João Luz Eventos MancheteÓbito | Mundo das letras despede-se de Milan Kundera “No final dos anos 1980, quem não tivesse lido Kundera estaria necessariamente desactualizado”, afirmou Gao Xing, editor do jornal de Literatura Mundial da Academia Chinesa de Ciências Sociais e autor da biografia do escritor checo, citado pelo China Daily. Vinte anos depois da publicação do primeiro romance de Milan Kundera, a obra de um dos maiores vultos literários da segunda metade do século XX é introduzida na China, em 1985, juntamente com a obra de Gabriel Garcia Marquez “pela mão” do académico Leo Lee. Dois anos depois, é publicada a primeira versão chinesa de “A Insustentável Leveza do Ser”, com tradução de Han Shaogong. O autor chinês Mo Yan, distinguido em 2012 com o prémio Nobel da Literatura, inúmeras vezes enalteceu a obra de Milan Kundera, em especial “A Insustentável Leveza do Ser” e “A Valsa do Adeus”. Em termos de estilo, Mo Yan distingue, citado pelo China Daily, a mestria do uso da sátira e do humor negro, assim como a estrutura com que Kundera concebia os seus romances. Importa, porém, realçar que a obras e vida do escritor checo desde sempre foi impregnada pelo contexto político da sua vida. Logo no primeiro livro “A Piada”, Kundera constrói uma mordaz sátira ao totalitarismo comunista, tecendo uma humorada crítica à invasão soviética de 1968. Logo à primeira obra, o escritor foi incluído na lista negra de opositores do regime e os seus livros banidos na Checoslováquia, situação que o forçou ao exílio. O seu segundo livro foi publicado já com o autor a viver em França. Apesar de silenciado no seu próprio país, a fama internacional e aclamação mundial estava escrita no destino do escritor. As grandes questões Ao longo de mais de meio século, Milan Kundera explorou de uma forma muito peculiar os temas da existência e traição, naturais na sua condição. Depois de ter sido expulso do Partido Comunista da Checoslováquia por “actividades anticomunistas”, Kundera viveu 40 anos no exílio em Paris e viu-lhe ser revogada a cidadania checa em 1979. Eventualmente, o escritor acabaria por deixar de escrever em checo e passar a usar o francês. “Como todos os grandes escritores, Milan Kundera deixa marcas indeléveis na imaginação dos seus leitores. ‘A luta do indivíduo contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento’, desde que li esta frase em “O Livro do Riso e do Esquecimento” ela permaneceu comigo e trouxe luz ao meu entendimento sobre inúmeros acontecimentos mundiais”, afirmou o autor Salman Rushdie, em declarações ao jornal The Guardian. Nascido a 1 de abril de 1929, em Brno, Kundera estudou música com o pai, um pianista e musicólogo de renome, antes de se dedicar à escrita, tornando-se professor de literatura na Academia de Cinema de Praga, em 1952. Apesar de rejeitar o realismo socialista exigido aos escritores da Checoslováquia dos anos 50, a sua reputação literária cresceu com a publicação de uma série de poemas e peças de teatro, incluindo uma ode ao herói comunista Julius Fučík (O Último Maio), publicada em 1955. Mais tarde, rejeitou estas primeiras obras, dizendo que à altura estava “a trabalhar em muitas direcções diferentes – à procura da minha voz, do meu estilo e de mim próprio”. Da paixão ao desencanto Membro entusiasta do Partido Comunista na sua juventude, Kundera foi expulso do partido duas vezes, uma por “actividades anticomunistas” em 1950 e outra em 1970, durante a repressão que se seguiu à Primavera de Praga de 1968, da qual foi uma das principais vozes, apelando publicamente à liberdade de expressão e à igualdade de direitos para todos. O seu primeiro romance, “A Piada”, de 1967, foi inspirado nesse período e tornou-se um grande êxito, tendo como tema central uma piada sobre Trotsky que um estudante escreve para impressionar uma rapariga. O romance acabaria por desapareceu das livrarias e bibliotecas depois de os tanques russos terem chegado à Praça Venceslau, em Praga. A partir daí, o nome do autor foi inscrito numa lista negra e Kundera acabaria por ser despedido do seu emprego de professor. Trabalhando em cabarés de pequenas cidades como trompetista de jazz, o escritor acabaria por reencontrar alguma da liberdade artística que havia perdido desde que fora proibido de publicar e desde que a censura lhe passou a pesar nos ombros. A publicação de “A Insustentável Leveza do Ser”, na primeira metade dos anos 1980, abriu-lhe o caminho para a notoriedade. Porém, a adaptação cinematográfica de Philip Kaufman, em 1988, com Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche, garantiu a ascensão de Kundera à estratosfera literária. Apesar da notoriedade conquistada a pulso e de ser frequentemente citado como candidato ao Prémio Nobel da Literatura, Kundera acabou por nunca ser distinguido pela Academia Sueca, à semelhança de outros grandes vultos da literatura mundial.
Hoje Macau EventosMorreu a actriz Maria João Abreu aos 57 anos Morreu a actriz Maria João Abreu. A notícia foi avançada ontem pela SIC, onde trabalhava. A actriz de 57 anos encontrava-se internada no Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, depois de ter sofrido um AVC hemorrágico. A actriz, de acordo com a SIC, sentiu-se mal e desmaiou durante as gravações da novela que está a ser produzida para o canal. A actriz integra o elenco da telenovela “A Serra”, emitida pela SIC desde Fevereiro. Maria João Abreu iniciou a carreira profissional no teatro, uma paixão que nunca abandonou, mas foi a televisão que lhe granjeou a popularidade, graças a produções como “Médico de Família”. A televisão foi o meio em que mais trabalhou e que lhe deu maior visibilidade, tendo participado em mais de 60 programas, entre telefilmes, séries e telenovelas. A sua carreira como actriz remonta, no entanto, a 1983, quando, com 19 anos, se estreou profissionalmente no Teatro Maria Matos, no musical “Annie”, de Thomas Meehan, dirigido por Armando Cortez. A este sucederam-se vários outros espectáculos de revista no Parque Mayer, até participar, na Casa da Comédia, em “O Último dos Marialvas”, de Neil Simon, peça estreada em 1991, que lhe daria visibilidade e reconhecimento como actriz de comédia. Depois de várias actuações em espetáculos de revista, sobretudo no Teatro Maria Vitória e no antigo Variedades, Maria João Abreu passou pelo Teatro Aberto, onde trabalhou com João Lourenço em “As Presidentes”, de Werner Schawb, e com José Carretas, em “Coelho Coelho”, de Celine Serreau. Com Manuel Cintra e José Carretas, fez também “Bolero”, apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB). Mais recentemente, participou em filmes como “Call Girl”, de António-Pedro Vasconcelos, “Florbela” de Vicente Alves do Ó, “A Mãe é que Sabe”, de Nuno Rocha, e “Submissão”, de Leonardo António. Ao longo dos seus mais de 35 anos de carreira, e apesar das muitas requisições para televisão, Maria João Abreu nunca deixou o teatro nem a revista, uma das suas paixões, tendo coprotagonizado, em 2004, “A Rainha do Ferro Velho”, de Garson Kanin, encenada por Filipe La Féria, no Teatro Politeama. Perto do fim A sua última participação no teatro aconteceu em 2019, quando protagonizou “Sonho de uma noite de verão”, no Tivoli, contracenando com José Raposo, de quem estava já divorciada, e com Miguel Raposo, um dos filhos do casal. Era também com o ex-marido que contracenava na telenovela “A Serra” e na série “Patrões fora”, ambas actualmente em gravações e em exibição. No dia 30 de abril – cinco meses depois da morte do pai e apenas 16 dias após ter feito 57 anos -, a actriz sentiu-se indisposta durante as gravações da telenovela “A Serra” e desmaiou, tendo sido internada de urgência no Hospital Garcia de Orta, em Almada, com diagnóstico de rotura de aneurisma cerebral.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Proposto voto de pesar pela morte de Vítor Ng O deputado Pereira Coutinho apresentou à Assembleia Legislativa (AL) uma proposta de voto de pesar pelo falecimento de Vítor Ng, ex-deputado e ex-presidente da Fundação Macau (FM), que faleceu no domingo aos 90 anos de idade. Na sua proposta, Pereira Coutinho destaca o facto de Vítor Ng Wing Lok ter sido “um respeitado político e empresário, tendo granjeado uma enorme reputação na sociedade com a sua frontalidade e forte personalidade”. “Tendo em consideração a sua figura marcante na sociedade macaense ao longo de mais de quatro décadas crê-se que é totalmente justificável e adequado que este hemiciclo manifeste o seu voto de pesar”, justifica ainda o deputado. Em comunicado, a FM exprimiu “o profundo pesar” pela morte de Vítor Ng, tendo agradecido “o seu contributo “para o desenvolvimento desta Fundação durante os seus mandatos, tendo constituído uma base sólida para a Fundação poder entrar na sociedade e apoiar vários trabalhos destinados a promover e assegurar o desenvolvimento a longo prazo de Macau”. Vítor Ng “desempenhou um papel muito relevante tanto na reestruturação da FM como na consolidação da base fundamental para o desenvolvimento da mesma”, adianta ainda a entidade. Foi também destaca a sua acção no projecto de reconstrução de Sichuan pós-terramoto, entre outros projectos.
Andreia Sofia Silva EventosEscultor português João Cutileiro morreu ontem aos 83 anos O escultor português João Cutileiro morreu esta terça-feira aos 83 anos, em Lisboa. A confirmação do óbito foi feita à agência Lusa por Ana Paula Amendoeira, directora regional de cultura do Alentejo. Segundo Ana Paula Amendoeira, João Cutileiro estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório. O jornal Público escreveu que o seu falecimento se deveu a complicações provocadas por um enfisema pulmonar. O trabalho de Cutileiro chegou a estar presente em Macau por diversas vezes. Uma delas foi em 1999, no ano da transferência de soberania do território para a China, quando foi instalado, no jardim do Centro Cultural de Macau, um barco de pedra e cavaleiros preparados para a guerra. O grupo escultórico seria inaugurado nesse ano, a 19 de Março, pelo então Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio. Esse trabalho de João Cutileiro foi inspirado nos guerreiros de terracota de Xian – os cavaleiros – e no barco do lago do Palácio de Verão de Pequim, e tem um peso de 79 toneladas. As peças foram esculpidas em ruivina e mármore cinzento de Estremoz durante um período de três anos. À época, as esculturas dos cavaleiros e o barco estavam colocadas frente a frente e “preparadas para a guerra” num lago artificial que será equipado com jogos de água que vão criar uma neblina em volta das peças. Em Macau, João Cutileiro desenvolveu ainda uma peça exposta no átrio do Centro Hospitalar Conde de São Januário, que custou ao Executivo cerca de três milhões de patacas. “Dragão”, outra peça datada de 1999 e criada a pedido do arquitecto Francisco Caldeira Cabral, foi também desenvolvida por Cutileiro para a zona do Canal dos Patos. Natural do Alentejo João Cutileiro era um dos mais importantes escultores portugueses. Sobre ele, Ana Paula Amendoeira destacou a particularidade do seu trabalho, cujo método “não era vulgar” entre “outros artistas”. “João [Cutileiro] tem o hábito de fazer maquetas reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, indicou. Cutileiro trabalhou sobretudo com mármore e ao longo da sua carreira fez várias obras sobre a identidade e história de Portugal. Um dos exemplos é o monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa. O escultor era irmão do diplomata e escritor José Cutileiro, que morreu em Maio de 2020. Nascido em Pavia, no concelho de Mora, no ano de 1937, João Cutileiro estava radicado na cidade de Évora onde tinha uma oficina desde 1980. Foi graças a uma viagem a Itália, mais particularmente a Florença, no início da década de 50, que o escultor decidiu inscrever-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde, no entanto, esteve apenas dois anos.
Pedro Arede Grande Plano MancheteÓbito | Irmã Juliana Devoy morreu aos 83 anos Após uma vida dedicada aos direitos das mulheres e à acção social, a irmã Juliana Devoy morreu ontem aos 83 anos. Há mais de três décadas em Macau, a bondade e o trabalho no Centro Bom Pastor ficará para sempre na memória daqueles que tiveram o privilégio de a conhecer. Entre batalhas ganhas por Juliana Devoy destaca-se a criminalização da violência doméstica Faleceu ontem de manhã no Centro Hospitalar Conde de São Januário, a irmã Juliana Devoy, antiga directora do Centro do Bom Pastor, após uma vida dedicada aos direitos das mulheres e a outras causas como o tráfico humano. Tinha 83 anos e era natural do Nebrasca, nos Estados Unidos da América. Reconhecida pelo trabalho desenvolvido há mais de 30 anos desde que chegou a Macau ao Centro Bom Pastor, Juliana Devoy foi louvada pelo Governo de Macau em duas ocasiões. A primeira em 1997, quando a administração portuguesa atribuiu a medalha de mérito filantrópico e a segunda em 2012, quando o Executivo da RAEM lhe destinou a medalha de mérito altruístico. Contactada pelo HM, a actual directora do Centro do Bom Pastor, Debbie Lai, ressalva que a missão e a atitude da irmã Juliana “contribuiu muito para mudar a mentalidade das pessoas de Macau”, especialmente sobre os direitos das mulheres e das crianças e a respectiva consciencialização desses mesmos direitos. “Ela deu inúmeros contributos para mudar a sociedade, mas talvez o maior tenha sido ao nível da lei da violência doméstica, situação que antes da sua intervenção não era considerada crime público”, lembrou Debbie Lai. Importa ressalvar que para a criminalização da violência doméstica em Macau muito terá contribuído a deslocação de Juliana Devoy às Nações Unidas em 2014, para falar no Comité de Direitos Humanos sobre o tema. Luta de causas Quem também conviveu de perto com a irmã foi Agnes Lam. Ao HM, a deputada conta que a morte de Juliana Devoy “é uma grande perda para toda a sociedade de Macau”, mas também para as mulheres e as minorias que apoiou. Agnes Lam partilhou que, para além de ser encarada como um símbolo de justiça para as mulheres, e em termos de igualdade de género, “era também um símbolo de bondade”. “Conheci a irmã Juliana nos anos 90, quando começou no Centro do Bom Pastor e, por isso, acho que devo ter sido a primeira jornalista chinesa a entrevistá-la sobre as lutas que estavam a travar. Ao longo do tempo, falámos muitas vezes acerca de casos de violência doméstica e adolescentes grávidas que foram abandonadas e ela ajudou todas essas mulheres. Mais tarde, fui escolhida para ajudar no Centro do Bom Pastor e durante alguns anos mantivemos uma reunião mensal para falar de problemas que se passavam na sociedade e para colocar na agenda temas como a criminalização da violência doméstica”, partilhou a deputada. Uma das situações mais marcantes para a qual Juliana Devoy mobilizou esforços, recorda Agnes Lam, diz respeito ao caso de Lam Mong Ieng, mulher atacada pelo marido com óleo a ferver e ácido, deixando-a desfigurada e com lesões permanentes que lhe custaram a visão. “Da primeira vez que a família da vítima contactou comigo, falei com a irmã Juliana para ver como podíamos ajudar. Ao princípio não sabíamos o quão grave eram os ferimentos e não havia reacção do Governo. A irmã esteve em silêncio ao longo de toda a reunião e um pouco zangada comigo até, pois achava que não devíamos esperar por ninguém e avançar com a angariação de fundos o mais cedo possível”, conta a deputada. De todas as pessoas com quem travou contacto no Centro do Bom Pastor, Agnes Lam ressalva que “todas mencionaram a forma como a irmã Juliana as ajudou ao início, numa altura em que havia poucas verbas”, tendo chegado a angariar dinheiro “a título pessoal”. “Ela tomava genuinamente conta das pessoas, de uma forma personalizada. Dava todo o seu tempo e devoção para ter a certeza que todos à sua volta sentiam amor”, rematou Agnes Lam. Sem hesitar Meses depois de terminar o ensino secundário, Juliana Devoy integrou a Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor em Los Angeles. Estávamos em 1954, Juliana Devoy tinha 17 anos e vontade de ser missionária longe de casa. “Quando me despedi da minha família sabia que eles me podiam visitar, mas sabia também que nunca mais voltaria a casa. Somente a graça de Deus e a alegria que experimentei podem explicar como fui capaz de tal sacrifício”, pode ler-se no perfil de Juliana Devoy escrito na primeira pessoa e que consta no portal da Congregação para a região da Ásia-Pacífico. Daí rumou a Hong Kong em 1963, onde ficou até 1988, ano em que veio para Macau. “Quem quereria ir viver para Macau? Não se passa lá nada. Nunca pensei que os mais de 20 anos que passei em Macau seriam, na verdade, o período dourado da minha vida enquanto missionária. Aqui em Macau tive a oportunidade de criar, inovar e de fazer coisas que não poderiam ser feitas noutros lugares. No nosso Centro do Bom Pastor fomos capazes de receber muitas mulheres e meninas, desde adolescentes grávidas a vítimas de violência doméstica, passando por vítimas menores de tráfico humano (…) e tantas outras que não encaixam em nenhuma categoria”, pode ler-se no mesmo perfil. “Tem sido uma enorme alegria ser um instrumento de Deus para intervir em tantas vidas”. Regresso a casa Objecto de uma “amizade profunda de muitos anos”, o Padre Luís Sequeira conta que conheceu Juliana Devoy mesmo antes de ser padre e que teve o privilégio de a acompanhar no último retiro que fez, há cerca de duas semanas. A morte, conta, já estaria nos seus pensamentos. “Diria que tive o privilégio de estar no último retiro que ela fez, há poucos dias antes de falecer, e posso dizer que durante esse caminho, que é um período de oito dias muito intenso (…) a linha de orientação foi a intimidade com Deus. Sinto que a irmã Juliana que tanto deu ao serviço das pessoas em grandes dificuldades e na problemática da mulher, estava a preparar-se para a morte. No meu entender, ela preparou-se, o que se explica com o desejo de estar intimamente ligada à Deus”, partilhou. Segundo Luís Sequeira, esta “inconsciente” preparação para a morte, materializa “uma aspiração profunda de conhecer totalmente Deus”, característica da experiência fulcral das irmãs do Bom Pastor, em que a morte é sentida “como o encontro com Deus de uma mulher crente”. O sacerdote da Companhia de Jesus lembra ainda que Juliana Devoy “tinha um dom especial para acompanhar e ajudar pessoas em grandes dificuldades” e que, mais recentemente, o seu trabalho estava mais orientado para o tráfico humano, apesar de o foco ter sido sempre “a problemática da família e, mais especificamente, da mulher”. “Concretamente em Macau, é cada vez mais claro que o tráfico humano se faz e está muito ligado à diversão, prostituição e tudo isso. São situações que trazem grandes angústias às pessoas”, conta Luís Sequeira. Sobre os marcos alcançados ao longo dos anos, o sacerdote não tem dúvida que o que fica, e que maior retorno terá dado a Juliana Devoy, foi o impacto que a sua obra teve na criação de “legislação mais condizente com a condição da mulher”. “O que lhe poderá ter dado mais consolação como consequência da sua dedicação foram, em certo sentido, essas manifestações do tipo legal que promovem a protecção da mulher, pois houve uma evolução nos últimos anos (…) que ajuda pessoas em extrema dificuldade a melhorar as suas vidas”, apontou. Questionado sobre a forma como irá recordar Juliana Devoy, o sacerdote destaca que, para sempre, sobressairá “o grande vigor interior na ajuda às pessoas em grande angústia”. “Por vezes não se nota nem se vê, mas a angústia é uma realidade da vivência humana que está a aumentar cada vez mais. Ela com a sua vocação e perspicácia profundamente humana e espiritual foi ao encontro dessa angústia que vai tomando conta das nossas sociedades”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeFaleceu Pedro Ascenção, ex-director do jardim de infância D.José da Costa Nunes Ex-director do jardim de infância D. José da Costa Nunes, Pedro Ascensão morreu este domingo vítima de cancro. Depois de vários anos dedicado à educação de corpo e alma, primeiro em Portugal e depois em Macau, Pedro dedicou-se à vida de empresário, sempre com duas paixões: a culinária, no café Xina, e a música, com os bares Che Che e Mico [dropcap]P[/dropcap]ara beber um copo fora do ambiente de jogo, havia os bares do Pedro. Primeiro o Che Che, atrás das ruínas de São Paulo, onde se fumaram vários cigarros na calada da noite à porta e se ouviu boa música lá dentro. Depois apareceu o Mico, na mesma rua, mas uns metros mais acima. O Che Che continuou de portas abertas, com outra gerência e o mesmo espírito independente. Pelo meio funcionou o Café Xina onde Pedro Ascensão revelou a sua paixão pela cozinha. Uma vida numa rua. Empresário e ex-director do jardim de infância D. José da Costa Nunes, Pedro Ascenção morreu este domingo vítima de cancro. Discreto mas frontal, será pouco conhecido da nova geração da comunidade portuguesa, mas para quem vive em Macau desde os anos 90 era uma figura incontornável. Sempre esteve ligado ao mundo da noite, primeiro no antigo bar Rio, nas docas, e depois no bar do Jazz Clube de Macau, do qual foi presidente. Mas Pedro Ascensão foi também, durante anos, educador de infância; primeiro em Portugal e depois em Macau, no Costa Nunes, logo a seguir à transferência de soberania. Um papel importante no Costa Nunes Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), entidade gestora do Costa Nunes, destaca o papel que Pedro Ascensão teve na gestão da escola. “Reconheço-lhe um papel importante nos primeiros anos do Costa Nunes na RAEM em termos da estabilização do funcionamento do estabelecimento de ensino pré-primário. Não o cheguei a conhecer a nível profissional, mas como pessoa sempre foi muito discreto com ideias fortes. Foi um bom amigo de quem lamento a morte”, disse ao HM. Cristina Ferreira, uma amiga de longa data, recorda-se do período em que Pedro Ascensão esteve à frente do Costa Nunes. “Como educador sempre teve uma atitude muito profissional, e também gostava muito do cargo de gestão. O Pedro tinha a sua profissão mas depois tinha a outra parte, pois sempre gostou muito de cozinhar e de música.” O bar do canto Tanto o Che Che como o Mico sempre foram bares de circulação restrita, com clientes das comunidades portuguesa, macaense e chinesa. Pedro Ascensão não fazia questão que o seu espaço fosse muito conhecido e chegava a rejeitar alguns clientes a altas horas da noite. “Há muitas pessoas que acham que ele tinha mau feitio, mas também era uma pessoa muito generosa e muito amigo do seu amigo. A verdade é que depois as pessoas ultrapassavam essas coisas”, acrescentou Cristina Ferreira, que considera Pedro Ascenção “uma figura de Macau”. Como empresário sempre manteve espaços diferentes e marcantes na vida nocturna do território. “Os bares dele sempre tiveram excelente música. Ele tinha um gosto musical muito bom e não gostava que as pessoas colocassem música no bar”, frisou Cristina Ferreira. A amiga recorda o Che Che, um “bar mais mediterrâneo”, e depois o Mico, com “um conceito mais urbano”. Num território onde todos os espaços nocturnos foram fechando portas à mercê da abertura dos casinos, Pedro Ascensão “foi um resistente”. “Encontrou um espaço que era o único alternativo em Macau. Manteve o seu cantinho, à sua medida, com a sua clientela”, aponta Cristina Ferreira. “O que fez foi mágico” Gabriel Yung, actual gerente do bar Che Che, assume que Pedro foi uma pessoa importante na sua vida. Gabriel começou por ser cliente e não conseguiu ver um dos seus bares preferidos fechar portas. “Quando tinha cerca de 25 anos costumava ir ao Che Che com alguns amigos. Sempre falámos muito. Ele era uma pessoa muito interessante que contava muitas histórias. O que ele viveu, a forma como tratou as pessoas, mudou a minha vida.” A abertura do bar Che Che foi uma lufada de ar fresco na vida nocturna do território. “Ainda hoje não há muitos bares onde possamos ir, ouvir boa música. O mais importante é o espírito das pessoas, um sítio onde possam comunicar. É parte importante da história dos bares de Macau, e foi uma das razões pelas quais eu quis ficar com a gerência do Che Che. O que ele fez foi mágico para esta cidade”, contou ao HM. Agora, aos 54 anos, finou-se essa magia, que fazia de Pedro Ascenção um personagem único da comunidade portuguesa de Macau. O que nos fica, além da sua memória e da sua obra, é uma profunda saudade.
admin SociedadeÓbito | Pedro Baptista, escritor e ensaísta, morreu de doença súbita [dropcap]M[/dropcap]orreu o escritor e ensaísta Pedro Baptista, de 71 anos, comissário das comemorações da Revolução Liberal do Porto, que arrancam esta quinta-feira, avançou ontem o Jornal de Notícias. Ao que JN apurou, Pedro Baptista terá sido vítima de doença súbita, na madrugada de ontem, em casa, no Porto. Pedro Baptista era esperado ontem de manhã, às 11 horas, na Casa do Infante, para uma visita prévia à exposição que recorda a Revolução Liberal de 24 de Agosto, no Porto. A autarquia do Porto reagiu com consternação à notícia, conhecida esta manhã, aquando da visita prévia à exposição, inaugurada ontem no Porto. A exposição, na Casa do Infante, vai estar patente até 6 de Setembro. Segundo apurou o JN, a mostra passará a ter um caráter mais simbólico, de homenagem a Pedro Baptista. O autor com ligações a Macau, onde passou parte da vida, foi também colaborador por diversas vezes do Hoje Macau.
Hoje Macau SociedadeÓbito | Pedro Baptista, escritor e ensaísta, morreu de doença súbita [dropcap]M[/dropcap]orreu o escritor e ensaísta Pedro Baptista, de 71 anos, comissário das comemorações da Revolução Liberal do Porto, que arrancam esta quinta-feira, avançou ontem o Jornal de Notícias. Ao que JN apurou, Pedro Baptista terá sido vítima de doença súbita, na madrugada de ontem, em casa, no Porto. Pedro Baptista era esperado ontem de manhã, às 11 horas, na Casa do Infante, para uma visita prévia à exposição que recorda a Revolução Liberal de 24 de Agosto, no Porto. A autarquia do Porto reagiu com consternação à notícia, conhecida esta manhã, aquando da visita prévia à exposição, inaugurada ontem no Porto. A exposição, na Casa do Infante, vai estar patente até 6 de Setembro. Segundo apurou o JN, a mostra passará a ter um caráter mais simbólico, de homenagem a Pedro Baptista. O autor com ligações a Macau, onde passou parte da vida, foi também colaborador por diversas vezes do Hoje Macau.
admin SociedadeÓbito | UM lamenta morte de reitor-fundador histórico [dropcap]M[/dropcap]orreu o Professor Hsueh Shou Sheng, fundador e reitor da Universidade da Ásia Oriental, estabelecimento de ensino que antecedeu à Universidade de Macau (UM). Na nota de pesar divulgada pela UM, é dado destaque ao “ao distinto estudioso e educador que alcançou feitos notáveis” e que chegou a Macau 1980, dando início a um novo capítulo na cidade ao nível do Ensino Superior. Além de ter desempenhado o cargo de reitor da Universidade da Ásia Oriental de 1981 a 1986 e de 1987 a 1991, Hsueh Shou Sheng foi ainda Vice-Presidente do Comité de Redacção da Lei Básica de Macau e deu contributos importantes para a fundação da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).
Hoje Macau SociedadeÓbito | UM lamenta morte de reitor-fundador histórico [dropcap]M[/dropcap]orreu o Professor Hsueh Shou Sheng, fundador e reitor da Universidade da Ásia Oriental, estabelecimento de ensino que antecedeu à Universidade de Macau (UM). Na nota de pesar divulgada pela UM, é dado destaque ao “ao distinto estudioso e educador que alcançou feitos notáveis” e que chegou a Macau 1980, dando início a um novo capítulo na cidade ao nível do Ensino Superior. Além de ter desempenhado o cargo de reitor da Universidade da Ásia Oriental de 1981 a 1986 e de 1987 a 1991, Hsueh Shou Sheng foi ainda Vice-Presidente do Comité de Redacção da Lei Básica de Macau e deu contributos importantes para a fundação da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).
Hoje Macau SociedadeObituário | Marinho Bastos faleceu aos 72 anos [dropcap]N[/dropcap]o passado domingo, Joaquim Leonel Ferreira Marinho de Bastos morreu de doença prolongada em Lisboa, cidade onde residia. Nascido em Lisboa em 28 de Fevereiro de 1947, passou a infância e juventude em Angola, Lobito. Cursou Economia em Lisboa no então Instituto Superior de Economia e Gestão. Em 1971 casou com Isabel Alves, natural de Macau, e nesse mesmo ano mudou-se para a Cidade do Nome de Deus. Na administração pública do território ocupou cargos de relevo como Director dos Serviços de Finanças, director dos Serviços de Economia e Director dos Serviços de Turismo. Foi um dos fundadores do IPIM. A partir de 1987 ingressou nos quadros da então CEE, tendo trabalhado no Conselho Europeu até à sua reforma em 2012. Deixa três filhas e sete netos. Foi também durante vários anos colaborador do Hoje Macau, onde publicou muitas das suas interessantes memórias da vida de Macau e da Europa.
Hoje Macau EventosÓbito | Keith Flint, vocalista dos The Prodigy, encontrado morto [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vocalista da banda britânica The Prodigy Keith Flint morreu, aos 49 anos, segundo confirmação da polícia do Essex citada pela imprensa do Reino Unido na noite de segunda-feira. Flint foi encontrado inconsciente em casa, sem que a sua morte esteja a ser tratada como suspeita, referiu um porta-voz da polícia. Keith Flint era uma das vozes dos The Prodigy, a par de Maxim Reality, e rosto principal do trio que se completava com o compositor Liam Howlett, adquirindo maior dimensão e protagonismo aquando do lançamento do disco “The Fat of the Land”, do qual foi extraído o ‘single’ “Firestarter”, cujo vídeo o tinha como figura central. A banda, que passou Hong Kong na edição de 2017 do Clockenflap, estava neste momento a promover o disco “No Tourists”, lançado em Novembro, tendo agendada uma digressão pelos Estados Unidos em Maio, para além de múltiplas participações em festivais de Verão também já marcadas. Criados em 1990 no Essex por Howlett, os Prodigy tornaram-se um fenómeno global com o lançamento do terceiro disco, “The Fat of the Land”, em 1997, que vendeu mais de dez milhões de cópias em todo o mundo, causando impacto com temas como “Smack My Bitch Up” ou “Breathe”.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeÓbito | Márcia Schmaltz, académica Márcia Schmaltz morreu na passada sexta-feira, vítima de cancro, com 45 anos. A académica é reconhecida por quem a conheceu de perto como alguém que estava ligada à China por “um cordão umbilical” e que, talvez por isso, transmitia a China ao mundo “de forma natural” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sentimento de perda é unânime entre quem conviveu profissional e pessoalmente com Márcia Schmaltz, a académica que viveu para contar a China em Português. Schmaltz faleceu na passada sexta-feira, com 45 anos, vítima de cancro. Figura carismática do Departamento de Português da Universidade de Macau, Márcia Schmaltz encontrou o caminho para o Oriente ainda criança. Nasceu em Porto Alegre, no Brasil, em 1973, mas mudou-se para Taiwan ainda criança, onde morou durante seis anos. Formada em letras, foi professora e tradutora-intérprete de chinês, mestre em Estudos da Linguagem e doutorada em Linguística na Universidade de Macau, onde também leccionou. “É muito triste”, começou por dizer o director do Departamento de Português da Universidade de Macau, Yao Jingming, ao HM. Em causa está não só a imensa perda humana, mas também o desaparecimento de uma força de trabalho quando se fala em interculturalidade. “Era uma pessoa fantástica e muito trabalhadora que deu um grande contributo ao ensino da língua portuguesa em Macau e à divulgação da cultura chinesa quer no território, quer no mundo lusófono, com as obras que traduziu”, acrescentou o académico. Sinologia em português Apesar da sua formação em letras e carreira na área da tradução, Márcia Schmaltz era, acima de tudo uma sinóloga, apontou Yao Jingming. “Ela pode ser considerada como uma sinóloga real, verdadeira”, disse. A justificação é simples: “falava muito bem chinês, falava como nós falamos e conhecia também muito bem a cultura chinesa e a forma de ser deste povo. Ela podia ser chinesa”, sublinhou. A ligação à China não era puramente académica, era “um elo afectivo”. Esta afectividade terá nascido das circunstâncias em que viveu os seus primeiros anos. De acordo com Luís Ortet, editor da Revista Macau e responsável por um blog de divulgação de cultura chinesa em português para o qual Márcia Schmaltz também contribuiu, a académica “teve a particularidade de viver parte da infância em Taiwan, na Grande China”. Esta experiência conferiu-lhe atributos únicos. “Foi uma criança na China rodeada por crianças chinesas que falavam chinês. É um contacto que a aprendizagem que se tem da língua ou da cultura em adulto não consegue captar”, explicou. “Uma grande perda”, reitera Luís Ortet, até porque o trabalho que desenvolvia preenchia uma lacuna no mundo da sinologia. “Quer em Portugal, e de certa maneira também no Brasil, não há uma escola e um empenho por parte das autoridades e dos meios académicos no sentido de criar uma espécie de sinologia lusófona da mesma maneira que há uma francesa, uma alemã e uma de língua inglesa por exemplo”, disse. Como tal, “é mais uma perda neste contexto em que qualquer pessoa que dedique o seu tempo e o seu talento ao estudo, à divulgação e à compreensão da cultura chinesa é uma mais-valia enorme uma vez que os meios institucionais não têm feito grandes apostas no sentido de criar a tal sinologia lusófona”, acrescentou o responsável pela Revista Macau. Márcia Schmaltz colaborou ainda com a editora Livros do Meio. “A notícia da morte prematura de Márcia Schmaltz deixou-me triste e chocado. Conheci-a enquanto especialista em língua e cultura chinesas, professora na Universidade de Macau e tradutora para chinês de um livro importante da literatura brasileira – “Macário”, de Álvares de Azevedo – editado pela Livros do Meio, entre outras obras”, referiu o editor Carlos Morais José. A partida aos 45 anos foi demasiado precoce. “A morte surpreende-nos com as suas escolhas. A Márcia tinha ainda muito para nos dar a todos nós, como amiga, como autora e como académica. E ficará, com certeza, na nossa memória e na história das relações culturais entre o Brasil e a China. Isto é tudo muito injusto”, rematou. Já o amigo pessoal e colega de Márcia Schmaltz , Roberval Teixeira e Silva, director do Centro de Pesquisa para os Estudos Luso-Asiáticos da Universidade de Macau, admitiu que a académica era um caso particular quando se fala de interesse pela cultura chinesa, devido ao “cordão umbilical que manteve sempre com a China”. Na Universidade de Macau onde leccionou, está a ser preparada uma homenagem a Márcia Schmaltz com a produção de um vídeo em sua memória que reúne os vários momentos da sua vida académica no território. Mulher de convicções Para Roberval Teixeira e Silva não é fácil falar dos atributos pessoais da amiga, até porque lhe era “uma pessoa muito próxima”. Mas, as questões do mundo, nomeadamente as que envolviam desigualdades sociais eram uma área que lhe dizia particularmente respeito e que motivava as suas tomadas de posição em qualquer circunstância. No entanto, e também por isso, considera o amigo, “sempre foi uma pessoa muito clara, e dizia o que achava das coisas, o que lhe trouxe uma série de admiradores mas também opositores que estavam de pé atrás, porque não é fácil lidar com pessoas que gostam e precisam de dizer o que pensam e sentem em relação às várias coisas que lhes dizem respeito. Sempre com fundamento”, rematou. Na Universidade de Macau onde leccionou, está a ser preparada uma homenagem a Márcia Schmaltz com a produção de um vídeo em sua memória que reúne os vários momentos da sua vida académica no território. “Estamos a reunir fotografias, escritos, livros que traduziu em homenagem e memória a Márcia Shmaltz”, referiu o director do departamento de português daquela instituição, Yao Jingming. Márcia Schmaltz, ganhou o prémio Xerox/Livro Aberto pela tradução de “Histórias da Mitologia Chinesa” em 2000 e, em 2001, o Prémio Açorianos de Literatura, categoria tradução. Foi editora da colecção Tradução de Clássicos da Literatura Brasileira. Entre as obras que traduziu para português estão “ 50 Fábulas da China Fabulosa” (2007), “Viver”, de Yu Hua (2008), “Contos Sobrenaturais Chineses” (2010), Fábulas Chinesas” (2012), “Me Deixe em Paz”, de Murong Xuechun (2013), e “Contos Completos” de Lu Xun.
Hoje Macau EventosDezenas de artistas e personalidades despediram-se de Aretha Franklin [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]olíticos, artistas, pastores e dezenas de fãs despediram-se na sexta-feira da cantora norte-americana Aretha Franklin, a “rainha da soul”, na cerimónia fúnebre, em Detroit, que fechou uma semana de homenagens. A cerimónia decorreu na igreja batista Greater Grace Temple, com capacidade para cerca de quatro mil pessoas, que assistiram a discursos e atuações emocionadas de mais de vinte artistas e personalidades. Presentes estiveram o antigo presidente Bill Clinton, a ex-candidata presidencial Hillart Clinton, o reverendo Jesse Jackson, o cantor Stevie Wonder, as cantoras Ariana Grande, Gradys Knight e Jennifer Hudson. Foram ainda lidas mensagens dos antigos presidentes George W. Bush e Barak Obama. No exterior da igreja onde decorreu a cerimónia estiveram estacionados dezenas de carros Cadillac cor-de-rosa, ao longo de doze quilómetros, nas ruas de Detroit. Durante a semana, centenas de admiradores fizeram filas no Museu de História Afro-Americana Charles H. Wright, em Detroit, onde teve lugar o velório de Aretha Franklin. A “Rainha da Soul” Aretha Franklin, que morreu a 16 de agosto aos 76 anos, teve uma vida preenchida por êxitos musicais, desde o momento em que pegou na canção “Respect” de Otis Redding e a transformou em algo diferente. Ao todo, foram 18 Grammys e mais de 75 milhões de discos vendidos ao longo de uma carreira em que se tornou na primeira mulher a entrar para o Rock and Roll Hall of Fame, em 1987. Aretha Louise Franklin nasceu em 25 de março de 1942 em Memphis, no Estado norte-americano do Tennessee – onde esteve sediada a editora Stax, que editou Otis Redding -, mas cresceu em Detroit, a outra principal cidade do soul norte-americano e lar da editora Motown. Filha do reverendo C.L. Franklin, viu o pai marchar com Martin Luther King e cantou, em 1968, no funeral deste último. Com múltiplas canções nas listas das mais vendidas e ouvidas, incluindo no começo do século XXI, Aretha Franklin cantou pelo mundo fora e nas tomadas de posse dos presidentes Bill Clinton e Barack Obama, tendo sido condecorada pelo outro ocupante do cargo entre os dois democratas, George W. Bush. Relutante com jornalistas e receosa de aviões (um artigo de 2011 no New York Times indicava que a cantora não punha pé no ar desde 1983), Aretha Franklin teve quatro filhos e, em 2017, anunciou que se ia retirar do mundo da música para dedicar mais tempo aos netos.
Hoje Macau EventosÓbito | “Mestre da comédia” Neil Simon morre aos 91 anos [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]eil Simon, um aclamado dramaturgo norte-americano, conhecido como o mais bem-sucedido da segunda metade do século XX, morreu ontem aos 91 anos, no New York Presbyterian Hospital, vítima de pneumonia. A notícia foi dada por Bill Evans, representante e amigo de longa data de Simon. Relembrado como “mestre da comédia de Broadway” pela agência de notícias Associated Press, Neil Simon foi um homem das artes, que dominou Broadway, a zona artística mais prestigiada de Nova Iorque, com a triologia das peças “The Odd Couple” (Um Estranho Casal, que se transformou numa série televisiva), “Barefoot in the Park” (Descalços no Parque) e “Brighton Beach”. O jornal The New York Times escreve que o nome de Neil Simon é “sinónimo de comédia da Broadway e sucesso comercial no teatro”, que contribuiu para a redefinição do humor americano popular. Foi por todos estes aspectos que um teatro na Broadway foi intitulado com o seu nome, em 1983. Neil Simon, nascido em 4 de Julho de 1927 em Bronx, Nova Iorque, foi reconhecido como o dramaturgo mais bem-sucedido do século XX nos Estados Unidos da América e as suas obras deixaram um cunho intemporal na cultura norte-americana. Entre a longa lista de prémios que recebeu, contam-se quatro prémios Tony, dois prémios de vida, um Pulitzer em 1991, um prémio Mark Twain e outros. Em 1966, Neil Simon pôs em cena quatro espectáculos em simultâneo na Broadway. Entre 1965 e 1980, as peças de Neil Simon foram apresentadas mais de 9.000 vezes. Escreveu guiões para o comediante Sid Caesar, junto de Woody Allen, Mel Brooks e Carl Reiner. Depois de 20 anos de casamento e da morte da primeira mulher, em 1973, Neil Simon casou-se mais quatro vezes, duas vezes consecutivas com a mesma mulher.
Hoje Macau EventosÓbito | Dançarino e coreógrafo Lindsay Kemp morreu aos 80 anos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]influente dançarino e coreógrafo britânico Lindsay Kemp, conhecido por ensinar cantores como David Bowie e Kate Bush ao longo da sua carreira, morreu aos 80 anos. A realizadora Nendie Pinto-Duschinsky, que está a fazer um documentário chamado “A última dança de Lindsay Kemp” anunciou que Kemp morreu subitamente depois de um dia de ensaio “perfeito” com os seus alunos. Kemp estava a escrever as suas memórias e ia fazer uma digressão, acrescentou. “Lamento informar que Lindsay faleceu na noite passada… ele estava muito feliz e foi muito inesperado”, escreveu a realizadora na página de Facebook do filme. A agência de notícias italiana ANSA noticiou que o bailarino e artista de mímica morreu durante a noite na sua casa de Livorno, na Toscânia. Kemp deixou o Reino Unido em 1979 para viver em Espanha e mudou-se mais tarde para Itália. Kemp, que actuava frequentemente com a cara pintada de branco e trajes teatrais, nasceu em 1938 e formou a sua companhia de dança nos anos 60. É reconhecido por ter ajudado a criar a personagem de Ziggy Stardust de David Bowie e por ter ensinado a cantora Kate Bush a dançar. Coreografou e actuou nos célebres concertos em que Bowie encarnou Ziggy Stardust em Londres, em 1972, e fez curta aparições em filmes como “The Wicker Man” (O Sacrifício) e “Velvet Goldmine”. Segundo a ANSA, Kemp dirigia um curso de dança no teatro Goldoni e trabalhou até recentemente num projecto de teatro social que esperava levar a Como (Itália), em Setembro.
Hoje Macau SociedadeÓbito | Irmã de Stanley Ho morreu em Junho, mas a notícia só chegou agora [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]innie Ho, irmã de Stanley Ho, morreu, em Junho, aos 95 anos. Foi o que noticiou ontem o Apple Daily. O jornal de Hong Kong, em língua chinesa, assinala que a informação não veio antes a público por os familiares de Winnie Ho terem decidido tratar o caso de forma discreta. A irmã de Stanley Ho terá morrido no Hong Kong Sanatorium & Hospital, onde se encontrava internada. Stanley e Winnie Ho travaram, durante anos, uma batalha com acusações mútuas e processos em tribunal relacionados com acções da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM).
Hoje Macau InternacionalÓbito | Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, morre aos 80 anos “É com grande tristeza que a família Annan e a Fundação Kofi Annan anunciam que o ex-secretário-geral das Nações Unidas e vencedor do prémio Nobel da Paz morreu pacificamente no sábado, 18 de Agosto, após uma curta doença”, publicou a fundação do ex-diplomata ganês num comunicado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]diplomata ganês Kofi Annan morreu no sábado aos 80 anos, em Berna, vítima de “curta doença”, de acordo com um comunicado da fundação por si instituída. O mundo diplomático e político reagiu em uníssono ao desaparecimento do homem distinguido pelo Prémio Nobel de 2001 na sequência da criação do Fundo Global de Luta contra a Sida, Tuberculose e Malária. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lembrou Kofi Annan como “uma força que guiou o bem”. “De muitas maneiras, Kofi Annan encarnou as Nações Unidas. Ele dirigiu a organização, no novo milénio, com dignidade e uma determinação inigualável”, afirma António Guterres em comunicado. Kofi Annan, que fez a sua carreira profissional nas Nações Unidas, cumpriu dois mandatos como secretário-geral da ONU, entre 1 de Janeiro de 1997 a 31 de Dezembro de 2006. O diplomata Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, foi um “firme defensor do diálogo e da cooperação entre as nações, da dignidade da pessoa humana e dos princípios basilares da Carta das Nações Unidas”, afirma o Presidente da República portuguesa na sua mensagem de condolências. Na mensagem enviada ao actual secretário-geral da ONU, divulgada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirma que “Kofi Annan será recordado como um lutador incansável pela Paz, como reconhecido pelo Comité do Prémio Nobel, que, em 2001, o agraciou, e às Nações Unidas, com o Prémio Nobel”. O Chefe de Estado recorda que Annan, que esteve à frente da ONU de 1997 até 2006, “foi também um amigo constante de Portugal e um aliado inquebrantável na luta pela autodeterminação do povo de Timor-Leste, para cuja independência tanto contribuiu”. Annan “logrou ainda, durante o seu mandato, incluir no debate público questões como o estatuto das mulheres e reforçar o relacionamento com a sociedade civil. O seu legado perdurará assim como um exemplo e uma referência”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa. “O Presidente da República associa-se assim a todos aqueles que nesta hora sentem a perda de um grande estadista internacional que foi igualmente um visionário, tendo transmitido, em seu nome e do povo português, as condolências à família de Kofi Annan, extensivas à Organização das Nações Unidas”, segundo a mesma nota. Amigo de Timor O primeiro-ministro português também prestou homenagem ao ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan ao declarar que o ganês foi um líder da causa da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos. “Homenageio Kofi Annan, hoje falecido. Como secretário-geral das ONU, foi um líder mundial da causa da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos. Foi também uma das personalidades que mais contribuíram para a independência de Timor-Leste”, declarou António Costa na sua conta no Twitter. O ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, também se juntou às homenagens a Kofi Annan, cujo nome será sempre recordado em Timor-Leste por ter conseguido cumprir o seu compromisso de resolver o problema do território. “Ele cumpriu com o seu compromisso em que disse que queria ver resolvido o conflito em Timor-Leste. Dinamizou a questão nomeando um representante especial, dinamizou encontros trilaterais, com a ONU, a Indonésia e Portugal”, recordou Ramos-Horta. “O nome dele ficará sempre recordado neste país. E espero que o nosso Estado se faça representar no seu funeral ao mais alto nível. Já alertei o Governo para ver como honrar Kofi Annan”, disse Horta que enquanto Presidente atribui a Annan o galardão timorense mais alto, a Coroa da Ordem de Timor-Leste. Recorde-se que coube a Kofi Annan, a poucos minutos das 00h de 20 de Maio de 2002, entregar formalmente Timor-Leste aos timorenses numa cerimónia que marcou a restauração da independência do país. Annan tinha supervisionou a assinatura do histórico acordo de 5 de Maio de 1999 – entre Portugal e a Indonésia – que permitiu o referendo em que os timorenses escolheram ser independentes. Horta, que conheceu Annan no início da década de 1980, recorda a sua “seriedade e serenidade” e que logo no seu primeiro discurso disse que queria ver a questão de Timor-Leste resolvida no seu mandato. O líder histórico timorense deveria ter-se encontrado com Annan no próximo mês de Setembro quando participaria, enquanto comissário, na Comissão Global sobre Política da Droga, que era liderada pelo antigo secretário-geral. Primeira visita Kofi Annan falou pela primeira à população timorense a 27 de Agosto de 1999, numa mensagem dias antes do referendo da independência, cujo 16.º aniversário se cumpre no próximo dia 30 de Agosto. “Permitam-me congratular-vos por se terem recenseado em tão grande número, e por terem seguido o processo com muitas paciência, coragem e dedicação a fim de garantir um futuro melhor para os vossos filhos”, refere a mensagem, transmitida em Timor-Leste. Annan visitou Timor-Leste pela primeira vez ainda antes da independência, em Fevereiro de 2000, tendo feito um périplo por Díli e uma visita a Liquiçá, a oeste da capital timorense. “Juntos conseguiremos atravessar a actual crise, abrindo as portas a uma nova era para Timor-Leste. Uma era em que Timor-Leste ocupará o seu lugar entre a família das nações, onde os seus homens, mulheres e crianças possam viver vidas de dignidade e paz”, disse no seu primeiro discurso no país. O diplomata ganês em 1962 assumiu a direcção de Orçamento da Organização Mundial da Saúde, e regressou às Nações Unidas no final da década de 1980, como secretário-geral adjunto em três posições consecutivas, Gestão dos Recursos Humanos e Coordenador para as Medidas de Segurança do Sistema das Nações Unidas (1987–1990), subsecretário-geral para Planeamento de Programas, Orçamento e Finanças e de Controlador (1990–1992), e responsável pelas Operações de Manutenção da Paz (1993-1996).
Hoje Macau EventosÓbito | Morreu Aretha Franklin aos 76 anos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]cantora norte-americana Aretha Franklin, considerada a “Rainha da Soul”, morreu ontem, aos 76 anos, anunciou a sua agente. A agente Gwendolyn Quinn enviou à Associated Press (AP) uma declaração da família, na qual anuncia que Aretha Franklin morreu às 09h50 locais na sua casa em Detroit, no estado do Michigan. “A causa oficial da morte de Aretha Franklin foi um cancro avançado no pâncreas do tipo neuroendócrino, confirmado pelo seu oncologista, Philip Phillips, do Karmanos Cancer Institute”, lê-se na declaração da família, difundida pela AP. A agência noticiosa norte-americana aponta Aretha como a “indiscutível rainha da soul”, que interpretou num “estilo incomparável” clássicos como “Thing”, “I Say a Little Prayer” e sua icónica canção, “Respect”. Aretha Franklin “tornou-se um ícone cultural em todo o mundo”, afirma a AP. “Num dos momentos mais sombrios das nossas vidas, não conseguimos encontrar as palavras apropriadas para expressar a dor que sentimos no nosso coração. Perdemos a matriarca e a rocha de nossa família”, lê-se na declaração da família.
Hoje Macau EventosÓbito | Morreu guitarrista Phil Mendrix aos 70 anos [dropcap]O[/dropcap] guitarrista Filipe Mendes, conhecido como Phil Mendrix, morreu ontem, aos 70 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada, disse à agência Lusa fonte próxima da família. O corpo do músico que foi considerado um dos melhores guitarristas portugueses de sempre vai estar em câmara ardente, a partir das 15h de hoje, na capela de Santa Maria no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Às 14h de amanhã naquela capela haverá missa de corpo presente, realizando-se o funeral às 15h para o cemitério dos Prazeres, também em Lisboa. Nascido em Lisboa, em 10 de Novembro de 1947, Filipe Mendes começou a estudar piano com sete anos. Em 1971, aperfeiçoou os conhecimentos de guitarra eléctrica num curso na Chicago School of Music. Em 1964, estreou-se como profissional na rádio e televisão, tendo actuado no Festival Yé-Yé e no Teatro Monumental, em Lisboa. O músico foi líder dos Chinchilas, que formou aos 16 anos com Vítor Mamede, José Machado, Mário Piçarra e Fernando, uma formação pioneira do designado como rock psicadélico português que inicialmente se chamavam Monstros. Fortemente influenciada pela música dos Cream e de Jimi Hendrix – sobrenome que esteve na origem nome profissional que o músico acabaria, mais tarde, por adoptar já que era conhecido como o “Jimi Hendrix português” devido aos seus solos de guitarra, a banda gravou o primeiro disco em 1967. Quatro anos depois, a formação que teve origem no Porto actuou no primeiro festival de Vilar de Mouros. Nesse ano sai o único ‘single’ editado pelos Chinchilas, com os temas “Barbarela” e “D. João”, em 1971, ano em que o grupo acabaria por se dissolver, segundo a “Enciclopédia da Música Ligeira”, editada pelo Círculo de Leitores e dirigida por Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida. Filipe Alberto do Paço de Oliveira Mendes nasceu em Lisboa, em 10 de Novembro de 1947, e atravessou as várias décadas do rock português em múltiplos projectos e palcos da música. https://www.youtube.com/watch?v=soiLdrwCm_E
Hoje Macau EventosÓbito | Morreu o Nobel da Literatura V.S. Naipaul O Prémio Nóbel da Literatura, V.S. Naipaul morreu ontem com 85 anos. O aclamado escritor de ascendência indiana deixou a sua marca na literatura internacional, apesar das muitas posições polémicas que defendeu e que lhe valeram acusações de racismo e sexismo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]escritor V.S. Naipaul, prémio Nobel da Literatura em 2001, morreu ontem com 85 anos na sua casa em Londres, anunciou a família. A mulher de Vidiadhar Surajprasad Naipaul, Nadira Naipaul, anunciou que o escritor “morreu rodeado por aqueles que amava, depois de ter vivido uma vida recheada de criatividade e propósito”. Naipaul foi agraciado com o Nobel da Literatura em 2001 por ter “uma narrativa perceptiva unida e um escrutínio incorruptível em trabalhos que nos obrigam a reparar na presença de histórias reprimidas”. Com uma carreira que abarcou meio século, o escritor viajou, numa descrição do próprio citada pela Associated Press (AP), como um “colonial descalço” da rural ilha de Trinidad (Trindade e Tobago) para a classe alta inglesa, conquistou os mais cobiçados prémios literários e um título de nobreza (foi ordenado cavaleiro), e foi elogiado como um dos maiores escritores ingleses do século XX. Entre as suas obras mais aclamadas estão os romances, traduzidos em português, “A Curva do Rio” ou “Uma Casa para Mr. Biswas”, sendo ainda autor de “Uma Vida pela Metade”, “Num Estado Livre”, “A Máscara de África” ou “Para Além da Crença”, entre dezenas de outros. A sua obra explorava o colonialismo e a descolonização, o exílio e as lutas do homem comum num mundo em desenvolvimento – temas que ecoam as suas origens e a sua trajectória. Escritor polémico Apesar de a sua escrita ser amplamente elogiada pela compaixão em relação aos mais pobres e aos deslocados, Naipaul ofendeu muitas pessoas com o seu comportamento arrogante e piadas sobre antigos súbditos do império britânico. A AP recorda quando apelidou a Índia de “sociedade de escravos”, gracejou que África não tem futuro e explicou que as mulheres indianas usam um ponto vermelho na testa para dizer: “a minha cabeça é vazia”. Em 1989 Naipaul riu-se da ‘fatwa’ (decreto religioso islâmico) contra Salman Rushdie, também escritor britânico, também de ascendência indiana, dizendo que era “uma forma extrema de crítica literária”. Outro caribenho laureado com o Nobel da Literatura, Derek Walcott, criticou que a prosa de V. S. Naipaul ficava manchada pela sua “repulsão em relação aos negros”. O escritor de Trinidad C.L.R. James disse-o de outra forma, escrevendo que os pontos de vista de Naipaul reflectiam simplesmente “o que os brancos queriam dizer, mas não se atreviam”. Da Índia para o mundo Vidiadhar Surajprasad Naipaul – Vidia, para os que o conheciam de perto – nasceu a 17 de Agosto de 1932, na ilha de Trinidad, descendente de indianos empobrecidos embarcados para as Índias Ocidentais como trabalhadores em regime de semi-escravatura. O seu pai era um aspirante a romancista autodidacta cujas ambições foram destruídas por falta de oportunidades. O filho estava determinado a deixar a sua terra natal o mais cedo possível, e anos mais tarde referiu-se repetidamente ao lugar onde nasceu como pouco mais do que uma plantação. Em 1950, Naipaul ganhou uma das poucas bolsas de estudo do Governo para estudar em Inglaterra e deixou para trás a sua família para iniciar estudos de Literatura Inglesa na University College, Oxford. Foi lá que conheceu a sua primeira mulher, Patricia Hale, com quem casou em 1955. Depois de se diplomar, Naipaul passou por um período de dificuldades financeiras e apesar da sua educação em Oxford, viu-se rodeado por um ambiente hostil e xenófobo em Londres, tendo escrito numa carta à sua mulher: “esta gente quer quebrar-me o espírito… querem que saiba qual é o meu lugar”. A estreia literária aconteceu em 1957, com o livro “The Mystic Masseur”, um livro com humor sobre a vida das pessoas pobres de um gueto em Trinidad. Em 1959 conquistou o Somerset Maugham Award com a colecção de contos “Miguel Street” e em 1961 publicou aquele que a crítica considerou uma obra-prima, “Uma Casa para Mr. Biswas”, e que prestou tributo ao seu pai, contando a história de um homem com uma vida restringida pelos limites de uma sociedade colonial. Seguiram-se outros prémios, o título de nobreza de Cavaleiro em 1990 e o Prémio Nobel da Literatura em 2001. A AP recorda que à medida que crescia o seu prestígio literário crescia também a sua reputação de homem difícil com personalidade irascível, sendo descrito como um homem reservado que não tinha muitos amigos. Um dos poucos, o escritor norte-americano Paul Theroux, e de quem acabaria por se afastar, tendo o americano em 1998 descrito Naipaul numa biografia como “racista, sexista, que fazia birras terríveis e batia em mulheres”. Apesar de ter ignorado o livro de Theroux, acabaria por autorizar em 2008 uma outra biografia onde admitia alguns dos factos relatados pelo americano e confessava que acreditava que a sua confissão de recorrer a prostitutas tinha contribuído para a morte da sua primeira mulher, que morreu de cancro de mama em 1996. Dois meses depois da morte de Patricia Hale casou com a sua segunda mulher, Nadira Alvi, depois Nadira Naipaul, uma colunista paquistanesa.
Hoje Macau EventosÓbito| Philip Roth morreu aos 85 anos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor norte-americano Philip Roth morreu de insuficiência cardíaca na terça-feira, aos 85 anos, disse o agente literário, Andrew Wilie, à agência noticiosa Associated Press. Natural de Newark, Nova Jérsia, o premiado romancista, habitualmente mencionado como candidato ao Nobel da Literatura, era considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX. Autor de cerca de três dezenas de livros, tinha anunciado a decisão de deixar de escrever a partir de 2012, aos 78 anos. Entre várias distinções, Philip Roth foi premiado com dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle e, em 1998, com o Pulitzer a partir da ficção “Pastoral Americana”. Roth foi ainda galardoado com o Prémio Internacional Man Booker em 2011 e, um ano depois, venceu o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura. O livro “O Complexo de Portnoy” teve grande impacto junto do grande público em 1969, devido às cruas descrições sexuais e à maneira de abordar a vivência judaica.
António Conceição Júnior Manchete VozesJúlio Pomar, o suave rebelde [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omo que por coincidência, mirei ontem à noite o relógio. Eram 01:57 e, sonolento, coloqueios auscultadores que estão bem perto, para ouvir as notícias da Antena 1. O noticiário abriu com uma triste notícia: Júlio Pomar tinha falecido aos 92 anos. Olhei para o breu do tecto e ocorreu-me “A Cegueira dos Pintores” e de como me tinha comprazido a ler a escrita de um dos maiores pintores de sempre, de Portugal e, porque não, do mundo. Se Pomar se tornou icónico pelo “Almoço do Trolha” e, consequentemente da sua inscrição no movimento Neorrealista português, será redutor tentar classificá-lo dentro de qualquer movimento. Júlio Pomar foi, igualmente, e como António Arnaut – desaparecido quase no mesmo dia – um cidadão de corpo inteiro, combatente pela liberdade, que foi preso por isso e por ser filiado no Partido Comunista Português, consequências da sua rebeldia perante preceitos e conceitos já fora de prazo. Foi através da grande Amizade criada com outros grandes lutadores pela liberdade, Manuel de Brito e sua Mulher, Arlete Alves da Silva que, nos princípios dos anos 1980, me foi possível trazer a Macau, para a Galeria do Museu Luís de Camões, exposições da Galeria 111, entre as quais figuravam obras gráficas de Júlio Pomar. Foi no aprofundar dessa Amizade e de outras, como o grande Poeta Pedro Tamen e o Arq. José Sommer Ribeiro, respectivamente Administrador para as Belas-Artes e Director do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, todos amigos entre si, que foi possível realizar em 1985 o “Ciclo dos Últimos Cem Anos da Pintura Portuguesa” em Macau, na Galeria do Leal Senado, e na qual, também Júlio Pomar foi um dos cabeças de cartaz. Na sua obra perpassam não apenas o Neorrealismo com obras de referência como o já referido “Almoço do Trolha” e “O Gadanheiro”, e posteriormente “Os Cegos de Madrid”, uma quase invocação a Goya, de 1957, e sucessivos ciclos como as sínteses nuas que encontram no “Banho Turco” e em “Maio de 68” referências que serão substituídas por outra linguagem radicalmente diferente com a sua série de tigres e macacos do início dos anos 80, que se desenvolve noutra série que aqui se representará com o retrato de Fernando Pessoa e outras personalidades, e touradas e corvos, numa incessante deambulação naquilo que ele próprio consideraria “a sua volubilidade”. Para além da admiração pela sua espectacular versatilidade que aqui se testemunha de modo incompleto, Júlio Pomar foi sempre um daqueles rebeldes suaves incapazes de ser outra coisa que não a sua autenticidade. A atestá-lo fica esta pequena estória: Pomar estava em Macau com sua Mulher Teresa e o casal Arlete Alves da Silva e Manuel de Brito e fomos os três casais ao Forum de Macau para ouvir um concerto onde pontificava um pianista da nossa praça. As cadeiras eram incómodas, eu fazia barulho com o celofane dos meus rebuçados e, pelo canto do olho, reparo num aceno do Pomar; propunha-me irmos fumar. Saímos os dois e fomos para o átrio fumar e conversar placidamente, enquanto ao longe rugia a orquestra. Conversámos e fumamos livremente, até que terminou o concerto e se nos juntaram as respectivas mulheres e os amigos. Dias depois, de um modo extremamente afável, no Arquivo Histórico do Tap Seac, Pomar descerrava um trabalho do jovem Ng Vai Meng, dando-lhe um afável abraço. Para se ser verdadeiramente grande é preciso ser-se autêntico. Para se ser autêntico, é preciso por vezes ser-se rebelde, o que, no caso de Júlio Pomar, foi sempre um suave mas determinado rebelde, a recordar-me uma pintura anagramática: o SG Gentil, de um autor cujo nome teima em não me chegar à memória. Todos estamos mais pobres.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteÓbito | O artista plástico Júlio Pomar morreu aos 92 anos em Lisboa O incontornável Júlio Pomar faleceu ontem aos 92 anos. O artista, por muitos classificado como indomável, deixa um vasto legado. Para Carlos Marreiros, além do génio artístico, a inteligência e a luta por ideais marcaram a sua vida e obra. Rui Rasquinho considera que Pomar é um exemplo de obstinação de um grande artista que viveu totalmente para o seu trabalho [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista Júlio Pomar faleceu na quarta-feira aos 92 anos. Tanto o homem como a obra deixam um legado de talento e luta pela liberdade. Algumas das sua obras passaram por Macau pelo menos duas vezes. A última aconteceu em Setembro de 2015 numa mostra no Albergue SCM – “A jornada de um mestre – Júlio Pomar e amigos”. “Era um artista muito coerente. Um artista indomável e de uma inteligência acutilante” começa por dizer o arquitecto Carlos Marreiros ao HM. Muitas vezes os artistas plásticos expressam-se bem nos seus trabalhos, mas verbalmente encontram algumas dificuldades. Não era o caso de Pomar. “O artista tinha um discurso poderoso, penetrante e sabia ser muito duro quanto o tinha que ser e ser muito sedutor e doce quando também o queria ser, sem nunca abdicar da sua posição”, refere o também responsável pelo Albergue. Perseguido durante o Estado Novo, o artista fugiu para França. De acordo com Marreiros, esta necessidade de fuga acabou por ser uma mais valia: “Se calhar foi bom, porque desta forma Júlio Pomar pode abrir os seus horizontes de forma acelerada e qualitativa, mais do que se estivesse em Portugal”. Uma das características da sua visão artística é a versatilidade. Homem que passou por várias fases ao longo da carreira, Pomar não deixou que nenhuma das suas facetas retirasse qualidade à globalidade da sua obra. Muito pelo contrário. Em cada mudança revelava a solidez. No entender de Carlos Marreiros, esta é uma afirmação não só de talento, mas também de inteligência. “Além do génio, o artista tem de ser culto, tem de ser inteligente e tem de ser muito trabalhador”. Júlio Pomar, aponta, reunia, pelo menos esta três, sem se ficar por aqui. Juntam-se às virtudes do pintor, o facto de Pomar utilizar a arte para indicar situações de injustiça social e de luta pela liberdade. “O facto de se conseguir reinventar a si próprio é uma das características mais notáveis e brilhantes do Júlio Pomar”, afirma. Também para Rui Rasquinho, a morte de Pomar é a perda irreparável. Na visão do artista local o que mais se destacava em Júlio Pomar era o facto do artista viver intensamente a sua prática. “Ele só pensava em trabalhar e já há poucos assim”, refere. Para o futuro, fica a obra que Carlos Marreiros considera que deve agora passar por um cuidadoso processo de catalogação, sendo que, afirma, seria de toda a pertinência criar um museu em sua homenagem. “Este espólio tem que ser organizado e classificado de forma a um dia integrar um museu digno da sua qualidade, ou que seja mesmo construído um museu dedicado a Júlio Pomar”. Reacções oficiais O Presidente da República Portuguesa lembrou Júlio Pomar como um “criativo irreverente” e considerou que a sua morte deixa a cultura portuguesa “muitíssimo mais pobre”, manifestando a certeza de que o Governo proporá “o luto nacional correspondente”. O chefe de Estado descreveu Júlio Pomar como “um inovador e criativo irreverente, profundamente rebelde”, que “esteve sempre à frente do seu tempo” e “marcou boa parte do século XX, marcou a transição para o século XXI” em Portugal, “mantendo-se sempre jovem”. “Nós devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo e a entrada do mundo em Portugal, desde logo, durante a ditadura, não apenas como pintor, não apenas como desenhador, mas como grande personalidade da cultura”, afirmou. Para ilustrar a irreverência de Júlio Pomar, Marcelo Rebelo de Sousa recordou “o seu retrato do Presidente Mário Soares que figura na galeria dos retratos no Museu da Presidência da República, e que na altura chocou tantos bem pensantes”, observando: “Porque ele era assim”. O Presidente da República referiu ainda que o seu trabalho artístico “percorreu todas as fases, mais figurativo, menos figurativo, mais abstracto, menos abstracto” e definiu-o como “um desconstrutor” que olhava “para a outra realidade das coisas” e a retratava. Por seu lado, o primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que Portugal perdeu “um dos seus mais icónicos artistas”, numa primeira reacção à morte do artista plástico Júlio Pomar. “Com a morte de Júlio Pomar, Portugal perde um dos seus mais icónicos artistas”, disse Costa, numa mensagem publicada na rede social Twitter. “Ficará para sempre a sua obra, comprometida apenas com a cultura portuguesa e com a liberdade criativa”, acrescentou o chefe do Governo português. Pintor e escultor, nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar é considerado um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa. O artista deixa uma obra multifacetada que percorre mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e viagens a lugares como a Amazónia, no Brasil. O homem Nascido em Lisboa, em 1926, Júlio Pomar, que gostava mais de desenhar do que de jogar à bola quando era criança, vendeu o primeiro quadro a Almada Negreiros por seis escudos, numa época em que era impensável viver da pintura. Tornou-se um dos artistas mais conceituados do século XX português, com uma obra marcada por várias estéticas, do neorrealismo ao expressionismo e abstracionismo, e uma profusão de temáticas abordadas e de suportes artísticos experimentados. A obra foi dedicada, sobretudo, à pintura e ao desenho, mas realizou igualmente trabalhos de gravura, escultura e ‘assemblage’, ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo. Desde muito jovem começou a escrever sobre arte, tem obra poética publicada, alguma musicada e interpretada por cantores como Carlos do Carmo e Cristina Branco. Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e nas Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942, em Lisboa, convidado por Almada Negreiros, na VII Exposição de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional/Secretariado Nacional de Informação. Fez parte da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD), e participou activamente nas lutas estudantis, o que lhe custou a expulsão das Belas Artes do Porto. Em 1947, realizou a primeira exposição individual, no Porto, onde apresentou desenhos, e colaborou com os jornais A Tarde, Seara Nova, Vértice, Mundo Literário e Horizonte, participando no movimento artístico “Os Convencidos da Morte”, assim denominado por oposição aos célebres “Os Vencidos da Vida”, grupo marcante na história da literatura portuguesa. A oposição ao regime de Salazar leva-o a passar quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros – “Resistência” – pela polícia política, e a ocultação dos frescos com mais de 100 metros quadrados, realizados para o Cinema Batalha, no Porto. Mesmo assim, Júlio Pomar conseguiu desenhar e pintar na prisão – onde circulavam papel, lápis e caneta. Num período inicial, neorrealista, foram marcantes algumas das suas obras, como “O Almoço do Trolha” ou a “Menina com um Gato Morto”. Dos tempos que viveu em Paris, destaca-se a série de quadros a preto e branco para ilustrar a versão de “D. Quixote”, de Aquilino Ribeiro. Em Portugal, a primeira retrospectiva da obra de Pomar foi organizada em 1978 pela Fundação Gulbenkian e exibida na sua sede em Lisboa, também no Museu Soares dos Reis, no Porto e, parcialmente, em Bruxelas. Júlio Pomar também ilustrou várias obras, como “Guerra e Paz”, de Tolstoi, “O Romance de Camilo, de Aquilino Ribeiro, a obra “D. Quixote”, de Cervantes, “A Divina Comédia”, de Dante “Pantagruel”, de Rabelais, “Rose et Bleu”, de Jorge Luís Borges, e “Mensagem”, de Fernando Pessoa.