João Santos Filipe Manchete SociedadeJason Chao processado por docente da Universidade de Macau O membro da associação Novo Macau está a ser acusado por um docente da UM da prática do crime de difamação. Em causa está um artigo sobre a alegada existência de práticas de assédio sexual na publicação Macau Concealers [dropcap style≠‘circle’]J[/dropcap]ason Chao está a ser acusado por Wang Jianwei, docente da Universidade de Macau, da prática de um crime de difamação e vai ter de comparecer em tribunal no dia 24 de Julho. O caso foi revelado ontem pelo activista e confirmado, ao HM, pelo professor da universidade. Em causa está um artigo da Macau Concealers, publicação afecta à Novo Macau, em que era noticiada a existência de processos internos na Universidade de Macau, sobre alegadas práticas de assédio sexual cometida por professores, em 2014. O artigo foi publicado apenas em 2015, e em resposta à publicação, Wang Jianwei, na altura director do Departamento de Administração Pública e Governamental, veio a público admitir que era um dos investigados. “É um caso de difamação. Ele acusa-me de difamá-lo em 2015. É um processo ligado aos alegados casos na Universidade de Macau de assédio sexual por parte dos corpos docentes. Na altura, divulgámos a existência das investigações e das queixas na publicação Macau Concealers. Mas nunca referimos o nome do professor envolvido”, afirmou Jason Chao, em declarações ao HM. “Ele depois fez um comunicado a admitir a existência de queixas e a abertura de investigações. Foi ele que se identificou. Também a UM fez um comunicado, em que admitiu a existência de investigações e de um processo interno sobre as alegadas práticas de assédio sexual, em que não foram identificadas as pessoas”, completou. Ao HM, Wang Jianwei confirmou a existência do processo. “Está a decorrer nos tribunais e por isso não quero fazer comentários”, afirmou. O docente confirma que continua a ensinar na Universidade de Macau, mas não quis comentar os processo internos. “É uma questão que deve ser levantada junto da universidade”, frisou. A sessão do julgamento está agendada para as 11h da manhã, sendo a prática do crime de difamação punida com uma pena de prisão até seis meses ou pena de multa de 240 dias. Processo encerrado Contactada pelo HM, a Universidade de Macau afirmou que o professor Wang foi ilibado das alegações de que era alvo: “Após uma investigação profunda, as alegações foram consideradas infundadas e o caso foi fechado em Julho de 2015”, afirmou a instituição. Porém, Jason Chao considerou que a revelação dos casos contribuiu, na altura, para melhorar os mecanismos de resposta da UM às questões do assédio sexual e situações semelhantes. “Na minha perspectiva não vejo razões para este caso. Mas considero que o facto de termos mencionada as investigações internas contribuiu para despertar as consciências para o fenómeno do assédio sexual nas universidades e melhorar os mecanismos de queixas e resposta, mesmo da Universidade de Macau”, apontou. “Também não me parece que o que tenhamos feito seja errado, porque nós demos enfâse aos inquéritos que tinham sido abertos. A UM confirmou a existência dos mesmos”, acrescentou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeRoberval Teixeira e Silva vai liderar cadeira apoiada pela UNESCO O director do Centro de Pesquisa para os Estudos Luso-Asiáticos da Universidade de Macau foi nomeado coordenador institucional da Cátedra de Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, apoiada pela da UNESCO [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] director do Centro de Pesquisa para os Estudos Luso-Asiáticos da Universidade de Macau, Roberval Teixeira e Silva, foi nomeado coordenador institucional da disciplina Políticas Linguísticas para o Multilinguismo apoiada pela da UNESCO. O projecto em questão foi proposto pela UMAC à UNESCO e vai focar vários assuntos relacionadas com a linguística no mundo contemporâneo, assim como linguagem, cultura, sociedade, abordando a globalização, mobilidade, migrações e multilinguismo. Em declarações ao HM, o professou defendeu a importância do projecto não se ficar pelo mundo académico e ligar-se com a realidade local e dos outros países. “A Universidade de Macau organizou-se, junto com outras universidades da Ásia e de outros lugares do mundo, para constituir esta cátedra, que se foca principalmente na política linguística”, começou por dizer Roberval e Silva, ao HM. “Em conjunto fizemos a proposta de abertura da cátedra à UNESCO. Faz agora cerca de um ano que começámos a montar este projecto de cariz institucional”, acrescentou. Entre os investigadores que vão participar no projecto destacam-se também representantes do grupo de países conhecido como BRIC, nomeadamente Brasil, Rússia, Índia e China. “Vamos ter cerca de quatro anos, embora o projecto seja renovado anualmente, para desenvolver o trabalho, que é realizado em Macau. Mas vamos trabalhar em conjunto com investigadores de diferentes países como os BRICs. São países dos quais nos queremos aproximar e pensar em conjunto em vários assuntos”, afirmou. Ponte e mundo real Por outro lado, o investigador destacou o papel de Macau enquanto centro de encontro de culturas e línguas. Neste aspecto, o investigador expressou o desejo de que, além de trazer mais reconhecimento para a UMAC, o projecto aproxime as diferentes comunidades. “Esse olhar para Macau como um centro de encontro de culturas e línguas é uma visão bastante antiga. Este projecto coloca o território em contacto com universidades do mundo todo, o que é importante”, sublinhou. “Nesse sentido Macau é um espaço onde figuram muitos grupos, mas o encontro do espaço no diálogo ainda está por concretizar completamente. Há alguns grupos em maior contacto uns com os outros, mas por vezes há mais afastamento do que aproximação. Queremos ajudar as comunidades nesse sentido”, apontou. “Os grandes problemas que temos no mundo devem-se à ignorância, há muitos preconceitos, discriminação e essas são questões para as quais gostávamos de contribuir para procurar resolução”, acrescentou. Por esta razão, Roberval Teixeira e Silva alerta para a necessidade dos projectos terem de ser próximos da população e terem aplicação prática no dia-a-dia.
João Luz Entrevista MancheteRose Neng Lai, professora Universidade de Macau, sobre o imobiliário: “Somos asiáticos: gostamos de tijolo e cimento” A académica da Universidade de Macau, Rose Neng Lai, não considera que as medidas para controlo de subida de rendas sejam eficazes. A professora de finanças, especialista em imobiliário, acha se deve olhar para a oferta de casas e para os aspectos que a influenciam Na Assembleia Legislativa, quando se fala em mercado imobiliário ou de arrendamento, é frequente dar-se o exemplo de Hong Kong, onde a especulação e os preços batem records. Porquê esta comparação? É algo muito fácil de fazer, são ambas regiões administrativas especiais. Há a ideia de que tudo o que o Governo Central impuser em Hong Kong provavelmente será também aplicável em Macau. Hong Kong enfrenta problemas graves no seu mercado imobiliário, e aqui o mercado de habitação está demasiado caro para a maioria das pessoas. Acho que a única razão para esta comparação é a proximidade de Hong Kong. Qual o risco de rebentar uma bolha imobiliária na China, ou mesmo em Hong Kong? Do ponto de vista académico, nunca podemos definir algo como uma bolha até que rebente, somos bastante conservadores. Nem temos uma definição concreta do que constitui uma bolha. Que provas, factos, precisamos reunir para dizer que estamos perante um fenómeno desses? No caso da China, Hong Kong e Macau fala-se muito em bolhas imobiliárias mas, do ponto de vista puramente académico, não concordamos com isso. Mas podemos dizer que há, definitivamente, um movimento em crescendo. Temos de ver se os preços das casas podem ser explicados por alguns factores concretos, como os rendimentos das pessoas, o PIB da economia, oferta e procura, etc. Sofia Margarida Mota Uma vez que estes factores não consigam explicar as razões pelas quais os preços das casas estão tão caros, o resto, a que chamamos residual, pode ser parte da bolha. Se este residual for acumulando preços, temos possibilidade de ter uma bolha. No caso de Macau, podemos ver que as rendas acompanham as subidas dos preços das casas. Mas se pensarmos em todos investimentos, quem investe numa acção é porque espera dividendos, lucros, perspectivas de futuro. Se falarmos de casas não há ganhos futuros em termos de maiores volumes de negócio, portanto, a única coisa que se pode tirar de um apartamento, ou uma casa, é a renda. Mas se a renda não conseguir explicar o seu preço, então há potencial para uma bolha. Em Macau e em Hong Kong não vemos muito disso, porque as rendas também aumentam à medida que o preço aumenta. Como há procura nos mercados da China, Hong Kong e Macau, teria grande cuidado identificar aqui bolhas. A procura ter origem no investimento ou no consumo são coisas diferentes. Se forem investimentos verdadeiros isso significa que o mercado é saudável, mas o caso muda de figura se o mercado for dominado pela especulação. Há muita gente em Macau que quer comprar uma casa mas que não tem poder de compra suficiente. As pessoas querem ter um apartamento, querem ser proprietárias. Mas se lhes disser que nos próximos 10 anos os preços não vão subir será que ainda querem comprar? Talvez comecem a pensar que arrendar é melhor. É por isso que os preços das casas em Macau, e mesmo Hong Kong, são altos, porque as pessoas querem investir. Algo que não acontece, por exemplo, em Detroit onde abundam as casas devolutas, uma cidade sem revitalização, morta. Isto acontece porque as pessoas não vêm perspectivas de futuro naquela cidade. Se as pessoas estiverem muito confiantes em Macau e Hong Kong vão investir e nós devemos estar contentes por Macau atrair investimento. Outra razão pela qual os preços em Macau são tão altos é porque aqui as pessoas gostam de canais de investimento. Somos asiáticos e nós gostamos de apartamentos, gostamos de tijolo e cimento. Se tivéssemos de investir em acções corremos sempre o risco de no dia seguinte cair tudo. Acha que as medidas que o Governo pretende implementar para controlar os valores das rendas tem hipóteses de sucesso? O Governo tem de fazer alguma coisa, porque é o que lhe é exigido, mas estou céptica quanto à taxa de sucesso porque temos de ver qual o derradeiro problema dos valores das rendas. Porque são tão altos? Acho que a razão é simples, muita procura e pouca oferta. Nos últimos anos, com alguns incidentes que resultaram na falta de oferta privada, as pessoas competiam pelos apartamentos. Ficavam com receio de que se não comprassem os preços poderiam aumentar ainda mais. Então, isso levou as pessoas a comprar cedo, um sentimento que toda a gente sentiu, daí a corrida à compra. Nos últimos tempos o mercado acalmou, vemos isso todos dias pelo menos nos jornais de língua chinesa onde há sempre anúncios de pré-compra de fracções. Isso quer dizer que os empreiteiros querem meter casas no mercado. Já não é necessário comprar precipitadamente porque há mais apartamentos, os compradores podem ter mais calma na escolha, olhar com cuidado, esperar por apartamentos novos. Com tanta oferta, o mercado pode-se ajustar um pouco e posso ter melhor qualidade pelo mesmo preço. Por outras palavras, a solução é a oferta. Sem oferta adequada, o Governo só pode dar alguns choques temporários ao mercado. Queremos continuar a atrair investidores estrangeiros, se isso continuar não esperamos que o mercado imobiliário caía. A solução é aumentar a oferta. Mudar as estruturas das hipotecas, se eu tiver muito dinheiro posso pagar o apartamento a pronto, então essa medida não tem qualquer efeito para mim. Em última análise, os jovens que procuram comprar a primeira casa serão os afectados. Têm de cumprir as mesmas regras além de terem de pagar entradas, hipotecas, aumento de taxas de juro, etc. Não sei se a solução para o mercado imobiliário passa pelo Governo, a não ser que construa. O que acha da medida que prevê o aumento dos contratos de arrendamento para três anos? Pensei nesta medida tanto da perspectiva dos senhorios, como dos inquilinos. Acho que nenhum lado ganhou muito com esta medida. Tenho familiares que têm fracções para arrendar. Dois anos é o tempo que têm de esperar para aumentar a renda, mas se o mercado de rendas estiver a aumentar, esperar dois, três ou quatro anos será igual. Vão ter de aumentar na mesma. Qual o grupo que o Governo está a tentar ajudar? De acordo com agentes imobiliários, as leis do Governo favorecem sempre o inquilino. Os inquilinos têm medo de aumentos de renda, enquanto que os senhorios, se tiverem problemas com um inquilino, não têm muito a fazer. Se mandar uma carta registada, a pessoas pode recusar-se assinar ou fingir que não estão em casa. Se tiver menos de três meses de aviso, então o inquilino pode permanecer no apartamento para sempre. Qual é a protecção do lado do senhorio? Esses são os assuntos que devem ser alterados, em vez das medidas que o Governo quer implementar e que podem complicar ainda mais o processo. Não me parece que estas medidas sejam eficazes e podem mesmo reduzir a oferta de apartamentos para arrendar. O rendimento das rendas em comparação com o preço da casa é tão baixo, um ou dois por cento acumulado por um ano. Que tipo de investimento é este? Se depositar dinheiro em dólares da Nova Zelândia, ou renminbi, tenho taxas de juro maiores. Porquê arrendar? Se não o fizer tenho um apartamento novo para quem o quiser comprar e posso vender a qualquer altura. Se posso ganhar 20 ou 30 por cento e vender logo, para quê arrendar? Não há em Macau uma política de controlo de rendas e deixa-se o mercado regular os preços livremente. Isso não é contrário à natural missão de um Governo num regime socialista? Sou a favor do capitalismo. Não é assim tão surpreendente esta aparente contradição. Se pensarmos na qualidade de vida, não estou a falar de uma vida luxuosa, por exemplo, um apartamento no One Oasis custa mais de 10 milhões de patacas. Eu sou professora de finanças. Nós nunca queremos meter o dinheiro debaixo da almofada. Tendo em conta aquele preço, preciso dar uma entrada de 50 por cento, o que representa cinco milhões de patacas debaixo da almofada. Nem pensar. Como vou comprar essa casa? Isso leva a que muitas pessoas vivam amontoadas num apartamento. Este é um problema que devia ter mais acção do Governo e aí voltamos à conversa da intervenção de um Governo mais socialista. Mas Macau nunca foi assim. Não estou a dizer que não devemos ter uma abordagem mais socialista, mas não me parece que estejamos preparados, pelo menos a curto prazo. Por exemplo, em alguns países europeus o Governo tem algum controlo em zonas chave da economia. Algo que não acontece aqui. Agradeço a influência de Portugal porque ajudou Macau a ser o que é hoje em dia. Como alguém de Macau, dou graças a Deus por essa influência. Nós tivemos a oportunidade de respirar ares diferentes. Sem dúvida que a economia chinesa cresceu a um ritmo fenomenal, mas se recuarmos aos anos 80 era péssimo. Nessa altura era um alívio ser de Macau. Acho que agora Macau está óptimo porque o Governo Central não nos quer controlar de uma forma muito apertada, querem que tenhamos a nossa liberdade. É algo que me agrada porque estamos tão habituados aos tempos passados. Viemos de um modo de vida tão livre que é difícil ir na direcção oposta. Os nossos professores estrangeiros ficam sempre tão surpreendidos com os impostos que se pagam aqui. As pessoas de Macau estão habituadas a ter tanto que por vezes não conseguem ver aquilo que os Governos têm feito. O Governo precisa de melhorar em muitos aspectos, por exemplo na cidade inteligente. Não me digam que estão a trabalhar numa cidade inteligente quando só querem instalar uma data center para o Governo e não para a cidade inteira. O Governo mostra tanta atenção àquilo que a população prefere, têm tantas consultas públicas, ouvem tantas opiniões, mesmo em assuntos em que precisa agir rapidamente.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteDi Wang, investigador: “A China está num processo de substituição de uma cultura local para uma cultura nacional” Há 40 anos que se dedica ao estudo das sociedades secretas chinesas. A cultura, a comunicação, o papel que tiveram na sociedade e na política são áreas que, para o investigador Di Wang, são fundamentais para que se entenda a actualidade. Depois de mais de 20 anos nos Estados Unidos, Wang está desde 2015 na Universidade de Macau e já começou a recolher dados acerca da história das subculturas organizadas no território Como é que começou o seu interesse pelo estudo das sociedades secretas chinesas? Já há muito tempo. Na década de 1980 comecei a investigar este tema, o interesse foi crescendo e acabei por escrever um livro que reuniu a pesquisa de 30 anos. Era enorme com mais de 700 páginas. Mas tudo nasceu quando comecei a estar mais atento à sociedade chinesa, em especial durante a dinastia Qing. Foi quando as sociedades secretas começaram a aparecer e a ter força e desempenharam um grande papel no que respeitava ao controlo local. Por outro lado, são também entidades que têm uma grande riqueza cultural enquanto subcultura. Estes grupos de pessoas que começaram por existir em oposição ao governo Qing acabaram por ter uma dinâmica própria com características que até hoje perduram. Qual era o objectivo destas sociedades quando apareceram? Estando em oposição à dinastia Qing, os grupos secretos da altura queriam restabelecer a dinastia Ming. Eram sociedades formadas dentro do próprio povo. Sendo grupos secretos e de forma a se protegerem, estas sociedades acabaram por criar códigos culturais próprios que incluíam rituais e formas de comunicação apenas entendíveis entre eles. Também me tenho debruçado na pesquisa destes códigos e foi muito interessante conseguir perceber como é que os membros das sociedades se identificavam quando se encontravam, ou como se descobriam, tinham diálogos autênticos e faziam planos com uma linguagem absolutamente simbólica. Pode referir exemplos? Uma das formas de comunicação mais comum era com chávenas de chá. Havia um conjunto de formas de disposição das chávenas na mesa quando eram pousadas, que discretamente traduziam questões e respostas, que formavam diálogos silenciosos. Não precisavam de proferir uma única palavra para que tivessem uma conversação. Acredito que este tipo de rituais tinha uma ideologia política anti-governo. Tinham também os seus próprios poemas que reflectiam as suas ideologias, a história, a cultura enquanto serviam, ao mesmo tempo, de forma de comunicação. Existem várias sociedades secretas conhecidas. Estuda alguma em especial? Estudo uma sociedade da província de Sichuan, a Paoge. É uma fracção da conhecida Tiandihui que traduzido significa sociedade do céu e da terra. O que significa Paoge? Pao é referente ao traje que usavam, que seria uma espécie de grande túnica. Ge vem de irmão e remete para irmandade. É um nome metafórico pois não se vestiam assim, não tinham que usar este tipo de túnica mas era uma referência. Estamos a falar no passado. Estes grupos ainda existem? Acredito que as sociedade sociedades secretas, apesar de terem sido alvo de ataque pelo vários governos desde que apareceram e pela própria dinastia Qing, continuam, mesmo que sob outras formas, ou outros nomes, presentes. A Paoge é um bom exemplo e fala-se que foi exterminada a partir de 1949. Mas acredito que a sua cultura, a sua linguagem e rituais sobreviveram e que merecem ser preservados e conhecidos. Hoje em dia, na nossa linguagem diária há ainda palavras que eram usadas pelos Baoge e que são de uso diário. Por outro lado assistimos a uma espécie de retorno destas sociedades alguns anos depois da revolução cultural. Emergem das suas origens e que podemos constatar em Sichuan, Guandong, Fujian e em muitas outras províncias. Agora poderão estar a surgir com nomes diferentes mas têm as mesmas raízes. São grupos culturalmente regulados pelos rituais e tradições que existiam antes. É por isso que se queremos entender a sociedade de hoje temos de olhar para trás e perceber o que vem de há muito tempo. Mas mesmo que algumas destas organização já não existam da mesma forma que existiram no passado, as suas actividades, os seus rituais, a sua comunicação e os seus negócios sobrevivem. Consegue ter exemplos da actualidade? Se nos reportarmos a 2012 ao conhecido caso Bo Xilai. Um importante membro do Politburo que depois de um famoso discurso em Chongqin em que prometia acabar com as chamadas heise, sociedades negras, e também conhecidas por entidades de crime organizado, foi acusado de corrupção. Há várias teorias acerca do sucedido. É uma assunto muito complexo mas acredito que as sociedades secretas possam ter estado envolvidas na sua queda, as tais sociedades negras. Quando falamos das antigas sociedades secretas e das actuais entidades de crime organizado, estamos a falar da mesma coisa? Em Sichuan é quase de conhecimento comum a existência destas sociedades negras, e sim, são muitas vezes associados a criminosos. Hoje em dia são muito semelhantes. Todas elas têm diferentes princípios, uma história diferente mas a base é semelhante. Como é que estas grupos evoluíram, por exemplo, para as tríades? As tríades de Hong Kong tem na sua origem a antiga Tiandihui. Temos de perceber que estamos a falar pessoas ou de grupos marginais que eram alvo de combate por parte dos governos. Claro que tinham uma rede muito complexa de membros em que alguns tinham profissões legítimas e outros não. Por exemplo em Sichuan, os Paoge estavam divididos em duas categorias. Uma a que chamavam de água pura em que as pessoas que lhe pertenciam não estavam envolvidas em qualquer actividade criminosa. Tinham as suas profissões e podiam ser homens de negócios, senhorios, etc. e que se juntavam à irmandade à procura de protecção. A outra categoria chama-se água lamacenta. O próprio nome indica que é algo onde não se vê claramente. Este tipo de categoria da Paoge estava normalmente envolvida em actividades criminosas. Esta categorização apareceu depois do séc. XIX. Penso que a Paoge foi transformada com o tempo em entidade criminosa e com isso deixou de proteger o povo ou de o representar, o que estaria na sua origem, para o suprimir. Mas é importante perceber a sua cultura de génese ainda sobrevive. Por exemplo, um jornalista de Wall Street Journal entrevistou-me porque estava em Sichuan a entrevistar pessoas e ouvia sempre referências à Paoge. Parece que a população tem sempre uma conexão a esta entidade. Que poder têm estas entidades? Na década de 1940, por exemplo, os Paoge acabaram por se tornar a sociedade mais poderosa daquela região. Faziam parte dela pelo menos metade dos homens adultos da província. A mim custava-me crer que fosse possível. Mas tenho feito muita pesquisa este ano e entre arquivos e investigações reiteraram que são dados reais. Por outro lado, estes membros da Paoge conseguiram infiltrar-se em todo o lado. Entraram na política e mesmo no exército. Os membros do conselho de Qongqin eram, na sua maioria pertencentes à Paoge, até porque era a forma de serem eleitos. Acredito que em Sichuan há as chamadas sociedades negras e que estão muito presentes. Mas as entidades deste género acabam por estar em todo o lado e fazer parte das próprias mudanças históricas. Sun Yat Sen por exemplo seria membro de uma. Tem também feito alguma investigação na área da história das cidades. Como é que vê o desenvolvimento urbanístico na China e em Macau? As cidades chinesas estão a passar por mudanças dramáticas em que é destruído o passado. Em Macau constroem-se casinos mas não se elimina o centro histórico ou as comunidades mais antigas. No continente acaba-se com a história. Este aspecto está a transformar-se num grande problema no continente. Os bairros antigos, mesmo os de Pequim que são históricos, estão a ser destruídos, os conhecidos hutongs. As cidades na China estão a uniformizar-se e está-se a perder muito com isso. No passado, cada cidade tinha as sua características próprias, a sua cultura, a sua identidade, o seu dialecto, estilo de vida e paisagem. Hoje está tudo a ficar igual. Trata-se de um fenómeno actual? De acordo com a pesquisa que fiz, defendo que este processo de uniformização urbana teve início nos primeiros anos do séc. XX e começou a tornar-se uma tendência tanto da dinastia Qing, dos republicanos da república popular que tem vindo a agravar-se. Todos tinham a mesma tendência. A China está num processo de substituição de uma cultura local para uma cultura nacional. Esta chamada cultura nacional é a cultura motivada pelo Governo Central. Mas o modelo é o mesmo do aplicado pelos últimos anos da dinastia Qing, só que agora elevado a um extremo. Se olharmos para as cidade europeias ou mesmo do Japão e Macau, vemos que as comunidades e construções antigas ainda permanecem lá. Mas se formos agora ao continente, as cidades estão todas a ser reconstruídas. A diversidade na China é cada vez menos e o problema é tanto maior quando estamos a falar de culturas com pelo menos dois mil anos e que deveriam ser preservadas. Mas estamos num governo centralizado e ninguém se atreve a desafiar ou a tentar modificar estas políticas. Relativamente a Macau, tem alguma pesquisa acerca do território? Estou muito interessado em Macau. Estou na Universidade de Macau desde 2015 e estou a pensar estudar especialmente a vida cultural e do quotidiano. Mas já iniciei uma pesquisa acerca da história das sociedades secretas aqui.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeSong Tonghua | Novo reitor da UM destaca importância da língua portuguesa É um conceito que se encaixa no pensamento de Xi Jinping. O novo reitor da Universidade de Macau tomou posse na passada terça-feira e não demorou a apresentar-se como portador de uma “nova era”. Recorreu a uma entrevista colectiva com jornalistas em que salientou a importância da língua portuguesa nas actuais políticas de Macau e do continente, prometendo um desenvolvimento “brilhante”. E garantiu não estar habituado a funcionar sem liberdade académica [dropcap style≠’circle’]“S[/dropcap]ó falo fluentemente mandarim e inglês, mas como estou em Macau vou começar a aprender cantonês e português”, foi assim que começou o encontro de ontem entre o novo reitor da Universidade de Macau (UM), Song Tonghua, e os jornalistas. Depois de cumprimentar e se apresentar individualmente aos profissionais da comunicação social, Song Tonghua iniciou a sua intervenção com referência à necessidade de falar as línguas da terra para uma melhor integração nas novas funções. “Espero que no futuro possa aprender rapidamente as línguas para as saber falar e para me fazer entender”. Por outro lado, o responsável considera importante que num território que tem duas línguas oficiais, as pessoas se consigam comunicar. “Queremos que cada vez mais chineses falem português e que cada vez mais portugueses falem chinês para que consigamos comunicar melhor nas duas línguas”, apontou. “A UM já tem um departamento de português e também se empenha em ensinar pessoas de língua portuguesa a aprender o chinês”, destacou referindo-se ao centro de estudos das duas línguas que o estabelecimento já alberga. No entanto a comunicação feita em língua portuguesa não tem marcado a actividade da UM o que Song Tonghua considera ser “um aspecto que tem de ser resolvido”. Sem dominar ainda as pastas e os trabalhos das diferentes faculdades e valências da UM, visto ter tomado posse na passada terça-feira, a questão da comunicação já está na agenda. “É o meu segundo dia de trabalho e ainda tenho de visitar e conhecer todos os departamentos, mas vou prestar atenção à forma como a universidade pode usar o português na nossa comunicação com o exterior. São assuntos que me preocupam e tentarei arranjar uma forma de tornar a comunicação mais eficaz quer seja em cantonês quer seja em português e espero que isso aconteça num futuro próximo”, apontou Song Tonghua, sendo que hoje já começa a ver em que ponto está a situação. A questão do português, considera, é de importância particular na medida em que faz, não só parte das políticas locais, como das directrizes do Governo Central para o território “num momento em que a China tem cada vez mais relações com os países de língua portuguesa e em que Macau assume o papel de plataforma”. “O Governo Central quer ver Macau como uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e esta é uma missão muito importante para Macau. A UM tem de servir as necessidades tanto do território como do país, pelo que a língua portuguesa e a colaboração com os países de língua portuguesa na área da educação e pesquisa vai ser uma parte muito importante dos trabalhos que quero que a UM faça”, sublinhou. “Vejo um futuro brilhante para este sector nesta nova era da universidade de Macau”, rematou. Liberdade fundamental Num momento em que se discute a liberdade académica e as preocupações a ela associadas com a integração regional, para Song Tonghua trata-se de uma não-questão. De acordo com o reitor “a liberdade académica é o coração de qualquer universidade em qualquer parte do mundo e é por isso que irá fazer parte do trabalho da UM”. O responsável está habituado a trabalhar com a liberdade e é assim que pretende continuar. “Trabalhei nos Reino Unido durante 18 anos e estou habituado a esta liberdade”. Interrogado se tinha tido algum tipo de orientação quanto a “assuntos delicados” Song negou peremptoriamente que tal tenha acontecido. De qualquer forma, para o reitor, “a própria lei local ressalva bem a existência de liberdade académica e na educação e prometo que a UM vai agir acordo com a lei local e em total conformidade e compromisso com a liberdade académica”. Uma escolha evidente Escolher a UM para trabalhar não foi difícil para Song Tonghua. Dadas as suas características geográficas, este é um estabelecimento de ensino que representa um ponto em que o reitor pode marcar a diferença dada a experiencia que traz do passado. “A sua localização no Delta do Rio das Pérolas, e na Grande Baía conferem à UM um enorme potencial como instituição de referência”, diz. Por outro lado, tendo em as funções que desempenhou como consultor do Governo nas áreas da tecnologia e ciência, os 18 anos enquanto académico em Inglaterra e o papel de vice reitor em duas das maiores universidades da China, sendo uma dela a famosa Tsinghua, Song Tonghua considera que tem os conhecimentos e experiência necessários para fazer da UM uma referência. “Venho de algumas universidades de topo na China trabalhai como vice-reitor na Tsinghua e tenho um passado académico que junta o as concepções de ensino tanto de ocidente como do oriente e penso que isso é uma das mais valias que posso trazer para este cargo na UM”, disse. Esta foi também uma das razões que levou o reitor a escolher a UM. “Macau é um lugar onde o Oriente e o Ocidente convivem com uma forte ligação à Europa, nomeadamente a Portugal e que, ao mesmo tempo, pertence à China. Como tal, posso usar os meus conhecimentos para fazer o que me proponho: Elevar a Universidade de Macau a um novo nível de excelência de modo a que, depois dos cinco anos de mandato, a UM seja uma escolha prioritário para ser considerada pelos alunos locais e um estabelecimento de orgulho para Macau”, apontou. Aprender com o exterior A contratação de profissionais do exterior para melhor formar os alunos da UM é uma das medidas que Song também já tem na agenda. Numa altura em que se fala tanto de talentos, Song considera que é importante ir buscar profissionais qualificados ao estrangeiro, com experiências nas suas áreas de conhecimento para que possam passar o melhor aos alunos da UM. “Queremos trazer talentos de fora para formar os talentos locais”, apontou. A internacionalização não se fica por aqui. “Num ambiente académico que já recebe professores de vários cantos do mundo, a tendência vai continuar, e mais, é para formar um ambiente internacional acolhedor de cooperação em que todos se sintam bem por trabalhar em conjunto, sendo que vamos proporcionar mais e melhores oportunidades para os professores”, disse. Por ter formação e ser especialista na área da eletrotecnia, o sector da energia será olhado com atenção até porque “com a passagem do tufão Hato, verificou-se que seria muito importante que existisse uma investigação já realizada capaz de oferecer soluções para evitar os cortes de energia”, ilustrou de modo a salientar a relevância do sector. A cidade inteligente é outra das áreas que o território precisa ver desenvolvida e em que a engenharia eletrotécnica mais uma vez pode dar os seus contributos, considera. De Chengdu para Macau – breve cronologia 1964 – Nasceu numa aldeia em Sichuan. Desde pequeno que os pais, para que o filho tivesse uma vida for a da pobreza, fizeram o que lhes era possível para que fosse entrasse na universidade. Foi admitido na Universidade de Ciência e Tecnologia de Chengdu aos 16 anos. 1989 – Concluiu o doutoramento no Instituto de Pesquisa em Energia Eléctrica da China, na Universidade Tsinghua. Foi o primeiro doutorado nascido de Bazhong, cidade onde nasceu. 1991 – Foi para inglaterra à procura de trabalho. Passou por várias etapas e conseguiu um lugar de académicos convidado da Royal Society, na Universidade de Bristol. Só depois de muitas pesquisas e apresentações na sua área de especialização, Song foi admitido como professor, aos 33 anos, pelo Departamento de Engenharia de Computadores e Electrotecnia da Brunel University e acabou por ser consultor no que respeita a construções eléctricas para a Rússia, Itália e Austrália. 2004 – Song foi nomeado membro da Royal Academy of Engeneering. Foi o primeiro estrangeiro a ser admitido na academia inglesa na área da engenharia. No mesmo ano, assumia também os cargos de vice director da Universidade de Liverpool e de presidente na delegação daquele estabelecimento em Xian. 2009 – Regressa à China depois de ter aceite o convite da Tsinghua para professor de engenharia eletrotécnica e director do gabinete de contratação de especialistas de alto gabarito. 2012 – Song é vice-reitor da Universidade de Zhejiang 2018 – Reitor da universidade de Macau
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeConfúcio | Instituto em Macau permite o reconhecimento internacional O primeiro Centro Confúcio no território pode entrar em funcionamento no próximo ano e tem como sede a Universidade de Macau. Se para os responsáveis da instituição de ensino se trata de uma concretização do território como centro bilingue e plataforma, para quem ensina mandarim em escolas particulares é uma forma da aprendizagem da língua ter mais facilmente acesso à certificação internacional [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau vai contar com o primeiro Instituto Confúcio na Universidade de Macau (UM) que deverá estar em funcionamento no início do próximo ano. A importância da presença de um centro do Instituto no território é fundamental para a sua concretização enquanto centro bilingue capaz de funcionar em dois sentidos, tanto no ensino do português como do mandarim, referiu director do departamento de português da UM, Yao Jinming, ao HM. “Macau pretende tornar-se um centro bilingue e dentro desta perspectiva tem de ser feito em dois sentidos: na formação em português e em chinês para que se dominem ambas as línguas como se fossem línguas maternas”, disse. Para o académico apesar de já existirem cursos em cultura e língua chinesa, o Instituto Confúcio “vai ajudar os portugueses e outros estrangeiros, além dos residentes que apenas falam cantonês que, desta forma, têm mais oportunidades de aprender a língua chinesa”, referiu. Por outro lado, rematou o responsável, “quanto mais ensino do mandarim houver em Macau, mais as pessoas têm oportunidade de se formar nessa língua”. Certificação internacional Já para João Varela, proprietário de uma escola de línguas em que também é leccionado o mandarim, a importância de um Instituto Confúcio no território é clara. “É importante a presença de um Instituto Confúcio em Macau na medida em que é uma entidade com a particularidade de oferecer certificação internacional no domínio do mandarim”, apontou ao HM. As certificações internacionais são prática comum em Macau no ensino do português, inglês ou mesmo francês, pelo que, reiterou, “faz todo o sentido que também exista uma certificação internacional para o mandarim”. Por outro lado, tratando-se de uma cidade internacional onde vivem pessoas de várias origens que querem investir na formação linguística, esta é uma oportunidade de se certificarem oficialmente no que respeita a esta língua que não é a falada pela maioria dos que vivem em Macau. “Um documento dado pelo Instituto Confúcio é reconhecido mundialmente”, explica. Para João Varela, o Governo tem as suas responsabilidades nas escolas e nas universidades para o ensino do mandarim “mas a certificação internacional através deste instituto faz já parte da autonomia pedagógica e de certificação do próprio instituto e que já é reconhecida em todo o lado”, mais do que um diploma universitário. Todos pela rota Em comunicado, a UM indicou ter recebido a aprovação do Conselho Internacional para a Língua Chinesa para estabelecer um Instituto Confúcio, “em resposta aos esforços do Governo da Região Administrativa Especial para participar na iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’” e para “tornar Macau numa plataforma internacional para o ensino da língua chinesa para países estrangeiros, especialmente os de língua portuguesa”. O Instituto Confúcio vai funcionar sob a alçada da Faculdade de Artes e Humanidades, cujo diretora, Hong Gang Jin, foi escolhida para o liderar, indicou ainda a UM em comunicado. “O Instituto vai tirar proveito do estatuto único de Macau como Região Administrativa Especial, da sua vantajosa localização geográfica, bem como da sua diversidade cultural e linguística para desenvolver uma plataforma internacional para o ensino da língua chinesa”, e para “a formação e intercâmbio de estudantes dos países de língua portuguesa e de outros com relações com Macau”. Com sede oficial em Pequim, o Instituto Confúcio abriu, desde que foi fundado em 2004, um total de 525 delegações em 146 países e territórios, incluindo Portugal, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Angola.
Hoje Macau Manchete SociedadeUM | Wei Zhao garante que cumpriu a lei no processo de saída De saída da Universidade de Macau, Wei Zhao garante que actuou dentro dos limites da lei e alerta o governo para a falta de competitividade do território na atracção de quadros qualificados [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] reitor da Universidade de Macau Wei Zhao garante que cumpriu a lei no âmbito da sua saída para a Universidade Americana de Sharjah. As declarações sobre a polémica relacionada com o não cumprimento de um período de nojo de seis meses foi deixada numa entrevista publicada pelo jornal Ou Mun. Quando focou o assunto pelo qual está a ser investigado, Zhao sublinhou que “cumprir as leis é a obrigação mais básica dos cidadãos” e que “vai de certeza pôr esta obrigação na prática”. Por outro lado, o reitor, que deixa o cargo a 8 de Janeiro, defendeu que o seu sucessor, Yonghua Song, devia chegar antes do início do seu mandato a bem do “interesse geral” da universidade. Sobre o percurso de nove anos à frente da UM, que considerou cheio de mudanças, Wei Zhao explicou que não consegue seleccionar o momento mais marcante. Já em relação os momentos mais baixos, frisou que “só um idiota é que se sente sempre feliz, sem pensar nos seus arrependimentos”. Porém, não mencionou casos negativos concretos. Se por um lado, Wei Zhao confessou estar agradado por ter testemunhado o desenvolvimento rápido da UM, por outro lado, admitiu sentir alguma mágoa na hora de sair. Quando lhe foi pedido que explicasse melhor esse sentimento, Wei afirmou ser algo que não consegue transmitir por palavras. A construção da UM como uma das melhores universidades a nível mundial foi a meta que Wei Zhao definiu, quando tomou posse. Em jeito de balanço, o reitor considerou que o mais importante está conseguido e deu como exemplo a vontade dos estudantes locais se quererem inscrever e estudar na UM. Guerra de talentos Sobre o objectivo da UM formar um futuro Chefe do Executivo, Wei Zhao pediu confiança à população, sublinhando que sem essa meta a “existência da UM será insignificativa”. Wei reconheceu também que ao longo do percurso procurou sempre ir ao encontro das necessidades dos estudantes e da sociedade. Face ao futuro, antes da tomada de posse na universidade para onde vai, o reitor espera poder descansar. “Nos últimos nove anos, as férias que gozei não chegaram a totalizar mais de 30 dias. Se calhar é por causa das minhas limitações, mas sempre fiz o maior esforço em prol do desenvolvimento da UM, e agradeço o prazer que tive ao servir o ensino superior de Macau”, apontou. O reitor disse também que apesar de no passado ter defendido que os preços elevados do imobiliário são um dos grandes desafios para atrair talentos do exterior, que esse não é o maior obstáculo que da UM enfrenta, neste momento. Nesse sentido, Wei Zhao alertou para o facto da concorrência pelos quadros qualificados estar a ficar cada vez mais intensa, apontando para as instituições de ensino superior do Continente. Se no passado as universidades do Interior da China apresentavam falta de competitividade, agora, diz, esse cenário está muito diferente. Ao mesmo tempo, Wei Zhao considerou que Macau e Hong Kong apresentam competitividade para atraírem talentos estável, mas que não vai além de um nível médio. Como tal sugere que se comece por reconhecer este facto e que se coopere com as políticas do Governo, no âmbitos de melhorar as condições sociais.
Hoje Macau SociedadeUM | Saída de Wei Zhao alvo de investigação [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) está a investigar o processo de rescisão do contrato com Wei Zhao, reitor da Universidade de Macau, a pedido do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Ontem, à margem da inauguração de uma creche, Alexis Tam garantiu que o GAES vai tentar perceber se houve algum incumprimento no processo da saída do reitor, que vai assumir o cargo de director da área de investigação da Universidade Americana de Sharjah. De acordo com o secretário, a investigação vai resultar num relatório conjunto do Conselho da Universidade de Macau e do GAES, que vai ser publicado assim que estiver terminado. A polémica surgiu na semana passada, depois do conselho da UM ter recebido uma queixa pelo facto de Wei Zhao não ir cumprir um período de nojo de seis meses entre a mudança de cargos. Posteriormente, em resposta à queixa, a UM explicou que Wei Zhao actuou dentro da legalidade, uma vez que os estatutos internos não impõem um período de nojo. Mesmo assim, o GAES vai analisar a situação. Também ontem, Alexis Tam abordou o caso da grávida que se queixa de ter perdido a criança, após ter ido ao hospital público e ter sido enviada para casa, durante a passagem do tufão Hato, por Macau. Sobre este assunto, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura frisou que o caso está a ser tratado com todos os cuidados e que os Serviços de Saúde vão elaborar um relatório detalhado. Alexis Tam disse ainda que a Comissão de Perícia do Erro Médico vai também fazer um relatório sobre o incidente.
Hoje Macau Manchete SociedadeUM | Yonghua Song, engenheiro electrotécnico, é o novo reitor Sai Wei Zhao, antes de completar o seu mandato, entra Yonghua Song. Está escolhido o novo reitor da Universidade de Macau depois de um processo de selecção que durou meses e que contou com vários candidatos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] próximo reitor da Universidade de Macau (UM) vai ser Yonghua Song, académico da área de engenharia electrotécnica e inicia funções no próximo dia 9 de Janeiro, anunciou ontem a instituição de ensino superior pública. A UM destaca que o professor Yonghua Song trabalhou, durante um longo período, na área da investigação e ocupou cargos de direcção em instituições de ensino superior britânicas e da China, com experiência na gestão de alto nível do ensino superior. Yonghua Song, que se tornará no nono reitor da Universidade de Macau, sucede a Wei Zhao. “Tendo em conta a sua profunda experiência na gestão institucional, largo horizonte internacional, amplas redes de contacto (…), bem como o seu grande entusiasmo e empenho no desenvolvimento do ensino superior, o Conselho da Universidade entende que o professor doutor Song é a melhor escolha para liderar a UM no seu futuro desenvolvimento”, refere a instituição em comunicado. O Conselho da Universidade recomendou, por unanimidade, Yonghua Song como o único candidato para o cargo de reitor, uma proposta aceite pelo chefe do Executivo de Macau, Fernando Chui Sai On. Passagem pela Tsinghua Yonghua Song é doutorado pelo China Electric Power Research Institute. Em 2002, obteve o doutoramento em Ciência, na Universidade Brunel, pelos seus contributos na área electrotécnica. Em 2014, foi-lhe atribuído o doutoramento honorário em engenharia, pela Universidade Bath, de acordo com a mesma nota da UM. Em 1991, foi trabalhar como docente e investigador no Reino Unido e seis anos mais tarde contratado como professor catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da Universidade Brunel, tornando-se, em 2004, no primeiro académico chinês a integrar a equipa de gestão de alto nível duma universidade britânica, segundo salienta a UM. Nesse mesmo ano, Yonghua Song foi eleito ‘fellow’ da Academia Real de Engenharia. Posteriormente, em 2007, passou a ser professor catedrático de engenharia electrotécnica na Universidade de Liverpool, acumulando as funções de reitor executivo da Xi’an Jiaotong – Universidade de Liverpool em Suzhou, na China. Em 2009, regressou à China na sequência de um convite da Universidade de Tsinghua, assumindo as funções de professor catedrático de engenharia electrotécnica e reitor assistente daquela universidade. Desde Novembro de 2012, é vice-reitor executivo da Universidade de Zhejiang, sendo ainda director do ‘campus’ internacional e professor catedrático de engenharia electrotécnica da mesma universidade. Dedicado à investigação de sistemas eléctricos, Yonghua Song “contribuiu para o desenvolvimento da indústria da energia eléctrica através dos seus trabalhos nas áreas da energia, engenharia informática e engenharia de controlo”, sublinha a UM. Yonghua Song foi nomeado, em 2002, consultor do Conselho de Ciência e Tecnologia do Governo de Macau, cargo que ainda desempenha. O processo de recrutamento internacional para o cargo de reitor da UM foi lançado depois de, em Março, Wei Zhao, ter comunicado que pretendia deixar o lugar no termo do seu mandato, em Novembro de 2018. Contudo, a sua saída foi antecipada, dado que o seu sucessor assume funções já em Janeiro. Wei Zhao iniciou em 2008 um mandato de cinco anos como reitor da Universidade de Macau, o qual foi renovado, por igual período de tempo, em 2013.
Isabel Castro SociedadeNomeados membros do Conselho e Assembleia da UM [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram ontem nomeados em Boletim Oficial os membros do Conselho e da Assembleia da Universidade de Macau. No primeiro órgão, não há alterações, sendo que são poucas as mudanças na Assembleia. As nomeações dizem respeito ao período entre 1 de Agosto deste ano e 31 de Julho de 2020. Assim, o Conselho da Universidade continua a ter como presidente Peter Lam. Nascido em Macau em 1949, o empresário é membro do Conselho Executivo, ocupou vários cargos na Fundação Macau e é vice-presidente do Conselho de Ciência e Tecnologia de Macau. Foi membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Na vice-presidência permanecem Lei Pui Lam, antigo deputado à Assembleia Legislativa (AL), e Wong Chong Fat. Lau Veng Lin é o tesoureiro. Os restantes membros são Anabela Ritchie, antiga presidente da AL; o ex-deputado e antigo porta-voz do Conselho Executivo Tong Chi Kin; Frederico Ma, presidente do conselho de administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia; o engenheiro e deputado Chui Sai Peng; Stanley Au, empresário e antigo deputado; Leong Heng Teng, ex-deputado e porta-voz do Conselho Executivo; Ho Iat Seng, presidente da AL; Vong Hin Fai, deputado e advogado; o empresário Eric Yeung; Patrick Huen Wing Ming, presidente do Banco Seng Heng; e o empresário Choi Koon Shum. Quanto à Assembleia da Universidade, são feitas algumas alterações. Daniel Tse passa a integrar o órgão. O Bispo Stephen Lee foi nomeado para a vaga que era até agora ocupada por José Lai. Com a morte de Lei Pang Chu, vice-presidente do jornal Ou Mun, ficou uma cadeira vazia. Outra mudança tem que ver com a saída de Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças. De resto, mantêm-se os membros que já lá estão: o empresário Ng Fok; Vítor Ng, ex-presidente da Fundação Macau; o magnata Stanley Ho; o engenheiro Siu Yin Wai; Zhou Li Gao; António Ferreira; Maria Edith da Silva, ex-presidente da direcção da Escola Portuguesa de Macau; Ma Iao Lai, empresário e membro do Conselho Executivo; Susana Chou, antiga presidente da AL; o arquitecto José Pereira Chan; Ho Iat Seng; Jorge Neto Valente, presidente da Associação dos Advogados de Macau; o empresário Wong Chi Seng; o engenheiro e empresário Wong King Keung; Liu Chung Laung, académico; Lao Ngai Leong, empresário e delegado à Assembleia Popular Nacional; Cheng Kar Shing, empresário; Fok Chun-wan, empresário e filho de Henry Fok; e o empresário Kong Tat Choi.
Hoje Macau SociedadeUniversidade de Macau congratula-se com admissão de alunos locais [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá concluído o processo de admissão da Universidade de Macau (UM) para o próximo ano lectivo. Em 2017/2018, o estabelecimento de ensino superior da Ilha da Montanha deverá receber 1535 alunos locais, contabilizou a UM. Numa nota à imprensa, a instituição salienta que, enquanto universidade do território, pretende atrair e contribuir para a educação dos melhores estudantes de Macau. Do total de alunos, 394 foram admitidos através do esquema de recomendação das escolas secundárias, sendo que 59 deles eram os melhores das turmas que integravam. Todos estes jovens vão receber bolsas de estudo. Quase 1200 estudantes que participaram no teste de admissão conjunto levado a cabo por várias instituições de ensino superior confirmaram já que vão frequentar a UM, explica ainda o comunicado. Destes, 52 vão receber também bolsas da universidade. “A Universidade de Macau está empenhada em atrair os melhores estudantes locais e não tem poupado esforços para comunicar com as escolas secundárias e reunir ideias de como formar profissionais, para que cada vez mais alunos possam fazer o ensino superior na UM”, explica a instituição. A UM destaca ainda que os “significativos progressos feitos no ensino e na pesquisa nos últimos anos têm atraído a atenção dos melhores alunos”, o que faz com muitos deles tenham a universidade como primeira opção. Os estudantes agora admitidos não só conseguiram bons resultados em termos académicos, como mostraram ter capacidades noutras áreas, como o desporto, a música e a ciência. “Alguns deles ganharam prémios em competições internacionais”, congratula-se a UM. “Alguns representaram Macau em competições desportivas”, acrescenta, dando também exemplos de eventos internacionais em áreas das ciências em que os futuros estudantes foram distinguidos. “Além disso, muitos deles estão activamente envolvidos em serviços comunitários.”
Hoje Macau Manchete PolíticaViagens a Taiwan | Ordem para controlo dos professores veio do Governo Na Universidade Macau, também os funcionários têm de participar eventuais idas a Taiwan. E, tal como os docentes, apresentar um relatório na vinda. A ordem para estas medidas, que estão a pôr muitos a duvidar do segundo sistema, veio do Governo da RAEM. [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s professores e os funcionários da Universidade de Macau (UM) que se queiram deslocar, em viagem particular, a Taiwan são obrigados a participar e justificar o facto à direcção da UM. Mas as novas regras não se ficam por aqui: no regresso, os responsáveis pela escola esperam do “atrevido” viajante a apresentação de um relatório que detalhe as suas actividades na ilha. Com quem falou e sobre o quê, que livrarias frequentou e que livros leu, com quem jantou e porquê, eventualmente, o que petiscou. Contudo, estas regras não foram inventadas pela reitoria da UM, nem por nenhum conselho da universidade ou sequer numa eventual reunião “patriótica” de professores. O Hoje Macau sabe que se tratou de uma imposição do Governo da RAEM ao estabelecimento de ensino público, de uma ordem cuja origem está num departamento governamental. Resta agora saber se a ordem partiu directamente de Chui Sai On, do seu gabinete, de mais alto via Chefe do Executivo, ou se alguma Secretaria do Governo de Macau está preocupada com eventuais actividades subversivas dos professores da UM ao ponto de lhes querer controlar a vida privada, no caso de entenderem deslocar-se a Taiwan. Isto não é o segundo sistema O caso está a provocar uma forte celeuma entre os professores. “Quando se metem na vida privada de cada um, incluindo pessoas que não desenvolvem qualquer acção política, então isto já não é o segundo sistema. Há algo de muito errado nisto tudo”, disse um docente ao HM, que pediu o anonimato. O caso foi levantado numa entrevista concedida no domingo ao canal em inglês da TDM pelo professor Hao Zhidong, que o HM seguiu na sua edição de segunda-feira. Ontem o jornal Ponto Final falava com o professor Rui Martins, da direcção da UM, que garantia por ali existir total liberdade para investigar. Quanto às viagens a Taiwan, Rui Martins delegou a resposta no Gabinete de Comunicação da UM. Na impossibilidade de chegar directamente à fala com o referido gabinete, o HM enviou o habitual email ao estabelecimento de ensino, não obtendo resposta até ao fecho desta edição.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeProfessor da UM afirma que liberdade académica está a diminuir O docente da Universidade de Macau disse ao programa “Talk Show” da TDM que há sinais de que a liberdade académica está a diminuir no seio da instituição pública de ensino, ao ponto dos docentes terem de reportar sobre viagens a Taiwan [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ociólogo, com estudos virados para a sociedade e sistema político de Macau, Hao Zhidong vai deixar a Universidade de Macau (UM) este verão, por motivos de aposentação. Mas, antes disso, deixou um alerta. Numa entrevista concedida ao programa TDM Talk Show, Hao Zhidong disse que a liberdade académica está a diminuir no seio da universidade. “Penso que a liberdade académica está a diminuir, tendo em conta alguns indicadores, como o despedimento ou a não continuação do contrato de Bill Chou”, apontou o docente, que fez a sua formação académica em Tianjin, Xangai e Nova Iorque. O académico revelou que tem sido exigido aos membros da faculdade informações caso realizem viagens a Taiwan. “Há outros indicadores ou indicações que desencorajam a realização de debates políticos controversos ou discussões no campus da universidade. Uma das indicações mais recentes é o pedido que é feito aos membros da faculdade sobre o facto de terem conhecido pessoas de Taiwan ou se vão visitar Taiwan, o que vão lá fazer e com quem se vão encontrar. Temos de reportar tudo isso para algo que não é oficial ou para um trabalho de pesquisa ou investigação. E a questão é: “por quê”?”, questionou na entrevista. Hao Zhidong falou ainda do caso de Michael Hsiao, um académico de Taiwan que chegou a desenvolver um projecto em conjunto com outros investigadores de Macau e de Hong Kong. Michael Hsiao é ainda autor de um livro que analisa a classe média dos três territórios. Segundo Hao Zhidong, Michael Hsiao será próximo da corrente política da actual presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, líder do Partido Democrático Progressista, que defende a independência da Ilha Formosa. “Foi negada a sua entrada em Macau no aeroporto. Isso não faz qualquer sentido. O projecto a que estava ligado teve apoio do Governo de Hong Kong e contou com a participação de académicos de Macau, Taiwan e Hong Kong”, lembrou. Para Hao Zhidong, “existe [na UM] um ambiente de conformismo em vez de um ambiente que incita ao debate de questões políticas e de ideias, que é o que uma universidade deveria ser. Não é esse o caso”, frisou. Um velho lápis azul Esta não é a primeira vez que a UM se vê confrontada com acusações desta natureza. Ao canal inglês da TDM, a universidade não deu explicações, nem respondeu às questões do HM até ao fecho da edição. Contudo, o HM sabe que há várias vozes que falam de um ambiente académico onde o diálogo e o espírito crítico não são bem-vindos. Bill Chou, actualmente a dar aulas em Hong Kong, recorda que, no tempo em que esteve na UM, não eram exigidas informações sobre idas a Taiwan, mas havia outro tipo de restrições. “Uma vez a direcção da faculdade obrigou-me a cancelar um convidado de Xinjiang, por se tratar de um tema sensível. Depois de fazer críticas ao Governo de Macau nas minhas aulas, fui alertado para ter uma postura mais equilibrada”, adiantou. O docente na área da ciência política recorda que nem sequer conseguiu levar Jason Chao para dar uma palestra na universidade, numa altura em que o activista ainda pertencia à Associação Novo Macau. “Fui alertado para não participar em organizações políticas, tal como o activismo social, e que não deveria convidar Jason Chao para uma palestra no campus, devido ao seu posicionamento político”, referiu.
Hoje Macau SociedadeUM | Alunos reuniram com Marcelo Rebelo de Sousa [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de alunos da Universidade de Macau (UM) reuniram no passado sábado, em Lisboa, com Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa. A visita realizou-se no âmbito de uma visita de estudo organizada pelo Programa Académico da União Europeia em Macau, onde estiveram também presentes representantes do Instituto de Estudos Europeus de Macau. Segundo um comunicado oficial, Marcelo Rebelo de Sousa “salientou a mais-valia para os alunos de aprofundarem o seu conhecimento sobre a União Europeia (UE) no actual contexto internacional”. A visita incluiu ainda encontros com a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, e com deputados à Assembleia da República da Comissão Parlamentar de Amizade Portugal-China, entre os quais a líder da comissão, Ana Catarina Mendes. “O actual estado das relações Europa-China foi o tema destes dois encontros”, explica o comunicado. Para além das viagens a outras cidades portuguesas, como é o caso de Coimbra e Porto, os alunos da UM estiveram ainda três dias em Bruxelas, Bélgica, onde foram recebidos por representantes da Comissão Europeia. Na capital belga tanto alunos como professores “participaram numa conferência no Instituto de Estudos Europeus da Universidade de Livre de Bruxelas, sobre as implicações para a Europa e para a China da saída do Reino Unido da UE”.
Hoje Macau SociedadeRanking | Universidade de Macau é 501 em 550 [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]em mais, nem menos: a Universidade de Macau conservou a posição que já tinha no ranking elaborado pela empresa Quacquarelli Symonds (QS), um dos mais prestigiados internacionalmente. Num universo de 550 estabelecimentos de ensino superior, a universidade localizada na Ilha da Montanha consegue o lugar 501. Quanto ao ranking por região, é a número 163, descendo duas posições em relação à avaliação do ano passado. O ranking da QS é liderado por três universidades norte-americanas: o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e as universidades de Stanford e de Harvard. Quanto à Ásia, Hong Kong tem quatro estabelecimentos de ensino superior no top 50: a Universidade de Hong Kong, a Universidade de Ciência e Tecnologia, a Universidade Chinesa e a Universidade Cidade de Hong Kong. Singapura tem duas instituições no grupo das 15 melhores. Já a China consegue, através da Tsinghua, estar na 25.a posição. No que toca a Portugal, registou-se uma melhoria generalizada dos resultados das universidades portuguesas na edição deste ano do ranking da QS. As universidades de Aveiro e do Minho entram pela primeira vez na lista, elevando para sete o número de entidades portuguesas incluídas. Todas as restantes subiram bastante na tabela, com a Universidade do Porto a ocupar o melhor lugar (301.º).
Hoje Macau PolíticaUniversidade de Macau | Chui Sai On satisfeito com desempenho [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse estar satisfeito com o desempenho da Universidade de Macau (UM). Citado no seu discurso oficial, o Chefe do Executivo, que é também chanceler da mesma instituição, referiu que a UM “empenha-se em aperfeiçoar o seu sistema educacional e a construir um dos melhores sistemas de colégios residenciais na Ásia, pondo em prática o conceito de educação holística”. Ao nível dos recursos humanos qualificados, o Chefe do Executivo referiu que “é necessário definir o respectivo mecanismo de longo prazo, aperfeiçoar o sistema do ensino superior, formando quadros qualificados e competitivos”. Dessa forma, é importante a UM “empenhar-se ainda mais na exploração de modelos educacionais mais eficazes para dar uma resposta melhor às estratégias referidas”. No contexto da implementação do regime do ensino superior, que está “para breve”, Chui Sai On espera que tanto a UM como outras universidades locais “possam aproveitar esta oportunidade, para melhorar ainda mais as suas instalações e a qualidade académica, formando mais quadros qualificados para a cidade”.
Isabel Castro Manchete SociedadeVisita | Zhang Dejiang na Universidade de Macau com controlo máximo O túnel de acesso à Universidade de Macau esteve ontem fechado ao trânsito durante mais de três horas. Só podiam passar autocarros públicos e alguns chegaram a ser desviados. A visita do presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular teve uma segurança mais rígida do que quando cá veio Xi Jinping [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]em quando o Presidente chinês veio a Macau os critérios de segurança na Universidade de Macau (UM) foram tão apertados como ontem, último dia da visita de Zhang Dejiang ao território. O presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) esteve durante a manhã no campus da Ilha da Montanha. A passagem pelo estabelecimento de ensino fez com que o túnel destinado a veículos tivesse sido encerrado entre as 7h e as 10h35. Também o acesso pedonal foi interditado. Várias pessoas que falaram com o HM não esconderam o transtorno de medidas que consideram ser excessivas, por entenderem que não existe uma ameaça à segurança que justifique semelhantes precauções. A UM tinha avisado professores e estudantes de que, no seguimento de indicações das autoridades policiais, iria ser feito um controlo temporário do trânsito no túnel de acesso ao estabelecimento de ensino. A proibição para veículos particulares tinha início às 7h, sem se prever uma hora para a circulação voltar à normalidade. Só reitores, vice-reitores e alguns directores de departamentos tinham autorização para andarem normalmente nas suas viaturas. No mesmo aviso, dizia-se que os transportes públicos continuariam a funcionar normalmente, mas que seria feito um controlo de segurança à entrada do túnel. “Entraram dois polícias fardados, dois à paisana e mais dois funcionários da UM para dentro do autocarro, à entrada do túnel”, descreve um docente que pede para não ser identificado. “Tivemos de mostrar os cartões que foram passados numa máquina de reconhecimento.” À chegada ao campus na Ilha da Montanha, os autocarros eram obrigados a permanecer logo na primeira paragem. Quem trabalha ou estuda longe teve de fazer o percurso a pé e houve quem fosse obrigado a um trajecto maior, uma vez que a polícia interditou uma zona considerável para garantir que ninguém se aproximaria de Zhang Dejiang. Outra fonte do HM, que não conseguiu chegar a horas ao local de trabalho por ter recebido indicações diferentes acerca das medidas de segurança a adoptar, viu vários autocarros a serem desviados à entrada do túnel, onde estavam concentradas algumas pessoas à espera de receberem autorização para passarem para o campus da Ilha da Montanha. Horas para cumprir Os professores e funcionários que foram obrigados a deixar o carro em casa e a fazerem longos desvios a pé no vasto campus não terão justificação para eventuais atrasos. Na nota em que dava conta do acesso temporariamente condicionado, a UM informava que o pessoal tinha de garantir que as operações eram mantidas de forma normal e que as horas de trabalho desta semana são para cumprir. Foram ainda dadas instruções no sentido de se cancelarem todas as reuniões e visitas de pessoas que não trabalham na universidade, sugerindo-se que fosse feito um novo agendamento dos compromissos já marcados. Um dos poucos restaurantes dentro do campus da Ilha da Montanha estava ontem de portas fechadas. “Devem almoçar lá pelo menos 200 pessoas por dia”, comentava uma fonte ao HM. “Quando Xi Jinping veio à UM, não houve nada disto. Trouxemos os carros, tivemos um dia normal”, comentava um funcionário, que pediu igualmente para não ser identificado.
Hoje Macau SociedadeCélulas estaminais | UM desenvolve novo método de conservação É uma tecnologia inovadora que poderá ter impacto, no futuro, numa área importante da medicina. Uma equipa de investigadores da Universidade de Macau desenvolveu um método de armazenamento de células estaminais que permite a conservação à temperatura ambiente [dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]em demonstrar que existem alternativas aos métodos tradicionais de criopreservação, que exigem equipamentos e técnicas de transporte complexas, com elevados custos. Investigadores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Macau (UM) desenvolveram uma tecnologia que permite a conservação de células estaminais à temperatura ambiente durante sete dias, sem prejuízo das suas características e actividade biológica. Em comunicado, a UM explica que esta “tecnologia inovadora” foi descoberta sobre a orientação de Ren-He Xu, professor da instituição de ensino superior, que há quase duas décadas se dedica à investigação de células estaminais e da sua aplicação na medicina. A equipa era constituída por uma aluna de doutoramento, Jiang Bin, e por uma investigadora a fazer um pós-doutoramento, Yan Li, sendo que contou ainda com a participação de Chris Wong Koon Ho, professor assistente da UM. A descoberta desta técnica deu já origem a um artigo científico na Biomaterials, uma publicação de renome internacional neste domínio da ciência. As células estaminais podem ser encontradas em várias partes do corpo: medula óssea, sangue, cérebro e cordão umbilical, entre outros. São responsáveis pela regeneração de tecidos e órgãos danificados. O transplante de células estaminais permite, em muitas situações, salvar vidas, o que faz com que tenham um elevado valor clínico. No entanto, requerem complexos métodos de recolha e de armazenamento. A exposição deste tipo de células a temperatura desfavoráveis e à humidade, bem como a níveis desaconselhados de oxigénio e de dióxido de carbono causam a deterioração do material biológico. Neste momento, o transporte de longa distância baseia-se sobretudo na criopreservação, com custos muito elevados. Quando as células estaminais são levadas para locais mais próximos, existem outras formas de conservação, mas com limites, explica a UM, pelo que não é possível garantir a qualidade durante mais de 48 horas. “A nova tecnologia desenvolvida pela UM vem ultrapassar estas limitações”, a um preço muito acessível.
Victor Ng SociedadeDepartamento de português da UM pondera a criação de turmas diferenciadas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] coordenador do departamento de português da Universidade de Macau, Yao Jingming, gostaria de ter turmas diferenciadas no curso de licenciatura. A ideia, de acordo com o Jornal Ou Mun, foi deixada durante o Dia da Língua Portuguesa da instituição. O objectivo é a constituição de turmas diferentes com base no conhecimento dos alunos. “Estamos a estudar a possibilidade e ainda é só uma ideia, mas temos de encontrar uma forma mais eficaz para ensinar o português sem desmotivar os alunos”, disse ao HM. Dos alunos que se inscrevem no curso, alguns estudaram português no secundário e outros não. O resultado é a disparidade no conhecimento da própria língua e a falta de motivação para alguns dos estudantes que acabam por, eventualmente, abandonar o curso. “Os alunos que já têm conhecimentos estão muitas vezes misturados com os que ainda não têm nenhum o que acaba por não ser pedagógico e desmotivar a aprendizagem”, referiu o responsável. Como solução “a separação por turmas aquando do ingresso na universidade e tendo em conta o nível de conhecimento é uma ideia que gostaria de ver avançar”, afirmou. Separar as águas De modo a optimizar o ensino e a aprendizagem, o departamento de português gostaria de ver implementada a criação de duas turmas em que é criado um grupo especial para quem tem conhecimentos básicos de português, bem como uma equipa de professores e materiais pedagógicos mais adequados. Por outro lado, para aqueles que ingressam no curso sem conhecimentos ao partilharem a turma com outros níveis de saber, acabam por encarar a licenciatura como um grande desafio o que pode, algumas vezes, levar à desistência. A medida que, ainda é uma ideia, pode “resolver a situação”. O departamento recebe cerca de 80 alunos por ano, e o mestrado na área de tradução e de linguística tem registado subidas no número de candidaturas. No entanto, de acordo com o Ou Mun, dada a situação actual do quadro docente do departamento, é difícil aumentar o número de candidaturas.
Sofia Margarida Mota SociedadeUM | Dia aberto com estudantes de fora a dar as boas vindas Ontem foi o dia aberto da Universidade de Macau. Ao início da tarde realizou-se a cerimónia de abertura e o átrio em frente da biblioteca encheu-se de bandeiras de todo o mundo. São os estudantes internacionais que escolheram Macau para um programa de intercâmbio [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]eve ontem lugar o dia aberto da Universidade de Macau. Por entre algumas centenas de estudantes, famílias e futuros alunos eram as bandeiras internacionais que tinham voz. A segurá-las estavam alguns dos alunos que escolheram Macau para um programa de intercâmbio. A opção pelo território parece ter sido uma escolha pensada. Por um lado a proximidade da China, país que para o ocidente ainda parece distante e que, desta forma, poderia estar mais perto. O ensino no território não apresenta as mesmas vantagens e desvantagens para quem cá vem. Isabela da Silva vem de Brasília e está na UM por um semestre. É aluna de Psicologia e escolheu participar no programa de intercâmbio da universidade local por ter “interesse pela Ásia”. O ensino difere em muito daquilo a que está habituada e vê como vantagem essencial o facto de a sua área estar muito direccionada para a investigação. “Daqui vou levar o treino na pesquisa o que não acontece no meu país”. Por outro lado, todas as semanas há trabalhos individuais acerca da cultura oriental. O resultado: “um conhecimento mais profundo e abrangente do mundo”. A estudar Inglês está a sueca Izabella Tirbal. Macau foi- lhe sugerida e não hesitou em aceitar. Do ensino leva também a diferença e a oportunidade em alargar o conhecimento que isso lhe traz. “Os alunos são muito calados e de onde venho somos muito participativos”, conta. No entanto, este é um dado que marca a diferença cultural e que ao mesmo tempo a aproxima dos colegas. “Acho que foi um choque estar naquela turma porque não me calo”, diz, satisfeita. De Macau leva uma mala cheia de ferramentas que podem ser válidas enquanto professora. Com a disciplina de literatura que, considera, “uma bênção”, tem acesso a obras que versam sobre a história da Ásia e da sua relação com a América. “Os temas culturais são uma constante e nós não temos essa área, não do ponto de vista oriental. Tem sido uma forma de me fazer pensar como poderei utilizar a literatura para pensar a sociedade”, refere. Pouco colectivo Se para uns, os trabalhos individuais são uma mais-valia, para outros, nem tanto. “A maior diferença é o sistema de ensino ser muito individual e não preparar para a vida real”, aponta o aluno de engenharia mecânica que vem de Montreal, no Canadá, Vincent Aguilar. “Temos na maioria do tempo trabalhos pessoais que temos de executar sozinhos. Estava habituado a trabalhar com outras pessoas e a pensarmos em conjunto. No, entanto o nível de exigência acho que é muito bom e o mesmo se aplica aos professores”, diz. De Macau, sublinha satisfeito, leva a experiência de “uma cultura tão diferente como a chinesa e a oportunidade de viajar por alguns países na região que, de outra forma, não seria possível”. O francês Pierre Itey concorda com o colega de vida estudantil. Aluno do último ano do curso de administração e negócios escolheu o território porque queria uma aproximação à cultura asiática. “Normalmente quando temos a oportunidade de fazer programas de intercâmbio, as pessoas optam, na minha área, pelos Estados Unidos ou por países em que conhecem já a cultura”, comenta. Mas Macau é especial: “aqui temos a cultura asiática e a portuguesa o que traz ao território uma influência ocidental particular”. No entanto, no que respeita ao ensino, a distância para com a vida real também é sentida. Habituado a ter aulas com profissionais que partilhavam a experiência, Pierre ainda estranha a aula unilateral, o silêncio do ensino asiático e a teoria sem paralelismo com a prática. No regresso, não tem dúvidas, leva “amizades e boas memórias”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePouca liberdade académica, investigações e prestígio: a análise ao trabalho do reitor da UM, Wei Zhao Em nove anos à frente da Universidade de Macau, Wei Zhao lidou com a mudança da instituição para o campus da Ilha da Montanha e enfrentou investigações de auditoria. Há quem entenda que trouxe prestígio à instituição. Outros dizem que não respeitou a liberdade académica [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrou em 2008 e deixará o lugar dez anos depois, em Novembro do próximo ano. Está quase concluída a história de Wei Zhao como reitor da Universidade de Macau (UM), após ter decidido não se recandidatar a um terceiro mandato. O Governo reagiu ontem à sua saída da universidade pública através de um comunicado oficial. “O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura [Alexis Tam] respeita a autonomia de que beneficia a UM, assim como a decisão tomada pelo próprio reitor”, lê-se no documento. Além disso, o secretário “reconhece os trabalhos realizados pelo professor Wei Zhao enquanto reitor da UM”. A UM emitiu ontem um comunicado onde explica que o novo reitor será escolhido com base num processo de recrutamento internacional, levado a cabo por uma comissão que ainda não tem data para ser criada. “A universidade fez grandes progressos nos últimos anos em termos de desempenho e ao nível da obtenção de reputação internacional, investigação e publicações, e na promoção dos talentos”, considerou Peter Lam, presidente do organismo. O HM falou com personalidades que não têm uma relação directa com a UM para analisar o mandato de Wei Zhao. Segundo o politólogo Larry So, foi um homem que, acima de tudo, contribuiu para um maior prestígio da universidade. “A coisa mais importante é que a UM mudou-se para a Ilha da Montanha e tem hoje um campus muito maior do que o anterior. Durante o seu mandato, houve uma maior promoção da UM junto da China em termos de reputação e rankings. Colocou um grande ênfase na construção da reputação da universidade”, apontou. Pouca liberdade académica Ainda assim, as críticas chegam quanto à promoção de uma maior liberdade académica. Poderia ter feito mais, mas não fez. “Por norma, a liberdade académica é aceitável [em Macau]. Tanto na UM, como no Instituto Politécnico de Macau a Administração respeita-a, mas diria que há umas certas limitações, uma espécie de autocensura. O próprio reitor nunca fez uma promoção no sentido de existir uma forte liberdade académica ou de expressão. Ele teve bastantes oportunidades para fazer uma melhoria nesse sentido”, acrescentou Larry So. Jason Chao, activista, é ainda mais claro. “Não posso dizer que tenha sido um grande apoiante da liberdade académica. Não acredito que haja uma garantia da liberdade académica dentro do actual sistema. Independentemente da pessoa que for escolhida para ser o novo reitor, não me parece que as coisas vão mudar.” Para Éric Sautedé, actualmente a trabalhar em Hong Kong, Wei Zhao não respeitou a liberdade académica, tendo-a ignorado. “O grande erro foi o despedimento de Bill Chou em 2014, por razões possivelmente ‘fabricadas’ e muito dúbias. A liberdade de expressão não foi respeitada e continua a ser esquecida como, por exemplo, para organizar um simples evento para celebrar o 4 de Junho [dia do protesto em Tiananmen]”, apontou. Polémicas e silêncios Wei Zhao tem sido um reitor parco em palavras, em que as raras entrevistas são concedidas aos meios de comunicação de língua chinesa. Ainda assim, não teve um mandato fácil. Um dos casos mais polémicos aconteceu em 2011, quando se soube que o recém-nomeado director da faculdade de Direito, John Mo [entretanto substituído por Gabriel Tong], não era especialista em Direito de Macau. O facto gerou várias críticas por parte da comunidade jurídica, mas o próprio John Mo acabaria por desvalorizar o episódio. Já em Fevereiro de 2015, o Comissariado de Auditoria (CA) resolveu investigar o “regime de atribuição de alojamento aos trabalhadores da UM”, tema que foi alvo de reportagens devido à existência de alegadas irregularidades e desigualdades na distribuição de apartamentos a docentes no novo campus. Contudo, nada foi apontado à instituição. Foi também analisada a “Instalação da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau”. O CA analisou ainda a criação do Instituto de Investigação Científica e Tecnológica da Universidade de Macau em Zhuhai, cuja criação “comportou graves riscos” para a Administração. Vários juristas chegaram a apontar ao HM que tal acto constituía uma violação da Lei Básica, mas o Governo optou por não fazer uma investigação por considerar que esta interpretação não constou do relatório do CA. “Não temos muitas informações sobre essa questão. Se me pergunta se, de certa forma, afectou a continuidade do mandato ou a sua reputação, teríamos de ter mais informações para fazer comentários. Comentar algo de forma especulativa não seria justo nem para ele, nem para a própria universidade”, comenta agora Larry So. Para Éric Sautedé, Wei Zhao “implementou um sistema bastante opaco de gestão, em que o instituto de investigação em Zhuhai é apenas a ponta do icebergue”.
Angela Ka SociedadeEstudo | Índice de empreendedorismo aumentou Um estudo realizado pela Universidade de Macau revela que o índice de empreendedorismo aumentou no último trimestre. Os que investem pela oportunidade estão em maior número [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] empreendedorismo em Macau parece estar bem e recomenda-se. É o que conclui um trabalho levado a cabo pela Plataforma dos Serviços das Pequenas e Médias Empresas (PME), eRS e-Research Lab. e a Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau (UM), com base em 201 opiniões de empreendedores de empresas recém-criadas. O relatório mostra que todos os itens referentes ao último trimestre de 2016 estão numa melhor posição, sendo que o índice de ambiente empreendedor atingiu os 49,9 por cento, o valor mais alto em comparação com os dois trimestres anteriores. Quanto ao índice de pensamento empreendedor, é de 41,4 por cento, número que pela primeira vez foi além dos 40 por cento. Quanto à satisfação dos trabalhos feitos pelo Governo, também aumentou 5,6 por cento. Enquanto isso, mais de 80 por cento dos empreendedores afirma ter empregados locais a tempo inteiro. O mesmo documento mostra que 65,2 por cento dos empreendedores são “orientados pelas oportunidades”, um número 1,9 por cento superior aos que apenas investiram por necessidade. Já 41 por cento afirmam ter recuperado o seu investimento inicial, um valor que aumentou em relação aos restantes meses do ano. Em relação à influência do mercado, 54,7 por cento dos inquiridos consideram que há muitos concorrentes comerciais e apenas quatro por cento consideram que não há concorrentes. Apenas 20,4 por cento referiram que os seus serviços ou produtos apareceram no mercado há menos de um ano. Pouca inovação Apesar dos resultados satisfatórios, apenas cinco por cento dos empreendedores acham que todos os seus potenciais clientes consideram os seus produtos ou serviços inovadores. Em relação à penetração no mercado local, 81,3 por cento entendem que as suas empresas, recém-criadas, ainda não causaram impacto, ou causaram pouco. Ma Chi Seng, fundador da Plataforma dos Serviços das Pequenas e Médias Empresas (PME) e deputado nomeado, disse, citado pela imprensa chinesa, estar satisfeito com o facto de o número de empregadores locais ter aumentado em comparação com os dois relatórios anteriores.
Isabel Castro Manchete ReportagemUniversidade de Macau | Colégios residenciais não são consensuais Foi uma das grandes novidades da mudança da Universidade de Macau para a Ilha da Montanha: os alunos têm de viver um ano nas instalações que o estabelecimento de ensino disponibiliza. Alguns concordam com a medida, mas há também quem não veja vantagens num sistema que não dá aos alunos a possibilidade de escolha [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esde que a Universidade de Macau foi viver para a Ilha da Montanha que os alunos do primeiro ano são obrigados a viver, durante um ano lectivo, no campus da instituição de ensino superior. Se para os alunos que vêm de fora a obrigatoriedade não coloca, pelo menos numa primeira fase, problemas de maior, para os estudantes locais a situação pode ter contornos caricatos. Deixa-se a casa da família na península e passa-se a viver num campus a 20 minutos de distância. Quando o projecto do novo campus da UM foi apresentado, a medida causou alguma desconfiança – mas não a suficiente para travar as intenções de quem manda na universidade. Na altura, falava-se em entre oito a 12 colégios residenciais no campus. Na apresentação que consta do site oficial da instituição académica, explica-se que “os estudantes de diferentes contextos, áreas e anos de estudo são colocados no mesmo colégio residencial”. Para a UM, esta solução de acomodação permite aos estudantes “organizarem e participarem juntos em vários tipos de actividades, receberem educação fora da sala de aula, crescerem com uma perspectiva transversal em termos culturais, desenvolverem um forte espírito de responsabilidade social, boas capacidades de comunicação e espírito de equipa”. Liberdade garantida? O HM falou com um antigo assistente de um colégio residencial que, para este texto, prefere identificar-se apenas pelo apelido: Chan. Este ex-responsável pelo apoio aos estudantes não considera que a liberdade esteja a ser colocada em causa, porque “todas as universidades têm as suas regras”, mas reconhece que, por enquanto, os objectivos da UM não estão a ser atingidos. São “objectivos grandiosos” e, pelas palavras de Chan, nem todos os alunos estão dispostos a contribuir para a elevada finalidade da instituição. Em relação ao convívio e ao espírito de camaradagem, o entrevistado reconhece que os colégios residenciais – construídos num campus de grande dimensão – “não conseguem criar um ambiente [académico] e a universidade é responsável por este facto”. Numa entidade que pretende chamar cada vez mais alunos de fora para o campus, sobretudo da China Continental, coloca-se ainda a questão da diferença de formas de estar entre quem é de cá e quem está longe de casa. “É verdade que os alunos locais têm diferentes hábitos em relação aos outros”, reconhece Chan que, ainda assim, considera que “os colégios têm as suas vantagens e benefícios, pelo que vale a pena frequentá-los”. Os estudantes que chegam do Continente, descreve, “têm um sentido de pertença mais elevado” ao local que passa a ser a casa. Já os alunos locais têm tendência a encarar os colégios residenciais como sendo “um dormitório”, uma vez que têm as suas redes sociais e familiares fora do campus na Ilha da Montanha. O antigo assistente fala ainda de um grande investimento da UM nestes colégios e o retorno que, segundo diz, “não é alto”. “A universidade tem pensado muito em formas de os alunos se dedicarem mais a este sistema”, garante. “Quer que os alunos façam mais. Muitos alunos aprendem de forma passiva. A culpa não é totalmente da universidade”, afiança. A lógica do dormitório Fernando Leong, natural de Macau, a frequentar uma licenciatura na Universidade de Macau, explica que os alunos locais não são particularmente entusiastas em relação às actividades promovidas pelos colégios residenciais. Mas conta também que aqueles que vieram de fora – sobretudo da China Continental – gostam dos programas que são oferecidos. Concluído um ano a dormir no campus, os estudantes podem sair – e, diz a experiência de Leong, a maioria dos jovens de cá volta para casa. Há também quem não seja de Macau e procure uma solução de habitação mais próxima da cidade e dos seus residentes. “Há pouca gente que gosta de morar nos colégios residenciais. Pessoalmente não aprecio. Mas é obrigatório e, se os alunos não morarem no campus, não podem graduar-se na universidade. É por essa razão é que estou a viver lá. Só quem já tem uma licenciatura é que pode pedir a isenção de residência”, diz. “Os colégios não conseguem moldar a personalidade dos alunos”, acrescenta ainda Fernando Leong. “Não tenho muito contacto com professores nos colégios, tenho mais na universidade. Mas é preciso participar nas actividades dos dormitórios para ganhar alguns créditos no final de cada semestre.” Uma colega de Leong, do terceiro ano, que preferiu não ser identificada, atira, a começar, que “o modelo não é razoável”. Em causa não está apenas a questão da residência obrigatória no campus, mas também o facto de os alunos “terem de cumprir muitos requisitos e entregar trabalhos de casa”. “Semanalmente, temos de dormir pelo menos quatro noites no dormitório. Quando entramos e saímos do colégio temos de cumprir um método de verificação, temos de usar um cartão para entrar e sair”, relata. “Temos de frequentar uma disciplina que se chama ‘University Life’, que dura quatro anos, e que está ligada à vida do colégio residencial. Se os alunos saírem do colégio ao final do primeiro ano de licenciatura precisam de participar em mais actividades, em jantares do colégio”, continua a estudante. “Todos os semestres temos de cumprir um número de actividades. Tenho um amigo que perdeu uma parte dos estudos porque não cumpriu os requisitos do colégio.” Quanto ao ambiente destas estruturas, diz a aluna que “tudo depende dos alunos e dos tutores”. No seu caso, “os tutores raramente realizavam actividades”. “Muitas vezes não conhecemos os alunos que moram nos quartos ao lado. Muitas vezes me pareceu estar a morar num dormitório e não num colégio residencial.” Da China aos States Quem tem como vida profissional orientar estes colégios residenciais tem uma perspectiva bem diferente sobre a matéria. É o caso de Liu Chuan Sheng, orientador do colégio Chao Kuang Piu, que não só vai buscar às mais prestigiadas universidades internacionais fundamentos para justificar a existência destas estruturas, como recua no tempo, e vai ao encontro da história da China para fornecer argumentação adicional. Para Liu Chuan Sheng, o sistema de colégios residenciais “é uma parte essencial da formação e diferente das faculdades”. Por outras palavras, “o colégio residencial dedica-se à formação da personalidade e dos interesses dos alunos, focamo-nos nos estudantes e este é um aspecto que as universidades comuns não são capazes de ter em conta”. O modelo, destaca, foi adoptado “há centenas de anos em Oxford e em Cambridge, e foi também adoptado por universidades americanas”, país que, de resto, serve em várias matérias como fonte de inspiração para a universidade pública de Macau. “O nosso colégio residencial começou bastante tarde, mas já tem uma escala significativa na Ásia.” O orientador assegura, no entanto, que foram feitas muitas alterações, pelo que não se trata de uma cópia do que se faz lá fora. “A maior mudança que fizemos foi a adopção do modelo de colégio residencial com a tradição chinesa, que começou no tempo do Confúcio, onde os professores conversavam com os alunos. Até ao ano 1100 ou 1200, foram criados quatro grandes colégios residenciais que contaram com mais de mil alunos. Foi uma pena que, na dinastia Ming, este sistema tenha sido abolido”, lamenta. “Já não existe este tipo de academias ou colégios na China.” Quanto ao ambiente que se vive nos colégios, o orientador assegura que são promovidos almoços e jantares, onde se produzem discussões académicas, o que permite aos estudantes travarem conhecimento uns com os outros. Mais de tudo Para já, a grande falha do sistema, reconhece Liu Chuan Sheng, tem que ver com o número de tutores. “A Universidade de Cambridge conta com mais de 100 tutores de várias áreas, mas a UM ainda não tem tantos. O que a UM está a fazer é a ligar as faculdades com os colégios residenciais. O nosso colégio tem cerca de 80 professores vindos de várias faculdades para o almoço e o jantar.” O orientador deixa uma ideia do que é a vida no colégio residencial Chao Kuang Piu: “Todas as quintas-feiras, depois de almoço, há uma hora reservada para um pequeno seminário onde convidamos professores de várias universidades para uma apresentação. Mas os alunos, de Macau ou do interior da China, têm pouca curiosidade. Ainda assim, penso que cada vez mais estão a alargar os seus conhecimentos”. Os alunos estrangeiros – que, no campus da Taipa, tinham um contacto maior, até pela dimensão da própria universidade – estão agora separados, o que não facilita, segundo o que HM apurou, a adaptação a uma realidade nova que fica a milhares de quilómetros de casa. Liu Chuan Sheng admite que “é desnecessário fazer esta separação”, embora diga também que a mistura de estudantes de diferentes nacionalidades e origens é uma prática comum nos Estados Unidos e no Reino Unido. “Há muitos aspectos onde temos de fazer mudanças, é preciso eliminar algumas regras”, concede, sem entrar em detalhes. “Há muitas actividades, os alunos e os professores estão ocupados, e para os colégios residenciais alcançarem um equilíbrio e poderem fazer melhor são necessários mais recursos humanos e um maior apoio dos alunos”, remata.
Sofia Margarida Mota SociedadeUM | Académicos debatem memória na construção da história de Macau A Universidade de Macau está a promover uma série de sessões dedicadas ao debate sobre os discursos memorialistas e a construção da história. A ideia é aprofundar, através do diálogo entre académicos, o valor de fontes “não convencionais” no entendimento dos lugares e das suas comunidades [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s discursos memorialistas e os seus contributos para a formulação da história estão, por estes dias, em destaque na Universidade de Macau, com a realização de uma conferência que junta vários académicos de diferentes áreas. A ideia é “trazer Macau para a discussão acerca da memória e de como é que os discursos são importantes para integrar um relato de nação e, no caso do território, um relato de comunidade”, explica a docente e organizadora da iniciativa, Inocência Mata. Para a académica, estes discursos, designados por memorialistas, e nos quais se incluem relatos orais ou a literatura, por exemplo, são “documentos” fundamentais para completar a informação além das fontes oficiais. “Não sou historiadora mas considero que, cada vez mais, as fontes da história têm saído dessa ditadura marcada pelos documentos históricos no sentido tradicional do termo”, explica ao HM. “São outro tipo de testemunhos que também podem transmitir a cultura do vivido e, como tal, a história”, aponta. É a partir deste tipo de discursos que se podem encontrar nos livros, canções e relatos, por exemplo, que a comunidade imaginada é construída, ou seja, “a partir dos vários elementos que se supõem comuns entre pessoas que não se conhecem mas que, no entanto, partilham elementos físicos e imateriais”, como é o caso do imaginário histórico, e que fazem com que todos se sintam pertença de uma mesma comunidade, explica a docente. A especificidade da terra Inocência Mata também participa na apresentação do papel dos discursos memorialistas, com os estudos que tem vindo a desenvolver e que incidem, essencialmente, sobre África. Para a académica, a grande diferença entre os documentos e a construção de uma comunidade imaginada entre África e Macau é, sobretudo, derivada do facto de que “em África houve sempre uma luta e, aqui, isso não aconteceu”. “Esta é uma grande diferença, a do confronto com o outro. O confronto ideológico, verbal e político que não existiu em Macau”, sublinha. Por outro lado, quando se fala de colonização, a história em Macau não é idêntica à dos países africanos: “Aqui nunca se colocou a questão da independência e sempre houve um processo de diálogo entre portugueses e chineses que nunca existiu em África, estamos a falar de processos históricos completamente diferentes”.