Transportes | Circulação na travessia até Hong Kong vai ser condicionada

Raimundo Rosário confirma que circulação na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vai ser só para viaturas escolhidas pelas autoridades e avisa que custos com as carruagens do metro vão continuar a aumentar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas frisou ontem que a circulação na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau vai ser feita por quotas e que os cidadãos estarão sujeitos às mesmas. Raimundo do Rosário explicou que vão ser atribuídas quotas para as regiões, que serão distribuídas por veículos das três regiões e que só essas viaturas poderão circular no tabuleiro.

“A circulação na ponte não é livre. Se o senhor quiser pegar no seu carro e circular na ponte, não pode. Vai haver quotas para todos. Para autocarros, com dois tipos os ‘shuttles bus’, que fazem a ligação entre as fronteiras, outros que circulam de Macau para Hong Kong, depois haverá quotas para viaturas oficiais, para viaturas de todos os géneros. Ainda estamos todos a conversar sobre essa matéria”, disse Raimundo do Rosário, à margem das celebrações no 18.º Aniversário da Transferência da Soberania.

“Se o senhor conseguir uma autorização das quota de Macau, pode circular. Haverá um número de carros e um sistema para saber quem vai ser autorizado a circular”, acrescentou. “Se conseguir ter um lugar nessa quota, anda. Se não conseguir, não anda”, frisou.

Por outro lado, o secretário para os Transportes e Obras Públicas vincou que este se trata de um projecto tripartido entre as regiões de Zhuhai, Hong Kong e Macau e que há um gabinete específico para lidar das questões. É através desse gabinete que serão divulgadas as informações sobre o projecto e as condições de utilização.

De acordo com um comunicado divulgado pelo Gabinete de Comunicação Social do Governo, as quotas para a circulação de autocarros já estão estabelecidas. “As duas regiões administrativas especiais chegaram, em matéria de autocarros, a um consenso sobre a existência de um total de 50 quotas para ambos os territórios, numa proporção diária de 34 para Hong Kong e 16 para Macau”, lês-se.

Metro mais caro

Outro dos aspectos abordados à margem da cerimónia prendeu-se com o preço que o Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) vai pagar para que sejam filmados os trabalhos do metro ligeiro. No âmbito do contrato celebrado, o Governo comprometeu-se a pagar quase 5,5 milhões de patacas à Salon Multimédia pelo serviço.

“Em relação às despesas do GIT fizemos um concurso público e depois houve duas empresas, uma que propôs o preço de 5 milhões e outra que sugeriu mais de 5 milhões. Na avaliação das propostas considerámos também o número e qualificação do pessoal, o plano da empresa e esses são os pontos de consideração. Depois avaliámos o resultado e foi a empresa com o preço mais caro que foi escolhida”, assumiu Ho Cheong Kei, director do GIT.

Uma posição reforçada igualmente pelo secretário da tutela: “São os planos que recebemos durante o concurso público. Não fizemos nada às escondidas, fizemos com base no concurso público, recebemos propostas e tivemos de tomar decisões”, afirmou.

Confrontado com a eventual falta de qualidade das imagens recolhidas, Rosário deixou um aviso: “Sobre a qualidade, temos uma Comissão de Avaliação para tomar decisões”, apontou.

Finalmente Raimundo do Rosário admitiu que o valor gasto com o metro vai continuar a aumentar, devido ao contrato da entrega das carruagens porque ainda faltam realizar os trabalhos da Linha de Macau.

“Não posso garantir que o contrato não vai ser actualizado outra vez, porque agora estamos a fazer a Linha da Taipa e no futuro vamos fazer a Linha de Macau. Esse contrato é para continuar porque está relacionado com as carruagens e o abastecimento das carruagens. Até abrirmos as linhas isso vai continuar a aumentar”, explicou.

Na segunda-feira, foi anunciado que o contrato com a Mitsubishi Heavy Industries tinha aumenta mais 30 milhões de patacas, cifrando-se em 5 mil milhões 388 milhões de patacas. Em seis anos o valor aumentou 700 milhões.

26 Dez 2017

Funcionários Públicos | Revisão do sistema de avaliação para garantir igualdade

Secretária para a Administração e Justiça espera que a reforma do sistema de avaliação crie oportunidade mais iguais de promoção na Função Pública e acabe com “cunhas”. Sobre a reforma jurídica, recusou dar como certo criação de sistema de recurso para os titulares de altos cargos públicos

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça afirmou ontem que a revisão do sistema de avaliação dos funcionários públicos vai permitir criar maior justiça em termos das promoções. Por outro lado, Sónia Chan, defendeu que a revisão vai permitir combater o fenómeno da promoção por “cunha”.

“Com a revisão do sistema de avaliação temos de criar critérios mais objectivos que nos permitam evitar essas situações da promoção de familiares e amigos de dirigentes. Queremos a ajudar dos funcionários públicos e da população e é por isso que estamos a fazer uma consulta pública sobre o tópico”, disse Sónia Chan, ontem à margem da celebrações do 18.º Aniversário da criação da RAEM.

A secretária que agora tem como missão combater o fenómeno das cunhas na Administração Pública, foi apanhada num caso do género, durante o julgamento de Ho Chio Meng. Na altura, o ex-Procurador revelou que Sónia Chan, que desempenhava a posição de coordenadora do Gabinete para Protecção de Dados Pessoais, lhe tinha ligado a pedir um emprego para a irmã, que acabaria por ser contratada.

Quotas de avaliação

Ainda em relação ao mecanismo de avaliação, Sónia Chan espera que sejam criados critérios mais rigorosos e admite a possibilidade de haver quotas para o número de funcionários que pode ser avaliado com as notas mais altas, nomeadamente com o número quatro e cinco. Um exemplo inspirado no sistema de avaliação em Portugal.

“Em 2016, segundo a estatística dos Serviços de Administração e Função Pública, mais de 90 por cento dos funcionários foram avaliados com nota quatro ou superior. Não sei se população concorda, mas não acho que seja uma proporção muito normal”, defendeu.

Segundo Sónia Chan, o normal é os funcionários serem avaliados com três, que corresponde ao cumprimento das expectativas normais. O valor quatro é para ser aplicado em casos de um desempenho “muito bom” e o cinco para desempenhos “excelentes”.

“Se 90 por cento dos avaliados têm quatro ou cinco, até os funcionários públicos questionam o sistema. Queremos estabelecer uma quota de 60 por cento, ou talvez 70 por cento. É a nossa proposta. Este é uma sistema que também é utilizado em Portugal”, explicou a responsável pela tutela.

Já o cenário dos trabalhadores avaliarem as próprias chefias foi afastado por Sónia Chan, pelo menos nesta fase.

Recurso? Talvez não

Actualmente, o direito ao recurso de uma decisão dos tribunais para titulares de altos cargos públicos não é respeitado em Macau. Os titulares são julgados em primeira instância pelo Tribunal de Última Instância, fazendo que não haja uma entidade para onde recorrer. No entanto, Sónia Chan não garante que a revisão da Lei de Bases da Organização Judiciária resolva o problema.

“Ainda estamos em fase de consulta pública e não temos uma decisão final. Em termos do recurso é uma questão que vai ser ponderada durante a revisão”, afirmou Sónia Chan, quando questionada sobre o assunto, sem se querer comprometer com alterações nesta área.

Ao mesmo tempo afirmou que não está definido um amento do número de juízes nos tribunais da RAM.

Pearl Horizon

Na terça-feira, o Governo revelou já ter um plano para resolver a situação do empreendimento Pearl Horizon, assim que for conhecida a decisão sobre o diferendo, que está no Tribunal de Última Instância, entre Executivo e a companhia Polytec. No entanto, até esse momento o plano não será conhecido.

Ontem, Sónia Chan garantiu que a solução encontrada respeita a Lei de Terras: “É natural que o Governo faça alguns contactos mas tudo será realizado com base na Lei de Terras. Não haverá negociações por debaixo da mesa”, explicou sobre este capítulo.

O Pearl Horizon é um empreendimento que ficou por construir, apesar das fracções terem sido vendidas. Em causa está o facto da concessão ter expirado e o Governo ter recuperado o terreno, como definido da Lei de Terras, sem que a empresa Polytec acabasse a obra. O tribunal tem de decidir de quem foi a culpa dos atrasos.

26 Dez 2017

A RAEM de hoje, por quatro personalidades: “Ainda não vivemos tão bem como há 18 anos”

Paul Pun, secretário-geral da Caritas, Jorge Fão e Francisco Manhão, dirigentes da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, e Vong Kok Seng, da Associação Comercial de Macau, fizeram a radiografia da RAEM no dia em que esta comemorou 18 anos. Da liberdade de expressão às condições sociais e laborais, aqui ficam as suas ideias

  

Paul Pun, secretário-geral da Caritas
“A sociedade tem permissão para falar livremente, mas não está a usufruir da oportunidade” 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral da Caritas, Paul Pun, foi uma das personalidades que assistiu ontem ao discurso do Chefe do Executivo sobre os 18 anos da RAEM. À margem da cerimónia, um dos rostos da solidariedade social no território, e ex-candidato às eleições para a Assembleia Legislativa, lembrou que devemos preservar a liberdade de expressão, um direito contido na Lei Básica.

“A sociedade tem de tirar partido das oportunidades advindas da política ‘Um País, Dois Sistemas’, deveríamos preservar a liberdade de expressão e de diálogo. Agora temos de fazer com que os cidadãos tenham uma forma de se expressar, a sociedade tem permissão para falar livremente mas não está a usufruir da oportunidade de poder dizer sim ou não.”

Na visão de Paul Pun, as pessoas têm liberdade para dizer o que pensam, mas não o fazem. “O sistema permite-nos dizer sim ou não, mas as pessoas, muitas vezes, não dizem não. Às vezes eu digo sim, outras vezes digo não. Temos de fazer com que os jovens possam aproveitar esta oportunidade. Quando dizemos não, não nos referimos a alguém em especial, ou ao Governo, simplesmente temos uma opinião diferente ou não concordamos com uma sugestão. As diferentes opiniões têm de ser respeitadas e mantidas no futuro. Isso tem de melhorar.”

O secretário-geral da Caritas considera que o sistema democrático tem de melhorar mas não apenas no sistema político, com a introdução da eleição directa para o cargo de Chefe do Executivo.

“Falo de todo o sistema em Macau. Temos de formar os jovens sobre a forma como escolhemos as pessoas, como votamos ou como apresentamos as ideias para escolhermos os nossos representantes, nas escolas, nas associações, nas empresas. Muitas vezes, na sociedade, não há muitas pessoas que se queiram sentar mais à frente. Eu às vezes sento-me cá atrás, outras vezes sento-me lá à frente”, exemplificou.

“Ainda não vivemos bem”

No ano em que atinge a idade adulta, a RAEM ainda tem muito a melhorar no que diz respeito à igualdade de acesso a bons salários e a boas condições de vida, salientou Paul Pun.

“Uma das coisas que temos de melhorar é o facto de termos de olhar, de forma profunda, para os nossos próprios problemas. Ainda não conseguimos viver tão bem como há 18 anos. As pessoas deveriam ter uma vida melhor, com melhores salários e com melhores resultados. Estes não são tão bons como deveriam.”

Ainda assim, Paul Pun destaca a construção de mais habitação pública e de mais infra-estruturas sociais. “O Governo não tem apenas recursos financeiros mas existem mais infra-estruturas e instalações, com mais instituições para responder às necessidades das pessoas. Há mais lugares para dar formação aos mais jovens. Há mais casas a serem construídas para os cidadãos que não têm casa, sobretudo nos últimos três anos.”

 

Jorge Fão, dirigente da APOMAC
“Ainda falta [à RAEM ser mais crescida]”

Jorge Fão, ex-deputado à Assembleia Legislativa e dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) considera que a RAEM precisa de mais para se desenvolver, tendo dado como exemplos a criação de Singapura e Malásia.

Jorge Fão

“Estamos no bom caminho, temos uma população muito harmoniosa, temos os portugueses aqui, e ainda bem que temos. Somos muito bem tratados”, defendeu ao HM.

Para Jorge Fão, o Executivo deve desenvolver as políticas na área do trânsito e habitação para que o território possa ser mais adulto.

“Todos temos o desejo de ver o trânsito melhorar, porque está caótico, a questão da saúde que está a melhorar um bocado, mas podíamos dar mais um passo gigantesco com um novo hospital. Não sabemos se existe ou não o projecto, porque umas vezes dizem que existe, outras dizem que não existe. Espero que o hospital seja construído o mais depressa possível.”

Além disso, “o Governo deve dar mais atenção à terceira classe, que necessita de apoio, os mais carenciados”.

Questionado sobre a pouca qualidade dos dirigentes, um dos temas mais debatidos pela sociedade nos últimos tempos, Jorge Fão desvalorizou.

“Desconhecendo o que se está a passar por detrás daquilo que originou certas decisões, acho que seria leviano da minha parte dizer que se decidiu mal ou bem. De um modo geral [os governantes] estão a comportar-se bem. O Governo tem uma boa equipa, até o Chefe do Executivo parece que está com uma melhor saúde. Ele está a esforçar-se para gerir um território que não é fácil de gerir, apesar de pequeno, é muito complexo”, concluiu.

A casa a quem a merece

Já Francisco Manhão, presidente da APOMAC, lembrou que é necessário destinar a habitação pública apenas aos naturais de Macau.

“Ao longo dos anos temos vindo a pedir que a habitação pública deveria proteger os naturais de Macau com residência permanente, o que não se tem verificado. Já fizemos muitas sugestões e propostas e ainda não vimos algo de diferente daquilo que se tem vindo a passar.”

Além disso, “a lista de candidaturas deveria ter um prazo, e um só concurso deveria ser destinado a um edifício [de habitação pública], ao invés de se ter uma lista definitiva com 40 mil pessoas. No futuro, um jovem que se queira candidatar, imagine-se em que lugar ele fica? E quanto tempo vai conseguir uma habitação”, concluiu.

  

Vong Kok Seng, vice-presidente da Associação Comercial de Macau
“Governo deve rever toda a lei laboral”

Foi um dos agraciados com uma medalha de prata pelo Governo e esteve ontem presente na cerimónia dos 18 anos da RAEM. Vong Kok Seng é vice-presidente da direcção da Associação Comercial de Macau (ACM) e representa o patronato no Conselho Permanente de Concertação Social. Ao HM, defendeu que o Governo deve rever a lei das relações laborais por inteiro, em prol de uma maior flexibilidade de horários de trabalho e salários.

GCS

“Trata-se de um assunto muito controverso”, começou por dizer, à margem da cerimónia. “Agora o Governo está a propor uma revisão parcial da lei laboral, há várias questões e o Governo deveria considerar rever todo o diploma, para permitir uma maior flexibilidade e mais espaço para que patrões e empregados tenham mais condições.”

A flexibilidade serviria “para permitir uma maior operacionalização”. “Temos de criar um sistema que permita que as relações laborais sejam livres e operacionais o suficiente. Não é suficiente definir uma regra restrita que diga às pessoas o que devem fazer. Regras restritas não vão permitir que todos os negócios possam participar da mesma forma e não abrangem todos os tipos de relações laborais.”

Vong Kok Seng lembrou que, actualmente, a economia local depende cerca de 95 por cento da indústria do jogo e do sector dos bens e serviços. “Temos de ter uma forte flexibilidade ao nível das horas de trabalho, atitude perante o trabalho e a forma de cálculo da remuneração. Tudo para garantir que se tem pessoas suficientes para trabalhar e que o fazem com a atitude certa.”

Pessoas mais felizes

Questionado sobre a qualidade dos actuais governantes, Vong Kok Seng disse compreender aqueles que criticam o Governo de Chui Sai On. “As pessoas não estão erradas ao esperar um Governo ainda melhor. Isso é natural, mas não significa que não estão felizes. Não há uma razão para pensar que o Governo não é da forma que quer ser.”

O vice-presidente da ACM garante que a população de Macau é feliz. “No geral as pessoas olham para as estatísticas e os objectivos atingidos. Pergunte às pessoas na rua, penso que, de uma forma geral, elas estão felizes. Não temos, no mundo, um lugar como Macau com uma rede de serviços sociais tão abrangente e funcional. Não há razões de queixa.”

“As pessoas em Macau estão, na generalidade, felizes com o Governo e com as realizações na área da segurança social, economia, oportunidade de negócio e emprego. Penso que as pessoas devem estar mais felizes do que estavam no período anterior à transferência de soberania. Ao longo destes 18 anos vimos um progresso e várias melhorias”, acrescentou ainda.

26 Dez 2017

É ” impossível” calar vozes da oposição, afirma Chui Sai On

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, afirmou ontem “ser impossível” calar as vozes da oposição, numa referência ao caso do deputado pró-democracia Sulu Sou, cujo mandato foi suspenso para ser julgado por desobediência qualificada.

Chui Sai On falava aos jornalistas antes do início da cerimónia comemorativa do 18.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a 20 de dezembro de 1999.

Perante a pergunta se “o julgamento de Sulu Sou é uma forma de calar a oposição”, o chefe do Governo respondeu: “É impossível calar as vozes opostas. Mas também é para o bem de Macau haver opiniões diferentes”.

O responsável acrescentou ser “natural que numa sociedade em desenvolvimento existam vozes diferentes”, escusando-se a comentar o caso de Sulu Sou quando está em curso um processo judicial.

“Não tenho problemas com vozes da oposição, como podem ver pelos últimos 18 anos. Aceito e respeito os diferentes canais de opinião. É normal. Como Governo esperamos apenas poder corresponder às expectativas da população”, disse.

No início deste mês, a Assembleia Legislativa aprovou a suspensão do mandato do mais jovem deputado de Macau, permitindo que avançasse o processo judicial por desobediência qualificada, na sequência de uma manifestação realizada em maio de 2016.

Segundo as autoridades, os manifestantes não cumpriram o percurso autorizado, “ocuparam ilegalmente as vias públicas” e recusaram responder à ordem de dispersão, durante um protesto contra a atribuição, por parte da Fundação Macau, de um subsídio de 100 milhões de reminbis à Universidade de Jinan, na China.

Mais de 3.000 pessoas, segundo os organizadores, e 1.100, de acordo com a polícia, saíram então à rua para pedir a demissão do líder do Governo.

Sulu Sou, de 26 anos, foi eleito deputado nas eleições de Setembro passado através de uma lista afiliada da maior associação pró-democracia do território, a Novo Macau.

26 Dez 2017

Chefe do Executivo desvaloriza queda de popularidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] popularidade de Chui Sai On é a mais baixa desde 2009, indicam os resultados de um inquérito realizado pela Universidade de Hong Kong, mas o Chefe do Executivo não considera que se tratem de conclusões relevantes.

Em declarações aos jornalistas, à margem da cerimónia de comemoração do 18ª aniversário da RAEM, o Chefe do Executivo defendeu que independente de uma alta ou baixa popularidade, há sempre espaço para melhorar. “Há sempre altos e baixos. Desde o estabelecimento da RAEM tenho constatado bastantes inquéritos, em diferentes fases, sobre o trabalho do Governo e quer a popularidade seja baixa ou alta é sempre preciso trabalhar para melhorar”, referiu.

Por outro lado, para o Chefe do Executivo, o facto de o inquérito ter sido efectuado depois da passagem do tufão Hato, pode justificar a descida. “O inquérito foi realizado depois do tufão Hato, um tufão como nós nunca tivemos em 50 anos. Agora vamos tentar melhorar e prepararmo-nos a médio e longo prazo. O mais importante é trabalhar na prevenção e resposta a estas calamidades”, apontou.

O inquérito teve lugar no final do mês de Setembro e os resultados mostram que, em 2017, os índices de popularidade de Chui Sai On caíram 11,2 por cento , para 49,5 se comparados com o valor de 2016, em que tinha 60,7.

Também em queda está a popularidade do Governo local que desceu 19 pontos, para 25 por cento, refere o mesmo estudo. A confianças da população no Governo regista também os níveis mais baixos desde 1999.

Os valores relativos à confiança no Governo Central, por seu lado, não apresentam grandes alterações. Os níveis de confiança permanecem nos 50 pontos, valor idêntico ao do ano passado.

26 Dez 2017

Chui Sai On | “Um país, dois sistemas”, uma política privilegiada para Macau

As vantagens da política “um país, dois sistemas” para o território, marcaram o discurso do Chefe do Executivo, na cerimónia de comemoração do 18º aniversário da transferência de administração de Macau. Integração regional, amor à pátria e concretização do território como um centro e uma plataforma foram também destacados por Chui Sai On

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s discurso comemorativo dos 18 anos da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), proferido pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, foi marcado pelas vantagens da posição do território enquanto segundo sistema de um “grande país”.

Depois de ter sublinhado os 18 anos vividos sob a política orientadora “um país, dois sistemas”, Chui Sai On salientou a importância desta directriz para o presente e futuro do território. “A experiência destes últimos dezoito anos desde o retorno de Macau à Pátria diz-nos claramente que, para assegurar a prosperidade e a estabilidade a longo prazo de Macau, é fundamental que estejamos firmemente confiantes no princípio ‘Um País, Dois Sistemas'”, referiu o Chefe do Executivo na cerimónia comemorativa dos 18 anos e transferência de administração do território.

Por outro lado, o Chui Sai On considera que esta política é fundamental para “assegurar a prosperidade e a estabilidade a longo prazo” da RAEM.

De modo a reforçar a importância do primeiro sistema o Chefe do Executivo fez questão de recordar o empenho do próprio presidente da China, Xi Jinping, em incluir no sistema de governação nacional o princípio de “um país, dois sistemas” em que são consideradas as regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong. “No relatório apresentado ao 19.o Congresso Nacional do Partido Comunista da China, o Secretário-geral Xi Jinping determinou a nova missão e a nova estratégia da entrada do socialismo com características chinesas numa nova época, tendo Hong Kong, Macau e o princípio “um país, dois sistemas” sido incluídos no sistema de governação nacional”, disse Chui Sai On, sem esquecer que “foi, ainda, evidenciado o apoio à integração de Macau no desenvolvimento geral do País, indicador claro da direcção do desenvolvimento futuro de Macau”.

Tendo em mente a integração regional e os projectos que decorrem actualmente, o Chefe do Executivo não deixou de mencionar a importância das políticas “Uma faixa, uma rota”, e a Grande Baía de Guandong, Macau Hong Kong, como um momento de oportunidade para o desenvolvimento do território. “O Governo irá empenhar todos os esforços na implementação articulada do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM com o planeamento geral do País e aproveitar devida e plenamente as políticas benéficas concedidas a Macau pelo País. Irá, ainda, articular estreitamente o posicionamento de Macau e as suas vantagens singulares” referiu o governante relativamente às vantagens do território na construção destes dois grandes projectos nacionais.

Localmente, o desenvolvimento económico, a diversificação e a promoção de medidas que desenvolvam o turismo e o jogo foram também pontos de destaque do discurso do Chefe do Executivo no 18º aniversário da RAEM.

Um Centro para tudo

No que respeita ao desenvolvimento de Macau enquanto “um centro, uma plataforma”, Chui Sai On deixou uma promessa: “acelerar a construção de “um centro, uma plataforma” e continuar a promover o progresso concreto do desenvolvimento adequado e diversificado da economia”, começou para dizer. Para o efeito, “impulsionar-se-á o desenvolvimento dos sectores do turismo e do jogo”, tendo em conta uma maior aposta em actividades de não jogo.

De acordo com Chui Sai On, só desta forma é que Macau poderá concretizar-se como Centro Mundial e Turismo e Lazer, objectivo que será atingido “enriquecendo os produtos turísticos e expandindo o mercado turístico”, disse o Chefe do Executivo.

A ligação com os países de língua portuguesa foi ainda destacada, não esquecendo o interesse de Pequim. “Iremos aprofundar a implementação das medidas de apoio à construção de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, concedidas pelo Governo Central”, disse. Chui Sai On referiu ainda que serão inovados “os métodos para o desenvolvimento das diversas indústrias emergentes, designadamente a indústria de convenções e exposições, as indústrias culturais e criativas, o sector da medicina chinesa tradicional e as actividades financeiras com características próprias, permitindo assim uma articulação estreita e um desenvolvimento interactivo entre a construção de «Um Centro» e a diversificação adequada da economia”.

Amor e talento

Nos aspectos sociais, os jovens parecem ser a prioridade em vários sentidos. Por um lado Chui Sai On salientou a importância da promoção da formação identitária nacional dos mais novos sublinhando a importância da educação o para o amor à Pátria. De acordo com o governante, Macau vai continuar a “promover a intensificação dos trabalhos de apoio à juventude, que privilegiam, prioritariamente, o reforço da educação sobre o amor pela Pátria e por Macau, com vista a elevar a consciência nacional e a reforçar a identidade nacional dos jovens”.

Por outro lado, as políticas dirigidas ao jovens têm como finalidade a formação de talentos e a criação e oportunidades. Desta forma, Chui Sai On destacou o lançamento de “projectos prioritários de serviços vocacionados para a juventude, o apoio aos jovens na inovação, na criação de negócios e no emprego, e incentivá-los a tirar partido das oportunidades que forem surgindo no processo da nossa participação no desenvolvimento do País e da Região, em prol do crescimento, do desenvolvimento e do sucesso das novas gerações.

O discurso do Chefe do Executivo terminou com a promessa de que o território vai continuar empenhado “em reunir sabedoria e esforços para a construção conjunta de Macau, contribuindo para a promoção e a implementação contínua do grandioso princípio “um país, dois sistemas” e para a materialização do sonho chinês do grande renascimento da Nação Chinesa”.

Convidados ilustres

O evento de ontem contou com a presença do vice-presidente da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, Edmund Ho, do director do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM, Zheng Xiaosong, do Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM, Ye Dabo, do comissário político da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, coronel Zhou Wgang, do presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, do presidente do Tribunal de Última Instância, Sam Hou Fai, além de membros do Conselho Executivo, deputados da Assembleia Legislativa, responsáveis dos serviços públicos, representantes de Macau na Assembleia Popular Nacional e na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e outras personalidades dos diversos quadrantes da sociedade, num total de 700 convidados.

A cerimónia do içar de bandeiras, teve lugar na Praça de Flor de Lótus, e contou com a presença de cerca de 350 dirigentes entre Governo e convidados.

26 Dez 2017

Pequim pede a Washington para abandonar “mentalidade” da Guerra Fria

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] discurso xenófobo de Donald Trump motivou uma resposta da China, do tipo “acordem, o mundo agora é outro”. Contudo, os EUA parecem decididos a acabar com a influência do Ocidente no planeta.

A República Popular da China pediu ontem aos Estados Unidos para abandonar a “mentalidade da Guerra Fria” e tratar das divergências de forma construtiva respondendo ao presidente norte-americano que considerou o país como “rival” e “concorrente estratégico”.

“Pedimos aos Estados Unidos que deixe de distorcer os interesses estratégicos da China e abandone o ‘jogo de soma zero’ e a mentalidade da Guerra Fria”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Hua Chunying, numa conferência de imprensa na capital chinesa.

Hua insistiu no ponto de vista de Pequim de que a “cooperação de mútuo benefício é a única cooperação viável” para os dois países tendo pedido a “adopção de uma via construtiva” capaz de resolver as “diferenças”.

Pequim reagia assim à nova estratégia de segurança do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentada nas últimas horas em que Washington aponta a China e a Rússia como concorrentes a nível estratégico. Num discurso em Washington, Trump apontou os dois países como “poderosos rivais” que podem eventualmente constituir potenciais ameaças para os Estados Unidos.

Hua sublinhou que a China mantém um caminho de “desenvolvimento pacífico” através da cooperação cada vez maior com os outros países apoiando, cada vez mais, as Nações Unidas. “A China contribuiu e protege a ordem internacional” com uma diplomacia que é “bem acolhida em todo o mundo”, disse também o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Sendo assim, sublinhou, “é inútil que qualquer país venha distorcer os factos para desacreditar a China” e insistiu que “ninguém deve ter ilusões” sobre a República Popular da China em questões de defesa da soberania e interesses estratégicos.

20 Dez 2017

2017 : Banco Mundial prevê crescimento económico de 6,8%

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Banco Mundial elevou em uma décima a sua previsão de crescimento económico da China em 2017 para 6,8%, segundo um relatório divulgado ontem. O Banco Mundial mantém, no entanto, as suas perspectivas para os próximos dois anos relativamente à segunda potência mundial, com diminuições do crescimento em 2018 (6,4%) e em 2019 (6,3%) à medida que vão sendo aplicadas medidas restritivas do Governo chinês para reduzir riscos e aprofundar reformas.

O documento destaca que a recuperação do comércio mundial foi um factor importante na manutenção da actividade económica chinesa durante este ano. Outros fatores positivos foram a continuidade das reformas para reduzir a alavancagem, o aumento da confiança das empresas, a criação de emprego, a estabilização das saídas de capital e a valorização do yuan face ao dólar norte-americano.

“As autoridades empreenderam um conjunto de medidas políticas e reguladoras destinadas a reduzir os desequilíbrios macroeconómicos e limitar os riscos financeiros sem um impacto significativo no crescimento”, destacou John Litwack, economista-chefe do Banco Mundial para a China, citado pela agência de notícias espanhola Efe.

O relatório recorda que Pequim colocou em marcha, desde 2016, importantes medidas para reduzir a alavancagem da economia, como uma política monetária mais restritiva e uma série de normas para reduzir os riscos financeiros, o que se traduziu numa descida do aumento do crédito.

Essas medidas restritivas, a par com a continuidade das reformas do Governo, fazem com que o Banco Mundial preveja um abrandamento do crescimento económico nos próximos dois anos.

A política monetária prudente, uma regulação mais rigorosa do sector financeiro, a continuidade do esforço do Governo central para reestruturar a economia e controlar a alavancagem vão contribuir, previsivelmente, para essa moderação do crescimento, indica o documento.

Para Elitza Mineva, co-autora do relatório do Banco Mundial, “as condições económicas favoráveis fazem com que seja um momento especialmente oportuno para reduzir ainda mais as vulnerabilidades macroeconómicas e procurar um desenvolvimento de melhor qualidade, mais eficiente e sustentável”.

20 Dez 2017

Mafra minha

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s maiores carrilhões do séc. XVIII existentes no mundo são portugueses e vão ser recuperados.

Fez no dia 17 de Novembro 300 anos que foi lançada a primeira pedra do Palácio Real de Mafra, uma obra maior do Barroco, em Portugal e na Europa, e o mais importante monumento representante deste estilo em Portugal, nomeadamente do barroco joanino, mandado construir pelo Rei D. João V “o Magnânimo” (1689-1750). Edificado em pedra lioz da região, o edifício colossal ocupa uma área de perto de quatro hectares (37.790 m2), compreendendo 1200 divisões, mais de 4700 portas e janelas, 156 escadarias e 29 pátios e saguões. A sua construção empregou 52 mil trabalhadores.

O monumento é uma referência do pensamento urbanístico, arquitectónico e natural da civilização ocidental, quer enquanto unidade, congregando um paço real, uma basílica, um convento, um hospital monástico, um jardim e uma tapada, quer devido aos seus equipamentos de prestígio, entre os quais se conta uma das mais notáveis e ricas bibliotecas europeias do século XVIII, abrangendo todas as áreas de estudo; a mais importante colecção de escultura barroca em Portugal e fora de Itália, da autoria de mestres italianos e portugueses da época; dois carrilhões – o maior conjunto sineiro do mundo – com 119 sinos afinados musicalmente entre si (divididos em sinos de horas, litúrgicos e de carrilhão), encomendados na Flandres a dois fundidores de sinos diferentes e pesando o maior 12 toneladas, num total de 217 toneladas, que constituem – a par do único conjunto conhecido de seis órgãos de tubos concebidos para utilização simultânea, instalado na basílica, encomendados por D. João VI no final do séc. XVIII para substituir os primitivos que estavam degradados, e da biblioteca – o património mais importante do palácio. O carrilhão da torre norte nunca foi alterado e constitui, por conseguinte, um exemplo raro do som de sinos no seu estado original de afinação.

Um carrilhão é um instrumento musical de percussão formado por um teclado e por um conjunto de sinos de tamanhos variados, controlados pelo teclado. Os carrilhões são normalmente alojados em torres de igrejas ou conventos e são um dos maiores instrumentos do mundo. Os carrilhões de Mafra são instrumentos musicais notáveis, cobrindo cada um deles uma amplitude de quatro oitavas e sendo, por isso, considerados carrilhões de concerto. Foram executados por dois fundidores de sinos dos Países Baixos: Willem Witlockx, um dos mais respeitados fundidores de sinos em Antuérpia e Nicolas Levache, um fundidor de Liége responsável por diversos carrilhões e que deixou efectivamente em Portugal uma tradição de fundição que perdurou por mais de um século após a conclusão do trabalho em Mafra. Este património único inclui também o maior conjunto conhecido de sistemas de relógios e de cilindros de melodia automática, possuindo ambas as torres de Mafra mecanismos automáticos de toque. Este é um marco mundial para o estudo, quer da música automática, quer da relojoaria. Estes complexos engenhos são capazes de tocar de modo intermutável de entre cerca de dezasseis diferentes e complexas peças de música, em qualquer momento. Os cilindros melódicos de Mafra foram executados pelo famoso relojoeiro de Liège da primeira metade do século XVIII, Gilles de Beefe.

Desde Maio de 2014 que os carrilhões e sinos do Palácio Nacional de Mafra, que, no seu conjunto, constituem o maior carrilhão do século XVIII sobrevivente na Europa e um conjunto histórico de valor patrimonial único no mundo, figuram entre os sete monumentos mais ameaçados do continente europeu, uma atribuição do principal movimento de cidadãos europeus para a protecção do património cultural e natural europeu, Europa Nostra, liderada pelo tenor e maestro Plácido Domingo, com o apoio do Banco Europeu de Investimento, que veio alertar para a urgência das obras e mobilizar entidades públicas e privadas a nível nacional e internacional, para se encontrar o financiamento necessário para uma rápida intervenção.

Em Outubro de 2014, especialistas internacionais ligados ao restauro de monumentos e à organização Europa Nostra deslocaram-se a Mafra para conhecerem o estado de degradação daquele conjunto, tendo alertado na ocasião para a urgência de uma intervenção, não só porque os sinos estão seguros por andaimes, como também para impedir que algum possa cair, dada a deterioração visível das estruturas de apoio. Embora tenha sido levado a cabo um trabalho contínuo de emergência de estabilização das estruturas, são necessários peritos transnacionais e apoio financeiro para salvar estas jóias do património tangível e intangível. A recuperação dos carrilhões merece especial consideração científica, tratando-se de sinos que devem ser tratados com cuidadosos métodos de restauro. A afinação deve ser não-destrutiva e cumprir critérios científicos nas áreas da acústica musical e da musicologia.

O governo português reconheceu, na altura, que os carrilhões e as torres sineiras do Palácio Nacional de Mafra constituem um conjunto histórico de valor patrimonial único no Mundo, pelo que esta intervenção se reveste da maior importância, contribuindo para a notoriedade deste conjunto monumental, para a salvaguarda do património cultural português e para um aumento da fruição cultural dos públicos portugueses e estrangeiros. A recuperação tornava-se também fundamental para o Estado e a Câmara de Mafra candidatarem o monumento a património mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), o que aconteceu no início do corrente ano.

Por Portaria publicada no Diário da República em 17 de Setembro de 2015, o Governo de Portugal autorizou a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) a celebrar contrato destinado à operação de Reabilitação dos Carrilhões e Torres Sineiras do Palácio Nacional de Mafra, repartindo pelos Orçamentos de Estado de 2015, 2016 e 2017 as verbas que autorizou para a empreitada de recuperação dos carrilhões e sinos do Palácio de Mafra, orçadas em 2,3 milhões de euros, prevendo na altura que o período de execução das obras decorresse entre 2015 e 2017 e concluída no final de 2017, data coincidente com as comemorações dos 300 anos sobre o lançamento da primeira pedra do monumento. Na portaria, o Governo justifica as obras ao reconhecer que se trata de um “conjunto histórico de valor patrimonial único no mundo” e que carece de “reabilitação urgente face ao avançado estado de degradação”, que acarreta “riscos de segurança não só para o património, como para utentes do imóvel e os transeuntes da via pública”.

Ainda em 2015, a DGPC lançou o concurso público, no valor referido, para as obras de restauro dos carrilhões e sinos do monumento. Oriundos de financiamento estatal, por via do Fundo de Salvaguarda do Património Cultural, destinado a financiar medidas de protecção em imóveis classificados em risco de destruição, foram inscritos 1,2 milhões de euros no Orçamento de Estado de 2016 e 695 mil euros no de 2017, depois de o de 2015 prever uma verba inicial de cinco mil euros para os procedimentos inerentes ao lançamento do concurso público internacional, em Setembro de 2015, do qual já é conhecida a empresa vencedora.

Embora as obras de recuperação dos sinos e dos carrilhões de Mafra devessem ter começado no princípio do segundo semestre do ano passado, foi necessário aguardar a autorização do Ministério das Finanças para a transição do saldo do Fundo de Salvaguarda do Património Cultural, o que só aconteceu em meados do corrente ano e, seguidamente, o visto prévio do Tribunal de Contas antes da empreitada ser adjudicada, o qual ainda se continua a aguardar.

Quanto tempo mais poderão os carrilhões esperar pela sua urgente recuperação?

20 Dez 2017

Predador de sombras

Bica, Lisboa, 12 Dezembro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rrefeceu mais o bairro, aquele que mora nas traseiras dos que passam a arrastar olhos nos azulejos, dos que desaprenderam a ver apesar das lentes e dos ecrãs e dos guias. O meu bairro de íntimas escarpas e abruptos declives deixou descer de vez o Sô Manel e assim se perderá bastante mais do que as sortes que revendia e praticava com o afinco dos perdedores crónicos. Foram-se os sorrisos rasgados, as festas no Pantufa, que o tratava como pai ganindo ausências, desfilava com canino orgulho trajado à Benfica, quando não alinhava pela selecção, e não dispensava um gole ou dois na mine. O meu bairro de sol pelas esquinas perdeu o fervor da flash interview praticada com o subtil acinte dos velhos parceiros que, apesar das cores contrárias, nunca se perdem do terreno de jogo: o coração.

Mymosa, Lisboa, 13 Dezembro

Um jantar casual com o Bruno [de Almeida] e o Alentejo reentrou na nossa vida tal chuva de estrelas. Sob aquele céu, a solidão parece impossível. Acontece amiúde este horizonte de sul, apesar de outras paragens do afecto, mas celebro aqui a habilidade do contador com a força das descrições, o equilíbrio da sugestão, o cheiro a pão da miragem posta ali na mesa, bastante mais duradoura do que a chama do álcool. Temo, contudo, não vir a conhecer outro refúgio que não em mim. A conversa seguiu depois outro rumo, que espero venha a desembocar em livro, tal o somatório de histórias e intricada reflexão em torno da doença e da criatividade.

Horta Seca, Lisboa, 14 Dezembro

A onda melosa do Natal cansa-me ao vómito. Tornou-se condenação inescapável, agravada pelo generalizado dever da alegria. E os nossos ritmos têm que sujeitar-se, por mais que pensemos alternativas. Acresce ser esta a estação dos livros, em país onde quase nunca chove. Há que aproveitar as gotas de água, sopesando os temas ou, por exemplo, a apetência «da época» por beaux livres. Este ano, quando mais precisávamos, falhámos todas e cada uma das ideias, por uma panóplia de razões que parece sortido de bombons baratos, a vencer o prazo de validade. A falência da distribuidora escavou sorvedouro de tempo e energia que desfez qualquer possibilidade de normal funcionamento. A própria matéria da normalidade se deixou afectar e o que, de ordinário, não faria grande mossa resultou em pequenas e médias catástrofes. Cada palavra fora de lugar, cada demora de autor ou deslize de colaborador, cada falha de matéria-prima ou cobrança de atraso, cada incapacidade nossa foi erguendo intransponíveis. Neste contexto, termos conseguido abrir, pela quarta vez, a colectiva «Princípios de Colecção» conforta-me parvamente. Sublinha que será infindável o recomeço, mesmo quando olhamos para trás, baralhando e voltando a dar parte do que fomos mostrando ao longo do annus horribilis, ou trazendo à luz os fundos, sobretudo de ilustração, que vamos recolhendo por gozo ou suscitando com os nossos projectos. O mais bonito na nossa cave, além de ser híbrida em que se desce e sobe, espelhando o bairro, são as janelas: abrem para a rua e dão para o céu. Com ou sem nuvens.

Music Box, Lisboa, 14 Dezembro

Estou na mesa a atirar obrigados a uma multidão de cabeças sem rosto em fundo negro (preciso aprender a distinguir no escuro) por causa de «Somos Contemporâneos do Impossível», do mano [José] Anjos. Para a pequena multidão serão mera cortesia, para mim fazem-se chão. De tão orgânico, «Somos…» compôs-se objecto dos representam «a vida no seu sentido adjectivo». O plural em ser dá logo ideia da cristalização de colaborações, de olhares, de gestos, de tempos e espaços que acontecem a cada página. Os encontros e desencontros, em palco e fora dele, noite e dia, à volta da palavra e apesar do gesto, íntimos mas colectivos, sopram nesta cidade. A pintura sobre papel do Simão Palmeirim, que faz capa e contracapa (reproduzida nesta página), descreve esse lugar de planos diferentes, de degraus e acessos, de contornos rápidos e toadas de branco. Tão fácil perdermo-nos nesta geometria, sem palavra. A não ser a de abysmo, onde a linha de horizonte se encolhe em curvas e contracurvas definindo a palavra antes de se voltar a perder. Esta abordagem continua no interior, com gravuras e desenhos, de arestas e passagens e florestas de prismas quadrangulares, mas também na sua proposta de reorganização da obra. «Somos Contemporâneos…» está pejado de pormenores, que o autor tem horror ao vazio. O tal índice de Palmeirim, que propõe arrumação outra, ilustra-se com máquina de escrever pautas, mas não de fazer música. Essa ficou a cargo do Carlos [Barreto], que suspira Deambulações, e acompanha esta noite as leituras da Catarina [Santiago Costa], do Valério [Romão], e da Cláudia [R. Sampaio] ainda antes do concerto dos Não Simão, de que ambos, Anjos e Simão fazem parte. Alguns dos poemas ouvem-se também «No Precipício Era o Verbo», e todos eles partilham momentos e projectos de leitura de viva voz, pelo que a intensidade invadiu a sala. Para não fugir ao habitual, a generosa leitura do mano António [de Castro Caeiro] rasga sentidos nas mais imprevistas direcções para acabar empurrando-nos em apneia para a palavra, para a amizade, para a vida. Sei que são apenas mais três vezes que as palavras-lugar-comum se escrevem, palavra, amizade, vida, mas nestas circunstâncias afianço que são a matéria dos caboucos deste livro. Tem mais. «Somos Contemporâneos do Impossível» vive do poema e para o poema, nele mergulha raízes e ergue ramos. As imagens torrenciais configuram a geografia movediça da infância e a respiração das casas erguidas ou almejadas, as ruínas dos amores e a arquitectura de existências esperando corpo, mas tudo parte ou regressa ao poema, aqui pura chama, ali relato de oficina, umas vezes cais outras navio. Recolho-me ao meu lugar: «o predador de sombras é também refém/ da vida projectada dos outros/ o estranho que se detém perante a fotografia abandonada/ que lhe dá/ e ganha vida/ enquanto novo sujeito no destino aleatório/ da contemplação»

Arquivo, Leiria, 15 Dezembro

Esta livraria consegue o milagre de inventar quem venha ouvir, em fim de tarde de sexta-feira, três maduros a ler poemas na companhia do contrabaixo. Parece impossível. Não é: somos contemporâneos da Arquivo.

20 Dez 2017

Macau em destaque em ciclo de cinema em Lisboa

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]   ciclo “Cinema Macau, passado e presente” é o evento que pretende levar à tela da Fundação Oriente um conjunto de filmes acerca do território. O objectivo é “desvendar a pluralidade de olhares sobre Macau durante o século XX bem como após a transição para a administração do território pela China”, lê-se em comunicado enviado à comunicação social.

Neste ciclo, com a curadoria da jornalista e crítica de cinema Maria do Carmo Piçarra, são revelados filmes do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e do Centro de Audiovisuais do Exército (CAVE).

Em sete sessões temáticas, entre 7 de Janeiro e 18 de Fevereiro, a programação começará por apresentar a percepção, durante o Estado Novo, de realizadores portugueses – tanto amadores (Antunes Amor) como profissionais que serviram a propaganda (Ricardo Malheiro) – sobre Macau, contrapondo imagens fixadas por cineastas estrangeiros ao serviço do regime, como Miguel Spiguel e Jean Leduc. A mostra inclui o olhar de Manuel Faria de Almeida, um dos fundadores do Novo Cinema português que, posteriormente, ajudou a criar a Televisão de Macau, sobre a antecipação das angústias dos residentes no território com a perspectiva da transição da soberania.

Os dias de hoje

Em contraponto a estas visões, apresenta-se a perspectiva contemporânea de jornalistas e das novas gerações de realizadores portugueses, que viveram ou visitaram (Guerra da Mata / João Pedro Rodrigues) ou vivem (Ivo Ferreira) no território, e o de uma realizadora sérvia (Nevena Desivojevic), que filmou, em Lisboa, a rememoração da vivência em Macau.

O ciclo integra ainda investigações filmadas, assinadas por jovens jornalistas portugueses (Filipa Queiroz e Hélder Beja), que relevam traços da presença portuguesa durante o século XX.

“Cinema Macau” fixa, finalmente, as inquietações, as aspirações e a sensibilidade da primeira geração de realizadores de Macau. Recorrendo a linguagens que vão do ensaio visual à animação, e usando sobretudo o formato da curta-metragem, os novos filmes feitos em Macau, entre outros, por Albert Chu, Leong Kin, Cobi Lou, Hong Heng Fai, Cheong Kin Man e Tracy Choi – de quem será apresentada também a longa-metragem “Irmãs” (Sisterhood) – reflectem as mudanças na paisagem, física e humana. De acordo com a organização, “aqui, os vestígios coloniais servem um certo onirismo e nostalgia, e evidenciam o paralelismo entre o crescimento da ilha e a multiplicação das imagens desta – e do mundo – numa sociedade de ecrãs”.

20 Dez 2017

Juventude cruel

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante a minha recente visita à China, falei com o meu tio através do Wechat. Nessa altura, contou-me que está a escrever um livro sobre a sua juventude, passada no tempo da Revolução Cultural, e que considerava publicá-lo no estrangeiro se não fosse possível publicá-lo na China. Para nós, que vivemos fora da RPC, é difícil imaginar que uma época tão marcante da vida deste país possa ser censurada.

Nos últimos tempos o cinema chinês foi invadido por histórias românticas perpassadas pela nostalgia dos anos 90, no entanto, nunca os jovens apareceram retratados de forma tão pura, exaltada e cruel como em Juventude 芳华, o último filme de king Feng Xiaogang冯小刚. Embora os jovens chineses nascidos neste milénio não tenham grande paciência para melancolias, os espectadores mais velhos como o meu tio, que partilham o sentimento nostálgico de Feng, vão sem sombra de dúvida apreciar o filme. Por outro lado, os 146 minutos de duração da película e uma aparente glorificação do militarismo podem vir a influenciar a sua recepção fora de portas.

O filme mostra as relações turbulentas entre os membros do grupo de dança do Exército de Libertação Popular, desde o final da Revolução Cultural até aos anos 90, e a mão do realizador transformou-o num hino de exaltação ao idealismo e à capacidade de resistência. No entanto, em cada cena a palavra “emoção” impera.

Baseado na adaptação de Yan Geling do seu próprio romance – escrito a partir da sua vivência de 13 anos no “corpo de baile” do exército, o argumento estabelece a ligação entre a arte e a política. Mas estas “flores-bailarinas” parecem querer exprimir a célebre frase de Leni Riefenstahl “A realidade não me interessa”, com um heroísmo cruel. Talvez a comparação seja injusta, mas não a consigo evitar.

Não me vou alongar no argumento porque vocês devem ver este filme repleto de atitudes grandiosas e dramáticas – e deixarem-se tocar pela narrativa autobiográfica, transportada para o ecrã por uma câmara que capta paisagens de cortar a respiração, coreografias impressionantes, acompanhadas por um fundo musical de grande fôlego. De certa forma o realizador “censurou” a guerra, que só é aflorada em algumas panorâmicas sangrentas, explosivas e românticas. Mas Feng interessa-se sobretudo pela sensualidade dos militares, o que também pode ser uma forma de atrair as audiências mais jovens. A tónica colocada no corpo é também um desafio à representação oficial do Exército de Libertação Popular; uma entidade acima dos vulgares desejos dos mortais.

“A sua história não é sobre o massacre de um soldado japonês, ou sobre seres fantásticos que se apaixonam uns pelos outros? Desculpe, está banido!” Esta receita ilustra de forma concisa os assuntos tabu na China continental.

20 Dez 2017

José Drummond apresenta amor e a morte na Casa Garden

“There´s a light that never goes out” é a principal peça de José Drummond exposta na Casa Garden e traz ao público uma oportunidade de integrar a própria instalação. Tudo tendo por base a canção dos “The Smiths”  que dá nome à obra e reflecte o lado negro e romântico da existência

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m dos mais famosos temas da banda britânica “The Smiths” dá nome à principal peça que José Drummond apresenta na exposição patente desde quarta-feira, na Casa Garden. “There´s a light that never goes out” é uma das três peças do artista local e, para fazer jus ao nome, trata-se de uma instalação com “uma componente de som em que há uma espécie de adaptação à música dos smiths”, conta ao HM.

José Drummond é acima de tudo artista plástico mas não menospreza o poder e importância da música e dos sons. “A música tem esta grande vantagem, está em todo o lado, e não precisa exactamente de significado porque nos atinge de uma forma muito directa”, explica.

Para Drummond é difícil o desligar do som, mais até do que da imagem. “Os olhos são autónomas e podemos fechá-los, sem ajuda de nada, já os ouvidos são diferentes, não os podemos fechar sem pelo menos recorrer a ajuda das mãos”, diz. É por isso que Drummond considera que “o som nos atinge de maneira diferente, de uma forma mais intensa do que a visão”

Poderá tratar-se ainda de pureza. “A visão, se calhar, é muito mais intelectual e perde muitas vezes a questão do significado mas gosto de coisas que nos possam criar emoções sem que tenhamos forçosamente de dizer mais ou explicar mais, e a  música tem realmente este dom”, aponta ao HM.

Por outro lado, a escolha do tema em causa foi muito ponderada. Apreciador de poesia, “There´s a light thet never goes out” é, afirma, “um dos poemas mais belos daquela banda”. Mesmo dentro daquilo a que chama clichés, é mais um tema “com uma forte componente negra que remete sempre para a esperança”. “Há aqui uma sensação de esperança mas depois a letra em si é fala de morte e amor. Não há coisa mais bonita do que isso e é esta ambiguidade que me atrai muito”, conta.

 

Um híbrido maior

Tratando-se de uma instalação, José Drummond fala ainda da sua forte componente híbrida aplicável tanto à obra como ao artista. “O meu trabalho vive muito de híbridos, a começar pela minha própria condição: sou um português ocidental em Macau, que bebe influencias do sitio onde vive, ou seja, tudo o que sai de mim já é um produto híbrido que vive na fractura das duas culturas e que não é uma coisa oriental mas também quase que já não é ocidental, muitas vezes”, explica.

O mesmo se pode dizer da forma como José Drumund sente que trabalha a imagem, “em que a fotografia parece pintura mas não é”.

Nesta instalação há ainda uma espécie de diálogo que, para José Drummond “se expressa de uma forma muito teatral porque há uma coreografia, com a luz”.

Mas a contracena passa ainda pelo público em que “o visitante é corpo integral da peça e com a sua participação, a peça ganha outro sentido, ou seja, os protagonistas neste momento são as pessoas quando estiverem dentro da peça”, conta. O objectivo não é ter a concordância do público ou mesmo o agrado, até porque uma das tarefas dos artistas plásticos passa não só por tentarem inscrever as suas ideias naquilo que fazem como tentarem ter um debate com o público e mesmo acabarem por recusarem a sua obra”.

 

Fora da parede

É também esta mistura entre público, obra e artista que marca os tempos contemporâneos das mostras. Chegou a hora de sair da parede a arranjar novos suportes. “Uma das coisa mais importantes, especialmente nos dias de hoje, é que nós enquanto artistas consigamos ter propostas de exposições diferentes e que vão além dos quadros na parede. É necessário que consigamos criar outros espaços, outros mundos que não fiquem reduzidos à banalidade do quadro na parede”, refere.

“There Is a Light That Never Goes Out” integra a participação de Drummond na exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” que conta ainda com as participações dos trabalhos de João Ó e James Chu. José Drummond participa com mais duas peças em néon vermelho: “Each man kills the things he loves”, de Oscar Wilde e “Find what you love and let it kill you” do poeta norte-americano Charles Bukowski.

As peças integram a exposição “A luz na alma – Exposição de Luz de Macau” integra o festival da luz que se comemora no território e traz ao publico peças de João Ó, James Chu e José Drummond.

20 Dez 2017

Megacidades, urbanização e desenvolvimento sustentável

“For better or worse, megacities – by virtue of their resources, their size and their impact – are at the leading edge of change in many countries. Reading the social science literature seems to tell us that this is for the worse. A very broad current in urban sociology has associated economic globalisation with the creation of a wider spectrum of jobs and with a challenge to traditional social ties, leading to more segregated societies. Many urban scientists and urban geographers continue to condemn gigantism”
“Governing Megacities in Emerging Countries” – Dominique Lorrain

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] “Conferência Internacional sobre a Água, Megacidades e Mudança Global” da “Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO na sigla inglesa)” foi um evento que fez parte da programação da “21.ª sessão anual da Conferência das Partes (COP 21, na sigla inglesa)” da “Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (CQNUAC ou UNFCCC, na sigla inglesa)” e da “11.ª sessão da Conferência das Partes enquanto Reunião das Partes no Protocolo de Quioto (CMP 11, na sigla inglesa)”, que se realizou em Paris, entre 30 de Novembro e 12 de Dezembro de 2015.

A “COP 21” reuniu cento e cinquenta chefes de estado e de governo de todo o mundo. que aprovaram o “Acordo de Paris” sobre redução de emissões com vista a travar as alterações climáticas, e que entrou em vigor a 4 de Novembro de 2016. A “Conferência”, mostrou o papel fundamental que as cidades desempenham na prossecução dos “Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, especialmente o “Objectivo 6” da “Agenda de 2030”, que é o direito humano e fundamental de acesso à água e saneamento.

A visão geral da ONU, de quinze megacidades emblemáticas, como são Buenos Aires, Cidade do México, Chicago, Ho Chi Minh, Istambul, Lagos, Londres, Los Angeles, Manila, Mumbai, Nova Iorque, Paris, Pequim, Seul e Tóquio é simultaneamente o resultado de apresentações científicas concretas e um apelo à mobilização geral, para elaborar as políticas urbanas sustentáveis de que carece o mundo. Todos esses centros urbanos partilham um conjunto de características comuns, como o tamanho colossal, disparidades entre zonas ricas e pobres, procura ambiental e industrial que afecta os recursos naturais de uma região inteira, sem mencionar o peso económico do país, como um todo, e uma ampla gama de recursos culturais, científicos e educacionais.

A ONU designou Nova Iorque e Tóquio como as duas primeiras megacidades, tendo em 1975 acrescentado a Cidade do México, passando em 2000, a ser dezoito, em 2005, vinte e em 2015, vinte e duas megacidades, todas com populações de dez milhões de habitantes ou superiores. As previsões indicam que existirão quarenta e uma megacidades até 2030, muitas delas localizadas nos países menos desenvolvidos do mundo. Ao longo da história constatou-se, que a essas cidades muitas vezes faltam quer o tempo como os meios para desenvolver os imprescindíveis serviços urbanos, inclusive os relacionados com o acesso à água, saneamento e drenagem de águas pluviais como direitos humanos e fundamentais. Tal situação cria vulnerabilidades profundas e desafios complexos.

É crucial que as megacidades compartam as suas experiências, de modo a desenvolver serviços capazes de atender às expectativas dos seus habitantes. A gestão inclusiva dos recursos hídricos, também é solução para uma variedade de desafios sociais, em particular, as desigualdades de género, dado que as mulheres são frequentemente mais atingidas por dificuldades de acesso à água, e estão na linha de frente quando se trata de uma melhor gestão dos recursos. As áreas urbanas, globalmente consideradas, crescem rapidamente, sendo de esperar que mais de dois terços da população mundial viva em cidades até 2050.

A urbanização influencia o meio ambiente e pode contribuir, por exemplo, para as alterações climáticas, degradação do solo e redução da biodiversidade. Ao mesmo tempo, os ecossistemas urbanos são muito sensíveis às mudanças globais, e a sua adaptação é necessária para sustentar a funcionalidade e os importantes serviços dos ecossistemas. A urbanização, historicamente, foi estudada principalmente, como uma potencial ameaça ambiental, resultando na degradação do solo, água, atmosfera, floresta e perda de biodiversidade. O estado ecológico desfavorável dos ambientes urbanos, foi documentado no início do século XXI, e um ecossistema urbano estabelecido difere fortemente de um ecossistema natural ou agrícola.

Os ecossistemas urbanos são caracterizados pelas paisagens humanas modificadas e muitas vezes artificiais com distúrbios antropogénicos consideráveis como, por exemplo, a poluição ambiental, selagem do solo e eliminação de resíduos. As cidades geralmente consomem muito mais energia do que fornecem, resultando em emissões de calor, poluentes do ar, água e gases de efeito estufa. O aumento contínuo da população urbana global fez surgir novos conceitos como as cidades sustentáveis. O conceito de sustentabilidade urbana resultou no projecto de cidades modelo ou ideais como, por exemplo, cidades livres de emissões e cidades adaptadas ao clima que consideram as áreas urbanas como fonte de recursos únicos naturais e urbanos específicos e não como uma ameaça ambiental.

A “Conferência” teve assim como objectivo encontrar soluções para problemas ambientais das megalópoles modernas, tendo introduzido ecossistemas urbanos, considerando a sua variabilidade espacial, dinâmica temporal, riscos ambientais e que fossem potenciais para fornecer funções importantes e serviços ecossistémicos. O conceito geral de megacidades como ecossistemas diversos e complexos foi apresentado e defendido. Manter a qualidade do ar, sequestro do carbono e mitigação do aquecimento global e as alterações climáticas por meio de emissões reduzidas de gases com efeito de estufa, são os principais serviços prestados pelos ecossistemas urbanos.

Os solos urbanos são fundamentais para regular os ecossistemas urbanos saudáveis. Os serviços e funções dos ecossistemas fornecidos pelos solos urbanos afectam o meio ambiente, a saúde humana e o bem-estar. Os solos urbanos que formam condições e características diferem principalmente, dos solos naturais e agrícolas, mas as suas funções e serviços permanecem pouco quantificados. A atenção e o interesse em entender a capacidade dos solos urbanos para suportar funções e serviços específicos, tem aumentado. Actualmente, os solos urbanos enfrentam um paradoxo onde, por um lado, é o valor mais alto para o desenvolvimento da propriedade e, por outro, é quase totalmente ignorado no que diz respeito ao ecossistema que podem fornecer.

É importante considerar os diferentes aspectos da monitorização e avaliação de solos urbanos em escalas múltiplas, desde o nível local até a escala regional e global, bem como os problemas semelhantes, como por exemplo, a poluição com metais pesados que foram apresentados para solos urbanos localizados em diferentes climas e zonas de vegetação, proporcionando uma oportunidade única para avaliações comparativas. As infra-estruturas verdes são as principais ferramentas para integrar soluções baseadas na natureza do desenho e gestão urbana, bem como promover um conjunto de tecnologias para monitorizar e gerir ecossistemas urbanos, incluindo biotestes, sistemas de apoio à decisão e engenharia ecológica.

A “Conferência” recebeu comentários de uma audiência ampla e multidisciplinar, incluindo a comunidade científica, os serviços municipais, os serviços de protecção ambiental e outras partes interessadas dos países e que trabalham na gestão urbana e flora. A discussão multidisciplinar é um passo essencial para o desenvolvimento urbano sustentável, porque a implementação de tecnologias inovadoras e soluções baseadas na natureza, depende de uma colaboração de todas as partes interessadas, tendo como objectivo a gestão urbana inteligente. Ainda que, os pesquisadores tentem encontrar soluções para os problemas enfrentados pela humanidade, durante as últimas décadas do século XX, o tratamento dessas situações continuam a existir, bem como as respectivas perguntas e respostas.

Apesar de não ter aparecido um novo paradigma, o empresário italiano Aurelio Peccei que, conjuntamente com o cientistas escocês Alexander King, fundou em 1966 o “Clube de Roma” que é constituído por um grupo de pessoas ilustres, que se reúnem para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados com a política, economia internacional e, sobretudo, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, e que foi igualmente, fundador do “Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA na sigla inglesa)”, que é uma organização internacional de investigação científica multidisciplinar, localizada no Luxemburgo e na Áustria, e considerado um dos melhores laboratório de ideias do mundo. Aurelio Peccei, a propósito do tema, afirmou que seriam necessários argumentos convincentes para prever uma potencial catástrofe nas próximas décadas e que existe a necessidade de uma grande mudança da direcção das actividades humanas

As predições não foram aceitas. A ciência moderna não pode prever mudanças evolutivas na biosfera, que garantirão a segurança da população humana. É necessário precisar o significado social, científico e profissional das cidades sustentáveis. O conceito de “EcoPólis” como estratégia de urbanização e experiência, iniciou-se em 1980 na União Soviética, desenvolvendo comunidades que são coerentes com a capacidade de transporte de ecossistemas regionais. A ciência começou com a determinação de metas e termos e tenta monitorizar e modelar a dinâmica, enquanto os filósofos e outros pensadores tentam entender as tendências para definir os limites da urbanização.

Após o projecto urbano de Leonardo da Vinci e da sua “Cidade Ideal”, elaborado em 1488, vários projectos utópicos foram realizados e desenvolvidos. A “Cidade Jardim”, que é um modelo de cidade elaborado no século XIX, abriu uma nova área para os seres humanos, o eco-retorno para um meio natural razoável. A industrialização, desde o século XIX, levou à expansão populacional, enorme densidade urbana, engolindo florestas e áreas agrícolas no interior dos países, o que trouxe impactos na biosfera que não foram previstos. A nova profissão de “Eco-urbanista” surgiu através do projecto de pesquisa e prática de projectos ecológicos. Durante as últimas décadas na Rússia, por exemplo, foi eliminado o planeamento e a estratégia de longo prazo na política de assentamentos humanos.

A direcção da urbanização em geral não foi clara e actualmente é necessário revisitar os valores a longo prazo e apoiar a estratégia dos países nos projectos de urbanização. Os modelos devem ser seguidos pelo desenvolvimento de cenários de baixo risco na capacidade de ecossistemas regionais e no contexto etnocultural local. Assim, surgiram importantes projectos como bio-regionalismo, “EcoPólis” e “Ecocidades”, como assentamentos auto-sustentados. Na Rússia, por exemplo, vários projectos em larga escala, foram realizados a partir do início do século XX nas proximidades de Moscovo. A aproximação “EcoPólis”, foi testada em uma antiga estação de metro de Moscovo e numa outra cidade vizinha.

As megacidades, como outro tipo de assentamento humano, sugerem um certo metabolismo social, onde a matéria e a energia fluem. O problema da ecologia humana não está numa pequena lista do progresso moderno. Devido a alguns cenários de crescimento populacional, podem ser esperados novos limites de gestão centralizada, dado que os sistemas desenvolverão um nível muito complexo com riscos de desastres imprevistos e acidentes normais. A estratégia de urbanização global está lentamente a dirigir-se para uma nova política integrada que é influenciada pelas alterações climáticas, mudança para a energia alternativa, aumento do nível do mar, diminuição do solo per capita no planeta, abastecimento limitado de água potável para os cidadãos a nível mundial e “stress” ambiental.

Os diferentes riscos exigiram a integração de um sistema com menores riscos integrativos por meio do novo modo de urbanização, a “EcoPólis”, que é uma unidade multifuncional no planeamento e que produz parcialmente recursos vitais, como água potável, alimentos como peixe, produtos de caça, gado, legumes, trigo e frutas, bagas naturais, cogumelos e plantações adicionais de espécies de plantas locais. O serviço ecológico da cidade é realizado através da monitorização ambiental e de assentamentos, restauração de ecossistemas, conexão da rede ecológica entre ecossistemas regionais e a “EcoPólis”. A “EcoPólis” como um projecto começou com a “Cidade da Ciência” da capital russa, na era da União Soviética e que seria de alguma forma a cidade do futuro, pois não havia impacto industrial, apenas recreativo.

O impacto foi cuidadosamente estudado em todas as áreas e mostrou que as necessidades recreativas como por exemplo, andar, pescar, caçar e correr usam uma superfície seiscentas vezes maior que a superfície da cidade. O treino e a educação dos líderes locais podem melhorar a visão oficial do planeamento e, possivelmente, expandi-lo para a escala de tempo geológico. Apenas e após a participação em experiências de criação de modelos de longo prazo e projectos participantes como por exemplo, com voluntários, políticos e cientistas locais, é que foi possível serem motivados e preparados para pensar e discutir futuras mudanças da paisagem, cidade e hábitos humanos, e modelar a visão comum do futuro desejado.

Os valores do desenvolvimento sustentável devem começar pela mente humana e as reservas naturais da cidade devem ser planeadas e a força de trabalho deve ser dedicada a cuidar delas. A experiência da “Ecopólis” deve estabelecer um vínculo entre a filosofia académica e a prática humana diária para que se possa perceber os primeiros passos do desenvolvimento coerente dos ecossistemas regionais e do meio urbano. Esse será o novo significado das cidades modernas, a recuperação da biodiversidade e dos ecossistemas deve tornar-se o centro da criação de modelos da dinâmica do sistema urbano no caminho da satisfação sustentável das necessidades humanas.

20 Dez 2017

IH foi a Singapura ver como se faz

Arnaldo Santos, presidente do Instituto da Habitação (IH), liderou uma comitiva de viagem a Singapura na qualidade de presidente da Comissão para os Assuntos de Habitação Pública. A visita, segundo um comunicado, teve como objectivo a realização de uma visita às instalações dos complexos de habitação pública e a análise à sua gestão.

A visita serviu para abordar as políticas de habitação pública levadas a cabo por Singapura, bem como o seu plano de gestão e reconstrução.

Arnaldo Santos lembrou que o Governo de Singapura começou a implementar políticas de habitação pública a partir dos anos 60, tratando-se de um exemplo que Macau pode ter como referência. O presidente do IH acredita que a visita pode ajudar o território para que possa ser criado um mecanismo mais eficaz de atribuição, gestão e reparação dos edifícios de habitação pública em Macau.

O responsável de Singapura pelos serviços de desenvolvimento da habitação, que recebeu a comitiva de Macau, disse que a maioria das zonas criadas pela cidade-estado têm instalações comerciais, escolas, parques, zonas arborizadas, equipamentos desportivos e de lazer. Tudo para que as comunidades que lá vivam possam interagir entre si e desenvolver um sentido de solidariedade.

Para garantir que os edifícios se mantém em bom estado, cada morador de uma casa disponibilizada pelo Governo de Singapura precisa de pagar um montante que varia entre 110 e 560 patacas para os serviços dos espaços públicos e diversas reparações.

 

Associação quer coordenação interdepartamental para Lai Chi Vun

O Instituto Cultural (IC) arrancou os procedimentos no passado dia 15 com vista à classificação dos estaleiros de Lai Chi Vun. A vice-presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, Kuok I Iao, concorda que a classificação em curso responde às solicitações da sociedade para proteger os patrimónios culturais. A vice-presidente entende que as autoridades têm muito trabalho pela frente para melhorar e salvaguardar as infra-estruturas e os patrimónios culturais.

Em declarações ao Jornal Ou Mun, a vice-presidente da associação entende que os estaleiros da zona de Lai Chi Vun ao longo do corrente ano enfrentaram muitos obstáculos. Como tal, a dirigente espera que o Governo tem falta de um mecanismo interdepartamental para coordenação de protecção aos patrimónios culturais. O organismo terá como objectivo colmatar a falta de comunicação entre os serviços públicos, o que tem levado a que o património histórico não tenha sido devidamente protegido e salvaguardado.

Na visão de Kuok I Iao, os trabalhos de protecção dos patrimónios culturais não são apenas dependentes do IC, uma vez que, de acordo com a lei de salvaguarda do património cultural, os procedimentos da classificação dos patrimónios culturais podem ser levantados por quaisquer serviços públicos e pelos proprietários. Além disso, a vice-presidente salientou que o Governo deve ter consciência de protecção de patrimónios culturais durante obras.

20 Dez 2017

Ipsis Verbis | Gonçalo Lobo Pinheiro, fundador, “ajudamos a fazer pontes com a China”

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]psis Verbis é uma agência de comunicação que pretende edificar pontes nos dois sentidos entre empresas lusófonas e chinesas. A empresa partiu da visão de um casal de Macau.

Muito se fala na forma como o território é uma plataforma internacional entre o Oriente e o Ocidente. A Ipsis Verbis Communication é a materialização das ambições institucionais que inundam o léxico do poder local.

“Somos uma empresa da área da comunicação que faz a ponte entre a China e os países lusófonos”, apresenta Gonçalo Lobo Pinheiro, fundador da agência. Além de prestar os tradicionais serviços de agência de comunicação, a Ipsis Verbis ensina empresários do universo da língua portuguesa a compreender a China e vice-versa. No fundo, funcionam como uma introdução à forma de pensar entre os diversos universos culturais. “A par disso somos uma agência de comunicação e oferecemos uma panóplia de serviços, desde a edição de livros e revistas, branding de marcas, publicidade e marketing, organização de eventos, design gráfico, por aí fora”, explica.

O português viu no mercado uma lacuna que quis transformar numa oportunidade de negócio através da muito falada plataforma. “Queremos ajudar empresas que se querem estabelecer na China, Macau e Hong Kong”, revela Gonçalo Lobo Pinheiro.

Os serviços prestados pela Ipsis Verbis não se estende ao aspecto burocrático, mas na compreensão dos mercados e na ligação entre os países. “Também há chineses que querem ir para Portugal, Brasil e Angola, essas pontes são o nosso core business”, explica.

A Ipsis Verbis é uma empresa recente mas já com algum portfólio. Têm feito edição de livros, tradução, brandings de marcas e ajudado, por exemplo, uma empresa portuguesa da área dos lacticínios a penetrar no mercado chinês.

Ainda muito tenra, a Ipsis Verbis foi convidada pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau para participar no último MISE, onde estabeleceu “contactos interessantes” com empresas do Brasil, Portugal e China.

Aprender a ser

À primeira vista, a entrada no mercado chinês representa um desafio comunicacional para o qual as empresas lusófonas não estão preparadas. “Há um desconhecimento do mundo lusófono, que acha que a China tem as limitações no acesso a redes sociais como o Facebook”, explica o fundador da empresa. A Ipsis Verbis ajuda empresários que estão habituados ao Whatsapp, Instagram e Twitter a usarem o WeChat e Weibo e coloca à disposição dos clientes os serviços dos seus colaboradores em Xangai, Pequim, Portugal e de um parceiro de consultadoria em Shenzhen.

Depois de tratada a burocracia necessária para abrir uma empresa em território chinês, a agência faz o trabalho de investigação de mercado, analisa perspectivas, cria contas nas redes sociais chinesas, contrata celebridade para dar a cara pela marca e trabalha na imagem do cliente para o mercado da China.

Nada é deixado ao acaso. Por exemplo, algumas cores não são apropriadas no Oriente, assim como é preciso atenção ao traduzir literalmente a mensagem e marca empresarial.

“Também temos cursos de etiqueta para empresários portugueses, como se comportar, como receber um cartão de visita. Por exemplo, os portugueses não têm o hábito de andar sempre com cartões”, explica Vanessa Amaro, igualmente fundadora da Ipsis Verbis.

Neste sentido, a empresa prepara-se para no próximo ano dar formação a empresas portuguesas que se preparam para enviar pessoal para a China de modo a fazer uma espécie de introdução ao que vão encontrar, assim como a respeitar algumas normas sociais.

No fundo, a Ipsis Verbis torna real a plataforma entre China e os países de língua portuguesa e trata do feng shui empresarial.

20 Dez 2017

Em média todos os meses é agredido um agente da PSP

Desde o início do ano até 17 de Dezembro foram agredidos 13 agentes policiais, que resultou em 11 indivíduos detidos. José Pereira Coutinho diz que o número é aceitável, dado o número de turistas que visitam Macau

 

[dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]ntre o início do ano e 17 de Dezembro um total de 13 agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) foram agredidos durante o serviços. Segundo os dados fornecidos ao HM pela PSP, as agressões resultaram na detenção de 11 pessoas e autuações por “agressão qualificada”.

“Fazem no total de 13 agentes policiais que foram agredidos por outrem durante o cumprimento das missões até 17 de Decembro no ano de 2017, dos quais 11 indivíduos foram detidos, e autuados por agressão qualificada”, informou a PSP, após ter sido questionada sobre o assunto.

Este é um número que o presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau e deputado, José Pereira Coutinho, considera “normal”, tendo em conta o número de visitantes. O legislador destaca igualmente o facto do território ser muito seguro.

“Não recebi nenhuma queixa por parte de agentes sobre agressões. Mas não acho os números preocupantes porque temos 33 milhões de visitantes. Considero que o número é pequeno. Desde que não se registem agressões violentas, com recurso a facas, armas de fogo, acho que é um número normal, dentro da densidade populacional de Macau”, afirmou José Pereira Coutinho, em declarações ao HM.

“Acho que não é um número que justifique uma preocupação generalizada entre estes funcionários públicos. Eles são polícias e estão muito cientes das suas funções. São profissionais que entendem a natureza das suas funções, e que reconhecem que à partida há um certo grau de risco no desempenhar das suas missões”, acrescentou.

“Pearl Horizon” sem influência

Por outro lado, o deputado rejeitou a ideia que o facto das agressões a agentes da PSP, durante manifestação de compradores do Pearl Horizon, possa ser encarada como uma prova de impunidade, para quem agrida agentes policias.

“Não é um sinal de impunidade. O facto de não terem continuado com os casos para os tribunais se deve ao facto de as pessoas terem conseguido uma reconciliação com os polícias. Houve um entendimento para que se resolvessem os casos sem necessidade de ir aos tribunais”, justificou Pereira Coutinho.

Ao mesmo tempo, apontou Macau como um território muito seguro, dada a ligação à indústria do jogo, normalmente associada a elevados níveis de criminalidade.

“Macau continua a ser uma cidade muito segura e é isso que se pode realçar em questões de segurança. O nível de criminalidade, tendo em contra a predominância da indústria do jogo e as tradicionais ligações à prostituição, drogas e da agiotagem, é muito baixo”, considerou.

Um resultado que Pereira Coutinho afirma ser justificado pelas acções do Governo Central em conciliação com os agentes locais.

20 Dez 2017

Cecília Tse promete analisar as necessidades de pessoal do Instituto Cultural

Acabada de tomar posse como presidente do Instituto Cultural, Cecília Tse volta atrás na medida anunciada pelo seu antecessor, Leung Hio Ming, de abrir concurso público para admissão de pessoal

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]a sequência da polémica contratação de quadros do Instituto Cultural através do regime de aquisição de bens e serviços, que fez cair os dois antigos presidentes do organismo, Cecília Tse volta atrás na possibilidade de abrir concurso público no próximo para contratar pessoal. A proposta do tempo do consulado do seu antecessor, Leung Hio Ming, visava tapar o buraco de recursos humanos deixado aberto pela saída de quadros após a polémica espoletada pelo relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC).

“O IC já tem um número muito grande de trabalhadores em comparação com outros departamento, mais de 800 pessoas, salvo erro. Preciso de algum tempo para fazer um levantamento e saber exactamente o que faz falta e o que não faz”, revelou a nova presidente do IC após a cerimónia de tomada de posse.

Cecília Tse explicou que vai passar a pente fino as necessidades de recursos humanos dos vários departamentos do IC, não admitindo, por enquanto, se haverá necessidade de abertura de concurso público para a admissão de pessoal.

Importa referir que depois do relatório do CCAC, saíram dos quadros do Instituto Cultural 70 funcionários contratados através do regime de aquisição de serviços, encontrando-se ainda 24 funcionários até Junho/Julho do próximo ano ao abrigo de uma situação de emergência.

Por classificar

Cecília Tse tem feito carreira na Direcção dos Serviços de Turismo, onde foi vice-presidente, assim como membro do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo. A nova presidente, explica que apesar de não ter trabalhado no IC antes tem “estado na área do trabalho cultural e artístico”.

Depois da saída de Leung Hio Ming e do seu ex-vice-presidente Chan Peng Fai, o consulado de Cecília Tse, terá como vice-presidente substituta Leong Wai Man, mantendo-se Ieong Chi Kin na posição de vice-presidente da entidade.

No dia em que tomou posse, a nova presidente do IC reiterou a importância da preservação do património cultural, mantendo o respeito à lei da salvaguarda do património cultural como foi condutor para protecção do património.

Cecília Tse disse que vai tentar manter o equilíbrio entre a preservação do património cultural e o desenvolvimento económico. Sobre o plano de gestão do centro histórico de Macau, a nova responsável reiterou que o IC vai “acelerar o ritmo de trabalho” para poder apresentar este plano em 2018 à UNESCO.

O que diz respeito aos estaleiros de Lai Chi Vun, a presidente do IC lembrou que “os trabalhos de classificação estão em curso” e que ainda não há data definitiva para a listagem dos estaleiros. Algo que Cecília Tse vai “tentar fazer o mais rapidamente possível”.

Foi ainda referido que será construído um centro de intercâmbio cultural sino-português para “aproveitar as vantagens de Macau e as suas características singulares para plataforma cultural.

20 Dez 2017

Governo revela lista de personalidade e instituições distinguidas

O jornalista e investigador João Guedes, o juiz João Gil de Oliveira e o ex-atleta Eduardo de Jesus Júnior estão entre as personalidades que vão receber as distinções em Janeiro do próximo ano

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] jornalista e investigador João Guedes, o juiz João Gil de Oliveira e o ex-atleta Eduardo de Jesus Júnior estão entre as personalidades e entidades distinguidas pelo Governo da RAEM com medalhas e títulos honoríficos. Ao nível das medalhas, Choi Lai Hang, o primeiro director-geral dos Serviços de Alfândega, vai ser agraciado com o Lótus de Ouro e Lei Loi Tak, auditor, e Vong Kok Seng, empresário, com o Lótus de Prata.

Em 2018, João Guedes vai receber das mãos do Chefe do Executivo a Medalha de Mérito Cultural pelo trabalho realizado ao longo de 30 anos de investigação sobre a História de Macau. Uma distinção que deixou o também jornalista “muito honrado”, segundo contou ao HM.

“Sinto-me muito honrado pelo Governo ter decidido agraciar-me com essa condecoração no âmbito cultural. É um reconhecimento do meu trabalho ao longo destes mais de 30 anos em Macau. Foi uma carreira dedicada ao jornalismo e à divulgação da História de Macau”, afirmou João Guedes.

“É uma distinção que tem mais significado por partir da Administração da RAEM do que se tivesse sido pela Administração Portuguesa. Foi completamente inesperado, não estava minimamente à espera. Por isso sinto-me ainda mais honrado. Não esperava que o Governo de Macau olhasse particularmente para o meu trabalho”, admitiu.

O jornalista deixou igualmente o desejo que com este reconhecimento, muito do seu trabalho possa ser traduzido para chinês, para que a comunidade falante dessa língua possa ter acesso ao mesmo.

“Algumas coisas do meu trabalho estão traduzidas para chinês, mas a maior parte não está. Provavelmente com esta distinção vão ser traduzidas para chinês, era algo que gostava que acontecesse”, disse. “Espero ter contribuído também para que o trabalho feito na lusofonia seja melhor conhecido pela comunidade chinesa. Esta distinção é um incentivo para isso”, frisou.

 

Reconhecimento desportivo

Também Eduardo de Jesus Júnior, ex-atleta internacional em futebol e hóquei de campo por Macau, foi distinguindo com a Medalha de Mérito Desportivo. Durante a sua carreira no mundo do futebol, o jogador chegou a treinar no FC Porto, sob o comando do treinador Bella Gutmann, em 1974, e no Benfica, numa altura em que o internacional português e ex-treinador das águias Toni também estava no plantel

“Estou contentíssimo com a distinção. Era uma coisa que não esperava. Como português e macaense sou dos primeiros a receber esta distinção e estou mesmo muito contente”, disse Eduardo de Jesus Júnior, ao HM.

“Na altura da Administração Portuguesa contribui muito para o desporto local, principalmente nas décadas de 70 e 80. O reconhecimento chegou agora já na altura da RAEM e ficou muito feliz”, sublinhou o também fundador da Associação de Veteranos de Futebol de Macau.

Eduardo de Jesus Júnior foi igualmente internacional por Portugal, na modalidade de hóquei de campo.

Por sua vez, João Gil de Oliveira foi agraciado com a Medalha de Mérito de Profissional. Os títulos e medalhas vão ser entregues no próximo ano.

Também entre os agraciados estão Lawrence Ho, filho de Stanley Ho, com a Medalha de Mérito Turístico, e Loreto Jr. de Guia Mijares, filipino que salvou um casal de idosos durante a passagem do Tufão Hato.

 

Tai Fung distinguido apesar de polémica

Entre as entidades distinguidas encontra-se o Banco Tai Fung, fundado por Ho Yin, pai de Edmundo Ho, e actualmente controlado pelo Banco da China. No entanto, o banco ficou ligado a uma controvérsia durante o julgamento do ex-Procurador Ho Chio Meng, em Abril. Na altura, o Banco Tai Fung foi acusado pela investigadora do Comissariado Contra a Corrupção Wong Lei Peng de ter ignorado depósitos suspeitos realizados por Ho Chio Shun, irmão de Ho Chio Meng, sem perguntar a proveniência dos fundos.

20 Dez 2017

Vitório Cardoso é mandatário da campanha de Pedro Santana Lopes

[dropcap style≠‘circle’]P[/dropcap]edro Santana Lopes, ex-primeiro-ministro português, é candidato à liderança do Partido Social-Democrata (PSD) em Portugal, e escolheu para seu mandatário, para os territórios de Macau e Hong Kong, Vitório Cardoso. Este ocupa actualmente o cargo de vice-presidente da comissão política da secção do PSD em Macau e Hong Kong.

Contactado pelo HM, Vitório Cardoso recusou prestar declarações por se tratar de um assunto exclusivo do panorama político em Portugal. “Não quero misturar esta questão com órgãos de comunicação social de Macau. Eu sou português, não participo na condição de residente permanente”, frisou.

Na sua página pessoal da rede social Facebook, Vitório Cardoso escreveu ter “aceite com muita honra e elevado sentido de missão integrar a Comissão Nacional da Candidatura de Pedro Santana Lopes e ser o mandatário para Macau e Hong Kong, enquanto vice-presidente da comissão política da secção do PPD/PSD em Macau e Hong Kong”.

“A histórica candidatura à liderança do PPD/PSD abraça genuinamente o apoio da Comunidade Portuguesa na China em geral e em especial dos Macaístas ou Portugueses de Macau radicados desde 1553 – 1557. Somos todos Portugueses!”, acrescentou também numa outra publicação.

Vitório Cardoso intitulou-se como “português de seis gerações no Oriente”, sendo seu “dever para com os portugueses que já morreram, que estão vivos e para com os que estão para nascer, contribuir com todo o meu esforço, dedicação e vida para a glória e a grandeza de Portugal no mundo”.

“Enquanto Macaense ou Português de Macau com algumas responsabilidades políticas é o meu dever primeiro o de zelar pelas Comunidades Portuguesas na Ásia e por conseguinte pelo superior interesse nacional de Portugal”, rematou. O HM contactou a assessora de Pedro Santana Lopes para mais esclarecimentos, mas não recebemos as respostas em tempo útil.

Vitório Cardoso é conhecido em Macau pelas suas posições de extrema-direita, a favor do militarismo, com nostalgias salazaristas e é um contínuo propagandista do império colonial como, aliás, é patente na sua página do Facebook. Além do patrioteirismo, Cardoso mostra um estranho fascínio pelos militares ingleses.

20 Dez 2017

Song Pek Kei quer saber que medidas vão ser aplicadas à habitação

O Chefe do Executivo anunciou a Pequim mas em Macau ainda nada se sabe sobre as medidas para controlar a especulação do mercado imobiliário no território. A deputada Song Pek Kei quer saber o que tenciona fazer o Governo

 

[dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]ue medidas é que o Governo tenciona realmente aplicar para combater a especulação imobiliária no território? A questão é da deputada Song Pek Kei, que tem ouvido falar de acções para melhorar a situação da habitação em Macau, mas, refere, não tem visto aplicações na prática.

Em interpelação escrita, a deputada salienta o aumento do preço do metro quadrado no território e a impossibilidade que isso representa para quem quer comprar casa. De acordo com as estatísticas “o preço do metro quadrado da habitação privada aumentou de 19,071 yuan, no primeiro trimestre de 2007, para 90,858 yuan no primeiro trimestre de 2017, sendo um aumento incrível”, refere.

O próprio Chefe do Executivo, afirma Song Pek Kei, admitiu que as casas em Macau não estão ao alcance das pessoas comuns.

Song Pek Kei pega ainda no exemplo da região vizinha em que o imposto na aquisição de uma segunda habitação aumentou para os 15 por cento com “o objectivo de combater a especulação imobiliária” e tem dado passos para permitir à classe média o acesso a habitação.

 

Até agora, nada

Em Macau, fala-se em muitas medidas, nomeadamente acabar com o tempo de espera à habitação pública, aumentar o imposto para a compra de segunda casa e promoção de medidas para ajudar os jovens locais com os problemas de habitação, mas, até agora, ainda nada foi realmente feito ou conhecido, afirma.

E por isso que Song Pek Kei questiona directamente o Governo: ”Qual é o próximo passo para combater a especulação imobiliária no território? Quais são as medidas do Governo e o que tenciona, em concreto, por em prática?”.

No que respeita à classe média, muitas vezes chamada de sanduiche porque não tem dinheiro suficiente para comprar casa, nem necessidades que permitam uma candidatura à habitação publica, a deputada pretende saber que tipo de estratégia o Governo tem para resolver o problema.

Song Pek Kei aponta ainda a experiência de outros países quando se fala de definição do que é uma habitação vazia. Para Song Pek Kei este conceito tem mesmo de ser clarificado o mais cedo possível para que se possa passar a outra intenção manifestada pelo Governo: a de taxar as casas que não estão a ser utilizadas.

20 Dez 2017

Si Ka Lon quer melhorar mecanismo de fiscalização das obras públicas

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede uma revisão dos regulamentos sobre a fiscalização das obras públicas, apontando a existência de várias falhas.

Si Ka Lon lembrou que, no passado, houve vários atrasos e derrapagens orçamentais nas obras públicas em Macau. Na sua óptica, esses episódios aconteceram devido à carência do mecanismo de fiscalização.

O deputado considera que os regulamentos encontram-se desactualizados, uma vez que estão em vigor há mais de 20 anos, sendo que há aspectos essenciais à fiscalização de obras que não constam nesses diplomas.

Na mesma interpelação escrita o deputado quis também saber de que medidas dispõe o Governo para garantir que existe em Macau um número suficiente de engenheiros no futuro, para dar resposta ao número elevado de obras.

Si Ka Lon lembrou também o discurso do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, sobre a falta de engenheiros para efectuar a fiscalização de obras privadas. O secretário adiantou também que a adjudicação do serviço não ajuda a resolver o problema, uma vez que há falta de engenheiros no sector privado.

Nesse sentido, Si Ka Lon entende que o Executivo deve lidar com a situação de forma activa.

20 Dez 2017

Lei de bases marítima impede jogo nos aterros

O Conselho Executivo entregou ontem a proposta de bases marítimas à Assembleia Legislativa e Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, garante que o diploma deixa muito claro que não vai haver espaços para o jogo nos novos aterros

 

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]ma lei para definir o âmbito da política de gestão do uso, exploração e protecção das áreas marítimas, que não admite a instalação de espaços de jogo nos aterros. Foi desta forma que o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, definiu a proposta da Lei de Bases de Gestão das Áreas Marítimas, que foi ontem submetida pelo Executivo à Assembleia Legislativa.

“A exigência de não utilizar os aterros para espaços de jogo partiu do Governo da RAEM. Queríamos legislar desta forma”, garantiu Leong Heng Teng, quando questionado se a iniciativa desta política tinha partido do Governo Central ou do Governo da Macau.

“Não vai haver nenhuma excepção que permita, no futuro, a instalação de espaços de jogo nos aterros”, acrescentou sobre este ponto.

A proposta foi entregue, ontem, à Assembleia Legislativa, depois da conferência de imprensa em que foi apresentada.

Com o novo diploma vai ser criada a Comissão Coordenadora da Gestão e do Desenvolvimento das Áreas de Jurisdição Marítima, que vai ter como presidente o Chefe do Executivo, Chui Sai On. A este nível a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) e a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) vão ficar competentes pela “gestão integrada das áreas marítimas e da protecção ambiental das áreas marítimas, respectivamente”.

“No topo está o Chefe do Executivo que vai definir políticas e princípios gerais. Depois as duas entidades competentes é que vão executar as políticas”, explicou Leong Heng Teng.

 

Celeridade esperada

O porta-voz do Conselho Executivo não quis fazer um prognóstico em relação ao tempo esperado para que a lei seja aprovada na especialidade na Assembleia Legislativa, no entanto, pediu “celeridade”.

“Não podemos avançar com uma previsão porque eles têm a sua agenda. Mas já há consenso na sociedade sobre esta lei e as opções tomadas. A aprovação desta lei é uma expectativa da sociedade”, começou por dizer Leong Heng Teng. “Mas esperamos que a proposta seja discutida com celeridade”, apontou.

O porta-voz foi ainda questionado sobre a possibilidade deste diploma permitir a instalação de uma base naval do Exército de Libertação do Povo Chinês nos 85 quilómetros de água marítima controlada por Macau. Mas Leong Heng Teng, com a ajuda do director dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), Liu Dexue, explicou que essa matérias não é legislada por este diploma.

20 Dez 2017

Timor-Leste | Amigo de um dos arguidos no caso Guerra diz que há perseguição de portugueses

Poucos são aqueles que querem falar sobre o clima que se vive actualmente entre timorenses e portugueses após a fuga do casal Tiago e Fong Fong Guerra do país. Um amigo de Davide Justino, um dos acusados de ajudar o casal na fuga, diz que há perseguições contra portugueses e que a justiça timorense tramou o amigo. Rita Santos, do Conselho das Comunidades Portuguesas, com responsabilidades sobre Timor-Leste, desconhece o que se passa

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] fuga de barco do casal Tiago e Fong Fong Guerra de Timor-Leste para a Austrália trouxe um período de tensão às relações entre timorenses e portugueses no país. O alerta começou por ser dado pelo primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri. Este admitiu estar preocupado que a comunidade portuguesa esteja a ser alvo de insultos e possa agora ser “alvo de perseguição”.

Davide Justino é um dos portugueses que estão a ser acusados de ter ajudado o casal Guerra na fuga (ver texto à parte), mas um amigo seu, que falou com o HM sob anonimato, garantiu que a justiça timorense está a acusá-lo injustamente e que há, de facto, perseguições.

“Pela informação que tenho recebido, e pelo que era sentido quando saí de Timor, existe de facto um clima de perseguição e de ostracismo contra os portugueses”, apontou.

O amigo de Davide Justino recorda que “muitas das pessoas que se mantém em Timor investiram pessoalmente e contribuíram, muitas delas, para o processo de criação do Estado timorense”.

“Muita delas participaram desde muito cedo no movimento de solidariedade e auto-determinação de Timor-Leste, e acresce um sentimento grande de frustração, tristeza e ingratidão”, acrescentou.

O responsável, de origem portuguesa, fala inclusivamente de situações de ostracismo em salas de aula.

“Junto da comunidade docente, que muitas vezes trabalham sob condições difíceis, com atrasos na remuneração até cinco meses, verifica-se a existência de uma tensão acrescida em contexto de salas de aula e entre a equipa docente, na sua maioria timorense”, acrescentou.

O HM tentou chegar à fala com uma docente de português, a residir em Díli, que não quis falar por não conhecer o casal Guerra pessoalmente. Contudo, existe também uma segunda razão para não ter falado ao nosso jornal: “não quero ficar na ‘lista negra’ da justiça timorense”, apontou.

A fuga do desemprego

Uma das razões para este descontentamento da população timorense prende-se, segundo o amigo de Davide Justino, com o facto do casal Guerra ter obtido facilmente novos passaportes portugueses junto da embaixada em Díli.

“Este ambiente é reforçado por um sentimento de frustração de muitos timorenses que não conseguem, num tempo curto, a nacionalidade e o passaporte portugueses. Culpam a embaixada portuguesa por ter facilitado a fuga de Tiago e Fong Fong Guerra ao atribuírem-lhe passaportes portugueses.”

O responsável adianta que muitos timorenses pedem os seus passaportes para tentar ter uma vida melhor, sem que haja, de facto, uma ligação forte ao país.

“O que é mais ingrato é o facto de Portugal conceder passaportes e nacionalidade portuguesa aos timorenses, que muitos deles nem sequer conseguem identificar num mapa em que continente fica e sem saber dizer uma palavra em português. Têm apenas como objectivo conseguir uma entrada no espaço Schengen e ir trabalhar para Inglaterra ou Irlanda.”

Têm-se registado, por isso, “longas filas de espera em frente à embaixada portuguesa”. Estas têm “uma justificação normal pelo fluxo crescente de timorenses que, numa fuga maciça e cega, procuram esta saída do enorme desemprego que se vive no país, onde não encontram futuro”.

“Isso gerou recentemente um descontentamento entre os timorenses, que se reflecte agora nesta situação de desprezo e perseguição aos portugueses”, frisou o amigo de Davide Justino.

Nem de propósito, Francisco Guterres Lu-Olo, presidente de Timor-Leste, disse ontem que o combate à pobreza deve ser “uma prioridade” do Estado.

“Ainda não respondemos ao problema da pobreza. O Estado ainda não assegura todos os direitos sociais”, disse Francisco Guterres Lu-Olo, na cerimónia de entrega, em Díli, da edição de 2017 dos Prémios Sérgio Vieira de Mello de Direitos Humanos.

Contactada pelo HM, Rita Santos, conselheira do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que também assume responsabilidades em relação ao território de Timor-Leste, disse desconhecer o que se passa, mas prometeu pôr-se ao corrente da situação o mais depressa possível.

“Depois de regressar de Xangai, onde me encontro a ter uma reunião de trabalho, vou telefonar para saber mais detalhes sobre este assunto. De momento não posso responder porque não consegui contactar a embaixada de Timor-Leste.”

O HM tentou obter reacções da euro-deputada Ana Gomes, de Tiago Guerra, que neste momento se encontra em Portugal com a esposa, Fong Fong, e de vários portugueses residentes em Timor-Leste. Até ao fecho desta edição não obtivemos respostas. Foi também contactado o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, de onde não obtivemos uma resposta em tempo útil.

 

 

Rolando Justino, irmão de arguido e detido em Timor

“Este caso nada teve a ver com lei ou justiça”

Como está neste momento a situação de Davide Justino perante a justiça timorense? Quando vai ser presente a tribunal?

O meu irmão neste momento encontra-se detido no Estabelecimento Prisional de Becora. No dia de hoje, 19 ou até amanhã, 20 (hoje), será apresentado recurso para a sua libertação. No dia 8 de Dezembro foi detido e 72 horas depois foi apresentado a um juiz que acrescentou acusações para justificar a detenção, justificando inclusivamente que a sua detenção decorria da incapacidade das autoridades timorenses em impedir a fuga do mesmo (ligação com o casal Guerra devido à sua fuga)

D.R.

Considera que o casal Guerra agiu de má-fé neste caso?

O casal Guerra agiu da forma que entendeu para fugir, desconheço a sua inocência ou culpa, nem se tinham noção das consequências dos seus actos. Não sou que vou julgá-los, o que me importa agora é a segurança e justiça para o meu irmão que nada teve a ver com a fuga do referido casal.

Que expectativas tem em relação a este caso?

Neste momento são expectativas muito baixas, pois estamos a falar de um caso que nada teve a ver com a lei ou justiça, mas sim de um exemplo que as autoridades timorenses querem fazer deste caso e que o nosso estado não se quer envolver de forma publica. Estou muito apreensivo a este respeito. Neste momento tenho a minha cunhada e as minhas duas sobrinhas em viagem para Portugal para garantir a segurança das meninas. A minha cunhada vai voltar para estar junto do meu irmão, para pressionar o nosso Governo a fazer alguma coisa.

O caso do casal Guerra está a ter repercussões junto da comunidade portuguesa em Timor. Que comentário faz?

Desconheço as repercussões sobre a comunidade portuguesa em Timor, na sua generalidade, mas o caso do meu irmão é efectivamente uma perseguição, pois a única coisa que efectuaram, através da empresa na qual o meu irmão tem uma participação de 10 por cento, foi vender um barco que mais tarde veio-se a descobrir ter servido para a fuga do casal Guerra, segundo as autoridades timorenses.

O Governo português tem dado o apoio suficiente neste caso?

O Governo Português, em meu entender, deveria ser mais incisivo na sua acção e apoio ao meu irmão. A embaixada Portuguesa em Dili, deveria ter sido mais actuante quando foi retirado o passaporte ao meu irmão uma vez que não existia qualquer ordem judicial nesse sentido. Desconheço se estão a efectuar diligências de bastidores junto das autoridades Timorenses de modo a garantir a segurança e justiça ao meu irmão. Deveriam de colocar de parte todas as tensões diplomáticas que existem por motivo da fuga do casal Guerra e fazerem o seu trabalho sem quaisquer receios das suas acções, que deveriam de ser publicas e de acordo com as convenções assinadas entre as comunidades de língua portuguesa, auxilio judiciário em matéria penal entre membros das CPLP, fazer cumprir os direitos dos nossos cidadãos.

 

Davide Justino | Cunhada diz que este sofre maus tratos na prisão

Familiares de Davide Justino, um dos portugueses constituído arguido pela justiça timorense, acusado de ajudar na fuga do casal Guerra do país, já criaram uma página de apoio na rede social Facebook, intitulada “Justiça pelo Davide Justino”.

Ao HM, o seu amigo garante que Davide está inocente. “Não posso deixar de dar o meu testemunho quando está em causa a liberdade de um amigo que acredito estar inocente. Mais, quando sei que a qualquer português que esteja em Timor pode acontecer o mesmo”, começou por dizer.

“Estou confiante e seguro da sua inocência, entendendo que desde o princípio este processo é perverso e ferido de extrema iniquidade, procurando encontrar bodes expiatórios e desviando a atenção da justiça e da opinião pública daqueles que verdadeiramente estão na origem da subtracção dos valores que eram devidos ao Estado timorense”, frisou.

Davide Justino está também a ser acusado do crime de branqueamento de capitais por, alegadamente, ter obtido mais valias com a venda do barco. Algo que, na opinião do amigo, é algo que se entende “como normal, quando o barco era novo e tinha tido custos de transporte da Austrália para Timor”.

“O valor total da venda apenas cobria o custo de aquisição e os custos de transporte para Timor e a sua legalização. O que refiro foi-me dado a saber e no que acredito. A justiça timorense apenas procura mostrar serviço depois da fuga de Tiago e Fong Fong Guerra, seja a que preço for e custe a quem custar.”

Uma das publicações públicas na página, assinada pela cunhada de Davide Justino, explica que o arguido é sócio, com uma participação de dez por cento, da empresa Corais de Timor. Foi esta empresa que terá feito “a venda de uma embarcação a timorenses”. Mais tarde descobriu-se “ter sido utilizada na fuga do referido casal para a Austrália”, numa fuga que “criou uma grande tensão diplomática entre os dois estados”.

Na visão da cunhada de Davide Justino, “temos um português detido sem qualquer razão, com acusações criadas pelos tribunais timorenses”.

Medo pela vida

Segundo a publicação assinada pela cunhada de Davide Justino, este encontra-se “a sofrer maus tratos no estabelecimento prisional de Becora, pelo que tenho medo pela sua vida, assim como pela vida das minhas sobrinhas e cunhada”.

“Não sei o que mais o Estado timorense poderá inventar para manter esta perseguição à minha família, que está a servir de exemplo para a incapacidade do Estado de Timor e para punir o Estado português”, apontou.

A cunhada de Davide Justino disse já ter contactado, via e-mail, a Direcção Geral de Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, Serviço de Assuntos Consulares e Presidência da Republica.

O amigo de Davide Justino não tem receios de apontar o dedo às autoridades timorenses e dá exemplos.

“Boyle, o nigeriano que esteve na origem do desvio de fundos timorenses, nem sequer foi notificado pela justiça timorense. Sobre a ministra das Finanças que fugiu à justiça timorense, ausentando-se do país no dia em que seria ouvida em tribunal, por ter o primeiro-ministro de então dito que era importante que participasse com ele numa reunião internacional em representação do Estado timorense, ninguém nada diz e não se encontra detido quem o possibilitou”, disse ao HM.

Recorde-se que o caso do casal Guerra tem fortes ligações a Macau, não só porque a esposa de Tiago, Fong Fong, é natural do território, como era aqui que detinham uma empresa de consultadoria relacionada com o caso e era para Macau que queriam voltar depois da experiência em Timor-Leste. O casal escolheu também um advogado de Macau para os defender, Álvaro Rodrigues.

20 Dez 2017