Hoje Macau VozesVI – Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau Da Grande Baía hídrica (continuação de dia 29 de Agosto) Por Mário Duarte Duque, arquitecto Comummente identificamos uma baía por uma configuração geográfica de uma frente hídrica em forma de crescente, tal como a lua quando tem essa configuração. São isso a Baía da Praia Grande em Macau, Wan Chai em Hong Kong, Copacabana e Leblom no Rio de Janeiro. Mas, mais rigorosamente, “baía” significa um golfo cuja entrada é mais estreita que o interior. Tanto que assim é que, em linguagem informática, baía é um interface físico que permite ligar discos rígidos ou outro tipo de suporte de armazenamento de dados. Efectivamente, por detrás da frente do Rio das Pérolas existe um grande repositório de recursos mais interiores, que é muito maior do que a sua exposição ou ligação para o exterior. Isso faz efectivamente faz deste delta uma “Grande Baía”, justifica uma estratégia de marketing geopolítico exactamente com essa designação, e que também tem uma morfologia hídrica, mas numa configuração a que chamamos delta. A identificação de um delta pressupõe um conjunto de dados que se prendem com a ecologia das águas salobras (as águas que são mais salgadas que os rios, mas menos salgadas que o mar), o transporte de sedimentos e a fixação de nutrientes (que se fixaram ao longo dos tempos nos terrenos de inundação), os modos da hidrologia (que conjuga a invasão das marés e as descargas dos degelos das montanhas), assim como as actividades económicas que disso resultaram, e que só aí se fixaram no tempo em que a hidrologia estacionou (há 6 mil anos atrás), i.e. quando o planeta atingiu último máximo térmico, pois até essa ocasião não era possível habitar o litoral. É este o “meio”, i.e. o que envolve, e que compreende o conjunto das condições biológicas, físicas e químicas, nas quais os serem vivos se desenvolvem, mas também o conjunto das circunstâncias culturais, económicas, morais e sociais que os humanos desenvolveram e nas quais interagem, enquanto seres sociais. A questão geográfica mais característica é pois que esta é efectivamente uma baía hídrica, configurada num delta, onde as suas artérias são efectivamente água, e onde a sua abertura para o exterior são necessariamente as cidades costeiras. Historicamente foi essa a função primeiro de Macau, depois de Hong Kong, tendo como mais directo interior toda a província de Guangdong. O potencial de Macau de interface marítimo com o exterior foi há muito ultrapassado por Hong Kong por via da capacidade no transporte de carga e na navegabilidade de navios, com calados cada vez maiores, em águas que em Macau são pouco profundas. Mas manteve-se algum transporte regional fluvial que se processa principalmente por barcaças. Importa também lembrar que na história das acessibilidade, onde as rotas hídricas eram possíveis e de interesse, essas sempre foram ligações mais precoces que as ligações terrestres, pelo simples motivo que precisavam de um veículo, mas não precisavam da construção de vias. Mas também rotas que foram abandonadas logo que as vias terrestres passaram a existir, e o transporte passou a ser motorizado e mais veloz ao longo das vias terrestres. A esse modelo Macau não é excepção, pois as ligações de passageiros entre a península e as ilhas sempre se processaram por via fluvial, até à construção da Ponte Nobre de Carvalho. A ponte tornou as ilhas permanentemente acessíveis, enquanto as ligações fluviais dependiam de horários que se tinham de ajustar à hora da maré, exactamente por as águas serem pouco profundas. Presentemente as condições são diferentes. Os canais estão mais estreitos por causa da urbanização em aterros e, se temos a consequência de já não existirem terrenos para acomodar a inundação da maré, que passou a fustigar as orlas urbanas mais baixas, também temos a vantagem de que o caudal da maré é mais veloz, os fundos são mais bem lavados, menos sujeitos à acumulação de sedimentos, menos dependentes de dragagens para navegação fluvial, logo, mais navegáveis. Em verdade as alterações ambientais não são desejáveis, pois nem todas as implicações são conhecidas ou previsíveis. Todavia, quando acontecem, recorrentemente algumas situações são afectadas, mas outras surgem em sentido de oportunidade. Ou seja, perante o argumento de novas ligações de serviços públicos de transportes não poderem ser criadas por saturação, aquelas ligações que poderiam ser feitas, ou acrescentadas por via fluvial, aliviaria certamente essa saturação. Escrutinada a consulta para o Planeamento Geral do Trânsito e Transportes Terrestres de Macau, a possibilidade de haver ligações de transportes públicos fluviais não foi considerada. Apenas foi considerado que isso venha a acontecer em capítulo de integração no transito regional, mas com especificação apenas para Hengqin, exactamente e apenas em sentido de aliviar a pressão do trânsito da via terrestre. Todavia, em capítulo de integração de transito regional fluvial afigura-se poder ser muito mais que apenas a ligação a Hengqin, e sequer apenas para alívio do transporte terrestre. A nível de transito regional há toda uma Grande Baía infra-estruturada por artérias fluviais que podem servir para utilidades de natureza própria, e que sequer são possíveis em terra. Se em capítulo que integração e cooperação regional as cidades do delta passassem a ser equipadas com ancoradouros standard, que servem para atracar barcaças igualmente standard e com propulsão própria, seria plataforma para veículos de diversos tipos de intercâmbio regional, a que se poderiam chamar Urban Apps. Algo que a RAEM poderia iniciar e fazer disso sua vocação e contribuição para cooperação e intercâmbio regional. Só a título de exemplo, os Serviços de Turismo da RAEM, em vez construírem recorrentemente e propositadamente um stand, cada vez que levam as suas promoções a essas cidades, poderia ter o mesmo stand transportado a qualquer dessas cidades pelas artérias do delta. O mesmo poderiam trazer as outras cidades a Macau, fossem promoções culturais ou comerciais, pequenas feiras de produtos, senão mesmo acções de formação, em barcaças que atracariam em ancoradouros numa zona de fácil acesso ao público, equipados com ligações para serviços de saneamento e de abastecimento de água e energia, a que se ligariam de modo igual quando ancorassem nas outras cidades. O local em Macau mais vocacionado para esse tipo de ancoradouro é a Ponte-Cais 16 (por razões e características que recorrentemente venho lembrando), mesmo que aí o ancoradouro tivesse que existir mais ao largo e acessível por nova ponte entre as construções que aí entretanto já existem. Como se fosse o prolongamento de mar que o empreendimento que aí foi construído retirou. O desenho urbano da RAEM vem se pautando por periferias rodoviárias em detrimento da continuidade do meio urbano à frente marítima. A mesma aptidão urbana que se reconhece ao Porto Interior e que se revela hoje obsoleta e degradada, nunca foi aí aperfeiçoada ou actualizada, nem foi replicada em outros locais por iniciativa e comando públicos, apenas em estratégia privada, a Doca dos Pescadores. São modalidades de ocupação urbana que resultam de uma génese localmente característica e com significado, com atributos que resultam de uma configuração geográfica, e que não são apenas do interesse das actividades que motivaram essa génese urbana no passado.
João Luz Entrevista MancheteTiago Bonucci Pereira: “Não tenho dúvidas em relação ao interesse de empresas portuguesas em vir para cá” Apesar de ter sido fundada há pouco tempo, e com uma pandemia a mudar o mundo pelo meio, a Associação de Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía criou mais um elo numa amizade secular entre Portugal e China. Tiago Bonucci Pereira, um dos fundadores da associação, dá conta dos laços e interesses comuns que aproximam empresas e instituições dos dois lados do mundo na construção do projecto da Grande Baía Como surgiu a ideia de criar a Associação de Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía? Foi no Verão de 2019, numa conversa entre amigos, com o Miguel Lemos Rodrigues. Falámos sobre o assunto. A ideia era criar uma associação para fomentar a interacção entre Portugal e a China, através da Grande Baía, com Macau como canal de ligação. Discutimos o assunto, fizemos um levantamento sobre as outras associações e organizações que já existiam. A ideia, desde o princípio, foi complementar aquilo que já existia e estava estabelecido e trabalhar em colaboração com outras associações e instituições. Tendo em conta a tenra idade da associação, quais são os vossos primeiros focos de acção? Queremos atacar em várias vertentes, mas sem misturar as coisas. O plano empresarial, com certeza, é um dos focos de acção, mas também o plano cultural e institucional, nas muitas variedades que isto engloba tendo em conta os diferentes pontos de possível colaboração entre Portugal e China na zona da Grande Baía. O projecto da Grande Baía está muito baseado na questão da inovação, factor ao qual não é indiferente a evidência de que a província de Guangdong tem estado na linha da frente na China desde há décadas. O projecto, além da integração, é fundado na ideia de ser uma zona de inovação por excelência. Estes objectivos vão de encontro à estratégia portuguesa, por exemplo, a Indústria 4.0 e a aposta nas indústrias de valor acrescentado. Além da vertente empresarial, existem outros pontos comuns. Sim, claro. As questões ligadas ao mar abrem outro foco de união entre todos os países de língua portuguesa, mas também com a Grande Baía. Há trabalho académico e científico importante, ao nível da investigação, a ser feito nesta zona. Estamos a falar de trabalho encarado de uma forma muito prática. Além disso, outro aspecto muito importante para a zona da Grande Baía prende-se com as alterações climáticas. Estamos numa região de monções e as alterações climáticas vão trazer a subida das águas do mar. Em termos de recursos, isso nunca foi um problema em Guangdong, que é das províncias chinesas com mais recursos hídricos. Mas a questão do aquecimento global é importante, é uma questão fundamental. Já para não falar depois da ramificação para as áreas da energia. Portanto, existem aqui muitas possibilidades e áreas de possível colaboração. Qual será o papel da Associação de Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía nestes domínios? A nossa associação quer contribuir para que haja cooperação nestas áreas, mas sem misturar as coisas. Queremos que cada actividade esteja focada em determinado assunto. Como encara as acções da associação neste curto período de vida? É um bocado difícil fazer uma avaliação em tão pouco tempo de actividade. Falando com base apenas naquilo que fizemos até agora, a resposta tem sido positiva. Organizámos um evento em Fevereiro, em colaboração com a Fundação Rui Cunha, a Câmara de Comércio de Indústria Luso-Chinesa e a Associação Nacional de Jovens Empresários de Portugal. O evento ocorreu em simultâneo aqui em Macau e em Portugal e o feedback foi de grande entusiasmo com o projecto. Agora, tudo isto está constrangido pelas limitações que estamos a viver ao nível das viagens. Muitas pessoas, nomeadamente empresários, contactaram a nossa associação com vontade e curiosidade para vir cá explorar as possibilidades desta zona. Mas as circunstâncias impedem que isso aconteça. Aliás, temos planos nesse sentido, queremos trazer cá pessoas, mas isso, por enquanto, ainda não é viável. Mesmo com a possibilidade de fazer quarentena, isso não é realista. Num cenário pós-pandémico, quais são os planos da associação? Queremos trazer cá empresários portugueses e instituições, em colaboração com outras entidades e instituições congéneres como a nossa e atrair empresários da Grande Baía que queiram visitar Portugal, conhecer as empresas e instituições portuguesas. Consideramos que a cooperação institucional pode ser muito importante, nomeadamente em Macau e Hengqin. A colaboração ao nível de instituições de investigação e desenvolvimento, é uma parte muito importante do projecto e dos objectivos da associação e Cantão é líder nestas áreas. Investigação e desenvolvimento estão fortemente ligados à inovação. A cooperação institucional nestas áreas pode ser de muito interessante para explorar, até na criação de incubadoras e spin-offs, ou na promoção de colaboração de pequenas e médias empresas de Portugal e de cá. A ideia é contribuir para criar estas ligações e sinergias nesse sentido, tanto ao nível empresarial como ao nível institucional. No contexto de relações institucionais, o que poderia ser melhorado a nível de políticas que facilitem circulação de bens e pessoas no espaço da Grande Baía? Que papel a associação pode ter, enquanto elo entre sectores decisórios? É uma questão pertinente. Claro que não é o lugar das associações e das instituições definir estratégias possíveis para fazer face a isto. O papel que podemos ter é fornecer feedback e opiniões às instituições da Grande Baía, que estão a trabalhar isto. Esta é uma questão que faz parte do projecto. Ainda no passado mês de Maio, no 13º Congresso do Partido Comunista da província de Guangdong, isso foi um assunto discutido. Definiram-se estratégias para os próximos cinco anos na província e a questão de como estabelecer plataformas de comunicação e interacção num cenário em que temos três jurisdições diferentes é um desafio em si. Isso faz parte do projecto de integração que a Grande Baía representa. Julgo que à semelhança daquilo que tem sido a evolução institucional chinesa ao longo das últimas décadas, vai ser um processo de “tentativa e erro”, por assim dizer. Será um processo de ajuste de acordo com a forma como as coisas correrem. Mas essa é uma questão exclusivamente do âmbito das instituições chinesas. Nós estamos aqui para dar feedback e contribuir nesse sentido. A convicção existe, este projecto da Grande Baía, sendo que é um projecto com uma dimensão interna importante, também pretende atrair investimento, empresas e talentos estrangeiros. Uma das ideias do projecto é que esta região seja uma zona de interacção e inovação. Portanto, é certo e desejável da parte das instituições chinesas que venham empresas e investidores do estrangeiro, contribuam para o desenvolvimento desta região. Tudo vai passar por aí. Como encara as possibilidades que Hengqin representa para as instituições portuguesas? Acho que as características de Macau fazem com que a estratégia para a Ilha da Montanha ofereça uma possibilidade de cooperação muito forte, tanto ao nível técnico, como empresarial e cultural. É aí que acho que se pode estabelecer uma ponte entre a China e os países de língua portuguesa. Hengqin pode ter um papel muito importante nessa área. Temos o exemplo de Xangai, aí o papel está bem definido, enquanto plataforma para estabelecimento de uma indústria de serviços moderna, em que é clara a promoção de interacções numa zona povoada por empresas apostadas nesses sectores. Em Hengqin, as coisas parecem ainda não estar assim tão bem definidas, mas julgo que seria um bom começo apostar na cooperação institucional, na cooperação em investigação, e na colaboração ao nível dos sectores das artes e da cultura. Qual o papel da língua portuguesa, enquanto factor agregador e cultural, para vender um pouco de Portugal na Grande Baía, e da Grande Baía em Portugal? Há pessoas que têm feito trabalho importante nessa área, como o professor Carlos André, mas também instituições como o This Is My City, que tem feito um trabalho muito importante nessa área, a CURB também é outra instituição a desenvolver um trabalho muito importante. O papel de Macau enquanto plataforma de interacção entre a China e os países de língua portuguesa é algo que tem aparecido em sucessivos planos quinquenais da China. Portanto, não há dúvidas em relação à vontade política para que Macau desempenhe esse papel. Claro que, nesse sentido, a língua portuguesa e a interacção cultural é algo muito importante para a presença portuguesa nesta zona e algo que é bem-vindo cá. Porém, isto tem de ser trabalhado. Julgo que instituições como as que referi devem ser apoiadas, porque estão a fazer um excelente trabalho e seria fundamental fomentar a continuidade desses projectos. Todas as actividades que apontam nesse sentido de estabelecer e fortalecer laços culturais devem ser apoiadas. Outra instituição que está a fazer um papel muito importante nessa área é a associação Amigos da Nova Rota da Seda. Nós estamos a planear uma actividade conjunta em breve, daqui a uns meses. Como classifica a presença institucional e empresarial de organizações portuguesas nas cidades da Grande Baía? Quem poderia responder melhor a esta questão seria o Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tanto em Macau como em Cantão. Diria que é difícil falar disso neste momento, porque claramente havia uma tendência crescente da presença de instituições e empresas portuguesas até 2020, mas nos últimos anos é um bocado difícil falar disso. Ainda assim, não tenho dúvidas em relação ao interesse de empresas portuguesas em vir para cá. É inevitável que esse interesse continue a crescer e tenho a certeza que serão muito bem-recebidas. Como analisa a evolução do interesse das instituições portuguesas em fomentar laços com as congéneres chinesas? Não tenho dúvidas nenhumas em relação a esse interesse, particularmente da parte das instituições portuguesas, com certeza. Recordo-me das palavras do então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na nossa conferência de apresentação que reiterou que as relações entre Portugal e China são muito boas, porque ambas as partes percebem muito bem a posição de cada uma. Percebem que têm características diferentes em termos de sistema política, etc., mas existe um respeito mútuo, que não é de agora, mas que persiste desde sempre, com relações que duram há séculos e que são para continuar. Essa proximidade tornou-se evidente face a acontecimentos recentes. Lembro-me, por exemplo, de uma polémica com o embaixador norte-americano em Portugal. Na altura, a resposta do Governo português foi clara em relação à forma como não haveria qualquer influência possível no que concerne às relações entre Portugal e a China. Noutro plano também tivemos a aquisição de 30 por cento da Mota Engil por parte da China Communications Construction Company há cerca de um ano. Nem mesmo crispações no cenário geopolítico podem colocar entraves a esta relação. Não acredito nisso. Claro que é óbvio que existe uma fricção entre Estados Unidos e China há alguns anos, e aconteceram algumas discussões ao nível da União Europeia, sim senhor, mas isso não beliscou as relações entre Portugal e a China. A China vai ser a maior economia do mundo provavelmente até ao final da década. Representa a vários níveis o maior mercado do mundo. Por exemplo, nas energias renováveis vão representar cerca de 40% do mercado de painéis solares até ao final da década. É um parceiro económico ao qual não existe escapatória. Mas além desta realidade, existem relações de amizade que persistem há muito tempo, não há razões nenhumas para meter isso em causa. Como analisa o papel do Governo de Macau e das instituições neste cenário de relações entre países? Em relação ao Fórum Macau, é uma instituição cujo espaço de manobra é definido pelos países participantes. Não me cabe a mim tecer qualquer tipo de comentário. Em relação ao Governo de Macau, também é difícil falar, porque eu não sei o que está a ser discutido em termos de projectos de colaboração, ou projectos com vista a fortalecer essas ligações. Sei, no entanto, que houve grande abertura para acolher projectos com países de língua portuguesa e com Portugal. Por exemplo, a agora Universidade Politécnica de Macau teve um papel de liderança no que concerne à língua portuguesa. Mas também temos de compreender as circunstâncias actuais, nomeadamente que o Governo tem agora em mãos vários desafios, percebo que isto não esteja no topo de agenda, neste momento, mas tenho a certeza que continua na agenda do Governo e que há abertura para dar seguimento ao projecto. É algo que está definido estrategicamente para Macau, nomeadamente o seu papel de ligação aos países de língua portuguesa. Há claramente vontade de trabalhar nisso. Que projectos estão na calha para os próximos tempos? Estamos a trabalhar no projecto com a Associação dos Amigos da Rota da Seda, em Portugal, temos outro projecto ainda num estado muito embrionário. Está para ser trabalhado e será lá para o final do ano. Temos mantido contacto também com a Universidade de São José, mas ainda estamos em conversações.
João Luz Manchete PolíticaHengqin | Comissão de gestão discute orçamento e planos de investimento Durante a terceira reunião da Comissão de Gestão da Zona de Cooperação Aprofundada, os governos de Macau e Guangdong apreciaram o orçamento e planos de investimento. Foi ainda vincada a aposta no sistema dos “quatro conjuntos” relativos ao comércio, construção, gestão e partilha Realizou-se na sexta-feira na Ilha da Montanha a terceira reunião da Comissão de Gestão da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, presidida pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng e o governador da província de Guangdong, Wang Weizhong. Entre os principais pontos da agenda estiveram a apreciação do relatório de actividades, o orçamento e o plano de investimentos e foi ainda negociado o plano de actividades para a próxima fase. Segundo o Gabinete de Comunicação Social, Ho Iat Seng sublinhou a necessidade de actuar em conformidade com os objectivos fundadores do projecto de integração. “O Presidente Xi Jinping reiterou, várias vezes, que o propósito inicial da construção de Hengqin é promover a diversificação adequada da economia de Macau”, indicou o Chefe do Executivo. Porém, Ho Iat Seng confessou que “existe ainda uma ligeira discrepância entre a Zona de Cooperação e outras zonas desenvolvidas”. Quanto a atrair investidores e capitais, os governos das duas regiões reforçaram ser “imprescindível uma perspectiva focada na promoção, considerando Hengqin como um conjunto, baseada nas necessidades de Macau e na escassez verificada em Hengqin”. No capítulo dos recursos humanos, a política é semelhante, com a introdução de quadros qualificados seguindo a compatibilidade das necessidades dos quatro grandes sectores programados para a zona de cooperação. Ho Iat Seng defendeu ainda o cumprimento rigoroso das exigências previstas no “novo sistema de desenvolvimento baseado nos “quatro conjuntos”, ou seja, o comércio conjunto, construção conjunta, gestão conjunta e partilha conjunta”. O Chefe do Executivo de Macau enalteceu o sistema, realçando-o como “a principal vantagem da zona de cooperação e, por outro lado, uma enorme reforma, sem precedentes, no contexto da política de ‘Um País, Dois Sistemas’”. Ontem hoje e amanhã O Chefe do Executivo realçou o trabalho feito na primeira metade de 2022 com a “introdução de benefícios fiscais, designadamente do imposto complementar, destinadas aos contribuintes singulares e às empresas”, para atrair os “quadros qualificados e empresas de excelência de Macau, de dentro e fora do Interior da China”. Até ao fim do ano, Ho Iat Seng indicou que o caminho deverá ser trilhado rumo “à construção de área de cooperação financeira”. O governador da província de Guangdong, Wang Weizhong, sublinhou que “a construção da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin constitui uma grande decisão, tomada, planeada e promovida pessoalmente pelo Presidente Xi Jinping”. Referindo que os trabalhos de construção da zona aprofundada decorrem a “bom ritmo”, Wang Weizhong “afirmou que é indispensável pôr em prática o espírito de abertura e desenvolvimento de Hengqin, proposto pelo Secretário-Geral Xi Jinping”, assim como “promover a diversificação adequada da economia de Macau.” O dirigente da província de Guangdong destacou a necessidade de apostar nos grandes projectos para “para acelerar a construção das instalações de fiscalização e operações alfandegárias de controlo da ‘segunda linha’”. Estas infra-estruturas são requisitos para “aproveitar a estação Norte de Hengqin da extensão da linha Cantão-Zhuhai de Intercity Railway e o sistema ferroviário interurbano Cantão-Zhuhai e o Metro Ligeiro de Macau”. Wang Weizhong sublinhou ainda a necessidade de “promover a coexistência das populações e das mentalidades” de ambos os lados da fronteira, assim como “consolidar a articulação com o ambiente de emprego, os serviços públicos prestados, o sistema de segurança social, as infraestruturas e a internet”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteUn I Wong, advogada da área empresarial: “Macau continua focado no mercado local” Advogada em Lisboa, com experiência nos ramos empresarial e imobiliário, Un I Wong é natural de Macau e olha com interesse para o projecto da Grande Baía, afirmando que o território ainda tem de trabalhar muito para atingir os objectivos estabelecidos. A jurista defende que Macau olha demasiado para o mercado local e que é preciso ter confiança para chegar a projectos internacionais O projecto da Grande Baía tem ainda muitas áreas para explorar? É um projecto muito importante e acho fascinante que a China esteja sempre a desenvolver novas iniciativas para crescer, tal como “Uma Faixa, Uma Rota”. A Grande Baía será o motor do crescimento económico na China a curto prazo. Como o projecto começou há pouco tempo, ainda existem muitas áreas a explorar, mas com a colaboração do Governo Central e do sector privado não tenho dúvidas de que muitas pessoas e entidades, incluindo de Macau, vão tirar proveito do projecto. O seu trabalho, na área empresarial e do imobiliário, acaba por estar muito ligado aos projectos da Grande Baía. Acompanho alguns processos na China porque desempenho funções como conselheira para a área internacional e exploro as oportunidades que existem. Notamos mais projectos entre fronteiras, ou seja, de empresas chinesas que nos contactam com o intuito de colaborar com Macau e que querem saber como o projecto pode ser lançado. Fomos também solicitados por escritórios de advogados do outro lado da fronteira que procuram a nossa colaboração. Esta é uma área com grandes potencialidades e o Governo está a investir muito no projecto, o que faz com que o sector privado também esteja a investir. Já se contam vários exemplos de sucesso, mas posso falar do caso do BNU, que está em Hengqin. Uma das vantagens mais imediatas que vejo [na Grande Baía] é o facto de a mão-de-obra na China continuar a ser mais barata do que em Macau, além de existirem mais talentos. Conheço empresas que decidiram mudar a sede para Hengqin, tendo contratado locais lá. Mas a gestão e decisão continuam a ser de Macau. A ideia é muito interessante, porque poupam-se custos e conseguem-se mais talentos. Macau está no caminho da integração na Grande Baía, mas continua a ter um problema de falta de recursos humanos. Pode ser um entrave para o desenvolvimento? Faltam talentos, mas prefiro focar-me na questão dos profissionais qualificados. Essa é a maior urgência, porque o projecto de Macau ser uma plataforma comercial começou há muitos anos e, apesar do Governo ter investido bastante, o impacto continua a ser muito limitado. Como trabalho em dois sítios [Macau e Portugal], percebo que neste contexto não há muitas pessoas que conheçam as necessidades concretas de duas realidades. Muitas pessoas que trabalham em Macau continuam a focar-se muito no mercado local e não têm visão internacional. Não querem participar nos projectos com impacto internacional, pelo menos neste nicho luso-chinês. Este ano, o Banco de Portugal revelou que a China é o quinto maior investidor em Portugal, sendo que 41 por cento do investimento vem do Luxemburgo e 22 por cento de Hong Kong. E questionei-me: onde está Macau? Será que a plataforma é eficiente? Que razões aponta para essa lacuna? Tenho muitos amigos que trabalham em empresas chinesas que investem em Portugal e percebi que não conhecem bem Macau e não têm informações sobre o território. Quando comparam Macau com Hong Kong, como não há grandes vantagens competitivas para o investimento luso-chinês, facilmente escolhem Hong Kong ou outro sítio que também tenha vantagens fiscais e onde o sistema possa ser mais avançado quando comparado com a economia de Macau. O que temos, neste momento, não é suficiente. A única coisa que Macau tem de mais benéfica é a isenção do imposto quando há dividendos, caso uma empresa de Macau faça investimentos nos países lusófonos. Mas isto é algo aprovado todos os anos [no Orçamento], não é uma lei, e por isso não é suficiente. Pretende-se desenvolver o sector financeiro em Macau e abrir uma bolsa de valores virada para o mercado lusófono. Acha que estão reunidas as condições para isso? Macau tem de trabalhar muito para conseguir tornar o sector financeiro mais sofisticado e internacional. O objectivo não é apenas ajudar as empresas chinesas, mas também ajudá-las a sair para fora, para que captem investimento. Existe, de facto, um grande potencial que está muito bem definido, que é a captação de investimentos luso-chineses para Macau. É algo possível, mas desafiante, pois já existem dois mercados bolsistas bem estabelecidos em Hong Kong e Shenzhen [dentro da Grande Baía]. A bolsa de valores em Macau, eventualmente, não será muito dinâmica, mas, pelo menos, pode ser algo bem trabalhado e trazer valores para o território. Só apostando na plataforma com os países de língua portuguesa Macau pode ter mais-valia na Grande Baía. O sistema jurídico que temos neste momento não é suficiente para apoiar um projecto tão complexo como a criação de uma bolsa de valores. Falta de legislação, como o Código dos Valores Imobiliários. Há muito trabalho a fazer, e sei que o Governo está a estudar e a planear para isso. Mas é possível ir além da plataforma? Penso que o turismo é uma área em que Macau já tem muita experiência e capacidade. Os grandes resorts estabelecidos no território, com grandes eventos, conseguem atingir uma qualidade de serviço muito alta, com grande capacidade em termos de logística e de recursos humanos. É uma área na qual Macau pode partilhar conhecimentos com outras cidades da Grande Baía, com Portugal e até com os restantes países de língua portuguesa. Mas em relação à plataforma, penso que os incentivos devem ser reforçados. Fiscais? Vários. Actualmente, além da isenção do imposto de que falei, não há muitos mais incentivos. Macau pode ser uma boa ponte em termos de comércio, não tão forte como Hong Kong, mas beneficiamos do Acordo CEPA. Os benefícios aduaneiros são também importantes para vários produtos. Mas também outros incentivos, como regimes específicos para vários tipos de talentos, algo que acontece em muitas províncias chinesas. Cada cidade, quando quer captar talentos, tem um programa, com a concessão de subsídios ou facilitação de alojamento. Macau pode pensar nisso também, além do regime de residência. É também importante aumentar a eficiência na emissão de vistos e atribuição de residência. Conheço casos de empresas de Macau que não conseguem contratar pessoas fora de Macau, devido às limitações para a emissão de blue cards. Tenho conhecimento, por exemplo, de uma empresa portuguesa que quer abrir uma sucursal em Macau e não consegue contratar pessoas. Desta forma, devem ser implementados programas específicos para estes projectos e proporcionar maior flexibilidade. Se tratamos os projectos dos países de língua portuguesa como se fossem iguais aos outros, quem investe pensa em ir para Hong Kong ou outra cidade, questionando o valor de Macau. É também preciso construir a confiança, pois ainda é fraco o conhecimento dos projectos internacionais. E em relação ao investimento português na Grande Baía? O Plano de Resolução e Resiliência (PRR), em vigor em Portugal, pode fomentar o investimento, embora não directamente. Continua a existir em Portugal grande falta de conhecimento sobre a Grande Baía. Trabalho com várias associações e think-tank luso-chineses, e sei que só este ano começaram a acontecer mais seminários focados no projecto. Antes só se abordava o assunto de vez em quando. Mas continuamos ainda na fase inicial para que os portugueses saibam o que é a Grande Baía. Quando a pandemia passar, o Governo chinês também terá interesse em promover a Grande Baía em Portugal. Mas tenho conhecimento de várias empresas portuguesas na área da tecnologia que têm interesse em entrar na China. A maior dificuldade que têm é não saber quem contactar e para que cidade devem ir. Por isso, o nosso papel é servir de intermediários, ajudar nos investimentos e bater em algumas portas. O maior desafio é, sem dúvida, arranjar os parceiros certos para os projectos. Na Grande Baía, como cada cidade tem objectivos definidos, vai ser mais fácil para as empresas portuguesas perceber para onde querem ir. Portugal pode, sem dúvida, ter uma relação mais estreita com a Grande Baía. Enquanto advogada, acredita que o futuro passará pela interligação dos sistemas jurídicos de Macau e da China? Um dos maiores desafios da Grande Baía é como tratar as diferenças entre os dois ordenamentos jurídicos. Estudei também Direito da China, além da minha formação em Direito português, e será difícil mitigar as diferenças. A promoção do intercâmbio e formação contínua é muito importante.
João Santos Filipe PolíticaGrande Baía | Ho Iat Seng pede esforços conjuntos para a retoma económica O Chefe do Executivo reuniu com altos responsáveis de Guangdong para discutir políticas referentes à zona de cooperação de Hengqin, para promover o sucesso do território na prevenção da pandemia e pedir medidas de cooperação financeira Ho Iat Seng deslocou-se a Guangzhou para discutir as medidas de prevenção da pandemia e a necessidade de colaboração para responder à crise económica. A informação foi divulgada no sábado, através de um comunicado do Gabinete de Comunicação Social (GCS), antes de ser conhecida a redução do período de quarentena para 10 dias. Segundo o Governo local, nos encontros com o secretário do comité provincial de Guangdong do Partido Comunista Chinês, Li Xi, e o governador da província, Wang Weizhong, “Macau e Guangdong concordaram em consolidar os resultados do trabalho conjunto de prevenção e controlo da pandemia, colaborar para a recuperação económica e para normalizar a circulação de pessoas entre os dois territórios”. Por outro lado, ficou também a promessa de “aprofundar e alargar a cooperação bilateral, em todas as vertentes” e “promover, em conjunto, a Grande Baía entre Guangdong, Hong Kong e Macau”. Neste caminho, a prioridade de Macau e Guangdong passa pela zona de cooperação na Ilha da Montanha, em que as duas partes esperam “alcançar um novo patamar e mais resultados”. No primeiro encontro, com Li Xi, Ho Iat Seng reiterou que “o trabalho realizado pelo Governo de Macau é feito de acordo com as instruções do Governo Central”, que a “actual conjuntura geral da RAEM é estável, e que se alcançou eficiência na prevenção e controlo da pandemia”. Pedir circulação Sobre a crise económica que tem sufocado a RAEM, Ho Iat Seng atirou as responsabilidades para “a situação internacional” e “a evolução pandémica”, que considerou ter aumentado a pressão sobre Macau, devido à redução do número de turistas. Apesar da crise, o Chefe do Executivo mostrou-se confiante na “retoma gradual da economia local com o abrandamento da situação epidémica no Interior”, durante a segunda metade do ano. No segundo encontro, com Wang Weizhong, Ho pediu que com “base nos resultados notáveis alcançados na prevenção e controlo da pandemia desenvolvido conjuntamente por Macau e Guangdong”, que as duas regiões normalizem “a circulação de visitantes” e impulsionem “as actividades económicas”. Ho Iat Seng admitiu ainda a Wang que o Governo de Macau está a estudar a possibilidade de seguir uma política de 7 dias de isolamento, com 7 dias de autogestão domiciliária.
Hoje Macau Manchete SociedadeGrande Baía | Inaugurada plataforma de negócios sino-portuguesa O Centro de Cooperação Internacional de Investimento e Comércio Sino Português (CCIICSP) pretende promover o investimento entre os países de língua portuguesa e a região da Grande Baía. A iniciativa é também o “reconhecimento, por parte da China, da relevância geoestratégica de Portugal” O Centro de Cooperação Internacional de Investimento e Comércio Sino Português (CCIICSP) é hoje inaugurado e visa promover projectos de investimento e comércio entre Portugal, países de língua portuguesa e a região da Grande Baía. De acordo com um comunicado do CCIICSP, citado pela agência Lusa, a partir de 1 de Junho vai ter lugar “a inauguração do Centro de Cooperação Internacional de Investimento e Comércio Sino Português – CCIICSP, com sede na cidade de Guangzhou, na China”, cuja sessão inaugural decorrerá em ‘streaming’, com a participação de ‘stakeholders’ públicos e privados chineses e portugueses. O CCIICSP resulta da parceria da “Porcham”, associação empresarial de negócios bilateral em vias de se transformar em Câmara de Comércio de Portugal na China, e da empresa “Cinco” com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, “tendo como objectivo a prossecução de projectos de investimento e comércio entre Portugal, a diáspora portuguesa e os países de língua portuguesa com a região de Guangdong-Hong Kong-Macau Greater Bay Area (GBA) [Área da Grande Baía], e a ilha de Hainan”. De acordo com a nota, “a iniciativa constitui um importante passo na concretização da parceria estratégica entre Portugal e a China, estabelecida em 2005, e do forte impulso dado às relações bilaterais entre os dois países com a visita a Portugal do Presidente Xi Jinping, em 2018”. O mercado português “é hoje um dos maiores destinatários ‘per capita’ do investimento chinês na Europa”, é referido no comunicado. Distribuir jogo A criação do CCIICSP “é também o reconhecimento por parte da China da relevância geoestratégica de Portugal como interlocutor privilegiado e de primeira linha, na implementação do Acordo Abrangente de Investimento UE-China, celebrado em 2020, integrado na estratégia ‘The Belt & Road Initiative'”, refere a entidade. “Somos um consórcio dedicado a melhorar o ambiente de negócios e promover relações económicas construtivas e sustentáveis entre a República Popular da China e outros países com grande foco em países de língua portuguesa e países onde podemos alavancar a diáspora portuguesa”, afirma o ‘chairman’ do CCIICSP, Dário Silva, citado em comunicado. Dário Silva é um empreendedor português radicado na China há quase duas décadas e presidente da “Porcham”. “Ajudamos as empresas portuguesas a ter sucesso na China, bem como as empresas chinesas a ter sucesso no exterior, fornecendo suporte de ‘advocacy’, oportunidades de ‘networking’ [contactos], ‘insights’ e serviços de suporte empresarial”, acrescenta o responsável, salientando que o CCIICSP “é uma plataforma para empreendedores e profissionais se conectarem, partilharem recursos e construírem uma próspera comunidade internacional na Grande Baía, uma das regiões económicas em mais acelerado crescimento no mundo”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeMoeda Digital | Defendida implementação para compra de seguros na Grande Baía Com o Banco Popular Central da China a apostar no renminbi digital, um estudo ligado à MUST considera que a venda de seguros na Grande Baía pode ser fundamental para promover a implementação da moeda digital A zona da Grande Baía deve afirmar-se como uma plataforma para a venda de seguros entre as regiões de Macau, Hong Kong e o Interior e promover as moedas digitais controladas pelo Banco Popular Central da China. A opinião é defendida no “Estudo sobre a Cooperação Transfronteiriça na Grande Baía Guangzhou-Hong Kong-Macau na Área dos Seguros e com Base nas Moedas Digitais”, que contou com a participação de He Xu, investigador na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). Segundo o contexto traçado pelos investigadores, a venda de seguros de Macau e Hong Kong para o Interior é altamente atractiva porque os prémios têm um valor reduzido, a cobertura é ampla e os retornos são muito mais altos do que no outro lado da fronteira, principalmente entre quem tem rendimentos mais elevados. No entanto, a venda de seguros entre as três regiões não está regulada e é tida como uma prática “ilegal”, o que faz com que os investimentos possam não estar protegidos à luz das leis das regiões. Por isso, e numa altura em que o Banco Popular Central da China tem apostado no desenvolvimento do renminbi digital, uma moeda com controlo centralizado, ao contrário do que acontece com outras moedas digitais, como a bitcoin, os investigadores consideram que a venda de seguros com recurso ao renmibi digital pode ser um incentivo à implementação. “A utilização da moeda digital pode ajudar a estabelecer o sistema transfronteiriço de transacções de seguros na Grande Baía e permitir um sistema de controlo de riscos”, é defendido. “No estado mais ideal, o renminbi digital circularia na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau como a moeda aceite, à imagem do que acontece com o Euro, que pode circular na União Europeia”, foi acrescentado. Dos benefícios Como grandes vantagens da medida, os investigadores apontam que esta pode permitir a construção de um sistema de protecção integrado na Grande Baía, um controlo de capitais e uma maior integração entre as nove cidades e as duas regiões administrativas especiais. “As companhias de seguros podem pagar os ganhos, dividendos e requisições de seguros aos clientes transfronteiriços através das moedas digitais, o que vai fazer com que de facto se consigam prevenir as actividades ilegais e a fuga de capitais”, é justificado. No entanto, antes que este mecanismo seja possível, os autores reconhecem que tem de haver um consenso entre as autoridades do Interior, Macau e Hong Kong. O estudo foi publicado na revista Advances in Economy, Business and Management Research e contou ainda com a participação de Xiao Yan, académica da Universidade de Tecnologia de Chongqing.
Andreia Sofia Silva Grande BaíaPedro Paulo dos Santos, académico da Universidade Cidade de Macau: “Potencial da Grande Baía é imenso” Para construir o projecto da Grande Baía a China inspirou-se nos modelos económico e de gestão urbana desenvolvidos em Tóquio e em São Francisco. No entanto, e apesar de partilharem algumas características, a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau tem mais potencial de desenvolvimento, a começar pelo número da população de que dispõe. Pedro Paulo dos Santos, académico da Universidade Cidade de Macau, fez pesquisa em termos comparativos sobre estes três projectos e traça aqui algumas conclusões Foto de Rómulo Santos A China insiste em manter uma política de zero casos covid-19. Até que ponto esta política não está a travar projectos como o da Grande Baía e o seu potencial? Uma das pesquisas que fiz prende-se com o projecto de um estudo comparativo entre três grandes baías do mundo: a da China, de São Francisco e Tóquio. Deu para ver que a baía da China usou a baía de São Francisco como modelo. Quando digo baía falo numa estrutura organizada dentro da baía, porque há várias a nível geográfico. Mas como organização existem poucas. A China é um estudante muito bom e rápido a aplicar o que conhece, e a Grande Baía cresceu de repente, é uma ideia que não tem muito tempo, cerca de dez anos. Vejo muitas notícias sobre o desenvolvimento de infra-estruturas. Mas penso que este projecto teve sobretudo um impacto negativo com a covid-19 no primeiro ano, talvez em 2020, tendo em conta que muitos sítios na China estiveram fechados. Temos também de lembrar que a Grande Baía, na China, é um projecto nacional e não internacional. Não está dependente de outros países nem de empresas estrangeiras, como está o projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. Tendo esse estatuto é mais fácil a China colocar recursos naturais, financeiros e humanos nesse projecto, e nesse ano de 2020 a indústria chinesa parou e não se avançou muito. Mas em 2021, e este ano, está a andar. Faço uma comparação porque vejo pessoalmente projectos como o da ilha de Hengqin. Em 2020 as obras estavam paradas e o ano passado continuaram a crescer e não pararam. Isso está ligado ao que vem acontecendo com a zona da Grande Baía. Acredito que o projecto possa ter abrandado mas vai continuar. Macau está ao lado de cidades com grande desenvolvimento, como Shenzhen. O território tem ainda passos a dar para chegar esse patamar tecnológico? Sim. Macau nessas áreas de tecnologia e inovação, e também nas áreas dos transportes, finanças e economia, não tem muito poder. Mas o projecto da Grande Baía não tem como objectivo a criação de uma rede de cidades iguais, bem pelo contrário. Tem sim um propósito de criar cidades diferentes cada uma com o seu potencial. E o papel de Macau não é nessas áreas, mas sim ser o centro de lazer da Grande Baía e de entretenimento relacionado com os casinos. Hengqin vai ser a Orlando [no Estado da Flórida, EUA], onde fica a Walt Disney e muitos outros parques temáticos. O papel de Hengqin será de apoio a Macau para essa indústria. Hong Kong será um centro financeiro e de transportes, Shenzhen será o centro de tecnologia e inovação, Guangdong será o centro de produção. Também se fala muito no desenvolvimento de outras indústrias em Macau devido à dependência que a economia tem da indústria do jogo. Em termos de resultados práticos muito pouco se tem assistido nessa área. Como vê o desenvolvimento a curto e médio prazo da Grande Baía? Este é um projecto que não é muito conhecido a nível internacional e provavelmente só será conhecido por pessoas que estudam a China. Mas este é um projecto enormíssimo. Se a China conseguir continuar com ele, vai-se tornar de longe a maior zona metropolitana do mundo que vai ser maior do que a baía de Tóquio. O objectivo é que só a zona da Grande Baía seja a maior zona metropolitana do mundo, um centro de inovação, economia e finanças, uma hub de transportes asiática. O grande objectivo da China é que esta zona seja líder em várias áreas e indústrias. Pelo conhecimento que tenho da China duvido que isso não irá acontecer, porque não vejo grandes projectos internacionais que queiram rivalizar com isto. Se compararmos com a baía de São Francisco, a Grande Baía na China vai pulverizá-la. Portanto este é um projecto muito ambicioso que está a avançar muito rapidamente. Nos próximos três ou quatro anos é que as pessoas, a nível internacional, vão começar a ter uma maior visão do que é realmente a Grande Baía. Como é que a China aplicou, na prática, o modelo da baía de São Francisco? A baía de São Francisco foi a primeira a organizar-se numa estrutura de desenvolvimento e cooperação entre diversas industrias numa localização geográfica de uma baía. Esta iniciou este processo após a II Guerra Mundial, mas até atingir maturidade e sucesso demorou várias décadas. Sendo a primeira, foi a que mais experimentou, que mais errou e que mais sucessos teve. A Grande Baía e outras estruturas semelhantes que apareceram mais tarde, têm como objectivo atingirem o sucesso de integração, inovação, desenvolvimento económico e qualidade de vida que este projecto em São Francisco conseguiu alcançar, e, no caso da Grande Baía, numa fração do tempo. A baía de São Francisco tornou-se, assim, o modelo para todas as futuras estruturas semelhantes. No caso da baía de Tóquio, quais foram os contributos para o projecto da Grande Baía? A Baía de Tóquio tem uma estrutura um pouco diferente da de São Francisco. Enquanto que nesta, e também no caso da Grande Baía, observamos várias cidades a contribuírem e a terem impacto nestas estruturas, no caso da baía de Tóquio temos uma grande metrópole e as suas prefeituras a liderar o desenvolvimento deste mecanismo. Também esta é muito dependente das duas grandes zonas industriais de Toquio, Keiyō e Keihin. São duas áreas com grande influência no desenvolvimento industrial da estrutura. A nível da Grande Baía e da baía de São Francisco as indústrias relevantes estão mais dispersas e distantes. Os governantes chineses e responsáveis obviamente que estudaram várias zonas mundiais com projectos semelhantes, tais como a zona metropolitana de Nova Iorque, mas o foco foi sem duvida estas baías em Tóquio e São Francisco. Podem até encontrar em websites chineses e em pequenos artigos produzidos por organizações e bancos tais como o HSBC, pequenos estudos de comparação entre destas baías. A Grande Baía na China traz mais valias e novidades em relação aos projectos de Tóquio e São Francisco? Em comparação com a baía de São Francisco, criada em meados dos anos 40 [do século XX], era apenas para unir indústrias e para a região se poder desenvolver economicamente. Mas hoje em dia olhamos para a baía de São Francisco e a área principal já não é tão composta pelo sector industrial mas pela tecnologia e inovação, pois tem a zona de Silicon Valley. Temos também a indústria do vinho, em Napa Valley. Portanto não tem assim um grande poder dentro da economia americana. São cidades ricas mas não têm esse impacto económico. A população é também pequena. Em relação à baía de Tóquio, baseada essencialmente numa cidade, depois são as prefeituras à volta. A situação aqui é diferente, pois a maior cidade nem sequer faz parte da baía, está um pouco distante. Esta zona tem um potencial maior, digamos assim, porque a população é bem maior [em relação à de São Francisco]. E depois temos, no caso da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau a investir bastante na modernização de infra-estruturas, e neste momento, a pesquisa preliminar que fiz leva-me a crer que as infra-estruturas de transportes é bem mais desenvolvida do que em São Francisco, porque basicamente estas cidades estão quase todas ligadas. Shenzhen, de um lado, e Hong Kong, até Guangzhou, e depois descem pelo outro lado até Zhuhai e Macau. Temos também a nova ponte. O que cada cidade tem de fazer está a ser preparado e o dinheiro está a ser investido para desenvolver essas indústrias específicas, portanto há diferenças. O modelo é o de São Francisco e também um pouco de Tóquio e quando a Grande Baía chinesa estiver activa vai ser algo que o mundo não conhece e vai ser o exemplo para futuras áreas económicas em baías. Penso que é um projecto que vai surpreende muita gente. Acredita que o projecto da Grande Baía chinesa tem maior potencial de desenvolvimento face às outras duas baías? Porquê? Eu diria que o potencial é imenso. O rápido desenvolvimento da China, o poderio económico chinês, a vontade política e o facto de a província de Guangdong ser perfeita para uma estrutura desta dimensão contribuem para que a Grande Baía possa de facto ultrapassar o valor e o sucesso de outros mecanismos semelhantes. Mas não será um processo de poucos anos, será de décadas potencialmente. Estes projectos precisam de investimentos avultados e direccionados para áreas como o transporte, conectividade, indústria, lazer, tecnologias ou ambiente. Os níveis de cooperação e de organização terão de ser elevadíssimos. A China já demonstrou a sua eficácia e comprometimento em grandes iniciativas nacionais mas também internacionais, como a Nova Rota da Seda. A ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai é um claro exemplo do compromisso que a China está disposta a fazer nesta estrutura. Os grandes avanços neste momento são mais a nível da infra-estrutura de transportes. Este projecto é, decididamente, de nível nacional, e isso ajuda em termos burocráticos. Se continuar a ter apoio financeiro governamental então podemos esperar desenvolvimentos rápidos nos próximos anos. Na ligação de Macau com Hengqin como lugar de entretenimento, qual será o posicionamento do jogo, tendo em conta que se verifica uma tendência de quebra do sector? A aposta será nos hotéis e resorts, e parques temáticos, e não tanto no jogo em si? A tendência de quebra no sector de jogo irá continuar enquanto se mantiverem as restrições devido à política de zero casos covid-19. Em condições normais iríamos continuar a assistir ao crescimento da indústria do jogo. Hotéis e casinos continuam a ser construídos com o pensamento no eventual relaxamento das restrições, sabendo que a indústria irá recuperar eventualmente. A discussão da diversificação da economia local continua, mas voltando ao mesmo assunto, com as restrições qualquer plano está em standby. Penso que as limitações territoriais de Macau irão sempre ter um impacto em qualquer diversificação da economia. Os novos aterros serão para habitação, portanto vejamos talvez grandes infra-estruturas apenas em Hengqin, como parques temáticos e esse tipo de lazer. A Zona de Cooperação Aprofundada com Hengqin precisa de se interligar mais com o projecto da Grande Baía? É inevitável e certamente que será o caso. Ajudará Macau e os macaenses quando eventualmente os direitos e privilégios dos residentes locais nessa zona ficarem sujeitos a um melhor entendimento, pois de momento há alguma confusão e incerteza. Macau tem capacidades para ser um centro financeiro, um objectivo que também está intrínseco no projecto da Grande Baía? Não sou um especialista financeiro, mas não creio muito nessa possibilidade, tendo em conta que um grande centro financeiro mundial já existe a apenas 65 quilómetros e as limitações que existem na economia de Macau. Penso que o projecto da Grande Baia define cada cidade com uma ou várias especialidades e contribuições, com base na suas economias e indústrias. Macau é uma economia de turismo e este sector tem sido o seu motor de desenvolvimento e a sua especialidade. Penso que será nesta área que Macau poderá contribuir para a Grande Baía no futuro.
Hoje Macau Grande BaíaHuizhou | Cidade define 800 mil milhões de yuan como meta do PIB até 2026 A integração na Grande Baía, em geral, e com a cidade de Shenzhen, no plano mais específico, é vista como o grande motor para o crescimento da economia de Huizhou nos próximos quatro anos Até 2026 a cidade de Huizhou tem como meta atingir um produto interno bruto de 800 mil milhões de yuan. O grande objectivo, que as autoridades reconhecem ser “ambicioso”, foi apresentado durante as reuniões magnas. Segundo as explicações oficiais, a integração na Grande Baía, em geral, e com a cidade de Shenzhen, no nível mais específico, vai permitir ultrapassar o valor e trazer à cidade uma nova dinâmica de crescimento acelerado. Além disso, a integração na Grande Baía é vista como a oportunidade para construir dois pólos industriais, nas áreas das tecnologias da informação e do sector petroquímico/matérias-primas. “Esperamos que o PIB de Huizhou chegue a 800 mil milhões de yuan em 2026, e estamos muito confiantes que vamos alcançar a meta”, afirmou Wu Xin, director do Gabinete de Desenvolvimento e de Reforma de Huizhou. “A média anual do nosso crescimento do PIB nos próximos cinco anos deverá exceder os 8,5 por cento. Por isso, estamos totalmente confiantes que vamos alcançar as metas de crescimento”, vincou. A aposta na área das tecnologias da informação e do sector petroquímico é considerada estratégica, uma vez que as autoridades acreditam que quando as empresas estiverem bem estabelecidas na região que podem gerar um aumento da produção acima de um bilião de yuan. Contas feitas Por sua vez, Huang Yuxun, vice-secretário-geral do Governo Municipal de Huizhou, indicou que o investimento dos últimos anos justifica o sentimento de confiança. “Nos últimos cinco anos o investimento em activos fixos em Huizhou atingiu 1,15 biliões de yuan, incluindo 338,6 mil milhões de yuan em investimento industrial e 255,5 mil milhões de yuans em infra-estruturas”, afirmou. “A maioria desses investimentos é feita em grandes projectos de infra-estruturas e projectos industriais importantes, e esses projectos vão gerar ganhos económicos num futuro próximo”, justificou. Outro aspecto fundamental neste trajecto de crescimento vai ser o Novo Parque Industrial. Ainda em construção, há oito empresas que se comprometeram a instalar-se no local, no que deverá representar um investimento de 10,7 mil milhões de yuan. Esta vai ser uma extensão das áreas industriais da cidade, que no último ano anunciou 212 projectos novos, entre os quais 196 estão em construção e 93 estão operacionais.
Pedro Arede Grande BaíaHengqin | Medicina Tradicional Chinesa com área de 1,4 milhões de metros quadrados para crescer O “Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong–Macau” está em franco crescimento. Com uma área de desenvolvimento de 1,4 milhões de metros quadrados, o Parque acolhe já mais de 200 empresas e foi responsável pelo registo em Moçambique de nove produtos. Na União Europeia, o registo de medicamentos fitoterápicos é já uma realidade. Políticas de circulação na Ilha da Montanha e articulação de sistemas legais em estudo Estabelecido em Abril de 2011 em Hengqin, o “Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação entre Guangdong–Macau” (Parque) assume-se como o primeiro projecto ao abrigo do Acordo-Quadro de Cooperação entre as duas regiões e tem vindo a dar passos largos no desenvolvimento, industrialização e internacionalização da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A prová-lo está o facto de o Parque contar já com uma área de ocupação de 500 mil metros quadrados e uma área de desenvolvimento projectada de 1,4 milhões de metros quadrados, incluindo, desde 2018, uma zona de incubação que acolhe 216 empresas, sendo que destas, 54 são de Macau. Para além de medicina tradicional chinesa propriamente dita, as empresas do Parque concentram-se também no desenvolvimento de outros produtos de saúde, equipamentos e serviços médicos e biomedicina. Entre as empresas instaladas, destaque para a Guangzhou Pharmaceutical Holdings Limited (GPHL), o Instituto de Investigação em Ciência e Tecnologia da Universidade de Macau em Zhuhai, a Zhuhai Sanmed Biotech, o Intertek Group Plc, a iCarbonX, o Increase Instituto de Investigação de Produtos Farmacêuticos (Hengqin), a Honest Medical China e a Guangdong Authenmole Biotech. Durante uma visita a Hengqin organizada pelo Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM no final de 2021, foi possível conhecer de perto a história e o funcionamento da Guangdong Authenmole Biotech. Detentora de dezenas de patentes a nível nacional e internacional, a instituição tem um centro de pesquisa e uma fábrica na Ilha da Montanha destinados à criação de produtos de medicina tradicional chinesa soluvéis e não só, distribuídos por cinco categorias e feitos a partir de ervas medicinais, frutos, vegetais, fungos e outros componentes naturais e livres de pesticidas. Na fábrica, dois funcionários prescrutam minuciosamente toda a operação através de enormes ecrãs, dado que a produção prescinde de qualquer intervenção humana. Para materializar o fabrico do fármacos é utilizada uma tecnologia apelidada de PLEESIT (Tecnologia de Extracção Vegetal a Baixas Temperaturas e Integração de Separação Eficiente, na sigla inglesa), que consiste na extracção, a baixas temperaturas, de ingredientes activos das matérias primas naturais e na remoção de substâncias químicas como pesticidas. O processo é totalmente automatizado, e processado diariamente no parque de medicina tradicional chinesa de Hengqin. Com o objectivo de incentivar a aplicação e transformação de produtos de MTC, o parque integra ainda três projectos destinados ao desenvolvimento da chamada indústria do “Big Health”. São eles, o Ruilian (Hengqin) Wellness Resort, o Museu de Tecnologia e Criatividade de Medicina Tradicional Chinesa e a Rua Temática da Cultura de Medicina Tradicional Chinesa “Olá Lótus”. Abrir horizontes De forma a aproveitar as suas vantagens enquanto “janela internacional” da indústria e cultura da MTC sob a Iniciativa “Faixa e Rota” e concretizar o desígnio de se estabelecer como base internacional de controlo de qualidade da medicina chinesa, quando estiver plenamente desenvolvido, o Parque promete vir a ter todas as ferramentas necessárias ao seu dispôr. Isto, quando engloba, segundo uma nota oficial, “toda a cadeia integrada, desde a produção das Boas Práticas de Fabrico (BPF) em Escala-Piloto, a investigação e desenvolvimento (I&D), a inspecção, até às bases de incubação vocacionadas para a indústria”, atendendo, todas elas, às normas de certificação do Interior da China e da União Europeia. Baseando-se no papel de Macau enquanto Plataforma Sino-Lusófona, o Parque tem apostado no desenvolvimento de actividades relacionadas com o registo internacional, o comércio de importação e exportação e ainda, a formação de talentos. A juntar à inauguração do Centro de Cooperação e Intercâmbio Internacional, concretizada em 2015, o objectivo passa por aprofundar a cooperação com países e regiões ligados aos Países de Língua Portuguesa e aprofundar contactos comerciais associados aos mercados da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), de África e da União Europeia. Até hoje o parque de medicina chinesa de Hengqin concluiu, com êxito, o processo de registo em Moçambique de nove produtos de um total de seis empresas do Interior da China e de Macau. Quanto à União Europeia, de sublinhar que foi concluído o registo de medicamentos fitoterápicos, o que os tornou na primeira variedade de medicamentos tradicionais chineses a ser comercializada, em países europeus como a Alemanha, a Áustria, a Bélgica, o Luxemburgo e outros.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteMaria Fernanda Ilhéu, economista: “Não me surpreendia se a política de zero casos começasse a ser ajustada” Convidada a comentar os recentes projectos de integração regional, Maria Fernanda Ilhéu defende que, com a pandemia, Macau e HK podem sofrer maior impacto económico do que as outras cidades da Grande Baía. Sobre a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, lamenta que “não esteja a ter um impacto significativo na integração económica”. Já quanto à política de zero casos covid-19, a economista diz que é possível que a China venha a seguir outro caminho que tenha também em atenção a economia, como fizeram outros governos na Europa Que análise faz à evolução do projecto da Grande Baía desde que foi anunciado? É expressamente referido [nos planos anunciados pela China] que se espera que em 2035 a área da Grande Baía se torne num ecossistema económico, com um modo de desenvolvimento suportado pela inovação de competitividade internacional. A estratégia nacional do Governo chinês assenta em seis princípios básicos, como a orientação pela inovação e reforma, o desenvolvimento coordenado e o planeamento holístico, a prossecução de um desenvolvimento verde e conservação ecológica, a abertura e cooperação com um resultado win-win [ganhos mútuos], a partilha de benefícios do desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas e aderir ao princípio “Um País, Dois Sistemas” de acordo com a lei. Mas há ideias fundamentais por detrás destes princípios. Há dois pilares estruturantes. Um político, de integração de Hong Kong e Macau na província de Cantão, percebendo-se que na cidade de Guangzhou ficará a governação da coordenação regional do Delta do Rio das Pérolas. Há também o pilar económico, de diversificação e de complementaridade, em que as 9 + 2 cidades do Delta irão simultaneamente concorrer e cooperar, sendo que à partida cada um trará para o processo mais valias. Existe um encorajamento aos empresários para pensarem os negócios em termos regionais. Estamos a falar de um mercado doméstico de 71 milhões de pessoas com um poder de compra médio-alto dos mais elevados ao nível chinês e comparável ao poder de compra da classe média nos países do Sul da Europa. Mas esta região do Delta do Rio das Pérolas é também uma das mais abertas da China, com uma elevada proximidade e conectividade económica com os Países da ASEAN, que em conjunto têm cerca de 8,8 por cento da população mundial. Se fossem uma só entidade seriam a sexta economia do mundo e a terceira da Ásia. Mas estamos perante a evolução esperada? É difícil de dizer. O que vemos é que estão a cumprir-se os prazos para a criação das infra-estruturas físicas e legais. Podemos falar, por exemplo, da abertura do comboio de alta velocidade Guangzhou-Shenzhen-Hong Kong Express Link e da Ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau, ambos essenciais para as pessoas que trabalham nestas cidades, ou entre estas cidades. Não nos devemos esquecer que muitas empresas têm actividade em várias delas e que muitas pessoas trabalham numa cidade e vivem noutra, portanto a rápida mobilidade é muito importante. No entanto, podemos ter as infra-estruturas físicas de mobilidade, mas se não se puderem usar fácil e livremente, então o objectivo integração económica para que foram construídas, fica prejudicado. Em que sentido? Quando vivia em Macau e tinha de me deslocar a Hong Kong, considerava a viagem de jetfoil muito desconfortável e pensava que se tivéssemos uma ponte seria fantástico porque poderia deslocar-me no meu carro. Como economista, antecipava o grande boom económico que seria para Macau, porque muitas pessoas que trabalhavam em Hong Kong iriam preferir o estilo e qualidade de vida local. Para mim, a construção de uma ponte era o grande projecto. Agora temos uma ponte que liga Macau a Hong Kong, mas ali só podem circular transportes públicos e só algumas entidades têm direito a utilizar o carro nessa ponte, sendo que o jetfoil continua a ser a solução de transporte preferível para a maioria das deslocações individuais. Não vejo que [a ponte] esteja a ter um impacto de integração económica significativo. Ao nível das fronteiras também houve mudanças. Sim, temos também um novo posto fronteiriço em Macau, inaugurado em 2020, mas aguarda-se que o corredor permanente para a passagem de automóveis esteja concluído. Foi considerado pelo Executivo de Macau que este posto facilitará a expansão da actividade para Hengqin. Mas se nesse corredor rodoviário só poderem passar veículos com dupla matrícula de Macau e China, e se essas matrículas forem de difícil obtenção para a maioria dos cidadãos, então os efeitos também não serão espectaculares. Em termos do pilar de integração política foi dado um passo importante na criação do “Projecto Geral de Construção Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. Esta zona visa o desenvolvimento e diversificação da economia de Macau, que por limitação de espaço, tal como está, não consegue evoluir da perigosa dependência da indústria do jogo. Ou seja, há aqui uma mudança lenta. Estão a dar-se passos significativos no processo de integração de Macau na área da Grande Baía, mas é um processo feito a passo e passo, que poderá ser mais ou menos lento, conforme a forma como as infra-estruturas físicas e legais forem sendo impulsionadas pelas autoridades governamentais envolvidas, e se as populações locais as entenderem e aceitarem. A pandemia e a política de casos zero vai obrigar a um ajustamento dos objectivos económicos traçados para a Grande Baía? Antes da covid-19 a região estava a crescer muito e mais do que o resto da China. Visitei, em Dezembro de 2019, as cidades de Guangzhou, Dongguan, Foshan, Shenzhen, Zhuhai e Macau. Nestas duas últimas cidades tinha estado há poucos meses, mas as restantes já não as visitava há cerca de cinco anos. Fiquei impressionada com o crescimento e grande dinamismo que ali presenciei. A covid-19 teve um impacto na economia mundial e se atrasar a evolução deste projecto isso será normal. O plano é que este ano esteja formado o enquadramento para que esta área seja uma baía internacional de primeira classe, mas teremos de aguardar até Dezembro para saber se esta meta será cumprida ou não. Não será de estranhar que as economias de Hong Kong e Macau venham a sofrer economicamente mais que a economia das nove cidades que estão no continente. E porquê? Por um lado, porque as fronteiras entre Hong Kong e Macau, e de ambas com o continente, têm estado, nestes últimos dois anos, fechadas com frequência. Mas temos agora um outro factor altamente perturbador, a guerra na Ucrânia, que não deixará de ter efeitos disruptores na economia mundial e obviamente também na chinesa. Até que ponto este conflito vai ter impacto nos projectos chineses? Não podemos ainda prever como vai afectar os projectos “uma faixa, uma rota” na Eurásia ou o dinamismo da indústria e o comércio externo da China. Portanto, os objectivos económicos para a Grande Baía não ficarão imunes a esta dupla ameaça mundial que estamos a viver, a pandemia e a guerra. Mas, e quanto aos efeitos da política de casos zero? Até agora a China privilegiou sempre a saúde à economia, e é assim que encaro a política de zero casos covid-19. Mas, pragmaticamente, a China poderá que ter de seguir uma política que tenha também em atenção a economia, como fizeram muitos governos na Europa, nomeadamente em Portugal, que considero um caso de sucesso. Não ficarei surpreendida se a política de zero casos covid-19 começar a ser ajustada. Na Grande Baía cada cidade tem os seus objectivos definidos. Macau será a plataforma de ligação com os países de língua portuguesa, mas está a apostar também no desenvolvimento do sector financeiro. Acredita que a região vai conseguir cumprir com estes objetivos a curto prazo? A situação de Macau como plataforma de ligação com os países de língua portuguesa poderá ser grandemente melhorada a curto prazo, porque já existe muita experiência nesse processo e já percebemos que algumas políticas, e sobretudo algumas formas de implementação, podem ser melhoradas e ensaiadas. Em relação ao sector financeiro será mais difícil de concretizar a curto prazo. Não se cria um ecossistema financeiro confiável [tão rapidamente]. Como encara o projecto da Zona de Cooperação Aprofundada com Hengqin? Como a grande oportunidade para a economia de Macau crescer de uma forma diversificada. É também um teste à administração conjunta das autoridades de Macau e Guangdong de um espaço económico, dentro de um equilíbrio de políticas e práticas respeitando o princípio “Um País Dois Sistemas”.
Nunu Wu Grande BaíaTangerinas | Esta fruta, pequena e singela, é uma das grandes riquezas da área da Grande Baía Quem visita o sul da China, seja Macau, Hong Kong ou toda a província de Guangdong, por altura do Ano Novo Chinês forçosamente repara na quantidade de tangerinas que, um pouco por todo o lado, enfeitam lojas, entradas de prédios e mesmo as casas das pessoas. Pequenas árvores em vasos, ramos desgarrados ou simplesmente o fruto empilhado em pratos de cerâmica ou metal estão por todo o lado, emprestando tons novos às cidades. “Por quê?”, perguntar-se-á o turista menos conhecedor dos costumes chineses. Que razão leva os chineses a enfeitar os espaços com este pequeno fruto de cor brilhante e alaranjada? A verdade é que a utilidade das tangerinas não se esgota, longe disso, nesses enfeites comemorativos da chegada da Primavera. Pelo contrário, actualmente, só na comarca de Xinhui, na província de Guangdong, muito perto de Jiangmen, uma das nove cidades que constituem a área conhecida como Grande Baía, as tangerinas são responsáveis por um rendimento anual superior a 100 milhões de yuans e cerca de 60 mil postos de trabalho. O uso das tangerinas estende-se da culinária à medicina, passando pelo chá e bebidas espirituosas. Mas, além da polpa, o seu principal segredo reside na casca, cujas aplicações, depois de seca, são consideradas em toda a China um verdadeiro tesouro nacional, tendo a técnica de produção sido considerada, em 2020, como parte do património intangível nacional. Contudo, já desde Outubro de 2006, que as tangerinas de Xinhui e a sua casca seca se haviam tornado produtos sob a indicação geográfica protegida. Casca seca, em chinês, diz-se chenpi (陳皮). Ora chen significa envelhecer/envelhecida, e pi quer dizer casca. No entanto, a fama das tangerinas de Xinhui e da sua casca seca remonta à dinastia Han de Leste (25-220). Portanto, já há dois mil anos que o fruto e a chenpi desta região de Guangdong são apreciados e utilizados por toda a China, devido ao facto de exalarem uma fragância particularmente forte e agradável. De tal modo assim era que a própria imperatriz-regente Cixi, em finais do século XIX, as aceitava como tributo vindo desta província do Sul do país. A chenpi é, pois, desde esses tempos remotos, utilizada na culinária e, sobretudo, na medicina, devido às suas múltiplas propriedades profilácticas e curativas. Assim, durante séculos a região de Xinhui tem plantado tangerinas e produzido artesanalmente chenpi, um produto que muita riqueza e fama trouxe sempre a esta área. Contudo, nas últimas décadas, acontecimentos fundamentais ocorreram e levaram a alterações importantes na sua produção e distribuição. Mudam-se os tempos… Ora, como se sabe, desde os anos 80 anos do século passado, que a China entrou num processo de reformas económicas e sociais que alterou substancialmente o país, impulsionando de modo dramático o seu desenvolvimento e modernização. Na linha da frente destas mudanças esteve sempre a província de Guangdong e, logo, tal movimento em frente não podia deixar de se fazer sentir num dos seus produtos mais prestigiados, a chenpi. Impulsionada pelo próprio governo de Xinhui, a produção de chenpi também acompanhou os tempos, entrando decisivamente num momento de modernização e expansão comercial. Segundo Wu Gurong, chefe da Aldeia de Chenpi de Xinhui, tudo começou em 2003, quando o governo local resolveu investir no desenvolvimento industrial, com o objectivo de reduzir a pobreza e revitalizar as zonas rurais. “Até então, as indústrias não podiam ser mercado e transformar os produtos agrícolas. Nós fomos a excepção”, explicou, ao mesmo tempo que defende que tal não podia ter acontecido se não tivessem existido os apoios políticos necessários. Em 2013, foram investidos mais de 100 milhões de yuans na fundação desta Aldeia da Chenpi, que veio a transformar-se num gigantesco complexo de produção, comercialização e divulgação do produto. Wu Gurong, que até então se dedicava a negócios de importação-exportação, resolveu então entrar de corpo e alma neste projecto. Contudo, nem tudo foram rosas. “Nós não tínhamos experiência e esse foi o principal problema. Não sabíamos como desenvolver o nosso negócio. Então, visitámos diversos lugares para obter essa experiência. Fomos ao Japão, a Taiwan e aos EUA. Finalmente, decidi- mo-nos pela plantação, fabrico, armazenagem e pesquisa, além do desenvolvimento do turismo cultural. Na nossa opinião, todos estes laços são inseparáveis”. Além de decidir sobre como deveria proceder ao desenvolvimento do projecto, Wu Guorong conta que ainda assim subsistiam problemas como a existência de capital suficiente, uniformização e negociações com os agri- cultores. Desde 2011 que o governo local organiza, bienalmente em Xinhui, um Festival Cultural de Chenpi, no qual a Associação das Indústrias de Chenpi assume um papel fundamental. “Além da cerimónia da abertura, realizamos sempre uma conferência de imprensa e o lançamento de novos produtos durante o festival”, disse Cen Weibin, o presidente da associação. Criada em 2002, a associação tem como objectivo consolidar a produção, servir os sócios, divulgar a cultura de chenpi e incentivar o seu desenvolvimento industrial. Actualmente, o organismo conta com 326 sócios, que trabalham na cadeia industrial de chenpi. Para além disso, na área financeira, Cen Weibin afirma que, em 2019, a associação cooperou com o Banco Comercial Rural de Jiangmen, no sentido de proporcionar em- préstimos destinados aos agricultores. Estes podem conseguir empréstimos na banca, através da hipoteca da sua futura produção. Um ramo em Macau Em 2018, a empresa Xin Bao Tong Chen Pi, de Jiangmen, uma das mais importantes na comercialização dos produtos relacionados com a chenpi, estendeu os seus negócios a Macau, fundando aqui uma sucursal. Chen Baizhong, o presidente da empresa, explicou a razão que o levou a dar esse passo: “Uma importante fa- tia da população de Macau tem origem em Jiangmen, incluindo Xinhui, senão mesmo a maioria. Todos os anos, estes conterrâneos voltam cá para prestarem homenagem aos antepassados, sobretudo durante o Festival Qingming (no qual se presta homenagem aos familiares falecidos). Eles compram sempre chenpi e, frequentemente, pediam- me para estabelecer uma loja em Macau, na medida em que assim seria muito mais convenientes para os que gostavam de comprar e consumir chenpi”. Ele assim fez. E não está arrependido. “Outro dos meus objectivos é usar Macau como plataforma para apresentar a chenpi de Xinhui, porque Macau tem um papel importante no mercado internacional”. Chen Baizhong adianta que já criou muitos meios de venda na área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, mas sublinha que a nossa cidade ainda tem um papel de destaque quando se pretende atingir mercados estrangeiros. “A posição de Macau ajuda-nos afazer com que os nossos produtos sejam divulgados em todo o mundo. É diferente das outras cidades da Grande Baía, cujo mercado é a China continental. Macau é uma cidade turística mundial e multicultural, por isso queremos divulgar a cultura gastronómica da chenpi de Xinhui usan- do Macau como plataforma” explicou Chen Baizhong. E remata: “Temos confiança em Macau. Por isso, a empresa deu prioridade à fundação da sucursal em Macau ao invés de o fazer em Hong Kong”. Do passado para o futuro A chenpi tornou-se assim num bom exemplo de como um produto tradicional pode ser reaproveitado, através de novos procedimentos, nomeadamente da modernização de processos industriais e novos de métodos de marketing. Para elevar o valor da chenpi, Ou Baiyu, director-geral da Jiangmem Palace Internacional Food, aposta no fabrico para o desenvolvimento a longo prazo. “A chenpi de Xinhui tinha poucas utilizações no passado, principalmente na medicina ou em sopas. Se os produtos agrícolas não forem industrializados, o seu valor dificilmente será aumentado,” explicou. E, de facto, nos últimos anos assistiu-se a uma importante modernização dos processos industriais de tratamento da produção e tratamento da chenpi, o que veio possibilitar maior qualidade no pro- duto final e uma extensa lis- ta de utilizações posteriores. Por outro lado, o aumento do consumo também tem satisfeito os produtores agrícolas que assim têm possibilidade de es- coar as suas colheitas. Ou Baiyu congratula-se, sobretudo, pelos resultados obtidos este ano. “O volume de negócios do primeiro trimestre já alcançou o volume de negócios de todo o ano passado. Desde a pandemia que a população se foca mais na saúde e na manutenção da boa forma física. Então, a chenpi corresponde a estes desejos. Sobretudo, a população que dispõe de uma melhor qualidade da vida, procura sempre os melhores produtos”, justificou. Em Xinhui, o valor da chenpi também depende da sua idade. O processo de seca da casca ao sol leva pelo menos três anos. Um ditado popular afirma que “um tael de chenpi é igual a um tael de ouro e chenpi de cem anos é melhor que milhares de taéis de ouro”. A tangerina e a sua chenpi representam assim um dos “valores dourados” da Grande Baía e de toda a China. Este nome “tangerina”… As tangerinas têm a sua origem na China, tendo sido levadas para a Europa pela mão dos portugueses, no século XVI, depois de se terem estabelecido em Macau. Na altura, o melhor local para o seu desenvolvimento era uma colónia portuguesa no norte de África, a cidade de Tânger. Daí que estes frutos também conhecidos por laranjas mandarinas, por terem vindo da China, muito apreciadas na corte real lusitana, terem sido baptizadas de tangerinas, como referência à cidade marroquina onde eram produzidas. Quando a princesa Catarina de Bragança casou com o rei de Inglaterra, em 1662, levou este consigo este fruto, bem como o chá chinês que passou a ser uma bebida de referência nas ilhas britânicas. Vai um chazinho de tangerina? Entre outros produtos, tal como bolo lunar, bolachas e o baijiu (vinho chinês), a chenpi é muito utilizada como aditivo em chás, para melhorar o sabor e exercer as suas funções terapêuticas. A chenpi pode combinar com seis tipos de chá, mas o seu melhor desempenho é, segundo os especialistas, quando misturada com Puerh. “No entanto, descobrimos que o efeito da casca de tangerina com chá preto ou com chá branco é também muito bom”, revela Zhong Lijuan, da empresa Xin Bao Tong Chen Pi. Quem visita Xinhui encontra uma enorme quantidade de marcas de chás, embalados em fascinantes caixas, que utilizam a chenpi. O que se torna difícil é saber qual escolher. A fruta do Ano Novo Chinês Ao marcarem o início de um novo ano lunar, famílias e comerciantes de Macau e, em geral, do Sul da China, compram vasos de tangerinas para decoração e para dar sorte. Mas por que razão estes citrinos nos protegem da má sorte e nos proporcionam abundância ao longo do ano que entra? Será talvez pelo facto de serem brilhantes, quase douradas, sinais de alegria e de riqueza. De facto, as tangerinas têm glândulas oleosas que dão à sua pele fina uma camada brilhante que as fazem parecer especialmente glamorosas. Também o facto de serem numerosas nos ramos poderia indiciar um símbolo de prosperidade. Mas as coisas não se ficam por aqui. Estas tangerinas há muito que são um fruto extremamente apreciado. Na corte imperial, era até oferecido como homenagem aos visitantes. Durante a dinastia Han chegou mesmo a existir uma espécie de ministro das tangerinas, para as escolher e apresentar à realeza. Mas, como acontece muitas vezes na cultura chinesa, também estamos perante um jogo de palavras. Em cantonês, tangerina diz-se gat zi (桔子). Ora a pronúncia de gat (桔) é a mesma que gat (吉, “bons auspícios”). Logo, além da sua aparência e história real, as tangerinas trazem consigo a conotação de trazer boa sorte. Quando se trata de ditados populares chineses do Ano Novo como gat coeng jyu ji (吉祥如意, “Auspicioso, tudo acontece de acordo com a vontade de cada um “), daai gat daai lei (大吉大利, “Muito auspicioso e suave”), ou gat sing gou ziu (吉星高照, “A estrela auspiciosa que brilha no alto”), as pessoas por vezes substituem o primeiro caractere por um que representa uma tangerina. Ilustrações de tangerinas podem até substituir o primeiro caractere nas folhas fai chun (揮春), que são decorações coladas nas portas durante o período do Ano Novo chinês. É também tradicional, entre as gerações mais velhas, dar tangerinas às crianças e levá-las quando visitam casas de familiares e amigos. Como fazer chenpi e os seus tipos O processo de fabrico do chenpi é uma arte milenar. Ao todo, são necessários 20 quilos de tangerinas frescas para fazer 1 quilo de chenpi. Quando as tangerineiras frutificam, alguns dos frutos da árvore são colhidos enquanto ainda estão verdes. Isto permite que os restantes frutos recebam mais nutrientes. Os frutos são parcialmente colhidos à medida que adquirem uma cor alaranjada. Finalmente, permite-se que os melhores frutos amadureçam até atingirem uma cor avermelhada, sinal de que que receberam mais nutrientes. Nada é desperdiçado pois os frutos verdes e cor-de-laranja são utilizados para fazer chenpi de grau inferior, enquanto os frutos avermelhados destinam-se a chenpi vermelho, considerado superior. Assim, existem três tipos de chenpi, de acordo com as diferentes fases de maturação: verde, laranja e vermelho. A pele do fruto é cortada e removida numa casca de uma só peça, como uma flor de 3 pétalas. A pele da tangerina tem cerca de 1mm de espessura nesta fase. Depois é seca ao sol durante 5 – 6 dias. As cascas secas ao sol são embaladas em recipientes herméticos, mantidas num local fresco e seco e trazidas para o sol uma só vez por ano. Mesmo o chenpi de grau mais baixo requer pelo menos três anos de armazenamento e exposição ao sol. Quanto mais antigas forem as cascas, melhor, pelo que acontece existirem cascas com mais de 50 anos. Os chenpi com 3 anos de idade ainda têm uma fragrância cítrica. Com 10 anos de idade adquirem uma fragrância de madeira envelhecida. A partir dos 30 anos de idade exalam uma fragrância medicinal. Somente o chenpi vermelho melhora com uma idade superior a 10 anos; o chenpi verde e laranja não. A pele do chenpi vermelho é dura, muito fina, tornando-se mais fina com a idade. Quanto mais tempo se mantém o chenpi vermelho, mais perfumado se torna.
Hoje Macau Grande BaíaAlta Tecnologia | Centro de Zhuhai sobe dois lugares nos ranking nacional Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Zhuhai subiu ao 17.º lugar do ranking, entre as 157 avaliadas pelo Centro Nacional de Desenvolvimento da Indústria de Alta Tecnologia A Zona Nacional de Desenvolvimento Industrial de Alta Tecnologia de Zhuhai subiu ao 17.º lugar do ranking das das Zonas Nacionais Hi-Tech, de acordo com o ranking de 2021 do desenvolvimento tecnológico nacional. O ranking é elaborado pelo Centro de Desenvolvimento da Indústria de Alta Tecnologia da Tocha, um instituto estatal criado em 1988, com o objectivo de promover o desenvolvimento das tecnologias de ponta no Interior. A designação “tocha” está relacionado com o logótipo do instituto que remete para um tocha, que ilumina o caminho do desenvolvimento. A avaliação anual incidiu em 157 zonas nacionais de alta tecnologia em termos de capacidade de inovação, actividade empresarial, optimização estrutural, cadeias de valor industrial, desenvolvimento verde, abertura e inovação, bem como competitividade global. A zona de Zhuhai alcançou o 15.º lugar em termos da capacidade de inovação e actividade empreendedora; 20.º em optimização estrutural e cadeias de valor industrial; 27.º em desenvolvimento verde e abertura e inovação, e 15.º em qualidade global e inovação sustentável. Ainda no ano passado, e numa altura em que a contabilidade ainda não está totalmente fechada, prevê-se que as receitas operacionais na Zona de Alta Tecnologia de Zhuhai aumentem 8 por cento em relação ao ano anterior para 345 mil milhões de yuan, enquanto o PIB do seu parque principal em Tangjiawan deve aumentar 9,7 por cento para 30,62 mil milhões de yuan. Mais valor acrescentado As boas notícias, segundo os dados oficiais, estendem-se ao valor acrescentado, que subiu 20,9 por cento para 12,1 mil milhões de yuan, enquanto que o seu investimento em activos fixos subiu 10,5 por cento para 27,6 mil milhões de yuan. Além disso, o rácio da despesa local em I&D no PIB da zona deverá atingir 8 por cento. Em relação ao ano passado, a zona emitiu 4.016 patentes, um aumento de 15,5 por cento. Ao mesmo tempo, o número de patentes de invenção válidas cresceu 25,4 por cento para 3.671. A zona acolheu 103 empresas de alta tecnologia em 2021, aumentando o número total para 1.136, o que representa 55 por cento do total da Zhuhai. O número total de instituições provinciais de I&D cresceu para 17, com quatro recém-chegadas. Após serem conhecidos os resultados, as autoridades de Zhuhai destacaram os fundos especiais criados por empresas como a Huawei, JaFron Biomedical e o Instituto de Zhuhai de Tecnologia Avançada. Estes fundos serviram para a impulsionar o desenvolvimento local e resultaram em 200 milhões de yuan, só na primeira fase.
Andreia Sofia Silva Grande BaíaShenzhen | A presença do grupo Soulfato na cidade das startups É na cidade de Shenzhen que o grupo Soulfato escolheu posicionar-se para dar uma resposta a empresas e investidores portugueses e chineses, na área do imobiliário, mas não só. Nuno Batista, que tem uma experiência de 15 anos na China, assegura que a Grande Baía é, neste momento, um projecto que pode educar empresários portugueses em prol de um acesso mais eficiente ao mercado chinês Saíram da capital chinesa, Pequim, para uma das cidades mais promissoras do sul da China e uma das integrantes do projecto Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O grupo Soulfato, liderado por Nuno Batista, e com uma larga experiência na área da consultoria de investimentos e imobiliário, tem escritórios em Shenzhen, Macau e Portugal, e é um dos exemplos das oportunidades que a Grande Baía pode trazer. “Queremos promover e estimular investimento chinês em Portugal e queremos trazer as empresas e pessoas a expandirem-se no mercado chinês. Uma das razões pelas quais mudámos de Pequim para Shenzhen foi porque esta cidade é a grande cidade de startups da China onde existem muitas políticas locais e onde o Governo promove muito a incubação de projectos.” Neste sentido, o empresário considera que “fazia sentido” deixar Pequim e apostar no trabalho “com a comunidade de startups”. Em Shenzhen o grupo Soulfato opera um centro de negócios e um espaço de co-working. “Fazemos serviços de contabilidade, aconselhamento legal, incorporação de empresas e todo o planeamento estratégico de um projecto para o mercado asiático”, adiantou. Nuno Batista não tem dúvidas de que a Grande Baía é “um projecto de extrema importância” e uma zona do país onde, neste momento, “tem mais recursos económicos e oportunidades”. Além disso, a Grande Baía ajudou também à criação de plataformas comerciais e de contactos empresariais, como é o caso da constituição de associações ou câmaras de comércio entre Portugal e a China. Uma questão de uniformização Nuno Batista defende que, neste momento, a Grande Baía e as autoridades das nove cidades que a compõem aceleraram o processo de desburocratização para quem faz negócios. “Já existem bastantes processos que estão mais uniformizados e abertos dentro das cidades da Grande Baía, como os códigos das empresas ou os sistemas aduaneiros para a importação e exportação. A China tem feito essa dinamização de forma bastante rápida e cada vez mais vai ser assim.” Questionado sobre a capacidade económica de empresas portuguesas de investir nesta zona, Nuno Batista acredita que esse ponto não é o mais importante, mas sim “perceber como se pode entrar no mercado chinês de forma eficiente”. “A Grande Baía pode educar as empresas e empresários sobre como podem implementar um projecto na China, porque é completamente diferente do ponto de vista das marcas e de comunicação, do contacto com o cliente. É um mercado grande, de nove cidades”, concluiu.
Pedro Arede Grande BaíaJorge Neto Valente, empresário: “Temos de saber jogar com as nossas vantagens” Apesar de haver arestas por limar, Jorge Neto Valente considera que a Grande Baía tem o mercado e a mão-de-obra que Macau precisa. Aos empresários que têm medo da concorrência do outro lado da fronteira lembra que há espaço para todos sobreviverem e que Hengqin, onde explora um restaurante Portugália, é um bom ponto de partida para entrar no mercado chinês. Macaenses e portugueses serão essenciais para “ligar as empresas chinesas aos países de língua portuguesa”, considera Em que fase está o desenvolvimento do projecto da Grande Baía? A Grande Baía é um projecto em curso e é sempre bom recordar que estas baías mundiais são sempre um processo evolutivo em que apenas o local está definido. O Silicon Valley, por exemplo, também está a evoluir consoante os tempos. Creio que a Grande Baía aqui de Cantão, se fosse uma pessoa, estaria na pré-adolescência e teria mais ou menos 12 anos. Acredito que o Governo já definiu as funções, mas resta agora à parte empresarial desenvolver todo o ambiente económico e social para esta Baía se assumir como uma das grandes baías a nível mundial. O que é preciso para que o projecto da Grande Baía se concretize na sua plenitude? Julgo que os Governos locais e o Governo Central podem intervir até certo ponto, mas depois terão que ser os residentes e a mão-de-obra que é importada, a definir aquilo que vai ser a Grande Baía, no futuro. Por exemplo, Macau sempre foi um pólo do jogo e lazer mas vimos que, nos últimos dois anos, houve uma grande queda do sector e a diversificação é agora incutida às empresas e às pessoas por uma questão de sobrevivência. O Governo sempre apelou à diversificação, mas até haver uma crise as pessoas estavam muito cómodas e não tinham vontade de diversificar para uma coisa que lhes iria dar, provavelmente, um retorno mais pequeno e implicar um esforço maior, a juntar a um elevado grau de incerteza. Com a actual crise, as pessoas são forçadas a diversificar. Agora, para onde vamos diversificar? Sabemos que Macau é um mercado muito pequeno, onde não há mão-de-obra suficiente nem qualificada em grandes quantidades. Por isso, precisamos de olhar para o lado e aquilo que está mais perto de nós é a Grande Baía. A Grande Baía tem o mercado que precisamos, pois estamos a falar de quase 100 milhões de habitantes, a juntar a todos aqueles que vêm de fora. É uma área que tem nove cidades e duas regiões com estruturas muito bem definidas, com Hong Kong a ser o pólo financeiro e Shenzhen a estar ligada à alta tecnologia. Temos também Macau que agora, além do lazer, é definida como centro turístico e plataforma de ligação entre os países de língua portuguesa e a China. Cada cidade tem as suas funções mais ou menos definidas pelo Governo, mas isso não quer dizer que as pessoas não possam inovar e inventar outras. Mas, pelo menos, já temos as directivas feitas e quem está em Macau pode muito facilmente entrar na Grande Baía e fazer carreira ou abrir a sua empresa, não havendo os problemas que há em Macau. A Grande Baía ainda tem uma grande vantagem ao nível da mão-de-obra, pois toda a China pode ir para lá trabalhar e há recursos humanos qualificados desde que os consigamos atrair. Por último, temos Hong Kong e Macau como janelas para os estrangeiros que querem vir para a Grande Baía. Ou seja, há muita coisa aqui que pode ser feita e há muitas oportunidades. Claro que vai haver muita concorrência, o que constitui um risco muito grande, mas também sabemos que, especialmente as pessoas de Macau, não estão preparadas para a grande concorrência que existe, porque sempre estivemos num ambiente mais protegido. Entrando na Grande Baía essas facilidades ficam automaticamente niveladas para todos. Mesmo que o Governo de Macau ou o Governo local ofereçam incentivos para os residentes, a concorrência é tão grande que os incentivos servem só para ajudar. Para sobreviver é mesmo preciso ser-se melhor que os outros. Existe muito receio por parte dos empresários de Macau de apostar na Grande Baía por causa da concorrência? Alguém realista sabe que a concorrência é muito feroz na China. Até em Hong Kong é muito mais feroz do que em Macau. Nós, os empresários de Macau, sabemos que crescemos num ambiente muito protegido e que tínhamos muitas facilidades. Indo para o Interior da China não existe essa protecção. Por um lado, é o medo que todos têm de entrar na China, mas, por outro, digo sempre que não se deve pensar só na concorrência porque o mercado é tão grande que há espaço para todos sobreviverem, melhor ou pior. O retorno pode ser tão grande que pode valer a pena entrar na Grande Baía, mesmo falhando. Pode partilhar a sua experiência em termos de negócios desenvolvidos na Grande Baía? Um bom exemplo é o Restaurante Portugália que abrimos em Hengqin. Estávamos com receio que a comida portuguesa não fosse bem aceite na China, até porque se trata de um franchise sem adaptações ao gosto local. Por isso, queríamos estar perto para ser um meio termo. Na altura, ainda não sabíamos que o Governo ia anunciar o projecto de cooperação aprofundada em Hengqin, mas já achávamos que esse seria o primeiro ponto para se fazer a adaptação [para entrar no mercado chinês]. Era mais fácil Portugal suportar-nos e mais fácil para nós podermos fazer as mudanças necessárias, antes de expandirmos para outros locais. Até agora, a experiência tem decorrido dentro das nossas expectativas, pois já sabíamos que íamos enfrentar problemas, mas estamos a conseguir resolvê-los. Às vezes estamos a falar de coisas pequenas, ao nível dos costumes. Por exemplo, como é que as pessoas se querem sentar ou como devemos servir as refeições. Não estamos a adaptar a comida em si, mas sim pequenas coisas que não mudam o carácter do restaurante nem a qualidade da comida. Por quê começar por Hengqin? Entrar no mercado chinês era uma experiência pela qual nunca tinha passado e eu próprio tive medo de entrar. Se fosse em Guangzhou, por exemplo, não saberia tão bem como proceder, nem tinha tanto suporte da Portugália a partir de Portugal, porque eles não iriam conseguir chegar lá tão facilmente. Hengqin é mais fácil, porque basta dar um pequeno passo, dado que a Portugália já existe em Macau. O que conseguimos foi, aos poucos, arranjar fornecedores de cerveja portuguesa, bacalhau, etc. que não existiam. Foi uma coisa que fizemos para habituar a nossa equipa e a marca ao resto da China. Depois há outros projectos que fiz, não de restauração, e que passaram por estabelecer cooperações com empresas chinesas para possibilitar a sua ida para países de língua portuguesa. De que tipo de cooperações estamos a falar? Eles veem que Macau é uma boa janela e vêm para cá arranjar parceiros. Estas cooperações podem ir da simples venda de produtos, que é uma coisa bastante fácil, até projectos de levantamento de necessidades para construir um porto ou participar em concursos públicos desses países. É um leque bastante abrangente. Temos tido sorte porque a pandemia trouxe muito mais empresas chinesas que querem, através de Macau, projectar-se para os países de língua portuguesa. Isto, porque [devido à pandemia] existem hoje muitos constrangimentos à livre movimentação de pessoas e é quase impossível ir para os países de língua portuguesa. Por isso, o que acontece é que eles preferem ter alguém de Macau que contacte o país em questão na língua nativa e com conhecimento de causa, do que estarem, por exemplo, a ligar para o Brasil a perguntar por determinado projecto. É por isso que eles agora vêm muito a Macau procurar parceiros. Existe também outra agravante para a zona vizinha que é o facto de muitas empresas estatais de grande dimensão, que antes iam para Hong Kong por ser um centro financeiro, mesmo para iniciar negócios com países de língua portuguesa, terem arranjado uma alternativa que passa por Macau. Até porque, actualmente, para se ir a Hong Kong é preciso fazer quarentena. Por isso, é que nós temos tido mais pedidos de informação e parcerias. Paralelamente, a pensar no futuro, eles querem, como houve uma grande instabilidade política em Hong Kong, ter duas alternativas em vez de apenas uma. Após a pandemia as cooperações vão continuar a passar por Macau? Penso que depois da pandemia e da abertura das fronteiras entre Hong Kong e a China, muitas destas empresas e investidores que querem ir para novos mercados, vão ficar em Macau. Nós sabemos que a Plataforma de Macau está definida há quase 20 anos, mas a verdade é que continuamos a ter problemas pequenos e muita coisa parece que é feita como se fosse a primeira vez. Abrir uma conta bancária para certos fins demora um mês, enquanto que em Hong Kong demora apenas um dia. Ainda assim, tem havido uma evolução boa e são estes custos de tempo e de mão de obra que as empresas metem sempre nos seus cálculos. Se eu sei que abrir uma conta em Hong Kong demora um dia e em Macau demora um mês, escolho ir para Hong Kong. Outro problema é abrir a empresa, já que o processo é mais moroso quando há sócios do Interior da china. Há várias etapas sobre as quais, quem está habituado ao mercado internacional, pergunta sempre porque é que em Macau tudo demora tanto tempo. Nós respondemos que estamos ainda a começar e que as coisas vão melhorar. Acredito que vamos conseguir diminuir uma grande parte desse tempo, mas se calhar nunca vai ser igual a Hong Kong. Quais os principais constrangimentos que ainda existem para que um empresário que queira investir na Grande Baía? Na Grande Baía ainda existem muitos problemas. Quando abri o restaurante em Hengqin, as coisas que eram puramente tratadas no Interior da China, foram muito rápidas. Mas tudo o que implica assuntos relacionados com Macau e Zhuhai e questões transfronteiriças, demora sempre semanas. Por exemplo, transferências bancárias pré-aprovadas, podem levar 15 dias até serem concluídas. São assuntos que vão ter que ser afinados e polidos à medida que as coisas forem evoluindo. Quando chegarmos à integração total e virmos que é fácil fazer transferências de Macau para Hengqin ou Jiangmen, aí sabemos que já atingimos a maturidade. Neste momento já é mais fácil fazer uma transferência entre Macau e Hengin do que para outro local no Interior da China? É mais ou menos igual. Nem Hengquin está mais integrado com Macau nesse aspecto, nem as regiões do Interior da China estão mais integradas com Hengqin. Ainda estamos numa fase preliminar. Depois existe outro problema. Se virmos bem, porque é que os Governos locais dão mais incentivos numa primeira fase? Porque sabem que existem custos extra relacionados com o facto de estar tudo a ser feito pela primeira vez. Acho que os incentivos, não servem só para atrair as pessoas, mas também para cobrir esses custos e limar essas arestas. Os incentivos claro que cobrem esses custos e, às vezes, até são mais, mas [a burocracia] é chata. Qual a real importância da criação da zona de cooperação aprofundada em Hengqin para limar essas arestas? Creio que Hengqin é uma experiência, diria, inédita, pelo menos na China. Podemos pensar um pouco no facto de existirem na Europa regiões como Andorra, Gibraltar ou o Mónaco. Hainão, na China, também é um caso interessante, definido para ser um centro internacional para convenções e negócios, onde vai haver uma livre circulação de pessoas, divisas e produtos. A diferença é que Hainão é uma ilha e é, por isso, muito mais fácil de controlar tudo o que entra e sai. Por seu turno, Hengqin é ligada por pontes. Vimos que a circulação de veículos já é possível, pois é muito fácil e depende apenas da colocação de câmaras. Mas depois é muito difícil concretizar a livre circulação de produtos, divisas e pessoas, não sendo uma ilha. O problema disto é que se dissermos que há livre circulação de produtos de Macau para Hengqin e do resto da China para Hengqin, a Ilha da Montanha vai ser um centro de contrabando. Isto, porque em vez de vermos pessoas que levam uma garrafa de vinho nas Portas do Cerco, vamos ver camiões TIR a levar contentores de um lado para o outro. Daí que ainda não conseguem abrir, para já, a livre circulação de produtos. Se houver mesmo uma livre circulação, como é que vamos evitar [o contrabando], sem ter que fechar Hengqin para o resto do país. Em relação às pessoas é a mesma coisa. Como é que vamos deixar qualquer pessoa de Macau entrar em Hengqin sem passar por nenhuma fronteira física, se depois essa pessoa pode ir de Hengqin para o resto da China. Aí entra o problema da entrada ilegal de pessoas. No entanto, é preciso dizer que o Governo Central fez muita coisa para definir este espaço. O tempo que demora a ir de uma cidade da Grande Baía para outra foi reduzido para uma hora. Foram construídas auto-estradas e linhas ferroviárias de alta velocidade. Tudo isso está feito, são as infraestruturas mas, lá está, essa é a parte governamental. Só porque há um comboio para eu ir para o nada, não quer dizer que haja pessoas com vontade de apanhar esse comboio. Agora é preciso introduzir a parte social, ou seja fazer as pessoas irem para lá trabalhar, consumir, fazer negócios e gastar dinheiro e ter as empresas disponíveis para fazer isso tudo. Nós como residentes de Macau e os outros do lado de lá da Grande Baía, o que temos de fazer é aproveitar estas infraestruturas e directivas dos Governos e usar tudo o que nos foi diponibilizado para fazer a nossa parte. O negócio da Portugália em Hengqin está a ser uma aposta ganha? Depende dos dias. Mal haja um caso de covid-19 em Zhuhai que provoque a alteração das medidas nas fronteiras, como foi o caso em que o prazo dos testes de ácido nucleico passou a ser de 48 horas, o negócio desceu 80 por cento. Por causa da pandemia, há muita incerteza e isso dificulta o nosso planeamento, mesmo ao nível dos recursos humanos. Mas, lá está, temos de sobreviver e seguir em frente. A nossa aposta está também ligada ao facto de haver um cinema ao lado do restaurante e antes da pandemia, todos os cinemas da China estavam cheios. Agora, com a pandemia, acho que o cinema vai falir antes de tudo o resto, pois não há ninguém que lá vá. Além disso, muitas pessoas passaram a ver filmes em casa. Quando se mudam os hábitos, depois pode ser difícil voltar atrás. Para de áreas-chave, o Governo deve definir claramente o caminho e o contributo que os empresários de Macau podem dar em Hengqin para que realmente iniciarem lá os seus negócios? Para além de estarmos num contexto bastante complicado, acho que depende daquilo que consideramos ser o patamar ideal, ao nível da intervenção do Governo. Por exemplo, no sector financeiro, que é uma parte que acarreta muitos regulamentos, seria bom definir melhor o que vai ser feito em termos de legislação para os empresários saberem o que devem fazer e não entrar em conflito directo com Hong Kong, Singapura, Shenzhen e Xangai, que são centros financeiros com bastante peso. Se fizermos exactamente igual a Hong Kong faz, Macau perde. Nem vale a pena começar, porque está acabado à partida. Mas se fizermos coisas diferentes, vamos conseguir criar aqui um centro financeiro de nicho. Por outro lado, considero que o Governo não deve ser tão detalhado noutros aspectos. Se estivermos a falar de tecnologia, por exemplo, o Executivo não deve dizer exactamente o que as empresas devem fazer porque o Governo não é quem sabe mais de tecnologia nem faz negócio. Se formos a ver, caso fossem apenas os Governos a ditar o caminho, o Facebook, o Google e a Tencent não existiam, porque todos eles foram projectos de alto risco, que ninguém sabia como materializar e que acabaram por ter sucesso. Mas, claro, para que houvesse uma Tencent, houve 10.000 outras empresas que faliram. Portanto, em certos campos, o Governo deve dar o ambiente e as directivas, como, por exemplo, dizer “gostaria de ter um parque tecnológico” e fornecer o espaço para as empresas inovarem. Mas, talvez deva parar aí e ouvir o que é que os inovadores precisam. A dada altura, o Governo definiu que o caminho a seguir seria o sector do jogo. Será que os empresários ainda estão à espera que que exista um novo sector prioritário? De certa forma sim, mas a diversificação de que o Governo fala não é recente. Já se fala nisto há, pelos menos, 15 anos. De quem é a culpa? É de nós próprios. Nós é que não diversificámos, pois o Governo bem tentou. A Grande Baía pode ser, de facto, a “bóia de salvação” para os jovens de Macau cada vez mais qualificados e que estão a assistir a uma profunda mudança no paradigma do jogo? Penso que sim. Importa dizer que, mesmo com o antigo panorama do sector do jogo, não seria propriamente ideal dizer a um residente de Macau recém-licenciado para ir para trabalhar como croupier, pois aí não é possível fazer carreira. Claro que a fase em que estamos vai doer, mas vai forçar as pessoas a pensar melhor. Ganhar 15 mil patacas a dar cartas aos 20 anos é bom, mas receber o mesmo salário aos 50 anos e não ter uma carreira não. A Grande Baía vem dar exactamente o mercado de trabalho que essas pessoas precisam. Estamos a falar, não só num mercado de trabalho grande em quantidade, mas também em diversidade. As pessoas passam a ter todos os ramos à sua disposição e podem escolher se querem ser engenheiros numa fábrica, trabalhar em electrónica ou a produzir brinquedos, por exemplo. Mesmo que a competitividade seja muito grande, continuamos a ter as nossas vantagens, já que Macau tem facilidades em entrar nos mercados dos países de língua portuguesa. Desse ponto de vista estamos em vantagem em relação aos outros. Temos de saber jogar com as nossas vantagens e com o que temos. Além disso, também o conhecimento sobre a lei portuguesa é uma vantagem para ir para outros mercados. Que cidades da Grande Baía têm maior potencial de futuro? Cada cidade tem as suas vantagens e isso serve de referência para quem é de determinado ramo de negócio. Ou seja, o que quero dizer é que os empresários não podem querer ‘vender gelados a pinguins’ e ir para uma cidade fora do seu espectro de actuação. Por tabela, o meu interesse em Zhuhai está também relacionado com um projecto proposto pelo governo local de fazer um espaço cultural e de restauração baseado em Macau. É um projecto que o Governo de Zhuhai está a estudar e que considero ter muita probabilidade de seguir em frente. Por um lado, pode-se estranhar as razões para fazer isto, estando tão perto de Macau. No entanto, é uma boa solução porque, por vezes, é difícil os turistas virem a Macau e aquilo nunca vai ser exactamente igual. De certa forma, poderá servir de aperitivo para a promoção de Macau aqui mesmo à porta. Qual o papel que a comunidade macaense pode ter no desenvolvimento de Macau na Grande Baía? Diria que não só a comunidade macaense, mas também os portugueses têm um papel importante a desempenhar na construção da plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa. Dentro da plataforma, é preciso pensar que há muito por fazer além de vender latas de atum e vinho. Existe todo um leque de coisas a fazer e muito por explorar. Desde há dois anos para cá, vi muitos projectos que incluem, por exemplo, empresas chinesas que querem fazer o tratamento de lixo em Angola ou no Brasil, comprar minério, fazer barragens e pontes etc. Essas empresas chinesas dizem que, apesar de terem os projectos, não têm as pessoas necessárias. Quando sugerimos Macau, eles revelam desconhecimento. Acho que se essas empresas vierem para Macau e pegarem nas pessoas que precisam, não haverá macaenses e portugueses suficientes. Há uma carência de pontes para ligar as empresas chinesas aos países de língua portuguesa. Outras vezes eles querem pessoas para iniciar a conversação e esse deve ser o nosso papel, porque depois de um projecto arrancar e estar definido eles podem usar os seus próprios trabalhadores.
Hoje Macau Grande BaíaHuizhou | Valor de produção industrial superou um bilião de yuan em 2021 O Governo Municipal de Huizhou anunciou que a região ultrapassou a marca de um bilião de yuan no ano passado em termos de valor de produção industrial. Ao longo de 2022 serão realizados 193 projectos-chave ao nível da construção, num volume de investimentos de 606 mil milhões de yuan Depois de anunciarem um PIB anual de 500 mil milhões de yuan em 2021, as autoridades de Huizhou revelaram que, só em termos de valor de produção industrial, a região superou a marca de um bilião de yuan no ano passado, fazendo assim de Huizhou a quinta cidade de Guangdong a alcançar esse feito. A região está agora atrás Guangzhou, Shenzhen, Foshan e Dongguan. De acordo com um relatório citado pelo Governo Municipal de Huizhou, o total alcançado no ano passado, representa um aumento de 26 por cento (978,59 mil milhões de yuan) em relação a 2020. Segundo consta detalhado nas estatísticas do Departamento Industrial e Tecnológico de Huizhou, o investimento industrial na cidade foi de 98.305 mil milhões de yuan, representando um crescimento de mais de 50 por cento em relação ao ano anterior, colocando Huizhou no primeiro lugar nesta cifra, no Delta do Rio das Pérolas e no segundo lugar a nível provincial. “Estes impressionantes dados estatísticos são provas conclusivas de que Huizhou se tornou uma importante cidade de ligação dentro da área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, pode ler-se numa nota oficial do Governo local. Segundo as autoridades, Huizhou entrou numa fase em que a sua estrutura industrial é já “muito optimizada”, com pólos modernos, não só virados para a tecnologia de ponta, mas também para a petroquímica. Inclusivamente, a chamada “Zona Petroquímica da Baía de Daya” foi já reconhecida durante três anos consecutivos, como o parque petroquímico mais importante, entre os 30 maiores da China, tendo alcançado um valor de produção industrial de 185,89 mil milhões de yuan, um aumento de 38,3 por cento em termos anuais. No total, existem em Huizhou 26 empresas de escala nacional do ramo da petroquímica e 323 de escala provincial. Em termos tecnológicos, existem em Huizhou um total de 2.050 empresas dedicadas à alta tecnologia e 1.862 pequenas e médias empresas tecnológicas sediadas na cidade. Investir para crescer De acordo com o Governo local, sem nunca tirar a vista do desenvolvimento da região da Grande Baía, ao longo de 2022 serão realizados 193 projectos-chave ao nível da construção, num volume total de investimentos na ordem dos 606 mil milhões de yuan. Além disso, de frisar que mais de metade destes projectos (114) são destinados ao sector industrial. “É certo que, ao concentrar-se no desenvolvimento da sua economia real, aderir aos conceitos de desenvolvimento de projectos e clusters industriais, Huizhou acabará por se tornar num novo pólo de crescimento na margem oriental do Rio das Pérolas e numa região importante para o desenvolvimento de alta qualidade da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e uma cidade chinesa de primeira categoria e mais feliz”, sublinha o Governo Municipal de Huizhou.
Hoje Macau Grande BaíaInvestimento | Planos para obras de 42 mil milhões de yuan Melhorias nas zonas costeiras, construção de escolas e ainda conclusão de centros de tecnologias com algumas das principais empresas chinesa. Dongguan aposta em força no ano de 2022 A cidade de Dongguan apresentou o Plano da Grandes Obras de 2022, que prevê um investimento de 42 mil milhões de yuan a ser realizado ao longo de vários anos. A principal aposta, de acordo com as informações oficiais, é a Nova Zona da Baía de Binhaiwan, que se espera que se torne num pólo mundial industrial e de tecnologia de ponta. Na área prevê que ser o futuro do desenvolvimento de Dongguan ficam 19 dos projectos apresentados, que implicam um investimento de 3,84 mil milhões de yuan. Entre estes, há a expectativa que em 11 projectos as obras fiquem concluídas no decorrer do ano e que possam começar a servir a população tão depressa quanto possível. Entre os onze projectos constam três que visam as zonas costeiras, como o plano de melhoria da zona abrangente de Sachong, junto ao rio Huangchong, a renovação do passeio costeiro entre Longchong e Miaochong e ainda a melhoria da paisagem de Miaochong e das zonas circundantes. Ao nível da intervenção nas vias de Dongguan vai haver obras na Avenida Dongwan, na Secção da Baía de Jiaochai, na Ponte da Baía de Binhai, a extensão para Sul da Avenida Humen, melhorias na Rotunda Interior (Secção Oeste), na Avenida Binhaiwan, entre outras. Educação e Tecnologia Às obras de renovação junta-se uma grande aposta na educação. Ao longo deste ano, as autoridades apostam no início das obras de construção da Escola de Línguas Estrangeiras, o que implica um orçamento total de 930 milhões yuan. As obras para o que se espera que seja uma escola com qualidade internacional começam em Junho deste ano, mas a entrada em funcionamento só deve acontecer no espaço de dois anos, em Setembro de 2024. Ainda no sector da educação, vai começar a construção da primeira fase do campus da Universidade da Grande Baía, que vai ser erigido na Ilha de Weiyuan. A construção da instituição foi divulgada como uma entidade ao nível da Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, e tem um custo de 1,67 mil milhões de yuan e uma área total de 169 mil metros quadrados. A obra inclui edifícios de ensino, laboratórios, edifícios administrativos, dormitórios, e edifícios de investigação. Ao nível da Tecnologia há igualmente várias obras a serem concluídas no que se espera que seja um investimento de 2,38 mil milhões de yuan. As obras envolvem o Centro de Fabrico Inteligente da OPPO, Sede do Terminal Vivo Smart, a primeira fase do Centro de Tecnologia Little Genius Smart, o Projecto da Indústria Fotoeléctrica da Ovation, e ainda outros cinco projectos em construção no Parque Científico de Zhengzhong.
Hoje Macau Grande BaíaCardiologia | Hospital em Zhongshan estuda efeitos de tratamento com açafrão Médicos do Hospital de Zhongshan vão começar estudos para estudar como a crocina, um extracto de açafrão, pode ajudar no tratamento da miocardite, uma doença cardíaca auto-imune. O objectivo é exportar para a Grande Baía no futuro Especialistas médicos do Hospital Zhongshan anunciaram que vão colaborar com uma empresa farmacêutica para iniciar ensaios clínicos sobre os efeitos da crocina, um extracto de açafrão, na miocardite, uma doença cardíaca auto-imune. A informação foi avançada pelo Shine, portal noticioso do Interior. Segundo a informação do portal, uma equipa de cardio-oncologia do hospital descobriu que a crocina, que é utilizada para melhorar o fornecimento de oxigénio aos doentes com miocardite, também funciona na miocardite auto-imune causada pela terapia de tratamento do cancro. “A miocardite auto-imune é uma doença de risco”, afirmou ao portal Shine o médio Ge Junbo, um dos principais cardiologistas de Zhongshan. A taxa de mortalidade dos doentes em estado grave é de 50 por cento. “Muitos doentes com cancro enfrentam o dilema do impacto da terapia de tratamento oncológico no seu coração”, explicou Ge. “Muitos doentes com cancro não são mortos pelo cancro, mas sim pelo seu coração”, justificou. Nos últimos anos, Zhongshan tem virado as atenções para os problemas cardíacos e foi aberta uma nova unidade de cardiologia para pacientes que sofrem de problemas cardíacos como resultado do tratamento oncológico. O objectivo de uma eventual investigação bem-sucedida poderá também distribuir um medicamento e tratamento e contribuir para a Grande Baía. Equilíbrio nos tratamentos Nesta unidade, os médicos tentam procurar um equilíbrio entre o tratamento do cancro, reduzindo e controlando ao mesmo tempo os efeitos cardiovasculares adversos. O Hospital Zhongshan abriu a primeira clínica cardio-oncológica multidisciplinar na China Oriental em 2018 e lançou a primeira clínica externa especial de cardio-oncologia no ano passado para servir pacientes com cancro e doenças cardiovasculares. Para aumentar a sensibilização do público para a cardio-oncologia e a protecção do coração durante o tratamento do cancro, a equipa de Ge publicou livros, mini-movies científicos e palestras para educar os pacientes e as suas famílias através de uma linguagem simples e das próprias histórias dos pacientes. O Departamento de Cardiologia do Hospital de Zhongshan faz investigação em parceria com Universidade de Fudan e é um dos mais activos a nível da pesquisa académica. O primeiro departamento deste hospital foi estabelecido em 1948 pelo legendário professor e cardiologista Tao Shouqi.
Andreia Sofia Silva Grande BaíaMiguel Rodrigues, presidente da ACDPGB: “Há um enorme pragmatismo” na Grande Baía Criada em 2019, a Associação Associação de Cooperação e Desenvolvimento Portugal -Grande Baía aposta na aproximação cultural como ponto de partida para a realização de negócios nas nove cidades que compõem este projecto político e económico. O seu presidente, Miguel Rodrigues, destaca o “pragmatismo” que há na divisão de áreas e objectivos económicos, mas alerta para a necessidade de mais informação sobre a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau A pandemia trocou as voltas a Miguel Rodrigues, presidente da Associação de Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía, e aos seus membros. Fundada em 2019, esta entidade pretendia desenvolver iniciativas culturais que pudessem dar a conhecer a China do ponto de vista sócio-económico e político aos empresários portugueses com interesse em investir nas nove cidades que fazem parte da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Apesar da suspensão de alguns projectos, o balanço feito por este responsável é positivo. “Do ponto de vista dos contactos entre nós e algumas entidades, em Macau e na China, foi muito profícuo neste período”, contou. A associação estreitou laços com outras associações e câmaras de comércio e não pretende parar por aqui. “No futuro pretendemos assumirmo-nos como um elemento facilitador de investimento e a possibilidade de podermos apoiar as empresas que se querem internacionalizar para a Grande Baía, e vice-versa. Desde o início da associação que temos como grande objectivo o estreitar de relações não apenas empresariais, mas culturais, e queríamos através da realização de iniciativas mais culturais, ou numa lógica de think-tank, poder estreitar relações que levassem ao intercâmbio empresarial.” Uma das iniciativas previstas passa pela organização, na cidade do Porto, em Portugal, de um ciclo de cinema macaense. “Temos esta lógica de que a cultura nos aproxima e permite que nos conheçamos melhor uns aos outros”, adiantou Miguel Rodrigues. Depois de uma aposta na cultura, a associação quer seguir “para um segundo nível de acção”, com a realização de acções empresariais, tal como a organização de comitivas em feiras de negócios e comércio. “Desde o início que sempre tivemos uma postura de não concorrer com ninguém, mas sim de acrescentar algo e colaborar com este movimento associativo, que é muito rico nas relações entre Portugal e a China”, frisou. Um projecto “pragmático” Para Miguel Rodrigues, há ainda muito a explorar nas nove cidades que compõem o projecto da Grande Baía. Alertando para uma “necessidade de uma maior informação em relação ao projecto”, este responsável pretende, com a associação que dirige, “desenvolver algum tipo de material informativo que possa ser disponibilizado online para auxiliar contactos” do ponto de vista empresarial. Este denota que na Grande Baía existe um “enorme pragmatismo” na forma como as autoridades chinesas elaboraram um projecto que representa cerca de 12 por cento do Produto Interno Bruto chinês. “Estando a Grande Baía dividida por sectores económicos, pois cada região tem o seu objectivo económico e político, existem enormes oportunidades. Os empresários devem olhar para a zona da Grande Baía segundo a sua área de interesse e esse pragmatismo deve ser aproveitado para que o empresário não vá com um projecto que não se enquadre no objectivo dessa região”, acrescentou. Miguel Rodrigues dá o exemplo da cidade de Shenzhen, que é um hub tecnológico por excelência há vários anos, embora Macau também se posicione “como uma zona de intercâmbio com os países de língua portuguesa”. “Olhando para o tecido empresarial português tem sido feita uma aposta, e também por parte das autoridades, ao nível das novas tecnologias e energias renováveis.” Depois de um evento que serviu não apenas de lançamento da associação, mas também para assinar os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, a associação tem realizado diversas iniciativas, online e não só. A última decorreu a 23 de Fevereiro e consistiu numa conferência intitulada “Presença empresarial Portuguesa na Grande Baía: Perspectivas de Empreendedores e Investidores”, que teve o apoio da Fundação Rui Cunha. Em Macau a associação é representada por Tiago Pereira.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaGrande Baía | Pandemia atrasa abertura de segunda clínica da Globallmed Era para abrir no primeiro semestre do ano passado, mas não há ainda data para a abertura de uma segunda clínica gerida pela Globallmed em Macau. José Quinteiro, director do Centro Médico Globallmed, diz que o projecto está em suspenso devido à pandemia O facto de Macau ter praticamente as fronteiras fechadas ao exterior e a obrigatoriedade de cumprimento de longas quarentenas obrigou a Globallmed a adiar os planos de abrir uma segunda clínica na avenida Coronel Mesquita, confirmou ao HM o empresário José Quinteiro, director do Centro Médico Globallmed. “Esse projecto foi congelado devido à situação que se vive em Macau e a gestão que está a ser feita da pandemia, que nos limita imenso o desenvolvimento dos negócios. Não vamos estar a alocar um conjunto de recursos humanos que poderia não vingar.” Foi em 2018 que a Globallmed, marca do grupo IGHS – Global Healthcare Services, chegou a Macau, passando a gerir, no ano seguinte, uma clínica na Taipa, na avenida de Guimarães, que já funcionava há dez anos. Com as oportunidades trazidas pelo projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, a Globallmed promete continuar a investir no território, num projecto que envolve “medicamentos inovadores e uma profunda ligação aos cuidados de saúde”. “Temos alguns contactos já estabelecidos para algo maior em matéria de cuidados de saúde, que teria um cariz hospitalar. Estamos focados em algo novo na área do medicamento. Queremos integrar um parceiro europeu, que será português, do Médio Oriente e da Ásia, quer seja China, Hong Kong ou Macau”, frisou José Quinteiro. Este responsável defende, no entanto, uma modernização da legislação de Macau nesta área. “Parece-me importante a harmonização legal. Em Macau temos uma excelente legislação que está desfasada no tempo. Não se evoluiu em relação às leis que existiam em Portugal nos anos 80 na área da saúde e do medicamento. O facto de não haver uma modernização face às regras de mercado acaba por desviar algum interesse. Mas apostamos que, com o dinamismo que se prevê para essa área, que esta modernização venha a acontecer.” José Quinteiro foi um dos oradores da palestra que decorreu ontem na Fundação Rui Cunha (FRC) e que abordou a presença do tecido empresarial português na Grande Baía. O empresário destacou que esta zona constitui “uma grande importância ao nível do turismo de saúde, algo que ainda não está explorado”. Aposta no imobiliário Nuno Batista, do grupo Soulfato, foi outro dos oradores do evento na FRC. Esta empresa está presente há 15 anos na China, operando actualmente em Shenzhen, por ser “a grande cidade das startups”, além de possuir escritórios em Macau e Portugal. A Soulfato trabalha essencialmente no mercado imobiliário, com recurso aos vistos gold, e na captação de empresas internacionais para o mercado chinês. O empresário considera que a Grande Baía é, neste momento, “a região da China com maior impulso económico e mais oportunidades”, além de ter trazido a oportunidade para a criação de mais plataformas que permitem a partilha de informações entre empresas portuguesas e chinesas, como é o caso das câmaras de comércio. Para Nuno Batista, a Grande Baía é também um balão de ensaio para “que as empresas portuguesas aprendam como entrar no mercado chinês de forma eficiente”, uma vez que em Portugal “há muitas empresas com capacidade económica” para investir neste campo. Tiago Pereira, representante em Macau da Associação para a Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía, que organiza este evento, destacou ao HM que “já existe alguma presença empresarial portuguesa nesta zona, mas haverá potencial para uma presença bem maior”, sobretudo em áreas como inovação tecnológica, investigação e startups. “O projecto da Grande Baía abre um leque de oportunidades e de atracção de investimento estrangeiro. É um projecto de integração que pretende atrair empresas e talento da China e do exterior, criando-se um centro de inovação que traduz a transformação económica da China para sectores de maior valor acrescentado. Deste ponto de vista haverá possibilidades a explorar pelas empresas portuguesas”, rematou. O debate contou ainda com a participação de outras personalidades, como é o caso de Carlos Álvares, CEO do Banco Nacional Ultramarino, Carolina Lousinha, da AICEP, ou o economista José Sales Marques. A moderação esteve a cargo do jornalista José Carlos Matias.
Andreia Sofia Silva PolíticaElla Lei pede coordenação dos planos de expansão do aeroporto com a Grande Baía Ella Lei questionou o Governo sobre a coordenação dos planos de expansão do Aeroporto Internacional de Macau com as restantes infra-estruturas de transporte da Grande Baía. A deputada argumenta que devem ser considerados factores como a evolução demográfica de Macau e o desenvolvimento do turismo Existem cinco aeroportos a operar na zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e Ella Lei quer saber como é que o Governo vai coordenar os planos de expansão do Aeroporto Internacional de Macau (AIM) com as restantes infra-estruturas aeroportuárias da região. Esta e outras questões constam numa interpelação escrita da deputada e divulgada ontem. “O Governo precisa determinar o posicionamento do desenvolvimento do aeroporto na zona da Grande Baía tendo em conta a população e o desenvolvimento do turismo”, defendeu. Ella Lei recorda que em 2019, antes da pandemia, o AIM recebeu 9,6 milhões de passageiros, sustentando a necessidade de as autoridades responderem “às mudanças e acompanhar o desenvolvimento dos futuros planos do aeroporto bem como [estudar] as origens dos passageiros”, sempre em coordenação com os restantes aeroportos da Grande Baía. Para a deputada, é necessário ajustar as infra-estruturas já construídas ou em construção tendo em conta esse desenvolvimento, para que haja complementaridade entre o AIM e os restantes aeroportos das nove cidades que compõem a Grande Baía. Ainda na área da aviação civil, Ella Lei questiona a situação do contrato de concessão da Air Macau, cujo prazo foi estendido devido à crise que o sector enfrenta. “O director da Autoridade da Aviação Civil, Simon Chan, disse em Março do ano passado que o Governo iria estudar a criação de um novo modelo para os serviços de aviação. Como é que vai ser garantido que os mesmos erros não se repetem na renovação a curto prazo do contrato?”, questionou. E o terminal? A deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) colocou também questões sobre a ligação do projecto de expansão do AIM com o terminal marítimo da Taipa. “Para complementar o futuro desenvolvimento do AIM tem sido levado a cabo um plano de renovação do terminal marítimo da Taipa para que seja o segundo terminal do aeroporto. Qual é o progresso dos dois projectos? Esta construção foi adaptada para responder às mudanças trazidas pela rede de transportes e fluxo de passageiros nos últimos anos?”. Ella Lei lembrou que o Governo contratou uma consultora em 2011 para elaborar um estudo sobre a expansão do AIM, o qual foi aprovado em 2016. No entanto, a deputada alerta para o facto de o aeroporto ter atingido o limite da capacidade ainda antes da pandemia, além de terem sido construídas infra-estruturas de transportes complementares na cidade neste período, tal como o Metro Ligeiro ou a nova Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesMediação na área da Grande Baía O Governo Central da China e os Governos de Hong Kong e Macau emitiram conjuntamente dois documentos, a saber, os “Critérios de Avaliação da Qualificação dos Mediadores da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau” (CAC) e o “Código de Mediadores da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (CEP), a fim de regular a mediação na Área da Grande Baía. A mediação é um método de resolução de conflitos que não passa pelos tribunais, é, de certa forma, o primeiro passo para ultrapassar dissidências. O princípio da mediação é simples e prático. Desde que as partes em conflito cheguem a um acordo na escolha de um mediador, o processo avança. O mediador, escolhido por ambas as partes, pode facilmente ganhar a confiança de todos. Ao contrário da litigação, não existe processo legal, e pode ser suspensa em qualquer altura. As suas diversas vantagens fazem com que as pessoas aceitem bem este método. Embora a mediação resolva conflitos, pode levantar algumas dificuldades na implementação das suas decisões. De uma forma geral, quando as partes chegam a acordo devem assinar um documento comprovativo. Se alguma delas não assinar o documento, a outra pode levantar um processo e pedir uma indemnização. O CAC estipula claramente que, devido aos diferentes sistemas jurídicos da China continental de Hong Kong e de Macau, cada região pode definir as qualificações dos seus mediadores, de acordo com os seus padrões e com a sua realidade e que, assim que a Conferência dos Departamentos Jurídicos da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau (Conferência Conjunta) der a sua aprovação, os nomes dos mediadores podem vir a constar da lista comum. O CAC estabelece a qualificação dos mediadores. O mediador terá de ter completado um curso de mediação reconhecido pela Conferência Conjunta, terá de ter pelo menos cinco anos de experiência na área, ter ética profissional e não pode ter má reputação nem nenhum registo de violação da ética profissional. O CAC também define os mecanismos através dos quais um mediador pode ser retirado da lista de mediação. Se houver violação da lei, o mediador pode ser banido. No entanto não está mencionado se esta exclusão é temporária ou definitiva, um aspecto que deverá posteriormente ser clarificado. Para além disso, para evitar a exclusão das listas o mediador deverá receber formação contínua. Um padrão profissional elevado garante que o mediador vai continuar a aprender e a manter-se a par dos tempos na área da mediação. Embora o CAC estabeleça um mecanismo de exclusão dos mediadores, não especifica as condições em que isso pode acontecer. É possível que venham a ser dados pormenores sobre este assunto futuramente. À semelhança do CAC, o CEP assinala que, devido aos diferentes sistemas jurídicos da China continental de Hong Kong e de Macau, é possível que cada região defina os padrões de ética profissional, de acordo com os seus padrões e com a sua realidade. O CEP também estabelece 12 responsabilidades e princípios básicos do mediador, dos quais vale a pena assinalar a questão dos honorários. O CEP estipula que o mediador é responsável por chegar a acordo quanto aos seus honorários e pela forma de pagamento. O mediador não pode cobrar mais se os resultados da mediação forem positivos. Assim o mediador só pode cobrar pelos serviços profissionais. Não pode cobrar mais nem menos em função do resultado da mediação e não se prevê uma situação em que se os resultados forem negativos o mediador não é pago. Acredita-se que esta regulação tornará os preços da mediação equivalentes, o que fará que não venham a existir casos de honorários demasiado elevados ou demasiado baixos. No seu conjunto, os dois documentos assinalam que os sistemas jurídicos da China continental, de Hong Kong e de Macau são diferentes, e que os requisitos para os mediadores também são diferentes, mas é certo que vão regular a mediação na Área da Grande Baía e vão ajudar Hong Kong e Macau a integrarem-se melhor nesta grande zona. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão/Instituto Politécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
João Santos Filipe Manchete PolíticaGrande Baía | Estudo defende criação de complexo académico-industrial Uma académica da Escola Politécnica AIB Guangdong considera que as universidades do Interior podem ganhar com a experiência internacional de Macau e Hong Kong, e defende a uniformização ao nível do reconhecimento de cursos Yan Dong, académica da Escola Politécnica AIB Guangdong, defende que Macau, Hong Kong e Guangdong têm de criar um sistema que facilite a uniformização do reconhecimento de cursos, qualificações e processo de candidatura ao ensino superior e requisitos para contratação de docentes. As ideias foram publicadas na revista científica Journal of International Education and Development, num artigo intitulado Investigação sobre a Estratégia de Internacionalização na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. De acordo com Yan Dong, Macau e Hong Kong têm como principais vantagens a nível do ensino superior a possibilidade de internacionalização, face à restante China. Estas vantagens, diz a investigadora, resultam do facto de os territórios terem sido colonizados por nações estrangeiras. Porém, como a internacionalização é vista como um aspecto em que o Interior tem mais dificuldades, os benefícios de Macau e Hong Kong são considerados importantes para contribuir para a competitividade do ensino na Grande Baía. Em relação à RAEM, Yan entende que uma maior articulação com Guangdong vai igualmente ajudar o território a resolver alguns problemas no ensino superior. Segundo a académica, a RAEM peca em termos de indústria diversificada para aproveitar os quadros formados, que, sem empregos apelativos, optam muitas vezes por emigrar para o estrangeiro, no que é visto como uma “fuga de talentos”. A província de Guangdong é apontada como a solução para os estudantes locais, que podem encontrar no outro lado da fronteira empregos para os quais foram treinados, sem necessitarem de sair do procurarem oportunidades no estrangeiro. Complexo académico-industrial No artigo publicado este trimestre, a utilização da tecnologia e da investigação na produção industrial são apontadas como o grande caminho para o ensino superior na Grande Baía. Por isso, a académica o projecto nacional tem todas as condições para se transformar num gigante complexo académico-industrial internacional. Neste plano, a académica defende que deve ser Guangdong a assumir o papel de líder e a fazer a ligação com as instituições de Macau e Hong Kong, através da criação de várias bases industriais na Grande Baía. Para todas as instituições de ensino envolvidas, Yan Dong considera que a aposta na uniformização pode levar a saltos significativos a nível da produção e ligação entre instituições de ensino superior e a indústria. Para concretizar o projecto, os governos das três regiões devem garantir flexibilidade na movimentação de pessoas e mesmo de capitais para investigação.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEngenharia | Empresa de Wu Chou Kit obtém certificação para operar em Guangzhou A Companhia de Consultadoria de Engenharia Kit & Parceiros Limitada, do deputado nomeado Wu Chou Kit, é a primeira de Macau e Hong Kong, nesta área, a obter o licenciamento para operar na região de Guangzhou Wu Chou Kit, deputado nomeado, engenheiro e administrador da Companhia de Consultadoria de Engenharia Kit & Parceiros, Limitada, recebeu na segunda-feira certificação para operar em Guangzhou, sendo esta a primeira empresa das regiões de Macau e Hong Kong a obter licenciamento nesta área. A informação é avançada pelo portal chinês YCWB, do Yangcheng Evening News, que cita declarações de Wu Chou Kit sobre a importância de exportar quadros qualificados na área de engenharia para a região do Interior da China. “Macau é um território pequeno, com pouco mais de 30 mil quilómetros quadrados e cerca de 700 mil residentes. Se as empresas apenas se desenvolverem em Macau ficam muito limitadas.” Wu Chou Kit frisou também que ficou satisfeito quando teve conhecimento da obtenção da certificação para operar no Interior da China. “Temos mais uma plataforma e espaço de desenvolvimento. Também impulsionamos os jovens para a integração na zona da Grande Baía, o que constitui uma boa oportunidade”, adiantou o responsável na cerimónia de entrega da certificação. Todos para Huangpu A certificação surge depois de as autoridades de Huangpu, na cidade de Guangzhou, província de Guangdong, terem criado um sistema de reconhecimento de empresas da área da construção e engenharia, a fim de captar mais quadros qualificados para o sector. Huang Rongqing, consultor do departamento de habitação e desenvolvimento urbano-rural do distrito de Huangpu, disse que o objectivo da medida é aumentar a ligação dos sectores da construção entre as regiões de Hong Kong, Macau e interior da China. Além disso, serão reconhecidas empresas entre as zonas de cooperação de Hengqin, de Qianhai, Shenzhen e Hong Kong e a ainda a zona de cooperação de Nansha, em Guangzhou. Serão também escolhidos projectos piloto desenvolvidos em Hong Kong e Macau que constituam um bom exemplo de cooperação nas áreas da construção e engenharia.