“O binho é qu’induca”

Há cerca de 20 anos visitei Bragança a fim de conhecer os usos, costumes e tradições daquela região. No primeiro dia que me desloquei a um café pedi uma sandes de presunto e um copo de leite. Do meu lado esquerdo ouvi logo uma voz, de um homem cheio de rugas na face e as mãos como se estivessem inchadas do trabalho no campo, que me disse: “Leite? Ó amigo, de manhã, se quer viver muitos anos o binho é qu’induca!”. Estava iniciado um diálogo que foi longe e que acima de tudo o companheiro de balcão do café, com 83 anos de idade, e fresco para as curvas, transmitiu-me que desde que se conhece que pela manhã, depois de comer uma “bucha” em casa, vai à tasca ou ao café ingerir um copo de vinho tinto e um bagaço. Limitei-me a acreditar que o vinho tinto dá alguma saúde a mais do que o normal.

Passados muitos anos tive conhecimento que o médico cardiologista mais famoso na China tinha afirmado na televisão que um copo de vinho tinto às refeições era o melhor medicamento para o coração. O que constatei é que os chineses que bebiam copos cheios de conhaque e brandy às refeições, começaram a pretender beber vinho tinto. Bem, foi um fartote de importação de contentores oriundos de Itália, França e Austrália. Mais tarde, soube através de um amigo que tem uma herdade no Alentejo e que produz vinho, que até Macau estava a importar dezenas de contentores de toda a espécie de vinho português com destino à China. Por sinal, também soube que alguns inúteis residentes em Macau vieram a ficar riquíssimos com a importação do vinho português do Douro, Beira e Alentejo, onde realmente são produzidos vinhos de alta qualidade, alguns, mesmo melhores que os franceses e italianos.

O vinho tem vários segredos ao longo da sua produção, incluindo o modo como são plantadas as videiras e como são retiradas as uvas. A indústria do vinho já é uma das maiores do mundo e temos garrafas que ultrapassam o preço de 100 mil patacas. Um antigo residente de Macau, que mora aqui perto de mim, disse-me que uma vez foi convidado para jantar em casa do senhor David Chow e que ele abriu uma garrafa de vinho francês avaliada em 120 mil patacas.

Mas, neste momento da vossa leitura, perguntarão “onde é que este tipo quer chegar com esta conversa do vinho, eu que adoro beber um copo às refeições”? Têm razão em querer saber e digo-vos de imediato. Li numa revista inglesa que, em 2023, Portugal foi o país do mundo que consumiu mais vinho. Fiquei de boca aberta.

Na verdade, pensando bem, tem de se beber muito em Portugal se atendermos às centenas de marcas que o mercado apresenta. Praticamente em todo o país produz-se bom vinho, os enólogos de hoje sabem da poda e as condições das adegas são quase semelhantes a hotéis de luxo. Mas, a moeda tem duas faces. Nós, os portugueses, podemos ser o povo que mais bebe vinho. No entanto, não sabemos beber. Muito poucos são aqueles que bebem para apreciar o que lhe foi posto no copo. A maioria bebe até já não saber o que diz. Não tem a noção se bebeu um vinho com 13,5%vol, 14% ou 14,5%. Para essa gente tanto se lhe dá como se lhe deu. O que interessa é estacionar o carro ou a moto à beira da estrada onde se situa um restaurante e vá de esvaziar garrafa atrás de garrafa. E depois? Depois temos, segundo a GNR, que a maioria dos acidentes rodoviários é devido ao excesso de álcool no sangue. Tem sido de uma imensa dificuldade convencer os condutores portugueses que se estão ao volante não podem ingerir nenhuma bebida alcoólica.

Há dias, vi um camionista fora de mão e de repente lá guinou para o seu lugar correcto. Ou estava com sono ou com uns copos a mais. Não aconteceu nenhuma tragédia porque naquele momento não rodava nenhum veículo em sentido contrário. O vinho tanto pode dar um grande prazer como pode constituir uma desgraça. Um médico transmitiu-me que não existe pior droga que o álcool e se nos dermos ao trabalho de investigar quem são as pessoas que estão internadas em instituições de recuperação, concluiremos que são alcoólicos. Infelizmente, nenhum governo desde o 25 de Abril de 1974 se preocupou com a situação psicológica de antigos combatentes que passaram anos a ver mortos e feridos graves. Esses antigos militares ficaram traumatizados e um grande número deles está alcoolizado. É no vinho ou em outras bebidas alcoólicas que se refugiam para esquecer as cenas tristes que lhes vão na mente. Estão completamente transtornados, batem nas mulheres, nos filhos e conduzem o carro bêbedos.

Portugal foi o país que mais vinho consumiu em 2023 e certamente que entre este número estonteante estiveram milhares de condutores de camiões, carros e motos. Os acidentes são semanais e ultimamente têm morrido muitos jovens em acidentes de motos e quendo as autoridades investigam são informadas que os condutores estiveram num bar ou numa discoteca a beber demasiado. “O binho é qu’induca” desde que saibamos que apenas podemos beber um copo por refeição, no máximo, se de seguida formos pegar no volante. Portugal tem de caminhar para o primeiro lugar mas é dos países com menos acidentes nas estradas.

19 Ago 2024

Turismo | Promovidas “masterclasses” de Vinhos Certificadas

Entre Abril e Setembro, a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), em cooperação com a Universidade de Turismo de Macau e a Wynn, vai organizar uma série de “Masterclasses” de Vinhos Certificadas, para reforçar o domínio dos operadores turísticos sobre conhecimentos e cultura do vinho. Para ajudar ao desenvolvimento profissional e consolidar Macau como Cidade Criativa da Gastronomia, foram convidados a Dragon Phoenix Wine Consulting (Beijing) Ltd., Wines of South Africa, Wines of Argentina e Vinhos de Portugal.

A cerimónia de abertura e a primeira formação tiveram lugar ontem. No discurso que abriu o evento, a directora da DST, Maria Helena de Senna Fernandes, referiu que o Governo incentiva os operadores turísticos e de restauração a reforçarem a formação, a elevarem o nível profissional e a qualidade dos serviços para oferecerem uma boa experiência turística.

A série de “Masterclasses” de Vinhos Certificadas compreende um total de cinco sessões, em que três instrutores apresentarão os conhecimentos e as características dos vinhos dos países da costa atlântica. Haverá lugar ainda para degustação de vinhos e comida para formandos aprenderem técnicas de combinação de vinhos e gastronomia. A DST realça que o programa de formação e avaliação é reconhecido pelas entidades certificadoras.

24 Abr 2024

Alfândega | Revisão das taxas sobre vinho australiano

O ministério do Comércio da China vai começar “imediatamente” a rever as taxas alfandegárias impostas sobre o vinho australiano em 2020, num novo sinal de normalização das relações económicas e políticas entre os dois países. A revisão, que vai durar até 30 de Novembro de 2024, determinará se as taxas são necessárias e pode culminar em alterações com base na evolução do mercado, segundo o jornal oficial Global Times.

O anúncio surge também depois de a Associação Australiana do Vinho e da Vinha ter pedido oficialmente ao ministério chinês uma revisão das taxas, dado que a “situação mudou muito”, segundo um comunicado do ministério. A porta-voz do ministério, Shu Jueting, disse que o resultado da revisão vai ser “objectivo”, “justo” e baseado em provas fornecidas por ambas as partes.

No final de Outubro, a China e a Austrália chegaram a um consenso no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) para resolver os seus diferendos comerciais, entre os quais os direitos aduaneiros sobre o vinho australiano.

“A China e a Austrália iniciaram consultas amigáveis no âmbito da OMC sobre os seus diferendos relativos ao vinho e às turbinas eólicas e chegaram a um consenso para os resolver de forma adequada”, declarou o ministério do Comércio no dia 22 de Outubro.

A revisão surge pouco depois de o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, ter concluído uma visita à China, na qual se reuniu com o Presidente chinês Xi Jinping e o homólogo Li Qiang. Albanese descreveu a visita como um “passo importante para a estabilização das relações” com o “parceiro comercial mais importante” da Austrália.

Antes da imposição das taxas alfandegárias punitivas sobre o vinho australiano, este representava 35,5 por cento do mercado de vinho importado pela China, mas dois anos mais tarde já nem sequer figurava entre os 10 principais países exportadores de vinho para a segunda maior economia mundial.

4 Dez 2023

Arrematação do vinho Liu pun

Macau, em 1891, pedia ao Reino permissão para criar o exclusivo do vinho Liu-pun, quando em Portugal, mais propriamente no Porto, na revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891, os populares cantavam um hino com música de Alfredo Keil e letra de Henrique Lopes de Mendonça, que referia contra os bretões marchar e após vinte anos deu o actual Hino Nacional, passando os bretões a canhões.

Tal devia-se ao Governo Britânico ter feito a 11 de Janeiro de 1890 um Ultimato a Portugal para retirar as tropas dos territórios do Centro de África inseridos no Mapa Cor-de-Rosa, sendo pouco depois definidos os limites de Angola e Moçambique. A 7 de Maio de 1891, o Estado Português declarava bancarrota parcial após se financiar com um empréstimo de 36 mil contos de reis a 5 de Fevereiro, levando à desvalorização da sua moeda em 10%.

A 17 de Janeiro de 1892, o Rei D. Carlos, o Diplomata (1889-1908), promovia um governo patriótico de aclamação partidária dirigido por Dias Ferreira e Oliveira Martins como ministro da Fazenda tentava reduzir o défice através da austeridade e aumento da carga fiscal.

Já “para colmatar o grande défice das finanças de Portugal, a 10 de Junho de 1891 o Conselheiro José Bento Ferreira de Almeida (1847-1902) propusera no Parlamento em Portugal a venda ou abandono da maior parte das colónias portuguesas (Guiné, Ajudá, Macau, Timor e Moçambique), com excepção de Angola, ilhas do Golfo da Guiné e Cabo Verde. Não inclui a Índia, pois a Inglaterra já denunciou o antigo tratado a que se fez em tempo uma guerra enorme e se ela o denunciou, é porque não lhe era favorável e há-se impor-nos um novo tratado, em que se desforre, deixando-nos a escorrer sangue, o que nos obrigará a largar aquele domínio”, segundo o P. Manuel Teixeira.

Entretanto, em Macau o grande aumento do consumo de vinho de arroz de qualidade inferior, o destilado liu-pun, levara o Governo da cidade a prosseguir a política de atribuição da venda de alguns produtos em forma de exclusividade efectuada desde 1849, quando foi arrematado o monopólio da venda da carne de vaca.

Adjudicado o exclusivo

Os Governadores de Macau pediam ao Reino para autorizar a concessão exclusiva da bebida espirituosa Liu-pun e o Governador Custódio Miguel de Borja (16/10/1890-1894) recebeu em 1 de Outubro de 1891 a resposta positiva do ministro e secretário d’ Estado do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar Júlio Marques de Vilhena, sendo o Decreto do exclusivo do Liu-pun publicado no B.O. n.º 50 de 10-12-1891. A arrematação foi marcada para 17 de Março de 1892 e seria por meio de licitação verbal, como consta no B.O. de 3 de Março de 1892, onde também aparecem as condições para a licitação, que deveria ser feita perante uma comissão.

Esta, nomeada em 16 de Março de 1892, era composta por o Governador como presidente, do delegado do procurador da coroa e fazenda e do inspector da Fazenda e serviria também para propor a redução de despesas públicas que possam ser adoptadas e melhorar a reorganização dos diferentes ramos de serviços subsidiados pelo Estado sem prejuízo da sua boa execução. O inspector da fazenda Arthur Tamagnini Barbosa na semana seguinte 10 de Março voltava a publicar o mesmo anúncio no B.O. n.º 10.

Chegado ao dia 17 de Março de 1892 foi posto em praça o exclusivo do Liu-pun, referindo o jornal O Independente terem sido quatro os pretendentes que depositaram dinheiro para entrar na licitação e S. Exa. o Governador presidiu à arrematação. O preço fixado pelo Governo foi de $5.000 ao ano, abrindo-se a praça por esta cifra. O melhor lanço foi de $6.000; mas não convindo à Fazenda adjudicar o exclusivo por este preço, mandou fechar a praça, devolvendo aos concorrentes as quantias que depositaram. “Consta-nos que na próxima arrematação um pretendente oferecerá $7,500.”

A repartição de fazenda provincial publicava um novo anúncio no Boletim Oficial do Governo da Província de Macau e Timor n.º 12 de 24 de Março de 1892: Não se tendo efectuado a adjudicação do exclusivo do vinho Liu-pun cuja arrematação foi anunciada no Boletim oficial do governo desta província n.º 9, da série do presente ano, para o dia 17 do corrente mês, d’ ordem de S. Exa. o Governador novamente se publica que pela uma hora da tarde de 2 de Abril próximo futuro, se procederá, perante a comissão de que trata a portaria régia n.º 114, de 11 de Dezembro de 1891, na sala das arrematações desta repartição, à arrematação do referido exclusivo, pelo espaço de tempo a decorrer desde 1 de Maio de 1892 até 30 de Junho de 1894 por meio de proposta em carta fechada.

Nas condições já não aparece determinado o valor de oferta, deixando-se aberta a proposta ao arrematante do preço que anual oferece em patacas pelo rendimento do exclusivo do vinho Liu-pun em Macau, Taipa e Coloane.

No próprio dia 2 de Abril O Independente refere: “Foi hoje adjudicado este exclusivo por proposta em carta fechada a um dos capitalistas chineses de Hong Kong pela quantia de 7,810 patacas.”

Publicada a adjudicação do exclusivo da bebida Liu-pun no Suplemento ao B.O. n.º 13 de 6 de Abril de 1892, que apenas trata esse assunto e onde em Edital o Governador Custódio Miguel de Borja, faz saber que: Destas palavras se percebe ter sido a atribuição do exclusivo do vinho Liu-pun ao chinês de Hong Kong mal recebida por os comerciantes e industriais chineses de Macau, que logo resolveram fazer greve e fechar todas as lojas.

13 Jul 2022

Revelador vinho

A lenda da “Dama Serpente Branca”, do tempo da dinastia Song (960-1279), refere que duas serpentes vindas do espaço se transformaram em belas damas no dia da celebração do Qingming. Na cidade de Hangzhou vivia Xu Xian e certo dia ao viajar de barco no Lago Oeste viu numa das margens duas jovens senhoras a querem atravessá-lo.

Mandou o barqueiro ir buscá-las, dando-lhes boleia para a outra margem e como era ainda jovem solteiro, logo ficou enamorado pela beleza de Bai Suzhen. Pouco tempo depois estavam já casados e logo recebeu um aviso de Fa Hai, monge com poderes sobrenaturais, para se afastar da esposa e da dama de companhia, pois eram espíritos de serpente. Não acreditando, recebeu o repto do monge para no dia seguinte, 5 da quinta Lua oferecer à esposa Xiong huang jiu (雄黄酒), vinho com que era costume comemorar em família a Festividade dos Barcos-dragão. Assim, veria com os próprios olhos quem era ela. Mesmo sem acreditar em tal, acedeu e no dia seguinte bebeu-o com a esposa.

Esta, após um copo de vinho sentiu-se indisposta e pediu ao marido para se retirar, solicitando que ele não a acompanhasse aos aposentos. Preocupado, Xu Xian foi ao quarto e vê-a transformada em serpente. Transtornado com a revelação, atirou-se da janela e morreu. Quando Bai Suzhen voltou a si, chorou a morte do marido, mas lembrando-se de uma erva para ressuscitar os mortos, conseguiu com ela fazer renascer Xu Xian. O vinho conhecido por Xiong huang jiu é feito a partir de uma pequena quantidade de pó de cor rubi do mineral realgar, composto de sulfureto de arsénio (As4S4) de grande toxicidade e cujo contacto pode causar irritabilidade na pele e nos olhos. Servia para desintoxicar e limpar o veneno, sendo usado nas crianças apenas no exterior e nunca para beber.

REGATAS DOS BARCOS-DRAGÃO

Na Festividade do Duplo 5 (Duan Wujie), celebrada no dia 5 da quinta Lua, realizam-se duas importantes actividades, a de se prevenir ocorrências funestas e comemorar Qu Yuan, que nesse dia em 278 a.n.E. se suicidou atirando-se ao Rio Miluo. Após infrutíferas buscas para o encontrar, as pessoas deitaram arroz glutinoso nas águas, assim como vinho de realgar (Xiong huang jiu) para evitar ser que o corpo fosse comido pelos peixes. Desde então, realizam-se as regatas dos Barcos-dragão.

Neste mês é fácil ficar-se doente pois o ar é abafado, quente e húmido, estando os insectos mais activos e as suas picadas trazem febres, proliferando infecções contraídas pela boca e nariz. Para as prevenir, as pessoas bebiam vinho medicinal amarelo e nele colocavam a planta seca de açoro (Acorus calamus, conhecida na China por Chang Pu) para fazer o vinho Chang Pujiu (菖蒲酒). Com esta planta medicinal da família das Acoraceae, os tártaros desinfectavam a água para beber e como o rizoma do cálamo contém um óleo com propriedades de vigorar a circulação do sangue, aumentar o apetite, facilitar a digestão, eliminar os gases do tubo digestivo e aliviar bronquites crónicas, era o vinho usado para o tratamento de 36 problemas causado pelo vento (maleitas relacionados com o fígado) e depois de o consumir ficava-se a ouvir bem e os olhos a ver claramente. Ao ser misturado com a água do banho torna-se um relaxante muscular para aliviar as dores reumáticas e acalmar a urticária.

Além de cana de calamus e artemisia para evitar infortúnios e desviar o mal, usa-se também beber vinho Xiong Huang a fim de desintoxicar e neutralizar o veneno, além de se esfregar e borrifar tudo com realgar e pegando-lhe fogo, fazer fumigação. Esse costume foi caindo em desuso e desapareceu.

FESTIVIDADE DO OUTONO

No dia 15 da oitava Lua celebra-se por toda a China a Festividade do Meio do Outono. Está ligada à Lua, quando ela parece ser maior e se oferecem e comem os bolos lunares por estes terem a forma de Lua Cheia, sendo por isso conhecida pela Festa do Bolo Lunar e em Macau, por Bolo Bate-Pau. Para os chineses, é a segunda mais importante depois da do Ano Novo, quando se faziam as últimas colheitas e o trabalho no campo estava a terminar. Com dias iguais às noites e temperaturas amenas, instala-se uma sensação de prazer e bem-estar no ambiente quotidiano, reinando a alegria e felicidade. As casas, dos ricos e das mais humildes pessoas, iluminam-se com festas animadas e nos banquetes familiares come-se fruta, bolo lunar e caranguejo, usando-se vinho amarelo onde se deitava um pouco de gengibre para balançar, sendo leve para conviver e oferecer sacrifícios à Lua.

FESTIVIDADE DO DUPLO 9

Por ano há dois dias importantes reservados pelos chineses para visitar e homenagear os Antepassados: o Qingming celebrado antigamente apenas pelos Imperadores, oficiais e a corte à volta do dia 5 de Abril do calendário solar e o dia 9 da nona Lua, a Festividade do Aprovisionamento do Princípio Masculino, celebração do Duplo 9, ou duplo yang, também conhecida por Chong Yang Jie (Chông Iéong Chit).

A primeira referência conhecida a Chong Yang fora feita por Qu Yuan, no poema intitulado ‘Longínqua Viagem’: “Parando em Chong Yang e entrando no Palácio dos Deuses”. Há quem afirme, o Duplo Yang, como é traduzido Chong Yang, não se referia à festividade, mas ter o significado de Céu.

Altura de o povo oferecer sacrifícios aos Antepassados, levando-lhes galinhas, vinho, assim como acendendo duas velas e três paus de incenso, põem fogo aos sacos cheios de papel-moeda dourado em lingotes para a comunicação com os seus mortos seja facilitada.

Segundo o ritual chinês, não é recomendável visitar templos ou oferecer sacrifícios aos deuses, apenas é sugerido um passeio pelas montanhas, a fim de estar próximo dos Antepassados.

O costume era nesse dia as pessoas oferecerem um grande banquete a todos os parentes e amigos e os letrados juntarem-se nos locais mais ermos a contemplar a Natureza e ajudados com vinho, divagar em poesia.

A flor usada é o crisântemo, não fosse a nona Lua do ano conhecida pela Lua do Crisântemo. A flor de crisântemo (菊花, jü hua em mandarim e kók fá em cantonense) está relacionado com o Outono, pois aparece nesta estação, quando as outras flores já murcharam, e dura até às primeiras geadas. Simboliza a longevidade e representa a jovialidade e amizade em comportamento apropriado e ético.

Tao Yuanming escreveu sobre os crisântemos e no poema “Bebendo vinho”, (traduzido por Manuel Afonso Costa e editado por Livros do Meio), na sétima parte refere, <Crisântemos de Outono de cores fascinantes / eu vos colho carregadas de orvalho / e mergulho no vinho / para esquecer as mágoas / e os pensamentos do mundo…”

Com tempo bom e uma paisagem repleta destas flores, bebia-se vinho de Crisântemo. Na dinastia Song dentro do palácio eram aos milhares e com ela se fazia a comida e o vinho, usada ainda na Medicina Tradicional Chinesa. Como o corpo está seco e quente, o crisântemo é perfeito para balançar e no chá se mistura essa flor.

A Festividade do Aprovisionamento do Princípio Masculino tem como finalidade alcançar riqueza e descendência masculina e celebra-se com a esperança de se ter uma longa vida.

10 Mai 2022

Vinho e turismo vinícola do Pico promovidos na China

O vinho do Pico e o turismo vinícola da “ilha-montanha” estiveram em destaque numa sessão de promoção do Turismo de Portugal no leste da China, que foi transmitida ao vivo na televisão e Internet.

O evento deu a provar oito vinhos de diferentes regiões de Portugal, incluindo o vinho do Porto, o vinho verde e o vinho branco, revelou, num comunicado divulgado na segunda-feira, a agência chinesa de viagens Tuniu.

O delegado do Turismo de Portugal na China, Tiago Brito, apresentou a Paisagem Vinha da Ilha do Pico, que foi em 2004 listada como Património Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A sessão, que decorreu na cidade de Nanjing, capital da província de Jiangsu, no leste da China, foi organizada pelo Turismo de Portugal, a Tuniu e a NJBG, a radiotelevisão pública de Nanjing.

O evento foi transmitido ao vivo na plataforma da NJBG, na aplicação chinesa de transmissões ao vivo Niuka, e na plataforma da Tuniu.

A ilha do Pico, onde está situado o ponto mais alto de Portugal, com 2.351 metros de altura, conta com 15 empresários ligados à produção vitivinícola.

A produção de vinhos da “ilha-montanha” em 2021 foi considerada “catastrófica”, devido às más condições climatéricas, em especial da tempestade “Lola” que atravessou os Açores em abril e “vindimou” mais de dois terços das vinhas.

Losménio Goulart, presidente da Adega Cooperativa Vitivinícola do Pico – Picowines, disse à Lusa em outubro que a cooperativa recebeu apenas 240 toneladas de vinho, muito menos dos que as cerca de 600 toneladas recebidas em 2020.

O mercado chinês do vinho é já o quinto maior do mundo, embora apenas cerca de 3% dos 1,4 mil milhões de habitantes beba regularmente vinho.

11 Jan 2022

Primeiro acto – Cena 3

Valério serve-se de mais vinho enquanto o amigo continua os seus afazeres na divisão dos fundos.

Valério
Um aluno consultor…

Valério desata a rir às gargalhadas, entornando vinho na camisa, nas calças e no chão. Pousa o copo no chão e vai buscar um pano ao balcão de madeira, perto do lava-loiças.

Gonçalo
[fora de cena]
O que é que disseste?

Valério
Nada!

Gonçalo
[ainda fora de cena]
Um aluno consultor!

Valério
Tens ouvidos de tísico!

Valério limpa a camisa e as calças com o pano molhado. Gonçalo regressa da divisão dos fundos e volta a sentar-se na sua cadeira.

Gonçalo
Sabes que eu tenho livros publicados?

Valério
E…?

Gonçalo
Nada…

Valério
Eu disse que ias fazer birra!

Valério regressa ao seu lugar e volta a servir-se de vinho.

Valério
E disseste que as paredes são densas e desfocam bastante quanto explicaste que ele não conseguia ver muito bem o que se passava do lado de fora da estufa. Por densas, querias dizer espessas, embora, neste caso, densas seja perfeitamente aceitável como sinónimo. Mas ajudaria mais falar em espessura, ou mesmo em grossura, para dar mais ênfase à desfocagem que aludiste. Mas é como te digo, a densidade, aqui, e tendo em conta de que se trata de um conto de ficção-científica… [sorri] fica muito bem.
Gonçalo
[irritado]
Se fica bem, porque é que estás a… ?

Valério
[interrompendo]
Porque tudo o que tu fazes, escreves, contas, estudas, ouves, lês… tudo, tem de ter a minha aprovação!

Gonçalo abre a boca, chocado. Ameaça rir, mas a facada que levou não o deixa.

Valério
Não faças esse ar, é assim que nós os dois funcionamos! Lês uma crítica má a um livro que adoraste, sentes-te inseguro, será que ando enganado? e lá vens tu então, já leste isto? e ficas à espera que eu te dê a minha opinião. Porque se eu gosto, deve ser bom! E andas dias a chatear-me… já leste? já leste?… Mas és incapaz de me dizer olha, gosto de um livro de que toda a gente anda a dizer mal, achas que tenho um gosto duvidoso? Alguma coisa deve ter acontecido, andas inseguro com alguma coisa… e eu sei o que
é! Essa história do conto de ficção científica rejeitado traz água no bico, contigo é sempre assim… ando às apalpadelas até perceber se é o interruptor ou se o raio que o parta… e tu sempre à frente, armado em sonso, a mudar o braille das paredes! E isto começou porque não me perguntaste o que é que eu achava da tua primeira descrição de há pouco, a do cenário de guerra… foi ou não foi? Interrompi com uma piadinha e tu começaste logo a roer-te todo por dentro… ai, ele não deve ter gostado! E o menino pôs-se à pesca, a ver se eu mordia… ’tadinho de mim.. olha, sabias que uma vez me recusaram um conto… E o que me estavas a contar, chapéu! Portanto, já são dois boicotes seguidos…

Gonçalo
Boicotes!?

Valério
Seguidinhos, meu amigo! Mas tudo bem, quem fica a perder és tu, não vais saber o que eu penso da tua ideia para o novo livro, nem vais saber o que eu penso do teu conto recusado…

Gonçalo
[irónico]
Porque és tu quem aprova as minhas obras antes do editor!

Valério
Basta eu torcer o nariz a uma vírgula e adeus… são mais três meses de molho a bateres com a cabeça nas paredes.

Gonçalo
[irritado]
Porque és tu quem aprova as…!

Valério
Tu é que fazes por isso! Vê lá se foste descrever o orgasmo de guerra ao teu editor… Ah, pois é! Tens medo das tuas ideias…

Gonçalo
Tenho o quê?!
Valério
Borras-te todo… [Valério põe-se a escrever furiosamente num teclado imaginário.] “Um neo-nazi entra num bar”… ai, meu Deus! Um Neo-Nazi, porquê? Porque é que ele entra num bar? Ainda há quem entre em bares? E como é que ele entra? Porquê num bar? Porque é que ele entra onde quer que seja? Porque não “Um Neo-Nazi entra…”? Não, se calhar é só “Um entra…”! Não, não, isto não dá! Vou desistir… vou deixar de escrever, a minha vida acabou!

Gonçalo
Mas o que é que tem o eu ter medo das minhas ideias com o bypass ao editor?

Valério
Porque me tens em grande consideração…? Porque achas que eu sou um tipo inteligente e carismático…?

Gonçalo
Espera! Primeiro, explica lá isso de eu ter medo das minhas ideias!

Valério
[rindo]
Ai, agora temos ordem de trabalhos… sim senhor, vamos lá! Ponto número um, medo das tuas ideias… precisas mesmo que eu explique melhor!

Gonçalo
Acho que percebo o que queres dizer…

Valério
Vês, já estás a fazer o mesmo…! Percebeste perfeitamente o que eu quero dizer, mas estás a arranjar uma maneira de sair por cima, como se sempre tivesse sido evidente para ti que toda a gente sabe que tens medo das tuas próprias ideias. [pausa] Faz-me a pergunta! Achas que tenho medo das minhas próprias ideias?

Gonçalo
Oh!

Valério
Acho… mas das ideias boas! Das que te tiram o tapete, como “O Joãozinho Neo-Nazi vai à escola e no meio de uma aula de história distrai-se e tem um orgasmo de guerra”… e ficas borrado, porque sabes que aquilo é radioactivo e vens logo a correr… para quem? Para mim… para o teu paizinho que te quer tão bem!

Agora é Valério quem se levanta e sai pela porta do fundo. Gonçalo fica a sós, com o seu copo de vinho e as suas ideias.

25 Fev 2021

Porca de Murça

[dropcap]E[/dropcap]ntrando na primeira Lua Nova de Fevereiro no Ano do Porco, associamos um ciclo de mealheiros recheados de moedas e um conforto doméstico qualquer. Não sendo propriamente o mais atraente no Bestiário oriental, nem por isso deixa de ser afável e de um acalentamento qualquer no nosso imaginário. Crescemos com as suas histórias, acompanhou-nos no ciclo da civilização, e ainda as gentes lhes são gratas pela utilidade gastronómica de acesso fácil e ciclos simples de tratamento. Não falemos do Médio Oriente cuja utilidade é nula e a sua ingestão interdita, isso, e talvez, por que o deserto não preserva bem as suas carnes, nem tão pouco obedece às prédicas fisiológicas e anatómicas da exigência da ingestão. Contornemos os obstáculos associados à sua natureza e vejamos neste animal, também, um cordeiro, a quem não lhe foi reconhecido o mérito sacrificial em prol da Humanidade.

A Porca de Murça é no entanto um dos símbolos mais fortes da Península Ibérica, e quase que limita a periferia entre uma agreste fronteira celta, lendária, cujos nomes de proximidade também reflectem uma aridez e truculência difíceis de pronunciar como Carrazeda de Ansiães: nestes paragens foram invadidas populações por javalis, cujas montarias não chegavam para afoitá-los, e outrora havia uma fêmea de tal corpulência e ferocidade que os povos consideram um monstro – mas não só era assim – como inteligente e estratégica na forma de fintar os inimigos sendo por isso uma força da natureza que aterrorizava ainda mais aquelas gentes.

Foi um cavaleiro no ano de 775 – Senhor de Murça – que agindo de espírito matreiro e habilidades várias consegue salvar as pessoas do terror. Matou a porca. O caçador ficou protegido pela comunidade que graças a tal reconhecimento, foros lhes foram dados junto à estátua. Podemos ver aqui a natureza germinativa e opulenta deste animal que excede no feminino todas as expectativas do seu género, de facto, ela é uma mãe pródiga e a sua prol uma abundância. Por outro lado, são extremamente inteligentes e encontram-se à frente dos cães em astúcia e atenção, são sociáveis e interagem muito bem a nível de diversões, há quem admita que são corajosos na defesa dos seres à sua volta em caso de ameaça e muito ao contrário do disfarce que lhe colocámos, a sujidade não faz parte das suas características. A característica é nossa projectada neles e, por tudo isto que tão cruelmente lhe fizemos, o Porco é um ser que deve ser reanimado do trauma de proximidade .

Existe por aí, fruto de uma consciência ainda de sinistralidade demográfica, e de sistemas errados de capitalismo: versus/anti, uma parafernália de discussões viscosas acerca dos pernis, das exportações , das consubstanciações, uma repugnante e maciça consumação da sua carne, os mais pobres são as áreas onde penetra a ingestão em peso, pois que ninguém pensa neles em matéria de longevidade. Como parar este tormento e como tornar mais proteica a necessidade dos povos? Devia ser uma urgência neste tempo de mudança um assunto assim. Mas não o é, e a exportação da sua carne para a China no ano em curso toma foros de genocídio da espécie e massacre de vidas. Gostaríamos de interromper este drama mas, nas contas dos Estados, as prioridades são outras e as soluções de fundo ainda não foram entendidas.

Mas cruzemos então situações: ainda não há muito tempo por terras do Norte, bem perto de Murça, um homem que resolveu fazer a matança sozinho, foi morto por uma porca, e esta abatida por equipas de socorro. Uma notícia que não escapa à atenção dos que sabem da lenda daquelas quase jurássicas regiões que continuam, milénios depois, a ser vítimas das mesmas coisas. Aquele homem não sabia que as porcas são animais perigosos, e na sua rude manifestação, escolhera-a pelo porte mais volumoso, são os agrários que desconhecem as lições de vida dos seus próprios «habita». Há um roteiro nas paragens das lendas que reproduz realidades iguais. A memória das coisas é mais forte que a Porca e quase se confunde com ela.

Não nos esqueçamos que existe sempre analogias às fêmeas lusitanas pela abundância e fertilidade, quem não conhece aquela frase que diz: « As éguas da Lusitânia emprenham pelo vento» verdadeiras ânforas de gestação e pródiga matéria orgânica….nas regiões rurais, o porco era levado à porca, ninguém leva a fêmea a parte alguma de forma simples, dirigista, e em caso de matança, os machos são mais fáceis de caçar e de matar. A célebre caçada à Porca tem a sua estátua na Praça 31 de Janeiro, em Murça, pois que se crê que foi por esta altura que se deu a emboscada, talvez um remoto culto a Fébrua (Fevereiro) mãe da guerra, onde as noites estavam habitadas de tochas e candeias para conceder vitória sobre os inimigos. Não sendo um animal teutónico (o encantamento pelos animais) era considerado temível e nada dado a manobras de sedução.

Desta Porca ficou-nos a título um belo Vinho, e nestas paragens já não há relatos de javalis. Do bloco granítico, e para agudizar a predominância do macho em período possivelmente mais tardio, fora-lhe colocados testículos. Mas as lendas andam e têm mutações imprevistas. Para nós, esse apetrecho não usurpará jamais a condição de uma imensa força feminina em acção, muito antes da retirada dos seus seios.

Bom Ano do Porco, seja lá o que isto signifique, e recheadas estejam as suas representações que são bons prognósticos de riqueza.

12 Mar 2019

Lisboa é o quarto fornecedor europeu de vinhos para Pequim

[dropcap]P[/dropcap]ortugal é o quarto fornecedor europeu de vinhos para a China, com as exportações a crescerem 4% até Agosto, face ao período homólogo, para 12.861 euros, disse à Lusa o presidente da Viniportugal, Jorge Monteiro.

“Portugal é o quarto fornecedor europeu para a China, incluindo Hong Kong e Macau. Em 2018 [até Agosto] crescemos 4% em valor e 23,9% de aumento do preço médio, face ao período homólogo”, disse Jorge Monteiro, em declarações à Lusa.

De acordo com os dados do Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), entre janeiro e agosto, as exportações para a China totalizaram 12.861 euros, valor que compara com os 12.370 euros registados em igual período do ano anterior.

Jorge Monteiro indicou que os principais destaques, dentro das exportações portuguesas para o mercado chinês, vão para os vinhos com Indicação Geográfica (5.090 euros) e com Denominação de Origem (3.435 euros), mas também para o vinho tinto, cuja cor, segundo a ideologia chinesa, “está associada à sorte”.

O mercado chinês é “prioritário” para a Viniportugal, porém, tem “características especificas” que dificultam a entrada dos produtos nacionais.

“As feiras fazem parte da estratégia de internacionalização, mas algumas empresas participam uma vez [em feiras como a ProWine Xangai] e depois desistem, por exemplo, pela distância do mercado”, referiu.

No entanto, o responsável notou que a presença portuguesa tem vindo a aumentar em eventos do setor, ressalvando que a Viniportugal não tem capacidade para levar um número “extraordinário” de empresas.

O presidente da associação garantiu ainda que os vinhos portugueses conseguem competir, em termos de qualidade, com os grandes produtores internacionais.

Apesar de não adiantar números, Jorge Monteiro frisou que o objectivo da associação até ao final de 2018 é “continuar a crescer devagar”.

Criada em 1996, a Viniportugal é uma associação inter profissional para a promoção internacional de vinhos portugueses, reconhecida pelo Ministério da Agricultura em outubro de 2015.

A missão da Viniportugal é promover a imagem do país enquanto produtor de vinhos de excelência, valorizando a marca vinhos de Portugal, conforme indicado na página da associação.

30 Nov 2018