Tóquio2020 | Arrancam hoje uns dos mais estranhos Jogos Olímpicos da Era Moderna

Realiza-se hoje a cerimónia de inauguração dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, com o habitual cortejo das comitivas dos países participantes e quatro horas de espectáculo. Tudo o resto será inédito nestas olimpíadas, das medidas sanitárias, à ausência de público, passando pela possibilidade de cancelamento e o estado de emergência em Tóquio. Até ontem, a organização dava conta de mais de 90 infecções de covid-19 entre pessoas credenciadas para os jogos, enquanto Tóquio

 

Ao final da tarde de hoje, 19h de Macau, arrancam oficialmente os Jogos Olímpicos Tóquio2020. A cerimónia de inauguração terá como palco o novo Estádio Olímpico da capital japonesa, e seguirá o protocolo tradicional com a abertura oficial a cargo do Imperador Naruhito, seguido dos juramentos da praxe e da habitual parada das comitivas de todos os países participantes.

A primeira nação a entrar no Estádio Olímpico será, como dita a tradição, a Grécia, seguida de uma comitiva de atletas refugiados e dos restantes países por ordem alfabética do país organizador. O cartaz prossegue com a apresentação de uma série de espectáculos.

A grande diferença para as edições anteriores é a ausência de público nas bancadas e as medidas sanitárias de controlo da propagação da covid-19. Como não poderia deixar de ser, a pandemia tem sido o foco principal das olimpíadas, depois de adiamento no ano passado, dos protestos contra a realização e dos múltiplos casos de infecção.

Aliás, o próprio chefe do comité organizador do Tóquio2020 Toshiro Muto, afirmou na quarta-feira que não excluía a possibilidade do cancelamento dos Jogos Olímpicos, que estaria atento aos números de infecção.
Importa referir que mais de 90 pessoas credenciadas para as olimpíadas testaram positivo à covid-19 antes da cerimónia de abertura. Além disso, a capital japonesa atravessa um novo pico de infecções, com o registo de 1.832 novos casos na quarta-feira.

A cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos vive, neste momento, o seu quarto estado de emergência, que se manterá até 22 de Agosto, abrangendo a duração total dos Jogos Olímpicos, que terminam a 8 de Agosto.
Especialistas da área da saúde alertaram que o número de novos casos de infecção pelo coronavírus em Tóquio vai agravar-se nas próximas semanas.

O médico Norio Ohmagari, membro do painel de especialistas do governo da área metropolitana de Tóquio, considera que a média diária de casos na capital poderá atingir cerca de 2.600 em duas semanas, se continuarem a surgir ao mesmo ritmo.

Apesar de tudo, o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) Thomas Bach afirmou na quarta-feira que o cancelamento “nunca foi uma opção”.

Portugueses na aldeia olímpica

“Se há um país que consegue organizar uns Jogos Olímpicos no meio desta pandemia é o Japão. Na semana de treinos em Kaga era ridículo o pormenor a que chegavam”, elogiou Rui Bragança, representante único do taekwondo luso em Tóquio2020.

O atleta vimaranense, que também é médico, recordou a zona isolada em que a comitiva viajou no avião, com direito a instalações sanitárias privadas, e contou que, já no Japão, os guias “controlam tudo”, para que nada falhe em termos de segurança sanitária.

“Os nossos guias controlavam tudo ao máximo. Todos os voluntários fazem tudo por tudo para as regras serem seguidas. Fui treinar ao local oficial e estava tudo desinfectado, com divisórias no ringue e tudo. Estes Jogos Olímpicos são uma amostra de que com esforço e dedicação tudo é possível”, vincou o lutador, que compete amanhã.

A judoca Catarina Costa, igualmente formada em medicina, garante que se tem sentido “bastante segura” na aldeia olímpica, uma vez que “quase todos os atletas cumprem as regras”. “É raro ver alguém sem máscara. Tenho alguma preocupação extra e evito estar tão perto de outras pessoas, como no refeitório. Está tudo a correr muito bem e todos estão a tomar as devidas medidas”, assegurou a atleta, oitava classificada no ‘ranking’ de qualificação na categoria de -48 kg, que também se estreia amanhã.

O nadador José Paulo Lopes, de apenas 20 anos, entende que a pandemia “está controlada” na aldeia olímpica, uma vez que “quase toda a gente cumpre com os requisitos”.

“Não nos afecta assim tanto, pois já estamos habituados a viver assim. Não foge à normalidade que estamos a viver em Portugal”, desdramatizou o bracarense, que vai competir nos 800 metros livres e 400 metros estilos.

Se a segurança em termos de saúde pública não é preocupação para estes competidores lusos, já a falta de público limita um pouco a experiência e até a preparação.

Por exemplo, no Rio2016, Júlio Ferreira, que falhou a qualificação, foi parceiro de treino de Rui Bragança, situação que se repete agora em Tóquio2020, com a diferença do companheiro não poder, desta vez, ficar instalado no complexo que alberga os competidores.

“A família e amigos que não vieram (…), mas isso até pode ser motivação extra, pois continuaram a apoiar-nos neste ano e meio. Nos momentos mais difíceis estiveram sempre lá e agora vamos lutar por eles. As bancadas estão vazias, mas eles estão em casa de madrugada a gritar por nós”, disse o nono classificado no Rio2016.

Glória ao pescoço

Portugal chega a Tóquio2020 com o judoca Jorge Fonseca com o estatuto de bicampeão do mundo de -100 kg e outros ‘vices’, como os irmãos velejadores Diogo Costa e Pedro Costa, o marchador João Vieira, a lançadora Auriol Dongmo e a surfista Yolanda Sequeira.

Também Pedro Pichardo detém a melhor marca mundial no triplo salto, numa lista de ‘candidatos’ que tem de incluir o canoísta Fernando Pimenta e a judoca Telma Monteiro, ambos já medalhados, mas também o skater Gustavo Ribeiro, a selecção de andebol e o ‘eterno’ Nelson Évora, o único campeão olímpico português em actividade, apesar dos recentes resultados menos positivos.

“O ano de 2019 foi muito forte com resultados em Mundiais. Também não deixámos de ser mais ambiciosos quando assinámos o contrato-programa do que aquilo que já tínhamos logrado alcançar, com uma medalha em cada uma delas. Contratualizámos duas medalhas para Tóquio, e essa ambição foi sendo acompanhada pelos resultados conquistados”, afirmou o Chefe de Missão de Portugal, Marco Alves.

O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, admitiu que esperava o apuramento de atletas em karaté, tiro e futebol, ficando, por isso, aquém do objectivo de 19 modalidades em prova nesta edição dos Jogos Olímpicos.

“Estou satisfeito em relação aos objectivos atingidos, de número de atletas, percentagem de género, tínhamos estabelecido como limite os 60 por cento de homens. Com algumas boas surpresas que o apuramento suscitou, como a questão do andebol, as duas mulheres no surf, o jovem das águas abertas [Tiago Campos], mas não estou satisfeito relativamente ao número de modalidades previstas”, afirmou.

O presidente do COP considera que o valor da missão “está em linha” com a apresentada no Rio2016, onde Portugal conquistou uma medalha de bronze, pela judoca Telma Monteiro, e 10 diplomas (classificações entre o quarto e oitavo lugares), confirmando que as expectativas de resultados estão “em consonância com essa avaliação”.

Dias bizarros

“[Vão ser] uns Jogos estranhos, difíceis, muito diferentes do que estamos habituados, porque os constrangimentos, limitações, dificuldades estabelecidas criam-nos a expectativa de que as coisas vão correr bem, mas num quadro completamente diferente”, advertiu o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).

Apesar das dificuldades anunciadas, e da oposição por parte da maioria da população japonesa, Constantino disse esperar que as exigências sejam amenizadas.

Na véspera do início dos Jogos Olímpicos, Tóquio parece viver alheado do maior evento desportivo do mundo, algo só possível numa sociedade altamente respeitadora, face a um vírus que levou ao inédito adiamento da competição.

As 43 infraestruturas alocadas aos Jogos Olímpicos estão devidamente ‘protegidas’ dos japoneses, impedidos de assistir ao evento presencialmente – depois de já ter sido negada essa possibilidade aos estrangeiros -, pelo que o habitual ‘circo’ olímpico, que apaixona milhões, funciona absolutamente fechado, como nunca aconteceu.

Os XXXII Jogos vão ter bancadas despidas de entusiasmo, ficando entregues somente a atletas, dirigentes, árbitros, jornalistas, organizadores e milhares de voluntários, transformando o evento global e agregador de culturas e povos num produto, apenas e só, mediatizado. Pela primeira vez desde a primeira edição, em Atenas1896, não haverá o que os Jogos têm de mais especial, o intercâmbio e partilha entre culturas, em espírito de tolerância, compreensão e harmonia, enquanto são desafiadas as melhores aptidões do Homem.

Com ou sem o mais puro espírito olímpico, serão cerca de 11.000 os desportistas a lutarem pela honra de ser um dos 339 campeões olímpicos, em provas distribuídas por 33 modalidades.

De Portugal viajaram 92 atletas, em representação de 17 desportos, com o objectivo de atingirem, pelo menos, duas medalhas, 12 diplomas, com lugares até ao oitavo, bem como 26 resultados até ao 16.º.

A esperança lusa

O atletismo é a modalidade com mais portugueses em prova, com 20 atletas, um acima de Pequim2008, mas longe dos 24 no Rio2016 e dos 25 em Londres2012.

Aos 37 anos, Nelson Évora, campeão no triplo salto em Pequim2008, vai estar pela quarta vez nos Jogos Olímpicos, depois de um sexto lugar no Rio2016 e do 40.º em Atenas2004, tendo falhado Londres2012 por lesão.

Também Pedro Pablo Pichardo e Patrícia Mamona, que se sagraram campeões europeus em pista coberta, asseguraram a presença no triplo salto, tal como os estreantes Evelise Veiga e Tiago Pereira.
Auriol Dongmo, campeã continental em pista coberta, vai participar no lançamento do peso, assim como Francisco Belo e Liliana Cá, no disco, novatos em Jogos.

João Vieira, aos 45 anos, vai estar nos 50 quilómetros marcha, na sexta vez em Jogos — apesar de qualificado, por motivos de doença, não chegou a participar na prova de marcha (20 km) em Sydney2000 —, tornando-se no segundo luso com mais presenças, a uma do velejador João Rodrigues. Ainda na marcha, Ana Cabecinha assegurou a quarta participação olímpica e na maratona Portugal estará representado por Carla Salomé Rocha, Sara Catarina Ribeiro e Sara Moreira.

A estes nomes juntam-se Salomé Afonso, nos 1.500 metros, distância a que regressa Marta Pen, 36.ª no Rio2016. Carlos Nascimento estreia-se nos 100 metros, assim como Ricardo dos Santos nos 400, distância que Cátia Azevedo, 31.ª no Rio2016, volta a correr.

Irina Rodrigues, que falhou Rio2016 por lesão, também se qualificou, e Lorene Bazolo, a mulher mais rápida de Portugal e que também já foi aos Jogos pelo Congo, somou aos 100 metros por marca os 200 por ‘ranking’.

Transmissão grátis

A cerimónia de inauguração do Tóquio2020 é transmitida hoje às 19h na TDM. O HM tentou apurar junto do Gabinete de Comunicação Social se o Governo da RAEM terá pago para transmitir os Jogos Olímpicos na TDM. O organismo liderado por Inês Chan revelou que relativamente ao “acordo entre a TDM e o China Media Group para a transmissão dos Jogos Olímpicos de Tóquio e dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, tratou-se de uma das políticas do Governo Central favoráveis a Macau e os direitos de transmissão são gratuitos”. Com Lusa e J.S.F.

23 Jul 2021

Ainu

Comunidades indígenas é tema que pouco nos ocorrerá quando pensamos no Japão, ilha distante e relativamente isolada, com notoriedades internacionais várias, desde filosofias e saberes ancestrais até modernos desenvolvimentos tecnológicos, mas a que remotamente associamos a presença de minorias étnicas indígenas, que afinal existem, no seu longo e sistemático silêncio desde que se procedeu a um processo massivo e forçado de assimilação e “integração” na sociedade japonesa, no final do século XIX.

As comunidades Ainu viviam sobretudo na região de Hokkaido, uma ilha no norte do Japão, e num conjunto de outras ilhas, ainda hoje objecto de disputas internacionais com a Rússia, num trajecto marítimo que conduz à costa oriental russa. Com uma língua própria, não escrita, que se foi transmitindo oralmente, esta comunidade antecipou muito largamente a chegada de habitantes japoneses a Hokkaido, o que só aconteceria no final do século 19, para edificar a cidade de Sapporo e iniciar a ocupação da ilha.

A hostilidade foi grande desde o primeiro momento, incluindo também o universo académico, com grande centralidade, política e geográfica, na nova cidade de Sapporo. Ainda hoje o vasto campus da Universidade de Hokkaido fica situado em pleno centro urbano e já era um dos elementos centrais na planta e no conceito original desta nova cidade construída numa área quase inabitada do planeta. E é esse “quase” que assinala as relevantes diferenças: se não é original colocar uma universidade (neste caso uma escola de estudos agrícolas, na sua formulação original) no centro da urbe, já a presença de comunidades indígenas anteriores à chegada da população dominante no país foi uma novidade na evolução histórica da sociedade japonesa que ainda hoje coloca problemas por resolver.

A relação da população do Japão com as comunidades indígenas Ainu foi desde o início de imposição e assimilação: com o importante suporte ideológico de um professor vindo dos Estados Unidos para liderar a fundação da Universidade de Hokkaido (ainda hoje omnipresente na estatuária da cidade de Sapporo), as comunidades Ainu – e os territórios que ocupavam – foram juridicamente integradas na sociedade japonesa, quer em termos das suas identidades como pessoas, quer no que respeita aos seus nulos direitos de propriedade sobre o solo, ao contrário do viria a suceder noutros países com comunidades em situação semelhante. Na realidade estas comunidades foram obrigadas a relocalizar-se e a sua língua foi proibida.

Mais de um século passaria até haver um parco reconhecimento das comunidades Ainu, em 1997, relacionado com alguns aspectos culturais específicos, incluindo a língua, mas sem qualquer direito à posse de terras ou compensação pela imposição forçada de normas sociais estranhas à população. Na realidade, só quando Hokkaido acolheu magna reunião do denominado “G8” (em 2008, um anos depois da publicação da declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas), o governo japonês viria a reconhecer os Ainu como população indígena a viver em território japonês. Essa reconhecimento só viria a assumir plena força de lei em 2019, definindo-se a comunidade Ainu como uma minoria étnica no país.

A lentidão, injustiça e mesmo violência com que os processos administrativos impuseram a assimilação das comunidades ao longo de mais de um século tiveram naturalmente impacto nos modos de vida de cada uma das pessoas que lhes pertencia – e que eram inevitavelmente tratadas como de segunda categoria no próprio país onde sempre tinham habitado. Esse estigma fez com que, até aos dias de hoje, as pessoas de etnia Ainu evitassem assumir publicamente as suas origens.

Também a nível universitário a relação conflictual havia de ser prolongada – e ainda hoje não resolvida. Na realidade, o meu único contacto directo com membros da comunidade Ainu deu-se há quase 10 anos, quando trabalhava temporariamente num projecto na Universidade de Hokkaido. Em frente ao portão principal do campus, um pequeno grupo de pessoas Ainu reivindicava a devolução dos cadáveres que, com fins científicos, tinham sido expropriados aos seus antepassados durante a primeira metade do século 20 e que nunca tinham sido devolvidos. Um problemas de difícil solução hoje, portanto, e que continua a assinalar a tensão duradoura entre a academia e as comunidades indígenas de Hokkaido.

Na realidade, ainda que a Universidade tenha inaugurado em 2005 um centro de estudos dedicado às comunidades Ainu e indígenas, só agora ali trabalha uma investigadora de origem Ainu. A assinalar a sua entrada no centro, Mai Ishihara dá uma entrevista à página de internet da Universidade onde, entre outras coisas, descreve a forma como toda a vida omitiu as suas origens, que na realidade só lhe foram reveladas pela família quando já tinha 12 anos. Mesmo já adulta e a trabalhar na Universidade, a investigadora explica as dificuldades e hesitações que teve para assumir publicamente as suas origens ancestrais na sociedade japonesa contemporânea.

E no entanto, as comunidades Ainu que ainda hoje são vistas de forma preconceituosa e estigmatizadas como categoria social inferior, acabam por ser usadas como atracção turística na região de Hokkaido, onde visitei vários museus dedicados às suas tradições culturais e até uma “aldeia Ainu”, onde supostamente se realizariam performances artísticas da comunidade e se venderia o seu artesanato(o que afinal não foi propriamente o caso). Na realidade, nem nos museus, nem na dita aldeia voltei a ter oportunidade de contactar pessoas Ainu. Talvez esta integração num centro universitário de uma investigadora que assume a sua origem Ainu constitua um tardio mas relevante passo no sentido do reconhecimento de pleno direito desta comunidade. Talvez o museu nacional Ainu que abriu no ano passado em Hokkaido constitua outro passo importante. Mas até agora a tradição cultural Ainu tem servido mais para promover o turismo de Hokkaido do que para reconhecer os direitos de uma população historicamente oprimida, segregada e auto-silenciada.

16 Jul 2021

Covid-19 | Japão abre primeiros centros de vacinação em massa em Tóquio e Osaka

O Japão abriu hoje em Tóquio e Osaka os primeiros centros de vacinação em massa contra a covid-19, para acelerar a campanha no país, quando faltam dois meses para o arranque dos Jogos Olímpicos.

Os centros, geridos pelo exército, vão estar abertos 12 horas por dia, durante três meses, e vão administrar a vacina desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Moderna, cujo uso de emergência foi aprovado pelo Governo japonês na sexta-feira.

O executivo espera vacinar até dez mil pessoas por dia no centro de vacinação de Tóquio e cinco mil no de Osaka, e tentar cumprir a meta de inocular a população com mais de 65 anos (cerca de 36 milhões de pessoas) até finais de Julho.

Durante a primeira semana, os novos centros só vão administrar a vacina a residentes naquelas localidades, mas, mais tarde, também os residentes das prefeituras vizinhas poderão vacinar-se naqueles locais, mediante reserva prévia, incluindo os habitantes de Saitama, Chiba e Kanagawa, no caso de Tóquio, e os de Kyoto e Hyogo, no caso de Osaka.

As 49 mil vagas disponíveis em Tóquio para esta semana e as 24.500 no centro de Osaka esgotaram-se rapidamente desde que se iniciou a inscrição, unicamente pela internet, em 17 de Maio. Espera-se a abertura de outros centros deste tipo, mas com gestão municipal, nas próximas semanas.

A campanha de vacinação no Japão só arrancou em fevereiro e está muito atrasada em relação a outros países, o que gera preocupação dentro e fora do país, quando faltam dois meses para o início dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, previsto para 23 de Julho.

Segundo os dados mais recentes, até sexta-feira só 5% da população tinha recebido pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19.

Em 13 de Maio, o Sindicato Nacional de Médicos Japoneses apresentou uma petição ao Governo a pedir o cancelamento dos Jogos Olímpicos, alegando o risco elevado de propagação de novas variantes do novo coronavírus SARS-CoV-2.

A organização sindical lembrou que os médicos estão a trabalhar acima das suas capacidades para dar resposta à pandemia da covid-19, e acusou o Governo de querer reduzir o número de profissionais de saúde disponíveis, ao serem destacados para a competição.

24 Mai 2021

Protestos na Coreia do Sul contra descarga de águas de Fukushima pelo Japão

O plano do Governo japonês para despejar gradualmente no mar águas tratadas, mas ainda radioactivas, da central nuclear destruída de Fukushima, está a gerar uma onda de protestos na Coreia do Sul.

A capital sul-coreana, Seul, foi hoje palco de diversas manifestações de rua, nomeadamente de grupos ligados ao meio ambiente e às pescas, que se concentraram em frente à embaixada japonesa, e ainda de uma coligação de 25 associações laborais e cívicas, a Ação do Povo de Seul, que criticaram também os Estados Unidos, por darem apoio ao plano japonês.

“A decisão (da descarga de águas de Fukushima) foi tomada apenas três dias antes da cimeira Estados Unidos-Japão. Portanto, pode-se especular que houve uma discussão antecipada entre os dois lados e que os Estados Unidos estão a apoiar o Japão em benefício próprio”, afirmou o grupo, citado pela agência sul-coreana Yonhap.

A Federação da Liberdade da Coreia, uma organização pública conservadora, juntou-se às críticas ao Japão ao realizar um protesto online, com a participação de diretores de capítulos regionais, apelando ao Japão para que reveja a decisão anunciada esta semana.

A descarga de águas contaminadas pelo Japão, alertou a federação, poluirá irreversivelmente o oceano e colocará um fardo fatal nas gerações futuras.

Tomada ao fim de sete anos de discussão sobre o destino a dar às águas usadas para arrefecer combustível da central nuclear, a decisão japonesa motivou protestos da China, Coreia do Sul, Taiwan, e também de associações japonesas, ambientalistas e ligadas às pescas.

Também o Ministério das Relações Exteriores sul-coreano convocou esta semana o embaixador japonês, Koichi Aiboshi, para um protesto formal, depois de Koo Yun Cheol, ministro da Coordenação de Políticas Governamentais, afirmar que Seul “se opõe firmemente” à decisão japonesa.

Na quinta-feira, a China convocou o embaixador do Japão em Pequim para protestar formalmente contra a decisão.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, citado pela agência Kyodo, o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, Wu Jianghao, expressou ao embaixador japonês, Hideo Tarumi, a “forte insatisfação e oposição firme” da China ao plano para as águas de Fukushima.

Na sequência do anúncio do plano pelo Governo japonês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, exortou o Japão a não efectuar a descarga “sem permissão” de outros países e da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), das Nações Unidas (ONU).

“A China reserva-se o direito de dar novas respostas” à decisão do Japão, disse Zhao à imprensa em Pequim, na terça-feira.

Pelo contrário, os Estados Unidos mostraram concordância com o plano japonês, considerando o processo de tomada de decisão de Tóquio “transparente”.

“Agradecemos ao Japão pelos esforços transparentes na sua decisão de descartar as águas tratadas de Fukushima Daiichi”, afirmou o secretário de Estado Antony Blinken, através da rede social Twitter, apelando a coordenação contínua do Japão com a AIEA.

A Agência Internacional de Energia Atómica, das Nações Unidas, apoiou o plano do Japão para despejar gradualmente no mar águas tratadas, considerando reunidas as necessárias condições de segurança.

“Estou confiante de que o governo [japonês] continuará a interagir com todas as partes de uma forma transparente e aberta enquanto trabalha para implementar a decisão de hoje”, disse o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado.

Salientado que a descarga de águas está de acordo com a prática internacional e é tecnicamente viável, a organização manifesta ainda disponibilidade para dar apoio técnico na monitorização da implementação do plano.

De acordo com a AIEA, as descargas controladas de águas radioactivas no mar são usadas de forma rotineira por operadores de centrais nucleares em todo o mundo, sob autorizações regulatórias específicas com base em avaliações de impacto ambiental e de segurança.

O Governo japonês já tinha afirmado que não era possível adiar a decisão por mais tempo, dado que a capacidade de armazenagem dos tanques de água na central, que continuam a receber líquido usado para arrefecer combustível nuclear, deverá esgotar-se em 2022, 11 anos depois de a central ter sido gravemente afectada por um terramoto e tsunami.

As instalações de Fukushima Daiichi geraram toneladas de água contaminada que tiveram de ser armazenadas depois de usadas para arrefecer os núcleos parcialmente derretidos de três reactores. Desde há anos que a empresa responsável pela central, a TEPCO, utiliza um sistema para filtrar aquela água e eliminar todos os seus isótopos radioativos com exceção do trítio.

18 Abr 2021

Tóquio 2020 | Cancelamento “é uma opção”, diz secretário-geral do partido do governo

O secretário-geral do partido do governo do Japão, Toshiro Nikai, afirmou hoje que o cancelamento dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 “é uma opção” de “último recurso”, caso a situação pandémica no arquipélago continue a agravar-se.

“Teremos que cancelar [os Jogos] sem hesitação se não for mais possível organizá-los”, disse Toshihiro Nikai, o secretário-geral do Partido Liberal Democrático (PLD), do primeiro-ministro Yoshihide Suga, em entrevista ao canal de televisão TBS.

Toshihiro Nikai realçou que os Jogos, previstos para decorrer de 23 de Julho a 8 de Agosto, são “uma grande oportunidade para o Japão”, destacando para o seu sucesso a presença de público, e admitiu que “ainda há muitos problemas a resolver”.

Questionado sobre a possibilidade de os Jogos serem cancelados se as infecções por coronavírus continuarem a aumentar no Japão, Toshihiro Nikai respondeu que “seria inevitável tomar uma decisão de acordo com a situação que surgir” antes do início do evento.

“Se chegar a hora em que nada mais puder ser feito [em termos de medidas para conter o vírus], devem ser cancelados”, disse Toshihiro Nikai, defendendo que a realização do evento não poderá servir para a propagação da pandemia.

A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, interpretou os comentários de Toshihiro Nikai como “uma opção”, “nada mais”, e considerou-os como uma forte mensagem de incentivo para que os japoneses contenham o coronavírus por todos os meios.

Em reação à entrevista de Toshihiro Nikai à TBS, replicada pelos órgãos de comunicação locais, um responsável anónimo do PLD, citado pela agência de notícias japonesa Jiji Press, afirmou que os “Jogos não serão cancelados”.

Por sua vez, o ministro responsável pela campanha de vacinação, Taro Kono, citado pelo jornal Asahi, levantou a possibilidade de proibir totalmente o acesso de espetadores aos Jogos, que já só era permitido para japoneses e residentes no arquipélago.

A 99 dias da abertura dos Jogos, e tendo em conta os números de quarta-feira, o Japão ultrapassou, pela primeira vez, as 4.000 infeções diárias desde o final de janeiro, evolução que os médicos do país começaram a qualificar como quarta vaga.

15 Abr 2021

Agência da ONU apoia despejo no mar pelo Japão de águas radioativas de Fukushima

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), das Nações Unidas (ONU), apoia o plano do Japão para despejar gradualmente no mar águas tratadas, mas ainda radioactivas, da central nuclear destruída de Fukushima, rejeitado pelos países vizinhos.

“Estou confiante de que o governo [japonês] continuará a interagir com todas as partes de uma forma transparente e aberta enquanto trabalha para implementar a decisão de hoje”, disse o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado à imprensa horas depois de o governo japonês ter anunciado a decisão de avançar com a descarga de águas, considerando reunidas as necessárias condições de segurança.

Salientado que o despejo de águas está de acordo com a prática internacional e é tecnicamente viável, a organização manifesta ainda disponibilidade para dar apoio técnico na monitorização da implementação do plano.

De acordo com a AIEA, as descargas controladas de águas radioactivas no mar são usadas de forma rotineira por operadores de centrais nucleares em todo o mundo, sob autorizações regulatórias específicas com base em avaliações de impacto ambiental e de segurança.

Tomada ao fim de sete anos de discussão sobre o destino a dar às águas usadas para arrefecer combustível da central nuclear, a decisão japonesa motivou protestos de China, Coreia do Sul, Taiwan, e também de pescadores da região de Fukushima.

Responsáveis do governo japonês citados pela agência Kyodo apontaram que outros países com centrais nucleares, incluindo a Coreia do Sul, já fizeram no passado descargas de águas radioativas tratadas.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse hoje que a China exortou o Japão a não efetuar a descarga “sem permissão” de outros países e da AIEA.

“A China reserva-se o direito de dar novas respostas” à decisão do Japão, disse Zhao à imprensa em Pequim.

O Ministério das Relações Exteriores sul-coreano convocou o embaixador japonês, Koichi Aiboshi, para um protesto formal, depois de Koo Yun Cheol, ministro da Coordenação de Políticas Governamentais, afirmar que Seul “se opõe firmemente” à decisão japonesa.

“A decisão (…) foi uma medida unilateral tomada sem discussão ou compreensão suficiente da nossa parte, Coreia do Sul, o país mais próximo geograficamente” da região em causa, disse Koo em conferência de imprensa.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, Joanne Ou, disse que o governo japonês deveria fornecer informações mais detalhadas sobre as águas tratadas, considerando que a questão diz respeito ao meio ambiente marinho e saúde pública taiwanesa.

Ou disse ainda que o governo de Taiwan recebeu um aviso do governo japonês dizendo que a água será tratada de acordo com o padrão da Comissão Internacional de Proteção Radiológica, ou ICRP.

Pelo contrário, os Estados Unidos mostraram concordância com o plano japonês, considerando o processo de tomada de decisão de Tóquio “transparente”.

“Agradecemos ao Japão pelos esforços transparentes na sua decisão de descartar as águas tratadas de Fukushima Daiichi”, afirmou o secretário de Estado Antony Blinken, através da rede social Twitter, apelando a coordenação contínua do Japão com a AIEA.

O Governo japonês já tinha afirmado que não era possível adiar a decisão por mais tempo, dado que a capacidade de armazenagem dos tanques de água na central, que continuam a receber líquido usado para arrefecer combustível nuclear, deverá esgotar-se em 2022, 11 anos depois de a central ter sido gravemente afetada por um terramoto e tsunami.

As instalações de Fukushima Daiichi geraram toneladas de água contaminada que tiveram de ser armazenadas depois de usadas para arrefecer os núcleos parcialmente derretidos de três reactores. Desde há anos que a empresa responsável pela central, a TEPCO, utiliza um sistema para filtrar aquela água e eliminar todos os seus isótopos radioativos com exceção do trítio.

14 Abr 2021

Fukushima | Japão pede a AIEA para rever o seu plano de despejar água no mar

O Governo do Japão pediu à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para rever o seu plano para despejar gradualmente no mar água tratada, mas ainda radioactiva, da central nuclear destruída de Fukushima.

O ministro da Indústria nipónico, Hiroshi Kajiyama, solicitou por videoconferência ao director-geral da AIEA, Rafael Grossi, que o organismo de controlo nuclear da ONU realize uma revisão científica do plano para eliminar a água e transmita a sua opinião à comunidade internacional, informou a agência noticiosa japonesa Kyodo.

O Governo japonês estuda há algum tempo a possibilidade de despejar no Oceano Pacífico a água usada para arrefecer os reatores da central nuclear, gravemente afectada por um terramoto e tsunami em 2011, mas ainda não tomou uma decisão e conta com forte oposição da indústria pesqueira e de países vizinhos como a Coreia do Sul e a China.

O Japão pediu à AIEA que confirme se o método e as instalações utilizadas para a eliminação da água cumprem os padrões de segurança da agência, verifique os dados da radiação à volta da central e divulgue as suas descobertas.

As instalações de Fukushima Daiichi geraram toneladas de água contaminada que tiveram de ser armazenadas depois de usadas para arrefecer os núcleos parcialmente derretidos de três reatores. Desde há anos que a empresa responsável pela central utiliza um sistema para filtrar aquela água e eliminar todos os seus isótopos radioativos com exceção do trítio.

O pedido de Tóquio ocorre depois de, no início do mês, especialistas das Nações Unidas terem destacado que a água da central representa um grave risco ambiental e que seria “inaceitável” libertá-la no Oceano Pacífico, segundo a agência noticiosa espanhola EFE.

24 Mar 2021

Jovens suicidas

É problema relativamente antigo na sociedade japonesa, o do elevado número de suicídios, e são certamente complexas as suas causas: um sistema educativo altamente competitivo na infância e adolescência, longas jornadas de trabalho na idade adulta, uma vida social em relativo isolamento e um certo estigma em relações às perturbações psicológicas e mentais que inibe o seu acompanhamento e tratamento estão entre as razões geralmente aprontadas para a sua persistência. Uma das consequências é também a monitorização detalhada, sendo o Japão dos países que dispõe de dados mais precisos, regulares e atualizados sobre o fenómeno. Isso permite saber que, apesar de os valores se manterem altos, o número de suicídios tem vindo a descer sistematicamente e sem interrupções ao longo dos últimos 10 anos. Até 2020, quando os impactos económico, social e psicológico do covid-19 implicaram uma inversão dessa tendência: o número de suicídios voltou a aumentar a partir de Julho de 2020 e com muito maior incidência na população jovem feminina.

Os números disponíveis indicam 20919 suicídios no Japão em 2020, claramente abaixo dos quase 35000 que se tinham registado em 2003 e que tinham levado à criação de programas de prevenção e à monitorização sistemática do fenómeno. Desde então os números tinham diminuído, sem interrupções entre 2009 e 2019. A partir de Julho do ano passado a situação alterou-se e 2020 acabou por fechar com 13943 suicídios entre os homens (1% mais do que em 2019) e 6976 suicídios de mulheres (15% mais do que no ano anterior). Só no mês de Outubro suicidaram-se 851 mulheres, um acréscimo de 85% em relação ao mesmo mês de 2020. Aliás, o número total de mortes por suicídio nesse mês (2153) foi superior ao número de mortes por covid-19 até esse momento (2087). É também de salientar a coincidência de se tratar de um ano em que o número total de mortes no país diminuiu em relação ao ano anterior, o que aconteceu pela primeira vez em 11 anos. Uma das justificações adiantadas para este fenómeno é o de se terem adoptado cuidados gerais de saúde mais rigorosos devido ao covid-19 que contribuíram também para prevenir outras doenças – do corpo, não da mente.

Os dados também revelam que os casos de suicídio não aumentaram durante a primeira fase da pandemia, com a primeira vaga de infecções, que no Japão tinha começado ainda em Janeiro. Foi na segunda vaga, no Verão – com um volume de casos mais significativo e medidas de contenção mais restritivas e com maiores impactos económicos e sociais – que se começou a consolidar uma subida anormal do número de suicídios no país. Explicações adiantadas para o problema focam-se no impacto do encerramento forçado de estabelecimentos comerciais e de restauração, com níveis de emprego feminino proporcionalmente mais altos que os da indústria ou outros serviços. Em consequência, quase dois terços dos empregos perdidos em 2020 em resultado da pandemia eram ocupados por mulheres. Apesar de a população feminina ter uma participação no mercado de trabalho francamente inferior à dos homens, a perda de postos de trabalho de mulheres reflecte a precariedade generalizada da sua situação laboral, uma vez que cerca de dois terços ocupa postos de trabalho a tempo parcial. Resta então saber qual será o impacto da terceira vaga, que agora parece estar finalmente a terminar, mas que atingiu valores muito mais altos nos níveis de infecções e implicou restrições ainda mais severas.

Na realidade, os números parecem apontar para uma tendência semelhante também na Coreia do Sul: durante quase todo o ano de 2020 (até 10 de Dezembro) 564 pessoas tinham morrido de covid-19, enquanto o número de suicídios por mês era mais do dobro, pelo menos entre Janeiro e Setembro (último mês com dados disponíveis). Em particular, o número de suicídios em mulheres de 20 a 30 anos de idade aumentou 40% em relação ao ano anterior. As explicações adiantadas por comentadores na imprensa são semelhantes às do caso japonês: incapacidade de suportar os custos de vida para quem ocupa os lugares mais vulneráveis à pandemia no mercado de trabalho actual (pessoas com contratos de curta duração ou trabalho informal, geralmente a tempo parcial, nos sectores do comércio a retalho e restauração mais orientados para o turismo).

Este sofrimento solitário imposto por sucessivos confinamentos tem evidentes consequências sobre a saúde mental que se juntam aos problemas sociais e económicos que este tipo de recessão inevitavelmente implica. Mas o caminho está longe de estar percorrido, não só porque a pandemia não está controlada, mas também porque os seus devastadores impactos económicos e sociais ainda vão perdurar. O capitalismo contemporâneo não lida bem com este confinamento que representa também um encerramento generalizado dos mercados, cuja abertura permanente permite a competição sistemática em que vivemos e alimenta o eventual crescimento das economias. Os estados emagrecidos que temos hoje não estão preparados para substituir esta dinâmica em caso de emergência. E é essa emergência que vai persistir, não só no Japão ou na Coreia do Sul, mas também em todos os outros países onde a pandemia tem impactos significativos, com mais ou menos intensa monitorização dos suicídios e suas causas, ou das implicações sociais e individuais desta doença.

26 Fev 2021

Covid-19 | Japão inicia vacinação a menos de seis meses do início de Jogos Olímpicos

O Japão começou hoje a administrar a vacina contra a covid-19, prevendo imunizar toda a população no prazo de um ano, numa altura em que faltam menos de seis meses para o início dos Jogos Olímpicos.

As primeiras doses da vacina desenvolvida pela Pfizer, a única até agora aprovada no Japão, foram administradas no Centro Médico de Tóquio, no distrito de Meguro, estando previsto alargar a vacinação a uma centena de centros de saúde em todo o país na próxima semana.

A primeira pessoa a receber a vacina foi o director do centro médico, Kazuhiro Araki, que se voluntariou para servir de exemplo e encorajar outros a vacinar-se, disse às televisões. Um total de 12 médicos e enfermeiros foram vacinados no dia do arranque da campanha.

O Japão, um país céptico em relação a vacinas desenvolvidas fora do país, após campanhas anteriores terem tido graves efeitos secundários, está a iniciar a vacinação contra a covid-19 mais de dois meses após o Reino Unido, pioneiro mundial, e a cerca de cinco meses da abertura dos Jogos Olímpicos.

Tanto o Governo japonês como o comité organizador sublinharam que os Jogos Olímpicos, cuja realização tem sido questionada, devido à pandemia, serão realizados dentro do prazo previsto, a partir de 23 de Julho.

“Não estou a ter em conta os Jogos Olímpicos”, disse o ministro responsável pela vacinação, Taro Kono, durante uma conferência de imprensa na véspera do início da campanha, sublinhando que a prioridade do Governo é completar a imunização sem sobressaltos.

O Japão deu luz verde à vacina da Pfizer no domingo, um atraso em relação a outras grandes potências, devido em parte ao intrincado processo de aprovação, que requer estudos clínicos com japoneses.

O país recebeu até agora vacinas suficientes para as duas doses necessárias para 193.050 pessoas, assumindo que as injeções são administradas com agulhas especiais que aproveitam ao máximo o conteúdo da ampola (seis doses), e das quais o país tem falta. As seringas habitualmente usadas no país só conseguem extrair cinco doses.

“Temos agulhas suficientes para vacinar todos os 40.000 trabalhadores de saúde, mas estou determinado a obter agulhas suficientes para toda a vacinação”, disse Kono. O Ministério da Saúde japonês estabeleceu como objectivo completar a campanha de imunização da população, de 126 milhões de pessoas, em cerca de um ano.

O primeiro grupo a receber a vacina integra 40.000 médicos e enfermeiras da linha da frente na luta contra a pandemia, que vão também avaliar os possíveis efeitos das duas inoculações necessárias. Seguir-se-ão, em março, cerca de 3,7 milhões de pessoas ligadas ao setor de saúde e cerca de 36 milhões com mais de 65 anos.

A etapa final, que abarcará a população em geral com mais de 16 anos, só deverá arrancar no final de Junho ou Julho, quando está previsto o início de Tóquio2020.

O Japão chegou a um acordo com três empresas farmacêuticas, Pfizer, Moderna e a britânica AstraZeneca, para fornecer doses suficientes para toda a população e dispor de reservas, pelo que por agora excluiu a aquisição de vacinas desenvolvidas por outras empresas.

O Japão enfrentou a terceira vaga da pandemia de covid-19 este inverno e mantém activados os níveis de alerta, embora tenha registado muito menos infecções em comparação com outras grandes economias.

Nos últimos dias, o país tem registado entre 1.300 a 1.400 novos casos diários e, no total, contabiliza cerca de 418 mil infeções e 7.139 mortes desde o início da pandemia, de acordo com a contagem independente da Universidade norte-americana Johns Hopkins.

17 Fev 2021

Japão anuncia pior registo diário de mortes por covid-19

O Japão anunciou hoje que registou o pior número de mortes num só dia, ao contabilizar 121 óbitos por covid-19 nas últimas 24 horas. O número adiantado pelo Ministério da Saúde japonês aumentou o total de mortos no país para 6.678 desde o início da pandemia.

O Japão ainda não iniciou a vacinação contra o novo coronavírus. As vacinas para o pessoal médico estão previstas para este mês. A área metropolitana de Tóquio está sob estado de emergência, com as autoridades a pedirem aos residentes para ficarem em casa e os restaurantes a fecharem durante a noite.

Embora os casos tenham permanecido relativamente baixos no Japão no ano passado, em comparação com os Estados Unidos e a Europa, as infeções têm vindo a aumentar recentemente, no momento em que crescem os pedidos para serem cancelados os Jogos Olímpicos de Tóquio, programados para começarem em julho.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.341.496 mortos no mundo, resultantes de mais de 106,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

11 Fev 2021

O vírus olímpico

Primeiro por manifesta influência familiar e depois por opção, a prática desportiva foi desde cedo importante na minha existência, apesar das minhas limitadas habilidades. A ginástica ocupou grande parte da minha infância e depois passei a desportos colectivos e com bola, tendo aderido à grande família do andebol português, onde permaneci por uns 10 anos, só depois de ter comprovado a minha manifesta incompetência para a prática do desporto-rei. Passei para o pavilhão em vez dos ar livre e a usar as mãos em vez dos pés, mas na realidade o jogo até era semelhante. Eram tempos em que acompanhava com regularidade os Jogos Olímpicos, na altura relativamente fáceis de entender: que modalidades se praticavam ou não, que atletas podiam ou não participar, enfim, até a Guerra Fria que se jogava naqueles dias – e os inerentes boicotes políticos aos Jogos – eram coisas inteligíveis, mesmo para crianças ou adolescentes que seguissem o assunto com algum interesse e dedicação.

Não viria a ser assim depois: hoje estou muito longe de perceber o que se passa nos Jogos Olímpicos, porque são aquelas as modalidades praticadas, porque estão outras de fora, que critérios estão definidos para a participação de atletas, agora que a divisão entre “amadores” e “profissionais” é tão dificilmente aplicável, porque há critérios diferentes segundo a modalidade, enfim, toda uma série de questões regulamentares que certamente condicionam a competição e os resultados mas que deixaram de ser facilmente inteligíveis, requerem um certo estudo para mim incompatível com a simplicidade das regras que historicamente tornaram globalmente tão populares tantos jogos desportivos. Deixei-me de Olimpíadas, portanto, e passei a seguir campeonatos nacionais e mundiais, competições simples e de regras claras que ainda consigo acompanhar com a minha limitada disponibilidade para o estudo de normas regulamentares que não me dizem directamente respeito. De resto, o romântico, generoso e inteligente princípio de que o que importa é participar há muito tinha sido erradicado do desporto em geral e do Olimpismo em particular.

Foi no Japão que me reconciliei com os Jogos. Foi logo na primeira visita ao país, quatro meses no Verão de 2012. Com a diferença dos fusos horários, as competições em Londres podiam ser vistas em directo na noite japonesa e quase todos os cafés, bares ou restaurantes que tivessem televisão davam grande importância ao assunto. Não deixava de haver alguma motivação nacionalista a determinar o interesse nas modalidades que se acompanhavam, mas estava o Japão representado em tantas modalidades, com homens e mulheres, que era grande a diversidade de opções. Mesmo com as insuficiências e barreiras comunicacionais inerentes à língua, não foi difícil perceber o genuíno entusiasmo e apoio popular às equipas e atletas e também – muito mais importante – a aceitação generosa da possibilidade de derrota, quando muito manifesta num certo desinteresse pelo resto da prova depois da eliminação da participação japonesa, mas em nenhuma circunstância orientada para manifestações de ódio, xenofobia ou violência verbal contra adversários e equipas de arbitragem que vão caracterizando – aparentemente cada vez mais – as competições desportivas.

Quando se jogaram os Jogos de 2016 já eu estava no Japão mais regularmente e voltei a acompanhar os Jogos, desta vez no continente americano e com horários mais difíceis, com muitas provas a disputar-se na minha manhã.

Seriam Jogos de grande impacto político no Brasil, que queria transformar o relativo sucesso económico e social dos anos anteriores numa projecção internacional sem precedentes, a que estas competições globais aparecem hoje inevitavelmente associadas: foi também o Mundial de futebol de 2014, ambos vividos já no contexto dos impactos implacáveis da crise económica global que se seguiu à crise financeira de 2008. Com maior ou menos demagogia ou manipulação mediática, em vez de projecção internacional estes eventos contribuíram para intensificar a revolta e a oposição popular a um governo em dificuldades para lidar com o regresso da crise social e históricos problemas de corrupção. Os Jogo, enquanto super-evento mediático, contribuiriam então para o declínio da popularidade dão PT e a emergência deste novo poder que ainda vigora.

Em 2020 teria oportunidade de acompanhar pela terceira vez os Jogos Olímpicos em território japonês, com a particularidade de ser Tóquio a cidade escolhida para os organizar, essa fabulosa metrópole com 37 milhões de pessoas em intenso movimento. Como é norma actual, também aqui os Jogos se assumiram como uma gigantesca intervenção de renovação urbana e promoção internacional, com investimentos de visível impacto ainda muito longe de se começar a competir. Os principais estádios e os edifícios da aldeia olímpica estavam prontos ainda no final de 2019, mais um significativo desenvolvimento na baía de Tóquio, um oásis de tranquilidade, amplas avenidas, espaços verdes e transportes com pouca gente, numa cidade intensa em que o normal é o contrário: multidões aceleradas em espaços relativamente exíguos, transportes cheios e infra-estruturas urbanas pesadas. As estações de comboios e transportes metropolitanos foram objecto de renovação profunda, passando a ter informação digital e multilíngue a facilitar a vida a pessoas como eu, e novas torres de escritórios, hotéis e centros comerciais, que por aqui as grandes estações são, na realidade, pequenas cidades – ou não tão pequenas, já que as maiores (como Shinjuku ou Shibuya) movimentam mais de 3 milhões de pessoas por dia.

Foi com alguma supresa que assisti a esta gigantesca renovação. É verdade que se trata da maior área metropolitana do mundo, mas também é verdade que é das únicas em que a população está a decrescer, apesar do contexto global em que as pessoas continuam a concentrar-se cada vez mais nas grandes cidades. Esta excepção de Tóquio tem a ver com o envelhecimento populacional que caracteriza o Japão há várias décadas mas nem assim constituiu impedimento para que se investisse tanto em novos edifícios e infra-estruturas para diferentes tipos de uso, aproveitando-se, naturalmente, para melhorar os aspectos da ecologia urbana, dos modes de transporte e da ocupação dos espaços públicos. Como visitante, só posso agradecer.

Em todo o caso, com ou sem realização dos Jogos este ano, o impacto desta operação parece inevitavelmente longe das intenções: todas as intervenções urbanas associadas a este evento – e também à Expo-2025, em Osaka – estão fortemente orientadas para a promoção internacional do país, não só do ponto de vista turístico, mas também do ponto de vista da localização de empresas e atração de população estrangeira jovem e qualificada, um papel que o Japão já teve mas no qual foi perdendo protagonismo em relação a Singapura, Hong Kong ou mesmo Seul, actualmente o mais importante ponto de ligação para os transportes aéreos entre a Ásia e o resto do mundo. Além do evidente impacto do covid-19, que na melhor das hipóteses permitirá a realização de umas mini-olimpíadas em 2021, o contexto actual parece ser de de-globalização, não só turística mas da generalidade da economia. Não parece ser o tempo dos grandes eventos de promoção internacional. Também não parece bom tempo para Jogos Olímpicos, agora ou num futuro próximo.

11 Fev 2021

Tóquio 2020 | Presidente da organização desculpa-se por comentários ofensivos sobre mulheres

O presidente do comité organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, Yoshiro Mori, pediu hoje desculpas públicas pelos comentários ofensivos sobre mulheres, um dia depois de o incidente ter gerado críticas e apelos à sua demissão.

“Reconheço que os comentários durante a reunião com o Comité Olímpico do Japão foram contrários ao espírito olímpico. Lamento”, disse hoje Mori, de 83 anos, durante uma conferência de imprensa. Na quarta-feira, Yoshiro Mori defendeu que as mulheres têm dificuldade em ser concisas, observando que os membros femininos do órgão a que preside “sabem colocar-se no seu lugar”.

As declarações do responsável máximo do comité organizador da próxima edição dos Jogos Olímpicos (JO), adiada para 2021 devido à pandemia de covid-19, foram feitas durante uma reunião com o Comité Olímpico do Japão, aberta à comunicação social e reproduzidas pelo diário Asahi Shimbun.

“As reuniões dos conselhos de administração com a presença de muitas mulheres demoram demasiado tempo. Se for aumentado o número de membros femininos e o tempo de intervenção não for limitado, será mais difícil concluí-las, o que é irritante”, sustentou Mori.

“As mulheres têm espírito competitivo. Se uma levanta a mão [para poder intervir], as outras sentem-se na obrigação de se exprimirem também. É por isso que todos acabaram por falar”, acrescentou.

O antigo primeiro-ministro japonês (2000-2001) notou que “o comité organizador [dos Jogos Olímpicos Tóquio2020] tem sete mulheres, mas elas sabem colocar-se no seu lugar”, um comentário que motivou sorrisos entre vários responsáveis presentes na reunião.

As declarações levaram a uma chuva de críticas na rede social Twitter, com apelos à demissão de Mori, acusando-o de discriminar as mulheres. Questionado sobre se tencionava abandonar o cargo, por causa da polémica, Mori recusou à partida essa possibilidade, mas acrescentou: “Se todos me disserem que estou a incomodar, então deverei pensar nisso”.

O responsável máximo do comité que prepara os próximos JO na capital japonesa reiterou as desculpas perante os ofendidos com as declarações e as pessoas que fazem parte da organização, considerando que “estão a fazer tudo o que é possível” para o sucesso da competição.

O Japão ocupa o 121.º lugar no mais recente relatório do Fórum Económico Mundial sobre a igualdade de género, entre 153 países, e o 131.º na proporção de mulheres em lugares de topo em empresas, política e administração pública.

4 Fev 2021

Covid-19 | Japão prolonga estado de emergência em Tóquio e outros departamentos

O Governo japonês prolongou hoje o estado de emergência em Tóquio e outros departamentos do país devido à covid-19 até 7 de Março, a menos de seis meses dos Jogos Olímpicos, adiados devido à pandemia. A extensão do estado de emergência por um mês vai abranger 10 dos 11 departamentos atualmente afetados pela medida, segundo o primeiro-ministro, Yoshihide Suga, durante uma reunião com o gabinete responsável por orientar a resposta do Governo.

Sob o estado de emergência, o Governo emitiu pedidos não vinculativos para que as pessoas evitem aglomerações e refeições em grupos e para que os restaurantes e bares fechem às 20:00. Os novos casos diminuíram em Tóquio e em todo o país desde o início de janeiro, mas os especialistas dizem que os hospitais continuam inundados com casos graves e que as medidas preventivas devem permanecer em vigor.

O Japão teve cerca de 400.000 infeções de covid-19, incluindo 5.800 mortes. A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.227.605 mortos resultantes de mais de 102,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

3 Fev 2021

Tóquio 2020 | Primeiro-ministro japonês garante realização apesar de nova vaga da pandemia

O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, garantiu hoje que o Japão continua comprometido em realizar os Jogos Olímpicos Tóquio2020 no verão, apesar do número crescente de casos de covid-19 no mundo. “Vamos preparar os Jogos, como prova de que a Humanidade ultrapassou o novo coronavírus”, disse Suga, num discurso de abertura de uma sessão parlamentar.

A mensagem, de resto, tem sido a que o governo japonês repete quando questionado sobre o tema, mesmo face a uma terceira vaga da pandemia de covid-19 que o país asiático, bem como outros territórios mundiais, enfrenta atualmente.

Segundo o governante, serão adotadas “todas as medidas possíveis” para prevenir o contágio para que se brinde “à esperança e à coragem em todo o mundo” ao celebrar a competição, que deveria ter acontecido no verão passado, mas foi adiada devido à pandemia para o período entre 23 de julho e 08 de agosto deste ano.

O Comité Organizador disse hoje à agência noticiosa France-Presse que o número de atletas nas cerimónias de abertura e encerramento devem ser reduzidos e, segundo o jornal japonês Yomiuri Shimbun, o Comité Olímpico Internacional (COI) espera que o número não supere os seis mil atletas, bem abaixo dos 11 mil previstos para o evento.

A redução dever-se-á, nomeadamente, às restrições ao número de dias que os atletas poderão passar na Aldeia Olímpica, que passará a ter em permanência apenas atletas que vão competir num prazo máximo de cinco dias, saindo, o mais tardar, dois dias depois de competirem.

O arranque de Tóquio2020 está agendado para 23 de julho, daqui a pouco mais de seis meses, com as questões e dúvidas a levantarem-se cada vez mais quanto à capacidade de realizar um evento desta envergadura em pleno período pandémico.

O porta-voz do Governo, Katsunobu Kato, já tinha reforçado no domingo que os preparativos continuam, embora a opinião pública japonesa seja favorável a novo adiamento ou ao cancelamento, segundo sondagens recentes.

Na última semana, o ministro com a pasta da reforma administrativa e regulatória, Taro Kono, disse que o futuro dos Jogos podia seguir “em qualquer direção”, tornando-se no primeiro membro do executivo de Suga, que chegou ao cargo em setembro de 2020, a colocar a realização em dúvida.

Já o antigo vice-presidente do COI Kevan Gosper sugeriu no domingo que as Nações Unidas fossem consultadas sobre a realização, ou cancelamento, do evento, numa entrevista à cadeia televisiva ABC.

Em 08 de janeiro, o Japão decretou um novo estado de emergência, em vigor em 11 das 47 prefeituras do país, nas quais está concentrada mais de metade da população e perto de 80% dos contágios contabilizados.

Cerca de 40% dos mais de 320 mil casos e 4.500 mortes atribuídas à covid-19 foram confirmadas no último mês, com Tóquio a revelar hoje ter registado 1.204 novos positivos, o segundo valor mais alto a uma segunda-feira.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.022.740 mortos resultantes de mais de 94,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

18 Jan 2021

Covid-19 | Japão detecta uma nova estirpe do vírus em passageiros provenientes do Brasil

As autoridades sanitárias do Japão detectaram uma nova estirpe do vírus que provoca a covid-19 distinta das identificadas no Reino Unido e África do Sul, em passageiros provenientes do Brasil.

Segundo o Ministério da Saúde do Japão e o Centro Nacional de Doenças Infecciosas nipónico (NIID, na sigla original), os doentes infectados, um homem na faixa dos 40 anos, uma mulher de cerca de 30 e dois adolescentes, tiveram resultado positivo nos testes de covid-19 realizados à chegada ao aeroporto internacional de Tóquio, no dia 2 de Janeiro, num voo proveniente do Brasil.

Três manifestaram sintomas da doença, como dificuldades respiratórias, febre e dores de garganta, durante a quarentena obrigatória para viajantes que chegam ao Japão.

Apesar de a variante detectada “ter semelhanças com as estirpes” identificadas recentemente no Reino Unido e na África do Sul, “que são motivo de preocupação por serem mais contagiosas”, o tipo de vírus em causa não parece ter sido identificado antes, explicou o NIID em comunicado. O Ministério da Saúde nipónico já informou as autoridades do Brasil e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Em comunicado, as autoridades brasileiras precisaram que, “segundo informações fornecidas ao Ministério da Saúde brasileiro pelas autoridades sanitárias japonesas, a nova variante possui 12 mutações, sendo que uma delas é a mesma encontrada em variantes já identificadas no Reino Unido e na África do Sul, o que implica um maior potencial de transmissão do vírus”.

Na nota, o Ministério da Saúde do Brasil informou ainda que os quatro passageiros chegaram ao Japão “após uma temporada no Amazonas”.

O Ministério brasileiro já pediu ao Japão “informação sobre a nacionalidade dos viajantes” e sobre os locais por onde passaram no Brasil, para fazer o rastreio de contactos, pode ler-se no comunicado.

De acordo com as autoridades japonesas, para já “é difícil determinar a infecciosidade, patogenicidade ou impacto nos testes e vacinas”.

O Japão registou 34 infeções com estirpes detetadas recentemente no Reino Unido e África do Sul, incluindo três casos de transmissão local, dois dos quais com origem numa pessoa que tinha estado no Reino Unido.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, declarou um novo estado de emergência em Tóquio e na área metropolitana durante um mês, perante o aumento de novas infeções diárias devido ao novo coronavírus.

Desde o início da pandemia, o Japão registou mais de 280 mil casos de covid-19, além de cerca de 4.000 mortes provocadas pela doença.

11 Jan 2021

Covid-19 | Japão declara estado de emergência sanitária em Tóquio durante um mês

O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, declarou hoje um novo estado de emergência em Tóquio e nos seus subúrbios por um mês face ao aumento de novas infeções diárias devido ao novo coronavírus.

Yoshihide Suga anunciou hoje a activação desta disposição legislativa “devido ao sério sentimento de perigo perante a rápida expansão nacional (do vírus)”, durante uma reunião com um painel de especialistas.

A declaração de emergência implicará novas restrições ao horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais considerados não essenciais, bem como o pedido de permanência dos cidadãos em casa, embora sem incluir o internamento obrigatório, entre outras medidas.

O Japão ultrapassou na quarta-feira pela primeira vez as 5.000 infeções diárias devido ao novo coronavírus, a maioria em Tóquio.

Em todo o país foram registados 5.307 novos casos, o primeiro número acima dos cinco mil desde o início da pandemia, havendo níveis de recordes diários em várias cidades, segundo estatísticas divulgadas pela televisão estatal NHK.

Em Tóquio foram registados na quarta-feira 1.591 novos casos, o que é também um novo recorde de contágios diários. A capital do país tem cerca de um quarto das quase 260.000 infeções acumuladas em todo o país.

Estes dados foram conhecidos antes de o Governo central declarar um novo estado de emergência na capital e em outras três cidades vizinhas, as mais afetadas pela terceira onda de infeções observada no Japão desde meados de novembro.

O novo estado de emergência, como o que vigorou entre os meses de abril e maio, não inclui o confinamento obrigatório da população, uma vez que a legislação do Japão não prevê essa medida.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.869.674 mortos resultantes de mais de 86,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

7 Jan 2021

Covid-19 | Japão ultrapassa pela primeira vez as 5.000 infeções diárias

O Japão ultrapassou ontem pela primeira vez as 5.000 infeções diárias devido ao novo coronavírus, a maioria em Tóquio, no momento em que o Governo finaliza o anúncio de um novo estado de emergência.

Em todo o país foram registados ontem 5.307 novos casos, o primeiro número acima dos cinco mil desde o início da pandemia, havendo níveis de recordes diários em várias cidades, segundo estatísticas divulgadas pela televisão estatal NHK.

Em Tóquio foram registados hoje 1.591 novos casos, o que é também um novo recorde de contágios diários. A capital do país tem cerca de um quarto das quase 260.000 infeções acumuladas em todo o país.

Esses dados são conhecidos antes de o Governo central declarar um novo estado de emergência na capital e em outras três cidades vizinhas, as mais afetadas pela terceira onda de infeções observada no Japão desde meados de novembro.

O Executivo central planeia declarar a emergência nas quatro cidades a partir de quinta-feira e com duração de um mês, uma vez que conclua o processo de consulta com uma comissão de especialistas em saúde e explique a medida perante a Dieta (Parlamento) do Japão.

O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, anunciou na última segunda-feira que o seu objetivo é aplicar essa medida de forma mais “limitada” do que a que vigorou em todo o país na primavera passada para enfrentar a primeira onda de infeções.

Isto significa que as novas restrições consistirão principalmente em limitar o horário dos bares e restaurantes, considerados pelas autoridades como as principais fontes da terceira vaga de infeções, para além de promover o teletrabalho e reduzir as deslocações não essenciais dos cidadãos.

O novo estado de emergência, como o que vigorou entre os meses de abril e maio, não inclui o confinamento obrigatório da população, uma vez que o a legislação do Japão não prevê essa medida.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.854.305 mortos resultantes de mais de 85 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 7.286 pessoas dos 436.579 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

7 Jan 2021

Covid-19 | Japão decide na quinta-feira novo estado de emergência

O Governo do Japão anunciou que vai decidir na quinta-feira a declaração de um novo estado de emergência sanitária, devido ao aumento das infeções de covid-19, sobretudo na capital.

O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, durante uma reunião do comité executivo do partido no poder, depois de na véspera o governante ter anunciado planos para declarar nova emergência sanitária, para combater a terceira vaga de infeções no país.

“A nossa prioridade é dar uma resposta forte ao coronavírus”, disse Suga, durante a reunião, de acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo.

O primeiro-ministro japonês acrescentou que vai tomar a decisão sobre o estado de emergência após ouvir o parecer do painel consultivo de peritos de saúde do Governo, que estabelecerá “a direção” das novas medidas extraordinárias.

O estado de emergência seria inicialmente declarado em Tóquio, que esta terça-feira atingiu o segundo maior número diário de casos, após um recorde na semana passada, seguindo-se as prefeituras vizinhas de Chiba, Saitama e Kanagawa, podendo durar um mês.

O primeiro-ministro japonês disse que a medida, que não inclui confinamento, seria tomada de “forma limitada”, centrando-se na redução dos horários de funcionamento de bares e restaurantes, considerados pelas autoridades como o principal foco da terceira vaga da pandemia.

O governo nipónico declarou o estado de emergência entre Abril e Maio do ano passado, durante a primeira vaga de covid-19, uma medida que afectou estabelecimentos comerciais, escolas e instalações públicas, causando um forte impacto económico.

Desde Novembro, as autoridades sanitárias estão a registar um aumento dos contágios, que ultrapassaram pela primeira vez na quinta-feira a barreira dos quatro mil novos casos em 24 horas. Desde o início da pandemia, o Japão registou 248.500 casos e 3.680 mortes causadas pela covid-19.

Além da declaração de estado de emergência, o executivo japonês planeia reforçar as restrições fronteiriças instauradas desde finais de Dezembro, após a deteção de novas estirpes de covid-19 no Reino Unido e na África do Sul.

O Japão proibiu a entrada de todos os visitantes estrangeiros até final de Janeiro e cancelou a concessão de novos vistos para o país, com exceção de vistos de negócios de curta duração para uma dúzia de países asiáticos. Com as novas restrições, estas autorizações de entrada deverão igualmente ser abolidas, de acordo com jornais locais.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.843.631 mortos resultantes de mais de 85 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

6 Jan 2021

Covid-19 | Governo japonês prevê no estado de emergência na região de Tóquio

O primeiro-ministro japonês anunciou hoje que o Governo estava a planear um novo estado de emergência na região metropolitana de Tóquio devido ao aumento dos casos de covid-19, considerando a situação do país “muito grave”.

Yoshihide Suga disse também esperar que a campanha de vacinação comece a partir do fim de fevereiro. Em conferência de imprensa, o responsável acrescentou que será dos primeiros a receber a vacina.

Suga pediu à população para evitar saídas dispensáveis e declarou que o Governo japonês estava a preparar alterações à lei para poder sancionar estabelecimentos que não reduzam horários ou encerramento temporário. Ao mesmo tempo, prometeu incentivos.

Mais uma vez, o primeiro-ministro japonês reafirmou o compromisso de organizar os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, adiados para o verão deste ano devido à pandemia, repetindo que a organização do evento será “uma prova de que a humanidade venceu o vírus”.

Após suceder em setembro a Shinzo Abe, que se demitiu por razões de saúde, Yoshihide Suga tem sido alvo de fortes críticas relativas à gestão da crise sanitárias pelo Governo.

Com cerca de 240 mil infectados e menos de 3.600 mortos, de acordo com os dados oficiais, o Japão tem sido relativamente poupado pela pandemia quando comparado com vários países. Desde novembro, as autoridades sanitárias nipónicas estão a registar um forte aumento dos contágios, que ultrapassaram, na quinta-feira e pela primeira vez, a barreira dos quatro mil novos casos em 24 horas.

No sábado, os governadores de Tóquio e de três regiões vizinhas pediram ao Governo para declarar um novo estado de emergência, tal como em abril e maio passados, progressivamente alargado a todo o país.

Até aqui, o Governo de Suga mostrou-se hesitante em decretar um novo estado de emergência, depois de três trimestres de recessão económica.

No entanto, o primeiro-ministro nipónico admitiu agora que “uma mensagem mais forte era necessária”.

“O Governo planeia decretar o estado de emergência” com medidas que permitam, nomeadamente, reduzir as infeções em bares e restaurantes”, declarou.

O estado de emergência permite aos governadores locais pedir às empresas que fechem e aos habitantes que fiquem em casa, sem impor medidas ou qualquer sanção em caso de incumprimento.

Sobre as vacinas, Suga declarou que o Governo esperava dados precisos das empresas farmacêuticas norte-americanas até final do mês, e a campanha podia começar a partir do final de fevereiro.

As vacinas serão prioritárias para “o pessoal de saúde, idosos e funcionários de lares”, indicou o primeiro-ministro, acrescentando que será um dos primeiros a ser vacinado.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.835.824 mortos resultantes de mais de 84,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

4 Jan 2021

Vulcão entra em erupção no Japão. Autoridades elevam nível de alerta

Um vulcão localizado na pequena ilha de Suwanose (sudeste do Japão) entrou hoje em erupção, levando as autoridades a aumentar o nível de alerta na área.

A erupção foi registada às 02:48 horas na cratera do Monte Otake, um vulcão activo que começou a lançar uma coluna de fumo com mais de 200 metros de altura e a cuspir pedras a uma distância de 1,3 quilómetros, de acordo com a Agência Meteorológica do Japão.

A agência declarou um alerta de nível 3 para a actividade vulcânica (numa escala de 5), recomendando que os habitantes da área não se aproximem da cratera, sem contemplar, por enquanto, a evacuação total da ilha.

Suwanose tem menos de 100 habitantes e faz parte do arquipélago das Ilhas Tokara, conhecido pela sua frequente actividade sísmica.

28 Dez 2020

MNE chinês no Japão para negociar retoma de viagens e questões regionais

[dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, chegou hoje ao Japão para abordar com o homólogo japonês formas de reavivar as economias dos dois países, atingidas pela pandemia da covid-19, e questões regionais.

Durante a visita de dois dias, Wang Yi e Toshimitsu Motegi vão abordar a retomada de viagens de negócios entre a segunda e a terceira maiores economias do mundo, o que permitiria aos visitantes participarem em atividades comerciais limitadas durante os períodos de quarentena de 14 dias. O Japão lançou recentemente acordos semelhantes com alguns países asiáticos.

A visita ocorre numa altura em que o Japão enfrenta nova vaga de infeções pelo novo coronavírus e o Executivo japonês tenta equilibrar medidas de prevenção contra a doença e a necessidade de reavivar a economia. Wang Yi deverá reunir-se com o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, durante a visita a Tóquio.

O Japão e a China não estão a considerar reagendar a visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, ao Japão, originalmente planeada para a primeira metade deste ano, mas adiada devido à pandemia.

As relações entre os dois países são frequentemente abaladas por disputas territoriais e memórias da invasão japonesa da China, mas os laços melhoraram nos últimos anos.

O Japão, um importante aliado de Defesa dos Estados Unidos, vê a China como um parceiro comercial crucial e enfrenta o desafio de equilibrar as relações com os dois países. A visita também ocorre numa altura de preocupações crescentes sobre a crescente influência da China na região.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, manteve conversações na semana passada com Suga, com quem concordou intensificar a parceria militar para “promover a paz e a estabilidade na região do Indo-Pacífico”, numa reação à crescente assertividade da China.

O Japão e a Austrália, junto com os EUA e a Índia, estão a tentar recrutar outros países para se juntarem a um bloco que visa conter a assertividade territorial da China, o que foi alvo de críticas de Pequim. Após visitar o Japão, Wang Yi vai-se deslocar à Coreia do Sul.

24 Nov 2020

Ex-PM japonês investigado por utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados

[dropcap]P[/dropcap]rocuradores no Japão estão a investigar o gabinete pessoal do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe pela alegada utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados, para os quais foram convidados apoiantes do líder japonês entre 2013 e 2019.

Como parte desta investigação, a acusação começou a recolher declarações de secretários que trabalharam para Abe e de funcionários de organizações políticas, para obter mais informação sobre a forma como estes eventos foram financiados, de acordo com as notícias hoje publicadas nos meios de comunicação locais.

Estas festas foram realizadas todos os anos em hotéis de luxo, entre 2013 e 2019, para as quais foram convidados centenas de apoiantes da Abe, que são suspeitos de receber um financiamento de cerca de oito milhões de ienes, disseram fontes judiciais à agência local Kyodo.

A lei japonesa exige que os partidos e organizações privadas simpatizantes dos políticos declarem todas as suas receitas e despesas, algo que o gabinete pessoal da Abe não teria feito neste caso, de acordo com as mesmas fontes.

O antigo primeiro-ministro japonês, que renunciou ao cargo em meados de setembro, devido a problemas de saúde, disse hoje que o seu gabinete privado “está a cooperar plenamente com a investigação”.

A acusação abriu a investigação na sequência de um processo instaurado em maio por um grupo de cerca de 660 advogados e académicos contra Abe e os seus assistentes, acusando-os de infringir a lei.

O último destes jantares realizou-se na primavera de 2019, no Hotel New Otani, em Tóquio, na véspera de um feriado tradicional para ver as flores de cerejeira, e contou com a presença de cerca de 800 convidados, incluindo figuras proeminentes e apoiantes de Abe, muitos deles de Yamaguchi, a sua terra natal.

24 Nov 2020

Onsen

[dropcap]É[/dropcap] quase meia noite a aproveito os últimos minutos do banho termal no terraço do hotel, com desafogada vista para o mar e até para o célebre portão de um dos mais simbólicos santuários xintoístas do Japão, a erguer-se sobre águas tranquilas e sob estrelas luminosas e um brilhante quarto crescente, mas coberto pela estrutura protectora das obras de renovação em curso, coisa para durar uns dois anos, tal a delicadeza do objecto. O tanque de água quente onde me estendo é pequeno mas suficiente, que o hotel tem nestes dias procura limitada e os banhos escassa utilização. Mesmo com os simpáticos descontos proporcionados pela campanha de subsídio ao turismo interno implementada no Japão, o confortável hotel normalmente bastante caro tem pouca gente e foram raros os outros hóspedes que encontrámos, mesmo no acolhedor restaurante do estabelecimento, onde de resto tivemos oportunidade de degustar tranquilamente magníficas iguarias locais.

Há muito que não viajava, naturalmente. Coincidências das vidas pessoal e profissional tinham feito de 2019 ano de inusitada movimentação, durante o qual calhou estar em 10 países da Europa e da Ásia, mesmo não contando com escalas em viagem, coisa inédita e que certamente não se repetirá nos futuros previsíveis.

Mas há farturas que acabam por dar em fome, por assim dizer, e 2020, o ano da grande pandemia global, é todo o contrário: tempo de fronteiras fechadas, grandes restrições à mobilidade international e algumas condicionantes às deslocações internas, hotéis fechados, restaurantes em crise, enfim, toda a soberba indústria das viagens e do turismo subitamente encerrada e sem soluções à vista. Também eu, naturalmente, passei o ano entre a casa e o emprego, ainda que fosse dos privilegiados que mantiveram o trabalho (e o rendimento) em pleno – ou até mais, na realidade.

Este foi então um tranquilo regresso à tranquilidade do “onsen”, o banho japonês com tradição milenar num país onde as nascentes de água termal são incomparavelmente mais abundantes do que em qualquer outro lugar. Ainda que haja nascentes a correr livremente na natureza, a maior parte dos banhos utiliza fontes naturais integradas em unidades hoteleiras. A maioria são os “ryokan” japoneses, de quartos amplos e preparados para o serviço de refeições, o chão em tapetes “tatami” e as camas em tradicionais “futons”, uma espécie de saco-cama. Mas há cada vez mais hotéis “convencionais”, com quartos e camas ao estilo europeu, que também oferecem serviço de banhos termais. Desta vez ficámos alojados algures a meio-caminho: um quarto com cama em estilo europeu e refeições em restaurante mas tapetes “tatami” e espaço suficiente para entreter uma hóspede com 3 meses de vida e a inerente volatilidade de humores, na sua primeira pequena viagem. O banho, em todo o caso, segue as estritas regras da etiqueta japonesa: ambiente recatado e silencioso a convidar à introspecção, separação dos balneários por sexo, nudez total e lavagem dos corpos antes da entrada na água, lugar de meditação e não de lavagem. Neste caso, havia também banho ao ar livre, vista magnífica e ninguém por companhia – um regresso paradisíaco a ambiente tão tradicional do Japão.

Este regresso à actividade turística no Japão vai-se fazendo com também com tranquila lentidão, à falta de alternativas razoáveis. Com o país ainda fechado à mobilidade internacional (com muito raras excepções), é o turismo interno que vai vagamente animando a economia de um sector em agonia que se prevê prolongada.

Há subsídios do governo para promover o turismo que tornam os preços bem mais apetecíveis mas há também uma cultura generalizada que impõe longas jornadas de trabalho e curtas férias (mesmo que isso pouco contribua para a produtividade da economia). Também há precauções generalizadas em relação a possíveis contágios, que o vírus está longe de estar extinto. Neste caso, apesar de se tratar de uma pequena ilha com fácil acesso (menos de 10 minutos de barco desde zona urbana), notável atractividade nacional e internacional e preços manifestamente baixos, o número de visitantes era baixo, não havia qualquer tipo de congestionamento e os riscos para a saúde pública eram mínimos.

Este modesto incentivo à recuperação do turismo centrada no mercado doméstico contrasta com o Verão europeu, onde se franquearam as portas à chegada de turistas internacionais, com mais ou menos restrições, mais ou menos atabalhoamento, mas em quantidades suficientes para se criarem congestionamentos diversos em transportes e respectivas infra-estruturas, incluindo estações e aeroportos, além de hotéis, restaurantes, bares e zonas centrais de animação estival. Não será a única causa mas certamente contribuiu bastante mais para o aumento do número de casos de infecções por covid-19 a que hoje se assiste em muitos países europeus do que para a recuperação das economias em geral ou do turismo em particular. Percebem-se mal os critérios europeus e a falta de aprendizagem com o que passa e o que se faz na Ásia, onde os contágios começaram com pelo menos um trimestre de antecipação. Tem sido assim desde o princípio desta pandemia. Uma lástima.

9 Out 2020

Novo PM do Japão no primeiro dia de trabalho com objetivo de fazer reformas populares

[dropcap]O[/dropcap] novo primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, teve esta quinta-feira o seu primeiro dia completo no cargo com a determinação de levar adiante reformas populares. “Estou determinado a trabalhar muito para as pessoas e obter resultados para que possamos corresponder às suas expectativas”, disse Suga aos jornalistas ao entrar no gabinete do primeiro-ministro.

Suga foi formalmente eleito na quarta-feira para substituir o antigo chefe de Governo, Shinzo Abe, que anunciou no mês passado que planeava deixar o cargo devido a problemas de saúde.

Embora Suga tenha conquistado o apoio de outros legisladores do partido do Governo com a promessa de levar adiante as políticas de Abe e trabalhar nos objetivos inacabados da anterior Administração, também vai tentar implementar algumas medidas próprias.

O primeiro-ministro comprometeu-se, entre outras coisas, a acelerar e recuperar no atraso da transformação digital do Japão e nomeou um ministro especial para promover a digitalização na educação, saúde e negócios.

Ao contrário de Abe, que propôs grandes objetivos como revisões constitucionais, Suga parece determinado a adoptar uma abordagem mais populista para lidar com as preocupações diárias das pessoas, segundo os analistas.

17 Set 2020