Hoje Macau PolíticaConselho dos Magistrados | Chui Sai Cheong e Eddie Wong reconduzidos [dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo voltou a nomear o irmão, Chui Sai Cheong, e o arquitecto Eddie Wong para o Conselho dos Magistrados do Ministério Público. Apesar de não serem magistrados, os dois ocupam neste órgão cargos destinados a “personalidades da sociedade”, por nomeação do líder do Governo. A escolha é feita sob proposta da Comissão Independente para a Indigitação de Juízes, que tem como membros Lau Cheok Va, ex-presidente da AL, Sam Hou Fai, presidente do Tribunal de Última Instância, Philip Xavier, Vítor Ng, Tina Ho, Ieong Wan Chong e Hoi Sai Iun. Também os membros da Comissão Independente são nomeados pelo Chefe do Executivo.
Hoje Macau China / ÁsiaQuarta ponte sobre o Canal do Panamá vai ser construída por um consórcio chinês [dropcap]A[/dropcap] quarta ponte sobre o canal do Panamá, um mega projecto de 1.420 milhões de dólares adjudicado a um consórcio de empresas estatais chinesas, começará a ser construída a partir do último trimestre deste ano, segundo fontes oficiais panamianas. O projecto da ponte, uma obra que ajudará a aliviar o tráfego na capital panamiana sobre a qual passará uma linha de metropolitano, está a cargo de um consórcio integrado pelas empresas China Communications Constrution Company LTD e China Harbour Engineering Company LTD, divulgou o Governo, em comunicado. A primeira destas empresas foi a encarregada de construir a ponte mais longa do mundo, inaugurada recentemente e que une Hong Kong com Macau e Zhuhai, as três principais cidades do delta do Rio das Pérolas, no sul da China. O concurso para a ponte foi aberto em Junho passado, mas o contrato só foi assinado a 09 de Novembro porque o consórcio ítalo-norte-americano Astaldi-Daelin apresentou uma reclamação que acabou por ser arquivada. A infra-estrutura, que terá um comprimento de 6,5 quilómetros e suportada por tirantes, será construída ao norte da Ponte das Américas, uma das mais emblemáticas do país, situada próximo da entrada do Oceano Pacífico. Além da ponte, as empresas chinesas adjudicaram contratos multimilionários com o Panamá, sobretudo um centro de convenções e um terminal de cruzeiros. O Panamá converteu-se, em Junho de 2017, no segundo país da região, depois da Costa Rica, a entabular relações diplomáticas com a China e actualmente encontra-se em plenas negociações para firmar um tratado de livre comércio com o gigante asiático.
Olavo Rasquinho VozesTempo, clima, aquecimento global e …menopausa [dropcap]É[/dropcap] frequente a confusão entre “tempo” e “clima”, no entanto são conceitos totalmente diferentes. “Tempo” refere-se às condições meteorológicas que ocorrem num dado momento ou num período relativamente curto. Quando falamos de clima já nos estamos a referir aos valores médios das variáveis meteorológicas (temperatura do ar, pressão atmosférica, humidade, nebulosidade, visibilidade, vento, etc.) referentes a um período longo. Assim, por exemplo, ao afirmar que neste momento está muito calor e a chover em Macau ou que em Pequim está muito frio, estamos a referir-nos ao tempo. Por outro lado, se dissermos que Macau é uma cidade sujeita ao regime de monções e que é caracterizada pelo facto de o ar ser geralmente muito quente e húmido nos meses de maio a setembro, já nos estamos a referir ao seu clima. São de tal maneira diferentes estes dois conceitos que para caracterizar o tempo basta conhecer os valores das variáveis meteorológicas num determinado momento, enquanto que para caracterizar o clima são necessários valores médios desses parâmetros referentes pelo menos a… trinta anos! Trinta anos é o período mínimo preconizado pela Organização Meteorológica Mundial, agência especializada das Nações Unidas, para caracterizar as condições meteorológicas médias de uma determinada região ou local. Não é raro ver-se escrito ou ouvir-se em alguns meios de comunicação social que, por exemplo, não se realizou um determinado evento ao ar livre devido às “condições climatéricas”. Esta expressão está de tal maneira arreigada na linguagem corrente que é também frequentemente usada por altos dirigentes do Estado. Nem sequer se recorre ao termo “climáticas” em vez de “climatéricas”, o que seria mais elegante, apesar de continuar a ser errado o seu uso naquelas circunstâncias. Não há nenhum profissional das áreas da meteorologia e da climatologia que utilizem o termo “climatérico” em vez de “climático”, embora alguns dicionários classifiquem estas palavras como sinónimas. Além de que o termo “climatérico” se pode prestar a confusão, pois designa-se por “climatério” o conjunto de sintomas que surgem antes e depois da menopausa. Corre-se o risco de se querer referir ao tempo e acabar-se por falar em… menopausa! Ainda a propósito de tempo e clima, foi muito comentada a nível mundial a seguinte mensagem através do “Twitter” do Presidente dos EUA, Donald Trump: Donald J. TrumpVerified account @realDonaldTrump In the beautiful Midwest, windchill temperatures are reaching minus 60 degrees, the coldest ever recorded. In coming days, expected to get even colder. People can’t last outside even for minutes. What the hell is going on with Global Waming? Please come back fast, we need you! 6:28 PM – 28 Jan 2019 Trump faz referência a um acontecimento meteorológico que consiste no deslocamento para latitudes mais baixas de uma massa de ar ártico muito frio, que circula numa vasta região depressionária, designada por vórtice polar, que permanece quase estacionária na região polar, no hemisfério norte. No inverno passado ocorreu uma destas migrações de ar ártico, o que afetou os Estados Unidos da América durante alguns dias, período em que as condições meteorológicas foram caracterizadas por valores da temperatura do ar extremamente baixas. O que Trump não sabe é que esses valores da temperatura aparecerão completamente diluídos nos tais pelo menos trinta anos que são necessários para caracterizar o clima! No entanto, cético como é sobre o aquecimento global, não perde a oportunidade para criticar o que milhares de cientistas em todo o mundo já aceitaram como verdadeiro. Mas… terá Trump razão para duvidar do aquecimento global e, consequentemente, das alterações climáticas causadas pelas atividades humanas? Na realidade não é só ele a duvidar, pois há mesmo alguns cientistas que partilham esta atitude crítica. Um dos argumentos que os detratores do aquecimento global apresentam em sua defesa consiste no facto de que, em muitos casos, o ambiente envolvente das estações meteorológicas se ter degradado devido à expansão das zonas urbanas. É um facto que as cidades ao crescerem, envolvendo as estações meteorológicas que anteriormente se encontravam em áreas não urbanizadas, poderão influenciar os valores da temperatura do ar. É sabido que as grandes cidades constituem verdadeiras ilhas de calor, falseando os valores que a temperatura do ar deveria ter se as estações meteorológicas não sofressem essa influência. No entanto, este argumento não é muito válido na medida em que também é detetado aumento de temperatura nas estações que permaneceram em ambientes rústicos. Vem até mesmo reforçar o que tem vindo a ser afirmado por milhares de investigadores, que o aquecimento a nível global se deve a atividades humanas. Na realidade, a causa principal do aquecimento global é o aumento da concentração dos gases de efeito de estufa provenientes das atividades humanas desde o início da era industrial, ou seja, desde há mais de cento e cinquenta anos. O conceito de clima é muito mais vasto do que aquele que mencionamos quando comparamos os significados de “tempo” e “clima”. Como afirmam os Professores José Pinto Peixoto e Abraham H. Oort, na obra “Physics of Climate” (publicado em 1992 pelo American Institute of Physics), “the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”. O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasOs pés pelas mãos [dropcap]E[/dropcap]xigiu Donald Trump aos norte-coreanos que eles transferissem todo o seu arsenal nuclear para os EUA, sem explícita garantia de que o guardariam com inigualável segurança e particular atenção à fadiga dos materiais. Acho um plano genial e não vejo motivo para não ter desdobramentos, a todos os níveis. O Brexit, por exemplo, resolvia-se trocando os cidadãos britânicos com os húngaros. Estes, às margens do Tamisa ganhariam a cor louçã dos ingleses e posturas democráticas. Deslocados os problemas, estes deixariam de fazer sentido. Nem todos os britânicos seriam deslocados, Theresa May manter-se-ia na ilha para ensinar os preceitos da etiqueta a Viktor Orbán. A rainha Elisabeth II de Inglaterra, como no youtube a dizem reptiliana, seria substituída pelo melhor ginete cigano de Budapeste – um equídeo, além de especialista no xadrez como o comprovou Swift em As Viagens de Gulliver, enobrece sempre qualquer réptil. Eu próprio já exigi ao meu vizinho de 26 anos, com quem não me dou nada bem e que tem o meu porte, que me ceda o esqueleto dele; em ficando com os meus bicos-de-papagaio baixará a gripa. De Donald Trump só me interessa a cabeleira; dispenso-lhe o “arsenal”, para cogumelo basta o meu. Para compensar, estou a investigar sobre o “pinto” de Leon Tolstoi, e, por intermédio de um espírita amigo, negoceio o nosso transplante de pélvis. À minha mulher há-de agradar esta nova Guerra e Paz! (à mulher do cronista, não confundam sujeito da crónica com o sujeito civil – mas não lhe digam, que é surpresa!) Ah, como serei dedicado e preventivo contra a fadiga dos materiais! E a Putin, por que não exigir o mesmo a Putin, ó Donald? Segredaram-me que os chineses se prontificam a entregar aos EUA toda a tecnologia referente à Inteligência Artificial, desde os segredos da HUAWEI ao fabrico das robots-sexuais que fazem boletins meteorológicos e traduzem os poemas de Li Bai. Cuidado América, esta oferta pode não passar de um cavalo de tróia, embora, nesses domínios, quem melhor para cuidar da fadiga do material? Entretanto, parece que nos campos de golfe de Trump – delataram os funcionários – só ele pode ganhar. Quem lá vai deixar o couro e o cabelo por uns metros de relvado e a codicia dos buracos, tem de ceder à prerrogativa. Os milionários pagam para se comprometer a deixar o boss ganhar. Uma medida digna de Kim Il Sung, avô. Foi o que os terá aproximado da primeira vez? Contudo, agora, Kim ficou ofendido por considerar que a proposta americana apontava para a crença de que haveria nele uma fadiga da inteligência. Foi-me pedido um parecer sobre esta matéria e prometo depois divulgar o meu relatório. Esta semana foi farta em acontecimentos. Escreveu-me a Joice Hasselmann, representante do partido de Bolsonaro no Congresso. Eis o teor da missiva: «Meu caro Cabrita a política é como a pesca ao corrico – lança-se o isco para longe e vai-se puxando, a ver se pica cardume… O Jair Bolsonaro nunca foi desses pescadores que fazem de cegonhas no mercado antes de voltarem a casa. Onde deixa cair o anzol é certinho, só não vêm sereias porque a Michelle não deixa. Mas muito robalo, pirarucu, dourado… até o atum, conhece? O atum prostra-se aos seus pés. E o Jair sabe escolher a melhor minhoca, a corrente do peixe, os ventos favoráveis… com ele não há demoras. Uma genebrazinha apura-lhe o faro, a intuição. Só peixes nobres. Nesse dia foi à pesca, a espairecer, consumia-o a política do PT. Contra os vermelhos, um peixinho de sangue azul, porque ele se põe o anzol, até o lagostim trepa, mesmo o macho… Teria sido escusado ele levar a melhor cana, uma cana de carbono, de quatro metros, que tinha comprado em Montevideo, para ali era desnecessário, mas um homem tem a sua vaidade! Uma cana de carbono, negríssima, com uma flexibilidade que não se via em mais nenhuma. Ainda dizem que o Jair é racista… E estava por ali, na Estação Ecológica de Tamoios, entre Angra dos Reis e Paraty, sossegado a contar as guelras que se iam amontoando no balde e congeminando como salvar o país dos comunistas quando apareceu aquele fiscal, O senhor não pode pescar na Estação, é proibido. Mas sabe quem eu sou, perguntou-lhe o Jair, eu sou o próximo salvador da pátria. Pode ser, mas eu sou do Ibama e hoje tem de tomar multa, 10 mil reais. Olhe que eu vou salvar o país, eu nunca minto! Eu até acredito no senhor, mas lei é lei… e aplicou-lhe a multa. Há dez anos, senhor Cabrita. Eu sei que parece coincidência ser o único fiscal do Ibama exonerado agora que o Bolsonaro chegou ao poder, mas é preciso ser muito caro de pau para achar que neste gesto de despedimento houve ressentimento. Repare, o espírito religioso é o mais apto à defesa do Meio Ambiente e esse senhor não era um simples fiscal mas um Chefe; ao não reconhecer em Bolsonaro o seu dom e a sua missão mostrou como estava despreparado para o cargo que ocupava. Quando Cristo fez secar a figueira que não deu frutos à sua passagem houve todo este sururu? Então? Ainda vai ser estudado: a Parábola do Peixe Ilícito. Sei que o senhor é um jornalista sério, e por isso passe a Palavra. Sua, Joice”
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasTupperware [dropcap]”O[/dropcap] amor é um alimento”, recorda-me o Facebook nas suas memórias. Quem o diz, num vídeo, é Gustavo Santos, o guru que todos amamos odiar. Ontem, no comboio para casa dos meus pais, uma rapariga contava, ao telefone: “Sabes aquela marmita? A minha mãe encheu-a de salsichas e molho.” Eu própria regressei coleccionando mais um tápáruére, como se diz em bom português, com doce de côco, consequência da última ida da minha mãe à Guiné. É uma verdade universal que os ditos, pertencentes a alguém que seja mãe, devem ser estimados e devolvidos imaculados, o mais depressa possível, sob ameaça de desencadear várias pequenas guerras familiares à escala mundial. Recordo uma amiga ter-me levado dois, certa vez, um com uma inscrição a marcador preto onde se lia que o dito lhe pertencia, a ordenar “favor devolver” e outro, da sogra, que já lho pedira há bastante tempo e que ela, julgando-o perdido, suspirou de alívio ao saber que ainda existia. Devolvi-lhe as caixas com almôndegas que tinha feito nesse dia. Se, para alguém que adora livros e ainda os empresta, não há nada pior do que não os reaver (excepto dobrarem os cantinhos de páginas que não marcámos), é também verdade que é por nunca devolvermos alguns que a nossa biblioteca ganha contornos mais interessantes. Por três vezes comprei e emprestei um dos meus preferidos, “A balada do café triste“, de Carson McCullers, e lhes perdi o rasto. Paz à alma dos “Contos Completos” de Truman Capote e à versão bilingue do “Book of Longing“, de Leonard Cohen. Anos passados, encontrei este último em versão original na estante de alguém que me é querido, e trouxe-o apenas para,uma hora depois, declarar, insolente, que não lho devolveria. Mas ele deixa. O amor, tal como os tupperware, também pode ser rastreado, perdido, devolvido mas nunca de igual modo, não importa se numa caixa de gelado de tamanho familiar usada para congelar malaguetas ou num daqueles dos bons, com abertura para deixar escapar o vapor e que vedam tão bem que quase não conseguimos abri-los. Cresci com uma mãe que é a melhor cozinheira que conheço e de quem de momento tenho três caixas em casa. Mas vou encontrando outras que não reconheço logo: a de tampa azul da Andrea, o frasco de vidro da Lilit, o de tampa amarela do Daveed. Vou-me apercebendo de quanto da nossa memória afectiva está contida nessas caixinhas e frascos. Lembro-me de ter deixado um saco com o meu melhor tupperware, de sopa, à porta de um rapaz que amei muito e durante muito tempo. Foi a primeira vez que o fiz. Como um gato que nos recebe com um pássaro ou rato morto na boca e o deposita a nossos pés. Gestos de amor, delicados. Rituais e oferendas, sacrifícios. Afectos por vezes recíprocos, tupperware muitas vezes não recuperáveis. Lembro-me de voltar de casa dos meus pais com uma das comidas preferidas do meu namorado da altura, feita pela minha mãe, e de ele a ter devorado sorridente, mandando recados elogiosos para ela, que ainda nem sabia que ele existia. O prazer de preparar refeições para a semana e ver aquele amontoado de caixinhas cheias de segredos e coisas boas, acalma e é demasiado bom, sobretudo para quem tem algum transtorno obsessivo-compulsivo. Sim, porque também cozinho para mim, para conforto próprio. Outro dia saí com sopa e bolo (eu juro que cozinho muitas outras coisas) para uma amiga que estava muito doente. Desta vez, pedi que passasse o que trouxera para outros recipientes ou pratos, ela lavou-os e eu trouxe-os de volta comigo. Talvez eu esteja em estágio para a maternidade sem o saber. Certamente já passei demasiado tempo a tentar fazer coincidir tampas e caixas, no armário e na vida (se nunca partilharam casa, não sabem como é difícil conseguir harmonia e coordenação de recursos). Mas quero com isto dizer que voltei com bem mais do que levei, e nem me refiro a chás arménios e colombianos ou a uma conserva maravilhosa. Regressei a casa sabendo que ainda agora lá estava, e é esse o motivo pelo qual vou continuar sempre a demonstrar, da maneira como o fizeram comigo, o que é para mim o amor. Um alimento, uma partilha, uma delícia. Na mochila, em sacos, nas mãos, na poesia de e.e. cummings, carregamo-nos uns aos outros, aos nossos corações e às nossas boas intenções e más interpretações. Uma e outra vez nos transportamos do frigorífico para a mesa, para o aprofundar de laços, para celebrações demasiado íntimas para caberem em algum lado. Mas nós bem que tentamos. Home is where _____________’s (insert person you love here) tupperware is.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasPressagiar catástrofes com amor [dropcap]É[/dropcap] conhecido o apego romântico pelas ruínas que fez escola a partir do primeiro terço do século XVIII. Houve na época – e um pouco mais tarde – quem sacralizasse e até quem forjasse ruínas. William Gilpin (1724-1804), amante deste tipo de poética, chegou a propor a destruição parcial de algumas villas de Palladio para que o gozo do “laconismo do génio” se tornasse possível. No final desse século, o círculo dos românticos de Jena, nomeadamente Schlegel e Novalis, também não escondeu a paixão por uma estética do inacabado. Este último traduziu o encanto pelo escorço através da fórmula: “devolver ao finito uma aparência infinita”. Nestes casos de admiração pelo não acabado, pelo informe e pelo puro fragmento está em causa aquilo que, de modos muito diversos, Freud e Agamben viriam a designar por fetichismo, ou seja, a substituição de um todo (de um corpo) por algo que o representasse com o intuito de o tornar presente e, ao mesmo tempo, de o ofuscar (em Delfos, vinte e tal séculos antes, o oráculo não fazia outra coisa). O fetichismo faz parte da fantasia com que se imagina um vaivém regular entre um objecto que se deseja e um (efabulado e bem tratado) objecto interposto que o prefigura. A publicidade, sobretudo depois dos anos cinquenta, aprendeu e interiorizou muito bem esta lição (percebendo que as ruínas também implicam a consciência de um tempo que é humano e que, portanto, não nos cai de cima, desamparado, vindo de uma qualquer graça divina). Em 1765, o pintor Hubert Robert regressou a Paris, após uma estadia em Roma – tinha então pouco mais de trinta anos -, e viu-se subitamente recebido em festa. Os seus arcos de triunfo cobertos de ervas daninhas e os seus pórticos desabados mereceram grande aplauso. Diderot, que foi pioneiro no que se viria a chamar ‘crítica de arte’ (ao escrever sobre os Salões do Louvre), foi um dos entusiastas de Robert, tendo considerado que os seus quadros suscitavam um estranho efeito de “doce melancolia”: “Viramo-nos para nós próprios, antecipamos os efeitos da passagem do tempo… e eis assim consagrada a poética das ruínas”. Congelemos as palavras de Diderot e reatemos a conta-corrente do nosso tempo: a humanidade ‘despeja’ todos os dias na rede um número incalculável de palavras, grafos, algarismos, pasmos, idiotias, seja o que for, enfim, que advenha do acto de teclar (e de outros tipos de inscrição que nos são familiares). Dessa quantidade de material pouco sobra ou tem utilidade uns dias depois. O que se actualiza, quase logo se desactualiza. O mais curioso é que a cultura da rede só dá realce – e em jeito de compulsão – ao ‘agora’. O que implica que se está a formar no planeta um arquivo morto, ou, se se preferir, uma imensa amálgama de ruínas. Gilpin e Robert dariam saltos de gáudio por cima das fogueiras de Santo António. É possível que um ‘renascer’ da antiga tradição da poética das ruínas venha, um dia, a revelar o âmago da época em que vivemos, pois parte dela é diariamente submergida e raramente sujeita a uma reciclagem, digamos, definitiva. Talvez o teor desta futura arqueologia venha a conhecer ressonâncias parecidas com o teor dos plásticos que devoram oceanos e que estão hoje a ameaçar as espécies marinhas. De qualquer modo, o papel das ruínas sempre foi o de pressagiar a catástrofe, enquanto parte intrínseca do fôlego moderno. Mesmo quando elas são invisíveis e aparentemente pouco ruidosas, como é o caso dos destroços, dos resíduos e de todo o tipo de restos (mais ou menos) mortais que são gerados pela rede.
Hoje Macau China / ÁsiaCorrupção | Detido presidente da Administração Nacional de Energia da China A campanha anti-corrupção levada a cabo desde a chegada do Presidente Xi Jinping ao poder fez cair mais um “tigre”. Nur Bekri é acusado de ter recebido subornos, de abuso de poder e de levar uma “vida extravagante” [dropcap]N[/dropcap]ur Bekri, o ex-governador da região de Xinjiang, extremo noroeste chinês, foi detido por alegadamente ter aceitado subornos, anunciaram ontem as autoridades chinesas, parte da mais persistente e ampla campanha anti-corrupção na história da China comunista. O caso de Nur Bekri, que mais recentemente foi responsável pela agência de planeamento energético da China, transitou, entretanto, para as instâncias judiciais, após ter sido formalmente expulso do Partido Comunista Chinês (PCC). Bekri foi inicialmente investigado pela Comissão Central de Inspecção e Disciplina do PCC, como sucede sempre em casos envolvendo funcionários do partido. Está acusado de usar a sua autoridade para colocar pessoas em posições-chave e a avançarem com negócios e empreendimentos no sector dos minérios, em troca de grandes quantias de dinheiro e propriedades. O ex-governador terá ainda alegadamente abusado do seu poder, ao ter organizado passeios em veículos de luxo, com motoristas privados, e outros serviços, para seus familiares, enquanto levava uma “vida extravagante”. Como governador de Xinjiang, região rica em recursos naturais, e no seu cargo mais recente, Bekri era um dos quadros mais altos da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur. Na rede A China castigou mais de um milhão e meio de funcionários públicos, (moscas), e investigou cerca de 500 altos quadros do regime, (tigres), parte da campanha anti-corrupção lançada há seis anos pelo Presidente chinês, Xi Jinping, segundo dados oficiais. Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo Presidente Hu Jintao, Ling Jihua. Antes de 2014, Bekri ocupou ao longo de três décadas vários cargos na região de Xinjiang. Não há indicações de que a investigação esteja relacionada com a campanha repressiva lançada pelas autoridades sobre os uigures, que resultou na detenção de mais de um milhão de pessoas em campos de doutrinamento político no Xinjiang.
João Santos Filipe SociedadeTerras | TUI dá razão ao Chefe do Executivo [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância (TUI) considerou que o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Chefe do Executivo no diferendo que mantinha com a Sociedade de Fomento Predial Socipré, Limitada. Em causa está a declaração de caducidade do arrendamento de um terreno na Ilha da Taipa, na Avenida Kwong Tung, designado por Lote BT8, com a área de 3.177 metros quadrados. O arrendamento do terreno foi válido pelo prazo de 50 anos, contados a partir de 29 de Outubro de 1964 até Junho de 2003. O prazo para a construção inicialmente previsto era de 42 meses, que não foi respeitado. Em 15 de Maio de 2015, o Chefe do Executivo proferiu despacho de caducidade da concessão do terreno e a empresa recorreu para os tribunais. O TUI recusou os argumentos da Socipré que se defendia com o facto de ter havido outros casos em que não foi declarada a caducidade. “Se esta [Administração], noutros procedimentos administrativos, ilegalmente, não declarou a caducidade de outras concessões, supostamente havendo semelhança dos mesmos factos essenciais, tal circunstância não aproveita, em nada, à concessionária em causa [Socipré] visto que os administrados não podem reivindicar um direito à ilegalidade”, apontou o TUI.
Diana do Mar PolíticaHabitação para a troca | Regime pronto para especialidade, sem data para aplicação Desconhece-se quando pode ser arrendada ou vendida a primeira casa ao abrigo do novo regime de habitação para alojamento temporário e para a troca. Além das fracções em si, faltam outros diplomas, incluindo sobre a própria renovação urbana e constituir a empresa de capitais públicos que vai assumir esses trabalhos [dropcap]O[/dropcap] diploma que permite a proprietários de bens imóveis arrendar uma habitação para alojamento temporário ou comprar uma para troca se forem afectados pela renovação urbana deve subir em breve a plenário para ser votado na especialidade. Os deputados da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) firmaram ontem o parecer, mas reconhecem desconhecer quando pode ser arrendada ou vendida a primeira fracção habitacional ao abrigo do novo regime. Não só porque as novas habitações estão por construir, mas também porque faltam diplomas fundamentais para executar o novo regime, como o relativo à própria renovação urbana. Foi o que explicou ontem o presidente da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que analisou em sede de especialidade o diploma, aprovado na generalidade, em Dezembro. “Ainda não há essas habitações, não é?”, perguntou, de forma retórica. Mais do que a inexistência das novas casas, os deputados afirmaram estar preocupados com a falta de diplomas, em particular com o regime jurídico principal da renovação urbana. “Nos diplomas não há definição jurídica para renovação urbana”, um conceito mencionado desde logo no título” e em 15 artigos da proposta de lei, assinalou Vong Hin Fai. “Para aplicar e coordenar as políticas ligadas à renovação urbana há que ter definição para isto, por isso alertamos o Governo para acelerar o respectivo regime. “Queremos saber quando é que o Governo vai lançar este regime”, complementou. Isto porque, até lá, a maioria das disposições do novo diploma “não vai ser efectivamente aplicada”, lê-se no parecer da proposta de lei. Arestas por limar Outro problema prende-se com o facto de ainda não estar criada a empresa que vai ficar encarregue da ‘pasta’ da renovação urbana. Compete-lhe tratar das candidaturas e tem a responsabilidade de construir a habitação para alojamento temporário e para a troca. No entanto, tal estará para breve, dado que foi marcada para hoje uma conferência de imprensa do Conselho Executivo sobre um projecto de regulamento administrativo versando precisamente sobre a constituição da Macau Renovação Urbana. Embora originalmente criado para impulsionar a renovação urbana, o regime foi alargado, passando a abranger promitentes-compradores de fracções habitacionais em construção afectados pela declaração de caducidade da concessão provisória do terreno, como sucedeu com os investidores do Pearl Horizon. Não obstante, independentemente do número de fracções adquiridas em planta cada um fica elegível a apenas uma habitação. As formas de atribuição de habitação para alojamento temporário e de habitação para troca vão ser fixadas por despacho do Chefe do Executivo. A renda da habitação da primeira e o preço de venda da segunda também vão ser definidos pelo líder do Governo, mediante proposta da entidade responsável pela renovação urbana.
Hoje Macau China / ÁsiaCoreia do Sul torna-se na sexta-feira no primeiro país do mundo a disponibilizar rede 5G [dropcap]A[/dropcap] Coreia do Sul começa, na sexta-feira, a disponibilizar a rede móvel de quinta geração (5G) através de três operadoras, tornando-se no primeiro país com esta tecnologia, que pretende estender a todo o território, foi hoje anunciado. O 5G será disponibilizado na Coreia do Sul por três operadoras nacionais: a KT Corporation, a SK Telecom e a LG Uplus. Em comunicado, a KT refere que esta tecnologia, que sucede ao 4G, poderá “conectar simultaneamente um milhão de dispositivos por quilómetro quadrado”. A estimativa da companhia é de que, até ao final do ano, “mais de três milhões de sul-coreanos tenham mudado para o 5G”, segundo o vice-presidente da KT, Lee Pil-Jae. Por seu lado, a SK Telecom considerou, através do seu vice-presidente executivo, Young Sang Ryu, que “é significativo que as empresas de telecomunicações sul-coreanas estejam a disponibilizar serviços e redes com altos padrões de velocidade e qualidade aos seus clientes nacionais”. A expectativa da SK Telecom é ter, no final do ano, mais de um milhão de clientes na rede 5G, que acrescem a um total de 27 milhões de utilizadores dos seus outros serviços de telecomunicações. Para isso, a empresa instalou já 34 mil estações de rede 5G em 85 cidades. A comercialização do 5G na Coreia da Sul era apontada para o segundo semestre deste ano. O país chegou a testar esta tecnologia numa zona limitada dos jogos olímpicos de inverno, em Fevereiro do ano passado, na região de PyeongChang. Também na sexta-feira, na Coreia do Sul, será lançado o primeiro telemóvel com capacidade para 5G da fabricante sul-coreana Samsung, o Galaxy S10 5G. Estas iniciativas colocam a Coreia do Sul à frente na corrida tecnológica do 5G, que envolve outros países como os Estados Unidos e a China, que ficam agora atrás nos avanços. Nesta ‘corrida’ está também a União Europeia (UE), com os Estados-membros a darem passos para que o 5G seja disponibilizado, de forma comercial, em pelo menos uma cidade por país até 2020 e para que haja uma cobertura mais abrangente até 2025. O 5G é a quinta geração de rede móvel e vem suceder ao 1G (criado em 1980), ao 2G (de 1990), ao 3G (de 2000) e ao 4G (de 2010). Nesta nova tecnologia móvel haverá mais velocidade, maior cobertura e mais recursos. Além de ser aplicado às comunicações móveis, o 5G será ainda crucial para áreas do quotidiano, mas também para potenciar outros avanços tecnológicos, nomeadamente nos carros autónomos. Isto porque a potência desta rede de quinta geração vai além da rapidez nos ‘uploads’ e ‘downloads’ e assenta, sobretudo, na redução da latência, ou seja, do tempo de resposta de um aparelho a partir do momento em que recebe a ordem até a executar. Quanto menor for a latência, mais rápida é a reacção de um aparelho accionado à distância. Isto aplica-se aos electrodomésticos e a outros aparelhos, incluindo os que estão ligados à internet, que passarão a ser mais eficientes, podendo trazer benefícios nas áreas do entretenimento, agricultura, indústria, saúde, energia e na realidade virtual. O desenvolvimento do 5G tem, porém, vindo a ser marcado por polémicas relacionadas com a fabricante chinesa Huawei. A Huawei é acusada de espionagem industrial e outros 12 crimes pelos Estados Unidos, país que chegou a proibir a compra de produtos da marca em agências governamentais e que tem tentado pressionar outros, como Portugal, a excluírem a empresa no desenvolvimento das redes 5G. Portugal já disse que não o fará e desvalorizou a polémica. A Huawei tem também rejeitado as suspeitas, insistindo que não tem ‘portas traseiras’ para aceder e controlar qualquer dispositivo sem o conhecimento do utilizador.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasEntre amigos [dropcap]T[/dropcap]empos estranhos estes, leitores. Mas por outro lado, terá havido alguns que o não tenham sido? Duvido. Mas é com estes dias que temos de lidar; e estes são os dias em que todos os dias existem “estudos”. Sabeis do que falo. É difícil escapar a uma publicação que nos grita que um “estudo” decidiu que o pepino não existe; que respirar é perigoso; que usar pijama está por enquanto fora de moda; que ler crónicas de sujeitos com o apelido Guedes pode ser nocivo à saúde. E por aí fora. A ideia que parece transversal às conclusões destes “estudos” é esta: “estudámos” o óbvio, e concluímos que o óbvio não apresenta grandes interpretações. É, como dizem os “estudos”, óbvio. Mas pronto: toda a gente tem direito a “estudar” o que quiser, embora não me importasse nada de conhecer quem financia estas actividades. Dava um jeitão ser subsidiado para um “estudo” que concluísse que à noite temos sono, por exemplo. Daí que sem surpresa tropecei em mais uma investigação rigorosíssima e essencial à humanidade que concluía que a amizade entre homens heterossexuais durava mais e melhor do que as relações românticas ou casamentos dos sujeitos estudados. Deixem-me colocar a coisa em termos modernos: o “bromance” – contracção entre ‘brother’ ou ‘bro’ (mano) e romance – é coisa mais perene do que namoros ou matrimónios. Ainda bem que alguém pagou a alguém este “estudo”, sob pena de vaguearmos nas trevas até ao fim dos tempos. Mas pelo menos deu-me assunto, o que nem sempre é fácil. Numa altura em que existe uma fúria igualitária que chega mesmo ao modo de sentir, haja um “estudo” – por mais ocioso e parvo que seja – que lembre que há diferenças. E é nelas que devemos rejubilar. Não falo de hierarquias: a amizade masculina não é melhor, mais leal ou seja o que for do que a amizade entre mulheres. É apenas diferente. E sinceramente, se é ou não mais duradoura do que as “relações” é irrelevante. Há muitos exemplos públicos e notórios deste fenómeno agora “estudado”: Sinatra e Dean Martin, Kingsley Amis e Philip Larkin, Lobo Antunes e Cardoso Pires. E tantos outros que vivem felizmente no quotidiano. Como é o meu caso e poderá ser o seu, leitor. Eu conto, só como exemplo: há pouco tempo fiz uma longa viagem, cerca de cinco a seis horas de carro. Um terço desse período foi passado em completo silêncio, com a excepção da música que se fez ouvir na rádio. Os outros dois terços foram mais ruidosos: inventaram-se línguas estranhas para canções, partilharam-se escatologias sem pudor, disseram-se grosserias a sorrir, falou-se de cinema e de episódios marcantes da vida, lembraram-se lengalengas infantis e brejeiras. Rimos, rimos muito. O silêncio foi apenas um parêntesis necessário para tudo isto. E “isto” são quatro amigos em viagem. Nem sequer quatro amigos “íntimos”, de frequência constante e confidentes – apenas gente que se gosta e que circunstâncias profissionais junta de quando em vez. Isto, para mim, que não tenho “estudos”, é a essência de uma amizade masculina (e pronto, no caso heterossexuais apenas porque calhou assim). A assiduidade nunca está em questão, nunca está à prova. O silêncio é suportado naturalmente e até bem-vindo. Partilhar o silêncio com uma amiga é muito mais difícil. E isto não é um julgamento, apenas uma constatação de quem tem grandes amigas mulheres. Isso e esse regresso a uma adolescência artificial e efémera faz um pouco da amizade masculina. Os homens adultos, quando se juntam, transformam-se em crianças velhas e livres. A escritora Iris Murdoch, que não era exactamente uma admiradora deste estado, definiu-nos bem: “ [a companhia masculina] é uma espécie de cumplicidade no crime, (…) de deglutir o presente de forma gulosa mesmo que o inferno esteja por todo o lado”. Terá razão. Mas ainda assim prefiro o que escreveu Montaigne após a morte do seu grande amigo La Boétie: “Se me obrigassem a dizer porque o amava, sinto que a minha única resposta seria: ‘Porque era ele, porque era eu’ ”. Olho uma fotografia: mostra Humphrey Bogart a aninhar o seu grande e pequeno amigo Peter Lorre sob um enorme abraço, com o olhar benevolente de Lauren Bacall. E penso que este sim, é o mundo, e que se lixem os “estudos”.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasComo um garfo Povo, Lisboa, 18 Março [dropcap]”Á[/dropcap]gua, água a toda a volta / e as pranchas a encolher; / Água, água a toda a volta, / E nem gota para beber. // O oceano apodrecia: / Meu Deus, meu Deus e que isto se haja podido passar! /Viam-se ali rastejar seres de lama com patas/ Por sobre a lama do mar!» A noite abriu-se com A Balada do Velho Marinheiro, épico setecentista de Samuel Taylor Coleridge, lido de enfiada pelos marujos Jaime [Rocha], [José] Anjos, Luís & Luís [Carmelo Gouveia Monteiro], com apoio de amurada do violino de Francisco Ramos. Navegou-se a versão de Alberto Pimenta, recriando pela voz as paisagens negras, as tempestades interiores, as fantasias de horror que resultam da morte descuidada de um albatroz. Sonharei com mil metáforas, vicejando no charco do tédio, enquanto a nave-cemitério desliza. Mymosa, Lisboa, 19 Março Apesar do ruído de fundo, a conversa com o Levi [Condinho] possui condão musical. Aparte a agenda do que se vai tocando, nas salas-praças como nos becos recônditos, discorre ainda com qualquer coisa de cidade. Um lugar erguido sobre espantosa memória. Andamos às voltas com «Pequeno Roteiro Cego», a antologia que o Miguel Martins e o António Cabrita lhe dedicaram, e por isso mesmo o assunto dificilmente seria outro que as múltiplas vidas, a minimal repetitiva ou a atonal, a aleatória ou apenas clássica. «vamos procurar as árvores dessas ruas e escrever nelas o nosso encantamento/ para que o mundo saiba que a redenção dos astros/ passou pelos nossos lábios numa noite em que assaltámos/ as portas de Deus». Ao que parece, foi a música que fez trocar o seminário pelo mundo. Mas por onde anda Deus, afinal? Horta Seca, Lisboa, 20 Março Por milhentas razões, uma deles o bafio de grémio ajuntando duas profissões que não possuem os mesmos interesses, fui resistindo. Até hoje. Recebi o cartão que diz ser o sócio 2733 (rasurado) da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Que auspício devo ler nesta gota de azeite tombando no alguidar? Jardim da Parada, Lisboa, 21 Março Carregamos caixotes, quase só poesia, para a barraca de madeira ainda com nódoas de queijo, talvez de enchidos ou mel, quem sabe. Desta, na Feira da Poesia da Casa Fernando Pessoa, não nos calhou em sorte a número 13. De tanto ouvir que a poesia está na moda, talvez comece a acreditar. Tomo nota das homenagens com que o país se engalana para saudar Sophia ou Sena, mais aquela que este. Vejo os fins de tarde nos cafés da cidade a encherem-se com leitores em voz alta. Nas sessões do Povo, há quem exija acaloradamente momentos open mic para aproximar os lábios do microfone. Depois, os festivais, os concursos, os simpósios, as polémicas. A questão emerge sempre a mesma: que sobrará desta espuma? O esforço de feira serve apenas para manter ténue ligação à terra, para que um ou outro leitor incauto possa ter os livritos à mão de semear. Mymosa, Lisboa, 22 Março Certas amizades entretecem-se em agitada tranquilidade. Pode cada um dispor na mesa a sua inquietação, a dúvida, o que resta do sofrido ou alegrado, a esperança e uma visão, ânsias, um texto ou afazer, gestos, por vezes até a crepitação de um deus fugidio. E memórias, sobretudo se assumirem o fulgor das de Agostinho Jardim Gonçalves, o viajante frenético. Certos encontros são, só por si, rota e destino. Villa Portela, Leiria, 23 Março A vista do vale pedia mais tempo de fruição. Abusámos, pelo que a descida às mãos do João [Nazário] atropelou minutos e paisagens e despenteou os tiles dos nomes que os tinham. Acorríamos, no âmbito da «Ronda Poética», à primeira sessão pública em torno de «anastática/para Alberto Pimenta», antologia que ganha intensidade por força das circunstâncias. Manuel Rodrigues aconteceu fazer-se grande leitor de Pimenta, que há muito fascinou Edgar [Pêra] que, na sequência do documentário que lhe dedicou, vai de escolher os poemas onde o Manuel mais se entregava ao diálogo com Alberto. Do triângulo nasceu o volume, com insuspeita unidade e abrindo para uma voz que merece outras a(tenções (não sendo gralha, o parêntesis). A linguagem, a palavra surge aqui na vez da carne da realidade, personagem principal neste coro de vozes, tantas vezes mudas, mumificadas, postas em pedra. Estamos em perda, bem o confirma qualquer diálogo com as tradições, com os mortos, com os mais vivos de nós. A palavra tem que desfazer-se navalha que rasgue sentidos. E isso faz o Manuel com a mais banal, a mais gasta pelo uso, que colocada cirurgicamente no poema nos obriga ao torção, a procurar novo rumo, a rodopiar para fora de todos os centros. A pontuação atípica respira uma asmática de esforço. Muitos parêntesis se abrem para nenhum fecho visível. Assinalando pontos de encontro de origens distintas, confluências, esquinas. Como pétalas de uma rosa que resiste. «abre-se a janela/corre uma aura romântica/ através da cortina bicolor e/se fecha logo ( mas já entrou/ abre-se para que saia e/ penetra outra com pó/ moderno ( os germes/ vêm sempre já com nomes/ e uma equipa de especiais/ que lá fora provam o ar/ e o respiram para conclusões/talvez teóricas talvez piores/ que as anteriores/». E depois há Pymenta, aquele que jamais conclui, como bem revela o imperdível, «O Homem-Pykante – diálogos com Pimenta». Afirma Manuel, fechando poema que tudo implica: «estás no meio e sabes que vais morrer ’/ por entre qualquer infinito/ cada ponto é eixo sendo seu central/ livre ou perdido ou orientado/ caindo sempre por dentro/ veículos de lenta transformação/ transporte mudanças e transacções/ na constante mesma certeza/ do inesperado eminente incógnita/ concomitante/ ao corpo trazido/ à potência do delírio …/para além dos seus limites/ ninguém mais vivo há que tu ’/ e sabes que vais a meio» Arquivo, Leiria, 23 Março Somos reincidentes, na triplicidade, mas com pretexto mais óbvio de lançamento. Mas agora caiu oficial, a «Ficha Tripla», tanto mais que a foto do Sal [Nunkachov] (algures na página) foi tirada aqui no palco, já querido, da Arquivo. Que acontece de distinto quando nos juntamos para dizer? O Anjos leu menos do que o habitual, pendurado que estava nas cordas da guitarra. Sem que com isso contasse, devolvemos-lhe versos de raspão. O António faz soar como ninguém o seu Trakl. Fugi dos meus versos (onde andam eles?) para me perder no José Manuel Simões. As noites acontecidas e prestes a acontecer exigiam-no. «Do chão onde ontem a enterrei/ a noite irrompe como um garfo,/noite de hoje que eu não conheço/ e todavia já/ noite velha que sei de cor.// Como um gesto premeditado,/ nasce assim devagar,/ tão nacional e tão leve,/ tão primaveril pelas esquinas,/ tão cheia de gatos nos telhados,/ tão sem sono por ela adiante,/ pequena noite habitual e casta/ ligada ao dia por minúsculos grãos de café,/ cores, vidros e frágeis cordões de fumo,/ mas no entanto e sempre/ tão principalmente noite». Arquivo, Leiria, 24 Março Antes de outra de «cores, vidros e frágeis cordões de fumo» e luminosas gargalhadas, com a incansável Susana [Neves], a cansada Suzana [Nobre], o anfitrião João e o atento Sal, também para esconjurar as negras notícias, «No Precipício Era o Verbo» desdobraram-se em palco, com uma novíssima segunda parte dedicada a Sophia. As cordas endiabradas do Carlos [Barretto] soaram a chão movediço para as vozes inspiradas dos funambulistas habituais. Uma das peças foi dedicada à Patrícia Baltazar, que, em «Catapulta» (Ed. Do Lado Esquerdo), desenhou o momento com esta navalha: «Não vai doer. É bater de frente com a morte. Olhar a silhueta das asas de um anjo». Saravá, Patrícia.
João Luz EventosNeuroot, histórica banda holandesa, no dia 11 no Live Music Association Com quase 40 anos de carreira, os Neuroot chegam a Macau para um concerto no LMA no próximo dia 11 de Abril. A banda holandesa entra em palco, às 21h, para celebrar a tradicional velocidade e agressividade do punk hardcore [dropcap]O[/dropcap] punk não está morto. A prova viva do velho chavão são os Neuroot, que estão prestes a pisar o palco em Macau. A banda holandesa de punk hardcore, que teve como altura mais prolífera os anos entre 1981 e 1987, esteve inactiva durante mais de uma dúzia de anos, até que, em 2013, o baixista Marcel Stol decidiu que estava na altura de voltar ao estúdio e à estrada. No próximo dia 11 de Abril, a banda holandesa começa no LMA a tour Asian Invasion 2019, seguindo depois para um espectáculo em Hong Kong, três datas em Taiwan (Taipe e Kaohsiung) e outros três concertos no Japão (Tóquio, Nagoya e Osaka). Seguindo os pergaminhos tradicionais do punk hardcore, a sonoridade dos Neuroot é incansavelmente rápida, barulhenta e agressiva, apesar dos anos terem passado pelos membros da banda. A grupo holandês estreou-se com a edição em K7, como mandava a lei do underground, com “Macht Kaput Was Euch Kaput Macht”, corria o ano de 1983. Três anos depois editavam o EP “Right Is Might”. Em 1986, lançam um dos marcos da sua discografia, um registo histórico para o punk rock holandês: “Plead Insanity”, um clássico nos dias de hoje. Depois do passado Após o retorno, e cinco anos de concertos, os Neuroot lançaram em 2018 “Obuy And Die”, um registo que reúne sete músicas originais gravadas no Rocketdog Studios em Westervoort na Holanda. Com uma longevidade que faz inveja à maioria dos projectos musicais, o regresso ao estúdio e aos palcos não é encarado pela banda como a rendição à indústria discográfica. Apesar do mais recente disco ser marcado por um ritmo um pouco mais lento e, talvez, mais melodioso que os velhos fãs poderiam esperar, “Obuy And Die” injecta uma dose completa de agressão, mensagem política típica do punk com uns laivos de metal à mistura. No próximo dia 11 de Abril, quem se deslocar à Coronel Mesquita pode contar com músicas rápidas, pulsantes, compostas por sons crus e agressivos típicos dos concertos da cena anarco-punk europeia do início dos anos 80. O início do concerto está marcado para as 21h e os bilhetes custam 120 patacas à porta, ou 100 patacas se forem comprados com antecedência.
Diana do Mar SociedadeAeroporto | Wong Sio Chak qualifica de “preocupante” entradas em zona interdita [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança qualificou ontem de “preocupante” os dois casos de entrada em zonas de acesso restrito do Aeroporto Internacional de Macau (AIM) conhecidos no dia anterior. Face à possibilidade de negligência, Wong Sio Chak admite que a empresa responsável pela segurança [a SEMAC] possa vir a ser punida. Actualmente, o caso encontra-se nas mãos da Polícia de Segurança Pública (PSP), mas o titular da pasta da Segurança adiantou que vai falar com a Autoridade de Aviação Civil (AACM). O HM contactou a AMCM para perceber os procedimentos a serem realizados, mas não obteve resposta até ao fecho da edição. O HM também contactou a CAM – Sociedade do Aeroporto de Macau no sentido de perceber que medidas vão ser tomadas. “A CAM vai inteirar-se da situação das unidades de operação relacionadas e espera melhorar a eficiência da formação e do trabalho à medida que o aeroporto se desenvolve, de modo a manter a qualidade do serviço no aeroporto”, afirmou um porta-voz da CAM, sem adiantar mais.
Hoje Macau SociedadeTáxis | Nova lei entra em vigor a 3 de Junho [dropcap]A[/dropcap] nova lei dos táxis entra em vigor no próximo dia 3 de Junho, depois do diploma ter sido publicado em Boletim Oficial no passado dia 4 de Março. De acordo com um comunicado oficial, três serviços públicos, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e a Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), realizaram há três dias uma sessão de apresentação sobre a nova lei dos táxis, dando a conhecer ao sector o respectivo regime jurídico e os principais conteúdos do correspondente diploma legal complementar a publicar. Na sessão, os taxistas apresentaram várias questões relacionadas com “o abandono do assento de condutor quando o táxi se encontrar dentro da praça, a ajuda aos passageiros para a colocação, a retirada do porta-bagagens do veículo dos respectivos pertences e as acções dos fiscais para fazer cumprir a lei nas áreas delimitadas por linhas contínuas amarelas”. O Governo voltou a referir que “se pretende melhorar a imagem da indústria de transportes de passageiros em táxis através da nova lei, mantendo o bom funcionamento de serviço”. A DSAT promete “continuar a aperfeiçoar as condições nas zonas de tomada e largada de passageiros, com a entrada em vigor da nova lei, permitindo ao sector operar com maior facilidade”.
João Luz Manchete SociedadeCarrie Lam insiste em lei da extradição apesar das críticas de Joseph Lau Em resposta à contestação de Joseph Lau às futuras alterações à lei que permite entrega de foragidos à justiça com jurisdições como Macau, Carrie Lam manteve-se firme. A Chefe do Executivo de Hong Kong evocou o interesse público para não adiar a iniciativa legislativa [dropcap]”N[/dropcap]a realidade, o Governo enfrenta desafios legais diariamente, mas isso não significa que iremos adiar trabalho importante do interesse público de Hong Kong”, referiu Carrie Lam, citada pelo South China Morning Post. Foi assim que a Chefe do Executivo de Hong Kong reagiu ontem à posição tomada por Joseph Lau. O empresário submeteu na segunda-feira um pedido num tribunal superior de Hong Kong para garantir que a futura lei que irá regular possíveis pedidos de entrega de fugitivos não tem efeitos retroactivos. A primeira audiência do processo interposto por Joseph Lau está marcada para o próximo dia 17 de Abril. Recorde-se que o magnata foi condenado em 2014 a uma pena de 5 anos e 3 meses pela prática de um crime de corrupção activa para acto ilícito e de um crime de branqueamento de capitais. Ao responder às críticas dos advogados de Lau quanto à avaliação caso a caso de propostas de transferência de fugitivos com jurisdições como Macau, Carrie Lam não se dirigiu directamente ao magnata. Em declarações antes de uma reunião no Conselho Legislativo, a Chefe do Executivo da região vizinha afirmou que “quanto a acções individuais tomadas em relação a esta alteração legal, uma vez que um processo judicial deu entrada em tribunal”, não iria tecer qualquer comentário. Todos os ouvidos A Chefe do Executivo de Hong Kong adiantou ainda que espera que o Conselho Legislativo forme uma comissão para discutir a alteração legal, acrescentando que o Governo que lidera está disposto a ouvir sugestões da população. “Se a opinião pública não violar os nossos princípios básicos, e se tiver o intuito de melhorar as coisas, de uma forma geral, estamos dispostos a ouvir. Mas isso não significa que vamos aceitar todas as opiniões, sob pena de não conseguirmos fazer nada.” As alterações à lei propostas pelo Governo de Carrie Lam motivaram protestos de vários quadrantes políticos e sociais, em particular do sector comercial que argumentou que a reputação de Hong Kong, enquanto porto seguro para negócios, poderia ser colocada em causa. O facto é que o Executivo de Hong Kong, depois da pressão de que foi alvo, acabou por retirar da proposta nove crimes de colarinho branco de uma lista de 46 crimes passíveis de extradição. Questionada se o Governo estaria a considerar abrir mais excepções, Lam referiu que está disposta a ouvir pontos de vista diferentes, mas que isso não significa que iria atender a todas as sugestões, porque “assim seria muito difícil fazer qualquer coisa”. Carrie Lam adiantou ainda que o Executivo de Hong Kong vai tentar reunir o maior consenso possível em torno da alteração legal. Advogados ao ataque A Ordem dos Advogados de Hong Kong acusou a Chefe do Executivo do Governo da RAEHK, Carrie Lam, de estar a “enganar” as pessoas quando diz que a ausência de acordos de extradição com o Interior da China é uma “falha” na lei. Num comunicado emitido ontem, os advogados da RAEHK sublinham que esta ausência foi uma decisão tomada em 1997 de forma consciente e que teve em conta “as diferenças fundamentais entre o sistema criminal no Interior da China e principalmente o histórico do Interior da China no que diz respeito à protecção de direitos fundamentais”.
Diana do Mar SociedadePorto de Ká-Hó | Macauport com contrato estendido por sete anos [dropcap]O[/dropcap] Secretário para os Transportes e Obras Públicas vai assinar “brevemente” a escritura pública relativa ao adicional contrato de concessão da exploração do Porto de Ká-Hó com a Macauport, que expira no próximo dia 11. Segundo informações facultadas ao HM pela Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, o contrato de concessão vai ser estendido por sete anos, terminando em 2026. Em declarações aos jornalistas, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa, Raimundo do Rosário afirmou ontem não haver mexidas de maior e que a alteração mais importante tem que ver com o transporte de produtos perigosos, dado que foi proibido por via terrestre. “A grande alteração foi com a Macauport uma forma de assegurar a entrada por via marítima designadamente de fogo-de-artifício e de outros produtos”, explicou. A Macauport – Sociedade de Administração de Portos, que tem Ambrose So como presidente do conselho de administração, fechou 2017 com lucros de 5,9 milhões de patacas, contra 18,8 milhões em 2016. A sociedade responsável pela operação do Terminal de Contentores do Porto de Ká-Hó, em Coloane, atribuiu os resultados ao decréscimo da carga movimentada pelas empresas subsidiárias e associadas e a factores como o abate do custo de obras em curso. Os resultados do exercício do ano passado ainda não foram publicados em Boletim Oficial.
Hoje Macau SociedadeIPM | Lançado sistema de tradução com reconhecimento de voz O Instituto Politécnico de Macau (IPM) lançou ontem um novo sistema de reconhecimento de voz e interpretação simultânea chinês-português-inglês, com o qual espera aliviar o trabalho de tradutores e intérpretes [dropcap]”Q[/dropcap]uando um orador discursa, o sistema reconhece automaticamente as palavras e transforma-as num discurso escrito, depois, de forma simultânea e automática, faz a tradução”, explicou o coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM. Gaspar Zhang falava aos jornalistas à margem do lançamento, que decorreu no âmbito de uma conferência sobre os novos desafios e oportunidades na área da tradução, com recurso à inteligência artificial. “Assim, podemos ver no ecrã um discurso na língua de partida e na língua de chegada”, acrescentou, sublinhando que a interpretação simultânea automática é agora “uma realidade”. O sistema foi desenvolvido pelo Laboratório de Tradução Automática Chinês-Português-Inglês do IPM, inaugurado em Outubro de 2016 pelo primeiro-ministro português, António Costa. Desde a criação do laboratório, o IPM tem investido muito na área do ‘big date’ e na área da inteligência artificial, lembrou Zhang, mencionando, entre outros, o sistema de tradução chinês-português. O uso deste “sistema auxiliar de tradução chinês-português/português-chinês de documentos oficiais” foi acordado, em Março, com o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No entanto, Gaspar Zhang ressalvou que o sistema lançado agora foi desenhado para aliviar o trabalho dos tradutores e intérpretes, e não para os substituir. “Neste momento, pelo menos hoje, as máquinas não podem substituir os tradutores nem intérpretes. O nosso objectivo é ajudar os tradutores e os intérpretes”, salientou. Bolsas para portugueses O Instituto Politécnico de Macau prevê lançar, no próximo ano lectivo, um programa de bolsas de estudo para atrair mais estudantes dos países de língua portuguesa, no âmbito dos futuros mestrados e doutoramentos da instituição. Este novo programa prevê estender as ajudas de custo aos estudantes pós-graduados, uma vez que o Politécnico (IPM) já dispõe de bolsas para estudantes de licenciatura, explicou o presidente da instituição, Marcus Im Sio Kei. “Num futuro próximo, esperamos receber mais alunos dos países de língua portuguesa. Temos um plano para oferecer bolsas a estes estudantes”, afirmou o responsável, em declarações aos jornalistas à margem de uma conferência na qual se debateram os novos desafios e oportunidades na área da tradução, com recurso à inteligência artificial. Actualmente, o IPM tem cerca de 200 alunos provenientes dos países lusófonos, um número que pode vir a crescer com o lançamento deste novo regime, que prevê uma dedução até 20 por cento do custo global das propinas. Língua portuguesa, computação e administração pública são as áreas dos três futuros programas de doutoramento, ainda sujeitos à aprovação do Governo de Macau, adiantou Marcus Im Sio Kei. A instituição prevê que sejam lançados até ao final do ano. Além disso, deverão ser lançados, no mesmo prazo, mais quatro cursos de mestrado, em áreas que vão da enfermagem às artes visuais, acrescentou. “Em toda a divisão, incluindo os novos mestrados e programas de doutoramento, planeamos receber mais 300 alunos” provenientes de Macau e de várias regiões, afirmou Im Sio Kei. No mês passado, o Governo já tinha aprovado o plano de estudos de dois novos mestrados, incluindo um mestrado em tradução e interpretação chinês-português. O mestrado terá duas áreas de especialização, tradução e interpretação, e dois anos de duração, de acordo com o despacho do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. No ano lectivo 2018/2019, o número de estudantes de português no IPM ronda os 500, de acordo com dados disponibilizados à Lusa no final do ano passado.
João Santos Filipe PolíticaAL | Mesma resposta para perguntas diferentes vale contestação de Sulu Sou sobre Ho Iat Seng O presidente da AL referiu o ordenado de Sulu Sou no Plenário e agora não se consegue livrar do deputado. Apesar da queixa oficial ter sido recusada, Ho Iat Seng volta a ser visado, desta vez porque recusou uma contestação com os mesmos argumentos, sem alterações ou explicações adicionais [dropcap]S[/dropcap]ulu Sou apresentou queixa do presidente da Assembleia Legislativa à Mesa do hemiciclo, porque considera que a figura máxima da AL ignorou um pedido de esclarecimentos. Em causa estão as declarações do presidente sobre o ordenado do legislador durante a suspensão e o facto de Ho ter respondido à última contestação com a mesma fundamentação que estava a ser contestada, sem mais explicações. A revelação foi feita ontem pela Associação Novo Macau que justifica a queixa com a luta do deputado com o espírito de renovação da Assembleia Legislativa. “A intenção de aderir a esta batalha processual durante quase oito meses não se justifica apenas com a necessidade de corrigir o tratamento injusto […] mas pelo espírito de ‘Renovação da Assembleia’”, é justificado em comunicado. Este é mais um capítulo de uma “batalha” dentro da Assembleia entre o pró-democrata e o presidente do hemiciclo, que dura há cerca de oito meses, quando se discutiu as alterações à Lei de Reunião e Manifestação. Nessa discussão, Sulu Sou tentou usar um aspecto técnico para que a lei fosse alterada e acabou por ser repreendido por Ho Iat Seng. O presidente do hemiciclo deixou críticas ao deputado devido ao desconhecimento das normas internas e afirmou que este tinha continuado a receber um ordenado de cerca de 100 mil patacas, apesar de ter estado suspenso. As afirmações levaram a uma queixa por escrito de Sulu Sou a Ho Iat Seng, por motivos de conduta imprópria, que posteriormente foi reencaminhada para a Comissão de Regimentos e Mandatos da AL. A comissão recusou a queixa, uma vez que considerou que devia ter sido apresentada logo no Plenário em que Ho proferiu as palavras. Falar para o boneco Este parecer da comissão foi depois utilizado por Ho Iat Seng para recusar a queixa inicial. Sulu Sou levantou depois várias dúvidas sobre o parecer da Comissão de Regimento e Mandatos, mas recebeu como resposta o mesmo parecer, sem mais explicações. É este ponto que o deputado vem agora contestar junto da Mesa da Assembleia Legislativa. “O despacho de reclamação que aponte erros a um parecer, não pode, naturalmente, voltar a remeter para o parecer. Tal significaria um desrespeito pela reclamação – que contém argumentos novos, posteriores ao parecer e sobre o parecer – um desrespeito pelo Deputado reclamante e um desrespeito pela lei”, consta na queixa mais recente. “Indeferir a reclamação voltando a remeter para o Parecer [da Comissão de Regimento e Mandatos] é ignorar – não conhecer – dos vícios alegados na reclamação”, é acrescentado. As reuniões das Comissão de Regimento e Mandatos em que foram tomadas as decisões sobre a primeira decisão foram contestadas tanto por Sulu Sou como pelo deputado José Pereira Coutinho. Em causa está o facto do primeiro encontro marcado por Kou Hoi In, presidente da comissão, não ter sido do conhecimento de todos os deputados, o que contraria as normais internas da Assembleia Legislativa. A Mesa da AL, que agora recebeu a queixa, é constituída pelo presidente, Ho Iat Seng, vice-presidente, Chui Sai Cheong, 1.º Secretário, Kou Hoi In, e 2.ª Secretária, Chan Hong. Por este motivo, Ho e Kou vão analisar a contestação das decisões que são partes interessadas. No entanto, o comunicado da Novo Macau deixa uma promessa: “O Sulu Sou e os membros da sua equipa nunca se vão manter calados perante qualquer restrição e interpretação arbitrária”.
Hoje Macau Manchete PolíticaResidentes vão poder abrir contas bancárias na China usando apenas o BIR [dropcap]F[/dropcap]oi ontem assinado um protocolo de cooperação entre o Governo e o Banco da China, acordo que constitui mais um passo na integração regional do território. De acordo com um comunicado oficial, os portadores de bilhete de identidade de residente de Macau passam a poder abrir contas nas sucursais do Banco da China no continente. “Seguindo-se a premissa do respeito pelas leis, regulamentos e requisitos de fiscalização da China, os residentes de Macau podem utilizar nas instituições do Banco da China na Grande Baía o seu bilhete de identidade como documento legal para tratar de abertura de contas bancárias, de cartões, de registos e de transacções, usufruindo de serviços financeiros rápidos para pagamentos, bem como de créditos e serviços para empresas e particulares.” O acordo de cooperação inclui também as mais de 500 instituições do Banco da China no exterior, nas quais os residentes “podem usar os bilhetes de identidade como documento legal para tratar de abertura de contas, cartões, registos e transacções no estrangeiro”. O Banco da China vai ainda permitir uma gestão integrada de tesouraria e pagamentos transfronteiriços para as empresas locais, “abrindo canais de circulação de capitais entre Guangdong, Hong Kong, Macau e para o mundo”. De acordo com o mesmo comunicado, os residentes de Macau “podem, apenas com o BIR, gerir negócios financeiros na Grande Baía ou até nas sucursais dos bancos comerciais estatais nos países participantes da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”. Além disso, esta medida “permitirá aos residentes usufruir de um ‘tratamento equitativo em comparação com os residentes da China interior’, referido nas Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, e poderão aceder mais facilmente aos serviços financeiros dos bancos da China interior”. O Governo considera que, com este protocolo, “poder-se-á verdadeiramente promover a circulação de pessoas na Grande Baía, com facilidade e conveniência, o que terá um impacto positivo e profundo na participação da RAEM na estratégia de desenvolvimento nacional”.
Diana do Mar Manchete PolíticaFiscais do Metro Ligeiro ‘perdem’ poder de autoridade pública O Governo cedeu aos deputados e retirou a norma que dotava os futuros agentes de fiscalização do Metro Ligeiro de poderes de autoridade pública [dropcap]O[/dropcap]s fiscais vão perder os poderes de autoridade pública que lhes eram atribuídos na proposta de lei do sistema do Metro Ligeiro. A mexida foi revelada ontem pelo presidente da 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) que analisa o diploma na especialidade. Trata-se de uma das principais cedências do Governo aos deputados que anteriormente tinham manifestado “preocupações” a esse respeito, recordou Vong Hin Fai. Retirado do diploma foi também o capítulo relativo à expropriação, que tinha sido igualmente colocado em causa pelos deputados que questionaram as razões que levaram o Governo a prever expressamente uma possibilidade já contemplada no Regime de Expropriações por Utilidade Pública. Situação idêntica tinha sido sinalizada no capítulo relativo à responsabilidade penal que, segundo alertou a assessoria da AL, prevê normas semelhantes às já existentes, designadamente quanto à violação das regras de operação e segurança. “Essas normas relativas às infracções deixaram de constar, porque há remissão ao Código Penal”, indicou Vong Hin Fai. A retirada de normas nas três ‘frentes’ referidas, que fizeram a proposta de lei encolher de 66 para 47 artigos, marcou o ponto final na discussão entre deputados e Governo. “Acabou. Agora segue-se a redacção final, toques e retoques, não há mais reuniões”, afirmou o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, aos jornalistas, à saída da reunião. Nomeações para breve Já questionado sobre quem vai administrar a recém-constituída Metro Ligeiro de Macau, a sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, que vai ser responsável pela operação do sistema de metro ligeiro, Raimundo do Rosário escusou-se a adiantar pormenores. “É o que há-de vir a seguir”, respondeu. A empresa, que nasce a meses da entrada em funcionamento da linha da Taipa, prevista para a segunda metade do ano, vai implicar a extinção do Gabinete de Infra-estruturas e Transportes (GIT) como, de resto, era conhecido. Algo que deve acontecer “talvez no espaço de semanas, poucos meses”. “Temos um conjunto bastante grande de coisas a fazer, quer em termos legislativos, quer no que diz respeito à constituição da empresa, à extinção do GIT e à passagem das pessoas e dossiês, portanto, há imensa coisa para fazer”, argumentou. A relação entre a nova empresa e a MTR, de Hong Kong, à qual foi entregue as operações do Metro Ligeiro nos primeiros cinco anos de funcionamento da linha da Taipa também tem gerado dúvidas, nomeadamente no seio da 3.ª Comissão Permanente da AL. Ora, como explicou Raimundo do Rosário, quem vai dirigir, operar e coordenar tudo o que diz respeito ao Metro Ligeiro será a nova sociedade de capitais públicos que tem ao seu dispor três formas de o fazer: “fazer ela própria [essa tarefa], através de uma subconcessão, dado que vai ser concessionária ou por via da aquisição de serviços”. No caso concreto, complementou, o Governo firmou um contrato de prestação de serviços com a MTR que vai passar para a Metro Ligeiro, assumindo a posição contratual do Governo. Não obstante, no futuro, como ressalvou Raimundo do Rosário, existem as três possibilidades sobre a mesa.
Hoje Macau PolíticaAutocarros | Ho Ion Sang pede aumentos para não-residentes [dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang, ligado aos Moradores, quer saber quando é que o Governo vai implementar a subida de preços para os não-residentes que viajam nos autocarros. É este o conteúdo de uma interpelação divulgada ontem pelo membro da Assembleia Legislativa. Esta é uma proposta antiga da Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que foi deixada cair devido aos custos da implementação de um sistema diferenciado. Contudo, Ho Ion Sang quer agora saber quando é que o Governo vai chegar a um novo consenso e aplicar preços mais caros para os trabalhadores não-residentes e turistas. Por outro lado, o legislador pergunta também as medidas que podem ser aplicadas para que a qualidade do serviço aumente.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaChina | Analistas defendem reforço da posição da UE no contexto da guerra comercial Situada no meio da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, a União Europeia deve clarificar relações com a Ásia para desenvolver as suas empresas e travar eventuais pressões dos EUA ou de países do norte da Europa que tentem sabotar essas parcerias. O tema “A ascensão da RPC no tabuleiro internacional do pós-Guerra Fria” esteve ontem em debate na Universidade do Porto [dropcap]N[/dropcap]o princípio era a União Soviética e os Estados Unidos, mas, com a queda da URSS, a China tem assumido cada vez mais um papel de relevo, tanto a nível económico como diplomático. No meio está a União Europeia (UE), que deve clarificar e reforçar o seu posicionamento no contexto da guerra comercial que se vive nos dias de hoje. A Universidade do Porto (UP), em Portugal, acolheu ontem a palestra “A ascensão da República Popular da China (RPC) no tabuleiro internacional do pós-Guerra Fria”, que contou com a presença de Rui Lourido, presidente do Observatório da China (OC), Jorge Cerdeira, docente da Faculdade de Economia da UP, e António Lázaro, director do Instituto Confúcio da Universidade do Minho. Em declarações ao HM, Rui Lourido defendeu que é altura da UE assumir a importância do seu posicionamento geoestratégico. “A Europa tem de compreender que a China não é um inimigo, mas sim um concorrente com o qual deve fazer parcerias e estabelecer um relacionamento pacífico e de mútuo interesse”, começou por dizer. Neste sentido, a Europa “deve abrir-se às negociações com a China de igual para igual, sem prescindir das suas alianças que podem ligar o continente à América, mas elas não são incompatíveis, bem pelo contrário, deverão ser complementares”. Também Jorge Cerdeira defende que a UE é, nos dias de hoje, “um dos principais players internacionais, tal como a China ou os Estados Unidos”, “ocupando uma posição de destaque na produção, exportações, importações e investimento a nível internacional”. Neste contexto, a UE deve compreender qual o seu papel no seio destas relações diplomáticas. “Naturalmente que nesta fase em que existem muitas incertezas sobre o futuro das relações económicas internacionais, a Europa deverá ter uma posição clara e unida sobre o assunto e ser capaz de assumir o seu papel de relevo no xadrez internacional.” Para Jorge Cerdeira, essa necessidade não tem sido cumprida “muito devido aos constrangimentos internos que tem sofrido (que incluem a crise das dívidas soberanas, a questão dos refugiados, o processo do Brexit ou as diferentes posições dos países relativas à política da União)”, defendeu. Pressões americanas No passado dia 5 de Março o Conselho da UE aprovou as novas regulações que serão feitas aos investimentos estrangeiros provenientes de países terceiros em sectores estratégicos, como têm sido os investimentos chineses. Para Rui Lourido, a UE deve analisar as propostas chinesas de acordo com os seus interesses, mas defende que neste processo de regulação há não só uma pressão dos países do norte da Europa, como é o caso da Alemanha ou França, mas também dos Estados Unidos, a quem não interessa “uma Europa unida”. “Vejo estes regulamentos que têm vindo a ser levantados na sequência de pressões americanas e desta guerra comercial que é nefasta para o relacionamento e desenvolvimento das empresas europeias.” Para Rui Lourido, “as empresas alemãs são concorrentes das empresas chinesas e não há mal nenhum nisso”, uma vez que “ambas as empresas devem fazer parcerias no sentido de aproveitarem o mercado chinês”. O presidente do OC recorda os 17 acordos que recentemente Portugal assinou com a China no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”, que incluem acções de investimento no Porto de Sines e mais ligações ferroviárias. “Quando Portugal faz isto cria inimizade ou concorrência com os portos do norte da Europa, que até hoje têm sido centrais para o comércio europeu. Estes países, ao verem que este comércio se pode deslocar para sul, algo que já acontece também com a Grécia, com os investimentos no porto de Piréu, pressionam Portugal para não entrar nestas parcerias que propiciam este desenvolvimento”, defendeu Rui Lourido. O presidente do OC acha que, neste âmbito, “a perspectiva de Portugal tem de ser autónoma” e considera que “não se deve perder o foco face aos investimentos no sul da China e no espaço da Grande Baía e África, que serão centrais para a construção de um mundo pacífico, rentável e produtivo”. Regular é preciso Apesar de falar de pressões dos países do Norte da Europa e dos Estados Unidos, Rui Lourido acredita que a regulação do investimento directo estrangeiro na UE é necessária. “Este relacionamento deve ser escrupulosamente encaminhado e regulado nos interesses comuns de ambas as empresas”. Jorge Cerdeira recorda que os investimentos chineses na Europa têm aumentado progressivamente desde que o país entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001. “À Europa cabe, dentro da ideologia do nacionalismo pragmático que hoje se apregoa no que concerne à atracção e restrição do investimento directo estrangeiro, seleccionar os investimentos que entende serem favoráveis e rejeitar os que entende serem menos interessantes.” Se Rui Lourido fala de pressões em prol da regulação, Jorge Cerdeira interpreta estas iniciativas como naturais. “Tal prática, comum noutros países (tal como, por exemplo, na China), deve ser encarada com naturalidade, ainda que, evidentemente, reste saber como é que esse processo de ‘filtragem’ (do investimento directo estrangeiro) vai ser efectivamente feito na prática”, disse ao HM. “Fecharmo-nos ao relacionamento com a China não é bom, é o caminho inverso que a Europa e Portugal devem ter. A China é neste momento a segunda grande nação a registar as patentes de investigação, está quase colada aos Estados Unidos. Considero que esta aliança com empresas chinesas que detém esse know-how torna-se fundamental para a expansão das empresas portuguesas e a sua expansão nos mercados”, acrescentou Rui Lourido. Guerra Fria 2.0 Apesar dos vários encontros, não há ainda uma resolução para o fim definitivo do conflito comercial que opõe a China aos Estados Unidos. Jorge Cerdeira não consegue prever se estamos perante uma nova Guerra Fria, ainda que com outros contornos, mas fala de um futuro “incerto”. “O futuro da relação entre os EUA e a China, bem como a guerra comercial que tem existido, é incerto. Há dados e estudos que sugerem que a guerra comercial já custou aos EUA cerca de 8 mil milhões de dólares. Resta saber qual é a reação que as autoridades de política dos EUA e da China vão ter perante os resultados pouco favoráveis que advêm desta guerra.” Incertezas à parte, o professor da UP acredita que “os últimos dois anos têm contribuído para uma maior afirmação das políticas proteccionistas face ao que verificou nos anos anteriores”. Rui Lourido também não consegue prever uma nova Guerra Fria, mas fala de um mundo mais perigoso num futuro próximo caso estes conflitos continuem. “Essa guerra comercial que se tenta expandir a outros sectores com grande perigosidade torna o mundo mais instável. A China tem substituído o papel de equilíbrio que a América desempenhava nessas instituições e defende hoje o multilateralismo e a própria ONU.” As relações de conflito neste contexto “devem ser mediadas pela ONU e não por reacções caso a caso”, sem esquecer o papel que entidades como a OMC ou o Mercosul devem ter, defendeu Lourido. “A economia americana perdeu energia com a crise de 2008 e a forma mais inteligente de ultrapassar isso é com um relacionamento concorrencial, mas amigável. Há forças que não pensam assim e temos o presidente norte-americano (Donald Trump) a sair de tratados internacionais e a tentar desestruturar a Europa, porque à América não interessa uma Europa unida e forte.” “Isso leva à criação de conflitos que os europeus devem ver de acordo com os seus interesses e estabelecer parcerias com a Ásia para que possam balancear a sua influência, com países como a China, Índia e Japão”, concluiu Rui Lourido.
Hoje Macau SociedadeAutoridades detectam tráfico de petróleo [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Zhuhai detectaram um caso de transporte ilegal de petróleo por parte de uma embarcação que viajava entre Hong Kong e Macau. O caso foi relatado ontem pelo canal chinês da Rádio Macau, que cita as autoridades da cidade vizinha. Segundo a informação divulgada, as suspeitas do tráfico foram confirmadas depois de uma inspecção, já depois do navio em causa ter sido obrigado a atracar. Durante a investigação, as autoridades detectaram a existência de um compartimento secreto com capacidade para o transporte 30 toneladas de combustível.