Hoje Macau China / ÁsiaEconomia chinesa | Exportações crescem em ritmo acelerado Há mais de dois anos, que os números do comércio externo chinês não cresciam tão rapidamente. O mês de Outubro trouxe um aumento de quase 13 por cento nas exportações do país, superando por larga margem as melhores expectativas dos analistas As exportações da China aumentaram 12,7 por cento, em Outubro, em termos homólogos, o crescimento mais rápido em mais de dois anos, de acordo com dados divulgados ontem pelas alfândegas do país asiático. Os dados mostram que as importações caíram 2,3 por cento, em Outubro, em relação ao ano anterior, enquanto o excedente comercial da China fixou-se em 95,7 mil milhões de dólares em Outubro, acima do valor de Setembro, de 81,7 mil milhões de dólares. As exportações superaram em muito as estimativas dos analistas, que previam uma taxa de crescimento de cerca de 5,5 por cento. O valor supera também o crescimento de Setembro, de apenas 2,4 por cento. Foi a expansão mais rápida desde Julho de 2022. As perspectivas para o comércio externo da China tornaram-se mais incertas depois da vitória de Donald Trump na eleição de terça-feira. Trump prometeu aumentar as taxas alfandegárias sobre as importações da China para 60 por cento. O crescimento das exportações em Outubro sinaliza uma procura sustentada por produtos chineses no exterior, enquanto a procura no mercado interno permanece moderada. Os economistas afirmaram que o efeito de taxas alfandegárias mais elevadas sob a égide de Trump só produziria efeitos no próximo ano. “Embora as taxas propostas por Trump possam prejudicar o sector das exportações, o seu impacto será menos significativo do que muitos receiam – pensamos que poderão reduzir os volumes de exportação em cerca de 3 por cento – e poderá não se fazer sentir até ao segundo semestre de 2025”, afirmou Zichun Huang, da consultora Capital Economics, num relatório. “Enquanto isso, o retorno de Trump pode criar um impulso de curto prazo para as exportações chinesas, já que os importadores americanos aumentam as suas compras para se anteciparem às tarifas”, disse. Pacote surpresa Espera-se que Pequim revele um pacote de estímulo há muito aguardado hoje, após uma reunião do órgão máximo legislativo do país, com o objectivo de revitalizar a economia, face a pressões deflaccionárias e fraca procura interna. Os dirigentes chineses têm-se esforçado por relançar a economia desde o fim da pandemia da covid-19. Os Estados Unidos e a Europa aumentaram recentemente as taxas alfandegárias sobre as exportações chinesas de veículos eléctricos e outros produtos, o que obscureceu as perspectivas do comércio chinês como motor de crescimento. A queda prolongada do sector imobiliário também continua a ser um grande entrave à economia chinesa. Os decisores políticos chineses já anunciaram uma série de medidas para impulsionar a economia, incluindo a antecipação de 200 mil milhões de yuan do orçamento do próximo ano para despesas e projectos de construção.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteChina | Crédite Agricole destaca dificuldades na transição económica Analistas do Crédite Agricole Economic Research defendem que a economia chinesa está em “transição”, com maior foco na procura interna e no desenvolvimento dos sectores dos serviços. Mas o caminho que a China tem pela frente implica a superação das crises de crescimento e confiança, e a resolução dos problemas do sector imobiliário Na mesma altura em que a Assembleia Popular Nacional (APN) reúne em Pequim para discutir novas medidas de estímulo à economia, como a descida das taxas de juro e levantamento de restrições à compra de casa, a unidade de pesquisa económica do grupo Crédite Agricole acaba de emitir uma análise sobre a economia chinesa e actual crise do sector imobiliário. Respondendo à questão “Será que a crise do sector imobiliário vai enterrar os sonhos de prosperidade da China?”, a analista Sophie Wieviorka, do Crédite Agricole Economic Research, considera, com base na publicação periódica do grupo divulgada na quinta-feira, que “o modelo chinês está em transição”. Partindo do modelo de crescimento “baseado na produção industrial com mão de obra intensiva e na atracção de tecnologia estrangeira”, a China estará a passar para modelo assente na inovação. Trata-se de um modelo que busca o impulso “da procura interna e desenvolvimento de serviços, mas não é uma tarefa fácil”. Para a analista do Crédite Agricole, “o que torna a transição ainda mais complicada é o facto de coincidir com uma crise de crescimento e de confiança”, pois, no passado, houve “excessos” na economia chinesa, nomeadamente “uma bolha de sobreinvestimento – nomeadamente no sector imobiliário – em vias de se esvaziar”. Neste sentido, depois de um “forte ajuste dos volumes de transacções e novas construções”, verifica-se uma quebra de preços no sector imobiliário, lê-se no documento de análise periódica, que denota a existência de uma “espiral deflacionista” com “impacto negativo nas famílias, que em média tem 70 por cento do seu património investido no sector imobiliário”. Neste sentido, a analista entende que as autoridades chinesas estão, nesta fase, a tentar “restabelecer a confiança na economia, incentivando os cidadãos a comprar imóveis em vez de poupar e pagar dívidas”. Porém, o caminho para sair da crise do imobiliário, marcada pela queda da Evergrande, deverá ser “longo e penoso”, denota a analista, pois há que ter em conta “o processo de absorção do stock de imóveis construídos e não construídos, anos de construção excessiva e de excessos especulativos”. Num cenário pós-covid-19, em que a economia chinesa sofreu, tal como o resto do mundo, é preciso “tranquilizar as famílias afectadas pela crise da covid-19 e pelo mercado de trabalho pouco dinâmico, nomeadamente para os jovens. Algumas das medidas já anunciadas pelas autoridades pretendem, segundo a mesma análise, apoiar o sector imobiliário, nomeadamente “um novo fundo que permite às cidades comprar directamente as casas devolutas, proporcionar injecções de liquidez para apoiar os promotores e os bancos e reduzir as taxas de juro das actuais e novas hipotecas para restaurar algum poder de compra para as famílias”. As dívidas locais Ainda no que à crise do imobiliário diz respeito, Sophie Wieviorka recorda que em Julho deste ano, quando se realizou na capital chinesa a 3ª sessão plenária do 20º Comité Central do Partido Comunista Chinês, “não foram anunciadas quaisquer reformas de relevo”, mas a analista destaca uma: o facto de o IVA, imposto sobre o consumo, passar a ser cobrado directamente pelas províncias e autarquias, o que reflecte “duas mudanças estruturais” na economia. Uma é a “redução substancial dos recursos próprios das autarquias locais” que procuravam obter lucros com a venda de terrenos. Assim, verifica-se “o fim de um modelo de tributação baseado na promoção imobiliária”, bem como uma “descentralização da política fiscal, com o Governo Central a comprometer-se a ser mais transparente e generoso com as províncias chinesas, que suportaram a maior parte do custo do investimento nas últimas duas décadas e que têm uma dívida enorme”. Porém, a analista do Crédite Agricole recorda que “a carga fiscal é relativamente baixa na China e as reformas que estão a ser discutidas há anos, como, por exemplo, a introdução de um imposto sobre o património, ainda não avançaram”. As reuniões da APN decorrem até sexta-feira, mas, para já, sabe-se que o Comité Permanente da APN analisou na segunda-feira um projecto de lei do Conselho de Estado (Executivo) que visa permitir o aumento dos limites de endividamento dos governos locais, para “substituir as dívidas ocultas existentes”. “Os legisladores analisaram um projecto de lei do Conselho de Estado sobre o aumento dos limites de endividamento das administrações locais, para substituir as dívidas ocultas existentes”, afirmou a agência noticiosa oficial Xinhua, em comunicado, sem dar mais pormenores. Um dos problemas económicos que o país enfrenta é a “dívida oculta” das administrações locais e regionais, que observadores estimam ultrapassar o equivalente a 9 biliões de dólares. A polémica reforma Sophie Wieviorka destaca também outra medida saída das sessões partidárias de Julho: a segunda reforma do sistema de pensões, pois o país enfrenta o envelhecimento da população. Assim, a China “decidiu aumentar a idade legal de reforma”, mas apenas no próximo ano e de forma faseada durante 15 anos, para “evitar descontentamento social”. Assim, a reforma para as mulheres passa dos 60 para os 63 anos, enquanto nos homens vai dos 55 para os 58 anos. Para as mulheres com trabalhos manuais, a reforma deixa de acontecer aos 50 para ser uma realidade aos 55. Para a analista, esta “reforma impopular” reflecte a política do filho único que vigorou durante anos na China, em que se verificou uma “gestão desastrosa da população”. O que se passou nos últimos anos é que as famílias procuraram poupar para a reforma, limitando o consumo. Isso “é o contrário do objectivo de passar para um regime de crescimento mais auto-sustentado”. Proteccionismo preocupa Se o “ambiente [económico] interno é pouco animador”, no estrangeiro a China depara-se com a “ameaça emergente do proteccionismo, nomeadamente dos Estados Unidos da América, Canadá ou União Europeia (UE), de que são exemplo o aumento das tarifas de importação de carros eléctricos chineses e restantes matérias-primas como aço ou alumínio. Para o Crédite Agricole, “a China continua a depender, nesta fase, do comércio externo para apoiar a sua produção industrial”. “Aí reside o problema: quanto mais a economia chinesa abranda, menos produção interna o país absorve e mais precisa do resto do mundo como mercado de exportação para os seus excedentes de produção. Mas os parceiros e rivais comerciais já não estão dispostos a trocar empregos por produtos baratos. Presa nesta situação de círculo vicioso, a China não tem outra opção senão reformar radicalmente a sua economia, estando a lutar para o fazer”, pode ler-se na publicação. Importa referir que na segunda-feira a China recorreu da decisão final da UE junto da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a aplicação de tarifas compensatórias sobre os veículos eléctricos chineses. Segundo a Xinhua, a China “opõe-se firmemente às medidas finais da UE de impor elevadas tarifas aos carros eléctricos chineses, apesar do grande número de objecções levantadas por ambas as partes, incluindo os Estados-membros da UE, a indústria e o público”.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Promovido financiamento ao longo do Rio Yangtzé Criada em 2016, a iniciativa Faixa Económica do Rio Yangtzé, pretende transformar o corredor ao longo da maior hidrovia do país numa região ecológica de sucesso O governo chinês reiterou recentemente o seu compromisso de promover o financiamento verde ao longo da Faixa Económica do Rio Yangtzé com o objectivo de apoiar o desenvolvimento verde, de baixo carbono e de alta qualidade da região. Conforme um conjunto de directrizes divulgadas por várias agências governamentais, incluindo o Banco Popular da China (banco central) e o Ministério da Ecologia e Meio Ambiente, o país fará uso total das ferramentas estruturais de política monetária e incentivará mais investimentos sociais na transformação verde e de baixo carbono da região económica, indica o Diário do Povo. As instituições financeiras e as empresas ao longo da região serão orientadas a emitir títulos verdes de acordo com os padrões nacionais e internacionais, facilitando a participação global na transição de baixo carbono do país, de acordo com as directrizes. As empresas verdes e de baixo carbono elegíveis terão permissão para obter financiamento através de formas como ofertas públicas iniciais, refinanciamento e fusões e aquisições. O país usará o seu fundo nacional de desenvolvimento verde para impulsionar a redução da poluição, a restauração ecológica e o desenvolvimento de redes de transporte verde e energia limpa ao longo da região económica, acrescenta a publicação estatal. Boas intenções A China lançou a iniciativa da Faixa Económica do Rio Yangtzé no início de 2016, com o objectivo de transformar a região numa faixa dourada com uma ecologia mais bonita, redes de transporte mais fluidas, uma economia mais coordenada, um mercado mais bem integrado e uma quantidade maior de mecanismos científicos. O rio Yangtzé é a maior hidrovia da China, com mais de 6.300 quilómetros de extensão, passando por 11 regiões de nível provincial antes de desaguar no Mar do Leste da China. Várias potências económicas, megacidades e grandes áreas produtoras de arroz da China estão localizadas dentro e ao redor da bacia do rio.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Crescimento económico de 4,7% no segundo trimestre de 2024 Inflação, conflitos geopolíticos, e fricções no comércio internacional estarão, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas, na origem do crescimento económico aquém das expectativas registado no segundo trimestre deste ano A economia da China cresceu 4,7 por cento no segundo trimestre deste ano, abaixo da previsão dos analistas, indicam dados oficiais ontem divulgados, enquanto a produção industrial, rendimentos e investimento registaram sinais de melhoria. O valor no segundo trimestre foi muito inferior ao ritmo de crescimento homólogo de 5,3 por cento registado no primeiro trimestre do ano. Os progressos registados, após o abrandamento acentuado do crescimento durante a pandemia da covid-19, foram “duramente conquistados”, afirmou o Gabinete de Estatísticas da China, em comunicado. “Desde o início deste ano, a dinâmica de crescimento económico global tem sido fraca, a inflação é persistente, os conflitos geopolíticos, as fricções no comércio internacional e outros problemas têm ocorrido com frequência, a procura interna é insuficiente, as empresas estão sob grande pressão operacional e existem muitos riscos e perigos ocultos em áreas-chave”, indicou, na mesma nota. “Existem muitas dificuldades e desafios para promover o funcionamento estável da economia”, acrescentou. Os economistas consideraram que a fraca procura por parte dos consumidores e a redução das despesas públicas estão a prejudicar o crescimento da segunda maior economia do mundo. O Gabinete de Estatísticas afirmou que a economia cresceu a um ritmo de 5 por cento no primeiro semestre do ano, o que corresponde ao objectivo fixado por Pequim para este ano. Na sexta-feira, dados divulgados mostraram que as exportações em Junho foram mais elevadas do que o previsto, o que aumentou ainda mais o excedente comercial da China. As exportações cresceram 8,6 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior, embora as importações tenham caído 2,3 por cento. O excedente comercial de Junho foi de 99,05 mil milhões de dólares, superior aos 82,62 mil milhões de dólares registados em Maio. Já produção industrial aumentou 5,3 por cento em Junho, disse o Gabinete de Estatísticas chinês. As vendas a retalho, uma medida da procura do consumidor, subiram 5,1 por cento entre Janeiro e Maio, enquanto o rendimento nominal disponível, não ajustado à inflação, cresceu 5,4 por cento. Efeito borboleta A expansão da procura por parte dos consumidores é considerada fundamental para apoiar um forte crescimento sustentado, mas tem-se mostrado difícil, uma vez que as empresas eliminaram postos de trabalho durante e após a pandemia, levando muitas famílias chinesas a restringir os gastos. Os dados económicos foram divulgados nas vésperas de a elite do Partido Comunista Chinês se reunir para um conclave que se realiza uma vez por década para definir a orientação económica a médio e longo prazo. O terceiro plenário reúne em Pequim os 376 membros permanentes e rotativos do Comité Central do Partido Comunista, órgão dirigente composto por líderes do governo, do exército e ao nível provincial. A reunião deste ano devia ter sido realizada no ano passado, mas foi adiada.
Hoje Macau China / ÁsiaPCC pode usar 3.º plenário para devolver confiança ao sector privado, defende ex-director BM Bert Hofman, antigo director do Banco Mundial para a China, disse esperar do terceiro plenário do 20º Comité Central do Partido Comunista chinês reformas “ambiciosas”, que permitam reequilibrar a economia e injectar confiança no sector privado. Hofman, investigador no Asia Society Policy Institute, lembrou em entrevista à Lusa que a grande questão para o encontro, que desde 1978 ditou reformas significativas no país, é saber “o que é que Pequim quer agora do sector privado”. “Há uma escola de pensamento que considera que a emergência do sector privado foi uma aberração temporária, mas que agora a China sente-se mais confiante”, argumentou Hofman. “Pequim tem de facto restringido os empresários, vinculando-os ao seu plano global de sectores prioritários e nada para além disso”, disse. Oficialmente, a China reconheceu a importância do sector privado desde que o antigo líder Jiang Zemin articulou a sua teoria das “três representações”, em 2000. Antes disso, o antigo líder Deng Xiaoping abriu o país à economia de mercado e ao investimento estrangeiro, em 1978. O actual Presidente chinês, Xi Jinping, manteve o tom reformista após ascender ao poder, ao prometer deixar o mercado desempenhar um papel decisivo na alocação de recursos, durante o terceiro plenário de 2013. Mas uma campanha regulatória no sector tecnológico resultou em multas recorde contra empresas, enquanto apelos à “prosperidade comum” penalizaram grandes acumulações de capital, abalando a confiança dos investidores. “Vamos agora descobrir qual é a direcção para os próximos anos”, disse o investigador. O peso do imobiliário Uma reunião do Politburo do Partido Comunista em Abril sugeriu que o plenário se centrará na modernização e desenvolvimento tecnológico e em reformas do lado da procura e da distribuição da economia. “Um encontro recente entre Xi e empresários sugere que o papel do sector privado está na agenda”, apontou Hofman, que indicou que Pequim pode anunciar a privatização de activos não essenciais das empresas públicas. “Isto resolveria parte da questão da dívida da administração local e seria um sinal muito forte de que o partido considera que o sector privado tem um papel a desempenhar”, afirmou. A economia chinesa enfrenta um abrandamento suscitado por uma crise no sector imobiliário e altos níveis de endividamento das autoridades locais. Isto pesa sobre o consumo doméstico. O país apostou nas exportações para fomentar o crescimento, o que agravou as relações comerciais com os Estados Unidos, União Europeia e países em desenvolvimento.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Pequim vai emitir pela primeira vez obrigações do Tesouro a 20, 30 e 50 anos O Governo continua a implementar medidas que estimulem a economia afectada pela crise no sector imobiliário e pelos anos da pandemia O Ministério das Finanças chinês anunciou ontem que vai emitir pela primeira vez obrigações do Tesouro a 20, 30 e 50 anos, numa altura em que as autoridades tentam estimular a economia, afectada por uma crise no imobiliário. Os primeiros lotes das obrigações a 20, 30 e 50 anos vão entrar no mercado a 24 de Maio, 17 de Maio e 14 de Junho, respectivamente, informou o ministério, em comunicado. Segundo fontes citadas pela agência Bloomberg, o país asiático vai emitir obrigações a 20 anos no valor de 300 mil milhões de yuan, a 30 anos no valor de 600 mil milhões de yuan e a 50 anos no valor de 100 mil milhões de yuan. Durante a sessão anual do órgão legislativo da China, em Março passado, o Governo previu, no relatório de trabalho, a emissão de obrigações de “ultra – longo prazo” como parte de um plano para “responder às necessidades financeiras de projectos importantes no processo de construção nacional”. As obrigações centrar-se-iam no “apoio à implementação da estratégia nacional e ao desenvolvimento das capacidades de segurança em áreas-chave”, lê-se no relatório. A imprensa local referiu então que os fundos obtidos através da emissão de obrigações seriam utilizados especificamente para “projectos relacionados com a inovação tecnológica, desenvolvimento urbano – rural integrado, integração regional, segurança alimentar e energética e o desenvolvimento de alta qualidade da população”. Citado pelo jornal Economic Daily, o analista Xiong Li afirmou na altura que a decisão “envia um sinal claro da política fiscal activa do Governo”, que poderá “estimular as expectativas, aumentar a procura total e melhorar a estrutura da oferta, impulsionando assim a recuperação económica”. Sobe e desce Em 2020, a China anunciou que iria emitir obrigações especiais do Estado no valor de 100 mil milhões de yuan para aliviar o impacto que a pandemia da covid-19 teve na economia, embora nessa ocasião tivessem um prazo máximo de sete anos. A fraca procura interna e externa, os riscos de deflação e os estímulos insuficientes, juntamente com uma persistente crise imobiliária e a falta de confiança no sector privado, são algumas das principais causas apontadas pelos analistas para explicar a situação da segunda maior economia do mundo. Em Dezembro passado, a agência de notação financeira Moody’s baixou a perspectiva do ‘rating’ da China de “estável” para “negativo”, devido aos altos níveis de endividamento da segunda maior economia do mundo. “A alteração para perspectiva negativa reflecte os indícios crescentes de que o Governo e o sector público vão prestar apoio financeiro aos governos regionais e às empresas públicas em dificuldades”, afirmou a Moody’s, em comunicado. Isto “gera riscos significativos (…) para a solidez orçamental da China”, face ao abrandamento da economia do país e às dificuldades no sector imobiliário, acrescentou. Durante muito tempo, o sector imobiliário representou um quarto do produto interno bruto (PIB) da China, assegurando a subsistência de milhares de empresas e de trabalhadores pouco qualificados.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia chinesa | Lucros das empresas industriais sobem 4,3% Os lucros das principais empresas industriais da China aumentaram 4,3 por cento no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2023, revelou no sábado o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês (NBS). De acordo com dados oficiais, os lucros destas empresas ascenderam a 1,5 biliões de yuan nos primeiros três meses de 2024. O NBS atribuiu o aumento à implementação de políticas macroeconómicas que permitiram melhorar a procura, e que terão sido responsáveis por uma subida de 2,3 por cento nos lucros. A melhoria significativa das receitas industriais e empresariais cria condições favoráveis para o crescimento dos lucros, explicou Yu Weining, um funcionário de estatísticas do NBS. Em 2023, apesar da procura “melhorar gradualmente”, de acordo com o gabinete, os lucros das empresas industriais chinesas caíram 2,3 por cento em termos anuais. Para compilar esta estatística, o NBS tem apenas em conta as empresas industriais com um volume de negócios anual superior a 20 milhões de yuans. De acordo com Yu, os lucros destas empresas industriais aumentaram em três trimestres consecutivos, mantendo uma tendência de recuperação após o final da pandemia de covid-19. Injecção de sucesso A economia da China cresceu 5,3 por cento, no primeiro trimestre de 2024, após ter sido impulsionada pelas políticas de estímulo do governo e o aumento da procura. A expansão da segunda maior economia do mundo entre Janeiro e Março superou as previsões dos analistas, que eram de cerca de 4,8 por cento, de acordo com dados oficiais divulgados em 16 de Abril. Em comparação com o trimestre anterior, o crescimento foi de 1,6 por cento. A economia chinesa teve dificuldades em recuperar da pandemia, face à queda na procura e a uma crise de liquidez no sector imobiliário. Os dados económicos surgiram dias depois de a China ter comunicado um declínio das importações e exportações em Março, bem como um abrandamento da inflação, após meses de pressão deflaccionista. A produção industrial no primeiro trimestre aumentou 6,1 por cento e as vendas a retalho cresceram 4,7 por cento, em comparação com o mesmo período do ano passado. O investimento em activos fixos no primeiro trimestre cresceu 4,5 por cento, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os decisores políticos lançaram uma série de medidas de política fiscal e monetária, numa altura em que Pequim procura impulsionar a economia. A China estabeleceu um objectivo de crescimento do PIB de 5 por cento, para 2024.
Hoje Macau China / ÁsiaBanco Popular da China | Abordada situação económica em Washington O governador do Banco Popular da China (banco central), Pan Gongsheng, abordou ontem, em Washington, “a actual situação económica e a política monetária” da China e dos Estados Unidos, com o presidente da Reserva Federal norte-americana, Jerome Powell. O encontro teve lugar durante as reuniões da primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) na capital norte-americana, segundo a instituição monetária do país asiático. De acordo com o comunicado, Pan e Powell debateram a “estabilidade financeira” entre os dois países. Na segunda-feira, as duas potências realizaram em Washington reuniões entre os seus grupos de trabalho económico e financeiro, que se centraram na “situação macroeconómica mundial” e no “crescimento equilibrado”. O vice-ministro chinês das Finanças, Liao Min, e o subsecretário do Tesouro norte-americano, Jay Shambaugh, conduziram uma sessão económica “pragmática e construtiva”, na qual abordaram questões como as restrições comerciais, segundo um comunicado do Governo chinês. A parte chinesa manifestou a sua preocupação com as “medidas restritivas” impostas pelos EUA, enquanto as duas partes concordaram em manter um “diálogo aberto” e “continuar os intercâmbios construtivos”. No mesmo dia, os grupos de trabalho financeiro das duas potências mantiveram diálogos “profissionais, pragmáticos, sinceros e construtivos” na capital norte-americana. Apesar da aproximação entre as duas potências nos últimos meses, as tensões comerciais agravaram-se recentemente, em parte devido ao que Washington considera ser o “excesso de capacidade industrial” da China, especialmente em sectores como a energia solar e os veículos eléctricos. Os EUA anunciaram na quarta-feira que vão lançar uma investigação sobre as práticas comerciais chinesas nos sectores da construção naval, o que poderá conduzir à imposição de taxas alfandegárias punitivas.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteHong Zhang, académica: “Não há uma crise chinesa iminente” Hong Zhang, bolseira de pós-doutoramento em política pública da China no Ash Center da Harvard Kennedy School, defende que a economia chinesa poderá abrandar a curto prazo, embora uma possível crise económica não seja algo “iminente” nem comparável à crise do subprime de 2008. Sobre os investimentos no sector das infra-estruturas, Hong Zhang fala de um novo posicionamento das empresas chinesas como principais investidoras O seu trabalho foca-se no estudo da política económica chinesa em torno dos investimentos em infra-estruturas e na relação com a diplomacia do país. Que análise faz à evolução desta relação nos últimos anos? Na era maoísta, entre os anos 50 a 70, a China começou a recorrer a diversos projectos estrangeiros para construir ligações com países desenvolvidos ou com as nações que tinham obtido a sua independência recentemente. Depois da transição económica da China nas décadas de 70 e 80, alguns destes apoios concedidos no estrangeiro tornaram-se práticas comerciais, sendo que as entidades que concederam estes apoios tornaram-se nas primeiras a terem permissão para fazer negócios a nível mundial. Tal significa que foram as primeiras a terem presença noutros países e a desenvolverem projectos de construção de infra-estruturas, o que levou experiência estrangeira para a China, muito necessária na altura. De um ponto de vista histórico, esses projectos com ajuda [da China] tornaram-se próximas daquilo que temos hoje em dia. Nos últimos anos a China concedeu vários empréstimos para países em desenvolvimento, pretendendo promover a sua indústria nesses países. Traço também um olhar sobre a estrutura desta indústria [de infra-estruturas] porque é muito dominada por empresas do Estado que competem bastante entre si e que não estão muito coordenadas. Por isso é que, em muitos mercados estrangeiros, vemos empresas que, a fim de competir pela obtenção de contratos, se anulam mutuamente. Claro que os empréstimos concedidos pela China desempenharam um importante papel para que as grandes empresas chinesas pudessem ganhar projectos de infra-estruturas de larga escala, nomeadamente a construção de auto-estradas ou centrais de energia hidroeléctrica. São projectos que acarretam elevados riscos e, por norma, não são financiados por outras fontes, tal como o Banco Mundial ou outros apoios bilaterais. Isso tornou-se num nicho de mercado para as empresas chinesas, daí que tenhamos visto, nos últimos anos, tantos projectos de larga-escala apoiados pela China. Contudo, devemos ter em atenção que este modelo se baseia em empréstimos governamentais, muitos deles concedidos [directamente] entre Governos. Este modelo vai, provavelmente, chegar ao fim dado o elevado número de empréstimos concedidos nos últimos dez anos, pois muitos países em desenvolvimento terão atingido o seu limite de endividamento. Pode assistir-se cada vez mais a processos de reestruturação de dívida? A grande preocupação reside no facto de muitos países se terem endividado tanto que terão de reestruturar as suas dívidas. Vamos começar a ver cada vez mais modelos alternativos [de financiamento] da parte de algumas empresas líderes da China, com estas a irem directamente para os países investir o seu capital. Penso que o Governo chinês está interessado em trabalhar com empresas europeias ou instituições financeiras para promover [o know-how chinês em matéria de infra-estruturas] e para fazer esta indústria crescer em todo o mundo. Ter a fonte de financiamento é uma coisa, mas ter empresas com capacidade para construir estes projectos é outra coisa. Este modelo alternativo de financiamento também existe na estratégia “Uma Faixa, Uma Rota”? Esta estratégia depende de muita mobilização, e não funciona apenas se Pequim tiver uma ideia concreta, programas e linhas de financiamento para a promover. Só funciona se forem mobilizadas numerosas empresas e actores nacionais para trabalharem em conjunto nesta direcção. Claro que funciona porque há muitos interesses envolvidos e estas empresas têm interesse em ir para mercados estrangeiros, obter novos contratos e ganhar determinados projectos. Há uma espécie de modelo de negócio em torno da estratégia “Uma Faixa, Uma Rota”. Além disso, o novo modelo [de financiamento] que referi é relativamente novo neste sector [das infra-estruturas]. Hoje em dia só as grandes empresas chinesas podem passar para a posição de investidores em projectos de infra-estruturas e não apenas partes contratantes. Porquê? Porque, por definição, os projectos de infra-estruturas acarretam elevados riscos. Qualquer investidor mostra–se reticente em investir neste tipo de projectos e espera, primeiro, que funcionem a longo prazo. Normalmente esse papel [de investimento] é do Governo, certo? Nas últimas duas décadas verificou-se, sobretudo nos países em desenvolvimento, a tendência global de apostar nas parcerias público-privadas. Tal implica que o Governo trabalha juntamente com investidores no financiamento e planeamento de projectos, existindo ajustes para que os privados se sintam mais seguros para investir e possam esperar um retorno a longo prazo. Isso está a acontecer com as empresas chinesas, que procuram aderir a esta tendência, mas é algo novo, não tendo ainda conhecimento suficiente ou ferramentas para operar como investidores. Isto é algo novo para quem estuda políticas económicas, como eu, porque vemos as empresas chinesas a desempenharem um papel diferente quando envolvidas em projectos de longo curso, podendo ter uma relação diferente com os accionistas locais, comparada com a que tinham sendo apenas partes contratadas de um projecto. Mas a percentagem de empresas chinesas que tem este novo papel a nível mundial é ainda muito baixa. A China sofre o risco de uma crise económica com impacto mundial, tendo em conta o panorama verificado no sector imobiliário? Se pensarmos numa crise como a que tivemos em 2008 na Europa e nos EUA, a situação na China é muito diferente. Provavelmente não iremos ver este tipo de crise, em que há uma grande instituição financeira a colapsar, com impactos a nível mundial. Na China há muitas questões económicas que são estruturais, ao contrário do que se passa nos EUA e Europa, em que algumas crises se relacionam especificamente com o sistema financeiro. O mais preocupante é que as empresas imobiliárias têm sido, nas últimas três décadas, um importante sector na economia chinesa, e isso está relacionado com inúmeras questões. Quais? Uma delas é que a urbanização da China tem estado muito ligada com o desenvolvimento do imobiliário de duas formas: uma delas é, claro, o facto de as pessoas irem para as cidades e comprarem e construírem casas. Outra, deve-se ao facto de grande parte da receita fiscal dos Governos locais ser oriunda da venda de terrenos, pois todos são do Estado. Para que os construtores consigam desenvolver algum tipo de projecto têm de adquirir terra às autarquias locais, sendo que no sistema fiscal chinês o Governo central fica com uma grande percentagem dessas vendas, deixando os Governos locais com uma pequena percentagem de receitas. As autarquias locais são responsáveis por disponibilizar uma série de serviços à população, como é o caso da educação, existindo um desfasamento entre as receitas obtidas e as suas necessidades de despesa. Por isso é que essas autarquias têm estado cada vez mais dependentes das receitas provenientes da venda de terrenos. Daí que os Governos locais promovam o desenvolvimento do sector imobiliário, o que explica a existência de muitas cidades-fantasma. É um problema estrutural, receando-se que, com o abrandamento do imobiliário, as autarquias locais não tenham receitas suficientes para salários ou outras necessidades sociais da população. Daí o sector imobiliário ser tão importante e gerador de tantas preocupações. Não há também uma ligação à banca? Claro que há um grande apoio dos bancos em relação ao imobiliário, pois os Governos locais apoiam-se em empréstimos. O abrandamento do imobiliário afectaria, sem dúvida, outras áreas da economia chinesa, mas como o sistema financeiro chinês não está tão interligado como o da Europa ou EUA, provavelmente não assistiremos a uma crise como a que se registou em 2008, do subprime, com a falência do Lehman Brothers, que levou ao colapso de outras instituições. Contudo, esta crise será um processo lento, pois as dívidas das autarquias locais vão sempre existir, mantendo-se o modelo da conexão estrutural entre o sector do imobiliário, as receitas dos Governos locais e o desenvolvimento económico em geral. É necessário um novo modelo económico? Sem dúvida que a China precisa de transitar para um modelo diferente do anterior, que é altamente insustentável e a origem de muitos problemas. Mas não vai aparecer uma solução rápida num ano ou dois. Sempre houve este apelo e o Governo sempre teve políticas de reestruturação económica em prol de uma menor dependência das exportações, que era o principal modelo de crescimento antes da crise financeira, ou de um menor afastamento dos investimentos em infra-estruturas ou desenvolvimento urbanístico. Daí que grande parte do que está em causa [a nível económico] se relaciona com o imobiliário. A grande preocupação reside no facto de, como este sector tem sido tão importante na economia, as autoridades não se dariam ao luxo de o deixar abrandar demasiado. Nos últimos anos, devido ao aumento dos preços da habitação, as autoridades adoptaram uma série de medidas para limitar a compra de novas casas, para tentar abrandar o sector. Mas agora que todos falam desta situação [o caso da Evergrande], existe a preocupação de que o Governo possa adoptar medidas de curto prazo que façam com que a economia regresse aos problemas estruturais que sempre enfrentou, e aí não haverá medidas suficientes para reestruturar a economia a longo prazo. A implementação de melhores políticas de reestruturação económica, com, por exemplo, a promoção do consumo interno, para que a economia não se baseie tanto num modelo de exportações e investimento, tem existido. Mas agora há restrições no consumo porque há falta de crescimento salarial e isso relaciona-se com o mercado de trabalho, sobretudo para os jovens que, hoje em dia, têm muita dificuldade em encontrar emprego. Daí que, provavelmente, possamos ver um abrandamento da economia chinesa nos próximos dois anos. Não é uma crise iminente, mas temos de nos preparar para esse abrandamento. Como explica o elevado desemprego jovem no país? É consequência da pandemia ou é um cenário mais estrutural? Penso que é mais estrutural. Claro que a pandemia atingiu as pessoas de forma muito dura, sobretudo as empresas, tendo em conta que as pequenas e médias empresas são principais criadoras de emprego. O nível salarial está a aumentar o que faz com que muitas destas empresas não possam contratar mais, e há um desajustamento, pois muitos jovens têm hoje formação universitária, mas esta pode não ser a qualificação certa para eles. São questões de longo prazo que foram aceleradas pela pandemia.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Economia acelera e cresce 5,2 por cento em 2023 A economia chinesa acelerou no trimestre Outubro-Dezembro e fixou a taxa anual de crescimento em 5,2 por cento, correspondendo ao objectivo estabelecido pelo Governo chinês, segundo dados oficiais ontem divulgados. A aceleração reflecte também o efeito base de comparação face à paralisia da actividade económica no ano anterior, suscitada pela política de ‘zero casos’ de covid-19. O PIB da China cresceu 3 por cento em 2022, uma das taxas mais baixas dos últimos 40 anos. No quarto trimestre do ano passado, a economia chinesa também cresceu 5,2 por cento, em comparação com o período homólogo. Numa base trimestral, a economia cresceu 1 por cento no quarto trimestre, abrandando em relação à expansão de 1,3 por cento registada entre Julho e Setembro. Os funcionários do Gabinete Nacional de Estatística da China afirmaram que as medidas, incluindo “o reforço da regulação macroeconómica e os esforços redobrados para expandir a procura interna, optimizar a estrutura, aumentar a confiança e prevenir e neutralizar os riscos”, ajudaram a melhorar a dinâmica da recuperação, da oferta e da procura. A produção industrial, que mede a actividade nos sectores indústria transformadora, minas e serviços públicos, aumentou 4,6 por cento, em 2023, em comparação com o ano anterior, enquanto as vendas a retalho de bens de consumo cresceram 7,2 por cento. O investimento em activos fixos – despesas com equipamento industrial, construção e outros projectos de infra-estruturas para impulsionar o crescimento – subiu 3 por cento, em termos anuais, em 2023. No entanto, os indicadores apontam para uma recuperação desigual na China. Os dados comerciais de Dezembro, divulgados no início deste mês, revelaram um ligeiro crescimento das exportações pelo segundo mês consecutivo, bem como um ligeiro aumento das importações. No entanto, os preços ao consumidor caíram pelo terceiro mês consecutivo, sinalizando a persistência de pressões deflacionistas. Sem problemas O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, afirmou no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça), na terça-feira, que a China alcançou o seu objectivo económico sem recorrer a “estímulos maciços”. Li Qiang afirmou que o país tem “fundamentos bons e sólidos no seu desenvolvimento a longo prazo” e que, apesar de alguns contratempos, a tendência positiva da economia mantém-se. O abrandamento reflecte também os esforços de Pequim para desalavancar a economia, visando reduzir riscos financeiros e construir um modelo assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomista do UBS desvaloriza abrandamento chinês e prevê estabilização do imobiliário Por João Pimenta, da agência Lusa Uma especialista na economia chinesa destacou ontem a importância de “não extrapolar” nem “misturar” desafios estruturais e cíclicos na segunda maior economia mundial, prevendo uma estabilização no mercado imobiliário do país em 2024. “A economia chinesa enfrenta certamente enormes desafios, mas eu aconselho a não misturar desafios estruturais com desafios cíclicos, nem a tirar conclusões que extrapolam e concluem que as coisas vão piorar cada vez mais”, afirmou Wang Tao, atual economista-chefe para a China da filial do banco suíço UBS em Hong Kong, à agência Lusa. “É preciso compreender que a China enfrentou desafios significativos nos últimos 40 anos [de reforma e abertura] e que, em quase todas as etapas, as políticas foram adaptáveis e pragmáticas”, vincou a também autora do livro “Making Sense of China’s Economy”, publicado este ano. Segundo o FMI, a economia chinesa deve crescer 5,4% em 2023, mas abrandará para 4,6%, em 2024. A instituição previu que, a médio prazo, a economia chinesa vá sofrer um enfraquecimento gradual do ritmo de crescimento para cerca de 3,5%, em 2028, devido a fatores como “fraca produtividade” e o envelhecimento da população. Alguns economistas estão assim a reconsiderar previsões, até recentemente tidas como certas, sobre a ascensão do país asiático a maior economia mundial. Em particular, o setor imobiliário, que representa entre 25% e 30% do PIB [Produto Interno Bruto], passou a constituir um peso na economia do país, face a uma crise de liquidez, após anos de forte crescimento alimentado pelo crédito. A crise tem fortes implicações para a classe média. Face a um mercado de capitais exíguo, o setor concentra uma enorme parcela da riqueza das famílias chinesas – cerca de 70%, segundo diferentes estimativas. A queda da confiança resultou assim em menos consumo. Também as finanças das autarquias locais são afetadas pelo declínio na construção, à medida que a queda das receitas fiscais obriga a um corte nas despesas, incluindo salários. Reconhecendo que a recessão no imobiliário está a exercer “grande pressão” sobre a economia, Wang previu que o mercado vai estabilizar nos próximos meses. “[O imobiliário] vai deixar de ser um motor de crescimento, como foi anteriormente, mas também vai deixar de ser um travão negativo, como foi nos últimos dois anos”, descreveu. Ela considerou que Pequim podia fazer mais para apoiar a economia, incluindo aliviar a carga fiscal e aumentar as despesas com saúde, educação ou pensões. “As despesas sociais podem ajudar a melhorar a confiança dos consumidores e reduzir a sua taxa de poupança”, frisou. Wang Tao espera também um aumento da emissão de dívida pública para financiar infraestruturas, o que deve elevar o défice do país para entre 3,5% e 3,8 % do PIB no próximo ano. A sequência de dados económicos negativos – deflação, crise imobiliária ou altas taxas de desemprego jovem – é também consequência da determinação de Pequim de abandonar um modelo de crescimento assente no endividamento insustentável, explicou Wang. “A economia da China está a afastar-se do tradicional crescimento impulsionado pela dívida, construção e utilização intensiva de matérias-primas”, descreveu. “A China tem que avançar para novas áreas de crescimento para subir nas cadeias de valor”, acrescentou. Alguns dos planos de Pequim estão a correr de feição: a China ultrapassou, este ano, o Japão como o maior exportador de automóveis do mundo e a transição energética a nível global depende dos painéis solares, turbinas eólicas e baterias produzidos no país. Wang Tao afirmou, no entanto, que existem desafios, incluindo os crescentes entraves no acesso a alta tecnologia que os Estados Unidos, Europa e Japão estão a colocar à China. “Penso que isso vai ser, obviamente, um obstáculo ao avanço da China nos segmentos industriais avançados”, reconheceu.
Hoje Macau China / ÁsiaBanco Mundial | Previsão de crescimento chinês revista em baixa para 5,2% O Banco Mundial (BM) previu ontem que a economia chinesa vai terminar o ano com um crescimento de 5,2 por cento, um ajustamento em baixa da anterior previsão, feita em Junho, que apontava para 5,6 por cento. Para o próximo ano, a instituição ajustou em alta a previsão, feita em Outubro, de crescimento do produto interno bruto (PIB) de 4,4 por cento para 4,5 por cento. “A possibilidade de uma recuperação lenta do sector imobiliário e a persistência de uma procura externa débil persistem. Para apoiar o crescimento, espera-se que o Governo mantenha uma orientação fiscal e monetária moderadamente expansionista em 2024”, disse o BM, sediado em Washington. O BM citou “constrangimentos estruturais” ao crescimento, como os “elevados níveis de dívida”, o “envelhecimento da população” e o “menor crescimento da produtividade do que no passado”. A instituição identificou também “riscos importantes”, incluindo “um abrandamento do setor imobiliário que pode ir além das expectativas iniciais”, “o aumento das tensões geoeconómicas” e “as alterações climáticas e a frequência crescente de fenómenos meteorológicos extremos”. A directora do BM para a China, Mongólia e Coreia, Mara Warwick, afirmou que “a flexibilização da política macroeconómica tem apoiado a recuperação a curto prazo”, acrescentando que “seria importante realizar reformas estruturais complementares para aumentar a confiança e relançar a dinâmica de crescimento, como a melhoria do quadro de resolução da dívida da China e o reforço do ambiente propício para as empresas privadas”. Entre Julho e Setembro, a segunda maior economia do mundo cresceu 4,9 por cento em comparação com o mesmo período de 2022, ainda marcado pelas consequências da estratégia ‘zero covid’, de medidas rigorosas contra a covid-19, entretanto desmantelada.
Hoje Macau VozesModernização da China é um modelo da sustentabilidade Por Júlio Biquer* Com mais de 1,4 mil milhões de habitantes, ou seja, 18% da população mundial, com uma imensidão territorial de características geográficas adversas e uma realidade populacional e histórica atípica, a modernização da China, como disse o Xi Jinping, o seu presidente, “… é a mais difícil e, ao mesmo tempo, a mais grandiosa.” Para a modernização da China, vários caminhos foram antes explorados, depois da guerra do Ópio em 1840, começaram várias tentativas: o Governo Nacional da República da China (1912-1949 d.C.), o Movimento de Autofortalecimento, tentou com o método de aprendizagem das tecnologias industriais e militares do Ocidente, a Reforma dos Cem Dias e a Revolução Xinhai também procuraram estabelecer monarquia constitucional ou república ao estilo ocidental. Mas estas fórmulas copiadas do ocidente não tiveram êxitos. Com a liderança do Partido Comunista da China, o povo chinês encontrou o caminho certo para independência nacional, libertação popular e prosperidade do país. O PCCh estudou e usou o marxismo para promover a modernização socialista com base nas realidades da China. Entendendo que não podemos copiar modelos e tentar implementá-los sem ter em conta a própria realidade, no entanto, deve ser através das experiências baseadas nas realidades nacionais. Consciente que o mais importante é resolver o problema do povo, dando-lhes o que precisam, inspirando na sabedoria política tradicional chinesa para garantir a paz, estabilidade e o bem-estar não só do povo chinês, mas do mundo. A modernização, ato ou efeito de modernizar ou atualizar, tido hoje como ocidentalização, é na verdade nada mais que a reorganização de acordo com os métodos ou tendências avançadas. Nos dias de hoje, se considera os objetivos de desenvolvimentos sustentáveis como vetor fundamental da modernização. A China seguiu esta direção, fazendo com que a sua modernização anda de mãos dadas com a proteção do meio ambiente, inclusão social, erradicação da pobreza, paz, abundância material equilibrado com a cultura e a ética e tudo fora da lógica expansionismo ou da dominação. Modernização verde e inclusiva A convivência harmoniosa entre o homem e a natureza é a ideia central da filosofia da tradição chinesa e está enraizado nos seus genes culturais. Tomando como exemplo as duas escolas com maiores influências; confucionismo e o taoísmo. Para estas escolas “A natureza não fala, mas garante a rotação das quatro estações e o crescimento de todos os seres.” E o Chuang Tzu defendia que “Vivemos com a natureza e somos um só.” Estas filosofias tradicionais amigo do ambiente, são tidos em consideração na política de modernização da China, numa das declarações do Presidente Xi Jinping, afirmou que a “dotação per capita de energia e outros recursos naturais da China é absolutamente insuficiente, e o desenvolvimento acelerado do país é restringido pela esta dotação e pelo meio-ambiente’’. O País Ganhou o prémio Campeões da Terra pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a maior honraria ambiental da ONU. E ocupa o 1º lugar do ranking mundial em vários domínios de desenvolvimento verde. Tem a maior escala de desenvolvimento e uso de energia renovável, o maior volume de produção e venda de veículos de nova energia, a melhoria mais rápida da qualidade do ar, o maior aumento nos recursos florestais, e a maior área de floresta plantada. Desde a fundação da República Popular da China, particularmente depois da entrada na nova era do socialismo com as características chinesas, sob a liderança do Partido Comunista da China (PCCh), o seu empenho no desenvolvimento económico e social tem como objetivo final alcançar a prosperidade inclusiva. Por isso garantiu a disponibilidade de alimentos per capita que chega a mais de 470 kg, superior à linha de segurança alimentar internacional de 400 kg. O rácio da renda disponível per capita dos residentes urbanos perante a dos residentes rurais caiu para 2,45:1, comparando com 2,88:1 de uma década atrás e conseguiu tirar quase 100 milhões de pessoas rurais da pobreza, dando assim um passo a mais para a prosperidade comum. Equilíbrio material, cultural e ética A China sempre trabalhou para a abundância material. Na Dinastia de Song, era uma das gigantes das trocas comerciais do mundo. Sob a liderança do Partido Comunista da China, estabeleceu uma nova China e reduziu de forma exponencial a pobreza. Só por título de exemplo segundo as fontes chineses, a renda disponível per capita aumentou de 49,7 yuans em 1949 para 37.000 yuans em 2022, permitindo uma população de mais de 1,4 mil milhões de pessoas viver uma vida moderadamente próspera em todos os aspetos. Os maiores sistemas de educação, de segurança social e de saúde do mundo são estabelecidos no país. Conseguiu preservar a sua cultura de forma intacta, a civilização chinesa é a única no mundo que não sofreu interrupções. Escrita do oráculo em ossos, poesia e cantos populares, terracotas e porcelanas clássicas, pavilhões e jardins requintados…são exemplos vivos. O país lidera o ranking mundial de património cultural imaterial da UNESCO, com 43 projetos na lista. Grandes projetos como Arqueologia da China oferecem suporte para estudo e análise sobre a origem da civilização chinesa. Paz e desenvolvimento A modernização, o desenvolvimento de uma civilização muita das vezes são acompanhados de expansão territorial, colonização e outras formas de dominação. Mas a China decide prosseguir seguindo um caminho diferente, o caminho do desenvolvimento pacífico, conforme inscrito na sua lei magna. Na filosofia dos governadores chineses “governar é promover coexistência de todos na harmonia” e para o povo “a fortuna nasce da harmonia’’, esta “cultura de harmonia” é também trazida na Arte da Guerra de Sun Tzu, para ele, “o líder habilidoso subjuga as tropas inimigas sem nem ao menos lutar” mostrando claramente a consciência da “valorização da paz”. Preocupado com a paz mundial formulou e está praticando proactivamente os Cincos Princípios da Coexistência Pacífica, a China é hoje o maior contribuinte de forças de manutenção da paz da ONU entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, bem como o único dos cinco Estados com armas nucleares que se compromete a não ser o primeiro a utilizá-los. Para a realização do sonho chinês é imprescindível um ambiente interno e externo pacífico e estável. Conclusão É inegável o salto gigantesco dado pela China, que não podemos trazer neste trabalho, todas as grandes mudanças realizadas sob liderança do PCCh, mas alguns indicadores interessantes trazem de forma patente, a imagem de uma China modernizada. Portanto, a China é um exemplo em termos do equilíbrio entre a modernização, a cultura, ética e os objetivos do desenvolvimento sustentável, na medida em que partiu da sua própria experiência, idealizou e implementou um sistema híbrido, funcional e sustentável. * Presidente do Instituto Nacional da Juventude (INJ). Secretário Geral Adjunto da Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC-PAIGC)
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia chinesa | Recuperação deverá acentuar-se em 2024 A reunião do Partido Comunista da China, presidida por Xi Jinping, deixou indicações optimistas para 2024. A consolidação da recuperação económica, após três anos de pandemia, deverá passar pela execução de políticas monetárias prudentes e pela expansão do consumo interno A China vai procurar “estimular a procura interna e consolidar a recuperação económica em 2024”, concluiu sexta-feira a cúpula do Partido Comunista da China (PCC), numa reunião presidida pelo líder do país, Xi Jinping. O Comité Permanente do Politburo, o mais alto órgão de decisão do PCC, garantiu que o país vai continuar com “uma política monetária prudente e uma política fiscal pró-activa” no próximo ano, de acordo com os órgãos estatais. “A China vai ganhar vitalidade económica, prevenir e resolver os riscos, melhorar as perspectivas sociais, consolidar e reforçar a recuperação económica e continuar a promover a melhoria efectiva da qualidade e do crescimento da economia”, apontou a cúpula do poder chinês, num comunicado difundido pela agência noticiosa oficial Xinhua. O PCC estipulou que são necessários “esforços” para “expandir a procura interna” e promover o consumo e o investimento. “Este é o ano da recuperação após três anos de prevenção e controlo contra a covid-19. Resistimos às pressões externas e ultrapassámos as dificuldades internas. Agora é tempo de expandir a procura interna, optimizar a estrutura económica, reforçar a confiança e prevenir e desativar os riscos”, lê-se no texto. A mesma nota assegurou que a economia do país regista “progressos sólidos” com “bases para um desenvolvimento seguro”. “Temos de continuar a dar um forte impulso ao desenvolvimento de alta qualidade. É necessário alargar a abertura de alto nível ao mundo exterior e consolidar os fundamentos do comércio externo e do investimento estrangeiro”, defendeu o PCC. Previsões e notações Nos últimos meses, Pequim tentou estimular a fraca recuperação económica pós-pandemia, face à crise imobiliária, riscos da dívida das administrações locais, fraco crescimento global e tensões geopolíticas. A agência de notação financeira Moody’s afirmou esta semana que vê “cada vez mais indícios” de que Pequim vai prestar “apoio financeiro” aos governos locais e regionais que enfrentam problemas de liquidez, o que “colocará em risco a força fiscal, económica e institucional da China”, com perigos também num possível abrandamento “estrutural e persistente” do crescimento. A indicação da Moody’s já mereceu a contestação das autoridades chinesas (ver página 2). No entanto, a empresa manteve a notação A1 para a dívida chinesa, considerando que Pequim dispõe de recursos financeiros e institucionais suficientes para “gerir esta transição de forma ordenada”, e que a grande dimensão da sua economia é também uma protecção contra a absorção destes riscos. A economia chinesa vai crescer 5,4 por cento este ano, mas abrandará para 4,6 por cento em 2024, devido à “fraqueza contínua” do mercado imobiliário e à “fraca” procura externa, previu em Novembro o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Autoridades de Guizhou e Shaanxi acusadas de falsificarem dados económicos A agência de estatísticas da China acusou ontem algumas áreas administrativas em Guizhou e Shaanxi de falsificarem ou interferirem na recolha de dados económicos, numa altura em que os governos locais enfrentam problemas por excesso de endividamento. Em declarações publicadas no seu portal oficial, o Gabinete Nacional de Estatística (GNE) atribuiu os alegados problemas de fraude e interferência na recolha de dados a cidades e vilas em Guizhou e Shaanxi, embora não tenha revelado os nomes específicos das áreas em causa nem se foram propostas punições. Durante o Verão, o GNE efectuou inspecções em muitas províncias – incluindo Guizhou e Shaanxi – para garantir que os dados económicos que recebe das autoridades locais são fiáveis e não foram inflacionados por funcionários. No mês passado, o GNE iniciou nova ronda de inquéritos em seis outras províncias e também em dois ministérios, o do Comércio e o dos Recursos Naturais, para além do recenseamento económico quinquenal que está a ser preparado para avaliar a situação do país, após três anos de política de ‘zero casos’ de covid-19. Bases instáveis O jornal de Hong Kong South China Morning Post recordou que os analistas há muito que manifestam dúvidas sobre a exactidão e a veracidade dos dados económicos da China, devido à falta de transparência, enquanto, a nível interno, Pequim precisa de números fiáveis para delinear eficazmente as suas políticas. “Dados fiáveis são de importância fundamental para a elaboração de políticas racionais, bem como para a tomada de decisões empresariais. É, sem dúvida, do interesse do governo garantir a máxima fiabilidade dos dados”, afirmou Chen Zhiwu, professor de finanças na Universidade de Hong Kong, citado pela The Economist. O GNE também acusou alguns funcionários da província de Henan de “não compreenderem como é extremamente crucial” a fiabilidade dos dados, após alguns órgãos de comunicação social terem avançado que eles atrasaram a correcção de dados falsificados. Os funcionários locais tendem a inflacionar os dados económicos para aumentarem as hipóteses de promoção ou devido à pressão que sofrem para cumprir objectivos de crescimento económico. O governo central está a tentar resolver o problema da dívida das administrações regionais, que acumularam grandes quantidades de “dívida oculta” através de canais de financiamento informais conhecidos como “veículos financeiros da administração local” (LGFV).
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia chinesa dá sinais de retoma apesar da persistente debilidade no imobiliário A economia da China deu sinais de retoma, em Outubro, com as vendas a retalho e a indústria transformadora a crescerem, embora o sector imobiliário continue a contrair, indicam dados oficiais ontem divulgados. Em Outubro, a produção industrial aumentou 4,6 por cento, em termos homólogos. As vendas a retalho subiram 7,6 por cento, ajudadas pelo forte consumo durante a semana de férias do Dia Nacional. O investimento em imobiliário caiu 9,3 por cento e as autoridades reconheceram que o sector ainda se encontra em “plena fase de ajustamento”, depois de, há dois anos, uma campanha de desalavancagem lançada por Pequim ter suscitado uma crise de liquidez. As perturbações na indústria transformadora, nos transportes, nas viagens e em praticamente toda a actividade económica durante a pandemia terminaram há quase um ano, quando os dirigentes chineses abandonaram a estratégia ‘zero casos’ de covid-19. A melhoria dos dados económicos de Outubro reflecte também o efeito base de comparação face à paralisia da actividade no ano anterior. Os recentes indícios de que a segunda economia mundial está novamente a ganhar força surgem numa altura em que o Presidente chinês, Xi Jinping, se prepara para se reunir com o homólogo dos EUA, Joe Biden, na Califórnia. Novos ritmos Liu Aihua, porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, sublinhou repetidamente a transição da China para novos modelos de crescimento, após décadas de rápida industrialização e grandes investimentos em fábricas, portos e outras infra-estruturas, para um ritmo mais sustentável, liderado pelo consumo interno. A economia continua a melhorar com “políticas eficazes”, embora a recuperação esteja a passar por um “desenvolvimento semelhante a uma onda e um progresso tortuoso”, afirmou. “A pressão externa ainda é grande, os constrangimentos suscitados pela insuficiente procura interna ainda são proeminentes, as empresas têm muitas dificuldades na produção e operação, e os riscos ocultos em alguns domínios exigem muita atenção”, descreveu Liu. Os dados indicam que o consumo está a desempenhar um papel cada vez mais importante no crescimento económico. O consumo contribuiu em 83,2 por cento para o crescimento do produto interno bruto (PIB) entre Janeiro e Outubro, mais 6 por cento do que no mesmo período do ano anterior. Dado o grande fosso entre os rendimentos dos habitantes das cidades e os das pessoas que vivem nas zonas rurais, há grande margem para crescer, disse Liu. O desemprego manteve-se em 5 por cento em Outubro. O Governo chinês deixou de anunciar a taxa de desemprego dos jovens trabalhadores há alguns meses, quando esta atingiu os 20 por cento. Liu disse que o gabinete de estatísticas e outros departamentos relevantes estão a estudar a questão e a trabalhar para melhorar a recolha de estatísticas e que serão publicadas actualizações sobre a situação “no momento oportuno”.
Hoje Macau China / ÁsiaAnálise | Investimento no exterior vai entrar em período de “muita sobriedade” O economista Michael Pettis considera que a China teve um período inicial de “exuberância” no financiamento ao exterior que vai ser seguido por outro de “muita sobriedade”, à medida que vários países arriscam entrar em incumprimento “É o padrão comum: quando se sai pela primeira vez, sobrestima-se a capacidade de compreender os países em desenvolvimento, subestima-se o risco”, destaca à Lusa o professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim. “No início, é muito difícil resistir à tentação de poder ganhar muito dinheiro, até se chegar a um ponto em que se tem de receber reembolsos significativos”, acrescenta. A China celebra esta semana dez anos desde o lançamento da Iniciativa Faixa e Rota com um fórum em Pequim que conta com a participação de líderes de mais de cem países. Designado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como o “projecto do século”, a iniciativa foi inicialmente apresentada no Cazaquistão como um novo corredor económico para a Eurásia, inspirado na antiga Rota da Seda. Na última década, no entanto, a Faixa e Rota adquiriu dimensão global, à medida que mais de 150 países em todo o mundo aderiram ao programa. Para Michael Pettis, o projecto nasceu da necessidade da China exportar o excesso de poupança adquirido através de um excedente comercial com o resto do mundo. “O Governo chinês colocou, inicialmente, as suas reservas sobretudo em obrigações do Estado norte-americano, mas à medida que as reservas aumentaram, tornou-se mais receptivo a diversificar e a investir noutros activos de maior rendimento: foi nessa altura que descobriu o mundo em desenvolvimento”, descreve. Nos últimos anos, as empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias ou centrais eléctricas em todo o mundo, financiadas por bancos de desenvolvimento chineses. A China é agora o maior credor internacional do mundo, tendo-se tornado na principal fonte de financiamento para muitos países de rendimento baixo ou médio. Segundo diferentes estimativas, a China investiu cerca de um bilião de dólares nos países em desenvolvimento no âmbito da Faixa e Rota. Reverso da medalha O gigantesco programa internacional de infraestruturas enfrenta, no entanto, desafios suscitados pelo excesso de endividamento em alguns países e projectos comercialmente inviáveis, alguns dos quais ficaram por terminar, devido a falta de liquidez. Sri Lanka, Maldivas, Laos e Quénia são alguns dos países que enfrentam dificuldades em cumprir com as suas obrigações, numa altura em que Pequim lida com uma crise interna no sector imobiliário e uma economia em abrandamento. Michael Pettis apontou um formato pirâmide no gráfico do investimento chinês no exterior, com uma ascensão repentina que atinge o pico em 2016 e regista, logo de seguida, uma descida abrupta. O ponto de viragem foi a entrada em incumprimento da Venezuela, explicou. Segundo diferentes estimativas, Caracas deve actualmente 10 mil milhões de dólares a diferentes instituições chinesas. “A China emprestou desproporcionadamente à Venezuela, Argentina e Equador, mas, em 2015, a Venezuela teve de reestruturar praticamente toda a sua dívida à China e ao resto do mundo”, lembra. “Isto foi um choque muito grande para Pequim”, refere o economista, que vive no país asiático há mais de duas décadas. “Foi a primeira vez que [a China] percebeu que conceder empréstimos a países em desenvolvimento é bastante arriscado e que, quando há uma expansão demasiado rápida, é provável que surjam problemas”. Dimensão reduzida Pettis considera que Pequim vai ter que perdoar parte das dívidas. “Já se sabe como é que isto funciona: os empréstimos são feitos na expectativa de que serão totalmente reembolsados; depois descobre-se que o reembolso é muito difícil; passa-se um período muito longo e destrutivo em que a dívida é renegociada e reestruturada; por fim, chega-se a um ponto em que se reconhece que o perdão da dívida é a única saída”, explica. A China reconhece que o formato da iniciativa tem que mudar: o mantra agora são projectos “pequenos e belos”, ou seja, investimentos pequenos e comercialmente viáveis. Com esta nova estratégia, o financiamento chinês além-fronteiras caiu quase 50 por cento, face há cinco anos, segundo uma análise do Green Finance and Development Center, um grupo de reflexão (‘think tank’) que acompanha os investimentos da Faixa e Rota. “A dívida insustentável, por definição, é insustentável”, aponta Pettis. “Tanto o mutuário como o mutuante ficam em melhor situação quando chegam a acordo sobre o montante correcto de perdão da dívida. A China ainda vai demorar muitos anos a chegar lá”, acrescenta.
Hoje Macau China / ÁsiaCrise de crescimento é oportunidade para qualificar trabalhadores Numa conferência no Porto, o vice-director do Instituto de Economia Mundial da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhang Bin, defendeu que o arrefecimento da economia chinesa é uma oportunidade para qualificar a mão-de-obra. Zhang Bin admitiu que, nos últimos 10 anos, a economia cresceu a níveis inferiores ao de décadas anteriores, mas “esta situação deve ser olhada de forma positiva, como uma oportunidade para mais investimento e para acumular conhecimento”. “Este é o momento para a China apostar em investir nas suas infraestruturas e no capital humano intensivo”, defendeu o investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, num painel da IV conferência internacional de cooperação Portugal-China, que se realizou no Porto, assinalando os 10 anos do lançamento da Nova Rota da Seda e a parceria estratégica Europa-China 20, colocando como objetivo contribuir para o “abrandamento da tensão entre a Europa e a China”. Zhang recusou-se a atribuir a alteração estrutural no ritmo de crescimento económico chinês a fatores que, disse, muitas vezes são apontados nos ‘media’ internacionais, em particular o aparecimento de uma ‘bolha’ imobiliária de elevado nível de risco ou o aumento exponencial da dívida pública da China. “As razões devem ser procuradas noutro lugar. Desde logo no arrefecimento da procura interna e externa, que afetou os níveis de produção e de exportação dos principais setores da economia chinesa. Mas, também devem ser procuradas na falta de capital humano intensivo”, explicou o professor do Instituto de Economia Mundial e Política. O investigador defendeu que este momento de arrefecimento da economia chinesa deve ser olhado não como uma crise, mas como uma oportunidade, lembrando que nos últimos anos a China passou a fazer uma aposta na qualidade dos seus produtos e por acumular conhecimento para prosseguir essa trajetória de qualificação. “Este não é o momento para procurar mais expansão. Este é o momento para investir e para acumular ‘know how’”, disse Zhang, referindo-se às possibilidades de alargamento de zonas de influência comercial propiciados pela Nova Rota da Seda, que devem ser aproveitadas para aprender com outros sistemas, mais do que para serem vistos como novos mercados. O vice-director do Instituto de Economia Mundial e Política assinalou ainda que, quando se compara o arrefecimento da economia chinesa com o comportamento das economias de países desenvolvidos, é possível perceber a falta de procura externa. Apesar da sua perspectiva otimista sobre o desempenho da economia chinesa, Zhang Bin mostrou-se preocupado com o aumento de desemprego na China, decorrente do arrefecimento da produção. “Mais uma razão para se aproveitar este momento para qualificar a mão de obra na China”, disse o investigador. A conferência foi uma iniciativa da Câmara de Cooperação e Desenvolvimento de Portugal-China (CCDPC), da União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China e do Observatório da China, tendo como co-anfitriões o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-China, e realizou-se no auditório da Fundação Manuel António da Mota, no Porto.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Restringir comércio com Pequim é “vontade política” , dizem empresários Empresários alertam para a falta de sentido de algumas decisões políticas que tentam condicionar os laços económicos e comerciais estabelecidos entre o Ocidente e a China A tentativa de reduzir dependências económicas e comerciais face à China por parte dos países ocidentais, que vêm ensaiando uma estratégia comum, “choca” com as forças de mercado e é “inerentemente política”, advertem empresários. “Uma fragmentação [nos laços comerciais com a China] não está a ser impulsionada por motivos económicos. É tudo político”, disse Steve Hoffman, presidente executivo da Founders Space, uma das principais incubadoras e aceleradoras de ‘startups’ do mundo, com sede em São Francisco, na Califórnia, numa visita recente a Pequim. “Em termos económicos não faz sentido nenhum”, observou à agência Lusa. A estratégia de reduzir riscos no comércio com a China foi inicialmente delineada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e, mais tarde, adoptada pela Administração norte-americana. Em Maio passado, o grupo G7, que reúne as principais economias ocidentais, vincou aquele objectivo num comunicado conjunto. Trata-se de uma moderação da retórica anterior, que apontava para a completa “dissociação” face à China. As empresas ocidentais podem fazer negócios com o país asiático, mas com algumas salvaguardas: vetar a venda de tecnologias críticas com potenciais utilizações militares e reduzir dependências nas cadeias de abastecimento. No entanto, os custos, dificuldades e o choque entre os interesses das empresas e dos países constituem obstáculos à sua aplicação. “Os Estados Unidos estão sob pressão das suas empresas: Microsoft, Apple ou Intel não querem reduzir a sua exposição à China”, apontou Steve Hoffman. Em causa, estão condições “muito difíceis de replicar” em outras partes do mundo, apontou. A China detém abundante mão-de-obra especializada, serviços logísticos e infraestrutura altamente desenvolvidos, além de um mercado consumidor composto por 1,4 mil milhões de pessoas. O país é, assim, em simultâneo, o maior produtor e principal mercado para os iPhones da norte-americana Apple. Várias outras marcas internacionais enfrentam igual dependência. Terreno irresistível Apesar dos apelos dos governos ocidentais às empresas para que reduzam a sua presença no país, nos últimos meses, a gigante suíça de automação industrial ABB inaugurou em Xangai uma fábrica de robótica de última geração, num investimento avaliado em 150 milhões de dólares, e a fabricante automóvel alemã Volkswagen anunciou que vai adquirir uma participação de 4,99 por cento da marca chinesa Xpeng por 630 milhões de euros, visando o desenvolvimento conjunto de veículos eléctricos. A fabricante automóvel alemã, cuja quase metade dos lucros globais provém do mercado chinês, anunciou também que vai investir mil milhões de euros na criação de um novo centro de inovação na China. Fernando Colaço, um português que fundou uma empresa de ‘design’ e programação em Pequim, reconheceu à Lusa que há “forças políticas” que procuram afectar a parte empresarial, mas que a “força dos mercados” continua a ser “determinante”. “A parte empresarial continua atenta à China”, explicou. “As empresas sabem que precisam da China e querem assegurar a sua posição no mercado chinês”. No átrio do Hilton Beijing Capital Airport, um amplo espaço coberto em mármore, com colunas e painéis de madeira ornamentados em estilo chinês, Steve Hoffman, que começou a visitar a China em 2015, alertou para os perigos da “desglobalização”. “Quando a interdependência é total, ninguém quer agitar as águas”, descreveu. “As tensões geopolíticas vão sempre existir”, notou. “Mas, se a tua economia depende dos outros, vai existir sempre muita pressão para não exacerbares essas tensões”.
Hoje Macau China / ÁsiaChina tenta reorientar economia de crescimento “fictício” para “genuíno” O período de intenso crescimento económico da China acabou, à medida que Pequim tenta desalavancar a economia e reorientar o investimento para activos produtivos e estratégicos, apesar dos riscos inerentes, apontaram analistas à Lusa. A sequência de dados económicos negativos – deflação, crise imobiliária ou altas taxas de desemprego jovem – são consequência da determinação do Presidente chinês, Xi Jinping, de abandonar um modelo de crescimento assente no endividamento, que resultou numa espectacular transformação do país, mas também em muito “crescimento fictício”, observou Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim. “O excesso de investimento em todo o tipo de projectos de construção inflaciona o crescimento na China há vários anos”, descreveu à agência Lusa. Na última década, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, cerca de cem aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média em centenas de milhões de pessoas. Guizhou, uma das mais empobrecidas províncias chinesas, por exemplo, construiu, algumas das pontes mais altas do mundo, incluindo uma travessia sobre o rio Duge Beipan, com 565 metros de altura, ou a ponte Pingtang, com 332 metros de altura, que atravessa o desfiladeiro do rio Caodu. A dívida local é agora também das mais altas do país: 1,2 biliões de yuan, ou 137% do PIB (produto interno bruto) da província. “A maioria dos quadros [do Partido Comunista] conseguiu adaptar-se activamente aos novos requisitos de desenvolvimento, mas alguns não estão a conseguir acompanhar”, advertiu Xi, num discurso recente. “Há quem ache que desenvolvimento consiste em lançar projectos, realizar investimentos e expandir em escala”, observou. Na visão do líder chinês mais forte das últimas décadas, a China deve alcançar um crescimento “genuíno” e converter-se numa potência industrial e tecnológica de nível mundial, com uma economia assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos. Xi pediu que o país se concentre em objectivos de longo prazo, “em vez de visar apenas riqueza material a curto prazo”. “Os países ocidentais enfrentam cada vez mais problemas”, observou. “Eles não conseguem conter a natureza gananciosa do capital”. A primeira vítima de Xi foi o imobiliário: em 2021, os reguladores chineses restringiram o acesso do sector ao crédito bancário, suscitando uma crise de liquidez. Uma das maiores construturas do país, o Grupo Evergrande, colapsou. Dezenas de outros grupos estão a negociar a restruturação das suas dívidas. O mais recente é a Country Garden, que está entre as 500 maiores empresas do mundo. Isto acarreta “grandes riscos” para a economia do país, já que o imobiliário concentra 70 por cento da riqueza das famílias chinesas e 40 por cento das garantias detidas pelos bancos, segundo estimativas do Citigroup Inc. O impacto sobre a riqueza das famílias reduziu também o apetite pelo consumo, num segundo golpe para o crescimento. Bons indicadores Alguns dos planos de Pequim estão a correr de feição: a China ultrapassou, este ano, o Japão como o maior exportador de automóveis do mundo e a transição energética a nível global depende dos painéis solares, turbinas eólicas e baterias produzidas no país. “Poucos parecem perceber que a China está a liderar o mundo a nível de geração de energia renovável e produção de veículos eléctricos”, disse Elon Musk, que em 2019 inaugurou em Xangai a maior fábrica da Tesla fora dos Estados Unidos. “Independentemente do que se pense da China, isto é simplesmente um facto”. Um estudo divulgado este mês pelo grupo de reflexão (‘think tank’) German Economic Institute (IW) indicou que os fabricantes chineses ocupam uma quota cada vez maior nas importações europeias de produtos industriais avançados, uma área na qual a Alemanha é tradicionalmente líder. “Durante décadas, os produtos alemães dominaram o mercado europeu, mas os concorrentes chineses estão rapidamente a ganhar terreno”, advertiu. Pequim estima que esta “nova economia” cresceu 6,5 por cento, no primeiro semestre do ano, em termos homólogos, compondo agora mais de 17 por cento do PIB. Em contraste, os gastos com construção imobiliária caíram quase 8 por cento no mesmo período. “É uma mistura de coisas boas e más”, resumiu Steve Hoffman, presidente executivo da Founders Space, uma das principais incubadoras e aceleradoras de ‘startups’ do mundo, à agência Lusa, numa visita recente a Pequim. “A bolha no imobiliário está a rebentar, como rebentou no Japão, nos anos 1990, e nos Estados Unidos, em 2008”, apontou. “São fenómenos cíclicos”, observou. “Mas eu vejo a China numa posição muito forte a longo prazo, simplesmente porque tem um mercado e economia enormes e está agora a produzir bens avançados e muito competitivos”.
Hoje Macau China / ÁsiaPMI | Sectores chave da economia chinesa crescem em Agosto O índice de gerentes de compras do mês de Agosto revela uma tendência positiva na actividade geral do país. Dos 21 sectores pesquisados, 12 relataram expansão O sector manufactureiro da China presenciou uma melhoria do clima de negócios em Agosto, com o indicador-chave a subir pelo terceiro mês consecutivo, revelam os dados oficiais esta quinta-feira. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do sector ficou em 49,7 em Agosto face a 49,3 em Julho, segundo o Departamento Nacional de Estatísticas (DNE). Uma leitura acima de 50 indica expansão, enquanto uma leitura abaixo, contração. Entre os 21 sectores pesquisados, 12 relataram expansão em Agosto, face a 10 no mês anterior. Houve uma melhoria geral no clima de fabricação, disse Zhao Qinghe, estatístico do DNE, citado pelo Diário do Povo. Os dados desta quinta-feira também mostraram que o PMI não manufactureiro – 51 em Agosto – ficou bem acima da linha que distingue expansão e contração pelo oitavo mês consecutivo, o que indica actividades robustas nos sectores de serviços e construção. O PMI composto da China situou-se em 51,3 em Agosto, sinalizando que a produção geral nas empresas manufactureiras e não manufatureiras continuou a expandir-se, disse Zhao. Indústria a contrair Já a actividade da indústria transformadora da China voltou a contrair em Agosto, pelo quinto mês consecutivo, segundo dados oficiais ontem divulgados. O índice de gestores de compras (PMI, na sigla em inglês), elaborado pelo Gabinete Nacional de Estatística da China, fixou-se nos 49,7 pontos, em Agosto, acima dos 49,3 pontos registados em Julho e mais do que o esperado pelos analistas, que previam 49,4 pontos Apesar da contração, Zhao Qinghe, estatístico do Gabinete Nacional de Estatística, destacou a tendência ascendente registada a partir de Maio, quando se fixou nos 48,8 pontos. “A produção e a procura recuperaram simultaneamente. Em particular, o subíndice de novas encomendas passou a registar crescimento pela primeira vez desde Abril”, disse Zhao, que reconheceu, no entanto, que o principal problema para as empresas do sector é a “procura insuficiente do mercado” e que as “bases da recuperação ainda precisam de ser consolidadas”. Sheana Yue e Julian Evans-Pritchard, analistas da Capital Economics, apontaram também uma “ligeira melhoria” da actividade económica em Agosto, embora apontem que a tendência “continua fraca” e que “vão ser necessárias mais medidas de apoio para evitar outro abrandamento no final do ano”. Outros indicadores O PMI que mede a actividade no sector dos serviços continuou a desacelerar em Agosto, passando de 51,5 pontos para 51, o que significa que se manteve na zona de expansão, tal como no resto do ano, embora marque uma clara tendência descendente desde Março. O setor da construção recuperou, de 51,2 para 53,8 pontos, algo que, segundo a Capital Economics, se deve a um aumento na emissão de títulos obrigacionistas para construção de infraestruturas por parte dos governos locais e regionais, acatando com as directrizes de Pequim. O sector dos serviços caiu de 51,5 pontos para 50,5, o nível mais baixo desde a reabertura da China, após o fim da política de ‘zero casos’ de covid-19. O PMI composto, que combina a evolução da indústria transformadora e não transformadora, subiu para 51,3 pontos, depois de se fixar em 51,1 pontos, em Julho, o seu ponto mais baixo desde que há registo, se for excluído o período da pandemia.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Xi pede paciência para abrandamento e aponta materialismo ocidental O Presidente da China, Xi Jinping, pediu paciência face ao abrandamento da economia chinesa, num discurso publicado ontem, e disse que os países ocidentais atravessam “cada vez mais dificuldades” devido ao materialismo e “pobreza espiritual” O discurso de Xi foi publicado pela Qiushi, a revista bimensal do Partido Comunista Chinês sobre teoria política, depois de novos dados divulgados esta semana apontarem para o contínuo abrandamento da actividade na segunda maior economia do mundo. O Governo deixou, entretanto, de actualizar a taxa de desemprego jovem, que atingiu valores recorde ao longo deste ano, acima dos 20 por cento. Xi, o líder chinês mais forte das últimas décadas, pediu que a China “construa uma ideologia socialista fortemente coesiva” e que se concentre em objectivos de longo prazo, visando melhorar a educação, saúde e segurança alimentar da população, composta por mais de 1,4 mil milhões de habitantes, em vez de buscar apenas riqueza material a curto prazo. Desde que assumiu o poder, em 2012, Xi restaurou o papel do PCC como líder económico e social da China e reforçou o controlo político sobre os negócios, educação e sociedade. Algumas mudanças têm assumido custos crescentes, à medida que empresas chinesas bem-sucedidas são pressionadas a desviar dinheiro para iniciativas políticas, incluindo o desenvolvimento de ‘chips’ semicondutores. O PCC reforçou o controlo sobre as indústrias de tecnologia através de uma campanha de regulação da gestão de dados e práticas monopolistas, que eliminou milhares de milhões de dólares em capitalização de mercado. “Devemos manter a paciência histórica e insistir num progresso constante, passo a passo”, disse Xi, no discurso difundido pela Qiushi. A revista esclareceu que o discurso foi realizado em Fevereiro, na cidade de Chongqing, no sudoeste do país. É comum que a Qiushi publique discursos meses depois de serem proferidos. Jovens em crise O crescimento económico caiu para 0,8 por cento, no segundo trimestre do ano, face ao período entre Janeiro e Março, quando cresceu 2,2 por cento. Uma pesquisa difundida em Junho constatou que o desemprego entre os trabalhadores urbanos com idades entre 16 e 24 anos atingiu um nível recorde de 21,3 por cento. O Gabinete Nacional de Estatística disse esta semana que iria reter as actualizações enquanto revia os critérios de medição. O Governo chinês também introduziu uma ampla e vaga Lei de Contraespionagem susceptível de dificultar o intercâmbio com o exterior, que preocupa investidores chineses e estrangeiros. Xi enfatizou a “prosperidade comum”, uma campanha do PCC dos anos 1950, que fez reviver. O líder chinês pediu soluções para reduzir a enorme diferença de riqueza na China, entre uma pequena elite e a maioria pobre, e “o desenvolvimento saudável do capital”. “A prosperidade comum para todas as pessoas” é uma “característica essencial da modernização ao estilo chinês e uma distinção da modernização de estilo ocidental”, disse Xi. A modernização do Ocidente “almeja a maximização dos interesses do capital, em vez de servir aos interesses da grande maioria das pessoas”, observou. “Hoje, os países ocidentais enfrentam cada vez mais problemas”, afirmou Xi. “Estes países não podem conter a natureza gananciosa do capital e não conseguem resolver doenças crónicas como o materialismo e a pobreza espiritual”.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Pequim garante que “não há riscos” de deflação Apesar dos muitos desafios que o país tem pela frente, as autoridades mostram-se confiantes no futuro e descartam qualquer cenário de deflação A China assegurou ontem que “não existem riscos de deflação” no país, “nem agora, nem no futuro”, depois de anunciar na semana passada que o índice de preços ao consumidor entrou em território negativo em Julho. “Não existem riscos de deflação na China, nem agora, nem no futuro”, disse Fu Linghui, porta-voz do Gabinete Nacional de Estatística (GNE), que, no entanto, reconheceu que a recuperação económica do país “enfrenta vários desafios”. O índice de preços ao consumidor (IPC), o principal indicador da inflação na China, registou uma queda homóloga, de 0,3 por cento, em Julho. Os preços ao consumidor, que caíram para território negativo pela última vez em Fevereiro de 2021, estavam à beira da deflação há meses, indicando que a recuperação nos gastos não se materializou, depois de as autoridades terem abolido a política de ‘zero’ casos de covid-19, no início do ano. A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente gravoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias. “A procura doméstica continua a crescer. O consumo de serviços, como os derivados das férias de Verão, já está a crescer, oferecendo suporte significativo”, disse Fu. No entanto, o GNE informou que as vendas a retalho, um indicador chave para medir o estado do consumo, aumentaram 2,5 por cento, em termos homólogos, em Julho, um valor inferior aos 3,1 por cento alcançados em Junho e que se mantém abaixo do esperado pelos analistas, que previam um aumento de 4,6 por cento. Também foram divulgados ontem os dados da produção industrial do país, que cresceu 3,7 por cento, em Julho, em relação ao mesmo período do ano anterior. Este valor representa uma desaceleração em relação aos dados de Junho (4,4 por cento). A taxa oficial de desemprego nas zonas urbanas situou-se em 5,3 por cento no final de Julho, acima dos 5,2 por cento registados em Junho, mas ainda dentro do limite máximo que as autoridades estipularam para este ano, de 5,5 por cento. Em suspenso O GNE suspendeu a publicação da taxa de desemprego jovem a partir de Agosto, devido às “mudanças económicas e sociais que exigem uma melhoria e otimização das estatísticas laborais”, depois de alguns meses em que o indicador registou recordes acima dos 20 por cento. O investimento em activos fixos aumentou 3,4 por cento, nos primeiros sete meses do ano, depois de ter subido 3,8 por cento no conjunto do primeiro semestre, o que se traduz numa diminuição que o GNE preferiu expressar em termos de comparação mensal (-0,01 por cento). “A taxa de crescimento de alguns indicadores importantes desacelerou em Julho, o que é uma flutuação normal. No geral, a produção cresceu de forma constante em Julho, o emprego manteve-se e a economia continuou o seu processo de recuperação”, disse Fu. Após um início de ano promissor, a recuperação económica pós-pandemia mostra sinais de desaceleração. A débil procura doméstica e internacional, riscos de deflação e estímulos insuficientes, a par de uma crise imobiliária e falta de confiança no sector privado são as principais causas para o abrandamento da segunda maior economia mundial, segundo os analistas.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim tenta atrair mais investimento estrangeiro para relançar economia O executivo da China publicou, no domingo à noite, novas directrizes para “intensificar esforços para atrair investimento estrangeiro”, num momento em que a recuperação pós-pandemia da economia chinesa desacelerou. De acordo com um comunicado divulgado no portal do Conselho de Estado chinês na Internet, o objectivo das novas orientações é “optimizar ainda mais o ambiente para o investimento estrangeiro”. As directrizes pretendem “melhorar o equilíbrio geral entre a conjuntura nacional e internacional” e “promover um ambiente empresarial de classe mundial, orientado para o mercado, baseado na lei e internacionalizado”, referiu o executivo chinês. O Conselho de Estado apelou às empresas para “aproveitarem as vantagens do enorme mercado chinês” e “fazerem mais esforços para atrair e utilizar o investimento estrangeiro e fazê-lo de forma mais eficaz”. O executivo admitiu que ainda é necessário mais trabalho para garantir que as empresas com investimento estrangeiro serão tratadas como de forma igual às locais, “reforçar a sua protecção” e “fornecer apoio fiscal e tributário”. O comunicado não revelou, no entanto, pormenores sobre as medidas concretas que serão implementadas. Jogo económico As empresas estrangeiras presentes na China, principalmente as europeias e norte-americanas, têm nos últimos anos pressionado as autoridades a reduzir os sectores ou actividades proibidas ou restritas ao investimento estrangeiro. Os governos e instituições da UE têm acusado Pequim de falta de reciprocidade no acesso das empresas europeias ao mercado chinês, alegando ainda que as empresas chinesas desfrutam de subsídios e muito mais liberdade para operar, investir ou comprar entidades na Europa. Por outro lado, a China alterou, em Julho, a Lei de Contraespionagem para incluir a “colaboração com organizações de espionagem e seus agentes” na categoria de espionagem e proibir a transferência de qualquer informação relacionada com a segurança nacional. Em Maio, a polícia chinesa entrou nos escritórios de duas consultoras, a Bain & Co. e Capvision, e de uma empresa de diligência prévia, a Mintz Group. Estas investigações semearam preocupação no sector e entre potenciais investidores estrangeiros, apesar de Pequim ter defendido de que se tratavam de acções isoladas. Na quarta-feira, o Presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executiva que limita o investimento em tecnologias mais avançadas, como a inteligência artificial ou em computação quântica, na China. Após um início de ano promissor, a recuperação pós-pandemia da economia chinesa tem mostrado sinais de desaceleração, crescendo 6,3 por cento em termos homólogos no segundo trimestre, menos do que o esperado. O índice de preços ao consumidor, o principal indicador da inflação na China, registou uma queda homóloga, de 0,3 por cento, em Julho, num fenómeno designado como deflação, que reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento.