Comunidades | Cesário condecora macaenses e ATFPM

José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, estará de novo em Macau e traz consigo na bagagem novas distinções. Desta vez, são as medalhas de mérito atribuídas à comunidade macaense por ocasião do encerramento de mais uma edição do Encontro, e também à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau

 

O encerramento, esta semana, do Encontro das Comunidades Macaenses de 2024 vai contar com a presença de uma figura do Governo português que, de resto, tem sido, há muitos anos, visita habitual da RAEM. Trata-se de José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que vai condecorar a diáspora macaense com uma medalha de mérito, bem como a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (AFTPM), cujos dirigentes, José Pereira Coutinho, presidente; e Rita Santos, presidente da assembleia-geral, foram conselheiros para Macau e Ásia do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).

De destacar, porém, que esta distinção surge numa altura em que Rita Santos e demais dirigentes da ATFPM estão a ser investigados em Portugal por alegadas irregularidades cometidas nas eleições, estando este processo a ser investigado pelo Ministério Público (MP) e em segredo de justiça, foi confirmado ao HM. O processo arrancou graças a uma queixa feita pelo deputado Paulo Pisco, do Partido Socialista, à Comissão Nacional de Eleições, posteriormente remetida para o MP.

A medalha de mérito irá também para o grupo de teatro em Patuá Doci Papiaçam di Macau, liderado por Miguel de Senna Fernandes, e que há vários anos se dedica a preservar e divulgar o crioulo macaense em todo o mundo, mantendo um coro e levando a palco, todos os anos, uma peça de teatro.

Em Outubro, por ocasião da eleição dos membros do CCP, o coro dos Doci Papiaçam di Macau esteve em Lisboa a convite de José Cesário, tendo feito várias actuações, incluindo na Casa de Macau em Lisboa. Também à TDM, Miguel de Senna Fernandes declarou que esta distinção é “uma honra e um incentivo” para a continuação do trabalho.

Jantar no sábado

A agenda oficial do secretário de Estado determina que esta sexta-feira ele irá participar na sessão de encerramento do Encontro Mundial das Comunidades Macaenses, sendo que a entrega das medalhas de mérito aos Doci Papiaçam será feita a partir das 19h no hotel Venetian. No sábado, por ocasião de um jantar na Torre de Macau, será entregue a medalha de mérito à ATFPM. No domingo, além da participação na missa da Sé Catedral, José Cesário tem dois encontros marcados em Hong Kong, um com a comunidade portuguesa e macaense, que decorre no Clube de Recreio de Hong Kong, e outra ao Museu da História da Cidade de Hong Kong onde se encontra uma ala dedicada às Comunidades Portuguesas.

O jantar de sábado promovido pela ATFPM serve para celebrar os 25 anos da RAEM, os 75 da implantação da República Popular da China e os 37 anos de existência da própria associação.

O Encontro das Comunidades Macaenses tem decorrido por estes dias com diversos eventos pela cidade. Na segunda-feira, por exemplo, aconteceu no Instituto Internacional de Macau, a palestra “Valorização do Património e Desafios do Futuro”, protagonizada por António Monteiro, dirigente da Associação dos Jovens Macaenses.

5 Dez 2024

Função Pública | Punidos comportamentos e ligações “anti-China”

Está no hemiciclo o novo Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública que descreve de forma vaga situações em que os funcionários podem ser acusados de atentar contra a RAEM e a China. Devem-se respeitar, por exemplo, as decisões da Assembleia Popular Nacional e estão proibidos comportamentos que prejudiquem “o prestígio, imagem e credibilidade” do Executivo

 

“Afirmo solenemente pela minha honra que defenderei e farei cumprir a Lei Básica da RAEM da República Popular da China (RPC), dedicarei toda a minha lealdade à RAEM da RPC, desempenharei fielmente as funções em que sou investido, cumprirei as leis, serei honesto e dedicado para com o público e servirei a RAEM com todo o meu empenho.”

É este o termo do juramento que todos os funcionários públicos devem ler na hora de assumir funções, incluindo o pessoal ao abrigo do estatuto privativo de pessoal. O não cumprimento da regra, ou a leitura de um outro conteúdo alterado na cerimónia da tomada de posse, pode resultar em demissão.

Esta vai ser a nova realidade dos funcionários públicos de Macau que devem também cumprir uma série de requisitos, inclusivamente comportamentais, para não serem acusados, ou suspeitos, de atentarem contra a RAEM e o país nas suas bases ideológicas e políticas fundamentais.

Algumas linhas orientadoras constam no novo Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau e diplomas conexos que deu entrada na Assembleia Legislativa (AL) para votação na generalidade e posterior análise na especialidade.

Uma das alterações faz-se notar logo na parte dos deveres a cumprir pelos trabalhadores do Governo, referindo-se que “têm de defender a Lei Básica e ser fiéis à RAEM da RPC, não podendo comportar-se de modo a prejudicar o prestígio, imagem e credibilidade da Administração Pública, estando exclusivamente ao serviço do interesse público e exercendo a sua actividade de forma digna”. Porém, a proposta de lei em questão não determina situações específicas de comportamento que poderão levar a violações do estatuto.

Depois, a fim de “determinar se a Lei Básica é defendida, e se existe fidelidade à RAEM da RPC”, a lei refere várias situações que poderão originar processos sancionatórios ou disciplinares, e potenciais demissões. Uma delas é se o funcionário “não defender a ordem constitucional estabelecida na Constituição da RPC e Lei Básica, organizando ou participando em actividades com a intenção de derrubar ou prejudicar o sistema fundamental do Estado”.

Os trabalhadores estão também proibidos de “não defender a unidade e integridade territorial do Estado, praticando actos que as ponham em perigo”.

Uma questão de integridade

Relativamente ao combate às forças “anti-China”, descreve-se que os trabalhadores da Administração Pública não devem ter, de qualquer forma, ligações a pessoas ou organizações. Assim, é punível o “conluio com organizações, associações ou indivíduos anti-China que se encontrem fora da RAEM para se infiltrar nos órgãos de poder da RAEM”, sobretudo se os funcionários participarem em “acções de formação organizadas por essas entidades ou receber apoio financeiro destas”.

Na proposta de lei incluem-se ainda outros cenários passíveis de punição, incluindo “não respeitar o sistema político consagrado na Constituição da RPC e na Lei Básica, atacando com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando a RPC ou a RAEM”.

Destaque ainda para a protecção daquilo que é discutido, analisado e decidido na Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo máximo da RPC. Assim, o funcionário será punido se “não respeitar as competências da Assembleia Popular Nacional e do seu Comité Permanente”, nomeadamente se “atacar com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando as leis, interpretações e decisões aprovadas pela APN”.

De frisar que “a prática de actos contra a soberania e segurança nacional, ou actos contra a segurança do Estado” também entram para o rol de acções que os funcionários públicos da RAEM devem evitar.

A nova proposta de lei determina que “a recusa do juramento é considerada falta de posse, implicando automaticamente a anulação do provimento, não podendo ser agendada nova prestação de juramento”. Pode ser considerado recusa a situação em que “o jurador assine, de forma dolosa, uma declaração em que o respectivo termo de juramento tenha sido adulterado, designadamente com a alteração ou distorção de expressões desse termo”. Perante a recusa da prestação de juramento, “é obrigatoriamente aplicada a pena de demissão”.

Quem estiver envolvido em “situações de não defesa da Lei Básica da RAEM da RPC, ou de não fidelidade à RAEM da RPC, por factos comprovados”, será alvo de uma aposentação compulsiva ou demissão, incluindo outros factores, nomeadamente o “abandono do lugar” de trabalho.

Recorde-se que quando a proposta foi apresentada no fim da discussão do Conselho Executivo, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, disse ser “muito difícil” dar exemplos de comportamentos desleais, mas garantiu que a proposta iria incluir “expressamente quais são os actos”. No entanto, a proposta contém termos vagos como “ultrajar” decisões emanadas da APN, ou não respeitar o sistema político, não sendo claro se discórdia pública, ou crítica, pode resultar em demissão.

Magistrados também contam

Na nota justificativa da proposta de lei lê-se que o Governo pretende assegurar o princípio “Macau governada por patriotas”, o que justifica as alterações e a obrigatoriedade da prestação de juramento.

Lê-se ainda que o diploma “propõe o estabelecimento do dever de defesa da Lei Básica da RAEM da RPC” que deverá ser “cumprido por todos os trabalhadores dos serviços públicos”, sendo que “a violação deste dever constitui infracção disciplinar” e aplicada “a pena de demissão”.

Além disso, “a fim de se articular com a revista lei relativa à segurança da defesa do Estado, propõe-se que na proposta de lei que este dever se aplique também aos magistrados”, sendo, para esse fim, “alterado o Estatuto dos Magistrados para introduzir a respectiva disposição”.

Destaca-se que para os funcionários públicos em funções têm de “prestar juramento num determinado prazo sob forma de declaração por si assinada” depois da entrada em vigor da lei que altera os estatutos. Mais uma vez, “a recusa do juramento implica a pena de demissão”.

“No que respeita à prestação de juramento do pessoal de direcção e chefia no acto de posse, será tratada através da alteração das disposições fundamentais do Estatuto de Pessoal de Direcção e Chefia”, lê-se ainda.

Outra das principais mudanças prende-se com o “reforço dos meios de investigação dos procedimentos disciplinares” e “aumento da equidade das sanções”. Segundo a nota justificativa, propõe-se “a imposição de uma obrigação das entidades públicas e privadas de colaborarem com as investigações conduzidas pelo instrutor em processos disciplinares”. Assim, estas devem prestar depoimento, “sendo sancionada com multa a recusa sem justa causa” se esse testemunho não for feito.

A proposta de lei dá ainda atenção aos casos de trabalhadores que “se aposentam antecipadamente ou se desliguem do serviço antes da conclusão do processo disciplinar para contornar as sanções disciplinares com efeitos mais gravosos”. Propõe-se, assim, a suspensão do processo de aposentação caso já esteja em curso um processo disciplinar, além de que, no caso dos antigos contribuintes do regime de previdência, “a pena disciplinar a aplicar seja substituída por multa”.

Destaque também para o facto de os trabalhadores, caso sejam condenados em processos judiciais, terem de restituir ao Executivo os salários relativos ao período da prisão preventiva. “Uma vez confirmada, por sentença judicial, a ausência do serviço devido a prisão preventiva, causada por razões imputáveis ao trabalhador, a proposta de lei propõe que este seja obrigado a restituir à Administração o vencimento auferido nesse período.”

4 Dez 2024

Ben Lee, analista de jogo, sobre as novas concessões: “Precisamos de algo grandioso”

O analista de jogo e consultor Ben Lee acredita que é preciso fazer muito mais para diversificar a economia de Macau para lá do jogo, sobretudo tendo em conta o tipo de eventos organizados ao abrigo das novas concessões. O analista acha que Macau poderia olhar para dois resorts no Vietname como exemplos a seguir para atrair turistas internacionais

 

Que balanço faz dos dois anos de novas concessões de jogo?

Ainda há muito trabalho a fazer. Pelo que pudemos ver até agora, as concessionárias concentraram-se em projectos mais ligeiros, como galerias de arte locais, eventos culturais, a realização de concertos e pequenas reabilitações de bairros culturais. Os grandes projectos, como o parque de diversões de alta tecnologia, o Conservatório ou novos hotéis ainda não foram vistos. Uma vez que já passaram dois dos dez anos [de concessão], e tendo em conta que a construção de alguns destes projectos deverá demorar vários anos, parece que será necessário adiá-los. As receitas do segmento não-jogo, em percentagem de receita bruta obtida pelas concessionárias, parecem ser superiores às de 2019, mas diminuíram nos últimos dois anos. É possível que voltem nos próximos dois anos a situar-se entre os 10,5 e 11 por cento verificados em 2019.

Recentemente, Ho Iat Seng agradeceu às concessionárias o cumprimento dos contratos e a colaboração no desenvolvimento do segmento não-jogo, reiterando que conseguiram obter alguns lucros durante a pandemia. Acha que foi justo nas suas palavras?

Os casinos estão a fazer esforços para desenvolver o segmento não-jogo, mas, mais uma vez, a maior parte desses esforços estão focados em eventos mais ligeiros, de menor nível. Não vemos grandes ideias como a esfera de investimentos de 2,3 mil milhões de dólares que vemos em Las Vegas, por exemplo. Se tal acontecesse, iria enquadrar-se facilmente nos compromissos de 15 mil milhões de dólares prometidos pelas concessionárias [aquando da assinatura dos novos contratos]. Poderíamos falar também da ideia de fazer uma competição de Fórmula 1 na rua, como se viu em Singapura e recentemente também em Las Vegas.

Como analisa a recuperação das operadoras em termos de receitas do jogo nos últimos meses?

A recuperação do jogo em Macau tem sido extremamente boa, prevendo-se que o sector recupere para cerca de 78 ou 79 por cento dos níveis registados em 2019.

A Sociedade de Jogos de Macau (SJM), por exemplo, foi uma das operadoras de jogo com maiores dificuldades em termos de cash flow durante a pandemia. Considera que a sua recuperação, em comparação com os outros cinco, foi positiva?

A SJM teve dificuldades no início, mas parece estar, finalmente, a fazer alguns progressos. Mas ainda terão alguns desafios para reposicionar o seu “hardware” [instalações e demais empreendimentos] no futuro.

O que podemos esperar do novo Governo de Sam Hou Fai para a área do jogo?

O Chefe do Executivo eleito parece estar a tentar garantir que as operadoras honrem os seus compromissos. Os seus dois mandatos irão, provavelmente, cobrir os próximos oito anos das novas concessões. Penso que, em última análise, tudo se vai resumir a saber se ele consegue motivar os vários aparelhos governamentais a executar a sua visão e missão.

No âmbito dos novos contratos, como vê a evolução global do sector do jogo?

Em 2019, a percentagem das receitas do segmento não-jogo em comparação com as receitas do jogo atingiu 10,5 por cento. Essa percentagem subiu para 22 por cento durante a covid-19, e desde então tem caído gradualmente para 13,5 por cento, segundo dados do terceiro trimestre deste ano. Essa percentagem vai continuar a diminuir à medida que as receitas de jogo continuarem a crescer. Nos últimos tempos, temos visto os residentes de Macau e Hong Kong a dirigirem-se para o norte [China] para pouparem dinheiro. A questão que se coloca é porque é que os habitantes do continente iriam descer e fazer o inverso? A solução, tal como prevista pelas autoridades, é que Macau precisa de diversificar o mercado [de turistas e jogadores] que vem do continente. Isso faz todo o sentido em termos de lógica, mas a realidade é que os nossos esforços parecem estar a regredir. Os visitantes provenientes de fora da grande China representavam 7,8 por cento do total de visitantes de Macau, mas diminuíram para 6,5 por cento até final de Setembro deste ano. Isto remete para os eventos de cariz ligeiro que têm sido organizados que, de longe e em grande parte, são realmente orientados para os chineses que, afinal, constituem a maior parte da nossa fonte de receitas.

Como se pode dar a volta a esse panorama?

Voltando ao início, penso que precisamos realmente de algo grande, icónico, semelhante à esfera que se vê em Las Vegas ou até mesmo algo parecido com o projecto da “Ponte Dourada” em Da Nang, digna de aparecer no Instagram, ou a “Ponte do Beijo”, em Phu Quoc, ambos no Vietname. O facto de estes projectos terem sido construídos por um grupo local ligado ao sector hoteleiro, sem qualquer ligação aos lucros provenientes do jogo, demonstra criatividade e perspectiva de longo prazo em termos de planeamento.

Luta de classes

Ben Lee alertar para o perigo de mercado de massas “fugir” de Macau

A conversa com Ben Lee surge no contexto de uma palestra que protagonizou, recentemente, sobre os dois anos das novas concessões de jogo. Promovida pela Câmara de Comércio França-Macau, a sessão teve como nome “Macau New Gaming Landscape: Two years into concessions, what now?”, tendo o analista e sócio-gerente da IGamiX Management & Consulting defendido, segundo o portal Asian Gaming Brief (AGBrief), que o jogo VIP não terminou por completo, estando assim a ser alvo de uma nova classificação.

Segundo o AGBrief, citando palavras de Ben Lee, “o jogo de massas incorporou o mesmo escalão [de jogadores] que foi tão abertamente criticado pelo Governo”, mas que as operadoras “estão a mudar o seu foco para o acomodar”.

O analista realçou o “recente foco na transformação de quartos de hotel mais antigos e pequenos em opções de luxo, com todas as operadoras a compreender a necessidade de obter qualidade em vez de quantidade”.

Porém, defendeu que “o foco no segmento de luxo continua a criar um impasse”, pois “há muito que Macau se concentra em aumentar o número de visitantes para poder aumentar as receitas”, mas o modelo de negócio “vai contra a necessidade de aumentar as despesas por pessoa”.

Ben Lee alertou também para o facto de muitos turistas poderem, de facto, começar a optar por outros destinos com preços mais em conta. O analista defendeu que os jogadores de massas “não podem ser ignorados”, pois continuam a ser “o principal motor” do sector. “Os preços exorbitantes dos quartos de hotel podem constituir uma ‘barragem’ para o aumento de visitantes”, pois, conforme sugeriu, “os apostadores podem ir para outros locais de férias, como a Tailândia, se o preço não for bom”. Este país asiático “está a crescer e espera-se que ultrapasse Singapura em termos de receitas brutas”, numa altura em que os tailandeses trabalham na nova legislação sobre o jogo.

“Esperam aprovar a sua lei do jogo em Maio do próximo ano. Partindo do princípio que isso acontece, há três a cinco anos para construir um resort integrado ou empreendimento. Poderão estar a funcionar consideravelmente antes da abertura do Japão”, indicou Ben Lee.

Ainda em relação ao mercado de jogo na Ásia, o analista destacou que os apostadores asiáticos irão concentrar-se nos futuros mercados de jogo da Tailândia e Japão “enquanto aproveitam as actuais ofertas em Macau, Singapura e Filipinas”, escreveu o AGBrief.

3 Dez 2024

Hengqin | Linha de Metro Ligeiro abre hoje ao público

É mais um marco no andamento da construção do Metro Ligeiro. A linha de Hengqin abre hoje ao público, ligando a Estação de Lótus ao Posto Fronteiriço de Hengqin em dois minutos. A primeira carruagem parte hoje às 13h11

 

É hoje inaugurado um novo segmento do Metro Ligeiro que passará a ligar o território de Macau e Hengqin. Segundo um comunicado da Sociedade do Metro Ligeiro de Macau, a primeira carruagem parte da Estação de Lótus da Linha de Hengqin às 13h11, tendo como destino o Posto Fronteiriço de Hengqin.

A travessia entre as únicas duas estações da Linha de Hengqin tem a duração de cerca de 2 minutos e a frequência de cerca de 6 minutos.

Fica a promessa de que, com este percurso de Metro Ligeiro, seja possível chegar à fronteira de Hengqin em dois minutos, com frequência de viagens a cada seis minutos.

Hoje, os passageiros podem chegar “antecipadamente à estação para aguardar e embarcar no metro ligeiro de forma ordenada de acordo com as instruções dos trabalhadores no local”, é referido na mesma nota.

No que respeita à cobrança de bilhetes, “no cálculo do número de estações, tal como a travessia marítima em qualquer direcção entre a Estação da Barra e a Estação do Oceano, acresce uma estação por travessia marítima em qualquer direcção entre a Estação de Hengqin e a Estação do Lótus”, sendo “considerado como duas estações para a cobrança de tarifas”.

Maior rapidez

A Linha de Hengqin do Metro Ligeiro tem 2,2 quilómetros de comprimento total, dispondo das estações “Lótus” e “Hengqin”. Os passageiros que quiserem deslocar-se ao Interior da China via Hengqin poderão apanhar o metro na “Linha de Hengqin”, começando na “Estação de Lótus” e passando pelo túnel subaquático no Canal de Shizimen, chegando depois à “Estação de Hengqin” situada na cave da Zona do Posto Fronteiriço de Macau no Posto Fronteiriço Hengqin.

No caso dos turistas que cheguem a Macau por este posto fronteiriço, poderão também escolher a “Linha de Hengqin” para viajar na “Linha da Taipa”, fazendo, para isso, correspondência na “Estação de Lótus”.

As autoridades defendem que, a entrada em funcionamento de uma nova linha de metro irá proporcionar-se a residentes e turistas “uma alternativa de transporte conveniente e eficiente” para quem se desloque de e para o Posto Fronteiriço Hengqin, ajudando “Macau a integrar-se no perímetro de uma hora de distância na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

As obras da “Linha de Hengqin” começaram em 2021, tendo sido inaugurado no passado dia 21 de Novembro o centro modal de transportes, alvo de remodelação, e que está situado no segundo andar do lado de Macau do Posto Fronteiriço de Hengqin.

2 Dez 2024

Governo | André Cheong e Wong Sio Chak mantêm pastas

Foram revelados no sábado os nomes dos novos secretários do Executivo que será liderado por Sam Hou Fai. A lista tem novidades, como O Lam e Tai Kin Ip, mas mantém André Cheong na Administração e Justiça e Wong Sio Chak na Segurança. Raymond Tam irá para a tutela dos Transportes e Obras Públicas

 

Terminou o tempo das previsões: foi revelada no sábado a lista dos secretários e demais dirigentes do novo Governo liderado por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo eleito que tomará posse no próximo dia 20 de Dezembro.

A lista mantém alguma continuidade em relação ao anterior Executivo de Ho Iat Seng, verificando-se apenas algumas mudanças de posto para figuras que há muito ocupam cargos de topo na Administração pública. André Cheong continua a ser secretário para a Administração e Justiça, e Wong Sio Chak renova o mandato à frente da tutela da Segurança. Elsie Ao Ieong U é substituída por O Lam, antiga assessora de Chui Sai On, antigo Chefe do Executivo, passando para o Comissariado de Auditoria.

Na área dos Transportes e Obras Públicas o destaque vai para nomeação de Raymond Tam enquanto secretário, em substituição de Raimundo do Rosário que já havia demonstrado publicamente a vontade de sair.

Raymond Tam foi director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), e chegou a ser director interino dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) aquando da polémica saída de Fong Soi Kun, em 2017, no rescaldo da passagem do tufão Hato pelo território.

Raymond Tam passou, porém, a ser mais falado quando foi acusado do crime de prevaricação no caso das campas do Cemitério de São Miguel Arcanjo, quando ainda estava no antigo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, hoje Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Absolvido na primeira instância, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) confirmou, em 2015, a mesma absolvição, juntamente com outros três funcionários do então IACM.

Raymond Tam passou então a ser figura de confiança do Governo, mantendo-se em altos cargos, subindo agora novamente na hierarquia ao liderar os Transportes e Obras Públicas.

O Lam é a meia-novidade da lista de secretários, passando a liderar a tutela dos Assuntos Sociais e Cultura. Antiga chefe de gabinete de Chui Sai On, entre 2014 e 2019, e vice-presidente do conselho de administração do IAM, O Lam vinha sendo apontada como possibilidade pelos media locais, mas para uma pasta diferente: Economia e Finanças.

A número dois do IAM defendeu, em Março deste ano, que o facto de Macau importar grande parte dos produtos alimentares da China pode ser usado como uma forma de fomentar o sentimento de “amor à pátria” entre a população.

Ouvida pelo jornal Ou Mun, a responsável declarou que o Governo de Macau deve divulgar às novas gerações o facto de que a larguíssima maioria dos produtos alimentares frescos e congelados chegam à RAEM vindos do Interior da China. O Lam citou a expressão “Três Comboios Expresso”, um slogan do Governo Central que partiu de uma ordem de Zhou Enlai, antigo primeiro-ministro chinês, que ordenou que três comboios partissem todos os dias em direcção a Shenzhen de Xangai, Wuhan e Zhengzhou transportando produtos alimentares para Hong Kong e subsequentemente, para Macau. Os três comboios permitiram o abastecimento de Macau e Hong Kong com alimentos em melhores condições sanitárias e reduziu em dois terços a chegada de produtos às duas cidades. O Lam defende que esta história deveria voltar a ser contada aos mais novos, “para que os residentes possam apreciar a nação na ponta da língua”.

Com O Lam escolhida para as pastas da saúde, cultura ou serviços sociais, a área da Economia e Finanças fica, afinal, com alguém “da casa”: Tai Kin Ip, que foi director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), passou o ocupar o cargo desempenhado por Lei Wai Nong na pasta da Economia e Finanças.

Aquando da tomada de posse da nova equipa na direcção de serviços, Tai Kin Ip indicou que a DSEDT se iria empenhar “no apoio à instalação, em Macau, de empresas tecnológicas de qualidade”, bem como na “concretização em Macau dos projectos de investigação científica de qualidade, na tentativa de que seja injectado um novo dinamismo no desenvolvimento da inovação científica e tecnológica local”.

Adriano Ho sai de jogo

No Ministério Público (MP), o procurador passa a ser Chan Tsz King, até à data comissário do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), substituindo Ip Son Sang.

Chan Tsz King, natural de Hong Kong, tem formação em língua portuguesa e figura na lista de magistrados mais antigos do MP da RAEM. Chan Tsz King foi procurador-adjunto do MP entre 20 de Dezembro de 1999 e 2014.

Licenciado em Direito na Universidade Autónoma de Lisboa, Chan Tsz King frequentou o primeiro curso de formação de magistrados judiciais e do MP, órgão no qual ingressou em 1997 como delegado do Procurador, até ser promovido procurador-adjunto após a transferência.

O CCAC passa a ter como comissária Ao Ieong Seong, que era adjunta de Chan Tsz King desde 2019 e que assume, assim, o papel principal. É magistrada do MP desde 2013, mas antes, em, 2007, tinha iniciado a carreira no CCAC como investigadora. É licenciada e mestre em Direito pela Universidade de Macau, onde também foi professora assistente.

No capítulo das forças de segurança, Leong Man Cheong irá continuar como comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, enquanto os Serviços de Alfândega vão passar a ser liderados por Adriano Marques Ho, que era director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

Adriano Marques Ho tomou posse como director da DICJ em 2020, tendo um longo currículo na área da segurança. Licenciado em Direito pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, Adriano Marques Ho trabalhou na Polícia Judiciária (PJ), desempenhando, entre 1988 e 2003, funções como investigador criminal. De 2004 a 2010 foi subinspector e responsável (chefe da Divisão) do sub-gabinete de Macau do Gabinete Central Nacional Chinês da Interpol, tendo sido promovido em 2010 a chefe do Departamento de Investigação Criminal onde permaneceu até 2012. A partir de 2012 passou a ser chefe do Departamento de Crimes Relacionados com o Jogo e Económicos, lugar que ocupou até 2014. Desde então e até Junho de 2020, exerceu funções como assessor do gabinete do secretário para a Segurança, passando depois para a liderança da DICJ.

Os parabéns de Ho Iat Seng

Entretanto, o gabinete do Chefe do Executivo em funções, Ho Iat Seng, emitiu uma nota de parabéns endereçada ao novo elenco do VI Governo da RAEM e procurador do MP, cujas nomeações foram decretadas pelo Conselho de Estado da República Popular da China.

Ho Iat Seng apresentou “cordiais e calorosas congratulações aos recém-nomeados”, desejando “que todos se empenhem e dêem o seu melhor nas tarefas e acção governativa, sob a liderança de Sam Hou Fai, unindo-se à sociedade formando um todo na luta por novos avanços, servindo a nação e Macau”.

Ho Iat Seng pediu também que a nova equipa governativa preste “novos contributos e alcancem novas conquistas, dando continuidade a implementação estável e duradoura do grandioso princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ na RAEM”.

O Conselho de Estado chinês indicou que as nomeações para o sexto mandato do Governo da RAEM e o Procurador-Geral do MP, foram efectuadas em conformidade com a Lei Básica da RAEM da República Popular da China e “com base nas nomeações” do Chefe do Executivo eleito, Sam Hou Fai, de acordo com um comunicado divulgado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

O ex-presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai foi eleito em 13 de Outubro. Nascido em 1962 em Zhongshan, na vizinha província chinesa de Guangdong, o magistrado completou a licenciatura em Direito pela Universidade de Pequim, tendo frequentado posteriormente os cursos de Direito e de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Coimbra.

O mandato do actual Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, termina em 19 de Dezembro e Sam Hou Fai e o novo Governo serão empossados a 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário da implementação da RAEM, na sequência da transferência da administração de Portugal para a China.

2 Dez 2024

Praça do CCM oferece espectáculos gratuitos este fim-de-semana

A praça do Centro Cultural de Macau (CCM) será palco, este fim-de-semana, de uma série de espectáculos ao ar livre, totalmente gratuitos. A iniciativa chama-se “Clássicos reimaginados: Harmonias da Hora Dourada” e conta com o apoio da Sands China.

Segundo uma nota da operadora de jogo, esta iniciativa conta com actuações ao vivo do grupo “Janoska Ensemble”, Niu Niu e Gordon Lee, além de uma masterclass especial do Janoska Ensemble. Os concertos integram-se no Programa de Artes Performativas da Sands China em celebração do 75.º aniversário da fundação da República Popular da China, do 25.º aniversário do regresso de Macau à pátria e da designação de Macau como Cidade Cultural da Ásia Oriental 2025.

Este sábado terá lugar, a partir das 17h, o “Concerto dos 10 anos do Janoska Ensemble”, grupo com músicos de jazz que anda em digressão com o seu novo álbum, intitulado “The Four Seasons”. Destaque ainda para a realização de uma masterclass com este grupo no domingo, no mesmo local, a partir das 16h.

Os “Janoska Ensemble” descrevem-se como um “conjunto que transporta a improvisação na música clássica para o século XXI”, proporcionando “uma viagem emocionante e aventureira às últimas fronteiras onde nenhum músico foi antes”.

Este grupo apresenta uma espécie de fusão de vários estilos musicais, ultrapassando “todas as fronteiras com a sua linguagem musical poliglota”. Os “Janoska Ensemble” estrearam-se com o disco “Janoska Style”, em 2016, tendo lançado, há cinco anos, “Revolution”, que ganhou um Disco de Ouro. Em 2022, surgiu o terceiro trabalho de originais, “The Big B’s”.

“Resumir em poucas palavras a qualidade especial dos arranjos de Janoska não é tarefa fácil: são incursões paralelas no território clássico e em domínios distantes do repertório musical, onde os músicos exercem a sua criatividade espontânea para criar música de primeira classe, inovadora e emocionante que vive e respira”, descreve-se no website oficial do grupo.

Os “Janoska Ensemble” são compostos por três irmãos de Bratislava – Ondrej e Roman Janoska nos violinos e František Janoska ao piano – juntamente com o cunhado Julius Darvas, nascido em Konstanz, no contrabaixo.

Niu Niu Vs Gordon Lee

Esta série de espectáculos inclui ainda o “Concerto de Harmónica de Gordon Lee” e o “Recital de Piano ‘Lifetime’ de Niu Niu”, ambos a partir das 17h30.

No caso de Gordon Lee, o músico é considerado como um dos importantes harmonicistas do mundo, tendo ganho, em 2017, o Festival Mundial de Harmónica de 2017, que é a competição de grau mais elevado para este tipo de instrumento.

Gordon foi convidado a actuar no Carnegie Hall em Nova Iorque, no Muth Concert Hall em Viena, no Esplanade em Singapura, no International Harmonica Festival em Seul e no World Harmonica Festival em Trossingen na Alemanha. O seu repertório inclui o Concerto para Harmónica de Spivakovsky, o Prelúdio e Dança para Harmónica e Orquestra de Farnon, Toledo para Harmónica e Orquestra de Moody, entre outros.

Nascido e criado em Hong Kong, Gordon formou-se na Universidade de Educação de Hong Kong, além de ter estudado Harmónica Cromática com o solista de Harmónica Cromática Franz Chmel de Viena, Sigmund Groven da Noruega. O músico estudou também Harmónica Diatónica com Howard Levy, vencedor de dois Grammys, de Nova Iorque. Em Hong Kong, estudou técnicas de execução com o solista de sheng Cheng Tak-wai.

No caso de Niu Niu, nome artístico de Zhang Shengliang, é já um famoso pianista com apenas 27 anos. Nasceu em Xiamen, China, numa família de músicos, tendo começado a estudar piano com o pai. Estreou-se em recitais de piano com apenas seis anos de idade, tocando uma Sonata de Mozart e um Étude de Chopin. Aos oito anos, Niu Niu foi o aluno mais jovem de sempre a matricular-se na escola primária afiliada do Conservatório de Música de Xangai.

29 Nov 2024

Mímica | Festival no CCM e Jardim Luís de Camões no fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau, organizado pelo Teatro CANU, e que terá sessões no Centro Cultural de Macau e também ao ar livre no Jardim Luís de Camões. O evento conta com a participação de artistas locais e internacionais, peritos na arte de fazer rir, sonhar e pensar

 

Acontece este sábado e domingo a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau (MIMF), um evento organizado pelo Teatro CANU, e que este ano tem como mote “Viver a vida através dos olhos de um palhaço, e com sentido de humor”. Não surpreende, assim, que uma das secções do evento seja “Clown’s Dream” e outra “Humor Clashing”, sendo que os espectáculos, de curta duração, decorrem na Box I do Centro Cultural de Macau (CCM).

Assim, no sábado e domingo, a partir das 19h45, pode ver-se a actuação “Vitamin”, com Carlo Jacucci, de Itália. Segundo a organização, este espectáculo é “uma viagem deliciosa pelos momentos peculiares da vida, onde o quotidiano se torna extraordinário” e onde “uma lagarta luta para se libertar da sua caixa, um guru tropeça na sabedoria que nunca leu e um corredor de maratona desvia-se hilariantemente da rota, transformando-se em roubo”.

Aqui, Carlo Jacucci, o único actor, “dá vida a estas personagens inesperadas, transformando lutas simples em beleza cheia de riso”.

Segue-se “idio2 Play”, com a dupla de performers japoneses Kosube Abe e Hiroyoshi Hisatomi. Em dez minutos estes irão recorrer a chapéus e outros adereços para combinar “movimentos hábeis e uma improvisação leve e bem-humorada”.

O “Dio2” é um duo de entretenimento japonês, apostando em magia, comédia e acrobacias, num estilo “ligeiramente absurdo, mas conscientemente único”.

Ainda nesta secção do festival destaque para o espectáculo de 30 minutos protagonizado por Gregg Goldston, “The Magic of Mime”.

Este “é um espectáculo cativante de habilidade física, misturando comédia e drama para criar um mundo invisível encantador”. Gregg apresenta “um chapéu mágico”, encaminhando o público em “batalhas que transformam de forma surreal a realidade em fantasia, numa luta sincera entre o desejo de amizades e o medo de as perseguir”.

Gregg Goldston é um mimo de renome mundial, realizador e educador de mímica de Los Angeles, tendo começado a trabalhar nesta área depois de ver a actuação do mestre Marcel Marceau. Em várias tournées americanas de Marceau nos anos 2000, Gregg serviu como assistente do actor, tendo depois começado a desempenhar papéis mais importantes. Gregg Goldston, visto como alguém que está a ajudar a desenvolver a primeira geração de mimos americanos, irá dar um workshop integrado neste festival.

Sonhos dos palhaços

Se em “Humor Clashing” as actuações começam no final do dia, na secção “Clown’s Dream” o riso e a fantasia prometem prolongar-se pela noite dentro, a partir das 21h30.

Apresenta-se, com actores japoneses e o Teatro CANU, o espectáculo “The Eyes of Odin”. “Na mitologia nórdica, Odin, o rei dos deuses, enviava os seus corvos para voar até ao mundo dos humanos e observar tudo o que acontece. Desta vez, inesperadamente, um deles perdeu-se no nosso mundo – um lugar cheio de risos e mistérios insolúveis: ouviu um prisioneiro obcecado com a liberdade; testemunhou um professor apaixonadamente dedicado à musculação durante uma aula de ginástica; e encontrou uma lontra marinha numa fonte termal, tão apaixonada por se encharcar que nem os deslizamentos de terras e as tempestades ao nível de um tufão a conseguiram afastar”, descreve-se, sobre o espectáculo.

Esta actuação é “um poema visual que combina actuações de palhaços, mímica, teatro físico e música ao vivo”, com momentos poéticos dentro do absurdo, colocando questões silenciosas e guiando o público a seguir os passos do corvo para um reino indefinível”.

Destaque ainda para outras actuações, como “ZEROKO Play”, com o grupo Zeroko, composto por Masahi Kadoya e Keisuke Hamaguchi. Fica a garantia de “palhaçadas, objectos e humor para uma diversão interactiva”.

Das 12h às 18h, tanto no sábado como no domingo, é a vez do Jardim Luís de Camões receber actividades diversas como sessões de pintura facial para crianças ou actuações musicais, como é o caso do Dj Burnie, natural de Macau. Também nestas ruas haverá lugar à mímica e ao divertimento. Esta secção do festival intitula-se “WOW! Outdoor Performance Festival”.

Fonte de inspiração

O Festival Internacional de Mímica de Macau nasce das experiências teatrais de Lai Nei Chan, fundadora e directora desta iniciativa, que estudou em Londres.

“Uma vez, assisti a uma actuação de palhaços no Festival Internacional de Mímica de Londres, onde dois palhaços fizeram um espectáculo que me comoveu pelo seu poder sem palavras e impacto emocional, despertando o meu amor pela mímica. Descobri que esta forma não-verbal de actuação não exigia qualquer preparação e permitia uma imersão pura na experiência teatral, livre de pensamentos excessivos. Esta constatação alimentou o meu desejo de criar um festival internacional de mímica em Macau, permitindo ao público local experimentar as alegrias únicas desta forma de arte”, confessou.

29 Nov 2024

Miguel Gomes, realizador: “O cinema não é um tribunal”

Molly e Edward têm casamento marcado, mas na hora de ir buscar a noiva ao comboio, Edward decide fugir, iniciando a “Grand Tour” pela Ásia. A película é um dos filmes de Miguel Gomes exibido no Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que está a decorrer até 13 de Dezembro, dia em que é exibido “Grand Tour”

 

É um dos realizadores em foco neste festival de cinema que decorre em Macau. Como se sente pela oportunidade de mostrar o seu mais recente filme, “Grand Tour”, nesta região?

Poder mostrar o filme em qualquer sítio do mundo é sempre um objectivo para alguém que quer fazer filmes, pois estes só existem a partir do momento em que são vistos. O filme tem uma relação com a Ásia e a China. Foi comprado para Hong Kong, e não sei se será exibido comercialmente no território e quais são os planos dos distribuidores. Independentemente deste festival em Macau, o filme terá visibilidade nessa parte da China.

O filme é uma homenagem ao cinema antigo, pelo menos foi assim que o encarei.

Não. Acho que o cinema não precisa de ser homenageado, pelo facto de a história do cinema ser um património que homenageamos vendo-a. É muito importante que essa memória continue a fazer parte das nossas vidas e que os filmes possam ser exibidos. Em Lisboa temos a sorte de ter uma cinemateca muito competente e forte e que cumpre essa missão. O cinema de hoje está vivo, apesar de não ter um papel social tão forte como teve no século XX, e acho que não precisa de homenagens. O “Grand Tour” é um filme de hoje, mas digamos que tem a memória de outros filmes que foram feitos. Não pretendo homenagear o cinema, mas sim explorar o potencial que ele tem, fazendo duas coisas muito diferentes.

Quais são?

Uma delas terá a ver, de facto, com a história do cinema e do seu património histórico, que ligo ao trabalho em estúdio. Isso é uma coisa que o cinema fez muito, inventar mundos que não são o nosso mundo real. Por outro lado, quis captar a realidade, pois o cinema também tem esse potencial de colocar a câmara à frente de pessoas, filmar acontecimentos, lugares e poder registar isso.

Quando me refiro a essa homenagem ao cinema antigo refiro-me à presença de uma certa maneira de filmar que já esteve em voga. Queria misturar elementos cinematográficos antigos e contemporâneos?

Queria trabalhar com a Ásia fabricada, que nunca existiu, que o cinema criou.

Com a visão ocidental da Ásia.

A visão que os americanos e europeus criaram. Grande parte do cinema americano foi inventado por europeus, gente como [Josef von] Sternberg, que saiu da Alemanha e terá sido o expoente máximo de um autor de cinema que trabalhou com uma imagem da Ásia romantizada.

E filmou em Macau, inclusivamente. [O filme “Macao”, de 1952]

Exacto. Queria trabalhar com esse imaginário, tentando criar um diálogo em que pudéssemos sair para fora do estúdio e estar numa Ásia que correspondesse a um tempo colonial em muitos daqueles países, mas que depois, noutros momentos, pudéssemos estar num tempo presente. Esse tempo seria o futuro das personagens, já num outro tempo histórico pós-colonial.

“Grand Tour” era o nome dado ao percurso que então muitos ocidentais faziam para descobrir uma certa Ásia. Para fazer o filme presumo que tenha sido necessária alguma pesquisa histórica. Como foi esse processo?

Não lhe chamaria uma pesquisa muito profunda, porque não era esse o objectivo. [O “Grand Tour”] não é um filme de cariz sociológico, é uma fantasia de cinema. Está mais desse lado do que do lado sociopolítico, digamos assim. O ponto de partida foram duas páginas de um livro de viagens [o conto ‘Mabel’, de W. Somerset Maugham], que nos deram esse itinerário. A situação descrita [no conto] corresponde àquilo que vemos no filme, com um casal de noivos, com ele a viver na Birmânia e ela a regressar de Londres. Ele entra em pânico e foge no dia em que é suposto ir buscá-la ao cais de Rangum. O casal faz então esse itinerário, sendo que no livro ela consegue apanhar o noivo e casam-se, mas no filme é diferente.

Presumo que seja difícil comparar filmes. Mas entende que o “Grand Tour” marca uma viragem na sua carreira relativamente a produções anteriores?

Acho que não. É um filme pessoal, como todos aqueles que tive oportunidade de fazer. É pessoal no sentido em que não me foram impostas limitações ou qualquer caderno de encargos do produtor. Pude fazer exactamente o que queria. Vejo elementos comuns deste filme a outros que fiz. Acho que se insere numa continuidade do meu trabalho. Houve depois a questão da recepção do filme e do facto de ele ter ganho um prémio em Cannes [o de Melhor Realizador], o que obviamente me ajuda a continuar a trabalhar e ter uma receptividade mais favorável neste momento.

É um grande reconhecimento.

Antes de fazer este filme estava a tentar fazer outro no Brasil, uma adaptação do livro de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, e é um projecto complicado, que envolve uma grande logística de produção. No período em que estava a tentar fazer o filme foi difícil [continuar] por várias razões, e uma delas chama-se Jair Bolsonaro [ex-Presidente do país]. Hoje estamos a retomar esse processo, de voltar ao filme. Houve uma altura de desânimo, em que pensei que tinha mesmo de abdicar do projecto, e hoje o processo de refinanciamento do filme está a avançar muito mais rapidamente. As perspectivas são mais animadoras.

Sente que o prémio ganho em Cannes é também do cinema português?

Espero que sim. Da minha parte, não tenho dúvidas de que aquilo que faço devo-o ao esforço de outros realizadores que filmaram antes de mim, e alguns deles continuam a fazê-lo. Eles tiveram de se confrontar com as características do nosso mercado e sociedade, conseguiram filmar num país onde não há indústria porque não há mercado para isso. Tiveram de lutar muito para poder filmar e fazer os filmes que fizeram. Reconheço uma experiência de identidade nesses filmes, revejo-me nisso, apesar dos filmes serem todos muito diferentes. Há, de facto, essa identidade na história do cinema português, talvez a partir dos anos 60, com o Cinema Novo, com produtores e realizadores que lutaram muito para poderem filmar. Fizeram filmes que, para mim, são muito importantes. Hoje em dia, com o sistema criado com a luta deles, é mais fácil para mim e para os meus colegas do que terá sido nos anos 60 e 70.

As condições políticas também eram outras, com menos investimento.

As condições políticas foram mudando ao longo do tempo, mas a vida deles também não foi fácil a seguir ao 25 de Abril de 1974. A forma como o cinema português se conseguiu impor e ganhar espaço para que existisse foi sendo travada em tempos históricos e interlocutores diferentes. E foi difícil.

Voltemos ao “Grand Tour”. Disse numa entrevista que a rodagem do filme foi “surrealista”. Que momentos que destaca dessa fase?

Quando disse isso referia-me a um momento específico da rodagem, na China, que foi muito surrealista. Esta ocorreu a milhares de quilómetros, estava em Lisboa porque não conseguia entrar no país por causa da covid-19. Depois de dois anos de espera para poder filmar, decidi que a única forma de fazer o filme seria ter uma equipa chinesa e eu estar em Lisboa e fazer a rodagem à distância. Estava num Airbnb no Areeiro, rodeado de monitores e a discutir aquilo que se deveria filmar com a equipa chinesa. Aí foi tudo muito surrealista, sim.

Alguma vez teve medo de não conseguir captar a essência do lugar, da cultura asiática, tendo em conta todas essas condicionantes?

Achava que a coisa não ia funcionar. Desconfio muito da técnica, sou bastante analógico, e achava que não ia funcionar. Para resultar tinha de ter a imagem em directo, dar um “acção” e um “corta” em tempo real, que pudesse ter a imagem geral, o que estava à volta no lugar além da imagem da câmara. Precisava de ter um sistema de comunicação que funcionasse com o director de fotografia e o responsável de câmara para lhe poder dar indicações na altura em que estávamos a filmar. Isso tudo foi possível, e fiquei espantado com isso. Por outro lado, a ideia de captar a essência do lugar, ou uma coisa mais profunda da cultura de um destes países, neste caso na China, parece-me um fardo demasiado pesado. Não era essa a minha intenção no filme, porque é algo impossível. Acredito que um filme é sempre o resultado de uma negociação entre alguém que olha e aquilo que existe para ser olhado. Há um lado subjectivo. Aquilo que nos interessa, que nos apela, que dialoga connosco e nos suscita o desejo de filmar pode existir na China, no Vietname, em África ou aqui na esplanada do café onde estamos. Parti para a Ásia como parti para a zona de Arganil para fazer um filme anterior, “Aquele Querido Mês de Agosto”.

Numa aldeia.

Sim, uma zona rural de Portugal, e não sei se olhava de maneira diferente numa situação ou outra. Há sempre qualquer coisa que acho bonito ou que me toca de maneiras diferentes. O que se passa em “Grand Tour” é uma série de desencontros, o do casal, mas parece-me que há também um desencontro entre aquelas personagens europeias na relação com o território. Parece que estão sempre desconectados do espaço onde habitam. Vivem um bocado numa bolha.

Mas o colonialismo também foi um pouco isso.

Sim. Concordo, acho que há pessoas que podem ver isso no filme, essa dissociação entre aquilo que as personagens estão a viver e aquilo que se passa em redor delas. Muitas vezes optámos por não traduzir o que se passava à frente deles para que o espectador ocidental possa estar tão intrigado e perdido como as próprias personagens. Também acho que, hoje em dia, há uma ideia, da qual discordo totalmente, que o cinema existe para corrigir a história e as injustiças todas do mundo. É também tarefa demasiado pesada para o cinema. Parece-me profundamente desajustado, porque o cinema não é um tribunal para julgar nem um espaço para punir espectadores e personagens, é outra coisa. Os filmes não têm de ser denúncias, prisioneiros de uma expectativa. Tentei fazer um filme onde a questão colonial pudesse ser tratada, mas sem ter de punir nem os espectadores, nem as personagens.

Qual era a sua relação com a Ásia ou a sua ideia de Orientalismo?

Quis trabalhar a ideia de que houve uma Ásia inventada e fabricada pelo olhar europeu, e tinha consciência que isso existiu e que tinha de trabalhar com isso no filme. O mundo da ficção, por outro lado, tem como uma das vertentes essa ideia de exotismo, independentemente da questão sociológica, de ter havido um olhar ocidental sobre o Oriente, quase como uma visão superficial desse mundo. Mas a ficção trabalha com estereótipos, e isso não é mau. É o cimento para depois fazer qualquer coisa com esses estereótipos.

Miguel Gomes na Cinemateca

Depois da primeira exibição ontem de “Aquele Querido Mês de Agosto”, a Cinemateca Paixão será o local para ver os filmes de Miguel Gomes seleccionados para a edição deste ano do Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No próximo dia 8 é vez de “As Mil e Uma Noites – Volume 1, O Inquieto”, de 2015; seguindo-se “As Mil e Uma Noites – Volume 2: O Desolado” na terça-feira dia 10. Segue-se depois, na quarta-feira, 11 de Dezembro, o episódio da saga, com o nome ” As Mil e Uma Noites – Volume 3: O Encantado”. “Grand Tour” tem uma única exibição na sexta-feira, 13 de Dezembro.

29 Nov 2024

Oceanos | Pedida flexibilidade no financiamento

David Gonçalves, director do Instituto para as Ciências e Ambiente da Universidade de São José, defende uma canalização em Macau do investimento para a investigação científica sobre os oceanos e biologia marinha, a fim de flexibilizar projectos entre a China e países de língua portuguesa

 

O director do Instituto para as Ciências e Ambiente da Universidade de São José (USJ), David Gonçalves, considera que o investimento público em investigação académica na área da defesa dos oceanos deve estar centrada em Macau e não apenas em Pequim, a fim de melhor assegurar o funcionamento das equipas de investigação.

A ideia foi deixada ao HM no contexto da realização, na USJ, desde ontem, da quinta edição da SINOPORT Ocean Conference – Simpósio Anual para o Centro de Investigação Conjunta em Biologia Marinha [International Joint Research Center of Marine Biology], um encontro organizado pela Universidade do Algarve e a Shanghai Ocean University. O evento, que reúne académicos de Macau e de outras regiões, termina hoje.

“A questão que se coloca é se o Governo Central e local querem, de facto, atribuir o papel de plataforma na cooperação científica a Macau. Se sim, têm de surgir os mecanismos necessários, de natureza financeira, que neste momento não existem. O Governo de Macau deverá querer chamar a sim o papel de centralização nos mecanismos de financiamento. Penso que deveria haver um entendimento directo entre o Governo Central e Macau sobre o verdadeiro papel de plataforma e que mecanismos devem ser criados”, disse.

A ideia surge porque, neste simpósio, irá ser discutido o trabalho desenvolvido por dois laboratórios de investigação que são financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e que reúnem académicos da China, Europa e Portugal.

“Quando o financiamento é dado por parte da China, torna-se difícil que chegue a todos os parceiros [de um grupo de investigação], o que faz com que a cooperação não seja eficaz. Macau teria mais facilidades nesse campo, de poder canalizar financiamento para outros parceiros, e do ponto de vista prático seria mais fácil progredir se Macau fosse esse motor de arranque”, acrescentou. David Gonçalves espera ainda que esta questão seja discutida no simpósio.

“Actor natural”

O evento culminou, para já, na assinatura de um memorando de entendimento entre a USJ, Universidade do Porto e a Shanghai Ocean University. Hoje é a vez de Gui Menezes, da Okeanos e Universidade dos Açores, falar na sessão “Explorando o desconhecido: A evolução e o futuro da investigação marítima nos Açores”.

Joel Reis, da Universidade de Macau, apresenta o projecto ORVIS, que se trata de um “veículo robótico oceânico para a intervenção em águas pouco profundas”.

David Gonçalves referiu ao HM que a USJ foi convidada para acolher este simpósio, o que faz todo o sentido, pelo facto de Macau “ser um actor natural no entendimento entre a China e os países de língua portuguesa”. “A única coisa que falta é haver luz verde do Governo Central e do Governo local para pôr em prática esses mecanismos de cooperação”, salientou.

O financiamento já atribuído por Pequim levou à formação de dois laboratórios conjuntos virados para a investigação sobre os oceanos e vida marinha, que junta a USJ, a Shanghai Ocean University, a Universidade do Algarve, o Instituto de Oceanografia da China e o Instituto Português do Mar e Atmosfera, entre outras entidades.

No simpósio que hoje termina pretende-se “debater a cooperação que tem vindo a ser feita neste âmbito e perceber se as diferentes iniciativas se podem agregar para juntar esforços e aumentar a cooperação entre a China com os países de língua portuguesa na área dos oceanos, além de se perceber o papel que Macau pode desempenhar no futuro”, rematou David Gonçalves.

28 Nov 2024

Vera Paz e Ricardo Moura, directores “D’As Entranhas”, sobre “Home Sweet Home”: “Mais ácido que doce”

A peça “Home Sweet Home”, uma produção da companhia d’As Entranhas, é apresentada hoje e sábado no Centro Cultural de Macau. Em entrevista ao HM, os directores artísticos Vera Paz e Ricardo Moura falam de um projecto sobre a mulher, a solidão, o espaço interior de cada um e os confrontos emocionais com que nos deparamos

 

Como surge o projecto “Home Sweet Home”, que tem uma grande ligação à literatura portuguesa, com textos de Adília Lopes, Maria do Rosário Pedreira ou Dulce Maria Cardoso?

Vera Paz (VP): Este espectáculo surgiu na pandemia, era para ter sido feito antes, a ideia surgiu quando estávamos todos confinados. Por várias razões o “Home Sweet Home” não foi executado na altura. É sobre uma mulher confinada em casa, que é uma casa prisão, um espaço íntimo e privado. Há uma transmutação desse universo [literário]. A escolha da Adília [Lopes] partiu sempre da obra dela, e depois temos a Dulce Maria Cardoso, que escreve sobre o lugar da mulher, com sentimentos e perdas, que é o que me interessa. [A peça] fecha um de três solos, que começa com o espectáculo “Medeia” [apresentado em 2020], depois “A Boda” [apresentado em 2021] e agora temos, em “Home Sweet Home” a completa solidão. A dramaturgia foi feita cozinhando os textos com estas obras, sendo uma ficção biográfica do meu universo como mulher e uma reconstrução das memórias da mulher na peça.

Ricardo Moura (RM): No meu caso fui confrontado com o texto quase no final. No processo de construção do texto, nas últimas semanas, temos transformado algumas coisas e feito algumas mudanças. Adorei o texto e gosto do universo das mulheres. É sempre um desafio tentar entrar na vossa cabeça e pensar como se podem fazer as coisas. Idealizei logo uma série de imagens que, na minha cabeça, faziam sentido.

VP: A mulher de “Home Sweet Home” é uma construção de várias. Mas mais do que uma peça sobre mulheres e o universo feminino, é uma peça sobre a configuração humana, o tempo, o que fica, o que vai e o que perdemos.

RM: Esta é uma mulher que está fechada numa casa, mas essa casa somos nós. É sobre o processo de mergulharmos em nós e perceber que, muitas vezes, o que acontece é que estamos fechados em nós próprios. Ainda é mais interessante porque desde 2020 temos vivido a solidão das pessoas, que tentam fugir para a frente, com recurso às redes sociais, do “wannabe”. Aqui, nesta peça, é o inverso, o tentar mergulhar na densidade de uma mulher e perceber como está fechada. Não queremos contar nenhuma história nem deixar uma mensagem, mas simplesmente contar um pedaço daquela pessoa. Esta peça é escrita por mulheres e feita por uma mulher, mas eu vejo esta questão de forma transversal, com homens e mulheres, pobres e ricos que passam por estas “prisões”. Às tantas, somos nós a nossa própria prisão.

Home sweet home antonio mil-homens

VP: Nunca sabemos o que se passa no espaço íntimo de uma casa, mas no caso deste espectáculo é um espaço-prisão, do qual ela nunca consegue sair.

RM: Mas o não sair dali não é uma coisa física. Não consegue sair das suas memórias, coisas, daquilo que gostaria de ter sido e feito, mas que não aconteceu.

Tendo em conta o adiamento da apresentação de “Home Sweet Home” ao público, como foi a evolução do projecto?

VP: Na pandemia tínhamos bastantes restrições, não conseguia ter os actores ou os encenadores em Macau. Mas o distanciamento [temporal] foi bom, porque na altura estávamos muito em cima do que estava a acontecer, e assim conseguimos ter uma certa respiração. O texto foi alterado, transmutado e foi sendo acrescentado, porque tinha uma certa dinâmica que agora já não fazia tanto sentido. Às tantas, a voz desta mulher é a mistura das vozes das mulheres [dos textos de Adília Lopes, Dulce Maria Cardoso e Maria do Rosário Pedreira], mas não se trata de um texto clássico com princípio, meio e fim. Não se percebe o que é da Adília Lopes ou da Maria do Rosário Pedreira, por exemplo.

RM: Nos ensaios, no dia-a-dia, vamos alterando coisas. É o nosso processo de construção. Nós, na nossa companhia, temos uma linha de espectáculo que queremos desenvolver, e que se baseia na ideia de que antes de começar já começou, e quando termina é como se continuasse. Poderíamos continuar numa espécie de espiral.

“d’As Entranhas” é a única companhia a fazer teatro de matriz portuguesa em Macau. Quais têm sido os maiores desafios?

VP: É difícil. Somos a única companhia, ou associação, que, em Macau, faz teatro em português. Não traduzimos as peças porque o espectáculo não é só o texto, mas também a música. Há uma parte plástica muito marcada, é uma obra viva que é muito visual. O facto de assumidamente não traduzirmos as peças faz com que às vezes não seja [fácil]. A comunidade portuguesa em Macau é cada vez mais pequena, mas queremos continuar e vou continuar a insistir. Para este espectáculo integrámos dois actores da companhia em Portugal. Não é fácil a distância, e as pessoas têm as suas vidas. O Ricardo desenvolve projectos pontuais em Portugal, e tentamos manter um intercâmbio. Em 2018 fizemos uma parceria, mas com a pandemia ficámos num hiato imenso. Para o ano iremos continuar com dois projectos, com actores de Macau e de Portugal, e queremos manter este fio condutor.

RM: Os nossos espectáculos vivem muito de um lado mais plástico, com imagens e emoções e daquilo que os actores provocam em nós. Se não existisse texto também seria possível fazer o espectáculo. Às vezes, as pessoas têm medo de arriscar e vir ao espectáculo por causa da barreira linguística. Nos anos em que não pude vir a Macau mantivemos a parceria e desenvolvi uma coisa que nos interessa, que é a junção de culturas. Os projectos que a Vera pensa desenvolver no futuro próximo giram muito em torno disso, em juntar actores de cá e lá. Agrada-me perceber como, face a um tema que queremos tratar, as várias culturas se juntam. Gostaria de trabalhar por Macau num futuro próximo. O próximo espectáculo vai ter bastantes pessoas.

Home sweet home

Como vai ser, em termos concretos?

VP: Programei, para o próximo ano, um dueto com dois actores de Portugal e um colectivo, e vai ser uma espécie de baile.

Como tem sido a ligação “d’As Entranhas” com os restantes grupos de teatro em Macau, de matriz chinesa?

VP: Não tenho forma de chegar aos grupos de teatro chineses. É difícil a barreira e estão fechados nas suas próprias coutadas. Não há associações profissionais, é tudo amador, não existe uma continuidade. Há cada vez mais grupos de teatro com experiência, mas não existem companhias profissionais em Macau. Temos a Comuna de Pedra, a única, creio, que se dedica inteiramente a projectos culturais. Depois temos o Conservatório, existem iniciativas, mas não há uma profissionalização do sector.

Este espectáculo terá algumas limitações em termos de idade. Alguma vez sentiram alguma pressão do Governo em relação aos conteúdos das peças que apresentam?

VP: Este ano, pela primeira vez, a Comissão de Classificação de Espectáculos [do Instituto Cultural] pediu-nos o texto e classificou a imagem do espectáculo, que está aconselhado a maiores de 18 anos e interdito a menores de 13. Mas isso tem mais a ver com a linguagem do que com a imagem. Não sinto pressão. O que sinto é que existe um maior cuidado da parte de quem financia para perceber o que de facto vai financiar.

Porquê o nome “Home Sweet Home”?

VP: Não é um lar nada agradável. O nome original do espectáculo era “Estar em Casa”, com referência à obra de Adília Lopes. Depois adaptei, mas na verdade é mais “Home Bitter Home”, mais ácido que doce. É um nome enganador, mas não tem de ser tudo explicativo e taxativo para as pessoas. Pensei na ideia de que, quando estamos sozinhos, só nós é que sabemos, e o nome remete para isso. Tem várias leituras, e nunca gostamos de dar uma só leitura, para permitir que as pessoas criem as suas próprias histórias.

RM: Para mim, o título surge como a ideia de “meu querido espaço”, o meu querido eu. O processo de isolamento das pessoas pode não ser mau e, às vezes, podemos perceber que temos uma fase boa em que somos nós próprios.

28 Nov 2024

Grande Prémio | Costa Antunes recorda episódios da competição

João Manuel Costa Antunes foi director dos Serviços de Turismo durante muitos anos e vai recordar esses tempos esta quinta-feira num evento no Artyzen Grand Lapa. “Grande Prémio de Macau: Para Além das Corridas” é o nome da “Conversa ao Entardecer” promovida pela Associação Internacional de Publicidade de Macau

 

Foi em 2012 que o engenheiro João Manuel Costa Antunes deixou de dirigir os Serviços de Turismo para se tornar no coordenador a tempo inteiro do Grande Prémio de Macau (GPM). Os anos dedicados ao mundo do turismo e do desporto automóvel serão recordados esta quinta-feira no evento “Talk at Sunset” [Conversas ao Entardecer], que decorre a partir das 18h no bar Vasco do Artyzen Grand Lapa. A palestra terá como nome “Grande Prémio de Macau: Para Além das Corridas”.

O evento, promovido pela Associação Internacional de Publicidade de Macau (IAA, na sigla inglesa), conta, assim, com “uma grande figura lendária de Macau, que irá partilhar as histórias e ideias” sobre o seu trabalho na organização do GPM. Segundo um comunicado da IAA, irá destacar-se “como este lendário espectáculo desportivo serve de catalisador para o desenvolvimento global de Macau e o seu impacto no panorama turístico da região”.

Formado em Engenharia Civil, João Manuel Costa Antunes era estudante universitário em 1974, ano em que caiu o Estado Novo em Portugal, tendo feito parte do quadro do Ministério do Planeamento e Administração do Território, participou na criação de Gabinetes Coordenadores de Obras Municipais e Gabinetes de Apoio Técnico aos Municípios. Porém, Macau chamou-o, tendo chegado ao território ainda nos anos 80, onde começou por ser assessor do secretário-adjunto para o Ordenamento, Equipamento Físico e Infra-estruturas do Governo de Macau. Foi depois vice-presidente do Leal Senado e mais tarde assessor técnico dos Serviços de Marinha de Macau.

De tudo um pouco

A entrada no sector do turismo deu-se em 1987, quando fica encarregue de coordenar o projecto do World Trade Center, edifício de escritórios da autoria do arquitecto português Manuel Vicente. Foi subdirector desse empreendimento, mas em 1989 já era director dos Serviços de Turismo.

João Manuel Costa Antunes esteve ainda à frente do Gabinete de Coordenação da Cerimónia de Transferência, tendo continuado a dirigir o Turismo de Macau já depois de 1999, quando Macau já era RAEM e enfrentava novos desafios e mais turistas. Manteve-se no cargo até 2012, acompanhando sempre de perto o GPM.

Lugar de partilha

A IAA pretende promover as “Conversas ao Entardecer” para se interligar com “todos os especialistas e líderes do sector, bem como a servir de plataforma para educar os novos talentos”. Esta iniciativa consiste numa “série de eventos regulares ao final do dia que conectam profissionais da indústria a nível global para partilharem ideias e inspirarem o público com a sua paixão e dedicação”.

Em declarações à Revista Macau, João Manuel Costa Antunes recordou o período da competição do GPM nos anos 80.

“Tive a grande sorte de chegar em 1983 a Macau, ano em que arranca pela primeira vez a Fórmula 3 e o Ayrton Senna ganha. Todo o ambiente me galvanizou e tornei-me espectador assíduo. Quando passei para o Turismo, tive que aprender e ir buscar pessoas que percebessem aquilo que eu desconhecia. Para pôr a estrutura a funcionar. O meu primeiro GP foi em 1988. Correu tudo muito mal. Nunca me vi tão atrapalhado como na quinta-feira antes do GP, que é quando tudo começa”, recordou.

27 Nov 2024

História | Último governador durante o Estado Novo tomou posse há 58 anos

Chegou a Macau quando o “1,2,3” explodia nas ruas. Deu nome à primeira travessia entre a península e a Taipa e foi o último governador português em Macau durante o Estado Novo. Há 58 anos, José Nobre de Carvalho tomava posse. A sua esposa, Julieta, deu nome à habitação social que está hoje em processo de remodelação

 

1966 foi o ano de viragem no posicionamento da Administração portuguesa em Macau e palco temporal para talvez um dos episódios mais marcantes do século XX nas relações da China com Portugal. O movimento “1,2,3” explodiu a 15 de Novembro de 1966 com um acontecimento banal a servir de argumento para uma questão política muito maior: a falta de licenciamento para a construção de uma escola. Esse seria o rastilho para a expressão da Revolução Cultural em Macau, que quase pôs fim à Administração portuguesa no território.

José Manuel de Sousa e Faro Nobre de Carvalho era o governador português do território nessa altura. O episódio é relatado no livro do jornalista José Pedro Castanheira, “Os 58 dias que abalaram Macau”: o novo governador chega a Hong Kong acompanhado da sua esposa, Julieta, sem fazer a mínima ideia de que, em Macau, a comunidade chinesa protestava.

Nobre de Carvalho tomou posse exactamente dez dias depois do arranque dos protestos, a 25 de Novembro de 1966, fez na passada segunda-feira 58 anos. O Notícias de Macau era um jornal de perfil conservador, dirigido por Herman Machado Monteiro, quando notícia, em manchete, a chegada do “Novo Governador de Macau”.

O tom do texto era elogioso, descritivo, parcial, conforme determinava a censura da época. “Macau recebe hoje, festivamente, o seu novo Governador e comandante-chefe das Forças Armadas – Sua exª o brigadeiro José Manuel de Sousa e Faro Nobre de Carvalho. A hora é de regozijo e de esperança. De regozijo pela chegada de um distinto oficial general do nosso Exército, com uma brilhante folha de serviços e larga experiência do Ultramar, nomeadamente no Estado português da Índia e em Angola, para assumir as rédeas da governação desta histórica parcela de Portugal no Oriente”, podia ler-se.

A parcialidade era tanta que o próprio Notícias de Macau associava-se “ao regozijo da população, fazendo eco dessa sua esperança”, dando “a sua excelência [o governador] e exma. esposa respeitosas saudações de boas-vindas, com votos sinceros por um governo feliz, a bem da Nação e desta província”.

No dia seguinte, o mesmo jornal publicava fotos que destacavam a chegada de Nobre de Carvalho. Nem uma só menção aos protestos na Taipa. “O novo Governador da província e a senhora de Nobre de Carvalho chegaram ontem, pelas 11h30, a Hong Kong vindos de Manila num avião da Philippine Air Lines. No aeroporto de Kai Tak via-se formada uma guarda de honra, constituída por uma força do 1º Batalhão “The Welch Regiment”. Eram 13h30 quando sua exª o Governador de Macau e a senhora de Nobre de Carvalho embarcaram no hidroplanador “Penha”, posto à disposição do ilustre casal pela STDM [Sociedade de Turismo e Diversões de Macau], acompanhados da comitiva de Macau e de individualidades como Teddy Yip, Ip Hon e Henry Fok e José dos Santos Ferreira”.

Conforme era próprio na época, tendo em conta a vigência de uma administração sujeita às regras do Estado Novo, “a juventude da terra marcou a sua presença na recepção através da Mocidade Portuguesa e das escolas de língua portuguesa, chinesa e inglesa”.

O Notícias de Macau destacava que “esta vetusta parcela de Portugal onde, há 400 anos, se entabulou o primeiro diálogo entre o Ocidente e o Oriente, diálogo esse que, não obstante as sucessivas convulsões por que o mundo tem passado, ainda se mantém harmonioso nos seus aspectos espiritual, humano, cultural, social e económico – vestiu ontem as suas melhores galas para receber condignamente o seu novo Governador e comandante-chefe das Forças Armadas”.

Descrevia-se ainda, em jeito de perfil, que Nobre de Carvalho possuía “uma brilhante folha de serviços, tanto na metrópole como no Ultramar, não só no desempenho de altas funções de carácter militar como também em postos de grande responsabilidade na Administração Ultramarina”. Este tinha sido promovido ao posto de Brigadeiro a 15 de Dezembro de 1964, “depois de tirar o curso de altos comandos no Instituto de Altos Estudos Militares com a classificação de muito apto”.

Sessão no Leal Senado

Terminada a festa, foi a vez de Nobre de Carvalho se dirigir à população, realizando-se, no salão nobre do Leal Senado, a “cerimónia de entrega do Governo”. Mas nas ruas continuava a efusão: “Apesar da sua vastidão, o recinto parecia pequeno para conter a multidão das pessoas que ali afluíram para o acto. Como ao desembarque na ponte-cais, pode-se afirmar que ali estavam largamente representadas todas as forças vivas da província. No largo fronteira, incontável multidão contida à distância pela polícia. Um pouco mais ao fundo da Avenida Almeida Ribeiro, para os lados do Hotel Central, prestava a guarda de honra uma companhia da PSP, com bandeira nacional, guião da corporação e banda de música.”

O jovem arquitecto José Maneiras era, à época, vice-presidente do Leal Senado, tendo feito um discurso “na velha casa que tão de perto acompanhou a vida de Macau, nos seus altos ou difíceis momentos históricos”, considerando-a “legítima representante da população portuguesa e chinesa desta cidade”.

Para Maneiras, Macau, já com 400 anos de Administração portuguesa, constituía um testemunho do “glorioso passado histórico”, afirmando-se “como um exemplo vivo de paz e entendimento, de harmonia e respeito mútuo entre duas comunidades que se imanam num esforço comum de valorização, fomento da prosperidade e na promoção do bem-estar geral da população”.

“Esta herança de quatro séculos, vividos numa comunhão de ideais, numa coexistência pacífica (praticada muito antes de estar em voga tal designação) e no culto dos mais elevados valores morais e humanos de duas civilizações distintas, mas não antagónicas (…)”, acrescentou.

Governador “emocionado”

Na hora de falar, o governador Nobre de Carvalho destacou “a grandeza do momento que passa”, sentindo-se “verdadeiramente emocionado [ao evocar] as nobres tradições desta casa e as decisões aqui tomadas, durante séculos, na administração desta terra (…)”.

“Ao saudar a população de Macau, quero aproveitar referir-me especialmente à comunidade chinesa, pois de há muito que admiro o povo chinês, as suas finas sensibilidades, inteligência e qualidade de trabalho, qualidade que tão bem se enquadram com as do povo português e consagram a tradicional solidariedade luso-chinesa”, destacou o governante, que continuou os elogios à comunidade que, entretanto, protestava nas ruas e empenhava palavras de apoio a Mao.

“A comunidade chinesa constitui um dos pilares em que assenta a economia de Macau pelas actividades e a forma que as exerce. Ao longo da história a comunidade chinesa de Macau e as gentes portuguesas sempre viveram verdadeiramente irmanadas por um espírito de compreensão e respeito mútuo, o que evidencia bem as qualidades cívicas dos respectivos povos.”

Nobre de Carvalho destacou também alguns pontos sobre a economia do território. “Uma verdadeira solidez de ordem económica só se pode obter através da expansão do comércio e de certas indústrias básicas, isto, evidentemente, sem descurar o incremento do turismo nos moldes que se encontram já traçados e cujos resultados têm sido bem evidentes. Às importantes obras do Plano de Fomento, algumas já em curso, continuará a dar-se o necessário andamento.”

Obra feita

Nobre de Carvalho ficou para a história como um dos governadores que teve de enfrentar um dos períodos mais difíceis na história de Macau do século XX, em plena Revolução Cultural chinesa. Isto porque tomou a decisão de acatar todos os pedidos de Pequim. Desta forma, não só acalmou a tensão no relacionamento de Portugal com a China, como permitiu a manutenção da presença portuguesa em Macau.

O militar imprimiu o seu nome nalguns grandes projectos de infra-estruturas no território, nomeadamente a primeira travessia entre Macau e a Taipa, erguida há 50 anos, e a habitação social mais dirigida para a comunidade chinesa.

O tempo não perdoa e hoje o velho Edifício D. Julieta Nobre de Carvalho, situado no bairro do Iao Hon e com blocos de apartamentos, deverá ser alvo de requalificação, um projecto que gerou questões por parte do deputado Ngan Iek Hang. “Os blocos A, B e C do edifício D. Julieta Nobre de Carvalho, de habitação social, foram inaugurados entre os anos 60 e 70 do século passado, mas em 1995 o Governo fez alterações para os idosos lá residirem. O Governo mencionou em Abril que os blocos B e C estão em mau estado, estando a planear a sua reconstrução. Estamos em Novembro, mas não há novidades sobre a demolição destes blocos, sendo que o Governo não revelou como ia coordenar os terrenos ou planear as zonas próximas”, referiu.

Para o deputado, os moradores estão preocupados, pois receiam que “sem um planeamento a longo prazo, os terrenos estarão desocupados durante muito tempo, o que pode causar problemas de higiene e segurança”.

Com o 25 de Abril de 1974 e a queda do Estado Novo, Nobre de Carvalho fica com a imagem de governador do regime. Tudo fica resolvido numa questão de meses, sendo substituído pelo general Garcia Leandro logo no final de 1974. Mas a obra com a assinatura do último governador do Estado Novo em Macau ficou feita. (Com Nunu Wu)

27 Nov 2024

China-Portugal | Presidente da APN reúne com figuras do Estado português

Multilateralismo e cooperação económica foram alguns dos pontos discutidos na visita de Zhao Leji a Portugal. O presidente da Assembleia Popular Nacional reuniu com José Aguiar-Branco, Luís Montenegro, e Marcelo Rebelo de Sousa. A visita do político chinês à Europa é uma “operação de charme” e um passo para a “normalização de relações”, dizem analistas

 

Zhao Leji, que preside ao Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) da República Popular da China, visitou Portugal entre quinta-feira e sábado.

Trata-se de uma viagem realizada no âmbito de um périplo de nove dias pelo sul da Europa, com o político, oficialmente o número dois da hierarquia política chinesa, a deslocar-se também a Espanha e à Grécia.

O presidente da APN foi recebido, na sexta-feira, por José Aguiar-Branco. Os presidentes dos parlamentos de Portugal e China tiveram depois um encontro a sós, antes da reunião que juntou as delegações dos dois países. A visita de Zhao Leji ao parlamento português terminou com uma fotografia oficial tirada na Sala do Senado da Assembleia da República (AR). Durante a visita do “número dois” da hierarquia política chinesa, não houve declarações aos jornalistas.

Na quinta-feira, Zhao Leiji foi recebido em São Bento pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro. No final da visita, na rede social X (antigo Twitter), Luís Montenegro escreveu que “Portugal e a China possuem uma relação de amizade com raízes sólidas, que passam também por Macau”. “Abordei com o presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular da República Popular da China, Zhao Leji, oportunidades para o reforço da nossa cooperação bilateral e multilateral em domínios de interesse comum”, adiantou o líder do Executivo português.

Na Xinhua descrevem-se mais detalhes sobre estes encontros. Ao reunir com Luís Montenegro, Zhao Leji “disse que a China sempre encarou e desenvolveu os laços com Portugal numa perspectiva estratégica e de longo prazo”, estando pronta “a trabalhar com Portugal para apoiar firmemente os interesses fundamentais e as principais preocupações de cada um, e para cimentar a confiança política mútua”.

A China espera assim, com Portugal, “uma cooperação mais estreita em domínios como a inteligência artificial, as energias limpas, a inovação tecnológica, a formação de pessoal e os intercâmbios culturais e interpessoais, encorajando as empresas dos dois países a expandir o investimento e a cooperação”.

O primeiro-ministro português terá observado, segundo a Xinhua, que “Portugal adere sempre ao princípio de uma só China”, tendo Montenegro “elogiado a prática de ‘Um País, Dois Sistemas’ na RAEM”.

“Sublinhando que a China é um parceiro económico importante para Portugal e que o seu país atribui importância à atracção de investimentos chineses, o primeiro-ministro português espera mais intercâmbios e cooperação com a China nos domínios da ciência e tecnologia, da economia marítima, da cultura e do desporto”, lê-se na Xinhua.

AR e APN mais juntas

A China tornou-se, na última década, o quarto maior investidor directo estrangeiro em Portugal. Empresas chinesas, estatais e privadas, detêm uma posição global avaliada em 11,2 mil milhões de euros na economia portuguesa, segundo o Banco de Portugal.

A Xinhua escreve ainda que, no encontro com o presidente da Assembleia da República portuguesa, Zhao Leji “afirmou que a APN está pronta a reforçar o intercâmbio de experiências em matéria de legislação e supervisão, a fim de fornecer garantias jurídicas para promover a cooperação bilateral em vários domínios e criar um ambiente empresarial justo, equitativo e não discriminatório”.

O presidente da APN “também expressou a esperança de que os legisladores portugueses no Parlamento Europeu continuem a apoiar a cooperação amigável entre a China e a UE”, sem esquecer “os progressos notáveis” relativamente a Macau nos últimos 25 anos com a prática de “Um País, Dois Sistemas”.

Zhao Leji indicou que Pequim “irá continuar a aplicar de forma plena, fiel e inabalável, o princípio de ‘Um País, Dois Sistemas’, segundo o qual o povo de Macau administra Macau com um elevado grau de autonomia”, apoiando “Macau na integração no desenvolvimento nacional”.

Aguiar-Branco terá afirmado que “os dois países respeitam-se mutuamente, aderindo à ideia de abertura e cooperação vantajosa para ambas as partes, tendo alcançado resultados positivos na cooperação em vários domínios”, referiu Aguiar-Branco.

Uma normalidade

Para a académica Cátia Miriam Costa, investigadora e professora auxiliar convidada do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, a visita de Zhao Leji a Portugal “constitui uma reafirmação de normalidade diplomática entre os dois países”.

“Apesar de ser uma visita de uma alta figura do Estado chinês, tratando-se do representante de um alto cargo chinês, presidência da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular, é normal que passe despercebida aos meios de comunicação social que se focam em geral em visitas de representantes do poder executivo. Claro que esta visita representa uma oportunidade para reforçar laços, sobretudo, no que toca a aspectos da relação diplomática bilateral.”

Uma vez que a visita decorreu pouco tempo depois da vitória de Donald Trump, Cátia Miriam Costa defende que, neste período, “espera-se alguma mudança na política norte-americana”. Porém, “poderá incrementar o interesse desta visita, nomeadamente, através da tentativa de manutenção de alguns projectos de cooperação comuns ou de reciprocidade de procedimentos como acontece com a ausência de necessidade de vistos para curtas estadas de cidadãos portugueses em território chinês”.

Recorde-se que foi anunciado, na sexta-feira, por Pequim a extensão de 15 para 30 dias do período de estadia sem visto para cidadãos de países com isenção de visto em vigor, uma lista na qual Portugal foi integrado.

Uma “operação de charme”

Para Tiago André Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Lusíada do Porto, a visita de Zhao Leji a Portugal, Espanha e Grécia “ocorre num tempo muito inteligente, do ponto de vista diplomático”. Trata-se de uma “clara operação de charme para acautelar os interesses económicos da China na Europa” após a vitória de Trump.

“Parece-me que a preocupação de Pequim é compreender as razões pelas quais a União Europeia decidiu assumir uma postura economicamente defensiva face à China, com a discussão política em sede de Comissão Europeia sobre política concreta para a desacoplagem económica da Europa face à China. Ao mesmo tempo, Zhao Leji trará a argumentação de Pequim sobre as vantagens económica de fortalecer os fluxos comerciais dos países do Sul da Europa, com a China”.

Tiago André Lopes destaca também algumas “preocupações” de Pequim no final deste ano, nomeadamente “a discussão, mais no Parlamento Europeu do que na Comissão, sobre a necessidade de ‘punir’ a China pela percepção de apoio, não apenas diplomático, à Rússia na incursão na Ucrânia”.

Neste ponto, o académico crê que Zhao Leji “irá, seguramente, tentar recolher informação sobre que tipo de punição referem os oficiais europeus e se os líderes portugueses, espanhóis e gregos estão dispostos a travar essas medidas, bloqueando-as no Conselho Europeu”.

“Não seria a primeira vez que Lisboa, ou Atenas, usariam o seu poder de veto para trancar decisões europeias avessas aos interesses de Pequim”, acrescentou.

O regresso de Donal Trump à Casa Branca estará também na agenda do presidente da APN. “A equipa de Donald Trump tem vários ‘Falcões Orientais’ que parecem desejar uma confrontação, pelo menos diplomática, com a China. Ora, nesse sentido, é importante aferir se Lisboa, Madrid e Atenas irão seguir e dar respaldo a essa estratégia, ou se o ‘afastamento cauteloso’ com relação à Administração Trump permite uma aproximação a Pequim.”

Destaque ainda para o posicionamento da iniciativa “Faixa e Rota” e os esforços da China de uma “maior inclusão do Sul da Europa”, tema que também estará na agenda de Zhao Leji.

Chá com Marcelo

Além dos encontros com Aguiar-Branco e Montenegro, a passagem de Zhao Leji por Lisboa incluiu uma reunião na quinta-feira com Marcelo Rebelo de Sousa. Na nota oficial deixada no portal da Presidência da República portuguesa, nada é adiantado sobre o conteúdo discutido, mas segundo a agência estatal chinesa Xinhua, Zhao Leji terá dito ao presidente português “que nos últimos anos, sob orientação dos dois chefes de Estado, a parceria estratégica abrangente China-Portugal tem vindo a aprofundar-se e a progredir solidamente, registando progressos constantes na cooperação ‘Uma Faixa, Uma Rota’, bem como ricos intercâmbios culturais e interpessoais.”

No encontro de quinta-feira foi referido que a China “aprecia a longa adesão de Portugal ao princípio de “uma só China” e está disposta a dialogar com Portugal com base no respeito mútuo e na igualdade, reforçando os seus laços como bons amigos que se respeitam e confiam um no outro, parceiros fiáveis para o desenvolvimento comum e companheiros próximos na aprendizagem mútua entre civilizações”.

Zhao Leji terá ainda indicado a Marcelo Rebelo de Sousa esperar que Portugal “continue a desempenhar um papel activo na União Europeia (UE) e a injectar mais energia positiva no desenvolvimento das relações China-UE”.

A agência oficial chinesa refere que Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “Portugal e a China são bons amigos, com compreensão e afecto mútuos”, e que este ano “se assinala o 45.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e o 25.º aniversário do regresso de Macau à pátria chinesa”. Marcelo disse estar disposto “a reforçar os intercâmbios de alto nível com a China, aprofundar as trocas amistosas e fortalecer a cooperação em domínios como o comércio, as novas energias, a economia marítima e a economia digital”.

“Portugal adere firmemente ao multilateralismo, salvaguarda o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) e a autoridade do direito internacional. É muito importante que a Europa e a China reforcem o diálogo, e Portugal está disposto a desempenhar um papel activo nesse sentido”, afirmou o presidente português.

25 Nov 2024

António Branco, investigador da área da inteligência artificial: “Macau pode liderar”

Docente da Universidade de Lisboa, e cientista da área da inteligência artificial e processamento de linguagem natural, António Branco está em Macau para o 9º Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Português como Língua Estrangeira na Ásia. O académico considera que Macau pode liderar no desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial

 

Quais os riscos e oportunidades do uso da Inteligência Artificial (IA) generativa no ensino de línguas?

É sobejamente conhecido que as novas tecnologias trazem benefícios que anteriores tecnologias não conseguiam assegurar, mas sabe-se também que a introdução de novas tecnologias tem o potencial de aprofundar a desigualdade entre os seus utilizadores se tal efeito não for mitigado com contramedidas. A tecnologia da IA, e em concreto na sua aplicação ao ensino da língua, não é excepção. Tem o potencial de fazer avançar mais rápida e eficazmente a aprendizagem da língua, mas estudos recentes vêm mostrar que pode também levar os alunos a uma desvantagem, que é o facto de não conseguirem ultrapassar essas suas desvantagens se não existir a devida mediação pedagógica na exploração destas tecnologias.

Desta forma, que medidas devem as escolas adoptar para melhor se adaptarem a este salto evolutivo?

Guardadas as devidas distâncias, ainda assim pode ajudar a analogia com o que aconteceu há cerca de duas décadas atrás, com o advento das novas tecnologias digitais e da internet. Nessa altura, e desde então, uma medida das mais importantes tem sido dar formação aos professores para que melhor possam tirar partido da tecnologia. Com o recente advento da IA, um novo impulso de formação dos professores é imperativo.

Além do trabalho como investigador, é também director-geral da PORTULAN CLARIN. De que se trata concretamente?

É uma Infraestrutura de Investigação para a Ciência e Tecnologia da Linguagem e pertence ao Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação de Relevância Estratégica, sendo o nó nacional [em Portugal] da infra-estrutura internacional CLARIN ERIC. A sua missão é apoiar investigadores e inovadores, mas também professores e estudantes da língua cujas actividades dependem de resultados da Ciência e Tecnologia da Linguagem através da distribuição de recursos científicos, do fornecimento de apoio tecnológico, da prestação de consultoria e da disseminação científica. Os serviços de processamento da língua, por exemplo o conjugador ou os analisadores sintáticos, são disponibilizados gratuitamente e podem ser facilmente experimentados online na bancada da infraestrutura. Assim, fazem parte do portfólio de novos instrumentos de apoio ao ensino e aprendizagem da língua.

Está em Macau para participar num colóquio focado no ensino de português como língua estrangeira. Poderia o território tornar-se numa zona experimental para o desenvolvimento deste tipo de plataformas digitais?
Macau beneficia do efeito combinado da sua herança histórica que lhe confere a vantagem de ser um território que promove o multilinguismo, bem como da sua integração na área da Grande Baía, que o coloca no epicentro da inovação tecnológica. Mais do que uma zona experimental, Macau poderá liderar o desenvolvimento e a exploração da nova tecnologia de IA, e em muito particular a sua aplicação à tecnologia e processamento da linguagem natural.

Acredita que livros e manuais escolares como hoje os conhecemos poderão desaparecer e dar lugar a e-books e conteúdos feitos por IA? Ou haverá espaço para complementaridade?

O passado recente, de exposição a novas tecnologias disruptivas, ensina-nos que devemos ser prudentes a vaticinar a extinção de anteriores formas e práticas sociais e culturais. Por exemplo, o livro em papel foi declarado em extinção acelerada, mas afinal continua connosco com grande vitalidade, em complementaridade com outros tipos de suporte e canais de disseminação. Estou inclinado a pensar que o mesmo se vá passar relativamente aos benefícios da aplicação da IA no ensino. Acima de tudo, o que precisamos urgentemente neste momento é de desenvolver novas formas de mediação pedagógica que ajudem os alunos a tirar o melhor partido possível deste benefício. A IA, por si própria, tal como um navegador da web, não é uma ferramenta pedagógica, também em si mesmo uma chatbot não é um instrumento pedagógico, mas nas mãos e com a orientação dos professores pode certamente transformar-se num dos mais importantes meios de aprendizagem da língua.

Há possibilidade de uma maior conexão dos modelos “Albertina” e “Gervásio” de linguagem IA generativa, sistema por si coordenado em Portugal, com as instituições de Macau e o seu sistema de ensino?

A possibilidade de os modelos de linguagem de IA generativa desenvolvidos pelo nosso grupo de investigação, o “Albertina” e o “Gervásio”, poderem reflectir a realidade linguística e cultural de Macau encontra-se a ser trabalhada. Com o apoio de instituições de Macau, assim como do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa, há um corpus de texto de Macau que está a ser recolhido. Esse é um primeiro passo para se poder afinar os modelos. Muito gostaria que este encontro desta semana em Macau sobre o ensino da língua portuguesa na Ásia, possibilitasse encontrar mais parceiros para passos seguintes.

Os modelos “Albertina” e “Gervásio”

Se falarmos do desenvolvimento da IA em Portugal, o nome de António Branco surge nas últimas tendências e projectos. No caso da IA generativa, o cientista é coordenador dos modelos “Albertina” e “Gervásio” que integram o ecossistema dos grandes modelos de linguagem IA generativa. No caso dos modelos “Albertina”, que são codificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo “Albertina 1.5B”; enquanto que aos modelos “Gervásio”, descodificadores de linguagem, foi acrescentado o modelo 7B.

Segundo o website da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, António Branco considera que este ecossistema de modelos de linguagem IA generativa “é crucial para a tecnologia da língua portuguesa e esta expansão representa um passo da maior importância na preparação da língua portuguesa para a era da IA”. O cientista acrescentou ainda que “estas classes de modelos estão na base de toda a gama de aplicações de IA generativa, incluindo as mais mediáticas, como os chatbots ou os tradutores automáticos, e sendo maiores, estes novos modelos têm melhor desempenho”.

Ainda segundo o mesmo portal, este ecossistema “é líder mundial em termos de grandes modelos de linguagem desenvolvidos especificamente para a língua portuguesa que são totalmente abertos e documentados”, sendo que o primeiro modelo Albertina foi disponibilizado em Maio do ano passado. Este foi “um marco histórico na preparação tecnológica da língua portuguesa para a era digital, ao ser o primeiro grande modelo de linguagem aberto desenvolvido especificamente para o português, para ambas as variantes”.

António Branco irá falar hoje, a partir das 10h, de todo este universo na sessão inaugural do 9º Encontro, promovido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), e que decorre até amanhã no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. O investigador irá partilhar o auditório com João Laurentino Neves, ex-director do IPOR e actual director-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que irá discorrer sobre “Tecnologias da língua e língua de tecnologias – O IILP na era dos conteúdos e dos dados”.

22 Nov 2024

Edifício Grande Prémio | TUI afasta indemnização a arquitecto

O arquitecto Mário Duque, autor dos projectos do edifício do Grande Prémio e parque de estacionamento do Novo Terminal Marítimo no Porto Exterior não vai receber indemnização do Governo por violação de direitos de autor.

Segundo um acórdão do Tribunal de Última Instância (TUI), foi considerado que, terminadas as obras, em 1993, e transmitidos os direitos patrimoniais à RAEM, o autor “mantém-se apenas titular do direito pessoal que se manifesta no assegurar a integridade da obra e o direito a ser identificado como autor”. Além disso, “não se verificando nenhum dano, apresenta-se totalmente inviável o pagamento a seu favor de qualquer indemnização”.

O arquitecto decidiu avançar para tribunal por considerar estar em causa uma violação de direitos de autor por, sem a sua autorização, o Governo e o seu representante terem “executado seis réplicas do edifício do Grande Prémio de Macau para actividades promocionais externas”, além de ter sido publicado no website oficial “um acervo de fotografias do edifício sem mencionar o nome do autor”.

O arquitecto exigiu, junto do Tribunal Administrativo (TA), uma indemnização de 102.994,40 patacas e outra de 3.840.103,50 patacas, incluindo uma indemnização por danos morais, e que os réus condenados pagassem as custas e encargos processuais. O autor, ao perder a acção no TA, foi apresentando sucessivos recursos das decisões.

21 Nov 2024

Ensino | Estudo sugere exemplo de Singapura às autoridades de Macau

Um estudo indica que Macau deve apostar na digitalização e fomento da criatividade para melhorar os resultados dos alunos do ensino não superior, tendo por base os dados do PISA 2022. O académico responsável pelo estudo sugere às autoridades da RAEM que aprendam com alguns aspectos do sistema de ensino de Singapura

 

Os estudantes de Macau costumam apresentar excelentes resultados na área da matemática no PISA – Programme for International Student Assessment, que analisa o desempenho dos alunos de vários países consoante os padrões estabelecidos pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Porém, um estudo do académico Wanying Zhong, do Lyceum of the Philippines University-Batangas, intitulado “Brief Description of the Performance of Tertiary Macau in the PISA 2022 Assessment”, estabelece uma comparação com os resultados dos estudantes de Singapura e conclui que Macau pode e deve aprender com o sistema da Cidade-Estado.

O estudo, publicado no Journal of Education and Educational Research em Setembro, afirma que “Macau pode beneficiar de adaptações a nível pedagógico e de um foco na resolução criativa de problemas verificadas em Singapura e outras nações europeias, melhorando os resultados educativos”.

Para o académico, Macau depara-se, à semelhança de outros países” e territórios, com “obstáculos para colmatar as disparidades e adaptar-se à necessidade mundial de mais mentes inovadoras e adaptáveis”.

O autor entende que deve ser feito um “investimento estratégico” nas áreas da ciência, tecnologia, engenharias e matemática”, a fim de “assegurar a optimização do equipamento nos laboratórios e uma integração de ferramentas científicas e tecnológicas actualizadas no ensino prático”. Sugere-se também a actualização anual dos conteúdos curriculares “para que haja um desenvolvimento contínuo” destas áreas de ensino.

Em termos gerais, as recomendações incidem sobre “o reforço da educação” nas áreas das ciências, tecnologia, engenharias e matemática”, bem como “a melhoria do desenvolvimento profissional dos professores, da equidade educativa e a integração da tecnologia e da formação contínua”.

Apesar das sugestões, o estudo reconhece que as autoridades de Macau têm feito diversos investimentos nos últimos anos. “O currículo educativo de Macau incentiva a integração efectiva de recursos e ferramentas digitais em todas as disciplinas para melhorar as experiências de aprendizagem interactiva dos alunos. No decurso da reforma curricular, o Governo da RAEM começou a tentar integrar as tecnologias da informação noutras disciplinas, como a utilização de material didáctico multimédia ou de vídeo para apresentar várias informações e dados na sala de aula de disciplinas como as ciências geográficas e matemática”.

Maior conexão

A integração tecnológica deve incluir outro tipo de ferramentas para “aumentar a participação dos alunos e promover activamente a aprendizagem experimental”, é indicado no estudo.

Sugere-se também a conexão com entidades exteriores à escola, tendo em conta a ideia de que “as políticas e práticas educativas podem ser continuamente monitorizadas e melhoradas através de avaliações sistemáticas regulares e do incentivo à inovação educativa”.

Assim, “o apoio a projectos-piloto” ou parcerias com empresas de tecnologia irão “ajudar a explorar novos métodos de ensino e ferramentas de aprendizagem que promovam a inovação e o progresso globais do sistema educativo”.

O estudo académico indica também que os resultados do PISA 2022 obtidos por Macau “sugerem uma maior adaptabilidade, abrangência e inovação no que respeita à concepção do currículo e ao quadro educativo geral”. Impõem-se também “maiores exigências aos professores, preparando o terreno para que estes participem em futuras práticas de ensino com o objetivo de obter os mesmos resultados”.

“Um melhor sistema educativo em Macau seria uma forma de reforçar o desempenho académico, assegurando que os estudantes tenham uma boa preparação para serem bem-sucedidos num ambiente que se tornou muito mais desafiante e com inter-relações”, pode ler-se.

Os números do sucesso

Os resultados do PISA 2022 demonstraram que “o desempenho de Macau é superior à média da OCDE em matemática e ciências, mas há ainda margem para melhorias no domínio da leitura”. Macau atingiu, em matemática 552 pontos, um aumento médio de 15,7 pontos numa década, face ao PISA de 2012, é destacado na investigação.

O estudo conclui que “a notável tendência de expansão indica um investimento sustentado e os resultados alcançados pelo sistema educativo de Macau no ensino da matemática”. Porém, há sinais de alerta. “É crucial reconhecer um pequeno decréscimo no último semestre em relação a 2018 (-5,7 pontos), possivelmente indicando o surgimento de novos desafios ou alterações nas políticas ultimamente.”

O sistema de ensino local é descrito no estudo como “robusto e eficaz”, performance conseguida através do estatuto que Macau atingiu a nível internacional.

Porém, na leitura, os resultados não são tão animadores, com Macau a alcançar, no PISA de 2022, “510 pontos na avaliação de competências de leitura”, performance que ainda assim representa uma subida de 4,4 pontos em dez anos. É certo que houve um avanço, mas entre 2018 e 2022 “registou-se uma descida de 14,7 pontos nas classificações de leitura, o que evidencia a luta de Macau para ajustar as abordagens educativas em resposta à evolução do panorama de aprendizagem e das exigências”.

Assim, “o sistema educativo de Macau tem de aprender com a experiência bem-sucedida dos países e regiões que apresentam um excelente desempenho na avaliação do PISA e formular estratégias eficazes de melhoria dos seus problemas”, a fim de “melhorar continuamente a qualidade da educação e atingir o objectivo da equidade educativa e desenvolvimento integral dos estudantes”.

Uma reforma precoce

Ao analisar os dados apresentados pelos alunos de Singapura no PISA 2022, Wanying Zhong explicita que ambas as regiões “destacam-se no domínio da matemática, sendo que Singapura está frequentemente fora do alcance dos rankings mundiais de matemática”.

Porém, o autor destaca o investimento precoce na área das tecnologias e sistemas digitais. “Desde o começo, Singapura tem estado profundamente empenhada na educação das ciências, engenharias, tecnologia e matemática, centrando-se na promoção da inovação e explorações científicas. O seu ambiente cultural nestes domínios é notoriamente mais sólido do que o de Macau, o que pode contribuir para a disparidade” entre os territórios.

Destaca-se que Singapura cedo implementou reformas curriculares, “alcançando resultados notáveis”, com “um forte empenho na resolução de problemas e aplicação de conhecimentos, o que demonstra bem a robustez das suas estruturas educativas”.

O estudo conclui que “o sucesso de Macau depende sobretudo das suas escolas”, pois “a elevada classificação de Singapura em relação a Macau deve-se aos seus métodos de ensino inovadores e à utilização activa da tecnologia na educação, que constituem uma parte essencial dos seus objectivos educativos”.

21 Nov 2024

EPM | “Os Lusíadas” declamados por António Fonseca este sábado

Decorre este sábado, no auditório da Escola Portuguesa de Macau, o espectáculo “Os Lusíadas como nunca os ouviu”, com o actor António Fonseca, que em formato conferência irá falar com o público sobre a obra mais importante do poeta Luís de Camões. Destaque ainda para o arranque de uma conferência sobre língua portuguesa promovida pelo IPOR

 

O auditório da Escola Portuguesa de Macau (EPM) acolhe este sábado o espectáculo, em formato conferência, “Os Lusíadas como nunca os ouviu”, com a participação do actor António Fonseca, que conseguiu a proeza de decorar o livro de Luís de Camões e levá-lo ao palco.

O evento, integrado numa conferência de dois dias sobre língua portuguesa, decorre às 16h este sábado, servindo para o actor fazer uma “introdução leve e divertida à obra e suas circunstâncias”.

“Os Lusíadas como nunca os ouviu” é o nome de um espectáculo que já passou por diversos palcos. Sobre a obra poética que lhe dá vida, o próprio António Fonseca reconheceu que “mais de 50 por cento da população portuguesa tem um historial parecido com o que tinha quando, em 2008, decidi atirar-me à epopeia de Camões: uma obra semi-odiada, quando fui aluno do ensino secundário; apreciada, sem ser conhecida quando cresci; enfim, uma referência histórica perdida no baú de tantas referências históricas e informações da memória, que nunca nos damos ao trabalho de refrescar”.

Assim, em 2008 o actor começou o imenso trabalho de decorar “Os Lusíadas”, por considerar que “uma das razões de ser, entre outras, de um actor é exactamente refrescar o que, fazendo parte do nosso património colectivo, por quaisquer razões, murchou”.

Português a rodos

Esta sexta-feira, terá início a conferência mundial onde se integra este espectáculo. O 9.º Encontro de Pontos de Rede de Ensino de PLE da Ásia (EPR2024), começa às 9h no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e tem como tema “Os avanços tecnológicos no ensino-aprendizagem de PLE: estratégias, desafios e perspectivas pedagógicas”.

Destaque para a presença do docente António Branco, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Director Geral da PORTULAN CLARIN que abrirá a sessão plenária.

Associa-se igualmente ao Encontro de 2024 o IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com o apoio institucional da organização e a presença do seu Director Executivo, Dr. João Neves, que proferirá uma comunicação na mesma sessão. Haverá um total de 12 sessões com académicos de várias partes do mundo.

Iniciada em 2015, esta conferência propõe-se, “numa perspectiva essencialmente oficinal, partir de experiências concretas nos diferentes contextos presentes para a reflexão sobre abordagens ao ensino da língua e da cultura, favorecendo a partilha de materiais e o desenvolvimento de projetos conjuntos entre participantes”, descreve-se em comunicado.

20 Nov 2024

CE | Balanço com elogios a operadoras e assumpção de cansaço

Ho Iat Seng admitiu estar cansado e que é mesmo altura de outra pessoa com mais energia assumir o cargo que agora ocupa, o de Chefe do Executivo. Na conferência de imprensa de balanço do seu mandato, agradeceu às concessionárias por cumprirem os novos contratos, falou de um orçamento “conservador” para 2025 e assumiu que dorme mal desde a pandemia

 

Foi a conferência do adeus e quase em tom confessional. Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, fez o balanço dos cinco anos nas várias áreas, elogiou as operadoras de jogo e assumiu que a saúde o afastou de uma nova candidatura ao cargo.

“Agradeço a vossa compreensão sobre o meu estado de saúde e o facto de não terem ido atrás de mim com perguntas”, declarou aos jornalistas. “A realidade é que estava muito cansado, exausto, sabia que tinha problemas de saúde”, disse Ho Iat Seng, defendendo que Macau precisa de um governante com mais energia.

O ainda líder de Macau agradeceu às seis concessionárias de jogo “porque cumpriram o que foi estabelecido nos contratos”. “Convidaram artistas de alta qualidade e apoiaram o papel de Macau como cidade de espectáculos. No dia 28 de Dezembro será inaugurado um novo espaço para espectáculos ao ar livre com capacidade para mais de 50 mil pessoas”, anunciou.

“Na altura da pandemia as concessionárias sofreram vários prejuízos, mas colaboraram com o Governo para aumentar os elementos não jogo e conseguiram obter receitas de diversas fontes, com concertos”, exemplificou.

O governante lembrou ainda que “o jogo está a restringir o desenvolvimento de outros sectores económicos e isso, a longo prazo, não é saudável para Macau”, referindo as mudanças ocorridas no sector VIP e do turismo.

“A envergadura de turistas vai mudar, com menos excursões e mais turistas individuais e jovens. Dados do ano passado dizem-nos que os turistas que vêm jogar do interior da China representam 60 por cento, sendo que 40 por cento são estrangeiros. Isso é um desenvolvimento saudável”, declarou.

Sobre o jogo VIP, “havia irregularidades e deu-se uma regulamentação, o que levou a essa mudança” em termos de perfil de jogadores. “A pessoa joga um pouco e dá para alcançar os números previstos. No início não havia um acordo, mas agora apoiam [as medidas de reformulação do sector].”

Orçamento “conservador”

Questionado sobre o Orçamento para o próximo ano, Ho Iat Seng defini-o como “mais conservador”. “Em média, até Outubro, obtivemos 19 mil milhões de patacas em receitas brutas. Para o próximo ano não se acrescenta muito a nível orçamental, apenas seis por cento, pelo que podem ser cumpridas as previsões [de receitas do jogo] de 240 mil milhões de patacas. É um orçamento mais conservador”, disse.

Sobre o facto de não estarem previstos, para já, aumentos de salários na Função Pública, Ho Iat Seng disse que o Orçamento para 2025 apresentado agora foi apenas um “trabalho preparatório”. “No próximo mandato serão feitas as Linhas de Acção Governativa e se haverá ou não um aumento [de salários] não consigo responder. No meu mandato houve uma subida salarial, mas como vai ser feito depois não consigo dizer”, esclareceu.

Quanto aos cheques, também dependem do próximo Governo. “Recuperamos a economia e o Produto Interno Bruto, e se o novo Governo decidir alterar ou ajustar o valor de dez mil patacas, pode fazê-lo.”

O medo come a alma

Ho Iat Seng foi parco em palavras a comentar as políticas seguidas pelo próximo Executivo liderado por Sam Hou Fai, mas garantiu ter deixado trabalho feito na gestão da pandemia, construção de habitação e infra-estruturas. Uma coisa é certa: sentiu medo com as constantes mexidas na Reserva Financeira.

“Tive medo porque usei muito dinheiro para combater a pandemia, que surgiu apenas dias depois de começar a exercer funções. Ninguém me ensinou como a poderíamos combater. Conseguimos todos juntos recuperar o PIB e vencer esta batalha. Primeiro achámos que acabaria no primeiro ano, depois no segundo, mas a pandemia só acabou no quarto ano do meu mandato. Mesmo com quatro anos de défice fizemos alguns investimentos. A nossa Reserva é hoje superior à das regiões vizinhas, não temos dívidas internas e externas e temos 617 mil milhões de reserva básica e 230 mil milhões de reserva cambial. Sem uma população elevada, são números bastante satisfatórios”, frisou.

Ainda sobre a pandemia, houve tempo para outro desabafo. “Nestes anos dormimos muito pouco, tal como todos os secretários. Conseguimos ter apenas entre três a quatro horas de descanso durante a noite e mesmo agora continuamos a dormir pouco. Eu e o secretário Raimundo do Rosário não conseguimos ter ainda uma boa qualidade de sono porque estamos sempre preocupados com o trabalho. [O facto de não me recandidatar] não tem a ver com o ciclo económico nem com outras questões”, frisou.

Sem mais cartões

Ho Iat Seng admitiu que as pequenas e médias empresas (PME) enfrentam o problema da falta de negócios, mas que além dos apoios já existentes o Governo não pode fazer muito mais. “Em três anos de pandemia cada um de nós recebeu 32 mil patacas de subsídios, incluindo o cartão de consumo. As pessoas não podiam sair de Macau, usaram o cartão e apoiou-se as PME. Mas com a reabertura de fronteiras será que faz sentido o Governo continuar com a mesma política do cartão de consumo? Mesmo com os apoios que damos as PME têm de ter negócios. Macau está muito dependente do consumo de turistas e sem outras medidas de consumo interno será difícil a sobrevivência das PME”, frisou.

Habitação em resolução

Ho Iat Seng diz que os problemas da habitação em Macau estão já parcialmente resolvidos. “Antes havia muitas pessoas à espera por uma casa, mas agora já não. As plantas e os mapas de futuras habitações estão disponíveis, o novo Governo é que tem de decidir se continua a construir mais. Nos dez anos em que estive na AL sempre houve críticas à habitação, mas agora perguntam é se uma pessoa pode ter um T2. Uma pessoa pode estar num T1 e duas num T2, tem a ver com uma distribuição justa. Quanto à compra de fracções de habitação económica, pedimos apenas o montante que cubra os custos mais básicos de construção.”

20 Nov 2024

Balanço governativo | Ho Iat Seng fala em “cinco anos extraordinários”

Ho Iat Seng foi ontem à Assembleia Legislativa apresentar o balanço da acção governativa deste ano, a cerca de um mês terminar o mandato enquanto Chefe do Executivo. A segurança nacional foi um dos pontos fortes destes “cinco anos extraordinários”, conforme destacou. Quanto à pandemia, o governante afirmou que Macau saiu “sem especiais sobressaltos”

 

Prestes a passar o testemunho a Sam Hou Fai, o Chefe do Executivo ainda em funções foi ontem à Assembleia Legislativa (AL) apresentar o balanço dos trabalhos do Governo durante este ano, mas não esqueceu os “últimos cinco anos extraordinários” enquanto liderou politicamente a RAEM. Para Ho Iat Seng, que foi empresário e deputado, foi “uma grande honra desempenhar o tão nobre cargo de 5º Chefe do Executivo”, tendo destacado os três anos de pandemia que pautaram o seu Governo.

Neste período, deu-se “o impacto mais acentuado desde o retorno de Macau à pátria”, mas Ho Iat Seng destacou uma vez mais a colaboração entre sociedade, Governo e demais entidades, que levaram à “superação dos desafios mais severos trazidos pela pandemia e pela conjuntura externa”. Os esforços conjuntos permitiram a Macau sair “sem especiais sobressaltos dessas árduas dificuldades”.

De resto, no discurso de ontem, a segurança do Estado foi o ponto inaugural do seu discurso. O governante máximo da RAEM destacou que “devido à extrema complexidade da conjuntura da segurança nacional, o V Governo da RAEM assumiu uma maior responsabilidade no estabelecimento efectivo de uma linha de defesa da segurança do Estado” alinhada com Pequim. Houve, assim, “o aperfeiçoamento ordenado do regime jurídico relativo à defesa da segurança do Estado”, com a promoção da “produção legislativa complementar”.

O Chefe do Executivo referiu ainda que “o aperfeiçoamento do regime jurídico do antiterrorismo está basicamente concluído”, e destacou o novo estatuto dos funcionários públicos nos cargos de direcção e chefia, que garante que estes têm de ser patriotas, pois, caso contrário, correm o risco de despedimento.

Estas mudanças “foram elaboradas no sentido de aperfeiçoar os referidos regimes à lei dos juramentos por ocasião do acto de posse, em vigor, e assegurar que os respectivos trabalhadores defendam a Lei Básica da RAEM e sejam fiéis à RAEM”.

Ho Iat Seng salientou também, em matéria de segurança interna do território, que o estudo sobre a sexta fase do sistema de videovigilância “Olhos no Céu” já teve início, sem esquecer as questões da cibersegurança. “Persistindo-se no senso baseado em pressupostos de situações desfavoráveis, foi reforçada a adopção de medidas de prevenção e controlo, a emissão de alertas e a implementação de medidas dispositivas.” Assim, declarou “já foram cumpridos os trabalhos de contra-intervenção e de contra-infiltração”, bem como “reprimidos diversos riscos cibernéticos”.

Tudo está bem

De resto, o balanço de Ho Iat Seng em matéria de emprego, fomento ao consumo em zonas com menos turismo ou apoios sociais foi positivo, tendo apresentado alguns números aos deputados.

Além de destacar o prolongamento do prazo de retorno dos empréstimos para pequenas e médias empresas (PME) para dez anos, o governante recordou a iniciativa “Grande prémio para o consumo na Zona Norte durante os fins-de-semana”, que teve um “resultado frutífero”. Em 20 semanas, a iniciativa contou com a participação de 1.255 estabelecimentos comerciais que disponibilizaram descontos no valor superior a 29,75 milhões de patacas, “tendo-se atingido um total de 150 milhões de patacas em consumo nas lojas da Zona Norte”.

Ho Iat Seng sublinhou também a importância das sessões de emparelhamento de emprego para residentes que a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) tem organizado com frequência desde que a pandemia terminou. “A promoção contínua da ligação entre empresas e candidatos a emprego permitiu o sucesso de integração laboral de 11.054 pessoas até à segunda quinzena do mês de Setembro, um aumento de 4,5 por cento em comparação com 10.581 pessoas no período homólogo em 2023”, referiu.

Ho Iat Seng lembrou ainda que foi alterada a lei do salário mínimo, com vista a aumentar o montante, além de que “foi mantida a proporção dos trabalhadores locais nos quadros de gestão de médio e alto nível” das operadoras de jogo, “num nível superior a 85 por cento”.

Zona que cresce

Na sessão de ontem, Ho Iat Seng destacou a subida “estável” da maioria dos indicadores económicos da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin nos primeiros três trimestres deste ano: um Produto Interno Bruto (PIB) de 37,349 mil milhões de renminbis, “um aumento homólogo de 7,1 por cento”, e com o valor acrescentado das indústrias de 817 milhões de renminbis. Já as vendas de retalho e bens de consumo “ascendeu a 2,972 mil milhões de renminbis, registando um aumento de 18,8 por cento face ao mesmo período do ano passado”. “É de notar que a taxa de crescimento dos indicadores supramencionados é superior à média nacional, da província de Guangdong e da cidade de Zhuhai”, frisou Ho Iat Seng.

Orçamento 2025 | Ho Iat Seng destaca “consenso” com Sam Hou Fai

Na apresentação geral aos deputados do Orçamento para o próximo ano, Ho Iat Seng declarou “o consenso” obtido relativamente ao Orçamento para o próximo ano, tendo sido considerado que “não obstante competir ao próximo Governo a elaboração do Relatório das Linhas de Acção Governativa para o Ano Financeiro de 2025, caberia ao actual Governo elaborar o programa orçamental para o próximo ano financeiro”.

De resto, o actual Chefe do Executivo lembrou a continuação dos apoios sociais com o orçamento do próximo ano, como a manutenção “das tarifas de autocarro para idosos, estudantes e população”, os subsídios às contas da água e luz, o Programa de Comparticipação nos Cuidados de Saúde e a manutenção dos montantes pagos nos cheques pecuniários distribuídos à população.

Relativamente à injecção de fundos nas contas individuais de previdência aos residentes de Macau, que foi suspensa durante a pandemia, o governante destacou que “haverá a injecção de um incentivo básico único de 10.000 patacas na conta individual de cada residente que satisfaz, pela primeira vez, os requisitos legais”, além de se manter a injecção de 7.000 patacas em cada conta.

Ho Iat Seng apontou também os diversos benefícios fiscais para trabalhadores e na área do imobiliário, nomeadamente a devolução de 60 por cento do imposto profissional relativo a 2023, que irá até às 14.000 patacas, ou ainda a diminuição de 30 por cento desse mesmo imposto.

Além disso, a taxa de contribuição predial urbana dos prédios arrendados terá uma redução de 8 por cento, bem como “a isenção de imposto sobre rendimentos obtidos nos Países de Língua Portuguesa”. Ho Iat Seng lembrou que todas as isenções e reduções de taxas acarretam um montante de 4.833 mil milhões de patacas.

20 Nov 2024

G20 | Xi quer reforçar laços com Brasil e poder para o Sul Global

Termina hoje no Brasil mais uma cimeira do G20 que junta as 20 maiores economias do mundo. O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou querer melhorar “ainda mais” as relações com o Brasil, apostar no desenvolvimento das nações do chamado Sul Global, defendendo a reforma do FMI

 

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou ontem que quer “melhorar ainda mais” as relações entre a China e o Brasil, onde chegou no domingo para uma visita de Estado e para a cimeira do G20. Xi planeia abordar com o homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, formas de “melhorar ainda mais as relações entre a China e o Brasil, para promover complementaridades entre as estratégias de desenvolvimento dos dois países e questões internacionais e regionais de interesse comum”, informou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

“A visita vai reforçar ainda mais a confiança mútua estratégica entre os dois países e aprofundar os intercâmbios e a cooperação em vários domínios”, disse Xi, citado pela agência.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil, absorvendo 30 por cento do total das exportações brasileiras. Semicondutores, telemóveis e medicamentos são os principais produtos chineses exportados para o país sul-americano.

Desde que regressou ao poder em 2023, Lula da Silva tem-se empenhado num delicado acto de equilíbrio, procurando aprofundar os laços com a China ao mesmo tempo que melhora as relações com os Estados Unidos.

Uma das questões da relação bilateral entre a China e o Brasil prende-se com o facto de o país sul-americano não ter aderido à iniciativa chinesa Faixa e Rota. Uma visita do vice-presidente brasileiro Geraldo Alckmin a Pequim, no início deste ano, abordou a possível adesão pelo Brasil ao projecto internacional de infraestruturas lançado por Pequim.

Num artigo de opinião publicado na Folha de São Paulo, Xi Jinping destaca a importância de participar na cimeira do G20, além dos encontros com Lula. “Outro motivo da minha visita ao Brasil é a participação na cimeira do G20, uma importante plataforma de cooperação económica internacional. O Presidente Lula colocou a luta contra a fome e a pobreza no topo da agenda da cimeira e propôs a criação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A China elogia vivamente e apoiará activamente esta iniciativa.”

Para Xi Jinping, “a construção de um mundo justo exige que o G20 honre os princípios do respeito mútuo, da cooperação em pé de igualdade e do benefício mútuo, e apoie os países do Sul Global na obtenção de um maior desenvolvimento”. Neste sentido, “o desenvolvimento deve ser colocado no centro da cooperação do G20, e a realização da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável deve ser uma prioridade máxima”.

Na coluna de opinião, Xi Jinping defendeu ser importante “avançar com a reforma do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio e aumentar a representação e a voz do Sul Global”.

Na sua visão, é também “necessário intensificar a coordenação das políticas macroeconómicas e promover a liberalização e a facilitação do comércio e do investimento, a fim de criar um ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório para a cooperação económica internacional”.

Sem fome e com clima

Para esta cimeira o Brasil propôs a criação da “Task Force” para a “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, a fim de “estabelecer uma aliança global para reunir recursos e conhecimentos para a implementação de políticas públicas e tecnologias sociais com eficácia comprovada na redução da fome e pobreza do mundo”.

Além disso, as alterações climáticas são também um dos temas em destaque na agenda. Assim, foi proposta a criação do “Grupo de Trabalho para a Mobilização Global contra as Alterações Climáticas”, que visa “promover um diálogo de alto nível entre governos, instituições financeiras e organismos internacionais para reforçar o alinhamento macroeconómico e financeiro global com vista à implementação dos objectivos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e do Acordo de Paris”.

A ideia é juntar Estados, sistemas financeiros e sector ambiental a fim de garantir que as directrizes do Acordo de Paris, focado nas alterações climáticas, sejam cumpridas. Assim, “o grupo de trabalho organizará debates para facilitar o intercâmbio de experiências e a identificação de elementos convergentes para a formulação e implementação de planos abrangentes que visem a transformação económica e sustentável”.

Será também organizado “um painel com notáveis economistas que irão examinar as plataformas nacionais e os quadros de políticas públicas existentes para a transformação ecológica, apresentando um relatório com recomendações sobre esta questão”.

Este grupo de trabalho pretende também “promover um amplo debate sobre o alinhamento do sector financeiro com os objectivos de longo prazo do Acordo de Paris, com a participação de governos, reguladores financeiros, bancos comerciais e de desenvolvimento, instituições financeiras internacionais, investidores institucionais e outros actores financeiros”.

Encontro em Brasília

À margem da cimeira do G20, a comitiva de Xi Jinping vai encontrar-se com Lula da Silva e demais dirigentes políticos brasileiros. Até esta quinta-feira, o Presidente chinês estará no Brasil, estando agendada para amanhã uma visita com Lula a Brasília.

Na mesma coluna de opinião da Folha de São Paulo, Xi explica os objectivos a atingir nos encontros bilaterais com Lula. E a aposta parece fazer-se nos países do chamado Sul Global, para onde Pequim direcciona muitos dos esforços de expansão de comércio. “Apesar da ascensão colectiva, o Sul Global ainda não viu a sua voz e as suas exigências ouvidas de forma plena e reflectidas no actual sistema de governação internacional. Como dois dos principais países em desenvolvimento do mundo, a China e o Brasil devem assumir o manto do dever e das responsabilidades históricas. Devemos trabalhar em conjunto com outros países do Sul Global para salvaguardar resolutamente os interesses comuns das nações em desenvolvimento, enfrentar os desafios globais através da cooperação e promover um sistema de governação global que seja mais justo e equitativo”, pode ler-se no artigo.

Na mesma coluna de opinião, intitulada “Uma amizade que abrange vastos oceanos – Uma viagem em direcção a um futuro partilhado mais brilhante”, Xi Jinping destacou também o facto de a China ser, “há 15 anos consecutivos, o maior parceiro comercial do Brasil”, e “uma das principais fontes de investimento estrangeiro no Brasil”.

“De acordo com as estatísticas do lado chinês, as importações anuais da China oriundas do Brasil, nos últimos três anos, têm-se mantido acima dos 100 mil milhões de dólares americanos. Graças aos nossos esforços conjuntos, a estrutura do comércio está a optimizar-se cada vez mais e o nível de cooperação está a melhorar”, referiu.

A adesão do Sul

Vários países da América do Sul, incluindo o Peru, aderiram à iniciativa Faixa e Rota, que tem sido um pilar da estratégia de Xi para aumentar a influência do país além-fronteiras desde 2013.

No Peru, Xi inaugurou o porto de Chancay, a norte de Lima, na semana passada, no âmbito da participação da China em mais uma edição da APEC – Fórum de Cooperação Económica para a Ásia-Pacífico, que decorreu entre sexta-feira e sábado em Lima, capital peruana.

O porto de Chancay, com um custo de construção estimado em 3,5 mil milhões de dólares, visa servir como centro logístico fundamental na região e um ponto de ligação crucial entre a América do Sul e o Indo-Pacífico.

A infraestrutura é de especial interesse para o Brasil, que pode assim obter acesso ao Oceano Pacífico. O projecto “Rotas de Integração da América do Sul”, iniciativa do Governo de Lula da Silva para ligar o Brasil aos principais centros de comércio e desenvolvimento da região, inclui duas rotas com destino ao porto de Chancay. Com agências

19 Nov 2024

DSEC | Restaurantes japoneses com subida nos negócios

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que o volume de negócios dos restaurantes japoneses tem vindo a registar uma melhoria. Em termos mensais, entre Setembro e Agosto, o volume de negócios de restaurantes com comida japonesa e coreana subiu 0,6 por cento, sendo que em termos anuais, ou seja, entre Setembro deste ano e Setembro do ano passado, a subida foi de 15,5 por cento.

Em termos mensais, o volume de negócios dos restaurantes em Setembro caiu 9,4 por cento face a Agosto, por terem terminado as férias de verão. No mês em análise, a quebra do volume de negócios foi de 5,5 por cento face a Setembro de 2023.

Em relação ao ramo do retalho, a quebra em termos mensais foi de 16,5 por cento, enquanto em termos anuais os negócios contraíram 20,7 por cento. A maior quebra, em termos anuais, foi no volume de negócios na área dos relógios e joalharia, na ordem dos 37,5 por cento, sendo que a venda dos artigos de couro caiu 25,4 por cento. Por sua vez, o volume dos negócios dos automóveis cresceu 1,9 por cento.

A DSEC entrevistou ainda vários proprietários sobre as expectativas de negócio para Outubro, quando ocorreu a Semana Dourada. Cerca de 42 por cento dos proprietários de restaurantes disseram esperar um crescimento dos negócios em Outubro, sendo que “a proporção dos proprietários dos restaurantes chineses e a dos proprietários dos restaurantes ocidentais atingiram 55 e 48 por cento, respectivamente”. Além disso, “cerca de 14 por cento dos proprietários da restauração anteviram decréscimos mensais no volume de negócios para Outubro”.

19 Nov 2024

TUI | Homem condenado a três anos de prisão por usar cartões falsos

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu manter a pena de três anos e três meses de prisão aplicada a um homem que usou vários cartões de crédito falsos em compras em Macau. O caso remonta a Novembro de 2012, quando o homem usou 18 cartões com o seu nome, falsos, e outros três com outros nomes, também falsos.

O homem só foi descoberto quando, numa casa de penhores, o funcionário desconfiou da autenticidade do cartão e chamou a polícia. O homem foi considerado culpado da prática dos crimes de “passagem de moeda falsa em concerto com o falsificador”, incorrendo numa pena por cúmulo jurídico de três anos e três meses. O arguido recorreu junto do TUI por considerar que a pena era demasiado pesada, pois já tinha cumprido dois anos de prisão num outro processo devido a factos conexos.

Este obteve a liberdade condicional e foi viver para a Malásia por um período de cinco anos. O homem entendeu que a pena devia ser mais curta por “não terem sido considerados plenamente os factos e as circunstâncias que depuseram a favor dele”. Porém, o TUI decidiu manter a pena aplicada pelo Tribunal de Segunda Instância.

19 Nov 2024

Ensino superior | Descobertos alunos com falsos diplomas na MUST

A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau descobriu que 24 alunos de Hong Kong se matricularam com falsos diplomas de conclusão do ensino secundário. O Governo de Macau confirmou estes dados e a secretária para a Educação de Hong Kong já reagiu, falando em crime grave

 

Um total de 24 alunos de Hong Kong falsificou os diplomas de conclusão do ensino secundário para ter acesso ao ensino superior, nomeadamente para entrar na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST). A história, avançada pelos media de Hong Kong, já originou, da parte da MUST, uma queixa na polícia de Hong Kong, que está a investigar o caso. Também as autoridades de Macau estão a colaborar neste processo.

À Rádio Comercial de Hong Kong, Christine Choi, secretária para a Educação da região, confirmou a suspeita em torno dos diplomas falsos.

“A MUST recebeu admissões de cerca de 20 alunos mediante os resultados do Exame do Diploma de Ensino Secundário de Hong Kong (HKDSE, na siga inglesa). A universidade suspeitou desses resultados e, por isso, consultou a Autoridade de Exames e Avaliação de Hong Kong para os verificar. Incrível como descobrimos que cerca de 20 candidatos se inscreveram com resultados falsos”, disse.

A responsável fez ainda um apelo para que, caso haja mais suspeitas de diplomas falsos, sejam apresentadas queixas e informações junto da Autoridade de Exames e Avaliação de Hong Kong. O caso, que já está a ser investigado por parte das autoridades policiais da região vizinha. Para Christine Choi, falsificar documentos de avaliação “é um crime sério em que os responsáveis necessitam de assumir as responsabilidades penais”, podendo incorrer numa pena de prisão máxima de 14 anos.

DSEDJ reagiu

Entretanto, a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) emitiu uma nota a referir que possui mecanismos para verificar falsidades nos currículos académicos e que irá comunicar com as autoridades policiais neste caso.

“As instituições de ensino superior em Macau sempre atribuíram grande importância aos padrões de admissão e controlo das qualificações académicas. A DSEDJ reitera que todas as instituições de ensino superior em Macau irão realizar, de forma rigorosa, o trabalho de recrutamento, registo e verificação dos currículos dos alunos de forma abrangente.”

A DSEDJ esclarece ainda que “qualquer pessoa que se candidate com informações falsas e por meios ilegais às instituições de ensino superior de Macau irá ver cessadas o estatuto de estudante ou o grau obtido, sendo os responsáveis legalmente responsabilizados”

A entidade responsável pela gestão do ensino superior e não superior de Macau esclarece que existe um mecanismo de coordenação e verificação de competências a fim de garantir que não existem ilegalidades.

Em Junho deste ano, foram emitidas novas directrizes sobre o processo de matrícula a fim de se promover uma maior coordenação entre todas as universidades do território. “Todas as universidades implementaram de forma integral as novas directrizes”, é referido.

18 Nov 2024

Cinemateca | Novembro traz clássicos de Hollywood dos anos 90

“De olhos bem fechados”, o último filme de Stanley Kubrick que juntou o então casal Nicole Kidman e Tom Cruise na tela, é um dos destaques da secção “Encantos de Novembro” da Cinemateca Paixão, com a primeira exibição amanhã. “O Sexto Sentido”, de Bruce Willis, é outro clássico apresentado

 

A Cinemateca Paixão decidiu, este mês, ir buscar dois clássicos do cinema de Hollywood de 1999 para enriquecer o ecrã. Um deles é “De olhos bem fechados”, o último filme de Stanley Kubrick, que fez sucesso por juntar o então casal Nicole Kidman e Tom Cruise, separados há vários anos.

O filme, onde a sexualidade e o erotismo estão bem presentes, será exibido este sábado na Cinemateca às 21h30, com repetição na próxima terça-feira às 19h30.

Tom Cruise interpreta o personagem de um médico bem-sucedido, casado e com uma filha pequena, que um dia embarca numa aventura após conhecer um antigo colega de faculdade num bar. Aí começa uma empolgante teia de mistérios que muda a vida do casal para sempre, com o médico a tentar perceber aquilo que viu num palacete.

Do baú de Hollywood foi também retirado outro êxito, “O Sexto Sentido”, com Bruce Willis, que também se exibe este sábado a partir das 19h30, com repetições no domingo à tarde e depois no dia 23.

Neste filme, Bruce Willis é um psiquiatra que começa a tratar uma criança que vê os mortos. Porém, nesta trama cheia de suspense, depressa se percebe que o terapeuta está demasiado envolvido no caso em termos pessoais, não conseguindo desligar-se e dar atenção à família. O filme exibido na Cinemateca é uma cópia restaurada.

Novos asiáticos

Além dos clássicos de Hollywood, “Encantos de Novembro” traz também cinema asiático. Uma das escolhas recai em “Blossoms under somewhere”, da realizadora de Hong Kong Riley Yip, exibido na próxima quinta-feira a partir das 19h30.

Este filme foi premiado pela Iniciativa Primeira Longa-Metragem do Fundo de Desenvolvimento Cinematográfico de Hong Kong e conta a história de Ching, uma rapariga de liceu que quer apaixonar-se por alguém, mas, como é gaga, sente receio em estabelecer contacto com os outros.

Ching gere um negócio de lingerie em segunda mão juntamente com Rachel, uma amiga, tentando aí atrair não só a atenção dos compradores, mas também o seu amor. Neste processo, Ching acaba por perder a sua única amizade.

“Ghost Cat Anzu”, filme japonês de animação, é a aposta da Cinemateca Paixão para amanhã, a partir das 16h30, e para a próxima quarta-feira, às 19h30. A história remete para Karin, uma menina abandonada pelo pai numa pequena cidade onde vive o seu avô, um monge, mas este pede a Anzu, um gato, para tomar conta da neta.

De Taiwan chega-nos “Yen and Ai-Lee”, que teve oito nomeações para os Prémios Cavalos de Ouro deste ano, e que se exibe no próximo domingo, 24, às 21h.

A história gira em torno de Yen, que depois de cumprir oito anos de prisão pela morte do pai regressa à sua aldeia natal, Hakkanese, procurando reconciliar-se com o passado e a sua própria mãe, Ai-Lee.

Porém, o regresso torna-se ainda mais complicado, pois na cidade de Kaoshiung existe uma misteriosa estudante de representação que ronda a família e que tem grandes semelhanças físicas com Yen. Quando os dois se conhecem, o destino parece trazer consigo um segredo partilhado por ambos que leva o telespectador a questionar o que poderá acontecer aos dois. Todos estes filmes asiáticos seleccionados pela Cinemateca Paixão são deste ano.

15 Nov 2024