Covid-19 | Japão decide na quinta-feira novo estado de emergência

O Governo do Japão anunciou que vai decidir na quinta-feira a declaração de um novo estado de emergência sanitária, devido ao aumento das infeções de covid-19, sobretudo na capital.

O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, durante uma reunião do comité executivo do partido no poder, depois de na véspera o governante ter anunciado planos para declarar nova emergência sanitária, para combater a terceira vaga de infeções no país.

“A nossa prioridade é dar uma resposta forte ao coronavírus”, disse Suga, durante a reunião, de acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo.

O primeiro-ministro japonês acrescentou que vai tomar a decisão sobre o estado de emergência após ouvir o parecer do painel consultivo de peritos de saúde do Governo, que estabelecerá “a direção” das novas medidas extraordinárias.

O estado de emergência seria inicialmente declarado em Tóquio, que esta terça-feira atingiu o segundo maior número diário de casos, após um recorde na semana passada, seguindo-se as prefeituras vizinhas de Chiba, Saitama e Kanagawa, podendo durar um mês.

O primeiro-ministro japonês disse que a medida, que não inclui confinamento, seria tomada de “forma limitada”, centrando-se na redução dos horários de funcionamento de bares e restaurantes, considerados pelas autoridades como o principal foco da terceira vaga da pandemia.

O governo nipónico declarou o estado de emergência entre Abril e Maio do ano passado, durante a primeira vaga de covid-19, uma medida que afectou estabelecimentos comerciais, escolas e instalações públicas, causando um forte impacto económico.

Desde Novembro, as autoridades sanitárias estão a registar um aumento dos contágios, que ultrapassaram pela primeira vez na quinta-feira a barreira dos quatro mil novos casos em 24 horas. Desde o início da pandemia, o Japão registou 248.500 casos e 3.680 mortes causadas pela covid-19.

Além da declaração de estado de emergência, o executivo japonês planeia reforçar as restrições fronteiriças instauradas desde finais de Dezembro, após a deteção de novas estirpes de covid-19 no Reino Unido e na África do Sul.

O Japão proibiu a entrada de todos os visitantes estrangeiros até final de Janeiro e cancelou a concessão de novos vistos para o país, com exceção de vistos de negócios de curta duração para uma dúzia de países asiáticos. Com as novas restrições, estas autorizações de entrada deverão igualmente ser abolidas, de acordo com jornais locais.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.843.631 mortos resultantes de mais de 85 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

6 Jan 2021

Covid-19 | Governo japonês prevê no estado de emergência na região de Tóquio

O primeiro-ministro japonês anunciou hoje que o Governo estava a planear um novo estado de emergência na região metropolitana de Tóquio devido ao aumento dos casos de covid-19, considerando a situação do país “muito grave”.

Yoshihide Suga disse também esperar que a campanha de vacinação comece a partir do fim de fevereiro. Em conferência de imprensa, o responsável acrescentou que será dos primeiros a receber a vacina.

Suga pediu à população para evitar saídas dispensáveis e declarou que o Governo japonês estava a preparar alterações à lei para poder sancionar estabelecimentos que não reduzam horários ou encerramento temporário. Ao mesmo tempo, prometeu incentivos.

Mais uma vez, o primeiro-ministro japonês reafirmou o compromisso de organizar os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, adiados para o verão deste ano devido à pandemia, repetindo que a organização do evento será “uma prova de que a humanidade venceu o vírus”.

Após suceder em setembro a Shinzo Abe, que se demitiu por razões de saúde, Yoshihide Suga tem sido alvo de fortes críticas relativas à gestão da crise sanitárias pelo Governo.

Com cerca de 240 mil infectados e menos de 3.600 mortos, de acordo com os dados oficiais, o Japão tem sido relativamente poupado pela pandemia quando comparado com vários países. Desde novembro, as autoridades sanitárias nipónicas estão a registar um forte aumento dos contágios, que ultrapassaram, na quinta-feira e pela primeira vez, a barreira dos quatro mil novos casos em 24 horas.

No sábado, os governadores de Tóquio e de três regiões vizinhas pediram ao Governo para declarar um novo estado de emergência, tal como em abril e maio passados, progressivamente alargado a todo o país.

Até aqui, o Governo de Suga mostrou-se hesitante em decretar um novo estado de emergência, depois de três trimestres de recessão económica.

No entanto, o primeiro-ministro nipónico admitiu agora que “uma mensagem mais forte era necessária”.

“O Governo planeia decretar o estado de emergência” com medidas que permitam, nomeadamente, reduzir as infeções em bares e restaurantes”, declarou.

O estado de emergência permite aos governadores locais pedir às empresas que fechem e aos habitantes que fiquem em casa, sem impor medidas ou qualquer sanção em caso de incumprimento.

Sobre as vacinas, Suga declarou que o Governo esperava dados precisos das empresas farmacêuticas norte-americanas até final do mês, e a campanha podia começar a partir do final de fevereiro.

As vacinas serão prioritárias para “o pessoal de saúde, idosos e funcionários de lares”, indicou o primeiro-ministro, acrescentando que será um dos primeiros a ser vacinado.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.835.824 mortos resultantes de mais de 84,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

4 Jan 2021

Vulcão entra em erupção no Japão. Autoridades elevam nível de alerta

Um vulcão localizado na pequena ilha de Suwanose (sudeste do Japão) entrou hoje em erupção, levando as autoridades a aumentar o nível de alerta na área.

A erupção foi registada às 02:48 horas na cratera do Monte Otake, um vulcão activo que começou a lançar uma coluna de fumo com mais de 200 metros de altura e a cuspir pedras a uma distância de 1,3 quilómetros, de acordo com a Agência Meteorológica do Japão.

A agência declarou um alerta de nível 3 para a actividade vulcânica (numa escala de 5), recomendando que os habitantes da área não se aproximem da cratera, sem contemplar, por enquanto, a evacuação total da ilha.

Suwanose tem menos de 100 habitantes e faz parte do arquipélago das Ilhas Tokara, conhecido pela sua frequente actividade sísmica.

28 Dez 2020

MNE chinês no Japão para negociar retoma de viagens e questões regionais

[dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, chegou hoje ao Japão para abordar com o homólogo japonês formas de reavivar as economias dos dois países, atingidas pela pandemia da covid-19, e questões regionais.

Durante a visita de dois dias, Wang Yi e Toshimitsu Motegi vão abordar a retomada de viagens de negócios entre a segunda e a terceira maiores economias do mundo, o que permitiria aos visitantes participarem em atividades comerciais limitadas durante os períodos de quarentena de 14 dias. O Japão lançou recentemente acordos semelhantes com alguns países asiáticos.

A visita ocorre numa altura em que o Japão enfrenta nova vaga de infeções pelo novo coronavírus e o Executivo japonês tenta equilibrar medidas de prevenção contra a doença e a necessidade de reavivar a economia. Wang Yi deverá reunir-se com o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, durante a visita a Tóquio.

O Japão e a China não estão a considerar reagendar a visita de Estado do Presidente chinês, Xi Jinping, ao Japão, originalmente planeada para a primeira metade deste ano, mas adiada devido à pandemia.

As relações entre os dois países são frequentemente abaladas por disputas territoriais e memórias da invasão japonesa da China, mas os laços melhoraram nos últimos anos.

O Japão, um importante aliado de Defesa dos Estados Unidos, vê a China como um parceiro comercial crucial e enfrenta o desafio de equilibrar as relações com os dois países. A visita também ocorre numa altura de preocupações crescentes sobre a crescente influência da China na região.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, manteve conversações na semana passada com Suga, com quem concordou intensificar a parceria militar para “promover a paz e a estabilidade na região do Indo-Pacífico”, numa reação à crescente assertividade da China.

O Japão e a Austrália, junto com os EUA e a Índia, estão a tentar recrutar outros países para se juntarem a um bloco que visa conter a assertividade territorial da China, o que foi alvo de críticas de Pequim. Após visitar o Japão, Wang Yi vai-se deslocar à Coreia do Sul.

24 Nov 2020

Ex-PM japonês investigado por utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados

[dropcap]P[/dropcap]rocuradores no Japão estão a investigar o gabinete pessoal do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe pela alegada utilização ilegal de fundos para financiar eventos privados, para os quais foram convidados apoiantes do líder japonês entre 2013 e 2019.

Como parte desta investigação, a acusação começou a recolher declarações de secretários que trabalharam para Abe e de funcionários de organizações políticas, para obter mais informação sobre a forma como estes eventos foram financiados, de acordo com as notícias hoje publicadas nos meios de comunicação locais.

Estas festas foram realizadas todos os anos em hotéis de luxo, entre 2013 e 2019, para as quais foram convidados centenas de apoiantes da Abe, que são suspeitos de receber um financiamento de cerca de oito milhões de ienes, disseram fontes judiciais à agência local Kyodo.

A lei japonesa exige que os partidos e organizações privadas simpatizantes dos políticos declarem todas as suas receitas e despesas, algo que o gabinete pessoal da Abe não teria feito neste caso, de acordo com as mesmas fontes.

O antigo primeiro-ministro japonês, que renunciou ao cargo em meados de setembro, devido a problemas de saúde, disse hoje que o seu gabinete privado “está a cooperar plenamente com a investigação”.

A acusação abriu a investigação na sequência de um processo instaurado em maio por um grupo de cerca de 660 advogados e académicos contra Abe e os seus assistentes, acusando-os de infringir a lei.

O último destes jantares realizou-se na primavera de 2019, no Hotel New Otani, em Tóquio, na véspera de um feriado tradicional para ver as flores de cerejeira, e contou com a presença de cerca de 800 convidados, incluindo figuras proeminentes e apoiantes de Abe, muitos deles de Yamaguchi, a sua terra natal.

24 Nov 2020

Onsen

[dropcap]É[/dropcap] quase meia noite a aproveito os últimos minutos do banho termal no terraço do hotel, com desafogada vista para o mar e até para o célebre portão de um dos mais simbólicos santuários xintoístas do Japão, a erguer-se sobre águas tranquilas e sob estrelas luminosas e um brilhante quarto crescente, mas coberto pela estrutura protectora das obras de renovação em curso, coisa para durar uns dois anos, tal a delicadeza do objecto. O tanque de água quente onde me estendo é pequeno mas suficiente, que o hotel tem nestes dias procura limitada e os banhos escassa utilização. Mesmo com os simpáticos descontos proporcionados pela campanha de subsídio ao turismo interno implementada no Japão, o confortável hotel normalmente bastante caro tem pouca gente e foram raros os outros hóspedes que encontrámos, mesmo no acolhedor restaurante do estabelecimento, onde de resto tivemos oportunidade de degustar tranquilamente magníficas iguarias locais.

Há muito que não viajava, naturalmente. Coincidências das vidas pessoal e profissional tinham feito de 2019 ano de inusitada movimentação, durante o qual calhou estar em 10 países da Europa e da Ásia, mesmo não contando com escalas em viagem, coisa inédita e que certamente não se repetirá nos futuros previsíveis.

Mas há farturas que acabam por dar em fome, por assim dizer, e 2020, o ano da grande pandemia global, é todo o contrário: tempo de fronteiras fechadas, grandes restrições à mobilidade international e algumas condicionantes às deslocações internas, hotéis fechados, restaurantes em crise, enfim, toda a soberba indústria das viagens e do turismo subitamente encerrada e sem soluções à vista. Também eu, naturalmente, passei o ano entre a casa e o emprego, ainda que fosse dos privilegiados que mantiveram o trabalho (e o rendimento) em pleno – ou até mais, na realidade.

Este foi então um tranquilo regresso à tranquilidade do “onsen”, o banho japonês com tradição milenar num país onde as nascentes de água termal são incomparavelmente mais abundantes do que em qualquer outro lugar. Ainda que haja nascentes a correr livremente na natureza, a maior parte dos banhos utiliza fontes naturais integradas em unidades hoteleiras. A maioria são os “ryokan” japoneses, de quartos amplos e preparados para o serviço de refeições, o chão em tapetes “tatami” e as camas em tradicionais “futons”, uma espécie de saco-cama. Mas há cada vez mais hotéis “convencionais”, com quartos e camas ao estilo europeu, que também oferecem serviço de banhos termais. Desta vez ficámos alojados algures a meio-caminho: um quarto com cama em estilo europeu e refeições em restaurante mas tapetes “tatami” e espaço suficiente para entreter uma hóspede com 3 meses de vida e a inerente volatilidade de humores, na sua primeira pequena viagem. O banho, em todo o caso, segue as estritas regras da etiqueta japonesa: ambiente recatado e silencioso a convidar à introspecção, separação dos balneários por sexo, nudez total e lavagem dos corpos antes da entrada na água, lugar de meditação e não de lavagem. Neste caso, havia também banho ao ar livre, vista magnífica e ninguém por companhia – um regresso paradisíaco a ambiente tão tradicional do Japão.

Este regresso à actividade turística no Japão vai-se fazendo com também com tranquila lentidão, à falta de alternativas razoáveis. Com o país ainda fechado à mobilidade internacional (com muito raras excepções), é o turismo interno que vai vagamente animando a economia de um sector em agonia que se prevê prolongada.

Há subsídios do governo para promover o turismo que tornam os preços bem mais apetecíveis mas há também uma cultura generalizada que impõe longas jornadas de trabalho e curtas férias (mesmo que isso pouco contribua para a produtividade da economia). Também há precauções generalizadas em relação a possíveis contágios, que o vírus está longe de estar extinto. Neste caso, apesar de se tratar de uma pequena ilha com fácil acesso (menos de 10 minutos de barco desde zona urbana), notável atractividade nacional e internacional e preços manifestamente baixos, o número de visitantes era baixo, não havia qualquer tipo de congestionamento e os riscos para a saúde pública eram mínimos.

Este modesto incentivo à recuperação do turismo centrada no mercado doméstico contrasta com o Verão europeu, onde se franquearam as portas à chegada de turistas internacionais, com mais ou menos restrições, mais ou menos atabalhoamento, mas em quantidades suficientes para se criarem congestionamentos diversos em transportes e respectivas infra-estruturas, incluindo estações e aeroportos, além de hotéis, restaurantes, bares e zonas centrais de animação estival. Não será a única causa mas certamente contribuiu bastante mais para o aumento do número de casos de infecções por covid-19 a que hoje se assiste em muitos países europeus do que para a recuperação das economias em geral ou do turismo em particular. Percebem-se mal os critérios europeus e a falta de aprendizagem com o que passa e o que se faz na Ásia, onde os contágios começaram com pelo menos um trimestre de antecipação. Tem sido assim desde o princípio desta pandemia. Uma lástima.

9 Out 2020

Novo PM do Japão no primeiro dia de trabalho com objetivo de fazer reformas populares

[dropcap]O[/dropcap] novo primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, teve esta quinta-feira o seu primeiro dia completo no cargo com a determinação de levar adiante reformas populares. “Estou determinado a trabalhar muito para as pessoas e obter resultados para que possamos corresponder às suas expectativas”, disse Suga aos jornalistas ao entrar no gabinete do primeiro-ministro.

Suga foi formalmente eleito na quarta-feira para substituir o antigo chefe de Governo, Shinzo Abe, que anunciou no mês passado que planeava deixar o cargo devido a problemas de saúde.

Embora Suga tenha conquistado o apoio de outros legisladores do partido do Governo com a promessa de levar adiante as políticas de Abe e trabalhar nos objetivos inacabados da anterior Administração, também vai tentar implementar algumas medidas próprias.

O primeiro-ministro comprometeu-se, entre outras coisas, a acelerar e recuperar no atraso da transformação digital do Japão e nomeou um ministro especial para promover a digitalização na educação, saúde e negócios.

Ao contrário de Abe, que propôs grandes objetivos como revisões constitucionais, Suga parece determinado a adoptar uma abordagem mais populista para lidar com as preocupações diárias das pessoas, segundo os analistas.

17 Set 2020

Parlamento designa Yoshihide Suga novo primeiro-ministro do Japão

[dropcap]O[/dropcap] parlamento do Japão designou hoje como novo primeiro-ministro Yoshihide Suga em substituição de Shinzo Abe, que apresentou a demissão por questões de saúde, após quase oito anos como líder do Governo.

Suga, de 71 anos, que foi chefe de Gabinete e ministro porta-voz do Governo de Abe, obteve 314 dos 462 votos, numa sessão extraordinária do parlamento japonês (Dieta), convocada para ratificar a escolha, na sequência da proposta do partido no poder e com maioria parlamentar.

Na segunda-feira, o Partido Liberal Democrata (PLD) escolheu Suga como novo líder, para completar o mandato que Abe também não cumpriu, até setembro do próximo ano.

Antes da confirmação parlamentar, Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês que mais tempo ocupou o cargo, e os membros do Governo tinham apresentado a renúncia.

Suga foi um apoiante leal de Abe desde a primeira passagem deste último pelo cargo de primeiro-ministro, de 2006 a 2007. O mandato de Abe terminou então abruptamente por causa de uma doença e Suga ajudou-o a regressar como primeiro-ministro em 2012.

Abe, de 65 anos, que sofre de colite ulcerosa, explicou no mês passado que era obrigado a renunciar, uma vez que tinha pela frente um tratamento contínuo com óbvio impacto físico, apesar de se sentir melhor.

O novo primeiro-ministro vai herdar uma série de desafios, incluindo as relações diplomáticas e económicas com a China e os Estados Unidos, bem como o que fazer com os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para o próximo verão devido à pandemia.

16 Set 2020

Partido no poder no Japão inicia campanha eleitoral para escolher sucessor de Abe

[dropcap]O[/dropcap] Partido Liberal Democrático (PLD), no poder no Japão, lançou hoje oficialmente a sua campanha eleitoral interna para escolher o sucessor do primeiro-ministro Shinzo Abe, que renunciou por motivos de saúde, sendo Yoshihide Suga o favorito para o cargo.

Yoshihide Suga, 71 anos, chefe de Gabinete e ministro porta-voz do Governo japonês, já garantiu o apoio das principais facções do PLD, que deve eleger no dia 14 de setembro o seu próximo presidente, que deverá também assumir o cargo de primeiro-ministro japonês.

Suga prometeu hoje dar continuidade à política económica do actual chefe de Governo, Shinzo Abe, embora tenha destacado que “o que está mal deve ser objectivamente revisto”.

O braço-direito de Abe participou numa conferência de imprensa neste primeiro dia da campanha eleitoral junto com os outros dois candidatos à liderança do PLD, o ex-ministro da Defesa Shigeru Ishiba e o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Fumio Kishida.

Ao traçar as suas propostas eleitorais pela primeira vez, Suga sublinhou que vai defender políticas de promoção do emprego e lembrou as vantagens que o programa económico de Abe tem promovido desde 2012.

Esse programa, conhecido como “Abenomics”, promoveu afrouxamento monetário, estímulos fiscais e reformas estruturais para gerar crescimento, pilares a que Suga prometeu dar continuidade, embora com foco no emprego.

“O importante agora é apoiar o emprego, promover negócios e prestar assistência” às empresas devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus, que levou a atividade económica do Japão à recessão e a níveis de declínio que não eram vistos em meio século, referiu Suga.

Na conferência de imprensa dos três candidatos, que aconteceu na sede do PLD horas após o lançamento da campanha eleitoral interna, surgiu a possibilidade de que esses tempos políticos se acelerassem e de que ocorressem eleições antecipadas.

A este respeito, Suga defendeu que o país não deve ir a eleições antecipadas antes de os esforços do Governo para conter a pandemia do novo coronavírus serem consolidados e o país “recuperar uma vida segura e confortável”.

Ishiba, legislador veterano do PLD e com grande apoio da militância partidária, opôs-se a Suga nesta questão de convocação de eleições antecipadas.

De qualquer forma, Ishiba lembrou que a possibilidade de dissolver a Dieta (parlamento) e convocar eleições gerais antecipadas é prerrogativa do primeiro-ministro.

Haverá dois debates públicos durante esta curta campanha eleitoral interna do PLD e a votação será aberta a apenas 535 eleitores, os representantes do partido no Parlamento e representantes do partido em 47 municípios do país.

A corrida para suceder Abe, de 65 anos, começou no final de agosto, quando este anunciou de surpresa que planeava deixar o cargo por motivos de saúde, após quebrar o recorde de longevidade de um primeiro-ministro japonês.

A situação suscitou especulações sobre uma possível convocação de eleições legislativas antecipadas pelo novo dirigente do PLD, com o objetivo de conquistar um mandato público e silenciar qualquer contestação da oposição.

Vários partidos da oposição estão atualmente a tentar reagrupar-se para formar um contrapeso mais forte aos conservadores que estão no poder.

8 Set 2020

Japão | Renúncia do primeiro-ministro não deve afectar relacionamento com Pequim

O primeiro-ministro japonês, no cargo desde 2012, anunciou a renúncia por motivos de saúde, devido a uma doença inflamatória intestinal que já o tinha forçado a deixar o poder em 2007. Apesar da incerteza quanto ao sucessor de Shinzo Abe, a posição de equilíbrio entre o maior aliado, os Estados Unidos e o maior parceiro comercial, a China, será para manter no próximo Governo

 

[dropcap]”D[/dropcap]ecidi renunciar ao cargo de primeiro-ministro”, disse Shinzo Abe em conferência de imprensa na sexta-feira, explicando que sofreu uma recaída da sua doença crónica, colite ulcerosa.

A intenção, que já tinha sido avançada por órgãos de comunicação social nipónicos, foi confirmada depois de uma reunião com altos responsáveis na sede do partido. “As minhas condições de saúde não são perfeitas. Uma saúde fraca pode resultar em decisões políticas erróneas”, disse Abe, sublinhando que, “em política, o mais importante é gerar resultados”.

Questionado pelos jornalistas, o primeiro-ministro japonês que reteve o poder durante mais tempo escusou-se avançar nomes de um eventual sucessor, mas afirmou que irá manter o cargo até ser encontrado o próximo líder do Governo.

Para já, o núcleo de aspirantes é composto por dirigentes de peso, como o ex-secretário geral do Partido Liberal Democrático (PLD) e ex-ministro da Defesa, Shingeru Ishiba, de 63 anos, favorito nas sondagens entre os potenciais sucessores, embora menos popular dentro do partido no poder.

A lista inclui ainda o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e chefe político do PLD, Fumio Kishida, de 63 anos, o chefe de gabinete, Yoshihide Suga, de 71 anos e o ministro da Defesa e ex-titular dos Negócios Estrangeiros, Taro Kono, de 56 anos.

A maioria dos potenciais sucessores têm um historial de lealdade a Abe, com a complicada excepção de Ishiba. O ex-ministro da Defesa foi dos poucos políticos do PLD que abertamente criticou o Governo.

Um dos sinais do posicionamento político de Shingeru Ishiba foi a recusa em visitar um templo (Yasukuni) dedicado aos combatentes japoneses mortos, incluindo alguns condenados por crimes de guerra, considerado no estrangeiro como um símbolo negro do passado militar japonês.

O especialista em assuntos japoneses da Universidade de Tsinghua, Liu Jiangyong, encara esta posição como um sinal positivo numa possível relação futura entre Tóquio e Pequim. “Isto pode significar que Ishiba será mais amigável para com a China, e menos extremista na reforma constitucional”, comentou o académico, citado pelo South China Morning Post.

A virtude do meio

Apesar de recentemente a relação entre China e Japão ter sido abalada por algumas controvérsias, como troca de galhardetes motivada pela pandemia de covid-19, a lei da segurança nacional em Hong Kong e as velhas disputas marítimas, a mudança de elenco governativo em Tóquio não é encarada por analistas como passível de alterar a dinâmica diplomática entre os países.

Assim sendo, o próximo primeiro-ministro deverá continuar a linha de Shinzo Abe na abordagem à China, equilibrando os laços económicos entre o maior parceiro comercial e o aliado estratégico norte-americano.

“Manter a aliança com os Estados Unidos ao mesmo tempo que dá continuidade às relações com a China, vão continuar a ser as prioridades do Japão, isso não vai mudar”, projecta o académico japonês, Michito Tsuruoka, citado pelo South China Morning Post.

O professor da Universidade de Keio em Tóquio, faz, porém, a ressalva de que esta posição pode ser colocada em causa se a posição de Washington endurecer face à China. “Se Donald Trump for reeleito e continuar as políticas agressivas contra a China, as relações sino-japonesas podem sair afectadas”, comenta o académico, acrescentando que a eleição do democrata Joe Biden pode levar a uma abordagem “menos extrema” a Pequim.

O Governo de Abe tentou sempre evitar posições de conflito com a China, “uma política que privilegia abordagens realistas e pragmáticas”, considera o especialista em relações internacionais da Universidade de Renmin, Huang Dahui, citado pelo South China Morning Post.

Quebrar o gelo

China e Japão têm uma história repleta de conflito e tensão. Recentemente, Shinzo Abe e Xi Jinping suavizaram diplomaticamente a relação, como ficou demonstrado na visita a Tóquio do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Maio de 2018 e a ida de Abe a Pequim no ano seguinte.

Os porta-vozes do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying e Zhao Lijian, demonstraram apreço pelos esforços de Abe para melhorar as relações entre o Japão e a China e desejaram as melhoras ao primeiro-ministro demissionário.

Analistas citados pelo jornal oficial chinês Global Times destaca o contributo de Shinzo Abe, durante os dois mandatos, para a construção de uma relação estável e recíproca entre os dos países, apesar de o ponto de partida ter sido o mais baixo em termos de relações bilaterais.

Em relação ao futuro, Zhao Lijian refere que “a China está disposta a trabalhar com o Japão para aprofundar a cooperação no controlo da pandemia e no desenvolvimento das relações económicas e sociais entre os dois países”.

O Global Times destaca também que, “no início do primeiro mandato, Shinzo Abe decidiu visitar primeiro a China, em vez dos Estados Unidos, construindo uma imagem de não-hostilidade para com a China”. A jornal cita mesmo analistas que categorizam Abe como o “bombeiro” que apagou o fogo diplomático entre os dois gigantes asiáticos.

Processo complicado

A rápida sucessão de poder é a prioridade política do momento no Japão. Os dirigentes do PLD tiveram logo uma primeira reunião de emergência, horas depois de confirmado o desejo de Abe resignar ao cargo, para preparar o cenário, tendo ficado o secretário-geral do partido, Toshihiro Nikai, encarregado de delinear todo o processo. “Se houvesse tempo suficiente, os votos dos membros do partido deveriam ser considerados, mas queremos ouvir as opiniões e julgar o que se vai fazer”, afirmou Nikai, em declarações aos jornalistas, depois da primeira reunião de emergência.

Num processo normal, o líder do PLD elege uma assembleia que integra os legisladores do partido, dirigentes territoriais e representantes dos militantes que se reúnem a cada três anos para nomear o dirigente máximo desse grupo político.

No entanto, em casos como o actual, existe um processo que por razões de urgência implica seleccionar o candidato a primeiro-ministro entre os legisladores do partido e representantes das 47 prefeituras do país.

A primeira opção, ainda que mais lenta em procedimentos, é mais ampla quanto aos apoios políticos necessários, contrariamente à segunda opção, em que os legisladores têm mais peso, tendo sido este o sistema escolhido em 2007 para designar o sucessor de Abe quando este renunciou ao cargo um ano depois devido a uma doença inflamatória intestinal.

As propostas para eleger o próximo primeiro-ministro serão amanhã levadas a uma reunião do conselho geral do partido, momento em que se estima será escolhido o dia das eleições para o novo líder, apontado para meados de Setembro, e como a eleição será feita.

Legado e família

Shinzo Abe ficou conhecido no estrangeiro sobretudo devido à sua política económica apelidada de “Abenomics”, lançada no final de 2012, que combinava flexibilização da política monetária, grande estímulo fiscal e reformas estruturais. No entanto, na ausência de reformas realmente ambiciosas, este programa teve apenas sucessos parciais e que agora foram ofuscados pela crise económica ligada à pandemia do novo coronavírus.

Segundo Masamichi Adachi, economista do banco UBS, entrevistado pela agência de notícias AFP, Shinzo Abe agiu como “um populista” e não impôs as reformas económicas, necessariamente “dolorosas”, o que será uma das principais razões da sua longevidade no poder.

A grande ambição de Abe, herdeiro de uma grande família de políticos conservadores, era rever a constituição pacifista japonesa de 1947, escrita pelos ocupantes norte-americanos e desde então nunca alterada.

Tendo construído parte de sua reputação com base na firmeza em relação à Coreia do Norte, Abe queria a existência de um exército nacional no lugar das actuais “forças de autodefesa” japonesas, mas a Constituição estipula que o Japão deveria renunciar à guerra para sempre.

Também defendeu um Japão descomplexado de seu passado, recusando-se em particular a carregar o fardo do arrependimento pelos actos do exército japonês na China e na península coreana na primeira metade do século XX. No entanto, Abe absteve-se de ir ao santuário Yasukuni em Tóquio, um foco de nacionalismo japonês, após a sua última visita ao local no final de 2013, que indignou Pequim, Seul e Washington.

As relações entre Tóquio e Seul deterioraram-se claramente nos últimos dois anos, tendo como pano de fundo disputas históricas, enquanto as relações com Pequim aqueceram, embora continuem tortuosas.

Em relação aos Estados Unidos, Abe adaptou-se a cada mudança de Presidente, demonstrando nos últimos anos a sua cumplicidade com Donald Trump, com quem compartilha a paixão pelo golfe. Uma estratégia com resultados mistos e complicada pelo lado imprevisível do Presidente norte-americano.

Shinzo Abe teve também o cuidado de não ofender o Presidente russo, Vladimir Putin, na esperança de resolver a disputa pelas Ilhas Curilas do Sul (chamadas de “Territórios do Norte” pelos japoneses), anexadas pela União Soviética ao fim da Segunda Guerra Mundial e nunca mais devolvidas ao Japão. Também tentou brilhar no cenário internacional, por exemplo, assumindo o papel de mediador entre o Irão e os Estados Unidos ou sendo o apóstolo do livre comércio.

Regularmente salpicado por escândalos que afectam os seus familiares, Abe costuma aproveitar eventos externos – os disparos de mísseis norte-coreanos ou desastres naturais – para distrair a atenção e colocar-se como o chefe necessário na adversidade. Shinzo Abe soube aproveitar-se da ausência de um rival à sua altura no PLD e da fragilidade da oposição, que ainda não recuperou da desastrosa passagem pelo poder entre 2009 e 2012.

A sua popularidade, entretanto, diminuiu acentuadamente desde o início da pandemia do novo coronavírus, pois a sua acção foi considerada muito lenta e confusa. Também se apegou à esperança de manter as Olimpíadas de Tóquio no Verão de 2020, que seria um dos pontos altos de sua gestão, mas a realização do evento foi adiada por um ano devido à pandemia de covid-19.

31 Ago 2020

Primeiro-ministro japonês resigna por motivos de saúde

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro japonês, no cargo desde 2012, anunciou hoje a sua renúncia por motivos de saúde, após ter sido acometido por uma doença inflamatória intestinal que já o tinha forçado a deixar o poder em 2007. “Decidi renunciar ao cargo de primeiro-ministro”, disse Shinzo Abe em conferência de imprensa, explicando que sofreu uma recaída da sua doença crónica, colite ulcerosa.

A intenção, que já tinha sido avançada por órgãos de comunicação social nipónicos, foi confirmada depois de uma reunião com altos responsáveis na sede do partido. “As minhas condições de saúde não são perfeitas. Uma saúde fraca pode resultar em decisões políticas erróneas”, disse Abe, sublinhando que, “em política, o mais importante é gerar resultados”. Questionado pelos jornalistas, Abe escusou-se a avançar nomes de um eventual sucessor.

Shinzo Abe, cujo mandato termina em Setembro de 2021, deverá permanecer até que um novo líder do partido no poder, o Partido Liberal Democrático, seja eleito e o seu nome formalmente aprovado como primeiro-ministro pela câmara baixa do parlamento.

As preocupações sobre o problema crónico de saúde de Abe voltaram à discussão pública desde o início do verão e intensificaram-se neste mês, quando deu entrada por duas vezes num hospital de Tóquio, para realizar exames não especificados.

Em 2007, Abe demitiu-se abruptamente, na primeira vez que ocupou o cargo, também devido a problemas de saúde, e lidera o Governo desde final de 2012, um recorde de longevidade para um primeiro-ministro japonês.

O primeiro-ministro japonês demissionário reconheceu ter colite ulcerosa desde que era adolescente e disse que o seu estado foi controlado com tratamento.

É considerado um político de sangue azul que foi preparado para seguir os passos de seu avô, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi.

A sua retórica política concentrava-se frequentemente em fazer do Japão uma nação “normal” e “bonita”, com um exército mais forte e um papel maior em assuntos internacionais.

Citado pela agência de notícias Associated press (AP), Hiroshige Seko, secretário-geral do partido para a Câmara Alta do parlamento, confirmou que Abe disse aos membros do partido que renuncia ao cargo de primeiro-ministro para não causar problemas.

Shinzo Abe tornou-se o primeiro-ministro mais jovem do Japão em 2006, aos 52 anos, mas sua primeira passagem excessivamente nacionalista terminou abruptamente um ano depois por causa da sua saúde.

Em dezembro de 2012, regressou ao poder, dando prioridade a medidas económicas na sua agenda nacionalista.

Ganhou seis eleições nacionais e conquistou o poder com firmeza, reforçando o papel e a capacidade de defesa do Japão e a sua aliança de segurança com os EUA. Também intensificou a educação patriótica nas escolas e aumentou a projeção internacional do Japão.

Abe tornou-se já esta semana, dia 24, o primeiro-ministro que mais tempo serviu no Japão por dias consecutivos no cargo, superando o recorde de Eisaku Sato, seu tio-avô, que serviu 2.798 dias de 1964 a 1972.

Mas a sua segunda visita ao hospital na segunda-feira acelerou as especulações e as manobras políticas em direção a um regime pós-Abe.

A colite ulcerosa causa inflamação e, às vezes, pólipos nos intestinos. Pessoas com a doença podem ter uma expectativa de vida normal, mas os casos graves podem envolver complicações com risco de vida.

Depois de as suas recentes visitas ao hospital serem conhecidas, altos funcionários do gabinete de Abe e do partido no poder disseram que o primeiro-ministro estava sobrecarregado e precisava de descanso.

As preocupações com a sua saúde aumentaram a especulação de que os dias de Abe no cargo estavam contados.

Os seus apoios já estavam em níveis muito baixos devido ao modo como lidou com a pandemia do coronavírus e o seu severo impacto na economia, além de vários escândalos políticos.

Há uma grande quantidade de políticos a desejar a substituição do chefe do Governo.

Shigeru Ishiba, um ex-ministro da defesa, de 63 anos, e arquirrival de Abe, é o líder favorito nas sondagens entre os potenciais sucessores, embora seja menos popular dentro do partido no poder.

Um ex-ministro das Relações Exteriores, Fumio Kishida, o ministro da Defesa, Taro Kono, o secretário-chefe de gabinete, Yoshihide Suga, e o ministro da Revitalização Económica, Yasutoshi Nishimura, encarregado das medidas contra o coronavírus, são também referidos nos ‘media’ japoneses como potenciais sucessores.

Abe, que enfrentou críticas públicas devido à forma como lidou com o surto de coronavírus, foi frequentemente ofuscado pela governadora de Tóquio, Yuriko Koike, que é vista como uma candidata potencial a primeira-ministra por alguns. Contudo, teria que primeiro ser eleita para o parlamento para concorrer ao cargo mais alto.

O fim da primeira passagem de Shinzo Abe como primeiro-ministro foi o início de seis anos de mudança anual de liderança, lembrada como uma era de política de “porta giratória” que carecia de estabilidade e políticas de longo prazo.

Quando voltou ao cargo em 2012, Abe prometeu revitalizar o país e tirar a sua economia da estagnação deflacionária com sua fórmula “Abenomics”, que combina estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais.

As medidas impopulares que tomou para fazer face ao coronavírus fizeram com que os seus apoio diminuíssem, já antes dos seus problemas de saúde.

Talvez o seu maior fracasso tenha sido a sua incapacidade de cumprir uma meta longamente acalentada pelo seu avô, de reescrever formalmente o esboço da constituição pacifista dos Estados Unidos. Abe e os seus apoiantes ultraconservadores veem a constituição elaborada pelos EUA como um legado humilhante da derrota do Japão na segunda guerra mundial.

Não atingiu também o seu objetivo de resolver vários legados inacabados do tempo de guerra, incluindo a normalização dos laços com a Coreia do Norte, a resolução de disputas nas ilhas com vizinhos e a assinatura de um tratado de paz com a Rússia.

28 Ago 2020

Japão alivia restrições e permite entrada de alguns residentes estrangeiros

[dropcap]O[/dropcap] Japão decidiu ontem permitir a entrada de mais residentes estrangeiros, aliviando as restrições de imigração devido a covid-19, começando com trabalhadores e estudantes, no dia em que círculos empresariais europeus e norte-americanos demonstraram preocupação pela situação.

A entrada no território vai ter alguns requisitos, como um teste negativo à covid-19 antes da chegada ao país, e vai ser escalonada, segundo disse o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em reunião com o grupo de trabalho de gestão da pandemia.

Abe, que não especificou a partir de quando vão ser aplicadas essas excepções, assinalou também que está a considerar deixar entrar de forma limitada e durante um curto período de tempo empresários da Europa e dos Estados Unidos, e que vão começar negociações com mais 12 países e regiões para retomar as viagens de negócios bilaterais.

Entre os territórios com os quais Tóquio vai negociar estão a China, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Macau, Brunei ou Birmânia.

O Japão conseguiu chegar a acordo ontem com o Vietname e a Tailândia para aliviar as restrições e permitir a retoma de viagens “até final de Julho”, mas manteve a exigência de uma quarentena de 14 dias, conforme anunciado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

As negociações também estão em curso com a Austrália e Nova Zelândia, países que os nipónicos consideram ter o vírus sob controlo.

Ainda ontem, antes de Abe anunciar o alivio das medidas, os círculos empresariais europeus e norte-americanos no país lamentaram a persistência da proibição de entrada de estrangeiros, mesmo os que residem no país, acreditando que essa medida prejudica a sua atividade.

Enquanto os japoneses são convidados a observar uma quarentena de 15 dias no regresso ao país, os residentes estrangeiros no Japão não podiam regressar se tivessem saído, excepto em certos casos “humanitários” (urgência familiar, por exemplo) devidamente justificados.

Essa política de padrões duplos, única entre os países do G7, constitui um “sério obstáculo para muitos membros e as suas famílias”, sublinhou Christopher LaFleur, presidente da Câmara norte-americana de comércio no Japão, durante uma conferência de imprensa em Tóquio.

“Isso terá certamente um impacto” na imagem e na atractividade económica do Japão, porque gera “imprevisibilidade” para muitas empresas estrangeiras, afirmou também Michael Mrozczek, presidente do Conselho Empresarial Europeu no Japão.

Outras medidas

Abe indicou ainda que o Governo vai considerar as condições para permitir a entrada de atletas e outras pessoas envolvidas nos adiados Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, que esta quinta-feira começam a contagem de um ano para a cerimónia de abertura, a ser realizada no dia 23 de Julho de 2021.

Esse compromisso acontece no mesmo dia em que o governo japonês anunciou a inclusão e 17 outros países na lista de proibição migratória, elevando o número de territórios afectados para 146.

O Japão contabilizou até ao momento mais de 27.000 casos de covid-19 e 1.002 mortes, incluindo as relacionadas com o cruzeiro Diamond Princess, que esteve em quarentena em Fevereiro.

23 Jul 2020

Japão | HRW denuncia abusos físicos e sexuais a atletas menores

Mais de 800 atletas japoneses revelaram à Human Rights Watch que foram vítimas de agressões físicas e verbais, bem como de assédio e abuso sexual, quando treinavam para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O relatório, tornado público esta segunda-feira, surge numa altura em que o Japão se prepara para receber a competição mundial em 2021

 

[dropcap]A[/dropcap] organização não governamental Human Rights Watch (HRW) publicou esta segunda-feira um relatório demolidor sobre alegados casos de abusos físicos e sexuais no Japão cometidos contra atletas olímpicos menores de idade. O relatório foi feito com base em experiências documentadas por mais de 800 atletas que dizem ter sido abusados no passado. Além das entrevistas pessoais feitas a 50 pessoas, foi também realizado um inquérito online, a nível nacional, com 757 respostas não apenas de atletas olímpicos, mas também de paralímpicos.

O relatório de 67 páginas, intitulado “‘I Was Hit So Many Times I Can’t Count’: Abuse of Child Athletes in Japan’” [Fui agredido tantas vezes que não consigo contar: O abuso de atletas menores no Japão], “documenta uma história de punição corporal no desporto no Japão, conhecido como taibatsu, e revela casos de crianças atletas abusadas em escolas, federações e entidades de desporto de elite”.

O termo taibatsu surge associado ao facto de a “violência física como uma técnica de treino ser uma longa tradição no desporto japonês, muitas vezes vista como essencial para atingir o nível de excelência na competição e no carácter pessoal”. No entanto, “esta tradição perigosa tem tornado especialmente difícil a erradicação dos abusos físicos da área do desporto”, uma vez que “treinadores, pais e mesmo alguns atletas incorrem no erro de pensar que o abuso físico no desporto tem o seu valor, e as crianças sofrem com isso”.

A HRW descreve que há casos de “depressão, suicídios, deficiências físicas e traumas que resultam desses abusos”. “Atletas japoneses de mais de 50 desportos relataram abusos que incluem murros na cara, pontapés, agressões com objectos como paus de bambu usados na prática de kendo, privação de água, agressões com raquetes, além de serem sexualmente abusados ou assediados”, lê-se ainda.

Um dos relatos é de Daiki A., de 23 anos, atleta da região de Fukuoka. “Fui agredida tantas vezes que não consigo contar… éramos chamados pelo treinador e esbofeteados à frente de toda a gente. Estava a sangrar, mas ele não parava de me bater. Poderia dizer que o meu nariz estava a sangrar, mas ele não parava.”
Minky Worden, director de Iniciativas Globais da HRW, declarou que “durante décadas as crianças no Japão têm sido brutalmente agredidas ou abusadas verbalmente em nome da obtenção de troféus e medalhas”.

O responsável exige, portanto, uma mudança profunda. “Uma vez que o Japão prepara-se para receber os Jogos Olímpicos (JO) e Paralímpicos em Tóquio em Julho de 2021, as atenções internacionais constituem uma grande oportunidade para alterar leis e políticas no Japão e para, em todo o mundo, proteger milhões de crianças atletas”, apontou Minky Worden.

Além do inquérito online e entrevistas, a HRW também fez um trabalho de monitorização de reportagens sobre abusos sexuais de crianças na área do desporto, além de ter contactado federações desportivas, feito entrevistas a académicos, jornalistas, pais e treinadores, bem como encontros pessoais com representantes do Governo e das federações desportivas.

Suicídio em 2012

O relatório da HRW dá conta que alguns dos abusos terão ocorrido em 2013, quando o país preparava a candidatura para receber os JO e Paralímpicos, entretanto adiados para Julho de 2021 devido à pandemia da covid-19. Nesse ano, foram divulgados vídeos de abusos contra atletas de elite, além de terem sido reportados suicídios de atletas menores de idade. À altura, “agências desportivas falaram publicamente da necessidade de proteger as crianças na área do desporto”.

Em 2018, na prefeitura de Aichi, foi divulgado um vídeo em que vê um treinador de baseball a esbofetear, pontapear e desferir murros em jogadores da sua equipa. Apesar da criação de linhas de apoio para este tipo de casos, a HRW refere que “estas reformas são apenas ‘linhas de orientação’ opcionais ao invés de regras devidamente implementadas”, com pouca monitorização. Além disso, não existem estatísticas oficiais do número de casos de abuso reportados nem tratamento das queixas recebidas.

Em 2012, um jogador de basquetebol, de 17 anos, cometeu suicídio na cidade de Osaka, depois de ter sofrido vários abusos do treinador. Meses mais tarde, a treinadora da equipa feminina de judo japonesa abandonou o cargo na sequência de acusações de que teria abusado fisicamente das atletas na preparação para os JO de Londres.

Os casos de abuso a atletas menores no Japão constituem, segundo a HRW, uma violação às leis que criminalizam o abuso sexual infantil, as leis de direitos humanos a nível internacional e o regulamento do comité dos JO.

Tudo normal

Apesar das centenas de relatos, a HRW aponta que “os abusos de crianças no desporto continuam a ser aceites e até normalizados em muitas áreas da sociedade”, sendo “difícil para muitos jovens atletas apresentar queixa contra um oficial da área ou contra o seu poderoso treinador”. Além disso, “as escolas e federações raramente punem treinadores abusivos, permitindo muitas vezes que continuem a treinar”.

Kanae Doi, director da HRW no Japão, declarou que “as federações desportivas no Japão têm permissão para estabelecer os seus próprios sistemas de monitorização de abuso e de abusadores – e muitas delas escolhem simplesmente não implementar esses sistemas”. “Isto expõe as crianças a riscos inaceitáveis e deixa os pais e atletas com poucas opções para apresentar queixa ou procurar defesas contra os abusadores”, acrescentou o responsável.

O problema dos abusos sexuais cometidos contra atletas olímpicos não é exclusivo do Japão, com casos amplamente reportados em todo o mundo. A HRW destaca o caso do médico olímpico norte-americano Larry Nassar, acusado de inúmeros abusos sexuais, em que uma das vítimas foi a ginasta Simone Biles, que ganhou 4 medalhas de ouro em Jogos Olímpicos.

“Os abusos infantis na área do desporto são um problema global com falta de sistemas unificados e claros que identifiquem a violência. O fardo de reportar um abuso recai muitas vezes sobre as vítimas, enquanto os sistemas que reportam os casos são opacos, inadequados e sem resposta”, descreve a HRW.

Takuya Yamazaki, advogado do comité executivo da World Players Association, disse que “uma das razões pelas quais é tão difícil lidar com casos de abuso é que os atletas não são encorajados a ter uma voz”. “Tal como muitos dos corajosos atletas que estão a começar a falar mais sobre os seus direitos, os órgãos desportivos devem revelar coragem para lidar com o passado, isto se o desporto é uma força verdadeira em prol do bem”, acrescentou o responsável da associação que trabalhou de perto com a HRW na elaboração deste relatório.

As recomendações

A HRW faz ainda uma série de recomendações às autoridades japonesas no sentido de ser implementada uma nova lei que “de forma explícita elimine todas as formas de abuso por parte de treinadores contra atletas menores em organizações desportivas”. Essa lei deve também “delinear os direitos dos atletas, incluindo o direito de praticar desporto sem qualquer tipo de abuso”. A HRW pede também que seja dada formação a todos os treinadores e atletas relativamente a este problema, além da possibilidade de qualquer pessoa poder reportar casos de abuso contra atletas.

As recomendações vão também no sentido de se criar um Centro Japonês para o Desporto Seguro [Japan Center for Safe Sport], enquanto “órgão administrativo independente virado para o abuso infantil no desporto” que seria responsável por lidar com casos de queixas de abusos, além de implementar padrões, medidas preventivas e realizar investigações.

22 Jul 2020

Japão regista défice comercial de 268,8 milhões de ienes em Junho

[dropcap]O[/dropcap] Japão registou em junho um défice comercial de 268,8 milhões de ienes, informou hoje o Governo. O saldo negativo é inferior ao défice de Maio, mas contrasta com o excedente de 588,1 mil milhões de ienes contabilizado em Junho de 2019, de acordo com dados publicados pelo Ministério das Finanças.

Com a União Europeia, o seu terceiro parceiro comercial, o Japão registou um défice de 178,1 mil milhões de ienes, mais 153,5% do que o saldo negativo observado em Junho de 2019. Com o Brasil, o país asiático também viu o défice crescer 52,3%, para 31,3 mil milhões de ienes.

Com a China, o seu maior parceiro comercial, os números indicam um défice de 146,2 mil milhões de ienes (mais 10,3% do que o saldo negativo obtido em Junho de 2019).

Finalmente, com a primeira economia do mundo e seu segundo parceiro comercial, os Estados Unidos, o Japão obteve um excedente comercial de 124,6 mil milhões de ienes, menos 81,4% do que aquele verificado no mesmo período do ano anterior.

20 Jul 2020

Covid-19 | Japão culpa China pela “desinformação” sobre novo coronavírus

[dropcap]O[/dropcap] Japão acusou hoje a China de “desinformação” sobre o novo coronavírus, expressando “profunda preocupação” em relação às reivindicações de Pequim no mar do Sul da China e nos ilhéus Senkaku/Diaoyu, disputados entre os dois países.

No livro branco anual sobre a política de defesa, agora publicado, o Japão responsabilizou a China pela “propaganda” e “desinformação” sobre o novo coronavírus, que surgiu pela primeira vez no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, no centro do país.

O Japão citou como exemplo os comentários na rede social Twitter de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês que sugeriu em Março que o vírus tinha sido introduzido em Wuhan por militares americanos, ou a promoção de medicamentos chineses à base de ervas para tratar a doença.

Pequim, acusou o Japão, tem também “continuado incansavelmente ações unilaterais para impor uma mudança no ‘status quo’ nas Ilhas Senkaku”, administradas por Tóquio, pode ler-se no livro.

Os dois países reivindicam há séculos a soberania deste micro-arquipélago desabitado no mar da China Oriental, a que Pequim chama Diaoyu, e cujo fundo submarino se acredita ser potencialmente rico em hidrocarbonetos.

Na segunda-feira, o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, disse que as reivindicações de Pequim sobre os recursos no mar do Sul da China eram “completamente ilegais, tal como a campanha de intimidação para os controlar”.

A Embaixada chinesa nos Estados Unidos denunciou imediatamente aquelas declarações como “acusações totalmente injustificadas”.

O livro branco de defesa do Japão também menciona a ameaça norte-coreana, salientando que Pyongyang é agora capaz de miniaturizar ogivas nucleares para utilização em mísseis balísticos.

As relações diplomáticas entre Tóquio e Pequim, que têm vindo a deteriorar-se desde o final de 2018, arrefeceram novamente nos últimos meses, num contexto de insatisfação de vários países com a forma como a China lidou com a crise provocada pela covid-19 e com o clamor internacional em relação à lei de segurança imposta a Hong Kong.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 569 mil mortos e infectou mais de 13 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

14 Jul 2020

Japão | Novo balanço dá conta do registo de 55 mortos causados por inundações

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 55 pessoas morreram e cerca de 10 estão desaparecidas no Japão, devido às chuvas intensas que provocaram inundações e deslizamentos de terras, desde o final da sexta-feira, anunciaram hoje as autoridades, em novo balanço. O anterior balanço apontava para pelo menos 50 mortos. O Japão permanece em alerta máximo, já que as chuvas torrenciais caíram agora no centro do país.

A Agência Meteorológica do Japão (JMA) tinha colocado as regiões de Gifu e Nagano em alerta máximo na manhã de hoje, mas por volta das 12:00 baixou o nível de alerta. “A precipitação nestas áreas está no auge”, disse um funcionário da JMA.

“É bem possível que as catástrofes naturais já estejam em curso, especialmente em áreas declaradas de alto risco de deslizamentos de terras e inundações”, advertiu.

Vastas áreas de Kyushu, a grande ilha no sudoeste do arquipélago, já tinham ficado submersas logo na manhã de sábado, devido às chuvas torrenciais que causaram vários inundações e deslizamentos de terra.

As autoridades consideram provável que o número de mortos se agrave. As autoridades estão ainda a verificar se seis outras mortes estão ou não relacionadas com o mau tempo.

Cerca de 80.000 socorristas tinham sido destacados para as áreas devastadas nos últimos dias, incluindo membros das Forças de Autodefesa Japonesas. Várias zonas afectadas já foram evacuadas e cerca de 1,4 milhões de pessoas tiveram de ser retiradas das suas casas.

8 Jul 2020

Sara

[dropcap]C[/dropcap]omeçámos desde cedo a tentar fintar o covid, num permanente jogo de escondidas em que somos sempre nós a esconder-nos, ou um jogo do apanha, como lhe chamávamos em terras da raia algarvia, em que é sempre o vírus a apanhar. E nós a fugir, fugir sempre, fugir na medida do possível.

Estávamos perto do epicentro desta propagação atroz que viria a enfiar em casa, ou nas barracas, parte muito significativa da população do planeta. Wuhan não será assim tão perto mas nas primeiras semanas de propagação em terras da China pouco se sabia sobre o inimigo que se ía instalando entre nós. Hokkaido, onde vivíamos na altura, é por acaso destino turístico particularmente atractivo para grupos alargados de viajantes chineses e ainda em Janeiro começaram a identificar-se os primeiros casos na região mais a norte do território japonês. Vivemos desde o primeiro momento com o medo desse poderoso e desconhecido inimigo, enquanto lia as piadas e comentários vagamente xenófobos que se iam produzindo sobre o assunto em terras europeias e outras, quer na imprensa, quer nas chamadas “redes sociais”.

Hokkaido é uma grande ilha, quase do tamanho de Portugal, relativamente inóspita e por isso isolada. O clima é agreste e as contingências da geografia fazem com que seja o território mais a sul do planeta onde se fazem sentir os efeitos glaciares do Ártico. Ainda que a respectiva capital (Sapporo) tenha sensivelmente a mesma latitude que a cidade francesa de Bordéus, os invernos são longos e frios, com a neve a cobrir as ruas de Outubro a Abril, meio ano com os sons e as cores amortecidas pelo manto branco que cobre permanentemente a vida na cidade. Só no fim do século XIX a população japonesa se veio instalar nesta ilha e a cidade é um exemplo dessa modernidade, com amplas ruas e avenidas, infra-estruturas pesadas para tornar a vida confortável face às agruras do clima, uma zona urbana planeada e preparada para tornar confortável a vida humana num lugar improvável. Sapporo havia de se tornar a quinta maior cidade do Japão, com quase dois milhões de pessoas e uma universidade com mais de 20 mil alunos e um extraordinário campus em pleno centro da cidade. Coincidências da vida e vontades da alma trouxeram-me a este sítio, onde vivi e trabalhei durante algum tempo.

Outras motivações trouxeram também o turismo chinês para esta ilha, este território vulcânico onde além de uma surpreendentemente confortável cidade se pode desfrutar da vastidão de magníficas paisagens naturais, de majestosas montanhas e férteis planícies, peixes e mariscos variados, abundantes e deliciosos, águas termais para repousar o corpo e a mente, fauna e flora diversificadas em terra, mar e água. São muitos, portanto, os turistas que procuram esta zona – e não é por isso surpresa que esta tivesse sido uma das primeiras e mais importantes portas de entrada do covid-19 no Japão: em meados de Fevereiro, Hokkaido era a região japonesa com mais casos de infecções, o governo regional decretou as emergências possíveis, e nós impusemo-nos o máximo auto-recolhimento: trabalho doméstico sempre que pudesse ser, compras com entrega ao domicilio e saídas reduzidas ao essencial, sempre com as devidas máscaras preventivas e evitando as concentrações humanas das estações e transportes públicos. As circunstâncias excepcionais a isso obrigavam.

Essas circunstâncias haviam de se alterar, no entanto: por motivos profissionais, mudámos para o sul do Japão no início de Abril, já a propagação do covid tinha parecido controlada e começavam a notar-se os sinais de uma segunda ronda, com o aparecimento de novos surtos, aparentemente sem ligação com os anteriores. Instalámo-nos então em Hiroshima, a cidade mártir da segunda guerra mundial, esse símbolo urbano da importância da paz, até então relativamente poupado a uma epidemia que nessa altura ja era global. Ainda assim, o número de casos aumentava, os receios eram muitos e a nossa posição continuava vulnerável neste contexto adverso. Mais uma vez, só saídas essenciais e máximo de compras com entregas ao domicílio, ainda que eu fosse obrigado a deslocar-me diariamente à bela universidade onde comecei a trabalhar, usando transportes públicos felizmente quase vazios. Quando a epidemia ameaçou aumentar a intensidade as aulas passaram a ser dadas à distância, penoso exercício sobretudo quando não se tem contacto prévio com os alunos, e só em Junho voltaria a estar numa sala de aula, quando mais de um mês tinha passado sem qualquer caso de contágio na região.

Foi então que nasceu a Sara, o motivo dos nossos cuidados extremos, das precauções máximas, do medo sistemático de que pudéssemos contaminar este fruto magnífico que tanto trabalho nos tinha dado a semear – e que nos obrigou a viver escondidos por tanto tempo, numa semi-clandestinidade facilmente suportável pela expectativa da sua chegada ao planeta, lá pelo princípio do verão, como tinha sido previsto pelos médicos, aliás com precisão matemática. A esses profissionais também devemos muito para que este inusitado acontecimento tivesse sido possível: gerar uma nova vida em contexto de adversidade máxima, quando é a morte que toma conta do planeta; abrir uma nova esperança quando se instalam o medo e a insegurança; semear o amor quando é o ódio a desconfiança que dominam as agendas quotidianas de políticas várias. A Sara está connosco desde esta semana e vamos dar-lhe mais do que tudo o que nos for possível, porque o possível é hoje muito pouco: é um mundo de competição desenfreada, com fracos espaços de solidariedade, em sistemática auto-destruição. É a esta decadente comunidade que a trazemos, num planeta cujos recursos parecemos prestes a esgotar mas cuja destruição aceleramos, ainda assim.

Temos que lhe dar muito melhor do que temos e do que somos só para lhe devolver o que já nos ofereceu nos poucos dias que passou connosco: a evidência de que tudo afinal é possível, que tudo está por aprender, que tomar conta uns dos outros é nossa obrigação primordial e que viver melhor connosco e com quem nos rodeia é o programa mínimo para uma mudança máxima.

26 Jun 2020

Covid-19 | Japão decide levantar alerta sanitário em todo o país

[dropcap]O[/dropcap] Governo do Japão decidiu hoje levantar o estado de alerta sanitário em Tóquio e quatro regiões do país, as últimas em que se mantinham as medidas instauradas para combater a pandemia da covid-19.

O levantamento do estado de alerta, aconselhado por um grupo de especialistas que presta apoio ao Governo, deverá ser formalmente aprovado pelo Executivo nipónico ainda hoje, informou o ministro da Revitalização Económica japonês, Yasutoshi Nishimura, também responsável pelo grupo de trabalho que coordena a luta contra o novo coronavírus.

Decretado há cerca de um mês, o alerta sanitário permanecia em vigor apenas em Tóquio, nas três províncias vizinhas (Chiba, Kanagawa e Saitama) e na de Hokkaido, a norte.

Desde o início da epidemia, o Japão registou mais de 820 mortes e cerca de 16.550 casos de infecção, de acordo com dados divulgados pela Universidade norte-americana Johns Hopkins.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 343 mil mortos e infetou mais de 5,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de dois milhões de doentes foram considerados curados.

25 Mai 2020

Covid-19 | Médicos alertam sobre colapso dos serviços de urgência no Japão

[dropcap]O[/dropcap]s serviços de urgência médica do Japão estão a “começar a colapsar” por falta testes de despistagem de covid-19 e escassez de equipamento de protecção sanitária pondo os profissionais em risco de contágio, alertaram hoje organizações médicas japonesas.

Takeshi Shimazu, presidente da Associação Japonesa de Cuidados Primários, e Tetsuya Sakamoto, que dirige a Sociedade Japonesa de Emergência Médica, alertaram hoje, através de um depoimento gravado em vídeo, que a falta de centros de urgência está a provocar um aumento de pessoas internadas nos hospitais fazendo colapsar o serviço e as intervenções dos profissionais de saúde.

“Não podemos operar normalmente e, nesse sentido, eu afirmo que os serviços de urgência estão a começar a colapsar”, disse Shimazu demonstrando preocupação em relação à falta de tratamentos aos doentes em situação considerada crítica.

Inicialmente, o Japão mostrava sinais de controlo sobre a pandemia de covid-19 através da utilização de espaços específicos mas, segundo organizações médicas, a situação está a agravar-se com o aumento do número de pessoas contagiadas e a alegada falta de recursos.

Especialistas indicam que os números sobre contágios são superiores ao balanço que é divulgado pelo Governo de Tóquio. Segundo o Ministério da Saúde do Japão morreram no país até agora 300 pessoas devido à covid-19, doenças provocada pelo novo coronavírus, e 12.400 estão infectadas.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 190 mil mortos e infectou mais de 2,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 708 mil doentes foram considerados curados.

24 Abr 2020

Covid-19 | Japão declara estado de emergência para sete regiões, incluindo Tóquio

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, declarou ontem o estado de emergência, por um mês, para Tóquio e seis outras regiões do arquipélago face a uma recente aceleração do número de casos de covid-19 no país.

O estado de emergência não permite às autoridades japonesas impor um confinamento rigoroso como noutros países, mas os governadores regionais em causa poderão instar a população a ficar em casa e pedir o encerramento temporário do comércio não essencial.

“Face a uma situação que pode afetar gravemente a vida de cada um e a economia, decidi declarar o estado de emergência”, anunciou Abe perante uma comissão parlamentar. “A medida será suspensa logo que tivermos a certeza de que já não é necessária”, adiantou.

Em causa estão a capital, Tóquio, e as três regiões dos seus subúrbios, a região de Osaka, que é a grande metrópole do oeste, e a sua vizinha Hyogo, assim como a de Fukuoka, na ilha de Kyushu (sudoeste). A decisão envolve cerca de 50 milhões de pessoas, o que representa cerca de 40% da população do país.

O primeiro-ministro, que tinha anunciado a medida na segunda-feira, recordou que a mesma não levará a um “confinamento como no estrangeiro” e que o objetivo é “controlar a propagação do vírus, mantendo os serviços socioeconómicos essenciais, como os transportes públicos”.

As autoridades contam essencialmente com a boa vontade dos cidadãos, que são na sua maioria favoráveis ao estado de emergência, segundo uma sondagem da cadeia privada TBS divulgada na segunda-feira.

“É necessário pedir a completa cooperação de todos”, insistiu Abe, adiantando que “segundo os especialistas, se se fizer todos os esforços para reduzir os contactos em 70% a 80%, o número de infeções reduzir-se-á após duas semanas”.

A pandemia de covid-19 continua limitada por enquanto no Japão, mas os casos têm aumentado bastante desde o final de março, fazendo recear uma saturação dos hospitais, o que levou o governo de Abe a intensificar a sua ação.

O último balanço do Ministério da Saúde japonês, divulgado na segunda-feira, indicava que o país totalizava mais de 3.900 casos do novo coronavírus e 80 mortos.

Representando o estado de emergência um golpe severo na economia do país, Abe anunciou também na segunda-feira um plano de ajuda recorde de 108 biliões de ienes, prevendo dotações para as famílias mais necessitadas e para as pequenas e médias empresas mais afectadas pela crise.

8 Abr 2020

Covid-19 | Contágio acelera em Tóquio apesar do apelo para ficar em casa

[dropcap]O[/dropcap] governo de Tóquio anunciou hoje 143 novos casos de infecção pelo novo coronavírus, um recorde diário que eleva o total na região para mais de 1.000, apesar do apelo à população para que fique em casa.

A região metropolitana de Tóquio, a populosa e movimentada capital do Japão, regista 1.034 casos confirmados do novo coronavírus, o que faz dela o foco do surto no país, onde ao todo foram registados 3.743 casos, segundo dados oficiais reunidos pela televisão NHK.

O número de novos casos diários em Tóquio ultrapassou pela primeira vez os 100 no sábado, culminando uma semana de crescimento sustentado, o que levou as autoridades a repetir o apelo aos cidadãos para trabalharem em casa, evitarem concentrações e abdicarem de todas as deslocações não-essenciais.

Ao mesmo tempo, o número de doentes de covid-19 com sintomas graves ultrapassou o número de camas hospitalares disponíveis na capital, levando a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, a anunciar hoje a preparação de novos espaços, como centros de saúde ou hotéis, para receberem doentes.

O Governo central tem manifestado disponibilidade para declarar o estado de emergência, mas aponta-o como medida de último recurso e, até agora, as autoridades têm-se limitado a apelar aos cidadãos para evitarem o contacto com outros e às empresas para aplicarem o teletrabalho.

Em todo o país, as instalações públicas estão encerradas desde março e até meados de abril, assim como as escolas, fechadas desde fevereiro.

Na sexta-feira entrou também em vigor a proibição de entrada no país a viajantes provenientes de 73 países e a imposição de quarentena de 14 dias a todos os outros viajantes.

O Japão regista até ao momento quase 3.000 casos de infecção e 69 mortes, segundo números da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O novo coronavírus, que provoca a covid-19, já infectou cerca de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, mais de 63 mil das quais morreram.

5 Abr 2020

Autor confesso do massacre de 19 deficientes condenado à morte no Japão

[dropcap]O[/dropcap] autor confesso do maior massacre no Japão nos últimos 75 anos, o de 19 pessoas deficientes, foi condenado hoje à morte e durante o julgamento insistiu que a felicidade das suas vítimas foi a sua motivação para os crimes.

O Tribunal Distrital de Yokohama condenou Satoshi Uematsu, de 30 anos, à pena de morte pelo assassínio de 19 moradores de um centro para deficientes em Sagamihara, a cerca de 50 quilómetros a oeste de Tóquio. Uematsu entrou na madrugada de 26 de julho de 2016 num centro dedicado a pessoas com problemas mentais e, depois de imobilizar a equipa de funcionários que estava no local, esfaqueou os residentes enquanto estes dormiam.

O ataque durou cerca de 50 minutos, durante os quais matou 19 pessoas com idades entre 19 e 70 anos e feriu outras 24, de um total de 149 pessoas com deficiências que residiam nas instalações. O japonês também foi acusado de causar ferimentos a dois dos cinco funcionários do centro a quem amarrou antes do ataque.

O autor do crime, que tinha trabalhado no centro três anos e meio e morava a apenas 500 metros, escolheu como vítimas alguns dos pacientes com maior grau de deficiência, segundo o seu próprio relato. Uematsu entregou-se numa esquadra perto da sua residência carregando três das facas usadas no ataque.

Em declarações à polícia e no julgamento, insistiu que sua motivação era “salvar” as suas vítimas e torná-las “felizes”.

Na decisão, o juiz do Tribunal Distrital de Yokohama, que presidiu o julgamento, Kiyoshi Aonuma, disse que, embora pudesse “entender o sentimento” que motivou o ataque, a decisão leva em consideração “a enorme crueldade” do crime e a sua “grave” consequência”, de acordo com trechos do texto difundidos pelo canal público de televisão NHK.

“A sua maneira de pensar sobre várias pessoas com deficiência baseia-se na sua experiência de trabalho. Não podemos dizer que seja um pensamento patológico”, disse Aonuma, referindo-se à responsabilidade criminal do acusado, cujas capacidades mentais foram avaliadas pela sua defesa durante o processo.

Uematsu não se arrependeu do assassínio depois de se render nem durante o julgamento e em audiências nos últimos meses, garantindo, antes que a decisão fosse conhecida, que ele não recorreria.

Quando o juiz Aonuma estava a preparar-se para encerrar a sessão, o condenado pediu para dizer algumas palavras, mas não lhe foi permitido.

O caso de Sagamihara é o maior massacre cometido no Japão desde o final da Segunda Guerra Mundial e chocou e indignou o país, onde alguns acreditavam que a tragédia poderia ter sido evitada.

Meses antes do evento, em fevereiro, Uematsu enviou uma carta que chegou à polícia, detalhando o seu plano e dizendo que o seu objetivo era “alcançar um mundo em que pessoas com múltiplas deficiências pudessem ser sacrificadas”, já que enfrentavam uma vida “extremamente difícil”.

Uematsu também comunicou os seus planos a colegas de trabalho e conhecidos, pelo que foi investigado pela polícia e temporariamente internado num centro psiquiátrico. O homem foi libertado após doze dias, depois de os psiquiatras concluírem que a sua condição mental havia melhorado.

Isso, juntamente com o facto de Uematsu começar a usar drogas como haxixe naquela altura, levou a defesa de Uematsu a alegar distúrbios mentais que o impediriam de responder criminalmente, mas o argumento foi rejeitado pelo tribunal.

Uematsu junta-se ao smais de cem presos que aguardam no corredor da morte que a sua sentença seja executada no Japão.

16 Mar 2020

Japão | Visitantes de Macau sujeitos a quarentena

[dropcap]Q[/dropcap]uem chegar ao Japão vindo de Macau, Hong Kong, Interior da China e Coreia do Sul terá de cumprir quarentena de duas semanas num hospital, ou outras instalações a designar, antes de ter permissão para entrar no país, alertou ontem o primeiro-ministro Shinzo Abe.

A medida entra em vigor na próxima segunda-feira. “Estamos a fortalecer as medidas de quarentena de pessoas vindas da China e Coreia do Sul para impedir a propagação do vírus e apaziguar as preocupações das pessoas”, declarou Shinzo Abe, citado pelo Nikkei Asian Review.

O primeiro-ministro nipónico acrescentou que o Japão “atravessa um período crucial”, e que “é muito importante não hesitar e tomar medidas com determinação nas fronteiras. “Vamos implementar acções agressivas”.

6 Mar 2020

Japão | Visitantes de Macau sujeitos a quarentena

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A medida entra em vigor na próxima segunda-feira. “Estamos a fortalecer as medidas de quarentena de pessoas vindas da China e Coreia do Sul para impedir a propagação do vírus e apaziguar as preocupações das pessoas”, declarou Shinzo Abe, citado pelo Nikkei Asian Review.
O primeiro-ministro nipónico acrescentou que o Japão “atravessa um período crucial”, e que “é muito importante não hesitar e tomar medidas com determinação nas fronteiras. “Vamos implementar acções agressivas”.

6 Mar 2020