Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemAs soluções para as cheias do Porto Interior que teimam em não sair do papel A zona da Barra, Porto Interior e Praia do Manduco estão habituadas às cheias, mas não teria de ser assim. Falta de vontade política, de soluções integradas a longo prazo e o choque com interesses privados têm impossibilitado uma solução para as inundações crónicas. Além disso, existe uma evidente insuficiência da rede de esgotos assim como a falta espaço no estuário do Rio das Pérolas para a subida da maré [dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi tudo empurrado para dentro, tinha em casa água do mar, lodo, lama, esgoto de sanita e os diabos da cidade”, conta António Conceição. O empresário que vive no bairro da Almeida Ribeiro, junto aos tintins, ficou com a casa inundada a partir de dentro. “Aconteceu pela parte de escoamento da canalização, retrete, pia e ralos”. Dejectos que deviam ter uma viagem só de ida, fizeram o retorno pelas canalizações acima das casas da zona do Porto Interior, trazendo, por arrasto, todo o tipo de detritos e águas. “Há uma deficiência muito grande para controlar a subida do nível da água em Macau, mas a inundação da minha casa deveu-se, sobretudo, à insuficiência estrutural da rede de canalização”, explica António Conceição. Este é um problema crónico de certas zonas da cidade, em particular das zonas da Barra, Porto Interior e Patane, que estão sujeitas a estas situações quando se dá a conjugação de factores normais como a subida da maré, chuvadas intensas, ou ocorrência de tufões. Têm-se procurado soluções para resolver do problema da zona ribeirinha, como a criação de uma bacia de retenção temporária e a construção de uma central de bombagem para assegurar a drenagem das águas da chuva, mas os projectos nunca saíram da gaveta. Foram também apresentadas propostas para remendar os problemas, quase simbolicamente, como a construção de muros mais altos junto à margem. Estas são consequências. As causas não se ficam pela normal acção da natureza. Mário Duque, arquitecto, encontra nas várias transformações ao longo do estuário a causa para as constantes subidas dos níveis das águas. Com as contínuas construções de aterros e urbanizações o espaço para a entrada da maré no estuário foi diminuindo. “É um problema conjunto causado por toda a região de Guangdong, relacionado com a necessidade de captar água para consumo em pontos acima do estuário”, explica o arquitecto. Pias e fontes A necessidade de fazer aterros cada vez mais altos também tem consequências ao nível da transferência da vulnerabilidade para os aterros mais antigos e baixos, isto numa cidade com um solo predominantemente impermeável, com um tempo rápido de concentração de água da chuva e sem bacias de retenção. Tudo ingredientes que fomentam as calamidades crónicas que se reflectem na destruição que arruína a vida de quem vive nas zonas baixas. Além da ausência de mecanismos estruturais para lidar com as transformações do estuário do Rio das Pérolas, há outro elemento de “chicoespertice” que origina calamidades domésticas como a que sofreu António Conceição. “Em Macau proliferam ligações de esgoto doméstico ilegal, ou seja, instalações sanitárias improvisadas e ligadas directamente ao esgoto pluvial mais próximo”, elucida Mário Duque. O arquitecto esclarece que esta é uma “situação tipificada como crime contra a saúde pública e ambiente”, mas uma realidade que só é revelada por um cenário de inundação. António Conceição sentiu isso, uma cheia que veio de dentro dos canos e que transformou a sua casa numa piscina com mais de um metro de profundidade. Na altura, o empresário não estava em casa, mas estava um amigo que “pegou nas coisas mais valiosas e conseguiu guarda-las no mezzanine”. Ficou um espólio submerso constituído por centenas de livros, muita informação digital e uma colecção de desenhos feitos ao longo de uma década de trabalho. Além de bens de valor intangível, António Conceição fez um “cálculo redondo das despesas que devem rondar cerca de 85 mil patacas, com muito equipamento à mistura”. Também a casa ficou, naturalmente, inabitável, num estado bastante degradado. O empresário destaca os pobres acabamentos da construção de Macau que potenciou o “impacto brutal na casa”. Ainda assim, António Conceição entende que está longe de ser um caso grave, uma vez que “houve pessoas que passaram perigo de vida e perderam tudo”. Gaveta de projectos O tufão Hato deixou a nu todos estes problemas estruturais que deixam a zona ribeirinha vulnerável à fúria dos elementos. Vítor Chan, porta-voz do Governo, revelou que foram feitos dois estudos para resolver o problema. O primeiro é a criação de uma barreira. O segundo é uma avaliação conjunta com as cidades de Zhuhai e Zhongshan para a criação de um plano integral “que resolva o problema na fonte”, explicou o representante do Executivo. Ambos os estudos foram submetidos ao Conselho de Estado, estando o Governo da RAEM a aguardar resposta. Os trabalhos de avaliação de impacto ambiental e orçamento foram acelerados e vão decorrer ao longo do segundo semestre deste ano, sendo que é expectável que no próximo ano esteja concluída uma versão final do estudo. Esta é uma conversa que se vem repetindo há mais de trinta anos. Miguel Campina, arquitecto que acompanha estudos que intervenham neste domínio desde os anos 1980 não entende “o que se anda a estudar há tanto tempo”. O arquitecto equipara a resolução deste problema à falta de acção para a concretização do plano director. “A única coisa que fizeram, pensando que iam resolver alguma coisa, foi um murozinho para evitar situações mais comuns da maré alta entrar para a zona mais baixa do Porto Interior”, recorda Miguel Campina. O arquitecto considera que esta não chega a ser uma solução. “Não funciona, é como tratar uma doença grave com aspirina, não tem qualquer efeito prático a médio longo prazo”, acrescenta. Miguel Campina vai mais longe e afirma que “aquilo que se tem feito é fingir que se faz alguma coisa, mas na prática é só adiar”. Na década de 1980 houve um projecto para solucionar os problemas de inundações do Porto Interior relacionado com a drenagem da bacia do Rio das Pérolas. “Era preciso criar um sistema de retenção subterrâneo e uma central de bombagem para assegurar que a drenagem da água da chuva pudesse continuar a ocorrer mesmo nas situações de maré alta”, explica o arquitecto. Soluções que tentam resolver o problema resultante da diferença entre os pontos de descarga e o nível da água que fica mais alto. Devido à sobrecarga dos colectores, a água não só fica impedida de sair como, pelo contrário, sai pelos pontos de drenagem das vias circundantes. Tudo trabalhos de grande envergadura do ponto de vista da engenharia, “mas nada que fosse particularmente difícil”. Porém, os projectos esbarraram na falta de vontade política e nos diversos lobbies que controlam a decisão política, de acordo com Miguel Campina “O Governo teria de exercer aquilo que é a sua prerrogativa, mas isso não aconteceu porque nunca há vontade de mexer nos interesses instalados, é preferível manter tudo na mesma”, comenta Miguel Campina. O arquitecto apenas vê uma solução para o problema se esta for lucrativa. “Ficamos à espera que um dia apareça uma situação milagrosa, que se traduz na prática na oportunidade de um negócio”, projecta. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Governo pediu compreensão e paciência para a resolução do problema da zona ribeirinha. Vítor Chan enumerou a necessidade de conjugação de trabalhos por parte de vários departamentos e da interligação com os serviços das cidades vizinhas como um factor de complexidade que atrasa os trabalhos. No entanto, a população que vive no Porto Interior espera uma solução para um problema crónico que não tem de resultar nas consequências catastróficas que se verificaram na semana passada e que, por certo, se vão repetir. O arquitecto Miguel Campina, fez parte de uma equipa que elaborou o projecto para tratar desta situação ainda antes da transferência, corria a década de 1980, há mais de trinta anos. Um plano que nunca foi posto em prática, mas que poderia ainda ser aproveitado nos dias de hoje. “Nada é impossível, o contexto alterou-se mas a validade das propostas formuladas mantém-se. Pode-se salvaguardar o essencial da filosofia de intervenção é possível fazer-se qualquer coisa”, considera Miguel Campina. No entanto, o arquitecto alerta que “quanto mais tempo passar, menos coerência final haverá do ponto de vista daquilo que poderia ser alcançado”. Entretanto, a população das zonas ribeirinhas de Macau continuam à espera de uma solução, muitas das vezes com água pela cintura.
Victor Ng PolíticaSinergia Macau | Pedidas responsabilidades sobre falhas na passagem do Hato Não há responsabilidades apuradas quanto à ineficácia de todos os procedimentos que anteciparam e sucederam, a passagem do tufão Hato. A Associação Sinergia de Macau entregou mais de dez mil assinaturas na sede do Governo a exigir medidas [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om a ineficácia da resposta ao caos provocado com a passagem do Hato pelo território, a população está descontente e pede ao Executivo que actue. Ontem, a Associação da Sinergia de Macau apresentou uma carta junto à sede do Governo a pedir a responsabilização dos dirigentes dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) e um melhor mecanismo de resposta a catástrofes. A carta dirigida ao Chefe do Executivo refere que o tufão Hato além de ter causado dez mortos e mais de 200 feridos, danificou a cidade com perdas económicas graves e cortes de água e de luz. “Nós entendemos que o essencial neste momento é que a sociedade volte à normalidade, mas recebemos várias opiniões que exigem a acção do Governo”, disse ontem Lam U Tou, presidente da Associação da Sinergia de Macau, na altura da entrega da missiva. Em causa estão os pedidos de responsabilização e a necessidade de apuramento das causas de tanto dano. Por outro lado, afirmou o responsável da associação, “é necessário definir trabalhos, de forma prática, para melhorar o mecanismo contra inundações e catástrofes”. Lam U Tou acrescentou ainda que o Governo precisa de aprender com a lição dada pelo Hato. Neste sentido, apontou, é preciso que se encontrem formas de minimizar os impactos e de acelerar os trabalhos de recuperação. Para o presidente da Sinergia de Macau é urgente “aumentar a capacidade de contingência às catástrofes, a fim de ter uma cidade mais segura no futuro”. Assinaturas aos milhares Um dia após a passagem do tufão Hato por Macau, a Associação presidida por Lam U Tou iniciou uma recolha de assinaturas online. O objectivo foi sublinhar um pedido urgente: criar uma comissão de investigação independente para averiguar responsabilidades nas perdas provocadas pelo tufão e assinalar a necessidade de um mecanismo eficaz de resposta. Foram recolhidas um total de 11,593 assinaturas, entregues juntamente com a carta, ao Executivo. Lam U Tou exige também que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) proceda a uma investigação para apurar se os Serviços Meteorológicos e Geofísicos tiveram algum acto de negligência. Apesar da demissão de Fong Soi Kun, ex-director dos SMG, a associação presidida por Lam U Tou não está satisfeita. “É preciso um procedimento disciplinar”, disse. Em resposta à criação de uma comissão para gestão de catástrofes, Lam U Tou argumenta que com uma comissão composta só pelos membros do Governo, o seu efeito prático é questionável. O responsável sugere que o novo organismo conte com a participação de residentes. O objectivo, frisa, é garantir que o trabalho seja efectivamente feito. “Em Novembro de 2012, o Governo criou o Conselho para o Tratamento de Incidentes Imprevistos, mas todos viram a incapacidade de resposta e de coordenação neste incidente imprevisto”, disse Lam U Tou.
Andreia Sofia Silva PolíticaAIPIM “repudia” posição da CAEAL sobre publicação de entrevista [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês (AIPIM) reagiu ontem à tomada de posição da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), que exigiu ao semanário bilingue Plataforma Macau a retirada da entrevista publicada online ao candidato às eleições José Luís Pedruco Achiam. No comunicado, a AIPIM afirma que “repudia esta situação”, pois considera “incompreensível que um conteúdo jornalístico, neste caso uma entrevista, seja equiparado a propaganda”. “Na linha do que foi referido no nosso comunicado, datado de 20 de Abril último, a AIPIM considera que é fundamental que, em todas as ocasiões e períodos, inclusive antes do início da campanha eleitoral, o exercício da liberdade de imprensa e o direito à informação sejam integralmente respeitados, incluindo a realização de entrevistas e cobertura noticiosa de acções envolvendo candidatos, em consonância com o que está consagrado na Lei Básica da RAEM e na Lei de Imprensa”, lê-se ainda. A entrevista foi publicada na edição do Plataforma Macau do passado dia 18 de Agosto. A CAEAL invocou a Lei Eleitoral para a remoção da entrevista no que diz respeito ao período de proibição de propaganda eleitoral, tendo sido referido que “quem não cumprir as instruções incorre no crime de desobediência qualificada”. Linhas “invisíveis” Maria Caetano, coordenadora do semanário, publicou um texto onde denunciou o caso, intitulado “Linhas Invisíveis”. “O conteúdo foi retirado, e as possíveis consequências seriam demasiado gravosas caso este jornal assim não procedesse. O que não significa que se deva permanecer calado ou deixar de contestar a imposição, seriamente ilegítima e limitadora dos direito, dever e liberdade de informar – que, até hoje, se encontram consagrados no ordenamento jurídico de Macau”, escreveu. Maria Caetano defende que a CAEAL, “na sua actuação”, “dispôs um número de linhas invisíveis, que confundem conceitos, atropelam direitos e que impõem o medo pela simples capacidade que este órgão, responsável, tem de determinar arbitrariamente a quem impõe instruções”. “O Plataforma tem vindo semanalmente a entrevistar com equilíbrio cada um dos candidatos às eleições do próximo mês. Fá-lo na expectativa de garantir informação e debate num espaço público e político cada vez mais coarctado, e em vista de eleições que se arriscam a ser as mais desinformadas e anódinas de sempre. Espera poder continuar a fazê-lo”, rematou a coordenadora do jornal.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaChui Sai On | Criada comissão de revisão para resposta a catástrofes O mecanismo já existe desde 2012, mas não foi eficiente. Ontem foi criada uma versão para a sua revisão e melhoria. Trata-se da Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento. As alterações parecem ser poucas e, de acordo com António Trindade, da CESL Asia, Macau precisa de medidas executivas, mais do que políticas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 25 de Outubro de 2012 foi criado o Conselho de Tratamento de Incidentes Imprevistos que, lê-se no despacho publicado em Boletim Oficial (BO) na mesma data, “tem por objectivo a coordenação, orientação e fiscalização global das entidades públicas na adopção de medidas de urgência com vista a responder à ocorrência repentina de incidentes relativos a catástrofes naturais, acidentes e calamidades, saúde pública e segurança pública que produzam ou sejam susceptíveis de produzir danos graves no tecido social”. No entanto, e com a passagem do tufão Hato pelo território, o mecanismo mostrou-se ineficaz em várias frentes, desde a prevenção à normalização, nada funcionou. Com os resultados à vista, Chui Sai ON publicou ontem, em BO, a criação de uma nova entidade. A recém concebida Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento tem como objectivo “rever o actual mecanismo de gestão de crises, designadamente a previsão meteorológica, a coordenação dos trabalhos de protecção civil, a coordenação da divulgação de informações, bem como o estado das respectivas infra-estruturas”. Sem grandes diferenças a assinalar, relativamente ao Conselho, a nova Comissão parece colocar a tónica na acção dos mecanismos de antecipação de divulgação de informação aquando da ocorrência de catástrofes naturais. Faz ainda parte dos objectivos da Comissão, “apresentar um plano geral sobre a gestão de crises no futuro, visando potenciar os efeitos sinergéticos da gestão de crises, designadamente no que respeita à uniformização do planeamento, da acção e da divulgação de informações, como forma de elevar a capacidade de resposta a crise”. Tudo para “proteger efectivamente a segurança da vida e dos bens dos residentes e assegurar a harmonia e a estabilidade da sociedade”. Descubra as diferenças Conselho e Comissão aparecem com conteúdos muito idênticos, sendo que o segundo pretende ser uma versão melhorada do primeiro. Algumas diferenças podem ser encontradas e a mais evidente diz respeito à composição: os directores de serviços foram substituídos pelos secretários, estando os cinco governantes presentes. Acresce ainda na composição, o director-geral dos Serviços de Alfândega. Outra novidade prevista na Comissão é que “pode convidar especialistas, académicos e individualidades sociais para participar nas reuniões, sempre que julgue necessário e criar vários grupos de trabalho especializados para participar nos trabalhos”. Resta saber da sua eficácia. Medidas executivas O Conselho criado ontem parece ser mais uma medida política do que executiva, numa altura em que o território recupera dos danos causados pela passagem do tufão Hato, o que, para o CEO da CESL Asia, António Trindade, poderá não ser a prioridade do momento. “Macau ainda cheira mal e precisa não de medidas políticas mas sim de medida concretas executivas para limpar, acabar com os maus cheiros, evitar epidemias e consertar o que está estragado”, disse o responsável ao HM. “Mais que políticas Macau precisa de medidas executivas”, reiterou António Trindade, até porque “o que lá estava antes não funcionou”. A questão, para António Trindade, tem ainda que ver com a própria composição da nova Comissão. “Será que agora com os secretários vai funcionar? Ou porque podem convidar académicos como consultores será que vai funcionar? Vai ser formada um entidade específica para lidar com estes assuntos?” questiona. No entanto, admite o responsável pela CESL Asia, “é preciso ver se se reconhece que houve muita coisa que não funcionou e se se está a tomar medidas para corrigir as falhas”, refere. A passagem do Hato pelo território veio acentuar as deficiências de Macau. “Há claramente uma necessidade de ter mecanismos de recuperação e é necessário criar estruturas profissionais para o fazer. Não se vai projectar um prédio por exemplo com delegados políticos. Não é assim”, exemplifica. Para que a situação mude é necessário ter profissionais e assegurar que as infra-estruturas públicas estão correctamente dimensionadas, não exclusivamente para o funcionamento diário, mas para o funcionamento em caso de emergência ou de desastre”, sublinha.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Ho Iat Seng deixa mensagem para nova legislatura O presidente da Assembleia Legislativa pede que os deputados que vierem a compor a nova legislatura “estabeleçam o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”. No relatório de balanço é dado destaque às alterações feitas ao regimento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] passagem do tufão Hato pelo território adiou o habitual encontro do presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, com os media, mas o relatório de balanço da legislatura que chegou ao fim foi ontem lançado. Nele Ho Iat Seng deixa um apelo aos deputados que venham a compor a próxima legislatura do hemiciclo, que arranca em Outubro, após a realização das legislativas de Setembro. “Desejo que os deputados da nova legislatura prossigam a boa tradição, defendam o cerne da política ‘Um País, Dois Sistemas’ e estabeleçam com firmeza o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”, escreveu. Ho Iat Seng acrescenta ainda que os novos deputados devem ser “solidários e devotados, desempenhar efectivamente as funções e o papel da AL, servindo de elo entre o passado e o futuro, por forma a construir uma RAEM melhor”. No ano legislativo que findou realizou-se um total de 50 plenários, sendo que a taxa média de assiduidade dos deputados chegou aos 94,73 por cento. Houve um total de 135 reuniões das comissões, com uma taxa de assiduidade dos membros do hemiciclo de 88,48 por cento. Um total de 20 deputados apresentaram, até ao dia 15 de Agosto, 591 interpelações escritas, tendo sido realizadas dez reuniões para debater 72 interpelações orais. Os deputados realizaram, nos seus gabinetes, um total de 285 atendimentos a residentes, tendo chegado, via e-mail ou telefone, um total de 124 opiniões ou pedidos. Mudanças elogiadas Ho Iat Seng fez ainda elogios às alterações que foram levadas a cabo ao Regimento da AL. A medida “melhorou os procedimentos de interpelação oral”, pois “procedeu-se ao agrupamento das interpelações da mesma área e sobre o mesmo assunto, para serem respondidas em conjunto”. “Acredita-se que esta forma inovadora de agrupamento possa ajudar a elevar os efeitos dos trabalhos no âmbito das interpelações da AL e, ao mesmo tempo, demonstrar que existe uma simbiose entre a coordenação e a supervisão exercidas pelo órgão legislativo sobre o órgão executivo, a qual promove uma interacção positiva entre os mesmos”, apontou. O presidente da AL considerou ainda que “face às múltiplas pressões e desafios”, o hemiciclo “realizou ordenadamente os trabalhos e cumpriu escrupulosamente as atribuições legais”. “Com um espírito altamente responsável, concluiu com sucesso a apreciação de todas as iniciativas legislativas, congregando amplamente o consenso e equilibrando os diversos interesses”, rematou.
Victor Ng PolíticaAmbiente | DSPA diz que suspender ETAR pode ter impactos ambientais [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) respondeu a uma interpelação escrita do deputado Chan Meng Kam, referindo que era obrigatório suspender as operações da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) para efeito de reparação dos equipamentos. Entretanto, a DSPA diz que as autoridades precisavam de ter em conta os impactos ambientais que podem ser suscitados pelas obras. Para isso, o Governo, com vista a minimizar os impactos para a qualidade de água na zona costeira da Areia Preta, procedeu às obras na altura com mais chuva e nível elevado de água. Ainda durante a suspensão do funcionamento da ETAR, as autoridades optaram por desviar temporariamente as águas residuais para serem descarregadas à zona costeira da península de Macau. Face a questão das pilhas e baterias abandonadas, a DSPA admite que esses materiais usados produzidos no território não chega para constituir uma indústria de reciclagem. Por isso, o Governo decidiu levar as pilhas e baterias usadas para a Coreia e o Japão para serem tratadas. Segundo a DSPA, não existe plano integrado para o tratamentos de pilhas e baterias em cooperação regional com Guangdong. Os serviços acrescentam ainda que em 2016 a taxa de recolha de resíduos recicláveis foi de 20 por cento.
Sofia Margarida Mota PolíticaEnsino | Subsídios escolares pensados anualmente [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) pondera todos os anos, e de forma antecipada, os subsídios escolares que serão atribuídos. A ideia é deixada pelo organismo em resposta à interpelação oral de Ella lei. A deputada pretendia saber se existia algum mecanismo capaz de antecipar as necessidades financeiras nesta matéria. O Governo admite que a política que diz respeito ao ensino não superior tem “a protecção prioritária do investimento na educação”, sendo que a DSEJ aumenta anualmente o subsídio de escolaridade gratuita”. A razão, aponta a entidade, “tem em conta o desenvolvimento da sociedade e das escolas”. Desta forma e perante a questão da deputada Ella Lei relativa a uma ponderação antecipada dos subsídios escolares, a DSEJ afirma que “em cada ano o Governo pondera, de forma integral e abrangente, o desenvolvimento social e a situação económica de Macau para definir o orçamento e as políticas financeiras das diferentes áreas públicas, incluindo o investimento de recursos na educação”, lê-se na resposta assinada pela directora Leong Lai. A DSEJ não deixa de sublinhar a importância deste apoio. “O subsídio da escolaridade gratuita é o principal recurso para manter o funcionamento das escolas particulares aderentes ao sistema de escolaridade gratuita.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufões | Recolhidas cerca de duas mil toneladas de lixo A passagem do tufão Hato obrigou à recolha de cerca de duas mil toneladas de lixo nos últimos dias, e ainda não há uma data certa para que as ruas voltem à normalidade. Existem ainda 25 edifícios sem água potável [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que o exército chinês regressou ao quartel, depois de três dias intensos de limpeza dos destroços causados pela passagem do tufão Hato, o Governo chamou os jornalistas para fazer o balanço daquela que foi a maior tempestade dos últimos 50 anos e que levou à ocorrência de dez mortes. Fong Vai Seng, do serviço de licenciamento e ambiente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), referiu que, no último fim-de-semana, 1787 toneladas de lixo foram recolhidas das ruas, sendo que só na madrugada de domingo para segunda-feira foram recolhidas 150 toneladas. O trabalho tem vindo a ser feito em parceria com grupos de voluntários e a empresa responsável pela recolha do lixo, sendo que não há, até ao momento, uma data para que as ruas do território voltem a estar limpas como antes. “Temos vindo a melhorar a situação mas ainda há zonas com lixo de grande porte, cremos que ainda vai levar algum tempo até regularizar a situação.” Sobre o fornecimento de água, Susana Wong, directora dos Serviços Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que cinco estações de fornecimento da Ilha Verde estão agora a operar normalmente. A água produzida “é suficiente para abastecer todo o território”, apontou, apesar de ainda existirem “25 edifícios que não têm água abastecida de forma normal”. Susana Wong assegurou ainda que não há qualquer perigo em consumir a água que sai das torneiras. Quanto aos edifícios que possuem tanques de reserva de água, os moradores devem fervê-la um pouco antes do seu consumo, uma vez que esse bem essencial vem indirectamente da rede pública e está armazenado em tanques que podem ter sido danificados. Sem doenças Ung San Hong, do IACM, referiu que já foram detectadas situações em que lojas e supermercados procuram colocar nas prateleiras produtos que estiveram em contacto com água suja, algo que tem vindo a ser controlado. “Temos feito inspecções junto de restaurantes e supermercados. Os alimentos não estão em condições de revenda pelo facto de terem estado em contacto com água suja.” Lam Cheong, representante dos Serviços de Saúde, adiantou ainda que, até ao momento, não foram registados casos de febre da dengue ou outras doenças transmissíveis devido ao lixo acumulado na rua e à falta de água potável. “A Barra e a Ilha Verde são zonas muito afectadas e temos feito o trabalho de erradicação dos mosquitos. Temos enviado um total de 150 trabalhadores e todos os dias temos feito este trabalho”, frisou. Registaram-se apenas alguns casos de gastroenterites no hospital público e no Kiang Wu. Vítor Chan, porta-voz do Governo, adiantou que não há dados sobre os estragos ocorridos nas concessionárias de jogo. O mesmo responsável defendeu que o Governo não deve intervir no dinheiro que, até ao momento, foi doado pelas operadoras, por se tratarem de “iniciativas da sociedade civil”.
Hoje Macau SociedadeMacau perde mais de quatro mil trabalhadores do exterior [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau perdeu 4.200 trabalhadores contratados ao exterior no intervalo de um ano, contando com 176.839 no final de Julho, indicam dados oficiais ontem divulgados. De acordo com dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), disponíveis no portal da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, em termos mensais, ou seja, face a Junho, havia menos 1.855 trabalhadores. A China continua a ser a principal fonte de mão-de-obra importada de Macau, com 111.704 trabalhadores (63,1 por cento do total), mantendo uma larga distância das Filipinas, que ocupa o segundo lugar (27.626) num pódio que se completa com o Vietname (14.872). O sector dos hotéis, restaurantes e similares absorve a maior fatia de mão-de-obra importada (50.049), seguido do da construção (31.339). A construção foi o ramo que registou o maior ‘tombo’: no intervalo de um ano ‘perdeu’ 10.762 trabalhadores, de 42.101 passou a contar com 31.339. As actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços agrupavam 13.571 trabalhadores do exterior – menos 23 face a Julho de 2016 –, dos quais 1.059 eram trabalhadores da construção civil contratados directamente pelas empresas de lotarias e outros jogos de apostas, contra os 1.620 do mesmo mês do ano passado, segundo os mesmos dados. Já o ramo dos hotéis, restaurantes e similares ‘ganhou’ 1.674 trabalhadores no mesmo hiato temporal, um aumento que não foi suficiente para compensar a diminuição sentida no sector da construção, que abrandou nomeadamente com a conclusão de diversos novos projectos turísticos.
Hoje Macau SociedadeTrabalho | Desemprego mantém-se nos 2 por cento [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Maio e Julho de 2017 a taxa de desemprego fixou-se nos 2 por cento, enquanto que a taxa de subemprego foi de 0,4 por cento, de acordo com os dados dos Serviços de Estatística e Censos. Ambos os registos mantiveram-se nos mesmos níveis do período passado de Abril a Junho, dentro da taxa que se entende como pleno emprego. Este conceito, apesar de incerto está longe dos dois por cento. No entanto, o número de desempregados à procura do primeiro emprego subiu, uma realidade explicável pelo maior número de licenciados que tentam entrar no mercado de trabalho. Esta realidade fez com que a taxa de desemprego de residentes tenha subido ligeiramente, 0,1 por cento, para os 2,8 pontos percentuais face ao período transacto. Entre Maio e Julho, a população activa totalizava 392.100 pessoas, com uma taxa de actividade de 71,4 por cento. Neste domínio importa destacar que a população empregada se fixou nos 384.100 indivíduos, sendo que os residentes empregados chegaram aos 282.600, ou seja, mais 1800 e 1600 pessoas respectivamente. Individualizando em termos de ramos de actividade económica, os sectores da hotelaria, restauração e similares aumentaram, enquanto o número de empregados na construção decresceu. O número de desempregados entre Maio e Julho foram 8000, mais 100 face período transacto. Deste universo, 15,2 por cento procuraram o seu primeiro emprego, uma parcela demográfica que aumentou 4,4 por cento. Em comparação com o período de Maio a Julho de 2016, a taxa de actividade e de subemprego decresceram 1,1 e 0,1 pontos percentuais, respectivamente, enquanto que a taxa de desemprego subiu 0,1 por cento.
Hoje Macau SociedadeEconomia | Produto Interno Bruto subiu 11,5 por cento Os dados mais recentes mostram que o desempenho do sector do jogo levou a uma subida do Produto Interno Bruto no segundo trimestre deste ano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] economia de Macau cresceu 11,5 por cento, em termos reais, no segundo trimestre do ano, face a igual período do ano passado, impulsionada pelo desempenho da indústria do jogo. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a um ritmo superior ao do primeiro trimestre (10,3 por cento) devido principalmente “às subidas das exportações de serviços e da despesa de consumo privado”. No primeiro semestre do ano, a economia de Macau registou um crescimento homólogo de 10,9 por cento, em termos reais, com o PIB a alcançar 95.055 milhões de patacas no final de Junho. A procura externa manteve-se em alta no segundo trimestre do ano, impulsionando o crescimento anual de 18,8 por cento das exportações de serviços, destacando-se os aumentos homólogos de 19 por cento nas do jogo e de 22,1 por cento nas de outros serviços turísticos, além de uma ligeira subida de 0,5 por cento das exportações de bens, informou a DSEC. A procura interna subiu consistentemente, enquanto a despesa de consumo privado e as importações de bens cresceram respectivamente 3,4 por cento e 2,4 por cento, em termos anuais. Menos bens e serviços Em sentido inverso, a despesa de consumo final do Governo e o investimento sofreram descidas, ambos de 2,4 por cento em termos anuais. Tal foi inferior à do primeiro trimestre (mais 4,8 por cento) em consequência da notável descida de 11,0 por cento nas aquisições líquidas de bens e serviços. O deflector implícito do PIB, que mede a variação global de preços, registou um crescimento anual de 2,2 por cento. Já a despesa de consumo privado aumentou “à medida da recuperação económica, do abrandamento da inflação e do contínuo comportamento satisfatório do mercado de emprego”, os quais “suportaram o crescimento anual de 3,4 por cento da despesa de consumo privado, que superou o do primeiro trimestre (1,6%)”, acrescentou. A despesa de consumo final das famílias cresceu 2,5% no mercado local e 5% no exterior. As remunerações dos empregados aumentaram, por seu turno, 2,7 por cento. A DSEC indicou ainda que o investimento abrandou, com a formação bruta de capital fixo, que o reflecte, a registar uma contracção homóloga de 2,4 por cento, contrastando com o primeiro trimestre (+7,1 por cento), devido à “contínua conclusão das obras de grande envergadura de construção de instalações do turismo e entretenimento”. O investimento do sector privado registou um recuo homólogo de 8,8 por cento, salientando-se as quedas de 7,3 por cento no investimento em construção e de 20,2 por cento no investimento em equipamento. Em contrapartida, o investimento do sector público aumentou significativamente (73,1 por cento) devido ao acréscimo substancial de 84,1 por cento em obras públicas. Em alta manteve-se também o comércio de mercadorias, com as exportações e importações de bens a registarem crescimentos de 0,5 e 2,4 por cento, respectivamente, em termos anuais homólogos, graças aos aumentos da despesa de consumo privado e da despesa dos visitantes no segundo trimestre. Também segundo a DSEC, devido ao acréscimo do número de visitantes e da respectiva despesa, o aumento homólogo das exportações de serviços passou para 18,8 por cento no segundo trimestre, realçando-se os aumentos de 19% nas exportações de serviços do jogo e de 22,1 por cento nas de outros serviços turísticos, superiores aos do primeiro trimestre (mais 11,3 e 20,9 por cento). Quanto às importações de serviços, a subida homóloga foi de 15,1 por cento.
Hoje Macau SociedadeEstatísticas | Receitas públicas aumentam 15,1 por cento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s receitas públicas de Macau subiram 15,1 por cento até Julho, em termos anuais homólogos, em linha com o aumento da verba arrecadada com os impostos directos cobrados sobre a indústria do jogo, indicam dados oficiais. De acordo com dados provisórios disponíveis no website da Direcção dos Serviços de Finanças, a Administração de Macau fechou os primeiros sete meses do ano com receitas totais de 64.029 milhões de patacas, valor que traduz uma execução de 70,5 por cento. Os impostos directos sobre o jogo foram de 52.371 milhões de patacas, reflectindo um aumento de 15,6 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado e uma execução de 72,9 por cento face ao orçamento autorizado para 2017. A importância do jogo reflecte-se no peso que detém no orçamento: 81,7 por cento nas receitas totais, 82 por cento nas correntes e 94,5 por cento nas derivadas dos impostos directos. Já as despesas cifraram-se em 39.691 milhões de patacas nos primeiros sete meses do ano – mais 0,6 por cento em termos anuais homólogos –, estando cumpridas em 46,5 por cento. Nesta rubrica destacaram-se os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) que alcançaram 6.997 milhões de patacas, traduzindo um aumento de 236,3 por cento e uma execução de 45,9 por cento. Entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulava até Julho um saldo positivo de 24.338 milhões de patacas, um aumento de 50,5 por cento face ao apurado nos primeiros sete meses de 2016. A almofada financeira excede em muito o previsto para todo o ano (5.567 milhões de patacas), com a taxa de execução a corresponder já a 437,1 por cento do orçamentado. As receitas públicas, que voltaram a crescer em Janeiro após meses de quedas homólogas, acompanharam o desempenho da indústria de jogo.
Hoje Macau SociedadeTufão Hato | Doações dos casinos chegam a 120 milhões [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos três operadoras de jogo de Macau – MGM, Galaxy e Melco – anunciaram doações equivalentes a cerca de 120 milhões de patacas para ajudar nos trabalhos de recuperação e apoio à população, após o devastador tufão Hato. O universo da Galaxy Entertainment anunciou uma doação de 60 milhões de dólares de Hong Kong, “incluindo 30 milhões [de dólares de Hong Kong] da Fundação do Galaxy Entertainment Group, mais uma equivalente contribuição de 30 milhões da família Lui, para apoiar os trabalhos de auxílio às pessoas de Macau”, de acordo com um comunicado enviado pelo presidente da Galaxy, Lui Che Woo. “Na quarta-feira (…) o tufão Hato, o mais poderoso e destrutivo tufão em mais de meio século, desceu rapidamente sobre Macau e causou amplos danos e significativas dificuldades aos seus cidadãos”, indica o comunicado, que refere que as instalações da Galaxy ficaram danificadas, mas “apenas ferimentos menores foram relatados”. “Quero expressar as minhas sinceras condolências às famílias e amigos das pessoas que morreram e aos cidadãos que sofreram ferimentos em resultado da devastadora destruição trazida por dois tufões”, diz ainda Lui. Por seu lado, a Melco Entertainment anunciou que criou um fundo de 30 milhões de patacas para apoiar “os funcionários, a comunidade e os trabalhos de recuperação no rescaldo do tufão Hato em Macau”. A empresa suspendeu a construção do seu novo hotel Morpheus, de modo a poder desviar dois mil trabalhadores para as tarefas de recuperação da cidade durante este fim de semana. Uma equipa de 2.500 voluntários da Melco e trabalhadores da construção foi também formada para ajudar a limpar destroços, distribuir garrafas de água e apoiar com necessidades urgentes da população, segundo a empresa. “Este é o pior tufão que Macau viu em mais de meio século. A Melco e eu, pessoalmente, estamos cem por cento comprometidos em partilhar os nossos recursos colectivos para ajudar a cidade e as suas gentes a conseguir uma rápida e total recuperação da ordem”, indicou o presidente executivo da Melco, Lawrence Ho. A MGM anunciou valor semelhante, 30 milhões de patacas. A forma como o dinheiro será distribuído “será decidida nos próximos dias e meses, com a orientação do Governo de Macau”, com as necessidades dos funcionários da operadora e das suas famílias a serem “consideradas e incluídas na alocação de fundos”.
Victor Ng SociedadeTáxis | Tarifas abusivas durante a passagem dos tufões Tarifas acima dos preços tabelados, recusas de transporte e licenças escondidas foram algumas das infracções que se repetiram, mais do que o habitual, durante os últimos dias. Associações lamentam o sucedido e há quem sugira uma taxa adicional nestas ocasiões para que os condutores não abusem [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m situações de mau tempo, as tarifas cobradas pelos taxistas tendem a aumentar de forma ilegal. Durante a passagem do tufão Pakhar no território, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) detectou 58 casos de infracções de taxistas, 47 das quais estão ligadas à cobrança abusiva de tarifa e as restantes relacionadas com a recusa de transporte de passageiros, e a falta de apresentação de licença. Os preços cobrados chegaram mesmo às mil patacas. De acordo com algumas queixas dadas a conhecer pelo jornal Ou Mun, houve um taxista que cobrou esse valor por uma viagem da península de Macau até à Taipa. Apesar da revolta, a solução foi pagar dada a falta de opções de transporte no território. No entanto, as críticas não deixaram de se fazer sentir. De acordo com algumas das queixas, há pessoas que lamentam não ver implementado um regulamento que defina as taxas a cobrar, nem uma inspecção que impeça este tipo de ocorrências. A situação, afirmam alguns turistas, prejudica a imagem do território. Ao Jornal do Cidadão, Leng Sai Hou, presidente da Associação Geral dos Proprietários de Táxis de Macau, também fez referência às taxas abusivas que foram cobradas pelos taxistas durante o caos provocado pelos tufões. O presidente recordou que, no passado, as autoridades raramente cumpriam com os seus deveres em situação de tufão. Multas mínimas O responsável avança ainda que, apesar de o Governo ter aumentado a fiscalização durante a passagem do Hato de modo a evitar a cobrança abusiva e a recusa de passageiros, a penalização em 1000 patacas aos taxistas que abusam, é inútil. “É uma multa incapaz de resultar com um grau eficaz, no impedimento da ocorrência de infracções”, disse Leng Sai Hou. De modo a que seja conseguido um resultado eficaz, o responsável sugere que sejam aumentadas as sanções. “A multa deve ter um valor maior a cada infracção detectada, sendo que à terceira vez que um condutor seja apanhado em incumprimento, incorra em responsabilidade penal”, apontou. Por outro lado, a Associação Poder do Povo inteirou-se da situação de cobrança abusiva da tarifa de táxis durante os tufões e apresentou ontem uma carta à DSAT. O objectivo, apontou o vice-presidente da associação, Cheong Weng Fat, foi dar sugestões para evitar a repetição deste tipo de situações. “É lamentável a fraca eficácia da DSAT e da Polícia de Segurança Pública”, afirmou. Cheong Weng Fat considera também que a imagem do território fica seriamente prejudicada e que as sanções não são suficientes. “A multa é leve demais e por isso não é capaz de ter nenhum efeito dissuasor”, sublinhou. O responsável acha que as multas devem ser aumentadas, no entanto, considera ainda aceitável que as tarifas sejam ligeiramente mais caras nestas situações. A razão, apontou Cheong Weng Fat, tem que ver com os riscos que os condutores também enfrentam com as más condições atmosféricas. A taxa adicional pode ser, de acordo com o responsável, “uma forma de compensar os taxistas e de os consciencializar para o cumprimento da lei”.
Hoje Macau EventosVioleta Parra | Centenário do nascimento celebrado com concerto em Lisboa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] centenário do nascimento da cantautora Violeta Parra é assinalado em Setembro, em Lisboa, com um concerto pela filha Isabel e pela neta Tita, que além dos seus repertórios, interpretam canções da criadora de “Gracias a la Vida” Em Lisboa, “vamos cantar canções de Violeta, poemas de Violeta musicados por nós, e canções dos nossos repertórios”, adiantou à agência Lusa Isabel Parra. O espetáculo celebrativo acontece no dia 12 de setembro às no pequeno auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no âmbito da programação “Passado e Presente” de Lisboa, Capital Ibero-Americana de Cultura 2017 e das comemorações do centenário do nascimento de Violeta Parra, organizadas pela secretaria de Estado da Cultura do Chile. Ao palco além de Isabel, que toca o quatro (um pequeno cordofone venezuelano), e de Tita, que toca quatro, guitarra e outros instrumentos, sobem também os multi-instrumentistas Greco Acuña, Juan António Sanchez. Violeta Parra (1917-1967) “pode ser considerada a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados, tendo sido autora de páginas inapagáveis como a canção ‘Volver a los 17’”, assinala a organização em comunicado enviado à Lusa. “Foi graças a Violeta Parra que, nos anos 1950, a música tradicional chilena viveu um período áureo de resgate e valorização. Viajando pelo país, mapeou ritmos, danças e canções, reunindo um espólio de cerca de três mil canções tradicionais. Depois, na década de 1960, a sua defesa do património colocou-a na frente do movimento da ‘nueva canción’, que não foi mais que a música de intervenção do Chile de Salvador Allende”, refere a mesma fonte. Na continuidade Em declarações à Lusa, Isabel reivindicou o legado da mãe: “Nós vimos de uma raiz que nasceu da história social do Chile, o nosso compromisso vem da nossa mãe, crescemos com ela, trabalhámos com, formámo-nos com ela. Para nós é natural seguir esse caminho, que é o caminho de tanta gente. Na realidade é um processo que se desenvolve em cada um de nós, de uma forma espontânea, simples, e a partir das raízes de Violeta Parra, cada um de nós vai criando o seu próprio pensamento, a sua história, e a nossa relação com o nosso país [Chile] e com o continente sul-americano”. “Temos, porém, uma linguagem e pensamento próprios”, sublinhou. A organização realça “o lirismo dos versos de canções como ‘Gracias a la Vida’ que embalou o ânimo de gerações de revolucionários latino-americanos em momentos em que a vida era questionada nos seus limites mais básicos”. Referindo-se ao alinhamento que vão apresentar no palco belenense, este “mescla o repertório das três mulheres”. A ideia, explicou Isabel Parra, é mostrar não apenas as canções de Violeta Parra, como “¿Qué dirá el Santo Padre?”, mas também aquilo que as duas compõem e o que as inquieta. “Queremos mostrar como Tita compõe as suas canções, quais são as suas temáticas, o que é que eu quero e tenho para dizer, e, claro, interpretamos as coisas de Violeta, que é algo natural para nós”, afirmou Isabel Parra, tendo adiantado que estão “a preparar algo especial para apresentar em Portugal”, nomeadamente o legado folclórico. Para Isabel Parra, de 78 anos, é uma estreia em Portugal, o que considera “magnífico”, até pelo convívio que teve em França com comunidades portugueses. Tita Parra, de 61 anos, atuou em 1991. Isabel Parra qualificou de “interminável” o trabalho que tem feito em torno da obra de Violeta Parra. “O legado e o compromisso político de Violeta Parra continuam actuais, e nós somos mulheres políticas e temo-la como referente, não só para nós, para músicos de todo o mundo”, disse. Como mãe “era super-original, não era uma mamã tradicional, levava os filhos para todo o lado, envolvia-os no seu trabalho, convidou-os para esse seu mundo musical”. Depois de Lisboa, Isabel e Tita Parra actuam em Barcelona, antes de regressar ao Chile, onde está previsto, no dia 4 de Outubro, “um grande evento com a presença da Presidente da República, Michelle Bachelet”.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim mantém tropas em território disputado com a Índia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China disse ontem que as suas tropas continuam a patrulhar o planalto de Doklam, território disputado nos Himalaias, apesar de a Índia ter afirmado que acordou com Pequim a retirada dos soldados dos dois países. “A Índia retirou da delimitação todo o seu pessoal”, disse em conferência de imprensa a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying. As tropas fronteiriças chinesas “continuam a patrulhar a área” e a China “continuará a exercer a sua soberania e a defender a sua integridade territorial”, acrescentou. A porta-voz não confirmou que tenha havido um acordo com Nova Deli, que prevê a retirada dos soldados dos dois países, como garantiu, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano. Do outro lado A nota do ministério indiano aponta que os dois lados mantiveram contactos sobre a situação em Doklam e conseguiram expressar as suas visões e transmitir as suas preocupações e interesses, tendo ambos iniciado o processo de retirada das tropas daquele território. Tropas indianas entraram no planalto depois de o Butão, aliado da Índia, ter reclamado que uma equipa do exército chinês estava a construir uma estrada dentro do seu território. Hua Chunying não teceu comentários sobre a construção dessa infraestrutura. O anúncio surge a uma semana de o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, viajar para a China, para participar na cimeira do BRICS, o grupo de economias emergentes, que inclui ainda África do Sul, Brasil e Rússia. Durantes os últimos meses, a Índia insistiu que o problema fosse resolvido através do diálogo, enquanto a China exigiu que a Índia retirasse as suas tropas de Doklam, como condição para o diálogo. Aquela área é conhecida na Índia como “corredor siliguri” (ou “pescoço da galinha”), um corredor estreito, que liga os estados do nordeste da Índia ao resto do país. Caso a China conseguisse bloquear aquele corredor, o nordeste da Índia passaria a estar isolado do resto do país. Já o Butão teme que a construção de uma estrada afecte as negociações sobre a sua fronteira. China e Índia, ambas potências nucleares, partilham uma fronteira com 3.500 quilómetros de extensão, a maioria contestada. Diferendos territoriais levaram a um conflito, em 1962, que causou milhares de mortos.
Hoje Macau China / ÁsiaRumores “maliciosos” levam à queda de acções do grupo Wanda [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s ações do Wanda Hotel Development, subsidiária do conglomerado chinês Wanda Group, caíram ontem 10 por cento, na abertura da bolsa de Hong Kong, devido a rumores sobre o presidente do grupo, Wang Jianlin. O portal de notícia Boxun, escrito em chinês, mas sediado nos Estados Unidos, assegurou que Wang foi temporariamente detido na semana passada e impedido de sair da China. Segundo o mesmo portal, que cita fontes não identificadas, Wang tentou transferir todos os seus familiares para o Reino Unido, num voo privado, mas as autoridades chinesas proibiram-lhes também a saída do país. O grupo Wanda emitiu, entretanto, um comunicado a criticar os “rumores maliciosos” e “completamente infundados”, e assegurou que adoptará ações legais contra o portal. As ações do Wanda Hotel Development caíram até 10 por cento, nas primeiras transações do dia na bolsa de Hong Kong. O grupo Wanda está sobre apertada vigilância das autoridades chinesas, devido ao aumento da sua dívida, susceptível de gerar riscos para o sistema financeiro do país. O Governo chinês pediu recentemente aos bancos estatais que limitem os empréstimos para projectos e aquisições além-fronteiras do grupo. Ricas contas No mês passado, o Wanda anunciou que saldou a maior parte das suas dívidas, que ascendiam a 200.000 milhões de yuan, após a venda de hotéis e parques de diversão. Fundado no final da década de 1980 em Dalian, no nordeste da China, o Wanda Group começou por se impor no sector imobiliário, mas nos últimos anos passou a investir também no cinema e no turismo. Em 2012, mediatizou-se ao adquirir a empresa norte-americana AMC Entertainment, proprietária da segunda maior cadeia de cinemas dos EUA. No ano passado, anunciou a compra da Legendary Entertainment, produtora de filmes como “Jurassic World” e “Godzilla”, por 3.500 milhões de dólares. O grupo detém ainda a cadeia de cinemas Odeon & UCI, presente em Portugal. Wang Jianlin é considerado o homem mais rico da China.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasAnálise acerca de O Primo Basílio – Terceira parte [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] palavra “vício” é usada apenas onze vezes ao longo de todo o livro. Tentemos entender a importância desta palavra na economia geral do texto. A primeira vez que a palavra aparece no texto é usada para acusar Leopoldina de um desvio comportamental à boa regra: “Sabia-se que tinha amantes, dizia-se que tinha vícios.” A segunda vez é acerca de D. Felicidade, que se queixava de estar doente: “Viam-na corada e nutrida, e não suspeitavam que aquele sentimento concentrado, irritado semanalmente, queimando em silêncio, a ia devastando como uma doença e desmoralizando como um vício.” A terceira vez, ainda acerca de D. Felicidade: “Acácio tornara-se a sua mania: admirava a sua figura e a sua gravidade, arregalava grandes olhos para a sua eloquência, achava-o numa “linda posição”. O Conselheiro era a sua ambição e o seu vício!” A quarta vez que vemos a palavra ser usada é em referência a Juliana: “Eram o seu vício, as botinas!” Quinta vez, ainda em referencia a Juliana: “e satisfazia o seu vício – trazer o catita. O pé era o seu orgulho, a sua mania, a sua despesa. Tinha-o bonito e pequenino.” Na sexta vez, através dos pensamentos de Sebastião, amigo dedicado de Jorge, a palavra aparece pela primeira vez referindo-se a Basílio: “Mas isto bastava para que Sebastião o achasse um debochado, um perdido; ouvira que ele tinha ido para o Brasil para fugir aos credores; que enriquecera por acaso, numa especulação, no Paraguai; que mesmo na Bahia, com a corda na garganta, nunca fora um trabalhador; e supunha que a posse da fortuna para ele, seria apenas um desenvolvimento dos vícios.” A sétima vez recai sobre Luísa: “Não abrira os braços a Basílio voluntariamente!… Tinha sido uma fatalidade; fora o calor da hora, o crepúsculo, uma pontinha de vinho talvez… Estava doida, decerto. E repetia consigo as atenuações tradicionais: não era a primeira que enganara seu marido; e muitas era apenas por vício; ela fora por paixão… Quantas mulheres viviam num amor ilegítimo e eram ilustres, admiradas! Rainhas mesmo tinham amantes. E ele amava-a tanto!…” A oitava vez é pelos pensamentos de Basílio, em relação a si e à sua prima, após rejeitar fugir com ela: “Basílio saiu do Paraíso muito agitado. As pretensões de Luísa, os seus terrores burgueses, a trivialidade reles do caso, irritavam-no tanto, que tinha quase vontade de não voltar ao Paraíso, calar-se, e deixar correr o marfim! Mas tinha pena dela, coitada! E depois, sem a amar, apetecia-a; era tão bem feita, tão amorosa; as revelações do vício davam-lhe um delírio tão adorável! Um conchegozinho tão picante enquanto estivesse em Lisboa… Maldita complicação!” Nona vez, no meio de uma conversa entre Leopoldina e Luísa: “Aquela conversação enervava Luísa; numa tal generalidade do vício parecia-lhe que o seu caso, como um edifício num nevoeiro, perdia o seu relevo cruel, se esbatia; e sentindo-o tão pouco visível quase o julgava já justificado.” Na décima vez, a palavra é usada por D. Felicidade para Luísa, na ópera, acerca de uma cantora famosa: “Mas quando o pano subiu, ficou sentado por trás de Luísa começando logo a explicar – que aquela (Siebel, colhendo flores no jardim de Margarida), posto que segunda dama, ganhava quinhentos mil réis por mês… – Mas apesar destes ordenadões morrem quase sempre na miséria – disse com reprovação. – Vícios, ceias, orgias, cavalgadas…” Por fim, a palavra é usada pelo médico Julião, dizendo a Sebastião: “Mas quem tem aí princípios? Quem tem aí quatro princípios? Ninguém; têm dívidas, vícios secretos, dentes postiços; mas princípios, nem meio!” Na primeira vez que a palavra surge, ficamos a saber que é algo de que as pessoas falam, e não em forma de elogio, dizia-se que tinha vícios. Vício aparece como uma doença, como que uma maldição de um dos deuses das convenções sociais, é algo que desmoraliza – desmoralizando como um vício, diz na segunda vez. Por outro lado, a palavra aparece também com uma conotação menos moralmente acusativa em relação ao humano: uma pequena vaidade – em Juliana, nas duas vezes em que a ela a palavra é empregue – ou em relação à paixão não correspondida da D. Felicidade pelo Conselheiro Acácio. Eça usa ainda a palavra com alguma cirurgia, como no dia em que Luísa pensa acerca de do seu envolvimento com Basílio, contrapondo as outras, que têm amantes por vício, a ela, que está com Basílio por paixão. Vício aparece claramente em oposição a paixão. Ainda cirurgicamente, através da voz de D. Felicidade em conversa com Luísa, na ópera, ficamos a saber que o vício é responsável por conduzir a vida humana à miséria, a uma miséria maior do que a ontológica: uma miséria que traz a ontológica e a carrega com uma miséria acrescida: social e económica. Em Basílio, segundo Sebastião, o socialmente aceite Sebastião, o dinheiro em uma pessoa moralmente baixa servirá apenas para um crescimento dos vícios. Há ainda dois modos que são de uma acutilância e de uma pertinência extraordinárias: 1) vício enquanto generalidade, como algo comum na cidade, na sociedade, fazendo com que o vício de cada um pareça não ter importância; a generalidade do vício acaba mesmo por justificar a particularidade do vício; 2) vício enquanto um dos contrapontos aos princípios morais,. A palavra vício não pode ter sido usada aleatoriamente pelo escritor Eça. Um escritor com o génio de Eça, num romance de trezentas e muitas páginas, não vai usar um termo como vício, apenas onze vezes, se não for de modo perfeitamente adequado e de forma a fazer-nos ver para além do uso indistinto de termo. O vício está em todo o lado na sociedade, generalizado. Luísa, já sendo vítima da chantagem da Juliana devido ao seu caso com Basílio, dá-se conta disso mesmo. Luísa, no extremo da sua preocupação, dá-se conta de que a sua situação é tão geral que os seus contornos se tornam indistintos. Quero dizer: o caso dela, que afecta toda a sua vida, que a torna completamente infeliz, miserável, não é diferente de tantos outros casos, a sociedade está cheia de “Luísas” e de cidadãs e cidadãos bem mais viciosos do que ela. Se alguém fizer um assalto à mão armada em Helsínquia, na Finlândia, será seguramente um caso especial, um caso digno de atenção, pois será um caso raro. Se alguém fizer o mesmo ataque em São Paulo, pelo contrário, nenhuma atenção especial será dada a esse caso, tal é a generalidade desse tipo de crime. Em São Paulo, o criminoso armado não tem direito à sua identidade, o criminoso torna-se indistinto. Na generalidade do crime armado, o criminoso encontra até a sua própria justificação, isto é, a generalidade do crime armado acabava de funcionar como justificativa para o indivíduo. A mesma generalidade que lhe retira o direito à sua diferença, à sua distinção em relação a outros. Quando Eça faz Luísa ter consciência disso – “numa tal generalidade do vício parecia-lhe que o seu caso, como um edifício num nevoeiro, perdia o seu relevo cruel, se esbatia; e sentindo-o tão pouco visível quase o julgava já justificado.” – faz com que a sua tragédia assuma um ponto fundamental: a sua impiedade social deixa de ter necessidade de expiação ou arrependimento. De outro modo, não há um deus para ofender, através dessa sua atitude, porque a sociedade se comporta quase toda desse modo; se quase todos ofendem um deus, a noção de impiedade deixa de fazer sentido. Se todo o mundo rouba, roubar deixa de ser uma ofensa, para se assumir como prática corrente. Luísa age em concordância com a sua sociedade, não com a sua convicção. Esta é a tese forte de Eça de Queirós: numa sociedade corrupta, o cidadão acaba por agir pela vontade desse deus, ao invés de agir com a sua própria consciência. De algum modo, ouvem-se ecos de Marquês de Sade. A sociedade, os deuses não querem que os humanos ajam bem, mas que pareça que agem bem. Os princípios, como Julião dizia a Sebastião, são a aparência que esconde a verdade do que se passa, a moral é a parte visível do iceberg. A sociedade é uma aparência. Os deuses são uma aparência. Viver em sociedade apresenta-se, segundo Eça de Queirós, não só neste livro, mas em quase todos, como uma hermenêutica de cálculo da acção. Há que interpretar a cidade onde estamos, ver o que se esconde sob o manto da aparência e medir, calcular as acções que devemos praticar, de modo a não sermos castigados, nem por nós mesmos, nem pelas convenções sociais da aparência. Ou seja, Luísa está imersa numa situação bem mais complexa do que Antígona. Ao aumentar a complexidade da sociedade, a complexidade das decisões aumentam, a tragédia complica-se. Mas Eça parece querer dizer mais do que isto, parece querer mostrar que a natureza humana está desde sempre imersa no vício, que o vício é constitutivo do humano. Temos falado em vício, tal como ele se apresenta em O Primo Basílio, mas ainda não fizemos a pergunta acerca do que é o vício. O que é o vício? O vício apresenta-se numa dualidade: responsável pelo incremento desmesurado de uma acção; e pela degenerescência do humano. À compulsão em relação a um objecto ou a uma actividade chamamos vício, mesmo que essa actividade ou esse objecto nada tenham de viciante. Alguém que não seja desportista e corra 20 km por dia é viciado em correr; dizemos que ele tem pancada. Mas a corrida, só por si, não é um vício. Uma pessoa que compre compulsivamente livros é um viciado em livros. Podemos dizer que todo o coleccionador é um viciado. Alguém que fume ocasionalmente maconha não é um viciado em maconha, mas se vive a fumar maconha é viciado em maconha. O vício apresenta-se por um exagero em relação a algo, uma compulsão. Por outro lado, nem todos os vícios, ou aquilo que possa ser considerado de vícios, causam degenerescência no humano. Por exemplo, o viciado em correr estará seguramente a salvo, o seu vício não será causador de uma degenerescência para além da natural. Poderemos dizer o mesmo em relação ao viciado em comprar livros, a única degenerescência que pode acontecer é a económica. Já em relação ao viciado em drogas ou em bebidas alcoólicas os resultados são bem diferentes. Vício não é apenas uma compulsão, mas uma compulsão capaz de desviar o humano do seu curso normal, capaz de fazer com que ele deixe de ser quem era, quem costumava ser; vício é uma compulsão que tem o poder de fazer do humano uma coisa. Um humano viciado em jogo, pode chegar a um estado em que não passa de uma coisa que joga. Um coisa compulsiva que joga. Mas há vícios que, embora se façam sempre sentir, têm uma zona de tempo específica, como por exemplo os vícios sexuais (ainda que também possam vir a tomar todo ou quase todo o tempo do humano. O que a hermenêutica de cálculo da acção parece então querer indicar é o seguinte: nesta sociedade, é necessário saber controlar os seus próprios vícios, isto é, mantê-los privados, manter os vícios longe do olhar dos outros, longe da aparência que rege a convenção social. O vício, que faz de nós um outro, deverá manter-se privado. Aprender a manter os vícios no foro privado é a grande aprendizagem que esta hermenêutica nos mostra.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasO naufrágio em Camilo Pessanha (continuação) Ângela Carvalho [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] esta ideia já fez também referência Barbara Spaggiari em O Simbolismo na Obra de Camilo Pessanha, quando aludiu à forma como o autor olhava o mundo: [analisava] os aspectos fenoménicos da realidade e [sondava] as relações íntimas implícitas nas coisas, tendo sempre a consciência da intervenção racional e emotiva do eu na percepção do mundo. (…) [Para Pessanha] a tarefa da poesia é evocar a realidade, não só reproduzindo-lhe a beleza exterior mas também captando a trama densa de relações que liga cada parte do universo ao todo. (1982: 44) Não podemos contudo dissociar o olhar de Camilo Pessanha sobre a realidade do que isso trouxe de relevante à sua escrita, notando, como Barbara Spaggiari o fez, que “As categorias perceptivas fundem-se e subvertem-se na sinestesia” (ibidem: 49), oferecendo a realidade “os seus fragmentos cortantes para construir correlações e analogias, símbolos e metáforas, em que as coordenadas espaciais se anulam, as referências historico-biográficas se tornam fugazes, contornos, tons e cores adquirem uma fluidez que se transmite ao ritmo do verso” (ibidem: 48-9). Retomando ainda os vestígios humanos, note-se que estes aparecem como fruto de “naufrágios”, “perdições”, “destroços”, como ruínas de ruínas, do mesmo modo que no poema “Chorai arcadas” surgem os “– : Lemes e mastros…/ E os alabastros/ Dos balaústres!” (vv. 18-20) ou as “Urnas quebradas!/ Blocos de gelo…” (vv. 21-2), não respeitando estas turbações sequer o repouso além-vida. No “So- neto de Gelo” encontra-se ainda um “resto de batel” à deriva no mar. Penso que será útil indagar o que são realmente estas ruínas, uma vez que, ao contrário do que se podia pensar, não representam o fim de nada, não são o momento de anulação da matéria, mas antes a “mineralidade a que a vida, por decomposição (…) regressa” (Lopes, 1970: 131) e a reorganização pela referida ars inveniendi. Sobre este assunto refere Paula Morão que: se pensarmos na Lei de Lavoisier, segundo a qual na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, perceberemos que se perde um corpo olímpico para que a água ganhe maior densidade ao integrar a matéria em decomposição (2004: 248). Contrastando com a violência patente em verbos como “partir”, “desengastar”, “despedaçar”, “quebrar”, “derruir”, “afundir” e “arrebatar” Ð que dão conta de processos conducentes à ruína –, temos a calmaria tão temida na carta anteriormente citada e de novo invocada no poema “Singra o navio. Sob a água clara”: “Na fria transparência luminosa/ Repousam, fundos, sob a água plana.” (vv. 7-8). A ideia de morte está sempre presente, tanto pela acção violenta como pela ausência de acção, o que conduz à constatação enunciada já por Eróstrato: As inclinações do ânimo fazem e destroem tudo. Se a razão dominasse o mundo nada aconteceria nele. Costuma-se dizer que os nautas têm um receio extremo da calmaria e que só desejam vento, embora se exponham ao perigo de uma tempestade. Os movimentos do ânimo são, no caso dos homens, os ventos que são necessários para pôr tudo em movimento, apesar deles por vezes provocarem tempestades e outras intempéries. (cit. in Blumenberg, 1979: 49) Chegamos assim à ideia de inevitabilidade a que já me referi anteriormente. Uma inevitabilidade que do mesmo modo que o sujeito poético é espectador de naufrágios – pode vir a servir de espectáculo a outro “eu” ou a si mesmo (cf. “Soneto de Gelo”), utilizando a mesma configuração de Schopenhauer, referida por Hans Blumenberg, “[da] identidade do sujeito humano [que se decifra] perfeitamente nas duas posições, na do náufrago e na do que contempla.” (Blumenberg, 1979: 81). Do meu ponto de vista, o sujeito poético da Clepsydra enquadra–se bem “no sentimento do sublime” (ibidem: 82) em que “O espectador [se] ultrapassa na reflexão e passa a espectador transcendental” (ibid.), sentindo-se ao mesmo tempo indivíduo “abandonado ao acaso [e] sujeito eterno e tranquilo do conhecimento” (ibid.). Neste ponto impõe-se invocar Goethe, que, ultrapassando a metáfora do naufrágio, chega à “metáfora da ausência de vestígios das rotas traçadas no mar” (ibid.: 77), preconizando que: do mesmo modo como a água, que é afastada à passagem de um barco, conflui novamente atrás dele, também o erro, que foi banido por espíritos superiores para se afirmarem, se impõe muito rápida e naturalmente depois da sua passagem. (…) A fórmula mais curta para esta experiência é que na realidade, o absurdo preenche o mundo (ibid.: 78). Trata-se daquilo a que Pessanha chama “um destino invencível e absurdo.” (cit. in Lencastre, 1984: 110). O absurdo que desencadeia muito do desespero do poeta é a mortalidade da condição humana, como já foi notado por Óscar Lopes no artigo “Pessanha, o Quebrar dos Espelhos”. Na confusão entre as noções de espaço e de tempo podemos sentir uma tentativa de evasão da contingência de finitude da vida humana, juntamente com uma referência implícita à mineralidade, podendo servir de exemplo a distância-tempo e a distância-lonjura da “figura peregrina” do poema “Singra o navio. Sob água clara”. A tentativa de Pessanha de se evadir à contingência da finitude da vida humana passa também pelo ensaio de anulação do tempo “presente”, aspecto já notado por Ester de Lemos em A “Clépsidra” de Camilo Pessanha, onde chamou a atenção para o facto de o sujeito poético da obra não entender o tempo da mesma forma que Bergson o entendeu, como “une succession d’états dont chacun annonce ce qui suit et contient ce qui précède” (cit. in Lemos, 1956: 46). Também Maria José de Lencastre o apontou em nota à missiva de 30 de Abril de 1894, que o poeta dirigiu a Alberto Osório de Castro, referindo que uma das suas mais evidentes preocupações era a corrente temporal, revelando um grande desejo de abandono ao instante a que Ester de Lemos chamaria de “deslizar contínuo” e a que Pessanha já se tinha referido nestes termos em carta anteriormente citada: “Sabe o que eu agora desejaria? Não chegar ao meu sítio nunca… Ir assim, a bordo de um navio, sem destino.”. José Bento observou algo de semelhante no artigo “Outra vez o tema da água na poesia de Camilo Pessanha”: “A ânsia de aniquilamento, que é um dos temas mais insistentes da poesia de Pessanha, poderá ser satisfeita pelo mar” (1984: 16). Em conclusão, este naufrágio a que fui fazendo menção, o abismar-se, é uma das diversas vias de atingir a morte. Morte esta que em certo momento surge como uma tentativa de evasão de Camilo Pessanha do absurdo da finitude da condição humana através do naufrágio e da ruína como pontos de partida para uma outra existência (cf. “Singra o navio. Sob água clara”). Contudo, no poema “Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas”, como já referi anteriormente, temos uma postura do sujeito poético que não deixa qualquer margem à esperança, desejando unicamente o aniquilamento. O desejo de morte nesse mesmo sentido pode ser complementado pelo contributo de João Camilo, que se referiu à existência e à morte na obra poética de Camilo Pessanha da seguinte forma: a existência, dado que tudo está destinado a desaparecer, acaba por impor-se definitivamente como uma viagem ou caminho sem sentido porque sem meta definida (…). A partir destas constata– ções, o poeta é levado a desejar a morte, que põe fim às ilusões e às desilusões, que elimina todas as tensões, que restabelece um estado de equilíbrio absoluto semelhante àquele que precede a existência (1985: 68). Não nos podemos contudo esquecer do contexto histórico-tem- poral e literário em que Camilo Pessanha se insere, dado que a sua obra a eles não é alheia, mesmo se o seu “conceito de poesia [está] desvinculado dos ditames da moda do tempo. A poesia é para ele o reflexo de um modo de ser e de viver, antes de ser a aplicação voluntária de teorias literárias ou filosóficas” (Spaggiari, 1982: 40). Todavia, e apesar de as reacções perante o momento de crise sentido no fim do século XIX terem sido diversas, houve uma resposta comum dos intelectuais da época: a fuga. É pois nesse contexto que nos surge a Clepsydra, por um lado como um testemunho da sua época, por outro como um monumento estético autónomo e de grande beleza. Bibliografia 1 – Activa 1887, “Soneto de Gelo”, in Gazeta; ed. ut.: Clepsydra, ed. de António Ba- rahona; Lisboa, Assírio & Alvim, 2003, pp. 94-5. 1893, “Ao meu coração um peso de ferro”; ed. ut.: ibidem, pp. 50-1. 1899, “Singra o navio. Sob água clara”; ed. ut.: ibidem, pp. 32-3. 1900, “Chorai arcadas”; ed. ut.: ibidem, pp. 60-1. 1916, “Eu vi a luz em um país perdido”; ed. ut.: ibidem, p. 9. 1916, “Ó cores virtuais que jazeis subterrâneas”; ed. ut.: ibidem, pp. 72-3. 1921, [Carta a Ana de Castro Osório]; ed. ut.: Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista de Castro e Ana de Castro Osório, ed. de Maria José de Lencastre; [Lisboa], Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, p. 83. s/d, [Carta a Alberto Osório de Castro]; ed. ut.: ibidem, pp. 48-50. 1- Passiva BENTO, José 1984, “Outra vez o tema da água na poesia de Camilo Pessanha”, in Persona, n.º 10, Porto, Centro de Estudos Pessoanos, pp. 12-16. 231 CAMILO, João 1985, “Sobre a “abulia” de Camilo Pessanha”, in Persona, n.os 11-12, Porto, Centro de Estudos Pessoanos, pp. 67-70. LEMOS, Ester de 1956, A “Clépsidra” de Camilo Pessanha, Porto, Livraria Tavares Martins. 232 LENCASTRE, Maria José de 1984, “Notas”, in Camilo Pessanha, Cartas a Alberto Osório de Castro, João Baptista de Castro e Ana de Castro Osório, [Lisboa], Imprensa Nacional – Casa da Moeda, pp. 91-117. LOPES, Óscar 1970, “Pessanha, o Quebrar dos Espelhos”, in Ler e Depois; ed. ut.: AA. VV., Homenagem a Camilo Pessanha, org. Daniel Pires; Macau, Instituto Português do Oriente / Instituto Cultural de Macau, 1990, pp. 128-136. MORÃO, Paula 2004, “Camilo Pessanha – lendo Clepsydra”, in Retratos com Sombra. António Nobre e os seus contemporâneos, Porto, Caixotim, pp. 239-251. SPAGGIARI, Barbara 1982, O Simbolismo na Obra de Camilo Pessanha, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa – Ministério da Educação e das Universidades. 1. Geral BENJAMIN, Walter 1928, Ursprung des deutschen Trauerspiels; ed. ut.: Origem do Drama Trágico Alemão, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004. BLUMENBERG, Hans 1979, Schiffruch Mit Zuschauer. Paradigma einer Daseinesmetapher; ed. ut.: Naufrágio com Espectador. Paradigma de uma metáfora da existência, Lisboa, Vega, 1990.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesHato, o devastador [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tufão Hato, conhecido nas Filipinas como tempestade tropical Isang, atingiu recentemente o sul da China com grande violência. Chegou à costa quarta-feira 23 e, de repente, Macau e Hong Kong foram tomadas de assalto pela fúria dos ventos e por chuvas diluvianas. Até ao momento há a lamentar 10 mortos e mais de 200 feridos. O Tufão Hato foi a maior tempestade dos últimos 53 anos a atingir Macau. O impacto na cidade foi tremendo. Nas zonas inundadas as águas encapelavam-se, via-se andaimes caídos e todo o tipo de destruição. As ruas ficaram atapetadas de lixo. A passagem do Hato interrompeu o fornecimento de electricidade, água, rede telefónica, rádio e internet. Dia 23 estes serviços foram sendo interrompidos um a um. O corte de electricidade, rádio e internet impediu a divulgação imediata dos acontecimentos. A maioria dos habitantes deixou de poder estar a par do desenvolvimento da situação. Depois da passagem do Hato, houve quem tivesse comentado que a vida em Macau tinha recuado aos anos 70. Sem electricidade nem água, restaurantes e casinos tiveram de fechar. Ao longo dos passeios formavam-se filas enormes de pessoas com baldes na mão para recolherem alguma água potável. Só existe uma palavra para classificar tudo isto: terrível. O Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, acompanhado de alguns secretários, deu uma conferência de imprensa no dia 24. Após a observação de um minuto de silêncio, o Chefe do Executivo declarou, “Durante estes dois dias, enfrentámos juntos um teste extremamente difícil. O Hato foi o tufão de maior intensidade dos últimos 53 anos e provocou danos tremendos em Macau.” “Admito que a forma como lidámos com este desastre teve algumas falhas. Estas respostas ainda precisam de ser melhoradas. Estou aqui em representação do Governo de Macau e, nessa qualidade, apresento as minhas desculpas aos residentes,”. De seguida comunicou a demissão do chefe dos Serviços de Meteorologia. Parece-nos que esta demissão merece alguma análise. Não há dúvida que o Hato foi o tufão mais forte dos últimos 53 anos, mas a sua intensidade não parece justificar por si só o estado deplorável em que ficou Macau. Há quem ache que o relatório sobre as condições climatéricas e o tufão não foi feito correcta nem atempadamente. Às 9.00h foi hasteado o sinal 8, e às 11.30 o sinal 10. Esta alteração deu-se apenas no espaço de duas horas e meia. É razoável que perguntemos. Será que o Hato sofreu alterações tão rápidas que era impossível aos serviços de meteorologia tê-las previsto? Em Hong Kong, às 5.20 já tinha sido hasteado o sinal 8 e já tinha sido avançado que mais tarde seria hasteado o sinal 10. É clara a diferença. E é natural que incomode algumas pessoas. O timing do alerta pode ter sido um problema, mas não foi o único. A interrupção do fornecimento de água e electricidade foi um dos mais graves, já que interfere com o dia a dia dos residentes. E já se sabe que quando as necessidades básicas são afectadas começam os burburinhos. A falta de água, por exemplo, proporciona o aparecimento de doenças infecciosas. É vital que o fornecimento de água e electricidade estejam sempre garantidos. Olhemos para Hong Kong, que sofreu os efeitos da mesma tempestade, e nunca deixou de ter água e electricidade. Parece ter chegado a altura de renovar algumas infra-estruturas em Macau. As questões estruturais são um problema, mas as questões funcionais também o são. Enquanto o Hato atacava Macau, o Facebook mostrou restaurantes a vender caixinhas com almoços a 100 patacas cada, hotéis a pedirem 10.000 patacas por noite, e algumas lojas a venderem garrafas de água a 50 patacas. Estes comportamentos fazem lembrar os assaltos a uma casa a arder. É usar o infortúnio alheio para fazer negócio. Felizmente também existem bons samaritanos que, de forma voluntária, têm limpado o lixo, ajudado a cuidar dos mais idosos, etc. Algumas empresas também têm ajudado a transportar água e outros bens de primeira necessidade de Hong Kong para Macau. Os voluntários mostram que têm bom coração, e as empresas que honram a sua responsabilidade social. São sinais positivos para Macau. A pedido do Chefe do Executivo, o Exército Popular de Libertação participou nas operações de limpeza e de desobstrução, a seguir à passagem do tufão. Na televisão vimo-los remover lixo sem máscaras e sem a ajuda de qualquer instrumento. Aliás, as emanações do lixo podem ter sido a causa do adoecimento de quatro soldados. A atitude destes soldados merece todo o nosso respeito e deveria receber também o reconhecimento do Governo. O rendimento per capita em Macau é 18.000 patacas, o mais elevado de toda a Ásia. A distribuição anual de 9.000 patacas por residente também causa inveja a muita gente. Também há quem se queixe por o valor do cartão de identidade em Macau ser superior ao de Hong Kong. No entanto, depois do Hato, muitos dos problemas de Macau vieram ao de cima. As infra-estruturas precisam de ser melhoradas com urgência. O comunicado do Governo a desincentivar as deslocações a Macau de 25 a 31 de Agosto pode pôr em causa o epíteto de “centro mundial de turismo e lazer”. Talvez esteja na altura de enfrentarmos todos os nossos problemas e de tentar resolvê-los. Escrevo este artigo antes de dia 27, altura em que está prevista a vinda de outro tufão. Espero sinceramente que todos fiquem a salvo e que não se venham a registar mais danos. Professor Associado do IPM Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Sérgio Fonseca DesportoJovem de Macau vence Asiático de Fórmula Renault 2.0 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] piloto de Macau, Leong Hon Chio, também conhecido por Charles Leong, de apenas 15 anos, sagrou-se o mais jovem campeão da história do asiático de Fórmula Renault 2.0, o mais antigo campeonato de monolugares da região e que conta com o adminículo da Renault Sport. O mais novo campeão da história do campeonato era até aqui o português residente no território, Rodolfo Ávila, que em 2003 conquistou este título aos 16 anos, numa época em que a competição ainda tinha uma corrida no programa do Grande Prémio de Macau. Leong alcançou o título no passado domingo em Xangai, tendo bastado para isso ter terminado uma corrida no segundo lugar e outra no terceiro posto, selando as contas do campeonato quando ainda faltam realizar as duas corridas finais no Circuito Internacional de Zhuhai. Na sua caminhada para a conquista do ceptro de campeão da temporada de 2017, o piloto da RAEM já subiu ao pódio por nove vezes, em dez possíveis, vencendo por quatro ocasiões. O jovem piloto do território iniciou-se nos campeonatos de karting de Macau e do sul da China, subindo às categorias de monolugares apenas a meio do ano passado, após ter atingido a idade mínima de 15 anos permitida pelos regulamentos. Na conferência de imprensa, após as corridas de Xangai, Leong agradeceu o apoio da família e da sua equipa, realçando novamente que gostaria de “dar o salto” para a mais exigente realidade europeia no próximo ano, algo que será muito difícil de concretizar se não contar com os vitais apoios locais. Bis à vista Aquele que é unanimemente apontado como a mais jovem esperança do automobilismo da RAEM pode ainda ir mais longe esta temporada, pois encontra-se actualmente a liderar isolado o Campeonato da China de Fórmula 4 quando faltam apenas dois eventos por disputar. Se conseguir o feito, que está perfeitamente ao seu alcance, dada a hegemonia demonstrada na competição patrocinada pelo construtor automóvel chinês Geely, o estudante do secundário será o primeiro piloto do território a vencer dois campeonatos de monolugares numa mesma temporada.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Hato | CCAC abre inquérito sobre procedimentos dos SMG O Comissariado Contra a Corrupção de Macau (CCAC) anunciou ontem a abertura de um inquérito aos procedimentos dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), após a passagem do tufão Hato, que fez dez mortos. [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] CCAC determinou, por despacho, que tivesse lugar um inquérito sobre os procedimentos de previsão de tufões e sobre a gestão interna dos SMG”, nomeadamente “procurando determinar responsabilidades a assumir, no âmbito dos procedimentos de previsão de tufões e da gestão interna por parte do ex-director do SMG Fong Soi Kun”, referiu o CCAC em comunicado. O resultado do inquérito, a realizar pela Direcção dos Serviços de Provedoria de Justiça, vai ser entregue ao Chefe do Executivo. O curto intervalo de tempo entre o içar de sinais de tempestade tropical após a passagem do Hato, em particular atendendo à velocidade a que se movia o tufão, fez gerar dúvidas sobre a capacidade de previsão dos SMG. Macau içou o sinal 3 de tempestade tropical às 03:00 de quarta-feira, elevando-o a 8 seis horas depois. Passada uma hora e meia foi hasteado o sinal 9 e, volvidos somente 45 minutos, içado o sinal máximo (10), o que não sucedia desde 1999. Queixas antigas Fong Soi Kun – que apresentou a demissão um dia depois do tufão Hato – tinha estado debaixo de fogo devido ao hastear dos sinais de tempestade tropical há um ano, por ocasião da passagem do tufão Nida, altura em que os SMG içaram apenas o 3, tendo sido criticados por não terem elevado o alerta para 8. No comunicado, o CCAC lembrou ter realizado no passado uma investigação aos SMG, após ter recebido “muitas queixas apresentadas pelos cidadãos, pondo em causa a decisão de não içar o sinal 8 de tufão” aquando da passagem do Nida, em Agosto de 2016. “Após investigação, apesar de não ter sido detectada uma violação grosseira das disposições legais, o CCAC verificou a existência de alguns problemas nos procedimentos relativos à previsão de tufões e nos respectivos critérios adoptados pelos SMG, bem como relativamente à gestão interna do mesmo serviço”, indicou o CCAC, numa referência ao que sucedeu no ano passado. Esses problemas “já foram comunicados à direcção dos SMG”, à qual foram também submetidas “as respectivas sugestões de melhoramento”, acrescentou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTufão Hato | O lado político e falhado de uma tempestade Nas redes sociais circularam fotografias de alguns governantes na ajuda à limpeza nas ruas, mas para o politólogo Eric Sautedé o Governo reagiu tarde e falhou por completo na comunicação à população. Apesar das reuniões com a protecção civil, só ontem Chui Sai On foi ver de perto a calamidade que muitos viveram [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oras depois da passagem do tufão Hato pelo território, muitos questionavam a ausência dos secretários e do próprio Chefe do Executivo nas ruas, numa altura em que, sem água ou electricidade, as pessoas se deparavam com as suas casas e lojas viradas do avesso. Circulariam mais tarde fotografias de governantes a ajudar nas acções de limpeza, tal como o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça. Também Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andou nas ruas. Wong Sio Chak foi, aliás, afectado pelo tufão, tendo ficado sem algumas portas e janelas de casa. O Chefe do Executivo, apesar de ter participado em diversas reuniões com bombeiros e protecção civil, só saiu à rua ontem, tendo visitado a zona da Ponte e Horta e também junto ao templo Hong Kung. Eric Sautedé, politólogo, tece críticas ao comportamento do Executivo na forma como lidou com a catástrofe. Na sua visão, as respostas foram tardias e incompletas. “Se o Chefe do Executivo tivesse ido para as zonas mais prejudicadas teria ajudado. Mas em vez disso foi mais tarde e houve alguns comentários que referiram que ele fez por se manter em segurança. Claro que ter um problema de saúde como a gota faz com que as suas deslocações sejam limitadas, mas ele demonstrou várias vezes uma total falta de empatia.” Eric Sautedé dá vários exemplos, tal como a publicação de um texto inserido na rubrica “Palavras do Chefe do Executivo”, no website do Governo, que “quase roça a caricatura”, sem esquecer a conferência de imprensa na quinta-feira ao final do dia. “A mensagem que foi lida pelo Chefe do Executivo foi um desastre em termos de comunicação política: limitou-se a ler um guião e fez um grande esforço para esconder o embaraço”, apontou. Para Eric Sautedé, a população precisava de dados concretos e de acções, e muita coisa falhou nas primeiras horas. “Houve muitas contradições, previsões (sobretudo no que diz respeito ao número de vítimas), em vez de terem sido providenciadas respostas às verdadeiras preocupações das pessoas, tal como quando é que a água e a electricidade iriam estar novamente disponíveis.” “Pedir desculpas é importante, mas tal foi feito com uma total falta de empatia, que foi assumida e compreendida como existindo uma total incompetência”, acrescentou o professor universitário. Caso único Alexis Tam, que fez por visitar alguns bairros afectados na zona norte e o hospital público, foi o único “capaz de falar para o público sem ler um discurso”. Ainda assim, Eric Sautedé considera que “não foi capaz de dar respostas às pessoas”. “A ajuda providenciada por membros do Governo foi, na maioria, apenas para a fotografia, e esperamos sempre que os líderes liderem, e não que carreguem objectos e limpem as ruas. Alguns tiveram um melhor comportamento do que outros: Lionel Leong chegou tarde, mas foi genuíno, enquanto Sónia Chan apareceu de mocassins brilhantes e parecia constrangida com a situação”, recorda o ex-docente da Universidade de São José. Eric Sautedé não deixou de apontar a presença de alguns deputados nas ruas, sendo que uns “agiram com mais boa-fé do que outros”, dada a aproximação do acto eleitoral de Setembro. “A forma tardia como o Governo reagiu, e de forma inapropriada, são produto de um sistema em que os interesses empresariais prevalecem e a lealdade está acima da competência”, frisou, lembrando a ocorrência de dez mortes. “Era suposto a situação melhorar com o novo Executivo, que tomou posse em Dezembro de 2014, mas, obviamente, falharam na missão e desta vez isso custou vidas humanas”, concluiu ao HM. Porto Interior | Ng Kuok Cheong questiona atrasos nas obras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong interpelou o Governo sobre os efeitos das obras temporárias na zona do Porto Interior para a prevenção das inundações. O objectivo é tentar compreender se o adiamento dos trabalhos de erradicação das inundações na zona está relacionado com as obras do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong recorda que, já em 2014, obteve respostas dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), bem como da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sobre a prevenção das inundações. À data, a resposta dos SMG previa a conclusão das obras temporárias em 2015, sendo que existiria uma proposta, de médio e longo prazo, para uma reconstrução da zona. Iria ainda ser levada a cabo uma integração com o projecto do metro ligeiro. O deputado deseja saber, portanto, se esse projecto foi adiado por causa dos atrasos ocorridos na primeira fase da obra do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong pede ainda uma responsabilização dos funcionários e que se avancem de imediato com os trabalhos de reconstrução. A interpelação faz ainda referência aos dez mortos causados pela passagem do tufão Hato, que fez a maior parte dos estragos nas zonas baixas da península, tal como o Porto Interior e a zona da Barra. Além das vítimas terem morrido por incidentes nas ruas, houve ainda corpos encontrados em parques de estacionamento.
João Luz Manchete SociedadeBalanço | Tufão Pakhar passa por Macau com menos intensidade que o Hato [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois tufões fustigam com violência regiões do Mar do Sul da China. Depois do Hato ter colhido, pelo menos, dez vidas em Macau, foi a vez de Hong Kong registar um morto à passagem do Pakhar. Por cá, contabilizaram-se apenas feridos ligeiros e inundações de dimensão reduzida. Autoridades de Macau ponderam uma revisão profunda ao mecanismo de resposta a tufões Depois da tempestade costuma vir a bonança. Isso não aconteceu este fim-de-semana em Macau, Hong Kong e nas regiões circundantes. Na quarta-feira o tufão Hato devastou a RAEM, deixando no seu rasto, pelo menos, dez vítimas mortais e 244 feridos. Além disso, o desastre natural deixou a olhos vistos os problemas e as falhas de infra-estruturas tanto no domínio da construção, como na falta de luz e água, deixando a cidade num caos. Assim que houve notícia de um possível segundo tufão, que viria a ser baptizado como Pakhar, temeu-se o pior. Porém, os efeitos da última tempestade foram bem menores, com a intensidade das rajadas máximas a não chegar a metade da dos ventos mais intensos do seu antecessor. Apesar da menor intensidade, o Pakhar originou 107 incidentes registados pelo Cento de Operações de Protecção Civil (COPC). No rescaldo do tufão de ontem, Leong Iok Sam, director da COPC, revelou que o Pakhar fez oito feridos ligeiros, seis homens e duas mulheres. Depois da calamidade de quarta-feira de manhã, que deixou Macau fragilizada em todos os sentidos, temia-se que apesar da intensidade menor, os estragos pudessem ser grandes. Situação que não ocorreu, mas ainda assim registaram-se 56 casos de queda de objectos como painéis publicitários, toldos e janelas. Aliás, Leong Iok Sam revelou que grande parte dos feridos ligeiros se deveu à queda de objectos suspensos que não chegaram a ser removidos na sequência da passagem do Hato. Nove árvores que não foram abaixo com o tufão de quarta-feira acabaram por cair ontem, devido ao seu estado de fragilidade. Neste sentido, o director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, Li Canfeng anunciou uma medida para dar resposta aos problemas de estrutura de edifícios revelados pela força do Hato. “Coordenámos associações de engenheiros e de peritos em electricidade para acorrerem aos prédios necessitados de intervenção”, disse. O dirigente revelou que há mais de vinte equipas para ajudar à remoção de objectos suspensos em fachadas e nos revestimentos exteriores, assim como para o reforço de janelas. Foi também aberta uma linha de apoio para responder a estas a situações com o número 85903800. O Pakhar resultou ainda em 16 inundações de pequena intensidade, sendo que oito ocorreram em Macau, seis na Taipa e duas em Coloane. Transportes parados Ontem, por volta das 7h25, foram encerradas as pontes que ligam Macau à Taipa. As condições de segurança nas estradas deterioraram-se, tal como seria de esperar, levando à ocorrência de 31 acidentes rodoviários. No que diz respeito ao transporte por ferry, o Terminal do Porto Exterior encerrou tendo ficado cerca de 100 pessoas a aguardar que o sinal de alerta baixasse para conseguirem embarcar. A circulação de barcos foi retomada no Porto Exterior às 14h30 de ontem, enquanto que no novo Terminal da Taipa as operações regressaram à normalidade às 16h. Durante a tarde de ontem todos os postos fronteiriços retomaram o seu normal funcionamento. O Aeroporto Internacional de Macau cancelou 65 voos com partida ou chegada prevista para domingo. Na região vizinha, a Autoridade Aeroportuária de Hong Kong reportou 300 voos cancelados, ou com atrasos significativos, e cerca de 42 aviões abortaram a aterragem e tiveram de ser desviados para outros aeroportos na sequência da passagem do Pakhar. Meia centena de aviões não puderam descolar e ficaram na pista do Aeroporto de Hong Kong a aguardar a melhoria das condições meteorológicas. A companhia de bandeira de Hong Kong, Cathay Pacific Airways alertou os passageiros para possíveis atrasos para hoje tanto em partidas, como em chegadas. A tempestade tropical resultou em múltiplas estradas bloqueadas devido à queda de árvores, andaimes e inundações, incluindo na ilha de Hong Kong e nos Novos Territórios. Também os serviços de autocarros e metro ficaram afectados pela passagem do Pakhar. Registou-se a morte de uma pessoa, um condutor de uma carrinha que se despistou numa auto-estrada em Yuen Long na altura em que os ventos do tufão se começavam a intensificar. Do acidente resultaram ainda dois feridos com alguma gravidade. Menos intenso Por volta das 13h de ontem, quando o Pakhar já estava a 150 quilómetros de Macau, movendo-se para noroeste, a uma velocidade de 25 quilómetros/hora, o sinal de alerta era reduzido para 3 e o tufão tocou terra na cidade de Taishan, na província de Guangdong. Nessa altura, já quase esquecido o Pakhar, as ruas de Macau voltaram aos trabalhos de remoção de lixo e detritos. Neste domínio, o novo tufão trouxe um pouco mais de caos ao terreno. “Recolhemos um grande volume de lixo nestes últimos dias, todos os dias a quantidade foi aumentando”, explica José Tavares, presidente do conselho de administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Na quarta-feira, logo a seguir ao sinal 8 do Hato ter sido retirado, as ruas começaram a ser limpas, tendo sido removidas 1700 toneladas de lixo. No dia seguinte, foram retiradas 2500 toneladas e na sexta-feira a quantidade de detritos removidos ascendeu às 2900 toneladas. A quantidade anormal forçou o IACM a mobilizar mais recursos humanos, tendo as operações sido facilitadas pelos mais de 3000 voluntários que ajudaram os serviços municipais a limpar as ruas de Macau. A partir de ontem à tarde, as autoridades da província de Guangdong disponibilizaram uma dezena de veículos para a recolha de lixo. O facto é que o Pakhar teve uma intensidade menor do que a do Hato, além de ter passado um pouco mais ao lado de Macau. O tufão de ontem registou uma força de vento média de 106 km/hora, seguindo uma trajectória final mais encostada para leste, ainda assim mais próxima de Macau do que estava previsto. A rajada mais forte registada ontem foi de 125.3 quilómetros/hora. Por volta das 8 da manhã os ventos também aumentaram um pouco, tendo tocado a terra por volta das 9h, ou seja, com uma hora de antecedência em relação às previsões dos Serviços de Meteorologia e Geofísica. A chuva foi mais intensa do que fora prognosticado, tendo-se registado uma precipitação de 56.6 milímetros, um nível superior ao que era esperado. As chuvadas originaram inundações que chegaram aos 15 centímetros de altura de cheias, sendo que a maré subiu 1,5 metros. Porém, as inundações não foram severas porque o Pakhar não coincidiu com o horário normal da maré cheia. Exército nas ruas Na passada sexta-feira, um contingente de mil soldados do Exército de Libertação Popular foi para as ruas ajudar na operação de limpeza e remoção de detritos. Ontem, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, lembrou que “o dever do Exército de Libertação Popular é salvaguardar a segurança nacional, enquanto o salvamento deve estar a cargo da polícia e dos bombeiros”. Porém, devido à gravidade do tufão Hato, o Governo da RAEM pediu ao Governo Central a participação dos tropas. De acordo com Wong Sio Chak, “o pedido foi feito na manhã do dia 24 e de uma forma muito rápida foi conseguida a autorização”. O secretário para a Segurança chegou mesmo a mostrar-se emocionado com um caso de um soldado chinês que apesar de a mulher ter falecido ficou em Macau a ajudar às operações de limpeza, faltando ao funeral da esposa. O secretário para a Segurança não quis avançar com uma estimativa dos prejuízos causados pelos tufões que assolaram Macau. “Ainda estamos em fase de socorro, remoção de lixo e assistência à população, ainda não fizemos essa contabilidade, mas os prejuízos não serão pequenos”, comenta. No entanto, Wong Sio Chak, realça que apesar dos danos materiais serem avultados, existem perdas para a população que não são contabilizáveis através de patacas.