Anabela Canas h | Artes, Letras e Ideias Iluminação ArtificialPortuguês suave [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]evagar. O meu tempo precisa de vagar. A minha alma anseia vagar espaço. São assim os dias desta longa arrumação e nunca chegam. Meses que são meio ano de lentidão a sentir a voragem. Desde que se apararam as raízes rente. E ela se foi e me deixou a arrumar anos. A sarar a vida. Como as mulheres iam para o campo. Para a ceifa e para a monda. São estas coisas de mulher. Ir ao cemitério. Como se a natureza humana delegasse nesse lugar estas responsabilidades que mais ninguém quer a ocupar espaço. E os dias e as horas a abalar-me como um vento maldoso. Demasiada informação. Dias complexos de atravessar em que é difícil subir ao que é aquele momento de chegar a casa. Finalmente. De sentir que se chega a casa mesmo se dela não se saiu. De descansar um cansaço de vida a pedir velocidade. Que não se tem. De descalçar os sapatos que não se calçou pela manhã e de fechar uma porta de silêncio sobre a ansiedade crescida hora a hora do dia. Que pede palavras quando em mim só peço tempo para chegar a casa devagarinho e pensar. E aí escrever. Às vezes o dia. Outras, outras coisas. Isso. Devagar. Preciso de um tempo devagar. Como devagar ando a arrumar uma casa. A esvaziar outra. E outra. A perder o pé um pouco na memória. A despedir da memória em cada objecto que vaga a casa que há que vagar. Devagar como só assim posso. E a alma a extravasar palavras e imagens a pedir forma e substância. Tudo pelos poros de dentro na direcção do invisível. E querer abrandar a alma e sentá-la à mesa com as ferramentas pequeninas e as tintas e as teclas. Todos os dias em que até a divisão celular me custa. A vertigem. E a chegar tarde a tudo. É o sinal que o universo me dá. Sem tempo para entender para respirar. E depois já é amanhã e ainda não acabei o dia. Entendo que não é fácil entender este passo. Em que tenho que parar a observar bem. Tudo. Dentro, de fora. E fora, de dentro. Em torno daquele núcleo que é o meu nome interior. E que me habita. E que é preciso arrumar bem. Com tempo e devagar. Sou lenta. No que dói. Lembro. É uma recordação de infância e construiu uma fortaleza difícil de arrasar. O silêncio ansiosamente pedido exigido das palavras que podiam ser culpa. Um panfleto caído inadvertidamente em mãos quase juvenis. O terror dentro de portas como se as paredes. E tinham. Às vezes. ouvidos. E dos ouvidos vinham pessoas com eles colados a crânios acéfalos e levavam na maré livros pessoas e outros bens. Até ver. Os dentes cair de maduros depois de a dor ser demais. As batatas podres na cozinha assumidas pelo medo. Mesmo face aos iguais. Com bichos. As batatas dentro da panela enorme e as pessoas. Bichos. Como se. Com hematomas enormes escondidos dos filhos quando a roupa chegava para isso. Para não irem tristes. Mais tristes. Sangue pisado por ali. E excrementos. Já nada importava distinguir. Sangue ou o suor dos intestinos tudo terror e dor das mesmas vísceras em perigo de ruptura. E às vezes alguém. Que conhecia alguém, que quase dava sensação de culpa de cortar a dor em duas finalmente, antes e durante. Emendando em durante e depois. E os outros lá. Ainda. Coisa quase obsoleta de recordar hoje. Como uma ficção remota. Tenho relatos do meu avô, entranhados na memória longínqua da infância, velados, primeiro pelo cuidado, pelos ouvidos das paredes da casa. Pelos fantasmagóricos ouvidos do medo. Mas uma sobriedade a que a raiva já não contaminava. Um dia escritos um pouco assim em modo de a quem possa algum dia vir a interessar. Naquela sua letra bonita e sempre inclinada no sentido do futuro. Aquelas coisas das noites, interrompido o terror e a expectativa, pela realidade de um terror maior porque vivido e instalado. Nas casas. Ou nas celas. Os meios das noites. As noites da longa noite. Somos uns burgueses de merda hoje nas nossas queixas aqui. Num lugar de defeitos suaves. Mal comparando. agora. E de queixas corajosas de quem nunca perdeu um dente pela força. A meio de um sono pouco repousado. Para enterrar companheiros amigos ou desconhecidos. Ou de um tumor no cérebro, ou no estômago . Penso nisso quando penso nas dores da alma. Nos limites das dores. Nos lugares das dores. E nos que não quebravam e não denunciavam e não se retratavam. Até ao limite, para além do limite, e, às vezes, para além da vida. Deixada para trás. Para que outros levantassem os ossos quebrados e os devolvessem a quem os quisera. Às vezes acabava assim o medo. E o desconhecido e a justiça e a dor. Minto. A justiça não andava ali. Só uma passagem rápida a verificar quando era justo ao corpo desistir. Para ser levado como restos. Quando a alma não desistia antes e não denunciava e não implorava e não cedia. Penso muito nisso quando penso na dor. No lugar da dor e nos limiares. Fronteiras entre possível e impossível. É isso a dor. Um território relativo. Ou de fronteira, terra de ninguém. Fronteira. É um território de transição. O eterno presente, talvez. De passagem. Iniciação. Um lugar, á falta de melhor. Lugar de expectativa e esperança. O não definitivo e o sabor doce do desconhecido. O estranho, estrangeiro e belo desconhecido. O lugar não lugar da viagem. Porque é sempre de passagem e de provisória paragem. E por isso nunca estação. Nunca destino, só inevitabilidade. Entre antes e depois. Entre expectativa e memória, o que fica. Fronteira. O aqui e agora nem sempre reconhecido como tal antes de a perspectiva se instalar como distância. Lucidez. A dor como lugar de passagem. Mesmo nesse músculo cardíaco que, de pessoa para pessoa varia entre a zona de conforto e a zona de risco de diferentes maneiras. O que resiste à velocidade instantânea e o que resiste ao esforço prolongado. Diferentes atletas, estes músculos. Em diferentes modalidades. E penso no que é a frequência cardíaca máxima. Que atira o músculo físico para a zona de perigo. Difere de pessoa para pessoa como o limiar de dor. De todas as dores. Em todas as partes do corpo. E da alma. Mas este é o mais difícil de quantificar à medida que nos afastamos das coordenadas objectivas espaço, tempo, função, actividade. Onde o ritmo desse músculo, físico se mede. E neste tempo em que tudo nos atira para corridas em velocidade. Refeições rápidas e emoções rápidas. Penso. Sim. Eu também sou uma pessoa acorrentada a esse suave ou nunca percebido como tal, jugo de uma alma dorida. De vida. De vida que nos falha. Mas não há dor que se aproxime de uma unha arrancada, um a articulação esmagada a martelo, um dente arrancado a frio. O corpo. Essa miséria que foi instrumento de muitos a uma sobrevivência que deixou por vezes espaço para a exaltação da mudança. O entusiasmo de pequenos prazeres. A liberdade da contemplação. A pequena ambição sem desapontamento. Transportamos a nossa própria gaiola. E num mundo assim, passando aos escaninhos privados e pequenos da alma que somos, cada um é livre de abandonar e alimentar a sua culpa, de ser abandonado e se rebolar na volúpia liberta de ser só sem ter. As pequenas raivas das pequenas coisas das pequenas vaidades e das pequenas ambições. A ocupar espaço. Na gaiola que levamos pela mão. Em que sítio? Em que lugar do corpo da alma, ou da vida da casa? Em que ficamos. E depois, este território minado que é o da fantasia. E o da ilusão. E o do sonho. Para não falar, já da ficção. Mas são estados diferentes no mesmo país. Ou federação. Diferentes. Há que distinguir. O sonho…nos adultos torna-se difícil. perde-se talvez a capacidade de sonhar. Diria de outra maneira: passa a sonhar-se dentro dos limites do possível. E o possível é um país grande. Enorme mesmo. Tão grande como esta mania de situar cada fenómeno em nós numa parte distinta e mais simbólica do que real do corpo. Tudo vive nas químicas e nas interacções do cérebro. tudo se mistura numa alquimia que varia de pessoa para pessoa e que resulta ou não numa economia existencial positiva em função das alquimias que de outras pessoas convivem com estas. Situamos a alma em que zona do corpo e o coração – o outro – em que zona do cérebro. E a dor, esse alerta para os limites de resistência do corpo, da alma. E a emoção. Lugares. Em que ficamos. Talvez esse português suave, pejorativo a qualificar-nos, seja uma característica ancestral de um certo tipo de coração. A precisar de um cigarro, como aqueles dos maços às risquinhas e com caravelas em azul e que não eram caravelas, e de parar para retomar forças para resistir. O azul calmo e reflexivo sobre o ouro e a velocidade da luz, nos antigos maços, e não o contrário como diz o dito. Somos talvez esse português suave. Quantas vezes a sentir o crescente da dor, da agonia e da raiva, a precisar de um pouco de retorno à suavidade que nos começa a faltar. A litlle tenderness, para manter a natureza de que cada um é feito. Parei na embalagem azul. Que o meu pai fumava e que ficou por ali – a embalagem do dia a seguir que não veio. Mais. Passou a amarelo vivo. Uma coisa solar. Sem torre de defesa rodeada das águas. Com embasamento atirado em frente a sul e ao mar. Como uma enorme, pesada, obsoleta barcaça. Entre o medieval e o renascido. Ancorada a terra sempre, lunar, era a sua natureza e a do rio a recuar, e para sempre. Esse maço está ali como recordação preciosa do tacto e de um gesto. Mas cada um desses cigarros, como os outros, pega fogo. Na proximidade do fogo.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteIrmãos Gao, artistas plásticos: “As nossas criações, para o público, não passam de crítica política” Chamam-se Gao Zhen e Gao Qiang e são conhecidos como os irmãos Gao. Os seus trabalhos já passaram por Nova Iorque, Berlim e Londres. Considerados uma referência da arte contemporânea chinesa, além de políticas, as suas obras são uma reflexão da sociedade actual na China Como é que se começaram a interessar pela criação artística? Foi nas décadas de 60 e 70, no século passado. Quando éramos miúdos já gostávamos de pintar juntos. Fomos directamente influenciados pela nossa mãe que nos questionava acerca do que víamos e do que desenhávamos. Ela era muito boa a recortar papel e os trabalhos que fazia pareciam que lhe saíam naturalmente do coração. O que ela fazia diferenciava-se da cultura folclórica, eram recortes de uma beleza primitiva original. Sem dúvida que, se temos algum talento, o herdámos da nossa mãe. O vosso trabalho é contemporâneo, mas tiveram formação em arte tradicional chinesa. No liceu tínhamos de estudar pintura tradicional. Naquela altura, devido às dificuldades económicas, não pudemos continuar a estudar. Passámos seis anos a trabalhar arduamente ainda muito novos. Na mesma altura começámos a aprender pintura tradicional chinesa de paisagem e a fazer cópias de trabalhos das dinastias Song, Yuan, Ming e Qing, e de alguns autores famosos mais contemporâneos. Acabou por ser uma aprendizagem muito forte e intensa, apesar de não ser académica. Mas porque fazíamos livremente aquilo que nos interessava, acabámos por criar várias obras contemporâneas ainda nessa altura. Como é que essa aprendizagem influencia o vosso trabalho actual? Se olharmos superficialmente para a arte tradicional, podemos dizer que não terá grande influência no que fazemos hoje em dia. Mas na nossa estética há uma ligação, que podemos considerar livre, entre os caminhos da arte tradicional e da arte contemporânea. Esta ligação acaba por ter sempre um papel, mesmo que subtil, no que fazemos. Por exemplo, em 2008, com o trabalho “Never Finished Building, n.º 4”, apesar de não usarmos uma nítida influência no resultado final da imagem, no processo criativo e no efeito criado pela peça, tivemos em conta um trabalho da dinastia Song. Escolhemos uma peça do pintor Zhang, o “Qingming River”, e a experiência que este trabalho nos proporcionava enquanto espectadores. Ambas as peças, a nossa e a tradicional, são um registo do estatuto social e da paisagem cultural na vida de um artista. Ambas reflectem o espírito de uma era. Parece que nós, agora, tal como há 800 anos, não estamos satisfeitos com o papel que o artista tem e queremos deixar um texto visual histórico com o que criamos para as gerações futuras. Os irmãos Gao são uma referência internacional, com trabalhos nas galerias e museus do mundo. Na China, algumas das vossas obras são alvo de censura, mas continuam em Pequim. Já pensaram mudar de país? Estamos na cena artística de Pequim há mais de dez anos. Às vezes sentimo-nos um pouco cansados e pensamos em mudar para Nova Iorque para começar uma nova vida e com ela novas criações. No entanto, também estamos muito conscientes da nossa inseparabilidade da nossa terra e história. São a nossa carne e o nosso sangue, e temos algumas dificuldades em demitir-nos dessa responsabilidade. Por isso, andamos sempre num estado de hesitação entre estes dois lugares, mas continuamos na China. Os vossos trabalhos têm uma componente de intervenção, nomeadamente política. Quais são, para vocês, os aspectos mas pertinentes para abordar na China contemporânea? No Velho Testamento, Isaías já dizia que “a manhã virá e a noite também”. A situação na China não é mais optimista. A nossa criação artística é um meio de expressarmos livremente a nossa resistência política, uma forma de manter a nossa dignidade básica e a nossa salvação. É também a forma de nos envolvermos com o mundo. Uma das vossas obras icónicas é a série de esculturas “Miss Mao”. Criámos a primeira escultura “Miss Mao” em 2006. Foi inspirada num trabalho em vídeo que tínhamos feito em 1998 denominado “BeiBei Mao”. Aliás, no fundo, a nossa desconstrução e crítica da ideologia e do sistema de Mao já tinha começado em 1989. Na altura fizemos várias imagens, não só de Mao, mas também de Marx e Lenine, produzidas em fotocopiadoras. Mas a polémica realmente foi instalada com a imagem de “Miss Mao” que já passou por Londres, Paris, Moscovo, Nova Iorque e Singapura. Nunca foi exibida na China devido à censura. De certa forma, “Miss Mao” é uma metáfora política da sociedade pós-Mao. Superficialmente, parece que, na China, a figura de Mao Zedong já está ausente há muito tempo e muitos dos aspectos que lhe são associados já estão irreconhecíveis mas, de facto, a natureza do sistema e as regras não sofreram grandes mudanças. Infelizmente, as pessoas olham mais para a superfície e conseguem ver algumas mudanças sociais, mas não estão cientes de que a natureza totalitária do sistema continua a mesma. É essa a mensagem da “querida” “Miss Mao”. Criámos também várias séries que podem ser divididas em duas categorias. Uma delas tem uma figura sorridente, quase amorosa e com algum humor. Na segunda categoria acrescentámos um pouco de maldade. No entanto, e comparadas com a brutalidade do regime, estas imagens não se podem considerar ultrajosas. O peito que acrescentámos a Mao tem que ver com a propaganda política que lhe está associada de que alimenta o povo. Há mesmo uma canção de propaganda que diz: “Ponho o partido à frente da minha mãe”. É a mãe Mao que amamenta os seus filhos. Por outro lado, é um Mao mentiroso, daí o nariz da obra. “Miss Mao” não é só uma piada visual, mas sim uma crítica política carregada de ironia. A “Execução de Cristo” também é um trabalho relevante. Porquê esta metáfora? Na “Execução de Cristo” inspirámo-nos numa obra de Manet, por sua vez inspirado na “Noite de 3 de Maio de 1808”, de Goya. O massacre é um tema que também percorre a história da arte. A composição deste trabalho é inspirada nestes autores e a escolha dos personagens, Cristo e Mao Zedong, teve que ver com a nossa experiência pessoal de sobrevivência. Mao foi um dos grandes tiranos do século XX. Mais de dez milhões de chineses morreram devido à perseguição política que fez. O nosso pai foi uma dessas pessoas. Este trabalho revela a violência do ditador contra a natureza humana. O confronto entre Mao e Jesus Cristo corresponde à situação real de oposição aos valores do Ocidente, à liberdade e aos direitos humanos. Na vertente fotográfica, o vosso trabalho é marcado, entre outras obras, pela série “Sense of Space”. É um trabalho em fotografia que aborda o comportamento. Foi feito em 2000 e, através de um armário, metaforizámos a forma como as pessoas se encaixam no seu espaço, no seu isolamento. Um estado de solidão, de depressão e muitas vezes de sufoco. Tem que ver com o viver num estado totalitário, mas também é relativo à forma de viver nas grandes cidades em que as pessoas são espremidas espiritualmente para poderem sobreviver. São multifacetados e trabalham sempre em equipa. Como é que corre esta colaboração? A nossa colaboração é, de facto, muito simples. Se um de nós tem uma ideia, discutimo-la para tentar perceber se tem algum valor. Se ambos sentimos que sim, depois começamos a pensar como é que a podemos concretizar. Se ambos sentimos que não tem valor, normalmente desistimos. Se um de nós acredita muito na ideia, pode avançar individualmente. Estão no 798 Art District, um espaço privilegiado da cena artística de Pequim. Como é que foram para o bairro das artes? Em 2004, juntamente com outros artistas, alugámos um estúdio no 798. Estávamos a criar um espaço inovador de criação artística. Fizemos ainda algumas exposições mas, devido à pesada crítica política, as autoridades alarmaram-se e o projecto acabou por não avançar. Mais tarde, acabámos por arrendar, sozinhos, o estúdio onde ainda nos encontramos. A nossa casa é aqui, é aqui que criamos e este é o espaço onde os nossos trabalhos de maior relevo foram produzidos. Ainda no que respeita ao vosso aspecto interventivo. Como é que lidam com as reacções, tanto do país como do mundo, sendo que são bem diferentes? Quer na China, quer em qualquer outra parte do mundo, pensamos que as pessoas entendem mal o nosso trabalho e a parte da crítica política acaba por parecer que é a sua totalidade. Às vezes sentimos que as nossas criações, para o público, não passam disso, de crítica política. Na realidade, achamos que somos pensadores que expressam as suas ideias através das artes visuais. A política real é apenas uma parte do nosso pensamento e até mesmo uma pequena parte, mas, claro, uma parte importante. Por esta vertente fazer parte do nosso trabalho, tem causado muita controvérsia. Na realidade, criamos trabalhos de géneros muito diferentes. Prova disso é por exemplo a expressão da mudança na paisagem urbana em fotografia presente na série “Never Completed Buidings”. Foi um trabalho que passou por várias cidades mundiais e que explora a relação entre comunicação e comportamento. Com o bloqueio da Internet, criámos a performance “Broken Wall”. Abordamos ainda as mudanças sociais como “In Beijing, One Day Can Go Far”. Fazemos documentários, pintura e fotografia abstracta também. Como vêem o futuro da China? E como gostariam que fosse? Para olhar para o futuro da China temos de fazer uma passagem pela história do país. Temos ainda de construir a história contemporânea das principais forças políticas de modo a conseguir fazer julgamentos de valor realistas. A história provou que a introdução da ditadura soviética e a construção de um sistema totalitário que ainda permanece no comunismo chinês foram um erro. Sun Yat-sen defendia o princípio do povo para um governo constitucional republicano, era o objectivo deste país. Seria o fim dos milhares de anos de história ditatorial imperial e o estabelecimento da primeira república da Ásia – a República da China. Em 1945, depois da guerra, poderíamos ter a construção de um sistema constitucional com eleições democráticas e uma constituição partidária. É lamentável que uma tão prometedora república tenha sido também “rasteirada” pelas conjunções geopolíticas do final da Segunda Guerra Mundial, em 1949, quando o partido comunista soviético apoiou o homónimo chinês. A subversão aconteceu a partir daí. A China embarcou num sistema despótico de um partido único. Foi o caminho para a escravatura. Lamentavelmente, o círculo intelectual ainda não consegue avaliar verdadeiramente esta situação e permanece obcecado com a disputa entre a perspectiva reformista e a “Grande Prosperidade da Revolução Cultural”. Estamos convencidos de que o futuro da China poderá, um dia, passar pelo restauro de alguma justiça histórica, retornar à República da China, criar uma verdadeira soberania do povo e percorrer o caminho de uma democracia constitucional.
Hoje Macau EventosShenzhen | À procura de propostas para Bienal de Urbanismo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]té ao dia 2 do próximo mês, o Instituto Cultural (IC) está a receber propostas para a Bienal Bi-citadina de Urbanismo/ Arquitectura de Shenzhen e Hong Kong, que se realiza na cidade chinesa. O IC é o responsável pelo pavilhão da RAEM no evento, em colaboração com a Associação de Arquitectos e o Instituto de Planeamento Urbano de Macau. Este ano, a Bienal Bi-citadina escolheu como tema “Cidades, Crescer na Diferença”. Organizada de dois em dois anos, é a única bienal ao nível mundial dedicada exclusivamente à temática permanente da cidade, refere o IC. Conta já com seis edições, onde foram expostas mais de 930 obras provenientes de todo o mundo, organizados mais de 510 eventos e fóruns, atraindo assim mais de 1,1 milhões de visitantes. Com a participação no certame, o IC espera reforçar a cooperação entre Macau e Shenzhen e promover o intercâmbio cultural, de modo a aumentar o conhecimento dos residentes de Macau sobre as tendências culturais no âmbito do urbanismo e da arquitectura da China e do estrangeiro. Além disso, pretende-se despertar o interesse pela arquitectura, planeamento urbanístico, arte e design. A recolha de propostas tem como objectivo seleccionar talentos locais e os seus trabalhos, “garantindo assim que a qualidade das obras do pavilhão e o projecto possam decorrer de forma aberta e justa, sendo encorajado o público a participar activamente”, acrescenta o Instituto Cultural.
Hoje Macau China / ÁsiaCimeira G20: Xi Jinping e Emmanuel Macron concordam em promover a cooperação [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping e o seu homólogo francês Emmanuel Macron concordaram sábado, em Hamburgo, promover as relações bilaterais e a cooperação. “O lado chinês está disposto a fazer esforços conjuntos com o lado francês para continuar a ver as relações bilaterais de um modo estratégico e uma perspectiva de longo prazo, e a trabalhar para um melhor desenvolvimento de nossos laços”, disse Xi durante uma reunião com Macron no âmbito da anual cimeira das principais economias do Grupo dos Vinte (G20) em Hamburgo, Alemanha. “A confiança mútua política, espírito pioneiro e inovador e a cooperação internacional frutífera têm sido as características destacadas da relação China-França”, acrescentou Xi. “Tanto a China como a França são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que procuram uma política externa independente, salvaguardam a ordem internacional com os propósitos e princípios da Carta da ONU no seu centro, e defendem intercâmbios e aprendizagem mútua entre civilizações diferentes. A relação China-França torna-se todos os dias mais estratégica na actual situação. É nossa responsabilidade histórica compartilhada manter e promover a parceria estratégica China-França”, concluiu o presidente. Xi propôs ainda que os dois países aumentem os contactos de alto nível e levem em consideração os interesses essenciais e principais preocupações de cada um com base nos princípios de respeito mútuo, confiança, entendimento e acomodação. Os dois países devem encaixar suas estratégias de desenvolvimento, disse. Xi pediu aos dois lados que aprofundem a cooperação em energia nuclear, tecnologia espacial e outras áreas tradicionais, enquanto exploram a cooperação em novas áreas como produtos agrícolas, finanças e desenvolvimento sustentável, procurando ampliar ainda mais a “cesta” dos seus interesses comuns. O presidente também sugeriu que os dois países promovam comunicação e coordenação em assuntos internacionais e regionais, e procurem em conjuntos soluções pacíficas para os assuntos mundiais e regionais. Relações saudáveis Sobre as relações da China com a União Europeia (UE), Xi disse que a China está pronta para desenvolver uma relação de cooperação a longo prazo e estável com o bloco, e espera que a França continue a desempenhar um papel dirigente a este respeito e faça contribua mais para o comércio e investimento bidirecional China-UE. Procurar um caminho de desenvolvimento ecológico, de baixo carbono e sustentável, defendido no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, mantém-se em conformidade com a filosofia da China de promover progresso ecológico e o mais recente conceito de desenvolvimento do país. “A China cumprirá seriamente com suas devidas obrigações no acordo de acordo com seus próprios requisitos para o desenvolvimento sustentável”, acrescentou. Concordando com as observações de Xi sobre os laços bilaterais, Macron disse que os dois países desfrutam de uma longa história de amizade e elogiou o relacionamento bilateral como o melhor na história. O lado francês “valoriza altamente a parceria estratégica abrangente França-China e considera a China como um importante parceiro de cooperação e uma importante força nos assuntos internacionais”, disse Macron. O presidente francês acrescentou que está disposto a promover a cooperação com a China numa ampla variedade de áreas, incluindo economia e comércio, investimento, energia nuclear, produção de automóveis e alimentos. “A França e a China compartilham posições semelhantes sobre as principais questões internacionais, e os dois países devem reforçar a comunicação e a coordenação dentro de tais marcos multilaterais como as Nações Unidas, para promover juntos a paz e a prosperidade mundiais”, concluiu Macron.
Hoje Macau China / ÁsiaCimeira G20: Questão climática isola Donald Trump À medida que os EUA vão perdendo protagonismo na cena mundial, às mãos do seu presidente, Xi Jinping foi talvez a figura central da cimeira, tendo-se desdobrado em contactos com diversos líderes. [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]íderes das principais economias do mundo romperam com o presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a política climática na cimeira do G20 no sábado, numa rara admissão pública de desacordo e um golpe na cooperação mundial. A chanceler alemã Angela Merkel conquistou seu objectivo principal na reunião em Hamburgo, convencendo os demais líderes a apoiar um comunicado único com promessas sobre comércio, finanças, energia e África. No entanto, a divisão entre Trump e os demais 19 membros do grupo, incluindo países tão diversos como Japão, Arábia Saudita e Argentina, foi dura. “No final, as negociações sobre o clima reflectem a dissidência – todos contra os Estados Unidos da América”, disse Merkel a repórteres no fim da reunião. “E o facto de que as negociações sobre comércio foram extraordinariamente difíceis é devido a posições específicas tomadas pelos Estados Unidos”. No comunicado final, os outros 19 líderes tomaram nota da decisão dos EUA de retirar-se do acordo climático de Paris, declarando-a “irreversível”. Por seu lado, os EUA tomaram uma atitude confrontacional dizendo que o país “se esforçaria para trabalhar em estreita colaboração com outros países para ajudá-los a ter acesso e usar combustíveis fósseis de forma mais limpa e eficiente”. Sobre o comércio, outro ponto delicado, os líderes concordaram que iriam “combater o proteccionismo, incluindo todas as práticas injustas e reconhecer o papel de instrumentos legítimos de defesa sobre esse tema”. Uma economia digital favorável ao crescimento e emprego O presidente chinês Xi Jinping propôs sábado que os membros do Grupo dos Vinte (G20) construam uma economia digital que seja favorável ao crescimento e ao emprego. “Devemo-nos adaptar activamente à evolução digital, fomentar novos motores económicos, avançar nas reformas estruturais e promover o desenvolvimento integrado da economia digital e real”, disse Xi. Para esse fim, propôs implementar a Iniciativa de Desenvolvimento e Cooperação de Economia Digital do G20 e o Plano de Acção de Nova Revolução Industrial, ambos adoptados no ano passado na cimeira de Hangzhou, na China. O líder chinês pediu a todos os membros que lidem com os riscos e desafios para guiar a economia digital em direcção à abertura e abrangência, acrescentando que o bloco do G20 precisa expandir o acesso à economia digital e reduzir a disparidade digital entre o Norte e o Sul. “Precisamos prestar atenção à produção digitalizada e ao impacto da inteligência artificial no emprego em diversas nações, e tomar políticas activas de emprego”, acrescentou. O presidente chinês também pediu a todas as partes que criem um ambiente internacional favorável ao desenvolvimento da economia digital, integrem melhor as suas respectivas estratégias de desenvolvimento, e melhorem juntos o nível da aplicação digital. “Devemos procurar a construção de um ciberespaço pacífico, seguro, aberto e cooperativo, e explorar caminhos para desenvolver regras de comércio internacionais que sejam multilaterais, transparentes e inclusivas nos sectores digitais”, acrescentou ele. Japão | Shinzo Abe sem espaço de regressão Xi Jinping disse sábado que o Japão deve cumprir com a sua palavra nos assuntos relacionados com a História e Taiwan, e remover as distracções nas relações bilaterais com estratégias e acções concretas. Ao reunir com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Xi também pediu ao Japão que aprenda com a história para garantir que as relações China-Japão avancem na direcção certa e tenham uma perspectiva mais brilhante. Xi observou que “as relações amistosas firmes entre a China e o Japão não só concernem o bem-estar dos dois povos, mas também têm um impacto na Ásia e no mundo em geral”. A China e o Japão normalizaram suas relações diplomáticas há 45 anos depois de atingir importante consenso sobre a história, Taiwan e as Ilhas Diaoyu, entre outros assuntos. No ano que vem, as duas nações comemorarão o 40º aniversário da assinatura do Tratado China-Japão de Paz e Amizade. O presidente chinês disse que os dois países devem promover o seu senso de responsabilidade neste momento e aproveitar as oportunidades na nova era dos laços bilaterais. “Apesar das voltas e reviravoltas, e outros testes severos nos últimos 45 anos, o desenvolvimento das relações Pequim-Tóquio proporcionou a ambos muitas ideias construtivas”, disse Xi. “A confiança política é a premissa das relações China-Japão”, disse Xi, se referindo aos quatro documentos políticos e o acordo de quatro pontos que servem como os princípios orientadores dos laços bilaterais para tratar adequadamente dos assuntos relacionados com a história e Taiwan, entre outros. “Esses assuntos, vitais para a base política dos laços China-Japão, não têm nenhum espaço para concessão ou regressão. Caso ao contrário, as relações bilaterais sairão do curso certo e diminuirão o ritmo do desenvolvimento”, disse. Por seu lado, Shinzo Abe disse que seu país está preparado para demonstrar acrescentar dinâmica nos seus laços com a China, pois os dois países, a segunda e a terceira maior economia do mundo, respectivamente, são actores influentes nos assuntos mundiais e regionais. O líder japonês quer mais contactos de alto nível com a China, acrescentando que está disposto a promover a cooperação bilateral em áreas como economia e comércio, finanças, turismo, assim como a colaboração no projecto Uma Faixa, Uma Rota. Abe também prometeu que sobre Taiwan, não há nenhuma mudança na posição do Japão definida na sua declaração conjunta com a China em 1972. Diálogo com a Coreia do Norte O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou ao presidente norte-americano, Donald Trump, no sábado, a adesão da China à resolução da questão nuclear norte-coreana por meio de negociações, informou a agência de notícias estatal Xinhua. Xi disse que, ao mesmo tempo em que se formulam “respostas necessárias” à Coreia do Norte contra a resolução da ONU, deveria haver esforços intensificados para promover o diálogo, acrescentou a Xinhua. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter tido uma conversa “excelente” com o presidente da China, Xi Jinping, sobre questões como o comércio entre os dois países e a Coreia do Norte. “Deixando Hamburgo para Washington e a Casa Branca. Acabei de encontrar o presidente da China e tivemos uma reunião excelente sobre comércio e Coreia do Norte”, escreveu Trump no Twitter.
Fa Seong A Canhota VozesTerra, Marte ou morte? [dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap] Terra é muito perigosa, volta rapidamente para Marte!”. Estas frases são bem conhecidas em comunidades que falam cantonês, porque surgiram de um filme de comédia de Hong Kong, Shaolin Soccer, cujo protagonista é o actor que todos conhecem, Chow Sing Chi. A concepção dessas frases tem sido para gozar com quem não gosta de se ver e se quer mandar embora, mas alguém já pensou que o que diz poderá ser uma realidade? Agora não é para brincar! O renomado físico teórico e cosmólogo Stephen Hawking reiterou recentemente que todos os países devem criar uma base na Lua dentro de 30 anos e enviar seres humanos para Marte antes de 2025. Esta alerta está a aproximar-se. Nos anos passados, a previsão de Hawking foi “emigrar para outros planetas dentro de 1000 anos”, mas agora o físico teórico defende que para os seres humanos sobreviverem devem sair da Terra dentro de 100 anos. A nossa Terra está mesmo perigosa. Terramotos, doenças infecciosas, acidentes nucleares, inclusive ataques terroristas. Todos os dias ouvimos notícias tristes, pessoas mortes, acidentes graves. Já serão estas razões suficientes para nós deixarmos a nossa casa, deixarmos o nosso planeta? Donald Trump não compreende, mas o mesmo cosmólogo sabe muito bem se os humanos continuarem a “devorar” os recursos da Terra num ritmo insustentável, se não pararmos a poluição, as mudança climáticas, o degelo das calotas polares e o desaparecimento de florestas, é possível que a chegada de catástrofes se acelere. Assim, Stephen Hawking está convencido que devemos abandonar a Terra e explorar fora é a única salvação. A única forma de salvação? Quer dizer que a Terra está já tão destruída pelos humanos que teremos de sair? Quer dizer que as actividades de protecção ambiental, a poupança de energia e água, o desenvolvimento de energias sustentáveis já não servem de nada, perderam a sua eficácia e já não podem melhorar o ambiente onde vivemos há milhares de anos? Ou seja: destruímos um planeta e mudamos para outro, como quando mudamos de roupa depois de a sujar? Extinguimos os recursos de um e vamos fazer o mesmo no outro? Não sei se a futura tecnologia conseguirá tornar isso real, percebo é que o egoísmo dos seres humanos mostra-se perfeitamente aqui, porque se não alterarem comportamentos que fizeram mal à Terra, continuarão a cometer erros, se nunca pensarem em corrigir mas somente em como fugir, seja qual for o planeta para onde vão, o resultado será igual. Hawking disse que, se nos mantivermos na Terra, os seres humanos correm risco de extinção. Talvez nós já não possamos alterar o “fim do mundo”. Se teme a morte, por que não desacelerar a destruição da Terra, a partir deste momento, e evitar fazer o que é mau para o planeta?
João Luz VozesO Reencarnador [dropcap style≠’circle’]r[/dropcap]e·en·car·na·ção, substantivo feminino. Acto ou efeito de reencarnar. Reassumir a forma humana. O termo, de origem latina, significa literalmente “voltar a entrar na carne”. Pitágoras usava a expressão “metempsicose” quando se debruçava na trigonométrica nova existência. “Metempsicose” resulta da soma do quadrado das partes “meta” (mudar) e “empsykhoun” (introduzir a alma em), para se referir à “hipotenúsica” ideia da transmigração de almas de um corpo para outro. Longe de querer mergulhar no mundo místico das religiões, ou nos domínios do espiritismo, proponho um exercício de esquizofrenia nesta página. Todas as semanas a minha carne receberá a presença de alguém que conte algo sobre Macau e o Mundo. Convido-me a vestir a pele de indefinidos terceiros, a ver a realidade com os seus olhos, a sentir as suas dores, a partilhar as suas alegrias, terrores e esperanças. Esta página destina-se à ocupação post-mortem de uma defunta narrativa, à canalização de espíritos através do poder invocativo das palavras. Sei que vou errar, essa é a única humana certeza que tenho antes de enfrentar esta tarefa. No entanto, comprometo-me, numa espécie de juramento agostiniano, a não perseverar no diabólico equívoco. Confesso que ser outro, representar algo no papel, afigura-se uma aliciante promessa de improváveis aventuras. A reencarnação é, afinal, o labor supremo da imaginação, a via essencial da arte representativa, do teatro, da literatura, do devaneio que faz correr a alma em direcção ao insondável. A derradeira fuga ao ego. Pretendo recorrer, o melhor que conseguir, ao engenho do mimetismo como instrumento em prol da racionalização, da busca da paz trazida pela compreensão, da lucidez que se materializa a partir de um lugar de absoluta e difusa esquizofrenia. O mais afastado possível da segunda vida do perdido Norman Bates e de todos os loucos que habitam a ficção e a realidade. Isto apesar de Macau proporcionar, por razões que desconheço, condições perfeitas para a loucura germinar, como um habitat natural perfeito para o cultivo de um sortido variado de psicopatias. Afinal, todas as terras têm os seus respectivos punhados de loucos, como que um número mínimo requerido de Joanes por unidade geográfica vicentina. A sensação de excesso de demência por metro quadrado em Macau, talvez, se deva ao apertado abraço da densidade populacional, o sufoco metropolitano pode muito bem empolar essa percepção. Erasmo de Roterdão teceu um elogio protestante a esse desígnio da psique humana, como uma forma de tornar Roma mais longe no mapa espiritual. Bem, talvez já esteja a cair no fácil abismo do erro, é muito humanamente possível. Mas hoje, neste meu primeiro acesso, encontro-me destituído de papel a encarar o ainda estagnado carrossel identitário. Um corpo vazio, receptáculo por preencher, como esta e outras tantas futuras páginas. Aqui me apresento, caros leitores, em registo interno, totalmente assumido e nu. O meu nome é João Luz, nasci há 38 anos e 8 meses em Setúbal. Tenho pouco mais de sete meses de Macau e uma sede imensa de clareza e compreensão. Esta é a minha desfloração, a perda da virgindade em matéria de crónicas de opinião assinadas. Espero conseguir expressar a minha percepção da forma mais fiel possível aos personagens que vou representar neste palco de papel. Eles serão o veículo para exorcizar Macau e o Mundo, segundo as minhas lentes, de acordo com o meu palato. A minha pena presta-se a traduzir para palavras as ruelas e os becos da cidade, os fantasmas do Porto Interior, as meninas que mercantilizam deleite, a opulência gorda do poder, o esmorecer de forças dos despojados. Quero abarcar tudo nesta página, torná-la a minha cruz pessoal de reflexão, o derrame de caleidoscópicas miríades de pensamentos no melhor português que conseguir conjurar no mais curto espaço de tempo. Quero o impossível e ser tudo, ao mesmo tempo, já, imediatamente. Anseio com júbilo a entrada em cena da primeira personagem. Já pressinto as pressagiosas pancadas de Molière a ecoar secas e premonitórias num horizonte próximo. Por hoje serei apenas o “reencarnador”, o vazio, o ciclo por completar depois da morte e antes do retorno à vida. Na próxima semana serei outro.
Sérgio Fonseca DesportoAndré Couto teve um violento despiste na pista de Zhuhai [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ndré Couto sofreu um grave acidente na corrida de sábado do Campeonato da China de GT, cuja segunda jornada da temporada se realizou este fim-de-semana no Circuito Internacional de Zhuhai, na cidade continental chinesa adjacente a Macau. Numa corrida disputada com condições meteorológicas instáveis, no recomeço da mesma, após o primeiro período de safety-car para remover um concorrente que se despistou, Couto perdeu o controlo do Nissan GT-R Nismo GT3 da Spirit Z Racing na Curva 6 e este deslizou sobre a escapatória tendo colidido de frente com as barreiras de protecção a cerca de 160km/h. O piloto da RAEM foi logo assistido no local e saiu do carro pelo próprio pé, apesar de estar visivelmente em dificuldades. Couto, que não perdeu os sentidos e manteve-se sempre de espírito firme, foi depois transportado para o Hospital Universitário Nº5 Sun Yat Sen, em Zhuhai, onde fez os primeiros exames, para ser depois transferido para Hong Kong, onde este domingo foi submetido a uma cirurgia. O primeiro scan feito no hospital de Zhuhai revelou uma lesão na vértebra L1. A corrida foi interrompida após o acidente de Couto e quando ainda faltavam 10 minutos para o final. Para além de existirem mais dois carros imobilizados em zonas perigosas, que tiveram acidentes na mesma volta, mas noutros pontos da pista, as barreiras de pneus e próprio muro em betão da Curva 6 ficaram bastante danificados após o impacto do Nissan.
Sérgio Fonseca DesportoFaleceu Barry Bland, o pai da F3 no território [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Prémio de Macau perdeu na semana passada um dos seus nomes sonantes, o inglês Barry Bland, aquele que será sempre recordado como o pai do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3. Nascido em 1946, em Ilford, Bland, que optou sempre por uma postura muito discreta, longe das luzes da ribalta, chegou a ser piloto, antes de se juntar ao British Automobile Racing Club, primeiro como secretário das competições automóveis e depois como organizador de corridas. Em 1971, Bland passou a trabalhar para a Motor Race Consultants, onde continuou, coordenando angariação de pilotos, logistica e seguros para eventos um pouco por todo o mundo Foi já ao serviço da MRC que teve o primeiro contacto com Macau, através da sua amizade com o então líder do Automóvel Clube de Hong Kong (HKAA), Phil Taylor. Em 1983 Bland convenceu Rogério Santos, na altura o presidente do Leal Senado, e Taylor que a Fórmula 3 era o caminho a seguir no Grande Prémio. Na altura a Fórmula Atlantic estava em plena decadência. À época a então Fórmula 2 parecia ser o caminho a seguir, mas dois meses antes da prova o plano foi abortado por a largura da Curva da Estátua (a estátua equestre de Ferreira do Amaral), agora Curva do Lisboa, não ser suficiente para os carros passarem. Foi assim, quase por acaso, que nasceu o que é até hoje um dos eventos de maior expressão do automobilismo mundial. Com qualidades pessoais e conhecimento do meio altamente reconhecidas, Bland chegou a ser presidente da Comissão de Monolugares da FIA e foi também ele que organizou o Masters de Zandvoort, a prova europeia mais relevante do calendário de Fórmula 3. O inglês esteve ao serviço do Grande Prémio de Macau até 2016, tendo saído após divergências com a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, numa história rocambolesca que nunca foi muito bem explicada. Mesmo assim, e apesar de debilitado, Bland ainda se deslocou o ano passado à RAEM para ver a prova “in loco” e apoiar os seus cliente na área dos seguros. Lembrado por cá Numa comunicação apenas em língua chinesa e inglesa, a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau expressou as suas condolências, agradeceu toda ajuda ao longo dos anos e lembrou que “por mais de 30 anos, o Sr. Bland trabalhou incansavelmente com Macau para elevar o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 ao mais alto nível internacional. A sua contribuição para a construção da reputação que este goza hoje é imensurável.” Também a Associação Geral de Automóvel Macau-China (AAMC) expressou o seu pesar. “A AAMC trabalhou de perto com o Sr. Bland durante décadas, e a sua experiência e orientação foram extremamente valorizadas. Nós iremos sempre recordar a sua bondade, sabedoria e a sua paixão infalível pelo desporto motorizado”, disse a associação, em comunicado colocado nas redes sociais.
Sérgio Fonseca DesportoRodolfo Ávila | Estratégia arrojada próxima de resultar [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]odolfo Ávila disputou este fim-de-semana, no exíguo circuito de Xangai Tianma, a quarta prova do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC). Desta vez a equipa SVW333 Racing optou por uma estratégia diferente para Ávila que passava por sacrificar a primeira corrida em prol da segunda, mas nem tudo correu de acordo com o plano. Por opção da equipa, com base na estratégia de poupar um jogo de pneus para a segunda corrida, o piloto português de Macau não saiu para a pista na segunda metade da sessão de qualificação, caindo assim uma série de posições quando os seus adversários melhoraram os seus tempos. “Andamos bem nos treinos-livres, dentro dos seis primeiros, mas na qualificação não fizemos um tempo forte com o primeiro jogo de pneus e depois a equipa decidiu reter-me nas boxes no final da sessão, por uma razão de estratégia e assim não pude melhorar”, explicou o piloto da SVW333 Racing que foi obrigado a partir da nona posição para a primeira corrida do programa. Com a grelha de partida da segunda corrida a ser composta pelos doze primeiros classificados da primeira corrida em ordem invertida, Ávila tinha como missão terminar entre o 10º e o 12º lugar. Mas não se pense que fazer uma corrida a andar para trás é por si só mais fácil que aquela de ganhar posições e subir na classificação. “Nunca tinha feito uma corrida assim. Na última volta estávamos quatro ou cinco carros a lutar pelo 12º lugar, tudo a fazer o mesmo jogo. Terminei no 10º lugar”, disse Ávila que viria a ser promovido a oitavo com a penalização de dois oponentes, o que o colocou no quinto lugar da grelha de partida para a segunda corrida. A estratégia parecia estar a resultar, quando à quinta volta, Ávila assumiu autoritariamente a liderança da corrida. Contudo, um toque de um adversário voltou a mudar o destino do piloto do VW Lamando GTS nº9. “Na primeira volta subi para quarto, mas depois a corrida foi interrompida devido a um acidente atrás de mim que deixou vários carros espalhados pela pista. No recomeço consegui ir até primeiro, mas um adversário deu-me um toque e fiz pião. Depois foi sempre a recuperar, de 13º até ao sexto lugar final”, comentou o piloto oficial da SAIC Volkswagen. O CTCC regressa no primeiro fim-de-semana de Agosto no Circuito Internacional de Xangai, uma das poucas pistas do calendário do popular campeonato chinês que Ávila conhece de participações anteriores.
Hoje Macau China / Ásia MancheteCoreia do Norte | EUA dizem-se preparados para usar força caso seja necessário Os Estados Unidos alertaram que estão prontos para usar a força caso seja necessário para interromper o programa de mísseis da Coreia do Norte, mas dizem preferir uma acção diplomática global contra Pyongyang e mais sanções. China e Rússia estão contra e preferem a via diplomática, que passará pela cessação imediata de todas as acções militares dos dois lados. [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, disse em encontro do Conselho de Segurança que as acções da Coreia do Norte estavam “a acabar rapidamente com a possibilidade de uma solução diplomática” e que os EUA estavam preparados para se defender e defender seus aliados. “Uma das nossas capacidades está nas nossas consideráveis forças militares. Iremos usá-las caso precisemos, mas preferimos não ter que seguir este caminho”, disse Haley. Dando um significativo passo no seu programa de mísseis, a Coreia do Norte testou na terça-feira o lançamento de um míssil balístico intercontinental que alguns especialistas acreditam poder alcançar os Estados norte-americanos do Hawai e do Alasca e talvez o noroeste do Pacífico norte-americano. A Coreia do Norte afirma que o míssil pode carregar uma grande ogiva nuclear, mas os militares norte-americanos garantiram que são capazes de defender os EUA contra o míssil balístico intercontinental norte-coreano. Kim Jong-un, o presidente norte-coreano, dissera que o míssil foi um “presente” para os EUA na data em que os norte-americanos festejavam o 4 de Julho, o Dia da Independência e que irá a continuar a enviar “prendas”. Haley disse que os EUA irão propor novas sanções da ONU sobre a Coreia do Norte nos próximos dias e alertou que se a Rússia e a China não apoiarem as medidas, então “seguiremos o nosso próprio caminho”. O embaixador da China na ONU, Liu Jieyi, disse na reunião do Conselho de Segurança que o lançamento do míssil foi uma “violação evidente” das resoluções da ONU e “inaceitável”. “Pedimos a todas as partes interessadas para exercitarem a prudência, evitarem acções provocativas e retóricas agressivas, demonstrarem a vontade por diálogos incondicionais e trabalharem activamente juntas para desarmar a tensão”, disse Liu. Rússia e China contra mais sanções Mas, no entanto, a China e a Rússia discordaram da proposta dos Estados Unidos de impor sanções mais duras à Coreia do Norte e pediram ao governo norte-americano para trabalhar em uma solução negociada para a actual crise. Os dois países formaram no Conselho de Segurança da ONU uma frente comum contra a proposta dos EUA, que anunciou que apresentará um projecto de resolução para endurecer as sanções à Coreia do Norte. “Todos devemos saber que as sanções não vão resolver a questão”, disse o embaixador-adjunto da Rússia na ONU, Vladimir Safronkov, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança. Safronkov classificou como “inaceitável” qualquer tentativa de estrangular economicamente a Coreia do Norte, lembrando que milhões de pessoas têm grandes necessidades humanitárias no país. Contra a postura da Casa Branca, a China e a Rússia voltaram a defender a proposta de que a Coreia do Norte suspenda seus testes nucleares e de mísseis em troca de que os EUA e a Coreia do Sul façam o mesmo com as manobras militares conjuntas na região. Os dois países consideraram o teste norte-coreano como inaceitável, mas também criticaram a instalação de um escudo antimísseis dos EUA na Coreia do Sul. No fim do debate no Conselho de Segurança, Haley respondeu às declarações de russos e chineses, dizendo que se opor às sanções é “dar as mãos para Kim Jong-un”. Ameaças americanas Quando Donald Trump e Xi Jinping se cruzarem em Hamburgo, na Alemanha, para a reunião do G20 que decorre na sexta-feira e no sábado, entre os dois haverá uma espécie de enorme elefante na sala chamado Coreia do Norte. Nos últimos tempos, a relação entre os presidentes dos EUA e da China arrefeceu substancialmente. Ainda ontem, Trump voltou a usar a rede social Twitter para beliscar Pequim. “O comércio entre a China e a Coreia do Norte cresceu quase 40% no primeiro trimestre [do ano]. Lá se vai a possibilidade de a China colaborar connosco – mas tínhamos de tentar”, escreveu o líder norte-americano. Apesar de haver poucas certezas sobre os números invocados por Trump, não restam dúvidas de que Washington e Pequim estão cada vez mais distantes. Na semana passada a administração Trump impôs sanções a um banco chinês devido às relações que esta entidade mantém com a Coreia do Norte, referiu-se à China como um dos piores países em matéria de tráfico de seres humanos e concluiu um negócio de venda de armas a Taiwan no valor de 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros). Rex Tillerson, secretário de Estado norte-americano, sublinhou o discurso do presidente:. “Qualquer país que receba trabalhadores norte-coreanos, que favoreça [Pyongyang] com benefícios económicos e militares ou que não implemente as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas está a ajudar e apoiar um regime perigoso”, sublinhou o responsável pela política externa dos EUA. Medo de novo teste nuclear O ministro da defesa da Coreia do Sul afirmou que a probabilidade de um sexto teste nuclear por parte de Pyongyang é alta. “O objectivo da Coreia do Norte é reforçar o seu poderio nuclear, por isso é bastante possível que tal venha a acontecer”, referiu Han Min-koo. Até hoje foram cinco os testes de armamento nuclear levados a cabo pelo regime norte-coreano. O primeiro aconteceu em 2006 e os dois últimos no ano passado, em Janeiro e em Setembro. Até que ponto o conflito diplomático pode descambar para guerra aberta? Jim Mattis, secretário de estado da Defesa dos EUA, já avisou que as consequências de uma acção militar seriam “trágicas numa escala difícil de imaginar”. Esse deverá ser sempre o último dos últimos recursos O presidente norte-americano tem tentado convencer a China a fazer todos os esforços para resolver a questão norte-coreana, mas o tom dos seus tweets, mesmo tratando-se de Donald Trump, mostram que estará a perder a paciência com Pequim. “A Coreia do Norte acaba de lançar outro míssil. Será que este tipo [Kim Jong-un] não tem nada melhor para fazer na vida. É difícil acreditar que a Coreia do Sul e o Japão vão aturar isto durante muito mais tempo. Talvez a China faça um gesto forte em relação à Coreia do Norte e ponha fim a este absurdo de uma vez por todas”, escreveu no Twitter o líder norte-americano. EUA e Seul respondem e a dobrar Anteontem, em resposta a Pyongyang, EUA e Coreia do Sul dispararam uma barragem de mísseis ao longo da costa leste da península coreana. “[Esta reacção] é apenas uma demonstração de força, uma espécie de olho por olho, dente por dente, mas não irá dissuadir os norte-coreanos de continuar a desenvolver mísseis de longo alcance e de investir no programa nuclear”, sublinha o analista Robert Kelly, da Universidade Nacional de Busan, na Coreia do Sul, citado pela Al Jazeera. Já ontem, o exército sul-coreano realizou novas manobras com fogo real, que incluíram o lançamento de vários mísseis guiados numa nova demonstração de força para responder ao mais recente ensaio de míssil pela Coreia do Norte. O exercício, realizado nas águas do Mar do Japão, envolveu a marinha e força aérea, disse à agência espanhola Efe um porta-voz do Ministério de Defesa sul-coreano. Foi simulado um ataque por mar e no decurso das manobras foram disparados mísseis anti-navio “Haeseong” e “Harpoon” e mísseis terra-ar “AGM-65 Maverick”. Estes exercícios foram realizados dois dias depois de a Coreia do Norte ter lançado o primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM) e um dia depois de os exércitos sul-coreano e norte-americano terem realizado também testes de mísseis para responder a Pyongyang. Seul apela a aumento de sanções O Presidente sul-coreano apelou ontem à Alemanha para que aplique sanções reforçadas contra a Coreia do Norte, na sequência do anúncio de Pyongyang de que lançou um míssil balístico intercontinental (ICBM), que Seul qualificou de “provocação”. “A Coreia do Norte deve pôr um fim a isto e, por esta razão, nós devemos trabalhar no sentido de sanções mais intensas” contra este país, declarou Moon Jae-In no decorrer de uma conferência de imprensa com a chanceler alemã, Angela Merkel. O chefe de Estado sul-coreano sublinhou que serão lançadas negociações sobre esta matéria com alguns governos à margem da cimeira do G20 que decorrerá na sexta-feira e no sábado em Hamburgo, Alemanha. “Trata-se de uma grande ameaça” para a Península coreana e para o mundo inteiro”, bem como “uma provocação”, disse o novo chefe de Estado da Coreia do Sul. No entanto, Moon Jae-In mostrou-se mais aberto ao diálogo com a Coreia do Norte do que o seu antecessor, afirmando-se favorável a uma “solução pacífica” para o conflito. A chanceler alemã também deu apoio à ideia de impor sanções mais duras contra Pyongyang. Merkel indicou que pretende discutir com o Presidente sul-coreano “a melhor forma de manter a pressão, e ver como se poderá continuar a aumentar as sanções”. “É uma questão que nos toca o coração, porque nós sabemos, por experiência própria, o que significa a divisão de um país”, afirmou Merkel, referindo-se ao período entre 1949 e 1989, durante o qual a Alemanha comunista, a República Democrática Alemã, coexistiu com a Alemanha ocidental, a República Federal da Alemanha.
Isabel Castro Entrevista MancheteJosé Eduardo Martins, especialista em direito do ambiente: “A liderança chinesa é inevitável” Paris já não seria Paris sem a China, que mudou muito nos últimos anos e percebeu que, sem um maior respeito pelo ambiente, o desenvolvimento não será sustentável. Mas a saída dos Estados Unidos do acordo internacional abre portas a um maior protagonismo de Pequim, analisa José Eduardo Martins, advogado, ex-secretário de Estado do Ambiente de Portugal. Quanto a Macau, tem um papel importante a desempenhar, porque tudo conta no trabalho de luta contra o aquecimento global [dropcap]V[/dropcap]eio a Macau falar do Acordo de Paris, que voltou a estar recentemente na ordem do dia com a saída dos Estados Unidos. Ainda é cedo para avaliar o impacto real desta desistência norte-americana ou podemos já adivinhar consequências graves? Para responder com franqueza, não sei. Como é que isso se vai avaliar? Hoje não estamos como há 20 ou 30 anos. O Acordo de Paris é absolutamente único no direito internacional porque, apesar de haver poucas normas imperativas – tirando as que obrigam à transparência e ao conhecimento, à monitorização das emissões –, permitiu vencer a barreira que existia no Protocolo de Quioto. O que é diferente em Paris é que, com excepção da Síria, da Nicarágua e agora dos Estados Unidos, todos os países do mundo têm consciência de que o trabalho de combater as alterações climáticas é um trabalho de cada país, um trabalho nacional. Não há uma coisa etérea chamada comunidade internacional, porque continua a haver terra onde pôr os pés, indústrias baseadas neste ou naquele país, modos de vida, de consumo, de produção de energia baseados neste ou naquele país – o que é muito importante em Paris é este consenso quase universal para a acção. Isso nunca tinha acontecido. É muito raro haver acordos internacionais sequer subscritos por maioria de Estados das Nações Unidas, quanto mais aprovados unanimemente. O primeiro efeito de Paris foi levar, de facto, um conjunto de Estados a avançar qualquer coisa nas suas políticas domésticas, e isso é importante. Anunciaram-se muitas iniciativas domésticas em muitos estados cruciais para o cumprimento do protocolo a seguir a Paris. Nessa medida, a desistência dos Estados Unidos é sobretudo grave pelo exemplo e pelo retrocesso. Mas não é só no ambiente que esta circunstância fatídica, de se ter eleito Presidente da América um homem que nunca terá lido um livro até ao fim, está a fazer os Estados Unidos perderem liderança e andarem para trás. A questão do exemplo será então, para já, a principal preocupação. O principal efeito que tem é os decisores políticos menos comprometidos com o futuro poderem dizer ‘se aqueles não fazem, eu também não faço’ ou usarem o argumento farisaico de que se os Estados Unidos não fazem, nada disto vai funcionar, porque eles são dos maiores poluidores. Este é o lado negativo. Mas voltando ao princípio: para quem trabalha nestas coisas, a primeira reacção tem de ser, apesar de tudo, um bocadinho mais optimista. Depois do Acordo de Paris, não há nenhum Trump que consiga fazer isto voltar atrás, nem na América. E nem na América porquê? As empresas americanas que estão pelo mundo inteiro não deixaram de estar sujeitas às regras que o Acordo de Paris fará das políticas domésticas de cada Estado. Dentro dos Estados Unidos, como muito do que se consegue é o que se faz efectivamente, uma grande maioria de Estados e de cidades continuam comprometidos com o Acordo de Paris, e vieram dizer ‘este senhor pode dizer o que quiser que nós, aqui, vamos continuar’. Não sabendo, tenho a esperança de que vamos chegar ao fim disto e, na matéria do clima, como noutras, terá havido aqui um momento sobretudo embaraçoso para os Estados Unidos, consequência de terem eleito este populista. Mas esse momento embaraçoso é um lapso de tempo num processo que ganhou uma consciência global que já não volta atrás. É mais uma área em que a China pode ter um papel importante ao nível internacional, sendo que o país nos últimos anos tem feito um trabalho importante nesta área? Um senhor que não estimo particularmente e que foi o mentor de Tony Blair, Anthony Giddens, escrevia a propósito do clima uma coisa simples: houve aqui um sonho de uma ordem internacional, de agências, supraestadual. Isso não é o mundo, nem é a normalidade. A normalidade é a competição entre Estados soberanos. Se há coisa que mudou no mundo nos últimos 20 anos é a passagem da China pelo mundo com a globalização. Imediatamente após as declarações de Trump, a União Europeia – que sempre quis ter um papel liderante nisto, mas que tem uma dificuldade enquanto bloco, de serem muitas vozes, muitas políticas diferentes e não tanta moral como a que se apregoa – voltou-se imediatamente para a China. A natureza não permite o vazio. A política também não permite o vazio. A geopolítica não permite o vazio. Quando os Estados Unidos se fecham sobre si próprios, a China aproveita – e bem – para tomar a liderança. Da última vez que falámos, tinha havido um congresso do Partido Comunista Chinês. E esse congresso fez com que os mais velhos do Comité Central tivessem como grande objectivo na vida voltar a ver o céu de Pequim, começar a despoluir a China. Perceberam que tinha havido uma fase de crescimento que atropelou as regras internacionais e que tinha de haver um esforço de ser liderante também como produção mais limpa. O que mudou essencialmente entre Quioto e Paris já vem muito da liderança chinesa, já vem muito da China arrastar os países desenvolvidos para a ideia de que todos temos obrigações e que não vale a pena imaginar que são uns quantos países industrializados do hemisfério norte que vão cortar as suas emissões, e que isso vai travar o aquecimento global. Não haveria Paris com a força que houve se não houvesse China dentro; com a saída dos Estados Unidos, acho que a liderança chinesa é inevitável. Poderemos ter então um reforço positivo, estando a China num contexto internacional que os Estados Unidos não estão, numa questão tão importante como as alterações climáticas? Poderá ser um impulso adicional para o trabalho que a China tem estado a fazer? É e de várias formas, também porque é interessante economicamente. A China quer ser líder mundial das renováveis e quer exportar tecnologia de energias renováveis, nomeadamente do solar fotovoltaico – em que está na crista da onda –, para imensos países com quem tem relações. Há um conjunto de acordos de investimento bilaterais da China com muitos países em África, por exemplo, e a esperança que tenho é que boa parte desses acordos bilaterais, além de protegerem o investimento, também criem regras para o investimento cada vez mais saudáveis. No fundo, depois de Paris, há uma tensão entre três mundos de normas internacionais. O Acordo de Paris, que nos diz basicamente que temos de tomar a acção doméstica porque o pior problema da Humanidade é o aumento da temperatura; depois temos as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo objectivo último é liberalizar o comércio mundial. Como é que se casa a liberalização do comércio mundial com alguma protecção do ambiente? Por exemplo, quando os Estados Unidos dizem que não querem importar camarão da Tailândia porque as redes dos pescadores dão cabo de uma série de espécies protegidas, estão a fazer uma norma proteccionista ou estão verdadeiramente a alegar uma excepção em favor do ambiente? Como é que vão evoluir os acordos da OMC? É uma área em que falta fazer muita coisa. Mas o terceiro mundo de normas internacionais, e que diz respeito sobretudo à China, são as normas destinadas ao investimento estrangeiro. Hoje, muitos países, para competirem pelo capital chinês, estariam disponíveis a baixar todos os standards de tratamento dos recursos naturais, e deixar que, nos seus países, se fizessem coisas que a China já não faz na China. É um modelo predatório do século passado. Neste século, aquilo que já vamos vendo é que boa parte dos acordos bilaterais de investimento têm uma previsão de protecção também dos modos e das regras de produção. A maior influência de Paris na vida real é que essa competição pelas trocas comerciais e pelo capital estrangeiro pode começar a ter algumas regras. Se não, não há esforço nacional que valha a um mundo em que agora, pela primeira vez, todos têm obrigações. Veio a Macau para uma formação no âmbito do programa de cooperação na área jurídica entre a RAEM e a União Europeia. O que é que se ensina, numa perspectiva mais técnica? Nesta formação, procuramos ver o que se pode fazer no cruzamento destes três mundos de normas – comércio, protecção de investimento estrangeiro, regras ambientais de Paris. Sobre o Acordo de Paris não se diz nada de extraordinário, porque o que conta é a acção local. Ao longo destes três dias, eu e o Prof. Julian Chaisse vamos procurar dizer que Paris convida que cada um faça a sua parte. A China é muito grande, mas não podemos começar a dizer que Macau é pequeno dentro da China. Tudo conta. O António Lobo Antunes gosta muito de citar um provérbio húngaro que eu uso muito para o tema das alterações climáticas, que é o do ratinho que foi até à beira do mar e fez chichi porque todos os bocadinhos acrescentam. Em Macau, não estamos a falar de um bocadinho pequeno; estamos a falar de uma concentração brutal num espaço exíguo, o que leva a fenómenos de concentração de emissões, especialmente no sector residencial, no tratamento do lixo, numa série de matérias. É isso que estamos a tentar dizer: Paris significa o compromisso da Humanidade com o modelo de vida para o futuro para a própria sobrevivência da Humanidade. Isso determina um conjunto de regras ao nível local para disciplinarmos a nossa vida em relação ao consumo de energia, à produção industrial, à produção alimentar, ao tratamento de resíduos. E todas essas coisas têm importância, todas essas coisas contam. No hotel onde estou, precisei de vestir uma camisola para tomar o pequeno-almoço – é nas coisas simples que temos de perceber isto. Precisamos de regras sobre utilização de energia que expliquem que não é confortável uma diferença térmica de 20o C entre o interior do edifício e o exterior, e que o conforto não é este consumo brutal de energia e de desperdício de energia. Se quisermos climatizar todos os hotéis a 20o C, quando estão 35o C na rua, e se acharmos isso certo, então só estamos a dizer que vamos ter de extrair e queimar mais carvão, aquecer mais a atmosfera e piorar mais a situação do clima. Se acharmos que não vale a pena tratar o lixo convenientemente e com ele produzir electricidade, evitando a extracção de carvão, não vamos conseguir fazer grande coisa. Se não quisermos regular o trânsito, de maneira a que as emissões sejam um bocadinho diferentes e os carros funcionem de maneira diferente, não vamos lá. O futuro não pode só esperar que todos os carros sejam eléctricos, precisa que algumas coisas aconteçam já.
João Luz Manchete PolíticaEleições | Coutinho entrega lista de candidatos e faz defesa da língua de Camões O líder da Nova Esperança entregou a lista de candidatura à comissão eleitoral e argumentou a favor do trabalho a tempo inteiro dos deputados. Pereira Coutinho aproveitou a ocasião para defender o uso do português, como garante do segundo sistema, e criticou o clientelismo existente na Assembleia Legislativa [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] português para mim é um trunfo.” Quem o diz é José Pereira Coutinho, deputado e cabeça de lista da Nova Esperança na corrida às eleições legislativas. As palavras foram proferidas à margem da entrega da lista e programa político junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. O deputado criticou a falta de acção política que se esconde por detrás dos discursos de “pompa e circunstância” que se repetem acerca da importância da comunidade portuguesa em Macau. Porém, Pereira Coutinho interroga-se sobre onde estão os substitutos quando juízes, magistrados do Ministério Público e médicos portugueses abandonam as suas funções no território. O líder da Nova Esperança destaca a saída do hemiciclo de Leonel Alves, como “uma grande perda, algo que não é bom para Macau”. Coutinho entende que “a comunidade portuguesa deve estar cada vez mais unida e ter voz independente, livre”, que marque “a diferença entre o segundo sistema e o primeiro”. No que diz respeito ao uso da língua portuguesa, Pereira Coutinho recorda um episódio na AL, quando interpelava a ex-secretária para a Administração e Justiça durante um debate das Linhas de Acção Governativa. Nessa altura, de acordo com o deputado, a resposta à interpelação feita em português foi em chinês, sem qualquer relação com a questão levantada pelo deputado. Para não ser mal interpretado, ou permitir a desculpa da má tradução de intérpretes, o tribuno viu-se forçado a dirigir-se à ex-secretária em chinês. Macau reduzida Pereira Coutinho considera que a língua é um trunfo, uma vez que lhe permitir “vender o peixe” à comunidade portuguesa e macaense sem dificuldades. Sobre o facto de haver ressentimento por parte da comunidade chinesa por ter concorrido à Assembleia da República em Portugal, o deputado não tem meias palavras. “Não me interessa se não me perdoam, sou residente permanente de Macau e gozo dos meus direitos políticos e de cidadania”, comenta. Um dos focos da crítica de Pereira Coutinho é a forma como a cidade “está reduzida a casinos e função pública, os dois maiores empregadores”. Esta realidade laboral bicéfala é, de acordo com o deputado, um factor de estrangulação económica. “Quando os casinos espirram, as outras actividades económicas ficam a soro”, comenta. Além disso, o clientelismo é outro dos problemas elencados pelo candidato. “Há meia dúzia de empresários super influentes que controlam a AL, outra meia dúzia que controla o Conselho Executivo e outra meia dúzia que controla o jogo”, explica o deputado. A sobreposição de interesses leva o deputado a dizer que “Macau está entregue à bicharada”. Pereira Coutinho considera que esta situação representa um grande problema para os jovens e para o futuro do território. No entender do deputado, “Macau está a fechar-se em si própria e isso cria grandes problemas ao nível de competitividade económica”. Nesse capítulo, o candidato à AL deixa uma crítica feroz à falta de qualidade do sistema de ensino do território, que não consegue corresponder às necessidades de um mercado de trabalho exigente, num contexto de forte competitividade com as regiões vizinhas. Pereira Coutinho deixou ainda uma crítica ao facto de a AL permitir que haja deputados que exerçam as funções de deputados a tempo parcial. “Aproveitam-se do tacho de deputado e arranjam mais-valias para os seus interesses”, comenta. O candidato da Nova Esperança entende que é urgente que os deputados sejam obrigados a fazer uma declaração de interesses. “A forma como defendem os interesses da clientela é descarada e inadmissível, não podemos continuar a trabalhar assim”, remata.
Hoje Macau PolíticaLei de Terras | AL está pronta para resolver problemas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) dará seguimento a uma eventual alteração à Lei de Terras quando houver – se houver – autorização do Governo nesse sentido. A ideia foi deixada ontem por Ho Iat Seng, presidente da AL, à margem da apresentação da sua candidatura às eleições legislativas de Setembro próximo. Em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau, Ho Iat Seng recordou que o Governo recebeu de vários grupos de deputados propostas concretas para resolver o caso do Pearl Horizon, pelo que a questão depende da atitude e da conclusão dos estudos que o Executivo está a fazer. Quanto aos dois projectos de lei que esperam por autorização do Chefe do Executivo para que possa haver iniciativa legislativa da AL, o presidente do órgão observou que, caso não haja uma decisão na actual legislatura, o assunto terá de ficar para depois das eleições, mas deu a entender que a Assembleia dará seguimento ao caso mal possa. Também Pereira Coutinho se pronunciou ontem sobre a matéria. Citado igualmente pela Ou Mun Tin Toi, o deputado disse que a resolução do caso Pearl Horizon é muito simples, porque só depende do Governo. O cabeça de lista da Nova Esperança entende que o Executivo tem mecanismos para proteger os lesados do empreendimento, sendo que pode utilizar o montante do prémio de concessão para controlar os preços, deixando a empresa promotora completar a sua “missão”.
Hoje Macau PolíticaEleições | Ho Iat Seng entra na corrida [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]unca deu certezas, mas resolveu mesmo voltar a candidatar-se às eleições legislativas pela via do sufrágio indirecto. Ho Iat Seng, actual presidente da Assembleia Legislativa, volta a encabeçar a lista da União dos Interesses Empresariais de Macau, ao lado do empresário Kou Hoi In e de José Chui Sai Peng, engenheiro civil e primo do Chefe do Executivo. Ip Sio Kai, director-geral do Banco da China, candidata-se pela primeira vez, em substituição de Cheang Chi Keong. De um universo de 102 eleitores legalmente registados e ligados aos sectores industrial, comercial e financeiro, a União dos Interesses Empresariais de Macau obteve 97 votos. Ho Iat Seng disse que é preciso prestar atenção ao desenvolvimento do território, defendendo que não se podem dar benefícios a um só sector, mas a todas as camadas da população. O número dois, Kou Hoi In, assegura que vai defender os interesses dos sectores industrial e comercial, bem como trabalhar para que sejam atenuadas as dificuldades sentidas pelas pequenas e médias empresas (PME). Quem também vai continuar a dar atenção às PME é José Chui Sai Peng, que defende que um melhor funcionamento deste sector pode ajudar à construção de Macau como um centro de turismo e lazer. Já Ip Sio Kai promete efectuar trabalho em prol do desenvolvimento do sector financeiro de Macau, sem esquecer a cooperação com outros mercados.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFundo de Segurança Social mais do que duplica número de pessoal O Fundo de Segurança Social vai passar dos actuais 66 trabalhadores para 167, devido, em parte, à entrada em vigor do regime de previdência central não obrigatório. O aumento de volume de trabalho vai obrigar à criação do cargo de vice-presidente e de um novo departamento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] aprovação, em Maio, do regime de previdência central não obrigatório pela Assembleia Legislativa vai obrigar o Fundo de Segurança Social (FSS) a mais do que duplicar o número de funcionários que possui actualmente. Dos actuais 66, o FSS vai passar a contar com um total de 167 funcionários, sendo que muitos deles têm vindo a ser contratados nos últimos meses. Em conferência de imprensa do Conselho Executivo, foi ainda divulgado que o FSS vai passar a ter um vice-presidente e um novo departamento com quatro divisões, intitulado Departamento do Regime de Previdência Central. Acções como a gestão da abertura de contas, levantamento de verbas e processamento de atribuição de verbas são algumas das responsabilidades do novo departamento. Na prática, o FSS vai agora gerir o sistema de contribuições feitas por toda a população, no âmbito do regime de segurança social, mais as contribuições não obrigatórias no sistema de previdência central, destinadas a empresas com fundos de pensões privados. A entidade vai ainda ter “novas competências relacionadas com tecnologias informáticas, actividades publicitárias e promocionais, assuntos jurídicos e investimentos”. Segundo Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, “os capitais envolvidos [na gestão do FSS] tornaram-se mais elevados”. “As atribuições são mais diversificadas e complexas”, acrescentou, referindo-se à estrutura que, no ano passado, tinha 70,2 mil milhões de patacas em activos. O número de destinatários do FSS é hoje de 350 mil pessoas. Mais trabalhadores no futuro O grande aumento do número de trabalhadores deve-se “às necessidades de recursos humanos, resultante da ampliação de funções e da reestruturação orgânica do FSS”. Iong Kong Io, garantiu, ainda assim, que o número de contratações pode não ficar por aqui. “Vamos verificar a realidade e vamos, gradualmente, tentar complementar o número de trabalhadores. Vamos contratar mais pessoas de acordo com o desenvolvimento. Talvez precisemos de mais pessoal técnico”, frisou o presidente do FSS. A implementação do regime de previdência central não obrigatório vai obrigar a uma gestão de 14,9 mil milhões de patacas. No total, o FSS passa a ter sob sua gestão um total de 85 mil milhões de patacas.
Victor Ng PolíticaLegislativas | Advogado Hong Weng Kuan apresentada lista [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau apresentou ontem a sua lista de candidatura às eleições, incluindo o programa político. O advogado Hong Weng Kuan que, nas legislativas de 2013, obteve um total de 848 votos, volta assim a tentar obter um assento na Assembleia Legislativa. O advogado é candidato a um lugar de deputado pela via directa ao lado de Cheong Fan, Fong Hei Meng, Che Hoi Tong e Kwan Weng I. As prioridades do programa político visam a realização de eleições livres de corrupção, bem como o desenvolvimento do sistema democrático. Nesse sentido, Hong Weng Kuan gostaria de ver mais deputados a serem eleitos pela via directa, bem como a implementação do sufrágio universal. “Se não houver eleições limpas no território, por mais que aumente o número de deputados directos, só obtém assentos quem tem poder na sociedade ou os que são eleitos por meios ilícitos”, disse. Na visão do candidato, a qualidade dos deputados que se sentam no hemiciclo poderia melhorar, sendo que, no seu entender, a situação da corrupção eleitoral em Macau é grave. Hong Weng Kuan quer ainda lutar por mais habitação e uma melhoria do sistema de trânsito. Na sua lista estão membros que pertencem à área do Direito, da Função Pública ou do sector médico. O líder da lista espera que, com vários sectores profissionais unidos, possa ser elevada a qualidade da acção do Governo. O advogado lembrou que, nos últimos anos, foram implementadas leis que geraram graves problemas na sociedade, sem que tenham tido resolução do Executivo. A Lei de Terras será, decerto, um exemplo.
Hoje Macau PolíticaObservatório Cívico | Agnes Lam confiante na eleição [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]gnes Lam, líder da lista Observatório Cívico, entregou ontem a sua lista de candidatura às eleições legislativas deste ano pela via do sufrágio directo. Ao lado da docente da Universidade de Macau concorrem Cheong Chi Hong, Ng Hio Cheng e Keong Wai Cheng. O programa político da lista centra-se na habitação, na necessidade de salvaguarda da cultura local e no desenvolvimento do sistema político. Para Agnes Lam, há vários problemas em Macau que poderiam ser solucionados caso houvesse um melhor regime político, como é o caso do aumento excessivo de multas, implementado no início deste ano. Para a candidata, muitos dos problemas ocorridos devem-se à falta de análise por parte dos deputados e das comissões permanentes da Assembleia Legislativa (AL). Apesar de as eleições legislativas deste ano contarem com a maior participação de sempre pela via do sufrágio directo, com a entrega de 25 listas, Agnes Lam tem esperança de poder, finalmente, obter um assento no hemiciclo.
João Luz Manchete PolíticaEleições | Sulu Sou encabeça a candidatura dos Progressistas da Novo Macau Os pró-democratas da Associação Novo Macau entregaram a lista de candidatura ao sufrágio directo à comissão eleitoral, onde misturam o sangue novo e a experiência. Sulu Sou é o número um, enquanto Paul Chan Wai Chi é o número dois da lista dos Progressistas da Novo Macau [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação Novo Macau quer passar o testemunho na corrida à Assembleia Legislativa (AL) à nova geração. Dessa forma, Sulu Sou encabeça a candidatura dos Progressistas da Novo Macau, secundado por um número dois mais experiente, Paul Chan Wai Chi. Em comunicado lê-se que a lista procura trazer “novas forças e ideias ao movimento democrático, e revitalizar o estagnado sistema político”. Os Progressistas da Novo Macau pretendem o arejamento de uma AL desprovida de vida com a introdução de legislação, e o exercício “dos mecanismos de fiscalização do Governo e a abertura das comissões que funcionam à porta fechada”. A plataforma dos pró-democratas centra-se na preocupação do desenvolvimento sustentado de Macau e no “estabelecimento sério de princípios democráticos” que tornem o sufrágio universal uma realidade. Outro dos pontos em destaque na plataforma apresentada é a luta contra a corrupção, a necessidade de aumentar a habitação pública, o controlo do mercado imobiliário e do aumento populacional, de forma a assegurar o acesso a casas mais baratas. Metas a alcançar A plataforma dos Progressistas da Novo Macau defende o poder de monitorização do órgão legislativo no que toca aos gastos públicos de forma a evitar desperdícios. A lista liderada por Sulu Sou tem a educação como área no topo das prioridades. Nesse sentido, entendem que o Executivo deve “aumentar o investimento no ensino”. Na área laboral, os pró-democratas mostram-se a favor do aumento das protecções aos direitos dos trabalhadores, da fixação de um ordenado mínimo para todo o tipo de classes profissionais, do aumento da licença de maternidade e legalização da licença de paternidade. Numa visão mais alargada, os Progressistas da Novo Macau pretendem que esta eleição seja mais do que o normal cumprimento do calendário do ciclo eleitoral, mas uma oportunidade para dar voz às novas gerações na próxima composição da AL. No comunicado que apresenta a lista de candidatura, os pró-democratas acrescentam que “a política não deve ser considerada um trabalho, mas antes uma missão para melhorar a vida das pessoas”. Com o desmembramento da Associação Novo Macau, este pode ser um ano em que a associação não elege qualquer deputado. As candidaturas, separadas, dos ex-membros Au Kam San e Ng Kuok Cheong podem fragmentar o eleitorado que tem maior tendência progressista e pró-democrata. Outro factor que pode não ser favorável à lista encabeçada por Sulu Sou são as recentes fragmentações internas na direcção da Associação Novo Macau.
Hoje Macau SociedadeEdifício GCS | Kwan Tsui Hang exige plano de aproveitamento ao Governo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Kwan Tsui Hang quer que o Governo dê seguimento ao plano de aproveitamento do edifício que albergou o Gabinete de Comunicação Social (GCS), localizado perto da Igreja de São Domingos. Em interpelação escrita, Kwan Tsui Hang refere que se trata de um edifício com valor, por se localizar numa zona central da península. Contudo, a deputada defende que não tem sido dado um bom aproveitamento. “O Governo gasta muitos fundos públicos com o arrendamento de escritórios para albergar serviços públicos, mas tem deixado esta propriedade sem qualquer utilização, e isso é inaceitável”, defendeu. No ano passado, a Direcção dos Serviços de Finanças anunciou que iria verificar a segurança das estruturas do edifício de cor amarela, tendo dito ainda que o imóvel seria bem aproveitado. Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, garantiu, durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa, que o local poderia ser aproveitado pelas indústrias culturais e criativas. Kwan Tsui Hang questiona, contudo, os motivos por detrás da ausência de informações desde que o secretário fez essas declarações no hemiciclo. O deputado Ng Kuok Cheong também questionou a falta de aproveitamento do prédio. A deputada exige, portanto, que seja apresentado um calendário para a reabertura do edifício.
Hoje Macau SociedadeCrime financeiro | Grupo de Egmont reúne pela primeira vez em Macau [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau recebeu a 24.ª reunião plenária do Grupo Egmont, que reúne mais de 150 membros de unidades de informação financeira a nível global. O objectivo é o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo. É a primeira vez que Macau organiza, sob a égide do Gabinete de Informação Financeira, uma reunião do Grupo Egmont. No discurso de abertura, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, referiu que a RAEM promulgou diplomas e reviu leis existentes, de forma a melhorar os regimes jurídicos que regulam o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. Neste domínio, foi destacado o regime de execução de congelamento de bens, que teve o objectivo de cumprir com as medidas sancionatórias impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. No que toca à revisão legal, Macau retocou as leis de prevenção e repressão do crime de branqueamento de capitais e de prevenção e repressão dos crimes de terrorismo. As actualizações legais alargaram o elenco de crimes tipificados nas leis que regulam estas matérias. Um dos focos foi o combate de actividades criminosas através do controlo de movimentos ilícitos de fundos na economia local. Durante o encontro, as autoridades de Macau destacaram ainda o regime jurídico de informações em matéria fiscal, aprovada recentemente. Com a entrada em vigor desta lei, o Governo pretende combater as actividades internacionais de evasão fiscal e os subsequentes crimes de branqueamento de capitais. Outro dos destaques no ordenamento jurídico da RAEM foi a lei denominada como “Controlo do transporte transfronteiriço de numerário e de instrumentos negociáveis ao portador”, que entrará em vigor em Novembro deste ano.
Hoje Macau SociedadeCultura | Alexis Tam na reunião dos ministros dos BRICs A cidade de Tianjin recebeu um encontro dos países que formam o bloco BRIC. O encontro lançou iniciativas de cooperação para as áreas da cultura e da saúde, com destaque para a medicina tradicional chinesa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lexis Tam foi um dos membros da delegação oficial da China na 2.ª Reunião dos Ministros da Cultura dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), em Tianjin, que ainda contou com uma representação do Governo da África do Sul, que organizará a próxima reunião anual. Os países-membros foram unânimes na adopção de um plano de acção que reforce o intercâmbio no âmbito das indústrias culturais e criativas, mas também na área da saúde. O plano de acção para os próximos quatro anos prevê um acordo de cooperação cultural entre os Governos dos BRICs que estabelecem a Aliança das Bibliotecas e a Aliança do Teatro Infantil dos países-membros. Na área cultural, a delegação brasileira lançou o convite aos restantes membros para participarem no Mercado de Indústrias Culturais do Sul, que se realiza em Abril do próximo ano, em São Paulo. Os representantes russos focaram-se na cooperação na sétima arte, nomeadamente através da implementação do “Festival de Cinema dos BRICs”, que pretende concretizar a produção conjunta de filmes e projectos de animação com capacidade para competir a nível internacional. A Índia fez vincar a posição de que a cultura é um motor essencial para o desenvolvimento da economia e do turismo. Nesse sentido, o ministro da Cultura Indiano, Mahesh Sharma, frisou a importância de valorização dos patrimónios históricos no plano de acção. Medicina chinesa No aspecto do património, Alexis Tam destacou o papel da história de Macau no crescimento do sector do turismo. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura referiu que a implementação do princípio “Um país, dos sistemas” permitiu o desenvolvimento da indústria turística. Alexis Tam destacou a integração do centro histórico de Macau na lista de Património Mundial da UNESCO, assim como a organização no território de vários eventos culturais de dimensão internacional. O encontro serviu ainda para discutir assuntos ligados à saúde, com destaque local para a participação de Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde. O dirigente fez uma apresentação da situação em Macau, apontando que o Governo da RAEM reconheceu e estabeleceu um lugar para medicina tradicional chinesa no sistema de saúde local. Lei Chin Ion apontou que a medicina tradicional chinesa está integrada no sistema de saúde público, com uma elevada taxa de cobertura nos cuidados prestados à população. Nesse aspecto, os métodos tradicionais representam em Macau 30 por cento das consultas nos cuidados de saúde primários.
Hoje Macau EventosTeatro polaco apresenta adaptção de o “Rei Lear”, de Shakespeare, no Centro Cultural [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma reinvenção de Shakespeare, anunciada para 10 de Setembro. O Centro Cultural de Macau recebe o espectáculo “Canções de Lear”, uma adaptação alternativa da peça “Rei Lear”, numa encenação da companhia polaca Song of the Goat. “Entre salpicos de cantos gregorianos e salmos bíblicos, ‘Canções de Lear’ é uma versão sonora da icónica tragédia de Shakespeare dirigida pelo co-fundador da companhia Grzegorz Bral”, descreve o Instituto Cultural (IC), responsável pela organização. O espectáculo “desfia uma trama ecléctica de sons” através de 12 canções originais concebidas pelo instrumentista polaco Maciej Rychły e pelo compositor corso Jean-Claude Acquaviva. “Pontilhada por intensos rasgos de percussão, a performance é acompanhada pelo ocasional timbre metálico de um violino, o exotismo de um harmónio indiano e o alaúde africano (kora)”, conta ainda o IC. Onze artistas vão cantar e mover-se sobre excertos seleccionados da peça original, interpretados num cenário minimalista, expandindo a significância da tragédia shakesperiana para o mundo contemporâneo. A companhia Song of the Goat foi fundada em 1996 em Wroclaw, na Polónia, por Grzegorz Bral e Anna Zubrzycki. Desde então que a trupe experimental tem expandido a sua actividade e reputação internacional, tendo-se tornado numa das mais entusiasmantes e vanguardistas companhias teatrais europeias, refere o IC. Em 2012, as “Canções de Lear” foram muito saudadas pela crítica em Edimburgo, tendo conquistado outros palcos europeus em diversas digressões. O feitiço polifónico da companhia também atravessou o Atlântico e chegou a reconhecidos festivais como o Next Wave, de Nova Iorque, ou o Santiago a Mil, no Chile. Para os que tenham interesse em descobrir mais sobre estas “Canções de Lear”, haverá uma tertúlia pré-espectáculo de entrada livre. Moderada em cantonense, a sessão terá lugar na sala de conferências do Centro Cultural, uma hora antes do espectáculo. A ideia será partilhar algumas perspectivas sobre a música, o teatro e o percurso da companhia.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | Bruno Saavedra expõe “Made in China” em Lisboa O tempo de residência em Macau ajudou-o a compor um projecto que está em exposição até finais do mês de Setembro em Lisboa, na Casa Independente. “Made in China”, da autoria do fotógrafo Bruno Saavedra, é uma viagem pela “Ásia lisboeta”, com imagens que fogem do “óbvio” [dropcap]C[/dropcap]omo surgiu o projecto “Made in China”? A exposição tem fotografias da Ásia, mas de uma Ásia lisboeta. Todas as imagens foram feitas no Intendente, na Mouraria e nos Anjos, aqui em Lisboa. “Made in China” é uma exposição de fotografias resultante do trabalho desenvolvido na quinta edição do workshop “Narrativas Fotográficas do Intendente”, leccionado pela fotógrafa Pauliana Valente Pimentel, e realizado pela Casa Independente em 2016. Deste workshop, também estão expostos mais três trabalhos: “Glowing Up”, de Ana Antunes, “Pequena Cirurgia”, de Ana Bernadino, e “Caixa de Viagens”, de Sara Maia. O trabalho para esta exposição foi desenvolvido entre os meses de Novembro de 2016 e Fevereiro deste ano. Como a Pauliana sabia que vivi em Macau durante quase quatro anos, insistiu que eu desenvolvesse o trabalho sobre a comunidade chinesa. Macau estará decerto presente nesta exposição. Que zonas do território ou que partes das culturas decidiu retratar? Os quase quatro anos que vivi em Macau ajudaram-me de uma forma muito directa no desenvolvimento deste trabalho. O projecto narrativo retrata uma visão diferente e subtil da comunidade chinesa no Intendente, e fui à procura de detalhes e imagens que, de alguma forma, me fizessem conhecer a história das suas vidas e o modo como os chineses vivem nas freguesias mais cosmopolitas de Lisboa. Durante três meses, visitei casas, restaurantes, centro de estética, cabeleireiros, centro de massagens, escolas, lojas, supermercados, templos, igrejas, médicos, cafés, jornais. Acabei por descobrir que no Intendente existe uma verdadeira China, mas restrita e muito fechada. É uma China sofrida com memórias de outros, mas também nossas. Ouvi histórias, verdadeiros contos chineses. Pessoas que vivem clandestinamente e trabalham 16 horas por dia para conseguir juntar algum dinheiro com o sonho de regressar à sua terra natal. Finalizei o trabalho pela altura das comemorações do Ano Novo Chinês. Era o início do ano do Galo. Eles levam a mudança do ano muito a sério e está enraizado nas suas crenças e tradições. Na véspera do Ano Novo, os chineses limpam e arrumam a casa, cortam o cabelo, fecham as contas, presenteiam os deuses que protegem a casa, preparam as roupas, organizam as contas e o comércio. A cor vermelha, por ser yang e vibrante, é a predominante durante as comemorações do Ano Novo. O vermelho simboliza a transformação, o movimento e a vida, por isso, as mulheres usam um vestido novo nesta cor para atrair a sorte e o amor ao longo do ano. Que China poderá o público ver nesta exposição? Tentei fugir do óbvio dos retratos chineses, e entrar o máximo que conseguisse na vida dos chineses. Não foi fácil, mas a insistência também me ajudou muito. Também contei com a ajuda de uma amiga de Macau para a tradução e comunicação, a Virginia Or, que esteve quase sempre comigo. Nesta exposição o público poderá ver uma Ásia lisboeta, muito restrita e fechada. O público português está a começar a ter uma curiosidade crescente sobre os países que estão deste lado do mundo? A China e todos os países da Ásia sempre geraram curiosidade, mas penso que é preciso quebrar algumas barreiras, como a da língua. O público português tem um grande interesse pela cultura e costumes chineses, mas a verdade é que aqui em Lisboa essa curiosidade pode ser “quebrada” muito facilmente: basta irmos aos bairros do Intendente, Mouraria e Anjos. A China, e até Macau, são os territórios que geram mais curiosidade e interesse? A presença de Portugal em Macau representou um notável encontro entre Oriente e Ocidente, e é por esse motivo que, até aos dias de hoje, a China gera interesse no Ocidente. E para mim não há dúvidas de que este seja um dos principais motivos para que exista toda esta curiosidade e interesse pela China. Expectativas para este projecto? Poderá vir a Macau? O projecto fica até dia 30 de Setembro na Casa Independente, mas tenho muita vontade de o levar a outras galerias e espaços culturais aqui em Portugal. Neste momento estou em contacto e analisando algumas propostas. Levar o “Made in China” a Macau seria a concretização de um sonho, espero poder realizá-lo.