Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasAlgodão na lua [dropcap]A[/dropcap] China inaugura com êxito a sua era espacial. O lado oculto da Lua, esse recanto galáctico que alude à sua própria redundância, é no entanto uma expressão inglesa que remonta a 1959 nos anais da expansão espacial e quando a nave Lune 3, “darque side”, uma sonda soviética transmitiu as primeiras imagens de um ângulo lunar nunca visto na Terra. A China chegou agora a esse local ainda não transmitido e levou já peculiares visitantes como sementes de algodão. É efectivamente um momento de relevo pela audácia de pensar um solo plantável, e pela analogia do algodão, algidez, brancura, maciez… É um convite a coisas idênticas e inaugurais estes primeiros flocos de branco lunar. Vivemos hoje um tempo com vias de transporte desconcertantes, pois que é mais barato ir de avião ao norte da Europa em duas horas do que apanhar um comboio para o Porto, ou mesmo apanhar um táxi em Lisboa, ou ir de barco até Cacilhas. Como o dinheiro, e sobretudo o dos jovens, é sempre pouco, eles preferem, e bem, ir para longe. As redes de transporte são tentáculos maciços que dão já a volta ao mundo em modo subterrâneo e aéreo e dos excessos acolchoados tão do agrado de uma inativa meia idade, parece também agora esmorecerem neste labirinto onde entre céu e subsolo nos encontramos a preços módicos e até confortáveis. São temas que devem ser concertados com a inaugural viagem da China ao lado oculto da Lua, e o seu talento rápido de colocar em marcha uma fonte produtiva. Ela, que sempre nos pareceu um gigantesco útero sem perfil expansionista, é sem dúvida neste instante o nosso mais formidável luar de Janeiro. «Minha pequenina décima oitava irmã tu és a chuva no meio do céu», canção popular chinesa; dezoito é mesmo número de Lua e parece-nos já daqui uma vasilha de água cristalina prateada com flocos de algodão no nosso céu de antanho tão parecido com o que está para vir. Voltaremos à parábola do semeador, um roteiro previsto pela voz de Isaías (terceiro de Isaías 10-11): «a palavra do Senhor é semente». Vejo então hoje que a semente morreu. As condições não estão ainda preparadas para a nova seiva e é preciso uma nova componente que prepare estes chãos para lançarmos os bens da Arca. A China não tardará a recuperar a marcha destas descobertas com sucessos tão garantidos como as árvores trepadeiras, e a facultar uma aceleração de acordo com a urgência humana, pois que os desígnios terrenos a prepararam para nobres missões. Juntas, vão outras, para iniciar a do algodão que não resistiu ao frio da noite lunar. A algidez das suas sombras oculta desassossegos, e os seres vivos precisam da sua fonte de calor e alguma travessia nos levará de ora em diante a outros sóis. Da lã, nem falar por enquanto. A natureza dela exige comunidades agrárias bem mais estruturadas e modelo animal em rebanhos, mas deixemos que se instalem outros frios para que um ovular bicho da seda se misture algures nas dobras planetárias de locais remotos. E que poderemos fazer então num corpo vazio de ocultos labirintos? Ainda não se sabe bem, e o que não se sabe só a ciência dirá como contornar. A Lua, essa, terá sempre no imaginário os dons dos feiticeiros e dos xamãs do mundo que reservam as suas fases para o equilíbrio dos campos energéticos. O país do Sol Nascente estará menos preparado para esta alba onde não nasce a alvorada? Não está. Penso que estará a transformar as condições de uma possível fonte de progresso onde imóvel perante críticas saberá desenvolver os campos futuros a desocultar. Talvez campos de arroz e enxertos de cerejeiras, o que levaria em trafego, anos luz de produção em série para a outrora faminta humanidade escravizada sob o peso da necessidade. As fomes neste estado são outras, e a capacidade de as governar, um trunfo sem igual. Peregrinaremos sempre em torno de qualquer coisa, ora inspecionando, ora tirando dividendos da conquista, e se a Terra já treme é muito bom que se preparem as bases da partida e da escalada mais larga pois que giramos em torno a nós como um mecanismo cego. Sentada numa tartaruga, a China chegou bem mais longe que a Lebre que se vê agora a braços para dar sentido ao movimento de um novíssimo propósito. Enrolada no labirinto dos dogmas e pouco audaz em escalar etapas, começa a soçobrar a um excesso de diálogo de surdos em várias línguas espalhadas, que em coro, produz o ruído que afugentará os fazedores. O futebol é uma missão remissiva nos tempos vindouros, o jogo acabará breve, e os campos vazios falarão de nós bem mais que a política, bem mais que a saturada economia que numa ânsia de fome lunar desertificou o que havia de vida e de doce algodão também aqui na camada terrestre. Por isso a Terra se cobre da sua seiva e nos convida agora a ir deixando de mansinho os seus beirais. Para 2020, a China preparou um satélite de iluminação oito vezes superior ao brilho da Lua e ela sempre estará nestes anos conectada com o satélite que a fará desdobrar-se à sua quimérica natureza de multiplicadora de factos e de condições. Se as alcateias correrem para lá o seu escarlate terá efeitos mais sombrios pois que duas Luas progredirão para um coro demasiado bravio num presente onde se escuta já o ribombar dos tambores.
Hoje Macau China / ÁsiaNovo chefe do Pentágono define a China como prioridade [dropcap]O[/dropcap] novo secretário americano da Defesa, Patrick Shanahan, definiu nesta quarta-feira a China como uma das suas prioridades, no seu primeiro dia à frente do Pentágono. Shanahan exortou o pessoal do Departamento que chefia a se concentrar na Estratégia de Defesa Nacional, que se adapta a uma nova era de “grande luta de poder” com a Rússia e a China. “Enquanto nos concentramos nas operações em curso, o secretário Shanahan pediu à equipa que se recordasse da China, China, China”, disse um funcionário do Departamento da Defesa. Washington acusa Pequim de realizar práticas de espionagem militar e económica e qualificou de coerção económica a iniciativa chinesa Uma Faixa, Uma Rota. “Em 2019, a Estratégia de Defesa Nacional continua a ser o nosso guia. A fortaleza militar americana continua a ser nosso objectivo”, declarou Shanahan na sua mensagem de Ano Novo no Twitter. O novo chefe do Pentágono assistiu nesta quarta-feira a uma reunião do gabinete americano, a primeira do presidente Donald Trump em 2019, segundo o funcionário do Departamento de Defesa. Shanahan assumiu o cargo dia 1 de Janeiro, depois do general Jim Mattis se ter demitido por desavenças com o presidente Donald Trump. Shanahan, pouco conhecido para pessoas alheias ao mundo dos negócios e dos círculos de Washington, chega à frente da pasta da Defesa num período de mudanças provocadas pela imprevisível política externa de Trump. Aos 56 anos, nunca serviu o Exército e passou a maior parte da carreira no sector privado, no fabricante de aviões Boeing. Shanahan deverá dirigir a retirada dos 2000 soldados americanos da Síria, uma saída parcial de tropas do Afeganistão e gerir o impacto destas decisões nos dois países, tanto para as populações locais quanto para os aliados dos Estados Unidos.
Hoje Macau China / Ásia“Jack, o Estripador” chinês foi executado [dropcap]O[/dropcap] assassino em série responsável pela morte de 11 mulheres e raparigas entre 1988 e 2002, Gao Chengyong, foi executado depois de ser condenado à morte em Março do ano passado. Como escreve a BBC, Chengyong seguia as suas vítimas até casa antes de roubá-las, violá-las e matá-las, cortando-lhes a garganta e mutilando os corpos. Por seguir este modus operandi, a imprensa chinesa começou a apelidá-lo de “Jack, o Estripador”, nome pelo qual foi conhecido o assassino em série que aterrorizou Londres durante a Era Vitoriana, no final do século XIX. Casado e com dois filhos, o homem de 53 anos foi detido pelas autoridades em 2016 na sua mercearia na cidade de Baiyin, província de Gansu, depois do seu ADN ter sido identificado nos locais dos crimes. O primeiro assassinato terá decorrido em Maio de 1988, quando uma mulher de 23 anos foi encontrada morta em Baiyin com 26 facadas no corpo. Seguiram-se outros homicídios de características semelhantes, tanto na forma de matar como no perfil das vítimas, raparigas novas, que vestiam vermelho quando foram mortas. A mais nova tinha oito anos. Segundo os relatos na imprensa chinesa, as notícias sobre os assassinatos terão causado uma onda de pânico em Baiyin, levando a que muitas mulheres deixassem de sair de casa sozinhas.
Hoje Macau VozesUma solução recíproca para a disputa comercial entre os EUA e a China Por SHANG-JIN WEI* [dropcap]P[/dropcap]ara muitos aliados dos Estados Unidos, as falhas na guerra comercial do presidente Donald Trump com a China – que está suspensa durante 90 dias após o encontro entre Xi e Trump na Argentina – estão na estratégia, não na motivação. De facto, a Europa e o Japão partilham muitas das queixas de Trump. O que eles não reconhecem é que também há muito que eles podem fazer para tornar o sistema de comércio global – e as suas relações com a China – mais justo e mais eficiente. É certo que a China precisa de tomar medidas para reformar as suas políticas. Para começar, as tarifas e as barreiras não-tarifárias da China são mais altas do que as dos EUA e de outros países de elevado rendimento (embora não mais altas do que as da maioria dos países em desenvolvimento com níveis de rendimento comparáveis). E há muitas restrições para as empresas estrangeiras que desejam operar na China, incluindo limites na propriedade estrangeira de empresas nacionais. Reduzir as barreiras ao mercado chinês beneficiaria não só os produtores estrangeiros, mas também as famílias e empresas chinesas que utilizam peças importadas. A liberalização comercial funcionaria como um corte nos impostos, aumentando os rendimentos e melhorando a eficiência, sem exigir que o governo aumentasse o défice orçamental. A passada liberalização comercial da China, após a sua adesão à Organização Mundial do Comércio há 17 anos, indica que uma medida semelhante não levaria a um aumento do desemprego, desde que o mercado de trabalho chinês permaneça suficientemente flexível. A China também faria bem em responder a outra queixa crucial, reforçando a protecção da propriedade intelectual. O governo chinês alega que abandonou a política de exigir às multinacionais estrangeiras que partilhem a sua PI em troca de acesso ao mercado, há duas décadas. Mas as câmaras do comércio dos EUA e da Europa na China dizem que as práticas são efectivamente diferentes. No passado, quando a própria capacidade inovadora da China era fraca, uma protecção mais forte da PI significaria meramente mais rendas para as empresas estrangeiras. Hoje, no entanto, à medida que as empresas chinesas estão a desenvolver a sua própria PI valiosa, e a sua presença global tornou-se maior, mais forte e recíproca. As protecções da PI beneficiariam tanto as empresas chinesas como as empresas estrangeiras. A China também deveria reformar os seus programas de subsídios e o seu regime de políticas industriais. A maioria dos países utiliza impostos e subsídios para promover determinadas actividades económicas. Ainda assim, a proporção de programas governamentais que criam distorções e ineficiências, em vez de lidarem com as falhas do mercado, é maior na China do que nos países de elevado rendimento. Tais políticas incluem subsídios que favorecem as empresas públicas em detrimento das empresas privadas, levando ao desperdício e perda de produtividade. A fim de nivelar o campo de jogo entre as empresas chinesas e as empresas estrangeiras, os programas governamentais deveriam ser submetidos a uma análise mais sistemática de custo-benefício. Mas para que o comércio global seja realmente justo, as economias avançadas – e, em particular, os EUA – também precisam de fazer algumas mudanças. Na verdade, as barreiras desses países aos bens e investimentos chineses não são tão baixas como comummente se julga. Nos EUA, por exemplo, as tarifas sobre muitas importações de têxteis e vestuário, das quais a China tem sido o produtor mais eficiente do mundo, estão na faixa dos 20%, muito acima da taxa média americana. Aumentar ainda mais as tarifas efectivas que as empresas chinesas enfrentam é um regime anti-dumping que é frequentemente utilizado como um instrumento de proteccionismo, com regras que são tendenciosas contra os produtores chineses. A tarifa média dos EUA subestima seriamente as tarifas reais aplicadas aos produtos chineses. Da mesma forma, os acordos de livre comércio dos EUA têm desviado artificialmente a procura dos EUA de produtores chineses mais eficientes, para empresas menos eficazes em termos de custo em países como o México. Apesar da palavra “livre” no nome, os acordos de livre comércio não são verdadeiramente sobre um comércio mais livre, pois eles discriminam empresas em países fora dos ALC em favor de empresas algumas vezes menos eficientes nos países participantes. Esse efeito – que não é suficientemente limitado pelas regras existentes da Organização Mundial do Comércio – enfraquece a atribuição eficiente de recursos e prejudica não apenas os trabalhadores em países fora de um ALC, mas também, em muitos casos, famílias com baixos rendimentos que aí residem. Além disso, o regime dos EUA que rege o investimento estrangeiro nem sempre é justo, previsível ou transparente. Quando se trata de rotular um investimento proposto como sendo uma ameaça à segurança nacional, os critérios parecem muito discricionários. Segundo os advogados norte-americanos com quem falei, que fornecem aconselhamento sobre fusões e aquisições transfronteiriças, uma vez que os processos de triagem nos EUA para acordos que envolvem investidores chineses podem enfrentar longos e imprevisíveis atrasos, as empresas chinesas muitas vezes têm de pagar 15% extra para tornarem as suas propostas viáveis. Dessa forma, o regime de investimento estrangeiro dos EUA, efectivamente, expropria as empresas chinesas que desejam investir nos EUA. As políticas ineficientes ou geradoras de distorções raramente são simples erros. Como regra, elas atendem aos interesses dos grupos de interesses especiais poderosos e bem organizados que provavelmente resistem a qualquer mudança. Mas se a China e os EUA conseguirem um grande negócio sobre um pacote de mudanças políticas que reduzam ou eliminem as distorções em ambos os lados, a resistência interna pode ser mais fácil de superar. Essa cooperação poderia ser alargada para ajudar a conseguir um acordo nas reformas da OMC que apoiariam ainda mais a equidade no sistema global. Por exemplo, as regras anti-dumping poderiam ser melhor harmonizadas com as regras anti-monopólio nacionais e poderiam ser criados ou reforçados regulamentos para minimizar os efeitos discriminatórios dos ALC e para evitar que os governos utilizem subsídios nas empresas públicas para contornar as regras da OMC. Uma estratégia assim tão equilibrada e recíproca ajudaria a aliviar as tensões sobre o comércio e o investimento transfronteiriços. Igualmente importante, fortaleceria a justiça e a eficiência nas duas maiores economias do mundo – uma mudança que beneficiaria não apenas os EUA e a China, mas todo o mundo. © Project Syndicate www.project-syndicate.org * ex-economista-chefe do Asian Development Bank, Professor de Chinese Business and Economy e Professor de Finance and Economics na Universidade de Columbia.
Hoje Macau China / ÁsiaComboios de alta velocidade sem condutores para Olimpíadas de Inverno [dropcap]A[/dropcap] China está a desenvolver um sistema que permite controlar remotamente comboios de alta velocidade, abdicando de condutores, e que se estreará durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, informou hoje a imprensa oficial. O sistema permite que o comboio arranque, circule e pare com precisão nas estações ferroviárias, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua. As autoridades esperam que os comboios entrem em funcionamento na linha de quase 200 quilómetros, que liga Pequim a Zhangjiakou, o local onde se realizam os Jogos Olímpicos de Inverno, na província de Hebei. Um sistema semelhante está já em funcionamento na província de Guangdong, sudeste do país, com comboios interurbanos, que alcançam 200 quilómetros por hora. Mas os comboios que ligarão Pequim a Zhangjiakou vão deslocar-se a uma velocidade de 350 quilómetros por hora. Este ano, a China planeia expandir a sua malha ferroviária de alta velocidade em 3.200 quilómetros, para um total de 30.000 quilómetros, anunciou na quarta-feira Lu Dongfu, o diretor-geral da China Railway, entidade que opera as ferrovias do país. A primeira linha chinesa de alta velocidade – um troço de 117 quilómetros entre Pequim e Tianjin – começou a funcionar em 2008, quando a capital chinesa organizou os Jogos Olímpicos, 28 anos depois do nascimento do TGV francês. E quando o Japão lançou o seu “comboio-bala”, em 1964, a China era um país pobre e isolado, mergulhado em constantes “campanhas políticas” e empenhada em “aprofundar a luta de classes”. Em 2012, o país inaugurou a linha de alta velocidade mais extensa do mundo, com 2.298 quilómetros, que liga Pequim a Cantão. Hoje, a malha ferroviária de alta velocidade da China compõe dois terços do total do mundo. Durante a última dinastia imperial (1644-1911), o governo chinês começou por se opor ao caminho-de-ferro e só em 1881 autorizou a construção da primeira via-férrea. O acelerado desenvolvimento da rede chinesa de alta velocidade ficou também marcado por um grave acidente, que matou 40 pessoas, no verão de 2011.
Hoje Macau China / ÁsiaEconomia | Lucros da indústria registam primeira queda em três anos [dropcap]O[/dropcap]s lucros da indústria na China registaram uma queda homóloga de 1,8%, em Novembro, o primeiro registo negativo desde 2015, acompanhando a tendência registada noutros indicadores económicos do país, face às disputas comerciais com Washington. Segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês, os lucros ascenderam a 594.800 milhões de yuans, em Novembro, uma queda de 3,6%, face ao mês anterior. Nos primeiros onze meses do ano, os lucros totais das firmas industriais da China fixaram-se em 6,17 biliões de yuans, 11,8% mais do que no mesmo período do ano passado. Entre Janeiro e Outubro, a subida dos lucros fixou-se em 13,6%, em termos homólogos. Entre os 41 sectores inquiridos pelo GNE, 29 registaram um aumento dos lucros, nos primeiros onze meses do ano, incluindo o setor do petróleo, aço, material de construção ou produtos químicos. He Ping, estatístico do GNE, atribuiu a redução dos lucros, em Novembro, à “queda nas vendas e aumento dos custos de produção”. No mesmo mês, a produção industrial, outro importante indicador da segunda maior economia mundial, aumentou 5,4%, em Novembro, face ao mesmo mês do ano passado, depois de ter subido 5,9%, em Outubro. Foi a menor subida dos últimos dez anos. O aumento das vendas a retalho, o principal indicador do consumo privado, recuou para 8,1%, o ritmo mais lento desde Maio de 2003, depois de se ter fixado nos 8,6%, em Outubro passado. Os dados revelam que o crescimento da segunda maior economia do mundo deve abrandar no último trimestre do ano, depois de se ter fixado nos 6,5%, no terceiro trimestre, o ritmo mais baixo dos últimos dez anos. Analistas prevêem que a economia chinesa registe um declínio acentuado, ao longo da primeira metade do próximo ano, reflectindo o pleno efeito das taxas alfandegárias impostas pelos EUA. A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA ditou o espoletar de disputas comerciais, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um. A liderança norte-americana teme perder o domínio industrial global, à medida que Pequim tenta transformar as firmas estatais do país em importantes atores em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTensão entre China e Canadá sem impacto na comunidade de Macau Canadianos a residir no território dizem que tensão entre os dois países está longe de afectar a vida quotidiana. Contudo, é deixado o desejo de que a reconciliação seja rápida e que as relações saiam reforçadas [dropcap]A[/dropcap] detenção da vice-presidente da Huawei, Sabrina Meng Wanzhou, por parte do Canadá resultou num incidente diplomático com a China. A prisão foi feita a pedido dos Estados Unidos da América (EUA), que acusam a gigante das telecomunicações de não ter respeitado as sanções impostas pelos norte-americanos ao Irão. O caso fez com que a China respondesse com a exigência da libertação imediata de Sabrina Meng, que não foi atendido. Após esta situação, as autoridades chinesas procederam à detenção de dois cidadãos canadianos a viver no país, entre eles um diplomata. Mais tarde foi detido um outro cidadão, acusado do crime de tráfico de droga, que vai ser julgado no Sábado. Se no Interior da China cresce o sentimento de incerteza e insegurança por parte dos cidadãos canadianos, o mesmo não se pode dizer que esteja a acontecer em Macau. Segundo os membros da comunidade canadiana ouvidos pelo HM, existe um clima de normalidade, apesar dos naturais lamentos causados pela tensão existente entre dos países. “O nosso sentimento é que em Macau não houve mudanças face à comunidade canadiana. Não sentimos que haja qualquer risco para os cidadãos no seu dia-a-dia ou que haja qualquer atitude negativa devido aos incidentes”, contou Howard Stribbell, canadiano a viver em Macau, ao HM. Apesar de ser director da Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa) e presidente da Câmara do Comércio do Canadá em Macau, Stribbell fez questão de vincar que declarações foram feitas em nome pessoal, sem ligação às instituições [ver caixa]. “Temos noção que é um tema muito presente a nível das notícias internacionais, mas a comunidade não está a sofrer qualquer consequência negativa em Macau. E acho que mesmo no Interior da China não se pode dizer que o cidadão normal canadiano esteja a sofrer consequências negativas”, apontou. “Temos de perceber que este tipo de incidentes ocorrem ao nível de instituições muito próximas do poder e longe do cidadão comum”, justificou. Também ao nível do trabalho por parte de vizinhos e de amigos, Howard Stribbell diz não haver diferença. “Eu sei que estou em Macau, que é parte da China, e cumpro sempre as leis locais. Por isso, também não sofri qualquer consequência deste caso. Mesmo ao nível de tratamento dos vizinhos ou pessoas com quem me relaciono, não experienciei qualquer diferença”, frisa. Visita adiada Esta é uma visão partilhada igualmente por François Girouard, professor de música a viver em Macau. “Até ao momento não senti qualquer efeito neste momento de maior tensão nas relações entre os dois países. Leio as notícias, como venho da parte francesa do Canadá, leio as notícias em francês, vejo que o assunto é frequentemente mencionado, mas a verdade é que não me afectou minimamente.” disse Girouard. “Posso dizer com toda a certeza que não sinto qualquer ameaça em Macau”, destacou. O mesmo acontece nas relações do dia-a-dia, em que Girouard afirma nunca ter sido abordado por ninguém sobre o assunto, pelo menos fora do círculo dos amigos mais próximos. “No meu dia-a-dia não posso dizer que os chineses de Macau estão ocorrentes da situação. Nunca ninguém me disse nada nem nunca fui abordado sobre a situação”, comentou. Mas se Girouard se sente seguro em Macau, o mesmo não acontece em relação às visitas ao Interior da China. Devido a toda a situação e à detenção de três canadianos, o músico optou mesmo por cancelar uma viagem que tinha planeada. “Na semana passada tinha planeada uma viagem de curta duração ao Interior da China. Mas acabei por não ir porque não quis estar a atravessara fronteira, devido às detenções”, admitiu Girouard. “Acredito que não teria qualquer problema na deslocação, mas preferi não arriscar. Estamos na altura do Natal e não quero estar a envolver-me, nem à minha família, em problemas. Preferi não arriscar”, justificou. Tensão surpreendente No que diz respeito às relações entre os dois países, os dois membros da comunidade local revelaram-se surpreendidos com rápida escalada da tensão, até pelas relações comerciais existentes. “Pelo que acompanho das situações, e admito que poderia estar mais bem informado, até achava que o Canadá e a China estava numa boa fase das relações, até porque são parceiros comerciais. Por isso fiquei surpreendido, mas pode ter sido porque tenho pouco conhecimento sobre o assunto”, afirmou Girouard. “Claro que gostava de ver as relações normalizadas e os países voltarem à normalidade. As tensões nunca são positivas”, acrescentou. Este é um desejo comum a Howard Stribbell, que espera que os dois países saiam de forma positiva, dentro do espírito das leis aplicáveis. “O meu desejo era que a situação fosse resolvida dentro das leis aplicáveis e com respeito pelas soberanias de cada nação envolvida. Ao mesmo tempo, era importante que os dois países saíssem do caso a valorizar ainda mais as relações entre ambos”, afirmou Stribbell. “Com base na minha experiência, a relação com a China é muito valorizada no Canadá e acredito que depois deste incidente vai haver uma reconciliação rápida. Já houve incidentes no passado, mas nos últimos anos tanto a China como o Canadá sempre trabalharam para melhorar as relações”, opinou. “Os canadianos valorizam muito as relações tanto com os EUA como com a China, mas às vezes acontecem estes incidentes [diplomáticos]. Fazem parte das relações entre países”, considerou. Stribbell admitiu ainda estar “surpreendido” com a forma como a tensão escalou. “Fiquei surpreendido por ver as coisas desencadearem-se de uma forma tão rápida”, disse. “Mas também tenho noção que nós, que estamos de fora, não temos toda a informação sobre o caso. Há muita coisa que se passa nestas relações entre os países que nós não sabemos”, concluiu. A acompanhar a situação Segundo Howard Stribbell, presidente da Câmara do Comércio do Canadá em Macau e director da Escola Internacional de Macau (TIS), que segue o programa escolar do Canadá, a situação está a ser “acompanhada de muita perto” pelas instituições. Contudo é negada qualquer tomada de posição face a este assunto: “não nos envolvemos na vertente política”, justificou. No que diz respeito à Câmara do Comércio do Canadá em Macau, a associação conta como Lawrence Ho, filho de Stanley Ho, como um dos membros. O presidente da Melco completou os estudos no Canadá. Cronologia da tensão diplomática 1 de Dezembro – A directora financeira da gigante tecnológica chinesa Huawei, Sabrina Meng Wanzhou, é detida no Canadá a pedido dos Estados Unidos por suspeitas de violação das sanções impostas por Washington ao Irão 6 de Dezembro – Detenção é tornada pública e China exige saber a razão e pede libertação “imediata” da executiva 11 de Dezembro – Confirmada detenção na China de antigo diplomata canadiano Michael Kovrig, que trabalha actualmente para a organização não-governamental International Crisis Group 12 de Dezembro – Confirmada detenção na China do empresário canadiano Michael Spavor 12 de Dezembro – Meng Wanzhou é libertada sob fiança de 7,4 milhões de dólares, mas fica com pulseira electrónica. Tribunal marcou nova sessão para 6 de Fevereiro 20 de Dezembro – Confirmada detenção na China de professora canadiana Sarah McIver 22 de Dezembro – Otava exige a Pequim que liberte imediatamente canadianos detidos arbitrariamente 24 de Dezembro – China acusa União Europeia e Reino Unido de hipocrisia por expressarem preocupação relativamente à detenção de canadianos na China, lamentando a existência de ‘dois pesos e duas medidas’, por não terem feito referência à executiva chinesa detida no Canadá
Hoje Macau China / ÁsiaPequim | Explosão em universidade faz três mortos [dropcap]U[/dropcap]ma explosão ocorrida ontem num laboratório da Universidade de Jiaotong, no norte de Pequim, matou três estudantes, avançaram os bombeiros da capital chinesa. A explosão ocorreu por volta das 9h30, no campus leste da Universidade, segundo detalhou à agência Lusa o português Marcos Mendes, que dá aulas naquela universidade. A área junto ao local da explosão encontra-se encerrada, mas o fogo foi rapidamente contido, disse a mesma fonte. O incidente ocorreu quando os estudantes do departamento de Engenharia Ambiental realizavam experiências para o tratamento de águas residuais, segundo um comunicado dos bombeiros. Oito equipas de combate ao incêndio e 30 veículos foram destacados para combater as chamas. Fotos difundidas nas redes sociais mostram um denso fumo negro e labaredas que cobrem todo o edifício.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Lei proíbe transferência forçada de tecnologia [dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas apresentaram um projecto de lei sobre investimento estrangeiro que proíbe a transferência forçada de tecnologias. A sessão bimestral do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, vai revisar esta semana o projecto de lei. O texto indica que a “China vai continuar a desenvolver e a melhorar as suas políticas de liberalização e facilitação do investimento estrangeiro”, visando “criar um ambiente estável, transparente e previsível”, avançou a agência noticiosa oficial Xinhua. O projecto estipula que “todas as partes envolvidas no investimento devem decidir, através de negociações, as condições de cooperação tecnológica, no caso do investimento estrangeiro”, e que “nem os departamentos do governo, nem os funcionários, podem utilizar meios administrativos para forçar transferências de tecnologia”. “A propriedade intelectual das empresas estrangeiras estará protegida” e “os lucros obtidos pelas firmas na China podem ser livremente transferidos para fora do país”, estipula o texto.
Hoje Macau China / ÁsiaPolícia impede acesso a tribunal onde julgam activista dos Direitos Humanos [dropcap]M[/dropcap]ais de vinte polícias à paisana cercaram ontem o tribunal no norte da China onde está a ser julgado um conhecido advogado dos Direitos Humanos, afastando jornalistas, diplomatas estrangeiros ou apoiantes. Wang Quanzhang é um de mais de 200 advogados e activistas que foram detidos, em 2015, parte de uma campanha repressiva lançada pelo Governo chinês contra defensores dos direitos humanos no país. Wang foi acusado, em 2016, de “subversão contra o poder do Estado”, uma acusação muito grave na China e cuja pena máxima é prisão perpétua. Está detido, há mais de três anos, sem acesso a familiares ou advogados. A sociedade de advogados à qual pertence, a Fengrui, esteve envolvida em vários casos politicamente sensíveis e representou críticos do Partido Comunista. Wang representou membros do culto religioso Falun Gong, que o PCC considera um culto maligno, e que baniu do país, em 1999. Líderes do culto de prática espiritual foram condenados a longas penas de prisão e vários seguidores detidos, por alegadamente constituírem uma ameaça. Citada pela agência Associated Press, a esposa do advogado, Li Wenzu, afirmou, na terça-feira, que agentes do ministério chinês de Segurança do Estado impediram-na de se deslocar a Tianjin, cidade portuária onde decorre o julgamento. Os julgamentos de activistas na China decorrem muitas vezes durante o período de natal, quando muitos diplomatas ocidentais e jornalistas se encontram de férias. Li e Wang Qiaoling, esposa de outro advogado de defesa dos Direitos Humanos que foi detido, descreveram na rede social Twitter o seu encontro com membros da Segurança do Estado. Um dos funcionários ofereceu-se para as levar até Tianjin, mas acrescentou que o julgamento não é publico e que estas não poderiam assistir. Li e Wang afirmaram terem rejeitado a proposta e tentado sair do complexo, mas que todas as seis saídas tinham polícias à porta. Li tem feito uma campanha pela libertação do marido. No início deste mês, ela e as mulheres de outros detidos rasparam o cabelo, num ato de protesto. Em chinês, as palavras “cabelo” e “lei” são quase homófonas. “Podemos não ter cabelo, mas temos lei”, afirmaram. Diplomatas das embaixadas dos Estados Unidos, Suíça, Reino Unido ou Alemanha esperaram nas imediações do tribunal, em Tianjin. Os diplomatas afirmaram que o acesso ao julgamento lhes foi negado. Um apoiante gritou palavras de apoio a Wang Quanzhang, antes de ser enfiado dentro de um carro por polícias à paisana. “Um académico debilitado, e vocês tratam-no assim”, afirmou Yang Chunlin, citado pela AP. “Wang Quanzhang é a pessoa mais fantástica na China”, gritou. “Exijo reformas políticas, direitos civis. Eleições no Partido e respeito pelos direitos humanos”, disse, antes de ser levado pela polícia.
Hoje Macau EntrevistaCPLP | Ex-secretária-executiva quer China como membro observador [dropcap]A[/dropcap] ex-secretária-executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa disse que a organização gostaria de ter a China na sua lista de países observadores associados, considerando ser “bem possível” que isso venha a acontecer. “Todos temos assistido ao grande interesse que a China tem manifestado relativamente aos países de língua portuguesa. A China é hoje um parceiro extremamente importante para os países africanos de língua portuguesa, e não só”, disse, em entrevista à Lusa, Maria do Carmo Silveira, que a 31 de Dezembro termina o seu mandato como secretária-executiva da CPLP, sendo susbstituida pelo português Francisco Ribeiro Telles. Quando questionada sobre uma eventual possibilidade de a China poder vir a ser um observador associado da CPLP, respondeu: “quem sabe… É bem possível. Acho que a CPLP veria com muitos bons olhos essa possibilidade. A China seria muito bem-vinda como observador associado”. Sobre se a China já manifestou esse interesse, Maria do Carmos Silveira disse não ter ainda “qualquer indicação neste sentido”, mas acrescentou: “nunca se sabe quando é que as coisas podem aparecer”. Actualmente, a CPLP tem 19 países como observadores associados. O Presidente da China prometeu, durante a sua visita a Portugal no início de Dezembro, o reforço dos projetos existentes com Portugal e defendeu o multilateralismo, o livre comércio e a paz, numa declaração conjunta com o primeiro-ministro português, António Costa. “O funcionamento bilateral encontra-se no seu melhor momento histórico. Em 2019, quando se celebram 40 anos das relações bilaterais, vamos aprofundar a amizade e cooperação e levar a nossa parceria estratégica global para um novo patamar”, assinalou Xi Jinping no Palácio de Queluz, onde foi recebido pelo primeiro-ministro português, membros do Governo, empresários e académicos. Na altura, afirmou ainda que “as duas partes vão empenhar-se na promoção e aprofundamento da parceria estratégica global entre a China e a Europa, reforçar o apoio à cooperação nas organizações internacionais, como a ONU, salvaguardar conjuntamente o multilateralismo, o livre comércio, promover a paz, desenvolvimento, estabilidade e prosperidade mundiais”. Para 2019, quando se celebram 40 anos das relações bilaterais, Xi Jinping prometeu um aprofundamento da amizade e cooperação. Outras formas de decisão Maria do Carmo Silveira defendeu que a CPLP deveria evoluir para outras formas de decisão, pelo menos em algumas questões, como a da mobilidade de pessoas, e o seu secretário executivo deveria ter mais poder, defendeu a secretária-executiva da organização. “A CPLP é um fórum multilateral e uma das limitações do multilateralismo é precisamente o facto de não se conseguir consensos para determinadas questões. Na CPLP, onde as decisões são tomadas por consenso, isto significa que todos os países têm de estar de acordo para que essa questão possa avançar e basta haver uma manifestação de reserva de um dos Estados-membros para que a questão não avance”, explicou Maria do Carmo Silveira. A secretária-executiva referiu que “todos os Estados tem direito a veto”, mas admitiu que este facto pode ser uma pedra na engrenagem da CPLP. “É uma forma de decidir, ou seja, os Estados são soberanos para decidir, o que tem o seu lado positivo que é todos os Estados, independentemente do seu poder económico ou do seu tamanho geográfico poderem participar plenamente nas decisões da organização”. Mas, considerou, “para algumas questões, como é o caso da mobilidade”, devia-se “evoluir para outras formas”, de decisão. “Já dissemos que alguns países têm limitação [como é o caso de Portugal por pertencer ao espaço Shegen] naquela questão [a da mobilidade], mas provavelmente, a haver outro sistema de decisão, aqueles países que estão preparados, ou que estão dispostos a avançar, poderiam fazê-lo”, acrescentou. Maria do Carmo Silveira defendeu que “este é um tema que merece alguma reflexão ao nível da CPLP, porque pode constituir um entrave a uma dinâmica mais agressiva ao nível da organização”. Os obstáculos Falando ainda de outros obstáculos que sentiu ao longo dos seus dois anos de mandato, que agora termina, a são-tomense considerou que as assimetrias entre os Estados-membros também não facilitam a atividade da organização. “As assimetrias ao nível do desenvolvimento dos Estados fazem com que a capacidade de resposta de alguns seja inferior à de outros. E isso faz com que tenhamos de trabalhar por vezes a duas velocidades, mas é mesmo assim, faz parte do processo e temos que estar prontos e conscientes dessas dificuldades”, disse. A responsável defendeu ainda que “o secretário-executivo tem que ter mais poder” porque o seu o âmbito de actuação “é limitado e isto também cria limitações”. “Porque não havendo mecanismos de concertação rápida, dado que tudo tem de ser decidido por consenso [na CPLP], muitas vezes o secretário-executivo não pode avançar porque não tem o feedback dos Estados-membros. E isto cria algumas dificuldades em determinadas situações”, disse. Apesar dos obstáculos, considerou, a CPLP tem vindo a assumir cada vez mais importância. “Temos uma CPLP que se projeta cada vez mais no cenário internacional, e a prova disso é o crescente número de países que se têm associado à organização, assumindo o estatuto de observador [19]. E isso é o fruto de uma projeção internacional que a CPLP vem conquistando e do reconhecimento das pessoas de que cada vez mais a CPLP vem falando a uma só voz e que tem atraído a atenção dos outros. Só por isto a CPLP é uma organização com futuro, com muito futuro”, defendeu.
Hoje Macau EntrevistaAntónio Caeiro, jornalista: “Pensamento de Xi Jinping é mais citado que Mao” [dropcap]O[/dropcap] jornalista António Caeiro defende que Xi Jinping, que na próxima semana visita Portugal, mais do que Presidente é o guia ideológico da China, cujo pensamento é mais citado e estudado que o de Mao Tse Tung. “É mais do que um Presidente, é o guia ideológico do Partido Comunista Chinês (PCC). É mais citado que qualquer outro líder, mais do que Mao Tse Tung ou Deng Xiaoping, e emergiu com uma autoridade que não se via há muito tempo”, disse António Caeiro. Numa entrevista à agência Lusa a propósito da visita do Presidente chinês a Portugal, a 4 e 5 de Dezembro, o jornalista, que viveu na China durante quase 20 anos, assinala a importância de o pensamento de Xi Jinping estar consagrado na Constituição e de ser estudado nas universidades do país. “O último congresso do PCC (2017) consagrou o pensamento do actual líder, como um dos modelos orientadores, um dos guias ideológicos do partido. A vocação e a inspiração marxista é reafirmada e a aspiração do PCC é dominar toda a vida social, económica e política do país”, sublinhou. António Caeiro sustenta que o actual Presidente da China, no poder desde 2013, instituiu “um sistema muito mais autoritário de liderança”, tendo revogado algumas das medidas políticas de reforma e abertura instituídas, na década de 1980, por Deng Xiaoping. A Assembleia Nacional Popular da China aprovou este ano uma emenda constitucional que elimina o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos para os presidentes do país. Constitucionalmente, a Assembleia Nacional Popular (ANP) é o “supremo órgão do poder de Estado na China”, mas cerca de 70% dos seus quase 3 mil deputados são membros do PCC, assegurando a sua lealdade ao poder político. “Teoricamente poderá eternizar-se no poder”, assinalou Caeiro, acrescentando que o Presidente deixou de estar sujeito ao limite de mandatos que estipulava que a sua presidência terminaria em 2023. “A própria ideia de liderança colectiva, alimentada durante algum tempo, esbateu-se completamente. É o Presidente que orienta”, acrescentou. Uma figura “enigmática” Do ponto de vista pessoal, António Caeiro vê uma figura “enigmática”, à semelhança de muitos outros líderes chineses, que surgiu num momento em que este tipo de líderes “tendem a ter um apelo universal”. “Não dá entrevistas, não é interpelado pelos jornalistas. É um homem que sabe o que quer, os seus planos são executados e, havendo um vazio internacional devido à nova política da administração norte-americana, aparece como o campeão da globalização”, considerou. A nova liderança de Xi Jinping, eleito em 2012 secretário-geral do PCC, lançou uma campanha anti-corrupção na China, o que lhe granjeou grande aprovação da população. “A corrupção era um problema e uma fonte de descontentamento social, mas veio revelar também uma face inesperada a China” porque permitiu perceber que “não havia nenhuma instituição da sociedade chinesa cuja direção não estivesse profundamente corrompida”. Sobre a visita a Portugal, o jornalista, que foi delegado da agência Lusa na China, considerou que servirá para “consagrar as boas relações” entre os dois países. “Estas visitas são momentos altamente simbólicos, são rituais e os chineses dão muita importância a esses rituais. Irá consagrar as boas relações que os países têm e consolidar a nova imagem que a China tem de Portugal: um dos países mais amigos e mais receptivos ao investimento estrangeiro na Europa e um bom parceiro da China na União Europeia”, disse. Xi Jinping estará em Portugal na terça e quarta-feira da próxima semana depois de ter visitado a Espanha, a Argentina, onde participa na cimeira do G20, e o Panamá. China e o caminho desconhecido O jornalista considerou também que o “mais inquietante” na China de hoje é não perceber para onde caminha o país, se quer mudar o sistema internacional ou apenas integrar-se nele. “O que é mais inquietante na China é não se saber como é que as decisões são tomadas e para onde caminha. A grande dúvida, em termos estratégicos, é saber se a China quer mudar o atual sistema internacional ou apenas integrar-se nele”, defendeu. António Caeiro assume que, sobre a China, quase tudo são perguntas. “Além da sua dimensão absolutamente colossal do ponto de vista físico e humano, o sistema, que o PCC parece ter aperfeiçoado, é extremamente opaco e isso faz com que as análises ocidentais pareçam mais palpites ou prognósticos”, disse. E, o “palpite” de António Caeiro é de que o país tem como objectivo a afirmação como potência regional no Pacífico, aliada a uma certa ideia de “vingança” sobre o Ocidente pela “humilhação nacional” na sequência da Guerra do Ópio (1839 – 1860), que marcou o declínio da China como potência mundial. “A China não aspira a dominar o mundo […], mas quer ser reconhecida como uma potência regional, ou seja, quem manda no Pacífico”, sustentou. O jornalista sublinhou a tendência de crescimento da influência chinesa em todo o mundo, o que considerou um “fenómeno natural”, para um país que concentra um quinto da população mundial e é o motor do crescimento económico global. “O que não era natural era a China estar tão apagada na cena internacional. Há 50 anos a China não fazia sequer parte da ONU. A China tem um músculo económico e financeiro que a torna inevitavelmente um parceiro fundamental nas relações internacionais”, disse. A China emerge como a “segunda economia mundial, com crescente peso económico e militar”, assinalou, apontando o contraste entre a “profunda crise” em que mergulharam a Europa e os Estados Unidos e os “ritmos impressionantes” de crescimento da China. “A Europa e Portugal precisam das imensas reservas de capital que a China tem e a China sente-se mais desinibida em assumir que o seu modelo funciona”, apontou. Mas, admite António Caeiro, ao tornar-se “um parceiro cada vez mais importante da economia de muitos países” a China “tende a inibir tomadas de posição contrárias aos seus interesses fundamentais”. “No ano passado, por veto da Grécia, não houve na comissão dos direitos humanos da Nações Unidas nenhuma moção criticando a situação na China”, disse. A aposta económica Sobre os grandes investimentos chineses em países europeus, nomeadamente Portugal, António Caeiro entende que fazem parte da estratégia de um país com “grande excedente de reservas cambiais” e que precisa de modernizar a economia. “Uma das maneiras é formar quadros nos países capitalistas desenvolvidos […] e uma maneira ainda melhor é comprar as boas empresas dos países desenvolvidos e que funcionam bem, que era, aos olhos da China, o caso da EDP”, referiu. António Caeiro ressalva, contudo, que Portugal “não é o maior receptor europeu de investimento chinês”, mas que à “escala de Portugal” este “pesa muito” por causa das “importantes participações na energia, na banca, na saúde, nos seguros”. Regressado a Lisboa definitivamente há três anos, o jornalista vê o país à luz do dilema entre a “China poderosa e muito desenvolvida” de cidades como Xangai e o interior do país onde “há níveis de prosperidade mínimos e défices, do ponto de vista educacional, enormes”. “Isso pode ser um problema”, disse, apontando que há “dois discursos permanentes e contraditórios” sobre o país. Há uns que “garantem que a China vai dominar o mundo e que este crescimento é para manter […] e outros que acham que, a prazo, a China tem grandes problemas que a impedirão de se tornar na grande potência que a atual liderança desejaria, nomeadamente o envelhecimento da população”, disse. “A população activa da China tem vindo a diminuir desde há cinco anos e o crescimento resultante do fim da política do filho único (permitindo agora dois) não foi impressionante e já se fala do fim do controlo da natalidade”, acrescentou. O jornalista explicou, por outro lado, que a rápida industrialização do país foi conseguida à conta da transferência de 250 milhões de trabalhadores do campo para as cidades e províncias do litoral. “Alguns estudos indicam que 1/3 das crianças chinesas que vivem no campo têm um índice de inteligência muito baixos”, disse, adiantando que a prazo este “será outro problema” porque “uma China moderna não pode” desenvolver-se com “uma classe trabalhadora pouco instruída”. “A China tem todos os problemas do mundo a uma escala absolutamente colossal […] Navega rodeada de grandes incógnitas. Recentemente comprei um livro de académicos chineses que se chamava ‘35 perguntas sobre a China’ e nenhuma delas tinha uma resposta, as respostas variam com o ponto de vista de cada um”, concluiu.
Diana do Mar ReportagemRefugiados | Um contexto chamado China Do outro lado da fronteira, a política dos refugiados espelha contradições. Se por um lado, Pequim contribui amplamente para os programas do ACNUR, por outro, acolhe uma pequena parcela da população mundial de refugiados [dropcap]A[/dropcap] China aderiu à Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951) e ao protocolo adicional (1967) em 1982, embora com reserva relativamente à submissão de diferendos ao Tribunal Internacional de Justiça. A Constituição da RPC estipula que “pode conceder asilo aos estrangeiros que o solicitem”, mas apenas “por motivos políticos”, um âmbito mais restrito face à Convenção de Genebra, dado que deixa de fora inúmeras outras razões, como raça, religião ou nacionalidade. Em termos genéricos, a política de Pequim tem sido interpretada no panorama internacional como incoerente: se, por um lado, figura como um dos principais dadores, contribuindo com milhares de milhões de dólares para os programas da ONU e em ajuda humanitária, por outro, não abre fronteiras a refugiados. Uma contradição agravada por acusações de que falha em cumprir as obrigações internacionais, designadamente ao violar o princípio de “non-refoulement” (“não-devolução”), ao abrigo do qual os países-membros da Convenção não podem expulsar uma pessoa para um território onde a sua vida ou liberdade estejam ameaçadas. Dada a ausência de uma lei nacional específica – que chegou a ter um esboço, mas nunca foi adoptada – tem sido o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) a determinar o estatuto de refugiado, com as decisões a serem comunicadas às autoridades chinesas. Após o ‘carimbo’ do ACNUR, o Governo permite aos refugiados permanecerem temporariamente no país, enquanto a agência da ONU procura uma solução duradoura, que passará por encontrar um terceiro país de acolhimento, na medida em que a sua integração local figura como uma carta fora do baralho. A 1 de Julho de 2013 entrou em vigor uma nova lei na China que estipula que os refugiados e os requerentes de asilo precisam de um documento de identidade emitido pelas autoridades chinesas durante a sua estadia no país. Foi considerada pelo ACNUR como “um importante passo”. No entanto, de acordo com informações do próprio organismo, plasmadas num relatório datado de Março último, está por implementar na prática. Segundo o mesmo documento, existem diferentes grupos alvo de preocupação do ACNUR na China. A saber: os requerentes de asilo e os refugiados que aguardavam a referida solução duradoura, os que fugiram na sequência da guerra sino-vietnamita (1979), aos quais foi reconhecido o estatuto “prima facie” pelo ACNUR (que, aliás, estabeleceu um escritório em Pequim para dar resposta a esse fluxo) e, por fim, os norte-coreanos. Apesar de entrarem nas estatísticas, os refugiados indo-chineses, na sua maioria vietnamitas, não figuram já entre os principais focos de atenção do ACNUR. Isto porque este grupo, estimado em mais de 300 mil pessoas, instalado sobretudo nas áreas rurais de seis províncias do sul da China, está “de facto” integrado e “tem acesso aos mesmos direitos” dos demais cidadãos. Caso norte-coreano Já o mesmo não sucede com os cidadãos norte-coreanos que se encontram na China que, observa o ACNUR, “podem carecer de protecção internacional”. “Desconhece-se quantos são exactamente, porque não há estimativas oficiais e o ACNUR não tem acesso a este grupo ou às zonas fronteiriças do país”, diz o mesmo relatório. A posição da China é a de que os norte-coreanos não só imigram ilegalmente para o país vizinho como o fazem por razões económicas – e, portanto, não são elegíveis como requerentes de asilo –, pelo que mantém uma rigorosa política de repatriamento forçado, refere o ACNUR. O órgão das Nações Unidas exorta, portanto, Pequim a “reconhecer a gravidade do tratamento a que ficam sujeitos os repatriados” no regresso à Coreia do Norte, algo que, eventualmente, colocaria em xeque a relação entre os aliados, tão próxima “como lábios e dentes”, como descreveu outrora Mao Zedong. Depois há os direitos. Apesar de estarem na posse de certificados do ACNUR atestando o registo e o seu estatuto, “requerentes de asilo e refugiados continuam a enfrentar o risco de serem detidos e/ou presos por infringirem as regras da imigração, como entrar ilegalmente no território ou exceder o prazo de permanência”, de acordo com a agência da ONU. Regra geral, a China respeita o princípio de ‘non-refoulement’, mas foram documentados casos de requerentes de asilo, inclusivamente registados junto do ACNUR, deportados para o país de origem. Os norte-coreanos não são, porém, o único calcanhar de Aquiles. A título de exemplo, em 2012, a organização não-governamental Human Rights Watch denunciou a deportação de milhares de birmaneses da etnia kachin, incluindo crianças, que fugiram da guerra civil, que estalara em Junho do ano anterior, com destino à província chinesa de Yunnan. Assunto controverso A crise dos refugiados que estalou na Europa colocou ainda mais os holofotes sob o papel da China que, sem deixar de ser um país em desenvolvimento, elevou-se a segunda economia mundial. Num artigo de opinião, publicado no ano passado, pela revista Foreign Policy, Yun Sun, especialista em política externa da China no Stimson Center, de Washington, não tem dúvidas de que o assunto dos refugiados é “muito controverso”. “A justificação oficial para a sua inacção é a de que a crise dos refugiados foi criada por turbulências políticas internas, em países como a Líbia, Síria e Afeganistão” e que “os países ocidentais patrocinaram campanhas para derrubar ditadores que eventualmente levaram a guerras civis e a crises de refugiados”, observou. Por isso, do ponto de vista político, Pequim argumenta que para resolver a crise dos refugiados primeiro tem de ser restaurada a ordem nesses países, apontou Yun Sun, sustentando que, nessa linha, “a posição da China é a de dar contributos financeiros através do ACNUR e de acordos bilaterais (…) ou disponibilizar mais recursos para o assentamento de refugiados noutros países”. A 20 de Junho, Dia Mundial do Refugiado, o Global Times publicou os resultados de uma sondagem ‘online’, dando conta de que mais de 97 por cento da população estava contra a ideia de a China acolher refugiados de outros países. A pesquisa, realizada ao longo de uma semana no Sina Weibo, contou com uma amostra de 210 mil pessoas. “Por que razão deve a China limpar a confusão causada por outros países como os Estados Unidos? A maioria dos refugiados vem de lugares ameaçados por extremistas religiosos e acolhê-los pode afectar a paz na China”, escreveu um internauta. “A China não implementou a política de filho único durante décadas para ganhar espaço para refugiados”, assinalou outro, segundo o jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista da China (PCC). “Os refugiados resultam de movimentos irresponsáveis dos Estados Unidos e de alguns países ocidentais e a China não deve ser ‘moralmente sequestrada’ para assumir um papel de liderança a receber refugiados”, afirmou, ao mesmo jornal, Li Yunlong, professor de estudos internacionais na Escola do Comité Central do PCC, apontando que a China tem desempenhado “um papel positivo” ajudando a desenvolver economias locais em países a braços com guerras. Segundo o relatório anual do ACNUR, publicado em Junho, no final do ano passado, existiam mais de 25 milhões de refugiados, do total de 68,5 milhões de deslocados por guerras e conflitos em todo o mundo. A China acolhia um universo de 321.718 refugiados (dos quais 217 contavam com assistência do ACNUR e 721 eram requerentes de asilo a aguardar resposta).
João Romão h | Artes, Letras e IdeiasA China no turismo mundial [dropcap]S[/dropcap]ugerem as projecções estatísticas da especialidade que em 2030 a China vai ser o país a receber mais visitantes internacionais e que também ocupará o primeiro lugar enquanto “mercado emissor” global, como se diz na gíria do sector turístico, reflectindo as profundas transformações económicas, sociais e culturais em curso no país. O significativo aumento de rendimentos de que tem beneficiado grande parte da população chinesa nas últimas décadas tem implicações directas e significativas sobre as dinâmicas turísticas, como é conhecido de outras paragens: os gastos com actividades recreativas, de lazer ou em viagens tendem a aumentar significativamente quando o rendimento disponível ultrapassa o mínimo necessário para as despesas essenciais e, inversamente, também tendem a decrescer substancialmente quando há perdas súbitas de rendimentos. Foi neste contexto de optimismo generalizadamente partilhado que tive oportunidade de assistir à 12ª edição do Fórum de Turismo da China, na magnífica cidade de Hangzhou, um palco particularmente adequado para se observarem estas transformações da China contemporânea. O Fórum foi organizado pela escola de hotelaria e turismo da Universidade Politécnica de Hong Kong (que lidera nos últimos anos os rankings mundiais de formação universitária no sector) e por uma gigantesca empresa de comércio e serviços em plataformas digitais, que tem em Hangzhou o seu “campus” e a sua base operacional – e também a sua sucursal para o turismo e viagens. Aliás, o sistema de pagamentos online desenvolvido por esta empresa atingiu na cidade uma popularidade e um nível de convergência tão profundo com os serviços offline que é possível aos residentes viverem sem carteira, notas, moedas ou cartões bancários: basta o telemóvel (com o adequado leitor de códigos de barras) para fazer qualquer tipo de pagamento (transportes públicos, cinemas, supermercados, mercearias, restaurantes, lojas de conveniência, pequenos ou grandes estabelecimentos dos mais variados sectores públicos e privados estão devidamente apetrechados para um quotidiano sem notas nem moedas). A inovação, o papel das plataformas digitais, a convergência necessária entre os universos imateriais do ciberespaço e a realidade física dos produtores e consumidores de produtos e serviços, a transformação das gigantescas quantidades de informação associadas a estas transações em processos de personalização de serviços cada vez mais especificamente adequados às necessidades e motivações de cada pessoa, ou o papel da inteligência artificial e outras formas de aprendizagem baseada no processamento de quantidades massivas de informação, foram os temas centrais de um Fórum que mobilizou algumas centenas de pessoas dos meios académicos e empresariais ligados ao turismo na China, com forte presença de jovens dirigentes e gestores empresariais altamente qualificados e escassa presença de gravatas. Esta preocupação com conteúdos de discussão que assinalam e promovem uma certa liderança na capacidade de formulação de estratégias de inovação para economias globais tecnologicamente avançadas teve também a sua contrapartida em aspectos mais formais – e que na realidade acabam por reforçar os conteúdos: o Fórum foi suportado por uma impressionante parafernália multimedia com projeções simultâneas em ecrãs gigantescos baseadas em muito avançadas tecnologias de audio e video e por diversas possibilidades de interacção entre a audiência e os oradores através de reacções e comentários enviados por telemóvel e projectados em tempo real. A modernidade dos processos de comunicação e interacção com suporte de tecnologias avançadas também é visível para quem visita esta fantástica cidade: além do avançado sistema dos mais variados pagamentos de despesas quotidianas, a cidade combina com extrema eficácia e elegância as características culturais, arquitectónicas e paisagísticas da tradição histórica da região, com zonas modernas onde é visível o avanço tecnológico, a sofisticação do comércio ou os graciosos espaços de lazer com uma presença constante de uma população bastante jovem. O grandioso Lago Oeste, recentemente classificado como património mundial da humanidade, com os magníficos jardins, monumentos e espaços museológicos que o rodeiam, ou a bela rua Hefang, onde se encontram as lojas dos produtos mais tradicionais da região, incluindo a comida e os artesãos de várias especialidades, são casos exemplares de preservação do património histórico, que interagem com facilidade e harmonia com a modernidade das ruas do centro ou da “Midtwon”. Não terá sido acidental a escolha desta cidade para acolher o Fórum, tal como não parece acidental a decisão de realizar o Fórum de Turismo da China do próximo ano nos Estados Unidos: em tempo de “guerra comercial” atabalhoadamente decretada, o turismo da China lança-se à liderança dos processos de internacionalização em território “inimigo”.
Hoje Macau China / Ásia MancheteDois académicos de um ‘think tank’ liberal proibidos de sair da China [dropcap]U[/dropcap]m pesquisador numa conhecida unidade de investigação com sede em Pequim revelou hoje que ele e o director da organização foram proibidos de sair do país, quando planeavam participar num simpósio na universidade norte-americana de Harvard. Citado pela agência The Associated Press, Jiang Hao revelou que ele e o director Sheng Hong foram parados no aeroporto, na quinta-feira, quando se preparavam para partir para os Estados Unidos, visando participar no simpósio dedicado ao 40.º aniversário desde que a China adoptou as políticas de Reforma e Abertura, abrindo o país à iniciativa privada. Jiang diz que as autoridades não explicaram porque motivo foi proibido de embarcar, enquanto Sheng revela que lhe foi dito tratar-se de uma questão de segurança nacional. Os dois trabalham para a unidade de investigação Unirule Institute of Economics, que defende o mercado livre e reformas democráticas, e tem sido alvo de assédio pelo regime. Nos últimos meses foram despejados das suas instalações, a licença cancelada e o portal electrónico e contas nas redes sociais bloqueadas. O portal do simpósio, que decorre hoje no Fairbank Center for Chinese Studies, de Harvard, anuncia a participação de quatro académicos chineses. O cartaz é composto por uma fotografia de Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que converteram a China na segunda maior economia mundial, mas cujo legado tem sido minimizado, à medida que o actual Presidente, Xi Jinping, se impõe como o líder mais forte desde Mao Zedong, o fundador da República Popular. Jiang afirmou que quase 20 académicos chineses foram convidados para participar no evento, alguns dos quais já chegaram aos EUA. “Mas alguns mudaram de ideias e escolheram não ir, por razões que são óbvias”, afirmou Jiang, apontando a desaprovação das autoridades de Pequim. A Unirule foi fundada em 1993, e tem publicado análises críticas do Governo, apontando inclusive que as empresas estatais chinesas não são rentáveis e gozam de grandes subsídios públicos. Desde a ascensão ao poder de Xi Jinping, em 2013, o Partido Comunista da China (PCC) reforçou o seu controlo sobre a sociedade civil, ensino ou religião, silenciando muito do discurso independente que ganhou espaço durante os mandatos dos seus antecessores.
Hoje Macau China / ÁsiaJornal oficial chinês adverte Bolsonaro do peso da China para a economia brasileira [dropcap]U[/dropcap]m jornal oficial chinês lembrou que o Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, “não tem motivos” para perturbar as relações com a China, lembrando o peso do país asiático para a economia brasileira. Em editorial, o jornal China Daily admite que as autoridades em Pequim e empresas chinesas a operar no Brasil estão a questionar-se até que ponto o novo líder do Brasil vai afectar as relações entre os dois países. “É uma questão pertinente”, afirma o jornal, apontando que, durante a campanha, Bolsonaro “não pareceu nada amistoso” para com a China. Bolsonaro acusou o país asiático de ter uma atitude predatória nos investimentos realizados no Brasil e tornou-se, em fevereiro passado, o primeiro candidato presidencial brasileiro a visitar Taiwan, desde que o Brasil reconheceu Pequim como o único Governo chinês, em 1979. O jornal oficial em língua inglesa China Daily lembra, no entanto, que “virar as costas à China talvez sirva algum propósito político”, mas que os “custos para a economia brasileira podem ser duríssimos”. “Temos a sincera esperança de que, após assumir a liderança da oitava maior economia do mundo, Bolsonaro vai olhar de forma objetiva e racional para o estado das relações China-Brasil”, escreve o jornal, que se refere a Bolsonaro como “Trump Tropical”. “Ele estará ciente de que a China é o maior mercado para as exportações brasileiras e a maior fonte de superavit no comércio externo brasileiro”, acrescenta o China Daily, lembrando que as duas economias são “verdadeiramente complementares” e “dificilmente concorrentes”. Em 2017, o comércio entre o Brasil e a China atingiu 87,53 mil milhões de dólares, uma subida homóloga de 29,55%. A China vendeu bens no valor de 29,23 mil milhões de dólares e importou mercadorias no montante de 58,30 mil milhões de dólares, segundo dados das alfândegas chinesas. O país asiático é ainda o principal investidor externo no país sul-americano, tendo comprado, nos últimos anos, ativos estratégicos nos setores da energia ou mineração. “Apesar de Bolsonaro ter adotado o estilo do Presidente dos Estados Unidos, com um discurso chocante e explícito, para capturar a imaginação dos eleitores, não há motivos para copiar as políticas comerciais de Trump”, conclui o China Daily.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA reafirmam compromisso com defesa de Taiwan A guerra de palavras entre as duas maiores potências mundiais estende-se também à questão do estatuto da antiga Formosa [dropcap]O[/dropcap] embaixador de facto dos Estados Unidos em Taiwan reafirmou ontem o compromisso de Washington com a autodefesa da ilha, que se assume como República da China, face às crescentes ameaças por parte de Pequim. Os EUA consideram qualquer tentativa em determinar o futuro de Taiwan “através de meios não pacíficos” uma ameaça à segurança regional e uma questão de “grande preocupação”, afirmou Brent Christensen, director do Instituto dos EUA em Taiwan, que funciona como uma embaixada, apesar de não ter o estatuto. “Opomo-nos a tentativas unilaterais para mudar o ‘status quo [de Taiwan]”, afirmou. Pequim considera Taiwan uma província chinesa, e defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência. Taiwan, ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois do Partido Comunista tomar o poder no continente em 1949, assume-se como República da China, e funciona como uma entidade política soberana. As ameaças de Pequim têm subido de tom desde a ascensão ao poder, em Taipé, da Presidente Tsai Ing-wen, do Partido Progressivo Democrático (PPD), pró-independência. Os EUA cortaram os laços formais com Taipé em 1979, e passaram a reconhecer Pequim, mas os dois lados mantêm fortes relações militares e diplomáticas não oficiais. Primeiro acto Essas relações são sustentadas pelo Acto de Relações com Taiwan, aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos em Abril de 1979, e que exige que os EUA garantam a Taiwan a sua capacidade de autodefesa. A política de Washington “não mudou” desde a aprovação daquele Acto, lembrou Christensen, em conferência de imprensa, exemplificando com a recente venda de armamento ao território, avaliada em 330 milhões de dólares. E garantiu que Washington vai cooperar no sentido de promover valores democráticos comuns e melhorar as relações económicas com a ilha. Isto inclui promover a participação de Taiwan em organizações internacionais, que Pequim tem procurado restringir. As autoridades chinesas têm ainda pressionado multinacionais, desde o sector da aviação ao têxtil, a designar Taiwan como território chinês nos seus portais oficiais ou material publicitário. No total, cinco países romperam relações com Taiwan, nos últimos dois anos, e passaram a reconhecer Pequim como o único governo de toda a China.
Hoje Macau China / ÁsiaManufactura | Actividade no nível mais baixo em dois anos Apesar da diminuição das exportações, a culpa do abrandamento resulta em grande parte da queda da procura interna. Economistas aconselham o Governo a baixar impostos e a estimular o sector privado [dropcap]A[/dropcap] actividade da indústria manufactureira (PMI, na sigla em inglês) da China caiu para o nível mais baixo em dois anos, em Outubro, segundo dados ontem divulgados, numa altura de fricções comerciais entre Pequim e Washington. O Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês revelou que o PMI recuou para 50,2 pontos, depois de em Setembro se ter fixado nos 50,8. Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção da actividade. Os pedidos para exportação recuaram, mas o maior impacto foi a queda na procura interna. As vendas nos sectores automóvel e imobiliário caíram, desde que Pequim dificultou o acesso ao crédito, visando travar o ‘boom’ no endividamento. “A pressão económica negativa a curto prazo é relativamente grande”, admitiu o economista do GNE, Zhang Liqun, em comunicado. Pequim precisa de baixar impostos, reduzir as restrições ao crédito e “impulsionar a confiança no sector privado” escreveu em comunicado um grupo de economistas do banco de investimento Citigroup. A resistir As exportações chinesas para os EUA têm-se mantido resilientes, apesar de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter imposto taxas alfandegárias sobre metade das importações oriundas da China, numa disputa em torno das ambições chinesas para o sector tecnológico. Em parte, isto deve-se às fábricas terem respondido aos pedidos antes da entrada em vigor das taxas. Mas produtos de alto valor, como equipamento médico e para fábricas, expressaram confiança de que vão manter as vendas no mercado norte-americano, apesar do aumento dos preços. “A queda na procura do exterior não parece ser o principal culpado”, escreve Julian Evans-Pritchard, analista na consultora Capital Economics. As novas encomendas em Outubro recuaram 1,2 ponto, para 50,8, segundo o GNE. Os novos pedidos para exportação caíram 1,1 ponto, para 46,9. A economia chinesa, a segunda maior do mundo, tem vindo a desacelerar, à medida que a liderança do país enceta a transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento. No último trimestre, o ritmo de crescimento económico fixou-se nos 6,5%, o nível mais baixo desde a crise financeira mundial, em 2009. Em 2017, a economia chinesa cresceu 6,8%.
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente cubano Miguel Díaz-Canel visita China na próxima semana [dropcap]O[/dropcap] presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, vai visitar a China a partir da próxima semana e participará na feira International Import Expo, que decorre em Xangai, “capital” económica do país, informou ontem o ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. Trata-se da primeira visita de Díaz-Canel ao país asiático. “Acreditamos que, com esta visita, continuaremos a fortalecer os nossos laços bilaterais de amizade” afirmou, em conferência de imprensa, Lu Kang. Também os presidentes da República Dominicana e El Salvador, Danilo Medina e Salvador Sánchez Cerén, respetivamente, vão visitar o país asiático entre 31 de Outubro e 8 de Novembro, a convite do Presidente chinês, Xi Jinping. A feira internacional de Xangai, que decorre entre 5 e 10 de Novembro, contará ainda com a participação do presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, entre outros líderes internacionais. El Salvador, República Dominicana e Panamá romperam recentemente relações com Taiwan, passando a reconhecer Pequim como a capital de toda a China. Na International Import Expo participam ainda o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, e o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev.
Hoje Macau SociedadeEnsino Superior lusófono e chinês assinam declaração conjunta [dropcap]M[/dropcap]ais de 70 entidades ligadas ao ensino superior dos países lusófonos e da China assinaram no sábado uma declaração conjunta na qual se comprometem a promover a cooperação na mobilidade e no apoio às indústrias inovadoras e criativas. A declaração conjunta marcou o encerramento da 1.ª edição do Fórum dos Reitores das Instituições do Ensino Superior da China e dos Países da Língua Portuguesa, organizada pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau, a Universidade de Macau e a Universidade de São José. No texto disponibilizado à agência Lusa no final da cerimónia de encerramento, os responsáveis acordam em “incentivar a cooperação das indústrias inovadoras e criativas”, tanto no interior da China e nas regiões administrativas especiais de Macau e de Hong Kong, como nos países lusófonos. A intenção, pode ler-se na declaração, passa por acelerar “os processos de cooperação comercial global entre os mercados emergentes dos países/regiões envolvidos”. Entre os países de língua portuguesa, o compromisso foi assinado por representantes de universidades e politécnicos de Portugal, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Brasil. A declaração tem mais três pontos nos quais se define o âmbito da cooperação: promover Macau “como centro de intercâmbio cultural”, desenvolver a mobilidade de estudantes e profissionais, bem como “reforçar o planeamento conjunto, a longo prazo (…), no âmbito da iniciativa [chinesa] “Uma Faixa, Uma Rota”, de acordo com as necessidades de desenvolvimento das diversas partes envolvidas, e promover a cooperação nas áreas da educação, da cultura e do desenvolvimento económico”.
Hoje Macau China / ÁsiaEx-chefe militar dos EUA admite guerra com China dentro de 15 anos [dropcap]O[/dropcap] antigo comandante das forças militares dos Estados Unidos da América (EUA) na Europa admitiu, na quarta-feira, que é muito provável que os norte-americanos e a China estejam em guerra dentro de 15 anos. O tenente-general retirado Ben Hodges afirmou que os aliados europeus terão de fazer mais para garantirem a sua própria defesa, perante uma ressurgente Rússia, porque os EUA vão precisar de dar mais atenção à defesa dos seus interesses no Pacífico. “Os EUA precisam de um pilar europeu muito forte. Penso que dentro de 15 anos – o que não é inevitável –, é muito provável que estejamos em guerra com a China”, declarou Ben Hodges, numa sala cheia durante o Fórum de Segurança de Varsóvia, Polónia, um encontro de líderes e analistas políticos e militares da Europa Central. “Os EUA não têm a capacidade para fazer tudo o que têm de fazer na Europa e no Pacífico para lidarem com a ameaça chinesa”, disse Hodges. Este militar norte-americano chefiou as forças dos EUA na Europa entre 2014 e o ano passado. Agora, é analista de estratégia no Centro de Análise da Política Europeia (Center for European Policy Analysis), um instituto de investigação baseado em Washington, nos EUA. Apesar da mudança de prioridades geopolíticas, Ben Hodges considerou que o compromisso dos EUA com a NATO é “inabalável”, apesar das declarações de Trump. Hodges disse à The Associated Press que um recente quase choque entre um ‘destroyer’ norte-americano e um vaso de guerra chinês foi apenas um sinal que aponta para “uma relação crescentemente tensa e uma concorrência cada vez mais forte em todos os domínios”. Outros sinais são “os constantes roubos de tecnologia” por parte da China e a forma como a China está a ganhar o controlo das infra-estruturas através do financiamento de projectos em África e na Europa, acrescentou, detalhando que na Europa a China já possui mais de 10% dos portos.
Hoje Macau China / ÁsiaChina e ASEAN promovem exercícios militares para reforçar confiança mútua [dropcap]A[/dropcap] China e Estados-membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) iniciaram ontem as primeiras manobras militares conjuntas no mar da China meridional, um sinal de pacificação na região onde subsistem reivindicações territoriais mútuas. Do lado chinês, participam oito navios de guerra, que saíram do porto de Zhanjiang, na província de Guangdong, no sul do país, e 1.200 militares, anunciou a televisão pública chinesa CCTV. A China reivindica quase toda a área do mar da China meridional e alguns Estados vizinhos, como as Filipinas, o Vietname, o Brunei e a Malásia, que têm pretensões territoriais rivais, e cada país controla várias ilhas. Para dar força aos seus argumentos, Pequim reforçou artificialmente vários ilhéus e recifes e colocou equipamento militar nalguns. Washington, potência naval tradicionalmente dominante na região, envia regularmente navios de guerra ou aviões que passam perto das ilhas controladas por Pequim, para confrontar a presença chinesa em operações que batizou de “liberdade de navegação”. Os exercícios militares conjuntos China-ASEAN terminam domingo e as duas partes declararam querer promover a estabilidade e reduzir as tensões no mar da China meridional. Singapura, co-organizadora das manobras com Pequim, Tailândia, Brunei, Vietname e Filipinas, enviou também navios, anunciou o Ministério da Defesa chinês, citado pela agência francesa AFP. Por sua parte, o Camboja, a Indonésia, a Malásia e a Birmânia enviaram observadores. As autoridades chinesas anunciaram no passado domingo que as operações permitem “reforçar a confiança mútua” e “promover as relações militares entre a China e os países da ASEAN”. Relativamente a estas operações conjuntas, o secretário da Defesa norte-americano, Jim Mattis, declarou na semana passada que Washington não as considera “contrárias” aos seus interesses. “É uma operação transparente, o que é raro no mar da China meridional. Por isso vai correr bem”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaVice-Presidente chinês chega a Israel para visita de quatro dias [dropcap]O[/dropcap] vice-presidente chinês Wang Qishan chegou hoje a Israel para uma visita de quatro visitas, a primeira de um responsável chinês deste nível em 18 anos a este país, segundo uma fonte oficial. Wang, que está acompanhado de uma importante delegação ministerial, deve reunir-se esta noite com o chefe do governo israelita, Benjamin Netanyahu, indicou o gabinete do primeiro-ministro. Na quarta-feira, os dois dirigentes vão participar na quarta reunião da comissão conjunta sino-israelita sobre cooperação e inovação, que se realiza de forma alternada nos dois países. A última visita de um alto dirigente chinês a Israel ocorreu em 2000, com a deslocação do então Presidente Jiang Zemin. Netanyahu foi à China em Março de 2017. Wang, que esteve hoje na parte velha de Jerusalém, deve reunir-se, na terça-feira, em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, com o primeiro-ministro palestiniano, Rami Hamdallah. Em 2016, a China e Israel lançaram as discussões de um tratado de comércio livre. Os acordos concluídos em 2017 já facilitaram a exportação de laticínios israelitas para a China e autorizaram os chineses a irem trabalhar no setor da construção e das obras públicas em Israel, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Estado judaico. A China multiplicou os seus investimentos em Israel nos últimos anos, atingindo um total de 25 mil milhões de dólares, segundo a imprensa israelita. Um grupo público chinês assumiu em 2014 o controlo do Tnuva, o principal grupo alimentar de Israel. Empresas chinesas venceram também os concursos para a gestão, durante 25 anos, dos dois principais portos israelitas, Haifa e Ashdod. Outras sociedades chinesas estão envolvidas na construção de túneis perto de Haifa e em vias de eléctricos. A presença chinesa em Israel suscitou discussão. O antigo chefe do serviço de informações israelita Mossad, Ephraim Halevy, alertou para o perigo que representavam os investimentos chineses em setores estratégicos para Israel. O Ministério da Defesa já interditou a participação das empresas chinesas em concursos lançados pelo exército israelita. Estas inquietações estiveram na origem, segundo a imprensa local, da recusa do Ministério das Finanças em autorizar a aquisição por grupos chineses de dois dos principais fundos de pensões israelitas, por receio que Pequim ficasse a controlar milhares de milhões de dólares e o futuro de mais de um milhão de reformados israelitas.
Hoje Macau China / ÁsiaChina considera um erro retirada dos EUA de tratado nuclear [dropcap]A[/dropcap] China considerou hoje um erro a retirada unilateral dos Estados Unidos do tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF) que Washington assinou com Moscovo em 1987. “Está errado e ainda pior é colocar a China como uma das razões para o abandono” do tratado, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, numa conferência de imprensa. Hua disse que o tratado desempenha “um importante papel no processo de desarmamento nuclear” e que “ainda é significativo”, sublinhando a importância de atuar através do diálogo. Pequim reagia ao anúncio feito no sábado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, de que os Estados Unidos se vão retirar daquele tratado. Trump acusou Moscovo de violar o acordo “há muitos anos”. “Não vamos deixá-los violar o acordo nuclear e fabricar armas, enquanto nós não somos autorizados. Nós permanecemos no acordo e temos honrado o acordo. Mas a Rússia, infelizmente, não respeitou o acordo”, criticou o presidente norte-americano. Trump disse ainda que o seu país “terá de desenvolver armas”, a menos que a Rússia e a China expressem a sua vontade de não desenvolver esse tipo de armamento. O tratado, assinado pelos presidentes norte-americano, Ronald Reagan, e russo, Mikhail Gorbachev, aboliu o uso de uma série de mísseis de alcance entre os 500 e os cinco mil quilómetros.