Macau pode ultrapassar os 40 milhões de visitantes este ano

[dropcap]A[/dropcap] responsável pelo turismo de Macau disse ontem que o número de visitantes pode ascender aos 40 milhões em 2019, apesar da diminuição dos turistas internacionais devido à grave crise social e política da cidade vizinha de Hong Kong. “Este ano o número vai ser próximo dos 40 milhões, senão maior que 40 milhões”, disse a directora dos Serviços de Turismo de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes, à margem da conferência de apresentação do Festival de Luz de Macau 2019.

As afirmações da responsável pelo turismo de Macau foram feitas horas antes do Governo ter anunciado que mais de 33,4 milhões de pessoas visitaram Macau nos primeiros 10 meses do ano, um aumento de 15,3 por cento face a igual período do ano passado.

Depois do número recorde em 2018 (35,8 milhões de turistas), Macau prepara-se para atingir a marca ‘redonda’ dos 40 milhões, seis anos antes das previsões governamentais de 2017, patentes no Plano Geral de Desenvolvimento da Indústria do Turismo.

“Estamos muito contentes com o facto de termos muitos visitantes”, reforçou Maria Helena de Senna Fernandes, admitindo que o foco agora é aumentar o número de visitantes internacionais e garantir que o período de permanência dos turistas aumente.

Em Macau, o período médio de permanência dos visitantes é de 1,2 dias e até ao final de Outubro mais de 23,7 milhões, dos mais de 33,4 milhões de turistas que visitaram o território nos 10 primeiros meses do ano, foram provenientes da China continental.

Menos internacionais

Apesar das previsões que dão o número recorde de 40 milhões de visitantes até ao fim do ano, a responsável pelo turismo de Macau admitiu que os turistas internacionais têm diminuído por causa das manifestações pró-democracia em Hong Kong. “Este ano diminuímos os visitantes internacionais por causa dos recentes acontecimentos perto de nós”, afirmou.

Para o ano, para combater esta diminuição de turistas internacionais, o objectivo passa por trabalhar com as cidades vizinhas e desenvolver novos produtos turísticos, de forma a atenuar “a dependência dos turistas da China continental e de Hong Kong”, adiantou.

Quanto à possibilidade de uma taxa turística no território, Maria Helena de Senna Fernandes disse que o relatório, a ser apresentado ao Governo, “está quase completo”. “Temos feito muitas comparações com o que as outras cidades estão a fazer para atacar o problema da gestão do excesso de turistas”, salientou, acrescentando que as autoridades estão atentas às indicações da Organização Mundial do Turismo (OMT) sobre esta matéria. “Vamos apresentar o relatório ao Governo para decidirem”, concluiu.

22 Nov 2019

Ponte HKZM | DSAT quer autocarro directo para o Aeroporto de Hong Kong 


Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, disse ontem que as autoridades desejam um autocarro directo de Macau para o Aeroporto Internacional de Hong Kong a circular na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Quanto ao número de passageiros nos autocarros do território, registaram-se números recordes este ano

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo está a discutir com a Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong a possibilidade de vir a ser criado uma carreira directa para o Aeroporto Internacional de Hong Kong. A ideia foi avançada ontem por Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), à margem de uma reunião do Conselho para os Assuntos de trânsito.

“No futuro vamos fomentar vários trabalhos para melhorar o funcionamento da ponte. Vamos coordenar e comunicar com a Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong para que haja autocarros de ligação ao aeroporto o mais cedo possível. Actualmente os autocarros param na saída, já na zona de Hong Kong, e os passageiros precisam de apanhar outro autocarro para chegar ao aeroporto. Queremos ter uma carreira directa de Macau para o aeroporto.”

Além disso, Lam Hin San frisou que, no âmbito da ponte HKZM, as autoridades desejam “aumentar a taxa de utilização do auto-silo leste em Macau” reduzindo, para isso, o prazo de reserva de um lugar de estacionamento. “A taxa de utilização está cada vez mais alta. Para reservar um lugar neste auto-silo é necessário fazer a reserva seis horas antes, mas queremos reduzir esse prazo até uma hora”, adiantou o director da DSAT. 
Lam Hin San adiantou que este serviço poderá ser providenciado a partir de meados de Dezembro, e que apenas uma empresa venceu o concurso para a operacionalização desta rota.

“A empresa vai ter de disponibilizar o serviço de bagagem e vamos ver que tipo de serviço irão providenciar, pois inclui a passagem nos Serviços de Alfândega e de Emigração.”

Números inéditos

Lam Hin San falou também de números recorde no que diz respeito à taxa de utilização de autocarros no território no ano que está prestes a terminar. “Actualmente, por dia, transportamos 220 mil pessoas, o que é um recorde histórico.”

O director da DSAT aprontou ainda a redução do número de acidentes nas estradas, bem como o aumento de velocidade de circulação em zonas críticas para o trânsito, tal como na Areia Preta. “Temos uma média de 1,5 acidentes por cada 100 mil quilómetros, numa redução de quatro para três acidentes mensais. Conseguimos evitar muitos erros que tínhamos no passado, vamos introduzir mais mecanismos electrónicos para melhorar o serviço de autocarros públicos.”

“Neste ano, na zona da Bacia do Norte do Patane, houve um aumento da velocidade em 40 por cento. Na avenida Venceslau de Morais a velocidade aumentou 60 por cento. Na última semana, como se realizou o Grande Prémio de Macau, a situação não era a ideal, mas aumentou bastante a velocidade se compararmos com a mesma época do último ano”, adiantou Lam Hin San.

O director da DSAT fala também de uma boa taxa de utilização dos transportes públicos. “34 a 40 por cento das pessoas usam os autocarros para a sua deslocação, mas no futuro gostaríamos de aumentar essa taxa de utilização.”

No que diz respeito à circulação, Lam Hin San denota que hoje, em média, um veículo particular demora 27 minutos a chegar ao seu destino, motociclos demoram 23 minutos e autocarros 38 minutos.

22 Nov 2019

Ponte HKZM | DSAT quer autocarro directo para o Aeroporto de Hong Kong 


Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, disse ontem que as autoridades desejam um autocarro directo de Macau para o Aeroporto Internacional de Hong Kong a circular na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Quanto ao número de passageiros nos autocarros do território, registaram-se números recordes este ano

 
[dropcap]O[/dropcap] Governo está a discutir com a Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong a possibilidade de vir a ser criado uma carreira directa para o Aeroporto Internacional de Hong Kong. A ideia foi avançada ontem por Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), à margem de uma reunião do Conselho para os Assuntos de trânsito.
“No futuro vamos fomentar vários trabalhos para melhorar o funcionamento da ponte. Vamos coordenar e comunicar com a Autoridade de Aviação Civil de Hong Kong para que haja autocarros de ligação ao aeroporto o mais cedo possível. Actualmente os autocarros param na saída, já na zona de Hong Kong, e os passageiros precisam de apanhar outro autocarro para chegar ao aeroporto. Queremos ter uma carreira directa de Macau para o aeroporto.”
Além disso, Lam Hin San frisou que, no âmbito da ponte HKZM, as autoridades desejam “aumentar a taxa de utilização do auto-silo leste em Macau” reduzindo, para isso, o prazo de reserva de um lugar de estacionamento. “A taxa de utilização está cada vez mais alta. Para reservar um lugar neste auto-silo é necessário fazer a reserva seis horas antes, mas queremos reduzir esse prazo até uma hora”, adiantou o director da DSAT. 
Lam Hin San adiantou que este serviço poderá ser providenciado a partir de meados de Dezembro, e que apenas uma empresa venceu o concurso para a operacionalização desta rota.
“A empresa vai ter de disponibilizar o serviço de bagagem e vamos ver que tipo de serviço irão providenciar, pois inclui a passagem nos Serviços de Alfândega e de Emigração.”

Números inéditos

Lam Hin San falou também de números recorde no que diz respeito à taxa de utilização de autocarros no território no ano que está prestes a terminar. “Actualmente, por dia, transportamos 220 mil pessoas, o que é um recorde histórico.”
O director da DSAT aprontou ainda a redução do número de acidentes nas estradas, bem como o aumento de velocidade de circulação em zonas críticas para o trânsito, tal como na Areia Preta. “Temos uma média de 1,5 acidentes por cada 100 mil quilómetros, numa redução de quatro para três acidentes mensais. Conseguimos evitar muitos erros que tínhamos no passado, vamos introduzir mais mecanismos electrónicos para melhorar o serviço de autocarros públicos.”
“Neste ano, na zona da Bacia do Norte do Patane, houve um aumento da velocidade em 40 por cento. Na avenida Venceslau de Morais a velocidade aumentou 60 por cento. Na última semana, como se realizou o Grande Prémio de Macau, a situação não era a ideal, mas aumentou bastante a velocidade se compararmos com a mesma época do último ano”, adiantou Lam Hin San.
O director da DSAT fala também de uma boa taxa de utilização dos transportes públicos. “34 a 40 por cento das pessoas usam os autocarros para a sua deslocação, mas no futuro gostaríamos de aumentar essa taxa de utilização.”
No que diz respeito à circulação, Lam Hin San denota que hoje, em média, um veículo particular demora 27 minutos a chegar ao seu destino, motociclos demoram 23 minutos e autocarros 38 minutos.

22 Nov 2019

Economia | Agências de rating estimam recuperação económica em 2020

A Moody’s prevê uma recessão de 2 por cento este ano, alertando que o risco de o abrandamento económico previsto na China pode levar à diminuição do número de turistas. Já a Standard & Poor’s reviu em baixa a previsão de receitas brutas do jogo este ano para entre -2 e 2 por cento, esperando uma recuperação para até 5 por cento em 2020

 

[dropcap]E[/dropcap]speramos que o PIB real de Macau contraia 2 por cento em 2019, recuperando para um crescimento de 3 por cento em 2020, já que o efeito negativo da redução do investimento público se irá desvanecer no próximo ano”, escrevem os analistas da Moody’s numa referência a 2020.

Numa nota enviada aos clientes, e a que a Lusa teve acesso, a Moody’s aponta que “os riscos desta previsão são negativos, já que os turistas da China representam cerca de dois terços de todas as chegadas de visitantes, e o abrandamento no crescimento económico da China para além das nossas estimativas vai influenciar o número de turistas e as receitas do jogo e exportações de serviços, no geral”.

Na primeira metade deste ano a economia de Macau enfrentou uma recessão de 2,5 por cento, que se seguiu a um crescimento de 2 por cento nos primeiros seis meses de 2018 face ao período homólogo, devido “à redução do investimento público e privado e à descida das receitas do jogo VIP, motivados pela redução do crescimento da economia chinesa”.

A conclusão da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau levou a uma queda abrupta dos níveis de investimento, “e os operadores de jogo parecem estar a cortar nos investimentos já que as licenças expiram em 2022”, acrescenta a Moody’s.

Apesar disto, as exportações de serviços e o consumo privado continuaram a expandir-se e a chegada de turistas manteve-se robusta, “apesar dos protestos em Hong Kong, possivelmente porque a ponte liga directamente o aeroporto de Hong Kong a Macau, permitindo aos visitantes da China chegarem directamente a Macau através de Zhuhai”.

A estabilidade

Na análise à economia de Macau, a Moody’s, que atribui uma nota de A3 com Perspectiva de Evolução Estável, diz que o perfil de crédito do território é sustentado pela ausência de dívida pública e por grandes almofadas fiscais que dão a esta região uma “significativa capacidade” de contrariar choques futuros. “Sendo uma economia pequena e concentrada, o crescimento do PIB de Macau permanece volátil”, mas os analistas notam, ainda assim, que “havendo mais progressos na diversificação para actividades não relacionadas com o jogo isso vai, com o tempo, sustentar um crescimento do PIB mais estável”.

A indústria do jogo é responsável por mais de 80 por cento das receitas do Governo, que deverá terminar o ano com um excedente orçamental de 12,5 por cento, e com reservas suficientes para sustentar sete anos de despesa pública. O novo chefe do Governo, Ho Iat Seng, deverá “manter as principais opções políticas e continuar a focar-se na diversificação económica a longo prazo, para além do jogo VIP, promovendo o jogo de massas e o turismo não relacionado com esta actividade”, concluem os analistas.

Padrão de riqueza

A agência de notação financeira Standard & Poor’s reviu ontem em baixa a previsão de receitas brutas do jogo em Macau este ano para entre -2 e 2 por cento, esperando uma recuperação até 5 por cento em 2020.
“Prevemos que as receitas brutas do jogo em Macau vão recuperar ligeiramente em 2020 para um crescimento entre 0 e 5 por cento, de um patamar que vai dos -2 a 2 por cento este ano, abaixo das nossas estimativas anteriores, que apontavam para um crescimento entre 0 e 4 por cento em 2019”, escrevem os analistas da S&P.

Numa nota enviada aos clientes sobre a evolução do jogo a nível mundial, e a que a Lusa teve acesso, explica-se que esta previsão de crescimento para 2020 é alicerçada no jogo do segmento médio e baixo, “que pode compensar a contínua fraqueza e volatilidade dos jogadores de alto nível”, ou jogadores VIP, como são normalmente designados. “Também acreditamos que a vontade do Governo chinês de limitar a saída de fundos para o jogo em Macau pode igualmente prejudicar o crescimento”, acrescentam. Na nota, os analistas escrevem que Macau não deverá ser negativamente influenciada pela onda de violência que se vive em Hong Kong. “Não esperamos que os protestos em Hong Kong tenham um impacto significativo nas receitas brutas do jogo, uma vez que Macau atrai apenas um número limitado de clientes de Hong Kong e assenta principalmente em visitantes da China continental”, argumentam os analistas.

Nas previsões para 2020, a S&P estima que o crescimento das receitas do jogo VIP fique num intervalo entre os -5 e os 5 por cento: “Ao contrário dos jogadores em massa, os clientes VIP são mais afectados pelo sentimento macroeconómico na China e, até certo ponto, pela competição na Ásia”.

Por outro lado, concluem, o jogo mais popular “assenta na classe média crescente chinesa, e em melhoramentos nos transportes e nas infra-estruturas que melhoram a acessibilidade de Macau para os chineses”, e daí a previsão de um abrandamento para um crescimento entre 4 e 6 por cento, que compara com a expansão de 15 a 20 por cento que se deve registar este ano.

Dependência do norte

A agência de notação financeira Fitch Ratings considera que o turismo de jogo em Macau está a passar por um forte abrandamento, mas isso não afecta o perfil de crédito do território, o único sem dívida pública. “O sector do jogo está a passar por um suave abrandamento, apesar de o número de turistas ser ainda robusto; as receitas do jogo até Julho caíram cerca de 1 por cento face aos primeiros sete meses de 2018, o que compara com um crescimento de 14 por cento no total do ano passado”, lê-se na mais recente análise da agência de ‘rating’ ao território.

No relatório, os analistas escrevem que o ‘rating’ de Macau, avaliado em duplo A, bem confortável na escala de investimento, “está sedeado nas finanças públicas e externas excepcionalmente fortes e no compromisso com a prudência orçamental em tempos de abrandamento das receitas do jogo e de choques negativos nas receitas”.

Entre os factores que mais afectam a avaliação da qualidade do crédito de Macau está a China, não só pela exposição dos bancos ao país, mas também devido á dependência da volatilidade da evolução do PIB, à concentração da economia no setor do jogo e turismo vindos do gigante asiático. “Qualquer mudança inesperada que limite a capacidade de os turistas do continente viajarem para Macau ou que termine o monopólio do jogo na China pode ser negativo para o perfil de crédito do território, alerta a Fitch.

22 Nov 2019

Economia | Agências de rating estimam recuperação económica em 2020

A Moody’s prevê uma recessão de 2 por cento este ano, alertando que o risco de o abrandamento económico previsto na China pode levar à diminuição do número de turistas. Já a Standard & Poor’s reviu em baixa a previsão de receitas brutas do jogo este ano para entre -2 e 2 por cento, esperando uma recuperação para até 5 por cento em 2020

 
[dropcap]E[/dropcap]speramos que o PIB real de Macau contraia 2 por cento em 2019, recuperando para um crescimento de 3 por cento em 2020, já que o efeito negativo da redução do investimento público se irá desvanecer no próximo ano”, escrevem os analistas da Moody’s numa referência a 2020.
Numa nota enviada aos clientes, e a que a Lusa teve acesso, a Moody’s aponta que “os riscos desta previsão são negativos, já que os turistas da China representam cerca de dois terços de todas as chegadas de visitantes, e o abrandamento no crescimento económico da China para além das nossas estimativas vai influenciar o número de turistas e as receitas do jogo e exportações de serviços, no geral”.
Na primeira metade deste ano a economia de Macau enfrentou uma recessão de 2,5 por cento, que se seguiu a um crescimento de 2 por cento nos primeiros seis meses de 2018 face ao período homólogo, devido “à redução do investimento público e privado e à descida das receitas do jogo VIP, motivados pela redução do crescimento da economia chinesa”.
A conclusão da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau levou a uma queda abrupta dos níveis de investimento, “e os operadores de jogo parecem estar a cortar nos investimentos já que as licenças expiram em 2022”, acrescenta a Moody’s.
Apesar disto, as exportações de serviços e o consumo privado continuaram a expandir-se e a chegada de turistas manteve-se robusta, “apesar dos protestos em Hong Kong, possivelmente porque a ponte liga directamente o aeroporto de Hong Kong a Macau, permitindo aos visitantes da China chegarem directamente a Macau através de Zhuhai”.

A estabilidade

Na análise à economia de Macau, a Moody’s, que atribui uma nota de A3 com Perspectiva de Evolução Estável, diz que o perfil de crédito do território é sustentado pela ausência de dívida pública e por grandes almofadas fiscais que dão a esta região uma “significativa capacidade” de contrariar choques futuros. “Sendo uma economia pequena e concentrada, o crescimento do PIB de Macau permanece volátil”, mas os analistas notam, ainda assim, que “havendo mais progressos na diversificação para actividades não relacionadas com o jogo isso vai, com o tempo, sustentar um crescimento do PIB mais estável”.
A indústria do jogo é responsável por mais de 80 por cento das receitas do Governo, que deverá terminar o ano com um excedente orçamental de 12,5 por cento, e com reservas suficientes para sustentar sete anos de despesa pública. O novo chefe do Governo, Ho Iat Seng, deverá “manter as principais opções políticas e continuar a focar-se na diversificação económica a longo prazo, para além do jogo VIP, promovendo o jogo de massas e o turismo não relacionado com esta actividade”, concluem os analistas.

Padrão de riqueza

A agência de notação financeira Standard & Poor’s reviu ontem em baixa a previsão de receitas brutas do jogo em Macau este ano para entre -2 e 2 por cento, esperando uma recuperação até 5 por cento em 2020.
“Prevemos que as receitas brutas do jogo em Macau vão recuperar ligeiramente em 2020 para um crescimento entre 0 e 5 por cento, de um patamar que vai dos -2 a 2 por cento este ano, abaixo das nossas estimativas anteriores, que apontavam para um crescimento entre 0 e 4 por cento em 2019”, escrevem os analistas da S&P.
Numa nota enviada aos clientes sobre a evolução do jogo a nível mundial, e a que a Lusa teve acesso, explica-se que esta previsão de crescimento para 2020 é alicerçada no jogo do segmento médio e baixo, “que pode compensar a contínua fraqueza e volatilidade dos jogadores de alto nível”, ou jogadores VIP, como são normalmente designados. “Também acreditamos que a vontade do Governo chinês de limitar a saída de fundos para o jogo em Macau pode igualmente prejudicar o crescimento”, acrescentam. Na nota, os analistas escrevem que Macau não deverá ser negativamente influenciada pela onda de violência que se vive em Hong Kong. “Não esperamos que os protestos em Hong Kong tenham um impacto significativo nas receitas brutas do jogo, uma vez que Macau atrai apenas um número limitado de clientes de Hong Kong e assenta principalmente em visitantes da China continental”, argumentam os analistas.
Nas previsões para 2020, a S&P estima que o crescimento das receitas do jogo VIP fique num intervalo entre os -5 e os 5 por cento: “Ao contrário dos jogadores em massa, os clientes VIP são mais afectados pelo sentimento macroeconómico na China e, até certo ponto, pela competição na Ásia”.
Por outro lado, concluem, o jogo mais popular “assenta na classe média crescente chinesa, e em melhoramentos nos transportes e nas infra-estruturas que melhoram a acessibilidade de Macau para os chineses”, e daí a previsão de um abrandamento para um crescimento entre 4 e 6 por cento, que compara com a expansão de 15 a 20 por cento que se deve registar este ano.

Dependência do norte

A agência de notação financeira Fitch Ratings considera que o turismo de jogo em Macau está a passar por um forte abrandamento, mas isso não afecta o perfil de crédito do território, o único sem dívida pública. “O sector do jogo está a passar por um suave abrandamento, apesar de o número de turistas ser ainda robusto; as receitas do jogo até Julho caíram cerca de 1 por cento face aos primeiros sete meses de 2018, o que compara com um crescimento de 14 por cento no total do ano passado”, lê-se na mais recente análise da agência de ‘rating’ ao território.
No relatório, os analistas escrevem que o ‘rating’ de Macau, avaliado em duplo A, bem confortável na escala de investimento, “está sedeado nas finanças públicas e externas excepcionalmente fortes e no compromisso com a prudência orçamental em tempos de abrandamento das receitas do jogo e de choques negativos nas receitas”.
Entre os factores que mais afectam a avaliação da qualidade do crédito de Macau está a China, não só pela exposição dos bancos ao país, mas também devido á dependência da volatilidade da evolução do PIB, à concentração da economia no setor do jogo e turismo vindos do gigante asiático. “Qualquer mudança inesperada que limite a capacidade de os turistas do continente viajarem para Macau ou que termine o monopólio do jogo na China pode ser negativo para o perfil de crédito do território, alerta a Fitch.

22 Nov 2019

Mérito | Orgulho e honra na altura de receber distinções do Governo

Rui Amaral, António Pereira e Chan Kin Kong são os três funcionários públicos que vão receber esta tarde a Medalha de Dedicação e ontem partilharam as respectivas experiências a trabalhar para o Governo

 

[dropcap]U[/dropcap]m sentimento de grande orgulho é comum aos funcionários públicos Rui Amaral, António Pereira e Chan Kin Kong, que esta tarde vão receber a Medalha de Dedicação das mãos de Chui Sai On. Os três estiveram ontem reunidos com a comunicação social para partilharem e explicarem um pouco das suas carreiras, que lhes valeram a distinção.

“Sinto-me naturalmente bastante orgulhoso e responsabilizado na medida em que quero corresponder aos objectivos e às iniciativas por parte do Governo e cumpri-las da melhor forma. Nesse sentido há um sentimento de responsabilidade muito grande e, ao mesmo tempo, de uma honra e um agradecimento muito especial”, afirmou Rui Amaral, jurista nos Serviços de Saúde, sobre a distinção.

O jurista nasceu em Angola, tem nacionalidade portuguesa, e anteriormente desempenhava funções nos Serviços de Finanças. Ao longo dos anos, trabalhou em alterações a várias leis, como a Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo ou a Lei do Erro Médico ou mais recentemente a Lei da Qualificação e Inscrição para Profissionais de Saúde. “Sinto que fui distinguido pelo meu Governo, porque não me sinto um português que vive em Macau. Sinto-me um cidadão de Macau”, partilhou. “Vim para Macau com 25 anos e vivo aqui há 26 anos. Macau deu-me a minha mulher, os meus filhos, a minha profissão e a minha formação. Eu sou de Macau e não tenho outro entendimento”, explicou sobre a forma como encara a distinção.

Após ser público que vai ser distinguido, Rui Amaral revelou que houve uma grande felicidade em casa, no seio da família, mas que o objectivo passa por contribuir para o desenvolvimento da RAEM.

Caso de Polícia

Desde 1988 na Polícia Judiciária (PJ), António Pereira é actualmente o responsável pela Secção de Investigação e Combate ao Roubo do Departamento de Investigação Criminal.

Ao longo dos anos, e devido à “capacidade e profissionalismo” amealhou várias distinções, nomeadamente a Menção de Mérito Excepcional, atribuída pelo Secretário para a Segurança de 2011 a 2013 e 2019, três louvores individuais e vinte e um louvores colectivos. No meio de tanta distinção, a Medalha de Dedicação é uma estreia, para um homem que se dedica quase exclusivamente à segurança da RAEM.

“Estou muito honrado com a distinção, mas vou continuar a dedicar-me e a dar o meu máximo para melhorar os resultados das nossas investigações”, disse António Pereira, quando questionado sobre a distinção.

O membro da PJ abordou igualmente a experiência na área da segurança desde 1988 e apontou dois casos como grandes desafios, que lhe permitiram aprender muito: “Houve casos que nos permitiram aprender muito, como o do rapto do Dr. Neto Valente [em 2001] e também o caso da explosão [em Setembro de 1998 que feriu dois polícias]”, contou.

Por outro lado, no ano passado houve um caso de assalto a uma ourivesaria, atrás do Hotel Lisboa, em que todos os bens foram recuperados. Segundo António Pereira, este caso é emblemático pelos resultados alcançados.

O profissional da PJ partilhou igualmente uma visão sobre os diferentes tempos ao nível da segurança no território: “Nos anos 80, Macau era um lugar muito tranquilo e pacífico. Depois, na década de 90, houve alturas com violência. Mas felizmente depois da transição a situação voltou a melhorar”, considerou.
António Pereira destacou igualmente o papel da tecnologia na investigação, como o sistema de videovigilância Olhos no Céu, que apontou ser uma grande ajuda.


O electricista

O outro distinguido é Chan King Kuong que trabalha no Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) como responsável pela inspecção à segurança de quadros eléctricos, manutenção dos aparelhos eléctricos e electrónicos, bem como do controlo dos aparelhos áudio.

Quando ingressou no Leal Senado, ainda antes de 1990, era responsável pela manutenção dos equipamentos eléctricos do escoamento de águas pluviais.

Para Chan a distinção foi um enorme orgulho: “Gostava de agradecer ao Governo da RAEM por esta grande honra. O mais importante é o reconhecimento da nossa chefia e do Governo pelo trabalho prestado ao longo dos anos. Não é uma distinção só pessoal, também é um reconhecimento para o IAM. Trabalho nesta casa há 29 anos”, contou sobre o prémio.

Depois de ter sido tornado público que ia receber uma distinção, Chan admite que a mulher e os filhos ficaram muito felizes com a notícia.

O trabalhador do IAM destacou igualmente a curiosidade de normalmente afixar cartazes e outras informações no âmbito dos programas de sensibilização do IAM. Porém, após a notícia, foi a vez de afixar uma informação com a sua fotografia. “Foi engraçado porque temos um programa itinerante de sensibilização pública, em que temos de afixar cartazes. Desta vez um dos cartazes que foi afixado no Iao Hon tinha a minha fotografia”, contou.

22 Nov 2019

Fronteiras | Posto de Qingmao com canal exclusivo para visitantes

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) garantiu à deputada Song Pek Kei que o novo posto fronteiriço de Qingmao, ainda em construção, vai ter um canal de passagem apenas para residentes.

“A Polícia de Segurança Pública (PSP) frisa que, com a construção em curso do Posto de Migração do Novo Acesso Fronteiriço Guangdong-Macau (Posto Fronteiriço Qingmao) será adoptada uma passagem fechada e exclusiva a visitantes, sendo que as instalações do referido novo acesso se destinam a visitantes e a residentes de Macau nas suas deslocações entre Macau e o Interior da China através do sistema ferroviário urbano Cantão-Zhuhai.”

Desta forma, “pretende-se disponibilizar uma nova instalação que visa aliviar a pressão do fluxo de pessoas do posto fronteiriço das Portas do Cerco”, acrescenta Lam Hin San, director da DSAT.

No que diz respeito à fronteira das Portas do Cerco, é proibido diariamente “o transporte de passageiros pelos autocarros de turismo entre as 14h00 e as 20h00 nesta fronteira, permitindo apenas durante esse período a utilização do posto fronteiriço da Ponte HKZM ou outros postos fronteiriços de Macau para o efeito”.

22 Nov 2019

Fronteiras | Posto de Qingmao com canal exclusivo para visitantes

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) garantiu à deputada Song Pek Kei que o novo posto fronteiriço de Qingmao, ainda em construção, vai ter um canal de passagem apenas para residentes.
“A Polícia de Segurança Pública (PSP) frisa que, com a construção em curso do Posto de Migração do Novo Acesso Fronteiriço Guangdong-Macau (Posto Fronteiriço Qingmao) será adoptada uma passagem fechada e exclusiva a visitantes, sendo que as instalações do referido novo acesso se destinam a visitantes e a residentes de Macau nas suas deslocações entre Macau e o Interior da China através do sistema ferroviário urbano Cantão-Zhuhai.”
Desta forma, “pretende-se disponibilizar uma nova instalação que visa aliviar a pressão do fluxo de pessoas do posto fronteiriço das Portas do Cerco”, acrescenta Lam Hin San, director da DSAT.
No que diz respeito à fronteira das Portas do Cerco, é proibido diariamente “o transporte de passageiros pelos autocarros de turismo entre as 14h00 e as 20h00 nesta fronteira, permitindo apenas durante esse período a utilização do posto fronteiriço da Ponte HKZM ou outros postos fronteiriços de Macau para o efeito”.

22 Nov 2019

Brasil |Conselho de Consumidores assina acordo

[dropcap]O[/dropcap] Conselho de Consumidores de Macau assinou um acordo de cooperação com a congénere Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor com o objectivo de aprofundar os conhecimentos mútuos na área dos direitos do consumidor.

Segundo a vogal da Comissão Executiva do Conselho de Consumidores, Chan Hon Sang, o organismo de Macau está empenhado em celebrar protocolos de cooperação com mais organizações de consumidores dos Países de Língua Portuguesa, tal como assinou recentemente um protocolo com a DECO – Associação Portuguesa Para a Defesa do Consumidor.

Na cerimónia estiveram presentes la presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Irene Va Kuan Lau, pelo presidente da Associação dos Advogados de Macau, Jorge Neto Valente, e pela secretária-geral do Centro de Arbitragem do Centro de Comércio Mundial de Macau, Rosita Vong Sok Hei.

22 Nov 2019

Hengqin | Edmund Ho alerta para fraco fomento da diversificação económica

[dropcap]E[/dropcap]dmund Ho, primeiro Chefe do Executivo da era RAEM e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês disse, no âmbito da reunião do terceiro conselho consultivo para o desenvolvimento da nova zona da Ilha de Hengqin, realizada ontem, que os projectos de investimento de Macau na ilha de Hengqin não promovem ainda o desenvolvimento da diversificação económica no território.

Nesse sentido, Edmund Ho disse esperar que Macau e Hengqin apostem no conceito de “construção e de utilização conjunta”, a fim de se implementarem medidas de apoio ao desenvolvimento de Macau. O ex-governante da RAEM defende que os dois territórios devem estudar e formular políticas de apoio ao investimento e desenvolvimento social, bem como acelerar a circulação de pessoas e bens entre as duas zonas para que a diversificação económica de Macau ganhe um novo caminho, noticiou o canal chinês da Rádio Macau.

Na mesma reunião, o governador do município de Zhuhai, Yao Yisheng, referiu que Hengqin vai continuar a cooperar em prol do desenvolvimento da diversificação económica de Macau e do apoio activo às políticas desenvolvidas pelo Governo da RAEM.

Yao Yisheng disse ainda que na próxima reunião será discutida a cooperação ao nível dos portos e terminais marítimos, tendo sido recomendada a criação de uma equipa de estudo para este dossier.

22 Nov 2019

Hengqin | Edmund Ho alerta para fraco fomento da diversificação económica

[dropcap]E[/dropcap]dmund Ho, primeiro Chefe do Executivo da era RAEM e vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês disse, no âmbito da reunião do terceiro conselho consultivo para o desenvolvimento da nova zona da Ilha de Hengqin, realizada ontem, que os projectos de investimento de Macau na ilha de Hengqin não promovem ainda o desenvolvimento da diversificação económica no território.
Nesse sentido, Edmund Ho disse esperar que Macau e Hengqin apostem no conceito de “construção e de utilização conjunta”, a fim de se implementarem medidas de apoio ao desenvolvimento de Macau. O ex-governante da RAEM defende que os dois territórios devem estudar e formular políticas de apoio ao investimento e desenvolvimento social, bem como acelerar a circulação de pessoas e bens entre as duas zonas para que a diversificação económica de Macau ganhe um novo caminho, noticiou o canal chinês da Rádio Macau.
Na mesma reunião, o governador do município de Zhuhai, Yao Yisheng, referiu que Hengqin vai continuar a cooperar em prol do desenvolvimento da diversificação económica de Macau e do apoio activo às políticas desenvolvidas pelo Governo da RAEM.
Yao Yisheng disse ainda que na próxima reunião será discutida a cooperação ao nível dos portos e terminais marítimos, tendo sido recomendada a criação de uma equipa de estudo para este dossier.

22 Nov 2019

Ensino | Novas escolas privadas têm de respeitar “interesse público”

A lei que vai regular as instituições particulares de ensino não superior dá poderes ao Governo para recusar a criação de novas escolas se estas não respeitarem o “interesse público”. Alguns deputados acharam que o termo é vago e pode dar poder indiscriminado ao Executivo

 

[dropcap]P[/dropcap]or exemplo, uma escola que pretenda ensinar a constituição dos Estados Unidos da América. Isto, a meu ver, não tem nada a ver com o interesse público. Nesse caso parecia-me mais adequado ensinar a constituição da República Popular da China”. Foi assim que Chan Chak Mo, deputado que preside à 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) explicou o requisito de respeito ao “interesse público” para a criação de novas escolas privadas de ensino não superior.

A exigência legal faz parte do actual texto de trabalho da Proposta de Lei do Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior, que terminou ontem a discussão na especialidade, e que incluí uma alínea que prevê o “interesse público” como condição para a criação de novas escolas.

O diploma sobre o Estatuto das Escolas Particulares do Ensino Não Superior vai incluir medidas para regular as condições de criação de novas escolas. De acordo com Chan Chak Mo, as condições prendem-se com a necessidade de “articular a necessidade de criar uma nova instituição com a situação actual da sociedade” e responder, acima de tudo, “ao interesse publico”.

Críticas, mas passa

No entanto, Chan Chak Mo disse que alguns deputados mostraram opiniões contrárias em relação ao termo “interesse público”, que consideram vago o suficiente, algo que pode resultar em “poder discricionário” do Governo para impedir a criação de novas instituições de ensino. Chan Chak Mo não foi um desses legisladores. “Entendemos que é correcto ter esta nova alínea, mas alguns deputados questionaram se o poder do Governo é demasiado elevado ou não”, apontou.

Outro exemplo dado para esclarecer o ponto que mais dúvidas suscitou foi o número de universidades no território. “Por exemplo para criar uma universidade. Já temos o quê 5, 7? Não, desculpem, 11. Se alguém pede para criar uma nova instituição superior, o Governo tem de avaliar se vai ao encontro ou não do interesse público. Ou se a universidade vai ter cursos que não tem. Terrenos? Docentes? Se afecta alunos de outras universidades?”

O próximo passo até à votação na especialidade serão as reuniões técnicas entre as assessorias Direcção dos Serviços de Educação e Juventude e da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça, antes do diploma descer a plenário.

22 Nov 2019

Comunidades macaenses | Encontro é o maior de sempre e olha para a Grande Baía 

A celebração dos 20 anos do estabelecimento da RAEM pode ter feito da edição deste ano do Encontro das Comunidades Macaenses o maior de sempre, uma vez que são esperadas cerca de mil pessoas oriundas de Macau e da diáspora macaense. A agenda inclui conversas sobre cultura e gastronomia, sem esquecer a reunião do Conselho Geral do Conselho das Comunidades Macaenses. A ideia é ir além do saudosismo e olhar para o futuro, que passa pelo projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau

 

[dropcap]A[/dropcap] cada três anos o mês de Novembro transforma-se no mais importante para a comunidade macaense a viver dentro e fora de Macau. Este sábado arranca mais uma edição do Encontro das Comunidades Macaenses, organizado pelo Conselho das Comunidades Macaenses (CCM).

Esperam-se cerca de mil pessoas distribuídas pela diáspora macaense, pelas várias casas de Macau, e também aqueles que residem em Macau. O cartaz é composto por eventos de ordem cultural, incluindo a apresentação de estudos e debates em torno da gastronomia macaense. Está também prevista uma viagem a Foshan, na China, no âmbito do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

“Temos uma sessão cultural no Centro de Ciência de Macau, em que a parte da manhã é da responsabilidade do Instituto Internacional de Macau (IIM) e a parte da tarde é da nossa responsabilidade, do CCM. Essa parte é dedicada à gastronomia macaense, pelo valor intrínseco que tem, com características muito especiais, e que é reconhecido em Macau como património imaterial, mas também outros aspectos ligados ao substracto cultural da gastronomia macaense, as influências que teve ou deixou de ter”, contou José Sales Marques, presidente da Comissão Organizadora, ao HM.

Nesse debate haverá três intervenções. Uma delas de Anabela Jackson, jornalista e investigadora, que apresenta um projecto financiado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) que se traduz num livro onde são abordadas “as mais profundas das influências culturais da gastronomia macaense”.

Rodrigues Simões irá apresentar “uma visão muito interessante da história da gastronomia macaense, e que vai trazer ao debate uma visão muito própria da origem do minchi”. Maria João Ferreira, doutorada em Turismo, irá apresentar o seu livro “Turismo Cultural e Gastronomia Macaense”. A autora vai também falar sobre as origens do peixe salgado. “Trata-se de uma questão interessante e que está ligada às suas investigações”, acrescentou Sales Marques.

Nos dias 27 e 28 acontece uma visita a Foshan, uma espécie de “visita de estudo sobre a área da Grande Baía”.

Foshan é, de acordo com Sales Marques, “considerada quase como um pólo da cultura desta área, com uma grande influência sobre aquela parte cultural de origem cantonense que todo o macaense tem”. “Vai ser uma descoberta importante do ponto de vista cultural e também do ponto de vista de que essa cidade constitui um eixo de grande relevância com a cidade de Cantão. É um dos pólos importantes da Grande Baía”, acrescentou.

A edição deste ano custa entre cinco a seis milhões de patacas, dinheiro obtido graças a apoios públicos e privados, da parte da Fundação Macau, Sociedade de Jogos de Macau ou do próprio Banco Nacional Ultramarino.

Sales Marques assegura que a verdadeira importância destes encontros é a parte efectiva com uma terra de muitos e “a oportunidade que se cria de juntar em Macau pessoas de várias gerações”.

Olhar os jovens

O Encontro das Comunidades Macaenses fica também marcado pela realização da reunião do Conselho-geral do CCM, que acontece a cada três anos. Fátima dos Santos Ferreira é vice-presidente e diz esperar que se olhe cada vez mais para os jovens.

“Deve haver mais hipóteses para os jovens participarem porque temos de começar a preparar os jovens para passar o testemunho. Acho que é importante haver jovens intervenientes neste processo senão a comunidade desaparece.”

Sobre o Encontro, Fátima dos Santos Ferreira assume que tem “a maior participação de sempre”. “As expectativas são sempre grandes, porque há mais pessoas a participar. Este ano registou-se o maior número de inscrições. Não sei se é por causa dos 20 anos de transferência de soberania, pode haver pessoas que há muito tempo não vêm a Macau. Mas não tenho dados”, frisou.

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), assegura que “as expectativas são sempre boas”. “Estamos em plena RAEM, que faz 20 anos, e a RAEM continua a apoiar este Encontro, que é muito importante para a afirmação da comunidade local e da diáspora.

Julgo que o Encontro deste ano tem muito significado, pois é importante que os macaenses que estão na diáspora saibam que em Macau a comunidade continua viva e a ser uma referência”.

Problemas do costume

Sobre a reunião do Conselho-geral do CCM, Miguel de Senna Fernandes falou das necessidades das casas de Macau receberem mais apoios da RAEM. “Sabemos das limitações existentes, e é importante reconhecê-las, mas há uma vontade de que as coisas funcionem. As casas de Macau têm perfeita noção das dificuldades existentes.”

“Em Macau as associações de matriz portuguesa têm acesso a um ou outro subsídio, mas noutras casas as condições são completamente diferentes. Há boa vontade, mas falta a parte financeira e isso dificulta muito a realização dos seus fins. Nem todas as casas de Macau têm a mesma flexibilidade”, acrescentou Miguel de Senna Fernandes.

A título de exemplo, o advogado destaca o Clube Lusitano da Califórnia como um dos mais activos. “Era bom que a RAEM pudesse dar uma mão para que estas casas pudessem no mínimo ter acesso a algum apoio financeiro para a realização dos seus fins. Compreendo as suas dificuldades.”

O responsável pede também uma flexibilização dos estatutos do CCM. “Devemos flexibilizar a maneira como vamos reunir, ainda mais por causa do número de participantes. Talvez isto pudesse ser discutido. Devemos tornar as reuniões o mais flexíveis possível no aspecto decisório, que é fundamental. Precisamos reunir o consenso de todos, se não fosse por causa do encontro, alguma questão que se coloque antes ou depois do encontro, como vai ser? Como se processa a deliberação?”, questionou Miguel de Senna Fernandes.

Contra o saudosismo

Muitos participam em todos os Encontros das Comunidades Macaenses com uma perspectiva saudosista, em busca de conhecer melhor a terra dos seus pais ou dos seus avós, ou para recordar tempos que não voltam. Mas Miguel de Senna Fernandes pede que se olhe para o futuro.

“Devemos aproveitar esta ocasião para apresentar Macau numa perspectiva mais global, para que os encontros deixem de ser meramente saudosistas. Há outras coisas que têm de ser abordadas, a nova Macau. Muitos têm saudades de uma Macau que infelizmente já não existe. As novas gerações que não têm nada a ver com a Macau do passado podem ver as oportunidades que esta nova Macau pode trazer.”

A visita a Foshan é, na visão do presidente da APIM, um exemplo disso. “As autoridades chinesas sabem da existência do Encontro e dão-lhe importância. O Encontro é uma oportunidade para mostrar as grandes potencialidades que a China pode oferecer”, concluiu.

Programa provisório 

23/11/2019 (Sábado) 

Boas Vindas aos participantes no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes     

10h00  –  Secção  Cultural  promovida  pelo  Instituto  Internacional  de  Macau  (IIM),  no  Centro  de  Ciência de Macau    

14h30  –  Conferência sobre gastronomia no Centro de Ciência de Macau      

16h00 – Lançamento do Livro “Macau: Cultural Tourism and Macanese Gastronomy” de Maria João  Salvador dos Santos Ferreira no Centro de Ciência de Macau      

19h00  –  Sessão  Solene  de  Abertura  no    Kashgar  Ballroom,  Hotel  Sheraton  Grand  Macao  ‐Cotai  Central      

25/11/2019 (2ª Feira) 

09h00  –  Concurso de Cozinha Macaense no Centro de Actividades Educativas da Taipa sita na Rua  de Bragança, Nova Taipa Garden, Lotes 24‐26, Taipa      

09h30  –  Reunião do Conselho Geral na sede do CCM      

18h00  –  Recepção na residência do Cônsul Geral de Portugal na RAEM para as delegações das Casas  de Macau e da Comissão Organizadora      

26/11/2019 (3ª Feira) 

10h00  –  Cerimónia  junto  ao  Monumento  de  Homenagem  à  Diáspora  Macaense:  (Apenas  para  dirigentes das Casas. Para  os  restantes  participantes:  Visita  guiada  por  especialistas  do  Instituto  Cultural  de  Macau a locais de interesse histórico) 

11h30  –  Visita  ao  Gabinete  de  Ligação  do  Governo  Central  da  China  em  Macau:  (Somente  para  dirigentes das Casas) (a confirmar)      

15h00  –  Secção fotográfica junto às Ruinas de São Paulo      

18h00  –  Missa e Te‐Deum na Sé Catedral      

27 e 28/ 11 (Quarta e Quinta-feira)

08h00  –  

Passeio Turística à Grande Baía (Fat San) com o apoio do Gabinete de Ligação do Governo  Central da China em Macau      

29/11/2019 (6ª Feira) 

19h30  –  Festa  de  encerramento  no  Grand  Hall,  4º.  Andar  da  Torre  de  Macau,  em  moldes  que  permitam o convívio dos participantes ao Encontro com familiares e amigos

22 Nov 2019

Comunidades macaenses | Encontro é o maior de sempre e olha para a Grande Baía 

A celebração dos 20 anos do estabelecimento da RAEM pode ter feito da edição deste ano do Encontro das Comunidades Macaenses o maior de sempre, uma vez que são esperadas cerca de mil pessoas oriundas de Macau e da diáspora macaense. A agenda inclui conversas sobre cultura e gastronomia, sem esquecer a reunião do Conselho Geral do Conselho das Comunidades Macaenses. A ideia é ir além do saudosismo e olhar para o futuro, que passa pelo projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau

 
[dropcap]A[/dropcap] cada três anos o mês de Novembro transforma-se no mais importante para a comunidade macaense a viver dentro e fora de Macau. Este sábado arranca mais uma edição do Encontro das Comunidades Macaenses, organizado pelo Conselho das Comunidades Macaenses (CCM).
Esperam-se cerca de mil pessoas distribuídas pela diáspora macaense, pelas várias casas de Macau, e também aqueles que residem em Macau. O cartaz é composto por eventos de ordem cultural, incluindo a apresentação de estudos e debates em torno da gastronomia macaense. Está também prevista uma viagem a Foshan, na China, no âmbito do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.
“Temos uma sessão cultural no Centro de Ciência de Macau, em que a parte da manhã é da responsabilidade do Instituto Internacional de Macau (IIM) e a parte da tarde é da nossa responsabilidade, do CCM. Essa parte é dedicada à gastronomia macaense, pelo valor intrínseco que tem, com características muito especiais, e que é reconhecido em Macau como património imaterial, mas também outros aspectos ligados ao substracto cultural da gastronomia macaense, as influências que teve ou deixou de ter”, contou José Sales Marques, presidente da Comissão Organizadora, ao HM.
Nesse debate haverá três intervenções. Uma delas de Anabela Jackson, jornalista e investigadora, que apresenta um projecto financiado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) que se traduz num livro onde são abordadas “as mais profundas das influências culturais da gastronomia macaense”.
Rodrigues Simões irá apresentar “uma visão muito interessante da história da gastronomia macaense, e que vai trazer ao debate uma visão muito própria da origem do minchi”. Maria João Ferreira, doutorada em Turismo, irá apresentar o seu livro “Turismo Cultural e Gastronomia Macaense”. A autora vai também falar sobre as origens do peixe salgado. “Trata-se de uma questão interessante e que está ligada às suas investigações”, acrescentou Sales Marques.
Nos dias 27 e 28 acontece uma visita a Foshan, uma espécie de “visita de estudo sobre a área da Grande Baía”.
Foshan é, de acordo com Sales Marques, “considerada quase como um pólo da cultura desta área, com uma grande influência sobre aquela parte cultural de origem cantonense que todo o macaense tem”. “Vai ser uma descoberta importante do ponto de vista cultural e também do ponto de vista de que essa cidade constitui um eixo de grande relevância com a cidade de Cantão. É um dos pólos importantes da Grande Baía”, acrescentou.
A edição deste ano custa entre cinco a seis milhões de patacas, dinheiro obtido graças a apoios públicos e privados, da parte da Fundação Macau, Sociedade de Jogos de Macau ou do próprio Banco Nacional Ultramarino.
Sales Marques assegura que a verdadeira importância destes encontros é a parte efectiva com uma terra de muitos e “a oportunidade que se cria de juntar em Macau pessoas de várias gerações”.

Olhar os jovens

O Encontro das Comunidades Macaenses fica também marcado pela realização da reunião do Conselho-geral do CCM, que acontece a cada três anos. Fátima dos Santos Ferreira é vice-presidente e diz esperar que se olhe cada vez mais para os jovens.
“Deve haver mais hipóteses para os jovens participarem porque temos de começar a preparar os jovens para passar o testemunho. Acho que é importante haver jovens intervenientes neste processo senão a comunidade desaparece.”
Sobre o Encontro, Fátima dos Santos Ferreira assume que tem “a maior participação de sempre”. “As expectativas são sempre grandes, porque há mais pessoas a participar. Este ano registou-se o maior número de inscrições. Não sei se é por causa dos 20 anos de transferência de soberania, pode haver pessoas que há muito tempo não vêm a Macau. Mas não tenho dados”, frisou.
Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), assegura que “as expectativas são sempre boas”. “Estamos em plena RAEM, que faz 20 anos, e a RAEM continua a apoiar este Encontro, que é muito importante para a afirmação da comunidade local e da diáspora.

Julgo que o Encontro deste ano tem muito significado, pois é importante que os macaenses que estão na diáspora saibam que em Macau a comunidade continua viva e a ser uma referência”.

Problemas do costume

Sobre a reunião do Conselho-geral do CCM, Miguel de Senna Fernandes falou das necessidades das casas de Macau receberem mais apoios da RAEM. “Sabemos das limitações existentes, e é importante reconhecê-las, mas há uma vontade de que as coisas funcionem. As casas de Macau têm perfeita noção das dificuldades existentes.”
“Em Macau as associações de matriz portuguesa têm acesso a um ou outro subsídio, mas noutras casas as condições são completamente diferentes. Há boa vontade, mas falta a parte financeira e isso dificulta muito a realização dos seus fins. Nem todas as casas de Macau têm a mesma flexibilidade”, acrescentou Miguel de Senna Fernandes.
A título de exemplo, o advogado destaca o Clube Lusitano da Califórnia como um dos mais activos. “Era bom que a RAEM pudesse dar uma mão para que estas casas pudessem no mínimo ter acesso a algum apoio financeiro para a realização dos seus fins. Compreendo as suas dificuldades.”
O responsável pede também uma flexibilização dos estatutos do CCM. “Devemos flexibilizar a maneira como vamos reunir, ainda mais por causa do número de participantes. Talvez isto pudesse ser discutido. Devemos tornar as reuniões o mais flexíveis possível no aspecto decisório, que é fundamental. Precisamos reunir o consenso de todos, se não fosse por causa do encontro, alguma questão que se coloque antes ou depois do encontro, como vai ser? Como se processa a deliberação?”, questionou Miguel de Senna Fernandes.

Contra o saudosismo

Muitos participam em todos os Encontros das Comunidades Macaenses com uma perspectiva saudosista, em busca de conhecer melhor a terra dos seus pais ou dos seus avós, ou para recordar tempos que não voltam. Mas Miguel de Senna Fernandes pede que se olhe para o futuro.
“Devemos aproveitar esta ocasião para apresentar Macau numa perspectiva mais global, para que os encontros deixem de ser meramente saudosistas. Há outras coisas que têm de ser abordadas, a nova Macau. Muitos têm saudades de uma Macau que infelizmente já não existe. As novas gerações que não têm nada a ver com a Macau do passado podem ver as oportunidades que esta nova Macau pode trazer.”
A visita a Foshan é, na visão do presidente da APIM, um exemplo disso. “As autoridades chinesas sabem da existência do Encontro e dão-lhe importância. O Encontro é uma oportunidade para mostrar as grandes potencialidades que a China pode oferecer”, concluiu.

Programa provisório 

23/11/2019 (Sábado) 

Boas Vindas aos participantes no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes     

10h00  –  Secção  Cultural  promovida  pelo  Instituto  Internacional  de  Macau  (IIM),  no  Centro  de  Ciência de Macau    

14h30  –  Conferência sobre gastronomia no Centro de Ciência de Macau      

16h00 – Lançamento do Livro “Macau: Cultural Tourism and Macanese Gastronomy” de Maria João  Salvador dos Santos Ferreira no Centro de Ciência de Macau      

19h00  –  Sessão  Solene  de  Abertura  no    Kashgar  Ballroom,  Hotel  Sheraton  Grand  Macao  ‐Cotai  Central      

25/11/2019 (2ª Feira) 

09h00  –  Concurso de Cozinha Macaense no Centro de Actividades Educativas da Taipa sita na Rua  de Bragança, Nova Taipa Garden, Lotes 24‐26, Taipa      

09h30  –  Reunião do Conselho Geral na sede do CCM      

18h00  –  Recepção na residência do Cônsul Geral de Portugal na RAEM para as delegações das Casas  de Macau e da Comissão Organizadora      

26/11/2019 (3ª Feira) 

10h00  –  Cerimónia  junto  ao  Monumento  de  Homenagem  à  Diáspora  Macaense:  (Apenas  para  dirigentes das Casas. Para  os  restantes  participantes:  Visita  guiada  por  especialistas  do  Instituto  Cultural  de  Macau a locais de interesse histórico) 

11h30  –  Visita  ao  Gabinete  de  Ligação  do  Governo  Central  da  China  em  Macau:  (Somente  para  dirigentes das Casas) (a confirmar)      

15h00  –  Secção fotográfica junto às Ruinas de São Paulo      

18h00  –  Missa e Te‐Deum na Sé Catedral      

27 e 28/ 11 (Quarta e Quinta-feira)

08h00  –  

Passeio Turística à Grande Baía (Fat San) com o apoio do Gabinete de Ligação do Governo  Central da China em Macau      

29/11/2019 (6ª Feira) 

19h30  –  Festa  de  encerramento  no  Grand  Hall,  4º.  Andar  da  Torre  de  Macau,  em  moldes  que  permitam o convívio dos participantes ao Encontro com familiares e amigos

22 Nov 2019

Hong Kong | MNE português diz estar a acompanhar “com cuidado e atenção” evolução da situação em Macau

[dropcap]O[/dropcap] ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse hoje que Portugal está a acompanhar com “cuidado e atenção” a evolução da situação em Macau, no seguimento da onda de protestos violentos em Hong Kong.

“Acompanhamos ainda com mais cuidado e atenção a evolução da situação em Macau, que continua calma, estável e tranquila”, afirmou Santos Silva aos jornalistas portugueses, em Bruxelas, quando abordado sobre a situação registada há meses em Hong Kong.

Falando no final de uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), o governante indicou que, em Macau, “estão a ser cumpridas todas as regras constantes da lei base e, portanto, as condições em que foi acertada a transição da administração de Macau de Portugal para a República Popular da China”.

De acordo com o ministro, Portugal monitoriza, também diariamente, a situação em Hong Kong. “Não se passa dois ou três dias sem que eu fale directamente com o cônsul de Portugal em Hong Kong, que é o cônsul em Macau, e diariamente o meu gabinete está em contacto com o consulado”, referiu Santos Silva aos jornalistas.

O ministro precisou que, “a esta hora”, o Governo português não tem “nenhuma notícia de portugueses envolvidos ou que tenham sido prejudicados pelos acontecimentos, infelizmente, bastante graves que têm ocorrido nessa região em especial”.

“O consulado, em devido tempo, contactou as pessoas para que os portugueses que residem em Hong Kong nos fornecessem todos os elementos de identificação e de localização para que, se for necessário ajudá-los, a ajuda seja rápida e eficiente”, adiantou Augusto Santos Silva.

Segundo números do Governo, existem em Hong Kong perto de 20 mil residentes com nacionalidade portuguesa e chinesa, além de cerca de mil emigrantes.

“Não temos, felizmente, até hoje notícia que algum deles tenha sido de algum modo prejudicado por estes acontecimentos, para além evidentemente do prejuízo geral, que resulta do que tem acontecido em Hong Kong”, adiantou Santos Silva.

A crise em Hong Kong é a pior desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

A contestação política em Hong Kong foi desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, formalmente retirada, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, Carrie Lam, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.

21 Nov 2019

Medicina | MUST na Aliança Mundial de Escolas dos PLP

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa) tornou-se membro fundador da Aliança Mundial de Escolas de Medicina dos Países de Língua Portuguesa. De acordo com um comunicado oficial, a aliança foi celebrada por 13 universidades de países de língua portuguesa e Macau, onde se inclui as universidades do Porto e de Lisboa.

Manson Fok, director da Faculdade de Medicina da MUST, a Aliança tem como objectivos a integração dos recursos humanos formados em medicina nas instituições de saúde desses países, a fim de promover o intercâmbio cultural e académico.

“Este acordo é um marco histórico que abriu a porta em termos de colaboração mundial entre o Governo da RAEM e as escolas de medicina dos países lusófonos. Vamos escrever uma nova página do desenvolvimento da medicina”, frisou o responsável.

A Faculdade de Medicina da MUST foi criada em Março deste ano, sendo que a primeira turma possui 49 alunos. O curso, que começou em Setembro, tem 80 por cento dos alunos de Macau, com os restantes oriundos da China, Hong Kong, Taiwan e países lusófonos.

21 Nov 2019

Técnicos acusados por falsificação de testes na ponte Ponte HKZM   

[dropcap]F[/dropcap]oram ontem considerados culpados doze técnicos de uma empreiteira contratada pelo Governo de Hong Kong por falsificação de testes da mega ponte que liga Macau, Hong Kong e Zhuhai, inaugurada há um ano, noticiou o South China Morning Post.

O Tribunal Distrital considerou que os funcionários do laboratório da Jacobs China Limited, empresa responsável por analisar a força dos materiais utilizados na construção da mega ponte, foram culpados por um caso de fraude que custou aos cofres do Governo de Hong Kong 58 milhões de dólares de Hong Kong.

Seis dos funcionários do laboratório já se tinham declarado culpados, os 12 que se declararam inocentes, e que foram ontem condenados, afirmaram que seguiram ordens para corrigir os resultados dos testes alterando os registos do computador, substituindo as amostras verdadeiras por falsificadas.

Os arguidos disseram ainda, segundo o mesmo jornal, que não sabiam que estavam a incorrer num crime. Uma justificação que não foi aceite pelo juiz daquele tribunal. Segundo o juiz, os réus estavam cientes da diferença entre “corrigir erros” e “encobrir erros”, tendo cometido o crime de forma consciente.
Esta quinta-feira o juiz vai ouvir os advogados de defesa que vão procurar atenuar as penas que podem ir até aos 32 meses de prisão.

O caso, lembrou o South China Morning Post, teve início em Maio de 2017 quando a Comissão Independente Contra a Corrupção deteve 21 funcionários da Jacobs Chin, depois daquele órgão de fiscalização ter acusado a empresa de falsificar, entre 2012 e 2017, 384 relatórios de testes dos materiais da mega ponte que liga Macau, Hong Kong e Zhuhai. Dois dos 21 funcionários foram libertados sem qualquer acusação, dos restantes, seis já se declararam culpados e os restantes 12 foram ontem condenados.

21 Nov 2019

A questão da cibersegurança (II)

“The Internet is the first thing that humanity has built that humanity doesn`t understand, the largest experiment in anarchy that we have ever had”.
Eric Schmidt

 

[dropcap]A[/dropcap] dissuasão por punição, por outro lado, depende da capacidade de contra-atacar. É de argumentar que se o atacante sabe que a retaliação seria “certa, severa e imediata”, isso o dissuadirá. A questão é se a dissuasão cibernética pode funcionar da mesma forma que a dissuasão nuclear. A dissuasão nuclear funciona porque ambos os lados conhecem com bastante precisão a natureza, o tamanho e o escopo do arsenal nuclear um do outro e os meios de provimento. Durante décadas, as negociações sobre controlo de armas foram focadas em questões como transparência e verificabilidade dos arsenais uns dos outros.

Foram desenvolvidas “Medidas Detalhadas de Fortalecimento da Confiança Nuclear (MGCs na sigla inglesa)”, com base na verificação. Foram feitas tentativas para compreender as doutrinas nucleares uns dos outros e no caso nuclear, os actores eram poucos (actores não estatais não possuíam armas nucleares).

Assim, no ciberespaço, a situação é muito diferente pois, não há transparência sequer sobre o que significa um ataque cibernético. Não existe uma definição acordada de arma cibernética, bem como não há meios de verificação. Vários actores operam no ciberespaço com total anonimato. Os cépticos salientam que a dissuasão cibernética falhará devido à falta de imputabilidade no ciberespaço. No ciberespaço, onde o anonimato é a chave, é difícil identificar com precisão quem é o atacante. A não atribuição é a fraqueza fundamental do argumento da dissuasão cibernética. Existe, no entanto, alguma literatura que sugere que o problema da atribuição pode ser ultrapassado mais cedo ou mais tarde. Tais afirmações são, no entanto, não verificáveis actualmente. Para que a dissuasão cibernética seja significativa, um país teria de definir os seus limiares através de sinalização adequada.

Teria de indicar os seus limiares cibernéticos e alguma ambiguidade será, sem dúvida, deliberada. No entanto, um potencial atacante deve saber que a retaliação seria grave e inaceitável se uma determinada linha vermelha fosse ultrapassada. A indicação de linhas vermelhas dependerá das capacidades, intenções e interesses de um país. Hoje, porém, as linhas vermelhas estão ausentes e por exemplo, a ciberespionagem, dirigida contra alvos militares e não militares, deveria ser tratada como um acto de guerra cibernética? Será um ataque às redes bancárias, bolsas de valores e de energia um acto de guerra? A ciberespionagem merece um contra-ataque? A retaliação deve ser feita no ciberespaço ou por outros meios? Com perguntas-chave sem resposta ter uma dissuasão cibernética na linha da dissuasão nuclear parece difícil.

O “Manual de Tallinn 1.0”, originalmente chamado “Manual de Tallinn sobre o Direito Internacional Aplicável à Guerra Cibernética”, trata de cenários de conflito no ciberespaço onde o direito internacional se aplicaria. Embora o “Manual de Tallinn” não seja um documento oficial, o seu trabalho é patrocinado pela “Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)” e outros países. Actualmente, está a ser elaborada uma segunda versão com o nome de “Manual de Tallinn 2.0”. Trata da aplicação do direito internacional ao ciberespaço em tempo de paz. Uma reunião realizada em Haia, de 2 a 3 de Fevereiro de 2016, tratou destas questões.

Durante as discussões, foram feitas tentativas de criar uma lei diplomática para o ciberespaço. Foi sugerido que o ataque aos sistemas informáticos de uma embaixada estrangeira deveria ser proibido por lei. Foi também afirmado que a intervenção no ciberespaço pode ser permitida em determinadas circunstâncias.

Assim, por exemplo, do ponto de vista da Índia, o “Manual de Tallinn”, embora seja um exercício útil, não reflecte a legislação existente sobre o assunto devido à ausência de práticas estatais que são críticas ao desenvolvimento do direito internacional consuetudinário. Apesar destas dificuldades, os países estão a avançar com a incorporação da cibersegurança nas suas doutrinas militares. Tais doutrinas postulam que um país, ao exercer o direito defesa, poderia retaliar a um ataque cibernético por ciberataques ou qualquer outro meio. A “Estratégia Nacional dos Estados Unidos” diz que poderiam usar ferramentas cibernéticas ou outros meios para retaliar ataques cibernéticos. O problema dos ciberataques não pode ser visto isoladamente.

Actualmente, o ciberespaço está interligado com outros domínios da guerra, nomeadamente a terra, água, ar e o espaço. Este entrelaçamento implica que os ciberataques não serão vistos apenas como tal.

A retaliação sob forma não cibernética, ou seja, a retaliação através de meios não cibernéticos, incluindo possivelmente meios militares, não pode ser excluída. Os ciberataques, como meio de guerra, apenas alargariam o domínio da batalha. A ciberguerra pode induzir os países a optar por uma dissuasão total do espectro. A ciberguerra é um conceito contestado. A ciberespionagem, ataque a infra-estruturas críticas, etc., são acontecimentos rotineiros no ciberespaço. Até agora, não foram utilizados meios militares para deter os ataques. Também não foram utilizadas sanções económicas porque a atribuição de um ataque cibernético tem sido muito difícil. Além disso, muitas vítimas sentem receio de denunciar ciberataques. Tais incidentes não têm sido considerados como actos de guerra até agora, porque não existe uma definição de guerra cibernética. Se um ataque cibernético é visto como um componente da guerra cibernética dependerá do contexto do ataque.

Os autores do “Manual de Tallinn” lutaram durante muitos anos para chegar a algumas definições aceitáveis, mas o progresso tem sido lento. A Índia por exemplo, não pode ignorar estes desenvolvimentos. O uso da Internet está a espalhar-se rapidamente na Índia e embora a penetração da Internet no país ainda seja baixa, quase quatrocentos milhões de pessoas estão a usar a Internet. A Índia digital levará a Internet de banda larga a todas as aldeias. A revolução na conectividade está a varrer a Índia com mil milhões de assinantes de cartões SIM. O futuro progresso e crescimento da Índia estão ligados à expansão da rede digital, superando as disparidades digitais e garantindo que políticas robustas de segurança cibernética sejam adoptadas desde o início.

A Índia tomou várias medidas no passado recente para fortalecer as suas capacidades de defesa cibernética sendo de mencionar algumas como uma política nacional de segurança cibernética que foi anunciada e está a ser implementada; uma elaborada estrutura nacional de garantia da segurança cibernética que está em fase de implementação; a nomeação do “Coordenador Nacional de Segurança Cibernética”; a coordenação entre várias agências melhorou; foi criado um “Centro Nacional de Protecção de Infra-estrutura de Informações Críticas (NCIIPC na sigla inglesa)”; existe um diálogo regular com os principais sectores da economia; está a ser construída uma parceria público-privada; existe um diálogo activo entre o governo e o sector privado; está a ser criado um “Centro Nacional de Cibercoordenação (NCCC na sigla inglesa)”; estão a ser envidados esforços para desenvolver as competências em matéria de cibersegurança no país; novos cursos de cibersegurança estão a ser introduzidos nas faculdades; a política de “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)” em matéria de cibersegurança também tem sido objecto de consideração activa por parte do governo.

A “Equipa Indiana de Resposta a Emergências de Computadores (CERT-In na sigla inglesa)” criada em 2004, realizou um trabalho significativo no tratamento de incidentes cibernéticos, bem como na sensibilização. A Índia está a desenvolver uma ciberdiplomacia activa, estabelecendo diálogos sobre cibersegurança com vários países e participando em vários fóruns internacionais, incluindo a ONU sobre cibersegurança. Todos estes esforços sincronizados e coordenados estão a dar resultados. Mas não podemos ser complacentes face às ameaças crescentes e à evolução das tecnologias. Devido ao crescimento explosivo das TIC, é provável que o cenário da cibersegurança continue a ser um desafio. Os países terão de trabalhar arduamente nos vários aspectos da cibersegurança, incluindo os desafios emergentes. Assim como outros países, a Índia também enfrenta a tarefa assustadora de interromper e prevenir ataques cibernéticos nas suas redes.

A Índia terá que estudar de perto a evolução da ideia de dissuasão cibernética. Construir capacidade de dissuasão cibernética implicaria edificar redes robustas que possam ser defendidas, incentivar a P&D abrangente na área de cibersegurança e fortalecer a fabricação nativa de produtos das TIC. Será também necessária uma forte ciberdiplomacia para garantir que a Índia e outros países não sejam os destinatários finais do regime emergente de controlo das exportações das TIC ao abrigo do “Acordo de Wassenaar”. É necessário também analisar de perto os padrões dos ciberataques contra os países e criar medidas de resposta adequadas, incluindo a capacidade de realizar ciberoperações, se necessário.

Alguns países teriam de tomar em conta as doutrinas de cibersegurança cada vez mais assertivas que estão a ser adoptadas por outros países e ajudarão a elaborar as suas doutrinas de cibersegurança. É de salientar que existe uma falta de consenso na comunidade internacional sobre as normas de comportamento no ciberespaço. Estamos em uma fase em que a tecnologia está muito à frente do nosso pensamento sobre as leis e normas cibernéticas. A UNGGE provou ser uma plataforma útil para discutir essas questões, mas a ausência de uma plataforma representativa mais ampla, onde as questões controversas possam ser discutidas e o consenso possa ser alcançado, é evidente pela sua ausência.

Os grupos “ad hoc” que adoptam procedimentos para deliberar sobre agendas de segurança cibernética não construirão necessariamente um consenso. A comunidade internacional precisa de se reunir para discutir como lidar com ameaças no ciberespaço que estão a crescer a cada minuto. A tarefa pode parecer assustadora, mas os países devem reflectir seriamente se o mundo precisa de uma convenção cibernética sobre segurança cibernética. Ao contrário dos outros bens comuns, nomeadamente a terra, mar e o espaço, em que o direito internacional cresceu imediatamente, o ciberespaço continua a ser, em grande medida, ilegal. É necessária uma discussão sustentada por especialistas internacionais para gerar ideias sobre o caminho a seguir para a construção de um consenso sobre questões de cibersegurança.

21 Nov 2019

Hannah, 14 anos de idade

[dropcap]A[/dropcap] CNN entrou ontem no campus da Universidade Politécnica de Hong Kong para dar conta da situação. Entre outros, surge na reportagem o testemunho de uma miúda, que dá o nome falso de Hannah. Hannah tem 14 anos e, confessa, esteve presente em todos os protestos.

Contudo, não se limita a gritar palavras de ordem ou fazer de corpo presente: Hannah tem como missão (ou seja, é utilizada para…) “neutralizar as granadas de gás lacrimogéneo, que a polícia atira, ou atirá-las de volta às autoridades”.

Hannah está ali porque “se confronta um governo autoritário”. Não se percebe se o actual executivo de Hong Kong, se o de Pequim, se o que estará para vir. Ela também não sabe. Sabe, no entanto, que a sua mãe estava lá fora, entre os pais que cercaram também a Universidade Politécnica preocupados com os filhos.

Hannah, de 14 anos, não é, com certeza, uma estudante desta universidade tal como a maior parte dos manifestantes que ali se concentraram e destruíram o estabelecimento de ensino. A mãe devia ser presa. E a filha levar uns tabefes e umas lições de história, política e, já agora, sobre essas coisas chamadas “democracia” e “liberdade”. A ver se estes disparates acabam e os responsáveis pela manipulação destes miúdos são presos e presentes à justiça.

21 Nov 2019

Homem das cavernas

[dropcap]C[/dropcap]omeçávamos a beber logo pela manhã. Dormíamos com uma garrafa ao pé da cama e a primeira coisa que fazíamos ao acordar, à medida que abríamos os olhos, era pegar nela e levá-la à boca, como o bebé faz para encontrar a mama da mãe depois de uma noite agitada, às cegas vai tacteando com os lábios até encontrar o gargalo. Era exactamente assim, mas um pouco ao contrário. Antes que a consciência chegasse, optava-se vigorosamente pela inconsciência, corrida de arranque e pura velocidade para ver quem chega primeiro à meta, cruzam-se em algum lado do corpo e talvez pisquem os olhos. Eu sei que será difícil perceber, mas também não posso explicá-lo de outro modo. Até agora o meu lado inerte e espontâneo tem ganho sempre e espero manter essa hierarquia intacta. Quanto ao que estava dentro da garrafa, não é o mais importante. Vodka, uísque, vinho. Algum licor, os restos de um litro de cerveja. Por vezes, absinto ou tequila, para o choque frontal e sangria do espírito. A receita era a mesma: esquecer o dia que nascia com indiferença e que a cada trago se dissipava dentro de nós. Não falávamos, o limite era o olhar cúmplice ao espelho, como quem acabou de comprar bilhete para o comboio e corre para entrar na primeira carruagem, já em movimento.

Sentávamo-nos no bar e pedíamos o que houvesse de mais forte para amortecer os solavancos da viagem. O dia externo a levantar-se, imparável, sol a entrar pela janela, a garganta calejada e arranhada do álcool e de tudo o que o que tínhamos feito na noite anterior, que não nos lembrávamos. Não existia ressaca porque a substituíamos sempre por nova rodada. As árvores a passarem lá fora, o balanço do vagão a embalar-nos o esquecimento com que se ocupava o viver e o hábito, enquanto o ferro gravava o caminho. Viajávamos quase sempre em pé, no chocalhar do abalo a bebida corria melhor, nem era preciso segurar o manípulo, acompanhávamos o ritmo dos carris até ao fim da linha. Balanço sem fim à vista. E pouca terra.

Quando saíamos para a rua – temos sempre de atestar a adega em algum lugar, não é? – sentíamos as fisgas dos olhares que nos rodeavam, como quem diz: “Lá vem ele!” A todo o momento esperavam pela desgraça, que um eléctrico nos passasse por cima e desse cabo do nosso desejo. Que tropeçássemos no varandim da ponte ou simplesmente que desfalecêssemos ali mesmo, em plena calçada, desfazendo a dupla que afinal se engalfinhava dentro de um só corpo. Mas não, o amor aguentava-nos, o amor pela bebida, a manchar-nos a alma de manhã à noite. Sem variar, trazia mão amiga não para o abraço, mas para o empurrão, combustível para mais uma jornada que nos levava até ao apeadeiro seguinte. Com pouca terra.

Até que apareceu a porta aberta. A luz a entrar. Anos fechado naquela complexidade existencial, podia finalmente sair. O caminho estava ali, delineado, a chamar-me; se escutasse com atenção diria que gritava pelo meu nome, para que lhe esticasse a mão. Apesar da derrota, o ser vigilante que a espaços sobrava cá dentro sempre desejara sair daquele covil, deixando a pele de cobra para trás. Mas agora que podia fazê-lo, hesitava. O que encontraria lá fora? Pensei que a janela de oportunidade não ia durar muito e não estaria aberta para sempre, nem sequer por uma mão cheia de minutos. A decisão teria de ser tomada naquele momento. A solidão era penosa. A vida que o álcool afogava invadia os dias e não deixava aperto para mais, tornando-a vazia para o contacto abissal do outro. A companhia era só o copo na mão. Não havia necessidade de reflexão. Se ainda sobrasse um pouco de lógica, a escolha era óbvia e estava tomada.

Sentávamo-nos no bar e pedíamos o que houvesse de mais forte para amortecer os solavancos da viagem. O dia externo a levantar-se, imparável, sol a entrar pela janela, a garganta calejada e arranhada do álcool e de tudo o que o que tínhamos feito na noite anterior, que não nos lembrávamos.

Despertara, foi isso, sem querer e sem plano. Palavras que desconhecia o significado esperavam do lado de lá do rebordo entreaberto. O limiar primário tinha agora uma fresta para o amanhã. E tanta ilação desnecessária quando devia apenas andar. “Anda!”, pediam as pernas, velejadas no ímpeto do sofrido de uma rotina desagregada e encolhida. Não ficava ninguém para trás, os anos passavam e a imaginação era o meu único segredo. E a fenestra, ali, a vivificar todas as minhas ausências. Iria encontrar o abraço, o sabor sonhado do beijo. “Vai!”, pedia-me o corpo. A soletrar a partida, passo a passo, percorrendo factos e seriedades. A caixa escura esventrada à luz universal. Floresta densa, estrelas e varandins, por onde se pode escorregar para o transeunte sedento aplaudir. “Lá vem ele!” Paisagens que dão nome aos sentimentos. Iluminação natural, uma cabine ampla e amortecida. Saía ou entrava? O motivo da dúvida obscurecia a evidência transformada em tentação. O fruto da árvore infinita, de múltiplos ramos, escolhas sem restrição, equações vorazes. E como era difícil a preferência, assim como era a extinção.

Que ponto era aquele? Não tinha reparado nas tabuletas, o cobrador não viera picar o bilhete. Teria adormecido na viagem, parado no destino e sem saber voltara para a origem, para debicar a mama da mãe? Os solavancos, uma leve dor de cabeça que trazia o sintoma nunca vivido do rebentar da presença em bruto e não líquida. Sim, a vista dali era curta e sem pretensões. Era pouca, a terra. A vida era deglutida de uma só vez pela preguiça. Sombra nos tímpanos, tacto mórbido, idioma encortiçado. O esperado ocorria entre os limites mais rasteiros e o despertar não trazia vantagem. No dia não se via o céu. Inverno. Verão. Era igual. Já nem o frio se sentia, quanto mais o calor. A capacidade vestia a definição, não se movia, não iluminava. Alambiques, tonéis, dornas. Definido em centilitros e copos de dois dedos, o alimento era a suficiência. O tempo, a chegada. “Sair?” A dúvida a anoitecer e a abrir a cama. “É isso que tu queres?”, falava o corpo, falava o vício. A porta escolhida na calha da resolução, quadrada, despida. A mente não ordenava, a estática sofria por ficar. A mudança desconhecida penetrava na inexatidão, amortecendo a humanidade e devolvendo o futuro. Para quê sair se cá dentro existia todo o universo, lá fora haverá alguém? Haverá mundo? Não há, com certeza.

21 Nov 2019

Regressar a quê

20/11/2019: sete da manhã

 

[dropcap]D[/dropcap]efinitivamente, em Moçambique não se deseja a visita do estrangeiro. Há um ano e picos, um paquete atracou a duzentos metros de Maputo e cerca de 500 turistas pediram vistos para visitar a cidade. Sem explicação, foram corridos com uma nega, e assim se impediu também que o comércio local tivesse um dia mais feliz. Autorizar que tantos estrangeiros, de uma vez só, se inteirassem sobre a floração vermelha das acácias, a escassez do comércio, os escaninhos, as grades, e as capulanas made in Taiwan da cidade, não interessava às autoridades; menos ainda que os turistas solteiros alegrassem as putas da ex-rua Araújo.

Maputo é uma bela e pacata cidade, apesar da decadência, assim classificada por um amigo meu que chegou com a mulher de jipe, desde o Cairo, depois de ter atravessado África inteira: mas isto é Paris, é aqui que ficamos! Tem, portanto, algum encanto. Mas as autoridades detestam as brisas do cosmopolitismo, mesmo que com prejuízo do turismo.

É uma das coisas que explica o absurdo de se ter aumentado os vistos de visita ao país para 200 euros – isto depois da solidariedade internacional que o país recebeu por causa do Ciclone Idai, que devastou um terço do país.

A minha filha mais velha, para me visitar, tem de escolher entre comprar um pacote de uma semana de visita a Puerto Rico, para ela, marido e filhos, por mil euros, ou vir a Moçambique gastar oitocentos euros só nos vistos de entrada.

É isto que me vem ao sair do avião e ao entrar na sala de controle das entradas no país, onde se têm de preencher formulários à mão com a mesma exacta informação que depois ao balcão a digitalização dos documentos introduz no sistema, e onde diante das enormes filas de visitantes se deixam mais de metade das cabinas que podiam acolher funcionários da alfândega vazias, de modo a tornar mais árdua a entrada no país. Depois de dez horas de avião, no meu caso, eis-nos escamados de modo maneirinho neste peditório, numa banca ao sol (também o ar condicionado se mostra arredio), no mínimo uma hora, para aprendermos de imediato que aqui só a resiliência pode germinar.

Finalmente entramos no país, como se um tremendo favor nos tivesse sido concedido.

20/11/2019: dez da manhã

Arrumo na estante os livros que trouxe de Portugal e constato que a grande percentagem dos autores que comprei são mulheres: Olga Tokarczuk, Ali Smith, Linda Lê, Hélia Correia, Anne Carson, Nathalie Heinich, Luísa Freire, Isabel Nogueira, Annie Ernaux. Mesmo os oferecidos, como o último da Rita Taborda Duarte, ou os que planeava comprar, como o livro com que a Tatiana Faia ganhou agora o Prémio Pen, ou os últimos da Dulce Maria Cardoso, e que o problema com o peso da minha carga adiou para uma próxima, são igualmente de mulheres. Definitivamente, há na literatura deste momento ou no pensamento uma vaga que se pronuncia no feminino e que me parece mais fecunda do que aquilo que os criadores masculinos andam a fazer.
Outra coisa constato, a avaliar pela explosão capilar de livrarias de livros de fundo em Portugal: a indústria do livro está em profunda agonia, embora não veja ninguém a querer reflectir sobre isso.

20/11/2019: 13 h

Não faço a menor ideia a que país regresso. As notícias abafam-se. O que realmente se passa no norte ou no centro de Moçambique é filtrado e vivemos numa bolha alheada da “verdadeira realidade” que nos acena lá fora, à espera de oportunidade para entrar.

Num livro intitulado Um Espião na Casa do Amor e da Morte (Lisboa, Arranha-Céus, 2015) escrevi: «Só na Beira, o livro de ocorrências do Gabinete de Apoio à Mulher e Criança Vítima de Violência Doméstica, registava cento e sete casos de crianças “perdidas e achadas” para o período de Janeiro a Maio de 2010. Imagine‑se este número multiplicado pelas cidades e pelos distritos do país – milhares de crianças desprovidas, famintas, que adquirem cedo a morfologia da sobrevivência e se movem na sombra como a lava de um vulcão iminente.

Não nos parece que este exército na sombra sucumba inteiro à gadanha da malária e admitimos, com alguma apreensão, que aquilo que Moçambique neste momento produz com maior vigor industrial sejam batalhões de moluenes (os miúdos rua), que um dia, como os gafanhotos das pragas do Nilo, marcharão rumo às cidades.

E uma situação da qual toda a gente parece alheada: ninguém ousa imaginar o suficiente. Entretanto, muitos desses moluenes serão com certeza recrutados para as fileiras militares da Renamo, um partido que, apesar de ter assento na Assembleia da República, não desmobiliza o seu exército… », ou, diria agora, para quaisquer bandos de insurgentes, como os que actualmente tornam Cabo Delgado um pasto para decapitações, a cobro de ainda não se sabe que reivindicações políticas.

É a este país que se esconde sob o tapete, no gesto suicida de fugir a quaisquer esforço de análise das condições com que compromete o seu futuro, que regresso, o que me faz citar a Rita Taborda Duarte: «Eu regressado a ti pela garganta/ por um fio esgarçado de vida/ e tu sorrindo sempre – cabra – do eufemismo/ com que chamam fio/ à corda que entrançaste no meu pescoço».

21 Nov 2019

O bem e o mal existem

[dropcap]A[/dropcap] crónica desta semana inicia-se com um jogo náutico. Imaginemos que o navio Y “navega de Portugal para o Brasil”. Consideremos depois “todas as distâncias percorridas com a ajuda do vento leste através do sinal + e aquelas percorridas com a ajuda do vento oeste através do sinal -”. A navegação por semana corresponderia a ‘+12+7-3-5+8’ = 19 milhas. Seria esta, portanto, a distância que o navio Y haveria de percorrer na direcção do oeste”.

Este jogo não foi retirado das prateleiras de uma sucessora da antiga ‘ToysRUs’. Não, ele pertence a um ensaio de Kant, publicado em 1763, acerca da natureza das grandezas negativas em áreas tão diversas que vão da matemática à chamada “filosofia moral” (ou à ética).

O ensaio pretendia demonstrar que as “grandezas negativas” não são apenas negações das “grandezas positivas”, na medida em que têm sempre autonomia e vida própria. Um exemplo óbvio recai no facto de a dor não ser uma ausência do seu oposto (o prazer), mas, antes pelo contrário, algo bem real que age e se faz sentir de forma independente. Se saltarmos para as águas da ética, poderemos afirmar precisamente o mesmo do mal: ele não é o oposto do bem, mas sim o resultado de uma acção que apresenta uma lógica própria, mesmo se aberrante.

Uma pessoa pode ter a consciência de um determinado bem (por exemplo, não mentir à pessoa A na situação X) e praticar literalmente o seu oposto. Na realidade, todos nós habitamos este aquário de possibilidades que se assemelha a uma simetria de opostos (no meio de um ajardinado mais vasto, como é evidente). Razão por que o mal e o bem se opõem num mesmo plano, tal como acontece com a dor e o prazer ou com o vento leste e o vento oeste.

Para Kant, este dualismo conflitual é inerente a todas as acções humanas. Mas o mais importante centra-se no que poderíamos caracterizar como sendo o ‘lado da fé na humanidade’ que é tão típico do autor. Por outras palavras: a consciência interna do bem tenderia sempre a sobrepor-se e a impor-se à consciência do mal. Estaríamos aqui no chamado terreno da normalidade, aptidão própria da larga maioria dos seres humanos.

Como não existe bela sem senão, toda esta (formosíssima) equação se arrisca, de um momento para o outro, a ficar viciada. Tal acontece porque a matriz generosa dos humanos pode oscilar e até, abruptamente, inverter-se. Entraríamos então no que o autor designou por “mal radical”.

O mal radical habita um sujeito (ou uma intersubjectividade mais vasta) que não deixa de viver conflitualmente entre as possibilidades do mal e do bem. No entanto, a matriz que decide e rege os actos passa a depender da grandeza negativa, ou seja do mal, e não já da grandeza positiva. O sentido das escolhas poderá, pois, tornar-se terrível. O nazismo pressupôs-se e agiu dentro deste território a par de outras práticas de barbárie que nos deixam, no mínimo, pasmados (a nós, pessoas normais).

Li há dias na imprensa um caso que faz realmente eco do mal radical. Tudo se passou em torno de um conhecido historiador russo de nome Oleg Sokolo. Para além de especialista em Napoleão, sempre adorou mascarar-se ao estilo do militar francês do início do séc. XIX e jamais enjeitou imitar a gesta e as posturas do seu amado chefe. Um performer sabedor, numa palavra. E não se pense que estamos face a um louco, muito longe disso. O homem já foi condecorado em França, para além de a Sorbonne o ter como professor convidado, o que não é para todos.

Mas como as histórias, digamos curiosas, têm sempre reversos inesperados, aconteceu que, há duas semanas, a polícia de S Petersburgo descobriu o homem caído nas águas de um rio e tentou socorrê-lo. Surpresa das surpresas, o senhor Sokolov não estava sozinho, pois tinha consigo, dentro de um saco, os restos de uma mulher que acabara de matar e de esquartejar (uma jovem de 24 anos de nome Anastasia Yeshchenko).

O pasmo é aquele instante em que a verdade se torna insuportável e não apenas aberrante. Subitamente, é como se o vento leste imaginado por Kant tivesse devastado o navio Y e isso acontecesse, não porque a natureza tivesse incorrido num dos seus acasos, mas porque uma mente humana o decidira de modo afirmativo, autónomo e assumido. Será isto o mal radical: uma máquina que dispara, porque o seu ânimo (ou o seu motor) apenas existe para disparar, embora saiba que pode não o fazer.

Este tema levanta sempre um infinito e fecundo reino de polémicas. É o caso da famosa ‘síndrome de Eichmann’, o alegado funcionário que – presumivelmente (haja ironia) – não poderia optar, mas tão-só accionar a máquina sempre e só na mesma (terrível) direcção. Tantos ex-pides que eram apenas funcionários! Tanto demissionista de temíveis leviatãs a que por consciência pertenceram. Já John Locke escrevera, no seu ‘Ensaio sobre o Entendimento Humano’ (1689) que a liberdade se submete à vontade. Ele, que assistiu a uma feroz guerra civil, lá saberia porquê.

P.S. – Escrevi esta crónica no passado dia 13 de Novembro. Dois dias depois, li uma crónica do António Cabrita em que o tema Sokolo também é tratado. A disformidade dos actos do historiador russo é tal que não há tratamento, nem abordagem que os curem. Oxalá muitas outras crónicas lhe caiam em cima com peso de bigorna.

21 Nov 2019

Funcionário do consulado britânico em HK acusa autoridades de tortura

[dropcap]U[/dropcap]m funcionário do consulado britânico de Hong Kong, detido em Agosto e retido na China durante 16 dias, acusou ontem a polícia chinesa de o ter torturado, o que já levou o Reino Unido a pedir responsabilidades.

Numa longa declaração publicada no Facebook, Simon Cheng explica que foi detido na parte controlada pelas autoridades chinesas da estação ferroviária de alta velocidade que liga Hong Kong a Shenzhen, do outro lado da fronteira, e levado para aquela cidade, onde estivera numa viagem de negócios.

Segundo a imprensa estatal chinesa, Cheng foi detido por ter recorrido a prostituição, mas o funcionário do consulado britânico garante que foi apenas fazer uma massagem e que foi a polícia que o obrigou a assinar uma alegada confissão e gravá-la em vídeo.

O jovem adiantou que a polícia o acusou de ser espião do Reino Unido e de ter instigado os protestos antigovernamentais que começaram em Junho passado em Hong Kong e que ainda se mantêm.
Cheng admitiu que apoia o movimento de contestação, mas assegurou que só acompanhava as manifestações no âmbito do seu trabalho e como forma de ajudar o consulado a preparar recomendações de viagem para os cidadãos britânicos.

Durante a sua detenção, refere, terá sofrido ferimentos nos tornozelos, coxas, pulsos e joelhos que o deixaram incapaz de andar durante vários dias, acrescentando que outros jovens de Hong Kong também estavam detidos no mesmo local e poderão ter sido torturados.

“Ainda não recuperei totalmente do trauma”, afirma na rede social, explicando que não fará mais nenhum comentário sobre o caso “por medo de retaliações”.

Trocas “diplomáticas”

Simon Cheng tinha um contrato local que não lhe conferia o passaporte diplomático, mas já não trabalha no consulado britânico de Hong Kong, tendo recebido uma licença remunerada antes da rescisão do contrato.

O jovem adianta que fugiu de Hong Kong para “um terceiro lugar” sem especificar qual, explicando estar a tentar obter asilo e pedindo ajuda para voltar a ter uma “vida normal”.

A denúncia de Simon Cheng levou o secretário de Estado britânico para os Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, a chamar ontem o embaixador chinês em Londres, tendo afirmado à estação pública britânica BBC que se sentia “indignado” pelos “vergonhosos maus-tratos” dados pela China a Simon Cheng.

“Esperamos que as autoridades chinesas analisem (o caso) e responsabilizem os autores”, afirmou Dominc Raab.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China reagiu, entretanto, tendo negado a existência de um incidente diplomático e dizendo que, durante a sua detenção, os direitos de Cheng “foram garantidos” e que ele próprio tinha “confessado a totalidade dos seus crimes”, como referiu o porta-voz do ministério, Geng Shuang.

O porta-voz adiantou que o embaixador chinês em Londres “não vai aceitar” as queixas do Governo britânico e sugeriu que o Reino Unido apresente “uma queixa formal”.

“Esperamos que o Reino Unido seja prudente e pare de interferir nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China, porque isso vai acabar por prejudicar os interesses britânicos”, afirmou Geng.

21 Nov 2019

Mundipharma tenta introduzir de forma irregular opiáceos na China

[dropcap]O[/dropcap]s milhares de processos judiciais norte-americanos que condenaram a companhia farmacêutica Purdue Pharma por falsas declarações sobre opióides não pararam a estratégia da empresa no mercado chinês.

Apesar do colapso das empresas de fármacos norte-americanas da família Sackler, nos Estados Unidos, outra companhia detida pelo mesmo grupo tem estado a usar as mesmas estratégias comerciais das décadas passadas para introduzir o analgésico OxyContin na República Popular da China.

A Associated Press (AP), após entrevistas a antigos funcionários da companhia e depois de consultar nova documentação refere que a empresa afiliada da Sacklers na China – Mundipharma – está a usar a “mesma táctica” utilizada anteriormente em território norte-americano.

De acordo com a notícia da AP, a empresa está a informar os médicos, na República Popular da China, que analgésicos como o OxyContin provoca menos dependência do que outras substâncias opióides que tinham sido comercializadas antes.

Há pouco mais de dez anos, o grupo empresarial da família Sackler usou a mesma táctica nos Estados Unidos através da empresa Purdue Pharma tendo sido acusada de ter prestado falsas declarações sobre os efeitos das drogas perante o tribunal que julgou os casos de dependência.

A Purdue Pharma declarou falência devido aos casos judiciais de que foi alvo, mas, segundo a AP, a Mundipharma está a usar a mesma estratégia apesar da substância em causa representar riscos elevados aos doentes que sofrem de dores crónicas.

Dependências

Nos Estados Unidos, de acordo com dados da Associated Press, mais de 400 mil pessoas morreram de sobredose ou ficaram dependentes das substâncias opioides comercializadas por empresas como a Purdue Pharma.

Na República Popular da China, os directores da Mundipharma pediram aos vendedores para registarem de forma ilegal os relatórios médicos dos pacientes, violando as leis do país.

Alguns antigos membros da empresa disseram mesmo que os funcionários da empresa chegaram mesmo a usar identidades falsas para trabalharem no interior dos hospitais como médicos falsos para prescreverem a mesma substância opioide e que provoca dependência.

A AP investigou mais de três mil páginas de material de instrução usada para treinar os empregados da Mundipharma, além de documentos e registos vídeo obtidos através de três fontes de informação diferentes.

21 Nov 2019