Hoje Macau China / ÁsiaHimalaias | Pelo menos cinco mortos e 100 desaparecidos em inundação repentina Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 100 continuam desaparecidas num aluimento de terras provocado por chuvas torrenciais no estado indiano de Uttarakhand, nos Himalaias, anunciou ontem fonte da equipa de resgate. O desastre aconteceu cerca das 13:30 de terça-feira na aldeia de Dharali, no distrito de Uttarkashi, quando uma inundação repentina provocou uma grande queda de água das montanhas e devastou a aldeia, arrastando tudo à sua passagem, incluindo dezenas de pessoas. “Cerca de 150 pessoas foram levadas para um local seguro.” De acordo com as informações disponíveis, quatro pessoas foram encontradas mortas e mais de 100 estão desaparecidas. Ainda aguardamos a confirmação da administração local”, avançou o inspector-geral adjunto da Força de Resposta a Desastres (NDRF) indiana, Mohsen Shahedi, que enviou três equipas para a área afectada. Horas depois, a agência de notícias estatal Press Trust of India (PTI) noticiou a recuperação de um quinto corpo dos escombros em Dharali, enquanto os esforços de busca e salvamento continuam. Imagens divulgadas pelas autoridades e pelos meios de comunicação social mostram o rio Kheerganga a transbordar subitamente e a submergir completamente a área, agora coberta por lama espessa e detritos, dificultando a assistência das autoridades. O ministro-chefe de Uttarakhand, Pushkar Singh Dhami, chegou ao local do desastre esta manhã para coordenar a resposta no local. “Estão em curso grandes esforços de resgate, envolvendo mais de 160 polícias”, disse Dhami, acrescentando que já foram preparados pacotes de alimentos para distribuição e uma equipa médica foi mobilizada para tratar dos feridos. Dharali, um popular destino turístico de verão, permanece agora praticamente isolada depois de várias estradas de acesso terem sido destruídas ou bloqueadas por aluimentos de terra. Alerta vermelho As autoridades pediram aos residentes que se mantenham afastados dos rios devido ao risco de novas inundações. Este desastre acontece numa altura em que foi emitido um alerta vermelho pelo instituto meteorológico da Índia devido ao risco de chuvas “extremamente fortes” em várias zonas do estado nos próximos dias. Uttarakhand, uma região montanhosa e ecologicamente frágil, tem registado chuvas ininterruptas durante a actual estação das monções e numerosos aluimentos de terra e inundações. As chamadas “explosões de nuvens”, fenómenos extremamente localizados que provocam chuvas torrenciais em apenas alguns minutos, são especialmente perigosas em zonas como os Himalaias, onde o solo não consegue absorver a água.
Hoje Macau China / ÁsiaXangai | Entregas da ‘megafábrica’ da Tesla caem face a concorrência de marcas chinesas As entregas da megafábrica da Tesla em Xangai, leste da China, diminuíram em Julho, retomando a tendência negativa interrompida em Junho, na altura somando oito meses consecutivos de quedas devido à concorrência das marcas locais, informou a imprensa chinesa. De acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post, que se baseia em dados da associação patronal CPCA, a fábrica – a maior da Tesla no domínio da montagem a nível mundial – entregou cerca de 68.000 veículos a clientes na China e no estrangeiro no mês passado, o que representa uma queda de 5,2 por cento em relação a Junho e de 8,4 por cento, em termos homólogos. “Os modelos ‘premium’ estão a perder apelo entre os consumidores chineses porque eles querem poupar dinheiro. Estão a optar por modelos eléctricos mais baratos e desenvolvidos na China”, explicou Tian Maowei, gestor de vendas da Yiyou Auto Service, de Xangai. No acumulado do ano, incluindo vendas na China e exportações, a megafábrica estabelecida na megalópole oriental chinesa já entregou mais de 432.000 automóveis, uma queda de 13,7 por cento, em termos homólogos. O número contrasta com o aumento de 35 por cento das vendas de eléctricos na China, para cerca de 7,6 milhões de unidades, nos primeiros sete meses de 2025, de acordo com dados da CPCA. Estas duas tendências opostas fizeram com que a quota de mercado da Tesla no mercado chinês de veículos elétricos caísse de 6,9 por cento há um ano para 3,8 por cento. Em 2020, quando abriu a fábrica em Xangai, a quota da marca liderada por Elon Musk era de 16 por cento. Face à concorrência de empresas locais como a Xpeng, a Leapmotor ou a Li Auto e a uma guerra de preços no sector que levou até à intervenção do governo, a Tesla está a tentar recuperar terreno com novas versões mais espaçosas ou com maior autonomia dos seus veículos de maior sucesso, como o Model 3 ou o Model Y.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Pequim rejeita críticas por queda de destroços de foguetão A China rejeitou as críticas das Filipinas pela queda de destroços de um foguetão perto da ilha de Palawan, garantindo que os fragmentos caíram em águas internacionais previamente notificadas, segundo fontes citadas pelo jornal oficial Global Times. O lançamento decorreu “de acordo com o plano de missão” e as zonas de reentrada foram notificadas previamente aos países vizinhos “em conformidade com a prática internacional”, indicam as fontes citadas pelo jornal As mesmas fontes consideraram que as declarações de Manila revelam uma “postura pouco amigável” e um esforço deliberado para “prejudicar a imagem da China”. O foguetão Larga Marcha-12 foi lançado na segunda-feira a partir do centro espacial comercial situado na ilha chinesa de Hainan, com o objectivo de colocar em órbita um grupo de satélites de internet da empresa GALAXYSPACE. No mesmo dia, a Agência Espacial Filipina alertou para a possível queda de destroços não combustíveis em águas próximas de Palawan e recomendou à população que informasse as autoridades em caso de avistamento. Na terça-feira, o conselheiro de segurança nacional das Filipinas, Eduardo Año, classificou o lançamento como uma prova “irresponsável” que “alarmou a população” e “colocou em risco os habitantes” daquela ilha. A condenação do Conselho de Segurança filipino veio agravar a tensão entre Manila e Pequim, que disputam a soberania de diversos territórios no Mar do Sul da China.
Hoje Macau China / ÁsiaChikungunya | Mais medidas de combate após milhares de infecções na China O combate contra a febre de chikungunya na China intensifica-se com as autoridades a recorrerem a todas as armas para conter o surto que já conta com 7.000 casos, a maioria em Foshan Um surto do vírus chikungunya na China levou as autoridades a implementar medidas preventivas rigorosas, incluindo uso de redes mosquiteiras, ‘drones’ e desinfectante, com ameaças de multas e cortes de electricidade para quem não eliminar águas paradas. Mais de 7.000 casos foram reportados até ontem, concentrados sobretudo na cidade industrial de Foshan. As autoridades indicaram uma tendência de ligeira redução nos novos contágios. Transmitido por mosquitos, o chikungunya provoca febre e dores articulares, com sintomas semelhantes aos da dengue, afectando com maior gravidade crianças, idosos e pessoas com doenças pré-existentes. A televisão estatal chinesa exibiu imagens de equipas a pulverizar desinfectante em ruas, zonas residenciais, estaleiros de construção e outros locais onde os mosquitos transmissores se possam reproduzir em águas estagnadas. Em alguns edifícios de escritórios, a pulverização foi feita antes da entrada de funcionários, numa abordagem reminiscentes das tácticas restritivas aplicadas durante a pandemia de covid-19. As autoridades locais ameaçam aplicar multas até 10.000 yuan e cortes de eletricidade a residentes que não eliminem recipientes exteriores com água, como garrafas ou vasos. Os Estados Unidos emitiram um aviso desaconselhando viagens à província chinesa de Guangdong – onde se situam Foshan, Dongguan e outros polos industriais –, bem como a países como Bolívia, Brasil e nações insulares do oceano Índico, também afectados pelo vírus. Não está fácil Chuvas intensas e temperaturas elevadas agravaram a situação na China, onde o chikungunya, comum em zonas tropicais, surgiu este ano com força invulgar. Desde o surto de SARS em 2003, a China tem recorrido a medidas coercivas consideradas excessivas por muitos países. Em Foshan, os infectados são obrigados a permanecer no hospital durante pelo menos uma semana. As autoridades chegaram a impor quarentenas domiciliárias de duas semanas, entretanto suspensas por o vírus não se transmitir entre humanos. Segundo relatos, têm sido usados peixes que se alimentam de larvas e até mosquitos maiores para caçar os vectores do vírus. Foram realizadas reuniões e definidos protocolos a nível nacional, numa demonstração da determinação chinesa em conter o surto e evitar críticas internas e internacionais.
Hoje Macau Via do MeioMemórias de um espelho antigo ou o espelho que prende demónios De Wang Du. Tradução de Miguel Lenoir O que é um espelho? Qual o seu poder, além de reflectir imagens? A literatura chinesa mostrou-se desde sempre fascinada com os espelhos e deles extraiu magníficos pedaços de prosa, além de reconhecidos versos. Hoje apresentamos um famoso conto de Wang Du (王度), que foi um académico e escritor da era Tang, conhecido pelas suas contribuições para a literatura clássica chinesa. Ele é particularmente associado ao género chuanqi (传奇), uma forma de ficção clássica chinesa (relatos do extraordinário) que floresceu durante a dinastia Tang. A obra de Wang Du é importante pela sua influência na literatura chinesa posterior e pelo seu papel no desenvolvimento da ficção clássica chinesa. DURANTE A DINASTIA SUI, havia um tal de Hou Sheng em Fenyin que era um grande académico. Wang Du tratava-o frequentemente com a mesma cortesia que se deve a um professor. Quando Hou Sheng estava a morrer, deu a Wang Du um espelho antigo e disse: “Com ele, todos os tipos de espíritos malignos ficarão longe”. Wang Du aceitou o espelho e guardou-o com muito carinho. O espelho tinha oito polegadas de diâmetro e a parte central convexa, na parte de trás do espelho, fora feita para parecer um unicórnio agachado. À sua volta, está dividido em quatro direcções: este, sul, oeste e norte, com tartarugas, dragões, fénixes e tigres distribuídos por ordem. Fora das quatro direcções estão os Bagua e, para além dos Bagua, estão as posições das doze horas de Zi a Hai, cada uma com animais que representam as horas. Para além das “horas e dos animais”, há vinte e quatro caracteres à volta do espelho. A caligrafia parece escrita oficial e os pontilhados estão completos, mas não se encontram em nenhum dicionário. Quando o sol brilha sobre ele, a caligrafia e a pintura do verso do espelho penetram na sombra, e até os mais pequenos pormenores podem ser vistos com clareza. Se pegarmos nele e lhe batermos, o som será cada vez mais nítido e prolongar-se-á por um dia inteiro. Em Maio do sétimo ano de Daye, Wang Du demitiu-se do seu cargo de censor e regressou a Hedong. Quando Hou Sheng faleceu, ele ficou com o espelho antigo. Em Junho do mesmo ano, Wang Du regressou a Chang’an e ficou em casa do anfitrião Cheng Xiong, em Changlepo. Cheng Xiong tinha recentemente contratado uma criada, muito direita e bonita, chamada Arara. Depois de Wang Du se ter instalado, estando a arrumar a sua roupa, pegou no espelho para se mirar. Quando Arara o viu à distância, ajoelhou-se imediatamente até sangrar e disse: “Não me atrevo a viver mais aqui!” Wang Du foi então procurar o seu mestre e perguntou-lhe porquê. Cheng Xiong disse: “Há dois meses, um convidado veio do leste com esta serva. Nessa altura, a criada estava muito doente, por isso o hóspede deixou-a aqui e disse: ‘Eu levo-a quando voltar’. Ela ainda não regressou. Não sei porque é que a criada está assim”. Wang Du suspeitou que ela era um demónio, por isso pegou num espelho e perguntou-lhe. Ela disse: “Poupa a tua vida! Vou mostrar-te quem sou e o que sou imediatamente”. Wang Du tapou o espelho e disse: “Primeiro explica a tua situação, depois mostra quem verdadeiramente és e eu poupo-te a vida.” A criada curvou-se algumas vezes e contou a sua história: “Eu era originalmente uma raposa de mil anos que vivia debaixo do grande pinheiro, em frente ao Templo Fujun, na montanha Hua. Mudava frequentemente de corpo para confundir os outros e por isso talvez merecesse a morte. Quando fui perseguida pelos Fujun, fugi para entre o rio Amarelo e o rio Weishui, onde me tornei afilhada de Chen Sigong. A família Chen tratou-me muito bem e casou-me com Chai Hua, um homem da sua terra. Mas eu e Chai Hua não nos dávamos bem, pelo que fugi novamente para leste e passei pelo condado de Hancheng, onde fui apanhada por Li Wu Ao, que por ali passava. Wu Ao era um homem rude e tem andado por aí comigo como refém há vários anos. Segui-o até aqui há pouco tempo e aqui me deixou à pressa. É que, inesperadamente, ele encontrara um espelho celestial, e não havia maneira de escapar mesmo que me tornasse invisível.” Wang Du disse-lhe novamente: “Tu és uma raposa velha. Se te transformasses num ser humano, não seria prejudicial para os outros?” A criada respondeu: “Não é prejudicial mudar de forma para servir os outros; só quando se muda de imagem para escapar à supervisão do rei e para enganar as pessoas. Aqueles que são odiados pelos deuses têm de morrer naturalmente”. Wang Du disse novamente: “E se eu te deixasse viver?” Arara disse: “Já que gostas tanto de mim, como me atrevo a esquecer a tua bondade? Mas estou reflectida no espelho celestial. Não posso escapar. Sou humana há muito tempo e tenho vergonha de voltar à minha forma original. Por favor, põe o espelho de volta na caixa e deixa-me beber à vontade e morrer!” Wang Du disse: “Se puser o espelho de volta na caixa, não vais fugir?” Arara sorriu e disse: “Ainda agora me disseste palavras simpáticas e prometeste deixar-me viver. Fugir depois de teres escondido o espelho? Não posso. Como fui apanhada pelo espelho celestial, não tenho forma de escapar. Só espero que eu possa aproveitar as coisas boas da vida nos momentos que me restam!” Wang Du voltou imediatamente a guardar o espelho na caixa, encomendou vinho e comida e convidou todos os vizinhos da família de Cheng Xiong para com ela beberem e rirem. A criada ficou muito bêbeda, abanou as roupas, dançou e cantou: “Espelho precioso, espelho precioso! Que triste destino o meu! Desde que me transformei em ser humano, Quantos apelidos já mudei até agora? Embora a vida possa trazer alegria, Não ficarei triste mesmo se morrer. Por que deveria eu estar relutante em deixar-te? Fica neste mundo conturbado!” Depois de cantar e fazer algumas vénias, transformou-se numa velha raposa e morreu. Todos os presentes suspiraram de espanto.
Hoje Macau SociedadePJ | Três detidos por burlas com cartões de crédito A Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de três pessoas devido ao roubo de dados de cartões de pagamentos bancários, que depois foram utilizados para fazer compras online. No total, as autoridades estimam que a rede criminosa fez compras e pagamentos indevidos no valor de 1,18 milhões de patacas. Segundo os contornos do caso, em Maio, Setembro e Outubro do ano passado a PJ recebeu relatórios de dois bancos sobre a existências de transacções suspeitas em Macau com recurso a dados de cartões emitidos no estrangeiro. No total foram realizadas 2.611 transacções que resultaram numa movimentação de 3,5 milhões de patacas. As transacções envolviam pagamentos online ou utilização de terminais para compras com cartão de crédito. Entre estas, 771 transacções, que representaram 1,18 milhões de patacas são contestadas pelos bancos como ilegítimas e sem autorização dos proprietários dos cartões. As transacções foram feitas em lojas de comércio local. No entanto, a investigação da polícia concluiu que os montantes transaccionados durante as datas em questão não fazem sentido à luz do volume normal de comércio dos negócios investigados. Também se concluiu que o montante das vendas não é consistente com o tipo de produtos disponibilizados. Os cartões cujos dados foram utilizados foram emitidos nos Estados Unidos, Bielorrússia, França, Indonésia, África do Sul, Médio Oriente e Taiwan. Os detidos são três residentes de Macau, entre eles um homem com 39 anos, que é proprietário de um stand de venda de automóveis. Também foi detido um outro homem com 34 anos, empregado por conta própria, e uma mulher com 38 anos, vendedora de produtos de beleza.
Hoje Macau SociedadeDST | Mais de 10 milhões de seguidores nas 28 contas No mês passado, as 28 contas oficiais da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) superaram 10 milhões de seguidores em várias redes sociais. Segundo um comunicado divulgado ontem pelo organismo liderado por Helena de Senna Fernandes, a estratégia promocional nas redes sociais tem transmitido a “visitantes de todo o mundo, de forma inovadora e interactiva, as últimas informações turísticas, festividades, eventos e experiências típicas de Macau”. Tendo em conta os hábitos de internet dos diferentes mercados emissores de visitantes, a DST abriu contas em redes sociais como o Twitter, Facebook, YouTube, Instagram, Tiktok, Kakao Talk, Line, Wechat, Weibo, Red Note, Douyin (o TikTok chinês), consoante a região ou país. A DST apostou também no convite a influenciadores digitais do Interior da China e de Hong Kong para divulgarem Macau nas suas plataformas através de transmissões em directo, imagens ou vídeos curtos. O investimento em promoções por influenciadores digitais, aliado às campanhas de marcas de brinquedos, como Pop Mart, tem como foco atrair visitantes da geração Z. Recentemente, a conta da DST no Tiktok lançou uma série de dramas curtos em indonésio, filmada em Macau e direccionada ao público jovem, que acumulou cerca de 100 milhões de visualizações.
Hoje Macau PolíticaErro médico | Leong Sun Iok sugere revisão da legislação O deputado Leong Sun Iok defende, num vídeo divulgado nas redes sociais, que a legislação sobre o erro médico deve ser revista tendo em conta os valores cobrados no seguro obrigatório previsto no regime. Para o deputado, os valores não são razoáveis e o regime precisa de ser revisto, tendo em conta que entrou em vigor há oito anos. O deputado referiu ter recebido queixas de médicos e responsáveis de clínicas privadas, motivo pelo qual sentiu a necessidade de intervir. Os queixosos terão dito que diariamente tratam doenças simples que não envolvem operações ou actos médicos de alto risco, e que o seguro obrigatório constitui uma carga pesada. Leong Sun Iok explicou que o preço do seguro é quase igual para todos os médicos que apenas podem adquirir seguros em Macau num mercado monopolista. Por esta razão, o deputado cita opiniões da classe médica de que deveria ser permitido comprar seguros à sua escolha, existindo a possibilidade de reduzir o valor da prestação tendo em conta o número de atendimentos e compensações associadas. Segundo o deputado, o sector deseja também a abertura de um sistema de seguro de responsabilidade civil que abranja as cidades que fazem parte da Grande Baía como alternativa, pedindo que o Governo de Macau crie um fundo destinado a esse novo seguro e esquemas de compensação para apoiar o sector médico.
Hoje Macau China / ÁsiaHiroshima assinala 80 anos da bomba atómica num contexto de conflitos O Japão vai assinalar na quarta-feira os 80 anos do lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima num contexto de apelos ao abandono das armas nucleares e das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente. Em 06 de agosto de 1945, às 08:15, os Estados Unidos lançaram uma bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima, matando cerca de 140.000 pessoas. Três dias depois, uma bomba idêntica atingiu Nagasaki e matou mais 74.000 pessoas, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). Os dois ataques, que precipitaram o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), são os únicos casos na História em que foram utilizadas armas nucleares em tempo de guerra. Representantes de 120 países e regiões, bem como da União Europeia, deverão assistir à cerimónia em Hiroshima amanhã, um número recorde, de acordo com as autoridades da cidade do sudoeste do Japão. Os principais Estados com armas nucleares, como a Rússia, a China e o Paquistão, não estarão presentes, enquanto o Irão, acusado de tentar adquirir a bomba, estará representado. Contrariamente à prática habitual, o Japão disse que não escolheu os convidados para a cerimónia, mas que notificou todos os países e regiões do evento. “A existência de líderes [políticos] que querem reforçar o poder militar para resolver conflitos, incluindo a posse de armas atómicas, torna difícil o estabelecimento da paz mundial”, afirmou na semana passada o presidente da câmara de Hiroshima, Kazumi Matsui, referindo-se às guerras na Ucrânia e no Médio Oriente. Matsui convidou no mês passado o Presidente dos Estados Unidos a visitar Hiroshima, quando Donald Trump comparou os recentes ataques aéreos contra o Irão aos bombardeamentos atómicos de 1945. “Parece-me que ele [Trump] não compreende bem a realidade dos bombardeamentos atómicos, que, se utilizados, custam a vida a muitos cidadãos inocentes, amigos ou inimigos, e ameaçam a sobrevivência da humanidade”, afirmou na altura. A guerra continua Hiroshima é actualmente uma metrópole próspera com 1,2 milhões de habitantes, mas as ruínas de um edifício encimado pelo esqueleto metálico de uma cúpula permanecem no centro da cidade como uma recordação do horror do ataque. “É importante que muitas pessoas se reúnam nesta cidade atingida pela bomba atómica, porque as guerras continuam” no mundo, disse Toshiyuki Mimaki, copresidente da organização Nihon Hidankyo, formada por sobreviventes da bomba e vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2024. A Nihon Hidankyo quer que os governos tomem medidas para eliminar as armas nucleares, com base nos testemunhos dos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, conhecidos como ‘hibakusha’. “Quero que os representantes estrangeiros visitem o Museu Memorial da Paz e compreendam o que aconteceu” sob a nuvem atómica em forma de cogumelo, disse Mimaki. “Acredito que a tendência global para um mundo sem armas nucleares vai continuar. A geração mais jovem está a trabalhar arduamente para o conseguir”, disse Kunihiko Sakuma, de 80 anos, que tinha 9 meses de idade em 1945 e estava a três quilómetros do ponto de impacto. Sakuma, que deverá encontrar-se com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, depois da cerimónia, tenciona apelar a Tóquio para que adira ao tratado da ONU sobre a proibição de armas nucleares, assinado em 2017. Tóquio recusou-se a assinar o tratado, alegando que o objectivo é inatingível sem a ajuda dos Estados com armas nucleares.
Hoje Macau EventosDirks Theatre | Teatro não verbal com ligações a Saramago Chama-se “Echoes in Dreams” (Exiling Thoughts Edition) e é a nova peça de teatro não verbal da companhia local Dirks Theatre. Agendado para Setembro, este espectáculo mistura as composições do argentino José Luís Merlin, com performances corporais inspiradas na psicologia e no conto “O Centauro”, de José Saramago A companhia teatral de Macau Dirks Theatre apresenta, entre os dias 19 e 21 de Setembro, o espectáculo “Echoes in Dreams” (Exiling Thoughts Edition), que constitui uma performance em que corpos deambulam ao som da guitarra clássica, com sonoridades do argentino José Luís Merlin, e expressões de teatro não verbal. A peça apresenta-se na zona norte da península, nomeadamente no espaço “Hiukok Laboratory, no número 408 da Rua dos Pescadores, mais concretamente no edifício industrial Nam Fong. Segundo informações disponibilizadas pela companhia, mistura uma “guitarra clássica, seis cordas, e três almas e corpos”, sendo um espectáculo que “levará o público a observar o comportamento humano a partir de uma perspectiva na terceira pessoa, mergulhando em temas como o conflito físico-mental e o subconsciente, explorando a própria compreensão de ‘identidade'”. Nesta peça não faltam também influências da literatura portuguesa, nomeadamente do Nobel da Literatura José Saramago, com o conto “O Centauro”. Trata-se de um texto que começa desta forma: “O cavalo parou. Os cascos sem ferraduras firmaram-se nas pedras redondas e resvaladiças que cobriam o fundo quase seco do rio. O homem afastou com as mãos, cautelosamente, os ramos espinhosos que lhe tapavam a visão para o lado da planície. Amanhecia já.” “O Centauro, uma criatura pré-histórica imortal, metade homem, metade cavalo, sente culpa pelo facto de a sua raça ter sido aniquilada pelos humanos enquanto ele nada pôde fazer para o impedir. Esta criatura híbrida tem vagueado pelo mundo desde então, transformando-se numa figura nocturna apenas para se manter afastado de toda a espécie humana. O ‘lar’ tornou-se algo tão distante que agora só existe dentro de si. Nem sequer se vê capaz de lá voltar, nem que seja uma última vez. À medida que vê outras espécies antigas desaparecerem gradualmente à sua volta, lida com um conflito interno profundo, dividido entre ser ‘homem’ e ‘cavalo'”, descreve a companhia sobre o espectáculo. Jung marca presença Além da referência a Saramago, “Echoes in Dreams” vai também buscar inspiração à psicologia, nomeadamente à obra “Memórias, Sonhos, Reflexões” do psicólogo suíço Carl Gustav Jung. Em palco, o guitarrista de Macau Bruce Chi Man Pun interpreta as composições de José Luís Merlin, ao mesmo tempo que o actor Ka Man Ip e a bailarina Chloe Wong “apresentam uma performance visual e emocionalmente evocativa”. “Echoes in Dreams” é sobre conceitos como “nostalgia”, “contraste”, “exílio” e “felicidade”, narrando-se o mundo interior de “alguém que vive numa certa cidade”. Faz-se também, na peça, uma reflexão sobre os temas de “exílio” e “pertença” no contexto global contemporâneo. Os bilhetes estão à venda na plataforma DART Ticketing e custam 240 patacas, com descontos para quem comprar o ingresso antecipadamente e também para estudantes e reformados. “Echoes in Dreams” já subiu aos palcos uma vez, com outro formato. Segundo a companhia, o que o público irá ver em Setembro trata-se de uma “pequena retrospectiva da primeira corrida de ‘Echoes in Dreams'”. “Não será igual ao que fizemos em 2023. O mundo mudou e todos nós nos movemos. Vamos dançar uma vez mais”, é referido.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Proibido apoio financeiro a 16 activistas estrangeiros Dezasseis activistas de Hong Kong, residentes no estrangeiro, foram ontem alvo de sanções de autoridades de Hong Kong, incluindo o cancelamento de passaportes e a proibição de acesso a apoio financeiro, por suspeita de ameaça à segurança nacional. Os activistas ontem visados fazem parte de um grupo de 19 pessoas, alvo de mandados de captura em Julho, noticiou a agência de notícias Associated Press. O secretário de segurança de Hong Kong, na China, Chris Tang, proibiu o fornecimento de fundos ou recursos económicos aos 16 activistas, incluindo Victor Ho, Keung Ka-wai, o aluno australiano Chongyi Feng e o cidadão norte-americano Gong Sasha, de acordo com o comunicado do governo de Hong Kong. Os documentos de viagem foram cancelados a 12 dos 16 titulares de passaportes de Hong Kong. O governo de Hong Kong proibiu também o acesso ao arrendamento aos 16 indiciados, assim como à actividade comercial ou empresarial, sublinhando que qualquer violação às ordens fica sujeita a uma pena de até sete anos de prisão. Os 16 activistas estão fora de Hong Kong, e são acusados de continuarem envolvidos em actividades que põem em risco a segurança nacional. A acusação abrange ainda incitamento ao ódio contra Pequim e Hong Kong, sob a alegação de difamação e calúnia. As medidas agora adoptadas, segundo o comunicado das autoridades de Hong Kong, foram tomadas “para causar um impacto significativo”.
Hoje Macau China / ÁsiaChina exige maior controlo das tecnológicas no treino de modelos com algoritmos de IA As autoridades chinesas alertaram ontem para os riscos associados à chamada “contaminação de dados” em sistemas de inteligência artificial (IA) e instaram as empresas tecnológicas a reforçarem o controlo da informação utilizada no treino dos seus modelos. Num comunicado publicado na rede social WeChat, o Ministério da Segurança do Estado advertiu que a proliferação de textos, imagens e vídeos gerados por IA está a aumentar a probabilidade de conteúdos “falsificados, enviesados ou repetitivos” integrarem novos conjuntos de dados de treino, o que pode resultar em erros de julgamento, “decisões automáticas equivocadas” ou “manipulação da opinião pública”. As autoridades citam estudos segundo os quais bastaria que uma em cada 10.000 amostras fosse falsa para que o número de respostas prejudiciais de um modelo aumentasse de forma sensível. Este “efeito em cascata”, em que conteúdos gerados artificialmente alimentam novos sistemas, é motivo de preocupação para sectores sensíveis como a saúde, as finanças ou a segurança pública, onde decisões baseadas em dados imprecisos teriam impacto directo sobre a população. Para mitigar estes riscos, o ministério recordou que está em vigor, desde Janeiro, um regulamento que obriga as plataformas de IA generativa a realizarem auditorias de segurança, a identificar claramente os conteúdos produzidos por inteligência artificial e a eliminar periodicamente dados que violem as normas em vigor. O organismo já tinha alertado, em Julho, que o uso da IA pode representar uma ameaça à “estabilidade social”, à protecção de dados sensíveis e à segurança nacional, caso a tecnologia caia nas mãos de “forças hostis à China”. Desconfiança geral Desde 2023, os serviços de IA no país estão obrigados a seguir os “valores socialistas fundamentais” e proibidos de “gerar conteúdos que atentem contra a segurança nacional, a unidade territorial e a estabilidade social”. Apesar do lançamento de ‘chatbots’ por grandes grupos tecnológicos chineses como Alibaba, DeepSeek, Tencent ou ByteDance, persistem dúvidas sobre o desenvolvimento da IA. Desde 2023, o Ministério da Segurança do Estado publica regularmente na sua conta oficial na WeChat casos de alegada espionagem e recomenda à população que desconfie de ofertas de trabalho ou pedidos de informação oriundos do estrangeiro. Paralelamente, o ministério apela a uma “mobilização de toda a sociedade” para “prevenir e combater a espionagem” e “reforçar a defesa nacional”, alertando para os riscos do envio de dados sensíveis através da internet.
Hoje Macau China / ÁsiaTarifas | Pequim abre mercado a café brasileiro em resposta a taxas dos EUA A guerra das tarifas imposta pela administração norte-americana continua a levar à adopção de contra medidas. Face à imposição de tarifas de 50% ao Brasil por motivos políticos, a China abre as portas ao café brasileiro A China autorizou 183 empresas brasileiras a exportar café para o seu mercado interno, avançou ontem a imprensa local, dias após os Estados Unidos imporem tarifas de 50 por cento sobre o café proveniente do Brasil. A medida, válida por cinco anos, foi divulgada poucos dias depois do anúncio da nova tarifa norte-americana, que entra em vigor amanhã, e provocou alarme entre produtores e exportadores brasileiros, agora forçados a procurar mercados alternativos. Segundo dados da indústria, cerca de 85 por cento da produção brasileira de arábica em 2025 – a variedade mais exportada para os EUA – já foi colhida. Este tipo de café desempenha um papel central no mercado norte-americano, onde é frequentemente misturado com grãos mais suaves de outros produtores latino-americanos para se adequar ao gosto local. O Brasil é responsável por 44 por cento da produção mundial de arábica, o que faz do país um fornecedor difícil de substituir a curto prazo. Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de café e importaram 3,3 milhões de sacas de café brasileiro no primeiro semestre do ano, quase 23 por cento do total exportado pelo Brasil nesse período. Já a China importou 530 mil sacas no mesmo intervalo. Embora o mercado chinês seja ainda menor, tem vindo a ganhar importância à medida que o acesso brasileiro ao mercado norte-americano enfrenta novas barreiras. Em Novembro passado, a ApexBrasil, a agência brasileira de promoção de exportações, assinou um acordo com a Luckin Coffee, maior cadeia de cafetarias da China, para o fornecimento de 240 mil toneladas de café brasileiro entre 2025 e 2029. O contrato está avaliado em 2,5 mil milhões de dólares e sucede a um acordo anterior, de meados de 2024, no valor de 500 milhões de dólares, para o fornecimento de 120 mil toneladas. Em crescimento Fundada em 2017, a Luckin Coffee opera actualmente mais de 22 mil lojas em todo o território chinês e serve mais de 300 milhões de clientes. Embora o chá continue a ser a bebida tradicional dominante, o consumo de café tem vindo a crescer rapidamente no país asiático, sobretudo entre os jovens profissionais urbanos. O consumo ‘per capita’ duplicou em cinco anos, passando de oito para 16 chávenas por ano – ainda muito abaixo da média global de 240 chávenas e das mais de 400 registadas nos EUA. Na altura do acordo, o director executivo da Luckin Coffee, Jinyi Guo, elogiou o café brasileiro e descreveu o contrato como “apenas o início” de uma colaboração a longo prazo. “No futuro, queremos expandir ainda mais esta parceria”, disse. Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de nove mil milhões de dólares, em 2004, para 188 mil milhões, em 2024. O Brasil desempenha, em particular, um papel importante na segurança alimentar da China, compondo mais de 20 por cento das importações agrícolas e pecuárias do país asiático. A segunda maior economia mundial alimenta quase 19 por cento da humanidade com apenas 8,5 por cento das terras aráveis do planeta. Em comparação, o país latino-americano tem quase 7 por cento das terras aráveis para 2,7 por cento da população mundial.
Hoje Macau Via do MeioO escravo Kunlun Lembrai-vos: os aposentos das mulheres são bem guardados; e terríveis as ordens do rei. — Se isso te impede, mortal tímido, Indra saberá introduzir-te no gineceu. Stéphane Mallarmé, “Nala e Damaiantî”, Contos Indianos. A visita ao Príncipe Durante a Era da Grande-Passagem, a terceira estabelecida pelo Imperador Daizong, um dos magistrados mantinha relações de amizade com o mais ilustre dos servidores do Estado daquele tempo, um Príncipe que ocupava o cargo de Ministro Emérito de Primeira Patente. Este homem de guerra, entre outros feitos, era celebrado por ter reconquistado duas cidades caídas às mãos dos rebeldes capitaneados por An Lushan. O magistrado, que admirava o Príncipe, tinha um filho, um mancebo de nome Gui, acabado de nomear oficial na Guarda Imperial das Lâminas Cortantes, ala que recrutava jovens da alta aristocracia. Um dia o pai enviou-o a casa do prestigiado ministro, com o intuito de indagar sobre o seu estado de saúde; e talvez também com a esperança de dar a conhecer o talento do filho ao ilustre amigo. Gui era um belo moço, de rosto puro como o jade, de modos calmos mas decididos, cujo discurso claro e elegante secundava uma natural simpatia e segurança. Recebido pelo Ministro, este ordenou a uma das suas cantoras que levantasse os estores, e fê-lo entrar nos seus aposentos. O jovem saudou-o com respeitosa vénia, e transmitiu a mensagem do pai. Muito agradado pela presença do visitante, o ilustre Príncipe fê-lo sentar, e logo iniciaram uma interessante conversa. Uma taça de pêssegos e um enigma Em frente deles, três favoritas de grande beleza, em volta de uma minúscula mesa, dedicavam-se com extremo cuidado a cortar pêssegos vermelhos em finas fatias, deitá-las em taças de ouro, e regá-las com creme. O ministro ordenou então a uma delas, a que vestia de musselina vermelha, que apresentasse uma das taças ao hóspede. Gui, tão jovem que não sabia como se comportar diante das belas cortesãs, corou embaraçado, não ousando começar a comer. Notando isso, o ministro disse à jovem vestida de vermelho que o servisse com a colher, o que ela fez de imediato, enquanto o olhava com um sorriso malicioso. Até que chegou o momento de Gui se retirar. Na despedida, ao saudar o ministro, este disse-lhe: “meu jovem amigo, vem visitar-me sempre que tenhas tempo livre; não faças cerimónia com esta idosa pessoa.” E com um gesto, ordenou à favorita de vermelho que o acompanhasse até à saída do pátio. No portal, quando Gui se virou para se despedir, viu que ela levantava três dedos, e depois virava três vezes a palma da mão. Em seguida, tirando do corpete um pequeno espelho redondo, mostrou-lho, repetindo: “ Repara bem! Repara bem!” E logo se retirou para o interior da mansão, sem dizer nem mais uma palavra. De regresso a casa, o moço contou ao pai como se passara a visita, repetiu os cumprimentos do ministro, e recolheu ao seu gabinete de estudo. Aí se manteve perdido em sonhos, sem dar pelo tempo passar, de espírito ausente, num vazio na alma. Ninguém em casa compreendia o que se passara para ele ter mudado assim. Sem pensar em comer, não fazia mais nada a não ser cantarolar o seguinte poema: No Monte dos Imortais vi uma deusa sorrindo com o olhar, estrela cintilante A lua deslizando pelo portal vermelho a beleza de neve iluminava tristemente Durante a dinastia Tang, não raramente famílias abastadas tinham servos oriundos dos Mares do Sul, vulgarmente chamados Escravos Kunlun, em referência aos montes desse nome. Também em casa do pai de Gui havia um escravo Kunlun, de nome Mole, muito devotado ao seu jovem senhor. Nesta ocasião, fitando-o, perguntou: “que tendes no coração que justifique esse ar desalentado? Porque não confias no teu fiel servo?” Ao que Gui respondeu: “Que sabem vocês, para não pararem de me questionar sobre um assunto que diz respeito apenas à intimidade do meu coração? ” “Quero saber. Tenho fé que conseguirei encontrar uma solução”, retorquiu o servo. Instigado pela inabalável confiança com que o outro argumentava, o jovem oficial contou-lhe o sucedido em casa do ministro, ao despedir-se da bela cortesã vestida de cassa vermelha. “Só isso? ” comentou Mole “nada de mais! Porque não me contastes logo, em vez de ficar a remorder inquietações?” E de imediato Mole desvendou o mistério da linguagem gestual: “qual a dificuldade de entender a mensagem da bela? Se levantou três dedos, é porque na residência do ministro moram dez cortesãs, cada uma em seu pátio, e ela habita na moradia número três. Virar a palma da mão para cima três vezes, indica quinze dedos, o que aponta para o número quinze, obviamente. Quando ao pequeno espelho redondo que ela mostrou, significa que na noite de quinze, a lua será redonda como aquele espelho.” Feliz por ver enfim desvendado o mistério dos enigmáticos sinais, Gui perguntou a Mole como poderiam fazer para corresponder ao pedido da jovem. Mole explicou, rindo: “a noite de quinze é amanhã. Preciso de dois cortes de seda azul-escuro, para vos mandar fazer um fato justo. Como na mansão do ministro um cão feroz guarda a entrada do pátio das cantoras, nenhum desconhecido consegue passar. A besta não hesitaria em devorá-lo pois é vigilante como Argos e feroz como um tigre. Trata-se de um animal da raça Menghai de Haizhou; ninguém no mundo, a não ser este vosso servo seria capaz de o dominar. Esta noite vou desancá-lo para vos servir.” À meia-noite Mole partiu armado de um malhete de correntes. Ao regressar afirmou que o cão estava morto, e que não havia obstáculos à execução do plano. Na noite seguinte Gui gratificou o servo com um excelente repasto de carnes e vinhos finos. À terceira hora, meteram-se a caminho. Gui ia quase invisível, vestido com um fato justo ao corpo, em seda azul-noite. Voando sobre as muralhas Ao chegar à muralha da casa do ministro, Mole, carregando o amo às costas, saltou uma dezena de cercas até penetrar no pátio das cantoras e parar em frente da terceira porta. A barra de madeira da fechadura não tinha sido colocada atravessada nos batentes esculpidos em cruzamentos entrelaçados; uma lanterna dourada brilhava suavemente no interior. Os intrusos ouviram os suspiros da jovem, sentada junto da porta, como se esperasse alguém. Tinha retirado os brincos de esmeralda e a pintura carmim do belo rosto. Com a voz repassada de tristeza, também ela sussurrava uma cantilena, afinal tão enigmática como a linguagem das mãos: Saudoso do seu amor, o rouxinol em pranto furtivo lhe arrebatou as jóias sob as flores O azul ainda deserto, a espera sempre vã em vão a flauta de jade suspira o seu desgosto. Àquela hora estavam os guardas todos adormecidos. O silêncio da noite pairava sobre o pátio. O moço afastou o cortinado e entrou. Durante um instante, ela ficou sem palavras. Depois acercou-se dele, tomou-lhe as mãos, como para se assegurar que era a pessoa que esperava, e disse: “ Eu sabia que só um jovem Senhor tão inteligente como tu seria capaz de entender a minha mensagem sem palavras! Mas pergunto a mim mesma de que poderes mágicos dispôs para conseguir chegar até aqui sem entraves.” Gui confessou então que fora Mole a engendrar o plano e pô-lo em prática. Ela riu do fato azul-escuro que moldavas formas do rapaz, e dos saltos sobre as cercas e muralhas, e perguntou: “Onde está esse vosso fiel servo?” Gui apontou o biombo atrás do qual o escravo esperava. A jovem convidou Mole a entrar e serviu-lhe uma taça de vinho. Então narrou a Gui a história da sua curta existência: “Nasci numa abastada família perto da fronteira do norte. O meu senhor actual, que na altura comandava ali a armada da guarnição, de força me tomou como concubina. Não tive forças para me dar a morte, pelo que vergonhosamente sobrevivi. Agora o pó branco e o carmim da pintura do rosto disfarça o meu coração atribulado de desgosto. Os manjares servidos com pauzinhos de jade, os incensários de ouro onde ardem os mais dispendiosos perfumes, os corta-ventos com incrustações de nácar, as pérolas e as esmeraldas adornando as belas adormecidas sob cobertas bordadas, nada apaga o opróbrio da servidão. Sinto-me em cativeiro. Já que o teu bom servo dispõe de poder sobrenatural, poderá ele libertar-me desta prisão? Dou-vos tudo o que tenho, e se for preciso morrerei sem lamentos; mas seria feliz se pudesse servir-vos como escrava. Diga-me o Senhor o que pode fazer por mim.” Gui, muito pálido, continuava em silêncio. Mole falou por ele: “Já que está decidida, Senhora, não haverá dificuldades. Vá preparar a sua bagagem, tão rapidamente como possível.” Em grande júbilo ela fez três idas e vindas, empacotando o seu enxoval. Mole avisou: “Vai nascer o sol, apressemo-nos.” Levantou os dois jovens, colocou-os nas suas costas, e voltou a sobrevoar as altas muralhas sem que um só ruído alertasse quem ainda dormia. Já em casa, deixou os dois jovens no gabinete de estudos de Gui, onde este escondeu a moça. Na mansão do ministro só durante a manhã deram pelo desaparecimento da bela concubina em musselina vermelha, logo depois de terem descoberto o cadáver do cão. “Os nossos muros são altos e vigiados dia e noite, e os portões são fortemente aferrolhados” pensou o príncipe, alarmado. “Não deixaram pistas, como se tivessem voado! Deve ter sido um desses perigosos Justiceiros, aliados dos rebeldes. O melhor é não deixar propalar o sucedido, só serviria para revelar fragilidades da minha casa e atrair inimigos.” Fuga na primavera A jovem cortesã ficou escondida nos aposentos de Gui durante dois anos, até que um dia de Primavera, quando estavam em flor as balsaminas, tomou um palanquim e foi passear no Parque dos Meandros do Rio, em Quijiang. Um homem do ministro reconheceu-a de relance e correu a adverti-lo. O ministro, surpreendido, convocou Gui, que não sendo de carácter dissimulado, resolveu não mentir. Contudo, explicou que nada teria sido possível sem a ajuda de Mole. “A culpa é sem dúvida da rapariga” concluiu o ministro. “Mas como ela se manteve ao vosso serviço durante dois anos, não seria decente retomá-la em minha casa. Contudo, é meu dever punir Mole, pois ele pode constituir um perigo público.” De imediato ordenou a cinquenta dos seus guardas, armados até aos dentes, que fizessem um apertado à casa de Gui para capturar o escravo Kunlun. Durante essa espectacular diligência houve quem visse o servo Kunlun voar sobre as altas muralhas, de adaga em punho, como se tivesse asas, rápido como um gavião. Debaixo de uma chuva de flechas, sem uma só o ter atingido, desapareceu num abrir e fechar de olhos. Em que direcção e com que destino, ninguém viu. Durante mais de um ano, o ministro, em pânico, rodeou-se de uma guarda especial de soldados armados de sabres e alabardas. Uma dúzia de anos mais tarde, alguém da família de Gui viu Mole numa tenda do mercado de Luoyang, vendendo drogas, elixires e ervas medicinais. Tinha um ar fresco e folgazão, e o seu rosto estava como sempre fora, inalterado. Faro, 14-7-2025, Fernanda Dias, reconto
Hoje Macau SociedadeAcidente | Jogador da selecção de futebol entre as vítimas mortais O extremo direito da selecção de futebol de Macau, Leon Ng Lai Teng, com apenas 20 anos, morreu na segunda-feira num acidente de automóvel, de acordo com o clube em que jogava, Cheng Fung, que expressou pesar e condolências. Leong foi a quarta vítima mortal a ser confirmada pelas autoridades. “Em nome de todos os jogadores e funcionários [no Cheng Fung], gostaríamos de expressar as nossas mais sinceras condolências à família de Leon Ng Lai Teng”, avançou o clube no Facebook, manifestando-se disponível para fazer o “melhor para prestar toda a assistência e apoio necessários à família”. O acidente ocorreu por volta das 06h da manhã de segunda-feira, quando um veículo de cinco passageiros transportando sete pessoas, conduzido por uma jovem com 20 anos, se despistou e embateu contra barreiras de betão na margem da estrada. Os três dos ocupantes que sobreviveram ao trágico acidente continuavam ontem hospitalizados, de acordo com a polícia. “Ao tomarmos conhecimento desta trágica notícia, todos no clube ficaram tomados por uma tristeza infinita e um profundo pesar”, revelou o Cheng Fung nas redes sociais.
Hoje Macau PolíticaTrânsito | Conselheiro pede prudência na circulação para o norte Depois de o Executivo de Hong Kong ter anunciado que, a partir de Setembro, irá eliminar o requisito de marcação para condutores da RAEHK levarem o automóvel para Guangdong, Ip Wai Keong, membro do Conselho Consultivo do Trânsito, pediu ponderação ao Governo da RAEM antes de adoptar uma medida semelhante. O conselheiro argumentou, em declarações ao jornal Exmoo, que existe uma contradição entre a economia dos bairros residenciais e a procura de consumo dos residentes. Apesar da recuperação do Produto Interno Bruto para níveis a rondar 90 por cento do verificado antes da pandemia, se for ainda mais fácil aos residentes de Macau atravessarem a fronteira de carro, a economia local irá sofrer ainda mais, sobretudo na zona norte da península, também ao nível do emprego. Além disso, Ip Wai Keong manifestou dúvidas de que o Posto Fronteiriço da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau tenha capacidade para dar resposta ao aumento do tráfego produzido pela isenção da necessidade de marcação para atravessar a fronteira em automóveis privados.
Hoje Macau PolíticaRéplicas de assembleias de voto para residentes “experimentarem votar” A comissão eleitoral de Macau vai disponibilizar duas réplicas de assembleias de voto para os residentes “experimentarem votar” e saberem “como podem votar correctamente” a 14 de Setembro, foi ontem anunciado. As duas réplicas – mais uma do que nas legislativas de 2021 – vão permitir aos residentes “experimentarem votar” e “aprofundarem o conhecimento sobre a votação e também os trabalhos de eleição”, disse ontem aos jornalistas o presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), após uma reunião do órgão. “Esperamos que o público, através da visita à réplica da assembleia de voto, possa conhecer mais sobre o funcionamento da assembleia e, através da simulação, possa também conhecer como é que pode votar correctamente e também [sobre] a confidencialidade da votação”, afirmou. Ainda de acordo com o responsável, escolas vão levar estudantes a estes dois recintos – instalados no Pavilhão Polidesportivo Tap Seac e nas instalações do Fórum de Macau, entre 6 até 12 de Setembro – “no sentido de reforçar a consciência cívica dos estudantes”, para, no futuro, estarem “preparados para serem eleitores”. Para os portadores de deficiência visual, acrescentou Seng Ioi Man, estão ainda disponíveis no local boletins de voto em braille. Tradição de voto Questionado pela Lusa sobre se a instalação destas réplicas é sinal de que a população do território tem ainda pouco conhecimento sobre o acto de ir às urnas, sem responder directamente, Seng Ioi Man notou que esta “é uma tradição” em Macau e que se dirige aos futuros eleitores, “que ainda não podem ir votar e [que] podem sentir o procedimento da votação” e aos que agora se estreiam no escrutínio. Mas não só. “Para aqueles que já tinham votado, os antigos eleitores, podem também – passando tantos anos – experimentar [o acto de votar]”, acrescentou. Instado ontem também fazer um balanço sobre o processo eleitoral e questionado sobre se a CAEAL tem recebido reacções da população, Seng disse apenas que “há cada vez mais eleitores ou cidadãos” a acompanhar os trabalhos e a informação divulgada pela CAEAL, “permitindo que aquelas pessoas que não têm informação suficiente possam participar” no acto eleitoral. A campanha eleitoral arranca no dia 30 de Agosto e termina a 12 de Setembro.
Hoje Macau PolíticaChe pede controlo de temperatura para evitar febre Chikungunya O deputado Che Sai Wang defende que o Governo deve adoptar medidas mais rigorosas de controlo das fronteiras, para evitar a propagação da febre Chikungunya. A posição surge numa interpelação escrita, com a data de 29 de Julho, ainda antes de serem conhecidos os dois casos locais. No documento, divulgado pela Assembleia Legislativa ontem, Che alerta para a situação das regiões vizinhas, principalmente em Foshan, onde o número de casos de febre de Chikungunya tem crescido de forma progressiva. Por isso, o legislador considera que “os laços estreitos entre Macau e a região do Delta do Rio das Pérolas dificultaram o trabalho de prevenção e controlo” da doença e que “o movimento frequente de pessoas através da fronteira coloca maiores exigências à prevenção e ao controlo”. “A prevenção e o controlo da epidemia não dependem apenas de medidas locais, mas exigem também uma colaboração reforçada com as regiões vizinhas, especialmente no que se refere ao rastreio e à avaliação dos riscos do pessoal transfronteiriço”, aponta. O deputado questiona o Executivo sobre a existência de planos para rastrear as pessoas que atravessam a fronteira, através da instalação de dispositivos de controlo da temperatura. Desta forma, Che defende que é possível evitar uma rede de transmissão indirecta. Mais fiscalização Ao mesmo tempo, Che Sai Wang pede às autoridades que promovam campanhas de informação sobre a forma como os mosquitos se propagam e as medidas que devem adoptadas para evitar o contágio. Além disso, o deputado pretende que o Governo explique se vai fazer uma maior inspecção das águas paradas junto das “atracções turísticas e as zonas de grande concentração de pessoas”, além de “intensificar a desinfestação e o controlo dos vectores dos mosquitos de forma orientada”. O deputado da ATFPM propõe ainda ao Executivo que siga o exemplo de Singapura, onde existem estações para monitorizar os “vectores dos mosquitos em zonas-chave”, para que as pessoas estejam conscientes do risco de propagação.
Hoje Macau Grande Plano MancheteChuva | Alertas em HK e mais de 80 mil residentes de Pequim retirados de casa China e Hong Kong têm enfrentado nos últimos dias períodos de chuva forte que obrigaram a cuidados redobrados e deslocação de moradores. Na capital chinesa 82 mil pessoas tiveram que deixar as suas casas, enquanto que em Hong Kong ruas e um hospital sofreram inundações e algumas estações de metro foram encerradas As chuvas fortes continuam a não dar tréguas, não só em Macau (ver página 7), como em Hong Kong e no interior do país. No caso da China, as autoridades de Pequim deslocaram mais de 82 mil pessoas de casa devido a chuvas torrenciais, uma semana após inundações mortais que levaram os responsáveis locais a reconhecer falhas na resposta, noticiou ontem a agência noticiosa oficial Xinhua. Assim, dezenas de milhares de residentes foram retirados das zonas mais afectadas pelas chuvas até às 21h de segunda-feira, hora local, segundo o centro municipal de resposta a inundações. O centro alertou para o risco elevado de cheias nos distritos de Miyun (noroeste), Fangshan (sudoeste), Mentougou (oeste) e Huairou (norte). A capital chinesa manteve em vigor o alerta vermelho – o mais elevado – até à manhã de ontem, perante previsões de chuvas intensas entre segunda-feira ao meio-dia e a manhã desta terça-feira. Na semana passada, estes mesmos distritos rurais a norte de Pequim foram os mais afectados pelas intempéries que causaram 44 mortos e nove desaparecidos, de acordo com os dados oficiais. A maioria das vítimas mortais foi registada num lar de idosos em Miyun. Novas medidas na agricultura A gravidade da catástrofe levou as autoridades municipais a reconhecerem “lacunas” na preparação dos serviços de emergência. Desastres naturais são frequentes na China durante o Verão, com algumas regiões sujeitas a chuvas torrenciais e outras a secas severas. Entretanto, as autoridades chinesas reforçaram o dispositivo de resposta aos efeitos adversos das chuvas intensas e ondas de calor sobre as culturas agrícolas em várias regiões do país, numa altura crucial para a colheita de Outono. Desde o início da época das chuvas, zonas do leste e norte da China registaram episódios de precipitação extrema, enquanto províncias como Henan (centro) e Anhui (leste) enfrentam períodos prolongados de seca e temperaturas elevadas. Esta combinação de fenómenos meteorológicos representa um desafio para os agricultores, sobretudo quando faltam cerca de dois meses para a colheita dos principais cereais de Outono, assinalou ontem a agência noticiosa oficial Xinhua. Na província de Shaanxi (centro), onde a precipitação ultrapassou recentemente os 100 milímetros em menos de 24 horas, as autoridades locais adoptaram medidas preventivas, como a limpeza de canais e o reforço de diques, o que permitiu proteger grande parte das terras cultivadas. Entretanto, cooperativas agrícolas em Henan afectadas pela seca optaram por sistemas de rega gota a gota e pela aplicação localizada de fertilizantes para conservar a humidade e minimizar as perdas. As autoridades têm dado prioridade à reabilitação de infra-estruturas hídricas e a divulgação de técnicas de gestão eficiente da água, perante a ausência de precipitação em algumas zonas. A campanha de Outono representa uma componente fundamental da produção anual de cereais da China. Num comunicado divulgado ontem, o Ministério da Agricultura e dos Assuntos Rurais alertou que as condições meteorológicas nas próximas semanas serão determinantes e apelou a “todos os esforços para proteger a colheita e dar um forte apoio à segurança alimentar do país”. O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou em 2023 que, apesar de “1.400 milhões de chineses comerem bem” actualmente, “a questão alimentar não deve ser descuidada”, sublinhando que o fornecimento de comida “não é um assunto insignificante”. A China tem menos de nove por cento da terra arável do planeta, embora represente cerca de 18 por cento da população mundial. Nos últimos Verões, desastres meteorológicos causaram estragos significativos no país: os meses estivais de 2023 foram marcados por inundações em Pequim, que causaram mais de 30 mortos, enquanto em 2022 várias ondas de calor extremo e secas atingiram o centro e leste da China. Hong Kong em alerta No que diz respeito ao panorama das chuvas fortes no território vizinho, estas também não têm dado tréguas. Segundo a emissora pública RTHK, algumas estações de metro em Hong Kong estiveram encerradas ontem devido ao risco de inundações, tendo em conta que o Observatório de Hong Kong manteve o sinal preto de tempestade [Black Rainstorm Warning Signal] até cerca das 17 horas. Registaram-se ventos de cerca de 110 quilómetros por hora em algumas zonas do território, tendo-se registado também trovoadas. O canal RTHK revela também que se contaram mais de 10.800 relâmpagos no território entre a meia-noite e as 10 horas de ontem, sendo que metade deles ocorreu na ilha de Lantau. Até às 11 horas de ontem as autoridades responsáveis pelos sistemas de drenagem registaram 21 episódios de inundações, tendo sido feitas 180 respostas de emergências em 240 localizações diferentes. Destaque para a ocorrência de um episódio no Hospital Queen Mary esta terça-feira, nomeadamente “em algumas estradas” de acesso do hospital, em Pok Fu Lam, tendo os pacientes sido deslocados pelos bombeiros para o hospital Ruttonjee, na zona de Wanchai. Em algumas zonas do hospital a água chegou aos joelhos, tendo sido colocados sacos de areia para estancar o fluxo das chuvas. Por volta das 11 horas da manhã de ontem este cenário foi resolvido, com a normalidade a voltar ao hospital Queen Mary perto do meio-dia. As chuvas levaram também ao grande aumento do nível da água no Reservatório Lower Shing Mun, na zona de Sha Tin, o que levou à notificação dos residentes de complexos habitacionais nas proximidades, como Mei Lam Estate, May Shing Court, Mei Chung Court e Granville Garden. Apesar das fortes chuvas, algumas pessoas deslocaram-se ao trabalho normalmente fazendo percursos alternativos. Foi o caso de Mak, uma mulher que, ao canal RTHK, disse que teve de fazer um desvio para chegar ao escritório. “Não consegui ir directamente para lá e tive de fazer um percurso mais longo. O metro [MTR] fez alguns avisos [sobre a tempestade e encerramentos], mas gostaria que os fizessem também dentro das carruagens, pois só percebi que o acesso estava encerrado quando cheguei à saída”, descreveu. Vem aí o sol Informações disponibilizadas pelo Observatório de Hong Kong falam na passagem de uma “monção de sudoeste activa e perturbações em alta altitude que estão a trazer chuvas fortes e trovoadas violentas para a costa sul da China e a parte norte do Mar da China Meridional”. Ontem foi mesmo quebrado o recorde de precipitação diária mais alta para Agosto desde 1884, ao registarem-se, até às 14h, 355,7 milímetros de precipitação na sede do Observatório. Para hoje o tempo deverá manter-se instável em Hong Kong, com “chuvas fortes no início” do dia. Porém, estas “deverão diminuir gradualmente” amanhã, esperando-se “muito calor com períodos de sol nos próximos dois dias”. Também os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) deixam um alerta de chuva forte até hoje com “aguaceiros frequentes, por vezes intensos, acompanhados de trovoadas”. O sol deverá começar a aparecer na RAEM a partir de amanhã, ainda com algumas nuvens, prolongando-se este cenário meteorológico até à próxima segunda-feira. As temperaturas deverão chegar aos 33 graus.
Hoje Macau China / ÁsiaKremlin | Rússia adverte EUA contra efeitos de guerra nuclear A Rússia advertiu ontem que não há vencedores numa guerra atómica, depois de o Presidente dos Estados Unidos ter anunciado a mobilização de dois submarinos nucleares em resposta a uma alegada ameaça russa. “Numa guerra nuclear não há vencedores”, disse o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitry Peskov na conferência de imprensa telefónica diária, citado pela agência de notícias espanhola EFE. Peskov pediu cautela nas declarações sobre arsenais nucleares. “Pensamos que toda a gente deve ter muito cuidado com o que diz sobre a questão nuclear”, afirmou Peskov, também citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). Peskov disse ainda que os dois submarinos norte-americanos anunciados por Trump “já estão em serviço” de forma permanente. “Não queremos ser arrastados para uma tal polémica”, acrescentou. Donald Trump anunciou na sexta-feira a deslocação de dois submarinos nucleares para “zonas apropriadas”, que não especificou, em resposta a comentários que considerou provocatórios do ex-presidente russo, Dmitri Medvedev (2008-2012). A ordem de Trump foi dada um dia depois de Medvedev o ter criticado por ter feito um ultimato a Moscovo para acabar com a guerra contra a Ucrânia, iniciada em Fevereiro de 2023. Medvedev considerou o ultimato como “uma ameaça e um passo para a guerra” com os Estados Unidos e advertiu Washington de que a Rússia “não era Israel, nem tão pouco o Irão”.
Hoje Macau China / ÁsiaChikungunya | Guangdong aplica medidas decisivas à medida que casos de febre alastram A província chinesa de Guangdong, que faz fronteira com Macau, registou na última semana milhares de novos casos de febre de chikungunya, com as autoridades locais a prometerem “medidas decisivas e vigorosas” para travar a propagação da doença. Segundo a televisão estatal CCTV, foram detectados 2.892 novos casos na semana terminada no sábado, sem registo de infecções graves ou fatais. A maioria – 2.770 – ocorreu em Foshan, enquanto Cantão, a capital provincial, contabilizou 65 casos. Num encontro do governo provincial no sábado, o governador Wang Weizhong apelou a medidas “mais resolutas” para “vencer a difícil batalha contra o surto no mais curto espaço de tempo possível”, noticiou o órgão estatal southcn.com. No mesmo dia, Shen Hongbing, director do Centro Nacional de Controlo e Prevenção de Doenças, visitou Foshan, apelando a esforços rápidos para “eliminar o surto no mais curto prazo e salvaguardar a saúde pública e a estabilidade social”. A febre de chikungunya é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes, que provoca febre alta súbita, dores intensas nas articulações, erupções cutâneas e fadiga. Não é transmissível por contacto directo entre pessoas. Embora raramente seja fatal, a doença pode causar sintomas debilitantes durante semanas. Guangdong é, até agora, a província mais afectada da China, com Foshan – um centro industrial com 10 milhões de habitantes – a representar mais de metade dos casos reportados. Durante a visita a Foshan, Shen sublinhou ainda a necessidade de uniformizar o tratamento. Na sexta-feira, o Centro de Protecção da Saúde de Hong Kong indicou que todos os casos registados em Foshan eram ligeiros, sem infecções graves ou fatais. No sábado, a região anunciou o primeiro caso de chikungunya desde 2019. Na reunião provincial em Guangdong, Foshan foi instada a concentrar esforços em áreas-chave e intensificar medidas de controlo direccionadas, criando condições favoráveis para “um ponto de viragem precoce no surto”.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão | Registados recordes de calor em 17 localidades O Japão registou ontem recordes de calor em 17 localidades, depois de Junho e Julho terem sido os meses mais quentes de sempre no arquipélago, anunciou a Agência Meteorológica Japonesa (JMA, na sigla em inglês). A cidade de Komatsu, na região central de Ishikawa, registou um novo recorde de 40,3 °C, disse a JMA, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP). Na mesma região, Toyama registou 39,8 °C, uma temperatura que não ocorria desde o início dos registos, há 126 anos, segundo a agência meteorológica japonesa. Quinze outras localidades atingiram novos máximos entre 35,7 °C e 39,8 °C, acrescentou a JMA, que monitoriza mais de 900 pontos no arquipélago da Ásia Oriental. No final de Julho, o Japão registou a temperatura mais elevada de sempre, com 41,2 °C em Tamba, na região ocidental de Hyogo. Os cientistas demonstraram que as alterações climáticas provocadas pelo homem estão a tornar as ondas de calor mais intensas, mais frequentes e mais generalizadas, referiu a AFP. Os meteorologistas japoneses têm advertido contra uma ligação directa entre condições meteorológicas específicas, como o calor elevado num determinado período, e as alterações climáticas a longo prazo. No entanto, observaram que o aquecimento global tem vindo a alimentar fenómenos meteorológicos imprevisíveis nos últimos anos. Em brasa O Verão de 2024 foi o mais quente alguma vez registado no arquipélago, a par do recorde estabelecido em 2023, seguido do Outono mais quente desde o início dos registos. Este ano, a estação das chuvas terminou na região ocidental cerca de três semanas mais cedo do que o habitual. Com a fraca pluviosidade e o calor intenso, várias barragens do norte ficaram quase vazias, indicou o Ministério do Território japonês. Os agricultores receiam que a falta de água e o calor extremo causem uma quebra de colheitas. Outro sinal do aquecimento global tem a ver com as emblemáticas cerejeiras, que estão a florescer mais cedo ou a não florescer porque os Outonos e Invernos não são suficientemente frios para desencadear a floração. O icónico manto de neve do Monte Fuji só apareceu no início de Novembro de 2024, quase um mês mais tarde do que tem sido normal. Entre os continentes, a Europa registou o aquecimento mais rápido desde 1990, seguida de perto pela Ásia, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.
Hoje Macau Via do MeioLágrimas e crocodilos – Chega de moralismo e lamentos pela «armadilha» industrial chinesa Por Wang Zichen Imagem: Wang Qingsong, Can I cooperate with you, fotografia120x200cm,2000 Recentemente, os comentários norte-americanos pintaram um quadro em que a China executa um plano calculado, há muito arduamente elaborado, para atrair empresas estrangeiras para o seu mercado, apenas para extrair a sua tecnologia e estimular os concorrentes nacionais – acabando por descartar as empresas estrangeiras depois de terem cumprido o seu objetivo. Nesta narrativa, uma empresa americana após outra é vítima da suposta armadilha da “tecnologia para o mercado” de Pequim: primeiro a Motorola, depois a Apple e agora a Tesla. Dois artigos recentes do Wall Street Journal sobre a China (8 de julho e 15 de julho, 2025) resumiram este ponto de vista, contando como a Motorola ajudou a alimentar a indústria de telecomunicações da China apenas para ser ultrapassada, e como a estrela da Tesla na China se desvaneceu à medida que os fabricantes locais de veículos eléctricos cresceram. Cada artigo levava os leitores a uma conclusão precipitada – por exemplo, um terminava com a pergunta: “Como acha que as empresas americanas devem abordar a China actualmente?”, e o seguinte com a pergunta: “Acha que os EUA devem apertar ainda mais as suas restrições tecnológicas à China?” Estas perguntas reforçam o ângulo de que as empresas estrangeiras foram vítimas ingénuas e a China a beneficiária astuta, em vez de convidarem a um debate aberto. Esta perspectiva unidimensional ganhou ainda mais força com vozes como a do antigo estratega da Casa Branca, Steve Bannon, que foi citado no Financial Times esta semana, troçando a propósito de “as empresas americanas terem passado décadas a ser enganadas, a ser ludibriadas pelo Partido Comunista Chinês, a transferir as jóias da coroa da nossa tecnologia. E, por isso, não receberam nada”. Segundo Bannon, as empresas ocidentais foram essencialmente enganadas – seduzidas pelo mercado chinês, despojadas do seu know-how e deixadas com os bolsos vazios. (Não importa que Bannon tenha forrado o seu próprio bolso com o dinheiro de um vigarista chinês fugitivo.) Este tipo de narrativa é cativante, sim, mas é também profundamente enganadora. Assenta num tom moralizador e condescendente que simplifica demasiado uma realidade muito mais complexa. Implícita nestas narrativas está a presunção de que a hierarquia global de domínio tecnológico – há muito liderada por empresas ocidentais – deve permanecer fixa para sempre. O tom subjacente é que as empresas ocidentais têm um direito natural à sua liderança e que, se as empresas chinesas as alcançarem ou ultrapassarem, deve haver algo de malicioso em jogo. Há um sentimento quase palpável de indignação pelo facto de um “arrivista” do mundo em desenvolvimento se atrever a desafiar a ordem estabelecida. Esta mentalidade trata o sucesso anterior das empresas ocidentais como legítimo e o avanço das outras como uma violação, ignora a realidade histórica de que todas as grandes potências industriais se ergueram aprendendo com os outros. No passado, o próprio Ocidente tomava emprestada ou roubava tecnologia livremente: como disse uma análise da Associated Press: “A nação emergente era um antro de pirataria intelectual” – no final do século XVIII e início do século XIX, essa “nação pária” eram os Estados Unidos, cujo Secretário do Tesouro Alexander Hamilton apoiou o roubo de segredos industriais britânicos. Os primeiros americanos pirateavam projectos de máquinas têxteis e atraíam artesãos britânicos; na verdade, os EUA eram “a China do século XIX”, nas palavras de um artigo da Foreign Policy de um vencedor do prémio Loeb. Só depois de se tornarem líderes industriais é que os Estados Unidos defenderam protecções rigorosas da Propriedade Intelectual. Ao recriar os processos de desenvolvimento industrial e de difusão do conhecimento como sendo exclusivamente nefastos quando a China o faz, a narrativa actual associa o avanço nacional à ilegitimidade. Confunde a perda de um monopólio ocidental com a perda de justiça. O tom moralizador faz mais do que provocar cepticismo intelectual – gera uma espécie de ressentimento. É como se o domínio ocidental na inovação fosse considerado a ordem natural e qualquer desafio fosse automaticamente suspeito. Estas narrativas, envoltas na linguagem da justiça e da “batota”, soam muitas vezes a lamentos velados pela perda de privilégios. Dizem aos leitores o que devem pensar – a China é má, o Ocidente foi enganado – em vez de encorajar uma análise genuína do modo como a tecnologia e o poder funcionam efectivamente numa economia globalizada. O resultado é menos jornalismo do que ideologia, alimentando uma espécie de ansiedade tecno-nacionalista que substitui a indignação moral pela clareza analítica. Durante décadas, a estratégia industrial da China assentou no princípio da troca de acesso ao mercado por tecnologia – algo explicitamente articulado por Deng Xiaoping já na década de 1980. Longe de ser uma armadilha, tratou-se de um negócio deliberado e transparente que permitiu que ambas as partes beneficiassem. Tomemos como exemplo a General Motors (GM). A GM entrou na China na década de 1990 através de uma empresa comum e, em 2010, a GM estava a vender mais carros na China do que nos Estados Unidos. A procura de automóveis na China constituía uma enorme oportunidade de mercado, e o sucesso da GM, outrora, tornou-se uma parte vital do seu negócio global. As vendas da GM na China atingiram um pico de 4 milhões de veículos por ano no final da década de 2010, o que a tornou no maior mercado automóvel do mundo. Era uma relação mutuamente benéfica – a China dava acesso a um mercado enorme e em rápido crescimento, enquanto a GM ganhava um elevado volume de vendas e eficiência de fabrico. Agora, considere a Apple. Ao longo da última década, a Apple obteve cerca de 227 mil milhões de dólares em lucros operacionais provenientes da China, o que representa mais de um quarto dos seus lucros totais durante esse período. Os lucros da Apple foram reforçados pela montagem dos seus iPhones na China, onde os custos de mão de obra eram mais baratos e fabricantes como a Foxconn tratavam da produção em massa. Esta parceria permitiu à Apple obter enormes poupanças de custos, ao mesmo tempo que construía uma cadeia de abastecimento de classe mundial na China. Este não é um caso isolado. Nos primeiros anos de atividade da Tesla na China, a empresa recebeu um apoio substancial do governo chinês, incluindo a primeira fábrica estrangeira detida a 100% em Xangai, que também facilitou terrenos e empréstimos. As vendas do Modelo 3 da Tesla dispararam na China e a empresa tornou-se um dos veículos eléctricos mais vendidos no país. A ascensão dos fabricantes chineses de veículos eléctricos, como a BYD e a NIO, pode ter diminuído a quota de mercado da Tesla, mas trata-se de concorrência em ação. A política da China para atrair actores estrangeiros como a Tesla não consistiu em roubar a tecnologia da Tesla, mas sim em introduzir um “catfish” [firma que vem agitar o mercado] e criar um ambiente competitivo que levasse os fabricantes nacionais a inovar. De facto, a Tesla beneficiou muito com a sua presença na China e o mercado local de veículos eléctricos explodiu devido a essa presença. É essa a natureza dos mercados competitivos: surgem novos actores e mesmo as empresas dominantes enfrentam a concorrência, o que leva todos a fazer melhor. A história da Motorola também foi contada com um toque de nostalgia, que, por exemplo, referia que “a entrada da Motorola não se limitou a construir um mercado; ajudou a construir uma China moderna”. Esta versão, devidamente apimentada com citações de um antigo executivo da Motorola, lamenta a forma como a Motorola se arruinou a si própria devido à generosidade forçada para com a China, omitindo convenientemente algum contexto fundamental. A empresa também perdeu a sua liderança devido a erros estratégicos. Não conseguiu antecipar a revolução dos smartphones e ficou irremediavelmente atrás da Apple e da Samsung, incapaz de igualar a inovação do iPhone ou o boom do Android que se seguiu. E para terminar a ironia, considere este conto pouco conhecido: no final de 2003, a Huawei tentou vender-se à Motorola. A relação comercial entre os EUA e a China nunca foi um caso em que um lado foi enganado e o outro planeou um grande roubo. As empresas ocidentais tomaram decisões calculadas para entrar na China e, em troca de acesso ao mercado, partilharam alguma da sua tecnologia. A narrativa de que a ascensão da China é um “longo golpe” ignora as contrapartidas legítimas e calculadas feitas por todas as partes. A China não “enganou” estas empresas; ofereceu-lhes acesso ao seu mercado em crescimento em troca de conhecimentos, que a China utilizou para construir a sua própria base industrial. Em última análise, a história da ascensão da China tem a ver com concorrência – tal como o Japão e a Coreia do Sul competiram outrora com as empresas americanas, a ascensão da China no domínio da tecnologia faz parte de um padrão global de concorrência industrial. Isto não torna as acções da China “maliciosas”; é apenas a forma como o mundo funciona. O Ocidente não tem direito ao domínio eterno da tecnologia e a ascensão da China não deve ser vista como um “roubo”, mas como um desafio competitivo que obriga todos a inovar e a adaptar-se. De facto, os monopólios do conhecimento e a protecção da propriedade intelectual por parte de poderosas empresas transnacionais sediadas em países de elevado rendimento estão a conduzir a uma intensa concentração da riqueza e do poder das empresas, travando assim o desenvolvimento económico nos países de baixo rendimento. Um artigo recente de Cedric Durand e William Milberg expõe este ponto de forma vigorosa. Os autores constatam um enorme aumento do rendimento internacional gerado pelos direitos de propriedade intelectual entre a década de 1980 e a década de 2010, que se destina quase exclusivamente aos países de elevado rendimento (dominados pelos Estados Unidos). Em 1980, o rendimento gerado pelos pagamentos internacionais relacionados com a utilização da propriedade intelectual era bastante igual em todo o mundo. Em 2016, este rendimento foi cem vezes superior nos países de rendimento elevado do que nos países de rendimento baixo e médio (323 mil milhões de dólares contra 3 mil milhões de dólares). Devemos também reconhecer que as empresas transnacionais dos países de elevado rendimento – os principais beneficiários das patentes – dependem totalmente da mão de obra e dos sistemas de produção dos países de baixo rendimento para gerar lucros. Por exemplo, a inovação e os lucros inesperados da indústria tecnológica dos EUA não seriam possíveis sem a mão de obra de países como a China e a Índia. De facto, o artigo supracitado de Durand e Milberg sublinha explicitamente que as grandes empresas tecnológicas sediadas nos Estados Unidos obtêm lucros enormes principalmente porque tiram partido do seu poder na economia mundial, e não porque inovam. Quando muito, os países de rendimento elevado devem aos países de rendimento mais baixo enormes quantidades de tecnologia devido ao facto de tirarem partido da sua mão de obra e competências. Existe um equívoco comum de que as empresas chinesas estão a ultrapassar as empresas americanas. Embora isso seja verdade em alguns sectores – e esteja a acontecer cada vez mais -, a ascensão capitalista da China tem, na verdade, impulsionado o poder estrutural dos EUA em certos aspectos, especialmente ao gerar mais lucros para as empresas americanas. Um estudo de Sean Starrs conclui que a maioria das indústrias globais continua a ser dominada por empresas americanas , ajudadas pela ascensão da China. Starrs salienta que tanto os investimentos na China como as importações de factores de produção da China permitiram às empresas americanas manter o seu domínio global. Em conclusão, a narrativa da China como uma “armadilha” maliciosa para as empresas estrangeiras é uma moralização fácil e hipócrita que ignora as realidades complexas da concorrência global e do avanço tecnológico. Se aspiramos genuinamente a um mundo mais justo e próspero – uma aspiração que não é universalmente partilhada, mas pela qual vale a pena lutar – a verdadeira questão é saber porque é que tão poucos países subiram com sucesso a escada tecnológica. Em vez de se deixarem enganar pela propaganda de Wall Street, talvez os países em desenvolvimento pudessem tentar tirar uma página do livro chinês para nivelar o campo de jogo – tanto com os países ricos como com a China – na criação de uma paisagem global mais equitativa.
Hoje Macau China / ÁsiaCinema | Filme sobre massacre de Nanjing arrecada 181 ME e lidera bilheteira O filme Dead To Rights, sobre o massacre de Nanjing, lidera a bilheteira na China, após arrecadar mais de 1.500 milhões de yuan em duas semanas, impulsionado pelo 80.º aniversário da rendição japonesa. A obra centra-se nas provas fotográficas do massacre ocorrido em 1937, naquela cidade do leste da China, às mãos do Exército imperial japonês. A história acompanha Ah Chang, um funcionário dos correios que se faz passar por técnico de laboratório para sobreviver. Sob pressão, revela fotografias aos militares japoneses, enquanto transforma o estúdio num refúgio, ajudando civis e soldados a fugir e, ao mesmo tempo, expõe ao mundo provas visuais da atrocidade. A produção gerou grande repercussão nas redes sociais chinesas, onde circulam imagens de espectadores a prestarem continência nos cinemas durante os créditos finais e a entoarem palavras de ordem em homenagem às vítimas dos acontecimentos retratados. Dead To Rights está em exibição numa altura em que decorrem os preparativos para o desfile militar marcado para 3 de Setembro, em Pequim, que assinala o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial e da rendição japonesa. A 13 de Dezembro de 1937, tropas japonesas invadiram Nanjing e, nas seis semanas seguintes, saquearam e incendiaram a cidade, violaram dezenas de milhares de mulheres e mataram entre 150.000 e 340.000 pessoas, segundo diferentes fontes históricas. Todos os anos, a China assinala essa data com uma cerimónia no Memorial das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses, erguido no local. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão invadiu grande parte do território chinês, onde cometeu crimes de guerra generalizados, incluindo massacres sistemáticos de civis, experiências com armas biológicas e a utilização de mulheres chinesas como escravas sexuais por parte de militares nipónicos. O Governo chinês tem criticado com frequência as autoridades japonesas por adoptarem uma postura que considera revisionista em relação à invasão e aos crimes cometidos.