Funcionário do consulado britânico em HK acusa autoridades de tortura

[dropcap]U[/dropcap]m funcionário do consulado britânico de Hong Kong, detido em Agosto e retido na China durante 16 dias, acusou ontem a polícia chinesa de o ter torturado, o que já levou o Reino Unido a pedir responsabilidades.

Numa longa declaração publicada no Facebook, Simon Cheng explica que foi detido na parte controlada pelas autoridades chinesas da estação ferroviária de alta velocidade que liga Hong Kong a Shenzhen, do outro lado da fronteira, e levado para aquela cidade, onde estivera numa viagem de negócios.

Segundo a imprensa estatal chinesa, Cheng foi detido por ter recorrido a prostituição, mas o funcionário do consulado britânico garante que foi apenas fazer uma massagem e que foi a polícia que o obrigou a assinar uma alegada confissão e gravá-la em vídeo.

O jovem adiantou que a polícia o acusou de ser espião do Reino Unido e de ter instigado os protestos antigovernamentais que começaram em Junho passado em Hong Kong e que ainda se mantêm.
Cheng admitiu que apoia o movimento de contestação, mas assegurou que só acompanhava as manifestações no âmbito do seu trabalho e como forma de ajudar o consulado a preparar recomendações de viagem para os cidadãos britânicos.

Durante a sua detenção, refere, terá sofrido ferimentos nos tornozelos, coxas, pulsos e joelhos que o deixaram incapaz de andar durante vários dias, acrescentando que outros jovens de Hong Kong também estavam detidos no mesmo local e poderão ter sido torturados.

“Ainda não recuperei totalmente do trauma”, afirma na rede social, explicando que não fará mais nenhum comentário sobre o caso “por medo de retaliações”.

Trocas “diplomáticas”

Simon Cheng tinha um contrato local que não lhe conferia o passaporte diplomático, mas já não trabalha no consulado britânico de Hong Kong, tendo recebido uma licença remunerada antes da rescisão do contrato.

O jovem adianta que fugiu de Hong Kong para “um terceiro lugar” sem especificar qual, explicando estar a tentar obter asilo e pedindo ajuda para voltar a ter uma “vida normal”.

A denúncia de Simon Cheng levou o secretário de Estado britânico para os Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, a chamar ontem o embaixador chinês em Londres, tendo afirmado à estação pública britânica BBC que se sentia “indignado” pelos “vergonhosos maus-tratos” dados pela China a Simon Cheng.

“Esperamos que as autoridades chinesas analisem (o caso) e responsabilizem os autores”, afirmou Dominc Raab.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China reagiu, entretanto, tendo negado a existência de um incidente diplomático e dizendo que, durante a sua detenção, os direitos de Cheng “foram garantidos” e que ele próprio tinha “confessado a totalidade dos seus crimes”, como referiu o porta-voz do ministério, Geng Shuang.

O porta-voz adiantou que o embaixador chinês em Londres “não vai aceitar” as queixas do Governo britânico e sugeriu que o Reino Unido apresente “uma queixa formal”.

“Esperamos que o Reino Unido seja prudente e pare de interferir nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China, porque isso vai acabar por prejudicar os interesses britânicos”, afirmou Geng.

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