Hong Wai, artista plástica: “Trago a mulher contemporânea em tinta-da-china”

Foi para Paris para fazer um mestrado em arte e não voltou. A artista local Hong Wai usa as técnicas mais tradicionais chinesas para representar a beleza da mulher emancipada e os seus trabalhos andam um pouco por todo o mundo

[dropcap]C[/dropcap]omo é que apareceu a criação artística?
Sempre gostei de desenhar. Do que me lembro, já desenhava muito quando andava no infantário. No ensino primário passava os meus tempos livres a pintar e os meus colegas começaram a pedir-me alguns trabalhos. Queriam que lhes pintasse os cães, que desenhasse bonecas. Mas as aulas de desenho não me atraiam, eram muito monótonas. Aos 14 anos experimentei ter uma aula de pintura tradicional chinesa e gostei muito. Neste tipo de pintura é preciso conjugar vários factores. Há a incerteza da tinta no papel e os próprios gestos que se fazem com o pincel demonstram a energia e as emoções do artista durante o processo de criação. É uma pintura muito especial. Também tive uma excelente orientação dada pelo professor Ieong Deang Sang. Foi quem me ensinou os princípios da pintura chinesa: a relação entre a tinta e a água, entre o espaço cheio e vazio, entre a parte da luz e da escuridão no desenho. São princípios também filosóficos e que têm que ver com o Livro das Mutações. Fui aprendendo e tive a minha primeira exposição individual em Macau, aos 17 anos. Fui a artista mais nova no território a ter uma exposição individual o que significou muito para mim e acabou por me levar a ganhar confiança no meu talento. Acabei por mudar de opção académica de biologia para arte. Saí do território depois do liceu quando fui para a Universidade Nacional de Taiwan e acabei por seguir os estudos com o mestrado em arte em Paris onde vivo até agora. No início da minha carreira tive algumas pequenas exposições. Em 2013 criei a série “Secret de Boudoir” que foi uma alavanca para o reconhecimento do meu trabalho e foram muitas as galerias interessadas. Foi com esta cooperação com as galerias que acabei por participar em várias feiras de arte internacionais como a “Arte Stage Singapore”, a “Art Taipei” e a “Art Central Hong Kong”. Os meus trabalhos têm também passado por Nova Iorque e por Miami. Depois de “Secret de Boudoir” criei “Feminine Landscape” e “Lumière Nocturne – La Foret”. Neste momento coopero também com várias galerias em Miami, Taiwan, Macao, Paris e posso dizer que sou artista a tempo inteiro.

Estudou arte tradicional e caligrafia. O seu trabalho é conhecido pela mistura que faz destas áreas com o que se pode chamar de arte contemporânea. O que é que vai buscar a cada género?
Na minha abordagem artística, o uso e a interpretação da tinta-da-china é uma jornada diária. Procuro criar novas fronteiras usando técnicas tradicionais antes reservadas aos letrados, à classe intelectual oficial (cuja teoria deriva da dinastia Song), com a minha forma pessoal, feminina e misteriosa. Através do uso de tinta e papel chineses, e de imagens que sugerem fortemente o mundo feminino, questiono o poder masculino. Tradicionalmente, a tinta-da-china era um campo exclusivamente de homens. Foi a classe letrada chinesa que decidiu os temas da pintura com montanhas, rios e paisagens, como representação filosófica da harmonia entre a natureza e o homem. Através da arte, pretendiam ilustrar o país imperial. Estas obras-primas da paisagem pertencem à Colecção Oficial de Arte da China Imperial das Cinco Dinastias e vai até os tempos modernos. Eu, em vez de representar a virtude através da arte ou da moda tradicional chinesa, prefiro expressar e ilustrar a feminilidade com imagens contemporâneas e não convencionais. As minhas paisagens com montanhas e rios transformam-se em lingerie entrelaçada. A ode ao céu e à terra torna-se uma ode ao “yin” sensual, oculto e incontornável.

É tratada pela crítica como a “Fille Mysterieuse” que dá sentido, de alguma forma, ao Taoismo.
Na minha última criação “Feminine Landscapes” o corpo feminino é tratado como se fosse uma paisagem com as suas diferentes camadas. A crítica de arte Myriam Dao classificou este trabalho como “de mulher misteriosa” em que o Taoismo ganha uma forma contemporânea. Penso que Myriam Dao integrou o Taoismo no meu trabalho por causa das imagens femininas desta filosofia. A figura da deusa é uma das personagens principais em muitas histórias taoistas. A diferença mais óbvia entre um deus e uma figura comum está na imortalidade. Os deuses conseguem sempre manter a vida e a juventude. A beleza e juventude são, nos contos taoistas, a grande tentação. Tal como eu, os contos taoistas gastam muita tinta na descrição da beleza imortal das deusas.

É conhecida pela sua abordagem feminista. Como é que a descreve?
A minha perspectiva feminista está próxima do “Lipstick” no século XX.
O chamado feminismo do batom é uma variedade de feminismo de terceira geração que procura abraçar conceitos tradicionais de feminilidade, incluindo o poder sexual das mulheres. Ao contrário das primeiras campanhas feministas que se concentraram nos direitos fundamentais das mulheres, e que começaram pela exigência do direito ao voto, o feminismo do batom procura perceber se as mulheres podem ser feministas sem ignorar ou negar a sua feminilidade, nomeadamente no que respeita à sexualidade. Durante a segunda geração de feminismo, as activistas concentraram-se unicamente na igualdade jurídica e social das mulheres e recusaram-se a “abraçar” a sua sexualidade. Algumas mulheres abominavam a ideia da sua feminilidade e muitas vezes assumiam características físicas masculinas. Queriam distanciar-se da imagem da mulher tida como normal e acabaram por criar uma série de estereótipos associados à imagem do que seria uma feminista. O feminismo do batom, por outro lado, dá importância os conceitos de feminilidade, sexualidade feminina emitida pelo corpo de uma mulher e à necessidade de assumir o sexo. O feminismo do batom também procura recuperar algumas palavras depreciativas e transformá-las em ferramentas de poder feminino. É o caso da palavra “vagabunda” no movimento “SlutWalk”. Esta é uma ideia que se desenvolveu como resposta às ideologias mais radicais do feminismo de segunda geração que deram relevo à “feminista feia” ou “feminista anti-sexo”. No fundo esta terceira geração de feminismo veio adoptar o que a segunda tinha condenado.

O que é que as mulheres escondem, que a Hong Wai revela?
Tradicionalmente, a pintura com tinta da China era apenas reservado aos homens, como já disse. O que tento fazer é “dobrar” esta ideologia masculina neste tipo de pintura. Quero trazer a imagem estereotipada para uma nova fronteira, a mais feminina e escondida. Por exemplo, na pintura tradicional chinesa, “Maids of honour”, está representada a virtude. No meu trabalho “Secret de Boudoir”, não desenho sequer as mulheres não pretendo descrever as virtudes de uma mulher (que de si transporta já para a prestação de um serviço, normalmente a homens), o que faço é um retorno à própria mulher, à sua vida privada, aos seus bens. Faço isso com todo o detalhe, tanto na lingerie, como nos saltos altos, nos perfumes, etc. Trago a mulher contemporânea em tinta-da-china, uma técnica confinada durante séculos aos homens.

Considera-se provocadora?
Sim, e por isso que que o meu trabalho é divertido e tem significado.

O que acha da arte feita em Macau?
Temos bons artistas em Macau que têm de trabalhar muito para viverem das suas criações. Muitos deles estudaram na China Continental e trazem consigo muita energia e surpresa.

Na sua opinião, o que poderia ser feito em Macau para promover mais os artistas locais?
Os artistas precisam de duas coisas: um lugar para trabalhar onde possam criar e que seja acessível e estável e de galerias e colecionadores que promovam e vendam o trabalho feito. Para promover mais os artistas locais, primeiro há que ajudar os criadores a terem um local de trabalho em que não se tenham de preocupar com o aumento das rendas. Em França, por exemplo, há uma lei que protege o inquilino e o aluguer só pode aumentar até cinco por cento por ano durante o contrato. Depois há que promover mais galerias profissionais que tenham as suas redes de coleccionadores que comprem arte local.

Considera que o mundo ocidental está cada vez mais interessado no que é feito no oriente? Porquê?
Sim, sinto o mundo ocidental cada vez mais interessado em arte oriental e o contrário também acontece. Esta era, a da globalização, gera a interdependência das actividades económicas e culturais do mundo. O extremo oriente já não é tão longe, o mundo ocidental quer entender cada vez mais o que lá se passa e a melhor maneira é através da sua arte e cultura.

21 Ago 2017

Espanha/Ataques | Pequim condena atentados e oferece ajuda 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China condenou sexta-feira os atentados em Barcelona e Cambrils, endereçou as suas condolências às vítimas e familiares e ofereceu ajuda a Espanha e ao resto da comunidade internacional na luta contra o terrorismo.

“A China condena fortemente os ataques”, destacou em conferência de imprensa, em Pequim, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiro chinês, Hua Chunying.

Hua informou que o Presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro, Li Keqiang, enviaram mensagens de condolências ao rei Felipe VI de Espanha e ao Presidente do Governo, Mariano Rajoy.

O Governo chinês “opõe-se a todas as formas de terrorismo e apoia os esforços de Espanha para combatê-lo e salvaguardar a sua segurança e estabilidade”, disse Hua.

“Gostaríamos de cooperar com Espanha e outros membros da comunidade internacional, para reforçar a luta contra o terrorismo”, acrescentou.

A mesma fonte informou que o turista de Hong Kong que sofreu ferimentos ligeiros na sequência dos atentados já recebeu alta, após receber tratamento.

Dois cidadãos de Taiwan, que sofreram ferimentos graves, continuam internados, e diplomatas chineses visitaram-nos no hospital.

De Macau chega a informação de que o gabinete de crises está também a acompanhar o caso.

Morte nas Ramblas

Um atentado terrorista em Barcelona, na tarde de quinta-feira, provocou 13 mortos e cerca de uma centena de feridos, após uma furgoneta ter galgado um passeio e atropelado dezenas de pessoas, nas Ramblas, no centro da cidade.

O ataque ocorreu pela 17:00 e foi já reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico, através dos seus canais oficiais de comunicação.

A polícia catalã deteve três suspeitos de envolvimento no ataque e um outro suposto autor do atentado foi encontrado morto em Sant Just Desvern, em Baix Llobregat, a 12 quilómetros de Barcelona, depois de uma troca de tiros com a polícia catalã, após ter forçado a passagem de um controlo policial e ter atropelado uma polícia.

21 Ago 2017

Viúva do Nobel Liu Xiaobo reaparece num vídeo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] viúva do prémio Nobel chinês Liu Xiaobo, que morreu no mês passado, reapareceu num vídeo publicado na Internet, naquele que foi o seu primeiro sinal de vida após semanas em que era desconhecido o seu paradeiro.

Liu Xia, de 56 anos, tinha sido vista pela última vez em imagens divulgadas a 15 de Julho pelas autoridades chinesas, que a mostravam a assistir ao funeral do dissidente, que morreu dois dias antes.

“Estou em convalescença no campo, fora de Pequim. Peço-vos que me dêem tempo para fazer o meu luto”, disse Liu no vídeo de um minuto publicado na sexta-feira no YouTube.

Nas imagens, Liu Xia, que veste uma t-shirt e umas calças pretas, está sentada num sofá ao lado de uma mesa baixa e tem um cigarro aceso na mão.

“Voltarei a ver-vos um dia em melhor forma. Quando Xiaobo estava doente, os médicos fizeram tudo que podiam. Xiaobo via a vida e a morte de forma simples. Tenho de dar o meu melhor para me reajustar. No futuro, quando tiver melhorado em todos os aspectos, estarei novamente convosco”, afirma.

Liu Xiaobo morreu de cancro no dia 13 de Julho, aos 61 anos, num hospital chinês, semanas depois de ter sido colocado em liberdade condicional por motivos de saúde. Liu tinha sido condenado em 2009 a 11 anos de prisão por “subversão” por ter apelado a reformas democráticas na China.

Após o funeral do marido, Liu Xia “foi mantida em isolamento pelas autoridades chinesas num local desconhecido”, afirmou o advogado norte-americano do casal, Jared Genser, numa denúncia apresentada à ONU. As autoridades chinesas nunca reconheceram que ela estivesse privada de liberdade.

Liu Xia esteve em prisão domiciliária no seu apartamento em Pequim desde que o marido obteve o Prémio Nobel da Paz em 2010.

21 Ago 2017

Bluff de Trump atira jovem são-tomense de Taipé para Pequim 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]os 21 anos, o são-tomense Reginaldo Trindade foi apanhado pelo efeito borboleta: um bluff do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou-o de Taipé para Pequim, arrastado pelas correntes da geopolítica mundial.

“Foi tudo da noite para o dia”, recorda à agência Lusa Trindade, que até Março passado estudava numa universidade de Taiwan, com uma bolsa de estudo oferecida pelo governo local.

Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China, mas Pequim considera-a uma província chinesa e ameaça usar a força caso declare independência.

São Tomé e Príncipe era um dos poucos países que mantinha relações diplomáticas com o território, mas em Dezembro passado anunciou o reconhecimento da República Popular da China, rompendo com Taiwan.

Reginaldo Trindade, e dezenas de outros jovens são-tomenses que estudavam em Taiwan, foram imediatamente notificados de que as suas bolsas seriam canceladas.

“O pânico instalou-se”, recorda. “Ligávamos para São Tomé e ninguém sabia dizer nada”.

Reginaldo tinha aterrado em Taiwan dois anos e meio antes e era ali que via o seu futuro: “Já tinha a minha vida ali. Universidade, amigos, namorada.”

No início, pensou em ficar. Mas, se o fizesse, “teria que contar com a ajuda da família. E isso era algo que queria evitar”.

Apanhado de surpresa

Em Março, após concluir o ano lectivo, já resignado e de malas feitas, foi surpreendido: “Dois dias antes de sairmos de Taiwan fomos informados de que iriamos para a China”, conta. “Nada estava previsto”.

Por detrás da reviravolta na vida do jovem são-tomense surge o agudizar das relações entre Taipé e Pequim, em torno de um bluff do então Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Dezoito dias antes de São Tomé cortar relações diplomáticas com Taipé, a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, telefonou a Trump a felicitá-lo pela vitória nas eleições, assumindo assim o estatuto de chefe de Estado, à revelia de Pequim, que não considera Taiwan uma entidade política soberana.

A chamada durou pouco mais de dez minutos, mas quebrou com um protocolo de quase 40 anos e gerou expectativas em Taipé de uma maior cooperação com Washington.

Pequim protestou, mas Trump parecia decidido a fazer da questão de Taiwan uma moeda de troca para travar o que considera serem práticas comerciais injustas por parte da China.

Em entrevista à Fox News, poucos dias depois da conversa com Tsai, Trump afirmou: “Não sei porque temos de estar limitados à política `Uma só China` a menos que façamos um acordo com a China sobre outras coisas, incluindo o comércio”.

Após assumir o cargo, contudo, o novo inquilino da Casa Branca voltou atrás e reafirmou o seu compromisso com aquela política, não voltando a tocar no assunto.

Mas a audácia de Tsai teria de ser punida e Pequim jogou então com o seu peso económico para atrair São Tomé, num “óbvio castigo” para a líder taiwanesa, como referiu então um jornal do PCC.

Final feliz

Reginaldo aprendeu depressa que a política está em todo o lado, mas no seu caso garante que foi para o lado melhor.

“Oportunidades é o que não falta na China”, conta. “Sinto que estou no lugar certo, na altura certa”.

Antes de aterrar em Pequim, no entanto, o jovem são-tomense vinha receoso, imaginando o país como um lugar poluído e governado por um Estado repressivo, onde “a polícia andava sempre na rua a apanhar pessoas e fazer perguntas”.

“Estava completamente enganado”, admite. E se alguém lhe perguntar hoje se deve ir para a China, responde: “Vem, não penses muito, é o lugar certo para vir”.

Quanto ao que sente mais falta em Pequim, Reginaldo aponta sem hesitar: “Família, praia e comida”.

Apesar de a capital chinesa ser “boa para ganhar dinheiro, falta qualidade de vida”, admite.

“A população em São Tomé chega a ser quase o equivalente a um bairro em Pequim”, diz. “Em São Tomé vivia a dez minutos da praia. Aqui, acordo, abro a janela e vejo prédios e prédios”.

21 Ago 2017

Como fazer um escritor

[dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]omo é que escreve” é uma das clássicas perguntas que fazem a um escritor. Com isso querem saber, por exemplo, se o sujeito escreve de roupão, como Balzac, ou se a inspiração acontece ao modo de uma possessão espírita pela qual um tipo revira os olhos e desata numa fúria criadora até que, acabando por sacudir a presença alheia, descobre ter escrito um conto. Ninguém ou quase ninguém pergunta “porque é que escreve?”, temendo porventura que o carácter aparentemente óbvio da pergunta desmotive o entrevistado.

Na realidade, e ater-me-ei à minha experiência, a escrita começa pela leitura. E a leitura acontece porque uma criança sente uma perplexidade inexplicável perante o mundo e os elementos que o compõem. Os adultos, na maior parte das vezes incapazes de fazerem as perguntas que as crianças fazem, quanto mais as responderem, fingem não ouvir e, em surdina, confortam-se uns aos outros com a ideia de aquela curiosidade desconcertante ser apenas uma fase tardia da idade dos porquês.

As outras crianças não estão nem aí para as crises existenciais alheias e o pequeno, em défice de competências sociais desde sempre, ora é ignorado ora é alvo de chacota por parte dos seus colegas. É insultado nos corredores, fazem-no tropeçar quando se dirige para uma mesa solitária onde possa comer o almoço em paz e é, invariavelmente, o último a ser escolhido para qualquer tipo de actividade de grupo que envolva a criação de equipas. Na escola primária, é mais fácil ser gordo que geek.

De certo modo, ser ignorado é reconfortante. Escusa-se travar diariamente a luta pela aceitação. Os livros são compreensivos, pacientes, inteligíveis, ao contrário dos humanos, e têm a vantagem incomparável de os podermos interromper quando quisermos. Não se zangam, não pedem explicações. Estão ali, disponíveis e generosos, repletos de mundos muito maiores do que o mundo. São seguros. E salvam. Os livros salvam as crianças solitárias e estranhas.

Quando as crianças crescem e desaguam aos berros na puberdade, os códigos sociais, por via da sexualidade e da sua gramática específica, complicam-se ainda mais. O geek, com muita sorte, passa na maior parte das vezes despercebido. Se for bafejado por uma qualquer lotaria cósmica, é capaz de conhecer algumas miúdas e alguns miúdos introvertidos e socialmente incompetentes e com eles constituir um grupinho silencioso através do qual se evita, pelo menos, almoçar sempre sozinho.

A literatura, como a maior parte das obsessões, germina não raramente de uma falha, de uma tangente com a sociedade. De um refúgio numa zona de conforto onde não existem as distrações da convivência. Mais do que uma escolha ditada por qualquer tipo de talento inato – sem com isso colocar em causa a existência do talento, embora seja assunto para outra vindima – a literatura aparece na vida para redimir a própria vida. Para lhe dar um sentido, algo que as pessoas e as suas convenções são incapazes de prover. Depois torna-se um vício e, quando um sujeito dá por si, já muito mais tarde, já se esqueceu de como e porque começou a escrever, já está mais ou menos instalado na vida, constituiu e desfez família, tem dois filhos que vê fim-de-semana sim, fim-de-semana não e dá entrevistas nas quais sublinha a sua precoce predisposição para as letras. O sujeito esqueceu-se de que só entrou naquelas águas porque fugia de um fogo e, mesmo assim e involuntariamente, continua a escrever livros que podem vir a salvar crianças solitárias e estranhas.

21 Ago 2017

Turista Chinês

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ensam que não vejo o vosso ar de enfado? Os suspiros que se levantam do fundo da vossa altivez? O carregado desdém com que me olham? Esta também é a minha terra, ou pensam que esta bolha está isolada do mundo, a flutuar acima do planeta. Macau é o último calhau na enorme montanha chinesa, o parque temático plantado para o meu divertimento no delta da pérola. Entretenham-me na minha curta estadia, tragam-me iguarias, quimeras e mulheres.

Será demais pedir um pouco de humildade hospitaleira no grande centro de turismo e lazer? Grande! Como o ego incha neste quarteirão minúsculo de território. Reconheçam-me por um instante. Eu sou o fundo das vossas raízes, aquele que vos sustenta e agarra ao solo, o pão na vossa mesa.

Ando pelas ruas vagarosamente, liderando pelotões de turistas conduzidos pela autoridade de uma bandeira erguida. Sou todos vós há duas gerações atrás, a confirmação desconfortável de quem são, revelação e memória, génese e ser. Em cada espasmo cosmopolita vejo uma barriga a querer saltar da vestimenta para saudar o sol com afagos e carícias. A minha pança é a proa que rasga caminho, o Sol no centro do meu sistema planetário de entranhas a irradiar esperança, é prosperidade e sorte ao jeito de Buda. Como se tivesse um amuleto dentro de mim, uma jóia no meu cerne. Também as minhas secreções representam o que tenho para partilhar de mais íntimo. Ostento produção de muco sem me importar, ao contrário de ti, Macau, que escondes a tua natureza em gestos medidos, em polidez sobranceira que não engana ninguém, nem a ti própria. Podes mascarar a barbárie que te funda à vontade, eu sei, conheço-a, encarno-a, consigo ver nitidamente o ponto onde a crueza se disfarça de nobreza. Nos vossos passos lestos e elegantes prevejo a violência de um escarro que se quer impor aos trejeitos da teatral superioridade.

Sou matéria combustível nesta fogueira de vaidades, ofereço-vos excedente orçamental, alicerces para uma vida desafogada, sou a fertilidade na vossa carteira, Bona Dea, Ísis e Vénus. Este simulacro de cidade é alimentado por mim, pela perseguição que faço à ilusão da riqueza, pela esperança que despejo em mesas de fatalismo.

Grito para que me ouçam em bom som, para que o volume assertivo se entranhe na vossa charada identitária. Marcho indolente pelas estreitas ruas de Macau como um soldado do exército Koi Kei. A minha mulher veste-se, aos 49 anos, com rendas cor-de-rosa e uma omnipresente Hello Kitty. Não se deixem enganar pela infantilidade da vestimenta, pois ela é um panzer de carne e nervo, uma fera na protecção do núcleo familiar.

Ainda não tenho o gosto consumista limado pelo ocidente na vossa escala, mas esperem um pouco que eu chego lá porque quero chegar lá. Sou o representante de uma das grandes civilizações ancestrais e do país mais populoso do mundo, sou lenda e futuro avassalador, sou a conquista ponderada ao longo de séculos de paciência. Mas agora quero o meu rolex e o meu Jaguar, mereço-os inteiramente.

Sou descendente de sucessivos impérios, o filho da derradeira revolução cultural, o último mandarim, a pluralidade que engole o mundo. Carrego às costas a determinação de um povo que anseia sair das trevas directamente para o trono, sou a conquista vindoura alicerçada em números, a maré alta que irá engolir o globo. Sou o canteiro onde o ténue lótus está plantado, forneço a água e os nutrientes enlameados que o sustentam. Sou a vossa vida e poderia ser a vossa morte, se para aí estivesse virado. Macau é a pequena e indefesa criança que embalo nos braços e à qual nada nego, que gatinha a meus pés, sempre sedenta a erigir birras exigentes.

Sossega no meu regaço, Macau. Mas não me menosprezes, não te aches superior, não retires mais ilações das minhas vestes e maneiras sociais, não te percas demasiado na quimérica miragem do segundo sistema que te concedemos com misericórdia, por magnificência. Vem a mim e sente o terno abraço que te dou, sou o teu igual, farinha do mesmo saco, reencarnação cultural, o teu reflexo e tu és uma extensão de mim.

21 Ago 2017

Spa com massagens orientais abre em Guimarães

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois portugueses radicados em Macau abriram recentemente um spa com massagens de pés do sudeste asiático na cidade de Guimarães, em Portugal. O espaço, com o nome “Ponha aqui o seu pezinho” apresenta “um conceito de fusão único e inovador de massagem nos pés” e foi pensado por Gonçalo Lobo Pinheiro e Vanessa Amaro.

Segundo um comunicado, os dois decidiram abrir este espaço por terem “apanhado o bichinho da massagem na Ásia” nas muitas viagens que realizaram. O nome do spa surgiu a partir de “uma canção popular portuguesa e daí veio toda a filosofia de fusão: as massagens são essencialmente asiáticas, mas em vez da tradicional música relaxante de spa, ouve-se bom Fado e bebe-se uma chávena de chá cem por cento português”.

O spa, que abriu portas a 13 de Junho, disponibiliza tratamentos com produtos portugueses. Os clientes podem escolher o óleo de massagem que preferirem, tendo à disposição várias opções de esfoliantes e banhos de imersão, “bem como uma máscara de argila que ajuda a desintoxicar o organismo”.

Vanessa Amaro e Gonçalo Lobo Pinheiro já pensam na abertura de um segundo espaço, desta vez em Lisboa.

20 Ago 2017

Deputados ligados à FAOM em balanço

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s três deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei, Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang, deram ontem uma conferência de imprensa para fazerem o balanço do trabalho desenvolvido na Assembleia Legislativa (AL).

Kwan Tsui Hang, que está de saída do hemiciclo, deixou bem claro que os discursos políticos dos três deputados nunca visaram a discriminação dos trabalhadores não residentes (TNR). “Os números mostram que a economia de Macau tem de depender dos TNR. Além de não discriminarmos os TNR, consideramos que as leis precisam de proteger os direitos destas pessoas”, apontou.

A deputada afiança que as críticas que têm sido feitas alertam apenas para as deficiências existentes no mecanismo de importação de mão-de-obra. Quando esse mecanismo melhorar, com mais fiscalização, as críticas irão diminuir, defendeu Kwan Tsui Hang.

Já Ella Lei lamentou o facto de vários diplomas terem ficado pelo caminho, como é o caso da lei sindical. Apesar de lembrar o esforço dos seus colegas, afirmou não ter ficado satisfeita com os trabalhos desenvolvidos durante a V legislatura, sobretudo nas áreas do aproveitamento dos terrenos, o fornecimento de habitação pública ou a implementação da licença de paternidade.

A deputada, que foi eleita pela via indirecta em 2013, lembrou que apresentou quatro propostas de debate na AL, relacionadas com assuntos de interesse público, tendo três sido aprovados.

Lam Heong Sang, vice-presidente do hemiciclo, vai também deixar a vida de deputado e disse que é necessária uma maior coordenação entre as empresas, os trabalhadores e o Governo.

“De 2005 até hoje, sabemos quais têm sido os lucros das seis operadoras de jogo e qual é o rendimento médio dos residentes”, lembrou, alertando ainda para as dificuldades na aquisição de habitação.

Entre 2013 e 2017, a FAOM diz ter tratado de quase 1500 casos relacionados com assuntos laborais, que representa a maior proporção, com 30,8 por cento. Os casos relacionados com a habitação surgem em segundo lugar, seguindo-se as garantias dos benefícios dos trabalhadores.

Questionado sobre o seu futuro depois de sair da AL, Lam Heong Sang entende ter duas prioridades: continuar na FAOM, onde promete continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, e manter o trabalho desenvolvido na Associação Choi In Tong Sam.

20 Ago 2017

AL | Coutinho queixa-se de falta de pessoal na assessoria jurídica e tradução

Em jeito de balanço da legislatura, Pereira Coutinho elenca o artigo da retroactividade na lei das terras como um bom momento dos últimos quatro anos de trabalhos na Assembleia. No entanto, o deputado entende que o plenário sofre de uma grande carência de recursos humanos nas áreas da assessoria jurídica e de tradução

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] V legislatura da Assembleia Legislativa (AL) chegou ao fim esta semana, dando lugar às análises retrospectivas dos trabalhos legislativos dos últimos quatro anos. Durante um desses exercícios, o deputado Pereira Coutinho levantou um problema que o afligiu e ao seu colega Leong Veng Chai – a falta de mão-de-obra de qualidade na assessoria jurídica e de tradução na AL. “As minhas interpelações demoram meses a ser traduzidas”, revelou em conferência de imprensa.

O deputado considera que o orçamento da AL deve ser aumentado. “Hoje em dia, anda à volta de uma centena de milhão de patacas, o que é muito pouco comparando com qualquer outro serviço público”, analisa. Pereira Coutinho acrescenta ainda que não pode “andar a pedir esmola à Assembleia para conseguir ter acesso a assessoria e traduções em tempo útil”. Esta é uma circunstância que o deputado acha que merece atenção do Executivo para que se possa “elevar a qualidade dos trabalhos”.

Segundo Pereira Coutinho, os assessores e intérpretes de qualidade da AL “não têm mãos a medir para a quantidade de trabalho”, acrescentado que, “se alguns deles deixarem de trabalhar, a quebra será drástica”.

O bom e o mau

Ainda na questão da falta de assessoria de técnica legislativa nos trabalhos da AL, Pereira Coutinho considera que “os assessores jurídicos trabalham para as comissões, para a mesa e para o presidente da AL, enquanto os deputados da minoria estão no fim da cauda”.

Em jeito de balanço, Pereira Coutinho concluiu que entre os diplomas mais complexos que lhe passaram pelas mãos ao longo da legislatura se conta a lei que visa proteger o património arquitectónico de Macau, a lei do planeamento urbanístico e a lei de terras. “Foram trabalhos que exigiram muita concentração, muita ponderação sobre aquilo que poderia resultar das suas aplicações”, recorda.

Um dos momentos mais importantes destes últimos quatro anos de trabalhos da AL foi o artigo que estabelece a retroactividade na lei de terras. “É um artigo de que me vou lembrar para o resto da vida”, confessa. O deputado considera essa lei como volte-face legislativo no tratamento legal das terras. “Há muita aldrabice nesta matéria” e, para Pereira Coutinho, aquele artigo foi como “dar um murro na mesa para endireitar as coisas”.

No campo das frustrações, Pereira Coutinho elenca os diplomas que apresentou a plenário como os momentos mais angustiantes. Entre os falhanços contam-se os projectos de lei para regular a actividade sindical, a negociação colectiva, e as questões das pensões de aposentadoria e da habitação para os funcionários públicos. Porém, apesar das batalhas perdidas, Pereira Coutinho entende que a guerra continua.

No fim da V legislatura, Pereira Coutinho faz um balanço positivo, apesar de considerar que podia fazer mais e melhor.

20 Ago 2017

Coreia do Norte | Sul reafirma a vontade de paz. Estados Unidos tentam acabar com exportações

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]eul não quer a guerra, reiterou ontem o Presidente da Coreia do Sul, que garante que tudo fará para que as ameaças entre Pyongyang e Washington não aterrem no seu país. Os Estados Unidos lançaram outra batalha, ao procurarem o isolamento económico total do regime de Kim Jong-un. Num momento de aparente acalmia, a questão reside em saber o que vem a seguir

Não vai haver guerra na Península Coreana, afirmou ontem o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, apesar da grande tensão em torno de Pyongyang e do programa de mísseis que tem vindo a testar nos últimos meses, cada vez com maior intensidade.

“Todos os sul-coreanos trabalharam arduamente para reconstruir o país das ruínas deixadas pela Guerra da Coreia”, afirmou Moon Jae-In numa conferência de imprensa que assinalou os primeiros 100 dias no cargo. “Vou evitar a guerra a todo o custo”, prometeu. “Por isso, quero que todos os sul-coreanos acreditem, com confiança, que não haverá guerra.”

O Presidente da Coreia do Sul revelou que está a colocar a possibilidade de destacar um enviado especial para Pyongyang.

Na terça-feira passada, durante um discurso transmitido pela televisão, Moon Jae-In tinha já dito que não haverá acção militar na Península da Coreia sem o consentimento de Seul, garantindo que o Governo do Sul irá fazer tudo para evitar um conflito armado.

A tensão na península tem aumentado nos últimos meses, sendo que estas semanas foram particularmente difíceis, com a Coreia do Norte e os Estados Unidos a ameaçarem-se mutuamente com intenções militares. Pyongyang tem dado sinais de que não pretende desistir do desenvolvimento do programa nuclear, estando aparentemente a trabalhar em armamento com capacidade para atingir os Estados Unidos.

Na semana passada, a Coreia do Norte avisou que estava a preparar um plano para um ataque a Guam. Uns dias depois, na terça-feira, o regime de Kim Jon-un disse ter mudado de ideias, com Pyongyang a explicar que vai “observar” os Estados Unidos antes de avançar com a ofensiva. Já o Governo de Guam garantiu que se mantém alerta relativamente a um possível ataque norte-coreano com mísseis.

Recorde-se que o anúncio do ataque a Guam surgiu depois de Donald Trump ter prometido atingir a Coreia do Norte com “fogo e fúria” se o país não reduzisse o tom das ameaças.

Cortar com os aliados

Na Coreia do Sul, país que teria uma situação muito complicada para resolver com um eventual conflito armado, os líderes políticos tentam desdramatizar um cenário com contornos difíceis; noutro ponto do planeta, os Estados Unidos procuraram isolar, ainda mais, a Coreia do Norte.

Mike Pence, vice-presidente norte-americano, pediu esta semana ao Brasil, ao México e a outros países da América Latina que acabem de vez com os laços diplomáticos e económicos com Pyongyang, recordando as ameaças que foram feitas nas últimas semanas por Kim Jong-un.

“Pedimos veementemente ao Chile, ao Brasil, ao México e ao Peru que cortem todos os laços com a Coreia do Norte”, declarou Pence, numa conferência de imprensa em que esteve acompanhado pela Presidente chilena, Michelle Bachelet. O vice-presidente dos Estados Unidos pediu ao Chile que reclassifique produtos exportados para a Coreia do Norte, de modo a que passem a ser abrangidos pelas sanções impostas ao regime.

A pretensão de Mike Pence não será, por agora, atendida. O chefe da diplomacia chilena disse, mais tarde, respeitar o pedido dos Estados Unidos, mas acrescentou que não existem intenções de mudar o modo como o país lida com Pyongyang. “São já relações distantes porque aplicamos com rigor todas as sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas” contra a Coreia do Norte, declarou Heraldo Munoz.

Em 2015, o regime de Kim Jong-un importou vinho chileno no valor de 65 milhões de dólares. Já o México vendeu petróleo avaliado em 45 milhões e o Peru exportou 22 milhões de dólares em cobre.

A Presidente Michelle Bachelet faz parte dos líderes que acham que a diplomacia é a chave para resolver o problema, tendo defendido que é necessário um esforço adicional de todas as partes envolvidas para garantir a desnuclearização da Península Coreana.

Em açambarcamento?

Os esforços de Mike Pence para isolar Pyongyang surgem numa altura em que se acredita que a Coreia do Norte tem estado a preparar-se para resistir à progressiva perda de parceiros económicos. Números avançados esta semana pelo South China Morning Post demonstram que a importação de bens alimentares da China aumentou drasticamente no último ano, um sinal de que Pequim será mesmo o último aliado do regime.

Dados oficiais da alfândega chinesa apontam para um aumento das exportações em quase 30 produtos. A quantidade de milho enviada para a Coreia do Norte aumentou 32 vezes, ultrapassando as 12.700 toneladas, sendo o bem alimentar mais procurado. Seguem-se as bananas e a farinha.

As bebidas alcoólicas mais do que quadruplicaram, chegando aos 9,5 milhões de litros. Entre os alimentos mais importados pelo país estão ainda o chocolate, o pão e os biscoitos. As estatísticas sobre o arroz exportado pela China no ano passado não estão ainda completas, mas a Coreia do Norte recebeu, no segundo trimestre deste ano, mais de 11 milhões de toneladas de arroz, bastante mais do que os 3,5 milhões que importou no mesmo período do ano passado.

Os recentes lançamentos de mísseis levados a cabo por Kim Jong-un levaram a comunidade internacional a aumentar as sanções ao regime, mas os bens alimentares não fazem parte do pacote de sanções, na esperança de que seja possível manter um padrão de vida mínimo para os cidadãos de um país onde a fome é a realidade da maioria. No entanto, a Coreia do Norte viu serem impostos limites nas exportações. Na passada segunda-feira, a China deixou de comprar marisco ao vizinho, acabando assim com uma fonte de rendimento que, no ano passado, deu a Pyongyang 190 milhões de dólares norte-americanos.

Especialistas analisam dificuldades bélicas de Pyongyang

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a grande incógnita do momento para os observadores da Coreia do Norte e especialistas em armamento. Existe a convicção de que Pyongyang está efectivamente a preparar armamento nuclear capaz de atingir os Estados Unidos. A retórica de Kim Jong-un tem sido acompanhada por testes a mísseis balísticos que demonstram capacidades militares norte-coreanas que surpreenderam muitos analistas.

Constatado que está o facto de que existe uma ameaça que vai além da propaganda, tenta-se perceber a verdadeira dimensão do poder bélico do regime. Presume-me que os norte-coreanos estão a tentar produzir um dispositivo nuclear com uma dimensão suficientemente pequena e com pouco peso para que possa ser utilizado num míssil, sem prejuízo do seu alcance.

Os especialistas contactados pela Agência Reuters acreditam que, para atingir este objectivo, o regime terá de fazer pelo menos mais um teste nuclear – o sexto – e levar a cabo mais testes com mísseis de longo alcance. No mês passado, a Coreia do Norte testou dois mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla inglesa) com uma carga explosiva mais leve do que qualquer ogiva nuclear que conseguirá produzir neste momento, indicam os analistas.

Uma forma de conseguir fazer uma ogiva mais leve é apostar no hidrogénio, explicam ainda os peritos, recordando que Pyongyang alega ter conseguido testar um engenho do género. O feito está por provar, recorda o director do Programa de Informação Nuclear da Federação Americana de Cientistas, Hans Kristensen. “Fazer algo deste tipo implicará mais testes nucleares”, diz. “A vantagem de uma ogiva termonuclear é que tem maior poder destrutivo com menor peso.”

Choi Jin-wook, especialista sul-coreano, também acredita que será necessário um sexto teste nuclear para que seja possível desenvolver um ICBM com capacidades nucleares. “A ogiva terá de ser pequena e leve, mas a Coreia do Norte não parece ter a tecnologia necessária”, afirma.

Apesar de prometer que tudo fará para a manutenção da paz na península, a Coreia do Sul avisou que a colocação, pelo Norte, de uma ogiva nuclear num ICBM será “pisar uma linha vermelha”. Os Estados Unidos foram mais gráficos na ameaça que fizeram a um eventual ataque do regime de Kim Jong-un.

Sem movimentações

Tratando-se de um regime muito isolado do qual pouco se sabe, as respostas à pergunta “o que vem a seguir” são, por norma, pouco mais do que hipóteses. Ainda assim, poder-se-á dizer que o tempo que Kim Jong-un procura agora ganhar, depois da violência verbal da semana passada com Washington, estará relacionado com a necessidade de não antagonizar totalmente a China. As últimas sanções das Nações Unidas também não terão deixado Pyongyang com desejos de mais punições.

Fonte do exército norte-americano, que pediu à Reuters para não ser identificada, contou que costuma ser observada, com alguma regularidade, actividade em Punggye-ri, o local dos testes nucleares da Coreia do Norte. Mas há já mais de um mês que não se registam movimentos e não há sinais da iminência de um teste.

Além de ter de fazer uma bomba de hidrogénio em miniatura, alguns peritos indicam que os cientistas de Kim Jong-un precisam ainda de desenvolver tecnologia que proteja a ogiva do imenso calor e pressão à reentrada na atmosfera, depois de um lançamento intercontinental.

A Coreia do Sul acredita que os vizinhos do Norte precisam, pelo menos, de mais um ou dois anos para obterem este tipo de tecnologia. Especialistas dos Estados Unidos subscrevem este prazo.

20 Ago 2017

Jason Chao entende que direitos podem estar em causa

Na passada segunda-feira, Jason Chao dirigiu-se ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) com o intuito de entregar uma declaração a notificar os serviços para uma reunião/manifestação em local público. Ao fazê-lo, deparou-se com um novo formulário introduzido no processo, sem que tenha havido qualquer alteração legal.

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]este sentido, importa notar que a Lei n.º 2/93/M no Artigo 5.º nº1, que regula o aviso prévio de manifestação ou reunião em lugar público, não prevê o preenchimento de qualquer formulário. Apenas se fala de um aviso por escrito dirigido ao presidente do conselho de administração do IACM, com a antecedência mínima de três dias úteis e máxima de 15. Em caso da reunião ou manifestação com carácter político, a antecedência pode ser reduzida para dois dias úteis. O mesmo artigo estatui que a “entidade que receber o aviso deve passar recibo comprovativo desse facto”.

Ciente da referida lei, Jason Chao insistiu em apresentar a declaração ao IACM. Segundo o mesmo, a recepcionista aceitou-a com relutância, tendo o pró-democrata perguntado qual a base legal para a obrigatoriedade de preencher um formulário.

Passados dois dias, ou seja, na passada quarta-feira, o organizador da manifestação recebeu uma chamada do IACM a informar que a declaração não havia sido aceite e que deveria preencher o dito formulário. Em relação à razão legal que justifica a novidade, foi-lhe dito que a questão seria enviada para os superiores hierárquicos.

Novos valores

O protesto em questão, marcado para dia 27 de Agosto na Rua do Campo, teria como objectivo de discutir os direitos dos cidadãos à luz da Lei Básica. Na opinião de Jason Chao, tornou-se insignificante face à novidade burocrática. De acordo com o pró-democrata, “o estabelecimento de um novo requisito no caminho do exercício da liberdade de assembleia dos cidadãos de Macau parece muito mais problemático”.

Apesar da aparente trivialidade da questão, Jason Chao entende que “numa perspectiva de direitos fundamentais, impor um novo requisito sem alteração legal é preocupante”, afirma em comunicado.

É de salientar que a lei exige expressamente às autoridades que notifiquem os cidadãos acerca das restrições às manifestações e reuniões de rua por escrito, um documento que pode servir para recorrer ao Tribunal de Última Instância.

Jason Chao garante que se tiver conhecimento de alguma tentativa de comprometer os seus direitos fundamentais levará o caso para o tribunal competente, “mesmo na ausência de qualquer resposta escrita por parte das autoridades”.

A liberdade de reunião, desfile e manifestação é um direito consagrado no Artigo 27.º da Lei Básica, o mesmo articulado que prevê o direito a participar em associações sindicais.

20 Ago 2017

Ho Chio Meng | Novo Macau acusada de ser financiada com fundos ilegais

Um alegado membro da Novo Macau acusa os principais dirigentes da associação de serem financiados por dinheiros de origem ilegal de uma empresa envolvida no caso Ho Chio Meng. Scott Chiang nega a acusação e diz que a verdade virá ao de cima na sequência da investigação. O Ministério Público já tem conhecimento do caso

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois do jogo de cadeiras no leme da direcção da Associação Novo Macau, e com as eleições à porta, surge um caso com contornos que extravasam as simples divergências políticas e que podem manchar a reputação dos pró-democratas.

No cerne deste caso está Fong Ka Leong, presidente da Associação dos Assuntos Jurídicos e Sociais, que também se identificou como sendo membro da Novo Macau. Tudo começou com as declarações do chefe de Fong Ka Leong enquanto testemunhou em tribunal no julgamento do ex-procurador Ho Chio Meng. Segundo Fong Ka Leong, o seu patrão, também alegadamente membro da Nova Macau, pagou várias despesas a dirigentes da associação com fundos apurados de forma ilegal, circunstância que o motivou a apresentar ontem queixa no Ministério Público. O denunciante vai mais longe e acusa a recepção destes dinheiros como um caso de corrupção.

De acordo com Fong Ka Leong, a um dos membros foi oferecido um trabalho a tempo inteiro, e foram-lhe subsidiados bilhetes de avião e alojamento para viagens ao exterior. Outros dois membros da associação receberam apoios financeiros para pagar passagens aéreas para Taiwan, assim como alojamento e alimentação.

Em declarações ao HM, Fong Ka Leong disse que o objectivo do seu chefe era controlar a lista de membros da Novo Macau.

Além disso, o objectivo seria separar os membros da associação de quem gostava dos restantes. “A Novo Macau tem menos de 50 associados. Os membros foram classificados de acordo com quem ele gostava e quem ele considerava como inimigo”, explicou Fong Ka Leong, que acrescenta que existe a possibilidade de os membros do referido grupo terem recebido verbas de origem ilegal.

Quem é quem

A pessoa que alegadamente terá financiado membros da Novo Macau é responsável por uma empresa de produtos electrónicos que prestou serviços ao Ministério Público. A pessoa em questão foi testemunha no processo conexo ao de Ho Chio Meng, no Tribunal Judicial de Base. Na sequência desta inquirição, Fong Ka Leong acusa igualmente o chefe de declarações falsas ou perjúrio.

Em reacção a esta polémica, Scott Chiang, presidente da Novo Macau, escusou-se a tecer grandes comentários em relação à acusação feita. No entanto, em declarações ao HM, considerou haver falta de pormenores na queixa e que o denunciante deveria apresentar informações mais precisas. Scott Chiang acredita que a investigação trará a verdade ao de cima.

20 Ago 2017

Legislativas | Analista critica duração da campanha eleitoral

Ao limitar o período de campanha eleitoral a duas semanas, o Governo não está a garantir condições para que os residentes compreendam as propostas apresentadas pelos candidatos, alerta Bruce Kwong. O politólogo não arrisca previsões sobre resultados, mas não esconde receios em relação à corrupção

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m exercício, para começar. Imaginemos que cada programa eleitoral para as legislativas de 17 de Setembro tem dez páginas. Há 25 listas candidatas. Suponhamos que há eleitores indecisos – parece que são muitos – e que se dão ao trabalho de ler as propostas políticas dos aspirantes a deputados. Façam-se as contas: terão 250 páginas para ler em duas semanas, isto se conseguirem reunir os cadernos de encargos eleitorais logo no primeiro dia. Se não for esse o caso, terão de apressar a leitura.

O facto de Agosto ser um mês em que é proibida toda e qualquer forma de propaganda eleitoral não faz qualquer sentido para o politólogo Bruce Kwong, especialista em eleições. O académico da Universidade de Macau é do entendimento de que os 15 dias reservados à campanha são claramente insuficientes.

“Os candidatos podem fazer pouco para promover as suas plataformas políticas e promessas, apesar de Macau ser um território pequeno comparando com outros locais, como Hong Kong”, defende, olhando para a região vizinha. “O período de campanha em Hong Kong para o sufrágio directo foi de quase dois meses numa única circunscrição como Kowloon East, que não é maior do que Macau”, aponta.

Porque o sufrágio directo das legislativas é o único momento em que a população é chamada a pronunciar-se sobre a vida política do território, as eleições adquirem outra relevância. “São um dos momentos mais importantes de participação política das pessoas”, analisa Kwong. “Se o Governo encara com seriedade o facto de as eleições para a Assembleia Legislativa (AL) representarem a possibilidade de as pessoas monitorizarem o poder público, é obrigação do Executivo garantir um ambiente que permita às pessoas examinarem as plataformas políticas.”

Jovens e atentos

Para o sufrágio indirecto de 17 de Setembro, apresentam-se a votação 25 listas, com mais de 190 candidatos. Para o politólogo, os números só significam um maior interesse pelas lides políticas numa primeira análise, uma observação superficial. “Sabemos que há sempre alguns candidatos que concorrem por terem outras questões em consideração, que não servirem a população ou terem uma participação política”, diz.

As 25 candidaturas não correspondem, como se sabe, a 25 ideias diferentes. Há listas que são oriundas das mesmas famílias políticas, que se desdobraram na expectativa de conseguirem mais assentos, dadas as especificidades do método de conversação de votos em mandatos. Bruce Kwong interpreta este milagre da multiplicação de candidaturas como sendo uma prática de “políticos experientes, dividem-se ou tentam cooperar com aliados políticos”.

“Os candidatos aprenderam muito desde as eleições de 2009 e também com a experiência de Hong Kong. Mas, claro está, é preciso ter cuidado e calcular com muita precisão a probabilidade de ganhar o maior número possível de assentos”, acrescenta. À semelhança de outros analistas – e até de alguns candidatos – o académico concorda que chegou a altura de se ponderar, para actos eleitorais futuros, uma mudança no método de conversão de votos em mandatos.

Quanto a previsões para as eleições de Setembro, Bruce Kwong não arrisca cenários. Este ano, há mudanças no eleitorado, com uma nova geração a poder exercer o direito de voto. Macau tem uma característica que atrapalha as contas a quem se dedica a este tipo de análises: “As tendências de voto alteram-se de legislatura para legislatura, pelo que tudo depende da estratégia da campanha, das competências pessoais dos candidatos e da atmosfera política”.

Já no que toca ao interesse dos eleitores pelo sufrágio, o professor da Universidade de Macau considera que as camadas mais jovens da população são as que estão mais atentas. São também estes eleitores aqueles que ainda percebem a utilidade da AL. “O comportamento político dos eleitores sofreu alterações desde as legislativas de 2005. Alguns deles, sobretudo os que pertencem às novas gerações, ainda acreditam que a AL pode ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas e que, de algum modo, os deputados os representam na relação com o Governo”, sustenta.

Atenção à corrupção

Serão também os eleitores mais novos aqueles que maior consciência têm da importância do voto. Bruce Kwong confessa estar “um pouco pessimista” em relação à corrupção eleitoral. “Prevê-se que haja corrupção porque alguns dos candidatos aprenderam a ocultar o comportamento ilegal dos órgãos que monitorizam as eleições”, afirma. “Os eleitores mais conscientes da importância do voto serão os das gerações mais novas ou aqueles que já têm alguma participação cívica e política, por exemplo, em manifestações.”

O politólogo avalia com nota positiva o trabalho feito, até agora, pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, mas deixa um aviso. “Os trabalhos administrativos parecem estar a correr bem. As pessoas preocupam-se sobretudo com a compra de votos e com outros comportamentos ilegais, e como é que os órgãos de fiscalização das eleições vão lidar com esses incidentes”, observa. “Ouve-se com frequência as pessoas a pedirem mais para que as eleições sejam relativamente limpas.”

20 Ago 2017

Casa de Portugal | Instituição promove um festival de Verão

Uma festa de Verão para todos é a sugestão da Casa de Portugal para este fim-de-semana. Música, dança, jogos e presentes são alguns dos condimentos para amanhã e domingo na zona das Casas Museu da Taipa. “Na Rota do Verão” é uma iniciativa para estar mais perto da comunidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s rubricas são muitas e para todos os gostos. A proposta é da Casa de Portugal em Macau (CPM) que leva à zona das Casas Museu da Taipa o festival “Na Rota do Verão”. O programa foi feito a pensar em todas as idades e a ideia é ter dois dias “com coisas giras”, disse ao HM a presidente da CPM, Amélia António.

Os mais pequenos têm música especialmente feita para eles. Tomás Ramos de Deus, Miguel Andrade e Paulo Pereira são os intérpretes de serviço que prometem tocar alguns dos êxitos mais conhecidos dos miúdos. O tema “Let it Go”  da banda sonora do filme “Frozen” e o “Cavalinho”, que integra o disco “Castelos no Ar”, são apenas duas das canções que constam do repertório.

De acordo com Diana Soeiro, membro da organização, trata-se de “músicas infantis de temas emblemáticos da Disney em português e em inglês, e de desenhos animados internacionalmente conhecidos, transversais a todas as idades e nacionalidades”. Para ajudar não irá faltar um animador vestido de panda, completa.

Os mais velhos não são esquecidos e, dentro dos espectáculos musicais, há três espaços disponíveis em diferentes tempos, até porque cada horário apela a uma sonoridade específica.

“Ritmos da Tarde” é a rubrica que traz “a sonoridade marcada por ritmos alegres que caracterizam o Verão”, aponta Diana Soeiro. A organização dá exemplos de temas que se conjugam com o ambiente pretendido e que passarão com certeza na rota. Clássicos de Bob Marley, como “No Woman No Cry”, ou de Stevie Wonder não vão ser esquecidos.

Jazz da casa

A CPM destaca ainda a estreia do projecto de jazz local que, no repertório, traz temas de música portuguesa com arranjos originais de Miguel Andrade. São os Jazzés que vão interpretar temas de Sara Tavares e John Legend, entre outros.

Mas o dia acaba de noite e, para esse momento, está guardada a “Serenata ao Luar”. O objectivo, diz a organização, é “recriar um ambiente intimista com recurso a cubos de luzes em que a sonoridade é marcada por sons tranquilos”. Vozes, guitarras, saxofone e clarinete vão ser os sons ouvidos e “a originalidade deste concerto prende-se com o facto de os músicos apresentarem temas com novos arranjos feitos pelo Miguel Andrade, guitarrista do projecto”.

Entretanto, e para diversificar o programa, a dança vai ter lugar com “Aerodance”. O evento consta de música dançável e a ajuda de um instrutor que convida o público a participar em diversas coreografias.

Jogos tradicionais vão também animar as tardes num regresso ao passado que passa pelo jogo do elástico, da macaca, saltar à corda e jogar ao pião.

Um apontamento de interactividade é feito com o Riquexó. Trata-se de uma marioneta interactiva construída e manipulada por Sérgio Rolo que vai acompanhando o público ao longo de toda a festa.

De acordo com Amélia António, “Na Rota do Verão” é uma actividade esporádica que se inclui entre as várias iniciativas que a instituição tem, em cooperação com os Serviços de Turismo.

O evento vai ser feito na zona das Casas Museu da Taipa que, aponta a responsável, “é um lugar onde as pessoas gostam de ir”.

A importância deste e de outros eventos do género é evidente para Amélia António. “É uma maneira de chegarmos a um público maior e de levarmos a nossa presença um bocadinho mais longe.” Caso contrário, considera, “a Casa de Portugal fica muito confinada àquilo que é feito apenas com os associados”.

“Queremos mostrar um trabalho útil para a comunidade e para Macau, para a diversidade que o território apresenta”, remata a responsável.

20 Ago 2017

Hong Kong | Condenados a prisão líderes dos protestos de 2014

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rês líderes estudantis, incluindo Joshua Wong, rosto dos protestos pró-democracia em Hong Kong em 2014, foram ontem condenados a penas de até oito meses de prisão, após o governo ganhar o recurso que pedia penas de prisão efectivas.

Joshua Wong (20 anos) foi condenado a seis meses de prisão, Nathan Law (24 anos) a oito meses de prisão, e Alex Chow (26 anos) a sete meses.

“Podem prender os nossos corpos, mas não as nossas mentes! Queremos democracia em Hong Kong. E não vamos desistir”, escreveu Joshua Wong na sua conta da rede social Twitter, ao conhecer a sentença.

Ao serem condenados a penas de prisão por mais de três meses, os três activistas são impedidos por lei de concorrer ao cargo de deputado por um período de cinco anos, o que na prática os impede de participarem já nas eleições parciais para preencher os lugares vagos deixados após a desqualificação de seis deputados (incluindo Nathan Law).

As penas de prisão decretadas ontem substituem as 80 e 120 horas de serviço comunitário a que Joshua Wong e Nathan Law foram condenados no ano passado, entretanto já cumpridas, assim como a pena suspensa de três semanas de cadeia para o antigo dirigente da federação de estudantes Alex Chow.

Os três activistas tinham sido condenados por crimes como “reunião ilegal”, por invadirem uma área no exterior da sede do governo, conhecida como Civic Square (Praça Cívica) no final de Setembro de 2014.

Esta acção esteve na origem dos protestos em defesa do sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo da cidade, conhecidos como “Revolução dos Guarda-Chuvas” ou “Occupy Central”.

O caso parecia encerrado, mas no início do mês os procuradores pediram ao Tribunal de Recurso a revisão das sentenças dos três activistas, instando os juízes a aplicarem penas de prisão como medida dissuasora para futuros manifestantes.

Outras penas

A sentença de ontem foi conhecida depois de, no início da semana, outros 13 activistas terem visto agravadas as respectivas sentenças, transformadas em penas de prisão efectivas, entre oito e 13 meses, por uma tentativa de entrada forçada no Conselho Legislativo (LegCo).

Este incidente ocorreu em Junho de 2014, meses antes das grandes manifestações pró-democracia.

Os 13 activistas envolveram-se num protesto por causa de um controverso plano de desenvolvimento nos Novos Territórios em Hong Kong, numa altura em que o respectivo financiamento estava a ser discutido pelos deputados.

Na quarta-feira, o deputado pró-democracia Eddie Chu acusou o governo de Hong Kong de “perseguição política” ao pedir recurso dos casos.

Chu disse à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK) que o governo está a aumentar a repressão contra os dissidentes “com penas de prisão longas de forma a evitarem futuras acções pelos cidadãos de Hong Kong”.

Nathan Law publicou na noite de quarta-feira um comentário no Instagram a avisar os seus seguidores de que esse poderia ser “o último durante algum tempo”.

O mais jovem deputado de Hong Kong, eleito em Setembro do ano passado com apenas 23 anos, foi desqualificado em Julho, juntamente com outros três pró-democratas depois de o tribunal ter declarado inválidos os seus juramentos no parlamento. Outros dois jovens deputados tinham sido desqualificados em Novembro.

Os casos têm sido denunciados como uma tentativa para expulsar os deputados da oposição democraticamente eleitos.

A Human Rights Watch (HRW), sediada nos Estados Unidos, disse na quarta-feira que houve “um aumento das acusações politicamente motivadas contra os líderes pró-democracia de Hong Kong”, desde o final dos protestos de 2014.

“As pessoas estão cada vez mais a perder a confiança na neutralidade do sistema de justiça de Hong Kong”, disse a diretora da HRW, Sophie Richardson, em comunicado, citado pela CNN.

20 Ago 2017

Exército pede aos EUA que descartem intervenção militar na Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] general Fan Changlong, o “número dois” da hierarquia militar chinesa, apelou ontem, em Pequim, num encontro com o chefe de Estado Maior norte-americano, Joseph Dunford, para que Washington descarte uma intervenção militar na Coreia do Norte.

“O diálogo é a única solução para a crise nuclear na península da Coreia e uma ação militar não deve ser considerada opção”, afirmou Fan, vice-presidente da Comissão Militar Central, segundo um comunicado do ministério chinês da Defesa.

“Desejamos que a China e os EUA colaborem para promover a resolução desta crise e a paz e estabilidade na península”, disse Fan a Dunford, o mais alto quadro do exército norte-americano a visitar a China desde que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ascendeu ao poder.

O general chinês disse ainda que alguns “erros dos EUA”, como o apoio militar a Taiwan ou a instalação do escudo antimísseis THAAD, na Coreia do Sul, “têm um impacto negativo nas relações”, entre as forças armadas chinesas e norte-americanas.

Tensão alta

A visita de Dunford ocorre uma semana depois de a troca de ameaças entre Washington e Pyongyang ter elevado as tensões na região.

Nos últimos dias, a situação terá estabilizado, com ambos os lados a afastarem a hipótese de uma intervenção militar.

A porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse ontem que a “situação começa a mostrar sinais de desanuviamento, apesar de continuar a ser complexa e sensível, pelo que os EUA e a Coreia do Norte têm que se esforçar”.

“A prioridade é travar o programa nuclear da Coreia do Norte e deter o círculo vicioso de escalada de tensões”, afirmou Hua, que defendeu a proposta chinesa de oferecer a Pyongyang o fim das manobras militares conjuntas entre Coreia do Sul e EUA, em troca do fim dos testes nucleares e com mísseis balísticos, realizados pelo regime de Kim Jong-un

20 Ago 2017

Renovação urbana | Definidas percentagens de concordância para obras

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho da Renovação Urbana chegou a consenso sobre a percentagem de concordância de condóminos para a realização de obras dos edifícios. Os prédios entre 30 e 40 anos necessitam da aprovação de 85 por cento dos moradores

A renovação das zonas mais antigas do território poderá ser uma realidade nos próximos anos. Ao fim de vários meses de discussão, o Conselho da Renovação Urbana (CRU) chegou finalmente a um consenso quanto à percentagem de concordância dos moradores dos edifícios que necessitam de obras.

Segundo adiantou ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, será necessária a concordância de 85 por cento dos moradores para edifícios que tenham entre 30 a 40 anos. Esta percentagem será também aplicada caso se tratem de “edifícios especiais, em ruínas ou com interesse público”.

Caso os edifícios tenham mais de 40 anos, será exigida a concordância de 90 por cento dos moradores. Para os edifícios com uma idade inferior a 30 anos, continua a ser necessária a concordância de todos os moradores, regra que até então tem sido seguida para todos os prédios.

Tratando-se o CRU de um conselho de carácter consultivo, caberá agora à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes elaborar uma proposta, que terá de obter a aprovação do Chefe do Executivo.

Ajudas para alojamento

Além das percentagens, a reunião de ontem do CRU serviu ainda para definir o conceito de alojamento temporário, que reuniu o consenso de todos os membros. Tal conceito significa que, caso um edifício necessite de obras, os seus moradores podem ter direito a alojamento temporário.

“Não decidimos ainda quais os terrenos ou locais [onde estes edifícios serão construídos], mas no caso de haver a reconstrução de um edifício as pessoas temporariamente podem ficar alojadas nestes espaços. As pessoas têm o direito de trocar uma casa por outra ou receber uma indemnização. Esse conceito será também submetido para aprovação superior”, acrescentou Raimundo do Rosário.

As comissões especializadas do CRU discutiram ainda a questão da alteração da finalidade dos edifícios industriais, para que haja uma reutilização dos espaços que ficaram vazios nos últimos anos. Contudo, o secretário garantiu que não houve qualquer conclusão. O CRU já reuniu com vários serviços públicos sobre esta matéria, mas está ainda tudo por decidir.

Entrada de Macau na Global Media adiada para Setembro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] negócio que irá permitir à KNJ Investment Limited controlar 30 por cento do grupo português Global Media deve ser fechado em Setembro, disse ontem o administrador da empresa de Macau. “Estamos a tratar de documentos jurídicos entre as duas partes. Espera-se que esteja terminado em Setembro”, afirmou Kevin Ho, numa resposta enviada por e-mail à Agência Lusa.

A assinatura do contrato esteve inicialmente prevista para Março. Sem entrar em detalhes, o administrador da empresa explicou não haver “uma razão específica” para o atraso: “Houve outra transacção na qual tivemos de trabalhar, por isso o processo abrandou um pouco. Nada de especial”.

O anúncio de que a KNJ ia fazer uma injecção de capital de 17,5 milhões de euros na Global Media, passando a controlar 30 por cento do grupo de media, foi feito em Outubro, altura em que foi firmado um memorando de entendimento entre as partes.

Segundo garantiu Kevin Ho, “os planos diferem um pouco [face ao inicialmente previsto], por diversas razões, mas o principal foco não mudou e será uma quota de 30 por cento. Outros detalhes serão anunciados assim que [o negócio] for concluído”.

A injecção de capital da KNJ deverá implicar a redução das participações actuais dos empresários António Mosquito e Joaquim Oliveira (27,5 por cento cada um), de Luís Montez (15 por cento), do Banco Comercial Português (15 por cento) e do Novo Banco (15 por cento).

Kevin Ho mantém que as negociações do acordo em si não contemplam uma redução de postos de trabalho no grupo que inclui o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. No entanto, o futuro investidor do Global Media advertiu que “qualquer aumento ou redução dos empregos vai depender das necessidades do negócio e planos futuros”. “Neste momento, não posso garantir nada, mas não vejo necessidade de qualquer redução”, concluiu.

A Macau KNJ Investment Limited é liderada por Kevin King Lun Ho e, segundo o registo comercial, foi fundada em 2012, dedicando-se ao investimento imobiliário, médico e de saúde, bem como à restauração. Kevin Ho é sobrinho do antigo Chefe do Executivo, Edmund Ho.

20 Ago 2017

Los Otros

Para Alejandro Amenábar

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uantas vezes não damos connosco em paisagens sem vivalma? Pode ser uma praia, uma montanha, um lago, um bosque. As paisagens podem ser também interiores. Para quem trabalha em casa, pode ser qualquer das divisões da casa, desabitada momentaneamente dos outros que lá vivam ou porque lá ninguém vive. Podem ser também vibrações disposicionais, estados de alma, manifestações do espírito a criar as paisagens onde nos encontramos a sós connosco sem vivalma. Neste último caso, podemos estar ao pé de outros seres humanos: em transportes públicos, igrejas, museus, cafés, hospitais, estádios, enfim, nos locais onde se pode produzir a homilia humana, até na rua onde nos cruzamos com desconhecidos.

Cada ser humano é portador deste horizonte, onde se pode encontrar sem ninguém.

Não quer dizer que se sinta só, isolado ou desolado. Pode estar fisicamente só e sentir-se na presença dos outros, daqueles de quem se despediu até mais tarde e com quem há-de encontrar. Os outros com quem está e a quem dirá “até mais tarde”. Estar fisicamente sozinho pode ser almofadado com a presença ausente dos outros que dão sentido às nossas vidas, com quem temos uma agenda comum, de quem partimos e a quem regressamos, e tal pode ser de manhã para a noite, de uma semana para a outra, por um mês de férias ou até por uma temporada.

Todos os seres humanos estão nesta paisagem, que pode estar fisicamente despovoada de outros e nem por isso se sentem sozinhos. Mas pode também ser uma paisagem despovoada de outros específicos. Nenhum ser humano existe sem estar remetido para os outros, os antepassados e os descendentes, os de outrora e os vindouros. Mas pode existir num horizonte de despovoamento daqueles que fazem sentido nas suas vidas.

Esses outros podem nunca ter existido. São os outros de quem estamos sempre à espera, amores hipotéticos, filiais, românticos, ideais ou reais. São os outros de que falam os mais velhos e de quem nem sequer há registo fotográfico: bisavós, personagens só vistas e referidas por quem conhecemos em histórias que nos contam. Pessoas anónimas mas que protagonizaram episódios importantes nas vidas desses que nos falam deles. Pelo menos ao ponto de nos falarem neles.

Muitas vezes encontramo-nos em paisagens onde não há nenhum vestígio da presença humana, como as paisagens que câmaras captam ao longo de meses, para apanhar o ecossistema ou o drama da modificação do mundo. As imagens captadas parecem existirem sem perspectiva. A câmara pode mudar de ponto de vista, mas dá sempre a ver o mar, a savana, o céu, um quarto, o que for. Como se não interviesse no mundo e como se não houvesse outros lá, mesmo que ausentes.

Somos nós que vemos as imagens captadas pelas câmaras obscuras. Somos nós que vemos paisagens sem vivalma, sem outros, sem nós. Mas este despovoamento de nós próprios e dos outros não é como se não fosse nada. A ausência é um elemento fundamental. Podemos querer estar sós ou acompanhados. O ponto não é esse. Os horizontes vazios e despovoados das vidas dos outros ou povoados e cheios de gente estão sempre connosco.

Uma paisagem despovoada está cheia das pessoas que lá poderiam estar, que lá estiveram e que poderão lá estar. Uma paisagem despovoada tem sempre um olhar a constitui-la. Por isso, pode ser desoladora ou cheia de sentido.

Mas também podemos passar a vida impermeáveis uns aos outros. Não apenas no sentido em que não somos vistos por quem gostaríamos de ser vistos. O ser humano é iluminado pelo olhar de outros que lhe são especiais. Também é apagado pelo fechar de olhos desses outros que são especiais para si. E é também verdade que podemos durante algum tempo iluminar a vida dos outros com o nosso olhar para eles. E podemos acabar com eles quando os ignoramos, não reconhecemos e deixamos de os ver. Mas deixemos esta hipótese de lado.

A impermeabilidade aos outros pode ser total, como se não houvesse ninguém já que fosse testemunha do nosso passado, da nossa juventude ou infância. Uma impermeabilidade complexa em que somos os sobreviventes de uma vida que houve, e é inegável ter havido, mas não consegue ser ressuscitada, porque é necessário um outro ser humano para ressuscitar o nosso passado, em conversa de lembrança, na invocação de uma memória.

Quando somos vistos nessa impermeabilidade, não somos metade das pessoas que fomos. Não somos nada do que fomos. Somos nós só fachada a apresentar o que é visto de nós, o nosso exterior absoluto, na idade que temos, no sítio onde estamos a ser vistos: mas sem passado, nem presente, nem futuro. Sem por ir, para onde ir e sem de onde vir. Somos nós aí desconectados do passado, do presente e do futuro, dos outros que povoaram as nossas vidas, sem expectativa de que haja outra oportunidade para um outra origem que dê início a um outro tempo, sem poder começar de novo.

Os outros a quem dirigimos uma palavra não respondem. Os outros que vemos não nos vêm. Os outros existem, e nós não. Não são os outros que são os fantasmas impermeáveis às nossas vidas. Somos nós próprios os fantasmas de nós próprios na multiplicidade de “si próprios” que é cada um de nós. Somos nós que não existimos já para ninguém e por isso ninguém nos dirige a palavra, e quando olham na nossa direcção, é para nos atravessar o corpo e fixar o que está atrás de nós, sem nos verem, como se não estivéssemos lá, como se não fôssemos, como se nunca tivéssemos sido.

Somos nós os fantasmas, aparições, para os outros, os que não cabem, são sem pertença. Inexistentes.

20 Ago 2017

De lugar em chamas

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stava ali interdita e afogueada. Quase as pontas do cabelo e aquele cheiro sem equivalência. Do medo. Da chama corrosiva e corredora de fundo em velocidade e em desígnio. Tudo numa só vez. Talvez invisível mas tanto não diferia do que o não era. Havia talvez uma força a subir sabe-se lá de que órgão e a tornar inevitável correr. Também. A partir dali e independente da quebra, a obrigar. As coisas obrigam e sem estrelas. E o corpo corre. Sobre as pedras duras as teclas ou a simples e forçosa respiração. Correr de uma maneira qualquer contra o que vem. Do que se anuncia no vir do desconhecido que vem. Nada se sabe do correr nem do porque correr. Só e apenas correr contra – sei á – o tempo. As duas e um quarto mortais em luta contra as três e vinte caladas ou as quatro e trinta e cinco inevitáveis. Sim, luta de morte contra esse tempo que ameaça antes de o ser, fazer-se pagar caro em respirações difíceis.

Ou é talvez o fumo.

País, lugar em chamas. Sina de estação do corpo país lugar. Ou do corpo nem país nem lugar nem sina nem sinal. Retiro metade das batidas do coração para momento de necessidade. Nunca se sabe se vêm a ser salvadoras. Mais um pouco por excesso de precaução. E fico de uma lentidão fria, olhos esgazeados, revejo todo o corpo e das palavras digo sei estarem lá para o que der e lhes der na real gana. O corpus de possíveis e impossíveis mesmo as já entornadas do caldo ígneo da hora anterior. Bichos em fuga, terras a quente e de negro árido tornadas desconhecimento de cinco e meia. Seis e dez, oito e vinte e dois e três ou quatro anos depois. O negro a entranhar-se nas camadas abaixo da pele e da terra e do futuro próximo. Tudo ardido, fodido, mesmo. Para alguns mais nada. Depois de tudo.

Salvam-se os bichos, aqui, uma casa, ali, e do todo, fica muito menos. Para alguns, nada.

Peguei fogo? Foi fogo posto. Avanço no corredor entre as sombras e as árvores que sobram em sombras. Avanço a meia respiração, a meia vida, a meia consciência, das meias tonalidades, nas meias sombras que sobram. Em árvores. Avanço em silêncio comigo própria a dizer baixinho talvez durma. A dizer surdamente espero que durma ainda. Já. Abrando os passos na porta e observo retendo o pouco que sobre de respiração não vá acordar o monstro que dorme ali. Em parte do que os passos me levam ali. A mim. Dorme. Afinal dorme ainda ou dorme já e dorme na respiração regular e calma de quem não faz mal. Dorme. Observo. Ou respiro.

Respiro forte e lenta no momento, ali estagnado, congelado e parado, da porta quase fechada a abrir sem ruído e a escancarar para abrir os pulmões. Todo o tórax em liberdade de movimento surdo, muito silencioso e suave para a vida ficar. Assim. Um pouco para lá de adormecida entretanto. A ver. Fico ali a ver a respirar pela pele. Pelo ouvido atento e a mim. Pelo tempo. No limiar, recupero o todo do coração o todo do cérebro e do corpo sobra um todo. E do todo saio finalmente do tempo. Mas fico um momento mais de eternidade. Daquelas. A espiar o sono e no sono os registos ténues de sonhos a agitar. A estremecer o corpo. Telúricos arremedos de vida secreta e densa a querer sair pelos poros. Como se fosse pelos poros. E a respiração em sobressaltos e pequenos rugidos de dor, talvez. Depois serena por um instante de tempo não medido nem definido. O aleatório percurso pelas ondas. E respiro-o. Fico mais um pouco indefinidamente indecisa. Ali, encostada a uma ombreira que não é ombro ainda. Como chamamento disfarçado na calma no silêncio e na melancolia. Enquanto o tempo não volta ventoso e a correr. Mas vem alheado e sonolento, indiferente e esquivo. Como se não viesse. Por isso vou. Entro talvez no espaço do corpo sem autoria, sem autorização, sem assinatura, sem requerimento. Sem querer. Sem resistir.

E depois vou. Um pouco mais dentro do lugar. Descalço uns sapatos cansados do fogo. Fui eu? Dispo uns trapos de sinais informes. Que teria dito nos fósforos? Nas caixas. Deito-me encostada. No abraço. Para o que vier, me encontrar assim. O que é, chama. Se para queimar que seja rápido. Indolor não pode ser.

20 Ago 2017

O valor do silêncio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições estão marcadas para 17 de Setembro. Nas últimas semanas, todos os dias, escrevo esta frase. As eleições estão marcadas para 17 de Setembro. Escrevo-a com variações e parece-me estranha, é um conjunto de palavras que me parece desfasado da realidade. Há legislativas daqui a um mês e não se dá por elas, eu não dou por elas, mesmo quando escrevo que acontecem a 17 de Setembro. Um mês menos um dia na contagem decrescente.

As eleições não andam por aí por imposição legal, por formatação política, por incapacidade de percepção da importância do acto, por necessidade de se privilegiar quem pode mais, quem manda mais, quem tem mais dinheiro na conta bancária. Este é o resultado de um período de campanha curto, muito curto, que se resume a duas semanas. É o resultado de um período de proibição de propaganda eleitoral longo, demasiado longo, cuja razão de ser não compreendo. Há eleições e não se fala delas, e eu não percebo por que temos nós um mês de silêncio, um mês de coisa nenhuma.

Há eleições a caminho. São o único momento da vida política de Macau em que os residentes com capacidade eleitoral são chamados a dizerem qualquer coisa, a escolherem um candidato, a pensarem numa ideia ou noutra que gostariam que fosse realidade na cidade onde vivem. É um momento que só existe a cada quatro anos e que deveria ser aproveitado para pôr as pessoas a discutir, a ler, a ouvir. Não sei se iriam fazê-lo, mas seria bom se houvesse esse esforço, se esse esforço pudesse ser feito de forma mais prolongada, se houvesse essa oportunidade.

Concedo. Sabemos todos que a Assembleia Legislativa e os seus deputados já conheceram melhores dias, já tiveram outro grau de credibilidade. Há um desânimo em relação à política em Macau que se prende com o sistema e com o modo como as pessoas não foram educadas para a política. Todas elas: quem elege, quem é eleito e quem gostaria de ser. Mas não é tarde, gosto eu de pensar. Não é tarde para as pessoas começarem a olhar para os políticos de outra forma, com melhores olhos ou então com piores, para não votarem ao engano.

Um mês de silêncio não faz bem a ninguém. Não contribui para nada. Ajuda a que se fure o sistema com os métodos mais perniciosos. Coloca nos primeiros lugares da grelha de partida aqueles que têm os carros com melhor motor, os carros mais caros, aqueles que têm maior capacidade de arranque. Quem anda a pé fica apeado, no fim da linha. O que aí vem não vai ser melhor.

20 Ago 2017

Perfil | Ana Cristina Vilas, funcionária pública e responsável pelo “Dress a Girl Around the World Macau”

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]eio para Macau com os pais, ainda adolescente. “Estou em Macau há uma eternidade. Vim em 1981 com os meus pais na altura em que começaram a chegar muitas pessoas, e fui ficando”, recorda Ana Cristina Vilas.

Apesar de ter feito vida no território, esta não é a casa de Ana Cristina Vilas. Não é que tenha um lugar dela ou aquilo a que se possa chamar de lar. Para a funcionária pública, “hoje em dia quase todos somos cidadãos do mundo”. Nasceu em Moçambique, foi para Viseu onde frequentou um colégio interno e depois mudou para o local onde até hoje passa as suas férias, em Cascais. Se a vinda para o território era para ser temporária, um acidente alterou-lhe os planos. “Acabei por ficar cá, casei com uma pessoa da terra e tive um filho. Macau não é a minha terra, adoptei-a”, diz.

“Gosto de Macau mas não me sinto macaense, sou uma estrangeira que fala a língua. Tenho amigos de todas as culturas e não me sinto de lado nenhum”, aponta.

Trabalha na Função Pública, mas o que vai movendo Ana Cristina Vilas é outra coisa: a ajuda a quem mais precisa ocupa um lugar central neste momento da sua vida. É a responsável pelo projecto “Dress a Girl Around the World” em Macau desde Abril.

“Vi uma notícia de uma senhora já idosa que fazia um vestido por dia para crianças necessitadas em África e achei aquilo fantástico”, conta. O entusiasmo com que via esta pessoa a fazer este tipo de trabalho foi contagioso e, pouco tempo depois, encontrou o projecto internacional “Dress Girl Around the world”, que se dedica a confeccionar vestidos para crianças de países subdesenvolvidos e que vivem numa situação de pobreza.

A curiosidade aliou-se ao gosto que já tinha por fazer artesanato. “O bichinho começou a funcionar e sempre gostei de fazer coisas com as mãos. Costumo participar na Lusofonia com as minhas coisas, com o apoio da Casa de Portugal. Frequentei também formação em joalharia”, refere.

Da tomada de conhecimento do projecto a envolver-se na produção de vestidos para as crianças que mais precisam foi um trajecto rápido. “Numas férias em Portugal, fui a uma loja de Cascais onde nasceu o projecto e comecei a acompanhar o que faziam.”

Com a ajuda de amigas trouxe a ideia para o território. O primeiro evento, em Macau, foi a 4 de Abril deste ano. “Já temos cerca de 150 vestidos prontos, 24 calções e umas dezenas de cuecas, porque cada vestido é acompanhado com elas.” De Portugal chegam as etiquetas e os tecidos são ofertas de pessoas que querem dar uma ajuda.

As peças de roupa são produzidas, na sua maioria, durante os eventos. “As pessoas vão, temos tudo: as linhas e os tecidos cortados. É só lá chegar e coser, não é preciso ter grandes conhecimentos de costura”, explica Ana Cristina Vilas.

O trabalho conta com a ajuda de voluntárias que são normalmente entre dez a 15, e os eventos são marcados pela descontracção. “Há muito boa disposição e fazemos companhia umas às outras. É divertido e contam-se umas anedotas e experiências pessoais.”

A próxima iniciativa, ainda sem data marcada, promete mostrar um pouco do que tem sido feito. Entretanto, o destino da roupa já confeccionada ainda não é certo, mas já existe uma área definida. “Temos de os distribuir e quero fazê-lo na Ásia, porque está toda a gente a trabalhar para África”, adianta Ana Cristina Vilas.

“Temos muita pobreza nas Filipinas, no Camboja e no Vietname”, exemplifica. Chegar a estas comunidades parece não ser tarefa fácil pelo que está, neste momento, a procurar ajuda junto das missões religiosas. “Disseram-me que através da igreja era mais fácil chegar a estas zonas do globo. A primeira entrega quero ser eu própria a fazê-la. É um orgulho e cada vestido que corto enche-me a alma”, conta emocionada.

O trabalho na costura não se limita aos eventos do projecto “Dress a Girl Around the World”. Ana Cristina Vilas sai das Finanças e volta para casa onde tem um atelier preparado e põe as mãos na costura.

20 Ago 2017

Animais | IACM diz que já há resultados desde entrada em vigor da lei

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrou em vigor em Setembro do ano passado. A lei de protecção dos animais já começa a dar frutos com o registo de menos abandonos. Com o fecho do Canídromo, os 600 galgos que ainda não têm destino poderão contar com o apoio do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais

A lei de protecção dos animais entrou em vigor há quase um ano e é tempo de balanço. O diploma parece começar a dar frutos em vários sentidos, mas o chefe de Divisão de Inspecção e Controlo Veterinário do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), Choi U Fai, destaca a diminuição dos abandonos.

A razão, apontou ontem, tem que ver com dois factores. Por um lado, a introdução do pagamento de mil patacas, o que pode constituir um obstáculo aos donos que querem abandonar os seus bichos de estimação e, por outro, mas não menos importante, a noção de que se o animal abandonado não conseguir ser adoptado, será abatido.

Para o responsável, “a lei está a ser muito efectiva para educar os donos e para a protecção dos animais”, disse ontem Choi U Fai em conferência de imprensa.

Em números, os cães entregues ao IACM forma menos 40 por cento, desde que a lei entrou em vigor, e o número de gatos decresceu mais de 80 por cento, o que se reflectiu proporcionalmente no número de animais abatidos pelo Canil Municipal.

No entanto, dos estudos feitos pelo organismo, Choi U Fai aponta para a existência de cerca de 30 mil cães no território em que metade estará por licenciar. A razão, apontou, tem que ver ainda com muita falta de informação, especialmente junto de uma faixa etária mais velha. “Os mais jovens têm mais consciência, mas os mais velhos, muitas vezes, nunca ouviram falar de licenciamentos”, disse. O desconhecimento não pode, de acordo com o responsável, justificar o não cumprimento da lei. Para melhorar a situação, Choi U Fai considera fundamental a promoção de campanhas de divulgação.

Desde que a lei entrou em vigor, as multas por falta de licenciamento foram 517. “Não há perdão”, afirmou o responsável. “Se nas nossas fiscalizações encontrarmos animais não licenciados as pessoas têm de pagar imediatamente”, referiu. Esta, considera, é também uma medida que ajuda a promover a legalização dos animais de estimação.

Choi U Fai alertou ainda para o facto de que as fiscalizações podem acontecer também nos espaços privados caso existam queixas, pelo que chama a atenção da população para a importância em licenciar os animais e em agir de acordo com a lei, até porque, “recorrendo ao IACM e aproveitando para fazer a esterilização, o processo fica barato”, explicou.

Galgos à deriva

São mais de 600 os galgos que não têm destino após o encerramento do Canídromo de Macau. O IACM está atento e quer saber o que vai acontecer.

Para o feito e ainda este mês, apontou o chefe de Divisão de Inspecção e Controlo Veterinário, o organismo vai enviar uma carta ao Canídromo a pedir esclarecimentos quanto aos planos para estes animais. “Queremos saber como é que o Canídromo vai gerir um número tão elevado de cães depois de encerrar”, disse Choi U Fai.

Apesar das limitações físicas do Canil Municipal, que tem uma capacidade máxima para acolher 100 animais, o IACM está disposto em colaborar no que for necessário para a melhor resolução possível quanto ao destino dos galgos.

Choi U Fai aponta já algumas acções em que o IACM poderá estar envolvido, entre as quais, destacou o responsável, na ajuda nas campanhas de adopção e com a colaboração das instituições locais que se têm dedicado à protecção e acolhimento de animais.

No que respeita às condições em que vivem os galgos do Canídromo, o responsável assegura que, “não se tratando de um hotel de cinco estrelas, estão garantidos os cuidados básicos”, sendo que as equipas de fiscalização do Governo não apontaram falhas nas condições definidas legalmente.

Agressão a cão | Agente da PJ multado em 35 mil patacas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] agente da Polícia Judiciária que foi filmado a maltratar um cão foi punido com uma multa de 35 mil patacas, disse ontem o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). O agente, alvo de um processo disciplinar na sequência do caso que aconteceu Janeiro, foi sancionado à luz da Lei de Protecção dos Animais.

Respondeu por infracção administrativa (maus tratos a animais) e não por uma infracção penal (crime de crueldade contra animais), a qual poderia resultar numa pena de prisão até um ano, ou de multa até 120 dias. Isto porque a infracção penal encontra-se reservada a “quem, com a intenção de infligir dor e sofrimento a animal, o tratar por meios cruéis ou violentos ou por meio de tortura, que resultem em mutilações graves, perda de órgãos importantes ou morte”.

O valor da multa aplicada – e já paga – foi facultado pelo chefe da Divisão de Inspecção e Controlo Veterinário do IACM. Choi U Fai informou que, desde a entrada em vigor do diploma, foram sinalizados dois casos de maus tratos – incluindo este – e outros tantos de crueldade contra animais, ambos sob investigação por parte da Polícia de Segurança Pública.

O caso do agente da PJ tornou-se conhecido depois de ter sido posto a circular nas redes sociais um vídeo que mostrava um homem, no terraço de um prédio, a agarrar um cão e atirá-lo violentamente para o chão, desferindo depois vários golpes contra o animal. Só mais tarde se veio a saber que se tratava de um agente da PJ, o que desencadeou uma série de reacções, nomeadamente do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

No início de Julho, o secretário para a Segurança afirmou que “devido à regulamentação legislativa, não seria adequado divulgar a duração da pena de suspensão” imposta ao agente de investigação criminal da PJ, ressalvando que o processo ainda não tinha sido concluído, por o agente gozar do direito ao recurso.

Burlas | PJ cria mecanismo de prevenção e cria linha aberta

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]evido às rápidas adaptações ao ‘modus operandi’ das burlas telefónicas que têm invadido Macau, a Polícia Judiciária (PJ) decidiu avançar com uma campanha de informação para prevenir este tipo de crimes. Como tal, em colaboração com o Corpo de Polícia de Segurança Pública e os Serviços de Alfândega (SA), será feita uma campanha de divulgação e alerta contra as burlas telefónicas nos vários postos fronteiriços de Macau.

Foi também colocada à disposição da população uma linha aberta (com o número 88007777), já em funcionamento.

Apesar da atenção das autoridades, os casos de burlas telefónicas em que os criminosos se fazem passar por funcionários dos serviços públicos continuam a aumentar. Entre 20 de Julho e a passada quarta-feira, as autoridades registaram um total de 2894 casos através de denúncias. De entre estes casos, 49 resultaram em prejuízos num montante total de cerca de 12,5 milhões de patacas.

Com o intuito de prevenir estes casos, a PJ criou o mecanismo de prevenção conjunta contra burlas, em colaboração com a Autoridade Monetária de Macau, a Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações, o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior e as operadoras de telecomunicações.

Desse trabalho conjunto resultou a suspensão de várias transferências bancárias relacionadas com o crime em questão. O mecanismo estabelece uma comunicação urgente entre os diversos serviços quando os burlões usem um número de telefone de Macau. O número em questão é encerrado, assim como o contrato de compra e venda.

Foi também criado um mecanismo de comunicação directa entre o sector bancário local e o centro contra a burla telefónica e informática da China Continental.

20 Ago 2017

Ágata / Cristas | CDS reafirma apoio a lista com cantora

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presidente do CDS-PP considerou ontem positivo o envolvimento de independentes, remetendo o apoio a uma candidatura integrada pela cantora Ágata a uma decisão da concelhia de Castanheira de Pêra, da qual diz não ter razão para duvidar.

“Se o CDS local, e volto a dizer que é uma decisão da concelhia de Castanheira de Pêra, entende que é a melhor solução, pois, não temos razão para duvidar dessa escolha”, afirmou Assunção Cristas aos jornalistas no final de uma visita a uma instituição social de Marvila, na qualidade de candidata à Câmara de Lisboa.

Questionada sobre o apoio do partido à lista para a Câmara Municipal de Castanheira de Pêra “Todos por Castanheira” (CDS-PP/MPT), que integra, em segundo lugar, a cantora Ágata, a líder centrista começou por acentuar que as “decisões de apoio local são precisamente locais, ou seja, é a concelhia do CDS local, no caso, de Castanheira, que decide quem é que apoia e como é que apoia”.

Na sua página na rede social Facebook a cantora Ágata divulgou um comunicado em que confirma que foi convidada para fazer parte da lista “Todos por Castanheira” em segundo lugar.

“Não posso ficar indiferente às carências e necessidades do um povo que sofreu uma tragédia que chocou o país inteiro, para além de cantora não deixo de ser um ser humano …. posso não perceber muito (ou nada) de política mas, sou uma mulher do povo e sei muito bem das necessidades de quem me rodeia”, afirmou a artista popular.

20 Ago 2017

Chefe de Estado Maior dos EUA condena “racismo e intolerância”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de Estado Maior norte-americano, Joseph Dunford, condenou ontem o “racismo e a intolerância”, em linha com outros altos oficiais do exército dos Estados Unidos da América, depois da violência em Charlottesville.

“Posso dizer com firmeza e de forma inequívoca que não há lugar para o racismo e intolerância no Exército dos EUA e nos EUA como um todo”, disse o general Joe Dunford.

Vários funcionários militares dos EUA condenaram prontamente os confrontos que fizeram, no sábado, um morto no Estado de Virgínia, onde alguns manifestantes de extrema direita envergavam uniformes ou usavam insígnias do exército.

“A marinha dos EUA sempre se opôs ao ódio e à intolerância”, disse no sábado o almirante John Richardson, chefe da Marinha dos EUA.

Os líderes da Força Aérea e do Pentágono também condenaram fortemente a violência.

Uma postura enaltecida por Dunford, que se encontra numa visita oficial à China: “os nossos líderes deixaram claro que este tipo de racismo e intolerância não têm lugar nas fileiras das nossas Forças Armadas”.

“Eles lembraram ao povo americano os valores pelos quais lutamos no exército dos EUA, e que reflectem o que eu acredito serem os valores norte-americanos”, acrescentou.

Um neonazi foi detido por ter atropelado mortalmente, no passado sábado, uma mulher, ao investir com o seu veículo contra um grupo de manifestantes antifascistas que protestava contra a marcha de supremacistas na cidade universitária de Charlottesville.

Fala Donald

A condenação de altos responsáveis norte-americanos contrasta com a posição assumida pelo Presidente Donald Trump, que culpou ambos os lados pela violência.

Donald Trump condenou a violência, mas de forma geral e sem se referir aos supremacistas brancos que tinham convocado a manifestação.

Depois de criticas generalizadas, Donald Trump acabaria por condenar a violência racista, incluindo “os supremacistas brancos, o KKK, os neonazis e todos os grupos extremistas”.

Porém, na terça-feira, voltou a defender a sua controversa posição inicial e disse que na violência de sábado houve erros de ambas as partes.

20 Ago 2017