Wong Kit Cheng defende regime de mediação para divórcios

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng considera que é importante implementar um regime de mediação familiar, sugerindo ao Governo que seja fomentado a utilização deste serviço com recurso a subsídios. Numa interpelação escrita entregue ao Executivo, a deputada apontou que existiam mais de 1300 processos de divórcio em 2014, tendo-se registado um aumento de casos de 11,6% face a 2013. Para a deputada, a utilização dos tribunais para resolver processos de divórcio não é o melhor.
Citando experiências de outros países, Wong Kit Cheng considera que a introdução do mecanismo de mediação familiar pode ajudar os casais a lidar com os casos de divórcio e direito de custódia antes de começarem as acções nos tribunais.
“O Governo já referiu no início do ano que tenciona introduzir o regime de mediação familiar e os regulamentos respectivos, no entanto, nos últimos meses, não vi progresso nesse trabalho. A mediação familiar é uma coisa nova para Macau, é preciso criar um mecanismo e permitir que os residentes e assistentes sociais o conheçam o mais cedo possível”, apontou.
Wong Kit Cheng espera que a Direcção dos Serviços para Assuntos de Justiça (DSAJ) introduza um regulamento que permita realizar “primeiro a mediação, depois o processo”, para além de aconselhar o público a utilizar mais o sistema de mediação.
A deputada quer ainda que o Governo regulamente a qualificação e deveres dos mediadores de casamentos, tendo sugerido a abertura de cooperação com associações de cariz social, para a aposta em cursos de formação.

20 Nov 2015

São Januário gastou 3,52 mil milhões em 2014. Mais de 200 milhões foram para o Kiang Wu

O orçamento do hospital público em 2014 foi de 3,52 mil milhões de patacas. Destes 240 milhões foram pagos ao Kiang Wu. O director dos Serviços de Saúde garantiu que, mesmo com o novo hospital, a parceria com o Kiang Wu é para continuar

[dropcap stule=’circle’]E[/dropcap]stá desvendado o mistério. Uma semana depois do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura ter ordenado a organização de uma conferência de imprensa para divulgação do orçamento do hospital público, eis que os Serviços de Saúde (SS) divulgaram ontem os números. Em 2013, o orçamento do Centro Hospitalar Conde de São Januário foi de 3,12 mil milhões, número que representa 73,5% das despesas totais dos SS, incluindo “pessoal, bens de consumo e bens adquiridos”, explicou Fanny Ho, sub-directora dos SS. Dessa fatia, 230 milhões foram pagos ao hospital Kiang Wu por prestação de tratamentos médicos.
Já o ano passado o orçamento do hospital público foi de 3,52 mil milhões, com 240 milhões a serem pagos ao Kiang Wu. Os valores dizem sobretudo respeito a tratamentos de hemodiálise, mas também ao serviço de urgência, pediatria e internamento.
O director dos SS prometeu fazer orçamentos autónomos para o São Januário no futuro, depois de ter referido que não havia um orçamento específico.
“No futuro haverá mais hospitais e os SS já pensaram em separar as contas. Na década de 80 as contas eram separadas, por se tratarem de dois sistemas autónomos, mas a situação mudou e, em muitas situações, temos de cooperar e trabalhar em conjunto com os centros de saúde”, explicou.

Kiang Wu para manter

Questionado sobre a extensão do pagamento de apoios financeiros ao sector privado de saúde aquando da abertura do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, Lei Chin Ion não teve dúvidas.
“Sem dúvida, vamos continuar, porque temos três suportes em todo o sistema de saúde de Macau. Esta cooperação será mantida e reforçada para proporcionar mais serviços à população e com os estabelecimentos de saúde não lucrativos.”
O director dos SS foi ainda confrontado com as razões pelas quais o dinheiro dado a entidades privadas não foi usado para melhorar o serviço público de saúde, mas Lei Chin Ion falou da necessidade de financiar o privado.
“O hospital tem que executar as suas tarefas através de um regime de concessão e adjudicação. Devem perceber que em Macau este é o único hospital público que presta serviços a toda a população. Temos de ter uma entidade para nos ajudar. Se toda a procura nos concentrasse no hospital, os nossos trabalhadores iriam ter muita pressão. Se houvesse mais hospitais, iríamos escolher, mas optámos pelo Kiang Wu para fazer uma parceria. Há muitas pessoas que não conseguem fazer viagens a Hong Kong”, apontou.
Lei Chin Ion citou ainda Chui Sai On, Chefe do Executivo, que na Assembleia Legislativa falou da necessidade de manter um sistema de saúde com três áreas: público, privado e associações não lucrativas.
“Na década de 80 praticamente tínhamos um sistema sustentado pelo hospital público e o sector público era só para funcionários públicos. Imaginem numa situação de calamidade se fosse só o hospital público a receber doentes. O hospital público não consegue dar resposta. A responsabilidade do Governo é garantir o funcionamento de todas estas instituições e temos de garantir que a qualidade do serviço e temos um mecanismo de fiscalização de todos os serviços”, rematou.

Hospital promete documentos electrónicos

Na conferência de imprensa de ontem os SS levaram dois sacos de cores diferentes e uma máquina de triturar papéis para exemplificarem o modo como os documentos confidenciais serão tratados. Para além da criação de grupos de trabalho para reforço da fiscalização, Kuok Cheong U, director do hospital, confirmou que há a intenção de digitalizar documentos. “A longo prazo vamos proceder ao estudo de um sistema de informatização dos dados e documentos, para que o papel seja menos utilizado e para reduzir o risco de desvio inadequado de tantas informações. Vamos criar o sistema de processo clínico informático. Ainda não temos um projecto que permita a substituição dos processos em suporte papel para formato electrónico. Para termos tudo informatizado ainda é muito complexo”, explicou. Os visados vão ainda receber cartas com pedidos de desculpa.

20 Nov 2015

Gastos dos visitantes diminuem quase 20%

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s gastos à margem do jogo dos visitantes de Macau diminuíram 19,5% no terceiro trimestre do ano, face ao mesmo período de 2014, segundo dados oficiais ontem divulgados. As despesas dos visitantes do território (excluindo no jogo) entre Julho e Setembro ascenderam a 15,49 mil milhões de patacas, menos 19,5% do que nos mesmos meses de 2014, mas mais 1,8% do que em relação ao trimestre anterior. A maioria dos turistas de Macau é oriundo da China continental e gastou no território 1776 patacas per capita no terceiro trimestre do ano, menos 20% do que em 2014. Dentro destas despesas à margem do jogo, os visitantes de Macau gastaram, sobretudo, em compras (43,6% das verbas), alojamento (25,7%) e alimentação (21,9%). Segundo o mesmo inquérito divulgado pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos de Macau, 88,8% dos visitantes do território no terceiro trimestre disseram-se satisfeitos com os serviços e as instalações dos hotéis e similares, mas menos de metade (45,1%) consideraram “que os lugares turísticos eram suficientes”.

20 Nov 2015

Saúde | TSI nega recurso a Rui Sá, ex-administrador do São Januário

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ui Sá viu negado o recurso que interpôs no Tribunal de Segunda Instância (TSI) contra o Governo, em consequência do despedimento a que foi sujeito após ter desviado medicamentos em nome de utentes do Centro Hospitalar Conde de São Januário. A decisão, a que o HM teve acesso, foi conhecida a 12 de Novembro. No acórdão, pode ler-se que Rui Sá tentou interpor recurso da decisão de Cheong U, na altura Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, que o despediu em Dezembro de 2012.
Rui Sá, que era também administrador do hospital público, foi condenado a um ano e seis meses de prisão, com pena suspensa, por burla através de receitas falsas, no valor de 160 mil patacas. Os fármacos eram receitados por dois médicos – Rui Furtado e António Martins – a dois pacientes (Cassiano Pinto e Eduardo Ribeiro, ex-director dos Serviços de Finanças) e levantados na farmácia do hospital por Rui Sá.
O Tribunal Judicial de Base, que condenou Sá, considerou que os dois médicos foram enganados pelo ex-administrador. Os fármacos prescritos eram para doenças do foro mental – os dois médicos que as prescreveram eram cirurgiões. Em causa neste processo estavam também as saídas de Rui Sá durante o horário de trabalho para deslocações fora de Macau, a maioria das vezes a Zhuhai.
No recurso, entre outros motivos, o antigo administrador evocava, por exemplo, que os factos apurados pela investigação “não revelavam qualquer acção que pudesse ser considerada violação dos deveres de lealdade e honestidade para com a entidade patronal”. Rui Sá defende-se, dizendo que a acção estava até “longe de ser lesiva dos interesses do hospital” e que era apenas para “facilitar” o levantamento dos medicamentos dos pacientes que sofriam doenças crónicas.
“Prestava um serviço a tais pacientes, poupando-lhes o estorvo e o inconveniente de terem de se deslocar ao São Januário”, pode ler-se no acórdão.
Os dois pacientes, contudo, assumiram em tribunal desconhecer que tinham consultas marcadas em seu nome e disseram mesmo que não só não consultavam os dois médicos, como nunca tomaram os medicamentos. O ex-administrador – que se mantém em funções em Portugal – fala de “falta de memória dos dois homens”.
No recurso, Rui Sá dizia ainda ser “verdadeiramente incompreensível” a sua punição, “quando nem sequer existiam normas internas que proibissem ou sequer regulassem tais condutas”. E acrescenta: mesmo que o seu comportamento fosse reprovável, “nunca daria despedimento”.
Os mais de 30 anos que esteve ao serviço da RAEM são constantemente descritos no recurso e caracterizados como “imaculados”. Mas o Executivo e o tribunal não entendem as coisas dessa forma.

Distorções e factos

No acórdão, fica-se a saber que houve profissionais da farmácia do hospital que chegaram a contactar um dos médicos envolvidos, Rui Furtado, “devido ao facto de as doses apresentadas nas receitas emitidas por ele serem consideradas elevadas”. As mesmas profissionais diziam ainda ter achado “estranho” aqueles medicamentos serem receitados por médicos da área de Cirurgia, quando eram medicamentos de foro psicológico.
Testemunhas no caso, os funcionários da farmácia hospitalar indicam ainda que Rui Sá levantava medicamentos “semanalmente ou duas a três vezes por semana” e relatam até conflitos entre o ex-administrador e uma farmacêutica, quando esta questionou estas visitas.
O Tribunal de Segunda Instância indica que Rui Sá “distorceu alguns factos apurados”, que foram dados como provados, e diz que não há dúvida que os actos cometidos “violam os deveres” do profissional.
“Antes pelo contrário, estava a praticar, por meio fraudulento, factos”, atira o acórdão, que diz ainda que estes levaram a que “houvesse prejuízo ao erário público e a utentes dos Serviços de Saúde”.
O comportamento, pode ainda ler-se no acórdão, foi feito de forma voluntária e consciente pelo menos ao longo de um ano, período durante o qual Rui Sá marcou mais de 40 consultas fraudulentas.
O ex-administrador – que, segundo o que o HM apurou, não foi sujeito a qualquer investigação pela Ordem dos Médicos em Portugal – viu, assim, o seu recurso negado.

20 Nov 2015

Jovens | Associação sugere aposta em negócios pela internet

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Associação de Jovens Empresários de Macau concorda com que a ideia patente no Plano de Apoio a Jovens Empreendedores de expandir o apoio para três zonas de comércio livre da província Guangdong, e por isso sugere que expansão possa acontecer com a ajuda da internet.
Segundo o Jornal Ou Mun, o presidente da associação, Ho Ka Lon, considera que o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) de 2016 dá atenção ao desenvolvimento dos jovens, bem como à incubação de negócios, apoiando as pequenas e médias empresas (PME).
Como o relatório aponta a necessidade de encorajar jovens para a cooperação entre regiões, Ho Ka Lon defende que actualmente os jovens têm vontade de “ir para fora”, exemplificou o Vale de Empreendedorismo na Ilha de Montanha, em que mais de cem jovens empreendedores pediram para criar negócios naquele local.
O presidente considera que o plano de apoio a Jovens Empreendedores, que abrange as zonas da Ilha de Montanha, NanSha e Shenzhen, pode aumentar as oportunidades de aprendizagem de diferentes culturas, permitindo que os empresários conheçam melhor o mercado dos diversos sectores.
Além disso, o presidente acha que os jovens podem agarrar a oportunidade e apostar nos projectos de inovação, tais como as plataformas online de venda do interior da China.
“As pessoas de Macau têm falta de conhecimento no que diz respeito às aplicações de plataformas na internet. Além de dar subsídios, o Governo pode oferecer consultas e formações. Por sua vez, os jovens empreendedores podem aproveitar, depois de criadas estas plataformas, e vender os seus produtos para os países da Língua Portuguesa”, rematou.

20 Nov 2015

“Macau passo-a-passo” revisto no próximo mês

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, confirmou num evento público que a revisão do programa “Macau passo-a-passo” vai começar a acontecer já em Dezembro e que depois será tomada uma decisão final sobre a continuação da política. Citada pelo jornal Ou Mun, a responsável garantiu que o contrato entre o Governo e a empresa que faz as excursões termina no final do ano e diz que, nos primeiros dias de Dezembro, a DST vai reunir-se com o operador para uma avaliação, estando aberta a possibilidade de criar um programa alternativo.
A imprensa já publicou notícias sobre o fracasso da política, com pouca adesão dos turistas, preços elevados e maus horários das excursões. Helena de Senna Fernandes garantiu que o operador “já melhorou os serviços e o número de utilização pelos turistas aumentou mas, infelizmente, não foi um grande aumento”.
A DST também pediu a uma terceira entidade para investigar a eficácia dos roteiros turísticos a pé, estando prevista a publicação de um relatório.
“O turismo é um importante elemento para a economia de Macau e recebemos muitas opiniões sobre o programa. Vamos fazer uma avaliação e obteremos melhores decisões”, disse a directora.

Tomás Chio

20 Nov 2015

ONU | Governo nega identidade independente para Direitos Humanos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Comité da Convenção Contra a Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU) sugeriu ao Governo a criação de um órgão independente para a análise do cumprimento dos direitos humanos no território, mas o Governo afastou essa possibilidade, por considerar que já existem entidades e leis que regulam a matéria. Segundo um comunicado, o Governo explicou em Genebra, Suíça, que o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) foi alvo de uma revisão em 2012, além de que foi revisto o Regime Jurídico de Apoio Judiciário, sendo que ambas as medidas “visam reforçar o acesso ao Direito, a promulgação de novas legislações e assinatura de novos acordos bilaterais destinados para o reforço do combate ao tráfico humano”, lê-se no comunicado. Em relação à Lei de Violência Doméstica, Chu Lam Lam, directora dos Serviços de Reforma Jurídica e de Direito Internacional, garantiu que o Governo se tem debruçado sobre o assunto, apesar da ONU ter alertado para a inclusão dos casais do mesmo sexo no diploma.

20 Nov 2015

Ex-Secretários, deputado e Nam Kwong agraciados com medalhas de honra

O Chefe do Executivo decidiu atribuir Medalhas Lótus de Ouro aos ex-Secretários que estiveram 15 anos na Administração, nomeadamente Florinda Chan, Francis Tam e Cheong Kuok Vá. O deputado Chan Meng Kam também vai receber uma medalha

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á é conhecida a lista de personalidades às quais Chui Sai On, Chefe do Executivo, vai atribuir medalhas de honra, sendo que os nomes de ex-Secretários que ocuparam os cargos entre 1999 até Dezembro do ano passado surgem à tona. Florinda Chan, que tutelou a área da Administração e Justiça, Francis Tam, da área da Economia e Finanças, e Cheong Kuok Vá, da tutela da Segurança, vão ser agraciados com os graus de Lótus de Ouro e de Prata, que visam “galardoar a prestação de serviços excepcionais para a imagem e bom nome, ou com grande relevância para o desenvolvimento da RAEM”. Nesta lista consta ainda o nome de José Proença Branco, ex-comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários.
O deputado Chan Meng Kam vai também receber a medalha Lótus de Prata, ao lado do Bispo de Macau, D. José Lai, Sin Wai Hang e Chan Kam Meng. Rita Santos, que foi coordenadora-adjunta do Fórum Macau e é actualmente conselheira do Conselho das Comunidades Portuguesas, vai receber das mãos do Chefe do Executivo uma Medalha de Dedicação.
Quanto às Medalhas de Mérito, destinadas a “agraciar os que se notabilizem ou distingam no exercício de actividades profissionais, fomento e desenvolvimento industrial, comercial e turístico”, entre outras áreas, destaca-se a atribuição da medalha de mérito profissional a Vitória Conceição, ex-directora dos Serviços de Finanças, já aposentada, e a João Batista Manuel Leão, membro do colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo e deputado na I Legislatura da Assembleia Legislativa (AL) após a transferência de soberania. A equipa médica do serviço de Psiquiatria do hospital Conde de São Januário também irá receber a Medalha de Mérito Profissional.
Na área do comércio, destaque para a Medalha de Mérito Industrial e Comercial para a Nam Kwong, empresa que tem o monopólio do mercado abastecedor e que também está ligada ao fornecimento de gás natural do território.
Para além das diversas medalhas atribuídas a entidades ligadas ao desporto e educação, o Chefe do Executivo atribuiu ainda a medalha de mérito turístico ao restaurante The Plaza e ao restaurante Federal, incluindo ainda um reconhecimento à Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM).

20 Nov 2015

Arranca primeiro dia, numa quinta-feira à maneira

Com Joana Freitas

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]manhã as coisas são mais a sério, mas o dia de ontem não deixou de ser marcante por diversos aspectos no Grande Prémio de Macau. O dia foi de treinos-livres e cronometrados e foi também o dia das primeiras alegrias e desilusões. Como em todas as quinta-feiras de GP, o, pouco se decide, pois o fim-de-semana é longo e ainda há três dias pela frente. Mas, além deste ser o dia perfeito para tirar a temperatura do que será o fim-de-semana que aí vem, alguns casos mudaram de figura e apresentam intrigantes eventuais mudanças.

Rosenqvist na F3 e McGuiness nas motas

O sueco que venceu na prova rainha do ano passado, Felix Rosenqvist, conseguiu ontem a pole-position provisória para a corrida de qualificação de F3 no sábado. Mas, se Rosenqvist já conhece bem o Circuito da Guia, o mesmo não se pode dizer de Calum Ilott, estreante no circuito que conseguiu ser o segundo mais rápido, ficando a mais de oito décimas do sueco, que conseguiu percorrer a Guia em 2m11s841ms, depois de conseguir descer por duas vezes o tempo.
Ilott, que tem apenas 17 anos, correu bem perto de Rosenqvist e deixou-se seguir por Antonio Giovanazzi, Sam McLeod e Daniel Juncadella, outro ex-vencedor da F3 em Macau. O piloto de Macau Andy Chang foi o último na sessão, muito devido aos problemas de caixa-de-velocidades no seu Dallara-Mercedes. Ao contrário do habitual, a corrida foi calma e sem interrupções. Mas sábado é que é a doer, já que é aqui que se decidem os lugares definitivos na grelha.
Nas duas rodas, assistiu-se à surpreendente performance do veterano John McGuiness, que deixou atrás de si Michael Rutter e Martin Jessopp. McGuiness fez um tempo de 2m27s246ms, deixando o veterano Rutter muito, muito aborrecido. Easton surpreendeu, mas pela negativa, já que o piloto – titular do melhor tempo de sempre na Guia em motos – ficou-se pelo 15º lugar. Aspecto negativo foi ainda a queda aparatosa do estreante Russ Mountford, britânico, que teve de ser hospitalizado. Não corre risco de vida, mas não se sabe qual a condição em que se encontra.
Os representantes da lusofonia, Nuno Caetano, que chegou a Macau lesionado, e André Pires, foram o 24º e o 29º na corrida que promete ser, como sempre, uma das mais emocionantes de amanhã.

Ávila e Couto em bom plano

Os dois pilotos portugueses do território, André Couto e Rodolfo Ávila, estiveram em bom plano, tanto na Taça FIA de GT, como na Corrida da Guia. No que respeita aos carros de Grande Turismo, a Mercedes-Benz colocou os seus dois automóveis nas duas primeiras posições, com Renger van der Zande a superar Maro Engel por apenas duas décimas.
Eduardo Mortara e o seu novo Audi foram terceiros. Ainda na Taça do Mundo FIA de GT, André Couto foi o melhor dos Mclaren, batendo o compatriota Álvaro Parente, como o francês Kevin Estre. Parente ainda conseguiu estar mais rápido que Couto, mas o piloto da casa, que ainda se está a adaptar ao carro inglês, ficou a 2.5 segundos da marca do melhor Benz. Foi o sétimo da geral, mas as esperanãs continuam altas para a corrida que aí vem. Nos acidentados treinos da Corrida da Guia, Rob Huff pulverizou a concorrência, com o seu Honda a rodar em tempos impossíveis de acompanhar pelo resto do pelotão do TCR internacional ou asiático. Henry Ho, também em Honda, foi o melhor piloto local, tendo sido o quinto da geral, três décimas à frente de Rodolfo Ávila, que lamentou as dificuldades que os SEAT têm em acompanhar os carros nipónicos nas zonas sinuosas do traçado do território.

Macau domina na Road Sport e Taça Chinesa

A RAEM dominou os acontecimentos na Macau Road Sport, com cinco representantes no Top-5, liderados por Leong Ian Veng. Na Taça CTM, Paul Poon, veterano piloto de Hong Kong, foi o mais lesto. Entre os pilotos da casa, Chao Chong In foi o quarto da geral, tendo Filipe Souza obtido um motivante quinto “crono” e Célio Alves Dias o sétimo. Na Taça da Corrida Chinesa, Michael Ho fez o melhor tempo com o BAIC da AAMC, enquanto Helder Assunção posicionou o carro na 6ª posição. Mas, como lá diz o povo: “o primeiro milho é para os pardais…” e muito mais há a acontecer.
As corridas continuam hoje e as emoções, essas, nem se fala.

20 Nov 2015

Confirmado “assassinato cruel” de cidadão chinês pelo Estado Islâmico

china EI[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo chinês confirmou ontem o “assassinato cruel” de Fan Jinghui, um cidadão da China, por parte da organização extremista Estado Islámico (EI), e anunciou que quem cometeu o crime terá que assumir as responsabilidades. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hong Lei, disse hoje em comunicado que a China está “altamente chocada” com a notícia.

Hong assegurou que as autoridades do país fizeram “todos os esforços” para resgatar Fan, ainda que não tenham conseguido evitar que este fosse “cruelmente assassinado”. “Sem consideração pela consciência humana ou uma base moral, a organização terrorista levou a cabo esta acção violenta a sangue frio. O governo chinês condena com veemência esta acção desumana e sem dúvida fará com que quem a cometeu assuma as responsabilidades”, disse Hong.

O porta-voz referiu que Pequim está disposto a cooperar com a comunidade internacional na luta antiterrorista para salvaguardar “a paz e a tranquilidade mundiais”. “O terrorismo é um inimigo comum de toda a humanidade”, disse na quarta-feira Hong Lei.

Também o presidente chinês, Xi Jinping, condenou ontem “com veemência” a organização extremista Estado Islâmico (EI) pela morte de um cidadão do país feito refém desde Setembro, avança a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua.

No início de Setembro, o EI disse ter sequestrado um cidadão chinês, que foi identificado pela revista ‘jihadista’ em língua inglesa Dabiq como Fan Jinghui, um consultor de 50 anos. Segundo o mais recente número da mesma publicação, o EI executou Fan “após este ter sido abandonado pela sua nação e organizações apóstatas”. Não foram dados pormenores sobre onde e quando este foi capturado ou onde se encontrava detido.

As autoridades chinesas disseram na altura que a descrição avançada pelo EI coincidia com o perfil de um cidadão chinês dado como desaparecido no estrangeiro. Na quarta-feira, e ainda antes da notícia sobre a morte de Fan, a China manifestou o seu apoio à Rússia na intensificação da luta contra o EI. “O terrorismo é um inimigo comum de toda a humanidade”, disse então Hong Lei.

O grupo EI anunciou na quarta-feira ter executado dois reféns, um chinês e um norueguês, dois meses depois de ter pedido resgate para a libertação de ambos. A revista Dabiq publicou fotos de dois cadáveres ensanguentados que pareciam ser do refém chinês Fan Jinghui e do norueguês Ole-Johan Grimsgaard-Oftsad.

Numa legenda tipo carimbo, colocada em diagonal na página, sobre a foto, lê-se: “Executado depois de ser abandonado pelas nações e organizações kafir [infiéis]”. Jinghui e Grimsgaard-Oftsad tinham já aparecido na revista, na edição de setembro, na qual o grupo extremista pedia uma quantia não especificada pela sua libertação.

20 Nov 2015

Clima: Pequim quer acordo vinculativo na cimeira de Paris

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China insistiu: espera que durante a próxima cimeira sobre alterações climáticas (COP21), em Paris, se alcance um acordo “juridicamente vinculativo”, que tenha em conta as “diferentes capacidades” dos países participantes. “Deveríamos alcançar um consenso na fase final” das negociações, disse em conferência de imprensa Xie Zhenhua, representante especial da China para as negociações em Paris.
Xie, que esteve recentemente na capital francesa, onde se reuniu com outras delegações para definir as bases de um possível acordo, expressou a sua confiança num pacto global durante a cimeira, que arranca no dia 30 de Novembro. Ao todo, 200 países participarão da COP21, incluindo o Presidente chinês, Xi Jinping.
“A minha impressão é que todas as partes são positivas quanto aos resultados, mas ainda assim existem muitas diferenças”, disse Xie, insistindo que as “responsabilidades devem ser comuns”, mas tendo em conta as discrepâncias entre os países.
O acordo deverá ter em conta “as responsabilidades históricas” dos participantes, frisou, referindo-se em particular ao compromisso dos países desenvolvidos de oferecer financiamento e tecnologia aos países em desenvolvimento.
No início deste mês, o Presidente da França, François Hollande, assinou uma declaração conjunta com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, que prevê o estabelecimento de uma meta para o aquecimento global de dois graus centígrados.
A declaração, que defende um acordo juridicamente vinculativo, estabelece ainda que os compromissos nacionais sejam revistos a cada cinco anos.
Xie defendeu que a China se mantém comprometida com os objectivos definidos, apesar dos dados oficiais publicados recentemente darem conta que, desde 2000, o país consumiu 17% mais carvão anualmente – quase mil milhões de toneladas de dióxido de carbono ao ano – do que tinha calculado anteriormente.
“É justo dizer que se trata de um gesto importante para aumentar a transparência das nossas estatísticas económicas, que se tornaram assim mais fidedignas”, afirmou o representante chinês.
A China comprometeu-se em Novembro de 2014, durante a visita do Presidente dos Estados Unidos ao país, que os seus níveis de emissões atingirão um pico em 2030, sem apontar valores específicos.
Segundo Xie, as emissões de dióxido de carbono por unidade do Produto Interno Bruto (PIB) caíram 6,1%, em termos homólogos, em 2014, um valor 15,8% abaixo do registado há cinco anos.
A electricidade gerada na China a partir de energias não-fosséis representou 11,2% do total em 2014, e o objectivo da segunda maior economia mundial é alcançar os 20% em 2030, revelou o responsável.
A China, o maior emissor de gases poluentes do mundo, comprometeu-se ainda este ano a avançar com um sistema nacional de comércio de direitos de emissão de CO2 em 2017.

20 Nov 2015

Lançado livro “Amores do Céu e da Terra, Contos de Macau”

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] já na próxima terça-feira, 24 de Novembro, que a Casa de Portugal em Macau, com o apoio do Instituto Cultural (IC), lança o livro “Amores do Céu e da Terra, Contos de Macau”, na Livraria Portuguesa. O livro é da autoria de Ling Ling, escritora de Macau, e Fernanda Dias, tendo tido tradução de Stella Lee. Integrado na “Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa” do IC, o livro é composto por treze contos de Ling Ling, os quais “descrevem as condições sociais dos macaenses das camadas sociais inferiores, de meados dos anos 40 ao início dos anos 50 do séc. XX, prestando homenagem a professores e amigos da autora”.
As personagens do livro, criadas pela autora, viviam em Macau nessa época, constituindo vestígios da história da cidade. Através da edição de uma série de livros originais sobre literatura de Macau ou relacionados com o tema, de escritores chineses e portugueses, a “Colecção de Literatura Chinesa e Portuguesa pretende que autores e leitores ultrapassem barreiras linguísticas, reconhecendo outro mundo literário nas obras traduzidas para a língua chinesa ou para línguas estrangeiras (principalmente a portuguesa)”, aponta o IC em comunicado.
Lei Lei, pseudónimo de Lei Im Fong, também deu aulas, foi jornalista e editora do suplemento do jornal chinês Va Kio. Já assinou os livros “Amores do Céu e da Terra”, “Sete Estrelas”, “O Interior e o Exterior da Janela Norte”, “Amor no Pó Vermelho” e “Amor Mundial”.
Fernanda Dias vive em Macau desde 1986 e é autora de várias obras de poesia e ficção, incluindo “Horas de papel”, “Dias da Prosperidade e Contos da Água e do Vento”. Já Stella Lee, doutorada em Literatura, já colaborou com Fernanda Dias na tradução de alguns poemas.

20 Nov 2015

Trabalhos artísticos da ARTM expostos na Livraria Portuguesa

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma vez mais, a Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM) organiza uma mostra de todos os trabalhos desenvolvidos no último ano pelos pacientes dos programas de reabilitação. O espaço escolhido é a Livraria Portuguesa que, de segunda a quarta-feiras da próxima semana, vai acolher algumas dezenas de trabalhos de vários tipos.
“Os trabalhos que irão estar expostos são trabalhos artísticos do último ano, feitos com aguarela, óleo, feltragem, quilling, entre outros”, explica o presidente da ARTM, Augusto Nogueira, ao HM.
A exposição é o resultado de uma terapia que utiliza a arte como “mecanismo efectivo de suporte à expressão de sentimentos e percepções do mundo”.
“É a forma que eles [pacientes] têm para se expressar”, aponta. Este tipo de terapia de arte permite ao paciente acreditar e reconhecer nas suas capacidades individuais e nos seus modos de expressão, através dos quais podem promover o crescimento físico, psíquico, emocional e espiritual, durante o seu processo de evolução, defende a Associação.
Os workshops artísticos, organizados pela ARTM, são orientados por especialistas e dirigidos aos pacientes dos centros de tratamento masculino e feminino.
“Estas actividades, integradas no programa de reabilitação, promoveram com êxito a expressão artística dos clientes e a descoberta de novas capacidades individuais”, aponta a ARTM.
As peças, conforme indica o presidente, podem ser compradas.

20 Nov 2015

Iniciativa “Art Mo” arranca a 4 de Dezembro

São quatro eventos temáticos numa iniciativa que pretende mostrar aos turistas algo novo. Entre os dias 4 e 13 de Dezembro, Macau recebe o evento “Art Mo”, um roteiro que pretende chamar a atenção para o que se faz por cá em termos artísticos e para o património existente

[dropcap style=’circle’]“U[/dropcap]ma nova perspectiva para a indústria de arte em Macau”. É desta forma que os promotores do evento “Art Mo” falam da mais recente iniciativa artística que chega ao território entre os dias 4 e 13 de Dezembro. O público e até os turistas, porque este evento também é para eles, poderá assistir a quatro eventos temáticos intitulados “Art Mo Tour”, “Art Mo Fórum”, “Art Mo Exhibition” e “Art Mo VIP Night”, e que “pretendem abrir um novo capitulo para o turismo da arte temática em Macau”.
O evento pretende estar espalhado por vários sítios da cidade, estando a ser criado o cartão “Friends of Art”. Este dará acesso a um shuttle bus gratuito com o nome “Art Mo Tour”, que levará o público às várias atracções espalhadas pelas ruas, para além de proporcionar descontos em restaurantes e hotéis. O roteiro do evento inclui entradas gratuitas em exposições.
Os promotores do evento garantem ter “trabalhado arduamente” para desenhar um roteiro “que cubra todos os espaços artísticos de Macau, desde galerias a estúdios, museus ou atracções históricas”. “Ao criarmos este roteiro, acreditamos que vamos mostrar um lado mais sofisticado de Macau através de exposições especiais para convidados, turistas e público”, apontam.
“Desde o inicio da “Art Mo” que a nossa missão é promover o intercâmbio entre a arte e a cultura não só no território como no estrangeiro, por forma a promover o desenvolvimento e sustentabilidade, ligando a cultura local, as indústrias criativas e o turismo”, aponta um comunicado.
Com a “Art Mo”, os seus promotores pretendem “influenciar a indústria da arte em Macau para que se possa transformar numa forma de comunicação significativa entre a comunidade artística da Áisa e a necessidade de diversificação de Macau”. Todos os anos a “Art Mo” propõe-se explorar “diferentes projectos relacionados com a arte e eventos, com o objectivo de se tornar num excitante evento anual que represente Macau”.

20 Nov 2015

Guia é o melhor circuito do mundo – ao volante com André Couto

[dropcap style=’circle’]”C[/dropcap]ada piloto que correu em Macau diz que a Guia é o melhor circuito do mundo”, assim refere André Couto, vencedor no ano 2000 do Grande Prémio de Macau de F3 e o mais acarinhado piloto da população de Macau afecta ao automobilismo pois, foi o único residente a vencer esta prova no Circuito da Guia. Quem concorda plenamente com André Couto é Edoardo Mortara, que adita ter já corrido nos mais famosos circuitos do mundo como o Mónaco, Monza e SPA, mas para ele esta é a melhor pista do mundo. E continuando com o primeiro piloto a vencer por duas vezes a fórmula 3 do G.P. de Macau e que desde 2009 tem a volta mais rápida ao circuito com 2 minutos 10,732 segundo: “nenhum piloto chega a Macau com melhor conhecimento do circuito que os outros pois, facilmente pode ser apanhado desprevenido por troços de estrada refeitos.”
O desafio é grande na preparação de um carro para conduzir num circuito urbano misto, de zonas rápidas e planas, com outras lentas, a contornar as encostas de montes. Segundo André Couto, o Circuito da Guia tem duas partes distintas: “as zonas sinuosas das colinas e as zonas baixas de alta velocidade” e “em Macau é fundamental ter um bom motor uma vez que as altas velocidades são muito importantes e na zona das subidas (na secção superior) foi onde ganhei parte do tempo.”
Com uma enorme experiência no desporto automóvel, André Couto, nascido em Lisboa a 14 de Dezembro de 1976, veio de Portugal com a família e chegou a Macau com quatro anos. Tendo começado no karting, onde se sagrou campeão nas Filipinas em 1994, foi no ano seguinte correr para a Europa na fórmula Opel Lotus, competição realizada com carros iguais onde, no circuito de SPA-Francorchamps na Bélgica, em equipa com Manuel Girão, venceu a Taça das Nações. Em 1996 estava já no campeonato alemão de F3, seguindo para o italiano no ano seguinte. Participou por seis vezes no Grande Prémio de Macau de F3, onde venceu no ano de 2000, tornando-se o primeiro campeão local da História. Venceu ainda os 1000 km de Suzuka em 2005 e este ano, 2015, sagrou-se campeão no Japão da série Super GT.

Dia de treinos e de qualificações

Chegados à sexta-feira, o circuito traçado pelas ruas e avenidas da cidade fecha ao trânsito às seis da manhã para se realizar a limpeza total e a vistoria das vias usadas nas corridas. Sem ter terminar o mês de Outubro, já partes do traçado fora asfaltado e colocadas a maioria das barreiras metálicas ao longo da pista. Esse trabalho, que chegou a ser feito à noite, é actualmente realizado durante o dia para não incomodar o sono dos residentes. Deixam-se para serem fechadas nos dias que precedem o Grande Prémio as entradas de ruas importantes para o quotidiano trânsito, tal como a colocação das pilhas de pneus e os longos cilindros feitos de rota de protecção às curvas mais perigosas, assim como a montagem da passagem superior para peões em frente à Curva de S. Francisco.
Desde que o Grande Prémio de Macau começou, o circuito manteve-se sempre o mesmo percurso, apenas com poucas transformações. Aqui deixamos a descrição do traçado apresentado do 1.º Grande Prémio de Macau. Com partida do Porto Exterior, frente à Ponte 2 da Capitania dos Portos, seguindo pela Estrada de S. Francisco, Estrada dos Parses, Cacilhas, Ramal dos Mouros, D. Maria, Rua dos Pescadores, Macau-Seac, vindo a acabar na Avenida Oliveira Salazar, no ponto da partida. Esta fidelidade a um traçado romântico de tempos antigos, que desperta uma emoção inigualável e apenas tem comparação com o do Mónaco, traz o fascínio a pilotos e equipas.

Uma volta com André Couto

Devido à enorme experiência de André Couto no Circuito da Guia, tanto na condução de um F3, como em Carros de Turismo, onde vem correr todos os anos, aproveitamos aqui para, usando as suas palavras registadas num placard que encontramos no edifício do Grande Prémio durante as provas de 2013, nos servir como condutor cicerone e dar uma volta ao circuito.
Saindo da zona do ‘pit lane’, as máquinas aproveitando a parte plana e rápida do circuito vão acelerando pois a curva do Mandarim é suave e não traz grandes problemas. Segundo André Couto:

“A Curva do Mandarim Oriental para os F3 é fácil podendo inclusivamente passar dois carros ao mesmo tempo. Mas com os Carros de Turismo é a curva mais difícil do circuito. Chega-se em sexta velocidade, com estabilidade e a cerca de 240 km/h, é preciso travar para reduzir um pouco a velocidade e aumentar o peso na frente da viatura, para ter um bom controlo na curva. Não é preciso reduzir. Não é de forma alguma plana para carros de Turismo e tem de se travar um pouco antes de virar, caso contrário, perde-se o controlo. O carro foge com facilidade, sendo empurrado para fora. Quando se sai, o carro passa realmente muito perto do muro.”

Ganhando cada vez mais velocidade e já de frente para o Hotel Lisboa, aparece a apertada curva e as travagens nos limites, deixam as marcas dos pneus no asfalto. A bancada, nessa curva de ângulo recto, permite aos espectadores delirarem com a visão do espectáculo e não há prova alguma em que não haja emoção. Impressionante é o trabalho rápido com que a pista é desimpedida e limpa, muitas vezes permitindo não interromper a corrida.

“A famosa Curva do Lisboa é uma curva com 90° e chega-se lá a alta velocidade. Entre a linha de Partida/Chegada e o Lisboa são cerca de trinta segundos em F3 com rotação máxima, o que é muito importante para o motor. É um pouco menos rápido em Carros de Turismo, pois é preciso usar o travão no Mandarim. Reduz-se da velocidade máxima para segunda, fazendo uma travagem brusca.”

A pista afunila na pequena recta da Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho e com a Curva de S. Francisco, semelhante à anterior, entra-se para a zona montanhosa, que engloba três das sete colinas da cidade.

“Depois é necessário engrenar a terceira velocidade para fazer a Curva de São Francisco. É importante ir o mais rápido possível para nos mantermos em altas rotações até à colina. Pode realmente ganhar-se tempo, se se estiver empenhado e acelerar ao máximo.”

A Estrada de S. Francisco começa na confluência entre a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues e a Rua da Praia Grande, em frente das avenidas de Lisboa e de Lopo Sarmento de Carvalho, e termina na Estrada dos Parses.
Subindo a encosta pela Estrada de S. Francisco, após passar entre o Miradouro de Nossa Senhora da Saúde, à direita, e o edifício do Hospital de S. Januário, esta muda de nome e fica a ser a Estrada dos Parses. Como continuação da Estrada de S. Francisco, a Estrada dos Parses termina em frente da Estrada do Engenheiro Trigo, entre a Calçada da Vitória e a Estrada de Cacilhas. Com outra curva de 90 graus, conhecida pela Curva da Maternidade, entra na Estrada de Cacilhas, onde está o miradouro de Nossa Senhora do Mar, onde se entra no Monte da Guia pela vertente Sueste.

“Antes da Curva da Maternidade, está-se a cerca de 200 km/h, muito rápido e na quinta velocidade. No momento em que se tem de pôr o pé nos travões, está-se no cume de uma elevação e o carro no ar. É uma zona de travagem muito difícil, onde é fácil perder controlo do carro e cometer um erro. Na Curva da Maternidade tem de se reduzir para segunda para as curvas mais lentas, normalmente mais propícias para desvios de direcção.”

Começa aí a Estrada de Cacilhas, que já foi conhecida pelo nome de Estrada da Solidão, por haver na margem esquerda da via uma fonte com esse nome, tendo esta três curvas rápidas conhecidas pelos esses da Solidão.

“Depois, a descida em direcção aos esses da Solidão. Há três curvas muito interessantes em terceira, com um grande muro mesmo ali. Muito agradável para conduzir. É difícil, mas o piloto pode aqui fazer a diferença. Aceleramos à saída em terceira e seguimos para a próxima curva na mesma velocidade, rápido à entrada e saída. Na saída da curva, não se deve ficar muito longe da parede, pois estamos a ir para a parte mais acelerada da colina.”

A ligar o Monte da Guia e a Colina de D. Maria II está o Ramal dos Mouros e a meio desta rua, cortando outra vez para a direita, passa-se para a Estrada de D. Maria II, que contorna a colina com a curva com o nome de uma Rainha de Portugal, D. Maria da Glória, que reinou entre 1834 até 1853 com o cognome A Educadora.

“A abordagem da Curva Dona Maria, a descer chega-se a uma velocidade de 200 km/h, pisa-se os travões e reduz-se para a segunda velocidade. Se travarmos muito tarde, vamos definitivamente em frente e batemos. Nesta zona tem de se fazer tudo mais cedo do que se pensa que é possível, antes de se abordar o pequeno salto. Se reduzimos ou travamos tarde de mais, uma vez que o carro está no ar, não se consegue fazer mais nada.”

Chega-se à parte mais estreita e lenta do circuito, o gancho, que numa rotação de 180 graus, dá entrada para a Rua dos Pescadores, para de novo chegar à parte rápida do circuito, construído sobre o aterro do Porto Exterior.

“Então chegamos à Curva do Gancho MELCO. Não é muito difícil, mas é uma viragem muito técnica. Chega-se muito rápido e tem de se reduzir rapidamente para primeira. À entrada da curva, todos os carros fazem mais ou menos o mesmo. Mas à saída, assim que podemos, aceleramos ao máximo para atingirmos maior velocidade. Pode-se ganhar ou perder meio segundo entre a zona da Melco e a linha de partida/chegada. Vamos da primeira à quinta velocidade para, o mais rápido possível, se ter o máximo da potência à saída. O piloto precisa de pensar nas duas curvas, mas se o carro é veloz e nervosos, tudo será mais fácil. São rectas grandes e longas. Aqui há tempo para respirar novamente, já que se pode seguir a direito em quinta velocidade até aos Pescadores, onde entras em terceira e, usualmente, a pista tem muitos ressaltos.”

A Rua dos Pescadores em descida, após duas rápidas curvas, continua numa recta até à Curva R e daí, já na Avenida da Amizade chega-se à recta da meta.

“A saída dos Pescadores é importante para se ganhar mais velocidade de ponta até à curva, onde se chega na quinta velocidade e, à curva em terceira. A velocidade máxima da Curva R até ao Mandarim, no caso de Carros de Turismo (ou Curva do Lisboa em F3) depende muito da velocidade à saída daquela curva. Depois desse cotovelo, é tudo recta e, por isso, o carro e o piloto que sair dessa curva mais rápido pode atingir uma velocidade de ponta – consegue ser cinco quilómetros mais rápido.”

Com o segundo dia de treinos realizados, regressam os carros às boxes. Meia hora após a realização da última prova do dia, volta o trânsito da cidade a poder usar as ruas e avenidas do circuito.

20 Nov 2015

Entre o seio e céu

«Sei os teus seios… sei-os de cor»

Alexandre O´Neill

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] um imenso instante do saber do que a língua tem de fruto, de nascimento, de acrescento, de volúpia e de bem-dizer. É para isso que os poetas eram feitos, trabalhados, identificados, respeitados e quase sempre consentidos na grande esteira da transformação. Para saberem do seio que sabe e ao que sabe o seio, que sabe a algo mais além do que sabor e saber.

Nesse céu límpido das formas que se jogavam em saberes e que nós nos deleitávamos pelo seu amplo sabor, estão inscritos os homens da linguagem, aqueles que fizeram o mais que admirável trabalho de escribas, escritores e professores de uma matéria quase gasosa, quase em éter. Alexandre, o Grande.

Toda a métrica deixada pelos poetas é uma quase noção de firmamento, teciam a metalinguagem e um metadiscurso, uma melodia plena de inventividade rítmica. O aparelho fonador é tão complexo, que para imitir sons coordenados precisamos de um enorme manancial de signos escritos e, depois, adaptá-los com tanta beleza que ficamos atónitos, mas produzir no cérebro os filamentos associativos das fórmulas e signos conhecidos formando outros é sem dúvida o mais maravilhoso.

Um seio amado desta maneira nunca cancerígena, não fica com metástases, não se inunda de vazio… pois que é “tocado” com saber que só o amor consegue. A sexualidade bravia deve ter provocado na anatomia feminina uma tormenta enorme, dado que não há razões aparentes para tanta coisa malsã. Claro que não há poetas em cada quarteirão que façam dos seios cânticos, nem que saibam deles assim, mas deve haver quem os encante, na medida em que são berço longo do mundo.

Há a síndrome do corpo vazio, daquele que fica triste e não responde à sua fórmula natural, que se deixa invadir e matar por exércitos de doenças quantas vezes requisitadas inconscientemente para pôr fim a outra doença que se transformou o viver: não é fácil estar em pé, nem andar de pé, nem amar, nem nascer, nem morrer. Um organismo só está apto quando o cérebro fez bem as suas associações e transmitiu ao todo o poema da vida. Antes disso, há uma imensa falta de coordenação motora e desordem sem fim naquilo que deve ser uma leveza a transpor.

Inundamos os afectos de coisas pragmáticas e tudo o que ficou por escutar nos mata de repente… não gosta a vida de ser desvivida nos seus círculos sacrais… e faz bem. De tanto andarmos podemos ficar insensíveis a uma maré que corre mesmo a nossos pés. Quando tudo gelar estaremos a pensar em brasas acesas num território que não tem fogo, e a memória que estava bem estruturada pode transformar-se em pequenos elencos sem sentido na mente ordenada , que não desarrumando, não gere mais memória do que aquela que armazena de fora, pela sua cabeça adentro.

Estamos numa enorme transformação linguística, mas os meios telepáticos não se equilibram nas orelhas estranhas dos homens… os amplexos laterais são para pendurar fios eléctricos, e fazer de cada orelha um suporte cujo descanso, serve apenas a surdez . Surdo, mas não fechado, nós vamos tendo coisas anatomicamente diferentes… Pensamos é que são doenças e combatemo-las… são doenças, mas não são mortais, nós ainda morremos por outras invasões. Por que temos as narinas dilatadas, por exemplo, e há oxigénio a mais… por que não sabemos ouvir o corpo… daí a raiva incontida contra as cabeças. Se não serve para o resto não tem espaço para o que quer… qualquer coisa assim de brutal ditou a raiva ofensiva contra elas.

Dizer que ainda aqui vamos é admitir uma fraca transformação, mas ela pode até não ser passível de mais metamorfoses. Nós podemos muito bem ter chegar ao máximo possível e a partir daqui haver um ser feito à nossa própria imagem e semelhança. Se, como bem disse Pessoa, «Deus é um Deus de um Deus maior», nós podemos ser os Homens médios de um maior, também. Impressiona-me o grau de atavismo de alguns médicos, ainda… como se fossem uma panaceia do tempo da «Morgadinha dos Canaviais» estão compelidos a uma técnica grosseira da anatomia, mas a felicidade é que vão aparecendo novas gerações que se sente fazerem o melhor de forma completamente nova.

Onde colocar esta medicina portuguesa com botas cardadas de doutores e mãos pesadas de curandeiros? Clínicas onde eles se entretenham a fazer “trabalhos manuais” . Não se podem deitar pessoas fora e temos de aproveitar o que sabem, mas não devemos estar sujeitos a saberes que não foram continuamente actualizados numa prática exigida pelas instituições que representam.

É muito penoso ver-se desaparecer gerações, mas elas, de facto, já não estão disponíveis para nada a não ser aos vínculos que têm e manter uma natureza enraizada a práticas desgastadas. Confrontamo-nos com multidões de paralíticos que não actualizam as fórmulas nem são permissivos a discursos outros. Há gente assim ao pé de nós, que caso estejamos mal , nos podem literalmente deixar morrer. Já não é um problema de liberdade individual, mas de consciência pública. Portugal deve ser o local do mundo onde mais gente se empata uma à outra, dado que quase todos fazem o mesmo, ou seja, optam pelas mesmas profissões.

A matéria “gorda” do entupimento colectivo é uma banha da cobra de tão difícil remoção que se morre sem que o próprio por vezes saiba de quê. Isto também é político, dado que se não fosse um martírio de governações dolosas e impertinentes nas chancelas, não havia tanta miséria e queda, que podem enfraquecer um país até à sua própria diluição.

Egos de gentes que vêm da Covilhã, do Minho, de Loulé, de Valado dos Frades… Gente que não tem a menor formação humanista: engenheiros, técnicos… (a Filosofia desapareceu dos currículos nacionais), toda esta tralha mecanicista ou economicista invadiu os pólos da Governação. E advogados? Há um em cada esquina. Vejamos o resultado prático desta “coisa”.

Claro que é preciso analisar o mercado e mais uma perspectiva sociológica, as leis laborais e governativas, pois que tudo é afinal muito difícil e temos de perder muitas horas a treinar nuns cursos fantasmas leccionados por inaptos, mas as sociedades estão em grande derrocada e todos estes aparentes saberes não dão para a vida das pessoas. As pessoas são, como começamos a ver, o que menos importa às outras pessoas, pois que se não houvesse uma mão cheia de códigos civilizacionais de base nem elas já existiriam.

A fome salva e a fome mata. De tanto laborarmos para a destreza dos bens para alguns o mundo corre agora o perigo de implosão a nível do seu próprio potencial humano, feito a duras penas por épocas e épocas de conquistas. Se a juntar a isto a crise energética vacilar, quem seremos nós, parados, num instante em que estar vivo é o mesmo que nos mexermos desgovernadamente todos os dias?

Lembremo-nos sempre da velha frase Romana «Os deuses enlouquecem aqueles que desejam perder». Pois nunca estiveram tantos condenados à espera da trombeta real!

E nós, os dos seios e os dos saberes, mesmo nus, não somos capazes de fazer enamorar as trevas. Com trevos se fazem as festas e os dons maiores, a nossa vida é uma peça gigantesca do próprio teatro do absurdo e nem Ionesco conseguiria agora descrever a peça inteira deste “puzzle”. Vivemos num conto fantástico para além de Kafka que, ao lado disto tudo, era apenas ilusionista de um imaginário saudável.

Atravessamos como os doidos as Praças, estamos a ir para o lado onde a força se faz e se fizerem mais força ainda nem memória teremos do que pode vir a acontecer. Tecemos o jeito gregário do mal adaptados, mudamos as coisas, mas as coisas não nos mudam mais do que a resistência de a elas nos adaptarmos de olhos vazios face aos abismos reais.
Entre os seios dos Cânticos e dos Poemas de Amor temos um abismo onde já não cabe a nossa anatomia. Já não sabemos o que de cor e de olhos fechados tocamos ….a nossa matéria não é a forma esperada nem a Humanidade sabe disso. Sem os «colos de garça» e os nossos sonhos somos agora, também, matéria apetecida por fomes que não esperámos. A fúria dos comedores de pedras.

20 Nov 2015

Dois pontos

[dropcap style=’circle’]1.[/dropcap] Dei umas voltas por várias cidades da Ásia, grandes e pequenas, mais ou menos modernas. Depois voltei a Macau. E, ao olhar à volta, cheguei a uma conclusão: por aqui não existem turistas. As estatísticas bem me podem gritar que entram 15 milhões por ano. Eu não acredito. E não acredito porque sou como São Tomé. E a verdade é que não os vejo.

É bem possível que Macau provoque nas pessoas estranhos comportamentos. Até aí ainda vou. Mas que os turistas aqui entrem e não vão a lado nenhum, não passeiem, não estejam nos restaurantes, não saiam à noite, desculpem mas isso não engulo. Quero ver os turistas, quero vê-los nas esplanadas, nas lojas, nos restaurantes e nos bares. Como acontece em todas as cidades do mundo.

Logo, quem são os 15 milhões que entram pelas fronteiras? Fácil: alguns são jogadores – a maior parte vem, como sempre veio, de jet foil; outros são uns senhores que têm um comportamento bizarro que consiste em desenvolver uma fixação/paixão por passar fronteiras para lá e para cá. Quem sou eu para julgar as obsessões alheias? Cada um faz o que quer com o seu tempo e se em Macau existe tanta gente a atingir o clímax ao mostrar o passaporte na fronteira, porque não aceitar tão deslocada mas inofensiva mania? A mim só me prejudica na medida em que alonga a fila do lado da China. Mas… nada de grave. Dá para aguentar com um mandarínico sibilar nos lábios.

Aliás, o turismo bem que podia fomentar uma daquelas campanhas que dá prémios, mas desta vez à própria população. Quem encontrar um turista fora das hordas e o apresentar na Praça do Senado, tem direito a uma ida à Torre (de Pisa). Enfim.

[dropcap style=’circle’]2.[/dropcap] Vi num filme um rapazito que mordiscava uma maçã acabada de arrancar de sua original árvore. Não se tratava de um pomar mas de uma dessas árvores semi-selvagens, que se esforçam por crescer e cujos frutos exalam o olor inexcedível desse trabalho. Pensei então que cada vez menos crianças terão acesso a este deleite, simplesmente porque essas árvores são cada vez mais raras. Basta tentar comprar fruta verdadeira em Macau para compreender esta situação. As maçãs não têm sabor, as peras são aguadas. Quanto a pêssegos, uma verdadeira desgraça. Onde estão aqueles exemplares a desfazerem de sumo e vibrantes odores nas nossas bocas? Algures no mundo, talvez, mas não nos escaparates locais. E o que aqui é verdade repete-se em quase todas as cidades do mundo, mantendo a garotalha na mais perfeita ignorância das coisas boas e simples do mundo.

Pensei depois que as gentes de antigamente, as que iam ao mercado e tinham dinheiro para pagar a boa fruta se calhar nem lhe davam valor. Estas coisas são assim. Provavelmente, sou eu e outros que, na falta, gabamos as suas qualidades que qualificamos de excelsas, quando para os antigos não passavam de uma banalidade. Não deixemos, portanto, de apreciar com reverência as nossas actuais banalidades. O seu destino é fazer as delícias dos vindouros. Quando faltarem, sobretudo.

20 Nov 2015

Salvo pela estrutura

(Como seguir a estrutura na hora de escrever um guião é importante)

Thomas Lim

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á uma piada no meio da indústria do cinema sobre guionismo que diz que muita gente assume que, só porque tem alguma experiência de vida e sabe escrever num computador, pode ser um escritor. Bem, ponhamos isto desta maneira: se tiver uma dor de dentes vai arrancar o seu próprio dente? Não. Vai a um dentista que considera bem treinado e experiente e, logo, qualificado para tirar o seu dente. Então, porque é que muitos de nós não pensamos que guionismo pode ser tão complicado quanto tirar o nosso próprio dente? Ambos precisam mais ou menos do mesmo número de anos de estudo na universidade para serem aperfeiçoados.
Nos muitos anos em que trabalho na indústria do cinema descobrir duas formas como as pessoas escrevem um guião para uma primeira longa-metragem. Uma delas é estudar e aprender sobre a estrutura normal de um guião e a segunda é ignorar precisamente essa estrutura e escrever com base na “inspiração”, apenas para criar histórias sem qualquer direcção e com personagens que vagueiam sem objectivo, fazendo coisas sem razão.
Depois de dois anos a escrever em círculos, as pessoas que escolhem a segunda opção normalmente voltam à estaca zero e optam, então, por estudar sobre as estruturas do guionismo. Ou então desistem de vez. O pior é que talvez nunca começaram a escrever porque a sua “inspiração” não foi sequer o suficiente para passarem da inútil acção de falar para realmente porem as palavras no papel.
Há muitos anos eu próprio optei pela segunda forma. Honestamente, preferia ter sido menos rebelde. Quem me dera ter percebido que, só porque me sentia uma “artista”, isso não me dava o direito de escrever apenas com base na “inspiração”. Se soubesse isso, tinha-me armado com mais alguns guiões completos, pronto a mergulhar em reuniões com os produtores e investidores de Hollywood.
Posto isto, vamos concentrar-nos no conceito de fazer as coisas com base numa “estrutura”. Atrevo-me a dizer que pouca gente (se calhar ninguém) à minha volta leva uma vida com menos estrutura do que eu. Nunca tive um rendimento estável na minha vida – desde o início da carreira como actor de teatro quando tinha 21 anos até me tornar realizador. Não só não ganhei dinheiro, como fui mudando de país nos últimos 14 anos.
Comecei a representação em teatro em Singapura em 1999, antes de mudar para Londres em 2002 para frequentar as aulas de representação na universidade. Depois disso, fiquei algum tempo em Pequim (em 2004) para me tornar um actor de televisão e filmes na China. Depois, mudei-me de novo, para Macau, onde em 2008 fiz a minha primeira longa-metragem, “Roulette City”. Como o “Roulette City” teve o seu primeiro lançamento commercial no Japão, comecei a viver em Tóquio em 2012, antes de me mudar para Los Angeles este ano. Um círculo completo, já que isto me faz aperceber que consegui realizar o meu sonho de me mudar para Hollywood antes de ter completado 40 anos.

Nos últimos 14 anos, recusei-me a viver a minha vida com base em qualquer estrutura particular. Mas, no que toca a escrever um guião, a minha attitude é precisamente a contrária: obedeço à estrutura e vou-vos dar exemplos pessoais para perceberem por quê…
A estrutura salvou-me de perder oportunidades.

Exemplo 1: Há uns meses, conheci uma produtora chinesa em Los Angeles. Tínhamos backgrounds semelhantes e queríamos trabalhar juntos numa longa-metragem que ela iria produzir, comigo como o realizador/roteirista. No entanto, esta produtora passou apenas algumas semanas em Los Angeles e ambos sabíamos que ia ser difícil manter o interesse se estivéssemos geograficamente separados, sem uma história ou um guião que nos fizesse sentir parte dele. Mas, como é que iríamos escrever um guião em tão pouco tempo? Aqui está a forma como a estrutura nos salvou.
Todos os cineastas no mundo sabem a estrutura geral do guionismo (que está dada como funcional quase em cem anos de excelência em Hollywood). Então, imediatamente depois de decidirmos sobre o tema e a história geral, eu e a produtora passámos imediatamente a preencher os “espaços em branco” do guião. Rapidamente conseguimos imaginar as acções que todos o ‘turning point’ ou acções precisavam – todas com base no conhecimento comum de como são construídos bons guiões.
Em três semanas, conseguimos fazer um outline completo de cada “ritmo” do filme – onde conseguimos ver, claramente, o que acontece entre os minutos 1 a 3, depois dos 4 aos 6, etc. Conseguir isto em tão pouco tempo fez-nos sentir muito bem com a nossa colaboração um com o outro e, sentir isso quando estamos na fase inicial de tranalhar com alguém que mal conhecíamos antes é uma das melhores sensações que podemos ter.
Depois deste acontecimento, olhei para trás e pensei: se um de nós não confiasse ou conhecesse na estrutura do guionismo, provavelmente estaríamos presos na fase da tal “inspiração” até ao dia em que a produtora fosse embora de Los Angeles. E seria difícil de imaginar que o nosso projecto continuasse a andar para a frente connosco a viver em continentes diferentes. Então: graças a Deus que existe uma estrutura para escrever um guião.

Exemplo 2:
Nesse mesmo período de tempo, submeti uma sinopse de um filme de terror à competição de guionismo Asian American Fellowship, do muito estimado Sundance Film Festival nos EUA. Sundance é tão conhecido que uma pessoa tem de esperar que a competição vá ser muito dura. Rumores dizem que há apenas 1% de chance para que se alguém se consiga qualificar para qualquer das competições no Sundance. Então, não pensei muito na entrega que tinha feito depois de a enviar, para evitar qualquer desapontamento que poderia surgir. Para minha surpresa, recebi um email do Sundance que me dizia que consegui entrar para a segunda ronda do festival (que é também a última!). Para isso, foi-me pedido que fizesse o upload do guião inteiro do meu filme em dez dias, que era o limite para a entrega.
Nesse momento, não soube se deveria sentir-me feliz porque entrei ou deprimido porque não tinha um guião completo! Então, aqui esteve, novamente, a estrutura para me salvar o dia. Nos dez dias seguintes, cheguei a Macau e escrevi, escrevi, escrevi furiosamente no quarto de hotel onde estava, quase nunca deixando o quarto para comer e dormindo muito pouco.
Consegui novamente ter um alinhamento completo de cada “ritmo” em dois dias e acabei um guião de 1010 páginas nos oito dias seguintes. Fiz o upload escassas horas antes do limite. Ufa!
Claro que sei que um guião escrito em cima do joelho em tão pouco tempo está longe de ser espectacular, mas ao menos consegui manter as minhas esperanças. Se o meu roteiro for seleccionado de novo, o Sundance produz o filme para mim e comigo.
Resumindo, os dois últimos meses mostraram que, se eu não soubesse da estrutura de guionismo como a palma da minha mão, teria perdido duas grandes oportunidades que surgiram do nada e que me apanharam de surpresa. E, de acordo com veteranos realizadores de Hollywood, as melhores oportunidades que podem levar a nossa carreira ao próximo nível são aquelas pelas quais não estávamos à espera.

20 Nov 2015

Amanhã logo se vê

[dropcap style=’circle’]1.[/dropcap] Eu não cresci no tempo dos meus pais. Não era suposto encontrar um mundo igual. Bem vistas as coisas, quer-me parecer que aquilo que estava reservado para a minha infância foi bem melhor do que as circunstâncias em que os meus pais cresceram. Os meus primeiros anos de vida foram-se somando numa altura de paz, naquele pequeno universo em que nos movimentávamos. Foram anos suaves por aquelas bandas, muito ocidentais e a quererem ser europeias.
Assim como não era suposto crescer no mundo dos meus pais, também não seria de esperar que as minhas filhas nascessem no enquadramento que eu encontrei. Mas não, não estava à espera que o mundo – o mundo de onde venho e que nunca deixou de ser o meu, por mais longe que esteja – regredisse deste modo. Não, não é este o mundo que quero para as minhas filhas. Um mundo que não consigo compreender, por mais que leia e veja e pense.
Os atentados de Paris, que nos dizem mais do que os atentados de outros sítios porque conhecemos Paris e porque temos amigos em Paris e porque temos família em Paris, fizeram muito mais do que mortos. Mas nem vale a pena ir por aí, pelo medo, pela sensação de insegurança que se quer criar e que se consegue efectivamente incutir. Também não valem mais do que meia dúzia de linhas os meninos que decidiram que queriam fazer um Estado Islâmico, essa gente enviesada que anda a brincar às guerras sem regras, sem pudor, que anda a espalhar o terror e a conquistar outros meninos enviesados para uma causa sem causa alguma.
O que aconteceu em Paris deixa-me preocupada com a Europa que temos – desunida e fraca, sem capacidade de afirmação, nem de uma resposta conjunta a momentos de crise. Não teriam sido necessários os atentados de Paris para chegarmos a esta conclusão: a sangria no Bataclan e os dias que se seguiram só vieram confirmar o que já tínhamos aprendido com os anos da crise nos países mais pobres e, mais recentemente, com a ausência de uma solução para o drama dos refugiados.
A aparente impotência europeia não é apenas um problema europeu porque, bem vistas as coisas, a Europa conta e está no centro de quase tudo. E, por contar, de repente dava jeito – a quem é europeu e aos outros também – que a Europa se entendesse e que a Europa percebesse que o mundo está a mudar muito mais rapidamente do que estaríamos à espera quando começámos a somar anos.
No meio de tudo isto, seria bom termos uma ideia de que mundo estamos nós a construir para os nossos filhos. Urge que se encontrem soluções, sendo que serão sempre difíceis.

2.

Nós por cá tudo bem, obrigada. Na noite em que ainda assistia, incrédula, às imagens que foram chegando de Paris, a Torre de Macau e o céu em redor iluminavam-se com um estonteante fogo-de-artifício, talvez em jeito de comemoração de mais uma feira-da-gastronomia-em-cima-de-uma-rotunda, feito que não lembra ao diabo mas que, por aqui, é a demonstração do quão criativo é o nosso empresariado político.
Em semana de feira-da-gastronomia-em-cima-de-uma-rotunda, temos Linhas de Acção Governativa e Grande Prémio, cada um deles à sua velocidade, num contraste que confirma que esta terra é só paradoxos. Do plano anual do Executivo não se poderia esperar muito – eu, pelo menos, nunca espero – até porque Março foi quase ontem e só aí começámos a perceber efectivamente de que material se faz esta equipa governativa.
No espaço de nove meses foram apresentados dois pacotes de medidas e estas últimas mais não poderiam ser do que uma repetição das primeiras que, por acaso, têm tudo que ver com as não-sei-quantas-outras que as antecederam.
Já nos habituámos à ausência de discurso político por aqui. Que venha o trabalho, que os projectos se concretizem, que bem precisamos deles. É bonito ouvir falar de qualidade de vida, mas a Macau falta quase tudo para que se possa falar nela.
Mas nós por cá tudo bem. Haja feiras-da-gastronomia-em-cima-de-rotundas, que o povo gosta. E cheques, claro está, que a austeridade chegou, mas em fórmula vencedora não se mexe. É mais ou menos como o Grande Prémio. Mas mais devagar nas curvas.

20 Nov 2015

Questões pessoais e interesse geral

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a quarta-feira, 17 de Novembro, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, apresentou o Relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o ano financeiro de 2016, na Assembleia Legislativa. O projecto anual de repartição de riqueza e os aumentos salariais, foram as duas questões eleitas para apresentação. O governo da RAEM só poderá lidar com estas questões investindo financeiramente. O debate da acção governativa, que se seguiu à apresentação do Relatório e à sessão de Perguntas e Respostas, foi apenas um pró-forma político. Os cidadãos de Macau não irão retirar qualquer benefício, se a colaboração entre o Governo da Região e a Assembleia Legislativa se mantiver nestes moldes.
Desde a integração de Macau, os sucessivos governos da RAEM têm-se revelado incapazes de resolver os problemas de forma eficaz. O fracasso na reestruturação económica tem sido compensado pela desmonopolização da indústria do jogo. A política de vistos individuais da China e a afluência de investimento estrangeiro, à procura de lucros rápidos, são os factores que têm tornado próspera a economia de Macau, especialmente a indústria imobiliária.
Mas quando o Presidente Xi Jinping subiu ao poder e implementou a sua política anti-corrupção, as receitas do jogo na RAEM decresceram durante 17 meses consecutivos. O encerramento de salas de jogo VIP continuou, ao passo que, recentemente, a actual situação económica deu azo ao aparecimento de vários incidentes, por trás dos quais, se escondem questões relacionadas com dinheiro.
Os mais graves foram, sem dúvida, o do Grupo Dore e a morte súbita de Lai Man Wa, directora-geral dos Serviços de Alfândega de Macau, que provocaram graves constrangimentos ao Governo, quer ao nível da sociedade civil, quer ao nível do Governo Central.
O Gabinete do Chefe do Executivo entregou uma mensagem de homenagem à Directora-geral Lai Man Wa, através do Chefe do Executivo, Chui Sai On, onde lhe prestava largos elogios e a considerava “uma distinta personalidade da RAEM, íntegra e cumpridora leal dos seus deveres, sempre desempenhou as suas funções com dedicação e seriedade, demonstrando qualidade e eficácia na sua actuação profissional e excelente capacidade de liderança”.
É muito difícil de aceitar que, uma pessoa tão respeitada, se tenha suicidado, deixando para trás a família, as suas responsabilidades profissionais e o lugar que sempre amou.
As questões pessoais e o interesse geral estão estritamente ligados. Funcionária chave, designada pelo Governo Central como responsável pelos Serviços de Alfândega de Macau, a directora-geral Lai Man Wa morreu, sem que existissem quaisquer sinais prévios que apontassem para um possível suicídio. É necessário proceder a uma investigação profunda deste caso, deslindar o caso de uma ponta à outra, descobrir a verdadeira causa da sua morte e, fazer chegar essa informação ao Governo Central e à comunidade local. Só desta forma poderá a directora-geral descansar em paz e poderão os vivos ficar tranquilos.
A nossa vida é frágil e não há forma de compensar a sua perda. Quando vivemos num lugar como Macau, devemos preocuparmo-nos com o interesse geral a longo prazo, em vez que nos concentrarmos nos interesses pessoais. Mas quando os problemas de fundo não podem ser resolvidos, tudo o que é superficial deixa de fazer sentido.
O Grande Prémio anual atrai toda a gente, quer turistas, quer macaenses, por ser uma corrida competitiva. Mas quantos cidadãos estarão interessados em passar algum tempo a assistir ao debate anual do Relatório das Linhas de Acção Governativa, que tem lugar na Assembleia Legislativa? Afinal de contas, será que a política é uma questão pessoal, ou será um assunto que interessa a todos? Os macaenses não podem, pura e simplesmente, ficar a assistir e absterem-se de agir!

20 Nov 2015

Rui da Silva, docente: “A vida em Macau é muito interessante”

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi a leitura que despertou Rui da Silva, docente de Língua Portuguesa na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), para o mundo e a cultura orientais.

“Desde sempre que tive muito interesse na aprendizagem de línguas e conhecimento de novas culturas e, na altura, quando estava no ensino secundário, comecei a ler muitos romances cujas histórias se passavam na China e no Japão. Foi aí que comecei a desenvolver um gosto especial por estes dois países”, explicou o professor ao HM.

Rui da Silva está em Macau há muito pouco tempo. “Cheguei em Agosto, são quase três meses”, indica. Mas só como residente, pois como turista já tinha visitado o território.

“Já tinha vindo a Macau duas vezes antes de me mudar definitivamente para cá”, contou, sublinhando que a “primeira impressão foi de uma enorme confusão”.

“Estava a viver no norte da China e estava à espera que fosse algo semelhante. Contudo, quando cheguei ao território descobri que era completamente diferente”, admitiu. O cunho português foi o que mais sobressaiu. A sensação era estranha porque “algumas zonas são bastantes semelhantes a Portugal, mas eu não estava em Portugal”, partilha.

Ida e voltas

Depois de decidir que queria dedicar-se às línguas chinesa e japonesa, Rui da Silva avançou com a candidatura para a licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, na Universidade do Minho, onde acabou por se especializar em chinês e japonês.

“Durante esse tempo fui duas vezes à China Continental fazer alguns cursos de Língua Chinesa e de ensino”, conta. Os estudos prosseguiram e Rui da Silva inscreveu-se no mestrado, também na Universidade do Minho, em Estudos Interculturais Português/Chinês.

“No primeiro ano do mestrado fui para a Universidade de Nankai, em Tianjin, onde continuei a estudar Língua Chinesa, depois disso voltei para Portugal para terminar o mestrado e, ao mesmo tempo, comecei a trabalhar na universidade onde estudava como professor, leccionando Língua Chinesa e Comunicação Intercultural”, relembrou.

Durante o seu percurso académico, a paixão pela língua chinesa ganhou terreno. “Apaixonei-me completamente pela China, pela sua cultura e língua”, disse, admitindo que o que mais gosta na língua é a escrita.

“A escrita chinesa é muito visual e cada carácter tem uma história por trás que está intimamente ligada à forma de pensamento do povo chinês e como vê o mundo”, partilha, desmitificando a dificuldade tão comummente atribuída ao acto da escrita. “A escrita não será o mais difícil, mas é talvez o que dá mais trabalho para aprender”, anotou.

Arriscar para viver

Um dia, enquanto estava a viver em Tianjin, local onde frequentava um ano de intercâmbio na Universidade de Nankai, no âmbito da investigação de doutoramento, decidiu que estava na hora de arriscar e tentar outra coisa: Macau.

“Como a minha investigação está relacionada com Macau e eu gostava de experimentar dar aulas de Português a chineses – porque até então só havia dado aulas de Chinês a portugueses – decidi procurar emprego em Macau”, lembra. Juntando a isto, o caminho de Rui da Silva foi facilitado pelo facto de ter alguns amigos chineses no território, amizades que fez até com o intercâmbio das universidades locais com Portugal.

Para o jovem docente, Macau não o faz sentir que está na China, mas também não o faz pensar que está em Portugal: “Macau tem a sua própria identidade, o que faz desta cidade um local muito especial”.

Um registo diferente

Na MUST, Rui da Silva tem ao seu encargo cinco disciplinas: Fonética com 30 alunos, Gramática com 22 alunos, Escrita com uma turma de 28 alunos, Introdução ao Português com 14 alunos e ainda dá “aulas de Mandarim aos alunos estrangeiros de intercâmbio que fazem uma turma de 15 alunos”.

Questionado sobre o diferente método de ensino e até de aprendizagem, o docente explica que a maioria dos alunos “são da China Continental e não de Macau, como se possa pensar, e nota-se uma diferença entre os dois”, até mesmo comparado com Portugal.

“A atitude dos alunos de Macau é mais parecida com os alunos portugueses, ou seja, eles estudam mas, ao mesmo tempo, querem usufruir da vida. Os alunos da China Continental, por questões culturais e também por se encontrarem tão longe de casa, sentem que estudar é de facto o seu ‘trabalho’, por isso, empenham-se muito mais e dedicam-se por completo aos estudos”, explica, frisando que, no fim, “acabam por ser todos bastante interessados, dedicando-se muito à aprendizagem da língua portuguesa”.

Macau, para já, é um projecto a médio prazo, como conta o jovem docente. “Ainda não decidi quanto tempo irei ficar por cá”, assinalou, indicando que, “fora das aulas, a vida em Macau é muito interessante”.
As diferenças entre a China e Portugal tornam a vivência aqui “muito estimulante”. Do Cotai à Taipa a zona preferida é mesmo Macau “por causa da sensação de estarmos a viver num local cheio de história”. Apesar de Coloane ser muito agradável para uns passeios e por ter praia, Taipa e Cotai são “demasiado modernas”.

As saudades da família e dos amigos são inegáveis, “até da cultura do Alto Minho”, sendo Rui da Silva de Viana do Castelo. “Mas não sinto saudades de estar em Portugal, acho que já estou habituado a estar longe e gosto tanto de cá estar que acabo por nem sequer sentir vontade de voltar”, termina.

20 Nov 2015

Wynn adia data de abertura para Junho

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Wynn anunciou ontem o adiamento para Junho de 2016 da abertura do novo hotel-casino no Cotai, que devia abrir portas em Março. Em comunicado, a Wynn Resorts indica que foi notificada pelo construtor Leighton Holdings Limited de que o projecto Wynn Palace não vai estar pronto a tempo de abrir na data prevista, 25 de Março, pelo que a inauguração será agora a 25 de Junho. O Wynn Palace, orçado em 4,1 mil milhões de dólares, é o primeiro projecto com a assinatura da empresa norte-americana no Cotai.

20 Nov 2015

Wushu | Macau traz cinco medalhas do campeonato do mundo. Portugal faz “melhor registo de sempre”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] selecção de Macau conquistou duas medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze no 13.º Campeonato Mundial de Wushu, que terminou ontem em Jacarta. Já Portugal conseguiu o “melhor registo” de sempre num Mundial de Wushu, ao conquistar três lugares entre os dez primeiros no torneio, segundo o seleccionador José Machado.
De Macau, o atleta Jun Hua Huang conseguiu uma medalha de ouro na categoria de Nangun (bastão) e outra de prata em Nanquan (punhos do sul). O outro primeiro prémio que foi para Macau deve-se a Wai Keong Chio, que foi o melhor também em punhos do sul. Todas estas pertencem à categoria de Taolu, coreografias de luta.
Em alabarda, Nok In Wu leva para casa uma medalha de prata, enquanto o atleta Ka Seng Chong completa a lista dos vencedores de Macau ao conquistar o terceiro lugar na categoria de Tai Chi.
A competição de cinco dias contou com 904 atletas de 73 países e regiões, entre os quais Portugal. Francisco Ferreira, Filipe Ramos, Rodolfo Torres, Armindo Moreira, Pedro Santos e André Costa deslocaram-se à Indonésia.
“Conseguimos chegar aos quartos de final com dois atletas, contra superpotências que têm orçamentos completamente astronómicos em relação ao nosso, mas acho que foi muito positivo em todos os aspectos”, referiu à agência Lusa José Machado.
O técnico destacou que a equipa tem “muitos elementos novos” e está a ser renovada, logo, “existe alguma inexperiência” entre os atletas.
Em Wushu Sanda – o sistema de combate das artes marciais chinesas conhecido como Kung Fu – Portugal conquistou dois oitavos lugares, por intermédio de Francisco Ferreira (-60 kg), campeão europeu, e Armindo Moreira (-85 kg).
“Foi uma experiência óptima, aprendi muita coisa”, referiu Francisco Ferreira, mostrando-se motivado para trabalhar ainda mais e preparar-se para o Europeu.
Armindo Moreira concorda que a participação num Mundial trouxe “uma grande experiência”, porque “ver atletas com outro nível” ajuda a “treinar ainda mais para cada vez melhorar mais a n técnica”.
Na categoria de Dadao (alabarda) Filipe Ramos ficou em oitavo lugar, sendo esta a primeira vez que Portugal ocupa um dos dez primeiros lugares em Taolu, segundo o presidente da Federação Portuguesa de Artes Marciais Chinesas (FPAMC), Paulo Araújo.
“Foi um feito conseguir três atletas nos dez primeiros do mundo”, destacou, usando um provérbio chinês para dizer que a equipa lusa tem vindo a “crescer como o bambu, devagar, flexível, mas sempre a direito”.
O responsável admitiu que havia também algum nervosismo entre os atletas, porque para a maioria deles esta foi “a primeira vez que vieram a um Campeonato do Mundo”.

20 Nov 2015

As dívidas históricas

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]om o segundo mandato de Chui Sai On, a RAEM entrou na fase final de um ciclo que terá a duração de 20 anos. Depois, dizem-me, tudo será diferente. Não sei se para melhor, se para pior, mas diferente.
Até lá o destino de Macau e dos seus cidadãos continuará nas mãos dos mesmos. Durante este período, iniciado com a transferência de soberania, conhecemos um crescimento económico ímpar na Ásia e no mundo. Contudo, esse crescimento não se traduziu numa vida mais fácil para os residentes.
Se existe algo a apontar à administração, será o facto de não ter previsto o impacto que as mudanças na área do Jogo (a liberalização) trariam à cidade. E a verdade é que não nos apresentarão nenhum modelo que inspire confiança no futuro. chui sai on
Parece existir uma estranha barreira que impede o dinheiro de realmente frutificar. O Governo insiste em dar o peixe, ao invés de criar condições para pescar. Assim, reconhece-se neste procedimento uma espécie de paternalismo confucionista que o povo aceitará até ao momento em que as suas vidas enveredem por caminhos cada mais difíceis.
As LAG para 2016 inscrevem-se nesta linha. Existe realmente uma continuidade na não-acção do Executivo, que parece correr atrás das queixas da população, prometendo aquilo que se sabe que não cumprirá.
O caso da habitação é onde tudo realmente se desvenda. Por mais que Chui prometa habitações públicas, nada fará oscilar os interesses dos proprietários de imóveis e, portanto, não nos parece que a situação encontre meios de melhorar.
Até 2019, tudo deverá ficar na mesma. Depois, talvez se entenda que as dívidas históricas estão pagas e bem pagas.
O que se passará a seguir, ninguém sabe.

19 Nov 2015