admin h | Artes, Letras e IdeiasAfinal, é melhor retirar o que disse [dropcap]V[/dropcap]ou confessar: era eu que levava o dinheiro. Davam-me uns pacotes com molhos de notas variadas e pediam-me para entregar a tal pessoa. Não sabia quanto era, mas dava para ver que devia ser uma pipa de massa, que esta gente quando fazia as coisas era a sério, não se punha a brincar aos roubos como os banqueiros, que isso é mais coisa de meninos. Falávamos pelo intercomunicador do prédio. Colocavam a tralha no monta-cargas e eu só tinha de pegar nela. Simples. O nome do destinatário era inventado, era um código que só funcionava no acto de entrega. Mas eu sabia perfeitamente quem eram. A maioria era gente conhecida dos jornais, que precisava de maquia fresca para alguma necessidade mais urgente. Comprar um cabriolé ou um quadro cheio de pó do Miró, que dedos amigos tinham surripiado de uma colecção esquecida na cave de alguma repartição de finanças. Ou coisa parecida. Podia ser também do Bill Viola, que é um gajo que está sempre em voga. Não perguntava nada, não me intrometia em assuntos alheios e quando metiam conversa, para serem simpáticos, ou porque tinham uma vida de merda e não tinham ninguém para desabafar, eu dizia que sim com a cabeça para acharem que era meio surdo ou que tinha um parafuso a menos, e assim acabava-se logo o diálogo. Que fique igualmente neste registo, que não tenho grande paciência para desabafos. Faço o que tenho a fazer e não há espaço para mais dilações, que o mundo não pára. Corre. A verdade, é que o dinheiro chegava sempre ao seu destino com rigor de especialista, isso não posso negar. Parecia que tinha nascido para fazer aquilo, pegava com uma mão e entregava com a outra. Assim mesmo, como quem salpica umas cores num papel e faz uma obra de arte. Pensando bem, era melhor do que o Miró, pelo menos não tinha que sujar as mãos com o raio da tinta, que é outra coisa para a qual também não tenho ponta de interesse. E para dar aqueles tons é sempre preciso muitos tubos da Caran d’Ache. Não vamos falar de pintores, por favor. Bom, não sei se havia algum contabilista para toda aquela abundância, o mais certo era não existir nenhum, mas desde o primeiro dia que me cheirou a trafulhice das grandes. E como correu bem dessa vez, pediram-me mais uma e por aí adiante, até lhe perder a conta. Se me perguntarem, não consigo enunciar quantas foram as causas pelas quais andei a percorrer a avenida. Não apontava nada e tenho a memória fraca, nem uma anedota consigo contar e quando vou para entoar o hino, atrapalho-me. Mas para o resto, é isso, tinha bastante jeito para moço de recados ilícitos. Talvez um dia que precise possa arranjar um emprego nos Correios, é só porem-me à experiência. Quanto às verbas, agora, falam por aí que foram milhões. Milhares de milhões. Ninguém sabe ao certo, até podem ter sido, aquilo era muita massa. Acusaram este e aquele, que eram eles que levavam aquela fortuna de um lado para o outro e das mais variadas formas. Mas é mentira. Fui eu! Não me deu trabalho nenhum. Eu, no metro com um milhão no bolso. O que me ria. Em horas de ponta, muitas vezes com agentes da autoridade que voltavam para casa depois de um longo dia de trabalho, meio desfardados. E eu ali, com o bolo de aniversário na mão. Ou com a consola de jogos última geração. Partida. Já sei, ninguém me vai acusar porque sou gente miúda e não valho muito no mercado dos bandidos. Não ando para aí a passear-me num rolesroyce ou a ser levado para interrogatórios. Pelo contrário, tenho uma vida discreta, não saio muito e nem uso roupas de marca. É claro, ninguém conhece o meu nome. Mas isso vai mudar, basta escrever umas coisinhas e prolongar a verborreia. Ainda consigo lembrar-me de umas caras e rabiscar uns retratos, daqueles robots como o Miró fazia, cheios de cor e de tinta. Ou então dou com a língua nos dentes e tenho-os aí todos a pedir favores. Que é o que eu sei fazer melhor. Quanto às verbas, agora, falam por aí que foram milhões. Milhares de milhões. Ninguém sabe ao certo, até podem ter sido, aquilo era muita massa. Acusaram este e aquele, que eram eles que levavam aquela fortuna de um lado para o outro e das mais variadas formas. Mas é mentira. Fui eu! Por causa de todo o alarido, há uns meses, decidi fazer as coisas à minha maneira. Acabei com os recados de pouca monta. Se por acaso a encomenda era pequena, rejeitava a oferta, deixando de fazer as coisas por tuta e meia. Mas o mais importante: vou arrumar as botas. Fiz contas à vida e foi a decisão que tomei. Que se lixe a fama de ser o maior malandro do bairro. Essas intenções já desbotaram. E na verdade, não tenho fama nenhuma. Mas é desta, foi a última vez. Só mais este servicinho. Não se vai repetir. Já contei as notas, são dez mil. É o que veio. Não sei bem o que era para fazer com elas. Não apontei, esqueci-me. Dez mil notas de quinhentos é muito dinheiro. Vieram numa caixa de cartão, disfarçadas entre medicamentos para a gripe. Contei-as com redobrada atenção, parece que até lhe estava a tomar o gosto, eu que nunca liguei àquilo. O que fiz foi o seguinte: troquei o conteúdo do embrulho pela comissão que me cabia, que era sempre uma ninharia. Acabam sempre por ser uns forretas, Mas isso acabou, o que ganhava com toda esta história eram apenas umas esmolas. E assim foi, não toquei nos comprimidos para não se perder o volume e porque ainda não tenho dores. Deixei tudo na morada que me indicaram. Um hotel. Foi uma tarefa difícil, é um risco que se corre, eu sei, mas cinco milhões já dá para governar o que sobra dos meus dias. Não é preciso tirar um curso de matemática para perceber isso. A linha chegou ao fim. Fartei-me. Pensei que podia confiar neles, que não me estavam a enganar, apesar de terem sido sempre bem claros, afirmando com a seriedade que um intercomunicador pode transmitir, de que iam referir o meu nome quando fosse necessário e precisassem de um álibi. Mas não! Até hoje, nada. E leio os jornais todos, dia após dia. Não são eles que me vão agora acusar que os defraudei, com isso não tenho de me preocupar. Dinheiro não lhes falta. Para esses senhores, isto é uma pequeníssima migalha. E ninguém sabe quem sou, não há provas. Contas. Dificilmente gasto uma nota destas por semana, mas suponhamos que gasto uma. São dez mil semanas. Ora vejam, um ano tem cinquenta e duas, por isso é só fazer as contas. Não estou cá essa vida, nem pouco mais ou menos. É certo que deixo algum aos amigos chegados, companheiros em dificuldades ou com necessidades prementes. Tenho de me lembrar que tenho de o deixar escrito nalgum sítio, pode-me dar um treco de um minuto para o outro e ir desta para melhor, e ninguém vai saber que os meus desejos eram esses. Mais a família, que também precisa. Mas não posso dar muito nas vistas, não vão as pessoas achar que me saiu a taluda. Depois já se sabe como é que é, não me largam, e daí até vir a polícia é um instantinho, levam-me logo para averiguações. Tiram-me aquela fotografia que se vê nas séries de criminologia e venho de lá com os dedos todos pretos. Raio! Por isso, o melhor é não contar a ninguém, que ando nestas andanças. Porque não ando, na realidade, este assunto termina aqui. Quanto ao outro, dos pacotes que entregava sem levantar fervura, também não se vão estar agora a preocupar com questões dessas. Já foi. Ninguém soube, não quiseram dizer que era eu, agora já é tarde para isso. É deixar que os outros sejam acusados e que venham nas parangonas dos jornais, que eles gostam sempre de aparecer, enquanto cruzam as ruas da Baixa nos seus cadilaques. Portanto: bico calado! E se por ventura alguém ler isto, não vai ser fácil porque vou escondê-lo bem, espero que faça o mesmo. Já sei, vou guardá-las naquela caixa de sapatos e deixo-a dentro do armário, assim como quem não quer a coisa. Vivo num lugar esquecido, não há de vir aqui ninguém. E assim, como não tenho grandes aflições, vou-me servindo à medida das necessidades, não preciso de mexer uma palha nem de ir aos bancos. Pode ser que um dia, entre um século e o outro, precise de adquirir um telhado novo.
Hoje Macau China / ÁsiaVice-presidente brasileiro vai reunir-se com Xi Jinping durante visita à China [dropcap]O[/dropcap] vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, será recebido pelo Presidente chinês, Xi Jinping, durante uma visita à China entre os dias 19 e 24 de Maio, destinada a dar um novo impulso à cooperação entre as duas economias. De acordo com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, o governante brasileiro será também recebido pelo vice-presidente chinês, Wang Qishan, e reunir-se-á ainda com o presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, equivalente a uma câmara alta parlamentar, Wang Yang. Durante a visita, Hamilton Mourão irá presidir ao quinto comité de coordenação da cooperação entre os dois países e visitará Xangai para participar em vários fóruns empresariais e actividades culturais. “O Brasil e China são os maiores países em desenvolvimento dos hemisférios americano e asiático e mantêm uma relação madura e sólida. Nos últimos anos, desenvolvemos várias relações de sucesso em sectores como o comércio, investimento e finanças, com benefício para os dois países”, afirmou o porta-voz, citado pela agência Efe. Geng sublinhou que se celebra este ano o 45.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil, e que o lado chinês espera aproveitar a oportunidade para “fortalecer a confiança política mútua” e “aprofundar a cooperação económica amistosa e de benefício mútuo” entre os dois “parceiros estratégicos”. O porta-voz indicou que os dois países têm mantido “consultas” e “discutido planos” em busca de “sinergias entre estratégias de conexão” que possam levar o Brasil a participar na ofensiva global chinesa de investimento estrangeiro, designada como ‘Nova Rota da Seda’. As relações entre a China e o Brasil têm atravessado alguns altos e baixos desde a chegada ao poder de Jair Bolsonaro em Janeiro deste ano, especialmente depois de actual Presidente brasileiro ter caracterizado a China como um “predador que quer dominar sectores estratégicos da economia brasileira”. Em contraste, Bolsonaro afirmou também pouco depois de ganhar as eleições que o Brasil se comprometia a manter boas relações com a China, o seu principal parceiro comercial, independentemente das diferenças ideológicas entre os dois países, e em Março anunciou a intenção de visitar o gigante asiático durante o segundo semestre deste ano. A China é desde há cinco anos o principal parceiro comercial do Brasil em todo o mundo e destino da maior parte das exportações de matérias-primas brasileiras, para além de deter também avultados investimentos no país sul-americano, sobretudo no sector da energia.
Andreia Sofia Silva PolíticaAlexis Tam diz que estudantes de Macau são privilegiados face aos do Interior da China [dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, defendeu, num encontro com estudantes de Macau em Lisboa, que estes tem mais privilégios do que os alunos da China que estudam português, devido aos apoios financeiros concedidos pelo Executivo da RAEM. “Tem muita sorte com o facto de o Governo da RAEM apostar muitos recursos para que os estudantes façam cursos em Portugal. Os estudantes da China não tem essa sorte. A concorrência bem do interior do país mas vocês têm subsídios. Os estudantes do interior fazem cursos com o seu dinheiro e a trabalhar em part time”, lembrou. Enquanto membro da delegação da RAEM que se encontra em visita oficial a Portugal até domingo, 19, Alexis Tam tem tido a sua própria agenda, sem que a mesma seja comunicado aos jornalistas que fazem a cobertura da visita. Esta terça-feira foi assinado um acordo de cooperação, com a duração de três anos, que prevê a abertura de um pólo do Instituto de Formação Turística (IFT) no Estoril. No seu discurso, citado num comunicado oficial, Alexis Tam apontou que “em paralelo com a entrada da República Popular da China numa nova era de desenvolvimento, a indústria do turismo de Macau oferece também oportunidades sem precedentes”. A presença de Alexis Tam em Portugal faz-se também marcar pela realização de um fórum académico sobre a Grande Baía, organizado pelo IFT e que também não foi comunicado aos jornalistas. Para o secretário, este evento “trará certamente perspectivas capazes de inspirar e moldar o futuro da indústria do turismo”. O mesmo comunicado dá ainda conta de que, no futuro, “o IFT pretende continuar a aprofundar a cooperação com instituições de ensino superior e similares de Portugal”.
Hoje Macau PolíticaChui Sai On em Portugal | Chefe agradece apoio do país na melhoria da formação em português [dropcap]O[/dropcap] apoio de Portugal vai permitir a Macau “desempenhar melhor papel” na criação da base de formação da língua portuguesa e do turismo, afirmou o líder do território no encontro com o primeiro-ministro português, em Lisboa, que decorreu esta terça-feira. Fernando Chui Sai On reconheceu que “o apoio de Portugal será positivo para Macau porque permitirá desempenhar melhor o seu papel na criação da base de formação da língua portuguesa e do turismo”, no âmbito da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” e na integração no projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, de acordo com um comunicado do Gabinete de Comunicação Social (GCS) do território. A Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) “possui um sistema completo de ensino do português, que serve como uma vantagem única da base de formação da língua portuguesa nas regiões asiáticas”, sublinhou, durante o encontro que decorreu na segunda-feira à tarde. No encontro, António Costa destacou o êxito do desenvolvimento de Macau e “a preservação e desempenho do seu papel particular de ponte de ligação” e na manutenção da “boa relação existente entre” a RAEM e Portugal. O primeiro-ministro português sublinhou a importância da relação luso-chinesa e o papel particular que Macau desempenha entre os dois países, sendo para isso fundamental para Portugal manter a “amizade especial” com a RAEM, em várias áreas, nomeadamente na cooperação judiciária e empreendedorismo jovem. Fernando Chui Sai On indicou ainda que, no âmbito da sexta reunião da Comissão Mista Macau-Portugal, as duas partes vão apresentar previsões para que, no futuro, a colaboração bilateral possa “atingir um nível mais elevado”, especialmente nas áreas da educação, cultura, turismo, ciência e tecnologia, e sistema financeiro com características próprias. Macau vai continuar a desempenhar as funções de plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa, através da realização, no próximo ano, de mais uma Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), disse. No encontro, as duas partes concordaram ainda reforçar a cooperação bilateral na área económica e comercial, “impulsionando o investimento mútuo”, para contribuir para “o desenvolvimento sustentável” das duas economias.
Hoje Macau EventosFestival de Cinema de Cannes começou ontem com filme de Jim Jarmusch [dropcap]O[/dropcap] Festival de Cinema de Cannes começou ontem em França com “Os Mortos Não Morrem”, filme de ‘zombies’ de Jim Jarmusch, numa edição que ficará marcada por repetentes, de Tarantino a Almodóvar, e por uma maior presença de mulheres. A comédia de Jarmusch, com Bill Murray e Adam Driver, faz parte da competição oficial pela Palma d’Ouro, a par de filmes de outros realizadores já premiados, como Ken Loach (“Sorry We Missed You”), Terrence Malick (“A Hidden Life”) e Pedro Almodóvar (“Dolor y Gloria”). No entanto, o que está a suscitar mais interesse, pelo menos por parte da imprensa internacional, é a estreia mundial do filme “Era uma vez em… Hollywood”, de Quentin Tarantino, com Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, adicionado há dias à programação. Na competição estão ainda “Frankie”, de Ira Sachs, rodado em Portugal e co-produzido por Luís Urbano, e “Bacurau”, dos realizadores brasileiros Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, com Sónia Braga. Com Agnès Varda, que morreu a 29 de Março, a ter honras do cartaz do festival, esta é uma edição que celebra as mulheres. O Le Monde fez as contas e diz que há 15 realizadoras na selecção oficial, quatro das quais em competição. A saber, Mati Diop, Jessica Hausner, Céline Sciamma e Justine Triet. “Nunca antes visto em Cannes”, escreveu o jornal. No festival são esperadas ainda três figuras: Elton John, por causa do filme “Rocketman”, de Dexter Fletcher, Diego Maradona, à conta de um filme de Asif Kapadia, e Silvester Stallone, que promoverá o recém-rodado “Rambo V – Last Blood”. O actor francês Alain Delon, 83 anos, receberá a Palma de Ouro de Honra. Destaque ainda, na secção “Um certain regard”, para a inclusão de “Vida Invisível”, do realizador brasileiro Karim Ainouz, e “Liberté”, do espanhol Albert Serra, rodado em 2018 no Alentejo, com produção da Rosa Filmes. Nos programas paralelos do festival há algum cinema português: na Semana da Crítica foram incluídos “Dia de Festa”, de Sofia Bost, e “Invisível Herói”, de Cristèle Alves Meira, enquanto “Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre”, da Gabriel Abrantes, passará na Quinzena dos Realizadores. O festival termina no dia 25 e o júri oficial é presidido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu. O orçamento para produzir o festival de Cannes é de 20 milhões de euros.
Hoje Macau EventosConan Osíris falha final do festival da Eurovisão [dropcap]P[/dropcap]ortugal falhou ontem a passagem à final do 64.º Festival Eurovisão da Canção, com o representante português, Conan Osíris, a não passar da primeira semifinal do concurso, a decorrer em Telavive, Israel. A exclusão de Portugal da final, marcada para sábado, já era expectável, a avaliar pela média de várias casas de apostas, calculada pelo ‘site’ eurovisionworld.com, especializado no concurso. Este ano assinala-se a 64.ª edição do concurso, no qual Portugal participou, pela primeira vez, em 1964, tendo, entretanto, estado ausente em cinco edições (1970, 2000, 2002, 2013 e 2016). Esta é a nona vez que Portugal falha uma passagem à final do Festival Eurovisão da Canção. Entre 2004 e 2007, inclusive, e em 2011, 2012, 2014 e 2015 Portugal falhou a final. Madonna rejeita apelo ao boicote A cantora norte-americana Madonna rejeitou os apelos para boicotar o Festival Eurovisão da Canção, onde irá actuar no sábado, na final, em Telavive, afirmando que “nunca deixará de tocar música para servir a agenda política de alguém”. A afirmação da cantora, actualmente a residir em Lisboa, foi feita através de um comunicado hoje divulgado, citado pela agência Associated Press. Madonna, que chegou ontem a Israel, afirmou que o seu coração “parte-se” de cada vez que ouve falar “nas vidas inocentes que se perdem nesta região” e “na violência que é tantas vezes perpetuada para servir os objectivos políticos de pessoas que beneficiam deste conflito antigo [entre israelitas e palestinianos]”. A cantora revela que reza “por um novo caminho até à paz”. Este ano, o Festival Eurovisão da Canção decorre em Israel e é organizado pela União Europeia de Radiodifusão (EBU, sigla em inglês) em parceria com a KAN. Israel acolhe o concurso, depois de o ter vencido, pela quarta vez, no ano passado com o tema “Toy”, interpretado por Netta. O movimento de boicote cultural a Israel tem instado os artistas a boicotarem o concurso, disputado por 41 países e cuja primeira semifinal se realizou ontem. A segunda semifinal está marcada para quinta-feira e a final para sábado. Em Junho do ano passado, diversas organizações culturais palestinianas apelaram ao boicote ao concurso, sublinhando que “o regime israelita de ocupação militar, colonialismo e apartheid está descaradamente a usar a Eurovisão como parte da sua estratégia oficial ‘Brand Israel’, que tenta mostrar ‘a face mais bonita de Israel’ para branquear e desviar a atenção dos seus crimes de guerra contra os palestinianos”. Em Setembro, mais de uma centena de artistas de todo o mundo, incluindo de Portugal, manifestaram apoio a esse apelo. Já este ano, em Janeiro, mais de 60 organizações, a maioria de defesa dos direitos LGBTQIA, de vários países, Portugal incluído, apelaram aos membros daquela comunidade para que boicotem o concurso. Em Abril, o músico Roger Waters, dos Pink Floyd, aconselhou Madonna e todos os concorrentes do 64.º Festival Eurovisão da Canção a lerem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Num artigo de opinião, intitulado “Se acreditas em Direitos Humanos, Madonna, não actues em Telavive”, publicado a 17 de Abril no jornal britânico The Guardian, o músico exortava “todos os jovens concorrentes – na verdade todos os jovens, na verdade todas as pessoas jovens e velhas, e isso inclui Madonna – a lerem a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)”, lembrando que esta “foi traduzida em 500 línguas, para que qualquer pessoa possa conhecer os seus 30 artigos”.
Hoje Macau EntrevistaLivro | Federico Varesea denuncia uso de tríades de Hong Kong contra activistas Por Pedro Sousa Pereira, da agência Lusa [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Hong Kong utilizaram as Tríades contra o movimento estudantil pró-democracia, em 2014, disse à Lusa o criminologista Federico Varesea, autor do livro “Mafia Life”. “Eu estava em Hong Kong e, para mim, foi um choque verificar os ataques das Tríades contra os estudantes, sobretudo em Mong Kok. Tratou-se de um caso em que as autoridades usaram o crime organizado para atacar um movimento político e social, tal como aconteceu em Itália [no final da II Guerra Mundial]”, disse à Lusa Federico Varese. No dia 26 de Setembro de 2014, várias centenas de jovens começaram a manifestar-se em Hong Kong para exigir a eleição por sufrágio directo e universal directo do chefe da Região Administrativa Especial de Hong Kong. O movimento “Occupy Central”, conhecido mais tarde como “Umbrella Movement”, mobilizou milhares de jovens em protesto contra as autoridades controladas pela República Popular da China que, segundo a investigação de Varese, também usou os grupos de crime organizado, nomeadamente a 14K. “O que verificamos é que membros das Tríades de Hong Kong atacaram o movimento social dos estudantes de uma forma que a polícia não podia fazer, porque politicamente seria explosivo. Esperavam que os ataques fizessem recuar os estudantes das manifestações”, diz Varese que investigou os acontecimentos em Mong Kok, na zona dos Novos Territórios. “O que para mim foi maravilhoso foi verificar o poder dos jovens estudantes que lutavam pela democracia ao derrotarem os atacantes e a manterem posições no terreno. Foi muito comovente para mim entrevistar os líderes estudantis que relataram os ataques. Muitos dos manifestantes eram raparigas de 16 ou 17 anos, que foram firmes contra o crime organizado pela defesa dos princípios democráticos básicos de uma pessoa um voto. Foi muito inspirador”, recorda Federico Varese. Livro aborda presença da 14K em Macau No livro “Mafia Life”, o autor aborda também a presença da 14K em Macau recordando a detenção, ainda no período da administração portuguesa do território, de Pang Nga Koi, que chegou a mandar realizar uma longa metragem autobiográfica que ainda circula no mercado de DVD. Varese recorda que Pang Nga Koi cumpriu 13 anos e sete meses de prisão, tendo sido libertado no dia 1 de Dezembro de 2012, na actual Região Administrativa Especial de Macau. “’Dente Partido’ [alcunha de Pang Nga Koi] reside, presentemente, num anódino arranha-céus, situado no bairro macaense da Taipa, os seus vizinhos são funcionários governamentais de meia-idade, académicos e empresários de relativo sucesso. É ele próprio que abre a porta do apartamento quando alguém bate. Não há guarda-costas à vista”, escreve o autor do livro. Corrupção e poder autárquico O académico italiano alerta também para o facto de que, em regimes democráticos, a atribuição de competências ao poder autárquico cria vulnerabilidades que elevam o risco de corrupção. “Este é um dos pontos mais controversos do meu trabalho: o desempenho das máfias nos contextos democráticos, e é por isso que eu aviso os políticos sobre o poder local. As máfias querem sempre dominar os sistemas políticos locais que dispõem de fundos do Estado”, disse à Lusa Federico Varese professor de Criminologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido. “No mundo local, não é preciso muita gente para conseguir eleger um político. Se as máfias conseguem controlar a eleição de um presidente de uma câmara municipal, conseguem controlar o sistema político. Uma vez controlado o poder local, é mais fácil controlar os esquemas de autorização para o sector da construção civil, por exemplo, um dos grandes negócios da máfia, onde quer que seja”, acrescenta o autor do livro “Mafia Life”, que foi publicado este mês em Portugal. No livro, Varese analisa o contexto histórico, mas sobretudo as dinâmicas actuais da Máfia italiana e italo-americana, os Vori da Rússia pós-soviética, a Yakuza japonesa e as Tríades chinesas de Macau e Hong Kong. O autor explica que, por definição, as máfias tradicionais são grupos independentes com chefia própria e com raízes profundas nos territórios ou nas comunidades onde se encontram dominando a esfera de poder e que, ironicamente, precisam do capitalismo e de Estados democráticos para prosperarem. No caso do poder local, e usando o exemplo da recente transferência do orçamento do Serviço Nacional de Saúde britânico para a autoridade local de Manchester, o autor do livro indica que ficam criadas as condições para se multiplicarem as possibilidades de ocorrência de corrupção na região, alertando os políticos sobre a falta de debate público sobre o assunto. “Nas democracias, as máfias controlam eleições em nome dos políticos para depois controlarem os mercados onde estão inseridas. Precisam de capitalismo e de economia de mercado para exercerem controlo através da criação de cartéis”, explica. Do ponto de vista político, refere, as máfias são tradicionalmente de direita ou conservadoras, e “atacam os sindicalistas, porque os sindicatos defendem os trabalhadores e posicionam-se contra o patronato e, por isso, são perseguidos sendo assassinados muitos sindicalistas”. No livro, Federico Varese conclui igualmente que a recente crise económica (2008) que afectou os países do sul da Europa provocou alterações no crime de extorsão praticado pelas máfias italianas junto dos comerciantes que, num quadro de colapso financeiro, deixaram de ter dinheiro. Na mesma altura, na Sicília, sul de Itália, a presença simultânea de grupos de crime organizado oriundos do continente africano e das antigas repúblicas soviéticas provocaram o aumento da violência pelo controlo de territórios. Além de “Mafia Life”, Varese é autor do livro “The Russian Mafia”. Publica habitualmente no jornal La Stampa e foi consultor do escritor britânico John Le Carré (pseudónimo de David Cromwell), autor de obras como “O Fiel Jardineiro” e “Um Traidor dos Nossos”. “Mafia Life – Como é a vida, o amor e a morte no seio do crime organizado?”, de Federico Varese (Edições Desassossego, 298 páginas), inclui um glossário e tabelas sobre regras e estruturas de comando das várias máfias.
Hoje Macau China / ÁsiaExportações portuguesas para a China aumentam 3,18% [dropcap]P[/dropcap]ortugal exportou no primeiro trimestre do ano para a China produtos no valor de 545,8 milhões de dólares, mais 3,1 por cento relativamente aos três primeiros meses de 2018. De acordo com dados oficiais publicados no portal do Fórum Macau, com base nas estatísticas dos Serviços de Alfândega chineses, as trocas comerciais entre Lisboa e Pequim ascenderam a 1,57 mil milhões de dólares no primeiro trimestre, o que corresponde a um aumento de 17,24 por cento, em comparação com o período homólogo do ano passado. Portugal importou da China bens no valor de aproximadamente 1,03 mil milhões de dólares, tendo Lisboa um saldo comercial negativo com o país asiático de cerca de 485 milhões de dólares. As importações de produtos chineses aumentaram 26,36 por cento, em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados dos Serviços de Alfândega chineses indicam que as trocas comerciais, no terceiro trimestre, entre a China e os países lusófonos fixaram-se em 33,69 mil milhões de dólares ao longo dos três primeiros meses do ano, verificando-se um crescimento de 11,62 por cento. As importações por parte da China representam a maior parte deste valor: 24,5 mil milhões de dólares, um aumento de 16,53 por cento face ao mesmo período em análise de 2018. Por sua vez, as exportações chinesas para países lusófonos registaram um aumento de 0,38%, tendo alcançado os 9.208 milhões de dólares. Pódio do costume O Brasil continua a ser o principal parceiro da China no âmbito do bloco lusófono, tendo registado trocas comerciais de 25,01 mil milhões de dólares. Pequim comprou a Brasília, nos primeiros três meses do ano, produtos no valor de 17,71 mil milhões de dólares, mais 26,57 por cento que nos meses de Janeiro e Fevereiro de 2018, e o Brasil adquiriu à China bens no valor de 7,29 mil milhões de dólares, uma diminuição de 2,35 por cento. Angola surge no segundo lugar do ‘ranking’ lusófono com trocas comerciais com a China no valor de 6,40 mil milhões de dólares, com Luanda a enviar para Pequim produtos no valor de 6,03 mil milhões de dólares e a fazer compras de 378 milhões de dólares. As trocas comerciais entre a China e Moçambique foram de 644 milhões de dólares, no primeiro trimestre do ano, mais 21,16 por cento comparando com os três primeiros meses de 2018.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesNão ter filhos pelo planeta? [dropcap]S[/dropcap]aiu mais um relatório das Nações Unidas em como estamos a passar um ponto sem retorno na destruição do nosso planeta. Estamos a matar os nossos ecossistemas e a nós próprios. E o que é que podemos fazer? Muita coisa. Um estudo publicado em 2017 na Environmental Research Letters sugere que – a nível individual – podemos: ter uma dieta vegetariana, não ter um carro, evitar andar de avião e ter menos filhos. Ter menos filhos: várias pessoas se interrogaram se as escolhas da natalidade poderiam ser melhor geridas de acordo com as nossas preocupações ambientais. Afinal, trazer mais uma pessoa para este mundo faz com que mais recursos sejam utilizados. Não é uma ideia totalmente absurda. E será que queremos trazer filhos para este mundo cada vez mais avassalado por catástrofes, desigualdades e injustiças irreparáveis e cada vez mais incerto? Onde os ursos polares já estão a morrer à fome e onde peixes da costa tropical africana já chegam a Portugal com o aquecimento das águas? Durante muito tempo que se julgava que a dificuldade em agir sobre o problema das alterações climáticas fosse a ignorância. As pessoas não sabem que o planeta precisa de ser tratado e por isso é que não fazem nada por isso. Mas esta é uma justificação datada (que já nem explica os climate change deniers). O problema é que o combate às alterações climáticas exige mudanças nas nossas ideologias e normas. Uma norma muito impregnada é a de que todos nós devemos ter filhos. Obrigar as pessoas a não terem filhos, seria, no mínimo, uma violência. E dessa experiência de controlo de natalidade já sabemos bastante do continente. A expectativa de que nós estamos neste mundo para parir é chata e insistente. Chega a uma idade em que os casais precisam de se justificar a muitos à sua volta se não têm filhos ou se não os quiserem ter. Curioso como tenho observado o horror na cara das pessoas quando alguém lhes diz que não quer ter filhos. ‘Porquê’? Há agora quem se justifique com o estado de alerta climático em que vivemos. Para algumas pessoas, a decisão de não ter filhos vem da preocupação que o mundo já está demasiado cheio. Existem activistas, grupos de discussão, cada vez mais consciencialização sobre isto. Não sabemos em que mundo os nossos filhos irão viver. Nós já sentimos os efeitos agora – não é uma coisa que só vai ter repercussões daqui a 100 anos. Claro que não é uma solução simples para o combate das alterações climáticas, muito menos consensual. Vivemos num mundo demasiado desigual onde nos países tidos como desenvolvidos uma criança produz mais impacto ambiental do que num país menos desenvolvido. Por outro lado, a nível nacional existem incentivos para os jovens de agora regenerarem a população cada vez mais envelhecida. São perspectivas contraditórias que põem em causa o global em detrimento do local. Mas tenho cá para mim que se é para fazer alguma coisa pelo nosso planeta, teremos que começar a pensar para lá das nossas fronteiras nacionais. Precisaremos de um sentido de comunidade e de solidariedade global que em muito entra em conflito com a nossa tacanha necessidade de nos definirmos como nações culturais bem delimitadas. Onde as necessidades económicas de regeneração populacional nacionais entram em conflito com a realidade de que já há pessoas suficientes neste mundo, só que nasceram em lugares diferentes, de úteros diferentes. Tenho perfeita noção que acabei de tornar o sexo e a procriação numa ferramenta política e social – como tudo o que fazemos. Não tenho como objectivo responsabilizar os que querem ter filhos ou os que já os têm, mas mostrar como podemos posicionar-nos acerca dos problemas que nos preocupam. Há quem não queira ter filhos porque não quer ter filhos, sem mais nem menos. Há quem queira ter filhos. Felizmente que o corpo é nosso e cabe-nos decidir acerca dele da melhor forma que pudermos. As alterações climáticas e a natalidade só formam uma dimensão sobre a qual podemos reflectir sobre os desafios deste mundo onde vivemos.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasDos estranhos tributos [dropcap]C[/dropcap]omo eu gostaria que as angústias do cronista fossem relevantes, leitores! Não são. E mesmo as alegrias levam, tantas vezes merecidamente, tratos de polé. Mas o cronista tem este pequeníssimo poder: o de domesticar as palavras para que elas façam acrobacias sempre que alguém as queira albergar. E é por isso que aqui estou, e é por isso que as minhas irrelevâncias podem ganhar lantejoulas, assim me veja quem me lê. Isto nem sempre é fácil de explicar nem provavelmente tem de ser explicado. Quem escreve sobre as pequenas coisas que moram nos dias não tem nada a proclamar senão um breve aceno a tudo o que pode estar diante de nós e que não temos tempo ou paciência para ver. Uma memória, um gesto, um sorriso, um valor, um obstáculo: o quotidiano que se pode ver do café – mas que graças a essa possibilidade, é raro ver. Valham-nos então os poetas, os romancistas, todos os coleccionadores de almas. A crónica, quando funciona, é uma espécie de single comparado com os álbuns da grande escrita: breve, de vida efémera mas com sorte com refrão cantável. A razão deste prólogo teórico – em que arrisco a partilhar esta estranha idiossincrasia francesa de tudo teorizar e que toda a vida combati – tem a ver com, lá está, o quotidiano. Há alguns dias um amigo perguntou como é que eu conseguia “achar” tantas coisas semanalmente. Este achismo, para os mais distraídos, corresponde a ter uma opinião. É uma boa pergunta que não tem uma resposta de sentido único. Aqui, o que “acho” provém do espanto, da perplexidade, da curiosidade. Não é um dogma e muito menos lei: apenas um tipo que se pergunta “mas por que diabo…?”. A ambição, se alguma há, é instalar a dúvida. E com isso deixar tudo em aberto, poder falar. Tenho saudades de poder falar. De forma que chegámos ao que interessa, o espanto du jour. Conto: numa saída com amigos fui parar a um bar que bem conheço e bem me conhece. Muita gente, a possibilidade rara de nos ouvirmos uns aos outros. A música ambiente estava alta, demasiado alta; mas a casa estava cheia e isso compreende-se. Por terrível deformação profissional detive-me por momentos no que estávamos a ouvir. Reconheci: “Ena, ainda passam Pink Floyd!”, disse divertido e não sendo particular admirador da banda. Logo alguém me cortou cerce: “Não é Pink Floyd. É Brit Floyd”. Juro que esperei alguns segundos por algo que se parecesse com uma punch line, um sinal de ironia. Nada. A música que ouvia era de facto dos Brit Floyd (e é a última vez que escrevo isto sem me rir), uma banda de tributo dos Pink Floyd (a sério, fiquem comigo) e que replica nota por nota a música do grupo a que prestam “tributo”. E é aqui que entra a perplexidade: tributo como? Tributo a quem ? E, do ponto de vista de quem os vai ver (os, hum, esses mesmo, ao que parece esgotaram um Coliseu), a que prestam homenagem? A resposta à última pergunta parece-me fácil: a nós próprios e ao que fomos. Compreendo mas maça-me. O melhor “tributo” que uma banda ou artista poderá ter é ver alguém pegar no seu legado e acrescentar. Sempre terá sido assim na história da música popular e da criação artística em geral. A reprodução pura e dura é uma aldrabice, memória de fancaria. Mas o mercado da saudade é uma armadilha comum: as próprias bandas desdobram-se em reuniões que normalmente não dão em nada, apesar do aforismo do maior iconoclasta do rock, Mark E. Smith dos The Fall:« Se for eu e a tua avozinha nos bongos é The Fall». Não é. Não pode ser. Num excelente artigo no New York Times (“Reunion Tour! The Band Is Back! Wait, Who Are These Guys?”) Rob Tannenbaum escreve sobre o fenómeno das reuniões de bandas outrora famosas. Muitas vezes, como no caso dos Foreigner (nome enorme do rock FM americano) apenas existe um único membro da formação original – e ninguém sabe e ninguém se importa. De forma, leitores, que mais uma vez não acho nada. Ou acho: acho que uma das bênçãos dos praticantes de géneros mais juvenis e enérgicos da música popular é saber quando parar. O mesmo é aplicável a nós, portadores de memórias imaculadas. Porque depois pode acontecer como no concerto americano de Peter Hook ( Joy Division, New Order) em que alguém perguntou, referindo-se sem saber a Ian Curtis: “Onde é que está o tipo que morreu?” Está certo: quando prestamos tributo ao que fomos nós somos quem morreu.
Hoje Macau China / ÁsiaHRW | Apelo à não deportação de desertores norte-coreanos Três mulheres, três homens e uma menina de dez anos conseguiram fugir da Coreia do Norte, encontrando-se detidos na província chinesa de Liaoning. Se forem deportados enfrentam penas de prisão em campos de trabalhos forçados, podendo mesmo ser executados. A Human Rights Watch apela à China que lhes conceda asilo ou permita a sua passagem para outros países [dropcap]A[/dropcap] organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) apelou ontem à China para que não deporte um grupo de sete desertores norte-coreanos, face ao perigo de serem presos, torturados ou até executados. A organização pediu a Pequim que conceda asilo ao grupo ou permita que viaje para um país terceiro. Sul-coreanos que acolheram parentes de membros do grupo revelaram à organização que três mulheres, três homens e uma menina de dez anos estão detidos na província de Liaoning. Alguns fugiram da Coreia do Norte nas últimas semanas e outros viveram durante anos na área junto à fronteira com a China. As autoridades chinesas detiveram os sete há duas semanas. Em comunicado, a HRW lembrou que os “repatriados pela China enfrentam prisão em campos de trabalhos forçados (designados “kyohwaso”), campos de prisioneiros políticos (“kwanliso”) ou até a execução. A organização sublinha que nos “kwanliso” as condições de vida são sub-humanas, com “maus-tratos contínuos, inclusive abusos sexuais e torturas por guardas e execuções sumárias”. “A taxa de mortalidade nestes campos é extremamente alta, segundo relataram ex-prisioneiros e guardas”, detalhou. Sem perdão Na Coreia do Norte, deixar o país sem permissão é considerado crime. Em 2010, o Ministério da Segurança Popular da Coreia do Norte adoptou um decreto que condena os desertores por “traição contra a nação”, punível com pena de morte. A maioria dos desertores norte-coreanos atravessa os rios Amnok ou Tumen para chegar à China, de onde tentam chegar a um terceiro país, principalmente Tailândia e Mongólia, para pedir asilo através das embaixadas e consulados sul-coreanos. A China, que quer evitar migrações em massa de norte-coreanos, não os considera refugiados, mas “migrantes económicos”, forçando assim a sua repatriação se forem apanhados pelas autoridades. Um relatório de 2014 da Comissão de Investigação da ONU sobre os Direitos Humanos na Coreia do Norte indicou que “quase todos os repatriados são objeto de actos inumanos”, por serem considerados “uma ameaça para o sistema político e a cúpula” do regime, que quer evitar que o país “tenha contacto com o mundo exterior”. A HRW instou o Governo chinês a proteger os cidadãos da Coreia do Norte que estão sob sua custódia, conceder-lhes asilo ou permitir a sua passagem para outros países, e permitir que a agência de refugiados da ONU proteja os solicitantes de asilo norte-coreanos. “A China deve acabar com a sua cumplicidade com a violação dos direitos dos norte-coreanos ao pôr fim à prática de forçar o seu retorno”, lê-se no relatório. “A China deve proteger esses sete norte-coreanos, cumprindo as suas obrigações internacionais e enviando a Pyongyang uma mensagem de que não vai ignorar os abusos da Coreia do Norte”, refere.
Hoje Macau EventosLei do Jogo em discussão na Fundação Rui Cunha [dropcap]A[/dropcap] 8ª edição da “Annual Review of Macau Gaming Law” vai decorrer na próxima segunda-feira, 20 de Maio, pelas 18h30, nas instalações da Fundação Rui Cunha. O evento insere-se no âmbito do curso de mestrado em Direito (International Business Law), ministrado pela Faculdade de Direito da Universidade de Macau, em língua inglesa, que inclui uma disciplina de direito do jogo. A sessão será moderada por Jorge Godinho, professor visitante da Universidade de Macau, onde lecciona matérias de direito do jogo e de direito penal, tendo publicado em 2016, pela Fundação Rui Cunha, o primeiro volume da sua obra sobre direito do jogo e, em Março de 2019, uma história dos jogos de fortuna ou azar no território, com o título “Os Casinos de Macau, História do maior mercado de jogos de fortuna ou azar do mundo”, editado pela Almedina Coimbra, 2019. O tema principal da edição deste ano irá focar-se nas perspectivas de abertura da exploração dos jogos de fortuna ou azar no Japão, uma questão de grande actualidade no contexto regional, que fundamenta a presença de quatro oradores japoneses. São eles Kazuaki Sasaki, professor associado da Universidade Toyo em Tóquio; Shigemi Furuta, professora associada da Universidade de Macau, onde é directora da Asia-Pacific Academy of Economics and Management; Ayako Nakayama, da Japan IR Association; e Masahiro Terada, gestor sénior da Pricewaterhouse Coopers, de Tóquio. Após as intervenções haverá lugar a uma sessão de perguntas e respostas. A entrada é livre.
Hoje Macau EventosExposição | “Grace Kelly, from Hollywood to Monaco” amanhã no Galaxy [dropcap]N[/dropcap]o ano em que se celebra o 90º aniversário de Grace Kelly – a actriz que se tornou princesa do Mónaco –, o Galaxy Entertainment Group inaugura amanhã uma grande exposição, intitulada “Grace Kelly, from Hollywood to Monaco”, que vai decorrer de até 28 de Agosto. O acordo de colaboração artística entre o Galaxy Entertainment Group (GEG) e o Grimaldi Forum Monaco (GFM) foi assinado a 22 de Fevereiro de 2019, permitindo o empréstimo das colecções do Palácio do Príncipe do Mónaco, que vão ser exibidas numa galeria criada especialmente para a exposição, situada no centro do Galaxy Macau. O acervo da mostra acompanhará o percurso da actriz norte-americana Grace Kelly até se tornar na princesa consorte Grace do Mónaco, incluindo também uma área dedicada à família Grimaldi e aos tributos artísticos dedicados à celebridade, que nasceu na cidade de Filadélfia a 12 de Novembro de 1929 e veio a falecer a 14 de Setembro de 1982, num acidente de automóvel em Monte Carlo, no Mónaco. Pelo meio venceu um Óscar de Melhor Actriz com o filme “Mogambo” (1953) e casou-se com o príncipe-soberano Rainier III. Thomas Fouilleron, director dos Arquivos da Livraria do Palácio do Príncipe do Mónaco, é o curador da exposição, com design e logística do Grimaldi Forum.
Raquel Moz EventosPALOP | Associações lusófonas organizam “Semana de África 2019” As associações africanas de língua portuguesa em Macau voltam a organizar a “Semana de África”, que enquadra os festejos do Dia Internacional de África, celebrado a 25 de Maio. Os convidados deste ano vêm de Cabo Verde, Guiné e Moçambique [dropcap]A[/dropcap] “Semana de África 2019” vai animar Macau entre os dias 21 e 28 de Maio, com um programa recheado de eventos e actividades, para celebrar a diversidade cultural do continente africano que fala português. Este ano conta com a presença de três convidados de referência no mundo lusófono, e não só, como a cineasta cabo-verdiana Samira Vera-Cruz, o pintor guineense Sidney Cerqueira e a estilista moçambicana Patrícia Vasco. A abertura é no dia 21, terça-feira, às 18h30, com uma conversa de apresentação dos participantes ao público, no Club C&C da Avenida da Praia Grande, antes da exibição da curta-metragem “Hora di Bai” (2017), de Samira Vera-Cruz, um documentário de 26 minutos que explora os rituais de despedida na hora da morte, na ilha de Santiago, em Cabo Verde. O título crioulo significa “hora da partida” e leva o espectador ao universo da superstição e das tradições locais no derradeiro adeus. O filme passou já por festivais de cinema em Portugal, Brasil, Guiné, Moçambique, São Tomé, Timor, Madagáscar, Canadá, Estados Unidos, Bélgica e Polónia. Entre 22 e 26 de Maio é a vez da “Exposição de Pintura e Artesanato” de Sidney Cerqueira e Patrícia Vasco, que vai ser inaugurada às 18h30 na galeria ArtGarden. O pintor e artista plástico da Guiné Bissau mostra os seus trabalhos de realismo espontâneo, estilo criado pelo conceituado austríaco Voka, tendo no currículo mais de 40 exposições individuais e colectivas e uma reconhecida carreira dividida entre a Europa e a África Ocidental. A estilista Patrícia Vasco, criadora da marca “Amorambique”, chega de Moçambique para dar a conhecer tecidos e materiais tradicionais que se transformam em novas peças de moda contemporânea. No mesmo dia 22, pelas 17h30, Patrícia Vasco vai realizar o “Workshop – Tecidos Africanos” na Universidade de São José (Ilha Verde), organizada pela Faculdade das Indústrias Criativas e moderada pela docente Maria João Nunes. A 23 de Maio a Universidade de São José recebe a realizadora Samira Vera Cruz para uma conversa sobre o “Desenvolvimento do Cinema em Cabo Verde”, às 18h30, onde a também produtora falará sobre o processo criativo para realizar qualquer projecto cinematográfico, mesmo quando não se tem financiamento. Dias de festa No Dia Internacional de África, que se celebra a 25 de Maio, está previsto o Jantar de Gala, no Restaurante Varandas do Roosevelt Hotel da Taipa, às 19h30, antecedido por um Desfile de Moda, com as colecções de Patrícia Vasco, às 17h30, na mesma unidade hoteleira. Ao longo de toda a semana, entre os dias 22 e 28 de Maio, vai decorrer um Ciclo de Cinema Africano na Fundação Rui Cunha, onde vão estar representadas películas de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Mas as associações também estendem a festa ao exterior, com a Exibição Cultural “Mãe África” no dia 26, pelas 16h, no Largo de Camões, na Taipa, onde haverá música, dança e pintura ao vivo.
Hoje Macau Sociedade13 de Maio | Celebrações atraem milhares de católicos asiáticos As celebrações do 13 de Maio em Macau atraíram milhares de católicos provenientes de Hong Kong, China continental, Malásia, Filipinas e Singapura, que se juntaram às comunidades chinesa e portuguesa que residem no território [dropcap]”É[/dropcap] impressionante de se ver, vem gente de Hong Kong, vem gente da China continental”, destacou o padre Peter Stilwell, reitor da Universidade de São José, em declarações à Lusa. “Hoje esta devoção espalhou-se” pela comunidade chinesa, filipina e “há mais pessoas a participar”, contou à Lusa, em frente à Igreja de São Domingos, o seminarista da diocese de Macau Adriano Agostinho. Uma ideia acompanhada pelo presidente do Instituto para os Assuntos Municipais, José Tavares: “É notório que nestes últimos anos a comunidade católica de Hong Kong tem vindo mais para as procissões porque lá não existem”, afirmou à Lusa. “A comunidade católica do interior da China também está a vir e a juntar-se nas procissões e [isso] é um bom sinal também, é um sinal de abertura por parte da China”, sublinhou José Tavares. Maria do Carmo Gil enfatizou também a ideia defendida por José Tavares sobre o aumento do número de católicos vindos da China continental devido à sua maior abertura. “Antigamente era só pessoal local, vinham pessoas de Hong Kong, Singapura… mas da China não, [agora como a China] já está aberta vem muita gente da China”, destacou, sorridente, a macaense de 66 anos. Sempre presente Maria do Carmo Gil lembrou, que desde tenra idade participa nas celebrações em Macau com os seus pais: “Nunca faltei e quando vou a Portugal vou a Fátima”, disse, à porta da igreja de São Domingos, onde foi realizada a missa e também o ponto de partida para a procissão que levou milhares a caminharem junto da imagem de Maria e de três crianças vestidas com os trajes dos pastorinhos de Fátima até à igreja da Penha. “Somos católicos desde pequenos, os nossos pais ensinaram-nos, sempre fomos assistir. A senhora de Fátima é muito importante para nós, significa a mãe do céu (…) quaisquer desgostos pedimos sempre o auxílio dela”, frisou Maria do Carmo Gil. “É uma tradição, uma cultura, já enraizada aqui em Macau, quer na comunidade portuguesa, quer na comunidade chinesa” e que “mesmo após a entrega da soberania isto aqui ficou na mesma (…) portanto nada mudou”, explicou o presidente dos Assuntos Municipais de Macau. Antes de entrar para assistir à missa, Peter Herbert, residente em Hong Kong, disse à Lusa que esta é a quarta vez que vem assistir às celebrações, “a primeira foi em 1997, no 80.º aniversário das aparições de Fátima e sabia que ia voltar 20 anos mais tarde para o 100.º aniversário”. “Não podemos ir a Portugal, mas Macau é um bocadinho Portugal e é um degrau mais perto do céu, um degrau mais perto de Deus e um degrau mais perto de Maria”, afirmou o homem de 66 anos, que veio com um grupo de cerca de 15 pessoas, entre estudantes e graúdos, desde Hong Kong. Dia santo Macau e Hong Kong beneficiam do feriado dedicado a assinalar o aniversário de Buda, um feriado celebrado na maior parte do leste da Ásia para comemorar o nascimento do príncipe Siddhartha Gautama, o fundador do budismo. Tal facto fez Peter Herbert agradecer a Buda ter conseguido vir a Macau assistir às cerimónias da aparição de Maria: “Estamos muito gratos aos budistas por nos darem este feriado”, enfatizou. Já o seminarista, neto de um português, lembrou que os seus avós lhe contaram que a Segunda Guerra Mundial “foi um tempo muito difícil aqui em Macau e as pessoas tiveram uma grande fé em Deus, mas sobretudo na Nossa Senhora de Fátima” e que, “quer acreditemos ou não, Macau foi salvo do pior, porque não foi invadido pelos japoneses”. Por outro lado, o reitor da Universidade de São José, destacou ainda que Macau foi “o primeiro território onde se fez uma procissão de Nossa Senhora de Fátima depois das aparições, já que em Portugal eram proibidas as procissões públicas”. “Quando os católicos chegaram nos primeiros barcos, a primeira imagem que colocaram aqui, no Farol da Guia, foi uma imagem de Nossa Senhora”, disse.
Hoje Macau SociedadePolytex | Pedido de indemnização passa de 60 para 20 mil milhões [dropcap]A[/dropcap] Polytex desceu o valor da indemnização pedida ao Governo de 60 para 20 mil milhões de patacas, revelou ontem a Rádio Macau. De acordo com o advogado da empresa, Leonel Alves, trata-se de um valor mínimo. “Optou-se por um valor mínimo dos prejuízos para não empolar”. Em conta foram tidos os danos morais, mas essencialmente os danos patrimoniais em “função dos gastos efectivamente incorridos na obra”, acrescentou. No total, os valores apontam para “20 a 25 mil milhões”. A decisão de diminuir o valor da indemnização “foi uma decisão do cliente”, disse o advogado. Recorde-se que em Junho do ano passado a empresa Polytex queria ser compensada pelo Governo devido ao caso do Pearl Horizon e exigia, pelo menos, 60 mil milhões de patacas em tribunal. O montante foi avançado, na altura, pelo advogado da empresa, que falava em contas provisórias. As declarações foram feitas após o Governo ter revelado uma promessa da Polytex de renúncia a qualquer indemnização ou compensação, no caso da concessão do terreno não lhe ser novamente atribuída. “Pelas nossas contas provisórias, o montante mínimo não deverá ser inferior a 60 mil milhões de patacas”, afirmou Leonel Alves. “Pretendemos a reposição do equilíbrio económico e financeiro do contrato de concessão, na medida em que esse contrato não foi cumprido, não por culpa do particular [Polytex], mas devido aos atrasos muito anormais e significativos produzidos pelos serviços administrativos do Governo”, acrescentou.
João Santos Filipe SociedadeAviões de papel | Tribunal reduz multa a Scott Chiang em 3.600 patacas À segunda o activista voltou a ser condenado pelo crime de manifestação ilegal. Porém, 10 minutos após a decisão já a defesa tinha feito entrar um recurso por considerar que o arguido não foi ouvido sobre a acusação e prepara agora um outro contra a condenação [dropcap]N[/dropcap]a repetição do julgamento, Scott Chiang voltou a ser condenado pela prática do crime de manifestação ilegal. Em causa estão os acontecimentos ligados ao protesto da Associação Novo Macau contra a doação de 100 milhões de yuan da Fundação Macau à Universidade de Jinan onde Sulu Sou constava igualmente como arguido. No entanto, a juíza optou por reduzir o montante da multa em 3.600 patacas passando a coima de 27.600 patacas para 24.000. Esta é uma alteração que pode estar relacionada com o facto de Scott Chiang ter agora dois filhos, quando no primeiro julgamento ainda só tinha um. “O direito de reunião e manifestação está protegido pela Lei Básica e pela Lei 2/93/M. Mas as pessoas têm sempre de cumprir os termos da Lei. Não se pode exercer esse direito à toa, sem cumprir a lei”, afirmou ontem a juíza Cheong Weng Tong, durante a leitura da sentença. “Todos temos o direito à opinião e podemos opinar, mas temos de nos expressar de acordo com a lei”, frisou no final da sessão. À saída do tribunal, Scott Chiang deu como garantida a apresentação de mais um recurso e considerou que a decisão faz com que a lei de reunião e manifestação se torne numa forma de restrição deste direito, mais do que de protecção. “Temos de aceitar que de acordo com o tribunal esta liberdade está actualmente muito restringida e depende da autorização da polícia e do Governo”, disse. O activista comentou ainda o facto do tribunal ter voltado a insistir na abertura de um caso contra os cerca de três activistas que o acompanharam e a Sulu Sou à residência oficial do Chefe do Executivo e que não foram constituídos arguidos. “Quando uma pessoa lidera uma manifestação sabe que vai haver algumas consequências […] Mas para os cidadãos normais, que apenas se associam a manifestações e tentam fazer a sua voz ser ouvida, isto é algo que nunca os devia preocupar”, afirmou. “Isto é para dar o exemplo. Tu, tu e tu, oiçam, tenham cuidado, não voltem a repetir. Estão a tentar dar o exemplo e a acabar com os incentivos para as pessoas se juntarem a manifestações. Mesmo que sejam manifestações pacíficas”, complementou. Cerca de dez minutos após a decisão a defesa fez entrar o primeiro recurso. Em causa está o facto dos advogados considerarem que não houve direito ao contraditório, uma vez que Cheong Weng Tong não permitiu que as testemunhas fosse ouvidas novamente, à luz da acusação por manifestação ilegal. Nos próximos 20 dias, haverá um outro recurso sobre a condenação. História negra À saída, Jorge Menezes, que foi o advogado de Sulu Sou no caso, explicou os dois recursos. Em relação ao primeiro, considerou que o tribunal de base não respeitou a decisão anterior do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que tinha obrigado à repetição. “O primeiro julgamento foi invalidado e o segundo violou regras processuais, não foi um verdadeiro julgamento, o arguido não pode falar, não pudemos trazer testemunhas, houve uma violação de tantas regras processuais…”, apontou Jorge Menezes. “Houve uma clara violação da decisão da Segunda Instância. Para ser franco, imagino que vamos estar cá de novo para um terceiro julgamento. O julgamento é um conceito que não pode ser alterado pelo tribunal da forma que quiser. Não pode fazer as alegações de facto um ano antes e as alegações de direito um ano depois. Isto não existe no código processo penal. Há limites à criatividade jurídica”, considerou. Ainda em relação à condenação e à interpretação da lei do direito de reunião e manifestação, o advogado afirmou ter sido ontem escrita uma “página negra” na RAEM. “É mais uma página negra na História da RAEM. É mais um caso em que um direito fundamental foi violado, não só pela polícia como pelo tribunal, o que é motivo de tristeza e preocupação”, opinou. Durante o primeiro julgamento, o deputado Sulu Sou, que esteve presente ontem no tribunal, também foi constituído arguido e acabou condenado com uma pena de 120 dias de multa, que correspondeu a 40.800 patacas. No entanto, o legislador abdicou do recurso, para poder acabar com a suspensão de deputado e regressar ao hemiciclo. Polícia falhou Apesar de contar apenas com cerca de cinco manifestantes, segundo o entendimento do Tribunal Judicial de Base a Polícia foi incapaz de impedir a “manifestação ilegal” em que foram atirados aviões de papel. Foi desta forma que a juíza Cheong Weng Tong justificou o facto das autoridades não terem entregue um auto sobre os acontecimentos aos manifestantes nas 12 horas seguintes aos acontecimentos, tal como exige a lei do Direito de Reunião e Manifestação. “O tribunal disse que a polícia não conseguiu terminar a manifestação. Não está a ajudar a polícia”, disse Scott Chiang, sobre este aspecto.
Hoje Macau SociedadeDST | Detectados dois guias turísticos ilegais [dropcap]A[/dropcap] Divisão de Inspecção da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) anunciou ontem ter detectado dois casos suspeitos de exercício ilegal da profissão de guia turístico, situação que resultou no levantamento de autos de notícia contra os infractores. De acordo com um comunicado, a DST recebeu uma comunicação da PSP, na passada sexta-feira, a informar da presença de um indivíduo suspeito de ser um guia turístico ilegal, “na zona de largada de passageiros destinada a autocarros de ligação gratuita de um complexo de entretenimento na Taipa”. Após a análise de provas e depoimentos, as autoridades verificaram fortes indícios do exercício ilegal da profissão pelo indivíduo, oriundo do Interior da China, que conduzia um grupo de 48 pessoas oriundas de Maoming, da província de Guangdong. Face à indícios foi levantado auto de notícia, ou seja, o caso será remetido ao Ministério Público no mais curto prazo e vale como denúncia. No dia anterior, quinta-feira, foi detectado outro homem suspeito da prática de guia turístico ilegal durante uma inspecção no posto fronteiriço das Portas do Cerco. De acordo com a legislação actual, quem exercer ilegalmente a profissão pode ser punido com uma multa entre 20 mil a 30 mil patacas.
João Luz Manchete SociedadeRelatório realça falta de transparência e relações familiares no CPTTM O Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau volta a estar debaixo de olho, depois do director-geral Shuen Ka Hung ter relativizado o nepotismo do último relatório do CCAC. A entidade dirigida por André Cheong fez uma investigação complementar e reviu em alta o número de trabalhadores com relações familiares entre si no centro financiado pelo Governo [dropcap]N[/dropcap]o final de Março, o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) revelou nepotismo na contratação de familiares no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM). “Até Abril de 2017, existiam 101 trabalhadores no CPTTM. Destes, 16 tinham relações familiares entre si, nomeadamente de pai-filho, pai-filha, cônjuge, irmãos e irmãs entre outras, sendo que três deles já se desvincularam do serviço”, lia-se no relatório da entidade dirigida por André Cheong. Após a divulgação do relatório, o director-geral do CPTTM, Shuen Ka Hung, referiu que as conclusões do CCAC divergiam da situação real e afirmou ter revisto os processos de contratação onde encontrou 14 situações de relações familiares entre os trabalhadores do centro. Face à divergência, o CCAC fez uma investigação complementar, cujas conclusões foram ontem divulgadas, que não deixa nada bem Shuen Ka Hung. Além de ter revisto em alta o número de funcionários do CPTTM com relações familiares entre si, de 16 para 18, o CCAC teceu duras críticas à falta de transparência na política de contratação do centro. No decorrer da investigação complementar, “um exame interno e verificou que 18 trabalhadores tinham relações familiares entre si”, e que “comparado com a lista investigada anteriormente, o CCAC verificou que, até Abril de 2017, existiam 21 trabalhadores no CPTTM que tinham relações familiares entre si”. Falta de transparência Após a divulgação do relatório em final de Março, Shuen Ka Hung disse que não “verificou nenhuma irregularidade” nos ingressos, ou seja “familiares não tinham participado nos respectivos processos de recrutamento”. Porém, durante a investigação complementar do CCAC o rigor da análise do director-geral do CPTTM foi posta em causa. Em primeiro lugar, a entidade liderada por André Cheong esclarece que “devido à falta de informações completas, o CCAC não chegou, na investigação anterior, à conclusão de que os ingressos dos trabalhadores que tinham relações familiares entre si eram sempre irregulares”. O director-geral do CPTTM referiu ao CCAC que, tendo em conta que não se encontrou na investigação interna qualquer documento que podia comprovar irregularidades nas contratações, considerou o processo de recrutamento normal e sem interferência de familiares. Esta justificação foi considerada pelo fiscalizador como “demasiado negligente, acrescendo ainda que se encontraram, na investigação complementar, documentos que demonstram a participação de um trabalhador no processo de recrutamento do seu familiar”. Tudo em família O CCAC explica, em comunicado, que a mera existência de relações familiares entre trabalhadores num serviço não implica irregularidades nem, forçosamente, nepotismo. Mas o fiscalizador realça que, “tendo em conta as práticas anteriores do CPTTM, de não divulgação ao público de informações relativas a recrutamento, de demasiada arbitrariedade nos processos de selecção, bem como da proporção demasiado alta dos trabalhadores com relações familiares entre si, mesmo que não exista qualquer irregularidade no ingresso dos trabalhadores em questão, tal pode provocar facilmente dúvidas junto do público e queixas por parte de trabalhadores”. Aliás, no decurso da investigação foi apurado que um membro da direcção do CPTTM terá “violado o regime de impedimento na matéria referente à promoção do seu familiar”. Também a justificação dada por Shuen Ka Hung de que os recrutamentos são públicos, através da Internet ou jornais, não colheu junto do CCAC que revelou, entre 2012 e 2018, que 16 recrutamentos não foram feitos de forma pública. Outro argumento que o CCAC rejeitou prende-se com a tese de que o CPTTM é uma organização privada e que, como tal, o ingresso de trabalhadores deve ser visto à luz da lei das relações de trabalho. A entidade liderada por André Cheong responde que o CPTTM é “pessoa colectiva de utilidade pública administrativa cujo funcionamento depende principalmente de verbas do Governo, e o seu responsável é meramente um gestor do erário público e não um seu ‘possuidor’”. Como tal, “o recrutamento e a promoção de pessoal e deve agir de acordo com os princípios fundamentais, nomeadamente os princípios da publicidade, da justiça, da imparcialidade e do impedimento”. CPTTM agradece reparo Em resposta à investigação complementar do CCAC, o CPTTM agradeceu os reparos feitos pela entidade liderada por André Cheong e “promete respeitar os princípios de transparência, imparcialidade e prevenção”, além de reforçar o compromisso de optimizar o sistema de gestão de pessoal. O comunicado do centro financiado pelo Governo refere ainda que providenciou todas as informações e documentos pedidos pelo CCAC.
Sofia Margarida Mota PolíticaPlástico | Multa de mil patacas por saco sem cobrança de taxa [dropcap]D[/dropcap]eputados e Governo concordam. A multa a aplicar no caso de não ser cobrada a taxa aos sacos de plásticos que os estabelecimentos de comércio a retalho disponibilizam aos seus clientes será de mil patacas por saco cedido gratuitamente. A medida integra a proposta de lei que estabelece as restrições ao fornecimento de sacos de plástico, em discussão na especialidade na 3ª Comissão Permanente. Para os deputados da comissão, a redacção do diploma não é clara nesta matéria, não se percebendo se a multa e aplicada pelo acto de oferecer os sacos, ou por saco oferecido. “O supermercado tem de cobrar uma taxa por cada saco ou por acto? Se no acto de venda, o supermercado fornecer dez sacos, a multa é de mil ou de dez mil patacas?”, disse Vong Hin Fai exemplificando as dúvidas dos membros da comissão. O Governo esclareceu: a multa a aplicar vai ter em conta o número de sacos fornecidos e a redacção da proposta vai ser aperfeiçoada para que fique mais clara. Na reunião de ontem foi ainda discutida a razão da definição dos preços a cobrar ficar dependente de despacho do Chefe do Executivo. “Trata-se de uma medida que permite maior flexibilidade no caso de se fazerem alterações”, esclareceu o Executivo segundo o presidente da comissão. Entretanto, há deputados que consideram que o presente diploma deveria abranger restrições ao usos de outros produtos plásticos, como embalagens e talheres. Segundo o Governo, esta lei, que apenas abrange o fornecimento de sacos de plástico, é o primeiro passo a dar, num território que tem estado em atraso no que respeita a este tipo de medidas. No entanto, não estão previstas quaisquer propostas legislativas para este ano de modo a alargar os limites ao uso de plástico.
Hoje Macau PolíticaJustiça | Portugal e Macau assinam acordo para entrega de fugitivos [dropcap]A[/dropcap]proveitando a visita oficial de Chui Sai On a Portugal, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, vai assinar com o congénere português um acordo de cooperação relativo à entrega de infractores em fuga. Segundo a Macau News Agency, o protocolo deve ser assinado hoje durante a reunião da Comissão Mista Macau – Portugal, presidida pelo Chefe do Executivo e o ministro dos Negócios Estrangeiros de Lisboa. De acordo com uma ordem executiva assinada por Chui Sai On, e publicada ontem em Boletim Oficial, foi delegado em Sónia Chan os poderes necessários para firmar o acordo. O acordo entre Portugal e Macau surge na sequência da visita de uma delegação da tutela de Sónia Chan, em Fevereiro, para afinar detalhes quanto à assistência legal mútua em matérias criminais.
Sofia Margarida Mota SociedadeFronteiras | Mais de 3000 estudantes circulam entre Macau e Zhuhai São cerca de 3000 os estudantes que passam a fronteira entre Macau e Zhuhai para frequentar aulas. No entanto, com o aumento do turismo, muitas vezes ficam sujeitos a longas esperas nos postos fronteiriços. O deputado Lam Lon Wai quer medidas que priorizem estes jovens, assim como para residentes que trabalham ou vivem na Grande Baía [dropcap]S[/dropcap]ão necessárias medidas para facilitar a circulação de estudantes e residentes nos postos fronteiriços que ligam Macau e Zhuhai. A ideia é deixada pelo deputado Lam Lon Wai em interpelação escrita. O objectivo é evitar que estas pessoas se submetam às esperas nas filas de turistas que todos os dias entram e saem do território. “Cada vez mais residentes vivem no continente e o mesmo acontece com os estudantes “aponta Lam, o que é “positivo”, na medida em que reflecte maior integração na área de cooperação regional da Grande Baía. No entanto, o turismo também é crescente e está, neste momento, a viver uma situação “explosiva”. As circunstâncias agravam-se em situações de feriados no continente, principalmente quando em Macau são dias de trabalho, tornando o movimento transfronteiriço de quem vive e estuda em lados diferentes da fronteira “inconveniente”. As esperas e demoras entre a multidão acabam por “afectar seriamente a confiança dos moradores na integração na Grande Baía”, refere. Se a situação é grave quando se fala de trabalhadores, piora substancialmente quando se trata de estudantes. O tempo que despendem nos postos fronteiriços tem impacto no seu desempenho escolar e social, aponta Lam Lon Wai. “Estes jovens acabam por ter menos tempo para comunicar com professores e estar com os colegas de turma e é-lhes difícil participar em actividades extracurriculares organizadas pelas próprias escolas”, diz. Esta situação abrange cerca de 3000 estudantes, de ambos os lados da fronteira, segundo os dados da Inspecção fronteiriça de Gongbei, em Zhuhai, diz o deputado, acrescentando que a tendência é crescente de ano para ano. Para resolver a situação o tribuno considera que o Governo deve tomar medidas para optimizar a passagem da fronteira destes segmentos da população. Lam Lon Wai sugere ainda que o Executivo, em conjunto com as autoridades do continente, providencie canais especiais de passagem para residentes que necessitem de passar a fronteira para trabalhar e estudar. Para o deputado ligado à Federação das Associações de Operários de Macau, “resolver o problema da deslocação de estudantes que atravessam a fronteira tornou-se numa medida importante para que os residentes locais saiam do território para outras área das Grande Baía para viverem e trabalharem”.
João Santos Filipe PolíticaGoverno estuda criação de três comissões sob a tutela da Comissão de Registo dos Contabilistas [dropcap]O[/dropcap] Governo está a equacionar criar três comissões especializadas, sob a tutela da Comissão de Registo dos Contabilistas, para permitir recursos de decisões disciplinares. A medida esteve ontem a ser discutida na 3.ª Comissão da Assembleia Legislativa, no âmbito da Lei do Registo e Exercício da Profissão de Contabilistas. Uma das questões levantadas pelos deputados prende-se com o facto de não haver um mecanismo de recurso dentro da Comissão de Registo dos Contabilistas, ou seja do organismo que vai implementar a lei e aprovar a emissão de licenças aos contabilistas. Ontem, o Governo apresentou uma alternativa, que ainda está a ser equacionada. “Neste momento, estão a ser pensadas três comissões especializadas: A Comissão Especializada para Exames e Disciplina, Comissão Especializada para o Reconhecimento de Qualificações e Formação Contínua e ainda a Comissão Especializada de Normas e Disciplina”, afirmou Vong Hin Fai, deputado e presidente da 3.ª Comissão Permanente da AL. “Actualmente, a lei não prevê um mecanismo de recurso. Mas a Comissão Especializada de Normas e Disciplina vai ter poderes para tomar decisões relacionadas com infracções e aplicar sanções. Assim, se um interessado não concordar com uma decisão pode apresentar recurso para a Comissão de Registo dos Contabilistas”, explicou. A ideia ainda não está no papel. Apenas faz parte da primeira ronda de perguntas dos deputados aos representantes do Governo. Contudo, mesmo que não haja um mecanismo de recurso na lei, os contabilistas podem sempre recorrer aos tribunais da RAEM para resolver disputas. Mudança de nome No âmbito da reunião de ontem, o Executivo admitiu igualmente a hipótese de alterar o nome da Comissão de Registo dos Contabilistas para Comissão para o Registo de Exercício de Actividade dos Contabilistas. Outro aspecto definido é que a prática da profissão vai pertencer exclusivamente a residentes de Macau. Mesmo que os não-residentes possam ter as qualificações reconhecidas, e há mecanismos para isso, depois não poderão exercer. “O reconhecimento como contabilista vai ter um registo que pode ser feito por residentes e não-residentes. Depois há um outro registo para exercer que só é aberto aos residentes de Macau. O Governo diz que esta é uma prática internacional”, apontou Vong Hin Fai sobre este aspecto. Após a reunião de ontem, o diploma vai continuar a ser analisado na especialidade durante a tarde hoje, com mais um encontro entre deputados e representantes do Executivo.
Andreia Sofia Silva PolíticaChan Chak Mo admite investir no imobiliário em Portugal [dropcap]C[/dropcap]han Chak Mo, bem como outros empresários locais, podem vir a investir em Portugal. O alvo é essencialmente o sector imobiliário, no entanto, defende da evolução do mercado. “Eu e várias pessoas do meu grupo, queremos ver algumas oportunidades de investimento em Portugal, como na área do imobiliário”, apontou o também deputado. Os futuros investimentos dependem, contudo do mercado, “de como Portugal está economicamente, dos interesses de investidores da China no país, e como se está a ultrapassar a crise no sector”, disse aos jornalistas. Para já é preciso “estar tento”, antecipando mais “cooperação entre os investidores de Macau em Portugal”. Na mesma ocasião, o empresário apontou ainda a dificuldade da viagem entre Macau e Portugal, como responsável pela não existência de mais visitantes locais no país. O transporte é um grande problema. Não há um voo directo nem de Macau nem de Hong Kong. Temos sempre de apanhar um voo de conexão”, disse. De acordo com Chan, “seria muito bom para a economia se existissem voos directos. Deviam pensar nisso”.