José Pereira Coutinho quer respostas para suicídio

O deputado Pereira Coutinho está preocupado com o suicídio entre os jovens e quer que o Governo arranje soluções. O tema foi abordado em interpelação enviada ao Executivo, com a sugestão que sejam apuradas as “causas da crescente deterioração da saúde mental dos jovens”.

De acordo com o legislador apoiado pela Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM): “O Governo deve avaliar e discutir de forma aprofundada este fenómeno do suicídio de jovens cada vez mais novos, para apurar, quanto antes, as respectivas causas”, indica. “Os casos referidos [de suicídios] demonstram que muitos jovens se suicidam por impulso, porém, nas políticas e medidas actualmente adoptadas pelo Governo não se verifica a disponibilização do correspondente aconselhamento psicológico, para acabar com os comportamentos impulsivos dos jovens”, acrescentou.

Coutinho pede medidas de combate ao fenómeno: “O Governo não consegue resolver a situação do suicídio por impulso de jovens. Pelo exposto, o Governo deve proceder a uma avaliação abrangente da saúde mental dos residentes de Macau, especialmente dos jovens, e deve reforçar a comunicação com as escolas e as famílias, a fim de acabar, em tempo oportuno, com a tragédia social. Já o fez?”, interroga.
Caso tenha pensamentos suicidas e necessite de auxílio, pode ligar para o Serviço de Auxílio da Cáritas, através do número 2852 5222, em chinês, ou do número 2852 5777, em inglês.

12 Mar 2021

Jovens suicidas

É problema relativamente antigo na sociedade japonesa, o do elevado número de suicídios, e são certamente complexas as suas causas: um sistema educativo altamente competitivo na infância e adolescência, longas jornadas de trabalho na idade adulta, uma vida social em relativo isolamento e um certo estigma em relações às perturbações psicológicas e mentais que inibe o seu acompanhamento e tratamento estão entre as razões geralmente aprontadas para a sua persistência. Uma das consequências é também a monitorização detalhada, sendo o Japão dos países que dispõe de dados mais precisos, regulares e atualizados sobre o fenómeno. Isso permite saber que, apesar de os valores se manterem altos, o número de suicídios tem vindo a descer sistematicamente e sem interrupções ao longo dos últimos 10 anos. Até 2020, quando os impactos económico, social e psicológico do covid-19 implicaram uma inversão dessa tendência: o número de suicídios voltou a aumentar a partir de Julho de 2020 e com muito maior incidência na população jovem feminina.

Os números disponíveis indicam 20919 suicídios no Japão em 2020, claramente abaixo dos quase 35000 que se tinham registado em 2003 e que tinham levado à criação de programas de prevenção e à monitorização sistemática do fenómeno. Desde então os números tinham diminuído, sem interrupções entre 2009 e 2019. A partir de Julho do ano passado a situação alterou-se e 2020 acabou por fechar com 13943 suicídios entre os homens (1% mais do que em 2019) e 6976 suicídios de mulheres (15% mais do que no ano anterior). Só no mês de Outubro suicidaram-se 851 mulheres, um acréscimo de 85% em relação ao mesmo mês de 2020. Aliás, o número total de mortes por suicídio nesse mês (2153) foi superior ao número de mortes por covid-19 até esse momento (2087). É também de salientar a coincidência de se tratar de um ano em que o número total de mortes no país diminuiu em relação ao ano anterior, o que aconteceu pela primeira vez em 11 anos. Uma das justificações adiantadas para este fenómeno é o de se terem adoptado cuidados gerais de saúde mais rigorosos devido ao covid-19 que contribuíram também para prevenir outras doenças – do corpo, não da mente.

Os dados também revelam que os casos de suicídio não aumentaram durante a primeira fase da pandemia, com a primeira vaga de infecções, que no Japão tinha começado ainda em Janeiro. Foi na segunda vaga, no Verão – com um volume de casos mais significativo e medidas de contenção mais restritivas e com maiores impactos económicos e sociais – que se começou a consolidar uma subida anormal do número de suicídios no país. Explicações adiantadas para o problema focam-se no impacto do encerramento forçado de estabelecimentos comerciais e de restauração, com níveis de emprego feminino proporcionalmente mais altos que os da indústria ou outros serviços. Em consequência, quase dois terços dos empregos perdidos em 2020 em resultado da pandemia eram ocupados por mulheres. Apesar de a população feminina ter uma participação no mercado de trabalho francamente inferior à dos homens, a perda de postos de trabalho de mulheres reflecte a precariedade generalizada da sua situação laboral, uma vez que cerca de dois terços ocupa postos de trabalho a tempo parcial. Resta então saber qual será o impacto da terceira vaga, que agora parece estar finalmente a terminar, mas que atingiu valores muito mais altos nos níveis de infecções e implicou restrições ainda mais severas.

Na realidade, os números parecem apontar para uma tendência semelhante também na Coreia do Sul: durante quase todo o ano de 2020 (até 10 de Dezembro) 564 pessoas tinham morrido de covid-19, enquanto o número de suicídios por mês era mais do dobro, pelo menos entre Janeiro e Setembro (último mês com dados disponíveis). Em particular, o número de suicídios em mulheres de 20 a 30 anos de idade aumentou 40% em relação ao ano anterior. As explicações adiantadas por comentadores na imprensa são semelhantes às do caso japonês: incapacidade de suportar os custos de vida para quem ocupa os lugares mais vulneráveis à pandemia no mercado de trabalho actual (pessoas com contratos de curta duração ou trabalho informal, geralmente a tempo parcial, nos sectores do comércio a retalho e restauração mais orientados para o turismo).

Este sofrimento solitário imposto por sucessivos confinamentos tem evidentes consequências sobre a saúde mental que se juntam aos problemas sociais e económicos que este tipo de recessão inevitavelmente implica. Mas o caminho está longe de estar percorrido, não só porque a pandemia não está controlada, mas também porque os seus devastadores impactos económicos e sociais ainda vão perdurar. O capitalismo contemporâneo não lida bem com este confinamento que representa também um encerramento generalizado dos mercados, cuja abertura permanente permite a competição sistemática em que vivemos e alimenta o eventual crescimento das economias. Os estados emagrecidos que temos hoje não estão preparados para substituir esta dinâmica em caso de emergência. E é essa emergência que vai persistir, não só no Japão ou na Coreia do Sul, mas também em todos os outros países onde a pandemia tem impactos significativos, com mais ou menos intensa monitorização dos suicídios e suas causas, ou das implicações sociais e individuais desta doença.

26 Fev 2021

Suicídio | Macau abaixo da média internacional

Os Serviços de Saúde (SS) garantiram, em resposta a uma interpelação da deputada Agnes Lam, que a taxa de suicídio em Macau está abaixo da média internacional, tendo em conta que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de mortalidade de suicídio é considerada alta quando esta é de 13 mortes por 100 mil habitantes. “Observando a situação do suicídio em Macau, esta tem estado abaixo dos padrões nos últimos anos, pelo que Macau não pertence a uma área onde o suicídio é alto”, lê-se na resposta.

“Se considerarmos apenas a situação da morte por suicídio dos residentes de Macau, em 2019 foram registados os dados mais baixos dos últimos dez anos, por isso 2020 registou um aumento em relação a 2019, mas a situação é semelhante a 2018”, acrescenta a resposta.

Os SSM citam dados relativos ao ano passado em que foram registados 53 casos de morte por suicídio nos primeiros três trimestres, “o que representa um aumento de cinco casos face ao período homólogo de 2019”. Os motivos para o suicídio estão principalmente relacionados com doenças mentais, crónicas ou físicas, dos quais 12 (22,6 por cento) com registo de consulta psiquiátrica. “Após a análise registaram-se 19 casos de doenças crónicas ou físicas, ou seja, mais seis do os 13 casos registados no ano anterior, 13 casos de doença mental, um número superior em um caso comparado com os 12 do ano passado. Há dez casos relacionados o jogo e problemas financeiros, sendo o número igual ao mesmo período do ano passado”, adiantam ainda os SSM.

Relativamente à linha aberta de apoio psicológico no âmbito da covid-19, até Novembro do ano passado foram registados 58 pedidos de informação. Da parte do Instituto de Acção Social, entre Janeiro e Novembro do ano passado registaram-se mais de seis mil telefonemas de pedidos “envolvendo principalmente problemas emocionais e mentais”, no âmbito de uma linha aberta de aconselhamento operada por este organismo.

1 Fev 2021

Natal: uma calamidade desejada

Muito se escreveu já sobre a possibilidade de as baleias se suicidarem. Parece que é mesmo pura ilusão desta nossa espécie que é, ao mesmo tempo, a maior predadora do planeta e a única com real vocação suicidária. Antonio Petri, professor da universidade de Cagliari, analisou mais de um milhar de estudos de caso publicados ao longo de quatro décadas e não encontrou quaisquer provas de que os animais, baleias incluídas, praticassem suicídio de um modo consciente.

O fenómeno do suicídio colectivo ou, mais exactamente, da arte da entrega ao suicídio colectivo, é exclusivamente humano e não faltam seitas religiosas e narrativas mitológicas para o documentar. É evidente que a vastíssima genealogia das guerras é uma parte seminal deste escol. A ‘Ilíada’ é porventura o texto em que o corpo a corpo na guerra é mais delirantemente colocado a nu, mas sempre com um pano de fundo encantatório. A entrega ao sangue surge naqueles combates de centenas e mais centenas de páginas como o supra-sumo de uma glória maior.

Até ao início do século passado, mais concretamente até ao simbólico ano de 1914, era ainda normal a população vir para as ruas saudar e festejar a partida dos soldados para as frentes de guerra. As guerras sempre aconteceram em nome duma aura colectiva, fosse o filtro a graça divina, o que aconteceu durante séculos no mundo pré-moderno, fosse o filtro uma nuvem nacionalista ou ideológica, já no alvor do ocidente moderno. Logo no início de ‘Viagem ao fim da noite’, Céline, com aquela sua ironia e escárnio habituais, focava este ambiente: “Era um nunca mais acabar de ruas e ruas, e dentro delas ainda os civis e as suas mulheres que nos gritavam encorajamentos, que atiravam flores nas esplanadas, em frente das estações de igrejas repletas. Quantos patriotas ali havia!”.

Em Portugal, antes de a primeira grande guerra mundial se iniciar, Jaime Cortesão também apelou profeticamente à grande batalha com argumentos “civilizacionais” a par da “livre e democrática” Inglaterra e em nome da “grande, bela e generosa” França e contra a Alemanha “imperialista e militarista” e a Áustria “católica e déspota”. Apontando no mesmo sentido, Augusto Casimiro evocava “dois princípios hostis: a liberdade generosa e a força tirânica”. Teixeira de Pascoaes, referindo a antiga aliança anglo-portuguesa, escrevia que o “passado vela pelo futuro” e concluía que a sorte da Inglaterra e da França seria sempre a sorte de Portugal. Teófilo Braga temia, pelo seu lado, a perda da “ocidentalidade”, enquanto alicerce do equilíbrio europeu. Raul Proença apelou mesmo à “mobilização moral dos portugueses” com o objectivo de se criar um “nexo patriótico” que sustentasse a campanha portuguesa na guerra. Por fim, Leonardo Coimbra via a guerra como o “esforço transcendente das forças espirituais” contra “a vertigem materialista do mundo moderno”*.

Enfim, a intelectualidade portuguesa estabelecida teria a consciência dos efeitos de todos estes apelos e sentava-se tranquilamente no palanque que Céline descreveu no seu mítico romance, mas, apesar disso, a história acabou por falar mais alto. E sabe-se bem como. Esta tendência de entrega generalizada ao sacrifício (ou mesmo ao suicídio) nem sempre se revestiu de uma aura bélica. Há uma longuíssima história sobretudo de rituais que fazem jus a esta atracção colectiva pelo que diríamos ser de calamidade própria. Joana Guimarães, num ensaio sobre suicídios colectivos, referiu a abundância do tema na mitologia grega (é o caso, entre outros, de Praxítea, Aglauro, Alciónidas, Cicno, Híades, das filhas de Erecteu e de Cécrops ou das companheiras de Erígone)*. Poderíamos juntar a este caudal, entre muitíssimos outros e com a devida diversidade, as tradições dos sacrifícios astekas, o haraquiri nipónico ou mesmo os estranhos acontecimentos de Jonestown em 1978.

Se todos estes casos surgem como exóticos, datados ou próprios de um alhures (situados no território do ‘outro’, isto é, fazendo parte daquilo que nós ‘não’ somos), pode crer, caro leitor, que existem casos deste teor que se passam connosco, mesmo na nossa frente e com um golpe de asa tão translúcido – e tido como normal – que quase passam incólumes ou invisíveis. Foi o caso da estratégia do governo português para a pandemia, tal como foi delineada no início do outono passado e que foi secundada por todos (repito: todos) os partidos políticos existentes no país.

Fiquei estupefacto, quando, em Outubro passado, o PM e o ministro da economia, cada um à sua maneira, apareceram nas televisões a dizer que a estratégia anti-pandémica do governo passava por “salvar o natal”, sabendo-se que estávamos à distância de pouco mais de um semestre para que o processo de vacinação começasse a produzir alguns efeitos. Cálculos matemáticos publicados pouco depois disso referiam um desmedido número de mortos e um grande número de infectados, caso se optasse por não anunciar medidas restritivas no natal. Unânimes e conscientes do sacrifício colectivo, a medida de ‘liberalização’ avançou. É evidente que tudo o que agora está a acontecer em Portugal tem essa estranhíssima decisão como fonte primeira.

Em vez de se convidar o povo a festejar (criativamente) o natal em Junho ou em Julho de 2021, o peso pesado do ritual foi de tal monta que agora bastar-nos-á infelizmente contar os mortos, fazer um confinamento redobrado – que meio mundo está a levar a brincar – e observar as misérias e as falências em série e em catadupa que se esperam. Tudo podia ter sido evitado, se não fosse essa bizarra obsessão chamada natal. Talvez seja exagerado dizer que se tratou de um verdadeiro crime, pois os humanos, como se viu, estão talhados para este tipo de arte da entrega ao sacrifício colectivo. Valha-nos, pois, o ouro muito escuro – escuríssimo – desse saber que dá pelo nome de antropologia.

*Castro Leal, E. ‘Narrativas e Imaginários da 1º grande guerra – O Soldado-Saudade português nos nevoeiros de morte’ em ‘Revista de História das Ideias’, Coimbra, 2000, p. 445.
*Guimarães, Joana. Suicídio mítico: uma luz sobre a antiguidade clássica. Publicado por: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos; Imprensa da Universidade de Coimbra URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/2325 (acesso: 14-Jan-2021 18:42:12)
21 Jan 2021

Saúde mental | Coutinho quer comissão para investigar suicídios

Através de interpelação escrita, José Pereira Coutinho considera que o Governo deve criar uma comissão independente para investigar as causas do aumento do número de suicídios entre os jovens, no contexto da pandemia de covid-19.

O deputado quer ainda saber se o Executivo já aferiu o impacto da pandemia “na vida material e económica dos residentes” e se pondera lançar medidas específicas para evitar os suicídios dos residentes que se encontrem “mentalmente instáveis sob o impacto da pandemia”.

Sobre a Política de Juventude de Macau entre 2021-2030, Pereira Coutinho pede ainda melhorias, nomeadamente, quanto à organização de actividades específicas para “impulsionar os jovens a prestar mais atenção aos assuntos sociais” e para desenvolver as suas “capacidades de pensamento e análise independentes” para filtrar informações desejáveis.

Sobre o tema, o deputado lembra que a facilidade de acesso a informação permitida pela evolução tecnológica, expõe jovens “mal informados” a informações indesejáveis e ideias erradas sobre o suicídio.

De acordo com os Serviços de Saúde (SS), até Outubro de 2020, registaram-se 56 suicídios, mais oito casos (16 por cento), relativamente ao mesmo período de 2019.

15 Jan 2021

Suicídio | Pedidos de apoio entre Janeiro e Setembro aumentaram 40%, seguindo tendência global

A linha de prevenção de suicídio registou até Setembro, 190 pedidos de ajuda de pessoas que contemplavam terminar a própria vida, volume 40 por cento superior ao ano anterior. As chamadas devido a problemas emocionais aumentaram 93 por cento. Na primeira metade do ano, os suicídios em Macau aumentaram 20 por cento. O mesmo fenómeno está a ser reportado em todo o mundo, como mais um efeito da pandemia

 

[dropcap]E[/dropcap]ntre Janeiro e Setembro deste ano, o serviço de prevenção de suicídio/esperança de vida – Cáritas Macau recebeu 190 chamadas de pessoas com ideias suicidas, registo que representa uma subida de 40 por cento.

No primeiro semestre deste ano, as autoridades contabilizaram um total de 36 suicídios (26 homens e 10 mulheres), face aos 30 casos verificados no período homólogo de 2019, número que representou uma subida de 20 por cento. Entre os que terminaram a sua própria vida, contaram-se 30 residentes, enquanto os restantes seis foram identificados pelas autoridades como turistas.

Segundo informação fornecida pelo Instituto de Acção Social (IAS) ao HM, durante o mesmo período, as chamadas para a linha SOS devido a “problemas relacionados com o estado emocional”, tiveram um incremento ainda maior (93 por cento), somando 898 contactos.

Importa esclarecer que a linha da Cáritas, financiada pelo IAS, dá aconselhamento para outros tipos de casos e que os telefonemas relacionados com problemas emocionais ou tendências suicidas representaram 18,8 por cento de um universo de 5.755 contactos.

Um estudo publicado na Nature no mês passado, que analisou taxas de suicídio face a ciclos económicos, estimou que se a pandemia da covid-19 resultar numa crise semelhante à de 2008 os casos podem aumentar cerca de 5 por cento em países com rendimentos médio/altos. Isto a verificar-se a previsão mais optimista. O estudo indica que a maior probabilidade será uma crise à escala da Grande Depressão, o que se pode traduzir no aumento da taxa de suicídio na ordem dos 15 por cento, com os homens a constituírem o grupo de maior risco.

O trabalho, também publicado na revista Molecular Psychiatry, refere que o ponto de partida é positivo, uma vez que entre 1990 e 2016 a taxa de suicídio global caiu 32,7 por cento.

Risco global

Quando as medidas para prevenir a propagação da pandemia se generalizaram, a partir da primeira vaga de infecções que atingiu a Europa, a Organização Mundial de Saúde fez soar o alarme das repercussões para a saúde mental das vicissitudes originadas pela covid-19.

“A situação actual, com isolamento, medo, incerteza e crise económica, pode causar distúrbios psicológicos”, alertava em Maio a responsável do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, Dévora Kestel.

A OMS considerou provável “um aumento a longo prazo do número e gravidade dos problemas de saúde mental”, devido ao “imenso sofrimento de centenas de milhões de pessoas” e aos custos económicos e sociais a longo prazo para a população.

Apesar dos riscos, as necessidades de saúde mental “não estão a receber a atenção necessária”, provavelmente devido à magnitude da crise, apontou o organismo internacional. A situação é agravada pelo facto de já haver falta de investimento e prevenção nessa área antes da chegada da pandemia.

Para a OMS, os grupos de maior risco abrangem “o pessoal de saúde, por causa da ansiedade e do stress que estão a viver, crianças e adolescentes, mulheres em risco de violência doméstica, idosos, devido ao risco de serem infectados, e pessoas com condições mentais pré-existentes ou com outras doenças, para quem é mais difícil continuar a receber tratamento”.

Trabalho de campo

Normalmente, a publicação de dados estatísticos relativos a suicídios refere-se, pelo menos, ao ano transacto, algo que dificulta a percepção clara do fenómeno. No entanto, os especialistas dizem ter razões para temer o pior.

Tal como em Macau, os números de chamadas para linhas de apoio registaram aumentos substanciais de pedidos de ajuda. Nos Estados Unidos, o volume habitual foi multiplicado por oito, de acordo com declarações prestadas por Sally Curtin, especialista em suicídios no Centro de Controlo de Doenças (CDC, na sigla em inglês), à The Economist.

Em Hong Kong, Brenda Scofield, directora da Samaritans destacou à revista internacional o aumento das solicitações de jovens e da proporção dos casos de angústia extrema.

Apesar de escassos, começam a surgir alguns estudos preliminares sobre suicídios que, apesar de carecerem de confirmação, não pintam um retrato positivo da situação.

O levantamento inicial, feito em Agosto, dos casos de suicídio no Japão mostrou uma subida anual de mais de 15 por cento, segundo reportado pelo Ministério da Saúde nipónico. No Nepal, as forças policiais revelaram que os casos de suicídio aumentaram um quinto, em relação ao mesmo período de 2019. O cenário traçado pelo Ministério da Saúde da Tailândia também não se afigura optimista, revelando que este ano 9 em cada 100 mil tailandeses decidiram terminar a própria vida, face a 6,6 no ano anterior.

O The Economist enumera alguns exemplos históricos em que suicídios e epidemias seguiram vias paralelas.
No Roma Antiga, o poeta Ovídio descreveu o outro lado de uma praga que assolou a capital imperial, que levou pessoas a enforcarem-se para “matar o medo da morte, usando a própria mão da morte”.

A Gripe Espanhola de 1918, que se estima ter resultado em 50 milhões de mortos, coincidiu com o aumento de casos de suicídio na Europa de quase um terço, de acordo com um estudo académico do Centro de Pesquisa Esloveno para o Suicídio, da Universidade de Primorska. Mais recentemente, e mais próximo geograficamente, durante a crise da SARS, Hong Kong foi palco de um aumento similar de suicídios de idosos.

Mão amiga

Voltando a Macau e ao ano de 2020, é necessário dar o contexto excepcional desta pandemia, em particular por obrigar ao isolamento forçado pelas medidas de prevenção, entre outras tantas restrições. Assim sendo, o IAS tem prestado apoio através de uma linha aberta durante 24 horas, desde o início do período de combate à epidemia. “Assistentes sociais, pessoal de aconselhamento psicológico, serviços de encaminhamento” foram disponibilizados para acudir “aos residentes emocionalmente perturbados, com o intuito de reduzir a pressão psicológica”.

Em resposta ao HM, o IAS adiantou que “até ao dia 1 de Outubro, foram atendidas 547 chamadas telefónicas, das quais 89 foram pedidos de apoio emocional”.

Quem está, ou vai estar, em quarentena obrigatória também tem um serviço de apoio. “Os indivíduos que se sujeitam à observação médica, o IAS, em cooperação com a equipa profissional do pessoal de aconselhamento psicológico da Universidade de Macau, começou, desde 3 de Fevereiro, a prestar aconselhamento”, por chamada ou videochamada, “para apoiar no alívio ao stress emocional”. Este serviço foi solicitado por 40 pessoas, até agora.

Vacina emocional

Em resposta ao HM, o IAS afirmou que desde os primeiros tempos, ainda antes de ser decretada como pandemia, a crise de saúde pública foi encarada como possível catalisador para problemas psicológicos. Nomeadamente, stress emocional decorrente de tensões no relacionamento familiar e da alienação motivada pelos confinamentos e distância social.

O IAS encarou o combate às feridas invisíveis através do apoio de 36 instituições, regularmente subsidiadas, de serviço de apoio à família e à comunidade.

A primeira abordagem foi o contacto com os residentes, com divulgação de “informação referente não só à educação psicológica, mas também a temas como a alegria entre pais e filhos, alívio de pressão decorrente da educação dos filhos, ideia positiva, etc”, explicou o IAS, acrescentando que foram divulgadas mensagens de capacidade de resistência, gratidão e atitude optimista.

Os serviços liderados por Hon Wai declararam ainda a “necessidade de prestar atenção e carinho às famílias em situação vulnerável e aos indivíduos de alto risco”, sem definir estas categorias.

Além de promover o carinho entre pessoas e familiares, o IAS aponta, sem entrar em detalhes, que também é necessário “prestar apoio a indivíduos e famílias com problemas emocionais e de suicídio, relativamente graves, no sentido de os ajudar, de forma célere, a gerir a crise e a proporcionar aconselhamento”.

20 Out 2020

Suicídios

[dropcap]A[/dropcap] escritora alemã Sabine Ulbricht propôs-se investigar a relação entre a literatura e o suicídio no seu ensaio «Abismos», partindo do livro de Thomas Bernhard «O Náufrago» e de «Van Gogh O Suicidado da Sociedade», de Antonin Artaud. Para a autora, «[…] o suicídio é um tema existencial por excelência, que desde a antiga Grécia que aparece na literatura. Mas há suicídios e suicídios. Aqueles que importam aqui ver não são os suicídios que advém de uma contrariedade material, como uma súbita falência, ou uma contrariedade amorosa, como a perda do amado ou amada. O que importa aqui ver é a relação entre a arte, o artista e o suicídio […]».

Em Portugal não parece ser um tema que nos interesse particularmente. Curiosamente, o filósofo espanhol Miguel de Unamuno escreveu um livro chamado «Por Terras de Portugal e Espanha» onde se pode ler um texto – hoje editado separadamente, como um pequenino livro – «Os Portugueses, Um Povo Suicida», em que são abordadas várias figuras da nossa história, com Camilo e Antero representando os suicídios nas letras. A análise do amigo de Pascoaes vai mais longe e analisa o comportamento suicida de «esse povo triste, mesmo quando sorri», nós, portugueses. Apesar da questão do suicídio português, para o autor espanhol, estar mais ligado a uma ausência de futuro, a verdade é que temos vários suicidados: Camilo, Antero, Manuel Laranjeira, Sá-Carneiro, Florbela Espanca. E outros menos reconhecidos, em maior número certamente, que podemos ligar à análise de Sabine Ulbricht acerca do suicídio em «O Náufrago», visto a autora ligar o suicídio de Wertheimer com a frustração artística. «Bernhard faz com que Wertheimer se suicide porque o Glenn Gould existe ou, na tese mais trágica, porque não pode ser o Glenn Gould.» A escritora alemã não esquece o título do livro e as relações com o livro «Naufrágio com Espectador», de Hans Blumenberg, que mostra como a metáfora do naufrágio está amarrada à existência, pelo menos desde Tales de Mileto, esse que é considerado o primeiro filósofo. Diz-nos Blumenberg, que a despeito do humano ser um habitante da terra, a metáfora da existência ligada ao mar e à situação de embarcado surge-nos já na Grécia Antiga e torna-se comum na reflexão filosófica ao longo dos séculos. Contudo, a metáfora que ficou mais conhecida na história do ocidente foi a de Lucrécio em «De Rerum Natura / A Natureza das Coisas».

Aqui, Lucrécio traça uma metáfora do naufrágio com espectador, cujos elementos constituintes são o navio, a sua tripulação, o timoneiro e o mar, encontrando-se os navegantes em perigo de vida. A este cenário é acrescentada a figura do espectador que está em terra firme –na praia – e que observa, à distância, a calamidade do naufrágio. Neste sentido, Lucrécio fazia a defesa de um viver em ataraxia, isto é, fazia a apologia de que devíamos viver afastando de nós as afectações, as paixões. Assim, estava bem de ver, que o naufrágio não era a existência, mas um particular modo de a efectivar, que seria o entregar-se aos prazeres desmedidos e às paixões. Não podemos esquecer que Lucrécio era epicurista e defendia que o melhor que se podia alcançar na vida era ser espectador dela. Não devemos esquecer que os epicuristas além de condenarem os excessos condenavam também qualquer actividade política, pública. Devíamos abstermo-nos de participar da vida. A vida foi feita para o espectador. Para aqueles que leram Pitágoras, lembrar-se-ão da poderosa metáfora que usa ao defender a vida contemplativa, ligando isso à filosofia. A fonte é Diógenes Laércio, leia-se: «A vida, dizia Pitágoras, é como um festival; tal como alguns vêm ao festival para competir, outros para fazer o seu negócio, enquanto os melhores vêm como espectadores, assim os homens servis vão à caça de fama ou de lucro, e os filósofos, da verdade.» Fica aqui, para sempre na história ocidental, a ligação estreita entre procura de conhecimento e verdadeira vida. E esta vida é a do espectador. Isto será recuperado por Epicuro, e será o centro do seu pensamento ético. Embora não fosse neste sentido que Lucrécio usasse a metáfora do espectador, ela foi também usada para defender o ponto de vista de Epicuro; a de uma vida longe da acção. Acção que é a do homem que embarca.

Sabine Ulbricht escreve ainda acerca das interpretações de Pascal, de Schopenhauer e de Nietzsche acerca da metáfora do naufrágio, tal como aparece no livro de Blumenberg, para então escrever: «Mas a metáfora da existência em ligação a náufrago, em Bernhard, contrariamente a Nietzsche [para este somos todos náufragos, mas podemos alcançar terra firme tornando-nos naquilo que somos, criando os nossos valores] , não tem terra firme a que se chegue. Não há a possibilidade de transfiguração dos valores, de construir novos valores, porque a existência é assim mesmo e não admite inovações ou transfigurações. Assim, para Bernhard, existir é ser náufrago e sem possibilidade de chegar a terra firme, a não ser talvez com o génio, como é no livro o caso de Glenn Gould, mas que se estende a Horowitz, a Mozart, a Bach, a Schoenberg, a Berg, a Mahler, a Handel… Mas para além ou aquém do génio, toda a existência é a de um náufrago em alto mar. É assim com o narrador e é assim com o Wertheimer, embora de modos distintos. Ambos são náufragos, mas cada um deles vive a situação à sua maneira. O Wertheimer desiste de continuar a nadar, a manter-se à tona da existência, assim que percebe que não há terra firme a que chegar. O narrador embora saiba que não há terra firme a que chegar não desiste de se manter à tona, pois entende que existir é manter-se à tona, sem a ilusão de uma terra firme a que chegar. É o ponto de vista mais aterrador da existência, a de que existimos para nada, a não ser para as migalhas que o dia traz. Assim, mais do que Nietzsche, é a Schopenhauer que Bernhard e o seu livro mais devem. Em a metáfora do naufrágio, Schopenhauer torna o náufrago espectador de si mesmo.»

Adiante no livro, a autora alemã escreve que, «[…] partindo de um ponto de vista estético, Bernhard descreve um profundo drama existencial, o de alguém que nunca esteve bem consigo e com o mundo, que nunca se viu a si mesmo, mas apenas uma projecção que fez de si mesmo. Se isso é suficiente para levar ao suicídio é outra questão. No modo como Bernhard descreve, sim. O náufrago deixa de nadar, por não conseguir ver terra firme a que se possa chegar. O suicídio advém de não se ver futuro. Advém de que a vida é um eterno presente naufragado em alto mar, sem possibilidade de chegar aonde quer que seja, embora este futuro não seja um vínculo temporal com acontecimentos materiais, e sim com uma vontade estética. Não é falta de um futuro concreto, material, mas a perda irremediável – é assim que é sentido – da possibilidade de se viver segundo um sentido estético»

No fundo, segundo Ulbricht, o suicídio acontece por um curto-circuito com o futuro. E nos artistas esse curto-circuito é o rompimento com uma vida para a estética. O existente não deixa apenas de se ver no futuro, de não conseguir imaginar-se adiante, não consegue imaginar a sua vida sem uma vivência plena na estética, que julga ter terminado para sempre, seja por que razão for. Literalmente, a vida acabou, deixa de nadar. «Wertheimer mata-se porque vê que a estética deixa de fazer sentido na sua vida. E, sem isso, não vale a pena viver.» Continuaremos na próxima semana a seguir este livro de Sabine Ulbricht.

29 Set 2020

A origem do impulso para o suicídio

[dropcap]J[/dropcap]ane Mcgrade, escritora irlandesa nascida em Dublin em 1921 e falecida em 1962 por afogamento ao largo da ilha de Lesbos, escreveu um fascinante livro chamado «Desde Que Morrem Os Homens», publicado em 1957. Não é um romance nem um ensaio, antes pelo contrário. Trata-se de um texto apátrida, de difícil categorização, onde se procura a origem da morte do humano e o seu impulso para o suicídio. O livro não conta uma história, mas as suas investigações também não têm fundamentação científica, apenas literária. O livro começa assim: «Vários são os textos antigos que nos relatam um tempo em que ainda não se morria. Um tempo em que não havia humanidade. Pois quer se trate de Adão e Eva, quer se trate dos Titãs, não podemos encontrar aí as nossas origens, ainda que os textos antigos assim o reclamem.

Mas pode aquele que não morre passar a morrer? Pode um imortal passar a mortal? Nós somos aqueles que caíram? Somos realmente os filhos de um erro?» Percebemos de imediato que vamos entrar num mundo estranho. Perguntar pela origem do humano, não através da ciência ou da religião, mas através da literatura, isto é, pelo relato, pelos textos escritos. Para Jane Mcgrade esses textos não são de somenos importância.

Escreve à página 17: «Porque escrevemos desde o início dos tempos que a origem da vida humana reside num erro? A vida humana começa com uma expulsão. Depois da expulsão, a existência. Dito assim, parece uma metáfora do próprio nascimento. Será que é disso e só disso que se trata, de uma metáfora do momento em que nos desligamos das entranhas da mãe e caímos no mundo? Ou há algo de real, neste ver e relatar a existência como uma expulsão? A saber, trata-se realmente do relato do que aconteceu, seja lá quem nos expulsou, de onde ou porquê? E estes relatos não terão produzido afectos que se tornaram reais, tão reais como as palavras que influenciaram o mundo?» O que está em causa para a escritora é a ligação dos textos, dos relatos, à origem da existência. Escreve à página 76: «Ainda que não existam factos que se relacionem directamente com os textos, de algum modo os textos têm de se relacionar com a origem da nossa existência, isto é, com a origem da nossa morte, de começarmos a morrer. Há um momento em que começamos a morrer e os textos dão-nos conta disso. Passou a ser verdade ou passámos a ter consciência disso?» Esta distinção é fundamental para Mcgrade. «Desde Que Morrem Os Homens» procura saber de onde vem a ideia de um tempo antes da morte. Ideia essa que se liga a uma outra: a de a existência ser uma culpa, uma expiação, um erro. «Fizemos mal, ou o mal, e passámos a existir.» (p. 45) A existência como a invenção do mal é uma ideia que inaugura a própria escrita. Os primeiros textos estão marcados com esta distinção entre um antes, a que já não podemos voltar, e um agora que será para sempre o arrastar de um erro cometido no passado. E mesmo que não tenha sido verdade – alguma vez o poderemos saber? –, as palavras passaram a ser vividas como se tudo tivesse sido verdade, fazendo com que isso passasse a fazer parte da própria existência.

É na segunda parte do livro que a questão do suicídio começa a aparecer como horizonte do questionamento. À página 113 de «Desde Que Morrem Os Homens», escreve: «Não é certo que o impulso para o suicídio que algumas pessoas têm não advenha de uma estranha ligação com a nossa origem. Essas pessoas estão mais expostas à culpa, ao erro que sentem que são do que as outras. De algum modo, estas pessoas são mais antigas. Um dia ainda teremos instrumentos que nos permitam investigar estes sentimentos, que nos trarão à tona o mistério da nossa origem. Então veremos que a existência e o suicídio estão intimamente interligados na sua essência.» Jane Mcgrade, ela mesma atraída ao longo da vida pela ideia de suicídio – há quem defenda que o seu afogamento foi suicídio –, entendia este misterioso impulso como um inapelável fazer-se sentir do tempo original da culpa de expulsão. Embora também apareça escrito quase no final do livro, página 177: «Talvez o impulso para o suicídio seja no fundo a crença de que só assim poderemos voltar ao paraíso. A crença de que há que recusar a existência com as próprias mãos de modo a poder ganhar o que ela nos fez perder.» Podemos dizer, sem fugir à verdade, que a pergunta pela origem da existência é também a pergunta pelo impulso para o suicídio. Para Jane Mcgrade, não é possível perguntar pelo primeiro tema sem ficar obcecado pelo segundo.

A escritora irlandesa deixou-nos um livro estranho, por onde quer que se leia, e que tem tido ao longo do tempo muito poucos leitores. Talvez o século XXI venha a operar uma mudança nesta tendência.

30 Jun 2020

Saúde | Coutinho quer medidas de combate ao suicídio

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho quer saber as medidas que o Governo está adoptar para combater o suicídio. É este o conteúdo da última interpelação escrita divulgada pelo legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau. Segundo os dados apresentados pelo legislador, só entre Janeiro e Setembro do ano passado houve 49 mortes e 95 tentativas, o que exige uma resposta das autoridades.
“Quantos casos de suicídio são necessários para que o Governo da RAEM dê mais importância ao problema?”, pergunta. “Macau regressou à pátria há 20 anos, mas a taxa de suicídio não diminuiu significativamente, e a taxa de tentativas de suicídio também é muito alta, por isso, o Governo tem uma responsabilidade indeclinável em relação a este assunto. […] Deve encarar mais seriamente este problema, em vez de menosprezar vidas humanas”, é acrescentado.

10 Jan 2020

Saúde | Coutinho quer medidas de combate ao suicídio

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho quer saber as medidas que o Governo está adoptar para combater o suicídio. É este o conteúdo da última interpelação escrita divulgada pelo legislador ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau. Segundo os dados apresentados pelo legislador, só entre Janeiro e Setembro do ano passado houve 49 mortes e 95 tentativas, o que exige uma resposta das autoridades.

“Quantos casos de suicídio são necessários para que o Governo da RAEM dê mais importância ao problema?”, pergunta. “Macau regressou à pátria há 20 anos, mas a taxa de suicídio não diminuiu significativamente, e a taxa de tentativas de suicídio também é muito alta, por isso, o Governo tem uma responsabilidade indeclinável em relação a este assunto. […] Deve encarar mais seriamente este problema, em vez de menosprezar vidas humanas”, é acrescentado.

10 Jan 2020

China | Inteligência Artificial ajuda a prevenir 700 suicídios em ano e meio

Um programa desenvolvido por um académico chinês ajudou a salvar a vida a 700 pessoas que contemplaram a hipótese de suicídio. Através da análise de publicações no Weibo, o software conecta grupos de voluntários a pessoas que podem estar à beira da morte

 
[dropcap]N[/dropcap]ão consigo continuar assim. Vou desistir.” Estas palavras de Li Fan, um estudante de 21 anos, escritas no Weibo, lançaram um alerta entre dois continentes que acabaria por salvar a vida ao jovem.
Pouco depois da publicação, Li Fan perdeu a consciência. Mas a ajuda estava a caminho, quase instantaneamente. O estudante viu-se entre a espada e a parede, com dívidas acumuladas, a meio de uma desavença com a mãe e a sofrer de depressão profunda.
Porém, a cerca de 8 mil quilómetros de distância da Universidade de Nanjing, onde Li se encontrava, a publicação era analisada por um software instalado num computador situado em Amesterdão. As palavras sinalizadas meteram em acção uma equipa de voluntários em várias zonas da China. Como não conseguiram, à distância, chegar à fala com o estudante, alertaram as autoridades que acabariam por salvar a vida a Li Fan.
A história de sucesso do estudante da Universidade de Nanjing teve como protagonistas uma equipa de salvamento constituída por voluntários (Tree Hole Rescue Team) e Huang Zhisheng, um académico especialista em Inteligência Artificial da Free Universidade de Amesterdão.
Huang desenvolveu o software que em 18 meses ajudou a salvar quase 700 pessoas na China, com o apoio de 600 voluntários.
“Se hesitarmos por um segundo, podemos perder muitas vidas. Todas as semanas salvamos cerca de 10 pessoas”, comentou Huang Zhisheng, citado pela BBC News.

Primeiro episódio

No dia 29 de Abril de 2018, aconteceu a primeira operação de salvamento. Tao Yue, estudante universitária com 22 anos de idade e natural da província nortenha de Shandong escreveu no Weibo que estava a pensar cometer suicídio dois dias depois. Uma equipa de voluntários da Academia Chinesa de Ciências reagiu ao alerta dado pelo software. Peng Ling estava entre os que procuraram contactar Tao Yue. Em declarações à BBC News, Peng recorda que encontraram o número de telefone através de um amigo da estudante, e contactaram a universidade. “Enviei-lhe uma mensagem antes de ir dormir a dizer que podia encontrar-me com ela. Ela adicionou-me no WeChat e, gradualmente, foi acalmando”, revela a voluntária.
O contacto manter-se-ia, depois da primeira abordagem. “Desde então, tenho falado sempre com ela, pergunto-lhe se tem comido. Uma vez por semana, encomendamos através da internet flores para ela”, conta Peng.
Depois deste primeiro caso de sucesso, a equipa salvou um homem que tentou saltar de uma ponte e uma mulher que estava à beira do suicídio depois de ter sido abusada sexualmente.
“Para conseguir salvar alguém é preciso sorte e experiência”, refere Li Hong, uma psicóloga baseada em Pequim envolvida no projecto há cerca de um ano. Um dos episódios marcantes para a terapeuta aconteceu em Chengdu, quando acompanhada por uma equipa de salvamento correram oito hotéis em busca de uma mulher em apuros e que tinha reservado um quarto de hotel na histórica cidade da província de Sichuan.
“Todos os recepcionistas disseram que não conheciam a mulher em causa. Mas um deles hesitou por um momento e presumimos que esse deveria ser o hotel onde estava hospedada”, revelou a psicóloga.

Como funciona

Um programa que corre na linguagem de Java monitoriza vários “tree holes”, buracos na árvore, no Weibo e analisa publicações na popular rede social. “Buraco na árvore” é uma expressão chinesa que designa um sítio na internet onde são publicados posts secretos para serem lidos por outras pessoas. A expressão vem de um conto irlandês sobre um homem que faz todas as suas confidências para dentro do tronco de uma árvore.
Um exemplo disso foi a publicação que Zou Fan, uma estudante de 23 anos, escreveu no Weibo em 2012 antes de cometer suicídio. Depois da sua morte, dezenas de milhar de outros internautas comentaram a publicação, principalmente partilhando também os seus problemas. A publicação original tornou-se ela própria num “buraco na árvore”.
Uma vez identificada uma publicação pelo software, o programa analisa o conteúdo segundo um ranking de perigosidade que vai de 1 a 10. Uma mensagem pontuada com 9 significa que a tentativa de suicídio poderá estar para breve, enquanto o sinal 10 sinaliza que a tentativa já poderá estar em curso. Na eventualidade de sinais mais severos de perigosidade, a equipa de voluntários contacta directamente a polícia, ou amigos e familiares da pessoa em causa.
Quando a publicação é sinalizada com 6, ou menos que 6, que corresponde apenas a palavras negativas, normalmente os voluntários não intervêm.
Um dos problemas com que a equipa de voluntários se depara frequentemente, entre familiares mais velhos da pessoa que precisa de ajuda, é a ideia de que a depressão não é um problema grave.
O programa detectou uma publicação reveladora de um caso que retrata a falta de sensibilização para os problemas psicológicos. O post em questão era de uma mulher e dizia: “Vou matar-me no Ano Novo”. A mensagem levou a equipa de voluntários a contactar a mãe da internauta, que respondeu com desdém. “A minha filha está muito feliz. Como se atrevem a dizer que ela está a planear matar-se?”, questionou indignada a mãe. Mesmo depois da equipa de voluntários ter mostrado as provas da depressão de que a filha sofria, a mãe não levou as mensagens a sério. Só depois da polícia ter conseguido evitar que a jovem se atirasse do topo de um edifício é que mudou de ideias.

Caminho longo

Apesar dos casos em que o programa deu bons resultados, Huang reconhece as limitações do projecto. “Uma vez que o Weibo limita o uso da plataforma para impedir bots e rastreadores de web, só conseguimos analisar cerca de 3.000 publicações por dia”, acrescentou o académico que desenvolver o software. “A única coisa que podemos fazer é focar-nos nos casos mais urgentes na esperança de salvarmos, em média, entre uma a duas pessoas por dia”, adianta o académico.
O trabalho não termina depois do salvamento. Aliás, é aí que começa o caminho para a recuperação, o que requer um compromisso a longo prazo. Nesse aspecto, a psicóloga que faz parte da equipa de voluntários revela que, de momento, acompanha oito pessoas salvas. “A maior parte do meu tempo é ocupado pelas pessoas que salvamos. Por vezes é muito cansativo”, conta Li. “Assim que me mandam uma mensagem, preciso responder imediatamente”, acrescenta.
Além da ajuda online, há casos que requerem acompanhamento presencial, até porque as ideias suicidas podem voltar.
Peng Ling, uma das voluntárias ouvidas pela BBC News deu como exemplo uma jovem que “apesar de parecer cada vez melhor”, depois do salvamento, acabou por cometer suicídio. “Ela até me disse que iria fazer uns retratos na sexta-feira”, conta a voluntária. Dias depois a mulher foi encontrada morta. “Foi um grande choque para nós, ver que uma pessoa com quem falamos há algum tempo de repente já não está ali.”

Visão global

A Organização Mundial de Saúde (OMS) deu conta, no passado mês de Setembro, que todos os anos cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio, um número alarmante se pensarmos que isso corresponde a uma morte a cada 40 segundos.
No relatório publicado um dia antes do Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, a OMS explica que entre 2010 e 2016, a taxa global caiu 9,8 por cento, com quedas que vão de 19,6 por cento na região do Pacífico Ocidental a 4,2 por cento no Sudeste Asiático. A região das Américas, onde o acesso a armas de fogo é um significativo meio de suicídio, segundo a OMS, é a única que registou aumento (6 por cento).
O relatório aponta ainda para a probabilidade de um homem cometer suicídio ser quase o dobro de uma mulher, 13,7 por 100.000 entre homens e 7,5 por 100.000 entre mulheres. Os únicos países nos quais a taxa de suicídio entre mulheres é maior que a dos homens são Bangladesh, China, Lesoto, Marrocos e Myanmar.
No geral, pouco mais da metade de todas as pessoas que cometem suicídio têm menos de 45 anos. O suicídio é a segunda principal causa de morte na faixa etária entre os 15 e 24 anos, depois dos acidentes de viação. Os principais meios para o suicídio são enforcamento, envenenamento com pesticidas e uso de armas de fogo.
 
Com agências 

11 Nov 2019

China | Inteligência Artificial ajuda a prevenir 700 suicídios em ano e meio

Um programa desenvolvido por um académico chinês ajudou a salvar a vida a 700 pessoas que contemplaram a hipótese de suicídio. Através da análise de publicações no Weibo, o software conecta grupos de voluntários a pessoas que podem estar à beira da morte

 

[dropcap]N[/dropcap]ão consigo continuar assim. Vou desistir.” Estas palavras de Li Fan, um estudante de 21 anos, escritas no Weibo, lançaram um alerta entre dois continentes que acabaria por salvar a vida ao jovem.

Pouco depois da publicação, Li Fan perdeu a consciência. Mas a ajuda estava a caminho, quase instantaneamente. O estudante viu-se entre a espada e a parede, com dívidas acumuladas, a meio de uma desavença com a mãe e a sofrer de depressão profunda.

Porém, a cerca de 8 mil quilómetros de distância da Universidade de Nanjing, onde Li se encontrava, a publicação era analisada por um software instalado num computador situado em Amesterdão. As palavras sinalizadas meteram em acção uma equipa de voluntários em várias zonas da China. Como não conseguiram, à distância, chegar à fala com o estudante, alertaram as autoridades que acabariam por salvar a vida a Li Fan.

A história de sucesso do estudante da Universidade de Nanjing teve como protagonistas uma equipa de salvamento constituída por voluntários (Tree Hole Rescue Team) e Huang Zhisheng, um académico especialista em Inteligência Artificial da Free Universidade de Amesterdão.
Huang desenvolveu o software que em 18 meses ajudou a salvar quase 700 pessoas na China, com o apoio de 600 voluntários.

“Se hesitarmos por um segundo, podemos perder muitas vidas. Todas as semanas salvamos cerca de 10 pessoas”, comentou Huang Zhisheng, citado pela BBC News.

Primeiro episódio

No dia 29 de Abril de 2018, aconteceu a primeira operação de salvamento. Tao Yue, estudante universitária com 22 anos de idade e natural da província nortenha de Shandong escreveu no Weibo que estava a pensar cometer suicídio dois dias depois. Uma equipa de voluntários da Academia Chinesa de Ciências reagiu ao alerta dado pelo software. Peng Ling estava entre os que procuraram contactar Tao Yue. Em declarações à BBC News, Peng recorda que encontraram o número de telefone através de um amigo da estudante, e contactaram a universidade. “Enviei-lhe uma mensagem antes de ir dormir a dizer que podia encontrar-me com ela. Ela adicionou-me no WeChat e, gradualmente, foi acalmando”, revela a voluntária.

O contacto manter-se-ia, depois da primeira abordagem. “Desde então, tenho falado sempre com ela, pergunto-lhe se tem comido. Uma vez por semana, encomendamos através da internet flores para ela”, conta Peng.

Depois deste primeiro caso de sucesso, a equipa salvou um homem que tentou saltar de uma ponte e uma mulher que estava à beira do suicídio depois de ter sido abusada sexualmente.
“Para conseguir salvar alguém é preciso sorte e experiência”, refere Li Hong, uma psicóloga baseada em Pequim envolvida no projecto há cerca de um ano. Um dos episódios marcantes para a terapeuta aconteceu em Chengdu, quando acompanhada por uma equipa de salvamento correram oito hotéis em busca de uma mulher em apuros e que tinha reservado um quarto de hotel na histórica cidade da província de Sichuan.

“Todos os recepcionistas disseram que não conheciam a mulher em causa. Mas um deles hesitou por um momento e presumimos que esse deveria ser o hotel onde estava hospedada”, revelou a psicóloga.

Como funciona

Um programa que corre na linguagem de Java monitoriza vários “tree holes”, buracos na árvore, no Weibo e analisa publicações na popular rede social. “Buraco na árvore” é uma expressão chinesa que designa um sítio na internet onde são publicados posts secretos para serem lidos por outras pessoas. A expressão vem de um conto irlandês sobre um homem que faz todas as suas confidências para dentro do tronco de uma árvore.

Um exemplo disso foi a publicação que Zou Fan, uma estudante de 23 anos, escreveu no Weibo em 2012 antes de cometer suicídio. Depois da sua morte, dezenas de milhar de outros internautas comentaram a publicação, principalmente partilhando também os seus problemas. A publicação original tornou-se ela própria num “buraco na árvore”.

Uma vez identificada uma publicação pelo software, o programa analisa o conteúdo segundo um ranking de perigosidade que vai de 1 a 10. Uma mensagem pontuada com 9 significa que a tentativa de suicídio poderá estar para breve, enquanto o sinal 10 sinaliza que a tentativa já poderá estar em curso. Na eventualidade de sinais mais severos de perigosidade, a equipa de voluntários contacta directamente a polícia, ou amigos e familiares da pessoa em causa.

Quando a publicação é sinalizada com 6, ou menos que 6, que corresponde apenas a palavras negativas, normalmente os voluntários não intervêm.

Um dos problemas com que a equipa de voluntários se depara frequentemente, entre familiares mais velhos da pessoa que precisa de ajuda, é a ideia de que a depressão não é um problema grave.

O programa detectou uma publicação reveladora de um caso que retrata a falta de sensibilização para os problemas psicológicos. O post em questão era de uma mulher e dizia: “Vou matar-me no Ano Novo”. A mensagem levou a equipa de voluntários a contactar a mãe da internauta, que respondeu com desdém. “A minha filha está muito feliz. Como se atrevem a dizer que ela está a planear matar-se?”, questionou indignada a mãe. Mesmo depois da equipa de voluntários ter mostrado as provas da depressão de que a filha sofria, a mãe não levou as mensagens a sério. Só depois da polícia ter conseguido evitar que a jovem se atirasse do topo de um edifício é que mudou de ideias.

Caminho longo

Apesar dos casos em que o programa deu bons resultados, Huang reconhece as limitações do projecto. “Uma vez que o Weibo limita o uso da plataforma para impedir bots e rastreadores de web, só conseguimos analisar cerca de 3.000 publicações por dia”, acrescentou o académico que desenvolver o software. “A única coisa que podemos fazer é focar-nos nos casos mais urgentes na esperança de salvarmos, em média, entre uma a duas pessoas por dia”, adianta o académico.

O trabalho não termina depois do salvamento. Aliás, é aí que começa o caminho para a recuperação, o que requer um compromisso a longo prazo. Nesse aspecto, a psicóloga que faz parte da equipa de voluntários revela que, de momento, acompanha oito pessoas salvas. “A maior parte do meu tempo é ocupado pelas pessoas que salvamos. Por vezes é muito cansativo”, conta Li. “Assim que me mandam uma mensagem, preciso responder imediatamente”, acrescenta.
Além da ajuda online, há casos que requerem acompanhamento presencial, até porque as ideias suicidas podem voltar.

Peng Ling, uma das voluntárias ouvidas pela BBC News deu como exemplo uma jovem que “apesar de parecer cada vez melhor”, depois do salvamento, acabou por cometer suicídio. “Ela até me disse que iria fazer uns retratos na sexta-feira”, conta a voluntária. Dias depois a mulher foi encontrada morta. “Foi um grande choque para nós, ver que uma pessoa com quem falamos há algum tempo de repente já não está ali.”

Visão global

A Organização Mundial de Saúde (OMS) deu conta, no passado mês de Setembro, que todos os anos cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio, um número alarmante se pensarmos que isso corresponde a uma morte a cada 40 segundos.

No relatório publicado um dia antes do Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, a OMS explica que entre 2010 e 2016, a taxa global caiu 9,8 por cento, com quedas que vão de 19,6 por cento na região do Pacífico Ocidental a 4,2 por cento no Sudeste Asiático. A região das Américas, onde o acesso a armas de fogo é um significativo meio de suicídio, segundo a OMS, é a única que registou aumento (6 por cento).

O relatório aponta ainda para a probabilidade de um homem cometer suicídio ser quase o dobro de uma mulher, 13,7 por 100.000 entre homens e 7,5 por 100.000 entre mulheres. Os únicos países nos quais a taxa de suicídio entre mulheres é maior que a dos homens são Bangladesh, China, Lesoto, Marrocos e Myanmar.

No geral, pouco mais da metade de todas as pessoas que cometem suicídio têm menos de 45 anos. O suicídio é a segunda principal causa de morte na faixa etária entre os 15 e 24 anos, depois dos acidentes de viação. Os principais meios para o suicídio são enforcamento, envenenamento com pesticidas e uso de armas de fogo.

 

Com agências 

11 Nov 2019

Polícia | Subchefe aposentado suspeito de suicídio

[dropcap]U[/dropcap]m subchefe do Corpo de Polícia de Segurança Pública foi encontrado morto, em casa, num apartamento perto do Parque Central da Taipa, com a pistola de autodefesa ao lado.

O corpo apresentava ferimentos de bala, ao lado da orelha, e foi encontrado pela filha, na noite de sábado, às 9h35. De acordo com a investigação da CPSP, havia uma nota de suicídio, estando o caso a ser tratado como tal, aponta um comunicado da Policia Judiciária.

O comandante do CPSP, Leong Man Cheong, afirmou ontem que em Macau existem 2 mil licenças de uso e porte de arma de defesa emitidas, e que aquela instituição revê a cada ano as licenças em vigor. Entretanto, o regulamento sobre a atribuição de licenças encontra-se também a ser revisto pelos organismos competentes.

3 Jun 2019

O fim da vida

“I will respect the privacy of my patients, for their problems are not disclosed to me that the world may know. Most especially must I tread with care in matters of life and death. If it is given me to save a life, all thanks. But it may also be within my power to take a life; this awesome responsibility must be faced with great humbleness and awareness of my own frailty. Above all, I must not play at God.”
Hippocratic Oath-Modern Version

 

[dropcap]A[/dropcap] população mundial está a envelhecer e a capacidade de manter as pessoas desesperadamente doentes é cada vez maior. É um dever ajudar as pessoas que querem pôr termo à vida? Em caso afirmativo, deveriam ser apenas os pacientes terminais ou incluir aqueles que sofrem de doenças psiquiátricas, como no mediático caso de Aurelia Brouwers, a holandesa de vinte e nove anos que se encontrava tão infeliz que descreveu o seu sofrimento mental como “insuportável” e bebeu veneno fornecido por um médico, e se deitou para morrer, em 26 de Janeiro de 2018. A eutanásia e o suicídio assistido por médico são legais na Holanda, e daí que a sua morte foi sancionada pelo Estado. A paciente não era uma doente em fase terminal, mas foi autorizada a acabar com a vida devido à sua doença psiquiátrica, bebendo legalmente veneno letal.

O Parlamento holandês considerou que se devia criar uma lei que permitisse aos médicos ajudar os pacientes a morrer em determinadas circunstâncias. A sua história é exclusivamente holandesa.

A eutanásia é contrária à lei na maioria dos países, mas na Holanda é permitida, se um médico concordar, o sofrimento de um paciente for insuportável sem perspectiva de recuperação e se não houver alternativa razoável para a sua situação. Tais critérios podem ser mais simples de aplicar no caso de alguém com um diagnóstico terminal de cancro intratável e que sente muitas dores.

A grande maioria das cerca de seis mil e seiscentas mortes por eutanásia na Holanda em 2017 são referentes a casos de pessoas com uma doença física, mas oitenta e três foram ajudadas a morrer por motivos de alto sofrimento psiquiátrico e cujas condições não eram necessariamente terminais. Os médicos de Aurelia não apoiaram os seus pedidos de eutanásia o que a levou a inscrever-se numa “Clínica de Fim de Vida”, em Haia que é o local de último recurso para aqueles cujas candidaturas foram rejeitadas pelo seu psiquiatra ou médico de família.

A clínica supervisionou sessenta e cinco das oitenta e três mortes aprovadas na Holanda por motivos psiquiátricos, embora apenas cerca de 10 por cento dos pedidos psiquiátricos são aprovados, e o processo pode levar anos. A “Clínica de Fim de Vida”, só oferece eutanásia ou suicídio assistido a pessoas cujo pedido de morte assistida foi negado pela primeira vez pelo seu médico. A clínica não é um hospital ou um hospício, mas uma fundação com equipas de médicos e enfermeiros que trabalham separadamente e visitam os pacientes em casa. A clínica primeiro analisa o pedido, para determinar se cumpre os estritos critérios da lei holandesa de eutanásia e em caso afirmativo, uma das equipas conversa com o paciente por diversas vezes para investigar por completo o pedido.

O historial clínico é pesquisado e os médicos envolvidos na situação são consultados. Se todos os critérios forem observados, o paciente pode morrer em casa, na presença de familiares e amigos.

A cínica foi fundada em 2012, com base na lei da eutanásia e o direito holandês de morrer na sociedade. Ainda que qualquer paciente possa pedir à clínica a morte assistida, tem como objectivo principal os pacientes cujos pedidos de morte assistida são mais complexos e muitas vezes negados pelos seus médicos, ou seja, pacientes psiquiátricos, pessoas com demência ou que sofrem com doenças não fatais.

A lei holandesa da eutanásia determina que apenas os pacientes que têm um sofrimento insuportável, sem perspectiva de melhoria, podem ser elegíveis para a eutanásia. A lei não contempla a distinção entre sofrimento físico ou psicológico. Os pacientes devem ser persistentes na decisão de solicitar a morte assistida e devem entender as consequências do seu pedido. O médico deve estar convencido de que não existe outra solução razoável para pôr termo ao sofrimento. Mas a lucidez significa que alguém tem a capacidade mental de escolher a morte em detrimento da vida? De acordo com a lei holandesa, um médico deve encontrar-se seguro do pedido de eutanásia do paciente, “voluntário e bem examinado”. Será que um doente psiquiátrico é idóneo para tomar a decisão? O desejo de morte poderá ser um sintoma da sua doença psiquiátrica?

O facto de que se pode racionalizar sobre essa situação não significa que não seja um sinal da doença. Os psiquiatras devem tudo fazer para ajudar os pacientes a diminuir os sintomas da sua patologia e em transtornos de personalidade, um desejo de morte não é incomum. Se isso é consistente, e tiveram os seus tratamentos de transtorno de personalidade, significa que o desejo de morte é o mesmo que em um paciente com cancro que diz que não quer ir até à fase terminal?

Os psiquiatras nunca devem conspirar com os pacientes que alegam que querem morrer, pois é possível não ser contaminado pela falta de esperança.

Os pacientes perdem a esperança, mas os médicos podem ficar do seu lado e dar-lhes esperança.

A morte da holandesa tem provocado um enorme debate a nível mundial e particularmente nos Países Baixos, pois ninguém sugeriu que era ilegal, embora os críticos tenham inquirido se era o tipo de caso para o qual a legislação permitia a eutanásia. As opiniões dividem-se sobre se havia uma alternativa aceitável, sendo que alguns argumentam de quando as pessoas solicitam a eutanásia por motivos psiquiátricos, em alguns casos suicidam-se, se não a recebem e que devem ser consideradas com doenças terminais.

Alguns médicos afirmam que sabiam que os pacientes iriam cometer suicídio e não os podiam ajudar, pelo que a eutanásia como alternativa os deixava mais tranquilos por que existe uma lei que a permite e os que cometerão suicídio são terminais e não os querem abandonar pelo facto de não poderem continuar a viver nessa situação. Há outros médicos que discordam, pois sempre trabalharam com pacientes suicidas e nenhum foi terminal, que tiveram pacientes que cometeram suicídio, mas na verdade não eram casos para prever tal desfecho. O desconforto em torno da eutanásia para pacientes psiquiátricos tem a ver com a preocupação de que todas as opções podem não ter sido exploradas. Na clínica holandesa mais de metade daqueles que vão à procura da eutanásia por motivos psiquiátricos são rejeitados porque não tentaram todos os tratamentos disponíveis.

A eutanásia e o suicídio assistido por médico referem-se a acções deliberadas tomadas com a intenção de terminar uma vida, a fim de aliviar o sofrimento persistente. Na maioria dos países, a eutanásia é contrária à lei e pode ser decretada uma sentença de prisão, sendo que nos Estados Unidos a lei varia entre os Estados. As definições de eutanásia e suicídio assistido variam. A distinção útil é de que a eutanásia é a acção que permite a um médico, por lei, acabar com a vida de uma pessoa por meios indolores, desde que o paciente e a sua família concordem, enquanto o suicídio assistido é a acção pela qual um médico ajuda um paciente a cometer suicídio se solicitar.

A eutanásia também pode ser classificada como voluntária ou involuntária. É voluntária quando é conduzida com consentimento.

A eutanásia voluntária é actualmente legal na Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça e nos Estados de Oregon e Washington nos Estados Unidos. É não voluntário quando é conduzida em uma pessoa que é incapaz de consentir devido às suas condições de saúde e neste cenário, a decisão é tomada por outra pessoa, em nome do paciente, com base na sua qualidade de vida e sofrimento.

É involuntária quando é realizada em uma pessoa que seria capaz de dar consentimento mas não porque deseje a morte ou porque não a solicitou, e é considerado como homicídio, pois muitas das vezes é contra a vontade dos pacientes.

A eutanásia tem sido um tema controverso e emotivo. Existem duas classificações processuais de eutanásia, a passiva quando os tratamentos que sustentam a vida são retidos. As definições não são precisas. Se um médico prescreve doses crescentes de medicamentos analgésicos fortes, como opióides, pode eventualmente ser tóxico para o paciente e alguns argumentam que se trata de eutanásia passiva e outros, no entanto, dizem que não é eutanásia, porque não há intenção de tirar a vida. A eutanásia activa é quando alguém usa substâncias ou forças letais para acabar com a vida de um paciente, seja pelo próprio ou por outra pessoa.

A eutanásia activa é a mais controversa, e envolve argumentos religiosos, morais, éticos e compassivos. O suicídio assistido tem várias interpretações e definições diferentes sendo um o que é de forma intencional ajudando uma pessoa a cometer suicídio, fornecendo medicamentos para auto-administração, a pedido voluntário e idóneo da pessoa. Algumas definições incluem as palavras “para aliviar o sofrimento intratável (persistente, imparável) ”. A maioria dos hospitais têm unidades de cuidados paliativos e qual o seu papel? A dor é o sinal mais visível de angústia pelo sofrimento persistente, e as pessoas com cancro e outras situações crónicas que ameaçam a vida muitas vezes recebem cuidados paliativos.

Os opióides são comummente usados ​​para controlar a dor e outros sintomas. Os efeitos adversos dos opióides incluem sonolência, náusea, vómito e constipação, podendo criar dependência e uma “overdose” pode ser fatal. É de considerar que em muitos países, incluindo os Estados Unidos, um paciente pode recusar o tratamento recomendado por um profissional de saúde, desde que tenha sido devidamente informado e se encontre com capacidade para decidir. O “Juramento de Hipócrates” é um argumento contra a eutanásia ou suicídio assistido por médico que remonta a cerca de dois mil e quinhentos anos.

O juramento original incluía, as seguintes palavras: “Eu não darei uma droga mortal a quem pediu, nem farei uma sugestão nesse sentido.” O mundo mudou desde a época de Hipócrates, e muitos acham que o juramento original está desactualizado. A versão actualizada é usada em alguns países, enquanto em outros, por exemplo, no Paquistão, os médicos ainda aderem ao original. À medida que mais tratamentos se tornam disponíveis, a possibilidade de prolongar a vida, seja qual for a sua qualidade, é uma questão cada vez mais complexa. A eutanásia tem sido um tema de debate desde o início do século XIX. A primeira lei anti-eutanásia nos Estados Unidos foi aprovada no Estado de Nova Iorque, em 1828 e com o tempo, outros Estados seguiram o exemplo.

O oncologista e bioeticista americano Ezekiel Jonathan Emanuel, no século passado, afirmou que a era moderna da eutanásia foi introduzida pela disponibilidade de anestesia. Em 1938, uma sociedade de eutanásia foi estabelecida nos Estados Unidos para pressionar pela legalização do suicídio assistido. O suicídio assistido por médicos tornou-se legal na Suíça em 1937, desde que o médico que termine com a vida do paciente nada tenha a lucrar. Durante a década de 1960, a defesa da abordagem do direito à morte por eutanásia cresceu. A Holanda descriminalizou o suicídio assistido por médico, reduzindo algumas restrições em 2002 e no mesmo ano o suicídio assistido por médico foi aprovado na Bélgica.

É de atender que nos Estados Unidos, os comités formais de ética existem em hospitais, casas de repouso e clínicas, e as directrizes de saúde antecipadas, ou testamentos em vida, são comuns em todo o mundo. Estes tornaram-se legais na Califórnia em 1977, com outros Estados a seguir o exemplo. No testamento vital, a pessoa declara os seus desejos por cuidados médicos, caso se tornem incapazes de tomar a sua própria decisão. Em 1990, o Supremo Tribunal Federal aprovou o uso de eutanásia não activa. Em 1994, os eleitores do Oregon aprovaram a “Lei da Morte com Dignidade”, permitindo que os médicos auxiliassem os pacientes terminais que não esperavam ter mais de seis meses de vida. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos adoptou essas leis em 1997 e o Texas tornou a eutanásia não-activa legal em 1999.

O célebre caso de Theresa Schiavo galvanizou a opinião pública na Florida, dado ter sofrido uma paragem cardíaca em 1990, passando quinze anos em estado vegetativo antes que o pedido do seu marido para permitir que terminasse com a vida fosse concedido. O caso envolveu várias decisões, apelações, moções, petições e audiências judiciais durante vários anos, antes da decisão de desligar o suporte vital ocorresse em 18 de Março de 2005. A Legislatura da Florida, o Congresso dos Estados Unidos e o presidente Bush desempenharam um importante papel e em 2008, 58 por cento dos eleitores do Estado de Washington escolheram a “Lei da Morte com Dignidade”, que se tornou lei em 2009.

Vários argumentos são comummente citados a favor e contra a eutanásia e o suicídio assistido por médicos. Os argumentos a favor têm como base a liberdade de escolha, em que os defensores argumentam que o paciente deve ser capaz de fazer a sua própria escolha; a qualidade de vida, pois só o paciente sabe realmente como se sente e como é a dor física e emocional da doença e como a morte prolongada afecta a sua qualidade de vida; a dignidade, dado que todo o indivíduo deve poder morrer com dignidade; as testemunhas, pois os que testemunham a morte lenta de outros acreditam que a morte assistida deve ser permitida; os recursos, dado fazer mais sentido canalizar os recursos de pessoal altamente qualificado, equipamentos, leitos hospitalares e medicamentos para tratamentos que salvam vidas e para os que desejam viver, ao invés dos que não desejam; o humano, permitindo que uma pessoa com sofrimento intratável possa escolher acabar com esse padecimento, pois pode ajudar a encurtar o sofrimento dos entes queridos.

Tais actos são praticados quando um animal de estimação tem sofrimento intratável, e é visto como um acto de bondade. Porque essa nobreza deve ser negada aos humanos? Os argumentos contra têm por base o papel do médico, pois os profissionais de saúde podem não estar dispostos a comprometerem a sua profissão, especialmente à luz do “Juramento de Hipócrates”; os argumentos morais e religiosos, pois várias religiões vêem a eutanásia como uma forma de homicídio e moralmente inaceitável. O suicídio também é “ilegal” em algumas religiões e moralmente, há o argumento de que a eutanásia enfraquecerá o respeito da sociedade pela santidade da vida; a capacidade do paciente, pois a eutanásia só é voluntária se o paciente for mentalmente capaz, com uma compreensão lúcida das opções e consequências disponíveis e a capacidade de expressar esse entendimento e o seu desejo de terminar com a sua própria vida.

Determinar ou definir tal capacidade não é simples

É ainda de considerar argumentos contra a culpa, pois os pacientes podem sentir que são um fardo para a sociedade e são psicologicamente pressionados a consentir. Os pacientes podem sentir que o fardo financeiro, emocional e mental para a sua família é demasiado grande e mesmo que os custos do tratamento sejam fornecidos pelo Estado, existe o risco de que o pessoal do hospital possa ter um incentivo económico para encorajar o consentimento à eutanásia; a doença mental, pois uma pessoa com depressão é mais propensa a pedir o suicídio assistido, o que pode complicar a decisão; a escalada escorregadia, pois existe o risco de que o suicídio assistido por um médico comece com os pacientes que estão em estado terminal e desejem morrer por causa do sofrimento intratável, mas depois comecem a incluir outros indivíduos e situações.

É de considerar por último como argumentos contra a possível recuperação, pois ocasionalmente, um paciente recupera, contra todas as probabilidades. O diagnóstico pode estar errado; os cuidados paliativos, dado que os bons cuidados paliativos tornam a eutanásia desnecessária; o regulamento, pois a eutanásia não pode ser adequadamente regulada e as estatísticas, dado que as opiniões parecem estar a aumentar a favor da eutanásia e do suicídio assistido. Em 2013, pesquisadores da Universidade de Harvard publicaram resultados de uma pesquisa na qual inquiriram pessoas de setenta e quatro países acerca do suicídio assistido por médicos, tendo 65 por cento dos entrevistados discordado e onze dos países inquiridos foram a favor.

Os mil e oitocentos entrevistados nos Estados Unidos representavam quarenta e nove Estados, tendo 67 por cento votado contra, sendo que em dezoito Estados, a maioria era a favor do suicídio assistido por médico. A pesquisa realizada pela “Gallup” em 2017, revelou que 73 por cento dos inquiridos eram a favor da eutanásia e 67 por cento eram a favor do suicídio assistido por médico nos Estados Unidos. A entrevista descobriu que 55 por cento dos que frequentavam uma igreja semanalmente eram a favor de que um médico pusesse fim à vida de um paciente que está com doença terminal, em comparação com 87 por cento dos que não frequentavam regularmente a igreja. A pesquisa descobriu ainda que se trata de uma questão política também, pois nove entre dez liberais são a favor, em comparação com 79 por cento dos moderados e 60 por cento dos conservadores. Os países onde a eutanásia ou o suicídio assistido são legais, são responsáveis ​​por um total de entre 0,3 e 4,6 por cento das mortes, mais de 70 por cento das quais relacionadas com o cancro.

1 Jun 2019

Kiang Wu | Problemas no contrato levaram a tentativa de suicídio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Hospital Kiang Wu prestou ontem esclarecimentos ao jornal Ou Mun quanto ao caso da empregada de limpeza que contemplou a hipótese de se suicidar saltando do 14º andar da unidade hospitalar. A administração do hospital adiantou que o contrato de trabalho da mulher, oriunda do interior da China, tinha problemas afectaram a ligação à entidade patronal. O hospital acrescentou que tem prestado atenção à tentativa de suicídio da empregada e que entrou em contacto com a mulher para evitar a repetição de casos semelhantes. De acordo com o jornal, a empresa que fornece serviços de limpeza tem vindo a lidar com o caso, que está a ser acompanhado pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais. O caso aconteceu esta quarta-feira. “Na origem da situação esteve o facto da empresa não querer renovar o contrato de trabalho”, adiantou fonte da PSP, ao HM. “A mulher desempenhava tarefas de empregada de limpeza no Kiang Wu, mas o contrato é com uma empresa subcontratada”, esclareceu a mesma fonte.

7 Set 2018

Saúde | Tentativas de suicídio e automutilação entre jovens preocupam autoridades

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s tentativas de suicídio e automutilação entre menores de 18 anos estão a preocupar as autoridades. Segundo os Serviços de Saúde, entre Janeiro e Julho, 13 jovens recorreram ao serviço de psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) após tentativas de suicídio ou de automutilação, um número que se aproxima do total de 15 registados no cômputo do ano passado.
Dada a subida de casos, “existem sinais que indicam que os mais jovens apresentam problemas de saúde mental”, afirmou o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, durante uma reunião com membros da Comissão de Saúde Mental, realizada na terça-feira.
O organismo reconhece ser muito baixa a proporção de casos encaminhados para acompanhamento no serviço de psiquiatria – menos de 1 por cento. “Existe uma divergência no nível de serviços especiais de saúde mental prestados na comunidade, falta de experiência profissional e sensibilidade aos sintomas clínicos”, pelo que “é necessário fazer revisão e aperfeiçoamento”, diz um comunicado divulgado na noite de quarta-feira.
Em resposta, os Serviços de Saúde prometem avançar com uma série de programas de melhoria dos serviços, nomeadamente dos comunitários, com vista a aumentar a consciencialização pública relativamente às doenças do foro psicológico que afectam os jovens.

24 Ago 2018

Suicídios | Registada redução no número de casos

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Janeiro e Março foram registados 12 casos de suicídio, dos quais eram 10 residentes e 2 não-residentes.

Os números foram divulgados ontem pelos Serviços de Saúde, que referem ter havido uma quebra de 20 por cento em relação ao período homólogo do ano passado.

No mesmo comunicado, o Governo apela às pessoas que se mostrem atentas às condições mentais em conhecidos e recorda que nos centros de saúde do Tap Seac, do Fai Chi Kei, da Areia Preta, dos Jardins do Oceano e de Nossa Senhora do Carmo foram abertas consultas externas de saúde mental.

6 Jul 2018

Não dá mais

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esta vez foi o Bourdain. Sem que nada o previsse, decidiu fazer check out. Para nós, que assistimos à morte alheia do conforto do sofá, é incompreensível. Quase todos trocaríamos os nossos empregos das nove às seis para fazer o que ele fazia: viajar pelo mundo, conhecer pessoas e comidas diferentes e falar sobre essas experiências. Aparentemente, ele tinha concretizado – pelo menos profissionalmente – o sonho que move a maior parte de nós e ao qual muito raramente logramos chegar.

Não sei da história clínica do Bourdain. Não interessa. Um tipo para pôr fim à vida não precisa de história clínica. Esta só serve para prover uma explicação mais convincente – havendo antecedentes – para algo que em si já comporta a sua própria explicação: não dá mais. A morte voluntária é a derradeira das saídas. O caminho que se toma quando nenhum outro parece fazer sentido.

E quanto a isto, o mundo divide-se em dois. Há aqueles que percebem ou tentam perceber este acto tão radical e esses, de algum modo, já sentiram o peso dessa sombra, mesmo que de muito longe. E há os outros, que munidos de uma camada extra de resistência ou de certa forma imunes ao canto desta sereia, não encontram justificação para a escolha de Bourdain. A diferença entre uns e outros é que os primeiros não podem regressar ao estado de perplexidade dos segundos, enquanto que estes, a qualquer momento, podem vir a compreender os primeiros.

A nossa peculiar constituição assenta num pilar inequívoco: desde que nos conhecemos que estamos destinados a tomar conta de nós. Como se cada um se levasse a si próprio ao colo em direcção ao futuro. Este tomar conta de si próprio não implica que se façam sempre as melhores escolhas, implica apenas que a vida tem uma estrutura temporal e que o sujeito navega dentro dessa estrutura por via das decisões que toma. Das mais simples – como refugiar-se do sol em dias de calor – até às mais sofisticadas – escolher uma profissão e traçar planos para que essa escolha se cumpra. A desistência é, ela própria, uma escolha.

Por muitas escolhas que façamos e por muito acertadas que estas pareçam ser, podemos ficar sempre aquém do sentido mínimo exigível para continuarmos por cá. Por muito que façamos e por muito escudados que nos encontremos pelos nossos sucessos e pelas nossas conquistas, podemos encontrar-nos expostos a uma dor de tal magnitude que nenhuma carapaça lhe é impermeável. Essa dor, tenhamo-la perfilhado ou descoberto, faz ninho no coração e fala-nos ao ouvido. Exige de nós uma atenção que não estamos em condições de lhe recusar. Como o cavalheiro de que Eça fala algures, interpela-nos travando-nos pelo braço.

É essa dor que podemos carregar vida fora como um segredo ou como uma medalha. Podemos fazer tudo para minorar os seus efeitos ou podemos entregar-nos a ela. Ou, como humanos que somos, uns dias uma coisa, uns dias outra. Mas um dia, depois de muito lutar, depois de muito fingir que nada se passa, encontramo-nos frente a frente com ela e, nesse dia, decidimos que não lhe daremos um segundo mais de vitória. Levamo-la pela mão, sorrimos o sorriso dos resolutos e atiramo-nos ribanceira abaixo. Para os que ficam, para os que nos amam e não compreendem esta decisão, percebam que mais não era possível, que fizemos o que estava ao nosso alcance, que a nossa maior tristeza é abandonar a festa muito mais cedo do que gostaríamos. Mas não dava mais.

11 Jun 2018

General investigado por corrupção suicida-se

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m alto cargo do exército chinês, o general Zhang Yang, membro da Comissão Militar Central (CMC), foi encontrado morto em casa no passado dia 23 de Novembro, após cometer suicídio, informa a agência oficial Xinhua. Segundo confirmaram fontes da investigação, o militar foi encontrado enforcado em casa.

Zhang, diretor do departamento de trabalho político e membro da Comissão Militar Central, tinha caído em desgraça dentro do Partido Comunista da China (PCC) e estava a ser investigado por possíveis crimes de corrupção.

Funcionários da CMC decidiram no final de Agosto manter “conversações” com Zhang devido à sua alegada implicação nos casos dos ex-generais Guo Boxiong e Xu Caihou, ambos ex-vice-presidentes da CMC, segundo informação oficial.

Os investigadores consideravam que Zhang tinha cometido graves violações legais e de disciplina, e suspeitavam que ocultava um grande volume de propriedades, fruto de subornos que alegadamente tinha recebido.

Guo Boxiong foi vice-presidente da Comissão Militar Central entre 2003 e 2013 e em 2016 foi condenado a prisão perpétua por aceitar subornos, em troca de promoções e deslocalizações.

Xu Caihou foi o oficial militar com o cargo mais elevado na história da República Popular da China a ser investigado por corrupção.

O caso começou em 2014 e Xu foi acusado de receber subornos em grande escala, em troca de facilitar promoções dentro do exército. No entanto, Xu morreu em 2015, vítima de um cancro, antes de ser julgado.

Um semanário chinês revelou em 2014 que Xu armazenava no sótão de sua casa o dinheiro, estátuas e pedras preciosas obtidas graças a estas manobras, e que foram necessários dez camiões para transportar os bens que tinha acumulado.

29 Nov 2017

Areia Preta | Polícias à civil impedem suicídio de mulher

Dois polícias salvaram uma residente de 37 anos, que tinha saltado para o rio para se suicidar. O caso aconteceu na Areia Preta, à frente do hotel Crowne Plaza, e os agentes não estavam identificados como polícias

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois polícias da Unidade Táctica de Intervenção da Polícia de Segurança Pública impediram que uma mulher se suicidasse no sábado, pelas 16h30, à frente do hotel Crowne Plaza. O caso aconteceu quando os dois homens que realizavam corrida, vestidos com equipamento desportivo, mas sem nada que os identificasse como membros da polícia, viram a mulher a atirar-se ao rio.

Assim que viram a residente na água, os dois homens, que corriam em direcção às Portas do Cerco, saltaram para o rio para impedirem que a mulher entrasse numa zona onde não tivesse pé e fosse arrastada pela corrente.

Agarrada pelos dois corredores, a mulher de 37 anos, lutou afincadamente para se soltar, ao mesmo tempo que gritava e chorava, desesperada, para que a deixassem morrer.

A dificultar a tarefa dos dois homem esteve o lodo no fundo rochoso do rio, que por ser muito escorregadio dificultou as tarefas de salvamento. Este facto fez com que apesar das várias tentativas, os dois polícias sozinhos não conseguissem tirar a mulher da água.

Por sua vez, a senhora, de joelhos e com a água a chegar-lhe ao peito, pedia que a largassem para se afogar. A situação durou cerca de dez minutos até à chegada da PSP e dos bombeiros.

Enquanto aguardavam pela chegada dos colegas, os polícias contaram com a ajuda de duas pessoas, sem que fosse possível tirar a mulher da água. Contudo, a frustração de um dos agentes ficou bem patente a certa altura, quando começou a pedir auxílio às pessoas que se juntaram para assistir à cena. Ao mesmo tempo, pedia-lhes que não ficassem apenas a filmar com os telemóveis.

Fora de perigo

Só com a chegada da PSP e dos bombeiros foi possível colocar a vítima a salvo. Contudo, pelo facto de o piso ser demasiado escorregadio, foram precisos mais de seis agentes para resolver a situação.

Num primeiro momento, a mulher foi levantada e levada para as rochas. Nessa altura, os bombeiros e a polícia colocaram-lhe uma corda à volta do corpo. Porém, a mulher gritava para que a deixassem morrer, e quando percebeu que estava dominada, tentou dar cabeçadas nas rochas, mordendo igualmente o joelho de um agente que a tentava salvar.

Depois de imobilizada, a senhora de 37 anos foi mantida quente com vários cobertores, que os agentes trouxeram consigo. Só depois foi colocada numa maca e levada, numa ambulância, para o hospital Conde São Januário, onde se encontra livre de perigo.

De acordo com as informações prestadas pela PSP ao HM, a mulher está a receber tratamento, pelo que só vai ser possível apurar os motivos que a levaram a tentar suicidar-se mais tarde, quando tiver alta.

Antes de se atirar ao rio, a mulher deixou nas rochas um papel com uma mensagem, três maços de cigarros, um telemóvel – que nunca parou de tocar – e um par de chinelos brancos e cor-de-rosa.

25 Set 2017

PJ investiga morte de menina e pai após salto de prédio

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Polícia Judiciária de Macau disse ontem estar a investigar a morte de um homem e da filha de dois anos, encontrados junto a um edifício residencial em Coloane.

À Lusa, a PJ disse acreditar que o homem saltou do edifício, apesar da investigação ainda estar a decorrer, mas desconhece se o homem atirou a filha ou se saltou com ela ao colo.

O incidente aconteceu no domingo após um violento conflito conjugal num apartamento do complexo residencial One Oasis, na ilha de Coloane.

De acordo com a emissora pública de Macau TDM, o homem atacou a namorada, mãe da menina, com uma faca, causando-lhe ferimentos nas costas, pescoço e braços.

No decorrer da agressão, a mulher fugiu para a entrada do prédio e foi aí, segundo a própria, que viu o namorado cair.

O homem foi encontrado morto, enquanto a menina foi enviada ainda com vida para o hospital, mas não sobreviveu.

Em comunicado divulgado ontem, os Serviços de Saúde indicaram que “um incidente de queda em altura” causou a morte de “um homem no local e o envio de uma criança de dois anos de idade” para as urgências do Centro Hospitalar Conde de São Januário.

De acordo com o diagnóstico preliminar, a criança mostrava perda excessiva de sangue, lesões funcionais físicas e após sujeita a todos os esforços de reanimação “foi confirmada a morte”, acrescentou.

A mulher, de 35 anos, “encontra-se em estado satisfatório”, estando em observação e tratamento no hospital, indicou o comunicado dos Serviços de Saúde de Macau.

8 Ago 2017

Taxa de suicídio de 2015 é a mais baixa da década

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau teve, em 2015, a mais baixa taxa de suicídio em dez anos. Os dados são dos Serviços de Saúde (SS), com base na média da Organização Mundial da Saúde, que indica que, em todo o mundo, mais de oitocentas mil pessoas cometem suicídio. Mas, novos dados da PSP, mostram que as tentativas de suicídio passaram a centena, no ano passado.
Os dados chegam no dia em que se assinalou o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, sábado. No mundo, a taxa de mortalidade devido a suicídio é de 11,4 pessoas por cada cem mil. Em Macau, durante o ano de 2015, e de acordo com os dados dos SS, foram registados 62 casos de suicídio, dos quais 53 pessoas eram residentes de Macau (35 homens e 18 mulheres).
As informações indicam que a taxa global de suicídio foi, assim, de 9,6 por cada cem mil pessoas. Se forem considerados apenas as pessoas residentes, a taxa de suicídio foi de 8,2.
“Em comparação com 2014 a taxa global de suicídio, nos residentes em Macau, diminuiu cerca de 15,8%, sendo não só o valor mais baixo dos últimos quatro anos, mas também o número mais baixo desde 2005, ano em que teve início o sistema de monitorização de suicídios”, indica o organismo.

Outros números

Mas, dados da PSP recentemente enviados ao HM, e depois deste jornal ter lançado, na sexta-feira, um artigo sobre o assunto, indicam que as tentativas de suicídio foram bem superiores.
Em 2015, 126 pessoas tentaram pôr fim à vida. A maioria era mulheres e residentes de Macau (53), seguida de homens residentes (46) e não residentes (27). A PSP diz, contudo, que destas contabilizaram-se 24 mortes. Já este ano, até Julho, o número de casos ascendeu a 87. Novamente, no caso dos residentes, a maioria era mulher (33). Mas, “só” 21 conseguiram pôr fim à vida.
Segundo a TDM, em dez anos, a PSP contabilizou 490 casos de suicídio e a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos 525. A disparidade nos números deve-se ao facto do tratamento ser dividido entre as diferentes autoridades.
Embora Macau não pertença às regiões com alta prevalência de suicídio determinada pela Organização Mundial da Saúde, os SS alertam que “há cada vez mais pessoas cujo estado mental encontra-se em estado de sub-saúde devido às rápidas e sucessivas alterações da sociedade, nomeadamente, os problemas enfrentados e o stress de vida em excesso suportados pelos cidadãos”.
Jogo, depressão e solidão são as principais causas que levam ao suicídio no território. Os Centros de Saúde do Tap Seac, Fai Chi Kei, da Areia Preta, do Jardim do Oceano e do Carmo-Lago dispõem de consultas externas de saúde mental, avisam os SS.

12 Set 2016

Suicídio | Mais de 30 casos até Junho. Necessários mais dados

Um total de 31 pessoas decidiu pôr termo à vida até Junho. São números que já são mais de metade do que os casos ocorridos o ano passado, sendo que a solidão e o Jogo poderão ser as causas mais comuns. Yu Tao Xiang, da Universidade de Macau, fala da necessidade de existirem mais dados oficiais. Amanhã é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ílvia Mohr prefere definir Macau como se fosse um cão dálmata. Todo o território é a parte branca e depois há as pequenas bolas pretas, as comunidades que não convivem umas com as outras. Isso causa solidão nos expatriados, um dos principais motivos que poderá levar uma pessoa a cometer suicídio. Mas a responsável pela Linha da Esperança da Cáritas para estrangeiros fala de um retrato bem diferente na comunidade chinesa, onde os problemas com o Jogo fazem com que o interesse pela vida desapareça.
Este ano, de Janeiro a Junho, já se contabilizaram 31 suicídios. O número equivale a mais de metade das mortes deste tipo no ano passado. Dados da Polícia Judiciária (PJ) fornecidos ao HM indicam que os saltos de prédio são a forma mais escolhida pelas pessoas que querem pôr fim à própria vida. Em 2015, foram 61 as pessoas que se mataram. Entre estas, 20 atiraram-se de prédios e 14 enforcaram-se. Este ano, só no primeiro semestre, houve 31 mortes: 11 delas por saltos de prédio e oito por enforcamento, método que a PJ diz ser o segundo mais utilizado.
Amanhã assinala-se o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio e em Macau continuam a não existir dados concretos que permitam criar políticas concretas de apoio às pessoas, defendeu ao HM o professor Yu Tao Xiang, da Universidade de Macau (UM).
“A sociedade está a envelhecer muito rapidamente e, se olharmos para a experiência de Hong Kong e China, os números de suicídio poderão crescer nos próximos anos. É necessária a realização de um inquérito sobre o assunto. Não há estudos sobre as tentativas de suicídio da população ou em grupos sociais mais específicos com risco de cometerem suicídio, como os idosos, os adolescentes, estudantes universitários ou trabalhadores migrantes. Os factores de risco têm de ser identificados antes de serem adoptadas políticas, caso contrário estas não farão sentido”, disse ainda o docente e psiquiatra, com investigação na área da saúde mental.

Ajuda numa linha

Sílvia Mohr vive em Macau há 20 anos e coordena uma equipa de 12 voluntários que atende as chamadas daqueles que estão desesperados. Nem sempre as pessoas se identificam, mas há casos que exigem a deslocação de uma equipa da Cáritas. Sílvia Mohr já segurou a mão de alguém que não queria viver e disse: “não está sozinha”.
Em Macau, em termos de expatriados, homens e mulheres ligam em igual número para relatarem, na maioria, casos de solidão e não tanto de pensamentos para pôr termo à vida. Sílvia Mohr referiu, no entanto, que há muitos homens que ligam a dizer que simplesmente não sabem o que fazer. São pessoas com licenciaturas e com trabalhos bem pagos em Macau que, ou se sentem deslocados, ou se sentem simplesmente sozinhos. Filipinos ou indonésios, as nacionalidades com trabalhadores menos qualificados, também sofrem de solidão, mas não só. “Eles têm tantos problemas para resolver, de saúde, de arranjarem um lugar onde morar, de ter dinheiro para a família, que a solidão é apenas mais um.”
O Verão é considerada uma época cheia de trabalho para os voluntários da linha destinada a estrangeiros, algo que nem Sílvia Mohr sabe explicar. “Não sei se é porque os colegas vão de férias na empresa… isso é digno de pesquisa, porque é que no Verão as pessoas sofrem mais.
O tema do suicídio e do vício do Jogo não é muito comum na Linha da Esperança para a comunidade estrangeira, porém na linha chinesa é, contou ainda Sílvia Mohr. “As pessoas ligam após terem jogado e perdido tudo. Na cultura chinesa a vergonha é muito grande e o medo de levar o problema para casa é maior ainda. Isto leva as pessoas a cogitarem a ideia de suicídio.”
Se o suicídio ainda é tabu no seio da comunidade chinesa, a verdade é que o panorama parece ter vindo a melhorar. “Houve um progresso muito grande. Não faz parte da cultura avisar que se vai cometer o suicídio, normalmente são casos silenciosos sem aviso prévio. Com as campanhas de consciencialização que são feitas, a população começou a falar de forma mais aberta sobre o assunto”, adiantou a responsável.
Actualmente Sílvia Mohr lidera uma equipa de 12 pessoas. O objectivo é que daqui a um ano a linha possa funcionar durante 24 horas.
A pensar naqueles que não encontram esperança, a Cáritas decidiu lançar uma campanha no Facebook em que cada pessoa tem de acender uma vela e postar a imagem na rede social durante o dia de amanhã.

9 Set 2016

CCAC | Esposa de funcionário quer apurar circunstâncias da morte. Organismo promete “responder” às dúvidas

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois da carta entregue na Assembleia Legislativa – e publicada no HM – Pun Fung Cheng, a esposa do trabalhador do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) que se suicidou, garante que vai continuar a tentar apurar as circunstâncias da morte do marido. Já o CCAC, que optou por colocar um comunicado online em vez de responder directamente às questões colocadas pelo nosso jornal, indica que o caso foi um suicídio e que tudo foi investigado como deveria ser, mas diz também que vai responder às dúvidas de Pun Fung Cheng.
A mulher queixa-se que o relatório de investigação feita à morte do marido “conta o assunto de forma muito simples” e não menciona o que diz ter sido uma eventual punição ao marido. “Só tem informações aparentes, nem sequer menciona se ele foi castigado e o problema que aconteceu”, explicou ao HM, visivelmente emocionada. Pun já tinha referido na carta a que o HM teve acesso que suspeita que o marido “estivesse em pânico” por este ter cometido um erro e estar a ser investigado, apesar de lhe ter dito que os superiores não iriam puni-lo.
“Não percebo por que precisou de dar esse passo [do suicídio]? Eu não sei a situação real, mas o facto é que, seja o que for, algo influenciou a sua forma de estar. Mas não consigo perceber porque é que ele ficou tão afectado.”
A esposa assegura já ter enviado uma carta à comissão especializada para a fiscalização dos problemas relacionados com queixas contra a disciplina do pessoal do CCAC, bem como pediu ajuda a um deputado. Pun ainda não sabe como “vai continuar” a queixar-se e a seguir o caso, mas garante que quer apurar as verdadeiras causas da morte do marido. Até porque, diz, se ele escolheu o local de trabalho para se matar é porque se sentiu pressionado lá.

CCAC promete

Na carta e na conversa com o HM, a viúva volta a referir a “prática de gestão” dentro do CCAC, nomeadamente no que toca aos superiores. Fala em pressão e “má comunicação entre superiores e subordinados” e diz que “os superiores talvez sejam muito rigorosos”.
O HM tentou obter uma reacção do Comissariado, até porque a André Cheong foi questionado, através de uma carta, pela viúva. O HM quis saber, por exemplo, se o CCAC considera que cumpriu todas as normas de investigação no caso, se o falecido terá sido ameaçado, como acusa a esposa, e se cometeu algum erro. Quisemos também obter um comentário sobre o facto dos funcionários do CCAC se queixarem, alegadamente, de problemas de gestão, como menciona a esposa na carta. Mas o comunicado enviado a todos os média pouco diz, focando-se mais na forma da morte, ainda que não haja dúvidas de que se tratou de um suicídio. O CCAC adianta, contudo, que vai responder às dúvidas da mulher.
“O CCAC recebeu, na semana passada, a carta encaminhada pelo Gabinete do Chefe do Executivo e irá responder formalmente a todas as questões nela suscitadas sobre o relatório de averiguação interna”, explica o organismo, referindo de resto que “o caso foi reconhecido como sendo um suicídio” e que foi criado “um grupo específico para proceder a uma averiguação interna sobre o incidente”.

25 Nov 2015