O terrorismo do Hezbollah II

(continuação)

“Hezbollah was declared as a terrorist group by the US, Arab Leage, UK, Germany and other countries. It is an organization used by Iran to plan and be ready to execute terror attacks in the future”.

Itamar Kasztelanski

Antes e depois da retirada israelita em 2000 e até à guerra de 2006, o Hezbollah era essencialmente um partido armado com uma base de apoio popular crescente e uma presença institucional à escala local. Imediatamente após 2006, acelerou a sua transformação numa força política, social e institucional libanesa, alargando a sua rede de alianças transconfessionais e a sua presença nas instituições centrais. Desde 2012, promoveu-se como uma força regional, primeiro na Síria, depois no Iraque, no Iémen e na Faixa de Gaza, provando ser capaz de gerir, em nome do Irão, as outras articulações do “eixo da resistência”, ao mesmo tempo que a linha de contacto com Israel entre o Sul do Líbano e a Alta Galileia se manteve um dos locais mais estáveis da região durante dezassete anos. Em 2022, graças à mediação americana que durou cerca de dez anos, o Hezbollah chegou a um acordo histórico com o inimigo sobre a divisão dos recursos energéticos no Mediterrâneo oriental e acordou a demarcação da fronteira marítima.

No entanto, há um ano e meio, sabiamente, deixaram em suspenso qualquer possível abertura de negociações para a demarcação da fronteira terrestre. Deste excurso resulta que o Hezbollah chegou à data de 7 de Outubro de 2023 com uma bagagem de interesses estabelecidos muito mais pesada do que aquela que trazia consigo nas vésperas da guerra, no verão de 2006. O facto de o Partido de Deus ter hoje muito mais a perder do que no passado contribui decisivamente para moldar a sua posição táctica no conflito em curso. Com efeito, uma guerra em grande escala com o Estado judaico poderia fazer com que o movimento xiita pro-iraniano perdesse uma parte significativa do poder a nível local, nacional, regional e mesmo global. Por estas razões, o Hezbollah não está interessado numa guerra total com Israel. Em 8 de Janeiro, Mohammad Rad, líder do grupo parlamentar do Hezbollah, que perdeu um dos seus filhos combatentes num ataque israelita em 22 de Novembro de 2023, afirmou explicitamente “Não queremos que a guerra se alastre. Queremos que a agressão (israelita) termine. Depois, claro, se Israel quiser alargar o conflito atacando o nosso país, iremos até ao fim. Não tememos as suas ameaças”.

Um conceito reiterado várias vezes pelo líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, que em 3 e 14 de Janeiro chamou ao Sul do Líbano uma “frente de dissuasão”. Segundo Nasrallah, esta frente de guerra está aberta por duas razões; para pressionar Israel a cessar a sua agressão a Gaza e para se abster de lançar uma grande ofensiva no Sul do Líbano. “Se esta batalha for iniciada por Gaza”, disse Nasrallh a 3 de Janeiro, “também o será para defender o Sul do Líbano. Em resumo, disparamos contra o inimigo para o manter ocupado e não o deixar atacar. É por isso que, até agora, o Hezbollah não respondeu de forma agressiva à escalada armada desencadeada pelo Estado judaico entre Dezembro de 2023 e Janeiro de 2024”. À sombra de um porta-aviões e de cinco outros navios de guerra americanos que permaneceram no Mediterrâneo oriental, em frente à costa libanesa, entre Outubro de 2023 e o início de Janeiro de 2024, desde o início do inverno as FDI atacaram repetidamente nas profundezas libanesas, chegando mesmo a perpetrar, a 2 de Janeiro, um assassinato selectivo contra Saleh Muhammad Sulayman al-Arouri, um alto expoente do Hamas no coração do reduto do Hezbollah, nos subúrbios do sul de Beirute.

Este ataque insere-se numa campanha de ataques aéreos e de bombardeamentos israelo-anglo-americanos que, no espaço de duas semanas, entre o final de Dezembro de 2023 e o início de Janeiro de 2024, atingiu quatro capitais árabes, todas elas cruciais para a projecção do Irão no Médio Oriente. Durante o mesmo período, Israel matou no Sul do Líbano, em mais um assassinato selectivo, Wissam Tawil, um dos chefes militares do Hezbollah, um “mártir” por excelência que se junta aos mais de 160 combatentes mortos entre 8 de Outubro e o início de Janeiro. Perante estes ataques repetidos, o Hezbollah limitou-se a responder alvejando duas bases militares israelitas, uma no monte Merom (Garmaq) e outra perto da cidade de Safed, respetivamente a cerca de dez e vinte quilómetros da linha de demarcação com o Líbano. Alguns dias antes destes dois ataques, Nasrallah tinha avisado que a resposta ao assassinato selectivo de al-Arouri em Beirute teria lugar “quando e como o campo de batalha (Maydan) decidir. O campo de batalha não vai esperar”, disse o líder do Partido de Deus, deixando assim algum trabalho para os comentadores e cenaristas profissionais.

Oito meses após o início do conflito, a prioridade do Hezbollah continua a ser, portanto, a de preservar, no Líbano e na região, as posições que adquiriu ao longo dos anos. E isto em plena continuidade com os últimos vinte anos da sua história pois participou activamente no assassinato do antigo primeiro-ministro Rafiq Hariri, em Fevereiro de 2005, em Beirute, para evitar uma alteração do equilíbrio regional a favor do eixo pro-soviético. Em Maio de 2010, levou as suas armas e as dos seus aliados para as ruas de Beirute para se opor a um governo libanês muito próximo de Washington. Em 2012, interveio militarmente na Síria com o mesmo objectivo de impedir que o sistema de poder encarnado pela família Asad em Damasco fosse derrubado a favor de forças locais e regionais hostis à influência iraniana, desde o Planalto Iraniano até ao Mediterrâneo. Em Outubro de 2021, participou activamente, juntamente com os seus parceiros e rivais libaneses, em confrontos armados numa das praças emblemáticas de Beirute, para efectivamente dar o empurrão final à instável investigação sobre a devastadora explosão do porto da capital libanesa em Agosto de 2020.

O inquérito, há muito enterrado, tinha então revelado que altos responsáveis da cúpula do sistema de poder libanês de que o Hezbollah faz parte integrante, juntamente com outras forças políticas cristãs e muçulmanas tinham conhecimento, desde há anos, da presença de material altamente explosivo no interior de um dos hangares do porto de Beirute, situado a algumas centenas de metros do coração residencial, institucional e comercial da cidade. Todas estas iniciativas, sempre levadas a cabo na ponta das baionetas desde o início dos anos 2000, foram ditadas pela necessidade do Hezbollah de consolidar e alargar o seu poder dentro e fora do Líbano. É certo que nem o Partido de Deus, nem o Irão e os outros membros do “eixo da resistência” pretendem libertar os territórios palestinianos e desfilar triunfalmente sobre os antigos mármores da esplanada que vai da Cúpula da Rocha à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.

E, na linha da sua visão reacionária, o Hezbollah nem sequer parece verdadeiramente interessado em chegar a um acordo político e diplomático, a curto ou médio prazo, para pôr fim a este novo conflito com Israel. Entre Dezembro de 2023 e Janeiro de 2024, o enviado francês Bernard Émié, primeiro, e o enviado americano Amos Hochstein, enviaram ao governo libanês e ao Hezbollah uma proposta de acordo de cessação das hostilidades em troca, entre outras coisas, do início de negociações para a delimitação do conflito terrestre com Israel, que tem pelo menos treze pontos fronteiriços contestados. A 5 de Janeiro, Hasan Nasrallh falou desta proposta, mencionando a possibilidade de “libertar”, através de negociações e apenas “após o fim da guerra em Gaza”, “o resto do território” do Líbano. O líder libanês tinha mencionado três zonas que estão no centro das disputas territoriais entre o Líbano, a Síria e Israel desde há décadas que são Gagar, as colinas de Kfar Sab e as quintas de Sabá.

Consciente de que o conflito entre Israel e o Hezbollah está intimamente ligado ao que se passa na Faixa de Gaza e que, por conseguinte, é impossível que o Partido de Deus e o Estado judaico cessem as hostilidades sem um acordo global sobre Gaza, Amos Hochstein propôs, a 11 de Janeiro, um plano de desanuviamento mais específico, articulado em três momentos-chave diferentes sendo (1) O Hezbollah e Israel limitam as trocas de fogo dentro de uma faixa territorial de oito quilómetros de profundidade, tanto no Sul do Líbano como no Norte de Israel; (2) As partes cessam as hostilidades e regressam às regras de combate em vigor antes de 8 de Outubro; (3) Iniciam-se negociações entre as partes sobre a demarcação da fronteira, incluindo os treze pontos em disputa e as quintas de Sabá. Três dias depois, a 14 de Janeiro, o Hezbollah respondeu a Hochstein através de um novo discurso televisivo do líder Hasan Nasrallh de que “Continuaremos a lutar enquanto a guerra em Gaza continuar. O resto veremos mais tarde”.

Afinal, para o Hezbollah, chegar a um acordo político e diplomático com Israel sobre a demarcação da fronteira significaria sacrificar um dos pilares da sua identidade, o de ser um partido armado de resistência e de libertação da ocupação inimiga. O Partido de Deus teria assim de admitir, nomeadamente no Líbano, que poderia prescindir do seu arsenal, perdendo desse modo um instrumento fundamental de dissuasão interna e regional. Se algum dia, num futuro longínquo, o Hezbollah vier a negociar uma tal opção, só o fará em troca de garantias libanesas e internacionais adequadas à sua sobrevivência e à manutenção da sua posição de domínio agora adquirida. Neste sentido, o movimento pro-iraniano tem todo o interesse em empatar e prolongar a situação actual na frente sul (“Primeiro é preciso acabar com a agressão em Gaza, depois veremos…”). Esperando assim conseguir equilibrar internamente as repercussões socioeconómicas e políticas do conflito prolongado com Israel, sobretudo tendo em conta a deslocação no Sul do Líbano de quase 100 mil civis, na sua maioria pertencentes à sua própria comunidade.

Manter-se dominante, equilibrando vulnerabilidade e resiliência, é a própria essência do exercício do poder. Para isso, o Hezbollah é chamado a negociar incessantemente, pelas armas e pela política, não só com Israel e os seus aliados, mas também com o seu parceiro iraniano e, sobretudo, com os seus aliados e rivais políticos libaneses. O Hezbollah terá de esperar que o contexto regional não se inflame numa espiral de violência descontrolada. Para aqueles que temem que um acidente ou um erro de cálculo de uma das partes em jogo possa desencadear uma sequência devastadora, a história do último quarto de século no Médio Oriente vem em socorro, pois apesar das tensões e rivalidades repetidas, os actores fazem tudo para evitar uma guerra total, que acabaria por minar a resiliência dos seus próprios sistemas de poder. Não nos devemos deixar enganar por uma retórica que, tradicionalmente, é muito mais agressiva do que a prática no terreno.

Mas se o Irão procurasse um alívio extremo junto do seu aliado Hezbollah, este último seria obrigado a responder. Na medida, porém, em que tal acção não conduza ao seu próprio suicídio político. Longe de ser um fantoche da República Islâmica, a identidade e os interesses libaneses ancoram-no firmemente em certezas e interesses locais, não necessariamente ligados aos do Irão. Este último, em todo o caso, fará tudo para não arriscar sacrificar o seu melhor aliado mediterrânico. Mais realisticamente, o Hebollah continuará a dar apoio moral, logístico, político e militar a todas as articulações do “eixo da resistência”, do Hamas às milícias iraquianas e às forças iemenitas apoiadas por Teerão. A fim de manter o equilíbrio da dissuasão e desta com o eixo rival constituído pelos Estados Unidos e por Israel.

13 Jun 2024

Inflação | Índice na China permanece em 0,3% em Maio

O índice de preços no consumidor na China, principal indicador da inflação, subiu 0,3 por cento em Maio em termos anuais, um valor semelhante ao registado em Abril, foi ontem anunciado.

O indicador, divulgado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas chinês (NBS), ficou abaixo das expectativas dos analistas, entre os quais a previsão mais generalizada apontava para uma inflação de 0,4 por cento em termos homólogos.

Numa base mensal, os preços no consumidor caíram 0,1 por cento. Os especialistas esperavam que o indicador permanecesse inalterado em comparação com Abril, pelo segundo mês consecutivo.

Este é o quarto mês consecutivo em que a China regista inflação em termos anuais, depois de, no final de 2023 e no início deste ano, ter registado uma tendência deflacionária, também durante quatro meses.

A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente gravoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias.

O estatístico do NBS Dong Lijuan apontou factores sazonais para explicar os números, incluindo o aumento dos preços de alguns alimentos devido às chuvas torrenciais no sul do país e a queda dos preços turísticos após os feriados do Dia do Trabalhador, 1 de Maio.

Dong sublinhou que a inflação subjacente, medida que exclui os preços dos alimentos e da energia devido à sua volatilidade, aumentou 0,6 por cento em termos homólogos em Maio. A inflação anual permanece, no entanto, longe da meta de 3 por cento fixada pelo Governo da China.

13 Jun 2024

Veículos eléctricos | Pequim critica UE por aumentos de taxas

A China criticou ontem possíveis aumentos pela União Europeia (UE) das tarifas de importação de veículos eléctricos do país asiático, considerando que tal é proteccionismo e prejudicial para os interesses europeus.

“Isto vai contra os princípios da economia de mercado e as regras do comércio internacional, e prejudica a cooperação económica e comercial entre a China e a UE, bem como a estabilidade da produção automóvel global e das cadeias de abastecimento”, referiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian, em conferência de imprensa.

A declaração de Lin Jian, citado pela agência France-Presse (AFP) ocorreu ainda antes da divulgação de um comunicado da Comissão Europeia, que ontem ameaçou aumentar, a partir de 4 de Julho, estas tarifas de importação por ter concluído que houve práticas desleais de Pequim em benefício de construtores chineses.

Em comunicado divulgado durante a manhã, o executivo comunitário indicou que, provisoriamente, as importações de veículos eléctricos da BYD passarão a ser taxadas em 17,4 por cento, da Geely em 20 por cento e da SAIC em 38,1 por cento, sendo estas as marcas incluídas na amostra investigada.

Com base nas conclusões do inquérito, a Comissão estabeleceu, a título provisório, ser “do interesse da UE remediar os efeitos das práticas comerciais desleais detetadas, mediante a instituição de direitos de compensação provisórios sobre as importações de veículos eléctricos provenientes da China”.

Para Bruxelas, a cadeia de valor dos veículos eléctricos da China beneficia de subvenções injustas, o que está a causar uma ameaça de prejuízo económico aos construtores da UE.

Para além dos três mencionados no comunicado, outros construtores chineses de carros eléctricos que cooperaram com a investigação, mas não foram incluídas na amostra serão taxadas em 21 por cento e as que não cooperaram em 38,1 por cento.

13 Jun 2024

Hong Kong | Pequim acusa activistas de “comportamento odioso”

O grupo de seis activistas exilado no Reino Unido é acusado de conspirar contra a China e Hong Kong e de colocar em risco a segurança nacional

 

A China acusou de “comportamento odioso” seis activistas de Hong Kong que vivem no exílio no Reino Unido e cujos passaportes foram cancelados ontem pelo governo da antiga colónia britânica. “Nathan Law e os outros estão há muito envolvidos em actividades anti-China e anti-Hong Kong”, disse Lin Jian, porta-voz da diplomacia chinesa.

“O seu comportamento desprezível pôs seriamente em perigo a segurança nacional, prejudicou os interesses fundamentais de Hong Kong e afecta o princípio de ‘um país, dois sistemas’”, acrescentou.

Num comunicado, o secretário para a Segurança de Hong Kong disse que “todos eles continuam a praticar actos e actividades que põem em perigo a segurança nacional depois de terem fugido para o Reino Unido”.

Os activistas são Nathan Law Kwun-chung, fundador do partido político Demosisto e antigo deputado, Simon Cheng Man-kit, cofundador do grupo “Hong Kongers in Britain”, o sindicalista Christopher Mung Siu-tat, o advogado Johnny Fok Ka-chi, Tony Choi Ming-da e Finn Lau Cho-dik.

Além do cancelamento dos passaportes, Hong Kong também proibiu os seis activistas de acederem a fundos no território, vender ou comprar bens imóveis na cidade e criarem ‘joint-ventures’ ou parcerias.

A polícia de Hong Kong alertou no comunicado que qualquer pessoa que ajude algum dos activistas a contornar estas medidas “comete um crime e arrisca uma pena de prisão por sete anos, em caso de condenação”.

Um porta-voz do Governo de Hong Kong descreveu as medidas como “um forte golpe” contra “estes criminosos fora-da-lei procurados”.

As autoridades acusaram os activistas de “fazerem comentários alarmistas para difamar e caluniar a Região Administrativa Especial de Hong Kong” e de continuarem “a conspirar com forças externas”.

Tudo por tudo

Em Dezembro, a polícia de Hong Kong tinha oferecido recompensas no valor de um milhão de dólares de Hong Kong por informações que conduzam à captura de cinco activistas residentes no estrangeiro, acusados de crimes contra a segurança nacional. Os activistas procurados vivem no exterior desde que Pequim impôs uma lei de segurança nacional a Hong Kong, em 2020.

No início de Maio, o Ministério Público britânico acusou o director do escritório comercial de Hong Kong em Londres e dois outros homens de terem ajudado as autoridades da região chinesa a recolher informações no Reino Unido.

A 3 deste mês, o Ministério da Segurança do Estado da China disse ter detido dois chineses por alegadamente fazerem parte de um plano de espionagem lançado pelos serviços secretos do Reino Unido MI6.

Em Julho de 2023, o activista Finn Lau, um dos alvos das medidas anunciadas ontem, disse à Lusa que Portugal deve suspender o acordo de extradição com Hong Kong, após a entrada em vigor da nova lei de segurança nacional.

Portugal e a República Checa são os únicos dois países da UE que ainda têm acordos de extradição em vigor com a região chinesa.

13 Jun 2024

Festas populares de Lisboa recordam 25 anos da transição de Macau

Celebra-se hoje o feriado municipal de Santo António em Lisboa, tendo ontem decorrido, na Avenida da Liberdade as tradicionais marchas populares com a presença de todos os bairros do concelho da capital. Destaque para o facto de, a abertura da marcha, às 21h, ter sido feita por dois “dragões” especialmente concebidos para a ocasião, a fim de celebrar os 25 anos da transferência de administração portuguesa de Macau para a China e o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau.

A Dança do Dragão contou com 30 participantes convidados, numa actuação do grupo da Associação Geral Desportiva de Macau Lo Leong, que conta com o apoio do Turismo de Macau.

Os 20 grupos de marcha desceram a Avenida da Liberdade em representação dos bairros dos Olivais, Alfama, Baixa, Santa Engrácia, Carnide, Castelo, Bela-Flor, Campolide, Alcântara, Madragoa, São Vicente, Bairro da Boavista, Bairro Alto, Graça, Alto do Pina, Belém, Marvila, Penha de França, Mouraria, Lumiar e Bica, que venceu as marchas no ano passado.

O Tejo foi o tema central da Grande Marcha de Lisboa, com letra de Flávio Gil e música de João Paulo Soares, tendo sido interpretada por todas os grupos participantes (além das músicas próprias).

À semelhança de anos anteriores, descem também a avenida, no início do desfile, três marchas extraconcurso: a marcha infantil de “A Voz do Operário”, a marcha dos Mercados e a marcha da Santa Casa.

As Marchas Populares de Lisboa são este ano candidatas a integrar a lista nacional de património cultural imaterial, com o objectivo de reconhecimento histórico e também de preservação desta tradição popular.

Casar com o António

Além das habituais marchas populares, decorreu ontem a cerimónia dos Casamentos de Santo António, uma tradição com muitos anos em que 15 casais de dez freguesias de Lisboa casaram com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.

Decorreram, assim, cinco casamentos em cerimónia civil, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, e dez religiosos na Sé de Lisboa.

As festas da cidade de Lisboa decorrem até ao final do mês, tendo lugar nas próximas semanas 15 arraiais populares em oito freguesias da cidade – Alcântara, Carnide, Estrela, Misericórdia, Olivais, Penha de França, Santa Maria Maior e São Vicente -, além daqueles que surgem espontaneamente e são organizados por populares nas suas freguesias. Nestes arraiais come-se a tradicional sardinha assada e bifana, além de se dançar ao som de música popular portuguesa. Em Macau, este modelo de festa é reproduzido no também tradicional Arraial de S. João, que começa esta semana.

13 Jun 2024

10 de Junho | Daniel Garfo mostra a arte de construir instrumentos portugueses

Ligado à Academia Nacional de Luthiers, Daniel Garfo está em Macau para ministrar workshops de construção de brinquedos musicais em madeira na Casa de Portugal em Macau, no âmbito do programa de celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Daniel Garfo, há 15 anos ligado a este universo, pretende trazer para Macau um projecto de construção de instrumentos musicais ligados ao Fado

 

Há oito anos Daniel Garfo esteve em Macau onde ensinou a construir cavaquinhos. Desta feita, e através da Academia Nacional de Luthiers, onde é formador, Daniel Garfo regressa para a realização de três workshops de construção de brinquedos musicais em madeira, destinados aos mais pequenos, que decorrem este fim-de-semana na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM).

Em entrevista ao HM, Daniel Garfo revela que este projecto, integrado no cartaz das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, foi sucessivamente adiado devido à pandemia.

“Insistimos bastante para reactivar esta parceria com a CPM. Vou fazer dois brinquedos musicais portugueses, o malabarista e o pássaro, em madeira, onde os miúdos fazem a pintura e a montagem e depois pomo-los em funcionamento”.

Daniel Garfo confessa sentir “uma grande responsabilidade” na divulgação da cultura portuguesa a Oriente com este projecto. A realização dos workshops permite “manter a chama acesa e o elo de ligação entre a China e Portugal”, sem esquecer, claro, Macau.

“Para nós, Academia Nacional de Luthiers, é um grande privilégio poder participar no 10 de Junho com esta actividade. É a oportunidade de podermos trazer um pouco de Portugal até cá”, confessou.

Daniel Garfo gostava de continuar a realizar projectos em Macau e, mais concretamente, com a CPM. “Em Macau sinto-me em casa. O meu sonho é trazer para cá a arte da criação de instrumentos ligados ao fado. Vou ter o apoio da CPM certamente.”

Escola em Lisboa

Daniel Garfo dedica-se há 15 anos à arte da construção de instrumentos musicais, tendo estudado, com vários luthiers, ou violeiros, no sul de Espanha, a criação de guitarras clássicas e de flamenco, género musical tipicamente espanhol.

Criou ainda o curso de Técnico de Construção de Instrumentos Musicais com o Ministério da Educação em Portugal e coordenou o primeiro curso de Construção de Instrumentos de corda beliscada no país.

Além disso, Daniel Garfo colabora regularmente com o Centro Cultural de Belém na construção de instrumentos gigantes para crianças e prototipagem. Na Academia Nacional de Luthiers “não construímos só instrumentos musicais, mas também brinquedos musicais para crianças”, aponta.

Daniel Garfo destaca que aquilo que mais o fascina, na arte de criar instrumentos, “é poder corresponder às expectativas dos músicos e que os próprios instrumentos se tornem uma extensão do músico”.

O próximo projecto na calha, a desenvolver em Lisboa, é a criação de uma escola de luthiers “para ensinar a fazer instrumentos musicais e para proporcionar às pessoas que chegam a Portugal, de todo o mundo, a experiência de poderem fazer o seu próprio instrumento, seja guitarras clássicas, com sete cordas ou instrumentos ligados ao fado como a guitarra portuguesa, por exemplo”.

Questionado sobre a importância da Escola de Artes e Ofícios da CPM, Daniel Garfo entende que se trata “de um diamante em bruto com um potencial muito grande”.

“É isto que mantém o elo de ligação efectivo do que pode continuar a ser este intercâmbio de cultura com Portugal. A CPM é importantíssima em Macau, adoro vir cá, quero vir mais vezes e fazer mais coisas”, revelou.

Os primeiros workshops ministrados por Daniel Garfo decorreram no sábado e domingo, repetindo-se este fim-de-semana.

13 Jun 2024

Hengqin | DST não comenta “auto-recomendações” para excursões

O Governo não comenta o caso dos dirigentes associativos que se recomendaram a si próprios para operar excursões subsidiadas a Hengqin, mas destaca a capacidade das empresas para “acomodar toda a logística das excursões”. Um dos dirigentes, Andy Wu, escudou-se em segredo comercial para não revelar quantos excursionistas irá levar a Hengqin

 

A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) não comenta o facto de ter convidado associações do sector do turismo a recomendar agências de viagem para organizar e operar excursões subsidiadas a Hengqin, e estas terem acabado por indicar empresas presididas pelos próprios dirigentes associativos.

No passado dia 6 de Junho, o HM noticiou que todas as associações convidadas para sugerir agências de viagem para o Plano de Apoio Financeiro Amor por Macau e Hengqin, financiado pela Fundação Macau, acabaram sugerir ao Governo empresas todas elas lideradas pelos responsáveis máximos das associações.

Passados dois dias do anúncio do plano de excursões para levar residentes de Macau a Hengqin, no dia 21 de Maio, o HM enviou questões à DST, a pedir um comentário à coincidência de dirigentes e entidades, e a perguntar se consideravam que este tipo de comportamento respeita princípios de ética, transparência e concorrência leal, principalmente tendo em conta que existem em Macau quase duas centenas de agências. Além disso, perguntámos que contrapartida financeira receberam estas agências.

A resposta chegou na terça-feira à noite e não correspondeu a qualquer questão colocada.

“Para implementar o projecto, a Fundação Macau solicitou conselho à DST relativamente à operação das excursões, tendo como referência a experiência desta direcção de serviços na realização do projecto ‘Vamos! Macau! Excursões Locais’ durante o período da pandemia covid-19. A DST convidou, por este motivo, associações relacionadas para colaborar no projecto, mediante a recomendação de agências de viagens capazes de acomodar toda a logística das excursões e levar a cabo o projecto com sucesso”, declarou a DST, sem mencionar que todas as nove agências são geridas por quem as recomendou.

Prenda adiantada

O organismo liderado por Helena de Senna Fernandes indicou também que o “projecto de excursões a Hengqin/Macau é realizado para celebrar o 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM, tendo como alvo beneficiar os residentes de Macau através dos itinerários, permitindo que se familiarizem com o desenvolvimento de Hengqin e locais de interesse turístico”.

Em relação a pedidos de informação sobre número de participantes e custos de operação das agências que operar o programa, a DST remeteu para a Fundação Macau, que financia o projecto.

Uma das empresas seleccionadas, a Agência Gray Line (Macau) dirigida por Andy Wu foi uma das recomendações da Associação de Indústria Turística de Macau, presidida pelo próprio.

O HM falou com Andy Wu que desmentiu a DST em relação ao processo de selecção das empresas que operam o programa. “Acredito que as agências de viagem não foram recomendadas pelos dirigentes das associações. Entregámos uma lista à Fundação Macau, que analisou e decidiu, conforme as suas competências e responsabilidades”, afirmou o dirigente, em contradição com os comunicados da Fundação Macau e as declarações da DST.

Em relação ao número de excursionistas que a sua agência irá levar a Hengqin, Andy Wu indicou que no primeiro dia irá levar à Ilha da Montanha centenas de residentes, sem materializar o volume total da operação. “Não posso dizer o número concreto porque isto é informação comercial da minha empresa”, indicou.

Recorde-se que a associação liderada por Andy Wu recomendou, de acordo com a Fundação Macau, outras duas agências dirigidas por dois vice-presidentes da sua associação.

Porém, entre as três associações de turismo e as noves agências de viagem escolhidas para operar o programa existe um denominador comum, a Associação das Agências de Turismo de Macau, dirigida pelo deputado nomeado pelo Chefe do Executivo Cheung Kin Chung. Esta associação reúne no topo dos órgãos dirigentes gestores, directores e proprietários de sete das nove agências recomendadas à DST.

As restantes empresas, Agência de Viagens e Turismo Internacional (China-Macau) e a Agência de Viagens e Turismo Juventude Internacional são dirigidas por dois vice-presidentes da associação de Cheung Kin Chung, Yan Wei Dong e Cheong Chi Man, respectivamente. Este último é também director executivo da Macau Radio Taxi.

Por fim, importa referir que a associação em que o deputado Cheung Kin Chung é presidente da direcção, é também presidida por Luo Qun, que era, pelo menos até 2023, subdirector-geral da empresa estatal Companhia Nam Kwong.

13 Jun 2024

Zona Norte | CEM arrenda três terrenos

O Governo concedeu três terrenos, com uma área de 3.947 metros quadrados, à Companhia de Electricidade de Macau (CEM) para assegurar a importação de energia eléctrica do Interior. A informação foi publicada ontem no Boletim Oficial, através de um despacho publicado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.

“Uma vez que […] a concessão do terreno se funda no interesse público, porquanto visa assegurar a continuidade do funcionamento de uma instalação afecta ao serviço público de fornecimento de energia eléctrica, satisfazendo assim uma necessidade colectiva, a DSSCU [Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana] considerou que o pedido reúne condições para ser deferido”, foi informado.

Os terrenos ficam situados junto à Avenida do Comendador Ho Yin e o pedido de concessão partiu da eléctrica, que indicou a necessidade de “permitir a importação de energia eléctrica do Interior […] e a distribuição da tensão eléctrica, bem como estabelecer uma gestão eficaz da rede eléctrica e satisfazer a procura de electricidade da Zona Norte de Macau”.

O contrato de concessão vai ser válido durante 15 anos, com uma renda anual de 2 milhões de patacas, o que representa um valor total de 30 milhões de patacas.

13 Jun 2024

Turismo | DST diz que produtos grátis não afectam sector

Cheng Wai Tong, vice-director da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), defendeu ontem, no programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau, que a oferta de produtos alimentares e bebidas por parte dos casinos não afecta as pequenas e médias empresas do sector do turismo, uma preocupação revelada por uma ouvinte.

A mulher colocou ainda a questão tendo em conta que há cada vez mais influencers oriundas da China que, nas redes sociais, divulgam dicas para visitar Macau e desfrutar de produtos gratuitos, bem como serviços e actividades.

“Observando os números em termos subjectivos, verificamos que o consumo dos turistas na área não jogo, tanto no ano passado como no primeiro trimestre deste ano, aumentou em comparação com o período anterior à pandemia. O número relativo ao consumo este ano é ainda maior do que no ano passado. A oferta de comidas e bebidas não afecta o consumo geral dos turistas”, declarou o responsável.

No caso dos turistas coreanos e japoneses, exemplificou, o consumo per capita aumentou de forma significativa, com aumentos de 70 e 21 por cento, respectivamente, em relação a 2019. Cheng Wai Tong espera ainda poder atrair turistas aos bairros fora das zonas turísticas para que haja um maior consumo nas empresas locais.

13 Jun 2024

Administração | Aberto concurso para construção de edifícios

Foi ontem anunciada a abertura de um concurso público para a construção de dois edifícios com 12 e 21 andares, que vão albergar escritórios para serviços públicos. Os dois novos prédios serão erigidos no NAPE num lote com 6.480 metros quadrados, entre a Rua Cidade do Porto e Rua Cidade de Braga

 

A Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) anunciou ontem a abertura um concurso público para construir dois edifícios de escritórios para os serviços públicos, entre as ruas Cidade do Porto e Cidade de Braga, com 12 e 21 pisos de altura.

O projecto localiza-se no lote 12 no NAPE, que tem uma área de 6.480 metros quadrados, e será equipado com um auto-silo com quatro pisos em cave.

A DSOP indica que, de forma a coordenar o andamento geral da obra, o projecto será implementado em duas fases: a construção de fundações e caves e a construção da superestrutura, com lançamento de dois concursos separados.

O primeiro concurso público tem como data limite para a entrega de propostas o dia 15 de Julho, com o habitual acto público de abertura das respectivas propostas.

A DSOP acrescenta que “o objecto do presente concurso é construção da superestrutura e será implementada logo apos a conclusão das fundações e caves, sendo o prazo máximo de execução de 850 dias de trabalho”.

Cauções e critérios

Para participar no concurso, os candidatos têm de prestar uma caução provisória no valor de 18 milhões de patacas através de “depósito em dinheiro, garantia bancária ou seguro-caução aprovado nos termos legais”.

Além disso, a DSOP estabelece como caução definitiva 5 por cento do preço total da adjudicação (das importâncias que o empreiteiro tiver a receber, em cada um dos pagamentos parciais são deduzidos 5 por cento para garantia do contrato, em reforço da caução definitiva prestada)”.

As autoridades estabeleceram como principal critério para apreciar as propostas submetidas o preço da empreitada, que terá o valor de 50 por cento na avaliação, seguido do prazo de execução que tem um peso de 30 por cento, e experiência e qualidade em obras 20 por cento.

Como tem sido habitual, “a adjudicação é efectuada ao concorrente com pontuação total mais elevada e, no caso de empate na pontuação total mais elevada, a adjudicação é efectuada ao concorrente com a proposta de preço mais baixo”.

13 Jun 2024

PCC | Ex-chefe da alfândega de Gongbei expulso

A Comissão Central de Inspecção Disciplinar do Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou ontem que o ex-chefe da Alfândega de Gongbei, Zhou Bin, foi expulso do partido depois de ter sido aberto contra si um processo disciplinar no ano passado.

Em comunicado, a comissão do partido acusa Zhou Bin de receber, de forma ilegal, presentes e ofertas em dinheiro, além de convites para participar em banquetes e actividades recreativas, acções que colocavam em causa a justiça com que tinha de cumprir o seu trabalho como agente.

A mesma comissão adiantou que Zhou Bin terá cometido abuso de poder, recorrendo ao seu trabalho para dar benefícios a outras pessoas na altura de recrutar novas pessoas, no tratamento de certos casos ou no trabalho de inspecção nas fronteiras. Reformado, Zhou Bin continuaria a desfrutar da influência inerente ao cargo que tinha desempenhado, recebendo subornos para a realização de certas obras e ajudar à realização de acções de contrabando.

O comunicado dá conta que as investigações a Zhou Bin seguem na procuradoria de justiça do país. Zhou Bin passou a ser chefe da Alfândega de Gongbei a Julho de 2017, tendo-se reformado em 2018.

13 Jun 2024

PME | À espera dos “melhores dias” prometidos

O turismo está em recuperação, mas as PME arriscam-se a não sobreviver. O cenário foi traçado por vários deputados, que pediram ao secretário para a Economia e Finanças que promova medidas como vales de consumo ou o adiamento do prazo de pagamento de empréstimos contraídos durante a pandemia

 

Apesar da recuperação dos números do turismo, as Pequenas e Médias Empresas (PME) atravessam inúmeras dificuldades e não é certo que sobrevivam. O cenário foi traçado, ontem, por vários deputados que pediram ao Executivo apoios, como a distribuição de vales de consumo ou o adiamento da data de devolução dos empréstimos concedidos às PME durante a pandemia.

Na Assembleia Legislativa, os deputados afirmaram que a economia não atingiu a recuperação que tinha sido prometida no final da pandemia. Os novos turistas, ouviu-se no hemiciclo, não consomem como faziam no passado, e também os residentes preferem consumir no Interior.

“Qual é o futuro de Macau?”, começou por questionar o deputado Ron Lam. “O Governo diz que o número de turistas subiu bastante, mas o consumo com qualidade baixou. Os turistas vêm a Macau, tiram fotografias, comem um prato com tripas e vão embora. É este o novo turismo de Macau? É para isto que as pessoas se têm de preparar?”, acrescentou.

Por sua vez, o deputado e empresário José Chui Sai Peng traçou um cenário de desilusão com impacto social. “Com o fim da pandemia disseram-nos que melhorias dias viriam, mas não foi assim. Os residentes foram consumir para o Interior”, afirmou José Chui Sai Peng. “Os residentes têm o direito de consumir no Interior, mas como vão as PME sobreviver às dificuldades?”, questionou. “O impacto nas PME afecta os empregos locais, e vai suscitar muitas outras questões sociais. Quando apoiamos as PME, apoiamos todas as empresas, mas também a sociedade”, alertou.

Também Ip Sio Kai, deputado e representante do Banco da China, se mostrou preocupado com a economia. “A situação está mesmo a piorar e muitos estão a gritar por socorro. Para que as lojas se adaptem aos novos modelos de negócios, é preciso tempo”, vincou. “Mas dada a situação actual, como é que os negócios vão conseguir sobreviver durante este período de transformação?”, questionou.

Ip Sio Kai pediu mesmo ao Executivo para lançar cupões de consumo de residentes e turistas, para incentivar as PME. Não foi o único deputado a fazer este pedido. Lo Choi In e também Cheung Kin Chung alinharam pelo mesmo tom.

Por sua vez, o deputado Nick Lei defendeu que o Governo deve adiar o prazo de devolução dos empréstimos feitos às PME durante o período da covid-19.

Respostas adiadas

Na resposta, o secretário deixou em aberto a possibilidade de a devolução do crédito ser adiada. “Sobre o reembolso do crédito para as PME, o Governo escutou muitas opiniões. Em breve vamos dar a conhecer a nossa posição”, afirmou.

Por outro lado, Lei Wai Nong apelou ainda à banca para que se mostre compreensível com as PME. “Reconhecemos as dificuldades das PME, e apelamos ao sector bancário para também prestar atenção e entender melhor as dificuldades das pequenas e médias empresas”, acrescentou.

Sobre as medidas para promover as PME e os bairros comunitários, o subdirector da Direcção de Serviços de Económico e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), Pong Kai Fu, explicou que o Governo vai apostar no Douyin (TikTok do Interior) ao promover pequenos vídeos com o comércio local, para trazer turistas do Interior.

13 Jun 2024

Hengqin | Autoridades dizem que 20 mil moram na Ilha da Montanha

O subchefe da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, Fu Yongge, afirmou que viviam em Hengqin no passado mês de Março 20.636 residentes de Macau, um aumento de 22,4 por cento face ao ano anterior. Segundo o jornal Ou Mun, o mesmo responsável indicou que trabalham na Ilha da Montanha 4.991 residentes de Macau, total que representa um crescimento de 2,3 por cento em termos anuais. Já os estudantes de Macau que têm aulas em Hengqin totalizaram em Março 274.

As autoridades indicaram que mais de 200 mil residentes de Macau e Hong Kong trabalham na província de Guangdong.

Segundo os dados oficias no ano passado, o posto fronteiriço de Hengqin registou mais de 16,7 milhões travessias entre a Ilha da Montanha e Macau, total que duplicou o registo de 2022.

Este ano, entre Janeiro e Junho, o número médio diário de passagens fronteiriças foi de cerca de 60.000, enquanto as passagens diárias de veículos atingiram um total de 6.000.

Apesar da entrada em Hengqin ainda requer visto para residentes de Macau portadores de passaportes estrangeiros, ao desenvolvimento da Ilha da Montanha e a integração com Macau tem sido uma das prioridades apontada por Pequim ao Governo da RAEM. Por várias vezes, governantes de Macau e do Interior da China designaram Hengqin como a “segundo Macau”, incluindo o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng.

13 Jun 2024

AL | Ron Lam vai propor debate sobre falta de apps para táxis

O deputado quer que a Assembleia Legislativa seja palco de um debate sobre a redução do número táxis em circulação na cidade, face ao tempo da pandemia, e a ausência de aplicações móveis eficazes para aceder ao transporte

 

Ron Lam quer ver debatida na Assembleia Legislativa (AL) a falta de táxis, assim como a criação de plataformas do online para chamar táxis. A proposta de debate foi anunciada através dos canais de comunicação do deputado.

De acordo com o legislador, até Março deste ano estavam disponíveis no território 1.501 táxis. O número é inferior ao registado durante o segundo trimestre de 2021, quando a cidade estava isolada devido às medidas de combate à pandemia da covid-19, apesar do número de turistas mostrar sinais de recuperação.

“Os residentes sentem de forma evidente que é cada vez mais difícil apanhar um táxi […] a redução do número de táxis significa que ao contrário do pretendido pela população, o número de táxis em Macau não tem aumentado, está a diminuir”, indicou Lam. “O tempo de espera pelos táxis são cada vez mais longos e até há casos em que as pessoas não conseguem apanhar táxis, o que afecta directamente a imagem de Macau como cidade de turismo”, é acrescentado.

Apesar de em Outubro do ano passado ter sido lançado um concurso público para a emissão de 500 licenças de táxis, o membro da Assembleia Legislativa aponta que situação vai continuar a piorar. De acordo com Ron Lam, estes 500 táxis não deverão começar a circular antes de Janeiro. Contudo desde 2020 até ao final de 2024 vão expirar 700 licenças de táxis. “As novas licenças praticamente não vão chegar para compensar aquelas que expiraram nos últimos anos. A oferta vai estar muito abaixo da procura que existe nas ruas de Macau, devido aos residentes e ao aumento dos turistas”, argumentou.

RAEM atrasada

Por outro lado, Ron Lam considera necessário discutir a falta de alternativas no que diz respeito a aplicações móveis para chamar táxis.

Fazendo o contraste com a situação do Interior, Lam indica que ambas as jurisdições têm forte “supervisão governamental”. No entanto, no Interior 345 empresas disponibilizam plataformas digitais para apanhar táxis. Em Macau apenas existe uma. “Em Macau, o Governo não desenvolve activamente a oferta de aplicações para apanhar táxis […] Isto é contrário aos desejos da população. Já no passado apelei ao Governo para seguir o exemplo do Interior”, vincou.

Ron Lam clarifica também que não defende que qualquer pessoa com um carro possa fornecer o serviço de transporte de passageiros e considera que o modelo regulado é o melhor. No passado, o Governo de Macau conduziu uma agressiva campanha contra a Uber, com pesadas multas. No entanto, Ron Lam considera inaceitável que não exista mais oferta. “Todos os sectores da sociedade acreditam que Macau precisa de plataformas móveis para chamar táxis, mas o Governo ignora há vários anos estes pedidos”, atirou. “Por isso, apresento esta proposta de debate, dado que a falta de táxis faz-se sentir ao longo de todo o ano. O Governo tem de ouvir as opiniões da população”, justificou.

13 Jun 2024

Corrupção | Registado grande número de casos ligados a empresas de segurança

O relatório de 2023 do Comissariado contra a Corrupção, divulgado ontem, dá conta da predominância de casos de corrupção envolvendo empresas que prestam serviços de segurança. Um dos casos diz respeito a burlas e falsificação de documentos que levaram os Serviços de Saúde e Polícia de Segurança Pública a prejuízos de cerca de três milhões de patacas

 

O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) divulgou ontem o relatório anual de trabalho relativo ao ano de 2023 que destaca o grande número de casos a envolver empresas prestadoras de serviços de segurança no território.

No documento, entregue ontem ao Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, lê-se que “vários casos que envolveram diversas sociedades prestadoras de serviços de segurança, ocupando estes uma percentagem relativamente alta”.

Há vários casos que envolvem mesmo a prática de crime, nomeadamente “burla, falsificação de documentos para obtenção fraudulenta de quotas para trabalhadores não residentes (TNR) ou corrupção na gestão interna no sector privado”.

O CCAC dá ainda conta que “foram detectados problemas relacionados com os concursos para prestação de serviços”.

A entidade liderada por Chan Tsz King considera que o período da pandemia, quando as fronteiras estiveram praticamente fechadas, potenciou o aumento das irregularidades associadas a este sector.

“Devido a uma procura de mão-de-obra relativamente grande nos sectores da segurança e da limpeza e, durante o período da epidemia, também por causa ainda das dificuldades de passagem de fronteiras, surgiram situações 20 irregulares na gestão desta área”.

Um dos exemplos referidos no relatório diz respeito a “mais de uma dezena de queixas” recebidas pelo CCAC relativas ao período compreendido entre Outubro de 2021 e Novembro de 2022.

As denúncias, anónimas, dizem respeito a “um gerente de segurança e alguns chefes de uma empresa responsável pela prestação de serviços de segurança nos postos fronteiriços de Macau”.

Assim, na prestação de serviços de segurança ao Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), aos Serviços de Alfândega e aos Serviços de Saúde (SS), estas pessoas “deram instruções aos trabalhadores, seus subordinados, para se deslocarem a diferentes serviços públicos, no mesmo horário de trabalho, para efectuarem marcação de presenças, criando assim a ilusão de ter um número suficiente de trabalhadores de segurança destacados nesses serviços, com o objectivo de defraudar os serviços públicos referidos”.

Num primeiro caso mencionado pelo CCAC, as autoridades perceberam que “um chefe principal da empresa de segurança agiu em conluio com vários chefes, ordenando aos trabalhadores de segurança seus subordinados que estavam de serviço num posto fronteiriço, para se deslocarem a dois ou três serviços públicos, no mesmo horário de trabalho ou nas horas seguintes, para efectuarem o registo de entrada e saída”.

Na realidade, descreve o relatório “cada um desses trabalhadores de segurança apenas prestou serviço num único serviço público dentro de um horário de trabalho, sem prestar qualquer trabalho extraordinário”.

Foram ainda feitos “registos de assiduidade falsos nas folhas de ponto do CPSP e dos SS em nome de trabalhadores que se encontravam de férias, já desvinculados do serviço, ou a prestar serviço noutros postos fronteiriços”. Desta forma, criou-se “a ilusão da existência de um número suficiente de trabalhadores de segurança destacados nos serviços e da conformidade com o exigido nos contratos celebrados com os serviços em causa”. No total, o CPSP e os SS registaram, com esta actuação, “prejuízos superiores a 3,09 milhões de patacas”.

O segundo acaso apontado pelo CCAC diz respeito à prestação de serviços aos SS por parte da mesma empresa, que usou o mesmo esquema para prestar dados falsos no âmbito do contrato de prestação de serviços assinado.

Assim, 23 chefes da empresa e pessoal de gestão defraudaram os SS em 2,3 milhões de patacas, sendo estas pessoas suspeitas “da prática dos crimes de burla e de falsificação de documento previstos no Código Penal, bem como do crime de falsificação informática previsto na Lei de combate à criminalidade informática”. Os casos já foram encaminhados para o Ministério Público para prosseguimento da investigação.

Picar mal o ponto

No relatório destaca-se também a investigação, por parte do CCAC, “de vários casos em que trabalhadores da Função Pública picaram o ponto de forma fraudulenta na comparência ao serviço”.

Para o CCAC, é sinal que “ainda existem pessoas que correm riscos na esperança de não serem apanhadas, em desrespeito pelos princípios da integridade, da autodisciplina, e da observância dos regulamentos disciplinares e da lei”.

Desta forma, é apontada “a necessidade de reforço no âmbito da sensibilização, no sentido de elevar a ética e a conduta dos trabalhadores da função pública no cumprimento da lei”.

Um dos casos diz respeito aos Serviços de Alfândega e ocorreu em Agosto de 2022, quando um chefe do posto alfandegário “utilizou o pessoal da secretaria para o ajudar a ‘picar o ponto’ nos períodos de entrada no serviço através da utilização de um cartão de ponto duplicado”.

Após investigação do CCAC, apurou-se que dois chefes dos postos alfandegários e cinco verificadores da secretaria “tinham na sua posse cartões de identificação duplicados”, tendo concordado todos em falsificar os registos de assiduidade de colegas. Assim, foram conseguidas remunerações suplementares ao salário base no valor superior a 130 mil patacas.

Menos casos com subsídios

Destaque também para o facto de em 2023 “o número de diversos tipos de casos de burla para obtenção de subsídios do Governo ter sido o mais baixo dos últimos anos”.

O CCAC recorda que, nos anos anteriores, “registou-se um elevado número de casos de burla praticados por diversos tipos de associações ou instituições contra o Governo”, o que levou a entidade liderada por Chan Tsz King a definir o combate a este tipo de corrupção “como uma das prioridades do Governo”.

Graças a trabalhos intensivos de fiscalização e promoção, “a tendência de ocorrência deste tipo de casos foi temporariamente reprimida em 2023, tendo os respectivos trabalhos de combate alcançado resultados de forma faseada”.

São também apontados os casos “ocorridos em escolas, instituições educativas ou centros de formação envolvendo questões relativas à admissão de estudantes, à aquisição de bens e serviços, ao pagamento de subornos e à gestão”.

O CCAC diz tudo ter feito para investigar estes processos da melhor forma a fim de ” evitar a formação de um ciclo vicioso”. Registaram-se ainda “alguns casos pontuais nos serviços públicos”, mas sem que haja “características evidentes que possam levar à conclusão de se tratar de uma tendência”.

Menos denúncias anónimas

Em termos gerais, o CCAC destaca que, em 2023, face ao período anterior à pandemia, “o número de denúncias e queixas relacionadas com o combate à corrupção apresentou ainda um registo relativamente baixo”.

No ano passado, esta entidade recebeu 701 queixas ou denúncias, sendo que a grande maioria, 676, foram feitas pelos cidadãos. Apenas dez processos foram encaminhados pelos serviços públicos.

Foram instruídos, no ano passado, 249 processos, enquanto 387 “foram remetidos ao Centro de Gestão de Queixas por não satisfazerem os requisitos necessários para a instrução de processos”. Deste grupo, 214 dos processos foram arquivados, enquanto 173 foram encaminhados para outros serviços para acompanhamento e tratamento do processo.

Destaque para o facto de cada vez mais queixas serem apresentadas por autores que se identificam. “De acordo com os dados dos últimos anos, o público tem optado mais por apresentar as denúncias com identificação, havendo também uma diminuição em termos anuais no número de queixas ou denúncias anónimas”.

No ano passado, do total de queixas ou denúncias, 411 foram identificadas, mesmo aquelas em que foi solicitado o anonimato do autor, sendo que 265 foram feitas de forma anónima. Juntando os casos transitados de 2022, foram concluídos, no ano passado, 238 processos de investigação.

13 Jun 2024

Shenzhen | Ponte com Zhongshan pode beneficiar Macau

O académico Samuel Tong defendeu, ao jornal Ou Mun, que a construção da ponte entre as cidades de Shenzhen e Zhongshan poderá trazer mais visitantes para Macau.

De referir que, após um período de sete anos, a ponte deverá abrir ao trânsito no final deste mês, aumentando, de acordo com Samuel Tong, a eficácia do sistema de transportes, apoiando a conexão de pessoas na região e os serviços de logística, com vista a acelerar a integração de Macau e restantes territórios na Grande Baía.

O também presidente do Instituto de Gestão de Macau apontou que Shenzhen é uma das cidades mais avançadas da China, com cidadãos que têm uma média de rendimentos elevada, sendo ainda uma importante cidade nos segmentos de alta tecnologia e economia no contexto da Grande Baía. A redução do tempo de transporte com a construção da nova ponte vai, assim, beneficiar a região, até porque os horários dos barcos não eram flexíveis face ao transporte terrestre.

Samuel Tong destaca que, com a nova ponte, podem vir a Macau mais empresários da área das convenções e exposições.

12 Jun 2024

Morreu o microbiologista japonês que descobriu as estatinas aos 90 anos

O microbiologista e bioquímico japonês Akira Endo, que descobriu as estatinas, que revolucionaram a prevenção e o tratamento de doenças cardiovasculares, morreu aos 90 anos, revelou um dos seus ex-colaboradores à Agência France Presse (AFP).

O cientista japonês morreu na quarta-feira passada, disse à AFP Keiji Hasumi, outro bioquímico japonês de quem Endo foi mentor e que com ele trabalhou. “Era uma pessoa dura e rigorosa, muito perspicaz. Conseguia ver a essência oculta das coisas”, afirmou Hasumi.

Nascido a 14 de Novembro de 1933, numa família de agricultores em Akita, no norte do Japão, Akira Endo desde muito jovem ficou fascinado pelos efeitos dos cogumelos e outros fungos nos seres vivos.

Essa paixão não o abandonou e, na universidade, leu uma biografia de Alexander Fleming, o médico e biólogo britânico que descobriu em 1928 o primeiro antibiótico, a penicilina, isolado de um fungo.

Em 1957, ingressou na empresa farmacêutica japonesa Sankyo como microbiologista e dedicou-se ao metabolismo lipídico e à biossíntese do colesterol.

De 1966 a 1968 realizou pesquisas no Albert Einstein College of Medicine, em Nova York. Surpreendido com o grande número de idosos e pessoas com sobrepeso nos Estados Unidos, percebeu a importância de desenvolver um medicamento para baixar o colesterol.

De volta a Sankyo, no Japão, Akira Endo retomou o estudo dos cogumelos e bolores, convencido de que abrigavam o segredo para bloquear enzimas que participam da biossíntese do colesterol.

O investigador passou dois anos a analisar os compostos químicos de 6.000 espécies de fungos para tentar confirmar a sua teoria, até à descoberta, em 1973, da mevastatina, o primeiro representante da classe das estatinas cuja capacidade era de reduzir o nível de LDL (colesterol mau) no sangue.

Só em 1987 é que o laboratório americano Merck & Co lançou a primeira estatina comercial – a lovastatina. Mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo tomam este tipo de medicamentos, cujo mercado vale cerca de 15 mil milhões de dólares.

Reacção excessiva

Na sequência da sua prescrição massiva, as controvérsias sobre os efeitos secundários nocivos ou ineficácia multiplicaram-se em muitos países, o que tem desencorajado muitos pacientes de tomar estes medicamentos.

Contudo, segundo uma meta-análise publicada em 2022 no European Heart Journal, tendo em conta 176 estudos sobre o tema e com base em dados de quatro milhões de pacientes, a intolerância às estatinas é sobrestimada e sobrediagnosticada.

Akira Endo recebeu várias distinções pelo seu trabalho pioneiro, incluindo o Prémio Albert Lasker para investigação médica e clínica, em 2008.

12 Jun 2024

Uivo

Falamos de Allen Ginsberg, o poeta do limite que nunca será fácil abordar, e que um assomo no dia em que nasceu fez despertar sua memória. Pequenos instantes em que os sinais nos interpelam como a um convite. «Uivo para Carl Solomon». Mas quem é afinal este poeta transgressivo, de nacionalidade americana, que vai combater o capitalismo e as normas do seu próprio país de origem? Ele nasceu efectivamente a 3 de Junho de 1926 no seio de uma família judia de Nova Jersey com ligações íntimas ao Partido Comunista por parte de sua mãe que lhe iria transmitir também os transtornos psíquicos de que padecia levando-o mais tarde a internamentos exaustivos onde nunca perdeu a sua imensa intrepidez, inteligência e prodigalidade.

Digamos pois que estamos diante de Ginsberg um pouco retardados naqueles grandes ideais, sentimento radical, cultura profunda, e mal apetrechados para o elo magnífico na cadência das coisas que demostrou ser, nada disponíveis, portanto, para lhe prestar a saudação vanguardista que transmitiu. Com tais pessoas, poderemos apreender muitas coisas por vir- do provir – que nelas sempre nasceram embrionariamente como instinto visionário. Apela-nos o enunciado que não estaremos em presença de hedonismo, intimismo, compadecimentos e confessionalismos circunstanciais, aliás, nem convinha, a ver pela degradação escrita que todas essas características vêm produzindo em quem lê, pensa e sente. Carlos Williams numa introdução a este livro de poemas diz isto: «segurem-se bem às bainhas dos vossos vestidos, minhas senhoras, vamos atravessar o inferno».

Digamos que tal como Pavarotti depois de atuar comia dois quilos de carne, neste «Uivo» até o mais loquaz vegetariano da causa, se imiscuiria, que a fome produz este poema e a carne a mata para se robustecer de beleza tamanha… estranha… onde toda a falha será banida. A arte penetra uma dimensão que não estamos seguros nem de compreender, nem de analisar, que há coisas que não se explicam, apenas acontecem. Desejo aqui cingir-me única e estritamente ao poema, a este poema, que ele foi caleidoscópico na busca incessante de uma modernidade que se iniciou revolta contra todos os sistemas. Seria uma espécie de anarquista? – Também não. Ele foi uma criança comunista, admirador de Fidel de Castro, estudante do budismo, experimentalista voraz, errante, imigrante, anti – guerra do Vietname e de todas outras coisas mais, mas que guardara como íman a loucura a sua herança judaica plena de paradoxos. Ele e Bob Dylan qual “opus ensemble” tiveram em conjunto o seu Kadish.

Devemos por contenção abster-nos de queimar os dedos na transcrição de tais poemas, o Fogo é elemento que inflama até a forma dele pensarmos, mas nele existia ainda em alta combustão a arte de pensar, ou seja, o dom de escrever como se o pensamento mais voraz se não transcrito fosse adoecer o ritmo essencial que requer a palavra escrita, mas nós, todos tão compulsivo- dialécticos estranhamos o que a literatura afinal quer dizer perante desdobramentos assim. Faz lembrar Ângelo de Lima, mas este seria por conduta induzida bastante mais suave, menos escatológico, portanto, mas a beleza dos que passaram por infernos é de considerar como experiência de escrita.

Existe ainda a «Nota de Rodapé ao Uivo» e começa estrangulada: … [ Santo! Santo! Santo…. ] vão ver, cinjam-na, aconteçam-na: Santo o perdão! a misericórdia! a caridade! a fé! Santos! Nossos! corpos! sofrimento! magnanimidade! Santa a sobrenatural super brilhante inteligente amabilidade da alma!

Jamais me será possível decifrar a beleza dos signos linguísticos de poetas assim. De tanta coisa que fez, foi a parte escondida do lobisomem aquela que encantou. Estejamos então mais perto de construir harmonia ao invés de felicidade, transtorno, ao contrário de perturbação, e olhemos as últimas alcateias que por mais que uivem estão agora blindadas por torrentes de sons de indigentes. Faltará uma última nota a tudo isto: ele foi um jovem muito bonito. Tal qual como qualquer lobo.

12 Jun 2024

FRC | Debate sobre “UNESCO – Cidades MIL” amanhã

Decorre amanhã, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC), uma conferência sobre o conceito de “Cidades MIL” da UNESCO com a presença de Felipe Chibas Ortiz, académico e co-líder, a nível internacional, do Grupo de Inovação da UNESCO Mil Alliance. A moderação da palestra estará a cargo do professor Adérito Fernandes Marcos, decano da Escola Doutoral da Universidade de São José, entidade parceira da FRC nesta iniciativa.

O programa “Cidades MIL”, ou “Paradigma da Literacia da Informação Mediática” foi criado pela UNESCO em 2018, sendo focado na evolução e sinergias criadas em torno de cidades inteligentes, criativas e educativas, sem esquecer o lado sustentável. Trata-se de uma iniciativa que tem por objectivo “integrar as tecnologias digitais emergentes de forma inovadora e ética com as necessidades dos municípios, bairros e organizações”, sem esquecer a sua diversidade.

A ideia é “aumentar literacia mediática e informacional da população, colocando o indivíduo no centro através da educação formal e não formal na compreensão desta nova realidade híbrida (física e digital) que está a ser construída de forma acelerada e algo caótica”, descreve um comunicado da FRC.

Assim, o programa “Cidades MIL” da UNESCO pretende “promover espaços urbanos mais humanos construídos a partir da gestão participativa dos seus líderes e cidadãos através da integração de dados e ciências sociais”, recorrendo a “indicadores e métricas que facilitam práticas transdisciplinares quotidianas que integram plataformas digitais e espaços urbanos de forma participativa”.

Desta forma, a palestra na FRC pretende abordar “os principais conceitos da abordagem da literacia dos media e da informação e a sua evolução para o paradigma das ‘Cidades MIL’, ao mesmo tempo que apresentará alguns casos concretos de ‘cenários MIL’ que estão a ser implementados em todo o mundo”.

12 Jun 2024

FRC | Académico José Manuel Simões lança romance “A Chave”

É hoje lançado na Fundação Rui Cunha o novo romance do académico José Manuel Simões, responsável pelo curso de comunicação na Universidade de São José. “A Chave”, com a chancela da editora Media XXI, traz personagens de outros livros do mesmo autor, com novas vivências, em que se abrem portas à literatura de viagens

 

José Manuel Simões, ex-jornalista e actual coordenador do curso de Comunicação e Media da Universidade de São José (USJ), lança hoje na Fundação Rui Cunha (FRC) o seu novo romance, intitulado “A Chave” e editado pela Media XXI. Trata-se, segundo um comunicado, de um romance que “mistura a realidade de lugares exóticos com romanceadas relações à distância e surpreendentes teias construídas de incisivos diálogos”. É uma obra descrita como “actual, vibrante e com uma arrebatadora linguagem”, que “abre fascinantes portas à literatura de viagens”.

A sessão de apresentação começa hoje às 19h e conta com a presença do editor, Paulo Faustino, Jerusa Antunes, relações públicas, e ainda João Francisco Pinto, jornalista.

“A Chave” vai buscar personagens ao último livro de José Manuel Simões, intitulado “O Sétimo Sentido”, que conta com Glória, médica, como protagonista da história. No novo livro, Glória chega mais cedo a casa, na cidade de Frankfurt, e encontra o companheiro com Mia.

No dia seguinte, a médica deixa um bilhete com a mensagem “Adeus, vou para a Índia”, partindo e deixando de comunicar com o companheiro. “Para aliviar a perda, Marcos Corte Real decide ir de férias para Marrocos. Durante o périplo magrebino até ao deserto do Saara, o professor de Belas-Artes, via redes sociais, envolve-se com quatro mulheres: Mia, sedutora; Babel, excêntrica artista sueca que mora em Rabat com o marido jornalista; a obsessiva Ana, anos antes colega de turma em Lisboa; e Isabela, carioca, sonhadora, esposa do seu melhor amigo que, com 33 anos, morre subitamente de covid”, destaca ainda o comunicado sobre a história do livro.

O “Sétimo Sentido” relata, por sua vez, a “fascinante viagem espiritual de uma médica em busca de um sentido para a sua vida pela Índia”, neste caso Glória.

Vida de escrita

Este é o 12.º livro de José Manuel Simões, que já escreveu, nos anos 90, as biografias de Cesária Évora, David Byrne, Delfins e Júlio Iglésias, assim como os livros “HC”. Nos anos mais recentes lançou o livro “Índios Potiguara – Memória, Asilo e Poder”, trabalho que resulta da sua tese de doutoramento que, metodologicamente, é uma típica investigação transdisciplinar em que as metódicas da História Cultural, da Antropologia e da Teoria da Comunicação se combinam num “tríplice itinerário transdisciplinar raro”.

José Manuel Simões lançou também “Ponto de Luz”, livro de viagens que percorre todas as capitais de estado do Brasil, relatando “as insólitas aventuras de Duarte Camões”.

“Deus Tupã”, outro livro do autor, desta vez dentro do género do romance histórico, é um livro que “penetra no seio das vivências da civilização aborígene”, enquanto “Jornalismo Multicultural em Português – Estudo de Caso em Macau” é já uma obra mais académica fruto do pós-doutoramento do autor.

Trata-se de uma obra focada “nos fenómenos da comunicação social, contribuindo para a complexificação do pensamento sobre o jornalismo e para uma sociedade mais participada, esclarecida e inclusiva”.

Destaque ainda para o lançamento, em parceria com o cartunista Rodrigo de Matos, de “IE – Na intimidade com as estrelas da música”, lançado em Macau, e uma obra onde o autor “expõe crónicas íntimas com músicos com quem privou ao longo de 17 anos enquanto jornalista de música”.

José Manuel Simões é pós-doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, tendo já publicado diversos artigos académicos. Actualmente é coordenador de programas académicos e director do departamento de “Media, Art & Technology” na USJ. É licenciado em Jornalismo Jornalismo Internacional na Escola Superior de Jornalismo do Porto e foi jornalista em Portugal e Macau durante alguns anos.

12 Jun 2024

GP | Fórmula Regional é bom para os pilotos portugueses

A controversa substituição operada pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) na prova rainha de monolugares do Grande Prémio de Macau poderá permitir o regresso de pilotos portugueses ao Circuito da Guia. Essa é a convicção de César Campaniço, o único piloto com licença desportiva de Portugal que participou nas provas de F3, Turismo e GT do Grande Prémio de Macau

 

Desde que a GP3 Series deu lugar ao Campeonato de Fórmula 3 da FIA, em 2019, não houve qualquer piloto português a participar na competição sob a gestão da Formula One Management. Com custos mais baixos que a Fórmula 3, cujos orçamentos da Taça do Mundo de Fórmula 3 em Macau ultrapassavam com a facilidade o milhão e meio de patacas, a Fórmula Regional poderá novamente abrir a porta ao regresso de jovens pilotos portugueses ao mais antigo circuito citadino do continente asiático.

“Claramente a Fórmula Regional abre muito mais a porta à participação de pilotos portugueses do que a FIA F3”, referiu ao HM César Campaniço, ex-piloto profissional e actual consultor e ‘driver coach’ de vários projectos no automobilismo. “Por um lado, porque financeiramente é muito mais viável e por outro, porque na geração actual temos poucos pilotos nas fórmulas de formação ou nas provas de protótipos para poder encarar uma participação digna naquele que é o mais desafiador e bonito, na minha opinião, circuito citadino ‘natural’ do mundo”

O actual ‘driver coach’ do FPAK Junior Team, o projecto da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting para o lançamento de jovens pilotos na velocidade, recorda que “já nos meus anos de Fórmula 3, era a final mundial da categoria, pelo seu simbolismo e por ser disputada no final do ano, após o termino dos campeonatos nacionais e continentais da mesma.”

Candidatos que se perfilam

Depois da sua estreia no Circuito da Guia no ano passado, com um entusiasmante sexto lugar na corrida prova de Fórmula 4, o jovem piloto luso de Macau e actual campeão chinês de Fórmula 4, Tiago Rodrigues, já publicamente mostrou interesse em participar na prova do território, sendo que a sua participação dependerá dos apoios que conseguir reunir.

Campaniço dá outro exemplo de um compatriota que poderá marcar presença já na prova no mês de Novembro: “Neste momento temos o Ivan Domingues que está na FRECA (Formula Regional European Championship by Alpine) e tem feito a sua formação desde a F4 de maneira estruturada. Certamente poderá fazer muito boa figura neste grande evento.”

Nas trinta e oito passagens dos monolugares da Fórmula 3 pelo território, dez pilotos portugueses participaram na prova, tendo vencido três edições, uma por André Couto (2000) e duas por António Félix da Costa (2012 e 2016).

Manter a relevância

O ex-piloto lisboeta, que correu no Circuito da Guia de F3 em 2002 e 2003, acredita que o evento do território não irá perder a relevância internacional construída ao longo de sete décadas, “pois os pilotos de Fórmula 3 já treinam e correm de Fórmula Regional, porque é proibido treinar de Fórmula 3. Por isso mesmo, não me admiraria, que pela importância do evento e da pista que muitos deles, ainda ativos na Fórmula 3 deste ano, também considerassem participar na prova”.

Ciente do impacto destas mudanças, Campaniço realça que “Macau é um evento especial, apesar de na pandemia ter perdido um pouco a pujança, mas esta decisão penso que vai tornar o evento muito mais composto e competitivo a nível da categoria de Fórmula de topo que vai participar este ano.”

Apesar de ainda não ter sido anunciado oficialmente, a grelha de partida da primeira edição da Taça do Mundo de Fórmula Regional da FIA deverá utilizar os monolugares Tatuus T-318 (inicialmente chamados Tatuus F.3 T-318), equipados com motores Alfa Romeo preparados pela Autotecnica Motori, com 1742cc e 270 cavalos, habitualmente vistos a competir na Fórmula Regional do Médio Oriente. A grelha de partida deverá reunir entre 27 a 30 monolugares.

“Não nos podemos esquecer que a Fórmula Regional nasce como categoria de topo que se pode fazer a nível nacional ou regional”, esclarece Campaniço. “Aliás, o seu primeiro nome era mesmo F3 Regional. A F3 Internacional de hoje em dia é só para alguns e esses iriam chegar ao fim do ano sem dinheiro para correr em Macau ou com pouca vontade de investir mais do que as corridas que têm no calendário deles”.

O 71.° Grande Prémio de Macau terá lugar de 14 a 17 de Novembro e, de acordo com a Comissão Organizadora da prova, os preparativos para as provas estão a decorrer de forma ordenada.

Director da FIA deixa escapar o motivo

Entretanto, em declarações proferidas à revista inglesa Autosport, François Sicard, o Director de Operações e Estratégia de monolugares da FIA, levantou um pouco mais o véu sobre a saída da F3 da RAEM. “Não foi possível manter a F3 porque vamos mudar para a nova geração de carros em 2025, pelo que, por razões logísticas, não era possível ter os carros em Macau”, explicou o responsável francês, que acrescentou que “ao mesmo tempo, estávamos a questionar se ainda seria relevante manter a F3 em Macau.
Foi [em 2019 e 2023] apenas uma corrida extra adicionada ao Campeonato de F3 da FIA, o que não é a filosofia do evento de Macau”. A ideia da FIA é “recriar a ideia da (antiga) corrida de F3 – ter os melhores pilotos de todas as categorias juniores do mundo”, explicou à reputada publicação britânica. Sicard também revelou que “há dois anos, eu já queria fazer isso. Sabíamos que o conceito da F3, tal como é actualmente, era bom, mas faltava-nos algo. Esperamos ter pilotos de todas as regiões”. A ideia da FIA passa por fazer uma selecção dos melhores pilotos dos vários campeonatos regionais.

12 Jun 2024

Crime | Polícia detém suspeito de ataque a quatro professores norte-americanos

Um suspeito foi detido na China na segunda-feira após o aparente esfaqueamento de quatro professores universitários norte-americanos, anunciou ontem a polícia chinesa, que considerou a situação “um caso isolado”.

“O suspeito, de nome Cui, foi detido no próprio dia” do ataque ocorrido na segunda-feira num parque de Jilin, informou a polícia desta cidade chinesa, num comunicado, acrescentando que o homem em questão tem 55 anos.

Os ataques a cidadãos estrangeiros, especialmente ocidentais, são raros na China, onde as ruas são geralmente muito seguras a qualquer hora do dia.

A Cornell College University, no estado de Iowa (centro dos Estados Unidos), disse na segunda-feira que estes quatro norte-americanos trabalhavam como professores num estabelecimento de ensino superior e participavam num intercâmbio académico na China, tendo ficado feridos durante um “incidente grave”.

Um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano falou mesmo de “um ataque com facas em Jilin”, uma cidade no nordeste da China, localizada na província com o mesmo nome.

Além dos quatro norte-americanos, um turista chinês, que tentou intervir, também ficou ferido. “A polícia considera que este é um caso isolado. Uma investigação está em curso”, disse Lin Jian, porta-voz da diplomacia chinesa.

Vídeos não verificados divulgados nas redes sociais estrangeiras desde segunda-feira mostram várias pessoas no terreno a receber tratamento, com manchas de sangue nas roupas e no chão.

“A China é geralmente reconhecida como um dos países mais seguros do mundo. Sempre tomou medidas eficazes e continuará a tomar medidas relevantes para proteger eficazmente a segurança de todos os estrangeiros na China”, assegurou Lin Jian.

12 Jun 2024

Wang Yi reúne com Lavrov sobre cooperação dos dois países e do BRICS

O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, reuniu-se na segunda-feira em Nizhny Novgorod com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, sobre os laços bilaterais e a cooperação do BRICS.

Observando que a recente visita do Presidente russo Vladimir Putin à China foi um grande sucesso, Wang, disse, citado pela Xinhua, que os dois lados devem implementar plenamente o importante consenso alcançado pelos líderes dos dois países e intensificar a cooperação em vários campos sob a orientação estratégica dos chefes de Estado dos dois países.

O desenvolvimento das relações entre a China e a Rússia é uma escolha estratégica feita pelos dois lados com base nos seus respectivos interesses fundamentais, alinhando-se às tendências globais e à maré dos tempos, disse Wang, acrescentando que não visa a terceiros e não será perturbado por forças externas.

A China está disposta a trabalhar com a Rússia para manter o foco estratégico, explorar o potencial de cooperação, responder às pressões externas e promover o progresso sólido e sustentável das relações bilaterais, disse o responsável chinês.

Intitulando o grupo BRICS como uma plataforma importante para a unidade e a cooperação entre os mercados emergentes e os países em desenvolvimento, Wang assinalou que o mecanismo ampliado do BRICS desempenhará um papel crucial na criação de um sistema de governança global mais justo e razoável.

Wang enfatizou que a China está disposta a apoiar totalmente o trabalho da Rússia com a presidência do BRICS, trabalhar em conjunto para consolidar a parceria estratégica do BRICS, promover a unidade e o autoaperfeiçoamento do Sul Global, fazer uma voz mais poderosa para defender o multilateralismo e promover o desenvolvimento comum, de modo que a “cooperação do BRICS maior” possa ser bem iniciada.

Frutos da cooperação

Lavrov disse que, durante a visita do Presidente Putin à China, os chefes de Estado dos dois países definiram o curso para o desenvolvimento das relações Rússia-China e alcançaram novos frutos de cooperação estratégica.

A Rússia está disposta a trabalhar com a China para implementar o importante consenso alcançado pelos chefes de Estado dos dois países, intensificar os intercâmbios de alto nível, aprimorar a cooperação em vários campos e, em conjunto, tornar os Anos de Cultura Rússia-China um sucesso, disse Lavrov.

Os dois lados também trocaram opiniões sobre as atuais situações internacionais e regionais, incluindo a crise da Ucrânia.

12 Jun 2024

Zhuge Liang | Pedir emprestado Jingzhou

No ano de 208, a morte por doença em Xiangyang de Liu Biao (142-208), governador da província de Jing (Jingzhou em Hubei) desde 192 e a administrar o centro da China na zona média do rio Yangzi a englobar grande parte das actuais províncias de Hubei, Hunan e Sudoeste de Henan, deixou Liu Bei (161-223) desamparado, pois o autoproclamado representante da casa real Han, sem ter uma base esperava o momento adequado para lhe solicitar o patrocínio por também ser membro da família real.

A Liu Biao sucedeu como governador de Jing o filho mais novo Liu Cong, mas apenas durante esse ano pois o general Cao Cao chegou com um grande exército de 200 mil homens para o combater. Os oficiais de Liu Cong avisaram-no não ter número suficiente de soldados para o confrontar e melhor seria render-se. Pretendia ele resistir e lembrou-se poder pedir ajuda a Liu Bei, mas os conselheiros avisaram-no se Liu Bei conseguisse resistir a Cao Cao também ele perderia o lugar. Assim, sem informar Liu Bei decidiu render-se a Cao Cao e este apontou-o como inspector da província de Qing [parte da actual província de Shandong] para o afastar, dando-lhe o título de marquês.

Encontrava-se Liu Bei em Fancheng [a Norte de Xiangyang] e foi obrigado a fugir para Sul devido ao exército de Cao Cao ir ocupando a região entregue por Liu Cong. Era imenso o número de fugitivos e Liu Bei dividiu-os, viajando Guan Yu de barco por o rio Han com o plano de se encontrar em Jiangling, nas margens do rio Yangzi, com o numeroso grupo que por terra seguiu. Nessa fuga, ao seu exército foram-se integrando muitos dos homens que serviram Liu Cong e se juntaram aos inúmeros civis familiares com imensas bagagens.

Cao Cao com a sua cavalaria apanhou o vagaroso cortejo onde seguia a família de Liu Bei e foi a acção de Zhang Fei com 20 cavaleiros, ao se colocar na rectaguarda do grupo em fuga, a permitir a Liu Bei e Zhuge Liang terem tempo para escapar. Estava-se em Outubro de 208 e essa pequena confrontação ficou conhecida por a batalha de Changban, onde Zhao Yun no seu cavalo atravessou o exército wei levando nos braços Liu Chan, filho de Liu Bei. Conta a História ter Liu Bei ficado muito contente quando viu chegar esse famoso general, mais do que o salvamento do seu filho.

Conseguiu o exército de Liu Bei chegar ao rio Yangzi e ainda no ano de 208 Liu Bei por conselho de Zhuge Liang fez uma aliança com Sun Quan para lutar contra o exército de Cao Cao, sendo este derrotado na célebre Batalha da Falésia Vermelha (赤壁之战), impedindo Cao Cao de ocupar as terras a Sul do rio Yangzi. As forças dos dois aliados perseguiram as tropas de Cao Cao e em Jiangling ocorreu no Inverno de 208 a batalha de Jiangling, que sucedeu à anterior batalha de Yiling em Wulin (hoje Honghu em Hubei). Após um ano de pesadas perdas, tanto de material de guerra como de soldados, Cao Cao ordenou ao seu primo, o general Cao Ren (168-223), retirar e assim Jiangling com o resto da prefeitura de Nan ficou nas mãos das forças de Sun Quan, que logo apontou o general Zhou Yu (175-210) para ficar à frente dela.

A província de Jingzhou tinha sete prefeituras (jun) situadas entre a parte média do rio Yangzi (Changjiang).
Com o rio Yangzi como linha de defesa, Liu Bei e Sun Quan controlando a parte Sul aí fizeram as suas bases. Assim o exército de Cao Cao passou a ocupar todo o Norte da província de Jing (Nanyang jun e Jiangxia jun, mas apenas a parte a Norte do rio Yangzi), pois a parte de Jiangxia jun a Sul do rio era controlada por Sun Quan, que tinha também Nanjun, com o centro administrativo em Jiangling e jurisdição sobre Xiajun (hoje a Noroeste de Tongcheng, Hubei), Hanchang (hoje a Sudeste de Pingjiang, Hunan), Liuyang e Zhouling (a Nordeste de Honghu, Hubei).

Já o território de Liu Bei era a Oeste do rio e compreendia quatro prefeituras a Sul da província de Jing: Wuling (hoje Changde, Hunan), Changsha, Guiyang (próximo onde hoje está Chenzhou, Hunan) e Lingling (hoje Yongzhou, Hunan), tendo Liu Bei apontado Liu Qi (o filho mais velho de Lu Biao e irmão de Liu Cong) como governador. Com a morte de Liu Qi nos finais de 209, Liu Bei ocupou o cargo de governador dessas quatro prefeituras da província de Jing e colocou o centro administrativo do seu território em Gong’na, situado em Nanjun.

A História de Zhuge Liang pedir emprestado Jingzhou (Jie Jingzhou, 借荆州) ocorreu em 209, quando o general Lu Su (172-217) propôs ao seu líder Sun Quan entregar a Liu Bei parte da prefeitura Nan para Zhuge Liang tomar conta, pois era a zona mais difícil de defesa devido a estar na fronteira com o território de Cao Cao. No entanto, o general Zhou Yu opôs-se e só após a sua morte em 210 a proposta de Lu Su foi aceite por Sun Quan, sendo entregue Gong’an, parte de Nan jun, para Zhuge Liang a defender.

Em 211 Liu Bei passou o seu centro de governação para Sichuan e no ano seguinte Sun Quan após fortificar Nanjing e mudar-lhe o nome para Jiankang aí se instalou. Em 213, Cao Cao é primeiro-ministro de Xiandi e por ser quem mandava, obrigou o imperador a dar-lhe o título de rei de Wei.

Em 215, Liu Bei e Sun Quan fixaram a fronteira dos seus territórios em Xiang, no Hunan e o general Cao Cao conquistava o pequeno Estado a Sul de Shaanxi e em Sichuan, controlado até então pelo movimento “A Via dos Mestres do Celestial”, quando o neto de Zhang Ling, o sábio Zhang Lu se rendeu. Cao Cao deu a Zhang Lu o título de duque de Langzhong e o movimento passou a ser reconhecido pois ficou submetido ao general.

ABRIR AS PORTAS AO INIMIGO

No Romance dos Três Reinos (San Guo Yanyi, 三国演义) está a história do iludir com uma cidade vazia, onde se narra, certa vez no ano de 219 encontrava-se Zhuge Liang [a História refere ser Zhao Yun] à frente da defesa da cidade de Hanzhong, quando esta foi cercada por um grande número de tropas wei. Na altura ele só contava com uma pequena guarnição e usando o seu grande conhecimento da psicologia humana ordenou abrir as portas da cidade ao inimigo e sozinho encontrava-se na praça principal confortavelmente a tocar música no seu guqin. Tal espantou o comandante das forças inimigas que, suspeitando ali haver algum truque e com medo de ser uma armadilha, retirou-se com as suas tropas sem atacar.

Liu Bei encontrava-se em Chengdu a preparar a capital do reino Shu, Zhang Fei em Langzhong e Guan Yu a comandar a guarnição Shu em Jingzhou, quando o reino Shu foi atacado pelo exército Wei com 30 mil soldados comandados pelo general Zhang He. O general Zhang Fei, arranjando 10 mil homens conseguiu-o estrategicamente vencer na Passagem de Wakou. História gravada com a espada numa pedra por o próprio Zhang Fei de tão eufórico estava e registada no Romance dos Três Reinos.

Em 220, Guan Yu, um dos grandes generais de Liu Bei e comandante da guarnição de Jingzhou, estando ocupado numa batalha fora de muralhas contra as forças Wei de Cao Cao, foi apanhado por um ataque surpresa do exército Wu, que conquistou a cidade e o matou. Eram então os reinos Shu e Wu aliados e devido a tal essa aliança rompeu-se, levando Liu Bei em 222 a liderar uma expedição punitiva contra Wu, sendo a decisiva batalha pelejada em Yiling (a Norte do distrito de Yidu, província de Hubei).

PERÍODO DOS TRÊS REINOS

A morte no ano de 220 do general Cao Cao (155-220), a governar a dinastia Han do Leste desde 196 em nome do Imperador Xian (189-200), levou o seu filho Cao Pi (187-226) a destronar Xian Di, terminando assim a dinastia Han e deu início ao Período dos Três Reinos (三国鼎立, 220-280).

Cao Pi proclamou-se imperador do reino de Wei (220-265), situado a Norte do rio Yangzi, com a capital em Luoyang, tendo como religião o Dauismo. Teve cinco governantes, sendo o último Cao Huan, o Imperador Yang (260-265).
Sun Quan em 222 criou a Sudeste o reino Wu (222-280) ascendendo ao trono em Wuchang (hoje Ezhou, Hubei), mas o seu reinado começou no ano de 229 em Huanglong, quando se autointitula imperador Da Di (229-252) e logo de seguida mudava a capital para Jianye (hoje Nanjing).

Sucedeu-lhe o filho Sun Liang (243-260) que reinou como Rei Kuai Ji entre 252 e 258, quando foi destronado pelo regente Sun Lin. Este não teve tempo para ocupar o trono, pois logo foi morto pelo seu irmão Sun Xiu, que como Jing Di governou o reino Wu de 258 a 264. Depois ocupou o trono o seu sobrinho Sun Hao (242-284), que fora tornado príncipe pelo fundador do reino Wu, Sun Quan. Uma ofensiva das tropas Wei contra as de Wu em 252 fracassou e desde 264, o cruel e extravagante Sun Hao reinou até 280, quando a China foi de novo reunificada por Sima Yan, o imperador Wu (265-290) da dinastia Jin (265-420).

Já o reino de Shu (221-263) encontrava-se situado a Oeste da China (atual Sichuan) e teve apenas dois imperadores, Liu Bei como Zhao Lie Di (221-223) e Liu Shan como Imperador Hou Zhu (223-263).

O FIM de Zhuge Liang

Zhuge Liang como primeiro-ministro de Zhao Lie Di escolheu novas e talentosas pessoas para ajudar no governo e melhorou muito as relações com os numerosos grupos éticos que viviam isoladas pelo Sudoeste, unindo-as em torno de Li Bei, descendente da família imperial dos Han. Segundo Bai Shouyi em An Outline History of China: “Como primeiro-ministro do reino Shu, Zhuge Liang trabalhava arduamente para desenvolver a produção agrícola em Sichuan.

Apontou oficiais especiais para ficarem à frente do antigo Canal represa Dujiang e mandou fazer muitos outros trabalhos relacionados com a água. Para assegurar um ambiente de paz ao reino, tomou a iniciativa de melhorar as relações com as minorias étnicas a habitar onde hoje são as províncias de Guizhou e Yunnan e fortalecer as relações políticas, económicas e culturais entre o povo Han e essas minorias étnicas.”

Liu Bei antes de morrer, o que aconteceu em 223, confiou ao seu primeiro-ministro Zhuge Liang o filho e apesar de Liu Chan se tornar um governante decadente, o estratega continuou a ajudá-lo mantendo-se como seu tutor, sem dar ouvidos aos que o aconselhavam a tomar conta do governo do reino Shu. Voltou à inicial política de aliança com o Wu para combaterem o reino Wei.

Em 227, Zhuge Liang recomendou a Liu Chan enviar rapidamente para Norte as tropas contra o rival reino Wei, antes de este se tornar ainda mais forte. Aspirando ocupar as Planícies Centrais, controladas pelo reino Wei e recuperar a causa da casa dos Han, Zhuge Liang liderou as forças Shu em cinco expedições, num confronto entre dois estados militares dirigidos por conselheiros legistas.

Mas essas expedições por ele realizadas falharam e na última em 234, Zhuge Liang passou desta vida com cinquenta e três anos na planície de Wuzhang, hoje Meixian, província de Shaanxi, quando pelejava contra as forças do Imperador Ming (Cao Rui, 226-239) do reino Wei que tinham ao comando o general estratega Sima Yi (179-251). As tropas Shu regressaram a Sichuan. Desde então o poder Shu declinou, tendo o reino Wei se tornado o mais poderoso e em 263, o exército de Wei chegou a Chengdu e anexou o reino Shu. Dois anos depois, em 265 um dos ministros Wei, Sima Yan (236-290), neto do general Sima Yi, usurpou o trono e fundou a dinastia Jin do Oeste (265-316), com a capital em Luoyang. A China é de novo reunificada em 280 quando Sima Yan, já como imperador Wu Di (266-290), conquistou o reino Wu a Sun Hao, terminando assim o Período dos Três Reinos.

Zhuge Liang (181-234) guiara talentosamente toda a sua mitológica existência, pautando-a de grande ponderação e sabedoria. Deixou ao mundo preciosas lições de estratégia, na resolução das batalhas em que entrou e segundo a tradição, é-lhe atribuída por volta do ano 232 a invenção do (carrinho de mão), tendo ainda criado a flauta de canas vermelha, instrumento musical muito usado pelos grupos éticos ligados ao povo Miao.

11 Jun 2024