Hoje Macau China / ÁsiaEstados Unidos levantam restrições aos contactos políticos com Taiwan O Governo dos Estados Unidos anunciou a retirada das restrições impostas durante décadas às relações entre os seus dirigentes e os de Taiwan, numa decisão que deverá aumentar clima de tensão com a China. O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, anunciou no sábado à noite que as restrições aplicadas às relações dos funcionários do Departamento de Estado com Taiwan, “destinadas a apaziguar Pequim”, vão terminar. “As nossas duas democracias compartilham valores comuns de liberdade individual, Estado de Direito e respeito pela dignidade humana. A declaração de hoje reconhece que as relações EUA-Taiwan não precisam de estar acorrentadas a restrições auto-impostas pela nossa burocracia”, explicou Pence, num comunicado. O anúncio ocorre menos de duas semanas do fim do mandato do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que colocou a China como principal rival e inimigo de Washington. A China considera Taiwan uma província rebelde que deve regressar à sua soberania, retirando-lhe o estatuto que lhe permite autonomia política, desde 1949. Embora os Estados Unidos tenham cortado relações diplomáticas oficiais com Taipei, em 1979, para agradar ao regime chinês, Washington continuou a manter intercâmbios e o Governo de Donald Trump aumentou as vendas de armas para a ilha. Em agosto de 2020, o secretário de Saúde norte-americano, Alex Azar, viajou a Taiwan, naquela que foi a visita de maior destaque de Washington desde 1979. A visita ocorreu num momento de grande hostilidade entre a China e os Estados Unidos, em várias frentes, incluindo comércio e tecnologia. Taiwan é uma das questões mais delicadas para Pequim, que declarou em várias ocasiões a sua intenção de reconquistar o território à força, se necessário.
Hoje Macau InternacionalEUA | Apoiantes de Donald Trump invadem Congresso. Mayor de Washington decreta recolher obrigatório O presidente da Câmara de Washington D.C. ordenou recolher obrigatório e o Capitólio fechou as portas, depois de manifestantes pró-Trump terem invadido o Congresso dos EUA. A polícia do Capitólio pediu ajuda a outras forças policiais, para lidar com os milhares de manifestantes pró-Trump que se juntaram em frente ao Capitólio, forçando a entrada no Congresso e obrigando à interrupção dos trabalhos de contagem de votos do Colégio Eleitoral, para validar a eleição do democrata Joe Biden. O presidente da Câmara de Washington ordenou o recolher obrigatório a partir das 18:00 (hora local), para ajudar no esforço das forças de segurança para conter os milhares de manifestantes que se concentraram no Capitólio. As forças de segurança deram máscaras anti-gás aos legisladores que estavam em trabalho e começaram a evacuar a Câmara de Representantes e o Senado, tentando também retirar das instalações o vice-Presidente, Mike Pence, que liderava a sessão de contagem de votos. Um embrulho suspeito foi também retirado da área do capitólio, segundo as autoridades. Os confrontos entre manifestantes e a polícia do Capitólio obrigou à chamada de várias forças de segurança, incluindo o serviço secreto, por causa da presença de Mike Pence. Milhares de manifestantes tinham-se reunido ontem em Washington, protestando e contestando a vitória do democrata Joe Biden. Num comício em frente à Casa Branca, Trump pediu aos manifestantes para se dirigirem para o Capitólio e fazer ouvir a sua voz, em protesto do que considera ser uma “fraude eleitoral”, tendo mesmo dito que “nunca” aceitaria a sua derrota nas eleições de 3 de Novembro. Os manifestantes obedeceram ao comando do Presidente cessante e dirigiram-se para o Capitólio, tendo mesmo forçado a oposição da polícia, que tentou impedir a sua entrada no edifício. Os trabalhos de discussão da contagem de votos eleitorais ficaram assim, para já suspensos, enquanto canais televisivos transmitem imagens de distúrbios nas escadas do Capitólio. Vários legisladores, incluindo republicanos, usam as suas contas na rede social Twitter para criticar a ação dos manifestantes, dizendo que não se vão deixar intimidar pela sua presença ou pelos seus apelos para que a contagem de votos do Colégio Eleitoral seja rejeitada.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesEstados Unidos saem da OMS [dropcap]N[/dropcap]o passado dia 6, o Governo dos EUA notificou oficialmente o Secretário Geral das Nações Unidas António Guterres, da saída do país da Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta decisão pôs fim à filiação que os Estados Unidos tiveram durante 72 anos na OMS. De acordo com os estatutos desta organização, a saída dos membros requer aviso com um ano de antecedência; assim sendo, os Estados Unidos saem oficialmente da OMS a 6 de Julho de 2021. A OMS foi criada em 1948 e tem sede em Genebra, na Suíça. É um organismo das Nações Unidas. Como se pode verificar pela sua Constituição, o objectivo da OMS é “garantir que a saúde das pessoas de todo o mundo seja a melhor possível”. A OMS responsabiliza-se pela saúde a nível global, promove a prevenção e o controlo de epidemias e de doenças endémicas e fornece os meios da incrementar a saúde pública. A OMS tem actualmente 194 estados membros. Com a saída dos Estados Unidos, no próximo ano passará a ter 193. Para a OMS é importante ter o maior número de membros possível. Os fundos da Organização são obtidos através de cotas e de doações. As contribuições obrigatórias são pagas pelos estados membros; variam consoante a população e a riqueza de cada estado. Estas contribuições representam cerca de um quarto dos fundos da OMS, o restante é obtido através de doações voluntárias dos membros. Em 2019, os Estados Unidos doaram à OMS cerca de 400 milhões de dólares, valor que representa cerca de 15 por cento do orçamento da Organização para esse ano. A saída dos EUA vai representar um sério golpe nas finanças da OMS. Após a publicaçao desta notícia, várias personalidades fizeram ouvir a sua opinião: Anders Nordstrom, antigo Director Geral da OMS, declarou: “Estamos profundamente preocupados com a possibilidade do crescimento da tensão política internacional, numa altura em que precisamos mais do que nunca de solidariedade global.” A Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, afirmou: “Perante uma ameaça global, é necessário fortalecer a cooperação e solucionar os problemas conjuntamente. Devemos evitar decisões que enfraqueçam a cooperação internacional. Insistimos para que os Estados Unidos reconsiderem esta decisão.” O ministro alemão da Saúde considera esta decisão “um lamentável passo atrás na área da saúde internacional”. Não é surpreendente que Trump tenha promovido a saída dos EUA da OMS. Já tinha havido avisos nesse sentido. A questão principal é porque é que ele o quis fazer. Os Estados Unidos começaram a perder o controlo da epidemia nos finais de Março. Trump passou a culpar a OMS pelo sucedido, acusando-a de ter ocultado informação, o que terá levado a Casa Branca a não ter tomado as decisões atempadas para prevenir a propagação da doença e, nessa altura, suspendeu o financiamento à OMS. Actualmente, o número de infectados nos Estados Unidos já ultrapassou os 3 milhões e já morreram mais de 130.000 pessoas. É também certo que os números vão continuar a aumentar; por este motivo é natural que Trump queira atribuir a responsabilidade à OMS, sobretudo tendo em vista as eleições para a Presidência, que se avizinham. A Senadora Elizabeth Warren, ex-candidata à Presidência dos EUA, disse: “A decisão do Presidente de retirar os Estados Unidos da OMS durante a epidemia global, afastou-nos dos nossos aliados, enfraqueceu a nossa liderança a nível internacional e é uma ameça à saúde do povo americano.” Lamar Alexander, Presidente do Comité do Congresso para a Saúde, afirmou que esta decisão pode vir a atrasar a descoberta da vacina e insistiu para que fosse revertida. O candidato democrata Joe Biden afiançou que, se for eleito, fará regressar os Estados Unidos à OMS no primeiro dia de exercício do seu mandato. De momento, os Estados Unidos retiraram-se da OMS e recusam-se a colaborar com instituições internacionais no combate à epidemia. Esta atitude só vai piorar o problema sanitário, não vai ajudar os Estados Unidos. Este comportamento irresponsável vai certamente afectar a pesquisa da nova vacina; e mais grave ainda, esta retirada cria um precedente. Um mau precedente que pode levar outros países a seguir-lhe o exemplo, abrindo as portas à lenta desintegração da cooperação global. Nenhum país pode combater sozinho esta epidemia; a unidade e uma resposta conjunta são as únicas formas de resolver o problema. A decisão dos Estados Unidos tem como única consequência o seu isolamento. Esta atitude revela que os Estados Unidos não compreendem esta máxima sobre a política – “A política é compromisso e cooperação”. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Pequim promete responder a sanções impostas pelos EUA Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, disse ontem que os Estados Unidos devem abandonar a “mentalidade da Guerra Fria”, relativamente às ameaças de sanções comerciais e limitações da entrada de cidadãos chineses em solo americano [dropcap]A[/dropcap] China prometeu ontem retaliar contra a decisão dos Estados Unidos de limitar a entrada de cidadãos chineses no seu território e impor sanções comerciais a Hong Kong. “Qualquer declaração ou acção que prejudique os interesses da China terá um firme contra-ataque”, advertiu Zhao Lijian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, em conferência de imprensa. “A China pede aos Estados Unidos que corrijam imediatamente os seus erros e abandonem a mentalidade da Guerra Fria”, acrescentou. Na sexta-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos vão interditar a entrada de cidadãos chineses que representam um “risco” para a segurança do país. A medida pode afectar estudantes chineses ligados a universidades vinculadas às forças armadas da China ou quadros do Partido Comunista Chinês. Trump pediu ainda ao seu Governo que acabe com medidas comerciais preferenciais concedidas a Hong Kong, depois de Pequim ter aprovado uma controversa lei de segurança nacional para o território durante a realização da Assembleia Popular Nacional (APN). O líder da Casa Branca pediu também aos seus funcionários que investiguem empresas chinesas listadas nas praças financeiras norte-americanas. Os Estados Unidos passaram nos últimos anos a definir a China como a sua “principal ameaça”, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas, que se traduziu já numa guerra comercial e tecnológica e várias disputas por influência no leste da Ásia. A marinha norte-americana reforçou ainda as patrulhas no Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos, enquanto Washington tem reforçado os laços com Taiwan, que se assume como uma entidade política soberana, contra a vontade de Pequim, que ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência. Alívios e receios Apesar da troca de palavras entre os dois países, o crescimento de 3.36 por cento do índice Hang Seng de Hong Kong, esta segunda-feira, deu algum conforto aos investidores, uma vez que pode representar que Trump não suspendeu ainda os privilégios comerciais concedidos a Hong Kong, escreveu a Reuters. O crescimento do índice HSI de 3.36 por cento foi o maior desde 25 de Março. Numa nota, a Goldman Sachs defendeu que a China “gostaria de ver precisamente o que é que os EUA vão implementar antes de responder com novos ajustamentos de políticas ou com retaliações”. No entanto, economistas ouvidos pelo South China Morning Post mostram-se receosos sobre as próximas tomadas de posição por parte de Donald Trump. “Sem dúvida que isto não é algo positivo, mas ainda não temos detalhes”, disse John Marrett, analista sénior na Economist Intelligence Unit. “Não existem mais detalhes em aspectos como os vistos ou a imigração. Teremos de esperar para ver se morde mais do que ladra”, frisou. Chen Zhiwu, director do Asia Global Institute da Universidade de Hong Kong, defendeu ao jornal que “a maior consequência é que a decisão dos EUA pode acelerar o declínio da importância para a China e para o mundo, bem como o declínio da economia chinesa”. Caso Hong Kong deixe de ser uma zona privilegiada para o comércio entre a China e o Ocidente, o confronto entre os EUA e a China passará a ser mais directo, uma vez que Hong Kong corre o risco de se tornar em mais uma cidade chinesa. “O confronto vai ser directo a 100 por cento e literalmente cara a cara, em detrimento do desenvolvimento da China e que enfraquece a sua capacidade de crescimento, estabilidade ou qualquer outra coisa.”
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasAllen Ginsberg [dropcap]O[/dropcap] espectáculo que os EUA dão de si neste imbróglio do impeachement é deplorável. É um espelho onde já nada se reflecte, um palco psicóptico, perverso, pasto de abutres que se servem de expedientes espúrios para manter uma refeição que não passa de um holograma, dado que o clown no poder, de tanto desdenhar regras e ética e se julgar acima da lei, já mostrou à saciedade que o rei vai nu. Neste dia 15 houve nova revelação: um colaborador do advogado de Trump, um videirinho chamado Parnas, contou, preto no branco, que entregou em maio, a pedido de Giuliani, um ultimato ao futuro presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no qual se declarava que nenhum representante do governo americano participaria de sua cerimônia de posse e que a ajuda militar americana seria retida se não houvesse o anúncio de uma investigação sobre Biden e seu filho, Hunter. “Trump sabia exatamente o que estava acontecendo”, assegurou à emissora MSNBC, “Ele estava ciente de todos os meus movimentos. Eu não faria nada sem o consentimento de Rudy Giuliani ou do presidente”. Mas os Republicanos varrem a realidade para debaixo do tapete; a defesa que apresentam para Trump é a de arvorar uma suposta inconstitucionalidade no acto dos Democratas. O próprio Biden – o que é espantoso – não vai à luta, não gasta munições na defesa da dignidade de um cargo que anseia ocupar. Ficamos a saber que antes de dispor-se a enfrentar tiranos e opressores pensará no custo político. O mundo ficou reduzido à conversa fiada; atendamos ao pedido de Ginsberg, no seu Hino a Kali: “ajuda-me (deusa) na impotência de todos os meus eus/ e faz-me a graça, destino manifesto/ de nunca mais renascer americano”. À conversa fiada nunca se entregou Ginsberg, que tem vindo ao meu encontro. O ano passado, comprei na rua uma biografia sua da 10/18, depois, procurando um livro de Jacques Darras topei com outro dele, dedicado a Ginsberg, adquiri-o; em novembro reparei que Kenneth White escrevera um livro sobre ele e não resisti. E o que é certo é que muito para além de gostar ou não da sua poesia é inegável que Ginsberg era um homem com rosto, sem um cabelo de espessura entre o que era e o que fazia. Ginsberg foi um autodidacta, como Pound, menos preocupado com as técnicas da versificação e os acentos prosódicos, menos bulímico no apetite por culturas transversais, e menos interessado na procura de uma forma poética nova do que na de uma sageza de vida autêntica. Daí que tenha sido um poço de escândalos, não porque sim, antes por ser consequente com a sua noção de liberdade. Em 1964, Richard Newton tirou-lhe, e ao amante Peter Orlovsky, a fotografia que ilustra a crónica. Em 1970, a foto foi publicada na capa da revista Evergreen. Foi uma pedrada no charco, como foram a publicação de Uivo, as suas participações em todas as manifestações anti-Vietname, a sua militância gay. Uma vez, numa leitura de poesia alguém do público perguntou a Ginsberg o que ele entendia por poesia. “Nudez”, foi a sua resposta. “Nudez? É vago!”, escarneceu o outro, e, como resposta, Ginsberg imediatamente tirou a roupa. Não era de conversa fiada – consequente do primeiro átomo ao último cabelo. Esteve presente, em todas festas, em todas as lutas. Foi detido várias vezes, voltou à primeira fila das trincheiras contra as manobras da CIA e do FBI, num país em que se mata por isso, escrevendo, assinando manifestos políticos, sem nunca descuidar os seus retiros búdicos e o estudo dos seus místicos. Hoje faz falta alguém com esta dimensão, olha-se para os States e é um marasmo. Em 2017, lembrando-me do Uivo (que volta a estar actualíssimo) e da sua importância na minha juventude escrevi esta homenagem: “UIVO: Se encosto a lâmina ao pulso/ e num gesto sacudido ressuscito/ na carne que gorgoleja a estupefacta/ gaguez do Titanic, o que brota do rasgão// não é mármore de Carrara/ ou a expectoração dos lírios, por isso/ peço-vos, Não evoquem Deus em vão/ se vos parecer de mau gosto// que vos pragueje: “Puta/ que vos pariu, vão mamar/ na sexta pata do cavalo!”./ À velocidade com que os dias me// tropeçam dói o lábio rebentado/ com que tento ainda amar-vos,/ e assim não pode mais a poesia/ aquietar-se na literalidade do mundo.// Também eu vi os maiores espíritos/ da minha geração destruídos pela loucura,/ esfaimados, histéricos, nus, aspirando/ à tona do asfalto o que sobrava de pólen// às veias que uma agulha vitrificara;/ vi-os, aturei-os, caricatos, e vomitei-os,/ como capitonês sem sintaxe, / desacomodados acenos, ímpios// e fraternos como ossos de cão/ sem porto; ouvi-lhes as vozes espargidas/ pelas pás encardidas das ventoinhas/ dos mais reles hotéis à margem// de rios de pez; conheci-lhes o gaio desespero/ da alma, a fibrilação dos escarros, o sémen,/ e a liberdade demencial com que,/ transidos pela agonia das ressacas,// afinal se empanturravam em delícias do mar/ e maionese; transcrevi-lhes os sonhos./ Só pretendiam, à boleia da melancolia/ dos anjos, exceder o romantismo,// ou ter encontros com Deus num peep show./ De tudo isso me fartei, de salmos,/ de haikus acompanhados de batata frita,/ de paratextos em néon e da auto-indulgência/ dos malditos. Repilo agora qualquer pena/ de mim mesmo por não ter nascido/ um santo e se encosto a lâmina/ ao pulso o meu sangue galga, ganha/ a alacridade dos virgens, o aroma/ a caca fresca que um casco ervado deflagrou,/ – conseguisse eu ainda insultar a vida,/ mas tudo aquilo que em mim se perde// faz estrume! É-me pois indiferente/ se não me perdoam que, farto/ de queixumes, de pretos e brancos,/ de colonos e corruptos, me dane// para acompanhar-vos ao futebol,/ e antes escreva, com canivete, em apneia,/ (a cerveja é sempre preta), no tampo/ da autópsia de um país que vai falir.”
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasEu nunca olho lá para fora [dropcap]U[/dropcap]ma sondagem da Morning Consult/Politico concluiu que apenas 28% dos eleitores americanos conseguem apontar, num mapa, onde se encontra o Irão. Tendo em conta que alguns até indicam sítios no oceano onde não existe terra ou então Espanha, não sei bem que pensar sobre a qualidade dos dados recolhidos, mas uma coisa é certa: a ignorância da maioria dos americanos sobre assuntos que ultrapassam as suas fronteiras é lendária. As incursões americanas no Iraque e no Afeganistão geraram sondagem com resultados em tudo semelhantes. Porventura, muitos de nós portugueses e europeus falhariam nos mesmos testes; estou no entanto convencido de que pelo menos na zona do alvo (médio oriente) a maior parte acertaria. De certo modo, é absolutamente expectável que os americanos não nutram grande curiosidade acerca do mundo que os rodeia. Apenas quarenta por cento dos americanos têm passaporte. Não têm especial interesse em viajar para fora dos Estados Unidos da América, que geograficamente dispões de uma variedade notável de climas, paisagens e diversidade de flora e fauna. Para quê ir para um resort nas Filipinas quando se têm as praias de Flórida intramuros, ou para a Suíça fazer ski quando se tem Aspen? Mais a mais, dizem os próprios, “lá fora as pessoas geralmente não gostam de nós”. Os americanos, sobretudo desde o 11 de Setembro, têm medo do que está lá fora e estão convencidos de que o resto do planeta é ou está em vias de se tornar um albergue de terroristas prontos a se auto-detonarem à visão de uma t-shirt a dizer “I love NYC”. E é verdade: a maior parte do mundo olha para os americanos como a maior parte da turma olhava para o puto rico e meio tonto a quem se adivinhava um futuro garantidamente radioso sem que precisasse para isso de fazer grandes esforços. A ignorância americana acerca do que a rodeia resulta, paradoxalmente, do enorme sucesso da sua cultura. Os americanos são auto-suficientes culturalmente. Ouvem música popular americana. Lêem autores americanos. Vão à Broadway. Assistem a filmes de Hollywood. Para quê mais? A própria imaginação colectiva americana está refém dessa particular distorção de óptica em jeito de auto-centramento: as invasões extraterrestres ou começam nos Estados Unidos ou têm neles o centro nevrálgico. Os Estados Unidos são, literalmente, um mundo dentro do mundo. Certa vez, estando eu numa festa de aniversário num subúrbio de Lisboa, calhei a confessar a um amigo que estava comigo à janela a fumar “tenho saudades de ter uma casa com alguma vista”. Ele virou-se para mim e disse-me “eu nunca olho lá para fora”. Os americanos são um tanto ou quanto assim. Não é por isso maximamente surpreendente que desconheçam boa parte do que acontece em seu redor. Muitos de nós, aliás, temos talvez maior consciência extrafronteiriça mas igual deficiência no saber para além da rama do assunto. Somos todos taxistas quando nos cabe falar de algo que em grande parte desconhecemos mas que de algo modo nos puxa pelo nervo comentadeiro. Na noite da réplica iraniana à morte de Qasem Soleimani pelas forças armadas norte-americanas, que consistiu num disparo de uns 22 mísseis terra-terra (mais para consumo interno do que para destruir o que quer que seja) sobre bases americanas em solo iraquiano, vaticinava-se Facebook fora o princípio do fim do mundo ou, pelo menos, o início da terceira guerra mundial. Não aconteceu – praticamente – nada. Mas o que me assusta, isso sim, é a possibilidade dessa ignorância generalizada se corporizar em alguém que concorre à presidência. O que me assusta é, como dizia alguém logo a seguir às últimas presidenciais americanas, é que os americanos possam eleger um presidente que é “uma espécie de caixinha de comentários com pernas, braços e boca”. Isso sim, assusta-me.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA contra interferência da China nas próximas eleições de Taiwan [dropcap]O[/dropcap] principal representante dos Estados Unidos em Taiwan disse ontem que Washington está a trabalhar com Taipé para combater os esforços de Pequim para influenciar as próximas eleições na ilha. O actual director do Instituto Norte-Americano de Taiwan, que estabelece as relações diplomáticas entre os EUA e aquele território, Brent Christensen, disse que os EUA estão “conscientes de que a China está a tentar influenciar, através de vários meios, o processo democrático de Taiwan”. Christensen acredita que “actores mal intencionados estão a usar campanhas de desinformação para minar a confiança das pessoas nas instituições democráticas” da ilha, mas que Washington e Taipé “têm trabalhado juntos para combater esses esforços”, partilhando informações e experiências e mobilizando a sociedade civil. A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, eleita em 2016, é a primeira mulher a ocupar o cargo e procura um segundo mandato nas eleições de 11 de Janeiro para eleger o chefe de Estado e deputados. Alegadamente, a China favorece fortemente o principal oponente de Tsai, Han Kuo-yu, do Partido Nacionalista. Taiwan separou-se da China em 1949 mas a República Popular da China (RPC) reivindica a ilha como seu território, e ameaça anexar pela força militar, opondo-se ao contacto diplomático entre Taiwan e os EUA. Tentativas anteriores da RPC para influenciar a democracia de Taiwan proporcionaram resultados desiguais e podiam tornar-se um risco para Han Kuo-yu, que em março reuniu com as autoridades chinesas numa visita à China, Macau e Hong Kong, e teve dificuldades em desmentir acusações de conspiração com Pequim. Inicialmente, o principal oponente de Tsai liderava as sondagens de opinião pública, mas desde junho tem estado atrás da atual Presidente, frequentemente por vários pontos percentuais. Vários candidatos a deputados do Partido Nacionalista têm também fortes ligações com a China e falaram a favor da unificação com esse país. A interferência eleitoral seria uma continuação da campanha implacável de Pequim para minar o Governo do Partido Democrático Progressista de Tsai, que é a favor da independência de Taiwan, através do aumento da pressão diplomática, militar e económica. Apenas 15 países mantêm laços formais com Taiwan, após sete países trocarem o reconhecimento a favor da RPC nos últimos anos.
Hoje Macau China / ÁsiaNuclear | Rejeitado acordo com EUA para eliminar mísseis [dropcap]P[/dropcap]equim rejeitou ontem a proposta norte-americana de negociar um tratado trilateral para a eliminação de mísseis nucleares de médio e curto alcance, que incluiria ainda a Rússia, considerando que não é “justo ou razoável”. Washington decidiu este mês não renovar o Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance com a Rússia, que existia desde 1987, e convidou a China a integrar “uma nova era de controlo da corrida às armas”, com a negociação de um acordo entre as três nações. “A participação da China em negociações trilaterais não é justa nem razoável. Os EUA são o país com o maior arsenal nuclear, devem aceitar a sua responsabilidade no controlo do armamento e criar condições para que outros países participem do desarmamento, em vez de se retirarem dos tratados”, afirmou o porta-voz do ministério chinês da Defesa, Ren Guoqiang. Ren lembrou que “logo após os EUA se retirarem do tratado, começaram a testar mísseis, o que prova que as acções não correspondem às palavras. Militares norte-americanos testaram, no domingo passado, um míssil de médio alcance na costa da Califórnia – um lançamento que seria ilegal caso o acordo com a Rússia ainda vigorasse. “Pedimos aos EUA que abandonem a sua mentalidade da Guerra Fria, moderem o desenvolvimento de armamento e façam mais pela estabilidade no mundo”, acrescentou. O porta-voz realçou que “a China segue uma política militar defensiva” e que o seu desenvolvimento de armas nucleares “é muito restrito”, mantendo-se num “nível mínimo”, para garantir as necessidades de defesa. Prontos para agir Assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, então Presidentes dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, respectivamente, o tratado aboliu o recurso a um conjunto de mísseis de alcance, entre os 500 e os 5 mil quilómetros, e pôs fim à crise desencadeada na década de 1980, com a instalação dos SS-20 soviéticos, visando capitais ocidentais. Após a retirada do tratado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos disse que quer instalar mísseis convencionais de médio alcance na região Ásia-Pacífico, “dentro de alguns meses”. O governo chinês disse então que “não vai ficar de braços cruzados” e que vai tomar contra-medidas, sem avançar mais detalhes. Em Abril de 2017, o então chefe do Comando do Pacífico das forças armadas dos EUA, Harry Harris, afirmou ao Senado norte-americano que a China, que não faz parte de nenhum tratado de desarmamento, possui a “maior e mais diversificada força de mísseis do mundo, com um inventário de mais de 2.000 mísseis balísticos e de cruzeiro”.
Hoje Macau China / ÁsiaYuan desvaloriza e ultrapassa ‘barreira psicológica’ de 7 para 1 face ao dólar [dropcap]A[/dropcap]s taxas de câmbio do yuan chinês face ao dólar norte-americano quebraram hoje a ‘barreira psicológica’ de 7 para 1, após o anúncio do Presidente dos Estados Unidos de impor novas tarifas aos produtos importados da China. De acordo com o portal de notícias financeiras chinês Yicai, cada dólar foi trocado por 7,0258 yuans, de acordo com a taxa “onshore” – aquela operada nos mercados locais, a cotação mais alta desde Abril de 2008. Quando a taxa “onshore” cresce é um sinal de que o renminbi está a enfraquecer, já que é mais caro para os detentores de yuan comprar dólares. Enquanto isso, a taxa “offshore” – a que é operada em mercados internacionais como o de Hong Kong – subiu 1,38% e ficou em 7,0683 yuans por dólar norte-americano. Foi a primeira vez que o yuan subiu acima de 7 em relação ao dólar, considerado por muitos analistas uma ‘barreira psicológica’ para os investidores, desde que o mercado ‘offshore’ foi aberto em Hong Kong em 2010. Um porta-voz do Banco Popular da China disse, citado pelo mesmo portal, que a depreciação do yuan é justificada por “medidas unilaterais e proteccionismo comercial”, bem como “a imposição de aumento de tarifas contra a China”, numa clara referência ao último episódio da guerra comercial que Pequim e Washington mantêm desde Março de 2018. Na quinta-feira, o Presidente norte-americano Donald Trump anunciou a imposição de novas tarifas de 10% sobre produtos chineses avaliados em 300 mil milhões de dólares até 1 de Setembro. O Ministério do Comércio da China respondeu que ia retaliar, sem adiantar pormenores. Uma das principais queixas do Governo dos EUA no contexto do conflito comercial é de que Pequim manipula a moeda para evitar a valorização e, consequentemente, as exportações percam competitividade. Um yuan mais fraco significa que os produtos chineses são mais baratos, o que pode ajudar a conter o efeito negativo das novas tarifas dos EUA sobre a competitividade da economia de Pequim. Contudo, o Banco Popular da China indicou já que as flutuações do renminbi são ajustadas ao mercado, mas que a moeda chinesa “permanece estável e forte”, garantindo ter “experiência, confiança e capacidade” para manter a estabilidade a um “nível apropriado” das taxas de câmbio no país. Além disso, o banco central anunciou “mão dura” contra a especulação de curto prazo.
Hoje Macau InternacionalJustiça norte-americana vai pedir pena de morte para atirador de El Paso [dropcap]A[/dropcap]s autoridades do Texas anunciaram ontem que vão pedir pena de morte para o atirador que sábado abriu fogo num centro comercial em El Paso, Texas, Estados Unidos, causando 20 mortos e mais de duas dezenas de feridos. “A pena máxima no Estado é a pena de morte e ele incorre na pena de morte. Vamos requerer a pena de morte”, disse o procurador de El Paso, Jaime Esparza. O procurador, que falava em conferência de imprensa, adiantou que o caso está a ser tratado como “terrorismo doméstico” e “delito de ódio”. Anteriormente, as autoridades norte-americanas tinham anunciado estar a investigar uma possível ligação do suspeito com um manifesto publicado ‘online’ criticando “a invasão hispânica do Texas”. Um homem armado com uma espingarda disparou, no sábado, sobre uma multidão de cerca de 3.000 pessoas num centro comercial em El Paso, matando 20 pessoas e ferindo outras 26, segundo dados da polícia. O suspeito foi identificado como sendo Patrick Crusius, um caucasiano de 21 anos. Horas depois do tiroteio em El Paso, pelo menos 10 pessoas morreram e 16 ficaram feridas num segundo tiroteio, desta vez na cidade norte-americana de Dayton, no Estado de Ohio, de que resultou a morte do próprio atirador, entretanto identificado como Connor Betts, na casa dos 20 anos. Na sequência dos tiroteios, o governador do Estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, exigiu ao Governo Federal que reforme a legislação sobre o controlo das armas de fogo. “O nosso país está a ser atacado por dentro e continuar a ignorar o que está a acontecer à nossa volta só levará a mais matanças e tragédia”, afirmou Cuomo em comunicado. “Lamento que vivam num país com um Governo que permite que isto aconteça sem fazer nada”, disse o governador, que no sábado tinha já criticado o Presidente Donald Trump pelo seu apoio à associação norte-americana de defesa das armas, a National Rifle Association. Cuomo reiterou o apoio de Nova Iorque às leis de controlo de armas e manifestou-se contra a “intolerância e a retórica de ódio que alimenta estes ataques”. Entretanto, Donald Trump deu ontem ordens para que as bandeiras nos edifícios oficiais sejam hasteadas a meio mastro até ao próximo dia 08 para homenagear as 29 vítimas dos dois tiroteios, anunciou a Casa Branca.
João Romão VozesMuros e estradas [dropcap]F[/dropcap]oi dos compromissos maiores estabelecidos com o seu eleitorado, o de construir um muro magnífico e inultrapassável que separasse definitivamente os fantásticos Estados Unidos do pobre México. Que os mexicanos pagariam por essa gigantesca e formidável obra da engenharia moderna foi outro compromisso assumido pelo que viria a ser eleito Presidente dos EUA, determinando em devolver ao país uma suposta grandiosidade perdida, devidamente protegido de nefastas influências estrangeiras, na economia ou na demografia. Um pouco por todo o mundo se ergueram vozes indignadas e não poucas vezes se referiram dois aspectos particularmente reveladores de hipocrisias várias nesta discussão: são mais de 60 milhões as pessoas indocumentadas a viver actualmente nos Estados Unidos, fornecendo uma mão-de-obra barata e de escassos direitos que alimenta grande parte da economia nacional; e, na realidade, o muro não é invenção nova – já lá estava, em grande parte da fronteira, e também durante a presidência de Obama aumentou a sua extensão. Não tendo afinal o dito muro crescido drasticamente durante o actual mandato presidencial, cresceram as acusações de violações de direitos humanos de migrantes, bárbaros actos de separação de famílias e isolamento de crianças ou até criação sistemática de campos de concentração – tem sido mesmo este o termo usado para definir centros de detenção de migrantes, em discussões nas mais altas instituições do estado – onde se acumulam milhares de pessoas que procuram na parte mais rica da América o sonho de liberdade e a ambição de riqueza que foram alimentando. Apesar de mais discreta, não é muito diferente a situação na Europa: também chegam do sul milhares de pessoas, a fugir da guerra e da pobreza e à procura de sonhos e ambições. Têm muros ocasionais e redes de arame farpado, é verdade, mas há um todo um mar que estabelece mais subtil fronteira onde em tempos houve espaço para cruzamento e contato de antigas civilizações – de fenícios, gregos, egípcios, romanos ou árabes. Hoje há desemprego, escassa confiança na economia e alta desconfiança nos seres humanos, a alimentar ódios e xenofobias. Não basta nestes dias tenebrosos ter o Mediterrâneo como vala comum de migrantes em fuga desesperada: chegam notícias de diligentes autoridades a perseguir quem ajuda quem se afoga nas outrora plácidas águas que separam o Sul da Europa do Norte de África: chamam-lhe “auxílio à imigração ilegal” e querem bani-los das águas mediterrânicas. Não são só os governantes neo-fascistas que se instalaram em Itália: são em geral as políticas de imigração da União Europeia, que fazem do Mediterrâneo o mesmo muro que se quer reforçar na América. Num e noutro lado do Atlântico alimenta-se a divisão entre os pobres e os ricos do Sul e do Norte, supostamente à procura de uma grandiosidade perdida na história. Não chegará por essa via, certamente. Há caminhos na história das civilizações que reabrem na contemporaneidade, no entanto. É o caso da chamada Rota da Seda, recuperada pelo governo chinês para promover um massivo programa de investimentos em infraestruturas e empresas da Ásia, África e Europa. Em tempos de competição e desconfiança generalizadas, os poderes europeus e americanos denunciam a ameaça da expansão chinesa e os perigos decorrentes do aumento da sua influência económica, cultural e política no resto do mundo. Sendo previsível essa consequência, está longe de constituir originalidade histórica. Foi semelhante a expansão da influência dos Estados Unidos sobre a Europa e o Japão com o plano Marshall, que financiou massivamente a reconstrução económica e demográfica que se seguiu à II Guerra Mundial. Com mútuo benefício, diga-se em abono da verdade: os EUA assumiram-se como a grande potência mundial, enquanto a generalidade dos países europeus (e também o Japão) beneficiaram de um longo período de crescimento económico, que duraria até quase ao final do século XX – e que também se traduz numa evidente hegemonia política e militar. Também vem desse período do pós-Guerra o acesso cada vez mais global a formas de expressão cultural com origem nos EUA e hoje altamente massificadas, como os blues, o jazz, o rock ou o cinema de Hollywood. Nem Europa nem Estados Unidos têm hoje qualquer iniciativa semelhante a um plano massivo de investimentos no apoio ao desenvolvimento: são mais os gastos em financiamento de organizações para-militares e bombardeamentos regulares em larga escala (sobretudo – mas não só – no Médio Oriente) do que os investimentos na riqueza e no desenvolvimento dos países de África ou do sul da América. Quem tem essa iniciativa é a China, que não gasta em guerras a riqueza que vem acumulando. Não é impossível, apesar de todos os maus exemplos, reabrir velhos caminhos da paz e da cooperação económica – mesmo que, já se sabe, os benefícios sejam desiguais e quem promove o investimento acabe por vir a reforçar a sua posição hegemónica, como demonstram os exemplos históricos.
João Luz China / ÁsiaIrão | Pequim pede racionalidade a Washington e prudência a Teerão O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês tentou por água na fervente relação entre Estados Unidos e Irão. Wang Yi aconselhou prudência ao regime de Hassan Rouhani e que não rompa com o acordo nuclear, apesar das sanções impostas por Washington. Entretanto, Washington anunciou o envio de mais mil tropas para a região, acção seguida do pedido de demissão do secretário da Defesa Com agências [dropcap]E[/dropcap]m 2007, enquanto corria à Casa Branca na eleição que viria a conduzir Barack Obama ao seu primeiro mandato, o senador e, à altura, candidato John McCain adaptou o refrão da música “Barbara Ann” dos The Beach Boys para “Bomb Bomb Iran”, para gáudio da audiência. Vem de longe e é sobejamente pública a vontade da ala conservadora mais belicista da política norte-americana em entrar em conflito com o Irão. Um dos detalhes geopolíticos inusitados da possível guerra é juntar do mesmo lado dois “aliados” improváveis: Israel e Arábia Saudita. Nesta semana, a escala de tensão entre Washington e o regime iraniano conheceu um novo capítulo que levou à reacção pronta de Pequim. Na passada terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, alertou para a possibilidade de Washington abrir uma nova “Caixa de Pandora” no Médio Oriente, depois do desastre da Guerra do Iraque, e na sequência do envio de mais mil tropas para a região. Wang Yi, na face da escalada de tensão, também apelou ao regime de Hassan Rouhani para não abandonar o acordo nuclear firmado com a comunidade internacional “tão facilmente”, depois do anúncio no início da semana que dava conta que Teerão estava prestes a exceder o limite de acumulação de urânio enriquecido estabelecido no acordo nuclear de 2015. “A determinação da China em proteger o acordo nuclear não mudou. Estamos prontos para trabalhar com as duas partes, de forma a aplicar o máximo esforço para a implementação do acordo. Apelamos a ambas as partes para manterem a racionalidade e restrição e para não tomarem mais acções que provoquem a escalada de tensões na região”, referiu Wang, em Pequim, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo sírio, Walid Muallem. O governante chinês apelou “em particular, aos Estados Unidos no sentido de aliviarem a pressão extrema” a que têm sujeitado o Irão. Contingente reforçado O envio de mais um milhar de tropas norte-americanos para a região do Golfo de Omã, que se juntam a um contingente de 1500, foi justificado pela administração Trump como uma acção de defesa. Apesar do comunicado não especificar que tipo de militares vão ser enviados, fontes ouvidas pela NPR revelam que o contingente será, maioritariamente, composto por oficiais de serviços de informação, reconhecimento e vigilância, força de protecção e engenheiros. O secretário da Defesa, Patrick Shananhan, adiantou em comunicado que a acção tinha como intenção responder a ameaças aéreas, navais e terrestres, na sequência do pedido do Comando Central norte-americano por mais forças. Uma requisição reforçada pelo alegado ataque de forças iranianas contra dois petroleiros no Estreito de Ormuz, ponto crucial no transporte de petróleo, que esbarrou no cepticismo de muitos analistas e países (ver CAIXA). “O comportamento hostil das forças iranianas, e dos seus grupos proxy, ameaçam tropas norte-americanas e interesses na região”, referiu Shananhan, que ontem pediu a demissão do cargo de secretário da Defesa para, segundo o próprio, “tratar de assuntos familiares”. A demissão de Patrick Shananhan surge quando se preparava para ser confirmado pelo Senado no lugar cimeiro da liderança do Pentágono. O envio de forças para a região começou no mês passado com o destacamento de um porta-aviões, acompanhado por baterias de mísseis Patriot. “Os Estados Unidos não estão à procura de entrar em conflito com o Irão”, ressalvou o secretário da Defesa demissionário. Em busca de aliados Entretanto, nos bastidores, a administração Trump move-se no sentido de convencer aliados, nomeadamente a União Europeia (UE), do perigo que Teerão representa para a paz na região. Porém, a UE considera que o Irão está a cumprir com as suas obrigações decorrentes do acordo nuclear, até que apareçam provas científicas de que está a desrespeitá-los. Horas depois de o Irão afirmar que poderia ultrapassar nos próximos 10 dias o limite de urânio armazenado, fixado pelo acordo alcançado em 2015 com várias potências internacionais, a chefe da diplomacia da UE afirmou que o bloco de 28 países vai continuar a fazer o que puder para garantir que o acordo se mantém. Federica Mogherini afirmou que está em curso um processo de criação de “um mecanismo que autorize os iranianos e beneficiarem das transações económicas que se podem fazer legitimamente”. Mas não especulou sobre o que pode acontecer se o Irão se afastar dos termos do acordo. “Até agora, o Irão tem sido cumpridor com os seus compromissos, como esperávamos que fosse”, declarou Mogherini, que insistiu que iria aguardar pelo próximo relatório do organismo da Organização das Nações Unidas para os assuntos nucleares, a Agência Internacional de Energia Atómica. Os alicerces do acordo, que limita as ambições nucleares iranianas em troca de apoio económico, têm enfraquecido desde que Donald Trump retirou os EUA do acordo, em 2018, passando pelo contrário a aplicar sanções ao Irão. “Não é um exercício fácil”, admitiu Mogherini. “Nunca fizemos um mistério disso. […] Durante o último ano, tornou-se crescentemente difícil para todos”, adiantou. A UE, em particular Reino Unido, França e Alemanha, que assinaram o acordo de 2015, têm tentado que Teerão se mantenha fiel aos termos do acordo, esperando que os incentivos financeiros aos iranianos ajudem ao cumprimento dos compromissos. A Alemanha, parceiro-chave no acordo, já declarou que compete ao Irão manter-se fiel ao acordo, se quiser evitar retaliações, que não foram especificadas. O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, afirmou no Luxemburgo que a Alemanha, o Reino Unido, a China e a Federação Russa estão a cumprir os seus compromissos consagrados no acordo e que “incube ao Irão permanecer comprometido com as suas responsabilidades”. Mas acrescentou: “Tenho a impressão que há muita coisa sob ameaça, já agora pelos dois lados, o que não vejo como muito construtivo”. Paz e amor Por outro lado, os Estados membros da UE continuam a avaliar a informação sobre os alegados ataques contra dois petroleiros no Golfo Pérsico na semana passada, que os EUA atribuíram ao Irão, o que este negou. “Considero agora, como antes, que a situação é extremamente explosiva”, disse Maas. “Um confronto militar no Golfo significaria que toda a região ficaria em chamas, o que não é do interesse de ninguém”, acentuou. Quase em uníssono, ambas as partes firmaram um compromisso com a paz. Por um lado, Mike Pompeo diz que Donald Trump “não quer uma guerra” com o Irão, mas sublinha que os Estados Unidos devem estar em “capacidade para responder” a um eventual ataque ou “má decisão” de Teerão. Pompeo garantiu que o Presidente “não quer uma guerra e essa será a mensagem repetida, ao mesmo tempo que é feito o necessário para proteger os interesses norte-americanos na região”. Por outro lado, Hassan Rouhani afirmou que o Irão não pretende “lançar-se no combate contra qualquer outra nação”, mas também não perdeu a oportunidade para novas críticas aos Estados Unidos, acrescentando que “os que se opõe ao Irão […] são um grupo de políticos inexperientes”. Golfo de Tonkin 2.0 Assim que foram reveladas as imagens dos alegados operacionais iranianos a retirar uma mina do petroleiro japonês atacado no Estreito de Ormuz, o #Gulf of Tonkin tornou-se viral. O hashtag é referência ao incidente em que o Pentágono manipulou informação sobre um ataque a contratorpedeiros norte-americanos, que levou à Guerra do Vietname. No vídeo divulgado pela Administração Trump, vê-se uma lancha com indivíduos junto ao casco de um petroleiro. A explicação de Washington para as imagens, também referida por Donald Trump, adianta que operacionais iranianos se encontravam a retirar uma mina do casco do navio, apesar de ter havido uma outra detonação. O comandante e alguns tripulantes referiram terem testemunhado um projectil aéreo em direcção ao navio, seguido de uma explosão. Chegaram mesmo a admitir poder tratar-se de um míssil. O incidente com o petroleiro japonês aconteceu quando Shinzo Abe se encontrava em visita oficial ao Irão.
Hoje Macau China / ÁsiaWashington pressiona Seul a afastar Huawei da rede 5G no país [dropcap]O[/dropcap]s Estados Unidos manifestaram à Coreia do Sul preocupação com a instalação da tecnologia Huawei na rede 5G (quinta geração) do país e apelaram ao Governo sul-coreano que adopte um plano rigoroso de segurança e pondere outros fornecedores. “Preocupa-nos que a China possa forçar as suas empresas fornecedoras de equipamentos a agir contra os interesses dos cidadãos dos EUA e de outros países”, disse um porta-voz do Departamento de Estado à agência sul-coreana Yonhap. “Instamos todos os países a adoptarem um quadro de segurança sem riscos para a construção de redes 5G”, acrescentou. Donald Trump decidiu na semana passada proibir as exportações de produtos tecnológicos norte-americanos para determinadas empresas consideradas de “risco”, tendo em vista a Huawei. Como consequência imediata do anúncio de Washington, a Google anunciou no domingo que iria romper com a Huawei. O grupo chinês depende do gigante norte-americano da Internet para o sistema Android, instalado na maioria dos ‘smartphones’ no mundo. Sem o Android, a Huawei arrisca-se a não conseguir convencer os clientes a comprarem os telefones da marca sem aplicações Gmail (correio), Maps (cartografia) ou YouTube (plataforma de vídeos), apenas algumas das mais conhecidas. Perante a inquietação dos utilizadores e das empresas norte-americanas, os Estados Unidos concordaram em fazer um adiamento de 90 dias antes de imporem sanções para que a Huawei e os seus parceiros se adaptem. Presente em 170 países, a Huawei é suspeita de espiar para Pequim, que terá contribuído largamente para a expansão internacional da empresa chinesa.
Hoje Macau China / ÁsiaChina critica decisão de Washington de endurecer sanções contra Cuba [dropcap]A[/dropcap] China criticou hoje a decisão dos Estados Unidos de endurecer as sanções contra Cuba ao permitirem processar empresas de países terceiros que operem em propriedades expropriadas a norte-americanos após a Revolução. “A China opõe-se sempre à imposição de sanções unilaterais, fora do Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, em conferência de imprensa. O porta-voz lembrou que o bloqueio imposto pelos EUA já causou “grandes danos” ao desenvolvimento económico e social de Cuba e “dificultou” a vida ao povo cubano. Lu pediu a Washington que siga os princípios e propósitos básicos da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional e retire o bloqueio a Cuba, de acordo com os interesses dos cubanos, do desenvolvimento da ilha e dos próprios EUA. Entre as medidas anunciadas pela administração de Donald Trump consta a reactivação do Título III da Lei Helms-Burton, que permite reivindicar em tribunais norte-americanos bens expropriados após a Revolução, o que poderia levar a milhares de acções judiciais contra empresas estrangeiras. “Muitos países expressaram a sua rejeição e a China sempre pediu aos Estados Unidos que ajam de acordo com os princípios do respeito mútuo e da coexistência pacífica, que são o caminho correcto para as relações entre os estados”, acrescentou Lu. A medida abre portas a processos contra empresas de todo o mundo, incluindo cadeias de hotéis ou firmas do sector da mineração, como a canadiana Sherritt, um dos principais investidores estrangeiros na ilha. Além de reactivar os títulos III e IV daquela lei, Washington restringirá novamente as viagens de norte-americanos ao país e limitará as remessas de emigrantes cubanos a mil dólares por trimestre.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim contra-ataca [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] China acusou ontem dois canadianos de actuarem em conjunto para se apropriarem de segredos de Estado, dias depois de o Canadá ter anunciado que vai atender ao pedido de extradição da vice-presidente da Huawei emitido pelos EUA. As autoridades chinesas suspeitam que o ex-diplomata canadiano Michael Kovrig, detido em Dezembro, esteve envolvido em actividades de espionagem e roubo de segredos de Estado, referiram ontem os meios de comunicação estatais chineses, em plena tensão político-diplomática entre Pequim e Otava após a detenção no Canadá de Meng Wanzhou, dirigente do gigante de telecomunicações chinês Huawei. Um outro canadiano detido na China, o consultor Michael Spavor, é considerado uma das principais fontes de informação de Michael Kovrig, referiu a agência oficial Xinhua, citando as autoridades chinesas. Os dois homens foram presos em Dezembro, alguns dias após o Canadá ter detido, a pedido dos Estados Unidos, Meng Wanzhou. Pequim tinha indicado previamente que os dois canadianos eram suspeitos de ter colocado em perigo a segurança nacional, e arriscavam pesadas penas de prisão caso fossem indiciados por espionagem. Segundo a agência chinesa, Kovrig, que agora trabalha para o instituto de pesquisas International Crisis Group, deslocou-se com frequência à China com um passaporte não diplomático e vistos de negócios, e recolhia informações desde 2017. Troca de “mimos” Otava afirma que os dois canadianos foram detidos “arbitrariamente” e que o interrogatório de Kovrig pelas autoridades chinesas viola a convenção de Viena sobre relações diplomáticas, um argumento rejeitado por Pequim. As novas acusações chinesas surgiram alguns dias após o Canadá ter iniciado um processo de extradição contra Meng Wanzhou, que na quarta-feira deve comparecer em Vancouver perante um juiz. Filha do fundador da Huawei, Meng foi colocada em liberdade condicional em meados de Dezembro em Vancouver, onde possui duas residências. A sua detenção desencadeou uma crise diplomática sem precedentes entre Otava e Pequim. O Ministério da Justiça norte-americano acusa a Huawei e a sua directora financeira de ter contornado as sanções norte-americanas contra o Irão, e ainda, através de duas filiais, ter roubado segredos industriais do grupo de telecomunicações norte-americano T-Mobile. A Huawei, número dois mundial de telemóveis, desmentiu por diversas vezes as acusações. No sábado, a China anunciou ter protestado oficialmente junto das autoridades canadianas.
Hoje Macau China / ÁsiaHanói | Diferendos sobre as sanções ditam falhanço de cimeira Trump – Kim O segundo encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un acabou sem acordo e mais cedo do que o previsto. Divergências sobre as sanções e a desnuclearização acabaram por impedir um desfecho positivo nas negociações entre os dois países [dropcap]A[/dropcap]cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano terminou sem acordo devido ao impasse sobre as sanções e as reticências de Kim Jong-un em abdicar totalmente do programa nuclear. “Existe ainda uma lacuna” entre o desejo de ambas as partes e, por isso, “temos que manter as sanções”, afirmou Donald Trump, numa conferência de imprensa, após a cimeira em Hanói ter terminado sem um acordo. “Eles queriam que as sanções fossem levantadas na totalidade e nós não podemos fazer isso”, detalhou Trump, acrescentando que prefere “assinar um bom acordo do que fazê-lo ‘a correr’”. Trump deixou a capital vietnamita depois de a cimeira terminar mais cedo do que o previsto. “Às vezes tens que te levantar e ir embora e, desta vez, foi isso que aconteceu”, disse. O Presidente dos EUA revelou que Kim se ofereceu para desmantelar algumas partes da sua infraestrutura nuclear, incluindo o complexo nuclear de Yongbyon, mas que não estava preparado para abdicar de outras partes do programa, incluindo as fábricas para produção de urânio. “Eles estavam dispostos a desmantelar parte das áreas, mas não podíamos desistir de todas as sanções”, afirmou. Trump disse ainda que não há planos para uma terceira cimeira, mas que Kim lhe garantiu que a Coreia do Norte não vai realizar testes nucleares e com mísseis balísticos. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse, no entanto, que “estão hoje mais próximos de um acordo do que há 36 horas”. Em comunicado, a secretária de Imprensa da Casa Branca afirmou que os “dois líderes discutiram várias formas de avançar na desnuclearização e questões económicas”, mas que “nenhum acordo foi alcançado desta vez” e que as delegações esperam voltar a reunir no futuro”. Sedução em saco roto Num encontro com os jornalistas antes das negociações arrancarem, Trump baixou as expectativas, afirmando que não “tem pressa” para que se chegue a um acordo. Kim Jong-un afirmou que, “se não estivesse disposto” à desnuclearização, não estaria em Hanói. A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime. Trump tentou seduzir, em Hanói, o regime norte-coreano com boas perspectivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional. A Coreia do Norte e o Vietname partilham décadas de amizade e, em teoria, continuam a ser aliados ideológicos, mas as reformas económicas e a integração na comunidade internacional lançados por Hanói impulsionaram o desenvolvimento económico do país. Lamentos de Seul A Presidência sul-coreana lamentou ontem que a cimeira entre os líderes dos EUA e da Coreia do Norte tenha terminado sem acordo, mas mostrou-se optimista na continuação das negociações, considerando que houve progressos significativos em Hanói. “É lamentável que o Presidente Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, não tenham chegado a um acordo global na sua cimeira de hoje [ontem]”, disse em comunicado o porta-voz da Casa Azuk, sede da Presidência sul-coreana. No entanto, Kim Eui-kyeom disse parecer “claro que foram alcançados muitos progressos, mais do que em qualquer outro momento no passado”. No mesmo comunicado, a Presidência considera que o facto de Trump admitir a possibilidade de aliviar as sanções em troca de passos no sentido do desarmamento nuclear da Coreia do Norte mostra que as negociações entre os dois países entraram num “nível elevado”. Seul espera por isso que Washington e Pyongyang possam continuar a manter um “diálogo activo”.
Hoje Macau China / ÁsiaCimeira | Pequim espera que Trump e Kim se encontrem “a meio do caminho” [dropcap]A[/dropcap]China afirmou ontem que os EUA e a Coreia do Norte devem “encontrar-se a meio do caminho” depois de a cimeira em Hanói ter terminado sem acordo. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang afirmou em conferência de imprensa que a situação na península coreana experimentou uma “reviravolta” significativa no ano passado, um “resultado conquistado com muitas dificuldades”. Lu enalteceu o regresso dos EUA e da Coreia do Norte a um caminho rumo ao acordo político, que considerou ser a “única saída”. Na conferência de imprensa após a cimeira, Donald Trump considerou o Presidente chinês, Xi Jinping, como um “líder altamente respeitado em todo o mundo” e afirmou que este foi “muito cooperativo” na questão norte-coreana. Trump lembrou que a China é altamente influente devido ao alto volume de negócios com a Coreia do Norte. Pequim é o maior parceiro comercial e principal aliado diplomático de Pyongyang.
Hoje Macau China / ÁsiaTrump nega que esteja disposto a ceder perante Pyongyang O Presidente norte-americano promete ajudar Kim Jong-um a transformar a Coreia do Norte numa potência económica mundial e desmente ter feito cedências a Pyongyang antes de se dar início ao processo de desnuclearização [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ontem serem “falsas” as informações de que estaria disposto a fazer cedências ao líder norte-coreano, Kim Jong-un, antes de este adoptar medidas concretas para a desnuclearização. “São tudo informações falsas sobre as minhas intenções em relação à Coreia do Norte. Kim Jong-un e eu vamos esforçar-nos para definir algo sobre a desnuclearização e, em seguida, transformar a Coreia do Norte numa potência económica”, disse. Trump tem seduzido o regime norte-coreano com boas perspectivas económicas caso aceite a desnuclearização e se insira na comunidade internacional. A organização da cimeira no Vietname, outrora devastado por bombas norte-americanas, mas que é agora um importante parceiro económico e aliado de Defesa dos EUA, visa precisamente encorajar Kim a replicar aquele processo. “Vamos ver o que acontece, mas ele quer fazer algo grandioso”, disse ontem o Presidente norte-americano ao primeiro-ministro do Vietname. “Olhando para o que vocês fizeram, em tão pouco tempo, ele poderá fazê-lo muito rapidamente – transformar a Coreia do Norte numa grande potência económica”, disse. No centro de imprensa em Hanói, o vice-ministro vietnamita dos Negócios Estrangeiros Le Hoai Trung disse aos jornalistas que Hanói “está disposto a trocar experiências com qualquer país que queira fazê-lo”. “O Vietname fez reformas profundas nos últimos trinta anos visando converter-se num Estado moderno”, lembrou. “Cada país tem as suas próprias circunstâncias e as decisões cabem aos seus líderes, mas o processo de integração na comunidade internacional é um processo de benefícios mútuos”, notou. Kim Jong-un permaneceu no hotel enquanto outros quadros de Pyongyang visitaram a pitoresca baía de Halong e uma zona industrial próxima. Uma televisão sul-coreana difundiu imagens de funcionários sul-coreanos, incluindo de Ri Su Yong, o vice-presidente do comité central do Partido dos Trabalhadores, num cruzeiro na baía e em visitas a fábricas, na cidade portuária de Hai Phong. O grupo incluiu O Su Yong, director dos Assuntos Económicos do Partido dos Trabalhadores. Especialistas consideram que a inclusão de O Su Yong na delegação indica que Kim espera voltar para casa com um alívio parcial das sanções, impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, devido ao programa nuclear do país. Troca de interesses A cimeira arrancou ontem com um encontro privado entre Trump e Kim e um jantar entre as duas delegações. O líder norte-americano é acompanhado pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, e pelo chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney. Kim estará com Kim Yong Chol, negociador-chave nas negociações com os EUA, e Ri Yong Ho, ministro dos Negócios Estrangeiros. Estarão ainda presentes intérpretes de ambas as delegações. Mas entre os especialistas há a crescente preocupação de que Trump faça cedências a Kim em troco de pouco. Uma declaração de paz na Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício, poderia implicar uma redução das tropas norte-americanas na Coreia do Sul, enquanto o alívio das sanções poderia permitir a Pyongyang reiniciar os lucrativos projetos económicos com a Coreia do Sul. Cépticos quanto às promessas do regime norte-coreano insistem que Trump deve primeiro obter progressos reais na questão da desnuclearização antes de fazer cedências. Os líderes reuniram-se pela primeira vez em Junho passado, em Singapura. A histórica cimeira terminou, no entanto, sem nenhum compromisso da Coreia do Norte no sentido de abandonar o seu arsenal nuclear. A Coreia do Norte sofreu já décadas de isolamento e pobreza extrema, incluindo períodos de fome que causaram milhões de mortos, mas não abdicou de desenvolver um programa nuclear como garantia de sobrevivência do regime. Um tratado de paz que pusesse fim à Guerra da Coreia permitiria a Trump fazer História e encaixaria na sua oposição a “guerras eternas” dispendiosas para os EUA. Mas isso poderá implicar a retirada dos 28.500 soldados norte-americanos estacionados na Coreia do Sul, antes de Pyongyang se comprometer com medidas concretas para a desnuclearização.
Hoje Macau China / ÁsiaTensões comerciais são “grande teste” à escala mundial O impacto da guerra comercial decretada por Washington começa a ganhar novos contornos: desde 2010 que os valores projectados para o crescimento económico global não eram tão baixos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Organização Mundial do Comércio (OMC) classificou quinta-feira as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE) e entre Washington e Pequim como “um grande teste” à comunidade internacional, antecipando “riscos” como o abrandamento económico. “As correntes tensões entre os principais parceiros comerciais [da OMC] são um grande teste à comunidade internacional e os riscos são reais, assim como os impactos económicos”, declarou o director-geral da OMC, Roberto Azevêdo, em Bucareste, na Roménia. Discursando no início da reunião informal dos responsáveis pela pasta do Comércio nos Estados-membros da UE, Roberto Azevêdo assinalou que as perspectivas do comércio mundial da OMC, divulgadas há dias, mostraram precisamente um “abrandamento no crescimento económico no primeiro trimestre de 2019”, reflectindo “o número mais baixo desde 2010”. “Temos, por isso, de fazer tudo o que pudermos para amenizar essas tensões e temos também de pensar como podemos fortalecer as relações comerciais”, salientou o responsável. A seu ver, isso resolve-se “facilitando as negociações” entre os países, modernizando a própria OMC para “tornar o sistema comercial mais responsável” e ainda promovendo a cooperação “em vários assuntos, como as pescas, a agricultura, a segurança alimentar e o comércio electrónico”. Em causa está, desde logo, a incerteza nas relações comerciais entre os Estados Unidos e a UE. Em cima da mesa Em meados de Janeiro passado, a Comissão Europeia apresentou um anteprojecto que irá ser proposto aos Estados Unidos, ainda sem data definida, para a eliminação das tarifas aplicadas aos produtos industriais, sem contar com a área agrícola, e a redução das barreiras, no que toca ao cumprimento de requisitos técnicos, para trocas comerciais entre os dois continentes. O documento vem no seguimento de uma reunião realizada em Julho do ano passado, em Washington, entre os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e dos Estados Unidos, Donald Trump, na qual foram divulgadas medidas para apaziguar o conflito comercial, mas os anúncios foram vagos. Já esta segunda-feira, a Comissão Europeia disse que dará uma resposta “rápida e adequada” se os Estados Unidos concretizarem a ameaça de aumentar as tarifas alfandegárias sobre a importação de automóveis europeus. Antes, no domingo passado, o secretário norte-americano do Comércio, Wilbur Ross, apresentou oficialmente ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um documento sobre a indústria automóvel que poderá permitir a cobrança de novas taxas alfandegárias sobre as importações de automóveis e peças da UE. Também de incerteza é feita a relação comercial entre os Estados Unidos e a China. Donald Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping, concordaram uma trégua de 90 dias em 1 de Dezembro de 2018, o que significou a suspensão temporária do aumento de 10 por cento para 25 por cento nas tarifas norte-americanas sobre produtos chineses no valor de 200 mil milhões de dólares.
Hoje Macau InternacionalVenezuela | Possibilidade de intervenção militar norte-americana no horizonte Uma nota no caderno de Conselheiro para a Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, onde se lê “5000 tropas para a Colômbia”, voltou a trazer para a ordem-do-dia a possibilidade de intervenção militar para mudança do regime de Nicolás Maduro. Entretanto, falando de negócios, Pequim tenta pôr água na fervura ao mesmo tempo que encara o petróleo venezuelano como uma alternativa viável ao crude iraniano [dropcap]O[/dropcap] ambiente de caos continua a ser o prato-do-dia na Venezuela. Enquanto a comunidade internacional se divide entre quem manda no país, uma nota do Conselheiro para a Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, acrescentou gasolina ao fogo diplomático. John Bolton, que tem um percurso político extremamente belicista e próximo de lobbies do armamento, já havia ventilado que na questão da Venezuela “todas as opções estavam em cima da mesa”. Uma expressão utilizada para dizer que a intervenção militar é uma possibilidade a considerar. Entretanto, a forma como Bolton “revelou” a frase “5000 tropas para a Colômbia” tem dividido analistas. Há quem diga que se trata de um descuido que pode enunciar um bluff, ou um aviso a Nicolás Maduro, há quem ache que o conflito é uma possibilidade credível. Independentemente da intervenção norte-americana em mais uma operação de mudança de regime na América Latina, Maduro denunciou a possibilidade de haver forças em território colombiano com intenção de invadir a Venezuela. Nomeadamente, militares que desertaram e se tornaram “mercenários”, estando em curso uma conspiração contra Maduro, a partir Colômbia, com o objectivo de dividir o exército venezuelano. “Um grupo de militares desertores, que se tornaram mercenários ao serviço da oligarquia colombiana, conspira a partir da Colômbia para dividir as forças armadas (…). E onde aparecer um traidor, justiça!”, disse Maduro antes de começar uma marcha ao lado de 2.500 militares. Toque de reunião Em cenas transmitidas pela televisão estatal, Nicolás Maduro pode ser visto a andar pela base militar do Forte Tiuna, em Caracas, com os principais comandantes e dezenas de soldados. “Amam a vossa pátria? Defenderão a constituição? Defenderão o seu comandante em chefe?”, perguntou Maduro às tropas, que responderam com gritos: “sim, comandante em chefe!”. Desde que o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se declarou Presidente interino na semana passada, Maduro apareceu quase diariamente na televisão estatal com os seus militares, projectando uma imagem de invencibilidade, mesmo quando a pressão internacional aumenta contra o seu Governo. O Presidente da Venezuela disse à agência de notícias russa RIA Novosti que está disposto a sentar-se com a oposição para dialogar com uma agenda aberta, sobre a “paz e o futuro” do país. As declarações de Nicolás Maduro à RIA Novosti surgem em plena crise política, que se agravou em 23 de Janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional autoproclamou-se Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Maduro. E o petróleo? Com tem vindo a ser frequente nos conflitos armados desde a segunda metade do século passado, a presença de petróleo num país torna-o inevitavelmente mais apetecível em termos de intervenção militar. Se por um lado os recursos energéticos da Venezuela fazem salivar empresas como a Exxon Mobil, que teve como antigo CEO Rex Tillerson, ex-secretário de Estado da Administração Trump, também Pequim está atenta à possibilidade que a Venezuela representa. Como tal, não é de espantar que os importadores chineses de crude olhem com atenção para Caracas, vendo aí uma oportunidade para comprarem petróleo a preços apetecíveis, beneficiando das sanções dos EUA e de menos exportações do Irão, afirmam analistas contactados ontem pela agência Lusa. As sanções impostas pelos EUA às exportações de petróleo do Irão deixaram, temporariamente, a China com um regime de excepção, o que fez com que as petrolíferas iranianas privilegiassem o país asiático nas suas vendas. Mas, os analistas dizem que o clima de crescimento das importações a partir do Irão deverá terminar em 2019 e a China olha para a Venezuela como o país alternativo à sua necessidade energética, antecipando que podem ali comprar petróleo a preços baixos, devido à crise que o país atravessa. “É expectável que o interesse chinês na América do Sul faça aumentar as exportações de crude venezuelano para a Ásia até aos 500 mil barris por dia”, afirmou ontem Lim Jit Yang, director de análise de mercado petrolífero da S&P Global Analytics. Diplomacia oleosa Por outro lado, uma visita do Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, à China, em 2018, abriu caminho a mais intensas relações comerciais na área petrolífera. Em 2018, devido ao regime de excepção à China nas sanções norte-americanas ao Irão, este país tornou-se o sétimo cliente mais importante das refinarias chinesas, que registaram aumentos de importações na ordem dos 30 por cento relativamente ao ano anterior, atingindo números recorde de 506 mil barris de petróleo por dia, segundo dados da S&P Global. Contudo, os analistas consideram que 2019 será um ano de inversão desta tendência, depois de o Irão ter anunciado, em Dezembro passado, que vai diminuir a sua produção, deixando as refinarias chinesas, sobretudo as do nordeste e sudoeste (as principais clientes de crude iraniano) particularmente preocupadas. Ao mesmo tempo, a China não esconde a preocupação com o facto de o Governo norte-americano poder terminar a qualquer momento o regime de excepção permitido à China, nas sanções impostas ao Irão, que abrangem a proibição de venda de petróleo. Perante este cenário, as empresas chinesas importadoras de crude começaram a olhar com muita atenção a capacidade de exportação de petróleo por parte da Venezuela. O interesse cresceu, nas últimas semanas, após o anúncio, de sanções do Governo norte-americano para as importações de crude oriundo da Venezuela, que obrigará a empresa estatal, a PDVSA, a procurar novos mercado, oferecendo preços competitivos. Outros interesses Até ao momento, os principais importadores asiáticos de crude venezuelano encontram-se na Índia, mas as empresas chinesas têm já fortes relações com o país sul-americano e podem intensificar o seu interesse. Contudo, analistas chamam a atenção para o facto de algumas refinarias chinesas não estarem preparadas tecnologicamente para o tipo de crude exportado pela Venezuela, o que poderá arrefecer este interesse. Em contrapartida, a PDVSA aceita pagamentos em euros e em dólares, o que facilita as contas-correntes dos importadores. “A flexibilidade de pagamento e os baixos preços que a empresa estatal venezuelana pode permitir são variáveis importantes para um redirecionamento das exportações em direcção à China”, explica Oceana Zhou, analista sénior da S&P Global Analytics. Para tornar este cenário ainda mais complexo, o interesse chinês pelo crude venezuelano pode ser mal visto pela Rússia, que é o maior exportador de crude para a China e pretende manter, e aumentar, as suas quotas de mercado na segunda maior economia mundial. Em 2018, a Rússia aumentou as exportações para a China em 20 por cento, para 1,44 milhões de barris de crude por dia, reforçando a sua posição de maior cliente energético. As empresas de análise dizem que as expectativas para 2019 são para um crescimento das importações desde a Rússia pelo quarto ano consecutivo, mas referem que a China pode querer diversificar os seus mercados, nomeadamente na Venezuela, beneficiando de preços mais competitivos do que os russos. Em Setembro de 2018, o Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, fez uma visita de quatro dias a Pequim e regressou com 28 acordos bilaterais, incluindo um empréstimo de cerca de cinco mil milhões de euros, para fortalecer a indústria petrolífera venezuelana. O empréstimo, segundo foi anunciado na altura, destina-se a melhorar e a aumentar a capacidade de produção de 300 furos petrolíferos na região de Ayachucho, onde são produzidos milhares de milhões de barris de crude. O acordo previa também que a empresa petrolífera estatal venezuelana PDVSA cedesse 9,9 por cento das suas acções na empresa chino-venezuelana Sinovensa à empresa petrolífera estatal chinesa CNPC (que já detinha 40 por cento das acções).
Hoje Macau China / ÁsiaGuerra comercial | Washington espera progressos significativos nas negociações com a China [dropcap]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, assegurou esta terça-feira que espera “progressos significativos” nas negociações comerciais com a China e considerou que as acusações dos Estados Unidos ao grupo tecnológico chinês Huawei estão “separadas” da disputa comercial. “Os temas fundamentais de que temos falado são: acesso ao mercado, garantir que não há obrigação de empresas conjuntas, que não há transferência forçada de tecnologia e ter um mecanismo para controlar um acordo, quando houver um acordo”, indicou Mnuchin numa entrevista à Fox Business News. “Espero que sejam alcançados progressos significativos esta semana nesses assuntos”, assinalou, numa altura em que uma delegação chinesa liderada pelo vice-primeiro-ministro Liu He iniciou ontem dois dias de negociações com a administração norte-americana. Questionado sobre as acusações do Departamento de Justiça ao grupo chinês Huawei, Mnuchin separou o assunto. “Esse tema não faz parte das negociações comerciais (…) qualquer questão que esteja relacionada com a violação de leis dos Estados Unidos ou sanções norte-americanas segue um caminho separado”, afirmou.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA/China | Negociações para travar escalada de taxas comerciais [dropcap]A[/dropcap]visita do vice-primeiro-ministro da China, Liu He, a Washington, dá início hoje a uma nova ronda de negociações para tentar evitar mais uma escalada na dura guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Se os negociadores chineses e norte-americanos, que esta semana se reúnem em Washington, nada acordarem, a partir do próximo dia 2 de Março os EUA imporão um aumento de tarifas, de 10 por cento para 25 por cento, em cerca de 200 mil milhões de dólares de produtos importados da China. O vice-primeiro-ministro da China vai sentar-se à mesa com o representante do Departamento de Estado do Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e com o secretário de Estado do Tesouro, Steven Mnuchin, durante uma ronda de negociações que durará apenas dois dias, mas que tem uma muito preenchida agenda de trabalhos. A ronda de negociações que começa esta quarta-feira procura evitar que se concretize a ameaça dos EUA de aumentar significativamente as tarifas das importações vindas da China, em resposta a um aumento de impostos decretada pelo Governo chinês, no final de 2018, para as importações vindas dos EUA. À margem da cimeira do G20 na Argentina, em Dezembro passado, o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Presidente da China, Xi Jinping, concordaram avançar nas negociações sobre as questões estruturais desta disputa comercial, incluindo “transferências tecnológicas, protecção da propriedade intelectual, ciber intrusão, serviços e agricultura”, como ficou estipulado num comunicado após esse encontro informal. Nas últimas semanas, Donald Trump tem manifestado optimismo relativamente ao desenlace desta nova ronda de negociações. “Eu conheço bem o Presidente Xi e estou certo de que nos vamos entender muito bem, nesta questão”, afirmou Trump, aos jornalistas, na semana passada. Em busca de equilíbrios Mas os analistas são muito mais cépticos, sobretudo tendo em conta a posição dura adoptada pelo negociador norte-americano, Robert Lighthizer, que dificilmente cederá em algumas áreas sensíveis, nomeadamente no que diz respeito às questões de patentes e de propriedade intelectual, onde os chineses se queixam de intransigência por parte dos EUA. Do lado dos EUA, Lighthizer levará um pedido para que a China se comprometa a aumentar o volume de compras aos EUA, para equilibrar uma balança comercial que Donald Trump já considerou “demasiado inclinada” para o lado chinês. Do lado da China, o vice-primeiro-ministro deverá insistir numa posição mais flexível por parte dos norte-americanos relativamente às acusações sistemáticas de roubo de patentes. Para o final destas negociações, não é esperado nenhuma declaração conjunta, mas espera-se que os negociadores consigam chegar a acordo sobre um pacote de propostas que serão depois apresentadas aos dois presidentes. No final de uma ronda de negociações em Maio passado, mesmo com uma declaração conjunta, o Presidente Donald Trump acabou por rejeitar as conclusões do entendimento, levando a guerra comercial para o ponto inicial de divergências.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA acusam chinesa Huawei de fraude bancária e espionagem industrial [dropcap]O[/dropcap] Departamento de Justiça dos Estados Unidos apresentou ontem queixa-crime contra a gigante tecnológica chinesa Huawei por fraude bancária, roubo de tecnologia à rival norte-americana T-Mobile e violação de sanções internacionais. Num processo apresentado num tribunal de Brooklyn, Nova Iorque, o Departamento de Justiça acusa a Huawei, a directora financeira Meng Wanzhou e duas companhias subsidiárias de 13 acusações de fraude bancária e conspiração para contornar as sanções impostas ao Irão. Num outro processo, a companhia chinesa é acusada de roubo de segredos à tecnológica norte-americana T-Mobile. A Huawei Technologies Co., o maior fabricante de ‘smartphones’ da China, foi alvo de uma ampla investigação pelas autoridades norte-americanas. Meng Wanzhou foi detida em Dezembro no Canadá em cumprimento de um mandado das autoridades norte-americanas, que agora pedem a sua extradição. A justiça norte-americana alega que a Huawei utilizou uma empresa de fachada de Hong Kong, a Skycom, para vender equipamentos ao Irão, violando as sanções impostas pelos Estados Unidos. Os procuradores alegam também que Meng prestou falsas informações a bancos norte-americanos para os fazer crer que as duas empresas não tinham ligação. No processo relativo a espionagem industrial, a Huawei é acusada de ter nomeado roubado um engenho robótico usado pela T-Mobile em testes a ‘smartphones’.
Hoje Macau China / ÁsiaFórum Davos | China e Estados Unidos “indispensáveis um ao outro”, disse Wang Qishan [dropcap]O[/dropcap] vice-presidente chinês, Wang Qishan, assegurou hoje, em Davos, que a China e os Estados Unidos são “indispensáveis um ao outro”, num momento em que as duas maiores potências económicas do mundo prosseguem negociações comerciais de elevado risco. Wang Qishan, que este ano lidera a delegação chinesa ao Fórum Económico Mundial, declarou que as duas primeiras economias mundiais “são indispensáveis uma à outra” e apelou a estabelecimento de uma relação “ganhador-ganhador”. “Qualquer confrontação é nefasta para os interesses das duas partes”, considerou ainda. Os mercados registaram na terça-feira uma actividade febril e relacionada com as discussões destinadas a pôr termo à guerra comercial. Em causa informações dos media, segundo as quais a administração norte-americana recusou promover esta semana, em Washington, reuniões com enviados chineses. A Casa Branca desmentiu. E ontem, a agência Bloomberg publicava pelo contrário uma informação mais encorajante, ao anunciar que a China poderá adquirir até sete milhões de toneladas de trigo norte-americano. O chefe da delegação de Pequim a Davos também considerou que o crescimento chinês, que em 2018 caiu para o nível mais baixo em quase 30 anos, não permanece menos “significativo”, com 6,6%. E considerou que o número “não é de todo baixo”. Os sinais contraditórios em torno da conjuntura chinesa têm dominado parte considerável das discussões em Davos e onde até ao fim de semana, à semelhança do que sucede anualmente, se reúne a elite da economia e da finança mundial.