Jogo | Peritos advertem que guerra comercial pode afectar Macau

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]processo de licenciamento dos casinos está a ser analisado pelo Governo de Macau para determinar que operadores podem continuar a fazer negócios” na capital mundial do jogo, sendo “possível que a China aproveite esta oportunidade para diluir a influência dos investidores estrangeiros” no território, disse à Lusa a analista da Bloomberg Margaret Huang, especialista no jogo na Ásia.
As licenças de jogo terminam entre 2020 e 2022. Até à data não é conhecido um calendário para a revisão das licenças, nem é claro se será mantido o modelo de concessões e subconcessões. “A China tem estado atenta às questões relativas ao fluxo de capital”, lembrou Margaret Huang.
Para o fundador da Newpage Consulting, consultora especializada em regulação de jogos em Macau, o desenvolvimento futuro da guerra comercial EUA/China será fulcral para perceber se Macau será palco, ou não, deste conflito económico. “A guerra comercial ocorre num momento em que os EUA estão a promover a militarização do mar do Sul da China e estão a tentar formar uma aliança de países com o objectivo de serem um contrapeso à iniciativa chinesa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”, disse à Lusa David Green.
O risco é real, mas “se ficar restrita às tarifas, é difícil ver os operadores afiliados aos EUA em Macau a serem muito afectados”, analisou o fundador da Newpage Consulting.
Em Julho, o Presidente norte-americano, Donald Trump, impôs taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 34 mil milhões de dólares (29 mil milhões de euros) de importações chinesas, contra o que considerou serem “tácticas predatórias” de Pequim, que visam o desenvolvimento do sector tecnológico.

Diluir influência

A China retaliou com o aumento dos impostos sobre o mesmo valor de importações oriundas dos EUA. “Tudo depende como a guerra comercial se desenvolver (…). Já não estamos somente a falar de tarifas. Acho que é a conjugação destes eventos que apresentam um risco real aos interesses dessas operadoras [norte-americanas com sucursais em Macau]”, sublinhou.
Anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a iniciativa “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecida como “Uma Faixa, Uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares, e visa reactivar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.
Como contrapeso, os Estados Unidos estão agora a formar a sua própria aliança para tentar travar a crescente influência de Pequim, principalmente no Sudeste Asiático.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, participou na sexta-feira e no sábado nas reuniões da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Singapura, onde anunciou um investimento de cerca de 300 milhões de dólares (259 milhões de euros) para cooperação e segurança na região da Ásia-Pacífico. A maioria dos países da ASEAN tem conflitos territoriais com Pequim no mar do Sul da China.
Neste contexto geopolítico e da escalada do conflito económico entre as duas maiores potências mundiais, a China pode decidir não renovar as concessões às operadoras de jogo norte-americanas. “Penso que a República Popular da China sempre ficou um bocado confundida pelo facto de três concessões efectivamente se terem tornado em seis, duas destas a serem compradas por entidades afiliadas aos EUA”, explicou David Green.
Entre Março e Junho de 2002 foram celebrados contratos entre o Governo de Macau, a Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Galaxy Casino e a Wynn Resorts Macau para a atribuição de três concessões.
Em Dezembro desse ano foi feita uma alteração ao contrato de concessão do Casino Galaxy na qual foi permitida à Venetian Macau explorar jogos de fortuna ou azar no território, mediante subconcessão. A SJM e a Wynn vieram também a assinar contratos de subconcessão com a MGM e a Melco Resorts. A Venetian pertence à Sands China, que é uma sucursal da norte-americana Las Vegas Sands. A Wynn e a MGM são também grupos empresariais com maioria de capital norte-americano.
“Certamente, um novo concurso dará à China uma oportunidade de diluir a influência dos investidores estrangeiros, caso o deseje fazer”, explicou o fundador da Newpage Consulting. A questão agora é “quando é que este concurso acontecerá”, afirmou David Green, lembrando que o Chefe do Executivo de Macau tem o poder de “estender os prazos de concessão em cinco anos”.

8 Ago 2018

Ensino | IPM vence concurso mundial de chinês-português

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s equipas da Universidade de Comunicação da China e do Instituto Politécnico de Macau ganharam o primeiro e o segundo prémios gerais, respectivamente, da segunda edição do Concurso Mundial de Tradução Chinês-Português, foi ontem anunciado. O terceiro prémio geral foi para uma equipa da Universidade de Estudos Internacionais de Xian, enquanto o IPM conquistou o primeiro e o segundo lugares na categoria de prémios especiais para equipas de instituições de ensino superior de Macau, de acordo com um comunicado agora divulgado.
Os cinco prémios de menção honrosa foram entregues a equipas do Instituto Politécnico de Leiria, da Universidade Jiaotong de Pequim, da Universidade de Minho, da Universidade de Estudos Internacionais de Pequim e da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan.
Aos participantes da próxima edição deste concurso, organizado pelo IPM e pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), o presidente do IPM disse esperar “novos contributos para o desenvolvimento e prosperidade cultural sino-lusófona”.
As equipas concorrentes, compostas por dois ou três alunos e um professor orientador, tiveram cerca três meses para traduzir um texto de português para chinês, contendo mais de cinco mil frases e sem ultrapassar as dez mil. O primeiro prémio é de 140 mil patacas (14,7 mil euros), o segundo de 105 mil e o terceiro de 75 mil. Cada equipa que ganhar uma menção honrosa receberá 25 mil patacas. O prémio especial para as equipas das instituições de ensino superior de Macau é de 68 mil patacas para o primeiro lugar e de 35 mil para o segundo.

8 Ago 2018

Criptomoeda | Fundador da ATFPM descontente com uso do espaço da associação

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]recente caso de fraude por investimentos em criptomoeda prejudicou 70 pessoas em Macau, incluindo Rita Santos e o filho, Frederico do Rosário. Rita Santos faz parte da direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), que acolheu, em Janeiro deste ano, várias palestras que promoveram o investimento em criptomoeda, com o título “Forging Dreams with eSports e Sports and cryptocurrency”.
Frederico do Rosário é, de acordo com a sua página na rede social Linkedin, presidente da direcção da associação Growup eSports, que visa promover a indústria dos jogos no território. Foram enviadas várias mensagens a associados e ao público em geral a apelar à participação nestes eventos.
Jorge Fão, fundador da ATFPM e antigo presidente, lamenta que uma entidade que visa defender os direitos dos que trabalham na Função Pública veja o seu nome envolvido neste caso, que está a ser investigado pela Polícia Judiciária.
“Isto não me incomoda pouco, incomoda bastante”, disse ao HM. “É uma instituição com algum bom passado, interessante, e que foi criada por macaenses e portugueses. Ter chegado onde chegou deixa-me muito triste.”
Jorge Fão confirma os convites feitos através do envio de mensagens de telemóvel. “Sei que várias pessoas foram convidadas, entre as quais alguns amigos meus. Alguns foram, outros não. Convidaram pessoas que têm alguma riqueza para poderem fazer investimento.”
“Achei muito feio e impensado o facto de se terem servido das instalações da ATFPM para fazerem uma coisa daquelas. O processo em si acho que é pueril, pelo que li na imprensa. Como é que seria possível obter um pagamento de 25 por cento de juros por mês? Em quatro meses eu iria recuperar o capital que tinha investido”, acrescentou.
Imagem em causa
Para Jorge Fão, está em causa a imagem e credibilidade da ATFPM, que é presidida pelo deputado José Pereira Coutinho.
“A ATFPM, hoje em dia, só tem mesmo o nome, pois servem-se dela para angariarem todo o tipo de associados e não apenas funcionários públicos. Agora, se se servem da associação para outros eventos, seminários ou palestras, podem vender de tudo, e penso que isso tem de ser filtrado. É evidente que o nome da ATFPM ficou manchado.”
O antigo dirigente, que também foi deputado, deixa claro que a ATFPM dispõe “de muitos contactos”, “não só de associados como de outros; andaram sempre a amealhar estes contactos”. O seu uso, por parte da ATFPM, “pode ser muito variado, e não apenas para a caça aos votos”. “É para outras finalidades também e esta é a prova de uma das finalidades. Isto veio trazer a lume o que nós já sabíamos”, adiantou Jorge Fão.
Contactado pelo HM, José Pereira Coutinho garantiu que a ATFPM nada tem a ver com a fraude e remeteu mais questões para Rita Santos, que durante todo o dia não se mostrou disponível via telefone.
“Tanto a ATFPM como o meu gabinete de atendimento não receberam quaisquer queixas. Não tenho nada a ver com isso. Todos os anos temos centenas de associações e indivíduos que usam as nossas instalações”, disse apenas.

Pedidos e mais pedidos

Não é apenas Jorge Fão que se queixa, uma vez que o assunto tem sido debatido em fóruns online. Uma internauta escreveu ontem no Facebook que “o facto da ATFPM negar o envolvimento, quando apareceu como organizador do evento, ou co-organizador, é fazer dos outros parvos”. “A ATFPM apareceu em material impresso, com logótipo, apareceu no evento no Facebook, e eu recebi o alerta do evento com dados da ATFPM e não da Grow uP eSports a quem supostamente a ATFPM cedeu o espaço. Também recebi pedidos e mais pedidos para uma sondagem para aderir ao investimento”, escreveu a mesma internauta, com quem o HM não conseguiu estabelecer contacto.
Além disso, a internauta recorda que “o próprio email da ATFPM apareceu no material promocional do seminário, não fosse alguém ter dúvidas e querer contactar os organizadores, bem como os contactos telefónicos. E não se envolveram?”.
O HM questionou Frederico Rosário sobre o recurso às instalações da ATFPM, mas este apenas adiantou que já remeteu o caso para as autoridades policiais de Hong Kong. “Fiz queixa deste caso à polícia de Hong Kong e instrui representantes legais para iniciar um processo nos tribunais contra Dennis Lau [empresário de Hong Kong que estará envolvido no caso de fraude]. Com base no conselho dos meus advogados, não vou fazer mais comentários aos media sobre este assunto”, referiu.

8 Ago 2018

Zoe Tang, da ANIMA, acusou IACM de não fornecer cuidados veterinários a galgos, mas Governo nega

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]os últimos dias, Zoe Tang, activista da ANIMA, prestou várias declarações a criticar o prazo de 60 dias para os galgos serem retirados do Canídromo, assim como a ausência de cuidados veterinários. Foram estas palavras que fizeram com que a activista fosse afastada do cargo de representante da ANIMA no Canídromo e que o presidente da associação, Albano Martins, viesse a público desmarcar-se das posições assumidas por Zoe Tang.
“Estou muito preocupada porque os cães podem morrer como resultado deste prazo ridículo, até porque todos os galgos vão ter de ser esterilizados no prazo de 60 dias. Mas só um procedimento de esterilização demora até quatro horas e alguns cães sofrem de problemas dentários graves que precisam de ser resolvidos urgentemente”, afirmou Zoe Tang, citada pelo South China Morning Post.
“Alguns dos dentes dos cães estão numa condição tão má, que eles não conseguem sequer comer e as condições não são de todo as ideais para as esterilizações. Tentei o meu melhor e entrar em contacto com as pessoas envolvidas para alterar esta situação, mas não consigo ficar mais calada”, desabafou, quando veio a público falar.
Zoe Tang relatou ainda o caso de um cão que estava a sangrar do nariz e que, alegadamente, o Governo terá negado auxílio.

IACM atento

O Executivo veio a público negar todas as acusações. “Os veterinários do Instituto verificam, de forma contínua, os galgos, e encontraram durante o tratamento que alguns cães têm doença periodontal, feridas na pele e artrite, estando as causas das doenças acima referidas principalmente relacionadas com as lesões anteriores, gestão de alimentação e ambiente de alimentação. Mais de 40 galgos estão sujeitos ao tratamento dos veterinários e alguns deles estão a recuperar-se”, foi sublinhado num concurso do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.
O caso do cão com uma hemorragia no nariz também foi abordado. Segundo o IACM, num primeiro momento foi feito um curativo rápido que estancou o sangue. Contudo, no dia seguinte, a situação repetiu-se. Isto fez com que o animal tivesse de ser operado no Canil Municipal de Macau. “Após a cirurgia, o respectivo galgo deixou de sangrar e está de boa saúde”, revelou o IACM.
“O IACM está atento ao estado de saúde e ambiente de vida dos galgos no Canídromo e, além de assegurar a limpeza e segurança, já completou suprimentos médicos e aprovisionou os respectivos técnicos”, garante ainda o Governo.

8 Ago 2018

Consulado | Associações juntam-se para dizerem adeus a Vítor Sereno

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m jantar para homenagear o cônsul com “características invulgares” e que se aproximou como nunca antes tinha acontecido da comunidade. É desta forma que Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, caracteriza o jantar agendado para 18 de Agosto, em jeito de despedida de Vítor Sereno, que deixa as funções de Cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong entre o próximo mês e inícios de Outubro.
A iniciativa é organizada por várias associações locais, entre as quais Casa de Portugal, APOMAC, Santa Casa da Misericórdia de Macau, Escola Portuguesa de Macau, e realiza-se às 19h30 de 18 de Agosto no Restaurante Varandas, no Hotel Roosevelt.
“É uma iniciativa de várias associações feita para um Cônsul que angariou em pouco tempo um carinho muito especial da comunidade. A sua saída de Macau deve ser assinalada, não digo que deva ser celebrada, mas pelo menos homenageada”, afirmou Miguel de Senna Fernandes, ao HM.
“Durante o tempo que esteve em Macau como representante do Estado Português, Vítor Sereno exerceu de forma exemplar e eficaz e útil as suas funções de diplomata e aproximou-se de maneira indelével à comunidade”, acrescentou.
Os interessados em participarem na iniciativa devem recolher o bilhetes junto da ADM e Casa de Portugal. Os preços são de 300 patacas, com bebidas, para pessoas com idades superiores a 12 anos e de 150 patacas para crianças com idades entre os 6 e os 12 anos. Os mais novos não pagam.

Encontro informal

À imagem do estilo muitas vezes utilizado por Vítor Sereno, também a iniciativa pretende ter um cariz mais informal para garantir ainda uma maior proximidade na altura da despedida.
“Queremos um jantar informal para um indivíduo que tem realmente características invulgares de diplomata”, frisou o presidente da ADM. “Não vai haver um programa especial para o evento, vai ser um jantar que se quer o mais informal possível. É um jantar de Verão, com boa comida, bebida e galhofa, sem qualquer protocolo. Acho que o próprio homenageado prefere desta forma”, explicou Miguel de Senna Fernandes.
“É um evento que vai depender muito da animação e boa-disposição que as pessoas levarem. Acho que vai ser muita e estou certo que não vai faltar animação”, completou.
Em relação ao número de participantes este poder ser reduzido devido à data. Agosto é tradicionalmente um mês em que grande parte da comunidade está de férias, pelo que existem expectativas moderadas por parte dos organizadores.
“Entre a comunidade havia a expectativa de um jantar de despedida. Mas, claro que temos pena que a despedida seja nesta altura do ano, em que grande parte das pessoas está de férias. Só que não havia outra data possível para se fazer uma coisa maior”, reconhece o organizador. “O mais importante é que fica o gesto e a sua despedida é assinalada com uma homenagem que ele merece. Queremos desejar-lhe as melhores felicidades para o futuro que se avizinha”, frisou.
Vítor Sereno, está de saída para o Dakar, onde além de assegurar a representação no Senegal vai ainda ter garantir as mesmas funções no Burquina Faso, Costa do Marfim, Gâmbia, Libéria, Mali, Mauritânia, República da Guiné e Serra Leoa. Para o Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong deverá entrar Paulo Cunha Alves, Embaixador de Portugal na Austrália

8 Ago 2018

Serviços Sociais | Pensão para idosos actualizada em 2019

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]pensão para idosos, actualmente fixada em 3.450 patacas, vai ser revista em alta no próximo ano. O anúncio foi feito ontem pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura que não concretizou, porém, qual será o valor da actualização. Alexis Tam falava na Assembleia Legislativa, durante a apreciação, em sede de especialidade, do regime jurídico de garantias dos direitos e interesses dos idosos. Apesar da aprovação, por unanimidade, artigo a artigo, os deputados passaram três horas a discutir o diploma. A maior parte do tempo foi dedicada ao pedido de proposta de alteração do texto, apresentado por Pereira Coutinho que queria deixar claro num artigo que, além da sociedade, o Governo também é responsável pela protecção dos direitos dos idosos. Depois de uma série de intervenções sobre se tal seria possível à luz do Regimento da AL, com deputados a reconhecerem inclusive desconhecer as regras, e a debaterem mesmo se o termo sociedade já abarca, ou, não Governo. O próprio secretário não levantou problemas, mas acabou por recuar após “tão caloroso debate” entre os deputados, acabando por concordar que seria “redundante” e “desnecessário”, propondo que a redacção permanecesse inalterada, resolvendo imediatamente o impasse

8 Ago 2018

AL | Chumbada proposta de debate sobre Viva Macau

Por que razão falharam as garantias dos empréstimos à Viva Macau e quem são os responsáveis pela impossibilidade de serem recuperados? Era o que Pereira Coutinho e Sulu Sou queriam apurar através de um debate sobre assunto de interesse público, que convoca os membros do Governo a deslocarem-se ao hemiciclo. A proposta foi, contudo, chumbada com 24 votos contra e apenas seis a favor, incluindo dos proponentes.
“O Governo está a trabalhar, o Comissariado contra a Corrupção [CCAC] a investigar. Creio que, neste momento, o que precisamos de fazer é dar tempo suficiente”, afirmou Ma Chi Seng, resumindo, grosso modo, os argumentos dos que votaram contra. Davis Fong, também deputado nomeado, subscreveu, sustentando que o debate não permitiria “descobrir a verdade”, em linha com Ip Sio Kai que também contestou o método escolhido. Para o deputado eleito por sufrágio indirecto, o hemiciclo deve decidir se acompanha o caso da falida transportadora aérea mas só depois do resultado da investigação.
Apesar de entender que, “além do CCAC, a AL também precisa de fiscalizar o caso”, Leong Sun Iok manifestou-se contra o conteúdo da proposta, dado que os empréstimos concedidos à Viva Macau, totalizando 212 milhões de patacas, foram recentemente objecto de uma reunião da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, da qual faz parte. “O Governo já respondeu a várias questões e creio que, posteriormente, irá facultar-nos mais documentos”, afirmou, apontando que, mesmo durante as férias legislativas, o órgão pode reunir com o Executivo mal haja mais informações.
“A comissão já cumpriu a nossa responsabilidade”, afirmou Mak Soi Kun, que preside a esse núcleo. “Também estou preocupado com o erário público. Nós exigimos ao Governo para reclamar direitos e averiguar [o caso] do ponto de vista criminal. Também que nos faculte a lista de pessoal envolvido, que ainda não recebemos”, apontou o deputado eleito por sufrágio universal que elevou a voz para pedir respeito.
Apesar de ter votado a favor, por entender estarem em causa matérias que merecem ser acompanhadas, Agnes Lam constatou “problemas” operacionais. “Como consigo debater como falharam as garantias dos empréstimos à Viva Macau?”, questionou. “Em certa medida, limita-se a ser uma oportunidade para os colegas manifestarem a sua posição”, observou, fazendo referência ao facto de uma das duas partes do debate envolver apenas os membros do hemiciclo.

Deputados na pele de juízes

Song Pek Kei defendeu, por seu turno, que, embora “o tema mereça respeito” por parte do hemiciclo, a expressão “responsáveis”, utilizada na moção, afigura-se “muito perigosa”. “Parece que os deputados querem usar a AL como tribunal para julgar o caso”, defendeu, numa declaração de voto assinada com o colega de bancada, Si Ka Lon. A deputada foi ainda mais longe ao considerar que, caso a AL aprovasse a proposta de debate, tal iria “interferir na investigação do CCAC”, considerando inadequado que os deputados se pronunciem nesta fase.
Ho Ion Sang defendeu o mesmo: “Não é oportuno nem reúne os requisitos para ser debatido”. Para o deputado, “o Governo tem responsabilidade de esclarecer o caso”, sendo que o facto de o ter remetido para o CCAC prova a “determinação” em fazer as coisas de acordo com o primado da lei.
Além dos proponentes, votaram a favor da proposta de debate os deputados pró-democratas Ng Kuok Cheong e Au Kam San, bem como Agnes Lam e Ella Lei, dos Operários.

8 Ago 2018

AL | Nove deputados censuraram comportamento de Sulu Sou no último plenário

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]nome do mais jovem deputado de Macau nunca foi directamente identificado pelos seus pares, mas ainda assim foi alvo de ira dos deputados mais alinhados com a posição do Executivo. As críticas foram motivadas pela postura de Sulu Sou no plenário anterior, em que foi aprovada a criação do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), o órgão municipal sem poder político que inicia funções a 1 Janeiro.
Ma Chi Seng foi o primeiro a intervir: “No plenário de 30 de Julho, um deputado não respeitou, durante o seu uso da palavra no período de antes da ordem do dia, nem o Regimento da Assembleia Legislativa nem os colegas, o que merece a minha censura”. “Os comentários errados e o comportamento inadequado naquele dia provocaram um impacto negativo no bom funcionamento da AL”, afirmou o deputado nomeado, contestando os argumentos invocados contra o futuro órgão municipal. “Fizemos o que é correcto, mas fomos acusados de ‘matar a democracia municipal’ e isto é uma distorção da realidade”, lamentou Ma Chi Seng, apontando que “é impossível pôr em prática a democracia” com base em ‘slogans’, ignorando “os factos jurídicos”.
Ma Chi Seng qualificou ainda o comportamento de Sulu Sou como “indevido” por “não respeitar as opiniões da maioria dos colegas da AL, os resultados do esforço da Comissão em causa nem os governantes e outro pessoal presentes na reunião”.
Além dos termos para descrever a proposta de lei, tal como ‘lixo’” e das palavras “de carácter crítico e ameaçador”, o deputado condenou também a postura de Sulu Sou, afirmando que “gritar, ser mal-humorado e atirar coisas e abandonar a sala também são comportamentos que não respeitam o Regimento”. “Como deputado, deve servir de modelo e cumprir a lei e não introduzir na AL, a bel-prazer, modelos de brigas de rua”, atirou.
Radicalismo à solta
Lao Chi Ngai e Pang Chuan, igualmente nomeados, também arrasaram a atitude do jovem pró-democrata: “Lamentavelmente, um deputado, provavelmente sob a influência nociva do populismo, não concordou com os resultados da apreciação de uma proposta de lei que, entretanto, tinha conseguido o apoio da maioria (…) e optou por recorrer, em nome da democracia, a formas radicais, gritando muito até ficar rouco”.
A forma de agir de Sulu Sou, que “não parou de gritar ‘slogans’” mesmo após ter expirado o tempo para usar da palavra, equivale à de um “mau perdedor”, apontaram Lao Chi Ngai e Pang Chuan. “A sua tentativa de introduzir a má cultura parlamentar dos territórios vizinhos ou a cultura de manifestação no nosso hemiciclo põe em causa a solenidade”, sublinhou a dupla, sustentando que tal “não só provoca desrespeito”, como “não se adequa à essência parlamentar” de Macau. “Este comportamento distorcido deve ser alvo de censura e não se pode deixar que continue a acontecer no nosso hemiciclo”, defenderam.
Wu Chou Kit e Chan Wa Keong engrossaram o rol de críticas, classificando de “lamentável” a adopção de “expressões e citações indevidas, que não correspondem à verdade”. Iau Teng Pio e Fong Ka Chio afinaram pelo mesmo diapasão, contestando a afirmação de que “o nível da democracia de Macau retrocedeu”, numa intervenção conjunta dedicada igualmente a “esclarecer” factos históricos.
“Comparando com o passado, quando só os portugueses podiam participar na vida política e não havia canal de comunicação entre as duas comunidades, qual é mais democrático?”, questionaram. “Pedimos que corrijam os pontos de vista e comportamentos errados, provocadores de conflitos entre as comunidades, repondo a verdade histórica e evitando distorções, por forma a construir uma sociedade harmoniosa”.
A dupla de nomeados pelo Chefe do Executivo também atacou o vocabulário usado por Sulu Sou, considerando que o jovem pró-democrata não só desrespeitou os outros deputados, como o sistema representativo democrático, o que “também pode constituir uma violação do disposto no Regimento sobre os deveres dos deputados”.

Palhaçada na sagrada casa

Ao coro dos sete nomeados juntaram-se ainda Kou Hoi In e Ip Sio Kai, eleitos por sufrágio indirecto. “Aqueles que defendem essa teoria de reversão da democracia devem fazer uma auto-reflexão, não devem exagerar apenas para conseguir popularidade junto do público, fazendo afirmações irresponsáveis que contrariam gravemente os factos históricos”, apontaram, defendendo que, ao longo dos tempos, “os deputados que realmente querem servir a população têm trabalhado em silêncio, participando e apresentando opiniões construtivas”.
“Os deputados que querem mesmo aperfeiçoar as propostas de lei vão, com certeza, participar na sua apreciação nas comissões e apresentar as suas opiniões, portanto, não vão aguardar até à votação em plenário para, precipitadamente e face aos frutos do trabalho de vários meses das comissões, requerer que tudo volte a ser reapreciado. Afinal, quais são os assuntos de grande relevância que estão em causa? Nem o próprio interessado conseguiu esclarecer, portanto, é mesmo uma palhaçada e um abuso das regras”, afirmaram os deputados, numa intervenção conjunta.
“Na sagrada Casa Parlamentar, todas as intervenções e requerimentos devem ser prudentes e responsáveis, mas lamentavelmente parece que um deputado é demasiado brincalhão, aliás, só para se mostrar, abusando mesmo dos seus poderes, usou este hemiciclo como um teatro ou até obrigou toda a Assembleia a colaborar no seu ridículo espectáculo, afectando gravemente a eficiência desta Assembleia”, criticaram.
Kou Hoi In e Ip Sio Kai falaram ainda do conceito de democracia que, na sua perspectiva, “não é gritar nem barafustar”. Além disso, acusaram, o deputado “não respeitou, de todo, nem obedeceu à opinião da maioria e ao resultado da votação, pois entende que só ele é que está correcto e não consegue aceitar outras opiniões” e, “obviamente, usa a democracia para encobrir as suas ideias absolutistas”.
“O núcleo da democracia é respeitar os outros. Não pode falar de democracia quem é arrogante, intransigente, presunçoso, abusa do seu poder, não respeita as regras e não reúne qualidades para ser democrata. E chamar a si a pertença a um partido democrático é o maior insulto para a democracia”, afirmaram. “É de salientar que não se pode querer apenas o poder e ignorar o dever”, remata

8 Ago 2018

Património | Atelier de Maria José de Freitas desenvolve projecto para Wuhan

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]reabilitação de uma cidade muralhada em Wuhan, capital da província de Hebei, tem ocupado os dias de uma equipa de arquitectos do atelier de Maria José de Freitas e do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, ligado à UNESCO. É a primeira vez que a arquitecta portuguesa trabalha num projecto para a China, em parceria com profissionais chineses

Os dias têm apenas 24 horas, mas deveriam ter mais. As reuniões sucedem-se todas as manhãs e também à tarde, para que os dias que passam a correr no calendário não atrapalhem o objectivo de concluir o projecto de reabilitação de uma antiga cidade muralhada de Wuhan, na China. A entrega é já no dia 21 deste mês. Por estes dias, o atelier da arquitecta Maria José de Freitas anda num rebuliço para terminar o primeiro projecto feito em parceria com arquitectos chineses. São jovens já com doutoramentos e que fazem parte do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, uma entidade da cidade de Wuhan, na China, que se dedica à preservação do património. Esta entidade pertence ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ligado à UNESCO.

No total, uma equipa de sete pessoas trabalha sem parar para participar num concurso público que o município de Wuhan abriu há um mês para a preservação de uma cidade muralhada secular, onde ainda vivem pessoas. Numa pausa entre desenhos e programas de computador, os participantes explicaram ao HM os desafios de se lançarem num projecto desta natureza.

“Está em causa um local com muita história e com problemas estruturais, tal como o excesso de população com más condições de vida. As dificuldades são grandes no que diz respeito à concepção e planeamento que vamos propor ao Governo. Temos de nos preocupar com várias coisas, é um projecto difícil”, contou Li Jie, arquitecto ligado ao Wuhan Research Center of Shared Built Heritage.

É a primeira vez que Li Jie está em Macau. Um dos grandes desafios que enfrenta prendem-se com trabalhar com colegas estrangeiros, que têm diferentes perspectivas da arquitectura. “Nunca tinha trabalhado com uma equipa internacional. Acho que para mim é uma nova oportunidade de aprendizagem.”

Tiago Rebocho, arquitecto do atelier de Maria José de Freitas, também fala do lado desafiante deste tipo de projectos, que nunca lhe tinha passado pelas mãos.

“Tem uma escala urbana e é muito diferente daquilo a que estou habituado a trabalhar. Dificilmente trabalharia com isto na Europa. Na China é tudo muito diferente e às vezes a linguagem pode ser uma barreira, mas ultrapassa-se, e o facto de trabalhar com locais chineses dá-me uma experiência incrível”, apontou.

 

O encontro em Lisboa

Maria José de Freitas, que está a fazer um doutoramento em Portugal na área do património, conheceu Ding Yuan, secretário-geral do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, em Lisboa, há dois anos, quando ambos participavam num seminário sobre o tema. De uma conversa inicial surgiu um convite para trabalharem em conjunto, primeiro com o desenvolvimento do projecto em Macau e depois com a sua apresentação oficial junto das autoridades e do público de Wuhan.

O contacto inicial levou-os à conclusão de que eram ambos apaixonados por património e a sua preservação face aos desenvolvimentos das sociedades actuais, mas surgiram alguns receios de que a diferença de idiomas e de horários pudesse deitar tudo a perder. “Na China conhecemos muitos arquitectos alemães, franceses, e são muito activos e populares na China, incluindo arquitectos japoneses, mas não temos muitos arquitectos portugueses. Era isso que me preocupava, achava que a Maria não teria a verdadeira noção de como as coisas acontecem na China. Não posso dizer que tenha um conhecimento a cem por cento, mas é rápida a aprender.”

Tudo está no início, uma vez que a equipa de arquitectos chineses chegou a Macau este fim-de-semana e há muitas ideias que ainda estão a ser debatidas.

“É uma cidade com centenas de anos, muralhada, com várias portas”, explicou Maria José de Freitas ao HM. “Do lado de fora, uma das portas está protegida, mas dentro da cidade parece que a vida parou, e queremos que as pessoas que vivam lá consigam viver dentro das circunstâncias do século XXI. Também queremos que estas muralhas sejam mais permeáveis às influências e também que desempenhem um papel a nível internacional.”

Há três grupos a trabalhar em simultâneo para este projecto, um deles está em Lisboa a fazer investigação sobre o local. “Pensamos na questão da mobilidade do trânsito, ao nível dos carros e da bicicletas. Queremos ter uma cidade ecológica e desenvolvida de forma sustentável. Queremos garantir um grande equilíbrio, trabalhamos com consultores, porque este projecto abrange um grande número de actividades.”

Maria José de Freitas adianta que a cidade muralhada de Wuan e a sua renovação pode constituir um estudo de caso. “Queremos partilhar [o projecto] com outras universidades e cidades do mundo que enfrentem o mesmo tipo de problemas”, frisou.

A participação neste concurso público também é sinónimo de competitividade. “O município tem vindo a receber vários projectos, mas a maior parte tem vindo a focar-se na muralha que circunda a cidade. Há cerca de um mês o município resolveu realizar um concurso público, que é difícil. Por qualquer motivo o Governo não está contente com o que tem recebido”, adiantou Maria José de Freitas.

 

Mais preocupação

Este projecto nasce numa altura em que na China há cada vez uma maior preocupação pela preservação do património. Em Wuhan há diferenças que não podem ser ignoradas, como notou Ding Yuan. “Wuhan tem um património partilhado, uma vez que temos cinco concessões: uma britânica, francesa, alemã, japonesa e russa. É uma questão política também. Por outro lado, a China está a conhecer um desenvolvimento muito rápido.”

Ding Yuan notou também que “Wuhan é uma grande cidade no centro do país que também se está a desenvolver muito depressa, e há muito património que pode estar em perigo”. “Alguns não querem [que isso aconteça], incluindo os locais, e pedem que sejam melhoradas as condições de vida”, apontou.

Apesar de trabalhar em Macau, Tiago Rebocho também nota que, nos últimos anos, já não se destrói tudo na China sem uma preocupação sobre o passado.

“A China começa agora a ter uma preocupação em relação à protecção do património e isso tem-se notado nos últimos anos. Basicamente, construía-se a imitar aquilo que tinha sido demolido, que é o que estamos a evitar fazer. Estamos a tentar fazer uma reinterpretação da arquitectura local, contribuir com algo de novo e não fazer uma cópia.”

O próprio caderno de encargos do concurso público aberto pelas autoridades do município de Wuhan revela “uma preocupação da China em crescer para o exterior, atrair turismo internacional e preservar o património que eles têm e mostrá-lo”.

“Essa preocupação é recente e tem aumentado a largos passos. Já têm vários locais classificados e, além de quererem ser uma potência económica, querem também ser uma potência ao nível do turismo”, frisou Tiago Rebocho

8 Ago 2018

Racismo e as raízes do preconceito

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os últimos tempos, há já cinco anos, tenho convivido de perto com os meus jovens colegas de Cabo Verde, no Muay Thai, com a Dina Pedro, na Dinamite Team. Têm me ensinado muito, sobre companheirismo, camaradagem, solidariedade, vidas difíceis, mas sempre mostram orgulho, quando obtêm a cidadania portuguesa e podem exibir o Cartão de Cidadão. Vou dizer já que esta é uma pequena reflexão autobiográfica, não a expressão de qualquer estudo científico ou filosófico sobre as questões ditas “fracturantes” da actualidade, portuguesa ou internacional. Calhou em conversa com amigos queridos, e de posições diferentes, mesmo até antagónicas, a “posição” de Portugal no mundo, a relação inter-racial, até inter-geracional.
Os “outros” são sempre uma abstracção. Podemos classificá-los por raças ou etnias, por sexo, idade, orientação sexual, fé, posição política. Há tantos outros quanto as características à luz das quais os temos em vista. Na antiguidade, já tardia, Hiérocles achava que cada ser humano era portador de círculos, uns mais nucleares, outros, mais periféricos. No núcleo temos o círculo dos outros, que são os nossos, sem os quais não temos identidade alguma: mãe, pai, irmãos, tios, primos, avós, filhos, netos, amigos chegados, etc., etc.. Nos outros temos as pessoas do prédio, os vizinhos, os concidadãos, os compatriotas, os habitantes de países fronteiriços e amigos e os habitantes de países longínquos. Não quero discutir a relação entre estes círculos entre si. A tese de Hiérocles é próxima da cristã. O outro tem de ser amado como nós próprios nos amamos. O amor ao outro não é como o amor próprio. Resulta da descoberta fundamental de que a relação de cada um de nós consigo não é só de apego animal, mas de uma “agapê” de uma relação com o que nos é próprio, com o que somos daqui até à eternidade. O amor não é uma relação de mim para mim, em que me apego a um eu que se vai na espuma dos dias. É antes um projecto em que no limite os outros são fixos aí para sempre connosco na eternidade. O círculo mais periférico reconhece fraternalmente o outro como outro, como amigo, como irmão.
Ora há uma diferença estabelecida entre nós e os outros e que é acentuada. Não esbatemos a diferença. Acentuamos a diferença. Os gregos chamavam a todos os outros que não falavam ático “bárbaros”, acentuando assim linguisticamente a diferença entre a norma e os dialectos ou, por maioria de razão, as outras línguas. Curiosamente, descrevem com curiosidade e espanto a diferença de cor, o tamanho das pessoas, a beleza de homens e mulheres. Não são preconceituosos nesse sentido. A diferença provoca o espanto, a admiração. Não é pejorativa. Se lermos, contudo, a Guerra do Peloponeso de Tucídides, verificamos a crueldade com que atenienses e espartanos se tratam uns aos outros, muitas vezes mergulhados numa orgia de sangue que não poupa velhos, mulheres ou crianças.
Mas nós acentuamos as diferenças. Descobrimos o indivíduo, substituindo o eu pelo “eu” ou pelo “si próprio”. Ego sum, ego existo formula a minha individualidade atomizada em que só eu existo: só há eu. Quer dizer que, à partida, uma das consequências filosóficas da modernidade é a clivagem absoluta provocada pela descoberta do “eu” como forma de acesso ao próprio “eu” e aos outros, num mundo que é só extensão. Se todos os outros “eus” de todas as pessoas se radicalizam, o resultado é uma impermeabilização absoluta entre cada eu e os outros e o mundo de cada um é estritamente individual. Como quebrar esta barreira? Como diluir-me no outro sem o qual a vida é o deserto? Como viver num mundo que não é só extensão, matéria e corpo, mas é o mundo constituído pelo Céu e pela Terra, onde há Deuses, mesmo desaparecidos, e os outros são mortais. A descoberta do “Eu” escamoteia o “SOU”. Eu, enquanto eu, sou eterno e nunca posso morrer, porque há sempre versões de mim próprio para todo o sempre. O sou do eu, o ser do sou, modifica-me completamente, porque me faz ver no encaminhamento da morte. O ser do sou faz de mim moribundo: aquele que tem de morrer. Faz-me também descobrir os outros como aqueles que têm de morrer e estão nesse encaminhamento a fazer corpo comigo.
Quando me descubro moribundo, descubro-me exposto e vulnerável. Mas descubro também o outro como moribundo, exposto, vulnerável: susceptível de amor.
A filosofia é uma forma de destruição sistemática de preconceitos. O Cepticismo é o modo como podemos pôr à prova as nossas opiniões, o palco de guerra de Platão. O cepticismo tem primeiramente de se virar contra nós próprios: no amor e na morte, descobrimo-nos vulneráveis e expostos, de tal forma que a periferia mais afastada pode tornar-se nuclear. Podemos inverter assim a tendência natural para o individualismo, o narcisismo, a cegueira, a opacidade com vemos os outros aí na vida?
O convívio com os outros ensina-me, sobretudo, como estar vivo é “destruir” preconceitos, desarreigar opiniões há muito tempo a fazer crosta numa vida sem olhar o outro como outro. A descoberta dos nossos preconceitos destrói-os no confronto com o concreto. O concreto anula a abstracção dos outros. Eles ganham corpo e um nome próprio, ressuscitamo-los como o que eles são, aí, como alguém da nossa família ou chegado a nós, apertado por elos de ligação. Quem se descobre racista, classista, homofóbico, excluindo doentes e velhos, afirmando-se a si na abstracção de uma juventude e de uma força, no vigor das suas convicções, desfaz-se ante o horror das vidas difíceis votadas ao ostracismo, à exclusão.
Acredito no projecto vital atribuído por Diógenes de Laércio a Sócrates, o ateniense: ser um “cidadão do mundo” (Kosmopolitês). Afinal, somos todos estrangeiros fora das fronteiras do nosso país. Mas não vivemos sem outros, reais ou imaginários, nem vivemos sem a diferença.

7 Ago 2018

UE | Pedidos de asilo descem 15 por cento nos primeiros 6 meses do ano

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de pedidos de asilo na União Europeia (UE) diminuiu 15 por cento na primeira metade de 2018, comparativamente com o mesmo período do ano anterior, segundo dados publicados ontem pelo Gabinete Europeu de Apoio em matéria de Asilo. De acordo com a agência europeia, nos primeiros seis meses do ano foram apresentados 301.390 pedidos de asilo no espaço comunitário, Suíça e Noruega, menos 15 por cento do que em igual período de 2017. Em Junho, segundo o relatório divulgado, foram apresentados 51.300 pedidos de asilo, menos 1.600 do que em Maio passado, sobretudo de migrantes oriundos da Síria, Afeganistão, Iraque, Paquistão e Nigéria. A tendência de declínio dos números mantém-se, uma vez que no ano passado também já se havia registado uma descida de 43 por cento dos pedidos. Os dados demonstram ainda que aproximadamente 2,5 por cento dos migrantes que solicitam asilo comunitário são menores de idade não acompanhados. Apesar da descida do número de pedidos a aguardar uma decisão de primeira instância (3.000 menos do que em Maio), em finais de Junho os casos sem resposta continuavam a ser 420.238.

7 Ago 2018

Itália | Pelo menos dois mortos e 60 a 70 feridos na explosão de camião

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] explosão ocorrida ontem numa autoestrada perto de Bolonha, no norte de Itália, fez pelo menos um morto e entre 60 a 70 feridos, segundo diferentes fontes dos serviços de emergência citadas por agências internacionais.
O acidente envolveu um camião-cisterna, que explodiu, provocando um violento incêndio, segundo os bombeiros.
Cerca das 16h locais (22h em Macau), um porta-voz dos bombeiros disse à imprensa que o incêndio já tinha sido extinto.
Muitos dos feridos foram atingidos por estilhaços provocados pelo impacto da explosão em edifícios e outras estruturas nas imediações do local, uma autoestrada em Borgo Panigale, perto do aeroporto de Bolonha. Os bombeiros citados pela agência France-Presse estimam que 40 pessoas tenham ficado feridas, mas outras fontes avançam números mais elevados. Segundo a polícia de Bolonha, citada pela Associated Press, até 70 pessoas sofreram ferimentos e, segundo os serviços de emergência, citados pela EFE, 67 pessoas ficaram feridas, tendo sido tratadas a queimaduras de diferentes graus.
Segundo a imprensa, o condutor do camião está desaparecido.
As causas da explosão não são conhecidas. A agência italiana ANSA noticiou que a explosão se deu após um acidente envolvendo um camião que transportava substâncias inflamáveis.
Outras fontes afirmam que o camião explodiu sem embater noutros veículos, quando passava por um ‘stand’ automóvel, desencadeando explosões em viaturas estacionadas, danificando uma ponte pedonal e abrindo uma cratera no piso da autoestrada

7 Ago 2018

Indonésia | Sobe para 98 o número de mortos do sismo na ilha Lombok

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades indonésias elevaram ontem para 98 o número de mortes na sequência do sismo de magnitude 7 na ilha de Lombok, no domingo, e anunciaram o resgate de mais dois mil turistas. O sismo, com o epicentro a dez mil metros de profundidade, ocorreu uma semana após um outro abalo também na ilha turística de Lombok, que provocou 17 mortos e mais de 300 feridos.

Sutopo Purwo Nugroho informou que a maioria das mortes foram causadas pelo desabamento de habitações, referindo ainda existirem centenas de feridos e danos em milhares de casas. Diversas fotos divulgadas nas redes sociais revelam escombros nas ruas de Lombok provocados pelo sismo que suscitou também cenas de pânico na ilha vizinha de Bali, no aeroporto internacional. “Houve tsunamis que entraram por terra com alturas de 10 a 13 centímetros.

A altura máxima calculada é de meio metro”, já tinha assinalado em comunicado o porta-voz da agência. A 29 de Julho, 17 pessoas morreram e 355 ficaram feridas na sequência de um sismo de magnitude 6,4 e posteriores réplicas em Lombok, que danificou cerca de 1500 edifícios.

7 Ago 2018

Diplomacia | Irão diz que EUA, Arábia Saudita e Israel estão “isolados”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s dirigentes norte-americano, Donald Trump, saudita, Mohamed bin Salman, e israelita, Benjamin Netanyahu, “estão isolados” na sua oposição ao Irão, afirmou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohamad Javad Zarif. “Hoje, o mundo inteiro declarou que já não acompanha a política americana contra o Irão”, afirmou Zarif num discurso, citado pela agência semioficial Isna. “Falem com quem quer que seja, onde quer que seja no mundo, e dir-vos-ão que Netanyahu, Trump e Salman [o príncipe herdeiro saudita] estão isolados, não o Irão”, acrescentou. Na véspera da imposição de novas sanções dos Estados Unidos ao Irão, consequência da retirada de Washington do acordo nuclear de 2015, Zarif reconheceu que o Irão atravessa um período difícil. “Naturalmente, a intimidação americana e as pressões políticas podem provocar perturbações, mas o facto é que, no mundo actual, a América está isolada”, disse o ministro iraniano. A Arábia Saudita e Israel, rivais do Irão, são dos únicos países a apoiar a restabelecimento das sanções norte-americanas. Os outros signatários do acordo – Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia – consideram que o Irão respeita os compromissos e prometeram salvar o acordo e garantir protecções económicas a Teerão.

7 Ago 2018

Morreu Joël Robuchon, o ‘chef’ com mais estrelas Michelin

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]francês Joël Robuchon, o ‘chef’ com mais estrelas do guia Michelin no mundo, morreu ontem em Genebra, aos 73 anos, vítima de cancro, anunciaram ontem os serviços de assessoria do cozinheiro. Robuchon, que contava com 32 estrelas Michelin, tinha sido operado no ano passado a um tumor no pâncreas.
O Guia Michelin de 2014 deu a classificação máxima ao “Robuchon ao Dôme” com a assinatura do chefe francês.
Nascido em 1945 em Poitiers (no oeste de França), Robuchon recebeu várias distinções ao longo da sua carreira, como o título de melhor cozinheiro do século por Gaul & Millau, em 1990. “O maior profissional que a cozinha francesa já teve. Um exemplo para as futuras gerações de ‘chefs'”, escreveu o chefe de cozinha do Palácio do Eliseu, Guillaume Gómez, na plataforma de microblogues Twitter.
Aos 50 anos, depois de ver o seu restaurante “Joël Robuchon” ter sido nomeado como o melhor do mundo pelo International Herald Tribune, o ‘chef’ abandonou a cozinha do seu restaurante para se dedicar à transmissão de conhecimentos, participando em vários programas de televisão.
A sua intenção de tornar a cozinha mais acessível ao grande público foi alcançada através de programas como “Bon Appétit Bien Sûr”, em 2000, em que apresentava receitas simples e baratas todas as semanas, ou através de “Planète Gourmande”, a partir de 2011.
As suas viagens pelo Japão e pelos bares de tapas em Espanha inspiraram-no para a criação de um novo conceito de restaurante, com um ambiente mais dinâmico e jovial, mas oferecendo produtos de grande qualidade, algo que se viria a materializar no “L’Atelier”, presente em vários países

7 Ago 2018

Sporting | Bruno de Carvalho admite estratégia na substituição por Erik Kurgy

 

[dropcap style=’circle’]B[/dropcap] runo de Carvalho assumiu que a troca do seu nome pelo de Erik Kurgy na liderança da lista candidata às eleições do Sporting visa contornar a sua actual indisponibilidade, que espera ver ultrapassada até às eleições de 8 de Setembro.

“Caros sportinguistas, todos continuarão a votar em mim na mesma, mas é tempo de jogar com as mesmas armas de quem neste momento governa o Sporting com sucessivos atropelos à Democracia, Lei, Estatutos e vontade dos Associados”, justifica o ex-presidente.

Em explicação publicada na sua conta de Facebook, Bruno de Carvalho manifestou-se confiante: “A Lei vai colocar-nos novamente na lista, mas até lá não podemos desperdiçar todo o trabalho e esforço efectuados! Isto é uma acção de mobilização. Vamos jogar com as armas com que tentam derrubar-nos”.

Bruno de Carvalho entende que “com a lei” e a ajuda dos sócios voltará a liderar o Sporting, pelo que pede, “a todos”, o “empenho e dedicação” que entende terem sido demonstrados até ao momento em favor do seu propósito. “Com a Lei e com a vossa ajuda, voltarei a estar à frente dos destinos do SCP. Peço-vos a todos empenho e dedicação como até agora, pois as listas serão entregues desta forma, para evitar serem rejeitadas, mas o candidato dia 8 de Setembro serei eu. Conto com todos vós. É momento de união e coesão entre todos pois somos #LeaisaoSporting”, concluiu.

A recomposição da lista e a nova recolha de assinaturas impõe-se, adiantou a candidatura ‘Leais ao Sporting’, porque Bruno de Carvalho, Trindade Barros e Alexandre Godinho “podem não ver a sua condição de sócios reposta” antes de 8 de Agosto, data limite para apresentação de candidaturas

7 Ago 2018

Automobilismo | Teddy Yip Jr quer recuperar o título da F3 do GP

 

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara todos os efeitos, o sobrinho de Stanley Ho promete um ataque à Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 condizente com a tradição do nome que carrega. “O Grande Prémio de Macau é sempre o nosso evento mais importante. Contem connosco”, disse Teddy Yip Jr ao HM, deixando uma promessa: “Nós teremos uma equipa de pilotos muito forte. Não posso dizer agora qual será, mas será com certeza uma das mais fortes equipas de pilotos que já tivemos.”
A Theodore Racing irá novamente marcar presença no Circuito da Guia em parceria com a Prema Powerteam, a mesma equipa italiana por quem André Couto conduziu várias temporadas no início da sua carreira internacional nos monolugares. A parceria entre a Theodore Racing e a Prema Powerteam, que deu os primeiros passos em 2013, tem este ano sido sentida nos palcos europeus do automobilismo no Campeonato FIA de Fórmula 2, no Campeonato da Europa FIA de Fórmula 3 e ainda nos campeonatos italiano e germânico de Fórmula 4.
Fundada nos anos 1970 por Teddy Yip Snr, a Theodore Racing foi presença assídua no Grande Prémio até 1992, regressando em estilo em 2013, vencendo a prova de Fórmula 3, quando esta comemorou a sua 30ª edição, com o inglês Alex Lynn. O sueco Felix Rosenqvist deu o oitavo triunfo no Grande Prémio à Theodore Racing em 2015, mas nos dois últimos anos a “equipa da casa” viu-se suplantada pelas rivais. Este ano, Yip Jr quer voltar às vitórias no território, apesar do próprio admitir que às vezes “para vencer em Macau precisas mais que ter o melhor carro e o melhor piloto.”
Este ano a Theodore Racing conta com um plantel de luxo na Fórmula 3 europeia, onde se inclui Mick Schumacher, o filho de Michael Schumacher e que há duas semanas venceu a sua primeira corrida na categoria, o estónio Ralf Aron, que subiu ao pódio em Macau em 2017, o neo-zelandês Marcus Armstrong, piloto da academia de jovens pilotos da Scuderia Ferrari, o russo Robert Shwartzman, apoiado pela SMP Racing do banqueiro russo Boris Rotenberg, e ainda a esperança chinesa GuanYu Zhou, também ele protegido pela casa de Maranello.
A esperança chinesa
GuanYu Zhou é pelo segundo ano consecutivo um dos pilotos da Theodore Racing na epopeia europeia e com quem Teddy Yip Jr não esconde que gostaria de contar em Novembro no Circuito da Guia. O piloto de 19 anos ainda não tem o bilhete para a RAEM, mas, em conversa com o HM, deixou claro que “que o objectivo é regressar a Macau”. “Estou naturalmente em negociações, mas de momento a minha concentração está no Campeonato Europeu FIA de Fórmula 3 onde estou a lutar pelo título”, acrescentou o piloto.
O oitavo classificado da prova do ano transacto gostou da sua primeira experiência entre nós, pois “correr em Macau é definitivamente um dos eventos especiais, o lugar perfeito para estar na temporada. É diferente das corridas normais do campeonato, já que todos vão para Macau para vencer porque é um evento singular.”
Nunca houve um piloto chinês a vencer o Grande Prémio de Macau e o actual quarto classificado no europeu de F3 sabe a importância que poderá ter se conseguir ser o primeiro. Todavia, o piloto natural de Xangai admite que Macau não é um circuito condescendente, apesar de se sentir cá quase como em casa.
“Macau é perto da minha casa em Xangai, portanto costumo ter vários amigos que me vêm apoiar. O traçado do circuito é realmente difícil para os pilotos. É um dos circuitos mais difíceis que alguma vez corri, com a segunda secção, com muitas curvas, curvas cegas. Tens de estar muito confortável nesta pista e na primeira secção tens de travar para a Curva do Hotel Lisboa, que é muito irregular e fácil de bloquear as rodas”, afirma o jovem chinês.
A 65ª edição do Grande Prémio de Macau será organizada de 15 a 18 de Novembro e os bilhetes para o público já se encontram disponíveis para venda. As listas de participantes deverão ser dadas a conhecer ao público no mês de Outubro, como é tradição.

 

 

7 Ago 2018

Automobilismo | Cartaz do Grande Prémio substituído

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cartaz do Grande Prémio de Macau foi substituído por um novo, depois da polémica à volta do design, como se pode ver na fotografia, com a data da semana passada.

A primeira versão do design de 2018 gerou controvérsia, principalmente devido aos carros utilizados, que alguns designers consideraram serem semelhantes a imagens do ClipArt, ou seja, desenhos padrão que vêm com determinados programas de computador.

Contudo, na altura, a Comissão do Grande Prémio limitou-se a pedir compreensão para a obra e a dizer que estava a apoiar o sector local, sem nunca querer identificar o autor, nem revelar quanto pagou. Agora, optou por mudar a imagens que tinha sido inicialmente instalada.

7 Ago 2018

O álcool e o tempo

 

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]eixar de fumar é deixar um vício ou um hábito, mas deixar de beber é deixar uma vida. Aquilo que muda, antes de mais, é o olhar ou a consciência. O nosso olhar ou a nossa consciência sobre tudo. Com o álcool há uma espécie de tempo presente que não passa, como se fosse sempre presente do indicativo. A experiência de beber bastante implica viver num presente do indicativo infinito, ou que tende para o infinito do presente. Deixar de beber não é o mesmo que nunca ter bebido. Beber, aqui, não o que a maioria das pessoas faz, que apanham uma ou outra bebedeira ao fim de semana ou de quando em quando. Beber, aqui, é um modo de viver que implica uma contínua procura de estancar o tempo. O tempo não passa, o tempo está estanque – enquanto se bebe e por isso mesmo se continua a beber, tentando fazer com que o tempo se mantenha assim parado – e depois dá um salto. A noção de tempo quando se bebe faz-se sentir em duas velocidades: presente do indicativo infinito; e saltos abruptos para um outro presente. É como, imagino, um dia se faça sentir as viagens no tempo. Há uma expressão portuguesa que também se podia apropriar a esta experiência: “estás aqui estás ali” (embora esta expressão esteja ligada a alguém ser projectado por outrem, aqui somos projectados pela interrupção do tempo, como se se tratasse de um filme cortado). Ora, quando se deixa de beber a experiência do tempo muda completamente. O tempo passa. Isto é, o tempo volta a passar, a fazer-se sentir, sem saltos. E os nossos passos no tempo também passam a não ter interrupções. Deixa de haver “brancas”. O tempo anda mesmo, e com ele, nós. E não há tempo para nada.

Para nos habituarmos ao tempo a passar – e isto é mais difícil do que possa parecer –, é preciso entender que o tempo tem de ser ocupado na sua integralidade. A todo o tempo o tempo se faz sentir, contrariamente à experiência de quem bebe. Para quem deixa de beber, inicialmente o tempo alarga. E neste alargamento passamos a ter a sensação de ter rejuvenescido, de ter novamente aquela idade em que há tempo para tudo. Fazemos coisas. Temos tempo para trabalhar, para ler, para ver filmes, para pensar. De certo modo, é como se nos tornássemos novos ricos do tempo. Assim que o novo rico do tempo deixa de beber, a primeira coisa que faz é não deixar fresta nenhuma de tempo aberta. Fecha todas as frechas de tempo. E um dos problemas que agora enfrenta – infinitamente menor se comparado com o anterior – é aprender a não esbanjar esse tempo que acaba de ganhar. Esbanjá-lo com excesso de trabalho, excesso de leituras, excesso de filmes, excesso de exercício. Este excesso só se fará sentir como excesso mais tarde, evidentemente, e se for mal usado. Por exemplo, excesso de trabalho em coisas que não são importantes para si mesmo, excesso de leituras que não lhe são importantes, etc.. Esta entrega ao excesso, ao esbanjamento do novo tempo que recebeu, deve-se a ele sentir cada entrega como se estivesse a recuperar o tempo perdido, a vida perdida. E se por um lado é isso mesmo, por outro a vida não foi perdida – embora o novo rico possa senti-lo assim – a vida foi apenas vivida de outra maneira. De outra maneira muito diferente. Mas seja como for, a verdade é que esse tempo está aí e ele terá de voltar a aprender a usá-lo. Pois o que inicialmente parece ser um ganho – e de facto é –, o voltar a sentir o tempo a passar e tê-lo à sua disposição, facilmente pode torna-se numa armadilha, sendo gasto em tarefas que vão causar mais angústia do que bem estar. Um beber contínuo causa um entorpecimento no modo como o tempo se faz sentir e com isso a angústia esbate-se, mesmo num uso menos efectivo do tempo. Mas ao deixar de beber o tempo revela-se como ele sempre foi: a nossa vida a passar, a passar, a passar.

 

 

 

7 Ago 2018

Cerejas

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]efiro-me à «Antologia de Autores Portugueses Contemporâneos», uma bela obra com prefácio de Eduardo Lourenço e posfácio de António Ramos Rosa da «Editora Tágide» Junho de 2004, abrindo assim o fruto do tempo onde cada poema é acompanhado com um desenho. Percorre-se assim o medieval “ciclo da flor” dos frutos, fazendo lembrar sempre Eugénio de Andrade: poetas-comensais exercitando o banquete mais bonito, cantando o fruto, tecendo o suco, vestidos de púrpura, polpa dura, verso tenso, inebriante, intenso. É um passar de folhas delicioso! Esta Antologia é dirigida por Gonçalo Salvado e Maria João Fernandes com capa de José de Guimarães, o mérito, esse, encontra-se defendido da praga das multidões.
Vazamos cestas delas em cada alvorada de poema, e, é tanta a metáfora, o conceito, a curva, a cor… depois, o conjunto fica inexplicavelmente e sem dúvida sempre mais bonito. A temática faz crescer o fruto, ampliamos a sua fórmula e de tanto o descrever vem-nos um perfume quase cheiramos a página. É todo um universo que deixa melhor o outro vasto mundo, mesmo que não seja por ele visto, pois que há muitas coisas deixam melhoradas outras sem contudo se anunciarem. Foi o Fundão que apoiou esta edição, tão funda é esta Beira; certeza de saber que um chão que dá tais maravilhas é sem dúvida um solo abençoado. Quando entregámos a terra aos algozes ela deixou de produzir maravilhas, e, nunca me esquecerei que no litoral havia umas cerejeiras tristes que davam cerejas solitárias, a mesma faixa de chão que foi assassina do seu “verde pino” e não pode agora ser solo de boas coisas.
É bom voltar à Beira no mês de Junho, a essa terra da Amália que dizia orgulhosa – nasci no tempo das Cerejas.- Lembrar um velho gato que as adorava, retirando com as patas dezenas delas numa esfuziante manobra de cor e movimento, vê-las nos rostos das raparigas, rodar a sua circular forma na boca até produzir o líquido rosa das delícias. É bom saber deste momento. As Cerejas são autênticas declarações de amor. Portugal é o país com as melhores cerejas do mundo, e não há nos seus campos a maldição dos incêndios, todo o reduto de um paraíso tem os seus dragões à porta… aquela gente tem outros carreiros pois que fizeram um estranho pacto com o solo, e a pedra é dura, e a vida não menos dura, e nestes locais encontram-se as maravilhas.
Creio ter sido uma Antologia temática bastante simples de elaborar, pois sem que reparemos, todos já tínhamos escrito sobre elas, e foi só ir àquela «Árvore da Vida» que é a dos versos, buscá-las para outro canteiro. Que ele há muito de metafórico no tema, e mais se lembra parábola do fruto da figueira, seja como for, o que aqui se deu foi demasiado bonito para esquecer. «Le temps des cerises» Comuna de Paris e seu advento socialista, transformámos a rosa em cereja e em todas as Primaveras ela se renova na memória de uma história comum “quand nous chanterons le temps des cerises et gai roussignot et merle moqueur seront tous en fête/mais il est bien court le temps des cerises/ c´est de ce temp lá que je garde au couer une plaie ouverture”. Destas saudades mantemos o desejo de um mundo renovado, pois que se saiba também não há revoluções fora do tempo primevo, e mesmo que os solos se tinjam de negro e calcinem as fontes e tudo fique sem nascentes, haverá cerejas e guardiões às portas dos seus campos como se fossem os últimos jardins. Cada uma é uma oferenda para pássaros e homens, para orelhas e grinaldas, para leitos enamorados, para esponsais em festa. Há quem faça curas de cerejas pois que se diz que limpa o sangue e o torna mais forte, temos no sangue a seiva da cereja. Tal como as manchas de sangue, a da cereja, são difíceis de sair, ninguém comete crimes sem a denúncia do seu rasto e ninguém as saboreia sem que o saibamos. Ficam timbradas em nós.
A metamorfose da flor é um encantamento tão grande que todos os versos são apenas flor pois se cada poema se comesse, uma deriva de súbita transformação nos mudaria o plano. Há quem tivesse na poesia portuguesa sugerido isso, e biblicamente há também a sugestão imposta pelo anjo «come o livro!» mas ficamos aquém do poema da vida. Talvez nos crescesse a Árvore nas veias e fôssemos grandes e arbóreos como nas histórias antigas onde havia comedores de pedras. Tinha escrito este simples poema quase juvenil e não hesitei em colocá-lo aqui que me parece algures desses míticos tempos :” quando andavas nos umbrais do tempo/ sabias a sal e a luar/ agora nem as cerejeiras consegues fazer florir com o sol do teu olhar.” Depois, alguém em outra página escreveu-me cereja ” Totalmente herética absolutamente hermética és a corrente eléctrica que subverte a métrica” e assim uma imensa alegria transforma os dias e a nossa natureza, unidos numa Cereja. Única. Absolutamente luzidia.
Os Samurais de Henriques Manuel Bento Fialho: os samurais subiam às cerejeiras/ penduravam-se nos ramos até darem flor/ esmagavam as cerejas como quem quebra nozes/ no dorso da mão/ e besuntavam o corpo com o suco da polpa/ para ficarem mais perto do sangue.
E quem te pôs na orelha essas cerejas, pastor? (José Gomes Ferreira)
Agora é quase Verão, e para todos, as nossas Cerejas

7 Ago 2018

Laos | Balanço oficial aponta para 31 mortos após desmoronamento de barragem

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m novo balanço oficial das autoridades do Laos aponta para pelo menos 31 mortos e 130 pessoas desaparecidas na sequência do desmoronamento de uma barragem a 23 de Julho. “Os socorristas encontraram novas vítimas ontem [domingo]. Neste momento foram encontrados 31 corpos e o número de desaparecidos é de 130”, disse no domingo o vice-governador da província de Attapeu, Ounla Xayasith, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). As autoridades do Laos têm sido acusadas de minimizarem o número de vítimas. A água da barragem hidroeléctrica que desmoronou a 23 de Julho no Laos, onde centenas de pessoas continuam desaparecidas, chegou mesmo ao país vizinho Camboja, provocando fortes inundações e milhares de desalojados.

7 Ago 2018

Japão pede fim de armas nucleares no 73.º aniversário de Hiroshima

 

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Japão voltou ontem a apelar para o fim das armas nucleares, no 73.º aniversário do bombardeamento atómico de Hiroshima, num clima entre o ressurgimento mundial do nacionalismo e a esperança da desnuclearização da Coreia do Norte.
“Se a humanidade esquecer a história ou parar de a confrontar, ainda poderemos cometer um erro terrível, e é exactamente por isso que temos de continuar a falar sobre Hiroshima”, declarou o presidente da câmara, Kazumi Matsui.
O Parque Memorial da Paz, em Hiroshima, voltou a ser palco de uma cerimónia de homenagem às vítimas do primeiro bombardeamento atómico mundial, a 6 de Agosto de 1945, que matou 140.000 pessoas. “Certos países proclamam descaradamente o nacionalismo (…) e estão a modernizar os seus arsenais nucleares, reacendendo as tensões que haviam diminuído com o fim da Guerra Fria”, lamentou Matsui, sem identificar os países.
No ano passado, o Japão preferiu não assinar um tratado de proibição de armas nucleares, adoptado pela ONU, apontando a ingenuidade do texto e alinhando-se com as potências nucleares que invocavam a ameaça norte-coreana.
Ontem, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, afirmou que, “nos últimos anos, ficou claro que existem diferenças entre os países sobre como proceder com a redução de armas nucleares”, mas assumiu a vontade do seu país em “trabalhar pacientemente para servir de ponte entre os dois lados e liderar os esforços da comunidade internacional para a desnuclearização”, assumiu.
Três dias depois da bomba nuclear que atingiu Hiroshima, causando 140 mil mortos, os Estados Unidos lançaram, a 9 de Agosto de 1945, uma segunda bomba atómica sobre Nagasaki, levando à capitulação do Japão e ao fim da Segunda Guerra Mundial. Em Março, o número total de “hibakusha” [sobreviventes] ascendia a 154.859, face aos 372.264 contabilizados em 1980. A idade média dos sobreviventes dos bombardeamentos nucleares de Hiroshima e Nagasaki é superior a 82 anos

7 Ago 2018

Hong Kong | Pequim contra evento de imprensa, ex-governador fala em censura

 

 

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma mensagem enviada à agência noticiosa France-Presse (AFP, o último governador da antiga colónia britânica afirmou: “Não há motivo para censurar as pessoas só porque não gostamos do que elas têm a dizer”.
Andy Chan, líder do Partido Nacional, em campanha pela independência da região administrativa especial de Hong Kong, foi convidado a discursar no histórico clube de imprensa, que regularmente convida personalidades para realizarem conferências abertas a membros e órgãos de comunicação. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu ao FCC para cancelar o evento, indicou a AFP.
Este pedido, o primeiro deste tipo desde 1997, data da transferência de soberania do Reino Unido para a China, surge numa altura em que Pequim continua a reforçar o domínio sobre a antiga colónia que, ao abrigo da lei básica local, goza de liberdade de expressão e poder judicial independente.

Espalhar falácias

A liberdade de expressão é “um dos pilares de uma sociedade aberta que vive no Estado de Direito” e era garantida pelo acordo sino-britânico, lembrou Patten.
“Sempre me opus à ideia de defender a independência de Hong Kong”, disse, embora sempre tenha apoiado “as liberdades locais e a autonomia ao mesmo tempo.” “Não é justo que Pequim se envolva em questões que deviam ser decididas por Hong Kong”, acrescentou.
Num comunicado divulgado na sexta-feira, o Ministério advertiu que se “opõe a qualquer força externa que forneça aos elementos da ‘independência de Hong Kong’ uma plataforma para espalhar falácias”.
Em 17 Julho passado, o Governo de Hong Kong iniciou um processo para ilegalizar o Partido Nacional, fundado em Março de 2016, por considerar estar em perigo a segurança nacional. Na altura, um investigador da organização não-governamental Amnistia Internacional Patrick Poon considerou que a tentativa de banir aquele partido “soa o alarme sobre o que o Governo tentará restringir de uma próxima vez em nome da segurança nacional”.

7 Ago 2018

Comércio | Consultora portuguesa leva empresas à China

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI), consultora com sede no Porto, organiza em Setembro uma visita de negócios a três cidades chinesas, no âmbito do projecto da Comissão Europeia ENRICH. O “ENRICH Matchmaking and Innovation Tour to China” decorre entre 13 e 21 de Setembro e visa “abrir oportunidades de negócio, investigação e cooperação em inovação” entre entidades europeias e chinesas, segundo o comunicado da SPI.
A agenda inclui visitas a Pequim, Tianjin (cidade portuária do norte da China) e Chengdu, a capital da província de Sichuan, sudoeste do país, onde os participantes estabelecerão contacto com empresas, institutos de investigação, universidades ou parques científicos locais.
A SPI foi a consultora escolhida pela Comissão Europeia para coordenar o Centro de Excelência ENRICH (European Network of Research and Innovation of Centres and Hubs, China), plataforma que apoia empresas tecnológicas europeias no mercado chinês. O ENRICH, financiado no âmbito do “Horizonte 2020”, oferece consultadoria, colaboração e treino especializado para empresas e organizações de investigação europeias. O “Horizonte 2020” é o maior programa público de apoio à investigação e à inovação do mundo, com um orçamento de quase 80 mil milhões de euros.

7 Ago 2018