Carlos Morais José Editorial MancheteUm preço barato [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]erante a chegada de milhares de pessoas às praias europeias, torna-se óbvio perguntar qual a responsabilidade do Velho Continente em relação a esta calamitosa situação. Bem vistas as coisas, temos de distinguir dois tipos de migrantes: os que vêm de África, por não encontrarem meio de subsistência na sua terra natal; e os que vêm da Síria por causa da guerra. São situações muito diferentes, como diferentes são as pessoas que constituem os dois grupos. Comecemos pelo primeiro. Durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, a Europa colonizou África e dividiu o continente como muito bem entendeu, criando nações onde existiam tribos, quando muito esparsos reinos. Obviamente que os recursos naturais foram explorados ao máximo e as formas tradicionais de produção basicamente destruídas, como mostra o livro de René Dumont, “Em defesa de África, acuso”, um clássico dos anos 70, pretensamente esquecido pelos neo-colonialistas, amigados com os regimes ditatoriais. O autor demonstra como a fome, a miséria e o caos foram produtos da presença europeia, na medida em que foram completamente aniquiladas as formas tradicionais de poder e redireccionadas as economias. Hoje aquela gente não aguenta mais e na internet, na televisão, tem imagens de uma outra vida. Darão tudo por ela. Vêm-nos bater à porta. É natural. A nossa riqueza foi edificada sobre a sua miséria. No caso sírio, todos se lembram (espero) que a Europa de Hollande e Merkel foram os grandes incitadores das revoltas anti-Assad. Juntamente com a CIA, claro. Aramaram sem critério os ditos grupos rebeldes que, afinal, mais não eram que islamitas de vários países. Encostaram-se a uma pretensa oposição síria no exílio que, afinal, tinha o mesmo valor que a oposição no exílio do Iraque, gozada e desprezada por todos os iraquianos. Se a Europa fomentou e continua a fomentar a guerra na Síria, é natural que assuma o seu fluxo de refugiados. É mesmo elementar, meu caro Hollande, um homem com sangue de inocentes nas mãos, tomado de histeria no início da pretensa revolta árabe. A História é reversível. A Europa tem um preço a pagar pelas suas acções e pelos lucros que delas resultaram. Receber refugiados, tratá-los com humanidade e bom senso será o mais barato deles todos.
Joana Freitas BrevesCasa de Portugal | Abertas inscrições para curso de Desenho [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal abriu as inscrições para um curso de Desenho, com Madalena Fonseca como instrutora. As aulas serão ministradas todas as segundas-feiras, de 7 de Setembro a 14 de Dezembro. As 13 sessões têm uma lotação máxima de oito alunos e as aulas são leccionadas em Língua Portuguesa. O curso tem o custo total de 1170 patacas e há possibilidade de pagar a prestações. Madalena Fonseca é uma artista portuguesa residente no território com um vasto repertório nas áreas do desenho e da pintura.
Carlos Morais José Editorial MancheteHoje Macau | 14 anos Sap sei! Sap sei! Catorze! Até à morte porque somos imunes à crença. Rui Calçada Bastos [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara os que ainda não perceberam, nas superstições locais o número catorze é malfazejo porque evoca homofonicamente a morte. Dantes — não sei se ainda —, nalguns prédios de Macau não existia o décimo quarto andar porque, simplesmente, ninguém lá queria viver. Ou, se existia, era consideravelmente mais barato. Pois o Hoje Macau entra no seu décimo quarto ano de publicação. Livres de crenças, dando óbolo pelas superstições e patacame a benfazejas bruxas. Não vá o mafarrico tecê-las… O trajecto não foi rude, convenhamos. A descolagem revelou-se difícil, atribulada, repleta de bem e de mal entendidos, de sedimentação de amizades, conhecimentos e ódios de estimação. Mas não se pode dizer que tenha sido algo de outro mundo. Foi deste. Desta terra que pede meças em paradoxos, contradições e pequenas perversidades. E, acreditem ou não, gostámos da maior parte do caminho. A outra foi, sobretudo, útil. É que uma das grandes lições de Macau é a resiliência. A capacidade de resistir porque se acredita (misteriosamente sabe) existir ali ao lado uma qualquer outra luz que nos levará ao fundo do túnel. Esta terra dá isso a quem a sabe interrogar, se face à resposta não correres como a esfinge para te atirares de novo ao mar. O medo é, afinal aqui, uma inutilidade. Serve, contudo, para compreender os territórios e para, funâmbulo, poder percorrer o fio da navalha. E interrogam-se os leitores sobre o significado concreto de tão estranha palavra aplicada ao jornalismo: não há outro modo possível, a quem faz questão de ignorar os apelos desta selva. Passar como um fantasma, perpassar como um funâmbulo, sabendo do real o que as nossas próprias motivações inconscientes fazem emergir, explorando-as porque as sabemos colectivas e de necessária exposição. A outra lição é a seriedade, a coerência ou a coerente incoerência. Funciona aqui. E não deverá ser por rara, mas por ser inesperada. Ele há tantas distracções… tantos apelos, tanto casino, como diria um italiano… Expelir valores. Nas entrelinhas, nos subentendidos, nos paradoxos, nos duplos sentidos, no ataque directo e na graçola. Na escolha da notícia, do título, do destaque. No sentimento fútil da inutilidade de tudo como na satisfação efémera de uma boa edição, saber que as coisas têm o seu sítio e o seu tempo, como o pássaro amarelo de Confúcio que, quando no seu ramo cantava, sabia qual era o seu lugar e, por isso, se quedava na mais alta excelência. No entanto, por aqui, como aliás pelos tempos antigos da China, o mundo é invariavelmente composto de mudança e o pássaro amarelo vê-se obrigado a voar, a descobrir incessantemente um novo ramo de onde possa cantar. Convenhamos que se trata de uma perspectiva cansativa e pouco animadora. Talvez o melhor mesmo seja construir a sua própria Via e nela permanecer, até porque ela se faz com o caminho, ilibando do erro contumaz e da inevitável intromissão do disparate. Bem vistas bem as coisas, sentido o calafrio, nem uma nem outra opção, verdadeiramente, nos interessa. [quote_box_left]“Nunca acreditem em nada do que aqui vem escrito. Isto não é a Bíblia nem o Corão. Interroguem-se sobre notícias, opiniões, comentários e fontes. E talvez assim consigam ter uma perspectiva desta cidade que nenhum jornal vos pode dar: a vossa”[/quote_box_left] Há catorze anos que tacteamos na superfície das coisas. E connosco temos trazidos os nossos leitores ou assim gostamos de acreditar. Nunca pretendemos que vos contamos a verdade ou que vos descrevemos Macau tal qual ele é. Preferimos questionar a relatar o que nos aparece como farrapo de mitologia. Não deixamos de a reportar, bem sei. São os ócios deste ofício, a parte fácil e pouco mais que obscena. Com efeito, preferimos questionar porque temos a esperança, talvez vã mas bela, de que os nossos leitores questionarão por cima e que este jornal é um trampolim para a cidadania, para a crítica, para o diálogo, para o pensamento. Nunca acreditem em nada do que aqui vem escrito. Isto não é a Bíblia nem o Corão. Interroguem-se sobre notícias, opiniões, comentários e fontes. E talvez assim consigam ter uma perspectiva desta cidade que nenhum jornal vos pode dar: a vossa. Cheia de aleivosias e descobrimentos, mas vossa. Mas unicamente se vos interrogardes. E para lançar as questões, para problematizar, interrogar-vos a vós e ao real, desestruturá-lo, esmiuçá-lo sem nunca o esgotar, existe o Hoje Macau, neste seu décimo quarto ano de existência. Somos jovens (dirão) mas muito batidos. Por acontecimentos e por tufões, por histórias boas e novelas más, por incompreensões e zangas de ocasião. Não fazemos o nosso melhor. Porque o melhor não existe. Nunca. Hoje. Porque sabemos que surgirá sempre melhor amanhã. Ou que existe essa possibilidade. No fundo, não acreditamos em nada a não ser na nossa modesta missão de ir sendo uma voz que se pretende rouca, turva, abagaçada, mas presente, acompanhada pela incisão das imagens e de um piano longínquo a que chamamos esperança. São catorze anos em que Macau não mudou. Nada. Pouco aconteceu. Em que Macau vives tu, perguntam-nos. Nesse — é a nossa resposta. O que realmente muda é a morte. Para o ano há mais.
Filipa Araújo Manchete PolíticaNovo Macau | Austeridade é “exagero”. Governo deve aprender a poupar A ANM quer que o Governo aprenda a gerir em vez de cortar. A Associação diz que austeridade é uma palavra demasiado forte para uma economia que, apesar da queda das receitas do Jogo, está saudável e que não é preciso entrar em pânico, mas sim estar alerta [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]É uma palavra assustadora, faz com que a sociedade pense numa economia como a Grécia, Portugal ou Espanha. Mas na realidade a situação económica de Macau é diferente [dos países em crise]”. É assim que Scott Chiang, actual presidente da Associação Novo Macau (ANM), se refere às medidas de “austeridade” avançadas pelo Governo no início desta semana. Sem dívidas e com um lucro total de cerca de 159 mil milhões de receitas brutas de Jogo, Macau não precisa de “entrar em pânico”, diz ao HM ainda que, “claro”, precise de estar “em alerta”. “Os 5% de cortes apresentados pelo Governo são mais um gesto do que uma medida só por si”, defende o pró-democrata, adiantando que o que a ANM quer é que o Governo “gaste algum tempo na reestruturação e reforma da Administração”. Antes de cortar é preciso saber poupar, defende a Associação, que frisa ainda a necessidade do Governo se prevenir e, por isso, poupar e adequar os seus gastos à necessidade real. Saber gerir A recessão é evidente e o futuro é incerto, mas Chiang defende melhor gestão. “Não sabemos se as receitas vão continuar a cair ou não, nunca se sabe, mas mesmo que diminuam mais não é o fim do mundo. Portanto o que é preciso é focarmo-nos mais em como gastar de forma eficaz”, argumenta Scott Chiang. Para o presidente da ANM, grande parte do dinheiro é desperdiçado pela Administração, em vários aspectos, tais como quando o Governo “tem vários departamentos/gabinetes que fazem quase o mesmo, quando estes não cooperam entre si, com uma má comunicação, quando decoram os seus gabinetes de forma luxuosa, ou quando compram suportes para o papel higiénico por mais de três mil patacas”. Cortar em números ou saber gerir e poupar são coisas diferentes, defende ainda o presidente da Novo Macau. “A melhor forma de poupar dinheiro é saber geri-lo. Esta é a melhor forma que o Governo tem para poupar”, defende. [quote_box_left]“Não sabemos se as receitas vão continuar a cair ou não, nunca se sabe, mas mesmo que diminuam mais não é o fim do mundo. Portanto o que é preciso é focarmo-nos mais em como gastar de forma eficaz”, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau[/quote_box_left] Mesmo quando a economia mundial está a cair, e sendo esse o futuro ou não de Macau, “nós temos de estar preparados, tornando o Governo mais eficaz, para estarmos preparados para que o que poderá vir. Isto deve ser feito agora e de forma rápida”. Depois das receitas brutas do Jogo, relativas ao mês de Agosto, não terem atingido os 20 mil milhões de patacas, o Governo, tal como tinha garantido, avançou com algumas medidas de austeridade. Ao HM, alguns economistas consideraram atribuir o estatuto de austeridade à economia de Macau exagerado, caracterizando a medida apenas como uma acção de controlo de despesa. Lionel Leong não exclui segunda fase com mais medidas O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, afirmou que não exclui haver uma segunda fase de medidas de austeridade. Sem prever o orçamento da poupança, o Secretário acredita que vai existir um excedente da receita do Governo. Em declarações ao canal chinês da TDM em Pequim, onde Lionel Leong se encontra nas celebrações dos 70 anos da II Guerra Mundial, o Secretário afirmou que, caso o ajustamento da economia de Macau continue, não está excluída a possibilidade de o Governo levar a cabo uma segunda fase de cortes nas despesas. “Não temos uma bola de cristal para perceber o futuro da economia. Se as receitas de Jogo continuarem a diminuir e a influenciar o equilíbrio das despesas, mesmo depois destas medidas, é possível prolongar a aplicação da austeridade”, explicou. Questionado sobre se vai manter a medida de isenção de impostos no próximo ano, Lionel Leong disse que irá estudar. “A situação que enfrentamos não é a de tributação, temos de entender o ambiente económico da população, portanto se a isenção de imposto beneficiar o desenvolvimento da economia e as regalias sociais, não pode ser afectado”, garantiu, contudo. O Secretário citou ainda um provérbio na língua chinesa – “sucesso por poupança, fracasso por luxo” – para exemplificar que espera que os departamentos públicos entendam a importância da poupança durante o ajustamento económico.
Joana Freitas Manchete SociedadeII Guerra | Macau comemora 70 anos. Investigadores divididos com feriado Macau comemorou ontem os 70 anos do final da Segunda Guerra com uma mensagem dirigida aos idosos e aos jovens. Wong Sio Chak assegura que é importante que se perceba a história para valorizar Macau como é, mas especialistas dividem-se sobre a implementação deste dia como feriado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s 70 anos do fim da II Guerra Mundial foram ontem assinalados na China (ver página 12) e Macau não escapou às celebrações. Por cá, há muito que se faz anunciar a data que, em 2014, se tornou feriado para comemorar o Dia Nacional da Vitória da China na Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa, sendo que numa das praças principais da cidade, o Leal Senado, enormes cartazes celebram “a vitória do povo chinês na guerra contra a Japão” e a “vitória mundial contra o fascismo”. Para Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, o dia foi também marcado em Macau para “endereçar aos soldados e ao povo da Pátria o maior reconhecimento pela excelência dos históricos contributos e heróicos sacrifícios que protagonizaram”, bem como para relembrar os compatriotas “inocentes que pereceram” e apresentar aos mais velhos cidadãos de Macau agradecimentos pela prestação do apoio e da ajuda aos soldados na Guerra contra o Japão. Provas irrefutáveis No discurso da cerimónia, Wong Sio Chak disse que, apesar de terem passado 70 anos, as provas dos actos violentos dos agressores são irrefutáveis e incontestáveis e relembrou que, por cá, a constituição de grupos de apoio ao continente foi algo bastante comum. “Durante a Guerra, para ajudar aos compatriotas da China continental submetidos aos sofrimentos extremos, os cidadãos de Macau participaram activamente no ensejo de salvação da Pátria, estabelecendo [por vontade própria] associações aglutinadoras do amor à Pátria e desencadeando acções de grande envergadura para a sua salvação. Todo o povo, independentemente do seu extracto social, dedicou-se e contribuiu generosamente para o financiamento da guerra e muitos jovens, que ao tempo viviam uma vida caracterizada por uma estabilidade raramente encontradas nessa época, regressaram à China continental e correram para a linha da frente para servir e participar naquela contenda bélica, acontecendo que muitos deles resultaram gloriosamente feridos ou morreram heroicamente.” Wong Sio Chak disse ainda esperar, através das comemorações, que os jovens possam retirar lições. “Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos, sendo que não nos move o ódio, mas sim a missão de lhes lembrar as lições que podemos retirar desta guerra, para que aprendam com a história e jamais permitam que tal volte a acontecer”, frisou o Secretário, explicando que a ideia não é “hipervalorizar a história mas sim para que os jovens sintam o ambiente de estabilidade, paz e desenvolvimento em que vivemos”. Estranho, mas entranhado Apesar de Macau ter sido neutro, recebeu meio milhão de refugiados e atravessou um período de grande dificuldade em que muitos passaram fome. No entanto, foi também um território povoado por “milícias pró-japonesas”, responsáveis pelos conflitos e maus-tratos que o exército nipónico não podia realizar, como explica à agência Lusa o jornalista e investigador João Guedes. A contradição de sentimentos em relação à proclamação deste feriado, tanto na China, como em Hong Kong e Macau, é salientada por quatro especialistas ouvidos pela Lusa. Se por um lado, explicam, persiste uma memória dolorosa acerca da presença japonesa em todo o território chinês, por outro, esta conflitua com a atracção dos chineses pelo Japão contemporâneo, cultura, produtos e gastronomia. “Ninguém do Governo disse que [a criação deste feriado] está relacionada com as tensões actuais. Dizem que tem que ver com a importância de lembrar a história. Claro que fazer este tipo de declaração é já uma indicação de que está, sim, relacionado com tensões actuais”, comenta Barry Sautman, académico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, que investiga questões relacionadas com o nacionalismo chinês. “Quando se tem uma grande parada militar e centenas de milhares de espectadores a assistir é uma grande oportunidade de passar uma mensagem política”, comenta. You Ji, académico da Universidade de Macau especializado em política externa chinesa, é um entusiasta do feriado: “Ele existe para se lembrar que se mataram pessoas a sangue frio. Acho que é uma boa lição sobre o certo e o errado. Mesmo que as pessoas não leiam livros, nem participem nas actividades, acabam por pensar nestas coisas”. O investigador acredita que, tal como defende o Governo chinês, o Japão não efectuou um “sincero e adequado” pedido de desculpas pelas “atrocidades” da guerra, e que é por isso que a China “não consegue virar a página”, ao contrário da Europa.[quote_box_right]“Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos”, Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança[/quote_box_right] A parafernália comemorativa – cujos cartazes foram fotografados e reproduzidos nas redes sociais – gerou, em Macau, alguma estranheza, em parte devido à linguagem utilizada. You Ji admite o seu “potencial” de desconforto, mas considera, no entanto, que é “difícil condenar que se use este tipo de linguagem porque nos corações [dos chineses] há feridas que ainda não foram curadas”. Bill Chou, politólogo do Instituto de Educação de Hong Kong e antigo docente da Universidade de Macau – de onde saiu depois de acusar a instituição de perseguição política – lembra que “estas comemorações não são um plano do Governo de Macau, que está apenas a organizar um programa de uma autoridade superior”. O investigador alerta para o facto de a história ser pouco debatida em Macau, algo que não é tão gritante no território vizinho: “A maioria das pessoas de Macau nasceu na China, é de uma geração que não foi educada com factos históricos, mas apenas com propaganda”. “Ao nível civil [em Macau], acho que as pessoas não estão realmente comprometidas com isto, o que se verifica pela forte presença nos restaurantes japoneses e pelo interesse pela cultura japonesa”, comenta Bill Chou. You Jia discorda: “Temos de distinguir os dois fenómenos. As pessoas de Macau, e até da China, não detestam os japoneses, basta olhar para os números do turismo. Distinguem a história do presente”. O Japão ocupou uma parte da China, desde 1931 até ao fim da guerra. Razões históricas e disputas territoriais têm intensificado o nacionalismo nos últimos anos. Pequim e Tóquio disputam, por exemplo, a soberania das ilhas Diaoyu ou Senkaku, no Mar da China Oriental. O evento de ontem contou com a presença de cerca de 440 personalidades, entre as quais o sub-director do Gabinete de Ligação do Governo Central da RPC na RAEM, Yao Jin, sub-comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM e Cai Siping, director do departamento político de Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, Zhang Jian.
Joana Freitas SociedadeLeitura | Governo abre bibliotecas por 24 horas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lexis Tam quer promover o hábito de leitura dos residentes e, para isso, o Governo vai abrir algumas bibliotecas 24 horas. Falando à margem da inauguração da nova Biblioteca da Taipa, na quarta-feira, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que a ideia é permitir aos cidadãos que trabalham por turnos acesso aos livros. “Algumas bibliotecas irão entrar, de forma experimental, em funcionamento com um horário de 24 horas, tendo como objectivo servir melhor a população e satisfazer as suas necessidades de leitura e o desejo do saber”, pode ler-se num comunicado que cita o responsável. “Macau, enquanto cidade de cultura, necessita criar um ambiente que promova a leitura, e, sobretudo, encorajar e estimular as crianças e os jovens a formar hábitos da leitura desde cedo, aumentando os seus conhecimentos e formação cultural, fazendo com que Macau progrida no futuro.” Salientando que o prolongamento do horário de funcionamento das bibliotecas deve ter em consideração o princípio de boa utilização dos recursos, Alexis Tam diz que a ideia é, com a fase experimental dos novos horários, perceber se se poderá abrir todas as bibliotecas 24 horas. “[Isto] pode ajudar o Governo avaliar os seus resultados”, disse, citado no comunicado. Maior investimento A promoção do hábito de leitura junto dos residentes “constitui uma importante política cultural do Governo”, pelo que o Executivo quer também reforçar o investimento de recursos nestes espaços. “Neste sentido, o Governo irá continuar a reforçar o investimento de recursos nas bibliotecas em Macau, melhorando os websites das bibliotecas e outros serviços.” A Biblioteca da Taipa é, actualmente, a maior biblioteca em Macau, com uma área de cerca de 2200 metros quadrados, sendo que esta poderá ser uma das que fará o prolongamento do horário. Certo é já o caso da Biblioteca do Mercado Vermelho que será o primeiro ponto experimental, estando já a ser feitos os preparativos para tal.
Hoje Macau EventosLloyd Cole cancela concertos em Portugal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] músico britânico Lloyd Cole cancelou os concertos que tinha agendado este mês em Braga e em Lisboa com músicos portugueses, alegando que não conseguiu preparar o espetáculo planeado, revelou o Teatro Maria Matos. Lloyd Cole iria interpretar temas eletrónicos, feitos com sintetizadores modulares, em Berlim, com Hans-Joachim Roedelius, e em Portugal, com músicos portugueses. No dia 16 estaria no GNRation, em Braga, com Miguel Pedro e António Rafael, e no dia 22 no Maria Matos, em Lisboa, com André Gonçalves, Nuno Moita e Luís Desirat. “Têm existido problemas técnicos, muitos, mas a raiz do problema é interna e de processo mental”, afirma Lloyd Cole num comunicado enviado pelo teatro municipal, explicando que a preparação do espetáculo estava a demorar mais tempo do que o previsto. “No final, fui incapaz de traduzir este processo num espetáculo ao vivo que pudesse levar em digressão, com múltiplas peças consecutivas de sintetizadores, como tinha originalmente planeado”, explicou. Lloyd Cole tem 54 anos e é um dos nomes do indie pop britânico, que ficou conhecido sobretudo nos anos 1980 com os The Commotions. Depois do fim da banda, em 1989, o músico seguiu uma carreira a solo, entre canções elétricas e acústicas, sem esquecer a discografia antiga. Agora, apresentaria uma faceta menos conhecida, a da composição de música eletrónica, que mantém também desde a década de 1980, quando comprou o primeiro de vários sintetizadores. Em entrevista esta semana ao jornal britânico Guardian, Lloyd Cole lamentava-se de ter vendido todos os sintetizadores quando os computadores se impuseram no trabalho de estúdio, e que por isso estava a construir um sintetizador modular, a pensar nos concertos em Berlim e em Portugal. Atualmente a viver nos Estados Unidos, Lloyd Cole editou o último álbum, “Standards”, em 2013. Este ano foi também feita uma edição completa do trabalho com The Commotions, intitulada “Commotions Collected Recordings 1983-1989”.
Hoje Macau EventosÓpera | Concerto gratuito para festejar retorno à Pátria [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Cinema Alegria acolhe um concerto da Ópera de Pequim às 20h00 deste sábado, com o aniversário do Retorno de Macau à Pátria como mote. O espectáculo é gratuito e organizado pela Fundação Artística de Ópera Chinesa da China e pela Fundação Macau, pelo que os interessados podem adquirir bilhetes até às 18h00 de hoje. Este ano celebra-se o 16º aniversário de criação da RAEM, em Dezembro de 1999. A Fundação Artística de Ópera Chinesa da China existe com o objectivo de promover o gosto e conhecimento da população por este estilo musical, que faz já parte da cultura deste país. Em 2009, o colectivo foi convidado pela Fundação Macau para trazer a Macau o Grupo Juvenil da Ópera de Pequim da China e o Grupo de Arte da Ópera de Pequim da China para espectáculos deste género musical. O concerto deste ano conta com a participação do grupo referido, proveniente da província de Hubei. Em palco serão apresentadas as peças clássicas ‘Cobra Branca’ e ‘Rei Macaco’. Cada residente pode adquirir um máximo de quatro bilhetes, contactando o Centro UNESCO.
Joana Freitas EventosConcerto | Saxofonistas invadem Fundação Rui Cunha [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha apresenta amanhã um concerto de jazz que dá primazia ao saxofone, instrumento de sopro vastamente usado neste estilo musical. Chakseng Lam foi o protagonista do mais recente concerto no local, sendo este um jovem local a prosseguir estudos no Conservatório de Haia. Ao lado de Chakseng tocam outros dois saxofonistas, Seng Fat Lao e Alex Cheng. Para completar o quinteto, estão Derrick Huang e Fu Chan. O concerto acontece às 21h00 e tem entrada livre.
Hoje Macau EventosIPOR | Encontro sobre Português na próxima semana [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Português do Oriente (IPOR) é palco, este mês, do Encontro de Pontos de Rede de Ensino de Língua Portuguesa na Ásia, “uma acção estratégica” na promoção do Português na região, defendeu o director do IPOR, João Neves. “O IPOR volta a conferir, por recomendação dos seus associados, uma dimensão regional à sua acção, na coordenação de projectos de promoção da Língua Portuguesa e vamos, nesse sentido, reunir em Macau representantes da rede de Ensino de Português no Estrangeiro da Coreia do Sul, Índia, Indonésia, China, Tailândia e Vietname”, explicou João Neves. Definir estratégias Para o director do IPOR, este encontro, que decorre entre 10 e 12 de Setembro, é, desde logo, “extremamente importante para uma partilha de experiências e de abordagens ao ensino da língua e da cultura” e, por outro lado, uma “forma de conhecimento das realidades de cada contexto que é fundamental para a definição de uma estratégia colaborativa em torno da formação em Língua Portuguesa”. O encontro de Macau tem, assim, como principais objectivos “partilhar reflexões e experiências de ensino de Português como língua estrangeira nos diferentes contextos e, sobretudo, promover a criação de uma rede que coloque em interacção agentes de promoção do Português nestes países, focada no desenvolvimento de projectos e actividades colaborativas”, disse. João Neves acrescentou também que esta intervenção do IPOR, que conta com a colaboração do Instituto Camões, se insere no “compromisso assumido pela instituição e os seus associados de procurar fornecer contributos ao reforço do papel de Macau como plataforma para o ensino do Português na região Ásia-Pacífico e âncora para redes de colaboração envolvendo diferentes actores regionais”.
Anabela Canas VozesFace de rosto [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão acabou. Outras vezes, podia dizer: inacabou. Mais definitivo talvez, nítido até. Tactear. Lentamente. De início com muito cuidado porque num dos cantos dói. E no outro falta. Branca, texturada. Cheia de vazio. As fibras com rasgos de brusquidão e uns miolinhos regulares do corte. Sem instrumentos mais do que as mãos. As duas. Simétricas e leves, levemente cegas, mesmo. Voltadas para baixo, primeiro que tudo. A rugosidade áspera. Fresca. Que nada passe daqui para lá. O contrário sim, procurar. Ou esperar. Depois unindo levemente os dedos. Revirando-a à procura da interrogação certa. Do que é exacto na impossível exactidão daquele momento. Circunvoluções invisíveis mas que encerram tudo o que pertence. Já. Tudo está sempre. Naquele canto uma palidez solar. Bem no meio que não se encontra, fugidio como as linhas a partir de um ponto qualquer e que param só onde já é tarde, às vezes. Recurvadas. Em formas feias. Erradas. A destruir. Como pensamentos inapagáveis. Nada metafísico nisto. Na lua sim e não. Só nunca acabou. Nunca terminou o desconhecimento e nunca se esgotou o medo. Do dia do não encontro. Dos dias dos não encontros. Que não tendo uma conta certa espreitam o erro da abordagem. Por vezes há que fingir enganar essas invisibilidades e começar pelo erro. Brutalmente mesmo. O olhar é socrático e reage por uma vez, arquitectando um argumento. E tudo rola a partir daí. Montanha acima, primeiro. Bem ou mal. Recomeçar. Muitas vezes recomeçar. E de novo. Sempre com o tacto nos olhos. Espiar o desconhecido que se infiltra. De onde veio e para que tende. Tudo por fazer. Tudo magicamente possível. Olhar um foco nítido sobre o vazio. Em cheio, ali. A vencer o medo. Inacabado. Inspirar o prazer do tacto. Devagar. Não. Nunca acabou o medo. Tactear lentamente. Com dedos leves, quase insensíveis. Uma linha, uma curva. Mandíbula humana. A textura áspera a recobrir a superfície lisa e quente estruturada por dentro. Cheia de desconhecido. Ou com as costas da mão. E depois a palma. De início sempre com o cuidado do não saber. Mesmo dos olhos que devolvem a carícia ou a interrogam. Tudo está ali. Onde magoar. Também. Onde se ilumina sem saber de onde. Quando. Como. As duas mãos. Em concha. Simétricas sobre a simetria. Por vezes encostada com força e a pender sobre uma só das mãos. Essas nada incorruptíveis. Maculadas de interrogações. A rede da textura mais complexa do que em qualquer brancura lisa ou rugosa. Logo ali atrás inacessível. Fortaleza exposta. A defender-se ferozmente. O que belo, transcende. Logo por isso. E em fuga. E ainda mais cheio de erro. De manchas ou invisíveis linhas. Enoveladas, centrípetas, quebradas, atadas em nós. Ou de marinheiro. Ou soltas e sem fim nos limites do horizonte. Desfiadas. Por vezes rectas quase cortantes. Não. Nunca se esgota o medo. Do dia, aquele dia do não encontro. Que é impossível de recomeçar. E poucas vezes a partir do erro. Dizer que inacabou seria uma forma curiosa de sugerir um fim do que não foi. Mas o medo. Há o interior. Fechado. Escuro sempre por comparação. (Falava do exterior à superfície. Mas também…). O resto a superfície. Cerrada também. E as questões a mais. Intrusas. Distraem sem benefício. Crescem, absorvem, sufocam. Tudo por saber. Magicamente impossível. Olhar desfocado. Entre cá e lá. Pelo temor. Sempre inacabado. A emoção do tacto. Muito devagar. Saber-lhe os movimentos antes de ensaiados a tinta. Mais ou menos. Depois. Como passos de dança que podem falhar por um pequeno deslize da respiração. E preferir o improviso ao esquema rígido e prévio. Centrar. Lembrar os gestos possíveis, mas não saber se serão desenhados. As mãos, outras mãos, e os olhos, outros olhos. No lugar de encontro. Ou desencontro. Ontem ou amanhã. Agora. Ou não afinal. Não era, e assim, nunca foi. A pele dos lábios irrepetível. E a densidade. Tudo. Abandonar o possível. Roupas. Concentrar. Esquecer. E as linhas entretecem por fim uma teia a fio negro fino. Outras brancas no branco, a indicar o sentido já. Urgente. A curvatura, a intensidade, o vazio, o cheio. Uma inércia boa. Ainda com desconhecido mas a desvendar-se já como um caminho a sair de um nevoeiro compacto. Também a partir daí é possível o afago, dos tons, de pequenas traquinices de emoção para iludir a confusão do real. Ou mecanizar ritmicamente um gesto, formular uma textura já não física mas fictícia. As formas a oferecer outras. A ganhar espaço para lá e para cá. Ilusões. As mãos já aí esquecidas de si. Os olhos também. Nada mais do que o filme a revelar-se a pouco e pouco. Encruzilhadas para parar e pausadamente reflectir o curso. E os gestos desencadeiam às vezes por fim um encadeado conhecido. Uma renda ponto por ponto. Linha branca, esta. Até ao segundo a seguir. Tudo o resto ainda por detrás de uma névoa de risco imprevisível. E dai uma inércia boa. Sem interrogações agora, mas sem certezas também. Ou o repouso esquecido de tudo. Nunca foi. Segundos, talvez. Tudo o resto talvez igual ao acima descrito. Não a face. Papel, fino e transparente ou folha espessa com duas faces. Só uma de rosto. A do desenho do rosto. Vice- versa. Virada, de novo as possibilidades infindas do branco. Já a face do rosto, de espessura maior, mais densa. Opaca. Como a do rosto do desenho, a que é impossível virar do outro lado. Detrás do rosto. A que não tem outro lado, aí o universo inteiro, redondo de escuridão. Caminhos infinitos do negro. Um mundo de trevas e luzes, convexo, pejado de sinais furtivos, equívocos. Sinais. E indizível. O rosto.
André Ritchie Sorrindo Sempre VozesHong Kong sã assi [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á duas semanas atrás decidi mandar umas bocas sobre o universalmente aceite estatuto de “internacional” de Hong Kong e de Singapura. Pelo que ora decidi dar alguma continuidade ao tema, transferindo contudo a conversa para uma outra área e focando as atenções apenas em Hong Kong. Todavia, antes de mais, caríssimo leitor, deixo aqui um esclarecimento: sou um grande admirador de Hong Kong, cidade onde também cresci, tantos que foram os fins-de-semana ali passados desde a minha infância. Aliás, ainda hoje visito Hong Kong assiduamente, tanto por motivos de lazer como de trabalho. Por outro lado, também não escondo que a minha forma de estar na vida é, de certa forma, influenciada pela cultura pop de Hong Kong já que durante a minha infância e adolescência segui religiosamente os programas de televisão e os filmes da vizinha ex-colónia. Isto tudo apenas para dizer que gosto genuinamente de Hong Kong. Esclarecimento feito, vamos ao que interessa. E o caríssimo leitor, que é atento e perspicaz, sabe certamente que quando se começa um discurso da forma como comecei, logo a seguir vem um “mas” e parte-se para a violência. Sempre houve um certo mal-estar entre Macau e Hong Kong. Não sei ao certo nem como nem quando terá surgido, mas provavelmente com o próprio estabelecimento da vizinha ex-colónia no século XIX e com a sua progressiva ascendência como interposto comercial no Sul da China, ao mesmo tempo que Macau progressivamente perdia a sua importância. Não se pode falar em rivalidade entre Macau e Hong Kong: são duas cidades com perfis completamente diferentes que desempenham funções distintas, pelo que não competem sequer no mesmo campeonato ou modalidade. Mas o que é certo é que Hong Kong cresceu e tornou-se na metrópole que é hoje. Ganhou o estatuto que ganhou, sendo uma das principais praças financeiras mundiais e um centro de serviços de referência internacional. E, com isso, a malta de Hong Kong passou a olhar para Macau – e não só Macau – como algo inferior. Existe, por isso, uma certa arrogância por parte de Hong Kong que, naturalmente, Macau não aceita. Muito menos nós, maquistas de gema, que somos tão orgulhosos da nossa cidade e das nossas origens. O meu avô Lourenço, no seu tempo um brilhante jogador de hóquei em campo, nunca escondeu o especial prazer que lhe dava derrotar Hong Kong nos jogos do Interport. Jogava de forma agressiva e tinha uma stickada forte. E a bola de hóquei em campo é dura como pedra. O guarda-redes daquela selecção tinha medo dele.[quote_box_right]“Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.”[/quote_box_right] A verdade é que às vezes a malta de Hong Kong merece. Infelizmente existem sempre uns espertinhos da vizinha RAEHK que pensam que são os melhores do mundo e por vezes têm a mania que tudo e todos – incluindo Macau – devem fazer as coisas à maneira deles. Porque tudo o que seja diferente de Hong Kong é para eles estranho e, portanto – ponto principal – errado. Ora, ao longo dos meus 13 anos de vida profissional aqui em Macau, tive o privilégio de trabalhar com excelentes profissionais – e repito: excelentes profissionais – de Hong Kong com quem mantive magníficas relações de trabalho. E de amizade até. No entanto, quando sinto que estão a pisar o risco, devolvo-lhes sem cerimónias a dose de mau feitio maquista que acho que merecem, tipo stickada forte do meu avô, deixando-os chulados com um sabor amargo na boca. Estou-me a lembrar de um episódio muito interessante que foi assim: numa sessão de abertura de propostas de um concurso público presidida por mim, um dos concorrentes era uma empresa de Hong Kong – e uma grande empresa até – que apresentou uma proposta com deficiências formais, não cumprindo o estipulado no Programa de Concurso. A proposta não foi admitida, pelo que os representantes desse concorrente reclamaram imediatamente. E com aquela arrogância. Os argumentos deles? “Em Hong Kong é assim que fazemos e nunca tivemos problemas!” Estavam a pedi-las, certo? A minha resposta, sem esconder desprezo, foi assim: “Desculpe, mas de acordo com os parágrafos X, Y e Z deste Programa de Concurso, está estipulado que o concorrente tem de fazer assim, assado e cozido, e vocês não o fizeram. Não sei como as coisas funcionam em Hong Kong, mas aqui em Macau a vossa proposta não pode ser aceite. Em Macau vigora a lei!” (*) Os restantes concorrentes de Macau riram-se e trocaram olhares de cumplicidade comigo. Não escondo que esse episódio me deu imenso prazer. Pelo que, de vez em quando, e como entretanto comecei a ganhar cabelos brancos e a senioridade profissional já me permite fazer determinadas coisas, até me dou ao luxo de lançar ataques preventivos à malta de Hong Kong, mesmo na ausência de qualquer tipo de provocação. Pelo que, caríssimo leitor, tenho aqui umas boas para partilhar consigo e não me importo que as utilize sempre que lhe apeteça dar umas bengaladas à malta de Hong Kong. E a piada da coisa é que têm como base a mesma arrogância à la Hong Kong, só que virada contra eles próprios: Saúde “Sabe, costumava ir a Hong Kong para consultas médicas, mas deixei de ir depois de todos os recentes medical blunders. Só no ano passado houve em Hong Kong sete casos de objectos cirúrgicos esquecidos dentro do corpo dos pacientes após cirurgia. Prefiro ir a Bangkok, o Bumrungrad é espectacular e tem médicos ingleses. De onde vêm os vossos médicos? São locais, certo?” Água com chumbo “No outro dia estive em Hong Kong, lavei os dentes com a água da torneira e pimba, fiquei logo com uma diarreia. Agora, em Hong Kong, só lavo os dentes com água engarrafada.” Construções ilegais “Em Macau somos muito rigorosos e construções ilegais não são permitidas. Em Hong Kong não existem leis que regulam isso, certo? O Henry Tang e o próprio CY Leung admitiram ter obras ilegais em casa, não foi?”. Grande Prémio “Então vocês falharam a candidatura à Formula E? Eles quiseram vir para Macau, mas rejeitámos. Mas afinal porquê querem vocês copiar Macau? Venham ver o nosso Grande Prémio, já vamos na 62ª edição. E temos carros de competição de verdade, não são eléctricos.” Passaporte “Nunca consegui perceber essa treta do British National Overseas passport. Nós não temos nada disso. Aliás, ouvi dizer que vocês quando vão à Inglaterra com um passaporte desses, têm de fazer fila para o balcão All Other Nationalities. Que nacionalidade é essa, afinal?” Fins-de-semana “Macau está-se a tornar demasiado stressante e fast-track. Por isso, nos fins-de-semana, gosto de ir a Hong Kong: mais espaço, menos gente, pessoal mais amigável, boas refeições a preços acessíveis. É tudo mais lento e laid-back. Consigo relaxar.” Dinheiro “Nunca percebi por que razão as cores das vossas notas não seguem correctamente as nossas: as vermelhas devem ser de 10, e não de 100; as roxas devem ser de 20, e não de 10; as castanhas devem ser de 50, e não de 500. A única que acertaram foi a de 1000. What were you thinking?” Bandeira “Ah e tal, Occupy Central… Mas afinal por que razão a vossa bandeira é vermelha?” E uma que dá para tudo Sempre que alguém lhe disser “em Hong Kong fazemos assim”, responda “olha, em Macau, fazemos assado. É por isso que somos melhores que Hong Kong.” Brincadeiras à parte, a verdade é que Hong Kong é uma cidade magnífica e desenvolveu a sua própria identidade cultural, pelo que em muitos aspectos é, ou então julga-se, auto-suficiente. No entanto, é vítima do seu próprio sucesso, pois em muita coisa vive para o seu próprio umbigo. E depois pretende ser uma espécie de cidade-estado, tipo Singapura – mesmo sabendo que isso nunca vai acontecer. Hong Kong tem por isso de deixar essa atitude arrogante, olhar à volta, abrir-se e preparar uma estratégia a longo prazo para se manter competitiva. O mundo mudou e o campeonato já não é o mesmo, sobretudo dada a ascensão de algumas cidades chinesas. No entanto, parece que ainda não acordaram para a vida e continuam iludidos: num artigo recente do South China Morning Post, foi noticiado que cerca de 90% dos cidadãos de Hong Kong abaixo dos 30 anos é trilingue. E esse facto foi registado como sinal de uma sociedade competitiva, preparada para os desafios do século XIX. Sendo que, contudo, essas três línguas são afinal o inglês, o cantonense e o mandarim… Nenhuma delas verdadeiramente estrangeira para Hong Kong, convenhamos. Não se ponham a pau, não. Correm o risco de ser ultrapassados e esquecidos. E no dia em que isso acontecer não lhes vai valer de nada fazer birras e protestar com o argumento “em Hong Kong fazemos assim”. Ninguém vai dar ouvidos. Eu avisei. Sorrindo Sempre Não há Sorriso Sempre porque já escrevi muito. Mou ah, nám tem. Sorrindo sempre. (*) “Em HK vigora a lei (HK kong fat lot ga)” era uma expressão muito utilizada em Hong Kong nos anos 80 e motivo de orgulho dos cidadãos daquela cidade.
Hoje Macau VozesCarta Aberta | Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]pós a sua recente deslocação a Macau, Rosa Teixeira Ribeiro, Secretária-Geral do STCDE (Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas de Portugal no Estrangeiro) rejeita formalmente as acusações formuladas pelo Sr. José Pereira Coutinho, candidato a membro permanente do CPP pelo círculo China, Macau e Hong Kong. “Maçãs podres” é um termo altamente difamatório para quem, em condições cada vez mais degradadas, assegura um serviço reconhecido de elevada qualidade. Os funcionários do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong têm-se revelado trabalhadores incansáveis, com grande capacidade de adaptação e de inovação, recebendo os utentes de forma isenta e sem discriminação, contrariamente ao afirmado pelo candidato. A sua prestação de trabalho tem-se caracterizado pelo profissionalismo, imparcialidade, brio e dedicação. Rosa Teixeira Ribeiro deplora que o candidato não tenha optado por unir todos os interessados em torno de um projecto comum em defesa dos interesses e objectivos de todos os nacionais portugueses, tendo preferido designar bodes expiatórios que nem sequer se podem defender directamente e pessoalmente. Mas a verdade vem sempre acima, pois não é por acaso que o Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong, graças ao trabalho dos seus funcionários operacionais, administrativos, técnicos e diplomáticos, é um posto reconhecido pela sua capacidade de trabalho e de adaptação, na vanguarda e totalmente investido na sua missão de representação de Portugal e defesa dos seus cidadãos. Por prova disto, os trabalhadores estarão a postos no dia 6 de Setembro de 2015, para receber todos os eleitores que se deslocarão ao Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong, incluindo quem tão pouco respeito lhes manifestou. Rosa Teixeira Ribeiro, Secretária-Geral do STCDE (Sindicato dos Trabalhadores Consulares e Das Missões Diplomáticas de Portugal no Estrangeiro)
Leocardo VozesHINDI LUBOS [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] manifestação organizada no último domingo por uma associação de empregadores dos serviços domésticos, em parceria com a Associação Geral das Mulheres de Macau teve uma adesão que ficou “aquém das expectativas”. Dos alegadamente mil inscritos na parada participaram apenas pouco mais de uma centena – e é assim que anda a coerência por estas bandas: à dízima do seu valor facial. Pode ser que as centenas de ausentes sejam pessoas que caíram em si, chegando finalmente à conclusão de que se iam expor a um ridículo: qual a intenção em protestar por um serviço, que sabendo de antemão no que consiste e de que contornos se rodeia, continuam a considerar “indispensável”? No entanto dos que levaram a petição ao Palácio do Governo houve quem até dissesse algo de interessante, aliás, num mundo melhor, esta manifestação faria todo o sentido. Permitam-me um pequeno exercício, não do contraditório, mas do que tenta olhar a situação do outro ponto de vista, em vez de se apressar a chamá-lo de “xenófobo”, e outros impropérios. Com os melhores cumprimentos, aqui vai ela. Concordo que uma empregada doméstica ou outra mão-de-obra não-residente venha para Macau para esse efeito, e não com um visto de turista para depois andar à procura de um “sponsor”. Parece-me a todos os títulos legítimo que alguém queira saber do passado de uma pessoa que vai colocar na sua casa, ora sozinha, ora tomando conta de crianças ou idosos do seu agregado familiar. Todas estas causas e mais algumas outras referidas por estes pobres tansos têm a sua razão de ser, ninguém duvida disso, ou duvida? O problema aqui não é tanto “o quê”, mas “quem”; são as mesmas pessoas que criaram este estado de coisas que vêm agora fazer barulho. Foi a negociata das agências, os recrutadores ilegais, o emprego em “part-time” (que é ilegal para os TNR, recorde-se) e todas essas “escapadelas” que levaram a um ponto em que é tolerado contratar alguém de quem nada se sabe para fazer um trabalho para o qual pode nem estar habilitado. Da nossa parte, da comunidade portuguesa, continuamos nesse “tilt” de olhar para tudo como se nos estivessem a fazer o mesmo – isto pelo que li e ouvi por aí a este respeito. Mais uma vez, nem todos os filipinos são “de Manila”, e alguns deles preferem este “passar mal” de que aqui desfrutam de quando em vez, do que ao “dolci far niente” que os aguarda no país de origem, com a diferença deste “far niente” não ser nada “dolci”. A “gente bonita” vai logo buscar a escala dos “direitos humanos” para medir a coisa, quando muitas vezes nem sabe que o primeiro colchão onde muitos filipinos dormem na sua vida encontram aqui em Macau, no apartamento que dividem com mais sete ou oito deles. As “condições mínimas de higiene”, de que alguém famosamente rotulou o facto de ter que se tomar banho de pé, nada são atendendo ao facto de que existe água quente, algo que no interior das Filipinas “é um luxo”, assim como ter telefone residencial, em vez precisar de andar centenas de metros até ao único entreposto na aldeia com comunicação para o exterior. É verdade que em comparação a muitos de nós, que não dispensam duas idas de férias a Portugal por ano (em muitos casos para ostentar), as filipinas e as indonésias “vivem mal”, e que merecem todo o nosso apoio e solidariedade. Mas atenção, que aceitar que se torçam as regras não é dar carta branca à anarquia total, e se este problema “não é nosso”, um pouco de moderação na hora de cometer certos julgamentos é recomendada. Até porque muita da precariedade em que alguns destes TNR se encontram é igualmente culpa nossa, senão digam lá: quem é que passou a ter as filipinas e indonésias como mais do que apenas “empregadas domésticas”? A consciência, esse depósito de entulho que por lá foi ficando esquecido… PS: O título do artigo significa qualquer coisa como “Não é bem assim”, em filipino.
Filipa Araújo Perfil PessoasCélia Boavida, consultora informática [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]empre pronta para viajar e com sorriso na cara são as linhas base na vida de Célia Boavida. Argentina, Estados Unidos, Holanda, Suíça, Japão, Singapura e Xangai são apenas alguns dos sítios por onde a consultora informática já passou. “A empresa onde trabalho está a apostar muito na internacionalização e temos um cliente muito forte na Ásia, o que faz com que surjam oportunidades no Oriente”, começa por contar ao HM. Um dia o convite surgiu. A empresa onde Célia Boavida trabalha avançou com a decisão de abrir um escritório em Macau e a consultora não hesitou quando a administração – sabendo do seu gosto pela Ásia – lhe apresentou a proposta. “Como há alguns anos já tinha assumido projectos internacionais, fizeram-me o convite quando quiseram criar uma equipa”, acrescenta, sublinhando que sempre gostou “imenso da Ásia”. Macau é a experiência profissional internacional mais longa em que, até à data, a consultora embarcou. “Estou em Macau há dois anos e meio, é o sítio em que estou há mais tempo”, conta, relembrando que o primeiro impacto, embora já tivesse contacto com o mundo asiático, foi “estranho”. “Embora já tivesse trabalhado na China, em Xangai, são realidades distintas. Chegar a Macau foi um bocadinho, posso dizer, [um] choque”, partilha, frisando que visualmente foi um grande impacto. “Macau pareceu-me um pouco ‘selva urbana’, mas não bem estruturada e por isso no início foi um bocadinho difícil de me adaptar”, conta. A equipa de trabalho – permitindo que a consultora não viesse sozinha – foi um grande suporte no processo de adaptação. “A equipa serviu muito para se apoiar entre si. Dávamos muito apoio uns aos outros, isso foi óptimo, super vantajoso”, assinala. Viver a viajar Natural de Lisboa, mas sempre a viver em Alverca do Ribatejo, Célia Boavida não esconde a vontade que tem em abraçar o mundo e viajar sem parar. Macau é um ponto estratégico nesse aspecto, defende. “É muito fácil viajar aqui à volta, isso para mim é muito positivo, é mesmo muito bom”, remata. O ordenamento do território e a falta de espaços verdes são os aspectos menos positivos aos olhos da consultora. “Tenho mesmo muita pena que não existam mais espaços verdes para a população poder passear e usufruir. Há muita aposta no jogo e no imobiliário e falta, por isso, essa qualidade de vida, a capacidade de oferecer às pessoas uma forma melhorada de aproveitarem a sua cidade”, defende. O caminho para o estatuto de qualidade de vida ainda é longo, mas ainda assim viver em Macau oferece algumas coisas que outras cidades não conseguem. “Não é das cidades que eu consiga dizer que tem muita qualidade de vida, mas temos vantagens, a monetária é uma delas”, remata. Carinho na bagagem Sem esconder o seu lado doce e carinhoso, Célia não hesita quando lhe perguntamos o que de melhor Macau trouxe à sua vida: as pessoas. “O que vou levar, quando for embora, com muito carinho é o grupo de amigos que criei e que vou conhecendo”, aponta.[quote_box_left]“Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso”[/quote_box_left] O território chinês é marcado por um processo social bem mais forte que no país natal, diz. “Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso. E o que de facto levo com maior carinho é o convívio com os meus amigos, a interacção, o apoio, as coisas que fazemos juntos, os jantares, as saídas. Vou levar isto para Portugal, com grande afecto”, argumenta. Os afectos, que aqui são vividos com mais intensidade, fazem deste Macau um território especial, tão especial que parece que se entranha na vida de cada que por aqui passa. “Acontece, muitas vezes, por ser um ponto de passagem das pessoas, que alguns chegam e outros vão. A diferença é que mesmo indo embora, acho que aqui se fazem amizades para a vida, sinto isso. Talvez por as coisas se viverem intensamente, as amizades que se fazem, independentemente onde as pessoas possam estar ou ir, são relações que ficam para sempre. É muito positivo. E posso dizer que falo por experiência própria”, explica. Uma marca para sempre Entre sorrisos, Célia Boavida assume que nem sempre é fácil viver em Macau, e que há muitas pessoas a defender essa ideia. Ainda assim é inegável que “todos nós, mais cedo ou mais tarde, quando formos embora de Macau vamos ter saudades”. “É um traço comum a toda a gente, sinto isso. Tenho certeza que vou ter saudades. Macau faz parte da minha história”, remata. Sem planos a longo prazo, a consultora vai abraçando as oportunidades conforme surgem. “Ao final de cada ano de contrato a empresa pergunta se quero continuar ou não e eu aceitei agora por mais um ano, depois logo vejo”, termina.
Carlos Morais José EditorialÉdito | Carta Aberta [dropcap syle=’circle]E[/dropcap]xcelentíssimo Senhor Secretário para as Obras Públicas e Transportes, Escrevo-lhe não para o maçar com obras públicas, terrenos, metro ligeiro mas sobre um assunto bem mais corriqueiro e, aparentemente, de fácil resolução. Estou certo de que se Vossa Excelência não dispusesse de transporte privado, certamente que nem seria necessário chamar-lhe a atenção para este problema que aflige residentes e turistas nesta bela Cidade do Nome de Deus. Trata-se (não abra a boca de espanto) da questão dos táxis. Pois é: o problema que encontrou quando tomou posse e parecia bem encaminhado nos meses que seguiram. Parecia mas não estava: a verdade é que voltámos à anarquia do costume. De novo os taxistas recusam clientes, aliciam outros (turistas) com preços exorbitantes e desvarios vários que, normalmente, aconteciam nas cidades mais deprimidas dos países muito pouco emergentes. Aconteciam porque acontecem cada vez menos. A não ser, é claro, em Macau. Já não lhe vou pregar sobre os efeitos perniciosos para a imagem, para o desconforto que causa ao cidadão, para a vergonha que é apresentar uma cidade assim. Queria, pelo contrário, enaltecer o trabalho de quem fez quintuplicar o número de multas passadas a taxistas prevaricadores. Pois bem: não chega. Ao que parece, é para o lado em que eles conduzem melhor. E o desbragamento continua. Senhor Secretário, já lá vai mais de meio ano desde aquele saudoso dia 19 de Dezembro em que ainda não tinha que aturar os dossiês que se acumulam na sua mesa. São projectos complexos, complicados, intrincados como quase nenhuns. Mas se não consegue pôr os carroceiros da cidade na ordem, como podemos esperar que se desenvencilhe das suas outras hercúleas tarefas, em que tem de confrontar interesses, à partida, bem mais poderosos? O poder dos taxistas não há-de ser assim tanto… Ou será que quem de facto manda menos… é o Governo? Não esqueça pois: está na altura de lhes mostrar um cartão vermelho. O que isso significa não sei, pois não passo deste seu humilde escriba e admirador, com os melhores cumprimentos, etc., etc… PS: Só para chatear (que isto não pode ser só delicadezas): aqui entre nós, no tempo dos portugueses os táxis funcionavam melhor… ai quem diria… que vergonha…
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAno lectivo arranca com mais alunos no ensino infantil [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] ano lectivo 2015/2016 arranca hoje em muitas escolas do território e há novidades: se no ensino infantil há mais alunos, o mesmo não acontece com o número de estudantes do ensino secundário, que desceu. Os dados foram apresentados ontem pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e falam de mudanças até ao nível do corpo docente. Segundo a Rádio Macau, o ensino infantil vai passar a ter mais 15,5% de alunos, ou seja, mais 19.900 crianças face ao ano lectivo passado. O jardim de infância D. José da Costa Nunes é um exemplo deste aumento, já que, segundo confirmou ao HM a directora, Vera Gonçalves, “nunca aconteceu” o facto de passarem a ter mais duas turmas para crianças de três anos. “Houve anos que tivemos que criar uma nova turma, mas nunca duas turmas como este. São 43 novos alunos só para os três anos”, explicou, adiantando que neste momento o jardim de infância conta com quatro turmas dos três anos, duas para os quatro e mais duas para as crianças de cinco anos. “Foi um grande aumento”, classificou, adiantando que “mais de metade dos alunos são chineses”. Também o corpo docente foi reforçado. “Contratamos dois novos educadores, dois serventes e dois agentes de ensino”, explicou Vera Gonçalves. Quanto ao ensino secundário, o número de alunos baixou 5%, algo que Teresa Vong, docente da Universidade de Macau (UM), considera normal. “São os efeitos do decréscimo da população. Não é um caso único em Macau, acontece em todo o lado, em Hong Kong, Taiwan ou China. Esta diminuição vai manter-se nos próximos cinco anos, devido a esse decréscimo populacional”, explicou. No total, estão inscritos 74,871 alunos para este ano lectivo, que terá uma média de 28 alunos por turma. Mais professores Em relação ao pessoal docente, a DSEJ garantiu ontem que vão dar aulas um total de 7129 professores, mais 4% em relação ao ano passado. Apesar do território ter sofrido com a falta de professores, Teresa Vong não se mostra surpreendida com estes dados. “O Governo está a implementar o ensino em turmas mais pequenas, então o número de professores está a crescer e o rácio entre professor e aluno vai ser mais razoável. Não é de todo surpreendente e esse tipo de ensino, com turmas mais pequenas, está a ser implementado no ensino secundário”, explicou ao HM. No caso da Escola Portuguesa de Macau (EPM), as aulas só começam para a semana. O HM tentou contactar Zélia Mieiro, vice-presidente da escola, para saber dados sobre o novo ano lectivo, mas a mesma não se encontrou disponível. À Rádio Macau, Zélia Mieiro confirmou um ligeiro decréscimo de novas matrículas. Já estão inscritos 533, mas espera-se que ao longo desta semana a EPM obtenha mais dez inscrições. “É um bocadinho menos em relação ao ano passado mas ainda há alguns que ainda não vieram fazer as matrículas. Este número é bom, porque tudo o que é entre 500 e 700 é o ideal para qualquer instituição educativa. Também não teríamos condições de trabalho para acompanhar as necessidades pedagógicas dos alunos”. Para Zélia Mieiro, o decréscimo pode estar relacionado com o facto de vários casais portugueses terem regressado a Portugal. Inscrições em creches com sistema centralizado A DSEJ anunciou ontem a implementação de um sistema centralizado para as inscrições nas creches na internet, o qual, segundo a Rádio Macau, vai passar a funcionar em 2016. Cada criança vai passar a estar sujeita a apenas seis entrevistas. “Esta medida é um complemento para os pais e para as escolas, porque os trabalhos vão ser sempre verificados pelas escolas. Anteriormente vimos que as crianças precisavam de ir a muitas entrevistas, e desta vez vai ser limitado o número de entrevistas das crianças. esperamos aliviar o stress das crianças e evitar que os pais fiquem à espera em várias escolas”, disse Kong Chu Meng, chefe substituto do departamento de ensino da DSEJ, citada pela Rádio Macau.
Hoje Macau PolíticaDemocratas mantêm críticas à actuação do Governo [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o segundo mandato de Chui Sai On como chefe do Governo de Macau, a Associação Novo Macau (ANM) vê caras novas e “mais acções de relações públicas”, mas “nenhum sinal de melhoria” na governação. “As mudanças são ‘light’. Há um pequeno aspecto positivo que é o facto de os Secretários falarem com mais frequência [no canal em chinês] da rádio, mas eu não vejo nisso mais do que uma actividade de relações públicas, porque a participação nos programas não ajudou a melhorar os seus desempenhos”, disse à agência Lusa Jason Chao, recentemente eleito para um lugar de vice-presidente na ANM. Uma das matérias em que Jason Chao criticou a actuação do Executivo é o plano de desenvolvimento dos novos aterros, apresentado este Verão e desde logo envolto em polémica pelo volume de habitação prevista e pela altura máxima autorizada para construir poder vir a ‘roubar’ a vista sobre património protegido pela UNESCO. “O Governo assumiu a posição de defender o plano sem genuinamente tomar em consideração a opinião pública”, criticou. Das intromissões O antigo líder da ANM aponta “tentativas de interferência nas sessões públicas sobre os novos aterros pela Associação dos Conterrâneos de Jiangmen”, de que fazem parte os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Esta organização, recordou o activista da Novo Macau, saiu à rua, em Maio do ano passado, a favor de uma proposta de lei que previa elevadas regalias para os antigos titulares dos principais cargos públicos na reforma e que viria a ser retirada na sequência da ampla contestação na sociedade. A diferença, disse Jason Chao, é que após esse grande protesto – o maior desde o fim da administração portuguesa, em 1999 – os jovens de Macau “se tornaram mais vigilantes das acções do Governo”. “O plano de desenvolvimento dos novos aterros está a gerar muita atenção da opinião pública e dos jovens. Mas não só: no ano passado, conseguimos mobilizar milhares de pessoas para participar e apoiar o ‘Umbrella Movement’, em Hong Kong”, observou. Menos interessados no Chefe do Executivo, os pró-democratas estão sobretudo atentos ao dia-a-dia dos Secretários. “Chui Sai On não precisa de publicidade porque já não tem a pressão de ser reeleito. Nos últimos tempos não o temos visto na TV, os Secretários têm estado mais activos – especialmente Alexis Tam (titular da pasta dos Assuntos Sociais e Cultura). Alguns já começaram a fazer apostas sobre quem vai ser o próximo candidato a Chefe do Executivo”, afirmou.
Flora Fong Manchete PolíticaConcessões provisórias de terrenos na mira de Mak Soi Kun [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting realizaram ontem uma conferência de imprensa para traçar o balanço dos trabalhos da 2ª sessão da Assembleia Legislativa (AL). No encontro com a imprensa, os deputados pediram ao Governo para criar um período de transição para os terrenos sujeitos a concessão provisória, com prazos de aproveitamento que acabam este ano. “Esta é uma zona cinzenta na Lei de Terras. Antes da sua implementação, em 2013, os projectos com concessões provisórias poderiam ser alvo de renovação. O problema que actualmente enfrentamos é que existem vários projectos de grande envergadura cujas concessões expiram no final do ano e não podem ser renovadas por causa da lei. Caso não se implemente um período de transição, milhares de proprietários podem perder o dinheiro já pago pelas fracções, e isso não é justo porque adquiriram as casas de forma legal”, disse Mak Soi Kun. De frisar que 20 proprietários de casas no edifício Pearl Horizon já se queixaram ao Governo sobre esse assunto, pedindo uma prorrogação do prazo de concessão. Quanto à questão da proibição do fumo do tabaco nos casinos, Mak Soi Kun reiterou que a proibição total é a meta que todos querem atingir, no entanto, como as receitas do Jogo têm estado em quebra, teme que o sector fique influenciado, bem como os seus 80 mil funcionários do Jogo. “Embora a revisão da lei tenha sido aprovada na generalidade na AL, penso que na discussão na especialidade há ainda espaço para negociar a manutenção das salas de fumo nos casinos. Desta forma podem ser consideradas questões como a saúde dos funcionários, turistas, a empregabilidade dos trabalhadores e o desenvolvimento da indústria”, referiu Zheng Anting. Haja saúde Na área da saúde, Zheng Anting apontou ainda o atraso do novo hospital. “Apesar do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, ter mostrado a conclusão na data prevista, os cidadãos preocupam-se com a qualidade e falta de experiência da construção do hospital. Apelo ao Governo para planear mais cedo as questões dos recursos humanos e a qualidade do pessoal para o futuro hospital.” Os dois deputados defendem que o Governo deve aumentar a eficiência e a transparência, bem como a qualidade dos serviços públicos. Prometem ainda supervisionar os trabalhos do Governo, “sem ter medo de ofender os poderosos e ricos”. Nos três escritórios dos deputados, foram recebidos 380 pedidos de ajuda durante a 2ª sessão legislativa, sendo que 90% dos pedidos já foram resolvidos. A maior parte dos pedidos diz respeito a questões de saúde, assistência económica ou direitos dos consumidores. Críticas à Comissão de Talentos Para Mak Soi Kun, a Comissão de Desenvolvimento de Talentos tem vindo a ignorar o problema dos recursos humanos no sector da construção, a segunda maior indústria em Macau, uma vez que não fez estudos como fez nas áreas do Jogo, exposições ou hotelaria. Como presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos das Finanças Públicas, Mak Soi Kun diz já ter solicitado “várias vezes” ao Governo para entregar a proposta de revisão da Lei do Enquadramento Orçamental para a discussão na AL, pedindo a alteração dos prazos de apreciação no hemiciclo, por forma a evitar o mau uso do dinheiro dos cofres públicos.
Hoje Macau PolíticaJogo é peça fulcral no primeiro ano do mandato de Chui Sai On [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]penas 380 votos valeram um segundo mandato ao líder de Macau, Chui Sai On, que, depois da contestação social do ano passado, enfrenta hoje uma inédita rota descendente do jogo. “O grande desafio actualmente é lidar com a contracção das receitas dos casinos e ao mesmo tempo diversificar (a economia) para outros sectores além do Jogo; enfrentar este problema e lidar com (a desaceleração do) crescimento da economia chinesa e também com a oscilação nas bolsas”, disse à agência Lusa o académico Sonny Lo. “Penso que Macau está a entrar numa fase em que tem de fazer ajustes às circunstâncias económicas, tanto regionais, como globais”, sublinhou o professor e director do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Educação de Hong Kong. No dia da reeleição – 31 de Agosto de 2014 –, as receitas dos casinos já tinham iniciado (em Junho) a curva descendente, mas ainda era difícil prever que a tendência se ia manter ininterrupta 15 meses depois, ou que o volume do negócio do sector iria baixar para valores de 2011. As previsões continuam a ser “difíceis”, disse Sonny Lo, até porque o Governo formado a 20 de Dezembro “mantém o ‘status quo’ e continua a libertar informação aos bocados”. Vozes na rua A primeira metade do ano passado foi profícua em manifestações, e o dia da eleição não foi excepção. A contestação social intensificou-se no final de Maio, com o maior protesto desde 1999 a resultar num ‘cerco’ à Assembleia Legislativa contra um diploma que previa elevadas compensações financeiras aos titulares dos principais cargos públicos aquando da respectiva passagem à reforma. A proposta de lei votada na generalidade acabaria por ser retirada. Além da reivindicada introdução do sufrágio universal pela “máquina” da Associação Novo Macau, o período pré-reeleição de Chui Sai On fica marcado por protestos dos trabalhadores dos casinos que, com uma média salarial superior a 1.500 euros, pediam melhores remunerações e horários, e facilidades de progressão nas carreiras nas operadoras de Jogo concessionadas pelo Governo. Um ano depois, o cenário é de expectativa. “Enquanto observadores, estamos muito interessados no início da revisão das licenças do Jogo no final deste ano (…) Parece que o Governo já tem elencados vários critérios”, salientou Sonny Lo, estimando que nas negociações estejam já em cima da mesa questões como “a gestão das relações laborais, o desenvolvimento do sector extra jogo e a evolução profissional dos funcionários actuais” das operadoras. Apertar o cinto Sonny Lo recordou que, nos últimos meses, o governo tem vindo a mencionar “medidas de austeridade” se as receitas dos casinos se fixarem numa média mensal abaixo de 20.000 milhões de patacas. “Para ser justo para com o Governo, eles estão agora a entrar numa fase nova de desafios económicos e sociais, a nível local, regional e global. Como apertar o cinto? As finanças públicas e a sustentabilidade do desenvolvimento económico de Macau serão os indicadores críticos do sucesso da governação”, adiantou. O académico considerou ainda que o executivo tem de ser “mais pro-activo ao lidar com a possível reintrodução de órgãos municipais”. Para Sonny Lo, o restabelecimento de órgãos municipais seria uma “reforma política ao estilo de Macau”, e teria a vantagem de “fornecer um canal útil para a participação dos cidadãos na vida pública, de canalizar as queixas dos jovens que parecem não estar muito satisfeitos com o desempenho do governo, e de aumentar a responsabilização do executivo”.
Flora Fong PolíticaSi Ka Lon questiona serviços da Air Macau [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon criticou o facto da companhia aérea Air Macau ter a exclusividade da concessão apesar de não desempenhar a responsabilidade de desenvolver o mercado aéreo local de forma activa. O deputado diz ainda que a empresa não oferece serviços de qualidade e deseja saber como é que o Governo supervisiona o seu funcionamento. As criticas constam numa interpelação escrita entregue ao Governo, na qual Si Ka Lon aponta que, embora tenha o “logótipo de Macau”, a Air Macau não tem desenvolvido o mercado de transporte aéreo local nem tem fomentado a criação de uma rede aérea, o que tem efeitos na expansão do número de passageiros internacionais no território. “O maior problema é quando os cidadãos se queixam do cancelamento ou atraso na chegada dos voos, e a Air Macau não consegue oferecer informações verdadeiras ou concretas. Para além disso, tem falta de um mecanismo de urgência com carácter humanitário, o que causa cansaço e queixas junto dos passageiros”, referiu o deputado. Si Ka Lon acrescentou que, numa empresa que é a “imagem de Macau”, o sócio maioritário é o Governo, pelo que a sociedade coloca elevadas expectativas na empresa, e que a companhia aérea deveria ser a imagem do sector. Contudo, o deputado diz que a Air Macau continua a disponibilizar serviços de má qualidade, o que se distancia do objectivo de Macau em se tornar um “Centro Mundial de Turismo e Lazer”. O deputado, número dois de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa (AL), pede que a Air Macau melhore os serviços consoante o contrato de concessão assinado com o Governo.
Hoje Macau BrevesVisitas em excursões caem 22,3% em Julho [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante o mês de Julho, Macau recebeu 820 mil visitantes em tipologia de excursão, mais 16,3%, face ao mês passado, mas menos 22,3% face a Julho de 2014. Relativamente à nacionalidade, 687 mil visitantes são oriundos da China Continental, uma queda de 19,1%, 55 mil de Taiwan, menos 24%, 16 mil de Hong Kong, menos 44,8% e 12 mil provenientes da Coreia, ou seja, menos 61,7%. Relativamente aos residentes, os dados da Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) indicam que durante o mês de Julho, 137 mil residentes viajaram para o exterior com recurso a serviços de agencia de viagens, ou seja, uma queda de 6,8% quando comparado com Julho do ano anterior. Os locais de viagem mantêm a tendência anual: China Continental, 80,3%, Taiwan, 6,7% e Japão com 4%. Relativamente à actividade hoteleira, os dados fornecidos indicam que em Julho existiam 102 hotéis e pensões em actividade, disponibilizando 30 mil quartos, mais 7,2% do que no mês anterior. Desta oferta de quartos, 20 mil correspondiam a hotéis de cinco estrelas, representando 66,6% do bolo total de oferta. No mês em estudo, 978 mil pessoas hospedaram-se em Macau, ou seja, mais 4,6% em termos anuais. A taxa de ocupação média fixou-se nos 80,6%. F.A
Hoje Macau BrevesParquímetros | Mais 80 novos estacionamentos [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão 80 os novos lugares de estacionamentos disponíveis desde ontem. A direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) informou que os novos lugares estão equipados com parquímetro tarifado em seis patacas por hora, com poste azul. Este tipo de estacionamento é indicado apenas para situações que impliquem ocupação de lugar no máximo até uma hora. A partir de ontem as ruas de Coimbra e Bruxelas dos NAPE, a rua do Comandante Mata e Oliveira na Praia Grande, e as ruas de Foshan e Coimbra na Taipa estão equipadas com o novo tipo de estacionamento. A DSAT informa ainda, em comunicado, que irá proceder à revisão da medida dentro de seis meses, em ordem a “estudar os trabalhos da fase seguinte consoante a situação”.
Hoje Macau SociedadeJason Chao | Activista quer investigação por abuso de poder [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m ano depois do lançamento do referendo civil que contestou a eleição do chefe do Governo de Macau, os organizadores preparam-se para lançar um relatório no qual acusam o governo de “abuso de poder sem precedentes”. O relatório deverá ser divulgado na primeira semana de Setembro, disse à agência Lusa Jason Chao. A 31 de Agosto de 2014, Chui Sai On foi reconduzido como Chefe do Executivo por 380 votos de um colégio eleitoral formado por apenas 400 pessoas. No mesmo dia, a organização do referendo civil declarado “ilegal” pelo Governo anunciava que 7.762 pessoas – ou 89,3% dos 8.688 participantes – tinham votado contra o candidato único ao cargo. O caso do referendo que levou, logo no lançamento da votação nas ruas (a 24 de Agosto), à detenção, por algumas horas, de cinco activistas – incluindo de Jason Chao – está longe de estar encerrado e já conheceu vários contornos. Quase um ano depois de ter sido apontado o desrespeito de uma ordem do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), que considerava ilegal a recolha de dados dos participantes no referendo, no final de Julho passado o activista disse ter recebido uma carta do mesmo organismo a pedir esclarecimentos sobre a alegada transferência dos dados para o estrangeiro. Por esta situação em concreto, a organização do referendo civil incorre numa multa entre 8.000 e 80.000 patacas. “Eu já estava à espera da supressão do Governo, mas a extensão do abuso do poder por parte das autoridades foi além da minha imaginação”, disse. Ataques frontais Jason Chao atacou em concreto a actuação de Sónia Chan – então directora do GPDP e actual Secretária para a Administração e Justiça – e de Wong Sio Chak – na altura director da Polícia Judiciária, hoje Secretário para a Segurança. Em Setembro de 2014, Jason Chao apresentou uma queixa no Ministério Público contra o GPDP por abuso de poder com a finalidade de impedir o referendo civil. Depois de quase um ano à espera de resposta, o activista pede uma investigação a Sónia Chan e Wong Sio Chak e uma compensação financeira. “Queremos ver se o sistema judicial consegue manter-se independente e imparcial. (…) Pretendo uma compensação por parte do Governo de Macau, não para lucrar com isto, mas por uma questão de justiça”, alegou, ao invocar o pedido feito ao Ministério Público. Jason Chao invocou ainda que os voluntários do referendo civil e jornalistas da revista satírica a Macau Concealers – à qual está ligado – “continuam tecnicamente sob investigação”, reclamando que “todos deveriam ter uma resposta o mais breve possível”. “Francamente não antecipei isto”, reconheceu, assumindo ter desobedecido às ordens das autoridades para entregar os dados pessoais voluntariamente fornecidos pelos residentes que participaram no referendo. “Mas, em última análise, garantimos a oportunidade a mais de oito mil pessoas de exprimirem a sua oposição a Chui Sai On”, concluiu. Sem margem para dúvidas O referendo, que arrancou a 24 e terminou a 31 de Agosto de 2014, tinha duas perguntas: uma sobre a introdução do sufrágio universal para a eleição do chefe do executivo em 2019 e outra sobre a confiança da população no candidato único. Dos 8.688 votos, 7.762 (ou 89,3%) ‘chumbaram’ o único candidato à liderança de Macau, 528 abstiveram-se, 388 deram o seu voto de confiança e os restantes dez votaram em branco. A Associação Novo Macau, a maior organização pró-democracia do território, apelou em Outubro do ano passado a uma revisão da actual legislação de protecção de dados numa reunião com o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais. O grupo, que esteve também envolvido na organização do referendo civil quer que Macau actualize a sua legislação de acordo com as novas directivas aprovadas pelo Parlamento Europeu.