Hoje Macau China / ÁsiaRPC, 70 anos | Partido Comunista Chinês exibe confiança no seu modelo [dropcap]Q[/dropcap]uando celebra sete décadas de governação, o Partido Comunista Chinês (PCC) continua a abdicar de reformas políticas e defende agora o seu “modelo” como solução para países em desenvolvimento, mas fragilidades persistem sob a capa autoritária, defendem analistas. O rápido desenvolvimento económico das últimas décadas e a forma como contornou a crise financeira global de 2008 injectaram redobrada confiança em Pequim de que o seu modelo constitui uma alternativa à democracia liberal. “A China oferece uma nova opção para países que desejam acelerar o seu desenvolvimento enquanto preservam a sua independência”, defendeu o Presidente chinês, Xi Jinping, em 2017. Só nos últimos 20 anos, a riqueza per capita da China quadruplicou, num “milagre” sem precedentes na História moderna. Num esforço liderado pelo Estado, a China ameaça destronar os Estados Unidos da posição que mantêm há 70 anos como líderes em inovação científica e tecnológica. No entanto, o reforço do carácter totalitário do regime, sob a presidência de Xi, abriu um “precedente muito perigoso para o futuro”, descreveu o sinólogo norte-americano David Shambaugh. Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo, procurou basear a tomada de decisão num processo de consultas, separar o Partido do Governo e descentralizar a autoridade pelas províncias e localidades, visando evitar os excessos maoistas que quase destruíram o país. Xi reverteu aquelas normas. Assombrado pela primavera árabe, que derrubou governos aparentemente invencíveis, e, sobretudo, pela implosão da decrépita União Soviética, em 1991, o Partido Comunista, sob a sua direcção, voltou nos últimos anos a penetrar na vida política, social e económica da China. “Proporcionalmente, o Partido Comunista Soviético tinha mais membros do que nós, mas ninguém foi homem o suficiente para se levantar e resistir”, alertou Xi Jinping, nas vésperas de ascender ao poder. Desde então, o aparelho de segurança do regime passou a contar com cerca de 200 milhões de câmaras de vigilância, instaladas nas principais cidades do país, segundo dados oficiais, muitas dotadas de reconhecimento facial. Uma campanha contra dissidentes resultou já na detenção de 250 advogados ou activistas dos direitos humanos, segundo organizações não governamentais. O Partido estabeleceu também comités em 70% das empresas privadas e ‘joint ventures’. Dentro do PCC, Xi lançou a mais ampla campanha anticorrupção na história da China comunista, resultando, até à data, na punição de mais de 1,5 milhão de funcionários, incluindo centenas de altos quadros e altas patentes do exército, segundo o próprio partido. A campanha anticorrupção antecedeu uma concentração de poder sem paralelo nas últimas décadas. O “calcanhar de Aquiles” Em 2017, Xi Jinping aboliu o limite de mandatos para o seu cargo, criou um organismo com poder equivalente ao Executivo e Judicial – a Comissão Nacional de Supervisão -, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promoveu aliados a posições chave do regime. David Shambaugh não tem dúvidas: “Xi é um líder genuinamente duro, que exala convicção e confiança, mas essa firmeza esconde um sistema político e partidário extremamente frágil por dentro”, argumenta. Para o sinólogo, o crescente carácter repressivo do regime e a emigração das elites económicas ilustram as fraquezas do sistema de partido único, corroído por clientelismo, corrupção e ausência de primado da lei. “Apesar das aparências, o sistema político da China está gravemente fracturado e ninguém o sabe melhor do que o próprio Partido Comunista”, argumenta. “Xi Jinping espera que a repressão contra dissidentes e o combate à corrupção reforcem o domínio do Partido (…), mas o seu despotismo está a pressionar fortemente o sistema e a sociedade chinesa – e aproximá-la do ponto de ruptura”, aponta. A visão do poder de Xi como um mecanismo opressivo foi, segundo o próprio, forjada durante a adolescência, passada no árido e pobre noroeste chinês, seguindo um fluxo de jovens urbanos para as aldeias do interior para “aprenderem com os camponeses”, parte de uma radical campanha de massas lançada por Mao Zedong. “As pessoas que têm pouca experiência com o poder, aqueles que estão longe dele, tendem a considerá-lo algo de misterioso e nobre”, disse numa entrevista, publicada em 2000, quando era governador da província de Fujian. “Mas eu vejo além das coisas superficiais: o poder, as flores, a glória e os aplausos. Eu vejo centros de detenção e a volatilidade da natureza humana. Isso deu-me uma compreensão da política a um nível mais profundo”, realçou. Mas será também esta desconfiança na afirmação e liberdade do indivíduo que continuará a levantar incógnitas sobre o futuro da República Popular da China, no ano em que ultrapassa em longevidade a antiga União Soviética. “Quando a empatia humana começar a sobrepor-se à autoridade ossificada, o fim do comunismo chinês terá realmente começado”, conclui Shambaugh. João Pimenta, da agência Lusa
Carlos Morais José China / ÁsiaRPC, 70 anos | A revolução persistente O Parido Comunista trouxe a China do arado à sonda espacial, da miséria ao espavento tecnológico. 70 anos depois o país conhece o período de maior desenvolvimento da sua História e vê-se na contingência de erradicar a pobreza. Pelo caminho, ficam milhões de mortos e ideias moribundas. A China, como sempre, faz-se… à chinesa [dropcap]N[/dropcap]o dia 1 de Outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, ao microfone de um estrado montado em frente à Porta da Paz Celestial, a entrada para a Cidade Proibida, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. “Assim começa uma nova era na história da China. Nós, os quatrocentos e setenta e cinco milhões de chineses, finalmente levantámo-nos”, bradou o presidente. Pela praça acotovelavam-se mais de cem mil pessoas, ladeadas pela presença de edifícios imperiais e de delegações estrangeiras, que lembravam cruelmente os últimos 150 anos, nos quais a China, governada por uma administração imperial corrupta, se vira invadida e colonizada por potências estrangeiras, massacrada e dilacerada por várias guerras civis. O povo chinês retomava agora a sua nação e preparava-se para entrar numa nova era, cujos contornos, apesar de radicais na medida em que procuravam construir uma outra sociedade, não se encontravam ainda muito bem definidos. Pequim havia sido conquistada pelo Exército Vermelho em Janeiro de 1949 mas só em Março Mao Zedong visitou a capital, de forma discreta, pois o líder do Partido Comunista Chinês (PCC) não se sentia seguro e temia a intervenção de espiões estrangeiros. Ainda assim, ali não permaneceu longo tempo, tendo-se retirado para as chamadas Montanhas Perfumadas, a sudoeste da capital, onde montou o seu quartel-general durante até Outubro. E foi aí que preparou, em idílico cenário, condicente com a sua alma de guerreiro-poeta, o que viria a ser, nos anos seguintes, a governação da China nos anos seguintes. Entretanto, Deng Xiaoping e outros generais derrotavam, um pouco por todo o país, os restos do exército do Kuomitang, dito nacionalista, que aos poucos se refugiava em Taiwan. O fim de 150 anos de humilhações Com a ascensão do PCC ao poder e o fim da guerra civil, encerrava-se um capítulo desgraçado da história chinesa, no qual o grande império perdera o seu rumo, tendo sido humilhado por várias potências europeias (como em meados do século XIX, pela Inglaterra que fomentou a Guerra do Ópio, obrigando os chineses a comprar a droga, e exigindo a posse da ilha de Hong Kong) e asiáticas (como o Japão, que invadiu a China, perpetrou inúmeros massacres e estabeleceu mesmo um reino fantoche na Manchúria, encabeçado por Puyi, o último imperador da dinastia Qing, extinta em 1911). Agora tratava-se levantar o país e o seu povo, de alimentar e alfabetizar as massas e construir as fundações de uma sociedade socialista. Se Mao Zedong tivesse falecido até 1955 seria por certo considerado, quase sem mácula, um dos maiores homens do século XX. No dia 1 de Outubro de 1949, Mao tinha 56 anos e passado uma vida plena de sacrifícios, vergada aos rigores da guerra. Enquanto comandante militar, o agora presidente da República Popular dormia com as suas tropas e comia com elas, conquistando assim a sua devoção. Foram anos e anos de má comida, maus sítios para dormir e apenas água fervida para beber. Foi por isso enorme a diferença quando, depois da fundação da República, ocupou a sua casa em Zhongnanhai, o espaço destinado aos dirigentes, paredes meias com a Cidade Proibida. Era uma ala de um palácio mandado construir pelo imperador Kangxi, o segundo da dinastia Qing, conhecida como o Pavilhão do Crisântemo Perfumado. Em seu redor, reinava uma absoluta paz, um intenso silêncio, arredado apenas pelos trinados dos pássaros e o rumorejar do vento nos bambus, em contraste com o bulício característico das ruas da capital. Terá sido neste local que Mao Zedong tomou grande parte das decisões fundamentais para o desenvolvimento da China, sob a bandeira e as directivas do PCC. Aqui recebia os membros do seu governo e representantes estrangeiros. Contudo, agora que a guerra tinha acabado, começava a tarefa gigantesca de reconstruir um país completamente estilhaçado, basicamente agrícola, longe de possuir a estrutura económico-social necessária à construção da utopia comunista. Grandes saltos para o abismo Talvez inspirado por grande imperadores, nomeadamente pelo homem que pela primeira vez unificou a China em 221 a.E.C., Qin Huandi, Mao Zedong lançou o seu povo em grande trabalhos colectivos, estabelecendo metas produtivas e projectos de realização complicada. A verdade é que, em termos de economia e produção, as medidas do governo não pareciam estar a resultar. Em 1955, o Grande Salto em Frente e a campanha do aço revelaram-se um salto para o abismo, provocando o alastrar das fomes e causando a morte a muitos milhões de pessoas. Pelo fim dos anos 50, princípios de 60, grassava algum descontentamento entre as fileiras do PCC perante a ineficácia das medidas e dos projectos do Grande Timoneiro. Um dos que expressou a sua insatisfação foi Deng Xiaoping, incomodado com a catástrofe económica e alimentar que o país atravessava, também na medida em que compreendia que tais factos tornavam a China mais vulnerável às pressões externas do mundo ocidental que não via com bons olhos a revolução comunista. Mas Mao Zedong tinha outros planos. Ao sentir o poder escapar-lhe aos poucos, bem como a dissolução do seu próprio carisma, encetou o que viria a ser conhecido como Revolução Cultural. Mao atribuía as desgraças ocorridas aos burocratas e aos intelectuais, que ainda sofreriam de influências burguesas. Para ele, o poder devia ser entregue aos operários e aos estudantes, as verdadeiras forças revolucionárias. A revolução devia ir mais longe no apagar do passado e das doutrinas reaccionárias. A tradição confucionista, por exemplo, devia ser considerada algo pertencente ao antigo regime feudal e totalmente apagada. Neste sentido, o Estado e o Partido sobrepunham-se à família e aos valores de piedade filial. O fascínio europeu Entretanto, na Europa as esquerdas encontravam-se decepcionadas como rumo da União Soviética. Surgia o primeiro euro-comunismo de Enrico Berlinguer, em Itália, e de George Marchais, em França. Dada a proximidade dos países além da Cortina de Ferro, era mais fácil aos europeus darem conta dos atrocidades e da inoperância dos regimes com influência soviética, nomeadamente devido ao excessivo peso do Estado e das suas burocracias. Por isso, a Revolução Cultural chinesa, observada à distância e através dos seus slogans, parecia a saída genial, possível e desejável para atenuar o poder centralizado dos burocratas, entendidos como uma nova classe dentro do estados socialistas. Mao Zedong tornou-se a grande referência da esquerda europeia que não alinhava com os partidos comunistas satélites da União Soviética, nem com a brandura das posição dos euro-comunistas. Era então comum ver nas manifestações, nomeadamente no Maio de 68, o “livrinho vermelho”, com as citações de Mao Zedong, ser empunhado como bandeira da revolução a haver e como farol para a aplicação de medidas revolucionárias. Na primeira metade dos anos 70, alguns intelectuais franceses de nomeada como Philippe Solers, Roland Barthes, Julia Kristeva, entre outros, visitaram a China, a convite do governo, para assistirem às maravilhas da Revolução Cultural. Foi-lhes explicado, entre outros aspectos, como fora destruída a ópera tradicional, repleta de “temas feudais e burgueses”, e substituída pela Nova Ópera, de feição revolucionária. O resultado não foi unânime. Se alguns se deixaram impressionar pelos “progressos sociais”, outros suspeitaram de um país onde todos se vestiam de igual e recitavam a mesma cartilha. A revista “Chine”, da Tel Quel, publicada em 1972, e os “Cadernos da China”, de Roland Barthes, são um bom exemplo desta ambiguidade e estranheza experimentada no confronto directo com a realidade da China da Revolução Cultural. Outro é o filme-documentário de Michelangelo Antonioni “Tchong-Kuo”, que não deixou o realizador italiano de boas relações com as autoridades de Pequim. Entretanto, desde 1966, ano em que foi lançada a Revolução Cultural, que dezenas de milhões de pessoas haviam sido perseguidas, humilhadas, deportadas para campos de trabalho e assassinadas. As crianças eram estimuladas a denunciar os pais, os subalternos a denunciar os seus superiores, aos Guardas Vermelhos, uma espécie de milícias populares que exerciam um poder violento localmente. Muitos professores, médicos, engenheiros, artistas, escritores foram despedidos, numa ânsia de afirmação do “saber revolucionário” como o único a considerar. Os excessos foram mais que muitos e atingiram limites que deixaram uma marca indelével na sociedade chinesa. Um deles — e talvez um dos mais significativos — passa pelo apagamento da memória colectiva de valores, hábitos e procedimentos. A Revolução Cultural, erigindo Mao e o PCC como as grandes referências, excluía, ao mesmo tempo, milénios de cultura chinesa, com as suas práticas tradicionais enraizadas. Há mesmo quem diga que, paradoxalmente, foi este apagamento das antigas práticas e valores, proporcionado pela Revolução Cultural, que permitiu a rápida instalação do capitalismo na China, a partir dos anos 80 do século passado. Entretanto, o poder do chamado Bando dos Quatro, os grandes mentores do regime, ia-se esboroando e atingiu o seu ocaso com a morte de Mao Zedong em 1976. Assistiu-se então à rápida ascensão de quantos se haviam oposto aos excessos maoístas e, apesar disso, sobrevivido. À frente de todos, estava Deng Xiaoping. Deng, o arquitecto insaciável Talvez ainda mais do que Mao Zedong, com certeza de forma mais discreta, Deng Xiaoping é o líder chinês mais importante da segunda metade do século XX, que lança o país no caminho da abertura, reformas e prosperidade. Nascido em 1904, numa aldeia poeirenta da província de Sichuan, em família relativamente abastada e cedo dando provas de rara inteligência, Deng viera para a cidade de Chonqing com apenas 12 anos, na companhia de um tio paterno, onde estudou sob a alçada de um velho revolucionário chamado Wu Yazhang, que preparava jovens chineses para programas de estudo em França. Na verdade, tratava-se de uma iniciação às actividades revolucionarias. Apesar das dificuldades que passou nesse período, a estada em França revelar-se-ia crucial para o jovem Deng. Paris fervilhava de actividades conspirativas e revolucionarias, numa Europa que conhecia a megalomania e a loucura de um primeiro pós-Guerra. Aí conheceu o que viria a ser o grande líder vietnamita Ho Chi Min e, sobretudo, Zhou En Lai, em cujo apartamento chegou a morar. Deng acabaria por aderir ao PCC, ainda em Paris, em 1925. De regresso à China em 1926, Deng inicia uma longa carreira militar. Os comunistas viviam tempos difíceis, tremendamente abalados pelo massacre ocorrido em Xangai em 1927, por ordem de Chiang Kaishek. Também o PCC apresentava, na altura uma profunda divisão entre os que entendiam seguir os ditames soviéticos, emanados por Estaline, e outros que entendiam ser chinesa a solução para a China. Neste aspecto, Deng concordava com Mao: ambos consideravam que primeiro era fundamental conseguir o domínio dos campos e a boa vontade dos camponeses e só depois vinham as cidades. Só que era precisamente nas grandes cidades que estavam instalados os grandes dirigentes do partido, que tinham apoio financeiro e ideológico de Moscovo. E as ordens russas eram claras: primeiro havia que conquistar as cidades. Ora Deng sabia que este seria um erro fatal e continuou o seu trabalho na província. Fundamentalmente, tratava-se de ir pela província fora, pelas montanhas, pelas veredas de difícil acesso, politizar os camponeses e trazê-los para o combate. Em 1933, teve de responder a uma comissão de inquérito do partido. Não se tratava bem de responder mas de ouvir acusações e acabou por ser preso e exilado em Nancum, um lugar distante dos centros de decisão comunistas. Contudo, este seu primeiro exílio durou muito pouco tempo já que as tácticas dos comunistas apoiados por Moscovo conduziram o partido de derrota em derrota, até que em 1934 os militares que rodeavam Mao Zedong acharam que ra tempo de dizer basta. E disseram-no: na conferencia de Zunyi, em Janeiro de 1935, Mao foi eleito dirigente máximo do partido. Este momento marcou a primeira recuperação de Deng depois da sua primeira grande queda e o seu regresso às frentes de batalha. Aí revelou-se um grande senhor da guerra. Foi ele quem derrotou os mais importantes contingentes do Kuomitang, o que lhe valeu na altura os mais rasgados elogios de Mao, que o destacou para a frente Oeste, onde obteve grandes sucessos militares. Em 1952, Mao mandou-o voltar a Pequim para ocupar um lugar de primeira linha: vice-primeiro-ministro, encarregado de questões administrativas e económicas. Em 1954, era eleito secretário-geral do partido. Seguiu-se um período de grande convulsão interna no PCC. A culpa era em grande parte de Maio Zedong, que veio a revelar-se um dirigente bastante fraco do ponto de vista estratégico-económico e mesmo ideológico. Obcecado com a luta de classes, lançou várias purgas para eliminar o que chamava de elementos “burgueses” no aparelho do partido e no Estado. “Comunismo não é pobreza” O primeiro choque relativamente entre os dois líderes ocorreu em 1960, por ocasião de uma grave crise económica na China. A indústria não funcionava, o comércio encontrava-se paralisado e tinha cessado a ajuda soviética. Pior: os alimentos escasseavam e o povo preparava-se para enfrentar a fome. Deng não esteve com meias medidas: mandou comprar seis milhões de toneladas de trigo no mercado mundial e pagou-as com o dinheiro dos delapidados cofres estatais. Mao espumou. Ainda por cima, o trigo fora pago com divisas estrangeiras. Tomou a medida como um passo atrás na direcção do capitalismo. Deng calmamente respondeu que “comunismo não é pobreza”. E não se ficou por aqui: em 1961, perante o comité central, sai-se com esta: “Qualquer ideia que tenha sido levada em frente e já não sirva, deve ser rectificada. Não importa quem a tenha criado”, numa clara referencia a Mao. E continuou com a célebre frse: “Não importa se o gato seja branco ou preto. Se apanhar o rato, é um gato.” Era demasiada a ousadia. Mao começou a referir, em público e em privado, que alguns membros do partido queriam fazer entrar o país na estrada do capitalismo. Sentia que o poder lhe escapava das mão e resolveu tomar medidas “totais”, como ele gostava. Foi o início da Revolução Cultural, à qual Deng não escapou. Desterrado com a sua mulher para a província de Jiangxi, com residência fixa, sem direito a comunicar com o exterior e sem qualquer espécie de salário. Quem sofreu mais severamente foi o seu filho mais velho, estudante da universidade de Pequim. Os Guardas vermelhos prenderam-no e torturaram-no para o obrigar a confessar a traição do pai. Deng Pufang afirma não se lembrar exactamente do sucedido mas, depois de ter sido brutal e sucessivamente espancado, acabou por ser atirado de uma janela e ficou inválido para toda a vida. Na aldeia onde nasceu, tudo o que se relacionava com os Deng foi destruído, incluindo os pertences de outros membros da família que há muito não sabiam dele. Com a morte do seu inimigo Lin Biao, em 1971, Deng escreveu a Mao, propondo-lhe regressar ao trabalho. Quem lhe respondeu foi Zhou Enlai, que nunca deixara de ser seu amigo, informando-o de que era necessária uma carta dirigida a Mao, uma autocrítica severa. Deng escreveu-a. Em 1973, tomava posse como vice-primeiro-ministro, ao lado de Zhou. Em 1975, Zhou Enlai apresentava um programa de modernização, sem referências ideológicas, contra a estagnação económica. Ali estava o projecto de Deng para uma nova China até ao ano 2000. Agora tudo se jogava na sucessão, quer de Mao quer de Zhou, ambos moribundos. O Bando dos Quatro e Jiang Qing, a mulher de Mao, reunia as suas forças e aguardava a hora fatal. As suas relações com Deng estavam completamente deterioradas. Ela chegou a insultá-lo em pleno Politburo, até que ele bateu com a mão na mesa, farto das suas gritos e imprecações. Voltou-lhe as costas e deixou-a a arengar sozinha. Entretanto, ia arranjando os apoios certos, nomeadamente entre os militares que o consideravam um deles. Um ano depois da morte de Mao, com o Bando dos Quatro na cadeia, Deng voltava ao poder e lançava as reformas que só duas décadas mais tarde se mostrariam consolidadas. A este pequeno homem, fumador inveterado e grande jogador de bridge, foi destinado o papel de arquitecto da China moderna, incluindo o princípio “um país, dois sistemas”, que contextualiza o regresso à Pátria de Hong Kong e Macau. A ele se deve a abertura económica, o estabelecimento da propriedade privada e da economia socialista de mercado, na qual se usufrui de liberdades económicas, sob a direcção do PCC. Sob a sua batuta, a China encetou o caminho da modernização e do crescimento que havia de a catapultar ao topo das potências mundiais, só ultrapassada pelos EUA. Abertura sem retorno Claro que não se tratou de um caminho linear e sem sobressaltos. Toda a década de 80 assistiu, entre o arrancar das medidas reformistas, à existência de uma luta no interior do PCC entre os que eram pró-reformas e os que as temiam, na medida em que tal poderia significar o fim do controlo do partido. O cúmulo deste combate foi atingido em 1989, durante as manifestações da Praça Tiananmen, os acontecimentos que ensombraram a parte final do consulado de Deng. Face aos protestos, Deng chegou à conclusão que só a repressão poderia impedir o país de cair no caos. E para tanto não se importou de sacrificar o seu favorito Zhao Zyiang e de ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes. Muitos temeram, no pós-Tiananmen, pelo fim das reformas e na marcha-atrás da abertura da sociedade chinesa. Mas o impulso dado por Deng era, basicamente, imparável. Em 1992, num congresso crucial na medida em que pouco tempo passara e pouco fora esclarecido, o então presidente Jiang Zemin anuncia claramente dois aspectos: a continuação das reformas económicas e o reforço do papel do partido. Ou seja, para Jiang, não existe contradição entre uma economia de mercado e a planificação estatal. Ambas podem ocorrer em paralelo. A diferença é que, a partir de agora, as empresas estatais passam a estar inseridas no mercado e a jogar pelas suas regras, tecendo a sua sobrevivência aos sabor das leis económicas. Com Jiang Zemin e, sobretudo, com o primeiro-ministro Zhu Rongji, a China entra decisivamente no mundo capitalista e na economia de mercado, impondo reformas atrás de reformas, cujo resultado está à vista de todos. Em muito pouco tempo, a China obteve um crescimento exponencial, aumentou o seu PIB e as exportações de uma forma radical, nunca antes vista na História. Deslocando pessoas dos campos para as cidades, modernizando a agricultura, fomentando as indústrias e os serviços, o governo chinês levantou de forma considerável o nível de vida do povo e viu-se na posse de fluxos de capital inimagináveis umas décadas atrás. A China tornava-se num dos países mais poderosos do mundo, não apenas graças ao tamanho da sua população, aos meros números, mas sobretudo em aspectos económicos e militares. A Jiang Zemin e a Zhu Ronji sucederam Hu Jintao e Wen Jiabao, que prosseguiram no caminho das reformas e abertura económicas, solidificando o papel da China no panorama internacional. Agora membro da Organização Mundial de Comércio e de outras instituições internacionais de relevo, a China começa a desempenhar o papel de superpotência pelo modo como a sua influência se espalha pelo mundo. E agora, para onde vamos, dr. Xi? Deng considerara que a eternização dos líderes no poder era contraproducente e para o evitar introduzira na constituição uma regra segundo a qual o presidente poderia apenas cumprir dois mandatos, tendo obrigatoriamente de dar o poder a outros. Esta regra teve um efeito profundo na psicologia do PCC pois possibilitava a permanência da esperança para os que não se encontravam, num dado momento, no poder. No seio do partido, as facções alinhavam-se, como se de subpartidos internos se tratassem, no sentido de disputar as cadeiras de 10 em 10 anos. No entanto, com a subida ao poder de Xi Jinping esta regra foi alterada. A China tem agora um líder diferente dos que sucederam a Deng Xiaoping. Xi pretende uma maior centralização do poder, uma maior influência do PCC a todos os níveis da sociedade e identificou os dois pólos de conflito na China de hoje: segundo o presidente, hoje a grande contradição que urge resolver é o fosso crescente entre ricos e pobres, que o desenvolvimento capitalista proporcionou. Esta distância entre as pessoas, entre litoral e interior, é a causa de desarmonia no país e tem de ser debelada. Para levar a cabo a resolução deste problema, Xi encetou uma gigantesca campanha anti-corrupção e estabeleceu a meta de 2020 para erradicar a pobreza. Contudo, além de ter eliminado a limitação de mandatos, o que faz prever a sua continuação em 2023, Xi Jinping tem desenvolvido um estilo que lembra o culto pessoal que foi dedicado a Mao e que tanto horrorizara Deng. Mesmo a iconografia agora utilizada e as honras prestadas ao presidente evocam outros tempos, que muitos chineses julgavam ultrapassados e fazem temer pelo aumento da repressão, agora sustentada por uma tecnologia que faz a distopia “1984” parecer uma brincadeira de crianças. Xi tem igualmente promovido medidas de alcance social de mérito duvidoso. Recentemente, está a ser introduzido na China um regime de crédito social que classifica as pessoas de acordo com o seu comportamento, estabelecendo castigos e recompensas, implicando limitações na obtenção de emprego, nas deslocações pelo país e ao estrangeiro. Agora tudo conta para a pontuação: o que se come, o que se lê, quanto se trabalha, como e quem se namora, etc., etc.; tudo é controlado e classificado, finalmente atribuídas as recompensas ou os castigos, ao modo dos legistas, a corrente filosófica chinesa que mais aposta na centralização do poder e na governação pelo exercício da lei. Por outro lado, nunca como com Xi Jinping a China foi reconhecida internacionalmente, muito por efeito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que faz do país uma referencia incontornável no xadrez da economia mundial. Xi é obviamente um homem inteligente, filho de um herói da revolução, que gosta de citar a História e a Literatura nos seus numerosos discursos, que já constituem leitura obrigatória. Hoje fala-se no “Pensamento de Xi Jinping” como antes se falava no “Pensamento de Mao Zedong”, dele fazendo o guia para o que se chama de “Nova Era”, o momento de realização do povo chinês. “Nós somos os filhos do Dragão. Temos o cabelo negro e a pele amarela”, disse Xi Jinping, estimulando o nacionalismo chinês, que de momento substitui as delapidadas frases da ideologia comunista como cimento ideológico do povo. Apesar do desmembramento da União Soviética, em pleno processo de abertura na China, o PCC conseguiu manter o seu controlo da sociedade e permanece no poder, quando muito alvitraram com o inevitável a sua queda. Na China, as coisas acontecem à maneira chinesa e não doutra. 70 anos depois do advento da República Popular — da “dinastia vermelha” como alguns gostam de chamar — a China recuperou o seu lugar cimeiro entre as nações, tirou o seu povo da miséria física e intelectual e tornou-se numa importante potência económica e militar. Tudo isto foi conseguido à custa de muitos sacrifícios, não apenas de um povo abnegado, mas também de uma terra que hoje se vê semi-destruída pelos excessos capitalistas que pouco quiseram saber da ecologia. Tudo isto implicou a morte de milhões de pessoas, lutas fratricidas pelo poder, recuos e avanços constantes. E, sobretudo, a ausência de um bem que os chineses praticamente nunca conheceram ao longo da sua milenar História e a que nós insistimos dar o singelo nome de “liberdade”.
Carlos Morais José China / ÁsiaRPC, 70 anos | A revolução persistente O Parido Comunista trouxe a China do arado à sonda espacial, da miséria ao espavento tecnológico. 70 anos depois o país conhece o período de maior desenvolvimento da sua História e vê-se na contingência de erradicar a pobreza. Pelo caminho, ficam milhões de mortos e ideias moribundas. A China, como sempre, faz-se… à chinesa [dropcap]N[/dropcap]o dia 1 de Outubro de 1949, Mao Zedong proclamou a fundação da República Popular da China, ao microfone de um estrado montado em frente à Porta da Paz Celestial, a entrada para a Cidade Proibida, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. “Assim começa uma nova era na história da China. Nós, os quatrocentos e setenta e cinco milhões de chineses, finalmente levantámo-nos”, bradou o presidente. Pela praça acotovelavam-se mais de cem mil pessoas, ladeadas pela presença de edifícios imperiais e de delegações estrangeiras, que lembravam cruelmente os últimos 150 anos, nos quais a China, governada por uma administração imperial corrupta, se vira invadida e colonizada por potências estrangeiras, massacrada e dilacerada por várias guerras civis. O povo chinês retomava agora a sua nação e preparava-se para entrar numa nova era, cujos contornos, apesar de radicais na medida em que procuravam construir uma outra sociedade, não se encontravam ainda muito bem definidos. Pequim havia sido conquistada pelo Exército Vermelho em Janeiro de 1949 mas só em Março Mao Zedong visitou a capital, de forma discreta, pois o líder do Partido Comunista Chinês (PCC) não se sentia seguro e temia a intervenção de espiões estrangeiros. Ainda assim, ali não permaneceu longo tempo, tendo-se retirado para as chamadas Montanhas Perfumadas, a sudoeste da capital, onde montou o seu quartel-general durante até Outubro. E foi aí que preparou, em idílico cenário, condicente com a sua alma de guerreiro-poeta, o que viria a ser, nos anos seguintes, a governação da China nos anos seguintes. Entretanto, Deng Xiaoping e outros generais derrotavam, um pouco por todo o país, os restos do exército do Kuomitang, dito nacionalista, que aos poucos se refugiava em Taiwan. O fim de 150 anos de humilhações Com a ascensão do PCC ao poder e o fim da guerra civil, encerrava-se um capítulo desgraçado da história chinesa, no qual o grande império perdera o seu rumo, tendo sido humilhado por várias potências europeias (como em meados do século XIX, pela Inglaterra que fomentou a Guerra do Ópio, obrigando os chineses a comprar a droga, e exigindo a posse da ilha de Hong Kong) e asiáticas (como o Japão, que invadiu a China, perpetrou inúmeros massacres e estabeleceu mesmo um reino fantoche na Manchúria, encabeçado por Puyi, o último imperador da dinastia Qing, extinta em 1911). Agora tratava-se levantar o país e o seu povo, de alimentar e alfabetizar as massas e construir as fundações de uma sociedade socialista. Se Mao Zedong tivesse falecido até 1955 seria por certo considerado, quase sem mácula, um dos maiores homens do século XX. No dia 1 de Outubro de 1949, Mao tinha 56 anos e passado uma vida plena de sacrifícios, vergada aos rigores da guerra. Enquanto comandante militar, o agora presidente da República Popular dormia com as suas tropas e comia com elas, conquistando assim a sua devoção. Foram anos e anos de má comida, maus sítios para dormir e apenas água fervida para beber. Foi por isso enorme a diferença quando, depois da fundação da República, ocupou a sua casa em Zhongnanhai, o espaço destinado aos dirigentes, paredes meias com a Cidade Proibida. Era uma ala de um palácio mandado construir pelo imperador Kangxi, o segundo da dinastia Qing, conhecida como o Pavilhão do Crisântemo Perfumado. Em seu redor, reinava uma absoluta paz, um intenso silêncio, arredado apenas pelos trinados dos pássaros e o rumorejar do vento nos bambus, em contraste com o bulício característico das ruas da capital. Terá sido neste local que Mao Zedong tomou grande parte das decisões fundamentais para o desenvolvimento da China, sob a bandeira e as directivas do PCC. Aqui recebia os membros do seu governo e representantes estrangeiros. Contudo, agora que a guerra tinha acabado, começava a tarefa gigantesca de reconstruir um país completamente estilhaçado, basicamente agrícola, longe de possuir a estrutura económico-social necessária à construção da utopia comunista. Grandes saltos para o abismo Talvez inspirado por grande imperadores, nomeadamente pelo homem que pela primeira vez unificou a China em 221 a.E.C., Qin Huandi, Mao Zedong lançou o seu povo em grande trabalhos colectivos, estabelecendo metas produtivas e projectos de realização complicada. A verdade é que, em termos de economia e produção, as medidas do governo não pareciam estar a resultar. Em 1955, o Grande Salto em Frente e a campanha do aço revelaram-se um salto para o abismo, provocando o alastrar das fomes e causando a morte a muitos milhões de pessoas. Pelo fim dos anos 50, princípios de 60, grassava algum descontentamento entre as fileiras do PCC perante a ineficácia das medidas e dos projectos do Grande Timoneiro. Um dos que expressou a sua insatisfação foi Deng Xiaoping, incomodado com a catástrofe económica e alimentar que o país atravessava, também na medida em que compreendia que tais factos tornavam a China mais vulnerável às pressões externas do mundo ocidental que não via com bons olhos a revolução comunista. Mas Mao Zedong tinha outros planos. Ao sentir o poder escapar-lhe aos poucos, bem como a dissolução do seu próprio carisma, encetou o que viria a ser conhecido como Revolução Cultural. Mao atribuía as desgraças ocorridas aos burocratas e aos intelectuais, que ainda sofreriam de influências burguesas. Para ele, o poder devia ser entregue aos operários e aos estudantes, as verdadeiras forças revolucionárias. A revolução devia ir mais longe no apagar do passado e das doutrinas reaccionárias. A tradição confucionista, por exemplo, devia ser considerada algo pertencente ao antigo regime feudal e totalmente apagada. Neste sentido, o Estado e o Partido sobrepunham-se à família e aos valores de piedade filial. O fascínio europeu Entretanto, na Europa as esquerdas encontravam-se decepcionadas como rumo da União Soviética. Surgia o primeiro euro-comunismo de Enrico Berlinguer, em Itália, e de George Marchais, em França. Dada a proximidade dos países além da Cortina de Ferro, era mais fácil aos europeus darem conta dos atrocidades e da inoperância dos regimes com influência soviética, nomeadamente devido ao excessivo peso do Estado e das suas burocracias. Por isso, a Revolução Cultural chinesa, observada à distância e através dos seus slogans, parecia a saída genial, possível e desejável para atenuar o poder centralizado dos burocratas, entendidos como uma nova classe dentro do estados socialistas. Mao Zedong tornou-se a grande referência da esquerda europeia que não alinhava com os partidos comunistas satélites da União Soviética, nem com a brandura das posição dos euro-comunistas. Era então comum ver nas manifestações, nomeadamente no Maio de 68, o “livrinho vermelho”, com as citações de Mao Zedong, ser empunhado como bandeira da revolução a haver e como farol para a aplicação de medidas revolucionárias. Na primeira metade dos anos 70, alguns intelectuais franceses de nomeada como Philippe Solers, Roland Barthes, Julia Kristeva, entre outros, visitaram a China, a convite do governo, para assistirem às maravilhas da Revolução Cultural. Foi-lhes explicado, entre outros aspectos, como fora destruída a ópera tradicional, repleta de “temas feudais e burgueses”, e substituída pela Nova Ópera, de feição revolucionária. O resultado não foi unânime. Se alguns se deixaram impressionar pelos “progressos sociais”, outros suspeitaram de um país onde todos se vestiam de igual e recitavam a mesma cartilha. A revista “Chine”, da Tel Quel, publicada em 1972, e os “Cadernos da China”, de Roland Barthes, são um bom exemplo desta ambiguidade e estranheza experimentada no confronto directo com a realidade da China da Revolução Cultural. Outro é o filme-documentário de Michelangelo Antonioni “Tchong-Kuo”, que não deixou o realizador italiano de boas relações com as autoridades de Pequim. Entretanto, desde 1966, ano em que foi lançada a Revolução Cultural, que dezenas de milhões de pessoas haviam sido perseguidas, humilhadas, deportadas para campos de trabalho e assassinadas. As crianças eram estimuladas a denunciar os pais, os subalternos a denunciar os seus superiores, aos Guardas Vermelhos, uma espécie de milícias populares que exerciam um poder violento localmente. Muitos professores, médicos, engenheiros, artistas, escritores foram despedidos, numa ânsia de afirmação do “saber revolucionário” como o único a considerar. Os excessos foram mais que muitos e atingiram limites que deixaram uma marca indelével na sociedade chinesa. Um deles — e talvez um dos mais significativos — passa pelo apagamento da memória colectiva de valores, hábitos e procedimentos. A Revolução Cultural, erigindo Mao e o PCC como as grandes referências, excluía, ao mesmo tempo, milénios de cultura chinesa, com as suas práticas tradicionais enraizadas. Há mesmo quem diga que, paradoxalmente, foi este apagamento das antigas práticas e valores, proporcionado pela Revolução Cultural, que permitiu a rápida instalação do capitalismo na China, a partir dos anos 80 do século passado. Entretanto, o poder do chamado Bando dos Quatro, os grandes mentores do regime, ia-se esboroando e atingiu o seu ocaso com a morte de Mao Zedong em 1976. Assistiu-se então à rápida ascensão de quantos se haviam oposto aos excessos maoístas e, apesar disso, sobrevivido. À frente de todos, estava Deng Xiaoping. Deng, o arquitecto insaciável Talvez ainda mais do que Mao Zedong, com certeza de forma mais discreta, Deng Xiaoping é o líder chinês mais importante da segunda metade do século XX, que lança o país no caminho da abertura, reformas e prosperidade. Nascido em 1904, numa aldeia poeirenta da província de Sichuan, em família relativamente abastada e cedo dando provas de rara inteligência, Deng viera para a cidade de Chonqing com apenas 12 anos, na companhia de um tio paterno, onde estudou sob a alçada de um velho revolucionário chamado Wu Yazhang, que preparava jovens chineses para programas de estudo em França. Na verdade, tratava-se de uma iniciação às actividades revolucionarias. Apesar das dificuldades que passou nesse período, a estada em França revelar-se-ia crucial para o jovem Deng. Paris fervilhava de actividades conspirativas e revolucionarias, numa Europa que conhecia a megalomania e a loucura de um primeiro pós-Guerra. Aí conheceu o que viria a ser o grande líder vietnamita Ho Chi Min e, sobretudo, Zhou En Lai, em cujo apartamento chegou a morar. Deng acabaria por aderir ao PCC, ainda em Paris, em 1925. De regresso à China em 1926, Deng inicia uma longa carreira militar. Os comunistas viviam tempos difíceis, tremendamente abalados pelo massacre ocorrido em Xangai em 1927, por ordem de Chiang Kaishek. Também o PCC apresentava, na altura uma profunda divisão entre os que entendiam seguir os ditames soviéticos, emanados por Estaline, e outros que entendiam ser chinesa a solução para a China. Neste aspecto, Deng concordava com Mao: ambos consideravam que primeiro era fundamental conseguir o domínio dos campos e a boa vontade dos camponeses e só depois vinham as cidades. Só que era precisamente nas grandes cidades que estavam instalados os grandes dirigentes do partido, que tinham apoio financeiro e ideológico de Moscovo. E as ordens russas eram claras: primeiro havia que conquistar as cidades. Ora Deng sabia que este seria um erro fatal e continuou o seu trabalho na província. Fundamentalmente, tratava-se de ir pela província fora, pelas montanhas, pelas veredas de difícil acesso, politizar os camponeses e trazê-los para o combate. Em 1933, teve de responder a uma comissão de inquérito do partido. Não se tratava bem de responder mas de ouvir acusações e acabou por ser preso e exilado em Nancum, um lugar distante dos centros de decisão comunistas. Contudo, este seu primeiro exílio durou muito pouco tempo já que as tácticas dos comunistas apoiados por Moscovo conduziram o partido de derrota em derrota, até que em 1934 os militares que rodeavam Mao Zedong acharam que ra tempo de dizer basta. E disseram-no: na conferencia de Zunyi, em Janeiro de 1935, Mao foi eleito dirigente máximo do partido. Este momento marcou a primeira recuperação de Deng depois da sua primeira grande queda e o seu regresso às frentes de batalha. Aí revelou-se um grande senhor da guerra. Foi ele quem derrotou os mais importantes contingentes do Kuomitang, o que lhe valeu na altura os mais rasgados elogios de Mao, que o destacou para a frente Oeste, onde obteve grandes sucessos militares. Em 1952, Mao mandou-o voltar a Pequim para ocupar um lugar de primeira linha: vice-primeiro-ministro, encarregado de questões administrativas e económicas. Em 1954, era eleito secretário-geral do partido. Seguiu-se um período de grande convulsão interna no PCC. A culpa era em grande parte de Maio Zedong, que veio a revelar-se um dirigente bastante fraco do ponto de vista estratégico-económico e mesmo ideológico. Obcecado com a luta de classes, lançou várias purgas para eliminar o que chamava de elementos “burgueses” no aparelho do partido e no Estado. “Comunismo não é pobreza” O primeiro choque relativamente entre os dois líderes ocorreu em 1960, por ocasião de uma grave crise económica na China. A indústria não funcionava, o comércio encontrava-se paralisado e tinha cessado a ajuda soviética. Pior: os alimentos escasseavam e o povo preparava-se para enfrentar a fome. Deng não esteve com meias medidas: mandou comprar seis milhões de toneladas de trigo no mercado mundial e pagou-as com o dinheiro dos delapidados cofres estatais. Mao espumou. Ainda por cima, o trigo fora pago com divisas estrangeiras. Tomou a medida como um passo atrás na direcção do capitalismo. Deng calmamente respondeu que “comunismo não é pobreza”. E não se ficou por aqui: em 1961, perante o comité central, sai-se com esta: “Qualquer ideia que tenha sido levada em frente e já não sirva, deve ser rectificada. Não importa quem a tenha criado”, numa clara referencia a Mao. E continuou com a célebre frse: “Não importa se o gato seja branco ou preto. Se apanhar o rato, é um gato.” Era demasiada a ousadia. Mao começou a referir, em público e em privado, que alguns membros do partido queriam fazer entrar o país na estrada do capitalismo. Sentia que o poder lhe escapava das mão e resolveu tomar medidas “totais”, como ele gostava. Foi o início da Revolução Cultural, à qual Deng não escapou. Desterrado com a sua mulher para a província de Jiangxi, com residência fixa, sem direito a comunicar com o exterior e sem qualquer espécie de salário. Quem sofreu mais severamente foi o seu filho mais velho, estudante da universidade de Pequim. Os Guardas vermelhos prenderam-no e torturaram-no para o obrigar a confessar a traição do pai. Deng Pufang afirma não se lembrar exactamente do sucedido mas, depois de ter sido brutal e sucessivamente espancado, acabou por ser atirado de uma janela e ficou inválido para toda a vida. Na aldeia onde nasceu, tudo o que se relacionava com os Deng foi destruído, incluindo os pertences de outros membros da família que há muito não sabiam dele. Com a morte do seu inimigo Lin Biao, em 1971, Deng escreveu a Mao, propondo-lhe regressar ao trabalho. Quem lhe respondeu foi Zhou Enlai, que nunca deixara de ser seu amigo, informando-o de que era necessária uma carta dirigida a Mao, uma autocrítica severa. Deng escreveu-a. Em 1973, tomava posse como vice-primeiro-ministro, ao lado de Zhou. Em 1975, Zhou Enlai apresentava um programa de modernização, sem referências ideológicas, contra a estagnação económica. Ali estava o projecto de Deng para uma nova China até ao ano 2000. Agora tudo se jogava na sucessão, quer de Mao quer de Zhou, ambos moribundos. O Bando dos Quatro e Jiang Qing, a mulher de Mao, reunia as suas forças e aguardava a hora fatal. As suas relações com Deng estavam completamente deterioradas. Ela chegou a insultá-lo em pleno Politburo, até que ele bateu com a mão na mesa, farto das suas gritos e imprecações. Voltou-lhe as costas e deixou-a a arengar sozinha. Entretanto, ia arranjando os apoios certos, nomeadamente entre os militares que o consideravam um deles. Um ano depois da morte de Mao, com o Bando dos Quatro na cadeia, Deng voltava ao poder e lançava as reformas que só duas décadas mais tarde se mostrariam consolidadas. A este pequeno homem, fumador inveterado e grande jogador de bridge, foi destinado o papel de arquitecto da China moderna, incluindo o princípio “um país, dois sistemas”, que contextualiza o regresso à Pátria de Hong Kong e Macau. A ele se deve a abertura económica, o estabelecimento da propriedade privada e da economia socialista de mercado, na qual se usufrui de liberdades económicas, sob a direcção do PCC. Sob a sua batuta, a China encetou o caminho da modernização e do crescimento que havia de a catapultar ao topo das potências mundiais, só ultrapassada pelos EUA. Abertura sem retorno Claro que não se tratou de um caminho linear e sem sobressaltos. Toda a década de 80 assistiu, entre o arrancar das medidas reformistas, à existência de uma luta no interior do PCC entre os que eram pró-reformas e os que as temiam, na medida em que tal poderia significar o fim do controlo do partido. O cúmulo deste combate foi atingido em 1989, durante as manifestações da Praça Tiananmen, os acontecimentos que ensombraram a parte final do consulado de Deng. Face aos protestos, Deng chegou à conclusão que só a repressão poderia impedir o país de cair no caos. E para tanto não se importou de sacrificar o seu favorito Zhao Zyiang e de ordenar o avanço das tropas sobre os manifestantes. Muitos temeram, no pós-Tiananmen, pelo fim das reformas e na marcha-atrás da abertura da sociedade chinesa. Mas o impulso dado por Deng era, basicamente, imparável. Em 1992, num congresso crucial na medida em que pouco tempo passara e pouco fora esclarecido, o então presidente Jiang Zemin anuncia claramente dois aspectos: a continuação das reformas económicas e o reforço do papel do partido. Ou seja, para Jiang, não existe contradição entre uma economia de mercado e a planificação estatal. Ambas podem ocorrer em paralelo. A diferença é que, a partir de agora, as empresas estatais passam a estar inseridas no mercado e a jogar pelas suas regras, tecendo a sua sobrevivência aos sabor das leis económicas. Com Jiang Zemin e, sobretudo, com o primeiro-ministro Zhu Rongji, a China entra decisivamente no mundo capitalista e na economia de mercado, impondo reformas atrás de reformas, cujo resultado está à vista de todos. Em muito pouco tempo, a China obteve um crescimento exponencial, aumentou o seu PIB e as exportações de uma forma radical, nunca antes vista na História. Deslocando pessoas dos campos para as cidades, modernizando a agricultura, fomentando as indústrias e os serviços, o governo chinês levantou de forma considerável o nível de vida do povo e viu-se na posse de fluxos de capital inimagináveis umas décadas atrás. A China tornava-se num dos países mais poderosos do mundo, não apenas graças ao tamanho da sua população, aos meros números, mas sobretudo em aspectos económicos e militares. A Jiang Zemin e a Zhu Ronji sucederam Hu Jintao e Wen Jiabao, que prosseguiram no caminho das reformas e abertura económicas, solidificando o papel da China no panorama internacional. Agora membro da Organização Mundial de Comércio e de outras instituições internacionais de relevo, a China começa a desempenhar o papel de superpotência pelo modo como a sua influência se espalha pelo mundo. E agora, para onde vamos, dr. Xi? Deng considerara que a eternização dos líderes no poder era contraproducente e para o evitar introduzira na constituição uma regra segundo a qual o presidente poderia apenas cumprir dois mandatos, tendo obrigatoriamente de dar o poder a outros. Esta regra teve um efeito profundo na psicologia do PCC pois possibilitava a permanência da esperança para os que não se encontravam, num dado momento, no poder. No seio do partido, as facções alinhavam-se, como se de subpartidos internos se tratassem, no sentido de disputar as cadeiras de 10 em 10 anos. No entanto, com a subida ao poder de Xi Jinping esta regra foi alterada. A China tem agora um líder diferente dos que sucederam a Deng Xiaoping. Xi pretende uma maior centralização do poder, uma maior influência do PCC a todos os níveis da sociedade e identificou os dois pólos de conflito na China de hoje: segundo o presidente, hoje a grande contradição que urge resolver é o fosso crescente entre ricos e pobres, que o desenvolvimento capitalista proporcionou. Esta distância entre as pessoas, entre litoral e interior, é a causa de desarmonia no país e tem de ser debelada. Para levar a cabo a resolução deste problema, Xi encetou uma gigantesca campanha anti-corrupção e estabeleceu a meta de 2020 para erradicar a pobreza. Contudo, além de ter eliminado a limitação de mandatos, o que faz prever a sua continuação em 2023, Xi Jinping tem desenvolvido um estilo que lembra o culto pessoal que foi dedicado a Mao e que tanto horrorizara Deng. Mesmo a iconografia agora utilizada e as honras prestadas ao presidente evocam outros tempos, que muitos chineses julgavam ultrapassados e fazem temer pelo aumento da repressão, agora sustentada por uma tecnologia que faz a distopia “1984” parecer uma brincadeira de crianças. Xi tem igualmente promovido medidas de alcance social de mérito duvidoso. Recentemente, está a ser introduzido na China um regime de crédito social que classifica as pessoas de acordo com o seu comportamento, estabelecendo castigos e recompensas, implicando limitações na obtenção de emprego, nas deslocações pelo país e ao estrangeiro. Agora tudo conta para a pontuação: o que se come, o que se lê, quanto se trabalha, como e quem se namora, etc., etc.; tudo é controlado e classificado, finalmente atribuídas as recompensas ou os castigos, ao modo dos legistas, a corrente filosófica chinesa que mais aposta na centralização do poder e na governação pelo exercício da lei. Por outro lado, nunca como com Xi Jinping a China foi reconhecida internacionalmente, muito por efeito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que faz do país uma referencia incontornável no xadrez da economia mundial. Xi é obviamente um homem inteligente, filho de um herói da revolução, que gosta de citar a História e a Literatura nos seus numerosos discursos, que já constituem leitura obrigatória. Hoje fala-se no “Pensamento de Xi Jinping” como antes se falava no “Pensamento de Mao Zedong”, dele fazendo o guia para o que se chama de “Nova Era”, o momento de realização do povo chinês. “Nós somos os filhos do Dragão. Temos o cabelo negro e a pele amarela”, disse Xi Jinping, estimulando o nacionalismo chinês, que de momento substitui as delapidadas frases da ideologia comunista como cimento ideológico do povo. Apesar do desmembramento da União Soviética, em pleno processo de abertura na China, o PCC conseguiu manter o seu controlo da sociedade e permanece no poder, quando muito alvitraram com o inevitável a sua queda. Na China, as coisas acontecem à maneira chinesa e não doutra. 70 anos depois do advento da República Popular — da “dinastia vermelha” como alguns gostam de chamar — a China recuperou o seu lugar cimeiro entre as nações, tirou o seu povo da miséria física e intelectual e tornou-se numa importante potência económica e militar. Tudo isto foi conseguido à custa de muitos sacrifícios, não apenas de um povo abnegado, mas também de uma terra que hoje se vê semi-destruída pelos excessos capitalistas que pouco quiseram saber da ecologia. Tudo isto implicou a morte de milhões de pessoas, lutas fratricidas pelo poder, recuos e avanços constantes. E, sobretudo, a ausência de um bem que os chineses praticamente nunca conheceram ao longo da sua milenar História e a que nós insistimos dar o singelo nome de “liberdade”.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim inaugura novo aeroporto internacional e maior terminal do mundo [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, presidiu ontem à inauguração do segundo aeroporto internacional de Pequim, que inclui o maior terminal do mundo e cujo custo de construção se fixou em 120 mil milhões de yuan. A abertura ocorreu nas vésperas da celebração do 70.º aniversário da fundação da República Popular da China. O primeiro voo teve como destino Cantão, capital da província de Guangdong, segundo a imprensa local. Erguido no extremo sul da cidade, o Aeroporto Internacional de Pequim Daxing foi construído em menos de cinco anos e está projectado para receber 72 milhões de passageiros por ano. O investimento total, que inclui terminal, estação de alta velocidade, vias rodoviárias e infraestruturas em torno do aeroporto, ascende a 400.000 milhões de yuans. O principal aeroporto da capital chinesa, situado no norte da cidade, é o segundo mais movimentado do mundo e o volume de passageiros está próximo do seu limite de capacidade. Em 2018, pela primeira vez, excedeu os 100 milhões de passageiros anuais. Com cinco andares e uma área conjunta de 103 quilómetros quadrados, o Aeroporto de Daxing é também o primeiro a incorporar dois andares dedicados exclusivamente à chegada de passageiros – um para voos domésticos e outro para voos internacionais -, e outros dois para partidas. É também o primeiro aeroporto do mundo a abrigar uma estação ferroviária de alta velocidade abaixo da sua superfície. A falecida arquitecta iraquiana britânica Zaha Hadid projectou o aeroporto, que tem a forma de uma fénix. O aeroporto fica a cerca de 45 quilómetros do centro de Pequim.
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos Humanos | Activista morre sob custódia da polícia [dropcap]O[/dropcap] activista chinês Wang Meiyu, preso após ter apelado publicamente à demissão do Presidente chinês e à realização de eleições livres, morreu sob custódia da polícia, denunciou ontem o irmão, citado pela agência EFE. Wang Meilin revelou que o irmão foi hospitalizado no domingo e que a família foi ontem notificada pelas autoridades da sua morte. Wang Meiyu estava detido desde o início de Julho na prisão de Hengyang, na sua cidade natal, no centro da China. A família não sabe exactamente quando Wang morreu ou a causa da morte, embora o seu irmão tenha dito que está “relacionada com o governo local”. Durante o Verão e Outono de 2018, Wang Meiyu protestou sozinho nas cidades de Hengyang e Changsha, no centro do país, com uma faixa onde se lia: “Forte apelo à renúncia imediata de Xi Jinping (Presidente da China] e Li Keqiang [o primeiro-ministro chinês] e realização de eleições nacionais”. Após os protestos, agentes das forças de segurança chinesas ameaçaram-no por várias vezes, até que acabou por ser preso, em 8 de Julho. Wang era casado e tinha um filho e uma filha. A lei chinesa permite que qualquer suspeito seja detido por um período de até seis meses, antes que seja apresentada uma queixa formal. Sob a presidência de Xi Jinping, que ascendeu ao poder em 2013, uma campanha contra dissidentes resultou já na detenção de 250 advogados ou activistas dos direitos humanos. Dezenas foram condenados a pesadas penas de prisão por “subversão do poder do Estado”.
Hoje Macau China / ÁsiaDireitos Humanos | Activista morre sob custódia da polícia [dropcap]O[/dropcap] activista chinês Wang Meiyu, preso após ter apelado publicamente à demissão do Presidente chinês e à realização de eleições livres, morreu sob custódia da polícia, denunciou ontem o irmão, citado pela agência EFE. Wang Meilin revelou que o irmão foi hospitalizado no domingo e que a família foi ontem notificada pelas autoridades da sua morte. Wang Meiyu estava detido desde o início de Julho na prisão de Hengyang, na sua cidade natal, no centro da China. A família não sabe exactamente quando Wang morreu ou a causa da morte, embora o seu irmão tenha dito que está “relacionada com o governo local”. Durante o Verão e Outono de 2018, Wang Meiyu protestou sozinho nas cidades de Hengyang e Changsha, no centro do país, com uma faixa onde se lia: “Forte apelo à renúncia imediata de Xi Jinping (Presidente da China] e Li Keqiang [o primeiro-ministro chinês] e realização de eleições nacionais”. Após os protestos, agentes das forças de segurança chinesas ameaçaram-no por várias vezes, até que acabou por ser preso, em 8 de Julho. Wang era casado e tinha um filho e uma filha. A lei chinesa permite que qualquer suspeito seja detido por um período de até seis meses, antes que seja apresentada uma queixa formal. Sob a presidência de Xi Jinping, que ascendeu ao poder em 2013, uma campanha contra dissidentes resultou já na detenção de 250 advogados ou activistas dos direitos humanos. Dezenas foram condenados a pesadas penas de prisão por “subversão do poder do Estado”.
João Luz PolíticaCCPPC | Xi apela à consolidação das forças que amam a pátria e Macau Xi Jinping pediu aos membros das regiões administrativas especiais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês que reforcem o apoio às forças que amam a pátria. O Presidente chinês discursou perante o órgão consultivo no dia do 70º aniversário do organismo, ao qual apontou novos horizontes políticos [dropcap]À[/dropcap] medida que Hong Kong entra no quarto mês de protestos, o Presidente chinês apelou aos membros das duas regiões administrativas especiais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) que suportem as estruturas de poder de Macau e Hong Kong. Xi Jinping referiu, citado pela TDM – Rádio Macau, que os membros do órgão consultivo “devem ser orientados para apoiar os respectivos governos e chefes do Executivo a exercerem uma administração baseada na lei e consolidar as forças que amam a pátria, Hong Kong e Macau”. O discurso foi proferido na sexta-feira, quando se comemorou o 70º aniversário da primeira reunião plenário do CCPPC. Além da parte do discurso dirigido a Macau e Hong Kong, o Presidente chinês endereçou uma missão ao próprio CCPPC, num sentido melhorar os trabalhos de aconselhamento político, supervisão democrática e participação na deliberação de assuntos do Estado, de acordo com informação veiculada pelo China Daily. O objectivo será fortalecer o rejuvenescimento nacional. As palavras de Xi Jinping foram sublinhadas no discurso de Wang Yang, presidente do CCPPC, que apelou “ao profundo estudo do discurso” do Presidente e secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Wang destacou que se deve ter compreensão completa do significado dos novos compromissos do CCPPC, que assim entra numa nova era. Poder por partilhar Depois de anos em que muito se escreveu sobre a concentração de poder ao longo da sua presidência, no discurso proferido durante o aniversário dos 70 anos do CCPPC, Xi Jinping menciona o sistema político chinês como uma democracia socialista e advogou um alargado espectro de consultação nos processos políticos decisórios. O Presidente falou mesmo em “centralismo democrático”, que promove a “expressão e troca de ideias e opiniões diversas”, ao mesmo tempo que se melhora os mecanismos de consulta. Segundo o discurso de Xi Jinping, o CCPPC deve ser a plataforma para reunir, educar e guiar representantes de todos os grupos étnicos e sectores da sociedade sobre as novas teorias políticas do partido. Além disso, apelou à melhoria da comunicação com intelectuais que não sejam membros do PCC.
João Luz PolíticaCCPPC | Xi apela à consolidação das forças que amam a pátria e Macau Xi Jinping pediu aos membros das regiões administrativas especiais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês que reforcem o apoio às forças que amam a pátria. O Presidente chinês discursou perante o órgão consultivo no dia do 70º aniversário do organismo, ao qual apontou novos horizontes políticos [dropcap]À[/dropcap] medida que Hong Kong entra no quarto mês de protestos, o Presidente chinês apelou aos membros das duas regiões administrativas especiais da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) que suportem as estruturas de poder de Macau e Hong Kong. Xi Jinping referiu, citado pela TDM – Rádio Macau, que os membros do órgão consultivo “devem ser orientados para apoiar os respectivos governos e chefes do Executivo a exercerem uma administração baseada na lei e consolidar as forças que amam a pátria, Hong Kong e Macau”. O discurso foi proferido na sexta-feira, quando se comemorou o 70º aniversário da primeira reunião plenário do CCPPC. Além da parte do discurso dirigido a Macau e Hong Kong, o Presidente chinês endereçou uma missão ao próprio CCPPC, num sentido melhorar os trabalhos de aconselhamento político, supervisão democrática e participação na deliberação de assuntos do Estado, de acordo com informação veiculada pelo China Daily. O objectivo será fortalecer o rejuvenescimento nacional. As palavras de Xi Jinping foram sublinhadas no discurso de Wang Yang, presidente do CCPPC, que apelou “ao profundo estudo do discurso” do Presidente e secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Wang destacou que se deve ter compreensão completa do significado dos novos compromissos do CCPPC, que assim entra numa nova era. Poder por partilhar Depois de anos em que muito se escreveu sobre a concentração de poder ao longo da sua presidência, no discurso proferido durante o aniversário dos 70 anos do CCPPC, Xi Jinping menciona o sistema político chinês como uma democracia socialista e advogou um alargado espectro de consultação nos processos políticos decisórios. O Presidente falou mesmo em “centralismo democrático”, que promove a “expressão e troca de ideias e opiniões diversas”, ao mesmo tempo que se melhora os mecanismos de consulta. Segundo o discurso de Xi Jinping, o CCPPC deve ser a plataforma para reunir, educar e guiar representantes de todos os grupos étnicos e sectores da sociedade sobre as novas teorias políticas do partido. Além disso, apelou à melhoria da comunicação com intelectuais que não sejam membros do PCC.
Hoje Macau China / ÁsiaRússia | Putin sublinha interesses geopolíticos “coincidentes” com a China As duas nações revelam um total alinhamento em matérias de ordem militar, económica e de política internacional. Vladimir Putin reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês Hu Chunhua em Vladivostoque, à margem do Fórum Económico Oriental [dropcap]O[/dropcap] Presidente da Rússia, Vladimir Putin, considerou ontem que Moscovo e Pequim têm interesses geopolíticos “coincidentes”, sublinhando a importância da cooperação entre os dois Estados para o reforço da segurança internacional. “Não falamos apenas sobre a coincidência dos nossos interesses geopolíticos, que são importantes, mas realizamos também trabalho concreto, obtivemos bons resultados e avançamos”, disse Putin, após uma reunião com o vice-primeiro-ministro chinês Hu Chunhua. A reunião do chefe de Estado russo com o alto quadro do regime chinês ocorreu às margens do Fórum Económico Oriental, que se realiza na cidade portuária de Vladivostoque, no extremo leste da Rússia. “Estamos a trabalhar activamente para fortalecer as instituições internacionais e sistemas de segurança. Colaboramos no campo militar e concordamos activamente nas nossas posições na arena internacional”, acrescentou. Putin expressou ainda satisfação por os parceiros chineses serem os principais investidores nas regiões do Extremo Oriente da Rússia. Hu enfatizou que os dois países atribuem grande importância ao fornecimento de produtos agrícolas russos à China, uma colaboração que descreveu como “muito promissora”. Um acordo entre os dois Estados prevê o aumento do cultivo de soja na Rússia, para fornecer o mercado chinês, à medida que Pequim suspende a compra de produtos agrícolas aos Estados Unidos, face à guerra comercial que trava com Washington. Em 2018, a China importou mais de 800.000 toneladas de soja da Rússia, um acréscimo de 64,7 por cento, em relação ao ano anterior. No mesmo tom O vice-primeiro-ministro chinês acrescentou que existem outras áreas de cooperação económica com potencial de crescimento, como o comércio electrónico transnacional. “Sabemos que isto exige uma simplificação adicional dos procedimentos aduaneiros. Estamos convencidos de que alcançaremos esse objectivo”, acordado entre Putin e o Presidente chinês, Xi Jinping, disse. A Rússia e a China alinharam já posições nas Nações Unidas, ao oporem-se a uma intervenção na Síria e anularem tentativas de criticar as violações dos direitos humanos pelos dois países. Moscovo apoia a oposição de Pequim à navegação da marinha norte-americana no Mar do Sul da China. Ambos os países realizaram já exercícios militares conjuntos, incluindo no Báltico. A Rússia partilhou também com a China alguma da sua tecnologia militar mais avançada. A nível económico, no entanto, a cooperação segue aquém da cooperação política e no âmbito da segurança. A China é o principal parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia surge em décimo lugar entre os parceiros de Pequim.
Hoje Macau China / ÁsiaRússia | Putin sublinha interesses geopolíticos “coincidentes” com a China As duas nações revelam um total alinhamento em matérias de ordem militar, económica e de política internacional. Vladimir Putin reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês Hu Chunhua em Vladivostoque, à margem do Fórum Económico Oriental [dropcap]O[/dropcap] Presidente da Rússia, Vladimir Putin, considerou ontem que Moscovo e Pequim têm interesses geopolíticos “coincidentes”, sublinhando a importância da cooperação entre os dois Estados para o reforço da segurança internacional. “Não falamos apenas sobre a coincidência dos nossos interesses geopolíticos, que são importantes, mas realizamos também trabalho concreto, obtivemos bons resultados e avançamos”, disse Putin, após uma reunião com o vice-primeiro-ministro chinês Hu Chunhua. A reunião do chefe de Estado russo com o alto quadro do regime chinês ocorreu às margens do Fórum Económico Oriental, que se realiza na cidade portuária de Vladivostoque, no extremo leste da Rússia. “Estamos a trabalhar activamente para fortalecer as instituições internacionais e sistemas de segurança. Colaboramos no campo militar e concordamos activamente nas nossas posições na arena internacional”, acrescentou. Putin expressou ainda satisfação por os parceiros chineses serem os principais investidores nas regiões do Extremo Oriente da Rússia. Hu enfatizou que os dois países atribuem grande importância ao fornecimento de produtos agrícolas russos à China, uma colaboração que descreveu como “muito promissora”. Um acordo entre os dois Estados prevê o aumento do cultivo de soja na Rússia, para fornecer o mercado chinês, à medida que Pequim suspende a compra de produtos agrícolas aos Estados Unidos, face à guerra comercial que trava com Washington. Em 2018, a China importou mais de 800.000 toneladas de soja da Rússia, um acréscimo de 64,7 por cento, em relação ao ano anterior. No mesmo tom O vice-primeiro-ministro chinês acrescentou que existem outras áreas de cooperação económica com potencial de crescimento, como o comércio electrónico transnacional. “Sabemos que isto exige uma simplificação adicional dos procedimentos aduaneiros. Estamos convencidos de que alcançaremos esse objectivo”, acordado entre Putin e o Presidente chinês, Xi Jinping, disse. A Rússia e a China alinharam já posições nas Nações Unidas, ao oporem-se a uma intervenção na Síria e anularem tentativas de criticar as violações dos direitos humanos pelos dois países. Moscovo apoia a oposição de Pequim à navegação da marinha norte-americana no Mar do Sul da China. Ambos os países realizaram já exercícios militares conjuntos, incluindo no Báltico. A Rússia partilhou também com a China alguma da sua tecnologia militar mais avançada. A nível económico, no entanto, a cooperação segue aquém da cooperação política e no âmbito da segurança. A China é o principal parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia surge em décimo lugar entre os parceiros de Pequim.
João Santos Filipe PolíticaXi Jinping | Macau, Hong Kong e Taiwan entre os riscos do país O Presidente Xi fez um discurso em que apontou Macau, Hong Kong e Taiwan, entre outros temas, como desafios para o futuro desenvolvimento da China. O analista Larry So considera que o facto da RAEM ser mencionada é um voto de confiança para mostrar que existe um caso de sucesso na aplicação da política Um País, Dois Sistemas [dropcap]A[/dropcap] China está num período de desenvolvimento cheio de desafios e riscos, entre os quais também se encontra Macau, e os membros do partido devem preparar-se para a “arte da luta”. Foi esta a mensagem deixada pelo Presidente Xi Jinping aos membros do Partido Comunista, num discurso terça-feira passada, na Escola Central do Partido, instituição que é conhecida por formar futuros dirigentes. “A luta do nosso Partido Comunista encontrou sempre problemas, contradições e riscos. Quer seja no presente ou no futuro, o desenvolvimento acumulado faz com que a China tenha entrado num período que está repleto de vários desafios e riscos”, afirmou Xi Jinping. “Não nos faltarão grandes lutas, quer seja no aspecto económico, político, cultural, social, na construção de uma civilização ecológica, na defesa nacional, na formação do exército nacional, nos assuntos de Hong Kong, Macau e Taiwan, nos trabalhos diplomáticos, na construção do partido, entre outros aspectos, que são cada vez mais complicados”, acrescentou. Xi Jinping enfatizou depois que “a luta é um tipo de arte” e que os dirigentes devem “saber como dominar bem a arte da luta”. “Em todas as grandes lutas devemos persistir no reforço da nossa preparação para os acontecimentos inesperados, mantendo um foco estratégico, a concentração e a união à volta das decisões tácticas e julgamentos estratégicos”, afirmou o Presidente como receita para o futuro. O líder chinês apelou ainda aos próximos dirigentes para que tenham sucesso: “Os quadros dirigentes são responsáveis e devem ter a consciência da necessidade de defender o nosso País, sendo que quando forem chamados, devem chegar-se à frente para lutarem. E quando estiverem a lutar têm de ganhar”, apontou. Sinal de confiança Ao HM, o comentador político Larry So considerou que o facto de Xi Jinping mencionar Macau ao nível de desafios como Hong Kong não significa um motivo para sinal de alarme para políticos e residentes locais. So aponta mesmo que a RAEM é utilizada como exemplo das vitórias alcançadas pelo partido. “Quando o mundo está todo a focar as atenções na forma como a China está a lidar com Hong Kong, principalmente com todos estes movimentos sociais, o facto de se mencionar Macau é para fazer uma diferenciação”, começou por explicar. “Há uma certa ideia que Hong Kong não é um caso bem-sucedido para o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Mas quando se menciona Macau está a fazer-se um contraste, uma vez que Macau é um caso claro do sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas”, interpretou, sobre as palavras de Xi Jinping. Segundo o comentador, Macau serve para motivar as elites comunistas e mostrar que a China é capaz de vencer os desafios em que está envolvida, nomeadamente a Guerra Comercial com os Estados Unidos e a instabilidade vivida em Hong Kong. “Pode definir-se Macau como um desafio. Mas depois quando olhamos para os resultados, a China mostra esta experiência bem-sucedida. É uma prova de que a China está preparada para vencer os desafios. É como dizer: ‘Temos desafios no futuro, mas temos provas e meios para os vencer‘”, indicou. Finalmente, Larry So negou ainda que haja motivo para que os políticos de Macau façam soar os alarmes: “Não, não acredito que tenham motivos para se sentirem nervosos com o discurso. Acho que vão sentir-se felizes porque mais uma vez a RAEM é mencionada como um exemplo de sucesso. Acho que até vão ficar felizes porque mais uma vez estão a ajudar o País”, considerou. Macau exemplar Também ontem a China News Service, a agência noticiosa do Governo Central, a par da Xinhua, publicou um artigo em que explica as razões do sucesso da RAEM e o facto de se manter a tranquilidade, em contraste com Hong Kong. Neste artigo, são recordadas as palavras do futuro Chefe do Executivo Ho Iat Seng, que prometeu não poupar esforços na protecção e implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas”. No artigo é ainda citado Victor Gao, presidente do Centro da China para a Globalização, que aponta que Macau reconhece os benefícios económicos desde o retorno à Pátria. “Em Macau sente-se que o interesse da região passa em absoluto por manter relações de proximidade com o Governo Central e com os chineses do Interior”, indicou. No mesmo texto são recordadas declarações anteriores de Eilo Yu, académico da Universidade de Macau, à ABC, em que é defendido que a RAEM tem um forte sentimento Pró-Pequim que contribui para a harmonia das relações entre as duas partes. Por outro lado, a China News Service recorda os esforços das autoridades centrais para pacificarem as tríades, ainda antes da transição, o que, segundo o artigo, permitiu acabar com o “caos” que se vivia na então colónia portuguesa. Por último, a China News Service aponta que Macau passa ao lado das confusões de Hong Kong porque tem sido capaz de evitar as interferências estrangeiras. Posição de força Depois de ter sido conhecido o discurso de Xi Jinping, o jornal South Ching Morning Post ouviu várias analistas, principalmente sobre a utilização da palavra “lutas”. Para Wu Qiang, comentador dos assuntos chineses sediado em Pequim, o discurso representa “uma declaração de antagonismo” da China em relação a todos os que tentam impedir a sua emergência no panorama internacional. “É um discurso que marca uma posição de fundo”, começou por dizer. “A China mostra uma postura de antagonismo e é esta a posição e abordagem que vai adoptar para lidar com a deterioração das relações com os Estados Unidos”, sustentou. Por sua vez, Li Mingjiang, especialista em estudos internacionais da Universidade Tecnológica de Nanyang, desvalorizou a utilização da palavra “luta”. Segundo o comentador, apesar da palavra poder ser “muito assustadora” para quem não lida habitualmente com o discurso chinês, a expressão tem implícito um sentido de jogo de cintura. “Não se trata de uma abordagem de confronto total e aberto para se conquistar o que se pretende, para subjugar os rivais ou inimigos – a palavra envolve também uma flexibilidade e a arte de saber lutar”, justificou.
João Santos Filipe PolíticaXi Jinping | Macau, Hong Kong e Taiwan entre os riscos do país O Presidente Xi fez um discurso em que apontou Macau, Hong Kong e Taiwan, entre outros temas, como desafios para o futuro desenvolvimento da China. O analista Larry So considera que o facto da RAEM ser mencionada é um voto de confiança para mostrar que existe um caso de sucesso na aplicação da política Um País, Dois Sistemas [dropcap]A[/dropcap] China está num período de desenvolvimento cheio de desafios e riscos, entre os quais também se encontra Macau, e os membros do partido devem preparar-se para a “arte da luta”. Foi esta a mensagem deixada pelo Presidente Xi Jinping aos membros do Partido Comunista, num discurso terça-feira passada, na Escola Central do Partido, instituição que é conhecida por formar futuros dirigentes. “A luta do nosso Partido Comunista encontrou sempre problemas, contradições e riscos. Quer seja no presente ou no futuro, o desenvolvimento acumulado faz com que a China tenha entrado num período que está repleto de vários desafios e riscos”, afirmou Xi Jinping. “Não nos faltarão grandes lutas, quer seja no aspecto económico, político, cultural, social, na construção de uma civilização ecológica, na defesa nacional, na formação do exército nacional, nos assuntos de Hong Kong, Macau e Taiwan, nos trabalhos diplomáticos, na construção do partido, entre outros aspectos, que são cada vez mais complicados”, acrescentou. Xi Jinping enfatizou depois que “a luta é um tipo de arte” e que os dirigentes devem “saber como dominar bem a arte da luta”. “Em todas as grandes lutas devemos persistir no reforço da nossa preparação para os acontecimentos inesperados, mantendo um foco estratégico, a concentração e a união à volta das decisões tácticas e julgamentos estratégicos”, afirmou o Presidente como receita para o futuro. O líder chinês apelou ainda aos próximos dirigentes para que tenham sucesso: “Os quadros dirigentes são responsáveis e devem ter a consciência da necessidade de defender o nosso País, sendo que quando forem chamados, devem chegar-se à frente para lutarem. E quando estiverem a lutar têm de ganhar”, apontou. Sinal de confiança Ao HM, o comentador político Larry So considerou que o facto de Xi Jinping mencionar Macau ao nível de desafios como Hong Kong não significa um motivo para sinal de alarme para políticos e residentes locais. So aponta mesmo que a RAEM é utilizada como exemplo das vitórias alcançadas pelo partido. “Quando o mundo está todo a focar as atenções na forma como a China está a lidar com Hong Kong, principalmente com todos estes movimentos sociais, o facto de se mencionar Macau é para fazer uma diferenciação”, começou por explicar. “Há uma certa ideia que Hong Kong não é um caso bem-sucedido para o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Mas quando se menciona Macau está a fazer-se um contraste, uma vez que Macau é um caso claro do sucesso do princípio “Um País, Dois Sistemas”, interpretou, sobre as palavras de Xi Jinping. Segundo o comentador, Macau serve para motivar as elites comunistas e mostrar que a China é capaz de vencer os desafios em que está envolvida, nomeadamente a Guerra Comercial com os Estados Unidos e a instabilidade vivida em Hong Kong. “Pode definir-se Macau como um desafio. Mas depois quando olhamos para os resultados, a China mostra esta experiência bem-sucedida. É uma prova de que a China está preparada para vencer os desafios. É como dizer: ‘Temos desafios no futuro, mas temos provas e meios para os vencer‘”, indicou. Finalmente, Larry So negou ainda que haja motivo para que os políticos de Macau façam soar os alarmes: “Não, não acredito que tenham motivos para se sentirem nervosos com o discurso. Acho que vão sentir-se felizes porque mais uma vez a RAEM é mencionada como um exemplo de sucesso. Acho que até vão ficar felizes porque mais uma vez estão a ajudar o País”, considerou. Macau exemplar Também ontem a China News Service, a agência noticiosa do Governo Central, a par da Xinhua, publicou um artigo em que explica as razões do sucesso da RAEM e o facto de se manter a tranquilidade, em contraste com Hong Kong. Neste artigo, são recordadas as palavras do futuro Chefe do Executivo Ho Iat Seng, que prometeu não poupar esforços na protecção e implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas”. No artigo é ainda citado Victor Gao, presidente do Centro da China para a Globalização, que aponta que Macau reconhece os benefícios económicos desde o retorno à Pátria. “Em Macau sente-se que o interesse da região passa em absoluto por manter relações de proximidade com o Governo Central e com os chineses do Interior”, indicou. No mesmo texto são recordadas declarações anteriores de Eilo Yu, académico da Universidade de Macau, à ABC, em que é defendido que a RAEM tem um forte sentimento Pró-Pequim que contribui para a harmonia das relações entre as duas partes. Por outro lado, a China News Service recorda os esforços das autoridades centrais para pacificarem as tríades, ainda antes da transição, o que, segundo o artigo, permitiu acabar com o “caos” que se vivia na então colónia portuguesa. Por último, a China News Service aponta que Macau passa ao lado das confusões de Hong Kong porque tem sido capaz de evitar as interferências estrangeiras. Posição de força Depois de ter sido conhecido o discurso de Xi Jinping, o jornal South Ching Morning Post ouviu várias analistas, principalmente sobre a utilização da palavra “lutas”. Para Wu Qiang, comentador dos assuntos chineses sediado em Pequim, o discurso representa “uma declaração de antagonismo” da China em relação a todos os que tentam impedir a sua emergência no panorama internacional. “É um discurso que marca uma posição de fundo”, começou por dizer. “A China mostra uma postura de antagonismo e é esta a posição e abordagem que vai adoptar para lidar com a deterioração das relações com os Estados Unidos”, sustentou. Por sua vez, Li Mingjiang, especialista em estudos internacionais da Universidade Tecnológica de Nanyang, desvalorizou a utilização da palavra “luta”. Segundo o comentador, apesar da palavra poder ser “muito assustadora” para quem não lida habitualmente com o discurso chinês, a expressão tem implícito um sentido de jogo de cintura. “Não se trata de uma abordagem de confronto total e aberto para se conquistar o que se pretende, para subjugar os rivais ou inimigos – a palavra envolve também uma flexibilidade e a arte de saber lutar”, justificou.
Hoje Macau China / ÁsiaChina expulsou jornalista que escreveu sobre familiar de Xi Jinping [dropcap]A[/dropcap] China expulsou um jornalista do jornal norte-americano The Wall Street Journal, depois de aquele ter escrito uma reportagem sobre um familiar do Presidente Xi Jinping, disseram fontes do jornal citados pela imprensa. As autoridades chinesas rejeitaram a renovação das credenciais de imprensa de Chun Han Wong, um repórter do The Wall Street Journal, o que o impede de também renovar o visto de residência na China, que expirou ontem. Segundo fontes da empresa proprietária do jornal, Dow Jones, citadas pelo próprio The Wall Street Journal e pelo The New York Times, as autoridades não deram ainda qualquer explicação para o cancelamento das credenciais. Numa declaração ontem divulgada, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China limitou-se a dizer que se “opõe de forma resoluta a que um jornalista estrangeiro ataque maliciosamente a China”, concluindo que “tais jornalistas não são bem-vindos”. Chun Han Wong, 33 anos, tem nacionalidade de Singapura e trabalha para o The Wall Street Journal, a partir de Pequim, desde 2014. Em Julho, o jornalista participou numa reportagem sobre Ming Chai, primo do Presidente Xi Jinping, cujas actividades estão a ser investigadas pelas autoridades policiais da Austrália. Segundo a direcção de informação do jornal, o Governo da China pediu para que a peça não fosse publicada, ameaçando com “consequências indeterminadas”. Mais recentemente, Wong publicou uma peça questionando o estado de saúde de Xi Jinping e a sua capacidade física para continuar a governar a China. De acordo com o The New York Times, o Clube de Correspondentes Estrangeiros na China já condenou “de forma veemente” a expulsão de Chun Han Wong, dizendo que ela contraria as afirmações de dirigentes chineses que se dizem apostados em “apoiar a transparência e a inclusão” no regime do país.
João Luz China / ÁsiaHong Kong | Trump apela a Xi por uma solução humana para os protestos O Presidente norte-americano pediu ao seu homólogo chinês que resolva a situação escaldante de Hong Kong de forma humana, sugerindo inclusive uma reunião para discutir possíveis soluções. Como Donald Trump mantinha um silêncio incómodo em relação à RAEHK, e depois de ser criticado por isso, tocou no assunto do momento, dando-lhe prioridade em relação à disputa comercial. Da Europa vieram apelos à resolução pacífica e ao respeito pelo princípio “Um País, Dois Sistemas” [dropcap]D[/dropcap]epois de um silêncio incómodo para muitos pesos pesados da política norte-americana, Donald Trump apelou a uma solução humana para a situação de Hong Kong. Como não podia deixar de ser, o Presidente norte-americano voltou a usar o Twitter para mandar o recado a Xi Jinping, sobre quem tem “zero dúvidas” quanto à capacidade para solucionar o imbróglio política em que está a região vizinha. Depois de se alongar no braço-de-ferro da guerra comercial, Trump escreveu: “É claro que a China quer chegar a um acordo. Mas tratem primeiro de Hong Kong de uma forma humana.”, terminando o tweet sugerindo um encontro para discutir o assunto. Os comentários vieram acompanhados de elogios a Xi, que Trump considera “um bom homem”. Assumidamente fã de governações fortes, há quase um mês Trump elogiou a forma como Xi Jinping estava a lidar com a situação de Hong Kong. “A China podia pará-los se quisesse. Acho que o Presidente Xi tem actuado com muita responsabilidade. Os protestos já duram há demasiado tempo. Espero que Xi faça o que é correcto”. O líder norte-americano chegou mesmo a caracterizar os protestos como motins, colando-se à posição de Pequim, algo que foi aproveitado pela imprensa estatal chinesa, que difundiu incessantemente as palavras de Trump. De Washington até ao resto da comunidade internacional, criou-se a ideia de que a Casa Branca apenas é dura com Pequim em questões comerciais, mas sem qualquer interesse na defesa de princípios. As reacções no campo democrata não se fizeram esperar. Michael Fuchs, que pertenceu ao Departamento de Estado durante a Administração Obama, resumiu a situação de uma forma simples: “Trump está a dizer a Xi Jinping, de uma forma muito clara, que pode fazer o que entender com Hong Kong. Ele só tem interesse no acordo comercial”. Empurrado a agir Depois da defesa dos protestos contra a erosão de direitos e liberdades dos cidadãos de Hong Kong por grandes personalidades de ambos os espectros políticos norte-americanos, assim como da comunidade internacional, Trump viu-se forçado a falar depois de segunda-feira terem sido reveladas imagens de satélite de veículos paramilitares chineses em Shenzhen. Ontem as imagens mostraram milhares de soldados em treinos na cidade vizinha de Hong Kong. Outro exemplo de sério aviso de uso de força foi publicado na conta oficial de WeChat do Exército de Libertação do Povo Chinês, que mostrava os mesmos veículos militares e um mapa com a distância para o Aeroporto de Hong Kong. A imagem foi acompanhada por uma citação de Deng Xiaoping: “O Governo Central deve intervir caso Hong Kong entre em turbulência”. A publicação foi, entretanto, apagada. Antes de Trump apelar a uma solução pacífica, já o seu Departamento de Estado havia demonstrado “preocupações profundas” sobre as movimentações junto à fronteira com Hong Kong, apelando a Pequim para o cumprimento dos compromissos, assumidos aquando da transferência de soberania em 1997, que garantem a Hong Kong “um elevado grau de autonomia”. Como vem sendo hábito, os órgãos de propaganda chinesa vieram meter água na fervura e “esclarecer” que os exercícios militares em Shenzhen já estavam planeados anteriormente, assim como em outra dúzia de cidades da província de Guangdong. Situação lose-lose Entre analistas existe um consenso: a intervenção militar chinesa teria consequências desastrosas tanto para Pequim como para Hong Kong. Ainda assim, enquanto os protestos entram no terceiro mês, os avisos de Pequim tornam-se cada vez mais claros e a intervenção militar mais provável. Uma pista evidente que aponta nesta direcção é a descrição de figuras de topo da hierarquia da política chinesa que caracterizaram os protestos em Hong Kong como terrorismo com a intenção de derrubar o Governo de Carrie Lam. Aliás, ontem na capa do Diário do Povo, um porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC) assinou um editorial contra o tratamento violento a que um repórter do Global Times, uma publicação do PCC, foi submetido num protesto que ocupou o Aeroporto de Hong Kong. O editorial lança um aviso “às mãos pretas” por detrás dos protestos anunciando que “1,4 mil milhões de chineses estão unidos para evitar qualquer dano provocado à nação e ao seu povo”. Também o Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEHK condenou os protestos no aeroporto. “Os manifestantes detiveram, assediaram e agrediram um visitante e um jornalista do continente chinês. Tais actos violentos quase poderiam ser descritos como ‘terrorismo,'” disse o Gabinete de Ligação em comunicado, acrescentando que apoiará a polícia de Hong Kong para levar as multidões à justiça. “Queremos expressar as nossas condolências profundas às duas vítimas e mostrar o nosso respeito mais profundo ao jornalista que manifestou apoio à polícia de Hong Kong”, lê-se no comunicado. Apesar dos avisos de Pequim, os protestos continuam a marcar o dia-a-dia de Hong Kong. Até domingo estão previstas manifestações de professores, trabalhadores dos transportes públicos, funcionários públicos e até donos de animais de estimação. Para domingo, está marcado mais um protesto de grande escala. Cartas da Europa A Chanceler alemã, Angela Merkel, também se juntou ao coro de vozes internacionais no apelo ao fim da violência e ao início do diálogo político. Merkel mencionou mesmo a Lei Básica de Hong Kong e referiu que o território goza de direitos como a liberdade de expressão, que deve ser preservada, assim como outras liberdades salvaguardadas pelo princípio “Um País, Dois Sistemas”. Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, apelou aos turistas germânicos que adiem viagens para Hong Kong, justificando o conselho com a possibilidade de uma intervenção militar chinesa no território. A juntar às declarações de Maas, a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Adebahr, acrescentou que o Governo alemão está “em constante discussão” com Pequim sobre Hong Kong e questões de direitos humanos. O princípio “Um País, Dois Sistemas” foi também mencionado pelo ministro francês para os Assuntos Europeus e Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, que sublinhou também a necessidade de se respeitar as liberdades garantidas pela Lei Básica, tais como “o Estado de Direito, a autonomia do sistema judicial vital para o povo de Hong Kong e a prosperidade económica”. O ministro do Governo de Macron acrescentou que a França tem um compromisso profundo com o respeito destes princípios. “Os protestos em Hong Kong continuam num crescendo de tensão. A França e os seus parceiros, especialmente os europeus, estão a acompanhar a situação de perto”, enquadrou o governante francês. Le Drian apelou ainda a todas as partes “em especial às autoridades de Hong Kong, que restabeleçam o diálogo de forma a conseguir chegar à paz e colocar um ponto final à escalada de violência”. Mensagem de Lisboa O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, evocou a posição da diplomacia da União Europeia (UE), reiterando o apelo “a todas as partes” para que “não agravem a tensão e se abstenham de acções violentas”, “sejam eles as forças policiais ou os manifestantes”. “É muito importante que a violência não progrida e é muito importante que a questão política e legal que está em causa em Hong Kong, neste momento, seja resolvida por vias políticas e legais e não pela violência”, afirmou. O movimento de contestação em Hong Kong não causou até ao momento grandes perturbações a cidadãos portugueses, registando-se apenas “casos pontuais” de problemas com viagens, disse na quarta-feira à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. “Salvo casos muito pontuais não temos notícia de portugueses que estejam a ver as suas viagens ou a sua vida muito perturbada por estes acontecimentos”, disse o ministro. “Os poucos casos de que temos conhecimento, e estamos a acompanhar, são algumas pessoas e um grupo, uma tuna universitária, que esteve em Macau, ia agora de Hong Kong para Tóquio, e uma parte do grupo ainda não conseguiu partir”, precisou. “Mantemos as nossas recomendações […] que as pessoas tenham os cuidados de segurança habituais nestas circunstâncias, designadamente evitando os locais ou as áreas em que ocorrem confrontos, em que haja distúrbios ou em que haja repressão”, disse Santos Silva. Santos Silva disse ainda que apesar da proximidade com Hong Kong, “a situação em Macau é muito tranquila”.
Hoje Macau China / Ásia MancheteTrump considera “responsável” atitude de Xi Jinping face aos protestos de Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] Presidente dos EUA, Donald Trump, sublinhou ontem que o seu homólogo da China, Xi Jinping, “actuou responsavelmente” nas grandes manifestações em Hong Kong contra uma proposta de lei de extradição que facilitaria o envio para Pequim de “fugitivos” refugiados. “Julgo que o Presidente Xi da China actuou responsavelmente, muito responsavelmente. Estão a protestar há muito tempo”, disse Trump em declarações aos jornalistas na Casa Branca ao receber o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan. “Sei que é uma situação muito importante para o Presidente Xi (…). Se quisesse, a China poderia parar os manifestantes”, acrescentou Trump, que adoptou um tom cauteloso face aos protestos nas ruas de Hong Kong. No domingo, dezenas de milhares de pessoas regressaram às ruas para exigir reformas. As manifestações, que se iniciaram há sete semanas, evoluíram da contestação à lei da extradição, que permitia o envio para a China de “fugitivos” ou suspeitos de crimes refugiados no território de Hong Kong, até reivindicações mais amplas sobre a melhoria dos mecanismos democráticos da cidade, cuja soberania foi recuperada pela China em 1997 com o compromisso de manter até 2047 as estruturas erguidas pela colonização britânica. Os críticos consideram que a lei intimidará e penalizará os críticos e dissidentes do regime chinês, enquanto os seus defensores asseguram que procura preencher um vazio legal, por não existirem fórmulas legais de extradição entre Taiwan, Hong Kong e a China continental. No entanto, vários analistas consideram que a China está a tentar acelerar o processo de assimilação da ex-colónia britânica, um processo que regista a firme oposição de parte da população de Hong Kong. Os EUA e a China estão envolvidos numa guerra comercial face às medidas proteccionistas impulsionadas por Trump desde a sua chegada ao poder. Em finais de Junho, Trump e Xi concordaram em estabelecer uma nova trégua na guerra comercial durante a reunião do G20 no Japão, com Washington a congelar a imposição de novas tarifas à China e a permitir que empresas norte-americanas vendam produtos da tecnologia Huawei. No entanto, os EUA vão manter as tarifas aplicadas a produtos chineses num valor de 250 mil milhões de dólares, enquanto a China continua a manter as suas taxas a diversas importações norte-americanas por um total de 110 mil milhões de dólares.
João Santos Filipe Manchete Política20 Anos | Situação de Hong Kong pode levar Xi Jinping a reconsiderar visita a Macau O plano do Governo Central para lidar com as manifestações de Hong Kong implica a avaliação dos riscos da vinda de Xi Jinping a Macau para o 20.º aniversário da transição. O analista Larry So acredita que o possível cancelamento da visita tem como objectivo dar um prazo ao Executivo de Carrie Lam para resolver a instabilidade [dropcap]O[/dropcap]s tumultos em Hong Kong e as manifestações contra a Lei de Extradição para o Interior da China estão a levar o Governo Central a reequacionar os riscos da deslocação de Xi Jinping a Macau, para as celebrações do 20.º aniversário do estabelecimento da RAEM. A informação foi avançada ontem pelo South China Morning Post (SCMP). Segundo explicações avançadas por fontes anónimas citadas pelo jornal de Hong Kong, o Governo Central está a definir um plano a curto e longo prazo para acalmar os protestos, que deverá ser apresentado a Carrie Lam, líder do Governo da região vizinha. Por um lado, a estratégia exclui por completo a intervenção do Exército Popular de Libertação na RAEHK, uma decisão que deverá ter como intuito “acalmar” os mercados e o investimento internacional. Por outro, para evitar a continuação dos tumultos, as autoridades do Governo Central estão a medir os riscos da visita oficial de Xi Jinping a Macau, não se afastando o cenário de cancelamento. Neste momento, não há qualquer decisão tomada e o plano ainda não foi apresentado ao Executivo de Hong Kong, que, segundo o artigo, tem a última palavra sobre a forma como lidar com os problemas recentes. Para o analista político Larry So, este artigo tem como objectivo passar ao Governo de Hong Kong a mensagem que a data da transição de Macau é o limite para “arrumar a casa”. “O facto de o plano para Hong Kong envolver a avaliação dos riscos de deslocação a Macau é uma forma de pressionar o Governo de Hong Kong para resolver a questão criada pela Lei da Extradição”, afirmou Larry So, ao HM. “Estão a dizer-lhes [aos Governantes de Hong Kong] que têm até Dezembro para limpar a casa, para que a deslocação a Macau não fique manchada por outros eventos”, acrescentou. Bloqueios à entrada Ao mesmo tempo, Larry So não afasta a hipótese de vários manifestantes de Hong Kong tentarem vir a Macau protestar nessa data. Contudo, o analista político acredita que o secretário para Segurança, Wong Sio Chak, tem mecanismos para impedir as entradas indesejadas. “O Governo já tem a chamada lista negra de pessoas que não são autorizadas a entrar em Macau. Se o Presidente Xi Jinping vier a Macau, uns dias antes muitas pessoas de Hong Kong já não vão ser autorizadas a entrar. Tenho a certeza que isso vai acontecer”, previu. “Hoje em dia, com as câmaras com reconhecimento facial e toda a tecnologia disponível, não é muito difícil impedir as entradas. O secretário Wong vai ter dias muito preenchidos nessa altura, mas não vai ser um trabalho propriamente difícil”, sustentou. Outro factor que pode contribuir para a decisão de Xi é a promessa do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, de estar em Macau para a comemoração do 20.º aniversário da transição. “O protocolo internacional quase que obriga a que no caso do Presidente de Portugal vir à China, que um representante do mesmo nível chinês esteja presente. Portanto, se o Presidente português vier é mesmo muito provável que o Presidente chinês também esteja presente”, defendeu Larry So. O HM questionou o gabinete do secretário Wong Sio Chak sobre as garantias de segurança no caso de uma eventual deslocação do Presidente Xi Jinping a Macau. O gabinete do secretário para a Segurança recusou fazer comentários por considerar o cenário da visita hipotético, uma vez que não existem referências nos órgãos de comunicação oficiais do Governo Central sobre a vinda a Macau.
Hoje Macau EntrevistaAntónio Tânger Correia, diplomata, recorda desconhecimento da China no início dos anos 80 António Tânger Correia foi o terceiro diplomata português em Pequim após o reatamento das relações diplomáticas entre China e Portugal e recorda o grande desconhecimento que tinha sobre o país que começava a abrir-se ao mundo. Macau ajudou, mas “não era a mesma coisa” [dropcap]N[/dropcap]o início dos anos 80, António Tânger Correia, o terceiro diplomata português em Pequim depois do reatar diplomático, chegou à China para descobrir rapidamente que conhecer Macau não ajudava a compreender melhor aquele país gigante onde coexistiam vários países. “O nosso principal problema era desconhecer o que era a China. Tínhamos um grande conhecimento sobre Macau, mas não é a mesma coisa”, recordou o primeiro secretário da embaixada portuguesa em Pequim entre 1981 e 1984 em entrevista à Lusa. Tânger Correia sublinhou que “não se pode falar da China no abstrato, porque existem várias Chinas dentro da China” com “diferenças muito marcadas e muito marcantes”. Num país com 43 alfabetos escritos, “achar que toda a gente fala mandarim é um mito”, notou, acrescentando que “a China é um continente” em que tudo muda do norte para o sul, desde a “maneira de estar” à língua e à gastronomia. Cumprindo uma promessa que tinha feito a Adelino Amaro da Costa, que lhe tinha exprimido a vontade de o enviar para aquele posto antes de se despenhar, juntamente com o primeiro-ministro Sá Carneiro, em 4 de Dezembro de 1980, em Camarate, Tânger Correia revela que “ia sem ideias preconcebidas”, preparado “para aprender e para ver”. De alguma forma, assume, a escassez de informações disponíveis na altura sobre o gigante oriental ajudava também a manter uma “mente aberta”. A viagem via Moscovo Apanhou um avião para Moscovo e daí seguiu numa emocionante viagem do comboio, cruzando a antiga União Soviética no mítico Transiberiano que tornava “as coisas ainda mais interessantes”. Chegou a Pequim seis dias depois, numa altura ainda inicial do restabelecimento das relações diplomáticas com a China. A República Popular da China tinha nascido em 1949, mas o Estado Novo nunca reconheceu o regime criado por Mao Tse Tung, o que só veio a acontecer depois do 25 de Abril de 1974. Coube ao diplomata João de Deus Ramos abrir a embaixada portuguesa em Pequim, em Fevereiro de 1979, preparando o terreno para o embaixador António Ressano Garcia. Dois anos mais tarde chega Tânger Correia, “novo e cheio de convicções”. Vai aprendendo algumas lições com sinófilos mais experientes. Um deles contextualizou-o: “Isto na China é assim: uma pessoa está cá uma ou duas semanas e escreve um livro sobre a China; se está três ou quatro meses escreve uns artigos e se está três ou quatro anos deixa de escrever porque já percebeu que não percebe nada do que se passa”, relembra Tânger Correia com um sorriso, declarando-se “inteiramente de acordo”. “Não há nenhum ocidental, nem mesmo muitos chineses, que tenham uma compreensão do que é de facto a China, nos seus vários matizes” reforçou. Na capital chinesa, o antigo diplomata ficou impressionado com os milhares de bicicletas e a quase ausência de automóveis: “havia alguns carros diplomáticos e táxis, por isso víamos muitos poucos carros e muitas bicicletas. Dizia-se que os carros do partido circulavam por baixo [da cidade]”. Surpreendeu-se também com “o sistema” que o rodeava, que impedia o contacto com a população local, e a sensação permanente de espionagem. “Punhamo-nos debaixo dos lustres horrorosos que havia nas nossas casas e, muito devagarinho em inglês, transmitíamos o que queiramos dizer não se podia tocar”. Mas, continua, “não se podiam tocar, senão vinham logo dez chineses”. Os últimos andares dos prédios, cujo acesso era interdito, eram ocupados por “funcionários que gravavam tudo”. Era necessário obter autorização para qualquer deslocação, até para ir à praia, conta Tânger Correia. O pessoal da embaixada pertencia também a organizações do Estado chinês: “Vinham do ‘bureau de services’, mas nos chamávamos-lhe o ‘bureau de sevícias’, todo o pessoal era contratado através deles”. Sempre boas relações As missões diplomáticas, que os chineses dividiam em “simpáticas e antipáticas”, recebiam pessoal de acordo com o estatuto: “para as antipáticas mandavam pessoal que era do piorio, que fazia a vida negra à estrangeirada”. O que não era o caso de Portugal, sempre considerado um país “simpático” e com relações com a China que Tânger Correia descreve como “excelentes”, apesar do hiato diplomático formal. “Os chineses lembram-se do bom e do mau, tem uma memória muito grande e sabem coisas sobre nós que nós não sabemos. Portugal nunca foi uma peça negativa neste xadrez. No Japão, por exemplo, tivemos mais problemas”, adianta o ex-diplomata. “Nunca conheci um mau momento da relação bilateral (…) Desde que iniciámos relações diplomáticas, e incluindo o processo de transição face a Macau, nunca assisti a um momento de maior crispação ou de menor conforto nas relações entre os dois países”, garante. Nem a relação económica é nova. Apesar de existir agora “maior interdependência” o investimento chinês em Portugal “há muito que existe” e as “folclóricas” lojas chinesas são prova disso mesmo. Tânger Correia aconselha a “diversificar as opções económicas”, mas reconhece que é mais fácil de dizer do que fazer. “Temos de ser realistas, olhar para o tamanho de Portugal e da China. Não há milagres, a China tem a força que tem, mas nós temos outras qualidades. Temos uma posição geoestratégica importante, temos capacidade de gerir interesses diferentes”, destacou, realçando que estas características foram muito importantes no relacionamento com outras potências, mesmo em períodos de guerra. A China é de Deng Para Tânger Correia, a China de hoje continua a ser a de Deng Xiaoping, apesar da mudança de dirigentes. Xi Jinping pode ser o homem que neste momento tem o poder, mas esse “poder está repartido por várias fações”, sendo o presidente chinês o homem que assegura o equilíbrio. “A China não é um país que se governe com uma pessoa só. É típico da sua cultura que seja colegial. Os países asiáticos, em geral, dão muito mais importância ao colegial do que nós, ocidentais, que somos mais egocêntricos. No oriente, esse individualismo não e tão claro”, resume. Quanto a Macau, “mantém-se como uma porta de entrada” que não causa embaraços políticos aos chineses. “É um local pacífico, usado pelas potências ocidentais e orientais e pela China como placa giratória de determinadas situações”, comentou, concluindo: “talvez até tenha mais importância agora do que tinha”.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA receita chinesa para o choque de civilizações “Various civilizations are not destined to clash. It is foolish to believe that one’s race and civilization are superior to others’ and it is disastrous to willfully reshape or even replace other civilizations.” President Xi Jinping [dropcap]T[/dropcap]odas as civilizações do mundo sentem orgulho na sua história e realizações culturais, e escreveram a história da humanidade tornando cada uma como centro. O presidente Xi Jinping em resposta aos mais sérios desafios globais enfrentados pela sociedade humana, deu uma “receita chinesa” no seu discurso de abertura da “Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas (CDAC na sigla inglesa)” que teve por tema “enfrentar desafios comuns e avançar para um futuro melhor, requer força económica e tecnológica, mas também cultural e civilizacional”, realizada no Centro Nacional de Convenções de Pequim, a 15 de Maio de 2019. Devido à diversidade de civilizações, é necessário aprender umas com as outras retirando lições para o desenvolvimento. Se as civilizações humanas tivessem apenas uma cor e modelo, o mundo seria monótono e aborrecido demais. O discurso do presidente chinês analisou em profundidade a grave destruição criada pelo conceito de uniformidade em relação às civilizações do mundo. De facto, são justamente as diferentes opiniões sobre a uniformidade e a diversidade das civilizações que se tornaram um importante motivo para criar muitos conflitos, guerras e tragédias na história recente da humanidade, especialmente desde o início do século XV, devido ao grande avanço na astronomia, geografia e nas modernas tecnologias de construção naval e navegação, a interacção entre diferentes civilizações tornou-se mais frequente e generalizada. O rápido desenvolvimento da tecnologia na primeira revolução industrial, fez que a civilização da Europa Ocidental se começasse a expandir, conquistar e colonizar, o que levou a um aumento de poder da região, que foi rapidamente colocada no centro do mundo e não se tratava apenas de ligar todas as civilizações, mas também exercer diferentes graus de influência sobre as demais, que levou a um equívoco, o de acreditar que a civilização da Europa Ocidental e da civilização europeia e americana, cujos principais valores dela são derivados são melhores que as outras. As suas realizações em termos culturais, artísticos, científicos e tecnológicos, ideológico, sistema social, e modelo de desenvolvimento alcançaram o auge das civilizações humanas e acreditam que a civilização europeia e americana tem uma condição universal, isto é, tal visão causou danos extremamente dolorosos às civilizações do mundo na história da humanidade. Tal visão, gerou uma estreiteza e egoísmo na natureza humana e espalhou a semente da discórdia e de guerras com elevado grau de morticínio, sendo de relevar uma guerra colonial de quatrocentos anos, duas guerras mundiais e racismo que nunca são fáceis de erradicar e que estão indubitável e intimamente relacionados com as influências negativas e profundas deste conceito de civilização uniforme. A história milenar da humanidade é um processo no qual diferentes civilizações brilhavam em mudanças ou coexistiam de forma esplêndida e destacaram-se as antigas civilizações da Mesopotâmia, Egipto, América pré-colombiana, India e outras, incluindo a da Europa Ocidental, cujas raízes são as antigas civilizações grega e romana. Assim, incluem-se as civilizações do leste asiático, que sobreviveram por milhares de anos. Ainda que diferentes culturas tenham surgido e decaído, fundido, trocado ou colidido, a coexistência era a norma e a corrente dominante é também a base da civilização humana. As diferentes civilizações promoveram à sua maneira o progresso das regiões e impulsionaram os meios para que as suas características e fenómenos culturais se desenvolvessem, amadurecessem e estabelecessem um padrão que as fez distinguir das demais. O reconhecido historiador inglês Arnold Toynbee, afirmou que cada civilização apresenta características que não são compreendidas pelas outras. É de acreditar que especialmente nesta época de globalização, mais elementos culturais regionais tiveram a oportunidade de se tornar globais, e diferentes culturas foram ainda mais enriquecidas em termos de intercâmbio e aprendizagem mútua, o que também gerou um fenómeno de subculturas, mais diversificadas e plurais. A conotação e extensão da diversidade cultural expandiram-se. Ainda que o conceito de civilização uniforme tenha dado origem à hegemonia ou colonização cultural de uma parte poderosa sobre uma débil, o mundo vai-se dando conta que a realidade histórica tem demonstrado que este conceito não é civilizado e inclusive não é cívico. É inegável que existem diferenças entre as diversas civilizações, especialmente, nesta era de globalização, a relação entre as civilizações sofreu profundos ajustes, o que gerou interacções fortes, multidimensionais e contínuas, e até mesmo colisões entre elas. O início do século XXI, com a influência cada vez menor da Guerra Fria e uma preocupação maior na luta contra o terrorismo, fez surgir a teoria do “choque de civilizações”. É de considerar que “O Choque de Civilizações” é o título da obra de Samuel Huntington, ex-professor em Harvard e um dos mais importantes pensadores políticos contemporâneos. O livro, de 1996, é o resultado de um artigo anterior, escrito contra o livro “O Fim da História e o Último Homem”, de Francis Fukuyama, professor na Universidade Stanford, e publicado na revista “Foreign Affairs”, em 1993. A tese do artigo primitivo, que o livro expande e está repleto de detalhes, é de que uma vez terminada a Guerra Fria, outras tensões geopolíticas mundiais começarão e as suas linhas de fractura serão “civilizações”. São conjuntos normativos fechados, culturas activas com memória, capazes de estabelecer uma vontade política comum. Tal vontade é baseada apenas no que é comum aos mesmos, geralmente uma visão religiosa de si e do mundo. Há, segundo Samuel Huntington, “sete ou oito” grandes civilizações, a da Europa Ocidental que inclui a América do Norte e a Austrália; os ortodoxos cristãos, os chineses japoneses, os islâmicos, os hindus e os africanos, os latino-americanos e talvez os budistas que estão no término. O Ocidente é e será por algum tempo a civilização mais poderosa. Mas cada grande área tem um país líder e a teia do poder mundial é formada por poderes de diferentes civilizações. Assim, ninguém pode impor-se aos outros. A trama de fundo em que se desenvolve a tese de Samuel Huntington é clara, pois basta conhecer a história e a demografia. As civilizações do passado foram todas permeáveis às inovações técnicas dos seus contemporâneos, mas nunca aconteceu que uma civilização sentisse a necessidade de importar inovações morais ou políticas. As “expansões” foram feitas pelas formas religiosas que são o endurecimento das fronteiras de valor. O professor Samuel Hutington acreditava que nenhuma grande religião nova ou sincrética é apreciada no futuro e cada poder central das diferentes civilizações competirá com as outras, ou então realizará com algumas alianças estratégicas, enquanto criará os seus satélites para os países menos poderosos da sua área civilizadora. O mundo é e continuará a ser multicultural e multifocal, sem que isso garanta tolerância ou paz, porque as civilizações competirão sem remédio. Os conflitos aparecerão nas “zonas de fractura” nos países onde elas se limitam, e há fronteiras mais difíceis do que outras. A partir da análise do conflito religioso plural na ex-Jugoslávia, Samuel Huntington tira a conclusão de que o Islão é a civilização mais problemática, demográfica e valiosa, embora deva ser dada atenção especial à Índia e à China, que se tornarão superpotências económicas. Todavia, a ordem fomentada pelo Ocidente, com a sua tabela de valores e Direitos Humanos, não é universal nem será; não sendo credível e os grupos civilizacionais não a atacam directamente, não porque a obedeçam ou estão em processo de fazê-lo, mas porque ainda não têm a força para o fazer e não a vivem como universal, mas como o próprio Ocidente, exógeno e baseado na força. Nenhuma civilização prevaleceu; e, embora Arnold Toynbee se tenha inquirido se o Ocidente poderia mudar, universalizando e sobrevivendo, não parece que Samuel Huntington, que em tantos pensamentos o segue, fosse tão optimista. O Ocidente tem interesses em todas as outras civilizações, mas é uma minoria demográfica cada vez menor. Acredita-se que o conflito entre as diferentes civilizações domine o mundo e que as diferenças culturais sejam as causas essenciais desses conflitos. O chamado “choque de civilizações”, de facto, é apenas um fenómeno superficial para o pensamento chinês. As suas raízes estão na procura e captura por parte de diferentes países e grupos étnicos de poder, riqueza e segurança. A causa real é de natureza socioeconómica e é o resultado irracional e injusto da ordem política do mundo. O presidente chinês afirmou de forma lapidar durante a CDAC que não deve haver conflitos entre as diferentes civilizações, mas apenas ter olhos para apreciar a beleza de todas elas. É verdade que não existe conexão directa e inevitável entre conflitos e civilizações plurais e diversificadas. Os preconceitos e mal-entendidos devido ao isolamento e à má comunicação são um terreno fértil para criar e agravar conflitos. O respeito pela diversidade cultural do mundo, a persistência nos princípios de procura de áreas comuns que marginalizem as diferenças, e promovam os intercâmbios e aprendizagem mútua, contribuirão para o conhecimento e entendimentos completos e objectivos entre as diferentes civilizações, e encorajarão a sua coexistência em harmonia e desenvolvimento. É necessário primeiro construir plataformas de intercâmbio e deslocar o seu papel, por exemplo, com a construção de mecanismos culturais bilaterais e multilaterais, a convocação de conferências regionais sobre o diálogo entre civilizações ou o apoio a organizações como a UNESCO. É de considerar que em segundo lugar, deve ser tido em conta que cada civilização tem as suas próprias vantagens. As pessoas devem manter uma mente aberta em relação a intercâmbios e diálogos, aprender com as conquistas alcançadas e promover a prosperidade e progresso comum da civilização humana. É este o sentido de trabalhar juntos para construir uma comunidade de destino compartilhado. Em um tempo como o que vivemos, de desenvolvimento e mudanças gigantescas, a coexistência harmoniosa com outras civilizações é a oportunidade de alcançar o desenvolvimento. A CDAC oferece uma nova plataforma para os países da Ásia e do mundo, para que possam dialogar, realizar intercâmbios, aprender uns com os outros e iluminar uns aos outros, e também consolidar a base de construção conjunta da comunidade de destino da Ásia e da humanidade. Aquando da abertura da CDAC, o presidente chinês rejeitou a teoria de que diferentes civilizações estão fadadas a colidir e que era tolice acreditar que a raça e a civilização de alguém é superior à de outros, sendo desastroso reformular deliberadamente ou mesmo substituir outras civilizações, tendo feito uma proposta de quatro pontos para consolidar a base cultural da construção conjunta de uma comunidade com um futuro compartilhado para a Ásia e humanidade; como tratar uns aos outros com respeito e como iguais; apreciar a excelência de todas as civilizações; aderir à abertura, inclusão e aprendizagem mútua e acompanhar os tempos. A Ásia é o berço de muitas civilizações importantes no mundo, como as civilizações indianas, mesopotâmica e chinesa. Houve intercâmbios frequentes e aprendizagem mútua entre as civilizações asiáticas ao longo da história, por exemplo, o budismo espalhou-se pela China e outras partes da Ásia. A filosofia dos antigos pensadores chineses, como Confúcio e Mencius espalhou-se pela Ásia e pelo mundo para fornecer orientação para a conduta humana e governança. A astrologia e a ciência médica dos países árabes chegaram à China através da antiga “Rota da Seda”. Os países asiáticos sempre tiveram uma base sólida na história para o diálogo e comunicação. Os intercâmbios culturais, actualmente, continuaram em vários campos, como filmes, literatura e protecção do património cultural. O primeiro filme co-produzido pela China e Cazaquistão, “The Composer”, foi estreado em 17 de Maio de 2019, durante o CDAC. O musical narra os últimos anos de 1940 a 1945 do compositor chinês Xian Xinghai, nascido em Macau e mais conhecido pela sua “Cantata do Rio Amarelo”, em Alma-Ata, a maior cidade do Cazaquistão, e Moscovo. O presidente chinês destacou a importância das trocas e aprendizagem mútua entre civilizações em várias ocasiões. Em um discurso na sede da UNESCO em Paris, em 2014, afirmou que as civilizações tornaram-se mais ricas e mais coloridas com intercâmbios e mútua aprendizagem. Tais intercâmbios e aprendizagem formam um importante impulso para o progresso humano, paz e desenvolvimento global. A CDAC foi proposta na reunião de cúpula da “Conferência sobre Interacções e Construção de Confiança na Ásia (CICA na sigla inglesa)”, em Xangai, em 2014, e novamente na “Conferência Anual do Fórum Boao para a Ásia (FBA na sigla inglesa)” que se realizou na província de Hainan no sul da China, em 2015. A exposição no “Museu Nacional de Arte da China” em Pequim, durante a CDAC teve uma interessante mistura. Havia pinturas de artistas chineses retratando outros países da Ásia, bem como paisagens chinesas e pessoas desenhadas por artistas de outros países asiáticos. O discurso do presidente chinês aquando da abertura da CADC foi muito caloroso, expressando a sua disposição de abrir os braços a todas as civilizações na Ásia e do mundo, enfatizando a necessidade de lidar com diferentes civilizações em pé de igualdade e que nenhuma delas tinha o direito de ser superior. Todas as civilizações têm as suas singularidades e a sua parte na herança humana. Ao invés do “choque de civilizações”, afirmou a necessidade de cooperação entre civilizações e de construir uma comunidade de civilizações com um futuro partilhado, invertendo a direcção de muitas ideias de progresso no mundo que levam à existência de relações de confronto entre países e civilizações. Actualmente existem duas tendências no mundo, sendo a da globalização e a da desglobalização. Os Estados Unidos estão a tentar destruir a actual ordem mundial, tendo cancelado a sua participação em vários acordos globais como o “Acordo Climático de Paris”, mas a China lidera a globalização e oferece ao mundo grandes ideias como a “Iniciativa Faixa e Rota” e um futuro compartido para a Ásia e toda a humanidade. A China está a oferecer um novo farol de esperança. O diálogo é a aspiração comum das pessoas na Ásia. A CDAC pode aumentar a consciência da civilização asiática. A Ásia tem civilizações antigas, diversas e ricas. No entanto, por muito tempo na história, a civilização ocidental dominou o mundo e a civilização asiática foi suprimida até certo ponto. A tese chinesa é uma censura poderosa para os que defendem a teoria do “choque de civilizações”. A Ásia possui mais de 60 por cento da população mundial e um terço do PIB mundial e tornou-se um importante motor para o crescimento económico global. A civilização asiática adoptará uma renovação e o CDAC será um catalisador para essa reforma.
Hoje Macau China / ÁsiaG20 | Xi Jinping vai exigir “respeito mútuo” nas negociações com Trump Em vésperas do encontro de Xi Jinping com Donald Trump, durante a cimeira do G20, em Osaka, as autoridades chinesas vão lançando algumas farpas ao Presidente norte-americano exigindo compromissos dos dois lados para acabar com o conflito comercial [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, vai exigir respeito mútuo e pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao homólogo norte-americano, Donald Trump, quando debaterem a guerra comercial durante a cimeira do G20, disse ontem fonte governamental. O vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, confirmou, em conferência de imprensa, que as delegações de Pequim e Washington estão em contacto, visando preparar o encontro entre os dois líderes. “Os princípios da China são o respeito mútuo, tratar-se uns aos outros como iguais e respeitar as regras da OMC”, afirmou. “O compromisso deve ser dos dois lados”, defendeu ao falar sobre o encontro, que se realizará entre os dias 28 e 29 de Junho, em Osaka, no Japão. Wang lembrou que o “unilateralismo” e o “proteccionismo” abrandaram o crescimento económico global e criaram “incertezas”. O vice-ministro citou dados da OMC que diz provarem que o comércio internacional está ao nível mais baixo, desde Março de 2010, e que o investimento estrangeiro global caiu para níveis equivalentes ao início da crise financeira internacional. Wang assegurou que a China apoia o “consenso” para reformar a OMC e considerou que o G20 “deveria apoiar o livre comércio, não discriminatório e transparente”, bem como promover “a profunda integração entre comércio e economia digital”. Um acordo que ponha fim às disputas comerciais com os Estados Unidos “tem que ser benéfico para ambas as partes, ambos têm que se comprometer e fazer concessões, não apenas um dos lados”, sublinhou. O ministro assistente dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Jun, apontou que o G-20 ocorre numa altura em que a economia enfrenta “mais riscos e incertezas” e afirmou que a China assumirá um “papel construtivo” na reunião. Zhang anunciou que Xi vai manter vários encontros bilaterais em Osaka e participar numa reunião com os presidentes dos países do bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), cuja próxima cimeira se realiza no Brasil, em Novembro. “A China vai levar uma mensagem forte na defesa do multilateralismo contra o unilateralismo”, disse Zhang. Guerra aberta Em Maio passado, as disputas comerciais entre Pequim e Washington agravaram-se quando, após 11 rondas de diálogo, as negociações foram subitamente interrompidas. Washington acusou então Pequim de retroceder em compromissos anteriormente alcançados, enquanto a China acusou a delegação norte-americana de não respeitar a soberania e a dignidade do país e de fazer exigência inaceitáveis. Os Governos das duas maiores economias do mundo impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados, numa guerra comercial que espoletou no Verão passado. Washington impôs já taxas alfandegárias de 25 por cento sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China e ameaça taxar mais 300 mil milhões. O Presidente norte-americano, Donald Trump, colocou a gigante chinesa das telecomunicações Huawei numa “lista negra”, que restringe as empresas dos EUA de fornecer ‘chips’, semicondutores, ‘software’ e outros componentes, sem a aprovação do Governo. Pequim ameaçou suspender a exportação para os EUA de terras raras, os minerais essenciais para o fabrico de produtos electrónicos. Criado em 1999, o G20 integra os ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo e da União Europeia. Os Presidentes da China e dos Estados Unidos, Xi Jinping e Donald Trump, respectivamente, falaram na semana passado por telefone, visando retomar as negociações.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente chinês diz esperar que Coreia do Norte e EUA reiniciem negociações [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, citado pela imprensa chinesa, disse ao líder norte-coreano Kim Jong que a comunidade internacional espera que os Estados Unidos e a Coreia do Norte reiniciem um diálogo produtivo. A emissora estatal CCTV referiu que Xi Jinping terá feito este comentário hoje durante uma reunião realizada durante a sua visita à Coreia do Norte. Os líderes da China e da Coreia do Norte reuniram-se hoje, em Pyongyang, numa altura em que os dois países, aliados tradicionais, enfrentam um impasse nas negociações com Washington, em torno do comércio e desnuclearização, respectivamente. Antes da reunião, Xi Jinping e a sua mulher, Peng Liyuan, e altos quadros do regime chinês, foram recebidos com uma cerimónia de boas vindas no aeroporto de Pyongyang, com guarda de honra, salvas de canhão e os hinos nacionais de cada um dos dois países tocados por uma banda militar, segundo imagens difundidas pela televisão estatal chinesa CCTV. Cerca de 10 mil pessoas, agitando flores e entoando frases de boas-vindas, receberam Xi, detalha a Xinhua. Trata-se da primeira deslocação de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005, e surge numa altura em que ambos, Xi e Kim, travam lutas separadas com o Presidente norte-americano, Donald Trump, por motivos diferentes. As negociações entre Washington e Pyongyang parecem ter chegado a um impasse depois de, em Fevereiro passado, a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em Hanói, ter terminado sem um acordo. Pyongyang propôs abdicar gradualmente do seu arsenal nuclear, à medida que as sanções económicas fossem levantadas, enquanto Washington quer um desarmamento completo. Também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China. Trump e Xi vão abordar as disputas comerciais, na próxima semana, durante o G20, no Japão. A visita coincide com o 70.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Norte e ocorre nas vésperas do 69.º aniversário do início da devastadora Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com a assinatura de um armistício que não foi ainda substituído por um tratado formal de paz. Nos manuais escolares chineses, a Guerra da Coreia é designada “Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia”. A visita de Xi foi anunciada, na segunda-feira, pelo Departamento da Ligação Internacional do Comité Central do Partido Comunista da China, ao invés do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, como é costume nas deslocações do chefe de Estado chinês.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping diz que visita a Pyongyang visa progressão nas negociações nucleares [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, disse hoje, num artigo de opinião publicado no principal jornal norte-coreano, que a sua viagem a Pyongyang contribuirá para “progredir no diálogo” e nas “negociações sobre questões da Península Coreana”. O artigo foi publicado nas vésperas da deslocação de Xi ao país vizinho, a primeira visita de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005. “Nós contribuiremos activamente para a paz e estabilidade regional e para o desenvolvimento e prosperidade, fortalecendo a comunicação e a coordenação com a Coreia do Norte e outros actores relevantes, para alcançar progresso no diálogo e nas negociações sobre questões na Península Coreana”, escreveu Xi. O líder chinês refere claramente as negociações entre Pyongyang e Washington sobre a desnuclearização, que se encontram num impasse, desde a cimeira fracassada, em Hanoi, em Fevereiro passado. Os EUA rejeitaram a oferta de Pyongyang, de desmantelar o seu principal complexo nuclear em troca do fim das sanções da ONU, insistindo antes no desarmamento total. No artigo, Xi afirma que a intenção de Pequim é resolver, através do diálogo, os “motivos razoáveis que preocupam o regime”, numa aparente demonstração de apoio à proposta de desnuclearização progressiva de Pyongyang. No mês passado, o regime norte-coreano disparou mísseis de curto alcance e outras armas no mar, visando provavelmente pressionar os EUA. A visita ocorre numa altura em que também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China. Analistas consideram que, com esta visita, a China tentará enfatizar perante os EUA a grande influência que tem sobre a Coreia do Norte como o seu principal parceiro comercial e aliado. Kim visitou a China por quatro vezes, no espaço de um ano, num sinal de renovada confiança entre Pyongyang e Pequim, após anos de distanciamento, face à insistência do regime norte-coreano em prosseguir com o seu controverso programa nuclear. No entanto, Xi Jinping só agora retribuirá a visita, rompendo com o protocolo nas relações entre Estados – as visitas devem ocorrer alternadamente, de forma recíproca.
Hoje Macau China / ÁsiaPutin e Xi Jinping em consonância sobre Venezuela e outros temas internacionais [dropcap]O[/dropcap]s presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, apelaram hoje ao diálogo para a resolução da crise política na Venezuela e anunciaram medidas para contrariar as restrições às exportações de altas tecnologias. A declaração emitida no final de um encontro que durou várias horas entre Putin e Xi no Kremlin apela a todas as partes envolvidas no conflito venezuelano a “apoiar uma solução pacífica dos problemas no país através de um diálogo político inclusivo” e rejeitaram uma possível “intervenção militar” na Venezuela. “Seguimos atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos na Venezuela e apelamos a todas as partes a cumprir com a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados”, acrescenta o documento. Putin e Xi, líderes de dois países que possuem importantes interesses económicos na Venezuela, expressam também a intenção de continuar a manter consultas sobre a América Latina e reforçar os contactos e acções conjuntas para aprofundar as relações com os países da região. Numa alusão à actual guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos, a declaração russo-chinesa assinala que as duas partes se propõem “contrariar a imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologia da informação com a desculpa de garantir a segurança nacional, assim como a exportação de produtos e altas tecnologias”, assinala a declaração conjunta emitida no final das negociações entre os dois estadistas. O documento também sublinha a disposição de se “oporem à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e económica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se arrogarem no direito de decidir os parâmetros da cooperação entre outros países”. Putin e Xi Jinping, acusados de promoveram a censura no universo digital, também prometem “garantir o funcionamento pacífico e seguro da Internet na base da igualdade de condições de todos os países no dito processo”. “E também contribuir para instaurar a regularização de um espaço informativo global”, acrescenta. Num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, as trocas comerciais entre Moscovo e Pequim aumentaram 25% em 2018, para atingir um nível recorde de 108 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), um aspecto também sublinhado no comunicado conjunto. Estes números contrastam com a actual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ocorre também após Moscovo acusar Washington de competência desleal no caso do gasoduto Nordstream-2 entre a Rússia e a Alemanha, um projecto que hoje voltou a ser criticado por Washington. O líder russo enfatizou a perspectiva comum de Moscovo e Pequim sobre numerosos temas internacionais, em particular a oposição conjunta à retirada os Estados Unidos do Tratado sobre Forças nucleares de alcance intermédio (INF), um decisivo pacto sobre o controlo de armamento firmado no final da Guerra fria. Os dois presidentes consideraram que esta decisão dos EUA “corrói a estabilidade estratégica”, e também manifestaram preocupação pela crescente ameaça de uma corrida ao armamento no espaço, apelando à abolição global do envio de armamento para a órbita terrestre. Putin e Xi Jinping também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irão, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte. Hoje, os dois líderes também assistiram à inauguração de uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Mosovo, e à oferta de dois pandas ao zoo da capital russa. Após o programa moscovita, Xi Jinping, que prolonga por vários dias a sua visita à Rússia, desloca-se à antiga capital dos czares e da Revolução de Outubro, onde entre quinta e sexta-feira será convidado de honra no Fórum económico de São Petersburgo, o principal encontro empresarial da Rússia, que deverá reunir 17.000 pessoas. A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e norte-americanas desde 2014, na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping na Rússia para acertar estratégias com Putin Na visita de três dias a Moscovo o Presidente chinês deverá abordar com o seu homólogo russo temas como a crise venezuelana, a Coreia do Norte ou a guerra comercial com os Estados Unidos. Em cima da mesa estarão também a assinatura de acordos no âmbito das áreas da agricultura, finanças e ciência e tecnologia [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, realiza esta semana uma visita à Rússia, onde participará no 23º Fórum Económico Internacional e acertará estratégias com o seu grande parceiro internacional Vladimir Putin, face às crescentes tensões com os EUA. Xi e Putin “vão actualizar e fortalecer as relações”, num momento em que a situação internacional apresenta “mudanças sem precedentes no espaço de um século” e sofre “grande impacto do unilateralismo”, disse ontem o vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Zhang Hanhui, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. Sem referir a guerra comercial entre a China e os EUA, Zhang sublinhou que as relações entre Pequim e Moscovo são cada vez mais “maduras, estáveis e fortes” e serão reforçadas nesta visita de três dias para a qual Xi Jinping parte na quarta-feira. “Esta visita consolidará a base política das relações sino-russas, reafirmará o seu apoio mútuo em questões que envolvem as respectivas preocupações fundamentais e assegurará que as relações não serão afectadas por qualquer mudança na situação internacional”, acrescentou. Especialistas prevêem que Pequim e Moscovo continuarão a traçar estratégias comuns, sobre a Venezuela ou Coreia do Norte, enquanto a guerra comercial com Washington se agrava. No entanto, Putin poderá também tentar explorar as disputas comerciais entre Pequim e Washington para melhorar a capacidade de manobra da Rússia nas relações com os dois países. Da agenda A Xinhua avançou que os dois chefes de Estado deverão assinar documentos de cooperação em áreas como agricultura, finanças, ciência e tecnologia e comércio electrónico. Os dois Presidentes devem ainda discutir projectos de infraestrutura, como a ponte que ligará Heihe, cidade fronteiriça da província chinesa de Heilongjiang, com a cidade russa vizinha de Blagoveshchensk, permitindo triplicar o volume actual de carga naquela área. Xi participará ainda num evento para celebrar o 70º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas e no 23º Fórum Económico Internacional, em São Petersburgo, onde apresentará ideias para o “desenvolvimento sustentável, a defesa do multilateralismo e a melhoria da governação global para o desenvolvimento e a prosperidade”, segundo a Xinhua. A cooperação militar entre os dois países tem também aumentado, com intercâmbios de alto nível entre as forças armadas, para marcar o 70º aniversário das relações, e que incluirão “formação em combate real e outras competências militares”, segundo o porta-voz do ministério chinês da Defesa Wu Qian. As marinhas dos dois países conduziram um exercício naval conjunto, no início de Maio, em Qingdao, na província de Shandong, leste da China, destinada a preparar para “combate real” e reforçar a “capacidade de comando conjunto e resposta a ameaças à segurança marítima”.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaXi Jinping escreveu aos alunos de Macau, Chui Sai On agradeceu Em pleno dia da criança, Xi Jinping respondeu por carta a alunos de uma escola de Macau. A missiva, além ter deixado Chui Sai On comovido, foi motivo para uma palestra com o propósito de estudar o espírito das palavras do Presidente chinês. No evento participaram, além do Chefe do Executivo, o director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, Alexis Tam e representantes do sector educativo [dropcap]F[/dropcap]icámos todos muito emocionados com a recepção da carta do presidente Xi e o carinho que deixou, assim como um recado muito rico à população e para os alunos de Macau”. Foi assim que Chui Sai On reagiu à missiva assinada por Xi Jinping em resposta à carta enviada pelos alunos da Escola de Talentos anexa à Escola de Hou Kong de Macau. “O Presidente Xi Jinping é uma pessoa muito atarefada, mas, mesmo assim, utilizou o seu tempo para responder à carta dos alunos da escola primária. Isto para Macau é uma grande honra”, referiu o Chefe do Executivo. A correspondência motivou uma palestra com o intuito de interpretar a filosofia contida na mensagem do Presidente chinês. “O espírito e a filosofia da carta reveste-se de um grande significado, como tal devemos aprender esta filosofia. Temos de perceber o seu conteúdo e importância e perceber a filosofia subjacente”, referiu o Chefe do Executivo. Chui Sai On destacou ainda o facto de Xi Jinping ter assinalado a “excelência do desempenho das crianças e o patriotismo que demonstraram” e de Macau ser a materialização do desenvolvimento da tradição patriótica chinesa. O líder do Governo local realçou, em conferência de imprensa, que é necessário descortinar o valor essencial do país de forma a permitir maior interacção e integração entre os dois territórios. “Quando a pátria está bem, Macau também vai estar bem”, completou Chui Sai On. Influência do exterior O director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, foi um dos participantes na palestra destinada ao sector educativo e também revelou ter ficado emocionado com a carta enviada por Xi Jinping. “Sinto o amor do Presidente a Macau”, comentou. Além de destacar o incentivo ao patriotismo da juventude local, Fu Ziying destacou os grandes projectos nacionais, como a Grande Baía e “Uma Faixa, Uma Rota”, como pólos de participação patriótica dos alunos locais. Também destacou a perigosidade de interferências externas. “Numa sociedade liberalizada, como Macau, é muito fácil os jovens serem influenciados, por isso temos a responsabilidade de criar valores correctos”, referiu o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. A directora da Escola Hou Kong, Chan Hong, referiu que as crianças são formadas para saberem como amar a pátria e Macau. “São ensinados conhecimentos sobre tecnologia, sobre a realidade nacional e sobre todos os compromissos que têm que assumir perante a sociedade, a família e o país”, revelou a directora. Teoria da evolução A escola Hou Kong, foi o estabelecimento de ensino que há trinta anos escreveu a Pequim, a criticar o Governo Central pelos acontecimentos em Tiananmen. A memória foi recordada ontem pelo deputado Sulu Sou, citado pela Rádio Macau. “A escola Hou Kong foi uma das que há três décadas escreveu uma carta ao Governo Central apoiando o movimento estudantil e censurando a violência. Trinta anos depois parecem ter mudado a maneira de pensar”, disse o deputado. Para Sulu Sou, a palestra realizada ontem destinada ao sector educativo para “aprendizagem e aplicação do espírito da carta de resposta do presidente Xi Jinping aos estudantes de Macau”, representa ainda o controlo cada vez maior do ambiente político local.