Justiça | Activista Jason Chao absolvido do crime de difamação

O activista era acusado do crime de difamação de forma agravada devido a três artigos publicados no portal Macau Concealers sobre investigações a assédio sexual na Universidade de Macau. Mas o tribunal absolveu-o. Também o pedido de indemnização do professor que acusou Jason Chao foi recusado pela juíza
FOTO: Tatiana Lages

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]ason Chao foi ontem ilibado da prática de um crime de difamação de forma agravada devido a três artigos publicados no Facebook do jornal Macau Concealers. As peças reportavam-se ao professor Wang Jianwei, da Universidade de Macau, devido a investigações internas sobre casos de alegado assédio sexual. O académico pediu ainda uma indemnização de 50 mil patacas para ser ressarcido quanto aos danos causado pelas publicações ao seu bom nome. No entanto, o tribunal não atendeu ao pedido do académico.

“A acusação carece de provas sobre os autores dos artigos publicados e sobre as responsabilidades nos três artigos de Jason Chao no que diz respeito à verificação dos factos, assim como à sua publicação”, consta na sentença, que, ontem, foi lida pela juíza Chao Im Peng. “O tribunal entende que as provas apresentadas são insuficientes para condenar o arguido”, foi acrescentado.

Além da falta de provas, a juíza sublinhou também que o portal Macau Concealers, ao contrário da edição imprensa, que tem o mesmo nome e responsáveis que o portal, não está obrigado a adoptar as práticas dos média tradicionais, quanto à responsabilidade sobre a veracidade dos factos relatados. O tribunal argumentou que a ausência de legislação sobre os novos órgãos de comunicação social não permite tecer um juízo de direito quanto ao portal.

Em relação à recusa do pedido de indemnização, o tribunal alegou igualmente que não foram apresentadas provas, nomeadamente documentos. “Quanto aos danos causados, faltam provas documentais e não se pode apenas considerar o testemunho da pessoa ofendida. A prova não pode apenas basear-se nas declarações, deveriam ter sido apresentadas outra provas mais concretas”, justificou o tribunal.

Wang “desapontado”

No final, Wang Jiawei, académico no Universidade de Macau, ilibado na investigação que a instituição de ensino fez relativamente às queixas de conduta sexual incorrecta, afirmou sentir-se desapontado com a decisão do tribunal, mas escusou-se a revelar se vai recorrer para a segunda instância. “Tenho de estudar com maior cuidado a sentença, antes de emitir uma opinião. Só depois vou decidir o que fazer. Mas estou desapontado, e é claro que esperava outra decisão”, disse à saída do tribunal.

Já Jason Chao, em Inglaterra, reagiu à decisão numa sessão de perguntas e respostas em directo, através de uma rede social. O activista criticou o trabalho do Ministério Público pela falta de provas e sublinhou que a decisão é importante para que as pessoas não tenham medo de denunciar casos de assédio sexual.

“Espero que este caso seja um exemplo para a comunidade de Macau, para que não escondam mais os casos de assédio sexual. Devem denunciar”, frisou o activista.

Críticas ao MP

Por outro lado, o ex-presidente da Novo Macau atacou ainda a acusação. “O Ministério Público devia ter feito o seu trabalho de uma forma rigorosa e devia ter arquivado o caso. No entanto, permitiram que se fosse em frente. Acho que esta conduta pode, de forma subtil, condicionar a liberdade de expressão no futuro”, considerou Jason Chao.

Ainda sobre o condicionamento da liberdade de expressão e de imprensa, o activista destacou a importância da altura desta sentença. Actualmente, o jornal Sun Pou está a ser processado pela Polytex, devido a um artigo de opinião sobre o empreendimento Pearl Horizon. Também a empresária Onida Lam e directora da empresa TH Group Limited ameaçou processar os investidores que denunciaram uma possível burla que envolve a companhia e investimentos na Indonésia. “As pessoas não devem fazer comunicados a dizer que vão instaurar processos, numa tentativa de suprimir notícias negativas”, sublinhou.

O julgamento de ontem remete para factos ocorridos no final de 2014 e início de 2015, quando o portal Macau Concealers, que tinha como principal redactor Jason Chao, publicou dois artigos e partilhou um outro sobre a existência de queixas de assédio sexual na UM contra um professor.

7 Set 2018

Administração | Obras do edifício na ZAPE começam até Março de 2019

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s obras de construção do edifício público que vai nascer no lote 6K na Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE) devem arrancar no primeiro trimestre do próximo ano. O Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) recebeu 19 propostas para a construção do edifício que vai ter 11 andares, dois dos quais em cave, e uma altura máxima de 60 metros.

A empreitada tem um prazo máximo de execução de 730 dias úteis, ou seja, dois anos. Desconhece-se, porém, que serviços vão funcionar no futuro edifício da Administração, que vai ser erguido junto à Avenida da Amizade. O HM contactou o GDI para obter esclarecimentos nesse sentido que remeteu a resposta para as informações relevantes constantes do ‘site’ do organismo, onde a este respeito se refere apenas que o edifício é “destinado a responder às necessidades da Administração em termos de escritório público”.

Também não foram divulgadas estimativas sobre o valor da empreitada. Com efeito, no relatório das Linhas de Acção Governativa para 2018, foi incluída na lista de projectos públicos, cujas obras se calculam em mais de 100 milhões de patacas.

O concurso para a empreitada de construção foi lançado um ano depois de o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, ter adjudicado a elaboração do projecto da mesma ao Gabinete de Arquitectura Eddie Wong, que é também membro do Conselho Executivo, por 7,18 milhões de patacas, a pagar em tranches até 2020.

O empreendimento vai ocupar uma área de 1.636 metros quadrados. O terreno em causa foi recuperado pela Administração depois de, em 2015, ter sido declarada a caducidade da concessão, que remontava a 1991. O motivo apontado foi a falta de aproveitamento dentro do prazo.

7 Set 2018

FAOM | Deputados fazem balanço de sessão legislativa

Macau continua a não ter mecanismos para acompanhar o desenvolvimento económico e o Governo não se mostra empenhado na revisão da lei laboral. Estas são algumas das opiniões dos deputados ligados à FAOM, em jeito de balanço da última sessão legislativa

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei, Leong Sun Iok, Lei Chan U e Lam Lon Wai, realizaram ontem uma conferência de imprensa de balanço da sessão legislativa passada.

Para a deputada Ella Lei, 19 anos depois da transição, Macau mostra agora que não consegue acompanhar com infra-estruturas e serviços, o desenvolvimento económico que tem vindo a registar. A desadaptação entre o que existe e o que é necessário compromete o desenvolvimento social e não dá garantias de futuro à população, considerou. Por outro lado, os fundos e as empresas de capitais públicos precisam de legislação “rigorosa e unificada”.

Outro aspecto que Ella Lei referiu ter ficado por tratar diz respeito a terrenos. “O Executivo não assumiu com eficácia a responsabilidade de administração dos recursos de terras”, disse.

Trabalho em falta

Da passada sessão legislativa ficou ainda a promessa por parte do Governo de implementação plena do salário mínimo, contudo, a deputada tem dúvidas se a lei vai mesmo entrar em vigor a 1 de Janeiro de 2019. Para Ella Lei, o Executivo ignora a importância da legislação laboral e os interesses dos trabalhadores. A título de exemplo, a deputada mencionou que “alguns trabalhos relativos à lei laboral, anteriormente considerados prioritários, como a sobreposição e compensação de férias e as licenças de paternidade, há três anos que constam dos relatórios das Linhas de Acção Governativa (LAG)”. Acresce ainda que o relatório da consulta pública da revisão da lei laboral mostrou que 90 por cento da população concorda com as medidas, mas, até agora, o Executivo não avançou com uma proposta na Assembleia Legislativa (AL). “Com base nisto, percebemos que o Governo desvaloriza e ignora a importância da legislação laboral para os trabalhadores”, concluiu a legisladora.

Os deputados eleitos por via indirecta, Lam Lon Wai e Lei Chan U, queixaram-se da morosidade dos processos legislativos. Lei Chan U referiu o exemplo da revisão da lei laboral como ilustrativo da lentidão da produção legislativa ao mesmo tempo que recordou que, desde 2013, este é um ponto que tem sido assinalado pelo Governo como constante da agenda.

Para Lam, o processo legislativo tem de ser revisto e adaptado à actualidade. Se tal não acontecer, as consequências podem ser graves e “custar muito à sociedade”, disse.
Já Leong Sun Iok lamentou a inexistência de avanços na criação de políticas e formações para potenciar os talentos locais.

7 Set 2018

Lei da Cibersegurança | Maioria a favor apesar de receios sobre privacidade

A maioria defende ser necessário e urgente criar um sistema para proteger a cibersegurança. No entanto, persistem receios de que tanto a privacidade como as liberdades de expressão e de imprensa saiam beliscadas com a nova lei. As preocupações foram demonstradas na consulta pública ao regime da cibersegurança

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]o que revela o relatório da consulta pública sobre a Lei da Cibersegurança: a maioria defende não só ser necessário como urgente criar um sistema para proteger a cibersegurança da RAEM. Contudo, e apesar das garantias dadas pelo Governo, sobretudo pelo secretário da tutela, Wong Sio Chak, continuam a existir preocupações quanto à possibilidade de serem violados direitos como à privacidade, bem como as liberdades de expressão e de imprensa.

Durante a consulta pública, realizada entre 11 de Dezembro e 24 de Janeiro, foram recolhidas 716 opiniões (529 do sector público e 187 do privado), das quais 255 a respeito da intenção legislativa, um dos temas que mais preocupação suscitou, de acordo com o relatório publicado ontem. Apenas uma minoria de 14 opiniões, todas expressas pelo público, discorda, por entender que a Lei de Combate à Criminalidade Informática já permite lidar com ataques de ‘hackers’. Outro dos receios desta minoria é que o Governo utilize a Lei da Cibersegurança para “legalizar a vigilância” na Internet, prejudicando direitos, como a liberdade de expressão e o sigilo das comunicações.

Na réplica, o gabinete do secretário para a Segurança sustenta que a Lei da Criminalidade Informática não basta, na medida em que as diligências de investigação definidas têm lugar somente após a prática de crimes, enquanto a da Cibersegurança tem como objectivo evitar que ocorram. Em paralelo, garante que as medidas previstas na futura lei “visam a gestão preventiva da cibersegurança das infra-estruturas críticas” e “que as mesmas não intervirão nem prejudicarão os direitos fundamentais dos residentes, nomeadamente a liberdade de expressão, a privacidade pessoal e a liberdade de imprensa”.

A futura lei – que tem como destinatários os operadores das infra-estruturas definidas como críticas, independentemente da natureza pública ou privada – prevê três níveis de supervisão. A saber: a Comissão Permanente para a Cibersegurança (órgão no topo da hierarquia), o Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança (CARIC, órgão operacional e coordenador) e as Entidades de Supervisão do Governo definidas por domínios de actividade.

À luz do relatório, o CARIC, cuja coordenação vai ser assegurada pela Polícia Judiciária (PJ), suscitou o maior número de opiniões, dado que caber-lhe-á monitorizar o tráfego de dados informáticos entre as redes dos operadores das infra-estruturas críticas e a Internet. Embora a maioria concorde com a criação e composição do CARIC (as atribuições vão ser definidas através de regulamento administrativo), foram sinalizadas 18 opiniões contra. Em particular, devido à possibilidade de o CARIC supervisionar em tempo real a dimensão do fluxo dos dados e as características dos datagramas. Algo que, alegam, pode prejudicar a privacidade, a liberdade de expressão e de edição e até o segredo comercial.

Sem dados pessoais

Na resposta, constante do relatório, o Governo assegura que o CARIC vai apenas proceder “a uma averiguação da dimensão do fluxo de dados examinada, sem registar qualquer dado, muito menos decifrar qualquer conteúdo ou discurso que se encontre em rede”. Tal significa que “o pessoal das entidades de supervisão não pode obter quaisquer dados pessoais directamente ou mediante recurso à técnica de recuperação dos datagramas, informações relativas aos sectores das comunicações”.

As entidades supervisoras também geraram receios, com opiniões a alertarem para a hipótese de virem a exigir às entidades supervisionadas dados confidenciais ou informações. Uma situação que pode colocar em causa a liberdade de expressão ou de imprensa, invocando o cumprimento dos deveres, como o de colaboração, atinentes aos operadores das infra-estruturas críticas.

O Executivo coloca de lado estes receios. “O pessoal da entidade supervisora apenas poderá entrar nas instalações dos operadores de infra-estruturas críticas para conhecer a realidade quando as suas redes sofrerem ataques ou invasões” e “mesmo que exija o acesso dos dados durante a inspecção, não lhe é permitido obter os dados operacionais da actividade dos operadores das infra-estruturas críticas nem os dados pessoais dos clientes, entre outras informações confidenciais”. Além disso, “os dados pessoais e conteúdos de comunicação não poderão ser consultados ou obtidos pelo pessoal de supervisão, salvo o consentimento das entidades supervisionadas ou autorização pelo juiz devido à necessidade de investigação criminal”, acrescenta.

Supervisores e supervisionados

As entidades supervisoras dividem-se em dois tipos: os órgãos públicos serão supervisionados pelos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), enquanto os operadores das infra-estruturas críticas do sector privado ficarão sob o controlo de 11 serviços públicos relacionados com a actividade ou natureza dos mesmos.

As infra-estruturas definidas como críticas dizem respeito a patrimónios, sistemas e redes relevantes para o funcionamento normal da sociedade, cujo dano ou revelação de dados é passível de causar prejuízos graves para a segurança, interesse e ordem pública. Uma esfera que abrange, entre outros, fornecedores de bens essenciais, incluindo de água e electricidade, hospitais, transportes, bancos ou casinos, mas também estações de rádio e televisão.

O único ponto em que a maioria das opiniões recolhidas discordaram do proposto foi quanto à entrada em vigor da lei. O documento de consulta prevê 30 dias após publicação em Boletim Oficial, um período considerado demasiado curto e que o Governo aceitou alargar para 180 dias.

Esta será uma das mexidas a introduzir no diploma na sequência das opiniões compiladas durante a consulta pública, a par de outras alterações pontuais para “tornar mais claro o teor textual” de forma a reduzir mal-entendidos.

7 Set 2018

Newman Lam, académico : “Há interesse em dizer que Macau é problemático”

A reforma ditou a saída de Newman Lam da Universidade de Macau, onde liderou o departamento de administração pública e governamental. O professor afirma que há “pessoas poderosas” em Macau a dar informações erradas ao Governo Central, através do Gabinete de Ligação, apontando semelhanças com Hong Kong para justificar a necessidade de maior controlo. Interesses pessoais podem estar por detrás destas manobras

[dropcap]E[/dropcap]stá de saída da Universidade de Macau. Que balanço faz do seu trabalho nesta instituição, tendo em conta a questão da liberdade académica? Houve alguns desenvolvimentos?
Quando comecei a trabalhar na UM todos tínhamos uma liberdade académica absoluta. Ninguém nos questionava no caso de convites feitos a oradores, ninguém se preocupava sobre o conteúdo político das apresentações feitas por esses oradores. Do ponto de vista académico, isso era completamente irrelevante, eram convidadas pessoas para falar das suas investigações, e não havia a preocupação relativamente à sua ligação a partidos políticos, por exemplo. Mas, nos últimos anos, temos notado alguma sensibilidade relativamente à situação política na China. Não querendo mencionar nomes, e deixando aqui claro que tal nunca se passou comigo, mas passou-se com colegas meus, no caso de haver convites feitos a pessoas de Hong Kong ou Taiwan cujas ideias ou ligações políticas não sejam consistentes com a situação política na China, podem ocorrer alguns problemas.

Que tipo de problemas?
A proposta de convite a essas pessoas pode ser recusada ou pode ser sujeita a escrutínio. Eu estou a reformar-me, não aconteceu comigo, mas sei que propostas feitas para conferências foram simplesmente recusadas ou analisadas previamente. Ou então foram feitas várias questões previamente sobre os convidados cujas ideias políticas não estivessem de acordo com as actuais políticas da China. Contudo, gostaria de manter a confidencialidade dos nomes dos meus colegas a quem isso aconteceu.

Zhidong Hao, professor do departamento de ciência política, também já reformado, chegou a afirmar publicamente que os docentes da UM são questionados quando fazem viagens de trabalho a Taiwan, por exemplo.
Confirmo isso. Há dez ou 15 anos, estabeleci alguns contactos com colegas de Taiwan. Antes era muito fácil convidar académicos de fora para fazer aqui uma palestra, bastava apresentar a proposta e normalmente o financiamento era fácil de obter, e também não tínhamos problemas se fossemos dar conferências a Taiwan. Mas agora, pelo que sei, o convidado é analisado previamente e se queremos ir a Taiwan por motivos académicos é-nos questionado com que pessoas nos vamos encontrar e as razões para isso acontecer.

FOTO: Sofia Mota

Os estudantes têm receios de fazer investigações sobre assuntos políticos?
Penso que os alunos não estão sequer conscientes de que estas coisas acontecem. Em termos gerais, os estudantes preparam os seus exames e trabalhos, e a grande maioria não tem consciência dos desenvolvimentos ou dos temas mais sensíveis que têm sido debatidos nos últimos tempos. À excepção dos que, claro, estão a desenvolver investigações. Mas, para dizer a verdade, a grande maioria dos nossos alunos não está interessada em assuntos políticos. Acredito que se Donald Trump disser, ou fizer, algum disparate muitos não vão sequer saber quem é o Donald Trump (risos). No meu departamento alguns alunos estão interessados na política, mas não posso dizer que são a maioria. Nos outros departamentos, a política é um assunto em que não estão minimamente interessados.

Faz falta mais investigação sobre a política de Macau?
Honestamente, acho que os alunos deveriam ser mais interessados em questões políticas, especialmente na política local. Penso que a política actual é muito relevante para eles. Se olharmos para a Administração de Donald Trump, a guerra comercial com a China, o que se passa na Coreia do Norte, estes assuntos estão a acontecer fora de Macau e, eventualmente, poderão trazer impacto às suas vidas, porque quase tudo o que acontece na política tem implicações económicas.

Falando da política local. Recentemente, uma palestra proferida por Andy Chan, líder de um partido pró-independência, gerou polémica na região vizinha. Macau está a sofrer consequências da situação política em Hong Kong?
A situação política de Hong Kong sempre teve consequências em Macau, apesar de achar que Macau não tem os problemas da região vizinha. A RAEHK fala de independência, duvido que esse tópico tenha alguma vez ganho notoriedade em Macau. As pessoas em Macau não têm essa aspiração, incluindo os jovens. Mas o problema é que aquilo que aconteceu em Hong Kong fez o Governo Central ficar nervoso sobre a possibilidade de acontecer em Macau. Houve um maior controlo em Hong Kong, e depois pensou-se “porque não controlar mais a situação em Macau também?”. Então houve algumas implicações.

Mas, como disse, Macau nunca teve um movimento pró-independência. Como explica isso?
Se voltarmos a 1997, muitas pessoas receberam a transição de braços abertos, mas houve também bastante apreensão quanto ao futuro, sobretudo no que diz respeito à eleição do Chefe do Executivo e à garantia de liberdades e direitos. Mas em Macau a transição de soberania fez-se de forma bastante suave, e, de um modo geral, as pessoas não ofereceram qualquer resistência. O Governo britânico ajudou a aumentar a consciência das pessoas no que diz respeito a uma maior democratização e à necessidade do sufrágio universal, por exemplo. Isso terá levado a que em Hong Kong, depois da transição, as pessoas sempre tenham tido essa preocupação. Há dez anos atrás, ninguém em Hong Kong falava de independência, e até se pensava que seria uma loucura. Mas hoje é um tema na ordem do dia.

E foram inclusivamente criados partidos políticos.
Sim. Se a China ou algumas individualidades na China invocarem a ideia de que as pessoas de Hong Kong querem, de facto, a independência, o controlo aperta-se ainda mais, e quando isso acontece, sabemos que gera mais descontentamento. Temos também o problema do sufrágio universal, e as pessoas de Hong Kong acreditam que esta foi uma promessa feita por Deng Xiaoping, que querem agora ver cumprida. Todas estas coisas causam tensões e conflitos e isto acaba por se tornar numa espécie de profecia. Esse é o problema em Hong Kong. Temos de questionar quem criou tudo isto.

No caso do movimento pró-democrata em Macau, deu-se o caso Sulu Sou. Que comentário faz à atitude dos deputados da Assembleia Legislativa?
Este é um assunto complicado. Há o lado do campo político mais tradicional que fez a vida difícil a Sulu Sou, e depois houve o campo pró-democrata, com os jovens. Mas há também um outro grupo de pessoas, de deputados, que não apoiam Sulu Sou, não defendem a sua causa política porque simplesmente acham que não é algo que ele deva fazer.

As propostas de lei que Wong Sio Chak quer apresentar são consequências da situação em Hong Kong? Wong Sio Chak quer mostrar ao Governo Central que Macau está a fazer as coisas bem?
O problema é que há pessoas poderosas em Macau que dizem coisas a pessoas poderosas de Pequim. Algumas pessoas dizem a verdade, e acredito que esses dizem que Macau é um lugar pacífico, com uma sociedade patriótica. Mas, infelizmente, há outras pessoas que dizem a Pequim que o controlo deveria ser reforçado, e que Macau vai ficar igual a Hong Kong. Há algumas pessoas, e não quero mencionar nomes, que têm interesse em dizer que Macau é um lugar problemático, ou com potencialidade para ser igual a Hong Kong. Estas pessoas têm um poder concedido por Pequim.

Falamos de pessoas ligadas às famílias tradicionais de Macau, deputados, membros do Governo?
Não, penso que as famílias tradicionais não querem ter quaisquer problemas em Macau. Não quero mencionar nomes, e não me refiro necessariamente a membros do Governo. Há pessoas que esperam obter algumas vantagens do Governo Central, como recursos ou poder, ao dizerem que Macau é um lugar problemático que precisa de um reforço do controlo. É como dizerem que, se houver algum problema, eles vão resolvê-lo e garantir que nada acontece. São estas pessoas que estão a causar danos a Macau. Estou a referir-me a pessoas poderosas e não quero mencionar nomes. Estas pessoas não estão a dar ao Governo Central a informação correcta e se Pequim der ouvidos a estas pessoas, e se lhes conceder autoridade e poder, vão usar isso para os seus interesses pessoais. Essa é a parte assustadora.

O Governo Central tem a sua representação em Macau através do Gabinete de Ligação. Estão em causa falhas na comunicação entre a RAEM e Pequim?
Acho que se mantém boas relações com o Governo Central ao nível do Governo e famílias tradicionais, e eles mantém uma boa relação de trabalho. O problema é que há diferentes pessoas a dizer coisas diferentes. É uma questão de vermos em quem eles acreditam e que informação têm em conta.

As novas medidas defendidas por Wong Sio Chak representam um maior controlo sobre aquilo que as pessoas dizem e escrevem nas redes sociais?
Tanto em Macau como em Hong Kong estamos a caminhar para uma situação de maior controlo. Já percebemos isso. Mas duvido que avancemos para esse controlo assim tão rapidamente. Primeiro, porque não somos como Hong Kong e não temos o mesmo tipo de problemas. Pequim vê maior urgência em controlar Hong Kong, mas duvido que façam o mesmo aqui. Há muito tempo, no que diz respeito às questões políticas relacionadas com o Governo Central, que o Executivo local espera sempre para ver o que acontece em Hong Kong antes de agir. E vão continuar com esse tipo de abordagem. O Governo de Macau pode dizer muitas coisas, mas o que faz verdadeiramente, é outra história (risos).

O ano passado houve eleições legislativas. Sulu Sou e Agnes Lam foram eleitos. Um ano depois, considera que houve grandes mudanças?
Em primeiro lugar, Macau não é um lugar onde acontecem grandes mudanças. Esqueçamos essa possibilidade. Mas se me perguntar se se registou o início de uma mudança, então concordo. Houve novas pessoas eleitas e se, olharmos para a situação política actual de Macau, e os chamados radicais de há dez anos já não o são. Diria que o mais interessante de tudo isso é Agnes Lam. Todos questionam se pertence ao campo tradicional ou ao campo pró-democrata, e o quadro tem sido pintado assim. Mas penso que Agnes Lam está no meio e, tendo em conta os seus antecedentes, ela é patriota.

Pensa que ela é mais patriota do que pró-democrata?
É mais patriota. Mas, por outro lado, se olharmos para as suas interpelações e intervenções, é também consistente com os pró-democratas. Ela é uma das nossas docentes e diria que está a apresentar uma terceira opção, que não está intimamente ligada à China ou ao Governo local, mas que se preocupa com as necessidades das pessoas. O seu programa político defendia a implementação do sufrágio universal. Gostaria de ver um crescimento destes deputados que estão no meio, isso seria saudável para Macau. Representam uma voz para Macau e para o continente, e não representam apenas um lado ou outro. Sulu Sou deixou para trás a linha de Ng Kuok Cheong e Au Kam San. Mas Agnes Lam representa algo novo.

Chui Sai On vai deixar de ser Chefe do Executivo no próximo ano. Que balanço faz destes últimos quatro anos de mandato?
Esta questão é difícil de responder, porque acho que o nosso Chefe do Executivo assumiu uma postura passiva. Ele não fez nada drástico, seguiu as mesmas políticas e garantiu que as pessoas de Macau recebem dinheiro todos os anos e permanecem contentes. Essa abordagem funcionou até ao ano passado, até acontecer o tufão Hato. Mas o seu mandato está a chegar ao fim e, nos últimos quatro anos, não fez propriamente coisas erradas, mas também não atingiu grandes objectivos. Quanto a quem o vai substituir, e tendo em conta as preferências de Pequim, penso que ainda não foi feita qualquer escolha e apenas existe especulação popular.

Fala-se das possibilidades de Ho Iat Seng ou Lionel Leong.
Se Pequim quiser alguém com fortes ligações às famílias tradicionais e extremamente leal a Pequim, então Ho Iat Seng seria a escolha óbvia. Lionel Leong é considerado um nome forte e penso que é o mais indicado.

E Wong Sio Chak?
Penso que não tem perfil para ser tido em conta, pelo menos para já. Penso que não fez o suficiente, se compararmos com Lionel Leong. Foi apontado como secretário para a Segurança [em 2014] e penso que para fazer Pequim ter confiança num candidato são necessários mais anos, tem de ser alguém com relações mais duradouras nessa área. Lionel Leong está ligado aos negócios e tem relações com Pequim há mais tempo. Penso que Wong Sio Chak não tem antecedentes políticos suficientes para ser considerado como candidato.

A China lançou o projecto da Grande Baía. A integração pode acontecer, na prática, antes de 2049?
Não vai acontecer nos próximos anos, mas talvez aconteça antes de 2049. Se acontecer antes desse ano já nada precisa de ser feito, Macau pode até desaparecer e tornar-se numa região económica especial, por exemplo. A ponte já estará em funcionamento e penso que a área económica e empresarial vai desenvolver-se primeiro e aí veremos um desenvolvimento mais rápido nos próximos seis a dez anos. A integração política virá depois.

7 Set 2018

Japão | Tufão causa pelo menos 11 mortos e centenas de feridos

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos 11 pessoas morreram e centenas ficaram feridas no Japão, na sequência do tufão Jebi, considerado o mais violento a atingir directamente o arquipélago em 25 anos, informou a televisão pública NHK. “Este tufão causou sérios danos, especialmente na região de Osaka”, disse ontem o primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe, que prometeu “o máximo de esforços para resolver a situação e reabilitar as infra-estruturas”. A passagem do ciclone trouxe chuvas torrenciais e ventos fortes, com rajadas que atingiram nalguns locais os 220 quilómetros/hora. O Jebi, o vigésimo primeiro tufão desta temporada no Pacífico, foi catalogado como “muito forte” pela Agência Meteorológica do Japão, o primeiro com esta intensidade a chegar ao arquipélago desde 1993. O Japão foi atingido por vários tufões e chuvas torrenciais este Verão. Uma grande parte do oeste do Japão foi atingida no início de Julho por fortes inundações e deslizamentos de terra que resultaram na morte de mais de 200 pessoas e milhares de desalojados, naquele que foi considerado o mais grave desastre meteorológico no país desde 1982.

6 Set 2018

Coreias | Delegação de Seul reúne-se com Kim Jong-un

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma delegação sul-coreana reuniu-se ontem com o dirigente norte-coreano, Kim Jong-un, numa altura em que Seul quer organizar uma nova cimeira intercoreana para ultrapassar o impasse das negociações sobre desnuclearização. Chung Eui-yong, conselheiro para a segurança nacional do presidente sul-coreano Moon Jae-in, que se deslocou ao Norte com quatro outros emissários, tinha dito antes da reunião que pretendia discutir modos de “realizar a desnuclearização” da península coreana e estabelecer “uma paz duradoura”.
A delegação “encontrou-se com o presidente Kim Jong-un, entregou-lhe uma carta pessoal (de Moon) e trocou pontos de vista”, declarou um porta-voz da presidência sul-coreana, adiantando que os sul-coreanos partiram ontem para Seul.

Durante uma cimeira histórica a 12 de Junho em Singapura, o presidente norte-americano, Donald Trump, e Kim Jong-un chegaram a um vago compromisso sobre uma “desnuclearização completa da península coreana”, cujo modo e calendário foram adiados para negociações posteriores. O processo entre Washington e Pyongyang encontra-se actualmente num impasse e no mês passado Trump anulou à última hora uma viagem à Coreia do Norte do secretário de Estado, Mike Pompeo.

O objectivo oficial da visita ao Norte da delegação sul-coreana é definir os pormenores da organização de uma nova cimeira entre Kim e Moon, que deverá realizar-se ainda este mês e que será a terceira desde o final de Abril.

Especialistas no dossier coreano consideram que Chung é provavelmente portador de uma proposta para se sair do impasse na questão da desnuclearização.

6 Set 2018

Autarca de Ronda é o sexto eleito assassinado nas Filipinas desde Maio

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m autarca filipino, cujo nome integrava uma lista de autoridades eleitas acusadas pelo Presidente, Rodrigo Duterte, de envolvimento com o narcotráfico, foi ontem morto a tiro no seu gabinete, o sexto eleito assassinado desde Maio, informou a polícia.

O homicídio de Mariano Blanco, autarca da cidade de Ronda, no sul do país, é o mais recente de uma série de assassínios de políticos eleitos suspeitos de ligações ao tráfico de drogas. Mariano Blanco, de 59 anos, foi morto por desconhecidos quando se encontrava no seu gabinete, disse o chefe de polícia local, o inspector Jayr Palcon, à agência de notícias France-Presse. “Testemunhas disseram que quatro pessoas armadas saíram de uma carrinha branca e entraram na prefeitura. O prefeito estava lá a dormir no seu gabinete”, disse o inspector. Segundo Jayr Palcon, o nome de Mariano Blanco estava na lista do presidente Duterte de funcionários eleitos suspeitos de serem consumidores, traficantes ou de protegerem o tráfico de droga, uma informação confirmada pela Agência Anti-Narcóticos das Filipinas.

Blanco foi morto a tiros quase um ano depois de a Comissão Nacional de Polícia lhe ter retirado os poderes sobre a polícia local por ser suspeito de “realizar actividades ilegais relacionadas com o tráfico de drogas”, afirmou um porta-voz da agência.

Em Julho, Antonio Halili, líder do município de Tanuan, sul de Manila, foi morto a tiro por um franco-atirador durante uma cerimónia que decorria na prefeitura.

Desde que Duterte chegou ao poder no final de Junho de 2016, a polícia alega ter matado 4.410 supostos traficantes de drogas e toxicodependentes. As organizações não-governamentais dizem que esse número deve ser o triplo e defende que os dados apontam para um possível crime contra a Humanidade, acusando a polícia e as milícias de matarem pessoas sem sequer terem qualquer prova de seu possível envolvimento no tráfico de drogas.

Em Fevereiro, o sobrinho de Blanco e o vice-prefeito de Ronda, um advogado, também foram mortos a tiro no final de uma audiência num tribunal no qual estava a defender um cliente suspeito de ser traficante.

6 Set 2018

Notas de Setembro

I

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]egressei recentemente de férias de Portugal, onde já não ia há 8 anos, pasme-se. E novidades? Bem, tudo mais ou menos na mesma, e talvez por ter ido no Verão, as coisas estavam calmas, e as cidades praticamente desertas, mesmo Lisboa. Foi uma mudança interessante, em relação à azáfama que temos aqui no território e nas outras cidades da região. Portugal continua a ser um país acessível em termos de preços; muito mais barato que o resto da Europa. Continua, no entanto, a falar-se da crise. Normal, num país onde grande parte da população activa vive com seis mil patacas mensais, ou pouco mais do que isso. Parece mesmo assim não ter muito importância; as marisqueiras estão sempre cheias, os festivais de Verão são concorridos, toda gente tem carro, e enquanto lá estive foram quase 60 mil alminhas encher o Estádio da Luz para assistir à partida entre o Benfica e o Fenerbahce, a contar para a 2a. pré-eliminatória de qualificação da Champions League, com os bilhetes a custar na ordem das 500 ou mil patacas. Vai-se vivendo, em Portugal.

II

De regresso a Macau, e depois de um tímido tufão que no final de contas não chegou a sacudir o território, a actualidade ficou marcada pelas declarações polémicas de uma responsável dos Serviços de Educação, a propósito da homossexualidade. A educadora (?) em questão estabeleceu um desastroso paralelo entre esta orientação sexual e a doença mental, sugerindo que “as crianças que pensam (?!) que são homossexuais devem ser encaminhadas para um psicólogo”. Depois de uma ou mais tentativas (frustradas, diga-se em abono da verdade) de se justificar, e de um estranho “diz-que-não-disse”, o mal já estava feito. Foram declarações graves e infelizes, de facto, mas que me deixaram a pensar que aqui na terra da harmonia, o conceito de “normalidade” ainda tem algum peso. A doença mental é tabu, e existem muitos casos não diagnosticados – é o tal medo da “perda de face”, um aspecto sobretudo cultural. Era bom que quem precisa de ajuda a fosse procurar. Independentemente de ocupar um cargo público de relevo, ou não.

III

Finalmente, e ainda em Macau, abriu um restaurante da cadeia de “fast-food” filipina Jollibee (passo a publicidade), depois de meses de espera (hesitação?). Eu, pessoalmente gosto, e faço sempre questão de lá ir quando visito as Filipinas, e agora é tudo uma questão de se gostar ou não de “junk food”. Mas o que eu gostaria mesmo de destacar é o atendimento, que é, numa palavra, soberbo. As meninas da caixa atendem com uma simpatia tremenda, sorriso de orelha a orelha, e dirigem-se aos clientes quase a cantar! Se não houver mais nada, pelo menos os outros estabelecimentos do território tinham muito a aprender com o Jollibee, nesse particular. Nota cem.

6 Set 2018

Automobilismo | Pilotos locais ambicionam correr no WTCR Grande Prémio

Apesar de apenas haver dois convites da FIA para que os pilotos locais possam participar no WTCR, são vários os locais que gostariam de ter a oportunidade de correr este ano no Circuito da Guia

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s dois ‘wild cards’ da Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) a atribuir à Corrida da Guia da 65ª edição do Grande Prémio de Macau têm sido alvo de muita cobiça. E se o número de candidatos superava já largamente o número de lugares disponíveis, a lista poderá ter aumentado este fim-de-semana.

Para além dos vinte e seis concorrentes inscritos no campeonato, a Eurosport Events, a empresa promotora da competição mundial sob a chancela da FIA, atribui por prova dois ‘wild cards’ a pilotos convidados, supostamente locais. A prova a realizar em Novembro no território não será excepção.

O HM sabe que o número de pilotos da RAEM candidatos a um ‘wild card’ para a última prova da temporada de 2018 do WTCR supera a meia dúzia, sendo que mais um se perfila a horizonte. Depois da prestação de encher o olho na prova do TCR China em Ningbo, em que venceu duas corridas e poderia ter vencido as três do programa se não fossem as vicissitudes climáticas, André Couto terá sido abordado pela equipa MacPro Racing Team para competir na Corrida da Guia com o Honda Civic TCR.

“O tema foi discutido em algumas conversas, mas não houve nada de concreto. Foi só um tema discutido em conversas informais”, disse André Couto, ao HM. “Para mim a participação no Grande Prémio de Macau só acontecerá no WTCR ou nos GTs”, explicou.
Dos pilotos do território que já colocaram o seu nome para uma potencial selecção, o único a admiti-lo publicamente foi Filipe Clemente Souza que no mês passado confirmou ao HM que em Novembro irá abdicar da sua tradicional participação na Taça de Carros de Turismo de Macau (ex-‘Taça CTM’), para regressar à Corrida da Guia onde foi presença assídua entre 2011 e 2014. O piloto macaense realizou, ao longo dos anos, várias aparições em provas asiáticas do WTCC, o antecessor do WTCR, o que lhe dá hoje um favoritismo óbvio para receber uma nomeação.

Habitualmente, a escolha dos ‘wild cards’ é da responsabilidade do Eurosport Events, em colaboração com os organizadores e promotores das provas que o WTCR visita.

Critérios dúbios

Na conferência de imprensa de antevisão da segunda prova do campeonato, que se disputou na Hungria, François Ribeiro, o responsável máximo pela Eurosport Events, esclareceu aos jornalistas que os ‘wild cards’ são para a atribuir a pilotos com um currículo de referência ou então, para permitir a possibilidade a jovens talentos de competir lado a lado com os melhores do mundo da especialidade. Ribeiro aproveitou para clarificar que estes são exclusivos para pilotos do país organizador do evento.

“Por mim, faríamos um evento do WTCR trinta e duas vezes por ano e assim haveria mais oportunidades para pilotos de outros países. Mas a realidade é que temos 10 eventos e 30 corridas, o que já é muito. Tenho pena que não possamos receber todos, mas isto é uma Taça do Mundo e o nível precisa de ser restrito para ter algum valor”, explicou na altura o dirigente francês, clarificando que quer ter ” os melhores pilotos de carros de Turismo do mundo inscritos a tempo inteiro e sem restrições para quem quer que seja. A única restrição são os wildcards. Mas se um brasileiro ou um russo quiser fazer parte da grelha de partida tem sempre a possibilidade de correr a tempo inteiro.”

Contudo, na prova da Alemanha um dos ‘wild cards’ foi o dinamarquês Kris Richard, com a justificação que este dominava a língua alemã, ao passo que o checo Petr Fulín usufruiu da mesma benesse para correr na prova da Eslováquia.

O HM questionou o Eurosport Events sobre se os pilotos de Hong Kong e da China Continental, apesar de representarem uma Autoridade Desportiva Nacional (ADN) diferente, estariam habilitados a concorrer a um ‘wild card’ em Macau e se, da mesma forma, os pilotos da duas RAEs podem ser candidatos a um ‘wild card’ nas provas chineses do campeonato – Ningbo e Wuhan – mas não obteve uma resposta apesar das insistências.

6 Set 2018

Brasil | Lula da Silva recorreu ao Supremo Tribunal para disputar eleições

O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva, preso desde Abril, apresentou um recurso na terça-feira ao Supremo Tribunal Federal, depois do Supremo Tribunal Eleitoral ter negado a sua inscrição como candidato às presidenciais de Outubro

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]equipa de advogados do ex-chefe de Estado anunciou que interpôs o recurso na sequência do Tribunal Superior Eleitoral ter decidido que a lei conhecida como “Ficha Limpa”, que foi aprovada pelo próprio ex-Presidente em 2010, impede que Lula concorra ao cargo, uma vez que foi condenado em segunda instância. A Justiça proibiu também o antigo chefe de Estado de aparecer na campanha eleitoral como candidato, mas autorizou a presença da sua figura na campanha desde que não se apresente como tal.

Os advogados argumentam que o tribunal eleitoral se recusou a atender um pedido do Comité de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) para que se respeitem os direitos políticos do ex-Presidente, incluindo o direito de contestar as eleições, conceder entrevistas à imprensa e manter contacto com os membros do Partido Trabalhista (PT).

Por esta razão, os advogados de Lula já apresentaram um recurso à ONU para que a organização se pronuncie sobre a recusa das autoridades brasileiras em acatarem a determinação do Comité dos Direitos Humanos, que pediu ao Brasil que permita ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de exercer todos os seus direitos políticos como candidato enquanto estiver na prisão.

De acordo com a defesa, a decisão do Comité da ONU deve vincular a Justiça brasileira, que é signatária de tratados internacionais que reconhecem a competência deste Comité das Nações Unidas.

Substituto de Lula

Caso os novos recursos sejam rejeitados, o PT só tem até 11 de Setembro para apresentar um novo candidato que, segundo dirigentes do partido, seria Fernando Haddad, que foi na terça-feira indiciado pelo Ministério Público por suposta corrupção relacionada com a sua campanha nas eleições municipais de 2012.

Haddad, apontado como provável substituto de Lula como candidato do PT à presidência do Brasil, é acusado de receber 2,6 milhões de reais (quase um milhão de euros à taxa de câmbio de então) de uma construtora “para pagar uma dívida na campanha eleitoral de 2012”, o que lhe permitiu garantir o lugar de prefeito de São Paulo, segundo um documento do MP publicado na terça-feira.

Se não anunciar um novo candidato no prazo estipulado, o partido fica fora da disputa eleitoral, cuja primeira volta está marcada para 7 de Outubro

6 Set 2018

A ferida tornou-se doença

Horta Seca, Lisboa, 27 Agosto

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]cerca da primeira leva de selecionados para o Prémio Oceanos, aforismo nada novo e não se fala mais nisso: nome reconhecido na espuma vai mais longe que mil qualidades.

Horta Seca, Lisboa, 28 Agosto

Rodopiando no vórtice, por todo o lado encontro o tempo, agora mesmo nesta barata estrebuchando nas escadas rolantes do metro. Logo na inutilidade dos últimos movimentos outrora ágeis percorrendo o nada. Depois, vem lá do começo dos tempos para labutar decompondo o lixo que fazemos sendo. Ou vice-versa.

Horta Seca, Lisboa, 29 Agosto

«Histórias para meninas distraídas», assim se chama, mas estes poemas da Liliana [Ribeiro] estão prenhes de fina atenção. Ainda não falara do pequeno volume, dos iniciais colecção Mão Dita, aguardando inutilmente a oportunidade de lançamento na capital, que a norte já se desmultiplicou como quem semeia. Os versos misturam, qual biscoito de mel com gota de estricnina, um modo de ser gentil e duro. Infância, «adultância» e outras ânsias, mas também amor, morte, a palavra e o maior dos panos de fundo: o feminino. Ah, e o tempo, esse devorador, que merecia «Cartão Vermelho»: «Ninguém nos tinha dito que o tempo a favor de todas as possibilidades acabaria. Acabaria o ciclo, o ensaio, a diversão, a determinação instruída. A meta fixa fora sempre um truque, um sinal para as mãos se juntarem no banco do autocarro e assistir gratuitamente ao concerto no estádio municipal. Tudo o resto, desvarios, distrações contra as árvores iguais.» Acabado de ler o manuscrito, outro cuja publicação demorou o irrazoável, anotei: a ferida como doença. Tanto fica por dizer.

Horta Seca, Lisboa, 30 Agosto

Supostamente, qualquer computador se liga, enigma palpitante, ao coração do átomo onde arfa Cronos comedor de filhos e senhor de todas as colheitas, mesmo as mais sangrentas. Por que raio ou significado os números do canto inferior direito, do meu pêcê, irmanados pelos dois pontos, manetas de ponteiros, cavalgam muito além do comum? Induzem em erro, mas ajudam a cumprir. Contudo, chegar antes continua sendo alta de pontualidade. Marcará o kairos o das oportunidades que, por ver mal as horas, fui perdendo?

João Villaret , Lisboa, 1 Setembro

A querida Daniela [Gomes] desatou a compor uma boa série de «Covers» (ed. Paralelo W), i.e., ou seja, quer dizer. Recolheu fotografias antigas e anónimas sobre as quais pintou correspondências com versos de canções díspares e significativas. A que se reproduz na página, por exemplo, corresponde aos três últimos versos de Sandy Denny, acolhida nos Fairport Convention. Para sublinhar que não sei para onde o tempo se escoa, incluo aqui mais uns quantos e ponho a canção a rodar (vai passar a constar do karaokabysmo, cancioneiro selvagem das noites deste verão de mentirinha). «Across the evening sky, all the birds are leaving/ But how can they know it’s time for them to go?/ Before the winter fire, I will still be dreaming/ I have no thought of time// For who knows where the time goes?/ Who knows where the time goes?// Sad, deserted shore, your fickle friends are leaving/ Ah, but then you know it’s time for them to go/ But I will still be here, I have no thought of leaving/ I do not count the time// For who knows where the time goes?/ Who knows where the time goes?» A Daniela, fazendo uso de extrema e melancólica sensibilidade, isolou as figuras com trabalho sobre a cor que inventa carnes e matérias e prolonga as melodias. Isolou o humano, retirou-o das suas circunstâncias, para o fazer voar por sobre infâncias, desencontros, sonhos, ramos, rochas, corpos e casas. E aquele não lugar entre a luz e nenhures. Estamos sós com a música. Cai-se com facilidade em vários, por isto ou aquilo, olhar ou situação, detalhe ou conjunto, mas prendi-me a este da explosiva leitura do fulgor tendo por companhia as nuvens. Sei bem as razões.

Horta Seca, Lisboa, 3 Setembro

Tão dolorosamente belas são as imagens do Museu Nacional do Brasil ardendo, no seu aniversário! A estatuária que vigia, do telhado, perdeu terceira dimensão, são meras sombras face ao combate perdido, cegas do horizonte perdido, engasgadas pelo fumo tóxico da memória livre das ciências, talvez devessem deixar-se cair com o estrondo seco do escândalo. O gato embalsamado morrerá de vez ou sobra-lhe ainda hipótese de roçar alguém algures? Quantas mortes ali vivas voltarão a morrer à mão da estupidez impune? A múmia de Amon, o gajo de Atacama e o acocorado de Aymara e cada esqueleto ainda sendo ali poderiam levantar-se em grito para atormentar consciências. Bendegó, o meteorito vai resistir a estas brasas para continuar aceso na memória da incúria criminosa. A beleza é efémera ou não seria, razão maior para a admirar. E conservar. Ferida obscena, esta imagem da barbárie, servindo ideologia sanguinária que prefere a morte, na vez do humano que pulsa em cada migalha de museu. Que quotidianamente aceita sacrificar no altar do lucro a cultura, por dispensável, gratuita, inútil. Experimento em cada museu coração que pulsa. Pode até ter sido erguido sobre ideias gastas, solúveis na espuma da raiva, mas uma única delas justifica seiva e pulsação: fotossíntese. Falta-nos – cada vez mais – o ar.

Santa Bárbara, Lisboa, 5 Setembro

Vinte e cinco anos depois, continuo trocando os pés pelas mãos, incapaz de te dar o horizonte que merecias, tão aquém do possível que até dói. Nem poema consigo novo. «Os teus braços, afinal tu/ como sítio abrangente (a floresta)/ lugar panorâmico (o mar em fundo)/ onde me recolher/ sem palavras/ precisei delas gastei-as para chegar/ a ti/ despia-me já choroso (o mar em mim)/ e depositava-me/ massa desprendida solta de gordura e afecto e/ ossos/ nos teus abraços de estátua vibrante/ ora cama repousante/ ora colo ofegante/ soluçante, eu e os pensamentos/ ardendo à nossa volta/ incendiados pelo resto incandescente/ das palavras caminho/ os teus cabelos cobrem-nos de mundo/ aceitaste/ aceitaste-me/ os teus olhos húmus convidam à sementeira/ não terá sido por isso/ o desespero encontrou a intimidade/ continuo os soluços/ pois deles se soltam/ dançando/ as estrelas/ da já noite/ até que a tranquilidade/ por vida praça que rasgaste / na pele do promontório (a floresta)/ me acolheu desfeito/ não precisei da manhã para amanhecer/ ou de perder os verbos (a nuvem)/ para me erguer estendido/ na tranquilidade/ quedo tolhido fiquei/ já que continuei a vir pelas palavras caminho/ para repetidamente / morrer (em ti)».

6 Set 2018

Conta-me contos, ama

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ontos, o melhor da literatura e os mais interessantes parceiros de viagem, onde sem nenhum esforço vamos encontrar os grandes escritores contando de formas várias quantas vezes o mesmo conto, que neles reescritos são sempre novos, sempre únicos. Discursos que se unem derivados das mesmas fontes, culturas que partilham espaços oníricos, tão próximos que ficamos a saber de uma provável fonte comum. Contam então muitas vezes os contos, aspectos particulares das culturas dos povos, na vertente do gosto pelos ciclos curtos e intensos, por onde férias e dias grandes hão-de passar: esse tempo de papel que rasgado em mil pedaços, deles fomos recolhendo as lendas, e hoje, escutamos no interior deste género literário ainda as “vozes” pelos autores que tão bem, e jamais, deixaram de escutar tais chamamentos .

Faltam-nos sempre alguns que a voracidade agarra e leva rápido num saco de viagem. Já não temos amas e vozes que nos contem coisas nesta solidão, e carregamos com eles levando as “vozes” e num breve instante damo-nos conta que grande parte das nossas bibliotecas estão pilhadas deles, que esperam partir connosco para longe em fuga aos quotidianos. Por instantes, ainda nos admiramos de tanta coisa sem interesse de carácter marcadamente intimista que ocupa lugar a mais, impressão volumosa, pesadas notas interpretativas, um conflito permanente com a nossa paciência que desejamos polida para nos massacrarmos na ânsia de não ficar para trás nos temáticos interesses da época. Medimos o tempo pelo resto que nos falta e resolvemos só levar connosco tudo que nos faz radicalmente bem.

Que tempo descritivo é o nosso, sim, onde a factualidade é de tal ordem implementada que se remete a herança de uma memória colectiva para certos apeadeiros a que chamam ficção, que passa rapidamente a fixação, quando todos numa embrulhada gigantesca resolvem soltar a sua história. Por isso todos sabem de tudo e o que não sabem inventam num desespero sem paralelo para que se escute as suas vozes… até fazem cursos para aquilo sair ligeiro e onde fiquem depois mandatados para tecerem resmas de papel nas quais se debruçam testando assim a nossa paciência. Acrescentar matéria aos sonhos requer muito mais, e admoestar um serviço ao seu mais fino conteúdo, exige o grau máximo da qualidade que se dá, quando em proveito de todos nos desembaraçamos de nós.

Juntos «Contos Misteriosos e Fantásticos» de Edgar Allan Poe, «Contos Maravilhosos» de Herman Hesse, «Sobre os Contos de Fadas» de Calvino, «Pequenas obras Morais» de Leopardi, «Contos de Amor Loucura e Morte» de Horacio Quiroga, «Amor no Feno e outros Contos» de D.H. Lawrence, «Lendas» de Gustavo Bécquer, «Contos Populares Russos», «Contos» de Eça de Queiroz, voltamos para o ano sem grandes saudades de mais nada. «O Mabinogion» sem par, onze contos da cultura celta, uma arte de bardos e de encantos, as lendas, dadas por dois manuscritos, o Livro Branco de Rhydderch e o Livro Vermelho de Hergest, escritos em língua galesa no século XIV mas podendo remontar ao século XI na versão mais antiga no país do Rei Artur, transformando a leitura de alguns contos por vezes muito curtos em demorado prazer.

O clã celta é uma estrutura compacta que afasta o cavaleiro paladino do silêncio e da solidão, naquele local todos se juntam sem ásperos abandonos a um propósito privado. Podíamos viver aqui o resto da viagem. Nos contos encontramos por fim os arquétipos, bem como os mitos inaugurais, e de tão juntos, renascemos outra vez para os grandes e bons encontros. No «Homem que Morreu» ( como se cada homem no país de Lawrence fosse eterno) a “contagem” é a dos Véus de Isis…Quiroga um dos fundadores do conto moderno, dá-nos a contar a Morte de Isolda… a morte está presente como sinal de arremesso aos desaires dos seres… Bécquer, esse, só não quer que se toque nas pedras de Toledo, em Eça de Queiroz e a partir dos seus textos dispersos em jornais e reunidos em «Contos» vamos encontrar as páginas mais bonitas da sua escrita. Os «Contos Russos» onde a Gata Borralheira também entra, bem como um certo aspecto do seu folclore que faz surpreender culturas distantes, instiga-nos a ver melhor a universalidade dos povos.

«Lendas e Narrativas», que longe anda, tece esses meandros dos sonhos de antanho e das lutas e amores onde não falta a veia árdua de um cronista na opulenta capacidade de Alexandre Herculano. Quanto ao tema das literaturas populares devemo-la a Almeida Garrett, recuperados os ciclos da expressão oral. São sempre novos, sempre outros, sempre os mesmos, no fazer e refazer da linguagem de cada um, por que é essa similitude que dá o maravilhoso, pois em nós nada há dessa matéria retirados se formos desse todo. Por isso os levo como se levasse apenas um, que contam assim na multiplicidade individual das suas vozes e fazem entender que a trama não passa muitas vezes de um artifício fustigado por “originalidades” sem origem.

Conta-me contos ama, todos os contos são esse dia, e jardim e a dama que eu fui nessa solidão…

Contam-nos assim os que dizem escrevendo para nós no interior dos tempos, e de tal modo a voz nos soa a uma paz perdida, que ama sempre mais a criança que somos, a velha ama.

6 Set 2018

Artes | “Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau 2018” em Pequim

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Bienal de Artes Visuais de Hong Kong e Macau foi inaugurada no dia 31 de Agosto no Museu de Arte Minsheng de Pequim, de acordo com um comunicado emitido ontem. Marcando o décimo aniversário da sua criação, a Bienal este ano é subordinada ao tema “Toque Urbano” e apresenta o desenvolvimento do panorama das artes visuais das três regiões. O espaço de exposição de Macau é dedicado ao tema “Transcendendo a Cidade”, e explora “a interacção entre as pessoas, a relação entre o homem e a cidade, as memórias e as experiências que daí advêm assim como a evolução da cidade em conjunto com o seu desenvolvimento”, refere a mesma fonte. Participam na exposição seis jovens artistas do território: Ng Man Wai, Lai Sio Kit, Wong Ka Long, Wong Weng Io, Cheong Cheng Wa e Fok Hoi Seng. Os artistas apresentaram obras de pintura, gravura, gravação vídeo e instalação. Depois de Pequim a exposição segue para o Centro Internacional de Convenções e Exposições de Dunhuang, em Gansu, de 27 de Setembro a 15 de Outubro, e o Museu de Arte de Zhejiang em Zhengzhou, de 30 de Outubro a 11 de Novembro.

6 Set 2018

Bailado| La Scala de Milão traz “Giselle” a Macau

O grande auditório do Centro Cultural de Macau apresenta, entre sexta-feira e domingo, “Giselle” pela Companhia de Ballet do Teatro La Scala de Milão. O espectáculo marca a estreia da companhia italiana em Macau para apresentar um clássico do ballet romântico

[dropcap style=’circle’]G[/dropcap]iselle” sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau entre a próxima sexta-feira e domingo pela mão da Companhia de Ballet do Teatro La Scala de Milão.

É a primeira vez que a companhia de renome internacional vem a Macau, o motivo é a apresentação de “Giselle”, um ballet romântico em dois actos.

A coreografia que acompanha a composição do francês Adolphe Charles Adam é uma das referências do ballet parisiense do século XIX. A primeira vez que subiu ao palco da Ópera Nacional de Paris corria o ano de 1841. Com popularidade crescente, “Giselle” passou a conquistar os palcos do mundo e foi produzida por grande parte das companhias europeias, russas e mesmo dos Estados Unidos.

“Giselle” conta, numa primeira acepção, a história de uma camponesa que acaba por morrer depois de descobrir que “o seu amado estava comprometido com outra mulher”. Esta é a história do primeiro acto da coreografia. “É também o acto que traz o lado real da produção, um lado com luz e ligado ao quotidiano”, referiu ontem o director da Companhia de Ballet Teatro La Scala , Frédéric Olvieri em conferência de imprensa. Mas o espectáculo “desenrola-se entre a luz e a escuridão”, acrescentou. A camponesa morre a junta-se a um grupo de fadas que vivem numa floresta. É aqui que acontece “o grande acto de amor e de perdão”, apontou o director da companhia. “Giselle” salva o amado das garras de espíritos vingativos numa acção que acontece antes do nascer do sol.

Este segundo acto, vai ser apresentado na penumbra, no mundo do fantástico. É também o momento em que as qualidades dos bailarinos se podem constatar, considerou Olivieri.

“É no segundo acto que a companhia mostra a sua excelência enquanto grupo”, sublinhou.

Para o director, a abertura deste acto é, talvez o momento mais “bonito, com a visão que apresenta do grupo em palco”, apontou.

A composição, de autoria do francês Adolphe Charles Adam, vai ser interpretada pela Orquestra de Macau sob a batuta do maestro David Coleman.

Paralelamente ao espectáculo, o CCM organiza um workshop para “desvendar alguns segredos e técnicas básicas do Ballet do Teatro alla Scala”, refere a organização. A actividade vai ser orientada por profissionais da companhia italiana e dá “aos participantes uma oportunidade de descobrir e ensaiar os passos de dança que mais tarde vão poder ver em palco”, acrescenta a mesma fonte.

Rumo à china

Depois de Macau, a companhia segue para Xi´an, Tianjin e Xangai onde vai apresentar “Giselle” e também “D. Quixote”.

Já com experiência na China, Olivieri nota diferenças nas performances dos bailarinos do continente e do ocidente que advêm das próprias culturas, apontou. Contudo, na óptica do director, os profissionais do continente são “fantásticos quer no que respeita à técnica como à forma de se expressarem artisticamente”. Para o responsável do Ballet do La Scala, “na China há bailarinos fantásticos, o que significa que a formação é de muito boa qualidade, tanto no ballet clássico como contemporâneo”, sublinhou.

6 Set 2018

Taiwan | Antigo presidente defende referendo sobre independência

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]antigo Presidente de Taiwan, Chen Shui-bian, propôs ontem a convocação de um referendo sobre a independência formal da ilha, perante a crescente pressão política, económica e diplomática exercida por Pequim.

Numa entrevista ao jornal japonês Sankei, Chen instou o Governo da actual Presidente, Tsai Ing-wen, a recorrer a um referendo, face à impossibilidade de o território competir militarmente com a China. “Não temos força militar, só podemos enfrentar [a China] através de métodos democráticos”, afirmou Chen, citado pelo jornal japonês.

O referendo é a melhor forma de mostrar ao mundo que “os taiwaneses não desejam ser parte da China” e uma “resposta pacífica e democrática à crescente ameaça militar, política e económica” de Pequim, acrescentou.

Chen criticou Tsai Ing-wen pela sua debilidade, face à pressão da China, e por não se aproximar mais do Governo japonês para contrariar a intimidação exercida por Pequim. O antigo Presidente taiwanês enalteceu ainda o estreitar dos laços entre Taipé e Washington, mas advertiu que não se pode esperar muito do líder norte-americano, Donald Trump.

Chen liderou Taiwan entre 2000 e 2008, tendo mantido sempre uma postura pró-independência. Após terminar o seu mandato, foi condenado por corrupção, mas assegura que se trata de perseguição política.

6 Set 2018

Ambiente | Taiwan quer banir mais de 13 milhões de motos até 2035

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]aiwan anunciou ontem que vai proibir até 2035 as motos movidas a gasolina para combater a poluição ambiental na ilha, prevendo-se a retirada de mais de 13 milhões destes veículos actualmente em circulação. Esta medida, anunciada em comunicado pelo primeiro-ministro insular, Lai Chin-te, visa retira das estradas no território cerca de 13,76 milhões de motos que estão actualmente em circulação, num país com cerca de 23,5 milhões de habitantes. O Governo de Taiwan explicou que vai apoiar os fabricantes locais na transição para veículos eléctricos e inteligentes e oferecer incentivos aos consumidores. Taiwan está comprometida em eliminar a energia nuclear até 2025, o que significa que precisa intensificar a produção de energia renovável, gás natural e de centrais a carvão.

6 Set 2018

China/África | Pequim suspende comentários críticos ‘online’

A caixa de comentários às notícias de que Pequim vai emprestar 60 mil milhões de dólares aos países africanos está suspensa em vários portais noticiosos chineses, após internautas terem manifestado a sua insatisfação nas redes sociais do país

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Presidente chinês, Xi Jinping, avançou esta semana com aquele valor, na abertura da terceira edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), que reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano. Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos, alguns isentos de juros ou com condições preferenciais, para projectos lançados no âmbito daquela iniciativa.

Segundo constatou a agência Lusa, no portal de informação económica Caijing ou na versão ‘online’ do jornal Beijing Evening News, a tentativa de colocar uma mensagem resulta no aviso de que “estão proibidos comentários a esta notícia”. A assistência financeira da China ao exterior é frequentemente alvo de críticas no país, onde dezenas de milhões de pessoas continuam a viver abaixo do limiar da pobreza ou sem acesso ao ensino e saúde. No Weibo, o ‘Twitter chinês’, vários internautas compararam o montante prometido por Xi com os gastos domésticos em educação ou no apoio às populações mais pobres.

“Devias primeiro criar as tuas próprias crianças”, escreve um internauta. “Há tantas vítimas na China em desastres naturais ou provocados pelo homem, poderias olhar pelos mais pobres aqui por favor?”.

Um ‘meme’ difundido na Internet chinesa mostra o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, a prometer que a China não vacilará nos seus compromissos económicos com África, ao lado dos comentário do ministro da Educação, Chen Baosheng, que afirma que o país tem escassez de fundos e “não pode exceder o seu estágio de desenvolvimento”.

A imprensa estatal, entretanto, tem realçado os benefícios mútuos da cooperação com África, apontando o grande potencial de consumo e abundantes recursos naturais do continente. “China e África são altamente complementares e o potencial de desenvolvimento de África irá criar um grande mercado”, lê-se num comentário no Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, no qual se acrescenta que a China importa do continente mais algodão e cobre do que produz internamente e que a exploração de campos petrolíferos africanos, por empresas chinesas, “ajudou muito” o país asiático a garantir a sua segurança energética.

Dinheiro entre irmãos

Um outro artigo no Diário do Povo lembra que, apesar de a assistência financeira de Pequim a África “não implicar condições políticas”, o continente tem expressado apoio às reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China. “Esta fraternidade não tem preço”, nota.

No FOCAC, Xi Jinping prometeu ainda um perdão das dívidas que venceriam no final deste ano para os países mais pobres do continente africano e 50 mil bolsas de estudos destinadas aos jovens.

Os empréstimos chineses inserem-se no projecto internacional de infra-estruturas lançado pela China, a Nova Rota da Seda, que inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos ou centrais eléctricas, visando conectar Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Segunda maior economia mundial, a China continua a ter quase 50 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, estabelecido pelo Governo chinês em 2.300 yuan anuais (290 euros). Em Pequim ou Xangai, as cidades mais prósperas do país, o rendimento ‘per capita’ é dez vezes superior ao das áreas rurais, onde quase metade dos cerca de 1.400 milhões de chineses continua a viver.

6 Set 2018

Ensino | Directora de infantário despedida após dança do varão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades da cidade de Shenzhen anunciaram ontem a demissão da directora de um infantário local após esta ter incluído a dança do varão na festa de início do ano lectivo. “O objectivo era ensinar às crianças um novo tipo de dança”, explicou Lai Rong, a responsável pelo infantário Xinshahui, citada pela imprensa local.

Vídeos e fotografias registados pelos pais, e que se tornaram virais na Internet chinesa, mostram uma mulher de calções pretos, blusa decotada e salto alto a fazer acrobacias num varão, para uma plateia composta por crianças. “As crianças são muito simples, não terão tido pensamentos complexos sobre o espectáculo”, garantiu Lai. “Eles apenas acham fantástico que alguém consiga fazer aqueles movimentos”, disse.

As cerimónias do início do ano lectivo na China são normalmente solenes e incluem o hastear da bandeira nacional da República Popular da China, ao som do hino do país. Neste caso, a bandeira chinesa foi hasteada no próprio varão. Segundo relatos dos pais, em Julho passado, a mesma escola recebeu dez dias de “actividades militares”, que incluíram exibições de metralhadoras e morteiros à entrada do estabelecimento.

6 Set 2018

Peste suína | Países asiáticos reúnem-se de emergência para discutir epidemia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Agência de Alimentos e Agricultura da Ásia (FAO, na sigla em inglês) reuniu-se ontem de emergência em Banguecoque, Tailândia, para abordar o risco da epidemia de peste suína africana registada na China se espalhar na região. “A região deve estar preparada para a alta probabilidade de que a peste suína africana cruze fronteiras”, informou a FAO num comunicado em que se sublinha a necessidade de se adoptar “uma resposta regional”.
Especialistas de nove países vizinhos da China (Camboja, Japão, Laos, Mongólia, Myanmar, Filipinas, Coreia do Sul, Tailândia e Vietname), incluindo epidemiologistas veterinários, reúnem-se durante três dias para definir um protocolo regional. “A peste suína africana, nova na Ásia, representa uma ameaça significativa”, refere a agência da ONU, cuja sede regional fica em Banguecoque.

Mais de 40 mil porcos foram abatidos na China desde o início da epidemia, no início de Agosto, segundo a FAO. O gigante asiático, maior produtor de carne suína do mundo, está a tentar conter este surto de peste suína africana inédita no país. Os focos de peste suína africana foram detectados em cinco províncias da China, na sequência de uma exploração em Liaoning (nordeste). Na Ásia, o primeiro surto detectado, em Março de 2017, foi numa criação na Rússia, na Sibéria.

A peste suína africana, com casos registados em África, Rússia e em vários países da Europa do Leste, é muito difícil de controlar porque não existe uma vacina eficaz. No entanto, não representa qualquer perigo para a saúde humana.

A doença é transmitida por contacto directo entre porcos infectados, carraças ou animais selvagens e é fatal para os animais afectados, o que inflige perdas económicas significativas nas fazendas.

Cerca de metade da população mundial de suínos é criada na China, o país que mais consome esse tipo de carne per capita, segundo a FAO.

6 Set 2018

Ciência | Criado plástico que se decompõe em água do mar

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ientistas chineses desenvolveram um tipo de plástico que se decompõe em águas do mar, sem deixar resíduos, visando combater a poluição dos oceanos, informou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. A decomposição do material, composto por poliéster, em água marinha, pode demorar entre alguns dias a vários meses, gerando pequenas moléculas que não causam poluição, segundo Wang Gexia, engenheiro do Instituto Técnico de Física e Química da Academia Chinesa de Ciências, citado pela Xinhua. “Durante muito tempo, as pessoas preocuparam-se com a contaminação do plástico apenas nos solos. A poluição dos mares apenas teve a atenção das pessoas nos últimos anos, com as notícias de animais marinhos mortos”, afirmou. Os cientistas combinaram hidrólise não enzimática, dissolução na água e processos biodegradáveis para gerar o novo material.

6 Set 2018

Crime | ‘Uber chinês’ inclui dispositivo para chamar polícia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]empresa de transporte privado chinesa Didi, equivalente à Uber, incluirá um “botão de pânico” na aplicação para contactar directamente com a polícia, uma medida que surge após o assassínio de duas passageiras no espaço de três meses

O Didi anunciou ainda, em comunicado, que vai suspender os seus serviços nocturnos, durante uma semana, entre 8 e 15 de Setembro, visando incorporar as novas medidas de segurança. Outra das novidades da actualização será a possibilidade de realizar gravações áudio durante o trajecto. A firma prometeu ainda reforçar a verificação do antecedente criminal dos condutores.

A segurança da plataforma tem sido questionada pelas autoridades, depois da segunda morte, no espaço de três meses.
Há duas semanas, uma mulher de 20 anos foi violada e assassinada pelo condutor, durante uma viagem num carro privado, solicitado através do Didi, no leste da China. Em Maio passado, um caso semelhante resultou no homicídio de uma hospedeira de bordo chinesa, de 21 anos, em Zhengzhou, centro do país.

Caixa de Pandora

Vários casos de agressões sexuais a passageiras, por parte de condutores da aplicação de transporte, e que resultaram em processos judiciais, foram entretanto revelados pela imprensa chinesa.

O Governo chinês exigiu à empresa que entregue um plano aos reguladores, visando rectificar os lapsos de segurança da plataforma.

Considerada uma das “start-ups” mais bem-sucedidas da China, a empresa adoptou uma estratégia de expansão internacional este ano, incluindo a aquisição de parte da brasileira 99Taxis, em Janeiro passado. No final de 2017, o Didi estava avaliado em 56 mil milhões de dólares (48.170 milhões de euros).

6 Set 2018

Banca | Empréstimos ao exterior subiram quase 20 por cento em Julho

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s empréstimos ao exterior concedidos pela banca de Macau aumentaram 19,3 por cento em Julho face ao mesmo mês de 2017 para 506,1 mil milhões de patacas, indicam dados divulgados ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). Os empréstimos internos ao sector privado subiram 10,8 por cento, atingindo os 481,5 mil milhões de patacas. Os depósitos dos residentes também subiram em termos anuais homólogos, totalizando 600,9 mil milhões de patacas, em linha com os do sector público, que cresceram 18,6 por cento para 340,9 mil milhões de patacas. A contrariar a tendência estiveram apenas os depósitos de não residentes que ascenderam a 240,5 mil milhões de patacas, reflectindo uma descida anual homóloga de 11,5 por cento.

6 Set 2018

Justiça | Ministério Público investiga caso de falsificação de assinaturas

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m funcionário da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) na sequência de um alegado caso de falsificação de cheques. O caso já foi entregue ao Ministério Público (MP) para ser investigado.

De acordo com o jornal Ou Mun, o suspeito, de apelido Si, tem 49 anos e trabalha na Direcção dos Serviços de Turismo há cerca de 30 anos. A alegada falsificação de assinaturas de cheques terá acontecido no âmbito da assembleia de condomínio do prédio onde reside e onde Si é vice-presidente. O indivíduo é suspeito de ter falsificado a assinatura de dois membros da mesma assembleia, entre Maio e Junho do ano passado, de forma a obter um total de 510 mil patacas. Em Junho, o conselho fiscal da assembleia de condomínios descobriu cinco transacções suspeitas no valor de 180 mil patacas. No entanto, em Julho, Si confessou ter obtido dinheiro e prometeu devolver o montante o mais depressa possível. O caso foi divulgado aos restantes moradores, tendo estes decidido apresentar queixa na polícia.

O indivíduo terá investido em acções e necessitaria do dinheiro para cobrir as perdas que sofreu. É suspeito da prática do crime de burla por valor elevado e de falsificação de documentos. O jornal escreveu ainda que, depois de ter sido descoberto, hipotecou a loja junto do banco e transferiu o dinheiro para a assembleia de condóminos.

6 Set 2018