Hong Kong | Trump apela a Xi por uma solução humana para os protestos

O Presidente norte-americano pediu ao seu homólogo chinês que resolva a situação escaldante de Hong Kong de forma humana, sugerindo inclusive uma reunião para discutir possíveis soluções. Como Donald Trump mantinha um silêncio incómodo em relação à RAEHK, e depois de ser criticado por isso, tocou no assunto do momento, dando-lhe prioridade em relação à disputa comercial. Da Europa vieram apelos à resolução pacífica e ao respeito pelo princípio “Um País, Dois Sistemas”

 

[dropcap]D[/dropcap]epois de um silêncio incómodo para muitos pesos pesados da política norte-americana, Donald Trump apelou a uma solução humana para a situação de Hong Kong. Como não podia deixar de ser, o Presidente norte-americano voltou a usar o Twitter para mandar o recado a Xi Jinping, sobre quem tem “zero dúvidas” quanto à capacidade para solucionar o imbróglio política em que está a região vizinha.

Depois de se alongar no braço-de-ferro da guerra comercial, Trump escreveu: “É claro que a China quer chegar a um acordo. Mas tratem primeiro de Hong Kong de uma forma humana.”, terminando o tweet sugerindo um encontro para discutir o assunto. Os comentários vieram acompanhados de elogios a Xi, que Trump considera “um bom homem”.

Assumidamente fã de governações fortes, há quase um mês Trump elogiou a forma como Xi Jinping estava a lidar com a situação de Hong Kong. “A China podia pará-los se quisesse. Acho que o Presidente Xi tem actuado com muita responsabilidade. Os protestos já duram há demasiado tempo. Espero que Xi faça o que é correcto”. O líder norte-americano chegou mesmo a caracterizar os protestos como motins, colando-se à posição de Pequim, algo que foi aproveitado pela imprensa estatal chinesa, que difundiu incessantemente as palavras de Trump.

De Washington até ao resto da comunidade internacional, criou-se a ideia de que a Casa Branca apenas é dura com Pequim em questões comerciais, mas sem qualquer interesse na defesa de princípios. As reacções no campo democrata não se fizeram esperar. Michael Fuchs, que pertenceu ao Departamento de Estado durante a Administração Obama, resumiu a situação de uma forma simples: “Trump está a dizer a Xi Jinping, de uma forma muito clara, que pode fazer o que entender com Hong Kong. Ele só tem interesse no acordo comercial”.

Empurrado a agir

Depois da defesa dos protestos contra a erosão de direitos e liberdades dos cidadãos de Hong Kong por grandes personalidades de ambos os espectros políticos norte-americanos, assim como da comunidade internacional, Trump viu-se forçado a falar depois de segunda-feira terem sido reveladas imagens de satélite de veículos paramilitares chineses em Shenzhen. Ontem as imagens mostraram milhares de soldados em treinos na cidade vizinha de Hong Kong.

Outro exemplo de sério aviso de uso de força foi publicado na conta oficial de WeChat do Exército de Libertação do Povo Chinês, que mostrava os mesmos veículos militares e um mapa com a distância para o Aeroporto de Hong Kong. A imagem foi acompanhada por uma citação de Deng Xiaoping: “O Governo Central deve intervir caso Hong Kong entre em turbulência”. A publicação foi, entretanto, apagada.

Antes de Trump apelar a uma solução pacífica, já o seu Departamento de Estado havia demonstrado “preocupações profundas” sobre as movimentações junto à fronteira com Hong Kong, apelando a Pequim para o cumprimento dos compromissos, assumidos aquando da transferência de soberania em 1997, que garantem a Hong Kong “um elevado grau de autonomia”.

Como vem sendo hábito, os órgãos de propaganda chinesa vieram meter água na fervura e “esclarecer” que os exercícios militares em Shenzhen já estavam planeados anteriormente, assim como em outra dúzia de cidades da província de Guangdong.

Situação lose-lose

Entre analistas existe um consenso: a intervenção militar chinesa teria consequências desastrosas tanto para Pequim como para Hong Kong. Ainda assim, enquanto os protestos entram no terceiro mês, os avisos de Pequim tornam-se cada vez mais claros e a intervenção militar mais provável.

Uma pista evidente que aponta nesta direcção é a descrição de figuras de topo da hierarquia da política chinesa que caracterizaram os protestos em Hong Kong como terrorismo com a intenção de derrubar o Governo de Carrie Lam.

Aliás, ontem na capa do Diário do Povo, um porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC) assinou um editorial contra o tratamento violento a que um repórter do Global Times, uma publicação do PCC, foi submetido num protesto que ocupou o Aeroporto de Hong Kong. O editorial lança um aviso “às mãos pretas” por detrás dos protestos anunciando que “1,4 mil milhões de chineses estão unidos para evitar qualquer dano provocado à nação e ao seu povo”.

Também o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEHK condenou os protestos no aeroporto. “Os manifestantes detiveram, assediaram e agrediram um visitante e um jornalista do continente chinês. Tais actos violentos quase poderiam ser descritos como ‘terrorismo,'” disse o Gabinete de Ligação em comunicado, acrescentando que apoiará a polícia de Hong Kong para levar as multidões à justiça. “Queremos expressar as nossas condolências profundas às duas vítimas e mostrar o nosso respeito mais profundo ao jornalista que manifestou apoio à polícia de Hong Kong”, lê-se no comunicado.

Apesar dos avisos de Pequim, os protestos continuam a marcar o dia-a-dia de Hong Kong. Até domingo estão previstas manifestações de professores, trabalhadores dos transportes públicos, funcionários públicos e até donos de animais de estimação. Para domingo, está marcado mais um protesto de grande escala.

Cartas da Europa

A Chanceler alemã, Angela Merkel, também se juntou ao coro de vozes internacionais no apelo ao fim da violência e ao início do diálogo político. Merkel mencionou mesmo a Lei Básica de Hong Kong e referiu que o território goza de direitos como a liberdade de expressão, que deve ser preservada, assim como outras liberdades salvaguardadas pelo princípio “Um País, Dois Sistemas”.

Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, apelou aos turistas germânicos que adiem viagens para Hong Kong, justificando o conselho com a possibilidade de uma intervenção militar chinesa no território. A juntar às declarações de Maas, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Adebahr, acrescentou que o Governo alemão está “em constante discussão” com Pequim sobre Hong Kong e questões de direitos humanos.

O princípio “Um País, Dois Sistemas” foi também mencionado pelo ministro francês para os Assuntos Europeus e Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, que sublinhou também a necessidade de se respeitar as liberdades garantidas pela Lei Básica, tais como “o Estado de Direito, a autonomia do sistema judicial vital para o povo de Hong Kong e a prosperidade económica”. O ministro do Governo de Macron acrescentou que a França tem um compromisso profundo com o respeito destes princípios. “Os protestos em Hong Kong continuam num crescendo de tensão. A França e os seus parceiros, especialmente os europeus, estão a acompanhar a situação de perto”, enquadrou o governante francês. Le Drian apelou ainda a todas as partes “em especial às autoridades de Hong Kong, que restabeleçam o diálogo de forma a conseguir chegar à paz e colocar um ponto final à escalada de violência”.

Mensagem de Lisboa

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, evocou a posição da diplomacia da União Europeia (UE), reiterando o apelo “a todas as partes” para que “não agravem a tensão e se abstenham de acções violentas”, “sejam eles as forças policiais ou os manifestantes”.

“É muito importante que a violência não progrida e é muito importante que a questão política e legal que está em causa em Hong Kong, neste momento, seja resolvida por vias políticas e legais e não pela violência”, afirmou.

O movimento de contestação em Hong Kong não causou até ao momento grandes perturbações a cidadãos portugueses, registando-se apenas “casos pontuais” de problemas com viagens, disse na quarta-feira à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

“Salvo casos muito pontuais não temos notícia de portugueses que estejam a ver as suas viagens ou a sua vida muito perturbada por estes acontecimentos”, disse o ministro. “Os poucos casos de que temos conhecimento, e estamos a acompanhar, são algumas pessoas e um grupo, uma tuna universitária, que esteve em Macau, ia agora de Hong Kong para Tóquio, e uma parte do grupo ainda não conseguiu partir”, precisou.

“Mantemos as nossas recomendações […] que as pessoas tenham os cuidados de segurança habituais nestas circunstâncias, designadamente evitando os locais ou as áreas em que ocorrem confrontos, em que haja distúrbios ou em que haja repressão”, disse Santos Silva.
Santos Silva disse ainda que apesar da proximidade com Hong Kong, “a situação em Macau é muito tranquila”.

16 Ago 2019

Trump considera “responsável” atitude de Xi Jinping face aos protestos de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos EUA, Donald Trump, sublinhou ontem que o seu homólogo da China, Xi Jinping, “actuou responsavelmente” nas grandes manifestações em Hong Kong contra uma proposta de lei de extradição que facilitaria o envio para Pequim de “fugitivos” refugiados.

“Julgo que o Presidente Xi da China actuou responsavelmente, muito responsavelmente. Estão a protestar há muito tempo”, disse Trump em declarações aos jornalistas na Casa Branca ao receber o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan.

“Sei que é uma situação muito importante para o Presidente Xi (…). Se quisesse, a China poderia parar os manifestantes”, acrescentou Trump, que adoptou um tom cauteloso face aos protestos nas ruas de Hong Kong. No domingo, dezenas de milhares de pessoas regressaram às ruas para exigir reformas.

As manifestações, que se iniciaram há sete semanas, evoluíram da contestação à lei da extradição, que permitia o envio para a China de “fugitivos” ou suspeitos de crimes refugiados no território de Hong Kong, até reivindicações mais amplas sobre a melhoria dos mecanismos democráticos da cidade, cuja soberania foi recuperada pela China em 1997 com o compromisso de manter até 2047 as estruturas erguidas pela colonização britânica.

Os críticos consideram que a lei intimidará e penalizará os críticos e dissidentes do regime chinês, enquanto os seus defensores asseguram que procura preencher um vazio legal, por não existirem fórmulas legais de extradição entre Taiwan, Hong Kong e a China continental.

No entanto, vários analistas consideram que a China está a tentar acelerar o processo de assimilação da ex-colónia britânica, um processo que regista a firme oposição de parte da população de Hong Kong.

Os EUA e a China estão envolvidos numa guerra comercial face às medidas proteccionistas impulsionadas por Trump desde a sua chegada ao poder. Em finais de Junho, Trump e Xi concordaram em estabelecer uma nova trégua na guerra comercial durante a reunião do G20 no Japão, com Washington a congelar a imposição de novas tarifas à China e a permitir que empresas norte-americanas vendam produtos da tecnologia Huawei.

No entanto, os EUA vão manter as tarifas aplicadas a produtos chineses num valor de 250 mil milhões de dólares, enquanto a China continua a manter as suas taxas a diversas importações norte-americanas por um total de 110 mil milhões de dólares.

23 Jul 2019

20 Anos | Situação de Hong Kong pode levar Xi Jinping a reconsiderar visita a Macau

O plano do Governo Central para lidar com as manifestações de Hong Kong implica a avaliação dos riscos da vinda de Xi Jinping a Macau para o 20.º aniversário da transição. O analista Larry So acredita que o possível cancelamento da visita tem como objectivo dar um prazo ao Executivo de Carrie Lam para resolver a instabilidade

 

[dropcap]O[/dropcap]s tumultos em Hong Kong e as manifestações contra a Lei de Extradição para o Interior da China estão a levar o Governo Central a reequacionar os riscos da deslocação de Xi Jinping a Macau, para as celebrações do 20.º aniversário do estabelecimento da RAEM. A informação foi avançada ontem pelo South China Morning Post (SCMP).

Segundo explicações avançadas por fontes anónimas citadas pelo jornal de Hong Kong, o Governo Central está a definir um plano a curto e longo prazo para acalmar os protestos, que deverá ser apresentado a Carrie Lam, líder do Governo da região vizinha.

Por um lado, a estratégia exclui por completo a intervenção do Exército Popular de Libertação na RAEHK, uma decisão que deverá ter como intuito “acalmar” os mercados e o investimento internacional. Por outro, para evitar a continuação dos tumultos, as autoridades do Governo Central estão a medir os riscos da visita oficial de Xi Jinping a Macau, não se afastando o cenário de cancelamento. Neste momento, não há qualquer decisão tomada e o plano ainda não foi apresentado ao Executivo de Hong Kong, que, segundo o artigo, tem a última palavra sobre a forma como lidar com os problemas recentes.

Para o analista político Larry So, este artigo tem como objectivo passar ao Governo de Hong Kong a mensagem que a data da transição de Macau é o limite para “arrumar a casa”.

“O facto de o plano para Hong Kong envolver a avaliação dos riscos de deslocação a Macau é uma forma de pressionar o Governo de Hong Kong para resolver a questão criada pela Lei da Extradição”, afirmou Larry So, ao HM. “Estão a dizer-lhes [aos Governantes de Hong Kong] que têm até Dezembro para limpar a casa, para que a deslocação a Macau não fique manchada por outros eventos”, acrescentou.

Bloqueios à entrada

Ao mesmo tempo, Larry So não afasta a hipótese de vários manifestantes de Hong Kong tentarem vir a Macau protestar nessa data. Contudo, o analista político acredita que o secretário para Segurança, Wong Sio Chak, tem mecanismos para impedir as entradas indesejadas.

“O Governo já tem a chamada lista negra de pessoas que não são autorizadas a entrar em Macau. Se o Presidente Xi Jinping vier a Macau, uns dias antes muitas pessoas de Hong Kong já não vão ser autorizadas a entrar. Tenho a certeza que isso vai acontecer”, previu. “Hoje em dia, com as câmaras com reconhecimento facial e toda a tecnologia disponível, não é muito difícil impedir as entradas. O secretário Wong vai ter dias muito preenchidos nessa altura, mas não vai ser um trabalho propriamente difícil”, sustentou.

Outro factor que pode contribuir para a decisão de Xi é a promessa do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, de estar em Macau para a comemoração do 20.º aniversário da transição.

“O protocolo internacional quase que obriga a que no caso do Presidente de Portugal vir à China, que um representante do mesmo nível chinês esteja presente. Portanto, se o Presidente português vier é mesmo muito provável que o Presidente chinês também esteja presente”, defendeu Larry So.

O HM questionou o gabinete do secretário Wong Sio Chak sobre as garantias de segurança no caso de uma eventual deslocação do Presidente Xi Jinping a Macau. O gabinete do secretário para a Segurança recusou fazer comentários por considerar o cenário da visita hipotético, uma vez que não existem referências nos órgãos de comunicação oficiais do Governo Central sobre a vinda a Macau.

19 Jul 2019

António Tânger Correia, diplomata, recorda desconhecimento da China no início dos anos 80

António Tânger Correia foi o terceiro diplomata português em Pequim após o reatamento das relações diplomáticas entre China e Portugal e recorda o grande desconhecimento que tinha sobre o país que começava a abrir-se ao mundo. Macau ajudou, mas “não era a mesma coisa”

 

[dropcap]N[/dropcap]o início dos anos 80, António Tânger Correia, o terceiro diplomata português em Pequim depois do reatar diplomático, chegou à China para descobrir rapidamente que conhecer Macau não ajudava a compreender melhor aquele país gigante onde coexistiam vários países.

“O nosso principal problema era desconhecer o que era a China. Tínhamos um grande conhecimento sobre Macau, mas não é a mesma coisa”, recordou o primeiro secretário da embaixada portuguesa em Pequim entre 1981 e 1984 em entrevista à Lusa.

Tânger Correia sublinhou que “não se pode falar da China no abstrato, porque existem várias Chinas dentro da China” com “diferenças muito marcadas e muito marcantes”. Num país com 43 alfabetos escritos, “achar que toda a gente fala mandarim é um mito”, notou, acrescentando que “a China é um continente” em que tudo muda do norte para o sul, desde a “maneira de estar” à língua e à gastronomia.

Cumprindo uma promessa que tinha feito a Adelino Amaro da Costa, que lhe tinha exprimido a vontade de o enviar para aquele posto antes de se despenhar, juntamente com o primeiro-ministro Sá Carneiro, em 4 de Dezembro de 1980, em Camarate, Tânger Correia revela que “ia sem ideias preconcebidas”, preparado “para aprender e para ver”. De alguma forma, assume, a escassez de informações disponíveis na altura sobre o gigante oriental ajudava também a manter uma “mente aberta”.

A viagem via Moscovo

Apanhou um avião para Moscovo e daí seguiu numa emocionante viagem do comboio, cruzando a antiga União Soviética no mítico Transiberiano que tornava “as coisas ainda mais interessantes”.

Chegou a Pequim seis dias depois, numa altura ainda inicial do restabelecimento das relações diplomáticas com a China. A República Popular da China tinha nascido em 1949, mas o Estado Novo nunca reconheceu o regime criado por Mao Tse Tung, o que só veio a acontecer depois do 25 de Abril de 1974.

Coube ao diplomata João de Deus Ramos abrir a embaixada portuguesa em Pequim, em Fevereiro de 1979, preparando o terreno para o embaixador António Ressano Garcia. Dois anos mais tarde chega Tânger Correia, “novo e cheio de convicções”. Vai aprendendo algumas lições com sinófilos mais experientes. Um deles contextualizou-o: “Isto na China é assim: uma pessoa está cá uma ou duas semanas e escreve um livro sobre a China; se está três ou quatro meses escreve uns artigos e se está três ou quatro anos deixa de escrever porque já percebeu que não percebe nada do que se passa”, relembra Tânger Correia com um sorriso, declarando-se “inteiramente de acordo”.

“Não há nenhum ocidental, nem mesmo muitos chineses, que tenham uma compreensão do que é de facto a China, nos seus vários matizes” reforçou.

Na capital chinesa, o antigo diplomata ficou impressionado com os milhares de bicicletas e a quase ausência de automóveis: “havia alguns carros diplomáticos e táxis, por isso víamos muitos poucos carros e muitas bicicletas. Dizia-se que os carros do partido circulavam por baixo [da cidade]”.

Surpreendeu-se também com “o sistema” que o rodeava, que impedia o contacto com a população local, e a sensação permanente de espionagem.

“Punhamo-nos debaixo dos lustres horrorosos que havia nas nossas casas e, muito devagarinho em inglês, transmitíamos o que queiramos dizer não se podia tocar”. Mas, continua, “não se podiam tocar, senão vinham logo dez chineses”. Os últimos andares dos prédios, cujo acesso era interdito, eram ocupados por “funcionários que gravavam tudo”.

Era necessário obter autorização para qualquer deslocação, até para ir à praia, conta Tânger Correia. O pessoal da embaixada pertencia também a organizações do Estado chinês: “Vinham do ‘bureau de services’, mas nos chamávamos-lhe o ‘bureau de sevícias’, todo o pessoal era contratado através deles”.

Sempre boas relações

As missões diplomáticas, que os chineses dividiam em “simpáticas e antipáticas”, recebiam pessoal de acordo com o estatuto: “para as antipáticas mandavam pessoal que era do piorio, que fazia a vida negra à estrangeirada”.

O que não era o caso de Portugal, sempre considerado um país “simpático” e com relações com a China que Tânger Correia descreve como “excelentes”, apesar do hiato diplomático formal.

“Os chineses lembram-se do bom e do mau, tem uma memória muito grande e sabem coisas sobre nós que nós não sabemos. Portugal nunca foi uma peça negativa neste xadrez. No Japão, por exemplo, tivemos mais problemas”, adianta o ex-diplomata.

“Nunca conheci um mau momento da relação bilateral (…) Desde que iniciámos relações diplomáticas, e incluindo o processo de transição face a Macau, nunca assisti a um momento de maior crispação ou de menor conforto nas relações entre os dois países”, garante.

Nem a relação económica é nova. Apesar de existir agora “maior interdependência” o investimento chinês em Portugal “há muito que existe” e as “folclóricas” lojas chinesas são prova disso mesmo.

Tânger Correia aconselha a “diversificar as opções económicas”, mas reconhece que é mais fácil de dizer do que fazer. “Temos de ser realistas, olhar para o tamanho de Portugal e da China. Não há milagres, a China tem a força que tem, mas nós temos outras qualidades. Temos uma posição geoestratégica importante, temos capacidade de gerir interesses diferentes”, destacou, realçando que estas características foram muito importantes no relacionamento com outras potências, mesmo em períodos de guerra.

A China é de Deng

Para Tânger Correia, a China de hoje continua a ser a de Deng Xiaoping, apesar da mudança de dirigentes. Xi Jinping pode ser o homem que neste momento tem o poder, mas esse “poder está repartido por várias fações”, sendo o presidente chinês o homem que assegura o equilíbrio.

“A China não é um país que se governe com uma pessoa só. É típico da sua cultura que seja colegial. Os países asiáticos, em geral, dão muito mais importância ao colegial do que nós, ocidentais, que somos mais egocêntricos. No oriente, esse individualismo não e tão claro”, resume.

Quanto a Macau, “mantém-se como uma porta de entrada” que não causa embaraços políticos aos chineses. “É um local pacífico, usado pelas potências ocidentais e orientais e pela China como placa giratória de determinadas situações”, comentou, concluindo: “talvez até tenha mais importância agora do que tinha”.

7 Jul 2019

A receita chinesa para o choque de civilizações

“Various civilizations are not destined to clash. It is foolish to believe that one’s race and civilization are superior to others’ and it is disastrous to willfully reshape or even replace other civilizations.”
President Xi Jinping

 

[dropcap]T[/dropcap]odas as civilizações do mundo sentem orgulho na sua história e realizações culturais, e escreveram a história da humanidade tornando cada uma como centro. O presidente Xi Jinping em resposta aos mais sérios desafios globais enfrentados pela sociedade humana, deu uma “receita chinesa” no seu discurso de abertura da “Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas (CDAC na sigla inglesa)” que teve por tema “enfrentar desafios comuns e avançar para um futuro melhor, requer força económica e tecnológica, mas também cultural e civilizacional”, realizada no Centro Nacional de Convenções de Pequim, a 15 de Maio de 2019.

Devido à diversidade de civilizações, é necessário aprender umas com as outras retirando lições para o desenvolvimento.

Se as civilizações humanas tivessem apenas uma cor e modelo, o mundo seria monótono e aborrecido demais. O discurso do presidente chinês analisou em profundidade a grave destruição criada pelo conceito de uniformidade em relação às civilizações do mundo. De facto, são justamente as diferentes opiniões sobre a uniformidade e a diversidade das civilizações que se tornaram um importante motivo para criar muitos conflitos, guerras e tragédias na história recente da humanidade, especialmente desde o início do século XV, devido ao grande avanço na astronomia, geografia e nas modernas tecnologias de construção naval e navegação, a interacção entre diferentes civilizações tornou-se mais frequente e generalizada.

O rápido desenvolvimento da tecnologia na primeira revolução industrial, fez que a civilização da Europa Ocidental se começasse a expandir, conquistar e colonizar, o que levou a um aumento de poder da região, que foi rapidamente colocada no centro do mundo e não se tratava apenas de ligar todas as civilizações, mas também exercer diferentes graus de influência sobre as demais, que levou a um equívoco, o de acreditar que a civilização da Europa Ocidental e da civilização europeia e americana, cujos principais valores dela são derivados são melhores que as outras.

As suas realizações em termos culturais, artísticos, científicos e tecnológicos, ideológico, sistema social, e modelo de desenvolvimento alcançaram o auge das civilizações humanas e acreditam que a civilização europeia e americana tem uma condição universal, isto é, tal visão causou danos extremamente dolorosos às civilizações do mundo na história da humanidade. Tal visão, gerou uma estreiteza e egoísmo na natureza humana e espalhou a semente da discórdia e de guerras com elevado grau de morticínio, sendo de relevar uma guerra colonial de quatrocentos anos, duas guerras mundiais e racismo que nunca são fáceis de erradicar e que estão indubitável e intimamente relacionados com as influências negativas e profundas deste conceito de civilização uniforme.

A história milenar da humanidade é um processo no qual diferentes civilizações brilhavam em mudanças ou coexistiam de forma esplêndida e destacaram-se as antigas civilizações da Mesopotâmia, Egipto, América pré-colombiana, India e outras, incluindo a da Europa Ocidental, cujas raízes são as antigas civilizações grega e romana. Assim, incluem-se as civilizações do leste asiático, que sobreviveram por milhares de anos. Ainda que diferentes culturas tenham surgido e decaído, fundido, trocado ou colidido, a coexistência era a norma e a corrente dominante é também a base da civilização humana.

As diferentes civilizações promoveram à sua maneira o progresso das regiões e impulsionaram os meios para que as suas características e fenómenos culturais se desenvolvessem, amadurecessem e estabelecessem um padrão que as fez distinguir das demais. O reconhecido historiador inglês Arnold Toynbee, afirmou que cada civilização apresenta características que não são compreendidas pelas outras. É de acreditar que especialmente nesta época de globalização, mais elementos culturais regionais tiveram a oportunidade de se tornar globais, e diferentes culturas foram ainda mais enriquecidas em termos de intercâmbio e aprendizagem mútua, o que também gerou um fenómeno de subculturas, mais diversificadas e plurais.

A conotação e extensão da diversidade cultural expandiram-se. Ainda que o conceito de civilização uniforme tenha dado origem à hegemonia ou colonização cultural de uma parte poderosa sobre uma débil, o mundo vai-se dando conta que a realidade histórica tem demonstrado que este conceito não é civilizado e inclusive não é cívico. É inegável que existem diferenças entre as diversas civilizações, especialmente, nesta era de globalização, a relação entre as civilizações sofreu profundos ajustes, o que gerou interacções fortes, multidimensionais e contínuas, e até mesmo colisões entre elas.

O início do século XXI, com a influência cada vez menor da Guerra Fria e uma preocupação maior na luta contra o terrorismo, fez surgir a teoria do “choque de civilizações”. É de considerar que “O Choque de Civilizações” é o título da obra de Samuel Huntington, ex-professor em Harvard e um dos mais importantes pensadores políticos contemporâneos. O livro, de 1996, é o resultado de um artigo anterior, escrito contra o livro “O Fim da História e o Último Homem”, de Francis Fukuyama, professor na Universidade Stanford, e publicado na revista “Foreign Affairs”, em 1993. A tese do artigo primitivo, que o livro expande e está repleto de detalhes, é de que uma vez terminada a Guerra Fria, outras tensões geopolíticas mundiais começarão e as suas linhas de fractura serão “civilizações”. São conjuntos normativos fechados, culturas activas com memória, capazes de estabelecer uma vontade política comum. Tal vontade é baseada apenas no que é comum aos mesmos, geralmente uma visão religiosa de si e do mundo. Há, segundo Samuel Huntington, “sete ou oito” grandes civilizações, a da Europa Ocidental que inclui a América do Norte e a Austrália; os ortodoxos cristãos, os chineses japoneses, os islâmicos, os hindus e os africanos, os latino-americanos e talvez os budistas que estão no término.

O Ocidente é e será por algum tempo a civilização mais poderosa. Mas cada grande área tem um país líder e a teia do poder mundial é formada por poderes de diferentes civilizações. Assim, ninguém pode impor-se aos outros. A trama de fundo em que se desenvolve a tese de Samuel Huntington é clara, pois basta conhecer a história e a demografia. As civilizações do passado foram todas permeáveis ​​às inovações técnicas dos seus contemporâneos, mas nunca aconteceu que uma civilização sentisse a necessidade de importar inovações morais ou políticas. As “expansões” foram feitas pelas formas religiosas que são o endurecimento das fronteiras de valor.

O professor Samuel Hutington acreditava que nenhuma grande religião nova ou sincrética é apreciada no futuro e cada poder central das diferentes civilizações competirá com as outras, ou então realizará com algumas alianças estratégicas, enquanto criará os seus satélites para os países menos poderosos da sua área civilizadora. O mundo é e continuará a ser multicultural e multifocal, sem que isso garanta tolerância ou paz, porque as civilizações competirão sem remédio. Os conflitos aparecerão nas “zonas de fractura” nos países onde elas se limitam, e há fronteiras mais difíceis do que outras. A partir da análise do conflito religioso plural na ex-Jugoslávia, Samuel Huntington tira a conclusão de que o Islão é a civilização mais problemática, demográfica e valiosa, embora deva ser dada atenção especial à Índia e à China, que se tornarão superpotências económicas.

Todavia, a ordem fomentada pelo Ocidente, com a sua tabela de valores e Direitos Humanos, não é universal nem será; não sendo credível e os grupos civilizacionais não a atacam directamente, não porque a obedeçam ou estão em processo de fazê-lo, mas porque ainda não têm a força para o fazer e não a vivem como universal, mas como o próprio Ocidente, exógeno e baseado na força.

Nenhuma civilização prevaleceu; e, embora Arnold Toynbee se tenha inquirido se o Ocidente poderia mudar, universalizando e sobrevivendo, não parece que Samuel Huntington, que em tantos pensamentos o segue, fosse tão optimista. O Ocidente tem interesses em todas as outras civilizações, mas é uma minoria demográfica cada vez menor.

Acredita-se que o conflito entre as diferentes civilizações domine o mundo e que as diferenças culturais sejam as causas essenciais desses conflitos. O chamado “choque de civilizações”, de facto, é apenas um fenómeno superficial para o pensamento chinês. As suas raízes estão na procura e captura por parte de diferentes países e grupos étnicos de poder, riqueza e segurança.

A causa real é de natureza socioeconómica e é o resultado irracional e injusto da ordem política do mundo.

O presidente chinês afirmou de forma lapidar durante a CDAC que não deve haver conflitos entre as diferentes civilizações, mas apenas ter olhos para apreciar a beleza de todas elas. É verdade que não existe conexão directa e inevitável entre conflitos e civilizações plurais e diversificadas. Os preconceitos e mal-entendidos devido ao isolamento e à má comunicação são um terreno fértil para criar e agravar conflitos. O respeito pela diversidade cultural do mundo, a persistência nos princípios de procura de áreas comuns que marginalizem as diferenças, e promovam os intercâmbios e aprendizagem mútua, contribuirão para o conhecimento e entendimentos completos e objectivos entre as diferentes civilizações, e encorajarão a sua coexistência em harmonia e desenvolvimento.

É necessário primeiro construir plataformas de intercâmbio e deslocar o seu papel, por exemplo, com a construção de mecanismos culturais bilaterais e multilaterais, a convocação de conferências regionais sobre o diálogo entre civilizações ou o apoio a organizações como a UNESCO. É de considerar que em segundo lugar, deve ser tido em conta que cada civilização tem as suas próprias vantagens. As pessoas devem manter uma mente aberta em relação a intercâmbios e diálogos, aprender com as conquistas alcançadas e promover a prosperidade e progresso comum da civilização humana.

É este o sentido de trabalhar juntos para construir uma comunidade de destino compartilhado. Em um tempo como o que vivemos, de desenvolvimento e mudanças gigantescas, a coexistência harmoniosa com outras civilizações é a oportunidade de alcançar o desenvolvimento. A CDAC oferece uma nova plataforma para os países da Ásia e do mundo, para que possam dialogar, realizar intercâmbios, aprender uns com os outros e iluminar uns aos outros, e também consolidar a base de construção conjunta da comunidade de destino da Ásia e da humanidade.

Aquando da abertura da CDAC, o presidente chinês rejeitou a teoria de que diferentes civilizações estão fadadas a colidir e que era tolice acreditar que a raça e a civilização de alguém é superior à de outros, sendo desastroso reformular deliberadamente ou mesmo substituir outras civilizações, tendo feito uma proposta de quatro pontos para consolidar a base cultural da construção conjunta de uma comunidade com um futuro compartilhado para a Ásia e humanidade; como tratar uns aos outros com respeito e como iguais; apreciar a excelência de todas as civilizações; aderir à abertura, inclusão e aprendizagem mútua e acompanhar os tempos.

A Ásia é o berço de muitas civilizações importantes no mundo, como as civilizações indianas, mesopotâmica e chinesa. Houve intercâmbios frequentes e aprendizagem mútua entre as civilizações asiáticas ao longo da história, por exemplo, o budismo espalhou-se pela China e outras partes da Ásia. A filosofia dos antigos pensadores chineses, como Confúcio e Mencius espalhou-se pela Ásia e pelo mundo para fornecer orientação para a conduta humana e governança. A astrologia e a ciência médica dos países árabes chegaram à China através da antiga “Rota da Seda”. Os países asiáticos sempre tiveram uma base sólida na história para o diálogo e comunicação.

Os intercâmbios culturais, actualmente, continuaram em vários campos, como filmes, literatura e protecção do património cultural. O primeiro filme co-produzido pela China e Cazaquistão, “The Composer”, foi estreado em 17 de Maio de 2019, durante o CDAC. O musical narra os últimos anos de 1940 a 1945 do compositor chinês Xian Xinghai, nascido em Macau e mais conhecido pela sua “Cantata do Rio Amarelo”, em Alma-Ata, a maior cidade do Cazaquistão, e Moscovo. O presidente chinês destacou a importância das trocas e aprendizagem mútua entre civilizações em várias ocasiões. Em um discurso na sede da UNESCO em Paris, em 2014, afirmou que as civilizações tornaram-se mais ricas e mais coloridas com intercâmbios e mútua aprendizagem. Tais intercâmbios e aprendizagem formam um importante impulso para o progresso humano, paz e desenvolvimento global.

A CDAC foi proposta na reunião de cúpula da “Conferência sobre Interacções e Construção de Confiança na Ásia (CICA na sigla inglesa)”, em Xangai, em 2014, e novamente na “Conferência Anual do Fórum Boao para a Ásia (FBA na sigla inglesa)” que se realizou na província de Hainan no sul da China, em 2015.   A exposição no “Museu Nacional de Arte da China” em Pequim, durante a CDAC teve uma interessante mistura. Havia pinturas de artistas chineses retratando outros países da Ásia, bem como paisagens chinesas e pessoas desenhadas por artistas de outros países asiáticos.

O discurso do presidente chinês aquando da abertura da CADC foi muito caloroso, expressando a sua disposição de abrir os braços a todas as civilizações na Ásia e do mundo, enfatizando a necessidade de lidar com diferentes civilizações em pé de igualdade e que nenhuma delas tinha o direito de ser superior. Todas as civilizações têm as suas singularidades e a sua parte na herança humana. Ao invés do “choque de civilizações”, afirmou a necessidade de cooperação entre civilizações e de construir uma comunidade de civilizações com um futuro partilhado, invertendo a direcção de muitas ideias de progresso no mundo que levam à existência de relações de confronto entre países e civilizações.

Actualmente existem duas tendências no mundo, sendo a da globalização e a da desglobalização. Os Estados Unidos estão a tentar destruir a actual ordem mundial, tendo cancelado a sua participação em vários acordos globais como o “Acordo Climático de Paris”, mas a China lidera a globalização e oferece ao mundo grandes ideias como a “Iniciativa Faixa e Rota” e um futuro compartido para a Ásia e toda a humanidade. A China está a oferecer um novo farol de esperança. O diálogo é a aspiração comum das pessoas na Ásia.

A CDAC pode aumentar a consciência da civilização asiática. A Ásia tem civilizações antigas, diversas e ricas. No entanto, por muito tempo na história, a civilização ocidental dominou o mundo e a civilização asiática foi suprimida até certo ponto. A tese chinesa é uma censura poderosa para os que defendem a teoria do “choque de civilizações”. A Ásia possui mais de 60 por cento da população mundial e um terço do PIB mundial e tornou-se um importante motor para o crescimento económico global. A civilização asiática adoptará uma renovação e o CDAC será um catalisador para essa reforma.

27 Jun 2019

G20 | Xi Jinping vai exigir “respeito mútuo” nas negociações com Trump

Em vésperas do encontro de Xi Jinping com Donald Trump, durante a cimeira do G20, em Osaka, as autoridades chinesas vão lançando algumas farpas ao Presidente norte-americano exigindo compromissos dos dois lados para acabar com o conflito comercial

 
[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, vai exigir respeito mútuo e pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao homólogo norte-americano, Donald Trump, quando debaterem a guerra comercial durante a cimeira do G20, disse ontem fonte governamental.

O vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, confirmou, em conferência de imprensa, que as delegações de Pequim e Washington estão em contacto, visando preparar o encontro entre os dois líderes.

“Os princípios da China são o respeito mútuo, tratar-se uns aos outros como iguais e respeitar as regras da OMC”, afirmou.

“O compromisso deve ser dos dois lados”, defendeu ao falar sobre o encontro, que se realizará entre os dias 28 e 29 de Junho, em Osaka, no Japão. Wang lembrou que o “unilateralismo” e o “proteccionismo” abrandaram o crescimento económico global e criaram “incertezas”.

O vice-ministro citou dados da OMC que diz provarem que o comércio internacional está ao nível mais baixo, desde Março de 2010, e que o investimento estrangeiro global caiu para níveis equivalentes ao início da crise financeira internacional.

Wang assegurou que a China apoia o “consenso” para reformar a OMC e considerou que o G20 “deveria apoiar o livre comércio, não discriminatório e transparente”, bem como promover “a profunda integração entre comércio e economia digital”.

Um acordo que ponha fim às disputas comerciais com os Estados Unidos “tem que ser benéfico para ambas as partes, ambos têm que se comprometer e fazer concessões, não apenas um dos lados”, sublinhou.

O ministro assistente dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, apontou que o G-20 ocorre numa altura em que a economia enfrenta “mais riscos e incertezas” e afirmou que a China assumirá um “papel construtivo” na reunião.

Zhang anunciou que Xi vai manter vários encontros bilaterais em Osaka e participar numa reunião com os presidentes dos países do bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cuja próxima cimeira se realiza no Brasil, em Novembro. “A China vai levar uma mensagem forte na defesa do multilateralismo contra o unilateralismo”, disse Zhang.

Guerra aberta

Em Maio passado, as disputas comerciais entre Pequim e Washington agravaram-se quando, após 11 rondas de diálogo, as negociações foram subitamente interrompidas. Washington acusou então Pequim de retroceder em compromissos anteriormente alcançados, enquanto a China acusou a delegação norte-americana de não respeitar a soberania e a dignidade do país e de fazer exigência inaceitáveis.

Os Governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados, numa guerra comercial que espoletou no Verão passado.

Washington impôs já taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, colocou a gigante chinesa das telecomunicações Huawei numa “lista negra”, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, ‘software’ e outros componentes, sem a aprovação do Governo.

Pequim ameaçou suspender a exportação para os EUA de terras raras, os minerais essenciais para o fabrico de produtos electrónicos.

Criado em 1999, o G20 integra os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia. Os Presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Donald Trump, respectivamente, falaram na semana passado por telefone, visando retomar as negociações.

25 Jun 2019

Presidente chinês diz esperar que Coreia do Norte e EUA reiniciem negociações

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, citado pela imprensa chinesa, disse ao líder norte-coreano Kim Jong que a comunidade internacional espera que os Estados Unidos e a Coreia do Norte reiniciem um diálogo produtivo.

A emissora estatal CCTV referiu que Xi Jinping terá feito este comentário hoje durante uma reunião realizada durante a sua visita à Coreia do Norte. Os líderes da China e da Coreia do Norte reuniram-se hoje, em Pyongyang, numa altura em que os dois países, aliados tradicionais, enfrentam um impasse nas negociações com Washington, em torno do comércio e desnuclearização, respectivamente.

Antes da reunião, Xi Jinping e a sua mulher, Peng Liyuan, e altos quadros do regime chinês, foram recebidos com uma cerimónia de boas vindas no aeroporto de Pyongyang, com guarda de honra, salvas de canhão e os hinos nacionais de cada um dos dois países tocados por uma banda militar, segundo imagens difundidas pela televisão estatal chinesa CCTV.

Cerca de 10 mil pessoas, agitando flores e entoando frases de boas-vindas, receberam Xi, detalha a Xinhua. Trata-se da primeira deslocação de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005, e surge numa altura em que ambos, Xi e Kim, travam lutas separadas com o Presidente norte-americano, Donald Trump, por motivos diferentes.

As negociações entre Washington e Pyongyang parecem ter chegado a um impasse depois de, em Fevereiro passado, a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em Hanói, ter terminado sem um acordo.

Pyongyang propôs abdicar gradualmente do seu arsenal nuclear, à medida que as sanções económicas fossem levantadas, enquanto Washington quer um desarmamento completo.

Também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China.

Trump e Xi vão abordar as disputas comerciais, na próxima semana, durante o G20, no Japão.
A visita coincide com o 70.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Norte e ocorre nas vésperas do 69.º aniversário do início da devastadora Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com a assinatura de um armistício que não foi ainda substituído por um tratado formal de paz. Nos manuais escolares chineses, a Guerra da Coreia é designada “Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia”.

A visita de Xi foi anunciada, na segunda-feira, pelo Departamento da Ligação Internacional do Comité Central do Partido Comunista da China, ao invés do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, como é costume nas deslocações do chefe de Estado chinês.

20 Jun 2019

Xi Jinping diz que visita a Pyongyang visa progressão nas negociações nucleares

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, disse hoje, num artigo de opinião publicado no principal jornal norte-coreano, que a sua viagem a Pyongyang contribuirá para “progredir no diálogo” e nas “negociações sobre questões da Península Coreana”.

O artigo foi publicado nas vésperas da deslocação de Xi ao país vizinho, a primeira visita de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005. “Nós contribuiremos activamente para a paz e estabilidade regional e para o desenvolvimento e prosperidade, fortalecendo a comunicação e a coordenação com a Coreia do Norte e outros actores relevantes, para alcançar progresso no diálogo e nas negociações sobre questões na Península Coreana”, escreveu Xi.

O líder chinês refere claramente as negociações entre Pyongyang e Washington sobre a desnuclearização, que se encontram num impasse, desde a cimeira fracassada, em Hanoi, em Fevereiro passado. Os EUA rejeitaram a oferta de Pyongyang, de desmantelar o seu principal complexo nuclear em troca do fim das sanções da ONU, insistindo antes no desarmamento total.

No artigo, Xi afirma que a intenção de Pequim é resolver, através do diálogo, os “motivos razoáveis que preocupam o regime”, numa aparente demonstração de apoio à proposta de desnuclearização progressiva de Pyongyang.

No mês passado, o regime norte-coreano disparou mísseis de curto alcance e outras armas no mar, visando provavelmente pressionar os EUA.

A visita ocorre numa altura em que também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China.

Analistas consideram que, com esta visita, a China tentará enfatizar perante os EUA a grande influência que tem sobre a Coreia do Norte como o seu principal parceiro comercial e aliado.
Kim visitou a China por quatro vezes, no espaço de um ano, num sinal de renovada confiança entre Pyongyang e Pequim, após anos de distanciamento, face à insistência do regime norte-coreano em prosseguir com o seu controverso programa nuclear.

No entanto, Xi Jinping só agora retribuirá a visita, rompendo com o protocolo nas relações entre Estados – as visitas devem ocorrer alternadamente, de forma recíproca.

19 Jun 2019

Putin e Xi Jinping em consonância sobre Venezuela e outros temas internacionais

[dropcap]O[/dropcap]s presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, apelaram hoje ao diálogo para a resolução da crise política na Venezuela e anunciaram medidas para contrariar as restrições às exportações de altas tecnologias.

A declaração emitida no final de um encontro que durou várias horas entre Putin e Xi no Kremlin apela a todas as partes envolvidas no conflito venezuelano a “apoiar uma solução pacífica dos problemas no país através de um diálogo político inclusivo” e rejeitaram uma possível “intervenção militar” na Venezuela.

“Seguimos atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos na Venezuela e apelamos a todas as partes a cumprir com a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados”, acrescenta o documento.

Putin e Xi, líderes de dois países que possuem importantes interesses económicos na Venezuela, expressam também a intenção de continuar a manter consultas sobre a América Latina e reforçar os contactos e acções conjuntas para aprofundar as relações com os países da região.

Numa alusão à actual guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos, a declaração russo-chinesa assinala que as duas partes se propõem “contrariar a imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologia da informação com a desculpa de garantir a segurança nacional, assim como a exportação de produtos e altas tecnologias”, assinala a declaração conjunta emitida no final das negociações entre os dois estadistas.

O documento também sublinha a disposição de se “oporem à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e económica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se arrogarem no direito de decidir os parâmetros da cooperação entre outros países”.

Putin e Xi Jinping, acusados de promoveram a censura no universo digital, também prometem “garantir o funcionamento pacífico e seguro da Internet na base da igualdade de condições de todos os países no dito processo”.

“E também contribuir para instaurar a regularização de um espaço informativo global”, acrescenta.
Num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, as trocas comerciais entre Moscovo e Pequim aumentaram 25% em 2018, para atingir um nível recorde de 108 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), um aspecto também sublinhado no comunicado conjunto.

Estes números contrastam com a actual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ocorre também após Moscovo acusar Washington de competência desleal no caso do gasoduto Nordstream-2 entre a Rússia e a Alemanha, um projecto que hoje voltou a ser criticado por Washington.

O líder russo enfatizou a perspectiva comum de Moscovo e Pequim sobre numerosos temas internacionais, em particular a oposição conjunta à retirada os Estados Unidos do Tratado sobre Forças nucleares de alcance intermédio (INF), um decisivo pacto sobre o controlo de armamento firmado no final da Guerra fria.

Os dois presidentes consideraram que esta decisão dos EUA “corrói a estabilidade estratégica”, e também manifestaram preocupação pela crescente ameaça de uma corrida ao armamento no espaço, apelando à abolição global do envio de armamento para a órbita terrestre.

Putin e Xi Jinping também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irão, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte.

Hoje, os dois líderes também assistiram à inauguração de uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Mosovo, e à oferta de dois pandas ao zoo da capital russa.

Após o programa moscovita, Xi Jinping, que prolonga por vários dias a sua visita à Rússia, desloca-se à antiga capital dos czares e da Revolução de Outubro, onde entre quinta e sexta-feira será convidado de honra no Fórum económico de São Petersburgo, o principal encontro empresarial da Rússia, que deverá reunir 17.000 pessoas.

A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e norte-americanas desde 2014, na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia.

6 Jun 2019

Xi Jinping na Rússia para acertar estratégias com Putin

Na visita de três dias a Moscovo o Presidente chinês deverá abordar com o seu homólogo russo temas como a crise venezuelana, a Coreia do Norte ou a guerra comercial com os Estados Unidos. Em cima da mesa estarão também a assinatura de acordos no âmbito das áreas da agricultura, finanças e ciência e tecnologia

 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, realiza esta semana uma visita à Rússia, onde participará no 23º Fórum Económico Internacional e acertará estratégias com o seu grande parceiro internacional Vladimir Putin, face às crescentes tensões com os EUA.

Xi e Putin “vão actualizar e fortalecer as relações”, num momento em que a situação internacional apresenta “mudanças sem precedentes no espaço de um século” e sofre “grande impacto do unilateralismo”, disse ontem o vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Zhang Hanhui, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

Sem referir a guerra comercial entre a China e os EUA, Zhang sublinhou que as relações entre Pequim e Moscovo são cada vez mais “maduras, estáveis e fortes” e serão reforçadas nesta visita de três dias para a qual Xi Jinping parte na quarta-feira.

“Esta visita consolidará a base política das relações sino-russas, reafirmará o seu apoio mútuo em questões que envolvem as respectivas preocupações fundamentais e assegurará que as relações não serão afectadas por qualquer mudança na situação internacional”, acrescentou.

Especialistas prevêem que Pequim e Moscovo continuarão a traçar estratégias comuns, sobre a Venezuela ou Coreia do Norte, enquanto a guerra comercial com Washington se agrava.

No entanto, Putin poderá também tentar explorar as disputas comerciais entre Pequim e Washington para melhorar a capacidade de manobra da Rússia nas relações com os dois países.

Da agenda

A Xinhua avançou que os dois chefes de Estado deverão assinar documentos de cooperação em áreas como agricultura, finanças, ciência e tecnologia e comércio electrónico.

Os dois Presidentes devem ainda discutir projectos de infraestrutura, como a ponte que ligará Heihe, cidade fronteiriça da província chinesa de Heilongjiang, com a cidade russa vizinha de Blagoveshchensk, permitindo triplicar o volume actual de carga naquela área.

Xi participará ainda num evento para celebrar o 70º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas e no 23º Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, onde apresentará ideias para o “desenvolvimento sustentável, a defesa do multilateralismo e a melhoria da governação global para o desenvolvimento e a prosperidade”, segundo a Xinhua.

A cooperação militar entre os dois países tem também aumentado, com intercâmbios de alto nível entre as forças armadas, para marcar o 70º aniversário das relações, e que incluirão “formação em combate real e outras competências militares”, segundo o porta-voz do ministério chinês da Defesa Wu Qian.

As marinhas dos dois países conduziram um exercício naval conjunto, no início de Maio, em Qingdao, na província de Shandong, leste da China, destinada a preparar para “combate real” e reforçar a “capacidade de comando conjunto e resposta a ameaças à segurança marítima”.

4 Jun 2019

Xi Jinping escreveu aos alunos de Macau, Chui Sai On agradeceu

Em pleno dia da criança, Xi Jinping respondeu por carta a alunos de uma escola de Macau. A missiva, além ter deixado Chui Sai On comovido, foi motivo para uma palestra com o propósito de estudar o espírito das palavras do Presidente chinês. No evento participaram, além do Chefe do Executivo, o director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, Alexis Tam e representantes do sector educativo

 

[dropcap]F[/dropcap]icámos todos muito emocionados com a recepção da carta do presidente Xi e o carinho que deixou, assim como um recado muito rico à população e para os alunos de Macau”. Foi assim que Chui Sai On reagiu à missiva assinada por Xi Jinping em resposta à carta enviada pelos alunos da Escola de Talentos anexa à Escola de Hou Kong de Macau.

“O Presidente Xi Jinping é uma pessoa muito atarefada, mas, mesmo assim, utilizou o seu tempo para responder à carta dos alunos da escola primária. Isto para Macau é uma grande honra”, referiu o Chefe do Executivo.

A correspondência motivou uma palestra com o intuito de interpretar a filosofia contida na mensagem do Presidente chinês. “O espírito e a filosofia da carta reveste-se de um grande significado, como tal devemos aprender esta filosofia. Temos de perceber o seu conteúdo e importância e perceber a filosofia subjacente”, referiu o Chefe do Executivo.

Chui Sai On destacou ainda o facto de Xi Jinping ter assinalado a “excelência do desempenho das crianças e o patriotismo que demonstraram” e de Macau ser a materialização do desenvolvimento da tradição patriótica chinesa. O líder do Governo local realçou, em conferência de imprensa, que é necessário descortinar o valor essencial do país de forma a permitir maior interacção e integração entre os dois territórios. “Quando a pátria está bem, Macau também vai estar bem”, completou Chui Sai On.

Influência do exterior

O director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, foi um dos participantes na palestra destinada ao sector educativo e também revelou ter ficado emocionado com a carta enviada por Xi Jinping. “Sinto o amor do Presidente a Macau”, comentou. Além de destacar o incentivo ao patriotismo da juventude local, Fu Ziying destacou os grandes projectos nacionais, como a Grande Baía e “Uma Faixa, Uma Rota”, como pólos de participação patriótica dos alunos locais. Também destacou a perigosidade de interferências externas.

“Numa sociedade liberalizada, como Macau, é muito fácil os jovens serem influenciados, por isso temos a responsabilidade de criar valores correctos”, referiu o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau.

A directora da Escola Hou Kong, Chan Hong, referiu que as crianças são formadas para saberem como amar a pátria e Macau. “São ensinados conhecimentos sobre tecnologia, sobre a realidade nacional e sobre todos os compromissos que têm que assumir perante a sociedade, a família e o país”, revelou a directora.

 

Teoria da evolução

A escola Hou Kong, foi o estabelecimento de ensino que há trinta anos escreveu a Pequim, a criticar o Governo Central pelos acontecimentos em Tiananmen. A memória foi recordada ontem pelo deputado Sulu Sou, citado pela Rádio Macau. “A escola Hou Kong foi uma das que há três décadas escreveu uma carta ao Governo Central apoiando o movimento estudantil e censurando a violência. Trinta anos depois parecem ter mudado a maneira de pensar”, disse o deputado. Para Sulu Sou, a palestra realizada ontem destinada ao sector educativo para “aprendizagem e aplicação do espírito da carta de resposta do presidente Xi Jinping aos estudantes de Macau”, representa ainda o controlo cada vez maior do ambiente político local.

1 Jun 2019

Brasil é parceiro no processo de multipolarização mundial, diz Xi Jinping

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou sexta-feira que tanto a China quanto o Brasil, os maiores países em desenvolvimento do oriente e do ocidente, são “duas importantes forças no processo de multipolarização mundial”.

O líder chinês falava no final de um encontro com o vice-Presidente do Brasil, Hamilton Mourão, que se encontra em visita oficial à China desde a passada quarta-feira, dia 22 de Maio, precisamente numa altura em que em que assume particular relevância o momento de tensão, económica, entre Pequim e Washington, representante, segundo o gigante asiático, de um mundo unipolar.

“O respeito, a confiança e o apoio mútuo servirão para converter a relação entre a China e o Brasil num modelo de solidariedade e cooperação entre os dois países em desenvolvimento, e numa força importante para promover a paz e o desenvolvimento mundiais”, considerou Xi Jinping, citado, segundo a Efe, pela televisão estatal CCTV.

Para Xi Jinping, ambos os países “são importantes mercados emergentes” com “um grande potencial para o desenvolvimento”, pelo que o chefe de Estado chinês convidou o Brasil a participar na iniciativa chinesa de construção de infraestruturas, denominada “Nova rota da seda”.
Hamilton Mourão afirmou, em relação a este tema, que “o Brasil está disposto a promover a convergência dos seus planos de associação em matéria de investimentos com a iniciativa [da Nova rota da seda]”, assim como a alargá-los à cooperação em matéria de comércio, ciência e tecnologia e inovação.

O vice-Presidente brasileiro sublinhou o que, na sua opinião, é uma “importante contribuição da China para a promoção do crescimento económico mundial”, ao mesmo tempo que considerou o país asiático como “um parceiro estratégico fiável e de confiança” e convidou Pequim a aumentar o investimento directo no Brasil, um dos objectivos da visita oficial que terminou sexta-feira.

Pesos na balança

A visita de Hamilton Mourão serviu ainda para preparar a deslocação oficial à China do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, no segundo semestre deste ano.

Antes de ser recebido por Xi Jinping, Mourão reuniu-se com vários empresários chineses, entre os quais o vice-presidente e engenheiro-chefe da China Communication and Construction Company (CCCC), Sun Ziyu, e o presidente do conselho de supervisão e do conselho fiscal da empresa da gigante tecnológica Huawei, Li Jie.

A visita de Mourão permitiu a Pequim reforçar garantias às suas alianças com as economias emergentes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), num momento de desencontro com os Estados Unidos.

Neste contexto, um enviado de alto nível de Xi Jinping assistiu sábado, em Pretória, à tomada de posse do Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, e prevê-se que o próprio chefe de Estado chinês visite o Brasil em Novembro, data em que decorrerá a cimeira dos BRICS em Brasília.

A China é desde 2009 o principal parceiro comercial do Brasil, O volume de negócios na balança comercial entre ambos os países alcançou os 98.900 milhões de dólares no ano passado, de acordo com dados oficiais.

27 Mai 2019

Presidente chinês alerta para dificuldades criadas pela guerra comercial com EUA

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, alertou ontem o povo chinês para os “riscos e desafios” da “situação difícil” criada pela guerra comercial com os EUA, de acordo com declarações divulgadas pela agência estatal Xinhua.

“O nosso país encontra-se numa fase de procurar oportunidades estratégicas para o desenvolvimento, mas a situação internacional está cada vez mais difícil”, disse o Presidente chinês, durante uma visita à província de Jiangxi, no sul do país.

Xi dirigiu-se aos cidadãos para os alertar para o contexto “complexo e desfavorável” que enfrenta a economia do país, incentivando-os a estar preparados para “superar riscos e desafios”.

As declarações de Xi ocorrem no momento em que a guerra comercial entre a China e os EUA continua numa escalada, sobretudo depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter declarado sanções à empresa de tecnologia chinesa Huawei, considerando que a sua tecnologia de comunicações 5G coloca riscos de espionagem.

Empresas como a Google anunciaram esta semana que vão deixar de facilitar e permitir que a Huawei use o seu sistema operativo, Android, com o qual operam os telemóveis da empresa chinesa.

A Huawei terá agora três meses para a fase de transição facilitada pelo governo norte-americano, antes de ficar exposta às sanções anunciadas por Donald Trump. Outras empresas norte-americanas de processadores informáticos como a Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom, a empresa alemã Infineon Technologies e fabricantes de ‘chips’ como a US Micron Technology e Western Digital vão também deixar de fornecer a Huawei, cumprindo as instruções de Trump, o que pode atrasar os planos de adoção da rede 5G em todo o mundo.

A directora financeira e filha do fundador da Huawei, Meng Wanzhou, também se encontra em liberdade condicional sob fiança no Canadá, após ter sido detida naquele país a pedido dos EUA, que acusou a empresa chinesa de violar as sanções impostas ao Irão.

O fundador e CEO da Huawei, Ren Zhengfei, tentou minimizar as sanções dos Estados Unidos, dizendo que a sua empresa está vários anos à frente dos seus concorrentes, na tecnologia 5G.

23 Mai 2019

Hong Kong | Retida ex-procuradora filipina que processou Xi Jinping no TPI

Conchita Carpio Morales apresentou, em Março, juntamente com o ex-secretário dos Negócios Estrangeiros filipino e vários pescadores, uma queixa contra o Presidente chinês no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade e danos ambientais. Em causa está a ocupação chinesa de ilhotas e recifes, contestada pelas Filipinas, no Mar do Sul. Foi detida no aeroporto de Hong Kong, acusada de ameaça à segurança nacional

 

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas retiveram a ex-procuradora Conchita Carpio Morales, que em Março iniciou uma acção legal contra o Presidente chinês, Xi Jinping, perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade e danos ambientais.

A ex-defensora pública filipina, de 78 anos, foi retida pelo departamento de imigração do aeroporto de Hong Kong como uma “ameaça à segurança nacional”, disse a sua advogada, Anne Marie Corominas, num comunicado à imprensa.

Conchita Carpio Morales, uma figura respeitada nas Filipinas e que se reformou no Verão passado, viajou para Hong Kong a partir de Manila, acompanhada do seu marido, filho, nora e dois netos, embora apenas a ex-Defensora tenha sido transferida para os escritórios de imigração do aeroporto na chegada.

“Como pode uma ex-defensora pública, que se dedicou ao combate à corrupção, ser uma ameaça à segurança da China?”, questionou a advogada.

“O Presidente Xi tem medo dela? A única coisa que fez foi exercer o seu direito como cidadã filipina de comparecer perante o TPI”, acrescentou a advogada, a quem Conchita Morales conseguiu enviar uma mensagem de texto para relatar a sua situação.

Disputas marítimas

A ex-Defensora, o ex-secretário dos Negócios Estrangeiros das Filipinas, Albert del Rosario, e um grupo de pescadores afectados pelas actividades da China nas águas das Filipinas apresentaram uma queixa em Março contra Xi Jinping.

Os queixosos acusaram Xi e outras autoridades chinesas de cometerem “crimes envolvendo danos ambientais maciços, quase permanentes e devastadores em várias nações”, uma vez que a China ocupou várias ilhotas e recifes, cuja posse é contestada por vários países da região.

Alegam ainda que os danos ambientais começaram quando o Governo de Xi Jinping empreendeu “um plano sistemático para tomar o Mar do Sul da China”, de vital importância geoestratégica, onde circula 30 por cento do comércio global e abriga 12 por cento da pesca mundial, além de possíveis depósitos de gás e petróleo.

Os signatários da acção argumentam que o TPI tem jurisdição sobre o caso porque os “crimes” da China ocorreram quando as Filipinas ainda era membro do Tribunal.

O país deixou de ser membro do TPI a 17 de Março, por ordem do actual Presidente do país, Rodrigo Duterte, acusado naquele tribunal de crimes contra a humanidade devido à sua guerra contra as drogas nas Filipinas.

O Tribunal Arbitral de Haia atribuiu em 2016 a posse de vários territórios do Mar do Sul da China às Filipinas, como o atol de Scarborough ou parte do arquipélago de Spratly, uma decisão que a China não reconhece.

Filipinas, China, Taiwan, Malásia, Vietname e Brunei reivindicam a totalidade ou parte desse arquipélago, onde a China construiu ilhas artificiais desde 2012 nos recifes e atóis para se apropriar delas de facto.

Apesar da decisão, a China continua as suas actividades militares sem que o Governo de Duterte tenha reivindicado nada, já que o Presidente reorientou sua política externa para o “gigante asiático” em troca de uma generosa injecção de investimento.

22 Mai 2019

Futebol, um símbolo do “soft power” chinês que pode falhar

No estudo “Turismo, Desporto, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues, da Universidade de Aveiro, em Portugal, defendem que o investimento do Governo Central na área do desporto tem vindo a funcionar como uma arma diplomática, intensificado na era Xi Jinping. Contudo, há o risco de a estratégia não obter os resultados políticos desejados

 

[dropcap]D[/dropcap]ois investigadores da Universidade de Aveiro, em Portugal, acabam de publicar na publicação “Revista Turismo & Desenvolvimento” um artigo que olha para a forma como o Governo Central tem utilizado o desporto como uma estratégia diplomática. Em “Turismo Desportivo, Diplomacia e ‘Soft Power’: O Caso Chinês”, Emanuel Júnior e Carlos Rodrigues falam da forma como essa estratégia tem vindo a evoluir, sobretudo desde que Xi Jinping se tornou Presidente do país. Contudo, há fortes possibilidades desta estratégia não ser bem-sucedida, por duas razões.

“A China tem um enorme desafio pela frente, que é a busca por criar uma prática cultural no país. Jogar futebol não faz parte do quotidiano dos chineses. Fazer desta prática um hábito, incorporando seu jogo e o consumo do seu espectáculo, inclusive, em nosso entendimento, é um desafio inovador e que demandará tempo”, explicou Emanuel Júnior ao HM.

O investigador, licenciado em Direito e com experiência em jornalismo, alerta também para o facto de o futebol na China ser encarado, do ponto de vista estratégico, como algo planeado a médio e longo prazo. Isto porque existe entre as esferas decisórias o entendimento de que o futebol implica uma mudança cultural que não acontecerá da noite para o dia. Por esse motivo, “o desafio para as autoridades chinesas é enorme, pois é preciso que não haja precipitações, por exemplo, que possam ocasionar em decisões equivocadas, políticas e regras que ao invés de colaborarem para o desenvolvimento do futebol no país terminem por atrapalhar.”

Emanuel Júnior acredita ainda que a segunda razão para uma possível falha nesta estratégia reside “naquilo que alguns pesquisadores denominam ‘soft disempowerment’ – que ocorre quando esta tentativa ‘sai pela culatra’ e a influência e o prestígio são abalados ao invés de expandidos”.

Apesar da aposta no desporto, sobretudo no futebol, tem sido mais notória nos últimos anos, a verdade é que não só o conceito de ‘soft power’ foi introduzido na China em 1992, estando na linguagem oficial do Partido Comunista Chinês desde 2007, como houve mudanças em 2008, quando o país recebeu os Jogos Olímpicos.

“Hu Jintao mostrou-se empenhado em fazer da China uma potência do desporto mundial, determinando que acções fossem tomadas para que passassem de ‘um país de acontecimentos desportivos importantes para uma potência desportiva mundial’. Portanto, percebe-se que se trata de uma estratégia antiga, que antecede a chegada de Xi Jinping ao poder.”

Muito antes destes dirigentes chegarem à liderança do Governo Central, já o desporto tinha despertado a atenção de Mao Zedong, quando fundou a RPC, em 1949. “Se olharmos para a história da RPC percebemos que o desporto sempre serviu como instrumento político e diplomático.”

Uma arma

Emanuel Júnior defende que o actual Presidente chinês marcou a diferença pelo enorme investimento e atenção que tem dado ao futebol. “Xi Jinping é mais explícito em relação ao que ele entende necessário à China, como explorar o soft power, no sentido de que o país precisa ter uma boa narrativa sobre sua imagem e comunicar melhor a mensagem da nação ao mundo.”

Além disso, em 2009, quando Xi Jinping ainda era vice-presidente, já sinalizava para o “Sonho do Futebol Chinês”. “Dois anos depois, revelou ter ‘três sonhos do Campeonato do Mundo’: participar do Campeonato do Mundo, sediar o Campeonato do Mundo e vencer o Campeonato do Mundo”, frisou o académico, sem esquecer que Xi “tem como uma das suas metas o crescimento da indústria desportiva chinesa”. Prova disso foi o facto de, em 2014, o Conselho de Estado da China ter publicado o documento “Opiniões para a aceleração do desenvolvimento da indústria desportiva e promover o consumo do desporto”. É na esteira deste documento que surge o “Plano de desenvolvimento do futebol a médio e longo prazo (2016-2050). O programa previsto para o futebol, além de ser visto como a mola propulsora para o crescimento da indústria desportiva chinesa, explicita no seu texto a necessidade de se buscar, através do futebol, a promoção de intercâmbios e trocas de conhecimentos, o estabelecimento de relações e a aproximação da China com outras nações, ou seja, o soft power, explica o académico.

Se na China o futebol não é uma prática desportiva tradicional, o mesmo não acontece em Portugal, de onde saíram muitos treinadores para formar os futuros talentos do futebol chinês.

Emanuel Júnior acredita que esta ligação estreita deverá continuar nos próximos anos. “Portugal pode dar um enorme contributo para o desenvolvimento do futebol chinês. Aliás, desde o plano do futebol, veem-se exemplos do intercâmbio entre portugueses e chineses no âmbito do futebol.”

O académico dá o exemplo da Foyo Culture and Entertainment Co Ltd, subsidiária da Fosun, que se tornou sócia da Gestifute (do agente português Jorge Mendes). Outro exemplo apontado é a empresa chinesa WSports Seven, do empresário Qi Chen, que criou um clube, o Oriental Dragon FC, com o intuito de formar exclusivamente futebolistas chineses em Portugal. Qi Chen também é accionista maioritário dos clubes portugueses Pinhalnovense e Torreense.

Os investimentos estendem-se ao Desportivo das Aves, cuja SAD é detida em 90 por cento pela Galaxy Believers, companhia de marketing desportivo que pertence aos chineses Wei Zhao e Hongmin Wang. No fim do ano passado, 80 por cento das ações do Tondela, da I Liga portuguesa, foram adquiridas pela Hope Group do chinês Jiang Lizhang. Mais recentemente, no início do mês de Abril, o Sporting firmou um princípio de acordo com vista ao desenvolvimento do futebol jovem na província de Guiyang, na China.

A importância dos JO

O doutorando da UA pensa que a realização dos JO em Pequim representou um ponto de viragem para esta estratégia.

“Em 1979 (ano em que o país aderiu às organizações desportivas mundiais) a China percebeu a importância do desporto de alta competição internacional na promoção da imagem do país e, por isso, estabeleceu a estratégia olímpica. Então, acreditamos que, do ponto de vista do desporto como instrumento de soft power, a estratégia olímpica representaria esta intensificação. O culminar desta estratégia foi a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.”

Nos JO, a delegação chinesa ganhou um total de 51 medalhas de ouro num total de 100, contra as 36 obtidas pelos atletas norte-americanos. Ainda assim, Emanuel Júnior deixa claro que o sucesso obtido pela estratégia olímpica chinesa jamais esteve próximo de ser replicado no desporto mais popular do mundo, o futebol. Esse facto fez com que “Hu Jintao tenha determinado que acções fossem tomadas para que o país se tornasse, definitivamente, uma potência do desporto mundial”.

A chegada ao poder de Xi Jinping representou uma intensificação deste plano táctico, pois o presidente “entendeu a importância do crescimento da indústria desportiva e viu o desporto como um instrumento eficaz para a promoção do país no cenário internacional e no estabelecimento de seus interesses geopolíticos”.

Neste sentido, o “plano do futebol estabelece uma ligação entre o desenvolvimento do futebol e a implementação das ‘Quatro Abrangentes’, que configuram os objectivos políticos de Xi Jinping, que buscam criar uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos, aprofundar a reforma, impulsionar o Estado de Direito e fortalecer a governança do Partido”.

3 Mai 2019

Guterres discutiu com Xi Jinping direitos humanos da minoria muçulmana

[dropcap]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, discutiu com o Presidente chinês a questão dos direitos humanos em Xinjiang, onde se calcula que um milhão de muçulmanos estejam detidos indefinidamente em campos de reeducação, informou a ONU.

Pela primeira vez, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou na segunda-feira que Guterres discutiu “a situação em Xinjiang”, com o Presidente da China, Xi Jinping, acrescentando que já houve ” vários outros contactos no passado recente sobre esta mesma questão”, junto das autoridades chinesas.

Dujarric apelidou as discussões de Guterres com Xi de “muito cordiais” e “francas”, durante o fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, no final desta semana, em Pequim, que se realizou entre 25 e 27 de Abril e que contou com a presença de líderes de 37 países e regiões, incluindo o Presidente da República português.

Este anúncio vem na sequência de várias críticas de organizações não-governamentais, entre as quais da Human Rights Watch (HRW), que exortou o secretário-geral das Nações Unidas a denunciar publicamente, em Pequim, a detenção arbitrária de um milhão de muçulmanos.

As autoridades chinesas negaram durante muito tempo a existência de campos de internamento, mas, perante a publicação de imagens de satélite e de documentos oficiais na Internet que denunciavam a sua existência, referiram-se a centros educativos que ensinavam a língua chinesa, o desporto ou a dança folclórica para combater o extremismo religioso.

Numa carta aberta ao líder da ONU divulgada na semana passada, a Human Rights Watch lamentou o “silêncio” de Guterres sobre a “deterioração dos direitos humanos em Xinjiang, onde uigures e outros muçulmanos turcófonos estão detidos indefinidamente em campos de educação”.

“A posição do secretário-geral sobre este tema sempre foi a mesma em privado e público”, balizando esta questão em princípios indivisíveis, como os direitos humanos que devem ser plenamente respeitados na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento e que cada comunidade deve sentir que a sua identidade é respeitada, explicou o porta-voz da ONU.

Segundo Dujarric, Guterres declarou às autoridades chinesas que “apoia totalmente as iniciativas” da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que tem vindo a pedir a Pequim acesso total à região de Xinjiang para avaliação da situação dos muçulmanos de origem uigur detidos em campos de reeducação.

Em Setembro de 2018, Bachelet pediu autorização a Pequim para o envio de uma equipa à região ocidental do país, mas ainda não obteve resposta, sendo que no início de Março voltou a fazer o pedido.

30 Abr 2019

“Uma Faixa, Uma Rota” | Xi Jinping pede consenso que garanta sustentabilidade do projecto

Xi Jinping reafirmou, perante uma plateia que incluía 37 chefes de Estado ou de Governo, a necessidade de união de esforços para garantir uma maior interconectividade, face ao clima de instabilidade económica global que se vive actualmente

 

Por João Pimenta, da agência Lusa 

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, pediu sábado aos participantes no fórum “Uma Faixa, Uma Rota” para reflectirem e alcançarem um consenso que garanta a “qualidade e resistência” dos projectos, numa altura de críticas à iniciativa.

“Sob o actual contexto global, marcado por uma situação económica complexa, crescente instabilidade e incerteza e falta de dinamismo, o fortalecimento da cooperação internacional para maior interconectividade torna-se mais significativo”, disse.

Xi Jinping lembrou que, em Dezembro passado, durante a primeira sessão do conselho consultivo da iniciativa, publicou um relatório de sugestões políticas com “opiniões valiosas” para melhorar a coordenação.

“A interconectividade é o objectivo principal da construção conjunta da ‘Faixa e Rota'”, defendeu.
Xi recordou que, na primeira edição do fórum, foi alcançado esse consenso importante para a superação dos entraves ao “desenvolvimento económico” e que serve como “força motriz para o desenvolvimento” dos respectivos países.

A cooperação nesta área já “floresce e dá frutos”, garantiu Xi, destacando a construção de autoestradas, linhas ferroviárias e portos.

O líder chinês acrescentou que a tarefa agora é “ampliar os interesses” e dar “passos sólidos” para garantir a “sustentabilidade e benefícios mútuos”.

Todos juntos

Xi Jinping inaugurou na sexta-feira o segundo fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, no qual participam 37 chefes de Estado ou de Governo, incluindo o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Bancos e outras instituições da China estão a conceder empréstimos para projectos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas.

A visão geoeconómica da China inclui uma malha ferroviária e autoestradas a ligar a região oeste do país à Europa e Oceano Índico, cruzando a Rússia e a Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas das prósperas cidades do litoral chinês.

Pelo caminho, estão a ser erguidos aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre, visando dinamizar o comércio e a indústria em regiões pouco integradas na economia global.

As palavras de Xi surgem numa altura em que críticos alertam que os planos chineses subverterão a actual ordem internacional e alargarão a esfera de influência de Pequim – os países aderentes ficarão encurralados pelo investimento chinês, tornando-se Estados vassalos, permitindo à China exportar o seu excesso de capacidade industrial ou poluição.

O presidente do Banco do Povo Chinês (banco central), Yi Gang, afirmou na sexta-feira que o país vai trabalhar para resolver a capacidade dos Estados em cumprir os seus empréstimos.

“Precisamos de avaliar objectivamente a questão da dívida dos países”, disse Yi, perante uma plateia que incluiu a directora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.

Os novos critérios de financiamento, definidos pelo ministério chinês das finanças e do banco central chinês, destinam-se a atrair parceiros de investimento estrangeiro, visando aliviar as preocupações quanto à capacidade dos países aderentes cumprirem com as suas dívidas.

A China deverá agora levar em conta a dívida total e a capacidade de financiamento na moeda local do respectivo país e tornar públicos os detalhes dos contratos. Lagarde considerou estas mudanças um “passo bem-vindo”.

Problemas resolvidos

Nas vésperas do fórum, Pequim resolveu algumas das disputas relacionadas projectos, que ameaçavam prejudicar a reputação da iniciativa.

A Malásia negociou uma redução equivalente a 5,4 mil milhões de dólares para a construção de uma linha ferroviária na costa leste, de 668 quilómetros de comprimento, que liga a costa ocidental do país aos estados rurais do oeste.

A Etiópia, que tem tido dificuldades em pagar um empréstimo avaliado em 4 mil milhões de dólares, contraído para construir uma ligação ferroviária entre Adis Abeba e o Djibuti, entrou também num processo de reestruturação da dívida.

No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, acabou por ser um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.

Lisboa quer incluir uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

29 Abr 2019

Marcelo começa na Grande Muralha visita de seis dias que termina em Macau

[dropcap]O[/dropcap] Presidente da República viaja na quinta-feira para a China para uma visita de seis dias que começa simbolicamente na Grande Muralha e termina em Macau, durante a qual será recebido pelo chefe de Estado chinês, Xi Jinping.

Segundo uma nota hoje divulgada pela Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa estará na China entre sexta-feira, 26 de Abril, e o 1.º de Maio, para participar na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas, e depois para uma visita de Estado, a convite do seu homólogo.

Em Pequim, será recebido pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e pelo Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, que esteve em Portugal no início de Dezembro. Da capital chinesa, seguirá para Xangai e para a Região Administrativa Especial de Macau, onde se reunirá com as máximas autoridades locais.

“Terá ainda a oportunidade de contactar com os responsáveis pelo actual dinamismo do relacionamento bilateral, nomeadamente agentes culturais, desportistas, empresários e investidores, bem como de visitar vários dos locais que ilustram a riqueza da cultura chinesa e a longa relação com Portugal”, refere a Presidência da República, na mesma nota.

A Grande Muralha da China, ao norte de Pequim, visitada por inúmeros líderes mundiais, será o primeiro lugar a que Marcelo Rebelo de Sousa se deslocará, no dia da chegada, sexta-feira, antes de participar no fórum “Faixa e Rota”, e a sua visita de Estado terá início no domingo, adiantou à Lusa fonte de Belém.

Da parte do Governo, deverá ser acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e pelo secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias.

Marcelo Rebelo de Sousa recebeu Xi Jinping no Palácio de Belém, em Lisboa, no dia 4 de Dezembro, durante a sua visita de Estado a Portugal.

Nessa ocasião, o Presidente chinês anunciou que o chefe de Estado português iria estar presente na segunda edição do fórum “Faixa e Rota” e faria uma visita de Estado à China em Abril.

O Presidente português considerou que a sua deslocação à China, “correspondendo a convite acabado de formular” por Xi Jinping, e “a assinatura de um memorando de entendimento” sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” simbolizam a parceria entre os dois Estados.

“Simbolizam bem a parceria que desejamos continuar a construir, com diálogo político regular e contínuo, a pensar no muito que nos une”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações conjuntas com o Presidente chinês aos jornalistas, sem direito a perguntas.

Sobre a cooperação económica e financeira entre a China e Portugal, o chefe de Estado português descreveu-a como “forte”, acrescentando: “E queremos que seja sustentável e duradoura no futuro”.

23 Abr 2019

Presidente chinês felicita líder norte-coreano por reeleição

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, felicitou hoje o líder norte-coreano, Kim Jong-un, pela sua reeleição como Presidente do mais alto órgão de tomada de decisão da Coreia do Norte, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Xi transmitiu a Kim as “mais calorosas felicitações” e os “melhores desejos”, afirmando que esta decisão “reflecte a confiança e apoio” que o “partido e o povo” norte-coreanos têm nele.

O líder chinês valorizou ainda “muito” a amizade entre a China e a Coreia do Norte, que ele espera que se continue a desenvolver, para “beneficiar os povos dos dois países”, destacou a mesma nota.

“Desde o ano passado, encontrei-me com o camarada Kim por quatro vezes e, juntos, chegámos a vários consensos importantes, que abriram um novo capítulo nas relações bilaterais”, disse Xi.

O líder chinês lembrou ainda que, este ano, se celebra o 70.º aniversário deste o estabelecimento das relações entre os dois países “vizinhos e amigos, ligados por rios e montanhas”.

Apesar do distanciamento dos últimos anos, Pequim continua a ser o principal aliado diplomático e maior parceiro comercial do regime de Kim Jong-un.

Nos anos 1950, os dois países lutaram juntos contra os Estados Unidos. No entanto, volvidas quase três décadas, o Partido Comunista Chinês desistiu de “aprofundar a luta de classes” e escolheu o desenvolvimento económico como “tarefa central”.

Pequim e Pyongyang voltaram a aproximar-se após Kim ter suspendido os testes nucleares e com mísseis balísticos e embarcado numa iniciativa diplomática, que incluiu visitas à China e cimeiras com os EUA e Coreia do Sul.

Kim foi reeleito como presidente da Comissão de Assuntos do Estado, durante a sessão de abertura da Assembleia Popular Suprema, realizada na quinta-feira, segundo a imprensa norte-coreana.

Kim Jong-un foi eleito presidente desta comissão em Junho de 2016, quando o órgão foi criado.
Por sua vez, Kim Jae-ryong, um alto funcionário do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, foi nomeado primeiro-ministro, substituindo Pak Pong-ju.

Choe Ryong-hae, que durante os primeiros anos de mandato de Kim Jong-un chegou a ser considerado o ‘número dois’ do regime, substituiu o veterano Kim Yong-nam, de 91 anos, como presidente honorário.

O principal encarregado por negociar um acordo nuclear com os Estados Unidos, e um dos responsáveis máximos pelos serviços secretos norte-coreanos, Kim Yong-chol, manteve a sua posição na Comissão dos Assuntos do Estado.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-ho, outra figura chave nas negociações, manteve também a posição.

12 Abr 2019

Negociações comerciais entre China e EUA terminam sem acordo

[dropcap]A[/dropcap] China e os Estados Unidos concluíram ontem sem um acordo mais uma ronda de negociações que visam pôr fim à guerra comercial que começou no verão passado e ameaça abalar a economia mundial.

“Concluímos em Pequim discussões construtivas. Aguardo com expectativa receber o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, na próxima semana, em Washington, para prosseguir com discussões”, escreveu na rede social Twitter o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, sem avançar mais detalhes.

A delegação norte-americana, que incluiu Mnuchin e o Representante para o Comércio, Robert Lighthizer, foi recebida esta manhã pelo vice-primeiro-ministro chinês Liu He, na residência diplomática de Diaoyutai, em Pequim.

Os negociadores de ambos os países apertaram as mãos para os fotógrafos, num ambiente aparentemente descontraído, com sorrisos e trocas de palavras amigáveis, apesar de as negociações se terem já prolongado para além do período de tréguas inicial.

As duas delegações tiveram na quinta-feira um jantar de trabalho, mas as reuniões só arrancaram oficialmente ontem.

A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA ditou o início de disputas comerciais, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.

Trump e Xi concordaram, entretanto, com uma trégua de 90 dias, que terminou em 2 de Março, mas que foi prolongada indefinidamente, visando encontrar uma solução para as disputas comerciais.

Os EUA querem mudanças “estruturais” no modelo económico chinês, dominado por grupos estatais sob tutela do Partido Comunista Chinês.

Trump exige ainda que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.

Washington quer também mais acesso ao mercado, melhor protecção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas.

30 Mar 2019

Macron defende junto de Xi Jinping forte parceria China-Europa

[dropcap]O[/dropcap]Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu esta segunda-feira perante o líder chinês, Xi Jinping, em Paris, uma “parceria Europa-China forte”, no momento em que os europeus procuram uma postura coerente face às ambições diplomáticas e económicas de Pequim.

Essa parceria deve, nomeadamente, ser articulada em torno de um “multilateralismo forte”, uma componente económica “justa e equilibrada”, disse Emmanuel Macron em declarações à imprensa.

O Presidente chinês, Xi Jinping, aterrou domingo em Paris, onde o governo francês espera convencê-lo a contribuir para uma “nova ordem internacional”, ao lado do governo alemão e da Comissão Europeia, apesar das resistências políticas ao investimento da China na Europa.

O Presidente Emmanuel Macron fez questão de receber Xi Jinping sob o Arco do Triunfo, um dos mais emblemáticos símbolos da República francesa, numa demonstração de apreço e de determinação diplomática em aproximar a Europa da China, num momento particularmente delicado das relações entre as duas potências económicas.

Por isso, o momento mais importante desta visita a França acontecerá terça-feira de manhã, quando Macron e Xi se reunirem com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, para discutir o que os líderes europeus chamam de “nova era” na ordem comercial internacional.

Xi Jinping chegou a Paris depois de uma visita a Itália, onde o governo não escondeu simpatia para com a iniciativa da “Nova Rota da Seda” – um projecto multibilionário de investimento chinês em diversos continentes.

Nas reuniões em Roma, o Presidente italiano, Sergio Mattarella, repetiu várias vezes que acredita no sucesso dos novos acordos comerciais entre os dois países, em declarações que vários analistas consideraram ser “optimistas” perante o clima de reserva da Europa comunitária face ao investimento chinês na União Europeia.

A verdade é que Xi Jinping saiu de Roma com um punhado de acordos comerciais, que incluem a abertura de importantes portos europeus, como o de Génova, e deixando promessas de investimento em estruturas de comunicação com o centro da Europa.

“A Europa precisa urgentemente de uma estratégia para a China, que seja digna desse nome”, afirmou recentemente o Presidente francês, revelando que, também da sua parte, há disponibilidade para acolher investimento chinês.

Mas Macron sabe que o acolhimento ao investimento chinês não agrada ao Presidente norte-americano, Donald Trump, que repetidas vezes tem alertado para a “subserviência europeia” aos interesses da China.

Na semana passada, o governo dos EUA ameaçou mesmo romper os tratados de partilha de dados entre agências de inteligência, se o governo alemão permitisse candidaturas de empresas com tecnologia chinesa nos concursos para frequências de telecomunicações 5G, como acabou por acontecer.

Por isso, a presença de Merkel e de Junker na reunião de terça-feira com Xi Jinping, no Palácio do Eliseu, ganha um valor político simbólico ainda mais relevante.

“Num mundo com gigantes como a China, a Rússia e os nossos aliados Estados Unidos, só poderemos sobreviver se estivermos unidos como uma verdadeira União Europeia”, sintetizava, na semana passada, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, numa entrevista ao jornal Welt am Sonntag.

O chefe da diplomacia alemã disse ainda que “se alguns países acreditam que podem fazer bons negócios com os chineses, ficarão surpreendidos quando perceberem que ficam reféns deles”, acrescentando que “a China não é uma democracia liberal”.

26 Mar 2019

Presidente chinês Xi Jinping no Mónaco para visita diplomática

[dropcap]O[/dropcap]Presidente da China, Xi Jinping, começou ontem pelo meio-dia uma visita diplomática ao Mónaco, no âmbito de um périplo europeu, transformando as ruas do principado, que ficaram desertas mas enfeitadas com símbolos e cores chinesas.

Depois de uma passagem por Roma, onde selou a entrada da Itália, com a assinatura de um memorando de entendimento “não vinculativo”, no seu projecto económico chinês “nova rota da seda”, Xi Jinping chegou ao Mónaco, uma hora depois de aterrar no aeroporto de Nice Côte D’Azur.

Trata-se da primeira vez que o Presidente do país mais populoso do mundo visita o Mónaco, o Estado mais pequeno do planeta depois do Vaticano.

O governante monegasco Alberto II foi recebido em Setembro em Pequim e forjou laços com Xi, especialmente em torno do desporto.

Não está prevista qualquer conferência de imprensa para esta visita, mas há imagens oficiais.
O programa da visita prevê um almoço com 40 convidados, no qual Xi Jiping e Alberto II vão poder discutir “questões económicas e ambientais”.

Em 2018, o Mónaco assinou um acordo com o grupo chinês Huawei para tornar o principado o primeiro país totalmente coberto em 5G para as suas comunicações móveis.

O Presidente chinês iniciou na quinta-feira um périplo pela Europa, visando “consolidar o bom momento” nas relações e reforçar alianças no comércio e assuntos internacionais, informou o Governo chinês, apesar da crescente suspeição de Washington.

A viagem de Xi Jinping decorre até 26 de Março e inclui Itália, França e Mónaco. Itália foi o primeiro país membro do G7 a integrar o projecto “nova rota da seda”, de infraestruturas marítimas e terrestres, lançado por Pequim em 2013, (ver página 13).

Com este projecto, Pequim tenciona impulsionar o seu comércio com o Ocidente, apesar das reticências por parte da União Europeia.

25 Mar 2019

Filipinas | Ex-governantes apresentam queixa contra Xi Jinping no TPI

[dropcap]D[/dropcap]Ex-funcionários do Governo filipino e um grupo de pescadores apresentaram queixa no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o Presidente chinês, Xi Jinping, por crimes contra a humanidade e danos ambientais no mar da China Meridional.

A acção, que solicita a abertura de um exame preliminar contra o Presidente chinês, foi apresentada em Haia, Holanda, na sexta-feira, indicou ontem a imprensa filipina, que publicou algumas páginas do documento.

O ex-secretário dos Negócios Estrangeiros filipino Albert del Rosario e a antiga procuradora no combate à corrupção Conchita Carpio Morales assinaram essa queixa juntamente com um grupo de pescadores afectados pelas actividades da China nessas águas.

Os requerentes acusam Xi Jinping e outros funcionários chineses de cometerem “crimes que implicam um dano ambiental massivo, quase permanente e devastador em vários países”, uma vez que a China ocupou várias ilhotas e recifes, cuja posse é disputada por vários países da região.

Os antigos funcionários do Governo filipino e os pescadores alegam que os danos ambientais começaram quando o Governo de Xi Jinping empreendeu “um plano sistemático para tomar o mar da China Meridional”, de grande importância geo-estratégica, através do qual circula 30 por cento do comércio global e abriga 12 por cento  da pesca mundial, além de possíveis depósitos de gás e petróleo.

Os signatários da acção alegam que o TPI tem jurisdição sobre o caso uma vez que “os crimes” da China ocorreram quando Manila ainda era membro do tribunal.

Em 17 de Março de 2018, o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, retirou o país do tratado que dá jurisdição ao TPI para investigar acções criminais no seu território – com a medida a ser efectiva a partir da mesma data do ano seguinte. A saída foi oficializada no passado domingo.

22 Mar 2019

APN | Xi Jinping rompe com moda e assume cabelos grisalhos

O líder da segunda economia mundial quebrou mais uma tradição do comunismo chinês e apresentou-se na Assembleia Popular Nacional sem o habitual cabelo pintado de preto. Analistas consideram que, com o novo visual, Xi pretende passar uma imagem de um homem mais perto do povo

[dropcap]O[/dropcap]Presidente chinês, Xi Jinping, um dos líderes mais fortes na história da República Popular da China, parece não ter dúvidas: é dos grisalhos que o povo gosta mais.

Perante os quase três mil delegados da Assembleia Popular Nacional (APN), o secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), de 65 anos, assumiu esta semana os seus cabelos brancos, rompendo com mais uma tradição da política chinesa.

O cabelo impecavelmente pintado de preto é uma imagem de marca dos líderes chineses, simbolizando vitalidade e unidade entre a cúpula do poder no país.

Na simbologia do comunismo chinês, esta mudança de visual tem servido, inclusive, para enfatizar a queda em desgraça de antigos altos quadros do PCC.

O ex-chefe de Segurança da China Zhou Yongkang, por exemplo, surpreendeu ao surgir em tribunal com o cabelo totalmente branco, quando foi condenado à prisão perpétua, por corrupção, em 2015.

Mas, desde que ascendeu ao poder, há cinco anos, Xi rompeu já com várias tradições, inclusive com uma emenda constitucional que aboliu o limite de mandatos para o seu cargo, confirmando o desmantelamento do sistema de “liderança colectiva”, cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970.

Observadores consideram que a mudança de visual visa agora reforçar a sua imagem de homem do povo.

“Xi Jinping quer desmistificar essa tradição e parecer um cidadão chinês comum – um homem do povo”, explica Willy Lam, analista de política chinesa e professor na Universidade Chinesa de Hong Kong.

A força do líder

Excepto em aparições altamente coreografadas, a presença de Xi é inexistente: o líder chinês não dá conferências de imprensa, ou entrevistas, e não é interpelado por jornalistas.

Mas a propaganda chinesa difunde frequentemente imagens do Presidente chinês em espaços populares: a comer uma refeição barata, num restaurante simples, ou nos antigos bairros operários de Pequim, a desejar um feliz Ano Novo Lunar aos moradores.

A aldeia onde viveu durante a adolescência, seguindo um fluxo de jovens urbanos para o interior para “aprenderem com os camponeses”, tornou-se também um destino obrigatório para funcionários públicos chineses e os quase 90 milhões de membros do PCC.

A sua “política de frugalidade” ditou, entretanto, o fim das “extravagâncias” no seio do partido: os banquetes oficiais, outrora servidos com dez ou mais pratos regados com aguardente, consistem agora em apenas quatro pratos e uma sopa. E a mais ampla e persistente campanha anticorrupção na história da China comunista, lançada após ele ascender ao poder, puniu já mais de um milhão e meio de funcionários do PCC.

No entanto, o líder chinês tem, ultimamente, enfrentado renovadas adversidades, incluindo um persistente abrandamento económico e fricções comerciais com os Estados Unidos, em parte devido à sua política externa, mais assertiva do que a dos antecessores.

“Ele deve estar sob muita pressão”, comenta Xie Li, 31 anos, que gere uma padaria em Pequim, sobre os cabelos brancos do “Tio Xi”, como os chineses habitualmente lhe chamam.

Lin Min, funcionária numa empresa de seguros, concorda: “Para um homem da idade dele, continuar a trabalhar assim, não é fácil”.

18 Mar 2019