Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteGertina van Schalkwyk, docente de psicologia: “Crianças de Macau sofrem uma grande pressão” Tem dedicado a carreira académica a estudar culturas e gerações. Gertina van Schalkwyk estuda especialmente as crianças e famílias em contextos diversos. Macau tem particularidades associadas ao jogo que em nada ajudam o bom desenvolvimento infantil e apresenta, neste momento, uma das taxas mais preocupantes de incidência de depressão e ansiedade Está muito envolvida com a investigação que diz respeito a crianças de terceira cultura. Porquê o interesse por esta área? O interesse apareceu quando acompanhei uma doutoranda que estava interessada em estudar as crianças de terceira cultura. Foi um tema que me fascinou pela natureza do estilo de vida destas crianças. Há também características particulares dos pais que podem ser inseridas naquilo a que chamamos de terceira cultura. Quando falamos destas crianças, estamos a falar de um grupo de pessoas que não estão enraizadas em nenhum lugar devido à grande mobilidade dos pais, que se deslocam muito frequentemente entre países, normalmente em trabalho e à procura de melhores situações económicas. Ora, se os pais mudam, os filhos também vão com eles. Por vezes os pais ficam cinco ou seis anos num sítio, outras vezes mudam-se com mais frequência, podendo mesmo acontecer em períodos de seis meses. Com isto, as crianças estão sempre a mudar de escola. Em cada mudança estão também a aprender novos padrões de comportamento, novos valores culturais. Estas pessoas acabam por se tornar naquilo a que chamamos nómadas globais. Quando se nasce num país e se está no mesmo lugar durante grande parte da vida, há um sentimento de segurança no que toca à pertença a um lugar. Mas quando falamos de um estilo de vida de grande mobilidade, os lugares mudam com muita frequência, o que pode trazer alguns benefícios. São pessoas que se tornam muito internacionais, com conhecimento acerca de diferentes culturas e capazes de falar várias línguas. Desenvolvem uma capacidade de liderança muito forte e normalmente fazem parte de classes sociais altas e com educação superior. Mas há um mas, certo? Sim, há. E é por isso que estas crianças são, por norma, pessoas que têm muita dificuldade em ter compromissos. Quando se trata de fazer uma amizade, de construir alguma proximidade, é necessário ter tempo para conhecer pessoas e para manter uma relação de modo a criar uma familiaridade que é parte do desenvolvimento de uma relação a longo termo e de uma amizade profunda. Se se anda sempre a mudar de lugar, estas amizades perdem-se. Podemos, hoje em dia, dizer que podem ser mantidas através da comunicação virtual, mas há uma diferença entre estar com uma pessoa no Skype e estar pessoalmente. Há também uma falha no que respeita a perspectivas ideológicas claras dentro da sua identidade e sistema de valores porque estão inundadas de coisas diferentes. Por vezes, sentem que estão perdidas numa mistura de valores aos quais são expostas. Uma das alunas com quem falámos ao longo da investigação mudou de licenciatura três ou quatro vezes e desistiu de todas. Não conseguia sequer comprometer-se com um programa académico. Outros participantes neste estudo mostravam ter muita dificuldade em ter uma relação de afecto. Tinham medo da rejeição ou que uma partida acontecesse. Todos estes factores são problemáticos para as crianças e os adolescentes. Alguns pais que se mudam com muita frequência nem chegam a criar uma casa que se pareça a um lar. O sítio onde moram não passa de um espaço cheio de malas de viagem. Um lar é sempre um espaço capaz de dar a uma criança algum sentimento de pertença e permanência que, desta forma, não existe. Em suma, estamos a falar de futuros líderes internacionais, mas com muitas dificuldades pessoais. Foto: Sofia Margarida Mota Como é que esta situação se reflecte em Macau? Antes de falarmos de Macau, há que fazer alguns esclarecimentos. Não podemos confundir as crianças de terceira cultura com os filhos de imigrantes. Os imigrantes vão, muitas vezes, trabalhar para o estrangeiro mas não levam as famílias ou, se o fazem, acabam por se inserir num grupo cultural minoritário, mas definido. Existe ainda o grupo dos filhos de militares e de diplomatas. Os pais são colocados no estrangeiro, por um período de tempo, e são colocados numa comunidade de pares onde podem manter uma relação pessoal com indivíduos também do seu próprio país. As crianças de terceira cultura não têm esta ligação a uma cultura mãe do seu próprio país. Elas só são de um país porque têm de ter um passaporte. Por vezes têm ainda família naquilo a que se poderia chamar de país de origem, mas quando vão a esse sítio sentem-se perdidas. Têm uma espécie de choque cultural inverso. Já experimentaram muita coisa e quando regressam têm dificuldades em se encaixar. Aqui em Macau, temos um grupo de pessoas associado às indústrias do território que atraem estrangeiros. O jogo é um bom exemplo disso. As pessoas chegam muitas vezes em regime de contrato de curta duração e trazem as famílias. Os filhos andam na Escola Internacional ou em escolas em que o ensino seja dado em inglês e em que o currículo siga as normas internacionais. Estas escolas internacionais também acolhem locais, mas as pessoas tendem a agrupar-se dentro das culturas que conhecem. O resultado é que os estrangeiros acabam por estar muito isolados e separados do resto. Falou da indústria do jogo e do seu impacto nas crianças. Tem também sido uma área de estudo que tem vindo a desenvolver. De que modo é que este sector afecta as crianças e a vida familiar local? A indústria do jogo emprega um número muito elevado de trabalhadores em que muitos são imigrantes e estão em diferentes níveis. Temos por exemplo os quadros seniores que ficam por períodos de tempo mais longos com a família. Dentro deste contexto encontramos crianças de terceira cultura, filhos de imigrantes e filhos de locais. O impacto nestas populações é muito diverso e depende em que parte da hierarquia se trabalha. A minha maior preocupação tem que ver com os pais que trabalham nos níveis mais baixos da hierarquia. São pessoas que trabalham por turnos e, nesta indústria, os turnos são alterados com muita rapidez. Isto significa que as famílias têm menos tempo para os filhos desde que eles nascem, quando precisam de forma vital de ter os cuidados básicos por parte dos pais. Com os turnos inerentes ao jogo é muito difícil para os pais terem uma interacção regular com os seus filhos. Isto também faz com que os pais não consigam que as suas crianças possam participar em actividades extracurriculares. Podemos dizer que a mesma situação se passa em outras áreas profissionais, como na enfermagem, por exemplo. Mas há diferenças. No caso da enfermagem ou mesmo no trabalho fabril os turnos não mudam com a mesma frequência que no jogo. Claro que é assim por uma razão justificável, mas o impacto que isto tem na família é enorme. Por exemplo, um enfermeiro que trabalhe de noite por um ano, tem o dia, ou uma parte dele, de uma forma consistente para interagir com a família. Por outro lado, na situação de Macau, as escolas têm também muita dificuldade em envolver os pais no processo educativo, o que é fundamental para o seu desenvolvimento. Estas crianças apresentam características particulares? É difícil dizer mas, da minha observação, são crianças que, quando chegam a casa, vão para uma casa vazia. Desde pequenas que têm a chave e quando chegam têm de fazer as suas refeições porque os pais estão a trabalhar. Acabam por ser independentes muito cedo, mas acabam também por ter dificuldades em criar relações, nomeadamente com adultos. Como regressam, por sistema, a uma casa vazia, não têm grande supervisão dos pais durante o crescimento e numa fase em que estão a desenvolver um modelo do que é certo e do que é errado. O que vemos é que, e em particular na adolescência, são jovens que saem muito à noite e andam muito nas ruas porque preferem isso a ter de estar em casa sozinhos. Isto faz com que seja mais fácil a esta população envolver-se, por exemplo, em gangs para sentirem que fazem parte de alguma coisa. Todos os seres humanos precisam de ter ligações. Somos seres sociais e é disso que somos feitos. O estar sozinho e isolado é uma situação problemática para qualquer um, até nas culturas individualistas. Precisamos de sentir algum tipo de ligação com outras pessoas. Para ter isso, estas pessoas acabam por estar mais expostas a comportamentos problemáticos, até mesmo associados ao consumo de drogas e ao de álcool porque não têm uma referência. Os pais estão ausentes. Um estudo feito por um colega meu do departamento de Sociologia concluiu que os pais não sabem, na maioria das vezes, onde andam os filhos. A próxima característica, se pudermos falar assim, é que se tratam de crianças e adolescentes que não dormem o suficiente, o que acaba por ter influência na sua saúde. Não há ninguém para ditar normas, que são fundamentais. Estas crianças não dormem o suficiente para que sejam saudáveis quer ao nível físico, quer na prevenção de problemas mentais como a depressão e a ansiedade. Isso leva a um outro estudo de um outro colega meu em que, em todas as faixas etárias, Macau apresenta uma taxa de depressão e de ansiedade das mais altas que se conhecem. Isto é preocupante. Para mim, a falta de sono e de apoio e acompanhamento parental possivelmente são factores que contribuem muito para os sentimentos de solidão. Há, em Macau, situações em que as crianças são mandadas para o Continente para serem criadas pelos avós. Quando chegam à idade escolar, regressam para ficar com os pais, o que significa que vão ter de formar novos laços e perdem a sua referência primária que é a dos avós. Mais uma vez, estamos com a presença de um sentimento de perda e de incerteza no que respeita às relações primárias. São muitos os factores a contribuírem para um mesmo sentimento e para uma maior prevalência de depressão e ansiedade no território. Trata-se de uma situação preocupante. O que é que se pode fazer? É muito preocupante. Por outro lado, e devido a questões culturais, as pessoas são ainda muito relutantes a procurar ajuda, o que faz com que se desenvolvam alguns problemas mentais que se podem manifestar fisicamente. É uma faca de dois gumes: as pessoas evitam ir procurar ajuda e os serviços também não disponibilizam a ajuda necessária neste aspecto. Há muito a fazer em Macau no que respeita ao acompanhamento psicoterapêutico. Há alguns assistentes sociais mas estamos a falar de psicoterapia em que está envolvida a saúde mental. Precisamos de mais serviços e de desenvolver uma cultura em que seja normal procurar estes serviços. Tem feito pesquisas na área do suicídio que apontam o stress interpessoal como uma das razões por detrás deste fenómeno, nomeadamente com os alunos da Universidade de Macau. O que é que se passa? O estudo que fiz mostra que o que está por detrás de uma atitude suicida; em Macau, é muitas vezes o sentimento de inutilidade e desmerecimento. As pessoas pensam que não são merecedoras de ter uma relação com os outros e, mais uma vez, é uma ideia relacionada com a infância em que os pais não estão presentes, o que faz com que as pessoas tenham dificuldades em desenvolver relações e amizades. Sentem-se isoladas e sem valor. Outro aspecto é que as crianças em Macau sofrem de uma pressão muito grande no que respeita ao desempenho escolar. Se não conseguirem ter bons resultados são repreendidas e culpabilizadas por não estarem a fazer um esforço suficiente. A cultura local vê o desempenho relacionado com a quantidade de esforço que é posto em determinada actividade, sendo que, noutros países, o desempenho tem que ver com as características e apetências das próprias pessoas. São coisas diferentes. Mas os pais continuam a fazer pressão e, se as crianças não atingem os resultados, sentem-se incompetentes e desmerecedoras. Na adolescência, as pessoas começam com padrões comparativos e a achar que não são boas o suficiente e que nunca serão. É quando aparece o suicídio como saída. Há ainda quem use as tentativas de suicídio como uma forma de chamar a atenção. Não querem realmente morrer mas querem é ter alguma atenção que não tiveram. O suicídio é uma forma de lidar com todo este stress. Mais uma vez, e porque não existe apoio psicológico suficiente e há o preconceito sobre quem procura ajuda, estas pessoas acabam por não ter apoio profissional a tempo. Mas o mais preocupante para mim foi o que constatei aqui na Universidade. Aconselhamos as pessoas para que, se perceberem que alguém à sua volta está a pensar em suicídio, tentem apoiar de forma a evitar o pior. O estudo mostrou que os estudantes locais pensam que quem tem ideias suicidas é estúpido e que tem de tratar sozinho do assunto. Não dão a mão para ajudar e dizer “quero manter-te vivo”. É o valor da vida que não tem muita importância e isso é preocupante.
João Luz Manchete PolíticaObras Públicas | AL sugere que DSAT conceda licenças e aprecie pedidos A comissão da Assembleia Legislativa que acompanhou as obras nas estradas sugere que o secretário para Transportes e Obras Públicas coordene o grupo interdepartamental de gestão dos trabalhos. Além disso, aconselha que passe a ser a DSAT a conceder licenças e a apreciar pedidos para a execução dos trabalhos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa divulgou ontem o relatório sobre os trabalhos realizados as vias públicas elaborado pela Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública. Os deputados, que já tinham criticado a falta de coordenação dos vários departamentos, pegaram em experiências prévias à transferência para sugerir alterações à forma como se intervém no espaço público. O relatório da comissão presidida por Chan Meng Kam, depois de ilustrar a presente confusão institucional no tratamento de obras, lembrou a actuação do antigo Leal Senado como um exemplo de uniformidade de responsabilização, coordenação e concertação. Isto apesar de ressalvar que, actualmente, o número de obras é muito maior do que nos dias do Leal Senado. No ano passado, “o número de obras viárias atingiu 2553”, ocupando um total de 112.059 metros. Prevendo a criação de órgãos municipais sem poder político, os deputados mostraram dúvidas quanto à capacidade do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) para “dar continuidade aos trabalhos de apreciação dos pedidos e de concessão licenças”, lê-se no relatório. Para tal papel, a comissão sugere a transferência de competências para a alçada da Direcção dos Serviços para os Assuntos do Tráfego (DSAT). Ruído necessário Ainda no campo da multitude de órgãos envolvidos nas obras públicas, os deputados sugerem que o grupo interdepartamental que reúne os vários organismos envolvidos em obras de escavação seja dirigido pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas. Pretende-se com esta alteração “elevar o estatuto do grupo de coordenação” de forma a tornar os trabalhos mais eficientes. Por outro lado, a comissão entende que se devem estabelecer critérios claros para distinguir obras urgentes e não urgentes, para que os trabalhos ocorram sem adiamentos desnecessários. O acesso por parte da população à informação dos locais onde decorrem obras privadas de escavação, assim como dados que permitam ao público participar na fiscalização das mesmas é outra das sugestões elencadas no relatório. Para tal, os deputados entendem que os anúncios devem ser publicados na Internet. No plano da fiscalização, nas reuniões com a comissão o Governo queixou-se da falta de recursos humanos. Apesar do grande aumento de obras nas vias de Macau, o número de inspectores passou apenas de seis para dez, sendo que foram instaurados processos disciplinares a dois deles. Os deputados entenderam ainda que o regime sancionatório que vigora sobre o planeamento e coordenação das obras de escavação não tem carácter dissuasor. Porém, se por um lado os membros da comissão pretendem o agravamento das sanções, o Governo entende que estas aumentaram, em algumas situações, seis vezes, punindo construtores ou empreiteiros que adiem obras. Por outro lado, tanto o sector da construção, como o Executivo entendem que a Lei do Ruído prejudica o andamento das obras e traz prejuízos de trânsito aos residentes. Com vista à alteração do referido preceito legal, a comissão entende que “é necessário dar um passo em frente para clarificar e confirmar o conceito de ruído perturbador, com vista a delimitar o âmbito de autorização para a realização de obras aos fins-de-semana e feriados”. Estas foram as sugestões feitas pelos deputados para resolver os problemas relativos às obras de escavações nas vias de Macau, que “parecem flores a desabrochar por todo o lado”, como se lê no relatório.
Andreia Sofia Silva PolíticaCTM | Deputados querem Governo a gerir activos das telecomunicações [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Administração Pública da Assembleia Legislativa (AL) entende que deve ser o Governo a gerir os activos da concessão no sector das telecomunicações, que actualmente estão nas mãos da Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM). A informação consta no relatório da comissão, referente ao trabalho deste ano legislativo. A comissão entende, por isso, que o Governo deve formar mais talentos nesta área para que possa levar a cabo “a gestão e o uso dos activos de concessão, com vista a concretizar a liberalização e a concorrência justa do respectivo mercado”. Em resposta aos deputados, representantes da Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações afirmaram que não possuem pessoal qualificado suficiente para levar a cabo este trabalho. “De acordo com a dotação do quadro de pessoal da secretaria dos Transportes e Obras Públicas, não há pessoal suficiente para dominar a técnica geral das condutas dos activos de concessão. Portanto, mesmo que o Governo recuperasse os activos da concessão, não conseguia garantir a continuidade dos serviços de telecomunicações”, lê-se no relatório. O documento faz ainda referência à intenção do Executivo de reduzir as tarifas das chamadas automáticas internacionais, ou chamadas IDD (International Direct Dialing). “O Governo assumiu a promessa de continuar a promover a redução das taxas do serviço de circuitos alugados locais e das chamadas IDD (International Direct Dialing), procurando concretizá-la ainda este ano.” A comissão, presidida pelo deputado Chan Meng Kam, considera ainda que o Executivo deve “promover proactivamente a redução das taxas dos circuitos alugados locais e das chamadas IDD, para que o Governo, os hotéis, casinos, bancos e a população em geral saiam beneficiados”.
Victor Ng Manchete PolíticaAL | Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei fazem balanço Foi bom, mas podia ter sido melhor. A chamada bancada de Fujian passou ontem em revista o trabalho feito durante a legislatura que agora chegou ao fim. Chan Meng Kam, de partida do hemiciclo, apresentou números sobre 12 anos como deputado [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá de saída, uma vez que não se recandidata nas eleições de 17 de Setembro, mas não foi embora sem deixar sugestões sobre o que pode ser feito em termos legislativos. Chan Meng Kam e os outros deputados da sua equipa – Si Ka Lon e Song Pek Kei – chamaram ontem a imprensa para um balanço sobre a legislatura. Para o líder político da comunidade de Fujian, foi também uma revisão do trabalho feito nos últimos 12 anos. Ao longo de mais de quatro mil dias na Assembleia Legislativa (AL), contabilizou Chan Meng Kam, fez mais de 110 interpelações, cerca de 400 intervenções no período de antes da ordem do dia, e propôs três debates. Na condição de deputado, recebeu quase 40 mil solicitações por parte dos residentes. Há um momento que o deputado guarda como sendo uma vitória: na primeira sessão de perguntas e respostas com o Chefe do Executivo na AL, Chan Meng Kam falou da questão dos filhos maiores de residentes oriundos da China Continental. Hoje, o problema da reunião familiar está praticamente resolvido. Ao longo das três legislaturas em que esteve na AL, contribuiu para a discussão de 165 diplomas. O deputado destacou que várias destas leis contribuíram para o avanço da sociedade: a lei da habitação económica, a Lei de Terras e o regime de previdência central não obrigatório foram exemplos dados. No entanto, nem tudo satisfez Chan Meng Kam. “O regime de sorteio, medida definida na lei da habitação económica, faz com que haja candidatos que só estão ‘a ver corrida’”, disse. “A lei do planeamento urbanístico é de 2013 mas, além de ainda não haver um planeamento geral, há uma série de regulamentos complementares que não entraram em vigor”, lamentou igualmente. O que faltou Já Si Ka Lon analisou a legislatura que agora chegou ao fim, quatro anos que serviram para apreciar 52 leis. O deputado gostava que se tivesse feito mais e destaca a lei de bases dos direitos e garantias dos idosos como um dos diplomas em que gostaria de ter trabalhado. De resto, fez 55 intervenções no período de antes da ordem do dia, e assinou 205 interpelações escritas e 17 orais. Além disso, esteve na origem de duas propostas de debate. Habitação, trânsito, serviços médicos, educação e despesas do Governo foram algumas das questões que abordou. Em relação aos serviços sociais, a equipa de Si Ka Lon atendeu um total de 19.469 casos: 13.850 consultas de cidadãos e 5619 situações que precisaram de ser acompanhadas. Numa análise às necessidades actuais do território, o deputado defende que é preciso afastar os funcionários públicos que não reúnem os requisitos necessários e garantir que os cidadãos recebem os frutos da indústria de jogo, ajudando na aquisição da primeira casa através da criação de um fundo de partilha. Song Pek Kei fez referência aos casos que geraram polémica nos últimos anos, como a escolha do local para o edifício de tratamento de doenças transmissíveis, as irregularidades na contratação de funcionários públicos e a futura Biblioteca Central, assuntos que abordou enquanto deputada. Congratulando-se com o trabalho feito em prol do bem-estar social, como o aumento de instalações comunitárias na zona de Seac Pai Van e o combate ao alojamento ilegal, matéria que precisa de ser melhorada, Song Pek Kei lamentou que não tivesse sido aprovada a medida que permitiria ao Chefe do Executivo limitar o aumento das rendas.
Hoje Macau PolíticaCAEAL afasta 32 eleitores do sufrágio indirecto [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) anunciou ontem que 32 pessoas vão ficar impossibilitadas de exercer o direito de voto no sufrágio indirecto, nas eleições do próximo dia 17 de Setembro. Os indivíduos em causa assinaram várias declarações de aceitação do exercício do direito de voto no sufrágio indirecto em representação de pessoa colectiva, o que faz com que, de acordo com a lei eleitoral, os documentos sejam considerados nulos. A CAEAL explica que as pessoas colectivas que seriam representadas por estes eleitores não podem substituir os votantes. Na reunião semanal da CAEAL, foi ainda apreciado um pedido da lista “Nova Ideais de Macau” sobre a desistência da candidata número cinco. A comissão confirmou o pedido e a candidata em causa vai sair da lista. Feitas a contas após este abandono, as legislativas contam, no sufrágio directo, com um total de 191 candidatos. Em declarações aos jornalistas, o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, contou que, desde o passado dia 3, já foram recebidas 36 denúncias relativas a propaganda antecipada. Durante a reunião, as queixas foram analisadas e há “quatro ou cinco casos” que podem ser efectivamente de propaganda ilegal, explicou, por envolverem a difusão de conteúdos pela Internet, pelo telefone ou na rua. Estes casos vão seguir agora para a Polícia de Segurança Pública, para serem investigados. Ainda ontem, a CAEAL realizou o sorteio para a distribuição do tempo de antena a reservar pelas estações de televisão e de rádio, e distribuição dos locais destinados à campanha eleitoral, bem como a ordem de utilização dos mesmos.
Hoje Macau SociedadeContas | Preço da habitação cai ligeiramente em Julho [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] preço médio do metro quadrado das casas em Macau atingiu 97.502 patacas no mês passado, um valor ligeiramente inferior ao apurado em igual período do ano passado, indicam dados oficiais. Segundo estatísticas publicadas no site da Direcção dos Serviços de Finanças, em termos anuais homólogos, verificou-se uma diminuição ligeira do preço médio por metro quadrado (menos 179 patacas) e uma subida de 739 para 764 do número de fracções transaccionadas. Das três áreas de Macau, a ilha de Coloane era a mais cara, com o preço médio do metro quadrado a fixar-se em 131.808 patacas, seguindo-se a da Taipa, 99.026 patacas, de acordo com os mesmos dados respeitantes às transacções de imóveis destinados a habitação que foram declaradas para liquidação do imposto de selo. Com o preço médio do metro quadrado mais baixo, 95.302 patacas, a península foi onde se registou o maior número de fracções transaccionadas em Julho (632 contra 448 em Julho de 2016), seguindo-se a ilha da Taipa (118 contra 278) e Coloane (com 14 contra 13). Em Maio, o preço médio do metro quadrado de fracções autónomas destinadas a habitação no território galgou a barreira das 100 mil patacas, pela primeira vez desde o início do ano. A última vez que tal tinha sucedido foi em Dezembro de 2016, mês em que atingiu 103.805 patacas.
Hoje Macau SociedadeAcidentes | DSAL vai rever regras na construção civil no próximo ano No próximo ano, deverá ser apresentada uma proposta de revisão dos regulamentos de segurança nas obras de construção civil. A ideia é dar resposta aos muitos acidentes que têm acontecido [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] notícia foi avançada pela Rádio Macau, que cita o canal chinês da emissora: a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) pretende apresentar, no próximo ano, uma proposta de revisão dos regulamentos de segurança nas obras de construção civil. Trata-se da resposta da Administração aos acidentes frequentes que se têm verificado, muitos deles fatais. O Governo tem como objectivo reforçar as regras de segurança que vão ser exigidas aos empreiteiros. A proposta de revisão do Regulamento de Higiene no Trabalho da Construção Civil deve ser conhecida no próximo ano, referiu a subdirectora dos Assuntos Laborais, Ng Wai Han. Uma das alterações prende-se com os deveres dos empreiteiros: hoje em dia, os responsáveis por obras com 100 ou mais trabalhadores por dia devem ter ao seu serviço um encarregado de segurança com reconhecida competência. O Governo quer que estes encarregados sejam presença obrigatória em obras com 20 ou mais trabalhadores. Deverá ser feito ainda um reforço da formação dos encarregados de segurança e criado um sistema de registo do qual podem ser excluídos, caso falhem nas avaliações periódicas a que serão submetidos. No programa de antena aberta da emissora em língua chinesa, foram ouvidos também responsáveis pela Associação de Saúde e Segurança Profissional de Macau, que explicaram que há trabalhadores não residentes que não dominam o idioma local, pelo que é difícil explicar a importância de segurança e saúde ocupacional a esses operários. Este ano morreram já nove operários em obras de construção civil, muitos deles trabalhadores não residentes. Os dois acidentes fatais mais recentes registaram-se no estaleiro do Grand Lisboa Palace e do Hotel Morpheus, no City of Dreams. As duas obras já foram retomadas. No entanto, explica a Rádio Macau, a DSAL diz que ainda não foi apurado se houve ou não violação das regras de segurança nestes dois casos.
Andreia Sofia Silva EventosTese | Indústria da moda profissionalizou-se e está a crescer Chama-se “A indústria da moda de Macau no século XXI: uma perspectiva global do intercâmbio cultural entre a Ásia e a Europa” e é a tese de doutoramento da estilista Ana Cardoso. Nela é traçado um retrato sociológico dos designers locais e analisam-se perspectivas de mercado, sem esquecer a influência de um mundo multicultural nas colecções [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão, na maioria, mulheres. Fizeram a sua formação em Macau e, em segundo lugar, no Reino Unido. Trabalham sozinhos e poucos têm empregados, apostando tudo na sua própria marca. É este o retrato sociológico que a estilista Ana Cardoso traça dos designers locais e que consta na sua tese de doutoramento, entregue à Universidade de São José. Intitulado “A indústria da moda de Macau no século XXI: uma perspectiva global do intercâmbio cultural entre a Ásia e a Europa”, o trabalho faz uma análise da indústria de moda local, da influência que as várias culturas trouxeram ao processo criativo e quais as estratégias de mercado a adoptar. Os números apresentados por Ana Cardoso são fruto de um inquérito online realizado entre Maio e Junho de 2015, que tentou abranger os 35 estilistas ou marcas com registo no território. Com base nas 13 respostas válidas recebidas, a doutoranda pôde concluir que 77 por cento dos estilistas locais são mulheres. A maioria, 61 por cento, tem entre 26 e 30 anos, sendo que 46 por cento dos inquiridos fizeram a sua formação superior em Macau. Com 31 por cento, o Reino Unido surge como a segunda opção de formação nesta área. Os dados mostram que, apesar de estarmos perante uma indústria em crescimento, as marcas não têm ainda uma solidez financeira que lhes permita empregar pessoas, uma vez que apenas 15 por cento dos inquiridos disseram ter empregados. A maioria, 39 por cento, trabalha sozinho nas suas produções ou com amigos e familiares. As conclusões da tese de doutoramento mostram que os estilistas locais têm hoje mais capacidade para viver do seu trabalho. “Descobrimos que os designers locais estão mais envolvidos no seu trabalho criativo do que esperávamos. Isso mostra que estes têm laços com a indústria, seja através de cursos de moda ou do apoio familiar. A maior parte dos estilistas locais trabalha a tempo inteiro nas suas próprias marcas”, lê-se no documento. Ana Cardoso conclui que “a indústria de moda local tem uma base forte e tem vindo a expandir-se”, sendo que os estilistas locais utilizam Macau “como um ponto de partida para promover o seu trabalho nos desfiles de moda e websites”. Tendo a maioria dos inquiridos feito a formação no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), as vendas das suas colecções fazem-se “nas suas próprias lojas, em showrooms e também em lojas com diversas marcas”. O mercado online é, segundo a doutoranda, muito importante para a obtenção de receitas. “Outra descoberta importante foi a importância das plataformas online. Os designers locais vendem os seus produtos no comércio electrónico, além de manterem as lojas tradicionais, ateliers, showrooms ou lojas pop-up. Esta estratégia é inteligente, simples, barata e rápida”, lê-se. Enquanto a produção de grandes peças se faz na China, os acessórios e outro tipo de produtos de menor dimensão são feitos em Macau. Uma indústria a crescer Findo o boom das indústrias têxteis a partir da década de 1980, o mundo da moda em Macau tem vindo a mudar. A tese de doutoramento de Ana Cardoso fala numa expansão e na existência de um momento de viragem do sector. “A maior parte dos designers locais acredita que a indústria da moda está a crescer lentamente e a tornar-se maior”, observa. “Entendemos que hoje em dia o processo criativo dos estilistas locais é reconhecido como profissão. Os designers trabalham a tempo inteiro nas suas próprias marcas para desenvolverem produção em larga escala na China ou uma pequena produção nos seus ateliers”, lê-se na tese. O trabalho académico de Ana Cardoso chama também a atenção para uma maior formação dos estilistas. “Ao longo dos anos, os cursos superiores têm vindo a adaptar-se às necessidades do mercado. A mudança foca-se sobretudo na especialização do design de moda. Hoje em dia, os cursos estão mais focados nas tecnologias ligadas ao processo criativo do design de moda, o que dá um maior potencial aos alunos na entrada do mercado.” Sendo Macau um mercado pequeno, Ana Cardoso conclui que é importante que os estilistas olhem lá para fora. “Este estudo mostra que os designers locais necessitam de uma vasta flexibilidade e diversidade para se adaptarem aos mercados asiático, de Macau e ocidental. O mercado de Macau é pequeno, e a Ásia pode ser um mercado potencial, liderando o processo criativo”, diz. “Made in Macau” precisa-se O inquérito revela ainda que 54 por cento dos inquiridos acreditam que a presença de produtos de luxo no mercado local afecta os produtos locais. Neste sentido, Ana Cardoso conclui que é necessário fazer uma maior ligação entre o que tem a etiqueta “Made in Macau” e o que vem de fora e que é vendido a preços elevados. “O Governo precisa de ligar as marcas locais para criar produtos únicos em Macau, que possam garantir uma diferenciação face a outros produtos internacionais. Tal irá ajudar a expandir as lojas de diferentes marcas em Macau, numa mistura de marcas de luxo e produtos locais, para garantir que Macau possa ser um destino de compras no futuro.” Ana Cardoso lembra ainda que o facto de Macau ser um território multicultural desde o século XVI trouxe influência à moda que se faz nos dias de hoje, sem esquecer as referências históricas do vestido de casamento tipicamente macaense. Os estilistas locais “acreditam que Macau é um local de misturas culturais e que a indústria da moda é também um mercado com várias misturas, sendo que muitos dos cidadãos locais são influenciados pelos estilos do Japão, Coreia do Sul e Europa”. “A realidade multicultural também influencia as criações dos estilistas e este panorama multicultural pode ser uma vantagem enquanto inspiração no processo criativo. Os estilistas mencionaram que ‘Macau é um lugar multicultural’ e que ‘Macau é território chinês e português, e as roupas reflectem estas duas culturas’.” O trabalho académico faz ainda menção ao grande apoio que o Governo tem dado à indústria da moda, não só através da concessão de subsídios, como da criação de eventos que mostram as colecções que por cá são feitas.
Hoje Macau China / ÁsiaSoldados chineses e indianos atiram pedras uns contra os outros [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]oldados indianos e chineses atiraram pedras uns contra os outros na área da Caxemira controlada pela Índia, revelaram ontem funcionários indianos, numa altura de renovada tensão entre os dois países em torno de um território no sul do Tibete. Os soldados chineses atiraram pedras quando tentavam entrar na região de Ladakh, perto do lago Pangong, nos Himalaias, mas foram confrontados por soldados indianos, revelou um responsável da polícia indiana. A mesma fonte, citada pela agência Associated Press, diz que os soldados indianos retaliaram, mas nenhum dos dois lados recorreu a armas de fogo. Até ao momento, a China não comentou o incidente. Um funcionário dos serviços secretos indianos disse que os confrontos ocorreram depois de soldados indianos interceptarem uma patrulha chinesa que virou para território indiano, após se ter alegadamente perdido, devido ao mau tempo. Os soldados começaram a berrar uns com os outros e acabaram por atirar pedras. Elementos dos dois lados sofreram ferimentos ligeiros. Após trinta minutos de confrontos, os soldados recuaram, disse a mesma fonte, que falou sob condição de anonimato. Estrada da polémica O incidente ocorre numa altura em que os exércitos dos dois países se encontram frente a frente no planalto de Doklam (Donglang, em chinês), uma área também reclamada pelo Butão, que mantém com a Índia uma cooperação próxima a nível de segurança, e onde a China está a construir uma estrada. Nova Deli enviou tropas para o outro lado da fronteira depois de equipas de construção chinesas terem iniciado a expansão para sul da estrada de Yadong, no Tibete. Pequim exige que os soldados indianos se retirem unilateralmente, como condição para o diálogo, enquanto Nova Deli quer que ambos os lados se retirem. China e Índia, ambas potências nucleares, partilham uma fronteira com 3.500 quilómetros de extensão, a maioria contestada. Pequim é um importante aliado e fornecedor de armas do Paquistão, país rival da Índia. Em 1962, um conflito motivado por disputas fronteiriças causou milhares de mortos. Caxemira, nos Himalaias, é dividida entre a Índia, Paquistão e China.
Hoje Macau China / ÁsiaCorrupção | Antigo legislador chinês condenado a prisão perpétua [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m magnata chinês e antigo legislador na Assembleia Nacional Popular da China foi condenado a prisão perpétua, por aceitar subornos e gerir uma rede de prostituição no sul do país, noticiou ontem a imprensa oficial. Liang Yaohu foi julgado por um tribunal de Dongguan, cidade chinesa conhecida como a “capital do sexo”, e onde uma reportagem sobre redes de prostituição difundida pela televisão estatal CCTV, em 2014, resultou numa operação policial de larga escala. O advogado de Liang, Wang Silu, disse que “todas as propriedades obtidas ilegalmente por Liang foram confiscadas e que ele foi privado dos seus direitos políticos para a vida”, de acordo com o jornal oficial China Daily,. Quarenta e quatro antigos funcionários de um hotel detido por Liang foram também condenados a penas de prisão de pelo menos 16 meses, por organizarem ou apoiarem atos de prostituição e destruírem provas, acrescentou o jornal. Liang, de 50 anos, e antigo membro do órgão máximo legislativo da China, era o dono do hotel de cinco estrelas Crown Prince, em Dongguan. O empresário foi investigado pela criação de 99 saunas privadas e organizar uma rede de prostituição no hotel, segundo o China Daily. “A investigação descobriu que Liang tem vindo a gerir redes de prostituição desde 2004”, lê-se no veredicto, citado pela imprensa chinesa. “Só em 2013, as instalações de sauna do hotel de Liang, construído em 1995, registaram lucros num valor superior a 48,9 milhões de yuan “, referiu. O hotel foi encerrado, na sequência de uma operação policial, lançada após a CCTV difundir, em Fevereiro de 2014, uma reportagem sobre o vasto comércio de sexo em Dongguan. Varridela geral Mais de mil suspeitos, entre prostitutas, clientes e líderes de redes de prostituição, foram detidos. Algumas das mulheres eram menores de idade. Vários oficiais da polícia foram também destituídos dos postos e colocados sob investigação, por pactuarem com as redes de prostituição e avisarem os grupos criminosos nas vésperas de rusgas policiais. Liang foi detido em Abril de 2014. Em tribunal, rejeitou todas as acusações. O advogado recusou dizer se vai ou não recorrer da decisão. O empresário é uma das pessoas mais ricas de Dongguan e um figura conhecida na cidade, um dos maiores centros industriais da China. Segundo a imprensa chinesa, Liang detém propriedades no valor conjunto de dois mil milhões de yuan (. Foi membro da Assembleia Nacional Popular de 2008 até ser detido.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasO regresso de O Rinoceronte 08/08/2017 [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ilene. Pisámos pela primeira vez a língua de areia que separa a lagoa do mar. Elas foram em expedição, à cata de tartarugas. Eu fiquei em decúbito dorsal sobre uma duna a reler O Inumano de Lyotard. Nas minhas costas o remanso da lagoa, às vistas o fragor do mar. E anoto: “o desenvolvimento impõe que se ganhe tempo. Andar depressa é esquecer depressa (…) Mas a escrita e a leitura são vagarosas, avançam para trás, na direcção da coisa desconhecida no ‘interior’. Perde-se o tempo em busca do tempo perdido. A anamnese é o antípoda, o outro, da aceleração e da abreviação. “ Chegados da falésia que ladeia esta fimbria, alguns gorjeios aveludam o ríspido grasnido das gaivotas. Eu interrogo-me se a interioridade não será apenas a actualização duma anterioridade desmembrada. A maré enche, rebenta com ímpeto as suas ondas na rocha. Uma criança foge da água aos berros, tem um calcanhar castigado pela queimadura de um tentáculo de garrafa-azul. Leio, “Estar apto para receber o que o pensamento não está preparado para pensar, é ao que devemos chamar pensar”. Estou certo de que tenham sentido estas minhas garatujas? Não. O sol estrela-se nas minhas costas. Persigo a disjunção, o pensar sem corpo enquanto elas perseguirão as tartarugas. Achá-lo-ei, achá-las-ão elas? A indeterminação é a pauta – embora lhes caiba (a elas) a maior propensão. Nesta latitude é mais plausível tropeçar – se em tartarugas ou avistar-se baleias do que eu achar vaga na gávea que permite enxergar o pensamento sem corpo. A um palmo de mim uma pequeníssima, quase invisível, aranha, suspende-se de um fio preso onde? Lamento não ter trazido a máquina para fotografar o inefável. Ao meu lado o Vítor, deitado de papo para o ar, lê o 4321 do Paul Auster, um senhor tijolo, e comenta, Este livro além de excelente exercita os músculos. Pensamento com corpo. 10/08/2017 É impossível não sorrir quando leio no Magazine desta semana: A selecção nacional de xadrez qualificou-se para o mundial da modalidade, a ter lugar na Índia, no próximo mês de Dezembro, fruto da conquista do “africano” da modalidade, recentemente realizado em Moçambique, que contou com a participação de dois países do continente africano (…) A organização contava com mais participantes mas por motivos financeiros e burocráticos, à última hora, os restantes desistiram da prova. O certame foi designado Africano Zona 4.3/ Sub-16, por equipas. Este mega evento é a primeira vez que é organizado em Moçambique e contou com juízes internacionais provenientes da Zâmbia e os restantes são de Moçambique. Com a ausência de um número considerável de países, o certame resumiu-se a dois países nomeadamente, Moçambique e Suazilândia. Foram divididos em quatro equipas, equipa A,B,C e D. A equipa “B” foi a grande vencedora da prova. Tendo a Suazilândia ficado em último lugar… Parabéns Moçambique. Isto faz-me lembrar o exemplo que costumo dar na primeira aula quando quero frisar o fosso que é preciso ultrapassar para dar o salto para o desenvolvimento. E então aí informo que o jornal que mais vende em Moçambique é o matutino Notícias, o único que chega a todo o país e que, para uma população de 23 milhões, vende 20 000, recordando em contraste que em 1890 os principais diários de Paris, Londres e Nova Iorque vendiam entre 90 000 a 100 000 exemplares. Há muitos mundos no mundo, repetia a minha mãe. 11/08/2017 Pascal morreu aos trinta e nove anos… e já era, no seu tempo, uma idade avançada. Alexandre Magno e Catulo morreram aos trinta e três anos, Mozart aos trinta e seis, Chopin aos trinta e nove, Spinoza aos quarenta e cinco, Santo Tomás aos quarenta e nove, Shakespeare e Fichte aos cinquenta e dois, Descartes aos cinquenta e quatro, e Hegel com a avançadíssima idade de sessenta e um. Também o Bolano se finou aos quarenta e nove. Face a estes dados só nos resta reconhecer que somos de uma preguiça incomensurável e que há ossos que não se liquefazem no efémero. 11/08/2017 Folheando cadernos adentro pesco um episódio caricato que se passou com o Ionesco. O velho gnomo recebeu o telefonema de um encenador de Nova Iorque que além das palmadinhas nas costas lhe comprou os direitos para encenar O Rinoceronte, uma peça onde todas as pessoas de uma aldeia se metamorfoseiam em grandes mamíferos. A peça na altura foi lida como uma metáfora sobre a alienação ou sobre a indiferença. As interpretações variavam. E o Ionesco lá pagou um tintinho ao Cioran e a outros compinchas. Passado dois meses recebe um novo telefonema do americano, que estava encabulado. Desembuche homem, incentivou o romeno. O nova-iorquino lá esclareceu que tivera de contratar um “negro” para reescrever a transição do segundo para o terceiro actos. Mau Maria, de que é que você fala? E o encenador confessou que fora obrigado a introduzir um telefonema em que Berenger (o protagonista) tenta em vão telefonar ao seu maior amigo, antes de concluir, Bom, eu tentei avisá-lo várias vezes que ia a casa dele, mas como não me atendeu o telefone… Resumindo, o que deixou o Ionesco siderado, para o americano era normal que um corno de rinoceronte irrompesse da testa das personagens e que toda a aldeia se bestializasse, isso fazia parte da lógica poética, o que era impossível de acontecer era que um amigo fosse a casa de outro sem o avisar previamente. Convenção social, afinal, que derrotava o absurdo da peça. Seja a alienação seja a indiferença, qualquer uma das duas chaves tornam O Rinoceronte actualíssimo.
Leocardo VozesUm gesto é (quase) tudo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau estabeleceu há alguns anos com a sua congénere de Leiria, Portugal, um protocolo de intercâmbio de estudantes de tradução de Português e Mandarim. Assim o curso de quatro anos implicava que os alunos de Macau fizessem o primeiro e o último no território, e os outros dois em Portugal, e vice-versa para os estudantes portugueses. Destes últimos há uma curiosidade interessante: chegados ao território com algumas noções de Mandarim, alguns deles abordavam a população local com um sonoro e caprichado “nin hao”, o que apesar de ser recebido com alguma estranheza, os residentes de Macau davam o devido desconto por se tratar de um estrangeiro. Quando cheguei a Macau, vai lá vão 24 anos, conseguia ser ainda mais ingénuo, pois assumia que se tratando de um território na altura sob administração portuguesa, a língua de Camões fosse falada pela maioria da população. Não foi presunção nem arrogância, mas o pouco que procurei saber antes de chegar, e sem conhecer mais ninguém que tivesse residido no território, tinha presente o facto que os nomes das ruas e outras indicações se encontravam escritos na nossa língua. Foi um pouco embaraçoso entrar em locais como uma padaria, ou mesmo em qualquer restaurante da cadeia McDonald’s e começar a falar em Português, e ao aperceber-me da minha falha mudar logo, mas das vezes que tinha algum sucesso, na maior parte delas notava uma reacção negativa das pessoas que não me entendiam – era mais por culpa da forma brusca com que me expressei. Fui um “bárbaro”, é o que foi. Os ocidentais que vão pela primeira vez à China podem estranhar a posição defensiva com que alguns chineses reagem à sua abordagem, e isto deve-se mais à linguagem gestual do que propriamente à expressão oral, ou ainda a atitude que demonstramos perante os obstáculos normais que encontramos em comunicar, ora rindo, levando as mãos à cabeça, ou fazendo um ar agastado – tudo sinais que os chineses interpretam como de agressividade. Mesmo quem chega a Macau e aprende rapidamente a falar o cantonense, depara com reacções que o deixam intrigado, consciente de que não terá faltado ao respeito ao seu interlocutor, mas terá bastado um gesto mal medido para arruinar o mais bem intencionado dos discursos. Macau não é a China em muitos aspectos, mas esta particularidade é comum à generalidade da cultura. Sempre são cinco milénios, e tentar mudar as coisas como alternativa a simplesmente adaptar-se – e nem custa assim tanto – é que se pode considerar uma atitude arrogante. Os portugueses têm gestos largos, apontam, mexem os braços, têm tendência para elevar a voz. Se há chineses que já se habituaram, e para os macaenses é fácil de entender, o são convívio com estas comunidades fica sempre mais facilitado se reduzirmos ao mínimo a expressão corporal, e evitar um certo repentismo próprio da nossa natureza de latinos. Quem chega de Portugal é possível que uma das primeiras coisas que nota seja a pouca receptividade que os locais têm ao tradicional “beijo no rosto”, a forma com que os portugueses habitualmente cumprimentam uma senhora, mesmo que a conheçam mal, ou tenham acabado de a conhecer. A rejeição não tem tanto a ver com a pessoa, mas com a cultura, e sobretudo com a forma como os outros entendem este comportamento: para os chineses o contacto físico mais ousado ou demorado é um sinal de grande intimidade. E isto adquiri-se logo desde a chegada ao mundo, pois se repararem o hospital “Kiang Wu” não permite que os recém-nascidos saiam da sala a eles destinada para as tradicionais fotografias com os familiares e amigos, um hábito enraízado no Ocidente, ao contrário da maternidade do Hospital Conde S. Januário, preferida pela maioria dos forasteiros. Para quem não nasceu em Macau, ou não cresceu no seio da comunidade chinesa, pode interpretar tudo isto como uma forma de distanciamento, ou até má vontade, mas quem quiser mesmo fazer desta terra a sua segunda morada, ou eventualmente a primeira, convém adaptar-se a estes detalhes, por vezes tão minuciosos, e que não implicam necessariamente que tenham que deixar de ser o que são. É claro que há sempre excepções, e pode dar-se o caso de encontrar chineses que achem graça a esta modalidade de contacto que a sua cultura considera “libertina”, e muitos macaenses são capazes de entender, e mais ainda dependendo da educação, da frequência do contacto com a comunidade portuguesa, ou ainda mais receptivos serão se já viveram em Portugal – mas isto não quer dizer que apreciem, entenda-se. Nestes casos é sempre melhor manter uma certa reserva, e esperar que a iniciativa parta da outra pessoa, demonstrando também uma vontade maior de se integrar nesta realidade diferente da sua. Pode ser um pouco chato, e parecer esquisito até, mas melhor do que aprender à custa de errar, é dar um sinal de que para bom entendedor, meio gesto basta. PS: Vou este sábado para Navarra limpar os pulmões com o ar dos Pirinéus. O Bairro do Oriente regressará assim em meados de Setembro. Um abraço do tamanho do mundo.
Hoje Macau China / ÁsiaProtesto em Hong Kong pela libertação de ‘blogger’ Wu Gan [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Cívico de Hong Kong organizou ontem um protesto no exterior do Gabinete de Ligação do Governo Central da China para pedir a libertação imediata do activista dos direitos humanos chinês Gary Wu, informou a imprensa local. Gary Wu compareceu em tribunal na segunda-feira em Tianjin (nordeste), acusado de subversão. Trata-se de uma acusação muito grave na China e cuja pena máxima é prisão perpétua. O tribunal disse que iria lançar o veredicto mais tarde, mas não avançou uma data. O activista, conhecido na Internet pelo nome “Super Carniceiro Vulgar”, foi um dos primeiros advogados apanhados na campanha de repressão pelas autoridades iniciada em 2015. Cerca de 300 pessoas foram presas no âmbito dessa campanha, lançada a nível nacional. Entre 9 e 10 de Julho de 2015, as autoridades chinesas prenderam 319 advogados, outros trabalhadores e activistas de várias zonas do país. O deputado pelo Partido Cívico Kwok Ka-ki criticou Pequim, afirmando que, se a China quer estar entre os primeiros países a nível mundial, deve, tal como os outros países, garantir os direitos humanos a todos os cidadãos. “Isto é um direito básico que está inscrito até na Constituição chinesa. Mas o governo chinês nunca segue a sua própria constituição”, disse, citado pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. Gary Wu foi detido em Maio de 2015, quando protestou em Nachang (sudeste) contra a detenção e tortura de quatro pessoas que as autoridades queriam que admitissem um crime. Em Agosto de 2016 foi novamente detido e acusou as autoridades de o terem torturado. Wu tornou-se conhecido em 2009, quando denunciou o caso de uma jovem, Deng Yujiao, que matou um político local que tentou abusar sexualmente dela. O caso tornou-se muito mediático e gerou uma onda de simpatia para com a jovem, inspirando parte do filme “Um Toque de Violência”, do realizador chinês Jia Zhangke, cujo argumento foi premiado no Festival de Cannes de 2013. Uma dezena de amigos do ‘blogger’ tentaram aproximar-se do edifício do tribunal n.º 2 de Tianjin, para lhe manifestar apoio, mas foram dispersados pela polícia, segundo o diário de Hong Kong South China Morning Post.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Polícia mata 32 suspeitos de tráfico na mais sangrenta operação de sempre [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Polícia da província filipina de Bulacan anunciou ontem ter matado 32 presumíveis traficantes de droga em 24 horas, na operação mais sangrenta da “guerra antidroga” iniciada há um ano pelo Presidente, que já felicitou as autoridades. “Foi algo magnífico”, disse o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, numa referência à operação na província de Bulacan, a norte de Manila, que permitiu também deter 107 pessoas por delitos alegadamente relacionados com as drogas. “Se pudéssemos matar 32 outras pessoas por dia, poderia reduzir-se o flagelo que afecta o país”, acrescentou. Os agentes mataram os 32 suspeitos e detiveram outros 107 numa operação antidroga executada entre segunda e terça-feira nesta província de 3,3 milhões de habitantes a norte de Manila, informou a polícia regional de Bulacan em comunicado. Na operação, as autoridades apreenderam 367 sacos de uma droga química chamada shabu (cloridrato de metanfetamina), com um valor estimado em 1,17 milhões de pesos (19.800 euros). Nas casas dos suspeitos foram ainda encontrados 765 gramas de marjuana, duas granadas, 34 armas de fogo de diversos calibres e 114 balas. O elevado número de mortos num tão curto intervalo de tempo não tem precedentes, mesmo tendo em conta que a “guerra contra as drogas” de Duterte já provocou 3.451 mortes em operações policiais deste género em todo o país, segundo dados oficiais. “No passado realizámos operações de larga escala, mas este foi o maior número de pessoas mortas numa só operação”, confirmou em conferência de imprensa Romeo Caramat, diretor da Polícia Nacional. Mata, mata A Polícia de Bulacan justificou a operação argumentando que os suspeitos assassinados eram “notórios delinquentes dos que preferem lutar até à morte do que ser apanhados vivos”, pelo que os agentes “não tiveram outro remédio” senão disparar a matar. Classificou ainda a operação como um êxito para as autoridades na sua “luta implacável contra as drogas e armas ilegais”. Calcula-se que mais de 7.000 pessoas tenham morrido desde que começou a controversa campanha de Duterte, já que, aos abatidos pela polícia somam-se as vítimas de patrulhas de moradores e outros homicídios facilitados pelo clima de impunidade. A “guerra contra as drogas” de Duterte tem sido criticada por organizações internacionais, que acusam o Presidente filipino de violar direitos humanos. Duterte garante que continuará a campanha até erradicar o narcotráfico e o crime do país de 100 milhões de habitantes.
Hoje Macau VozesCamilo Pessanha (1867-1926) António Apolinário Lourenço “O mais, que é tudo, é Camilo Pessanha” (Fernando Pessoa) [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ompletam-se no dia 7 de Setembro cento e cinquenta anos sobre o nascimento, em Coimbra, de um dos mais peculiares e geniais escritores portugueses, Camilo Pessanha. Estudante de Direito, sem particular brilho, concluiu o curso em 1891. Apesar de os seus anos de vida universitária terem coincidido com a difusão, na cidade do Mondego, da corrente estética simbolista, defendida nas publicações rivais Os Insubmissos e Bohemia Nova, a participação do poeta nos círculos literários da cidade foi relativamente marginal. A sua formação artística e a sua iniciação na poesia decorreriam de forma muito mais pessoal e recatada, o que não impediu que tenha construído uma obra que o coloca num lugar cimeiro entre os poetas simbolistas portugueses e faz dele um dos principais mestres da moderna poesia lusitana. Grande parte da sua vida decorreu em Macau, território colonial para onde partiu em 1894, destinado à docência liceal, mas onde também exerceu outras actividades profissionais, como as de Conservador do Registo Predial, juiz e advogado. Aí viria a falecer em 1926, tendo passado, no entanto, largas temporadas em Portugal, beneficiando dos períodos normais de férias a que tinha direito como funcionário colonial, acrescidos de licenças extraordinárias para tratamento médico. Foi assim que pôde, ininterruptamente, permanecer na então metrópole entre 1905 e 1909. Mas foi sobretudo na sua última visita a Portugal (1915-1916) que Camilo Pessanha teve consciência de ser objecto de admiração e de culto por parte das novas gerações literárias lusas. A sua permanência em Macau, onde não seria nunca uma figura consensual, sobretudo no que respeita à sua prática como juiz, levou-o a uma aproximação da cultura e da arte chinesas, que se concretizaria na produção de textos ensaísticos, traduções e na colecção de arte que legou ao Estado Português e faz actualmente parte do espólio do Museu Machado de Castro. Pouco interessado nas glórias mundanas e com uma vida familiar sempre instável, encontrou na poesia a forma de exprimir conotativamente, através de uma imagética carregada de símbolos de carácter negativo, as suas emoções e sentimentos profundos, sem ser forçado a comprometer a sua intimidade. Antes mesmo de ter publicado qualquer livro, já o seu nome era apontado como um dos grandes criadores literários portugueses, sendo objecto de intensa veneração, na segunda década do século XX, pelos poetas da geração do Orpheu. É sobejamente conhecida a carta de 1914 em que Mário de Sá-Carneiro pede a Fernando Pessoa que lhe remeta uma cópia de alguns poemas de Camilo Pessanha, que aquele conseguira através de Carlos Amaro; e não é menos famosa a resposta enviada pelo autor de A Confissão de Lúcio, em Abril do mesmo ano, ao inquérito promovido pelo diário República, “O mais belo livro dos últimos trinta anos”, em que o mesmo poeta órfico declara que a melhor obra literária dos últimos trinta anos era um livro não publicado, aquele “que reunisse os poemas inéditos de Camilo Pessanha, o grande ritmista”. A descrição que Sá-Carneiro faz da estética de Pessanha aproxima-se extraordinariamente do projeto paúlico da geração do Orpheu: “Rodopiantes de Novo, astrais de Subtileza, os seus poemas engastam mágicas pedrarias que transmudam cores e músicas, estilizando-se em ritmo de sortilégio — cadências misteriosas, leoninas de miragem, oscilantes de vago, incertas de Íris. Pompa heráldica, sombra de cristal zebradamente roçagando cetim…”. Efectivamente, nenhum outro poeta português da geração simbolista, conseguiria explorar tão profundamente como Pessanha a capacidade auto-referencial e demiúrgica do discurso poético. Fernando Pessoa reconheceria, em carta a João Gaspar Simões, datada de 11 de Dezembro de 1931, ter sido influenciado por Camilo Pessanha, uma influência que parece evidente nalguns conjuntos poéticos do ortónimo, como é o caso de Além-Deus e Passos da Cruz, não menosprezando a existência, como o próprio Pessoa sublinhou, de leituras e influências comuns. É sabido que o autor da Ode Marítima pretendia publicar poemas de Pessanha no Orpheu 3, que seriam colocados em lugar de honra. Tendo-se gorado essa possibilidade, por motivos que são sobejamente conhecidos, acabaria por ser Luís de Montalvor, um dos directores do Orpheu 1, a conseguir a cedência de 16 poemas de do autor de “Ao longe os barcos de flores” para inserir no número único da revista decadentista Centauro, de 1916. Depois de concretizada a publicação, em 1920, da primeira edição da Clepsidra nas Edições Lusitânia, de que era proprietária Ana de Castro Osório, a paixão não correspondida do poeta, António Ferro apressar-se-ia a declarar que a sua geração passara a ter um missal e um relógio: o livro de Camilo Pessanha. Este reconhecimento é corroborado pelo autor de Mensagem, que, num apontamento datado de Novembro de 1934 (cerca de um ano antes da sua própria morte, portanto), registava que apenas três poetas portugueses dos séculos dezanove e vinte mereciam o nome de mestres: Antero de Quental, Cesário Verde e Camilo Pessanha: O primeiro ensinou a pensar em ritmo; descobriu-nos a verdade de que o ser imbecil não é indispensável a um poeta. O segundo ensinou a observar em verso; descobriu-nos a verdade de que o ser cego, ainda que Homero em lenda o fosse e Milton em verdade se tornasse, não é qualidade necessária a quem faz poemas. O terceiro ensinou a sentir veladamente; descobriu-nos a verdade de que para ser poeta não é mister trazer o coração nas mãos, senão que basta trazer nelas a sombra dele. *in Homenagem ao Poeta Camilo Pessanha, Editorial Moura Pinto, 2017
João Luz Entrevista MancheteVivian Tam, académica: “Macau é a cidade mais brilhante do mundo” Vivemos numa cidade amplamente iluminada, criando um efeito que impressiona quem visita Macau. Porém, o brilho acarreta problemas para os quais existe pouca sensibilidade social e institucional. Vivian Tam, académica da Universidade de São José, está a medir o grau de luminosidade do território. Ainda com resultados preliminares, o estudo indica que Macau é a cidade mais luminosa do mundo, ultrapassando o brilho do céu natural 233 vezes Qual foi o método usado para fazer este estudo e que conclusões retirou? Montámos três estações em Macau para monitorizar o brilho do céu nocturno. A primeira estação situa-se na península de Macau, outra na Taipa e uma última em Coloane. Porém, o nosso projecto tem apenas quatro meses de análise no terreno. De forma a termos um resultado conclusivo precisamos de ter um ano inteiro de registo, que englobe todas as estações para termos dados que sejam mais precisos. Mas, neste momento, descobrimos que na área da península de Macau, devido à densidade populacional, o valor do brilho do céu nocturno é enorme. O standard de medição de escuridão da International Dark Sky Association é 21.6 mag/arcsec2, na área de Macau registámos 233 vezes mais brilho do que o céu natural. A medição para toda Macau anda à volta de 15 a 17 mag/arcsec2, mas para a península de Macau é de 15.5, o que significa que é 270 vezes mais brilhante do que o standard internacional. [Quanto menor o valor, maior luminosidade é registada]. Como está Macau em termos comparativos com outras metrópoles mundiais? Na minha tese fiz a comparação apenas entre Macau e Hong Kong. Descobrimos que Macau é um pouco mais brilhante que a região vizinha. Mas, lá está, ainda estamos numa fase preliminar e precisamos de analisar um ano inteiro, portanto, os dados ainda não são definitivos. Antes de publicarmos o artigo com as conclusões da investigação precisamos de ter mais dados. Um período tão curto de tempo não é representativo. Durante as diferentes estações do ano registamos várias tendências, há vários aspectos que podem afectar o valor do brilho do céu nocturno. Factores tão distintos como, por exemplo, a temperatura, a nebulosidade e o ciclo lunar. Durante Março, a própria época da chuva também tem um efeito nas medições de brilho. Em termos de comparação com outras cidades mundiais, o que se pode concluir para já? Neste momento, podemos dizer que Macau é a cidade mais brilhante do mundo, mas precisamos de continuar a nossa investigação. Quais as consequências deste excesso de luminosidade? A economia de Macau é baseada nos sectores do turismo e do jogo. Portanto, é natural que tenha esta necessidade de montar a sua decoração com luz, é algo muito atractivo e bonito. Mas podemos concluir que Macau faz, sistematicamente, um uso impróprio de luz, durante largos períodos de tempo, o que também afecta a brilho do céu nocturno da cidade. Em relação ao impactos nos ecossistemas afecta bastante os animais nocturnos. Por exemplo, as tartarugas marinhas enfrentam problemas comportamentais e de reprodução devido ao excesso de luz. E qual o impacto deste tipo de poluição nas pessoas? No que diz respeito aos efeitos em humanos, a exposição a excesso de luminosidade pode resultar no decréscimo real da qualidade de vida. Os impactos podem sentir-se com dores de cabeça, doenças de sono e há um estudo que liga a exposição excessiva ao brilho ao cancro da mama. Isto acontece porque a poluição luminosa afecta o metabolismo e a segregação da melatonina, uma hormona que afecta o metabolismo e o sistema circadiano. Pode também ser disruptivo para o ciclo de sono, principalmente para pessoas que morem perto de grandes focos luminosos, uma vez que, mesmo com cortinas nas janelas, a luz entra no quarto. A luz não desejada que invade a propriedade das pessoas afecta o seu ciclo metabólico e qualidade de vida. Há vários aspectos da poluição luminosa, que não se limitam a estar num ambiente com muita exposição. Qual o impacto no consumo energético deste excesso de luminosidade? Não fiz nenhum estudo em termos de poupança energética, mas essa é uma matéria que quero tratar no futuro. Para já, fizemos apenas a medição da poluição luminosa em Macau em comparação com Hong Kong, e o impacto nas pessoas e nos ecossistemas. De qualquer forma, há espécies que já estão em risco por outros motivos e este é mais um factor que agrava a situação em termos ecológicos. Acho que devemos ter todos estes aspectos em consideração se queremos deixar um mundo melhor para as próximas gerações e proteger o céu nocturno e os ecossistemas. Qual é a sensação de estar numa zona muito iluminada como, por exemplo, o Cotai? Quando passo no Cotai acho que a decoração é um aspecto bonito, uma forma de atrair mais turistas, mas torna-se um bocado chato para mim. É demasiado brilhante, dá-me dores de cabeça e sinto que quase não consigo abrir os olhos. Normalmente, só passo lá de carro. Neste aspecto, gostava mais dos velhos tempos de Macau, mas sei que a cidade tem de continuar a desenvolver-se para atrair mais gente, para fazer a nossa economia crescer. Por isso, quem cresceu em Macau, como eu, teve de se habituar. Mas acho que o céu nocturno natural é muito mais bonito do que toda esta luz artificial. Se pudéssemos proporcionar também um pouco de céu natural isso poderia ser um chamariz de turistas. Como se resolve esta situação? Resolver este problema imediatamente é algo que seria muito complicado, nada exequível, mas podemos tentar encontrar soluções para mitigar os efeitos do excesso de brilho. Num primeiro passo, acho que podemos educar a população e tornar as pessoas despertas para o problema, porque só existe alarme em relação aos perigos da poluição atmosférica, da poluição sonora e pouco mais. A poluição luminosa é sempre ignorada neste contexto e as pessoas não imaginam a importância dos vários impactos que este tipo de poluição acarreta. Gostava de aumentar a atenção pública para este problema. Na minha opinião, em Macau, nas áreas residenciais, a iluminação pública pode ser mais bem utilizada em termos de tempo em que estão acesas, podem ser usados protectores que sejam mais eficazes a difundir a luz para proteger o brilho do céu nocturno e iluminar apenas a área pretendida. Quais os passos para combater este tipo de poluição ao nível das instituições? Temos de encontrar formas de mitigar a poluição luminosa. O Governo deveria estabelecer regulações que controlem os focos de luminosidade. Em Taiwan e noutros países, foram postas em acção regulamentos para proteger do excesso de luminosidade com resultados interessantes. Acho que até os próprios casinos vão ouvir esta mensagem, porque em cada empresa há uma grande vontade em mostrar responsabilidade social, é nisto que acredito. Penso que o sector do jogo conseguirá melhorar a sua imagem com medidas deste género, portanto, acho que nos vão ajudar. Sabemos que, em termos de poluição atmosférica, uma parcela considerável vem da China. O mesmo acontece com a poluição luminosa, especialmente na zona de Coloane. A China está mesmo ali ao lado, separada por um fino leito de água, esse é um dos factores externos que afectou as nossas medições. O resort que abriu emite muita luminosidade e chega cá alguma. Isto numa fase em que ainda estão em desenvolvimento.
Andreia Sofia Silva PolíticaHabitação pública | Governo vai introduzir sistema de pontuação O secretário para os Transportes e Obras Públicas revelou ontem na Assembleia Legislativa que o sistema de pontuação será introduzido aquando da revisão da lei de habitação económica. Raimundo do Rosário garantiu que as futuras 314 mil casas, públicas e privadas, serão suficientes para os residentes que precisam de tecto [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m vez de um sorteio que só traz sorte a alguns, as habitações públicas poderão ser também atribuídas com recurso a um sistema de ordenamento dos candidatos através de pontuação, semelhante ao que já existiu no tempo da Administração portuguesa. A garantia foi dada ontem na Assembleia Legislativa (AL) pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. “Concordamos com o regime de pontuação, não há problema. Quanto aos pormenores, como vai ser implementado, não se preocupem, pois a revisão da lei de habitação económica vai passar pela AL e aí iremos debater melhor este assunto”, apontou no debate sobre o assunto, que resultou da iniciativa do deputado Au Kam San. No seu pedido de debate, Au Kam San considerou que “Macau é uma cidade de casinos, onde é importante ter sorte, só que ninguém imaginava que o regime de candidatura à habitação económica se tornasse também numa grande lotaria”. Tendo garantido que não pode, neste momento, apresentar calendários concretos sobre a conclusão das obras das novas habitações públicas, Raimundo do Rosário apresentou alguns dados sobre o que irá nascer nos novos aterros. O secretário frisou ainda que, nos próximos anos, “a pressão será menor” em relação à oferta e procura de casas. “Vamos ter 314 mil fracções e, na minha opinião, se somarmos as habitações públicas com as privadas, penso que a oferta será suficiente. Não faço parte do sector imobiliário, mas estes números são suficientes. O Instituto de Habitação (IH) vai dominar os números sobre as necessidades reais”, acrescentou Raimundo do Rosário. O secretário disse ainda que, até finais deste ano, três mil habitações públicas nas zonas de Mong Há e Toi San ficarão concluídas. Nos próximos anos Macau verá nascer 13 mil fracções públicas e privadas, sem contar com as novas construções dos novos aterros. “Não posso dizer com toda a certeza se estas fracções serão construídas daqui a um ano ou dois. Espero que, em 2019, possamos ter o plano director”, frisou. Muitos dos deputados que usaram da palavra mostraram-se a favor da implementação do sistema de pontuação dos candidatos às casas do Governo. “O sorteio parece uma forma justa de atribuição de casas, mas os cidadãos que estão em lista de espera têm de ter sorte para terem direito a uma habitação. Esta forma de ordenação por pontuação é mais justa”, considerou Mak Soi Kun. Listas dependentes da oferta Durante o debate, os deputados exigiram que o Executivo garanta uma maior estabilidade nas listas de candidatos, mas tanto o secretário, como o presidente do IH, Arnaldo Santos, disseram ser impossível manter as listas inalteradas. “Se tivéssemos uma oferta estável mantínhamos as listas, mas não conseguimos. Quanto ao sistema de pontuação, não há problema, mas depois de aberto o concurso, será que se mantém válida a lista? Não vou abrir uma lista de candidatos para a atribuição de casa, porque ter milhares de pessoas só para 200 casas não faz sentido. Afirmei que vou fazer coisas grandes e não coisas pequenas”, vincou Raimundo do Rosário. Sobre o processo legislativo da lei de habitação económica, o secretário prometeu apresentar novas informações aquando das Linhas de Acção Governativa.
Victor Ng PolíticaBurlas | Chan Meng Kam quer mais acção [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi a última interpelação assinada pelo líder político da comunidade de Fujian, que decidiu não se recandidatar nas eleições de 17 de Setembro. Chan Meng Kam escreveu ao Executivo a propósito do elevado número de burlas telefónicas que se têm registado no território. Está preocupado com a situação e defende que deve ser feito mais no combate a este tipo de criminalidade. O deputado começa por assinalar que os crimes resultaram em prejuízos avultados para as vítimas e o ‘modus operandi’ dos burlões tem vindo a sofrer alterações. Assim sendo, propõe que haja um reforço do trabalho de combate às burlas, bem como uma maior cooperação entre diferentes serviços públicos para que seja possível cortar o mal pela raiz. Na missiva, Chan Meng Kam pergunta se é possível recolher mais informações sobre os telefonemas em causa, através do recurso às novas tecnologias, de modo a identificar padrões para a criação de um sistema de alerta que impeça a realização das chamadas. Os burlões utilizam sobretudo cartões pré-pagos no contacto com as vítimas, o que dificulta o trabalho de investigação às autoridades policiais, uma vez que esses cartões deixam de ser usados e não se consegue apurar quem fez ou de onde veio a chamada. Neste contexto, o deputado questiona o Governo sobre a possibilidade de tornar obrigatório o fornecimento dos dados pessoais aquando da aquisição destes cartões, algo que, de resto, tem vindo a ser “solicitado pela sociedade”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Aplausos, despedidas e desejos no fim da V Legislatura Chegou ontem ao fim a V Legislatura da Assembleia Legislativa. Ho Iat Seng recordou que vários deputados com experiência deixam o hemiciclo. Na despedida, Leonel Alves defendeu a necessidade de olhar de novo para o Código do Processo Penal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] último debate da vida de alguns deputados aconteceu ontem e não faltou sequer a fotografia de família com os membros do hemiciclo que, depois das eleições de Setembro, será certamente diferente. Houve, inclusivamente, alguns aplausos. Depois da discussão sobre o processo de atribuição de casas do Governo, terminou oficialmente a V Legislatura da Assembleia Legislativa (AL), tendo Ho Iat Seng, o seu presidente, lembrado que nomes como o de Chan Meng Kam, Leonel Alves ou Cheang Chi Keong vão deixar a Assembleia. “Muitos deputados, com muita experiência, declararam que não vão continuar. Tenho de reconhecer o seu mérito e agradecer os seus esforços. Houve aqui várias decisões e diferentes opiniões dos deputados, o que mostra que houve um amadurecimento e que estamos mais habituados a discutir tendo em conta o assunto e não a pessoa em si”, apontou. Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas que chegou a ser deputado, deixou algumas palavras de despedida e até recordou o passado. “Estar sentado desse lado é mais fácil do que estar sentado aqui”, começou por dizer. “Respeito muito esta AL e todas as vezes que recebi um convite vim sempre. Espero que os deputados tenham notado as melhorias. O problema das derrapagens orçamentais já não é das Obras Públicas e o metro ligeiro deixou de ser uma questão grave. É difícil porque temos de agir de acordo com a lei, mas muitas vezes os deputados pedem mais rapidez”, acrescentou. Melhorar o CPP Leonel Alves, que sai da AL ao fim de 33 anos, falou da necessidade de olhar de novo para o Código do Processo Penal (CPP), que foi revisto em 2013. “É uma boa oportunidade para nos sentarmos e olharmos para o CPP, ver o que pode ser melhorado em termos de protecção do arguido e colher as experiências vividas nos juízos de instrução criminal e no Comissariado contra a Corrupção. Acho que há muita matéria para ponderar e melhorar”, disse ontem à margem do debate. O deputado considerou que “Macau deve melhorar e caminhar para reforçar os direitos e liberdades dos cidadãos”, sem esquecer que, nos últimos 18 anos, muita coisa foi feita. Tendo dado o exemplo da lei da protecção dos dados pessoais, Leonel Alves lembrou que o hemiciclo “conseguiu produzir algo de importante para a sociedade”, sendo que o deputado teve “um modesto contributo”. Implementar a lei sindical é, para Leonel Alves, algo urgente por ser um direito constante na Lei Básica. Contudo, ainda há muitos passos a dar. “Como se viu nas últimas sessões de debate sobre a lei do arrendamento, há questões fracturantes, porque ainda existe esta clivagem acentuada, infelizmente, de convicções. Espero que, com novos deputados, algum passo qualitativo se verifique para que Macau não fique tão retrógrada.” Tendo assumido que desejava sair da AL há quatro anos, Leonel Alves lembrou que a sua saída representa o fim de mais um falante de português no hemiciclo. “É uma perda, obviamente. Espero que, no quadro existente, possa haver, em termos numéricos, mais do que um deputado falante de português”, afirmou. Mais jovens precisam-se Questionado sobre a sua saída, Chan Meng Kam foi evasivo com os jornalistas, mas não deixou de defender que mais jovens devem entrar na AL, para que possam concluir o trabalho que já foi iniciado pelos actuais deputados. O líder da comunidade de Fujian em Macau agradeceu o apoio que obteve nos últimos 12 anos, tendo prometido continuar a servir a sociedade. Chan Meng Kam considerou ainda que o número de deputados eleitos pela via directa é ainda baixo. Além de deputado, Chan Meng Kam ocupava o cargo de presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública. Também Cheang Chi Keong presidia à 3.ª Comissão Permanente da AL. Chumbo “lamentável” No intervalo do debate de ontem, Cheang Chi Keong frisou que o trabalho enquanto presidente de uma comissão permanente foi duro. Na sua visão, o aumento do volume de trabalho e os conflitos existentes nas várias reuniões da comissão estiveram relacionados com as exigências da sociedade, que têm vindo a aumentar. Pela 3.ª Comissão Permanente da AL passaram diplomas como a lei da salvaguarda do património ou a lei do arrendamento, votada na semana passada. Na visão do deputado, caso este diploma tivesse sido apreciado no ano passado os problemas teriam sido menores. Cheang Chi Keong classificou ainda como “lamentável” o facto de não terem sido aprovados todos os artigos da lei do arrendamento, considerando necessária a criação de um coeficiente para o aumento das rendas.
Sofia Margarida Mota SociedadeDeficientes | Macau vai ter mais dois centros de acolhimento Até ao final do ano vão entrar em funcionamento dois centros para acolher pessoas com deficiência cognitiva. O mesmo prazo é dado, pela Comissão para os Assuntos de Reabilitação, para que estejam definidas as normas arquitectónicas para a concepção de design livre de barreiras [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á estão construídos e podem entrar em funcionamento dentro de dois meses. São dois centros de acolhimento de pessoas portadoras de deficiência cognitiva. A informação foi adiantada ontem pelo chefe de Departamento de Solidariedade Social, Choi Siu Un, após a reunião plenária da Comissão para os Assuntos de Reabilitação. “São dois novos lares para pessoas com necessidades especiais ao nível cognitivo”, disse Choi Siu Un. Uma das instituições, situada na zona norte, está disponível para receber 100 utentes com diagnósticos considerados graves, e a outra, destinada a pessoas em processo de reabilitação, vai ter 112 vagas. “As obras já estão concluídas e vão entrar em funcionamento dentro dos próximos dois meses”, avançou Choi Siu Un. Um dos assuntos em cima da mesa neste segundo encontro plenário do ano foi o andamento dos trabalhos no que respeita às normas arquitectónicas para a concepção de design universal e livre de barreiras na RAEM. As directrizes já deveriam estar prontas no final de Setembro mas, pelos vistos, vão esperar mais um trimestre. O chefe de departamento aponta, ainda assim, que os trabalhos têm sido feitos com alguma rapidez. “Levámos nove meses até agora e é preciso ver que não se trata de um trabalho fácil, mas sim muito complexo”, justificou. Neste momento, a comissão considera que já muito trabalho foi feito neste sentido e que “foram concluídas obras de melhoramento de instalações”. Entre elas, foram feitas melhorias na Avenida Nossa Senhora de Fátima e “no âmbito da acessibilidade à informática foi lançado o programa de formação de intérpretes de linguagem gestual”. Ainda este mês, terminará a terceira fase de consulta pública no que respeita a normas de acessibilidade, sendo que, até à data, já foram ouvidos os sectores de arquitectura e de engenharia. “Esperamos que, antes de 2018, tenhamos condições para concluir esta matéria”, disse o chefe de departamento de Solidariedade Social. Devagar, devagarinho No que respeita à acessibilidade de circulação para pessoas portadoras de deficiência motora, os trabalhos estão em andamento. Neste momento 60 por cento dos autocarros já apresentam pisos mais baixos para facilitar o acesso, apontou o representante da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego. “Já existem cinco táxis destinados a estas pessoas e que estão munidos de rampas e de cintos de segurança adequados”, completou. Vai ainda ser criado mais um serviço de transporte público com dois percursos: um na península e outro na Taipa e Coloane. “Estes autocarros vão circular pela cidade para apanhar os utentes e vão estar disponíveis ainda no final deste ano”, referiu o responsável. Para já, os cerca de quatro mil portadores de deficiência motora, caso consigam sair de casa, têm dois serviços básicos de apoio. “Temos um serviço domiciliário que faz entregas de alimentos e de compras para quem tem mais dificuldades de deslocação, e já há um serviço de transporte para aqueles que precisem de aceder a serviços médicos”, acrescentou Choi Siu Un. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) afirma que tem feito trabalhos neste sentido. “Este ano já foi aplicado pavimento táctil e criámos mais condições para facilitar a mobilidade das pessoas com deficiência. Por exemplo: baixámos o nível do chão em algumas zonas”, referiu o responsável do IACM presente na reunião. O organismo não deixou de sublinhar que “faz uma avaliação anual das condições de uma determinada área no território de modo a ter noção das necessidades de melhoramento em termos de acessibilidade”. Deficientes auditivos e visuais serão cerca de cinco mil no território e, para esta população, a comissão avança que vai instalar equipamentos de informação. No que respeita às condições dos próprios edifícios, a prioridade imediata é munir as instalações públicas de condições de acesso a todos. “As normas definidas irão ser aplicadas, em primeiro lugar, nos edifícios públicos e subsidiados”, disse Choi Siu Un. No que respeita ao sector privado, a comissão espera “que as empresas possam colaborar”. De salientar, para Choi Siu Un, é que o melhoramento das condições de acessibilidade e circulação em Macau não é apenas dirigido às pessoas portadoras de deficiência. “São também normas que têm em conta as necessidades da população idosa e de turistas que precisem de cuidados especiais”, rematou o responsável.
Hoje Macau SociedadeAmbiente | Prémios às escolas com iniciativas ecológicas [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorreu em Macau, pelo segundo ano consecutivo, a iniciativa “Plano de Atribuição de Louvores às Eco-Escolas”. A acção, a cargo da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), tem como objectivo “incentivar a promoção da educação ambiental dentro e fora da sala de aula, para que os estudantes aprendam a sua importância”, lê-se no comunicado enviado à comunicação social. Este ano, participaram 25 escolas onde foi feita a divulgação de informação amiga do ambiente. Das palestras levadas aos estabelecimentos de ensino, os assuntos abordados passaram pela redução de resíduos a partir da fonte, separação de resíduos por três cores, recolha de pilhas e baterias usadas, valorização de alimentos e resíduos alimentares. Com os conhecimentos postos em prática, e após uma avaliação dos serviços, 14 escolas foram classificadas com o “Prémio de Honra” e nove com o “Prémio de Excelentes Desempenhos”. Dentro da mesma iniciativa foi lançado o concurso “Projecto Pedagógico de Educação Ambiental” para incentivar o sector educativo a criar materiais didácticos nesta matéria. A cerimónia de entrega de prémios às eco-escolas e o sorteio de prémios da actividade “Reduzir o uso de sacos de plástico” terão lugar no Centro de Ciência de Macau, a 20 de Setembro.
Hoje Macau Manchete SociedadeHo Chio Meng | Processo conexo com seis condenações e três absolvições Está concluído o julgamento em primeira instância dos arguidos do processo conexo ao do antigo procurador. O colectivo do Tribunal Judicial de Base condenou seis pessoas e absolveu três, entre elas António Lai, que foi chefe de gabinete de Ho Chio Meng. A mulher do ex-líder do Ministério Público foi para casa com pena suspensa [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]eis dos nove arguidos no processo conexo ao do antigo procurador da RAEM foram ontem condenados por crimes como participação em organização criminosa, participação económica em negócio, branqueamento de capitais, burla e riqueza injustificada. Outros três foram absolvidos. O Tribunal Judicial de Base (TJB) deu como provado que alguns dos arguidos cometeram mais de mil crimes envolvendo a adjudicação de contratos de aquisição de bens e serviços do Ministério Público a empresas de fachada, e que alguns dos crimes foram cometidos de forma continuada, em associação criminosa com o antigo procurador Ho Chio Meng, já condenado no mês passado a 21 anos de prisão. Quatro dos arguidos foram condenados a mais de dez anos de prisão efectiva em cúmulo jurídico pela prática, em co-autoria e na forma consumada, dos crimes de participação em organização criminosa, participação económica em negócio, branqueamento de capitais agravado e burla qualificada de valor consideravelmente elevado. Foram eles os empresários Wong Kuok Wai (14 anos) e Mak Im Tai (12 anos), o cunhado de Ho Chio Meng Lei Kuan Pun (12 anos) e o irmão mais velho do antigo procurador Ho Chio Shun (13 anos). Embora considerados culpados de 49 crimes de branqueamento de capitais agravado, Wong Kuok, Mak Im Tai, Lei Kuan Pun e Ho Chio Shun foram absolvidos de outros sete crimes da mesma tipologia. Um total de 31 crimes de participação económica em negócio pelos quais estavam acusados Ho Chio Shun e Lei Kuan Pun prescreveu. O presidente do colectivo de juízes, Lam Peng Fai, disse que ficou provado que Ho Chio Sun, o irmão mais velho do antigo procurador, era responsável pela gestão geral da associação criminosa e que o cunhado Lei Kwan Pun era responsável pela contabilidade e elaboração de cotações para o Ministério Público. Durante mais de dez anos, as empresas em causa destinavam-se apenas a ganhar as adjudicações do gabinete do procurador, sem outras actividades conhecidas. O esquema de lucros assentava em preços a pagar pelos serviços acima dos valores de mercado, sendo as transacções feitas “pela equipa composta por cinco pessoas” através de “cheques ou de levantamentos em caixas ATM” para, no final, “depositarem os montantes nas contas de Ho Chio Shun ou de Ho Chio Meng”. “Os quatro arguidos, com Ho Chio Meng, tinham uma boa distribuição de tarefas (…) Conseguiram então transferir receitas ilegais através das contas bancárias”, disse o juiz. Mulher com pena suspensa Entre os nove arguidos foram absolvidos António Lai Kin Ian, o ex-chefe de gabinete do antigo procurador Ho Chio Meng, e o ex-assessor do Ministério Público Chan Ka Fai, tal como Alex Lam Hou In, antigo funcionário das empresas detidas por Wong e Mak. O tribunal entendeu que Ho Chio Meng se aproveitou dos princípios de confidencialidade, e que os funcionários do Ministério Público acreditaram no antigo procurador e nas suas decisões, elaborando propostas conforme as práticas instaladas, mas desconhecendo ilegalidades. O juiz afirmou ainda que, “como procurador, Ho Chio Meng não protegeu os bens do Ministério Público”. Wang Xiandi, a mulher que o tribunal disse ter sido provado ter “uma relação estreita” com o antigo procurador e que auferia rendimentos e regalias do Ministério Público sem nunca ter prestado serviço efectivo ao gabinete do procurador, foi condenada a seis anos de prisão pela prática, em co-autoria e na forma consumada, de quatro crimes de burla de valor considerado elevado e de um crime de burla de valor elevado. Já Chao Sio Fu, a mulher de Ho Chio Meng, foi condenada a dois anos de prisão com pena suspensa por três anos e seis meses por dois crimes de inexactidão dos elementos da declaração de rendimentos e por um crime de riqueza injustificada. Apenas dois dos arguidos marcaram presença na leitura da sentença – os empresários Wong Kuok Wai e Mak Im Tai, também eles os únicos em prisão preventiva. O tribunal disse que dois dos arguidos invocaram motivo de doença para não comparecer, incluindo a mulher de Ho Chio Meng, e que não foi possível contactar outro arguido. Quatro arguidos – Ho Chiu Shun, Lei Kuan Pun, Lam Hou Un e Wang Xiandi – estão em parte incerta. Os advogados de defesa também não estiveram presentes na leitura da sentença, tendo enviado representantes. Condenações Wong Kuok Wai, empresário – 14 anos de prisão Ho Chio Shun, irmão de Ho Chio Meng – 13 anos de prisão Mak Im Tai, empresário – 12 anos de prisão Lei Kuan Pun, cunhado de Ho Chio Meng – 12 anos de prisão Wang Xiandi, mulher próxima de Ho Chio Meng – 6 anos de prisão Chao Sio Fu, mulher de Ho Chio Meng – 2 dois anos de prisão (com pena suspensa por 3 anos e 6 meses) Absolvições António Lai Kin Ian, ex-chefe de gabinete de Ho Chio Meng Chan Ka Fai, ex-assessor do Ministério Público Alex Lam Hou In, antigo funcionário de Wong Kuok Wai e Mak Im Tai
Hoje Macau SociedadeCreches | Dez mil vagas para o próximo ano lectivo [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ez mil vagas em creches é o número apontado, para este ano, pelo Instituto de Acção Social (IAS) ao canal chinês da Rádio Macau. De acordo com a mesma fonte, a chefe da Divisão de Serviços para Crianças e Jovens, Lao Kit Im, divulgou que, em 2016, a taxa de presença das crianças nas creches foi de 70 por cento, sendo que o IAS está atento ao que se passa com os 30 por cento dos lugares que parecem ficar vazios e que representam um total de 2400 vagas. A ideia, afirma a responsável, é que se possa vir a coordenar melhor os serviços para que exista um melhor aproveitamento dos lugares disponíveis. Lao Kit Im refere ainda que não afasta a possibilidade de ajustar a proporção de vagas entre o serviço referente ao dia inteiro e o regime de meio-dia. O objectivo é aumentar o número de vagas para a faixa etária dos dois anos, visto as previsões apontarem para um aumento da procura de 6800 para sete mil. De acordo com a coordenadora para os assuntos administrativos da creche da Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM), Wong Kuan Kit, também em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, as creches que pertencem à associação tiveram, no primeiro semestre do ano, uma taxa de ocupação de 75 por cento. A coordenadora considera que as razões da ausência das crianças estão relacionadas com os feriados e doenças. Para a coordenadora, há pais preocupados com a gripe e que acabam por não deixar as crianças ir à escola. Wong Kuan Kit disse ainda que a maior necessidade apontada pelos pais tem que ver com a existência de mais vagas para o regime de dia inteiro. A responsável acrescentou ainda que a maioria das vagas para as creches da AGMM estão cheias e que o serviço de meio-dia apresentou muito poucas inscrições, facto que, considera, influencia na taxa geral de presenças.
Hoje Macau SociedadeIao Hon | Zona mais habitada de Macau sem solução à vista [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] zona com maior densidade populacional do território e que reúne alguns dos edifícios mais deteriorados vive dias complicados. Lam U Tou defende mais casas para o Iao Hon, caso sejam acompanhadas de mais equipamentos comunitários. Já Chan Tak Seng considera que, sem um planeamento geral, não vale a pena avançar para reconstruções arbitrárias O director da Associação da Sinergia de Macau, Lam U Tou, pede equilíbrio entre densidade populacional e as instalações comunitárias. A ideia foi deixada ao Jornal do Cidadão, num texto em defende medidas para as zonas de maior densidade populacional do território. Em causa está o Iao Hon, que lidera o número de habitantes por metro quadrado no território. Apesar de o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, apontar as dificuldades do Iao Hon associadas à quantidade de gente que ali vive, Lam U Tou entende que o Governo não pode deixar de ter iniciativas e de “reforçar os seus trabalhos para desacelerar o envelhecimento dos prédios, em prol da qualidade de vida dos residentes”. Uma das sugestões deixadas pelo dirigente associativo aponta para o aumento da altura dos prédios onde não se aplicam limites. No entanto, Lam U Tou não deixa de chamar a atenção para a necessidade de uma avaliação das necessidades da comunidade. Em causa estão os equipamentos comunitários necessários para que “o aumento em altura dos edifícios e a construção de mais habitações não venha a piorar as condições de vida”. Um exemplo a ter em conta é a zona de Lam Mau. “A segunda zona com maior densidade populacional de Macau é também a mais alta do território”, refere Lam U Tou, sendo que, neste caso, não há problema porque “tem instalações comunitárias muito melhores do que a zona do Iao Hon”. Este é um exemplo que mostra que se deve ter em conta o equilíbrio entre a densidade populacional e as instalações comunitárias. É preciso agir Ainda no que respeita ao Iao Hon, Lam U Tou afirma que a inércia não é solução. Apesar de ser uma zona que não aguenta ter muitos mais moradores, continua a precisar de atenção, nomeadamente no que respeita a equipamentos comunitários. Neste âmbito, o responsável acha que é necessário construir mais instalações e alerta para a necessidade de um planeamento geral. Outro aspecto de relevo, aponta, é a necessidade de estabelecer indicadores que dêem informação acerca dos tipos de instalações em falta no território. A reconstrução dos bairros antigos não é uma tarefa fácil, concede Lam U Tou, visto que “o envelhecimento dos prédios antigos decorre a um ritmo mais rápido do que os passos da reconstrução”. Assim sendo, e para já, o responsável sugere o avanço com obras de reparação e manutenção dos edifícios antigos, apesar das dificuldades que o assunto apresenta, nomeadamente as relacionadas com a concordância dos proprietários. As obras e fiscalizações dos prédios com mais de 30 anos têm sido um assunto sem solução aparente, tendo dividido os deputados no debate da passada segunda-feira na Assembleia Legislativa. Privilégios de parte Já para o vice-presidente da Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, Chan Tak Seng, antes de se discutir o destino de alguns dos edifícios do Iao Hon, há que avançar para um planeamento geral da zona norte. O também membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Norte considera ainda que estes edifícios não podem ser considerados prioritários no que respeita ao avanço de obras de reconstrução sem que estas estejam inseridas numa iniciativa mais alargada que, sublinha, deveria estar pronta até 2018. O responsável apontou ainda, em declarações ao Jornal do Cidadão, que esta é uma área em que construir mais casas não é a decisão mais adequada, dado o elevado número de pessoas na zona. Em prol do desenvolvimento geral daquela área da cidade, Chan Tak Seng frisa que é mais importante ter um planeamento que defina o papel de toda a zona para atrair investidores. Uma intervenção pontual, refere, apenas iria privilegiar alguns edifícios que, sem um planeamento geral, em breve voltariam a trazer os problemas do costume.