SCMP | Casinos terão influenciado decisão dos SMG

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo o jornal South China Morning Post, os casinos terão influenciado o trabalho dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) no que diz respeito à previsão do sinal do tufão Hato.

Fontes citadas pelo jornal, “com conhecimento dos planos do serviço de protecção civil” afirmam que os SMG só içaram o sinal 8 de tufão na passada quarta-feira para evitar que as concessionárias pagassem horas extra aos seus funcionários.

“A partir do momento em que o sinal 8 é içado, os casinos são obrigados a pagar a todos os funcionários as horas extras. Enquanto que esta é uma questão com a qual as grandes operadoras de jogo conseguem lidar, o mesmo não acontece com os casinos de menor dimensão, ligados às sub-concessionárias”, lê-se na notícia do jornal de Hong Kong.

A mesma fonte adiantou que “não é necessária uma pressão directa e feita abertamente, mas não há dúvida de que o ‘factor casino’ tem um papel importante naqueles que tomam as decisões relacionadas com os sinais de tempestade que são içados”.

Ao mesmo jornal, o politólogo Larry So considerou que o “Governo não consegue dar resposta às expectativas das pessoas numa cidade que se auto-proclama de primeira classe”.

Bens alimentares e medicinais reaproveitados são um risco

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois da passagem do tufão Hato e com os danos nas várias lojas de alimentos e produtos de medicina tradicional chinesa, muitos são os comerciantes que estão a tentar reutilizar bens alimentares e medicinais que podem estar seriamente estragados. José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) admite a situação.

Visitei algumas zonas afectadas e reparei que algumas lojas de medicina tradicional chinesa estão a secar os seus produtos na rua”, disse o responsável ontem em conferência de imprensa. José Tavares considera que “não é correcto” e afirma que o procedimento não é permitido, sendo que a situação pode estar a repetir-se depois dos danos causados ontem pela passagem do tufão Pakhar no território. No entanto, o responsável refere que se tratam de “produtos muito caros e que a sua perda implica muitos custos”, deixando um apelo aos comerciantes para que não façam o seu reaproveitamento.

No que respeita a produtos alimentares o responsável do IACM aponta que “muitos deles não são recuperáveis e já foram mesmo para o lixo porque não é possível o seu reaproveitamento”.

“Há sacos de arroz e peixe que estão visivelmente estragados e que não podem ser consumidos”, referiu. Quanto a medidas a tomar, José Tavares afirma que há muito para fazer e que serão feitas inspecções.

Já o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, reitera que serão feitas mais inspecções, especialmente na zona do Porto Interior e apela à sensatez, até porque alimentos estragados “é algo muito sério e têm de ter um tratamento correcto não sendo possível consumir os estragados”, sublinhou. S.M.M.

28 Ago 2017

Gabinete de Ligação destaca trabalho do exército nas ruas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] presença do Exército de Libertação do Povo Chinês, que desde 1999 não pisava as ruas de Macau, levou o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM a emitir um comunicado onde destaca a parceria entre Pequim e Macau aquando da passagem do tufão Hato pelo território.

O documento lembra que a tempestade causou grandes estragos ao território, uma “grande quantidade de vítimas” e perdas de bens. Os representantes do Gabinete de Ligação afirmam estar tristes pelas perdas registadas, enviando as suas condolências aos familiares dos que partiram, aos feridos e a toda a população.

O organismo mostra ainda o seu respeito para com os cidadãos que ajudaram nos trabalhos de limpeza das ruas.

O porta-voz do Gabinete de Ligação destaca também que foi autorizado o apoio concedido pelo exército chinês aos cidadãos, uma acção que mostra a “ligação entre Macau e o Governo Central”. “A pátria tem sido o apoio ao território”, lê-se ainda no comunicado.

O organismo espera que o território possa voltar à normalidade o mais depressa possível, lembrando a relação próxima que se verificou entre os cidadãos e os militares. Na visão de Pequim, o Exército de Libertação do Povo Chinês é, por isso, “uma tropa excelente em que a população pode confiar”.

“A sociedade de Macau sempre se auxiliou mutuamente. Com o apoio do Governo Central e a liderança da RAEM, caso a população continue a caminhar num sentido de solidariedade, irá ultrapassar de certeza as dificuldades que se registarem após a catástrofe”, remata o comunicado.

28 Ago 2017

Jornalistas barrados | Secretário e AIPIM com visões distintas

Foi proibida a entrada de quatro jornalistas de Hong Kong em Macau. O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirma que o procedimento nada tem que ver com a profissão enquanto a Associação de Imprensa em Português e Inglês “lamenta profundamente” tal decisão das autoridades e diz que “prejudica a imagem” do território

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proibição de entrada no território nada tem que ver com a profissão exercida e é uma questão de segurança pública. A ideia foi deixada ontem, em conferência de imprensa pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. “Ninguém gostaria de ter a sua entrada proibida no território independentemente da sua profissão e não estamos concentrados numa só profissão”, disse o secretário.

Em causa está a proibição de entrada em Macau de quatro jornalistas de Hong Kong, no passado sábado. Wong Sio Chak salientou ainda que foi executada a lei e que se foram impedidos de entrar foi porque ameaçavam a segurança pública. No entanto, as razões que levam a que estes jornalistas representem uma ameaça não foram esclarecidas. “São casos confidenciais e que não podem ser divulgados o que também é conforme a lei”, apontou o secretário.

Má imagem

Já a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) disse ontem que “lamenta profundamente” a decisão das autoridades locais de recusar entrada a quatro jornalistas de Hong Kong, considerando que tal “prejudica a imagem” da cidade.

Num comunicado, a AIPIM “considera incompreensíveis e insatisfatórias as justificações dadas pelas autoridades locais para a decisão, e alerta que esta atitude, tal como outras semelhantes no passado, prejudica a imagem internacional da RAEM no que toca ao respeito pela liberdade de imprensa”.

A proibição de entrada dos quatro profissionais da região vizinha, que desejavam fazer reportagens sobre o impacto do tufão Hato, foi noticiada no sábado pelo South China Morning Post (SCMP), que dava conta que um deles era um dos seus fotógrafos. Segundo o jornal, Félix Wong recebeu uma declaração escrita dos Serviços de Migração de Macau, referindo que “representa um risco para a estabilidade da segurança interna” de Macau.

Noutro comunicado conjunto, a Associação de Jornalistas de Hong Kong e a Associação de Fotojornalistas de Hong Kong lamentaram igualmente o incidente e instaram Macau a respeitar a liberdade de imprensa.

De acordo com o SCMP, as duas associações defenderam que Macau tem uma política de imigração arbitrariamente restritiva e que vários jornalistas de Hong Kong foram impedidos de entrar na cidade nos últimos anos.

Questionado sobre o assunto numa conferência de imprensa no dia em que os jornalistas foram barrados, Ma Io Kun, coordenador do Centro de Operações da Protecção Civil (COPC) de Macau, admitiu que houve pessoas que foram impedidas de entrar na cidade, mas não confirmou que tivessem sido os jornalistas.

“Em princípio, proibimos a entrada de pessoas que possam causar perigo à ordem pública e à ordem da sociedade. É de acordo com a lei que proibimos a entrada dessas pessoas”, disse, sublinhando não saber se os ‘barrados’ eram ou não jornalistas.

28 Ago 2017

Uber | Serviços gratuitos disponibilizados para ajudar Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão foi por ter sido expulsa de Macau que a UBER não esteve presente quando foi necessário. Com as carências em várias frentes impostas pela devastação do tufão Hato, a Uber esteve activa e os serviços foram todos gratuitos. Alguns taxistas locais tiveram a mesma atitude

Há uns meses as multas venceram e conseguiram levar a Uber a optar por deixar de prestar serviço no território. Com o tufão Hato e o caos instalado na cidade, a companhia de transportes particular foi bem-vinda para dar ajuda. Os serviços, que duraram até ontem à noite, decorreram sem percalços e sem cobrança alguma. O objectivo foi simples: ajudar no que fosse preciso.

Com os estragos que o Hato deixou, a ideia de colocar a Uber em Macau online foi imediata. “Mandámos um questionário aos nossos motoristas no território para perceber a sua disponibilidade em prestar serviço gratuito”, disse a directora de comunicação da companhia em Hong Kong, Katie Lee, ao HM.

Com o elevado número de ex-motoristas da Uber dispostos a dar o seu contributo, a plataforma online foi activada para quem precisasse de se deslocar e com um serviço “totalmente grátis”, confirmou a responsável.

Neste momento Katie Lee ainda não tem noção da quantidade de serviços prestados nos dias que sucederam ao Hato. “Ainda não tenho as actualizaões comigo e a operação ainda está a decorrer” disse ao HM, ontem, antes do fim da iniciativa que terminou ontem ao final do dia. “Estamos a pensar fechar o serviço no final do dia de domingo, sendo que, se for necessário e se os motoristas considerarem que o melhor é continuar a ajudar até que o território esteja em melhores condições, podem fazê-lo a título individual, sendo que iremos desligar o portal online de novo”, explicou.

A tragédia aconteceu em Macau, mas Katie Lee não deixa de referir a importância do sentido de entreajuda. Com as notícias do estado do território, “foi bom ter tido uma oportunidade de dar apoio aos motoristas de Macau que estavam empenhados em contribuir para um melhor funcionamento nos dias de caos que se seguiram ao Hato”, referiu. Até porque, “as pessoas precisavam de transportes para se poderem deslocar numa cidade ainda com muitos obstáculos”.

Também houve taxistas locais que desligaram o taxímetro e transportaram pessoas de forma gratuita.

Regresso incerto

No que respeita a uma retomada dos serviços da Uber no território, a responsável de Hong Kong ainda não dá uma resposta clara. Para já o mais importante é ajudar. “Neste momento o que queremos é ajudar a cidade a recuperar dos danos causados pelo tufão”, disse, sendo que, sublinha, a acção da empresa teve uma única intenção: “ajudar a comunidade”, apontou Katie Lee.

No entanto, não descarta a hipótese de um regresso. “Relativamente ao serviço normal, e apesar e termos sido quase banidos, gostaríamos de conseguir entrar em diálogo com as autoridades”, remata a responsável.

A empresa de transporte anunciou a suspensão da sua actividade em Macau no mês passado. A operar na ilegalidade e já com muitas multas acumuladas ao longo dos dois anos que esteve em funcionamento, a solução foi abandonar, pelo menos temporáriamente, o território.

“Ao fazermos uma pausa, esperamos poder abrir portas a um diálogo construtivo com todos os accionistas em Macau e termos a capacidade de criar um ambiente de negócio que traga benefícios para todos”, apontou, na altura a empresa.

28 Ago 2017

Documentário de Miguel Gonçalves Mendes na recta final

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]igantones, um coro, a banda filarmónica e algumas dezenas de figurantes participaram no sábado em Viana do Castelo na rodagem final do documentário “O Sentido da Vida”, que Miguel Gonçalves Mendes conclui ao fim de quatro anos.

Neste período, o cineasta viajou até Macau para filmar algumas cenas do documentário.

Na movimentada Praça da República, com as esplanadas cheias de turistas, Miguel Gonçalves Mendes gravou a cena que encerra o documentário, um projecto que o levou a percorrer vários países com uma demanda quase filosófica sobre a ligação das pessoas ao mundo e que só deverá chegar aos cinemas em Janeiro de 2019.

“O Sentido da Vida” conta a história real de Giovane Brisotto, um jovem brasileiro portador de paramiloidose familiar, uma doença degenerativa, de origem portuguesa, conhecida como “doença dos pezinhos”.

Giovane Brisotto, que fez um transplante de fígado em 2015, decide fazer uma viagem pelo mundo, cruzando-se com várias personalidades que o ajudarão a entender o significado da vida. E é essa viagem de Miguel Gonçalves Mendes filma.

Volta ao mundo

Juntos, fizeram mais de 50 mil quilómetros pelo mundo, passaram por países onde existem ainda casos da “doença dos pezinhos”, como o Japão e o Brasil, gravaram imagens no espaço e concluem agora o périplo em Portugal.

“Pessoalmente, é mais importante a sua procura [o sentido da vida] e o questionamento do que a resposta. Eu, como descrente e muito pouco optimista em relação a este mundo, acho que nós somos fruto do acaso. O sentido da vida é vivermos e sermos felizes com a máxima dignidade que nos é permitida”, disse o realizador à agência Lusa momentos antes da rodagem final.

Entre as personalidades que Giovane Brisotto e o realizador encontraram no caminho estão a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, o astronauta Andreas Mogensen, o escritor Valter Hugo Mãe, o juiz espanhol Baltasar Garzón e o músico islandês Hilmar Örn Hilmarsson, todos eles retratados agora em gigantones para a cena final do documentário e que tanta curiosidade causaram em Viana do Castelo.

“Ao acompanharmos a vida de sete figuras públicas de diferentes culturas, países profissões – justiça, política, ciência, musica, literatura – qualquer pessoa se pode espelhar nas dinâmicas distintas do mundo na forma como lidamos com os problemas”, opinou.

A última cena filmada em Viana do Castelo é, no entender de Miguel Gonçalves Mendes, “uma espécie de mensagem para que as pessoas tomem as rédeas das suas vidas e que sejam felizes”.

“Era o meu maior desejo: que as pessoas saíssem do filme com necessidade de mudar as suas vidas e mudar o mundo. E terem consciência real de que infelizmente o tempo está a contar. Ou somos felizes agora e lutamos por aquilo em que acreditamos ou não”, disse.

“O Sentido da Vida” conta com co-produção do Brasil e de Espanha, e apoio das produtoras dos realizadores Fernando Meirelles e Pedro Almodóvar, e seguirá nos próximos meses para montagem e pós-produção.

28 Ago 2017

Hato trouxe destruição mas também rumores e desmentidos

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois da tempestade vem o boato. Um soldado do Exército de Libertação Popular (ELP) que matou um residente, portadores de passaporte português que não foram dados como vítimas do tufão Hato, vítimas mortais devido a avaria de elevador no “Edf. Jardim Hon Hau” que não existe. Muitos foram os rumores a circular no território após a passagem do tufão Hato. O Governo já se manifestou e avisa que estas são situações que podem ser alvo de acusação criminal.

No que respeita à acusação feita ao ELP, “o Governo da RAEM critica duramente as declarações irresponsáveis, desprovidas de qualquer fundamento e inverídicas”, lê-se em comunicado aos jornalistas.

Vítimas com passaporte português não se registaram.  A suspeita foi levantada com um comentário no facebook de Vitório Rosário Cardoso em que se lia: “Não estarão a ser contabilizadas as vítimas portuguesas com dupla nacionalidade (feridos ou mortos)”. O Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong desmente. A informação é divulgada publicamente no site do consulado. “O Senhor Secretário para a Segurança expressou o seu veemente repúdio a quem, através das redes sociais, ou por qualquer outro meio, propaga informações falsas, causando alarme social, sobre a existência de vítimas de nacionalidade portuguesa ou outra, para além das que são fornecidas oficialmente”, refere Vitor Sereno, Cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong referindo-se ao conteúdo do encontro que teve com o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

Já a avaria no elevador que fez vítimas mortais também parece não se aplicar à realidade. A situação teria acontecido no “Edf. Jardim Hon Hau” e de acordo com o Centro de Operações de Protecção Civil (COPC), a construção não existe. “Este edifício não existe e também não recebeu qualquer informação sobre mortes devido a avaria de elevadores”, lê-se.

Em resposta aos rumores divulgados nas redes sociais sobre as zonas da Praia de Manduco e de Ponte e Horta terem sido classificadas pela autoridades competentes como áreas endémicas, os Serviços de Saúde esclarecem que nenhuma área de Macau foi classificada como tal.

28 Ago 2017

Tufão Hato | Voluntários ajudaram a limpar as ruas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ssociações e cidadãos arregaçaram as mangas para ajudar a limpar uma cidade que se transformou, sexta-feira e sábado, num sítio nauseabundo. A limpeza era urgente antes da chegada do tufão Pakhar

Fosse a recolher lixo ou a distribuir comida e água, centenas de voluntários fizeram “o que podiam e o que não podiam” pelo regresso à normalidade em Macau, após a passagem do tufão Hato.

As zonas mais afectadas pelas inundações foram invadidas por verdadeiros ‘exércitos’ empenhados em remover as toneladas de lixo amontoado nas ruas.

Tsé Fung foi um dos muitos jovens que trocou o refrescante conforto do ar condicionado de casa pelo intenso calor da rua. Por volta das 16h00 encontrava-se pela Rua dos Ervanários.

“A minha casa não foi afectada, mas este é o meu bairro, por isso, tinha de vir ajudar”, disse o estudante de 19 anos à agência Lusa, com a voz abafada pela máscara que usa a cobrir a boca e o nariz, como tantos outros, para não respirar o cheiro nauseabundo, durante uma pausa ao fim de seis horas consecutivas de labuta.

Sio, de 37 anos, pôs mãos à obra na véspera. Faz-se o que pode e o que não pode pela terra onde nasceu: “Se vês algo [como isto] tens de reagir”.

“Não há recursos humanos suficientes para dar resposta a tudo”, lamentou, enquanto ajeita as luvas de borracha que vão até ao cotovelo.

“As pessoas estão simplesmente a seguir os seus instintos porque não esperam – nem podem esperar – nada. Só se valem a si próprias”, sublinhou, antes de voltar a pegar na vassoura.

“Um trabalho excepcional”

Não muito longe andava Sandra Carrilho, de 45 anos, que também começou na sexta-feira a ajudar a remover o lixo, inserida num grupo que conheceu na véspera nestas andanças.

“Hoje há imensa gente na rua”, comparou, antes de fazer um ponto da situação: “Não se podia circular aqui, mas os voluntários limparam isto tudo e no Porto Interior, onde moro, o trabalho também foi excepcional”.

“As pessoas têm noção da gravidade, havia comida solta, dispersa na rua, daí o esforço enorme para se recolher todo o lixo até porque pode voltar a haver inundações”, observou.

Enquanto filas de dezenas de contentores aguardavam vez para serem ‘tombados’ para o camião do lixo, chegaram “reforços” sob a forma de carrinhas de caixa aberta de particulares e empresas que estacionam ao lado de mobílias e electrodomésticos sem salvação.

A onda de voluntariado não se cingiu apenas à recolha de lixo, uma vez que houve também muita gente a distribuir comida e água.

Ana Cristina Vilas, por exemplo, além de recolher lixo, foi distribuir água em Coloane na sexta-feira. No sábado, com o apoio de amigas, decidiu ajudar outros e de outra forma: comprou centenas de tecidos da loja onde se costuma abastecer, gastando mais de quatro mil patacas.

Isto além de ter lançado antes um apelo pelo Facebook nesse sentido para que “a única loja de tecidos do centro da cidade”, que estava a vender “tudo ao desbarato não feche as portas”.

“Esta é a única forma de ajudar os pequenos comerciantes” afectados pelas inundações, sublinhou Ana Cristina Vilas, mostrando os panos húmidos dentro do ‘trolley’ de compras que, quando estiverem secos, vão servir o “Dress a Girl Around the World”, pelo qual é responsável em Macau desde Abril.

“São pessoas que conheço há 30 anos”, enfatiza a funcionária pública que, depois da experiência de trabalho que viveu na quinta-feira, o dia a seguir à passagem do tufão Hato, decidiu tirar um dia de férias na sexta-feira.

“Não tínhamos água nem ar condicionado. Não tínhamos condições para trabalhar. Chegámos ao mais baixo possível e por isso fui antes ajudar quem precisa”, realçou.

Por todo o lado

A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) também organizou acções de rua. Na sexta-feira, a partir das 18h00, cerca de 70 pessoas ajudaram a limpar a zona adjacente ao Mercado Vermelho. No sábado houve outras tantas na zona da Almeida Ribeiro.

Ontem foi dia de “andar a correr de um lado para o outro a distribuir comida aos idosos ou a limpar as ruas”, contou ao HM Guiomar Pedruco, presidente da AJM.

“Não houve muita destruição mas houve muito lixo. As pessoas das lojas estavam desesperadas”, recorda Guiomar Pedruco, que tece uma crítica à actuação do Executivo.

“Houve gabinetes que não tiveram água e electricidade e o Governo deveria ter reunido esses funcionários públicos para ajudarem a limpar as ruas, em vez de estes ficarem sentados nos seus gabinetes.”

Guilherme e Cíntia Leite Martins, criadores do projecto Mana Vida, também organizaram uma acção de limpeza na vila de Coloane, que ficou também bastante afectada.

28 Ago 2017

Exposição de Vhils em Macau em risco

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma das inúmeras consequências da passagem do tufão Hato por Macau foi a destruição do mural do artista Vhils junto à Escola Portuguesa de Macau. Além disso, a exposição “Destroços”, que o artista, também conhecido como Alexandre Farto, inaugurou nas Oficinas Navais, na Barra, poderá ter ficado seriamente afectada.

Um membro da equipa garantiu ao HM que estão a ser apurados os estragos e que “Destroços” deverá mesmo fechar portas.

“Posso dizer que foi com grande tristeza que recebemos a notícia do que se passou em Macau. Foi um choque para todos. Estamos neste momento a apurar todos os estragos e possivelmente teremos que encerrar a exposição pois será difícil recuperar a maior parte dos trabalhos.”

Aquela que é a primeira exposição de Vhils em Macau foi inaugurada a 31 de Maio, sendo que estaria patente na zona da Barra até 5 de Novembro. No local, Alexandre Farto colocou, além dos trabalhos com pedra trabalhada, instalações de vídeo.

À Lusa, o artista disse que o objectivo de “Destroços” era “fazer uma reflexão sobre o meio urbano de Macau e as suas particularidades”.

O mural que Vhils fez sobre Camilo Pessanha, exposto nos jardins do consulado-geral de Portugal em Macau, ficou intacto.

28 Ago 2017

Tufão Hato | Dois residentes criam logótipos solidários

Manin Vong é designer e decidiu criar o logótipo “Rezar por Macau” que, horas depois da passagem do tufão Hato, começou a povoar várias fotos de perfis de locais no Facebook. Uma funcionária pública criou outro logótipo em inglês e português

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm ambos das cores da bandeira da RAEM e contêm mensagens de esperança para horas que foram bem difíceis. Ainda no rescaldo da passagem dos tufões Hato e Pakhar por Macau, dois residentes criaram dois logótipos que se têm tornado virais na rede social Facebook.

São já várias as pessoas que optaram por criar uma foto de perfil com estes logótipos, que dizem “Rezar por Macau” em chinês ou ainda “Que Deus abençoe Macau”.

Manin Vong, designer de moda e fotógrafo freelancer, contou ao HM porque decidiu criar esta imagem.

“Momentos depois da passagem do tufão, todos nós nos sentimos muito tristes”, referiu. “Sentimos que o Governo não estava a dar o devido apoio à população. Na internet líamos comentários negativos vindos de Hong Kong. Então decidi fazer algo para unir as pessoas em Macau.”

O tufão Hato vai ficar para a história como o maior dos últimos 50 anos e esta é talvez a primeira vez que no território se cria este tipo de imagens para as redes sociais.

Manin Vong estudou em Taipei, mas hoje vive e trabalha em Macau. Afirma não ter tido propriamente uma inspiração especial para fazer este logótipo.

“Na verdade é um símbolo muito simples. Usei a imagem da bandeira e a frase ‘Rezar por Macau’. Decidi usar esta imagem em vez das palavras”, explicou. Na sua visão, o facto de tantas pessoas decidirem ter utilizado o logótipo na sua foto de perfil só mostra que, na hora da tragédia, todos se uniram para ajudar.

“Acredito que esta imagem simboliza a esperança que todos têm neste momento”, disse.

Críticas ao Executivo

O HM falou com Martin Vong quando o Exército de Libertação do Povo Chinês chegava a Macau para ajudar a limpar as ruas. Nessa altura, em muitas das zonas as pessoas limpavam os destroços sozinhas ou com a ajuda da protecção civil.

“Esperamos poder recuperar as nossas casas o mais cedo possível, para que Macau possa voltar ao normal”, defendeu o designer, que considera que a resposta dada pelo Executivo demorou a chegar.

“O Governo de Macau demorou muito tempo a reagir ao desastre. No dia seguinte à passagem do tufão, os membros do Governo não apareceram. Sabemos que o pessoal da linha da frente, como os polícias e bombeiros têm trabalhado muito, mas infelizmente não vimos de imediato nenhum apoio do Governo”, referiu.

Um dia depois desta entrevista, vários membros do Governo, tal como Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, Alexis Tam, dos Assuntos Sociais e Cultura, ou Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andaram nas ruas a ajudar nas limpezas, a verificar a acção da protecção civil ou a visitar os doentes no hospital público e os mais necessitados em diversos bairros. Chui Sai On, Chefe do Executivo, visitou a protecção civil horas depois da passagem do tufão Hato, mas só ontem é que se deslocou a algumas zonas do território, tal como a zona da Ponte Horta e Costa.

O HM tentou ainda falar com a criadora do logótipo em português e inglês, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.

28 Ago 2017

Quadros do PCC gerem centro de estudos de budismo tibetano

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China nomeou quadros do Partido Comunista Chinês (PCC) para gerir um dos maiores centros de estudo de budismo tibetano do mundo, suscitando preocupações sobre um aumento do controlo ideológico da religião no país.

Os nomes escolhidos para dirigir Larung Gar, no sudoeste da China, são o sinal mais recente da desconfiança de Pequim para com os membros do clero do budismo tibetano, que incorporam as crenças e culturas tradicionais locais.

Os nomes apontados pelo PCC para cargos de administração no centro incluem o antigo vice-chefe da polícia da Prefeitura Autónoma Tibetana de Garze.

“Estas escolhas vão ajudar a escola a operar de acordo com as leis e não vão interferir no ensino, vistos que os funcionários farão parte da administração”, disse o vice-director do instituto de estudos contemporâneos da Academia Tibetana de Ciências Sociais, citado pelo jornal oficial Global Times.

Mas a presença de funcionários do partido em templos, mosteiros e conventos acarreta novas exigências, sobretudo com os monges e freiras a serem sujeitos a aulas de “educação patriota”.

Fundado em 1980 pelo proeminente monge Jigme Puntsok, Larung Gar atraiu a atenção do governo nos últimos anos, com as autoridades a tentarem reduzir o número de residentes para cinco mil – metade dos actuais, sobretudo através de demolições e despejos.

As autoridades dizem estar apenas a abrir vias para veículos de combate a incêndios.

Grupos de tibetanos exilados no estrangeiro dizem que as autoridades querem travar a difusão do budismo tibetano, que se tem tornado popular entre os chineses para além do Tibete.

Pequim adverte Tóquio por sanções a empresas chinesas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China criticou sexta-feira o Japão por impor sanções económicas a empresas chinesas que mantêm vínculos com a Coreia do Norte e ameaçou com consequências, caso Tóquio não reverta aquela decisão. O Governo japonês anunciou a congelação de activos de quatro empresas chinesas e duas da Namíbia, e um cidadão chinês e outro norte-coreano. “Apelamos ao Japão para que reverta a decisão”, afirmou em conferência de imprensa Hua Chunying, porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, advertindo que Tóquio vai sofrer consequências, caso persista com as sanções. Hua disse que Pequim mostrou ao Governo japonês o seu “descontentamento e firme oposição a estas medidas”, já que a China “sempre cumpriu na totalidade com as sanções impostas pela ONU à Coreia do Norte”.

28 Ago 2017

Instituições forçadas a escolher entre dinheiro e censura

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m caso de censura na China envolvendo a editora da universidade britânica de Cambridge despertou o alarme para o risco da extensão do totalitarismo político de Pequim além-fronteiras, face ao seu crescente peso económico.

Na semana passada, a editora Cambridge University Press (CUP) cumpriu com um pedido da Administração Estatal da Rádio, Cinema e Televisão da China e bloqueou 300 artigos da versão electrónica da publicação The China Quarterly no país.

Os artigos censurados abordam assuntos sensíveis para o regime chinês, como o massacre na praça Tiananmen, em 1989, a Revolução Cultural (1966-76) e a questão do Tibete.

Para justificar a decisão, a CUP citou o receio partilhado por muitas empresas: ver o seu acesso ao vasto mercado chinês ser fechado, a menos que cumprisse com as exigências do regime.

Não seria uma novidade. O motor de busca Google, por exemplo, está bloqueado na China desde 2010, quando acusou Pequim de espiar o correio electrónico no Gmail de dissidentes e rejeitou compactuar com a censura do regime.

Um dos casos mais badalados dos últimos anos envolvendo a censura chinesa além-fronteiras ocorreu em Portugal, durante uma conferência que reuniu centenas de sinólogos na Universidade do Minho.

Páginas do programa contendo informação sobre a Fundação Chiang Ching-kuo, uma organização académica de Taiwan que promove o estudo do chinês, foram arrancadas, a mando da diretora-geral do Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa.

O episódio passou-se em Braga, mas as autoridades chinesas justificaram a sua atitude com a necessidade de cumprir com as “regulações chinesas”.

O acto foi publicamente condenado pela Associação Europeia de Estudos Chineses, como uma “interferência totalmente inaceitável”. O Wall Street Journal descreveu-o como “violência contra a liberdade académica”.

Sinal de alerta

No caso que envolveu o China Quarterly, a publicação voltou a colocar os artigos ‘online’ esta semana, face aos protestos de vários académicos.

Mas Jonathan Sullivan, um dos membros do comité executivo da publicação e autor de um dos artigos censurados, afirmou que o incidente deve servir de alerta.

“Temos prestado pouca atenção à forma como devemos lidar com esta nova tentativa [da China] de importar as normas da cultura política chinesa para salas de aulas ocidentais cheias de alunos chineses, ou como manter os valores académicos face a tentativas de censurar o nosso trabalho”, escreveu Sullivan.

Na Feira Internacional do Livro de Pequim, cuja edição deste ano decorre esta semana, a autocensura há muito que é prática corrente.

Citado pela agência France-Presse, o director da Mosaic8, uma editora de livros para ensino, lembra que cabe ao Governo autorizar a venda dos livros na China.

“Por isso, é do interesse das editoras não publicar nada que irrite as autoridades”, afirmou Lowe.

Em editorial, um jornal do PCC colocou a questão da seguinte forma: “Se as instituições ocidentais pensam que o mercado da Internet chinesa é tão importante que não o podem perder, têm de respeitar a lei chinesa e adaptar-se aos costumes locais”.

No caso da CUP, “não é verdade que ‘qualquer pessoa pode ter a sua opinião’, lembrou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. “Trata-se de um jogo de poder. Só o tempo dirá quem está certo”, acrescentou.

28 Ago 2017

Da revisão

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap] de repente um tipo chega ao final de um romance. A disposição que acompanha o término desse processo maratónico é, normalmente, o alívio. Erradamente, o sujeito pensa: “acabou”. Mas, na verdade, o processo mais penoso começa precisamente nesse momento.

Um dos passos mais desmotivadores – e, simultaneamente, mais profícuos – que sucedem à finalização de um romance é a releitura do mesmo. As múltiplas releituras. Um tipo começa a reler o resultado de meses ou de anos de escrita e o desalento com que embarca no processo só tem tendência a aumentar exponencialmente. Um sujeito confronta-se com sua própria ininteligibilidade, com imagens que, na altura em que foram escritas, pareciam veicular adequadamente um sentido essencial de forma sucinta e esteticamente apelativa. Na verdade, muitos dos exercícios de estilo semeados um pouco por toda a parte não sobrevivem a uma releitura. São toscos, óbvios, desenquadrados do propósito macroscópico do livro. Ao invés de simplificarem elegantemente um pensamento ou uma disposição, complicam-nos. São artifícios atrás dos quais os escritores se escondem e escondem as suas inúmeras inseguranças. São a grandiloquência estéril que se empresta à literatura na tentativa espúria de ser algo mais ou algo diferente. Felizmente, muitos deles não sobrevivem.

Depois de duas ou três releituras enjoativas como uma viagem de cacilheiro nos piores dias do Tejo e de ressaca, o livro segue para revisão na editora. E um sujeito, ingenuamente convencido de que o grosso da escória já foi devidamente joeirado, vê aterrar na caixa de correio electrónica a primeira prova de revisão, normalmente tão carregada de sugestões de mudança, correcção de gralhas e perguntas sobre o sentido de muitas das imagens sobreviventes que a vontade de publicar decresce de forma tão acentuada como a disposição de um depressivo no pico do outono. Após uns dias a fingir que não viu o mail, o sujeito atira-se ao texto e tenta responder adequadamente aos problemas que o revisor enuncia.

Na segunda ou terceira revisões, um tipo já dá por si a concordar ou a discordar de tudo. Quando inquirido sobre a formulação de uma determinada imagem, acontece-lhe explicar a coisa tal qual como a deveria ter escrito em primeira instância. Mas não lhe ocorre substituir a imagem coxa pela explicação acertada. Está demasiado embrenhado na defesa da sua primeira versão para lograr ter a lucidez necessária para mudar o que quer que seja. Na verdade, o escritor encara a revisão como um combate. De um lado, ele e o seu trabalho, de outro, alguém que está empenhado em mostra-lhe todos os defeitos que encontra naquele produto de meses ou anos de teimosia: as rugas, o crescimento desarmonioso dos membros, as múltiplas imperfeições de que se reveste o resultado de um processo desta natureza.

Quando finalmente o suplício termina, o escritor, não raramente se sente derrotado. Pela revisão, pelo tipo de fonte escolhida para o corpo do texto, pelo título menos mau sobre o qual toda a gente teve de chegar a acordo, pelo acabamento da capa, pela data de publicação, pela influência do clima mediterrânico no cultivo industrial de pinheiros nórdicos. Por tudo, na verdade.

Quando, anos mais tarde, um fotógrafo insiste em que o sujeito apareça no enquadramento com o livro sobre os braços, há todo um passado cujo escondimento resultou de muito esforço que volta à tona para assombrar um tipo. E a gente percebe, pela fotografia resultante, que alguma coisa não está bem. Toda a gente já viu fotos assim.

28 Ago 2017

Cronologias

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]embro-me desde sempre perguntar como é que o tempo altera o olhar para o que é visto. Senti sempre uma enorme dificuldade em percebê-lo, não apenas em mim, mas no exterior. Sempre tive a convicção de que o tempo altera o ponto de vista e que era por causa dessa alteração que sentia a perplexidade da mudança.

Como é que, porém, nos apercebemos da alteração no ponto de vista, pressupondo que o ponto de vista se altera com o tempo? Se recordarmos Agosto de um ano passado e compararmos com Agosto de um ano seguinte, podemos não apurar nenhuma diferença. Pode, pelo menos, não haver nenhuma diferença na realidade. É na mesma toalha que nos deitamos de costas para olhar o céu azul, é idêntica a temperatura que sentimos. O som de vozes das pessoas na praia, das ondas lá ao fundo, da cigarra, do vento, tudo é o mesmo. Porém, tudo mudou.

Em que sentido? A realidade é a mesma, com a diferença de entre Agosto de um ano passado e um Agosto de um ano seguinte haver passado anos. Houve experiências tidas. O tempo trabalha-nos do seu interior para o seu exterior. O núcleo duro do tempo não é um espaço recôndito, mínimo, mas é o trânsito, a passagem, a sequência irreversível em qualquer breve lapso de si. Amanhecer, entardecer, anoitecer, arrefecer, aquecer, chegar e partir, tudo requer tempo e não acontece sem tempo. Mas também ter uma ideia e não ter nenhuma, esquecer e lembrar, sentir e não sentir, ter uma percepção e não ter percepção, compreender e não compreender nada. Tudo é exterior e interior ao tempo. O mundo interior é tão exterior ao tempo como o mundo exterior só acontece na breve distensão do tempo que requer para poder durar.

Mas o mundo parece o mesmo. Esta perspectiva a abrir, neste sítio, com a mesma latitude e longitude, para a mesma percepção, tem o mesmo conteúdo: o céu azul de Agosto na praia. E, contudo, há mudança. Partiram pessoas e chegaram outras, aprofundou-se ou perdeu-se fundo nas relações humanas, progredimos ou regredimos no desporto, nas actividades a que nos dedicamos. Tudo é diferente.

Há menos tempo do que no ano passado. Na mesma percepção tenho a noção de tempo, embora não surja ao olhar. O mesmo sítio com menos um ano ou o mesmo sítio com um ano de diferença não é o mesmo sítio. O sítio tem a mesma localização geográfica e é em mim que vejo o mundo, mas não tem o mesmo tempo. O ano passado foi-se na enxurrada do tempo, no cataclismo do tempo que leva o instante de há pouco para um tempo irrecuperável pelo presente. O ano passado foi-se e não voltará nunca mais.

Esta noção de que um sítio tem um tempo e o mesmo sítio é diferente em tempos diferentes e que o mesmo sítio este ano e no ano passado são sítios diferentes, esta diferença, é esbatida. Não estou no ano passado e no ano passado, quando estava aqui, não estava no seu futuro passado que só agora, este ano, existe. Eu sou outro. O outro que eu era no ano passado morreu e não volta e o eu que sou agora estava ainda por nascer outrora, como a minha versão de 2018 não está presente ainda e quando estiver, agora será outrora, eu já não estarei aqui no presente como estou agora, mas serei outro no aqui e agora, que terá passado.

O tempo trabalha-nos extaticamente a partir do seu interior, um interior ao qual somos extrínsecos mas fora do qual nada existe. E tudo está continuamente a ser trabalhado entre o agora mesmo aqui que será há pouco mas já sem ser agora e não é ainda daqui a nada, sendo-o já de alguma maneira.

Lembro-me de chegar a cidades onde vivi e delas partir e regressar vezes sem conta para novas fases da vida nelas. Lembro-me de chegar a locais para férias e de os deixar como me lembro de deixar Lisboa para trás e a reencontrar no fim do Verão. A realidade pode ser sempre a mesma, os mesmos sítios, as mesmas casas e a mesma mobília. Pode não haver perceptibilidade da mudança e, mesmo que a mudança tenha ocorrido, é como se não se tivesse dado. Mas tudo muda de um instante para o outro. A vida transforma tudo, diferencia tudo de um momento para o outro e a travessia dos momentos é compreendida como boa e má, curta ou longa, por cuja passagem damos ou não damos.

Com os olhos postos nas traseiras, no lado que veremos depois de dobrada a esquina, no interior de edifícios que vemos de fora ou no seu exterior, visto de dentro, com os olhos postos sempre no instante seguinte, traga ou não novidade, seja o mesmo confirmado ou defraudado, o tempo futuro acama o presente e sustenta um passado como o mesmo ou como completamente diferente.

É quase indiferente que tudo seja fotograficamente o mesmo ou diferente. A diferença está numa dimensão invisível, anónima o mais das vezes, mas que transfigura e metamorfoseia tudo.

Quando partimos a sul, deslocamo-nos e não viajamos já. Não regressamos nunca ao passado e o que encontramos é sempre a mesma coisa, como se não tivéssemos saído do mesmo sítio onde nos encontramos.

Mas há momentos em que somos surpreendidos pelas paredes das nossas casas, nas divisões que mais habitamos, como se delas exalasse uma névoa ou uma brisa despegada da realidade concreta da cor e da sua lisura. Uma névoa temporal que forma o ambiente e a atmosfera que são os próprios elementos da percepção. Somos transportados para a infância ou a juventude, como se o tempo lá fora fosse o do calendário e o tempo cá dentro tivesse uma outra agenda, sem tempo havido, e o tempo presente é o passado, sem futuro ou então com o mesmo sentido do passado cristalizado onde um dia fomos.

Aí percebemos que tudo aí fora pode ser o mesmo. Que a vida é o clima complexo onde caímos. Assola-nos, paira sobre nós ou embrulha-nos como num sonho impermeável onde as vidas dos outros são sonhadas como as nossas. Não se sabem por quem ou pelo quê.

28 Ago 2017

Cidadão em Fúria

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]úsculos contraem-se, maxilares prendem-se, punhos apertam-se e projecto mentalmente uma adaga enterrada no lugar onde não existe remorso ou consciência. Uma fúria surda nasce-me no peito, avoluma-se como uma maré que sobe sem ter para onde ir, que conjura catástrofes vingativas dirigidas àqueles que fundaram a minha indignação. Cresce a angústia vinda de um sentido disperso de injustiça e assombro perante o mal e a ignomínia. Sinto a cólera a fazer galopar o meu coração, como um cavalo sedento de retribuição. Hasteio o alerta de raiva em sinal 10. Quero cantar-vos uma leve e irada ária, mais velha que qualquer canção. Mas não sei por onde começar, para onde e como dirigir os meus desorientados agravos.

Tenho estado preso no binómio “fuga ou luta” há demasiado tempo, optando sempre pela retirada, pela cobarde e ordeira saída de um conflito perdido por definição. Sempre que me esquivo permito que me calquem mais e mais e mais. Sou a outra face solícita para além de todos os montanhosos sermões, a vítima devota que se oferece fiel ao enxovalho. Sem pensar, por instinto, deixo que me rebaixem e me roubem dignidade. Até que a docilidade é esbofeteada para fora da minha cara dando lugar a outro tipo de semblante, os meus olhos mudam, tornam-se fulminantes.

Transformo-me na raiva de todos, na frustração superlativa de uma cidade governada por perfídia e ganância desmesurada. Sou a resposta à traição, sou a aguardada retribuição poética. Sou têmpora palpitante, pupila dilatada, a indignação dos humilhados que anseiam respeito.

Quero enlamear-vos os sapatos de pele com a inglória labuta das ruas desesperadas do Porto Interior, mostrar-vos como se sobrevive na cidade submersa e distante dos vossos dourados tronos. Mas, acima de tudo, quero mostrar-vos que somos eternos, que já cá estávamos antes de vocês darem os primeiros passos na suja escalada do poder. Aí reside a verdadeira lama. Vocês terminam mandatos enquanto nós continuamos por cá, para sempre. Somos omnipresença no vosso mundo ditado por ciclos políticos.

Que a minha voz calada se torne num eco plural. Confesso que não fazemos qualquer ideia acerca da promiscuidade dos bastidores do poder, não conhecemos o medo da possível não renovação de mandato, não sabemos o que é uma camisa de seda, ou que porra é exactamente o caviar. Sabemos o que é a escassez e alma esmagada, essas são as nossas realidades. Vivemos em dois mundos totalmente diferentes, aceitamos isso, mas exigimos respeito. Merecemos, é o nosso mais prezado direito.

Eu amo a minha terra, amo o meu país, mas não me peçam para confundir complacência cega com patriotismo e amor. Ser indiferente à destruição e agir com negligência é a antítese da paixão, a negação total do romance. Tentar comprá-la é uma ofensa capital para a qual não existe severidade suficiente.

A desconsideração a que nos votam é uma ferida que nunca sara, um traumatismo perpétuo e o fermento para o tipo de raiva que se tinge de vermelho. Quero gritar para além da capacidade da minha garganta, berrar para que venham a terreiro e se mostrem feitos de carne e osso, como nós. Merecemos muito mais que palavras vazias como “harmonia” e “felicidade”, queremos uma liderança assumida, humana, presente, que não se esconda atrás de frios comunicados e discursos formatados pelos envidados esforços dos burocratas. Exigimos concretização. Queremos que as causas sejam levadas a sério porque quem sofre com os efeitos somos nós.

Tenho estado calado, discreto, a acumular décadas de desconsideração, a fermentar a minha ira. Mas temam-me, pois eu sou uma das fúrias de Némesis, a fonte do remorso de Orestes, não me virem as costas. Estou em todo o lado. Sou o homem que vos conduz, que prepara a vossa faustosa comida, a mulher que vos engoma a roupa, o técnico que repara as imperfeições do vosso quotidiano. Sou a base da pirâmide e tenho nas mãos as fundações do edifício, sou em simultâneo alicerce e fonte de ruína. Não brinquem com a raiva dos desapossados, pois ela é mais forte e presente que qualquer passageiro tufão.

28 Ago 2017

Tufão Hato | Pedidos de apoio isentos de apresentação do registo predial

[dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]u Zilliang, presidente do conselho de administração da Fundação Macau (FM), esteve ontem reunido com associações e organismos públicos para melhor decidir a concessão de apoios a quem sofreu estragos causados pela passagem do tufão Hato.

Segundo um comunicado, quem quiser pedir subsídio para a reparação de estragos em edifícios residenciais “fica dispensado de apresentar as informações escritas do registo predial, pois a FM vai obtê-las directamente junto dos serviços públicos competentes”. Esta medida foi tomada em parceria com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça.

Wu Zilliang esteve ainda reunido com o presidente da Associação dos Engenheiros Electrotécnicos e Mecânicos de Macau, Wu Chou Kit. Ficou decidido que “as obras de consolidação provisória respeitantes às portas e janelas danificadas serão abrangidas pelo Projecto de Ajuda Especial aos prejuízos causados pela passagem do tufão”.

É ainda sugerido que “os residentes que pretendam solicitar subsídio para estas obras devem guardar os recibos de pagamento acompanhados das fotografias justificativas dos danos sofridos e das obras realizadas”.

Além disso, a FM anuncia que vai criar um “grupo de trabalho específico” e promover a participação de representantes da referida associação neste grupo, “de modo a analisar e avaliar os processos recebidos e proceder à fiscalização e para acompanhar e verificar as obras subsidiadas”.

A própria associação vai criar um “grupo de voluntários qualificados para prestar apoio aos trabalhos da FM neste âmbito”.

A associação considera que “devido ao elevado número de residências que sofreram danos é bastante difícil levar a cabo, em tempo recorde, todas as obras de recuperação integral das habitações”.

27 Ago 2017

Tufão Pakhar | Sinal 3 içado às 13h00 deverá manter-se “durante algum tempo”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau baixaram hoje o alerta de tempestade tropical para sinal 3 depois de o tufão Pakhar, o segundo em menos de uma semana, ter ‘tocado’ terra na província de Guangdong.

O sinal 8 de tempestade tropical foi substituído pelo sinal 3 pelas 13:00, quando o Pakhar se localizava a cerca de 150 quilómetros de Macau, movendo-se a uma velocidade de 25 km/h em direção a noroeste.

O sinal 3 significa que o centro da tempestade tropical movimenta-se de forma a que se façam sentir em Macau ventos entre 41 km/h e 62 km/h com rajadas de cerca de 110 km/h.

O sinal 3 vai continuar içado “por mais algum tempo”, segundo os SMG, sendo que os serviços sugerem ainda à população que evite andar na rua, pois poderão ocorrer ventos e chuvas fortes. 

O tufão Pakhar ‘tocou’ terra na cidade de Taishan em Guangdong, província adjacente a Macau, uma hora antes do previsto.

O aviso de grau amarelo de ‘Storm Surge’, o mais baixo de uma escala de 3, continua em vigor, mas os Serviços Meteorológicos e Geofísicos não descartam a possibilidade de o substituir por um grau mais elevado devido ao nível da água.

O aviso ‘Storm Surge’ de nível amarelo indica a possibilidade de que “o nível de água atinja valores inferiores a 0,5 metros acima do nível do pavimento”.

Segundo o Centro de Operações de Proteção Civil (COPC), até às 12:30 foram registados 95 incidentes na sequência da aproximação a Macau do Pakhar, incluindo 16 devido a inundações.

Em comunicado, o COPC reportou ainda quatro casos de incêndio em caixas elétricas e dois casos de corte de energia, a somar a dez ocorrências de queda de árvores e cabos elétricos e a uma de deslizamento de terras.

Um total de 140 voos cancelados

Pelo menos 140 voos foram hoje cancelados até às 06:00 em Hong Kong devido à passagem do tufão Pakhar, informou a autoridade aeroportuária da antiga colónia britânica.

Ventos fortes continuam a afetar as partidas e chegadas nas pistas do aeroporto e as condições vão continuar instáveis durante a tarde, disse a autoridade aeroportuária, citada pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

A tempestade tropical provocou quedas de árvores, de andaimes e inundações, causando o bloqueio de algumas estradas, incluindo na ilha de Hong Kong e nos Novos Territórios.

Os serviços de autocarros e de metro também foram afetados.

Tanto em Hong Kong como em Macau, os serviços meteorológicos disseram que o tufão Pakhar já tocou terra em Taishan, na província chinesa de Guangdong, e que ponderam substituir o sinal de alerta pelo número 3 ao início da tarde de hoje, quando os ventos fortes já não afetarem os dois territórios.

27 Ago 2017

Inundações voltam a Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] tufão Pakhar volta a inundar algumas zonas da cidade. De acordo com um comunicado da Polícia de Segurança Pública (PSP), as inundações são de diferentes níveis. Os locais afectados são o Terminal de autocarros das Portas do Cerco, a Rua da Missão de Fátima, a entrada da Ponte de Sai Van junto ao Bairro da Barra, o túnel da Praça do Lago Sai Van. Os estaleiros da estação do metro ligeiro na Barra também foram afectados por inundação junto da porta principal e no Silo Jai Alai.
Nas Ilhas, as águas subiram na Rotunda do Aeroporto, Estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança, Rotunda do Istmo, no troço entre a Rotunda da Central Térmica de Coloane e Avenida do Aeroporto.
Segundo o comunicado da PSP, as inundações ligeiras que se verificaram no tabuleiro inferior da Ponte Sai Van, no sentido Taipa-Macau e junto à Avenida Panorâmica do Lago Nam Vam já diminuíram. A polícia aconselha prudência e atenção aos condutores.

27 Ago 2017

Pakhar | Tufão já atingiu terra. Sinal 3 antes das 13h.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] tufão Pakhar, que hoje levou os Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau a hastear o sinal 8, já tocou terra na província chinesa de Guangdong, devendo baixar para sinal 3 antes das 13:00

“A pior parte do tufão já passou. Atingiu terra. O sinal 8 continua içado um pouco mais por medida de precaução e para deixar que o conjunto do sistema do sistema do tufão se dissipe ou entre em terra”, disse à agência Lusa a porta-voz dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, Vera Varela.

Este é o segundo tufão a atingir Macau em menos de uma semana, depois de a tempestade tropical Hato ter causado dez mortos.

A passagem, na quarta-feira, do tufão Hato, o mais forte em 50 anos a atingir a cidade, levou as autoridades a hastear o sinal máximo (10), o que não sucedia desde 1999.

A escala de alerta de tempestades tropicais é formada pelos sinais 1, 3, 8, 9 e 10. Os sinais são hasteados tendo em conta a proximidade da tempestade e a intensidade dos ventos.

“Devido à rápida movimentação durante o seu trajecto o tufão Pakhar já atingiu terra em Taishan, na província de Guangdong. Na passada hora atingiram-se ventos médios [nas pontes] na ordem dos 85 quilómetros horários e rajadas de vento de 110 quilómetros por hora”, afirmou Vera Varela.

Apesar de o tufão já ter tocado terra, “é possível que os ventos se façam sentir em Macau, por esse motivo vai-se manter o sinal número 8 içado por mais algumas horas”, adiantou.

“Agora parece tudo mais sereno. Aliás, consegue ser visível na rua que a chuva e o vento passaram”, afirmou.

27 Ago 2017

Jornalistas de Hong Kong impedidos de entrar em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] jornal South China Morning Post noticiou hoje que quatro jornalistas de Hong Kong foram impedidos de entrar em Macau, com as autoridades locais a confirmarem a proibição de entrada, mas sem esclarecer se eram os repórteres.

De acordo com o ‘site’ do diário da antiga colónia britânica, as autoridades de Macau justificaram a proibição de entrada por os jornalistas representarem uma ameaça à segurança interna.

Questionado esta tarde, o coordenador do Centro de Operações da Proteção Civil (COPC) de Macau afirmou: “Até este momento, não sei se essas pessoas são ou não jornalistas”.

Ma Io Kun sustentou que as autoridades “respeitam a liberdade de imprensa” e que apenas é proibida a entrada de quem pode representar uma ameaça. “O Governo e o pessoal militarizado respeitam imenso a liberdade de imprensa. Temos quase todos os dias conferências de imprensa”, disse.

“Em princípio, proibimos a entrada de pessoas que possam causar perigo à ordem pública e à ordem da sociedade. É de acordo com a lei que proibimos a entrada dessas pessoas”, afirmou o mesmo responsável.

De acordo com o ‘site’ do jornal, um fotógrafo do South China Morning Post (SCMP), dois do Apple Daily e outro do portal HK01 pretendiam fazer a cobertura das operações de limpeza que decorrem um pouco por todo o lado em Macau.

O fotógrafo do SCMP foi ‘barrado’ à entrada pelas autoridades por volta das 14h, indicou o jornal de Hong Kong, dando conta de que Felix Wong recebeu uma declaração escrita dos Serviços de Migração de Macau, referindo que “representa um risco para a estabilidade da segurança interna” da RAEM.

Tammy Tam, chefe de redação do SCMP, manifestou “profunda preocupação” por o fotógrafo ter sido detido pelas autoridades de Macau.

“Opomo-nos firmemente à detenção dos nossos jornalistas, que levam a cabo o seu dever de informar o público. Eles não representam nenhuma ameaça à segurança, a ninguém nem a nada”, afirmou.

O chefe de redação do Apple Daily, Ryan Law Wai-kwong, também lamentou o sucedido, apontando que a justificação dada pelas autoridades de Macau é “completamente ridícula” e que não vê de que forma pode a cobertura por parte dos ‘media’ constituir uma ameaça à segurança interna de Macau.

A interdição de entrada em Macau de políticos, ativistas ou jornalistas da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong acontece com alguma regularidade em momentos considerados potencialmente sensíveis, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos pelos próprios visados.

26 Ago 2017

Governo recebeu mais de 700 pedidos de apoio financeiro para PME

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau recebeu, até sexta-feira, mais de 700 pedidos de apoio para Pequenas e Médias Empresas (PME), depois de ter lançado dois planos para ajudar os negócios a recuperar dos estragos provocados pelo tufão Hato.

Até às 18h de sexta-feira, a Direção dos Serviços de Economia distribuiu dois mil boletins de candidatura aos apoios – um na forma de empréstimo, outro de abono – e recebeu “mais de 732 pedidos”, segundo um comunicado enviado na noite de sexta-feira.

Após a passagem do Hato, o mais forte tufão a atingir Macau em 50 anos, o Governo de Macau lançou uma linha de crédito, sem juros, para as PME afetadas até ao montante máximo de 600 mil patacas. Anunciou ainda um pacote de “Medidas de abono” paras as empresas “responderem às situações emergentes”, “de natureza pós-calamidade” com um limite máximo de 30 mil patacas.

26 Ago 2017

Bombeiros continuam trabalhos de drenagem e buscas em três auto-silos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s bombeiros de Macau continuam hoje a fazer trabalhos de drenagem e buscas em três parques de estacionamento, depois de quatro cadáveres terem sido encontrados em auto-silos, na sequência da passagem do tufão Hato.
As buscas dos bombeiros foram motivadas por cidadãos que alertaram para a possibilidade de terem ficado presas pessoas em parques de estacionamento na sequência da passagem da pior tempestade tropical dos últimos 50 anos, que causou pelo menos dez mortos e mais de duas centenas de feridos.
Numa conferência de imprensa esta tarde, o comandante do Corpo de Bombeiros, Leong Iok Sam, explicou que dos quatro parques de estacionamento onde foram efectuadas buscas, um, na avenida Almirante Lacerda, foi drenado e ninguém foi encontrado.
Há três auto-silos ainda com água, para onde as autoridades já enviaram mergulhadores, não encontrando qualquer nova vítima até ao momento. Num deles, na rua de João de Araújo, os bombeiros foram alertados para a possibilidade de mais de dez pessoas estarem presas.
“Não conseguimos encontrar qualquer pessoa. Já fomos ao piso mais inferior e não vimos ninguém”, disse Leong, explicando que, neste momento ainda há 1,5 metros de água acumulada no local. “Já fomos ver e não há ninguém lá dentro”, frisou.
Já num parque de estacionamento na zona do Fai Chi Kei há “ainda água estagnada com dois metros”. “A drenagem é incessante, os trabalhos continuam”, disse.
Por fim, no auto-silo do mercado de São Lourenço, “os mergulhadores fizeram uma primeira busca, a água já baixou mas ainda faltam dois andares de água”, indicou o comandante, acrescentando que, até ao momento, não foram encontrados quaisquer corpos no local.
Na mesma conferência de imprensa, um representante da PSP deu conta dos trabalhos de limpeza das vias, dizendo que “90 por cento das faixas de rodagem têm condições de circulação”.
“Apelamos à população para que não faça deslocações desnecessárias”, avisou, informando que cerca de 80 semáforos continuam ainda avariados.
Quanto ao lixo, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais recolheu, desde sexta-feira, 2600 toneladas, acima das 1200 consideradas normais.
“O lixo tem de ser recolhido o mais rapidamente possível por causa do novo tufão”, disse o representante presente na conferência, referindo-se à tempestade Pakhar, que deverá sentir-se com mais intensidade em Macau no domingo.
Já o chefe do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, Lam Cheong, disse que “até ao momento” não foi verificada “qualquer situação de propagação de doenças”, indicando que para evitar a proliferação de casos de febre de dengue foram realizadas acções de eliminação de mosquitos nalgumas zonas.

26 Ago 2017

Tufão Hato: Mais de 100 residentes afectados por cancelamento de voos já regressaram

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Gestão de Crises do Turismo de Macau recebeu 19 pedidos de assistência devido ao cancelamento dos voos de regresso por causa do tufão Hato, envolvendo 130 residentes, dos quais 106 já voltaram a ‘casa’.

Os restantes 24 residentes vão regressar hoje e na segunda-feira, indicou o Gabinete de Gestão de Crises do Turismo de Macau (GGCT) em comunicado, dando conta do ponto de situação relativo aos 19 pedidos de assistência recebidos até às 12:00 (05:00 em Lisboa).

Segundo o GGCT, 29 dos 38 residentes de Macau que estavam em Banguecoque (Tailândia) já regressaram, enquanto em Danang (Vietname), onde estavam 50 pessoas em excursão, 35 voltaram durante a manhã e as restantes 15 têm regresso previsto para esta noite.

Em Fukuoka (Japão) estava um grupo com 36 residentes que regressou na sexta-feira a Macau via Coreia do Sul. No mesmo dia, regressaram também seis residentes procedentes de Kaohsiung (Taiwan).

“O GGCT continuará a seguir de perto a situação dos residentes de Macau que se encontram impossibilitados de regressar do exterior”, sublinhou.

No mesmo comunicado, o GGCT informou ainda ter contactado a família do turista do interior da China que morreu num acidente de viação durante o tufão em Macau e que “irá prestar assistência adequada, tomando em consideração o desejo dos familiares”.

26 Ago 2017

Tufão Hato: Autoridades não encontraram novos corpos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] pessoal do Corpo de Bombeiros e Serviços de Alfândega anunciaram que não foram encontrados corpos no parque de estacionamento do edifício Classic Bay. Os trabalhos de drenagem e buscas foram concluídos esta tarde, por volta das 14h10.
Foram também feitas buscas no parque de estacionamento do mercado de São Lourenço, depois do Corpo de Bombeiros ter recebido “informações a relatar suspeitas de pessoas encurraladas” no local.
“Foi dada resposta imediata com pessoal e viaturas de socorro. Contactado o porteiro de serviço no dia do tufão referiu não haver pessoas encurraladas no mesmo auto-silo”, lê-se em comunicado. As acções de busca, no entanto, continuam, sendo que as autoridades prometem divulgar novos dados “o mais breve possível”.

26 Ago 2017