FAM | Bailado, ópera, música e teatro em destaque no próximo fim-de-semana

O cartaz do Festival de Artes de Macau prossegue no próximo fim-de-semana com espectáculos para todos os gostos, desde o ballet da ópera de Lyon “A Bella Adormecida”, coreografado pelo espanhol Marcos Morau, ao concerto de Frances Yip com a Orquestra Chinesa de Macau

 

A 34.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) continua este fim-de-semana a presentear os espectadores locais com uma mescla de espectáculos de bailado, música, teatro ou ópera. Destaque para o bailado “A Bela Adormecida”, com o grupo de Ballet da Ópera de Lyon, que decorre na sexta-feira e sábado às 20h e domingo às 15h no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM).

Este é, segundo o programa do FAM, um “bailado clássico transformado em conto contemporâneo” graças à coreografia do espanhol Marcos Morau. Trata-se de uma nova abordagem à “icónica partitura de Tchaikovsky transportada para o nosso tempo”, com um “poderoso elenco que irrompe através da aparente simplicidade do cenário”.

“A Bela Adormecida” é descrito como “um incontornável conto de fadas”, sendo que a leitura do grupo de Ballet da Ópera de Lyon recorre a uma “paleta de mecanismos teatrais para criar um universo meticuloso, povoado por figuras misteriosas e imagens etéreas”. Marcos Morau decidiu trazer uma história bem conhecida do público em geral para os tempos actuais, questionando “o que iria a princesa Aurora sentir se acordasse do seu longo sono no mundo actual”.

O Ballet da Ópera de Lyon regressa a Macau 19 anos depois, trazendo a produção de um coreógrafo que se tem distinguido no mundo da coreografia e do espectáculo com vários prémios, o que lhe valeu colaborações com diversas companhias.

Também este fim-de-semana, acontece outra apresentação por uma associação local, desta feita a Associação de Arte Teatral Dirks. Trata-se de “Anamnese n.º: XXXX”, que sobe ao palco do Estúdio II do CCM na sexta-feira, às 19h45, sábado, às 14h45 e 19h45, e domingo às 14h45.

Com encenação, tradução e adaptação de Ip Ka Man, esta peça é uma adaptação de “Equus”, do dramaturgo britânico Peter Shaffer. Segundo a organização do FAM, este espectáculo traz “uma pujante interpretação contemporânea desta história patológica inspirada em acontecimentos reais”.

A história centra-se no dia-a-dia de uma pequena vila onde as pessoas vivem vidas rotineiras. Contudo, uma certa noite, essa rotina aborrecida é alterada graças a um acidente que vitima um rapaz tímido e obediente que ataca seis cavalos, deixando-os cegos. A comunidade não perdoa o acto selvagem do rapaz, encaminhando-o para uma consulta de psiquiatria antes de ser julgado em tribunal. Porém, no decorrer da terapia, o médico percebe que o jovem tem uma fixação por cavalos, levando-o a questionar o que pode ser, de facto, ser considerado normal.

O lugar da música

No sábado, o FAM acontece também na sala de espectáculos do Londoner Theatre com o concerto de Frances Yip com a Orquestra Chinesa de Macau, às 20h.

Conhecida por ser a “Rainha da Canção”, Frances Yip, natural de Hong Kong, é uma conhecida voz da música pop que sobe ao palco neste concerto com uma roupagem musical mais clássica.

Desde os anos 80 que Frances Yip se tornou conhecida no panorama musical graças à interpretação do tema “The Bund”. “Poderosa, mas terna, a sua voz é um deleite para quem a ouve”, descreve a organização do FAM, sendo que ao longo de mais de 50 anos “inúmeras das suas canções em cantonense tornaram-se bastante conhecidas”, ao ponto de fazerem parte das bandas sonoras de muitas das telenovelas produzidas em Hong Kong nos anos 80 e 90.

Neste espectáculo integrado no FAM Frances Yip apresenta “o seu melhor repertório”, tendo como maestro Chew Hee Chiat e Bo Luk como convidado especial.

Outro destaque do FAM para este final de semana, é uma peça de teatro que traz uma nova visão do clássico “Mcbeth”, de William Shakeaspeare. “Macbettu”, da autoria do Teatro Sardenha, apresenta-se este sábado e domingo às 19h45 no pequeno auditório do CCM.

Com encenação e cenografia do italiano Alessandro Serra, “Macbettu” é feito com um elenco completamente masculino, apresentando “uma história de ambição e traição”. O público poderá ver “um espectáculo de imagens, sons e gestos hipnotizantes”, que leva os espectadores ao passado. Com “Macbettu”, revisitam-se “arquétipos clássicos através de rituais ancestrais, um conflito de personagens contra as forças primordiais da natureza”. “Um espaço vazio é esparsamente povoado por rochas, poeira, ferro e sangue, cruzado pela fisicalidade marcial dos actores. O cenário sombrio delineia locais e evoca presenças numa peça que consagrou o trabalho de Serra na cena internacional”, refere ainda a organização.

O FAM sai também das principais salas de espectáculo locais para se apresentar nos bairros comunitários. “Disse Ela”, da companhia Chan Meng, apresenta-se este sábado e domingo, às 20h, no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM), no bairro de São Lázaro.

Este espectáculo remete para a história do próprio local onde se apresenta, pois o albergue foi, outrora, um abrigo para os pobres, tendo sido conhecido como “Casa dos Avós” após a II Guerra Mundial, tendo acolhido mais de 100 idosas.

No pátio situado no meio dos dois edifícios antigos apresenta-se “Disse Ela”, em que uma senhora “dança graciosamente sob as árvores, como se quisesse contar algo e partilhar o que lhe vai na mente”. Esta é uma produção de dança teatral com ligação ao ambiente que rodeia o próprio espectáculo, e que aborda “o tema da individualidade feminina, funde o movimento com canções de ópera cantonense e integra elementos musicais chineses e ocidentais”.

Na Casa do Mandarim tem lugar o espectáculo de ópera chinesa Kunqu “As Cadeiras”, da Companhia de Ópera Kunqu de Xangai. As apresentações acontecem este sábado e domingo às 17h. A dramaturgia original deste espectáculo é da autoria de Eugène Ionesco, apresentado em 1952, com o texto a ser adaptado por Yu Xiating.

“As Cadeiras” trata-se de um “espectáculo minimalista que nos leva a reflectir sobre o sentido da vida, o amor, solidão e o mundo que nos rodeia”, fazendo uma fusão entre o teatro e uma das mais antigas formas de ópera chinesa, o Kunqu, com origem na dinastia Yuan e que combina gestos, poesia, canto e dança.

A história acontece numa ilha deserta onde se encontra um casal de velhos que coloca cadeiras prontas para acolher uma série de convidados invisíveis. São eles “amigos de longa data e os primeiros amores, as suas crianças e o próprio imperador”. Surge depois um último convidado que revela ao casal que tudo aquilo não passa de uma ilusão, e que “as suas vidas foram apenas um sonho absurdo”.

“As Cadeiras” tem estado em digressão mundial, tendo estreado no Japão e passado por salas de espectáculo na China, Rússia e Albânia.

21 Mai 2024

FAM | Teatro em patuá apresenta “Unga Istrêla ta vem”

A 34.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) já arrancou e, no próximo fim-de-semana, traz a estreia de mais uma peça em patuá, com o cunho dos Dóci Papiaçam di Macau. Trata-se de “Unga Istrêla ta vem”, em português, “Chega uma Estrela”. O cartaz do FAM inclui ainda a apresentação de uma ópera em cantonense

 

Um dos grandes atractivos do programa do Festival de Artes de Macau (FAM) chega no próximo fim-de-semana pela mão dos Dóci Papiaçam di Macau. A peça “Unga Istrêla ta vem”, “Chega uma Estrela”, em português, apresenta-se no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) no sábado e domingo a partir das 20h.

A peça, escrita e encenada por Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, centra-se em torno de Délia, uma professora de teatro, e Giselda, uma ex-junket que está à beira da falência por ter ficado sem emprego. As grandes temáticas do território vão-se contando à medida que a vida destas duas mulheres se cruza, sempre com laivos de ironia e humor tão próprios do teatro em patuá, crioulo tipicamente macaense e já em vias de extinção.

De frisar que o teatro em patuá passou a estar inscrito, em 2021, na Lista do Património Cultural Intangível da China.

Também no próximo fim-de-semana se apresenta, no Parisian Theatre, o espectáculo de ópera cantonense “Sob a Árvore dos Pagodes”, protagonizado pela Associação de Ópera Cantonense Zhen Hua Sing. O espectáculo de sábado começa às 19h30 e, no domingo, acontece às 14h30.

A peça centra-se em torno do mundo das divindades, quando a Sétima Fada, filha do Imperador Celeste, espreita o mundo dos comuns dos mortais a partir do céu. É então que esta fada se comove com as dificuldades de Dong Yong, filho que tenta sepultar o pai com a maior dignidade possível.

Cansada da vida divina e perfeita que leva nos céus, a Sétima Fada desce à terra e casa-se com Dong Yong debaixo da árvore de pagodes. Porém, o romance só passa a ser do conhecimento do imperador 100 dias depois, e é aí que as dificuldades dos apaixonados começam.

Esta história é a base da lenda chinesa de Dong Yong e da Sétima Fada que permanece no imaginário popular até hoje, tendo já inspirado muitos espectáculos de ópera e séries de televisão. A versão que agora se apresenta no FAM foi criada pela associação local de ópera, levando ao palco o consagrado actor Chu Chan Wa juntamente com um elenco de actores locais.

Arte em todo o lado

Por sua vez, no Teatro D. Pedro V, é a vez de subir ao palco o espectáculo “Frankenstein/Criaturas”, sábado e domingo em dois horários, nomeadamente às 15h e às 20h. Com encenação do grupo “Espaço para Agir”, em colaboração com a companhia japonesa “Momentos Teatrais” esta peça baseia-se na história de “Frankstein”, de Mary Shelley, escrita há quase 200 anos, estabelecendo agora uma conexão com a tecnologia.

A pensar nos mais pequenos inclui-se ainda no programa do FAM a peça “O Livrinho”, encenada pelo Teatro Baj, com sessões entre sexta-feira e domingo para bebés dos seis aos 18 meses e crianças dos 18 meses aos três anos. O espectáculo acontece no Estúdio II do CCM.

Destaque ainda para a inauguração, no sábado, da exposição “Foco: Integração Artística entre a China e o Ocidente nos Séculos XVIII-XIX”, patente no Museu de Arte de Macau (MAM).

Esta exposição apresenta um total de 300 peças de pinturas de exportação e obras no estilo de George Chinnery, provenientes principalmente do MAM e do Museu de Guangdong. Apresenta-se ainda uma selecção de obras oriundas do Museu de Arte de Hong Kong.

Segundo a organização do FAM, têm lugar nesta mostra “três perspectivas distintas ao nível do estilo, técnicas e materiais”, revelando-se o “diálogo visual e a integração entre a China e o Ocidente, promovidos por artistas locais e estrangeiros no Delta do Rio das Pérolas, durante os séculos XVIII e XIX”.

5 Mai 2024

FAM | Espectáculo de “Os Três Irmãos” com coreografia alterada para evitar nu integral

Victor Hugo Pontes, coreógrafo: “A alteração não desvirtua o espectáculo”

Apresentado no Festival de Artes de Macau a 18 de Maio, o espectáculo “Os Três Irmãos”, com coreografia de Victor Hugo Pontes e texto de Gonçalo M. Tavares, teve de ser adaptado a pedido do IC para evitar o nu integral em palco dos três bailarinos. O coreógrafo diz compreender e não querer fazer imposições do foro cultural às autoridades de Macau

 

“Os Três Irmãos” foi apresentado em 2020 em Portugal, em plena pandemia. Foram feitas algumas adaptações na transposição do espectáculo para Macau?

Não. O espectáculo é, essencialmente, o mesmo. Foi criado exclusivamente para estes três intérpretes, com um texto original de Gonçalo M. Tavares, e escrito concretamente para estes três bailarinos, Válter Fernandes, Paulo Mota e Dinis Duarte. Nesta apresentação em Macau são os mesmos três intérpretes, pois para mim não fazia sentido substituí-los, uma vez que a peça foi escrita para eles. A única alteração que existe tem a ver com uma das cenas. O espectáculo trata da relação entre estes três irmãos e da sua proximidade, intimidade e conflitos, à medida que vão desenrolando o passado. Uma das cenas de intimidade é quando tomam banho juntos e se lavam uns aos outros. Nesta versão de Macau não existe nudez integral. Essa parte terá de ser adaptada, quando em Portugal os três intérpretes ficam completamente nus. Isso não vai acontecer em Macau.

Essa alteração foi feita a pedido do Instituto Cultural (IC)?

Sim, a pedido do IC.

Quais foram os argumentos apresentados?

Penso que existe uma quota para nudez nos espectáculos e, no nosso caso, essa quota já tinha sido ultrapassada. Parece que tem de ser feita uma certa gestão em todos os espectáculos em que há nudez. Acredito que tenha a ver com a questão cultural, extremamente forte, em que a nudez não é ainda um lugar-comum, e que, para não criar demasiados constrangimentos entre a plateia e a programação, tenham de fazer uma certa selecção.

Como coreógrafo incomoda-o ter de fazer essas alterações?

Tento perceber o contexto cultural em que estou inserido. Há quem diga que a dança é uma linguagem universal, mas não acredito que seja, porque há códigos específicos que querem dizer coisas diferentes, dependentemente se estivermos no Oriente ou Ocidente. A dança não é, portanto, uma linguagem universal como tantas vezes é dito. Quando apresento um espectáculo numa outra cultura, gostaria que essa cultura pudesse aceitá-lo como é, mas não quero de forma nenhuma fazer imposições. Sinto que essa alteração não desvirtua o espectáculo, é pura e simplesmente simbólica sem ser estrutural. Sinto que vou ao encontro [do pedido], tentando sempre compreender o outro lado, embora nem sempre concorde, no sentido em que a minha cultura é outra e estou habituado a uma série de hábitos a que Macau não estará, e tenho de respeitar. Temos de criar uma sociedade mais una, e para isso teremos de esbater algumas barreiras, mas temos depois as questões de identidade, que têm a ver com as pessoas e a forma como se relacionam com o corpo, a nudez, a intimidade ou privacidade.

Gonçalo M. Tavares escreveu este texto com base numa encomenda. Como decorreu o processo criativo deste espectáculo?

Fomos discutindo os temas que queríamos abordar em conjunto. Foi escrito nesse sentido, tendo como ponto de partida estes três intérpretes. Chegámos à conclusão de que poderiam ser irmãos. Interessava-me explorar as relações da família nessa peça, e dada a proximidade etária, sentimos que a relação mais próxima que poderiam ter seria sempre de irmãos, ou de pais e filhos, mas aí teriam de estar no campo da representação, um acto que não me atrai. No teatro gosto deste lado da verdade, em que os actores têm a mesma idade dos personagens, sem que haja a ideia de que estou a fazer de conta que sou outra pessoa e outro corpo.

Porquê abordar relações familiares? Neste espectáculo parecem ser relacionamentos tensos.

Isso tem a ver com o universo do próprio Gonçalo M. Tavares. É uma escrita densa, sombria, e o espectáculo caminha também nesse sentido. Quando partimos da ideia de família não foi dada nenhuma indicação de que teríamos de ir por aí. Interessava-me falar da família porque era uma questão que vinha sendo abordada de forma ligeira noutros projectos. Trabalhei antes, por exemplo, com crianças que estavam institucionalizadas e que, por isso, não tinham família, e aí dei-me conta da sua importância na estruturação de um indivíduo. Depois fiz “Drama”, que se baseia numa família disfuncional. Interessava-me continuar a pesquisar sobre a ideia de quais as relações que temos uns com os outros e que laços nos unem, se são de sangue ou de proximidade.

E os três irmãos deste espectáculo estão, precisamente, em busca dos antepassados e de compreender as suas origens.

O Gonçalo [M. Tavares] coloca-os num não-lugar, à procura dos pais, que não sabem onde estão. O texto foi escrito durante a pandemia, em que muitas pessoas perdiam os familiares e não podiam despedir-se deles, muitos elementos da família ficavam sem esse elemento de luto. Juntaram-se, assim, esses dois universos, em que estes três irmãos estão nesse não-lugar e, enquanto procuram os pais, quase que escavam o seu passado e vêm à tona todos os conflitos, tensões e proximidade que têm nesta relação que é muito de amor-ódio. Isso faz com que tenham um final trágico. É um espectáculo bastante forte nesse lado familiar. Eles fazem uma série de sacrifícios perante o pai, como figura de autoridade máxima.

Como foi transpor esse universo denso para a coreografia?

O Gonçalo M. Tavares escreveu um texto dramatúrgico, semelhante a uma peça de teatro, e começamos exactamente por aí, por tentar fazer o espectáculo como se fosse teatro, tendo havido a memorização de texto por parte dos intérpretes e uma análise cena a cena, tentando perceber quais os conflitos e discussões entre os personagens. Depois tentámos ir abandonando o texto, deixando a acção por detrás desse conflito. No espectáculo há o plano do texto projectado em legendagem, e depois o texto que não é dito, mas sim interpretado pelos bailarinos. Esses dois planos existem ao mesmo tempo. Esta dança, estas qualidades físicas, os episódios de tensão, foram criados a partir das imagens geradas pelo texto e pelas próprias acções descritas no texto.

Já com o distanciamento temporal face à estreia do espectáculo, em 2020, como olha hoje para esse processo criativo?

Parece que foi numa outra vida, porque o ser humano tem capacidade de se adaptar muito rapidamente às circunstâncias mais adversas, e também a novas circunstâncias. Partimos de um universo em que não nos podíamos tocar e, em dois anos, voltámos à normalidade, em que imaginar um tempo em que usávamos máscara e não nos podíamos cumprimentar com um beijo parece fazer parte de um filme de ficção. O espectáculo foi construído num contexto muito próprio, em residência artística comigo e os três bailarinos. Portanto, não se nota que foi feito durante a pandemia, pois feitos os testes ficámos a trabalhar numa equipa muito pequena e retomámos essa proximidade. O espectáculo foi construído sem consciência de pandemia. Os laços dos próprios intérpretes ficaram muito fortes devido a essa convivência.

É a primeira vez que “Os Três Irmãos” é apresentado fora de Portugal. Que expectativas tem no seu acolhimento em Macau?

Sim, é a primeira vez. O espectáculo circulou mesmo muito em Portugal, foi bastante apresentado. Penso que pode ser bem recebido em Macau. É um espectáculo duro, que deixa o público em apneia durante 1h30, porque fica muito ligado a ele, mas depois consegue descomprimir dessa tensão no final. De certa forma, potencia o universo do escritor Gonçalo M. Tavares, com a materialização das palavras em cena, um elemento muito forte. Penso que pode interessar muito ao público em Macau.

21 Mar 2024

FAM | Capitão Fausto e “Os Três Irmãos” em destaque numa edição recheada de nomes de fora

Foi ontem apresentado o programa de mais uma edição do Festival de Artes de Macau. Um dos destaques é o concerto dos Capitão Fausto, um dos grandes nomes da nova música que se faz em Portugal, e ainda o espectáculo “Os Três Irmãos”, com texto de Gonçalo M. Tavares e coreografia de Victor Hugo Pontes

 

O espectáculo “Os Três Irmãos”, de Victor Hugo Pontes e com texto de Gonçalo M. Tavares, é um dos destaques do Festival de Artes de Macau (FAM), foi ontem anunciado. Com um orçamento superior ao da edição passada, a 34.ª edição do FAM traz este ano mais nomes de fora e aposta na reinterpretação de clássicos.

De Portugal, chega o espectáculo “Os Três Irmãos”, do coreógrafo Hugo Pontes e com texto original do escritor Gonçalo M. Tavares. Este projecto, que une dança e interpretação, é “uma viagem visceral” de três rapazes que se confrontam com a ausência dos pais, “tentando sobreviver à existência de cada um”, anunciou o Instituto Cultural (IC) na apresentação do programa do FAM, que este ano decorre entre 3 de Maio e 7 de Junho.

Também a banda portuguesa Capitão Fausto vai estar no território para o concerto sino-português “Semeando afectos musicais”, ao lado do “cativante David Huang, uma voz popular” de Taiwan, referiu o IC.

O FAM conta este ano com um orçamento de 24,9 milhões de patacas, mais dois milhões do que na edição passada, uma subida justificada pela presidente do IC com o fim da pandemia.

“Vivemos dificuldades que têm a ver com as medidas anti-pandémicas e não conseguimos convidar muitos grupos artísticos, mas este ano contamos com a participação de mais artistas do exterior”, frisou durante a apresentação a presidente do IC, Leong Wai Man, realçando a vinda de mais de dez grupos de fora.

Muitas inovações

Dedicada ao tema “Encontros Feéricos”, esta edição apresenta 19 programas, entre teatro, ópera chinesa, dança, música e artes virtuais, “reinterpretando clássicos de formas inovadoras”, referiu ainda Leong Wai Man.

O evento arranca a 3 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau com “O Livro da Selva reimaginado”, produção do bailarino e coreógrafo britânico Akram Khan e uma adaptação do clássico “O Livro da Selva”, da autoria do Nobel da Literatura em 1907 Rudyard Kipling.

No regresso a Macau, a companhia australiana Circa traz “Laguinho dos Patos”, uma produção de teatro circense inspirada no bailado “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky, e no conto “O Patinho Feio”, de Hans Christian Andersen.

Já o vencedor do Prémio Nacional de Dança de Espanha, Marcos Morau, em colaboração com o Ballet da Ópera de Lyon, França, apresenta uma reinterpretação de “A Bela Adormecida”, numa “releitura da icónica partitura de Tchaikovsky” transportada para os tempos de hoje, notou o IC.

Outra obra a ser homenageada na 34.ª edição do evento, é “Macbeth”, de Shakespeare, com a peça de teatro físico do Teatro Sardenha “Macbettu” a transpor o clássico “para a antiga cultura e língua sardenha”.

Em “A Fúria do que penso”, “seis actrizes excepcionais e uma sedutora bailarina exploram o mundo e as palavras” da escritora Nelly Arcan (1973-2009), num trabalho da encenadora e actriz canadiana Marie Brassard, lê-se ainda no programa do FAM. A organização convidou também o Teatro Baj, da Polónia, que traz a Macau a produção de teatro para bebés “O Livrinho”.

No que diz respeito a grupos locais, “Anamnese n.º: XXXX”, peça da Associação de Arte Teatral Dirks recriada a partir de “Equus”, obra do dramaturgo britânico Peter Shaffer, quer pôr o público a reflectir, através da integração de tecnologia de vídeo em tempo real.

Os Dóci Papiaçám di Macau, presença habitual no festival, sobem ao palco com a peça em patuá, o crioulo de Macau, “Unga Istrêla ta vem” (Chega uma estrela), que vai dar a conhecer ao público o encontro entre Délia, uma professora substituta de teatro, e Giselda, ex-promotora de jogo VIP à beira da miséria.

O FAM volta este ano com o Festival Extra, extensão da iniciativa principal, com um total de 23 programas, entre sessões com artistas, visitas aos bastidores, palestras, oficinas, exposições e projecções de espectáculos internacionais.

Mais de 20 actividades no programa do “Festival Extra”

Além do programa principal da edição deste ano do Festival de Artes de Macau, o público poderá ainda desfrutar de um extenso programa extra que inclui um total de 25 sessões relacionadas com 23 actividades agendadas. Incluem-se sessões como “Conheça o Artista”, sendo proporcionadas visitas aos bastidores dos espectáculos, palestras, workshops e projecções de espectáculos internacionais. A ideia é, segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), “convidar o público a apreciar a arte e a alargar os horizontes da sua imaginação artística”.

Inclui-se neste rol de actividades a possibilidade de conhecer de perto Víctor Hugo Pontes e o processo criativo enquanto coreógrafo para o espectáculo “Os Três Irmãos”. Víctor Hugo Pontes estará disponível para uma conversa com os participantes na qual “partilhará a sua experiência de mudança do seu papel como artista visual para o de coreógrafo e a forma como ele e os bailarinos conseguiram encenar a produção após superar uma série de dificuldades”.

Além disso, na categoria de “Projecções seleccionadas de espectáculos internacionais”, o IC apostou na apresentação de “A Vida de Pi”, do Teatro Nacional ao Vivo do Reino Unido, “Escrito na Água”, de Pontus Lidberg; “O Segredo de Brokeback Mountain”, do Teatro Real (Espanha); e “Quanto Mais Hip Hop Melhor”, uma peça de dança coreografada e dirigida por Kate Prince. Desta forma, permite-se que o público “desfrute de gravações de produções internacionais de topo”.

Uma espécie de diálogo

No que diz respeito aos workshops, o Festival Extra do FAM apresenta “Experiência Circense”, que inclui um “Workshop Avançado” e ainda um “Workshop para Famílias”. O primeiro será conduzido pelo director de digressões da companhia Circa, “que partilhará com o público a forma de organizar um espectáculo emocionante e as técnicas necessárias para alguém se tornar um artista de circo”. Por sua vez, no “Workshop para Famílias”, os participantes aprenderão técnicas circenses através de certas partes do espectáculo, além de movimentarem os seus corpos ao som da bela música de Jethro Woodward e Tchaikovsky.

Destaque ainda para “Livros Desdobráveis – Workshop para Famílias”, onde um instrutor profissional irá explicar os componentes básicos e as técnicas de produção dos livros desdobráveis, além de orientar as famílias na criação dos seus próprios livros.

No “Workshop de Canto: Vozes da Vida – Baladas Antigas”, os participantes vão experimentar a transmissão oral deste género artístico milenar, bem como “a voz da vida do povo Paiwan”. Já no “Workshop de Dança pelo Ballet da Ópera de Lyon” irá interpretar-se “a estreita ligação entre o corpo humano e o espaço, as formas e os volumes através da singular linguagem da dança ‘Kova'”, uma criação de Marcos Morau.

O Festival Extra do FAM inclui ainda um extenso programa de palestras e sessões de tertúlias realizadas antes dos espectáculos e sessões em que o público terá a oportunidade de conviver com os artistas. Serão ainda prestados serviços de acessibilidade às artes no espectáculo “Frankenstein/Criaturas”, permitindo aos indivíduos com deficiências visuais ou auditivas desfrutar de experiências artísticas sem barreiras.

De frisar que os bilhetes para a secção “Projecções Seleccionadas de Espectáculos Internacionais” estão à venda a partir do dia 23 de Março. Já a inscrição nas actividades extra pode ser feita na plataforma da “Conta Única de Macau” a partir do dia 25 deste mês. As vagas são limitadas e é necessário pagamento para a inscrição em algumas actividades.

14 Mar 2024

FAM | IC aceita propostas para espectáculos

O Instituto Cultural (IC) aceita, até ao dia 28 de Agosto, propostas para espectáculos e comissões locais para a 34ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM).

Assim, esperam-se ideias para espectáculos, actividades e projectos da parte de associações artísticas e culturais sem fins criativos que estejam devidamente registadas na Direcção dos Serviços de Identificação. A ideia é “incentivar a inovação na criação artística”, bem como “explorar a criatividade que combina a história local com a cultura contemporânea”, além de se pretender “ampliar o espaço de desenvolvimento dos profissionais das artes”.

Destaque para a categoria “Programas Individuais”, aberta a “novos trabalhos que não sejam recriações nem nunca tenham sido apresentados publicamente em Macau”. O FAM está aberto a todo o género de espectáculos, como teatro, ópera cantonense, dança, espectáculos infantis, artes performativas multimédia, entre outros.

Segundo o IC, a prioridade será dada a trabalhos que integram tecnologias electrónicas ou digitais e aos que são apresentados em locais de Macau incluídos na lista do Património Mundial. Todas as propostas seleccionadas serão subsidiadas.

De salientar que a categoria “Mostra de Espectáculos ao Ar Livre” irá acolher propostas de espectáculos familiares, sem restrições a nível do seu formato de actuação, sendo dada prioridade a espectáculos que interajam de forma dinâmica com o público ou que reflictam as características étnicas.

31 Jul 2023

FAM | Teatro, bailado, workshops e espectáculos ao ar-livre este fim-de-semana

O Festival de Artes de Macau continua a marcar a agenda cultural da cidade. As propostas para este fim-de-semana incluem alucinações teatrais, diálogos em bailado, espectáculos ao ar-livre no Mercado do Iao Hon e workshops de iniciação à música e ópera cantonense

 

No penúltimo fim-de-semana da 33.ª edição do Festival de Artes de Macau, o cartaz de espectáculos e eventos apresenta uma série eclética de propostas.

“Xiao Ke conta a sua história de dança” é um dos destaques dos próximos dias. O bailado autobiográfico e experimental tem como epicentro Xiao Ke, uma bailarina e coreógrafa de 44 anos, actualmente radicada em Xangai. A peça que sobe ao palco do Teatro Caixa Preta do Edifício do Antigo Tribunal amanhã e no domingo, às 20h, resulta da colaboração da artista chinesa com o coreógrafo francês Jérôme Bel.

Concebido durante os momentos de clausura que marcaram a pandemia da covid-19, o espectáculo propõe um diálogo intercultural.

“Sem possibilidade de viajar internacionalmente e experimentando novas práticas de produção e divulgação, a abordagem de Bel combina a preocupação com o meio ambiente com a questão da criação e transmissão. Apesar da ausência de Bel, na narrativa autobiográfica de Xiao Ke, os movimentos corporais e a música no palco sugerem um diálogo transcultural com ele, reflectindo a evolução da dança e da cultura na China nos últimos 40 anos”, aponta o Instituto Cultural (IC).

A obra que será apresentada este fim-de-semana em Macau foi comissionada pelo Centre Pompidou x West Bund Museum Project a Xiao Ke, estreada em 2020 com grande aclamação da crítica. Os bilhetes para o espectáculo ainda estão à venda e custam 220 patacas.

Fragmentos e psicadélicos

Uma das propostas mais originais do cartaz é a peça “O Vestido Fica-lhe Bem”, que será apresentada no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), no sábado e domingo às 19h45. Em chinês, a obra é denominada como “Neptuno”, devido à forte componente astrológica que está na génese da obra, através de representações simbólicas de alucinação, redenção, desordem e ansiedade num imaginário irreal e ambíguo.

A peça é composta por cerca de 60 segmentos ou fragmentos de histórias, dispersos por diferentes pontos no tempo e no espaço e entre diferentes personagens e géneros.

Com encenação da Dream Theater Association e de Cheong Kin I e dramaturgia de Chen Hung-Yang, “O Vestido Fica-lhe Bem” é inspirado em experiências pessoais, integrando entrevistas com indivíduos psicóticos. A psicose é o tema central da peça, destacando experiências sensoriais de uma encenadora de teatro que “descobre o mundo dos indivíduos psicóticos através de entrevistas com o seu parceiro e a sua mãe psicótica” e, a partir daí, “tenta criar uma produção teatral” onde as dúvidas em muito suplantam as certezas.

O espectáculo que subirá ao palco do pequeno auditório do CCM entrelaça realidade e ilusão num caleidoscópio teatral de estímulos auditivos, mentais e visuais. Os bilhetes para “O Vestido Fica-lhe Bem” custam 180 patacas.

Festa no Iao Hon

Numa perspectiva mais comunitária, o Jardim do Mercado do Iao Hon recebe hoje, sábado e domingo, a partir das 18h, aquilo que o IC designa como “Mostra de Espectáculos ao Ar Livre”.

Durante três noites consecutivas, o centro nevrálgico do Iao Hon irá vibrar com teatro de marionetas de luva, canções folclóricas, ópera de Hainão e espectáculos de grupos locais, inclusive de música portuguesa.

O IC especifica que “o teatro de marionetas de luva da cidade de Jinjiang, um item representativo inscrito na Lista Nacional de Itens Representativos do Património Cultural Intangível da China, é um género teatral raro que apresenta fantoches de luva realistas”. Enquanto que as “canções folclóricas do grupo étnico Li e ópera de Hainão constituem igualmente itens representativos” que vão dar a conhecer os costumes populares próprios da Província de Hainão.

Mas estas não são as únicas propostas para o Jardim do Mercado do Iao Hon, com o palco a ser partilhado por várias companhias artísticas locais, com música tradicional e pop portuguesa, “pequenos actores musicais cantarão sobre os seus sonhos e jovens actores de ópera cantonense interpretarão trechos clássicos”.

Os grupos participantes na festa são a Associação Juvenil de Cultura e Desenvolvimento Artístico da Ópera Cantonense, a Casa de Portugal em Macau, o Centro de Protecção e Transmissão da Arte das Marionetas de Jinjiang, Departamento de Turismo, Cultura, Rádio, Televisão e Desporto da Província de Hainan, o Espaço para Agir e o Grupo de Teatro Infantil Miúdos Ratões. Estes espectáculos têm entrada livre.

Loja de trabalho

No domingo, o cartaz do Festival de Artes de Macau oferece um vasto leque de workshops, todos em cantonense. O Centro de Actividades do Iao Hon acolhe no domingo, entre as 10h30 e 12h30, o Workshop Musical Familiar, uma actividade que convida pais e filhos “a embarcarem numa extraordinária viagem de dança e canto, através da experiência colectiva do teatro, da música e da dança, bem como da expressão de emoções através de jogos lúdicos, role-playing e canto”. O workshop será conduzido por Mabina Choi, instrutora de teatro e Ho Pak Wang, instrutor de música e as inscrições já fecharam, com a única hipótese de participação a depender de desistências.

Também na manhã de domingo, entre as 11h e as 13h, a sala de conferências do CCM irá receber o “Workshop de Criação de Chapéus de Ópera de Papel para Famílias”. “Delicadamente confeccionados, os chapéus de ópera apresentam uma grande variedade de estilos e indicam a identidade e o estatuto da personagem que os usa. Durante este workshop de duas horas, os participantes poderão criar modelos de chapéus em papel e, simultaneamente, adquirir alguns conhecimentos sobre a ópera tradicional”, indica a IC.

Finalmente, no domingo, entre 15h e 17h, a sala de ensaios polivalente do CCM acolhe o Workshop de Movimentos de Ópera Cantonense: Movimentos de Guerreiro.

19 Mai 2023

FAM | Teatro grego e outras histórias sobem ao palco do CCM

“Electra”, peça originalmente escrita pelo grego Sófocles e que terá sido representada, pela primeira vez, nos anos 420 ou 410 a.c., sobe este fim-de-semana ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau pela mão do Centro de Artes Dramáticas de Xangai. O cartaz do Festival de Artes de Macau traz ainda Stella e Artistas x TOTAL BRUTAL e um espectáculo de marionetas em papel

 

Tida como uma das grandes peças do teatro grego clássico, com mensagens que continuam a fazer sentido no mundo contemporâneo, a peça “Electra”, de Sófocles, terá sido representada, pela primeira, na Grécia Antiga nos anos de 420 ou 410 a.c. Sófocles foi, aliás, um dos grandes dramaturgos desta importante civilização que tanto marcou os períodos que se seguiram na Europa.

Inserida no cartaz do Festival de Artes de Macau (FAM), “Electra” sobe este fim-de-semana, sábado e domingo, às 20h, ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, com encenação original de Michail Marmarinos e composição de Dimitris Kamarotos. Fan Yilin é a actriz principal da peça encenada depois por Huang Fangling.

“Electra”, de Sófocles, é uma tragédia sobre vingança e justiça. O texto inclui como personagens, além da própria Electra, Chrysothemis, Egisto, Orestes, Agamemnon e Clytemnestra. Na mitologia grega, “Electra” era filha de Agamemnon e Clytemnestra, irmã de Orestes, Crisótemis e Ifigénia. Nela se revela uma história de impulsividade e morte entre uma só família, com Electra a estar no centro da trama, ao induzir o irmão Orestes a matar a mãe para vingar a morte do pai.

Desde 2018 que esta peça tem sido premiada, contando com a importante presença do coro que dá uma roupagem importante à tragédia em palco. O compositor grego Dimitris Kamarotos convidou especialistas para reproduzir os antigos aulos duplos gregos, um instrumento musical com mais de dois mil anos, para cruzá-lo com o Sheng, um antigo instrumento chinês de sopro de palheta livre.

Luo Tong é a responsável pela tradução do texto para chinês, sendo investigadora na área da literatura e teatro da Grécia Antiga, pertencendo também a uma família que há muito está ligada a este universo profissionalmente,

Stella e companhia

O cartaz do FAM traz ainda, hoje e amanhã, às 19h45 no pequeno auditório do CCM o espectáculo “Clube Solidão” dos artistas locais Stella e Artistas x TOTAL BRUTAL. Stella e Artistas é o nome de uma companhia de dança local que, desta vez, se une ao conceituado coreógrafo Nir de Volff para criar um espectáculo com bailarinos de Macau e Berlim que dançam em torno das temáticas da busca do amor e da solidão como uma das grandes doenças e questões do mundo contemporâneo.

Nascido e criado em Israel, o coreógrafo Nir de Volff fundou a companhia de dança TOTAL BRUTAL em 2007, residindo actualmente em Berlim. Actuou como bailarino convidado na digressão de Pina Bausch em Israel e co-produziu obras com vários artistas, incluindo Falk Richter, um dramaturgo proeminente e ex-director residente do Schaubühne am Lehniner Platz em Berlim.

Destaque ainda para um espectáculo do Teatro de Marionetas em Papel – Paperbelle virado para os mais pequenos e as famílias apresentado no sábado e domingo, às 10h e 15h, no teatro “Caixa Preta” no edifício do antigo tribunal. O espectáculo, criado no Reino Unido e que já teve mais de cem actuações no Interior da China, é protagonizado pelo artista Robert Stanley Pattison, contando com música de Li Lixiang e coordenação técnica de Jin Zaixiang.

Revela-se aqui a história de uma enigmática rapariga de papel que convida todos os pequenos hóspedes da cidade para a sua sala de estar para descobrirem num cenário minimalista uma forma de arte que não é tão simples como parece.

11 Mai 2023

FAM | Bailado português e teatro para ver esta semana

O cartaz desta semana do Festival de Artes de Macau apresenta um espectáculo da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporânea. Esta sexta-feira é apresentado, no Sands Theatre, “Na Substância do Tempo”, em homenagem à poetisa Sophia de Mello Breyner. O cartaz compõe-se ainda com a peça de teatro “Eu sou uma lua”, da companhia Teatro da Torre do Tambor do Oeste

 

Os amantes de bailado ou simplesmente apaixonados pelos poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen podem, esta semana, assistir ao espectáculo da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo que integra o cartaz do Festival de Artes de Macau (FAM). “Na Substância do Tempo” sobe ao palco do Sands Theatre esta sexta-feira, às 20h, apresentando-se um “programa triplo que entrelaça as imagens em movimento” saídas dos poemas de Sophia que faz uma ligação com “as leis da gravitação interna dos passos de dança”.

Intituladas “Em redor da suspensão”, “Outono para Graça” e “Requiem”, as três peças “criam o momento em que o discurso coreográfico se assume como uma metáfora”. Assim, os bailarinos e coreógrafos “ecoam a poesia de Sophia e mergulham no mundo visível da dança”.

Este espectáculo tem como coreógrafos Vasco Wellenkamp e Miguel Ramalho, contando com um total de 11 bailarinos. A Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo foi fundada por Vasco Wellenkamp, coreógrafo que já conta com diversos prémios no currículo, em 1997, tendo conquistado ao longo dos anos uma reputação internacional.

Teatro lunar

O cartaz do FAM traz ainda, esta sexta-feira e sábado, a peça de teatro “Eu sou uma lua”, do Teatro da Torre do Tambor do Oeste. O espectáculo acontece no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) às 19h45.

Conforme escreveu o Diário da Juventude de Pequim, esta é uma “história sobre a lua e a dor, cruel, mas terna”. Revelam-se histórias de seis pessoas, que têm uma ligação entre si, contadas em forma de prosa e poesia, nomeadamente a do astronauta que está numa missão à lua ou um assalariado que perdeu a actriz que admirava, ou ainda o caso de uma estudante de matemática que engorda quando chega à puberdade, ou uma estrela de rock que não tem sorte no amor. Cada vez que uma destas personagens olha para a lua, pensa nas suas preocupações e angústias. A lua funciona, aqui, como um mecanismo para a auto-reflexão e conhecimento. Trata-se de uma “peça que combina o sentimento solitário e poético, exclusivo da literatura chinesa, e ainda o humor negro auto-depreciativo americano”.

O espectáculo divide-se em duas partes: a viagem à lua de um astronauta isolado e as histórias das restantes cinco pessoas que buscam respostas ao olhar para a lua. O texto desta peça foi escrito pela dramaturga Zhu Yi, tendo o espectáculo estreado em Nova Iorque em 2011. A encenação ficou a cargo de Ding Yiteng, tido como um dos grandes encenadores chineses da sua geração. O espectáculo tem uma hora e cinquenta minutos e é interpretado em mandarim, com tradução para inglês.

Destaque ainda para os restantes espectáculos que decorrem este fim-de-semana integrantes do FAM, nomeadamente “Os milagres dos armazéns Namiya”, do grupo “Cultura Supersky”, apresentado no grande auditório do CCM este sábado e domingo às 20h. Trata-se de uma adaptação do romance, com o mesmo nome, do japonês Keigo Higashino, sobre a história de três ladrões que se escondem numa loja deserta, numa cidade remota, perdida no meio do nada. O Teatro Caixa Preta, no edifício do antigo tribunal, recebe o espectáculo “m@rc0 p0!0 endg@me 2.0”, dos grupos locais Associação de Arte Teatral Dirks x Estúdio Paprika. O evento é apresentado de sexta-feira a domingo às 20h e no sábado e domingo às 15h.

O cartaz do FAM apresenta ainda um espectáculo de teatro com marionetas “Neste Lado de Macau – Em Busca da Verónica” com o artista Bernardo Amorim e a colaboração de Elisa Vilaça, artista residente da Casa de Portugal em Macau, José Nyogeri e Nelma Silvestre. A iniciativa acontece no sábado, em versão cantonense, às 15h e 20h, e domingo, em português, no mesmo horário, no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 2. Esta é uma nova versão do espectáculo “No Outro Lado de Macau – Uma Aventura Mágica” apresentado na 31ª edição do festival. Bernardo Amorim promete “levar crianças e adultos numa fantástica jornada” pela descoberta das aventuras de Verónica.

2 Mai 2023

FAM | Bilhetes à venda a partir de domingo

Os bilhetes para a 33.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM), que se realiza entre os dias 28 de Abril e 28 de Maio, começam a estar à venda no próximo domingo. O público poderá, assim, adquirir ingressos para um programa composto por 20 espectáculos que abrangem áreas como o teatro, ópera chinesa, dança, música e artes visuais, entre outros meios de expressão artística.

A edição deste ano do festival começa com o espectáculo “A Sagração da Primavera”, uma produção da bailarina chinesa Yang Liping que procura inspiração na combinação de elementos ocidentais e orientais, para descobrir novos caminhos artísticos e liderar a sensibilidade estética.

Em “Na Substância do Tempo”, da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, por exemplo, os bailarinos “farão a vida cintilar através dos seus corpos e movimentos”, descreve o Instituto Cultural, em comunicado.

Por sua vez, o encenador de teatro chinês Liu Fangqi, conhecido pelas suas peças de grande sucesso, levará à cena a sua comovente adaptação teatral de uma das três obras-primas de Higashino Keigo: “Os Milagres dos Armazéns Namiya”.

O leque variado de programas conta ainda com “Eu Sou uma Lua”, uma peça escrita pela jovem dramaturga Zhu Yi que narra os desejos e os segredos de citadinos.

No ano em que comemora o seu 30.º aniversário, o Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau encerrará o Festival deste ano com a peça de teatro em patuá “Chachau-Lalau di Carnaval” (Oh, Que Arraial!), convidando o público a observar, a partir de múltiplas perspectivas, a vitalidade desta manifestação do património cultural intangível nacional, na nova era.

Entre as demais produções locais desta edição do festival, destacam-se a Ópera Cantonense Multimédia Completa Ligações de Hato; o concerto “Cordas Embriagadas”, da Orquestra de Macau; o teatro de dança “Clube Solidão” e uma série de peças de teatro diversificadas, nomeadamente “m@rc0 p0!0 endg@me 2.0”, “Lift Left Life Live” e “O Vestido Fica-lhe Bem”.

23 Mar 2023

31.º Festival de Artes de Macau arranca amanhã depois de pausa de um ano

Vinte programas de teatro, dança, música e artes visuais integram o programa do 31.º Festival de Artes de Macau (FAM), que arranca amanhã, depois de uma pausa de um ano, devido à pandemia da covid-19. Com o tema “Reiniciar” e até 29 de Maio, o festival também vai apresentar cerca de 100 actuações e actividades do Festival Extra, uma extensão da iniciativa principal, através do qual se procura levar a arte à comunidade, dividindo-se em 18 atividades em 24 sessões.

Para o Instituto Cultural (IC), que organiza o evento, o objectivo do FAM é “construir uma plataforma de intercâmbio artístico internacional e para os artistas locais apresentarem as suas obras, oferecendo uma variedade de programas locais e estrangeiros”.

No entanto, o actual momento pandémico obrigou a organização a “privilegiar as produções do interior da China e de Macau”, disse a presidente do IC, Mok Ian Ian, em Março, na apresentação da 31.ª edição do FAM.

A abertura “Cobra Branca” está a cargo do Estúdio de Teatro Lin Zhaohua, de Pequim, com um espectáculo que redesenha os personagens “do popular conto chinês ‘A Lenda da Cobra Branca’ de forma artística e imaginativa, combinando teatro, música, dança e arte multimédia”, indicou o IC.

O espectáculo de encerramento “Tirando Licença” é uma produção adaptada da peça homónima do dramaturgo norte-americano Nagle Jackson, apresentada pelo Teatro Nacional da China e encenada por Wang Xiaoying, e conta “a história de um experiente actor, outrora aclamado pelas interpretações do Rei Lear, que se aproxima do fim da sua vida, vagueando frequentemente entre o mundo real e o delírio, a fim de testemunhar com o público a fragilidade e a eternidade da vida”.

Prata da casa

O programa inclui o Teatro de Ópera Huangmei da província chinesa de Anhui (leste), que apresenta uma nova produção da peça clássica “O Sonho da Câmara Vermelha”, representada “pela nova geração de actores (…), transmitindo tradição e inovação”. A ópera Huangmei faz parte do Património Cultural Intangível Nacional chinês.

Do Grupo de Dança e Teatro Jin Xing de Xangai, “uma das principais companhias de dança moderna da China”, às crianças da Escola de Teatro do Conservatório de Macau e jovens alunos do curso de Representação de Ópera Cantonense, a fusão das artes que integram o festival oferece ainda ao público espetáculos como “a singular produção de teatro em patuá”, uma língua crioula de base portuguesa, pela mão do grupo de Teatro Dóci Papiaaçám di Macau.

Plataforma de desenvolvimento profissional de vários grupos artísticos locais, o FAM apresenta, entre outros, a Dança do Dragão Embriagado, pelo grupo Four Dimension Spatial na forma de um teatro de dança que alia uma actividade tradicional do festival à dança contemporânea, enquanto o teatro documentário “Vejo-te através de Memórias da Associação de Workshops de Arte Experimental Soda-City” explora o passado e o presente deste bairro intimamente ligado ao mar, passando também em revista as transformações da cidade. A maioria das actividades do FAM, que conta um orçamento de 21 milhões de patacas, são gratuitas.

29 Abr 2021

FAM | Exposição fotográfica de Baptiste Rabichon inaugurada na sexta-feira

Até 27 de Junho, a Galeria do Tap Siac irá acolher a exposição fotográfica “Um Quarto com Vista”, do artista contemporâneo francês Baptiste Rabichon. Ao todo serão expostas 41 obras, que prometem servir de ensaio aos limites do analógico e do digital, com um cunho simultaneamente “realista” e “alucinatório”

 

Integrada na programação do 31.º Festival de Artes de Macau (FAM), a exposição “Um Quarto com Vista” da autoria do fotógrafo contemporâneo francês Baptiste Rabichon abre portas ao público a partir da próxima sexta-feira na Galeria do Tap Siac. A mostra pode ser vista até vista até 27 de Junho, gratuitamente.

Partindo em busca de explorar a utilização de novas e velhas técnicas fotográficas na criação do seu trabalho, em “Um Quarto com Vista”, Baptiste Rabichon propõe-se a apresentar, de acordo com um comunicado oficial, “um contexto realista, alucinatório e incrível” que pretende abrir portas para os visitantes procurarem também eles novas possibilidades no universo da criação artística e que algumas barreiras da fotografia sejam quebradas.

Na exposição será possível contactar com 41 peças e trabalhos fotográficos contemporâneos divididos em cinco séries: “Álbuns”, “Camisas do Pai”, “Árvores dos Jardins de Lodi”, “Varandas” e “Desenhos de Manhattan”. Todas elas, resultantes do jogo experimental do artista que, de um ponto de vista realista, combina elementos convencionais e inovadores, misturando fotografia analógica, imagens digitais e a projecção de objectos do quotidiano, para criar sensações e impressões, a partir de imagens, onde transparece a ideia da reconciliação e união entre seres vivos, objectos, plantas e jogos de luz e sombras.

“A exposição irá apresentar as expressões contemporâneas da fotografia e convidar os visitantes a explorar outras possibilidades na criação artística, uma autêntica festa de gastronomia molecular aos olhos do círculo fotográfico, dos aficcionados da arte e do público em geral de Macau”, pode ler-se na nota de imprensa divulgada pelo Instituto Cultural (IC) sobre a exposição.

Em ascensão

Nascido em Paris no ano de 1987, Baptiste Rabichon tem vindo a ganhar destaque através da participação em inúmeras exposições, não só em França, mas também na China.

Estudou em várias escolas de arte francesas e formou-se no Le Fresnoy – Studio National des Arts Contemporains em 2017, tendo ganho a Residência BMW e o prémio Moly-Sabata/Salon de Montrouge em 2017 e 2018, respectivamente, e foi seleccionado como artista residente da Cité internationale des arts em 2019 e 2020.

A exposição “Um Quarto com Vista – Exposição de Fotografia de Baptiste Rabichon” pode ser visitada na Galeria Tap Siac até 27 de Junho, entre as 10h00 e as 19h00 diariamente, incluindo dias feriados. A entrada é livre, sendo que todos os visitantes devem cumprir as medidas de controlo epidémico, como a apresentação do código de saúde e a utilização de máscaras faciais.

Recorde-se que, depois de um ano de interregno devido à pandemia, O Festival de Artes de Macau está de volta entre 30 de Abril e 29 de Maio, e propõe-se, sob o tema “Reiniciar”, a levar aos mais diversos palcos e espaços da cidade, mais de 100 actuações e actividades, onde não faltam espectáculos de teatro, dança, música, artes visuais, ópera cantonense e ainda workshops e exibições de fotografia e cenografia.

14 Abr 2021

FAM 2021 | Edição traz peça de teatro Huangmei, património cultural intangível da China

A 31ª edição do Festival de Artes de Macau regressa em Maio e já são conhecidos três espectáculos que fazem parte do cartaz. O programa inclui a peça de teatro “O Sonho da Câmara Vermelha”, pelo Teatro de Ópera Huangmei de Anhui. Este género teatral está classificado como património cultural intangível da China

 

O Instituto Cultural (IC) divulgou ontem três espectáculos que farão parte do cartaz da 31ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM), prometido para o mês de Maio. Um dos espectáculos é “O Sonho da Câmara Vermelha”, protagonizado pelo Teatro de Ópera Huangmei de Anhui. Este género teatral é considerado património cultural intangível nacional.

Esta é uma nova produção desta peça que é um clássico e que foi protagonizada, nos anos 90, Ma Lan, contando com Yu Qiuyu e Chen Xiting como o núcleo da equipa criativa. A peça será agora representada pela nova geração de actores da ópera de Huangmei, “transmitindo a tradição e a inovação”, aponta o IC.

Outra das iniciativas previstas para esta edição do FAM, que contará apenas com artistas locais, é a mostra “Imagens e Espaço: Exposição de Cenografia de Ren Dongsheng”. Ren Dongsheng é tido como um cenógrafo de “primeira classe a nível nacional” e “conhecido pelo seu estilo próprio”. “O seu cariz grandioso é complementado por detalhes criativos e perspicazes, dando origem a um intercâmbio e a um diálogo entre tradições simples e tecnologias de ponta por meio das suas interpretações visuais subtis e poéticas dos temas das obras representadas”, descreve o IC. Nesta exposição, “o cenógrafo levará o público a transcender as dimensões espaciais e a experienciar o encanto da cenografia”.

Ren Dongsheng foi designer de iluminação geral ou director artístico de quase 100 produções chinesas e internacionais. Os seus trabalhos mais representativos incluem os teatros dança Balada da Paisagem, Nanjing 1937 e Huang Daopo, entre outros.

Bilhetes à venda dia 28

O cartaz provisório do FAM encerra-se com a peça “Tirando Licença”, uma produção adaptada pelo Teatro Nacional da China da peça homónima do dramaturgo contemporâneo americano Nagle Jackson. Na peça, o encenador Wang Xiaoying, que já foi considerado o mais vanguardista encenador de teatro experimental e também uma figura icónica do teatro mainstream na década de 1990 na China, irá liderar um elenco de actores veteranos para apresentar uma interpretação mais profunda da fragilidade e da eternidade da vida e a omnipresença do amor.

Esta semana Mok Ian Ian, presidente do IC, anunciou o regresso do FAM em Maio, mas apenas com produções locais, tendo em conta as restrições de viagens e de circulação nas fronteiras impostas pela pandemia. O IC promete anunciar o cartaz completo do FAM numa data posterior. Os bilhetes começam a ser vendidos a partir do dia 28 de Março.

12 Mar 2021

FAM | Metade do programa da 30ª edição com produções locais

Foi ontem apresentado o programa completo da 30ª edição do Festival de Artes de Macau, que decorre este ano entre 3 de Maio e 2 de Junho e conta com um orçamento reforçado em dois milhões de patacas face ao ano passado. De um total de 22 espectáculos, metade são de Macau, com destaque para a nova produção falada em patuá, “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”

 

[dropcap]V[/dropcap]em aí mais uma edição do Festival de Artes de Macau (FAM), que este ano comemora 30 anos de existência. O programa completo foi ontem apresentado e conta com um extenso leque de produções de Macau, onde se inclui mais uma peça do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau.

Entre os dias 18 e 19 de Maio o público poderá assistir ao espectáculo “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”, uma peça encenada e escrita por Miguel de Senna Fernandes.

A história gira à volta de Emília, que viaja para Macau para trabalhar como terapeuta ocupacional no Departamento de Psiquiatria do recém-inaugurado Hospital do Cotai. Ela sempre quis trabalhar em Macau, para assim concretizar o sonho de reencontrar o seu pai biológico, com quem perdeu o contacto. Por um acaso, Emília descobre que um dos pacientes da ala psiquiátrica do hospital é o seu pai. Agora, nada detém Emília, que tudo fará para o proteger, nem mesmo os planos urdidos pela sua mulher.

Aos jornalistas, Miguel de Senna Fernandes disse que a peça é composta de “histórias muito simples”, mas sempre cheias de críticas em relação à actualidade do território, mais especificamente ao projecto do novo hospital que irá nascer no Cotai.

“É mais uma rábula que tem como pano de fundo algo que faz parte da curiosidade de toda a gente, neste caso a história do novo hospital. É a segunda vez que abordamos esta questão, mas desta vez ainda com mais premência porque toda a gente fala do hospital do Cotai e nada se vê.

Já nos falaram deste hospital vezes sem conta, mas é claro que ninguém vai explorar as razões de nada acontecer. É uma questão recorrente e vamos falar dele à boa maneira da comédia.”

Teatro em destaque

Além do teatro falado em patuá, o cartaz do 30º FAM dá grande destaque às produções levadas a cabo por companhias teatrais de Macau. Entre os dias 3 e 8 de Maio a companhia “Cai Fora” apresenta “A Viagem de Curry Bone 2019”, cuja história se baseia num guia turístico com o mesmo nome. Este compila as experiências de Curry Bone na Terra dos Anões, que também tem uma aplicação para telemóvel. O percurso pode ser feito por todos.

Com “Pronto-a-Vestir”, a Associação de Desenvolvimento Comunitário Artistry of Wind Box apresenta, no espaço Armazém do Boi, uma história sobre o passado da indústria têxtil em Macau. “Este espectáculo, em formato de teatro documentário, apresenta o quotidiano das costureiras e explora a vida e a cidade de hoje através da memória desta geração”, descreve o IC.

Por sua vez, o grupo de dança Four Dimension Spatial apresenta, a 18 de Maio, o espectáculo “Mau Tan, Kat Cheong”, no edifício do antigo tribunal. Trata-se de uma história sobre os imigrantes ilegais que chegaram a Macau nos anos 80, quando esta era considerada a “terra dos sonhos”. Estas pessoas acabaram por ficar a residir em bairros como a Areia Preta ou o Iao Hon, e foi nesta zona que o grupo visitou e entrevistou pessoas na vizinhança dos edifícios Mau Tan e Kat Cheong para compreender a migração em Macau e reflectir sobre as transformações sociais nos últimos 30 anos.

“Caleidoscópio”, da Associação de Representação Teatral Hiu Koc, apresenta-se ao público no Centro Cultural de Macau entre os dias 1 e 2 de Junho e revela-se como algo “diferente do teatro narrativo”, apresentando “momentos de vida interligados no palco através de música, luz, espaço e ritmos respiratórios dos actores”.

“Wonderland”, da Associação de Dança Ieng Chi x Concept Pulse Studio, é mais uma das onze produções locais que acontece entre os dias 4 e 5 de Junho. “WonderLand” é o resultado da incubação de Rosas Artificiais. O trabalho original foi lançado no Festival BOK, em 2017, e continuou a sua experimentação como dança-teatro e instalação no Festival Fringe Cidade de Macau, em 2018.

A 30ª edição do FAM conta ainda com quatro espectáculos destinados a um público mais novo, além de produções internacionais, onde se inclui uma peça de teatro da companhia teatral portuguesa O Eléctrico.

O orçamento do FAM é de 22 milhões de patacas, um valor superior face a 2018 em dois milhões de patacas. O IC justifica o aumento com a inflação e aumento dos custos associados às produções.

27 Mar 2019

FAM | Mísia e Pedro Moutinho actuam com Orquestra Chinesa de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fadistas Mísia e Pedro Moutinho vão actuar com a Orquestra Chinesa de Macau num concerto integrado nesta edição do Festival de Artes de Macau (FAM). O espectáculo, intitulado “Concerto de Fado”, acontece a 31 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

O programa deste concerto inclui temas como “Fado Adivinha”, “Fogo Preso”, “Lágrima”, “Tive um Coração, Perdi-o”, “Garras dos Sentidos”, “Ao Deus Dará”, “Veio a Saudade”, “Alfama”, entre outros. De acordo com o Instituto Cultural, “está apenas disponível um número limitado de bilhetes para este concerto”, já estando disponíveis para venda.

10 Mai 2018

Cartaz | Apresentado o programa do Festival de Artes de Macau

Macau está em ebulição com eventos culturais a preencher o calendário do público. Foi ontem apresentado o cartaz do 28.º Festival de Artes de Macau, que começa a 28 de Abril, e que encherá a cidade de espectáculos até 31 de Maio

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Festival de Artes de Macau (FAM) já mexe. Foi ontem apresentada a programação do evento que terá mais de 100 actividades, da música à dança contemporânea, passando por diversas variantes de teatro.

A edição deste ano tem um orçamento mais modesto: são 23 milhões de patacas. “Fizemos o planeamento mais cedo, alguns dos projectos são financiados pelo Governo e por isso pudemos reduzir o orçamento”, revelou Leung Hio Ming, presidente do Instituto Cultural (IC). O investimento no festival teve uma poupança de cerca de quatro milhões de patacas em relação ao ano passado. De acordo com Leung Hio Ming, tal redução de orçamento “não vai afectar a qualidade dos espectáculos”.

O tema transversal à programação do FAM é a “Heterotopia”, uma ideia baseada na heterogeneidade do espaço que se reflecte num caleidoscópio de textos, imagens, histórias e música.

O festival abre com o espectáculo “Play and Play: An Evening of Movement and Music”, que é uma reinterpretação de clássicos de Schubert e Ravel pela internacionalmente aclamada companhia de dança moderna norte-americana Bill T. Jones/Arnie Zane. A mesma companhia apresenta ainda a representação de “A letter to my nephew”. Escrito pelo coreógrafo Bill T. Jones, o espectáculo é baseado numa carta imaginada ao sobrinho enquanto este repousa numa cama de hospital. Esta história é contada através de misturas delirantes de música pop e canções de embalar que dão a paisagem ao bailado. Em ambos os espectáculos, a dança contemporânea é acompanhada por dois quartetos de cordas que emprestam som ao menu de movimentos aleatórios dos bailarinos.

Em cena

A encerrar o festival, o público terá um clássico do teatro russo: “A Gaivota”, de Anton Chekhov, encenado pela companhia islandesa Teatro da Cidade de Reiquejavique.

A celebrar os 110 do teatro chinês, o Teatro de Arte Popular de Shaanxi apresenta ao público de Macau uma produção realista do afamado clássico “Feudos nas Terras do Oeste”. A peça é um épico de guerra que retrata uma acérrima luta por território entre duas famílias, com um amor proibido pelo meio, um pouco ao estilo de Romeu e Julieta.

Ainda na área do teatro, destaque para a produção da local Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra, que levará a cena a peça “Canções de Migrantes”, que dará a conhecer memórias de migrantes locais. Este espectáculo aborda uma questão fulcral na história de Macau e é o primeiro de uma trilogia de espectáculos com direcção de Jenny Mok.

Fazendo uma incursão pela cultura portuguesa, o FAM deste ano conta com um bailado do emergente coreógrafo Marco da Silva Ferreira. O português traz a Macau os espectáculos “Hu(r)mano”, onde propõe uma aventura através da expressão corporal que representa a relação entre o indivíduo e a urbe. Neste espectáculo sobem ao palco quatro bailarinos, que interagem de forma a reflectir a realidade urbana moderna. Como já tinha sido tornado público, também o artista Vhils, Alexandre Farto, vai fazer parte do cartaz, com uma exposição que vai além das intervenções que, por norma, faz em espaços públicos.

Também dentro da dança moderna, o FAM propõe a ousada obra “Aneckxander: uma autobiografia trágica do corpo”, do coreógrafo Alexander Vantournhout. O espectáculo a solo equilibra-se entre a comédia e a tragédia, misturando acrobacia, linguagem corporal, num reexame da fisicalidade e do corpo humano.

Arte em família

O programa do FAM alarga-se numa multitude de espaços de imaginação artística com “palestras, masterclasses, workshops, conversas com artistas, sessões para estudantes, crítica artística e projecção de filmes”, revela Leung Hio Ming.

O espectáculo “Rusty Nails e outros heróis” é dirigido a um público de todas as idades. Fazendo uso de diferentes materiais e meios de expressão, a peça de teatro da companhia holandesa TAMTAM objektenteather apresenta uma história sem usar palavras. O espectáculo vive da interacção de objectos de dia-a-dia com a música, numa mistura que promete mergulhar o público num mundo de fantasia.

Durante a Mostra de Espectáculos ao Ar Livre, destaque para um musical infantil intitulado “Metamorfose sobre a noite estrelada, uma adaptação da Associação de Artes Pequena Montanha. A peça pensada para deslumbrar a pequenada é um teatro de marionetas onde contracenam uma lagarta e uma couve.

Com uma abordagem mais tradicionalista, a programação do FAM oferece aos público a possibilidade de assistir à ópera tradicional chinesa “A lenda da senhora general”. O espectáculo é interpretado pelo Grupo Juvenil de Ópera Cantonense dos Kaifong de Macau. Na mesma onda da ópera tradicional chinesa, chega-nos a adaptação abreviada do clássico “Senhora Anguo”, interpretada pela companhia de Teatro Nacional de Ópera de Pequim.

Variedade é uma das tónicas da edição 2017 do FAM. “Esta edição engloba 25 espectáculos e exposições de arte extraordinárias, aliados ainda a um programa de extensão que inclui, não só, produções de renome internacional, grandes obras do Interior da China e produções locais de alta qualidade”, explicou o presidente do IC na apresentação do programa.

Aos interessados que queiram beneficiar de um desconto de 30 por cento aconselha-se que estejam atentos. A partir de domingo, até dia 19 de Março, o público pode comprar bilhetes a preços reduzidos. E assim arranca mais um evento cultural de alto fôlego em Macau.


Dóci Papiáçam di Macau volta ao FAM

“Sórti na téra di tufám” é o título da peça que a companhia de teatro que usa o dialecto tradicional patuá como veículo traz aos palcos do Festival de Artes de Macau (FAM). A narrativa, entre a sorte e o azar, gira em torno de Bernardo, um afortunado azarado. A personagem ganha uma lotaria de Hong Kong, mas fica impedido de levantar o prémio por um tufão que o separa da riqueza.

Independentemente da catástrofe natural, o público pode contar com a habitual oportunidade para gargalhada oferecida pelo grupo de teatro. “Muito humor, muito sarcasmo e crítica social”, promete Miguel de Senna Fernandes, encenador e autor da peça. Num contexto de comédia, as peças do grupo de teatro apresentam o estilo de vida de Macau, numa postura de reflexão social em tom jocoso.

A peça estará patente, apenas, no FAM nos dias 19 e 20 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau. Isto “porque não há condições para outras alternativas, tudo o que seja fora do âmbito do festival implica aluguer de recinto, custos elevados”, diz o encenador.

Miguel de Senna Fernandes promete levar ao palco um espectáculo com as características a que o público está habituado. Como tal, há lugar também para a exibição dos habituais vídeos que a companhia apresenta, plenos de crítica social, “para entreter o pessoal”. Para o encenador, este ano estão reunidas as condições para as gargalhadas se espalharem pela plateia. Nesse capítulo, o encenador sabe que o público é o último juiz da qualidade da peça, do trabalho feito pela companhia, sendo que o riso é o reflexo honesto da receptividade ao espectáculo.

Para tornar a peça inteligível, uma vez que é interpretada numa língua pouco usada, o encenador revela que suavizou um bocado a língua. Neste caso, Senna Fernandes apoia-se na linguagem universal da comédia. “Usamos muita linguagem corporal e usamos as pausas para colmatar a falta de conhecimento do patuá”, releva. Mas não há razões para preocupações em falhar os punchlines, uma vez que a peça será, como é norma, legendada.

A presença do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau é uma presença habitual no FAM. “A minha sina é escrever e encenar uma peça por ano, para o festival”, brinca Miguel de Senna Fernandes. Além de ser uma afirmação da cultura local, esta é uma questão de sobrevivência de uma língua em vias de extinção, mas que não desiste. A mensagem é: “Estamos aqui, estamos vivos e estamos a fazer pessoas rir”.

7 Mar 2017

CCM | Festival de Artes de Macau ainda mexe

A entrar na recta final, o FAM ainda tem muito para dar nestas quase duas semanas que faltam para o encerramento: desde dança contemporânea japonesa a experimentações sonoras com sons do Antárctico, passando por espectáculos de rua. Mas há mais

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]27.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) está prestes a terminar mas nem por isso o seu interesse. Fomos à procura no programa do que ainda está para vir e descobrimos, já nesta sexta-feira, uma “Obssessão”.
Assim se chama a famosa obra do coreógrafo japonês Saburo Teshigawara, inspirada na curta-metragem surreal “Un Chien Andalou” de Luis Buñuel. Estreou-se em 2009 no Festival Rock Arte de Saint Brieuc (França) e desde então
tem estado em vários festivais internacionais.
Teshigawara formou o KARAS, o grupo que apresenta a peça, com Kei Miyata em 1985 com o objectivo de procurar uma “nova forma de beleza” e assim desenvolveu uma nova linguagem artística, uma nova orientação para a dança contemporânea japonesa. Na interacção dos diversos elementos artísticos – música, movimento, belas-artes e filme, os KARAS criam espaços poéticos, em composições de grande sensibilidade escultural. Desejos impossíveis que se tornam realidade apenas através do amor irracional.

De Beckett à Antárctida

Sentado sozinho no seu pequeno quarto no dia do seu septuagésimo aniversário, um homem prepara-se para fazer uma gravação sobre o seu último ano de vida, um hábito de juventude. Mas antes ouve a cassete gravada há 30 anos, provavelmente o ano mais feliz da sua vida.
Assim está dado o mote para “A Última Gravação de Krapp”, a famosa obra de teatro do absurdo de Samuel Beckett e que surge em Macau encenada pelo mundialmente célebre Robert Wilson.
Na breve hora que dura esta obra, Wilson apresenta o trabalho de Beckett em meia dúzia de traços simples que pintam uma visão do mundo muito particular e, ao mesmo tempo, universal.
E se gravássemos uns sons da Antárctida? E se os combinássemos com música electrónica? E se inventássemos uns instrumentos para que a coisa saísse mais a preceito? Foi precisamente o que Álvaro Barbosa, professor da Universidade de São José, junto com o desenhador de instrumentos musicais Victor Gama fizeram, dando origem a “Viagem à Última Fronteira”.
Embarcados numa expedição de dez dias ao Antárctico num antigo barco oceanográfico dos anos 70 vaguearam pelas ilhas da Península e coligiram gravações áudio e vídeo. Barbosa ainda capturou a beleza natural dos gelos eternos em fotografia que deu origem a um livro. Depois saiu o concerto.
O espectáculo apresenta peças musicais tocadas em conjunto por músicos locais e pelo Hong Kong New Music Ensemble, que incluem composições electrónicas originais de Gama tocadas em instrumentos musicais desenhados por ele próprio e no dispositivo de som interactivo (Espanta Espíritos de Cordas Radiais) inventado por Barbosa. Podem também ouvir-se sons gravados na Península Antárctica, colocados para “transportar” o público para a magia natural daquele território.

Ar livre ou violino?

Para quem gosta de espectáculos de rua, o FAM inclui o que o que a organização designa por uma “caleidoscópica mostra de espectáculos”. Diversidade e emoção são as propostas para a Praça do Iao Hon, com uma série de espectáculos onde se incluem malabaristas, danças tradicionais tailandesas, música ao vivo, teatro infantil e marionetas, durante as três noites do próximo fim-de-semana.
Mas a opção também pode ser teatro infantil e aí tem a possibilidade de entrar em “Círculos”, uma produção de Taiwan de Cheang Tong onde a Fundação de Educação dos Oceanos Kuroshio, do mesmo país, surge como consultora.
Tudo começa um belo dia quando na biblioteca da zona surge um livro chamado “O Animal Mais Popular”. Assim começa a aventura. A vaca acha que é ela mas afinal são o panda e o golfinho. Curiosa, a vaca decide conhecê-los encetando um périplo à procura do “animal mais popular”.
“Círculos” é uma peça criada para inspirar uma reflexão sobre a forma como a humanidade vive, usando o teatro de marionetas, a poesia infantil, livros a três dimensões, música ao vivo, uma exposição interactiva e visitas guiadas. Uma viagem educativa para pais e filhos.
Para momentos mais clássicos, não dá para perder Shostakovich segundo o violino da lendária violinista russa Viktoria Mullova. Os concertos de Shostakovich, obras que revelam a influência do pós-romantismo e do neoclassicismo, estão permeados de elementos de discordância e cromatismo do séc. XX e podem ser considerados como uma experiencia singular.
Convidada a actuar neste concerto, a Mullova valeu-lhe o título de “Rainha do Gelo” da música. Esta será a sua primeira colaboração com a Orquestra de Macau.
Está dado o mote para um evento com diversos horários e bilhetes a preços diversos. Bom fim-de-semana.

18 Mai 2016