Música | MACA assina parceria com Sociedade Portuguesa de Autores

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e a MACA (Macau Association of Composers, Authors and Publishers) vão produzir em conjunto o álbum “MACA Album Volume 7”, que celebra o décimo aniversário da associação local.

De acordo com um comunicado divulgado pela SPA, “a cooperação entre ambas as congéneres estender-se-á à semana cultural da relação dos países da Lusofonia com a China, na qual a SPA foi convidada a participar, facto que muito honra a cooperativa dos autores portugueses”.

As parcerias com a MACA surgem numa altura em que “a SPA tem vindo a reforçar a sua presença internacional e as sinergias em rede, destacando-se actualmente a proposta da Confederação Lusófona de Sociedades de Autores . A parceria visa uma maior solidariedade, à escala global, na prossecução dos únicos e fundamentais objectivos comuns: a cada vez maior proteção dos direitos dos autores e a garantia de uma justa remuneração pela exploração das suas obras”.

5 Mar 2018

Cinemateca Paixão | “Histórias de Macau 1” em exibição a partir de Sábado

A Cinemateca Paixão vai revisitar a primeira edição da série “Histórias de Macau”. As sessões arrancam no próximo Sábado e prolongam-se até ao final do mês

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Cinemateca Paixão exibe, a partir do próximo Sábado, a primeira edição da série “Histórias de Macau”, rodada há dez anos na cidade. “Os Melhores e os Piores Tempos” (de Ho Ka Cheng), “Incerteza” (de Chan Ka Keong), “Avião de Papel” (de Vincent Hoi), “O Momento Certo” (de Albert Chu) e “Rua de Macau” (de Sérgio Perez) são as curtas que formam a longa-metragem que tem como fio condutor os bairros da cidade.

Sérgio Perez recorda como “Rua de Macau” foi parar ao “Macau Stories”, como é mais conhecida a série realizada por Albert Chu. “O filme estava em finais de pós-produção nos finais de 2008, mas ainda estávamos a pensar como o lançar, mas soubemos que o Albert Chu e outros realizadores locais estavam a fazer o ‘Macau Stories’. Foram ver, gostaram e acharam que fazia todo o sentido que a curta integrasse o Macau Stories. Eu também achei que sim e fiquei muito sensibilizado”, recorda o realizador.

“É uma história que não sei como a justificar à audiência”, tem uma narrativa “aparentemente simples, feita num determinado momento da história de Macau, que aborda temas como o encontro de culturas, de pessoas com diferentes perspectivas do mundo e, de alguma maneira, uma Macau que se está também a descobrir ou a redescobrir”, descreve o realizador ao HM. Sérgio Perez explica ainda que as duas personagens em torno das quais gira a narrativa acabam por “carregar um pouco em si algumas Macau que se procuram encontrar, reencontrar ou descobrir o seu espaço”.

Uma década depois

Apesar de a experiência ter sido feita por um Sérgio Perez que hoje “será um bocadinho diferente”, o facto de o filme ainda ser exibido mostra que esforço valeu a pena. “Foi um filme feito com várias limitações, completamente financiado por mim, com o meu próprio equipamento, com voluntariedade de amigos – alguns profissionais, outros nem tanto”, conta. Na altura, o processo de produção era muito diferente” comparativamente com os restantes realizadores, com “muitos fins-de-semana” e que se estendeu “por mais de um ano”.

Embora remonte a 2008, a história “acaba, de certa forma, por “ainda ser intemporal, porque não ficou datada”, apesar de numa década se terem operado mudanças no cenário. “O restaurante onde foi filmado parte do filme já não existe. Aliás, muitos dos espaços já não existem e a pessoa que nos concedeu o espaço também já cá não está”, exemplifica o cineasta.

“Fiz o ‘Rua de Macau’ para ser visto no grande ecrã e sempre que vejo que pegam nele e lhe dão exposição na tela fico muito contente”, diz Sérgio Perez, dando conta de que a curta-metragem ainda recentemente foi exibida pelo Instituto Confúcio em Barcelona, o que o deixou “surpreso”.

“Espero que o filme agarre o público, que consigam vê-lo de forma agradável, do princípio ao fim, e que tirem as suas próprias conclusões”, realça o realizador.

A primeira edição da série de “Histórias de Macau” vai ser exibida na Cinemateca Paixão aos sábados e aos domingos. A entrada é livre.

5 Mar 2018

Cinemateca Paixão celebra aniversário ciclo de cinema sobre comida

[dropcap style≠‘circle’]“B[/dropcap]eber-Beber, Comer-Comer!” é um ciclo de filmes totalmente dedicado à gastronomia. O evento, que começa no dia 16, serve de mote à celebração do primeiro aniversário da Cinemateca Paixão. Quem estiver interessado pode adquirir os bilhetes que vão estar disponíveis para venda já a partir de amanhã.

De acordo com um comunicado, o ciclo “Beber-Beber, Comer-Comer” é composto por seis filmes “dedicados à gastronomia”, estando também prevista a realização de seis “workshops de sabores”. O objectivo é “expandir a inspiração [dos espectadores] do sabor do cinema para o sabor do mundo lá fora”.

O programa contém três documentários e três longas-metragens, tais como “Kampai! Pelo Amor do Sakê”, que revela “o declínio e o renascimento da indústria japonesa do sakê”. Um outro documentário que poderá ser visionado na Cinemateca Paixão chama-se “Cidade do Ouro”, que conta a história do crítico Jonathan Gold, vencedor de um prémio Pulitzer.

O terceiro documentário inserido neste ciclo de cinema intitula-se “Formigas num Camarão”, a obra mostra os bastidores “do processo de mudança do melhor restaurante nórdico do mundo, o NOMA, para Tóquio”. No capítulo das longas-metragens, destaque para “Tampopo”, “uma obra prima japonesa clássica” que foi considerada o primeiro “Ramen Western”. Outro dos filmes a ter em atenção é “A Marmita”, uma obra premiada “que inverte a percepção geral do cinema indiano” e ainda “Tostas”, uma adaptação de um filme televisivo baseado na autobiografia do premiado escritor culinário inglês, Nigel Slater.

Para acompanhar o cinema estão também programados seis “workshops de sabores”, pensados “para levar o público para fora do cinema, numa exploração de diversos restaurantes únicos da cidade”.

“O crítico gastronómico local, OB, levar-nos-á a um restaurante nepalês, onde provaremos os exóticos momos. Chakra Space, um fantástico café vegan, que enfatiza uma cozinha minimalista, preparará um menu especial para nós.”

Outros estabelecimentos participam também neste evento, como é o caso da Old House Bakery, que “criará toda a espécie de pastelaria para um delicado chá da tarde”. Já o restaurante de ramen Furu Furu e o restaurante indiano Taste of Índia prometem servir “pratos únicos”.

No dia da abertura do ciclo de cinema que celebra o primeiro aniversário da Cinemateca Paixão, haverá uma festa, onde Eric Leong, “amante e perito de sakê” irá “partilhar o seu profundo conhecimento e paixão por aquela bebida”.

A Cinemateca Paixão, no seu primeiro ano de existência, “tem oferecido uma selecção única de cinema não comercial ao público de Macau”, assim como uma “séries de palestras, festivais de cinema e workshops”. “Temo-nos empenhado em promover continuamente o cinema, os documentários e os filmes de animação locais”, referiu a organização da Cinemateca Paixão.

2 Mar 2018

Exposição “Shaping Dream” inaugurada hoje no Clube Militar

A dias de arrancar a primeira edição da Photo Macau Fair, o Clube Militar acolhe uma exposição que é quase uma experiência daquilo que poderá ser visto no Venetian. “Shaping Dream” é o nome da exposição que é hoje inaugurada e que estará patente apenas até domingo

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] fotógrafo Gonçalo Lobo Pinheiro é dos participantes na exposição “Shaping Dream”, que é hoje inaugurada no Clube Militar e que dura apenas três dias. A exposição tem como resultado uma competição de imagens artísticas, cujo prazo terminou no passado dia 31 de Janeiro, e que antecede a primeira edição da Photo Macau Fair, organizada, entre outras figuras e entidades, pela artista Cecília Ho.

Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há alguns anos, trabalha sobretudo nas áreas do fotojornalismo e documentário, mas resolveu arriscar com três trabalhos.

“Enviei cinco imagens, três foram seleccionadas. São três retratos, e penso que um deles já foi exposto. Com um dos retratos recebi uma menção honrosa numa exposição”, contou ao HM.

Apesar de não trabalhar com a fotografia artística, Gonçalo Lobo Pinheiro tentou fazer com que o seu trabalho se adequasse ao que era pedido nesta competição. O sonho e a imaginação foram o mote para a escolha das imagens.

“Duas fotos são com crianças e, logo aí, há sempre um sonho implícito. Uma delas é de Macau, outra foi tirada no Myanmar. A curadoria procura uma abordagem mais artística da foto, que é uma coisa que eu não faço, mas dentro daquilo que é o meu trabalho procurei imagens que fizessem esse compromisso artístico”, acrescentou o fotógrafo.

“Penso que a feira é mais virada para a fotografia enquanto arte. As vertentes de fotojornalismo, documentário ou reportagem, que são as vertentes com as quais trabalho mais, talvez não sejam bem o público-alvo da feira em si. Dentro do tema, decidi ir para a categoria do retrato, que também mostrassem alguma ilusão e sonho das pessoas que estão a ser retratadas”, referiu Gonçalo Lobo Pinheiro.

De acordo com um comunicado, a exposição é organizada pela Art Beyond Walls Association e visa “descobrir os trabalhos dos talentosos fotógrafos de Macau”. “Além de promovermos a fotografia enquanto meio queremos, ao mesmo tempo, mostrar o trabalho dos fotógrafos vencedores”, reforça o comunicado.

Um júri de fora

A competição estava aberta a profissionais e amadores e desafiava os participantes a serem inovadores e criativos. O júri que vai seleccionar as melhores obras é composto por Alvin Yip, curador independente e que esteve ligado à organização do pavilhão de Hong Kong presente na Bienal de Veneza, em 2006, entre outros projectos.

Joerg Bader é outro nome presente no júri, tendo no currículo o cargo de director do Geneva Center for Photography desde 2001. Johann Nowak, curador independente e fundador de uma galeria, é outro dos nomes presentes no painel de júris.

Cecilia Ho, artista de Macau e curadora, completa o painel dos júris. Cecilia foi a primeira artista chinesa a marcar presença na Real Academia de Artes de Londres, tendo participado em múltiplas exposições de Verão nos anos de 1996, 1997, 1998 e 1999).

2 Mar 2018

Exposição | Bienal de Mulheres Artistas inaugurada dia 8 no MAM

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já no próximo dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, que o Museu de Arte de Macau (MAM) acolhe, em parceria com o Albergue SCM e o Instituto Cultural (IC), a exposição colectiva “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau”. A mostra estará patente até ao dia 13 de Maio.

A mostra incluiu, além do trabalho da reconhecida pintora portuguesa Paula Rêgo, um total de 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje. Estas artistas representam um total de 23 países, e estão incluídos trabalhos que vão desde a pintura à serigrafia, desenho, escultura, instalação e vídeo.

De acordo com um comunicado do Instituto Cultural, “esta exposição tem como objectivo elevar a visibilidade das mulheres artistas contemporâneas e dar a conhecer a sua influência criativa na sociedade e cultura, bem como revelar os diversos papéis da identidade feminina, as diferentes interpretações do feminino e as práticas artísticas que transcendem as diferenças de género”.

Vindas de regiões tão diferentes como o Interior da China, Macau, Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Timor-Leste, Rússia, Índia ou Irão, as artistas integrantes desta exposição “pertencem a diferentes épocas, regiões e contextos culturais, tendo cada qual emoções e métodos criativos individuais, e as suas obras revelam ao público o mundo artístico único das mulheres”.

A mostra “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau” será dividida em duas partes. A primeira “é composta por 41 peças da colecção do MAM, produzidas entre a década de 1970 e os dias de hoje, dispostas por períodos de dez anos, dando a conhecer ao público os êxitos do MAM no seu estudo de obras de mulheres artistas de vanguarda e da história da arte de Macau”.

“As obras expostas incluem obras seleccionadas de séries de trabalhos produzidos pelas artistas bem como obras de grande escala de artistas convidadas. Na segunda secção são expostas obras de 101 mulheres artistas activas nos círculos artísticos internacionais provenientes da colecção do Albergue SCM”, acrescenta o comunicado.

Esta não é a primeira vez que tanto o IC como o Albergue SCM exploram o universo feminino da arte. O ano passado decorreu, no Albergue, a exposição “28 Artistas + 28 Obras em Feminino”, onde foram reveladas obras de 28 mulheres de Macau e de países de língua portuguesa. Foi esta a génese da bienal que agora se inicia.

“Ambas as exposições focaram a sua atenção na posição da mulher no mundo da arte contemporânea bem como em outros elementos complementares. Neste contexto, estas duas entidades contribuíram com ideias e perspectivas diferenciadas para lançar a mais abrangente “Mulheres Artistas – I Bienal Internacional de Macau”, remata o comunicado.

1 Mar 2018

Paula Rego em destaque na Tate em mostra coletiva com Freud e Bacon

Cinco obras de Paula Rego figuram, num espaço dedicado à pintora portuguesa, na exposição coletiva “All Too Human – Bacon, Freud and a Century of Painting Life”, que abriu ontem no museu Tate Britain, em Londres

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição reúne cerca de cem obras de 22 pintores, entre os quais alguns dos mais célebres artistas britânicos modernos, com destaque para Lucian Freud e Francis Bacon, mas também Walter Sickert, Stanley Spencer, Michael Andrews, Frank Auerbach, Francis Newton Souza ou Leon Kossoff.

A exposição tem por objetivo mostrar como artistas de diferentes gerações ao longo do século XX e XXI conseguiram retratar pessoas, locais, eventos ou relações pessoais e transmitir as respetivas experiências e sensações através da tinta e das diferentes técnicas.

Mais de metade das obras em exposição são emprestadas por colecionadores privados ou outras instituições, algumas foram raramente vistas em público, e várias não eram expostas há décadas.

A curadora Elena Crippa disse à agência Lusa acreditar existir uma tradição britânica no uso de modelos vivos e de paisagens, para os artistas se exprimirem e retratar a atmosfera social e pessoal em que viviam, atravessando mesmo correntes artísticas.

Por exemplo, Francis Bacon e Alberto Giacometti são reconhecidos por criarem, nos anos de 1950, quadros com figuras em estado de isolamento e angústia, transmitindo, de certa forma, o ambiente de ansiedade após a Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, acrescentou, também quis promover uma mensagem simples numa Era de excesso de informação cada vez menos relevante para as pessoas enquanto seres humanos.

“Sinto que o que estes pintores nos dão através deste trabalho é esta afinidade com o que nos interessa como indivíduos no quotidiano: é sobre tu e eu, é sobre o espaço onde vivemos, é sobre o grupo de pessoas com quem interagimos e com quem nos relacionamos. Espero que as pessoas se identifiquem com este desejo de restabelecer uma ligação simples à natureza humana”, resumiu.

Paredes meias

Lucian Freud é um dos artistas britânicos mais proeminentes e está representado em dois períodos, o primeiro influenciado por William Coldstream, no olhar analítico da cena e das pessoas, e um segundo, após os anos 1960.

Trocando pincéis finos por outros mais grossos e a posição sentada pela postura em pé resultou em perspectivas que enfatizam os volumes dos corpos e a carga psicológica dos retratos, vários dos quais de pessoas completamente nuas, como o amigo David Dawson.

Amigo e assistente entre 1990 até morte de Freud, em 2011, foi protagonista de “David and Eli”, onde é retratado deitado junto com o cão de estimação.

“Estar em frente a este quadro, que eu já não via há tantos anos, é muito emocionante. Traz à memória a altura em que foi pintado, em 2003. Ao todo, posei para nove quadros. Acho que já não via este quadro há pelo menos uns dez anos, mas reconheço-me perfeitamente nele”, contou Dawson à Lusa.

Sobre o espaço dado às cinco obras de Paula Rego, uma das quais um tríptico, Elena Crippa defende o papel que a artista portuguesa tem na arte não só britânica, mas a nível internacional, por ter rompido com o domínio até então masculino na pintura.

Telas no feminino

“Ela é uma artista que, numa altura em que a pintura ainda era uma actividade dominada por homens, surgiu como uma pintora feminina que conseguia produzir quadros de grande dimensão, de forma confiante, com composições lindíssimas, e de certa forma deu às mulheres pintoras a oportunidade de dizer que a pintura não está reservada a um género”, salientou.

A curadora da Tate elogia a forma como a portuguesa usa, nos seus quadros, personagens femininas, sejam vítimas ou culpadas ou retratadas de uma forma sexualizada em composições encenadas, criando um novo estilo. “De certa forma, sinto que são mulheres que apenas uma artista mulher poderia conceber. E ela tem não só este toque de mulher, mas um toque feminino, que foi muito importante para outras pintoras de gerações mais jovens”, vincou.

Uma das telas de Paula Rego em exposição é “A Família”, de 1988, em que um homem é dominado por duas figuras femininas, enquanto uma terceira observa, num ambiente doméstico, no qual se lêem sentimentos como amor, ressentimento e dor.

A cena retrata alegadamente os momentos derradeiros do marido de Rego, Victor Willing, antes da morte por doença degenerativa, a ser ajudado pela pintora e pela filha, mas a cena torna-se complexa e ambígua, devido à presença de referências a Joana d’Arc, São Jorge e à fabula do Corvo e da Raposa.

Num texto publicado no jornal The Guardian, na semana passada, a propósito da abertura desta exposição, Paula Rego disse estar sempre a contar uma história nos seus quadros, mesmo que essa história vá mudando ou que só seja descoberta no final do processo de criação.

“As histórias têm pessoas nelas”, escreveu, então desenha pessoas a fazer coisas umas às outras, lembrando que recorre a contos do folclore português e a histórias como as de Eça de Queirós.

A exposição “All Too Human” mantém-se no museu Tate Britain até 27 de agosto, viajando depois para o Museu de Belas Artes de Budapeste, no final deste ano.

1 Mar 2018

Feira de Arte em Hong Kong revela 59 filmes com curadoria de Li Zhenhua

No quinto ano de presença em Hong Kong, a Art Basel traz também uma extensa mostra de cinema. O público poderá ver, de forma gratuita, um total de 59 filmes, sete deles “exibições especiais”, com curadoria do artista e cineasta Li Zhenhua. A sétima arte estará patente entre 29 e 31 de Março

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] considerada uma das maiores feiras de arte em todo o mundo e, pela quinta vez consecutiva, volta a marcar presença em Hong Kong. A Art Basel regressa ao Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong entre os dias 29 e 31 de Março e, além de trazer obras de diversos artistas, tem também um programa destinado ao cinema, revelado ontem.

O público poderá ver, de forma totalmente gratuita, um total de 59 filmes “inspirados pelo actual clima sociopolítico” e apresentados pelas 38 galerias que terão presença na Art Basel. Há também sete “exibições especiais” escolhidas a dedo por Li Zhenhua, um artista multimédia e também produtor de cinema.

Está prevista uma colaboração com a Videotage, uma organização não-governamental de Hong Kong especializada na área do vídeo e novos media.

É graças a esta organização que serão exibidos os trabalhos de vídeo de Nam June Paik, bem como de outros artistas de Hong Kong e da China cujo trabalho tem vindo a ser influenciado por este artista.

A película “The Future is in the Past” traça um retrato das colecções de vídeo-arte que foram iniciadas por esta ONG e também pelo Centro de Arte Nam June Paik, entidade que homenageia o artista nascido em 1932 e falecido em 2006.

“Futuro Imaginado’ vai revelar os trabalhos de vídeo feitos em Hong Kong e inspirados por Paik. A exibição será seguida de ‘Imaginaries Beyond the Past’, que apresenta uma nova geração de jovens artistas do continente e de Hong Kong que trabalham com vídeo ou com imagens em movimento”, aponta um comunicado.

Sete filmes, três dias

‘Days Gone By – Yu Hong’, feito em 2009 pelo cineasta Wang Xiaoshuai, abre o programa dedicado aos setes filmes, que arranca na quarta-feira, dia 28 de Março. A película conta a história da artista contemporânea chinesa com o mesmo nome.

“O filme não retrata apenas a vida de uma artista individual mas também mostra o crescimento do panorama artístico na China durante uma Era de mudanças dramáticas.”

Segue-se um conjunto de filmes que fazem uma “fusão de cortes tradicionais com experiências visuais em 3D”, tal como “Time Spy”, de Sun Xun, que será exibido ao público no dia 29 de Março, Quinta-feira.

A Sexta-feira, dia 30, é dia de ver “Deep Gold” de Julian Rosefeldt, e “Mrs. Fang”, de Wang Bing. Este documentário ganhou o Leopardo de Ouro no Festival de Filmes de Locarno o ano passado e conta a história da última fase da vida de uma camponesa que sofre de Alzheimer.

O público poderá ainda ver uma selecção de filmes onde se inclui “The War That Never Was”, uma selecção de obras de Edgardo Aragón, Bae Yoon Hwan, Chien-Chi Chang e Sutthirat Supaparinya.

Há também lugar à visualização de “Looking for Mushrooms”, de Bruce Conner, ou “A Sense of Warmth”, que incorpora um total de dez filmes que exploram relações sociais de autoria de Nevin Aladağ.

Em “How Happy a Thing Can Be” podem ser vistos filmes que mostram como objectos físicos e situações determinam “emoções e crenças”.

Além de fazer o trabalho de curadoria desta mostra, Li Zhenhua promove uma palestra no Sábado, dia 31 de Março, às 16 horas, com a presença de Isaac Leung, presidente da Videotage . O tema da conversa será “O conteúdo social na Era da distribuição digital”.

28 Fev 2018

Ex-primeira-dama dos EUA Michelle Obama lança livro de memórias em Novembro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama vai lançar um livro de memórias em novembro, divulgou a própria numa mensagem na rede social Twitter.
O livro, que terá o título original “Becoming”, é descrito por Michelle Obama como uma “experiência profundamente pessoal”.
Em 2017, Michelle Obama e o seu marido, o ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama, chegaram a acordo com o grupo editorial norte-americano Penguin Random House para a publicação dos seus livros. Informações divulgadas na altura indicaram que o acordo teria superado os 30 milhões de dólares (cerca de 24 milhões de euros).
As memórias das antigas primeiras-damas dos Estados Unidos são normalmente sucessos de vendas e o livro de Michelle Obama é aguardado com grande expectativa.
O único livro de Michelle Obama, com o título original “American Grown”, é datado de 2012 e é sobre jardinagem.
Barack Obama, que já escreveu dois ‘best-sellers’, “Dreams from My Father” (“A Minha Herança”, título da edição em português) e “The Audacity of Hope” (“Audácia da Esperança”), ainda não agendou a publicação das suas memórias.
Barack Obama (democrata), o primeiro Presidente dos Estados Unidos afro-americano, cumpriu dois mandatos presidenciais, de 2009 a 2017.
A National Portrait Gallery revelou em fevereiro os retratos oficiais do ex-casal presidencial. As obras, pintadas por dois artistas afro-americanos, figuram na ala presidencial desta galeria da rede de museus Smithsonian, em Washington.
27 Fev 2018

Produtora de cinema Weinstein Company vai declarar falência

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] empresa norte-americana Weinstein Company, de produção e distribuição de cinema, vai declarar falência depois de terem falhado negociações para venda de ativos a um grupo de investimento.
A decisão da administração foi revelada pelo jornal Los Angeles Times, depois de goradas as conversações para tentar salvar os ativos e os postos de trabalho da empresa, fundada em 2005 pelos irmãos Harvey e Bob Weinstein.
Harvey Weinstein foi afastado da empresa em outubro do ano passado no seguimento de várias denúncias públicas de assédio e abuso sexual por dezenas de mulheres no meio cinematográfico.
Segundo o Los Angeles Times, em discussão estava um acordo de 500 milhões de dólares que permitiria a um grupo de investimento, liderado por Maria Contreras-Sweet, ter o controlo total da empresa, alterar-lhe o nome e ter uma administração com um maior participação de mulheres.
O acordo incluiria ainda a criação de um fundo de 40 milhões de dólares para a empresa compensar as mulheres que acusaram Harvey Weinstein.
As negociações falharam no início de fevereiro depois de o procurador-geral de Nova Iorque ter apresentado uma ação judicial contra a empresa e os seus fundadores.
Os irmãos Bob e Harvey Weinstein, que em 1979 fundaram os estúdios Miramax, produziram dezenas de filmes e séries de ficção e entertenimento premiadas.
Entre os filmes com maior sucesso de bilheteira contam-se “Sacanas sem lei” (2009) e “Django libertado” (2012), ambos de Quentin Tarantino, “O discurso do rei” (2010), de Tom Hooper, “Guia para um final feliz” (2012), de David O. Russell, e “O mordomo” (2013), de Lee Daniels.
27 Fev 2018

Village Mall | Espaço de indústrias criativas com negócios por um fio

Há dois anos Window Lei, proprietário do centro comercial Broadway Center, na Rua do Campo, teve um sonho: dar um espaço aos negócios de Macau na área das indústrias criativas e criar o projecto Village Mall, com rendas apetecíveis. Contudo, há muitas lojas fechadas, poucos clientes durante a semana e vários negócios por um fio

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Broadway Center, no coração da Rua do Campo, é aquilo que todos os centros comerciais de Macau gostariam de ser: renovado, com uma grande aposta em produtos locais feitos por jovens empreendedores e cheio de vida cultural. Criado há dois anos por Window Lei, o projecto Village Mall ocupa apenas três pisos, dois deles destinados a lojas e um destinado à restauração. Todos os fins-de-semana organizam-se actividades para pais e filhos, alguns concertos e feiras onde o que de melhor se faz em Macau é exposto ao público.

Se aos sábados e domingos o velho centro comercial de cara lavada ganha uma nova vida, com vários clientes e visitantes, durante a semana a dura realidade instala-se: é difícil fazer negócio e os clientes são poucos. Durante a semana, o Village Mall transforma-se num qualquer centro comercial antigo, dos muitos que existem na península, e que há muito deixaram de atrair visitantes.

À hora em que esta reportagem é feita são poucos aqueles que circulam pelos corredores e há muitas lojas fechadas no primeiro andar. É aqui que conversamos com Vivian, proprietária do espaço “PaperCrafters”.

A “PaperCrafts” vende material de papelaria e de decoração feito na Coreia do Sul e no Japão, e que são bastante populares em Macau. Apesar de Vivian, a proprietária, ter seguido a moda que explodiu nos últimos anos, o negócio não corre de feição.

“Podemos conversar à vontade. Afinal de contas, não tenho nada para fazer, não há ninguém a passar aqui”, começa por confessar ao HM. “Não temos muitos clientes e quem está no rés-do-chão está melhor. Durante a semana temos poucas pessoas, mas ao fim-de-semana temos mais.”

A “PaperCrafts” nasceu há dois anos, tendo a mesma idade que o projecto Village Mall. “Tinha mais expectativas quando aqui cheguei, porque havia mais lojas, mas acabaram por mudar todas lá para cima. Há muito poucas estabelecimentos e isso não é muito atractivo para chamar para cá os clientes”, apontou.

Vivian não tem dúvidas. A continuar assim, o seu negócio não deve durar muito nos moldes em que existe actualmente.

“Acho que a loja vai fechar ainda este ano. Lá em baixo as rendas são mais altas. Tudo vai depender do valor da renda [se muda para uma outra loja no Village Mall ou se abandona o projecto].”

Conquistar pelo paladar

“Lá em cima”, como diz Vivian, existe um espaço de restauração, esse sim com mais pessoas e cheio de comidas que são de vários lugares da Ásia, desde o Japão a Taiwan. É este o espaço que acaba por atrair mais pessoas, conforme contou ao HM Bengie, funcionário da loja “Fortitude – Urban Art and Culture”. Até chegarem ao terceiro andar, os clientes acabam por passar por algumas lojas e, eventualmente, comprar alguma coisa. Contudo, as lojas parecem não constituir o principal motivo para uma visita.

“Aqui no primeiro andar só existem três lojas. No segundo andar não é tão mau, porque há uma maior diversidade de espaços. Há muitas lojas de acessórios e produtos feitos à mão, por exemplo. O mais importante é mesmo o terceiro andar, e é a principal razão pela qual as pessoas vêm aqui”, contou o funcionário da Fortitude.

Espaço de restauração do Village Mall

A Fortitude vende sobretudo t-shirts e malas de tecido personalizadas, cheias de mensagens, e também está aberta há dois anos. Bengie confessa que é difícil fazer deste um negócio rentável, apesar de trabalhar ali apenas há um ano.

“Tudo depende do contrato de arrendamento que se assina. Em termos de clientes, é 50/50”, defendeu.

“Todos os sábados e domingos há eventos de música, para famílias, há também actividades para caridade e isso atrai as pessoas que acabam por comprar alguma coisa.”

Online salva lojas

No segundo andar não se trata apenas de negócio. Num dos espaços funciona uma pequena biblioteca que é, ao mesmo tempo, um lugar de lazer. Um homem dorme num dos sofás. Há um piano à espera de ser tocado e estantes cheias de livros que podem ser lidos e partilhados.

No mesmo andar há muitas lojas vazias. Passam das 16 horas quando Dada vem abrir a sua loja, “Midnight”. Cartazes de filmes, um deles do cineasta Wong Kar-wai, povoam a porta, mas a “Midnight” não vende filmes, mas sim produtos decorativos vindos de Hong Kong e acessórios femininos feitos à mão.

Dada, proprietária da loja Midnight

Dada convida-nos a sentar e confessa que a loja só é rentável porque também vende os mesmos produtos online. “Até agora o negócio tem corrido bem porque também vendemos na internet, e isso faz com que esta loja seja rentável.”

“Tenho entre cinco a dez clientes por dia, mas não tenho muito mais escolhas em termos de locais para manter uma loja. O valor da renda é ok. Antes tinha a loja num espaço mais escondido e decidi mudar-me para aqui, para ter mais clientes. A oportunidade surgiu através de um amigo”, acrescentou Dada.

No Village Mall, a proprietária da “Midnight” confessa já ter visto muitas lojas como a sua a fecharem portas, mas, no seu caso, prefere não desistir, pelo menos por enquanto.

“Para já vou manter-me aqui até arranjar um lugar melhor. Aqui, o proprietário dá-nos a oportunidade de expor de forma gratuita nos mercados que são organizados aos fins-de-semana, e isso é bom para mostrarmos os nossos produtos. Só assim é que nos conseguimos manter, é muito difícil é ter lucros”, frisou.

Dada reconhece a aposta que o Governo tem vindo a dar à área das indústrias criativas, e destaca também o investimento feito por Window Lei. Contudo, apostar naquilo que é feito em Macau ainda não chega.

“Se abrirem lojas deste género é muito diferente do que se importarem algumas marcas para Macau. Assim pode correr bem, porque de outra forma é difícil apostar em produtos locais”, defendeu.

A artesã adiantou ainda que o mentor do projecto Village Mall poderia fazer uma maior promoção ao espaço, apesar da realização de actividades criativas e lúdicas ao fim-de-semana. “Sem essas actividades é difícil fazer com que os clientes venham aqui.”

Também Vivian, da “PaperCrafts”, partilha da mesma opinião. “O proprietário não faz muita publicidade a este espaço e muitas das pessoas não fazem ideia de que este espaço existe e é difícil procurar produtos aqui, porque as lojas têm horários de abertura e de fecho diferentes.”

Percorremos mais corredores, vazios a meio da tarde. Há várias máquinas de jogos espalhadas, a fazerem lembrar hábitos bem japoneses, mas ali não há ninguém a gastar tempo livre a tentar a sua sorte.

Bem perto das máquinas de jogo funciona a SDA Dance Complex, uma empresa de dança urbana que atrai muitos jovens, conforme contou Miva ao HM. Uma das responsáveis por um dos projectos que mais agita o dia-a-dia do Village Mall confirma que, de facto, o burburinho só se nota aos fins-de-semana.

“Há muitos jovens que vêm ao nosso estúdio, porque temos um projecto ligado à dança de rua, e é um projecto apropriado para os jovens. O terceiro andar oferece um espaço de restauração com diferentes comidas, e durante os fins-de-semana há mais pessoas a visitar, porque realizam-se actividades no Village Mall, para bebés e há várias competições para crianças.”

Um centro educativo na calha

O HM tentou, até ao fecho da edição, chegar à fala com Window Lei, mas não foi possível estabelecer contacto. No Village Mall, a sua secretária, Ruby, avançou com mais informações.

Desde a abertura do espaço, há dois anos, que ali se estabeleceram cerca de 30 lojas. Muitas delas já fecharam, mas Ruby não conseguiu precisar um número. “Talvez precisem de mais clientes”, apontou apenas.

Apesar disso, Ruby assegura que o Village Mall tem vindo a receber pessoas de vários lugares. “Há pessoas que vêm cá oriundas de lugares diferentes, até da China, e muitos turistas também. Temos vindo a fazer alguma publicidade e promovemos vários eventos. Temos também uma cooperação com a Wynn.” 

Os lojistas com quem o HM falou queixaram-se das rendas de um projecto que, em 2016, pedia candidatos que pagassem cerca de oito mil patacas mensais. Os lojistas confessam, no entanto, que os valores divergem consoante o andar em que estão localizados.

“Tentamos ser flexíveis ao nível das rendas, penso que este é um bom lugar para estas empresas estarem”, frisou. “Também temos eventos em que os lojistas podem participar de forma gratuita.”

Para este ano está prevista a abertura de um centro educativo. Depois da dança, da música e das artes, o Village Mall está pronto para abrir um espaço dedicado à área da educação. Resta esperar que as pessoas apareçam.

27 Fev 2018

Livros | “Cair para dentro” encerra trilogia de Valério Romão

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] o último volume da trilogia “Paternidades Falhadas” de Valério Romão. Depois de “Autismo” e de “O da Joana”, “Cair para dentro” conta a história de duas mulheres, Virgínia e Eugénia, unidas pela relação mãe-filha.

Eugénia, a filha, não foi educada para ser um adulto independente e, embora seja professora universitária, a mãe controla o seu dinheiro, o seu tempo, proibindo-a até de ter telemóvel. Quando Virgínia começa a desenvolver sintomas de demência, Eugénia vê-se obrigada, deixando aquela infância artificial construída pela sua mãe, a crescer e a cuidar de todos os aspectos práticos da vida de ambas. Até descobrir que, no estado em que a mãe se encontra, a vingança é uma possibilidade. “Cair para dentro” explora até ao limite as dificuldades das relações humanas e os dilemas morais que delas decorrem, refere o texto de apresentação da obra.

O autor publicou ainda três livros de contos: “Facas”, “Da Família” e “Dez razões para aspirar a ser gato”. Valério Romão escreve também peças de teatro e poesia, por enquanto inédita (mas está previsto, para breve, o lançamento do livro-cd “Poetas Portugueses de Agora”, que integra poemas seus).

Valério Romão, nasceu em 1974, licenciou-se em filosofia e é escritor, contista, dramaturgo, tradutor. Seleccionado como Jovem Criador nacional no início do século, tem diversos livros publicados e é um dos nomes sonantes da nova literatura em Portugal. Foi finalista do Prix Femina 2016.

26 Fev 2018

IPM | Curso Breve de Literaturas em Língua Portuguesa arranca em Março

O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa vai lançar, no próximo mês, o Curso Breve de Literaturas em Língua Portuguesa. A iniciativa junta, pela primeira vez, docentes de todas as instituições de ensino superior onde se lecciona literatura

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 5 de Março abre-se o primeiro capítulo de mais um curso livre de literatura, iniciativa que tem vindo a ser promovida pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Este ano com um novo fôlego graças à diversidade de temas e do painel que o lecciona.

“A grande novidade é que o curso vai ser leccionado, pela primeira vez, por professores de todas as instituições de ensino superior de Macau onde se ensina literatura”, afirmou o director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), Carlos André, ao HM. O académico sublinha que apenas agora se conseguiu concretizar este projecto que corresponde a uma vontade antiga.

“Já há muito venho a entender que temos de colaborar mais. Quem cá está há anos deve ter reparado que tenho dito, muitas vezes, que é necessário haver mais cooperação. A lógica de cooperação tem de prevalecer sobre a lógica da concorrência”, apontou.

Em paralelo, o curso livre – que começou por ser ministrado por José Carlos Seabra Pereira, que exerceu funções de docente convidado no CPCLP e foi distinguido com o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, em 2016, pela obra “O Delta Literário de Macau” – alargou o espectro, apresentando-se agora “muito ligado às literaturas de língua portuguesa, que não são necessariamente portuguesas”, sublinha Carlos André.

O curso livre, que vai decorrer de 5 de Março a 28 de Maio, “pretende ser uma actividade aberta à comunidade académica e a todos os interessados nas literaturas de língua portuguesa, sendo “caracterizada por um espectro temático amplo, tanto na sua cronologia, como no que diz respeito ao género e ao espaço de produção”. Ou seja, o espectro geográfico é alargado aos países de língua portuguesa, refere uma breve apresentação da iniciativa.

“A relação da literatura com quotidiano” é um tema proposto que tem como principal objectivo por um lado, “descobrir aproximações diversas de textos e autores” e, por outro, “reflectir criticamente sobre a literatura enquanto expressão individual e expressão de um determinado tempo e circunstâncias”. Olhando à primeira vista, o programa “parece um tanto descosido” ou “um pouco desgarrado”, o que decorre do facto “de cada professor ser livre de escolher a unidade temática em que quer trabalhar”, explica Carlos André.

De Camões a Agualusa

O Curso Breve de Literaturas em Língua Portuguesa desenrolar-se-á ao longo de dez sessões marcadas para as segundas-feiras entre as 18h30 e as 21h no IPM. As primeiras três vão ficar, precisamente, a cargo do director do CPCLP que irá abordar “O exílio na literatura portuguesa”.

“É um tema que atravessa a literatura desde os gregos, desde Ulisses, que é o primeiro exilado da literatura, até aos dias de hoje e que, no caso português, é pontuada por autores muito marcantes”, explica Carlos André. Nesse contexto, o académico propõe uma reflexão sobre a importância do tema e/ou condição de exílio em autores como Camões, Filinto Elísio, Marquesa de Alorna, padre António Vieira, Alexandre Herculano ou Manuel Alegre.

De acordo com o programa, segue-se Lola Xavier, também do Instituto Politécnico de Macau que, a 26 de Março, debruçar-se-á sobre a “Literatura angolana e construção de universos subjectivos”. Como o título indica, o módulo foca-se em autores angolanos, nomeadamente José Eduardo Agualusa, “naquilo que é a sua literatura menos comentada, mas mais rica, na criação de universos subjectivos e metafóricos”.

Já em Abril, o curso livre regressa à literatura portuguesa, desta feita, por via de Sara Augusto, que dedicar-se-á a uma área em que “se sente muito à vontade” que é, aliás, a da sua formação: a literatura barroca. “Parece-me interessante por ser uma área de estudos e da literatura muito desconhecida. As pessoas sabem mais do século anterior, o XVI, do que do XVII, em que acabam por conhecer o padre António Vieira e os Sermões e pouco mais”, observou a docente do CPCLP ao HM.

“A literatura barroca entre o quotidiano e a estética literária” titula as sessões de 9 e 16 de Abril, com Sara Augusto a destacar o particular interesse das “dicotomias” que a pautam e a capacidade de “conjugar os factos do dia-a-dia num período tão regido por regras”, em que se “cultivam géneros com códigos estilísticos tão fortes”, como o soneto.

A 23 de Abril, é a vez de Inocência Mata, professora do Departamento de Português da Universidade de Macau, dar o seu contributo, mas o programa ainda não se encontra fechado.

“O quotidiano no registo da poesia: intrusão ou pertença?” é a questão que Vera Borges lança na sua sessão a 14 de Maio. Segundo o programa, a coordenadora do Departamento de Estudos Portugueses da Universidade de São José propõe discutir a oposição entre os conceitos de sublime e banal. Serão abordadas “as funções e efeitos da intrusão do quotidiano na dicção poética”, com comentário de textos, designadamente de Ruy Cinnatti, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny de Vasconcelos ou Ruy Belo.

Já Vânia Rego, professora da Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM, vai buscar as “Galveias”, de José Luís Peixoto, para falar das histórias de um quotidiano português a 21 de Maio; enquanto Dora Gago, do Departamento de Português da Universidade de Macau, vai focar-se, uma semana depois, nas representações do quotidiano no Diário de Miguel Torga, fechando o Curso Breve de Literaturas em Língua Portuguesa.

26 Fev 2018

Anoushka Shankar, intérprete: “A música pode fazer a diferença na defesa de causas”

A estrela do sitar Anoushka Shankar cresceu entre duas tradições culturais e concepções distintas. Catapultada ainda muito nova para um lugar de destaque no âmbito das músicas do mundo, depressa descobriu uma singularidade que funde as mais profundas raízes da música indiana com sons contemporâneos do ocidente. A poucas semanas do concerto da filha de Ravi Shankar em Macau, já no próximo dia 20 de Março, recolhemos algumas impressões breves da artista

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que a atrai mais no sitar? Vê-o como uma escolha que fez muito nova ou foi sobretudo uma decisão do seu pai?
O sitar faz parte da minha vida desde as minhas memórias mais remotas, sempre adorei o seu som e claro que cresci a ir aos concertos do meu pai e a vê-lo com os seus estudantes a tocar em casa. Foi decididamente uma escolha minha mas, como disse, é algo que sempre esteve perto de mim desde o início, por isso influenciou a minha escolha.

Para além da música tradicional indiana, podemos saber que tipo de música ou músicos a influenciaram ou ainda a influenciam?
A música que faço reflecte aquilo que sou enquanto pessoa e o tipo de influências multiculturais que tive enquanto crescia, e que passou por ter trabalhado com uma diversidade de géneros incluindo música indiana clássica, jazz, electrónica e muitas outras.

O conceito de “Land of Gold” é bastante diferente dos seus trabalhos. Podemos saber algo mais sobre a ideia por detrás deste projecto?
As sementes de “Land of Gold” tiveram origem no contexto de uma crise humanitária de refugiados. Coincidiu com uma altura em tinha acabado de ter o meu segundo filho. Fiquei profundamente perturbada pelo intenso contraste entre a minha capacidade de proteger o meu bebé, e a situação de outros que lutavam desesperadamente para poder dar a mesma segurança às suas crianças mas sem sucesso. Foi uma comparação perturbante que me ficou na mente, alimentada por um crescente sentimento de revolta, que a deslocação maciça de uma maré vulnerável de pessoas tenha sido causada por decisões de política externa e actos de guerra isolados. É trágico pensar que vivemos num mundo onde a nossa capacidade de oferecer abrigo aos que são desterrados por circunstâncias violentas para além do seu controlo seja determinada por fronteiras geográficas.

Acredita mesmo que a música pode mesmo fazer a diferença quando se trata de defender causas?
Penso que a música pode fazer a diferença na defesa de causas, por vezes a diferença pode ser literal, por exemplo no caso de um enorme concerto de beneficência que consiga uma troca directa providenciando ajuda a quem necessite. Por vezes a diferença é mais subtil, pode ser em forma de sentimento, emoção ou empatia no espectador, que o leve a fazer algo de forma diferente. De qualquer forma vale a pena tentar.

A combinação de diferentes instrumentos no seu concerto “ Land of Gold” é bastante diferente do que aconteceu em concertos anteriores. Existe alguma razão especial por detrás desta escolha de músicos e instrumentos?
O desenho do som instrumental do álbum aconteceu logo no início da concepção de “Land of Gold”. O Manu Delago juntou-se logo de início como co-escritor e colaborador, por isso soube que estaríamos a trabalhar com o sitar e o hang com imensos sons de percussão muito específicos. Para abordar esse ponto eu escolhi de forma deliberada o shehnai enquanto instrumento indiano de sopro muito evocativo e depois acabei por sentir que era importante ter um instrumento de cordas para que me desse uma base de sustentação a todos os outros instrumentos. Enquanto quarteto, este som torna-se muito internacional, evocando muitas emoções e sentimentos no ouvinte.

Reconhece-se como herdeira exclusiva do legado musical de Ravi Shankar?
Não me parece que exista essa figura de herdeiro de um legado musical. Se olharmos para a carreira do meu pai, o ensino era muito importante para ele. Ele teve muitas dezenas de alunos ao longo da sua carreira musical. Por isso, se existe um legado musical é o mesmo que eu partilho com todos os seus discípulos.

Os seus concertos são recebidos de forma semelhante pelo público em todo o mundo? O que espera do público em Macau?
Sinto-me muito afortunada por ter uma resposta positiva do público em todo o mundo. Toquei praticamente em todos os continentes, sinto que tenho muita sorte em poder fazê-lo. Claro que há ligeiras variações culturais na forma como as pessoas respondem aos concertos. Por exemplo, em alguns países o público aplaude mais do que noutros. Mas quando sabemos dessas diferenças fica mais fácil perceber como as pessoas nos recebem. Não tenho expectativas especiais relativamente a Macau, espero apenas que apreciem a minha música.

23 Fev 2018

Fotojornalista Mário Cruz expõe nos Açores escravatura de crianças no Senegal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotojornalista Mário Cruz expõe a partir de sábado no Centro de Artes Contemporâneas Arquipélago, em Ponta Delgada, um conjunto de fotos onde denuncia a exploração das crianças “talibés”, escravas de “falsos professores” corânicos no Senegal.

O vencedor do prémio World Press Photo 2016 – Assuntos Contemporâneos, Picture Of The Year International 2016 – Assuntos Contemporâneos, Estação Imagem 2016 e Magnum Photography Awards 2016, justamente com o tema “Talibes Modern Day Slaves”, explicou à Lusa que esta situação afeta mais de 50 mil crianças, que “deveriam ser estudantes”, mas são, “na verdade, escravas de falsos professores corânicos”.

No Senegal, existem centenas de escolas corânicas (daaras) onde se encontram aprisionados rapazes, dos 5 aos 15 anos, que são obrigados a mendigar nas ruas oito horas por dia para manter o seu marabout (professor).

Esta realidade extensiva aos países limítrofes do Senegal, como a Guiné Bissau, faz com que “muitas das crianças que hoje se encontram a mendigar nas ruas daquele país sejam da Guiné e do Mali”, estando a situação, segundo o fotojornalista da agência Lusa, “fora do controlo, apesar dos progressos dos últimos anos, que caem por terra com o passar do tempo e falta de atenção”.

“Esta exposição é feita para relembrar que o problema permanece e que estas fotografias são a prova disso mesmo, que os abusos acontecem e a prova de que a escravatura contemporânea existe no Senegal. Não podemos ficar indiferentes”, afirmou Mário Cruz.

Para este profissional da Lusa, o jornalista “tem o dever de denunciar estas situações, saindo à rua”, a par da disponibilidade de tempo, algo que “falta hoje nas redações, um pouco por todo o lado”.

De acordo com este profissional de comunicação, vivem-se dias em que “não se pensa muito sobre o que se escreve e fotografa devido à dimensão do fluxo noticioso, sendo tudo de última hora, urgente”, em detrimento dos trabalhos de fundo.

Mário Cruz está convicto de que este tipo de opção editorial “dá frutos” e exemplifica que o New York Times está a “voltar a apostar neste tipo de conteúdos e a duplicar os salários dos fotógrafos e jornalistas que escrevem reportagem, porque percebeu que os media não podem ficar reféns da notícia rápida, da estatística, dos números, do que se diz ao microfone”.

“O jornalista tem que dar muito mais porque tem essa responsabilidade, é um dever. Sem dúvida que isso tem que acontecer”, referiu.

Nascido em 1987, em Lisboa, Mário Cruz estudou fotojornalismo no Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, começou a fotografar para a Lusa em 2006 e já recebeu vários prémios.

O seu trabalho tem sido publicado nos títulos Newsweek, LENS – New York Times Blog,International New York Times, CNN, Washington Post, El Pais, CTXT.es e Neue Zürcher Zeitung.

22 Fev 2018

Vhils inaugura exposição em Los Angeles e cria novo mural com Shepard Fairey

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto (Vhils) inaugura, na quinta-feira, uma exposição em Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade onde irá também criar três murais, um dos quais em parceria com o norte-americano Shepard Fairey.

“Annihilation”, que estará patente na galeria Over The Influence, é composta por 20 obras, “novas e criadas de raiz para a exposição, de vários tipos, de várias dimensões e em vários suportes”, explicou o artista em declarações à Lusa.

A maior parte das peças são retratos, “alguns gravados em velhas portas de madeira e em camadas de cartazes retirados da rua”, mas haverá também “peças com paisagens urbanas, peças em esferovite e esculturas em betão que fundem retratos e paisagens urbanas e uma instalação com cubos de metal gravados com ácido nítrico com composições que fundem retratos, paisagens urbanas e elementos gráficos e geométricos”.

Além disso, haverá “uma secção com vídeos de peças murais criadas com recurso a explosivos, e filmagens realizadas em Hong Kong, Macau, Pequim e Los Angeles”.

Fora da galeria, Vhils irá deixar três peças murais, “incluindo uma nova colaboração com Shepard Fairey”.

A primeira colaboração entre os dois artistas data de julho do ano passado, altura em que criaram em conjunto um mural em Lisboa, na parede lateral de um prédio de três andares, na rua Senhora da Glória, na Graça, a propósito da primeira exposição em Portugal de Shepard Fairey, na galeria Underdogs.

“Annihilation” será a exposição inaugural do espaço, em Los Angeles, da galeria Over The Influence de Hong Kong, onde o artista português já expôs.

A mostra estará patente de 23 de fevereiro a 01 de abril.

Depois, Alexandre Farto tem já na agenda uma exposição em Paris, a ser inaugurada a 19 de maio, no espaço Centquatre.

Esta será a terceira exposição de Vhils na capital francesa, mas “a primeira num contexto mais institucional, embora fazendo sempre a ponte com a rua”. Em Paris, tal como em Los Angeles, adiantou o artista, serão apresentadas apenas obras inéditas.

Entretanto, até 17 de março, está patente na Galeria Vera Cortês, em Lisboa, “Intrinseco”, exposição inaugurada a 01 de fevereiro, na qual Vhils utiliza pela primeira vez o plástico como suporte, numa instalação na qual faz uma “quase reflexão sobre a condição humana no espaço urbano”.

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins.

Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo.

Além de várias criações em Portugal, tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Macau e Brasil.

Em 2015, o seu trabalho chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

22 Fev 2018

Colombiano Juan Gabriel Vásquez vence prémio principal do Correntes D’Escritas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez foi o vencedor do prémio literário Casino da Póvoa 2018, o principal galardão atribuído no Correntes d’Escritas, da Póvoa de Varzim, anunciou a organização.

O júri deste encontro de escritores de expressão ibérica, que se realiza na Póvoa de Varzim até sábado, distinguiu o autor sul-americano, de 44 anos, pelo seu livro “A forma das ruínas”, editado pela Alfaguara.

O romance de Juan Gabriel Vásquez mereceu três dos cinco votos do painel de jurados, composto por Fernando Pinto de Amaral, Javier Rioyo, José Mário Silva, Maria de Lurdes Sampaio e Teresa Martins Marques.

Na sua declaração de voto, o júri destacou a obra pelo “extraordinário fôlego narrativo e pelo notável retrato da história da Colômbia do século XX, fruto de uma vasta investigação pessoal e literária”.

“A partir de dois homicídios políticos que permaneceram como feridas na memória coletiva, Juan Gabriel Vásquez criou uma ambiciosa e muito bem organizada arquitectura romanesca”, pode ler-se na declaração de voto.

O escritor colombiano, que esteve na Póvoa de Varzim no ano passado, vai receber um prémio de 20 mil euros por esta distinção no Correntes D’Escritas.

Juan Gabriel Vásquez já tinha sido, em 2016, distinguido com o Prémio Literário Casa América Latina, tendo em 2014 vencido o Prémio da Real Academia Espanhola, com o livro “Las reputaciones”.

O escritor colombiano era um dos 14 finalistas ao prémio, a par de Jaime Rocha (“Escola de Náufragos”), que amealhou dois votos do jurí, José Rentes de Carvalho (“O Meças”), Ana Teresa Pereira (“Karen”), Isabela de Figueiredo (“A Gorda”), Bruno Vieira Amaral (“Hoje Estarás Comigo no Paraíso”), Ana Margarida de Carvalho (“Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato”), João Ricardo Pedro (“Um Postal de Detroit”), Djaimilia Pereira de Almeida (“Esse Cabelo”), João Pedro Porto (“A Brecha”), João Paulo Borges Coelho (“Água”), o brasileiro Julián Fuks (“A Resistência”), Enrique Vila-Matas (“Marienbad Eléctrico”) e Juan Marsé (“Essa Puta tão Distinta”).

Juan Gabriel Vásquez é esperado este sábado na Póvoa de Varzim para receber o prémio, durante a sessão de encerramento do Correntes D’Escritas, o encontro de escritores de expressão ibérica, que este ano reúne 80 autores de 14 países na Póvoa de Varzim.

O colombiano sucede a Armando Silva Carvalho, que, em 2017, venceu o prémio literário Casino da Póvoa com a obra “A Sombra do Mar”.

Nesta 19.ª edição do Correntes D’Escritas, que hoje arrancou na Póvoa de Varzim, e irá prolongar-se até sábado, com várias atividades, foram ainda atribuídos outros prémios: Balaton, de Ana Beatriz Correia de Sousa, venceu o Prémio Literário Correntes D’Escritas Papelaria Locus, enquanto o primeiro lugar do Prémio Conto Infantil Ilustrado Porto Editora, vocacionada para as escolas, foi para “O Advento na Achada”, do 4.º ano da Escola EBII Clemente Tavares, de Gaula, em Santa Cruz, na Madeira.

22 Fev 2018

“Estou sempre a contar uma história nos meus quadros”, diz Paula Rego

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] artista portuguesa Paula Rego diz estar sempre a contar uma história nos seus quadros, mesmo que essa história vá mudando ou que só seja descoberta no final do processo de criação.

Num texto publicado no jornal britânico The Guardian, no contexto da exposição “All Too Human”, a inaugurar na próxima semana na Tate Britain, em Londres, Paula Rego afirma que “as histórias têm pessoas nelas”, então desenha pessoas a fazer coisas umas às outras, lembrando que recorre a contos do folclore português e a histórias como as de Eça de Queirós.

A artista relata como o processo de criação do retrato do antigo Presidente da República Jorge Sampaio “quase [a] matou”, porque, enquanto pintava, “havia pessoas sempre a entrar e a dizer ‘esse braço não está bem’ ou ‘o nariz dele não é assim’”.

“No fim, eu disse: ‘Talvez devêssemos ir para outro lado’. Fomos para uma sala cheia de armários de vidros e trabalhei muito duro. Fiquei num hotel lá perto e ia para a cama exausta. É um homem muito simpático. Ou, pelo menos, foi muito simpático para mim. Ainda somos amigos”, conta Paula Rego.

A artista portuguesa radicada em Londres há décadas diz trabalhar maioritariamente a partir de modelos vivos ou de “bonecos” que faz ou que são feitos para si.

“Desenho o contorno em carvão. Costumo começar pelo rosto e vou trabalhando a partir daí. Usar bonecas é uma experiência diferente de um modelo vivo. São obedientes – posso colocá-las como quero e ficam assim, são como atores num palco. Mas não trazem vida – preciso de uma pessoa lá, também, porque a intensidade é importante. Se desenhas uma pessoa, ela dá-te muito de volta. Às vezes dão tanto – inundam-te com a sua personalidade, com a sua alma – que tens dificuldades em segurá-las”, referiu Paula Rego.

Para a artista, quanto mais se olha, melhor uma pessoa se torna a olhar, e “isso é uma disciplina importante, seja como for que se pretenda trabalhar”.

Rego conclui com a constatação daquilo que lhe suscita maiores dificuldades: “As árvores são as coisas mais difíceis de acertar. E as tulipas. E todos os vegetais, exceto os tomates”.

A exposição “All Too Human” é inaugurada no dia 28 de fevereiro e vai estar na Tate Britain até 27 de agosto, com o objetivo de “celebrar os pintores no Reino Unido que procuram representar as figuras humanas, as suas relações e as redondezas das formas mais íntimas”, segundo a página do museu.

Além de Paula Rego, a mostra inclui trabalho de artistas como Lucian Freud, Francis Bacon e Frank Auerbach, entre outros, como Walter Sickert e David Bomberg, de gerações anteriores.

Paula Rego é uma das pintoras participantes na Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau, que decorre a 13 de Maio.

22 Fev 2018

Francisco António Ricarte,  arquitecto e fotógrafo: “Fotografo o que sinto sobre o que vejo”

São 60 imagens em livro, 22 das quais estão expostas na Creative Macau até ao próximo dia 17 de Março. “Somewhere” é o nome da exposição de fotografia que traduz o sentimento de Francisco António Ricarte. Arquitecto de profissão, Ricarte vê na fotografia a sua forma de expressão

 

O que é que vemos em “Somewhere”?

Começa por ser o resultado de uma série de anos em que me fui dedicando a uma paixão que tenho desde a juventude, que é a fotografia. Sempre foi uma área que me fascinou e à qual fui, paulatinamente dando uma série de visões. Não num espírito de fotografia de retrato, mas sim de imagem que traduza algo mais do que aquilo que é uma visão imediata. A minha preocupação é ter a fotografia como uma oportunidade de expressar algum sentimento, alguma visão das coisas que me rodeiam, que me cativam, que me motivam mais. A fotografia é o corolário dessa oportunidade. A de mostrar qualquer coisa que vejo dentro de mim. Não procuro um retrato muito fiel de uma realidade, mas encontrar uma tradução de uma visão sobre determinados aspectos que me sensibilizam. No fundo, o que tenho nas imagens de “Somewhere” é a oportunidade de expressar essa visão, essa percepção.

Fala na apresentação do livro, de mostrar o que está dentro.

Tal como Caspar David Fredrich nos fala em relação à pintura, o mesmo pode ser dito com a fotografia: “Não fotografamos o que está diante de nós, mas o que está dentro de nós”. Fotografo o que sinto sobre o que vejo.

Que sentimentos encontramos?

São emoção sobre uma alma interior dos sítios. Por defeito de profissão sou bastante sensível aos locais, ao que nos podem conferir e da forma como nos identificamos com eles. A minha preocupação foi essa, o que senti nesses locais, através da vibração dos lugares, das cores, da ambiência e do silêncio. Muitas destas imagens traduzem o silêncio que nos transporta para alguma coisa mais do que aquilo que lá está.

Francisco Ricarte

Porquê o nome?

“Somewhere” porque é uma exposição que não é sobre uma determinada realidade. Tem algumas imagens de Macau mas não é acerca da região nem sobre a Ásia em especifico. Não foi minha preocupação dizer que as imagens eram de determinado local. São emoções. Encontro no fotografia uma possibilidade de me expressar.

É arquitecto. Há alguma influência desta área nas suas imagens?

Nestas imagens procurei, de forma deliberada, fugir um pouco àquela grande temática da arquitectura que se refere a uma realidade física construída, com linhas verticais, horizontais, oblíquas, etc. Tentei sair dos sistemas de composição que são bastante caros aos arquitectos e para os quais também sou sensível. Mas nesta série fujo a essa temática de modo a fazer quase um desafio a mim próprio e procurar uma outra realidade. Trago esta realidade através de dois processos. Um primeiro que é o acto de fotografar, ou seja o acto de seleccionar determinada visão em detrimento de outras, e o segundo aspecto tem que ver com a própria revelação dessas imagens, ou seja trazer à luz uma realidade bruta. A ideia não é alterar a realidade em si mas antes melhorar a realidade que me despertou a atenção, da mesma forma como há muitos anos fazia fotografia analógica, a  preto e branco. Mais não é do que mais uma vez, traduzir uma visão pessoal. Nestas imagens o sistema de composição é muito importante o formato quadrado é exemplo disso. Todas as imagens são coloridas e por razões estéticas cheguei à conclusão que muitas vezes quando olhava para uma imagem vertical ou horizontal via áreas acessórias, não determinantes em relação àquilo que queria mostrar. De uma forma natural cheguei ao formato quadrado.

É o resultado de dez anos de imagens. Como é que foi o processo de selecção?

Teve dois processos. São dez anos de atenção perante determinadas realidades paisagísticas em oposição à matéria edificada. Mas por outro lado, sem ter uma consciência muito plena quando comecei a fotografar, fui captando várias coisas e quando comecei, há cerca de dois três anos, a pegar na edição das imagens a selecção foi acontecendo de uma forma natural. A série expressa-se num livro com 60 fotografias e destas 60 estão 22 expostas na Creative Macau como uma espécie de síntese. As imagens expostas são fotografias de grande dimensão. Acho que a dimensão é também uma parte importante da percepção que quero transmitir. Claro que muitas vezes sou confrontado com os limites técnicos na medida em que há imagens que não resultam em formato tão grande. Mas as coisas de forma natural chegaram à selecção final. A selecção é um exercício de depuração. A Clarice Lispector tem uma frase que me pareceu apropriada para este processo e que aproveitei para o texto de apresentação: “É realmente complicado fazer coisas simples”. Muitas vezes quando vemos grande complexidade nomeadamente nas artes plásticas, o exercício de depuração é muito difícil e é quase uma nova descoberta da imagem.

Falou do silêncio. Tem aqui alguma imagens feitas em Macau. Conseguiu encontrar o silêncio no território?

Sim, ainda consegui. O silêncio é conferido através da luz. Podia até estar um ambiente ruidoso mas quando vi o que vi, a situação isolou-se, autonomizou-se e conferiu a aquele momento de silêncio. Este silêncio está subjacente a todas as fotos. Quando determinado momento me aparece, é como se tudo à volta se calasse e só aquele momento me falasse.

A vinda para Macau mudou a sua percepção do mundo?

Sim, completamente. A vinda para Macau correspondeu a um desafio profissional, mas esse desafio teve um corolário de uma nova visão do mundo, daquilo que nos rodeia. Aqui tudo é muito diferente e, de uma forma geral, ou gostamos ou odiamos. No meu caso, senti-me imediatamente bem. Consegui adquirir essa capacidade de olhar e de ir apreendendo esta realidade física, cromática, de sons e de cheiros. Tudo isso que nos vai marcando e que muitas vezes nos obrigada a ter o tempo acelerado. O tempo acelerado é muitas vezes este fascínio que nós ocidentais temos perante a apreensão de uma realidade quotidiana com que nos vimos confrontados e é com ela que estamos sempre a aprender e a olhar de outras formas. Isso é fascinante. Macau contribuiu muito para olhar de outra maneira. Foi uma oportunidade fantástica que agarrei e que me ajudou sob o ponto de vista da percepção e dos sentimentos. Mas não só me ajudou a ter uma visão do que era novo como também a olhar com outros olhos para aquilo que nos é já velho no sentido do que já estamos habituados, quer seja sob o ponto de vista da realidade portuguesa, quer seja sob o ponto de vista de uma realidade física ocidental europeia. As formas de lidar com estas realidades são diferentes. Foi precisamente essa nova visão que me ajudou a construir muito esta percepção que agora tenho e que penso que não seria possível sem a vinda para Macau e sem a experiência do Oriente. Não seria possível porque, apesar de não serem imagens especificamente do Oriente, traduzem a dupla visão do que é novo e velho no nosso mundo, do que é já sedimentado mas que, com o novo se reinventa também.

Francisco Ricarte

É um amante de arte em geral. 

Preocupações estéticas sempre tive, sob o ponto de vista das manifestações artísticas e culturais. É uma coisa que me tem sempre motivado ao longo dos anos e, felizmente, o Oriente tem-me ajudado a profundar esta vertente e este gosto. Tenho interesse e não sou capaz de deixar de ir a uma exposição ou um espectáculo. É uma questão que me motiva sempre. Por paixão e tendo um pouco mais de capacidade económica posso por vezes adquirir algumas peças, nomeadamente de fotografia. Mas diria que a minha principal aquisição e que nunca deixo, são os livros. Ando sempre com eles. são uma coisa da qual não me consigo desapegar.

Quais os seus escritores favoritos?

Há tantos. Não quero ser injusto para com nenhum mas o Sebald é um deles. Há vários livros dele imprescindíveis: “Austerlitz”, “The Rings of Saturn”, “Campo Santo” (poesia), etc.).​ Foi um escritor que me deu a volta à cabeça precisamente por ter uma realidade muito gráfica. Muitos dos livros que ele tem são obras em que a história é acompanhada de pequenas imagens. É um escritor que tem uma narrativa como as cerejas. Já escritores de língua portuguesa, gosto muito do Agualusa. Mas há tantos. Gosto também muito de poesia. Por outro lado, também não posso passar sem música. Acho que ainda faço parte de uma das últimas gerações que compram CDs, pelo objecto e pela qualidade sonora. O MP3 não me convence. Comprar um livro ou ver um concerto são actos criativos para mim. Não me coloco na posição de mero espectador mas tento colocar-me numa posição que me dá uma determinada viagem. A fotografia é onde tenho a capacidade de pegar num instrumento, numa matéria bruta e fazer alguma coisa.

22 Fev 2018

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro participa em exposição nos EUA

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas fotografias do fotojornalista português radicado em Macau Gonçalo Lobo Pinheiro foram escolhidas para integrarem uma exposição colectiva na Black Box Gallery, em Portland, Estados Unidos, de 01 a 20 de Março.

Sob o tema “Portrait: Image and Identity” [Retrato: Imagem e Identidade], a exposição teve como curadora a fotógrafa Amy Arbus.

A Black Box Gallery dedica-se à exposição e promoção de fotografia contemporânea, apoiando a produção criativa, a exposição e a apreciação crítica da fotografia contemporânea.

O fotojornalista foi recentemente distinguido com uma menção honrosa na categoria “Editorial: Photo Essay/Story” no IPOTY – International Photographer of the year 2017, por algumas fotos sobre a passagem do tufão Hato por Macau.

Nascido em Lisboa, em 1979, Gonçalo Lobo Pinheiro colaborou com vários órgãos de comunicação social e é actualmente coordenador fotográfico da Revista Macau, do Gabinete de Comunicação Social.

21 Fev 2018

“Quotidianos” | Nova obra de António Conceição Júnior lançada segunda-feira

O autor e artista macaense afirma não se cansar de pensar sobre o território que habita e que é também uma parte de si. Em “Quotidianos”, António Conceição Júnior reflecte sobre a sua Macau em exercícios de cidadania que se espelham em 43 artigos. A obra é lançada na próxima segunda-feira no consulado-geral de Portugal em Macau

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m “Escritos do Amor e do Desafecto – Crónicas de Cidadania”, António Conceição Júnior, artista macaense, pensou a sua cidade num dos momentos mais importantes enquanto território, aquando da transferência de soberania de Macau para a China.

Depois dessa obra, lançada com a chancela da Livros do Meio, o autor volta a reflectir sobre o território que habita e do qual faz parte. “Quotidianos” reúne um total de 43 textos escritos num período compreendido entre 2015 e 2017. Trata-se, como o autor disse ao HM, “de um somatório de textos datados, quase um registo de bordo de uma navegação existencial”.

Nascido e criado em Macau, depois de ter feito os estudos na área das artes em Portugal, Conceição Júnior nunca se separou das suas raízes e da sua essência macaense. O autor de “Quotidianos” pensa a sua cidade como se respirasse.

“Sou um reincidente e não me canso (embora, talvez, possa cansar, mas assumo o risco!) de falar e reflectir sobre Macau, a cidade e como nela podemos intervir. Trata-se como que de um registo datado daquilo que, em cada momento, me impeliu a escrever”, acrescentou ao HM.

No comunicado enviado à imprensa, lê-se que este livro pretende levar o leitor a “uma incursão pelos pressupostos fundamentais da própria existência numa cidade”.

“Quotidianos” é uma edição de autor, por opção do próprio António Conceição Júnior. A apresentação do livro tem lugar no auditório do consulado-geral de Portugal em Macau, contando com prefácio do professor António Aresta e apresentação do historiador Luís Sá Cunha.

Conceição Júnior explana a ligação que mantém com o autor do prefácio da sua obra desde há muito. “Tenho mantido correspondência relativamente assídua com Dr. António Aresta desde há alguns anos, ambos manifestando o nosso envolvimento com Macau e a sua essencialidade. Admirando o seu trabalho sobre a minha terra, perguntei-lhe se me dava o gosto de escrever o prefácio, ao que anuiu prontamente e que muito agradeço.”

“Este livro é não só ‘um exercício de cidadania corajosa, culta, actualizada e com um poder de contágio simpático’, mas também um meio para atenuar fronteiras por se apresentar ‘desigualmente repartido entre a antropologia filosófica, a ciência política, a literatura de ideias e o pensamento urbano’”, conforme escreveu António Aresta no prefácio.

Um dever, mais do que exercício

António Conceição Júnior não tem em mente criar linhas de pensamento de coisa nenhuma, mas sim a de mostrar as reflexões sobre um território que tão bem conhece. Nascido em 1951, filho da escritora Deolinda da Conceição, o artista havia de regressar a Macau depois de se licenciar em Artes Plásticas e Design pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Por convite do governador Garcia Leandro, Conceição Júnior tornou-se, a partir de 1978, responsável pela formulação da política cultural do território, tendo sido também, entre 1984 e 1997, chefe do departamento de cultura do Leal Senado e, posteriormente, assessor para a cultura do Governador de Macau.

Aquilo que escreveu em “Quotidianos” não é considerado um mero exercício de escrita, muito menos uma obrigação de publicar enquanto autor, mas sim um dever. “É dever de cada um participar neste colectivo em que todos nos integramos, seja de que forma for. Não tenho a veleidade de propor uma reflexão inovadora sobre o contexto da cidade, mas não me abstenho de ir partilhando as minhas perspectivas sobre o gostaria de ver posto em prática para uma melhor qualidade de vida.” Nesse sentido, Conceição Júnior pretende tão somente mostrar pensamentos sobre uma cidade cheia de diversidade e de contrastes.

“Quotidianos” é, portanto, “uma de muitas outras maneiras de reflectir esta cidade onde coabitam múltiplas culturas, lugar único onde a raiz ocidental se posicionou na costa meridional do Império do Meio.”

“Essa forma de coexistência, de legado histórico, traz à superfície o modo como as culturas em presença se interpretam, e interpretam e interpelam a cidade. Trata-se de um conjunto de escritos independentes entre si, mas ligados por uma preocupação, em oposição à indiferença, pela edificação diária de uma cidade com uma história multi-centenária. É também dirigido àqueles que têm a missão de entender a essência da cidade e de a valorizar”, frisou.

O autor recorda mesmo a sua participação em 2001, num congresso da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), que decorreu em Macau.

“A propósito de Cidades Criativas, tive oportunidade de – como participante – dizer que ‘a cidade criativa é não só um novo contrato social mas também um método de planificação estratégica, examinando o modo como as pessoas podem pensar, planear e agir criativamente na cidade. Em suma, é a instalação do diálogo pleno com vista a conduzir a uma compreensão sobre a maneira como se pode humanizar e revitalizar as cidades tornando-as mais produtivas e eficientes, recuperando o talento e a imaginação dos cidadãos’”.

Sobre as cidades criativas, e sobre o próprio território em que habita, Conceição Júnior cita o escritor britânico Ian Morris, também professor de História e Arqueologia na Universidade de Stanford. “There is no more need for writing; what is left is to pratice” (Não há mais necessidade de escrever; o que falta é praticar).

21 Fev 2018

Morreu a escritora Natália Nunes

Natália Nunes (1921-2018)

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] escritora Natália Nunes, autora dos romances “Regresso ao Caos” e “Assembleia de Mulheres”, morreu ontem, na Ericeira, aos 96 anos, disse sua filha à agência Lusa. Nascida em Lisboa, a 18 de Novembro de 1921, destacou-se nas letras, através de romances como “Autobiografia de Uma Mulher Romântica” e “Vénus turbulenta”, mas também como dramaturga e ensaísta, e construiu uma das mais vastas obras, como contista, na literatura portuguesa, com títulos como “Ao Menos um Hipopótamo”, “As Velhas Senhoras”, “Louca por Sapatos”.

Resistente antifascista, durante os anos de ditadura, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pela PIDE, polícia política do regime, em 1965, era “considerada unanimemente uma das jovens mais bonitas da capital”, como a definiu o seu marido, o escritor e pedagogo Rómulo de Carvalho (1906-1997), conhecido poeta António Gedeão.

Natália Nunes estreou-se na literatura em 1952, com “Horas vivas: Memórias da Minha Infância”, a que se sucedeu “Autobiografia de uma Mulher Romântica” (1955). Vivia então em Coimbra, onde fez o curso de Bibliotecária-Arquivista (1956), depois da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas (1948), na Universidade de Lisboa.

No primeiro livro, “Horas Vivas”, a escritora “reflecte o ambiente quase medieval, dessa altura, na Beira Alta, onde fez a maior parte da instrução primária”, destaca a Plataforma Escritores Online, do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa.

A partir de então, a escrita esteve sempre presente na sua vida, a par do trabalho nas Bibliotecas da Ajuda e Nacional, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Escola Superior de Belas-Artes, como bibliotecária e conservadora.

Da sua obra destacam-se “A Mosca Verde e Outros Contos” (1957), “Regresso ao Caos” (1960), “Assembleia de Mulheres” (1964), “O Caso de Zulmira L.” (1967), “A Nuvem. Estória de Amor” (1970), “Da Natureza das Coisas” (1985), “As Velhas Senhoras e Outros Contos” (1992), “Louca por Sapatos” (1996). “Vénus Turbulenta”, o seu último romance, data de 1997.

Em memórias, além do livro inicial, contam-se “Uma portuguesa em Paris” (1956) e “Memórias da Escola Antiga” (1981). É autora da peça de teatro “Cabeça de Abóbora” (1970).

A obra de ficção disponível da escritora está publicada na editora Relógio d’Água. Publicou “A Ressurreição das Florestas, Estudos sobre a obra de ficção de Carlos Oliveira”, pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. No ensaio, Natália Nunes escreveu ainda sobre Dostoievski, Raul Brandão, Augusto Abelaira, José Cardoso Pires, entre outros autores, sobretudo para as revistas Vértice e Seara Nova. Traduziu Dostoievsky, Tolstoi, Simonov, Elsa Triolet, Violette Leduc, Balzac e Roger Portal, para editoras como a Portugália, Edições Cosmos e Edições Aguilar, do Rio de Janeiro.

O Dicionário de Literatura Portuguesa, coordenado por Álvaro Manuel Machado destaca, em Natália Nunes, o “sentido do intimismo e do confessional, do mistério e da solidão, herdado em grande parte da geração presencista”, a que juntou a “temática feminina e de intervenção social”, próxima do neo-realismo.

A pedido do marido, completou as “Memórias” do escritor, incluindo a data da sua morte, em Fevereiro de 1997. “Não te digo adeus, a minha alma estará sempre contigo”, escreveu, no termo da obra.

Natália Nunes era mãe da escritora Cristina Carvalho, autora de “O Olhar e a Alma”, prémio Autores 2016.

Numa entrevista à Página da Educação, Natália Nunes confessou: “Nós temos projectos que nunca se realizam, porque vêm outros que nos exigem mais ou porque a vida não deixa. A vida não nos deixa fazer muitas coisas”.

20 Fev 2018

Arte rupestre descoberta no Rio Guadiana

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]inco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

Cinco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

20 Fev 2018

Realizador Guillermo Del Toro preside ao júri do próximo festival de Veneza

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador mexicano Guillermo Del Toro vai presidir ao júri da próxima edição do festival de cinema de Veneza, anunciou a organização.

Del Toro foi o vencedor, em Veneza, do Leão de Ouro no ano passado para melhor filme com “A forma da água”, filme que conta, nas categorias dos Óscares de Melhor Guarda-Roupa e Melhor Montagem de Som, com dois nomeados de origem portuguesa.

Segundo comunicado do festival de Veneza, onde Nuno Lopes venceu o Leão de Ouro para melhor actor em 2016, Del Toro disse que a presidência do júri da 75.ª edição do evento é “uma imensa honra e responsabilidade” que aceitava com respeito e gratidão.

“Veneza é uma janela para o cinema do mundo e uma oportunidade para celebrar o seu poder e relevância cultural”, acrescentou.

Por seu lado, o director do festival, Alberto Barbera, disse que Guillermo Del Toro “personifica a generosidade, um amor pelos filmes passados ou futuros e uma paixão pelo tipo de cinema que pode acender emoções, afectar pessoas e, ao mesmo tempo, fazê-las reflectir”.

“A forma da água” lidera as nomeações da 90.ª edição dos Óscares, que serão entregues a 4 de Março, em Los Angeles, incluindo as categorias de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Actriz.

“A forma da água” disputa a categoria de Melhor Filme com “Chama-me pelo teu nome”, “A hora mais negra”, “Foge”, “Lady Bird”, “Linha Fantasma”, “The Post”, “Dunkirk” e “Três cartazes à beira da estrada”.

13 Fev 2018

Mais um prémio para Leonor Teles com o filme “Balada de um batráquio”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] curta-metragem “Balada de um batráquio”, de Leonor Teles, venceu o grande prémio do festival alemão Stuttgarter Filmwinter, que terminou no domingo em Estugarda, Alemanha.

Para o festival, que cumpriu a 31.ª edição, tinham sido selecionadas as curtas-metragens portuguesas “Penúmbria”, de Eduardo Brito, “Cidade Pequena”, de Diogo Costa Amarante, e “Balada de um batráquio”, de Leonor Teles.

O júri do festival atribuiu o prémio máximo da competição internacional a Leonor Teles pelo caráter experimental do filme e por conter uma declaração política, lê-se na página oficial.

“Balada de um batráquio” aborda a prática comum em Portugal do uso de sapos de cerâmica por lojistas e proprietários de cafés e restaurantes, como forma de evitar a entrada de membros da comunidade cigana, que têm várias superstições ligadas ao animal.

Num gesto simbólico contra o preconceito, Leonor Teles surge no filme a entrar em lojas e a destruir alguns desses sapos de cerâmica.

A realizadora, que tem ascendência cigana, já se tinha focado na comunidade cigana em “Rhoma Acans”, primeiro filme feito em contexto escolar, e admitiu que a impotência sentida a inspirou a desenvolver uma nova abordagem em “Balada de um Batráquio”.

A curta-metragem foi apresentada pela primeira vez em 2016 no Festival de Cinema de Berlim, onde ganhou o Urso de Ouro.

Desde então, o filme já foi exibido em mais de 80 festivais e encontros de cinema em Portugal e no estrangeiro e recebeu vários prémios, nomeadamente no Festival de Curtas de Belo Horizonte (Brasil), Festival de Cinema de Hong Kong e Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.

13 Fev 2018