Cinema | “Raposa” de Leonor Noivo conquistou duas menções no FID Marseille 2019

O mais recente filme de Leonor Noivo, “Raposa”, acaba de ser galardoado com duas menções especiais no 30º Festival de Cinema de Marselha. A realizadora, que cresceu em Macau, reconheceu ser “uma honra” receber este prémio que dá visibilidade à doença psiquiátrica

 

[dropcap]O[/dropcap] filme “Raposa”, realizado pela portuguesa Leonor Noivo, recebeu menções especiais em dois prémios da competição internacional do 30º Festival Internacional de Cinema Documentário de Marselha (FID Marseille), que se realizou entre 9 e 15 de Julho.

O anúncio foi feito na passada segunda-feira, no final da cerimónia onde o mais recente filme da realizadora estreou. “Para mim é uma honra, [receber] um reconhecimento num festival como este, que respeito muito” e pelo qual “tenho uma grande admiração”, explicou Leonor Noivo à Lusa.

Segundo a organização, este foi o único filme português na principal categoria de competição e recebeu menções especiais no Prémio Georges de Beauregard, que distingue produções documentais que testemunhem o seu próprio tempo, e no Prémio Marseille Esperance, para novos valores. O Grande Prémio do festival foi atribuído ao chileno Ignacio Agüero, com o filme “Nunca Subi El Provincia”.

“Raposa” aborda um dos aspectos das doenças psiquiátricas comportamentais e foi rodado ao longo de mais de dois anos, com a estreita colaboração da actriz Patrícia Guerreiro, que assina o argumento com Leonor Noivo, e uma “equipa pequena” cuja cinematografia ficou a cargo de Vasco Saltão.

A actriz e a realizadora estiveram presentes na cerimónia de prémios do FID Marseille, no passado dia 15. “Isto foi um processo e um filme que demorou algum tempo, e o resultado é também o processo em si. Íamos trocando cartas com a Patrícia e íamos construindo o filme”, acrescentou Leonor Noivo.

Este “olhar pessoal” sobre uma temática para a qual quer mais atenção, “através do interior, da forma mais honesta possível e longe do preconceito de outros trabalhos”, fez de Patrícia “uma grande companheira” da produção.

“Astuta e esbelta, perseguida e em fuga, ‘Raposa’ é a metáfora de uma obsessão sem fim – em cada respiração, cada gesto, cada pensamento. Marta procura no vazio do seu corpo uma maneira de chegar à sua essência interior, numa busca abstracta de um espírito livre que possa terminar na sua própria libertação”, pode ler-se na sinopse.

Depois da primeira apresentação mundial em Marselha, França, o filme vai continuar no circuito dos festivais, após uma recepção “muito acolhedora” da média-metragem que cruza documentário e ficção. “Raposa” estrará só em Outubro em Portugal, foi, entretanto, anunciado.

Realização à parte

Leonor Noivo, que passou a infância e a adolescência em Macau, estudou Arquitectura e Fotografia em Portugal, antes de ingressar na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde se especializou em edição e realização cinematográfica. É uma das criadoras da Terratreme Filmes, que assumiu a produção e distribuição desta obra, com uma duração total de 40 minutos.

A Terratreme Filmes foi criada em 2008 por João Matos, Luísa Homem, Pedro Pinho, Susana Nobre e Tiago Hespanha, além de Leonor Noivo. A produtora é responsável também pelo muito premiado filme “A Fábrica de Nada”, de 2017, que Pedro Pinho realizou, em colaboração com os restantes membros.

Desde 2008, a par da realização, Leonor Noivo tem desenvolvido trabalho como produtora na coordenação e acompanhamento de projectos de ficção e de documentário. O seu primeiro filme documental, “Macau Aparte”, data de 2001. Em 2005 estreou-se na ficção com “Salitre”.

“Tudo o que imagino”, o seu filme mais recente, de 2017, acompanha um grupo de amigos no bairro de Alcoitão (Cascais), no fim da adolescência.

“Antecâmara”, de Jorge Cramez, filme sobre o acto de filmar, também integrava a programação, em Historie(s) de Portrait, depois de ter passado em Outubro de 2018 pelo DocLisboa.

 

A Macau de Leonor

“Macau Aparte” (Aside Macau) é um documentário de 35 minutos, realizado por Leonor Noivo em 2001, sobre o pós-1999 e o fim da soberania da Administração Portuguesa no território, quando muitos portugueses regressaram a Portugal. O filme explora o papel que Macau teve nas suas vidas, os motivos que os fizeram deixar a cidade nessa altura, e as memórias sobre o tempo em que aqui viveram? “Macau Aparte” reflecte sobre esses sentimentos e recordações, utilizando filmagens pessoais e amadoras de diversas pessoas. A fita foi produzida pela Escola Superior de Teatro e Cinema, onde Leonor Noivo se formou em realização e montagem, tendo passado pelos Encontros Internacionais de Cinema Documental da Malaposta, em Portugal, e pelo 14º IDFA (International Documentary Film Festival Amsterdam), na Holanda, também em 2001.

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