Hoje Macau China / ÁsiaJapão | Imperador retoma funções após ter cancelado os actos oficiais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] imperador japonês de 84 anos, Akihito, retomou as suas funções ontem após três dias de descanso devido a uma anemia cerebral, informou a Agência da Casa Imperial do Japão. O governante foi forçado a cancelar actos oficiais na segunda, terça e quarta-feira, devido a náuseas e tonturas causadas por fluxo sanguíneo insuficiente no cérebro. “Akihito começou a cumprir suas funções oficiais no ritmo habitual”, disse um porta-voz da Agência da Casa Imperial do Japão à France-Presse. Akihito, o 125º Imperador do Japão, governa desde Janeiro de 1989. O imperador já tinha tido sérios problemas de circulação sanguínea no passado e em Fevereiro de 2012 foi sujeito a uma cirurgia por causa do estreitamento de duas artérias. Akihito deverá abandonar funções no final de Abril de 2019, sob uma lei especial que lhe permite abdicar a favor do seu filho mais velho, o príncipe Naruhito, de 58 anos.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-Leste | Lu-Olo cancela participação na cimeira da CPLP O Presidente da República timorense cancelou a participação na cimeira da CPLP em Cabo Verde, este mês, mantendo a intenção de visitar Portugal ainda que esta deslocação não esteja ainda totalmente confirmada, segundo fonte da Presidência [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] fonte confirmou que a decisão foi comunicada na quarta-feira numa carta que Francisco Guterres Lu-Olo enviou ao Parlamento Nacional – que tem que aprovar as deslocações do chefe de Estado ao estrangeiro – que altera um pedido anterior. Nesse novo texto, Lu-Olo mantém o pedido para a visita de Estado a Portugal – a sua partida está prevista para terça-feira – e cancela o pedido para a visita a Cabo Verde. “A decisão foi tomada porque, no actual contexto, ficaria muito tempo fora do país”, disse a fonte do gabinete de Lu-Olo. A carta foi avaliada ontem na conferência de líderes das bancadas do parlamento que aprovaram o seu agendamento para debate e votação na sessão de segunda-feira do parlamento. No entanto, fontes da oposição, admitem que essa autorização pode não ser dada devido ao impasse que permanece entre Lu-Olo e o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, sobre um grupo de membros do executivo, excluídos da tomada de posse do VIII Governo, no mês passado. “Veremos na segunda-feira”, disse um deputado da oposição. Fonte da Presidência confirmou à Lusa que uma reunião de ontem entre o chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, e o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak para resolver o impasse sobre a tomada de posse de 11 elementos do executivo “terminou sem acordo”. Taur Matan Ruak recusou-se a fazer qualquer declaração aos jornalistas depois do encontro. A mesma fonte explicou que não há marcada, para já, nova reunião entre os dois para sexta-feira, desconhecendo-se, para já, se haverá na segunda-feira a tomada de posse de algum dos membros que faltam da lista entregue em Junho por Taur Matan Ruak. Avanços e recuos O único avanço no impasse ocorreu ontem de manhã quando o Conselho Superior de Defesa e Segurança aprovou a proposta do Governo de exoneração do brigadeiro-general Filomeno Paixão de Jesus do cargo de vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, antes de este ocupar o cargo de ministro da Defesa. “A decisão foi aprovada por unanimidade de todos os presentes e o Presidente vai agora assinar o decreto presidencial para essa exoneração”, disse, escusando-se a dizer quando Paixão tomará posse. “O diálogo [entre o Presidente e o primeiro-ministro] continua. Não posso falar nem em nome do PR nem do PM”, comentou. Recorde-se que o VIII Governo começou a trabalhar quando ainda não estava completo e depois de o Presidente não ter dado posse a 11 dos 41 membros propostos pelo primeiro-ministro, Taur Matan Ruak. Desde aí, tem-se mantido o impasse com o Presidente da República a não ceder na posição do primeiro-ministro que mantém a intenção de que todos os 11 tomem posse. Entre os nomes excluídos contam-se elementos centrais dos partidos da AMP e do organigrama do Executivo, incluindo o ministro de Estado e Coordenador dos Assuntos Económicos e o ministro das Finanças. A decisão de Lu-Olo levou Xanana Gusmão, líder da AMP, a informar que não tomava posse como ministro de Estado e conselheiro do primeiro-ministro, tendo estado também ausente da cerimónia o ministro do Petróleo e Minerais, Alfredo Pires.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Pequim critica EUA na véspera de taxas entrarem em vigor A China criticou ontem as “ameaças e chantagens” de Washington, na véspera da entrada em vigor nos Estados Unidos de taxas alfandegárias sobre vários produtos chineses, que podem marcar o início de uma guerra comercial [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou taxas alfandegárias de 25 por cento sobre um total de 34.000 milhões de dólares (29 mil milhões de euros) de importações oriundas da China, a partir de sexta-feira, numa retaliação contra o alegado roubo de tecnologia por parte do país asiático. Pequim ameaçou retaliar ao aumentar as taxas alfandegárias sobre vários produtos norte-americanos, mas o porta-voz do ministério chinês do Comércio disse ontem que a China vai esperar para ver o que Washington fará. “A China não se curvará perante ameaças e chantagens, nem será abalada na sua determinação em defender o comércio livre global”, afirmou Gao Feng, em conferência de imprensa, ressalvando que “a China nunca disparará o primeiro tiro”. “Mas se os Estados Unidos impuserem taxas, a China será forçada a reagir, na defesa dos interesses fundamentais da nação e do povo”, acrescentou. Gao Feng lembrou que os impostos afectarão também empresas estrangeiras a operar no país asiático, incluindo norte-americanas. “Cerca de 59 por cento dos produtos sobre os quais serão aplicadas taxas alfandegárias são fabricados por empresas estrangeiras na China, muitas delas norte-americanas”, detalhou. O porta-voz considerou que Washington “está a atacar a cadeia de investimentos em todo o mundo, a abrir fogo contra todos, inclusive si próprio”. Donald Trump ameaçou ainda subir os impostos sobre 450 mil milhões de dólares (quase 385 mil milhões de euros) de bens chineses, ou 90 por cento das importações norte-americanas oriundas da China. Investidores temem uma guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta, à medida que Pequim ameaça retaliar.
Hoje Macau China / ÁsiaNegócios | Fosun cria filial de turismo e pede a sua cotação em Hong Kong [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grupo chinês Fosun, que detém várias empresas em Portugal, anunciou ontem a constituição de uma filial para o sector do turismo, e solicitou a sua entrada na bolsa de Hong Kong. Num comunicado enviado à praça financeira de Hong Kong, o grupo informa que recebeu aprovação dos reguladores para constituir uma nova filial, e que iniciou o processo para a sua cotação na bolsa, uma decisão que não depende da aprovação dos accionistas. A empresa, que tem sede em Xangai, tem múltiplos investimentos nos sectores da saúde, turismo, moda, imobiliário e banca. Em Portugal, o grupo detém já a seguradora Fidelidade e a Luz Saúde, a maior participação no banco Millennium BCP e cerca de 5 por cento da REN (Redes Energéticas Nacionais). A sua nova filial, designada Fosun Tourism and Culture Group (FTC), é constituída a partir de uma divisão da empresa dedicada a “oferecer aos clientes experiências de turismo e lazer” e “está comprometida sobretudo com o desenvolvimento, gestão e oferta de produtos de viagem, entretenimento e outros serviços culturais”, lê-se no comunicado. A filial estará ainda encarregue da gestão e operação de hotéis, resorts e destinos turísticos.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping promete tornar o PCC mais forte com um “grande novo projecto” [dropcap style≠’circle’]X[/dropcap]i Jinping pediu que todos implementem a linha organizacional do partido para a nova época de forma a tornar o PCC mais forte. A posição do presidente da China e presidente da Comissão Militar Central foi expressa na conferência nacional sobre trabalho organizacional, que aconteceu em Pequim entre terça e quarta-feira, escreve a Xinhua. Xi pediu um maior esforço aos membros do PCC de forma a abrir novos caminhos no “grande novo projecto de construção do partido”. “Com a finalidade de sustentar e desenvolver o socialismo com características chinesas na nova época, o nosso Partido deve ter a coragem de realizar sua própria reforma para tornar-se mais forte”, indicou Xi. O presidente chinês sublinhou a importância de promover funcionários competentes que sejam leais ao partido, que tenham integridade moral e demonstrem um grande sentido de responsabilidade. Além disso, Xi Jinping defende que devem ser tomadas medidas para atrair pessoas excelentes, patriotas e dedicadas, sublinhando a adesão ao princípio de seleccionar funcionários com base na integridade moral e competência profissional com prioridade conferida à integridade, e com base no respeito aos méritos. De acordo com as declarações de Xi, citado pela agência Xinhua, estes esforços visam assegurar uma forte garantia organizacional para sustentar e fortalecer a liderança integral do partido, e assim apoiar e desenvolver o socialismo com características chinesas. “A capacidade de inovação, o poder de união e a energia de luta do partido foram fortalecidos significativamente, e o aumentou em muito o compromisso com o povo”, acrescentou o líder chinês. Xi Jinping acrescentou ainda que devem ser feitos esforços “para construir um partido vibrante, com características marxistas, que esteja sempre à frente dos tempos, que goze do sincero apoio do povo, que tenha a coragem de realizar uma revolução interna e que seja capaz de superar todos os testes” do futuro. No que toca ao poder do Comité Central do PCC, o presidente chinês entende que este deve ter a autoridade de ter a última palavra a respeito da tarefa fundamental das organizações locais do partido. Xinhua
João Santos Filipe Manchete SociedadeCrime | Funcionário utilizava equipamento de escola para falsificar notas Técnico de manutenção do equipamento informático da Escola Luso-Chinesa Técnico-Profissional é suspeito de utilizar a fotocopiadora da escola para falsificar notas de 500 patacas. O homem foi detido pela PJ e a DSEJ vai avançar para a suspensão [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m técnico de manutenção dos equipamentos informáticos da Escola Luso-Chinesa Técnico-Profissional é suspeito de ter utilizado a fotocopiadora a cores da instituição para imprimir nota de 500 patacas. O dinheiro era depois colocado a circular pelo funcionário, que utilizava as verbas no dia-a-dia e ainda no pagamento de serviços de prostitutas. Foi através do pagamento com duas notas de 500 a uma prostituta que o homem de 28 anos foi descoberto. A mulher utilizou o montante para pagar uma conta num casino. Nessa altura, foi-lhe dito que as notas eram falsas. Mais tarde, a prostituta indicou à polícia que o homem de 28 anos tinha-lhe pago um serviço com as notas falsas. Após este caso, a PJ desencadeou operações de investigação, foi à escola e apreendeu um conjunto de notas de 500 patacas falsas, que totalizava quase 300 mil patacas. O homem é suspeito da prática do crime de contrafacção de moeda que é punido com pena de prisão que vai de 2 a 12 anos. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultural, Alexis Tam, afirmou que o Executivo não tolera comportamentos contrários à lei. “Quero salientar que o Governo tem padrões muito elevados em relação aos nossos funcionários públicos. Todos têm que seguir a legislação em vigor e conhecê-la profundamente. Não podemos deixar que surja nenhum caso nem que qualquer funcionário que se envolvam em práticas contrárias à lei”, sublinhou. Alexis Tam explicou ainda que só teve conhecimento da situação momentos antes da reunião, depois de ter sido informado pelo director da Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pang Sak. DSEJ queria suspensão Quando os responsáveis falaram com a comunicação social, na manhã de ontem, o suspeito estava a ser questionado pela PJ. Na altura, a DSEJ já tinha instaurado um processo disciplinar e preparava-se para proceder à suspensão do indivíduo. “Segundo a informação que conhecemos, ele aproveitou as alturas em que a biblioteca estava fechada e pedia ao segurança para entrar, com a justificação que precisava de fazer algum trabalho de manutenção. O segurança deixou-o entrar e terá sido nesses períodos que o eventual crime terá sido cometido”, contou Lou Pang Sak, director da DSEJ. “Ainda hoje [ontem] vamos apresentar uma proposta ao superior hierárquico [Alexis Tam] para a suspensão. Ele é suspeito, mas mesmo que apenas seja suspeito, temos de prevenir a possibilidade de futuras ocorrências e temos de implementar as medidas preventivas. Vamos propor para aplicar esta medida cautelar”, acrescentou. Mesmo assim, por prevenção, o funcionário de 28 anos ficou sem acesso às instalações da Escola Luso-Chinesa Técnico-Profissional, onde trabalhava desde 2014. Ainda no que diz respeito ao Governo, o processo vai ser lidado de acordo com o Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública (ETAPM) que estabelece como pena máxima a demissão, caso se prove a conduta incorrecta. Costa Nunes | Relatório até ao final do mês O relatório da DSEJ sobre o alegado caso de pedofilia no Jardim de Infância D. José Costa Nunes está na fase de conclusão e deverá ser apresentado até ao final do mês, dentro do prazo anunciado anteriormente. A informação foi avançada, ontem, pelo director da DSEJ. “Estamos quase a terminar o trabalho para elaborar o relatório, vai ser apresentado até ao final do mês”, disse Lou Pang Sak. Investigação | Caso Sam Yuk encerrado As suspeitas dos alegados casos de abuso sexual na Escola Secundária Sam Yuk não se confirmaram e o caso foi encerrado. “Os estudantes sentiram-se inconfortáveis [com um contacto bastante próximo], mas não houve acções mais agressivas. De acordo com as informações que recebemos, não houve as práticas o publicadas pela comunicação social [abuso sexual]”, frisou. “Comunicámos aos professores que têm de ter muito cuidado face à relação e ao contacto com os estudantes”, acrescentou. Pak Lei | IAS sem pedidos de apoio Segundo o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, o Instituto para a Acção Sociais (IAS) não recebeu pedidos de apoio financeiro das famílias afectadas pela explosão de um restaurante no Edifício Pak Lei, na Areia Preta. “Neste momento, segundo a informação dos IAS, ainda nenhuma família pediu apoio financeiro. Mas claro que os Serviços de Saúde estão a prestar apoio em termos dos cuidados médicos para os doentes”, disse Alexis Tam.
Victor Ng SociedadePrevidência | Cloee Chao pede cálculo mais justo para funcionários da Melco [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, Cloee Chao, entregou uma carta junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) onde é pedido um cálculo mais justo no sistema de previdência para todos os funcionários da concessionária de jogo Melco Crown. De acordo com um comunicado, a associação afirma ter conhecimento de casos em que apenas é calculado o salário base dos trabalhadores nos cálculos para o sistema de segurança social, sendo que o acordo selado com as restantes operadoras já não é posto em prática desde 2015. Nesse sentido, Cloee Chao defende que quem trabalha para a Melco Crown está a ser alvo de injustiças, tendo sido pedida a intervenção da DSAL.
Hoje Macau SociedadeCPU | Mais terrenos da zona A em consulta pública [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] público poderá dar opinião sobre o desenvolvimento de mais três terrenos localizados na zona A dos Novos Aterros até ao próximo dia 19. O projecto a será discutido na próxima reunião do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). Além disso, a consulta pública versa também sobre um projecto habitacional que irá nascer num terreno privado no Pátio do Espinho, um bairro localizado atrás das Ruínas de São Paulo, e que não poderá ter mais de nove metros de altura.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTDM | John Lai, administrador, absolvido do crime de abuso de poder O Tribunal Judicial de Base absolveu John Lai, membro do conselho de administração da Teledifusão de Macau, de dois crimes de abuso de poder de que era acusado. A juíza entendeu que não se fez prova e que John Lai não causou quaisquer prejuízos à empresa [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]anteve o silêncio durante todo o processo e assim permaneceu na leitura da sentença. John Lai ouviu ontem a juíza do Tribunal Judicial de Base (TJB) absolvê-lo dos dois crimes de abuso de poder de que era acusado. A tese da acusação defendia que o administrador teria recorrido a serviços do motorista da empresa para a sua vida pessoal. A acusação referia viagens feitas pelo motorista da TDM para ir buscar o pequeno-almoço, limpar e arranjar o carro particular de John Lai ou mesmo ir buscar encomendas à estação de correios de Coloane. A juíza considerou que John Lai “não causou quaisquer prejuízos à TDM” neste aspecto, uma vez que a própria empresa não especifica o âmbito dos direitos e deveres dos administradores, razão pela qual nenhum crime foi imputado. Sobre este ponto, a acusação sempre considerou que, de acordo com os Estatutos da TDM, só o presidente do Conselho de Administração tem direito a motorista privado. Durante as sessões de julgamento, o motorista em causa foi ouvido e admitiu a realização dessas tarefas, mas que tal era do conhecimento da direcção da empresa. Victor Chan, director do Gabinete de Comunicação Social, referiu, na qualidade de testemunha, que as exigências dos administradores devem ser diferentes, uma vez que as suas principais tarefas são participar e assistir em reuniões. Já Frederico do Rosário, também administrador da TDM, considerou ser “anormal” este comportamento de John Lai, já que os recursos da estação de televisão não devem ser usados para interesses pessoais. Contas acertadas A acusação versava ainda sobre a alteração da data de um bilhete de avião para os Estados Unidos paga pela TDM. John Lei teria viajado em trabalho e pediu posteriormente para alterar a viagem, ficando mais uns dias no país em regime de férias. Contudo, também aqui a juíza considerou que não foi cometido qualquer crime, uma vez que a TDM também não criou regras específicas para estes casos. A sentença refere que John Lai poderá, nesta fase, acertar contas com a empresa, mas, de acordo com o Jornal Tribuna de Macau, a acusação afirmou que o administrador já terá pago a diferença do montante relativa a esse bilhete de avião. A sentença adianta também que a direcção da TDM já teria conhecimento desta alteração antes da mudança das datas, não tendo existido quaisquer erros por parte da empresa. O HM contactou Manuel Pires, presidente da Comissão Executiva da TDM, no sentido de obter um comentário sobre a decisão do TJB. Contudo, Manuel Pires, que chegou a ser arrolado como testemunha, não quis comentar factos anteriores à sua chegada ao cargo de presidente da comissão executiva, que aconteceu em 2014. Quanto ao impacto que do caso para a imagem da empresa pública de televisão, Manuel Pires remeteu os comentários para depois da análise da sentença.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeInstituto Cultural promete pagar despesas de reparação do Teatro D. Pedro V [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s responsáveis da Associação dos Proprietários do Teatro “D. Pedro V” reuniram ontem com o Instituto Cultural (IC) para chegar a acordo quanto ao pagamento das despesas relativas a reparações necessárias no edifício. Hoje estava agendada uma conferência de imprensa com o apoio da Associação Novo Macau (ANM), que foi cancelada depois do encontro com os responsáveis do IC. Ma, membro da associação, referiu ao HM que os problemas encontrados no edifício “são muito graves”. “O IC já fez a sua promessa e por isso decidimos não fazer, por enquanto, a conferência de imprensa. Vamos ver o que eles vão fazer no futuro”, apontou. “Alguns funcionários não denunciaram os problemas aos órgãos superiores por terem medo de cometer falhas. O IC admitiu que não tem feito o suficiente pela manutenção do teatro e referiu que tem havido falta de comunicação com os proprietários. Só queremos ver os problemas resolvidos”, acrescentou Ma. O deputado Sulu Sou garantiu ao HM que a associação estará à espera de respostas do Governo há cerca de dois anos, apesar de existir, desde 2004, um acordo que determina que o IC tem a responsabilidade de custear obras e zelar pela manutenção do edifício. “Os membros da associação contactaram-me para os ajudar a resolver alguns problemas que existem no teatro. Têm tido algumas complicações com o IC sobre a gestão do teatro e relativamente a problemas no edifício. Querem que o IC pague as reparações que são necessárias. Se olharmos para a parte de fora do edifício vemos algumas estruturas da CEM que estão bem perto do teatro. Este é um dos pontos com os quais os representantes da associação discordam e têm pedido ao IC que discuta com a CEM sobre este assunto, para que estas estruturas sejam removidas. Mas levou muito tempo ao IC a responder.” A associação que é proprietária do edifício que alberga o Teatro D. Pedro V queixa-se ainda de problemas relativos à instalação de mais aparelhos de ar condicionado, que poderão danificar o edifício. Da parte da Novo Macau espera-se uma postura mais pró-activa do Governo. “O IC tem sido activo, mas às vezes atrasa-se nas respostas que dão para a resolução dos problemas”, rematou Sulu Sou.
Hoje Macau SociedadeNam Van | Empresa coloca Governo em tribunal para tentar reaver terrenos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s empresas do universo Sociedade de Investimento Imobiliário Nam Van decidiram colocar o Governo em tribunal depois de ter sido publicado em Boletim Oficial o despacho que declara a nulidade de concessão de 16 terrenos ao fim de 25 anos. A notícia foi ontem transmitida pela Rádio Macau, que falou com Gilberto Gomes, gerente-geral da Nam Van, uma das empresas envolvidas. “Todas as sociedades recorreram da declaração de caducidade. É um direito que têm. Com tudo o que fizeram, ao longo destes anos, no empreendimento, têm de recorrer”, apontou. A empresa sempre garantiu que há responsabilidades que devem ser imputadas à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, por ter atrasado a aprovação dos projectos de construção. De frisar que a concessão terminou a 31 de Julho de 2016, mas o Governo só declarou a sua nulidade oficialmente em Maio deste ano.
Hoje Macau PolíticaEspeculação | Deputados preocupados com lei da locação financeira [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados estão preocupados que o diploma que estabelece o regime do benefícios fiscais para a locação financeira abra a porta para o aumento da especulação no mercado imobiliário. De acordo com a proposta de lei, as sociedade de locação financeira ficam isentas de pagar o imposto de selo, no âmbito da compra da primeira unidade de imobiliário destinada a escritórios. Porém, a lei não deixa muito claro se o imobiliário se cinge a uma fracção ou a um edifício completo. Ontem, segundo o canal chinês da Rádio Macau, Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) apresentou este problema ao Executivo. Por sua vez, os representante do Governo prometeram pensar em formas de aperfeiçoar o mecanismo de isenção fiscal e lidar com as preocupações dos deputados.
Victor Ng PolíticaDeputado Si Ka Lon quer mais comunicação entre Governo e associações [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon entregou uma interpelação escrita ao Governo onde defende uma melhor comunicação com as associações locais, no sentido destas terem acesso antecipado a planos de políticas a implementar para as discutirem com as autoridades. Si Ka Lon pede, por isso, maior divulgação dos relatórios das consultas públicas realizadas, juntamente com os inquéritos sobre as opiniões dos cidadãos. É também pedido que haja uma comunicação com as associações locais antes do anúncio das consultas públicas. A interpelação surge dias depois do Governo ter suspendido o projecto de construção do crematório na Taipa e o aumento das multas com a revisão da lei do trânsito rodoviário, medidas que originaram bastantes críticas entre a população. Esta última medida motivou mesmo um protesto.
Andreia Sofia Silva PolíticaAborto espontâneo | SAFP prometem rever sistema de faltas para funcionárias Agnes Lam pediu e o Governo prometeu rever. Os Serviços de Administração e Função Pública garantem que vão analisar a possibilidade de aumentar o número de dias de férias para as funcionárias que tenham sofrido um aborto espontâneo [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]inco meses depois da intervenção da deputada Agnes Lam na Assembleia Legislativa que referiu à necessidade de mais regalias para funcionárias públicas que sofram abortos espontâneos, os Serviços de Administração e Função Pública de Macau (SAFP) responderam que há a possibilidade de alterar as actuais regras. Numa resposta enviada à deputada, que a própria partilhou ontem nas redes sociais, os SAFP referem que as licenças de maternidade e faltas por doença estão abrangidas pelo regime de faltas constante no Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ETAPM). Uma vez que este diploma está a ser revisto, os SAFP assumem que vão ter em conta a opinião da deputada e ponderar alargar o número de dias de falta disponíveis para funcionárias públicas que sofram abortos espontâneos, caso seja adequado e viável, pode ler-se. Agnes Lam, também professora do departamento de comunicação da Universidade de Macau, enviou uma carta ao organismo público em Fevereiro deste ano, lembrando que, de acordo com o ETAPM em vigor, as funcionárias públicas poderem gozar de 90 dias de licença de maternidade após o parto. Contudo, no caso de sofrerem um aborto espontâneo, ou caso dêem à luz um nado-morto, dispõem apenas de sete a 30 dias de faltas justificadas autorizadas pelo médico. A resposta dos SAFP frisa ainda que o ETAPM define que os funcionários públicos têm direito a 18 meses de baixa médica caso sofram de problemas do foro físico ou psíquico. Nos casos de doenças oncológicas ou mentais, os SAFP concedem até cinco anos de faltas justificadas. “Um bom primeiro passo” Na sua página oficial de Facebook, a deputada mostrou-se satisfeita com esta resposta, que garantiu ser “um bom primeiro passo”. “Mesmo que seja um aborto, independentemente do corpo ou da pessoa, o tempo de recuperação não deve ser menor do que o tempo de licença de maternidade normal. Contudo, actualmente as funcionárias públicas não têm este direito, e esta lacuna é ainda maior na lei das relações laborais. É necessário que o Governo faça estas melhorias”, escreveu Agnes Lam.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCâmaras | Wong Sio Chak já prepara videovigilância para novo aterros [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] videovigilância tem produzidos resultados “positivos” nas investigações criminais em Macau e o Governo já prepara planos para a instalação de mais câmaras de vídeo nos novos aterros. O anúncio foi feito, ontem, pelo secretário para a Segurança, na cerimónia de abertura da Exposição de Artesanato dos Reclusos e dos Jovens Internados 2018. Segundo um comunicado do Governo, actualmente estão em funcionamento no território 820 câmaras de videovigilância, que foram instaladas em três fases diferentes. Ainda assim vão ser instaladas mais 800 câmaras, referentes à quarta fase do programa de videovigilância que deverão entrar em funcionamento até ao primeiro trimestre de 2020. Nessa altura, e contabilizando os actuais 30 quilómetros quadrados de Macau, o território vai ter uma média de 54 câmaras por quilómetro quadrado. Contudo, os planos para a instalação dos sistema de CCTV em Macau não se ficam por aqui. As quinta e sexta fases já estão a ser elaboradas e têm como foco, essencialmente, os aterros e serão divulgadas “em tempo oportuno”. O responsável pela segurança do território defendeu ainda que “o sistema de vigilância contribui significativamente para a investigação de casos criminais” e deu o exemplo de um roubo a uma joalharia, no início do ano. Neste caso, o suspeito foi identificado em menos de 24 horas, devido à captação de imagens. O secretário disse também acreditar que “o aperfeiçoamento do sistema poderá elevar ainda mais a eficácia da investigação de casos”. Ao mesmo tempo, Wong Sio Chak recordou que para que o sistema possa ser utilizado é necessária “uma delegação de competências para o efeito” e que a recolha de informações vai ser feita “de acordo com a lei”. Pak Lei à espera O secretário abordou igualmente o caso da explosão dentro de um restaurante no Edifício Pak Lei, na Areia de Preta, e explicou que a investigação está a aguardar pelos depoimentos das vítimas. “A Polícia Judiciária fez pesquisas no local e encontra-se actualmente a proceder aos trabalhos de investigação noutros aspectos. A par disso, como parte dos feridos ainda se encontra a receber tratamento hospitalar, a PJ não conseguiu, por enquanto, recolher os seus depoimentos, uma tarefa que tem de concluir para depois poder submeter o relatório de investigação ao Ministério Público”, explicou. Em relação à Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, Wong Sio Chak explicou que os equipamentos têm sido instalados na Zona de Administração da Ilha Fronteiriça Artificial e que os mesmos estão a ser experimentados. Porém, garantiu que assim que for necessário abrir a ponte, que os recursos humanos e materiais vão estar prontos.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteSilvestre de Almeida Lacerda, director-geral da Torre do Tombo: “Se não se conhece, não se ama” O director-geral do Arquivo Nacional da Torre do Tombo está em Macau para participar hoje na inauguração da exposição no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau. A mostra intitulada “Chapas Sínicas – Histórias de Macau na Torre do Tombo” conta a história do território ao longo de cerca de 400 anos. De Portugal, Silvestre de Almeida Lacerda trouxe como presente um conjunto de imagens de Macau dos anos 30 [dropcap]O[/dropcap] que nos contam as Chapas Sínicas? Contam-nos muitas histórias principalmente associadas a questões da administração desde o séc. XVI até aos finais do séc. XIX. Contam-nos as histórias sobre a jurisdição do trabalho desenvolvido pelas autoridades quer chinesas quer portuguesas, portanto de comunicação diplomática. Mas, sobretudo, trazem-nos o quotidiano local da altura, a criminalidade, com todos os aspectos da jurisdição e da fixação dos estrangeiros, com pirataria, naufrágios, etc. Como eram as relações diplomáticas nos momentos iniciais da presença portuguesa em Macau? No início do séc. XVI as relações passavam muito pela instalação da câmara de Macau, sobretudo ao nível do procurador ou ouvidor, e pela permanência de autoridades no território. Portugal podia ter o exército aqui e isso dava uma possibilidade significativa de permanência. Diria que, desde muito cedo, eram relações entre iguais em que há uma preocupação de quem administra os portugueses serem as autoridades portuguesas, e quem administra a comunidade chinesa serem as autoridades chinesas. Como é organizar uma exposição com este tipo de peças? Estamos a falar de tesouros. Acho que há aqui um factor particularmente feliz da colaboração entre o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a Direcção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e o Arquivo de Macau. Este foi o primeiro passo. Ao longo dos últimos três anos, temos vindo a desenvolver o trabalho de recuperação e de conservação dos documentos que estão na Torre do Tombo. Foi necessário preparar todo um trabalho de intervenção sobre o estado em que a documentação se encontrava, que era bastante frágil. Estamos a falar de documentos com 400 anos. Uma coisa muito interessante que aconteceu tem que ver com o suporte destas obras. Inicialmente todos os indícios apontavam para que fosse papel de arroz, mas não é. Entretanto, com esta colaboração foi possível descobrir que a base essencial é o bambu. Descobrimos isto com a colaboração de um dos técnicos aqui do Arquivo de Macau que esteve a estagiar na Torre do Tombo e trouxe com ele conhecimento acerca dos vários tipos de papéis. Estes documentos foram primeiro classificados pela UNESCO como Memória da Ásia, em 2016, e só depois é que avançámos para a classificação como registo da Memória do Mundo da UNESCO. Dos 3700 documentos que fazem parte das Chapas Sínicas, estão cá apenas alguns. Originais trouxemos seis. São poucos mas são em grande formato, alguns têm quase três metros. São organizados tipo harmónio o que nos permite trazer uma caixa relativamente pequena em boas condições. Vêm todos associados a um aparelho, um datalogger, que nos permite monitorizar a humidade, a temperatura e mandar esses dados para Lisboa. O transporte foi feito à mão. Só não trazia as algemas agarrada a elas (risos). Foi um processo de exportação temporária destes documentos classificados como tesouros. FOTO: Sofia Mota Está à frente da Torre do Tombo, muitas vezes considerada como um espaço pouco acessível. Tem feito um trabalho que visa a desmistificação do secretismo do arquivo. A Torre do Tombo tem 100 km de documentos. Muitos destes documentos já estão acessíveis através da internet. Neste momento, temos cerca de 30 milhões de imagens disponíveis que as pessoas podem fazer download gratuito. Estamos a falar da democratização da história? Sim, é preciso fazer com que as pessoas possam conhecer. Se não se conhece não há capacidade de amar. O amador é aquele que ama e não aquele que tem menos competências. E ama porque conhece. Esta forma de desmistificar as coisas é possível só através do conhecimento. Por exemplo, muitas das Chapas Sínicas já estão em boa resolução no nosso site e até se pode fazer reutilização da informação. Estas obras apresentam um aspecto muito curioso: temos a representação de desenhos que estão associados ao conteúdo dos documentos. São desenhos de artífices e com esta possibilidade de reutilização e quase de reinterpretação podemos ter uma ponte para arte. As artes plásticas e gráficas podem reutilizar este tipo de materiais. Esta é outra forma para tentar que as pessoas olhem para os documentos de arquivo. Não só como preciosidades, mas como objectos dos quais se podem apropriar. Alguns deles têm mesmo que ser apropriados. Como por exemplo? Estamos a falar, por exemplo, nos casos que pretendem obter uma dupla nacionalidade e em que o interessado tem ascendentes portugueses há três gerações. A Torre do Tombo tem um registo da população portuguesa desde 1543, depois do registo sistemático a partir do Concílio de Trento. Atendendo que a população portuguesa é 99 por cento católica, temos os registos de baptismo, casamento e óbito. A partir daí somos capazes de construir a nossa genealogia e justificar direitos. Temos também registos judiciais. Alguns mais emblemáticos como o caso do Alves dos Reis, do Zé do Telhado e de outros criminosos mais ou menos célebres. Também temos documentação dos notariados, ou seja, o registo de escrituras desde o séc. XVI. Os arquivos são vivos. Não há arquivo morto. Têm vida quer para a investigação, quer enquanto provas para as necessidades dos cidadãos Quais são os temas mais procurados na Torre do Tombo? Neste momento, em termos estatísticos, a documentação mais procurada nestes quilómetros de documentos é a documentação sobre a Inquisição. A Torre do Tombo tem os processos da Inquisição desde a sua constituição no séc. VI até à sua extinção no séc. XIX. Estamos a falar da Inquisição de Lisboa mas que também da que abrangia o Brasil e a Ásia. Um caso muito curioso: temos panos da Índia associados a estes processos da Inquisição porque um familiar do Garcia da Horta foi preso e tentou passar essa informação. Para isso, ele utilizou como suporte um pano e com fumo negro escreveu que estava preso. Tentou passar essa informação que acabou por ser apanhada e ir junto ao processo como prova. Recentemente, e isto é uma novidade, foi-nos entregue o processo associado ao acidente de Sá Carneiro. Não está o avião (risos). Temos, noutros processos suportes musicais, poucos mas temos. Estou-me a lembrar do caso do Adriano Correia de Oliveira e do Zeca Afonso em que temos alguns vinis associados a isso. Ao contrário e na área da fotografia, temos milhões de imagens. Dos últimos números que apurámos estamos com cerca de 10 milhões de negativos de vidro, acetato, poliéster e alguns nitratos. Trouxemos para oferecer ao Arquivo de Macau um conjunto de 52 imagens de Macau que não estavam disponíveis, mas que digitalizámos para oferecer. São da antiga Agência Geral do Ultramar nos anos 30. Um conjunto interessante que acho que não era conhecido e que vai ficar cá para poder ser consultado e disponibilizado. Sobre o arquivo da PIDE, temos os processos individuais mas também temos a documentação da escola de polícia. Aqui uma das peças é um conjunto de mapas com o corpo humano. Isto significa que, cientificamente, era estudada a forma de torturar e de bater em pontos particularmente sensíveis e para que, nas visitas, não se verificassem nódoas ou marcas exteriores desta mesma tortura. Também temos, os artigos relacionados com a polícia política. Trata-se de documentação desde 1919, ainda da Primeira República em que os serviços de informação são criados a partir da reorganização de Sidónio Pais. É com ele que se estrutura um serviço que depois leva à prisão de quem canta o fado, nomeadamente fado subversivo. É a definição que nos aparece e que nós temos ao longo dos anos 20 e 30. Uma das características do fado em Lisboa era o chamado fado operário que era uma forma de expressão de sentimentos que não estavam de acordo com o exercício do poder. O próprio Rui Vieira Nery faz referências na história do fado a esta realidade e nós, na altura, fornecemos-lhe vários exemplos concretos de processos políticos de quem tinha sido preso por cantar fado subversivo. Quais são os seu documentos preferidos? Há um pelo qual tenho particular apreço. É o Apocalipse de Lorvão. Um manuscrito com os comentários dos beatos de Liébana que fica na zona das Astúrias. São um bocadinho heterodoxos em relação à igreja católica e estamos a falar do séc. XII, 1189. Há comentários ao Apocalipse, o livro da Bíblia, que são ligeiramente heterodoxos relativamente à forma como era olhada a religião católica. É um manual digamos, uma matriz, que depois se vai desenvolver na Península Ibérica. Candidatamos o Apocalipse do Lorvão a registo da memória do mundo conjuntamente com os nossos colegas espanhóis e fizemos um estudo sobre a circulação de manuscritos nesta altura, ou seja, sobre a circulação de conhecimento na Península Ibérica no séc. XII. É uma história particularmente significativa. Depois não posso deixar de falar da carta de Pedro Vaz de Caminha, ou seja do achamento do Brasil, mas para mim não é possível falar desta carta sem falar de uma outra, a do Mestre João que é um astrónomo e que desenha pela primeira vez o cruzeiro do Sul. A importância do cruzeiro do sul tem a ver com a orientação daquele hemisfério. No hemisfério norte fazemos a orientação pela estrela polar e no sul pelo cruzeiro do sul. Esta é a primeira vez que aparece um desenho feito por alguém que faz parte da mesma armada de Pedro Álvares Cabral. Na carta de Vaz de Caminha temos o contacto entre civilizações, que é a versão mais oficial e há também uma menos oficial que nos diz que esta carta é uma cunha, um pedido que ele faz ao rei para a libertação de um familiar preso em São Tomé. E no que respeita a documentos mais contemporâneos? O diário de Salazar. Está disponível online mas tem uma dificuldade, a letra não é fácil. Está a ser preparada a transcrição do diário com muitas notas de contextualização. Ele tomava nota da hora, e muitas vezes dos conteúdos das conversas que mantinha. É uma peça fundamental no estudo da história contemporânea. Além disso, há uma outra peça que é o processo da Casa do Luso da prisão de Álvaro Cunhal em 1949. Temos o processo judicial que está com abundante documentação do próprio arquivo comunista. Como vê o papel da tecnologia digital quando falamos de arquivos nos tempos que correm? Acho que o digital é uma oportunidade. A questão fundamental é esta: mudámos do pergaminho para o papel e já mudámos muitas vezes de suporte, mas enquanto no papel, pergaminho ou papiro eu tinha uma leitura directa e os nosso olhos são capazes de interpretar o medium utilizado, aqui tenho que ter um instrumento intermediário que me permita ter o acesso ao tal medium e esta intermediação tem que ser devidamente garantida Uma das questões essenciais que se coloca do ponto de vista do digital é a sua autenticidade, fidedignidade e confiança naquilo que tenho acesso. Naturalmente, que sempre houve falsificações, mas já há meios de identificar a sua maioria em suportes que conhecemos bem e não no digital que é relativamente recente. Neste momento há uma discussão a propósito do regulamento geral da protecção de dados. Acho que têm que ser realmente ponderados estes valores de privacidade mas acho que há questões que têm que ser devidamente estudadas e são essenciais do ponto de vista daquilo que é o acesso à informação. Temos de encontrar os mecanismos necessários para que a ideia não seja apagar conteúdos. Esta ideia do chamado direito ao esquecimento tem que ser enquadrada devidamente e temporalmente. Não posso apagar os meus registos pura e simplesmente porque a protecção e dados o prevê. O direito ao esquecimento é uma coisa que está no Tratado de Lisboa, que está na Base do Regulamento Geral da Protecção de Dados. Uma das discussões surgiu a propósito das Brigadas Vermelhas em Itália, que depois de se poderem eliminar dados surgiu um conjunto de dirigentes destas brigadas em posições de destaque. Do ponto de vista histórico isto é grave e esta foi uma das questões levantadas pelos directores dos arquivos de toda a União Europeia. Depois, na segunda versão do mesmo regulamento, já vem prevista, neste direito ao esquecimento, a excepção dos arquivos, dos fins de investigação e dos fins estatísticos para que não sejam apagados os registos, sendo que podem ser anonimizados durante um determinado período de tempo. Mas a ideia inicial seria apagar os registos. Não é uma discussão simples e tem que se ter algum cuidado. O que é isto de ser o “guardião” da história ? Além de ser uma responsabilidade muito significativa tem uma coisa fantástica: Temos uma equipa de gente que trabalha bastante bem e que gosta daquilo que faz. Temos duas componentes: um balcão aberto a toda a gente, a única restrição é o limite mínimo de 18 anos e o estado de conservação dos documentos. A manipulação permanente dos documentos é também um facto de degradação. Portanto, gerir estas necessidades de, por um lado dar acesso e por outro ter em conta as questões de conservação, é um equilíbrio que se tem que manter. Mas também não faz sentido conservar se não tivermos acesso. Este é, provavelmente, o aspecto mais interessante do ponto de vista de quem tem a responsabilidade de gestão. Nós não fazemos história, nós damos acesso.
Hoje Macau China / ÁsiaResgate de equipa de futebol presa em gruta na Tailândia ameaçada pelas chuvas [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]quipes de resgate tailandesas estão a correr contra o tempo para bombear água de uma gruta inundada para extrair 12 crianças e seu técnico de futebol com risco mínimo, disseram hoje as autoridades, quando se espera mais chuvas fortes. Um bombeiro que trabalha na drenagem da água disse que algumas partes de uma passagem que leva a uma câmara onde os meninos e o técnico foram encontrados na segunda-feira, continuam inundadas até o teto, fazendo do mergulho a única saída possível. “O que mais nos preocupa é o clima”, disse aos repórteres o governador da província de Chiang Rai, Narongsak Osatanakorn. “Não podemos correr o risco da termos uma outra inundação na gruta”, acrescentou. Chiang Rai informou ainda que pediu à marinha tailandesa responsável pelos planos de extração para estimar o risco da operação. A ideia passa por analisar o “tipo de prontidão [que] podemos ter hoje e decidir se podemos aproveitar essa oportunidade”, concluiu.
Hoje Macau InternacionalEmmanuel Macron pede solução conjunta sobre migrações entre Europa e África [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da França, Emmanuel Macron, apelou à África e à Europa que construam uma solução conjunta e duradoura na questão dos imigrantes, ao discursar para 300 jovens empreendedores no segundo dia da sua visita à Nigéria. Macron detalhou a sua visão da “crise dos imigrantes”, que atualmente está a abalar a União Europeia e que terá que ser resolvida “a longo prazo” em África. “Nós devemos resistir às emoções a curto prazo (…) e trabalhar com os Governos africanos”, disse Emmanuel Macron, num grande hotel em Lagos. “A resposta duradoura é construir um futuro melhor” nos países africanos, como no Senegal, na Costa do Marfim ou na Nigéria, onde aos jovens falta “oportunidades económicas”, referiu. Para o Presidente francês, “a Europa não pode aceitá-los, não a todos”, assim, é necessário “que os africanos tenham sucesso em África”. Emmanuel Macron reiterou a necessidade de controlar a demografia em países onde as mulheres “têm sete, oito filhos” e na luta “contra os traficantes”, que “têm ligações estreitas com terroristas” ativos no Sahel. Pela manhã, o chefe de Estado francês inaugurou a Aliança Francesa de Lagos, alojada numa vila colonial renovada e disponibilizada por Mike Adenuga, um bilionário nigeriano que fez fortuna com petróleo, telecomunicações e serviços. A rede de escolas Aliança Francesa, que inclui 832 estabelecimentos para mais de 500 mil estudantes, “permite fazer vibrar a cultura francesa ao redor do mundo”, disse o Presidente. A Nigéria, um país com 180 milhões de pessoas e que falam inglês, está cercada de vizinhos de língua francesa. “A posição da língua francesa é diminuta comparada ao que deveria ser. O potencial é enorme”, disse Charles Courdent, diretor da Aliança Francesa de Lagos. Emmanuel Macron reuniu-se com o famoso escritor nigeriano Wole Soyinka e conversaram inclusivamente sobre os conflitos no país, sobre o grupo extremista Boko Haram e os intercâmbios culturais entre a África e a Europa.
Hoje Macau China / ÁsiaFukushima | Aprovada reactivação de central nuclear depois do tsunami de 2011 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] regulador nuclear japonês iniciou ontem o primeiro passo para a reactivação de uma central nuclear com quase 40 anos no Japão, afectada pelo terramoto e ‘tsunami’ de 2011 que desencadeou a crise nuclear de Fukushima. A Autoridade de Regulação Nuclear do Japão deu ontem ‘luz verde’ para aumentar a vida útil da central nuclear de Tokai Daini, situada a 130 quilómetros a nordeste de Tóquio, na prefeitura de Ibaraki, contudo esta ainda terá de passar as próximas duas avaliações do regulador e obter as autorizações necessárias das autoridades locais. Em 11 de Março de 2011, um terramoto de magnitude 9 na escala aberta de Ritcher e o posterior ‘tsunami’ arrasaram a região de Tohoku e causaram também na central de Fukushima Daiichi o pior acidente nuclear desde Chernobil (Ucrânia), em 1986. A central de Tokai Daini sofreu um apagão automático de emergência depois do tsunami que causou mais de 18 mil mortos e desaparecidos. Dois dos três geradores de energia de emergência da central de Tokai Daini mantiveram-se operacionais e permitiram o arrefecimento do reactor nos dias a seguir ao desastre. A central, que foi desactivada depois do acidente, fez parte do apagão nuclear do Japão que se prolongou durante os anos seguintes à crise de Fukushima. Depois do acidente, o regulador nuclear japonês reforçou as regras e procedimentos de segurança, que em princípio proíbem o funcionamento de reactores com mais de 40 anos. Segundo o regulador nuclear, entre as medidas apresentadas pela proprietária da central, a Japan Atomic Power, encontra-se o reforço das fontes de energia e a construção de diques costeiros, de modo a prevenir possíveis tsunamis com ondas de cerca de 17 metros. A companhia proprietária da central não apresentou nenhum plano de evacuação em caso de emergência, o que afectaria cerca de 960.000 habitantes da área metropolitana japonesa. A central recebeu ontem a primeira autorização, mas terá ainda de obter as aprovações seguintes nas duas avaliações a realizar pelo regulador em Novembro, quando a central completar 40 anos. Tokai Daini também necessita de receber a autorização das autoridades municipais para iniciar as operações, o que não irá acontecer até 2021, ano em que se estima que as novas medidas de segurança estejam implementadas na sua totalidade.
Hoje Macau China / ÁsiaMalásia | Ex-governante vai responder por abuso de confiança [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, vai responder por três acusações de abuso de confiança, decidiu ontem um tribunal de primeira instância da Malásia, num caso de corrupção que envolve o desvio de um fundo de investimento estatal. O ex-primeiro-ministro arrisca uma pena máxima de 20 anos de prisão por cada acusação. O procurador decidiu transferir o processo para o Supremo Tribunal de Justiça, devido à gravidade do caso. Najib Razak chegou ontem a um tribunal de Kuala Lumpur para enfrentar acusações decorrentes de uma investigação de corrupção, dois meses depois do escândalo que levou à sua derrota eleitoral. Najib foi preso na terça-feira por uma transferência suspeita de 42 milhões de ringgit (8,1 milhões de euros) para as suas contas bancárias a partir da SRC International, uma antiga unidade do fundo de investimento estatal que, segundo investigadores norte-americanos, foi desviado por associados de Najib. O ex-primeiro-ministro arrisca uma pena máxima de 20 anos de prisão por cada acusação. Najib, de 64 anos, nega qualquer irregularidade e acusou o novo Governo de procurar “vingança política”.
Leocardo VozesAgir localmente, pensar no mundial [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ue pena, a eliminação de Portugal do mundial de 2018, na Rússia, não foi? Mais um campeonato do mundo que se esfuma dos horizontes da nossa ambição. Quer dizer, deu para o que deu, e no fim perdemos com um adversário valoroso; o Uruguai é muito boa equipa, e faz lembrar a Itália, mas em bom. Antes desta partida ainda tivemos o França-Argentina, que se saldou numa vitória por 4-3 a favor dos gauleses. Tem sido um mundial muito emocionante, e até agora só uma partida terminou como começou, em zero-zero (o França-Dinamarca, na fase de grupos). Promete, o jogo entre os quartos-de-final amanhã em Novgorod, entre franceses e uruguaios. Aproveitei as noites em branco do futebol para arejar, também, agora numa fase de pré-férias. Depois da derrota das cores nacionais, na madrugada de Domingo, fui ver o sol nascer ao Miradouro da Penha – não me perguntem porquê. Local aprazível, aquele. Localizado ao cimo da Colina da Penha, mesmo debaixo da ermida com o mesmo nome, é um lugar aberto, refrescante, com uma paisagem magnífica, com vista para o Lago e Ponte Nam Van, e a torre de Macau. Por volta das seis e picos dá para escutar um verdadeiro recital de música gentilmente chilreada pelos passarinhos. Um deleite. Contudo, e apesar de ser um local isolado, ao ar livre e fechado ao trânsito, não se pode lá fumar. Nem nos banquinhos muito catitas ali colocados dá para, como se diz em chinês, “conversar com o cigarro”. A estranha paranóia higienista que grassa em Macau, que leva a que se pintem “smoke free areas” à volta das paragens dos autocarros e esconda os cigarros nos supermercados, como se fosse material pornográfico, tem destas coisas. Mas rola a bola, e no Domingo tivemos mais dois encontros dos oitavos-de-final do mundial, ambas decididas nos desempates dos pontapés da marca de grande penalidade. Melhores nesse particular estiveram a Rússia, que eliminaram a Espanha, levando “nuestros hermanos” a fazer o mesmo caminho de volta a casa que fizemos no dia anterior. Não estiveram muito bem para os pergaminhos que ostentam, para ser sincero. Mais tarde foi a vez da Croácia, uma das boas equipas em prova, fazer o mesmo com o reino da Dinamarca. Russos ou croatas, um deles, vão estar nas meias-finais. O que se pode considerar uma surpresa relativamente agradável. Com tudo isto, entre o Sábado e o Domingo e os sonos que andam trocados, passou-me a lado uma (Grande! Enorme!) manifestação realizada no território, contra a construção de um crematório na ilha da Taipa, “onde vive muita gente” (a sério, isto foi usado como argumento). É um tema sensível, sem dúvida. Toda a gente quer o metro ligeiro, desde que ele não passe à sua porta, assim como toda a gente acha que um crematório é necessário, mas de preferência o mais longe possível. O que ninguém quer é ter pessoas a entrarem-lhes literalmente pela janela. Passo o apontamento de humor negro. Chega a segunda-feira, voltamos às lides profissionais, mas lá se arranja maneira de dormir como se pode até à noite, hora dos jogos do mundial. E nesse dia tivemos o Brasil a vencer o México por 2-0, com o craque-malabarista-mergulhador Neymar a garantir que havia ali hora e meia bem passada. Mais tarde tivemos o Bélgica-Japão, e apesar dos belgas quase terem ficado com os olhos em bico (desculpem, a sério…), conseguiram ganhar com um golo no último minuto, consumando uma reviravolta espectacular. O escrete para mim é o grande favorito no jogo dos quartos, a mas a Bélgica é um osso duro de roer. Ontem, e antes da dose dupla de futebol à noite, tivemos uma tragédia a assinalar. Em Macau, na zona norte da cidade, rebentou uma botija de gás num restaurante, causando uma vítima mortal, e ainda dois feridos. É muito triste, ainda mais tendo que em conta que a morte a lamentar foi a de alguém que fazia pela vida, numa cidade onde há cada vez menos espaço, e este vale cada vez mais (vale, mesmo?). Não surpreende portanto que não haja nem espaço para o gás respirar, quanto mais nós. Botijas umas em cima das outras, e pouco tijolo à sua volta. E depois disto tivemos o Suécia-Suíça e o Inglaterra-Colômbia, com suecos e ingleses a garantirem cada um o seu bilhete para os quartos-de-final. Continuará a Suécia, uma equipa muito arrumadinha, por sinal, a surpreender? Ou “is it coming home?” – os ingleses e os aficionados do desporto-rei entendem esta, com toda a certeza. Com mais um Verão muito quente e molhado aqui em Macau e as tais férias que nunca mais chegam. Vai-nos valendo o mundial de futebol.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasSéries e os Malogros de Deus 02/07/18 [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ou arredio à televisão e na generalidade às séries. A última que vi com agrado foi True Detective. A primeira temporada – já não espreitei as seguintes. Porém, como até em casa que não pratica a televisão tal frenesim chega, tive de trazer de Lisboa, gravadas sob encomenda, uma caterva de séries para a minhas filhas. Este fim de semana espreitei uma das três que gentilmente, sem eu ter pedido, gravaram para mim: Homeland, que anda em torno do terrorismo e do regresso dos prisioneiros políticos de Al-Qaeda e cujos heróis são agentes da CIA. E papei a primeira temporada inteira, doze episódios em dois dias. Gostei. Enredos bem estruturados, com personagens e diálogos adultos e, como é normal, bem ritmado. Contudo, ao dar o mau passo de ver a segunda temporada percebi como por intratável inverosimilhança a coisa baqueava. O que era qualitativo na primeira temporada era a plausibilidade humana. Na segunda temporada a lógica narrativa já é totalmente televisiva, impõe-se o esquema da dramatização (o espectáculo acima de tudo) e o inesperado é o que rege a acção; pior, com uma causalidade sempre justificada ao posterior (- é o dispositivo de Eurípedes convertido em matéria televisiva). Além disso, as personagens começam a caricaturar-se e a reflectir um mundo maniqueu e em derrapada islamofobia. Tivesse a série acabado no 12º episódio, com tudo em aberto, e seria perfeita. Depois a lei do mercado arrasa tudo. Para além da débacle moral: os terroristas e os supostos defensores do Bem são cegos prisioneiros da mesma teia de aranha, num mundo embutido no friso cinismo dos líderes e de profunda raiz escatológica, pois escava fundo a ideia de que um mundo manietado por gente tão feia é melhor que acabe. Duas coisas compreendi: primeiro, como Séneca tem razão ao alvitrar que pobres não são aqueles que têm pouco mas antes os que necessitam de muitas coisas, pois é uma intensidade emocional aditiva absolutamente artificial a que nos leva a não conseguir largar o osso na sucessão de episódios de uma série, seja qual for o lixo que se vai alastrando nas nossas retinas. É mais fácil criar dependência do que dispensá-la. Segundo, o romance está condenado a sobreviver como uma estética gourmet, tal como o livro, e vocacionados para franjas do mercado. Sobretudo nas sociedades em que o dogma da comunicação e da sua suposta instantaneidade foi substituindo o mais árduo valor da transmissão do conhecimento. A transmissão supõe uma inacabável aprendizagem de códigos sucessivos, o que exige um maior labor hermenêutico, enquanto a ilusão da transparência comunicacional faz parte de uma sociedade em que o sentido é gradualmente preterido pela performance e a reverberação da presença. O romance é um veículo narrativo por excelência do primeiro regime e a televisão do segundo. Daí que a literatura se veja hoje sob pressão de uma novelização crescente, que a modela como avatar pré-filmico, o que acontece já a oitenta por cento dos romances que se publica. É impossível a um romance fornecer em cinquenta minutos o mesmo volume de informação e obter uma igual densidade de efeitos emocionais. Até porque um bom romance não visa preferencialmente o tabuleiro das emoções e quer igualmente partilhar o jogo da inteligência: que por exemplo o leitor se aperceba dos actos de linguagem. Numa boa série televisiva ou num bom filme a linguagem é apenas veículo formal e quanto mais invisível melhor – o Godard foi uma excepção. Há, por outro lado, uma competência artesanal nestes produtos que “parece” substituir com vantagem os recursos expressivos da narrativa literária – quando os domínios da literatura, os seus meandros e objectivos, não se esgotam na trama e visam uma especificidade inabordável por qualquer outro modo. Um bom romance, por fim, dado que não se limita ao factor da identificação, pressupõe um encontro com o leitor de recorte mais apurado do que a mera “atenção distraída” que dedicamos à televisão. Já para não falar da desonestidade de se começar com um registo ficcional, para agarrar o espectador, e a meio do processo se alterarem as regras do jogo para se explorar unicamente os mecanismos certos para o êxito. Mas, enfim, estes são pruridos que já a ninguém interessa, desde que se ofereça um suposto bom espectáculo. Vendo esta série lembrei-me de um reparo feito por Abel Barros Baptista ao mais recente romance português. Dizia o ensaísta que dantes os ficcionistas reflectiam uma experiência de vida e que agora os romances lhe pareciam aplainados e semelhantes uns aos outros porque espelhavam a mera experiência de espectador dos seus autores. Concordo em absoluto. 03/07/18 A natureza é muito mais perfeita do que Deus, sobretudo nas oportunidades humanas que os seus erros propiciam. Em Mary Shelley, o filme, não faltam as escorregadelas, mas dá um retrato vivo de um drama de género que devia ser mais ponderado. A Percy Shelley, o poeta romântico com quem Mary se envolve até à morte dele, apaixonam-no a inteligência e o talento dela mas, contraditoriamente, mostrou-se incapaz de empatia e de superar a mentalidade da sua época. E aceitou prefaciar Frankenstein (romance que devido aos preconceitos sobre as mulheres não podia ser assinado pela autora, obrigada a anonimato), mesmo sob o preço de erroneamente passar por autor do livro escrito pela sua amante. O que constituiu um vexame para ela. Numa das lojas do prédio da minha infância havia um merceeiro que nascera hermafrodita. O sr. Virgílio foi educado como menina até aos doze anos, quando se denunciou o desenvolvimento do seu verdadeiro sexo. Dizia a dona Luísa, sua esposa, que vivia nas sete quintas porque o marido entendia perfeitamente as mulheres. O dom que lhe dotara aquela partida da natureza. Julgo que, se nascêssemos todos hermafroditas para só nos definirmos mais tarde, ganhávamos em empatia e numa relação interpessoal mais consentânea e além género. Deus não, situa-se aquém da ideologia, enquadrado na pauta da cultura que o moldou.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Nissan confirma presença na Taça do Mundo de GT A Nissan foi o primeiro construtor a confirmar a presença na edição deste ano da Taça do Mundo FIA de GT que decorrerá dentro do programa do 65º Grande Prémio de Macau. Esta será a primeira participação do construtor nipónico na Taça do Mundo da federação internacional [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m parceria com a NISMO, o braço da competição da Nissan, a equipa KCMG vai inscrever três novos Nissan GT-R NISMO GT3 na prova do Circuito da Guia. A equipa de Hong Kong que já venceu a classe LMP2 das 24 Horas de Le Mans participa esta temporada com dois carros da marca nipónica no campeonato Blancpain GT Series Asia. A formação liderada no terreno pelo japonês Ryuji Doi não confirmou os seus pilotos, mas é provável que a escolha recaia em dois pilotos da sua formação do Blancpain GT Series Asia e num piloto nomeado pela NISMO Motorsport. Alexandre Imperatori, Florian Strauss, Tsugio Matsuda e Edoardo Liberati são os pilotos da equipa do empresário e ex-piloto Paul Ip na competição asiática da SRO. “Nós não somos novatos em Macau, tendo colocado carros a correr em diversas categorias anteriormente, mas a nossa parceria oficial com a NISMO permite-nos embarcar numa outra excitante oportunidade”, afirmou o responsável japonês. Esta não será a estreia da NISMO na corrida de GT do Grande Prémio de Macau, pois em 2014, um Nissan GT-R NISMO GT3 privado participou naquela que ainda era apenas chamada Taça Macau GT. Contudo, o maior sucesso da marca na prova remonta a 1990, quando um R32 conduzido por Masahiro Hasemi venceu a célebre Corrida da Guia. Mesmos moldes do passado Apesar da Nissan ter sido por agora o único construtor a confirmar a sua presença na Taça do Mundo, há duas semanas, em entrevista à Rádio Macau, Domingos Piedade disse que Mercedes AMG planeava voltar em Novembro com Edoardo Mortara, vencedor da edição transacta, e Daniel Juncadella. Igualmente é esperada a presença oficial da Audi, cujos responsáveis continuam a considerar esta corrida como “uma mais valia” para promover os seus produtos no continente asiático. BMW, Honda e Porsche poderão também fazer-se representar em parceria com equipas da região, a exemplo do ano passado. A prova de GT voltará este ano a estar limitada a 25 inscrições, sendo que apenas pilotos classificados pela FIA como “ouro” e “platina” estão autorizados a participar. O programa será igual ao ano passado, com uma corrida de qualificação no sábado e a corrida decisiva de 18 voltas no domingo. O evento deverá começar com a tradicional exposição na Praça Tap Seac uma semana antes. As inscrições para esta corrida abriram no dia 29 de Junho e só encerram a 31 de Agosto. Um comité de selecção irá depois escolher os participantes até ao dia 5 de Setembro, seguindo-se o período de registo, e só depois estes serão dados a conhecer ao público em geral.
Hoje Macau China / ÁsiaBaidu anuncia produção em massa do primeiro autocarro autónomo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] gigante tecnológico chinês Baidu anunciou ontem que começou a produção em massa do primeiro autocarro totalmente autónomo e em operação comercial da China. Equipado com o Apollo 3.0, a mais recente versão da plataforma aberta do Baidu para condução autónoma, o Apolong vai circular na China e no exterior, disse o presidente e CEO Robin Li no Baidu Create 2018, a conferência anual da companhia para pesquisa de inteligência artificial (IA). O veículo tem capacidade para fazer manobras sem motorista O autocarro será inicialmente usado em situações de last-mile (última etapa do transporte) em lugares turísticos, aeroportos e outras áreas fechadas. O Apolong é desenvolvido em parceria com a fabricante de autocarros chinesa King Long e começará a operação comercial em diversas cidades como Pequim, Shenzhen, Xiongan, Wuhan e Pingtan. A produção dos veículos atingiu as 100 unidades na fábrica em Xiamen, na província de Fujian, segundo Li. “Este ano marca o primeiro ano da comercialização para a condução autónoma. A partir da produção em massa do Apolong, podemos ver verdadeiramente que a condução autónoma está a dar grandes passos, levando a indústria de zero a um (de algo totalmente novo a um crescimento intensivo)”, disse Li. O Baidu também está também atento aos mercados do exterior. A companhia fez uma parceria com a King Long e SB Drive, subsidiária em condução autónoma da japonesa SoftBank, para levar o Apolong para cidades nipónicas como Tóquio no início de 2019. A gigante tecnológica também apresentou o Kunlun, o primeiro chip chinês de IA em nuvem, projectado para acomodar requisitos de alto desempenho de uma ampla variedade de cenários da IA, como centros de dados, nuvens públicas e veículos autónomos.