“Manbiki Kazoku” do japonês Kore-Eda venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Manbiki Kazoku”, do japonês Kore-Eda, venceu a Palma de Ouro da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, cujo júri é presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, foi anunciado.

“Manbiki Kazoku”, a primeira Palma de Ouro japonesa desde 1997 (ano em que foi distinguido “A enguia”, de Shohei Imamura), conta a história de uma família que vive de roubos em lojas e acolhe uma menina vítima de abusos.

O júri, que além de Cate Blanchett inclui, entre outros, as atrizes Kristen Stewart e Léa Seydoux, decidiu atribuir o Grande Prémio a “BlacKkKlasman”, do norte-americano Spike Lee.

Em “BlacKkKlansman”, filme passado na década de 1970, o realizador aborda temas como o racismo e a extrema-direita e termina com imagens dos confrontos de agosto do ano passado em Charlotesville, no estado norte-americano da Virginia, entre nacionalistas brancos e antifascistas.

A Palma de Ouro especial foi atribuída ao cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que estava em competição pela Palma de Ouro com o filme “Le livre d’image”, e o prémio de Melhor Realizador ao polaco Pawel Pawlikowski por “Cold War”.

O prémio de melhor ator foi para o italiano Marcello Fonte (pelo papel que interpreta em “Dogman”, de Matteo Garrone) e o de melhor atriz para a cazaque Samal Esljamova (“Ayka”, de Sergueï Dvortsevoï).

O Festival de Cinema de Cannes contou este ano com vários filmes portugueses, nomeadamente “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, distinguido com o Grande Prémio da Semana da Crítica, e o documentário “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora, que conquistou o prémio especial do júri da secção ‘Un Certain Regard’, onde foi estreado.

Na Semana da Crítica esteve também a curta-metragem “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra.

No programa dedicado aos clássicos, foi exibida uma versão restaurada de “A ilha dos amores”, de Paulo Rocha, e, fora de competição, estreou-se “O grande circo místico”, do realizador brasileiro Cacá Diegues, rodado em Portugal.

A 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes encerra hoje com a estreia mundial de “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam.

Ainda com um processo judicial em curso, Terry Gilliam terá agora oportunidade de mostrar no grande ecrã um projeto que o acompanha há quase trinta anos, numa adaptação livre do romance “D. Quixote de la Mancha”, de Miguel Cervantes.

“O homem que matou Dom Quixote” é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.

Palmarés da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes

Palma de Ouro: “Manbiki Kazoku”, de Hirokazu Kore-Eda

Grande Prémio: “BlacKkKlansman”, de Spike Lee

Prémio do júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki

Palma de Ouro especial: Jean-Luc Godard

Prémio de Melhor Realizador: Pawel Pawlikowski, “Cold War”

Prémio de Melhor Argumento (ex-aequo): Alice Rohrwacher, “Lazzaro Felice” e Jafar Panahi e Nader Saeivar, “Trois visages”

Melhor Atriz: Samal Esljamova, “Ayka”

Melhor Ator: Marcello Fonte, “Dogman”

Câmara de Ouro: “Girl”, de Lukas Dhont

Palma de Ouro de curta-metragem: “All these creatures”, Charles Williams

Menção especial em curta-metragem: “Yan Bian Shao”, Wei Shujun

20 Mai 2018

Bilhetes para o Sporting disponíveis, mas anúncio só foi feito para chineses

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s ingressos para assistir ao encontro entre a Selecção de Macau e o Sporting Clube de Portugal começam a ser distribuídos esta tarde às 16h, no Estádio de Macau. A distribuição dos ingressos vai decorrer hoje e amanhã, entre as 16h e 20h, e no sábado, entre as 10h e as 14h, no Estádio de Macau. Quem não puder levantar os bilhetes nesses dias pode ainda fazê-lo antes do jogo. Os ingressos são gratuitos, porém, apenas os órgãos comunicação social em língua chinesa foram convidados para a conferência de imprensa em que as informações foram reveladas.

Apesar do momento conturbado em Alvalade, com demissões ontem à noite na Mesa da Assembleia-Geral e no Conselho Fiscal e Disciplinar, não havia indicações sobre o adiamento da visita. A comitiva do Sporting chega já amanhã a Macau e é constituída principalmente por atletas da equipa B, que foi despromovida da II Liga. Já o encontro com a selecção local está marcado para as 20h de segunda-feira, no Estádio de Macau.

No dia seguinte, os jogadores do Sporting treinam com jogadores juvenis de Macau e na próxima quarta-feira são recebidos na Residência do Cônsul Geral e têm um jantar com o Sporting de Macau, filial do clube no território. Finalmente, na quinta-feira, a comitiva vai para o Interior da China.

No entanto, o anúncio de ontem da Associação de Futebol de Macau ficou marcado por grande polémica. A federação, que tem como homem forte Chong Coc Veng, “esqueceu-se” de convidar os órgãos sociais em língua portuguesa. Também o Sporting de Macau não foi convidado para marcar presença, apesar de ser uma filial oficial do clube de Lisboa. Ao HM, Daniel Sousa, vice-presidente da Associação de Futebol de Macau, negou ter existido má-fé.

“Pedimos imensa desculpa pelo sucedido com os órgãos sociais de matriz portuguesa. Não estamos a ignorar ninguém por qualquer má-fé”, afirmou Daniel Sousa, sobre o ocorrido.

18 Mai 2018

TUI dá razão a verificador alfandegário acusado tirar fotografias impróprias

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] TUI negou provimento a um recurso interposto pelo secretário para a Segurança de uma decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI) que anulou a pena de demissão aplicada no âmbito de um processo disciplinar a um verificador alfandegário, por entender não ter sido feita prova dos factos imputados ao arguido. A decisão, tomada na quarta-feira, foi divulgada ontem no portal dos tribunais.

O caso chegou à justiça depois de o verificador alfandegário interpor recurso de anulação do despacho de Novembro de 2016 do secretário para a Segurança que lhe aplicou a pena disciplinar de demissão. Em Janeiro último, o funcionário viu o Tribunal de Segunda Instância dar-lhe razão “por falta de provas dos factos imputados”, pelo que o Secretário para a Segurança recorreu para o TUI.

O verificador alfandegário era acusado de, entre Abril e Julho de 2012, se ter dedicado “à exploração de prostituição, em colaboração de esforços com outro indivíduo, seu co-arguido no processo-crime que corre termos no Ministério Público”. Segundo os dados do processo, o funcionário “tomou a seu cargo o papel de fotografar jovens mulheres contratadas na China para prestação de serviços sexuais em Macau, publicando as fotografias na Internet para efeitos de publicidade”. Uma actividade que lhe permitiria auferir “uma comissão, que se estima em 100 patacas, por cada serviço prestado pelas jovens, partilhando-a com o co-arguido”.

“O acórdão recorrido decidiu que o acto punitivo não se podia manter porque os factos imputados ao arguido não se provaram. No caso, os meios de prova do processo disciplinar foram a dedução de acusação contra o arguido em processo criminal e um recorte de jornal”, sublinha o TUI. No entanto, “a situação seria mesma se tivesse sido inquiridas testemunhas ou outro meio de prova e o tribunal julgasse os factos não provados e anulasse, por isso, o acto punitivo”, realçou o TUI, negando provimento ao recurso.

18 Mai 2018

Joana Maryia, criadora de vídeos no projecto “Shoot and Chop”

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]udo começou com Kenny Leong e os seus vídeos críticos da actualidade local, mas depressa o projecto “Shoot and Chop” ganhou nova vida com mais colaboradores como Benjamim Soares e Josh the Intern. Joana Maryia, nascida em Macau, com pai português e mãe americana, juntou-se ao grupo e é a mais recente criadora de vídeos do projecto, cabendo-lhe a missão de mostrar os segredos do território que a maioria desconhece. Além de fazer a apresentação, Joana também faz trabalho de pesquisa sobre as coisas novas que o território tem para oferecer.

Joana Maryia tem sido o rosto da série de vídeos “Macau Top 5”, que revela particularidades fora dos roteiros turísticos, como os melhores lugares para beber chá ou os melhores espaços de restauração para tirar selfies. Já na universidade a jovem revelava um gosto pela carreira na área do entretenimento.

“Era uma estudante de media na área da produção de vídeos e cinema e sempre quis fazer algo na parte ligada ao entretenimento. Penso que em Macau continuam a existir meios de comunicação social mais tradicionais e não queria fazer esse trabalho. Então conheci o Kenny e o projecto ‘Shoot and Chop’, que faz vídeos engraçados sobre a realidade de Macau”, conta.

Joana fez um estágio e depois acabou por ficar. Hoje dá a cara por um projecto onde fala um mandarim quase perfeito, graças à frequência de uma escola em Zhuhai. Em criança, Joana também aprendeu cantonês, ao frequentar uma escola chinesa em Macau, e português. Contudo, afirma expressar-se melhor em inglês.

Fazer parte desta iniciativa fez Joana pensar na sua terra natal com uma outra perspectiva. “Ajudou-me a apreciar mais a cidade. Antes fazia a minha vida nos mesmos lugares, ia sempre aos mesmos sítios, com as mesmas pessoas. Com estes episódios comecei a conhecer mais cafés e restaurantes e isso fez-me apreciar mais todas as diferenças que existem. Há muitas coisas interessantes aqui.”

Novos rostos, mais visões

Quem conhece o projecto “Shoot and Chop” desde o seu início recorda-se dos primórdios de Kenny em redes sociais como o YouTube, onde fazia vídeos de crítica ao Governo na série “I’m pissed off, man”. O “Shoot and Chop” nasce daí, mas hoje consegue ter diversas presenças online.

“Penso que à medida que o projecto ‘Shoot and Chop’ vai tendo mais colaborações vão existindo diferentes tópicos e direcções, mas o que queremos é fazer de Macau um lugar melhor. Então falamos sobre os problemas que permanecem por resolver por parte do Governo, mantemos esse segmento, mas ao mesmo tempo queremos que as pessoas apreciem as boas coisas de Macau.”

Joana pretende continuar a fazer este trabalho nos próximos tempos, por adorar aquilo que faz. Já vai sendo reconhecida na rua, mas não se considera uma figura pública.

“Não é que eu seja muito reconhecida na rua, mas começam a aparecer mais pessoas que me reconhecem dos vídeos e me dizem ‘és a Joana dos vídeos’. É bom e penso que há mais apoio ao meu trabalho, penso que as pessoas gostam cada vez mais do que fazemos. No que diz respeito a ser, ou não, uma figura pública, acho que isso ainda não tem grande dimensão.”

Joana estudou na área dos media, mas nunca teve vontade de ser jornalista num meio de comunicação social tradicional. Além disso, afirma “adorar” dançar, participando, inclusive num grupo com o qual tenta organizar vários eventos no território.

Para alguém que nasceu em Macau, Joana considera que a mentalidade das pessoas não mudou assim tanto, em comparação com o desenvolvimento económico.

“A um certo nível sim, a mentalidade da sociedade mudou e ficou mais aberta, mas penso que os locais ainda têm uma mentalidade tradicional. Nós também tentamos trazer uma mudança, falar de diferenças culturais.”

A criadora de vídeos defende que Macau tem hoje mais pessoas diferentes e uma mescla de culturas. “Antes Macau era um lugar muito pequeno mas agora há uma identidade mais diversa”, remata.

18 Mai 2018

O Espírito da Rota da Seda

[dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]m artigos anteriores foram explorados temas importantes para perceber o enquadramento histórico das relações comerciais actuais da República Popular da China (RPC) com o resto do mundo: ajuda externa, que durante décadas definiu as relações económicas da RPC com o estrangeiro; investimento em África, continente com o qual a RPC mantém desde sempre uma relação especial; a “Go Out Policy” e o ímpeto para a internacionalização e busca de mercados no estrangeiro, conjugados com a transformação do tecido industrial chinês.

A Iniciativa Faixa e Rota, que já assumiu vários nomes e siglas (OBOR, BRI, B&RI), pode, e deve, ser encarada como a evolução natural de políticas que a RPC tem implementado ao longo das últimas décadas.

Comecemos pelo discurso. A iniciativa foi anunciada a 7 de Setembro de 2013 em Astana, Casaquistão, pelo Presidente Chinês Xi Jinping, num discurso intitulado “Promover a Amizade entre Povos e Criar um Futuro Melhor”. Nele, multiplicam-se as referências históricas aos vários eixos de trocas comerciais que conectaram durante séculos diferentes regiões da Eurásia,e aos quais se refere habitualmente como “A Rota da Seda”.

O anúncio público do projecto tem forçosamente de ser analisado no plano político. Três pontos definem a sua base ideológica: (i) Ordem mundial multipolar; (ii) Globalização económica; (iii) Diversidade cultural. São ideias fundamentais do discurso político chinês.

O “Plano de Acção para a Iniciativa Faixa e Rota” publicado em 2015 pelo Concelho de Estado da RPC salienta a necessidade de “(…) aprofundar a confiança política; promover intercâmbio cultural; encorajar diferentes civilizações a aprender umas com as outras e a prosperar em conjunto; e promover o entendimento mútuo, paz e amizade entre as pessoas de todos as nações”.

Este apelo à multiculturalidade pode ser encarado como um aspecto complementar tanto da globalização económica como da promoção de uma ordem multipolar. Neste contexto, a evocação de um passado caracterizado por prosperidade global e de interacção entre povos contrasta com o mundo “ocidentalizado” (principalmente) pela difusão alargada da cultura popular americana. É este apelo a uma visão algo romantizada da Rota da Seda que marca o início do Plano de Acção, cristalizada no “Espírito da Rota da Seda – paz e cooperação, abertura e inclusão, aprendizagem mútua e benefício mútuo”.

Este aspecto não deve ser negligenciado em qualquer análise do BRI. No discurso político chinês, a história tem um papel importante. Serve como elemento legitimador para novas iniciativas, associando visão política a elementos identitários da nação chinesa.

Olhemos para a “Faixa”, a componente terrestre do BRI. A multiplicação de nomeações a Património da Humanidade associadas à Rota da Seda resulta de um esforço conjunto dos países do continente euroasiático. Estas nomeações servem um propósito político para os países participantes, com o reconhecimento internacional da história e cultura de diferentes civilizações. Mas a associação à Rota da Seda oferece também uma perspectiva histórica sobre a ideia de ligações comerciais e contactos civilizacionais transnacionais.

Existe também uma dimensão securitária na avaliação das potencialidades do BRI para os vários países envolvidos. Comércio e intercâmbio cultural contribuem para a construção de relações de confiança e respeito mútuo. Para a China, a estabilidade das suas províncias ocidentais (Xinjiang, Tibete) é uma preocupação constante. A criação de dinâmicas transfronteiriças nestas regiões, com o seu consequente desenvolvimento económico, é encarado como um processo necessário, tanto para a China como para países vizinhos, para mitigar problemas recorrentes de instabilidade, como os associados ao fundamentalismo islâmico.

Outro dos objectivos inerentes a este renovado ênfase no intercâmbio cultural relaciona-se com a desconfiança que a China tem enfrentado em alguns países. Do ponto de vista Chinês, trata-se sobretudo de um problema de percepção. Peter Frankopan, historiador britânico e autor do bestseller de 2015 “As Rotas da Seda” (que, inexplicávelmente, demorou cerca de três anos a merecer a sua primeira edição portuguesa) lamentava, em entrevista à organização Intelligence Squared, o carácter eurocêntrico do ensino de História no Reino Unido, daqui resultando uma visão distorcida que menospreza ou ignora civilizações cujo contributo para o desenvolvimento da humanidade é imensurável. Esta será uma conclusão que poderá ser considerada como válida para virtualmente qualquer país ocidental. Esta ignorância relativamente a outros povos e culturas, esta visão incompleta da história, contribui para um clima de desconfiança sustentada em primeiro lugar no desconhecimento e no preconceito.

O ênfase dado no discurso político chinês a uma ordem multipolar deve ser lido na lógica que decorre dos Cinco Princípios de Coexistência Pacífica (1954) –   de respeito mútuo pela integridade territorial e soberania; de não-agressão mútua; de não-interferência mútua em assuntos internos; de igualdade e cooperação para benefício mútuo; de co-existência pacífica. Outra leitura, complementar à primeira, é que constitui um desafio directo à ordem mundial vigente, interpretada como ainda a resultante do fim da Guerra Fria e caracterizada como unipolar, com os Estados Unidos da América (EUA) como potência hegemónica. Trata-se de resto de um passo que os EUA já previam desde o tempo da administração Clinton, como afirma o académico neo-conservador Robert Kagan no seu livro “O Paraíso e o Poder” (2003), onde afirma que era já consensual entre os dois partidos americanos que o crescimento da China constituíria o grande desafio estratégico para os EUA durante as duas décadas seguintes.

Não tenhamos dúvidas, no entanto, que nesta multipolaridade, a China pretende ocupar a posição que considera natural em face do seu legado histórico milenar, contributo civilizacional, e dimensões populacional (20% da população mundial) e económica (15% da economia global; contributo correspondente a cerca de 25 a 30% do crescimento económico global). Com o projecto BRI, a China assume um papel de liderança neste processo de mudança, re-definindo a sua posição à escala global.

Nas palavras do já citado Peter Frankopan: “We are seeing the signs of the world’s centre of gravity shifting – back to where it lay for millennia”.

18 Mai 2018

O 1º de Maio e a história das duas cidades

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]urante os últimos anos, em Macau, o 1º de Maio (Dia do Trabalhador) tem sido uma das poucas datas regularmente assinalada com manifestações populares, para além do dia em que se comemora a transferência de soberania. No entanto, quer Hong Kong quer Macau, têm assistido ultimamente a um decréscimo deste tipo de demonstrações no Dia do Trabalhador.

Tendo perdido qualquer esperança na realização de um sufrágio universal, no rescaldo do “Movimento dos Chapéus de Chuva”, a sociedade de Hong Kong padece de pessimismo. Embora grupos de jovens tenham expressado a sua insatisfação de formas radicais, acabaram por ser silenciados após os protestos de Mong Kok. A chamada “resistência corajosa” chegou ao fim. O afastamento de dissidentes, por parte do Governo em funções, tem vindo a ser progressivamente intensificado. Mesmo os jovens da organização “Demosistō” acabaram por ser considerados não elegíveis para o Conselho Legislativo. Como Hong Kong tem sido paralisado por um sentimento de impotência, tornou-se difícil mobilizar as pessoas para manifestações e protestos .

Em Macau, a política de “distribuição de dinheiros”, implementada ao longo dos últimos dez anos, tem funcionado como um anestésico. À excepção de pequenos grupos com consciência política, em geral, os manifestantes são desorganizados e não apresentam propostas concretas. Além disso, as manifestações não constituem momentos significativos. Mas, ainda mais determinante, é o facto de se registar uma fraca participação nos movimentos sociais, por parte dos jovens que não pertencem ao campo pró-governamental. E isto é válido tanto para as apreciações positivas aos bons desempenhos do Governo da RAEM, como para as críticas aos seus maus desempenhos.

Se os desempenhos dos Governos de Hong Kong e de Macau forem reconhecidos pelo Governo Central, as populações das duas cidades desfrutarão de paz e de estabilidade. Mas, na realidade, o que se verifica é uma constante subida dos preços das habitações e a um acentuar das discrepâncias entre os ricos e os pobres, o que causa um declínio da qualidade de vida das populações. O Governo de Hong Kong tem uma actuação excessiva, mas pouco gratificante para os habitantes da cidade, enquanto em Macau temos um Governo com discursos vazios de sentido, mas uma população satisfeita com a vida que tem. Estas duas regiões são assoladas por grandes questões e por pequenos problemas, no entanto, os conflitos de fundo enraízados nestas sociedades constituem uma situação deveras preocupante, especialmente quando verificamos a indiferença da juventude.

No 1º de Maio fui a Hong Kong e reparei que não existe tanta animação como em Macau. Causeway Bay não estava tão cheia de gente como a Avenida de Almeida Ribeiro. O Terminal de Sheung Wan, dos Ferrys que fazem a ligação Hong Kong-Macau não tinha muita gente. Apenas alguns grupos de pessoas iam em direcção do Terminal da Taipa, o que evidencia um decréscimo óbvio de turistas do continente. Se compararmos com as longas filas que se formaram para atravessar a fronteira de Gongbei para Macau, no passado dia 30 de Abril, verificamos que, para os turistas continentais, Hong Kong é um destino longínquo.

De acordo com os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, a maioria do visitantes de Macau são originários da China continental. Se vier a haver um decréscimo no turismo do continente, Macau ficará tão“calmo” como Hong Kong, ou numa situação tão desastrosa como Taiwan. Por outras palavras, a seiva económica de Macau depende do turismo do continente. Mas será que existem em Macau produtos especiais de que necessitem particularmente os turistas continentais? Será que Macau possui algumas marcas de que se possa orgulhar? Se a China abrisse balcões com produtos farmacêuticos nas lojas duty-free, nos pontos de entrada em Macau, interrogo-me quantas Farmácias de Macau continuariam de portas abertas.

As Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e de Macau não registaram nenhum desenvolvimento significativo desde a transferência de soberania para a China. O Centro de Medicina Chinesa e o projecto Cyberport de Hong Kong acabaram por não dar em nada. Depois do regresso de Macau à soberania chinesa, verificou-se um fiasco na reestruturação da indústria. Se a China não tivesse implementado o Programa de Visitas Individuais, que permitiu a tantos dos seus habitantes trabalhar em Macau, o sector imobiliário da cidade não teria florescido e, apesar da liberalização da indústria do jogo, os casinos não estariam cheios.

Os homens de negócios de Hong Kong e de Macau desejam fazer fortunas, mas carecem de visão para um desenvolvimento a longo prazo. Os funcionários dos Governos de Hong Kong e de Macau limitam-se a depender do Continente e perderam a vontade de trabalhar com empenho. Com a implementação da Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, muitas cidades da China já prepararam as suas infra-estruturas visando a participação neste projecto. No entanto, em Macau, a rede do Metro ligeiro nem sequer se vislumbra no horizonte.

A existência de uma cidade depende da existência de traços e de valores que a distingam. Mas os traços e os valores distintos de Hong Kong e de Macau estão a extinguir-se.

18 Mai 2018

Nova corrida do GP com carros da marca Lotus

Na conferência de imprensa da passada quarta-feira, no Centro de Ciência de Macau, a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau (COGPM) apresentou o patrocinador principal e deu a conhecer o programa da edição número sessenta e cinco do maior cartaz desportivo de carácter anual do território

 

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]as seis corridas confirmadas, apenas uma é novidade: a “Greater Bay Area Cup”. Todavia, detalhes sobre a “Taça de Grande Baía”, na designação oficial em português, não foram dados a conhecer na conferência de imprensa.

Chong Coc Veng, o presidente da Associação Geral do Automóvel de Macau-China, afirmou na cerimónia que ainda estão a decorrer negociações com o promotor desta iniciativa e que pormenores sobre os moldes de como esta competição será disputada serão dados a conhecer ao público mais tarde. Porém, o também Coordenador da Subcomissão Desportiva da COGPM, referiu igualmente que esta competição será monomarca, disputada por um tipo único de viaturas, e terá duas corridas na China antes da prova no Circuito da Guia.

Várias fontes adiantaram ao HM que esta corrida será disputada com viaturas da marca Lotus, modelo Exige motorizados por blocos V6 com compressor, e será co-organizada pela Richburg Lotus. O Circuito Internacional de Zhuhai será muito provavelmente o palco das corridas chinesas que antecedem o evento da RAEM.

Nos últimos quatro anos a dita “slot comercial” do Grande Prémio foi ocupada pela Corrida da Taça Chinesa, prova que o ano passado foi ganha pelo macaense Hélder Assunção. A Shanghai Lisheng Racing Co. Ltd, o organizador desta corrida, que na realidade não é apenas uma, mas sim um campeonato disputado com viaturas BAIC Senova D50 TCR em circuitos da Grande China, esperava regressar ao Circuito da Guia este ano, mas terá sido ultrapassada pela oferta rival.

 

Um regresso

Esta não será primeira vez que o Grande Prémio acolhe um troféu monomarca organizada pelo importador do construtor britânico recentemente adquirido pelo gigante chinês Geely. Em 2015, pelas mãos da Richburg Lotus, disputou-se a Suncity Lotus Celebrity Cup, uma competição primordialmente pensada para atrair celebridades do showbiz de Hong Kong. Contudo, a “corrida de celebridades”, que contou com dezasseis Lotus Elise, teve um pódio sem uma única celebridade, sendo composto por três pilotos que conseguiram comprar lugares na grelha de partida. Sin Ling Fung de Hong Kong venceu a corrida, seguido dos conterrâneos Vincent Chao e Kevin Liu. O actor Fong Lik Sun foi a primeira celebridade na lista, vendo a bandeira de xadrez no sétimo posto da geral. Já antes, em 2014, ano em que o evento foi realizado em dois fins de semanas, os Elise tinham sido vistos a competir a solo na Corrida Cotai Strip Resorts Lotus Grande China.

18 Mai 2018

Melancolia do fim

[dropcap style≠‘circle’]H[/dropcap]á horas que olho para conteúdos cinematográficos. Não me mexo a não ser para me virar. Quando viajamos, há uma mesma apresentação encenada do que está fora. Há um guião. Deslocamo-nos, contudo. Quando, ao ver conteúdos cinematográficos, não. A viagem no tempo é numa dimensão diferente. O tempo excede os conteúdos reais. É a verdadeira viagem. O passar das hora do almoço para a hora da tarde. O passar o serão logo a seguir ao jantar com os sons da vida: de quem chega a casa, liga a TV, as crianças que gritam e correm. Pisam com convicção o corredor. A mesma dimensão está presente, quando nos leva ao passado, ao princípio dos princípios. Há muitos princípios e muitas primeiras vezes. Não são sempre auspiciosas. São más. Podem ser muito más. Podem ser boas. Mas há um princípio de entusiasmo. Não é por nenhum conteúdo que objectivamente possa ser descrito enquanto tal. É um conteúdo fascinante pelo tempo que o traz. Há um encantamento com o fascinante. É uma configuração temporal na época das nossas vidas. A juventude transfigura tudo na primavera ou no verão da existência. É tudo de véspera. Mesmo sem possibilidades enormes ou oportunidades objectivas, filtra todo e qualquer conteúdo, sem excepção, com a compreensão da véspera auspiciosa do que aí vem. O que aí vem vibra com a excitação do tempo para vir. O tempo para vir é como na véspera de natal, na véspera da ir de férias, na véspera do primeiro dia de aulas, na véspera da inauguração de um tempo que traz consigo ascensão e um deslize velos em direcção a um fim. Este fim não é lá no fundo. É uma descida para de novo ganhar balanço. É o entusiasmo de quem cavalga o cavalo do tempo, de quem desce e sobe vagas, de quem encosta abaixo esquia ou nas dunas se atira para sentir cair, o que justifica toda areia mordida. O fascinante é o modo como o futuro acontece para quem tem futuro. Não há fascínio, embora possa haver espanto, na sobrevivência, muito menos numa sobrevivência a si próprio. Quando todo o futuro está atrás das costas, não há fascinante, nem encanto, nem expectativa, nem esperança. Há o que é e o que é tem sido como sempre e repetir-se-á assim. Não é o pior. O pior é não ser enganado, o que pressupõe que o fascinante do feitiço deixa de actuar. Perde vigor. Às vezes voltamos atrás como se arrancássemos os olhos da cara de alguém para os inserir nos nossos. É como se assim víssemos uma rua pouco glamorosa, mas onde há antecipação, onde há ainda véspera, onde há esperança e a expectativa da mudança não é a rotina inultrapassável de tudo sempre cada vez mais na mesma. Onde está essa renovação do olhar que antigamente era tão poderosa que era mesmo o modo de olhar para as coisas. Agora, tudo estafado na rotina da repetição não vem sequer uma leve brisa que se levanta e nos faça olhar para outro sítio. O pior de tudo não vem com o tempo. Não se trata de quantidade de tempo. Pelo menos não no sentido em que se tratasse de um aumento homogéneo da quantidade do tempo. A nossa vida é marcada por épocas. O nosso tempo tem momentos de viragem. Datamos assim autobiograficamente sem sabermos bem como a nossa história como a história das nossas decepções, das nossas desilusões, das nossas perdas, das nossas mortes. Em cada um desses momentos perdemos a possibilidade de sermos objecto do fascinante, do feitiço que nos atrai para fora do sítio imóvel do presente. Para haver grandes decepções houve grandes esperanças. Quanto maior é a esperança maior é a decepção. Os espíritos jovens são formalmente obrigados a viverem montados no haver que lhes dá futuro. A sobrevivência é resistir a essa decepção. Tudo muda para pior. Nada fica como é. É possível, contudo, conviver com a derrota. Mas é à espera, à espera de que tudo acabe. Todo o fim é sempre redentor.

18 Mai 2018

Quarto e último dia das comemorações

[dropcap style≠‘circle’]P[/dropcap]ara o relato do dia 20 de Maio de 1898 juntamos o publicado nos jornais de 22 de Maio, O Independente (que reaparecera a 12 de Setembro de 1897, é redigido pelos professores do Liceu de Macau, João Pereira Vasco, Horácio Poiares, João Albino Ribeiro Cabral e o poeta Camilo Pessanha, tendo a redacção e a administração sediadas no n.º 2 da Calçada do Gamboa) e no Echo Macaense (com o editor Francisco Hermenegildo Fernandes, que retomara essas funções em 11 de Abril de 1897), assinado por Luiz Gonzaga Nolasco da Silva. O Provir, jornal publicado em Hong Kong não traz registo deste dia 20, quando teve lugar a colocação da pedra fundamental para a estátua de Vasco da Gama.

Pela linda e grande alameda passeia muita gente juntando-se para a cerimónia de inauguração ao longo de um largo entre a Avenida Vasco da Gama e a Estrada da Vitória. Às 5 da tarde procede-se ao lançamento da pedra fundamental para o monumento dedicado a Vasco da Gama na Avenida do mesmo nome, outrora Campo da Vitória, escolhido quase a meio da nova Alameda e de frente ao monumento da Vitória alcançada pelos portugueses de Macau sobre 800 holandeses em 1622.

A pedra fundamental está suspensa no ar por uma corda, a um metro de altura do nível do chão, e por debaixo dessa pedra está aberto um fosso. Presentes encontram-se S. Exa. o Sr. conselheiro Governador Galhardo, S. Exa. Reverendíssimo o Sr. Bispo diocesano, D. José Manuel de Carvalho e reverendo clero, o juiz de Direito Ovídio d’ Alpoim, o Presidente do Leal Senado António Joaquim Basto, o inspector Barbosa, o Director das Obras Públicas Abreu Nunes, o Conde de Senna Fernandes, o 1.º intérprete sinólogo Carlos d’ Assumpção, e muitos outros funcionários públicos civis e militares, alguns estrangeiros e muita gente do povo.

Depois de se proceder à leitura da acta e de ser assinada por muitos dos presentes, é esta encerrada numa caixa de cobre (outro jornal diz, num cofre de bronze, de pouco mais ou menos três decímetros de comprido e quinze centímetros de largo), juntamente com uma colecção de estampilhas e bilhetes-postais do Centenário, uma capa e duas primeiras páginas do comemorativo Jornal Único, um número do Boletim Oficial, um exemplar do Echo Macaense e outro d’ O Independente. A caixa, depois de soldada a chumbo, é enterrada no fosso, e em cima dela colocam a pedra fundamental, onde assentará o monumento, sendo a primeira colher de cimento posto por S. Excelência o Governador. São tiradas fotografias no momento em que se procede à colocação da pedra fundamental para o monumento de Vasco da Gama. A estátua, só uma dezena de anos depois.

 

Discursos

 

Durante esta cerimónia, a que assiste o Bispo de Macau, os seminaristas entoam o hino do centenário, o que dá maior solenidade ao acto e imprime uma suave comoção em todos que o ouvem. Queimam-se muitos panchões e os seminaristas de S. José entoam uns cantos patrióticos.

Depois, o Governador, num breve mas sentido discurso, manifesta bem <os sentimentos que lhe vão na alma, de leal e antigo português de lei, que sente o mais íntimo orgulho de pertencer a essa nação de heróis, de que Vasco da Gama é uma das suas maiores glórias e ver, pela terceira vez em quatro dias, reunida a cidade de Macau para o glorificar>. Este discurso, que impressiona o auditório pela convicção com que são ditas as palavras, faz como que nascer em nós a esperança do rejuvenescimento da Pátria portuguesa que, naquele momento, se nos afigura representada, em todo o seu antigo esplendor, no Sr. Conselheiro Galhardo.

Em discurso primoroso na forma e no estilo, o Sr. Dr. Ovídio d’ Alpoim descreve alguns dos episódios mais dramáticos da viagem da Índia. Narra os trabalhos por que passaram um punhado de marinheiros portugueses que pisaram primeiro o solo indiano, e faz notar a energia e tenacidade com que Vasco da Gama venceu todas as dificuldades. A sua palavra nervosa e incisiva mostra-nos, como se fossem desenhadas na tela, essas cenas horrorosas de tormenta, em que <o mar e o vento eram tantos que os navios metiam as postigas debaixo d’ água, e as tripulações empalideciam de susto quando o mar lançava, com estrepito, sobre o tendal, os painéis que as naus levavam no alto dos castelos, à popa, pintados com a imagem dos santos do seu nome>. Lembra também <o terramoto que agitou o mar da Índia quando Vasco da Gama o trilhava pela segunda vez e este almirante, imagem da bravura épica do povo português, acreditou e disse que até as próprias ondas tremiam com medo nosso!> Fala da lealdade deste povo de Macau à coroa portuguesa, única colónia que nunca arreou o pendão das quinas durante os sessenta anos do nosso cativeiro sob o jugo castelhano e pode dizer-se que Macau é filha dilecta da sua mãe pátria, por ser o monumento imorredoiro do antigo predomínio de Portugal no extremo oriente. Faz lembrar aos circunstantes que, naquele momento, mil esquadras de todas as nações se balouçam no formoso Tejo, não para metralharem <a cidade de mármore e de granito>, mas para compartilharem connosco dos festejos da comemoração deste quarto centenário; porque todas essas nações, mais do que nós, têm colhido o fruto das nossas descobertas marítimas. Levanta por fim um Viva a Portugal, desejando que esse brado, que lhe saia da alma, pudesse ressoar no coração da Pátria, que tanto estremecia.

Não podemos dar uma pálida ideia deste esplêndido discurso, que foi um grito patriótico que calou no ´animo` de todos. O Sr. Dr. Alpoim foi muito aplaudido e cumprimentado pelo selecto auditório, que o ouviu encantado”, descrição d’ O Independente. Complementa o Echo Macaense, “Foi o discurso acolhido com entusiasmo; foi o orador cumprimentado pelo Sr. Governador Galhardo e por muitos cavalheiros e o Bispo deu-lhe um abraço.”

Como mais ninguém tomasse a palavra, o Governador dá o acto por findo.

À noite saem os alunos do liceu com uma orquestra, indo tocar e dar vivas em frente de diferentes casas, sendo uma delas a do Sr. Presidente do Leal Senado.

Assim terminam em Macau as festas do centenário da Índia, não tão esplêndidas e faustosas como os seus habitantes desejavam e as circunstâncias sanitárias do país não permitiram, mas cheias de entusiasmo e de ardor patriótico, como se devia esperar dos habitantes desta cidade, dos seus ilustres funcionários e do valente chefe da colónia, o herói de África, o Exmo. Sr. Coronel Galhardo. Nascido em Lisboa em 1845, estudara no Colégio Militar e Escola do Exército e em 1895, é coronel comandante das forças expedicionárias em Lourenço Marques quando termina com a revolta de Gungunhana, chefe dos Vátuas.

Vasco da Gama, como representante real da aventura marítima portuguesa do século XV, encerra o ciclo do desbravar o desconhecido Oceano Atlântico, e realiza a inaugural viagem para o novo mundo, possível pelos conhecimentos técnicos e marítimos dos chineses, que os levara no século I ao Golfo Pérsico.

Para encerrar esse IV centenário só falta o Jornal Único sair neste dia.

18 Mai 2018

IC recolhe obras a partir de 8 de Junho para exposição colectiva

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai proceder, a partir do próximo dia 8 e até dia 12, à recolha de obras para a Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau. A mostra, que substitui a Exposição Anual de Artes Visuais, vai passar a ser organizada de dois em dois anos. Os concorrentes podem participar a título individual ou colectivo.

Cada participante pode submeter um número máximo de três peças/conjuntos de trabalhos, sendo que as séries podem ter um máximo de quatro itens. As obras a apresentar precisam ter sido produzidas nos últimos dois anos e nunca terem sido expostas ao público em Macau.

No que diz respeito a galardões, vai ser atribuído o grande prémio do júri, em que o autor da obra premiada será convidado a realizar uma exposição individual e a produzir uma publicação especial a ela dedicada, com o apoio do IC; serão distinguidas dez Obras Excelentes e dez Obras Seleccionadas; e ainda um Prémio Juventude para o melhor trabalho entre os concorrentes com idade até 29 anos.

Todas as obras de candidatos serão avaliadas e seleccionadas por um júri constituído por profissionais do mundo da arte de Macau e do exterior, esperando-se que a selecção tenha lugar até Julho. A Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau é dedicada aos meios de expressão ocidentais, nomeadamente pintura, fotografia, gravura, cerâmica, escultura, instalações, vídeo e outras criações em interdisciplinaridade. Segundo o IC, a mostra visa, “através de uma fusão de espírito inovador e criações de meios de expressão ocidentais, explorar a possibilidade do desenvolvimento e inovação dos trabalhos relativamente à categoria de expressão plástica ocidental, impulsionar o desenvolvimento de arte visual de Macau e criar uma plataforma de intercâmbio cultural e artística”.

18 Mai 2018

Obras de mestres do cinema asiático marcam agenda do próximo mês

A Cinemateca Paixão vai exibir, ao longo do próximo mês, dez obras de mestres do cinema asiático. O cartaz inclui “O Vendedor”, do realizador iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro no ano passado

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] um ciclo dedicado ao que melhor se faz no plano da sétima arte na Ásia. A Cinemateca Paixão apresenta, entre os próximos dias 9 e 26 de Junho, dez obras-primas de dez realizadores oriundos de Taiwan (Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang), Tailândia (Apichatpong Weerasethakul), Filipinas (Brillante Mendoza), Coreia do Sul (Kim Ki-duk, Lee Chang-dong e Park Chan-wook) e Irão (Asghar Farhadi e Abbas Kiarostami).

Os filmes a serem exibidos são “Comer, Beber e Viver” (Ang Lee), “Tempo de Viver, Tempo de Morrer” (Hou Hsiao-hsien), “Que Horas São Aí?” (Tsai Ming-liang), “O Tio Boonmee Que Recorda As Suas Vidas Passadas” (Apichatpong Weerasethakul), “KINATAY” (Brillante Mendoza), “Pietà” (Kim Ki-duk), “Poesia” (Lee Chang-dong), “A Criada” (Park Chan-wook), “O Vendedor” (Asghar Farhadi) e “Onde É A Casa do Amigo?” (Abbas Kiarostami). Cada filme tem duas sessões de exibição (VER TABELA). “Estas dez obras-primas permitirão ao público experienciar por completo o poder do cinema”, realça a Cinemateca Paixão em comunicado.

 

Palestras sobre os filmes

O ciclo de cinema terá ainda como convidado especial Wen Tien-hsiang, director executivo do Festival de Cinema Cavalo Dourado de Taiwan que vai apresentar quatro palestras que, segundo a organização, irá permitir ao público “apreciar maior número de filmes de qualidade e compreender mais profundamente as características do cinema asiático”.

Sob o tema “Mestres do Cinema Asiático e o Desenvolvimento do Cinema Asiático”, a palestra a cargo do conhecido crítico taiwanês vai cobrir quatro tópicos. “De Kiarostami a Farhadi: Drama Quotidiano no Irão”; “Rituais Familiares em Taiwan: Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang”; “Rapsódia Tropical: Weerasethakul e Mendoza”; “Amor e Desgosto Falam Alto no Cinema Coreano”.

As conversas vão decorrer na sala de projecção da Cinemateca Paixão das 10h às 13h e das 14h às 17h nos dias 9 e 10 de Junho, respectivamente. As quatro “aulas”, em mandarim e com interpretação simultânea em inglês, custam 200 patacas, sendo que os primeiros vinte participantes a efectuar o pagamento serão presenteados com dois bilhetes para o Festival de Cinema Asiático 2018.

Os bilhetes para os filmes, a um preço unitário de 60 patacas, ficam disponíveis para venda a partir de amanhã. Estudantes e idosos beneficiam de um desconto de 50 por cento, sendo que a compra de dez ou mais bilhetes tem direito a uma dedução de 20 por cento.

18 Mai 2018

Fretilin acusa coligação de oposição de “tentativa de pressão” em Timor

O líder da Fretilin, no Governo em Timor-Leste, acusou ontem a coligação da oposição, que venceu as legislativas de sábado, de uma “tentativa de pressão”, que “não é admissível”, sobre o Presidente do país, Francisco Guterres Lu-Olo

 

 

[dropcap style≠‘circle’]”É[/dropcap] falta de noção de Estado. O Presidente Lu-Olo é Presidente da República. Quando se candidatou, candidatou-se como presidente da Fretilin, toda a gente sabe, mas é Presidente da República”, afirmou Mari Alkatiri, primeiro-ministro cessante. “É uma tentativa de pressão sobre um órgão de soberania que não é admissível, não é democracia”, sublinhou o líder da Fretilin, que ficou em segundo lugar nas eleições de sábado passado.

Alkatiri comentava assim declarações do líder da coligação Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), Xanana Gusmão. Na terça-feira, Xanana disse esperar que o chefe de Estado seja “Presidente da nação e não da Fretilin”, quando considerar eventuais vetos políticos.

“O Presidente Lu-Olo, para vetar, tem que apresentar duas razões: uma legal e outra política. Se a política tende para o partido dele, porque não deixou de ser presidente da Fretilin, o que é lamentável, se é por causa disso, vou questionar”, afirmou Xanaa Gusmão, em conferência de imprensa conjunta com o “número dois” da AMP, Taur Matan Ruak. “Estamos aqui dois ex-Presidentes e vamos questionar isso. A ele, [Francisco Guterres] Lu-Olo. O problema é que nós iremos exigir a Lu-Olo ser Presidente da nação, não um presidente da Fretilin, colocado no Aitarak Laran”, disse, referindo-se ao Palácio Presidencial.

 

Veto no horizonte

No VI Governo, do qual Xanana Gusmão fazia parte, o então Presidente Taur Matan Ruak fez um voto político do Orçamento Geral do Estado, numa altura em que já estava a ser preparado o Partido Libertação Popular (PLP), que Matan Ruak liderou na campanha para as eleições de 2017.

Com uma campanha marcada por duras críticas ao Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT) de Xanana Gusmão, o PLP foi o terceiro mais votado em 2017. Mais tarde, aliou-se ao CNRT e ao Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) para formar a AMP.

A maioria absoluta conquistada pela AMP significa que a coligação tem o caminho facilitado para formar Governo e, posteriormente, aprovar o Orçamento Geral do Estado para 2018, sem necessitar do apoio adicional de qualquer força política. O único obstáculo poderá ser uma eventual decisão do Presidente timorense de vetar o Orçamento Geral do Estado, o que obrigará a um apoio de dois terços dos deputados.

Nesse caso, mesmo que a AMP faça uma aliança com os dois partidos mais pequenos no Parlamento – o Partido Democrático (PD, cinco lugares) e a estreante Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD, três mandatos) – só somaria 42 lugares, menos um dos que os dois terços.

Francisco Guterres Lu-Olo era presidente da Fretilin quando foi eleito, com o apoio do seu partido e do CNRT de Xanana Gusmão, agora líder da AMP.

Xanana Gusmão confirmou que a maioria absoluta conquistada pela AMP torna desnecessária qualquer eventual coligação. “Se só tivéssemos 32 lugares [a maioria absoluta são 33], então teríamos que pensar no PD e na FDD. E eles estariam sem dormir a olhar para os mobiles e handphones para ver se havia alguma chamada. Assim não”, disse.

O voto de sábado deu à AMP uma maioria absoluta de 34 dos 65 lugares no Parlamento nacional (mais de 305 mil votos ou 49,56 por cento do total), o que permite que forme o VIII Governo constitucional sem apoio adicional.

Em segundo lugar, ficou a Fretilin, que liderou a coligação minoritária do anterior Governo, e que obteve cerca de 211 mil votos, ou 34,27 por cento do total, mantendo o mesmo número de deputados, 23.

No Parlamento estará também o Partido Democrático (PD), parceiro da Fretilin no VII Governo, que perdeu dois deputados para cinco, tendo obtido quase 49 mil votos ou 7,95 por cento do total.

18 Mai 2018

Pequim promete defender interesses em negociações com EUA

A China afirmou ontem não querer um aumento das tensões com os Estados Unidos na questão comercial, quando se preparam o reinício das negociações em Washington, mas sublinhou estar pronta a defender os seus interesses

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s comentários de Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, surgem depois de o Presidente norte-americano ter afirmado que “não recuou” nas negociações com a China. Gao Feng disse esperar que os EUA adoptem “acções concretas” para resolver o caso da gigante de telecomunicações chinesa ZTE, que na semana passada afirmou que suspendeu operações, depois de Washington ter proibido a empresa de comprar componentes norte-americanos, por ter violado o embargo imposto ao Irão e à Coreia do Norte.

O secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o vice-primeiro-ministro chinês Liu He estão a liderar as negociações em Washington, que terminam hoje, com o objectivo de travar uma possível guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.

“Nós não queremos um aumento das disputas comerciais entre a China e os EUA”, afirmou Gao, em conferência de imprensa, em Pequim. “Mas, claro, estamos preparados para todas as possibilidades”.

Trump ameaça subir os impostos sobre um total de 150.000 milhões de dólares de exportações chinesas para os EUA, como forma de punir Pequim por forçar empresas norte-americanas a transferirem tecnologia em troca de acesso ao mercado chinês. Em resposta, a China ameaçou subir os impostos sobre uma lista de produtos que valeram 50.000 milhões de dólares nas exportações norte-americanas para o país.

 

Chips e soja

A decisão do Departamento de Comércio dos EUA de negar encomendas à ZTE, no mês passado, levou a empresa a interromper as suas operações, que dependem de tecnologia norte-americana, como microchips e o sistema operacional Android. No início desta semana, Trump afirmou que quer encontrar uma solução para manter a firma chinesa a funcionar.

Segundo a imprensa norte-americana, os dois países negociaram uma troca: a isenção da ZTE, responsável pelo desenvolvimento da infra-estrutura 5G na China e fabricante de ‘smartphones’, por um recuo de Pequim em subir as taxas alfandegárias sobre produtos agrícolas norte-americanos.

“Vamos defender os nossos interesses resolutamente e não negociaremos os nossos interesses fundamentais”, afirmou Gao, questionado sobre aquela informação.

Na quarta-feira, Trump afirmou, numa mensagem na rede Twitter, que “nada se passou ainda com a ZTE, visto que pertence a um acordo comercial mais alargado”.

18 Mai 2018

DSEJ começou a analisar relatório entregue pelo infantário

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] jardim de infância D. José da Costa Nunes entregou ontem à tarde à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) o relatório sobre o caso de alegados abusos sexuais a crianças do infantário. Ontem era o último dia do prazo. De acordo com o canal de rádio da TDM, além da entrega do relatório, houve também uma reunião. À TDM-Rádio Macau, fonte da DSEJ indicou que o relatório começou já a ser analisado. Já para o infantário, a próxima fase passa pela abertura de um inquérito interno. Os pais que apresentaram queixa na Polícia Judiciária acusam a escola de negligência e de desvalorizar os primeiros alertas dados pelos encarregados de educação.

18 Mai 2018

Pais que apresentaram queixa desconheciam reunião com Coutinho

A reunião com pais de crianças que frequentam o jardim de infância D. José da Costa Nunes não era conhecida pelos pais que apresentaram queixa de alegados abusos sexuais à Polícia Judiciária. Coutinho reitera que teve uma reunião com alguns pais de crianças que frequentam aquela escola e que vai continuar a acompanhar o processo e a disponibilizar o apoio necessário

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s pais das crianças que pertencem à turma do jardim de infância D. José da Costa Nunes, que está envolvida nos alegados casos de abuso sexual infantil, não estiveram presentes e não tinham conhecimento da reunião que terá acontecido na Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), na passada quarta-feira. O encontro terá sido organizado pelo deputado José Pereira Coutinho. A informação foi dada por Aureliano Ritchie, um dos pais em causa, ao HM. “Não, pelo menos por parte do grupo que fez a queixa, não havia conhecimento acerca da reunião do deputado”, referiu Ritchie ao HM quando questionado se tinha conhecimento da situação.

Depois da queixa de alegado abuso sexual foi criado um grupo entre os pais da turma em questão para que pudessem trocar informações acerca do decorrer do processo e das melhores formas de actuar. Depois de ter participado na conferência de imprensa com a deputada Agnes Lam na passada segunda-feira, este grupo optou por não falar com mais nenhum legislador. “Entre o grupo de pais que apresentou queixa houve a opinião de não nos dirigirmos a mais deputados e não estamos interessados em reunir com mais nenhum”, apontou Aureliano Ritchie.

De acordo com este pai, a reunião e esclarecimento promovidos por Agnes Lam foi a ajuda necessária para dar conhecimento acerca do processo que está a decorrer e para transmitir as preocupações relativas aos procedimentos, nomeadamente no que respeita às acções “da polícia, do hospital e até com a própria Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ)”, disse ao HM.

Relativamente aos pais que pudessem ter estado, na quarta-feira, reunidos com o deputado José Pereira Coutinho, Aureliano Ritchie afirma que “não me parece que tenha sido do conhecimento de nenhum de nós deste grupo”, sublinhou.

O HM contactou com vários pais daquela escola, sendo que nenhum afirmou ter conhecimento do encontro com José Pereira Coutinho.

Coutinho reitera

Entretanto, o deputado reitera que a reunião com pais do jardim de infância D. José da Costa Nunes aconteceu mesmo sem, no entanto, adiantar quaisquer pormenores. “Não vou fazer qualquer comentário, mas nós vamos acompanhar este caso e posso garantir que estive reunido com os pais” apontou ao HM quando questionado acerca do desconhecimento do grupo de pais quanto à reunião em causa.

Pereira Coutinho não adianta quantos pais participaram no encontro, porque “podem existir situações de mal-entendidos”. Para divulgar o número de participantes Coutinho disse precisar da autorização dos mesmos.

Relativamente às preocupações que pudessem ter sido apontadas ao deputado, não foram ainda adiantados quaisquer detalhes, sendo que terão sido relativos “a muitas coisas”. Ainda na quarta-feira, o HM tinha contactado o também responsável pela ATFPM que sublinhou a promessa de acompanhamento do caso. “Nós vamos acompanhar junto das instâncias oficiais o desenvolvimento do processo que está a decorrer”, referiu. As atenções serão direccionadas para os trabalhos desenvolvidos pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) “para saber, de facto, ao que é que o Governo pretende dar seguimento”

De acordo com Coutinho, o apoio a ser dado centra-se, fundamentalmente, na prestação de informação legal, “no acompanhamento junto das instâncias oficiais, bem como salvaguardar que a futura gestão melhore na defesa dos direitos básicos de segurança das crianças que frequentam a escola”, disse.

O deputado adiantou ainda que na reunião que nenhum dos pais presentes se mostrou a favor de um pedido de demissão por parte do presidente da Associação Promotora de Instrução dos Macaenses (APIM), até porque “os pais estão preocupados com a gestão interna mas continuam a confiar na instituição”. Pereira Coutinho acrescentou que não foram discutidos nomes de pessoas, mas “a instituição em si”.

18 Mai 2018

Casas transaccionadas sofreram forte queda em Março

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s transacções de fracções autónomas destinadas à habitação aumentaram no primeiro trimestre. No entanto, Março registou uma forte queda mensal, após o lançamento das medidas para arrefecer o mercado imobiliário, realça a DSEC

Nos primeiros três meses do ano foram transaccionadas 3.627 fracções autónomas habitacionais, um número que traduz um aumento trimestral de 38,5 por cento, indicam dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Em termos mensais, as vendas de casas subiram 85 por cento em Janeiro, tendo o crescimento desacelerado em Fevereiro (3,6 por cento). Com efeito, realça a DSEC, em Março, acabaram por cair 57,6 por cento, após o lançamento das medidas para controlar o mercado imobiliário.

Contudo, o preço médio por metro quadrado (área útil) das fracções autónomas habitacionais globais cifrou-se em 112.304 patacas, reflectindo um crescimento de 6,3 por cento face ao trimestre anterior. Os preços médios na península (99.312 patacas) e em Coloane (137.768) registaram a mesma tendência, subindo 1,8 e 9,9 por cento, respectivamente. A excepção foi a Taipa, onde o preço médio das casas (117.364) sofreu uma diminuição de 3,7 por cento.

Segundo os mesmos dados, as fracções destinadas à habitação vendidas entre Janeiro e Março foram transaccionadas por 24,3 mil milhões de patacas – um valor que traduz um crescimento superior a um terço.

Em paralelo, entre Janeiro e Março foram transaccionadas 122 fracções autónomas destinadas a escritórios – mais 86 em termos trimestrais – pelo valor de 2,65 mil milhões de patacas, um aumento substancial de 814,8 por cento. No caso dos escritórios, o preço médio por metro quadrado das fracções (194.311 patacas) subiu 75,3 por cento, em termos trimestrais.

Em sentido inverso, o preço médio por metro quadrado das fracções autónomas industriais (52.243 patacas) desceu 6,1 por cento comparativamente ao último trimestre de 2017.

18 Mai 2018

Aprovados 1.449 pedidos de apoio judiciário em cinco anos

A Administração aprovou 1.449 pedidos de apoio judiciário desde a entrada em vigor, há cinco anos, da lei que define que ninguém deve ser impedido de ir a tribunal por insuficiência económica. A maioria dos processos diz respeito a casos de divórcio litigioso

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Comissão de Apoio Judiciário (CAJ) recebeu, entre 1 de Abril de 2013 e 30 de Abril de 2018, aprovou 1.449 pedidos. A maioria diz respeito a processos de divórcio litigioso, revelam dados facultados ao HM.

Ao longo de cinco anos, a CAJ recebeu 2.270 pedidos, ou seja, uma média de 400 por ano. Segundo os mesmos dados, a maioria dos requerentes era do sexo feminino e tinha idades compreendidas entre os 45 e os 70 anos.

Em contrapartida, foram indeferidos 402 pedidos desde 2013. O excesso do limite legal do montante dos bens disponíveis do requerente, a insubsistência das razões de propositura do processo judicial e a recusa por parte do requerente em disponibilizar documentos ou a entrega dos mesmos fora do prazo fixado figuram entre os principais motivos para o indeferimento, segundo a CAJ.

 

Limite estipulado

Em vigor desde 1 de Abril de 2013, o regime geral de apoio judiciário estabelece que “nenhuma pessoa que reúna as condições legais seja impedida, por insuficiência de meios económicos, de fazer valer ou defender os seus direitos e interesses legalmente protegidos por meio de processo judicial”. O apoio judiciário compreende a isenção de preparos e de custas, bem como a nomeação de patrono e pagamento de patrocínio judiciário.

Com efeito, a lei prescreve que o apoio é concedido perante uma “situação de insuficiência económica” que – segundo as normas definidas em regulamento administrativo – se refere aos casos em que o “montante dos bens disponíveis do requerente e dos membros do agregado familiar não excede o limite legal de 320 mil patacas”.

A CAJ também recebeu pedidos apresentados por trabalhadores não residentes. Segundo os mesmos dados, em cinco anos, foram 117, dos quais 108 aprovados, sete indeferidos e dois cancelados pelos próprios requerentes.

18 Mai 2018

Pedro Abrunhosa e António-Pedro Vasconcelos cabeças de cartaz no mês de Portugal

O cantor e o cineasta portugueses são os principais destaques da iniciativa Junho, mês de Portugal, que se celebra pelo terceiro ano consecutivo. Ao longo de 25 eventos, vão ser 35 os artistas a participar na iniciativa

 

O músico Pedro Abrunhosa e o cineasta António-Pedro Vasconcelos vão ser as figuras de destaque do grande público e vão estar presentes em Macau, durante o mês de Portugal. O programa dos 25 eventos que constituem a iniciativa organizada pelo Consulado de Portugal na RAEM, Casa de Portugal, Fundação Oriente e Instituto Português do Oriente (IPOR) foi apresentado ontem.

“Vai ser um concerto memorável e acredito que vai encher por completo a sala [Grande Auditório do Centro Cultural de Macau]”, disse Vítor Sereno, Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, na cerimónia de apresentação, que decorreu no consulado.

“Em relação à nossa escolha de Pedro Abrunhosa, confesso que sou fã. Gostei muito da vinda dele há uns anos, quando foi convidado pelo Instituto Politécnico de Macau e pelo Dr. Carlos André”, acrescentou.

O concerto vai ter lugar a 8 de Junho, pelas 20h, no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. A entrada é livre e as pessoas podem começar a pedir os bilhetes a partir de 23 de Maio.

“Corremos durante estes anos os grandes nomes da música portuguesa, trouxemos gente consagrada e já, por várias vezes, tínhamos tido a sugestão e o empenho de algumas pessoas para que se trouxesse o Pedro Abrunhosa”, disse, por sua vez, Amélia António, presidente da Casa de Portugal.

“Achámos que tinha chegado o momento de satisfazer uma parte da comunidade que é fã do Pedro Abrunhosa. Todos os fãs vão ficar muito satisfeitos por, finalmente, se fazer um concerto com ele”, frisou.

Por sua vez, o realizador António-Pedro Vasconcelos vai estar em Macau a 7 de Junho, no Café Oriente do IPOR, para uma conferência. Além disso, o cineasta vai estar presente em três mostras de filmes que realizou, nomeadamente a película “Jaime”, a 7 de Junho pelas 20h30, os “Gatos Não Têm Vertigens”, a 11 de Junho pelas 18h45, e “Os Imortais”, a 12 de Junho pelas 18h30. Todas as mostras vão decorrer no Auditório Dr. Stanley Ho e no final António-Pedro Vasconcelos vai comentar os filmes.

 

25 eventos

Junho, o mês de Portugal, vai ser celebrado com um total de 25 eventos, em mais de 10 espaços cultural e institucionais, em que vão participar 35 artistas. Entre os eventos, ao nível da música, vai ainda decorrer, a 2 de Junho, o concerto “Era Uma Vez a Cantar em Português”, virado para as famílias, e, no Dia 29, o espectáculo Fados de Coimbra, no Teatro D. Pedro V, às 20h.

Ao nível das exposições, a arquitecta e artista Ana Aragão vai ter os seus trabalhos em exibição na Casa Garden, a partir de 14 de Junho, pelas 18h30. A artista também vai estar presente no território. Também o Consulado vai ter uma exposição com fotografias em que todos os membros da comunidades podem participar. Como tal, devem enviar fotografias sobre elementos em Macau que remetam para Portugal. Esta exposição abre no dia 5 de Junho na Galeria da Residência Consular.

“Ao valorizarmos estas expressões de matriz portuguesa, nestes 25 eventos, estamos obviamente a elevar o nome de Portugal e da comunidade portuguesa que reside aqui a outra patamar”, considerou Vítor Sereno.

Todos os eventos são grátis, no entanto, alguns devido à capacidade dos locais onde se realizam exigem o levantamentos de bilhetes, que poderá ser feitos junto da Casa de Portugal.

 

Roteiro Camilo Pessanha em Macau

Apesar de ainda não haver confirmação sobre a data e os pormenores, a organização quer que o mês de Portugal fique igualmente marcado pelo início do Roteiro Camilo Pessanha em Macau, organizado pelo IPOR em conjunto com a Direcção de Serviços de Turismo. Este será um roteiro sobre a presença do escritor em Macau, com passagens pelos locais mais icónicos da relação de Pessanha com o território, que vai estar disponível em português, chinês e inglês. Este será um projecto que se prolongará no tempo e que visa ser mais uma oferta cultural para o turismo no território.

18 Mai 2018

Coutinho pede lei que regule trabalhadores do privado

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde defende a criação de um diploma legal para regular os trabalhadores das entidades privadas que operam na área do serviço social. Na sua visão, “criar um regime especial aplicável aos trabalhadores do sector e aos docentes é um pressuposto básico para manter o desenvolvimento sustentável da RAEM, bem como a base para manter o seu moral”.

José Pereira Coutinho pede que o Governo defina “uma calendarização para a elaboração de um diploma legal semelhante ao do quadro geral do pessoal docente das escolas particulares do ensino não superior, a fim de lhes dar mais garantias e para que se possa atrair mais pessoas para a carreira”.

A nova lei serviria também para garantir uma reforma a estes trabalhadores. “O Governo já concede apoio financeiro às entidades privadas do serviço social para a realização de actividades, mas deve ponderar criar um regime de aposentação para elevar a qualidade de vida dos trabalhadores em causa e dos docentes.”

Além disso, o deputado acredita que o Executivo deveria “conceder apoio financeiro aos trabalhadores da área do serviço social, atribuir prémios de antiguidade e subsídios, em consonância com a natureza das funções, a fim de aumentar o seu empenho e a qualidade dos serviços que prestam”.

O sector privado do serviço social depara-se com o problema da falta de recursos humanos, tendo Pereira Coutinho lembrado as promessas do Governo sobre este ponto. “Em 2009, o Governo afirmou que ia captar mais trabalhadores para a área do serviço social e efectuar mais estudos sobre o quadro do pessoal dos assistentes sociais, o regime de supervisão, de acreditação profissional para assistente social e de apoio financeiro”, apontou.

18 Mai 2018

Conselho Executivo aprova regimes para regulamentar locação financeira

[dropcap style≠‘circle’]F[/dropcap]oram aprovadas ontem duas propostas de lei para regulamentar a locação financeira no território pelo Conselho Executivo.

Um dos regimes vai regulamentar a actividade, enquanto o segundo é dedicado à definição e benefícios fiscais de modo a “atrair mais empresas a instalarem-se na RAEM”, referiu ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng.

De acordo com a proposta apresentada, as empresas de locação financeira vão ter isenção de imposto de selo quando se tratar da compra de um primeiro bem imóvel destinado exclusivamente à função de escritório e apenas para uso próprio. Segundo Leong, esta isenção não se aplica para “fins de especulação ou para outra finalidade”.

O benefício caduca “quando o bem imóvel seja transmitido, ou afecto, a outra finalidade no prazo de cinco anos após a sua aquisição”, revelou o porta-voz. Se isso acontecer, o imposto tem de ser pago ao Governo.

A proposta relativa aos benefícios fiscais para as empresas de leasing passa ainda pela isenção do imposto complementar de rendimento para as companhias que sejam provenientes do exterior e que paguem impostos fora da RAEM.

No que respeita à regulamentação da constituição e do funcionamento das sociedades de locação financeira, a nova proposta pretende estabelecer com clareza a diferença entre esta actividade e a de uma empresa de crédito. “A instituição de crédito é parecida com um banco e tem uma supervisão relativamente exigente, mas as empresas de locação financeira nunca podem absorver depósitos do público”, apontou o responsável do Governo. É por isso que, considerou, ser necessário definir a natureza destas empresas como sendo instituições financeiras e não instituições de crédito”.

 

Abertura a filiais

Com o novo regime, vai ainda ser permitida a criação de filiais de empresas que não estejam em Macau. No entanto, estas sociedades têm de ter na sua administração pelo menos um residente permanente de Macau. O objectivo é “evitar que sejam meramente designadas por empresas fictícias”, disse Leong Heng Teng. As sociedades de locação financeira podem ainda ser criadas sob a forma de sociedade anónima ou por quotas.

Actualmente há duas sociedades de locação financeira em Macau.

18 Mai 2018

Proposta de Lei da arbitragem foi aprovada

A proposta de Lei da Arbitragem já foi discutida e aprovada pelo Conselho Executivo. O diploma pretende congregar os dois já existentes, em vigor há cerca de 20 anos, e motivar a resolução de litígios através do recurso à arbitragem. Para os responsáveis da DSAJ, Macau pode beneficiar desta modalidade quando estiverem implicados casos entre a China e os países de língua portuguesa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Conselho Executivo terminou ontem a discussão da proposta de Lei da Arbitragem. O diploma, que vai seguir para aprovação na generalidade na Assembleia Legislativa, pretende atribuir ao ordenamento jurídico “uma lei única para regular a matéria de arbitragem para Macau”, referiu ontem o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng.

O objectivo desta proposta é fazer com que os processos de arbitragem em Macau se tornem mais simples e mais consonantes com o que acontece nas regiões vizinhas, sendo que no foco deste diploma está “a promoção de Macau  como centro de arbitragem entre a China e os países de língua portuguesa”, referiu Leong Heng Teng.

De acordo com o responsável pela Direcção de Serviços de Assuntos da Justiça, Liu Dexue, Macau tem condições privilegiadas para o tratamento arbitral de litígios entre a China e os países de língua portuguesa. “Em Macau, temos muitas pessoas bilingues, nomeadamente no direito, que tem matriz portuguesa”, apontou.

 

Reforços aplicados

De modo a promover o interesse por esta modalidade de resolução de conflitos, o Governo pretende ainda reforçar os centros de arbitragem locais, sendo que para já existem cinco instituições para o efeito, adiantou Liu.

A proposta apresentada pelo o Governo define ainda que qualquer litígio civil, ou comercial, possa ser tratado através deste mecanismo. Neste sentido, vai deixar também de existir um limite de valor, que actualmente é de 50 mil patacas, para que se recorrer à decisão de litígios por via arbitral.

Por outro lado, as decisões passam a ganhar força e tornam-se definitivas. Como tal, depois de um decisão arbitral não há possibilidade de recurso para os tribunais, a não ser com um pedido de anulação da primeira.

Vai ainda caber ao Chefe do Executivo, mediante regulamento administrativo, a criação de entidades públicas responsáveis para dirigir processos de arbitragem.

O Governo espera, desta forma, resolver com maior celeridade os litígios em matéria civil e comercial, adiantou Liu Dexue, ao mesmo tempo que admitiu que, para já, a aplicação da arbitragem em Macau não é satisfatória. Em causa, afirmou, está a desactualização do actual regime jurídico, pelo que espera que com a nova lei as instituições responsáveis e os interessados se sintam mais motivados a optar por este tipo de resolução.

18 Mai 2018

Plano para desenvolvimento da cidade inteligente em consulta pública

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] estratégia para o desenvolvimento da cidade inteligente de Macau, que entrou ontem em consulta pública, tem prevista a conclusão da plataforma de mega-dados sobre a promoção do turismo e controlo do trânsito ainda este ano.

“O centro de computação em nuvem e a plataforma de mega-dados”, assim como a inclusão na nuvem “de alguns dados sobre a promoção do turismo e informação de trânsito”, podem estar concluídos até ao final do ano, afirmou ontem aos jornalistas o vogal do Conselho de Administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), Chen Won Hei, numa conferência de imprensa.

“Pretendemos através da tecnologia inovadora que a população tenha uma melhor qualidade de vida e que a cidade tenha um desenvolvimento sustentável”, declarou o presidente do FDCT, Ma Chi Ngai, na mesma ocasião.

A estratégia para o desenvolvimento da cidade inteligente vai ficar em consulta pública até 30 de Junho.

Questionado sobre se a Alibaba está a planear utilizar os dados adquiridos através das redes sociais dos utilizadores, para interferir e melhorar o tráfego nas estradas da região, violando a privacidade dos dados dos utilizadores, como aconteceu em algumas cidades chinesas, o vogal da FDCT assegurou que “tal não vai acontecer em Macau, pois a região tem leis muitos rígidas em relação à privacidade das pessoas”.

Na quarta-feira, na feira Global Gaming Expo Asia (G2E Asia), que decorreu no território, a directora dos Serviços de Turismo de Macau frisou que a evolução tecnológica de Macau pode ter “boas repercussões na área no turismo”, já que a “região em algumas alturas do ano [como na época do novo ano chinês] fica sobrelotada”, daí a importância “no desenvolvimento da cidade para se tornar uma cidade mais inteligente”.

Na primeira fase do projecto está prevista a criação de um centro de computação em nuvem e de uma plataforma de mega dados e o início gradual de projectos de utilização dos mesmos em seis domínios: promoção do turismo, formação de talentos, gestão do trânsito, serviços de assistência médica, gestão integrada urbana e prestação de serviços urbanos integrados e tecnologia financeira.

A segunda etapa compreende o aperfeiçoamento do centro de computação em nuvem e da plataforma de mega dados, abrangendo outras áreas como a introdução de novos carros eléctricos, a eficiência energética e a construção de postos fronteiriços electrónicos, através da tecnologia de reconhecimento facial.

18 Mai 2018

Secretário afirma que empresas têm direito a recorrer aos tribunais

Raimundo do Rosário considera que as empresas insatisfeitas com a recuperação de terrenos em Nam Van podem recorrer para os tribunais. Sobre a fusão de TCM e Nova Era, limitou-se a dizer que o Governo concordou com a sugestão das empresas

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s atrasos no aproveitamentos de 16 terrenos levaram o Governo a declarar caducadas as concessões atribuídas à Sociedade de Empreendimento Nam Van e subsidiárias. A decisão, anunciada na quarta-feira, resultou numa resposta das empresas, que consideram que o Governo foi o grande responsável pelos atrasos, devido ao facto de não permitir o avanço das obras.

Ontem, de acordo com a Rádio Macau, Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obra Públicas afirmou que as empresas, se quiserem, podem recorrer aos tribunais.

“Não quero comentar. É um direito que assiste à sociedade [Nam Van]. Não devo comentar. A sociedade fará aquilo que entender”, afirmou o secretário, à margem da cerimónia de comemoração do Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação 2018.

Se por um lado, o secretário reconhece o direito de recurso aos tribunais, por outro, as empresas têm consciência que dificilmente vão ser autorizadas a ficar com os terrenos. Um cenário reconhecido logo na quarta-feira por Jorge Neto Valente: “O secretário está a seguir a lei, não tem culpa nenhuma, fizeram aquela lei, ele cumpre. Já critiquei a lei, acho que não devia ter sido feita assim. Já foi referido por aí que, na altura, a AAM chamou a atenção para as consequências perniciosas que iriam existir de executar a lei”, justificou.

Apesar dos recursos com o objectivo de declarar ilegal a caducidade dos terrenos, as empresas podem ainda procurar compensações financeiras devido à actuação do Governo.

Contudo, sobre este aspecto, Neto Valente também explicou que os accionistas não querem o dinheiro e que preferem ter os terrenos para construir.

 

Táxis sem agravo

Raimundo do Rosário não avançou com mais informações sobre a declaração de caducidade dos terrenos, mas comentou a fusão entre as empresas de autocarro TCM e Nova Era. Sem concretizar os reais benefícios, o secretário disse que esta situação também respondeu a um direito das duas operadoras.

“As companhias de autocarros têm o direito de pedir [a fusão]. Eles requereram e é uma possibilidade que lhes assiste. O Governo, ao analisar a questão, entendeu que devia autorizar e autorizou”, explicou, de acordo com a Rádio Macau.

A fusão das companhias de autocarros TCM e Nova Era deve entrar em vigor a 1 de Agosto e surge a meses de expirarem os contratos das operadoras.

Também na semana passada, a polícia deteve um taxista de 26 anos, por cobrança abusiva e por ter sequestrado um turisto. Em relação a este assunto, Raimundo do Rosário negou que o problema da insegurança no sector dos táxis se esteja a agravar.

18 Mai 2018

Lola do Rosário, ex-directora do jardim de infância D. José da Costa Nunes

Dirigiu o D. José da Costa Nunes durante um ano e diz que nunca lhe foram dadas explicações para a sua saída. Lola do Rosário garante que os problemas com o pedido de subsídios foram resolvidos e diz-se “magoada” com Miguel de Senna Fernandes, presidente da APIM. Sobre o alegado caso de abuso sexual, Lola do Rosário diz que não foi ouvida para a elaboração do relatório interno, nem sequer pela PJ

[dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]isse-me que não lhe foram dadas explicações para a sua saída do jardim de infância.
Não, plausíveis não. Quando me fizeram o convite ponderei todas as situações, inclusivamente o ordenado, que não era muito para a responsabilidade que tem o Costa Nunes. E acabei por vir ainda no mês de Agosto e comecei logo a trabalhar, porque sabia que tinha muito trabalho. Comecei a organizar tudo ao que era inerente ao início de um ano lectivo, com uma mudança de líder.

Que problemas encontrou nesta altura quando chegou a uma casa que já conhecia, mas de outra altura?
Estava tudo bastante diferente. Havia algumas coisas com as quais concordei e que mantive, porque acho que não era para chegar e alterar tudo só porque me apetecia. A minha antecessora tinha coisas bem feitas e mantive-as, como os horários. Gradualmente fui fazendo algumas alterações, achei que se justificava, mas sempre dando conhecimento ao presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM). Nunca fiz nada sem lhe dar conhecimento. As coisas estavam a funcionar e no início do ano lectivo tive que fazer alguns ajustes a nível das finanças. Quando me foi feito o convite, o actual presidente e outros membros da APIM disseram-me que as contas não estavam em ordem. Desde 2012 até finais de 2016, tínhamos de prestar contas à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), relativas aos subsídios. Dou-lhe um exemplo simples: uma educadora deu uma formação, recebeu o cheque, mas não tínhamos o comprovativo de como ela tinha recebido nem a data. Falei com as pessoas em causa e depois ficou resolvido, porque estava em causa a atribuição de verbas para este ano, que já recebidas. Mesmo que eu fizesse o pedido à DSEJ, não estando o resto justificado, poderia não ser dada a verba, e o Costa Nunes não vive sem a verba da DSEJ.

Mas essa foi uma das razões para a sua saída, e chegou a ser noticiado que tinha saído por problemas internos e falhas no preenchimento dos pedidos de subsídio à DSEJ.
Pedimos mais do que nos foi dado e o presidente da APIM deve ter dado conhecimento aos outros membros do montante que eu tinha pedido. Era bastante elevado, mas tive seis anos na direcção de um agrupamento de escolas em Portugal e estamos fartos de saber que nunca o Governo nos dá o montante que pedimos. Foi-nos dado muito menos, mas não era nada que, para mim, fosse novidade.

FOTO: Sofia Mota

Já tinha acontecido isso no Costa Nunes?
Penso que sim, pelo menos fui consultar tudo o que estava para trás, com a ajuda de uma funcionária que faz a gestão financeira. Foi sempre assim, é algo normal acontecer.

Chegou a ter de assinar documentação ou orçamentos deixados pela sua antecessora?
Não. Pedi-lhe para assinar porque não tinha justificação nenhuma ser eu a assinar documentos que pudessem não estar assinados. E ela assinou.

Que justificação encontra então para esta saída? Está magoada com a direcção da APIM?
Magoada estou, bastante. Isto porque eu acho que não se faz um convite a uma pessoa que tem uma vida estabilizada em Portugal. Não tinha um mau ordenado, já estava há 15 anos em Portugal. Fiz uma mudança de 180 graus, e assumi alguns encargos contando que ficaria em Macau. O que me magoa mais é que eu não vejo, nem foi dita nenhuma justificação plausível e aceitável da minha parte. Não tive tempo de aquecer a cadeira. Eu sou uma directora que nunca está no gabinete, raramente. Circulo muito pela escola, sempre que estive em direcções. O que eu fazia era ficar na escola na minha hora de almoço. Estou magoada, porque acho que não havia justificação para, durante um ano, ter feito o melhor que podia, com crianças lá dentro, as minhas colegas, que prezo muito, e esta história [de alegados abusos sexuais] toda também me entristece bastante. A minha neta vai entrar em Setembro para lá e nós optamos pelo Costa Nunes, e ela entrou em todas.

Continua a confiar na escola?
Eu confio na escola. Vejo também e tenho amigos pais, avós de crianças que lá andam e que foram vitimas nesta situação, e vejo o lado deles, porque se fosse comigo não sei como reagiria, mas entristece-me bastante. Não posso falar se a actual direcção está a fazer um mau ou bom trabalho, não sei.

Num artigo foi referido que, durante o seu mandato, os serventes mantinham contacto com as crianças. Quer comentar?
O que acontecia no meu tempo era que cada sala tinha uma educadora, uma agente de ensino e um servente. Neste momento, já não é assim, há falta de pessoal. Há quatro salas para crianças de cinco anos e só têm dois serventes. Há um servente para duas salas, mas quando saí já sabia que ia acontecer isso. Os serventes não têm contacto directo com as crianças a não ser na hora de almoço, porque as agentes de ensino vão almoçar e a educadora fica com o servente na sala para a apoiar. A hora da sesta é a hora de almoço dos serventes, então eles não estão no trato directo com as crianças. São as agentes de ensino que os mudam, sobretudo depois da sesta. Pedi sempre que tivessem cuidado para não mudar as crianças nos corredores ou na casa de banho ou dentro da sala, por uma questão de respeito pelo corpo da criança.

Trabalhou com o funcionário suspeito de abusos. Nunca notou nada estranho no seu comportamento?
Não. Aliás, esse servente estava numa sala de cinco anos e eu achei por bem mudá-lo para o rés-do-chão, para uma sala de três anos. Troquei, a educadora não gostou, mas achei que deveria fazer isso. No rés-do-chão eu estava sempre, porque era uma sala ao lado da secretaria. Se alguma vez passou pela cabeça do rapaz ter uma atitude menos correcta, com a minha presença nada aconteceu. Via as casas de banho, quem estava, via na sala cor-de-rosa onde eles faziam as sestas. Nunca vi nada, nem me pareceu que tenha algum perfil de pedófilo. Em Portugal já tive de ir a tribunal…

Lidou com este tipo de casos?
Lidei. Casos com avôs e tios, situações em que tive de ir testemunhar, e até falei com uma psicóloga na altura para me explicar as características e os sinais. Houve um caso que fui eu que fiz queixa à Polícia Judiciária, porque desconfiei do comportamento da criança.

No Costa Nunes nunca reparou em sinais suspeitos?
Nunca. De nenhum dos funcionários, até porque um pedófilo não tem de ser apenas homem, pode também ser mulher.

Pegando na questão do género. A imprensa chinesa abordou muito o facto do suspeito ter, alegadamente, trocado fraldas às crianças. Faz sentido, na área educativa, ter em atenção a questão do género, de ser o homem a trocar fraldas a meninas?
Pessoalmente, não me faz confusão, porque é como termos o pai e a mãe em casa a cuidar dos filhos. Não tem de ser responsabilidade total da mãe trocar as fraldas ao filho. Tem de haver, e eu tinha falado com o presidente da APIM e a psicóloga da instituição, algumas acções de formação para os serventes e as agentes de ensino que lá estão, pois não têm formação. Nós temos. Há algumas situações em que se pode conversar com as pessoas e explicar. Deveria haver formação para os funcionários da escola. Mas esta é uma questão quase transversal a todas as escolas. Além disso, a maior parte das crianças com três anos no Costa Nunes já não usa fralda.

Prestou declarações no âmbito da elaboração do relatório interno por parte da direcção do Costa Nunes?
Não. Não me chamaram, nem a Polícia Judiciária me chamou para prestar declarações.

Acredita que o projecto do Costa Nunes pode sofrer um grande abalo com este caso e até fechar portas, mediante as conclusões do relatório interno?
Pode. Sei de meninos que ainda não entraram e cujos pais estão a tentar colocá-los noutras escolas onde também foram aceites. Provavelmente, estão a desistir, mas não é muito fácil, porque o prazo para o pagamento era no início de Abril e as pessoas já pagaram no Costa Nunes. Além de que há listas de espera. Quem for para a direcção do Costa Nunes terá de ser uma pessoa muito forte e com a certeza daquilo que está a fazer para enaltecer o Costa Nunes outra vez.

Acredita então que a actual directora e outros funcionários têm de sair?
Provavelmente, é isso que vai acontecer. Penso que a direcção da APIM é que deve considerar o que é melhor para a escola. Isto porque a imagem da escola é uma coisa, mas o trabalhar da mesma escola é outra. O ano passado abri quatro turmas de crianças com três anos, houve um grande crescimento. Daí o meu espanto: se a escola cresce, porque é que me tiram? Há um feedback positivo por parte da sociedade, das pessoas mais influentes, e não quero aqui mencionar nomes.

Famílias chinesas, macaenses…
Sim, crianças de pais que estão em entidades públicas, por exemplo. A escola estava bem, e então porque é que não me renovam o contrato? A direcção da APIM tem de ter mais diálogo, porque trabalhei com o anterior presidente da APIM e ele deu-me, a mim e à minha antecessora, autonomia suficiente para nós trabalharmos. E isso não acontece actualmente. Acho importante a direcção da APIM estar por dentro das situações, e não é por acaso que a directora do Costa Nunes é uma educadora de infância.

Acha que a direcção da APIM trouxe instabilidade ao projecto, ou que há problemas de gestão que têm de ser resolvidos?
Há problemas de gestão que têm de ser resolvidos. A direcção da APIM tem de estar mais presente, estar em reuniões mensais com as educadoras, como me foi prometido, além de reuniões semanais com a directora. Não deixar as coisas muito vagas, porque depois quem lá está dentro, para gerir, é complicado.

Voltando ao período em que trabalhou com José Manuel Rodrigues. Quer comentar as suspeitas que recaem sobre si quanto a um alegado desvio de fundos do Costa Nunes e sobre a sua saída da escola?
Não teve nada a ver com dinheiros. É uma questão de verem as minhas contas bancárias. A APIM não é só um presidente e tem muitas pessoas na direcção, na sua maioria homens. Quando saí, o anterior presidente da APIM, ao contrário do actual, ofereceu-me o lugar de educadora. Eu, por vontade própria, e por causa das minhas filhas, comecei a pensar que era melhor ir para Portugal, e tinha lá lugar. Não tem a ver com dinheiros, foram situações com as quais não compactuei, e achei melhor sair. Ele fez-me um convite em 2013, quando o Costa Nunes fez 80 anos e vim às festividades. Se houvesse alguma coisa, em que eu tivesse fugido com dinheiro, ele nunca me convidaria. Fiquei muito indignada com os comentários feitos aquando da minha saída em 2001. Sempre soube o que era sigilo profissional, daí não ter comentado com ninguém a razão da minha rescisão de contrato.

18 Mai 2018