Defesa Nacional | Livro Branco reforça posição contra armamento nuclear

O Livro Branco sobre a Defesa Nacional, apresentado pelo Governo Central na passada quarta-feira, define claramente a posição da China contra as armas nucleares, ao mesmo tempo que alerta que os movimentos “separatistas” de Taiwan e Tibete constituem uma ameaça à segurança interna. Os novos objectivos para a área da Defesa passam pela intensa modernização do exército

 

Com agências 

[dropcap]A[/dropcap] China voltou a marcar uma clara posição contra o uso das armas nucleares numa altura em que a vizinha Coreia do Norte continua a ameaçar o sul com um novo teste de mísseis. O novo Livro Branco sobre Defesa Nacional, anunciado na passada quarta-feira, reforça a posição de que para a China o caminho correcto é a desnuclearização.

“A China assume o compromisso de uma política da não utilização de armas nucleares seja em que altura for e sob quaisquer circunstâncias”, lê-se na versão inglesa do documento, publicado pela agência noticiosa Xinhua.

Nesse sentido, a China compromete-se também a “não usar ou ameaçar usar, de forma incondicional, armas nucleares contra Estados que não tenham armas nucleares ou que tenham zonas livres de armas nucleares”. Além disso, o país defende a “total proibição e consequente destruição de armas nucleares”.

“A China não se empenha numa corrida às armas nucleares com qualquer outro país e mantém as suas capacidades nucleares num nível mínimo em prol da segurança nacional. A China não tem qualquer estratégia nuclear de auto-defesa, um objectivo sobre o qual mantém a sua estratégia de segurança nacional em detrimento de outros países que usem ou ameacem usar armas nucleares contra a China”, aponta ainda o documento.

Contra “separatismos”

No Livro Branco a questão de Taiwan está também presente, com o Governo Central a declarar que não hesitará em recorrer à força para reunificar o território. “A China adere aos princípios da ‘reunificação pacífica’ e de ‘Um País, Dois Sistemas’ para promover um desenvolvimento pacífico nas relações na zona do Estreito” de Taiwan, lê-se no documento. Esta posição reforça ainda a ideia de que o país “se opõe absolutamente a quaisquer tentativas ou acções de separação do país e a qualquer tipo de interferência estrangeira que vise atingir este fim”.

“Não fazemos promessas de renunciar ao uso da força, e reservamo-nos à opção de tomar todas as medidas necessárias. Isto não é, de forma nenhuma, destinado aos nossos compatriotas de Taiwan, mas sim às interferências de forças externas e a um pequeno número de separatistas que defendem a ‘independência de Taiwan’ e às suas actividades”, refere o Livro Branco.

Tendo em conta estas orientações, o Exército de Libertação Popular Chinês deve “derrotar qualquer um que tente separar Taiwan da China e garantir a segurança nacional a todo o custo”.

O Ministério da Defesa chinês declara mesmo no Livro Branco que a “luta contra os separatistas está a tornar-se mais aguda”, fazendo também referência às “forças separatistas em prol da ‘independência do Tibete’ e da criação de uma ‘Turquia do Leste’ que realizam acções frequentes, constituindo uma ameaça à segurança nacional da China e à estabilidade social”.

Desafios no mar

O Livro Branco não ignora as disputas na zona do Mar do Sul da China e, para Pequim, “a segurança do território chinês ainda enfrenta ameaças”, uma vez que as “disputas territoriais ainda não estão completamente resolvidas” e permanecem “ao nível da soberania territorial em algumas ilhas e recifes, bem como uma demarcação marítima”.

O Governo Central mantém a posição de que “as ilhas do Mar do Sul da China e as ilhas Diaoyu são partes inalienáveis do território chinês”, ainda que as autoridades estejam dispostas a resolver este assunto através de “negociações com os Estados directamente envolvidos, com base no respeito pelos factos históricos e leis internacionais”.

Pequim mantém esta posição apesar de, em 2016, um tribunal internacional ter decidido a favor das Filipinas relativamente às ilhas do Mar do Sul da China. “O tribunal concluiu que não existe uma base legal para a China reclamar direitos históricos dentro da ‘linha de nove traços'”, disse em comunicado o Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA), com sede em Haia.

O Livro Branco deixa claro que o país não procura a hegemonia mundial e que Pequim vai sempre procurar negociar com os seus parceiros, uma ideia anunciada pelo Presidente na terça-feira passada.

Testes são “sério aviso”

Apesar do compromisso de Pequim com a desnuclearização, na passada sexta-feira, Kim Jong-un, líder supremo da Coreia do Norte, declarou que os mísseis lançados na véspera por Pyongyang são novas armas tácticas destinadas a enviar um “sério aviso” a Seul, devido aos exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos.

O lançamento de dois mísseis de curto alcance, na passada quinta-feira, foi o primeiro desde que Kim Jong-un e o Presidente norte-americano, Donald Trump, se encontraram, no mês passado, na zona desmilitarizada que separa as duas Coreias. Neste terceiro encontro, os dois líderes concordaram em retomar as discussões sobre a desnuclearização da península coreana, o que ainda não se concretizou.

Pyongyang tem ameaçado quebrar a promessa, em protesto contra os exercícios militares conjuntos entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, previstos em Agosto próximo. A agência de notícias oficial norte-coreana KCNA forneceu pouca informação técnica sobre os dispositivos, que descreveu apenas como “um novo tipo de arma táctica guiada” e “um sistema de armas ultramoderno”. Estes testes constituem um “sério aviso aos soldados sul-coreanos, que ainda não abandonaram a previsão de realizar os exercícios conjuntos, “apesar repetidos avisos” de Pyongyang, segundo a KCNA.

Quase 30.000 soldados norte-americanos estão destacados na Coreia do Sul e os exercícios anuais que realizam com dezenas de milhares de soldados sul-coreanos nunca deixam de irritar Pyongyang, que os considera um teste para a invasão do seu território. De acordo com estimativas do exército sul-coreano, os dois mísseis de curto alcance viajaram entre 450 e 700 quilómetros, respectivamente, antes de se despenharem no mar entre a península coreana e o Japão. Estes dispositivos seriam capazes de atingir qualquer alvo na Coreia do Sul.

O Ministro da Defesa japonês falou de disparos “extremamente lamentáveis”, enquanto o Ministério da Segurança Nacional sul-coreano disse estar “profundamente preocupado”. Os Estados Unidos pediram o fim das provocações.

De acordo com a KCNA, Kim Jong-un acrescentou que os novos mísseis podiam voar a baixa altitude, o que dificulta a interceptação. Kim advertiu também Seul contra a tentação de “ignorar a advertência” implícita que estes novas armas representam.

 

Objectivos do Livro Branco

Atingir a mecanização em 2020 com uma melhorada uniformização e uma grande melhoria das capacidades estratégicas

Modernização da estrutura militar, a todos os níveis, até 2035

Transformação das forças armadas para que atinjam o patamar de excelência mundial na metade do século XXI

 

PCC | Reformas anunciadas na reunião do Comité Central

Xi Jinping presidiu na passada quarta-feira à nona reunião do Comité Central do Partido Comunista Chinês, de onde saíram uma série de planos estratégicos a adoptar para os próximos anos. De acordo com a Xinhua, Xi Jinping frisou que “uma reforma geral e aprofundada é uma importante manifestação de que o compromisso do PCC se mantém fiel à sua aspiração original”.

No nono encontro do Comité, foram aprovados uma série de documentos, tais como um plano para o estabelecimento de um comité nacional de ética para as áreas da ciência e tecnologia, as linhas orientadoras para o reforço da protecção dos direitos de propriedade intelectual, bem como do desenvolvimento e inovação ao nível da medicina tradicional chinesa.

O encontro serviu também para anunciar a construção de parques culturais de cariz nacional sobre a Grande Muralha, o Grande Canal Pequim-Hangzhou e a Longa Marcha. O Governo Central lançou também linhas orientadoras para a criação de um sistema de gestão na área da Internet, bem como um guia de apoio à cidade de Shenzhen para a construção de uma zona piloto de demonstração do “socialismo com características chinesas”, um dos motes políticos lançados por Xi Jinping.

29 Jul 2019

Sacerdócio da invenção e do desconhecimento

[dropcap]A[/dropcap] história começou quando resolvi não voltar a mentir e começar a dizer, pela primeira vez na vida, a verdade. Estava farto daquele modo de viver. Acordava com uma nuvem em cima da cabeça, corrosiva. Dores no corpo. Má disposição permanente. Nessa manhã, entrei na esquadra da polícia de livre vontade e fiquei à espera que me chamassem. Não foi há muito. Ficaram surpreendidos por me verem ali, mas não liguei e agi como cidadão normal que sou. Havia um aparelho de rádio pequeno em cima da secretária do primeiro escriturário, sintonizava a Antena 2 e passava aquela obra mais famosa de Listz. Nunca consigo dizer o nome, nem agora nem nesse dia, mas desperto e fico deliciado. Toca-se à noite.

Adoro certas passagens, lembro-me de epopeias, e naquela ocasião veio-me à memória uma imagem de campos de batalha ao fim da tarde. Húmidos e desertos onde a luta ainda estava por passar ou já tinha ido sem deixar rasto. E estava absorto nesse poema musicado de Liszt quando chamaram o meu nome e indicaram um gabinete ao fundo do corredor. “O inspector vai recebê-lo, senhor Ministro”, informaram-me. Entrei, era um homem de bigode, figura de Lua cheia, muito sorridente, que me saudou, perguntando-me ao que vinha. E eu disse-lhe, que estava ali para contar a verdade. Que andava cansado de mentir “ao povo”, todos os dias, e que agora chegara a altura de dar com a língua nos dentes. Não perdi tempo e comecei a desbobinar.

Fui logo pelo início, para que não faltasse pitada da história. O inspector de olhos arregalados ia apontando no seu caderninho, tentando apanhar aquela avalanche de informação que me entupia a boca e que na dele deixava escorrer um fio de baba.. Ao princípio não acreditou, mas à medida que fui descrevendo as situações com todo o pormenor, não esquecendo o nome de ninguém, percebeu que não estava a mentir e que estava a contar, tintim por tintim, tudo o que a sua brigada e a nação inteira andavam a tentar descobrir há anos e que até ali só suspeitavam. Aquilo era um tsunami na investigação, ia virar o país e deixá-lo de pernas para o ar. Era a verdade pura e dura.

Claro, a retaliação não se fez esperar. Semanas depois, quando o esclarecimento já se deslocara para outros destinos, dou com uma trupe de cavernícolas à porta do ministério. Apesar das trombas com que vinham, não lhes fiz frente e deixei-os entrar. “Façam favor”. Foi tudo muito natural. Não disseram logo ao que vinham, não eram de grandes falas. Deram-me um papel para a mão e sugeriram que não resistisse, que deixasse as coisas andar, que era melhor. Abri o papel dobrado em duas partes, li. Era só isso, vinham tomar conta dos incidentes. Queriam castigar-me. No papel vinham escritas as razões, queriam libertar-me do remorso, asseguravam, em letras grandes. Que desse um passo atrás. Que voltasse à esquadra e repetisse tudo, mas ao contrário. Disse-lhes que não valia a pena, que essa coisa da liberdade já estava gasta, agora a luta era outra. “Que se foda a liberdade!”, gritei. Sim, a luta é a vida, sem vida não há liberdade. Por isso, escusavam de estar para ali a inventar e a fazer perder-me tempo. Empurraram-me e ataram-me com uma corda. Se não me calasse e não fizesse o que pediam, penduravam-me da janela, pelo pescoço. Para dar o exemplo.

Nada estava certo naquela cena, e não havia qualquer ponta de justiça. Mas isso já era de esperar, a  maior surpresa era virem falar em liberdade. Tinham era de engolir. “Que querem vocês com a liberdade, que vão fazer com ela?”, mas nem pestanejaram. Um deles estava mais enervado do que os outros e estava prestes a perder o autodomínio. Queria ir-se embora. Achava que aquela ideia de me atormentarem não ia dar em nada. Que se calhar até tinha razão em ter dado com a língua nos dentes. A coisa não estava a correr bem, transpuseram a porta da rua e logo encalharam num problema de consciência. O que viria a seguir? Informei-os de que atrás da próxima porta estaria o comissário da polícia com um batalhão inteiro que ia dar cabo deles.

Era inédito, estava sozinho no edifício e prestes a sair quando simpaticamente eles tocaram à campainha. Sim, saio desprotegido, não ando com guarda-costas. “Mas estejam à vontade”, garanti-lhes. Atrás da porta não havia ninguém. Ganhava tempo e instaurava a desconfiança. Ouvia-se o piano de Liszt a ressoar nos corredores, a anunciar a obscuridade. Desta vez, não havia epopeia, ninguém se fez ao caminho para o campo de batalha. E pedi para que acabassem com aquela história da corda, estava a magoar-me. Que levassem toda a papelada que quisessem, era um favor que me faziam. Mas em vez disso atiraram-me da janela, como tinham prometido. Pelo menos eram homens de palavra. Hoje em dia, já é raro.

E foi assim que, meses depois, chegamos ao epílogo. O caso é muito sério. Os governantes vão ser demitidos e os seus cúmplices vão para a cadeia. Não há lugar para recurso, a sentença do tribunal é superior e final. Fizeram merda e vão ter de pagar por isso. Devolvem as benesses e as propriedades e é uma sorte se ninguém os agredir na rua. O preço a pagar é mesmo esse. Vão e não voltam. “O governo por inteiro abandona o seu pelourinho”, já se adivinha na primeira página dos jornais. Não há cá “mas” nem “ses”, vai tudo parar atrás das grades e, diga-se, que merecem. O que me vale, são os cuidados intensivos.

A notícia caiu desenfreada no gabinete do Primeiro-ministro, que apesar de toda a trafulhice não estava à espera de semelhante desfecho, aquilo era um complô para o deitar abaixo, berrou ao telefone, não se inibindo de empregar estrangeirismos. “Só podia!” Tentou falar com o gabinete de relações públicas para saber o que era possível fazer, mas de lá não vieram ilações positivas. Podiam fazer um comunicado a negar qualquer relação com o acontecido, o que não estaria muito longe da verdade, mas a opinião pública estava formada e, como tal, tudo o que dissessem seria mais um prego no enorme caixão colectivo. Então, reuniu o Conselho de Ministros, só para saber quem era o autor daquela tramoia. Bastava olhar para a cara do prevaricador para compreender quem tinha sido. Pelos vistos, estava mal informado, os homens da corda não tinham vindo da sua parte. Só soube que eu tinha escorregado do primeiro andar e caído da janela. Há uma coisa que se chama “protecção de testemunhas”. Mas não sei se me volto a pôr em pé.

Na sala, enquanto cumprimentava a sua equipa, passou revista a todos, como se estivessem na tropa. Nem tentou disfarçar. Olhou cada um, homem ou mulher, fixamente nos olhos sem pestanejar, e quem lhe despertou verdadeiramente desconfiança foi o Ministro da Defesa. Sim, ele teria a ganhar com tudo isto, assumiu sem receios. É dos poucos que não será beliscado quando o futuro vier tomar conta da situação e poderá assumir a chefia do governo numa nova candidatura. Sim, tinha sido ele. “Que grande filho da puta!”

29 Jul 2019

Presidente da Colômbia visita a China para reforçar relações bilaterais

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da Colômbia, Iván Duque, parte sábado para a China para uma visita oficial de três dias com o objectivo de melhorar as relações económicas bilaterais e promover a abertura do mercado chinês aos produtos do seu país.

Duque inicia os compromissos oficiais na próxima segunda-feira, em Xangai, onde presidirá ao Fórum Económico e Comercial Colômbia-China, no qual cerca de 300 empresários colombianos farão uma apresentação dos seus produtos.

Nesse mesmo dia, o Presidente colombiano visita o porto de Yangshan e o Aeroporto Internacional de Hongqiao, que integra os serviços de terminal aéreo, comboio e metro.

Outro fórum económico está igualmente previsto na quarta-feira em Pequim, onde outros 200 empresários colombianos devem comparecer ao evento.

Na capital chinesa, o chefe de Estado vai observar as obras do novo aeroporto da cidade, que terá capacidade para mobilizar 100 milhões de passageiros por ano, e visitará o Palácio Imperial, considerado um ícone da promoção de indústrias criativa e cultural.

Duque deverá encontrar-se com o Presidente da China, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro, Li Keqiang, entre outros altos dirigentes chineses.

Durante os seus encontros com as autoridades da China, primeiro país da região que visita desde que assumiu a Presidência, a 7 de Agosto, Duque assinará 15 instrumentos de cooperação e entendimento em diferentes áreas.

Os protocolos de cooperação e entendimento são nas áreas da agricultura, infraestrutura, transporte, ciência, tecnologia, educação, cultura, comércio electrónico e comércio da laranja, um dos pilares do Governo de Duque.

A China é o segundo parceiro comercial da Colômbia e o segundo maior investidor da Ásia no país, mas com um volume ainda muito baixo de 40 milhões de dólares anuais, que o Governo da Duque quer expandir.

27 Jul 2019

Número de mortos em deslizamentos de terras na China sobe para 26

[dropcap]O[/dropcap] balanço do número de mortes causadas pelos deslizamentos de terra na província de Guizhou, sudoeste China, aumentou para 26, após serem descobertos mais dois corpos, anunciou hoje a estação pública de televisão.

Um forte deslizamento de terra atingiu na noite de terça-feira uma aldeia na cidade de Liupanshui, localizada a 2.300 quilómetros de Pequim. Em consequência do desastre resultaram até agora 26 mortos, o desaparecimento de 25 pessoas e 22 casas soterradas, segundo a estação de televisão pública CCTV.

Um balanço dado no início do dia registava 24 mortos e 27 desaparecidos. O canal de televisão CCTV emitiu imagens de máquinas escavadoras a tentar salvar os sobreviventes, bem como de uma equipa de resgate a levar um corpo numa maca e a aldeia devastada, na qual flui um rio de lama.

Os deslizamentos de terra ocorrem frequentemente em áreas rurais e montanhosas da China, especialmente durante as chuvas fortes. Em Agosto de 2017 morreram pelo menos 30 pessoas em dois deslizamentos diferentes na mesma província de Guizhou.

Mais de 800 pessoas participam nas operações de resgate e têm vasculhado a área, onde chuvas contínuas e encostas íngremes dificultam os esforços de busca. Num outro incidente, na tarde de terça-feira, uma pessoa morreu e outras seis estão desaparecidas depois de um deslizamento de terras atingir uma aldeia em Hezhang, também na província de Guizhou.

27 Jul 2019

Lei da extradição | Trabalhadores do aeroporto de Hong Kong juntam-se aos protestos

[dropcap]O[/dropcap]s trabalhadores do aeroporto de Hong Kong e das companhias aéreas que operam no território manifestaram-se hoje no terminal de chegadas, com o objectivo de alertar os viajantes estrangeiros sobre a crise política no território.

Os passageiros que chegaram ao terminal 1 foram recebidos com centenas de manifestantes vestidos de preto, que tinham vários cartazes onde podia-se ler “Liberdade em Hong Kong”, “A polícia viola a lei de propósito” ou “Carrie Lam (chefe do executivo) demissão!”.

Pilotos, hospedeiros e sindicatos que representam os funcionários começaram o protesto às 13:00 locais e está previsto que seja concluindo à meia-noite. Ao protesto juntaram-se outros cidadãos.

De acordo com a agência noticiosa Associated Press, o número de protestantes ultrapassava os 1.000 e ouviram-se cânticos como “Não há motins, só há tirania!”. Um dos organizadores do protesto, Andy Ho, de 22 anos, disse que o objectivo principal “é fazer com que mais pessoas no mundo saibam o que é que está a acontecer em Hong Kong nos últimos meses”.
“Hong Kong já não é o que era no passado”, acrescentou.

Os manifestantes fizeram as mesmas exigências feitas na marcha de domingo: a retirada por completo da proposta lei de extradição, cujo processo já foi suspenso pelo Governo temporariamente, uma investigação independente sobre a violência policial durante os protestos dos opositores à lei e a instauração do sufrágio universal na ex-colónia britânica.

O evento de hoje também foi uma reação à violência exercida por centenas de homens vestidos de branco que agrediram os passageiros que estavam na estação de metro de Yuen Long, no passado domingo.

Os indivíduos vestidos de brancos bateram, com paus e barras metálicas, em todos aqueles que estivessem vestidos de preto, cor escolhida pelos manifestantes pró-democracia que a essa hora realizavam uma marcha de protesto no centro da cidade

As agressões resultaram em 45 feridos e a polícia não reagiu a tempo de evitar os incidentes.
Até ao momento, as autoridades do território já prenderam 11 pessoas, algumas vinculadas com as máfias locais.

Está marcada uma outra manifestação para este sábado, perto da estação do metro onde aconteceram os incidentes de domingo. A polícia não autorizou a realização da próxima manifestação, mas os protestantes já confirmaram que irão prosseguir com o evento.

As manifestações começaram no início do mês de Junho em Hong Kong, contra uma proposta de lei de extradição que, segundo os advogados e os activistas defensores dos direitos humanos, podia traduzir-se num acesso do regime de Pequim a “fugitivos” e refugiados que estão no solo de Hong Kong, assim como uma forma de intimidar e penalizar os críticos do regime chinês.

Já os seus defensores argumentam que esta é uma forma de preencher um vácuo legal, já que não há fórmulas legais de extradição entre Taiwan, Hong Kong e China continental.

26 Jul 2019

Sorrisos fáceis

[dropcap]S[/dropcap]e há coisa que me surpreende muito agradavelmente sempre que passo uns dias em territórios do sudoeste asiático é a espontaneidade generalizada dos sorrisos que encontro nas pessoas com quem interajo. Uma simpatia profunda e inevitável, leve e fácil, que torna mais suaves e adocicadas as relações, mesmo que sejam as comerciais, as que resultam da prestação dos serviços necessários a viajantes mais ou menos desenquadrados daquelas realidades quotidianas, mas que também se nota para lá desse território do estrito domínio dos afetos necessários à dinâmica do capitalismo moderno, tão feito do consumo de experiências, interações, símbolos e emoções a impregnar produtos – um tráfico sistemático e permanente de sentimentos embebidos em mercadorias várias.

Vai para lá dessa traficância de afetos a genuína simpatia e o decorrente caloroso acolhimento que generalizadamente se sente por onde quer que se percorram as ruas, as praças, os mercados, as lojas, as praias ou os templos e monumentos de países como a Tailândia, o Vietname, a Índia ou a Indonésia – os que por sortes várias tive oportunidade de visitar. Encontra-se por esses caminhos uma permanente sensação de descontração e relaxamento, de descanso efetivo e aparentemente definitivo, desprovido de qualquer tensão imanente, ainda que sejam desconhecidos os lugares e incompreensíveis as línguas que se falam ao nosso redor. Há por ali um sentimento de comunidade e fraternidade que as sociedades altamente individualistas e competitivas em que nos habituámos a viver dispensam com a brutalidade inevitável e necessária que lhes caracteriza o quotidiano.

Talvez não seja alheia a estas anacrónicas e exóticas vivências comunitárias a persistência aparentemente generalizada de formas de organização social pré-capitalistas (ou “a-capitalistas”, eventualmente), alheias à motivação do lucro e dos benefícios individuais e profundamente enraizadas na defesa e promoção dos valores da coletividade e da comunidade, da prioridade à solidariedade sobre a competição, mesmo quando afinal estas práticas estão relativamente próximas – ou até intimamente ligadas – aos grandes fluxos globais de mercadorias e pessoas, com o decorrente tráfego comercial e turístico. São exemplos disso práticas ainda hoje comuns como o trabalho voluntário na manutenção e preservação de templos religiosos (também utilizados como atração turística) ou a existência de redes locais de solidariedade social (e até de administração da justiça) financiadas com contribuições de todas as pessoas, numa proporção fixa do seu rendimento, à margem (ou em complemento) dos mecanismos legais das instituições do Estado.

Sobrepõe-se esta doce e acolhedora hospitalidade às carências das mais básicas infraestruturas, como as insuficiências no tratamento e na distribuição de água que tornam o cheiro a esgoto frequente, por vezes até no centro das cidades, e relativamente arriscada a ingestão de alimentos não cozinhados, o que naturalmente inclui o gelo necessário e indispensável à preparação de cocktails vários que combatem a sede e aninam o espírito. É só um exemplo do que falta nestas sociedades e do que nos habituámos a tomar como adquirido, mesmo em Portugal, que continua longe dos níveis de desenvolvimento de outros países: os serviços médicos, os transportes, a qualidade da habitação e da construção em geral, a pobreza ainda generalizada que coexiste com os sorrisos espontâneos que vamos encontrando. Não sei se também é assim nos imensos bairros de lata que circundam as grandes metrópoles de Bangkok, Ho Chi Minh, Jakarta ou Bombaim, em todo o caso.

Certo é que a pobreza e as desigualdades profundas que prevalecem nesta zona do planeta não se traduzem num estado de insegurança permanente ou de violência regular para o turista europeu ou americano. Mesmo que não seja rico ou esteja até longe disso, esse viajante transporta inevitavelmente na carteira, só para os ocasionais gastos de férias, montantes despropositados em relação às necessidades quotidianas das pessoas que lá vivem. São esses turistas que vão usar os melhores recursos, as melhores praias, os melhores restaurantes, os melhores hotéis, as melhores lojas, que esses países têm para oferecer – e que são inacessíveis à esmagadora maioria da população local. Ainda assim, nenhuma dessas profundas injustiças inibe a simpatia, a empatia e o acolhimento numa comunidade aparentemente tranquila e protegida da competição quotidiana, intensa e permanente que nos alimenta as ambições e, dizem, o progresso. Com menos sorrisos, certamente, mas mais ricos.

26 Jul 2019

O erro repete-se 

[dropcap]H[/dropcap]á um novo capítulo na turbulenta situação política em Hong Kong e desta vez a China quis deixar bem claro que há todo um exército de libertação que pode intervir e ir para as ruas, tendo até feito questão de lembrar à perdida Carrie Lam que ela, na qualidade de Chefe do Executivo, pode chamar os militares se assim o entender. Que belo post-it político de não esquecimento.

Mas, mais do que a importante questão da entrada do exército em Hong Kong, é também importante lembrar que houve um erro que os manifestantes cometeram, que foi o de denegrir o símbolo da bandeira chinesa e vandalizar o edifício do Gabinete de Ligação. A coisa já tinha corrido mal há uns anos quando, em plena tomada de posse no LegCo, os deputados do campo pró-independência resolveram insultar a China e os seus símbolos. Nessa altura, perderam uma oportunidade de se fazerem ouvir em pleno parlamento.

É bonito lutar, e dois milhões de pessoas demonstraram isso nas primeiras acções de rua, mas não percam agora a credibilidade com acções deste tipo. Mas vamos ver se desta vez os protestos não chegam a um ponto sem retorno, com a entrada em cena do exército e de alegadas tríades.

26 Jul 2019

Ainda a vacinação, parte segunda e última

[dropcap]U[/dropcap]m estudo em 2017 com dados de 2011 a 2013 revelou que a incidência de autismo na comunidade somali era de 1 em 32 crianças, enquanto que na comunidade caucasiana era de 1 em 36. Estatisticamente, a diferença é residual. Ainda assim, a comunidade somali, provavelmente sofrendo do defeito de óptica que consiste em ver o infortúnio próprio de forma hipertrofiada, não é convencida pelos números apresentados.

Michel Osterholm, ex-epidemiologista do estado de Minnesota, assegura que o medo incutido pelos anti-vaxxers é o grande responsável pela resistência da comunidade à vacinação. O argumento? “Lembrem-se, o sarampo é uma doença que dura entre cinco a dez dias. O Autismo é para sempre.” Embora a taxa de mortalidade do sarampo seja efectivamente muito diminuta, diria que o “para sempre” da morte de uma criança intencionalmente não vacinada é bastante mais cruel do que o “para sempre” do autismo.

O grande problema que ocorre quando a comunidade médica diz em uníssono – e com amplos estudos a sustentarem a afirmação – que “as vacinas não causam autismo” é a sua incapacidade, por outra parte, de determinar com suficiente grau de certeza o que de facto causa o autismo. E é nesse limbo, propício ao crescimento do bolor da desconfiança, que laboram todas as teorias da conspiração.

Em 2008 Charlie Sheen foi para tribunal para impedir que a ex-mulher, Denise Richards, vacinasse os dois filhos de ambos. O actor acredita que as vacinas são “um veneno”.

Em 2015, Jim Carrey tuitou contra o timerosal e o alumínio presente em algumas vacinas, acusando o Estado da Califórnia de fascismo corporativo e de envenenar crianças.

Billy Corgan, dos Smashing Pumpkings, diz não acreditar naqueles que fazem as vacinas ou no medo que inculcam nas pessoas para os “obrigarem a tomá-las”.

Jenny McCharty é provavelmente a grande porta-voz mediática do movimento anti-vacinação americano. Em 2005 anunciou que o seu filho Evan tinha sido diagnosticado com autismo. A condição manifestou inicialmente com ataques epilépticos. Quando estes foram debelados com tratamento apropriado, o estado geral de Evan melhorou substancialmente. Jenny continua a afirmar, com maior ou menor frequência de patacoadas pseudo-científicas, que foram as vacinas que causaram o autismo de Evan e aconselha os pais “a pesarem os prós e contras da vacinação de modo informado” (leia-se nas não tão subtis entrelinhas: vacine por sua conta e risco, porque as consequências da não-vacinação são despiciendas – a imunidade de grupo protege até os não vacinados (a chamada protecção indirecta) – e as da vacinação podem ser uma indesejada sorte grande na tômbola do autismo). Resta dizer que Jenny McCarthy foi namorada de Jim Carrey durante cinco anos.

É interessante verificar que o movimento anti-vacinação aparece irmanado a outros movimentos de teor conspirativo. Muitos dos que defendem a terra plana também têm uma posição crítica acerca das vacinas e dos seus supostos malefícios. A verdade é que as muitas teorias da conspiração compõem uma espécie de rizoma entrelaçado com múltiplos pontos de contacto e de tangente. E a natureza primordial desse núcleo rizomático é a suspeita de estarmos a ser controlados/enganados/amestrados por forças dissimuladas cujo propósito é destruir-nos/escravizar-nos/roubar-nos (riscar em cada caso o que não interessa). E esta criatura de múltiplas cabeças alimenta-se da ignorância que transforma muito rapidamente em desconfiança. Alimenta-se das sombras.

26 Jul 2019

Dias de chuva no Verão

[dropcap]N[/dropcap]a infância e adolescência, as férias na praia obedeciam a um único requisito: ir à praia. O quotidiano girava à volta das horas solares de quando se ia à praia, de manhã e à tarde, só de tarde, para os finórios e de manhã e à tarde para quem era adepto inveterado de praia, do sol, dos banhos de sol. Para quem era gordinho como eu e com alma de peixe, não é difícil de entender que entrávamos dentro de água de manhã, quando éramos levados por pais, pais amigos dos pais, arrastados com outros miúdos que ficariam referências para toda a vida, e só saímos quando nos chamávamos. Acho que desenvolvi barbatanas entre o polegar e o indicador naqueles anos. O meio ambiente era sempre o que esperávamos que fosse, céu azul, temperatura quente, água gelada, mas “mergulhável” e “nadável”. Quando não era dentro de água, o meu meio favorito, onde nadava, remava, mergulhava, era fora dela, claro. Não que fosse dotado para o que quer que fosse de jogos e a moral já despontava em mim. Não achava curial estar à raquetada a bolas que faziam barulho e magoariam as pessoas em quem acertassem, mas também lia, sobretudo, na adolescência. Quando ia para a praia, levava uma parafernália que ia desde o que qualquer pessoa podia considerar dispensável, tal como eu o achei anos mais tarde, mas que para mim era absolutamente necessário e indispensável: chapéu de sol, geleira, o que é básico, mas também cadeira para poder ler e muitos livros. Nem me levantava da cadeira para me deitar. Aliás, tudo me dói quando me deito na areia da praia. De qualquer modo estava sempre acompanhado da “malta”. Uns tinham barcos e iam curar a ressaca para a praia. Nunca ninguém me poderá explicar como é que alguém cura uma ressaca na praia a não ser se também bebesse na manhã seguinte como bebeu de véspera, porque ninguém consegue dormir nem ir para o banho se não tiver dormido bem e se tiver bebido como se não houvesse amanhã. Esses dias eram os dias que não eram perspectivados como dias seguintes, pois de véspera a noite ia prolongar-se para todo o sempre. Não haver amanhã quer dizer não haver ressaca. Não haver ressaca quer dizer não haver realidade. E a realidade não é compatível com a possibilidade de uma véspera sem amanhã.

Mas regresso ao ponto. Na infância e adolescência, as férias de verão andavam à volta da praia. O quotidiano girava à volta do tempo diurno quando há sol. Mesmo que fôssemos para a praia acender fogueiras, tocar guitarra e dançar ao luar tudo andava à volta da praia e quando não tínhamos pela idade autonomia, era de dia que tudo se passava, quando chegávamos porque a praia fazia bem era de manhã e tínhamos de regressar ao almoço porque pai e mãe assim o determinavam. Se queríamos regressar logo para a praia, engolíamos o almoço, mas era em vão porque a seguir havia sestas à tarde e a seguir uma página de português e de matemática, porque a escola não podia ser esquecida. Era em vão. Lá íamos ao fim da tarde ou quando a praia não faz mal, quando quem lá tinha estado também tinha morrido de tédio, já tinha comido gelados, sanduíches ou bolas de berlim com creme, mas também tinha mergulhado e nadado e secado e cumprido todo o ritual de então. Agora, há barcos para alugar, pranchas que são de surf, mas onde se pode estar de pé, os cafés de praia oferecem todo o tipo de serviço, famílias inteiras vão para a praia com parafernálias mais completas do que a minha outrora para ler, parece que levam ginásios e cozinhas para a praia. Não vão para a praia para serem trabalhados pelos elementos são tão narcisos que nem percebem o barulho que fazem o cheiro que exala dos seus tachos ou como se apresentam nos seus fatos de banho.

Tudo isto pressupõe que há sol, faz calor, que tudo se repete dias sem conta. A indumentária é simples: calções de banho, uma toalha levada ao ombro, uma T-shirt e sandálias nos pés. Depois, era encontrar todos os outros da mesma maneira. Não havia camisas brancas do colégio, nem calções ou para os mais velhos calças, não havia sapatos, muito menos cintos e ainda menos camisolas ou casacos. Isso era roupa de inverno. Pior, era roupa do tempo das aulas. Não era a indumentária das férias grandes do mundo, a durar três meses, às vezes quatro meses. A durar desde a inauguração que consagrou as nossas vidas dedicadas ao rio e ao mar, ao oceano Atlântico, e que só quem lá esteve sabe do que se trata, até agora quando a nossa inauguração foi absolutamente consagrada e somos os seres religiosos que unem o nosso eu de então ao eu de agora, o nosso eu isolado ao dos outros de então e de agora, os mortos e os vivos.

E depois vinha a chuva. Interrompia-se o ritual incessante que adora o deus sol. Já não se vai à praia do rio, porque chove e talvez faça frio ou então porque não se vai à praia de Verão, quando não faz sol e não faz calor. Quem “faz” o que quer que seja de sol e de calor é também quem faz a chuva cair em Agosto. Ninguém cura ressacas em conjunto na praia. Os pais aproveitam e vai-se à povoação maior para fazer compras, visitar sítios dignos de visita. A praia aparece vazia como nos dias de Inverno, como nos dias frios, não está lá ninguém. Chove copiosamente. As nove da manhã não são as nove da manhã de Verão, são as nove da manhã de Inverno, quando esperávamos a carrinha para ir para o colégio ou já apanhávamos meios de transporte para ir para o liceu. Os amigos já estavam vestidos como para uma cerimónia, mas era só a impressão disso. Porque estar vestido com roupa é sinal da civilização e do sério, quando na praia no Verão regressamos a um estado primordial, expostos aos elementos. Íamos para os cafés, já de calças se tivesse de ser ou calções. Não escaparíamos à camisa ou à T-shirt com pullover. Aquele dia interrompia o ciclo do verão. Havia uma resistência ao ritual de adoração do Deus Sol. A vida séria era antecipada: o primeiro dia de escola ou o primeiro dia de trabalho. O outono e o inverno acotovelavam-se para vir ter connosco.

Mas era chuva de pouca dura.
E tudo era como se não houvesse amanhã.
Talvez ainda hoje prefira o verão sem que outra estação se imiscua.

Celebro o sol e comemoro os amigos que estiveram naqueles dias da infância e adolescência, quando vinha a chuva como um dia de inverno e transformava em metamorfose o verão noutra coisa.

26 Jul 2019

Os outros é que são populistas

[dropcap]O[/dropcap] Verão que antecede o Outono das eleições é um dos períodos mais execráveis e penosos da democracia portuguesa.

Se a política é profissão então estabelecer-se como deputado será emprego. É mesmo a colocação mais cobiçada do ofício. Eleito por lista, portanto sem ter que dar muito a cara, sem responsabilidades executivas que possam comprometer, com a responsabilidade individual diluída no grupo parlamentar como carapau no cardume, basta ao sufragado que se alivie em plenário de duas ou três banalidades genéricas, que se mostre enxofrado ou resoluto nas comissões, que proponha umas moções inócuas a favor da região donde proveio, dessas que só vão atulhar ainda mais a legislação em vigor, para que singre comodamente os 4 anos da legislatura e dela aufira todas as regalias, certificadas ou consuetudinárias.

Um posto com tantas venturas é evidente que instiga os profissionais da arte a ele concorrem em chusma e a disputarem-no sem quartel. É assim que este período estival de formação das listas a concurso extravasam numa proliferação de zaragatas intestinas de caixão à cova e rixas pessoais de faca na liga, de tal modo acirradas – afinal luta-se pela vidinha – que os beligerantes abdicam de qualquer simulacro de decoro e tino. Nas concelhias partidárias os candidatáveis esgadanham-se entre si por um lugar elegível na lista distrital que depois de árdua e ferozmente cozinhada em guerra aberta entre as ditas concelhias é remexida pelo impante critério da direcção nacional do partido, resolvido a pôr-lhes à cabeça um figurão qualquer que há-de dar com a comarca por GPS.

O regime de “democracia representativa” – o nosso e o melhor ou menos mau dos que se foram experimentando – pressupõe um contrato social em que o cidadão, reconhecendo-se sem tempo nem competência para o exercício de alguns dos seus direitos e deveres, delega esses poderes num representante no qual é suposto confiar a defesa dos seus interesses e dos interesses da sua comunidade, assim como a persecução das ideias que defende para o bem geral.

Chegado o dia das eleições como pode o cidadão sentir que não está diante de uma impostura? Se nas listas dos partidos constam os nomes de uns fulanos provenientes de um processo de selecção truculento durante o qual o critério da boa representatividade foi de todo posto de lado, como pode o cidadão sentir-se por eles representado?

Muitas vozes vêm alertando para os perigos do populismo, ectoplasma ideológico ainda inorgânico mas que vai grassando a olhos vistos. Sobre o que é exactamente o “populismo” é matéria em discussão, sendo que em termos muito latos considera-se “populista” aquele que em nome da “moral” – talvez o mais evasivo, insidioso e capcioso, por isso mesmo perigoso, dos conceitos que esvoaçam por aí – reclama para si uma ligação directa com a vontade autêntica do “povo” – palavra que no fundo não quer dizer nada – arvorando-se como seu mandatário.

Sucede que tal discussão está inquinada pela má-fé e o conceito de populismo redundou numa exclamação insultuosa brandida contra inimigos políticos. As esquerdas apontam para o carácter populista da direita, ou de todas as ideias que não sejam de esquerda, e as direitas, fazendo por disfarçar os seus tiques providencialistas, retrucam que populistas são as esquerdas ditas “populares”.

Perante esta troca de recriminações, o observador consciencioso não deixará de reparar que a acusação de populista é uma tentativa de relegar para a periferia, ou seja para fora do aparelho institucional, se não mesmo para a ilegalidade, todos aqueles que não dançam a música que a orquestra “deve” tocar.

Por outro lado, o que é mais grave e cínico, além de assaz ordinário, o alarme em torno do populismo tornou-se um meio de os incumbentes do regime sacudirem a água do capote. Independentemente da essência e das origens do populismo, diligência muito platónica que conduz a ilações tão evanescentes quanto absolutórias, as causas do fenómeno estão bem arreigadas nos comportamentos e processos da corporação política e no sentimento de repulsa por eles provocado.

Por exemplo, a maneira como são constituídas as listas eleitorais.

26 Jul 2019

A grande dama do chá

 

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[dropcap]U[/dropcap]ma ventoinha, colocada no tecto da casa de chá de Jin Shixin, arrefecia o local, o que era uma bênção depois de se sair da rua escaldante, onde Cândido Vilaça se cruzara com vários soldados portugueses que tinham vindo de Timor. Macau iria ter uma noite muito agitada. “O Jardim Celestial”, na Avenida Almeida Ribeiro, era um templo de aromas, e tornara-se rapidamente a loja de chá favorita para quem vivia na cidade. Entrou e a porta fechou rapidamente atrás dele, tentando não dar tempo para que o calor entrasse naquele espaço que queria ser acolhedor. Só um par de lanternas vermelhas acesas davam alguma luz ao local. Da obscuridade saiu Jin Shixin que, movendo-se silenciosamente, dava ainda mais beleza ao cheongsam verde que vestia. Quando chegou perto de Cândido, o português reparou nos pequenos brincos com incrustações em jade que ela usava nos ouvidos e que lhe davam um ar requintado e distinto. Vender era uma arte. Jin deu-lhe um tímido beijo nos lábios e disse:

– Sempre vieste.

Depois, encaminhou-se para um pequeno móvel de bambu, onde estava um bule com chávenas de chá. Encheu duas, levou-as para a única mesa que existia na loja e fez sinal para ele se instalar numa das cadeiras disponíveis. Jin sentou-se de forma a ver a porta, enquanto Cândido olhava à volta. A sala da loja parecia um dos últimos redutos da China antiga. Os móveis de bambu e de madeira de cerejeira acomodavam várias estatuetas de jade e laca. E alguns deles estavam repletos de recipientes de vidro que continham chás das mais diversas proveniências. Não admirava que Jin fosse conhecida como a Grande Dama do Chá de Macau. Era difícil não se encontrar ali o que se desejava. Depois ele desviou a atenção para os olhos sempre atentos de Jin, que a parca luz parecia tornar ainda mais misteriosos.

– O que têm os meus olhos, Cândido? São uma surpresa para ti? Há quem se limite a fitar o vácuo. Os meus olhos alcançam para lá do que há para ver.
– Eu sei. E também escondem, por vezes, mais do que desejamos.

Ela não disse nada e a sua mão direita agarrou na dele e acariciou-a.

– Sabes porque te disse para vires aqui?
– Imagino.
– O perigo ronda-nos. E está na altura de darmos um passo em frente. Suponho que os japoneses e os seus amigos planeiam algo. Temos de lhes dar algo que os leve para o caminho que queremos.
– E onde é que eu posso ser útil?
– Amanhã vai chegar um grande carregamento de uísque e cognac francês, encomendado por Du Yuesheng. Era um daqueles que ia regularmente para Xangai, num dos negócios dele, como sabes. Agora vão começar a vir para aqui e parte deles irão depois para Hong Kong e Singapura, onde Du pensa estabelecer parte dos seus negócios.

Cândido olhou para ela durante algum tempo. Tentou perceber as intenções dela:

– E que queres que faça? Que diga a Toshio Nomura ou ao José Prazeres da Costa que isso vai acontecer? Para quê? Para eles vos emboscarem?
– Nomura não fará isso. Seguir-nos-á até a um armazém fictício, onde ele julgará que será o nosso esconderijo. Ao mesmo tempo passará a confiar em ti. E, quando for necessário, dizer-lhe uma mentira ele acreditará que é verdade. Posso confiar em ti?
– Não o provei já?

A conversa foi cortada pelo ruído da porta. Jin levantou-se. Luc LeFranc entrou. Olhou para ela e disse:

– Venho buscar as minhas encomendas.

Sem dizer nada, Jin passou por um biombo que escondia o resto da sala dos olhares indiscretos e voltou poucos minutos depois. Trazia um saco e uma grande caixa. O francês abriu a caixa e ficou por momentos a vislumbrar o interior.

C’est magnifique!
– Também acho.
– Du vai ficar contente.

Jin sorriu. Por detrás do biombo surgiu o russo Patapoff, que, em silêncio, agarrou na caixa e a levou para fora da loja. Luc LeFranc, antes de se despedir, disse:

– A transferência já foi feita.
– Ainda bem. Tudo corre como planeado.

Sem olhar para Cândido, Luc saiu da loja. Pouco depois ouviu-se o ruído de um motor de automóvel e Potapoff voltou a entrar. Depois voltou a desaparecer por detrás do biombo. Jin sentou-se novamente ao lado de Cândido.

– Não percebeste, não foi?
– Entendi que era uma encomenda para o teu mestre Du Yuesheng. Como nos velhos tempos de Xangai.
– Nunca deixou de ser o meu mestre. E a encomenda era um gramofone vindo de Singapura. Du não nasceu no meio da aristocracia chinesa. Mas aprendeu a gostar de ópera. E precisava de um gramofone para, ao final da tarde, a olhar para o mar, escutar aquilo que o acalma. Não descansei enquanto não consegui arranjar-lhe um.

Cândido olhou-a fixamente. Jin tinha o condão de dizer uma verdade, para esconder o que não queria partilhar.

– E o saco, era o quê? Chá?

Ela deu uma gargalhada.

– Luc não é propriamente um apreciador de chá. Prefere outras coisas.
– Dinheiro, não é? Lembro-me dele. Era polícia em Xangai, na zona francesa, não?
– Tens uma boa memória. Isso é bom. Dá-nos vantagens. Lembrar o que os outros esquecerem é uma arma secreta. Mas, deixa-me que te diga, se falares com ele não mostres que o conheces. Ele veio para Macau para apagar o passado.
– Como muita gente.
– Não é diferente da Xangai que conheceste. Ali ninguém queria saber de onde vinhas, desde que tivesses dinheiro e fosses estrangeiro. Eu isso não esqueço, Cândido. Xangai era uma cidade colonial. A cidade das concessões. Cada potência ocidental tinha ali o seu pedaço da China. Cada bocadinho do nosso coração. Agora foram substituídos pelos japoneses, mas nada mais mudou.

Cândido apeteceu-lhe, naquele momento, ter ali o seu saxofone e tocar uma melodia, para poder suavizar o olhar agreste de Jin. Ela percebeu o que ele estava a pensar e fez um sorriso triste.

– A China há-de renascer, pequeno Cat. Vou contar-te uma história que aprendi há muitos anos. Bai Juyi, num poema muito belo, lembra-nos a história dos infinitos amores do imperador Xuanzong pela concubina Guifei. O imperador estava tão apaixonado por ela que começou a não dar atenção aos assuntos do Estado, e por isso, os seus conselheiros, fartos, forçam-no a aceitar a execução da mulher que amava. A tragédia aconteceu. Como consequência disso o imperador acabou por abdicar em favor do filho e acabou a vida na mais completa loucura. A paixão pelo poder dos ocidentais levou à loucura de Xangai. Mas a história não terminará aqui.

A voz de Jin era triste, mas sentia-se o orgulho dela. A vontade de vencer. A conversa foi interrompida pela chegada de duas clientes portugueses. Foi um alívio para Jin, que se dirigiu, sorridente, para elas. Queriam apenas chá.

 

[CONTINUAÇÃO]

 

26 Jul 2019

Antigo governador de região chinesa de Xinjiang admite corrupção

[dropcap]O[/dropcap] antigo governador de Xinjiang admitiu ontem em tribunal ter aceitado o equivalente a 10 milhões de euros em subornos, no âmbito da mais persistente campanha anti-corrupção na história da China comunista.

Nur Bekri, que recentemente foi responsável pela agência de planeamento energético da China, e que é membro da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur, foi governador de Xinjiang, no extremo noroeste do país, entre 2008 e 2014.

Nur Bekri, membro do Partido Comunista Chinês (PCC) desde os 21 anos, também liderou a Administração Nacional de Energia, entre 2014 e 2018, e foi vice-director da poderosa Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.

“Entre 1998 e 2018, ele aproveitou-se do seu poder e estatuto para ajudar empresas e indivíduos a ganhar contratos, promover produtos e beneficiar de medidas preferenciais”, disse o Tribunal Popular Intermédio de Shenyang, no nordeste da China. Nur Bekri aceitou subornos de empresas e indivíduos, num total de 79,1 milhões de yuans, lê-se na mesma nota.

Uma estrela em ascensão no Partido Comunista Chinês, Nur Bekri foi um dos mais poderosos políticos oriundos de minorias étnicas. Entre 2012 e 2017 foi membro do Comité Central do PCC. Ontem, “reconheceu a sua culpa” e “arrependeu-se” pelas suas acções, disse o tribunal.

O ex-governador terá ainda abusado do seu poder, ao ter organizado passeios em veículos de luxo, com motoristas privados, e outros serviços, para os seus familiares, enquanto levava uma “vida extravagante”, segundo a Comissão Central de Inspecção e Disciplina do PCC. A mais ampla e persistente campanha anticorrupção na história da China comunista, lançada pelo Presidente Xi Jinping após ascender ao poder, em 2013, puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do Partido Comunista.

Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo Presidente Hu Jintao, Ling Jihua.

Antes de 2014, Bekri ocupou ao longo de três décadas vários cargos na região de Xinjiang.
Não há indicações de que a investigação esteja relacionada com a campanha repressiva lançada pelas autoridades sobre os uigures, que resultou na detenção de mais de um milhão de pessoas em campos de doutrinamento político.

26 Jul 2019

Comércio | Pequim pode comprar mais produtos agrícolas americanos

As empresas chinesas estão dispostas a importar mais produtos agrícolas oriundos dos Estados Unidos, informou ontem o ministério chinês do Comércio, nas vésperas de delegações dos dois países se reunirem para negociar um acordo comercial

 

[dropcap]O[/dropcap] anúncio surge depois das acusações do Presidente norte-americano, Donald Trump, de que Pequim estava a faltar à promessa de reduzir o ‘superavit’ comercial com os Estados Unidos através da compra de mais produtos agrícolas americanos.

O porta-voz do ministério Gao Feng confirmou, na terça-feira, que as delegações vão conversar, pela primeira vez, frente a frente, desde que Trump e o homólogo chinês, Xi Jinping, acordaram um segundo período de tréguas, numa guerra comercial que espoletou no Verão passado e ameaça a economia mundial.

O primeiro período de tréguas colapsou após Trump ter subido as taxas alfandegárias sobre o equivalente a 200 mil milhões de dólares de bens importados da China, acusando Pequim de recuar em compromissos feitos anteriormente.

Gao disse que os importadores chineses vão negociar com os fornecedores dos EUA, embora tenha rejeitado uma “relação directa” com as negociações da próxima semana. “As empresas chinesas têm a disposição de continuar a importar alguns produtos agrícolas dos Estados Unidos”, disse Gao, em conferência de imprensa. “As empresas vão negociar os contratos com os fornecedores”, detalhou.

Pequim bloqueou as importações de soja norte-americana e aumentou as taxas alfandegárias sobre produtos agrícolas, em retaliação pela decisão de Trump de punir com taxas alfandegárias cerca de metade das importações oriundas da China.

A China concordou, entretanto, em comprar mais produtos agrícolas americanos, gás natural e outros bens, mas voltou atrás após Trump avançar com mais taxas. Trump recentemente acusou Pequim de retroceder, afirmando no Twitter que “a China está a decepcionar [os EUA]”.

A China comprometeu-se a comprar produtos agrícolas norte-americanos e, em troca, os EUA devem retirar o grupo chinês das telecomunicações Huawei de uma lista de entidades a quem as empresas norte-americanas não podem vender tecnologia chave sem autorização prévia.

As disputas comerciais entre os dois países continuam a pesar sobre a economia global, e foram um dos factores que levou o Fundo Monetário Internacional a reduzir a sua estimativa para o crescimento da economia mundial, este ano, para 3,2 por cento. Os governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um, numa guerra comercial que ameaça a economia mundial.

Em causa está a política de Pequim para o sector tecnológico, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Os EUA consideraram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

26 Jul 2019

Pequim financia 85% de projecto ferroviário na Malásia

Um banco estatal da China vai financiar 85 por cento da construção de uma malha ferroviária na Malásia, que impulsionará o desenvolvimento económico nos estados pobres do leste, informou ontem o ministro dos Transportes, Loke Siew Fook

 

[dropcap]A[/dropcap] ligação ferroviária da costa leste da Malásia, cujo preço de construção ascende a 10.700 milhões de dólares, foi suspensa há um ano, após a eleição do actual primeiro-ministro, Mahathir Mohamad. O Governo malaio disse, em Abril, que relançaria a obra, depois de o empreiteiro chinês aceitar reduzir os custos de construção em um terço.

O projecto vai ligar a costa oeste da Malásia aos estados mais pobres do leste e é parte fundamental do projecto chinês de infra-estruturas “Uma Faixa, Uma Rota”. Bancos e outras instituições chinesas estão a conceder enormes empréstimos no quadro da iniciativa, que inclui ainda uma malha ferroviária e autoestradas, a ligar a região oeste da China à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas do próspero litoral chinês.

Numa cerimónia no nordeste do estado de Terengganu, para relançar o projecto, Loke disse que a estatal Malaysia Rail Link finalizou as negociações com o Banco de Exportação e Importação da China e que um acordo vai ser assinado em breve.

Loke afirmou que o projecto ferroviário, com uma extensão de 640 quilómetros, reduzirá o tempo de viagem entre Kota Baru, no estado de Kelantan, e a capital administrativa do governo, Putrajaya, para quatro horas. Por estrada, a viagem demora pelo menos oito horas.

De mãos dadas

Com uma velocidade média de 160 quilómetros por hora, a nova ligação ferroviária vai passar por cinco estados e terá 20 estações, e deve estar concluída em Dezembro de 2026, incluindo entre 30 e 40 túneis e múltiplos viadutos, segundo o ministro. Loke Siew Fook disse que o projecto vai impulsionar o comércio e o turismo e atrair investimento.

O embaixador chinês Bai Tian citou um estudo malaio que prevê que a ligação ferroviária impulsionará em 2,7 por cento o crescimento económico da Malásia. Bai considerou o projecto como um “factor decisivo” que vai revitalizar a economia da costa leste e estreitar os laços entre a Malásia e a China.

A Malaysia Rail Link e a China Communications Construction Company Ltd., que estão a desenvolver o projecto, planeiam formar uma ‘joint venture’, com participação de 50 por cento para cada parte.

O primeiro-ministro malaio, Mahathir Mohamad, disse que o facto de o custo do projecto poder ser reduzido em 5,2 mil milhões de dólares mostra que as projecções iniciais foram inflacionadas, quando o ex-primeiro-ministro Najib Razak concedeu o contrato inicial à CCCC, em 2016. Mahathir decidiu renegociar o acordo, em vez de pagar uma compensação de 5,3 mil milhões de dólares.

Desde que assumiu o poder depois de uma histórica vitória eleitoral, no ano passado, o Governo de Mahathir cancelou ou reviu projectos de infra-estrutura em larga escala, após ter descoberto que a dívida nacional disparou, culpando a corrupção no Governo do ex-primeiro-ministro Najib Razak. Mahathir suspendeu então a construção dos dois gasodutos, um na península da Malásia e outro na ilha de Bornéu, e também uma ligação ferroviária que ligaria a costa oeste da Malásia aos estados rurais orientais, tudo contratos assinados pelo Governo anterior, e que se inserem na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.

O Governo malaio disse que está a investigar se algum do dinheiro destinado a projectos apoiados pela China foi usado pelo governo de Najib para pagar as dívidas do fundo de investimento 1MDB.

Um enorme escândalo financeiro no 1MDB levou à derrota da coligação de Najib, em Maio de 2018. O antigo primeiro-ministro está a ser julgado por múltiplas acusações de corrupção ligadas àquele fundo.

26 Jul 2019

Óbito | Rutger Hauer, eterno vilão de “Blade Runner”, morre aos 75 anos 

[dropcap]O[/dropcap] actor holandês Rutger Hauer, que ficou célebre sobretudo no filme “Blade Runner”, de Ridley Scott, morreu no dia 19, aos 75 anos, revelou esta quarta-feira a revista Variety. A informação foi avançada pelo agente, Steve Kenis, explicando que o actor estava doente, morreu em casa e que o funeral se realizou ontem, na Holanda.

Nascido a 23 de Janeiro de 1944, em Utrecht, Rutger Hauer estreou-se no final dos anos 1960 na série de televisão “Floris”, de Paul Verhoeven, realizador com quem iria trabalhar em anos seguintes, nomeadamente em “Delícias Turcas” (1973) e “O Soldado da Rainha” (1975).

No entanto, foi com o papel do vilão Roy Batty, líder dos replicantes no filme de culto “Blade Runner – Perigo Iminente”, de Ridley Scott, que Rutger Hauer ficou célebre em 1982.

Na mesma década, participou em filmes como “A Mulher Falcão” (1985), de Richard Donner, “Morto ou Vivo” (1986), de Gary Sherman, e “A Lenda do Santo Bebedor” (1988), de Ermanno Olmi. Com “Fuga de Sobibor”, telefilme de Jack Gold, de 1987, venceu um Globo de Ouro como actor secundário.

Terror, ficção científica, acção, foram vários os géneros cinematográficos em que Rutger Hauer se moveu no cinema, tendo entrado, por exemplo, em “Drácula 3D”, “Buffy, caçadora de vampiros”, “Batman – O início”, “Sin City – Cidade do pecado” e “Valerian e a cidade dos mil pllanetas”.

Em 2013 protagonizou “RPG”, longa-metragem portuguesa de ficção científica, realizada por David Rebordão e Tino Navarro. Entre as suas últimas aparições no cinema está a participação em “Os Irmãos Sisters”, de Jacques Audiard.

26 Jul 2019

Filmes de Leonor Teles e Tiago Guedes em competição no Festival de Veneza

[dropcap]O[/dropcap] filme português “Cães que ladram aos pássaros”, de Leonor Teles, vai estar em competição no 76.º Festival de Cinema de Veneza, que decorre de 28 de Agosto a 7 de Setembro em Itália, foi ontem anunciado. O filme integra a secção competitiva Orizzonti, sub-secção de curtas-metragens, de acordo com a produtora Uma Pedra no Sapato num comunicado.

O nome de Leonor Teles, de 27 anos, sobressaiu no cinema português em 2016, quando venceu o Urso de Ouro, o prémio máximo do festival de Berlim, com “Balada de um batráquio”. Depois das curtas-metragens “Rhoma Acans” e “Balada de um batráquio”, Leonor Teles assinou em 2018 a primeira longa documental, “Terra Franca”, vencedora de uma dezena de prémios, que acompanha a vida de Albertino Lobo, um pescador de Vila Franca de Xira (onde a realizadora nasceu) ligado desde sempre ao rio Tejo.

“A Herdade” na corrida

Outro filme português que também está em competição é “A Herdade”, de Tiago Guedes, e que estreia em Portugal a 19 de Setembro. “A Herdade” tem co-produção da Leopardo Filmes e da Alfama Filmes, e conta a “saga de uma família proprietária de um dos maiores latifúndios da Europa, na margem sul do rio Tejo, […] fazendo o retrato da vida histórica, política, social e financeira de Portugal, dos anos 40, atravessando a revolução do 25 de Abril e até aos dias de hoje”.

Com argumento de Rui Cardoso Martins e Tiago Guedes, com a colaboração de Gilles Taurand, o elenco é composto por Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, Miguel Borges, João Vicente, Ana Bustorff, Beatriz Brás, entre outros. Depois de Veneza, o filme terá a sua estreia norte-americana no Festival Internacional de Cinema de Toronto, cuja 44.ª edição decorre entre 5 e 15 de Setembro.

26 Jul 2019

Teatro | CCM apresenta “Do Pó às Cinzas” em Setembro 

Começam a ser vendidos este domingo bilhetes para a nova produção teatral que sobe ao palco do Centro Cultural de Macau de 20 a 22 de Setembro. “Do Pó às Cinzas” é uma encenação da responsabilidade de Fredric Mao, encenador de Hong Kong

 

[dropcap]O[/dropcap] Centro Cultural de Macau (CCM) apresenta a peça “Do Pó às Cinzas”, estando programados três espectáculos que estarão em cena no pequeno auditório do CCM de 20 a 22 de Setembro. Os bilhetes começam a ser vendidos este domingo.

Encenada pelo icónico mestre do teatro de Hong Kong Fredric Mao e escrita pelo prolífico dramaturgo Nick Yu, “Do Pó às Cinzas” é uma viagem de amor e ódio criada em jeito de homenagem ao lendário escritor e prémio Nobel da Literatura Harold Pinter. A peça leva ao palco um intenso turbilhão de emoções inspirada em “Cinza às Cinzas”, uma das mais reconhecidas peças de Pinter.

Adoptando o tom desconcertante do dramaturgo britânico, o trabalho de Yu funciona enquanto metáfora dos impulsos de luxúria e paixão que incessantemente comandam as vidas das pessoas. Interpretada em Cantonense por seis actores locais, “Do Pó às Cinzas” aborda a crença tradicional chinesa da incarnação para compor personagens em diversas variações existenciais. Uma história de dois casais, cujos caminhos se entrecruzam em quatro situações distintas que se repetem.

Esta produção é o epílogo de um projecto de residência artística lançado pelo CCM o ano passado e uma excelente oportunidade para um grupo de actores locais abraçarem um desafio de longa duração integrando uma equipa profissional sob a direcção de um mestre encenador.

Mestres consagrados

Fredric Mao Chun-fai, o encenador desta peça, está há 40 anos ligado ao mundo da dramaturgia, não só através da encenação mas também através do estudo e do ensino a jovens artistas. Com 72 anos de idade, Fredric Mao tem agora um novo projecto depois de ter levado em cena um espectáculo em Hong Kong, em Fevereiro deste ano, que teve como objectivo rejuvenescer a antiga ópera cantonense.

Harold Pinter nasceu em 1930 em Londres, Reino Unido, e ingressou na vida teatral como actor. Em 1957, Pinter escreveu a primeira peça, “The Room” e ao longo da carreira a sua obra catapultou o britânico como um dos autores fundamentais do teatro contemporâneo.

Ao longo da carreira, Pinter escreveu mais de 30 peças, que foram traduzidas e encenadas em todo o mundo. Além do teatro, o autor também escreveu para rádio, televisão e cinema, onde colaborou com Joseph Losey.

26 Jul 2019

DSEJ recebeu queixas de sete professores por despedimentos sem justa causa

[dropcap]A[/dropcap] Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) recebeu cinco processos, entre 2016 e o ano passado, relacionados com despedimentos sem justa causa que envolveram sete professores. Os dados foram avançados em resposta a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou, ligado à Associação Novo Macau.

“Entre 2016 e 2018, a DSAL instaurou um total de cinco processos por queixas de docentes de escolas particulares (envolvendo sete docentes), sobre a cessão da relação de trabalho, dos quais um processo (envolvendo um docente) foi considerado precedente” pode ler-se no documento com a data de 19 Junho. “Tendo o docente recebido já o pagamento da indemnização nos termos da lei. Todos os processos foram resolvidos com o tratamento da DSAL, não precisaram de passar pelos órgãos judiciais para apreciação”, é acrescentado.

A interpelação enviada a 24 de Abril tinha como objectivo definir a situação da prática das escolas privadas que no final do ano lectivo enviam “notificações de continuidade” aos professores, no caso de pretenderem continuar com eles para o futuro. De acordo com Sulu Sou, esta prática acaba por criar muita ansiedade, porque sem receberem as “notificações” os professores temem ser despedidos sem justa causa.

Sobre este procedimento no sector do ensino privado, a DSEJ admite que está a acompanhar a situação, mas justifica o mesmo com a necessidade de as instalações de ensino saberem os planos para o futuro dos docentes. “Algumas escolas particulares continuam a enviar cartas de intenção aos docentes, antes do termo de cada ano lectivo, para se inteirarem das intenções de continuidade dos docentes para o novo ano lectivo. Tendo em conta que as escolas têm de ter tempo suficiente para analisar e planear os seus recursos humanos […] a referida notificação satisfaz as necessidades reais no que diz respeito à gestão escolar”, é sustentado.

Em relação ao perfil dos professores que abandonam as escolas particulares, a DSEJ diz que “a maioria […] tem uma antiguidade [no posto] inferior a quatro anos”. No entanto, não são avançados números. Já no que diz respeito ao abandono da profissão por parte de docentes, a DSEJ diz que antes do “regresso de Macau à pátria” que era em média de 8 por cento. Agora a média, segundo o ano de 2017/2018, foi de 6 por cento.

26 Jul 2019

Melco | Lucros cresceram 75 por cento no segundo trimestre

[dropcap]A[/dropcap] Melco Resorts & Entertainment registou lucros líquidos de 100,3 milhões de dólares no segundo trimestre de 2019, mais 75 por cento em termos anuais.

De acordo com um comunicado, divulgado na quarta-feira, a empresa liderada por Lawrence Ho, filho do magnata do jogo de Macau Stanley Ho, tinha registado no mesmo período de 2018, lucros líquidos de 57,3 milhões de dólares.

Entre Abril e Junho passado, a Melco obteve receitas operacionais de 1,44 mil milhões de dólares, o que representa um aumento de 17 por cento em relação a igual período de 2018, que terminou com receitas operacionais de 1,23 mil milhões de dólares.

“Todos os ‘resorts’ da Melco em Macau apresentaram um forte crescimento das receitas do mercado de massas”, destacou Lawrence Ho, citado no comunicado da operadora.

26 Jul 2019

Sands | Lucros subiram 19,7 por cento no segundo trimestre

[dropcap]A[/dropcap] operadora de jogo Sands China apresentou ontem lucros de 511 milhões de dólares no segundo trimestre de 2019, um aumento de 19,7 por cento comparativamente ao período homólogo de 2018.

Em comunicado, a subsidiária do grupo Las Vegas Sands, apresentou receitas de 2,14 mil milhões de dólares, o que representa uma subida de 1,4 por cento em relação ao mesmo período do ano passado.

O principal empreendimento do grupo, o Venetian, voltou a ser o que registou as receitas de jogo mais significativas: 698 milhões de dólares, ou mais 3,1 por cento do que igual período do ano anterior. Ao todo, o grupo Las Vegas Sands registou lucros de 954 milhões de dólares no primeiro trimestre do ano, contra 556 milhões de dólares no segundo trimestre de 2018.

26 Jul 2019

Trabalho | Número de TNR bateu recorde em Junho

[dropcap]M[/dropcap]acau registou um número recorde de trabalhadores não residentes (TNR), no passado mês de Junho, que corresponderam a 190.367 cidadãos, segundo dados divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais.

Este número representa mais 231 trabalhadores do que em Abril, mês que havia atingido o valor mais elevado de que há registo. Em comparação com o mês de Junho de 2018, o aumento foi de 4,9 por cento, com mais 8.868 TNR.

A grande maioria de trabalhadores não residentes, no mês de Junho, são provenientes do interior da China (118.998), das Filipinas (32.149) e do Vietname (14.805). O ramo de actividade económica que mais emprega TNR são os “hotéis, restaurantes e similares”, seguidos da “construção” e das “famílias com empregados domésticos”.

26 Jul 2019

Uma Faixa, Uma Rota | Wan Kuok Koi assume compromisso com iniciativa

O presidente da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen, Wan Kuok Koi, pediu desculpa pela polémica com moedas digitais, assumiu responsabilidades e prometeu continuar a contribuir para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”

 

[dropcap]W[/dropcap]an Kuok Koi, ex-líder do gangue 14 quilates, gravou um vídeo em que pede desculpa pela actividade mais recente da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen e diz que vai contribuir para o desenvolvimento do País no exterior. A mensagem do presidente da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen começou ontem a circular nas redes sociais, mas não tem data de gravação.

No vídeo com duração de 1 minuto e 38 segundos, Wan Kuok Koi, também conhecido como Dente Partido, pede desculpa pelas actividades da associação a que preside, que esteve alegadamente envolvida num esquema com criptomoeda há cerca de um ano no Camboja. Na altura, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) tomou mesmo uma posição sobre o assunto e alertou o público para os riscos das criptomoedas, que não são reconhecidas como um instrumento legal de investimento no território.

“Não posso fugir às minhas responsabilidades em relação aos problemas que ocorreram durante o recente desenvolvimento da Hongmen. O que aconteceu ficou a dever-se à falta de supervisão, da minha parte, à equipa”, admitiu o agora empresário. “Portanto, vou enfrentar de forma activa todos os problemas imprevisíveis neste processo de desenvolvimento. Não se preocupem”, prometeu.

Após ter cumprido uma pena de prisão de 14 anos e sido libertado em 2012, Wan Kuok Koi manteve-se longe dos holofotes, em contraste com a postura adoptada no final dos anos 90.

Contudo, Wan Kuok Koi fez do Amor pela pátria e da participação na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” as suas bandeiras mais recentes e, segundo a revista East Week, planeou investimentos numa escola para alunos chineses no Camboja e num casino no Palau.

Segundo a mensagem, estes são os objectivos que o empresário vai perseguir até à morte, através da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen. “A história e o processo do desenvolvimento da associação Hongmen é constituído na base do Amor à pátria, que vai ser herdado pelas gerações futuras”, diz no vídeo. “Hoje, como líder de Hongmen – e assumindo o fardo de representar os chineses ultramarinos – vou participar activamente na construção do desenvolvimento económico nacional. E aproveito para agradecer a todos os meus irmãos e irmãs pelo apoio à Hongmen e ao desenvolvimento económico do país”, acrescentou.

Dente Partido prometeu ainda continuar a envolver a Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen activamente no desenvolvimento do país e manter um contacto mais próximo com os membros, para que todos possam compreender o que está a ser feito.

26 Jul 2019

Violência doméstica | Lao Mong Ieng ponderou a eutanásia

Lao Mong Ieng chegou a ponderar a eutanásia para se libertar do sofrimento após o ataque cometido pelo marido com óleo a ferver e ácido sulfúrico. O pedido foi feito ao pai. A psicóloga e a assistente social que acompanharam antes do ataque o arguido e o casal, respectivamente, afirmaram em tribunal que nada fazia prever o acto de violência

 

[dropcap]L[/dropcap]ao Mong Ieng, que foi vítima de violência doméstica, pensou escrever uma carta ao Chefe do Executivo de Macau a solicitar a autorização de eutanásia durante o internamento hospitalar. A revelação foi feita pelo pai da vítima, ontem, na segunda sessão de julgamento de Wong Chi Kit, marido e alegado agressor de Lao.

“Chegou-me a pedir para ter compaixão dela e para escrever uma carta ao Chefe do Executivo de Macau para poder morrer e perguntou-me se eu consentia”, testemunhou o pai de Lao. “Percebi que estava a sofrer muito”, acrescentou em tribunal. O pedido desesperado foi feito num contexto da dor a que estava sujeita durante o internamento no hospital de Hong Kong, onde fez várias cirúrgias, entre as quais transplantes de pele das pernas para a face e parte superior do corpo onde apresentava queimaduras graves.

No entanto, foi a maternidade e o facto de pensar no filho, de sete anos, que lhe devolveu a coragem para não avançar na intenção de morrer, referiu o pai de Lao. A empregadora da vítima também referiu o importante papel do filho para a mudança de ideias. Apesar da relação profissional, a patroa costumava ir à instituição onde o filho de Lao vive há quase um ano, desde o ataque, para fazer gravações e poder mostrar a Lao.

Entretanto, a assistente social do Instituto de Acção Social (IAS) que tem acompanhado Lao desde Dezembro de 2018 sublinhou que a vítima tem “medo que o seu rosto assuste o filho e que ele não a aceite”. “Ela sempre quis ser uma boa mãe e isso inclui prestar cuidados, sente-se inquieta por não ver a criança e está preocupada com o estado dela, com a sua nutrição e bem-estar”, mas “tem medo de, para já, assustar a criança”

A assistente social sublinhou ainda que a força que Lao tem tido para viver assenta no desejo de voltar a ser mãe. “A esperança está no filho, porque quer ser uma boa mãe”, disse. Agora, ainda é necessária “muita comunicação com o lar porque o filho tem de estar preparado”. No entanto, as entidades estão a trabalhar no sentido de agendar um encontro entre mãe e filho ainda este ano.

Nada fazia prever

Ontem foram também ouvidas a psicóloga que acompanhou o arguido antes do incidente, e a assistente social do IAS que acompanhou o casal na mesma altura. Ambas afirmaram que nada fazia antever o ataque violento que aconteceu a 12 de Julho do ano passado.

A psicóloga começou a acompanhar Wong Chi Kit para o ajudar a lidar com o fim do casamento de Setembro de 2017 a Julho de 2018, mês em que se deu o ataque. De acordo com a profissional, o objectivo era ajudar o arguido “na pressão que estava a viver com o divórcio pedido pela mulher”. A última consulta aconteceu já no mês em que o Wong atacou Lao, mas de acordo com a psicóloga “no último encontro ele começou a aceitar o divórcio estando preocupado com a regulação da paternidade”. “Ele estava bem”, rematou.

Já a assistente social, que acompanhou o casal desde Janeiro de 2017 tendo em conta o pedido de separação apresentado pela vítima, referiu que o estado emocional do arguido era “estável” e que apenas “queria manter a relação matrimonial e a vida familiar porque tinham um filho”. Até Dezembro de 2017, a assistente social notou que “existiam conflitos e trocas de palavras”, mas sem episódios de violência doméstica. “Não consegui presumir essa situação”, revelou em tribunal. A assistente sugeriu à vítima que saísse de casa, mas Lao recusou. A sugestão surgiu porque “nos últimos encontros estavam numa situação muito conflituosa e já não conseguiam viver em conjunto”.

Um ano depois do ataque, Lao ainda não tem qualquer autonomia, não consegue comer porque “não consegue abrir a boca sozinha, levando três horas para fazer uma refeição”, de acordo com o pai da vítima que, juntamente com a mãe assegura o seu cuidado. Lao está praticamente cega, distinguindo apenas sombras devido às lesões oculares, e não consegue mexer um dos braços. É obrigada a usar roupa e máscaras elásticas na cara e pescoço o que causa muito desconforto.

Dada a falta de pele provocada pelas queimaduras, a vítima também não pode apanhar sol.
Wong Chi Kit, marido e alegado agressor de Lao Mong Ieng é acusado de ofensa grave à integridade física, crime pelo qual poderá ser condenado a 13 anos de pena efectiva de prisão. Durante o julgamento de ontem não mostrou qualquer tipo de reacção.

Entretanto, a operação no Reino Unido que foi adiada para que a vítima pudesse depor, tem já data marcada para o próximo mês de Agosto. A próxima audiência está agendada para 6 de Setembro.

26 Jul 2019

Chefe do Executivo | Moradores esperam novas medidas para turismo, habitação e trânsito

A União Geral das Associações de Moradores de Macau espera que o próximo Chefe do Executivo resolva os problemas dos elevados preços da habitação, excesso de turistas e trânsito. São estes os assuntos que mais incomodam os cidadãos, de acordo com um inquérito ontem apresentado pela associação

 

[dropcap]D[/dropcap]e acordo com o Jornal do Cidadão, foram apresentados esta quarta-feira os resultados de um inquérito realizado à população por parte da União Geral de Associações de Moradores de Macau, e que versou sobre os problemas que o território atravessa e as expectativas em relação ao próximo Chefe do Executivo.

De um total de 1135 entrevistados, foram consideradas válidas mil entrevistas, que mostram que os problemas que mais incomodam os cidadãos estão ligados à habitação, excesso de turistas e transportes.

Chan Ka Leong, director da Comissão para os Assuntos Sociais da UGAMM, defendeu que o problema do trânsito é o que mais afecta os residentes, principalmente devido à falta de lugares de estacionamento. “Macau deveria ter um sistema de transporte público em grande escala, como o Metro Ligeiro. Contudo, só a linha da taipa não vai surtir grande efeito. Será necessário acelerar o planeamento da construção do metro para que este chegue até à Barra, Seac Pai Van, Portas do Cerco e zona A dos novos aterros”, disse.

Para Chan Ka Leong, o excesso de turistas será o principal problema de ordem social que o próximo Chefe do Executivo terá para resolver. É preciso, por isso, desviar turistas do centro histórico e atrai-los para outros locais do território.

No que diz respeito à implementação da taxa turística, o responsável da UGAMM acredita que a maioria dos visitantes opta por não dormir em Macau, o que irá dificultar a cobrança dessa mesma taxa. Nesse sentido, o dirigente associativo espera que o Governo analise os objectivos desta medida.

Mais T2 e T3 precisam-se

No que toca aos problemas ao nível da habitação, Chan Ka Leong entende que é necessário promover mais a construção de moradias com a tipologia T2 e T3, uma vez que os apartamentos T1 são pouco vendidos. A baixa venda deste tipo de casas mostra que o Governo avaliou mal a procura no mercado e a situação social das famílias, devendo fazer ajustes à política habitacional.

Além destes três problemas, o responsável da UGAMM defende que é necessário tomar medidas para resolver as inundações que todos os anos provocam estragos nas zonas baixas. O combate à corrupção deve ser outra das prioridades do governante que irá suceder a Chui Sai On. O próximo Chefe do Executivo deve também apostar na melhoria dos serviços de saúde, apontou.

26 Jul 2019