A decisão está a ser entendida como uma resposta às medidas de controlo impostas pelos EUA sobre as exportações chinesas
A China impôs ontem restrições sobre as exportações de dois metais essenciais para o fabrico de ‘chips’ semicondutores, decisão que está a ser interpretada como uma retaliação contra os controlos de exportação adoptados pelos Estados Unidos.
Nos últimos meses, a administração norte-americana intensificou as restrições impostas ao fornecimento de semicondutores avançados a empresas chinesas, por motivos de “segurança nacional”.
A China, que ambiciona ser autossuficiente no fabrico de semicondutores, considera que as medidas visam manter a supremacia dos Estados Unidos num sector essencial para as indústrias do futuro, incluindo tecnologias de Inteligência Artificial, robótica ou veículos eléctricos, mas que também em aplicações militares.
De acordo com a directriz emitida ontem pelo Ministério do Comércio, os exportadores chineses de gálio e germânio devem, a partir de agora, requisitar uma licença, antes de venderem para o exterior.
As empresas vão ter de fornecer informação sobre o destinatário final e notificar sobre a sua utilização, de acordo com a mesma nota oficial.
A China é responsável por 94 por cento da produção mundial de gálio, presente sobretudo em circuitos integrados, LED (Diodo Emissor de Luz) e painéis fotovoltaicos, segundo um relatório divulgado no ano passado pela União Europeia (UE).
O país é também responsável por 83 por cento da produção do germânio, essencial para o fabrico de fibra óptica e infravermelhos.
Esta é uma mensagem “clara” e “inequívoca” dirigida aos Estados Unidos, apontou o analista James Kennedy, da consultora ThREE Consulting, citado pelas agências internacionais.
Kennedy disse, no entanto, que o impacto é reduzido, já que a procura norte-americana por gálio e germânio é “baixa” e pode, se necessário, ser compensada em outros locais.
Se Washington “optar por continuar a escalada, a próxima resposta chinesa terá consequências mais graves”, alertou o especialista, que não exclui restrições à exportação de terras raras.
“Metais estratégicos”
Este conjunto de 17 metais é essencial na produção de alta tecnologia e é relativamente abundante. As propriedades electromagnéticas tornam esta matéria-prima em “metais estratégicos”.
Segundo a agência Bloomberg, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, planeia assinar até meados de Agosto uma ordem executiva para limitar investimentos de empresas norte-americanas na China envolvendo tecnologia crítica.
A ordem executiva abrange semicondutores, Inteligência Artificial e computação quântica, de acordo com a mesma fonte.
O embaixador da China em Washington advertiu, no início deste mês, que Pequim iria retaliar caso os Estados Unidos impusessem novos limites nas exportações de tecnologia ou nos fluxos de capital.
O Departamento do Comércio dos Estados Unidos colocou, nos últimos anos, dezenas de empresas chinesas na sua “lista negra”, incluindo a gigante das telecomunicações Huawei. As empresas passaram assim a estar impedidas de fazer negócios com empresas norte-americanas sem licença prévia.
No ano passado, os Estados Unidos proibiram ainda às empresas do seu país e a todos os países de exportarem para a China certos semicondutores fabricados com quaisquer produtos norte-americanos.