AMAGAO | Obras de 32 artistas para ver até Março no Artyzen Grand Lapa

A exposição da galeria AMAGAO, no Artyzen Grand Lapa, traz uma panóplia de artistas locais e estrangeiros, com ligações à lusofonia, muitos deles que já expuseram em Macau. “Good Time” [Bom Momento] faz-se já sem José Isaac Duarte à frente do projecto da AMAGAO, que conta agora com Vítor Hugo Marreiros

 

Chama-se “Good Time” [Bom Momento] e é com ela que a galeria AMAGAO dá as boas vindas ao ano de 2025. A nova exposição patente no Artyzen Grand Lapa até 17 de Março traz uma variedade de artistas e de trabalhos artísticos, num total de 32, oriundos de 12 países e regiões diferentes, não só da China, Macau e Hong Kong como de países como Brasil, França, Guiné-Bissau, Indonésia, Itália, Portugal, São Tomé e Príncipe, Tailândia e Estados Unidos da América.

A exposição foi inaugurada na última sexta-feira e apresenta trabalhos de artistas já bem conhecidos do público local, nomeadamente o arquitecto Alexandre Marreiros ou Alice Kok, ligada à curadoria de diversos projectos artísticos e co-fundadora da AFA – Art For All Society. Destaque ainda para o trabalho de joalharia de Cristina Vinhas ou dos desenhos de Eric Fok, conhecido pelos seus mapas artísticos cheios de detalhes, ou ainda Giulio Acconci e Fortes Pakeong Sequeira, só para enumerar alguns residentes que voltam a expor os seus trabalhos.

De resto, a AMAGAO resolveu trazer de novo alguns artistas que já expuseram em Macau em mostras anteriormente promovidas por esta galeria, como é o caso de Suzy Bila, artista que trouxe, em 2023, “Paisagens Interiores”, integrada na Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau.

Nascida em Moçambique e a residir em Portugal, Suzy Bila confessou ao HM, por altura da exposição, que “a pintura não tem territórios”, e que não faz arte para todos, sujeitando-se a múltiplas análises e olhares.

Outro nome que estará representado em “Bom Momento”, é Abílio Febra, natural de Leiria e que trabalha essencialmente com escultura.

Além de inaugurar um novo ano com esta exposição, a galeria AMAGAO apresenta uma nova reestruturação interna, uma vez que José Isaac Duarte, co-fundador, deixou o projecto, apurou o HM, estando neste momento o artista e designer macaense Vítor Hugo Marreiros na equipa, ao lado de Lina Ramadas.

Inspirações dinásticas

“Bom Momento” vai buscar parte da sua essência a um poema do período da dinastia Song, reflectindo, segundo uma nota da organização, “um sentimento de serenidade e gratidão pelas estações da vida”.

“Na Primavera há todo o tipo de flores, no Outono há lua, no Verão há brisas frescas e no Inverno há neve. Quando não há nada com que nos preocuparmos, essa é uma boa estação da vida humana”, é descrito. Desta forma, a exposição “convida os visitantes a abrandar o ritmo, a apreciar a arte e a encontrar tranquilidade no seu ‘jardim’ diversificado de expressões criativas”.

Esta mostra é, ao mesmo tempo, “um presente de Ano Novo que a galeria AMAGAO oferece à comunidade, enfatizando a capacidade da arte de promover a paz e a harmonia”.

Joey Ho, curadora convidada, disse que o objectivo é fazer com que o público possa “abrandar o ritmo e apreciar as obras”, sendo, assim, possível “desfrutar do bom momento partilhado pelos artistas”.

Rutger Verschuren, director-geral do Artyzen Grand Lapa, destacou que a colaboração desta unidade hoteleria com a galeria AMAGAO “continua a proporcionar oportunidades inigualáveis de intercâmbio artístico”, sendo que esta mostra “é um reflexo impressionante de como a arte pode unir-nos e enriquecer as nossas experiências, marcando um início de ano significativo”.

20 Jan 2025

LAG | Associação pede alterações à lei de habitação económica

A Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien em Macau entende que a lei de habitação económica deve ser alterada para modificar o tipo de fracção consoante a evolução do tamanho dos agregados familiares. A ideia foi defendida num encontro com o secretário para os Transportes e Obras Públicas a propósito das novas linhas de acção governativa

 

No decorrer dos encontros do Governo com associações locais a propósito das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, foi defendida a alteração da lei de habitação económica para que os moradores possam mudar de tipologia de apartamento conforme as mudanças no tamanho dos agregados familiares.

A ideia foi deixada pelo deputado Nick Lei, vice-presidente da Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien, num encontro de sexta-feira com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam. Segundo uma nota oficial, Nick Lei sugeriu “a optimização da lei de habitação económica”, sendo que, nesse contexto, “o Governo deve considerar melhorar a lei da habitação pública com base na realidade, permitindo aos residentes mudarem das fracções em que habitam devido a alteração da estrutura familiar, com o intuito de elevar a sua qualidade de vida”.

O deputado defendeu ainda o “aproveitamento sensato e de acordo com a lei das reservas de terrenos”.

Por outro lado, Chan Meng Kam, presidente da associação e antigo deputado, defendeu melhorias “na tutela dos Transportes e Obras Públicas” ao nível dos procedimentos administrativos, assim como a elevação “do processo de autorização e acelerar o planeamento de construção” em prol do “aperfeiçoamento do desenvolvimento urbano”.

As sugestões dos conterrâneos da província de Fujian, para a área das obras públicas, vão ainda no sentido de rever “a gestão de activos da concessão de telecomunicações, o aperfeiçoamento dos serviços de táxi, a gestão de fluxo de passageiros no aeroporto e a reconstrução de prédios antigos na zona norte”, entre outras. Raymond Tam prometeu focar-se “nas construções e instalações complementares nas zonas antigas, procurando conseguir um desenvolvimento equilibrado”.

Recorde-se que entre as empresas escolhidas pelo Governo para explorar as novas licenças de táxis surgem os nomes de vários dirigentes de associações ligadas à comunidade de Fujian e à Fundação de Chan Meng Kam.

Transportes preocupam

Raymond Tam reuniu também, a propósito das LAG, com a Associação Comercial de Macau, na sexta-feira. Ma Chi Ngai, presidente da direcção, lembrou a importância das áreas dos transportes e obras públicas por estarem “intrinsecamente ligadas à vida da população”, tendo sido apresentadas cinco sugestões. Uma delas prende-se com a necessidade de garantir que “a linha este do Metro Ligeiro e outras infra-estruturas essenciais sejam promovidas com sucesso e finalizadas conforme o calendário previsto, melhorando assim a eficiência do trânsito da cidade, proporcionando à população local e aos turistas uma deslocação mais facilitada e confortável”.

Foi também pedido um “plano destinado à rede de trânsito nos arredores da zona este da cidade”, tendo sido sugerida “uma concepção e aperfeiçoamento mais sistemático, com vista a aliviar a pressão do trânsito”.

Neste encontro, o secretário garantiu que irá tentar resolver estes problemas e que “a que a população está mais atenta, como as deslocações, habitação, planeamento urbano, coordenação entre estradas rodoviárias e obras públicas e o combate às inundações no Porto Interior”, sem esquecer “a protecção ambiental”.

No sábado o secretário reuniu com dirigentes da Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM) que sugeriram a elaboração “de um programa especial de trânsito e transportes em articulação com o desenvolvimento dos transportes transfronteiriços”. O organismo representado na Assembleia Legislativa pediu também “a operação estável do Metro Ligeiro e o aperfeiçoamento de instalações complementares”. Foi também solicitada a “optimização do número de táxis e elevar a qualidade dos serviços prestados pelos seus condutores”.

Raymond Tam disse que dará “primazia aos transportes públicos”, “crucial para melhorar a situação de tráfego em Macau”, ficando a promessa de resolver “alguns problemas existentes no Metro Ligeiro”, como “a suspensão de serviços por falhas técnicas, a morosidade na retoma dos serviços após condições meteorológicas extremas e a insuficiência relativa ao pagamento electrónico”.

Pedido desenvolvimento do sector financeiro

Dirigentes da União Geral das Associações de Moradores de Macau defenderam na sexta-feira, num encontro com o secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, a importância do “desenvolvimento do sector financeiro moderno e sector segurador” na elaboração de medidas para o novo relatório das Linhas de Acção Governativa. Segundo uma nota oficial, os dirigentes dos Moradores salientaram também a necessidade de promover a “economia comunitária, o programa de introdução de quadros qualificados e a exploração das actividades por pequenas e médias empresas”. Por seu lado, Tai Kin Ip disse que pretende “analisar de forma séria as opiniões e sugestões apresentadas”.

FAOM pede mais recursos para saúde mental

Dirigentes da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) pediram mais recursos para tratamento de doenças do foro mental, num encontro no sábado com a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam. Segundo uma nota oficial, foi defendida a necessidade de “aumentar os recursos de apoio à saúde mental, reforçando a ligações entre instituições públicas e privadas”. Para o novo relatório das Linhas de Acção Governativa para 2025, foi também discutida a necessidade de “formar mais quadros qualificados médicos locais” e “implementar medidas amigáveis às famílias, melhorando o ambiente e serviços das creches”, bem como “promover serviços profissionais de voluntários”. O Lam prometeu “a contínua revisão integral dos actuais serviços médicos”, além de se analisar o aumento das pensões e “aperfeiçoar o regime de segurança social”. A secretária reuniu também, no sábado, com a Associação Comercial de Macau, cujos dirigentes apontaram a necessidade de “aperfeiçoar o regime de registo do medicamento tradicional chinês”.

20 Jan 2025

Aviação | HK Express considerada a companhia low-cost mais segura

A nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras, da Airline Ratings, destaca a low-cost Hong Kong Express como líder do top 10. Na lista surgem outras companhias com voos para Macau, nomeadamente a AirAsia, em sexto lugar, e a JetStar, de Singapura, em segundo lugar

 

Foi divulgado na semana passada a nova edição do ranking de companhias áreas mais seguras do mundo pela Airline Ratings. E o destaque, no ramo das empresas de baixo custo, vai para a Hong Kong Express, com os organizadores da lista a explicarem que “em comparação com a lista do ano passado não houve mudanças significativas”. A HK Express “não teve nenhum incidente sério e mantém um registo de segurança relativamente impecável “, é ainda referido.

Citando a OAG, uma plataforma global que fornece dados de viagens, a Airline Ratings destaca, numa outra nota de 7 de Janeiro, que a HK Express, uma subsidiária da Cathay Pacific, “expandiu as suas operações de forma significativa no ano passado”, aumentando o número de voos em 46 por cento, “passando de 23.940 voos em 2023 para 35.015 em 2024”, graças “a uma rede alargada e à capacidade adicional da frota”.

O crescimento da HK Express parece estar em consonância, também segundo a OAG, com a “recuperação abrangente do Cathay Pacific Group, que restaurou totalmente as suas operações para níveis anteriores à pandemia”, tendo actualmente voos para 30 destinos em toda a Ásia, incluindo China, Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Malásia, Vietname, Tailândia e Filipinas.

Ainda no top 10 das mais seguras do mundo, e a preços mais baixos, estão a JetStar, de Singapura, e a AirAsia em sexto lugar, esta última com uma grande oferta de voos de e para o Aeroporto Internacional de Macau, nomeadamente para as cidades e regiões de Kuala Lumpur, Penang e Kota Kinabalu, na Malásia; Banguecoque e Chiang Mai, na Tailândia; Manila, capital das Filipinas, e ainda Jacarta e Bali, na Indonésia. Em oitavo lugar encontramos a VietJet Air, e a Cebu Pacific em 22º lugar, só para dar alguns exemplos.

No caso das companhias aéreas europeias, a Ryanair encontra-se em terceiro lugar em matéria de segurança, seguindo-se a EasyJet em quarto lugar. Os organizadores destacam ainda novas entradas para o ranking das companhias aéreas de baixo custo mais seguras do mundo, tal como a Zipair, Jet2 e a Air Baltic. Pelo contrário, verifica-se “uma notável omissão, este ano, com a Spirit Airlines”, que abriu falência, em Novembro de 2024, “para restruturação das suas finanças e redução da dívida”.

Air New Zealand em 1º

No que diz respeito às companhias áreas que operam no mercado regular, a mais segura é a Air New Zealand, seguindo-se a Qantas. Hong Kong volta a marcar pontos por ocupar a terceira posição com a Cathay Pacific, lugar partilhado com a Emirates, do Dubai; e a Qatar Airways. Da Ásia constam ainda companhias como a EVA Air, de Taiwan, em quarto lugar; e a Korean Air, em quinto. A portuguesa TAP Portugal surge em oitavo lugar.

Sharon Peterson, CEO da Arline Ratings, frisou que “a Air New Zealand e a Qantas voltaram a disputar o primeiro lugar com apenas 1,50 pontos de diferença”. “Embora ambas as companhias aéreas mantenham os mais elevados padrões de segurança e formação de pilotos, a Air New Zealand continua a ter uma frota mais jovem do que a Qantas, o que separa as duas”, acrescentou.

A edição deste ano do rating destaca a posição solidificada da Vietnam Airlines, que foi considerada a 22ª mais segura para viajar do mundo e que se destacou em prémios recentes da Airline Ratings. “A Vietnam Airlines não teve nenhum acidente fatal em 27 anos, nem nenhum incidente grave. A companhia aérea opera uma frota de 100 aeronaves modernas, com uma idade média inferior a 10 anos, e a empresa tem passado sem falhas a sua certificação IOSA desde 2006. Além disso, o Vietname também fez grandes progressos na segurança da aviação com melhores aeroportos, actualizações do sistema de navegação e protocolos muito mais rigorosos. Tudo isto, em conjunto, garante-lhes um lugar no nosso top 25”, disse Sharon Peterson.

A United Airlines surge em 23º lugar da lista das companhias áreas regulares mais seguras, quase nos últimos lugares. No caso do segmento low-cost, a Air Baltic ocupa a última posição, sendo uma estreia da empresa no ranking.

Singapore Airlines de saída

Ainda sobre os lugares cimeiros, Sharon Peterson destacou que “o empate a três para o terceiro lugar deveu-se ao facto de simplesmente não conseguirmos separar estas companhias aéreas”, isto porque “desde a idade da frota até às competências dos pilotos, práticas de segurança, dimensão da frota e número de incidentes, as pontuações foram idênticas”, referiu.

A CEO estabeleceu ainda uma comparação com a lista de 2024, sendo que “algumas das alterações mais significativas incluem a inclusão da Iberia e da Vietnam Airlines (que fizeram a sua estreia na lista), bem como a subida da Korean Air para o top 10”.

No tocante a ausências, refere-se a saída da Singapore Airlines e KLM. “Embora estas companhias aéreas continuem a ser excepcionalmente seguras e mantenham a sua classificação de segurança de sete estrelas, perderam por pouco um lugar este ano devido a incidentes ocorridos”, referiu na mesma nota.

Os critérios utilizados pela Airline Ratings prendem-se com a ocorrência de “incidentes sérios nos últimos dois anos”, a idade e tamanho da frota, o rácio de acidentes, o número de mortos, a formação e competências dos pilotos e demais certificações internacionais possuídas pela empresa. Um dos factores a ter em conta na hora de avaliar as empresas é também a forma como os acidentes são geridos.

Um estudo recente sobre segurança na área da aviação destaca que entre 2018 e 2022 o risco de mortes por voo foi de um por 13.7 milhões, sendo que, em comparação, “a Organização Mundial de Saúde estimou 1.19 milhões de mortes por acidentes nas estradas em 2023, o que representa mais de duas mortes por minuto”.

Trauma recente

Um dos acidentes aéreos mais recentes ocorreu na Coreia do Sul, praticamente no final do último ano. Um voo da Jeju Air teve um grave acidente de aterragem no aeroporto de Muan, levando à morte de 179 das 181 pessoas que seguiam a bordo. Os dois sobreviventes eram tripulantes do voo.

O Airline Ratings foi criado em 2012, analisando mais de 230 companhias áreas de todo o mundo que abrangem 99 por cento do mercado mundial de passageiros. De fora do top 25 estão companhias aéreas chinesas, incluindo a Air Macau.

20 Jan 2025

Mulheres | Defendida maior aposta no patriotismo dos jovens

Dirigentes da Associação Geral das Mulheres entendem que, aquando da elaboração do relatório para as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a tutela dos Assuntos Sociais e Cultura deve “reforçar continuamente os trabalhos relacionados com a educação patriótica dos jovens”, bem como “fortalecer a sensibilização para as comemorações importantes” e ainda “reforçar a cooperação regional sobre a educação patriótica”. Estas ideias foram deixadas por Un Sio Leng, presidente da direcção, num encontro com a secretária O Lam.

A reunião, que decorreu na quarta-feira, serviu para a recolha de opiniões sobre as LAG, integrando-se na ronda de encontros com associações tradicionais que o Governo tem levado a cabo. As restantes membros da direcção, como Cheung Pui Peng, Chong Leng Leng e Chau Wai I sugeriram “a criação da reserva de quadros qualificados diversificados, a implementação da transversalização de género e o apoio na participação das mulheres na política”. Foi também sugerido “o aumento dos valores dos subsídios para aliviar o custo de vida”.

O Lam, por sua vez, assegurou que vai ter em atenção, na elaboração das LAG para a tutela, “aos assuntos relacionados com o envelhecimento da sociedade, o crescimento dos jovens e a protecção das mulheres e das crianças”.

16 Jan 2025

Cheques | Pedidos limites para residentes que estão fora

A deputada Lo Choi In defende que o novo Executivo deve rever o sistema de comparticipação pecuniária, a fim de limitar a atribuição de cheques pecuniários aos residentes que estão fora de Macau. Para a responsável, deveria ser criado um mecanismo permanente de atribuição e definir que, para os receber, os residentes teriam de ficar em Macau 183 dias por ano

 

Numa altura em que o Governo já começou a ronda de auscultações a propósito do novo relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, a deputada Lo Choi In apresenta a sua sugestão: limitar a atribuição dos cheques pecuniários apenas aos residentes que vivem, de facto, em Macau, para uma melhor utilização dos fundos públicos.

Segundo o Jornal do Cidadão, a deputada afirmou que são necessárias alterações ao sistema de comparticipação pecuniária, que existe desde 2008 e que, actualmente, atribui aos residentes não permanentes seis mil patacas, e aos permanentes dez mil patacas, por ano.

A deputada ligada à comunidade de Jiangmen recordou que apoios como a pensão para idosos, o subsídio de sete mil patacas nas contas de previdência e o regime de segurança social obrigam os beneficiários a estar em Macau 183 dias por ano para os poderem receber, a fim de assegurar que estes mantêm uma relação estreita com o território. Assim, Lo Choi In afirmou que o mesmo argumento deveria ser aplicado no caso dos cheques pecuniários, a fim de melhor se aproveitar o erário público.

Para os residentes que já não vivem em Macau, a deputada defende limites na atribuição dos cheques, para que esse montante seja poupado e aplicado nos apoios ao desenvolvimento dos bairros comunitários e a incentivos à economia local.

Mudar a lei

Actualmente, o sistema de comparticipação pecuniária, nomeadamente quanto ao calendário de distribuição e valores, é decidido anualmente por regulamento administrativo, mas a deputada pede alterações na legislação para que a atribuição dos cheques passe a ter um funcionamento permanente. Lo Choi In lembrou que, nos últimos tempos, têm surgido opiniões sobre a necessidade de se melhor aproveitar os saldos orçamentais extraordinários e utilizá-los apenas com residentes que mantém uma ligação estreita a Macau.

Em 2022, o deputado Leong Sun Iok defendeu que o Executivo deveria deixar de atribuir cheques às pessoas com estatuto de residente que “já não têm contacto” com a região e que vivem “permanentemente” fora da China.

Nesse ano, a medida custou aos cofres públicos 7,23 mil milhões de patacas, sendo que mais de mil milhões de patacas foram distribuídos às “mais de 100.000” pessoas com estatuto de residente permanente, mas que “residem permanentemente no estrangeiro”, disse Leong Sun Iok numa sessão plenária.

16 Jan 2025

Encontro | Chineses Ultramarinos pedem melhores transportes a Raymond Tam

Dirigentes da Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau reuniram esta terça-feira com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam, a propósito da preparação do novo relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, tendo defendido a necessidade de melhores meios de transporte.

Lao Nga Wong, presidente da assembleia-geral, defendeu cinco medidas, nomeadamente a promoção dos veículos eléctricos e a construção de um “sistema de interligação entre os aeroportos de Macau, Hong Kong, Cantão, Shenzhen e Zhuhai”. Cheang Chan U, membro do conselho fiscal da associação, defendeu no encontro a “transformação do Aeroporto de Macau como um centro de trânsito internacional”, bem como “a abertura de mais destinos aéreos”, entre outras sugestões.

O secretário prometeu que a sua equipa vai analisar estas sugestões “de forma séria”, e que irá “aproveitar o posicionamento do desenvolvimento de Macau, integrando os excelentes recursos e potenciando sinergias”. Raymond Tam esclareceu ainda que “a criação de uma cidade inteligente é um dos trabalhos fundamentais” do novo Executivo.

16 Jan 2025

Economia | Previsto desenvolvimento estável para 2025

A Associação Económica de Macau acredita que o território terá, este ano, um desenvolvimento estável, tendo em conta os dados do Índice de Prosperidade publicados por esta entidade na terça-feira. Espera-se um crescimento do Produto Interno Bruto de 5 por cento em termos anuais

 

Dados divulgados esta terça-feira pela Associação Económica de Macau, relativos ao Índice de Prosperidade, apontam para uma estabilidade do desenvolvimento económico do território para este ano. Segundo um comunicado da associação, a economia local deverá ficar no nível considerado estável mediante este Índice, com 6,4 a 6,5 pontos, numa escala de 0 a 10. Os dados dizem respeito ao primeiro trimestre.

A associação denota que este nível estável é semelhante ao indicado nos meses de Novembro e Dezembro do ano passado, quando Macau registou também com 6,4 a 6,5 pontos. A entidade, liderada pelo antigo deputado nomeado Joey Lao, denota que é esperada a continuidade da estabilidade económica, com mais estímulos à confiança e uma maior modernização em alguns sectores, sendo estes “elementos importantes” para que a economia continue a estabilizar depois de três anos difíceis devido à pandemia. Outra previsão da associação, prende-se com o crescimento anual de 5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do território.

As causas

A equipa responsável pelo Índice destacou factores para o bom desempenho económico, nomeadamente a entrada em vigor do regime de múltiplas entradas para os residentes de Zhuhai e Hengqin em Macau, que vigora desde o dia 1 de Janeiro, esperando-se benefícios para os sectores do retalho e restauração.

Sobre o jogo, a associação alertou que o nível dos preços das acções das seis concessionárias se tem mantido baixo nos últimos tempos, bem como o índice de confiança do consumidor na China. Quanto a estes dois factores, prevê-se que se mantenham num nível baixo até Março deste ano, o que denota falta de confiança da parte dos investidores e também dos consumidores.

Além disso, foi apontado que a China pode ter um melhor desempenho económico este ano, prevendo-se que no Interior se reduzam as taxas de juro e taxas de reserva obrigatória para manter a liquidez e juros baixos, a fim de dar resposta “à incerteza dos mercados exteriores e para proporcionar condições para o crescimento económico”.

Ainda no tocante ao impacto da economia mundial, a associação destaca que persiste um cenário de incerteza, sobretudo no que diz respeito ao ritmo dos cortes nos juros. Um dos exemplos apontados foi o dos EUA, cuja Reserva Federal aplicou apenas dois cortes de juros este ano, o que significa que para muitos países o custo do capital permanece relativamente elevado a curto prazo.

Estima-se que tenha lugar um novo aumento dos juros, mas a chegada de Donald Trump à Casa Branca e as suas futuras políticas de tarifas alfandegárias dificultam as previsões da associação, é referido na mesma nota.

16 Jan 2025

Tribunal | Pai condenado por agredir filha

Um pai foi condenado a seis meses de prisão, suspensa na sua execução por dois anos pelo crime de ofensa qualificada à integridade física à filha, que passa a receber acompanhamento do Instituto de Acção Social.

O Ministério Público entendeu tratar-se de um crime de violência doméstica, mas o Tribunal Judicial de Base não teve a mesma análise.

O homem recorreu da sentença junto da Segunda Instância, que manteve a pena. Entre 2019 e 2021, este terá provocado “de forma não apurada emoções negativas na filha”, com brigas potenciadas pelo divórcio com a mãe desta. O homem chegou “a dar estalos na cabeça, puxando-lhe os cabelos e agarrando com força as mãos dela, o que lhe causou lesões”.

O tribunal entendeu que o pai foi o grande potenciador do estado mental da filha, cujo diagnóstico clínico “identificou maus-tratos físicos infantis e transtornos de adaptação com perturbação mista de emoções de ansiedade e depressão”.

16 Jan 2025

Coloane | Terminadas escavações arqueológicas

Terminaram em Outubro as escavações arqueológicas no terreno que dará origem ao Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac Sá, cabendo agora ao Instituto para os Assuntos Municipais continuar a desenvolver o projecto que foi alvo de remodelações

 

Está tudo a postos para o arranque da construção do Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac-Sá. Numa resposta do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) a uma interpelação escrita do deputado Lei Chan U, foi referido que as escavações arqueológicas no terreno, coordenadas pelo Instituto Cultural, terminaram em Outubro. Uma vez que os trabalhos de recuperação do campo também foram concluídos em Novembro, o IAM já dispõe do terreno para dar continuidade ao projecto.

Na resposta, assinada pelo actual presidente do IAM, Chao Wai Ieng, é referido que este organismo decidiu “aprofundar o projecto do Campo de Aventuras Juvenis da Praia de Hac Sá, a fim de criar uma base de treino ao ar livre para os jovens e um espaço de lazer agradável para todas as idades”, e tendo em conta “a auscultação das opiniões da sociedade.

Porém, os detalhes não foram, para já, avançados. “Os pormenores do projecto serão divulgados ao público em tempo oportuno”. O futuro Campo de Aventuras Juvenis será, no fundo, um parque de diversões com uma grande componente recreativa e desportiva, com uma área total de 10 hectares, 12 áreas funcionais temáticas e mais de 200 modalidades aquáticas e terrestres, incluindo um espaço de restauração. A ideia do Governo é “criar o maior campo de aventuras em Macau e das regiões vizinhas, oferecendo experiências de aventura a crianças, adolescentes e jovens”.

Mais trilhos

Ainda no que diz respeito ao desenvolvimento de Coloane, o IAM destaca os avanços na criação de mais trilhos. “Em 2024 iniciou-se a construção, em três fases, do trilho de lazer da Estrada de Hac Sá, localizado entre a Avenida de Luís de Camões e a Rotunda do Altinho de Ká Hó, sendo que a primeira fase já se encontra concluída.”

Desta forma, “a conclusão da segunda e terceira fases, que vão dos edifícios “Man Hong Un” até à Rotunda do Altinho de Ká Hó, está prevista para o segundo trimestre de 2025″, adiantou o presidente do IAM, em substituição de José Tavares.

É ainda referido na mesma resposta à interpelação de Lei Chan U que o IAM “continua a promover a construção do trilho de lazer de Coloane, que liga os principais pontos turísticos de Coloane, tendo concluído a construção de um troço do trilho que começa no Parque de Seac Pai Van, passando pela vila de Coloane, Granja do Óscar, com ligação à Praia de Cheoc Van”.

16 Jan 2025

Galaxy | Macau acolhe nova digressão dos Green Day

A banda norte-americana Green Day actua em Macau no dia 9 de Fevereiro na Galaxy Arena, num espectáculo integrado na “The Saviours Tour”, que vai também passar por diversas cidades asiáticas. Eis a oportunidade para recordar uma banda de punk rock que desde 1986 anda pelos palcos

É o fim dos rumores: os norte-americanos Green Day vão mesmo actuar em Macau, na Galaxy Arena, no próximo dia 9 de Fevereiro, num espectáculo integrado na tournée mundial que têm levado aos palcos nos últimos meses, a “The Saviours Tour”.

Depois de um post numa conta não oficial da banda na rede social Instagram, em Outubro, que anunciava a vinda do grupo a Macau, eis que a confirmação chegou às redes sociais da operadora de jogo Galaxy. O espectáculo acontece a partir das 20h de domingo, dia 9, sendo que os bilhetes começam a vender-se amanhã a partir das 15h, com preços a variar entre as 580 e as 2,800 patacas, preço este para quem quer ficar de pé junto ao palco.

A Galaxy destaca que os Green Day são “uma das bandas mais bem-sucedidas da história da música em termos de vendas, com mais de 70 milhões de álbuns vendidos em todo o mundo”. Além disso, “os números do streaming são ainda mais impressionantes, totalizando mais de dez mil milhões de ouvintes em várias plataformas”.

Além de Macau, os Green Day vão também tocar em Banguecoque, Tailândia, no dia 12 de Fevereiro; e depois no dia 15 em Jacarta, na Indonésia. A banda dará ainda um pulinho a Kuala Lumpur e a várias cidades do Japão, nomeadamente Osaka, Nagoya, Yokohama; sem esquecer os concertos na Índia e Austrália.

Novo álbum disponível

Antes de se chamarem Green Day, o nome do trio composto por Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool era The Sweet Children, mas em 1989 decidiram chamar-se Green Day e lançar o primeiro álbum de estúdio, “39/Smooth”. Desde então que a banda se consagrou como uma das mais importantes no género pop punk, ligado ao punk rock.

Em 2004, o grupo rebentou nas tabelas de vendas em todo o mundo com o aclamado “American Idiot”, onde constavam êxitos como “Boulevard of Broken Dreams”, que invadiu as rádios na altura.

O disco ganhou um Grammy em 2005 na categoria de “Melhor Álbum Rock”, tendo sido nomeado em outras seis categorias, incluindo para “Álbum do Ano”. No caso dos MTV Video Music Awards, os Green Day ganharam sete dos oito prémios para os quais estavam nomeados. O videoclip do single “Boulevard of Broken Dreams” conquistou seis desses prémios.

O sucesso deste disco foi tal que, dez anos depois, a banda decidiu lançar uma versão comemorativa, “American Idiot – 20th Anniversary Deluxe Edition”. Contudo, a banda acaba também de lançar um novo trabalho discográfico, “Saviours”, que traz os singles “Bobby Sox” e “Dilemma”, sendo que, no espectáculo na Galaxy Arena, os fãs de Macau podem esperar uma mescla dos velhos êxitos e de novas canções em palco.

15 Jan 2025

Gripe | TNR têm de pagar vacinas gratuitas para residentes

Os Serviços de Saúde divulgaram ontem um novo plano de acção de fomento da vacinação de prevenção contra a gripe, no qual os trabalhadores não residentes terão de pagar 95 patacas pelas vacinas, noticiou a TDM Rádio Macau. Apesar do pico de epidemia de gripe, as autoridades desdramatizam a subida de casos

 

As autoridades de saúde voltaram ontem a apelar à vacinação contra a gripe tendo em conta a ocorrência do pico de epidemia, mas se este plano é gratuito para residentes, o mesmo não acontece com os trabalhadores não residentes (TNR). Segundo noticiou a TDM Rádio Macau, estes terão de pagar 95 patacas pela vacinação nos centros de saúde. As vacinas vão ser administradas apenas em dois locais, o hospital Kiang Wu e a Clínica dos Operários, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), que opera no sector privado de saúde.

De resto, na conferência de imprensa de ontem, foi anunciado que mais de 170 mil pessoas já se vacinaram contra a gripe, tendo Leong Iek Hou, médica e chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos Serviços de Saúde (SS), desdramatizado a subida do número de casos, assegurando que continuam abaixo dos registados há um ano.

Relativamente às urgências do Centro Hospitalar Conde de São Januário, foi referido que o tempo médio de espera actual, para adultos, “é de cerca de uma hora”, enquanto que no período de pico dos casos de gripe o tempo de espera aumenta para cerca de duas horas. Porém, os SS garantem que têm nesta fase “os recursos humanos totalmente mobilizados”.

Foi ainda feito um apelo à vacinação tendo sido activado um plano de comunicação com associações e escolas no intuito de chamar a atenção da população, sobretudo idosos e portadores de doenças crónicas.

Mais informação

Numa nota divulgada pelos SS após a conferência, foi referido que os SS, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) e Instituto de Acção Social (IAS), irão lançar projectos de prevenção e controlo da gripe. Neste fim-de-semana, sábado e domingo, serão estabelecidos 15 postos de atendimento em várias zonas do território a fim de proporcionar uma melhor compreensão da gripe e os benefícios da vacinação.

Na área do ensino, a DSEDJ vai ter hoje uma reunião com as diversas escolas a fim de lembrar as melhores práticas de limpeza e desinfestação. Por sua vez, amanhã decorre outra sessão de esclarecimento com os SS e o IAS para as instituições de cariz social e os seus profissionais, a fim de garantir “a coordenação sobre medidas de resposta à gripe”. Serão também instalados cartazes em zonas comunitárias onde residem muitos idosos, como é o caso de Seac Pai Van, com mensagens de incentivo à vacinação, esclareceram os SS.

15 Jan 2025

Ensino | Lo Choi In exige limites nos trabalhos de casa

A deputada Lo Choi In entende que seria importante as escolas limitarem o número de trabalhos de casa passados a cada aluno, a fim de assegurar tempo livre necessário para a realização de outras actividades e reduzir problemas de saúde mental

 

Loi Choi In, deputada e vogal da Federação Nacional das Mulheres da China, considera que é necessário a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) ponderar uma alteração dos regulamentos administrativos para que as escolas e docentes reduzam o número de trabalhos de casa para cada aluno.

A deputada falou ao jornal Ou Mun depois da ocorrência de uma tentativa de suicídio numa escola local, defendendo também a redução do número de provas e testes a fim de aliviar a pressão sentida pelos estudantes e para que possa ser assegurado o descanso suficiente.

Lo Choi In entende que os factores potenciais de casos de suicídio são complexos, sendo que, no caso dos adolescentes, são sobretudo a vida escolar, as relações familiares e o estado de saúde. Por essa razão, a deputada diz que os casos de bullying entre os mais jovens e o excesso de trabalhos de casa são problemas que não podem ser ignorados pelas autoridades.

A deputada lamenta que, nos últimos anos, o número de trabalhos de casa não tenha diminuído, dando o exemplo de dois inquéritos publicados no ano passado que mostram que cerca de 70 por cento dos estudantes disseram sofrer um nível “médio-alto” de pressão, com os estudos a serem apontados como a causa principal.

Menos fatalidades

Tendo em conta os mesmos inquéritos, a deputada referiu ainda que cerca de 50 por cento dos estudantes inquiridos disse sentir pressão do nível “médio-alto” no que respeita aos trabalhos de casa, enquanto mais de 60 por cento disse que gasta mais de três horas por semana a realizar este tipo de exercícios. Além disso, metade dos inquiridos disse ter mais de cinco provas, entre exames e testes, por cada semestre.

Para Lo Choi In, estes dados comprovam que as instruções elaboradas pelas autoridades nos anos anteriores não trouxeram uma melhoria da situação, defendendo ainda ser necessária uma maior coordenação entre departamentos para prevenir casos de suicídio entre jovens.

Como exemplo, a deputada ligada à comunidade de Jiangmen defende que a DSEDJ deve cooperar com o Instituto de Acção Social e Serviços de Saúde em articulação para lidar com o fenómeno.

15 Jan 2025

Crime | Condenado por filmar mulher em supermercado

Um homem foi condenado a nove meses de prisão efectiva e ao pagamento de uma multa de 2.500 patacas por filmar debaixo das saias de uma mulher num supermercado, tendo sido considerado “crime de devassa da vida privada”. O homem recorreu, mas o Tribunal de Segunda Instância decidiu manter a pena aplicada na primeira instância.

O caso remonta a 15 de Agosto de 2022, quando o homem seguiu uma mulher até um supermercado na Taipa e a perseguiu nos corredores, “fingindo escolher mercadorias”. Depois, o homem “pegou no telemóvel, activando a função de filmagem, estendeu o braço e colocou o telemóvel por baixo da saia [da mulher] para filmar”, tendo o caso sido testemunhado por um outro cliente que denunciou a situação à mulher em causa.

Esta acabou por fazer queixa à polícia. O homem recorreu da sentença apresentando relatórios clínicos sobre o diagnóstico de transtornos de adaptação com emoções de ansiedade, dizendo que “os factores patológicos o levaram à conduta criminosa”, mas o argumento não convenceu os juízes.

14 Jan 2025

Consumo | “Mega Sales Carnival” com fracos números

Decorreu no último fim-de-semana a 22.ª edição do “Mega Sales Carnival”, na Doca dos Pescadores, mas os números de vendas não foram satisfatórios, registando-se menos comerciantes a participar e menos compradores locais. Lou Kam Fai, promotor e organizador do evento, justifica a falha com a realização recente do Grande Prémio de Consumo

 

A população de Macau compra cada vez menos no território e nem a realização de grandes eventos de incentivo ao consumo parecem colmatar a redução de lucros das pequenas lojas locais. Lou Kam Fai, vice-presidente da Associação das Companhias e Serviços de Publicidade de Macau, e promotor do evento, disse ao jornal Ou Mun que o evento “Mega Sales Carnival” [Carnaval dos Grandes Saldos], que decorreu no último fim-de-semana, de sexta-feira a domingo, na Doca dos Pescadores, não conseguiu obter grandes resultados ao nível das vendas.

Para Lam Kou Fai, os fracos resultados do evento podem explicar-se pelo facto de o Grande Prémio para o Consumo de Macau ter terminado há pouco tempo, no final de Dezembro. Assim sendo, Lou Kam Fai apontou que houve menos 15 por cento de comerciantes a participar no “Mega Sales Carnival” em comparação com a edição anterior, o que revela a atitude conservadora dos pequenos negócios face ao consumo mais reduzido dos residentes.

Lou Kam Fai fala também na redução do número de visitantes do evento, em cerca de dez por cento, o que é fruto da falta de vontade de consumir depois da realização do Grande Prémio de Consumo. O também organizador da feira destacou que, dada a proximidade do Ano Novo Chinês, o “Mega Sales Carnival” ofereceu bancas com mariscos secos e produtos de puericultura, o que atraiu algum movimento, caso contrário o fluxo de pessoas poderia ter sido bem pior, destacou.

Lou Kam Fai diz que é cada vez mais difícil e desafiante atrair consumidores locais para os pequenos negócios, sendo necessário saber conquistar o cliente, sobretudo com a realização deste tipo de feiras e eventos, destinados a mostrar e divulgar novos produtos.

Futuro vem de fora

Convidado a comentar o futuro do consumo com ligação ao sector das convenções e exposições, Lou Kam Fai apontou que vai convidar mais expositores e negócios da zona da Grande Baía, e outras províncias da China, para participar no “Mega Sales Carnival”, a fim de enriquecer a oferta de produtos e atrair mais turistas, bem como potenciais novos consumidores.

O responsável disse ainda que a feira vai tentar ser uma forma de expositores procurarem mais oportunidades de cooperação comercial, a fim de incentivar o intercâmbio de negócios entre Macau e regiões adjacentes.

Lou Kam Fai afirmou também que o sucesso do “Mega Sales Carnival” não depende apenas dos comerciantes, mas também dos apoios concedidos e do auxílio do Governo, sobretudo no que diz respeito à necessidade de simplificar procedimentos para a organização e concessão de apoio financeiro.

Desta forma, Lou Kam Fai sugere que o Governo reforce a cooperação entre departamentos públicos a fim de melhorar os recursos disponíveis e fomentar a partilha de informações, para que o “Mega Sales Carnival” possa desenvolver-se ainda mais.

14 Jan 2025

Hong Kong | Festival das Artes traz teatro, ópera e dança já em Fevereiro

Já é conhecido o cartaz da 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que traz um programa repleto de ballet, dança, música e teatro que promete agradar a todos, sem esquecer uma vertente educativa. Entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março apresentam-se vários espectáculos de um grupo de ópera de Xangai ou uma tragédia grega

 

Teatro, dança, ópera chinesa. São várias as artes que podem ser vistas na 53.ª edição do Festival de Artes de Hong Kong, que decorre entre os dias 19 de Fevereiro e 30 de Março em diversas salas de espectáculo da região vizinha.

Um dos destaques é a série de vários espectáculos protagonizados pelo grupo Shanghai Yue Opera House, que acontecem entre os dias 27 de Fevereiro e 1 de Março no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong.

O Shanghai Yue Opera House é descrito como “um dos mais importantes grupos de artes performativas da China”, celebrando este ano 70 anos de existência. Este grupo dedica-se à ópera Yue, um dos cinco géneros principais da ópera chinesa, inspirando-se em outros formatos de ópera chinesa, como a de Pequim, a ópera Kun e ópera Shao. A ópera Yue é oriunda de Zhejiang, e no caso específico deste grupo de Xangai, a sua estreia em Hong Kong fez-se em 1960.

Assim, o cartaz do 53.º Festival apresenta quatro programas, “a moderna ópera Yue Family, adaptada de um romance de renome; o adorado clássico The Jade Hairpin; uma das produções mais icónicas da trupe; The Butterfly Lovers (versão Yuan e Fan); bem como uma selecção magistral de excertos”, descreve-se na apresentação oficial do programa.

Já os amantes de ballet, podem assistir ao espectáculo do Ballet Nacional da República Checa, “La Sylphide”, que se apresenta entre os dias 6 e 8 de Março, também no Grande Teatro do Centro Cultural de Hong Kong. Esta é a oportunidade para o público se deixar “enfeitiçar por uma história de conto de fadas”, protagonizada por “uma heroína mágica, um belo herói de kilt e uma bruxa malvada”.

“La Sylphide” é um bailado bastante antigo, foi criado para o Royal Danish Ballet por August Bournonville em 1836, tendo sido “cuidadosamente preservado desde então”. Este espectáculo proporciona a oportunidade para recordar “o ballet romântico do início do século XIX”, tendo a Escócia como cenário e em que os bailarinos usam os tradicionais kilts escoceses. Segundo o cartaz, “a requintada dança de Bournonville irá cativar os amantes do ballet, enquanto as personagens animadas e a história de conto de fadas fazem deste um programa ideal para toda a família”.

Dançar com RV

No dia 29 de Março o Festival apresenta um espectáculo de música clássica com a China National Centre for the Performing Arts Orchestra, em que os músicos liderados pelo maestro Lu Jia vão interpretar composições de Franz Liszt e Richard Wagner.

Esta edição do Festival de Artes de Hong Kong traz também um espectáculo de dança interactiva com recurso à realidade virtual, intitulado “Le Bal de Paris”, de Blanca Li. Apresentado no Studio Theatre do Centro Cultural de Hong Kong, no dia 27 de Fevereiro e entre os dias 4 e 9 de Maio, proporciona ao público uma experiência de 40 minutos em que se mistura dança e realidade virtual, num projecto da coreógrafa espanhola e cineasta Bianca Li. É como se fosse um grande baile em Paris em que cada participante tem o seu próprio avatar, estando o espectáculo programado para dez espectadores e dois bailarinos profissionais em palco.

Da Grécia chega, nos dias 1 e 3 de Março, uma peça que remete para a mitologia grega, com a tragédia “Hippolytus”, do National Theatre of Greece, e que se baseia num clássico de Eurípides. Nesta peça, Hipólito, filho ilegítimo de Teseu e defensor declarado da castidade, ofende a deusa do amor, Afrodite, ao recusar a paixão carnal que ela tanto lhe pede. Assim, para o castigar, a deusa vingativa faz com que a sua madrasta se apaixone por ele, marcando o início da sua queda.

“Hippolytus” é uma produção de 2023 dirigida pela distinta encenadora e directora artística do Festival de Epidauro de Atenas, Katerina Evangelatos, tendo no elenco o total de 20 actores, mais um coro e um grupo de músicos. Esta peça apresenta-se no Lyric Theatre na Hong Kong Academy for Performing Arts.

Citada por um comunicado, Flora Yu, directora-executiva do Festival de Artes de Hong Kong, disse que esta edição “apresenta uma vasta gama de programas excepcionais destinados a inspirar e encantar o público, prometendo experiências inesquecíveis aos festivaleiros de todas as idades e origens”. A responsável destacou as apresentações com “mestres de renome de Hong Kong e de todo o mundo”, e “uma série de obras-primas inspiradas na literatura clássica da China e do mundo ocidental”.

Haverá ainda actividades no programa PLUS, com uma vertente mais pedagógica e educacional, que inclui “um extenso programa de divulgação e educação destinado a introduzir artes performativas de qualidade à próxima geração”, referiu Flora Yu. Os bilhetes começaram a ser vendidos em Dezembro, sendo que mais de 50 por cento foram vendidos no período de pré-venda.

10 Jan 2025

Política | Macau retrocede em termos de representação feminina

As deputadas lutam mais por temas relacionados com mulheres do que os seus colegas. A representação feminina na política local, nomeadamente no hemiciclo, continua “abaixo das médias globais e asiáticas”. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”

 

Macau está ainda aquém em termos de igualdade de géneros na política. Esta é a principal conclusão da dissertação de mestrado de Chan Wong Kuan defendida em Novembro de 2023 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, no ramo da Sociologia, e intitulada “Participação política das mulheres em Macau: Do ponto de vista de género e de políticas públicas”.

Da análise da académica retira-se a ideia de que em Macau prevalece “uma representação feminina abaixo das médias globais e asiáticas” e, para esta conclusão, foram analisadas 95 interpelações escritas dos deputados na Assembleia Legislativa (AL) “relacionadas com os interesses das mulheres” entre os anos de 1999 e 2022, entre a primeira à sétima legislatura.

Assim, “os resultados revelam que o número de deputadas permanece consistentemente num patamar relativamente baixo, mantendo-se em cinco desde 1999 até ao presente”. Segundo a autora do estudo, “embora se tenham registado flutuações ao longo desse período, com um máximo de sete e um mínimo de quatro deputadas, em termos gerais a evolução no número de deputadas tem sido muito limitada”.

Salienta-se também que, com o aumento do número de assentos de deputados na AL (33), “a proporção de deputadas em relação ao total tem diminuído”, pelo que “em Macau, as mulheres que constituem metade da população não alcançam um ‘reflexo exacto’ no órgão legislativo”.

Constata-se ainda que tem existido uma diminuição, nos últimos anos, da presença feminina no hemiciclo, ao contrário do que se verifica a nível regional e até mundial. “Constatámos que o número de mulheres em órgãos legislativos em muitas regiões está a aumentar, enquanto Macau está a experienciar uma tendência oposta. No caso da AL, o número de lugares ocupados por deputadas não é optimista. Em 1999, com 23 lugares, apenas 5 eram ocupados por mulheres, e quando o número de lugares aumentou para 33 lugares, em 2023, as mulheres continuaram a ocupar apenas 5 lugares.”

“Este número pessimista lembra-nos a baixa percentagem de representação descritiva das mulheres no órgão legislativo de Macau, com os homens a ocupar consistentemente o papel predominante neste espaço político”, pode ler-se.

Saúde e violência

No que diz respeito às interpelações analisadas, abordam “temas como violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”, sendo que, “em termos quantitativos, as deputadas adoptam uma posição mais activa em relação a estas questões quando comparadas com os seus colegas do sexo masculino”.

Das 95 interpelações, 61 foram apresentadas por deputadas e as restantes por deputados, o que mostram que são elas que “tomam mais acção para as mulheres”. É referido também na dissertação que “nas discussões de políticas, as deputadas abordam estas questões com uma perspectiva de género, destacando as situações específicas enfrentadas pelas mulheres em vários contextos”.

É, assim, “mais provável que demonstrem a vida, as perspectivas e as necessidades das mulheres de uma forma específica e multidimensional”. Desta forma, a autora do trabalho académico entende que “são as deputadas que melhor representam os interesses das mulheres”.

Em termos do volume de interpelações escritas com questões colocadas ao Governo, a autora conclui que “os deputados masculinos e as deputadas femininas empreendem acções para promover os interesses das mulheres”, mas persistem “nuances relevantes que apoiam a conclusão de que são as deputadas quem melhor representa os interesses das mulheres”.

A maioria dos temas das interpelações sobre “questões femininas” incidem sobre “maternidade, violência doméstica, crimes sexuais, saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Destes, “os três primeiros temas representam aproximadamente quatro quintos de todas as interpelações”.

Para a autora, “esse foco reflete a preocupação dos deputados em garantir a protecção dos direitos das gestantes e das mães, bem como a prevenção e o combate à violência e aos crimes sexuais”. O facto de os deputados colocarem estas questões “reflecte uma relativa negligência em relação às questões de saúde das mulheres e promoção da igualdade de género”. Desta forma, verifica-se um “desequilíbrio na atenção dada a diferentes aspectos das questões das mulheres”, algo que se pode relacionar “com estereótipos de género comuns na sociedade”.

Falta de perspectiva

O estudo analisa também a forma como os temas relacionados com a vida das mulheres são tratados consoante o género dos deputados. Assim, refere-se que “o único campo que não apresenta diferenças significativas é o da violência doméstica”, pois “os deputados e deputadas concentram as suas interpelações em medidas práticas para mitigar os danos causados às vítimas de violência doméstica e contribuem para a formulação de leis para combater e prevenir a violência doméstica”.

Porém, “no que diz respeito aos demais temas, as interpelações das deputadas revelam maior diversidade, abordando questões a partir de diversas perspectivas e enfatizando as necessidades e desafios das mulheres em contextos pertinentes”.

Um dos exemplos apontados diz respeito às interpelações sobre crimes sexuais, onde “as deputadas salientam a situação das mulheres enquanto vítimas, destacam a existência oculta do assédio sexual e do assédio verbal no local de trabalho, assim como com a ausência de respeito pelas mulheres no discurso das redes sociais em resposta a casos de assédio sexual em espaços públicos”.

As diferentes visões dos deputados consoante o género verificam-se no tema da relação da mulher com a maternidade e o mercado de trabalho. Neste caso, “os deputados sublinham a relação entre as mulheres e a reprodução, com foco na maternidade das mulheres”, enquanto “as deputadas destacam as pressões enfrentadas por grávidas no equilíbrio do trabalho e parentalidade, juntamente com as possíveis injustiças no ambiente de trabalho que podem surgir durante esse processo”. As deputadas são ainda “as únicas a demonstrar preocupação com os serviços médicos e a saúde das grávidas”.

Mulheres como vítimas

Outro tema que a autora procurou analisar foi a forma como as mulheres de Macau são representadas tendo em conta as questões colocadas pelos deputados nas interpelações escritas. Assim, “devido ao destaque conferido aos temas mais discutidos, como maternidade, violência doméstica e crimes sexuais, torna-se evidente que nas discussões de políticas na AL as mulheres são predominantemente associadas à identidade de mães e ao papel de grupos vulneráveis, tais como vítimas de violência doméstica e de crimes sexuais”.

Neste contexto, “as mulheres são frequentemente retratadas como vítimas, que precisam de auxílio, geradoras da reprodução humana e mães trabalhadoras que necessitam de equilibrar a vida familiar e profissional”.

Chan Wong Kuan diz ter encontrado apenas um exemplo de uma interpelação que encara as mulheres de outra perspectiva, “como tomadoras de decisões, desvinculadas de papéis maternos e laços familiares, representando-as como promotoras do desenvolvimento harmonioso e estável da sociedade”. A interpelação assinada por Iong Weng Ian, a 30 de Dezembro de 2005.

Desta forma, a académica entende que “as mulheres são predominantemente retratadas como figuras associadas à maternidade e vulnerabilidade, com poucas representações de outras possibilidades”.

“A diversidade das mulheres está negligenciada, uma vez que as declarações dos deputados enfatizam a vulnerabilidade e as necessidades das mulheres em contextos específicos, ao mesmo tempo que negligenciam a multiplicidade de papéis que as mulheres podem desempenhar. As mulheres não se limitam a ser apenas vítimas ou mães; elas também podem actuar como profissionais, líderes, participantes da comunidade, entre outros”, é referido.

Assim, a dissertação diz mesmo que os deputados, ao “ignorar essa diversidade” podem contribuir para a “simplificação e perpetuação de estereótipos em relação ao papel das mulheres, o que pode afectar a atenção aos seus direitos integrais”.

Destaque ainda para o facto de, em 95 interpelações, a autora ter encontrado apenas uma apresentada por um deputado cuja temática versava sobre a promoção da igualdade de género.

Já a deputada Wong Kit Cheng é referida como o exemplo a seguir, pois não só foi “a deputada mais activa” como apresentou interpelações sobre todos os temas acima descritos relacionados com as mulheres. Assim, é destacado “o papel crucial desempenhado pela deputada Wong Kit Cheng como uma protagonista fundamental na promoção dos interesses das mulheres”.

10 Jan 2025

Livro | Obra de Telma Carvalho explora exemplos de chinês vernacular na literatura

“A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa” é o mais recente livro editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau e a Universidade de Macau da autoria de Telma Carvalho. Nele a autora procurou analisar e traduzir escritos de autores chineses que começaram a usar o chinês vernacular na literatura, publicados na revista Nova Juventude

 

Foi editado, em Dezembro último, o livro “A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa”, da autoria de Telma Carvalho, licenciada e mestre em Tradução e Interpretação Português-Chinês e Chinês-Português, sendo esta obra resultado do relatório de projecto para a conclusão do mestrado.

O livro, editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) em parceria com a Universidade de Macau (UM), procura analisar alguns exemplos de chinês vernacular que começaram a ser usados por autores chineses no princípio do século XX, e que pertenceram ao chamado movimento “Nova Cultura”. Depois da queda do regime imperial, com a revolução Republicana de 1911, começou a pensar-se numa forma mais simplificada de usar o idioma, baseado na linguagem falada, ao invés do chinês clássico e literário usado até então.

Desta forma, este livro procura caracterizar “as primeiras experiências literárias em chinês vernacular que integraram a revista Nova Juventude”, que foi “uma publicação central no debate cultural durante o movimento Nova Cultura”.

“Tendo como ponto de partida as criações literárias que surgem como resposta aos primeiros apelos do movimento”, a autora olhou “para os contextos dos autores e elementos que contribuíram para a construção de uma nova literatura no país”.

Além disso, a obra inclui, segundo uma nota oficial, “a análise a algumas mudanças linguísticas manifestas nos textos publicados neste período de revolução linguística e que persistem no chinês de hoje”.

No início do século XX, sobretudo com o início do regime republicano, a China “testemunhou profundas transformações políticas e sociais”, sendo a mais marcante no domínio da língua. “Após décadas de crescente contestação ao uso predominante de chinês clássico na escrita, viveu-se na era republicana uma mudança de paradigma, resultante de insistentes apelos a uma generalização do chinês vernacular”, é explicado.

Porém, o chamado movimento Nova Cultura não se debruçou apenas sobre o uso da língua, tendo também feito “uma profunda reflexão sobre vários aspectos da cultura e da sociedade”, pelo que se defendeu “a criação de uma nova literatura a partir de uma livre experimentação literária em chinês vernacular”. Desta forma, “a chamada revolução literária em 1917 marcaria o início da literatura moderna chinesa”.

Lu Xun e companhia

O relatório de projecto, defendido na Universidade de Lisboa para a obtenção do mestrado na área da tradução e interpretação, contém análises e traduções aos escritos de Hu Shi, nomeadamente quanto às suas sugestões para uma reforma da literatura; Chen Duxiu e a sua “chamada para a revolução literária”; Chen Hengzhe, Lu Xun, Zhou Zuoren e Liu Bannong.

Conforme explica a autora no referido projecto que dá origem ao livro, “todos os grandes nomes da literatura moderna chinesa haviam presenciado, directa ou indirectamente, um momento marcante na língua e literatura do país”, que foi o Movimento Quatro de Maio.

Desta forma, “a afirmação do chinês vernacular na literatura e na sociedade chinesas, no início do século passado, tinha aberto as portas para essas forças criativas”, destacando-se o papel que a revista Nova Juventude teve, ajudando “a moldar o chinês moderno”, tal como o fizeram outras publicações.

Telma Carvalho denota ainda que nas páginas desta revista “encontram-se alguns dos experimentalistas que, não constando nas listas de grandes nomes literários chineses, certamente contribuíram para os sucessos da literatura que se desvendariam mais tarde”.

Relativamente às mudanças ocorridas na China no início do século XX, Telma Carvalho descreve que “a amálgama de acontecimentos culturais dificultou a delimitação entre a reforma literária e outras restruturações sociais, mas possibilitou um pluralismo de ideias e uma abertura para o diálogo, o que se relaciona com as vidas dos autores e as suas experimentações literárias”.

Além do curso de tradução, que incluiu a frequência de alguns semestres em Macau e Pequim, Telma Carvalho viveu durante dez anos em diferentes regiões da China. Nesse período, foi professora universitária nas áreas de português e de tradução e aprofundou os seus conhecimentos sobre a cultura e sociedade chinesas. Em 2020, concluiu o mestrado, e no ano seguinte traduziu para português “O Problema dos Três Corpos”, de Liu Cixin.

9 Jan 2025

Fim de ano | Sugerido fogo-de-artifício na zona de Nam Van

Face à desilusão com a falta de fogo-de-artifício na península de Macau no fim de ano, António Monteiro sugere um espectáculo pirotécnico ou de drones com foco na paisagem urbana de Macau. O membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários lamenta que no réveillon a imagem de Macau no exterior seja a Torre Eiffel do Parisian

 

Macau poderia oferecer mais nas noites de fim de ano, nomeadamente um espectáculo de fogo-de-artifício ou de drones que ilumine a paisagem urbana da península, nomeadamente da zona de Nam Van, ao invés de remeter essa tarefa para as concessionárias de jogo. Este é o entendimento de António Monteiro, expresso ontem na reunião do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários.

O responsável realça a desilusão sentida por vários residentes e turistas que esperavam um espectáculo pirotécnico na zona do Nam Van na península de Macau na altura da passagem do ano. Aliás, o desapontamento colectivo correu as redes sociais com a partilha de vídeos de uma pequena multidão a aguardar, de telemóvel em riste, para filmar o fogo-de-artifício. O próprio Instituto Cultural, veio a publicar dar explicações e afirmar que esta não era uma tradição local.

Porém, António Monteiro questiona porque se fazem ao longo do ano “várias celebrações, com fogos de artifício, desde o concurso de fogo-de-artifício, o Ano Novo Chinês, celebrações festivas dos dias 1 de Outubro e do dia 20 de Dezembro, mas quando chega o fim do ano, tem-se mostrado alguma hesitação nos últimos anos no lado de Macau”. O conselheiro acrescenta que tal não acontecia antes da pandemia.

Copiar e colar

António Monteiro, também secretário-geral do Instituto Internacional de Macau, refere ainda que as festividades deste ano não favorecem a reputação do território a nível internacional. “A imagem de Macau no exterior é vista apenas com a Torre Eiffel do Parisian, ao invés da paisagem urbana de Macau ou da sua baía, quando comparamos com as celebrações de contagem do ano em Hong Kong, Dubai, Londres, e a verdadeira Torre Eiffel de Paris, na França”.

António Monteiro recorda também a posição de Macau enquanto Centro Mundial de Turismo e Lazer e de “Pérola da Pátria”, como referiu o Presidente Xi Jinping durante a sua última visita à RAEM, algo que não sobressai nas celebrações de fim de ano.

A beleza e singularidade da baía e marginal da península, a Torre de Macau e os edifícios distintos como o Grand Lisboa, Hotel Lisboa e outros hotéis, até chegar ao Centro Cultural de Macau e o Centro de Ciência e a Sands Macao, são paisagens que o responsável destaca como possíveis locais a abrilhantar com um fogo-de-artifício de fim de ano.

Como tal, António Monteiro sugere um “concurso pirotécnico ou de espectáculo de Drones, com foco na paisagem urbana de Macau e até de Hengqin, incluindo as celebrações habituais na Taipa e no Cotai”.

9 Jan 2025

Gastronomia | “Receita di Casa”, de Antonieta Manhão, lançado amanhã

Antonieta Manhão, figura incontornável da gastronomia macaense, lança amanhã um livro de receitas, estreando-se nas lides editoriais. “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” é uma obra trilingue feita para as bancadas da cozinha e para tornar mais prática uma gastronomia única

 

Chama-se “Receita di Casa – Homemade Macanese Cuisine” e, tal como o nome indica, é o livro que quer ensinar qualquer pessoa, com pouca ou muita experiência na cozinha, a fazer pratos macaenses. A obra, lançada amanhã com o apoio do Instituto Internacional de Macau (IIM), é a primeira incursão da chef Antonieta Manhão, a “Chef Neta”, nas lides editoriais na área da gastronomia.

A obra contém 19 receitas da casa da “Chef Neta”, nomeadamente o tradicional “Minchi”, talvez o mais conhecido de todos os pratos macaenses, o “Tacho”, a “Capela”, petiscos variados, como o pão recheado ou chamuças, e ainda o “Balichão Tamarindo”. Ao HM, Antonieta Manhão explicou que a escolha destas receitas recaiu no facto de serem as “mais conhecidas dentro e fora de Macau”, além de estarem bastante presentes nos cursos que ministra na Universidade de Turismo de Macau (UTM) aos alunos de cozinha e hotelaria.

Para a chef, “era necessário lançar mais um livro de comida macaense”, sendo que este lançamento foi adiado devido à pandemia. “Trata-se de uma obra para ser utilizada e para não ter apenas na estante, é mesmo um livro para ficar sujo e para que se veja como se faz a comida macaense, não é como outros livros de culinária que se colocam na estante e não são usados. Contém as informações que dou nas aulas e serve para as pessoas apreciarem verdadeiramente as receitas. Não são receitas fáceis, mas a preparação é razoável em termos de grau de dificuldade”, explicou.

A obra está à venda a partir de sábado. “Espero que as pessoas comprem o livro e possam aprender a comida macaense aos poucos. É uma obra para qualquer pessoa, coloco as horas de preparação e todas as instruções para se fazer a receita.”

No meio de tantos pratos, cheiros e paladares variados, uma receita sobressai como a preferida de Antonieta Manhão, que lhe foi transmitida por um tio, que já faleceu. O prato, que denominou como “Bacalhau à Zeca”, é um autêntico legado à mesa. “É uma receita de bacalhau ligeiramente diferente. Sempre que há festas em casa, como no Natal, faço este bacalhau.”

Apesar de estar há muito tempo ligada a tachos e panelas, e na promoção da comida macaense, a “Chef Neta” entrou tarde numa cozinha. “Na minha infância nunca entrei na cozinha, porque a minha avó não deixava, achava que era perigoso deixar entrar as crianças na cozinha. Quando cresci, após o falecimento de várias pessoas, sempre tive tias que queriam manter as receitas e recordar a preparação dessas comidas. Havia certos pratos que tinham de estar sempre na mesa, e no Natal sempre preparámos todos estes pratos.”

A autora estreante referiu ainda que outro dos motivos para editar o “Receitas di Casa” é o facto de “em Macau os pratos que estão no livro estarem a desaparecer aos poucos”. “Quero que as pessoas consigam manter as memórias antigas que têm destes pratos”, acrescentou.

Aulas para turistas

Tendo em conta o risco que existe do desaparecimento, ou diluição noutras gastronomias, da comida macaense, Antonieta Manhão lamenta que “há cada vez menos restaurantes em Macau onde se consegue comer comida verdadeiramente macaense, porque não há chefes ou macaenses que consigam dar aulas ou apoio na cozinha”.

“Temos pessoas com idade que não conseguem estar mais de 10 horas numa cozinha. Temos de ensinar os jovens para que aprendam mais sobre a gastronomia macaense, para que possam ser chefes deste tipo de cozinha”, disse.

Para evitar o total desaparecimento deste tipo de gastronomia, a chef sugere a criação de aulas culinárias para turistas. “Tanto o Governo como nós, chefes, temos de promover mais a nossa gastronomia fora de Macau, para que as pessoas saibam o que se come cá. São necessárias mais aulas para os turistas, como se faz na Tailândia. As pessoas gostam de aprender dessa forma. Também podemos dar formações nas escolas secundárias e ensino superior, para que os alunos saibam que Macau teve administração portuguesa e que a comunidade macaense tem este tipo de gastronomia. Nas promoções lá fora, deve-se levar mais a comida macaense para que as pessoas provem.”

No caso das aulas que dá na UTM, há cinco anos, Antonieta Manhão diz que “há muita procura” pela aprendizagem da comida macaense. “As minhas aulas de comida macaense estão sempre cheias, não tenho falta de alunos. Penso que os alunos querem muito aprender sobre a nossa comida macaense, por um único motivo. Antes os jovens comiam pratos uma ou duas vezes porque ainda tinham familiares que cozinhavam, e agora querem aprender por uma questão de memória, para se recordar desses momentos em família.”

“Iron Chef” foi uma “aventura”

Desde que participou no programa de culinária “Iron Chef”, na Tailândia, que a carreira de Antonieta Manhão deu um grande salto, dedicando-se não só a ensinar como se fazem pratos macaenses, mas também a promover este tipo de gastronomia no estrangeiro, muitas vezes com o apoio da Direcção dos Serviços de Turismo.

Uma das últimas iniciativas decorreu em Novembro do ano passado numa escola de hotelaria e turismo em Guangzhou, onde ensinou alguns pratos de comida macaense a 43 alunos.

Há cinco anos, a “Chef Neta” foi mesmo uma das convidadas do programa matinal da TVI, “Você na TV”, transmitido em Portugal, onde deu a conhecer ao público de Portugal as receitas de “Pão Recheado” e “Capela”, feitos com carne de porco.

“Há pessoas que conhecem Macau com ligação ao jogo, mas quase ninguém conhece a comida macaense e foi por isso que fui ao ‘Iron Chef’. Foi uma aventura, porque a gastronomia macaense nunca tinha estado neste tipo de competições. Fiz um prato de bacalhau, e muitos outros, mesmo para as pessoas ficarem a conhecer”, contou.

Antonieta Manhão, que está também ligada à Confraria da Gastronomia Macaense, participou no programa por convite, competindo com outro chef residente do concurso. Tendo em conta que cada chef tinha de introduzir um ingrediente secreto, a “Chef Neta” levou ostras, que juntou à receita de bacalhau.

Porém, hoje em dia, a chef diz ser difícil criar novos pratos macaenses, por haver o risco de se desviar daquilo que é verdadeiramente tradicional neste tipo de cozinha de fusão, onde a comida portuguesa casa com a chinesa e, muitas vezes, com iguarias do Sudeste Asiático. Muitas vezes os molhos e temperos são semelhantes, mas combinados de forma diferente. A chef explica que há ingredientes como o louro ou açafrão usados na comida portuguesa e macaense, por exemplo.

“É difícil modificar as receitas existentes e criar novas, pois assim deixa de ser a comida macaense. A única coisa que se pode fazer é adaptar e melhorar alguns pratos com novos ingredientes, usando carne de porco preto, por exemplo. Muitos desses ingredientes não se usavam antes porque não havia”, rematou.

9 Jan 2025

Venetian | Super Sound Festival traz várias estrelas a Macau

Uma dúzia de artistas de K-Pop vão pisar o palco do Venetian Arena no dia 18 de Janeiro. Irene, B.I., Youngjae, MAMAMOO+ ou Anson Lo e Keung To, integrantes da banda Mirror, de Hong Kong, são alguns dos nomes do Super Sound Festival. Os bilhetes já estão à venda

 

Já é conhecido o cartaz do próximo festival de K-Pop que irá decorrer em Macau, no dia 18 deste mês, na Venetian Arena: o Super Sound Festival traz 12 cantores de K-Pop e cantopop, com nomes bem conhecidos dos fãs destes géneros musicais, como a dupla Anson Lo e Keung To, integrantes da banda de Hong Kong Mirror. Seguem-se nomes como Kep1er, Xdinary Heroes, Cravity, B.I., Irene, MAMAMOO+, YoungJae, BTOB, Onew, TVXQ! e RAIN.

No caso de Irene, pseudónimo artístico de Bae Joo-hyun, trata-se de uma artista de 33 anos que explora também o universo da interpretação, sendo essencialmente conhecida por ter liderado o grupo pop Rede Velvet, além de ter integrado um outro grupo musical saído deste projecto, os Red Velvet – Irene & Seulgi. A sua estreia a solo no mundo da música é bastante recente, pois Irene lançou o álbum “Like a Flower” apenas a 26 de Novembro último.

Assim sendo, o público de Macau poderá apreciar as músicas que integram este trabalho, além de voltar a ver dois integrantes da famosa banda Mirror, de Hong Kong, um dos expoentes máximos do género cantopop na região vizinha.

Anson Lo, um dos artistas dos Mirror que sobe ao palco da Venetian Arena, é também actor e bailarino, tendo feito a sua estreia nos Mirror em 2018. Porém, dois anos depois, apostaria tudo numa carreira a solo, lançando o primeiro single “A Lifelong Mission”.

Oriundos de Seul, os TVXQ! é um duo masculino que anda nas lides do K-Pop desde 2003. O início do grupo deu-se com cinco elementos e com o lançamento dos singles “Hug” e “O Holy Night”. Mais tarde, devido a disputas judiciais, os membros Hero, Micky e Xiah saíram do grupo para formar o trio JYJ.

Em 2004, o grupo lançou o seu primeiro álbum, “Tri-Angle”, seguindo-se “Rising Sun”, logo em 2005, e depois “O-Jung.Ban.Hap”, em 2006. A banda lançou já um total de nove álbuns, sendo que o mais recente foi lançado em 2023, “20&2”.

Raparigas em palco

Do cartaz do Super Sound Festival destaca-se ainda a “girls band” MAMAMOO, composta por quatro cantoras de nome Solar, Moonbyul, Wheein e Hwasa. Já levam alguns anos de palco e de gravações, tendo feito a sua estreia a 18 de Junho de 2014, com o lançamento do álbum “Hello”. Em Macau, apenas dois elementos vão actuar, depois da banda ter sofrido alguns ajustes na sua composição, devido às saídas de Hwasa e Wheein.

Outro grupo que também sofreu ajustes, é o BTOB, formado em 2012 com seis cantores: Eunkwang, Minhyuk, Changsub, Hyunsik, Peniel e Sungjae, tendo Illhoon deixado o grupo em 2020. O single de estreia foi “Insane”, lançado logo em 2012.

Ainda da Coreia do Sul surge mais um nome integrante do Super Sound Festival: Youngjae, nome artístico de Choi Young-Jae, actua a solo na Venetian Arena, mas a sua carreira já foi feita ao lado da banda GOT7, onde foi o vocalista principal. Tal como acontece em inúmeros grupos do género, o vocalista acaba por sair do projecto para construir uma carreira a solo. “Colors from Ars” saiu em 2021, sendo que “Ars”, nome pelo qual também é reconhecido em termos artísticos, é mais utilizado para a sua faceta como compositor.

O festival começa às 16h30, prolongando-se até às 22h30. Os bilhetes já se encontram à venda, começando nas 880 patacas.

8 Jan 2025

História | Burlão passou-se por “príncipe de Macau” no século XVIII

Rodolphe Barack Famard passou por Macau no século XVIII. A visita inspirou-o a apresentar-se às autoridades francesas como Príncipe de Macau quando foi preso, em 1749, assinando como “Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao”. O historiador Ivo Carneiro de Sousa conta a história do burlão na Revista de Cultura

 

Macau, território administrado por Portugal desde meados do século XVI, teve um falso príncipe, negro, que se apresentou como sendo “Príncipe de Macau” aquando da sua prisão no porto de Morlaix, a 24 de Setembro de 1749. Porém, a tentativa de encarnar a falsa realeza acabou por ser desmascarada pelas autoridades francesas.

A história é contada pelo historiador Ivo Carneiro de Sousa, docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), na última edição da Revista de Cultura, editada pelo Instituto Cultural. O historiador vasculhou o que resta da documentação sobre esta detenção em França, revelando detalhes de um episódio que roça o caricatural na história de Macau.

O artigo, intitulado “Rodolfo, ‘Deo Gratias Princeps ad Macao’: A faked prince of Macao in 18th century France” conta como, em 1749, “um ‘negro soberbo’, bem vestido, falando e escrevendo francês com uma desenvoltura surpreendente, foi preso no porto de Morlaix, em Finisterra, habitualmente frequentado por corsários bretões”. Porém, o seu nome verdadeiro era Rodolphe Barack Famard, e não passava de um comum mortal, sem ligações à realeza, muito menos a uma família real de Macau que nunca existiu.

A prisão aconteceu depois da ocorrência “de uma briga numa taberna da cidade”, sendo que “Rodolfo” já era “procurado em vários portos da Bretanha por ter deixado muitas contas por pagar e distribuído notas de débito e de câmbio falsas”. Durante o interrogatório conduzido pelas autoridades, o homem “identificou-se surpreendentemente como o ‘Príncipe de Macau’ e o filho mais velho do seu rei, o ‘Grande Senhor de Macau’. Para espanto dos agentes, assinou com elegância as suas declarações como ‘Rodolfo, Deo Gratias Princeps ad Macao'”, pode ler-se.

Numa altura em que o comércio estrangeiro abundava em Macau, a história inventada por Rodolphe Barack Famard terá sido influenciada “pelas abundantes e provavelmente bizarras histórias orais que circulavam entre esses muitos marinheiros, comerciantes e aventureiros franceses que, partindo principalmente do porto de Lorient, chegaram ao fim de uma longa viagem para comerciar em Cantão, passando por Macau, sem nunca terem, afinal, posto os pés nas duas cidades”.

Segundo a análise de Ivo Carneiro de Sousa, estaria em causa a transmissão de “relatos vibrantes dos capitães e oficiais dos navios sobre as suas visitas a Macau, uma vez que Cantão estava fechada a estrangeiros”.

“Os relatos orais destas longas e singulares viagens foram certamente transformados em histórias fantásticas, aventurosas e divertidas na cultura marítima dos portos da Bretanha, onde era recrutada a maior parte destes marinheiros que navegavam para os mares asiáticos”, descreve ainda o historiador. O autor refere ainda que “a invenção fabulosa da falsa identidade de ‘Rodolfo’ como príncipe de Macau deve ser interpretada no âmbito destas práticas culturais populares”.

Quem era o “príncipe”?

O docente e investigador, que consultou os registos criminais referente à detenção, aponta que “Rodolfo” foi descrito pelos polícias como um “negro soberbo” e “bem vestido”, tendo revelado “surpresa e uma certa admiração” com o ocorrido aquando da sua prisão. Porém, no que diz respeito aos documentos do hospital de Bicêtre, por onde o homem passou, descrevem “uma personagem exótica, representada entre um ‘árabe’ e um ‘hindu’, venerada pelos seus companheiros de prisão, e por alguns guardas, sob a breve identificação oficial de ‘Barack’, o ‘príncipe de Macau’.

Porém, segundo relata o artigo, é “difícil de afirmar a identidade social e cultural” deste falso príncipe de Macau, pois não existe uma “prova documental remota” da “identificação sugerida”, que aponta “Rodolfo” como sendo “filho de Jacques e Elisabeth Bart de Valenciennes”.

Ainda assim, “o seu retrato físico e cultural pode, com algum esforço, indicar um grupo muito pouco estudado de marinheiros e pilotos com capacidades excepcionais de navegação no Oceano Índico, mobilizados pelo comércio europeu desde o final do século XV nos principais portos de Moçambique, Quénia, Tanzânia e, mais tarde, nas ilhas Mascarenhas, Madagáscar e Comores”.

Apesar da dificuldade de percepcionar as suas origens, “Rodolfo” terá sido “um homem com conhecimentos e experiência suficientes em viagens marítimas para sair rapidamente do hospital-prisão de Bicêtre, provavelmente curado e recrutado à força para o comércio ultramarino da Companhia Francesa das Índias Orientais”.

Por que mares navegou

Ivo Carneiro de Sousa descreve que não conseguiu apurar “quantas viagens Rodolfo fez e se chegou perto de Macau em alguma delas, mas a sua última e fatal aventura marítima está bem documentada”. Aconteceu a 7 de Março de 1758, partindo de Lorient no veleiro “Rôle de la Baleine” com destino a Pondichéry, “então o mais importante enclave comercial francês na Índia”. Teria então 33 anos e seria “patrão de marinheiros”. Nessa viagem, “o navio navegou da Bretanha para o Rio de Janeiro; daqui, contornou o Cabo da Boa Esperança, depois fez escalas nas Mascarenhas e em Madagáscar, dirigindo-se para Pondichéry, onde os navios ingleses o aprisionaram no mar”. “Rodolfo” terá ficado “preso, possivelmente ferido ou doente”, após ter sido “enviado para o hospital da marinha de Fareham”, acabou por falecer com menos de 40 anos.

Para Ivo Carneiro de Sousa, esta história prova que Macau deu azo a inúmeras histórias e fantasias ao longo dos anos. “A sua incrível história provou, através de uma falsificação entre a mitomania e a libertinagem, que Macau foi muito mais do que uma cidade referencial de comércio no século XVIII, para se tornar num locus de aventuras excitantes e exotismos imaginados que atingiram o mundo do comércio marítimo internacional.”

Fácil de comprovar

A história surge documentada numa carta régia de justiça constante num inventário de 1864 feito por Aristide Joly, e integrado na colecção “Memórias Lidas na Sorbonne”. Neste inventário, é descrito, “entre outros casos criminais menos vibrantes, o singular dossier de ‘um aventureiro negro detido em Morlaix’, que, em meados do século XVIII, se dizia ‘filho de um príncipe das Índias Orientais e grande senhor de Macau'”.

A mesma história surgiu depois no Journal des Débats Politiques et Littéraires, de 16 de Agosto de 1923, no texto intitulado “Um príncipe negro e a polícia no século XVIII”, assinado por Étienne Dupont, magistrado e historiador.

Ivo Carneiro de Sousa avança mais detalhes do diálogo que o falso príncipe teve com as autoridades. Além de se auto-denominar “Príncipe de Macau”, disse ter 25 anos e deixado o território “No Dia Real de 1746”, além de que “o seu pai e mãe estavam ainda vivos, mas não o queriam ver mais desde que ele se tinha tornado cristão”. Este disse ainda que “tinha partido no navio ‘Mettais Querquanny’ e desembarcado em Lisboa e que não tinha tido residência fixa nos últimos anos”.

O polícia George François Moreau, que o interrogou, depressa percebeu que o relato que acabava de ouvir não passava de fantasia. “As pessoas de Macau não são negras! E desde quando, por favor, é que o príncipe herdeiro daquele país é chamado de Delfim? Sempre acreditei, até agora, que esse título estava apenas atribuído ao filho mais velho de Sua Majestade o Rei de França?”.

Além disso, a documentação histórica da primeira metade do século XVIII, “incluindo os que usam a palavra colónia, impressos, manuscritos ou outros documentos, desde ficheiros oficiais a mapas e iconografias, nunca representaram Macau como um território ‘monárquico’ com reis, príncipes ou ‘grandes lordes’. Nesse contexto, as autoridades policiais e judiciais de um porto comercial e de corsários bastante movimentado como Morlaix não teriam dificuldades em ter um resumo de informações credíveis sobre Macau”, destaca Ivo Carneiro de Sousa.

8 Jan 2025

TSI | Gestor de centro médico condenado por falsos recibos

Um assistente de um centro médico, com funções de gestão, foi condenado a um ano de prisão, com pena suspensa por dois anos, pelo crime de co-autoria de falsificação de documentos por ter passado falsos recibos médicos a um homem que nunca consultou o médico, a fim de enganar a seguradora. O crime foi cometido com o conluio de um dos médicos do centro, denominado Centro Médico XX. O homem recorreu da condenação para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), mas este manteve a pena decretada na primeira instância.

Uma das funções do homem no referido centro médico era “o preenchimento da ficha do utente após a consulta, a impressão do recibo médico e a cobrança do preço da consulta”, sendo que cada vez que o referido médico atendia um doente, o assistente “fazia o seu seguimento”, com o médico a assinar “um recibo em branco”, sendo depois impresso o diagnóstico do utente no referido recibo, juntamente com o valor do preço da consulta e a data de atendimento, para passar o recibo médico do utente.

Viagem ao Reino Unido

O caso que levou a esta condenação ocorreu em 2015, quando, a 25 de Março o homem viajou para o Reino Unido, tendo adquirido um seguro de viagem. Foi aí que planeou pedir uma indemnização com recurso a falsos recibos médicos, tendo realizado o processo no referido Centro Médico XX. Assim, o assistente e o médico emitiram 19 recibos falsos no período compreendido entre 5 de Outubro e 14 de Dezembro de 2015.

O TSI descreve no acórdão ontem divulgado que o homem “desde que saiu de Macau só aqui regressou em 22 de Dezembro de 2015, ou seja, nas datas constantes nos 19 recibos médicos, não se encontrava em Macau”.

Um dos argumentos utilizados pelo condenado foi que “se limitou a imprimir os dados constantes na base de dados do computador” pertencentes ao homem que queria enganar a seguradora, e que “não acrescentou dados que não correspondiam” a verdade. O homem “também alegou que não sabia nem tinha obrigação de saber que o levantamento de documentos se destinava a pedir indemnização à companhia de seguros”.

Porém, o TSI entendeu que o condenado “elaborou documentos cujo teor não correspondia à verdade e ele também tinha conhecimento da função dos recibos de consulta na vida social, factos estes que demonstravam suficientemente a existência da intenção de prejuízo a outrem”.

Para o tribunal, o homem “na qualidade de gestor do Centro Médico, devia conhecer bem a função real dos recibos médicos na vida social”, além de que sabendo que o falso doente “não tinha consultado o médico durante o período em causa”, passou os recibos, sabendo “perfeitamente a ilicitude da emissão de recibos de consulta falsos”.

7 Jan 2025

Saúde | Governo alerta para aumento de casos de gripe

O território enfrenta o pico de epidemia de gripe, com aumentos registados em adultos e crianças. A grande maioria dos casos, 75 por cento, diz respeito ao vírus AH1. Os Serviços de Saúde apelam à vacinação para prevenir mais ocorrências

 

Os Serviços de Saúde (SS) alertaram ontem para a chegada do pico de epidemia do vírus influenza, que causa gripe, e que “ultrapassou o nível de alerta”. Dados divulgados mostram que a partir da segunda quinzena do último mês o número de doentes com gripe que procuraram tratamento médico “começou a aumentar, especialmente entre os adultos”.

Na semana do Natal, a “proporção de consultas no Serviço de Urgência de Adultos por doenças semelhantes à gripe, em relação ao número total de consultas, foi de 5,2 por cada 100 consultas”. No caso da urgência pediátrica, a proporção foi de 15,6 casos de gripe por cada 100 consultas, o que “representou um aumento significativo em relação” à semana anterior, sendo que, nos adultos, o aumento dos casos de gripe foi de 39 por cento, e nas crianças 23,1 por cento.

Destaque ainda para o aumento de 2,6 por cento da taxa de positividade do vírus da gripe na semana que começou a 16 de Dezembro, sendo que essa mesma taxa foi de 15 por cento na semana do Natal, superior ao nível de alerta sobre o vírus, de 14,5 por cento. Os SS explicam, assim, que “Macau entrou no pico da epidemia, prevendo-se que continue activo nas próximas semanas”.

Relativamente aos tipos de vírus, são “principalmente o vírus influenza A H1”, em 75 por cento dos casos, sendo que os restantes são vírus influenza A H3, com 12,3 por cento; vírus influenza A (não tipificado), com 6,3 por cento, percentagem semelhante aos casos de vírus gripal B.

21 casos em 2024

Os SS fazem ainda o balanço dos casos detectados no ano que ainda agora terminou, ocorrendo 21 casos graves de gripe. Só em Dezembro último ocorreram quatro casos de infecção colectiva de gripe envolvendo 41 pessoas, principalmente em jardins de infância e escolas primárias e secundárias.

Destaque ainda para a ocorrência, na última sexta-feira, de um caso de infecção colectiva de gripe numa turma da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau, com seis rapazes a registar sintomas de gripe desde o dia 29 de Dezembro. Esses sintomas eram febre e tosse e obrigaram a tratamento médico. A mesma nota dos SS dá conta que “as condições clínicas dos doentes são consideradas ligeiras, não tendo sido registados casos graves ou internamento”.

A fim de travar este aumento, os SS apelam à vacinação da população. “Os residentes que ainda não foram vacinados contra a gripe, especialmente as grávidas, as crianças, os idosos e os portadores de doenças crónicas que são mais susceptíveis a complicações graves ou a morte após a infecção pelo vírus influenza, devem recorrer com a maior brevidade possível à vacinação antigripal”, é referido.

7 Jan 2025

Gastroenterite | Autoridades alertam para aumento de casos

Os Serviços de Saúde (SS) emitiram ontem um alerta sobre o “o aumento significativo de infecções por norovírus”, que causa gastroenterite aguda, doença que se tem tornado “mais activa”, levando a mais consultas médicas.

Dados contabilizados a partir de 1 de Dezembro último mostram que o número médio de utentes, por semana, passou de 88 para 125 no final do mês, uma “subida significativa em relação aos 79 utentes registados em Novembro”.

Além disso, e segundo os dados de vigilância sobre a declaração obrigatória de doenças transmissíveis, o número de casos começou a aumentar no dia 9 de Dezembro, com a média semanal de casos declarados a passar de 24 para 92 no final de Dezembro.

Em Novembro registaram-se apenas 12 casos. Os SS explicam que os “casos provêm principalmente de incidentes recentes de gastroenterite colectiva de origem alimentar ou de transmissão entre humanos, envolvendo um grande número de pessoas”. No último mês ocorreram 12 casos de infecção colectiva de gastroenterite, incluindo gastroenterite colectiva de origem alimentar e infecção colectiva de gastroenterite em instituições educativas.

Os dados mostram, assim, que “a infecção por gastroenterite aguda em Macau se encontra numa fase activa”, apelando-se “à população que preste atenção à higiene pessoal, ambiental e alimentar”.

7 Jan 2025