Hong Kong | Asilo rejeitado a requerentes que ajudaram Snowden

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s requerentes de asilo que ajudaram a acolher o ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana Edward Snowden em Hong Kong, em 2013, viram os seus pedidos rejeitados na cidade chinesa, informaram ontem os advogados das famílias.

Os advogados que representam os requerentes de asilo disseram que planeiam recorrer das decisões tomadas pelo director dos Serviços de Imigração, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

Os advogados também renovaram os apelos para que o Governo canadiano intervenha e conceda asilo aos requerentes.

Um casal do Sri Lanka e os seus dois filhos, outro homem do Sri Lanka, e uma mulher das Filipinas com uma filha, foram todos informados na semana passada de que os seus pedidos de asilo tinham sido rejeitados.

Marc-Andre Seguin, advogado canadiano que representa as famílias nos pedidos para irem para o Canadá, disse que as mesmas tinham sido claramente visadas pelos funcionários da imigração.

“Eles foram chamados para triagem e para entrevistas de deportação, todos no mesmo dia, em Março. As decisões a rejeitar os seus pedidos em Hong Kong também chegaram no mesmo dia”, disse Seguin.

“Estamos a falar de pessoas que entraram em Hong Kong com anos de diferença, que submeteram os pedidos de asilo em anos diferentes, e no entanto as decisões chegam ao mesmo tempo”, acrescentou, indicando que os clientes tinham “motivos para estarem preocupados”.

No grande ecrã

O facto de Snowden ter procurado abrigo junto dos requerentes de asilo tornou-se mundialmente conhecido depois da estreia de um filme sobre o antigo funcionário da NSA.

O documentário “Citizenfour”, de Laura Poitras, sobre o ex-analista norte-americano Edward Snowden, que denunciou a jornalistas, em 2013, a existência de um programa global norte-americano de vigilância, estreou-se em Portugal em 2015.

O filme, estreado nos Estados Unidos em 2014 e premiado este ano com um Óscar de melhor documentário, foi feito em Junho de 2013, registando os encontros que Edward Snowden teve com os jornalistas Glenn Greenwald, Ewen MacAskill e Laura Poitras, num hotel em Hong Kong, durante os quais denuncia o vasto programa de vigilância indiscriminada de comunicações da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana.

A família do Sri Lanka disse que a publicidade sobre o seu envolvimento no caso de Snowden tinha feito com que os seus familiares no país fossem questionados, assediados e ameaçados pelas autoridades cingalesas. Também disseram que acreditam que agentes do Sri Lanka foram enviados a Hong Kong para os tentar localizar.

16 Mai 2017

Liga de Elite | Benfica dilata vantagem após empate do Monte Carlo

Por João Maria Pegado

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ealizou-se este fim de semana a décima quarta jornada da liga elite. Destaque para o empate do Monte Carlo frente ao Kei Lun. Com este resultado os canarinhos do território viram o Benfica De Macau aumentar para cinco pontos de diferença a sua liderança na prova e foram ultrapassados no segundo lugar pelo CPK. Na luta pela a manutenção destaque para a vitória dos jovens da associação que assim reduzem a diferença para o Grupo Desportiva da Policia.

O jogo grande da jornada teve lugar na sexta feira à noite, com o Monte Carlo Vs Kei Lun. A equipa de Claudio Roberto entrava para este jogo sem grande margem de manobra e o único resultado possível era a vitória. Do outro lado estava a equipa de Josi Cler bastante motivada com a excelente prestação neste campeonato.

O Monte Carlo apresentou-se no seu sistema habitual 3-5-2 e o Kei Lun num 4-3-3.  A luta centrava-se a meio campo com a disputa dos capitães Silva e Anderson Oliveira, ambos a tentar obter o controlo de jogo, ora impedindo ataques rápidos ora organizando saídas rápidas para o ataque. Nenhuma das equipas jogava em ataque posicional, devido às características dos seus avançados. Os treinadores montaram as suas equipas para jogarem em transições rápidas, tornando o jogo emotivo para o adepto e com muitas oportunidades de golo. Nesta forma de jogar destaque para Neto no Monte Carlo e Diego Borges e Cesar Felipe no Kei Lun. Ao intervalo os canarinhos venciam por 1-0 com golo de Keverson Santana e assistência de Neto.

Para o segundo tempo o treinador do Monte Carlo fez duas alterações para ver logo no primeiro minuto o Kei Lun empatar a partida. Cesar Felipe aproveitou um erro enorme de Ho Man Fai, guarda redes internacional A pela selecção de Macau, e de baliza aberta fez finalmente o golo que tanto tinha procurado na primeira parte. O 1-1 estava feito. Foi um balão de oxigénio para o Kei Lun tanto que aos 56 minutos Josi Cler jogou a cartada decisiva: tirou Ismael e colocou Alexandre da Silva. Excelente o treinador do Kei Lun na leitura do jogo ao perceber que o desafio não passava pelo meio campo, tirou um médio mais defensivo, deixando esse trabalho para Silva(que jogão), e colocou mais uma unidade na frente.

Já o treinador do Monte Carlo teve o azar do jogo após mexer pela última vez na equipa, o central Geofredo Sousa lesiona-se, deixando a sua formação a jogar com 10 elementos. Aos 77 minutos e com muita sorte à mistura o Monte Carlo chega a vantagem no marcador através de um golo injusto para o guarda-redes do Kei Lun na forma como o sofreu, ele que tinha estado em grande plano até esse momento. A seguir a este golo só se viu Kei Lun e aos 93 minutos, Alexandre Silva finalmente conseguiu introduzir a bola dentro da baliza dando justiça ao marcador final de 2-2.

Grande jogo no estádio da Taipa bastante emotivo com um resultado justo pela determinação do Kei Lun e pelo esforço do Monte Carlo que com dez homens em campo durante 20 minutos conseguiu ainda estar em vantagem. Mas este não era o resultado que pretendiam e alegria estava toda na equipa de Josi Cler.

Outros jogos

No sábado , Policia 0 Vs 2 Development Team, excelente resultado para os jovens da associação que assim reduzem a diferença para dois pontos para o oitavo classificado que é esta mesma Policia. No segundo jogo o Sporting 0 Vs CPK 3, os Homens do CPK não podiam deixar escapar esta oportunidade para assaltar o segundo lugar e fizeram-no com competência derrotando os Leões do território que novamente mostram boa imagem vendendo cara a derrota.

No domingo, o Benfica De Macau não teve dificuldades em derrotar o KA I, fechando o jogo ainda na primeira parte com 3-0 ao intervalo e finalizando com um 4-1,aumentando para 5 pontos a diferença para o segundo classificado. No outro o jogo mais uma derrota para o Lai Chi 1 Vs 2 Cheng Fung. Com este resultado os velozes praticamente dizem adeus à Liga Elite.

Jogador da Jornada #20 Silva (Kei Lun)

Gigante em tamanho mas também no jogo que realizou. Foi sempre o primeiro a parar os ataques rápidos do Monte Carlo, impressionante o posicionamento táctico, quase sempre adivinhando onde bola da equipa adversária iria sair para o ataque. Para de seguida e com grande qualidade, algo tem vindo a melhor com o passar dos anos, construir os ataques da sua equipa, sendo sempre o primeiro a organizar e clarificar o jogo do Kei Lun.

16 Mai 2017

As mulheres em Francisco Huguenin Uhlfelder

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]as fotografias de Francisco Huguenin Uhlfelder (FHU), [refiro-me às fotografias de mulheres maduras] as mulheres aparecem diante de nós expostas ao esplendor do paradoxo humano: o lugar inalcançável da beleza. Digo: a intangibilidade da beleza surge-nos aqui mais intangível do que nunca. O que é que nos faz ficar tão angustiados face àquelas mulheres: a beleza que já foi, a beleza que ainda nos tenta ou reconhecermos que estamos vulneráveis à indagação desta manifestação omnipresente, à indagação do que é que vale a pena nesta vida? O mistério da beleza identifica-se nestas fotografias com o mistério da vida. Diante do limite extremo da beleza a desaparecer, a vida e a morte assumem uma consciência concreta, uma pedra de que não nos podemos desviar. A fotografia, mais ainda do que um texto, impede-nos de não ver o que está a acontecer na metáfora que o autor trabalha. Ainda que distraídos, ainda que não haja uma elaboração do problema que está diante dos nossos olhos, não é possível furtarmo-nos a ficar incomodados, como se estivéssemos mal sentados há muito tempo e na mesma posição. Porque exerce a beleza tanto poder sobre uma vida? Porque faz tanto frio (à vida que a contemplava e à vida que a transportava) quando a beleza se acaba ou se vislumbra o seu fim?

A melancolia percorre o olhar destas mulheres que são convocadas a enfrentar a câmara. Em algumas das fotografias, consegue-se perceber muito bem o incómodo por parte de quem fica exposto, vulnerável à luz que há-de revelar esse exacto momento para sempre. É este “exacto momento” que inunda estes rostos de melancolia! Se a luz não fosse revelada, muito diferentes seriam as expressões nestes rostos. Saber antecipadamente que o “exacto momento” será revelado, será mostrado, é que introduz um arrepio existencial. Mais do que ser revelado ao mundo, o que arrepia é ser revelado ao próprio (pois o próprio toma como certo que o mundo o vê como a câmara o revela). Ninguém é como a sua revelação à luz de um “exacto momento” captado entre si e uma câmara, obviamente, mas quem se deixa fotografar sabe que vai enfrentar muito mais a imagem que os outros vêem de si, do que aquela que vê frente a um espelho. O que FHU capta na sua câmara, no fundo, é o medo. O medo de não se ser quem se é. O medo, por parte de quem é fotografado, de não se ir reconhecer na imagem que tem de si mesmo. Estas mulheres, outrora indiscutivelmente belas, sentem medo de não se encontrarem na revelação. FHU capta esse arrepio existencial, que é o medo de, ao nos olharmos na revelação de uma fotografia, ficarmos diante de um desconhecido. Pode acontecer muito pior ainda: ficarmos diante de quem nos recusamos a ser (um desconhecido que não queremos aceitar que somos). Mas também pode acontecer algo muito mais simples: apenas não querermos ser lembrados da imagem que somos (embora geralmente estes recusem enfrentar a revelação). O que leva então estas mulheres a enfrentarem a câmara, exporem-se ao medo?

Para além das diferentes circunstâncias e dos diferentes dias de cada uma das mulheres fotografadas, isto é, para além da subjectividade, importa tentar perceber a objectividade da exposição à luz da câmara. Nesta procura de razões objectivas, adiante-se três: porque sabem que ainda são belas; porque querem uma confirmação de como o mundo interpreta a sua beleza; porque querem afirmar as suas próprias vidas acima da imagem que o mundo possa ter delas. A quem sabe que é bela, a câmara não capta um ar de melancolia, nem causa arrepio nenhum. Só que a situação aqui não é “sabe que é bela”, mas antes “sabe que ainda é bela”. Este “ainda” muda tudo. Quem tem consciência de um “ainda”, tem um arrepio pela existência acima. Num jantar, entre apreciadores de vinho, quando se ouve a frase “ainda há vinho”, ouvem-se sem dúvida duas coisas contraditórias: isto está bom, por enquanto, mas vai ficar mau. E, se usarmos como exemplo aqueles que cheiram cocaína, torna-se mais visível: se ao “ainda” não se juntar “há muito”, eles pensam imediatamente que as coisas estão a ficar mal. Mas o exemplo que prefiro vem do desporto. Se, num jogo de futebol, uma equipa precisa impreterivelmente de marcar um golo e um dos seus jogadores ou adeptos pergunta o tempo que falta para o jogo acabar e a resposta é “ainda faltam cinco minutos”, esse ainda não traz muita alegria (embora haja esperança, por isso se justifica responder “ainda”). “Ainda”, enquanto advérbio de tempo, põe-nos imediatamente reféns da duração, da medida da duração daquilo que o “ainda” acusa. O arrepio advém de, no fundo, a consciência nos dizer: isto está a acabar. No caso das mulheres das fotografias: a beleza está a acabar. No caso de quem fica diante das fotografias: a vida está a acabar. Se as mulheres destas fotografias sentiram um arrepio mais próximo do jantar dos apreciadores dos vinhos ou do adepto da equipa de futebol, provavelmente variou dependendo de cada uma delas e do ânimo subjectivo desse dia em frente da câmara, mas do “ainda” e do seu arrepio não se livraram. Por outro lado, a confirmação da beleza que essas mulheres possam ir buscar à revelação, por si só, mostra a situação em que se encontram as suas consciências: necessidade de confirmação. Quem está imerso numa necessidade de confirmação, do que quer que seja, está imerso em águas desconfortáveis. Necessidade de confirmação é muito diferente da necessidade de ouvir o que já se sabe, mas que se gosta de ouvir continua e repetidamente (o exemplo da mulher e da rapariga que necessita de ouvir que é bela, que necessita de ouvir o mundo repetir o que ela tão bem sabe). Necessidade de confirmação acerca de si, pois é exactamente do que se trata, só pode trazer também um valente arrepio pela existência acima. Por fim, as mulheres destas fotografias enfrentaram a câmara para enfrentar o mundo. Para mostrarem ao mundo que são maiores do que a beleza. Maiores do que a beleza que já foram (ou ainda são), maiores do que a expectativa de beleza que o mundo tem delas. Pode ser. Mas quem é que tem necessidade de se afirmar acima da beleza? Não é seguramente a mulher que nunca a teve, mas aquela que a teve ou que sente que está prestes a perdê-la. Afirmar-se diante do mundo (através da revelação) acima da beleza, só lembra a quem julga ser necessário essa afirmação. Uma mulher que nunca foi bela sabe que não precisa afirmar-se acima da beleza: ela é acima da beleza (pode-se também dar o caso de se sentir abaixo da beleza).

Mas então porque é que estas mulheres se expuseram ao medo? Pela beleza. A mesma razão por que nós nos expomos à vida. Vemos agora mais claramente porque é que estas fotografias, que parecem simples retratos, nos perturbam tanto. Mesmo que a beleza desapareça do rosto, do corpo de uma mulher, nunca desaparece totalmente. Por vezes, fica apenas uma suspeita; outras vezes, um desejo de que ela ainda não tenha acabado; outras, uma memória, um modo de vida antigo que ficou incrustado nesta mulher de agora e que, tal como um vestido, não lhe assenta bem. O modo como os deserdados se comportam em relação à fortuna perdida são muitos, mas em nenhum desses modos vamos encontrar o esquecimento da fortuna perdida (da fortuna que foi interrompida). Só quem doa aquilo que herda ou pode herdar (recusando a herança) é que não tem a memória povoada por esse bem. Em verdade, a beleza perdida nunca se perde, acabamos é por deixar de vê-la. Mas ela continua lá, nestas mulheres, a fazer-se sentir sem uma luz que a traga até nós. Precisamente este deixar de se ver ou poder vir a deixar de se ver (a beleza que continua na memória) é que causa o arrepio existencial que a câmara de FHU capta exemplarmente.

Como é possível não nos apaixonarmos por estas mulheres, pelos retratos que aqui mostram estas mulheres? Apaixonamo-nos pela beleza que julgamos perdida para sempre; apaixonamo-nos pela beleza que ainda resta; apaixonamo-nos pela dor que essas mulheres transportam, no receio de irem da luz às trevas; apaixonamo-nos por aquilo que fomos, por aquilo que somos ou por aquilo que seremos, consoante o caso, a idade e a sensibilidade de cada um dos observadores, ao reconhecermos a nossa vida na vida retratada dos nossos semelhantes, na vida retratada destas mulheres. Mas a paixão cai ainda mais longe: neste trabalho de FHU, apaixonamo-nos pela existência. Apaixonamo-nos pelo humano, comprimido pela totalidade do tempo de uma vida. Porque, como já vimos, este “exacto momento” só é exacto porque, para além dele mesmo, arremessa ainda a nossa compreensão para um antes e um depois do momento representado. Mas frente a estas fotografias, a nossa compreensão vai ainda mais longe: frente às retratadas, neste trabalho do fotógrafo, a compreensão arremessa-nos contra nós mesmos.

16 Mai 2017

Manual de terrorismo ontológico

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s dois rapazes entraram e sentaram-se. O autocarro estava estranhamente vazio, ao contrário do que seria expectável em hora de ponta. Esperaram por um momento de silêncio para começarem a falar: é fundamental repor a presença da morte no contexto da existência, disse um para o outro, não é por não falarmos do assunto que ele deixa de existir, completou, e em pouco tempo e à medida que a conversa prosseguia – dos pré-socráticos à Heidegger, da existência pragmática à existência enquanto doença – os restantes passageiros, cada vez mais desconfortáveis, iam divergindo o foco daquilo que os ocupara e, como acontece num acidente de trânsito, por mais incomodados que estivessem, não conseguiam deixar de prestar atenção àquela conversa. O mesmo acontecia no metro. Numa esplanada ensolarada do chiado. Na biblioteca nacional. Numa festa de aniversário na qual o momento de cantar os parabéns fazia lembrar um ensaio de um coro de coveiros. Na praia, até na praia.

No início era apenas uma piada. Uma daquelas ideias que surgem quando se esgotam as conversas e os assuntos possíveis: e se começássemos a falar disto em sítios públicos, em voz alta, simulando uma conversa? “Isto” era filosofia ou, mais especificamente, o tipo de filosofia e de questionamento filosófico que nasce e se propaga quando um homem tem tempo suficiente para fazer as perguntas que não deve e que podem travar o curso normal da existência: o que faço aqui? O que fazemos aqui? Porquê? Para quê?

Nunca pensaram que a brincadeira pudesse ter alguma consequência para lá de uma possível historieta para preencher o silêncio num futuro jantar de natal. E as primeiras experiências que fizeram, no autocarro, pareciam confirmar essa ideia. Para além de um silêncio breve que surgia sempre quando um deles mencionava morte, as pessoas pareciam imunes ao parasita filosófico que eles tentavam fazer crescer e multiplicar por meio da palavra. Foi quando um deles, numa epifania que atribuíram à cerveja, propôs aos restantes mudarem radicalmente a orientação da conversa – até àquele momento muito vocacionada para a produção de respostas, umas mais sofisticadas que outras – e passarem a tentar gerar, nos espectadores das conversas encenadas, perguntas, que tudo mudou.

As pessoas já não sorriam umas para as outras com condescendência quando eles começavam a falar daquelas estranhezas que fazem o assunto de quem tem demasiado tempo. Algumas, ao vê-los entrar, saíam. Uma ou outra pediam-lhes com gentileza para mudarem de tema, porque não tinham idade para aquilo, porque não tinham cabeça, porque não tinham disposição. Não podiam nem queriam serem surpreendidas naquele assalto pelo qual se viam desmunidas, subitamente, das certezas que fazem o chão da vida. Os autocarros foram progressivamente perdendo passageiros, assim como o metro e restantes transportes públicos. Ao entrar num táxi as pessoas detinham-se e dirigiam-se ao condutor: não vai falar daquilo, pois não? O Benfica sagrava-se pentacampeão português à penúltima jornada perante um estádio praticamente vazio. As pessoas saíam de casa apenas por absoluta necessidade. Evitavam a televisão, onde aquilo já grassava também. A pergunta do ano, no Google, era “como evitar falar daquilo?”

Alguns especialistas defendiam, em colunas de opinião, uma acção concertada e internacional para a produção de um documento, subscrito pelo maior número possível de países, através do qual se decretasse a ilegalidade e suspensão imediata daquelas conversas. “Uma espécie de convenção de Genebra da filosofia”, concluíam, incapazes de disfarçar o orgulho que a metáfora neles produzia, malgrado os tempos sombrios.

Um movimento de resistência auto-intitulado “porque não?” organizava, a espaços, marchas de protesto às quais acorriam algumas dezenas de pessoas. Infelizmente, bastava alguém distrair-se, mesmo que bem-intencionadamente, e fazer uma pergunta que pudesse sugerir aquilo para toda a gente dispersar e ficarem espalhados no chão, sublinhando a ironia e impotência do movimento, meia dúzia de cartazes apelando à fé e à confiança dos homens uns nos outros.

Alguns dos rapazes que haviam começado a brincadeira tinham-se suicidado. Outros, esmagados pela culpa, procuravam uma forma de reverter aquilo. Falava-se em antídotos, vacinas, alinhamento de chakras. Mas era tarde demais. Aquilo não ia passar.

16 Mai 2017

Retratos

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ego numa máquina fotográfica e tento capturar a essência do sexo. A imagem enche-se de cores e diversidade que enquadram os protagonistas: o prazer e a vergonha. O prazer luta pelos seus direitos enquanto que a vergonha tenta atrofiar qualquer tentativa de legitimidade prazerosa. Este conflito é constante, repito, constante. As nódoas negras são visíveis, mas esta é daquelas lutas inevitáveis que têm que ser travadas.

Contudo, este retrato pseudo-global não mostra que a tendência será a repressão sexual, e aí o Foucault também concordaria. A variedade, a disponibilidade para uma exploração sexual plena – e individual – surgiu da nossa capacidade, como sociedade, de criar espaços de discussão para que assim acontecesse. Fomos capazes de enaltecer o prazer e o bem-estar para formas supremas do ser, mesmo que nos pareça que haja fortes contra-correntes a contestar esta possibilidade. O sexo é tão natural e primitivo como intelectual. A complexidade emocional, fisiológica, biológica e mental poderia ser a protagonista deste retrato, mas prefiro pô-la no pano de fundo, como as estruturas necessárias para que o entendimento sexual evolua.

O retrato reflecte a eminência da libertação sexual, e isso será possível quando a política da culpa substituir a política do prazer. Na cultura popular a sexualidade é vista como uma forma rentável de lidar com o mercado. Pensamos que o mundo ocidental é ‘liberal’, mas só o é para fins comerciais – porque o sexo vende. A hiper-sexualização social tem sido bem sucedida a mascarar o pudor que o sexo ainda é. As ‘minorias’ sexuais são as que ainda mais levam por tabela. Aqui incluem-se as mulheres também. As mulheres que de minoria não têm nada – são metade da população mundial – mas que são tratadas como se a luta pelos seus direitos sexuais fossem desnecessários. Se me perguntarem, o retrato do sexo teria que incluir estas novas nuances discriminatórias com que me deparo diariamente, quando tento incutir em muitas cabeças de que há processos interpessoais que (ainda) afectam as mulheres particularmente – e que têm que ser alterados.

Se calhar este retrato merecia uma atenção particularmente feminina, particularmente queer, particularmente trans. Não que queira deixar os homens heterossexuais para atrás! Nem pensar. Só que eles foram os protagonistas do sexo por demasiado tempo, já tiveram direito à sua voz. Uma nova era impõe-se. Imaginem tempos onde o prazer consegue o seu lugar na ribalta! Talvez seja útil pensarmos no sexo mais em relação aos seus potenciais objectivos e dissociá-lo de formas patriarcais que teimam em flutuar – até nas cabeças ditas mais progressivas – incessantemente, descontroladamente.

Não sei se consegui fazer com que este retrato tivesse mais forma, ou se continua difuso, confuso e complexo. Talvez o retrato do sexo consiga se expressar melhor no abstracto, no não dito, no emotivo íntimo. Ou talvez precise de corpos, de erótica de bom gosto que combata a pornografia barata que anda por aí a (infelizmente) formatar cabecinhas. Eu consigo imaginar corpos, muitos corpos que abraçam a pureza que a intimidade do sexo lhes traz. Posso imaginar também uma pessoa, ou um só sexo para reforçar a nossa individualidade sexual, as particularidades do que nos atrai e do que nos excita. Talvez uma máquina fotográfica não seja a ferramenta mais indicada para capturar tudo o que viaja na nossa imaginação. Talvez o sexo, o prazer e o tabu já não conseguem viver dissociados. Talvez o sexo tenha que ser assim mesmo.

16 Mai 2017

A marcha para a transformação da França e da Europa

“To avoid the trap of Europe fragmenting on the economy, security, and identity, we have to return to the original promises of the European project: peace, prosperity and freedom. We should have a real, adult, democratic debate about the Europe we want. We need to restore democracy and sovereignty in Europe.”
Emmanuel Macron

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] político novato que nunca desempenhou um cargo político electivo enfrentou uma nacionalista de extrema-direita, provinda dos antípodas da política francesa, pelo que a eleição presidencial pertencerá aos livros de história. Os eleitores franceses participaram na primeira volta das eleições presidenciais, que se realizaram a 23 de Abril de 2017. Após o encerramento e contagem dos votos, os resultados determinaram uma segunda volta, entre os candidatos Emmanuel Macron e Marine Le Pen, que se realizou a 7 de Maio de 2017. O terceiro lugar foi uma corrida renhida entre o esquerdista Jean-Luc Mélenchon e o republicano detentor de alguns escândalos e ex-primeiro ministro, Francois Fillon, que era único favorito de um partido francês. Há cinco anos, na última volta das eleições presidenciais, o socialista François Hollande venceu o então Presidente francês Nicolas Sarkozy da “União por um Movimento Popular (UMP na sigla em língua francesa) ”.

O partido foi fundado em 2002, pelo ex-Presidente Jacques Chirac, dissolvido em 2015 e sucedido pelo “Os Republicanos”, fundado em 2015 e liderado por Sarkozy. Os dois partidos dominaram a vida política francesa desde a década de 1980, à semelhança dos partidos republicanos e democrata nos Estados Unidos, embora em França, os principais partidos sejam frequentemente apoiados por partidos menores parceiros de coligação. O ex-Presidente Hollande cumpriu apenas um mandato presidencial, e era de esperar que se recandidatasse, mas assediado por escândalos pessoais e taxas extremamente baixas de popularidade resolveu afastar-se, sendo a primeira vez que um presidente em exercício desde 1958, não se recandidata.

O candidato Benoit Hamon, escolhido pelos socialistas para substituir Hollande, lutou para sair da sombra do seu antecessor, mas apenas conseguiu 6,36 por cento dos votos. O colapso do voto na esquerda dominante deveria ter beneficiado os republicanos, mas também tiveram enormes dificuldades. O primeiro a sucumbir foi Sarkozy, cuja tentativa de retorno à vida política francesa terminou em uma derrota humilhante e ficou em terceiro lugar em uma primária republicana. O vencedor dessa corrida foi Fillon, que parecia uma aposta certa para a presidência, até que surgirem alegações de que tinha pago salários à esposa e filhos com fundos públicos, trabalho que não realizaram, e apesar de ter negado qualquer irregularidade, deteriorou a sua imagem e, teve de lutar pelo terceiro lugar com Mélenchon, fundador, em 2006, do movimento “França Insubmissa”, e seu actual líder. O movimento é uma continuação da “Frente de Esquerda”, constituída em 2008.

O candidato Macron de trinta e nove anos, emergiu dos destroços dos dois  clássicos partidos políticos franceses. Foi banqueiro e ex-ministro da economia e indústria de Hollande, socialista, independente e fundou o partido social – liberal, “Associação para a Renovação da Política”, mais conhecido por movimento progressista, “Em Marcha”, em 6 de Abril de 2016, que rapidamente atraiu centenas de milhares de membros e subiu nas sondagens, prometendo uma reforma da assistência social e do sistema de pensões, políticas favoráveis às empresas e aumento das despesas com a defesa e um novo projecto para a UE que passa pela sua dinamização. A fraqueza da esquerda e direita moderada, criou a circunstância ideal para um centrista como Macron, que apelou aos eleitores de Fillon e aos socialistas de direita, tendo enfrentado desafios tanto da direita como da esquerda, mas mesmo o aumento dramático de Mélenchon nas últimas semanas da campanha, chegou tarde demais para derrubar os apoiantes do “Em Marcha”.

O valor do euro subiu no dia seguinte às votações que favoreceram Macron na primeira volta das eleições, ao contrário das resultantes do voto no Brexit ou das eleições presidenciais nos Estados Unidos. O então candidato Macron é um forte defensor da UE, ao contrário da sua ex-rival Marine Le Pen que defrontou na segunda volta das eleições presidenciais. A líder da “Frente Nacional” de extrema-direita, desde 16 de Janeiro de 2011, mudou o partido racista e anti-semita fundado pelo seu pai Jean-Marie Le Pen, com um discurso mais próximo da maioria da população para tentar vencer as eleições presidenciais. A candidata apesar de vir do extremismo da política francesa foi uma das figuras mais reconhecidas na campanha eleitoral francesa, sendo figura de relevo em todos os meios de comunicação social nacionais e estrangeiros.

O facto de ser anti-imigrante, economicamente conservadora e partidária da saída da França da UE e da OTAN, a sua eleição seria uma ruptura dramática da tradição política francesa, não diminuindo por tal facto, as suas possibilidades de poder eventualmente ganhar as eleições, que foram impulsionadas pelas preocupações sobre o terrorismo e a crise de refugiados, beneficiado do aumento de apoiantes em muitas partes do mundo, nomeadamente na UE e nos Estados Unidos às políticas anti-imigração. Apesar de sua forte campanha na primeira volta das eleições, teve a inteligência suficiente para considerar o maior obstáculo que representou o desafio de Macron, cujo apoio político maioritário previsível, acabou por se formar.

O candidato Hamon exortou os eleitores socialistas a apoiarem o novato, mesmo não sendo de esquerda, assim como o ex-primeiro-ministro Bernard Cazeneuve. O candidato Fillon, após conhecidos os resultados eleitorais, pediu aos eleitores para apoiar Macron, afirmando que a “Frente Nacional” tinha uma história conhecida pela sua violência e intolerância, e que o seu programa económico e social levaria a França ao fracasso. Os líderes da UE também apoiaram Macron, pelo menos em privado, pois esperavam evitar um outro Brexit, sendo benéfico que o candidato vencedor tivesse sucesso nas eleições para o fortalecimento da UE e da economia social de mercado. A última vez que a “Frente Nacional” esteve próxima de alcançar a presidência, foi em 2002, quando Jean-Marie Le Pen foi à segunda volta, mas os eleitores de todo o espectro político acabaram por derrotar a extrema-direita, tendo Jacques Chirac esmagado Le Pen com mais de 82 por cento dos votos, o maior desaire de uma eleição presidencial francesa, que contou com uma enorme participação, tendo a abstenção representado, apenas 20 por cento dos eleitores registados.

A candidata Le Pen melhorou significativamente o seu círculo eleitoral, mas mais de 73 por cento dos eleitores na primeira volta, escolheram um candidato diferente da líder da “Frente Nacional”, constituindo um sinal bastante sólido acerca da forma como as pessoas iriam votar no dia 7 de Maio de 2017, não tolerando que Le Pen viesse a ganhar as eleições na segunda volta. O escrutínio da primeira volta deu a Macron 24,01 por cento, a Le Pen 21,30 por cento, a Fillon 20,01 por cento e a Mélenchon 19,58 por cento. O recém-chegado político centrista Macron acabou por derrotar na segunda volta das eleições a candidata de extrema-direita, Le Pen. Assim, o pro-europeu Macron obteve 66,1 por cento dos votos, que representam 20,75 milhões de eleitores e Le Pen 33,9 por cento, que representam 10,64 milhões de eleitores e que tinha prometido um referendo “Frexit” se ganhasse as eleições. A abstenção foi de 25,44 por cento e os votos brancos e nulos de 11,47 por cento.

A vitória de Macron representa um virar de página na longa história dos cinquenta e nove anos da “Quinta República Francesa”, sendo o mais jovem presidente eleito. O resultado eleitoral foi uma rejeição enfática ao nacionalismo primário francês. A candidata Le Pen, esperava que a mesma vaga populista que fez Donald Trump vencer as eleições nos Estados Unidos e que teve o seu apoio de Putin, se repetiriam em França. Macron tem pela frente enormes desafios, devendo para além do que consta do seu programa eleitoral, encontrar os medicamentos certos para curar as divisões sociais expostas pela áspera campanha eleitoral e trazer fé e segurança reavivada,  que minore a raiva, ansiedade, e as dúvidas que muitos expressaram ao votar em um extremismo agudo de direita. A vitória de Macron foi a terceira em seis meses, após as eleições na Áustria e na Holanda, em que os eleitores europeus derrotaram os populistas de extrema-direita que queriam restaurar as fronteiras em toda a Europa. A eleição de um presidente francês que defende a unidade europeia também pode reforçar a UE no seu complexo processo de divórcio com a Grã-Bretanha.

A campanha presidencial francesa foi a mais imprevisível que há memória em que muitos eleitores rejeitaram os programas de ambos os candidatos. A França moderna sempre foi governada pelos socialistas ou pelos conservadores. Quer Macron como Le Pen desviaram essa tradição da direita – esquerda. A França enviou uma incrível mensagem para si, para a Europa e para o mundo. Macron era um desconhecido dos eleitores antes de exercer as suas turbulentas funções como ministro da economia e indústria de 2014 a 2016, tendo assumido um repto gigantesco quando deixou o governo do presidente socialista Hollande e concorreu como independente na sua primeira campanha. O seu movimento político inicial, optimisticamente denominado de “Em Marcha” enraizou-se em apenas um ano, aproveitando a ânsia dos eleitores por novos rostos e ideias. É um momento de glória para a França e para a UE, porque depois do Brexit, e da eleição de Donald Trump, o populismo foi derrotado.

Apesar da sua derrota, a subida enorme do número de votantes em Le Pen, pela primeira vez, marca um progresso pessoal e político e realça uma aceitação crescente da sua feroz plataforma anti-imigração. Le Pen foi a terceira candidata mais votada nas eleições presidenciais de 2012. Após estas eleições a sua atenção volta-se imediatamente para as próximas eleições legislativas em França, a realizar, em 11 e 18 de Junho de 2017. Macron vai precisar de uma maioria para poder governar de forma eficaz, tendo o movimento “Em Marcha”, mudado o nome para partido “República em Marcha”, para disputar as eleições legislativas e que é liderado desde 8 de Maio de 2017, por Catherine Barbaroux. Le Pen teve uma votação histórica e maciça, que no seu entender, tornou o partido na principal força de oposição contra os planos do novo presidente. O número de votos obtidos por Le Pen representa quase o dobro dos votos obtidos pelo seu pai nas eleições presidenciais de 2002.

As visões de pólos opostos de Macron e Le Pen foram apresentadas a quarenta e sete milhões de eleitores registados em França e com a maior escolha possível. As fronteiras fechadas de Le Pen confrontaram-se às abertas de Macron. O compromisso deste com o livre comércio competiu contra as propostas daquela para proteger os franceses da concorrência económica global e da imigração. O desejo de Le Pen de libertar a França da UE e do euro como moeda comum foi contra o argumento de Macron, de que ambos são essenciais para o futuro da terceira maior economia da Europa. Além de capitalizar a rejeição dos eleitores do monopólio esquerda -direita do poder, Macron também teve sorte, pois o ex-primeiro-ministro conservador Fillon, um dos seus adversários mais perigosos, foi prejudicado pelas alegações de que a sua família tinha beneficiado de empregos financiados durante anos pelos contribuintes.

O Partido Socialista ruiu e o seu candidato foi abandonado pelos eleitores que queriam punir Hollande, o Presidente mais impopular da França desde a II Guerra Mundial. Macron preside a uma nação que, quando a Grã-Bretanha deixar a UE em 2019, se tornará o único Estado membro com armas nucleares e assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A votação também mostrou que os sessenta e sete milhões de franceses estão profundamente divididos, angustiados pelo terrorismo e pelo desemprego crónico, preocupados com o impacto cultural e económico da imigração e temendo a capacidade da França de competir com gigantes como China e o Google. Macron prometeu uma França que iria enfrentar a Rússia, mas que também iria procurar trabalhar com o Vladimir Putin na luta contra o Estado Islâmico, cujos extremistas reivindicaram ou inspiraram vários ataques na França, desde 2015.

Tendo tomado posse a 14 de Maio de 2007, o novo Presidente francês tem um vasto e ambicioso programa liberal – conservador, que não é de esquerda, nem de direita, não se propondo reformar a França, mas transformá-la, sem rupturas, baseadas no trabalho e responsabilidade. Quanto à área económica propõe medidas como o eliminar de cento e vinte mil postos de trabalho na administração pública nos próximos cinco anos; realizar uma poupança na despesa pública de sessenta mil milhões de euros durante o seu mandato; destinar cinquenta mil milhões de euros ao investimento público nos sectores de futuro; cortar o cabaz de impostos que sobrecarregam as empresas, acompanhada da redução dos impostos locais. A estratégia económica procurará melhorar as despesas públicas, responsabilizar os particulares e relançar o emprego com investimentos, para além de financiar a educação e a formação profissional.

Quanto à área social propõe uma reforma global do sistema nacional de contribuições e de protecção social, procurando flexibilizar o mercado de trabalho, assim como a aposentação, que sofrerá uma grande mudança. Quanto à área política propõe moralizar a vida política, com legislação mais apropriada, considerando-se a favor de uma reforma parcial do modelo eleitoral a duas voltas, benéfico aos grandes partidos, por um modelo com certa dose de proporcionalidade, para facilitar a situação dos partidos mais jovens e emergentes. Quanto à área da segurança propõe reforçar a polícia e as forças de segurança, sugerindo novas formas de cooperação europeia. Quanto à UE considera que já funciona a várias velocidades, sendo a favorável ao inicio de reformas feitas por outros países, para poder adquirir poder e prestigio na Europa. Quanto à área social e cultural aposta no modelo laico francês, avançando ideias mais ou menos gerais e pouco comprometedoras sobre a nova França multicultural.

O presidente social reformista maquilha todas as suas iniciativas com doses aleatórias de ecologia, radicalismo e respeito à diversidade. O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, disse uma verdade cruel: se o Presidente Macron falhar nos próximos cinco anos, Le Pen será Presidente, e o projecto europeu será como um osso atirado aos cães. A UE por sua parte terá de voltar à essência e natureza do projecto da sua fundação, deixando de ser a Europa dos políticos, tecnocratas e burocratas, para passar efectivamente a ser a tão anunciada e desejada e não praticada, Europa dos cidadãos.

16 Mai 2017

CTCC | Ávila admite que não foi uma estreia fácil

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]odolfo Ávila iniciou a sua participação no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) com um terceiro lugar. Apesar de ter subido ao pódio, o piloto de Macau teve que suar as estopinhas para lá chegar. Aliás, Ávila foi obrigado a fazer duas corridas de recuperação no Circuito de Zhuhai.

“Tivemos algumas dificuldades inesperadas na qualificação”, explicou o piloto do território ao HM que foi obrigado a recuperar da nona posição da grelha de partida até ao último lugar no pódio. “Felizmente o trabalho fora de pista foi bem feito e no domingo, principalmente na primeira corrida, o comportamento do carro melhorou bastante, dando-me a possibilidade de conduzir nos limites e avançar na classificação”, salientou Ávila que na segunda corrida voltou a ter que fazer exactamente o mesmo.

A grelha de partida da segunda corrida do CTCC é este ano determinada pela classificação inversa dos doze primeiros classificados da primeira corrida, o que daria a Ávila o 10º posto para o arranque do segundo confronto. Todavia, Ávila foi obrigado a arrancar do 13º lugar da grelha de partida, pois recebeu uma penalização de três posições por uma alegada manobra perigosa, ao ultrapassar o BAIC Senova D60 de Darryl O’Young, durante a primeira corrida. Pela segunda vez no mesmo dia, o piloto do Volkswagen Lamando GTS nº9 ultrapassou vários adversários ao longo das 11 voltas ao circuito da cidade chinesa adjacente a Macau, terminando no sétimo lugar, garantindo preciosos pontos para o campeonato. “Não foi tão fácil como parece. Ora ganhava lugares, ora perdia lugares”, esclareceu o piloto que deu os primeiros passos no automobilismo no Kartódromo de Coloane, que lembra que “neste campeonato as lutas no meio do pelotão são muito aguerridas e é preciso uma atenção suplementar, pois ao mesmo tempo que tentas ultrapassar o carro que segue à tua frente, atrás de ti há quem queira tirar partido da situação e roubar-te a posição. Não há tempo para relaxar.”

Uma nova realidade

Apesar da sua já substancial experiência no automobilismo e até ter no currículo o vice-campeonato do TCR Asia Series de 2015, as corridas de Turismo são um mundo relativamente novo para Ávila.

“A experiência conta muito no automobilismo e os meus adversários já correm nesta disciplina há anos. Eu nunca fiz nenhuma temporada completa de carros de Turismo. Fiz duas provas do campeonato TCR asiático, incluindo o Grande Prémio de Macau, e duas provas do CTCC o ano passado. E foram duas provas em que não deu para aprender muito, pois tivemos diversos problemas no carro”, explicou o piloto português. “As corridas de Turismo são muito diferentes das corridas de Fórmulas ou GT em que participei no passado. Os carros obrigam a um estilo de condução diferente e as corridas também são diferentes, pois os andamentos são muito mais equilibrados, as corridas mais curtas e há mais toques”, acrescenta o piloto oficial da SAIC Volkswagen 333 Racing.

O CTCC continua no fim-de-semana de 3 e 4 de Junho, com a visita ao Circuito Internacional de Guangdong. Ávila nunca correu no sinuoso circuito localizado na cidade chinesa de Zhaoqing, algo que não o incomoda, pois “vou encarar este fim-de-semana com a mesma atitude e vontade. Darei o meu melhor em pista e acredito que os resultados vão continuar a aparecer”.

16 Mai 2017

Maria de Deus Manso, investigadora: “A expansão [dos Descobrimentos] foi essencialmente cultural”

 

Os Descobrimentos levaram Portugal pelo mundo e o mundo de regresso a Portugal, mas também colocaram todas as culturas por onde fomos passando em contacto. O império levou Macau ao Brasil, Goa a Luanda, Lisboa a Hoi An. A professora Maria de Deus Manso faz-nos uma visita guiada pela confluência cultural que se originou na expansão lusa além-mar, em particular através da influência da Companhia de Jesus nos territórios ultramarinos

 

Qual a importância dos jesuítas na expansão do Império Português?

A Companhia de Jesus, desde a sua fundação, foi uma ordem fundamental para consolidar todo o processo de expansão e colonização portuguesa. Era uma instituição que trabalhava ao lado da Coroa. No século XVI, o Rei e a Igreja, principalmente a Companhia de Jesus, uniram-se para consolidar esse projecto. É uma ordem do período moderno, surge já com a preparação e os objectivos de partir para missão não só a nível ultramarino, como também na própria Europa. Mas no império ultramarino foi onde eles mais se destacaram. Uma das características da ordem é a mobilidade permanente, podem começar em Macau, mas partir daqui para outras áreas do império. Assim como de outras áreas para Macau. Eles não vêm, ficam e morrem aqui.

Tiveram muita importância na fixação de Portugal em Macau.

Foram fundamentais para a estruturação da colonização e a presença portuguesa no Oriente. Uma coisa era Macau e a sua presença aqui. Uma vez que a presença portuguesa era consentida, não tinham dificuldade em se instalarem. Outra coisa era irem até Pequim. Havia uma rejeição relativamente aos europeus, era extremamente difícil fixarem-se. A Companhia de Jesus tem a característica da adaptação; sabendo eles da dificuldade que tinham na conversão da China, optaram por se adaptarem. A missionação era extremamente difícil, passava sobretudo pelo ensino, pelos conhecimentos que tinham de matemática e astronomia. Perante isto, conseguem instalar-se na Corte, são aceites não só pelos conhecimentos, como também porque em termos visuais adaptam-se àquilo que eram os costumes e as tradições locais. Isto fez deles uma ordem com grande sucesso. Se pensarmos em termos de expansão, havia a questão do padroado português, ou seja, a Coroa portuguesa ao conquistar tinha como obrigação missionar esses mesmos espaços.

A adaptação parece uma boa cartada política por parte dos jesuítas.

Claro, é óbvio. Se as autoridades portuguesas ali estiverem eles tinham facilidade em impor tanto a língua, a doutrina, como até as tradições. Embora nunca haja uma pureza, digamos assim, daquilo que se pretende que seja as sociedades. Isto é, a cultura portuguesa irá alterar-se quando chega a qualquer local, irá absorver elementos de outras culturas. Aquilo a que hoje chamamos de mestiçagem, que não é apenas biológica, é também cultural, religiosa, etc.. Mas em regiões onde não há uma conquista com poder político instituído, não há quem proteja a Igreja, eles tinham de contar com as suas próprias capacidades. Isso passaria pela própria adaptação às culturas em que se inseriam.

Nas suas visitas frequentes a Macau, que vestígios vê da Companhia de Jesus pelas ruas?

A cultura que hoje vemos em Macau é a de uma sociedade mista, onde há confluência de muitas culturas e uma delas é a portuguesa. Não só a língua ainda permanece, mas também a religião. O catolicismo instalou-se aqui e isso dita, certamente, tradições e comportamentos que fazem com que se crie uma identidade que separa esses convertidos ao Cristianismo da restante população. Ainda que nas primeiras gerações não fossem convertidos de fé, isto é, não estavam suficientemente preparadas para o exercício do Cristianismo, à medida que vão aceitando e convivendo com locais da Companhia, vão aprendendo a língua e a doutrina também. Essa diferença vai separar. Vemos a separação e certamente a cultura em muitas componentes, desde a maneira de vestir, à culinária, à arrumação da casa.

Que exemplos destaca da adaptação dos jesuítas aos costumes locais?

A questão do vestuário. Se eles aparecessem vestidos de jesuítas, todos negros, eram facilmente identificados. Não é que estivesse na cabeça das pessoas a pertença a determinada ordem, mas aquela pessoa era alguém estranho às suas culturas, era um ocidental. Regra geral havia sempre a rejeição face ao outro, de ambas as partes. Se eles não fossem aceites, não fossem inseridos nas comunidades, como é que conseguiam estabelecer um diálogo, um contacto?

Era uma forma algo diplomática de agir.

A adaptação, neste sentido, é uma sobrevivência, a única forma que têm de ser aceites, algo que passa pelo vestuário e a alimentação, por exemplo. O choque cultural não era apenas pela fé, pela religião em si, mas pelas consequências que o Cristianismo e a conversão poderiam trazer às populações. Um cristão podia assumir uma identidade diferente, comportamentos diferentes e até afastar-se da sociedade onde estava inserido. As autoridades locais também não gostavam disso. Os cristãos assumiam alguma importância social porque, como sabemos, nalgumas sociedades a mobilidade praticamente não existia, como vemos por exemplo na Índia com o sistema de castas. Mas com o Cristianismo essa mobilidade poderia acontecer. Isso trouxe alguma desestruturação às sociedades onde as missões se estabeleceram. Houve uma reacção também à praxis do Cristianismo, isso torna-se notório se pensarmos numa sociedade poligâmica onde a religião se tenha instalado. Isso faz com que muitas das vezes tivesse havido perseguição e hostilidade face aos cristãos, em consequência dos comportamentos impostos às sociedades.

O que entende por circularidade cultural?

Durante muito tempo pensou-se que tudo isto estava separado, ou se ia para o Atlântico, ou se ia para o Índico; apesar de tudo ser navegável, entendia-se que as coisas estavam estanques. Isto é, não havia comunicação entre um império vastíssimo, uma rede. Temos, de facto, uma presença oficial, mas depois temos uma presença privada que se espalha, que ultrapassa em muito aquilo que entendemos como o dito império oficial. Há uma circulação. Os missionários não se fixam e vivem uma vida inteira numa única região. Eles circulam, assim como os mercadores, até os próprios escravos que transportam também uma cultura. Não só absorvem a cultura onde se vão inserir, como eles próprios transmitem a sua cultura. Fala-se pouco da escravatura asiática, que não teve a mesma dimensão da africana, mas houve também. Essa circulação transporta pessoas, mas transporta também uma cultura. Passa pelo saber, pela língua e religião, mas também plantas, sedas, materiais de decoração, como as lacas, por exemplo.

O que se sente de Macau, por exemplo, no Brasil?

Há dois locais no Estado da Bahia, afastados da capital Salvador, onde a influência também chegou. A 120 quilómetros de Salvador – hoje não é longe mas no século XVII era longínquo –, situa-se Cachoeira e o Seminário de Belém, que foi construído pelos jesuítas. Aí encontramos elementos orientais. Na chamada, agora, Igreja do Carmo em Cachoeira temos cinco Cristos chineses. Sabemos que o Porto de Salvador era importantíssimo, tinha uma grande ligação com Goa e Macau, daí não ser estranho encontrarmos os enormes cristos chineses, assim como um grande armário oriental. Como é que isto foi lá parar? Quem foram os artistas que fizeram estes Cristos e este armário? Também no Seminário de Belém o tecto da sacristia está todo decorado com motivos e flores orientais. Isto são dois elementos bem visíveis de como a arte e os artistas circulavam. Se os Cristos têm aspecto chinês não terão sido, certamente, cristãos europeus a terem feito estas peças. Também temos marfins orientais que circulavam por estas regiões. Temos também toda a fauna e flora que vai daqui para lá, que hoje é tida como brasileira. Por exemplo, o coqueiro veio da Índia. O chá veio do Oriente e ganhou muita importância. A expansão não foi só militar, não foi só económica e política, ela foi, essencialmente, cultural.

À luz dos seus estudos, o que encontra nestas ruas sempre que vem a Macau?

Encontro a História e Portugal. Gostaria de encontrar mais a língua portuguesa, de facto as ruas estão escritas em português, mas lamento muito que na Universidade de Macau o português não tenha sido opção. Acho que houve algum descuido relativamente à língua. Mas, nalgumas zonas de Macau, não digo nas zonas dos casinos, sinto que estou em ruas que são, efectivamente, portuguesas. Não só pelas igrejas, mas também pela calçada portuguesa, o azulejo, a Misericórdia, que era uma instituição portuguesa e que acompanhou todo o processo expansionista português.

O que tem de especial a portugalidade que deixa tantas marcas por onde foi passando?

As missões jesuítas não ficavam apenas onde estava a presença portuguesa. Levam a cultura e a língua a outras partes do globo. Se formos ao Vietname encontramos presença portuguesa, assim como Malaca, Timor e por aí fora. O projecto imperial teve uma faceta muito violenta porque impôs a cultura, que muitas vezes não foi aceite pacificamente, mas que resultou de uma conquista, ou de outros interesses económicos das autoridades locais. Se pensássemos apenas no projecto territorial, com conquista militar, com uma estrutura política similar à que tínhamos em Portugal, tudo com o objectivo apenas de fazer comércio, sem mais nenhuns contactos, não teria cá ficado o português, nem a religião, nem a arquitectura, etc.. Essa presença é, efectivamente visível em Macau.

15 Mai 2017

Ensino superior e medicina tradicional chinesa na mira de “Uma Faixa, Uma Rota”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rrancou este fim-de-semana a cerimónia oficial de abertura do Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, onde Macau está representado através de uma delegação chefiada por Chui Sai On, Chefe do Executivo. Em Macau, as expectativas de cooperação estão depositadas na área da medicina tradicional chinesa e ensino superior.

Segundo o jornal Ou Mun, Frederico Ma, presidente do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), considerou que Macau pode apostar no desenvolvimento da medicina tradicional chinesa e que tem vantagens nessa área.

Para Frederico Ma, Macau, para além de possuir laboratórios, tem especialistas nesta área, tendo sido realizados vários trabalhos ao nível da aprovação e verificação da qualidade da medicina tradicional chinesa, com cariz internacional.

Contudo, o presidente do FDCT considera que esta área enfrenta problemas de integração com os restantes países que integram a política “Uma Faixa, Uma Rota”, tais como as diferenças culturais ou a tecnologia existente, o que faz com que o ambiente para o seu desenvolvimento não seja muito satisfatório. Frederico Ma defende ainda que há espaço para melhoria no sector, sobretudo ao nível da produção local e de criação de marcas.

Também ao jornal Ou Mun, a presidente do Instituto de Enfermagem do Kiang Wu, Florence Van, disse que pode ser feita uma aposta na cooperação ao nível do ensino superior, com a criação de cursos focados para a política “Uma Faixa, Uma Rota” e as necessidades dos países envolvidos.

Para Florence Van, não basta apostar no comércio, é também importante abordar áreas como as artes, humanidades e educação. A presidente do instituto de enfermagem defende que o ensino superior local pode contribuir muito para a integração na política chinesa, uma vez que os cursos de turismo, medicina tradicional chinesa e enfermagem são os mais atractivos.

Para melhorar a cooperação com países estrangeiros, Florence Van sugere a realização de cursos de intercâmbio de curto prazo, através dos quais os alunos e professores estrangeiros podem inteirar-se da educação de Macau.

Empréstimos anunciados

Informações avançadas ontem dão conta que a China vai contribuir com 100.000 milhões de yuan adicionais para o Fundo da Rota da Seda. Nos próximos três anos, vai ser dada ajuda no valor de 60.000 milhões de yuan a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa. Dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000 milhões de yuan.

A delegação de Macau regressa hoje ao território. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On afirmou que a cooperação da RAEM no âmbito desta política irá focar-se “no fluxo de transacções comerciais, acesso ao financiamento ou assegurar a ligação entre os povos”. Os mercados dos países de língua portuguesa e do Sudeste Asiático serão considerados “prioritários”.

A Fundação Macau irá criar bolsas de estudo neste âmbito. O Chefe do Executivo lembrou ainda a promoção da participação dos jovens, “através da criação de bolsas de estudo e actividades de intercâmbio entre alunos do secundário de Macau”.

15 Mai 2017

Economia | PME vão poder pedir segunda verba de apoio

É uma medida que, em teoria, poderá beneficiar mais de 1700 empresas de Macau. O Executivo decidiu rever o sistema de empréstimos sem juros. O objectivo é ajudar a impulsionar os negócios de quem tem o dinheiro contado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo anunciou que as Pequenas e Médias Empresas (PME) vão poder candidatar-se a uma segunda verba de apoio, até ao montante máximo de 600 mil patacas. A proposta foi apresentada em Conselho Executivo juntamente com outra que aumenta o valor dos empréstimos que as PME podem pedir com 70 por cento da garantia dada pelo Governo.

Em 2003, o Executivo de Macau criou uma verba de apoio para as PME, isenta de juros e reembolsável, cujo valor máximo tem vindo a aumentar. Para apoiar este tipo de empresas, “na expansão contínua dos negócios”, as PME vão ter “oportunidades de acesso, pela segunda vez”, desde que o primeiro subsídio tenha sido totalmente pago (tanto do ‘Plano de Apoio a PME’ como do ‘Plano de apoio a jovens empreendedores’), a “situação operacional” do negócio seja “adequada” e não haja dívidas à RAEM.

Apesar de estar prevista a “simplificação das formalidades do pedido”, são alargadas as obrigações impostas aos beneficiários, como a apresentação semestral de documentos comprovativos da utilização da verba concedida.

De acordo com informação disponibilizada pelo Conselho Executivo, há actualmente 1726 PME que preenchem os requisitos para pedir um segundo apoio.

Do total de 8820 pedidos aprovados para uma primeira verba, num total de 2,5 mil milhões de patacas, apenas 3719 reembolsaram a totalidade do dinheiro, mas o director dos Serviços de Economia, Tai Kin Yip, explicou que outros estão em processo de reembolso e só 420 é que estão efectivamente com o reembolso em atraso.

Segundo os mesmos dados, a maioria dos pedidos, 32,6 por cento ou 3206 casos, corresponderam a PME na área do comércio a retalho, a quem foram concedidos 803 milhões de patacas.

De cinco para sete

O Governo apresentou também uma proposta para aumentar o limite máximo do montante de crédito bancário concedido a cada PME e, assim, o montante da garantia de crédito prestado.

Segundo a proposta, o Governo mantém em 70 por cento a percentagem de crédito bancário garantido a cada empresa – com a actualização do valor máximo do empréstimo de cinco para sete milhões de patacas, a garantia sobe também para 4,9 milhões de patacas.

O Executivo justificou a “optimização do plano vigente” com a “mudança do actual ambiente da RAEM, para satisfazer a procura de financiamento bancário por parte das PME”.

Desde a criação deste plano, também em 2003, 563 pedidos foram aprovados para o plano de garantia de créditos a PME, num total de 1,4 mil milhões de patacas, e 66 relativos a projectos específicos (55,6 milhões de patacas).

As receitas da Administração aumentaram 9,4 por cento até Março, em termos anuais homólogos, em linha com o aumento da verba arrecadada com os impostos directos cobrados sobre a indústria do jogo.

Abril foi o nono mês consecutivo de subida das receitas do jogo, as quais iniciaram, em Junho de 2014, uma curva descendente, terminada em Agosto último, após 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas.

15 Mai 2017

Recrutamento | Chui Sai On diz estar “triste” com processo do Instituto Cultural

Momentos antes de partir para Pequim, onde participou no Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, Chui Sai On disse “estar triste” com o caso no Instituto Cultural, que levou à abertura de um processo disciplinar. O Chefe do Executivo referiu ainda estar atento ao mercado imobiliário

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso do recrutamento ilegal no Instituto Cultural (IC), revelado pelo relatório do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), deixou o Chefe do Executivo “triste”. Foi o que disse Chui Sai On, segundo a Rádio Macau, momentos antes de embarcar para Pequim, onde chefiou a delegação da RAEM participante no Fórum “Uma Faixa, Uma Rota”.

“Estou muito triste. Nós temos de ter a responsabilidade de fazer bem. O facto de um serviço ter feito isso ao longo de tantos anos sem ninguém descobrir deve levar a que sejam feitas algumas mudanças. É preciso identificar onde surgiu o problema. O Governo também tem de assumir a responsabilidade e vou falar com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, para ver como é que podemos evitar que haja mais serviços com este problema”, disse Chui Sai On no Aeroporto Internacional de Macau.

Citado por um comunicado oficial, o Chefe do Executivo adiantou ainda que o relatório elaborado pelo IC vai ser encaminhado para o CCAC “para efeitos de análise”, tendo referido ainda que “o caso deve ser revisto, já que houve um longo desconhecimento dos problemas existentes”.

Atento ao imobiliário

Questionado sobre a recente medida adoptada pelo Executivo para travar a especulação imobiliária, relacionada com a queda dos rácios bancários, Chui Sai On explicou que a deliberação foi decidida em conjunto com o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, “após um longo período de fiscalização”.

O Chefe do Executivo disse aos jornalistas que “mais de 90 por cento das transacções do mercado imobiliário foram feitas com capital local”, sendo que “há mais residentes locais que adquirem mais do que uma casa”.

Para Chui Sai On, uma redução dos rácios bancários “é importante do ponto de vista da segurança financeira e do desenvolvimento saudável do mercado imobiliário local”. O Chefe do Executivo promete “estar atento ao referido mercado, no sentido de recolher opiniões e de as analisar adequadamente”.

Sobre as novas normas de utilização dos capacetes por parte de condutores de motociclos, Chui Sai On garantiu que as opiniões enviadas pelas associações à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego “serão cuidadosamente analisadas”.

O Chefe do Executivo defendeu que as novas normas visam garantir a segurança dos condutores, sendo que a primeira fase da execução do regulamento “dá ênfase ao apelo e não à multa”. Chui Sai On “espera através de campanhas de sensibilização, coordenar com a população, no sentido de salvaguardar a segurança dos cidadãos”, conclui o comunicado.

15 Mai 2017

Eleições | CCAC recebeu queixas sobre recolha de assinaturas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aviso é deixado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC): a comissão de candidatura deve ser constituída em conformidade com a lei. Há interessados em concorrer às legislativas que já começaram a recolher assinaturas dos eleitores. Alguns não o fizeram da melhor maneira.

O CCAC não diz quem são, nem quantos são. Limita-se a explicar que “recebeu notícias” que lhe “chamaram a atenção”. De acordo com um comunicado do órgão de investigação criminal, “algumas associações e indivíduos organizaram recentemente actividades, a diversos títulos, durante as quais comidas e bebidas foram fornecidas gratuitamente ou com descontos”. Essas ocasiões serviram para anunciar “a intenção de candidatura de determinados indivíduos ou foram disponibilizados aos participantes formulários de constituição de comissão de candidatura para assinatura”.

Ora, de acordo com a Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa, quem oferecer ou prometer vantagem, por si ou por intermédio de outrem, para que uma pessoa singular ou uma pessoa colectiva constitua ou não constitua comissão de candidatura seguindo determinado sentido, comete um crime de corrupção eleitoral e é punido com pena de prisão de um a oito anos, recorda o CCAC.

“Além disso, prevê-se na mesma lei que quem exigir ou aceitar os benefícios oferecidos por outrem, no sentido de constituir ou não constituir comissão de candidatura seguindo determinado sentido, é punido com pena de prisão até três anos”, escreve o comissariado.

Tolerância zero

O CCAC garante que vai investigar “quaisquer denúncias ou queixas relativas à corrupção eleitoral”. Por outro lado, lembra que aqueles que pretendam concorrer nas próximas eleições “devem agir no cumprimento rigoroso da lei, quer na constituição da comissão de candidatura, quer nos actos eleitorais subsequentes”.

O CCAC reitera que vai “combater firmemente a corrupção eleitoral e os demais actos ilegais no âmbito das eleições, insistindo nos princípios de imparcialidade e da não tolerância”. Apela ainda aos cidadãos para que apresentem denúncias dos actos ilegais ou irregulares relativos às legislativas, através da linha vermelha e da plataforma na Internet criadas para o efeito pelo CCAC e pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa.

15 Mai 2017

Parisian | Amostras contaminadas com legionella

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau (SSM) detectaram valores anormais da bactéria legionella pneumophila em 10 das 78 amostras de água recolhidas do Hotel Parisian em Macau. De acordo com o comunicado enviado à comunicação social, as amostras dizem respeito às águas das torneiras das instalações sanitárias e nos balneários da piscina daquele hotel. A bactéria não foi encontrada nas piscinas, jacuzzis e fontes.

As dez amostras contaminadas revelaram valores superiores ao limite de 10CFU/ml permitido. Na mesma acção foram ainda detectadas anormalidades no funcionamento do sistema de cloração da água redistribuída e insuficiência do cloro residual. Consequentemente, referem os SSM, o organismo exigiu a correcção imediata das situações em falta.

A inspecção decorreu de uma notificação do Centro de Protecção de Saúde de Hong Kong recebida no passado dia 21 de Abril, em que dos 17 casos notificados de legionella pneumophila, pelo menos três dos portadores tinham viajado para Macau durante o período de incubação da bactéria entre os meses de Janeiro a Março. Durante a investigação os SSM confirmaram que neste período, um dos portadores visitou o Hotel Parisian Macau e dois estiveram hospedados no mesmo Hotel.

Ao Parisian foram ainda deixadas recomendações de procedimentos rigorosos. Em Macau, nos últimos dez anos, apenas foi registado um caso confirmado da doença dos legionários, em 2010.

15 Mai 2017

Crime | Número de toxicodependentes diminuiu em 2016

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] consumo de estupefacientes em Macau é um crime que, aliás, foi agravado na última revisão à lei. Os serviços acreditam que desta forma estão a ajudar quem tem problemas com drogas, encarando a pena de prisão como uma oportunidade para desintoxicação

Durante a primeira sessão plenária deste ano da Comissão de Luta contra a Droga (CLD), foi anunciado o decréscimo dos consumidores de estupefacientes em 2016. No ano passado, os serviços registaram um número total de 548 toxicodependentes, dos quais 6,2 por cento eram jovens. Este número representou um decréscimo de 55,3 por cento quando comparado com o período homólogo de 2015.

Hoi Va Pou, chefe do departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga, acredita que esta diminuição se “deve ao trabalho de prevenção realizado na comunidade e em locais como as escolas”.

A droga mais usada foi a metanfetamina, mais conhecida por “ice”, representando 35,4 por cento dos consumidores de estupefacientes. É de realçar que a percentagem de pessoas que consome “ice” tem vindo a subir.

Outro dos dados avançados por Hoi Va Pou foi o local mais usado para os consumos punidos por lei. Mais de 70 por cento dos toxicodependentes consumiu drogas de forma oculta, seja em sua casa, na casa de amigos ou em quartos de hotel.

No ano passado, em média, cada toxicodependente gastou em droga 7330 patacas, um valor que representa um acréscimo de 11,8 por cento em relação a 2015.

Consumo criminal

Actualmente, o consumo de drogas em Macau é um crime, contrariando a tendência registada entre os países mais desenvolvidos, que passaram a tratar o problema da toxicodependência como uma doença, os toxicodependentes como doentes e não criminosos. Isso não acontece por cá; aliás, a revisão legal do início deste ano agravou a pena para os consumidores.

Quando questionada sobre se Macau devia seguir esta tendência de mudança de paradigma no tratamento do problema da droga, Hoi Va Pou foi peremptória. “Em Macau, o consumo de drogas é um crime, aumentámos a pena de prisão e esperamos que através da alteração da lei possamos ajudar estas pessoas.” A chefe do departamento lembrou ainda que o regime legal prevê a pena suspensa para quem avance para processo de desintoxicação.

Outro dos assuntos revelados à margem da reunião da CLD foi a realização em Macau do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, que acontecerá entre Junho e Agosto deste ano. Outro dos eventos em destaque foi a Conferência Nacional sobre a Prevenção e Tratamento da Toxicodependência de 2017, que se realiza em Outubro em Hong Kong, que contará com os vogais da comissão.

Com a meta de reduzir o consumo de droga, os serviços revelaram que pretendem reforçar as acções de sensibilização, assim como recorrer às equipas de intervenção comunitária para jovens em instituições particulares.   

Noutro capítulo, a CLD apresentou aos seus membros o conteúdo da última sessão das comissões de estupefacientes das Nações Unidas, onde foram apresentados dez novos tipos de substâncias sujeitas a controlo internacional, assim como dois tipos de precursores de drogas. A comissão quer incluir estes novos estupefacientes na lista de substâncias proibidas.

15 Mai 2017

Ilha Verde  | Associação pede melhores condições ambientais

Carros abandonados, óleos no chão, peças soltas, pneus e veículos reciclados. Esta é a situação que rodeia os moradores da Ilha Verde e que dada a falta de fiscalização prejudica quem ali mora. Saúde e segurança pública estão em risco e a associação de moradores pede intervenção do Executivo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Ilha Verde precisa de melhores condições para os moradores. A ideia foi deixada ontem pela Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde. Ao HM, a subdirectora da Associação, Chan Fong, sublinhou as más condições em que vivem os moradores daquela zona. A razão, aponta, é a ocupação de muitas áreas por veículos abandonados, pneus e peças de automóveis. A responsável diz mesmo que se trata de um caso de segurança pública: no ano passado teve lugar um acidente que envolveu a queda de pneus acumulados mas, “felizmente, não causou vítimas”, diz.

De acordo com a associação os principais responsáveis pela situação são as oficinas de reparação de veículos e os depósitos de carros abandonados.  Com o grande número destes espaços naquela zona, os veículos estacionados acumulam-se na via pública o que dificulta o acesso e a circulação dos peões e que pode mesmo colocar em risco a segurança pública em caso, exemplifica, de incêndio.

A situação tende a piorar, afirma Chan Fong quando chove. “As peças de automóveis que se vão dispersando passam a ter condições propícias à acumulação de insectos o que vai afectar directamente a saúde pública”, refere.

Os moradores queixam-se também dos efeitos das demolições dos carros que acontecem nas sucatas da Ilha Verde. Em causa estão os resíduos de óleo que resultam do processo e o ruído que daí advém e  perturba a qualidade de vida dos residentes.

Responsabilidades imputadas

De acordo com Chan Fong, a responsabilidade de resolver a situação cabe ao Governo que deve proceder a uma maior fiscalização tanto das oficinas como dos locais que tratam da destruição de carros abandonados.

A subdirectora salienta ainda as expectativas dos residentes que, afirma, “aguardam a saída do regulamento que dita a fiscalização do funcionamento destas empresas”. Entretanto, lamenta que, depois de tantos anos de espera,  o referido regulamento ainda não tenha data de implementação.

É no entanto urgente, do ponto de vista dos moradores, que o Executivo avance com medidas capazes de criar espaços para albergar oficinas e, principalmente, depósitos de veículos de forma a que “as fontes de incómodo possam ser gradualmente afastadas das residências da Ilha Verde”.

No caso dos terrenos que não pertencem ao Governo e que estão ocupados pelas empresas de reciclagem automóvel, a associação apela ao diálogo com os proprietários para que, em conjunto, se encontre uma solução. Em causa, sublinha Chan Fong, está a higiene e segurança pública.

A responsável não deixou de alertar para a necessidade de preservação da colina dadas as suas características naturais e o seu património.

15 Mai 2017

Centenário de Fátima | Milhares de fiéis católicos saíram às ruas em Macau

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de fiéis católicos espalharam-se este sábado pelas ruas de Macau para a procissão de Nossa Senhora de Fátima, no ano em que se comemoram os 100 anos das “aparições” marianas de Fátima. Alguns participaram na iniciativa pela primeira vez.

Junto à porta do local das cerimónias Freeman Leung, 26 anos, veio de Hong Kong, pela primeira vez, de propósito para a procissão: “Sou católico-apostólico. Em Hong Kong temos poucas destas actividades, por isso quis juntar-me e experienciar”.

Por herança britânica há em Hong Kong uma presença mais forte do protestantismo do que do catolicismo, apesar de ambas as igrejas serem minoritárias. “Sinto que estas cerimónias, estas liturgias, podem ajudar-me a estar mais perto de Deus e fortalecer a minha fé”, disse Freeman Leung.

Ao contrário dos anos anteriores, quando a eucaristia e o início da procissão ocorriam na Igreja de São Domingos, este ano a cerimónia foi marcada para a Sé Catedral de Macau e pelas 18h00 já pouco espaço havia no Largo da Sé, onde as pessoas que não couberam na igreja acompanhavam a missa através de ecrãs, algumas envergando t-shirts com a imagem de Nossa Senhora.

Após a missa em três línguas (chinês, português e inglês) pelo bispo Stephen Lee, e a comunhão, quando já era noite, a imagem de Nossa Senhora de Fátima saiu da igreja, entre cânticos de Avé Maria e centenas de ecrãs de telemóveis.

Em declarações à Lusa, Freeman Leung espera que a relação entre a China e o Vaticano melhore, apesar das “dificuldades” que fazem com que “o Governo [chinês] não permita que os católicos expressem a sua fé livremente no país”.

Segundo Leung, muitas outras pessoas vieram a Macau para a ocasião, notando um número significativo dos que falam mandarim. “Acho que querem experienciar isto”, apontou.

Subir à Penha

Com o marido e a filha de três anos, Jane Leung, de 34 anos, contou que esta foi a primeira vez que foi à procissão desde que foi mãe. “Este ano é especial, por causa do centenário. É importante participar num evento desta natureza. É tão impressionante. Temos de copiar o comportamento da Virgem Maria e a sua paixão”, comentou.

A procissão seguiu pela cidade até à igreja da Penha, onde só chegou pelas 21h00. O dia quente e húmido não impediu milhares de pessoas de subir até à Ermida da Penha, acompanhadas de orações e cânticos que ecoavam pelos altifalantes espalhados pela cidade.

Depois de “ter ficado a meio caminho” no ano passado, a portuguesa Sílvia Carimbo, de 44 anos, desta vez acompanhou a procissão até ao fim. “Noto muito mais gente este ano, acredito que por comemoração do centenário tenham aparecido muito mais pessoas na procissão”, disse.

Segundo indicou a polícia à Lusa, três mil pessoas estiveram na procissão, mas entre os participantes esse número era tido como muito conservador. Macau tem quase 645 mil pessoas, com a comunidade católica estimada em cerca de 30 mil. A primeira procissão de Nossa Senhora de Fátima aconteceu em 1929.

15 Mai 2017

USJ | Bambu nas margens de Sai Van

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]lapse é a estrutura de bambu que vai estar exposta no Lago Sai Van de 22 a 27 deste mês. A iniciativa materializa em escala real um projecto dos alunos do terceiro ano do curso de arquitectura da Universidade de S. José (USJ). Ao longo do ano lectivo, os estudantes desenvolvem uma ideia para a construção de um pavilhão em bambu e, no final, um júri constituído por professores da instituição e convidados de Hong Kong elege o melhor trabalho que se materializa nas margens do lago Sai Van.

O pavilhão Elapse partiu de uma ideia de movimento inspirada no filme “American Beauty”. “Este pavilhão nasceu de uma relação poética que o grupo de alunos arranjou e que tem como mote uma imagem do filme “American Beauty” em que há uma cena de um saco a voar dirigido pelo vento”, explica ao HM João Ó, o professor responsável pela edição de 2017 da iniciativa. “Os alunos pegaram na imagem e a própria modelação deste pavilhão sugere esse movimento que é fluido no ar, mas que se encontra geometricamente ligado. Há uma sensação de animação por imagem”. O resultado é que cada momento do movimento está, de alguma forma, expresso na construção.

De modo a criar um momento único que marque a inauguração da instalação, a iniciativa conta com a vida dada por uma projecção de vídeo mapping e pela interatividade de uma performance de dança.

“O video mapping e a dança são os elementos que lhe vão dar movimento”, diz João Ó. A ideia tem como objectivo, não só dar dinâmica ao objecto que por si é estático, mas também “atrair o público e fazer um pouco a interacção no que respeita ao design de eventos”, conta o professor. De acordo com João Ó, não basta colocar uma escultura num espaço, é também necessário uma visão mais alargada dos media contemporâneos e do que se pode fazer para intensificar o próprio evento.

O vídeo está a cargo do Neba studio e a Soda-City Experimental Workshop Arts Association vão executar a performance. Desta forma, o público pode também assistir a dois modos diferentes de criar interactividade com um objecto estático, sendo que uma tem por base a luz e a outra, a expressão corporal. “É uma forma de dar vida, animar e criar um momento singular”, aponta o responsável. Por outro lado, “ao aplicar técnicas avançadas de design digital aos materiais de construção vernaculares, o pavilhão pretende ressoar com a cultura de construção histórica de Macau e a sua paisagem urbana contemporânea.”

Do estudo ao real

A iniciativa já se realiza há seis anos e faz parte de um módulo do terceiro ano da disciplina de arquitectura da universidade de S. José. O objectivo do módulo em que é ministrada é a produção final de um pavilhão feito com o material vernacular que é o bambu.

A importância do bambu é clara para João Ó. “O bambu é um material autêntico da região do sul da Ásia que se utiliza principalmente na industria da construção”, diz. Com a sua utilização académica, o também arquitecto João Ó considera que é também uma forma de prolongar e propagar este método tradicional que tende cada vez mais a ficar extinto, nomeadamente em Macau e Hong Kong onde era muito utilizado tanto na construção dos andaimes da construção civil como dos pavilhões temporários das óperas chinesas. “Do que tenho visto, a utilização do bambu nesta iniciativa foi a forma que a USJ encontrou para prolongar este conhecimento associado ao bambu e continuar a sua divulgação junto da população e para os alunos”, refere.

No que respeita ao empenho dos alunos, a motivação é clara até porque “permite que tenham um lado mais prático do curso que estão a finalizar.” Para João Ó, este é o momento em os projectos saem do papel. “O que acontece na disciplina de arquitectura é que temos muitas vezes a maqueta e o desenho técnico, mas, neste caso, temos a construção e uma ideia formulada pelos próprios alunos à escala de um para um, ou seja, um modelo real”, explica. A concretização de uma ideia é, considera, além de útil, muito motivadora para os alunos porque há uma exposição do trabalho dos estudantes junto da comunidade local.

O segundo lugar do concurso efectuado no mesmo módulo  vai estar exposto na galeria da Creative Macau. A mostra integra a exposição geral “On the Waterfront”. A ideia, à semelhança das edições anteriores, é mostrar o trabalho feito pelos alunos do terceiro ano. O nome nasce da relação que Macau tem com a água.

15 Mai 2017

Festival Eurovisão da Canção | Salvador Sobral faz história

O português Salvador Sobral conseguiu a primeira vitória portuguesa no Festival Eurovisão da Canção com recordes de pontuação. O cantor interpretou “Amar pelos dois” e conquistou a Europa com uma postura real e música sentida

[dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]u quero que o Salvador Sobral ganhe o festival da Eurovisão. Ele é bom demais”, foram as palavras de Caetano Veloso num vídeo que publicou no Twitter enquanto via, no passado sábado, o Festival Eurovisão da Canção. Salvador Sobral ganhou, e conseguiu a primeira vitória de Portugal no festival europeu. Mais tarde, dizia, que estas palavras foram mais importantes do que galardão.

Salvador Sobral cantou em português, “Amar pelos dois”, com letra e música de Luísa Sobral, sua irmã, e obteve 758 pontos na votação combinada dos júris nacionais e do público, na final do festival disputada por 26 países em Kiev, na Ucrânia.

Após a vitória, Sobral sublinhou que a “música não é fogo-de-artifício, é sentimento” e que “vivemos num mundo de música descartável”, apelando para uma mudança. “Vivemos num mundo de música descartável, de música ‘fast-food’ sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de facto significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa”, disse nas primeiras declarações após a vitória.

Mais tarde, em declarações à RTP, Salvador Sobral sublinhou tratar-se de “uma boa vitória também para a música no geral”, apesar de saber “que estas coisas são muito efémeras, estes concursos, amanhã já ninguém se lembra”.

“O importante é continuar a fazer música, mas sinto que é um bom passo que as pessoas tenham gostado desta música, que tem tanto conteúdo, emocional, lírico, melódico, acho que isto pode ajudar de alguma maneira, se calhar até nos anos próximos a Europa a trazer músicas com um bocadinho mais de significado a todos os níveis”, afirmou o cantor.

Questionado pelo apresentador José Carlos Malato sobre se esta vitória significa a entrada do cantor na história, Sobral disse não querer pensar nisso, recordando a digressão que tem agendada para os próximos meses, com concertos a partir do próximo sábado em Marco de Canavezes, seguindo-se o Cartaxo (26 de Maio) e Ovar (27 de Maio), antes de prosseguir a 10 de Junho em Ílhavo com datas que continuam até Agosto.

Politicamente incorrecto

Salvador Sobral, face a uma pergunta sobre o apelo que fez de apoio aos refugiados na conferência de imprensa que se seguiu à primeira meia-final, disse não pretender acrescentar nada ao que já havia afirmado, mas realçou que transmitiu uma mensagem sobre os refugiados por acreditar ser o maior problema com que a Europa se confronta actualmente, sem querer ser político.

“Recebemos um e-mail da organização a dizer que não podia continuar a usar aquela camisola [que dizia ‘SOS Refugiados’]”, explicou, por não serem permitidas mensagens políticas ou comerciais: “Pensei que era estranho. E se vestir uma camisola da Adidas, é uma mensagem comercial? Era apenas humanitária. Já disse tudo o que tinha a dizer, não penso que deva apertar o mesmo botão outra vez”.

Sobral, que disse nunca ter escrito uma canção com o propósito de passar na rádio, frisou que a sua vida não vai mudar em nada e que vai prosseguir com a digressão prevista para este Verão.

“Nunca quis saber dos votos, só quis cantar uma canção bonita como ela é”, declarou.

Durante a conferência de imprensa, o supervisor executivo da União Europeia de Radiodifusão, Jon Ola Sand, enalteceu o trabalho da organização local em Kiev e disse que a preparação para 2018, em Portugal, começa “já na segunda-feira”.

O inquieto

Salvador Sobral publicou “Excuse me”, o seu disco de estreia, há um ano, cruzando referências de uma vida, que provam o seu modo inquieto de viver a música, do jazz de Chet Baker aos clássicos brasileiros de Dorival Caymmi.

Tinha 26 anos, era um desconhecido, não mais do que o irmão de Luísa Sobral, e um rosto perdido na memória de edições de concursos de talentos vocais, há muito desaparecidas.

O cantor nasceu em Lisboa, em 1989, ouvia música desde criança e, numa entrevista recente ao El País, recordou as viagens em família, as canções partilhadas com os pais, dos Beatles, dos Genesis, de Simon & Garfunkel e John Lennon, sobretudo clássicos dos anos dos anos 1960/70, e as harmonias feitas com a irmã.

Dedicou-se a um curso de Psicologia e a um Erasmus em Maiorca. Para ganhar dinheiro, começou a cantar em bares. E foi aí que tudo mudou.

Descobriu Chet Baker, através de um guitarrista argentino com quem cantava: “Deslumbrou-me. Parecia uma angústia misturada com esperança, com melancolia, tudo numa só pessoa. Identifiquei-me totalmente com ele e com o seu estilo”, disse na entrevista ao jornal espanhol El País, publicada no passado dia 16 Abril.

O curso de Psicologia deu lugar ao de Música, e Maiorca a Barcelona, onde, em 2014, começou a actuar com a banda Noko Woi, com quem participou no festival Sonar. Um ano mais tarde seria uma voz na programação dos festivais Mexefest e, no seguinte, entraria no Cool Jazz.

Entre a vitória em Lisboa e a vitória em Kiev, a actuação de Salvador Sobral teve impacto nos meios internacionais de comunicação. Surgiu na TVE a cantar com o concorrente espanhol, foi entrevistado pelo El País, chegou às páginas do El Mundo, do Daily Express, do The Sun. A agência France Presse definiu-o como “o ‘crooner’ português de coração demasiado grande”.

“Sou um inquieto musical, preciso de ter muitos projectos em simultâneo. Estou a preparar um disco de boleros em jazz. É uma dor de cabeça ter tantas facetas. Acabarei por ter tantos heterónimos como Fernando Pessoa”, garantiu ao El País.

REVEJA A PARTICIPAÇÃO DE SALVADOR SOBRAL NO FESTIVAL EUROVISÃO DA CANÇÃO
15 Mai 2017

Rota da Seda | Banco Mundial e FMI advertem Pequim para dificuldades

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Banco Mundial (BM) e a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiram ontem a China para as dificuldades do plano de investimentos em infra-estruturas que Pequim promove sob o epíteto das Novas Rotas da Seda.

Apesar de Jim Yong Kim e Christine Lagarde manifestarem apoio à iniciativa impulsionada pela China, designada de “Uma Faixa, Uma Rota” – “versão simplificada de “Faixa Económica da Rota da Seda e da Rota Marítima da Seda para o Século XXI” -, os líderes dos dois organismos multilaterais advertiram para os desafios em cumpri-la, durante a abertura do fórum internacional subordinado ao ambicioso projecto, que decorre até esta segunda-feira com a presença de líderes de 29 países.

Para garantir o êxito das Novas Rotas da Seda, “o investimento estimado precisará de ser grande”, afirmou o presidente do BM, para quem será necessário criar mecanismos de apoio dependendo do grau de desenvolvimento que tenham os países nos quais será feito o investimento, além de mecanismos financeiros “inovadores”.

As décadas de experiência do Banco Mundial sugerem ainda que a “distribuição de riscos” será fundamental, sublinhou Kim, isto numa altura em que vários especialistas advertem para a possibilidade de a China estar a apostar em iniciativas com base em critérios políticos e não segundo a sua rentabilidade.

Apesar das dificuldades, o presidente do Banco Mundial expressou o seu total apoio ao enorme plano desenhado por Pequim, descrevendo-o como “um ambicioso esforço e sem precedentes para iluminar a Ásia”.

“Cumprir com esta promessa não vai ser tarefa fácil, mas se for levada a cabo, e bem realizada, pode trazer enormes benefícios”, afirmou, por seu lado, a directora-geral do FMI.

Lagarde defendeu o investimento em infra-estruturas de “grande qualidade”, que respeitem o meio ambiente e que melhorem as ligações de países agora mais isolados com as cadeias de abastecimento globais.

A iniciativa poderá fortalecer a cooperação económica e “definitivamente” poderá ajudar a impulsionar o comércio e facilitará a distribuição de benefícios de uma forma mais ampla, observou a directora-geral do FMI.

Anúncio presidencial

Xi Jinping anunciou ontem milhares de milhões de dólares para projectos que integrem a iniciativa Novas Rotas da Seda, com a qual Pequim pretende cimentar as suas relações comerciais na Ásia, Europa e África.

O Presidente chinês fez o anúncio diante de líderes de cerca de 30 países durante o discurso de abertura do fórum de cooperação internacional “Uma Faixa, Uma Rota”, onde Portugal se faz representar pelo secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira.

A China vai contribuir com 100.000 milhões de yuan adicionais para o Fundo da Rota da Seda – montado em 2014 para financiar projectos de infra-estruturas – e providenciar ajuda, nos próximos três anos, no valor de 60.000 milhões de yuan  a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa.

Dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000 milhões de yuan para apoiar “Uma Faixa, Uma Rota”.

Xi idealizou este plano internacional de infra-estruturas durante uma visita oficial à Ásia Central em 2013, ambicionando com este projecto simbolicamente reavivar a antiga Rota da Seda, o corredor económico que uniu o Oriente o Ocidente.

Até agora, a iniciativa conquistou o apoio por parte de mais de uma centena de países e organizações internacionais.

Moscovo e Pequim “preocupados” após disparo de míssil norte-coreano

A China e a Rússia estão “preocupadas com a escalada de tensão” na península coreana, após o lançamento de um míssil pela Coreia do Norte em violação das resoluções da ONU, afirmou ontem o Kremlin.

O Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, “discutiram em detalhe a situação na península coreana” durante um encontro, em Pequim, e “as duas partes exprimiram a sua preocupação para com uma escalada de tensão”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, aos jornalistas.

A Coreia do Norte levou ontem a cabo um novo teste de míssil, a partir da sua base de Kusong, a norte de Pyongyang.

As autoridades sul-coreanas indicaram que o míssil, disparado às 5:27  percorreu cerca de 700 quilómetros antes de cair no Mar do Japão, pelo que o ensaio terá sido bem-sucedido, considerando tratar-se de um míssil balístico, apesar de se continuar a proceder à análise dos detalhes do lançamento para determinar o tipo de projéctil em causa.

A China já tinha apelado à contenção, reiterando a sua oposição às violações das resoluções do Conselho de Segurança da ONU por parte da Coreia do Norte, num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

“Todas as partes envolvidas devem exercer contenção e abster-se de aumentar a tensão na região”, afirmou, poucas horas depois do lançamento do míssil.

A Casa Branca, por seu turno, apelou à adopção de sanções “muito mais fortes” contra o regime de Pyongyang.

Plano para capturar asteróide e colocá-lo na órbita lunar

O programa espacial chinês estuda lançar uma missão que “capture” um asteróide e o coloque na órbita da Lua, visando explorar os seus minerais e metais ou até usá-lo como estação permanente, avançou o South China Morning Post.

Citado pelo jornal de Hong Kong, o chefe do programa chinês de exploração lunar, Ye Peijian, assinalou que, até 2020, a China lançará as suas primeiras missões com destino a asteróides, corpos espaciais nos quais também a norte-americana NASA está interessada, pelos possíveis usos na mineração ou na agricultura.

Ye sublinhou que muitos dos asteróides presentes no Sistema Solar, alguns relativamente perto da Terra, contêm uma alta concentração de metais preciosos, e ainda que por agora a sua exploração seja uma missão de alto risco, poderá a longo prazo ser muito rentável.

O plano chinês é “capturar” um asteróide, que começaria com a aterragem de uma nave no corpo celeste, para depois fixar-se a este.

A nave estaria equipada com poderosos motores, com os quais poderia arrastá-lo até à órbita da Lua, um plano que exigirá quarenta anos de investigação, segundo Ye.

Em Março passado, a imprensa oficial chinesa noticiou que o programa espacial chinês planeia enviar sondas espaciais para estudar os movimentos de três asteróides.

15 Mai 2017

Benfica | Tetracampeonato celebrou-se em Macau

A quarta vitória consecutiva no campeonato português de futebol pelo Sport Lisboa e Benfica celebrou-se este fim-de-semana em Macau. Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, vai realizar o habitual jantar da celebração, já a pensar no pentacampeonato. “Ainda tenho espaço para mais cachecóis”, assegura

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m Macau não há uma rotunda com o nome do Marquês de Pombal, mas a festa pela celebração da quarta vitória consecutiva do Sport Lisboa e Benfica (SLB) em mais um campeonato nacional de futebol não deixou de se fazer em vários locais. O bar Roadhouse foi um dos espaços que juntou muitos  adeptos, que festejaram pela noite dentro.

Santos Pinto, proprietário do restaurante O Santos, não foi para a rua, mas festejou a vitória do clube do seu coração em casa, com a filha. “A minha filha pediu-me para ver o jogo em casa com ela, e foi aí que festejei. E ela aproveitou para ver o resto do festival [da Eurovisão], mas eu já não tive forças para festejar. Foi fantástico”, contou ao HM.

O Benfica conquistou no sábado o 36.º título de campeão nacional de futebol da sua história, o quarto consecutivo, ao vencer na recepção ao Vitória de Guimarães, por 5-0, em jogo da 33.ª e penúltima jornada da I Liga, contabilizando 81 pontos, mais oito do que o FC Porto, que contava no sábado com menos um jogo.

Santos Pinto assume ter ficado “super feliz”, mas estava com receio de que algo pudesse não correr bem durante os 90 minutos de jogo. “Estava sempre com aquela dúvida, se tudo corria bem ou não, mas graças a Deus correu bem. Estava muito confiante. Gosto muito do Rui Vitória, o presidente nem se fala, e gosto muito da equipa que o Benfica tem.”

O deputado José Pereira Coutinho foi outro dos adeptos que acompanhou a vitória do clube lisboeta à distância.

“Fiquei muito contente. Sou adepto do clube desde que o meu pai me levou ao Estádio da Luz, em 1964”, lembrou Coutinho, que frisou ainda o facto da vitória benfiquista se ter feito na mesma altura da ida do Papa Francisco a Portugal e da vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão.

“Agora só falta o [José] Mourinho ganhar a Liga Europa ao Ajax”, brincou.

Jantar a caminho

Santos Pinto já tem tudo pensado para a habitual celebração na Rua do Cunha, só falta acertar a data com a direcção do Benfica de Macau, encabeçada por Duarte Alves. Até ao fecho da edição, não foi possível obter uma reacção do dirigente local.

“Vou avisar toda a malta benfiquista de Macau para nos juntarmos na Rua do Cunha para festejar o nosso tetracampeonato. Espero mais pessoas [em relação ao ano passado”, apontou Santos Pinto.

“De certeza que não vai faltar muito tempo. Já falei com o Benfica de Macau, para ver qual é o calendário deles, para ver se nos conseguimos juntar todos. Os tetracampeões de cá e de lá”, disse.

Mesmo na Taipa, o espírito sentido nas ruas de Lisboa, no passado sábado, vai manter-se. “Aqui a praça do Marquês de Pombal na Rua do Cunha vai estar cheia de gente, vai ser uma invasão benfiquista.”

Santos Pinto já está a contar com a chamada dobradinha, ou seja, que o Benfica vença também a Taça de Portugal. E até conta com mais um ano de campeonato ganho. “Estou à espera, sem dúvida. Perdemos com o Guimarães a final da taça, mas este ano espero bem que não. Vamos ganhar este ano a dobradinha. Estamos a caminho do penta. Dizem-me que não tenho mais espaço para guardar cachecóis, mas ainda tenho”, ironizou.

Vitória de todos

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, alargou a todos os adeptos  encarnados a responsabilidade pela conquista do tetracampeonato de futebol, realçando a ambição de continuar a fazer história.

“Dizem que eu sou o pai do ‘tetra’, mas o pai do ‘tetra’ é o Benfica, somos todos nós. Agradeço-vos profundamente por todo o apoio que nos deram, aos jogadores, aos treinadores, a toda a estrutura profissional do Benfica, pela oportunidade que nos deram de estarmos hoje aqui”, afirmou Luís Filipe Vieira, na praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, citado pela agência Lusa.

Dirigindo-se aos milhares de adeptos benfiquistas reunidos neste ponto central da capital portuguesa, o líder do emblema das ‘águias’ reconheceu a satisfação e apontou ao futuro.

“Estamos todos felizes, hoje fizemos história, mas queremos continuar a fazer história. Todos juntos vamos sempre conseguir concretizar os nossos sonhos e os nossos objectivos. Viva o Benfica!”, rematou Vieira.

Já o treinador do clube, Rui Vitória, considerou que os seus jogadores fizeram uma história que ninguém esquecerá. Vitória falou que o Benfica está “a viver um momento único”.

“Foram 10 meses de trabalho árduo, com estes grandes jogadores. Foram nove meses em primeiro lugar, foi uma luta constante para termos este ‘tetra’. Hoje estou orgulhoso, satisfeito, realizado, por uma vitória que jamais esqueceremos. Sintam o privilégio de viver esta história”, disse.

O treinador ‘encarnado’ lembrou outras gerações de “enormes jogadores” que ficaram pelo tricampeonato.

“O ‘tetra’ fica com esta equipa e fica connosco, que temos a possibilidade de viver esta história. Nunca mais nos vamos esquecer desta noite, deste momento. Podemos contar a netos, filhos. É único no Benfica e nós fomos os primeiros”, afirmou.

Rui Vitória terminou dando “parabéns aos jogadores, a todos os que directamente trabalharam” com a equipa do Benfica e “a todos vós que encheram o estádio” todas as jornadas.

15 Mai 2017

E as pessoas?

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]inguém consegue ficar indiferente à Coreia do Norte. A ideia de que, em 2017, na era da comunicação instantânea, um Estado mantém-se à parte de todos os outros, fechado do mundo, sem acesso à internet, sem uma rede de telecomunicações internacionais, concentrado sobre si próprio e o objectivo estratégico de ter poderio nuclear é fascinante, quase voyeurista. Quero saber – e creio que não estou só nessa demanda –, porque se sabe demasiado pouco. Quero saber como vivem estes quase 10 milhões de pessoas, do que vivem, o que aprendem na escola, com quem aprenderam a bater palmas de uma maneira tão característica e se juntam aos milhares nas principais praças do país para publicamente celebrar o seu “líder respeitado” Kim Jung-un.

Vem tudo isto a propósito de um filme que vi recentemente graças ao Netflix, esse serviço maravilhoso de partilha de séries de televisão e filmes que nos permite ver no computador ou no telefone tudo e mais alguma coisa. (Habituei-me a usar este tipo de tecnologia quando trabalhava na República Centro-Africana. Não logrando aceder em Bangui a uma boa livraria e às novidades editoriais, mundanidades de uma qualquer outra capital mundial; nem podendo tão-pouco comprá-las à distância – digamos que a RCA é off limits para a Amazon –, passei a ler livros electrónicos, os quais descarregava a qualquer hora e de qualquer lugar, bastando para isso estar ligado à internet. O upgrade para o Netflix foi como que uma consequência natural – admitamos a imagem –, experimentada, por exemplo, pelo viajante aéreo habitual, quando é promovido do cartão prateado para o dourado.)

Pois vi há dias Under the Sun (2015), do russo Vitaly Mansky. É uma co-produção russa, alemã, checa, letã e norte-coreana, que tem a raridade de ter sido filmada no interior da Coreia do Norte, com um guião pré-aprovado pelo regime que escolheu os “actores”, as cenas e os cenários. Transporta-nos por isso para uma realidade pouco conhecida – e por tal fascinante – de ficarmos a conhecer melhor o desconhecido. De conhecermos o outro tal como ele é. No fundo, é esse mesmo interesse que justifica as pesquisas desenvolvidas pela antropologia ou pela etnografia.

O filme procura mostrar o esforço que a protagonista do filme, Lee Zin-mi (8-10 anos?), faz para ser admitida à organização da juventude da Coreia do Norte, o primeiro passo para a integração no sistema político norte-coreano.

Mansky conseguiu fintar a propaganda e deixou a câmara ligada durante a preparação das cenas. O filme mostra, por exemplo, os utentes a empurrarem um autocarro trólei com os cabos para baixo, aparentemente a ultrapassar um outro avariado, para que ele possa prosseguir, ou crianças a vasculhar um caixote de lixo. A reacção de Pyongyang não terá sido a melhor, como é bom de imaginar.

Durante os 109 minutos do filme, salta à vista uma total ausência de comunicação entre as pessoas, transformadas em autómatos que se movimentam numa cidade imensa, sem falarem, sem comunicarem. O afecto é inexistente. Vê-se como todos são doutrinados desde tenra idade nas grandes vitórias dos líderes contra os norte-americanos. (A cena da sala de aula sobre uma alegada lição de história é particularmente reveladora. Os nomes do avô, pai e filho Kim são repetidos até à exaustão.)

Uma sociedade em que o Estado controla todos os aspectos da vida, inclusive o que fazem as pessoas, onde trabalham, onde vivem. Uma sociedade alegadamente igualitária, onde, sabemo-lo desde Orwell, uns são mais iguais do que outros.

Quando a criança, pressionada pelos pais, pelo “camarada” da propaganda (autor do guião), pela multidão da equipa de filmagem à sua volta, chora incontrolavelmente, desesperada por não conseguir desempenhar o papel que fora pensado para ela num filme autorizado pelo regime – que implicava entre outras coisas, saber dançar o bailado tradicional coreano –, ouve-se a voz do realizador, em russo, a pedir-lhe para se recordar de uma memória feliz. “Não sei o quê”, afirma ela, com um vazio nos olhos que demonstra a essência da sua vida até àquele momento. Para ultrapassar a situação, declama o juramento que as crianças fazem quando se juntam à organização da juventude da Coreia do Norte. Como que achando que esta é a resposta certa para o que lhe estão a pedir.

Este filme, esta sociedade, mostra bem como está por cumprir a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela e tantas outras convenções internacionais, destituídas de valor – letra morta – ou de poder em serem invocadas pelas vítimas aos prevaricadores. Afinal, a polícia do mundo não existe – só é efectiva quando os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança estão de acordo – e isso só ocorre nas raríssimas ocasiões em que os seus interesses individuais não são postos em casa. Por tudo isto, há uma dúvida que nos assola intensamente quando acabamos de ver o filme: Será que estes 10 milhões terão alguma vez a possibilidade de serem pessoas na sua plenitude?

15 Mai 2017

André Couto deu nas vistas no Campeonato da China de GT

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] piloto de Macau André Couto estreou-se no Campeonato Chinês de GT este fim-de-semana no Circuito de Goldenport, em Pequim. Na sua estreia absoluta no campeonato e com a equipa Spirit Z Racing, ao volante de um Nissan GT-R Nismo GT3, Couto somou duas décimas posições nas duas corridas de 60 minutos cada que compuseram o programa do evento da abertura da competição chinesa. Contudo, os resultados do piloto português não correspondem de maneira nenhuma à sua exibição.

A dividir as despesas de condução com Yuey Tan – um experiente piloto amador de Singapura – Couto qualificou-se para a primeira corrida do fim-de-semana na 10ª posição.

Ao contrário de outros campeonatos, onde vale o melhor tempo, no Campeonato Chinês de GT a posição da grelha de partida é determinada pelo tempo médio das melhores voltas de cada um dos pilotos. Partindo do décimo posto, Couto fez um arranque espectacular e no final da primeira volta já rodava no terceiro lugar. Contudo, num circuito onde as ultrapassagens são difíceis, o Nissan do piloto luso ficaria preso atrás do enorme Bentley Continental GT3 do tailandês Vutthikorn Inthraphuvasak. Couto acabou por passar o volante ao seu companheiro no terceiro lugar, mas este, com problemas no volante, caiu a pique na classificação durante o seu turno, terminando do duo luso-asiático no 10º lugar.

A história repetiu-se

Na sessão de qualificação realizada na manhã de sábado, onde as condições meteorológicas foram novamente favoráveis ao espectáculo, o piloto português e o seu companheiro de equipa colocaram-se no 7º lugar da grelha de partida.

Desta vez Couto não fez um “arranque canhão”. Em vez disso, o piloto do Nissan GT-R Nismo GT3 foi paulatinamente escalando posições na classificação com o decorrer da corrida. Couto subiu do sétimo posto até ao segundo lugar, e apenas não conseguiu chegar-se ao Audi R8 LMS do piloto amador Xu Jia, que a conduzir a solo incrivelmente venceu ambas as corridas do fim-de-semana e cuja legalidade da viatura foi posta em causa por vários outros concorrentes. Com Yuey Tan ao volante na segunda metade da corrida, o Nissan da Spirit Z Racing voltou retroceder na classificação, vendo a bandeira axadrezada novamente no 10º lugar da geral.

Missão cumprida

Couto reconheceu ao HM que o resultado não espelha o esforço da equipa e que no global “até nos portamos bem para as condições que tínhamos”. O piloto de Macau também admitiu “que se divertiu” nas lutas em que esteve envolvido nas duas corridas e que “vai de cabeça erguida para casa”, pois “fiz o meu trabalho”. A próxima prova do campeonato realiza-se no fim-de-semana de 7 e 8 de Julho no Circuito Internacional de Ordos. Localizado numa das “cidades fantasmas” mais conhecidas da China Continental, este circuito recebeu em 2011 uma prova do Campeonato do Mundo FIA GT1, mas há muito está afastado das grandes competições, sendo por isso uma novidade para o piloto da RAEM. Antes disso, Couto regressa ao Japão, no próximo fim-de-semana, para disputar a prova do campeonato Super GT em Autopolis, onde irá guiar um Porsche 911 GT3-R.

15 Mai 2017

Salvador Sobral – “Amar Pelos Dois”

“Amar Pelos Dois”

Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois

Salvador Sobral

14 Mai 2017

Teté Alhinho, cantora: “Nós nascemos com a música”

A cantora de Cabo Verde Teté Alhinho sobe hoje ao palco do Teatro D. Pedro V para dar a conhecer o seu último disco, “Mornas ao Piano”. Pela primeira vez no território, a convite da Associação de Divulgação da Cultura Cabo-verdiana, fala ao HM da sua relação com a música e com a terra que lhe deu o ritmo e o sentir

[dropcap]O[/dropcap] seu site de apresentação começa com “Nasci ao som das ilhas e delas herdei o ritmo e o sentir”. O que é nascer ao som das ilhas, como são o seu ritmo e o seu sentir?
O ritmo das ilhas não é o mesmo do continente. Temos mar por todos os lados. Os sons são muito diferentes, até porque só esta presença de mar também o é. O vento também vem com diferentes sons. Vem, ora de um lado, ora do outro. Claro que é uma forma também metafórica para situar o lugar onde nasci e, talvez, porque é que sou como sou. Os ilhéus também têm um ritmo especial de vida, e dão uma forma diferente de ser a Cabo Verde, que tem uma forma de sentir muito peculiar. De sentir a música, por exemplo, porque é um país muito musical.

Que particularidade é essa?
Porque somo ilhéus, temos sempre uma necessidade de partida, de procurar o mar. Temos esse instinto, o de ir e depois voltar. É o mar que nos leva e é o mar que nos traz. Também somos, penso, mais abertos e receptivos a muita coisa. O mar também nos traz muita gente de diferentes latitudes. Sou da Ilha de S. Vicente, cujo Porto Grande trouxe sempre muitas pessoas de várias nacionalidades. Uns ficam, outros não, e isso cria uma certa abertura de mente que acho que o cabo-verdiano tem. Não é uma mentalidade local, fechada, é aberta ao novo, mas também muito ciente do que é seu. Por outro lado, e falando da musicalidade local, nós nascemos com a música. É a mãe que canta, é a empregada que canta, é a dança que aparece desde o colo da mãe. Eu cresci assim: com uma mãe que gostava de cantar. O meu pai também gostava muito de música e tínhamos uma aparelhagem em casa. No Mindelo sempre houve a presença constante da música. Não tinha por onde fugir. Tivemos também um piano em casa e era a nossa diversão lá em casa.

Ao falar de Cabo Verde é quase impossível não nos remetermos para a morna. Vamos ter um concerto de mornas ao piano. O que é para si a morna de Cabo Verde?
É a expressão geral e comum de todo o cabo-verdiano. O barlavento tem os seus ritmos e o sotavento tem outros. A morna fez-se sempre mais em S. Vicente e Boa Vista. A morna, penso, foi a forma que encontrámos para traduzir a nossa nostalgia provocada pela distância. O cabo-verdiano sempre emigrou e com isso nasce a saudade: com as partidas, as tristezas, as perdas e o amor, claro. Já dizia o Baltazar Lopes que acelerando a morna chegava-se à coladeira. A coladeira acabou por ser um ritmo que veio tirar um pouco da melancolia associada à morna. É um ritmo que começa já a tratar de outras coisas, como o quotidiano, a crítica social e um pouco de sátira. Costumo dizer que a morna é um sentir comum cabo-verdiano.

Como é que aparece o piano associado à morna?
Normalmente a morna é associada à guitarra porque se trata de um instrumento barato. Mas a morna também se tocava ao piano em Cabo Verde. Se recuarmos no tempo, encontramos grupos que usavam o piano. Em S. Vicente, em particular na Rua de Lisboa, havia o Café Royal que tinha um piano. Todos os que tocavam piano paravam ali e era um instrumento que se ouvia sempre, até porque Mindelo era muito pequenino. Este disco acabou por ser uma coisa natural. O piano para mim sempre existiu na música de Cabo Verde. Não com a mesma expressão da viola, a que chamamos violão, mas sempre existiu. Daí este projecto “Mornas ao Piano”.

A sua carreira também passou por um projecto dedicado a crianças com o disco “O Menino das Ilhas”. Como é que apareceu esta vertente?
Eu adormecia os meus filhos a cantar. Ao cantar ia compondo alguns temas para crianças e ia guardando essas canções. Quando regresso a Cabo Verde em 1991, não havia nada para crianças. Temos um cancioneiro que é herdado e não é, realmente, nacional. Há algumas canções, mas dirigidas mais para a dança infantil. Pensei que fazia falta um trabalho para os mais novos e eu tinha três filhos pequenos. Foi assim que um dia me levantei e disse: vou gravar um disco para crianças. A partir desse dia, o disco nasceu. É um trabalho de que gosto muito também porque está muito ligado aos meus filhos.

Também trabalhou com a sua filha Sara.
Neste disco a Sara trabalhou comigo em três temas. Depois continuámos a colaborar. Sempre a vi como uma miúda muito entoada desde pequena e sempre tentei estimulá-la para a música. Fizemos um disco depois que se chama “Gerações” por ter esse sonho, o da filha que seguisse a música e que pudesse fazer aquilo que eu não tinha conseguido. Nascemos em épocas diferentes. Ela podia ter feito, por exemplo, uma carreira para crianças. Mas acabou por ir estudar para as Canárias e escolheu outras prioridades.

Que música é que ouve e a inspira?
Ouço música quando tenho tempo. Gosto de ouvir de tudo um pouco. Gosto muito de ouvir Bana e da Cesária. Gosto dos artistas mais modernos, mais jovens. Gosto da música instrumental cabo-verdiana. Quando tenho tempo levanto-me e ponho música, alguma que também possa dançar um bocadinho. Gosto especialmente da Cátia Guerreiro e do Jorge Palma. Ofereceram-me uns CDs do Sérgio Godinho que oiço para o descobrir. O Sérgio tem de ser descoberto. Depois também gosto muito da Ella Fitzgerald. Gosto de música.

O que é cantar para si?
Tem sido diferentes coisas em diferentes momentos. Em pequenina comecei a dançar. Depois o cantar começou a estar associado à minha casa, aos meus irmãos, ao piano que tínhamos, à alegria. Aliás, cantar é sempre uma alegria e canto mais quando me sinto bem. Depois foi o despertar, a partir dos oito anos. Foi um descobrir-me para a música, para o facto de conseguir e saber cantar. Era sempre uma coisa muito boa. Com o 25 de Abril, o cantar foi uma forma de eu também participar no movimento pró-independência. Tinha cerca de 17 anos nessa altura e era o cantar de músicas de protesto e luta. Foi a minha contribuição para o processo de independência e de reivindicação dos direitos do nosso país. Depois fui para Cuba e cantar era já um processo e manifestação cultural daquilo que era Cabo Verde. Passei pelo México e vou para Portugal já com três filhos. Cantar foi então para mim um escape muito grande. Tive três filhos em três anos e meio, o que fez com que tivesse vivido muitos anos seguidos entre casa, fraldas e comida. Sou também licenciada em Educação Física e ia trabalhar, aliás precisava de o fazer. Mas começava a precisar de mim porque, no meio disto tudo, eu tinha desaparecido. Essa necessidade de mim acordou-me. Tinha de fazer alguma coisa e decidi gravar um disco. Vesti-me, nunca me vou esquecer, com uma saia azul, uma blusa branca e uns sapatos azuis da tia Alice, meti-me a caminho e fui aos Olivais ver o Péricles Duarte. Ele aceitou, foi ver as músicas que tinha, falou com o Paulino Vieira, começámos a ensaiar e foi assim que nasceu o “Mares do Sul”, nos estúdios da Valentim de Carvalho. É um disco pelo qual eu tenho um grande apreço porque representa um marco. Foi tornar a ganhar um pouco o meu espaço que estava todo tomado pela família, que era a minha prioridade. Nunca deixei de fazer música a partir desse momento. Agora, a música é essencialmente comunicação. É o resultado de tudo o que vivi. É o poder expressar o que sinto. É a consolidação de todo este crescer. É o partilhar as minhas composições, o meu sentir e aquilo que a própria música representa. A música consegue o que nada mais consegue, consegue ser universal. Acho que cria uma confluência de sentimentos e uma união. Muita gente diz-me que não entende as palavras, mas que sente o que ouve. Acho que a música é capaz de ir muito longe. A música limpa. Acredito que a arte em geral – e a música em particular – é a grande esperança da Humanidade. Por outro lado, é um retorno de tudo o que tenho feito na vida. Não digo que seja tardia, mas é antes o resultado das minhas escolhas e é também o que me resta para preencher o que ainda tenho para viver. Também me provoca encontros com outras pessoas e com outros lugares. A música permite-me ter boas memórias.

12 Mai 2017