “tem um som muito moderno”.

Há qualquer coisa de Franz Ferdinand nos Dirty Finger, rock roufenho com pratos de bateria que convidam a um passinho de dança, e um baixo saltitão que imprime movimento irresistível às ancas.

“A Maybe Mars é uma editora com que colaboramos e que já enviou algumas bandas ao LMA, a última foram os Sparrow”, conta Vincent Cheong.

A 8 de Fevereiro é a vez de Julie Byrne subir ao palco do 11º andar da Coronel Mesquita. A norte-americana, oriunda de Buffalo no Estado de Nova Iorque, “é uma artista de folk moderno que irá actuar a solo num concerto acústico”, contextualiza Vincent Cheong. A actuação será bem mais intimista do que as outras propostas do cartaz do LMA para os próximos tempos. Mas, claro, estamos a falar de uma casa que promove sempre a proximidade entre artistas e público.

Julie Byrne vem a Macau apresentar o seu último disco, “Not Even Happiness”, o segundo registo da cantora que mereceu aclamação da crítica que se dedica a álbuns que tendem a ficar esquecidos dos grandes públicos. “Not Even Hapiness” é um disco de folk contemporâneo que tem como pano de fundo temas como a natureza e assuntos do coração.

A cantora de Buffalo nasceu para a música ouvindo o seu pai tocar guitarra acústica. Quando tinha 17 anos, Julie Byrne começou a aprender o instrumento uma vez que o seu pai já não poderia tocar depois de lhe ter sido diagnosticado esclerose múltipla.

A música íntima da norte-americana promete aquecer quem se deslocar ao LMA no próximo dia 8 de Fevereiro, para mais uma noite de música ao vivo no palco da Coronel Mesquita, que abre o ano com propostas sólidas.

16 Jan 2018

Guitarrista português radicado em Xangai lança álbum de originais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] álbum “Inner Life Burst” começou por ser lançado nas plataformas digitais e sai agora para as lojas de música. Em entrevista à agência Lusa, o guitarrista Luís Coelho disse que se trata de uma compilação do que tem feito nos últimos dez anos.

Radicado há quase uma década na cidade chinesa de Xangai, onde chegou para estagiar numa multinacional europeia, o guitarrista português Luís Coelho acaba de publicar o seu primeiro disco de originais, Inner Life Burst. “Este álbum junta o que fiz nos últimos dez anos”, diz Coelho à agência Lusa, numa entrevista por telefone.

Composto por onze temas originais, Inner Life Burst foi lançado nas plataformas digitais Itunes e Spotify. A distribuição está a cargo de uma empresa norte-americana. “A minha música é uma mistura de rock progressivo instrumental e influências mediterrâneas: música portuguesa e espanhola ou latina”, descreve Coelho.

O português, de 35 anos, formou-se em Economia pela Universidade de Coimbra, mas quando questionado sobre o seu futuro profissional, responde assim: “Definitivamente, vou seguir a carreira musical; já não há volta a dar”.

Uma “Fender” e uma “Schecter” de sete cordas, ou as guitarras acústicas Yamaha, Martin e Cort, são desde há cinco anos os seus instrumentos diários de trabalho.

Banda multicultural

Além de ter uma banda – Coelho Band – e tocar como ‘freelancer’ com outros músicos, Luís Coelho dá aulas de guitarra em Xangai. “As bandas aqui são compostas por músicos de todas a partes do mundo”, conta Luís Coelho. “Essa diversidade acaba por se reflectir na música”.

O seu grupo, por exemplo, é composto por um baixista cubano, um baterista russo e um teclista das Ilhas Maldivas. Em Inner Life Burst, Luís Coelho convidou ainda músicos brasileiros e do Reino Unido para tocarem em algumas faixas. “É a energia do rock com um toque mais exótico”, resume.

Nascido e criado em Coimbra, Luís Coelho toca guitarra desde criança. Entre as suas referências, cita Gary Moore, Joe Satriani, Al Di Meola e as bandas Dream Theatre e Metallica. Quanto a músicos portugueses que admira, refere o guitarrista Pedro Jóia e Júlio Pereira, conhecido por utilizar instrumentos tradicionais portugueses, como o cavaquinho e a viola braguesa.

Coelho chegou a Xangai no início de 2009 para fazer um estágio numa grande empresa europeia, a Auchan, no âmbito do programa “Inov Contacto”, patrocinado pelo AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal). Concluído o estágio, regressou a Portugal, mas dois meses depois voltou, para “tentar arranjar trabalho”. Em 2011, concorreu à 3ª edição do “Guitar Idol”, considerado “o maior concurso de guitarristas a nível mundial para descobrir novos talentos”, contra 1.700 candidatos de dezenas de países. Terminou em 12º lugar.

Luís Lino diz que não quer ficar em Xangai “para sempre”, mas que também não se pode queixar de viver na “capital” económica da China. “Ainda há aqui bastante trabalho para músicos e uma certa liberdade para tocar originais: posso tocar num bar e ser pago para tocar a minha própria música”, explica. “Na Europa ou Estados Unidos, tinha de ser eu a pagar para tocar”, conclui.

15 Jan 2018

Rota das Letras | Obras de Chen Yu, sobre poetas portugueses, integram festival

[dropcap style≠’circle’]Y[/dropcap]ao Jingming será o curador de uma exposição do pintor Chen Yu, que retratou em papel de arroz, e com recurso a tinta da china, vários poetas e escritores portugueses, desde Luís de Camões a Fernando Pessoa, passando pelo Nobel Saramago. A exposição, a acontecer na Casa Garden, integra o festival literário Rota das Letras.

Chen Yu, pintor a residir em Pequim, será um dos convidados do festival literário Rota das Letras para inaugurar, pela primeira vez em Macau, uma exposição da sua autoria. O professor Yao Jingming, actualmente director do departamento de português da Universidade de Macau, será o curador de uma iniciativa que liga nomes sonantes da literatura portuguesa à pintura.

A organização está a ser feita em parceria com a Fundação Oriente, adiantou Yao Jingming ao HM. “A exposição terá como tema principal os poetas portugueses mas os quadros serão acompanhados por textos dos escritores e também de outros escritores estrangeiros. São retratos feitos com tinta da china e em papel de arroz, uma técnica usada por este artista chinês.”

Chen Yu já aceitou o convite e está ainda a trabalhar em alguns quadros, sempre em estreita comunicação com Yao Jingming, que o tem apoiado no envio de textos e na explicação do contexto literário de cada um dos poetas ou escritores retratados nas telas.

“O artista aceitou o meu convite e estou à espera que ele possa fazer mais retratos de escritores portugueses. Já enviei algumas imagens para ele fazer textos e poemas e ler e ficar com uma ideia mais forte sobre os escritores e poetas portugueses.”

Um dos autores mais difíceis de retratar, na óptica de Yao Jingming, é o poeta Fernando Pessoa. “Disse-lhe que se trata de um poeta muito complicado, com uma escrita muito complexa. Então veremos se é capaz de expressar o mundo literário deste poeta. Acho que é difícil retratar isso através de um trabalho artístico, mas então ele está a fazer um esforço para abordar essa questão. Ontem enviou-me um trabalho no qual o Pessoa, ele próprio, encarna noutros três heterónimos”, adiantou o também poeta, que escreve com o pseudónimo de Yao Feng.

Esta comunicação com Chen Yu tem como objectivo fazer com que “a exposição possa ficar mais interessante para o público português”.

Recital integrado na exposição

Na cabeça de Yao Jingming existem outras ideias para este evento, apesar de muitos detalhes ainda estarem por decidir. Uma dessas ideias passa pela visita à gruta dedicada ao poeta Luís de Camões, localizada no jardim com o mesmo nome.

Há também a intenção de realizar um recital de poesia na Casa Garden. “São duas coisas que vão complementar-se mutuamente. Vamos escolher poemas em português e chinês para fazer um serão poético num espaço bonito e agradável”, adiantou Yao Jingming. No total, a exposição terá entre 30 a 40 peças do pintor chinês.

 

15 Jan 2018

Festival | Rota das Letras anuncia os primeiros nomes para cartaz deste ano

A organização do Festival Literário de Macau – Rota das Letras 2018 anunciou os primeiros nomes de convidados da edição que decorre entre 10 e 25 de Março. A edição que se avizinha terá a presença de Ana Maria de Carvalho, Julián Fuks, Rosa Montero, Peter Hessler, Leslie T. Chang e Han Dong

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] edição 2018 do Festival Rota das Letras já mexe com o anúncio dos nomes dos primeiros convidados para o cartaz deste ano.

De Portugal vem Ana Margarida de Carvalho, jornalista, escritora e autora de guiões de cinema e uma peça de teatro. A portuguesa, filha do escritor Mário de Carvalho, estreou-se no romance em 2013 com o livro “Que Importa a Fúria do Mar”.

Ana Margarida de Carvalho

A obra inaugural de Ana Margarida de Carvalho viria a ganhar por unanimidade o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores. A escritora e jornalista viria a repetir o feito com o seu segundo livro, “Não Se Pode Morar nos Olhos de um Gato”, que foi, simultaneamente nomeado pela Sociedade Portuguesa de Autores e pelo PEN Club. O livro publicado no ano passado venceu ainda o prémio Manuel Boaventura e foi finalista do Prémio Oceanos.

Do Brasil directamente para o Edifício do Antigo Tribunal de Macau chega o escritor e crítico literário Julián Fuks, autor de “A Resistência” publicado em 2015 e que venceu o Prémio Jabuti, o Prémio Saramago e que ficou em segundo lugar no Prémio Oceanos. O autor brasileiro escreveu ainda “Procura do Romance” e “Histórias de Literatura e Cegueira”.

Da Espanha vem Rosa Montero, que trabalhou como repórter desde 1970 e que ainda publica no El País e em publicações da América Latina. A jornalista espanhola estreou-se no romance em 1979 com “Crónica do Desamor”. Desde então, publicou 15 romances, duas biografias, três colecções de entrevistas, um livro de contos e várias obras para crianças. Os seus livros estão traduzidos em mais de 20 idiomas, sendo que o mais recente, de 2016, é “A Carne”.

Escrita Interior

Como é habitual, o Rota das Letras dá destaque a autores de língua chinesa. A edição deste ano trará a Macau A Yi, que integrou a lista dos “20 autores abaixo dos 40” da revista UNITAS. O escritor, cujo temperamento tem ganho alguma fama, foi agente policial, trabalhou em secretariado e foi editor antes de se dedicar a sério à ficção.

A Yi

Com uma obra marcada pela predominância dos contos, A Yi tem vincado a sua personalidade enquanto escritor através de um estilo literário algo bizarro e uma visão do mundo desapaixonada e isenta de sentimentalismos. O chinês foi distinguido como um dos 20 autores mais promissores da China pela People’s Literature e venceu o Prémio Revelação dos Prémios da Imprensa de Literatura Chinesa.

O prolífero autor Han Dong é outro dos convidados oriundo da China Continental e que fará parte do cartaz da edição deste ano do Rota das Letras. O autor tem uma carreira longa com mais de 40 romances, colectâneas de contos, poesia e ensaios. Han Dong, escreveu igualmente séries de televisão e cinema. Aliás, na qualidade de argumentista e realizador, Han Dong teve o seu filme In the Dock em competição no 22º Festival Internacional de Cinema de Busan e no 1º Festival de Cinema de Pingyao.

No primeiro lote de nomes revelados pela organização do evento há também um norte-americano, Peter Hessler, que viveu dois anos em Fuling, uma pequena cidade afectada pelo projecto da Barragem das Três Gargantas, experiência que inspirou a sua obra inaugural “River Town: Two Years on the Yangtze”. O livro faz parte de uma trilogia que reflecte os 11 anos que o norte-americano viveu na China, onde se inclui “Oracle Bones” e “Country Driving”.

Neste naipe dos primeiros nomes anunciados está ainda a norte-americana Leslie T. Chang e Victor Mallet. A lista completa de convidados e respectivo programa da sétima edição do Festival Literário de Macau – Rota das Letras serão apresentados no início de Fevereiro de 2018.

12 Jan 2018

Art Fusion apresenta projecto inspirado em Juan Miró

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais recente projecto da associação Art Fusion vai ser divulgado este fim-de-semana. A iniciativa integra a programação do festival Fringe e traz as interpretações e personificações dos alunos da associação tendo por base as pinturas de Juan Miró. São cinquenta fotografias, um mural, performances e workshops, tudo muito colorido e feito através da interpretação de cada aluno da Art Fision, das pinturas do artista espenhol.

O projecto começou há ano e meio. Laura Nyögéri, responsável pela associação, estava a fazer uma viagem em França, e em Lyon conheceu uma loja com tapeçarias todas inspiradas na obra de Juan Mirá. Se já era apreciadora da obra, ficou ainda mais e regressou inspirada.

Depois de muita pesquisa encontrou uma exposição que Miró tinha feito em Denver intitulada “Instinto e imaginação”. O nome ficou registado e o trabalho com crianças e jovens com estes princípios como orientação, pareceram os mais adequados. “Os próprios conceitos utilizados por Miró remetem muito para o mundo infantil, para a simplicidade, a imaginação”, disse ao HM.

Recriar cores e formas

A partir daí o trabalho não parou. “Explorámos vídeos, imagens e interpretações e o mais interessante de perceber em todo o processo criativo foi que quanto mais novo o aluno era mais elaborada a interpretação dos quadros”, sublinha. Depois de uma temporada de análise e observação, Laura Nyögéri escolheu 100 pinturas para que cada um dos participantes escolhesse a sua favorita. “cada um explorou o quadro escolhido de várias formas, por exemplo, como é que, dentro dos cinco sentidos, cada um sentia a imagem escolhida”, referiu.

“Baseado no quadro e no grafismo escolhido foi feita a sessão fotográfica que pelo Francisco Silva, que deu origem às cinquenta imagens que estão em exposição”.

Para que o trabalho tivesse uma ligação ao oriente, os pauzinhos foram os objectos escolhidos para completar o figurino. “Utilizámos os pauzinhos nos penteados com algumas colagens e algumas bolas para que estivesse um elemento da Ásia. Afinal, é um projecto de cá e desenvolvido em Macau”, apontou a responsável.

Os cuidados foram também tidos na edição das imagens. “O objectivo é que quando as pessoas olham, possam ter a sensação de que estão a olhar para um quadro. Para isso utilizámos cores mais garridas por exemplo”, explica.

A exposição é acompanhada por um mural e por performances com estátuas vivas em que algumas das representações das fotografias vão ocupar o espeço e integrá-lo”, completa.

Arte para todos

Mas as actividades ligadas ao projecto não se ficam por aqui. “Vamos ter também dois workshops abertos a toda a comunidade”, disse.

No sábado, das duas às sete da tarde a oficina é dedicada aos maiores de 16 anos e com alguma experiencia em artes performativas e a ideia é explorar o lado artístico naqueles que já o têm fomentado. No dia seguinte, à mesma hora, o workshop é dedicado aos mais novos, dos 6 aos 15 anos.

As actividades vão decorrer nos mesmos moldes que todo o processo: “primeiro trabalhamos o grafismo e o movimento, depois os participantes escolhem um quadro e os símbolos que querem ver pintados. Passamos à criação dos figurinos e por último vão fazer uma sessão fotográfica como a que foi feita para o restante projecto”, explicou a responsável.

12 Jan 2018

Cinemateca Paixão | Novo cinema americano em destaque

Arranca já este sábado a nova temporada de filmes na Cinemateca Paixão, desta vez dedicada aos filmes produzidos nos Estados Unidos. “Nova América – Cinema de Possibilidades” mostra dez filmes ao público, com destaque para aquilo que é alternativo e para as realizações no feminino

 

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap] Feiticeira do Amor”, “Good Time” ou “Columbus” são algumas das películas que poderão ser vistas nas próximas duas semanas na Cinemateca Paixão. Está pronto a estrear mais uma temporada de filmes exclusivamente com a assinatura de realizadores norte-americanos, intitulada “Nova América – Cinema de Possibilidades”.

A ideia, contou Rita Wong, presidente da associação que gere o espaço, é mostrar o que de novo e diferente se tem feito num país que domina o cinema em termos mundiais. “Os filmes americanos são muito populares em todo o mundo, independentemente de serem filmes de Hollywood ou outros. Uma vez que nos EUA são produzidos muitos filmes, com os quais temos muito contacto, há também um novo cinema. Desta vez cooperámos com um director que estudou nos EUA e está habituado à cultura americana e aos seus filmes.”

Rita Wong adiantou que a sua colaboração acabou por revelar-se fundamental na introdução “de um lado mais alternativo do cinema americano junto do nosso público”. “Queremos trazer mais horizontes e mais alternativas ao público”, frisou.

A temporada começa no sábado, com a realização de uma palestra intitulada “Seminário do Festival De Hollywood ao Independente: O Cinema Americano na Linha da Frente”, que tem entrada livre. Esta palestra, com entrada gratuita, tem como orador Derek Lam, da Universidade de Hong Kong.

“[Derek Lam] virá falar dos filmes americanos e com isto queremos aumentar o interesse das pessoas. Esperamos que mais pessoas possam vir, mas o importante é trazer alternativas. Também temos novos filmes que têm elementos mais comerciais. Tudo para que o público possa explorar novas áreas no cinema”, disse a directora de programação da Cinemateca.

Rita Wong assegura que “Nova América – Cinema de Possibilidades” constitui uma pequena temporada. “Optámos por passar apenas dez filmes, que vão ser exibidos duas vezes cada um. Tentámos incluir mais filmes realizados por mulheres, porque estão a fazer um bom trabalho nesta área. Também incluímos os novos realizadores, como é o caso do realizador do filme ‘Columbus’.”

Na apresentação desta iniciativa, os gestores da Cinemateca Paixão consideram que o alternativo a Hollywood tem surpreendido pela positiva.

“Apesar da máquina económica de Hollywood ter suplantado o seu desenvolvimento artístico, os filmes americanos fora do sistema dos grandes estúdios têm continuado a amadurecer e impressionar no palco internacional.”

“Esta série de dez aclamadas produções americanas abrange todo o tipo de géneros, da acção ao drama, da comédia ao thriller. Com estes filmes de qualidade, esperamos mostrar as muitas facetas da vibrante cultura americana.”

Além disso, “as mulheres e as minorias étnicas têm tido papéis cruciais em muitos destes filmes, quebrando o molde da supremacia masculina branca. São películas cujas visões estão cheias de possibilidades que levarão os espectadores até uma nova era do cinema americano.”

Nove meses positivos

Foi em Abril do ano passado que a Cinemateca Paixão abriu portas ao público. Com quase um ano de actividade, Rita Wong faz um balanço positivo do funcionamento de um espaço que já mostrou o melhor do cinema local.

“Temos vindo a aumentar os números em termos de público. Estamos satisfeitos, apesar de querermos sempre fazer melhor. Foi algo surpreendente a resposta em termos de público e reacções. Temos um espaço muito pequeno e conseguimos falar com quem nos visita e temos tido um feedback importante. Penso que as pessoas procuram de facto coisas novas ou diferentes e vamos tentar ter isso”, rematou.

11 Jan 2018

The Pains of Being Pure at Heart e Ride ao vivo em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fãs de rock shoegaze que vivem em Macau e Hong Kong têm razões para estarem felizes com os concertos agendados para os próximos tempos. No dia 24 de Janeiro, os The Pains of Being Pure at Heart actuam na Music Zone KITEC, estando a primeira parte a cargo dos NYPD. Os bilhetes encontram-se à venda e custam 490 HKD.

No dia 26 de Fevereiro é a vez dos clássicos Ride actuarem no Macpherson Stadium, em Mong Kok. A banda de culto britânica teve no seu primeiro registo, “Nowhere”, um dos discos mais importantes da cena shoegaze, de onde se retiram hinos intemporais como “Dreams Burn Down”, “Paralysed”, “Kaleidoscope” e “Decay”. A música dos Ride é fortemente marcada por atmosferas de pop rock etéreo, pelas vocalizações suaves e pelos pedais de distorção das guitarras que, do nada, incendiam uma música que poderia revestir roupagens comerciais. Ainda bem que assim é. Depois de sucessivos divórcios e reunificações, os Ride gravaram um disco de estúdio no ano passado intitulado “Weather Diaries”. O álbum é o quinto da carreira da banda e marca o regresso dos britânicos ao estúdio após um hiato de 21 anos.

Os Ride, nascidos em Oxford, despontaram para os grandes palcos depois de Jim Reid, dos The Jesus and Mary Chain, os ter visto ao vivo. Em 1990 lançaram o primeiro disco, o acima mencionado “Nowhere”, que viria a lançar a década que se avizinhava. Andy Bell, um dos vocalistas e guitarristas da banda de Oxford chegou a integrar os Oasis durante um dos hiatos dos Ride.

As dores

Mas antes dos históricos de Oxford desafinem as suas guitarras, Hong Kong recebe uma banda que lhes foi beber bastante em termos de influência: Os The Pains of Being Pure at Heart.

Com uma carreira que já ultrapassou uma década, a banda de Nova Iorque tem uma discografia com quatro registos de originais, sendo que em Setembro último lançaram “The Echo of Pleasure”, que deve marcar a actuação dos norte-americanos na Music Zone KITEC.

O primeiro registo dos nova-iorquinos, um disco homónimo, valeu a aclamação crítica e alguma popularidade que motivou uma tour mundial, um sonho tornado realidade para uma banda recente. A sonoridades dos The Pains of Being Pure at Heart é frequentemente comparada a My Bloody Valentine The Field Mice, The Jesus and Mary Chain e, lá está, aos Ride.

A banda faz parte de uma onda de grupos que foram repescar as sonoridades dos finais dos anos 80 e inícios de 90, onde o pop rock melodioso se aliava ao rasgar de guitarras carregadas de feedback, para gáudio de quem gosta destas sonoridades e estava farto de uma década de música electrónica.

O panorama dos concertos no território vizinho arranca este ano com muitos motivos para sorrisos entre quem gosta de rock alternativo.

10 Jan 2018

Artes | Fringe promove a descoberta de Macau e a interacção entre pessoas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 17ª edição do Festival Fringe, que decorre entre 12 e 21 de Janeiro, tem dois objectivos que ultrapassam a apreciação artística: O desvendar dos segredos escondidos de Macau e o aprofundamento da forma como as pessoas se relacionam umas com as outras.

Além dos 23 espectáculos que enchem o cartaz do Festival Fringe deste ano, o Instituto Cultural (IC), que organiza o evento, tem programado uma dezena de workshops, palestras, sessões de crítica de arte, entre outros eventos que pretendem envolver a cidade durante os dez dias do festival.

Um dos intentos da organização é proporcionar a participação activa do público. Nesse capítulo, não há como fugir ao “Leilão de Histórias de Amor”, um espectáculo que se realiza no Mico Café, no dia 14 de Janeiro às 17h e às 21, e nos dias 15 e 17 de Janeiro às 19h30. Neste espectáculo tudo é possível e nada é posto de lado, assim sendo, serão leiloados artigos carregados de romantismo tais como amuletos tailandeses, brinquedos para adultos e essências amorosas.

O espectáculo traça uma viagem entre Taipé e Macau, à procura de recordações de namoros extintos mas que se mantém vivos em objectos como cartões feitos à mão ou cantigas de amor.

O leilão será preenchido também pelas histórias submetidas pelos participantes em palavras, vídeos ou movimentos corporais.

Outra das actividades do cartaz do Fringe é o Teatro para Bebés – Workshop de Produção Criativa, ministrado pelo grupo australiano Polyglot Theatre e o Big Mouse Kids Drama Group, que terá lugar no Anim’Arte NAM VAN, a 20 e 21 de Janeiro, das 10h às 13 e das 14h30 às 18h30. O objectivo é envolver a família no Fringe 2018, com um evento em que bebés e crianças em idade pré-escolar exploram e interagem com experiências sensoriais que estimulam a imaginação. Os membros do Polyglot Theater vão ensinar técnicas de actuação, como expressão facial e corporal, assim como formas de relação entre público e artistas.

Caçar tesouros

Um dos destaques do cartaz do Fringe recria um habitual fragmento de quotidiano de quem vive em Macau e que na maioria das vezes não é encarado como algo positivo ou artístico. A Dream Theater Association apresenta uma peça itinerante intitulada “O Meu Pai é Motorista de Autocarro”, que tem como ponto de partida a Rua de Lei Pou às 14h30 dos dias 13 e 14 de Janeiro, sábado e domingo.

O fio condutor que orienta a peça é o ambiente que se vive no cenário de transição onde todos actuam diariamente. O espaço limitado, os estridentes anúncios das próximas paragens, o linguajar variado à nossa volta, a publicidade que nos entra pelos olhos adentro e os solavancos que tornam a viagem numa acrobacia colectiva são cenário da peça. O protagonista é um motorista aposentado e os seus velhos colegas de profissão que testemunharam durante décadas dramas pessoais e mudanças históricas na cidade.

O areal negro da praia da Hac Sa será palco para uma peça encenada pelo Rolling Puppet Alternative Theatre e Teatro Langasan, de Taiwan, na próxima sexta-feira às 20h, e no sábado e domingo às 15h30. A peça chama-se “Niyaro: Anseio pela Pátria”, e conta a versão poética da história dos Amis, um grupo nativo de Taiwan, através de cantos, danças e cerimónias rituais que representam mitos tribais e o anseio pela terra natal.

A peça é um grito de identidade de uma alma antiga que vive cercada por arranha-céus e que procura encontrar um pedaço de terra onde assentar as raízes culturais tradicionais do grupo indígena a que pertence.

O Teatro Langasan, originário do vale de East Rift em Taiwan, cria uma fusão entre a cultura aborígene, o teatro moderno e a arte de representação em torno do conceito “o palco é um local de rito”. A actuação única que será apresentada na praia de Hac Sa foi aclamada no Festival Fringe de Edimburgo e no Festival OFF d’Avignon.

Sono e sonho

Ao contrário do que é normal, a companhia Co-coism, também de Taiwan, convidar os espectadores ao sono. A intervenção artística que dá pelo nome de “Pode Dormir Aqui” tem data e hora marcada para sexta-feira e sábado, às 21h30, em lugar incerto. O objectivo é tornar indistinguível o espaço público do espaço privado e transformar Macau numa imensa cama. A companhia que já havia participado no Fringe do ano passado, junta-se ao produtor local Ieong Pan e convida o público a “viver em lugares abandonados”. O espectáculo de difícil definição convida a um cochilo ou a uma conversa em ambiente recatado em plena via pública. A organização pede a quem esteja interessado que se prepare para dormir fora de casa. Veremos se São Pedro colabora.

O espaço Anim’Arte NAM VAN apresenta no próximo sábado e domingo, entre as 11h e as 19h, uma exposição de pintura que sai das telas e ganha pulso, nomeadamente no museu vivo, com hora marcada entre as 14h30 e as 16h30. A iniciativa intitula-se “Laboratório Miró”, da autoria da Macau Artfusion, e convida o público a perder-se na arte de Joan Miró.

O evento tem várias facetas. Workshops de expressões criativas, movimento, desenho, caracterização, pintura corporal, sessões fotográficas e museu vivo, apresentando a obra do pintor surrealista espanhol em telas de pele.

Estas são alguns dos exemplos de intervenções artísticas de difícil definição que preenchem o cartaz de um festival onde a indefinição é um conceito fundamental.

10 Jan 2018

Festival | Fringe invade a cidade com performances artísticas contemporâneas

A 17º edição do Festival Fringe já mexe com mais de duas dezenas de performances de artistas e grupos locais e estrangeiros. Já a partir de sexta-feira, o Fringe oferece um vasto leque de peças de teatro, dança, performances interactivas, exposições e animação espalhada pela cidade

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e todos os eventos culturais organizados em Macau, o Festival Fringe é aquele que mais arrisca em termos de arrojo performativo. Apesar de já ter alguma actividade na rua, o Fringe 2018 arranca esta sexta-feira, com mais de duas dezenas de espectáculos, performances e exposições em mais de vinte locais.

Com a organização do Instituto Cultural (IC), o festival oferece também uma série de actividades de divulgação e sensibilização artística onde se incluem palestras, workshops e crítica de arte com o intuito de alargar os horizontes da percepção do público local.

Na área da dança destaque para “Trinamics”, um espectáculo da autoria de duas companhias, a Unlock Dancing Plaza, de Hong Kong e a Namstrops do Japão, que será apresentada nos dias 20 e 21 de Janeiro o edifício do Antigo Tribunal. “Trinamics” divide-se em três actos, com coreografias escritas e interpretadas pelas duas companhias. Os Unlock Dancing Plaza são vencedores recorrentes da Hong Kong Dance Awards, enquanto que a companhia japonesa é um grupo jovem que produz uma larga gama de espectáculos baseados no improviso, na força física e no arrojo dos movimentos corporais. A peça promete levar ao Antigo Tribunal uma performance vigorosa onde a agilidade leva os bailarinos a desafiar a gravidade.

No dia 16 e 17 de Janeiro, o mesmo palco do Antigo Tribunal recebe a performance de dança, “Idiot – Syncrasy” da dupla baseada em Londres Igor Urzelai e Moreno Solinas. O duo é inspirado pelas tradições folclóricas da Sardenha e do País Basco, as origens dos bailarinos, levando a dupla a usar o movimento como forma de comunicar ideias. A actuação que trazem ao Fringe 2018 é conceptualmente simples mas poderosa, séria e divertida, procurando demonstrar as mais puras das aspirações presentes na natureza humana.

Teatro marginal

Com a chancela da Comuna de Pedra, em parceria com o Hao Theater de Taiwan, o Teatro Experimental Hiu Kok recebe nos dias 19 e 20 a peça “Holidays”. O conto de Gabriel Garcia Márquez “Só Vim Telefonar”, serviu de base para três anos de trabalho de produção conjunta entre Jenny Mok e Shanshan Wu. O resultado foi esta peça que mistura o teatro físico e os fantoches. O movimento é o principal elemento da narrativa, que usa o mínimo essencial de palavras na procura da exploração daquilo que há de mais insuportável na natureza humana. A peça é um hino ao sarcasmo e ao humor negro. “Holidays” assenta na situação de duas personagens, A e B, que encaram a deportação, torturas e penas a que foram condenados por serem trabalhadores pouco produtivos como umas aprazíveis férias.

Outro dos destaques na área do teatro é a peça “White Rabbit Red Rabbit”, apresentado peça companhia do Teatro Inside-Out, do Interior da China, e Chan Si Kei, que subirá ao palco no dia 18 de Janeiro no edifício do Antigo Tribunal.

O conceito inusitado da peça parece feito de propósito para o cartaz de uma edição do Fringe, no entanto já foi interpretada mais de um milhar de vezes pelo mundo fora. Ainda assim, Macau tem o privilégio de assistir à estreia da peça em cantonês, através da performance do actor local Wong Pak Hou.

“White Rabbit Red Rabbit” é um jogo teatral de interacção com o público, uma peça que dispensa sinopse onde a direcção, o palco, os ensaios e mesmo as palavras são supérfluas. Aliás, não existe nada que se possa saber de antecedência que potencie o prazer de assistir e participar na performance.

O autor iraniano Nassim Soleimanpour escreveu a peça quando foi proibido pelo Governo de passar as fronteiras do Irão. O teatro era o seu álibi para conseguir fugir do país e viajar pelo mundo fora. Toda a performance é envolvida em mistério, o actor recebe o guião mesmo à última hora, quando entra em palco já com as luzes acesas e quando encara a audiência.

Numa experiência que sai da internet para as ruas de Macau, “Bear with Us”, produzido pela companhia de teatro australiana Memetica e a Point View Art Association, propõe uma expedição pela cidade. Como tal, Macau será invadida por três ursos gigantes que vão andar pelas ruas da cidade numa senda exploratória com imparável vontade que promete desvendar os mistérios de todos os cantos do mundo.

Esta actividade é assente nas tropelias de três ursos fantoches que prometem surgir do nada e convidar pessoas para partilhar aventuras. As companhias sugerem que se sigam as páginas de Facebook e o Instagram “Bear with Us”.

A 17ª edição do Fringe 2018 terá ainda uma série de outros eventos que aliciam o público a explorar Macau e a olhar para a cidade com uma perspectiva nova, uma perspectiva Fringe.

9 Jan 2018

Exposição | Vhils participa em mostra de arte urbana em Singapura

A legitimação da street art, que saiu da obscuridade ligada à delinquência para as galerias mais afamados do mundo da arte, será celebrada em Singapura. Alexandre Farto (Vhils) e André Saraiva (Mr. A) vão participar na “Art from the streets”, que mostra quatro décadas de arte urbana

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á algum tempo que o graffiti conseguiu granjear o reconhecimento do universo da crítica e das exposições artísticas, em particular no Ocidente. Saindo da clandestinidade e da criminalidade para um patamar estético de relevo é natural que na Ásia estas manifestações artísticas tenham vindo a ganhar alguma popularidade. Nesse sentido, os artistas Alexandre Farto (Vhils) e André Saraiva (Mr. A) estão entre os participantes da mostra “Art from the streets”, que passa em revista 40 anos de Arte Urbana e é inaugurada a 13 de Janeiro, em Singapura e estará em exibição até 3 de Junho.

A “Art from the streets” mostra “40 anos de Arte Urbana, desde os primeiros tempos de contracultura até à extraordinária ascensão como importante fenómeno na arte contemporânea”, através de trabalhos de “alguns dos maiores artistas urbanos do mundo”, lê-se no texto de apresentação da exposição.

Na lista de participantes da exposição estão nomes tão sonantes como o misterioso britânico Banksy, o norte-americano Shepard Fairey, conhecido como Obey e que no último verão pintou três murais em Lisboa no âmbito da exposição que teve patente na galeria Underdogs.

Entre os participantes estão os clássicos franceses da arte de rua JR, Blek le Rat e Invader e o francês de origem portuguesa André Saraiva, criador do mural com mais de 53 mil azulejos pintados à mão do Jardim Botto Machado, em Lisboa.

Com curadoria da francesa Magda Danysz, que tem galerias com o seu nome em Paris, Xangai e Londres, a exposição “reflecte a evolução da Arte Urbana, traçando as diversas técnicas usadas pelos artistas ao longo das décadas e mostrando como a tecnologia criou novos caminhos expressivos para os artistas”.

Patente de 13 de Janeiro a 3 de Junho, a mostra vai incluir “uma série de pinturas ao vivo e instalações criadas no local por nomes icónicos da área”.

Portugueses de rua

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com “graffiti”, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins. Captou a atenção a “escavar” muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional, e que já levou o artista a vários cantos do mundo.

Além de várias criações em Portugal, Alexandre Farto tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Brasil.

Em 2014, inaugurou a sua primeira grande exposição no Museu da Electricidade, em Lisboa: “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses.

Em 2015, o trabalho de Vhils tornou-se extraterrestre e chegou ao espaço, mais precisamente à Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

No ano passado, a arte de Alexandre Farto invadiu Macau com a exposição “Destroços”, patente no espaço das Oficinas Navais Nº 1 – Centro de Arte Contemporânea. Uma mostra que foi abruptamente interrompida pela destruição semeada pela passagem do tufão Hato por Macau. Uma calamidade que provocou prejuízos que não chegaram a ser divulgados.

Filho de portugueses, nascido na Suécia em 1971, André Saraiva começou fazer “graffiti” em 1985. Foi, porém, na década de 1990, que criou “Monsieur A” (Mr. A), uma personagem de cabeça redonda, olhos em X, com uns traços a fazerem de pernas e um sorriso rasgado, com a qual se tornaria conhecido e que espalhou em paredes de cidades de todo o mundo.

Seja em que parede for, a arte urbana está aí para ficar. Singapura será um centro desta corrente underground até Junho, com dois artistas de origem portuguesa no panteão dos mais representativos artistas que dominam as ruas.

8 Jan 2018

The Chameleons estreiam-se em Hong Kong no MusicZone@Emax

[dropcap style≠‘circle’]M[/dropcap]ais de 37 anos depois da fundação, os seminais The Chameleons tocam pela primeira vez para o público de Hong Kong. O concerto é hoje no MusicZone@Emax em Kowloon, com as portas abertas às 19h30. A primeira parte estará a cargo dos Sinister Left e dos Ambience Intelligent.

A histórica banda de Middleton, nos arredores de Manchester, é um dos marcos do post-punk do início dos anos 1980.

Com uma carreira discográfica curta, com apenas quatro álbuns de originais, os The Chameleons foram uma banda à margem das revoluções musicais nascidas em Manchester. Longe de terem alcançado a notoriedade dos Joy Division, The Smiths e The Fall, o grupo liderado pelo Mark Burgess manteve um culto underground que se foi cimentando com o tempo realçando a relevância em termos líricos e musicais dos seus discos.

Com um pé no rock psicadélicos, graças aos efeitos de guitarra e às letras escritas sob a influência de cogumelos alucinogénios, nascidas do génio do vocalista e baixista, Mak Burgess, os The Chameleons criaram um som que os separou das correntes que lhes foram contemporâneas. Algo que faz com que a sua música se mantenha actual, motivando tours que, inclusive, passaram por Portugal várias vezes.

Os The Chameleons têm o núcleo da sua discografia na década de 1980, onde lançaram três discos até 1986, hibernando de seguida para um hiato que duraria quase 15 anos. O disco final dos 80’s, intitulado “Strange Times” é um monumento musical de inestimável valor, carregado de hinos como “Mad Jack”, “Caution”, “Tears” e “Seriocity”, numa escolha muito difícil de fazer.

 

Primeiro acto

Antes do prato principal subir ao palco, o público que se deslocar a Kowloon será aquecido pelos Sinister Left e os Ambient Intelligence.

Os Sinister Left são uma banda local que combina ritmos hipnóticos e pesados com guitarras. O seu disco mais recente “Soot” recebeu alguma atenção por parte da crítica e imprensa da especialidade. O South China Morning Post escreveu que o álbum tem “um groove hipnótico e ameaçador, músicas complexas que fazem do disco um dos mais dinâmicos a sair da cena de Hong Kong nos últimos anos”.

Os Ambient Intelligence são um duo de música electrónica criado no final de 2016 e constituído por Alan Ip e Yanlo Chow. A banda é fortemente influenciada pelos sons de sintetizadores dos movimentos musicais do início dos anos 80, ou seja, apropriado para o início de uma noite que se prevê memorável. O som dos Ambiente Intelligence é experimental e as suas actuações são normalmente marcadas pelo improviso em palco onde tentam demonstrar a química entre humanos, máquinas e o meio ambiente.

Bons aperitivos antes da entrada em cena do acto principal, a estreia dos The Chameleons na zona do Delta do Rio das Pérolas.

5 Jan 2018

Gonçalo Lobo Pinheiro participa em exposição colectiva de fotografia em Londres

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou ontem na capital inglesa, mais propriamente na Brick Lane Gallery, a exposição colectiva “PHOTOGRAPHY NOW”, que conta com a participação do fotógrafo português Gonçalo Lobo Pinheiro, que está radicado em Macau. A selecção do português tem como pano de fundo o povo do Lago Tonle Sap, no Camboja. A exposição estará patente até ao dia 14 de Janeiro, na Brick Lane Gallery, em Shoreditch em Londres.

A selecção dos trabalhos para a mostra aconteceu um pouco por acaso. Numa pesquisa de internet o fotografo encontrou um anúncio da galeria londrina a pedir trabalhos para expor e respondeu com o link do seu site de fotografia. Por acaso, Gonçalo Lobo Pinheiro estava a tentar promover outro conjunto de fotografias, porém, o interesse dos galeristas incidiu sobre uma série de imagens a preto e branco que retratam o quotidiano do povo que habita no Lago Tonle Sap. “Disseram-me que estavam a fazer um contrabalanço com fotografias a cores e a preto e branco e escolheram este trabalho que ainda não tinha sido bem divulgado”, explica.

A série do Camboja conta com cerca de 35 fotografias. No entanto, como Gonçalo Lobo Pinheiro apenas tem por sua conta uma parede de três por três metros teve de fazer uma selecção criteriosa das imagens a enviar. “Seleccionei 15 fotografias e eles disseram-me que iam ver se eram expostas entre 10 e 15, com um algum jogo de curadoria à mistura”, conta o fotografo.

O propósito da série de fotografias é “mostrar a vida, o dia-a-dia daquelas populações que dependem daquele lago que, por acaso, é o maior da Ásia”, revela Gonçalo Lobo Pinheiro. O Lago Tonle Sap, que traduzido literalmente significa “grande lago”, tem uma extensão de quase 2.600 quilómetros quadrados, que se pode agigantar até perto dos 25 mil quilómetros quadrados durante a época das chuva. Em termos comparativos, estamos perante quase um quarto da área total de Portugal.

“As pessoas que ali vivem subsistem da pesca e da agricultura e pecuária nas margens”, conta o fotografo. No Tonle Sap a vida comunitária é aquática, os próprios centros sociais, como unidades de saúde, igrejas e templos, estão construídas na água do lago. Este burburinho comunitário reflectido nas águas foi o foco da lente de Gonçalo Lobo Pinheiro.

4 Jan 2018

Fundação Rui Cunha | Esculturas de Todi contam história de crescimento

São 14 peças que contam os “momentos” da vida de uma rapariga. A exposição é de Custódia Kong de Sousa que há oito anos deixou para segundo plano a engenharia civil para se dedicar à escultura. A segunda exposição individual da artista vai ser inaugurada no próximo dia 18 na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]omentos” é a exposição de esculturas de Custódia Kong de Sousa, mais conhecida por Todi que tem inauguração marcada para 18 de Janeiro, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30.

A segunda exposição individual da moçambicana que reside em Macau desde 1986 marca também uma experiência da artista na área das peças figurativas. “Usei a escultura para contar uma história, e por isso e chama momentos, porque descreve vários momentos da vida de uma pessoa”, começa por contar Todi ao HM. Por outro lado, Todi quis experimentar outras abordagens, “Nesta série optei mais pelo figurativo porque gosto de desafios e geralmente tento fazer qualquer coisa que seja novo, pelo menos para mim. Como também estava  a trabalhar à volta de uma história e de uma pessoa pareceu-me a melhor opção”, sublinha.

Crescimento natural

“Momentos” conta a história de uma rapariga, desde que nasce até que se torna mãe. Das 14 peças que integram a mostra quase todas foram feitas para esta história.

A exposição tem início com uma menina pequena, no colo da mãe, diz a artista. “A menina vai crescendo, uma etapa que é retratada por “Inocência””. Aos seis anos, sonha ser bailarina e na adolescência, descobre que gosta de dançar flamengo. “Nasce a peça à volta desta mudança e deste gosto. É um tema que me inspirou também e penso que é uma dança que representa muito a paixão, sentimento que também quis transmitir com esta peça”, continua Todi.

A vida continua a o amor aparece. “Alma gémea” é a peça que retrata esta fase, à que se segue, a “Noiva”. A exposição termina com a protagonista a ser mãe. “A última é a maternidade, quando ela própria se vai tornar mãe. Digamos que aqui quase que o ciclo recomeça”, refere a escultora.

Mas há ainda elementos que retratam, mais do que as fases da vida, estados emocionais. “Uma das peças é referente é a gratidão em relação à vida por tudo o que lhe trouxe e outra que se chama “dançando com o universo” retrata a harmonia que sente em relação ao que a rodeia, a tudo”.

Peças em movimento

Os materiais eleitos por Todi são a massa epoxie e o tecido endurecido. De acordo com a arista, a escolha é uma questão de preferência essencialmente pessoal. “Porque gosto de experimentar materiais novos e estes são pouco usuais na escultura. A massa epoxie é um material muito resistente e endurece ao ar num período de tempo curto, obrigando a uma forma diferente de abordagem do processo de execução. O tecido endurecido é um material que permite dar mais expressividade e movimento à peça”, refere. “Com ele tenho as linhas que quero e a dinâmica que procuro”, remata.

4 Jan 2018

Guida Maria (1950-2018): A bela diferente

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actriz portuguesa Guida Maria morreu ontem, aos 67 anos, vítima de cancro, revelou o encenador António Pires. “A actriz faleceu hoje de manhã, tranquilamente durante o sono, após ter sido vítima de doença prolongada”, referiu o encenador.

Nascida em Lisboa em 1950, Guida Maria fez cinema, ficção em televisão, mas sobretudo teatro, tendo participado em cerca de 40 peças, entre as quais “A mãe”, “Auto da geração humana”, “A casa de Bernarda Alba” e, possivelmente uma das mais conhecidas da carreira, “Os monólogos da vagina”.

Filha do actor Luís Cerqueira, Guida Maria estreou-se aos sete anos na peça “Fogo de Vista”, de Ramada Curto, aos dez anos entrou em “A sapateira prodigiosa”, da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, ao lado de Eunice Muñoz, e, aos 13, fez sucesso em “O milagre de Anne Sullivan”, encenada por Luís de Sttau Monteiro. Com vários anos de experiência de palco, Guida Maria estudou depois no Conservatório Nacional, ao mesmo tempo em que entrava noutras peças produzidas por Vasco Morgado.

Ainda antes do 25 de Abril de 1974, a actriz entrou em “A promessa”, uma adaptação de António de Macedo de uma peça de Bernardo Santareno, na qual protagonizou o primeiro nu integral do cinema português. O filme foi exibido em vários festivais, nomeadamente em Cannes.

Ainda na década de 1970 foi convidada a integrar o Teatro Nacional D. Maria II, onde permaneceu até aos anos 1990, tendo entrado em peças como “O leque de Lady Windermere”, “Maria Stuart”, “Slag” e “Sherley Valentine”, o primeiro de vários monólogos que protagonizou na carreira. Durante esse período no teatro nacional, Guida Maria fez uma pausa em 1980 e, com uma bolsa de estudos, entrou na American Academy of Dramatic Art, em Nova Iorque, e fez vários ‘workshops’ na Actors Studio.

Além de “Sherley Valentine”, Guida Maria ficou conhecida por outros monólogos como “Andy & Melissa” (2001), “Zelda” (2004), “Stôra Margarida” (2006) e “Sexo? Sim, mas com orgasmo” (2010). O maior sucesso de carreira, com vários meses em cena e reposições, terá sido a peça “Os monólogos da vagina”, de Eve Ensler.

A telenovela brasileira “O bem amado”, da TV Globo, a novela portuguesa “Passerelle”, as séries “Nico d’Obra” e “Riscos”, e os filmes “O barão de altamira”, de Artur Semedo, e “No dia dos meus anos”, de João Botelho, são outras produções em que participou. Em 2009 lançou uma autobiografia, “Guida Maria – Uma vida”.

3 Jan 2018

Fotografia | Exposição de Teresa Senna Fernandes mostra realidades de África

“Um Coração Dividido” é o nome da exposição de fotografia que vai ser inaugurada amanhã na Fundação Rui Cunha. A autora é Teresa Senna Fernandes que com apenas 17 anos já participou em duas acções de voluntariado em África. De São Tomé e Príncipe e da Guiné Bissau trouxe experiências e imagens que, espera, sejam capazes de sensibilizar quem as vê

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão cerca de 20 imagens a preto e branco que integram a exposição de Teresa Senna Fernandes com inauguração marcada para amanhã pelas 18h30 na Fundação Rui Cunha.

Com apenas 17 anos, a jovem que vive em Macau embarcou pela primeira vez para São Tomé em 2016. Ía fazer voluntariado junto de crianças que precisavam de ajuda. A experiência foi marcante e este ano repetida, desta feita rumo à Guiné, uma realidade “mais dura”. Das viagens trouxe a mudança e, para que as realidades por onde passou não sejam esquecidas, trouxe imagens que falam por si.

“As fotografias conseguem transmitir e simbolizar muito e são a única coisa que trouxe que pode mostrar um pouco do que vivi ”, começa por dizer ao HM.

À falta de palavras são as imagens que têm o poder de ajudar a partilhar outras realidades. “As palavras muitas vezes não são suficientes e a fotografia é capaz de dar uma noção mais aproximada daquelas vidas”, explica ao mesmo tempo que espera conseguir “sensibilizar as pessoas e incentivar cada um a ajudar, nem que seja com pouco”.

Mas, e acima de tudo, Teresa Senna Fernandes quer fazer perceber que o mundo não é só esta “bolha chamada Macau”. “O meu objectivo é mesmo alertar as pessoas para o facto de existir mundo além daquilo que conhecem. Aqui em Macau é tudo muito fácil. Aqui, tudo o que se deseja é realizável. Parece que as coisas nos caem aos pés. Espero que com esta mostra as pessoas possam perceber que há muitas situações que precisam de ser vistas e ouvidas para que mudem”, refere.

Foi esta necessidade de mostrar, não o que fez, mas outras realidades, que motivaram Teresa Senna Fernandes a fotografar.

Um mundo sem cor

As fotografias são a preto e branco, e nem podia ser de outra forma.

Mais do que um gosto pessoal, a opção de pela imagem monocromática teve que ver com o contraste que o formato permite. “O preto e branco realça muito mais as situações”, diz, sendo que “apesar de serem cores neutras, são cores que conseguem transmitir melhor o contraste: o contraste na própria imagem e entre mundos, aquele em que vivemos e aquele que ali está representado”, apontou a autora.

Por outro lado, considera, são tons que tornam a fotografia mais real, mais pesada o que vai de encontro ao peso que também ela sentiu quando confrontada com realidades marcadas pela ausência, dor ou sofrimento.

Mas, Teresa Senna Fernandes pretende com as imagens falar sobretudo de esperança e da capacidade que cada um tem ao seu alcance de poder fazer qualquer coisa, por muito pouco que seja, para ajudar quem mais precisa. “Se cada um fizer um bocadinho, as coisas podem ir indo ao sítio e pequenas coisas fazem a diferença”, diz.

A jovem fotógrafa tem em conta a sua própria experiência enquanto voluntária, “uma actividade que está ao acesso de quem quiser e uma experiência que, sem mudar o mundo, é capaz de mudar pelo menos um momento no mundo de alguém”. “Embora tenha feito pouco, sei que de alguma forma, fiz alguma diferença, nem que tenha sido somente naquele momento em que estava a tentar ajudar alguém, naquelas espaço, naquelas vidas”, recorda.

Coração grande

É esta ideia de dar do coração que está na base do nome da exposição. “Um Coração Dividido” é a capacidade de ajudar distribuída por muitos, por todos aqueles que precisam. “Quando se está perante uma realidade daquelas e em contacto com várias crianças naquele contexto, uma pessoa acaba por se sentir dividida. A intenção é fazer com que o nosso coração chegue a todos”, refere, emocionada.

Trata-se, para Teresa Senna Fernandes de “um gesto de generosidade”.

De acordo com a jovem fotógrafa foi também um tempo para aprender. “Fiz as mais bonitas aprendizagens: aprendi que podemos ser heróis sem capas, títulos ou talentos. Que temos o poder de, com simples toques de amor, que assim se torna mágico, tocar o coração do outro, ao fazer chegar-lhe o nosso. Sim, vi crianças a pedir os restos da nossa comida. E percebi que não há água potável. Vi crianças com os pés lastimáveis, porque descalças. Guardei o toque da minha mão fortemente agarrada pelas mãos delas. Senti o meu coração a partir de cada vez que uma criança me pedia algo que eu não podia dar.”, descreve na apresentação oficial do evento.

Além da pobreza há ainda outros momentos. Depois de São Tomé, foi para a Guiné onde conviveu com aquilo que chama de “tradições completamente censuráveis”. A fotógrafa dá exemplos: “o caso dos casamentos forçados, da prática da mutilação genital feminina e tráfico humano”, tudo situações com as quais esteve em contacto de perto e que fizeram com que toda a experiencia se tornasse “muito mais forte e pesada”. Foi com esse peso que veio, mas acima de tudo com uma “grande lição: a sorte que tenho em ser valorizada”.

Para Teresa Senna Fernandes cada uma destas viagens contribui para que a postura que tem perante a vida mude. “Nunca voltamos os mesmos depois do contacto que temos neste tipo de experiência”, afirma. “São crianças e jovens que têm, muitos deles, a mesma idade que eu e que sofrem em circunstâncias muito complicadas”.

3 Jan 2018

Fernando Sobral, autor de “O Silêncio dos Céus”: “A obesidade da riqueza traiu os portugueses”

No novo romance do jornalista Fernando Sobral, com a chancela da Livros do Oriente, um homem, Diogo Inácio, sonha com a independência de Macau em relação ao reino português, enquanto deambula pelas ruas húmidas em busca da vingança pela mulher portuguesa que o deixou. Por entre histórias de seitas e de homens perdidos, viciados em ópio, o livro é também o retrato da sociedade de Macau no século XIX

[dropcap]E[/dropcap]sta não é a primeira vez que se debruça sobre o Oriente. Porque decidiu voltar a escrever um romance passado nesta zona do mundo?
O Oriente é a minha estrela polar. Guia-me, há muito. E, talvez por isso, alguns dos meus livros têm a ver directamente com esse mundo, para mim fascinante. Foi o que sucedeu com “O Navio do Ópio”, com “O segredo do Hidroavião” e, agora, com este “O silêncio dos Céus”. Todos estes têm a ver com Macau, mas reflectem a relação dos portugueses com um império flutuante onde estiveram perto de se tornar deuses, como queria adivinhar Camões. Este fascínio tem a ver com o esquecimento a que Lisboa votou, por exemplo, Macau, mas não só. E que só nos derradeiros anos de administração portuguesa se tentou remediar à velocidade da luz. Mas os séculos, o cansaço da descoberta e a obesidade da riqueza acabaram por trair os portugueses. Perderam as ligações comerciais e culturais com este enorme mundo que vai das margens do Mediterrâneo até aos mares da China. E, sobretudo, desprezaram a curiosidade. O sonho de pertencer à Europa, criada para garantir a paz e que faz tudo depender da existência de uma moeda única, fez perder a noção do Atlântico e do Oriente. Esquecemos Macau. E nos meus livros pretendo, modestamente, lançar pontes para recuperarmos uma ligação memorial. Será uma pena não aproveitarmos este rico património para a nossa ficção. Por isso voltei, com este romance, a Macau. E espero voltar mais vezes.

O livro refere-se a um período específico da história de Macau. Porque decidiu abordar a época da Guerra do Ópio?
A Guerra do Ópio, a primeira, é apenas um pano de mundo. Para situar a decadência em que vivia Macau, sobretudo depois dos sonhos expansionistas, ligados ao comércio, do Ouvidor Miguel de Arriaga. Com a Guerra do Ópio acaba o tempo do império chinês, o centro do mundo, e estabelece-se o reinado britânico, fruto da Revolução Industrial e da lei da canhoneira. E Portugal, finalmente, percebe, na pele, que é apenas um império para consumo próprio. “O Silêncio dos Céus” nasce disso: face ao poder britânico, ao esquecimento de Lisboa, criei uma ficção onde se sonha com a independência de Macau. Mas que não é mais do que um canto do cisne de quem apenas quer sobreviver. Como sempre fizeram os portugueses na Ásia, na África ou nas Américas. Ou em Portugal.

As seitas representam, ainda hoje, uma temática misteriosa e fascinante?
As seitas, ou as tríades, são sempre uma fonte de mistério. Até porque nelas encontramos as sementes das sociedades secretas ocidentais. Mas as sociedades secretas chinesas trazem-nos também algo de épico, por causa das suas ligações políticas. E da sua presença constante em momentos determinantes da história chinesa.

Como foi o processo de pesquisa histórica para este livro?
Não foi muito diferente do que tenho seguido para outros livros cujo epicentro é Macau. Muita leitura de documentação histórica e a sua utilização num contexto ficcional. Neste caso até há menos utilização de muita memória, ao contrário do que sucedeu no caso de “O Segredo do Hidroavião”, passado após a II Guerra Mundial, e onde era preciso perceber bem os contornos do tráfico de ouro em Macau.

Um dos personagens, Diogo Inácio, deseja a independência de Macau em relação ao reino. Esta foi uma tomada de posição da sua parte, uma tentativa de imaginar uma nova versão dos acontecimentos?
A ideia da luta pela independência é completamente ficção. Situo-a como um sonho, quase leviano, no meio da cobiça das grandes potências pelo domínio do comércio com a China e onde Macau se arriscava a passar a ser irrelevante. Tem a ver com a necessidade de sobrevivência dos portugueses, como sempre, face a acontecimentos que não podem dominar. E onde se refugiam no destino, como acontece muitas vezes. Basta ver que a conspiração para a independência é tipicamente portuguesa: fala-se muito, mas no momento da verdade pouco se fez. E aquilo desmorona-se por falta de estratégia e de organização. É um sonho. Bonito. Mas só isso.

Ao ler o livro não deixei de notar que certas passagens sobre o comportamento da sociedade e da comunidade portuguesa da altura ainda se mantém actualmente. Concorda? O livro pretende ser esse retrato social de um território peculiar?
É impossível falar de Macau sem colocar um espelho defronte da sua face. E dos que aqui têm vivido. Falar de Macau é falar dos que ali vivem ou viveram. Dos seus sonhos, medos, pesadelos e, sobretudo, formas de sobrevivência.

Há muitas referências ao Confucionismo. Identifica-se com esta forma de pensamento?Considera que há ainda muitas histórias de Macau ainda por contar? Que projectos para romances tem, a seguir ao lançamento de “O Silêncio dos Céus”?
Macau está cheia de histórias por contar. Gostava de poder contar ainda algumas que tenho guardadas à espera de as poder escrever de forma ficcionada. Mas, para já, a seguir a “O Silêncio dos Céus”, estou a terminar um policial passado nos nossos dias em Lisboa, mas onde uma das personagens vem de Macau. Deve sair no primeiro semestre de 2018. Depois é muito provável que volte aos mistérios e maravilhas de Macau.

Como é que a literatura sobre Macau é encarada em Portugal? Há um distanciamento, passa despercebida ou, pelo contrário, há interesse e curiosidade?
Acho que há curiosidade. Mas também penso que na pobreza cultural que é hegemónica em Lisboa dá-se mais atenção a um escritor menor que vem dos Estados Unidos do que a quem escreve em, ou sobre, Macau (ou Goa, ou outra região oriental onde esteve a cultura portuguesa). Lisboa é uma aldeia onde vários Clubes do Bolinha vivem a sua pacata insignificância. E não têm curiosidade por nada que fuja à sua zona de influência. É aqui que acho que Macau poderia ser o centro de uma nova onda da literatura de língua portuguesa. Uma fonte de juventude, de rejuvenescimento. De liderança e de ruptura. Espero que possa ser.

29 Dez 2017

Bienal de Arquitectura | Escolhida equipa para representar Macau em Veneza

O território será representado na 16ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza com um projecto dos arquitectos Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San e com curadoria de Lam Manuel Lap Yan. O desenvolvimento de Macau nos últimos anos será peça central do projecto

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma equipa jovem, com uma média de idades de 30 anos, e que trabalha em Macau. Assim se pode falar dos nomes por detrás do projecto que vai representar Macau na 16ª Bienal de Arquitectura de Veneza, a realizar-se em Maio do próximo ano.

Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Chu Hou San são os arquitectos responsáveis pelo projecto, que tem a curadoria de Lam Manuel Lap Yan. A equipa foi escolhida por um júri composto por alguns arquitectos, um deles Carlos Marreiros, que analisou as diversas propostas a partir de Outubro. O Instituto Cultural e a Associação dos Arquitectos de Macau foram duas entidades envolvidas neste processo.

O tema deste ano da bienal é “Espaço Livre”, que engloba “imaginação, períodos e memórias de liberdade, pegando em ligações do passado, presente e futuro para unir o antigo com o moderno, tendo por base aspectos culturais que advém de tradições continuadas”.

Nesse sentido, a equipa vencedora decidiu materializar no projecto o desenvolvimento que o território vivenciou nos últimos anos.

Os arquitectos escolheram “propositadamente como elemento base do seu projecto a ‘carta de jogar’, um símbolo do rápido desenvolvimento económico de Macau”.

“Através de diferentes conjugações e formatos da ‘carta de jogar’ e de técnicas abstractas, revelam construções ricas em características locais e que estão numa relação próxima com os residentes, como mercados, jardins e escadarias, entre outros. No processo de exploração e reconstrução, é possível experienciar de novo o espaço local, reflectir sobre a relação harmoniosa que se estabelece entre pessoas e espaço, desafiar planos e os limites da autonomia e explorar um equilíbrio interactivo”, explica o comunicado.

Uma questão de maturidade

Os elementos do júri consideraram que o projecto apresentado pela equipa vencedora “faz uso de características da cidade de Macau e incorpora elementos com valor cultural, revelando uma imagem de Macau de forma perceptual e apresentando o tradicional de uma nova forma, tendo por isso bastante interesse e unicidade”.

Além disso, “a equipa vencedora mostrou-se merecedora de ser seleccionada por ter ainda revelado bastante maturidade a nível da linguagem e representação arquitectónicas bem como a capacidade de destacar as características culturais de Macau”, aponta o comunicado.

A Bienal de Arquitectura de Veneza realizou-se pela primeira vez em 1980 e é um dos eventos de arquitectura e dos círculos académicos mais influentes do mundo, constituindo uma plataforma importante de intercâmbio cultural e de arquitectura. Desde 2014 que o IC já organizou a participação por duas vezes de arquitectos locais a este grande evento.

28 Dez 2017

Instituto Internacional de Macau: Henrique d’Assumpção ganha Prémio Identidade

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s órgãos sociais do Instituto Internacional de Macau deliberaram atribuir o Prémio Identidade do ano de 2017 a Henrique d’Assumpção, mais conhecido por Quito entre os amigos, pela sua muito relevante contribuição para a preservação do património e da identidade macaense, disseminando a sua genealogia, história e cultura, no espaço cibernético, em Português e Inglês.

Natural de Macau, donde jovem partiu para prosseguir estudos na Austrália, “Quito” d’Assumpção desempenhou funções de relevo no Governo daquele País, com uma invejável folha de serviços e vários títulos e comendas honoríficas. Depois de se ter aposentado da vida académica como Professor Emérito da Universidade de South Australia, passou a dedicar-se de corpo e alma, nos últimos 20 anos, a criar um repositório permanente para a preservação de registos culturais e históricos dos macaenses e, apesar dos seus outros inúmeros compromissos profissionais e oficiais, conseguiu recolher e disponibilizar um grande acervo de dados.

Ampliando a documentação existente sobre a genealogia das famílias macaenses, enriquecendo-a com milhares de fotografias e variadas outras informações, coligindo mais de 200 receitas da culinária macaense, reunindo versos, um léxico e áudio do velho dialecto de Macau; logrou digitalizar esses elementos numa plataforma electrónica com documentação biográfica relativa a mais de 55.000 nomes, e preparou o desenvolvimento dessa base “indefinidamente para o futuro”, sem perseguir fins pessoais e num esforço digno dos maiores encómios.

O Prémio Identidade, instituído desde 2003, decidido por deliberação de todos os órgãos sociais do IIM, visa galardoar pessoas ou instituições que, de forma continuada, hajam contribuído para o reforço e valorização da identidade macaense. Entre os contemplados incluem figuras como o Monsenhor Manuel Teixeira, Henrique de Senna Fernandes, Arnaldo de Oliveira Sales, e instituições, tais como a Diocese de Macau, a Santa Casa da Misericórdia, a Universidade de Macau, a Escola Portuguesa de Macau e outros organismos, locais e do exterior, ligados à diáspora macaense.

28 Dez 2017

Birmânia: Livro desvenda presença portuguesa mais de 500 anos depois

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s antepassados chegaram entre 1510 e 1512. Hoje, não têm um nome português, nem sabem onde fica Portugal, mas dizem-se portugueses. Esta certeza está em histórias contadas oralmente desde que os exploradores portugueses aportaram à Birmânia. A história é contada no livro de James Myint Swe, “Cannon Soldiers of Burma”, cuja versão portuguesa vai ser lançada em Portugal e em Macau, no primeiro trimestre de 2018, pela Gradiva e a Macaulink, com o apoio do Instituto Internacional de Macau.

“É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas”, sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância, contou o autor à Lusa. “Não se sabe ao certo a dimensão destas populações… cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem”, acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona “parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes” e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa. “Para o Governo, erámos estrangeiros”, afirmou o autor, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e “esta relação com Portugal começa a perder-se”, alertou James Swe, a residir no Canadá desde 1976.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: “Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram”.

O objectivo deste livro, com primeira edição em inglês em 2014, era divulgar a história dos portugueses no país e, ao mesmo tempo, o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar, disse. “Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na atualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia”, sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou. “Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito”, afirmou sobre alguns dos longínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia. “Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam”, disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar.

Para James Swe, é “altura de reaproximar os dois países”, num momento em que a Birmânia precisa de consolidar a implantação do regime democrático, depois da vitória eleitoral da Liga Nacional para a Democracia (LND), em 2015. A Birmânia é uma terra rica e de oportunidades de negócios. “Os empresários portugueses podiam começar com pequenos negócios, como restaurantes, e depois expandir para outras áreas”, considerou James Swe, cujas pesquisas se estenderam por dez anos, entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal.

Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

27 Dez 2017

Macau em destaque em ciclo de cinema em Lisboa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]   ciclo “Cinema Macau, passado e presente” é o evento que pretende levar à tela da Fundação Oriente um conjunto de filmes acerca do território. O objectivo é “desvendar a pluralidade de olhares sobre Macau durante o século XX bem como após a transição para a administração do território pela China”, lê-se em comunicado enviado à comunicação social.

Neste ciclo, com a curadoria da jornalista e crítica de cinema Maria do Carmo Piçarra, são revelados filmes do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e do Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE).

Em sete sessões temáticas, entre 7 de Janeiro e 18 de Fevereiro, a programação começará por apresentar a percepção, durante o Estado Novo, de realizadores portugueses – tanto amadores (Antunes Amor) como profissionais que serviram a propaganda (Ricardo Malheiro) – sobre Macau, contrapondo imagens fixadas por cineastas estrangeiros ao serviço do regime, como Miguel Spiguel e Jean Leduc. A mostra inclui o olhar de Manuel Faria de Almeida, um dos fundadores do Novo Cinema português que, posteriormente, ajudou a criar a Televisão de Macau, sobre a antecipação das angústias dos residentes no território com a perspectiva da transição da soberania.

Os dias de hoje

Em contraponto a estas visões, apresenta-se a perspectiva contemporânea de jornalistas e das novas gerações de realizadores portugueses, que viveram ou visitaram (Guerra da Mata / João Pedro Rodrigues) ou vivem (Ivo Ferreira) no território, e o de uma realizadora sérvia (Nevena Desivojevic), que filmou, em Lisboa, a rememoração da vivência em Macau.

O ciclo integra ainda investigações filmadas, assinadas por jovens jornalistas portugueses (Filipa Queiroz e Hélder Beja), que relevam traços da presença portuguesa durante o século XX.

“Cinema Macau” fixa, finalmente, as inquietações, as aspirações e a sensibilidade da primeira geração de realizadores de Macau. Recorrendo a linguagens que vão do ensaio visual à animação, e usando sobretudo o formato da curta-metragem, os novos filmes feitos em Macau, entre outros, por Albert Chu, Leong Kin, Cobi Lou, Hong Heng Fai, Cheong Kin Man e Tracy Choi – de quem será apresentada também a longa-metragem “Irmãs” (Sisterhood) – reflectem as mudanças na paisagem, física e humana. De acordo com a organização, “aqui, os vestígios coloniais servem um certo onirismo e nostalgia, e evidenciam o paralelismo entre o crescimento da ilha e a multiplicação das imagens desta – e do mundo – numa sociedade de ecrãs”.

20 Dez 2017

José Drummond apresenta amor e a morte na Casa Garden

“There´s a light that never goes out” é a principal peça de José Drummond exposta na Casa Garden e traz ao público uma oportunidade de integrar a própria instalação. Tudo tendo por base a canção dos “The Smiths”  que dá nome à obra e reflecte o lado negro e romântico da existência

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m dos mais famosos temas da banda britânica “The Smiths” dá nome à principal peça que José Drummond apresenta na exposição patente desde quarta-feira, na Casa Garden. “There´s a light that never goes out” é uma das três peças do artista local e, para fazer jus ao nome, trata-se de uma instalação com “uma componente de som em que há uma espécie de adaptação à música dos smiths”, conta ao HM.

José Drummond é acima de tudo artista plástico mas não menospreza o poder e importância da música e dos sons. “A música tem esta grande vantagem, está em todo o lado, e não precisa exactamente de significado porque nos atinge de uma forma muito directa”, explica.

Para Drummond é difícil o desligar do som, mais até do que da imagem. “Os olhos são autónomas e podemos fechá-los, sem ajuda de nada, já os ouvidos são diferentes, não os podemos fechar sem pelo menos recorrer a ajuda das mãos”, diz. É por isso que Drummond considera que “o som nos atinge de maneira diferente, de uma forma mais intensa do que a visão”

Poderá tratar-se ainda de pureza. “A visão, se calhar, é muito mais intelectual e perde muitas vezes a questão do significado mas gosto de coisas que nos possam criar emoções sem que tenhamos forçosamente de dizer mais ou explicar mais, e a  música tem realmente este dom”, aponta ao HM.

Por outro lado, a escolha do tema em causa foi muito ponderada. Apreciador de poesia, “There´s a light thet never goes out” é, afirma, “um dos poemas mais belos daquela banda”. Mesmo dentro daquilo a que chama clichés, é mais um tema “com uma forte componente negra que remete sempre para a esperança”. “Há aqui uma sensação de esperança mas depois a letra em si é fala de morte e amor. Não há coisa mais bonita do que isso e é esta ambiguidade que me atrai muito”, conta.

 

Um híbrido maior

Tratando-se de uma instalação, José Drummond fala ainda da sua forte componente híbrida aplicável tanto à obra como ao artista. “O meu trabalho vive muito de híbridos, a começar pela minha própria condição: sou um português ocidental em Macau, que bebe influencias do sitio onde vive, ou seja, tudo o que sai de mim já é um produto híbrido que vive na fractura das duas culturas e que não é uma coisa oriental mas também quase que já não é ocidental, muitas vezes”, explica.

O mesmo se pode dizer da forma como José Drumund sente que trabalha a imagem, “em que a fotografia parece pintura mas não é”.

Nesta instalação há ainda uma espécie de diálogo que, para José Drummond “se expressa de uma forma muito teatral porque há uma coreografia, com a luz”.

Mas a contracena passa ainda pelo público em que “o visitante é corpo integral da peça e com a sua participação, a peça ganha outro sentido, ou seja, os protagonistas neste momento são as pessoas quando estiverem dentro da peça”, conta. O objectivo não é ter a concordância do público ou mesmo o agrado, até porque uma das tarefas dos artistas plásticos passa não só por tentarem inscrever as suas ideias naquilo que fazem como tentarem ter um debate com o público e mesmo acabarem por recusarem a sua obra”.

 

Fora da parede

É também esta mistura entre público, obra e artista que marca os tempos contemporâneos das mostras. Chegou a hora de sair da parede a arranjar novos suportes. “Uma das coisa mais importantes, especialmente nos dias de hoje, é que nós enquanto artistas consigamos ter propostas de exposições diferentes e que vão além dos quadros na parede. É necessário que consigamos criar outros espaços, outros mundos que não fiquem reduzidos à banalidade do quadro na parede”, refere.

“There Is a Light That Never Goes Out” integra a participação de Drummond na exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” que conta ainda com as participações dos trabalhos de João Ó e James Chu. José Drummond participa com mais duas peças em néon vermelho: “Each man kills the things he loves”, de Oscar Wilde e “Find what you love and let it kill you” do poeta norte-americano Charles Bukowski.

As peças integram a exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” integra o festival da luz que se comemora no território e traz ao publico peças de João Ó, James Chu e José Drummond.

20 Dez 2017

Exposição | O legado de José Maneiras, o arquitecto da primeira geração

Quando Manuel Vicente chega a Macau pela primeira vez, em 1962, José Maneiras acabava de se licenciar no Porto. Ambos foram os grandes responsáveis pela introdução da escola da arquitectura moderna do ocidente. A obra do homem que “não faz cedências ao comercialismo” e que, como tal, “é respeitado” será recordada em 2018 com uma exposição da Docomomo, intitulada “José Maneiras – Um Macaense Moderno”

 

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Maneiras, nascido em Macau em 1935, sabe que os seus colegas de profissão, ligados à associação Docomomo, vão recordar a sua obra em Março do próximo ano, com uma exposição, mas não quer falar sobre isso.

Se o autor não fala sobre si mesmo, convidamos outros colegas a falar de si. Hoje mais afastado dos grandes projectos e encomendas, o trabalho de José Maneiras permanece importante por marcar a introdução da arquitectura moderna europeia em Macau e por fazer parte de uma primeira geração de profissionais vindos de Portugal.

Maneiras licenciou-se em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e chegou a Macau em 1962, numa altura em que não havia arquitectos profissionais.

Sérgio Spencer, arquitecto ligado à Docomomo e um dos responsáveis pela exposição, disse ao HM que José Maneiras “é um dos principais actores daquilo que foi a modernização da cidade de Macau, com a introdução de um tipo de arquitectura.”

“Ele é um homem da terra que vai fazer os seus estudos em Portugal e ganha essa dimensão das visões modernas e contemporâneas que se tinham implementado na Europa e nos Estados Unidos”, acrescentou Spencer, que adianta que essas correntes que então se notavam nos edifícios do ocidente visavam, sobretudo, o funcionalismo.

“Ele fez muitos edifícios residenciais. O seu estilo de arquitectura está virado para o sentido funcionalista, pragmático, muito eficaz, na linha daquilo que era um dos princípios do movimento moderno: o de considerar um edifício como uma máquina”, frisou.

Numa altura em que a maioria dos projectos eram desenhados por engenheiros ou outros profissionais de construção civil, José Maneiras soube fazer “uma relação interessante” entre aquilo que aprendeu na faculdade e o que era a cultura local ao nível da construção.

“Ele tem um estilo muito próprio, mas soube integrar os princípios na prática local. Foi isso que nos moveu um bocado, tentar trazer esta exposição ao público”, referiu Sérgio Spencer.

Num artigo da autoria da académica Ana Vaz Milheiro, em parceria com Hugo Morais Coelho, é referido que Maneiras foi dos poucos arquitectos que ficou em Macau em 1966, após uma vaga de saída de arquitectos portugueses, tendo fundado o seu atelier no ano seguinte.

André Ritchie, arquitecto que também fez a sua formação superior no Porto, teve professores que foram colegas de José Maneiras. “Trata-se da primeira geração e foi um dos primeiros arquitectos que foram estudar para Portugal e que voltaram com o canudo na mão. Isto numa altura em que se ia para Portugal ainda de barco, e ainda hoje José Maneiras conta essa história. Como pessoa foi sempre uma espécie de ídolo.”

Menos exuberante que Manuel Vicente

Vindo de Goa, Manuel Vicente chegou a Macau em 1962, tendo vivido no território até 1966. O seu trabalho cruza-se com o de José Maneiras, mas jamais se diluem.

“Antes do Manuel Vicente foi José Maneiras que deu a Macau edifícios bonitos e que pensou a cidade”, recordou Carlos Marreiros. Apesar de terem feito “alguns planos em conjunto”, “o legado de ambos é diferente”.

“O Manuel Vicente era exuberante, tinha uma arquitectura bastante festiva, muito criativa. O José Maneiras é da escola do Porto, e era muito comedido, muito modernamente minimalista, tinha características dessa escola. A sua arquitectura era competente, funcional, bonita, mas não era muito festiva.”

Sérgio Spencer afirma que “numa fase muito inicial a obra de Manuel Vicente aproxima-se, de alguma maneira, da obra de José Maneiras”.

“Eram amigos, davam-se bastante bem um com o outro, e ainda hoje entendemos isso nas suas palavras, mas do ponto de vista da linguagem arquitectónica, a maneira como abordavam a arquitectura e a questão da construção, não creio que passasse muito da obra de um para o outro”, concluiu.

A degradação inevitável

Uma vez que José Maneiras começou a projectar a partir de meados dos anos 60, os seus edifícios têm hoje guardados as marcas do tempo, sem manutenção e com desgaste, à semelhança de outros exemplares da arquitectura modernista em Macau. Contudo, ainda têm o seu papel no tecido urbano.

Isso acabou por dificultar a escolha das obras para mostrar ao público nesta exposição, pois José Maneiras não tem um espólio organizado. Visitas realizadas e conversas com o arquitecto ajudaram a Docomomo em todo o processo.

“A maior parte das obras de José Maneiras estão muito destruídas. A arquitectura está um bocado delapidada, com gaiolas, e não tem a manutenção feita”, disse Sérgio Spencer.

Tanto Carlos Marreiros como André Ritchie falam do complexo de edifícios habitacionais em frente ao Clube Militar, escondidos com a grandiosidade do Grand Lisboa.

“Esse edifício merecia ser renovado porque é um exemplo do modernismo em Macau”, lembrou André Ritchie, que referiu também a maneira como José Maneiras incorporou a ventilação transversal nos seus edifícios.

“Não havia a abundância do ar condicionado que há hoje. Essa preocupação reflecte-se depois na fachada dos exteriores dos edifícios”, adiantou.

“Hoje é um edifício que está muito degradado e as pessoas nem reparam”, acrescentou Carlos Marreiros. “Com o que se construiu à volta deixou de ter leitura. É um edifício que conheço desde a minha juventude, tem um desenho contido mas com muita qualidade.”

Maneiras trabalhou ainda, a título de exemplo, no projecto de requalificação da praça do Tap Seac, ao lado de Marreiros e do engenheiro civil José Chui Sai Peng, tendo também coordenado a equipa projectista do reordenamento viário da rotunda Carlos de Assumpção.

Membro honorário da Ordem dos Arquitectos em Portugal, um dos fundadores da Associação dos Arquitectos de Macau, em 1987, José Maneiras teve também um papel político, tendo sido presidente da Câmara Municipal do Leal Senado, cargo que ocupou entre 1989 e 1993. Isso deu-lhe ferramentas para conhecer um outro lado do território.

“Maneiras é um profundo conhecedor da cidade. Não é uma pessoa que faça cedências ao comercialismo, e como tal é respeitado”, frisou Carlos Marreiros.

Carregando consigo inúmeras histórias da terra que o viu nascer, José Maneiras foi o responsável por transmitir a André Ritchie uma delas, no âmbito de um projecto recente em que ambos trabalharam.

“Tivemos de deslocar um monumento da diáspora macaense, na sequência de uma obra do Gabinete de Infra-estruturas. Esse monumento celebra a diáspora macaense e quando os macaenses saíam de Macau iam de barco, não de avião, tal como José Maneiras o fez, e saía-se da Barra. A última coisa que um macaense via era o Templo de A-Má”, contou o arquitecto.

O trabalho de uma vida de José Maneiras poderá ser visto em Março no pavilhão do jardim Lou Lim Ieok. Sérgio Spencer garantiu que o objectivo é mostrar a importância do seu trabalho a todos.

“Gostaríamos que não fosse [uma exposição] muito direccionada para arquitectos, que fosse uma coisa virada para o público e até para a comunidade chinesa. Batalhamos um pouco para ter um espaço expositivo que não fossem os sítios tradicionais das exposições onde só vão turistas e gente erudita. Estamos contentes por termos feito a exposição no pavilhão do Lou Lim Iok”, rematou.

19 Dez 2017