Fotojornalista Mário Cruz expõe nos Açores escravatura de crianças no Senegal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotojornalista Mário Cruz expõe a partir de sábado no Centro de Artes Contemporâneas Arquipélago, em Ponta Delgada, um conjunto de fotos onde denuncia a exploração das crianças “talibés”, escravas de “falsos professores” corânicos no Senegal.

O vencedor do prémio World Press Photo 2016 – Assuntos Contemporâneos, Picture Of The Year International 2016 – Assuntos Contemporâneos, Estação Imagem 2016 e Magnum Photography Awards 2016, justamente com o tema “Talibes Modern Day Slaves”, explicou à Lusa que esta situação afeta mais de 50 mil crianças, que “deveriam ser estudantes”, mas são, “na verdade, escravas de falsos professores corânicos”.

No Senegal, existem centenas de escolas corânicas (daaras) onde se encontram aprisionados rapazes, dos 5 aos 15 anos, que são obrigados a mendigar nas ruas oito horas por dia para manter o seu marabout (professor).

Esta realidade extensiva aos países limítrofes do Senegal, como a Guiné Bissau, faz com que “muitas das crianças que hoje se encontram a mendigar nas ruas daquele país sejam da Guiné e do Mali”, estando a situação, segundo o fotojornalista da agência Lusa, “fora do controlo, apesar dos progressos dos últimos anos, que caem por terra com o passar do tempo e falta de atenção”.

“Esta exposição é feita para relembrar que o problema permanece e que estas fotografias são a prova disso mesmo, que os abusos acontecem e a prova de que a escravatura contemporânea existe no Senegal. Não podemos ficar indiferentes”, afirmou Mário Cruz.

Para este profissional da Lusa, o jornalista “tem o dever de denunciar estas situações, saindo à rua”, a par da disponibilidade de tempo, algo que “falta hoje nas redações, um pouco por todo o lado”.

De acordo com este profissional de comunicação, vivem-se dias em que “não se pensa muito sobre o que se escreve e fotografa devido à dimensão do fluxo noticioso, sendo tudo de última hora, urgente”, em detrimento dos trabalhos de fundo.

Mário Cruz está convicto de que este tipo de opção editorial “dá frutos” e exemplifica que o New York Times está a “voltar a apostar neste tipo de conteúdos e a duplicar os salários dos fotógrafos e jornalistas que escrevem reportagem, porque percebeu que os media não podem ficar reféns da notícia rápida, da estatística, dos números, do que se diz ao microfone”.

“O jornalista tem que dar muito mais porque tem essa responsabilidade, é um dever. Sem dúvida que isso tem que acontecer”, referiu.

Nascido em 1987, em Lisboa, Mário Cruz estudou fotojornalismo no Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, começou a fotografar para a Lusa em 2006 e já recebeu vários prémios.

O seu trabalho tem sido publicado nos títulos Newsweek, LENS – New York Times Blog,International New York Times, CNN, Washington Post, El Pais, CTXT.es e Neue Zürcher Zeitung.

22 Fev 2018

Vhils inaugura exposição em Los Angeles e cria novo mural com Shepard Fairey

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto (Vhils) inaugura, na quinta-feira, uma exposição em Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade onde irá também criar três murais, um dos quais em parceria com o norte-americano Shepard Fairey.

“Annihilation”, que estará patente na galeria Over The Influence, é composta por 20 obras, “novas e criadas de raiz para a exposição, de vários tipos, de várias dimensões e em vários suportes”, explicou o artista em declarações à Lusa.

A maior parte das peças são retratos, “alguns gravados em velhas portas de madeira e em camadas de cartazes retirados da rua”, mas haverá também “peças com paisagens urbanas, peças em esferovite e esculturas em betão que fundem retratos e paisagens urbanas e uma instalação com cubos de metal gravados com ácido nítrico com composições que fundem retratos, paisagens urbanas e elementos gráficos e geométricos”.

Além disso, haverá “uma secção com vídeos de peças murais criadas com recurso a explosivos, e filmagens realizadas em Hong Kong, Macau, Pequim e Los Angeles”.

Fora da galeria, Vhils irá deixar três peças murais, “incluindo uma nova colaboração com Shepard Fairey”.

A primeira colaboração entre os dois artistas data de julho do ano passado, altura em que criaram em conjunto um mural em Lisboa, na parede lateral de um prédio de três andares, na rua Senhora da Glória, na Graça, a propósito da primeira exposição em Portugal de Shepard Fairey, na galeria Underdogs.

“Annihilation” será a exposição inaugural do espaço, em Los Angeles, da galeria Over The Influence de Hong Kong, onde o artista português já expôs.

A mostra estará patente de 23 de fevereiro a 01 de abril.

Depois, Alexandre Farto tem já na agenda uma exposição em Paris, a ser inaugurada a 19 de maio, no espaço Centquatre.

Esta será a terceira exposição de Vhils na capital francesa, mas “a primeira num contexto mais institucional, embora fazendo sempre a ponte com a rua”. Em Paris, tal como em Los Angeles, adiantou o artista, serão apresentadas apenas obras inéditas.

Entretanto, até 17 de março, está patente na Galeria Vera Cortês, em Lisboa, “Intrinseco”, exposição inaugurada a 01 de fevereiro, na qual Vhils utiliza pela primeira vez o plástico como suporte, numa instalação na qual faz uma “quase reflexão sobre a condição humana no espaço urbano”.

Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins.

Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo.

Além de várias criações em Portugal, tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Macau e Brasil.

Em 2015, o seu trabalho chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.

22 Fev 2018

Colombiano Juan Gabriel Vásquez vence prémio principal do Correntes D’Escritas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez foi o vencedor do prémio literário Casino da Póvoa 2018, o principal galardão atribuído no Correntes d’Escritas, da Póvoa de Varzim, anunciou a organização.

O júri deste encontro de escritores de expressão ibérica, que se realiza na Póvoa de Varzim até sábado, distinguiu o autor sul-americano, de 44 anos, pelo seu livro “A forma das ruínas”, editado pela Alfaguara.

O romance de Juan Gabriel Vásquez mereceu três dos cinco votos do painel de jurados, composto por Fernando Pinto de Amaral, Javier Rioyo, José Mário Silva, Maria de Lurdes Sampaio e Teresa Martins Marques.

Na sua declaração de voto, o júri destacou a obra pelo “extraordinário fôlego narrativo e pelo notável retrato da história da Colômbia do século XX, fruto de uma vasta investigação pessoal e literária”.

“A partir de dois homicídios políticos que permaneceram como feridas na memória coletiva, Juan Gabriel Vásquez criou uma ambiciosa e muito bem organizada arquitectura romanesca”, pode ler-se na declaração de voto.

O escritor colombiano, que esteve na Póvoa de Varzim no ano passado, vai receber um prémio de 20 mil euros por esta distinção no Correntes D’Escritas.

Juan Gabriel Vásquez já tinha sido, em 2016, distinguido com o Prémio Literário Casa América Latina, tendo em 2014 vencido o Prémio da Real Academia Espanhola, com o livro “Las reputaciones”.

O escritor colombiano era um dos 14 finalistas ao prémio, a par de Jaime Rocha (“Escola de Náufragos”), que amealhou dois votos do jurí, José Rentes de Carvalho (“O Meças”), Ana Teresa Pereira (“Karen”), Isabela de Figueiredo (“A Gorda”), Bruno Vieira Amaral (“Hoje Estarás Comigo no Paraíso”), Ana Margarida de Carvalho (“Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato”), João Ricardo Pedro (“Um Postal de Detroit”), Djaimilia Pereira de Almeida (“Esse Cabelo”), João Pedro Porto (“A Brecha”), João Paulo Borges Coelho (“Água”), o brasileiro Julián Fuks (“A Resistência”), Enrique Vila-Matas (“Marienbad Eléctrico”) e Juan Marsé (“Essa Puta tão Distinta”).

Juan Gabriel Vásquez é esperado este sábado na Póvoa de Varzim para receber o prémio, durante a sessão de encerramento do Correntes D’Escritas, o encontro de escritores de expressão ibérica, que este ano reúne 80 autores de 14 países na Póvoa de Varzim.

O colombiano sucede a Armando Silva Carvalho, que, em 2017, venceu o prémio literário Casino da Póvoa com a obra “A Sombra do Mar”.

Nesta 19.ª edição do Correntes D’Escritas, que hoje arrancou na Póvoa de Varzim, e irá prolongar-se até sábado, com várias atividades, foram ainda atribuídos outros prémios: Balaton, de Ana Beatriz Correia de Sousa, venceu o Prémio Literário Correntes D’Escritas Papelaria Locus, enquanto o primeiro lugar do Prémio Conto Infantil Ilustrado Porto Editora, vocacionada para as escolas, foi para “O Advento na Achada”, do 4.º ano da Escola EBII Clemente Tavares, de Gaula, em Santa Cruz, na Madeira.

22 Fev 2018

“Estou sempre a contar uma história nos meus quadros”, diz Paula Rego

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] artista portuguesa Paula Rego diz estar sempre a contar uma história nos seus quadros, mesmo que essa história vá mudando ou que só seja descoberta no final do processo de criação.

Num texto publicado no jornal britânico The Guardian, no contexto da exposição “All Too Human”, a inaugurar na próxima semana na Tate Britain, em Londres, Paula Rego afirma que “as histórias têm pessoas nelas”, então desenha pessoas a fazer coisas umas às outras, lembrando que recorre a contos do folclore português e a histórias como as de Eça de Queirós.

A artista relata como o processo de criação do retrato do antigo Presidente da República Jorge Sampaio “quase [a] matou”, porque, enquanto pintava, “havia pessoas sempre a entrar e a dizer ‘esse braço não está bem’ ou ‘o nariz dele não é assim’”.

“No fim, eu disse: ‘Talvez devêssemos ir para outro lado’. Fomos para uma sala cheia de armários de vidros e trabalhei muito duro. Fiquei num hotel lá perto e ia para a cama exausta. É um homem muito simpático. Ou, pelo menos, foi muito simpático para mim. Ainda somos amigos”, conta Paula Rego.

A artista portuguesa radicada em Londres há décadas diz trabalhar maioritariamente a partir de modelos vivos ou de “bonecos” que faz ou que são feitos para si.

“Desenho o contorno em carvão. Costumo começar pelo rosto e vou trabalhando a partir daí. Usar bonecas é uma experiência diferente de um modelo vivo. São obedientes – posso colocá-las como quero e ficam assim, são como atores num palco. Mas não trazem vida – preciso de uma pessoa lá, também, porque a intensidade é importante. Se desenhas uma pessoa, ela dá-te muito de volta. Às vezes dão tanto – inundam-te com a sua personalidade, com a sua alma – que tens dificuldades em segurá-las”, referiu Paula Rego.

Para a artista, quanto mais se olha, melhor uma pessoa se torna a olhar, e “isso é uma disciplina importante, seja como for que se pretenda trabalhar”.

Rego conclui com a constatação daquilo que lhe suscita maiores dificuldades: “As árvores são as coisas mais difíceis de acertar. E as tulipas. E todos os vegetais, exceto os tomates”.

A exposição “All Too Human” é inaugurada no dia 28 de fevereiro e vai estar na Tate Britain até 27 de agosto, com o objetivo de “celebrar os pintores no Reino Unido que procuram representar as figuras humanas, as suas relações e as redondezas das formas mais íntimas”, segundo a página do museu.

Além de Paula Rego, a mostra inclui trabalho de artistas como Lucian Freud, Francis Bacon e Frank Auerbach, entre outros, como Walter Sickert e David Bomberg, de gerações anteriores.

Paula Rego é uma das pintoras participantes na Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau, que decorre a 13 de Maio.

22 Fev 2018

Francisco António Ricarte,  arquitecto e fotógrafo: “Fotografo o que sinto sobre o que vejo”

São 60 imagens em livro, 22 das quais estão expostas na Creative Macau até ao próximo dia 17 de Março. “Somewhere” é o nome da exposição de fotografia que traduz o sentimento de Francisco António Ricarte. Arquitecto de profissão, Ricarte vê na fotografia a sua forma de expressão

 

O que é que vemos em “Somewhere”?

Começa por ser o resultado de uma série de anos em que me fui dedicando a uma paixão que tenho desde a juventude, que é a fotografia. Sempre foi uma área que me fascinou e à qual fui, paulatinamente dando uma série de visões. Não num espírito de fotografia de retrato, mas sim de imagem que traduza algo mais do que aquilo que é uma visão imediata. A minha preocupação é ter a fotografia como uma oportunidade de expressar algum sentimento, alguma visão das coisas que me rodeiam, que me cativam, que me motivam mais. A fotografia é o corolário dessa oportunidade. A de mostrar qualquer coisa que vejo dentro de mim. Não procuro um retrato muito fiel de uma realidade, mas encontrar uma tradução de uma visão sobre determinados aspectos que me sensibilizam. No fundo, o que tenho nas imagens de “Somewhere” é a oportunidade de expressar essa visão, essa percepção.

Fala na apresentação do livro, de mostrar o que está dentro.

Tal como Caspar David Fredrich nos fala em relação à pintura, o mesmo pode ser dito com a fotografia: “Não fotografamos o que está diante de nós, mas o que está dentro de nós”. Fotografo o que sinto sobre o que vejo.

Que sentimentos encontramos?

São emoção sobre uma alma interior dos sítios. Por defeito de profissão sou bastante sensível aos locais, ao que nos podem conferir e da forma como nos identificamos com eles. A minha preocupação foi essa, o que senti nesses locais, através da vibração dos lugares, das cores, da ambiência e do silêncio. Muitas destas imagens traduzem o silêncio que nos transporta para alguma coisa mais do que aquilo que lá está.

Francisco Ricarte

Porquê o nome?

“Somewhere” porque é uma exposição que não é sobre uma determinada realidade. Tem algumas imagens de Macau mas não é acerca da região nem sobre a Ásia em especifico. Não foi minha preocupação dizer que as imagens eram de determinado local. São emoções. Encontro no fotografia uma possibilidade de me expressar.

É arquitecto. Há alguma influência desta área nas suas imagens?

Nestas imagens procurei, de forma deliberada, fugir um pouco àquela grande temática da arquitectura que se refere a uma realidade física construída, com linhas verticais, horizontais, oblíquas, etc. Tentei sair dos sistemas de composição que são bastante caros aos arquitectos e para os quais também sou sensível. Mas nesta série fujo a essa temática de modo a fazer quase um desafio a mim próprio e procurar uma outra realidade. Trago esta realidade através de dois processos. Um primeiro que é o acto de fotografar, ou seja o acto de seleccionar determinada visão em detrimento de outras, e o segundo aspecto tem que ver com a própria revelação dessas imagens, ou seja trazer à luz uma realidade bruta. A ideia não é alterar a realidade em si mas antes melhorar a realidade que me despertou a atenção, da mesma forma como há muitos anos fazia fotografia analógica, a  preto e branco. Mais não é do que mais uma vez, traduzir uma visão pessoal. Nestas imagens o sistema de composição é muito importante o formato quadrado é exemplo disso. Todas as imagens são coloridas e por razões estéticas cheguei à conclusão que muitas vezes quando olhava para uma imagem vertical ou horizontal via áreas acessórias, não determinantes em relação àquilo que queria mostrar. De uma forma natural cheguei ao formato quadrado.

É o resultado de dez anos de imagens. Como é que foi o processo de selecção?

Teve dois processos. São dez anos de atenção perante determinadas realidades paisagísticas em oposição à matéria edificada. Mas por outro lado, sem ter uma consciência muito plena quando comecei a fotografar, fui captando várias coisas e quando comecei, há cerca de dois três anos, a pegar na edição das imagens a selecção foi acontecendo de uma forma natural. A série expressa-se num livro com 60 fotografias e destas 60 estão 22 expostas na Creative Macau como uma espécie de síntese. As imagens expostas são fotografias de grande dimensão. Acho que a dimensão é também uma parte importante da percepção que quero transmitir. Claro que muitas vezes sou confrontado com os limites técnicos na medida em que há imagens que não resultam em formato tão grande. Mas as coisas de forma natural chegaram à selecção final. A selecção é um exercício de depuração. A Clarice Lispector tem uma frase que me pareceu apropriada para este processo e que aproveitei para o texto de apresentação: “É realmente complicado fazer coisas simples”. Muitas vezes quando vemos grande complexidade nomeadamente nas artes plásticas, o exercício de depuração é muito difícil e é quase uma nova descoberta da imagem.

Falou do silêncio. Tem aqui alguma imagens feitas em Macau. Conseguiu encontrar o silêncio no território?

Sim, ainda consegui. O silêncio é conferido através da luz. Podia até estar um ambiente ruidoso mas quando vi o que vi, a situação isolou-se, autonomizou-se e conferiu a aquele momento de silêncio. Este silêncio está subjacente a todas as fotos. Quando determinado momento me aparece, é como se tudo à volta se calasse e só aquele momento me falasse.

A vinda para Macau mudou a sua percepção do mundo?

Sim, completamente. A vinda para Macau correspondeu a um desafio profissional, mas esse desafio teve um corolário de uma nova visão do mundo, daquilo que nos rodeia. Aqui tudo é muito diferente e, de uma forma geral, ou gostamos ou odiamos. No meu caso, senti-me imediatamente bem. Consegui adquirir essa capacidade de olhar e de ir apreendendo esta realidade física, cromática, de sons e de cheiros. Tudo isso que nos vai marcando e que muitas vezes nos obrigada a ter o tempo acelerado. O tempo acelerado é muitas vezes este fascínio que nós ocidentais temos perante a apreensão de uma realidade quotidiana com que nos vimos confrontados e é com ela que estamos sempre a aprender e a olhar de outras formas. Isso é fascinante. Macau contribuiu muito para olhar de outra maneira. Foi uma oportunidade fantástica que agarrei e que me ajudou sob o ponto de vista da percepção e dos sentimentos. Mas não só me ajudou a ter uma visão do que era novo como também a olhar com outros olhos para aquilo que nos é já velho no sentido do que já estamos habituados, quer seja sob o ponto de vista da realidade portuguesa, quer seja sob o ponto de vista de uma realidade física ocidental europeia. As formas de lidar com estas realidades são diferentes. Foi precisamente essa nova visão que me ajudou a construir muito esta percepção que agora tenho e que penso que não seria possível sem a vinda para Macau e sem a experiência do Oriente. Não seria possível porque, apesar de não serem imagens especificamente do Oriente, traduzem a dupla visão do que é novo e velho no nosso mundo, do que é já sedimentado mas que, com o novo se reinventa também.

Francisco Ricarte

É um amante de arte em geral. 

Preocupações estéticas sempre tive, sob o ponto de vista das manifestações artísticas e culturais. É uma coisa que me tem sempre motivado ao longo dos anos e, felizmente, o Oriente tem-me ajudado a profundar esta vertente e este gosto. Tenho interesse e não sou capaz de deixar de ir a uma exposição ou um espectáculo. É uma questão que me motiva sempre. Por paixão e tendo um pouco mais de capacidade económica posso por vezes adquirir algumas peças, nomeadamente de fotografia. Mas diria que a minha principal aquisição e que nunca deixo, são os livros. Ando sempre com eles. são uma coisa da qual não me consigo desapegar.

Quais os seus escritores favoritos?

Há tantos. Não quero ser injusto para com nenhum mas o Sebald é um deles. Há vários livros dele imprescindíveis: “Austerlitz”, “The Rings of Saturn”, “Campo Santo” (poesia), etc.).​ Foi um escritor que me deu a volta à cabeça precisamente por ter uma realidade muito gráfica. Muitos dos livros que ele tem são obras em que a história é acompanhada de pequenas imagens. É um escritor que tem uma narrativa como as cerejas. Já escritores de língua portuguesa, gosto muito do Agualusa. Mas há tantos. Gosto também muito de poesia. Por outro lado, também não posso passar sem música. Acho que ainda faço parte de uma das últimas gerações que compram CDs, pelo objecto e pela qualidade sonora. O MP3 não me convence. Comprar um livro ou ver um concerto são actos criativos para mim. Não me coloco na posição de mero espectador mas tento colocar-me numa posição que me dá uma determinada viagem. A fotografia é onde tenho a capacidade de pegar num instrumento, numa matéria bruta e fazer alguma coisa.

22 Fev 2018

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro participa em exposição nos EUA

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas fotografias do fotojornalista português radicado em Macau Gonçalo Lobo Pinheiro foram escolhidas para integrarem uma exposição colectiva na Black Box Gallery, em Portland, Estados Unidos, de 01 a 20 de Março.

Sob o tema “Portrait: Image and Identity” [Retrato: Imagem e Identidade], a exposição teve como curadora a fotógrafa Amy Arbus.

A Black Box Gallery dedica-se à exposição e promoção de fotografia contemporânea, apoiando a produção criativa, a exposição e a apreciação crítica da fotografia contemporânea.

O fotojornalista foi recentemente distinguido com uma menção honrosa na categoria “Editorial: Photo Essay/Story” no IPOTY – International Photographer of the year 2017, por algumas fotos sobre a passagem do tufão Hato por Macau.

Nascido em Lisboa, em 1979, Gonçalo Lobo Pinheiro colaborou com vários órgãos de comunicação social e é actualmente coordenador fotográfico da Revista Macau, do Gabinete de Comunicação Social.

21 Fev 2018

“Quotidianos” | Nova obra de António Conceição Júnior lançada segunda-feira

O autor e artista macaense afirma não se cansar de pensar sobre o território que habita e que é também uma parte de si. Em “Quotidianos”, António Conceição Júnior reflecte sobre a sua Macau em exercícios de cidadania que se espelham em 43 artigos. A obra é lançada na próxima segunda-feira no consulado-geral de Portugal em Macau

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m “Escritos do Amor e do Desafecto – Crónicas de Cidadania”, António Conceição Júnior, artista macaense, pensou a sua cidade num dos momentos mais importantes enquanto território, aquando da transferência de soberania de Macau para a China.

Depois dessa obra, lançada com a chancela da Livros do Meio, o autor volta a reflectir sobre o território que habita e do qual faz parte. “Quotidianos” reúne um total de 43 textos escritos num período compreendido entre 2015 e 2017. Trata-se, como o autor disse ao HM, “de um somatório de textos datados, quase um registo de bordo de uma navegação existencial”.

Nascido e criado em Macau, depois de ter feito os estudos na área das artes em Portugal, Conceição Júnior nunca se separou das suas raízes e da sua essência macaense. O autor de “Quotidianos” pensa a sua cidade como se respirasse.

“Sou um reincidente e não me canso (embora, talvez, possa cansar, mas assumo o risco!) de falar e reflectir sobre Macau, a cidade e como nela podemos intervir. Trata-se como que de um registo datado daquilo que, em cada momento, me impeliu a escrever”, acrescentou ao HM.

No comunicado enviado à imprensa, lê-se que este livro pretende levar o leitor a “uma incursão pelos pressupostos fundamentais da própria existência numa cidade”.

“Quotidianos” é uma edição de autor, por opção do próprio António Conceição Júnior. A apresentação do livro tem lugar no auditório do consulado-geral de Portugal em Macau, contando com prefácio do professor António Aresta e apresentação do historiador Luís Sá Cunha.

Conceição Júnior explana a ligação que mantém com o autor do prefácio da sua obra desde há muito. “Tenho mantido correspondência relativamente assídua com Dr. António Aresta desde há alguns anos, ambos manifestando o nosso envolvimento com Macau e a sua essencialidade. Admirando o seu trabalho sobre a minha terra, perguntei-lhe se me dava o gosto de escrever o prefácio, ao que anuiu prontamente e que muito agradeço.”

“Este livro é não só ‘um exercício de cidadania corajosa, culta, actualizada e com um poder de contágio simpático’, mas também um meio para atenuar fronteiras por se apresentar ‘desigualmente repartido entre a antropologia filosófica, a ciência política, a literatura de ideias e o pensamento urbano’”, conforme escreveu António Aresta no prefácio.

Um dever, mais do que exercício

António Conceição Júnior não tem em mente criar linhas de pensamento de coisa nenhuma, mas sim a de mostrar as reflexões sobre um território que tão bem conhece. Nascido em 1951, filho da escritora Deolinda da Conceição, o artista havia de regressar a Macau depois de se licenciar em Artes Plásticas e Design pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Por convite do governador Garcia Leandro, Conceição Júnior tornou-se, a partir de 1978, responsável pela formulação da política cultural do território, tendo sido também, entre 1984 e 1997, chefe do departamento de cultura do Leal Senado e, posteriormente, assessor para a cultura do Governador de Macau.

Aquilo que escreveu em “Quotidianos” não é considerado um mero exercício de escrita, muito menos uma obrigação de publicar enquanto autor, mas sim um dever. “É dever de cada um participar neste colectivo em que todos nos integramos, seja de que forma for. Não tenho a veleidade de propor uma reflexão inovadora sobre o contexto da cidade, mas não me abstenho de ir partilhando as minhas perspectivas sobre o gostaria de ver posto em prática para uma melhor qualidade de vida.” Nesse sentido, Conceição Júnior pretende tão somente mostrar pensamentos sobre uma cidade cheia de diversidade e de contrastes.

“Quotidianos” é, portanto, “uma de muitas outras maneiras de reflectir esta cidade onde coabitam múltiplas culturas, lugar único onde a raiz ocidental se posicionou na costa meridional do Império do Meio.”

“Essa forma de coexistência, de legado histórico, traz à superfície o modo como as culturas em presença se interpretam, e interpretam e interpelam a cidade. Trata-se de um conjunto de escritos independentes entre si, mas ligados por uma preocupação, em oposição à indiferença, pela edificação diária de uma cidade com uma história multi-centenária. É também dirigido àqueles que têm a missão de entender a essência da cidade e de a valorizar”, frisou.

O autor recorda mesmo a sua participação em 2001, num congresso da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), que decorreu em Macau.

“A propósito de Cidades Criativas, tive oportunidade de – como participante – dizer que ‘a cidade criativa é não só um novo contrato social mas também um método de planificação estratégica, examinando o modo como as pessoas podem pensar, planear e agir criativamente na cidade. Em suma, é a instalação do diálogo pleno com vista a conduzir a uma compreensão sobre a maneira como se pode humanizar e revitalizar as cidades tornando-as mais produtivas e eficientes, recuperando o talento e a imaginação dos cidadãos’”.

Sobre as cidades criativas, e sobre o próprio território em que habita, Conceição Júnior cita o escritor britânico Ian Morris, também professor de História e Arqueologia na Universidade de Stanford. “There is no more need for writing; what is left is to pratice” (Não há mais necessidade de escrever; o que falta é praticar).

21 Fev 2018

Morreu a escritora Natália Nunes

Natália Nunes (1921-2018)

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] escritora Natália Nunes, autora dos romances “Regresso ao Caos” e “Assembleia de Mulheres”, morreu ontem, na Ericeira, aos 96 anos, disse sua filha à agência Lusa. Nascida em Lisboa, a 18 de Novembro de 1921, destacou-se nas letras, através de romances como “Autobiografia de Uma Mulher Romântica” e “Vénus turbulenta”, mas também como dramaturga e ensaísta, e construiu uma das mais vastas obras, como contista, na literatura portuguesa, com títulos como “Ao Menos um Hipopótamo”, “As Velhas Senhoras”, “Louca por Sapatos”.

Resistente antifascista, durante os anos de ditadura, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores, encerrada pela PIDE, polícia política do regime, em 1965, era “considerada unanimemente uma das jovens mais bonitas da capital”, como a definiu o seu marido, o escritor e pedagogo Rómulo de Carvalho (1906-1997), conhecido poeta António Gedeão.

Natália Nunes estreou-se na literatura em 1952, com “Horas vivas: Memórias da Minha Infância”, a que se sucedeu “Autobiografia de uma Mulher Romântica” (1955). Vivia então em Coimbra, onde fez o curso de Bibliotecária-Arquivista (1956), depois da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas (1948), na Universidade de Lisboa.

No primeiro livro, “Horas Vivas”, a escritora “reflecte o ambiente quase medieval, dessa altura, na Beira Alta, onde fez a maior parte da instrução primária”, destaca a Plataforma Escritores Online, do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa.

A partir de então, a escrita esteve sempre presente na sua vida, a par do trabalho nas Bibliotecas da Ajuda e Nacional, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Escola Superior de Belas-Artes, como bibliotecária e conservadora.

Da sua obra destacam-se “A Mosca Verde e Outros Contos” (1957), “Regresso ao Caos” (1960), “Assembleia de Mulheres” (1964), “O Caso de Zulmira L.” (1967), “A Nuvem. Estória de Amor” (1970), “Da Natureza das Coisas” (1985), “As Velhas Senhoras e Outros Contos” (1992), “Louca por Sapatos” (1996). “Vénus Turbulenta”, o seu último romance, data de 1997.

Em memórias, além do livro inicial, contam-se “Uma portuguesa em Paris” (1956) e “Memórias da Escola Antiga” (1981). É autora da peça de teatro “Cabeça de Abóbora” (1970).

A obra de ficção disponível da escritora está publicada na editora Relógio d’Água. Publicou “A Ressurreição das Florestas, Estudos sobre a obra de ficção de Carlos Oliveira”, pela Imprensa Nacional Casa da Moeda. No ensaio, Natália Nunes escreveu ainda sobre Dostoievski, Raul Brandão, Augusto Abelaira, José Cardoso Pires, entre outros autores, sobretudo para as revistas Vértice e Seara Nova. Traduziu Dostoievsky, Tolstoi, Simonov, Elsa Triolet, Violette Leduc, Balzac e Roger Portal, para editoras como a Portugália, Edições Cosmos e Edições Aguilar, do Rio de Janeiro.

O Dicionário de Literatura Portuguesa, coordenado por Álvaro Manuel Machado destaca, em Natália Nunes, o “sentido do intimismo e do confessional, do mistério e da solidão, herdado em grande parte da geração presencista”, a que juntou a “temática feminina e de intervenção social”, próxima do neo-realismo.

A pedido do marido, completou as “Memórias” do escritor, incluindo a data da sua morte, em Fevereiro de 1997. “Não te digo adeus, a minha alma estará sempre contigo”, escreveu, no termo da obra.

Natália Nunes era mãe da escritora Cristina Carvalho, autora de “O Olhar e a Alma”, prémio Autores 2016.

Numa entrevista à Página da Educação, Natália Nunes confessou: “Nós temos projectos que nunca se realizam, porque vêm outros que nos exigem mais ou porque a vida não deixa. A vida não nos deixa fazer muitas coisas”.

20 Fev 2018

Arte rupestre descoberta no Rio Guadiana

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]inco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

Cinco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

20 Fev 2018

Realizador Guillermo Del Toro preside ao júri do próximo festival de Veneza

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador mexicano Guillermo Del Toro vai presidir ao júri da próxima edição do festival de cinema de Veneza, anunciou a organização.

Del Toro foi o vencedor, em Veneza, do Leão de Ouro no ano passado para melhor filme com “A forma da água”, filme que conta, nas categorias dos Óscares de Melhor Guarda-Roupa e Melhor Montagem de Som, com dois nomeados de origem portuguesa.

Segundo comunicado do festival de Veneza, onde Nuno Lopes venceu o Leão de Ouro para melhor actor em 2016, Del Toro disse que a presidência do júri da 75.ª edição do evento é “uma imensa honra e responsabilidade” que aceitava com respeito e gratidão.

“Veneza é uma janela para o cinema do mundo e uma oportunidade para celebrar o seu poder e relevância cultural”, acrescentou.

Por seu lado, o director do festival, Alberto Barbera, disse que Guillermo Del Toro “personifica a generosidade, um amor pelos filmes passados ou futuros e uma paixão pelo tipo de cinema que pode acender emoções, afectar pessoas e, ao mesmo tempo, fazê-las reflectir”.

“A forma da água” lidera as nomeações da 90.ª edição dos Óscares, que serão entregues a 4 de Março, em Los Angeles, incluindo as categorias de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Actriz.

“A forma da água” disputa a categoria de Melhor Filme com “Chama-me pelo teu nome”, “A hora mais negra”, “Foge”, “Lady Bird”, “Linha Fantasma”, “The Post”, “Dunkirk” e “Três cartazes à beira da estrada”.

13 Fev 2018

Mais um prémio para Leonor Teles com o filme “Balada de um batráquio”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] curta-metragem “Balada de um batráquio”, de Leonor Teles, venceu o grande prémio do festival alemão Stuttgarter Filmwinter, que terminou no domingo em Estugarda, Alemanha.

Para o festival, que cumpriu a 31.ª edição, tinham sido selecionadas as curtas-metragens portuguesas “Penúmbria”, de Eduardo Brito, “Cidade Pequena”, de Diogo Costa Amarante, e “Balada de um batráquio”, de Leonor Teles.

O júri do festival atribuiu o prémio máximo da competição internacional a Leonor Teles pelo caráter experimental do filme e por conter uma declaração política, lê-se na página oficial.

“Balada de um batráquio” aborda a prática comum em Portugal do uso de sapos de cerâmica por lojistas e proprietários de cafés e restaurantes, como forma de evitar a entrada de membros da comunidade cigana, que têm várias superstições ligadas ao animal.

Num gesto simbólico contra o preconceito, Leonor Teles surge no filme a entrar em lojas e a destruir alguns desses sapos de cerâmica.

A realizadora, que tem ascendência cigana, já se tinha focado na comunidade cigana em “Rhoma Acans”, primeiro filme feito em contexto escolar, e admitiu que a impotência sentida a inspirou a desenvolver uma nova abordagem em “Balada de um Batráquio”.

A curta-metragem foi apresentada pela primeira vez em 2016 no Festival de Cinema de Berlim, onde ganhou o Urso de Ouro.

Desde então, o filme já foi exibido em mais de 80 festivais e encontros de cinema em Portugal e no estrangeiro e recebeu vários prémios, nomeadamente no Festival de Curtas de Belo Horizonte (Brasil), Festival de Cinema de Hong Kong e Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.

13 Fev 2018

Rota das Letras | Jung Chang e JP Simões marcam abertura do festival literário

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Começa já no próximo dia 10 de Março o festival literário local “Rota das Letras”. Os nomes já começaram a ser divulgados há algumas semanas e ontem foi dada a conhecer a lista completa de convidados. O destaque vai para a presença na abertura do evento da autora de “Cisnes Selvagens”, Jung Chang e do concerto do português JP Simões

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão cerca de 60 os convidados da sétima edição do festival literário de Macau, “Rota das Letras”. Jung Chang, autora de “Cisnes Selvagens – Três Filhas da China”, considerado pelo Asian Wall Street Journal o livro mais lido sobre a China e que retrata uma centena de anos no país através dos olhos de três gerações de mulheres, tem presença confirmada na abertura da edição deste ano do evento. A informação foi dada ontem em conferência de imprensa pelo director, Ricardo Pinto. De acordo com o responsável a presença de Jung Chang merece especial destaque. “Na minha geração, eram os romances da Pearl S. Buck, hoje em dia talvez “Os Cisnes Selvagens” seja, de facto, essa porta de entrada na literatura chinesa e, sobretudo na história recente da China. É uma autora com uma dimensão enorme, popularíssima”, referiu.

A autora é ainda conhjecida pelas obras “Mao: A História Desconhecida” e “A Imperatriz Viúva – Cixi, a Concubina que mudou a China”. As obras de Jung Chang estão traduzidas em mais de 40 idiomas, tendo vendido acima dos 15 milhões de exemplares. Vencedora de diversos prémios, incluindo o UK Writers ‘Guild Best Non-Fiction e o Book of the Year UK, foi distinguida com doutoramentos honoris causa por universidades no Reino Unido e nos EUA.

Nascida na província de Sichuan em 1952, durante a Revolução Cultural (1966-1976), Jung Chang trabalhou como camponesa, “médica de pés descalços”, operária siderúrgica e electricista, antes de se tornar estudante de Inglês na Universidade de Sichuan. Mudou-se para o Reino Unido em 1978 e doutorou-se em Linguística pela Universidade de York, tornando-se a primeira pessoa da China comunista a obter tal grau numa universidade britânica.

Vidas multiculturais

Ricardo Pinto destacou ainda a presença de Li-Young Lee, poeta americano premiado e autor de várias colectâneas de poesia e da autobiografia “The Winged Seed: A Remembrance”.

Nascido em Jacarta, filho de pais chineses, “Lee cedo aprendeu sobre a perda e o exílio”, refere a organizção. O seu avô, Yuan Shikai, foi o primeiro Presidente republicano da China logo após o período provisório de Sun Yat-sen, e o pai, cristão fervoroso, foi o médico de Mao Tse-Tung. Quando o Partido Comunista da China se estabeleceu, os pais de Lee mudaram-se para a Indonésia. Em 1959, o seu pai, depois de passar um ano como prisioneiro político do Presidente Sukarno, fugiu com a família para escapar à xenofobia contra os chineses. Depois de um périplo de 5 anos, passando por Hong Kong, Macau e Japão, fixaram-se nos Estados Unidos em 1964.

Ricardo Pinto espera ainda que a presença em Macau do escritor durante duas semanas possa vir a inspirar os seus escritos futuros. “Espero que Li-Young Lee use estas duas semanas para escrever algumas histórias sobre o território”, disse.

Por fim, o director do “Rota das Letras” sublinhou a presença de Marco Lobo. Com ligações a Macau, o escritor residente em Tóquio é conhecido pelo seu interesse na diáspora portuguesa. O facto de ter tido acesso a uma educação multicultural que teve início em Macau e Hong Kong, e se estendeu pela Ásia, Europa e pelas Américas permitiu-lhe observar de perto as diversas sociedades em que a cultura portuguesa se difundiu. Os seus romances históricos, “The Witch Hunter’s Amulet” e “Mesquita’s Reflections”, exploram a temática dos conflitos culturais envolvendo raça e religião, aponta o organizador.

No que toca aos países lusófonos, a Rota das Letras traz ao território Rui Cardoso Martins, escritor e argumentista, autor das crónicas “Levante-se o Réu” e “Levante-se o Réu Outra Vez” — Grande Prémio APE/Crónica 2016 e dois prémios Gazeta. Tem ainda quatro romances publicados, com destaque para “Deixem Passar o Homem Invisível”, Grande Prémio APE, 2009.

Também Isabel Lucas, jornalista, crítica literária e autora de “Viagem ao Sonho Americano” vai marcar presença no território.

Com um pé na literatura e outro na música, vai estar em Macau Kalaf Epalanga, membro da ex-banda Buraka Som Sistema e autor de três romances.

Juntam-se a estes, a historiadora e escritora Isabel Valadão, a professora catedrática, poeta, ensaísta e dirigente do projecto Literatura-Mundo Comparada em Português, Helena Carvalhão Buescu, a cabo-verdiana Dina Salústio, e Albertino Bragança de São Tomé e Príncipe.

Outro dos convidados do festival deste ano é o romancista, jornalista e professor universitário filipino Miguel Syjuco. O seu romance de estreia, Ilustrado, foi NY Times Notable Book em 2010 e vencedor do Man Asian Literary Prize.

Estes nomes vão juntar-se à dissidente e ativista dos direitos humanos norte-coreana Hyeonseo Lee, a Suki Kim, que passou seis meses infiltrada naquele país, aos lusófonos Maria Inês Almeida, Rui Tavares e Ana Margarida de Carvalho, Ungulani Ba Ka Khosa, de Moçambique, e Julián Fuks, do Brasil.

Os autores locais terão também um papel importante no programa da Rota das Letras. A poetisa, catedrática e cronista Jenny Lao-Phillips, o catedrático e escritor de infanto-juvenil Paul Pang, o poeta Rui Rocha, o poeta e historiador Fernando Sales Lopes e a romancista Isolda Brasil participarão em várias sessões ao longo das duas semanas do evento.

Outras artes

No que toca às artes plásticas e visuais, o “Rota das Letras” volta a apresentar uma série de exposições. Uma mostra colectiva de artistas e arquitectos locais, com curadoria da arquitecta Maria José de Freitas traz nomes como Ung Vai Meng, Carmo Correia, Adalberto Tenreiro, António Mil-Homens, Chan In Io, João Miguel Barros, Francisco Ricarte, Gonçalo Lobo Pinheiro e Manuel Vicente numa exposição sob o tema “River Cities Crossing Borders: History & Strategies”, no Edifício do Antigo Tribunal.

O artista local João Ó exibirá “Modelo para Impossível Tulipa Negra”, parte de um projecto maior intitulado Palácio da Memória. Apresentado inicialmente no Museu Nacional da História Natural e da Ciência, de Portugal, o projecto reflecte sobre a figura e feitos do sacerdote e cientista Matteo Ricci, jesuíta italiano do século XVI que se estabeleceu, via Macau, na China continental. O nome invoca a “Carta Geográfica Completa de Todos os Reinos do Mundo”, desenhado por Ricci em 1584 e impresso em xilogravura em 1602.

Na Livraria Portuguesa de Macau, o “Rota das Letras” apresenta “Paisagens Literárias de um Viajante”, uma exposição do artista português Rui Paiva, que viveu em Macau durante vários anos. Juntamente com a sua obra e objectos de colecção, Rui Paiva irá lançar o seu livro recentemente publicado, “Nuvem Branca”, livro de artista e de vida.

Duas outras exposições organizadas por parceiros de longa data do Festival, a Fundação Oriente e a Creative Macau, farão também parte do programa. “Rostos de Poesia”, do artista chinês Chen Yu, será inaugurada a 13 de Março na Casa Garden, seguida por uma sessão de poesia. “Pinacatroca”, pelo cartonista local Rodrigo de Matos, estará patente na Creative Macau de 22 de Março a 21 de Abril.

Letras na tela

São cinco os filmes apresentados pela sétima edição do festival literário de Macau.

A realizadora portuguesa Rita Azevedo Gomes terá duas películas: “Correspondências”, baseado na troca de correspondência entre Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena, e “A Vingança de uma Mulher”.

Ju Anqui traz a Macau o seu último título, “Poet on a Business Trip”. O escritor e realizador Han Dong irá mostrar “At the Dock”. Já o poeta Yu Jian apresentará o documentário “Jade Green Station”.[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1518569357434{margin-top: 10px !important;border-top-width: 1px !important;border-right-width: 1px !important;border-bottom-width: 1px !important;border-left-width: 1px !important;padding-top: 8px !important;padding-right: 8px !important;padding-bottom: 8px !important;padding-left: 8px !important;background-color: #f9f9f9 !important;border-left-color: #777777 !important;border-left-style: solid !important;border-right-color: #777777 !important;border-right-style: solid !important;border-top-color: #777777 !important;border-top-style: solid !important;border-bottom-color: #777777 !important;border-bottom-style: solid !important;}”]

Ritmos, canções e letras

JP Simões apresenta-se actualmente sob o nome Bloom

A edição deste ano conta ainda com a apresentação de dois concertos. No sábado, 10 de Março, pelas 21h, no Pacha Macau, JP Simões-Bloom subirá ao palco, seguido da DJ Selecta Alice.

Bloom é o novo pseudónimo de JP Simões, músico e compositor português que esteve envolvido em vários projectos como Pop dell’Arte, Belle Chase Hotel e Quinteto Tati.

De acordo com a organização, “a busca de uma nova sonoridade levou-o para caminhos musicais bastante distintos do seu trabalho habitual”. “Tremble like a Flower” é o nome do seu primeiro álbum a solo, que se move por ambientes próximos do folk e do blues atravessados por paisagens psicadélicas, e será apresentado em dueto com o músico, compositor e produtor Miguel Nicolau.

Logo a seguir, a DJ Selecta Alice toma o controlo da pista de dança. Ela é uma das impulsionadoras e pioneira da World Music em Dj set em Portugal. Curadora do palco do Sacred Fire no Boom Festival, Selecta Alice homenageia nos seus sets a cultura da festa e da celebração da vida através da música e do ritual da dança. Os ritmos de África, América Latina, Balcãs e Índia são paragens obrigatórias nas suas viagens sonoras à volta do mundo.

Domingo, 18 de Março, pelas 20h, é a vez de Zhou Yunpeng subir ao palco no Teatro D. Pedro V. Zhou é um cantor folk e poeta natural de Shenyang, que ficou cego aos nove anos. Aos 10 anos, começou a frequentar a Escola para Crianças Cegas de Shenyang e, posteriormente, o Instituto de Educação Especial da Universidade de Changchun (1991), onde estudou Língua Chinesa. Concluído o curso, mudou-se para Pequim e começou a sua carreira musical. Em 2011, recebeu os prémios de “Melhor Cantor Folk” e “Melhor Letrista” da Chinese Media Music, e o seu poema “The Wordless Love” foi considerado “Melhor Poema” pela revista People Literature. Também participou no filme Detective Hunter Zhang e assinou a banda sonora do mesmo – a película veio a ganhar o galardão de Melhor Filme no Festival de Cinema Golden Horse (Taiwan). Em 2017, foi responsável pela banda sonora do filme At the Dock.

Contos com fartura

A edição deste ano ao concurso de contos contou com uma adesão recorde. Foram um total de 190 textos recebidos nas línguas portuguesa, chinesa e inglesa. “A maioria são em português com participantes de Portugal, Macau e muitos do Brasil”, referiu o director de programação, Helder Beja. Para o responsável, o aumento do número de trabalhos recebidos é visto com muito “bons olhos na medida em que é o reflexo do trabalho que o festival tem vindo a desenvolver ao longo dos anos”.

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13 Fev 2018

Portugal | Ministro da Cultura destaca obra deixada pelo arquitecto Hestnes Ferreira

Luis Filipe Castro Mendes, ministro da Cultura
FOTO: José Coelho/LUSA

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, manifestou hoje “profundo pesar” pela morte do arquitecto Raúl Hestnes Ferreira, vencedor do Prémio Valmor e “autor de vasta obra pública e privada”.

Numa nota enviada à comunicação social, o ministro da Cultura recorda que Raúl Hestnes Ferreira foi um arquitecto multipremiado e que a ele se deve a remodelação e valorização do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora.

“Vencedor de vários prémios, entre eles o Prémio Valmor, em 2002, Raúl Hestnes Ferreira trabalhou em Filadélfia com Louis Kahn, nome fundamental da arquitectura do Séc. XX, assim como acompanhou, através da sua actividade académica, exercida em diferentes universidades, a formação de várias gerações de arquitectos portugueses”, sublinhou.

O arquitecto Raul Hestnes Ferreira, 86 anos, morreu no domingo à noite, em Lisboa, disse hoje à agência Lusa uma fonte da Ordem dos Arquitetos (OA).

Raul Hestnes Ferreira nasceu em Lisboa, em 1931, e o gosto pela arquitetura surgiu-lhe muito cedo devido ao contacto com Francisco Keil do Amaral.

Estudou na Escola Superior de Belas Artes, em Lisboa, onde recebeu o diploma de arquitecto, em 1961, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, nos Estados Unidos, na Universidade de Yale e na Universidade de Pensilvânia, depois de ter passado pela escola de Helsínquia, na Finlândia.

Filho do escritor José Gomes Ferreira (1900-1985), Hestnes Ferreira projetou, entre outros edifícios, a Casa da Cultura de Beja, a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, o novo edifício do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, a Biblioteca de Marvila, a Casa de Albarraque, que desenhou para o pai, em Cascais.

Fez igualmente o projecto de renovação do café Martinho da Arcada, na capital. Esteve entre os finalistas a concurso para a Ópera da Bastilha, em Paris.

Entre os projectos habitacionais, conta-se o do bairro das Fonsecas e Calçada, em Alvalade, em Lisboa, das cooperativas Unidade do Povo e 25 de Abril, que remonta a 1975.

Recebeu o Prémio Nacional de Arquitetura e Urbanismo, da secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte, o Prémio Nacional de Arquitetura da antiga associação de arquitectos (anterior à Ordem) e Prémio Valmor.

13 Fev 2018

Intercâmbio cultural no tradicional desfile do Ano Novo Chinês em Lisboa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] intercâmbio cultural entre a China e Portugal esteve patente no passado fim-de-semana no tradicional desfile do novo ano chinês, dedicado ao cão, onde centenas de figurantes percorreram parte da Avenida Almirante Reis até à Praça do Martim Moniz.

O cortejo, que desfilou pelo quinto ano consecutivo, integrou equipas de dança do dragão, do leão e do tambor, além de artes marciais e de bailado, ao qual dezenas de pessoas assistiram, na sua maioria, chinesas, à celebração do novo ano chinês, que tem início oficial em 16 de fevereiro.

Engalanada com as tradicionais lanternas vermelhas e douradas, um dos mais importantes símbolos chineses, que representam a prosperidade e boa sorte, a praça do Martim Moniz acolhe a partir de hoje e durante dois dias a feira do Ano Novo Chinês.

Foi aqui que os figurantes se encontraram no final do desfile, assim como as centenas de pessoas que se deslocaram àquela zona da cidade, onde puderam deliciar-se com bancas de gastronomia e produtos chineses.

À Agência Lusa, Patrícia, uma turista brasileira em Portugal, confessou a sua paixão pela cultura chinesa, tendo vindo propositadamente para visitar a cidade e ver como era a celebração.

“Achei muito interessante a integração e o respeito de culturas no desfile, surpreendeu-me. Trata-se de uma cultura que tem algumas questões importantes em respeito ao ser humano, à ligação com as coisas da natureza, uma integração muito bondosa, atrai-me a cultura budista como um todo”, explicou.

A integração das duas culturas foi também o aspeto que mais surpreendeu Teresa que se deslocou à baixa da cidade para assistir ao desfile: “achei muito bom o intercâmbio com a nossa cultura com as minhotas, achei muito bom”.

“É uma mistura cultural bonita e que eu gosto”, frisou.

Já Sandro deslocou-se ao Martim Moniz pela união de culturas que sabia já existir no espaço, tendo ficado igualmente agradado, com a relação entre a cultura chinesa portuguesa, o norte, com um grupo de dança do Minho e o Alentejo, salientando tratar-se de uma “mistura salutar”.

Eugénia Dipi disse à Lusa que não podia faltar ao desfile, afinal tem uma costela chinesa, canta num coro e logo mais à tarde vai fazer uma apresentação no programa da festa. Quanto ao facto de se entrar no Ano do Cão refere não saber pormenores, apenas que será “um ano bom”.

“Todos os anos tenho vindo celebrar a cultura chinesa”, afirmou Eugénia, assim com Sue Sum que veio até ao Martim Moniz para comemorar e fazer parte integrante desta mostra da China à população de Lisboa.

“A China tem 56 etnias, aqui só se vem mostrar uma parte. Viemos comemorar e mostrar o que há de bom. Vieram da China, de propósito artes marciais, um conjunto de danças sobre a cultura chinesa”, adiantou Sue Sum.

Bingbing é uma dessas jovens que, aos 15 anos, mostra a cultura do seu país através de um grupo de dança que desfilou, reservada nas explicações, apenas diz, com orgulho visível, que foi convidada para participar no cortejo “vestir e mostrar a cultura da China”.

12 Fev 2018

Cinema | “Macau – Um Longe Tão Perto” em exibição na Cinemateca Paixão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] documentário do realizador Rui Filipe Torres, “Macau – Um Longe Tão Perto”, será exibido no próximo sábado, dia 10 de Fevereiro, às 19h na Cinemateca Paixão. O filme é uma remontagem de três documentários sobre Macau produzidos para a RTP Internacional em Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013. O documentário estreou-se no Museu do Oriente, em Lisboa, no início de 2014.

O documentário de Rui Filipe Torres é uma abordagem panorâmica sobre o papel da Região Administrativa Especial de Macau enquanto plataforma entre a China e os países da lusofonia. Tem como ângulo os pontos chave das dinâmicas sociais e políticas e a forma como estes elementos marcam a caracterização e identidade do território.

A frescura da visão de Rui Filipe Torres é algo que advém de uma certa ingenuidade de quem chega pela primeira vez a Macau vindo de Lisboa e que descobre que a 11 mil quilómetros de distância se continua a viver e sentir Portugal, numa singular afirmação de cosmopolitismo e abertura ao mundo contemporâneo.

“Macau – Um Longe Tão Perto” também lança um breve olhar sobre a posição geopolítica de Macau na perspectiva da política “Um País, Dois Sistemas”, através do testemunho de algumas personalidade que, de diferentes formas, são actores relevantes nas dinâmicas sociais, culturais e políticas do território.

A lista de entrevistados, em Macau e Lisboa, tem personalidades como Adriano Moreira, Amélia António, Miguel de Senna Fernandes, Paulo Coutinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Pereira Coutinho, James Chu, José Drummond, João Marques da Cruz, José Maças de Carvalho, Ivo Ferreira, Luís Pimenta Machado, Ana Paula Cleto, Carlos Manuel José, Carlos Manuel Piteira, Rita Santos, Rui D´Ávila Lourido, e Zhong Yi Seabra de Mascarenhas.

9 Fev 2018

Concerto | Heidi Li Italian Jazz Duo ao vivo no domingo no What’s Up POP UP

Heidi Li cresceu a ouvir e cantar ópera cantonesa, uma paixão que herdou dos pais. Aos 17 anos, a cantora sai de Hong Kong para estudar. Vive no Canadá, Reino Unido, França até se fixar em Itália. A vida que levou está na génese do EP “Third Culture Kid” que pode ser escutada ao vivo, em três línguas, no domingo às 19h no What’s Up POP UP, na Calçada do Amparo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o longo da história da música, e das artes no geral, a fusão de influências tem sido um motor criativo que nos trouxe revoluções como o rock n’ roll, o punk e o jazz. É frequente que na génese destas correntes estejam pessoas que também são elas próprias resultado de fusão cultural. Heidi Li é a personificação desse tipo de caleidoscópio cultural. A cantora sobe ao palco do What’s Up POP UP no domingo, às 19 horas, para um concerto onde vai interpretar músicas do disco “Third Culture Kid” e a adaptação de “belíssimas músicas de folk italiano”. Em palco estará um pianista e Heidi Li a cantar em três línguas.

O trilinguismo surge natural para quem teve o percurso que a cantora teve. Começou cedo, com apenas três anos de idade, a cantar ópera cantonense, algo que aconteceu porque era o que se escutava em casa. “Ouvia essa música a toda a hora porque é uma paixão dos meus pais, até que um dia me levaram a um ensaio com orquestra”, conta. Esse episódio demarca-a da maioria dos comuns mortais, não é qualquer pessoa que tem a hipótese de actuar informalmente com uma orquestra. “Ajudou-me a construir a confiança para cantar em público, algo que se tornou muito natural para mim. Quando tinha 4 ou 5 anos os meus pais incentivaram-me a cantar, era como um jogo para mim, era divertido. Acho que nunca fui tímida em relação a cantar em público”, conta.

Aos 17 anos, Heidi Li deixou Hong Kong e partiu mundo fora para estudar. O primeiro destino foi o Canadá, seguindo-se o Reino Unido e a França, até se fixar em Perúgia, em Itália.

Più Bella

Itália trouxe ao de cima a cantora que havia dentro de Heidi Li. Mudou-se para Perúgia em 2010, quis o destino que a sua casa se situasse em cima de um clube de jazz. “Conheci alguns músicos locais e foi assim que as coisas começaram, fazíamos algumas jams sessions, fui aprendendo e nasceu a vontade de fazer algo sério”, conta.

Em Maio lançou o seu primeiro disco, um EP, intitulado “Third Culture Kid”, um termo para designar quem nasceu no seio de uma família multicultural e que vive num país onde se fala uma terceira língua. “Tenho tido sempre a influência directa de diferentes culturas e esse álbum reflecte esse multiculturalismo, com músicas cantadas em inglês, cantonense e italiano”, revela.

As viagens que faz são uma inevitável fonte de inspiração para a cantora. De momento, Heidi Li anda em tourné com um projecto chamado “Heidi sings in all italian dialects”, que fará parte da performance que traz a Macau no próximo domingo. O projecto começou por ser uma ideia pensada para o Youtube, com a cantora a viajar pelo culturalmente assimétrico território italiano e a colaborar com artistas locais. “Viajei por Itália e cantei nos dialectos locais músicas de folclore dessas terras, também com músicos locais”, explica. O objectivo da cantora é transformar esta experiência e estes episódios do seu canal de Youtube num disco, que a natural de Hong Kong espera poder gravar assim que regressar a Itália, no próximo Verão. Para já, essas músicas ganham vida em palco através de uma rearranjos para voz e piano.

Apesar do contexto muito etnográfico como começou a sua carreira musical, Heidi Li tem um gosto ecléctico que extravasa em muito o jazz clássico, apesar do amor a Bill Evans. Na aparelhagem da cantora tem-se tocado muito Dhafer Youssef, um músico tunisino que descobriu ao vivo em França. Além disso, Heidi Li tem mantido um vício auditivo com a música da baixista e cantora norte-americana Esperanza Spalding e a banda de neo-soul australiana Hiatus Kaiyote.

As notas da multiculturalidade vão soar no final da tarde de domingo na Calçada do Amparo.

9 Fev 2018

Cheong Kin I, encenadora a peça “A Reunificação das Duas Coreias”: “Aspiro criar a minha realidade”

Hoje às 20h sobe ao palco do Edifício do Antigo Tribunal a peça “A Reunificação das Duas Coreias”, pela mão da encenadora local Cheong Kin I. A peça estará em cena até 11 de Fevereiro, sempre às 20h, com a excepção com espectáculo do dia 10, que será às 10h. O HM falou com a encenadora sobre amor, identidade e a natureza da realidade

 

Como foi o primeiro contacto com a obra de Joël Pommerat?

A primeira vez que conheci a obra de Joël Pommerat foi quando um amigo meu encenou “Les Marchands”. Pommerat insiste sempre em escrever e encenar os seus próprios argumentos, uma vez que considera que não há ninguém que sabia melhor o que é que ele quer. Tem os seus próprios actores e designers de iluminação com quem tem vindo a colaborar já há muito tempo. Costuma ensaiar directamente nos espaços onde as suas peças são interpretadas, para que os seus designers de iluminação possam participar activamente no processo de criação das peças. Pommerat gosta da obscuridade. A iluminação é só para projectar sobre e para as interpretações, as vozes e os corpos dos seus actores. Tem uma estética extraordinária.

Esta peça não é sobre política, mas sobre amor. Que ligação sentiu com a história?

O título parece muito politizado, mas não tem nada a ver com a política. São vinte capítulos com vinte histórias sobre o amor, entre aspas. Trata-se de uma metáfora para falar sobre vinte tipos de amores acabados devido à impossibilidade de comunicação, das clivagens nas relações e da impotência de amar.

Vejo a palavra “reunificação” como muito irónica. Todas estas histórias falam de separações. Penso que Joël Pommerat queria também falar do facto que cada um é um indivíduo completamente independente, sempre com diferentes maneiras de pensar, mesmo a respeito das coisas minúsculas numa relação e na vida em geral. Tenho a expectativa que nesta peça as actrizes e os actores de Taiwan e de Macau possam aproveitar bem as suas diferenças culturais e linguísticas para abordar a impossibilidade de comunicação como um ponto fundamental do espectáculo.

Tem alguma ideia de como será próximo projecto?

Imagino que, depois da “A Reunificação das Duas Coreias”, vou continuar a trabalhar nos temas identitários, directamente ou indirectamente. Não acho que possa mudar nada, mas pelo menos penso que sou capaz de me mudar a mim própria.

Quais os maiores desafios de realizar um projecto destes em Macau?

Aspiro criar a minha própria realidade, mas vai ser sempre só um processo de procura, porque, como dito, a realidade não existe. É uma ilusão eterna. É uma grande ironia que sempre procuramos ao falar de tudo o que vimos a acumular, como percepções e experiências de vida. Mas isso não me interessa para representar na peça porque, como não é nada novo para ninguém, já não tem importância.

Sempre detestei qualquer género de discriminação ou exclusão. Nos meus primeiros tempos em Taiwan, negava sempre quando me diziam que ser de Macau queria dizer ser da China continental. Com o passar do tempo, comecei a reflectir se também eu própria discriminava os chineses do continente. Lá em Taiwan, toda a gente pensa de maneira independente e faz muitos esforços para trazer Taiwan ao mundo. O que me levava a questionar sobre, sendo eu de Macau, qual seria a minha identidade. Macau é um território minúsculo, onde as convenções ainda são muito predominantes. Mas não é razão para que o teatro siga também esta direcção. Pergunto sempre a mim própria como é que posso contribuir para o mundo, antes de pedir qualquer coisa a Macau.

Qual a sua ligação às artes dramáticas? O seu irmão escolheu o cinema, você o teatro. Porquê?

Partilho um ponto comum com Pommerat: não falamos da realidade, mas procuramos a realidade. Para mim, a realidade não existe. Isso é simples e complicado ao mesmo tempo. É vida, é impressão, é imaginação, é criação. No ano passado, em Agosto, a Associação Teatro de Sonho convidou-me para encenar uma peça. Naquele momento, estava já muito interessada pela questão da identidade. Li uma antologia bilingue franco-chinesa dos dramaturgos franceses co-publicada pelo Festival de Artes de Taipé, na qual encontrei o argumento “A Reunificação das Duas Coreias”. Fiquei profundamente atraída quando o li pela primeira vez.

Alguma parte em especial?

Eis uma passagem do argumento da qual gosto muito: O marido pergunta à mulher: O que é que se passa? Porque não consegues dormir? A mulher responde: Não é que não consiga dormir. É que não quero mais ficar contigo. Vou ter que partir. O marido pergunta: Estás com outra pessoa? A mulher diz: Não. Eu amo-te e tu amas-me. Mas isto não é suficiente. Era só uma história de cinco minutos. Nesta história, não se via uma causa nem um efeito. Havia só as emoções no meio da história, sem início, sem fim. É justamente neste meio que existe mais tensão dramática. Quanto ao meu irmão, foi feita há já alguns anos a sua “Uma Ficção Inútil”, que tem sido apresentada várias vezes em Taipé. É um filme difícil de compreender, no qual há muitas imagens de árvores. Lembro-me que, no tempo da nossa infância, quando ele estava triste, levava-me a ver as árvores no Jardim de Camões. Agora já tenho 26 anos e ele 32. Não sei quando é que começou a fazer filmes. Ele está à frente e eu atrás. Fico orgulhosa do meu irmão.

8 Fev 2018

Óbito | Jao Tsung-I, mestre em estudos chineses, faleceu ontem

Faleceu, na madrugada de ontem, o mestre Jao Tsung-I, que nos anos 80 veio para Macau onde fundou, na antiga Universidade da Ásia Oriental, o departamento de história e literatura chinesa. No território, Jao Tsung-I deu também o nome a uma academia dedicada às artes e cultura. O Chefe do Executivo dedicou condolências à família

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]urpresa e consternação. Foram estas as primeiras palavras que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, usou para se referir ao falecimento do mestre de estudos chineses e grande nome das artes, Jao Tsung-I. Este morreu na madrugada de ontem, depois de uma carreira preenchida, que passou pela criação de duas academias com o seu nome, em Macau e Hong Kong.
Jao Tsung-I veio para Macau em 1981, quando foi convidado para ser professor catedrático da antiga Universidade da Ásia Oriental, actual Universidade de Macau (UM). Foi ele o fundador do departamento de história e literatura chinesa desta instituição de ensino.
Chui Sai On referiu-se a ele como sendo “um grande mestre dos estudos chineses, uma personalidade conceituada na China e no exterior”. “O professor Jao Tsung-I foi um famoso historiador, paleógrafo, literato, calígrafo e educador, cuja fama cruzou mares. Durante toda a sua vida, divulgou a cultura chinesa, contribuindo de forma importante para o ensino superior e a investigação académica em Macau.”
O Chefe do Executivo destacou ainda a importância que Jao Tsung-I continuou a ter na sociedade local após o regresso de Macau à China.
Este “continuou a dedicar-se e a orientar os estudos na área da paleografia, apoiando veementemente o nosso desenvolvimento cultural”. “Expôs aqui repetidas vezes os seus trabalhos de caligrafia e pintura, tendo oferecido algumas das suas obras aos museus locais”, disse Chui Sai On. Essas obras levariam à criação da Academia Jao Tsung-I.
Além disso, o mestre de estudos chineses tinha “o espírito patriótico”. “O trabalho académico meticuloso do professor Jao Tsung-I são um modelo para todos nós”, acrescentou o Chefe do Executivo.

Um grande contributo

De acordo com a biografia disponível no website da Academia Jao Tsung-I, o mestre, ao criar o departamento na Universidade da Ásia Oriental, com cursos de mestrado e doutoramento, “contribuiu consideravelmente para o desenvolvimento académico local lançando as sementes de estudos subsequentes em literatura chinesa”.
Em 2004 a UM concedeu a Jao Tsung-I o grau de doutor honoris causa em Humanidades, tendo-lhe sido atribuído também o título de Professor Honorário da universidade. A sua biografia aponta que o mestre “deu bastante atenção aos estudos arqueológicos em Macau, dando conselhos e orientando as escavações do sítio arqueológico da baía de Hac-Sa, Coloane, em 2006”.
Em 2011, Jao Tsung-I doou 30 pinturas e caligrafias da sua autoria ao Museu de Arte de Macau, além de 159 peças de arte e trabalhos académicos ao Governo, em 2013. “Ter estas peças de arte entre nós é uma honra e sentimo-nos gratos pois servirão de inspiração aos artistas locais e às gerações vindouras”, aponta a biografia do mestre.
Foram diversas as exposições que Jao Tsung-I realizou no território: Terra Pura – Exposição de Pintura e Caligrafia do Jao Tsung-I (Centro UNESCO de Macau, Novembro de 1999); Exposição de Caligrafia e Pintura de Rao Zongyi (Museu de Arte de Macau, Julho de 2001) onde, a par de 103 obras de arte de autoria do Professor Jao, foram apresentados outros trabalhos de artistas chineses do continente e ultramarinos, bem como uma variedade de objectos ornamentais e estudos; Lótus Imortal: Pintura e Caligrafia de Jao Tsung-i.
Alem disso, em Novembro de 2006 foi feita uma exposição para celebrar o seu 90º aniversário, tendo sido realizada, em Novembro de 2011, a iniciativa Aspirações Convergentes: Exposição de Pinturas e Caligrafias Doadas ao Museu de Arte de Macau por Jao Tsung-I, patente no Museu de Arte de Macau.

O apoio à Macaulogia

Entretanto, a UM reagiu também à morte do mestre, tendo referido, num comunicado, que os membros da universidade “nunca se vão esquecer” do seu contributo.
Jao Tsung-I foi, aos olhos da UM, “um académico erudito e um escritor prolífero”, bem como “um mestre da sinologia, um historiador, arqueólogo e académico de Confúcio”.
“Ele dedicou toda a sua vida à promoção da sinologia, também com grandes realizações na arte e literatura. O professor Jao Tsing-I e a sua persistência nos objectivos académicos é um exemplo para todos nós.”
Na UM, Jao Tsing-I “apoiou activamente o desenvolvimento da Macaulogia, tendo dado uma grandiosa contribuição para a UM na implementação e desenvolvimento da disciplina”.

7 Fev 2018

Exposição | Galerie Ora-Ora inaugura no espaço H Queen’s com livros gritantes

O contraste e a harmonia entre as artes plásticas e a literatura é o cerne da exposição colectiva “Screaming Books”, que inaugura o novo espaço da Galerie Ora-Ora no H Queen’s no próximo dia 1 de Março. Um dos trunfos da mostra é a luz natural que entra pelas janelas do 17º andar da galeria em Central Hong Kong

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] programa artístico da temporada 2018 de Hong Kong está a arrancar em grande estilo, em parte movido pelos vários festivais que animam a região, mas também com o surgimento de novos espaços para exposições e concertos.

Um prédio que promete ser um dos grandes pólos artísticos da Ásia é o H Queen’s, em Central, erigido para colmatar a lacuna da falta de espaço para a fixação de grandes galerias internacionais.

É nesse contexto que no próximo dia 1 de Março é inaugurado “Screaming Books”, uma exposição colectiva que reúne oito artistas chineses e locais que se foca no tema da literatura. Os artistas participantes da mostra são Halley Cheng, Hung Keung, Peng Jian, Pang Wei, Xiao Xu, Xu Lei, Zhang Yanzi e o icónico artista de caligrafia graffiti Tsang Tsou-Choi, o chamado “Rei de Kowloon”.

“Screaming Books”, a primeira exposição da galeria este ano e propõe-se a ilustrar a universalidade da arte e a sua aptidão para explorar expressividade indomável, emoções e significados. A mostra tem como objectivo demonstrar essas emanações do espírito humano através da influência da literatura ancestral e clássica da China e do Ocidente.

O título da exposição foi baseado num poster de Alexander Rodchenko, chamado “Books!”, onde estão juntos um escritor russo e a socialite Lilya Brik, tentando expressar a ideia de união entre artes plásticas e palavras.

A exposição que será inaugurada no 17º andar do H Queeen’s apela ao poder universal da imagem destilada por um grupo coerente de artistas através caligrafia contemporânea. As duas formas de expressão artísticas unem-se pela via da arte chinesa contemporânea e da influência que a literatura tem na criação dos vários artistas que colaboram na exposição.

Fora das páginas

“Arte e literatura não são forças em oposição, mas almas divididas que gritam uma pela outra. “Screaming Books” é uma exposição cuidadosamente curada que reúne artistas de renome para quem o legado literário é uma inspiração”. As palavras são de Henrietta Tsui-Leung, fundadora e dona da Galerie Ora-Ora.

Acerca da abertura do novo espaço em Central, a galerista adianta que “a exposição marca um significativo marco histórico na vida da galeria e reflecte uma visão de longo-prazo da promoção da caligrafia contemporânea entre o público de Hong Kong e o público internacional que visita a cidade”.

Por exemplo, Xu Lei e os seus estudantes Hao Liang e Xiao Xu trazem para a exposição a influência de Franz Kafka, assim como o realismo mágico do escritor Gabriel Garcia Marquez. Por outro lado, Peng Jian, Peng Wei e Zhang Yanzi encontraram inspiração na linguagem literária e no imaginário nostálgico, principalmente na correspondência de autores. Peng Wei pega nesta criação literária íntima e acrescentam-lhes imagem e compreensão.

A paisagem arquitectónica de uma biblioteca foi a inspiração visual usada por Peng Jian para a concepção da torre de livros que criou.

Hung Keung tem uma abordagem mais experimental e inovadora que procura materializar o poder dos livros para espalhar ideias. O artista local baseou-se nesta ideia para criar um conjunto de vídeos que exploram a natureza solitária da leitura e a aparente dicotomia psicológica com que o leitor se depara.

Monarca de Kowloon

Um dos destaques da exposição é Tsang Tsou Choi, o famoso artista de rua de Hong Kong, que tinha a reputação de desafiar a ordem social. Conhecido no mundo do grafitti como o Rei de Kowloon, Tsang aliava a arte urbana às ancestrais técnicas de caligrafia chinesa. Antes de morrer, há mais de 10 anos atrás, o artista desejou ter mais uma exposição.

Tsang Tsou Choi foi detido pela polícia de Hong Kong muitas vezes, na maioria das vezes saindo em liberdade com apenas um pequeno aviso e uma multa simbólica. Devido à sua notoriedade, e à fama de agitador, a família viria a deserdá-lo não sem antes levantar suspeitas acerca da sua sanidade mental. Além disso, a esposa deixou-o por não aguentar mais conviver com a obsessão artística do marido.

Esta mostra marca a sexta participação da Galerie Ora-Ora na Art Basel Hong Kong, que entra com duas outras exposições. “Leap to Light” é uma mostra colectiva que pretende demonstrar a força e a incerteza contida num salto.

A outra surpresa da galeria guardada para a Art Basel é a exposição a solo de Xiao Xu, patente ao público entre 26 de Março e 12 de Maio no espaço H Queen’s. Um dos mais proeminentes artistas contemporâneos chineses, Xiao Xu manobra a criatividade em espaços negros entre argumentos em esgrima, ou forças hostis que se confrontam. Desde cidades invertidas suspensas entre a gravidade e a ausência de peso, a brilhantes icebergs esculpidos em granito, o artista gosta de explorar o jogo de forças opostas nos seus trabalhos.

6 Fev 2018

Frankenstein continua a inspirar arte e ciência 200 anos depois

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o ano em que se assinala o 200.º aniversário da publicação do romance “Frankenstein”, a Biblioteca Nacional dedica-lhe uma exposição, a editora Guerra e Paz lança uma versão juvenil e os cientistas recordam a sua importância na ciência.

O “monstro” Frankenstein nasceu numa noite chuvosa do “ano sem verão” de 1816. O romance que o apresentaria ao mundo – o clássico “Frankenstein”, da escritora britânica Mary Shelley (1797-1851) – foi publicado pela primeira vez em Janeiro de 1818, e com ele nasceu o género “ficção científica”.

Mary Shelley cresceu num dos ambientes intelectuais mais avançados de Inglaterra, filha de William Godwin, filósofo e político revolucionário, defensor das ideias libertárias dos iluministas e dos ideais da Revolução Francesa, e de Mary Wollstonecraft, pioneira do feminismo moderno e autora do livro “Reivindicação dos Direitos da Mulher”.

No verão de 1816, com apenas 18 anos, Mary acompanhou o futuro marido, o poeta Percy Shelley, o médico e escritor John Polidori e o poeta Lorde Byron numas férias à Suíça, tendo ficado hospedados na Villa Diodati, perto do lago Genebra. Mas o mau tempo e a “chuva incessante” daquele que ficou conhecido como “o ano sem verão”, decorrente de uma grande erupção vulcânica na Indonésia, obrigou-os “a ficar muitas vezes fechados em casa”, escreveu a autora no prefácio da edição de 1831.

Nessas noites, “alguns volumes de histórias de fantasmas, traduzidas do alemão e francês, caíram-nos nas mãos”, contou a escritora, acrescentando que, para passar o tempo, Lorde Byron lançou-lhes um desafio, que foi aceite: “Cada um de nós vai escrever uma história de fantasmas”.

John Polidori escreveu o conto “O Vampiro”, que deu origem à personagem vampiro como hoje é conhecida, mas Mary Shelley sentia-se incapaz de escrever uma história que correspondesse ao que se propusera, “uma que falasse aos medos misteriosos da nossa natureza e despertasse horror arrepiante… uma que fizesse com que o leitor receasse olhar à sua volta, lhe gelasse o sangue e lhe acelerasse as batidas do coração”.

Durante as “muitas e longas conversas” entre Lorde Byron e Shelley, das quais Mary foi “uma devota mas praticamente silenciosa ouvinte”, foram abordados temas como o princípio da vida e a possibilidade de o descobrir, as experiências de Darwin, e experiências ocorridas em Londres sobre a influência da electricidade sobre o sistema nervoso (galvanismo), e a hipótese de assim se reanimar um cadáver.

Quando a noite já ia alta – era a madrugada de 16 de Junho -, foram para a cama, mas Mary não conseguiu dormir, com a imaginação a fluir e a dominá-la, até surgirem na sua cabeça, “com uma nitidez muito superior aos limites usuais dos sonhos”, as imagens que iriam compor a sua história. “Vi o pálido estudante de artes profanas ajoelhado ao lado da coisa que acabara de juntar. Vi o hediondo fantasma de um homem distender-se e, depois, graças a uma poderosa máquina, mostrar sinais de vida”, descreve a autora, que conta como acordou “aterrorizada” e como, assim, descobriu como iria aterrorizar os outros.

No romance – que inicialmente era para ser um conto, mas que foi ampliado por incentivo de Percy Shelley – Mary ficciona a história de um jovem cientista, Victor Frankenstein, que, determinado a entender o princípio da vida, desenvolve uma experiência com cadáveres para tentar criar uma bela criatura. O resultado, porém, é um monstro, renegado e abandonado pelo jovem cientista, que então se dedica a perseguir o seu criador até à morte.

A primeira edição do romance foi publicada anonimamente em Londres, em Janeiro de 1818, e tornou-se imediatamente um sucesso de vendas. O nome da autora surgiu cinco anos depois, numa segunda edição publicada em 1823, após o sucesso de uma peça de teatro baseada na história, e a edição popular da obra num só volume saiu em 1831.

Dois séculos depois da primeira publicação, “Frankenstein” continua a ser uma referência literária, que suscita dúvidas e reflexões, inspira artistas, e inquieta cientistas. Aquela que é tida como a primeira obra de ficção científica da história tem tido diversas adaptações ao cinema, ao teatro e à televisão, mas também literárias, como a versão juvenil publicada este mês pela Guerra e Paz, na colecção “os livros estão loucos”, adaptada por Raquel Palermo e João Lacerda Matos.

“Frankenstein” tem levantado também diversas questões científicas e filosóficas, relacionadas com a ética e os poderes e limites da ciência. O MIT publicou, no ano passado, uma edição de Frankenstein, que combina a versão original de 1818 do manuscrito com anotações e ensaios de especialistas que exploram os aspectos sociais e éticos da criatividade científica levantados por esta história.

A revista científica “The Lancet” assinalou, no dia 26 de Janeiro, a efeméride, recordando o artigo escrito, em 1828, pelo primeiro médico a realizar uma transfusão sanguínea, no qual refere a capacidade de imitar acções da natureza e alude à possibilidade de trazer “Frankenstein” para a realidade.

Já a revista “Science” lembrou as inspirações do romance de Shelley para a invenção do marcapasso electrónico, por Earl Bakken, e afirmou que, com o desenvolvimento dos transplantes, será cada vez mais fácil modificar seres humanos, alertando contudo para o risco de criar algo monstruoso.

A própria literatura científica está repleta de termos inspirados na história de Mary Shelley, tais como “alimentos Frankenstein”, “células Frankenstein” ou “leis de Frankenstein”, além de especialistas convictos da possibilidade de repetir a experiência enunciada no romance.

5 Fev 2018

Cinema | “La librería” vence melhor filme nos Prémios Goya

[dropcap dtyle≠’circle’]”L[/dropcap]a librería”, de Isabel Coixet, ganhou no sábado as estatuetas para melhor filme, melhor realização e melhor guião adaptado na 32.ª edição dos Prémios Goya, mas a película mais premiada foi “Handia” com dez distinções.

Javier Gutiérrez em “El autor” foi considerado o melhor ator principal e Nathalie Poza a melhor actriz principal pelo seu papel no filme “No sé decir adiós”.

O filme “La librería”, uma adaptação do romance de Penelope Fitzgerald, ganhou três dos 12 prémios para os quais estava nomeado.

À 32.ª edição dos Goya concorreram um total de 130 filmes: 79 de ficção, 48 documentários e três de animação.

Os Prémios Goya, ou prémios anuais da Academia espanhola, são os galardões entregues anualmente pela Academia de Artes e das Ciências Cinematográficas de Espanha para premiar os melhores profissionais de cada uma das especialidades deste sector.

O prémio consiste na entrega de um busto de Francisco de Goya, um importante pintor espanhol da fase do Romantismo, nascido em 1746 e falecido em 1828.

5 Fev 2018

Espectáculo | Bilhetes à venda para o bailado “Guerreiros de Ópera”

[dropcap]O[/dropcap] bailado dramático “Guerreiros da Ópera” sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Macau no dia 3 de Março, às 20h. Os bilhetes para o espectáculo, inserido na série “Feliz Ano Novo Lunar”, já se encontram à venda e custam entre 100 e 200 patacas.

O espectáculo, da autoria da célebre escritora de Hong Kong Lillian Lee, conta com a produção do Grupo de Teatro e Dança de Shanxi Huajin. O enredo envolve a história de vida de três actores de um grupo de ópera e sentimentos que se geram entre mentores e aprendizes, entre pais, filhos e irmãos. Com uma pesada carga dramática, o espectáculo centra-se nos sentimentos amorosos, ressentimentos, na virtude da perseverança, da diligência e da inovação, que estão no cerne da cultura chinesa.

Ainda no capítulo da ópera chinesa, o projecto de cooperação cultural do Grande Delta do Rio das Pérolas de 2018, oferece ao público das três regiões uma série de espectáculos ao abrigo do programa “Apresentação de Novas Estrelas da Ópera Cantonense de Guangdong, Hong Kong e Macau”. O projecto envolve a colaboração entre jovens estrelas em ascensão da ópera cantonense das três regiões. O resultado é a interpretação do espectáculo “A Lenda da Cobra Branca” sucessivamente em Guangdong, Hong Kong e Macau. A actuação em Macau terá lugar no dia 11 de Fevereiro, pelas 19h30, no Cinema Alegria.

Os bilhetes para encontram-se à venda desde ontem nas bilheteiras do Cinema Alegria e custam 30 patacas.

2 Fev 2018

Exposição | Michaël Borremans em Hong Kong até 10 de Março

O pintor belga Michaël Borremans estreia-se a solo em Hong Kong, numa exposição que marca a inauguração da galeria de David Zwiner na região vizinha. A exposição intitulada “Fire from the Sun” segue a linha sombria do artista europeu e estará patente no edifício H Queen’s, em Central, até 10 de Março

[dropcap]A[/dropcap] última década artística asiática foi marcada por um êxodo de galerias internacionais para Hong Kong, iniciada com a abertura em 2009 da Ben Brown Fine Arts e que se foi intensificando com a aquisição da Art HK Fair pela Art Basel em 2011.

Esta semana abriu uma nova galeria internacional de renome, a Galeria de David Zwiner, que ficará no H Queen’s, o espaço em Central dedicado às belas artes. A inauguração contará com a exposição de estreia em Hong Kong do pintor Michaël Borremans. A mostra, intitulada “Fire from the Sun”, é composta por trabalhos de larga e reduzida escala onde figuram bebés em poses de brincadeira, mas com uma atmosfera visual que invoca mistério, perigo e insinuações de violência.

As crianças são apresentadas sozinhas, ou em grupo, num ambiente semelhante a um estúdio que elimina tempo e espaço, mas que apela a uma atmosfera teatral e artificial que têm condimentado o trabalho do artista belga.

As peças presentes nesta mostra são reminiscentes dos querubins presentes na pintura renascentista e podem ser vistos como alegorias da condição humana onde os pólos da inocência e da perfídia se cruzam.

“Fire from the Sun” não vive só da representação de bebés. Existem outros quadros na mostra que retratam elementos de maquinaria pintada de forma sinistra. Estas peças fazem um contraste que parece acrescentar um elemento científico à exposição.

Centro artístico

Não é novidade que as grandes casas de venda de arte se fixam, historicamente onde existe dinheiro, em redor dos grandes centros financeiros. Porém, Hong Kong tem um defeito estrutural que complica a aliança entre finança e arte: o imobiliário. Além de ser uma cidade com uma das mais altas densidades populacionais do mundo, os tectos baixos, as assolhadas minúsculas e as rendas altíssimas foram um dos entraves endémicos que impediram galeristas internacionais de se fixarem em Hong Kong. Uma realidade que se tem alterado significativamente nos últimos anos, transformando a região vizinha num dos grandes centros artísticos internacionais da Ásia.

É neste contexto que acontece a estreia de Michaël Borremans nas galerias da Queen’s Road. O artista belga tornou-se conhecido mundialmente devido à mestria técnica e à forma como apresenta temas que desafiam a interpretação com fortes cargas de complexidade psicológica que não foram feitas para ser descodificadas.

Situado algures entre o classicismo e a contemporaneidade, o pintor belga é um dos grandes valores das artes plásticas do início deste século.

“Fire from the Sun” está patente na H Queen’s, em Central até 10 de Março, afigurando-se como uma excelente aperitivo para a Art Basel 2018.

2 Fev 2018

“Elektra” estreia hoje no São Carlos

[dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]lektra”, de Richard Strauss, que estreia hoje, em Lisboa, “é uma magnífica, forte e fabulosamente intensa ópera, que exige muito dos cantores e da orquestra”, disse à agência Lusa a encenadora Nicola Raab.

A produção do Teatro Nacional de S. Carlos (TNSC), protagonizada pela soprano alemã Nadja Michael, estreia-se na quinta-feira, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, no âmbito do ciclo “De Zeus a Varoufakis: A Grécia nos Destinos da Europa”.

A encenadora Nicola Raab, que pela quarta vez trabalha com o TNSC, realçou, em declarações à Lusa, o grau de exigência desta ópera para cantores e orquestra, pela “amplitude da partitura” e pela sua “intensidade e violência vocal e orquestral”, mas com “todos os condimentos para uma noite marcante”.

Nicola Raab afirmou que a sua opção para apresentar esta ópera foi “uma extrema concentração na protagonista, Elektra, à volta da qual, e da sua questão psicológica, se desenvolve todo o drama musical”.

A origem da tragédia

O cenário é a Grécia Antiga, a cidade de Micenas, no Peloponeso, onde a narrativa se desenvolve em torno do tema da vingança: a mãe de Elektra, Klytämnestra, assassina o marido, Agamenon, com a ajuda do amante, Aegisth, levando a que a personagem que dá nome à peça procure justiça, alcançada quando o irmão, Orestes, mata os dois.

Conhecendo já a ópera, cujo libreto de Hugo von Hofmannsthal se inspirou na tragédia de Sófocles, esta é a primeira vez que Nicola Raab encena “Elketra”.

O convite do São Carlos, revelou a encenadora, tinha apenas uma condição, “encontrar uma maneira de concentrar a ópera e não fazer o habitual”.

“E eu respondi que era óbvio, pois a concentração está toda [na personagem] Elketra, ela é o centro de todo, tudo roda à volta, presos à sua vontade”, disse.

Para a encenadora, esta “concentração” em torno da personagem Elektra “não é uma restrição, mas antes um sentido de liberdade”.

Em palco, o cenário é um quadrado dourado, e toda a ação dramática se passa naquele espaço concreto.

A ópera, de Richard Strauss (1864-1949), foi estreada em 1909, em Dresden, na Alemanha, e segundo o TNSC, “embora [o compositor alemão] já tenha atrás de si obras que sujeitam a linguagem tonal a abusos pontuais, em ‘Elektra’ atinge níveis de audácia harmónica, orquestral, vocal e dramatúrgica que chocaram, e ainda hoje chocam, a audiência”.

Se a ópera, aquando da sua estreia, se revelou inovadora do ponto de vista estético-musical, Nicola Raab afirmou que “a inovação hoje pode estar na forma em como se concentrou todo o drama, para criar uma extrema intensidade”.

“Eu vejo esta ópera como um todo, para uma noite marcante, sem me preocupar com o histórico da própria ópera”, acrescentou.

A ópera, sob a direção do maestro britânico Leo Hussain, sobe à cena na hoje, às 21h00, e novamente nos dias 04, às 16h00, e 07 de fevereiro, às 21h00.

Elenco de ouro

Além de Nadja Michael, do elenco fazem parte Allison Oakes, Lioba Braun, James Rutherford, Marco Alves dos Santos, Mário Redondo, Sónia Alcobaça, Rui Baeta, João Terleira, Patrícia Quinta, e ainda, Maria Luísa de Freitas, Cátia Moreso, Paula Dória, Carla Simões e Filipa van Eck.

A encenadora alemã defendeu a actualidade do espectáculo operático, algo que não passa por uma actualização do guarda-roupa ou a transposição para o contexto actual, mas sim “pelos sentimentos que são experimentados em palco e como nos identificamos com eles”.

“Podemos dizer, ao assistir a uma ópera, o que acontece a esta personagem, a sua situação, a sua vivência, ou a sua psicologia, são sempre actuais, pois aquelas personagens podemos ser nós”, disse.

Elektra, prosseguiu, “está traumatizada por qualquer coisa e não se pode mover, está presa a uma situação, e recusa-se a sair dessa situação, o que acontece a qualquer um de nós que tenha passado pelo que ela passou”.

Nicola Raab encenou, anteriormente, também nesta sala lisboeta, “A Flowering Tree”, de John Adams, na temporada de 2015-16. Raab disse à Lusa que gosta de trabalhar em Lisboa e o facto de ter encenado outras produções do TNSC, lhe dá uma “familiaridade” e um “gosto em voltar”.

Raab já apresentou também encenações suas no Festival de Salzburgo, na Áustria, e no de Aix-en-Provence, em França.

1 Fev 2018